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Técnica e expressão vocal 1

Exercícios e Textos de vários autores (ver referências bibliográficas)

Técnica e expressão vocal


(A descoberta e a integração do nosso Corpo-Voz)

Neste curso buscamos a descoberta da voz, numa abordagem orgânica, proporcionando a cada pessoa um encontro com sua própria sonoridade, seu
ritmo, partindo da pesquisa e exploração da sua musicalidade. Durante as aulas, corpo e voz são trabalhados como veículos de uma expressão sonora
autêntica, desenvolvendo a capacidade criativa individual. Paralelamente desenvolve-se o fazer musical em grupo como rito e ato social.

A voz é uma das expressões mais ricas do ser humano e revela aspectos de nossa natureza biológica, psicológica e sócio-educacional. Iniciamos nossa vida
com um choro, o chamado choro ao nascimento. Esta emissão é um sinal de sobrevivência e da capacidade de respirar e estar no mundo exterior. Assim, desde
o início da vida, a voz torna-se um dos meios de interação mais poderosos do indivíduo e se constitui no modo básico de comunicação entre as pessoas.

A Voz tem um papel fundamental na comunicação e no relacionamento humano. A comunicação é o compromisso maior do processo fonatório. A técnica
deve ser colocada a serviço dela. A comunicação expressiva faz parte do perfeito mecanismo vocal desenvolvido pala educação vocal: saber o que está
falando ou cantando, dar um sentido específico a cada momento da emissão envolver-se emocionalmente e afetivamente. Comunicamo-nos de múltiplas formas:
pelo olhar, pelos gestos, pela expressão corporal e facial e pela fala. A voz, porém, é responsável por uma porcentagem muito grande das informações contidas
em uma mensagem que estamos veiculando e revela muita coisa de nós mesmos.
Ao longo da nossa vida vamos desenvolvendo uma voz que é única e nos identifica de modo particular. Esta voz é o resultado
de nossa vida emocional e recebe influências de nossa história familiar, cultural, social e emocional.
.
Corpo-voz
O cantor é ao mesmo tempo instrumento e instrumentista.
O corpo é o elemento concreto nas experimentações com a voz, seja ela falada ou cantada, e por meio do qual deixamos fluir a criatividade e expressar as
possibilidades de comunicação que temos com ele e por meio dele. Entre o corpo e a voz existe uma íntima relação. É com eles que o cantor exterioriza sua
afetividade e desempenha o papel intermediário entre o público e a obra musical.
Não é somente de produção de sons que nosso corpo se mostra cantando, mas primeiro da escuta como fonte de uma percepção mais abrangente. A
experiência vocal está diretamente ligada à experiência da escuta . O que se busca é a formação de ouvintes sensíveis que possam reproduzir
seus sons de forma consciente, sem deixar de lado a busca pela experiência do prazer inerente ao fazer musical.
Para o cantor, a voz passa a desempenhar o papel de instrumento musical onde ele desenvolve a atividade artística e intelectual a qual a inteligência participa,
mas a primazia é dada à expressão e à emoção. Nenhum instrumento é comparável à voz, sendo a única a ter o privilégio de poder unir o texto à melodia. Mas,
só emociona dependendo da sensibilidade e da musicalidade do intérprete que, além das notas e palavras, necessita conceber em suas interpretações a
melhor forma de sentir e expressar o que não está “escrito”, expressando o sentido da obra pelas inflexões e jogos tímbricos de sua voz, isto é das infinitas
nuances da sua voz. Seu poder expressivo refletirá tanto seu temperamento como sua personalidade. A voz e a personalidade estão estreitamente relacionadas
e são inseparáveis já que traduzem o ser humano na sua totalidade.

A descoberta e o contato com o próprio corpo é o primeiro passo para o desenvolvimento da expressão vocal. Este processo se dá por meio de exercícios
de aquecimento e relaxamento corporal, postura, respiração, ressonância, articulação visando à expressão vocal como um todo.
Os exercícios são apenas sugestões de trabalho que enfatizam e privilegiam determinados parâmetros vocais. Porém, a voz é um todo, há um processo
existencial complexo relacionado à produção do som, que atua antes, durante e depois da emissão vocal.

