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PASSAPORTES

PARA A
Passaportes para a comunicação

COMUNICAÇÃO

Clarisse Nunes Centro de Recursos para a Multideficiência

Direcção de Serviços da Educação Especial e do Apoio Sócio-Educativo


Ficha Técnica

Titulo

Passaportes para a Comunicação

Edição
Passaportes para a comunicação

Ministério da Educação

Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular

Direcção de Serviços da Educação Especial e do Apoio Sócio-Educativo

Autor

Clarisse Nunes

Supervisão
Centro de Recursos para a Multideficiência

Paginação

Clarisse Nunes

Fevereiro 2005

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Índice

Introdução __________________________________________________________________4

O que é um passaporte para a comunicação_________________________________5

Quando começou a ser usado _______________________________________________5


Passaportes para a comunicação

Principais razões para utilização de passaportes para a comunicação__________6

População alvo______________________________________________________________7

Construção de um passaporte para a comunicação __________________________7

• Quem o constrói ________________________________________________________8

• Tipo de informação a incluir _____________________________________________9

Primeiras páginas _____________________________________________________ 10

Páginas seguintes _____________________________________________________ 10

• Formato ______________________________________________________________ 11

Quando pode ser usado ___________________________________________________ 12

Onde encontrar mais informação___________________________________________ 13

Bibliografia ________________________________________________________________ 14

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Introdução

As crianças e jovens com multideficiência e com surdocegueira


congénita apresentam necessidades de comunicação muito específicas. É
frequente apresentarem dificuldades quer na compreensão da linguagem
oral, quer no uso da fala, o que implica que a informação a transmitir lhes seja
facultada através de formas de comunicação que lhes sejam acessíveis.

Todos nós damos e recebemos informação de diversos modos: uns


Passaportes para a comunicação

usam a fala, a escrita, os sinais e os símbolos; outros comunicam usando formas


de comunicação mais específicas, como as expressões faciais, o olhar, ou os
movimentos simples. Não existe uma forma de comunicação única para dar e
receber informação.

Quando nos encontramos com crianças/jovens que não usam a fala


para se fazerem entender, como é o caso específico da maioria das crianças e
jovens com multideficiência ou com surdocegueira congénita, sentimos
frequentemente dificuldades em compreender o que nos querem dizer e,
consequentemente em interagir com elas. Este documento apresenta os
passaportes para a comunicação como proposta que pode facilitar o
processo de interacção. Procura, de uma forma simples, abordar aspectos de
carácter prático, relacionados basicamente com o que se entende por
passaporte para a comunicação, quais as principais razões que tornam útil a
sua utilização, quais as suas características e algumas orientações sobre como
é que se pode construir. Termina-se com a apresentação de um exemplo.

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O que é um passaporte para a comunicação

É um documento simples, prático e personalizado que visa facilitar a


interacção entre a criança/jovem que não usa a fala e as pessoas que não a
conhecem. É normalmente constituído por um dossiê onde se incluem
informações relevantes sobre a criança/jovem, nomeadamente, a forma como
se expressa, a melhor forma de comunicar com ela, as suas preferências e as
coisas de que não gosta, as características da família ou os medicamentos que
tem de tomar. Através da sua leitura as pessoas passam a compreender melhor
Passaportes para a comunicação

as necessidades dessa criança/jovem e a forma como ela percebe e interage


com o mundo que a rodeia. Estes aspectos ajudam a comunicar com a
criança/jovem de uma forma mais adequada e consistente (Millar e Caldwell,
1997).

O passaporte para a comunicação constitui a identidade pessoal da


criança/jovem (Scope Project, s.d.) e ajuda, de uma forma positiva, a resolver as
dificuldades de interacção.

Quando começou a ser usado

O conceito de Passaporte para a Comunicação foi introduzido por Sally


Millar, uma terapeuta da fala do CALL Centre na Universidade de Edinburgh, há
mais de 10 anos, junto de um pequeno número de alunos com acentuadas
dificuldades em se expressarem oralmente. Posteriormente, a SENSE(1) Scotland
solicitou a sua colaboração para conduzir um pequeno projecto sobre
“passaportes para a comunicação” para crianças com surdocegueira, o qual se
iniciou em 1994 (Talking Sense, 1995).

