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Escola de Ciências Humanas e Sociais

Unidade Curricular de Psicologia Social


1ºAno

Comunicação não-verbal

Docente: Profª Dr.ª Ana Paula Monteiro


INTRODUÇÃO
O corpo fala, ou seja, apesar de a linguagem corporal poder passar despercebida,
é tão importante como a comunicação verbal, visto que até inconsciente expressamos
sentimentos e emoções através da mesma. (RAMOS & BOTAGARAI, 2012 as cited in
Mantovani & Ribeiro, 2018).
O corpo é um dos meios que usamos para nos comunicar com os outros. Sendo
através dele que expressamos inúmeras informações: através do choro, do sorriso, do
beijo ou mesmo do abraço. Até mesmo a nível de saúde o nosso corpo pode dar sinais.
(WEIL & TOMPAKOW, 2012 as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018). O corpo é
construído socialmente através da interações do indivíduo com o meio está a todo o
momento em transformação. Estas interações dependem de cultura para cultura, sendo
que esta cria um “mundo de significações” manifestados pelo corpo. (NOGUEIRA &
FARIA, 2013 as cited in Mesquita, 1997).
Charles Darwin foi um dos artistas que dedicou a sua vestida a estudar sobre a
evolução dos seres vivos, Escreveu a obra “A Expressão das Emoções no Homem e nos
Animais” (1872) que aborda como o ser humano e os animais expressam as suas
emoções. Este livro é importante para a história da comunicação não verbal, pois foi a
primeira obra, que de forma científica, aborda as emoções e as expressões faciais.
(SENNA, 2017 as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018). A importância dos vários
estudos realizados ao longo tempo deve-se à possibilidade de elaboração da hipótese de
que certas emoções podem ser classificadas como universais, ou seja, que seriam
globais a todos os seres humanos (Castilho & Martins, 2012 as cited in Mantovani &
Ribeiro, 2018).
A comunicação humana é uma área de investigação e estudo que possui grande
complexidade, sendo processada através de duas formas diversificadas: a verbal e a não
verbal. A comunicação não verbal é a forma discursiva que é transmitida através de três
grandes apoios: o corpo, os objetos associados ao corpo e os produtos da habilidade
humana. Nos últimos estudos tem sido demonstrado que as relações interpessoais são
mais influenciadas por canais de comunicação não-verbais do que os verbais (Mesquita,
1997).

COMUNICAÇÃO
Há comunicação quando é emitido um sinal entre um emissor e recetor, se este
sinal for compreendido, podemos afirmar que existiu comunicação (Corraze, 1982, as
cited in Mesquita, 1997). Já a linguagem refere-se ao “uso de um meio organizado de
combinar as palavras com o objetivo de comunicar”. A comunicação assume um papel
essencial para relações eficazes entre as pessoas. Para entendermos as relações
interpessoais, devemos analisar a sua linguagem corporal, tendo em conta a diferença de
atuação individual face a situações novas. (Gois et. al, 2011 as cited in Mantovani &
Ribeiro, 2018).
Nos dicionários modernos da língua portuguesa, por exemplo, Aurélio (1983)
traz a definição de linguagem sendo: o uso da voz e outros sons que articulam formando
palavras, as quais podem articular-se em frases maiores, para fins de expressão e
comunicação entre as pessoas, sendo também a forma de expressão oral ou escrita
própria de um indivíduo, grupo ou classe. Ainda assim, no que diz respeito ao conceito
da linguagem, concluímos que é fácil de definir, no entanto, difícil de conceituar
(FERREIRA, 2012 as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018).
A comunicação não-verbal é entendida como ações ou processos que possuem
determinado significado para as pessoas, exceto pela expressão verbal. Knapp (1980 cit.
in Silva et al., 2000) classificou-a em diferentes áreas da linguagem: paralinguagem
( considera-se o tom de voz, os silêncios, as interações ou outras manifestações de voz,
assim como expressões de “emoções”, como o choro ou bocejos), proxémica (uso do
espaço pelo ser humano), tacésica (linguagem do toque), características (forma e
aparência do corpo), fatores relacionados ao meio ambiente (disposição dos objetos
em determinado espaço) e cinésica (linguagem do corpo).
A comunicação não-verbal é constituída por três sistemas: a Cinésica, a Paralinguagem
e a Proxémica. Os dois primeiros são considerados os sistemas básicos/primários, pela
sua participação direta em qualquer ato da comunicação humana, já o terceiro, o sistema
proxémico, é considerado um sistema secundário e cultural.

