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SOBRE O AUTOR
Celso Antunes, educador brasileiro, nascido em São Paulo no ano de 1937.
Formação
Licenciado em Geografia
Especialista em Inteligência e Cognição
Mestre em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo
Atuação
Obras publicadas
Eventos
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SOBRE O CURSO
Acesse à Apostila (e-Book) do curso e aproveite ainda mais o seu tempo para
explorar os assuntos mais relevantes. E, quando surgir qualquer dúvida, conte com a
tutoria online, estamos aqui para ajudar e disponibilizar conhecimento para mudar
vidas.
Bons estudos!
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INDÍCE
NOTAS DO AUTOR
1. PRÁTICAS DE ENSINO
2. O PROFESSOR E AS FERRAMENTAS
2.1.1 O Professor
2.1.2 As Ferramentas
4. CONTEÚDO
4.1 Como trabalhar o conteúdo em sala de aula
6. AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM
6.1 Aprendizagem contínua
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Notas do Autor
O tema “Novas Maneiras de Ensinar, Novas Formas de Aprender” envolve
ideias e opiniões que se voltam para a busca de uma nova escola brasileira e que possa
se inspirar em sistemas de educação de países como a Finlândia, Dinamarca, Coreia do
Sul, Japão, entre outros, e que são considerados verdadeiros paradigmas de uma
educação de qualidade. Escritos por mim, Celso Antunes, refletem ideias que
fundamentam a construção progressiva dessa nova escola.
CELSO ANTUNES
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Práticas de ensino
Este material foi desenvolvido para ajudá-lo a refletir sobre as práticas
escolares da escola na atualidade. Antes convido você a refletir sobre os seguintes
aspectos:
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O professor e as ferramentas
O que é ser um professor no sentido pleno da palavra? O que representa em
tempos modernos se constituir naquele educador que marca o aluno, naquele educador
que efetivamente transforma? Eu penso que a resposta dessa pergunta nos liga à ideia
de ferramentas para transformar e educar de uma maneira significativa.
Vamos abordar um tema que envolve o professor de uma maneira geral, que
se aplica à educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e, em alguns aspectos,
ao ensino superior.
O Professor
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vida não as tem. ” Assim fui conversando, até que de repente fui surpreendido com uma
ação dessa garotinha! Fiquei me perguntando se ela estava tendo um surto, o que devo
fazer?! Porque ela começou a bater os pés e dizer desesperadamente: “Mamãe,
mamãe... a minha professora, mamãe, a minha professora, mamãe, ela está entrando
no mercado. ”
Então eu pensei, para aquela criança não é uma mulher, é uma fada, é uma
princesa, é a pessoa mais linda da Terra, é um ser mágico e misterioso. Ninguém que
entrasse naquele mercado provocaria o frenesi de tão grande espanto, de tão
formidável emoção, nem o atleta, tampouco um ator.
As Ferramentas
Porque não há uma cirurgia sem ferramentas, uma obra de engenharia sem
ferramentas e, assim, não há uma obra educacional sem ferramentas. E qual seriam
essas? Eu penso que as ferramentas cruciais para a efetiva transformação, que um
educar ocasiona, estariam: 1) na aula que se ministra; 2) nos conteúdos conceituais que
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se passa; 3) na maneira que se trabalha a: habilidade, inteligência, competência; e 4) na
avaliação que se faz.
O Começo
O que é uma boa aula? Será que por acaso em países considerados paradigmas
na educação, como é o caso da Finlândia, Dinamarca, Coreia do Sul? Países que no
exame do PISA (sigla inglesa para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que
têm seus alunos colocados em patamar de alto padrão, que infelizmente não é o que
ocorre com o aluno brasileiro. Existem muitas maneiras de como é uma aula e eu vou
explicar para vocês um dos muitos modelos de aula que eu observei nesses países que
citei, mas que, curiosamente, há mais de 40 anos eu tive a oportunidade de presenciar
em uma situação que vivi.
