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Comunicação não-verbal
COMUNICAÇÃO
Há comunicação quando é emitido um sinal entre um emissor e recetor, se este
sinal for compreendido, podemos afirmar que existiu comunicação (Corraze, 1982, as
cited in Mesquita, 1997). Já a linguagem refere-se ao “uso de um meio organizado de
combinar as palavras com o objetivo de comunicar”. A comunicação assume um papel
essencial para relações eficazes entre as pessoas. Para entendermos as relações
interpessoais, devemos analisar a sua linguagem corporal, tendo em conta a diferença de
atuação individual face a situações novas. (Gois et. al, 2011 as cited in Mantovani &
Ribeiro, 2018).
Nos dicionários modernos da língua portuguesa, por exemplo, Aurélio (1983)
traz a definição de linguagem sendo: o uso da voz e outros sons que articulam formando
palavras, as quais podem articular-se em frases maiores, para fins de expressão e
comunicação entre as pessoas, sendo também a forma de expressão oral ou escrita
própria de um indivíduo, grupo ou classe. Ainda assim, no que diz respeito ao conceito
da linguagem, concluímos que é fácil de definir, no entanto, difícil de conceituar
(FERREIRA, 2012 as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018).
A comunicação não-verbal é entendida como ações ou processos que possuem
determinado significado para as pessoas, exceto pela expressão verbal. Knapp (1980 cit.
in Silva et al., 2000) classificou-a em diferentes áreas da linguagem: paralinguagem
( considera-se o tom de voz, os silêncios, as interações ou outras manifestações de voz,
assim como expressões de “emoções”, como o choro ou bocejos), proxémica (uso do
espaço pelo ser humano), tacésica (linguagem do toque), características (forma e
aparência do corpo), fatores relacionados ao meio ambiente (disposição dos objetos
em determinado espaço) e cinésica (linguagem do corpo).
A comunicação não-verbal é constituída por três sistemas: a Cinésica, a Paralinguagem
e a Proxémica. Os dois primeiros são considerados os sistemas básicos/primários, pela
sua participação direta em qualquer ato da comunicação humana, já o terceiro, o sistema
proxémico, é considerado um sistema secundário e cultural.
CINÉSICA
A cinésica foi fundada por Birdwhistell e procura estudar de forma sistemática
os movimentos e posições efetuados pelo corpo. A cinésica procura estudar diferentes
elementos, tais como: a postura corporal, os gestos, os olhares e as expressões faciais.
Em relação à postura corporal, esta refere-se à disposição do corpo, tal como à
orientação dele, de acordo com o ambiente ou a presença de outros sujeitos (Pereiro,
2019). Knapp (1997 cit. in Pereiro, 2019) apresenta uma classificação dos gestos,
agrupando-os em cinco categorias: Símbolos, Ilustradores, Reguladores, Expressões
Emocionais e Adaptadores.
Os símbolos são sinais que são emitidos de forma intencional, e cujo significado
é compartilhado por mais do que um indivíduo. Desta forma, pode-se utilizar os
símbolos para substituir palavras ou frases, sem a existência de erros de interpretação,
visto que possuem determinado significado. Os ilustradores são gestos realizados ao
mesmo tempo que existe a comunicação verbal, ou seja, não a substituem, mas
acrescentam e enriquecem-na, sendo usados para representar de forma visual o que está
a ser dito. Os reguladores possibilitam direcionar ou organizar a interação que é
produzida na comunicação verbal, facilitando o fluxo da comunicação. Estes gestos
regulatórios são emitidos pelo nosso corpo de forma inconsciente, por exemplo, com a
cabeça, o olhar ou as mãos. As expressões emocionais são gestos que expressam
humores ou demonstrações de afeto, espontâneos ou intencionais e que têm um papel
essencial na socialização, visto que é através destes gestos que temos a possibilidade de
comunicar aquilo que estamos a sentir. Os Adaptadores são gestos que possuem o
objetivo de autorregulação emocional, ou seja, pretende que as pessoas se adaptem ao
ambiente em causa, mas controlando o seu estado emocional. Estes comportamentos são
chamados de forma comum de tiques nervosos e realizados de forma inconsciente,
como bater o pé no chão, as unhas na mesa, entre outros.