Aquecimento e relaxamento corporal dinâmico:


O relaxamento (ou relaxação) físico e mental , é um estado de liberação das tensões que se instauram física e psicologicamente no ser humano, por diversos
fatores. Todos nós precisamos de momentos de relaxamento de tensões, sejam elas de ordem muscular, nervosa ou psicológica. Para produzir um som
agradável precisamos nos libertar de toda a tensão desnecessária. Cada parte do corpo recebe atenção especial para que toda tensão seja eliminada e os
exercícios fluam livremente. Aqui podemos “escutar nossos movimentos” e dar início à busca de nossos sons. Quando despertamos a consciência dos nossos
movimentos, nosso corpo saberá se comportar para passar a intenção desejada. Quanto mais exploramos e conscientizamos nossas possibilidades corporais,
mais aptos e ricos em recursos estaremos para nos expressarmos. O relaxamento evita que você sobrecarregue o seu corpo com tensões e desgastes
desnecessários.
Exercícios:
• Em pé de olhos fechados observando seu corpo, suas articulações, percebemos a entrada e saída de ar, como estamos respirando. Observamos também
se existe sensação de peso ou algum outro desconforto em alguma parte do corpo. Registre as sensações percebidas sem fazer movimentos.
• Alongue seu corpo, espreguiçando como sentir vontade em todas as direções e aproveitando para fazer alguns bocejos.
• Em pé procure alcançar o teto com as mãos. Tente sentir a musculatura se alongando, especialmente a dos braços e as laterais do tronco.
• Soltar o corpo para frente com os joelhos flexionados, fazer um pequeno balanço com o tronco soltando a cabeça e os braços, voltar lentamente
“construindo a coluna”, cabeça é a última que volta para a vertical.
• Caminhe descalço e busque perceber os apoios dos pés no chão. Agora caminhe intensificando cada apoio por vez: andar nas pontas dos pés, andar só
pisando nos calcanhares, nas bordas externas, na borda interna. Volte a caminhar normalmente e observe se alterou sua percepção dos apoios dos pés
no chão. Uma variação para este exercício: parado em pé, deslocar o peso do corpo para uma perna/pé, deixando a outra mais leve. Volte a atenção para
a perna mais leve e realize uma massagem com a planta do pé , movimentando bastante como se estivesse “amassando o barro” com este pé. Volte a
ficar em cima das duas pernas equilibradamente e faça o mesmo do outro lado.
• Torcer o tronco e o quadril (a coluna) de um lado e de outro deixando os braços ao longo do corpo e a cabeça acompanha o movimento.
• Abra e feche as mãos. Movimente os dedos das mãos e dos pés. Deixe que este movimento passe para as outras articulações, soltas, livres.
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• Realize pequenas “batidas” nos ossos do seu corpo e rosto/cabeça para ativar a circulação.
• Caminhe apoiando os calcanhares no chão e tomando consciência da verticalização da coluna vertebral desde a sua extremidade inferior até a superior, na
ligação com a base do crâneo. Esta marcha deve começar mais lenta e acelerar um pouco quando se está seguro do seu efeito. Ela pode alternar ou não com
sentar mantendo a mesma concentração que se desloca dos calcanhares para as nádegas, na região que assenta na cadeira e mantendo a verticalidade da
coluna. Pretende-se, pois, ajudar a uma tomada de consciência da coluna vertebral como um eixo dinamizador e flexível para que cumpra a sua
função de suporte do fluxo vocal, seja a partir dos gestos e dos movimentos da ação interpretativa, seja na mais completa
aparente imobilidade.

Andar pela sala livremente observando seu corpo, rosto, que deve estar mais leve, mais presente, relaxado e tonificado.

• Relaxamento/Aquecimento a partir das articulações do corpo, respiração e som das vibrações


Vamos aquecer e tonificar músculos e as articulações do corpo percebendo o fluxo respiratório e produzindo o “som da vibrações” – sons
facilitadores :
Esses exercícios podem ser feitos com o som da vibração rrrrrrrr (u) (com boca de u) e brrrrrr em cada movimento circular feito com as articulações e
sempre perceber o fluxo da respiração sem ir até o final do ar. A cada ciclo respiratório, soltar o maxilar permitindo que a inspiração aconteça sem precisar
“puxar” o ar.

Tornozelos:
Em pé, gire o tornozelo do pé direito para a direita, esquerda e novamente para direita .
Balance o pé livremente soltando a articulação. Fazer o mesmo com o pé esquerdo.

Joelhos : Em pé, colocar as mãos sobre os joelhos que estarão mais flexionados. Gire os joelhos para
um lado e para o outro, deixando o abdômen solto e a cabeça na prolongação da coluna.

