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Quais são os métodos de intervenção da psicomotricidade?

Existem duas correntes principais de intervenção psicomotora:


1) Psicomotricidade Relacional (Grupo espontâneo, GE), focada no jogo
espontâneo que as crianças desenvolvem);
2) Psicomotricidade Funcional (Grupo dirigido, GD) baseando-se num tipo de
jogo mais dirigido.

O que é intervenção na psicomotricidade?


O foco da Intervenção Psicomotora é encontrar e atuar sobre a causa “do
problema”, procurando sempre manter a intervenção o mais interessante e
lúdica possível de acordo com os interesses da criança. E as causas, para uma
“descoordenação motora” que se observa, podem ser diversas e até múltiplas.

Quais são os conceitos da psicomotricidade?


De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade, o conceito está
relacionado a uma concepção do movimento interligado com as interações
cognitivas, psíquicas, sensoriomotoras e sociais dos indivíduos. ...
Assim, psicomotricidade é o estudo do indivíduo tendo o movimento como
aspecto centralizador.

Quem é o pai da psicomotricidade?


Henry Wallon (1879-1962), médico, psicólogo e pedagogo, é provavelmente, o
grande pioneiro da psicomotricidade, vista como campo científico. Segundo
Fonseca (1988), forneceu observações definitivas acerca de desenvolvimento
neurológico do recém-nascido e da evolução psicomotora da criança.

Quais são os três pilares da Psicomotricidade?


A psicomotricidade é sustentada por três conhecimentos básicos: o
movimento, o intelecto e o afeto. Sendo estruturada por três pilares:
o querer fazer (emocional) – sistema límbico,
o poder fazer (motor) – sistema reticular e
o saber fazer (cognitivo) – córtex cerebral.

Quais os três campos de atuação da Psicomotricidade?


Atualmente, na Psicomotricidade, existem três campos de atuação:
reeducação, terapia e educação. A reeducação é o atendimento individual ou
em pequenos grupos de crianças, adolescentes ou adultos que apresentam
sintomas de ordem psicomotora.
Quais são as principais intervenções da psicomotricidade?
Correr, brincar e pular podem ser atividades determinantes para o sucesso
escolar uma vez que as atividades psicomotoras promovem e facilitam o
acompanhamento da aprendizagem e, ainda, contribuem para o convívio social
das crianças propiciando uma vida mais saudável e produtiva.

Quais os objetivos da intervenção psicomotora?


Neste sentido, são objetivos principais da intervenção psicomotora otimizar
e melhorar a qualidade da relação psicológica, afetiva-emocional e
comportamental do indivíduo através da estimulação dos vários componentes
que a constituem.

O que é psicomotricidade na Educação?

Ela é definida como uma ação pedagógica que entende o movimento


interligado com as interações sociais, psíquicas e cognitivas dos sujeitos.
Alguns pesquisadores também definem a área como uma ciência que estuda o
indivíduo a partir do movimento e interações sociais.

Quem criou a Psicomotricidade relacional?


André Lapierre
A Psicomotricidade Relacional foi criada por André Lapierre, educador
francês, na década de setenta. È uma prática educativa, de valor preventivo e
terapêutico, que permite crianças, adolescentes e adultos, expressarem seus
conflitos relacionais, superando-os através do brincar, do jogo simbólico.

Psicomotricidade

Durante o processo de aprendizagem elementos básicos da


Psicomotricidade são utilizados com frequência para a formação da base
indispensável para o desenvolvimento da criança.
Elementos Psicomotores
 Esquema Corporal;
 Equilíbrio;
 Lateralidade;
 Ritmo;
 Organização espaço-temporal;
 Tônus;
 Imagem Corporal;
 Coordenação global ou motora ampla;
 Motricidade fina

A intervenção psicomotora destaca a relação existente entre a


motricidade, a mente e a afetividade e possibilita que o indivíduo integre e
tenha a consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por
meio dele.

A intervenção psicomotora é indicada para pessoas que podem evoluir


melhor através do agir, da experimentação e do investimento corporal, em
casos nos quais é necessário reencontrar a possibilidade de comunicar e de
organizar o pensamento, privilegiando a experiência concreta ligada à
interiorização da vivência corporal. A intervenção psicomotora tem como
objetivo compensar problemáticas situadas, na convergência do psiquismo e
do somático, intervindo sobre as múltiplas impressões e expressões do corpo e
atribuindo significação simbólica ao corpo em ação (Martins, 2008).

A Psicomotricidade instrumental, também conhecida por Funcional, tem


o foco na cognição (capacidade para planear, a memória, a linguagem, a
atenção, a capacidade de tomar decisões) e na motricidade (equilíbrio, tónus
muscular, a coordenação motora, a motricidade fina, a lateralidade, a noção do
corpo, a organização no espaço e no tempo). Esta vertente de intervenção
utiliza muito as situações-problema, os percursos, os jogos de desafio de forma
a que a criança tenha oportunidade de expandir as suas competências
cognitivas e motoras.
A Psicomotricidade relacional tem um foco essencial na gestão
emocional, na regulação de comportamentos, na adaptação a diferentes
contextos. Utiliza muito o jogo espontâneo que permite à criança espelhar as
suas emoções, o reviver de situações ou sentimentos e ao psicomotricista
entender como a criança vive essas emoções, de onde vêm determinados
comportamentos e como pode ajudá-la a regular as suas emoções e
comportamentos de outra forma. 
Tudo isto é estimulado com ambas as vertentes de intervenção da
Psicomotricidade, a instrumental e a relacional, tornando uma mais valia a
intervenção com o Psicomotricista pela sua abordagem global sobre o
desenvolvimento humano: somos corpo, somos movimento, somos ação,
somos emoção e comportamento. 

CAPÍTULO 1: PARTE 1

Epistemologia da Psicomotricidade

Abordaremos neste tópico a localização do momento histórico onde


surge a Psicomotricidade no campo da saúde e sobre tudo, da saúde mental. A
partir destes conhecimentos passaremos a conceituar a Psicomotricidade na
atualidade.

OBJETIVOS

Neste capítulo pretende-se que sua aprendizagem seja referente a:

 Reconhecer os dados históricos sobre a evolução do pensamento


científico
 Definir o conceito de Psicomotricidade;
 Compreender as diversas formas de intervenção em
psicomotricidade.

A história do corpo
Desde a Grécia Antiga o corpo físico era exaltado tanto por poetas
(como Homero) quanto por filósofos. Os pré-socráticos falavam de “alma” sob
uma visão metafísica, um tanto materialista.

Já Sócrates (470 – 399 a.C.) e seu discípulo Platão (428 – 347 a.C.)
refletiam sobre a imortalidade da “alma” e viam o corpo como lugar transitório
para a “alma” imortal. Preocupavam-se com a moral e com a ética.

“A alma é claramente superior ao corpo e encontra-se nele como uma


prisão... deve-se, por isso, cuidar da alma e não temer a morte.” (Mondin
apud Beresford, 1999)

Discípulo da escola platoniana, Aristóteles (384 - 322 a.C.) posiciona-


se como mais racionalista que Platão. Para ele o corpo é matéria moldado
pela alma. A alma é que põe o corpo em movimento. A alma é a forma do
corpo. O homem é matéria e forma, elementos inseparáveis do Ser.

ATIVIDADE

Vamos fazer uma pausa para realizar um exercício rápido!

Para Platão, a alma antecede o corpo?

a) Não, a alma surge após o corpo nascer.

b) A alma e o corpo surgem ao mesmo tempo.

c) Sim, a alma é anterior ao corpo. X

Com o surgimento do cristianismo, na Idade Média, a Igreja ganha muito


poder e une-se à política. Modificações importantes na compreensão do mundo
(Galileu prova que a Terra gira em torno do Sol.) E o corpo não estava de fora
desse processo! O corpo sagrado e o corpo profano! Mas foi chegando ao
século XVI, com o filósofo René Descartes, que o “corpo” passou a ser visto
como coisa externa e a “alma” como pensante por natureza, estabelecendo, a
partir destes preceitos filosóficos, uma dicotomia, um corte entre corpo e alma,
chamado de dualismo cartesiano.

"É evidente que eu, minha alma, pela qual sou o que sou, é completa e
verdadeiramente diferente do meu corpo, e pode ser ou existir sem ele."
"Penso, logo existo." (René Descartes, Meditaciones metafísicas, México,
Porrúa, 1979, p. 84).

Esse pensamento nos acompanha até os dias de hoje, e a ciência busca


incessantemente demonstrar O erro de Descartes – obra do neurocientista
Antonio Damásio.

Ao final do séc. XVIII, início do séc. XIX, o psicólogo Maine de Biran


identifica o movimento como um componente essencial do Eu. E difere de
Descartes, com a ideia de que a alma precisa do corpo para assumir sua
intencionalidade.

Chegamos ao século XIX que é onde a história da Psicomotricidade


surge realmente!

É importante lembrar que a Psicomotricidade nasce da Neurologia, ou


melhor, de três ramos da Neurologia.

O primeiro deles é o grupo de médicos que se preocupava com


as patologias corticais (Broca, Wernick, Brodmann). Esse grupo tinha
como objetivo maior o mapeamento do cérebro (Homúnculo de Peinfeld –
Figura 1/ Brodmann – figura 2), e como paradigma a relação anatomoclínica,
isto é, para cada sintoma clínico, havia de corresponder uma lesão anatômica.
Este era o “Método estático anátomoclínico” que atribuía a cada sintoma
uma lesão focal no cérebro correspondente (relação direta e de causalidade
entre a lesão e os sintomas).

Essa época foi considerada o período localizacionista onde o corpo


estaria representado no cérebro, de cabeça para baixo, na parte superior e
externa do cérebro, em ambos os lados com representação motora na frente e
sensitiva atrás. Nesse momento histórico, o corpo era visto como uma
máquina.

Foi o olhar sobre os distúrbios funcionais que deslocou o foco da classe


médica para funções que estavam alteradas, porém, sem lesões orgânicas
localizáveis (asma, rinites, gastrites, gagueiras, alucinações, alterações
posturais etc.).
Diante desses quadros clínicos de transtornos funcionais, surgem os
profissionais que darão suporte a esses tratamentos, com o nome de
paramédicos (psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicomotricistas
etc.). É exatamente o enfoque sobre os distúrbios funcionais que faz com que o
modelo anatomoclínico não responda mais a todas as questões, forçando a
evolução da ciência.

Poderíamos fazer uma imagem em analogia ao quadro descrito


anteriormente. Imagine se o médico da época visse o corpo como uma
bicicleta. Nesse ramo da Neurologia ele a veria assim:

Essa bicicleta não anda porque há uma lesão em sua estrutura!

Outra analogia que pode ser interessante para dar uma melhor ideia do
modelo dessa época é pensarmos o corpo como uma máquina (por exemplo,
um automóvel), e o meio médico desse grupo de estudiosos como sendo a
montadora dos carros – preocupam-se com as peças!

O segundo ramo da Neurologia que veio a ser berço para a Psicomotricidade


foi justamente o ramo da Neurofisiologia que tinha como representante o
famoso neurologista russo Ivan Pavlov (1849 – 1936). O objetivo desse grupo
de cientistas era o de compreender o funcionamento do cérebro. Eles
desenvolviam estudos sobre o modelo neurofisiológico da época que era
o modelo estímulo-resposta, e foi trilhando esse percurso que chegaram à
teoria do condicionamento.

.
Ilustração do procedimento experimental feita em 1907 por Nicolai, discípulo de Pavlov.

Ao mesmo tempo, novas descobertas da Neurofisiologia verificavam que


a correspondência entre centro cortical e função não explicava certas
disfunções graves. Foi com Sherrington, em 1906, que o modelo estímulo-
resposta é suplantado pelo que ele descreve como a Ação Integrada do
Sistema Nervoso, isto é, seu papel na regulação das condutas de um
organismo em interação com o meio. Esse pressuposto questiona o paradigma
de Pavlov uma vez que sugere que, embora nossos cérebros sejam
semelhantes em estrutura, cada um deles possui uma forma peculiar de
funcionar a partir de suas relações com o meio e os estímulos aos quais é
submetido. É o início do pensar a individualidade biológica!

Embora estejamos no mesmo momento histórico onde o corpo era visto


como máquina, esse grupo de cientistas não estava intrigado com a estrutura
do cérebro, mas, sim com seu funcionamento, assim, o corpo é visto como
uma máquina em funcionamento (preocupação em como a estrutura
funciona). A simples teoria do reflexo já não permitirá compreender o
funcionamento do organismo, pois, o organismo isolado é diferente do
organismo em uma situação.

Continuando a fazer a analogia com a bicicleta:

Essa bicicleta anda, mas a corrente não permite mudar a marcha. Há


alteração funcional e não lesão estrutural. No que se refere à analogia do corpo
como máquina, podemos pensar esse grupo de cientistas como sendo os
mecânicos do carro – preocupando-se com o funcionamento.
No terceiro ramo da Neurologia, que baseou o surgimento da
Psicomotricidade, temos a Neuropsiquiatria Infantil. Na primeira metade do
século XIX, não se estudava a infância, e o modelo da época, em relação aos
transtornos da infância era de que qualquer distúrbio infantil era visto como
“idiotia” ou debilidade mental, cujo grupo de estudiosos buscava entender o
desenvolvimento do cérebro e da mente.

Nesse campo do saber, se destacam Étienne Esquirol, Philipe Pinel e


Jean-Martin Charcot, com o surgimento do conceito de inconsciente definido de
maneira rigorosa por Freud. Todos os conceitos de persona surgem nesse
momento da evolução da Medicina, e o corpo máquina começa a ganhar
características humanas!

Os estudos do neurologista francês Ernest Duprè (1907) definem


a síndrome da “debilidade motora” composta por sincinesias (movimentos
involuntários que acompanham uma ação); paratonias (incapacidade para
relaxar voluntariamente uma musculatura) e inabilidades, sem que sejam
atribuídos a eles danos ou lesão localizada, e ainda, sem retardo mental!
Dupré correlaciona motricidade e inteligência (paralelismo), mas suas
pesquisas situavam-se em um eixo essencialmente neurológico.

Se usarmos nossa analogia, esse grupo poderia ser associado ao


nosso mecânico de confiança– que se preocupa também em como estamos
cuidando da máquina!
Surgem práticas com propostas de trabalho para esses sintomas, sem lesão
específica

 Ginástica terapêutica;
 Psicodinamia – Philippe Tissié (final séc. XIX — preconcepção da 
Psicomotricidade) que se opõe à Educação Física militarizada e propõe
uma educação pelo movimento, abordada por Le Camus em meados 
do séc. XX). Propõe a aproximação entre o ponto de vista
puramente mecânico e o ponto de vista psicológico.

A palavra psicomotricidade surge no final do séc. XIX, mas ainda


relacionada com zonas do córtex cerebral situadas “mais além” das regiões
motoras, sua definição é inicialmente baseada nos fundamentos
neurológicos.

A partir dos estudos do início do séc. XX, o “imperialismo neurológico” já


não é tão forte e os autores da Psiquiatria e da psicologia passam a ser os que
mais contribuem para o fortalecimento da Psicomotricidade como por exemplo:
Freud (1889/1932); Wallon (1920/1934); Piaget (1930/1940), Montessori,
Decroli e outros tantos que se dedicaram ao estudo da infância, de seu
desenvolvimento e de seus transtornos.

Henri Wallon estuda a relação entre motricidade e caráter (movimento como


construção do psiquismo) e correlaciona o movimento ao afeto, à emoção, ao
meio ambiente e aos hábitos das crianças. Para Wallon, o desenvolvimento da
personalidade não pode ocorrer de forma separada das emoções. Tônus =
pano de fundo de todo ato motor, está diretamente correlacionado com as
emoções e vice-versa. Wallon descreve a forma de comunicação entre a mãe e
o bebê, através das manifestações e alternâncias tônicas-afetivas. Essa forma
de comunicação foi nomeada por ele de “diálogo tônico”, caracterizada pela
“hipertonia do desejo” (manifestação tônica, observada através do aumento de
tônus do bebê e do choro, quando o bebê sente necessidades, como fome, frio,
desejo de aconchego etc.) e pela “hipotonia da satisfação” (manifestação
tônica, observada através de um estado de relaxamento global, após uma
mamada, uma troca de fralda etc.).
O paralelismo entre motricidade e caráter (Wallon) e entre motricidade e
inteligência (Dupré) é quando percebemos se delineando o campo da
psicomotricidade.

É por esse caminho que os olhares se voltam para a importância do outro


na formação da pessoa! O humano é o único animal que depende
totalmente do outro para sobreviver aos primeiros anos, e, mais que isso,
depende do outro por toda a vida!

1925/1930 – falava-se em distúrbio motor (e não em distúrbio psicomotor), e é


criado o Serviço de Neuropsiquiatria dirigido por Heuyer. Heuyer falava mais
dos distúrbios da motricidade e indicava a reeducação motora para retardados
e crianças inteligentes com distúrbios motores isolados (demonstrava reservas
aos estudos de Wallon sobre as síndromes psicomotoras).

Baseado nas perspectivas teóricas abertas por Wallon, Edouard


Guilmain (1901/1983) introduz o protótipo do exame psicomotor, mais tarde
consolidado por Pierre Vayere aplica as ideias de Dupré e Wallon. Buscava
encontrar um método de exame direto, para descobrir o “fundo” do qual os
“atos” são a “consequência”.

Edouard Guilmain cria um esboço da reeducação psicomotora, através


de exercícios de educação sensorial, educação de desenvolvimento da
atenção e trabalhos manuais. Guilmain indicava a reeducação psicomotora
para acabar com os distúrbios de comportamento. Os objetivos da reeducação
eram: reeducar a atividade tônica (através de exercícios de atitudes, de
equilíbrio, de mímica), melhorar a atividade de relação (através de exercícios
de dissociação e de coordenação motora com apoio lúdico) e desenvolver o
controle motor (com exercícios de inibição para instáveis e de desinibição para
emotivos).

Entre 1935/1956 o trabalho da Psicomotricidade era impessoal.


Arbitrário, impessoal e estruturado através de métodos e técnicas com uma
sequência rígida (como uma receita para “cura”). Os psicólogos do
comportamento (os behavioristas), como Hall e Skinner, se dedicam ao estudo
das reações do sujeito em face às solicitações do meio, trabalham definindo e
estudando de forma mais minuciosa o conceito de reflexo de Pavlov, e o
conceito de comportamento.

Na Alemanha, os psicólogos estudam a fundo os mecanismos da


percepção originando a Teoria da Gestalt (psicólogos da forma). O período
entre 1947/1959 é marcado pela passagem da Psicomotricidade do campo
exclusivo da Neurologia e da Psicologia para uma aliança com a Psiquiatria.

Essa passagem se dá graças às influências principalmente de


Ajuriaguerra e René Diatkine. Em 1947, Ajuriaguerra redefine a “debilidade
motora” de Dupré como uma síndrome com suas próprias particularidades.