É importante referir que os gestos não são símbolos universais, visto que todas
as culturas se diferenciam umas das outras, seja a nível linguístico ou gestual.
Birdwhistell estabeleceu determinados princípios para a compreensão da cinésia de
forma mais adequada (Silva, 2000 as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018), tais como:
- a) o contexto fornece o significado ao movimento ou expressão corporal, ou seja, o
mesmo movimento em contexto diferente pode ter significados diferenciados;
- b) a cultura padroniza a postura corporal, o movimento e expressão facial;
- c) o comportamento dos membros de um grupo é influenciado pelas suas próprias
atividades corporais e fonéticas;
-d) os comportamentos têm significados culturalmente reconhecidos e validados
Proxémica
A comunicação proxémica foi definida pelo antropólogo Edward Twitchell Hall
no ano de 1963, como “o estudo de vários tipos de sinais e traços distintivos relativos ao
uso do espaço nas relações humanas”. De forma mais simples, a proxémica descreve a
distância existente entre as pessoas, conforme a sua interação e variando de acordo com
o contexto social, o género e as preferências individuais (Terra & Vaghetti, 2014 as cited
in Mantovani & Ribeiro, 2018).
Sendo assim, a proxémica é a área que estuda o conjunto de comportamentos não
verbais em relação à organização e utilização do espaço e os efeitos que a densidade
populacional irá ter sobre o comportamento, a comunicação e a interação social.
(Pereiro, 2019).
O ser humano faz o uso constante de distâncias que o separam dos outros indivíduos,
sendo este espaço reconhecido como uma distância física em relação aos outros, que
podem produzir mensagens como o interesse, o prazer, o nojo, entre outros. Segundo
Hall, o Homem utiliza quatro distâncias (Hall, 1986 as cited in Pereiro, 2019):
Tacésica
A comunicação tacésica é conhecida por ser a comunicação do toque. Na área da
saúde o ato de tocar é uma das melhores formas para estabelecer contacto direto com os
pacientes, para além disso, transmite segurança e envolvimento.
Vários estudos indiciaram que este contacto de toque traz efeitos benéficos aos
pacientes e que existiu um aumento da resistência do organismo contra as doenças, isto,
devido à libertação de endorfinas, que são responsáveis pela sensação de bem estar
(Pinheiro et al, 1998, as cited in Mantovani & Ribeiro, 2018).
Porém, nem todos tem a mesma atitude perante o toque, podendo existir uma
certa recusa, derivando de diversos fatores, como a nível cultural. (Montagu, 1988, as
cited in Mantovani & Ribeiro, 2018).
Recursos ambientais
O ambiente envolvente de um individuo, isto é, os recursos ambientais que o rodeiam
desempenham um forte papel nas expressões não verbais, visto que estes colaboram ou
interferem na forma que terceiros interpretam determinadas atitudes. Fatores como a
iluminação, a temperatura, o cheiro e o som, podem afetar de diferentes formas tantos a
linguagem corporal de cada um bem como a forma como esta é percebida por outros.
Iluminação
A falta de iluminação causa baixa visibilidade e encobre detalhes, podendo transmitir
uma sensação de anonimato e até de mistério. Em contra partida, alguns estudos feitos
com o intuito de perceber os efeitos da iluminação determinaram que luz reduzida pode
gerar uma atmosfera mais intimista e confortável (Carr, & Dabbs, 1974; Lecomte,
Bernstein, & Dumont, 1981 cit. In Patterson, & Quadflieg, 2015).
Temperatura
Tendo em conta pesquisas no âmbito do efeito da temperatura nas relações
interpessoais, é expectável que o aumento da temperatura promova harmonia tanto
verbal como não verbal, bem como colabore para uma maior possibilidade de criação de
laços de amizade (Byrne, 1971 cit. In Patterson, & Quadflieg, 2015). Por vezes, a
temperatura é também associada a metáforas para expressar a forma como um individuo
vê outro, através de expressões como “cabeça quente” ou “coração de gelo”.
