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TAIS FERNANDA DINIZ SILVA

PORTFÓLIO DE ATIVIDADE PRÁTICA DA DISCIPLINA:


PSICOMOTRICIDADE E PRÁTICAS PSICOMOTORAS NO
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-


Graduação (Lato Sensu) em Educação Infantil,
Alfabetização e Letramento da Faculdade
Instituto Rhema Educação.

Orientador: Prof. Me. André Dias Martins.

IVAIPORÃ
2021
1. INTRODUÇÃO

Muito se ouve falar sobre a psicomotricidade, contudo uma imensa parte dela
permanece desconhecida, mal compreendida, e erroneamente explorada. A sua
importância ultrapassa os muros da escola e se faz presente em cada movimento, em
cada ação desde os primórdios da mais tenra idade. O desenvolvimento psicomotor
está diretamente associado ao processo maturacional existente desde a concepção,
no qual o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
A psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato
motor harmônico. É o campo transdisciplinar que estuda as relações entre a atividade
psíquica e a atividade motora, sendo o ponto de partida para a aprendizagem infantil.
Por esse fato deve ser considerada como a base para qualquer processo de
aprendizagem. É por meio dela que a criança toma consciência de seu corpo, o que
contribui na aquisição da autonomia para a aprendizagem.
Partindo dessas considerações, o presente trabalho tem por finalidade refletir
sobre a importância da psicomotricidade na educação infantil. Pretende-se também
analisar o desenvolvimento de uma criança por meio de atividades psicomotoras.
A pesquisa estrutura-se em dois tópicos. No primeiro, “O referencial teórico”,
procurou-se enfatizar a definição de psicomotricidade por diferentes autores. No
segundo tópico, “Intervenção prática” foi realizado uma análise de três atividades
psicomotoras desenvolvidas por uma criança, evidenciando a importância desse
trabalho para a aprendizagem.

2. OBJETIVO

Essa atividade surgiu da importância do trabalho da psicomotricidade na


educação infantil e pretende analisar três brincadeiras sendo realizadas por uma
criança explorando a psicomotricidade.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Quando queremos explicar o desenvolvimento de algo é comum iniciarmos pela


gênese do fenômeno, por este fato ressaltamos a história da psicomotricidade.
O surgimento da psicomotricidade foi atrelado com a história do corpo. Ao longo
desta história foram registradas perguntas: como explicar as emoções, as sensações
do corpo e qual a relação entre corpo e alma; por que diferenciá-los? (LEVIN, 2003,
p. 22.).
O corpo humano passou a ser evidenciado na Grécia antiga, por meio de
estudos do movimento do corpo junto às emoções, neste período o corpo passou a
ser venerado e contemplado. Segundo Levin, eles demonstravam uma admiração
demasiada:
Através do culto excessivo do esplendor físico cultivando músculos bem
desenvolvidos considerados sinais de masculinidade. O percurso histórico
deste corpo discursivo e simbólico está marcado pelas diferentes concepções
que o homem vai construindo acerca do corpo ao longo da história. Devemos
levar em conta que a palavra corpo provém, por um lado, do sânscrito
garbhas, que significa embrião e, por outro lado, do grego karpós, que quer
dizer fruto, semente, envoltura e, por último do latim corpus, que significa
tecido de membros, envoltura da alma, embrião do espírito (LEVIN, 2003,
p.22).

Essa valorização fazia parte da cultura grega, pois diziam que o corpo
expressava a beleza da alma e que a saúde do corpo era uma virtude. Nesta época
focava-se o dualismo corpo-alma e estudava-se o movimento ligado às emoções, que
não mais podiam ser negadas, sendo que a força do homem estava no controle de
suas emoções (FONTANA, 2012).
Segundo Mello “a origem da psicomotricidade remonta à Antiguidade e, nestes
termos, confunde-se com a História da Educação Física”. Ele faz referências à
concepção de Aristóteles sobre o dualismo corpo-alma, “uma certa quantidade de
matéria (seu corpo), moldada numa forma (sua alma)”. (1989, p.17).
“O dualismo corpo-alma foi estudado por Aristóteles. Ele possuía uma
concepção de que o corpo apresentava certa quantidade de matéria (corpo físico),
moldado numa forma característica (alma)” (FONTANA, 2012, p 12).
Já para Campos (1992) o termo Psicomotricidade surgiu com Dupré em 1920,
significando o entrelaçamento entre o movimento e o pensamento. Ele já tinha uma
visão sobre o desequilíbrio motor denominando o quadro de “debilidade motriz” desde
1909 ao chamar a atenção de seus alunos para tal assunto. Verificou que havia uma
estreita relação entre anomalias psicológicas e as anomalias motrizes, o que o levou
a formular o termo psicomotricidade.
Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade (1980) foi no início do
século XIX que surgiu o termo psicomotricidade:
O surgimento do termo psicomotricidade veio no início do século XIX, nomear
as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o
desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se
que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou
sem que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da
atividade gestual, da atividade prática. Portanto, o "esquema anátomo-
clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal
já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. É, justamente, a partir
da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos
fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, a palavra
PSICOMOTRICIDADE, no ano de 1870.