1959 — o mesmo Ajuriaguerra aprofunda os conhecimentos inter-


relacionando à Neuropatologia, à Psicologia do Desenvolvimento e à
Psicanálise.

 Ajuriaguerra afasta definitivamente a Psicomotricidade da visão do


dualismo cartesiano e do período localizacionista. Ele retira o hífen
de psico-motricidade e dá à palavra Psicomotricidade uma unidade;
 Descreve, através de seus estudos, uma abordagem terapêutica,
composta de etiologia, sintomatologia, formas de avaliação e
tratamento;
 Estabelece um exame psicomotor e uma técnica psicomotora
específica;
 Ajuriaguerra une o desenvolvimento infantil ao neurológico, e alerta
que, ao contrário do que dizia Descartes, o corpo não é ferramenta
ou objeto mensurável, e diz:
“O homem e seu corpo” “O homem É o seu corpo”
Descartes Ajuriaguerra

Ajuriaguerra define a Psicomotricidade:

“É uma técnica que por intermédio do corpo e do movimento dirige-se ao ser na


sua totalidade. Ela não visa à readaptação funcional por setores e muito
menos, a supervalorização dos músculos, mas a fluidez do corpo no seu meio.
Seu objetivo é permitir ao indivíduo melhor sentir-se e, através de um maior
investimento da corporalidade situar-se no espaço, no tempo, no mundo dos
objetos e chegar a uma modificação e uma harmonização com o outro.”
Na década de 1970, G. Soubiran, na França, trabalha com a relaxação,
e Bergès, Diatkine, Jolivet, Leibovici, entre outros definem a Psicomotricidade
como “uma motricidade de relação”.

Em meados dos anos 1970, a Psicomotricidade chega ao Brasil trazida


por profissionais das áreas de Saúde e da Educação (Solange Thiers, Beatriz
Saboya, Regina Morizot), que buscaram, nas escolas francesas (André
Lapierre, Françoise Desobeau, Bergès e outros), o aprofundamento dessa
nova ciência.

Inicia-se então uma diferença entre a postura reeducativa e a postura


terapêutica (terapia psicomotora), o corpo passa a ser abordado em sua
“globalidade”. Começa-se a dar mais importância à afetividade e ao emocional
do sujeito.

A partir dessa época, começa-se a levar em conta autores como : S.


Freud, M. Klein, Winnicot, Spitz, Zazzo, W. Reich, Schilder, Lacan, Manoni, F.
Dolto, Samí Alí, entre outros psicanalistas que falavam da vida emotiva do
sujeito e entram no vocabulário da psicomotricidade termos como:
inconsciente, transferência, imagem do corpo, entre outros.

Outros autores franceses produzem estudos em Psicomotricidade


durante todo o séc. XX: Le Boulch, Pick, Vayer, F. Desobeau, H. Boucher, J.
Claude Coste, Gesell.
No Brasil, desde os anos 1970, diversos profissionais da Saúde e da
Educação vêm desenvolvendo seus trabalhos em Psicomotricidade e, em
1980, fundaram, juntos, a Associação Brasileira de Psicomotricidade, órgão
representativo da classe dos psicomotricistas e que, hoje, é responsável pela
titulação de diversos profissionais.

Em 1990, foi implantado, no Brasil, o primeiro curso de graduação em


Psicomotricidade, no Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR),
no Rio de Janeiro, reconhecido pelo MEC em 1997, extinto em 2013.

SAIBA MAIS...
Desde 1998, a sociedade brasileira, juntamente com o IBMR vem
lutando para o reconhecimento dessa profissão diante do Ministério do
Trabalho em Brasília. Qualquer interessado pode associar-se à Sociedade
Brasileira de Psicomotricidade, visite o
site: http://www.psicomotricidade.com.br.

Atualmente, na França, encontramos Bérgès e M. Bounes, Frédérique


Bosse- Demirdjian que desenvolveram seus próprios métodos de relaxação, e
inúmeros outros profissionais que contribuem para a divulgação da
Psicomotricidade no mundo. Na Espanha, temos Nuria Frank, Victor Garcia
que seguem a linha da Psicomotricidade relacional. Na Argentina, temos
Esteban Levin que propõe a Clínica Psicomotora, com bases nos conceitos da
Psicanálise; Daniel Calmels com lindas obras publicadas, entre outros. No
Uruguai, temos a faculdade dirigida pelo Prof. Juan Mila e inúmeros
profissionais atuantes em Psicomotricidade. Temos psicomotricistas no México,
Chile, Alemanha, Itália, Portugal, enfim tal carreira está em franca expansão no
mundo, configurando um grande campo profissional para o novo milênio.

“É deste modo que a Psicomotricidade separou-se da Neuropatologia do


movimento.”
.

Conceitos da Psicomotricidade
Esteban Levin
“A Psicomotricidade se ocupa de um sujeito que fala através de seu corpo, suas
posturas, seus movimentos, seus gestos, seu tônus muscular, seu eixo
corporal.”... “não é o corpo que sofre ou que fala, mas sim um sujeito que fala
através de seu corpo, de seus movimentos, de suas relações tônicas, de seus
gesto.” “Tornar-se psicomotricista é um trabalho que não tem fim, pois, a cada
vez, com cada paciente, começa o trajeto cheio de particularidades que só
culmina com um recomeçar de novo...” O compromisso e a responsabilidade do
psicomotricista é “não retroceder frente ao sujeito que fala e sofre através de seu
corpo.” (A especificidade da prática Psicomotora — Anais VI Congresso
Brasileiro de Psicomotricidade, 1995).
B. Saboya
“Um meio que utiliza o corpo em movimento, visando à harmonização do
indivíduo com o seu mundo interno e o seu mundo externo”. (Bases
Psicomotoras – Saboya, 1995).
Jean-Claude Coste
“É uma técnica em que se cruzam múltiplos pontos de vista e que utiliza as
aquisições de numerosas ciências constituídas (Biologia, Psicologia, Psicanálise,
Sociologia e Linguística)” [...] “A reeducação psicomotora tem por objetivo
desenvolver esse aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao
indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de
aperfeiçoar o seu equilíbrio.” (A Psicomotricidade – Coste, 1977).
Lapierre
“A noção de Psicomotricidade é muito vasta para se prestar a uma definição
precisa e definitiva. O pensamento motor é todo movimento indissociável do
psiquismo que o produz e implica desse fato a personalidade total e,
inversamente, o psiquismo, nos seus diferentes aspectos (intelectual, afetivo, de
relacionamento etc.), é indissociável dos movimentos que condicionaram ainda
seu desenvolvimento.” (Simbologia do Movimento —Lapierre,1982)
Vayer
“Cada criança busca no outro a sua própria identidade, sua própria necessidade
de segurança.” (Linguagem corporal — Vayer, 1985)
Picq e Vayer
“A educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica, utilizando meios
da Educação Física, com o objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento
da criança”. (Educação Psicomotora e Retardo Mental — Picq e Vayer, 1984)
Le Boulch
“A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda
criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta as possibilidades da
criança e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do
intercâmbio com o ambiente humano.
A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-problemas nos
quais a dimensão afetiva ou relacional parece dominante na instalação inicial do
transtorno. Pode estar associada à educação psicomotora ou se continuar sem
ela...
Ao contrário, a reeducação psicomotora impõe-se nos casos onde o déficit
instrumental predomina, ou corre o risco de acarretar secundariamente problemas
de relacionamento.” (O desenvolvimento psicomotor — Le Boulch, 1981
Wallon
“O movimento é, antes de tudo, a única expressão e o primeiro instrumento do
psiquismo.” (A criança turbulenta – Wallon, 1925)
O embasamento teórico da Psicomotricidade está alicerçado nos conhecimentos
da ontogênese (evolução da espécie).
Wallon, Winnicott, Gesell, Piaget, Spitz, Freud, Binet-Simon e outros estudiosos
pesquisaram as fases e os processos de evolução motora, perceptiva relacional,
cognitiva.
Desenvolvimentista é uma linha de trabalho no qual se procura estar atento,
inicialmente, à compreensão da história do indivíduo, levando-se em conta o
desenvolvimento considerado desejável, verificando desarmonias e procurando
estabelecer, dentro do possível, em que ponto ou pontos ocorreram bloqueios.
Ao psicomotricista interessa o corpo e a motricidade de um sujeito em suas
diferentes variáveis: privilegia o olhar. Já a Psicanálise ocupa-se de escutar o
discurso de um sujeito fundamentalmente em seus atos falhos, sonhos,
esquecimentos, lapsos etc
Definição segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade
“É uma ciência que estuda o homem através do seu corpo em movimento, em
relação ao seu mundo interno e externo, e de suas possibilidades de perceber,
atuar e agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao
processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,
afetivas e orgânicas.” (http://www.psicomotricidade.com.br)
Ou seja, é a ciência que se ocupa do estudo do homem em movimento e com a
evolução das relações de seu corpo com seu mundo interno (sensações,
fantasias etc.) e com seu mundo externo (o corpo em movimento no espaço, no
tempo e no social).

Objeto de estudo

O objeto de estudo da Psicomotricidade refere-se ao “indivíduo humano e suas


relações com o corpo” (Psicomotricidade — Coste, 1981)
Qual o papel da Psicomotricidade?

No campo da educação infantil, a Psicomotricidade visa a promover situações


que coloquem o corpo em cena, estimular o desenvolvimento sensorial e da
postura, dos movimentos e das relações que possibilitem uma evolução
psicomotora e ainda prevenir futuras alterações ou obstáculos que possam vir
a surgir no processo da aprendizagem formal.

Quais os instrumentos da prática psicomotora?

O olhar psicomotor que busca ver além do sintoma que o sujeito possa
apresentar;

O jogo corporal, onde são colocados em cena os fantasmas, as fantasias e os


desejos do sujeito, fornecendo diversas possibilidades de ressignificação destes;

O movimento, envolvendo o corpo do sujeito e suas relações com os objetos;

O tônus, enquanto ponte entre o hemisfério psíquico e o físico;

A postura enquanto atitude do ser-no-mundo;

As noções de espaço e de tempo na relação com o corpo do sujeito.

Quem é o psicomotricista?

É o profissional que tem por campo de trabalho o corpo do sujeito em


movimento, analisa as relações que esse constrói com o tempo e o espaço,
auxilia nas descobertas de novas formas de utilização desse corpo por meio de
recursos técnicos específicos, em busca de um maior conhecimento pessoal,
mais conforto e destreza corporal.

Qual a formação de um psicomotricista?

No Brasil, hoje, temos a graduação de Psicomotricidade, no IBMR; Algumas


pós-graduações (UNESA, UERJ, IBMR, UNIFOR).
No exterior, os grandes centros de formação nesta área são França, Itália,
Espanha, Uruguai e Argentina.

Princípios básicos da Psicomotricidade

Quando se fala em desenvolvimento motor é preciso reconhecer de que forma


ele se dá, quais as normas de evolução e todo o processo de maturação
motora. Dessa forma é preciso identificar as leis que acompanham o
desenvolvimento motor, são elas:

A evolução motora da criança se dá da cabeça


(controle e sustentação da cabeça), para parte
CÉFALO - CAUDAL
inferior do corpo (até o controle dos membros
inferiores que possibilita o “andar”);

O desenvolvimento motor responde pela


sequência evolutiva direcionada do eixo do
corpo para as extremidades dos membros, e
PRÓXIMO DISTAL dos grandes grupos musculares para as
menores unidades, ou seja, primeiro observa-
se o controle do tronco até chegar ao controle
motor mais finos dos dedos.

Dessa forma podemos estudar a evolução motora de um bebê, observando e


avaliando seu desempenho, sua destreza, sua força e todo seu controle motor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Mattos V & Kabarite, A - Avaliação Psicomotora – um olhar para além do 


desempenho, Rio de Janeiro – WAK editora, 2013

Coste, J C – A Psicomotricidade. 4ª edição, Rio de Janeiro, Guanabara-


Koogan, 1989
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

A Interpretação da Norma Jurídica

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei n. 12.376/2010), antiga


Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei n. 4.657/1942), embora
pequena, com apenas dezenove artigos, apresenta diversas regras destinadas
a orientar o operador e aplicador do direito:

LINDB

Arts. 1º e 2º Vigência das normas

Art. 3º Obrigatoriedade das normas

Art. 4º Integração da norma

Art. 5º Interpretação da norma

Art. 6º Aplicação da norma no tempo

Arts. 7º a 19º Aplicação da norma no espaço

A LINDB – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro aplica-se na


orientação de todas as normas do ordenamento jurídico brasileiro, seja no
âmbito Privado ou Público, inclusive no Direito Internacional.

Lei Complementar n. 95/98, art. 8º – A vigência da Lei será indicada de forma


expressa e de modo a contemplar prazo razoável, para que dela se tenha
amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data da sua
publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1º – A contagem do prazo
para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á
com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em
vigor no dia subsequente à sua consumação.

Prazos para Vigência de Lei

Os prazos para vigência de uma lei são em regra contados a partir da sua
publicação oficial.

Ao lapso temporal entre a publicação e a vigência de uma lei chamamos


de vacatio legis. A vacatio legis é o prazo razoável para que ninguém alegue a
ignorância da lei. Durante a vacatio, a lei existe mas não é obrigatória, contudo
para garantir o seu texto integral, será considerada vigente retroativamente
desde o dia da sua publicação, após exaurido o lapso da vacatio, conforme
esclarece o Art. 8º, § 1º da LC n. 95/98.

O prazo para vigência de uma lei no Brasil é de quarenta e cinco dias após sua
publicação oficial. Admitindo exceção, quando o próprio texto de lei expressar
disposição contrária. Contudo para vigorar no estrangeiro, se aceita a lei, o
prazo é de noventa dias a partir da publicação oficial.

Toda legislação antes de entrar em vigor passa por um processo, que envolve
cinco fases:

a) a elaboração;

b) a promulgação;

c) a publicação;

d) a vacatio legis;

e) a vigência.

Se vier a ocorrer nova publicação da lei, desde que ainda não tenha entrado
em vigor e mesmo que exclusivamente para correção de meros erros materiais,
sua obrigatoriedade ficará condicionada a novo período de vacatio, a contar da
última publicação. Se a lei corrigida já estava em vigor, será considerada a
versão corrigida e última como lei nova (LINDB, Art. 1º, § 4º).
A Revogação da Lei

Não se tratando de lei temporária, a vigência de uma lei permanece até que
outra a modifique ou revogue, este é o princípio da continuidade das leis.

A Vigência Temporária da Lei

Examinando o Art. 2º, caput, da LINDB é possível verificar que existem dois


tipos de leis, as leis de vigência permanente e as leis de vigência temporária.
Em regra, todas as leis são de vigência permanente. No entanto, serão de
vigência temporária quando expressamente delas constar: a) prazo de
duração; b) condição resolutiva; ou c) se é alcançada sua finalidade. Nestes
casos ocorre a caducidade da norma, quando a circunstância torna a norma
sem eficácia.

LINDB:

– Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra
a modifique ou revogue.
– Art. 2º–§ 1º– A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que tratava a lei anterior.

– Art. 2º – § 2º – A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a


par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

– Art. 4º– Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

– Art. 5º – Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.

– Art. 2º, § 3º – Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura


por ter a lei revogadora perdido a vigência.

– Art. 3º– Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Da Extensão da Revogação da Lei

A revogação da lei se divide em duas classes, a primeira refere-se à sua


extensão e a segunda quanto à forma de execução.

A revogação quanto à I) extensão, pode ser: a) total ou b) parcial.

A revogação total, também denominada por ab-rogação, configura-se quando o


texto da lei nova sepulta por completo a vigência do texto anterior, sem
qualquer ressalva.

A revogação parcial, também chamada de derrogação, afeta apenas


parcialmente a norma anterior, permitindo que ainda vigore parte do texto legal.

Além das duas situações acima, em que temos a perda de eficácia da norma
jurídica, cumpre salientar também que o Supremo Tribunal Federal pode
afastar vigência das leis que julgar inconstitucionais quando suspensas pelo
Senado Federal através do controle difuso de constitucionalidade (art. 52 da
CF).

Da Forma de Revogação da Lei

Quanto à classe de revogação pela forma de II) execução, pode ser:

a) expressa ou b) tácita.
A revogação será expressa quando a lei nova descrever de modo expresso
que revoga a lei anterior, é o que diz a primeira parte do § 1º do Art. 2º da
LINDB.

A revogação de forma tácita exige um maior esforço interpretativo do aplicador


da norma, pois a situação pode apresentar uma antinomia, ou seja, um conflito
de normas (antiga e nova), obrigando-o a adotar certos critérios para a sua
solução, como explica Maria Helena Diniz (DINIZ, Conflito de normas. 2009):

a) critério cronológico – lex derogat legi priori

b) critério hierárquico – lex superior derogat legi inferior, e

c) critério especial – lex specialis derogat legi generali.

a) Critério cronológico, lex derogat legi priori, é aplicável quando a lei nova for
incompatível com a lei anterior ou regule de modo integral a mesma matéria,
como se pode notar da segunda parte do § 1º do Art.

2º da LINDB.

a) Critério hierárquico, lex superior derogat legi inferiori, prevê a possibilidade


de revogação tácita, quando uma lei hierarquicamente inferior cuidar de
matéria dita por uma lei de maior grau hierárquico.

Por exemplo: A Constituição Federal revogou de forma tácita diversas


disposições legais de leis infraconstitucionais.

b) Critério Especial– O critério da especialidade ou critério especial, lex


specialis derogat legi generali, prevê que a lei especial prevalece sobre a lei
geral, revogando-a. Contudo se a lei nova estabelecer disposições gerais ou
especiais, a par das já existentes, não revoga, nem modifica a lei anterior. Isto
quer dizer que, se a lei nova nada disser sobre a conservação do conteúdo
existente em lei anterior, e com aquele texto anterior vier a conflitar sua
matéria, poderá ser revogada tacitamente, pela lei especial, ainda que mais
velha (critério da especialidade). A coexistência de normas tratando do mesmo
assunto é possível, desde que não exista entre elas incompatibilidade. Quando
esta surgir, competirá ao aplicador da norma aplicar os critérios para afastar a
antinomia.
As Antinomias

Os conflitos de normas, que recebem o nome de antinomias, possuem então


três critérios para sua solução, conforme já estudamos no que era tratado
quanto à revogação tácita da norma. Os critérios cronológico, hierárquico e
especial obedecem a mesma lógica já exposta. A antinomia aparente é um
conflito que se resolve pelos critérios de modo simples, não trazendo maiores
dificuldades. Enquanto a antinomia real não se resolve tão somente pela
aplicação dos critérios, sendo necessário aplicar a técnica de integração para
lacunas da lei. A antinomia será de primeiro grau, quando um critério for
suficiente à resolução do conflito e de segundo grau quando envolver mais
outro.

A Repristinação da Lei

A repristinação da lei é o fenômeno que permitiria devolver o estado anterior de


vigência de uma lei já revogada. Embora nosso ordenamento não permita que
uma lei revogada restaure sua vigência, se a lei nova fizer expressa menção à
lei revogada (note o art. 2º, § 3º, o qual diz "salvo o contrário...") para que o
efeito repristinatório se aplique, isto será possível.

