Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de Projetos Sociais
Avaliação e Monitoramento
de Projetos Sociais
Rosana de Freitas Boullosa
Edgilson Tavares de Araújo
41643
Avaliação e Monitoramento
de Projetos Sociais
Rosana de Freitas Boullosa
Edgilson Tavares de Araújo
2009
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito
dos autores e do detentor dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-387-0385-3
CDD 361
Gabarito.................................................................................................................. 241
Referências............................................................................................................ 255
Apresentação
Avaliar é uma atividade intrínseca ao ser humano,
carregada de subjetividade e relacionada tanto ao campo
da decisão, quanto ao campo da aprendizagem individual
e social. Avaliamos continuamente informações, situações,
alternativas, decisões, posicionamentos, organizações,
tudo aquilo que nos chama atenção ou pode trazer im-
plicações para as nossas vidas. Assim, emitimos juízos de
valor, acumulando experiência e construindo uma certa
cultura de avaliação, mesmo que informal e intuitiva. Em
outras palavras, podemos afirmar, sem muito exagero, que
somos todos experientes avaliadores informais. Mas qual
a fronteira entre estas avaliações informais e intuitivas e
as avaliações consideradas formais? Como utilizar a nossa
experiência em processos formais de avaliação? Ainda,
como ultrapassar a barreira da informalidade, de um certo
“achismo”, e construir processos de avaliação que sejam
efetivamente úteis para os “objetos” avaliados? Essas são
algumas das perguntas que este livro procura responder
ao apresentar e explorar o campo do conhecimento de
avaliação e monitoramento de uma classe especial de ob-
jetos de avaliação: as políticas sociais e os seus instrumen-
tos (sobretudo programas e projetos), compreendidos
como “estratégias de ação” (públicas e/ou privadas) que
buscam mudar ou transformar realidades consideradas
socialmente problemáticas.
Grande parte de tal experiência, todavia, foi desenvolvida de modo intuitivo e in-
formal, com pouca ou nenhuma sistemática de avaliação. Em outras palavras, emitimos
juízos de valor sem nos preocuparmos em explicar a sua lógica, impossibilitando outras
pessoas de reconstruírem e/ou compartilharem o percurso que nos levou a emitir tais
juízos de valor. Por juízo de valor entendemos a instituição de relações significativas
1
Peter L. Berger, sociólogo estadunidense, e Thomas Luckmann, sociólogo alemão, publicaram em 1966 o livro A construção Social da Realidade, introduzindo
a expressão construção social nas ciências sociais. Para esses autores, a realidade não é um dado objetivo, mas sim algo construído socialmente, a partir de
relações sociais que estabelecem significados. Esses significados são compartilhados e validados continuamente pela própria sociedade que o construiu.
11
afirmativas entre o sujeito do juízo e o atributo ou predicado do juízo. O juízo de valor
ao qual nos referimos se refere quase sempre à qualidade ou ao mérito do sujeito do
juízo (no nosso caso, uma política, plano, programa, projeto ou ação social). E mesmo
tratando-se de avaliações informais, essas são extremamente importantes na constru-
ção do nosso comportamento, interesses e preferências no nosso agir social. Em outras
palavras, os juízos de valor que fazemos sobre tudo o que nos está entorno influenciam
as nossas ações.
Avaliações formais não são simples juízos emitidos. Pelo contrário, trata-se de
juízos argumentados emitidos após procedimentos de pesquisa que possam ser com-
partilhados por diferentes pessoas e não restritos a quem emitiu o tal juízo. Como
discutiremos mais adiante, avaliações formais de programas sociais “são processos de
pesquisa aplicada que objetivam a determinação de juízos argumentados, cuja lógica
avaliatória pode ser reconstruída e discutida pelas coletividades interessadas em seus
resultados ou impactos, incluindo eventuais padrões ou modelos de comparação”
(BOULLOSA, 2006, p. 89).
de práticas e de conhecimento
Avaliar é atribuir valor. Essa é a clássica definição de avaliação, endossada por um
dos seus maiores teóricos, o britânico Michael Scriven2, que conceitua avaliação como
uma atividade formal de atribuição de valor material (worth), valor simbólico (value) e
mérito (merit) a uma entidade – podendo essa entidade assumir diferentes complexi-
dades, tais como planos, programas, projetos e/ou ações. Quando Scriven propôs tal
2
Michael Scriven é um acadêmico estadunidense, nascido na Grã-Betanha em 1928, cofundador e editor do Journal of Multidisciplinary Evaluation, considerado
um dos maiores teóricos de avaliação de programas (sobretudo educacionais). Apesar da idade avançada, Scriven ainda escreve para importantes jornais sobre
o tema e é diretor associado do The Evaluation Center na Western Michigan University, além de titular do Departamento de Filosofia.
12
definição, em 1967, a avaliação de programas já se apresentava como um campo de
práticas e conhecimentos relativamente estruturado, assim como já esboçava os seus
contornos como área de atuação profissional, sobretudo nos países de língua anglo-
-saxônica. Afinal, quase seis décadas haviam sido transcorridas desde as primeiras ex-
periências registradas de avaliação de intervenções governamentais no campo social.
Rossi e Freeman (1993) identificaram e estudaram alguns esforços sistemáticos de ava-
liação de programas de alfabetização e de programas de redução da mortalidade e
morbidade causadas por doenças infecciosas, nos Estados Unidos, que aconteceram
antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Esses esforços de avaliação buscavam
conhecer a efetividade dos programas em estudo em vista do seu aperfeiçoamento.
3
A abordagem quantitativa busca descrever atributos e significados considerados inerentes ao objeto de avaliação e, por isso, também é chamada de abor-
dagem objetiva. Além disso, esse tipo de abordagem se caracteriza pelo uso de quantitativos (que podem ser quantificados e facilmente comparados) e por
técnicas de análise predominantemente dedutivas, orientada aos resultados. Diversamente, a abordagem qualitativa busca descrever significados socialmente
atribuídos ao objeto de avaliação e, por isso, também é chamada de abordagem subjetiva, pois é orientada ao processo, com técnicas de análise predominan-
temente indutiva e uso de dados qualitativos.
4
Também chamada de Crise de 29, um dos mais problemáticos períodos de recessão econômica da história mundial, que durou toda a década de 1930. Nos
Estados Unidos, onde a crise tomou proporções mundiais com a quebra da bolsa de Nova York, em 24 de outubro de 1929, o presidente Roosevelt apresentou
um exitoso plano para combater os avanços da crise, chamado New Deal. A partir das ideias do New Deal, três anos mais tarde, o economista inglês John M.
Keynes publicou o célebre livro The General Theory of Employment, Interest, and Money, lançando as bases do keynesianismo, que defende o papel do Estado
como agente controlador da economia.
5
O Plano Marshall foi como ficou conhecido o Plano para a Recuperação da Europa, formulado, em homenagem ao Secretário de Estado dos EUA, George Mar-
shall, financiado e implementado pelo Governo dos Estado Unidos para a reconstrução dos Países Aliados da Europa após o final da Segunda Guerra Mundial.
Já o Programa Aliança para o Progresso (1961-1970) foi uma versão do Plano Marshall para a América Latina, também formulado, financiado e implementado
pelo Governo dos Estados Unidos a fim de contrastar a influência de Cuba e do socialismo.
13
considerados relevantes (sobretudo para os financiadores). A esse ponto, a cultura
da avaliação já havia conquistado o mercado, não somente a esfera governamental.
Nesta última, buscava-se compreender realidades sociais problemáticas e complexas,
mas buscavam-se também bases científicas para a averiguação e o juízo do desenvol-
vimento dos esforços empreendidos para transformar positivamente tais realidades
problemáticas e complexas.
Nos anos 1960 acontece o que muitos autores definem como o boom da ava-
liação nos Estados Unidos (GUBA; LINCON, 1989; ALBAEK, 1998), como as polêmicas
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
nizacional que implementa qualquer decisão. Do lado oposto, encontra-se a abordagem decisional de tipo bottom-up, que defende que as decisões devem
acontecer no sentido oposto da pirâmide hierárquica, ou seja, de baixo para cima.
7
Em sociologia, a burocracia é uma estrutura organizacional caracterizada por procedimentos e rotinas regulares e por um sistema hierárquico, com alta
14
que já se entrevia um ou dois séculos antes, consolidando também a ideia de que a
avaliação aumentaria ou garantiria a racionalidade dos processos decisórios, além de
legitimar a intervenção pública.
Não por acaso, Rossi e Wright (1984) consideram tal período como a era de ouro
da avaliação de programas (golden age of evaluation), caracterizado, segundo Oakley
(1998, p. 95), pelo “randomised, controlled experimental paradigm”, ou paradigma ex-
perimental controlado aleatório, apoiado sobremaneira no trabalho que Campbell e
Stanley publicam em 1966, intitulado Experimental and Quasi-Experimental Designs for
Research (Desenhos Experimentais e Quase-Experimentais de Pesquisa). Em poucas
palavras, segundo tal paradigma originário do campo da Biologia, é possível avaliar
políticas e programas sociais através de estudos comparativos entre grupos que foram
submetidos a tais políticas ou programas e grupos que não foram submetidos a tais es-
forços (chamados de grupos de controle). Também contribui para o sucesso da idade
de ouro da avaliação nos EUA, a obrigatoriedade da destinação de pelo menos 1% do
gasto com programas sociais ao quesito avaliação.
divisão de responsabilidade, onde seus membros executam invariavelmente regras e procedimentos padrões, como engrenagens de uma máquina. Max
Weber (1864-1920) foi um dos precursores da Teoria da Burocracia, para quem os seus principais atributos eram a impessoalidade, a concentração dos meios da
administração, um efeito de nivelamento entre as diferenças sociais e econômicas e a execução de um sistema da autoridade que é praticamente indestrutível.
15
de avaliação voltadas à avaliação e monitoramento de programas, projetos e ações
de transformação social, tanto públicos, quanto privados e mistos. Os autores Guba
e Lincon (1998) chamam esse período de Reativo, por considerá-lo como uma certa
reação às abordagens top-down que predominavam no período anterior (o período
da “era de ouro”). Outro autor, Derlien (2001), que também se dedica a compreender
a evolução e estruturação da avaliação como campo de práticas e de conhecimentos,
associa essa última fase da avaliação (a partir dos anos 1990) à função de realocação do
gasto público. De fato, com a crise fiscal difundiu-se também a ideia de que boas ava-
liações poderiam indicar objetivamente quais as melhores respostas para os problemas
sociais, maximizando o escasso investimento público. Essa ideia ganhou força no con-
texto do paradigma do Estado mínimo, quando a avaliação passou a ser instrumento
específico de gestão voltado para a Reforma do Estado, implementada pelo Governo
Brasileiro que buscava, entre outras coisas, responsabilização (ou accountability) dos
políticos, burocratas e gestores públicos em geral e privatização de alguns bens e ser-
viços sociais que antes eram providos pelo Estado.
liação que está, para o autor, em julgar algo de alguma coisa. Scriven dá voz, assim,
aos chamados modelos com atribuição de valor, ou seja, modelos de avaliação que
emitem um juízo de valor. O juízo de valor se constitui como uma sorte de recomen-
dação ao tomador de decisão. Em contracorrente, outra grande linha reúne modelos
sem atribuição de valor, ou seja, modelos que não emitem um juízo de valor e que
se restringem a apresentar informações parciais ao tomador de decisão, deixando ao
mesmo a tarefa de conectar informações e extrair ou construir juízos de valor, como as
avaliações de modelo mínimo.
16
emitir o juízo de valor não é o avaliador, mas, sim, quem solicitou a avaliação. A maioria
dos autores, entretanto, é enfática em afirmar que não há avaliações sem juízo de valor
e que até mesmo as que não o fazem de modo direto, acabam emitindo juízos quando,
por exemplo, selecionam os critérios de avaliação. Cada uma delas carrega consigo
aspectos metodológicos e epistemológicos importantes, além de indicar qual o papel
do profissional em avaliação.
Quadro 1 – Algumas definições sobre avaliação
Autor(es) /
O autor.
Definição de avaliação Observação
(obra)
Scriven “Julgamento do valor ou o mérito de uma ‘entidade’.” Com juízo de valor,
(1967) sobretudo.
Rossi, Freeman e “Essencialmente um esforço de colheita e interpretação de Sem juízo de valor.
Lipsey informações que procura responder a uma determinada sé-
(1999, p. 62 e 80) rie de perguntas sobre o comportamento e sobre a eficácia
de um programa.”
“Fundamentalmente um esforço para colher e interpretar
informações sobre o andamento de programas, para respon-
der a perguntas relevantes do tomador de decisão ou, pelo
menos, de qualquer interesse para um ou mais atores sociais
envolvidos.”
Patton “A avaliação é a coleta sistemática de informações sobre ati- Com juízo de valor,
(1998, p. 23) vidades, características e resultados para a formulação de ju- mas não deixa claro
ízos sobre programas, de modo a melhorar a sua eficácia ou quem emite tal juízo.
direcionar decisões sobre a sua programação futura.”
Carol Weiss “Análise sistemática do processo e ou do resultado de um Com juízo de valor,
(1998, p. 4) programa ou de uma política, comparado a um conjunto de mas com maior peso
valores (standard) implícito ou explícito, a fim de contribuir à dimensão proces-
para o melhoramento do programa ou da política”. sual da avaliação e
a sua contribuição
A última das definições presente no quadro 1, proposta por Bezzi (2007), ree-
xamina a aproximação entre avaliação e pesquisa avaliatória, já discutida por Rossi e
17
Wright no trabalho intitulado Evaluation Reseach (Pesquisa avaliativa), publicado em
1984, no qual propõe que a avaliação deve empregar uma rigorosa metodologia das
ciências sociais. Nessa mesma perspectiva, outros autores buscaram resgatar a relação
entre avaliação e pesquisa, ressaltando a dimensão processual e coletiva das avalia-
ções. Neste texto, adotaremos uma definição-guia de avaliação que também explora
a dimensão investigativa e processual da avaliação de políticas e programas sociais,
proposta por Boullosa, em 2006 (p. 112):
Avaliação é o conjunto de atividades, nem sempre solidamente correlacionadas, voltado para a
expressão de um juízo ou síntese avaliatória, direcionado a um fim, nem sempre claro e/ou explícito,
empreendido por um conjunto de agentes, nem sempre definidos ou etiquetados como avaliadores.
Este juízo deve ser o máximo possível argumentado através de instrumentos e procedimentos de
pesquisa avaliatória (não somente pesquisa social aplicada), de modo a possibilitar a sua reconstrução
analítica e discussão dos resultados, juízo ou síntese avaliatória, pelas coletividades interessadas em tal
avaliação, desencadeando um processo de aprendizagem prático-institucional (relativo ao objeto de
avaliação) e social (relativo à dimensão dialógico-cívica da sociedade em geral).
(BOULLOSA, 2007)
Problematiza os objetivos
deste juízo
A pesquisa
avaliativa é o núcleo
Admite a subjetividade do mais importante
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
avaliatória
Admite um senso científico, juízo ou da síntese
direcionado(a) a um fim
mas sobretudo profissional avaliatória. Através
dela é possível
Explicita os elementos reconstruir o juízo,
de avaliação e promove compartilhar
Juízo ou síntese simetria informacional os resultados
avaliatória e desencadear
argumentado(a) Admite a incerteza, pois o processo de
reconhece a dimensão aprendizagem
dialógica da avaliação prático-institucional
e sociocívicos
Assume-se como parte de um
processo de aprendizagem
prático-institucional e
sociocívico
18
Considerar a avaliação como uma atividade próxima à pesquisa social aplicada
significa assumir que, além de uma dimensão metodológica, a avaliação exige refle-
xões teóricas, epistemológicas e deontológicas (relacionada aos deveres profissionais
da categoria do avaliador, mesmo que ainda não contemplada por um código espe-
cífico aqui no Brasil). Além disso, a avaliação nunca é uma atividade isolada, realizada
por um único avaliador. Pelo contrário, uma avaliação é um processo complexo, na
qual se relacionam diferentes atores que se expressam implícita ou explicitamente por
diferentes fontes de informação, além de ser voltada para um público que em última
instância é a própria sociedade.
(BOULLOSA, 2007)
(BERGER; LUCKMAN, 1966)
Realidade avaliada
Diferentes atores
=
A natureza da realidade é múltiplas realidades
significativa (SCHUTZ, 1962) =
múltiplas tramas de significados
Problema semântico
19
A construção de uma lógica compartilhada de avaliação colabora para a redução
da complexidade decisional que envolve a avaliação e os seus objetos, sejam eles polí-
ticas, planos, programas, projetos e/ou ações. Por isso, a avaliação não pode deixar de
enfrentar o desafio da promoção do diálogo entre os diferentes planos conceituais e
metodológicos dos atores envolvidos direta ou indiretamente na avaliação, de modo a
construir uma lógica avaliatória compreensível a todos, bem como uma síntese avalia-
tória útil ao objeto avaliado. Nesse sentido, é possível afirmar que a avaliação carrega
consigo o papel de instrumento coletivo de juízo de ações socialmente relevantes, so-
bretudo quando relacionadas às intervenções de transformação social.
Para os nossos objetivos, os bens e serviços podem ser divididos em quatro gran-
des categorias: bens privados, bens públicos, bens semipúblicos e bens coletivos; todos
eles podem ser produzidos e ofertados pelo mercado, Estado e/ou Terceiro Setor8.
Todavia, nas economias modernas observa-se uma clara especialização na produção e
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
preservação das diferentes classes de bens. Os bens privados, por exemplo, são produ-
zidos sobretudo pelo mercado, enquanto que os demais, sobretudo os bens públicos,
são em grande parte produzidos e preservados pelo Estado. Além dessa diferença, os
bens públicos se caracterizam por serem indivisíveis (os de mercado são divisíveis e
autoexcludentes) e pela baixa ou inexistente reciprocidade de exclusão do consumo,
assim como pelo princípio da não exclusão. Em outras palavras, os bens públicos não
se deterioram pelo uso, o seu consumo por um indivíduo não prejudica as possibilida-
des de consumo dos demais indivíduos (SAMUELSON, 1966).
8
Terceiro Setor (Third Sector) é uma terminologia sociológica que abriga todas as iniciativas privadas de utilidade pública, desde que com origem na sociedade
civil, sem vínculos diretos com o Primeiro Setor (Público, o Estado), nem com o Segundo Setor (Privado, o Mercado).
20
possuem características de mercado e de público, vistos, portanto, como intermediários.
Eles são perfeitamente divisíveis, mas os benefícios da sua produção e consumo recaem
sobre toda a sociedade. É o caso, por exemplo, da educação, que pode ser produzida tanto
pelo mercado quanto pelo Estado, total ou parcialmente, mas que, dado os benefícios so-
ciais dispersos que produz (externalidades positivas), não pode ser considerada exclusiva-
mente como bem de mercado. O mesmo acontece com os bens e serviços de saúde, que
contribuem para o bem-estar geral da sociedade. Em outra categoria se encontram os bens
chamados de coletivos, os quais, segundo uma pequena parte da literatura especializada,
são bens que pertencem à sociedade, mas que são cedidos pelo Estado a terceiros (priva-
dos). Tal cessão gera entradas para o Estado que deveriam, a princípio, ser aplicadas na pre-
servação de bens públicos ou outros semipúblicos.
Quadro 2 – Tipologia de bens
O autor.
Rivalidade na fruição
ALTA BAIXA
Bens semipúblicos
Bens privados (toll good)
Recíproca exclusão do consumo
ALTA
21
formação da sua realidade social. A avaliação se complica ainda quando pensamos que
alguns desses bens não são usados de forma voluntária ou pontual (como a segurança
nacional) e que os seus fruidores tendem a subestimar os seus benefícios, atribuindo-
-lhes pouco ou nenhum valor. E para complicar mais ainda, o uso privatizado de um
bem público pode provocar, paradoxalmente, a degradação do próprio bem.
22
acompanhar o desempenho de um programa;
23
Gráfico 1 – Relação entre avaliação e outras atividades
MAIOR propensão à reflexão, à crítica
Pesquisa de base
Benchmarking
MENOR propensão
MAIOR propensão
à intervenção
à intervenção
Monitoramento?
Social Audit
Certificação
24
monitoramento estão relacionados com um pequeno sistema de correções de eixo do
projeto, outros não.
Conclusão
Como você pôde perceber, nesta disciplina nós vamos aprender um pouco mais
sobre atividades que não nos são estranhas: avaliação e monitoramento. Vimos que
ambas as atividades estão relacionadas ao campo da decisão, bem como aos campos
da aprendizagem social e individual. Dessa vez, porém, vamos passar do âmbito das
avaliações informais para aquele das avaliações formais. Além disso, das avaliações for-
mais de um tipo muito particular de objeto de avaliação que são as intervenções de
cunho social, agrupadas em conjuntos aos quais damos os nomes de políticas, planos,
programas, projeto ou ações.
25
não conseguem levar a melhorias significativas dos programas que julgam. Por quê?
Em parte é uma questão de compreender mal outros fatores que afetam o uso das
informações da avaliação, mesmo em estudos que têm boas definições conceituais
e são bem conduzidos. Além disso, tanto avaliadores quanto seus clientes podem ter
sido limitados pela tendência infeliz de ver a avaliação como uma série de estudos
separados entre si em vez de considerá-la um sistema contínuo de autorrenovação.
fluências voltadas para a melhoria das políticas, práticas e decisões das instituições
importantes para nós.
1
É importante lembrar que o texto foi publicado em 2004.
Atividades
26
2. Faça uma lista com dez avaliações informais que você efetuou nas últimas 24
horas. Dessas dez, selecione as duas mais complexas e procure desvendar qual
o percurso de avaliação que você percorreu para chegar a tais juízos. Escreva
ambos os percursos e identifique quais os aspectos subjetivos (crenças, valores,
simpatias, preconceitos, relações causais pessoais) neles presentes.
3. Você concorda que toda avaliação emite sempre um juízo de valor? Justifique.
4. Explique por que o juízo da avaliação deve ser argumentado e quais as prerro- Introdução à avaliação e monitoramento de projetos sociais
gativas desse juízo.
27
Avaliação de políticas e
programas sociais no Brasil
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
A avaliação está hoje consolidada na agenda governamental do
Vídeo
país, embora os seus usos ainda sejam extremamente limitados. A con-
cepção gerencialista que vem marcando a cultura de avaliação no país
ainda não conseguiu superar o estigma da avaliação como última etapa
de processos de intervenção social. Avalia-se porque se deve, mas não
se sabe bem o porquê, separando-a dos sistemas de aprendizagem que
envolvem qualquer processo de intervenção social, sobretudo quando promovidos pelo
Estado.
29
concepção gerencialista da administração pública brasileira encontra suas raízes em tais
debates, influenciados pelo movimento estadunidense e europeu de reforma dos apare-
lhos de Estado, sob a batuta dos governos de Ronald Reagan (presidente dos EUA entre
1981 e 1989) e Margaret Thatcher (primeira-ministra da Inglaterra entre 1979 e 1990).
Todas essas ideias deram o tom do debate da reforma do Estado brasileiro, que
abraça a vertente gerencialista, que defende a racionalização top-down (de cima para
31
Desse modo, no bojo da reforma do Estado, emerge com muita força no país a
figura profissional do avaliador de políticas, programas e projetos sociais. Assumindo
um certo tom de ironia, Vieira (1993, p. 70) resume tal processo com as seguintes pa-
lavras: “[...] [no] Brasil, desde o tempo da elaboração da Constituição de 1988, a febre
avaliatória ganha dimensão de epidemia e os avaliadores metamorfoseiam-se em fes-
tejados demiurgos [...]”.
Para Pimenta de Faria (2005), o desenho das reformas de Estado na América latina
privilegiaram dois propósitos básicos: de um lado, o trinômio: contenção de gastos;
maximização da eficiência e da capacidade de resposta dos governos; maximização da
responsabilização dos gestores e da transparência dos processos públicos. Do outro,
reavaliação do leque tradicional de atribuições do Estado na promoção e preservação
de bens públicos. Talvez por isso, Caiden e Caiden afirmam que “a medição de desem-
penho, o monitoramento e a avaliação não foram apenas ornamentais nem tiveram
uma significação incidental nas reformas. Foram (ou deveriam ter sido) as alavancas
essenciais da mudança” (CAIDEN e CAIDEN, 2001 apud FARIA, 2005).
32
processos de “desregulamentação” e “devolução”. Por desregulamentação (deregu-
lation) compreende-se o conjunto de mudanças promovidas para a eliminação de
restrições dos negócios a fim de encorajar a eficiência nas operações do mercado.
Por devolução (devolution) compreende-se o conjunto de mudanças promovidas
para diminuir o tamanho do Estado, por acreditar que através da transferência ou
deslocamento de funções e serviços públicos para as instâncias subnacionais (des-
centralização) ou para o mercado (privatização). Além disso, a avaliação funcionou
ainda como instrumento de transparência da gestão pública e, muitas vezes, como
expressão de gestão participativa.
33
os agentes públicos, assim como de aquilatar resultados dos investimentos públicos.
Desse modo, no Plano Diretor, a avaliação é reafirmada como a última etapa de uma
leitura tradicional do ciclo das políticas e dos seus instrumentos (que compreende as
três etapas de “formulação/definição”, “implementação” e “avaliação”), como aparece
no trecho em que propõe a criação de “mecanismos que viabilizem a integração dos
cidadãos ao processo de definição, implementação e avaliação da ação do setor públi-
co” (BRASIL, 1995, p. 37).
34
pactos de anos e anos de investimento, em avaliação sobre a qualidade das políticas e
dos seus instrumentos em responder adequadamente os problemas sociais. Frequen-
temente, era o viés gerencialista que defendia a dimensão exclusivamente técnica da
avaliação a ser duramente questionada.
O fato é que a avaliação foi perdendo credibilidade, não obstante os contínuos es-
forços empreendidos por alguns (poucos) setores do governo. Diversos autores come-
çaram a recordar uma outra dimensão da avaliação, mais importante do que a técnica:
a dimensão política. Entre tais autores, podemos destacar Pimenta de Faria,
Reconhecida, portanto, a hegemonia quase inconteste da perspectiva gerencialista [...], parece-nos
oportuno inventariarmos as distintas formas de uso esperado e potencial da avaliação de políticas
públicas, para que possamos ampliar a nossa percepção do viés político da pesquisa avaliativa.