CINÉSICA
A cinésica foi fundada por Birdwhistell e procura estudar de forma sistemática
os movimentos e posições efetuados pelo corpo. A cinésica procura estudar diferentes
elementos, tais como: a postura corporal, os gestos, os olhares e as expressões faciais.
Em relação à postura corporal, esta refere-se à disposição do corpo, tal como à
orientação dele, de acordo com o ambiente ou a presença de outros sujeitos (Pereiro,
2019). Knapp (1997 cit. in Pereiro, 2019) apresenta uma classificação dos gestos,
agrupando-os em cinco categorias: Símbolos, Ilustradores, Reguladores, Expressões
Emocionais e Adaptadores.
Os símbolos são sinais que são emitidos de forma intencional, e cujo significado
é compartilhado por mais do que um indivíduo. Desta forma, pode-se utilizar os
símbolos para substituir palavras ou frases, sem a existência de erros de interpretação,
visto que possuem determinado significado. Os ilustradores são gestos realizados ao
mesmo tempo que existe a comunicação verbal, ou seja, não a substituem, mas
acrescentam e enriquecem-na, sendo usados para representar de forma visual o que está
a ser dito. Os reguladores possibilitam direcionar ou organizar a interação que é
produzida na comunicação verbal, facilitando o fluxo da comunicação. Estes gestos
regulatórios são emitidos pelo nosso corpo de forma inconsciente, por exemplo, com a
cabeça, o olhar ou as mãos. As expressões emocionais são gestos que expressam
humores ou demonstrações de afeto, espontâneos ou intencionais e que têm um papel
essencial na socialização, visto que é através destes gestos que temos a possibilidade de
comunicar aquilo que estamos a sentir. Os Adaptadores são gestos que possuem o
objetivo de autorregulação emocional, ou seja, pretende que as pessoas se adaptem ao
ambiente em causa, mas controlando o seu estado emocional. Estes comportamentos são
chamados de forma comum de tiques nervosos e realizados de forma inconsciente,
como bater o pé no chão, as unhas na mesa, entre outros.
É importante referir que os gestos não são símbolos universais, visto que todas
as culturas se diferenciam umas das outras, seja a nível linguístico ou gestual.
Birdwhistell estabeleceu determinados princípios para a compreensão da cinésia de
forma mais adequada (Silva, 2000 as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018), tais como:
- a) o contexto fornece o significado ao movimento ou expressão corporal, ou seja, o
mesmo movimento em contexto diferente pode ter significados diferenciados;
- b) a cultura padroniza a postura corporal, o movimento e expressão facial;
- c) o comportamento dos membros de um grupo é influenciado pelas suas próprias
atividades corporais e fonéticas;
-d) os comportamentos têm significados culturalmente reconhecidos e validados

Proxémica
A comunicação proxémica foi definida pelo antropólogo Edward Twitchell Hall
no ano de 1963, como “o estudo de vários tipos de sinais e traços distintivos relativos ao
uso do espaço nas relações humanas”. De forma mais simples, a proxémica descreve a
distância existente entre as pessoas, conforme a sua interação e variando de acordo com
o contexto social, o género e as preferências individuais (Terra & Vaghetti, 2014 as cited
in Mantovani & Ribeiro, 2018).
Sendo assim, a proxémica é a área que estuda o conjunto de comportamentos não
verbais em relação à organização e utilização do espaço e os efeitos que a densidade
populacional irá ter sobre o comportamento, a comunicação e a interação social.
(Pereiro, 2019).
O ser humano faz o uso constante de distâncias que o separam dos outros indivíduos,
sendo este espaço reconhecido como uma distância física em relação aos outros, que
podem produzir mensagens como o interesse, o prazer, o nojo, entre outros. Segundo
Hall, o Homem utiliza quatro distâncias (Hall, 1986 as cited in Pereiro, 2019):

