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METODOLOGIA DA

DANÇA

Bonine John Giglio Brito


Expressão corporal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar os conceitos de expressão corporal.


„„ Descrever processos de expressão corporal relacionados à infância
e à vida adulta.
„„ Identificar fontes/gatilhos para o trabalho da expressão corporal e
da criatividade.

Introdução
A expressão corporal pode ser entendida como a manifestação por meio
de movimentos de sentimentos pautados em vivências , ocorrendo pela
locomoção conjunta e ordenada de músculos, ossos e tendões. Para
que isso ocorra, o indivíduo que se expressa deve passar por uma série
de momentos até chegar ao refinamento de seus movimentos. Esse
processo de maturação do movimento acontece desde o princípio da
vida e é finalizado apenas com a morte.
Neste capítulo, você irá estudar os conceitos de expressão corporal
e sua relação com o mundo, assim como os processos pelos quais o
indivíduo passa para que a expressão corporal alcance diferentes níveis,
identificando as fontes de aprendizado a se explorar no trabalho de
expressão.

Expressão corporal e seus conceitos


A forma mais primitiva de comunicação humana ocorre pelo corpo. As expres-
sões faciais e gestuais podem dizer muito sobre o que uma pessoa sente ou quer
aparentar. Quando vemos alguém bocejando, podemos supor que a pessoa está
cansada ou com sono apenas pelo gesto do bocejo. É por isso que dentro do
aspecto das relações sociais com outros seres humanos a expressão corporal
se faz presente, podendo denotar claramente diferentes estados de espírito.
2 Expressão corporal

No âmbito da educação, a expressão corporal precisa ser considerada como


prática pedagógica, a fim de orientar educandos a buscar um caminho para a
execução de meios criativos. Tal orientação só é possível com a sensibilização
e a conscientização dos movimentos, das posturas e das atitudes.
Dessa forma, precisamos compreender que o resultado da nossa expressão
é carregado de histórias, que são representadas pelas artes e por simbologias.
Weil e Tompakow (2003, p. 25) afirmam que “[...] desde os tempos imemo-
riais, usamos símbolos — mensagens sintéticas de significado convencional.
São como ferramentas especializadas que a inteligência humana cria e procura
padronizar para facilitar a sua própria tarefa — a imensa e incansável tarefa de
compreender.” O compreender, segundo os autores, refere-se ao mundo que nos
cerca de informações que precisam ser processadas a todo o instante. Ou seja,
sentimos uma grande necessidade de entender o que acontece a nossa volta.
A expressão corporal pela dança auxilia na construção da própria identi-
dade e da percepção do outro. Assim, a dança oportuniza uma grande rede
de relações, visto que o corpo se expressa e entra em contato com diferentes
meios e experiências.
Mas afinal, o que é expressão corporal? A expressão, seja pelo corpo ou
pela linguagem, diz respeito à capacidade de demonstrar seus sentimentos
para o outro. Quando essa expressão ocorre pelo corpo, ela é manifestada
por gestos, posturas e movimentos, que são influenciados por aquilo que
pensamos e sentimos.
Entendemos os gestos como uma expressão do corpo que não precisa de
palavras e que, portanto, pode representar algo: por exemplo, quando acenamos
com as mãos para dar tchau, ou quando expressamos “sim” ou “não” com
um movimento da cabeça. Mesmo sem ter sido dito que o “sim” representa o
balanço da cabeça na vertical, e o “não” o balanço da cabeça na horizontal,
sabemos o que cada um desses gestos representa. A postura diz respeito à
utilização das articulações no espaço para fornecer equilíbrio e demonstrar
algum gesto pelo corpo, o que ocorre em grande parte das artes representativas
ou da cultura do movimento corporal (dança, música, teatro, jogos, esportes).
O movimento resulta da associação entre os gestos e a postura, e a junção
dos três corresponde à expressão corporal por essa movimentação do corpo,
ou seja, é o resultado da projeção do corpo em relação ao espaço.
Expressão corporal 3

A expressão corporal de um jogador de futebol exige que ele faça um gesto (um chute
a gol). Para que ele realize esse chute, precisa assumir determinada postura (contração
muscular, de pé, articulação dos tornozelos) para que o movimento de chute a gol
aconteça. O resultado do chute, a comemoração do gol ou o lamento por ter errado
também fazem parte da expressão: o jogador pode demonstrar seu lamento por ter
errado colocando as mãos na cabeça, ou se acerta o gol, corre e vibra com os braços
em forma de comemoração.