Antes, contudo, cabe alertarmos para o fato de que, evidentemente, não se espera aqui que a ciência
política seja capaz, por si só, de “(re)politizar” a avaliação de políticas públicas. Cabe a ela, isto sim, a
análise do impacto e das implicações de tal hegemonia. (FARIA, 2005, p. 101)
Conclusão
Como vimos, a avaliação de políticas sociais e de seus instrumentos (planos, pro-
gramas, projetos, ações) atravessa no país um novo período em que tenta reconstruir a
sua identidade. A atividade de avaliação se difundiu, chegou até mesmo a banalizar-se,
mas ainda não apresenta um conjunto de práticas que possa definir uma cultura de
avaliação no país. A institucionalização das diretrizes que a avaliação recebeu durante
o período da reforma do Estado acabou por revelar-se precoce, contribuindo para a
perda de credibilidade. Muito se avalia, mas grande parte das avaliações ainda não é
incorporada nos processos de formulação e implementação das políticas, muito menos
é vista como parte de tais processos.
Texto complementar
36
efetividade de um conjunto de ações do Estado.
37
Os sistemas e programas herdados das três estruturas governamentais que
deram origem ao ministério atual não configuravam um sistema e tampouco a
função monitoramento e avaliação estava presente. Ao se estabelecer a função e
as diretrizes de uma política de avaliação e monitoramento, garantindo-se recursos
físicos, humanos e financeiros para suas atividades, criaram-se as condições organi-
zacionais e institucionais para construção e implementação do sistema.
estão sendo objeto de estudo do Banco Mundial e FAO. O diálogo internacional vem
se fortalecendo não apenas com as agências multilaterais de fomento, mas também
com instituições de pesquisa, públicas e privadas, pesquisadores independentes,
gestores e técnicos; um tipo de parceria entre governo e instituições internacionais
praticamente inexistente anteriormente na área de avaliação e monitoramento.
38
Contudo, são os resultados de estudos validados pela comunidade científica
que conseguem criar algum tipo de acordo entre distintos atores, com interesses
e concepções muitas vezes divergentes – implementadores, formuladores de po-
líticas, tomadores de decisões, formadores de opinião, sociedade civil, legisladores
– sobre os resultados de programas e políticas. Nesse sentido, a grande inovação do
MDS na área de avaliação e monitoramento foi a criação de mecanismos institucio-
nais que vêm viabilizando não apenas a interação entre o conhecimento técnico e
científico e as políticas, mas sua efetiva utilização na retroalimentação das políticas.
Atividades
3. Você acha que é possível transcender a essa herança tão fortemente gerencia-
lista da avaliação no país e buscar novos caminhos ou culturas de avaliação?
Argumente e justifique o seu ponto de vista.
39
Avaliação, pesquisa avaliativa e valores
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo O mundo da avaliação é permeado por grandes desafios, como
qualquer outro campo das ciências sociais aplicadas. Dentre principais
desafios, podemos encontrar a relação entre avaliação e pesquisa e a di-
mensão ética na avaliação de políticas socais e seus instrumentos (planos,
programas, projetos, ações). Seus graus de complexidade são vistos como
tão altos que não raro os avaliadores e suas equipes preferem contorná-
-los, acreditando que serão resolvidos por si mesmos ao longo do trabalho de avalia-
ção ou mesmo que não possuem tempo ou recursos suficientes para se problematizá-
-los. Como resultado, estamos consolidando uma cultura de avaliação no país que nem
mesmo nós, avaliadores, conhecemos muito bem. A falta de reflexão vai levando para
assumir um caráter cada vez mais instrumental da avaliação, com todos os riscos que
implicam considerá-la como uma atividade neutra, destituída de dimensão humana e
política.
1
Uma definição de trabalho é aquela que nos permite avançar sobre o campo estudado, mesmo que ela seja provisória.
41
Boullosa reafirma a interpretação da avaliação como juízo argumentado dire-
cionado a fim. A argumentação desse juízo ou síntese avaliatória acontece dentro de
um limite relativamente estreito de cientificidade e profissionalismo, pautado pela
explicitação dos elementos a partir dos quais o juízo foi formulado, assim como dos
instrumentos utilizados para tal construção. Somente assim, é possível reconstruir,
comparar e avaliar o tal juízo. A possibilidade de reconstrução é fundamental para o
juízo, seja compartilhado por outros atores interessados nas discussões e resultados
apresentados pela avaliação. Bezzi (2007) recorda que são a natureza, a profundidade
e a qualidade da própria argumentação a tornar a argumentação mais ou menos sólida
e crível. Nessa perspectiva, argumentações puramente retóricas e/ou estritamente
autorreferenciadas, ainda que possam apresentar juízos de valor interessantes, care-
cem da dimensão dialógico-relacional típica das avaliações. Essa dimensão se expressa
nas ponderações e considerações apresentadas, que relaciona diferentes pontos de
vista para um mesmo problema, mas que com destreza consegue hierarquizar tais
pontos em favor do juízo emitido.
aplicada para fins de avaliação, que deveria revelar-se como o seu centro nevrálgico.
Nessa perspectiva, podemos afirmar que a pesquisa avaliatória é a estrutura central
da avaliação, assim como o canal dialógico entre o avaliador ou a equipe de avaliação,
a comunidade interessada e a comunidade profissional do campo da avaliação e mo-
nitoramento. Por isso mesmo, é a argumentação a dar confiança e credibilidade às in-
formações utilizadas para a expressão do juízo avaliatório. Não por acaso, Bezzi (2007)
defende que a pesquisa avaliatória é o motor da avaliação, o seu instrumento do seu
agir organizacional, a ração da sua eficácia.
42
Valores e avaliação
A avaliação é uma atividade carregada de subjetividade, não obstante suas di-
mensões metodológicas e técnicas. Parte dessa subjetividade está contida nos valo-
res dos atores envolvidos em um processo de avaliação, com influências interpessoais,
éticas e políticas. De fato, os avaliadores estão cada vez mais preocupados nos usos
possíveis do produto apresentado, cônscios de que o juízo expresso na avaliação in-
fluenciará a sua aceitação e difusão. Em efeito, os relatórios de avaliação podem sofrer
alterações quando transmitidos de um departamento a outro ou a departamentos
e/ou instâncias de poder superiores àqueles que receberam em primeira mão tais re-
latórios. Acreditamos que esses problemas podem e devem ser enfrentados pela ava-
liação, ainda na sua fase de planejamento. Alguns autores como Worthen, Sanders e
Fitzpatrick (2004) alertam para a que a “ansiedade da avaliação” não acabe influencian-
do os seus resultados.
43
Os teóricos estadunidenses Yvonna Lincoln e Egon Guba foram buscar na antro-
pologia as bases para a discussão da relação do Avaliador com os seus próprios valores
e crenças e com os valores e crenças das pessoas envolvidas no objeto de avaliação.
Para começar, na língua inglesa há um termo próprio para o objeto da avaliação, que
é evaluand, e um outro para o sujeito envolvido com o objeto de avaliação, que é eva-
luee. Lincoln e Guba estudaram, portanto, as relações entre os valores de avaliador
e dos evaluees e chegaram à conclusão, apresentada no artigo “Do Evaluators Wear
Grass Skirts? ‘Going Native’ and Ethnocentrism as Problems in Utilization” (1981), que
o principal dilema ético do avaliador é não sucumbir nem aos seus próprios valores e
crenças, nem aos valores e crenças dos evaluees. Ambos os casos distorcem os resul-
tados da avaliação. Sugerem ainda uma complexa estratégia para o avaliador a fim
de diminuir os riscos de incidência em tal dilema: (a) cultivar um diário reflexivo para
observar as suas próprias decisões e a sua posição como avaliador; (b) buscar sempre
o confronto externo através de interrogações; (c) “auditoriar” o desenvolvimento da
pesquisa avaliatória e dos seus instrumentos.
Um outro autor que se deteve nos estudos sobre ética e avaliação, Ernest House,
defende que a justiça social deveria ser um dos principais valores dos processo de ava-
liação. Para ele, a prática avaliação faz parte da estrutura social e, portanto, deveria ser
vista como um auxílio público para a tomada de decisões socialmente justas e demo-
cráticas. Avaliações deveriam funcionar como uma instituição pública para democra-
tizar a tomada de decisões em intervenções sociais. Tal prática, se institucionalizada,
poderia encarnar os valores de uma sociedade democrática, tais como justiça, impar-
cialidade e igualdade (HOUSE, 1993). Nessa perspectiva, o autor afirma ainda que:
As avaliações devem servir os interesses não só do patrocinador, mas também da sociedade como
um todo, bem como de vários grupos dentro da sociedade, especialmente os mais afetados pelo
programa em análise. Assim, como uma prática social, a avaliação implica uma inevitável ética da
responsabilidade pública, e esta responsabilidade abarca muito mais do que um cliente imediato.
A justiça social em avaliação diz respeito ao modo em que diferentes interesses são atendidos, e,
por interesses, entendo tudo aquilo que conduz à satisfação dos desejos, necessidades e propósitos
dos indivíduos, sendo os desejos tudo aquilo necessário para a sobrevivência ou bem-estar dos
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
indivíduos. Para ser livre é necessário conhecer os seus interesses; possuir as habilidades e os
recursos, ou o poder e a oportunidade, para agir de acordo com estes interesses, e estar disposto a
fazê-lo. (HOUSE, 1993, p. 128)
No mesmo estudo que contém a citação acima, House alerta para seis falácias
éticas da avaliação. São elas:
44
Gerencialismo (Managerialism) – a falácia de que os interesses dos gestores
dos objetos avaliados devem prevalecer sobre todas as coisas.
Muitos autores defendem que as avaliações mais úteis são aquelas cujos pro-
cessos e práticas envolvem os atores dos próprios objetos de avaliação, sejam eles os
beneficiários ou os implementadores do programa, projeto etc. Nessa perspectiva, a
avaliação deveria reconhecê-los como parte do seu processo. Brandon, Lindberg e
Wang (1993) demonstraram, através de pesquisa, que envolver os beneficiários de um
programa em uma avaliação aumenta a validade das descobertas da própria avalia-
ção. O mínimo que se pode fazer, portanto, é respeitar os limites e valores dos atores
envolvidos direta ou indiretamente no processo de avaliação e pesquisa avaliatória.
O Joint Commmittee on Standards for Educational Evaluation propôs uma diretriz para
reger as relações humanas: “Os avaliadores devem respeitar a dignidade e o valor do
ser humano em suas interações com outras pessoas relacionadas a uma avaliação para Avaliação, pesquisa avaliativa e valores
que os participantes não sejam ameaçados nem prejudicados” (1994, p. 99).
A dimensão ética da avaliação também se revela no acesso aos dados e nos seus
usos. Muitos autores ressaltam a importância de acordos de permissão de uso e salva-
guarda de informações junto às fontes. Tais acordos podem ainda incluir pontos relativos
à liberdade do avaliador e/ou da equipe de avaliação de usar parcialmente as informa-
ções obtidas, assim como de desmembrá-las ou mesmo corrigi-las em caso de eventuais
2
Vale a pena conhecer os princípios propostos pelo American Evaluation Association disponíveis em: <http://www.eval.org/>, chamados de Guiding Principles
For Evaluators, também disponíveis em: <http://www.eval.org/Publications/GuidingPrinciples.asp>. São estes: a pesquisa sistemática; competênia; integridade
e honestidade; respeito pelas pessoas e responsabilidade pelo bem-estar geral e social.
45
erros. Os autores Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004) alertam sobre a necessidade de
explicitar tais acordos a fim de não comprometer o resultado final das avaliações.
46
acabou propondo a clássica distinção entre os papéis formativo e somativo. Muito
embora os limites entre esses dois papéis não sejam rígidos, essa classificação pode
nos ajudar a compreender os usos da avaliação. A principal diferença entre avaliação
somativa e avaliação formativa está justamente no fim da avaliação: para Scriven, a
avaliação é somativa quando é construída para ajudar os responsáveis pelas tomadas
de decisão dos programas avaliados, ou os seus potenciais consumidores. Já uma ava-
liação pode ser considerada formativa quando ela é construída para dar informações
úteis à equipe do programa, sendo útil, por exemplo, para uma correção de rumo ou
aperfeiçoamento do programa.
47
Alguns autores alertam ainda para os perigos da tendenciosidade das avaliações
somativas e formativas. Mas nem todos os autores pensam de modo parecido. Worthen,
Sanders e Fitzpatrick (2004) acreditam, por exemplo, que a desequilibrada preferência
de muitos profissionais por avaliações formativas pode ser não somente tolerável, como
até desejada, já que poderia levá-los a serem mais receptivos a determinadas necessi-
dades de informação do programa, possivelmente necessárias para o seu aperfeiçoa-
mento. O contrário, porém, não parece válido para esses mesmos autores. Eles acredi-
tam que a excessiva preferência por avaliações somativas, tanto de uma organização
demandante quanto dos avaliadores profissionais, poderia revelar uma certa inclinação
para a produção de juízos avaliatórios tendenciosos ou poderia levar a uma descon-
fiança dos resultados (mesmo que justos) das avaliações. Talvez por isso, alguns autores
acreditem que avaliadores externos geralmente preferem avaliações somativas.
Uma outra proposta que difere da proposta por Scriven refere-se à distinção entre
avaliação interna e avaliação externa. Tal distinção pode ser resolvida de um modo
bastante simples: se o avaliador pertence à equipe do objeto avaliado, trata de uma
avaliação interna. Caso contrário, externa. Essa simplicidade, porém, tem sido contes-
tada na prática de algumas abordagens de avaliação que preconizam, por exemplo,
uma maior participação dos atores envolvidos com o objeto de avaliação. De fato, as-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
sistimos há algum tempo um grande esforço em alargar o espectro dos atores que
participam das avaliações.
48
decorrentes da sua posição. Um avaliador interno, por exemplo, pode conhecer tão
bem um determinado programa que tem dificuldade de compreender os seus proble-
mas mais estruturais, assim como pode encontrar dificuldades na relação com os co-
legas por passar a ocupar uma nova posição frente ao grupo. Porém, esse mesmo pro-
blema de relacionamento pode vir a acontecer com um avaliador externo que pode
encontrar resistências do grupo e ser visto, por exemplo, como um denunciador.
Por muito tempo, o avaliador externo ocupou uma certa posição de prestígio
junto às organizações financiadoras de avaliações, sobretudo de um tipo específico de
organização que eram as agências internacionais. Acreditou-se que o avaliador exter-
no seria menos tendencioso e mais objetivo. Todavia, hoje grande parte da literatura,
assim como a própria experiência dessas agências, apontam para as limitações de tal
preconceito. Notou-se, por exemplo, que avaliadores externos contratados pelo Banco
Mundial apresentavam juízos ou sínteses avaliatórias distantes da realidade. O mito
da avaliação externa, ou melhor, do avaliador externo felizmente começou a ser ques-
tionado. Não obstante essas mudanças recentes, ainda podemos encontrar Agências
de Governo ou Agências de Cooperação Internacional que só financiam projetos que
tenham sido alvo de avaliações externas, desconsiderando as internas. Segundo tal
ponto de vista, somente as avaliações externas poderiam garantir a necessária impar-
cialidade do juízo.
Conclusão
Ninguém avalia sozinho. A avaliação é uma atividade relacional, pois depende de
outras pessoas que, no mínimo, são responsáveis pela construção das informações.
É importante compreender a dimensão social da avaliação, pois qualquer avaliação
pode se revelar em um poderoso instrumento de diálogo entre os interessados nos
Avaliação, pesquisa avaliativa e valores
objetos de avaliação, nos processo desencadeados, nos seus impactos e efeitos, espe-
rados ou não. A avaliação tem, portanto, como pano de fundo um espectador múltiplo
em um contexto específico: a sociedade na democracia. É preciso, portanto, que os
avaliadores e as suas equipes problematizem com profundidade os valores embutidos
nas avaliações, interpretando-a como instrumento sociodialógico, apoiada em uma
pesquisa avaliatória, que deverá evidenciar a sua lógica, os seus critérios, premissas,
vínculos e valores, para que o desejado diálogo ocorra.
49
Texto complementar
50
compatíveis com os objetivos traçados. Também foi analisado em que me-
dida as ações do Programa são consistentes com o Estatuto da Criança e do
Adolescente, no que se refere à execução das medidas socioeducativas. Por
fim, verificou-se o grau de implementação das atividades de apoio e acom-
panhamento dos egressos.
51
mento, adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa e egres-
sos. Os questionários foram enviados para conselhos estaduais de saúde e
entidades de atendimento. Além disso, houve a realização de grupos focais
com técnicos que atuam na execução das medidas socioeducativas.
52
Baixa implementação das ações de apoio e acompanhamento de egressos
Atuação policial
53
Recomendou-se também à Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança
e do Adolescente – SPDCA/ SEDH e ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente – Conanda que: definam as responsabilidades de cada esfera de gover-
no, no que tange à execução das medidas socioeducativas; ampliem a divulgação do
Programa e do Fundo Nacional da Criança e do Adolescente; articulem-se com outras
áreas governamentais e não governamentais; aprimorem os canais de comunicação
com estados e municípios e com os operadores de direito; promovam o aperfeiçoa-
mento de programas de capacitação; incentivem a utilização do Sistema de Informa-
ção Para a Infância e a Adolescência – Sipia; instituam indicadores de desempenho.
Atividades
A partir da compreensão de que não há neutralidade em avaliação, leia atentamen-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
1. Toda avaliação carrega consigo valores, mesmo que não explicitamente expres-
sos. Quais os valores que o TCU assumiu nesta avaliação? Há diferenças entre os
tais valores e os valores do Programa? Em caso positivo, quais são essas diferen-
ças? E você compartilha de tais valores?
54
2. Será que é possível classificar o papel dessa avaliação em exclusivamente “for-
mativo” ou “somativo”? Apresente sua posição sobre esse assunto e aproveite
para procurar entender se essa avaliação é interna, externa ou mista.
3. Para muitos autores, não há avaliação sem expressão de um juízo. Essa avaliação
parece alinhar-se a tais autores, pois expressa um juízo ou uma síntese avaliató-
ria. Que juízo é esse? Você acredita que ele está suficientemente argumentado
no relatório de avaliação que acaba de ler? E como o mesmo está relacionado
ao percurso da pesquisa avaliatória?
55
Avaliação, ciclo do projeto e usos
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo As intervenções sociais podem abarcar diferentes iniciativas (polí-
ticas, planos, programas, projetos e ações), promovidas por diferentes
setores, separadamente ou em conjunto: Estado, Mercado e Terceiro
Setor. As avaliações dessas iniciativas são desenhadas e implementadas
de acordo com a fase em que elas se encontram. É o que chamamos de
“timing da avaliação”. A avaliação de um programa social que ainda está
sendo formulado, por exemplo, é diferente da avaliação de um programa que foi im-
plementado há mais de cinco anos, cujos resultados e impactos são possíveis de serem
mensurados e analisados. Esses são exemplos de timings diferentes.
Outro ponto que merece detalhada atenção diz respeito aos usos da avaliação.
De fato, é comum o sentimento de que as avaliações são inúteis pois não conseguem
produzir mudanças e nem desencadear processos de transformação nas práticas e nas
reflexões sobre programas sociais. Essa mesma preocupação já tinha sido revelada por
Aaron Wildavsky, que chega a expressar com veemência a sua frustração: “eu comecei
pensando que era ruim não avaliar as organizações e terminei me perguntando por
que elas têm que fazê-lo” (apud CAIDEN; CAIDEN, 2001, p. 94).
Timing da avaliação
Avaliações podem acontecer em diferentes momentos de uma intervenção social,
ou seja, em diferentes momentos do seu ciclo de vida. Para cada um deles, as avaliações
sofrem variações em sua natureza, dinâmica, principais características e propósitos. O
estudo do momento em que ocorre a avaliação se relaciona diretamente com o chama-
do ciclo da intervenção. A literatura especializada convencionou chamar esse ciclo de
vida de “ciclo da política” ou “ciclo do projeto”, ainda que o mesmo possa ser aplicado
a qualquer grau de complexidade da intervenção. Assim, uma política, um plano, um
programa, um projeto ou uma ação (cujos graus de complexidade são decrescentes),
podem ser avaliados à luz dessa abordagem analítica chamada ciclo do projeto.
57
O ciclo do projeto propõe uma divisão clássica da intervenção em três distintas
fases: formulação, implementação e resultados/impactos1. Em cada uma dessas fases o
projeto vivencia alguns dilemas e desafios. Nas fases clássicas, a formulação é o proces-
so de desenho e planejamento da estratégia de intervenção social, quando se decide:
a cobertura da ação desejada e da demanda para tal ação; os recursos que serão mobi-
lizados para alcançar aquele objetivo (sejam eles econômicos, materiais, cognitivos, de
pessoal etc.); os tempos da ação; seu enquadramento institucional e demais questões
que antecedem o início da intervenção em si.
A última das fases diz respeito aos resultados da intervenção planejada. O pro-
grama, que pode visto como uma estratégia para transformar positivamente uma de-
terminada situação considerada socialmente problemática (BOULLOSA, 2007), é for-
mulado para que se produzam alguns resultados. Esses resultados são chamados de
resultados esperados e derivam diretamente dos objetivos do programa. Além desses,
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
o programa pode produzir também resultados que não tinham sido planejados, sejam
eles negativos ou positivos. Nesse caso, trata-se de resultados não esperados. A mesma
lógica vale para os efeitos, que podem ser esperados ou não esperados.
1
No âmbito da análise política (policy analisys), o ciclo do projeto é dividido em “formulação”, “implementação”e “avaliação”.
58
ou impactos seriam resultados indiretos, que quase sempre aconteceriam depois dos
resultados considerados diretos.
O autor.
Agenda
Agenda institucional Formulação Implementação Resultados Impactos
política
59
O autor.
1 2 3 4 5
Formação de
agendas Formulação Implementação Resultados Impactos
60
evolução, mas quase sempre está focada no acompanhamento e verificação
dos resultados mais imediatos da intervenção em estudo. A avaliação in itine-
re pode ainda acontecer de modo sistematizado e contínuo estruturando-se
como um processo de monitoramento, como explica Soares da Cunha:
A avaliação intermediária tende a depender fortemente das informações provenientes do
sistema de monitoramento, e possui uma natureza formativa, com a preocupação de melhorar
o funcionamento do programa. Em alguns casos, a avaliação intermediária visa examinar os
impactos do programa, mas somente de maneira limitada. A avaliação ex-post tem natureza
somativa e é frequentemente conduzida com a intenção declarada de analisar os impactos do
programa (SOARES DA CUNHA, 2006, p. 11)
Usos da avaliação
Assim como há discordâncias a respeito do objetivo da avaliação, há também
discordâncias quanto aos possíveis usos das avaliações de programas sociais. Afinal,
até mesmo um juízo de valor pode ter diferentes usos. Scriven (1967), que defende
veementemente a emissão do juízo como objetivo primordial da avaliação (e a meta
como o fornecimento de respostas a perguntas avaliatórias significativas), acredita que
61
os papéis da avaliação são, na prática, definidos pela maneira pela qual as respostas ou
juízos produzidos são ou podem ser usados.
Outro autor que se deteve longamente sobre o uso e papéis das avaliações foi
Jean King (1988). Em seu célebre estudo intitulado “Research on evaluation use and its
implication for evaluating research and practices” (Pesquisa sobre os usos em avaliação,
suas implicações para a pesquisa e práticas avaliatórias), o autor propôs quatro diferen-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
62
Conceituais – quando a avaliação é utilizada sobretudo para reforçar a identi-
dade do programa e a compreensão dos seus objetivos. Esse reforço de iden-
tidade pode acontecer tanto para o público interno, quanto para o público
externo ao programa.
Weiss (1998) teoriza ainda sobre os fatores que podem influir no uso das avalia-
ções: (a) diferença de valores e crenças entre avaliador e avaliados que podem gerar
conflitos entre os mesmos redefinindo os usos da avaliação, ou ainda conflitos entre
diferentes unidades da avaliação ou do programa avaliado; (b) eventuais mudanças
nos atores da avaliação gerando conflito pela mudança de propósitos e compreensão
do problema de avaliação, assim como redefinição do pacto entre avaliador e avalia-
dos; (c) obtusidade das organizações que podem dificultar ou até mesmo impedir as
recomendações propostas pela avaliação; (d) mudanças no cenário externo, tais como
no ambiente político, cortes orçamentários etc. que podem inutilizar a avaliação.
Ainda que descobertas específicas da avaliação não sejam usadas, os formuladores e o pessoal
técnico do programa podem aplicar ideias e generalizações dela derivadas. É o seguinte o exemplo
dado por Weiss (1998): a generalização da descoberta de que agências locais não promovem
mudanças no seu padrão de provisão de serviços quando elas são as únicas a fazer tais mudanças,
pode levar a que se pense na necessidade de se coordenar a atuação de todas as agências.
(b) Uso possível do próprio fato de a avaliação ter sido ou estar sendo feita
63
sentido de se operar mudanças antes que se tenha o resultado do trabalho de avaliação? O
fato de uma avaliação estar sendo ou ter sido feita pode ser utilizado também para demonstrar
a racionalidade e a predisposição ao aprimoramento e à responsabilização por parte dos
encarregados da política ou do programa. Por outro lado, a própria realização da avaliação pode
ser pensada como assegurando uma aura de legitimidade para o programa ou sugerir que algo
não vai bem em sua gestão ou que há problemas no seu desenho.
Conclusão
As considerações feitas neste capítulo são válidas tanto para avaliações de inicia-
tivas de transformação social públicas, quanto privadas. Planos, programas, projetos e
ações podem ser formulados, implementados e realizados por diferentes atores sociais.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
64
é proposta por Fischer (2002, p. 45): “espaço composto por organizações privadas, sem
fins lucrativos, cuja atuação é dirigida a finalidades coletivas ou públicas.
Texto complementar
Várias questões importantes podem ser inferidas a partir deste breve mape-
amento das distintas formas de uso da avaliação, dos seus vários elementos que
podem ser utilizados e dos usuários potenciais dos estudos de avaliação das políticas
públicas. A primeira delas é que a literatura específica parece ainda essencialmente
circunscrita às expectativas acerca do papel da avaliação elencadas pelo “modelo
Avaliação, ciclo do projeto e usos
decisionista”. Isso porque, mesmo tendo sido questionado o tradicional modelo hie-
rárquico e top-down de planejamento e de desenho da avaliação, esta maior pre-
ocupação com a questão do uso da pesquisa avaliativa parece ainda fortemente
restrita à utilização gerencial da avaliação e à necessidade de se gerar feedbacks que
justifiquem a relevância da própria realização de tais estudos. Dito de outra forma, o
que se pode verificar na literatura é uma ênfase quase exclusiva na utilização instru-
65
mental, intraburocrática, da avaliação das políticas públicas ou, quando muito, nas
interações entre decisores, gestores e população beneficiária.