- Distância Íntima: esta distância é típica de um relacionamento onde existe elevada


carga emocional. Pode ir desde o contacto físico permanente até aos 45/50 centímetros
de distâncias entre os indivíduos do contexto. Ocorre contacto físico através de
movimentos mínimos, a visão, o cheiro e o calor do corpo são percetíveis;
- Distância Pessoal: é a distância mais utilizada entre pessoas que possuem uma relação
amigável (amizades, relações de trabalho, entre outras) e também nas interações que
acontecem no dia-a-dia, esta comunicação ocorre entre os 45/50 a 120 centímetros de
distância e não existe contacto corporal.
- Distância Social: é a distância utilizada em ambientes públicos, com pessoas que não
conhecemos ou não confiamos. Geralmente é de 120 a 270 centímetros.
- Distância ao Público: distância utilizada para falar em público, por exemplo, ao
realizar um discurso, entre outros. Localiza-se espacialmente a 270 centímetros.
Paralinguagem
A paralinguagem é utilizada para modificar as características sonoras do
discurso, no sentido de expressar as emoções ao ouvinte. Muitas das vezes é expressa
inconscientemente e é essencial para compreender o papel do corpo na expressão
emocional, devido às alterações manifestadas no mesmo. (Mantovani & Ribeiro, 2018).
A paralinguagem estuda os aspetos não-semânticos da linguagem, como o tom de voz, o
uso das pausas e dos silêncios, a expressão de emoção, entre outros. (Pereiro, 2019).
Poyatos propôs uma classificação na qual são propostas quatro características (1994b as
cited in Pereiro, 2019):
- Principais qualidades de voz (tom, volume e ritmo);
- Qualificadores (diferentes tipos de vozes);
- Diferenciadores (risos ou choro- reações fisiológicas ou emocionais);
- Alternativos (sons que tem um significado comunicacional).

Tacésica
A comunicação tacésica é conhecida por ser a comunicação do toque. Na área da
saúde o ato de tocar é uma das melhores formas para estabelecer contacto direto com os
pacientes, para além disso, transmite segurança e envolvimento.
Vários estudos indiciaram que este contacto de toque traz efeitos benéficos aos
pacientes e que existiu um aumento da resistência do organismo contra as doenças, isto,
devido à libertação de endorfinas, que são responsáveis pela sensação de bem estar
(Pinheiro et al, 1998, as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018).
Porém, nem todos tem a mesma atitude perante o toque, podendo existir uma
certa recusa, derivando de diversos fatores, como a nível cultural. (Montagu, 1988, as
cited in Mantovani & Ribeiro, 2018).

Expressões faciais das emoções


O rosto é rico em potencial de comunicação, ocupando o primeiro lugar das zonas
do corpo na comunicação dos estados emocionais
(Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995, p.180)
e o ser humano apresenta uma alta capacidade de descodificação do
ambiente social no qual se encontra inserido sendo o processamento facial, bem como o
reconhecimento emocional, promotores das relações que se estabelecem nesse contexto.
(Ferreira et al., 2020, p.11)

As modalidades não verbais da comunicação como movimentos corporais, gestos,


assim como expressões faciais produzem informações essenciais, para além da
comunicação verbal (Ferreira et al., 2020, p.11)
Alguns estudos alegam que isso se deve à nossa primeira infância (…) outros,
tentam demonstrar que muitas expressões faciais são inatas, não dependem de
aprendizagem. Contudo, o rosto, como a fonte primária de informações de quem as
expressa são, provavelmente, formulados os juízos acerca de sua personalidade através
dessas características faciais. (Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995, p.180)
Paul Ekman, o principal pesquisar das expressões faciais da atualidade
(Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995, p.180)
, identificou as seis emoções básicas: alegria, tristeza,
raiva, repugnância (nojo), medo e surpresa.
(José Lemos Vasconcellos et al., 2014, p.126)

Têm sido realizados trabalhos muito interessantes com o objetivo de se observar,


registar e analisar o comportamento facial em diversas culturas. Ekman e Friesen
exibiram fotografias de norte-americanos com expressões faciais que retratassem as
emoções básicas a pessoas de 5 países, nomeadamente, Japão, Brasil, EUA, Chile e
Argentina solicitando que fizessem um juízo sobre as expressões faciais e a média de
concordância foi de 85%. Esta experiência foi repetida numa comunidade não
alfabetizada na Nova Guiné, sem influência da cultura norte americana, e os resultados
foram semelhantes, sugerindo que as expressões faciais de emoções são universais, ou
seja, possuem o mesmo significado em variadas culturas.
(Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995, p.185)

