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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Psicologia

Bárbara Carvalho Pacheco


Cindy Helen Barbosa Gallinari
Leonardo Santos Abreu
Mirelly Lopes Beltrame
Rháisa Gonçalves Silva
Roger Millard

Prática Extensionista junto ao Método Aucouturier

Belo Horizonte

2017
Barbara Carvalho Pacheco
Cindy Helen Barbosa Gallinari
Leonardo Santos Abreu
Mirelly Lopes Beltrame
Rháisa Gonçalves Silva
Roger Millard

Prática Extensionista junto ao


Método Aucouturier

Trabalho realizado na disciplina “Psicomotricidade”


do 8º período da Faculdade de Psicologia sobre a
prática extensionista junto ao Método Aucouturier .

Belo Horizonte

2017
Breve histórico da Psicomotricidade

Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade, historicamente


esta ciência aparece a partir do discurso médico, mais precisamente
neurológico, no início do século XIX, quando foi necessário, nomear as zonas
do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras.
Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a
constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja
lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada.
São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica.
Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma
sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos
patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma
área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez,
o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. A partir de um enfoque neurológico,
iniciam-se as primeiras pesquisas do campo psicomotor.
O neuropsiquiatra Dupré, afirmou em 1909 a independência da
debilidade motora a um possível correlato neurológico. Henry Wallon, médico e
psicólogo, em 1925 ocupou-se do movimento humano dando-lhe uma categoria
fundante como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite
a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos
hábitos do indivíduo.

Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame


psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de
prognóstico. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de
debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias
particularidades. É ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores
que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico.
Na década de 70, diferentes autores definiram a psicomotricidade como
uma motricidade de relação. Começou-se então, a ser delimitada uma
diferença entre uma postura reeducativa e uma terapêutica que, ao
despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao ocupar-se do "corpo de um
sujeito" vai dando progressivamente, maior importância à relação, à afetividade
e ao emocional.

Diante de um contexto social-econômico que busca a produtividade do


ser humano, Le Camus (1986), discorre sobre o corpo hábil, corpo consciente e
corpo significante. Levin, trouxe contribuições no que se refere aos cortes
epistemológicos. O primeiro se refere à reeducação psicomotora através do
paralelismo mental-motor. O segundo corte epistemológico, diz sobre a
dimensão instrumental, cognitiva e tônico-emocional, trazendo aspectos
importantes para a Psicologia do Desenvolvimento, uma vez que foca-se no
corpo enquanto instrumento da inteligência e no corpo em movimento e não
mais no corpo motor. Levin discorre sobre o terceiro e último corte
epistemológico dizendo sobre um sujeito desejante, divido em real, imaginário
e simbólico à partir das contribuições da Psicanálise.

Com estas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras


disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia, passando a ser
uma ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em
movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, a partir de diferentes
perspectivas.

A psicomotricidade e a Educação Infantil

Segundo Fontana (2012), a psicomotricidade como uma técnica que


busca conhecimento nas várias ciências apresenta como seu objeto de estudo
o corpo em movimento, a fim de, desenvolver os aspectos comunicativos do
corpo, dando ao indivíduo a possibilidade de domínio corpóreo, de economizar
sua energia, de pensar seus gestos, de aumentar-lhe a eficácia e a estética, de
aperfeiçoar o seu equilíbrio e desenvolver as possibilidades motoras e criativas
na sua globalidade. Levando a centralizar sua atividade e a procura do
movimento e do ato, incluindo tudo o que deriva dela própria, ou seja,
disfunções, patologias, educação, aprendizagem e outros.
A Educação Infantil trouxe um novo caminho e uma nova perspectiva no
que se refere ao desenvolvimento global da criança, onde se observa a
necessidade nas escolas de modo geral e principalmente as de Educação
Infantil de um trabalho com qualidade na área motora, para que desse modo a
criança vivencie todas as etapas de seu desenvolvimento, sendo atendidas por
profissionais receptivos ao processo maturativo e psicoafetivo.

A Psicomotricidade traz conceitos importantes para se pensar o


processo e a educação psicomotora.

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de


base na educação infantil e séries iniciais. Ela condiciona o processo
de alfabetização, leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da
lateralidade, a situar-se no espaço, há dominar seu tempo, a adquirir
habitualmente a coordenação de seus gestos e movimentos.
(FONTANA, p. 10, 2012, grifo nosso)

No que se refere à consciência do próprio corpo, tem-se as definições de


esquema e imagem corporal. O esquema corporal se refere à elaboração da
noção do próprio corpo a partir da consciência de suas partes, movimentos,
posturas, bem como sua integração e é adquirido gradualmente a partir das
experiências da criança com o mundo, projetado através de evoluções e
mudanças constantes durante toda a vida de um indivíduo. Já o conceito de
imagem corporal está relacionado às vivencias que ocorrem com a criança
corporalmente e todos os investimentos que seu corpo recebe, como
sentimentos e significações, podendo ser também entendida como a impressão
que se tem de si mesmo.