A Obrigatoriedade das Normas

A vacatio legis, que se inicia com o período de publicação de uma lei, após seu
longo trâmite legislativo, tem a função de dar amplo conhecimento da lei, sendo
que a partir de sua vigência a lei opera erga omnes. Como se percebe, não se
pode alegar ignorância da lei, pois ela possui eficácia global, pelo princípio da
obrigatoriedade. Entretanto, de acordo com Rene Gustavo Nicolau, quando
excepcionalmente em casos nos quais a ignorância ou errônea compreensão
da lei ocorrer, poderá a pena deixar de ser aplicada, nos moldes do que dispõe
o Art. 8º do DL n. 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais). Exemplo: emissão
de fumaça que impede o motorista de ver a placa de trânsito ou semáforo.

Da Integração da Norma Jurídica

Conforme pudemos observar, o sistema jurídico para solução dos conflitos


judiciais privados é misto sendo, portanto, possível o uso das técnicas
legislativas de integração da norma jurídica. Estudamos a aplicação das
cláusulas gerais e dos conceitos jurídicos indeterminados, além da influência
dos princípios constitucionais (princípio da dignidade da pessoa humana,
princípio da solidariedade e princípio da isonomia), da função social e dos
princípios norteadores do Código Civil (eticidade, socialidade e operabilidade),
para auxílio do magistrado na decisão do caso concreto.

Nosso ordenamento jurídico não permite ao juiz invocar a cláusula non liquet,


deste modo, está o magistrado obrigado a julgar todos os pedidos que receber,
ainda que não exista norma jurídica que discipline a matéria. Caso não exista
norma (lacuna) ou persistindo dúvida, o sistema se abre para que o aplicador
lance mãos das técnicas de integração da norma, até que, após ponderar,
decida, julgando o caso concreto.

Desse modo, o juiz cria através de seu julgamento a norma para aquele caso,
colmatando a lacuna, afastando o conflito, e a coisa julgada, quando emergir,
fecha o sistema em relação àquela disputa específica.

A atividade de interpretação das normas jurídicas se destina a fornecer ao juiz


subsídios para auxiliá-lo no julgamento da causa, mesmo quando estiver diante
de uma lacuna da lei ou de um conflito de normas.

Temos vários recursos a auxiliarem o magistrado nesta tarefa de integração da


norma, inicialmente o juiz dispõe, como vimos, dos princípios constitucionais,
das cláusulas gerais, dos conceitos jurídicos indeterminados e da função
social. Não sendo bastantes, seguirá ao estudo das fontes do direito. Vamos
recordar as fontes diretas e indiretas estudadas no início desta obra, conforme
ilustração aqui repetida:
As Lacunas da Norma Jurídica

Como o juiz está impedido de deixar de julgar o caso concreto, quando a lei for
omissa, ou seja, existindo uma lacuna da norma, ele recorrerá as fontes do
direito, na seguinte ordem de preferência: a) analogia; b) costumes e c)
princípios gerais do direito. Sem dificuldade se observa pela ilustração abaixo
em comparação com a anterior que as fontes do direito são o recurso primário
para integração da norma, em especial, a jurisprudência (analogia), o costume
e os princípios gerais do direito.
Quando vimos as fontes do direito observamos que a Lei é fonte primária, e o
costume fonte secundária, além de outras fontes supletórias como a
Jurisprudência, a Doutrina e os Princípios Gerais do Direito.

Para aplicação da analogia, é necessário: 1) a constatação da existência da


lacuna; 2) a semelhança entre o caso concreto e outra lei ou julgado; e 3) os
fundamentos jurídicos e lógicos devem ser semelhantes ao caso em concreto.
Convém salientar que é possível recorrer a analogia legislativa, situação na
qual se busca reger por legislação diversa caso semelhante, ou analogia
jurisprudencial, na qual o juiz poderá se socorrer de julgados de questões
semelhantes analisados pelos tribunais.

Os costumes são fonte supletória ou secundária, tratam da prática uniforme,


conhecida de todos quanto a determinado ato. Podem ser:

a) Praeter legem – quando aplicáveis subsidiariamente pela omissão de lei, e

b) Secundum legem – quando o próprio legislador determinar.

Os costumes não são aplicáveis quando forem contra legem. Isto porquê a
aplicação dos costumes quando a lei estiver em desuso pode configurar abuso
de direito (art. 187 do CC).

a) viver honestamente – honeste vivere;

b) dar a cada um o que é seu – suum cuique; e

c) não lesar o próximo – suun cuique tribuere.

A equidade é a atividade do aplicador da lei que traz a ideia de distribuição de


modo justo, proporcional e razoável, sob análise do caso concreto. Embora não
se qualifique como elemento de integração da norma, ocupa espaço para tal
finalidade sempre que a própria lei fizer sua previsão 10. Se a lei não expressar
sua aplicação para este fim a equidade não deverá ser aplicada 11.

NOTAS
10
CPC, Art. 127. O Juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
11
Nota Explicativa: O legislador desejou limitar a aplicação da equidade para
evitar sua evocação pelo magistrado em casos nos quais ela não é devida.
Da Interpretação da Norma Jurídica

Interpretar consiste em descobrir sua essência, a ratio legis. Para que o juiz
possa aplicar a lei atendendo aos seus fins sociais e às exigências do bem
comum é necessário que proceda à sua interpretação quanto à origem, quanto
ao método ou quanto ao resultado, considerando seu contexto social
contemporâneo, em harmonia com todo o ordenamento jurídico, levando em
conta o caso concreto através das provas lícitas nele contidas, valorando-as, e,
ao final decidindo por sentença, a pacificação do conflito, não violando direito
alheio12.

NOTA
12
LINDB, Art. 5º– Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum.

Portanto, a aplicação e a interpretação da norma jurídica pelo magistrado se


dará quanto: 1) à origem, 2) ao método ou 3) ao resultado.

1) Quanto à origem, pode ser:

a) Autêntica– quando decorre do próprio legislador, pois seu sentido é


explicado por outra lei;

b) Doutrinária– quando sua interpretação vier da doutrina, das obras científicas;

c) Jurisprudencial– quando proveniente da jurisprudência dos tribunais.

2) Quanto ao método, pode ser:

a) Gramatical – quando buscar auxílio nas regras da língua;

b) Lógica– quando procura reconstituir o pensamento do legislador;

c) Histórica- busca o momento da criação da norma;

d) Sistemática– quando visa harmonizar o texto ao sistema jurídico como um


todo;

e) Teleológica – quando se apega aos fins para os quais a lei foi editada.
3) Quanto ao resultado, pode ser:

a) Declaratória– quando se limita a dizer qual é o sentido da norma;

b) Restritiva– quando se restringe ao sentido da lei, por ter o legislador dito


mais do que deveria dizer;

c) Ampliativa– quando se amplia a interpretação do sentido da lei, por ter o


legislador dito menos do que deveria dizer.

Da Aplicação da Norma no Tempo

A lei visa atender às situações que ocorrem durante a sua vigência, ou seja,
projeta-se ao futuro. Em solução às dúvidas que venham a surgir, em razão da
intertemporalidade, a lei obedece aos critérios das disposições transitórias e da
irretroatividade.

No Código Civil, encontraremos as disposições finais e transitórias, nos artigos


2.028 a 2.046. Trata-se de critérios que visam facilitar a aplicação da norma no
tempo, a fim de evitar conflitos entre normas.

Como vimos, existirá um conflito de normas (antinomia) quando duas ou mais


leis regularem a mesma relação jurídica.

Para compreensão da aplicação da norma no tempo, o estudo da noção básica


do direito intertemporal se faz necessário. Este divide as relações jurídicas em
três hipóteses de ocorrências: a) A retroatividade da lei nova; b) O efeito
imediato da lei; e c) Se dá a sobrevida da lei antiga.

A lei em regra não retroage a fatos anteriores à sua vigência 13, a não ser
quando ela formalmente expresse em seu texto esta finalidade e não ofenda ao
ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada. Também é possível
que a lei retroaja em benefício do réu no direito penal 14.

A lei nova, conforme já estudamos, produz efeitos imediatos após seu período
de vacatio legis, aplicando-se aos casos passados e futuros.

A sobrevida ou manutenção dos efeitos de legislação anterior se refere a três


situações: a) ato jurídico perfeito; b) direito adquirido; e c) coisa julgada.

A lei antiga continuará emanando seus efeitos sobre relações jurídicas


definidas pelas hipóteses acima descritas, em razão de terem se
consubstanciado de modo pleno antes da vigência da lei nova.

a) Ato jurídico perfeito – se consumou de modo cabal anteriormente à lei


nova15;

b) Direito adquirido – se incorporou ao patrimônio de seu titular 16; e

c) Coisa julgada – decisão judicial irrecorrível 17.

NOTAS
13
Nota Explicativa: O direito brasileiro aplica o princípio da irretroatividade da
lei. Deste modo a lei vigente aplica-se a partir de sua entrada em vigor a todos
os casos presentes e futuros.
14
Nota Explicativa: Princípio da retroatividade benéfica penal, na Constituição
Federal de 1988, Art. 5º, XL, que dispõe que: “A lei penal não retroagirá, salvo
para beneficiar o réu.”
15
LINDB, Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º. Reputa-se ato
jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou.
16
LINDB, Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 2º. Consideram-se
adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição
preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
17
LINDB, Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 3º. Chama-se coisa
julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

Da Aplicação da Norma no Espaço

Nos artigos 7º a 19 da LINDB encontraremos a descrição da aplicação da


norma no espaço. Trata-se das disposições de Direito Internacional Público e
Privado.

O legislador dispõe que é o domicílio da pessoa, em ânimo definitivo, que


determinará as regras sobre o início e o fim da personalidade, o nome, a
capacidade e os direitos de família18.

Quanto ao casamento existem algumas regras específicas. Conforme abaixo


descrevemos:

Quanto ao local onde é celebrado o casamento, se a questão judicial busca


arguir impedimentos ou questões ligadas às formalidades do casamento, pouco
importará se os nubentes não são brasileiros; será competente o Brasil para
apurar a questão, afastando-se a regra do foro de domicílio 19.

Considera-se eficaz o casamento brasileiro feito no estrangeiro, ou vice-versa,


perante autoridades diplomáticas ou consulares de ambos os nubentes 20.

Quando se pleitear a invalidade do casamento, e havendo domicílio diverso


entre os nubentes, restará eficaz a lei que viger no lugar do primeiro domicílio
conjugal21.

A lei que regerá o regime de bens no casamento, seja legal ou convencional,


será aquela vigente no lugar onde forem domiciliados, ou no local do primeiro
domicílio conjugal22.

Quanto aos bens, aplica-se a lei de onde estiverem localizados, ou a lei do


domicílio de seu proprietário quando este estiver de transporte para outro
lugar23.

As obrigações se cumprirão no local onde foram constituídas 24.


Ainda restam alguns poucos artigos os quais não são indispensáveis ao estudo
proposto.

NOTAS
18
LINDB, Art. 7º, caput.A lei em que domiciliada a pessoa determina as regras
sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos
de família.
19
LINDB, Art. 7º. A lei em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família. § 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei
brasileira, quanto aos impedimentos dirimentes às formalidades da celebração.
20
LINDB, Art. 7º. A lei em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família. § 2º. O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante
autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
21
LINDB, Art. 7º. A lei em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família. § 3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de
invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
22
LINDB, Art. 7º. A lei em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família. § 4º. O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país
em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro
domicílio conjugal.
23
LINDB, Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a eles
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. § 1º.
Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos
bens móveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
24
LINDB, Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país
em que constituírem.
Métodos de Intervenção

Neste capítulo descreveremos algumas das técnicas de intervenção em


Psicomotricidade e iniciaremos os estudos relativos às sensações, percepções,
memória e ações motoras e como funciona nosso cérebro para que estes
fenômenos ocorram.

OBJETIVOS

Neste capítulo pretende-se que sua aprendizagem seja referente a:

 Compreender as diversas formas de intervenção em psicomotricidade;


 Explicar a pertinência da psicomotricidade na Fisioterapia;
 Reconhecer as funções das estruturas do sistema nervoso – o 
cérebro executivo.

Intervenções em psicomotricidade

Ramain-Thiers

A Sociopsicomotricidade foi apresentada ao mundo científico em 1992. É uma


metodologia brasileira de Psicomotricidade que faz a leitura emocional do
movimento humano, tendo a Psicanálise Aplicada e as teorias de grupo como
suportes para a compreensão da dinâmica grupais. A formação de terapeutas é
realizada pelo CESIR – Núcleo Ramain-Thiers –, órgão de formação da SBRT
– Sociedade Brasileira Ramain-Thiers –, que é filiado à SBP – Sociedade
Brasileira de Psicomotricidade.

O objetivo geral da formação é capacitar profissionais graduados, nas áreas de


Saúde de Educação, aos exercícios da Sociopsicomotricidade.

Entre os objetivos específicos temos:

 Formar grupo terapeutas através da Psicomotricidade;


 Instrumentalizar o profissional ao exercício da metodologia com
crianças, adolescentes e adultos;
 Habilitar o profissional ao exercício da Sociopsicomotricidade nas áreas
Clínica, Social, Institucional, Empresarial.

No Ramain-Thiers, a Sociomotricidade oferece uma formação básica de três


anos:

 Dois anos para especificação de crianças e adolescentes;


 Um ano de especificação para adultos.

São oferecidas propostas diretivas quando o grupo pede limite, necessita da


autoridade do terapeuta como referência para sair da transgressão, da
perversão. As propostas livres são oferecidas quando o grupo precisa
revivenciar situações arcaicas, descobrir o desejo.

Essas atividades têm por finalidade, simultaneamente, oferecer espaço à


liberdade corporal, quebrar automatismos, favorecer a descoberta, minimizar a
racionalização e o controle. Entretanto, para nós, não devem ser oferecidas só
propostas livres porque isto fortalece a introjeção de não sair do narcisismo e
esta é a patologia social atual.

O corpo é concebido como uma globalidade com segmentos que agem


de forma harmônica, experienciando níveis de tônus, percebendo sensações,
descobrindo o sentir, que nos dias atuais está se perdendo na sociedade.

Fonte: http://www.psicomotricidade.com.br/artigos/aformacao.htm

Solange Thiers - Psicóloga, Psicanalista, Sociopsicomotricista, Presidente de


Honra da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) e Presidente da
Sociedade Brasileira Ramain-Thiers (SBRT).

A Psicomotricidade Relacional

Foi criada por André Lapierre, educador francês, na década de 1970. É uma


prática educativa, de valor preventivo e terapêutico, que permite a crianças,
adolescentes e adultos, expressarem seus conflitos relacionais, superando-os
por meio do brincar e do jogo simbólico. O ineditismo do método reside no fato
de que a criança, por meio do lúdico, consegue revelar de modo natural aquilo
que se passa em seu mundo interior, por vezes sem a necessidade da
expressão verbal. Para as crianças o brincar é coisa séria e por meio dele
estruturam seu aparelho psíquico, fazendo do brincar algo terapêutico. A
Psicomotricidade Relacional vai gerar estímulos para o ajuste positivo de
diversos distúrbios comportamentais, sociais e cognitivos como por exemplo:
agressividade, inibição, agitação, dependência, falta de limites, TOC, fobias,
TDA-H e demais fatores que comprometem o aprendizado e o desenvolvimento
psicossocial.

Relaxação Bergès

A relaxação Terapêutica – Método Bergès –, desenvolvida por Jean Bergès, no


Hospital Sainte-Anne, nos anos 1970, constitui um método original fundado
sobre a experiência clínica: é um trabalho sobre o corpo, uma experiência que
se faz em grupo ou individualmente, cada semana, em relação à transferência
corporal com seu terapeuta. Esta experiência alia concentração mental e
descontração muscular na presença do terapeuta que usa o tocar e o nomear,
simultaneamente, para uma marcação do corpo com palavras. Estende-se
sobre todo campo clínico dos distúrbios psicomotores (hiperatividade,
dispraxias, distúrbios da aprendizagem, de expressão somática (dor,
enxaqueca sono...) e distúrbios reacionais (traumatismos).
A clínica psicomotora

A Psicomotricidade inaugura uma nova visão


dentro do contexto do desenvolvimento
psicomotor: ela vai além da definição de
corpo como mera ferramenta biomecânica
ou como ser puramente emocional. Ela não
só abarca o discurso psicomotor como
amplia a profundidade do complexo
horizonte dos problemas da criança. O autor,
que nos leva a essa mudança de paradigma,
nos anos 1990, é o argentino Esteban
Levin que, atualmente, forma turmas no
Brasil e na Argentina.

As sensações e as percepções

Já foi visto que a Psicomotricidade “é uma ciência que tem por objeto de
estudo o homem, através do seu corpo em movimento, nas suas relações com
seu mundo interno e seu mundo externo” (definição da S.B.P.).

Assim, não se pode esquecer de estudar as formas, os mecanismos através


dos quais esse corpo se comunica com esses meios (externo e interno).

É através das sensações, dos nossos sentidos que recebemos os


estímulos do meio externo.
“A sensação gera movimento e vice/versa,
O sentimento gera emoção e vice/versa,
E o pensamento gera a palavra e vice/versa.”
(Beatriz Saboya, 1995.)

As sensações e os sentimentos podem se manifestar sob a forma de


reações neurovegetativas. Mesmo que o indivíduo não possa se comunicar
através da palavra, podemos perceber uma resposta ao estímulo através de
mini contrações, reações oculares ou mesmo das pupilas, movimentos
localizados de tensão, sudorese etc., é então, através desses movimentos, por
mais imperceptíveis que pareçam, que podemos observar as sensações e
mesmo os sentimentos dos indivíduos.

E como são essas sensações?

Sensação vem do latim (sentio, sentium) e quer dizer: ter ou experimentar


pelos sentidos.

Percepção vem do latim percepiere: apoderar-se, percep = colher e ação =


movimento, ou seja, movimento de colher.

As percepções surgem a partir das nossas diferentes sensações.

As sensações podem ser divididas em três grupos fundamentais e estão


descritos no livro de Beatriz Saboya (1995), Bases Psicomotoras:

As introceptivas – que nos dão os sinais do meio interno do organismo e


asseguram a regulação das necessidades elementares (mantém estreita
ligação com os estados emocionais, são elas que expressam: fome, bem-estar,
mal-estar, estados de tensão, satisfação...).
As proprioceptivas – que nos dão informações sobre a posição do corpo, no
espaço, e sobre as posturas, garantindo a regulação dos movimentos (estão
ligadas aos receptores periféricos – músculos e articulações, canais
semicirculares que informam as mudanças da posição da cabeça no espaço).
As sensações oriundas dos receptores vestibulares estão ligadas à visão.

As informações sensoriais sendo levadas para a medula espinhal

As exteroceptivas – que nos dão os sinais vindos do mundo exterior,


criando a base do nosso comportamento consciente (olfato, visão, audição, tato
e paladar).