As expressões faciais humanas fornecem pistas sociais críticas que contêm


informações relevantes para as interações sociais e emocionais, estas moldam comporta-
mentos que permitem que os indivíduos se adaptem às comunidades sociais. Por
exemplo, as expressões de valência negativa representam, potencialmente, uma ameaça
direta e ou indireta, sendo que tal requer uma resposta adaptativa rápida por parte do
observador (Ferreira et al., 2020, p.11)
Sendo Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995, algumas expressões faciais
podem ser descritas da seguinte forma:
· Afeição/Amor: fixação do olhar com pupila dilatada, "olhar brilhante',
endireitamento" do nariz.
· Alegria/Prazer. Rubor facial, sorriso, gargalhada, beijos, “olhar brilhante”.
· Ansiedade: suor na região frontal, palidez, mordiscar lábios ou cutícula
Surpresa: abertura da boca e dos olhos e sobrancelhas levantadas.
Certas pesquisas sugerem que a identificação das expressões faciais de emoções
podem ajudar a prever condutas posteriores da pessoa que as apresenta. Identificada a
emoção do emissor, pode-se, por vezes, antes da própria pessoa tomar consciência dela,
conduzir, por parte do recetor, a uma interação de maneira mais ou menos efetiva.
(Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995)

De acordo com Ekman e Friesen, os sinais rápidos, que ocorrem em questão de


segundos como por exemplo, o suor, posição da cabeça ou o tamanho da pupila, pode-se
inferir as emoções sentidas pelo emissor com base nessas informações faciais.
Contudo, esses sinais rápidos também podem apresentar outro tipo de
informações tais como, no caso de os movimentos faciais indicar doenças,
temperamento, atração sexual entre outras. Este tipo de coincidência pode levar o
observador a cometer erros ao tentar julgar qual emoção está presente em determinada
face. (Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995)
Por isso, é importante referir que, apesar da face ser a zona principal de
demonstração das emoções, a mesma deve ser contextualizada no conjunto das outras
expressões não verbais do ser humano.
Nesse sentido, o estudo das emoções faciais deve ser sempre acompanhado do
estudo de toda a comunicação não verbal. (Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995)
Por último, as expressões faciais têm sido pesquisadas com diferentes objetivos
tais como entender a fidedignidade dos julgamentos das expressões faciais de emoções,
compreender quais os fatores que influenciam as habilidades para um julgamento
correto e a preocupação da deteção da mentira facial.
(Aparecida Da Silva & Paes Da Silva, 1995)

Recursos ambientais
O ambiente envolvente de um individuo, isto é, os recursos ambientais que o rodeiam
desempenham um forte papel nas expressões não verbais, visto que estes colaboram ou
interferem na forma que terceiros interpretam determinadas atitudes. Fatores como a
iluminação, a temperatura, o cheiro e o som, podem afetar de diferentes formas tantos a
linguagem corporal de cada um bem como a forma como esta é percebida por outros.

Iluminação
A falta de iluminação causa baixa visibilidade e encobre detalhes, podendo transmitir
uma sensação de anonimato e até de mistério. Em contra partida, alguns estudos feitos
com o intuito de perceber os efeitos da iluminação determinaram que luz reduzida pode
gerar uma atmosfera mais intimista e confortável (Carr, & Dabbs, 1974; Lecomte,
Bernstein, & Dumont, 1981 cit. In Patterson, & Quadflieg, 2015).

Temperatura
Tendo em conta pesquisas no âmbito do efeito da temperatura nas relações
interpessoais, é expectável que o aumento da temperatura promova harmonia tanto
verbal como não verbal, bem como colabore para uma maior possibilidade de criação de
laços de amizade (Byrne, 1971 cit. In Patterson, & Quadflieg, 2015). Por vezes, a
temperatura é também associada a metáforas para expressar a forma como um individuo
vê outro, através de expressões como “cabeça quente” ou “coração de gelo”.
Cheiro
Segundo Patterson e Quadflieg (2015), as pessoas são mais propícias a oferecer ajuda na
presença de um odor evidentemente agradável do que num ambiente neutro sem
qualquer cheiro relevante. Para além disto, tem um impacte direto numa das expressões
faciais mais facilmente percetíveis, a do nojo (Seubert, 2010 cit. In Patterson, &
Quadflieg, 2015). Assim, pode-se dizer que o cheiro tem um papel de tal forma
relevante que muitas vezes é determinante para que alguém seja considerado atraente ou
não aos olhos de terceiros.