Silva e Schwartz (1999, p. 169 apud MARTINS; VOLSKI, 2014, p. 3)


afirmam que “o corpo tem a capacidade de se manifestar, o que, na expres-
são corporal, se apresenta através do vivido corporal. Este vivido corporal
equivale à maneira pela qual o corpo apresenta-se disponível”. As expressões
do movimento representam as vivências do corpo. O contato do corpo com
o mundo ao redor proporciona novos aprendizados e novas possibilidades de
se transmitir mensagens. Sobre isso, Silva comenta que:

[...] as atividades expressivas objetivam, através de vivências corporais, dança


e de outras manifestações, levar o homem, a mulher, a sentir o corpo próprio,
ampliar sua sensibilidade, eliminar os limites, as influências e preconceitos
determinados pelo ambiente cultural (SILVA, 1995, p. 93 apud MARTINS;
VOLSKI, 2014, p. 3–4).

Nesse sentido, a expressão corporal liberta dogmas e paradigmas cons-


truídos por padrões culturais, libertando o corpo de amarras e propiciando a
criatividade e as boas sensações.
Klaus Viana, o introdutor da expressão corporal no Brasil, descreve a
expressão como a redução da linguagem falada, o que resulta em um mundo
de maiores possibilidades criativas:

[...] o processo de expressão corporal na mesma medida em que vai desver-


balizando, tornando as palavras cada vez mais sem sentido, vai ampliando
a percepção visual, tátil e motora. O indivíduo vai aprender a existir em um
mundo cada vez mais amplo, mais rico e mais complexo. Basta isso para
alterar consideravelmente o sentido das palavras. Antes, as pessoas viviam
na convicção de que o dizível é o mais importante ou é quase tudo. “Depois,
elas percebem que o indizível é maior” (VIANNA, 1998, p. 3).
4 Expressão corporal

A comunicação pelo corpo nos abre a infinitas possibilidades corporais


para além do eixo da linguagem falada.
Para entendermos melhor os conceitos de expressão corporal, imagine um
espetáculo de dança. A primeira coisa que notamos sobre os dançarinos é a
ausência da fala: eles utilizam todo seu tempo e espaço com o corpo como
possibilidades para transmitir uma mensagem ou passar alguma emoção.
Ou seja, a expressão corporal na dança diz respeito aos movimentos que
o corpo reproduz de forma livre e coordenada, capazes de comunicar ao es-
pectador, que ao ouvir a música e observar o corpo dançante faz assimilações
e dá um novo significado para aquela performance.
Assim, podemos dizer que a expressão corporal é como a fala pelo mo-
vimento do corpo.

Na dança, o significado é importante para a expressão corporal, pois não diz respeito a
uma palavra ou frase que exprime ou explica algo com exatidão. A expressão corporal é
mais aberta para interpretações, ou seja, um movimento ou um gesto produzido pode
ter múltiplos significados. Em um espetáculo, um dançarino é levantado por outro, e
o dançarino que se encontra suspenso no ar pode estar interpretando a busca pela
liberdade, ou a busca por novos rumos, ou apenas fazendo uma grande passagem de
tempo. Dependendo do contexto, o movimento pode expressar diferentes significados.
E é isso o que faz da expressão corporal uma linguagem tão rica.