(1) Organização do Reino Unido para as pessoas com surdocegueira ou que têm outras deficiências associadas

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Principais razões para a utilização de passaportes para a
comunicação

Na opinião de “SCOPE for parents” (2004) os passaportes para a


comunicação constituem um guia prático e simples acerca da criança/jovem,
através do qual as pessoas podem facilmente e rapidamente compreender as
suas necessidades e capacidades.
Por outro lado, Millar e Caldwell (1997) indicam uma série de razões
igualmente relevantes para a utilização de passaportes para a comunicação.
Passaportes para a comunicação

Na sua perspectiva, um passaporte para a comunicação:

Ì aumenta as possibilidades da criança/jovem comunicar com outros parceiros,


isto é facilita o sucesso das suas interacções com pessoas com quem
contacta menos frequentemente ou com quem não a conhece;

Ì permite construir uma relação de confiança e estabelecer relações positivas


entre a criança/jovem e as pessoas que a desconhecem, nomeadamente
os profissionais que não interagem com ela habitualmente;

Ì promove ainda o uso de abordagens idênticas mesmo em pessoas que não


conhecem a criança/jovem. Consequentemente, as estratégias são mais
consistentes e a interacção entre ambos está facilitada;

Ì promove a interacção entre a família e os técnicos e valoriza o papel da


família e das pessoas que conhecem bem a criança/jovem;

Ì permite criar uma imagem positiva da criança/jovem.

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População alvo

Os passaportes podem ser usados com crianças/jovens de qualquer


idade que não usam a fala para comunicar as suas necessidades, desejos e
vontades e para interagir com os outros. Beneficiam do seu uso ainda as
crianças/jovens que apresentando limitações muito acentuadas no domínio da
comunicação, linguagem e fala, necessitam de transitar de um ambiente onde
as pessoas as conhecem bem para outros onde são menos conhecidas ou são
mesmo desconhecidas.
Passaportes para a comunicação

Construção de um passaporte para a comunicação

A elaboração de um passaporte para a comunicação parte de uma


abordagem centrada na pessoa. Sugere-se que seja construído de modo a
contar a história da criança/jovem ao longo das páginas que o constituem. Os
passaportes para a comunicação podem ser produzidos manualmente ou
através do uso de computador. Pode ser útil incluir imagens (fotografias,
desenhos, símbolos, etc.). Um passaporte para a comunicação deve ser revisto,
frequentemente, particularmente no caso da criança ser pequena, de modo a
manter actualizada a informação que nele consta.

Em termos da construção de um passaporte para a comunicação


existem várias características que vale a pena realçar, as quais se relacionam
basicamente com o seu conteúdo, a forma como este está descrito e o seu
aspecto físico.

A primeira característica a destacar é que deve ser personalizado, de


modo a ser fácil identificar a criança/jovem quando o leitor o lê. A
criança/jovem deve ser apresentada de uma forma positiva e realista.

O documento deve estar escrito na primeira pessoa e usar uma


linguagem simples, clara e acessível a todas as pessoas.

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Deve igualmente fornecer ideias práticas da forma como o leitor pode
interagir com a criança/jovem. A informação deve ser dada de uma forma
sucinta e assertiva, por forma a que a sua leitura seja apetecível e rápida. É
ainda fundamental ser atractivo.

A sua construção implica ainda considerar vários aspectos, tais como:


quem o vai elaborar, que tipo de informação incluir e que tipo de formato
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escolher. São estes aspectos que seguidamente se descrevem.

 Quem o constrói

Um passaporte para a comunicação deve ser construído pelas pessoas


que conhecem muito bem a criança/jovem, e que, em conjunto, partilham as
informações de que dispõem. Não deve ser construído apenas por uma única
pessoa. A sua construção implica, normalmente, o dispêndio de algum tempo. É
a família que decide quantas cópias quer fazer e a quem deve ser entregue um
exemplar. O passaporte pertence à criança/jovem para quem foi criado e à sua
família (Millar, 2003).