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Nessa época, eu morava no bairro do Brooklin na zona Sul de São Paulo, e
procurei no Colégio Estadual Professor Alberto Conte, que por sinal anos depois lá
lecionei, autorização para poder estagiar. Procurei o diretor e ele, de uma maneira
simpática, disse: “Professor, se você quiser estagiar vá lá na sala do professor e converse
com o professor ou professora que você quer estagiar, se eles concordarem, não tenho
a me opor. ” Fui até a sala dos professores e perguntei ao inspetor de alunos para que
olhasse na grade horária quem da minha matéria ali estava, ele olhou e me respondeu
de uma maneira estranha, apresentando um sorriso meio sinistro dizendo: “Moço,
quem hoje dá sua matéria está aí hoje e é a dona Judith. ” Aquilo me pareceu estranho,
parecia que naquela indicação havia sacarmos, mas quem eu era para discutir? Pedi que
me descrevesse como era a dona Judith, para não ter que ficar perguntando a todos e
fui ao seu encontro.
Era hora do intervalo, os professores estavam todos ali, não tive dificuldade de
descobri-la. Baixinha, olhos pretos sedutores, cabelo espichado para o alto. E eu todo
tímido perguntei a ela se me autorizava a estagiar, e de uma maneira simpática
respondeu: “Estagiar nas minhas aulas? Mas isso é uma honra, um privilégio, mas me
diga uma coisa, meu filho, todos aqueles que querem estagiar em minhas aulas eu cobro
um preço. Você está disposto a pagar? Você tem que assistir às minhas aulas com o olhar
crítico, apontar meus erros, minhas falhas, porque assim você lecionará melhor do que
sou, você pelo jeito está vindo de uma faculdade, eu não fiz faculdade alguma, você
topa?!” Eu não tive como recusar, assisti a 1, 2, 3... 10 aulas da dona Judith, sem nunca
supor que 30 anos depois iria ver aulas similares a essas em países mais avançados
educacionalmente e em lugares que são paradigmas de educação.
Que saber como era a aula da dona Judith? Eu não penso descrever apenas para
que você uma bela recordação, mas porque essa descrição se constitui em uma análise
crítica, para que você pense o que dela pode incorporar nas suas aulas. Vamos, assim, a
essa inesquecível lembrança!
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Em Sala
Como era a aula da dona Judith? A primeira aula que me dispus a assistir,
sentei-me na última carteira com o caderno aberto, pronto para anotar suas falhas. Era
uma aula bem diferente, tão desigual das aulas que habitualmente eu acostumava
assistir, que eu atônico me perguntava se aquilo era uma aula, ou se as aulas habituais
que eu via eram aulas verdadeiras. Mal entrou na sala, apoiou sua mochila sobre a mesa
e lançou um problema, dizendo que iria começar abordando um tema da programação,
desenvolver um conteúdo, portanto iria falar sobre fenômenos. Um aluno perguntou:
Eu pensei que dona Judith não sabia o que era fenômeno, mas aos poucos fui
percebendo que ela queria levar o aluno a interagir, a aprender com outros alunos e,
sobretudo, descobrir as maneiras de encontrar e descobrir. Os alunos, que pensavam
como eu, começaram a sugerir, a propor. Uma aluna sugeriu:
– Dona Judith, a gente, quando não sabe alguma coisa, pergunta para alguém.
O aluno respondeu:
– Mas, me diga, qualquer livro serve? Eu tenho em casa um livro bem grande
chamado “Catálogo Telefônico”, se eu procurar nele, eu vou achar?
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A classe toda interagindo, dizendo que não, que tinha que ser no livro certo,
um dicionário.
– Bela resposta que o Ricardo me deu, mas, me diga uma coisa, como eu vou
achar alguma coisa nesse dicionário sendo que ele não tem índice? Como eu vou achar?
– Dona Judith, o dicionário não tem índice porque é por ordem alfabética.
O aluno que perguntou o que era fenômeno pegou o dicionário da dona Judith
e procurou na letra F o significado da palavra. Na hora que ele pronunciou o conceito da
palavra, dona Judith escrevia na lousa palavra por palavra. Quando terminou, disse:
Dona Judith pegou o giz e cortou 5 palavras que estavam na lousa e disse:
– Agora, vocês vão ter que dizer o que é fenômeno, sem usar essas palavras,
elas são proibidas, tem que usar outra. Será que vocês são capazes? Agora, vocês vão
estudar em grupo, porque tudo que na vida se faz, se faz em grupo. Então, minha
querida, você é A, B, C, D.
E assim foi repetindo até todos os alunos terem uma letra. A partir daí, bateu
palmas e disse:
– Agora, naquele canto quem tem letra A, naquele outro a letra B, C. Vocês vão
consultando, falando, trocando ideias sem aquelas palavras e dizer o que é um
fenômeno.