Processos de expressão corporal relacionados à


infância
Os ambientes educacionais são espaços onde a criança pode ter maior contato
com demais crianças e é por esse contato que elas passam a experimentar pelo
corpo, pois correm, pulam, brincam e jogam, desenvolvendo uma linguagem
única do seu repertório motor.
Como em todas as outras fases da vida (adulto, adolescente, idoso), porém
de maneira mais espontânea, a criança se expressa pelo corpo, e é por ele
que ela explora o mundo e se relaciona com o outro, produzindo seu próprio
conhecimento do mundo.
Expressão corporal 5

É na fase escolar que a criança passa pelo período pré-operacional de


seu desenvolvimento motor, por isso a escola é o local onde as vivências se
tornam inesquecíveis e o início da linguagem expressiva ocorre de forma
compreensiva. É a partir disso que a criança passa a refletir sobre suas ações,
conseguindo melhor elaborar sua linguagem e seu pensamento, concatenando
suas ideias de acordo com suas vivências e contatos com os indivíduos e o
meio ambiente, propiciando uma relação processual entre corpo e mente pelo
movimento (BUENO, 1998).
O processo de expressão corporal da criança se inicia na fase sensório-
-motora, quando aparecem os primeiros reflexos, até o início das representações
mentais, quando o reflexo se modifica de acordo com o contato exterior. No
entanto, é na escola que suas maiores vivências ganham corpo e expressão.
Por isso, a criança passa a ser compreendida como um sujeito histórico, que
constrói a sua identidade no mundo de forma pessoal e coletiva pelas relações
humanas e pela produção de cultura.
A criança, então, precisa passar por processos de ações completas e in-
tencionais que, pela prática, se tornam organizadas e coordenadas de forma a
alcançarem objetivos pré-determinados “[...] com máxima certeza e mínimo de
espaço” (WHITING, 1975, p. 53) Sendo assim, a criança precisa de confiança
para trabalhar conforme a sua disponibilidade de espaço, de pouco ou muito
tempo, muitos ou poucos objetos, determinadas regras e limites etc.
A expressão corporal se inicia aliada aos movimentos de habilidades moto-
ras, começando pelos movimentos rudimentares (estabilizadores, locomotores
e manipulativos), passando pelos movimentos fundamentais, resultando em
neuropadrões motores (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
Portanto, é possível que ao longo dessas fases utilizemos as habilidades
motoras do movimento em favor da necessidade de expressão (correr quando
está com medo, andar mais devagar quando está com dor ou pular muito quando
está alegre). Na dança, isso ganha uma significação ainda maior, pois a criação
de padrões de representação pelo movimento é um processo enriquecedor.
Quando aliamos esse processo à escola, é possível ampliarmos mais a ideia
de riqueza da expressão corporal (SCARPATO, 2001).
O movimento é uma forma de expressão e comunicação do aluno e faz
parte do processo de se tornar um cidadão crítico, participativo e responsável,
capaz de se expressar em linguagens variadas, desenvolvendo a autoexpressão
e aprendendo a pensar em termos de movimento (SCARPATO, 2001, p. 59).
6 Expressão corporal

É dentro da escola que se possibilita a interação entre movimento e produção


de conhecimento, abandonando a velha concepção de escola do ensino pela
caneta e pelo papel, considerando o correr, o pular e o brincar como formas
de aprendizado fora dos padrões.
É possível trabalhar a expressão corporal na escola de forma espontânea,
considerando que a disciplina de educação física cumpre todos os requisitos
para que a cultura corporal e sua expressão sejam valorizadas. Coletivo de
Autores (1992) comenta que essa prática

[...] desenvolve uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de re-


presentação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história;
exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginás-
ticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mimica e outros que podem ser
identificados como forma de representações simbólicas de realidades vividas
pelo homem, historicamente criadas culturalmente desenvolvidas (COLETIVO
DE AUTORES, 1992, p. 38).