Quadril: colocar as mãos na cintura girar o quadril nos dois sentidos. Procure fazer um movimento suave para ir soltando a
articulação do quadril e perna. Você pode começar com círculos pequenos e depois ir aumentando o diâmetro.

Ombros: Sem fazer o som das vibrações: Levante o ombro direito e deixe cair livremente. Faça o mesmo com o esquerdo. Levante os dois ao mesmo tempo e
deixe cair livremente. Agora com o som das vibrações: Gire os dois ombros nos dois sentidos respirando livremente respeitando seu fluxo respiratório.

Braços (omoplata e cotovelo)


Dobrar o braço direito e apoiar a mão direita no peito perto das axilas. Girar os cotovelos (cuidado para não levantar e girar os ombros) para traz e para
frente buscando expandir o peito e as costas. Repetir com o outro braço . Pode também ser feito com os dois braços ao mesmo tempo.

Pulsos : girar os pulsos para os dois sentidos, e depois soltar livremente.

Movimentar o pescoço/cervical em diversas direções, deixando o maxilar e a língua


relaxados:
• Para baixo e retornando ao centro, como se estivesse dizendo SIM
• Para trás esticando o pescoço, importante manter o maxilar relaxado e não contrair a cervical.
• Para os lados, esquerda e direita, como se estivesse dizendo NÃO
• Como se fosse encostar a orelha no ombro, cuidando para não subir o ombro, como se estivesse dizendo TALVEZ
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• Círculos: girar a cabeça bem suave completando um ciclo nos dois sentidos, percebendo os pontos doloridos e respirando com calma. (não fazer o
som da vibração quando estiver girando a cabeça em círculos!)

Massagear e movimentar toda a musculatura do rosto, pescoço, ombro, aquecendo. Importante que o rosto, pescoço, língua e
lábios possam estar relaxados e tonificados.

Com a ponta dos dedos movimentos circulares:


Raiz do couro cabeludo, testa, sobrancelhas, osso zigomático (osso da maça do rosto), têmporas, em volta dos lábios e amassar geral soltando os músculos
do rosto, pescoço e nuca; Massagear lateralmente a laringe ( sempre sem som) ; Massagear a base da língua com as pontas dos dedos

Movimentos de língua:
• Varrer o céu da boca com a ponta da língua; Estalos (com a ponta da língua). Experimentar com o maxilar fechado e com o maxilar aberto para dar
independência de língua e maxilar; Fazer rotação da língua dentro da boca 6 vezes em cada direção; Colocar a língua para fora e deixar que ela volte sem
tensionar o pescoço;

Movimentos de lábios e bochechas:


• Fazer o bico e sorriso (com os lábios fechados e depois com os lábios abertos) ; Beijos no ar ; Estalos com os lábios ; Com os lábios fechados em forma
de bico, movimentar lateralmente o bico; Bochechas: inflar as duas bochechas e contar até 20; Inflar uma bochecha e ficar passando o ar de uma
para outra.

Deslocar a pele do pescoço e nuca, massageando-os com as pontas dos dedos; segurar o músculo trapézio e fazer rotações leves e lentas com os
ombros nas duas direções , para frente e para traz. Fazer pequenas rotações com a cabeça, bem devagar, com o maxilar bem solto.

Andar livremente pela sala observando como ficou seu corpo e rosto. Você deve estar com a sensação do corpo mais leve, com movimentos mais
fluentes, as articulações mais soltas, melhor circulação geral, melhor contato dos pés com o chão e o topo da cabeça voltado para o teto. O
relaxamento existe quando começamos a sentir as partes do corpo .

Respiração
A respiração pode ser definida como o processo de trocas gasosas entre um organismo e o meio a que pertence, imprescindíveis à continuidade da
vida. Os antigos já sabiam que a respiração não representa apenas um mecanismo fisiológico para a captação de oxigênio e eliminação de gás
carbônico. Há milênios sabe-se que o ciclo da respiração, o inspirar e o expirar, está ligado a todos os ciclos da natureza e que é por este processo que
o corpo e a mente do homem são alimentados de uma energia sutil. Esta energia recebe vários nomes: prana para os hindus, ki para os japoneses, Chi
para os chineses ou força vital para os ocidentais. Vários métodos respiratórios foram desenvolvidos no sentido de prover o organismo humano dessa
energia, pois acredita-se que sua falta resulta num desequilíbrio do estado psicossomático.

