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ISSN: 1577-0788

NÚMERO

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Recibido: 8/07/2018 – Aceptado: 12/10/2018

NOV / 2018

O LUGAR DO JOGO SENSÓRIO-PECEPTIVO-MOTOR


NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA

THE PLACE OF SENSORY-PERCEPTIVE-MOTOR GAME, A SUBJECTIVE


CONSTITUTION.

Maria Luisa Inguaggiato

DADOS DO AUTOR

Maria Luisa Inguaggiato es Psicomotricista; Dançaterapeuta; Fisioterapeuta da instituição LUGAR-


Centro de Estudos Interdisciplinares e de Atendimento Clinico – Salvador – BA. www.lugar-ba.com.br
Dirección de contacto: ml.inguaggiato@gmail.com

RESUMO: ABSTRACT:
O artigo propõe refletir, à luz da teoria lacaniana, The article proposes to reflect, from the Lacanian
o papel do jogo sensório-perceptivo-motor theory, on the role of sensory-perceptive-motor
na constituição subjetiva da criança, mais play in the subjective constitution of the child,
especificamente, na operação de alienação da more specifically in the operation of the child’s
criança ao campo do Outro. Com isso, discute alienation to the field of the Other. With this, it
conceitos, apresentados por Julieta Jerusalinsky discusses concepts presented by Juliet Jerusalinsky
sobre os ‘jogos constituintes do sujeito’ e Bernard on the ‘constituent plays of the subject’ and
Aucouturier sobre ‘Fantasmas de Ação’, na Bernard Aucouturier on ‘Ghosts of Action’, in an
tentativa de proporcionar subsídios teóricos para attempt to provide theoretical support to possible
embasar possíveis intervenções psicomotoras. psychomotor interventions.

PALAVRAS-CHAVES: jogo sensório-perceptivo- KEY-WORDS: sensor-perceptive-motor play;


motor; constituição subjetiva; imagem e esquema subjective constitution; body image and body
corporal scheme

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INTRODUÇÃO
O jogo psicomotor é um dos principais dispositivos
dimensões diversas. Este artigo deseja apontar
algumas reflexões sobre estas experiências,
para as intervenções no campo da psicomotricidade. na tentativa, unicamente, de estabelecer uma
A constituição psíquica e a imagem do corpo, forma dialógica de discutir o tema, oferecendo,
assim como a organização do esquema corporal, caminhos teóricos para sustentar as intervenções
se processam e se manifestam neste espaço do psicomotoras.
brincar durante as sessões de psicomotricidade,
revelando na ‘cena’1 pela ‘atividade motriz Destacaremos essencialmente, o jogo sensório-
espontânea’2, algo do sujeito para ser olhado e perceptivo-motor como um dispositivo essencial
escutado. Entretanto, para que o jogo psicomotor na constituição da unidade psicossomática
ganhe uma consistência simbólica e fantasmática, da criança. Discutiremos os apontamentos de
representativa do sujeito, faz-se necessário que Jerusalinky (2011a) e (2011b) sobre os ‘jogos
a estruturação subjetiva aconteça. Acreditamos, constituintes do sujeito’ estabelecendo paralelos
assim, que o jogo sensório-perceptivo-motor pode com o que Aucouturier (2007) define como
oferecer dispositivos psicomotores para que este ‘jogos de asseguramento profundo’ e ‘fantasmas
momento logico da constituição do sujeito - a de ação’. Entendemos que no jogo sensório-
alienação – se configure. perceptivo-motor, a criança coloca ‘em cena’
seus fantasmas de ação4 constituintes da sua
Ponderando que o jogo psicomotor se estabelece a subjetividade. Defendemos a hipótese, de que
partir da ‘atividade motriz espontânea’, podemos esta qualidade de jogo é primordial, para que,
compreender e escutar os atos, gestos e ações em posteriormente ou concomitantemente, os jogos
seu universo significante. O que queremos dizer construtivos-operativos, com prevalência nas
com isso? Queremos dizer que a “atividade motriz funções cognitivas, possam ser estabelecidos. Esta
espontânea” acontece por meio de associações premissa baseia-se na ideia de que o corpo do
psicomotoras livres. Desta forma, de um gesto sujeito ocupa um lugar essencial na construção do
ao outro ou de uma ação a outra, palavras são conhecimento.
lançadas em uma tentativa de colocar na linguagem
significantes para estes atos psicomotores. A pulsão Tomando como referência a teoria lacaniana,
encontra pela linguagem, formas de representar mais especificamente a operação de constituição
metaforicamente e metonimicamente, marcas da do sujeito – alienação5, podemos pensar que os
historia do sujeito inscritas na sua constituição jogos sensório-perceptivo-motores, geralmente, se
subjetiva. estabelecem e ganham maior força de expressão
neste momento da constituição subjetiva. São
Ao longo dos anos, enquanto psicomotricista na jogos constitutivos da unidade psicossomática
área clinica e mais recentemente, como formadora da criança. Esta qualidade do brincar envolve
em psicomotricidade3, tenho tido a oportunidade explorações sensoriais do corpo na relação com
de observar e experienciar o jogo psicomotor em o espaço e com o objeto, que facilitarão tanto o