Dessa forma, não deixa de ser irônico, mas de maneira alguma contraditório,
o fato de ser justamente a literatura que adota o enfoque gerencialista de valoriza-
ção da avaliação como instrumento da reforma do Estado, aquela que está aparen-
temente mais disposta a acentuar questões políticas mais abrangentes, como, por
exemplo, o papel da avaliação na geração de accountability por parte dos agentes
estatais, seu potencial de “empoderamento” das comunidades menos privilegiadas
e seu impacto sobre a questão do controle social sobre o Estado. O fato não é contra-
ditório porque, como visto, essa literatura advoga um ideal regulativo que prescreve
ao Estado um papel subsidiário, sendo determinantes os estímulos, os incentivos e
os constrangimentos oriundos ou espelhados no mercado.
66
contracorrente do pensamento dominante na área. Isso, segundo a autora, se com-
preendermos por advocacy não um “partidarismo programático ou um viés con-
taminador”, mas sim “uma adesão a valores como um ideal regulatório específico
(relativo à racionalidade do processo decisório ou ao ativismo comunitário)” (p. 25).
Se levarmos também em consideração o fato de que a avaliação e os avaliadores
atuam, como quer a vertente construtivista, “interpretando o contexto e construin-
do esse contexto e [que], portanto, ambos são produtores do espaço público” (ES-
COLAR; DOMENCH, 2002, p. 110), torna-se ainda mais lastimável a negligência ou a
omissão de nossos analistas de políticas públicas.
Atividades
Ronaldo de Oliveira é o novo gerente do Departamento de Marketing de uma
empresa produtora de carvão, localizada no sul do Acre, que realiza um programa de
apoio à erradicação do trabalho infantil, dentro do que a empresa chama de investi-
mentos de responsabilidade social. Ronaldo deseja convidar novos parceiros, também
privados, para investir neste mesmo programa, pois acredita que este problema só
vem aumentando nos últimos anos. Para isso, acredita que só uma avaliação poderá
lhe ajudar a convencer potenciais empresas parceiras. A partir dos conhecimentos que
você adquiriu neste capítulo, responda às seguintes questões, supondo que você foi
convidado para avaliar pioneiramente essa experiência.
67
2. A partir da resposta apresentada para o quesito anterior, reflita, responda e jus-
tifique que tipo de avaliação você poderá realizar de acordo com o tempo de
decurso do programa.
68
O desenho da pesquisa avaliatória
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo O planejamento de um processo de avaliação é frequentemente
chamado de desenho de avaliação1. A vantagem do termo desenho em
relação ao termo planejamento é que o primeiro releva a “dimensão or-
gânica” de tal atividade: quando falamos em desenho da avaliação pen-
samos mais facilmente no planejamento como um percurso que deve
ser percorrido por um conjunto de atores envolvidos no processo que
será desencadeado. Além disso, o termo revela que desenhar uma avaliação não é uma
atividade mecânica que pode ser realizada aplicando um grupo de regras e normas,
como nos lembram Rossi, Freeman e Lipsey (1999), por estar associada e significada
pelo seu contexto.
69
Níveis de desenho
O desenho de avaliação pode ser compreendido em diferentes níveis de análise,
desde o nível epistemológico2, passando pelo metodológico até o operativo (ou das
técnicas e critérios de avaliação). Não há, naturalmente, fronteiras precisas entre tais
níveis, pois os mesmos são substancialmente interligados e contínuos.
Nível epistemológico-metodológico
No nível epistemológico-metodológico estão presentes a reflexão sobre o grau
de conhecimento do objeto a ser avaliado (evaluando), as precondições necessárias
para o desenvolvimento (e aceitação) da atividade de avaliação, assim como os possí-
veis usos da pesquisa. Ainda nesse nível, são definidos os conjuntos de atores que se
relacionaram ao processo de avaliação, incluindo o esboço dos seus possíveis papéis.
O desenho da pesquisa avaliatória, coração da avaliação, também é esboçado nesse
estágio, pois a mesma já é em grande parte definida em função da construção do pro-
blema ou da questão central que a avaliação pretende fornecer um juízo. E justamente
por isso é que esse nível pode ser chamado de epistemológico, pois diz respeito ao
conhecimento que queremos ter do objeto que será avaliado, além de estar intrinseca-
mente relacionado ao pré-conhecimento que já temos sobre o programa, implicando
os valores e crenças dos envolvidos com o desejo ou necessidade de se avaliar uma
determinada política, plano, programa, projeto ou ação social.
Nível metodológico-operativo
No nível metodológico-operativo encontramos os esforços de tradução de um
percurso de avaliação em algo concreto, que pode ser compreendido como a metodo-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
Nível operativo
Por último, no nível das definições operativas, as técnicas de pesquisa são refi-
nadas, assim como os seus tempos, condições, métodos de coleta e análise de dados,
2
Epistemologia, segundo o dicionário Houaiss, abrange a reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas
relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo.
70
precisão das responsabilidades dos envolvidos diretamente no processo de avaliação.
No processo de escolha das técnicas são levadas em consideração as precondições do
desenho, assim como o grau de validez e confiança desejados a partir dos vínculos
estruturais da avaliação. Quanto maior a validez e confiabilidade, mais transparente e
detalhista deve ser o desenho de avaliação.
Quando o nível operativo, o das técnicas, passa a ser visto como o terceiro na
cadeia decisional, pode parecer que lhe estamos subtraindo importância no desenho
da avaliação, relegando-o a uma simples “consequência” dos demais níveis do dese-
nho. Todavia, tal visão é bastante simplista, pois as técnicas ocupam uma parte consis-
tente do processo de avaliação mesmo quando não são o seu ponto de partida. Aliás,
é bastante importante compreender que as técnicas não são neutras; pelo contrário,
elas são instrumentos dotados de preconcepções sobre o que se está avaliando.
A lógica avaliatória
Observe como os desenhos de avaliação que se restringem ao nível das defini-
ções operativas, ou seja, ao nível da eleição das técnicas, provavelmente não atingirá
o seu objetivo. Ninguém conseguiria avaliar qualquer coisa a partir de um ponto de
vista inexistente. Por isso, um desenho de avaliação (que vai além do desenho da pes-
quisa de avaliação) deve se esforçar para abranger os três níveis acima explicados. Um
dos modos mais eficazes para garantir coerência no desenho dos três níveis é investir
esforços na discussão de uma lógica avaliatória que funcione como fio condutor e de
amarração entre todos os níveis.
Cada desenho de avaliação contém uma lógica (dedução, indução, hipótese, infe-
rência etc.) ou teoria. Essa lógica ou teoria pode ser explícita ou implícita, com diferen-
tes graus de coerência, profundidade e complexidade. Quando ela é implícita, ou seja,
quando ela não é revelada, os resultados da avaliação dificilmente são socializados por
outros atores que não pertenceram ao processo avaliatório. Portanto, o ideal é que
tal lógica seja problematizada ainda quando se está esboçando as primeiras possibi-
lidades de realizar uma avaliação qualquer de um objeto qualquer e, naturalmente,
O desenho da pesquisa avaliatória
explicitada. Caso contrário, corre-se dois tipos de riscos: (a) os seus resultados podem
parecer fechados em si mesmos e pouco compreensíveis ou úteis à sociedade; (b) o
próprio avaliador e/ou sua equipe podem se perder no processo gerando resultados
avaliatórios de pouca densidade avaliatória.
71
O importante também é compreender que a lógica da avaliação, materializada
no desenho da avaliação, é fruto da mediação de diversos valores: os da organização
que demandou a avaliação; os do avaliador e da sua equipe de avaliação; os do objeto
avaliado, assim como com os valores dos atores envolvidos direta ou indiretamente na
avaliação (por exemplo, os beneficiários do objeto em avaliação).
O autor.
Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3
Definição do objeto de ava- Levantamento dos dados Escolha da metodologia;
liação (programa “x”); disponíveis;
Definição das técnicas;
Definição dos objetivos da Definição do objetivo da
avaliação como “avaliação de avaliação (avaliação de pro- Preenchimento dos dados;
resultados”; cesso);
Correlação dos dados;
Especificações técnicas; Especificação das relações
entre as variáveis; Apresentação das
Apresentação dos resultados conclusões.
da avaliação. Especificações técnicas;
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
72
de em colaborar e a própria validez dos dados. No terceiro, a escolha da metodologia
pressupõe que a avaliação não será construída de acordo com o seu contexto e os seus
possíveis usos e papéis, mas, sim, a partir de uma metodologia genérica já presente no
mercado das avaliações.
A construção do desenho
de avaliação (conjunto orgânico)
A construção do desenho de avaliação, como vimos, é um processo complexo
que envolve a problematização dos usos e objetivos da avaliação, dos valores envol-
vidos, da definição da abordagem de avaliação, entre outras coisas, que resultam na
construção de algo que chamamos de lógica da avaliação. Cada lógica é própria de
cada percurso de avaliação e por isso não podemos traçar uma receita única para a
construção de um percurso de avaliação. Todavia, para efeitos de análise e de ensino,
é possível discernir em grandes fases esses processos de construção de percursos de
avaliação. Essa classificação ajuda quem ainda está começando no campo profissional
da avaliação a não se descuidar de pontos importantes nos seus primeiros esforços de
construção de desenhos de avaliação.
73
elaborar um bom contrato de avaliação, com responsabilidades e limites precisados
para ambas as partes3.
II. A ONG “X” solicita uma avaliação de impacto econômico sobre as comu-
nidades carentes possivelmente afetadas pela transposição do Rio São
Francisco, com foco na sustentabilidade cultural de tais públicos;
74
autores sustentam que é possível avaliar sem emitir um juízo sobre o objeto
avaliado. Ou seja, que a avaliação deve limitar-se a fornecer informações neu-
tras sobre o objeto de avaliação.
Por isso, vale sempre a pena tentar responder de modo claro a esta pergunta: a
avaliação deve resultar em um estudo neutral ou em juízos de valor argumen-
tado, seguido ou não de recomendações? Uma vez determinado que a ava-
liação compreende a expressão de um juízo de valor argumentado, é preciso
definir outros importantes aspectos da avaliação, como os limites do objeto
de avaliação e, sobretudo, da avaliação em si. Esse último limite é também
conhecido como “grau de cobertura da avaliação”.
Uma política, programa ou projeto social pode ser visto como uma estratégia
de transformação de uma realidade considerada socialmente problemática
em outra realidade considerada desejável ou aceita. Cada uma dessas estra-
O desenho da pesquisa avaliatória
75
em que fase o programa se encontra dentro do ciclo clássico de projeto (For-
mulação => Implementação => Avaliação), mas em que ponto de cada uma
dessas fases ele se encontra.
II. Foi somente formulado? Isso quer dizer que ainda não conta com uma re-
alidade organizacional própria? O problema de avaliação poderia ser “vale
a pena investir os recursos planejados nesse projeto?” ou então “será que
a formulação está correta, apresentará os resultados desejados?”
III. Está no começo da implementação? Isso quer dizer que a realidade orga-
nizacional ainda é pouco madura? O problema de avaliação poderia ser “o
programa está no caminho certo?”
IV. Está implementado há muito tempo? Isso quer dizer que as rotinas estão
consolidadas? O problema de avaliação poderia ser: “vale a pena continu-
ar do jeito que está ou precisa de mudança?”
76
avaliação também pressupõe a definição do grau de participação dos atores en-
volvidos (diretamente ou não) definidos pela lógica avaliatória (quem avalia?).
Organização da pesquisa
A organização da pesquisa é uma das etapas mais importantes do desenho de
avaliação. É nela que identificamos os principais recursos que teremos à disposição,
que definimos os sistemas de retroalimentação da avaliação, além de criarmos as bases
para uma exploração concreta da realidade que se pretende avaliar. Como observa
Chito Guala (1986):
O fato organizacional, longe de ser enquadrado como problema técnico, assume uma relevância
metodológica geral: assim como as várias fases da pesquisa estão inter-relacionadas, do mesmo
modo a organização da pesquisa incide diretamente sobre a gestão compreensiva do trabalho e
do futuro “produto”, e portanto sobre os objetivos, objeto, avaliação das técnicas oportunas, fases,
acompanhamento etc. (GUALA, 1986, p. 42)
A esta altura é possível refinar a lógica avaliatória, deixando mais claro ainda
para os envolvidos por onde se pretende chegar com a avaliação, quem será
envolvido em tal processo. Enfim, quais os limites efetivos da avaliação e dos
seus propósitos. A lógica avaliatória deverá ser continuamente refinada du-
rante todo o processo de construção do desenho da avaliação.
I. Fundos econômicos;
O desenho da pesquisa avaliatória
77
VII. Relação com formuladores e implementadores do objeto avaliado;
Gestão da avaliação
III. Gestão do orçamento, que nem sempre deve ficar a cargo do avaliador
principal;
IV. Gestão das relações com o grupo gestor da organização que demandou
a avaliação. Em algumas situações será importante centralizar toda a re-
lação em um único participante do grupo de avaliação, em outras, pelo
contrário, será melhor distribuir entre todo o grupo;
78
Nessa perspectiva, podemos dizer que de um lado extremo estão os dese-
nhos de avaliação que podem ser tranquilamente chamados de obtusos,
pois são fechados e não aprendem com a própria experiência; no outro ex-
tremo, temos os desenhos inteligentes, que incorporam momentos de refle-
xão estimulando um sistema subjacente de aprendizagem organizacional
da própria avaliação.
Esse sistema de valores é chamado por alguns autores de marco zero da ava-
liação, pois diz respeito à construção de um conjunto de parâmetros que ser-
virão posteriormente como valores de base da avaliação.
79
Definição dos papéis dos atores envolvidos no processo de avaliação
Segundo Weiss (1998), é possível distinguir quatro usos para a avaliação. Ob-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
80
Quadro 2 – Quadro síntese de diferentes usos da avaliação propostos por
Weiss (1998)
O autor.
Instrumental Persuasão Conceitual Esclarecimento
Depende da quali- Quando utilizada Voltado aos imple- Esclarece pontos
dade e divulgação para: mentadores dos pro- controversos do ob-
pretendida. Pode 1) Justificar decisões; gramas sem muito jeto de avaliação;
subsidiar decisões, poder decisional; Estimula debates
desde quando o con- 2) Conquistar novos
adeptos ou mobili- Podem alterar a públicos;
texto da avaliação percepção do objeto
indique: zar apoio político; Gera impacto sobre
em avaliação; comunidades de
1) Descobertas e mu- 3) Dar legitimidade a
processo políticos; Pode gerar aprendi- prática;
danças no objeto zagem institucional;
de avaliação como 4) Demonstrar a Gera impacto sobre
admissíveis (mes- superioridade dos Não se espera que a agenda política de
mo repertório); pontos de vista sejam desencade- governos.
adotados; adas mudanças a
2) Inércia ou acomo- partir dela (SCRIVEN,
dação do objeto 5) Demonstrar 1969).
de avaliação que despolitização da
influencia sobre administração.
a diminuição dos
resultados;
3) Crise no objeto de
avaliação.
81
da avaliação o discutam o quanto antes. É preciso estabelecer quais os
limites da avaliação e qual o grau de liberdade da equipe de avaliação. Esse
grau de liberdade diz respeito inclusive à aceitação ou não de dados forneci-
dos pela organização e o avaliador pode resguardar para si o direito de aceitá-
los e usá-los totalmente, parcialmente, não usá-los ou, até mesmo, refazê-los.
Conclusão
Como vimos, a organização da avaliação (incluindo os problemas de gestão) e o
desenho da pesquisa de avaliação são duas importantes atividades que não podem
ser vistas separadamente. Os aspectos aqui traçados não são os únicos possíveis, pois
são gerais, e por isso não se relacionam com as especificidades de cada caso. Cada
avaliação pressupõe um pacto entre o avaliador, sua equipe e os demais envolvidos
com o objeto da avaliação, além, naturalmente, de quem demandou a avaliação, do
seu financiador. Reveja alguns desses aspectos sintetizados por Boullosa (2007) para a
elaboração de uma proposta de avaliação de um programa ou projeto social:
Quadro 3: Conteúdo mínimo para a elaboração de uma proposta de avaliação de
programa ou projeto social
(BOULLOSA, 2007)
Identificação e Construção Definição dos
compreensão Formulação do desenho usos da avalia-
Organização
dos objetivos do problema da pesquisa ção e da difu-
da pesquisa
iniciais da de avaliação de avaliação e são dos seus
avaliação metodologia resultados
Compreensão do Compreensão Refinamento da Construção do de- Definição dos
contexto decisio- inicial do programa, lógica avaliatória; senho da pesquisa possíveis usos da
nal da avaliação; da fase em que ele Verificação dos de avaliação; avaliação, tanto in-
Compreensão dos se encontra, do recursos com o Construção da ternamente como
objetivos (deve contexto político que se pode con- metodologia da externamente, em
emitir juízo ou da sua formulação, tar na avaliação avaliação; função do contex-
não, avalia-se para da percepção do (econômicos, de to, dos interesses
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
82
Como você deve ter percebido, quando afirmamos que tanto a avaliação quanto
a pesquisa avaliatória possuem um desenho queremos sobretudo recordar o caráter
de projeto de ambos os processos. Como qualquer projeto, temos dois momentos im-
portantes: um antes e um depois. E um depende do outro. Por isso, como desenho que
nos remete a projeto, o planejamento da avaliação deve recordar da sua dimensão de
sistema (dimensão sistêmica), no qual há relações, inter-relações e retroações, que se
apresentam em numerosos imprevistos que acontecem em todo processo de investi-
gação social.
Assim, o desenho da avaliação não pode ser visto como um conjunto fechado
de técnicas que se compra pronto sob a etiqueta de “metodologia de avaliação”. Não
podemos reduzir um processo de avaliação à aplicação sem reflexão de um conjunto
qualquer de técnicas. O mercado da avaliação está recheado de receitas fáceis para
serem aplicadas por profissionais pouco competentes. Mas, não obstante tal fartura,
é preciso não esquecer que metodologias prontas dificilmente dão resultados, sobre-
tudo aquelas que se apresentam como imparciais e muito profissionais. Como visto
até aqui, não há avaliação imparcial, assim como não há instrumentos de pesquisa de
avaliação destituídos de ideologia. Até mesmo quando escolhemos um indicador para
avaliar ou monitorar o desempenho de um determinado programa, estamos fazendo
uma escolha e, portanto, elegendo um entre tantos dados que poderiam nos dizer
algo sobre o objeto que está sendo avaliado ou monitorado.
Texto complementar
[...]
83
de avaliações de natureza formativa, ou de qualquer outra classificação que venha
a ocorrer ao longo da intervenção social, incluindo o monitoramento das ações; ou
de avaliações de natureza somativa, ou de qualquer outro desenho que implique a
investigação de resultados ou de impacto das intervenções sociais, seguir os sete
passos metodológicos que propomos será de grande utilidade para os avaliadores.
84
estabelecidos. Como costumamos dizer, se a pergunta avaliativa é a alma da avalia-
ção, os indicadores são sua encarnação, ou seja, são as dimensões concretas que irão
orientar o desenho metodológico.
têm o mesmo significado para todos da equipe. Vejamos, por exemplo, que muitos
projetos trabalham com o desenvolvimento da autoestima em jovens. Por isso é
muito comum que esse seja um indicador presente em suas avaliações. No entanto,
quando perguntamos à equipe o que significa autoestima, diversos conceitos costu-
mam vir à mesa. Observa-se que o grupo trabalhou durante muito tempo com uma
mesma ideia na cabeça, mas com diferentes compreensões do seu significado. Acre-
ditamos que alinhar esses conceitos contribui para o desenvolvimento do projeto e
assegura o curso da avaliação. [...]
85
Passo 3: Definição das fontes de informação
A partir dos indicadores, é preciso definir as fontes de informação adequadas para
que cada indicador possa ser explorado, conhecido, investigado. A fonte de informação
é o ator social, evento ou objeto através dos quais é possível verificar o indicador, seja ob-
servando um comportamento ou medindo determinada característica. Cada indicador
terá, pelo menos, uma fonte de informação: os participantes do projeto, os familiares, os
gestores do programa, os financiadores, os educadores, documentos de registro etc. [...]
86
Passo 5: Análise de informações
A análise de informações deve respeitar a natureza da informação. Caminhos
qualitativos e quantitativos serão úteis e devem atuar de forma complementar para
que a melhor leitura possível da realidade seja obtida. Para dados quantitativos,
as análises estatísticas são as mais comuns e necessárias. Já os dados qualitativos
exigem abordagens distintas, como a análise temática de discursos, que é a técnica
mais utilizada em nossa prática.
Ao contrário do que se possa imaginar, a análise das informações não é uma prer-
rogativa apenas dos avaliadores. Temos vivido experiências em que torna-se muito
importante que esta etapa seja conduzida com base em orientações dos principais
interessados na avaliação. Informações preliminares, uma vez analisadas, podem ser
discutidas com os interessados em busca de aprofundar achados, levantar novas hi-
póteses, testar critérios de julgamento etc. Dessa maneira, os resultados finais serão
construídos atendendo à demanda que surge de cada descoberta do próprio grupo.
Passo 6: Comunicação
A comunicação é a etapa que encerra os sete passos metodológicos da ava-
liação e que, muitas vezes, encerrará o processo como um todo. O formato mono-
gráfico é um padrão de relatório ainda desejado pelos financiadores brasileiros e
importante para os processos. O formato monográfico permite também um registro
detalhado de todas as etapas da avaliação, e servirá como fonte de informação para
diferentes momentos de um projeto.
87
Atividades
Exemplo 2
Exemplo 3
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
88
3. Que tal conhecer agora uma proposta efetiva de avaliação? A partir da pro-
posta elaborada por um grupo de alunos da Escola Nacional de Administra-
ção Pública (ENAP) para uma avaliação de impacto do Programa Bolsa Família,
implementado pelo Governo Federal (Disponível em: http://www.enap.gov.br/
downloads/ec43ea4fAvaliacaoImpacto.pdf ), observe como a proposta foi cons-
truída, reflita sobre o conteúdo deste capítulo e procure responder às questões
apresentadas abaixo.
89
Abordagens e metodologias de
avaliação de programas e projetos sociais
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo O campo de práticas e de conhecimentos da avaliação é rechea-
do de propostas metodológicas para diferentes objetos de avaliação,
sejam eles políticas, planos, programas, projetos ou ações sociais. Dife-
rentes metodologias são produzidas ou adaptadas anualmente, a partir
de grandes ramos metodológicos. Dada a riqueza de possibilidades,
somada a grande criatividade na área, consideramos que, no momento
de sua formação, é mais importante para o aluno compreender diferentes abordagens
e metodologias do que se deter profundamente em somente uma ou duas, até mesmo
porque a experiência e profundidade do conhecimento dependem muito da prática
de avaliação.
91
programa ou projeto social a ser avaliado decide previamente qual abordagem ele
deseja (quando não vai mais além e já define a própria metodologia de avaliação) e
convida um avaliador que já possui experiência naquele tipo de avaliação. Ou seja, se
a demanda é um tipo “X” de avaliação, chama-se o avaliador “Y” que sabe fazê-lo. Em
consequência, avaliadores que lidam com diferentes metodologias podem se sentir
pouco valorizados pelo mercado, infelizmente. Esse jogo possui um efeito bola de
neve, deixando muitos avaliadores prisioneiros de algumas pouquíssimas metodolo-
gias, quando não de uma única.
Para esses gestores, a pergunta central a ser feita a um candidato a avaliador reside
em saber se o mesmo tem capacidade de usar as metodologias e técnicas requeridas
para aquele tipo de avaliação desejada; quando provavelmente seria muito mais inte-
ressante para todos que ele discutisse com o avaliador que metodologias e técnicas
seriam mais indicadas para o tipo de problema que ele(s), gestor(es), pensa(m) ter.
É importante que o gestor se dê conta de que o que ele pensa é somente uma ver-
dade parcial sobre o programa e, para isso, o avaliador poderá mostrar que o processo
de avaliação começa justamente com a compreensão das diferentes verdades parciais
que rondam e caracterizam o futuro objeto de avaliação.
Compreendendo as diferenças
de abordagens em avaliação
Há muitos modos de avaliar e monitorar intervenções sociais, sejam políticas,
planos, programas, projetos ou ações sociais. Esses tantos e tantos modos podem ser
compreendidos como metodologias de avaliação, que por sua vez, são percursos pré-
-desenhados que indicam como resolver o problema avaliatório. Essa grande variedade de
metodologias pode ser, por sua vez, classificada segundo diferentes abordagens. Alguns
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
autores preferem classificar as metodologias em somente dois grandes grupos, que fre-
quentemente são chamados de escolas, apoiando-se sobretudo nas diferenças filosóficas
das diferentes metodologias: de um lado estariam as abordagens chamadas de realistas
ou positivistas; de outro, as abordagens de cunho mais naturalista ou construtivista.
92
Vejamos outras diferenças entre as abordagens positivistas e construtivistas no
quadro abaixo. Lembre-se que tal classificação é analítica e que podemos encontrar
metodologias que buscam diferentes equilíbrios entre tais abordagens.
Quadro 1 – Quadro-síntese sobre as principais diferenças entre as
abordagens positivistas e construtivistas na avaliação de programas e
projetos sociais
(BOULLOSA, 2007)
Abordagem
Questões Abordagem positivista construtivista
Qual o papel principal da avalia- Explicar o objeto de avaliação. Compreender o objeto de ava-
ção? liação.
Qual o lógica da avaliação? Descobrir as leis (verdades) que Compreender o objeto de ava-
governam o objeto de avaliação liação, as suas partes e valores,
(realidade). sempre de modo aproximado.
Como é visto o objeto de avalia- De modo objetivo; ele existe con- De modo subjetivo; o seu signi-
ção? cretamente independentemente ficado está vinculado ao obser-
do observador. vador.
Qual a melhor posição para o Externo Interno
avaliador?