Sons
Sons elevados geram dificuldades a nível da comunicação verbal, por isso, o ser
humano naturalmente tende a aumentar as expressões faciais e os gestos quando se
comunica em ambientes com esta característica específica (Patterson, & Quadflieg,
2015). Boles e Hayward (1978) realizaram estudos para compreender o nível de stress
de habitantes de meios urbanos naturalmente barulhentos e a sua disposição para ajudar
estranhos neste meio. Concluíram que os níveis de stress eram elevados e por isso a
disposição a ajudar era menor. Pode-se então afirmar que o som, para além de
importante na comunicação e compreensão, pode afetar também o bem estar e o
conforto dos indivíduos quando excessivo.

Elementos arquitetónicos
Segundo Mehta (2009), para estranhos, a proximidade é mais desconfortável em
ambientes fechados do que em locais públicos. Logo, espaços públicos com bancos e
mesas são propensos a encontros sociais mais prolongados, por exemplo. Mas não só
elementos móveis como mobílias e plantas regulam interações sociais, também
elementos permanentes como paredes e colunas o fazem de igual forma. Objetos e
artigos pessoais A forma como escolhemos decorar os nossos espaços e os objetos
pessoais que mostramos vão inevitavelmente condicionar a perceção que os outros têm
de quem somos, influenciando a forma como somos vistos e como as pessoas se sentem
no nosso ambiente em questão (Gosling, Gaddis, & Vazire, 2008 cit. In Patterson, &
Quadflieg, 2015).

Cor
Atualmente pouco se sabe sobre como as cores afetam as pessoas psicologicamente e,
apesar de terem de facto relevância e um determinado impacte no comportamento das
pessoas, é algo que varia de cultura para cultura e depende do significado que cada uma
atribui a cada cor (Elliot, & Maier, 2007 cit. In Patterson, & Quadflieg, 2015). Por 3
exemplo, nas sociedades ocidentais a cor vermelha pode ser associada ao amor, na Ásia
representa boa sorte e felicidade, no Oriente Médio o destino e na África em algumas
regiões morte em outras vitalidade e assim em diante, transmitindo a quem as vê
diferentes sensações de acordo com a cultura em que estão inseridos.
Tecnologia móvel
Ainda que o assunto seja recente, alguns estudos apontam que existe a redução do
desconforto associado à aproximação de estranhos quando o indivíduo se encontra a
ouvir alguma música positiva num dispositivo móvel (Bugeja, 2005 cit. In Patterson, &
Quadflieg, 2015). Sendo este um exemplo da recente introdução da tecnologia digital
nas comunicações da era moderna, pode-se dizer que traz consigo uma nova forma de
interação social.