Dessa forma, a educação física também contribui para a formação do


adulto crítico e participativo.
Após a fase sensório-motora, finaliza-se a socialização primária e a criança
passa por uma fase de adaptação comportamental, buscando a aceitação por
novos grupos e a adaptação a novos ambientes. As expressões corporais vão
tomando novos contornos, visto que a necessidade de ser aceito entra em
questão.
Na adolescência, a expressão corporal passa por grandes questionamentos,
adaptações, descobertas, o olhar se volta para si mesmo, para as descobertas
do próprio corpo e as drásticas mudanças biológicas, aliadas ao impulso sexual
e à expectativa de imagem que os outros podem criar sobre eles mesmos.
É também na adolescência que a busca pela identidade nos leva a procurar
expressões que melhor se encaixem a nossas personalidades, pois as severas
mudanças e os processos conflituosos da adolescência ocorrem por conta da
emoção. Logo, a comunicação não verbal nessa fase se torna uma maneira de
estabelecer relações com o mundo.
É nessa fase que se passa pela ressignificação da identidade e o adolescente
precisa lidar com uma gama de mudanças, tanto físicas quanto psíquicas, que
causam efeitos diretos na sua inserção social, política e cultural. O adolescente
tenta se expressar corporalmente para que as coisas saiam de forma correta,
ou seja, para ser aceito em um grupo que lhe dê a visibilidade e o respeito
almejados (MACEDO; GOBBI; WASCHBURGER, 2009).
Expressão corporal 7

Toda essa experiência gira em torno de dois grandes acontecimentos:


o rompimento da vida infantil e o início da vida adulta. As perspectivas, o
corpo, as cobranças e as vontades mudam; velhos hábitos são abandonados e
há novidades em todas as esferas sociais. Tendo em vista que a comunicação
não verbal engloba gestos, posturas e movimentos, podemos dizer que na
adolescência eles vão se moldando pela junção entre as experiências vividas
do repertório motor e as difíceis escolhas sobre qual rumo tomar para se impor
como um ser livre e de pensamento crítico.
Sobre a comunicação não verbal, Oliveira (2010, p. 287) comenta que:

Cada parte do corpo expressa conscientemente ou não, nossas crenças individu-


ais ou coletivas, nossos desejos, nossas tradições culturais, nossas impressões
mitológicas. Vasto é o campo do corpo simbólico e suas significações. Olhar
para o corpo com outro olhar é perceber que nossas expressões refletem nossa
alma. É perceber a interligação do físico e o psíquico. É perceber a beleza de
enxergar nossa exteriorização corporal com nosso olhar interior, porque ela
parte do próprio interior.

É nessa perspectiva que o processo das expressões corporais na adoles-


cência é construído.
Na fase adulta, nossas expressões corporais são marcadas pela história do
corpo e pela personalidade, ou seja, já adquirimos bastante experiência ao
longo da vida e estamos prontos para novas relações sociais. O adulto também
passa por alterações nas expressões corporais, como um comportamento mais
sério devido ao ambiente de trabalho, a postura firme diante de um cargo,
a firmeza para lidar com sacrifícios e tomadas de decisões etc. Mais tarde,
começam os questionamentos sobre a morte, a chegada da aposentadoria traz
a perda da funcionalidade social e biológica, ocorre um declínio corporal com
o processo natural de envelhecimento.
O corpo, chegando a sua finitude, carregado de histórias e experiências
singulares, muda também de expressão. O que pode expressar um idoso cor-
poralmente? Para buscarmos a resposta, precisamos rever toda sua trajetória
de vida e respeitar a sua vivência cultural.

Expressão corporal e manifestações da cultura corporal


Em relação à cultura corporal, as buscas pelos processos de construção se
tornam mais enriquecedores ainda. Isso porque a cultura corporal pode ser
entendida como um ponto de encontro e interações nos âmbitos culturais,
sociais e biológicos que o ser humano vivencia ao longo da vida.
8 Expressão corporal

Mas afinal, o que podemos considerar como elementos da cultura corporal?