Qual o peso dos valores no dese- Nenhum peso. Acredita-se que a Grande peso. Os valores devem
nho da avaliação? avaliação não deve envolver va- ser problematizados, tanto os do
lores. Busca-se isenção total. objeto de avaliação e dos seus
eventuais beneficiários, quanto
do avaliador.
93
Quadro 2 – Quadro-síntese sobre as principais diferenças entre as abor-
dagens gerencialistas e não gerencialistas na avaliação de programas e
projetos sociais
(BOULLOSA, 2007)
Concepção
Dimensão Concepção gerencialista não gerencialista
Público da avaliação Voltada predominantemente Voltada predominantemente
para os atores que possuem para os atores que sofrem os
poder decisional sobre o objeto efeitos do objeto de avaliação
de avaliação. (os beneficiários diretos ou
indiretos).
Pontos de maior atenção da Custos, relação custo-benefício, Processos políticos, relação
avaliação efetividade e mecanismos ope- entre atores, diferentes compre-
racionais do objeto de avaliação. ensões do objeto por diferentes
atores.
Área da avaliação Mercado e Terceiro Setor. Estado e, em particular, as áreas
de conhecimento acadêmico.
Principal objetivo Buscar eficiência e efetividade. Socializar o conhecimento,
promover o diálogo.
94
Avaliações centradas nos especialistas
95
Avaliações experimentais
As avaliações experimentais de programas e projetos sociais buscam responder
se um programa atingiu os seus objetivos dentro da realidade populacional pretendi-
da (ou em que medida contribuiu para mudá-la). Partem da comparação dos estágios
anteriores e posteriores à ação do programa na realidade populacional beneficiária
e relacionam os dados obtidos com uma realidade populacional com as mesmas ca-
racterísticas mas que não sofreu as ações do programa. Em outras palavras, buscam
determinar se os objetivos foram alcançados, ou seja, se a situação problemática foi
resolvida, e se tal melhoria é realmente um efeito do programa.
O autor.
População A (grupo de beneficiários) População B (grupo de controle)
(objeto de investimentos do programa X (não foi objeto de investimentos do programa
que está sendo avaliado) X que está sendo avaliado)
96
Para a verificação dos efeitos de uma vacina sobre duas populações infantis, por
exemplo, a avaliação experimental pode funcionar muito bem, pois é possível formar
grupos de controle muito parecidos com o grupo experimental. Se o grupo experimen-
tal, ou seja, o que recebeu as vacinas, tiver sido formado por 26 meninos e 27 meninas
entre 3, 5 e 4, 5 anos, que não tenham tido as doenças x, y e z e que tenham nascido de
parto cesáreo ao oitavo mês, é possível formar um grupo de controle com as mesmas
características. Mas quando a avaliação recai sobre um programa ou projeto social,
por exemplo, a mensuração do impacto do programa Favela Bairro na favela da Maré,
Rio de Janeiro, o problema da formação do grupo de controle passa a ser muito mais
complexo e difícil (ou mesmo impossível). Não obstante as dificuldades, alguns avalia-
dores continuam efetuando avaliações experimentais de programas e projetos sociais,
enquanto que outros preferem adotar uma variação desse filão chamado de avaliação
quase-experimental.
Avaliações quase-experimentais
As avaliações quase-experimentais nascem da compreensão das limitações da
avaliações experimentais que reconhecem a impossibilidade de se controlar totalmen-
te o contexto e as variáveis independentes que causaram as mudanças na população
alvo do programa ou projeto avaliado. Desse modo, conseguem aumentar a cobertura
desse filão metodológico para diferentes objetos de avaliação, já que as avaliações ex-
perimentais estavam extremamente vinculadas às possibilidade de formação do grupo
97
liação devam ser revistas criticamente e não assumidas como um dado inquestionável.
Em outras palavras, alguns teóricos colocam em dúvida a qualidade dos objetivos dos
objetos de avaliação, enquanto que outros os tomam como verdade absolutas. Se na
teoria vemos uma maior propensão à revisão crítica dos objetivos e metas; na prática,
observamos um grande número de avaliações que são feitas a partir dos objetivos
definidos pelo programa, mesmo que mal formulados.
A principal referência teórica desse filão metodológico é Ralph Tyler (1950) que,
estudando os programas educacionais, interpretava a avaliação como a mensuração
dos resultados dos programas a partir de objetivos e metas predefinidos. Quando os
objetivos tomados para a avaliação dos resultados do programa são os mesmos do
programa, a avaliação se torna muito mais simples, mas também com utilidade bastan-
te reduzida. Quando os objetivos são revistos criticamente, a avaliação ganha amplitu-
de e pode realmente ajudar a mostrar se o programa ou projeto está na direção certa
no sentido de corrigir aquela situação problemática que o originou. Nessa perspectiva,
Sanders e Cunningham (1973;1974 apud WORTHEN et al., 2004) reuniram diferentes
possibilidade de avaliação dos objetivos e metas, distinguindo-as entre método lógico
e método empírico. Observe o quadro abaixo:
Quadro 3 – Quadro-síntese do diferentes modos de se avaliar objetivos e
metas em programas sociais
98
Nos anos 1980 esse tipo de avaliação propôs a passagem de uma orientação me-
todológica voltada a um fim para uma orientação metodológica voltada à teoria do
próprio objeto de avaliação. Em outras palavras, o avaliador deveria propositalmente
não tomar conhecimento dos objetivos e metas do programa a fim de compreender as
direções e resultados a partir da imersão na teoria e nas práticas do programa. Nessa
perspectiva, o primeiro passo seria explicar as componentes do programa e as suas
inter-relações, assim como as características do seu contexto de atuação e suas prová-
veis influências para as modificações que eventualmente tenham acontecido em tal
contexto. Como recorda Cano (2002), uma intervenção pode atingir as metas propos-
tas e ao mesmo tempo não contribuir para as necessidades da população-alvo.
Para a avaliação livre de metas, é muito mais provável que o avaliador consiga
realmente compreender os resultados positivos ou negativos para a situação que deu
origem ao problema sem ficar sob a influência dos objetivos do programa ou projeto.
Isso porque a definição dos objetivos pelo programa é já vista como uma hipótese
que pode estar errada. Por exemplo, um programa de erradicação do trabalho infantil
tem como um dos objetivos específicos implementar uma bolsa para compensar o
pagamento arrecadado pelas famílias pelo perda da mão de obra infantil e como meta
retirar meio milhão de crianças do trabalho infantil forçado. Acredita-se que somente
dessa forma, as famílias liberarão as suas crianças para frequentem a escola. Esse obje-
tivo específico nasce de uma hipótese: o que impede as famílias de alta vulnerabilida-
de socioeconômica de enviarem os seus filhos à escola é a necessidade da renda que
eles produzem. A avaliação livre de metas prefere não conhecer os objetivos e metas a
99
poder de decisão sobre o objeto avaliado. A lógica que as permeia é a de que decisores
que possuem um alto nível de informação sobre os seus objetos de ação podem fazer
melhores escolhas, podem tomar melhores decisões, menos intuitivas e mais racionais.
100
Avaliações de produto – são orientadas para as decisões relativas à fase de
resultados ou impactos do programa ou projeto social avaliado. Pode buscar
responder a perguntas sobre a continuidade, replicabilidade ou mesmo ex-
tinção do programa. O seu objetivo é relacionar os resultados obtidos com os
objetivos predefinidos na formulação, a partir de métodos quantitativos (por
exemplo, determinação da relação custo-benefício do programa) ou qualita-
tivos (por exemplo, síntese dos julgamentos subjetivos dos atores envolvidos
no programa).
Avaliações participativas
Esse filão metodológico tem se desenvolvido intensamente, a partir do final dos
anos 1960, quando alguns avaliadores começaram a questionar de modo sistemati-
zado as avaliações de tipo top-down, ou seja, realizadas de cima para baixo, sem levar
em consideração os atores que participavam do objeto de avaliação, seja na posição
de implementadores, seja na posição de beneficiários. A base conceitual dessas ava-
liações está radicada sobre uma visão pluralista da sociedade democrática e das suas
verdades. Em tal perspectiva, enfatiza a experiência direta com os participantes a partir
da construção de retratos que vão definindo novas fronteiras para a avaliação.
A maioria dessas avaliações se apoiam em uma lógica indutiva, visto que as com-
preensões dos diferentes atores (participantes) sobre as problemáticas que emergem
101
teóricos da avaliações participativas reside na forma e na natureza da validação dos
seus resultados pelos participantes, a fim de evitar desvios políticos que buscam so-
mente a legitimação popular de decisões que já foram previamente tomadas.
Conclusão
São muitas as metodologias para a avaliação de programas e projetos sociais e
aqui foram apresentadas somente algumas que acabaram se transformando em filões
metodológicos importantes que deram e continuam dando origem a outras metodo-
logias. Das avaliações participativas nasceram, por exemplo, as propostas metodoló-
gicas de avaliação responsiva (STAKE, 1978) e de avaliação iluminadora (PARLETT; HA-
MILTON, 1975). Mais importante do que conhecer um grande leque de metodologias
de avaliação, é saber reconhecer os seus fundamentos teóricos e suas referências às
metodologias de base.
que caracteriza o mundo das práticas de avaliação dos programas e projetos sociais.
Texto complementar
102
Construção de um modelo participativo para avaliação
do Programa de Saúde do Adolescente
Esse modelo objetiva a avaliação do Prosad nas unidades de saúde da rede
básica. Trata-se de uma proposta que contempla a complexidade das práticas pro-
gramáticas e busca fortalecer a participação da equipe local, visando a estimular uma
atitude favorável à participação do adolescente e desenvolvimento da cidadania.
103
coleta e análise de dados. “O que queremos avaliar” e “como avaliar” precisam estar
bem definidos antes de se iniciar o trabalho de campo, para que o trabalho não se
disperse e se torne improdutivo. O excesso de dados desnecessários ou de difícil uti-
lização prolonga o processo e o desvia de seu eixo, comprometendo os resultados.
O esforço de objetividade deve contemplar a complexidade do programa de saúde,
evitando qualquer reducionismo, assim como, respeitar o ritmo e a capacidade dos
participantes.
104
culturais e outras); e eixo E – participação do adolescente: compreende critérios re-
lacionados à abertura do serviço de saúde para ouvir e atender às demandas e ne-
cessidades do adolescente no que diz respeito aos temas abordados, dinâmicas de
trabalho, apoio em trabalhos externos de iniciativa de grupos de adolescentes e o
envolvimento deles como multiplicadores nas atividades desenvolvidas na própria
unidade e na comunidade.
105
Organização da assistência (estra- O que é exigido para que o adolescente seja atendido
tégias) (documentos, presença de responsável etc.)?
O que é feito para facilitar a relação com o adolescen-
te?
Há oferta de atendimento de grupo e individual, con-
templando as necessidades?
Como a equipe tem lidado com questões tais como:
confidencialidade, flexibilidade de horário prescrição
de contraceptivos sem a presença de responsáveis,
maus tratos, drogadição, homossexualidade e outros?
Como se trabalha a família?
Parcerias Com que escolas e/ou outras organizações estabelece
parcerias?
As parcerias estão contribuindo para aumentar a co-
bertura dos grupos de maior risco?
As parcerias contribuem para facilitar o acesso do ado-
lescente ao serviço?
Há possibilidades de encaminhamento dos adolescen-
tes a outros serviços (esporte, profissionalização etc.)?
Participação do adolescente Os adolescentes opinam na organização das ativida-
des, escolha de temas etc.?
Os adolescentes são incentivados a avaliar o serviço?
Os adolescentes são incentivados a divulgar o progra-
ma?
Há apoio da unidade a grupos organizados de adoles-
centes da comunidade?
106
Passo 3: pontuação do desempenho pela equipe
Com as notas de cada eixo produz-se um gráfico radial, em que a figura to-
talmente cheia significaria que o programa estaria funcionando em sua plenitude
naquela unidade, atendendo de maneira absoluta todos os critérios definidos para
a avaliação. A representação visual obtida facilita a apreensão mais homogênea e
rápida dos resultados da oficina e possibilita a identificação imediata dos pontos
fracos e fortes do programa na unidade, assim como permite estabelecer conjec-
turas quanto à maneira, ou em que medida, os pontos fortes podem ser utilizados
estrategicamente na superação das fraquezas.
107
perimental) são efetivamente devidos ao objeto avaliado (programa, projeto
social etc.). O que você acha desse filão metodológico? Registre sua opinião,
levando em consideração as limitações de tal filão apresentadas pelo texto,
assim como a resposta encontrada pelos adeptos do filão das metodologias
quase-experimentais.
a) Avaliações participativas
b) Avaliações CIPP
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
108
109
Abordagens e metodologias de avaliação de programas e projetos sociais
Critérios de avaliação para projetos sociais
Edgilson Tavares de Araújo
Introdução
Embora seja uma atividade recente, principalmente no âmbito das
Vídeo organizações da sociedade civil e Terceiro Setor1, a avaliação vem a cada
dia ganhando espaço como procedimento cotidiano nos projetos sociais.
Isso se dá graças às demandas da sociedade, cidadãos, financiadores e
parceiros dos projetos sociais que exigem cada vez mais transparência
e participação, fazendo com que a avaliação em si seja “um exercício de
controle social” (CARVALHO, 2000, p. 62).
1
Distingue-se aqui os conceitos de sociedade civil e Terceiro Setor, embora muitos autores contemporâneos os utilizem de modo sinônimo. Tal distinção é
devida à fragilidade do conceito de Terceiro Setor na América Latina para designar a sociedade civil, tendo como prerrogativa a existência de um Primeiro Setor
(Estado) e de um Segundo Setor (Mercado). A sociedade civil é aqui citada dentro das ideias do conceito clássico do italiano Antônio Gramsci compreendendo,
assim, as ações coletivas e aparatos ditos privados, contendo formas organizacionais como a família, os movimentos sociais, as associações, os grêmios, entre
outras. O Terceiro Setor é um conceito mais recente, com franca expansão nos anos 1990, sendo advindo da lógica do Third sector americano para designar o
conjunto de todas as organizações privadas, sem fins lucrativos, que atuam no campo social e possuem a presença do trabalho voluntário. Englobam, assim,
desde as formas menos institucionalizadas (movimentos sociais, ações voluntárias pontuais etc.) àquelas mais institucionalizadas e profissionalizadas do ponto
de vista gerencial (ONGs, associações civis, fundações etc.)
111
ações sociais. Assim, se lida com dilemas entre o racional instrumental e o substanti-
vo, entre a objetividade e a subjetividade, entre o quantitativo e o qualitativo, entre o
econômico e o social.
Para além desses fatores, Carvalho (2000) alerta que avaliar projetos é um dever ético
que as organizações da sociedade civil deveriam ter para com a sociedade em geral. É
necessário, portanto, estabelecer relações de transparência com os diferentes interes-
sados, no que tange aos resultados, propósitos e processos das organizações da socie-
dade civil. Normalmente, espera-se que as ações sociais desenvolvidas por tais organi-
zações busquem eficiência, eficácia, efetividade e equidade. Esses são conceitos-chave
na atualidade, utilizados como critérios avaliativos e que pretendemos mais adiante
elucidá-los neste texto.
2
Cabe aqui relembrar a clássica definição de projetos da Organização das Nações Unidas (1984 apud ARAÚJO, 2003, p. 4): “um empreendimento planejado
que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um
período de tempo dados”. Nesse sentido, as principais características de um projeto social são empreendimentos que: envolvem mudanças; compreendem a
criação de algo novo ou diferente; têm princípio e fim; são orientados por objetivos e resultados claramente definidos; têm claro um componente de incerteza
e complexidade, e exigem o uso de técnicas específicas de gerenciamento e avaliação.
112
As abordagens tradicionais de avaliação se concentram em avaliar unicamente as
consequências ou impactos de um projeto, sem levar em conta o ambiente em que se
desenvolvem, ou os processos envolvidos no seu desenvolvimento. Uma boa avaliação
deve considerar os componentes contextuais, da implementação dos processos e dos
resultados, buscando:
A avaliação contextual deve ter como critérios básicos a análise estrutural e subs-
tantiva de como as características de uma comunidade e da organização executora de
um projeto influenciam diretamente na maneira como este funciona e na capacidade
de alcançar suas metas.
113
identificar o ambiente político e o contexto dos serviços ofertados na área de atu-
ação do projeto para assim incrementar a probabilidade de que as intervenções
elegidas recebam apoio das lideranças e organizações locais (KELLOGG, 2008).
Ao se analisar o contexto, salientamos que o projeto social não pode ser uma
“camisa de força”, mas que deve ser “lido” e “relido” durante o continuum da ação (CAR-
VALHO, 2000). Para isso, Barreira (2000) enfatiza que é preciso patentear o cenário ava-
liativo constantemente, acompanhando as mudanças sociais, políticas e espaciais que
podem ocorrer ao longo do projeto.
Além disso, essas avaliações são fonte de informação vital para interpretação de
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
114
efeitos críticos que se desejam alcançar? Que impacto o projeto exerce sobre seus be-
neficiários, pessoal, organização executora, financiador, comunidade? Que impactos
não previstos o projeto alcançou?
Não há uma só maneira de realizar uma avaliação. Essa é sempre uma tarefa difícil
e complexa, porque lida com sujeitos sociais, interesses, representações e contextos
concretos. Dessa maneira, os projetos e programas sociais possuem uma série de va-
riáveis e fatores intervenientes, que dificilmente uma única estratégica avaliativa não
tem condições de tratar com profundidade (BARREIRA, 2000). Daí a necessidade de
determinar claramente os critérios para avaliar.
115
Nas abordagens tradicionais da avaliação de projetos (avaliação quantitativa),
influenciadas pelas ciências econômicas, matemáticas e biológicas, há uma demasia-
da ênfase em critérios instrumentais, economicistas e estatísticos, para na mensurar e
“parametrar” o social, medindo possíveis mudanças ocorridas. Outras abordagens co-
locam ênfase na lógica dos atores que movem o projeto nos processos diretivos e na
dinâmica de ação, levando a considerar questões mais voltadas para a avaliação qua-
litativa (CARVALHO, 2000). Quando falamos em avaliação qualitativa, deve-se atentar
que estamos nos referindo não apenas à qualidade técnica e institucional, mas à quali-
dade política, principal critério que está em jogo nesse tipo de avaliação (DEMO, 1999).
A qualidade política pode ser definida como:
[...] o horizonte de participação política, o que permite sair da simples delimitação negativa.
Qualidade não pode ser apenas aquilo que não é quantidade, aquela fumaça para além da chaminé,
aquela coisa vaga que se pressente não sei onde, não sei como e não sei porquê... Se qualidade é
dimensão essencial da realidade social, deve aparecer de alguma forma. E mais: deve ser algo, cuja
importância e presença estejam no cotidiano, na vida real, na dor e na alegria. (DEMO, 1999, p. 33)
crer que são insuficientes as intenções de avaliar níveis de mudança nos siste-
mas complexos e nas iniciativas comunitárias de amplo alcance;
Para termos avaliações mais equilibradas que ajudem não só a medir a eficácia
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
dos projetos, mas para saber como melhorá-lo e fortalecê-lo é recomendável conhecer
e refletir sobre paradigmas e métodos alternativos que se adéquem ao trabalho de
avaliação que está sendo proposto de modo que se estabeleçam critérios realmente
relevantes para o processo avaliativo.
116
com as necessidades de melhorar. Assim, na atualidade, tem se valorizado processos
avaliativos mais completos e pluralistas, conforme afirma Carvalho (2000, p. 64):
[...] uma tendência em valorizar concepções mais abrangentes e totalizantes de avaliação no campo
social, uma avaliação que busque apreender a ação, sua formulação, implementação e impactos.
Uma avaliação que busque captar a inter-relação entre sistemas de ação e lógica dos atores. Não
mais uma avaliação apenas de resultados, mas também de processos. Não mais uma avaliação que
apenas mensura quantitativamente os benefícios e malefícios de uma política ou programa, mas
que também qualifica as decisões, processos, resultados e impactos.
Ou seja, há certo consenso que se deve articular e combinar avaliações que re-
sultem em abordagens mais pluralistas e contextualizadas, que busquem fazer uma
leitura mais ampla da realidade. É nesse âmbito que tem crescido o uso de avaliações
de síntese e meta-análises3 em detrimentos dos estudos focais e pontuais, obviamente
sem descartar estes, já que são uma das melhores formas para obter e agregar informa-
ções avaliativas. Os estudos quantitativos tendem a novos enfoques, integrando múl-
tiplos estudos avaliativos (BARREIRA, 2000). A seguir, apresenta-se um quadro síntese
adaptado por Carvalho (2000), mostrando características das diferentes abordagens
de avaliação, os tipos de metodologias utilizadas, formas de coleta de dados e papel
do avaliador:
3
Essas são abordagens que tratam da avaliação da avaliação. Em muitos casos e principalmente em alguns
projetos sociais desenvolvidos por órgãos públicos, há uma grande quantidade de avaliações destes, feitas
por avaliadores externos e internos. Para tomada de decisões é preciso sintetizar e sistematizar considera-
ções desses processos avaliativos e realizar meta-análises que vão além das conclusões iniciais, traduzindo
uma visão crítica sobre as avaliações realizadas.
117
metodologias de ênfase na coleta de coavaliação entre
avaliação apoiadas dados quantitativos categorias e atores
nas mudanças pro- e qualitativos; implicados;
gramadas (políticas
públicas, programas); definição de indica- papel de mediador.
dores de processos
PLURALISTA pluralidade de (aferidos durante a
Centrada nas relações abordagens para gestão e execução do
entre o sistema de apreender e aferir processo) e de resul-
ação e a lógica dos processos, resultados tados (aferidos para
atores e impactos de políti- verificar o nível de
cas e programas. mudança alcançado);
utilização de múltiplos
instrumentos de cole-
ta de dados, incluindo
a observação.
ção do projeto (educação, saúde, assistência social, geração de trabalho e renda etc.)
e da organização que o executa, se determinam os critérios de avaliação que guar-
dem relação com os objetivos estratégicos da organização e os objetivos específicos
do projeto. Não existem critérios únicos e estes surgem em função das especificidades
de cada projeto. Porém, pela tradição gerencialista da avaliação, de modo geral, há um
consenso teórico sobre a necessidade de se avaliar a eficiência, eficácia e efetividade de
qualquer que seja o projeto social.
118
Eficiência
A análise da eficiência indica o modo como se organiza e emprega os recursos
disponíveis para implementação do projeto. Esse critério sempre é um dos principais
nas análises com o foco restrito à aplicação de recursos e avaliação da relação custo-
-benefício. De modo geral, ser eficiente num projeto “é fazer mais com menos recur-
sos”. Ou seja, essa noção está muito atrelada à produtividade. Essa lógica é bastante
atrelada à noção de probidade na utilização dos recursos públicos, uma vez que há ar-
gumentações que esses são escassos e há necessidade de racionalização do uso, o que
de fato, é verdadeiro. Uma pergunta típica para aferir a eficiência é: podem os recursos
ser reduzidos e se obter o mesmo nível de resultados ou um melhor resultado pode ser
obtido com o aumento de recursos?
Deve-se atentar para uma noção mais ampla desse conceito, no que diz respeito
aos processos de gestão como um todo, bem como a capacidade de mudança e adap-
tação contextual que um projeto pode passar. Assim, deve-se potencializar e raciona-
lizar o uso de recursos financeiros, materiais e humanos para alcançar a eficiência. Ou
seja, executar as ações da melhor maneira possível de modo racional, democrático e
transparente.
Eficácia
Quando falamos de eficácia de um projeto há referência ao alcance dos objetivos
finalísticos deste. Diz respeito a averiguar em que medida os objetivos e metas propos-
tas foram alcançadas. Para Cohen e Arato (1994, p. 102), “operacionalmente a eficácia
é o grau em que se alcança os objetivos e metas do projeto na população beneficiária,
em um determinado período de tempo, independente dos custos implicados”. Este é
um dos critérios mais utilizados, considerando a tradição em realizar avaliações soma-
tivas, baseadas nos fatores metas e tempo. São questões básicas para aferir a eficácia:
Até que ponto os objetivos e metas do projeto foram alcançados? Aplicou-se os ins-
trumentos previstos de modo adequado? Como ser mais eficaz? Essas são questões Critérios de avaliação para projetos sociais
típicas de avaliações ex-post, ou seja, avaliações que ocorrem ao término do projeto.
119
palmente, quando enfatizam dados quantitativos isoladamente, para que não repre-
sentem apenas fundamentos para discursos políticos visando promoções individuais
ou institucionais junto a financiadores ou beneficários dos projetos/programas.
Efetividade
A efetividade diz respeito a realização da ação adequada para transformar a situ-
ação existente. Para Lopez (apud Cohen e Arato, 1994, p. 107), a efetividade “expressa
o resultado concreto – ou as ações conduzentes a esse resultado concreto – dos fins,
objetivos e metas desejadas”. Muitas vezes esse conceito se assemelha ao de eficácia,
porém, está diretamente relacionado aos impactos do projeto, vistos pelo grau de al-
cance dos objetivos (eficácia) e pelos seus processos (eficiência). Rua (2008) define a
efetividade como “a capacidade de maximizar a eficácia e a eficiência”. Ou seja, o que
realmente se muda/transforma com uma dada intervenção social.
São questões comuns ao se adotar tal critério: até que ponto o projeto é capaz de
realizar mudanças positivas, qualitativas, significativas e duradouras?
Sustentabilidade
Esse é um conceito que surge no âmbito ambiental, no sentido de preservar o
presente para garantir a existência das gerações futuras. No âmbito organizacional e
dos projetos sociais houve certa focalização e consequente distorção do seu enten-
dimento para a capacidade do projeto se “autossustentar” financeiramente, gerando
recursos próprios. Esse inclusive é um dos principais critérios estabelecidos por vários
financiadores. Porém, a sustentabilidade deve ser vista e analisada como um critério
multidimensional que abarca, além da dimensão financeira (ter recursos suficientes
para o desenvolvimento do projeto), as seguintes dimensões:
120
técnica (metodologias de trabalho efetivas, capacidade de aprendizado orga-
nizacional etc.);
cortar e/ou reduzir as metas das ações de menor prioridade, tendo cuidado,
neste caso, de rever os objetivos para que estes não sejam comprometidos.