O tato e o gosto são percebidos por um contato direto, já a visão o olfato e a


audição se dão a distância, com certo intervalo de espaço. Durante a vida
intrauterina o bebê recebe vários estímulos (internos e externos), que lhe
provocam diferentes sensações, seus receptores sensoriais estão sendo
formados desde muito cedo durante a embriogênese. A partir de mais ou
menos 4 meses, a mãe já pode sentir o bebê se mexer, ficando ainda mais
perceptível as variações sensoriais a que ele está exposto.

Organização do cérebro humano

Objetivos do estudo de Luria 1973-1980 que reflete na motricidade e na


linguagem humana:

 Análise da atividade psicológica humana que está por trás da ação


propriamente dita;
 Estrutura interna da atividade mental;
 Organização dos diferentes componentes que contribuem para a
estrutura final da atividade mental;

Luria (1973), de acordo com Vygotsky (1960), aborda a noção de função como
um sistema complexo e plástico.

As condições para a operacionalização das atividades mentais superiores que


antecedem toda conduta consciente humana estão diretamente ligadas a esses
sistemas do cérebro.

As funções psicomotoras e os substratos neurológicos que são por elas


utilizados passam a ser visto como sistemas organizados, dinâmicos e
complexos.

As funções cerebrais têm, a partir desses estudos, uma localização dinâmica e


não restrita e estática como tinha até então.

As capacidades cognitivas são analisadas e distribuídas em zonas ou centros


corticais, que apesar de se diferenciarem anatômica e funcionalmente,
estabelecem entre si um trabalho sincronizado e dinâmico.

As tarefas são consequências de uma harmoniosa e complexa atividade de


estruturas corticais e subcorticais, que através de um sistema de
retroalimentação e referência, caracterizam o “córtex operário”.

A partir da descoberta de que a função está distribuída por várias zonas do


cérebro (sistemas), transforma-se a maneira de se encarar a lesão cerebral e
sua reabilitação.

Ausentes no instante do nascimento as zonas de trabalho responsáveis pela


atividade cognitiva complexa, seja ela psicomotora ou simbólica e são
encadeadas estruturalmente durante o processo de desenvolvimento.

Toda aquisição cognitiva da criança, postura bípede, manipulação práxica,


compreensão auditiva, fala, leitura, escrita etc., é consequência de uma
atividade simultânea e integrada dos centros de trabalho dispersos no cérebro.

Assim compreende-se porque o efeito de uma lesão é diferente conforme a


idade e o grau de desenvolvimento (aprendizagem) do indivíduo.
Inicialmente são os centros mesencefálicos os responsáveis pelo
comportamento motor do indivíduo que produzem os reflexos não
condicionados.

Por volta do oitavo mês, as constelações talâmica, límbica e cerebelosa se


responsabilizam pela postura antigravitacional e pelas condições emocionais
da socialização.

Com 12 meses a constelação cerebelosa é responsável pela postura bípede.

Da mesma forma que não podemos desvincular a linguagem gestual, a


comunicação não verbal emocional e mímica, a atenção, a percepção, a
memória e o pensamento da linguagem falada, não podemos estudar de forma
isolada a motricidade humana sem levar em conta: a organização do tônus de
repouso e de ação, o controle postural, a regulação vestibular antigravitacional
e espacial, a noção do corpo e sua relação com o espaço, a memória e as
aferências do meio.

As zonas responsáveis por funções simbólicas ou psicomotoras são


distribuídas de forma dispersa pelo cérebro no que diz respeito as suas
características anatômicas e psicológicas. O cérebro funciona, segundo a
teoria Luriana, como um sistema totalizador que opera várias unidades
funcionais consideradas como subsistemas.

Para Luria, o cérebro é composto de múltiplas estruturas funcionais, que estão


sistematicamente integradas em rês grandes unidades fundamentais.
As três unidades funcionais participam de todo tipo de atividade mental, quer
no movimento voluntário, na elaboração práxica e psicomotora, quer na
produção da linguagem falada ou escrita.

As três unidades funcionais


1ª unidade funcional
Responsável pela regulação do tônus cortical, equilíbrio, coordenação, funções
vitais e pela função de vigilância
2ª unidade funcional
Responsável por obter, captar, processar e armazenar informações vindas do
mundo exterior.
3ª unidade funcional
Responsável pela programação, regulação, e verificação das atividades mentais e
motoras.

A primeira unidade funcional

Função: regulação do tônus cortical, do tônus postural e dos estados de alerta.


Estruturas e Localização: tronco cerebral, diencéfalo e as regiões médias do
córtex.

Fenômeno cognitivo pelo qual é responsável: atenção:

 O estar alerta é importante para qualquer atividade humana;


 A atenção seletiva não está presente durante o sono.

Segundo Luria, certo nível de tônus cortical é indispensável a qualquer


atividade mental, assim como certo nível de tônus postural é indispensável a
qualquer movimento involuntário.

A Formação Reticulada é a estrutura responsável pelo tônus cortical,


consequentemente pelo tônus corporal, e além de regular a atenção seletiva
das atividades conscientes ainda é responsável pela regulação de todas as
funções vitais do ser humano durante o sono.

A Formação Reticulada está localizada no tronco cerebral (vai do diencéfalo à


medula) e é responsável pelas atividades automáticas do ser humano –
herança biológica humana (atividades: gastrointestinal, respiratória,
cardiovascular, postural, e locomotora), funções elementares, porém vitais.

Estabelece relação entre as condições intracorporais com as extracorporais.


Está apta a captar qualquer tipo de mensagem sensorial ou motora.

O reflexo de orientação (Pavlov) é esse estado de alerta, de vigilância e de


atenção, resultado de uma ação conjugada entre a Formação Reticulada, o
Sistema Límbico e o núcleo talâmico.

“Assim como a consistência dos músculos é fundamental para manter as


articulações em posições determinadas e necessárias para a ação
(Sherrington, 1906), também certo tônus cortical é determinante para a
organização interna que preside às atividades psíquicas superiores (Luria,
1973).” (FONSECA p. 64, 1995).
Assim, a Formação Reticulada, segundo Luria, assume um papel fundamental
na motivação e na aprendizagem.

Transforma, através do seu poder de integração com os centros superiores, as


sensações vindas de várias modalidades sensoriais em uma percepção.

Existe um esboço de percepção (a percepção seletiva mais complexa


encontra-se nos centros superiores da 2ª unidade funcional), o processamento
das informações nesse nível é realizado pelos neurônios do hipocampo e dos
núcleos caudados.

A segunda unidade funcional

A 2ª unidade funcional é responsável pelos dados extracorporais e a primeira


pelos dados intracorporais.

Função: captação, recepção, análise (codificação e processamento) e


armazenamento das informações.

Estruturas e Localização: nas regiões posteriores e laterais no neocórtex


(região occipital (áreas 17, 18 e 19 de Brodmann) – análise visual; região
temporal superior (áreas 41,42 e 22 Br) – análise auditiva e região pós-central
parietal (áreas 3,1 e 2 Br) analisador tátil e cinestésico – ligado ao movimento,
ao motor), isto é, as regiões do córtex que contêm as zonas responsáveis pela
recepção dos órgãos sensoriais. Fenômeno cognitivo pelo qual é responsável:
sensação/percepção e memória.

Sua função é específica e suas células nervosas também, dependendo de sua


localização (células do córtex visual não são encontradas no córtex auditivo.).
Essa especificidade celular faz as zonas sensoriais serem capazes de
processarem diferenças sensoriais mínimas, garantindo uma percepção
integrada, seletiva e complexa.

As áreas primárias são envolvidas por zonas corticais secundárias


denominadas por Luria de “áreas gnósicas”, que se sobrepõem,
funcionalmente às primárias, porém com menos especificidade, visto que nelas
encontramos mais neurônios associativos, que combinam as informações
resultando em padrões funcionais mais complexos, as percepções.

As áreas terciárias da 2ª unidade funcional são responsáveis por uma


“organização espacial dos estímulos sucessivos em grupos de processamento
simultâneo, envolvendo sequencialização e simultaneidade da informação que
resulta no caráter sintético da percepção” (Luria, 1970).

São áreas responsáveis pela integração da informação, direta e simbólica


(cognitiva) – linguagem oral e escrita, as operações lógicas, a matemática...

Três leis básicas nos fazem compreender a complexidade da 2ª unidade


funcional:

 1 - A lei da estrutura hierárquica das zonas corticais (primária, secundária


e terciária);
 2 - A lei da diminuição progressiva da especificidade sensorial
 3 - A lei da progressiva lateralização das funções.
Hierarquia das experiências: as sensações, as percepções, a simbolização. É
necessária a maturidade de cada área para que a seguinte possa trabalhar.
A área primária será progressivamente dominada funcionalmente pela
secundária e esta pela terciária, de acordo com o desenvolvimento da criança à
fase adulta (do mais simples ao mais complexo).
O hemisfério direito é mais eficaz no processamento de padrões espaciais,
rítmicos da memória não verbal, e o hemisfério esquerdo mais eficaz no
processamento de padrões verbais (linguagem) e lógicos, categorização e
memória verbal.
Terceira unidade funcional
Tem como função: a organização da atividade motora consciente, ou seja, a
programação, a regulação e a verificação desse tipo de atividade.
Estruturas e Localização: nas regiões anteriores do córtex, à frente do sulco
central (áreas pré-motoras, motoras e lobo frontal), região denominada de
lobos frontais.
As áreas motoras e sensitivas motoras = “homúnculo invertido de Penfield”,
1950.
A área pré-central é a conhecida área 4 de Brodmann (área motora do córtex).
Mais anteriormente temos a zona pré-motora ou psicomotora que corresponde
às áreas 6 e 8 de Brodmann. São responsáveis pela função de coordenação e
preparação das atividades dirigidas para um fim.
A área 4 Br., área motora primária, tem relação com o sistema piramidal
(ideocinético) responsável pelos movimentos voluntários em toda sua
amplitude (desde os motoneurônios superiores aos medulares). A área 6 Br.
realiza e automatiza os movimentos coordenados complexos. Da área 8 Br.,
partem as conexões do sistema extrapiramidal, nesta área encontra-se também
a área responsável pela coordenação dos movimentos oculares durante a
manipulação dos objetos.
A área 6 e 8 programam e planificam o ato motor enquanto a área 4 o efetiva.
O desenvolvimento e a perfeição da motricidade humana estão diretamente
associados com a formação de áreas terciárias do córtex frontal.
Segundo Fonseca (1995), aqui se encontram as bases psiconeurológicas da
psicomotricidade que abrangem as funções de programar, regular, verificar,
integrar e efetivar (executar) ações motoras voluntárias.
Na 3ª unidade funcional, também ocorre igual à 2ª unidade: hierarquização e
diminuição de especificidade. Os lóbulos frontais são as partes mais
diferenciadas do cérebro humano.
A 3ª unidade funcional difere da 2ª no sentido da organização. Enquanto a 2ª
unidade, responsável pelas funções de recepção (sistema sensorial aferente)
se organiza de forma vertical e ascendente (primeiro ativa as áreas primárias,
depois as secundárias e por fim as terciárias), a 3ª unidade funcional,
responsável pela função de expressão (sistemas motores eferentes) se
organiza de forma vertical descendente, ou seja, a ativação parte das áreas
terciárias para as secundárias e destas para as primárias, destas últimas é que
partem os comandos desde os primeiros motoneurônios superiores aos
inferiores e desses para os músculos.

Imagem do homúnculo de Penfield

Imagem da área motora

 1ª unidade funcional

Está em atividade desde antes do nascimento desempenhando participação


decisiva durante o parto, e durante os processos iniciais de maturação motora.

 2ª unidade funcional
Só trabalha plenamente após o nascimento estabelecendo importante papel nas
relações entre o organismo e o meio (espaço intracorporal e extracorporal)

 3ª unidade funcional
Depende das duas primeiras e é responsável, como já vimos pelas ações
voluntárias, que só serão realizadas mais tarde.

Nas ações voluntárias podemos constatar a interação das três unidades


funcionais.

Praxia, Dispraxia e Apraxia


Está integrada na 3ª unidade funcional do modelo Luriano.
Praxia compreende tarefas motoras sequenciais globais, está mais
relacionada com a área 6 Brodmann. Esta área é ricamente conectada com as
estruturas subcorticais.
A área 6 Brodmann tem a função de programar a ação motora, ela
antecipa e prepara o movimento propriamente dito.
A praxia depende da integração e interação da 1ª e da 2ª unidade
funcional do modelo Luriano.
A praxia depende, segundo Ajuriaguerra (1972):

 Sincronização dos sistemas extrapiramidais, cerebeloso e vestibulares


assegurando a estabilidade gravitacional necessária – tônus e equilíbrio;
 Coordenação da lateralização;
 Noção do corpo;
 Estruturação espaço-temporal;
 Harmonização do espaço extra e intracorpóreo;
 Capacidade de decisão, regulação e verificação para materializar a
intenção e atingir o fim (objetivo).

Praxias
Definição: É um conjunto de movimentos coordenados para um fim
determinado que depende da aprendizagem.
A área 4 Brodamann é conhecida como córtex motor e atua como efetor,
recolhe informações aferentes. A partir das quais ele vai elaborar a
programação da ação.
Áreas 6 e 8 de Brodmann frontais e 5 e7 parietais operam circuitos de
retroalimentação e só depois a área 4 Brodmann dispara os comandos
(conectadas com as áreas sensoriais 1, 2 e 3).
O cerebelo, através de um sistema de retroalimentação, controla harmoniosa e
automaticamente os movimentos modulando e organizando, sucessivamente,
os movimentos para que atinjam seu fim com precisão; programa os
movimentos simultânea e harmoniosamente antes de serem iniciados.
A área 6 Brodmann (associativa motora), pré-programa os praxias globais.
O cerebelo reativa o comando motor através das sensações proprioceptivas.
Pré-programação = intenção que antecede a ação. (dando-lhe um significado,
uma finalidade) – Projeto Motor.
A organização práxica, antes da ação motora propriamente dita, requer uma
planificação interiorizada.
A praxia global é a expressão motora (psicomotora), do resultado de muitas
informações sensoriais, extero, proprioceptiva, ou seja, é o resultado da
integração de fatores psicomotores.
Todas as praxias exigem uma complexa integração proprioceptiva.
Essa função é desempenhada pelo sistema gama, que tem como finalidade
manter e regular a sensibilidade dos fusos musculares. Essa atividade confere
ao movimento voluntário as suas características: grande plasticidade e melodia
cinética.
Praxias, ou seja, movimentos intencionais são definidas por Piaget (1975),
como: “sistemas de movimentos coordenados em função de um resultado”.
Condições para praxias:

 Um projeto;
 Vários engramas;
 Ligações projeto-engramas;
 Instrumento neuromuscular de expressão íntegros que serão
comandados segundo o projeto.

Dispraxias
É a alteração em um conjunto de movimentos coordenados para um fim
determinado que depende da aprendizagem.
Na criança, esse problema é mais dinâmico e complexo, devido às implicações
ontogenéticas.

Dispraxias
É a alteração em um conjunto de movimentos coordenados para um fim
determinado que depende da aprendizagem.
Na criança, esse problema é mais dinâmico e complexo, devido às implicações
ontogenéticas.
“A criança dispráxica apresenta uma disfunção psicomotora normalmente
caracterizada por perturbações da esfera motora mais corticalizada.”
(FONSECA, 1995)
Sinais:

 Dismetrias – inadaptação a distâncias e movimentos exagerados e mal


inibidos.
 Distonias – movimentos involuntários, intermitentes, paratonias sem
qualquer significação funcional.
 Disquinesias – movimentos anormais, bruscos e anárquicos na postura
e gestos finalizados.
 Dissincronias – velocidade inadequada dos movimentos, ausência de
sinergia, perda da melodia cinética.

As dispraxias combinam problemas práxicos com problemas da noção do


corpo e da estruturação espaço-temporal.
Segundo Ajuriaguerra (1974), são apractognosias somatoespaciais que
refletem na aprendizagem da leitura e da escrita.
“A dispraxia, no seu aspecto global, traduz uma disfunção psiconeurológica da
organização tátil, vestibular e proprioceptiva, que interfere com a capacidade
de planificar ações, com repercussões no comportamento socioemocional e no
potencial de aprendizagem.” (FONSECA, 1995 p .229.)
Apraxias
É a perda de um conjunto de movimentos coordenados para um fim
determinado que depende da aprendizagem. Resultante de lesão nas áreas
motoras secundárias (pré-motora ou suplementar).
“Perturbações da motricidade voluntária que aparece na ausência de agnosias
e de perturbações da inteligência em indivíduos que não apresentam lesões no
aparelho de execução.” (FONSECA, 1995)
“Apraxia é a incapacidade de executar um movimento, ou sequência de
movimentos apesar de estarem intactos a sensibilidade, a saída (output) e a
compreensão da tarefa.” (LUNDY-EKMAN, 2000, p. 275)
Pick, 1905 e Dëjerine, 1914 definem quatro tipos de apraxias:

 1
Apraxia ideomotora: surge na realização dos gestos elementares, dificuldade
em responder um comando verbal ou imitar gestos.

2
Apraxia ideatória (ideacional): dificuldade na sequência de movimentos, gestos
complexos. Desintegração espaço-temporal dos movimentos que compõem
uma totalidade (gesto complexo).

 3
Apraxia construtiva: não consegue reunir as unidades para formar totalidades
(distúrbio está na execução da programação mental)

 4
Apraxias específicas: para executar movimentos específicos, vestir-se, marcha,
bucofaciais etc.

As apraxias, segundo Ajuriaguerra (1964), oscilam em ser consideradas como


problemas superior de organização motora de uma função simbólica particular
e como expressão do domínio motor.
CURIOSIDADE
Conheça um pouco mais sobre as
Apraxias:http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/0
4/apraxias.html
Sensações e percepções – relembrando...

É a tomada de consciência das características


sensoriais do objeto (forma, tamanho, cor,
SENSAÇÃO
dureza.) ou do som recebido (altura). Ocorre na
área sensorial primária.

A percepção ou interpretação é denominada de


gnosia, ou seja, as informações sensoriais são
PERCEPÇÃO “comparadas” com outros conceitos na
memória, o que permite sua identificação, seu
reconhecimento.