Cheiro
Segundo Patterson e Quadflieg (2015), as pessoas são mais propícias a oferecer ajuda na
presença de um odor evidentemente agradável do que num ambiente neutro sem
qualquer cheiro relevante. Para além disto, tem um impacte direto numa das expressões
faciais mais facilmente percetíveis, a do nojo (Seubert, 2010 cit. In Patterson, &
Quadflieg, 2015). Assim, pode-se dizer que o cheiro tem um papel de tal forma
relevante que muitas vezes é determinante para que alguém seja considerado atraente ou
não aos olhos de terceiros.
Sons
Sons elevados geram dificuldades a nível da comunicação verbal, por isso, o ser
humano naturalmente tende a aumentar as expressões faciais e os gestos quando se
comunica em ambientes com esta característica específica (Patterson, & Quadflieg,
2015). Boles e Hayward (1978) realizaram estudos para compreender o nível de stress
de habitantes de meios urbanos naturalmente barulhentos e a sua disposição para ajudar
estranhos neste meio. Concluíram que os níveis de stress eram elevados e por isso a
disposição a ajudar era menor. Pode-se então afirmar que o som, para além de
importante na comunicação e compreensão, pode afetar também o bem estar e o
conforto dos indivíduos quando excessivo.
Elementos arquitetónicos
Segundo Mehta (2009), para estranhos, a proximidade é mais desconfortável em
ambientes fechados do que em locais públicos. Logo, espaços públicos com bancos e
mesas são propensos a encontros sociais mais prolongados, por exemplo. Mas não só
elementos móveis como mobílias e plantas regulam interações sociais, também
elementos permanentes como paredes e colunas o fazem de igual forma. Objetos e
artigos pessoais A forma como escolhemos decorar os nossos espaços e os objetos
pessoais que mostramos vão inevitavelmente condicionar a perceção que os outros têm
de quem somos, influenciando a forma como somos vistos e como as pessoas se sentem
no nosso ambiente em questão (Gosling, Gaddis, & Vazire, 2008 cit. In Patterson, &
Quadflieg, 2015).
Cor
Atualmente pouco se sabe sobre como as cores afetam as pessoas psicologicamente e,
apesar de terem de facto relevância e um determinado impacte no comportamento das
pessoas, é algo que varia de cultura para cultura e depende do significado que cada uma
atribui a cada cor (Elliot, & Maier, 2007 cit. In Patterson, & Quadflieg, 2015). Por 3
exemplo, nas sociedades ocidentais a cor vermelha pode ser associada ao amor, na Ásia
representa boa sorte e felicidade, no Oriente Médio o destino e na África em algumas
regiões morte em outras vitalidade e assim em diante, transmitindo a quem as vê
diferentes sensações de acordo com a cultura em que estão inseridos.
Tecnologia móvel
Ainda que o assunto seja recente, alguns estudos apontam que existe a redução do
desconforto associado à aproximação de estranhos quando o indivíduo se encontra a
ouvir alguma música positiva num dispositivo móvel (Bugeja, 2005 cit. In Patterson, &
Quadflieg, 2015). Sendo este um exemplo da recente introdução da tecnologia digital
nas comunicações da era moderna, pode-se dizer que traz consigo uma nova forma de
interação social.
CONCLUSÃO
O corpo tem vindo a ser estudado em diversos campos do conhecimento, o que
resulta em várias abordagens acerca do assunto. Conclui-se através deles que as
expressões a nível gestual e visual que são exercidas pelo corpo são modeladas e
influenciadas pela cultura e meio envolvente. Desde o nascimento que o ser humano
necessita do seu corpo para se comunicar, como o choro do bebé pra demonstrar que
tem fome. É importante ressaltar que mesmo quando a criança começa a aprender a
falar, a linguagem corporal não desaparece completamente, mesmo que
inconscientemente, o corpo fala (Mantovani & Ribeiro, 2018).
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