Critérios de avaliação para projetos sociais
Assim, devem-se observar, principalmente, aquelas que não comprometem o
cronograma de realização e não se constituem em prerrequisito para a execu-
ção de outra ação. (SANTOS et al., 2001)
Equidade
Diz respeito à “satisfação das necessidades básicas da população ordenadas de
acordo com o grau de urgência relativa de cada situação social específica” (LOBATO,
2008). É a contribuição efetiva do projeto para a redução de assimetrias sociais, com
121
vistas a conseguir maior justiça social, geração de trabalho e renda justos, seguros e
benefícios sociais etc. De modo geral, também diz respeito a tratar diferentemente os
indivíduos e situações diferentes, em virtude dos contextos em que se encontrem.
Esse é um importante critério, que muitas vezes não é explicitado nos projetos
nem nos processos avaliativos e deve ser cuidadosamente analisado do ponto de vista
da qualidade política da intervenção.
Replicabilidade
Replicabilidade ou reaplicabilidade diz respeito à viabilidade de utilização da me-
todologia desenvolvida no projeto em outros ambientes, considerando as adaptações
contextuais necessárias. Esse é um dos critérios expressos na atualidade na maioria dos
editais de financiamento, geralmente também atrelado a noção de sustentabilidade e
da geração das chamadas tecnologias sociais.
Pertinência e suficiência
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
122
Entende-se como suficiência a necessidade de verificar se o conjunto das ações é
realmente suficiente (efetivo) para o alcance dos resultados pretendidos. Aproveitan-
do a lógica do exemplo anterior, a suficiência estaria atrelada, por exemplo, à verifica-
ção de se o conjunto de cursos ofertados foi suficiente para qualificar o trabalhador de
modo que possa ser incluído no mercado de trabalho.
Estes critérios são bastante utilizados nas avaliações ex-ante4 e são de extre-
ma importância, considerando o atual contexto de dificuldades para consecução de
recursos para os projetos. Neste sentido, muitas vezes as organizações se subme-
tem a executar projetos “enlatados” com ações previamente definidas, ou mesmo
a criar situações hipotéticas extremas para conseguir os recursos. Ou seja, há uma
adequação da organização para aquilo que está sendo “ofertado” pelo financiador.
Por exemplo, em casos de projetos demandados por programas governamentais em
que boa parte das ações já são previamente definidas, a organização tende a se ade-
quar – mesmo que tais ações não sejam tão pertinentes em um dado contexto – para
conseguir o financiamento.
Além disso, a maior parte dos critérios, dependendo do financiador, ainda segue
lógicas quantitativas, baseadas na relação custo versus benefício, embora mesclado Critérios de avaliação para projetos sociais
com alguns condicionantes qualitativos, políticos e ideológicos. Obviamente, é preciso
que realmente haja determinação de critérios por parte dos financiadores e parceiros,
a fim de conseguir estabelecer padrões mínimos de seleção dos projetos e organiza-
ções, evitando possíveis desvirtuamentos.
4
Considera-se como avaliação ex-ante, aquela realizada antes da execução do projeto visando conhecer o “marco zero” deste, os problemas a serem enfren-
tados, o contexto em que se pretende realizar a intervenção e o perfil do público beneficiário. Ou seja, é uma avaliação diagnóstica que subsidia a própria
elaboração e justificativa do projeto, servindo para identificar a capacidade do projeto para mudar os problemas, a viabilidade e coerências deste.
123
Pouco ainda se vê em termos de discussões conjuntas entre financiadores e exe-
cutores de projetos sobre a escolha de critérios de avaliação adequados aos diferentes
contextos dos problemas sociais. Isso é demonstrado, por exemplo, pelos financiado-
res não apoiarem processos de avaliação ex-ante aos proponentes-executores de pro-
jetos. Assim, o que acaba ocorrendo é que os proponentes apenas seguem roteiros
de elaboração de projetos previamente estabelecidos, com critérios de avaliação, pre-
enchendo-os muitas vezes apenas de modo a “cumprir tabela”. Assim, deve-se buscar
estabelecer critérios avaliativos de modo mais equânime e participativo, com base nas di-
ferentes realidades locais.
“socialização”, “aprendizagem lúdica”, “alegria”, “prazer”, como podíamos medir concretamente o alcance
desses objetivos? [...]. Quais seriam, por exemplo, os indicadores de felicidade? (ROCHA, 2009)
Outros exemplos neste sentido podem ser vistos, como o caso dos critérios cria-
dos por ONGs como o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (CENPEC) e a Ação Educativa, para a avaliação de ações educacionais.
124
Devemos, por fim, destacar que os desafios no estabelecimento de padrões ava-
liativos dizem respeito à equalização necessária entre os diferentes tipos de critérios po-
líticos, técnicos e financeiros. Achar que prevalece apenas um tipo de critério em de-
trimento de outros na escolha para apoio aos projetos sociais é ingenuidade. Assim,
é preciso compreender os contextos e possibilitar que executores e financiadores de
projetos busquem conjuntamente priorizar a clara definição dos critérios de avaliação
de modo a trazer à tona uma visão mais substantiva da realidade.
Texto complementar
Este problema (que não era só nosso, mas ainda aflige e compromete o tra-
balho das ONGS e da maioria dos projetos sociais e de intervenção comunitária)
passou a ser um desafio permanentemente enfrentado pela equipe. Entre as muitas
questões que formulávamos, destacamos algumas:
Por outro lado, havia (e ainda há) por parte das agências financiadoras de proje-
tos uma crítica à falta de critérios palpáveis e tangíveis nos projetos sociais.
125
E para se defender, a maioria das ONGs se escondia atrás do discurso dos “obje-
tivos intangíveis” dos projetos sociais.
Num primeiro momento, e lá se vão alguns anos, buscamos, junto com os edu-
cadores, na observação diária e sistemática de nossas crianças e jovens, os peque-
nos avanços e respostas (sorriso X choro, envolvimento X desinteresse, limpeza X
sujeira, delicadeza X agressividade etc.).
Dessa forma, o conceito de qualidade praticado pelo CPCD passou a ser for-
mado pela somatória e interação de 12 índices, que se completam, mas podem ser
observados e mensurados individualmente:
126
Esse indicador nos convida a dar tempo ao tempo, a não fazer do estresse
um instrumento de ensino forçado, a respeitar o tempo de aprendizagem e
o ritmo de metabolização do conhecimento de cada um.
Esse indicador nos instiga a “operar com” o outro, nosso parceiro e sócio na
mesma empreitada que é o ato educativo, incluindo a dimensão da soli-
dariedade como base humana dos processos de ensino-aprendizagem, to-
mando o outro criança ou adolescentes, como fundamental para a Educa-
ção ser algo plural.
Esse indicador propõe que nos vejamos sempre como seres repletos de ne-
cessidades e em permanente busca de complementaridade. Viemos ao mun-
do para ser completos e não para ser perfeitos, que é atribuição do Divino.
Esse indicador nos convida a equilibrar as nossas energias, adequando os Critérios de avaliação para projetos sociais
meios e recursos aos fins propostos. “Aprender a ser, aprender a fazer, aprender
a conhecer e a aprender a conviver” são os quatro pilares da aprendizagem.
127
Felicidade – sentir-se bem com o que temos e somos.
Esse indicador nos fala de nossa possibilidade sempre presente para assu-
mir os desafios, romper barreiras, ampliar os limites do possível, disponi-
bilizar nossos saberes-fazeres-e-quereres, estar a frente do nosso tempo e
participar integralmente da construção dos destinos humanos. O que cada
um pode fazer? Queremos ser protagonistas de que peça, de que escola, de
que país, de que sociedade?
128
Após responder a essa bateria de questões sobre cada índice, o participante dá
uma nota (de zero a dez) para este quesito.
Foi assim que construimos o IQP. Ele é realizado em cada um de nossos proje-
tos, tomando uma mostragem equitativa e representativa dos participantes – edu-
cadores, pais e crianças e jovens, considerando inclusive a questão de gênero.
Atividades
c) à complexidade dos contextos sociais que exige análises centradas nas rela-
ções entre os sistemas de ação e a lógica dos atores, buscando quantificar e
qualificar benefícios, decisões, processo, resultados e impactos.
129
2. Na execução de um projeto social, pode ocorrer situações de eficácia mesmo
com baixa eficiência. Nesses casos, a efetividade dificilmente ocorrerá de modo
satisfatório. Exemplifique tal fato com base em algum projeto social conhecido
no seu meio social.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
130
3. Desenvolver uma cultura de avaliação participativa e qualitativa com base nas
distintas realidades locais é um grande desafio. Para isso, é preciso enfatizar não
apenas os resultados finais dos projetos/programas, bem como realizar um tra-
balho de equalização entre os diferentes tipos de critérios políticos, técnicos e
financeiros nos processos avaliativos. Esses desafios / dilemas ocorrem devido
d) ao curto espaço de tempo para a execução dos projetos, fazendo que haja a
necessidade das organizações executoras seguirem os critérios previamente
estabelecidos pelos financiadores, adaptando suas realidades para e ações
desenvolvidas para atingir os objetivos requeridos.
131
Indicadores sociais
Edgilson Tavares de Araújo
Introdução
O interesse em compreender os indicadores, antes criados e utili-
Vídeo zados pelos e para os especialistas em estatística e matemáticos, vem
gradativamente fazendo parte da agenda política, influenciando nas
formas de controle social exercidas pelo Estado, sociedade civil e mer-
cado. Não há mais espaços para que políticos e administradores públi-
cos contem vantagens ou alardeiem desgraças sem a leitura racional de
parâmetros e medidas que avaliem a realidade.
Ao passo que são instrumentos para auxiliar no controle social e nos processos
avaliativos, a construção de sistemas de indicadores condizentes com as diferentes re-
alidades sociais, suas políticas, programas e projetos, também representam um grande
desafio para as organizações sociais, governos, empresas, especialistas em avaliação e
universidades.
Santos et al. (2001, p. 11) salientam que “o objetivo último de um projeto social
não é a entrega de bens ou serviços mas, sim, o resultado ou impacto que produz, eli-
minando ou reduzindo o problema, ou ainda, maximizando uma oportunidade”.
gico a ser aplicado na prática de modo empírico, por informar sobre algum aspecto da
realidade social e suas mudanças, servindo como referência explicativa para a dinâmica
social, mostrando como essa se define na vida prática e cotidiana. Tal definição refere-
se aos indicadores mais tangíveis da dinâmica da realidade social, tais como Índice de
Gini, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Taxa de Mortalidade Infantil, Taxa de
Analfabetismo, entre outros, que trataremos posteriormente.
134
medidas (quantitativas e/ou qualitativas) que permitem aferir o estado ou progresso
dos objetivos, metas e critérios (padrões) de um programa, projeto ou atividade”.
Indicadores:
– Taxa de repetência;
Indicadores:
Indicadores:
135
– Porcentagem de cidadãos que dizem ter acesso ao sistema judiciário para
resolver problemas (segmentados analisados por gênero, etnia, região e ní-
vel de urbanização);
gem de domicílios com acesso à rede de água, taxa de desemprego etc. Os indicadores
subjetivos correspondem “a medidas construídas a partir da avaliação dos indivíduos
ou especialistas com relação a diferentes aspectos da realidade, levantadas em pesqui-
sas de opinião pública ou grupos de discussão” (Idem).
136
mensuram os elementos que só podem ser captados indiretamente por meio de suas
formas de manifestação, por exemplo, a consciência social, autoestima, valores, atitu-
des, estilo de liderança, protagonismo, cidadania (ASSIS et al. 2005, p. 106).
Ex.: quantidade de médicos por mil habitantes ou gasto monetário per capita em
saúde.
137
Indicadores de efeito e impacto (impact indicators)
Segundo Assis et al. (2005, p. 106), “os indicadores podem ser construídos para
medir ou revelar aspectos relacionados aos diversos planos em observação: nos níveis
individuais, coletivos, associativos, políticos, econômicos e culturais”. Podem, por
exemplo, mensurar a disponibilização e/ou o acesso aos bens públicos a serviços so-
ciais básicos, bem como, servir de parâmetro para avaliar se os objetivos de um projeto
foram alcançados ou não.
Campos, Abegão e Delamaro (2002, p. 18) apontam que a principal utilidade dos
indicadores é a de “serem usados para evitar – ou pelo menos diminuir – ambigui-
dades na comunicação”. Por outro lado, a utilização equivocada de indicadores pode
representar um grande problema para a formulação de políticas, programas e projetos
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
sociais.
138
No nível dos projetos os indicadores servem para:
TANGÍVEIS INTANGÍVEIS
139
Diante da figura do cone invertido, a equipe gestora de um projeto social deve
responder às seguintes indagações: O que queremos avaliar? O que os meus parceiros
querem avaliar? Como podemos avaliar? Quem pode avaliar? Esse modelo contribui
para dimensionar a potencialidade de impactos do projeto, fazendo com que finan-
ciadores e executores, em consenso possam equilibrar suas expectativas, reduzindo
desentendimentos no que se refere à avaliação (RAPOSO, 2000).
Claros e precisos;
Úteis para mensurar mudanças que possam ser atribuídas ao resultado da exe-
cução das ações do programa/projeto (SANTOS et al. 2001).
140
Formulação de indicadores
Na investigação avaliativa deve-se saber combinar adequadamente indicadores
quantitativos e qualitativos, tangíveis e intangíveis, diretos e indiretos. Para isso, Va-
larelli apud Assis et al. (2005) aponta que é preciso criar sistemas de indicadores1 que
levem em conta:
Segundo Assis et al. (2005, p. 122), a importância de trabalhar com vários indi-
cadores complementares, para avaliar um mesmo objetivo/meta complexo, propicia
uma visão crítica dos resultados. O sucesso da avaliação está no equilíbrio do número
e significância dos indicadores: “nem excessivos que inviabilizem a análise dos dados e
nem insuficientes que impeçam o avaliador de tirar conclusões”.
1
No plano macro denomina-se como Sistema de Indicadores Sociais o “conjunto de indicadores sociais referidos a um determinado aspecto da realidade social
ou área de intervenção programática” (JANNUZZI, 2001, p. 17). Assim, são definidos alguns Sistemas de Indicadores por áreas temáticas pela OCDE (saúde, edu-
cação, emprego, acesso ao consumo, segurança pessoal, condições de habitação e do ambiente físico, lazer, participação social); pela ONU (população, saúde,
educação, atividade econômica, renda, patrimônio, uso do tempo, segurança pública, mobilidade social, cultura, comunicação, lazer), entre outros.
141
Muitas vezes, os indicadores que permitem medir diretamente os objetivos não são
encontrados. Nesse caso, devem ser estabelecidas “dimensões operacionais” (SANTOS
et al., 2001) para se construir os chamados indicadores indiretos, por exemplo:
As fontes de dados e a metodologia aplicada devem ser especificadas para cada in-
dicador. Tais fontes podem ser primárias, internas ao programa (levantamento de campo
para o caso da avaliação ex-post), ou secundárias, a exemplo das estatísticas oficiais.
e) Índice (meta) desejado ao final do plano – é o valor que se deseja atingir com a execução do
programa, expresso pelo indicador, ao final do período de vigência do plano;
142
A seguir são apresentadas algumas perguntas definidas pelo Vera Institute of
Justice (2003), citadas por Assis et al. (2005, p. 113) que podem nortear a formulação de
indicadores. Estes deveriam responder às indagações sobre:
Equilíbrio: existe uma “cesta balanceada de indicadores” para medir o progresso de cada
objetivo? A ambiguidade inerente a um critério específico se reduz mediante à presença de
outros?
Sensibilidade: cada um deles e todos no seu conjunto são suficientemente sensíveis para
captar os tipos de mudanças que provavelmente ocorrerão ao longo da avaliação?
Questões práticas: existem mecanismos viáveis de coleta de dados que sejam regulares,
continuados, simples e não muito caros? Os indicadores coletados são confiáveis?
Propriedade: pessoas e instituições cujas mudanças serão avaliadas participam na sua defi-
nição e nos critérios de seu desenvolvimento? Existe confiança dos que estão sendo avalia-
dos na qualidade e na adequação dos critérios?
Clareza: são compreendidos e fazem sentido para todos os atores envolvidos na investiga-
ção, incluindo as pessoas com maiores dificuldades de compreensão teórica. As medidas
expressam unidades compreensíveis para a maioria dos cidadãos?
143
(JANUZZI, 2001, p. 60. Adaptado.)
Principais publicações regulares de indicadores sociais
Instituição Publicação
Instituto Brasileiro de Geografia www.ibge.gov.br Anuário Estatístico do Brasil
e Estatística (IBGE) Relatório de Indicadores Sociais
Brasil em Números
Comissão Econômica para Amé- www.cepal.org/brasil/ Panorama Social da América La-
rica Latina e Caribe (CEPAL) tina
Anuário Estatístico da América
Latina
Centro Latinoamericano y Cari- www.cepal.org/celade/cela- Boletim Demográfico
beño de Demografía (CELADE) de50/
Banco Mundial (World Bank) www.bancomundial.org.br Relatório sobre o Desenvolvi-
mento Mundial
Organização das Nações Unidas www.fao.org.br/ The State of Food Insecurity in
para a Agricultura e Alimentação The World
(FAO)
Fundo de População das Nações www.unfpa.org.br Situação da População no Mun-
Unidas (FNUAP) do
Organização Internacional do www.oit.org.br Yearbook of Labor Statistics
Trabalho (OIT)
Organização Mundial de Saúde www.oms.org World Health Report
(OMS)
Organização das Nações Unidas www.onu-brasil.org.br Demographic Yearbook
(ONU)
Programa das Nações Unidas www.pnud.org.br Relatório de Desenvolvimento
para o Desenvolvimento (PNUD) Humano
Organização das Nações Unidas www.brasilia.unesco.org World Education Report
para a Educação, a Ciência e a Statically Yearbook
Cultura (UNESCO)
Fundo das Nações Unidas para a www.unicef.org.br Situação da Infância no Mundo
Infância (UNICEF)
outras publicações sobre indicadores sociais estão disponíveis para a população. A ra-
pidez de acesso às estatísticas públicas permite agilidade para análise e cruzamento de
dados, para poder fazer comparações e conseguir acompanhar a possível eficácia das
políticas sociais. Em vários sites oficiais do governo federal, governos estaduais, insti-
tutos de pesquisa e análise e organismos internacionais podem-se acessar estatísticas,
indicadores, relatórios sociais e base de dados que permitem visualizar indicadores
sociais fundamentais para a avaliação e planejamento de políticas e projetos sociais.
A seguir listamos alguns dos principais sites com estatísticas, indicadores e relató-
rios sociais no nível nacional, a partir das indicações feitas por Jannuzzi (2001, p. 62-63)
e outras mais recentes:
144
(JANNUZZI, 2001, p. 62-63. Adaptado.)
Instituição Site
Dados Estatísticos na Esfera Federal
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica (IBGE) www.ibge.gov.br
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio www.inep.gov.br
Teixeira (INEP)
DATASUS http://w3.datasus.gov.br/datasus/datasus.php
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate www.mds.gov.br
a Fome
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) www.mds.gov.br/ascom/hot_suas/suas.htm
Ministério do Trabalho e Emprego www.mte.gov.br
Ministério da Justiça www.justiça.gov.br
Ministério da Saúde www.saude.gov.br
Ministério do Planejamento www.planejamento.gov.br
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico www.cnpq.br
e Tecnológico (CNPq)
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de www.capes.gov.br
Nível Superior (CAPES)
Agências Estaduais de Estatísticas
Fundação CIDE (Centro de Informações e Dados do www.cide.rj.gov.br
Rio de Janeiro)
Companhia de Planejamento do Distrito Federal www.codeplan.df.gov.br
(CODEPLAN)
Fundação João Pinheiro (MG) www.fjp.gov.br
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de www2.condepefidem.pe.gov.br/web/condepeFi-
Pernambuco (CONDEPE) dem
Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande www.fee.rs.gov.br
do Sul (FEE) www.fee.tche.br
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econô- www.ipardes.gov.br
mico e Social (IPARDES)
Superintendência de Estudos Econômicos e So- www.sei.ba.gov.br
ciais da Bahia (SEI)
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados www.seade.gov.br
de São Paulo (SEADE)
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do www.ipece.gov.br
Ceará (IPECE)
Institutos de Pesquisa e Análise
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento www.cebrap.org.br
(CEBRAP)
Indicadores sociais
145
Fundação Joaquim Nabuco www.fundaj.br
Fundação de Desenvolvimento Administrativo www.fundap.sp.gov.br
(FUNDAP)
Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) www.fundaj.br
Fundação Carlos Chagas (FCC) www.fcc.org.br
Fundação Getúlio Vargas (FGV) www.fgv.br
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) www.ipea.gov.br
Instituto Pólis www.polis.org.br
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e www.ibict.br
Tecnologia (IBICT)
Núcleo de Estudos de População (NEPO) www.nepo.unicamp.br
a) Taxa de natalidade;
d) Taxa de urbanização;
h) Indicadores de desnutrição;
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
a) Taxa de analfabetismo;
b) Escolaridade média;
146
c) Taxa de atendimento escolar;
a) Taxa de participação;
culo do montante de renda das famílias mais pobres pelo montante total
de renda);
147
f ) Indicadores de pobreza como insuficiência de renda (proporção de indi-
gentes ou pobres, linha de indigência, linha de pobreza);
d) indicadores ambientais.
Esses são, entre outros, os vários indicadores sociais que servem como balizado-
res na tomada de decisão quando se pretende planejar e avaliar um projeto ou política
social. Tais indicadores secundários atrelados a informações primárias, num nível micro
do desenvolvimento de um projeto, servem como base para aferir níveis de eficiência,
eficácia e efetividade das ações sociais implementadas em uma dada realidade.
148
Texto complementar
149
E&P – Quem faz os parâmetros?
Mas é, sobretudo, para produzir aquilo que são objetivos da educação como
um todo. Produzir a coesão social, a melhor convivência, a participação na
vida pública, apropriar-se do universo cultural, das riquezas culturais que
têm na sociedade. Tudo isso caminha muitas vezes menos pela escola e
mais por essas atividades socioeducativas.
150
tos por ONGs, por organizações comunitárias e serviços públicos como a
biblioteca, o centro cultural, o telecentro, a quadra de esporte, o centro des-
portivo, sem me perguntar: “o que é uma boa ação socioeducativa?”, “o que
é uma boa oferta de atividade socioeducativa?”, “o que são boas oportunida-
des de aprendizagem socioeducativa?”.
151
-Unicef mobiliza mais de 2 mil organizações. Nesse processo, a gente traba-
lha com muitos avaliadores locais, regionais, ou seja, secretários municipais
de educação, assistência, professores de universidade, conselheiros muni-
cipais e estaduais de políticas públicas. Quando se junta todos esses ava-
liadores se tem uma grande oportunidade para trabalhar com indicadores.
Lançar no escopo do Prêmio permite maior visibilidade e maior indução ao
seu uso. E permite, inclusive, testar se eles são bons indicadores porque será
um grande público trabalhando com eles.
Carminha – Nós temos ambições maiores na hora que a gente produz esses
indicadores e os quer aplicar, que é exatamente que na prática socioedu-
cativa desenvolvida por essas organizações; por outras organizações; por
secretarias municipais, estaduais e nacional de assistência social; pelas se-
cretarias de educação e pelas secretarias de cultura, elas tenham subsídios e
parâmetros inclusive para começar a olhar avaliativamente seus projetos, a
sua oferta socioeducativa. Assim, elas começarão a construir algo mais rico
e mais potente para as próprias crianças e adolescentes brasileiras.
Carminha – Eu acho que sim. Esse é o propósito: que ele seja apropriado
pela política pública. Mas se nós vamos conquistar isso e se conquistaremos
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
será muito bom. Ainda ontem eu estava pensando que se você tem hoje
uma base de dados que permite avaliar resultados e impactos no campo da
educação formal, mas nós não temos no campo dessa chamada educação
informal que é tão importante quanto a formal. Ou melhor, elas caminham
juntas, entrelaçadas. Então, propiciar isso é muito bom.
152
Atividades
Indicadores sociais
153
3. O Banco Mundial calcula a linha da pobreza tendo por base o critério econômi-
co daqueles que vivem com menos de 1 dólar por dia. Outros órgãos calculam
esse indicador com base no custo da cesta de alimentos, custo de transporte
coletivo e material escolar; alguns, ainda, baseiam-se no acesso aos serviços
sociais básicos; outros propõem medidas mais subjetivas como a autodeclara-
ção de pobreza, e as mediadas de pobreza relativa. Existem discussões meto-
dológicas bastante acaloradas e questões substantivas ainda não plenamente
resolvidas com relação ao conteúdo e à forma sobre como alguns indicadores
sociais são calculados, como no caso dos indicadores de pobreza. Consideran-
do a necessidade da utilização de sistemas de indicadores sociais, tal discussão
é importante para:
154
c) devem ser relevantes e factíveis com a realidade social, buscando aferir ape-
nas a efetividade na implementação das ações planejadas no âmbito de um
projeto social.
Indicadores sociais
155
Agregação de indicadores
e índices de desenvolvimento
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo O uso de indicadores em avaliação e monitoramento de projetos
sociais vem sendo cada vez mais frequente. Eles buscam traduzir rea-
lidades complexas em variáveis mais simples, de modo a tipificar tais
realidades, deixá-las mais claras ou ainda indicar direções de desenvol-
vimento dos objetos avaliados.
Cada indicador carrega consigo uma relação causal, que indica alguma coisa, um
estado ou uma direção. Não por acaso, o termo indicador tem origem no verbo latino
indicare, que significa apontar, descobrir, anunciar, estimar. Também não é por acaso
que alguns autores ressaltam a peculiaridade dos indicadores se colocarem um pouco
à frente do seu próprio tempo, detendo a capacidade de revelar tendências ou, como
define o IBGE, de alertar sobre um problema antes que o mesmo atinja um alto pata-
mar de gravidade, podendo ainda apontar algumas direções para a solução dos tais
problemas (IBGE, 2002).
Algumas realidades sociais, porém, são tão complexas que suas características
não são suficientemente traduzidas pelos chamados indicadores simples (por exem-
plo, número de famílias atendidas por um programa, número de crianças na escola
etc.), necessitando da agregação de alguns deles. Essa agregação normalmente pres-
supõe algum tipo de ponderação entre os indicadores simples que utiliza – em outras
palavras, nem todos os indicadores possuem a mesma importância na construção de
um índice. Na prática, um índice pode ser visto como um conjunto articulado de indi-
cadores simples, cuja agregação é realizada em prol da sintetização de um significado
único e complexo. Acredita-se que, dessa forma, possam traduzir com maior precisão
realidades sociais complexas, sobretudo para o público de não especialistas, além de
permitir a comparação entre tais realidades. A agregação de indicadores vem, portan-
to, tornando-se uma ferramenta aliada dos tomadores de decisão, preocupados, so-
157
bretudo, com a comunicação com um público maior, que não se detém nos detalhes
dos agregadores simples.