Fonação e respiração : para que a voz possa ser produzida usamos como fonte de energia o ar que vem dos pulmões e passa pelas pregas vocais que se
unem e vibram produzindo o som. Sendo assim, pode-se dizer que a voz é o ar sonorizado. É natural que a respiração passe despercebida pois respirar é um
processo orgânico e inconsciente.

No canto, a respiração torna-se mais dependente da ação da vontade. Assim, a respiração é uma função vital que, para o canto,
aprendemos a controlá-la. Ao cantar os movimentos respiratórios devem ser, no momento do estudo, conscientes, para tornarem-se ativos e eficazes.
Nossa principal tarefa deve ser preparar a passagem adequada através da qual a corrente de ar possa fluir, circular, desenvolver-se e atingir as necessárias
câmaras de ressonâncias. Fundamental é a percepção dos nossos dos espaços internos. A serviço da música, o sopro possibilita modular,
enriquecer e sustentar sonoridades vocais e torná-las expressivas.
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Fisiologia respiratória
narina
boca
faringe O pulmão é o nosso principal órgão do aparelho
laringe respiratório. Quando inspiramos, o ar passa pelas
traqueia
narinas, boca, faringe, laringe, traqueia e finalmente
brônquios, pulmões e alvéolos, realizando a troca
gasosa e de imediato a expiração.
brônquios

Pulmão alvéolos O aparelho respiratório compreende o tórax, no


interior do qual se encontram os pulmões. O tórax
é composto por doze pares de costelas, fixas
atrás na coluna vertebral, que formam uma curva
côncava, para dentro e inclinada para baixo. Por intermédio das cartilagens costais, elas
inserem no osso esterno, na frente, com exceção das últimas costelas, as flutuantes,
que permitem uma maior mobilidade na parte inferior do tórax no sentido antero–posterior e lateral.
As costelas estão ligadas umas às outras por músculos intercostais inspiradores e expiradores, que regulam o volume de ar nos
pulmões e seu movimento tridimensional e os processo de entrada e saída de desse ar.

O tórax está separado do abdômen por um músculo : o Diafragma. Conhecido com o principal múulo da respiração, tem forma de cúpula e insere-se nas
vértebras, costelas, osso esterno e coluna lombar. É uma fina parede músculo-tendinosa, móvel, uma espécie de cúpula cuja parte central (centro tendínio)
abaixa durante a inspiração , comprimindo as vísceras abdominais, e subindo durante a fala ou o canto. Esse centro tendíneo lhe dá resistência,
liberando a parte muscular que está em torno deste centro para movimentação durante a inspiração e expiração.

O centro tendíneo do diafragma contrai e abaixa a partir de um comando cerebral que ocorre no início da inspiração. Já que ele se move para baixo, os órgãos
sob ele se deslocam para baixo e para fora, o que explica a expansão do seu abdômen quando você inspira. Ao mesmo tempo, as bordas das costelas elevam-
se e movimentam-se para fora, se abrem lateralmente, por ação dos músculos intercostais externos, resultando na expansão tridimensional e no aumento do
volume de caixa torácica. O ar é impelido para dentro do pulmão e ocorre a inspiração.

A medida que os pulmões inflam, os músculos da inspiração diminuem sua atividade de maneira gradativa, colocando em ação as expiração. Como
consequência ocorre o ato da expulsão do ar para fora dos pulmões, o que causa a diminuição do espaço interno do tórax. A ação os músculos intercostais
internos resulta no fechamento das costelas e consequentemente elevação do diafragma, que retoma a posição inicial. Assim finaliza a fase da
expiração.

A respiração natural pressupõe uma contração muscular ativa durante a inspiração e passiva na expiração, são movimentos
rítmicos e de duração semelhante.
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Existem três padrões de respiração considerados naturais e sua denominação se refere aos locais onde
percebemos a movimentação de nosso corpo ao respirarmos. São eles:

Torácica superior ou naso clavicular: o ar é inalado pelo nariz e praticamente só a parte superior do
tórax é que trabalha. É uma respiração válida pelo fato de o ar aspirado ser filtrado pelas pilosidades do
nariz e aquecido nas fossas nasais antes de atingir a faringe e a laringe, mas a quantidade de ar aspirado é
menor, sem contar o fato de que ela possa ser ruidosa. Este padrão não é indicado para o canto pois não
permite controle de saída do ar e tensiona a musculatura do pescoço, que está localizada externamente a
laringe;

buco-abdominal : a região abdominal expande-se melhor com um maior volume de ar inalado,


mas em contra partida acarreta o ressecamento da cavidade oral e uma maior possibilidade de
aspirar ar não filtrado e resfriado.