A dança, o circo, o teatro, jogos, práticas corporais laborais, lutas e o esporte
estão inseridos na cultura corporal, , podendo ser considerados configurações
da construção do sentido da vida humana. A forma como cada cultura se
movimenta dá sentido à esfera na qual o indivíduo está inserido.
Como o esporte, por exemplo, pode contribuir para o desenvolvimento
das expressões corporais, em termos de cultura corporal? Sendo um dos
maiores fenômenos socioculturais do mundo, fica claro que a magnitude do
esporte ocorre devido a sua pluralidade de sentidos e significações dentro de
uma importante esfera de expressão. Por exemplo, em um jogo de vôlei, duas
culturas diferentes podem se encontrar na quadra. As vestimentas podem ser
diferentes em razão da cultura em que os atletas se inserem e todo o processo
histórico pelo qual cada atleta passou. No entanto, naquele momento se unem
por um único propósito: a disputa por uma medalha de maneira honrada e
cordial. A Figura 1ilustra um exemplo desse possível encontro.

Figura 1. A egípcia Doaa Elghobashy e a alemã Kira Walkenhorst durante partida do vôlei
de praia feminino, no Rio de Janeiro.
Fonte: Nicholson (2016, documento on-line).
Expressão corporal 9

A expressão corporal passa por processos que acompanham o desenvol-


vimento motor do ser humano, visto que é pelo movimento que a expressão
corporal acontece, e é assim que passamos a entender que a cada fase nossas
expressões acompanham nosso crescimento pessoal e nossa interação com
o mundo.

Você já pensou que o corpo também pode ser utilizado como “corpomídia”? Afinal, o
corpo é uma mídia que comunica, recebe, processa e transmite informações. Quando
a informação atinge o corpo, há uma interação mútua, e o resultado disso pode ser a
dança, um vídeo, um gesto, uma expressão, uma foto, um grito, ou até mesmo a forma
como nos vestimos. Portanto, o “corpomídia” sempre está em processo de elaboração
de informações acerca do ambiente com o qual estamos interagindo e também sofre
ajustes à realidade em que se está vivendo.

Fontes e gatilhos para o trabalho da


expressão corporal
Expressar sentimentos e uma determinada carga de emoções pelo corpo
deve ser uma tarefa difícil, pois deixa de lado a linguagem falada e dá voz à
linguagem de outras partes do corpo. Pensando nessa dificuldade, também
podemos pensar: como cada pessoa desenvolve sua expressão corporal? Qual
foi a fonte e o processo que um dançarino criou para que o resultado final fosse
uma incrível interpretação? A primeira resposta está na infância, período em
que nossas expressões são formadas. Choramos quando estamos tristes, rimos
quando nos contam algo engraçado, mancamos quando nos machucamos e
corremos quando precisamos. Ou seja, tudo isso se refere à expressão corporal,
e para que cada indivíduo tenha a sua expressão, é preciso ter em mente que a
expressão corporal se refere ao estilo pessoal de cada um: ninguém ri, chora,
ou anda e se expressa de maneira igual, cada um possui sua individualidade.
Mas afinal, como nós, professores de educação física, podemos contribuir
na formação da expressão? Como podemos ajudar a aflorar o pensamento
criativo e a explorar as sensações que a pessoa que se expressa pode trans-
mitir? Como dito anteriormente, os esportes são parte importante da cultura
corporal e todos eles requerem expressões corporais significativas que servem
10 Expressão corporal

como meio de comunicação com o mundo exterior. O professor de educação


física deve explorar todas essas áreas, levando em conta que nossa disciplina,
dentro de um ambiente escolar, ultrapassa a necessidade de apenas se aprender
a chutar uma bola ou a produzir sudorese de forma excessiva. Sendo assim,
veremos como outros processos de cultura e expressão corporal podem ser
trabalhados na expressão individual de cada aluno.