Neste capítulo, você conhecerá alguns dos principais índices usados em avaliação
de programas e projetos sociais. Procure refletir sobre a finalidade de cada um deles,
sobre os seus limites cognitivos e de uso, assim como suas possibilidade de aplicação
e comparação.
158
Produto Interno Bruto/Líquido
O Produto Interno Bruto, ou simplesmente PIB, é um índice macroeconômico que
mensura a atividade econômica de uma determinada área geográfica (região, cidade,
estado, país etc.) durante um intervalo de tempo determinado (mês, trimestre, ano,
década etc.). A sua metodologia de cálculo requer alguns cuidados pois agrega dife-
rentes indicadores, de acordo com esta fórmula clássica:
PIB = C + I + G + X – M
C = Consumo privado
G = Gastos Governamentais
X = Volume de Exportações
M = Volume de Importações
O autor.
Fundo Monetá- Banco Mundial CIA Wolrd Fact-
rio Internacional (2007) Book (2008)
Posição (2007)
quanto País
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
160
5.º Alemanha 2,812,255 35,552 2,727,514 33,154 2,863,000 34,800
(21.º) (19.º) (26.º)
9.º Brasil 1,837,149 10,298 1,843,601 9,57(66.º) 2,030,000 10,300
(77.º) (82.o)
IDH Classificação
Menor que 0,499 Populações com baixo desenvolvimento humano
Entre 0,500 e 0,799 Populações com desenvolvimento humano médio
Maior que 0,800 Populações com alto desenvolvimento humano
1
Mahbub ul Haq (1934-1998) foi um influente economista paquistanês na ONU, corresponsável pela Teoria do Desenvolvimento Humano, junto à Amartya
Sem, economista indiano e prêmio Nobel de Economia (1990), e corresponsável pela Relatório do Desenvolvimento Humano, publicado pela ONU desde 1990.
2
Até 2015, todos os 191 Estados-membros das Nações Unidas se comprometeram a alcançar os objetivos de: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o
ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater
o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
161
Observe que o IDH pode ser calculado para diferentes escalas territoriais. Pode
ser calculado, por exemplo, para um povoado, uma aldeia indígena, uma cidade, uma
região metropolitana, um estado federativo, uma nação ou outra qualquer unidade
territorial que possua os indicadores desagregados calculados. No Brasil, por exemplo,
tem sido muito utilizado pelo governo Federal o Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M) que pode se consultado através do Atlas do Desenvolvimento
Humano publicado eletronicamente pelo Governo Federal, com informações sobre
todos os municípios brasileiros, assim como os seus Estados e Distrito Federal.
O cálculo do IDH é realizado a partir dos dados extraídos das estatísticas oficiais de
cada país, levando em consideração três dimensões: longevidade (IDHL), educação (IDHE)
e renda (IDHR). O cálculo final do IDH é a média aritmética simples dos três subíndices:
Para cada uma dessas dimensões há um ou mais indicadores que são agregados,
conforme a tabela abaixo.
Quadro 2 – Composição dos indicadores que conformam o Índice de Desen-
volvimento Humano
O autor
Descrição
Dimensão Indicadores Peso
do indicador
Longevidade Esperança de vida ao Número médio de Peso 1
(IDHL) nascer anos que um indivíduo
pode esperar viver, se
submetido, desde o
nascimento, às taxas de
mortalidade observa-
das no momento (ano
de observação).
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
162
Renda Renda por paridade do A renda é calculada Peso 1
(IDHR) poder de compra tendo como base o
PIB per capita do país.
Como existem diferen-
ças entre o custo de
vida de um país para o
outro, a renda medida
pelo IDH é em dólar
PPC (Paridade do Poder
de Compra), que elimi-
na essas diferenças
O Brasil tem mostrado um constante aumento em seu IDH. De acordo com o Rela-
tório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do Programa das Nações Unidas para o De-
senvolvimento (PNUD3), em 2005 o Brasil passou a fazer parte do grupo de países com
elevado desenvolvimento humano, com um índice medido em 0,800 para aquele ano.
Em 2006, obteve uma melhora no índice de 0,007, tendo obtido a pontuação de 0,807.
Atualmente encontra-se na 70.ª colocação mundial, posição que já mantinha no ano
anterior, pois houve uma melhora também dos países com índices próximos aos seus.
Mesmo com essa melhora, alguns pesquisadores brasileiros acreditam que o resultado
foi impreciso, pois as Nações Unidas não teriam utilizado os dados mais atualizados do
país. Mesmo propondo a correção desse cálculo, o que implicaria uma alteração real-
mente mínima, o Brasil continua sendo um das sociedades mais desiguais do planeta,
3
O relatório bem como outros documentos podem estão disponíveis em: <www.pnud.org.br>.
163
Tabela 2: IDH – Índice de Desenvolvimento Humano 2007/2008
O autor.
Classifi- Posição Classifi- Posição
País IDH País IDH
cação cação
Alto 1.o Islândia 0,968 Médio 71.o Dominica 0,798
Desenvol- Desenvol-
vimento 2. Noruega 0,968 vimento 74. Venezuela 0,792
o o
164
de 0 a 1, onde zero corresponde a completa igualdade de renda (situação em que todos
os componentes da população estudada possuiriam a mesma renda) e um correspon-
de ao total desigualdade de renda (ou seja, um indivíduo da população concentraria
em si a renda total da população e os demais indivíduos não possuiriam nada).
O autor.
Renda (0 a 100%)
Renda (0 a 100%)
População (0 – 100%)
Gráfico 3 – Curva de Lorenz usada pelo índice Gini
166
Indicadores agregados ambientais
O uso de indicadores ambientais começou a se difundir nas décadas de 1970 e
1980, sobretudo na esteira das previsões catastróficas feitas pelo Clube de Roma em
1970, quando foi publicado o famoso relatório “Os limites do crescimento”, no qual
se propunha, entre outras medidas, crescimento zero para as regiões subdesenvolvi-
das do planeta. Não obstante tantas advertências, o governo holandês foi o primeiro
governo nacional a adotar um sistema de indicadores ambientais para avaliar os re-
sultados do Plano Nacional de Política Ambiental. A partir de então, os indicadores
ambientais se sofisticaram bastante, resultando na criação de complexos sistemas de
indicadores ambientais ou indicadores ambientais agregados.
4
Informações sobre o instituto estão disponíveis em: <www.wri.org/>.
5
Tradução do inglês Organization for Economic Cooperation and Development (OCED), que possui um interessante site: <www.oecd.org>.
167
“núcleos de indicadores ambientais com características de confiabilidade, facilidade de
entendimento e mensuração, e relevância para a avaliação de políticas” (OECD, 1994, p.
44). Como resultado, surgiu uma nova adaptação ao modelo anterior, que se mostrou,
porém, de difícil utilização.
Conclusão
Os indicadores agregados, ou índices, possuem uma função eminentemente polí-
tica, pois podem ser capazes de revelar a situação de um território (país, estado, cidade,
região etc.) com uma informação rápida e facilmente compreensível. Essa capacidade
de síntese esconde, naturalmente, grandes variações que podem ocorrer internamen-
te em tais territórios, mas, por outro lado, conseguem estabelecer critérios para relacio-
ná-los a outras realidades territoriais semelhantes. De fato, é muito comum encontrar
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
168
Texto complementar
169
Tabela 1
Os valores do IDH alcançados por essas capitais podem ser comparados aos va-
lores que caracterizam as nações de desenvolvimento humano alto, segundo o crité-
rio estabelecido pelas Nações Unidas (0,800 e mais) e as nações de desenvolvimento
médio (0,500 a 0,800) [...]
Verifica-se, nos dois anos censitários, que é inferior a posição das metrópoles do
Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza) e do Norte (Belém) em relação às capitais das
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
170
próspero, e o Norte e o Nordeste, menos desenvolvidos. No Nordeste, as grandes aglo-
merações urbanas representam ilhas de relativa concentração de riqueza, no meio de
uma região marcada pela pobreza rural, conquanto, na Amazônia, as baixas densida-
des populacional e econômica, além das grandes distâncias entre os centros urbanos,
limitem o papel polarizador das grandes aglomerações. No Centro-Sul, observa-se uma
queda na posição de São Paulo, que passa da 2.ª para a 5.ª posição (com o valor do IDH
quase igual ao alcançado pelo Rio de Janeiro), e uma melhora na posição de Curitiba,
da 4.ª para a 2.ª posição. Essas mudanças remetem à conjuntura econômica da década
de 90, marcada pelo baixo crescimento e por uma tendência à descentralização das
atividades industriais em direção a cidades do estado de São Paulo e a Curitiba. Assim,
os valores do IDH parecem estar vinculados ao movimento geral da economia, verifi-
cando-se a importância dessa dimensão na composição do índice.
Nessa dimensão econômica (IDH Renda), está muito evidente a diferença entre os
171
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
172
Tabela 3
Recife 0,727 8.° 0,770 8.° 0,676 11.° 0,727 11.° 0,818 10.° 0,894 10.°
Fortaleza 0,685 11.° 0,729 11.° 0,683 9.° 0,744 9.° 0,784 11.° 0,884 11.°
Brasil 0,681 0,723 0,662 0,727 0,745 0,849
As posições da capital pernambucana são bem menos favoráveis no tocante às
dimensões sociais: última e penúltima posição no ranking dos valores dos IDH Longe-
vidade e Educação, respectivamente em ambos os anos censitários, sugerindo a difi-
culdade de transferência para essas dimensões da situação relativamente favorável da
renda, o que se pode relacionar com a intensidade da desigualdade social na cidade e
o caráter socialmente concentrado da riqueza.
Salvador 0,065
Fortaleza 0,061
Recife 0,051
Belém 0,048
Curitiba 0,048
Goiânia 0,033
Brasília 0,025
Fortaleza 0,100
Recife 0,076
Goiânia 0,071
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
Brasília 0,071
Curitiba 0,071
Salvador 0,068
Belém 0,045
Goiânia 0,058
Curitiba 0,053
Fortaleza 0,044
Recife 0,041
Brasília 0,043
Salvador 0,027
Belém 0,024
Atividades
1. Você acredita que o PIB é capaz de mensurar a qualidade de vida de uma popu-
175
3. Você conhece o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil? Acesse o site
<www.pnud.org.br/atlas> , instale o programa que lhe permite acessar esse ban-
co de dados eletrônico e consulte o Índice de Desenvolvimento Humano do seu
estado, da sua região e da cidade onde você mora. Aproveite para observar e
registrar seus comentários sobre a posição do seu estado no ranking nacional.
176
Monitoramento de projetos sociais
Edgilson Tavares de Araújo
Introdução
Vídeo Tradicionalmente, é comum ver o empenho dos gestores e finan-
ciadores de projetos e programas sociais para gerar bons diagnósticos e
avaliações de resultados, em detrimento de ações de gestão e monito-
ramento. Gradativamente, percebe-se que há mudanças na cultura ava-
liativa que exige uma nova postura frente às exigências por eficiência,
efetividade e sustentabilidade dos projetos e organizações sociais, fa-
zendo com que haja uma maior preocupação com a criação/adaptação dos processos
e instrumentos de gestão.
Nota-se, por exemplo, que, quando uma organização da sociedade civil preten-
de executar um projeto social, busca captar recursos dentro de uma chamada para
financiamento de projetos. Nos roteiros para elaboração destes, sempre há como item
obrigatório: sistema (ou mecanismos) de acompanhamento, monitoramento e avaliação.
Muitas vezes, pede-se que já sejam incluídos e descritos nos projetos alguns indicado-
res de monitoramento.
179
Neste capítulo busca-se analisar conceitos e tipos de monitoramento, destacan-
do como este subsidia a gestão dos projetos. São também demonstradas as relações
existentes entre sistemas e instrumentos de monitoramento e sistemas de informação,
destacando algumas dificuldades e desafios para implementação destes.
Monitoramento e acompanhamento:
conceitos e distinções
Alguns autores não fazem distinção quanto ao uso dos conceitos de avaliação, mo-
nitoramento e acompanhamento. Embora alguns autores não façam distinção quanto
ao uso dos conceitos de monitoramento e acompanhamento (reconhecendo que um
esteja contido no outro ou que ambos possuam íntima vinculação e complementari-
dade) pode-se afirmar que há consenso em considerar o monitoramento (monitoring)
como uma fase ou tipo de avaliação que ocorre durante a execução de um projeto ou
programa social. A importância dessa fase avaliativa se dá, principalmente, por forne-
cer informações fundamentais sobre possíveis problemas e desvios no desempenho
do projeto, permitindo tomar decisões que corrijam o rumo deste.
Por outro lado, uma visão mais abrangente compreende o monitoramento como
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
180
Guandalini (1994, apud LUSTOSA, 1997, p. 25) destaca que monitoramento diz res-
peito ao “processo contínuo de análise e comparação do estado da execução das diver-
sas ações contempladas no projeto com relação àquilo que havia sido projetado”. O mo-
nitoramento busca identificar oportunamente desvios, dificuldades e acontecimentos
que possam afetar a entrega ou o uso dos insumos, a execução das tarefas projetadas, a
geração dos produtos e, por fim, o alcance dos objetivos propostos. Caracteriza-se, por-
tanto, pela sua função “de retroalimentação de informações, que permite a tomada de
decisões oportunas e da adoção de medidas corretivas que permitam que se garanta o
alcance dos objetivos projetados” (GUANDALINI, 1994 apud LUSTOSA, 1997, p. 25).
[...] o monitoramento acompanha processos e ações previstas no plano de ação, com vistas ao ajuste
e correções imediatas no desempenho do projeto; o acompanhamento avaliativo não se propõe a
correções imediatas, e sim investigar o processo com coleta de dados específicos, para identificar
fatores programáticos que devem ser aprimorados (posteriormente) ou que são explicativos dos
sucessos obtidos pelo projeto.
181
relatório de acompanhamento pode, se assim for conveniente, dedicar-se exclusiva-
mente a informar a situação encontrada, sem qualquer juízo de valor sobre seu desem-
penho ou daqueles responsáveis pela sua gestão.
Autores como Tenório et al. (1995, p. 28), numa abordagem sobre avaliação de pro-
jetos comunitários, conceituam acompanhamento e monitoramento como sinônimos,
ao afirmarem que o acompanhamento é a segunda fase avaliativa e que pode ser en-
tendido como “a etapa da avaliação do projeto que levanta dados durante a execução
do mesmo permitindo uma comparação simultânea com os padrões definidos”. Salien-
tam ainda que “procura verificar as ações e medir desempenhos com a finalidade básica
de auxiliar a tomada de decisão e corrigir eventuais desvios na programação, durante a
execução do projeto, assegurando que os objetivos estabelecidos sejam alcançados”.
182
Monitoramento como processo
de gestão de projetos sociais
Conforme descrito anteriormente, o monitoramento é uma importante e impres-
cindível ferramenta e processo de gestão. Gerenciar um projeto, nesse sentido, com-
preende monitorar, acompanhar, avaliar e tomar as decisões necessárias para atingir e
fazer atingir os objetivos esperados da forma mais eficiente e eficaz possível (SANTOS
et al. 2001). Significa fazer o melhor uso dos recursos humanos, financeiros e materiais
disponíveis, para alcançar os objetivos dos programas/projetos, dentro dos limites de
tempo, qualidade e custos estabelecidos (GUANDALINI, 1994 apud LUSTOSA, 1997).
183
Sistemática
A gestão de projetos se inicia desde seu planejamento percorrendo todo seu ciclo
de vida. Como consequência, as atividades de gestão, de monitoramento e de avalia-
ção devem ser sistematizadas e organizadas de forma sistêmica. As metodologias de
gestão e monitoramento devem ser claras e estáveis, estabelecendo dentro do plano
estratégico e operativo as atribuições e responsabilidades, prazos e periodicidade para
alcançar os objetivos programados. Sem respeitar essa sistemática, essas atividades
acabam por perder qualquer utilidade prática e, perdendo sua serventia, acabam por
ser desestimuladas e desconsideradas pelos diversos atores envolvidos na implemen-
tação e operação dos projetos. Em suma, jamais serão realizadas.
Comparação
Avaliar é comparar, monitorar é comparar. Não se pode conceber um sistema
de M&A que não se baseie em uma metodologia comparativa claramente definida.
A dificuldade talvez seja definir o que se deve comparar. À luz de que referencial de-
veremos avaliar os resultados alcançados ou o desempenho das suas operações?
Esta deve ser uma indagação norteadora do processo de monitoramento e avaliação.
Embora as metodologias de avaliação possam variar para cada situação ou tipo de
projeto, alguns passos parecem óbvios e gerais:
Análise
Apenas com uma análise de qualidade, que indique com clareza as causas gerado-
ras das eventuais deficiências ou dificuldades encontradas, é que será possível extrair
conclusões que subsidiem eficientemente o processo de tomada de decisão. Embora
esse terceiro condicionante possa parecer óbvio, sua realização demanda tempo e
conhecimento de causa, além de um tratamento metodológico específico, que nem
sempre as pessoas envolvidas no processo estão aptas a realizar.
184
efetivamente venham a contribuir com a tomada de decisão e com uma gestão de
melhor qualidade. Esse esforço analítico pode ser representado pela desarticulação
da gestão – ou das informações levantadas – em uma série de aspectos e abordagens
que, sempre apoiada pelos métodos e parâmetros previamente definidos, permitirão
ao avaliador emitir um juízo de valor sobre o projeto em questão e produzir explica-
ções que gerem possibilidades de solução e melhoria para as dificuldades e deficiên-
cias encontradas (SANTOS et al., 2001)
185
sas mensais. Para que o monitoramento financeiro ocorra adequadamente, deve haver
capacidade de resposta e adaptação a quatro critérios principais:
fluxos de entrega dos produtos finais e intermediários previstos no projeto. Essas rela-
ções que influenciam diretamente os sistemas de entrega podem ser analisadas pelos
processos de liderança, motivação e comunicação. Geralmente, são feitas verificações
mensais ou anuais, utilizando técnicas e instrumentos qualitativos (entrevistas, reuniões
etc.) (GÓMEZ, 2006).
186
deverá seguir e quais indicadores são os mais pertinentes para avaliar qualitativamen-
te se as ações estão sendo implantadas de modo eficiente e efetivo. É com esse tipo
de monitoramento que se pode identificar possíveis conflitos de papéis, estereótipos
profissionais, estilos de gestão, comprometimento das equipes, adequações metodo-
lógicas etc. Muitas vezes, consegue-se perceber que uma dada metodologia, mesmo
que adaptada, não se adéqua à determinada realidade social, podendo ser necessário
mudar completamente as ações projetadas.
Sistemas de informação
e sistemas de monitoramento
Passamos por um processo de mudança paradigmática no campo do M&A, resul-
tante de transformações na maneira dos cidadãos se comportarem com relação aos
seus governantes, às ONGs e às empresas privadas que executam projetos de caráter
social. Há uma ampla mudança na função desses atores, havendo cobranças por in-
formações válidas e confiáveis, garantindo, assim, uma maior transparência nos atos
praticados por esses agentes.
Busca-se, assim, suprimir, ou pelo menos minimizar, uma das principais deficiên-
cias de alguns governos e organizações sociais no que se refere ao baixo desempenho
operacional, em grande parte decorrente da falta de conhecimento da realidade social
e da falta de transparência sobre os resultados de suas ações, por meio dos investi-
mentos em sistemas de informação e sistemas de monitoramento e avaliação (SANTOS
et al., 2001).
1
Segundo José Vicente Tavares dos Santos (2001, p. 116), que parte de contribuições de Adam Schaff e Mark Poster, a sociedade da informação seria definida
por uma nova configuração dos sistemas de informação, em que, devido aos avanços tecnológicos, na informática, computação e inteligência artificial, o inter-
câmbio das comunicações entre os indivíduos passa a ser cada vez menos sujeito às limitações do tempo e do espaço. Tais fenômenos implicam modificações
não apenas nas comunicações, mas também nas relações sociais e em suas implicações políticas.
187
Os sistemas de informações e sistemas de M&A são utilizados para designar o
mesmo objeto que é o ato de gerir, como processo complexo que implica uma série de
ações e atividades associadas à sistematização e à utilização de determinadas informa-
ções. Como afirma Santos et al. (2001, p. 28):
[...] não há como discutir gestão sem considerar a informação necessária para tais atividades; como
também não se pode levar a sério um processo de avaliação que não esteja comprometido com um
esforço de sistematização e organização dessas informações.
Tais sistemas têm demandado alto nível de sofisticação com relação à coleta, tra-
tamento e análise de dados, usando programas informatizados, geralmente disponí-
veis em intranet ou mesmo na internet, quando abertos à toda população.
de decisão e gestão. Se ele será informatizado ou não é uma discussão de meios e não
de fins (SANTOS et al. 2001). Nos dois casos, é preciso haver investimentos para a capa-
citação dos usuários do sistema (gestores e executores).
2
O Suas consiste “num sistema que integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência
social, com ações voltadas para o fortalecimento da família. Baseado em critérios e procedimentos transparentes, o sistema altera fundamentalmente opera-
ções como o repasse de recursos federais para estados, municípios e Distrito Federal, a prestação de contas e a maneira como serviços e municípios estão hoje
organizados” (MDS, 2009). Para mais informações consulte: <www.mds.gov.br/suas>.
3
O Programa Bolsa Família (PBF) é “um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza (com
renda mensal por pessoa de R$69,01 a R$137,00) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$69,00), de acordo com a Lei 10.836, de 09/01/2004
e o Decreto 5.209, de 17/09/2004” (MDS, 2009). Mais informações: <www.mds.gov.br/bolsafamilia/o_programa_bolsa_familia/o-que-e>.
188
(TENÓRIO et al., 1995. Adaptado.)
Comparar e
Planejar o Coletar e Produzir novas
interpretar com
monitoramento registrar dados informações
padrões
Tomar
decisões
189
A partir da etapa descrita anteriormente, os dados coletados, registrados, com-
parados, observados e interpretados, são processados e transformados em novas in-
formações que subsidiam a tomada de decisões. Essas informações, normalmente, são
utilizadas na avaliação de resultados do projeto e servem de diagnósticos para novos
projetos.
190
Observadores – o observador externo, contratado para essa finalidade, nor-
malmente é um “expert” que, com base na observação do funcionamento do
projeto, pode emitir pareceres e coletar dados fundamentais para a avaliação.
Pode-se recorrer a observadores treinados, que, se fazendo passar por usu-
ários dos serviços e dos produtos que o projeto oferece, podem subsidiar o
trabalho de avaliação.
do tipo de decisão que se pretende tomar com base nas informações levantadas;
191
os produtos do projeto, indicando os processos por meio dos quais o resulta-
do é obtido.
192
registrar e sistematizar relatos e atas de reuniões, diários de campo, são instrumentos
básicos para coleta e registro de informações (CARVALHO, 2000)
A escolha dos instrumentos para coleta e análise dos dados será feita de modo a se
adequar ao método escolhido, bem como a capacidade de aplicação do instrumento pela
pessoa que estará fazendo o monitoramento. Os tipos de instrumentos mais usuais são:
Percebe-se que cada vez mais os órgãos públicos, agências multilaterais de coo-
peração e empresas privadas têm investido na construção de sistemas de M&A mais
completos em termos de integração e cruzamento de informações e de variáveis que
permitem maior precisão na gestão e tomada de decisões. Esses sistemas, muitas
vezes, estão compilados em softwares sofisticados que exigem maior qualificação e
capacitação dos que os executam.
de sistemas de monitoramento
Pelo descrito até aqui neste capítulo, pode-se perceber quantos desafios existem
para criação e implementação de um sistema de M&A. Vários são os problemas enfren-
tados que vão, desde questões culturais, até a disponibilidade de recursos financeiros
necessários para construção de sistemas mais complexos.
193
Subrandt (apud CARVALHO, 2000, p. 67), ressalta, porém, que:
O mais frequente dos problemas apontados é o distanciamento do programa em relação aos seus
objetivos iniciais em decorrência, geralmente, de distorções de sua implementação e, em alguns
casos, pela forma como os benefícios são apropriados pela população.
receio de que o projeto venha a ser encerrado em virtude dos resultados par-
ciais que obtenha;
Cohen e Martinez (s.d.) e Santos et al. (2001) destacam ainda que relatórios que
analisam experiências de implantação desses tipos de sistemas de informação/mo-
nitoramento possuem uma série de obstáculos enfrentados pelos responsáveis pelo
processo:
194
os altos custos do processo de monitoramento e avaliação;
Texto complementar
Resumo da experiência
O MDS foi formado em janeiro de 2004, a partir da fusão dos Ministérios da Assis-
tência Social, MAS, do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à
Fome, Mesa, e da Secretaria Executiva do Programa Bolsa Família, a qual era vinculada
Monitoramento de projetos sociais
195
Coube à Sagi as funções de avaliação e monitoramento das políticas e progra-
mas de desenvolvimento social do MDS. Isso significou uma inovação na gestão
pública brasileira, uma vez que, até então, não existia, em nenhum ministério, uma
secretaria com essa finalidade exclusiva; sobretudo, uma unidade localizada, hori-
zontalmente, em relação às secretarias finalísticas, e não verticalmente, como costu-
ma ocorrer com unidades de avaliação e monitoramento.
Descrição da experiência
Objetivos propostos e resultados visados
Ações realizadas
196
Levantamento da arquitetura informacional
[...]
197
Mecanismos de avaliação de resultados e indicadores utilizados
Subsistema de monitoramento
O DICI-VIP é uma ferramenta desenvolvida para ser acessada via internet, que
armazena informações de variáveis, programas e indicadores de todos os progra-
mas do MDS. Com essas informações é possível recuperar a memória dos dados uti-
lizados para o cálculo de indicadores de monitoramento.
das podem também ser obtidas em vários formatos: planilhas eletrônicas, relatórios,
tabelas, gráficos, mapas estatísticos e mapas temáticos. Essas informações são dis-
ponibilizadas com o propósito de dar transparência à gestão das políticas públicas,
bem como para a tomada de decisões no âmbito do MDS.
198
Subsistema de Avaliação
(...)