Nesse sentido a ABP (1980) ressalta a importância de Dupré quando relata


que: “A figura de Dupré, neuropsiquiatra, em 1909, é de fundamental importância para
o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora
(antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato neurológico.”.
Dando sequência a ABP (1980) aborda outro nome muito importante para tal
estudo: “Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano
dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo.
Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio
ambiente e aos hábitos do indivíduo psíquico.".
Então, o médico psicólogo francês Henry Wallon, em 1925, surgiu como um
grande pioneiro da psicomotricidade, ao notar que o movimento humano é um
instrumento fundamental para a construção do psiquismo, e então permitir a relação
do movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo
(ANDRADE, 2013).
Nesse sentido, Fonseca (2004) diz que a psicomotricidade é a integração
superior da motricidade, sendo um produto compreensível entre a criança e o meio,
um instrumento privilegiado do qual a consciência se forma e se materializa. No
Código da Associação Brasileira de Psicomotricidade no seu artigo 1º consta que:

Art 1º - A Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo, o estudo do


homem através do seu corpo em movimento, em relação ao seu mundo
interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com
o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de
maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e
orgânicas.

Em conformidade, Oliveira (2013) relata que a psicomotricidade é uma ciência


que estuda o homem por meio de seu corpo e movimentos, suas relações internas e
externas. Seu estudo está ligado a três principais premissas: o movimento, o intelecto
e o afeto. Deste modo, a psicomotricidade possui uma forte relação com o processo
de aprendizagem.
Seguindo essa vertente (NOGUEIRA; CARVALHO; PESSANHA, 2007)
abordam que a educação psicomotora é indispensável no processo de alfabetização,
pois certamente contribui para que a criança obtenha o conhecimento por meio do seu
corpo e de suas percepções, sensações, prevenindo dificuldades e evitando a
inadaptação escolar.
De acordo com Andrade (2013, p.44) “na educação infantil, a psicomotricidade
deve ser levada a sério, sendo aplicada de acordo com a faixa etária e respeitando as
diferenças individuais e também o grau de maturidade das crianças”.
Para Alves (2008) na educação infantil deve-se ter como prioridade ajudar a
criança a ter uma boa percepção adequada de si mesmo, para que dessa maneira
possa compreender suas limitações e ao mesmo tempo, auxiliar quanto a expressão
corporal com mais facilidade e melhorar suas competências motoras.
Segundo o Plano Nacional de Educação Infantil (2010), quando a criança está
brincando entra em contato com suas fantasias, desejos, sentimentos, conhece a
força e seus limites. Na brincadeira descobre o mundo a sua volta, testa suas
habilidades e competências, aprende regras de convivência com adultos e crianças e
desenvolve diversas linguagens e formas de expressão no lugar onde ela vai estar.

4. INTERVENÇÃO PRÁTICA

A atividade foi realizada durante três encontros de uma hora, em um espaço


acolhedor e receptivo. Durante esses momentos a criança que será apontada na
observação pela sigla “JM” e tem cinco anos, brincou e se divertiu, mostrando-se
animada e tranquila.
No primeiro encontro foi criado um vínculo afetivo, tendo em vista o bem estar
de “JM” durante as atividades, já que os movimentos da criança estão relacionados
com o ambiente, o afeto recebido e suas próprias emoções. A criança teve liberdade
para explorar o espaço, conheceu o ambiente com curiosidade e atenção. Também
tivemos um momento de conversa para nos conhecer melhor, o qual foi bem
interessante, a criança foi bem comunicativa fazendo várias perguntas, como por
exemplo: “você mora aqui?”, “quem mora com você?”, “você gosta de brincar? De
que?”. Aproveitamos e fizemos um lanchinho juntos! Foi muito legal! Para uma melhor
adaptação esse momento não foi interferido por registros fotográficos.
Já no segundo encontro realizamos a primeira brincadeira dessa proposta
intitulada: “pescaria com tampinhas”. O objetivo principal dessa brincadeira é pescar
as tampinhas e transferi-las para a outra bacia. Nessa atividade desenvolvemos a
percepção visual, a coordenação mão-olho, aprimoramos a coordenação motora fina;
desenvolvemos a concentração, além de reaproveitar materiais recicláveis.
No início da brincadeira “JM” foi convidado a participar, e prontamente aceitou
com alegria! então separamos juntos os materiais necessários: duas bacias,
tampinhas de garrafas de diversas cores e tamanhos, colher, dois palitos de madeira
e dois pregadores de roupa, um de plástico e um de madeira. Em seguida,
posicionamos os objetos no chão e começamos a brincar. Foi realizada a explicação
da mesma durante a brincadeira, mostrando na prática cada comando.
“JM” mostrou-se contente e realizou a pescaria da seguinte forma: a primeira
escolha foi a colher, a qual manuseou sem dificuldade, pescando todas as tampinhas.
Figura 1: pescaria com a colher.