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E a classe ia trabalhando, interagindo, os alunos se faziam protagonistas, não
havia tempo para indisciplina. Dona Judith percorria a sala dizendo o quanto achava
aquele movimento lindo:
– Estão vendo, vocês já têm um fenômeno, não aquele que está escrito no
dicionário, mas aquele construído com a linguagem de vocês. Mas agora estou
percebendo um problema, será que a gente pode ver um problema na
interdisciplinaridade? O grupo A vê o fenômeno na matemática? Será que vocês são
capazes? Grupo B, vocês são capazes de pôr o fenômeno na geografia?
Dessa forma, os grupos interagiam mais ainda, a professora menos do que falar
colocava problemas, desafios, não tinha tempo para ócio. A aula chegava ao fim e Judith
anunciou:
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impressionado perguntei se aquele aluno havia errado a prova inteira? Ela ergueu
aqueles olhos meigos e disse:
Um pouco mais...
Da mesma forma como nos assusta e inquieta os males do corpo físico, assusta-
nos mais ainda as doenças do corpo social. A diferença, por exemplo, entre a
tuberculose e o racismo ou entre o câncer e a agressão irrefletida sobre o meio ambiente
é que as primeiras são moléstias corporais e ameaçam as pessoas, enquanto que as
segundas, como males sociais, agridem um outro corpo que não o físico, mas que tal
como este é também o nosso corpo social.
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FIGURA 1 – DOENÇAS DO CORPO SOCIAL X DOENÇAS DO CORPO FÍSICO
Assim sendo, jamais uma guerra, seja onde for e envolvendo quem envolver,
deve ser olhada como partida de futebol com direito à torcida por um dos lados. Toda
guerra é uma doença e, dessa maneira, a postura do educador diante desta deve
envolver sentimentos de lástima e ideias de horror. Essa concepção, entretanto, não
significa que é impossível usá-la como ferramenta de ensino.
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O maniqueísmo é herança de uma seita persa criada no século III por Manés e
que se baseava na certeza de que a existência humana é regida por dois princípios
opostos e inconciliáveis: o “bem” ou “mal”. Hoje em dia, diz-se que alguém é
maniqueísta quando enxerga apenas extremos e quando não pauta seu viver pela ideia
de que existe o cinza entre o branco e o preto, e existem valores intermediários entre o
8 e o 80 ou, ainda para complementar, entre 0 e 1.
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FIGURA 2 – PONTOS DE VISTA DO ALUNO
Após a apresentação das duas partes, deve a aula abrir-se para o debate, jamais
para a votação. E, na discussão que certamente se seguirá, cabe ao professor, aos
poucos, ir construindo a convicção com os alunos de que a vida não se interpreta por
concepções maniqueístas, mas pela sabedoria de olhar o mundo também por outros
olhares. Não parece difícil de se transpor o tema da guerra para o do viver cotidiano e,
assim, revelar-se que a beleza, a verdade e a bondade não constituem valores em si,
mas valores que são atribuídos a essas e outras circunstâncias.
Diante de tantas notícias sobre a guerra, não parece ser complicado alinhar os
argumentos do “sim” e os argumentos do “não” e, menos ainda, interessar agudamente
os alunos por essa aula onde o professor alterna da defesa à acusação. O lado mais
complicado de uma aula desse tipo é a imensa sinceridade do professor em não assumir
tendências e de fazer de seu trabalho e das discussões que o seguem um admirável
exercício de imparcialidade. Em síntese, é impossível ensinar os vícios do maniqueísmo
pensando de forma maniqueísta.
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se duvide e quem o faz deixa de ser “diferente” e assume o papel de idiota ou, na melhor
das hipóteses, de ingênuo.
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Nessa visão de escola, existe rígida diferenciação entre os momentos de brincar
e outros de aprender, e o pensamento da criança não deve ser explorado senão para
obedecer às regras. Regras muitas vezes passadas com voz doce e ternura, mas que, por
estarem definitivamente prontas, libertam a necessidade de sobre elas se questionar. A
escola nessas bases apoiadas se inspira na “prontidão” e, como por ela se espera,
aguarda-se o momento oportuno para que a criança possa ser alfabetizada e saiba fazer
continhas. A infância existe apenas como fase de espera e, por isso, torce-se para que
transcorra rapidamente e que, liberta desta, possa finalmente a criança viver. Se
professores que assim pensam, pensassem apenas que a lei da gravidade não existe
seriam criaturas culturalmente inúteis, mas como, além de pensarem, agem, sua ação
mostra-se perniciosa e nociva para as esperanças de educação.