Segundo Oliveira (2008), a lateralidade é definida pela propensão do ser


humano utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro em
três níveis: mão, olho e pé. Essa dominância em um dos lados do nosso corpo
representa uma maior força muscular, mais precisão e rapidez, será esse lado
que sempre iniciará e executará o desenvolvimento das ações principais.

O conceito de espaço pode ser entendido como a percepção do próprio


corpo em relação aos demais elementos do mundo, através da orientação no
espaço físico, tendo em vista o próprio corpo e os elementos do ambiente. No
desenvolvimento infantil, o espaço se forma a partir da percepção dos
movimentos, posturas e relação entre os objetos, o que implica em ação e
manipulação, para depois chegar a uma estruturação espacial. Sobre a
estruturação temporal, trata-se da capacidade de situar-se em relação a um
antes e um depois, de perceber movimentos rápidos/lentos bem como as
sequências temporais.

Outro conceito fundamental para o desenvolvimento psicomotor é o


tônus. Segundo Wallon (in FONSECA,1992), podemos ter duas funções do
músculo: a de encurtamento e alongamento das miofibrilas, e a de suporte
mantendo o apoio à musculatura esquelética em estado de repouso. As duas
funções dependem do nível inferior medular e superior reticular e cortical. Este
tônus a que Wallon se refere, é o tônus postural, responsável por toda
equilibração no ser humano. Já para André Tomas, Ajuriaguerra e Dargassies
(in FONSECA,1992), existem duas formas de tonicidade: a de repouso e a de
atividade, sendo que ambas preparam a musculatura para as atividades
postural e práxia. Desta forma, o tônus é um elemento fundante da organização
psicomotora de um indivíduo, já que é um suporte onde são feitas as atitudes
relacionadas a acomodação e espera perceptiva, e a vida social.

Segundo Fontana (2012), a psicomotricidade não é apenas uma prática


preventiva, mas educativa, que contribui na aquisição da autonomia para a
aprendizagem, facilitando assim o processo de alfabetização nas escolas.

O método Aucouturier e a prática extensionista

OBJETIVO

Os objetivos da pratica psicomotora educativa e preventiva são:


 Favorecer o desenvolvimento da função simbólica pelo prazer de agir,
de brincar e de criar, como também, ajudar a passagem a diferentes
níveis de simbolização.
 Favorecer o desenvolvimento dos processos de asseguramento diante
das angustias, através do prazer de todas as atividades motoras.
 Favorecer o desenvolvimento do processo de descentração que permita
a abertura ao prazer de pensar e ao pensamento operatório.
METODOLOGIA

A prática aconteceu no Espaço Corre Cutia, situado a Rua Eduardo


Porto, 280, Cidade Jardim- Belo Horizonte. O espaço é uma casa de
brincadeiras e atividades artísticas para bebês e crianças de 0 a 10 anos, com
uma proposta criada para proporcionar uma infância de quintal rica, criativa e
repleta de experiências lúdicas e significativas.

Foi realizado apenas um encontro no dia 30/10/2017, no período da


manhã, com duração de uma hora e um total de 09 crianças de três a quatro
anos.

A prática foi baseada no método Aucouturier, através de uma instalação


progressiva do dispositivo. No primeiro momento fizemos o ritual de entrada, no
segundo momento fomos para a expressividade motora, em seguida para a
expressividade gráfica e plástica e encerramos com o ritual de saída.

MATERIAL

DESENVOLVIMENTO

O RITUAL DE ENTRADA NA SESSAO

Foi feito uma roda juntamente com as crianças para que elas pudessem
conhecer os adultos e entenderem as condições para a realização da atividade.
Levamos em conta neste primeiro momento os preceitos de uma criança
aberta, descritos por Aucouturier, para estabelecer o vínculo. As crianças
estavam retraídas e caladas, inibidas com a presença de novas pessoas,
perguntamos então se o gato havia comido a língua delas, não obtivemos
resposta. Os recursos simbólicos para reduzir e neutralizar as angustias, tanto
das crianças quanto dos Alunos da Psicologia, puderam ser vivenciados a
partir do corpo neste momento, através da exploração do conteúdo “Língua”,
colocando as nossas línguas para fora e dizendo “O gato não comeu minha
língua não! ”, estimulamos uma abertura das crianças ao estabelecimento do
vínculo através de uma forma lúdica de asseguramento.