Buco-nasal, costo-diafragmática abdominal : conhecido como padrão ideal para o canto


pois prioriza a abertura das costelas e, consequentemente, provoca anteriorização do
osso esterno e abaixamento do diafragma, resultando numa expansão abdominal. Nesta,
o ar será recolhido, parcialmente filtrado e aquecido. Com o resultado, um bom
contingente de ar será absorvido, além da vantagem de mostrar-se silenciosa.

O sopro torácico superior deve-se a uma diminuição de volume da parte superior dos pulmões sendo responsável, quando se usa a voz projetada, por um
funcionamento forçado da laringe e pelo aparecimento muitas vezes de golpes de glote no ataque do som. O sopro costo-diafragmático abdominal deve-se a
uma diminuição de volume na parte inferior dos pulmões. A ação do diafragma e dos músculos abdominais controlando o sopro reduzem o trabalho da laringe
que vai funcionar apenas como vibrador (e não simultaneamente como esfíncter, como no sopro torácico superior)

Músculos da respiração

São os músculos que controlam a inspiração e a expiração.


Os escalenos são músculos oblíquos que ligam as vértebras cervicais às primeira e segunda costelas.
São músculos inspiradores, permitindo também a flexão da cabeça. O esternocleidomastoideus,
são músculos da região antero-lateral do pescoço ligando a apófise mastoide ao esterno e à clavícula:
são essencialmente músculos que permitem a flexão e rotação da cabeça.

Os músculos intercostais (formados por fibras oblíquas), externo e médio intervêm no


levantamento da extremidade anterior das costelas (inspiradores); os intercostais internos intervêm no
seu abaixamento (expiradores)

Os músculos abdominais transverso, obliquo externo e interno, reto


abdominal, produzem uma retração da parede abdominal apertando as vísceras que,
por sua vez empurram o diafragma para cima. São portanto músculos
expiradores responsáveis pelo “sopro abdominal” durante a “projeção vocal”. A
parede abdominal é composta fundamentalmente pelos músculos
abdominais que desempenham um papel ativo na expiração. Isso é
especialmente verdadeiro no canto, na fala em voz alta, no riso (daí o termo "riso de
barriga"), ou ao produzir-se uma frase longa.

O diafragma abdominal, o músculo mais importante de todo o mecanismo


respiratório, situado entre o tórax e o abdômen como visto acima, quando contrai
provoca o aumento do volume do tórax, resultante do seu abaixamento e do
alargamento das costelas e consequente preenchimento de ar nos pulmões.

O grande dorsal é também descrito como elevador torácico, logo facilita a


inspiração. Porém durante a expiração ativa (que é o caso do canto),
ele comprime o baixo tórax, criando um anel de força regulando o
transito de ar. É o único que pode interagir durante toda a respiração.

Diafragma pélvico : durante a inspiração profunda,


sentimos sua ação, e mais ainda quando contraímos
para uma expiração ativa, junto com os músculos da
expiração. O diafragma pélvico se distende desde a
espinha ilíaca até a pelve e é formado por um par de
músculos: levantador do ânus, associado com outro par
de músculos da cavidade pélvica : obturador interno.
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Respiração e canto

Para cantar necessitamos de uma inspiração passiva e uma expiração ativa.


Se inspirarmos tentando encher nossos pulmões exageradamente estamos forçando a entrada de ar e acabaremos gerando tensão desnecessária na região
laríngea e superior do tórax. A mesma sensação de tensão pode ocorrer ao tentarmos, no final da expiração, forçar a saída do ar para terminar uma frase
musical quando, na verdade, já deveríamos inspirar novamente.

Inspiração passiva, relaxada:


Ao inspirar, perceba que você sente uma ligeira expansão na região das costas, logo abaixo da região posterior das costelas.
Essa sensação deve ser confortável e ocorre porque os músculos entraram em atividade e expandiram a caixa torácica. A região da clavícula permanece imóvel
para evitar as contrações que se propagariam no nível do pescoço, dos ombros e da laringe. A maneira como se inspira é importante, pois dela
depende a expiração. O cantor tem que aproveitar a inspiração para descansar . Utilizar o espelho é útil para vigiar e impedir movimentos
desnecessários de tensão. As paredes abdominais devem ter um relaxamento no ato inspiratório para não criar fadiga muscular. Veremos, por exemplo se
soltarmos a musculatura abdominal o depósito de ar está provido mais do que imaginamos.