Mas nem tudo é motivo de perda e dor. Cresce de forma vigorosa o número de
verdadeiros educadores infantis que fundamentam a concepção de criança como ser
social e histórico e que necessita da educação para transformar os saberes de sua
experiência em saberes essenciais para usufruto de seus direitos e do direito à liberdade
de crescer. Os professores identificados com essa proposta de ensino organizam e
planejam suas ações a partir dos jogos e das brincadeiras
e, por seus meios, levam a criança a
pensar e descobrir a
singularidade de ser e estar no
mundo e usar múltiplas linguagens
para expressar essa admirável descoberta. São mestres atentos à curiosidade infantil e
à imensa vontade de conhecer o mundo e, por isso, organizam projetos
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transdisciplinares que envolvem temas associados à natureza e à cultura, à beleza, à
bondade e à verdade. Sabem que sua forma de agir jamais se encontra pronta, mas
simboliza busca permanente, caminho que a todo momento se refaz. Como existem
professores assim, existe a esperança de que o amanhã será melhor e de que não
deverão demorar os tempos em que todos os pais saibam distinguir os primeiros dos
segundos e compreender que a educação infantil é tudo, e o resto quase nada.
Conteúdo
É importante frisar que a aula é uma ferramenta de ensino para levar o aluno a
aprender e aprender a se transformar. E o professor que tem a coragem de criar a aula
tornando o aluno como protagonista, como dona Judith fazia, explorando diferentes
linguagens, realmente representa um papel imprescindível no atual mundo, onde a
informação tem fácil acesso. O aluno pode ter acesso ao conteúdo mesmo sem o
professor, mas é na aula onde ele discute, reflete, que vai desenvolvendo a capacidade
de aprender, reter e perceber que aquilo que se aprende se aplica no mundo que se
vive. Assim, aprendendo também a ouvir e respeitar.
Escolas existem no mundo inteiro. Com variações, que envolvem bem mais os
recursos do que se faz do que propriamente a maneira como se faz, existem escolas no
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Ocidente e no Oriente, em países democráticos e em outros de marcante pressão
ditatorial. Essa presença e uniformidade internacional da escola é, no mínimo,
surpreendente. Não seria possível imaginar um país onde os familiares fossem a única
fonte transmissora da herança cultural? Seria absurdo pensar que em outros sábios
conselheiros via internet se encarregassem de transmitir os postulados necessários para
se bem viver? Claro que não! A escola é imprescindível da maneira como está instituída
e é por esse motivo que dessa mesma forma está em toda parte instituída.
Mas vale a pena insistir: Por que a escola, da forma que é, é imprescindível!
Será realmente ou representa uma convenção e simples desejo de manter nos tempos
de agora o que em outros tempos se fez? Não, rebaterão muitos. A escola é
imprescindível porque a Declaração Universal dos Direitos do Homem diz, em seu artigo
26, que toda pessoa tem direito à educação e que esta deve objetivar pleno
desenvolvimento da personalidade humana e ao fortalecimento do respeito pelos
direitos do homem e suas liberdades fundamentais. Além disso, prescreve que a
educação deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações
e todos os grupos raciais ou religiosos. Perfeito, se a escola existe por esses propósitos
e se são eles essenciais para uma cultura de paz, tudo bem. Entendem-se as razões do
existir da escola e a essência incontestável de sua importância.
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Mas sobra uma pergunta:
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Mas seria isso possível? De que maneira os professores poderiam se engajar
em um trabalho que, junto com os temas com conteúdo conceituais que pensam
ensinar, poderiam efetivamente trabalhar as razões cruciais da escola existir?