Lições aprendidas
Soluções adotadas para a superação dos principais obstáculos
encontrados durante a implementação
1. O SAM não poderia ter sido construído sem a cooperação entre a SAGI e as
secretarias finalísticas, as quais detêm a gestão de um conjunto de bancos
de dados gerenciais sobre os programas, como cadastro de beneficiários,
dados físico-financeiros, além de informação, conhecimento sobre os pro-
gramas e contatos com municípios. Cooperação e entendimento devem,
portanto, ser buscados desde o início do processo com todo um trabalho
de sensibilização.
199
diversidade, pois se definiu como estratégia de avaliação a contratação de
estudos de diferentes tipos, desenhos, abordagens e métodos; de qualida-
de, uma vez que foi possível selecionar as instituições mais adequadas para
a realização de cada tipo de estudo.
7. Quanto aos aspectos críticos, o fato dos dados primários serem alimentados
por fontes tão diversas e sobre as quais a Sagi, ou mesmo o MDS, muitas vezes
não tem qualquer governabilidade, consiste em um dos nós críticos da produ-
ção de indicadores confiáveis. Portanto, a busca pelos dados consiste numa
constante por padronização de estruturas de dados, sistemas, tecnologias e
registros formais dos indicadores e instrumentos usados para produzi-los.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
Atividades
200
2. Considere um projeto com as seguintes características:
Objetivos específicos:
201
3. A produção de informações confiáveis é um dos componentes centrais para o
bom desempenho de qualquer metodologia de monitoramento de projetos so-
ciais. Atualmente, tem-se criado sistemas de informação com alto nível de sofis-
ticação com relação à coleta, ao tratamento e à análise de dados, usando progra-
mas informatizados, geralmente disponíveis em intranet ou mesmo na internet,
quando abertos à toda população. Sobre esses aspectos é correto afirmar que:
202
203
Monitoramento de projetos sociais
Técnicas e instrumentos de avaliação
de programas e projetos sociais
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo Um dos maiores desafios da avaliação e monitoramento de proje-
tos sociais reside na construção das informações que serão usadas em
tais processos. Dizemos que as informações são construídas e não sim-
plesmente coletadas porque cada uma delas é produto de um desejo,
de uma pergunta, de uma técnica que orientará a sua apreensão e com-
preensão. Assim, todas as informações que alimentam a pesquisa ava-
liatória são sempre ressignificadas pelo agente ou agentes da avaliação. A construção
da informação avaliatória depende do trabalho ativo e profundo da análise do objeto
de avaliação, compreendendo o seu universo de significados e de práticas.
206
tretanto, levar em consideração que as informações ali presentes foram construídas em
um contexto provavelmente diferente do que o avaliador está no momento inserido.
Pesquisa de arquivo
A pesquisa de arquivo é uma das melhores técnicas de avaliação existentes, ainda
que encontre muitas dificuldades como a habitual imprecisão e desorganização dos
arquivos (ou melhor, dos poucos arquivos existentes), assim como da necessidade de
mão de obra especializada e, quase sempre, do longo tempo demandado. Mas, supe-
radas essas dificuldades, essa forma de análise pode trazer enormes contribuições à
avaliação e monitoramento de programas e projetos sociais. Há muitos tipos de do-
cumentos que podem ser encontrados em arquivos, tais como documentos de ga-
binete, documentos administrativos, relativos aos beneficiários, participantes, custos
Observação in loco
A técnica da observação em campo é um excelente modo de colher evidências
em pesquisas avaliatórias. As informações colhidas podem ser registradas de muitos
modos, como através de notas, diários de campo, fotografias, vídeo etc. Elas podem
207
ser usadas diretamente nos relatórios de avaliação como evidência da confirmação das
hipóteses apresentadas. A observação in loco é o coração da abordagem etnográfica
na pesquisa social.
jeto atravessa, pois podem revelar discrepâncias entre os procedimentos descritos pelos
documentos e os procedimentos realmente executados na prática organizacional.
Pesquisa de survey
Não há muita concordância na literatura sobre a pesquisa survey ou de tipo survey
quanto à sua classificação como técnica, abordagem ou mesmo instrumento de pes-
quisa social, largamente utilizada em avaliação e monitoramento de programas ou
1
A Escola de Chicago propôs nos anos 1950 uma abordagem de pesquisa centrada no estudo de caso, incentivando o mergulho do pesquisador na realidade pes-
quisada. Entre os pesquisadores que defendiam essa abordagem encontrava-se Robert Park, que ajudou a trazer a perspectiva empírica para a pesquisa social.
208
projetos sociais. Aqui a classificaremos como uma técnica usada para construir genera-
lizações sobre universos populacionais a partir de amostragens significativas de parte
dessa população. O instrumento característico das surveys é o questionário, que deve
ser cuidadosamente construído para dar credibilidade e confianças às generalizações
que serão realizadas.
Questionários
As surveys (tradução literal: exame) se utilizam de diferentes tipos de questioná-
209
ser contatados telefonicamente (essas listas já possuem milhares de números de tele-
fones). As vantagens da rapidez e dos baixos custos desse tipo de survey se confron-
tam com a dificuldade em se construir amostras equilibradas de universos populacio-
nais mais abrangentes. Não é fácil e nem barato, por exemplo, definir uma amostra
populacional de jovens de alta vulnerabilidade social, que estudam em colégios com
determinadas características, que são interessados em determinadas coisas e querem
trabalhar em um programa social. Em outras palavras, quanto mais refinada a amostra,
mais difícil é a sua construção.
As surveys presenciais são as que apresentam maiores custos, pois requerem pro-
fissionais treinados e afinados com os objetivos da pesquisa de avaliação. Estudos de-
monstraram que os entrevistadores possuem uma forte influência sobre a qualidade
das informações colhidas. Outro ponto a se observar é que o avaliador não consegue
ter o controle total do tempo de cada entrevista, pois cada uma tem uma dinâmica
própria. Por isso, faz-se um cálculo médio e se determina quantos questionários cada
entrevistador deve realizar por dia. O índice de respostas, porém, costuma ser alto. Os
questionários aplicados dessa forma são equivalentes às entrevistas estruturadas (ver
tópico entrevista estruturada).
Entrevistas
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
As entrevistas são uma das técnicas de pesquisa social mais difundidas no campo
da avaliação de programas e projetos sociais. Ela pode ser compreendida como uma
conversação entre duas ou mais pessoas, na qual ao menos uma delas assume a posi-
ção de entrevistador, com o objetivo de abordar um ou mais tópicos, podendo fazer
uso de diferentes métodos de interação dialógica. Quando bem conduzidas, é possível
obter, extrair ou construir, a depender do ponto de vista do entrevistador, informações
importantes sobre valores, opiniões, posições, atitudes, costumes, experiências e sen-
timentos dos entrevistados.
210
nada sensibilidade para compreender as limitações e potencialidades de cada experi-
ência de entrevista. Há muitas formas de classificar os métodos de entrevistas, sendo
que Tim May (2004), um dos mais importantes estudiosos das técnicas de pesquisa
social, propõe uma interessante classificação. Para ele, as entrevistas podem ser divi-
didas em quatro diferentes tipos (com a ressalva de que frequentemente utilizam-se
tipos mistos): entrevista estruturada, entrevista semiestruturada, entrevista não estru-
turada e entrevista em grupo. As entrevistas estruturadas são mais adequadas à abor-
dagem de tipo survey, enquanto que as semiestruturadas e não estruturadas são mais
utilizadas pela abordagem etnográfica.
Entrevista estruturada
As entrevistas estruturadas são bastante utilizadas em pesquisa de survey, ou seja,
em pesquisas que se utilizam de universo amostral para construir generalizações sobre
o universo populacional pesquisado. O principal instrumento de coleta de dados da
entrevista estruturada é o questionário, que deve ser aplicado por pesquisadores trei-
nados para influenciarem os resultados colhidos. Segundo os defensores desse tipo de
técnica, se as perguntas forem aplicadas igualmente e em contextos muito parecidos,
as diferenças de respostas obtidas são diferenças efetivas, reais, e não são vistas como
fruto do contexto da experiência na qual ocorreu a entrevista. A entrevista estruturada
permite, portanto, a comparação dos resultados obtidos dada a sua estrutura uniforme
(MAY, 2004).
A formação dos responsáveis pela aplicação do questionário, que devem ser de-
vidamente treinados para colherem diferenças reais entre os entrevistados, é também
um desafio da survey. Para enfatizar as posições neutrais dos entrevistadores em rela-
ção aos valores e opiniões do entrevistado, as pesquisas estruturadas adotam frequen-
temente explicações-padrão, diminuindo a possibilidade de ruído na comunicação
entre as partes e buscando delimitar o tipo de resposta desejada.
211
O pesquisador deve ainda, como recordam Fontana e Frey (1994), evitar inter-
pretar a reposta do entrevistado, assim como emitir qualquer tipo de juízo (verbaliza-
do ou não). Grande parte da literatura especializada em surveys, entretanto, começa a
defender uma maior semelhança cultural entre entrevistador e entrevistados, com o
objetivo de diminuir eventuais erros na coleta de dados provocados pelas diferenças
culturais entre ambas as partes.
Entrevista semiestruturada
A entrevista semiestruturada é uma técnica mista que, teoricamente, permite usu-
fruir das vantagens da padronização e da construção de generalizações da entrevista
estruturada e das possibilidades de aprofundamento ou esclarecimento da entrevista
não estruturada. Os avaliadores que adotam essa técnica defendem que a objetivida-
de dos resultados da entrevista estruturada pode ser enriquecida com alguma dose
controlada de subjetividade por parte dos entrevistados.
Serget e Ziegke (2000, apud MAY, 2004, p. 149) defendem que as entrevistas não
estruturadas podem revelar a “base subjetiva de mudanças sociais duradouras nos
212
padrões de percepção e comportamento de grupos sociais particulares”. De fato, tais
entrevistas possuem a capacidade de revelar tendências de comportamento a partir
da determinação de mudanças nos sistemas de valores dos entrevistados. Essa técni-
ca é frequentemente utilizada em avaliações que buscam trabalhar com histórias de
vida, entrevistas biográficas e/ou histórias orais, ainda que também possam ser usadas
entrevistas estruturadas para tal fim. Todavia, são as entrevistas não estruturadas (ou
entrevistas em profundidade) aquelas que conseguem colher a subjetividade interpre-
tativa dos entrevistados acerca dos temas sobre os quais discorrem com maior riqueza,
pois são sensíveis às informações reveladas nas entrelinhas dos discursos dos entrevis-
tados e favorecem a exploração e explicitação de seus valores e opiniões.
O autor.
Técnica Nome em inglês Descrição
Ouvir de maneira Active listening A postura do entrevistador deve ser nitidamente atenta,
atenta fazendo anotações e concentrando-se no direcionamen-
213
Armadilhas que devem ser evitadas:
Grupos focais
Pesquisas sociais e pesquisas avaliatórias utilizam largamente diferentes técnicas
de entrevistas em grupo. Entre tais técnicas, uma vem se destacando desde os anos
noventa, sendo responsável não só por um aumento expressivo da literatura especiali-
zada sobre o tema, mas também pelo desuso de outras técnicas tão eficientes quanto
esta. Trata-se da chamada entrevista em grupo focais, ou simplesmente grupos focais
(focus group), uma ferramenta de pesquisa social extremamente difundida em diferen-
tes âmbitos de estudo e profissionais2 e consiste em um grupo de pessoas reunidas
com o propósito de produzir conjuntamente dados qualitativos sobre uma discussão
focalizada (KRUEGER, 1996), conduzida por um profissional. Essa produção conjunta é
uma das principais características dos grupos focais, cujo resultado é em grande parte
atribuído à qualidade da relação estabelecida no grupo.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
como um tipo de pesquisa de grupo voltado à compreensão do comportamento do consumidor (cosumer behavior).
214
Também nesse tipo de técnica um dos grandes desafios é a formação do mode-
rador de discussão ou moderador de focus group. Esse moderador, que geralmente é
auxiliado por um observador e um operador de gravação (que pode ficar na sala de
observação), deve utilizar um roteiro de debates, além de promover a integração e
participação de todos os participantes.
O roteiro de debates é um guia flexível dos assuntos que devem ser abordados,
pois cada grupo apresenta a sua própria dinâmica e qualquer posicionamento exces-
sivamente rígido do mediador pode desencadear reações não desejáveis, mudança
de foco ou diminuição do interesse em participar por partes de alguns dos presentes
no grupo focal. A pauta do roteiro deve ser construída de acordo com os interesses da
avaliação, ou pode ser diretamente relacionada à hipótese de avaliação. O observador
é responsável por acompanhar e avaliar todo o processo, podendo ainda relacionar-se
diretamente, quando necessário mas sempre individualmente, com os participantes
(para, por exemplo, esclarecer algum ponto da metodologia). Sua avaliação é quase
sempre voltada à melhoria do processo desencadeado, assim como à superação de
eventuais dificuldades encontradas pelos participantes.
Há muitas formas diferentes de realizar grupos focais. Uma das mais tradicionais
adota salas espelhadas como locus das discussões dos grupos. Uma sala espelhada
consiste em uma sala fechada, aparentemente simples e sem personalidade, mas que
contém uma ou mais paredes com um espelho falso, que permite a visualização da sala
de discussão por outro grupo, situado em uma sala contígua chamada sala de observa-
ção, de modo a permitir que esse grupo de observadores possa observar o desenrolar
Opinião de especialistas
A opinião de especialistas, ou painel de especialistas, pode ser uma interessan-
te técnica de produção de dados qualitativos sobre um determinado tema inerente à
avaliação, por utilizar-se de percepções e conhecimentos de um grupo de pessoas que
possuem o domínio daquele tema ou de parte dele.
A técnica pode ser aplicada de modo muito simples, perguntando aos especia-
listas a opinião dos mesmos sobre, por exemplo, os resultados e/ou impactos do pro-
3
Dado os custos para se construir estruturas desse tipo, frequentemente os grupos focais são realizados em salas apropriadas, disponíveis no mercado, em
prédios comerciais que oferecem tais espaços por períodos de duas ou três horas ou então por turnos.
215
grama. Nos casos em que o programa ou outro objeto de avaliação ainda não tenha
apresentado resultados, é possível perguntar aos especialistas sobre os prováveis re-
sultados ou impactos que eles imaginam que serão colhidos. Essa técnica é frequen-
temente utilizada dada a facilidade e rapidez em se obter dados prováveis, e supos-
tamente confiáveis, sobre o desempenho dos programas (sobretudo se comparada a
outros tipos de técnicas como survey de universos populacionais extensos).
No entanto, é preciso lembrar que a qualidade e acuidade das opiniões estão for-
temente relacionadas ao posicionamento político do especialista, assim como ao nível
de informação que ele tem sobre o programa ou outro objeto de avaliação. Por isso,
pode ser um problema formar um bom grupo de especialistas no tema do programa,
pois tal grupo deve apresentar um certo equilíbrio quanto aos posicionamentos políti-
cos e sobretudo quanto às diferenças de pontos de vista entre os mesmos, que podem
inclusive pertencer a diferentes campo de conhecimento. Para tecer generalizações
respaldadas pelas opiniões de especialistas pode ser necessário apoiar-se em algumas
inferências in loco a fim de validar as opiniões colhidas, lembrando que o público da
avaliação pode duvidar da credibilidade das mesmas.
Técnica delphi
A técnica delphi, criada por Norman Dalkey, em 1955, é uma técnica mista utiliza-
da para a construção de consensos de um grupo de pessoas, normalmente especialis-
tas em um determinado tema (peritos, cientistas, acadêmicos, empresários, executivos
etc.), que intercambiam e sistematizam opiniões sem uma interação presencial, apenas
sob a moderação de um coordenador (DALKEY, 1969). As opiniões emitidas são rein-
seridas no grupo sem identificação dos emissores (anonimamente) de modo a evitar
qualquer tipo de contaminação ou personificação de resultados. O número de par-
ticipantes entrevistados normalmente varia de 10 a 100, dependendo do escopo da
avaliação e da complexidade da pergunta avaliatória.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
216
Apesar de manter a aplicação tradicional da técnica delphi (o anonimato, a inte-
ração com feedback controlado e as respostas estatísticas do grupo), elaborada com
papel e lápis e conhecida como “Exercício delphi”, versões eletrônicas vêm progressiva-
mente substituindo a técnica original por questionários on-line que agilizam o proces-
so e permitem uma certa interação midiática entre os intervenientes no processo.
Análise de conteúdo
217
de palavras consideradas importantes para a construção dos objetivos do programa
avaliado a fim de verificar o seu grau de compreensão do mesmo.
Testes
A técnica do teste é muito usada em abordagens quantitativas, sobretudo na
área educacional, para a mensuração de aquisição de conhecimentos. Mesmo assim,
os testes começam a ganhar certa força entre as técnicas de avaliação de programas
e projetos sociais, sobretudo porque muitos deles possuem alguma dimensão educa-
cional. Basta pensar, por exemplo, nos programas de saúde da família, que se utilizam
de monitores que devem multiplicar os conhecimentos primordiais de saúde junto à
população-alvo. Nesses casos é possível verificar tanto a efetividade do aprendizado
dos monitores quanto a qualidade do serviço prestado ao público final.
Conclusão
O uso das técnicas de coleta de dados oriundas do universo da pesquisa social e
organizacional em avaliação de projetos e programas sociais deve respeitar a natureza
da própria avaliação, assim como a cultura, particularidades e dinâmica dos objetos
avaliados. Infelizmente, não raro as técnicas são escolhidas somente em função do
custo final da avaliação ou até mesmo limitadas pelo domínio de competências profis-
sionais do avaliador e da sua equipe, excluindo possibilidades que poderiam enrique-
cer o inteiro processo avaliatório. Um bom avaliador, porém, deve conhecer, mesmo
218
que panoramicamente, grande parte das técnicas disponíveis, a fim de reconhecer as
mais adequadas aos limites e desafios do trabalho que está para iniciar – lembrando
que para muitas dessas técnicas há especialistas disponíveis no mercado, como é o
caso da técnica de grupo focal.
Texto complementar
Em primeiro lugar Bourdieu (1999) indica que a escolha do método não deve
ser rígida mas sim rigorosa, ou seja, o pesquisador não necessita seguir um método
só com rigidez, mas qualquer método ou conjunto de métodos que forem utilizados
Para se obter uma boa pesquisa é necessário escolher as pessoas que serão
investigadas, sendo que, na medida do possível, estas pessoas sejam já conhecidas
pelo pesquisador ou apresentadas a ele por outras pessoas da relação da investiga-
da. Dessa forma, quando existe uma certa familiaridade ou proximidade social entre
pesquisador e pesquisado as pessoas ficam mais à vontade e se sentem mais seguras
para colaborar.
219
Em algumas pesquisas são utilizados os pesquisadores ocasionais. São pessoas
instruídas com técnicas de pesquisa e que têm acesso a certo grupo que se deseja
pesquisar; essas pessoas devem ter uma certa familiaridade com o grupo. Esta estra-
tégia pode ser utilizada, mas com cuidado, pois os pesquisadores ocasionais podem
deixar de fornecer instrumentos mais precisos para posterior análise. Portanto, na
medida do possível, o próprio pesquisador deve fazer a entrevista, afinal, é ele que
melhor sabe o que está procurando.
dos faz parte de uma singularidade, cada um deles tem uma história de vida dife-
rente, tem uma existência singular. Portanto nada de distração durante a entrevista,
precisa-se estar atento e atencioso com o informante. Além disso, ao realizar o rela-
tório da pesquisa é dever do pesquisador se esforçar ao máximo para situar o leitor
de que lugar o entrevistado fala, qual o seu espaço social, sua condição social e quais
os condicionamentos dos quais o pesquisado é o produto. Tem que ficar claro para o
leitor a tomada de posição do pesquisado.
Durante todo o processo da pesquisa o pesquisador terá que ler nas entrelinhas,
ou seja, ele tem que ser capaz de reconhecer as estruturas invisíveis que organizam
o discurso do entrevistado. Dessa forma, durante a entrevista o pesquisador precisa
estar alerta, pois o pesquisado pode tentar impor sua definição de situação de forma
220
consciente ou inconsciente. Ele também poderá tentar passar uma imagem diferen-
te dele mesmo.
221
ritual, é uma forma do pesquisador acolher os problemas do pesquisado como se
fossem seus. É olhar o outro e se colocar no lugar do outro. Portanto o sociólogo
deve ser rigoroso quanto ao seu ponto de vista, que não deixa de ser um ponto de
vista de um outro ponto de vista, o do entrevistado.
Atividades
222
3. Provavelmente você já participou de uma survey ou, pelo menos, conhece al-
guém que já vivenciou essa experiência, respondendo a questionários apre-
sentados por pesquisadores que abordam prováveis respondentes nas ruas, ou
mesmo recebendo questionários em casa. Procure identificar os motivos que
levou você ou o seu conhecido a participar desse tipo de pesquisa por amostra-
gem e qual foi a sensação final ao responder a todas as questões. Descreva ain-
da se você recebeu algum feedback da equipe que organizava a tal pesquisa.
223
Avaliação e aprendizagem
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
Vídeo O objetivo maior de toda avaliação pode ser compreendido como
fornecer juízos argumentados de valor sobre os objetos avaliados a fim
de desencadear processos de aprendizagem organizacional e social
(BOULLOSA, 2007). Todavia, pesquisas demonstram que raramente as
avaliações conseguem responder a esse propósito maior. Ou seja, ra-
ramente as avaliações são usadas como instrumentos de discussão e
de aprendizagem, assim como raramente conseguem provocar mudanças substan-
ciais em seus objetos de estudo. Em outras palavras, as avaliações deveriam, sempre
que possível, alimentar os objetos sociais que avaliam, desencadeando processos de
aprendizagem. Esse processo chama-se retroalimentação.
Não obstante tantos problemas, sabemos também que muitas avaliações conse-
guem fugir da regra e alimentar processos significativos de melhorias em seus objetos
de estudo, quando não estendem tais benefícios a outros âmbitos organizacionais e
sociais. Neste capítulo, vamos conhecer as bases teóricas para a compreensão das re-
lações entre avaliação e aprendizagem, assim como discutir algumas das condições
que parecem mostrar-se mais adequadas aos propósitos de transformação que todo
processo de avaliação poderia desencadear.
225
As principais dificuldades de retroalimentação
Uma das principais dificuldades que a avaliação encontra para cumprir o seu
propósito de desencadeador de processos de aprendizagem reside na relutância de
experientes gestores em aceitar a sua utilidade, sob o argumento de que a história
recente tem mostrado que as avaliações estão desconectadas do mundo real, ou seja,
do mundo dos chamados problemas práticos. Em parte, eles têm razão, sobretudo no
que concerne às avaliações externas. A avaliação é um campo relativamente novo, em
constante reformulação, e parte das suas novidades metodológicas nascem de uma
forte crítica a metodologias já existentes e não mais satisfatórias (por exemplo, as ava-
liações quase-experimentais nasceram de críticas às limitações das avaliações experi-
mentais e assim por diante), que acabam afirmando a inutilidade de tais modelos.
A teórica Karen Marie Mokate utiliza ludicamente a expressão “monstro” para sin-
tetizar o sentimento que muitos gestores e implementadores de políticas e de seus ins-
trumentos possuiriam diante da obrigação de colaborar, ou mesmo realizar, avaliações
que não teriam “utilidade direta em seus processos gerenciais ou decisórios” (MOKATE,
2003, p. 1). Tal obrigação seria fruto de algum compromisso tomado por seus chefes,
de alguma exigência legislativa, de instâncias centrais do governo, das agências finan-
ciadoras ou mesmo dos vínculos contidos nos desenhos de formulação da política,
programas, projetos ou ações a serem avaliadas.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
Não raro, também, essas pressões por avaliação acabam sendo lidas como meca-
nismos de controle da ação dos gestores e implementadores de políticas, que acredi-
tam ser objetos de ações de accountability, ou seja, de responsabilização de suas ações
gerenciais, sobretudo no que diz respeito ao alcance de objetivos e ao cumprimento
de metas. Contrapor-se a essa propensão negativa para com a avaliação também não
é tarefa fácil, mas é possível mostrar aos gestores que a avaliação pode ser uma ferra-
menta para ajudá-los a melhorar suas performances, a tomar melhores decisões, a com-
preender melhor os processos em que estão inseridos, aumentando, possivelmente,
a previsibilidade das consequências das suas decisões. E assim, dever-se-ia mostrar a
avaliação como uma aliada do processo decisional, que poderá lhe ajudar a desenhar
ajustes internos de curto, médio ou longo prazo, a depender do foco da avaliação.
226
Além desses obstáculos, podemos avançar com a contribuição de outros autores,
que alertam para as dificuldades enfrentadas pelos processos de avaliação na busca
de retroalimentar os seus objetos de avaliação, lembrando que tais objetos podem ser
compreendidos como processos de gestão ativados para solucionar ou tratar proble-
mas considerados de pública relevância (BOULLOSA, 2006). Entre muitos autores, vale
a pena citar Thoenig (2000), que sintetizou algumas das principais causas das dificulda-
des de retroalimentação das avaliações para com os seus objetos de estudo. São elas:
receio de que os resultados das avaliações tenham usos políticos pela mídia
ou pela oposição.
cia. Mesmo assim, a abordagem neoliberal1 que propunha a diminuição do Estado, pri-
vatizando parcialmente algumas funções históricas, como educação e saúde, também
via na avaliação a justificativa para cortes racionais de investimento público.
1
Segundo o dicionário Houaiss, o neoliberalismo é “uma doutrina, desenvolvida a partir da década de 1970, que defende a absoluta liberdade de mercado e
uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo”.
227
Se a ideia era gastar menos e gastar melhor, a avaliação também era vista como
mecanismo de seleção dos melhores investimentos públicos, limitando as potencia-
lidades e usos da avaliação. Weisner Duran (1993) chegou a chamar a avaliação de
“proxy” (variável) do mercado na administração pública, por considerá-la como uma
das grandes aliadas da modernização da administração pública2.
Não obstante tantos esforços, uma das maiores limitações para integrar a avalia-
ção aos processos de formulação e implementação pode estar justamente em romper
essa visão linear e sequencial do ciclo de vida de uma política ou programa. Aprender
com a avaliação significa superar essa visão fásica. Significa repensar o ciclo inteiro e
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
2
Essa interpretação estava fortemente alinhada com os pressupostos da reforma da administração pública preconizada pelos autores David Osborne e Ted
Gaebler, no famoso e influente livro Reinventando o governo – como o espírito empreendedor está transformando o Setor Público (1992).