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aparecimento da percepção quanto a conquista
das habilidades necessárias na apropriação do
primeiro significante, que o representará para
outros significantes. Esse significante primeiro,
esquema corporal da criança. Entretanto, esta marcado como tatuagem, tem função de situar o
organização sensório-perceptivo-motora apenas sujeito, de marcar seu lugar no campo das relações
se estabelecerá na relação da criança com o campo entre cada um e todos os outros. Este primeiro
do Outro6. momento, constitui a unidade psicossomática
da criança; unidade formada pela junção entre
Com isso, não significa que as crianças, que já o psiquismo - que está se constituindo - e a
passaram por este tempo lógico da constituição organização corporal da criança.
subjetiva, não resgatem esta qualidade de jogo
em um momento posterior, inclusive como forma O jogo sensório-perceptivo-motor tem como
de reposicionar sua unidade psicossomática. Pois mola propulsora a busca da satisfação prazerosa
esta qualidade de jogo permite acessar inscrições, marcado no corpo da criança. Satisfação esta
que marcaram este momento da constituição da deixada pelo rastro da ‘letra’ inscrita pelo Outro
imagem do corpo. Neste contexto, podemos então encarnado. A criança não ‘sabe’ desta letra, mas
considerar estes jogos como espaços sensório- seu registro sensorial provoca novamente a busca
perceptivos, geradores de dispositivos capazes de da satisfação perdida, o que cria, desta forma, a
produzir e oferecer elaboração e deslocamentos repetição em cenas prazerosas, de gozo e outras
subjetivos. possibilidades de jogo. Sendo assim, este jogo
marca o litoral entre o gozo do Outro e o saber,
Estes jogos são constituídos na relação com o pois seu exercício, é uma tentativa de unificar
Outro encarnado, pela articulação entre corpo e as zonas erógenas, até então fragmentadas, em
linguagem, onde as noções espaciais e temporais uma unidade corporal, constituindo assim, a
vão se estabelecendo. São jogos próximos daqueles imagem corporal da criança, seu corpo erógeno
que a criança estabeleceu na relação com o Outro (Andreozzi;2014).
primordial. Jogos que buscam a validação e a
nomeação da ação no campo do Outro. É nesta fronteira entre a criança e o Outro
encarnado, neste litoral, que a ‘letra’ ao se
Para ampliarmos esta questão, é relevante inscrever, marcará as zonas erógenas do corpo e
compreender que um organismo se constitui deixará uma descontinuidade real no organismo,
enquanto corpo, a partir da uma unidade lançando a criança a uma dimensão simbólica.
psicossomática. Ou seja, a corporeidade se constitui
pelas marcas e pelo olhar do Outro produzidos na Podemos aqui estabelecer um paralelo com o que
linguagem. É no campo do Outro que o sujeito Jerusalinky (2011a) nos aponta sobre os jogos
se vê e é de lá que ele se olha. Para a psicanálise constituintes do sujeito como jogos precursores
o sujeito, primeiro aparece no campo do Outro, do brincar simbólico, jogos de litoral ou jogos de
na medida em que há um significante unário, o borda. Há muito desta qualidade de gozo/saber