A resposta não é difícil, ainda que não possa ser a mesma para toda parte. Um
trabalho consciente jamais distancia-se da contextualização desses valores à realidade
do aluno e está varia de um ponto para outro. O que fica de unidade nessa esperança é
que as escolas que se reconstruíram na busca desse novo ensinar o fizeram após
discussões e reflexões de sua equipe docente. Nada de importar modelos, ainda que os
estudos destes sejam imprescindíveis, desnecessário clamar para que o Estado faça pela
escola o que sua equipe, muito melhor que ele, pode por ela fazer. Exemplos expressivos
de inclusão, práticas de relações interpessoais, estratégias múltiplas de educabilidade
emocional estão sendo experimentados em muitas partes e, ainda que possa existir uma
dispersão em termos dos caminhos procurados, descobre-se a firme unidade na
procura.
Unidade que pouco a pouco se constrói com uma equipe de professores que
almeja, sobretudo porque aprendeu a amar sua profissão, dar dignidade à sua função e
acreditar que se um amanhã melhor desejamos, em nossas mãos e de nenhum outro
profissional com tal intensidade, existe a certeza de que basta querer.
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O que essa criança sabe da vida e do mundo com o qual interage?
Muitas coisas, muito mais que somos levados a crer. O ser humano, produto de
uma longa e lenta evolução biológica, incorporou uma série de “saberes” ou “instintos”
e, mesmo sem dispor de pessoas que os mostrassem ou fizessem com eles interagir,
seriam capazes de exercitá-los. Dessa maneira, é provável que essa criança
darwiniana fosse plenamente capaz de perceber que uma pedra atirada com
força produz efeitos diferentes que outra jogada displicentemente, que se
afiando a extremidade de uma outra, dela podemos fazer objeto de furar
e que a força e o movimento aplicado sobre um corpo podem transformá-
lo e como o transformam. Mesmo sem ter quem lhe ensinasse diferenças,
saberia reconhecer estruturas de animais e de plantas e identificar semelhanças e
distinções entre espécies. Teria por certa noção clara de grandeza, seria capaz, por
exemplo, de saber que dez macacos são bem mais que dois e, mesmo que não
aprendesse símbolos formais para com uma palavra expressar um número, perceberia
que existem expressões quantitativamente diferentes entre os seres ou as coisas ao seu
redor. Essa criança desenvolveria noção de perigo e saberia o risco de lugares altos,
águas revoltas e tempestades cruéis. O medo estaria cercando-a mesmo que jamais
alguém o demonstrasse e isso a afastaria de predadores, animais peçonhentos e feras
que poderiam estraçalhá-la; jamais saberia o nome de uma fruta, mas identificaria
coisas boas para comer e outras venenosas, desenvolvendo percepção de “veneno” e
apresentando reação “instintiva” sobre coisas nojentas, fugindo de produtos que nós
também consideramos repugnantes.
Esse “selvagem” não saberia falar a nossa língua, mas seria proprietário de uma
linguagem pessoal e, como ela, poderia atribuir nome às coisas e teria maneira própria
de usar uma gramática e com ela diferenciar singular de plural, masculino de feminino,
seres de coisas. Possuiria sensação de bem-estar ou de pavor e, como qualquer um de
nós, apresentaria estados de alegria e de tristeza, de calma e inquietação,
de raiva e até mesmo de vingança. Teria, enfim, um autoconceito e,
percebendo em suas iniciativas sucesso ou fracasso, organizaria
informações sobre seu “eu”. Mais tarde, ao ser eventualmente encontrado
pelos que se acreditam “civilizados”, ainda que pudesse aprender muitas
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coisas, mostraria uma inata capacidade de pressentir, tal como o fazemos, quem gosta
dele e quem o repudia e sobre quais valores alguns outros lhe atribuem. Mostraria senso
de orientação, provavelmente nunca se perderia nos caminhos que viesse a percorrer
e, se descobrisse uma companheira, mostraria conhecimentos de atração e repulsa,
sentimentos primários de sexo, e, tendo filhos, cuidaria de defendê-los, protegê-los,
mostrando por eles estranha, mas coerente, forma de amar. Possuiria noções de
fidelidade e de infidelidade e saberia, em relação a elas, reagir de maneira
surpreendentemente pertinente e parecida à nossa.
À luz dessas evidências que a biologia tão bem conhece e descreve e que a
teoria evolucionista de Darwin admiravelmente explica, ficaria uma questão essencial.
A escola é necessária? Se trazemos programadas em nossos genes tantas e tão curiosas
formas de se relacionar com o mundo e construir uma forma de viver, será que existe
espaço para mais coisas aprender e, por esse motivo, razão para estudar Piaget?