A autora anteriormente referida salienta ainda a importância de envolver


a criança/jovem, sempre que possível e desde o início, na sua construção. Desse
modo ela pode ficar a conhecer o seu conteúdo e pode efectuar
aprendizagens. Pode, por exemplo, ajudar a decidir o que quer incluir no seu
passaporte, ajudar a colori-lo ou a decorá-lo. O resultado final deve permitir que
qualquer pessoa consiga, através da sua leitura, compreender facilmente as
necessidades e características da criança/jovem.

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 Tipo de informação a incluir

A informação a incluir deve ser clara, simples, directa e sucinta, mas


suficientemente detalhada para que todos a possam compreender, incluindo os
que contactam com a criança/jovem pela primeira vez (Millar e Caldwell, 1997).
É de evitar o uso de uma linguagem técnica que poucas pessoas
compreendam. Em última instância a leitura de um passaporte para a
comunicação deve possibilitar que o leitor compreenda a personalidade da
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criança/jovem e o seu carácter e ajude a promover interacções sociais positivas.

O passaporte deve conter informações significativas e específicas acerca


da criança/jovem, como sejam as coisas que lhe interessam e as suas
dificuldades, nomeadamente:

Ì quem é a criança/jovem de que fala o passaporte;

Ì qual a sua história;

Ì o que é que ela gosta e não gosta;

Ì como comunica; como é o seu sistema de comunicação;

Ì qual a melhor forma de interagir com ela;

Ì quais as tarefas que faz bem e que consegue fazer sozinha;

Ì quais as tarefas em que precisa de ajuda, ou as tarefas que precisa que


façam por ela;

Ì que tipo de ajuda precisa para poder formular pedidos mais frequentes;

Ì quais as pessoas mais importantes na sua vida;

Ì o que fazer numa situação problemática especifica, por exemplo numa


dificuldade relacionada com o equipamento ou materiais que usa
(digitalizador da fala, cadeira de rodas, etc.);

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Ì quais os problemas de saúde mais frequentes e o que fazer quando eles
surgem.

Os passaportes para a comunicação não devem conter qualquer tipo de


informação confidencial (Shead, 2004).

Primeiras páginas
Passaportes para a comunicação

Segundo Shead (2004) pode ser útil a primeira página incluir uma listagem
dos três aspectos mais relevantes a conhecer sobre a criança/jovem. Esta
sugestão simples é importante concretizar-se porque em muitos casos é a única
página que algumas pessoas com menos tempo podem ter oportunidade de ler.
Eis um exemplo:

Ì Se quiser falar comigo prefiro que se aproxime do lado esquerdo, pois é


aquele em que eu a/o consigo ver melhor;

Ì Prefiro que se aproxime de mim suavemente, para não me assustar;

Ì Compreendo melhor o que me dizem se usar objectos reais. Não se


esqueça de os apresentar do lado esquerdo, o lado que vejo melhor.

Páginas seguintes

Embora os passaportes devam ser personalizados S. Millar do CALL Centre


(SCOPE, s.d.) sugere algumas ideias, que podem ser observadas em anexo numa
apresentação em PowerPoint.

Cada slide representa uma página do passaporte para a comunicação.


No cabeçalho da folha podem ser colocadas algumas imagens (as existentes na
apresentação são apenas sugestões e podem ser retiradas ou substituídas por
outras no caso de não as pretender usar). Cada página deve ser numerada e ter

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a data em que foi elaborada. As sugestões são baseadas nas informações do
CALL Centre 2003 e podem ser usadas com pessoas com incapacidades
diversas. Os símbolos usados são do Sistema Pictográfico para a Comunicação
(SPC - 1981-2002 Mayer-Johnston Inc. produzido pelo software Boardmaker). No
entanto, podem ser utilizados outros símbolos, como fotografias ou desenhos de
contorno, de acordo com a forma de comunicação que melhor serve a criança
que utiliza o passaporte.
Passaportes para a comunicação

Scope (s.d.) sugere ainda que pode ser útil colocar um cartão na cadeira
da criança/jovem ou no seu tabuleiro com a informação essencial acerca dela
e que chame a atenção das pessoas para a informação existente no
passaporte para a comunicação. Por exemplo:

Olá, chamo-me Maria, tenho 10 anos. Gosto de falar com as pessoas através
do olhar ou apontando para imagens. Se quiser uma resposta rápida eu pisco
os olhos para dizer sim e fico quieta para dizer não. Tenho um livro na parte de
trás da minha cadeira que lhe dá toda a informação acerca de como pode
conversar comigo.