Exercício básico para a percepção da inspiração relaxada:


Em muitos casos as pessoas fazem barulho ou forçam a inspiração numa tentativa de encher mais o pulmão de ar. Muitas vezes a musculatura do abdômen
está muito tensa e impede uma livre circulação de ar.
Experimente soltar todo o ar murchando a barriga. Fique alguns instantes sem ar, no máximo 3 segundos. Relaxe a musculatura do abdômen deixando então o
ar entrar, mas sem forçar sua entrada. Ao fazer este exercício algumas vezes você vai perceber que não há necessidade de fazer esforço para que o ar entre.
Ele entrará sozinho, pois a entrada do ar é algo que acontece naturalmente quando sentimos necessidade de inspirar. Esse exercício serve também para
exercitarmos a elasticidade da musculatura abdominal e percebermos que a inspiração deve ser relaxada, confortável.

Inspiração “surpresa” : imagine que você encontrou alguém e ficou muito feliz. A inspiração decorrente da surpresa (boca e nariz) é como se o ar tivesse
entrado para dentro do seu corpo. Você inspirou rapidamente sem precisar “puxar” ou “pegar o ar”, simplesmente deixou entrar.

Expiração ativa
O “sopro fonatório” é uma expiração ativa necessária à produção vocal.
Durante a fonação pode haver necessidade de realizar inspirações mais rápidas (entrando o ar neste caso pela boca e pelo nariz) e expirações mais lentas
quando da produção de frases em voz projetada, longas, no meio das quais não é conveniente fazer pausas.
Após a expiração, a musculatura respiratória fica em repouso. O processo de respiração acontece em 4 fases: inspiração,
suspensão(repouso inspiratório) expiração e repouso expiratório . Assim entre um
movimento respiratório e outro deverá sempre haver uma pequena pausa. Mas esta pausa não deve ser
prolongada par não provocar congestionamento nas veias do pescoço.

Como vimos o diafragma tem grande importância na respiração, pois é seu abaixamento que permite a
entrada de ar nos pulmões. No entanto outros músculos também participam do apoio à
coluna de ar durante a expiração no momento do canto, principalmente os músculos
da cinta abdominal: grande reto abdominal , o transverso do abdômen e os
oblíquos. Durante a expiração, os músculos da cinta abdominal são os mais ativos durante o canto,
com a ideia de eutonia muscular . “Eutonia” é um neologismo que define o estado de tonicidade
muscular em que a tensão é agradável e elástica, dando ao músculo um estado de prontidão para a
finalidade a que se destina.
Apoio, portanto, é o controle elástico e consciente da força retrátil passiva e
espontânea do movimento de elevação do diafragma ao promover a expiração.
Também estão em atividade durante o apoio os músculos presentes na musculatura
torácica superior (diafragma e intercostais externos e internos) e musculatura
torácica inferior (quadrado lombar, oblíquos e ilíacos). São os movimentos da
parede abdominal e do tórax trabalhando em conjunto, que revelam a subida e a
descida do diafragma e o controle da saída do ar.
A firmeza e elasticidade destas musculaturas é que chamamos de manutenção do sopro, técnica de apoio da voz . Esses músculos
formam um teia de sustentação. Porém, no momento do apoio/sustentação sua atenção deverá voltar-se para a região pubiana (4 dedos abaixo do umbigo),
localizada na região mais baixa de nosso abdômen e na qual estão inseridos vários músculos descritos anteriormente.