Existem coisas que aprendemos observando os outros, existem coisas que não
são necessárias que nos ensinem pois na experiência com as coisas descobrimo-las, e
existem coisas que aprendemos observando, ainda que, divagando sobre elas, podemos
melhor sobre estas pensar. Absolutamente sozinhos podemos descobrir que em dia frio
é melhor procurar o Sol, mas, se apreendemos, conquistamos lembranças e fantasias
sobre o Sol, podemos senti-lo inclemente mesmo em noite mais sombria. Mas de que
maneira aprendemos? O que os estudos de Piaget podem nos mostrar na transformação
de uma criança darwiniana?
Antes dessa resposta, há, entretanto, uma outra. Piaget, seus seguidores e essa
admirável rapaziada, que perscruta a mente e percebe a aprendizagem no instante em
que esta ocorre, não nos ensinam “como” aprendemos, mas nos mostram “como não
aprendemos” e saber da negação antes da afirmação é importante até mesmo para
descobrir se essa escola que ali está, aquele professor que ali trabalha, realmente ensina
ou pensa que ensina. Isso posto, torna-se válido garantir que o conhecimento não é uma
“coisa” que vem de fora ou se capta do meio, mas sim um processo interativo de
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construção e reconstrução interior; portanto, não pode ser “transferido” de um
indivíduo para outro, somente pode ser construído e reconstruído pela própria pessoa.
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Bom, mas aceitemos que quem fala de seus saberes nada ensina, fica a questão.
O que faz quem, verdadeiramente, ensina?
Mas, se assim for, qual é o papel dos professores? Qual é a essência de seu
trabalho para ajudar o aluno a aprender? A pergunta já abriga a resposta. O segredo
está na palavra “ajudar” que poderia ser sinônima de intermediar. O papel do professor
não é o de transmitir informações, mas se fazer agente da significação que a elas os
alunos atribuem. O professor é um perguntador, desafiador, elaborador de problemas
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que, desafiando o aluno, estimula suas operações mentais sobre os saberes do mundo,
levando-o a interagir com eles através de ações operatórias que o envolvem a
reconstrução, à síntese, à contextualizando, e assim se age relacionando, comparando,
classificando, ordenando, avaliando, julgando, deduzindo, induzindo.
É salvar da ignorância.
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Habilidade
E isso é mau? Claro que sim! Por melhor que, por exemplo, tivesse sido um
médico há trinta ou quarenta anos, seria um profissional absolutamente desatualizado
diante de novos recursos e de incontestáveis conquistas da medicina atual, e um bom
médico hoje em dia somente o é porque se acha sintonizado integralmente com seu
tempo e com os recursos que o caracterizam. O mesmo pode ser aplicado no caso de
professores. Há trinta ou quarenta anos, a concepção do que era um “bom” professor é
absolutamente diferente dessa concepção nos tempos de agora.
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Competência
Será que bom professor não é todo aquele capaz de transformar informações
em conhecimento? Aquele capaz de despertar competências, estimular
inteligências? O professor que sabe valorizar o diálogo e promover
situações de relações interpessoais? O interrogador, desafiador,
propositor de problemas? O profissional que, efetivamente, sabe
construir saberes a partir da representação de seus alunos? O mestre
capaz de trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem?
Todo aquele capaz de ensinar o aluno a usar a integridade de seu
cérebro através de diferentes habilidades operatórias? O bom
professor não é quem é capaz de construir e planejar dispositivos e
sequências didáticas e de envolver os alunos em pesquisas e em
projetos, administrando a progressão da aprendizagem? Não
representa condição inconteste de qualidade docente conceber e fazer evoluir os
dispositivos de diferenciação? Ser profissional eficiente em educação não é se mostrar
capaz de seduzir seus alunos a se envolverem na aprendizagem e, portanto, na
reconstrução e compreensão do mundo? Ser plenamente apto em perceber novas
formas de se pensar e trabalhar o currículo permitindo que os estudantes possam
dominar e fazer uso de novas tecnologias e, assim, vivenciar e superar os conflitos de
seu entorno e da relação interpessoal de seus integrantes? Conhecer diferentes
estratégias de ensino, dirigindo diferentes situações de aprendizagem?
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filosofia e a essência de uma profissão e exercê-la de acordo com as mensagens e os
recursos de seu tempo.