228
(relativo ao objeto de avaliação) e social (relativo à dimensão dialógico-cívica da sociedade em
geral. (BOULLOSA, 2006, p. 112).
Assim, a avaliação passa a ser uma atividade necessariamente social, nunca exclu-
sivamente concentrada na figura demiúrgica do avaliador. Diversamente, a avaliação é
um processo complexo e social, em que dialogam diferentes atores, portadores de in-
teresses e preferências nem sempre convergentes, cujo público é, em última instância,
a sociedade democrática como um todo. Naturalmente, não existe uma receita mágica
que garanta à avaliação a prerrogativa de desencadear processos de aprendizagem
junto ao objeto avaliado, sobretudo quando tais processos concernem à organização
responsável por tal objeto (seja na formulação ou implementação). Não obstante tal
impossibilidade, vamos conhecer as premissas propostas por Boullosa (2008) que po-
deriam facilitar o desencadeamento de tais processos: a produção de conhecimento
útil pela avaliação, a sua orientação para a ação, e a internalização da avaliação.
229
nizacionais. Vale a pena empreender algumas “rodadas de diálogo” para compreender
quais informações e juízos são realmente importante para os atores efetivamente en-
volvidos com o objeto de avaliação. Tais informações e juízos provavelmente estarão
relacionados aos problemas práticos que esses atores vêm enfrentando no seu dia a
dia organizacional.
Isso não significa que o avaliador e sua equipe devam aceitar passivamente tal
demanda. Pelo contrário, devem participar ativamente de tal negociação, buscando
construir pontes entre as diferentes leituras e oferecendo cenários alternativos de
problematizações. É preciso compreender que os problemas são sempre “construí-
dos”, pois dependem fundamentalmente do olhar de quem os individualiza e observa.
Quando se passa a problematizações coletivas, esse caráter de “construção” se reforça,
pois pressupõe-se que o problema final seja resultante de negociação de uma qual-
quer coletividade. Assim, ao se chegar ao problema de avaliação construído coletiva-
mente, seria interessante prolongar os esforços já realizados nesse sentido e buscar
associar ao problema (e aos seus derivados) possíveis hipóteses de avaliação.
Além disso, é fundamental que se discuta a importância prática dos juízos de valo-
res que serão emitidos pela avaliação. Eles não devem ser apresentados como verdades
únicas, demiúrgicas. Diversamente, devem ser constantemente lembrados como verdades
argumentadas a partir de um ponto de vista claro, pensado e construído como informação
qualitativa e ponderada entre os envolvidos ou interessados nos objetos de avaliação.
230
É preciso reconhecer que nem sempre todos os problemas apresentados ou ex-
traídos em conjunto com o grupo interno do projeto ou programa avaliado possuem
o mesmo grau de governabilidade. A governabilidade de um problema depende da
capacidade de tratamento de tal problema por um dado ator ou por um conjunto de
atores. Esse exercício é fundamental. Há problemas cuja governabilidade pode ser re-
almente muito baixa, como, por exemplo, a governabilidade de uma prefeitura sobre
os passos metodológicos de um projeto pensado em nível federal. A prefeitura pode
até discordar, enviar sugestões de alterações etc., mas não poderá sozinha mudar a
metodologia do projeto.
231
criatividade de eventuais ou potenciais comunidades de prática.
A busca pela síntese dessas qualidades poderia ser fruto de pesquisa metodoló-
gica e resultar em avaliações que mais facilmente alcançassem algumas das vantagens
acima expostas.
Diante de tal desalentadora perspectiva, não seria um exagero considerar tais ava-
liações como obtusas, fechadas em si mesmas, não geradoras de processos de apren-
dizagem. Mas, e por que isso acontece? Seguramente a resposta não é fácil e nem
única. Boullosa (2008) apresenta algumas possibilidades, que ajudam em tal reflexão.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
232
Modelos mistos devem ser calcados na compreensão de corresponsabilização
dos processos avaliatórios, onde, a princípio, o avaliador pode assumir diferentes
papéis no equilíbrio entre avaliações internas e externas. A variabilidade de tais papéis
está diretamente relacionada à experiência e disponibilidade do avaliador, responsá-
vel por desenhar todo processo, ou, pelo menos, propor seu esboço inicial (pois alguns
podem preferir colocar inclusive esse esboço em discussão). A proposta de avaliação
mista pode também resultar em avaliações participativas, quando se procura explorar
os seus limites mais democráticos. Todavia, tal alternativa metodológica nem sempre
é possível de ser implantada, muitas vezes por resistência dos demandantes da avalia-
ção, outras vezes por demandarem ainda mais tempo.
Limitações da avaliação
Para se construir avaliações que possam desencadear novos processos de apren-
dizagem é preciso reconhecer os seus principais limites. Um desses principais limites
é, sem dúvida, reconhecer que a avaliação é apenas um dos inputs (recursos) que os
tomadores de decisão utilizam no seu dia a dia. Estudos e modelizações de processos
decisórios mostram que a decisão está mais vinculada à experiência e às contingências
do momento em que ela acontece do que à disponibilidade das informações qualitati-
vas e quantitativas para com o tomador de decisão.
É o que mostra, por exemplo, o modelo decisional chamado “lata de lixo” (gar-
bage can, no original em inglês). Segundo esse modelo, o tomador de decisão tem
por hábito descartar diferentes informações (possíveis problemas e possíveis soluções)
em um “depósito imaginário” ou “lata de lixo”. Tais informações se acumulariam em tal
“recipiente”. No momento em que ele precisa tomar uma decisão, recorre a tal latinha,
resgatando, meio que aleatoriamente, informações ali contidas, respeitando uma certa
hierarquia temporal. Essas informações lhe ajudariam a interpretar a situação proble-
mática que ele começa a ver (ou que lhe mostram, ou ambos), assim como a resolver
tal situação.
Teóricos desse modelo estudaram ainda quais as dinâmicas que regem essa su-
posta aleatoriedade e observaram que o tempo, por exemplo, é uma importante vari-
ável (na prática, os “papeizinhos” descartados por último têm mais chances de serem
Avaliação e aprendizagem
resgatados). O modelo da cesta de lixo, que é somente um dos modelos entre tantos
(ainda que, provavelmente, um dos mais aceitos), nos ensina que as avaliações também
correm o risco de funcionar como um desses papeizinhos embolados em uma lata de
lixo decisional. Isso quer dizer que ela concorre com outras informações, com outros
inputs (LINDBLOM; COHEN, 1979).
233
A compreensão da limitação da avaliação nos processos decisórios pode ajudar
os avaliadores a explorar, pelo menos, três caminhos (BOULLOSA, 2008):
Além destes, vale a pena incluir dois limites: o desprendimento do avaliador para
com o seu objeto de trabalho, já que ele também deverá negociar a autoria do proces-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
234
Conclusão
Avaliar não é tarefa fácil, nem para quem se sente no papel de avaliador, nem para
quem se sente no papel de avaliado. É um processo que envolve diálogo e, sempre
que possível, a superação desses papéis dicotômicos que podem acabar criando mais
conflitos do que os já inerentes a qualquer processo avaliatório. Vencer essa e outras
barreiras requer diferentes competências do avaliador, tanto técnico-metodológicas,
estratégicas, quanto relacionais. Seria preciso que as práticas de avaliação assumam
que o seu fim maior é o desencadeamento de processos de aprendizagem pessoais,
organizacionais e sociais (BOULLOSA, 2007), sem esquecer de dialogar com outros pro-
cessos de aprendizagem que seguramente já estão em curso, sejam positivos ou não.
Texto complementar
A reforma do setor público está agora se tornando uma tarefa contínua dos
governos. É bem provável que terminaram os dias em que era suficiente decretar
235
uma reorganização governamental, uma vez em cada geração, e então retomar as
rotinas cotidianas. Ao mesmo tempo, as pressões por mudança estão se tornando
cada vez mais globais e limitantes, o que colocou países, que têm sido relativamen-
te relutantes em adotar reformas, em uma posição difícil. Dois atores deveriam ser
ressaltados em particular:
236
como dentro de cada país. Apesar da reforma de departamentos governamentais
ainda ser uma política na qual, em comparação com outras áreas como saúde, pes-
quisa e desenvolvimento etc., a possibilidade de comparação e, portanto, a referên-
cia a boas práticas e ao benchmarking2, tem sido relativamente rara (da mesma forma
que a avaliação), a situação provavelmente irá mudar de forma rápida. Agora será
mais difícil se recusar a realizar algumas reformas do setor público argumentando
que elas são baseadas em considerações ideológicas ou políticas. A reforma está se
tornando um imperativo funcional por si mesmo.
2
Benchmarking é o processo de confronto do próprio desempenho e resultados com outros desempenhos e resultados possivelmente similares, podendo
ser interno (entre unidades de uma mesma organização ou programa), competitiva (em relação a organizações ou programas considerados excelentes),
funcional (em relação às best practicies, mesmo que em outros setores de intervenção) ou genérica (em relação ao inteiro processo organizacional).
3
Conjunto de técnicas de planejamento, voltado para a administração pública, que propõe a análise a avaliação das alternativas de gestão para que se
alcance os objetivos com eficiência (menor custo possível).
237
causa e efeito (“se eu escolher esta solução, então ela provavelmente terá este im-
pacto”) tornam a avaliação uma ferramenta realista para a ação. É fútil, ingênuo ou
arrogante imaginar que as reformas de gestão do setor público:
podem limitar os efeitos indesejados que essas mudanças podem ter sobre
o fornecimento eficiente e equitativo de bens e serviços à sociedade.
Atividades
1. Extraia do texto e comente os dois motivos que você considera mais pertinen-
tes para o baixo aproveitamento das avaliações realizadas sobre políticas, pro-
gramas e projetos sociais. Se possível, cite exemplos.
238
2. Agora faça o mesmo com os dois motivos que você considera menos perti-
nentes para o baixo aproveitamento das avaliações realizadas sobre políticas,
programas e projetos sociais. Se possível, cite exemplos.
Avaliação e aprendizagem
239
Gabarito
Formais Informais
Completa Parcial
Estruturada Carente de evidências comprovadas
Relações causais explícitas Relações causais implícitas
Busca de objetividade Percepções subjetivas
Uso plural de dados Uso parcial de dados
Pode ser reconstruída Dificilmente pode ser reconstruída
Clareza dos critérios de avaliação Obscuridade nos critérios de avaliação
Equilíbrio na argumentação do juízo Radicalismo na argumentação do juízo
Dialogada com outros atores Nem sempre dialogada
241
4. os juízos de valor devem ser argumentados fundamentalmente para que pos-
sam ser socialmente validados, tornando a avaliação útil ao desenvolvimento
do próprio objeto de avaliação, de modo a desencadear processos de apren-
dizagem prático-institucionais (relativo ao objeto de avaliação) e sociais (re-
lativo à dimensão dialógico-cívica da sociedade em geral (Boullosa, 2006)). A
argumentação deve ser calcada em instrumentos e procedimentos de pesquisa
avaliatória (não somente pesquisa social aplicada), de modo a possibilitar a sua
reconstrução analítica e discussão dos resultados, juízo ou síntese avaliatória,
pelas coletividades interessadas em tal avaliação.
tivo sobre a mudança desse paradigma, até mesmo porque a própria conclu-
são deste capítulo sugere que estamos em busca de novos direcionamentos. O
aluno poderia citar o caso do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) que já busca algumas mudanças, mas também poderia lembrar
que um dos principais requisitos para uma virada paradigmática da avaliação
consiste na compreensão da cultura que se deseja transcender. Poderia, ainda,
argumentar que os novos modelos de políticas públicas, mais plurais e parti-
cipativos, também criam espaços para novas concepções mais pluralistas ou
participativas de avaliação.
242
Avaliação, pesquisa avaliativa e valores
1. Espera-se que o aluno observe algumas semelhanças e diferenças entre valores
do programa e os valores da avaliação. As principais estão registradas no qua-
dro abaixo. Espera-se ainda que o aluno se posicione sobre a eventual concor-
dância ou discordância em relação aos valores de cada uma das partes.
3. A síntese avaliatória do TCU indica que o programa não vai muito bem, apesar
de algumas boas práticas. Os problemas foram agrupados nos seguintes pon-
tos: ausência de política de atendimento ao adolescente em conflito com a lei,
deficiências na estrutura física e nas ações de capacitação, alto envolvimento
com droga dos adolescentes entrevistados, baixa implementação das ações de
apoio e acompanhamento de egressos e atuação policial deficiente. O aluno
deve perceber que o juízo não está bem argumentado, mesmo levando em
consideração que o documento lido é apenas um Sumário Executivo da Ava-
liação e dos seus resultados. Tal brevidade impede o leitor de avaliar a relação
entre a síntese avaliatória e o percurso de pesquisa.
Gabarito
243
4. Não é possível refazer o percurso de avaliação somente com as informações
metodológicas contidas sumariamente no documento lido. Contudo, espera-se
que o aluno, mesmo com as poucas indicações, consiga perceber diferentes
possibilidades de se avaliar, por exemplo, entrevistando as famílias dos adoles-
centes, promovendo encontros entre os atores envolvidos a fim de identificar
os conflitos que geram os problemas etc.
3. Esta resposta é livre e o aluno pode responder qualquer um dos possíveis usos
elencados neste capítulo. Todavia, o mais importante é que ele leve em consi-
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
244
O desenho da pesquisa avaliatória
1. Exemplo 1 – predominantemente no nível operativo porque concentra seus es-
forços na definição das técnicas de avaliação, ainda que haja uma preocupação
em definir a avaliação como avaliação de desempenho (assim, seria também
possível marcar o nível metodológico-operativo); Exemplo 2 – predominan-
temente no nível operativo porque concentra seus esforços na definição das
técnicas de avaliação e já começa levantando os dados disponíveis; Exemplo 3
– predominantemente níveis metodológico-operativo e operativo, pois há uma
pequena preocupação com a escolha de uma metodologia, ainda que sugira
que sua aplicação será rígida, não levando em consideração as variações de
contexto.
3.
a) O aluno deve responder que sim, que os três níveis são contemplados. Em
correspondência ao primeiro nível, pode-se citar a preocupação com os
possíveis usos da avaliação, com os valores da avaliação e com a preocupa-
ção em definir um problema de avaliação. Em relação ao segundo nível, a
preocupação em desenhar a metodologia de avaliação (avaliação de impac-
to e seu percurso). E em relação ao último nível, o operativo, pode-se citar a
preocupação com a definição das técnicas de pesquisa.
245
Abordagens e metodologias de avaliação
de programas e projetos sociais
1. Espera-se que o aluno relacione as abordagens positivistas às gerencialistas e
as construtivistas às não gerencialistas, como na tabela abaixo.
246
3.
b) Positivista e gerencialista.
3. Resposta: B
Indicadores sociais
1. O aluno deve pesquisar no próprio site do PNUD ou em outros correlatos as
informações e focar sua resposta sobre o cálculo do IDH, falando sobre a agre-
gação que é realizada de três indicadores básicos:
247
O Relatório do IDH de 2007 informa que o Brasil entrou novamente para o gru-
po de países com elevado desenvolvimento humano, com um índice medido
em 0,807, mesmo havendo várias controvérsias e discordâncias sobre os cál-
culos. O aluno ainda deve pesquisa o IDH-M e fazer a comparações que julgar
pertinentes.
2. O aluno deve citar indicadores pesquisados nos sites voltados para a Educação
Básica, principalmente do Inep (censo educacional) e IBGE. Entre os indicadores
educacionais, pode citar: taxa de atendimento escolar, taxa de evasão, taxa de
reprovação, gasto público per capita com educação, razão de alunos por escola,
número médio de horas-aula, professores por mil habitantes, razão de alunos
por professor, taxa de analfabetismo, escolaridade média entre outros.
3. Resposta: C
4. Resposta: A
248
4. Não há resposta-padrão. O site do IBGE destaca que a construção dos indicado-
res de desenvolvimento sustentável do país relaciona-se à orientação da Confe-
rência das Nações Unidas e sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada
no Rio de Janeiro em 1992. Os Indicadores são uma ferramenta aos tomadores
de decisões ao apresentar, periodicamente, um panorama abrangente dos prin-
cipais temas relacionados ao desenvolvimento sustentável no Brasil. Segundo
o site, na publicação são apresentados 60 indicadores que
[...] fornecem, em sua dimensão ambiental, informações relacionadas ao uso dos recursos naturais
e à degradação ambiental, organizadas nos temas atmosfera, terra, água doce, mares e áreas
costeiras, biodiversidade e saneamento. Em sua dimensão social, os indicadores abrangem os
temas população, trabalho e rendimento, saúde, educação, habitação e segurança, vinculados à
satisfação das necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e justiça social. A dimensão
econômica dos indicadores busca retratar o desempenho macroeconômico e financeiro e os
impactos no consumo de recursos materiais e uso de energia mediante a abordagem dos temas
quadro econômico e padrões de produção e consumo. Por sua vez, a dimensão institucional,
desdobrada nos temas quadro institucional e capacidade institucional, oferece informações
sobre a orientação política, a capacidade e os esforços realizados com vistas às mudanças
necessárias para a implementação do desenvolvimento sustentável (IBGE, 2002).
Seria bom que o aluno percebesse que grande parte desses indicadores po-
dem ser utilizados para a cooptação de diferentes atores da sociedade local em
vista da promoção de políticas de desenvolvimento local.
249
técnicas e consultorias ofertadas; número de manuais distribuídos; capacitações
técnicas ofertadas; número de laboratórios construídos/ampliados etc.
3. Resposta: D
2. São muitas as diferenças, mas o aluno não pode deixar de responder duas de-
las: o grau de controle e a profundidade das informações colhidas. No primeiro
caso, o grau de controle da entrevista estruturada é muito superior a da entre-
vista não estruturada, tanto por parte do entrevistado, que deve escolher a mais
adequada entre um número limitado de respostas, quanto do entrevistador,
cuja variação no tom de voz pode chegar a alterar a resposta do entrevistado.
No segundo caso, também é evidente a diferença: as entrevistas estruturadas
pré-delimitam a pouca profundidade das respostas (quanto maior a profundi-
dade maior o risco de más interpretações) e as não estruturadas estimulam a
profundidade. Exemplos de estruturadas: surveys presenciais e surveys telefôni-
cas. Exemplos de não estruturadas: entrevista bibliográfica e história de vida.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
250
Avaliação e aprendizagem
1. O aluno deverá selecionar alguns destes problemas apresentados pelo tex-
to: relutância de experientes gestores em aceitar a utilidade da avaliação; as
avaliações serem vistas como monstros; medo dos gestores de serem objetos
de ações de accountability, ou seja, de responsabilização de suas ações geren-
ciais. Ou então selecionar entre o elenco proposto por Thoenig: a resistência
dos formuladores de políticas em serem submetidos a um olhar externo de
especialistas; a irresistível tendência dos avaliadores em traçarem as metas e
o conteúdo das reformas como resultados dos seus trabalhos de avaliação; o
tempo exigido pelas avaliações que diferem substancialmente dos tempos da
gestão; a crença da avaliação como instrumento político; medo dos gestores
de alto nível hierárquico de serem envergonhados publicamente com o resul-
tado das avaliações; receio de que os resultados das avaliações tenham usos
políticos pela mídia ou pela oposição. Após a seleção deverá justificar a es-
colha com argumentações articuladas, ressaltando, preferencialmente, como
ele se sentiria participando de um processo de avaliação, tanto no papel de
um avaliador quando de um avaliado.
251
3. O aluno deve responder que voltar-se para a ação transformadora significa
buscar compreender não somente os problemas do objeto da avaliação, mas
também o contexto no qual eles estão inseridos, de modo a oferecer direções
de ações plausíveis para aqueles que poderão reformular ou transformar as
práticas de avaliação. Espera-se que o aluno concorde com tal postura, mas,
naturalmente, a reposta é livre.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
252
Referências
ALBAEK, Erik. Knowledge, interests and the many meanings of evaluation: a develop-
mental perspective. Scandinavian Journal of Social Welfare, 7, p. 94-98, 1998.
BEZZI, Claudio. Il Disegno Della Ricerca Valutativa. Milão: Franco Angeli, 2007.
BONI, Valdete; QUARESMA, Silvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer en-
trevistas em Ciências Sociais. Emtese – Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em So-
255
ciologia Política da UFSC. v. 2 n. 1 (3), p. 68-80, jan./jul. 2005. Disponível em: <www.
emtese.ufsc.br>. Acesso em: fev. 2009.
BRANDON, Paul R.; LINDBERG, Marlene A.; WANG, Zhigang . Involving Program Benefi-
ciaries in the Early Stages of Evaluation: Issues of Consequential Validity and Influence.
Education Evaluation Policy Analysis, 15, p. 420–428, 1993.
BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Texto para Discussão, n. 9. Brasília: ENAP, 2001. Dis-
ponível em: <http://www.enap.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_
download&gid=1608>. Acesso em: 15 de fev. 2009.
BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos; SPINK, Peter (Orgs.). Reforma do Estado e Administra-
ção Pública Gerencial. Rio de Janeiro. Ed. FGV, 1998.
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
256
CAMPBELL, Donald T.; STANLEY, Julian C. Experimental and Quasi-Experimental De-
signs for Research. Chicago: Rand McNally College Pub. Co., 1966.
DU GAY, Paul. Enterprise, culture and ideology of excelence. New Formations, n. 13,
p. 45-61, 1991.
FARIA, Carlos Aurélio Pimenta. A política de avaliação das políticas públicas. Revista
Brasileira de Ciências Sociais. v. 20, n. 59, 2005.
Referências
FBB. Site da Fundação Banco do Brasil. Disponível em: <www.fbb.org.br>. Acesso em:
jan. 2009.
257
FETTERMAN, David. Empowerment Evaluation. American Journal of Evaluation,
1994, p 1-15, v. 15.
FONTANA, Andrea; FREY, James H. Interviewing: the art of science. In: N. Denzin; Y.
Lincoln, Handbook of Qualitative Research. Newsbury Park: Sage, 1994.
GUALA, Chito. Strategie di Ricerca: la preparazione del dato. Torino: Tirrenia Stampa-
tori, 1986.
GUBA, Egon; LINCOLN, Yvonna. Fourth Generation Evaluations. New York: Sage
Publications, 1989.
KEYNES, John Maynard. The General Theory of Employment Interest and Money.
New York: Prometheus Books, 1997.
KING, Jean. Research on evaluation Use and its implication for evaluating research and
practices”. Studies in Educational Evaluation, 1988.
258
KRUEGER Richard. A. Focus Groups: a practical guide for applied research. London:
Sage Publications, 1996.
LINCOLN, Yvonna; GUBA, Egon. Do Evaluators Wear Grass Skirts? Going native and
ethnocentrism as problems in utilization, 1981. Disponível em: <www.eric.ed.gov/>.
Acesso em: maio 2009.
LINDBLOM, C. E.; COHEN, D. Usable Knowledge: social sciense and social problem
solving. New Haven: Yale University Press, 1979.
LUBAMBO, Catia W.; ARAUJO, Maria L. C.; Avaliação de Programas Sociais: virtualida-
des técnicas e democráticas. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2003.
MAY, Tim. Pesquisa Social – Questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed Edi-
tora, 2004.
OAKLEY, Ann. Public policy experimentation: lessons from America. Policy Studies, 19
(2), p. 93-114, 1998.
1994.
259
OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. Reinventing Government: how the entrepreneurial
spirit is transforming the public sector. Reading. MA: Addison-Wesley, 1992.
PAES, Ana Paula de. Administração Brasileira entre o gerencialismo e a gestão social.
Revista de Administração de Empresas. v. 45. n. 1. jan./mar. 2005.
PATTON, Michael Q. Politics and Evaluation. Evaluation Practice, 15, p. 311-320, 1998.
PERLOFF, Richard M.; PADGETT, Vernon R.; BROCK, Thimothy C. Sociocognitive biases in
the evaluation process. New Directions for Program Evaluation. vol. 1, n. 7, p. 11– 26,
1980.
ROSSI, Peter H.; WRIGHT, James. D. Evaluation research: an assessment. Annual Review
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
ROSSI, Peter. H.; FREEMAN, Howard. E.; LIPSEY, Mark W. Evaluation: a systematic
approach. 6. ed. Thousand Oaks, California: Sage, 1999.
260
SANTOS, A. Q.; CARAVALHO, A. K.; LUSTOSA, P. H. E. Formulação e avaliação ex-ante de
projetos governamentais. Apostila para o Programa de Capacitação de gestores Públi-
cos Locais, Brasília: IBRAD, 2001.
_____. The methodology of evaluation. In R.E. Stake (Ed.) Curriculum Evaluation. AERA
Monograph Series on Curriculum Evaluation. v. 1. Chicago: Rand McNally, 1967.
SIMS, Ronald R. Valutazione dei programmi di formazione nel settore pubblico. Proble-
mi di Amministrazione Pubblica, v. 19, n. 2, 1994.
STAKE, Robert E. The countenance of educational evaluation. In: BELLACK, A. A.; KLE-
BARD, H. M. (Eds.). Curriculum and Evaluation. Berkeley: Mc-Cutchan, 1978.
TAVARES DOS SANTOS, José Vicente. Sociologias. Porto Alegre, ano 3, n. 5, jan./jul.
2001.
261
nidades/programas_governo/areas_atuacao/cidadania/reinsercao_sum.pdf>. Acesso
em: maio 2009.
WEISS, Carol H. Have we learned anything new about the use of evaluation? American
Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais
_____. Where politics and evaluation research meet. Evaluation, v.1, p. 37-45, 1973.
WIESNER DURAN, Eduardo. From macroeconomic correction to public sector reform: the
critical role of evaluation. World Bank Discussion Paper #214. Washington, D.C. 1993.
WILDAVSKY, Aron. Speaking Truth to Power: the art and craft of policy analysis.
Toronto: Little Brown, 1979.
WORTHEN, Blaine R.; SANDERS, James R.; FITZPATRICK, Jody L. Avaliação de Progra-
mas: concepções e práticas. São Paulo: Ed. Gente/EDUSP/Instituto Fonte/Instituto
Ayrton Senna, 2004.
262
Avaliação e Monitoramento
de Projetos Sociais
Avaliação e Monitoramento
de Projetos Sociais
Rosana de Freitas Boullosa
Edgilson Tavares de Araújo
41643