Para o apoio, você deverá realizar uma pressão suave e firme da musculatura pubiana. Essa contração gera uma pressão interna na região do abdômen que
reflete no diafragma. Este será levemente pressionado para cima, enquanto os músculos intercostais internos irão entrar em ação, provocando lentamente o
fechamento das 6 últimas costelas e, consequentemente, diminuindo a dimensão do tórax. Toda essa movimentação colabora para deixar sair o ar para fora
dos pulmões. Assim ocorre o apoio no momento do canto.
Quando em postura correta, o apoio “segura” o diafragma para baixo e, analogamente ao que acontece a outro êmbolo
qualquer, o ar é mantido dentro do corpo. Este ar fica localizado nos pulmões, mas se a inspiração for realmente profunda, traz
a sensação de um corpo aéreo , que vai da bacia à faringe , formando a chamada coluna de ar. Na expiração, o encaixe da
bacia é fundamental, pois o abdômen estará em tonicidade e o tórax em expansão, propiciando um alinhamento ideal. É essa
coluna que, se movendo ora para cima ora pra baixo, controlada e mantida pela eutonia muscular, vai trazer consistência e
maleabilidade ao som emitido.
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Vimos que existe toda uma complexidade de músculos que trabalham em conjunto, mas na prática é preciso tonificar a musculação pélvica e
abdominal/intercostal para que o fluxo do ar mantenha-se constante. Em alguns momentos quando, por exemplo, cantamos notas agudas, precisamos enviar ar
à região da laringe com um pouco mais de vigor e o uso do apoio irá nos ajudar. O mesmo ocorre quando queremos aumentar o volume/intensidade da voz. O
cantor deve experimentar diferentes ritmos inspiratórios e expiratórios respondendo às exigências das músicas.

Comandar a musculatura respiratória é facilitar os movimentos naturais da laringe, da articulação, bem como adaptar as cavidades de ressonância. A voz
cantada exige uma atividade muscular permanente, constantemente adaptada a todas as situações. O cantor deve estar atento ao trabalho dos seus músculos
e estar consciente de sua técnica respiratória da qual depende a qualidade das sonoridades.

A postura e a respiração estão intimamente ligadas. A soma destas duas atitudes, isto é, da boa respiração e da boa postura é que assegura, entre outras
coisas, a boa qualidade da voz. Como nosso corpo é um todo, que só pode ser subdividido didaticamente é importante lembrar também que sua postura
corporal interfere no padrão respiratório. Por esse motivo, você deverá observar se ser corpo está ereto e sem tensões. Observe sua coluna e coloque
a cabeça alinhada sem estar projetada para frente ou mesmo pressionada para trás.

Exercícios básicos:
O grande problema da angústia respiratória dos cantores não está na falta de ar, mas em sua utilização errada. O importante não é a quantidade de
ar e sim a qualidade do movimento do ar.

Os exercícios respiratórios devem ser incorporados ao cotidiano, para desenvolver e agilizar a musculatura respiratória, pelo menos durante dez a quinze
minutos ao dia. O exercitar será contínuo durante toda a carreira do cantor, mesmo por apenas alguns minutos por dia.
• Conscientizar-se das vias aéreas superiores:
Inspirar e expirar pelo nariz com a boca fechada. Observar por onde o ar circula no interior do corpo, desde a entrada das narinas pela cabeça, pela
faringe, até os pulmões e de lá até a região central do corpo. Devagar e silenciosamente. Repetir.
Agora repetir o exercício respirando pela boca com o nariz tampado. Observar a circulação do ar. É diferente da anterior?
• Dar elasticidade às vias aéreas e à condução do ar. Respiração alternando as narinas:
Inspirar pela narina direita enquanto fecha a esquerda com um dedo. Reter o ar e trocar a posição da mão para tapar a narina direita. Expirar pela esquerda e
recomeçar. Realizar o exercício com ruídos tendo por objetivo desobstruir as vias aéreas; e sem ruídos para conduzir o ar desde a
faringe até a bacia, num trabalho de coluna de ar.

• Alargamento das costelas e costas:


De pé, postura correta, percepção do eixo central, língua e maxilar descontraídos. Cruzando os braços coloque suas mãos sobre as
últimas costelas, e inspirando lentamente pelo nariz deixe que elas se alarguem. Pausa e volta à posição inicial expirando naturalmente
pela boca. Repita algumas vezes, exercitando as pausas respiratórias, percebendo o alargamento lateral das costelas. A recomendação
para que os braços sejam cruzados destina-se a inibir a parte superior do tórax, obrigando a um maior alargamento na sua parte
inferior. Sabendo como suas costelas se mexem, você pode visualizar a abertura de uma lado a outro na área da base da sua caixa
torácica e deixar o ar entrar.