Gnosias e Agnosias
Gnosias
Capacidade de discriminar um estímulo sensorial dentre outros da mesma
categoria, isto é, a capacidade que as áreas associativas do cérebro têm de
reconhecer e discriminar um estímulo sensorial.
Agnosia
É a perda da capacidade de reconhecer um objeto, sem que se tenha nenhum
prejuízo nas vias sensoriais e nas áreas de projeção cortical (primárias).
Podemos encontrar agnosias visuais, auditivas e somestésicas (esta última
ligada ao tato e às noções do corpo no espaço). São resultantes de lesões nas
áreas sensoriais secundárias ou nas associativas (de discriminação). Podem
ser visuais, auditivas, tátil-cinestésicas (esterognosia), olfativa (anosmia).
Lesões – nas áreas sensoriais primárias, as lesões causam prejuízos
sensoriais na função propriamente dita como cegueira ou surdez, porém lesões
nas áreas secundárias e associativas causam o que conhecemos como
agnosia.
As áreas 39 e 40 de Brodmann (lóbulo parietal inferior) denominada área
temporoparietal integra informações recebidas das áreas secundárias visuais,
auditivas e somestésicas. Integra as funções de espaço e tempo e das partes
do corpo, do espaço extracorporal.
Atenção
Definição de ATENÇÃO: Função mental de caráter direcional e seletivo,
presente em todos os processos mentais organizados
A Formação Reticulada encontra-se na porção central do tronco encefálico que
vai do bulbo ao mesencéfalo.
As fibras da formação reticulada rostral projetam-se no tálamo, núcleo caudado
e córtex e constituem o sistema ativador reticular ascendente (SARA) - cuja
principal função é de ativar o córtex e manter a consciência (o estado de
alerta).
As fibras aferentes provenientes das áreas rostrais particularmente do córtex
cerebral fibras córtico-reticulares), constituem o sistema reticular descendente
e servem para modular a atividade da formação reticular, subordinando-a ao
controle dos programas elaborados no córtex e que requerem a modificação do
estado de vigília para sua execução.
Parte mais rostral da formação reticulada contém uma população de neurônios
responsáveis pelo alerta e a parte mais caudal neurônios responsáveis pelo
sono.
Formação reticulada recebe informações de todas as vias sensoriais do corpo,
incluindo fibras das vias neurais da dor, temperatura, tato, pressão, de
terminais das vias retinais, olfatórias, auditivas e vestibulares.
O Hipotálamo desempenha funções que são reguladas pela glândula hipófise
(secreção de hormônios) e por conexões neurais eferentes com o córtex por
intermédio do tálamo. Essas funções envolvem: ajustes da temperatura
corporal e da pressão arterial, ajustes no metabolismo, comportamentos
alimentares, reprodutivos e defensivos, regulação do ritmo diário como sono e
vigília, expressões emocionais, entre outras.
O Tálamo é considerado o assistente executivo do córtex cerebral, por ele,
passam as informações vindas dos gânglios da base, cerebelo, e de todos os
sistemas sensoriais (exceto do olfativo), que devem ser retransmitidas para as
áreas específicas do córtex cerebral. Desta forma ele direciona a atenção para
as informações importantes regulando o nível de atividade dos neurônios
corticais.
As Estruturas Corticais Sensoriais e Motoras são especializadas para o
desempenho de diferentes funções. Assim podemos identificar:

 Área sensorial primária ou córtex sensorial primário, responsável por
discriminar as diferentes intensidades e qualidade das informações
sensoriais;
 Área sensorial secundária ou córtex associativo sensorial, onde
ocorre a análise mais complexa das sensações, o reconhecimento.
 Área motora primária ou córtex motor primário, que efetua o
movimento fornecendo o controle descendente das atividades motoras.
 Área de planejamento motor responsável por organizar o movimento
 Córtex associativo responsável por controlar o comportamento
interpretar as sensações processando as emoções e as memórias.

Os Hipocampos estão localizados nos lóbulos temporais, tem a função de


processar memórias de curto prazo para memórias de longo prazo. As
memórias de longo prazo são distribuídas pelo núcleo basal de Meynert e
armazenadas em várias áreas corticais.
O Sistema Límbico compreende para a maioria dos autores as seguintes
estruturas:

 Hipotálamo;
 Núcleos anterior e medial do tálamo;
 Córtex límbico: giro cingulado, giro para-hipocâmpal e uncus;
 Hipocampo;
 Amígdala – grupo de núcleos em forma de amêndoas;
 Prosencéfalo basal: área septal, área pré-óptica; núcleo acumbens 
(ou estriado ventral) e o núcleo basal de Meynert.
Figura sobre sistema límbico
O córtex límbico é uma estrutura em forma de C situada na parte medial dos
hemisférios, fica entre o diencéfalo e o telencéfalo. É considerada a região
limite entre as áreas conscientes e as áreas inconscientes do encéfalo.
O sistema límbico tem além da função de regular o comportamento de
alimentação, da ingestão de água, o comportamento defensivo e reprodutivo,
de funções viscerais e hormonais, as funções emocionais e de memória.
As emoções são mediadas no sistema límbico sendo necessárias as seguintes
estruturas: as amígdalas, diversas áreas do hipotálamo, a área septal, os
núcleos anteriores do tálamo, o córtex límbico anterior e as áreas associativas
límbicas.
As emoções dão significados às nossas percepções e influenciam diretamente
nossas ações.
O conhecimento consciente das emoções se dá quando a informação da
amígdala e do sistema nervoso autonômico chega ao córtex. As amígdalas
recebem informações de todos os sistemas sensoriais.
As funções de memória estão espalhadas por áreas límbicas e não- límbicas
do encéfalo. Além do hipocampo, que tem a função de processar memórias de
curto prazo para memórias de longo prazo, os núcleos mediais do tálamo, o
córtex límbico posterior e o prosencéfalo basal são outras estruturas
fundamentais para o processamento de alguns tipos de memória.
A atividade de neuromoduladores e neurotransmissores específicos
(compostos químicos que transmitem a informação de um neurônio para outro)
são de fundamental importância para todo o processo da atenção, de
consciência.
Eles são produzidos pelos neurônios do Tronco Encefálico e transportados até
o cérebro pelo sistema reticular ativador, são eles:

 Serotonina – modula o nível geral da ativação cerebral – regula o 
sono;
 Norepinefrina -  contribui para a atenção e para a vigilância – 
direção da consciência;
 Acetilcolina - contribui para o direcionamento voluntário da atenção
para o objeto, com base nos objetivos;
 Dopamina – contribui para a iniciação das ações motoras ou cognitivas,
com base na atividade cognitiva. É considerado precursor da
noroadrenalina. Ë responsável pela motivação, pela atividade motora e
pela cognição;
 Noroadrenalina - neurotransmissor responsável pelo estado de alerta,
postura de ataque e de fuga. Provoca alteração do ritmo cardíaco e da
pressão arterial.

A atenção e a consciência dependem além da atividade do tronco encefálico


descrita acima, da atividade do tálamo, do córtex cerebral e do sistema
Límbico.
MEMÓRIA
MEMÓRIA representa uma atividade altamente diferenciada do Sistema
Nervoso que permite ao organismo registrar e conservar os dados da
experiência aprendidos e a possibilidade de recuperar essas informações a
qualquer momento.
Desta forma podemos distinguir duas funções da memória: as atividades de
armazenamento e as atividades de recuperação. As atividades de
armazenamento colocam informações na memória, enquanto as de
recuperações as resgatam de lá (recuperar significa reconhecer, recordar,
reconstruí-las: relembrar do que foi anteriormente armazenado.
Na prática o armazenamento e a recuperação são interdependentes, ou seja, o
modo como a informação foi armazenada inicialmente na memória vai
determinar de que maneira (por ex. através de quais pistas de recuperação) e
com que sucesso ela vai ser recuperada.
Podemos encontrar dois tipos de recuperação da memória: através do
reconhecimento ou através da recordação.
Reconhecer significa que a coisa a ser reconhecida já está lá, servindo como
sua própria pista para a recuperação.
Recordar significa recuperar as representações armazenadas na memória e
que não estão à sua frente.
Tudo o que memorizamos podem ser incluídos em 3 tipos de memória:

Sentimentos sabe-se que a amígdala é


MEMÓRIA EMOCIONAL responsável pelo medo, porém as estruturas
para as demais emoções são desconhecidas.

É a memória para fatos, acontecimentos,


MEMÓRIA DECLARATIVA
conceitos, localização.
A memória declarativa também é denominada memória consciente, explícita ou
cognitiva. Depende da atenção durante a rememoração (diferente da memória
emocional e da memória de procedimento). As estruturas que participam desta
forma de memória são o hipocampo e o córtex cerebral.
A memória declarativa apresenta 3 estágios:

 Memória imediata – também chamada de registro sensorial, dura


apenas 1 a 2 segundos. A informação é processada pelas áreas
sensoriais primárias e associativas sensoriais do córtex, mas não pelo
sistema límbico.
 Memória a curto prazo – é o breve armazenamento dos estímulos que
foram reconhecidos. Ocorre perda da informação dentro de 1 minuto, a
não ser que o material seja continuamente ensaiado, repetido.
 Memória de longo prazo – é o armazenamento relativamente
permanente da informação que foi processada na memória de curto
prazo.

A conversão do armazenamento de curto prazo em armazenamento de longo


prazo é denominada de consolidação.
O hipocampo tem a função de processar as memórias de curto prazo para
memórias de longo prazo. Desta forma o não funcionamento do hipocampo
impede que as memórias declarativas sejam armazenadas.
Um paciente que teve os lóbulos temporais mediais, onde ficam os
hipocampos, ressecados propositalmente devido a crises convulsivas que se
originavam nesta região, era incapaz de lembrar de qualquer informação a
partir de 1 ano antes da cirurgia até o momento presente, as memórias
anteriores a esse tempo estão intactas e ele também era capaz de aprender
novas habilidades. Não era capaz de lembrar de um texto lido a poucos
minutos nem de pessoas com quem se encontrou várias vezes após a cirurgia.
O mecanismo exato para a conversão da memória de curto prazo em memória
de longo prazo não é conhecido mas acredita-se que a memória a curto prazo
depende da alteração temporária da excitabilidade da membrana celular
enquanto que a memória a longo prazo implique em alterações estruturais dos
neurônios.

É a memória de movimentos, hábitos que


dependem de habilidades. É também
MEMÓRIA DE
conhecida como memória de habilidades,
PROCEDIMENTO
memória de hábitos, memória não consciente
ou memória implícita.

Para a aquisição deste tipo de memória é necessária prática, após ser


adquirida não é necessária atenção para sua execução.
Três estágios são necessários para esse tipo de memória:
Cognitivo – é necessário compreender o que se vai fazer, é a fase do
aprendizado que pode até vir acompanhado por instruções verbais do próprio
aprendiz que fala enquanto realiza a tarefa.
Associativo – neste estágio existe um aperfeiçoamento das habilidades, os
movimentos se tornam mais eficientes e menos dependentes da cognição.
Autônomo – neste estágio os movimentos passam a ser automáticos e não é
mais necessária a atenção para sua realização, podemos nesta fase dirigir
nossa atenção para uma conversa ou para outras atividades enquanto os
movimentos são realizados.
Os gânglios da base são fundamentais para o estabelecimento das memórias
motoras, e o sistema fronto-tálamo-estriado para o processamento da memória
motora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 FONSECA V. Manual de Observação psicomotora. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1995.
 LAUNDY-EKMAN, L. Neurociência – fundamentos para a reabilitação.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
 MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. São Paulo: Atheneu,
1990. FONSECA V. Manual de Observação psicomotora. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1992.
 MATTOS V.; KABARITE A. Avaliação psicomotora – um olhar para
além do desempenho. Rio de Janeiro: WAK, 2013.
 LAUNDY-EKMAN, L – Neurociência –Fundamentos para a
Reabilitação – Guanabara, Koogan, Rio de Janeiro, 1998
 FONSECA, V. da – Manual de Observação Psicomotora – Ed. 
Artes Médicas, 1998.

Bases Psicomotoras do Desenvolvimento


Agora enfrentaremos a deliciosa tarefa de conhecer o desenvolvimento infantil.
Teremos a oportunidade de descobrir como se dá, passo a passo, a conquista
de tornar-se humano e de suas relações com o meio e com os outros.

OBJETIVOS
Neste capítulo pretende-se que sua aprendizagem seja referente a:

 Reconhecer as etapas evolutivas do desenvolvimento infantil;
 Reconhecer as avaliações pelas quais passa o neonato;
 Reconhecer as características da segunda infância.

Fase embrionária
Após a fertilização, momento em que o espermatozoide penetra no óvulo, uma
célula denominada embrião começa a se formar. Em mais ou menos 3 dias, ela
faz sua caminhada da trompa até o útero e leva, aproximadamente, mais 4 dias
para aderir ao endométrio (camada que reveste internamente o útero).
Começará então a formação da placenta, da bolsa amniótica e dos órgãos do
bebê

1º MÊS

Até a segunda semana o óvulo não é apenas um acúmulo de células


desordenadas, é um ser com força e capacidade de formação individual, que
trás consigo uma individualidade própria.
Em intervalos de mais ou menos 20 horas, as células se dividem e se
subdividem adquirindo, ao final de 14 dias pouco mais de 1 mm de tamanho.
Entre o 15º e o 21º dia, surgem o esboço do sistema nervoso, do aparelho
auditivo e do sistema circulatório.
Entre o 21º e o 30º dia, ocorre maior desenvolvimento do sistema nervoso;
surgem os primeiros vasos sanguíneos embrionários; esboço dos membros
superiores e inferiores; esboço dos olhos; formação dos pulmões e do
pâncreas; as células do cérebro começam a se definir. Na 4ª semana, é a vez
do coração, que nas próximas semanas estará batendo em um ritmo de 120 a
140 batimentos por minuto. São eles, cérebro e coração que comandam, ao
mesmo tempo, a formação de todos os órgãos. O embrião mede cerca de 4 a 5
mm.

2 MESES

No início do segundo mês, já se pode observar através do ultrassom uma


estrutura pouco visível, além da placenta (responsável pelo fornecimento de
oxigênio e nutrientes) e da bolsa amniótica. Entre o 30º e o 45º dia, surge um
esboço da região olfativa, maior desenvolvimento do cérebro e formação da
mão. Do 45º ao 60º dia, o coração já está com quatro cavidades, e dedos dos
pés e das mãos já estão separados.
Aparecem os vasos sanguíneos que unem o cordão umbilical com a placenta,
aumentando seu vínculo com a mãe.
Os olhos estão formados, porém ainda não há pálpebras (se fecharão aos 4
meses e se abrirão aos 6 meses).
A partir daí, dependendo do sexo, desenvolvem-se os testículos ou ovários.
Na 6ª/7ª semana o médico, através do ultrassom, pode identificar alguns
movimentos, ainda amplos e generalizados, que não são, por enquanto,
sentidos pela mãe.
Em torno da 8ª semana, brotam os ossos, os músculos, as articulações e os
receptores periféricos da sensibilidade proprioceptiva ou profunda.
O embrião que será, a partir daí, chamado de feto mede entre 22 e 24 mm.
Configuram-se mãos e pés, percebe-se a formação da boca, e dá-se início à
formação dos aparelhos respiratórios, circulatórios e digestivo do bebê, é uma
fase de extrema importância. Seu coração já bate cerca de 140 a 150 vezes
por minuto, duas vezes o de sua mãe.
A língua está em formação e os corpúsculos gustativos surgirão por volta do
54º dia.

3 MESES

Agora o feto mede mais ou menos de 7 a 9 cm. Já é uma verdadeira miniatura


de um ser humano. O nariz, a boca e o ouvido externo já estão formados. Os
dedos dos pés e das mãos já estão nítidos e separados.
Durante a 9ª semana, se formam as partes internas dos ouvidos e dos olhos,
assim como os buraquinhos que darão origem às fossas nasais. Os intestinos e
os pulmões já estão praticamente formados.
Na 10ª semana, o feto já consegue movimentar a cabeça, os braços e o tronco.
Os órgãos internos já estão devidamente em seus lugares, as principais
articulações já são visíveis: ombros, cotovelos, bacia e joelhos. A coluna
vertebral ganha movimento discreto e a língua, a laringe e a tireoide começam
a se formar.
O feto aprende a fazer xixi, seus órgãos genitais já estão praticamente
formados, mas ainda não dá para saber o sexo do futuro bebê.

4 MESES

Já dá para saber o sexo! Ossos mais rígidos ocupam o lugar das cartilagens,
as glândulas salivares já estão trabalhando e os dedos já estão completos.
O bebê começa a engolir o líquido amniótico, que complementa sua nutrição e
desenvolve o aparelho digestivo.
O feto já dá cambalhotas que são percebidas pela mãe. Ao final do 4º mês já
alcançou 10 cm e pesa cerca de 150 gr.

5 MESES

O feto já possui cabelos e começam a aparecer os cílios e as sobrancelhas.


Já é capaz de ouvir barulhos externos. No útero, a propagação das ondas
sonoras se dá por meio líquido. Os estímulos são provenientes do meio
externo: fora do corpo da mãe; do meio materno; e do próprio corpo do bebê e
sons oriundos de seus movimentos no útero

6 MESES

O feto está com mais ou menos 25 cm de comprimento e pesa em torno de 700


gr. Seu corpo se apresenta coberto de finíssimos pelos, sua pele tem tom
avermelhada, mas é muito enrugada, pois não existe ainda gordura sob ela.
Já comanda alguns movimentos. Suga o polegar e chuta o ventre da mãe.
Os órgãos responsáveis pelo equilíbrio, situados dentro dos ouvidos já estão
formados. Apesar de poder abrir os olhos, ainda não enxerga, percebe no
máximo o claro e o escuro. O recém-nascido vem ao mundo com 0,05% de
visão comparada com um adulto comum. Pés e mãos já apresentam
impressões digitais, as unhas já estão formadas.

7 MESES

A gordura que surge sob a pele mantém a temperatura do corpo e serve como
reserva de energia. Mede por volta de 30 cm e pesa por volta de 1.300 gr.
Quase não se mexe mais, porque lhe falta espaço no útero.
Aos poucos vai adquirindo a posição do parto, de cabeça para baixo. Com os
sentidos bem aguçados, ele ouve, suga o polegar, soluça, e pode sentir o doce
e o amargo.

8 MESES
Está medindo cerca de 30 cm, pesando em torno de 2 quilos, 2 quilos e meio e
quase pronto para nascer. Alguns órgãos como rins, pulmões, fígados e baço
estão formados, mas só amadurecerão nos primeiros meses de vida.
Apesar de “pronto” ainda desenvolve o sistema imunológico, aumenta o
crescimento do cérebro. Sua retina está pronta para “ver o mundo”.

9 MESES

O feto mede aproximadamente 50 cm, pesa aproximadamente 3 quilos e meio,


entre a 38ª e a 40ª semana de gestação. Suas estruturas estão completamente
formadas. Ele está pronto para nascer (a partir da 37ª semana, se nascer antes
desse prazo é considerado prematuro) e tem início o trabalho de parto.
No dia do nascimento, seu coraçãozinho chega a bater até 170 vezes por
minuto, com o passar do tempo cairá para 130 b.p.m.

Exame do recém-nascido
O primeiro exame ao qual o bebê é submetido é o APGAR
Ele pode ser realizado na sala de parto por qualquer dos profissionais
presentes no momento do nascimento. Seu objetivo é a avaliação dos sinais
vitais do bebê.