Circo
É uma companhia coletiva que reúne vários artistas das mais variadas es-
pecialidades: malabaristas, palhaços, equilibristas, monociclistas. Podemos
perceber a grande riqueza de informações que o circo pode trazer de uma
só vez, assim como também a riqueza de possibilidades de se trabalhar com
cada uma dessas especialidades, pois o aluno pode explorar os limites do
corpo e ampliar seu repertório de sensações, que mais tarde serão traduzidas
na expressão do corpo. No malabarismo, por exemplo, os alunos podem usar
pequenas bolas e tentar fazer malabares com as mãos, trabalhando a percepção,
a agilidade e a destreza manual. Pela performance de palhaços, é possível
trabalhar uma infinidade de mímicas, caricaturas e jeitos de andar e interpre-
tar. Na especialidade do equilibrista, as possibilidades também são bastante
amplas, visto que o equilíbrio pode ser aproveitado na educação física com o
trabalho de propriocepção, por exemplo. Os exercícios de equilíbrio podem
ser mais tarde aproveitados nas danças e nos esportes. O monociclo, apesar
de ser uma tarefa com poucos facilitadores dentro do ambiente escolar, pode
se aliar às atividades de equilíbrio.

Teatro
É um conjunto de peças dramáticas para apresentação ao público, com o obje-
tivo de proporcionar diversos tipos de emoção aos espectadores. A importância
do teatro para a expressão corporal atinge o seu máximo, pois o ator doa seu
corpo para experimentar e transmitir sensações. Por isso o teatro se torna
fundamental para a expressão, já que desenvolve aspectos como a coordenação,
a criatividade, a memorização e o vocabulário. Imagine que você peça aos seus
alunos para encenar uma personagem fora de suas personalidades, pensando
sobre como essa personagem fala, anda, come, ri, brinca, dorme etc. Dessa
forma, o aluno trabalha sua expressão e criatividade.
Expressão corporal 11

Práticas corporais laborais


É um exercício de integração social entre funcionários, alunos e público, sendo
que o local de trabalho manual é o local onde mais acontece essa expressão.
Por isso, a ginástica laboral traz uma série de exercícios e alongamentos que
se assemelham ao ambiente de trabalho, prevenindo lesões e melhorando
o rendimento de um funcionário. Imagine que um funcionário execute um
movimento repetitivo no trabalho e, por conta disso, desenvolva algum tipo
de patologia na região mais utilizada, como tendinite ou bursite. Para que
esse quadro seja evitado ou para que seus riscos de saúde diminuam (em
casos de mecanização dos estímulos da vida e depressão), a ginástica laboral
se faz presente como um momento de saúde física e mental, pois proporciona
que a comunicação do corpo tenha outros significados além dos movimentos
constantes. Com isso, o corpo também experiência outros momentos e entra
em contato com pessoas próximas.

Jogos e esportes
Os jogos podem ser considerados brincadeiras de domínio público. Existem
jogos cooperativos, que têm o intuito de promover a interação e a coopera-
ção do educando, e jogos competitivos, que buscam promover o espírito de
competição entre seus adversários. Além disso, existem jogos tradicionais,
que contam um pouco da história de determinada cultura, preservando a
memória do seu povo.
Agora imagine você, quanto aprendizado sobre diferentes culturas os
alunos podem adquirir pelos jogos? É possível aprender diferentes costumes
e movimentos em um mesmo jogo. Imagine a motivação e a determinação
quando estes jogos se tornam uma disputa ou um objetivo de cooperação.
Lembramos que o jogo vai além do campo: nos Estados Unidos, por exem-
plo, existem equipes de torcida para os atletas, com uniformes, pompons e
coreografias. No Brasil, as torcidas de futebol reverberam hinos, usam fogos
de artifícios coloridos, batem palmas sincronizadas e fazem ondas. Cada um
constitui uma maneira de se expressar dentro de uma cultura.
12 Expressão corporal