A comunicação não verbal nas profissões


A comunicação não-verbal é algo muito presente no mundo das profissões e,
tendo muita ou pouca influência, está sempre lá.
Algumas profissões, cujo objetivo é transmitir emoções e ideias ao público
através das suas técnicas e dos seus gestos, como é o caso dos bailarinos e dos autores
que utilizam a dança e o teatro, respetivamente, ressaltam mais o discurso não-verbal
(Mesquita, 1997.).
As áreas de recursos humanos, marketing, entre outros, estão a utilizar cada vez
mais este meio de comunicação para a contratação de funcionários
(Okuma, 1990, as cited in Mesquita, 1997.)
.
Estes são apenas alguns exemplos das muitas profissões que recorrem e utilizam
a comunicação não-verbal no seu dia a dia. Todos os profissionais que atuam
diretamente com o corpo e o movimento reconhecem ainda mais a importância do modo
não-verbal.
Mesquita (1997) refere três grandes áreas que necessitam fortemente deste tipo
de comunicação: a Psicologia, a Medicina e a Educação Física.
 Na Psicologia acredita-se que a compreensão do corpo em movimento
pode influenciar positivamente a eficiência dos psicólogos no seu
trabalho.
 Já na Medicina, o profissional está sempre atento aos comportamentos,
aos movimentos e aos sinais não-verbais do paciente para obter um
diagnóstico; aqui, o discurso verbal também é importante para a amnese
do paciente (Buyssens, 1972, as cited in Mesquita, 1997).
Embora o médico esteja sempre atento aos sinais já referidos, em certas
especialidades como a psiquiatria e a pediatria, o mesmo tem de acudir
ainda mais à sua capacidade de interpretação para ser bem-sucedido
(Cook, 1971, as cited in Mesquita, 1997).
 Na Educação Física destacou-se o facto de não existirem muitos
trabalhos nem estudos sobre a relação corpo-movimento-comunicação.
Note-se ainda que a comunicação tacésica é muito importante na área da saúde,
pois é um dos primeiros instrumentos que os profissionais utilizam para criar contacto
direto com os seus pacientes (PINHEIRO et al, 1998, as cited in Da et al., 2018).
O ato de receber, emitir e perceber sinais não verbais são processos
independentes, inconscientes e naturais, mas que podem ser transformados em
habilidades, o que explica a importância que tem sido atribuída aos estudos da
expressividade humana (Mesquita, 1997.).
Repare-se que todos os seres humanos são capazes de praticar estas 3 ações.
Segundo Knapp (1982), estas habilidades são adquiridas através da
aprendizagem e da prática exercida no quotidiano de um indivíduo. Estas aprendizagens
podem ocorrer através de 4 formas: imitação, adaptação às instruções, auto-modelação e
retroalimentação que advém das reações das outras pessoas.
Dentro do desenvolvimento das habilidades, temos também 4 fatores importantíssimos:
a motivação, a atitude, a experiência e o conhecimento. Resumidamente, a motivação
permite que o indivíduo procure formas para desenvolver estas habilidades; a atitude
está ligada à posição, positiva ou negativa, do ser humano perante as suas experiências
de aprendizagem; a experiência é apresentada através da relação de quantas mais
experiências diferentes tivermos, maiores serão as oportunidades de aprendizagem; e
por fim, o conhecimento é referido como algo importante e que pode ser adquirido de
duas formas: consciente e inconscientemente (as cited in Mesquita, 1997).
Este autor constatou ainda que os estudantes e os profissionais que estão
rodeados de condutas não-verbais apresentam mais habilidades no campo de
compreensão de sinais não-verbais do que os profissionais de outras áreas
(Knapp, 1982, as cited in Mesquita, 1997.)
.
Silva & Caramaschi (1991), com a sua pesquisa, chegaram à conclusão de que
os indivíduos têm a capacidade de julgar corretamente as sete emoções básicas (alegria,
tristeza, surpresa, medo, nojo, raiva e desprezo) quanto às suas expressões, no entanto,
não conseguem descrever os componentes de cada uma delas
(as cited in Mesquita, 1997.)
.
Outro autor concluiu, com base na sua tese de doutoramento "Empatia: um
estudo da comunicação não-verbal terapeuta-cliente", que o profissional está mais apto
para esta tarefa quando está consciente das suas capacidades enquanto profissional,
quando tem na sua posse instrumentos para analisar o discurso não-verbal e quando
possuem conhecimento da interferência que este discurso causa nas relações
interpessoais (Serra, 1990, as cited in Mesquita, 1997.).
As afirmações e os estudos dos autores referidos acima constataram que para os
profissionais que atuam para com os outros indivíduos através do corpo e do
movimento, o conhecimento, a experiência e os instrumentos são os elementos mais
importantes para melhorarem a sua competência e também a sua eficiência ao
exercerem a profissão (Mesquita, 1997).
Em suma, constata-se que a habilidade de receber, emitir e interpretar sinais não-
verbais e os conhecimentos teóricos sobre a comunicação não-verbal, podem estar
relacionados à execução do profissional na sociedade e que os sinais não-verbais
apresentam grande importância na tarefa da perceção da outra pessoa, ou neste caso
específico, do cliente (Mesquita, 1997.).