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estabelecido na relação criança/psicomotricista
nos jogos sensório-perceptivo-motores.
“[...] opera-se a inscrição de um litoral que
possibilita a passagem do gozo ao saber, do objeto
ao sujeito, na medida em que a mãe e o bebes, em
Nos jogos sensório-perceptivos-motores a tais jogos, transitam sem se fixar de uma a outra
criança joga com seus fantasmas de ação7, termo dessas posições”.
designado por Aucouturier para representar a
busca do objeto perdido na relação mãe/criança. Desta forma, a mãe sustenta as produções
Aucouturier (2007; 29) nomeia ‘ação’, porque da criança e na medida que o bebe engaja
entende que ação “exerce, ou supõe que exerce, gozosamente com seu corpo, ela atribui a criança
um efeito sobre o outro”. o saber sobre estas produções. Jerusalinky (2011a;
247) complementa esta questão colocando que:
Aucouturier entende que estes processos de
transformação recíproca criam engramas8 de ação. “[...] O bebê não tem como armar tal litoral senão
Entendendo engramas de ação como sequencias com e a partir do laço com o Outro encarnado.
interiorizadas de transformação corporal da mãe [...] Para o humano as bordas não estão dadas.
para com o bebê e que apresentam um caráter Sobre as descontinuidades do real é preciso que se
pulsional. Portanto, a criança no jogo sensório- inscreva uma alternância simbólica, e é sobre tais
perceptivo-motor coloca em ação estes engramas descontinuidades que se joga eroticamente o jogo
de ação estabelecidos na relação mãe/criança. de presença e ausência sobre as bordas do corpo”.
Ainda sobre a questão da relação criança/Outro,
Aucouturier (2007; 38) coloca que toda atividade Andreozzi (2014;37) complementa que “o
psíquica se desenvolve a partir deste substrato simbólico corta e marca o real do corpo da criança
primitivo, ou seja, daquilo que forma a parte através da forma como os pais estão inscritos no
essencial do ser, “de onde se situam os cenários código simbólico para acolherem sua necessidade”.
fantasmáticos da ação e dos desejos inconscientes”. Desta forma, estabelecendo relações com o jogo
Assim sendo, os fantasmas de ação manifestam-se psicomotor, a medida que o psicomotricista pode
no jogo sensório-perceptivo-motor e é a partir da inserir objetos transicionais, substitutivos deste
‘escuta’ destes engramas de ação que podemos prazer marcado no corpo erógeno, a criança
fundamentar a intervenção psicomotora. pode ampliar seu repertório exploratório sensorial,
adquirindo novas percepções dos objetos e de si
Por outro lado, entretanto acrescentando reflexões mesma. É nesta medida, que os jogos sensório-
na mesma direção, podemos entrelaçar a questão perceptivo-motores podem aparecer na ‘cena’
apontado por Aucouturier sobre os fantasmas de do jogo psicomotor, na busca de resgatar os
ação, ao que Jerusalinsky (2011a; 230) nos coloca fantasmas de ação. Os ‘fantasmas de ação’
quando descreve os jogos constituintes do sujeito. podem ser vivenciados através dos jogos de
Ela nos coloca sobre a relação mãe/criança: asseguramento aprofundamento, como define
Aucouturier (2007), na tentativa de afirmação do

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próprio ‘eu’. vez instaurada uma relação terapêutica, o
psicomotricista pode, por um lado, inserir objetos
Mais adiante, quando a criança vai jogar nas sessões substitutivos, que possam retomar este prazer
de psicomotricidade pela via dos jogos sensório- originário, fazendo girar o circuito pulsional
perceptivos-motores, as marcas deixadas pelos capaz de levar a criança a novas buscas sensoriais,
jogos constituintes do sujeito, vão ser reacendidas, perceptivas e motoras. Por outro lado, onde não
trazendo os significantes marcados no corpo da aparecem as inscrições no jogo psicomotor, o
criança. Sua unidade psicomossomática entra em psicomotricista pode atuar de forma análoga ao
cena. Seus ‘fantasmas de ação’ também. Esta Outro primordial, emprestando palavras, sentindo
chama movimenta o jogo e leva a criança na busca as experiências sensório-perceptivo-motoras da
de novas descobertas, utilizando gozosamente criança, nomeando-as em seu corpo, construindo
seu corpo no espaço, na relação com o outro e na as bordas e o litoral do seu corpo.
relação com seu próprio corpo.
Como Jerusalinsky (2011b) nos coloca, o
Nesta dimensão de jogo, o principal aspecto psicomotricista pode, através de articulações que
psicomotor em questão é a constituição das capturam um gozo no corpo, abrir possibilidades
bordas do corpo, ou seja, da imagem corporal. de jogos que possam inserir a criança no registro
Crianças que apresentam questões na constituição do saber, ou seja, que possam atribuir a criança
de suas bordas, buscam através destes jogos, uma um saber sobre si mesma, instituindo uma
forma de contenção e envelopamento corporal. forma de brincar. Pensamos que o jogo sensório-
Portanto, crianças que apresentam transtornos perceptivo-motor pode ser um espaço possível
globais do desenvolvimento, apresentando para realizar estas intervenções, na medida que
questões no reconhecimento de si mesmo, podem englobam experimentações espaciais, temporais,
se beneficiar por intervenções que o levem a de bordejamento e de envelopamento corporal.
reposicionar seus fantasmas corporais. Vivenciar
o jogo sensório-perceptivo-motor, na qualidade CONSIDERAÇOES FINAIS
descrita neste texto, pode ser uma forma de Entendemos que, se o sujeito passou por
resgatar a unidade psicomossomática, criando estes momentos constitutivos em seu brincar
uma matriz de jogo que ofereça suporte simbólico explorados no jogo sensório-perceptivo-motor,
para a experimentação unificadora da imagem do ele poderá adentrar em uma outra qualidade de
corpo. jogo, caracterizado por elementos construtivo-
operativos, os quais o esquema corporal9 poderá
Para que esta vivência seja significativa, o ser favorecido. Para tanto, espera-se que a criança
psicomotricista deverá posicionar-se na ‘cena’, já tenha constituído sua imago corporal, apenas
trazida pela criança, através do jogo, buscando assim, poderá se lançar corporalmente no espaço
escutar os significantes da sua inscrição subjetiva, utilizando seus esquemas representacionais
ou até mesmo, a ausência de inscrição. Uma conscientes.