VÍDEO 2

"Este índice foi introduzido pela anestesista americana Virginia Apgar em


1953. Desde então, tem constituído o modo mais útil para avaliar a
adaptação do recém-nascido à vida extrauterina e orientar a sua
reanimação. O Índice Apgar analisa 5 parâmetros: frequência cardíaca,
respiração, tônus (força muscular), reatividade (reação a estímulos, o
cateter, por exemplo) e cor. Todos eles são pontuados de 0 a 2,
habitualmente ao 1º e 5º minuto de vida. (...) Apesar das suas limitações, o
Índice Apgar é um elemento correntemente utilizado para avaliar a
presença e a intensidade de um sofrimento fetal agudo." Fonte: ABC da
Nova Pediatria

Exame dos reflexos


Reflexos são reações musculares involuntárias que ocorrem após determinado
tipo de estímulo. Todos os seres humanos apresentam reflexos. Quando
queimamos o dedo com um fósforo, por exemplo, imediatamente afastamos
nosso membro na direção oposta ao fogo. Quando algum objeto vem em nossa
direção, nossa reação instintiva e imediata é colocar as mãos e os braços à
frente do rosto.
Os bebês, em especial, apresentam uma série de reflexos que são exclusivos a
eles. Nesses casos, os reflexos são, também, sinais que contribuem para a
avaliação do estado de saúde da criança. Conforme ela envelhece, menos
reflexos terá – embora alguns permaneçam presentes até mesmo durante a
vida adulta e a terceira idade.
A maior parte das atividades que o bebê fará nas primeiras semanas de vida
são puramente reflexos. Por exemplo, quando você põe o seu dedo na boca do
bebê, ele não "pensa" no que fazer, mas começa a chupá-lo por puro reflexo. O
bebê já nasce com essas "respostas automáticas". Algumas delas o
acompanham por meses, outras somem em algumas semanas. Embora você
possa pensar que o seu bebê é completamente indefeso, ele, na realidade, tem
vários reflexos de defesa própria.
São mediados por mecanismos neuromusculares subcorticais que se
encontram desenvolvidos desde o período pré-natal. O desaparecimento
desses reflexos durante o curso normal de maturação do sistema
neuromuscular, nos primeiros 6 meses de vida, é atribuído ao desenvolvimento
de mecanismos corticais inibitórios.
Reflexos primitivos (reflexos humanos primitivos) são originados do sistema
nervoso central presentes em crianças novas, especialmente bebês, mas não
em adultos com sistema nervoso intacto. Esses reflexos desaparecem ou são
inibidos pelos lóbulos frontais na medida em que a criança se desenvolve por
meio da maturação do cérebro pela mielização, arborização e formação das
sinapses das células nervosas, com crescente controle voluntário de cada uma
das atividades com esses reflexos relacionadas. Esse processo foi
demonstrado por Lefèvre e Diament.

VIDEO 4

Nascimento
Atividades globais e reflexas
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Do segundo ao terceiro mês


Tônus: diminuição do tônus flexor
Simetria Corporal: encontro das mãos na linha média

Reações posturais

 rolar;

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 controle de cabeça 45º;


 traz a cabeça quando puxado para sentar;
 reage ao peso de pé, sem sustentá-lo.

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Do 4º ao 5º mês

 Inibição de muitos reflexos 


Elaboração das reações posturais

 rolar dissociado (cintura escapular e pélvica);

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 quase não permanece mais em supino;


 interage com o meio;
 leva as mãos ao centro para tentar alcançar os objetos (leva rápido os
objetos à boca);
 senta com apoio;
 eleva a cabeça 90º (visão 180º).

VIDEO

Atitudes sociais dorme menos e sorri mais, reconhece a mãe, emite sons


guturais.

Do 6º ao 7º mês
Atitudes sociais: noção de permanência do objeto.

Do 8º ao 9º mês

 reação de proteção para os lados;


 melhora o equilíbrio sentado;
 movimentos de cintura escapular e pélvica dissociados tanto em supino
como em prono.

VIDEO
Postura de quatro apoios   engatinhar
Coloca-se de pé tracionado pelas mãos – explora tudo

Permanece de pé com apoio – está prestes a andar noção de permanência do


objeto (7º mês em diante
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Do 10º ao 12º mês

 reação de proteção para trás — reações de equilíbrio sentada;


 passa para a postura de pé (força nas pernas);
 permanece de pé sem apoio   consegue agachar
 marcha lateral   primeiros passos

Braços, cotovelos e mãos realizam extensões, flexões e rotações. Consegue


“manipular” os adultos; segura e solta objetos com facilidade entregando-os
quando solicitado; manipula os objetos com destreza descobrindo suas
particularidades.
Habilidades Motoras Fundamentais (HMF)
Gallahue (2001) - A aquisição e o desenvolvimento das HMF dependem dos
seguintes fatores:

 a tarefa em si;
 do indivíduo;
 do ambiente.

O movimento é um processo a se desenvolver nos anos iniciais da infância,


assim, o estágio de amadurecimento da maior parte das habilidades motoras
fundamentais se dá por volta dos 6 anos.
As habilidades motoras fundamentais são selecionadas em três grupos, a
saber:

 Habilidades Motoras Estabilizadoras;


 Habilidades Motoras Locomotoras;
 Habilidades Motoras Manipulativas.

Passaremos, a seguir, a uma análise de cada um desses grupos.


VIDEO

Habilidades motoras estabilizadoras


Gallahue define o que seria estabilidade: “disposição de manter em equilíbrio a
relação indivíduo/ força da gravidade” (2001, p. 266). Teríamos, então, como
movimentos estabilizadores fundamentais, todo o movimento envolvendo um
aspecto de estabilidade, um ponto fixo e outros móveis. São considerados
movimentos estabilizadores:

 Movimentos axiais – movimentos do tronco ou dos membros que


direcionam o corpo em posição estacionária:
 equilíbrio em um só pé;
 caminhada direcionada;
 apoios invertidos;
 rotação corporal;
 desvios.

Sequência do surgimento das habilidades motoras estabilizadoras

Movimento Emergência Maturidade

Equilíbrio dinâmico 3 anos 6 – 7 anos

Equilíbrio estático 10 meses 6 anos

Movimentos axiais 2 meses 6 anos

Habilidades motoras locomotoras


Gallahue define o que seria locomoção – “envolve a projeção do corpo no
espaço, alterando a sua localização relativa a pontos fixos da superfície.”
(2001, p. 280). Teríamos então como movimentos locomotores fundamentais:

 caminhada;
 corrida;
 salto vertical;
 salto horizontal;
 salto misto;
 pulo;
 saltito;
 galope e deslizamento.

Sequência do surgimento das habilidades motoras locomotoras


Movimento Emergência Maturidade

Caminhada 13 meses 25 meses

Corrida 18 meses 5 anos

Salto 18 meses 6 anos

Saltito 3 anos 6 anos

Galope 4 anos 6 anos

Skipping 4 anos 6 anos

Habilidades motoras manipulativas


Gallahue define o que seria a manipulação: “envolve o relacionamento de um
indivíduo com objetos e caracteriza-se pela aplicação de força nos objetos e a
recepção da força destes” (2001 – p. 299), e classifica-os em dois grupos:

 Movimentos propulsores - quando o objeto é movimentado para longe


do corpo. Seriam movimentos manipulativos propulsores o chutar, o
bater, o rolar, o arremessar, o voleio;
 Movimentos amortecedores - quando o corpo ou parte dele é
posicionado no caminho de um objeto em movimento, com o propósito
de parar ou desviar esse objeto. Seriam movimentos manipulativos
amortecedores o agarrar, o rebater, o aparar e o apanhar.

Os movimentos manipulativos fundamentais combinam os movimentos


estabilizadores com os movimentos locomotores, e envolvem:

 projeção da estimativa da trajetória;


 velocidade da viagem;
 precisão;
 distância;
 massa do objeto em movimento.

Sequência do surgimento das habilidades manipulativas fundamentais

Movimento Emergência Maturidade


Alcançar, segurar, soltar 2 / 4 meses 14 / 18 meses

Lançar 2 / 3 anos 6 anos

Agarrar, pegar 2 anos 6 anos

Chutar 18 meses 5 / 6 anos

Bater 2 / 3 anos 6 / 7 anos

VIDEO

Habilidades motoras especializadas


O desenvolvimento maduro das Habilidades Motoras Fundamentais é pré-
requisito para a aquisição bem-sucedida das Habilidades Motoras
Especializadas, ou seja, combinações e refinamentos que resultarão em
habilidades esportivas específicas e habilidades motoras complexas.
A especialização das habilidades dependerá:

 da oportunidade para a prática;


 do encorajamento;
 do ensino de qualidade.

Evolução dos movimentos especializados

 Estágio de transição

O indivíduo trabalha para compreender a ideia de como desempenhar a


habilidade esportiva, porém sua habilidade e competência são, ainda,
limitadas.

 Estágio de aplicação

Maior consciência de seus recursos físicos e de suas limitações e concentra-se


em determinados esportes.

 Estágio de utilização permanente


Atividades permanentes são escolhidas para participar regularmente e reduz-
se as áreas de suas buscas atléticas.
Para cada esporte todas as habilidades motoras fundamentais serão pré-
requisitos para a iniciação esportiva.

Desenvolvimento físico em adolescentes


Os processos de avaliação de aptidão física são questionáveis no que diz
respeito a aptidão juvenil. Segundo Gallahue (2001), podemos observar que as
diferenças entre os sexos, quanto a medidas de aptidão relacionadas à saúde
e desempenho são explicáveis por fatores anatômicos, fisiológicos e culturais.
Resistência e força

 as meninas são comparáveis aos meninos em resistência e força


abdominal antes da puberdade, porém, os meninos obtêm ganhos
significativos na adolescência;
 a diferença entre meninas e meninos aumenta consideravelmente a
favor dos meninos, da puberdade em diante, em mensurações de
velocidade e força.

Flexibilidade

 as meninas demonstram mais flexibilidade articular que os meninos na


adolescência.

Massa corporal

 as mulheres têm um ganho contínuo nas mensurações do percentual de


gordura corporal desde a pré-adolescência até a adolescência;
 os percentuais de gordura dos meninos aumentam na pré-adolescência,
diminuem na puberdade e estabilizam-se na adolescência;

COMENTÁRIO
Embora as meninas tenham tendência a superar os meninos no que se refere
ao equilíbrio, na infância, parece não existir nenhum padrão claro de superação
na adolescência.

REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Saboya B – Bases Psicomotoras. Rio de Janeiro, Ed. Trainel, 1995


 Heren  Heren – Estimulação Psicomotora precoce. Porto Alegre,
Ed. Artes Medicas, 1991
 Coelman  Raulier – De la naissance à la Marche – les etapes du
developpement psychomoteur de l’enfant. Bruxelas, ASBL Etoile
d’herbe, 2004
 Gallahue D, Ozmun J – Compreendendo o desenvolvimento
motor. São Paulo, Phorte Editora LTDA, 2001

 Conceitos Psicomotores
 Neste capítulo serão abordados os temas centrais da Psicomotricidade e
pretendemos esclarecer a especificidade desta ciência ainda em
evolução. Os termos a serem estudados neste tópico constituem o eixo
do que conhecemos como prática psicomotora.
 OBJETIVOS
 Neste capítulo pretende-se que sua aprendizagem seja referente a:
• Compreender os diversos conceitos centrais da Psicomotricidade
• Explicar a importância e a correlação de tais conceitos na prática
clínica
• Estabelecer as relações destes temas com a prática da fisioterapia

 Controle motor
 Controlar o corpo é algo que o homem tem de mais difícil para aprender
(também o que tem de mais difícil para estudar como funciona –
próteses e robótica).

O organismo é apto para realizá-lo.

O controle motor exige uma posição econômica, que evita o desgaste


desnecessário de energia para um determinado movimento.

É um processo interativo das funções da mente e corpo na


generalização das posturas e do movimento.

 Sensorial + perceptivo + motor (como acontece esta mistura?)


 Fatores relevantes:
  Motivação;
  Atenção;
  Atividade física.

 Aprender e fazer estão interligados


 Movimento = mudança de postura: consciente ou por ajustamento
automático. Movimentos são controlados por respostas sensoriais e ou
por respostas internas.

 Habilidade motora
 É o uso dos movimentos programados de forma mais favorável e
melhorado pelo ajuste das tensões do músculo para fazer exatamente
os movimentos planejados com maior economia energética.
Aprendizagem motora depende do sensorial e do motor.

Para se chegar a ter uma habilidade motora é necessário ter um nível de


desenvolvimento motor compatível, ter passado por um processo de
aprendizagem motora e alcançar um bom controle motor de seus
movimentos

 A prática faz a perfeição


 A mente e os sentidos controlam a postura e os movimentos.
• Cérebro conhecedor – consiste no sistema sensorial, motor e
associativo (sensações percepções e funções motoras).
• Cérebro emotivo – sistema límbico = comportamento baseado em
impulsos biológicos básicos (alimentação, reprodução...).

 A integração sensório motora é a chave do controle motor


 As percepções sensoriais não refletem necessariamente a qualidade ou
intensidade das entradas sensoriais.

As percepções são baseadas em versões editadas da entrada sensorial.

O SNC conhece quando um movimento planejado está se dando de


acordo com o plano ou não.

Cada atividade psicomotora se desenvolve sobre um fundo tônico, cuja


expressão cinética é a “figura”.

Tônus, pano de fundo para o movimento. O movimento perturba a


postura e o equilíbrio.

Wallon fala das “atividades posturais” com dupla característica: pode ser
preparação para o ato e/ou de espera. A espera antecipatória indica
uma atitude de ajustamento preparatório específico para execução do
programa motor que deve ser realizado.

Postura - posição do corpo inteiro ou de uma parte dele (posição dos


diferentes segmentos corporais em um dado momento).

A postura está na base da organização dos movimentos.

A postura prepara o ato e pode suceder-se de uma sequência de


movimentos cujo resultado é um “estado”.

A postura ou ausência do movimento corresponde à estabilidade do


corpo em certa posição.

A postura tem importância no desenvolvimento psicomotor da criança.


 VÍDEO
 Veja mais em: http://www.slideboom.com/presentations/116247/T
%C3%94NUS_MUSCULAR_E_POSTURA-fisiologia%5B1%5D

 Diálogo tônico - hipertonia do desejo e hipotonia da satisfação.

Comportamento expressivo – choro / gritos... mais tarde sorriso /


vocalização...

Primeiramente, esses comportamentos se manifestam de maneira não


deliberada, mas o receptor (mãe) lhe dá um significado. Aos poucos eles
serão usados de maneira mais específica sendo um meio de
comunicação (intencional).
 Tipos de tônus
 Podemos caracterizar de forma didática três tipos de tônus. Tais
classificações variam a nomenclatura, segundo o autor estudado, mas
comungam do mesmo conceito.

É o responsável pela postura ortostática, pela


manutenção da posição de um seguimento
corporal (contração isométrica) e também está
TÔNUS DE FUNDO, DE BASE
presente na função de amortecedor. É avaliado
OU POSTURAL
por meio das manobras de passividade e de
extensibilidade. Ex.: ao dormir, ao estarmos de
pé, ao cair.

É o ato motor propriamente dito (contração


TÔNUS DE AÇÃO OU DE isotônica) quando um grupo muscular realiza
ATITUDE uma determinada ação. Ex.: ao escrever, ao
comer, ao falar.

É quando todo o corpo se dedica a uma única


TÔNUS DE FORÇA OU DE
ação. Ex.: empurrar um carro, esportes de
SUPORTE
explosão.

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Qualidade do tônus
Como já vimos, nos quadros patológicos temos os extremos, isto é, a
hipertonia de um lado e a hipotonia de outro, no entanto, um indivíduo pode
estar em qualquer ponto deste continum dependendo do momento que estiver
vivendo.
O bom tônus será aquele adequado à ação motora à qual o sujeito se propõe.
O movimento econômico e eficiente se dá quando adequamos o tônus ao ato
motor.

Fisiologia da contração muscular


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A célula muscular, por ter seu formato alongado, é chamada de fibra.

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Como toda a célula, é composta por suas estruturas. As estruturas da célula
muscular são: sarcolema que é a membrana da célula muscular;
o sarcoplasma; as miofibrilas que são estruturas próprias da fibra muscular e
o sarcômetro que é a unidade histofisiológica da célula muscular e é o
responsável pela contração da fibra.

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O processo de contração se dá a partir de um estímulo que atinge a célula,
percorre a fibra, criando em seu interior um potencial de ação (PA). Na fibra
muscular o retículo sarcoplasmático armazena cálcio. Nas mitocôndrias o ATP
se transforma em ADP gerando energia. Esse cálcio é liberado e vai agir com
as proteínas que se encontram no sarcoplasma, essas, por sua vez, vão reagir
com a actina. A actina vai reagir, então com a miosina, promovendo o
deslizamento do miofilamento delgado sobre o espesso, finalizando a
contração do sarcômero.