Diferenças de género na comunicação não verbal


Ao estudarmos a comunicação não verbal, é também importante distinguir as
diferenças neste tipo de comunicação entre géneros.
Segundo Ronald E. Riggio
(Emotions: Gender and Emotion - Detalhes Do Registo - Vídeo EBSCO
, as mulheres tendem a ser emocionalmente mais
expressivas e sensíveis do que os homens e por isso também são melhores a representar
essas emoções bem como a percebê-las e a interpretá-las. Também para Dacher Keltner
(Emotions: Gender and Emotion - Detalhes Do Registo - Vídeo EBSCO, n.d.) , tendem
em geral a identificar as emoções dos outros melhor do que os homens, porém essa
diferença não é tão grande como se pensa, pois segundo um estudo citado por ele, num
teste de 100 pontos acerca deste tema as mulheres tiveram uma média de 78 pontos e os
homens uma média de 76 pontos. Ainda segundo Ronald E. Riggio
(Emotions: Gender and Emotion - Detalhes D
os homens são melhores a
regular as suas emoções e isso poderá dever-se, segundo ele, devido ao estereótipo ao
educar as crianças de que “homens não choram” ou “sê um homem” e daí eles
aprenderem desde cedo a controlar este tipo de emoções, enquanto as mulheres são
ensinadas a serem mais expressivas nas suas emoções.
Em situações do dia a dia, num estudo de Hall, Carney e Murphy (2001 cit. in
Hall, & Gunnery, 2013), as mulheres apenas sorriem mais do que os homens quando
posavam para uma foto e não enquanto conversavam. Hinzs e Tomhave (1991 cit. in
Hall, & Gunnery, 2013) e Patterson e Tubbs (2005 cit. in Hall, & Gunnery, 2013),
referem que as pessoas sorriem mais para mulheres do que para homens. No entanto, em
interações de proximidade, as mulheres olham fixamente para o parceiro mais
frequentemente do que os homens, tal acontecimento pode dever-se ao facto de os
homens estarem menos confortáveis do que as mulheres neste tipo de olhares
prolongados (Hall, & Gunnery, 2013).
Em relações interpessoais, os homens tendem a manter uma maior distância
entre si do que as mulheres (Hall, & Gunnery, 2013), as mulheres têm maior tendência
em tocar terceiros do que os homens (Montemayor, & Flannery, 1989; Stier, & Hall,
1984 cit. in Hall, & Gunnery, 2013).
As mulheres são ainda mais prováveis de se lembrar corretamente de detalhes de
aparência e comportamentos não verbais noutra pessoa quando perguntadas sem aviso,
mesmo que essa pessoa não seja o foco de interesse. Para além disso também são
melhores em reconhecer rostos e a associar nomes e faces (Hall, & Gunnery, 2013). De
acordo com Hall (1984 cit. in Hall, & Gunnery, 2013) as mulheres são mais precisas nas
suas pistas não verbais do que os homens e demonstram ainda ser mais ativas no uso da
comunicação não verbal no que toca a formar relações sexuais ou românticas, sendo que
a expressão mais utilizada por ambos os sexos é o sorriso.
A comunicação das mulheres está mais ligada a padrões de submissão e
subordinação, enquanto a dos homens se relaciona mais com padrões de dominância e
poder de acordo com Henley (1977 cit. in Hall, & Gunnery, 2013).
Como já foi referido apesar de todas estas diferenças, seria expectável que as
mulheres fossem melhores em relacionamentos interpessoais devido à sua superioridade
em usar a comunicação não verbal. Porém esta superioridade traduz-se em pouca ou
nenhuma diferença entre ambos os sexos, o que poderá estar relacionado com o facto de
apesar de detetarmos muitas vezes estes sinais não verbais, não os conseguimos
interpretá-los corretamente resultando quase numa igualdade entre géneros na
comunicação não verbal. No entanto os estudos feitos não permitem ainda tirar uma
conclusão acertada acerca deste assunto.

CONCLUSÃO
O corpo tem vindo a ser estudado em diversos campos do conhecimento, o que
resulta em várias abordagens acerca do assunto. Conclui-se através deles que as
expressões a nível gestual e visual que são exercidas pelo corpo são modeladas e
influenciadas pela cultura e meio envolvente. Desde o nascimento que o ser humano
necessita do seu corpo para se comunicar, como o choro do bebé pra demonstrar que
tem fome. É importante ressaltar que mesmo quando a criança começa a aprender a
falar, a linguagem corporal não desaparece completamente, mesmo que
inconscientemente, o corpo fala (Mantovani & Ribeiro, 2018).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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