Lutas
São disputas em que os oponentes se utilizam de técnicas e estratégias de
desequilíbrio, contusão e força dentro de uma área de combate. As lutas se
caracterizam por sua riqueza de detalhes, pois são bastante diversificadas:
existem as lutas de combate, ataque e defesa, lutas folclóricas e artes marciais.
Apesar de o homem lutar desde os primórdios por questões de sobrevivência,
com o passar do tempo a luta foi ganhando outras significações e, assim, pode
ser considerada parte constitutiva da memória do povo em que se insere.
É possível colocar a luta como um facilitador na intermediação de contato
entre o educando e a história do seu país e de outros povos, nações e culturas
diferentes. No Brasil existem diversos tipos de luta, como a capoeira, o judô
e o caratê, além da queda-de-braço e o cabo-de-guerra, cada uma oriunda
de outras culturas. Esse tipo de manifestação cultural é importante para o
indivíduo, pois incentiva o aprendizado sobre o respeito e os cuidados com o
corpo do outro, fazendo-o conhecer a sua força, as suas fraquezas e também
as suas estratégias de luta.

Isadora Duncan, mãe da dança moderna ou contem-


porânea, propôs o “sentir do movimento” na dança,
revolucionando a possibilidade de o indivíduo utilizar
os sentimentos humanos para se expressar, abandonando
aquilo que considerava um “ballet inanimado”, liberando
o corpo para uma dança mais orgânica.
No vídeo disponível no link a seguir você pode
conferir como ocorre a expressão corporal na dança
contemporânea.

https://qrgo.page.link/aoZcr
Expressão corporal 13

Em uma aula de dança na escola, a professora, com o intuito de trabalhar a expressão


corporal, resolve apresentar aos seus alunos um vídeo de dança moderna e pede que
eles o interpretem o seu significado.
A professora mostrou aos alunos o vídeo disponível no link a seguir.

https://qrgo.page.link/nWP12

Todos os alunos assistiram e relataram diferentes interpretações: um aluno pensou


que eles fossem um casal de passarinhos e estavam bravos, querendo fugir, mas ele
era muito grande e não conseguia sair da gaiola e, no final, ela decide ficar. Já outro
aluno sugeriu que eles são amigos e queriam brincar, mas a brincadeira não estava
dando muito certo, logo eles brigavam mais do que brincavam.
Por fim, os alunos montaram a sua versão da história pela dança, em grupos de quatro
pessoas, sem a necessidade da fala, apenas utilizando expressões corporais que os
colegas mais uma vez precisaram interpretar o significado. Ao final, os alunos exerceram
o pensamento crítico acerca dos movimentos, participando não só passivamente do
processo de aprendizagem, mas também ativamente, tendo a livre interpretação
para criar seu contexto.

Como vimos anteriormente, a infância é um precioso momento em que o


indivíduo tem maior possibilidade de captar fontes para melhorar sua expressão
corporal. A cultura corporal, em todos os seus aspectos, possui movimentos de
grande expressividade, possibilitando ao ser humano produzir diversos tipos de
comunicação, dada a necessidade de sobrevivência em meio a uma sociedade
coletiva de anseios e vontades. Essas expressões surgem por meio de gestos,
posturas e ritmos que se ajustam em relação ao espaço e ao tempo, por conta
da respiração e de movimentos de contração e relaxamento e, assim, resultam
na forma como cada pessoa processa todas as informações e as expressa.
Por fim, o corpo é um meio de comunicação não verbal potencial, em que
além dos movimentos coordenados entre contração e relaxamento, ocorre sintonia
com fatores externos ao ambiente, como as questões sociais que influenciam
diretamente a maneira como cada um escolhe andar, se vestir e tomar decisões.
Além disso, todos esses aspectos estão intimamente ligados ao desenvolvimento
motor ao longo da vida, ou seja, quanto mais refinamos o nosso repertório motor,
maiores são nossas possibilidades de expressão corporal. Assim, é possível
compreender que de forma instruída (por meio de aulas) ou de forma natural
(com as experiências da vida), as expressões corporais são fundamentais para
o desenvolvimento da humanidade enquanto seres sociáveis e comunicáveis.
14 Expressão corporal

BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Lovise, 1998. 175 p.


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Expressão corporal 15

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