Outra estrutura importante é o fuso neuromuscular, formado por fibras


diferenciadas. São elas as fibras extrafusais; as fibras intrafusais (que possuem
seus polos contráteis) e as fibras nervosas sensitivas anulo-espirais. No
movimento voluntário, o estímulo sai do córtex, percorre a medula e vai atingir
um neurônio motor gama; esse vai inervar as zonas polares das fibras
intrafusais (que são contráteis). Tal contração vai provocar o estiramento das
intrafusais e excitar as fibras nervosas sensitivas anulo-espirais. Essas via
sistema nervoso periférico, vão devolver o estímulo à medula para o neurônio
motor alfa que, por sua vez, vai inervar as fibras extrafusais, finalizando a
contração do fuso.
VIDEO
Clique na imagem para ampliar

Neurônio
motor GAMA
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Equilíbrio
 O aparelho labiríntico, órgão central do equilíbrio, mieliniza-se
precocemente, muito antes que todos os núcleos dos nervos cranianos.
 As modificações de postura, durante a gestação, deixam marcas no sistema
neuro-labiríntico do feto, no entanto o recém-nascido manifesta poucos indícios
de postura antigravitária eficiente.
 Algumas reações de equilíbrio, passo a passo:
- Os reflexos labirínticos só se registram francamente a partir do 2º mês, com a
busca da verticalização da cabeça.
- Mais tarde, somam-se aos reflexos labirínticos os reflexos óticos de
retificação, o que vem reforçar a importância da visão na maturação
neuromotora e no desenvolvimento do equilíbrio.
- Por volta do 5º mês surgem as primeiras tentativas de alinhamento
céfalocorporal.
- “Todas as reações têm por efeito suscitar, forçosamente, aferências
proprioceptivas que são recolhidas pelos centros e, em particular, pelo córtex
cerebral onde se associam às aferências exteroceptivas sensitivas e
sensoriais... é provável que as relações anatômicas e funcionais entre o córtex
e os outros centros, em particular com o cerebelo, necessitem de um tempo
bastante longo e variável, antes de se estabelecerem definitivamente no que
diz respeito à marcha.” (¹)
- A reação de bloqueio da queda (paraquedismo) – sinergia labiríntica básica é
um reflexo de maturação, resultado da integração neurológica entre o aparelho
labiríntico e o sentido da visão, onde as mãos vêm a participar das reações do
equilíbrio. Essa reação postural surge a partir dos 6 meses e persistirá para
toda a vida.
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- Do 6º ao 8º mês a criança necessitará do apoio dos braços para manter-
se na posição sentada, o tronco inclina-se para a frente demonstrando uma
pequena cifose dorso-lombar.
- No 8º ou 9º mês, já não requer o apoio dos membros superiores na
posição sentada, e a reação de paraquedista só aparecerá quando houver
risco de sua estabilidade. Isso permite ao tronco retificar-se e inicia o
desenho das curvaturas definitivas da coluna.
- Lá pelos 9 até os 11 meses, quando os membros superiores passam a
exercer seu papel de suporte com firmeza e soltura, os inferiores se
flexionam, apoiam-se nos joelhos e os pés separam o corpo do plano de
apoio. A criança engatinha e pode deslocar-se no espaço. Aqui entra em
cena a percepção do espaço como retroalimentação da integração da
maturação labiríntica, visual e cerebelar.
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 Na posição ereta, passará a buscar novos pontos de apoio manual e pouco a
pouco irá abandonando-os para dar às mãos prioridades de outras funções, e
passar a exercer plenamente a força antigravitária de seu eixo corporal.
- “... o equilíbrio não é mais que um sistema incessantemente modificável de
reações compensadoras que parecem, em todo momento, modelar o
organismo frente às forças opostas do mundo exterior...” (²)
- Um aspecto fundamental para o desenvolvimento da função de equilibração é
a função tônica, que envolve todas as complexas estruturas do sistema
nervoso central, desde a medula até o cérebro.
- Sherrington atesta que a contração tônica não é geradora de movimento ou
de deslocamentos e sim, essencialmente a atividade postural dos músculos
que fixa as articulações em posições determinadas, compondo uma atitude em
seu conjunto.
- O tônus não é de formação exclusivamente nervosa, é também de formação
medular e periférica e sua complexidade se dá porque forma o fundo das
atividades motoras e posturais, prepara o movimento, fixa a atitude, protege o
gesto e mantém a postura e a equilibração.
- A manutenção da postura de pé é operada por diversas excitações reflexas
que nascem nos receptores labirínticos e profundos, provocadas pela ação
constante da gravidade. Dentre as excitações mais importantes temos:

as excitações labirínticas (canais


1
semicirculares e os otólitos);

as excitações proprioceptivas
2
(articulações, músculos e tensões);

as excitações exteroceptivas (de origem


3
tônica e perceptiva);
4 as excitações visuais.

Próprioceptores
 Músculos-tendinosos (fusos);
 Articulares (corpúsculos de Golgi);
 Labirínticos.
Têm um caráter lento de acomodação, mantendo as aferências dinâmicas da
atividade posturo-motoras.

Assim, para mantermo-nos simplesmente em pé, uma atitude mecanicamente


pouco fatigante, verificamos, no aspecto neurológico, uma enormidade de
autorregulações que sustentam tal postura.
VIDEO

Esse triângulo assegura as funções do equilíbrio, e para que possamos manter


a equilibração faz-se necessário que dois desses três vértices estejam íntegros

VÍDEO
http://g1.globo.com/bemestar/videos/t/edicoes/v/equilibrio-envolve-visao-
labirinto-e-receptores-espalhados-pelo-corpo/3350002/

Esquema e imagem corporal


Esquema corporal
 Refere-se ao conhecimento que temos de nosso corpo;
 Provém de informações proprioceptivas, interoceptivas e exteroceptivas;
 É de ordem evolutiva, porque o corpo muda de tamanho, peso, medidas e,
em consequência, mudam as possibilidades e coordenações funcionais;
 Implica em uma representação: pode-se falar das partes do corpo, das
funções, das relações espaciais e da dimensão temporal do corpo;
 Pode ser medido, comparado, pesado;
 É pré-consciente e consciente;
 É um conceito intuitivo e sintético do corpo e possui quatro aspectos que o
constituem:
1 nomeação das partes do corpo;

2 localização das partes do corpo;

3 conscientização das partes do corpo;

4 utilização das partes do corpo.

VIDEO - ESQUEMA CORPORAL

Os dois primeiros possuem um caráter objetivo pois, são idênticos para toda a
espécie humana.

Os dois últimos, no entanto, vão estar diretamente ligados à experiência


individual e à aprendizagem, tendo um caráter mais subjetivo.

O Esquema Corporal é o canal por onde circula a imagem do corpo, é nosso


equipamento neuromotor, tradutor do que sentimos e vivemos como sendo nós
mesmos. É o que damos a ver ao outro, é uma representação.
Imagem corporal
 Sua construção está relacionada com a história de cada um e as relações
que este estabelece com os afetos que recebe nas relações com o mundo;
 É construída com base nos contatos sociais, nas relações com o outro,
sendo resultado de um processo de co-construção;
 É elaborada de acordo com as experiências que obtemos através dos atos e
atitudes com os outros;
 É um conceito subjetivo, logo, sendo singular, é constitutiva do sujeito;
 Não é um fenômeno estático, pois sofre as mutações a cada afeto recebido,
podendo se ressignificar a cada instante, até o fim de nossos dias;
 É estruturante para a identidade do sujeito;
 Não pode ser medida ou quantificada;
 É inconsciente.
VIDEO - EXPRESSÃO CORPORAL
Tempo e espaço
 Orientação Espacial e Temporal
 Organização Espacial e Temporal

A estruturação espaço-temporal é importantíssima no processo de adaptação


do indivíduo ao meio, visto que, todos e tudo ocupam um determinado lugar no
espaço em um dado momento.
A orientação espacial e temporal corresponde à organização intelectual do
meio, e está ligada à consciência, a memória, às experiências vivenciadas pelo
indivíduo.

A construção do espaço
De que forma se dá essa construção?
Desde a vida intrauterina através das sensações corporais:

 Mudanças na posição do bebê;


 Mudanças na posição da mãe;
 Pressão intrauterina (crescimento do bebê);
 Contato com o próprio corpo dentro do útero (sugar o dedo, contato com
o espaço que o cerca “barriga da mãe”).

A partir do nascimento:

 Posição que o bebê fica no berço, no colo da mãe...;


 O peito da mãe – objeto de desejo;
 Olhar para a mãe durante a mamada, troca de fralda... – relação com o
outro
 Rolar;
 Arrastar-se;
 O bebê começa a perceber os objetos e a tocar-lhes com as mãos
(coordenação óculo-manual);
 Apreensão dos objetos – lançar os objetos longe, “pedir” objetos que
não estejam presentes;
 Levar objetos à boca;
 Engatinhar, subir/descer; passar por baixo/passar por cima; ir atrás dos
objetos e móveis, desviar...;
 Andar.

Nessa fase, a criança desenvolve noções de um espaço vivenciado através de


experiências de seus próprios movimentos e deslocamentos.

A partir do momento em que a criança começa a se locomover sozinha no


espaço, ela entra em contato com a “linguagem espacial”: “abaixa a cabeça...,
levanta a perna, desce daí menino...”

A criança começa a ter noção de frente x atrás; em cima x embaixo; de um lado


x do outro; longe x perto... Aos poucos, através da experiência vivida com esse
espaço repleto de pessoas e objetos, a criança vai adquirindo noções mais
precisas.

Após vivenciar as relações entre seu próprio corpo, os objetos e as pessoas, a


criança começa a perceber que as coisas têm diferentes lados (posições), e
que existem diferentes direções.
Segundo Jean-Claude Coste, em seu livro A psicomotricidade, “toda percepção
do mundo é uma percepção espacial, na qual o corpo (que não se reduz, nem
para o interior, nem para o exterior à superfície da pele) é o termo de
referência."

Nomeando os espaços

 Antes dos 3 anos


Espaço Topológico vivido, cujos pontos de referência são o próprio corpo. O
Espaço Topológico se caracteriza por relações de vizinhança, de separação,
de ordem, de continuidade... É quando os conceitos espaciais têm relação ao
próprio corpo.

 Entre 3 e 7 anos
Espaço Representativo Euclidiano — a criança é capaz de reconhecer as
formas geométricas, é um espaço caracterizado pela integração das estruturas
espaciais, aparece o “vocabulário espacial”: alto/baixo; longe/ perto... É quando
os conceitos espaciais têm o corpo como referência.

 A partir de 9 e 10 anos
A criança dá ao espaço uma dimensão homogênea e é capaz de projetar no
espaço as formas (geométricas) que o organizam: Espaço Projetivo
intelectualizado. Nesse momento, os pontos de referência são exteriores ao
corpo da criança (objeto x objeto)
VIDEO NOÇÃO DE ESPAÇO

Noções espaciais: (espaço imediato)


VIDEO NOÇÃO DE ESPAÇO II
Noções de:

 Situações: dentro x fora; longe x perto


 Tamanho: grande x pequeno
 Posição: em pé x deitado; aberto x fechado
 Movimento: levantar x abaixar; empurrar x puxar
 Forma: triângulo, quadrado, círculo...
 Quantidade: cheio x vazio; mais que x menos que; pouco x muito...

VIDEO MUSICA
Orientação espacial: (discriminação visual)
Noções de:
 Formas;
 Quantidade;
 Comprimento;
 Tamanhos;
 Orientação esquerda x direita;
 Descobrir o que está faltando;
 Memória visual;
 Descobrir figuras idênticas.

VIDEO TCHU TCHU Ê


Organização espacial: quebra-cabeças/mapas...
A orientação espacial refere-se, então, ao conhecimento destas noções do
espaço (cognitiva).

A organização espacial diz respeito à utilização que o sujeito faz de tais noções
(práxica).

A construção do tempo
A linguagem é um pré-requisito fundamental na estruturação do tempo.

À medida que a criança vai adquirindo noções de “tempo” ela vai aprendendo a
utilizar e a compreender, cada vez de forma mais adequada, os verbos
auxiliares (ser, ter) e os tempos verbais. A noção de tempo envolve
simultaneamente, noções de duração, ordem, sucessão e permite que o
indivíduo se situe, se organize e coordene suas atividades e sua vida cotidiana,
dando sequência a seus pensamentos, gestos, movimentos sem se “atropelar”.

As noções temporais são muito abstratas e por isso são, muitas vezes, difíceis
de serem assimiladas pelas crianças. Elas requerem também uma maturidade
que só a vivência e a experimentação poderão desenvolver.

A criança pequena vive no “tempo presente“, aos poucos vai adquirindo noções
de:
Sucessão de acontecimentos:

 Antes/depois;
 Durante/depois;
 Em primeiro/por último...

VIDEO EXERCÍCIO DE SOM


Duração de intervalos (aqui encontramos o ritmo, que veremos mais tarde em
outro item):

 Tempo longo/tempo curto;


 1 hora/1 minuto, ritmo regular/ritmo irregular (constância e inconstância,
aceleração e freada);
 Ritmo lento/ ritmo rápido (diferença entre correr e andar).

Ordem:

 Renovação cíclica de períodos: (dias da semana, meses, estações...);


 Caráter irreversível do tempo: (“já passou”), noção de envelhecimento,
idade, crescimento...

Sabemos que a criança está inserida em um tempo e em um espaço mesmo


antes de nascer. A partir do nascimento, a noção de tempo vai se tornando
muito presente na vida do bebê. Existe o intervalo das mamadas, a preparação
para as atividades do cotidiano (ex.: a criança percebe que está chegando a
“hora” do banho, de acordo com a movimentação de sua mãe).

Aos poucos ela vai aprendendo a “esperar”: “Eu já vou!”, “Depois mamãe te
dá.”, “Primeiro tira o sapato, depois entra no banho.” etc.

A criança, inserida nessa “linguagem temporal” desde que é “desejada” (ex.:


“Você vai ser muito amada”, pensa a mãe ainda grávida), começa a utilizá-la,
mas ainda troca a concordância verbal e a ordem dos acontecimentos. (“Mãe,
ontem eu vou na vovó?”)

Podemos perceber o tempo de 2 formas:


 tempo subjetivo: varia conforme o momento (momento prazeroso parece
que dura menos do que o momento de dor, medo ou angústia);
 tempo objetivo: este é sempre idêntico, é matemático, contado e
controlado: e 5 minutos são sempre 5 minutos!
Durante o dia a dia, trabalhamos com o tempo objetivo, existe a hora do banho,
do almoço, os dias de aula e os finais de semana, os meses de férias, as datas
comemorativas etc.

A rotina de uma escola, por exemplo, auxilia a criança na percepção e


estruturação do tempo objetivo.

A professora verbaliza o que vão fazer depois de determinada aquela tarefa. A


criança, mesmo pequena, já sabe que vai ter a “hora” do recreio, do lanche, e a
“hora” da mamãe chegar.
De que forma se dá essa construção?
A aquisição da temporalidade pela criança:

1º vive de forma intensa o tempo presente – antes de 1 ano;

2º percebe o que acontecerá de imediato, o bebê faz a besteira e olha para a


mãe esperando a “bronca” ou faz uma gracinha para agradar – após 1 ano;

3º é capaz de esperar alguns minutos por algo que deseja – 2 anos;


4º começa a entender o que quer dizer “agora chega”, “não dá mais tempo”,
“acabou” mesmo que ainda não aceite muito bem – 2/3 anos;

5º percebe a periodicidade de alguns ciclos: um dia após o outro, manhã, tarde,


noite etc. – 3 /4 anos;

6º é capaz de compreender a renovação cíclica de períodos mais abstratos:

 Dias da semana : + ou - 6 anos;


 Meses do ano: + ou - 7 anos;
 Os anos: + ou - 8 anos;
 Dia do mês: + ou - 8 anos.

7º começa a compreender o tempo objetivo e o subjetivo através de vivências:


a criança sabe que 5 minutos de brincadeira é pouco e 5 minutos esperando é
muito, apesar de saber serem os mesmos 5 minutos. Passa a ser capaz de
avaliar a duração de uma conversa, de um programa: a partir de 9 anos;

8º indica hora com aproximação de 20 minutos: a partir de 11 / 12 anos;

9º nesta fase, o indivíduo já possui um conjunto de lembranças pessoais e uma


visão mais realista do futuro com todos os sentimentos, bons e ruins, que o
futuro e o passado comportam.

A medida que as crianças vão adquirindo a noção de tempo, duração e ordem


elas passam a, não só, organizar melhor seus pensamentos e suas atividades
do dia a dia, como a compreender melhor o mundo que as cerca.

Com as noções de tempo, ordem e duração surgem também as noções de


alternância e cadência, elas desenvolvem juntas o que chamamos de ritmo.

A orientação temporal seria, então, o conhecimento de todos estes conceitos


temporais que vimos até aqui.

A organização temporal vai referir-se à utilização de tais conceitos pelo sujeito


em questão.

Em Psicomotricidade verificamos a interelação entre os conceitos espaciais e


temporais naquilo que chamamos de Estruturação Espaço-Temporal.

Lateralidade

VÍDEO
Etimologia
Qualidade ou estado lateral (do latim laterale – relativo a lado).
O termo direita tem, nas diversas línguas, o significado de justo, franco, certo,
honesto, habilidoso, caracterizando boas qualidades.

O termo esquerda refere-se a torto, torcido, desajeitado, e, na Itália, significa


canhoto, mas também ladrão. A lateralização é a tradução de uma assimetria
funcional. Para Le Boulch (1982:92) “a instalação e a qualidade lateral está na
dependência da dominância hemisférica”.

No entanto, segundo Fonseca (1988:130), “as funções mais importantes não


são desempenhadas por um só hemisfério; trata-se de uma ação recíproca e
mutuamente interrelacionada, não existindo uma autoridade exclusiva de
qualquer dos dois hemisférios”.

Essa desigualdade vai se tornar mais precisa durante o desenvolvimento,


graças a fatores inatos e sociais.

Existem várias classificações de lateralidade, uma delas nos é fornecida por


Jean Bergès que propõe:
1 - lateralidade espontânea ou inata – ligada às atividades gestuais, não
aprendidas: visão (mira); atitude, orientação cefálica etc. Esta seria reflexo de
uma lateralidade neurológica, como função de uma dominância hemisférica
constitucional, que pode ser observada no aumento da tonicidade de um dos
lados do eixo corporal.

2 - lateralidade de utilização – adquirida em função dos aspectos sociais,


escolares, familiares etc., que se reflete em um predomínio manual nas
atividades cotidianas.

Segundo Gesell, a partir dos primeiros meses de vida já podemos notar a


dominância lateral inata, através da observação do RTC (reflexo tônico
cervical), e inclusive prevê-la em 75% dos casos.b>

O esboço de prevalência manual poder ser observado por volta dos 4 meses
através da capacidade que a criança adquire de seguir com os olhos sua mão,
graças à organização telo-cinética, que implica na atividade dos tubérculos
quadrigêmeos que coordenam o jogo de três pares dos músculos oculares.

Porém, apesar de todos estes dados, a estabilização lateral se faz entre os 6 e


8 anos de idade. Durante esse período evolutivo a criança encontra-se sujeita
às pressões sociais.

Na análise da lateralidade, devem ser investigadas não somente a


predominância manual, mas também a ocular, a auditiva, a pedal e a
expressiva.

O desenvolvimento da lateralidade é importante na evolução, adaptação,


formação do esquema corporal, percepção da simetria do próprio corpo e do
eixo corporal da criança, e vice-versa.
O desenvolvimento da lateralidade ocorre naturalmente no indivíduo que, aos
poucos, terá definido qual dos lados terá mais força, será mais ágil, terá melhor
coordenação motora etc.

A lateralidade está acoplada tanto na orientação espacial como no


conhecimento do próprio corpo.
De que forma se dá essa construção?
Acompanha os seguintes passos:

 Conhecimento do próprio corpo (corpo próprio);


 Localização e estruturação corporal (consciência corporal);
 Projeção de pontos referenciais a partir do corpo (relações espaciais
corpo x objeto ou corpo do outro);
 Organização do espaço independente do corpo (relação espacial objeto
x objeto).

Percepção de esquerda x direita

VÍDEO

Inicia com a percepção de que o corpo tem dois lados e que utilizamos mais
um lado do que o outro.

A lateralização, como já vimos, está relacionada com a dominância de um lado


em relação ao outro, enquanto que conhecimento esquerda-direita diz respeito
ao domínio dos termos “esquerda”, ”direita”, que utilizamos como referência
para uma melhor orientação espacial.

A dominância estável dos termos “esquerda“, “direita” no próprio corpo, só é


possível se verificar por volta dos 5/6 anos. Já a noção de reversibilidade,
capacidade da criança de reconhecer esquerda-direita fora do próprio corpo,
em uma pessoa ou objeto à sua frente, só poderá ser abordada depois dos 6
anos 6 anos e meio.
De que forma se dá essa construção?
 Primeiro a criança percebe o corpo (sente esse corpo);
 Depois a criança percebe e diferencia os dois lados do corpo;
 Só a partir de mais ou menos 7 anos, a criança é capaz de nomear e
perceber com precisão as partes esquerda e direita de seu corpo;
 Perceber, estabelecer relações, nomear direita x esquerda nos objetos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LE BOULCH. O desenvolvimento psicomotor - do nascimento até 6 anos. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1982.
FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
André-Thomas: l’équilibre et la fonction labyrinthique chez le nouveau-né et le
nourisson – l’encéphale, 44 2:97-137, 1955.