Fonte: Elaborada pela autora (2021)

Na sequência utilizou o pregador de plástico, sendo o objeto que teve mais


dificuldade durante a brincadeira, mostrando estar em desenvolvimento do movimento
de pinça, contudo foi persistente e mesmo com dificuldade conseguiu pescar duas
tampinhas com o pregador.
Figura 2: pescaria com pregador de plástico.

Fonte: Elaborada pela autora (2021)

A próxima escolha foi o pregador de madeira, o qual teve uma desenvoltura


melhor do que com o de plástico, relatando ser mais “mole” para apertar.

Figura 3: pescaria com pregador de plástico.

Fonte: Elaborada pela autora (2021)

E para finalizar os palitos de madeira, os quais teve uma boa desenvoltura.


“JM” repetiu a brincadeira diversas vezes e também solicitou participação, dizendo:
“Uma vez de cada!”
Figura 4: pescaria com palitos de madeira.

Fonte: Elaborada pela autora (2021)

No terceiro encontro a atividade proposta foi intitulada: “passa, passa o


pregador”. Esta atividade tem como objetivo estimular a coordenação motora fina, o
movimento de pinça, a lateralidade e o trabalho com quantidade. Nela a criança coloca
o pregador no pote com uma mão e tira com a outra, fazendo a contagem dos
pregadores. Essa atividade foi desenvolvida pensando no desenvolvimento de “JM”
de acordo com suas dificuldades na brincadeira anterior, tendo como objetivo
estimular o movimento de pinça e trabalhar a força muscular.
“JM” chegou para o terceiro encontro eufórico! perguntando qual seria a
brincadeira? Então partimos para ela com muita animação. Separamos os materiais
necessários: Um pote de sorvete, um copo de plástico e cinco pregadores de roupa
de madeira. A explicação foi realizada e “JM” iniciou a brincadeira, ao colocar ele
manuseou o pregador com mais facilidade do que na brincadeira anterior, fazendo
com bastante habilidade. Ele utilizou a mão esquerda mostrando-se ser canhoto.
Figura 5: passa, passa pregador – colocando os pregadores.

Fonte: Elaborada pela autora (2021)

Contudo ao tirar utilizou a mão direita e demonstrou dificuldade, não tendo


muita força para apertar, mas mesmo assim conseguiu tirar todos os pregadores e
realizou a contagem dos mesmos de maneira correta. “JM” assim como na brincadeira
anterior realizou várias vezes.

Figura 6: passa, passa pregador – tirando os pregadores.

Fonte: Elaborada pela autora (2021)


CONCLUSÃO

Com base nos estudos e na análise das atividades realizadas, ficou claro que
a psicomotricidade é primordial para o desenvolvimento integral da criança, ela auxilia
na aprendizagem, beneficia no controle da motricidade, auxilia no autoconhecimento,
além de que fornece à criança a oportunidade de descobrir-se, de compreender seus
sentimentos e o mundo à sua volta, aguçar sua criatividade e desenvolver relações
lógicas.
Perante os três encontros observou-se que a psicomotricidade deve ser
trabalhada não só na escola, mas também em casa, a criança que participou das
atividades demonstrou dificuldades, as quais poderiam ter sido sanadas por meio de
estímulos durante brincadeiras.
A pesquisa corroborou quanto a necessidade do trabalho realizado na
educação infantil no que tange a psicomotricidade, mostrando que é essencial para
um desempenho significativo. Comprovando que a psicomotricidade auxilia na
construção do conhecimento.
As pesquisas referentes a este tema não se esgotam aqui, há muito para ser
explorado e trabalhado, para oportunizar um ensino em que a criança possa ser
protagonista de seu processo de aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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