Sentados:
Saber como abrir seu corpo para a inspiração permitirá que o ar entre de uma forma ágil e sem esforço. Conservar a consciência do seu
eixo principal para perceber/reconhecer os espaços internos.
• Respirar em cada espaço separadamente Inspiração lenta - expiração lenta observando os espaços internos: lateral (costelas) ,
intercostal inferior ( costas, na altura dos rins, dobrando o tronco para frente e apoiando os antebraços nas coxas para
perceber a expansão das costas ao respirar. Respire algumas vezes e observe a sensação das costas se abrindo) e no abdômen. A
expiração pode ser feita o fonema [f] ou [s] sem forçar, respeitando o fluxo respiratório.
• Respirar simultaneamente: Comece inspirando dirigindo o ar para o abdômen e quando ele estiver se movimentado para frente só um pouquinho, você
interrompe a inspiração. Em seguida, faça a inspiração lateral e intercostal (expansão) Expire o ar pela boca, fazendo o som de "SSSSSSS" direcionando o
sopro para um foco imaginário. No início o treino deve ser feito assim em duas etapas mesmo...com a prática, você conseguirá executar essa inspiração num
único movimento. Suas mãos podem ajuda-los inicialmente na percepção, à medida que executar o exercício vai colocando as mãos externamente nestes
espaços, laterais , abdômen, costas.
Coloque também em uma das vezes uma mão no peito e outra no abdômen, buscando não fazer movimento com o peito e sim percebendo com uma das
mãos a expansão do abdômen , das laterais e das costas.

De pé:
Exercício do “pneu”
O exercício do “pneu” é bom para despertar à zona inferior da caixa torácica. Aspiramos o ar ao nível da cintura (costelas flutuantes) com duas pequenas
inspirações apontando com os dedos das duas mãos, sobre a cintura à frente, deslocando um pouco cada mão lateralmente fazemos mais duas pequenas
inspirações, sem deixar sair o ar que já lá está. Continuamos ainda sobre os dois lados da cintura, mais duas inspirações, depois atrás lateralmente, já na
região dos intercostais e terminamos na coluna lombar, atrás esvaziamos em seguida todo o ar que inspiramos , de uma só vez, deixando cair os brações
lateralmente mas sem abater a postura) .

Outros exercícios serão vivenciados em aula.


Técnica e expressão vocal 8
Exercícios e Textos de vários autores (ver referências bibliográficas)

REFERÊNCIAS
BAE,Tutti , MARSOLA , Mônica. Canto uma expressão / princípios básicos de técnica vocal. São Paulo:Irmãos Vitale , 2000
BAE, Tutti. Canto uma consciência melódica. São Paulo:Irmãos Vitale , 2003.
BEHLAU, Mara S.; ZIEMER, Roberto. “Psicodinâmica Vocal”. In: FERREIRA, Léslie P. (Org.) Trabalhando a Voz. São Paulo: Summus, 1988.
BEHLAU, Mara S., REHDER, Maria Inês. Higiene Vocal para o canto coral . Rio de Janeiro: Revinter, 1997.
BEUTTEMÜLLER, Maria da Glória; LAPORT Nelly. Expressão Vocal e Expressão Corporal. Rio de Janeiro: Enelivros Editora e Livraria, 1992
_____. O Despertar da Comunicação Vocal. Rio de Janeiro: Enelivros Editora e Livraria, 1995.
CHENG, Stephen Chun-Tao, o Tao da voz.. São Paulo : editora Rocco,
COELHO, Helena Wohl, Técnica vocal para coros. RS: Sinodal, 2005.
COSTA, Henrique Olival; SILVA, Marta A. de A. Voz cantada: evolução, avaliação e terapia fonoaudióloga. São Paulo: Lovise, 1998.
DINVILLE, Claire. A técnica da voz cantada. Rio de Janeiro: Enelivros Editora e Livraria, 1993.
LATORRE, Consiglia. A estética vocal no canto popular no Brasil: uma perspectiva histórica da performance de nossos intérpretes e da escuta
contemporânea, e suas repercussões pedagógicas. Dissertação de Mestrado Instituto de Artes da UNESP. São Paulo: UNESP, 2002.
LEAL, Valéria; PAPAROTTI, Cyrene. Cantonário. Brasília, Musimed, 2011.
LEHMANN, Lili. Aprenda a Cantar. São Paulo: Tecno-Print, 1984.
OLIVEIRA, M.C. - Diversas Técnicas de Respiração para o Canto. Salvador. 2000. 29p. 30cm. ( Monografia - Curso de Especialização em Fonoaudiologia Clínica -
CEFAC )
PACHECO, Claudia , BAE, Tutti. Canto equilíbrio entre Corpo e Som. São Paulo: Irmãos Vitale, 2006.

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