“experimentar um prazer renovado que lhe dá energia para desenvolver-se,


progredir e, ao mesmo tempo, enfrentar as dificuldades externas, vivendo sem
perigo as frustrações que todo ser humano tem de superar”

A partir da exposição da língua, as crianças puderam se expor pela via do


corpo, o que facilitou a aproximação e identificação com os visitantes, que
também estavam “expostos”. A espera e o desejo de brincar que antecedem o
momento da expressividade motora (pg20 do 2º pdf) puderam ser observados
na retenção das crianças durante a nossa apresentação, assim como no
momento da liberação para que iniciassem a atividade, onde se engajaram
instantaneamente sem nenhum comando nosso, não demonstrando inibição
para iniciar o momento da brincadeira ou decidir com o que brincar.

OS CONTEUDOS DA EXPRESSIVIDADE MOTORA E DA EXPRESSIVIDADE


GRÁFICA E PLÁSTICA

As meninas inicialmente se reuniram em grupo na piscina de bolinhas,


enquanto os meninos brincavam no túnel de madeira. Uma aluna chegou após
o inicio da atividade e se mostrou retraída para participar da brincadeira junto
às outras crianças, preferiu ficar no colo de uma das Cuidadoras. Depois,
começou brincando de se envelopar e de se esconder ao mesmo tempo,
utilizando colchonetes azuis para se cobrir, dizendo que era uma Tartaruga,
num processo de asseguramento propiciado por esconder-se e ser
reconhecido, protegendo sua personalidade contra certo grau de angustia que
a situação estava lhe causando. Os dois garotos que brincavam no túnel de
madeira, trocavam de papel entre perseguido / perseguidor, além de
submeterem a um certo grau de risco em brincadeiras com uma parte do túnel
onde podiam colocar a cabeça para fora. Em alguns momentos, tivemos que
alerta-los para tomar cuidado.
“é uma criança que vive feliz, que afirma seus desejos sem medo, sem
duvidas, sem culpa, e que escapa à dominação dos adultos que estão
próximos, é uma criança que ousa recursar.”

Apenas um deles pulou sobre a pilha de almofadas que havíamos feito, o


“destruidor” era o mais agitado na sala, dominava o outro garoto na brincadeira
de perseguição, além de ser mais ousado nos movimentos, explorando o
equilíbrio em cima da caixa de madeira enquanto escorregava pela rampa por
exemplo. Ao se aproximar das meninas, que estavam ao lado da rampa, foi
recebi com um “aqui é lugar das meninas”, que então começaram a se
dispersar pela sala devido ao incomodo de dividir o espaço com o garoto,
passaram então a explorar o túnel.

“A casa”, descrita como símbolo de um reduto protetor contra a


pulsionalidade dos fantasmas de ação, como integração da bissexualidade e
referência a heterossexualidade, também surgiu como tema durante a
brincadeira, mais especificamente a partir do momento de conflito, como
descrito no livro.

“(pg22 pdf) “sua construção pelas crianças só aparece a partir do momento em


que o conflito se apresenta. Por isso, a casa tem a função de conter os
excessos relacionais, os arroubos de paixão, do ciúme e do ódio. ”

Construída pelas meninas, a casa parecia na verdade uma sala de estar, onde
organizaram uma mesa, estenderam um pano em cima e colocaram uma cesta
com bolinhas em cima, parecendo uma fruteira. As relações afetivas
demonstradas durante esse momento foram de separação entre “os membros
da casa”, onde tentava se estabelecer qual era o lugar das meninas, e qual era
o lugar dos meninos. Brincadeiras de encher e esvaziar surgiram somente no
momento da casa, além de se repetirem ao final do momento da expressão
motora. As crianças tiveram de reunir e separar os brinquedos para guarda-los,
favorecendo a construção da noção de tempo, divisão entre atividades, além
do grau de comprometimento em brincar e guardar o que usou.

Neste primeiro momento participamos mais como observadores, intervindo


somente quando havia risco de alguma criança se machucar ou machucar o
colega.
Flexibilidade na utilização do dispositivo,

O RITUAL DE SAIDA NA SESSAO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Referências

FONTANA, Cleide Madalena. A importância da Psicomotricidade na


Educação Infantil. Especialização em Educação: Métodos e Técnicas de
Ensino. Medianeira, 2012.

Exercícios de lateralidade – Psicomotricidade. Disponível em:


<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/fisioterapia/exercicios-
de-lateralidade-psicomotricidade/37495> Acesso em: 2 de out de 2017.

Histórico da Psicomotricidade. Disponível em:


<http://psicomotricidade.com.br/historico-da-psicomotricidade> Acesso em 2 de
out de 2017.
Psicomotricidade. O que é tonicidade. Disponível em:
<http://psicomotricidadeeaprendizagem.blogspot.com.br/2010/03/o-que-e-
tonicidade.html> Acesso em: 21 de set. de 2017.

http://www.espacocorrecutia.com.br/?page_id=409

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