O Cérebro e suas funções


Neste capítulo vamos entrar no mundo da prática! Vamos avaliar os subfatores
psicomotores estudados até agora, investigando as diferenças possíveis entre
nós.

OBJETIVOS
Neste capítulo pretende-se que sua aprendizagem seja referente a:

 Reconhecer a relação entre os conceitos apreendidos no capítulo


anterior e as áreas corticais explicadas no capítulo 2;
 Ser capaz de aplicar as provas características da avaliação psicomotora.
 Explicar as diferentes provas utilizadas para avaliar os subfatores
psicomotores.

Verificação da 1ª unidade funcional de Luria (Tônus e Equilíbrio)


Tonicidade
Serão avaliadas duas formas de tonicidade: a de fundo e a de ação. Na
primeira, vamos verificar o aspecto da passividade (segundo Ajuriaguerra e
Stambak – a capacidade de relaxamento passivo dos membros e suas
extremidades distais perante mobilizações, oscilações e balanceios promovidos
pelo observador) e o aspecto da extensibilidade (segundo Ajuriaguerra, 1977 –
maior comprimento possível que podemos imprimir a um músculo afastando
suas inserções).
Após a observação do tônus de fundo, de base ou repouso, devemos seguir
nossa observação do tônus de ação ou de atitude, investigando:

 As Paratonias, segundo Dupré e Ajuriaguerra, é a incapacidade de


descontração voluntária, que podem estar presentes tanto no tônus de
repouso como no de ação;
 As Diadococinesias, segundo Quiróz, apud Fonseca (1995), é a função
motora que permite a realização de movimentos simultâneos e
alternados, que põem, em cena, a coordenação cerebelar;
 VIDEO CAP 05
 As Sincinesias, segundo Ajuriaguerra (1977) e Soubiran, ocorrem
quando um grupo muscular que não foi convidado para a ação, vem
participar da mesma - reações parasitas de imitação ou axiais.

Para a avaliação de tão importante aspecto psicomotor optamos pela aplicação


do exame de tônus – Ajuriaguerra - Bergès (1963).
Equilíbrio
A observação do equilíbrio também é fator de interesse da Primeira Unidade
Funcional, uma vez que envolvem ajustamentos posturais antigravitários que
dão suporte a qualquer ato motor. O equilíbrio é resultante de uma ação
coordenada e simultânea da proprioceptividade, da tonicidade e da
exteroceptividade, sendo o ponto de partida para todas as ações coordenadas
e intencionais. Através das provas de equilíbrio estático podemos observar o
grau de controle vestibular e cerebelar da postura. Nosso olhar deverá estar
atento aos movimentos faciais, as gesticulações, os sorrisos, as oscilações, a
rigidez corporal, os tiques, a hiperemotividade.
As provas de equilíbrio dinâmico implicam em orientação controlada do corpo
em situações de deslocamento no espaço, entrando em cena a própria
atividade piramidal.
Nosso olhar deve estar atento para os sinais como a precisão, a economia e a
melodia do movimento; o controle, a destreza, o grau de facilidade ou de
dificuldade; as assimetrias, as reações de busca de equilíbrio. Vamos observá-
lo nas seguintes condições:
Equilíbrio estático
a) Imobilidade: (Fonseca, 1995) Posição de Romberg: a criança deve estar de
pé, braços ao longo do corpo, pés unidos e olhos fechados por 60 segundos
(segundo Guilmain [1971] é a capacidade de inibir voluntariamente, qualquer
movimento durante um curto tempo).
Equilíbrio dinâmico
a) Pular com os pés juntos, uma corda estendida no chão (Picq & Vayer, 1977).
O terapeuta demonstra o pulo que deverá ser sem impulso, com os joelhos
fletidos. Deve haver propulsão.
b) Marcha controlada: andar em linha reta (2 metros), encostando a ponta de
um pé no calcanhar do outro pé.
VIDEO CAP 05 2

erificação da 2ª Unidade Funcional (conhecimento do corpo, organização


perceptiva, lateralização e estruturação espaço-temporal)
Conhecimento do corpo
A noção de corpo também deve ser observada e é da responsabilidade da
Segunda Unidade do modelo Luriano. As primeiras provas, por nós
selecionadas, fazem parte da BPM (Bateria Psicomotora), de Vitor da Fonseca,
e as demais foram introduzidas na intenção de intensificar a investigação sobre
o conhecimento que a criança pode ter de seu corpo. Com esse fim recorremos
a Bergès & Lézine para a imitação de gestos e verbalização, e demonstração
das partes do corpo, e outros autores para as demais provas.
Cinestesia (Fonseca, 1995)
O sentido cinestésico segundo Jenkins (apud Fonseca,1995) refere-se ao
sentido posicional e ao sentido do movimento fornecido pelos proprioceptores
que pertence a somestesia (sensibilidade cutânea e subcutânea). Essa prova
consiste em reconhecer e nomear, de olhos fechados (entre 8 e 18) pontos do
corpo que lhe forem tocados.
VIDEO TCHU TCHU Ê
Imitação de gestos (Bergès & Lézine, 1978)
Esta prova, segundo Bergès & Lézine, nos permite investigar a gênese da
aquisição do esquema corporal na criança assim como a gênese de sua
utilização práxica, pela exploração do conhecimento do corpo, de sua
orientação, de sua eficiência postural e motora, nas diversas etapas do
desenvolvimento.
Uma vez que, nessa prova, o corpo é visto como campo de experiência, como
meio de investigação, como referência e como instrumento de utilização, nos é
permitido observar a possibilidade da criança de imitar corretamente uma série
de gestos efetuados pelo observador, posicionado diante dela.
A imitação correta de um gesto proposto como modelo supõe o conhecimento
e o controle do corpo enquanto instrumento, e a possibilidade de utilizá -lo de
forma idêntica ao modelo supõe, também, o conhecimento do corpo do outro
(que é o modelo), e a apreensão do que ele significa. Assim, são abordados
fatores de ordem perceptiva e de ordem práxica:
VIDEO MUSICAS COMANDOS PRA PERCEPÇÃO CORPORAL
a) fatores perceptivos:
 Fator sensorial, ótico, correspondendo à “imagem do corpo” de Picq
(apud Bergès & Lézine, 1978), que coincide com as imagens do mundo
exterior, e as do corpo do outro
 Fatores sensitivos, aferênciais, que para Head (apud Bergès & Lézine,
1978), unificam-se e totalizam-se no esquema corporal;
 Fator cinestésicos, que vão permitir, como nos diz Shilder (apud Bergès
& Lézine, 1978), a revelação do esquema corporal na experiência
cinestésica das estruturas posturais e do movimento.

b) Fatores práxicos:

 O desencadear, o desenrolar e o finalizar do gesto representa uma


sequência motora que se organiza no tempo e no espaço e a busca da
via mais eficaz dentro das possibilidades de imitação.

Para explicar a união dos aspectos perceptivos e práxicos, citamos os autores


da prova:
“O esquema corporal da criança está engajado num movimento imitativo,
carregado do “símbolo” da imitação: os elementos perceptivos e perceptivo-
motores do esquema corporal são desta forma, utilizados num “gesto”
simbólico. Essa função práxico-gnósica vai, por sua vez, acarretar um melhor
conhecimento do esquema corporal: mensurando por uma série de provas a
possibilidade de imitação de gestos, podemos apreciar o grau de maturação
desta função práxico-gnósica, e o grau de aquisição do esquema corporal.”
(Bergès & Lézine, 1978, p. 2).
Na verdade, quando uma criança imita nosso gesto, ela imita uma forma, uma
direção, que lhe são propostas, e nos dá a ver a organização geral de seu
gesto, investindo suas possibilidades motoras e posturais, suas noções de
lateralidade, sua dominância manual, colocando em cena diversas formas de
correção na tentativa de imitar o modelo (Imitação de gestos simples).
Conhecimento das partes do corpo nomeadas e designadas sob ordem
verbal (Bergès & Lézine, 1978)
A prova de imitação de gestos coloca a criança em uma situação onde o fator
verbal é reduzido ao mínimo, pois a única tarefa da criança é executar os
gestos o mais desprovido possível de conteúdo simbólico e de se orientar no
espaço. Na prova que utilizaremos a seguir, investigaremos como as diferentes
partes do corpo se integram no mundo de suas representações sob a forma de
nomeação, e verificaremos as aquisições verbais que a criança possui, na
medida em que ela pode mostrar e nomear as partes do corpo que lhe são
designadas.
Os 25 primeiros itens, do inventário apresentado pelos autores, foram
classificados em função de respostas obtidas com crianças de 3 e 4 anos. Os
autores atribuíram 1 ponto para cada item nomeado (0,5 ponto para nomeação
sobre o terapeuta e 0,5 ponto para nomeação sobre seu corpo) e 1 ponto para
cada item mostrado (0,5 ponto quando mostrado no corpo do terapeuta e 0,5
ponto quando mostrado sobre o próprio corpo).
Sabemos que as crianças que apresentam prejuízos motores terão dificuldades
na prova de imitação de gestos assim como no desenho da figura humana.
Sendo assim, essa prova lhes dá a possibilidade, por meio da nomeação e
localização, de demonstrar seus conhecimentos a respeito de seu corpo.

Desenho da figura humana (desenho de si?) (Pierre Vayer & Louis Picq,
1978 e Fonseca, 1995)
O desenho pode representar uma projeção de atitudes ou uma projeção da
imagem de si ideal, um estado mais elevado da representação ou ainda, o
simples resultado da observação voltada para os aspectos exteriores de si e do
outro. Buscaremos considerar o desenho da criança sob o ângulo da imagem
que ela faz de seu corpo, considerando que podem surgir diferenças
específicas nesse desenho, a partir do interesse maior que ela dedica a um ou
outro segmento corporal colocado em cena, durante a avaliação.
VIDEO VEM DANCAR

Organização perceptiva e estruturação espaço-temporal


A organização perceptiva abarca a organização espacial que, segundo
Fonseca, compreende a capacidade espacial concreta de calcular as distâncias
e ajustamentos dos planos motores, pondo em cena as funções de análise
espacial, processamento e julgamento das distâncias, direção, projeto motor e
verbalização da experiência. Envolve as áreas parietais e occipitais (5 e 7) e
fornece as informações necessárias para os centros motores piramidais e
extrapiramidais.
Tabuleiro vazado com 3 formas (círculo, triângulo e quadrado)
O terapeuta coloca as formas alinhadas e o triângulo com o vértice para a
criança, e gira o tabuleiro. A criança deverá encaixar as formas. (Pierre Vayer &
Louis Picq, 1978)
Formação de um retângulo
Dois retângulos de cartolina de 14 x 10 cm sendo um deles cortados ao meio
em diagonal. O retângulo e os triângulos devem ser apresentados à criança na
posição abaixo. Com esses 2 triângulos ela deve formar um retângulo. (Pierre
Vayer & Louis Picq, 1978)

Representação topográfica
Capacidade espacial semiótica e de interiorização de uma trajetória espacial
partindo de um mapa, envolvendo a transferência de sistemas visuais para
sistemas proprioceptivos, pondo em cena atividades espaciais inter-
hemisféricas (realizada somente a partir dos 6 anos).
A criança e o observador realizam um levantamento topográfico da sala (um
mapa). Ambos se posicionam na sala e desenha-se um trajeto no mapa, que
deverá ser realizado pela criança. (Fonseca, 1995)
Estruturação rítmica – (Mira Stambak apud Vayer, 1978)
Compreende a capacidade de memorização e reprodução motora de estruturas
rítmicas, observando a percepção auditiva, a memória de curto prazo e a
translação de estímulos auditivos para proprioceptores.
A) Reprodução por batidas das estruturas temporais. A criança deve
ouvir atentamente a sequência de batidas realizadas pelo
observador e, em seguida, reproduzir a mesma estrutura rítmica e
o mesmo número de batimentos.
Obs.: Parar após 3 estruturas erradas sucessivamente.
VIDEO CADA BOLINHA UMA PALMA
B) Simbolização (desenho) das estruturas espaciais.

C) Simbolização das estruturas temporais.

Lateralização
Dominância lateral (Pierre Vayer & Louis Picq, 1978)
a) Expressiva: observação de atividades espontâneas e da gestualidade do
sujeito (bater palmas, acenar etc.).
b) Preferência das mãos: imitar dez ações unimanuais.
c) Dominância de olhos:

 Sighting - cartão de 15 x 25 cm com um furo no centro;


 Telescópio;
 Luneta.

d) Dominância pedal
VIDEO

Reconhecimento da direita e da esquerda (Pierre Vayer & Louis Picq,1978)


Em si mesmo: pedir a criança para mostrar:

1. A mão direita.
2. A mão esquerda.
3. O olho direito.

No corpo do outro:
A criança e terapeuta face a face. O terapeuta pede a criança que toque sua
mão esquerda. O terapeuta pede que a criança toque o pé direito. Depois o
terapeuta segura uma bola na mão direita, e pergunta: — “A bola está em qual
mão?”

Verificação da 3ª Unidade Funcional


Está ligada basicamente às áreas 4 de Brodmann (zona motora do córtex) e
áreas 6 e 8, zonas pré-motoras.
Praxia global
Está mais relacionada com a área 4, 6 e 8 responsáveis, segundo Luria, pela
realização e automação dos movimentos globais complexos, essa área
antecipa ou prepara o movimento propriamente dito e é ricamente conectada
com as estruturas subcorticais.
Com os pés juntos, saltar para frente e mantendo-os unidos até o contato
com o chão. (Pierre Vayer & Louis Picq, 1978)
Saltar sem impulso, acima de um elástico colocado a 20 cm do chão
(joelhos flexionados). (Pierre Vayer & Louis Picq, 1978)
Com os olhos abertos, saltar uma distância de 5 metros com a perna
esquerda, a outra flexionada em ângulo reto com o joelho, os braços ao
longo das coxas. Após 30” de repouso, o mesmo exercício com a outra
perna. (Pierre Vayer & Louis Picq, 1978)
Coordenação oculomotora: é a capacidade de coordenar movimentos
manuais com referências perceptivo-visuais.
 Pede-se à criança que efetue 5 lançamentos de uma bola de tênis no
cesto que está colocado a certa distância (1,50m para 4 ou 5 anos e 2,50m
para a partir de 6 anos). (Fonseca, 1995)

 Apanhar com uma mão uma bola de 6 cm de diâmetro lançada de 3 m.


Após 30” de descanso, o mesmo exercício com a outra mão. (Pierre Vayer &
Louis Picq, 1978)
Coordenação óculo-pedal: é a capacidade de coordenar movimentos
pedais com referências perceptivas-visuais.
Sugere-se à criança que realize 5 chutes, na bola de tênis, com o objetivo de
fazer a bola passar entre as pernas da cadeira, a uma distância determinada
(idem à coordenação óculo-manual). (Fonseca, 1995)
Nosso olhar deve estar atento às dismetrias, reações de busca de equilíbrio,
sinsinesias, destreza e precisão do movimento.
Dissociação de movimentos é a capacidade de individualizar vários
segmentos corporais em um gesto ou em gestos sequenciais, e exige a
capacidade de planificação motora e de generalização motora,
demandando uma interação complexa dos sistemas piramidais,
extrapiramidais e cerebelosos coordenados em função de um plano
estruturado das aquisições aprendidas. Tal precisão e refinamento são
coordenados por um plano cortical.
A criança deverá ser observada no que concerne aos membros superiores
entre si, membros inferiores entre si e a dissociação entre os superiores e
inferiores.
 Sugere-se que a criança de pé, realize vários batimentos das mãos
sobre a mesa, nas seguintes sequências, 4 vezes:
- 2MD – 2ME
- 2MD – 1ME
- 1MD – 2ME
- 2MD – 3ME
 Sugere-se que a criança sentada ou de pé, realize vários batimentos dos
pés nas seguintes sequências, 4 vezes:
- 2PD – 2PE
- 2PD – 1PE
- 1PD – 2PE
- 2PD – 3PE

 Para a coordenação e dissociação das 4 extremidades, sugere-se, 4


vezes:
- 1MD – 2ME – 1PD – 2PE
- 2MD – 1ME – 2PD – 1PE
- 2MD – 3ME – 1PD – 2PE

Praxia fina
Compreende a micromotricidade e a perícia manual, estando mais relacionada
com a área 8, no lóbulo frontal, nas regiões anteriores do córtex, e está
intimamente ligada às áreas visuais.
Coordenação dinâmica manual: refere-se à destreza bimanual e à agilidade
digital, envolvendo o planejamento motor das extremidades distais em
integração completa com a atenção, a fixação e a captação visual de objetos.
Construir uma torre com 6 cubos a partir do modelo feito pelo terapeuta.
(Pierre Vayer & Louis Picq, 1978)
O terapeuta dá um nó com o cadarço em um lápis para demonstração e deixa
como modelo. A criança deverá dar um nó no dedo do terapeuta.

ATENÇÃO
Obs.: o importante é o nó se manter, se aceita qualquer tipo de nó. (Pierre
Vayer & Louis Picq, 1978)

A criança deverá compor uma pulseira de clips (5 para 4 e 5 anos, e 8 para


a partir dos 6 anos), o mais depressa possível.
Diadococinesias
Velocidade e precisão: em um papel quadriculado propor que a criança
faça um traço em cada quadrado do papel, com a maior velocidade
possível, sem deixar que o traço esbarre nas margens dos quadrados, no
período de 1 minuto. (Mira Stambak, apud Fonseca, 1995)
Para concluir, gostaríamos de citar Esteban Levin (1999), que nos esclarece
enormemente com sua frase sobre a avaliação psicomotora, nos alertando
para a aplicação leviana de qualquer instrumento de avaliação que tenha como
objetivo mensurar o desempenho infantil, sem contextualizar a criança em seu
meio familiar e social.
“A avaliação psicomotora sistemática, mensurada por idade ou atividades
quantitativas, acaba por fornecer informações acerca desta desenvoltura, que é
o corpo da criança, suas dispraxias, sincinesias e paratonias, seu equilíbrio,
sua lateralidade, seu esquema corporal e como ela se estrutura no tempo e no
espaço, porém, nenhuma é capaz de informar a respeito da ‘estrutura que
subjaz ao transtorno psicomotor’.” (LEVIN, 1999)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Mattos V; Kabarite A (2008). Perfil psicomotor - um olhar para além do
desenvolvimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, s/d.
Mattos V & Kabarite, A - Avaliação Psicomotora – um olhar para além do 
desempenho, Rio de Janeiro  – WAK editora, 2013.

problemas motores;
 Na escola, na família e no
meio social;
 Auxilia na definição da
lateralidade, orientação e
spacial,

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