 Formato

Os passaportes podem ter o formato que se desejar: A4, A5, etc.


Considera-se importante escolher um formato funcional para os seus potenciais
utilizadores. Como suporte existe uma enorme diversidade de possibilidades, as
quais dependem, em parte, da criatividade dos que o constróem e das suas
possibilidades económicas. Sugere-se a utilização do que for mais conveniente e
acessível. Como exemplo refere-se o uso de álbuns de fotografias, de dossiês, de
bolsas transparentes, etc.

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Quando pode ser usado

Os passaportes para a comunicação utilizam-se sempre que a criança/


jovem se desloca a qualquer lugar onde as pessoas não a conhecem,
nomeadamente quando vai pela primeira vez a um local novo: escola, hospital,
etc. Pode também ser utilizado sempre que alguma pessoa desconhecida se
aproxima da criança em ambientes onde ela normalmente se encontra (por
exemplo: pessoas que visitam a escola), ou para apresentar a criança a um
Passaportes para a comunicação

amigo.

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Onde encontrar mais informação

• Contactar o CALL Centre em: http://www.callcentrescotland.org.uk

Sally Millar: sally.millar@ed.ac.uk

CALL Centre University of Edinburgh, Paterson’s Land, Holyrood Road,


Edinburgh, EH8 8 AQ, telefone: 0131 651 6235/6236; fax: 0131 651 6234
Passaportes para a comunicação

• Scope Early Years Team em http://www.scope.org.uk/earlyyears/

Jackie Logue: jackie.logue@scope.org.uk

Suzanne Jones: suzanne.jones@scope.org.uk

• First Steps, Communication Matters

The Ace Centre em: http://www.communicationmatters.org.uk

• Outros sítios na Internet:

http://www.aacsafeguarding.ca/resources-personal_passport.htm

http://www.dundee.ac.uk/pamis/projects/passports.htm

http://www.scotland.gov.uk/library2/doc02/hhgs-06.htm

http://www.scotland.gov.uk/library2/doc02/hhgs-21.htm

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Bibliografia

Brown, D. (2004). Knowing the child” – Personal Passports. reSources, volume 11, N.º4.
California Deaf-Blind Services. In: http://www.sfsu.edu/~cadbs/Fall04.pdf consulta
efectuada em 03/01/2005.

Millar, S. (2003). Personnal Communication Passports: guidelines for Good Practice.


Edinburgh. University of Edinburgh Call Centre.

Millar, S. (2003, a). CALL Centre – passports starters. CALL Centre. In:
Passaportes para a comunicação

http://callcentre.education.ed.ac.uk/downloads/passports/A5_CALL_Passport_Template.p
df consulta efectuada em 03/01/2005.

Millar, S. e Caldwell, M. (1997). Personal Communication Passport. CALL Centre e SENSE


Scotland. Comunicação apresentada na Conferência da SENSE. In:
http://callcentre.education.ed.ac.uk/downloads/passports/passports1.pdf consulta
efectuada em 03/01/2005.

Norah Fry Research Centre e RNIB Multiple Disability Services (2004). Information for people
who have high individual communication needs. Information for all. Guidance. In:
www.easyinfo.org.uk e http://www.easyinfo.org.uk/PDFs/IFA_communication.pdf consulta
efectuada em 03/01/2005.

Shead, K. (2004). Passports to Happy New Friendships. TES.

Scope (s.d.). Communication Passport Template – a guide to making communication


passports. In: http://www.scope.org.uk/earlyyears/assets/comm_passa5.pdf e
www.scope.org.uk/earlyyears/ consulta efectuada em 03/01/2005.

Talking SENSE (1995). Use of personal passports with deafblind people. Talking Sense
Autumn. Website: http://www.sense.org.uk/tsarticles/passports.cfm consulta efectuada
em 03/01/2005.

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