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Neste momento, o jogo psicomotor poderá exercer
sua função cognitiva, a partir da manipulação
para estabelecer relações com a fantasmática da
criança.
do objeto em varias dimensões. Mas não se 5. Bernardino (2006; 25-26) coloca sobre
esquecendo que para experienciar o objeto, ou a alienação que “[...] é necessário alienar-se no
mesmo, se deslocar do objeto, é necessário, desejo e nas palavras de um outro da espécie para
primeiramente, ter sido objeto do Outro, assim poder ter existência simbólica”. Este outro exerce
como, posteriormente deixar de ser objeto do não apenas o lugar de semelhante, mas também
Outro. de representante do campo simbólico.
6. O campo do OUTRO é o lugar onde se
O espaço do jogo psicomotor permite um novo situa a cadeia significante que comanda tudo o
saber e aflorar respostas sobre as experiências que vai poder presentificar e representar o sujeito.
subjetivas primordiais, a partir das vivencias 7. Aucouturier define fantasma de ação
psicomotoras. Não se trata apenas de dar um como “uma representação inconsciente da ação,
sentido as produções do sujeito, mas acompanhar é o desejo e o prazer de recuperar o “objeto” e de
o sujeito na sua trajetória de encontros e deste atuar sobre ele” (2007;110)
saber sobre si mesmo. Portanto, o psicomotricista 8. Vestígio orgânico deixado nos centros
orienta situações onde a subjetividade de cada nervosos por qualquer acontecimento do passado
sujeito apareça no jogo, favorecendo intervenções individual
para que o sujeito encontre saídas para sua 9. Podemos concordar com Ribas
fantasmática, assim como, encontre formas do (2017;167) e entender o esquema corporal como
imaginário inconsciente ser simbolizado. “o conhecimento descritivo e consciente, fruto de
aprendizagem, dos diversos segmentos corporais
Notas desde as diversas percepções que interveem”.
1. Este termo refere-se à corporificação da
criança de seus conteúdos internos manifestados
no momento do jogo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Termo utilizado por Lapierre e Aucouturier Andreaozzi, M. L. (2014). “A letra: da escrita no
(1986;16) em seus primórdios, como “expressão corpo para a escrita no papel”. In Muratori, Filippo
livre das pulsões ao nível imaginário e simbólico”. e Lerner, Rogério. Os enlaces do corpo e da escrita
Revisto também por Ribas (2017;174) como na criança e no adolescente. São Paulo: Instituto
“dialética de atos e ações que se estabelecem ao Langange. 35-46
por em jogo os recursos simbólicos”.
3. Me refiro aqui à experiência acadêmica Aucouturier, B. (2007). “O método Aucouturier:
como coordenadora e professora do curso de fantasmas de ação e prática psicomotora”.
especialização latu-senso em Psicomotricidade Aparecida, São Paulo: Ideias e Letras.
pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
4. Termo colocado por Bernard Aucouturier Bernardino, L. M. (2006). “A abordagem

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psicanalítica do desenvolvimento infantil e suas
vicissitudes”. In Bernardino, Leda Mariza Fischer
Org. O que a psicanalise pode ensinar sobre a
criança, sujeito em constituição. São Paulo: Escuta.

Jerusalinky, J. (2011a) “A criação da criança: brincar,


gozo e fala entre a mãe e o bebê”. Salvador, BA:
Agalma.

Jerusalinsky, J. (2011b) “Jogos de litoral na direção


do tratamento de crianças em estados autisticos”.
In Autismo: intervenção, clinica e pesquisa. Revista
da Associação Psicanalítica de Curitiba, n.22,
Editora Juruá. 77-89.

Lapierre, André e Aucouturier, B. (1986)


“Simbologia do Movimento: psicomotricidade e
educação” . Porto Alegre: Arte Medicas.

Ribas, J. À. (2017) “Psicanálisis para


psicomotricistas”. Ciudad Autónoma de Buenos
Aires: Corpora ediciones.

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