Avaliação de Aprendizagem
Avaliação Contínua
se aplica. Avaliação é um processo que permeia cada aula, porque “não existe
educação sem a transformação”. E a transformação do ser humano não
ocorre em um instante, ela se transforma em cada momento, por isso o professor tem
que ter um olhar reflexivo sobre o processo de avaliar.
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Muito me preocupa quando o professor acha que avaliação é aquele dia
designado para a prova, que avaliação é aquela folha escrita ou chamada oral, mas na
verdade o processo avaliativo ocorre a cada dia, e não há algo mais significativo, mais
grandioso para um professor que ama o que faz, do que perceber que seus alunos são
avaliados de maneira periódica. Nos primeiros dias do ano letivo a pessoa é uma, nos
últimos dias ela é outra. A avaliação do professor deve contemplar esse processo
evolutivo, a prova que ele fez em março, se ele fez sem qualquer resquício de evolução,
em novembro o professor deve contemplar a expectativa daquela mudança, daquela
transformação. Evidentemente aquele aluno está crescendo não apenas fisicamente, e
não apenas porque se mudou o conteúdo, mas porque mudaram as estruturas de uma
avaliação.
Portanto, avaliar significa ter poder de ponderação, não é ter tempo, é olhar
com perspicácia, olhar o ser humano que se educa como se olha aquela planta que se
coloca no vaso, se não colocar a água diariamente, se não existe aquela sensação de que
ela está mudando, realmente não se está avaliando. Avaliar não é olhar o que o aluno
não fez apenas, mas é olhar aquilo que ele fez, por mais tímido que tenho sido o
progresso, que tipo de progresso existiu?! Aquela prova é um grito de apelo de um aluno
que me diz “me ajude”, e o professor não pode se furtar ao compromisso quando a isso
for solicitado.
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Educação brasileira e transformação
Aula
Conteúdo
Habilidades, Inteligências E Competências
Avaliação
Pode passar por outros canais, porque se o professor não muda e ele encara
que um ano letivo que começa representa dar continuidade ao ano anterior, a aula
acaba se tornando um tédio. O professor passa a viver na expectativa de que um dia vai
se aposentar e joga para fora toda aquela vitalidade de estar trabalhando com educação.
Portanto, a aula que se dá tem que ter uma visão crítica, o que não quer dizer
que tem que ser como dona Judith fazia, mas refletir que alguns fundamentos que ele
utiliza são extremamente plausíveis. Ser um professor contemporâneo é trabalhar os
conteúdos não só porque está descrito no livro didático, mas para que o conteúdo tenha
vínculo com a vida que se vive. Ser um professor moderno é ter a consciência que não é
possível prescindir de ter alguma ação no sentido de Habilidade, Inteligência e
Competência. E de perceber que mais que um conteúdo que se passa, é uma
transformação da pessoa que se trata e, nesse sentido, essa busca é imprescindível.
Mas isso tudo se culmina com uma excelente avaliação de aprendizagem não
só porque a obrigação regimental da escola me impõe a tarefa de fazer a prova, mas
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para ter naquela prova um diagnóstico da transformação da mudança. Porque, se
analisarmos o cenário da educação brasileira, há diferenças brutais entre professores
em qualquer unidade escolar, desde aqueles que os alunos têm uma ternura, mas que
no decorrer da vida os perdem. E aqueles que o aluno nunca mais esquece e que a cada
momento da sua vida está nele pensando sem mesmo se dar conta que nele que se
pensa!
APRENDER. Um desafio para se tornar mais jovem, tenha a idade biológica que se tiver,
porque é importante realçar, não se mede professor pelos anos que ele tem, mas pelo
amor que ele se transforma e por essa ação de modelar pessoas e plantar amanhãs!
Comece agora
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O sapato novo pode ter sua aparência bonita, brilhante, mas inicialmente ele
machuca os pés, causa estranhamento, em alguns momentos sentimos saudades do
velho, pois ele já tinha até o formato dos nossos pés.
Enfim
Esperamos que tenha aproveitado cada palavra escrita, cada segundo de vídeo,
cada material complementar para que tenhamos plantado a vontade de aprender cada
vez mais, que tenhamos contribuído com o seu aprendizado e ao compartilhar suas
experiências no fórum, você também contribuiu com o aprendizado dos colegas, por
isso, obrigado pela oportunidade de estarmos juntos nesses momentos.
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