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História da Arte

Prof.a Rosana Soares

Indaial – 2019
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.ª Rosana Soares

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

SO676h

Soares, Rosana

História da arte. / Rosana Soares. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

207 p.; il.

ISBN 978-85-515-0384-3

1. Arte - História. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 709

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! A arte faz parte da existência do mundo, passa
por inúmeras transformações ao longo do desenvolvimento humano, mas
o que permanece na arte é a sua característica de ser uma forma específica
de testemunhar o mundo. Os homens e as mulheres, ao longo da história,
registraram sua cosmovisão a partir de um olhar sensível e crítico sobre
as coisas que nos rodeiam. A materialidade dessa compreensão que
denominamos obra de arte também assume diferentes formatos: pinturas,
esculturas, gravuras, desenhos, arquitetura, literatura, cinema, entre outras.

As diversas formas de arte que homens e mulheres nos deixaram


como legado parte de contextos socioculturais distintos, o que torna este
legado artístico rico e indispensável à formação da nossa humanidade
compartilhada. Este livro didático é um convite a conhecer obras e artistas em
seus universos sócio-históricos, políticos, simbólicos e culturais objetivando
a aprendizagem das especificidades das artes de cada civilização, a começar
pela produção artística das culturas antigas até a contemporaneidade a partir
de uma visão dinâmica das transformações ocorridas na arte, com destaque
na arquitetura a partir dos movimentos da história.

A partir do estudo da Unidade 1 do Livro Didático de História da Arte,


você será capaz de identificar as especificidades das artes de cada civilização, a
começar pela produção artística das culturas antigas, partindo da Pré-História
até o Egito. Em seguida, conhecerá uma parte da complexidade do Oriente a
partir de três grandes civilizações: sumérios, assírios e persas. Ainda nos estudos
da Idade Média, conheceremos o importante legado da arte greco-romana.
Também compreendem a Unidade 1 os estudos da Arte Bizantina, Românica
e Gótica. Ao final desta unidade, você terá conhecido as transformações
importantes ocorridas na Idade Média, com a arte do Renascimento e Barroco.

A partir dos estudos da Unidade 2, você estará apto a reconhecer


a arte de cada período estudado, iniciando pelo período conhecido como
Neoclássico, que apresenta forte influência da Antiguidade Clássica. Já no
Romantismo, o individualismo marca a produção artística com forte tendência
ao nacionalismo. No Realismo, conheceremos a representação artística muito
próxima do real e a pintura apresentará temas de crítica e denúncia social. O
Impressionismo e a fotografia marcam o século XIX. Finalizamos a Unidade
2 com os estudos do Pós-Impressionismo, representado por um grupo de
artistas que desenvolveram pesquisas pictóricas diversas.

Na última unidade do nosso livro, com o conhecimento da história


da arte, você reconhecerá aspectos da Arte Contemporânea marcada por
expressões artísticas que privilegiam características como o conceito, a
hibridização e a efemeridade da arte criada.
III
Este livro didático efetua comparações entre os conteúdos de forma
crítica e relevante para reflexões e estudos da teoria sobre a arte como
produção cultural.

Bons estudos!

Prof.ª Rosana Soares

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, A ARTE NA IDADE ANTIGA
E A ARTE NA IDADE MÉDIA..................................................................................1

TÓPICO 1 – ARTE PRÉ-HISTÓRICA.................................................................................................3


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................3
2 PERÍODO PALEOLÍTICO.................................................................................................................4
3 CULTURAS RUPESTRES E O NEOLÍTICO..................................................................................8
4 COMUNIDADES PRIMITIVAS.......................................................................................................8
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................12
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................13

TÓPICO 2 – ARTE NO EGITO............................................................................................................15


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................15
2 CULTURA URBANA E ARTE NO EGITO.....................................................................................15
2.1 ARQUITETURA..............................................................................................................................16
3 MONARQUIA ANTIGA E MONARQUIA MÉDIA....................................................................18
3.1 PINTURA EGÍPCIA.......................................................................................................................18
4 MONARQUIA NOVA – DINASTIAS XVIII A XXI (1580-108) A.C...........................................20
4.1 ARQUITETURA..............................................................................................................................20
4.2 ESCULTURA...................................................................................................................................21
4.3 PINTURA.........................................................................................................................................22
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................24
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................25

TÓPICO 3 – ARTE NO ORIENTE.......................................................................................................27


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................27
2 A ARTE DOS SUMÉRIOS.................................................................................................................27
3 A ARTE ASSÍRIA.................................................................................................................................29
4 A ARTE PERSA....................................................................................................................................30
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................33
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................34

TÓPICO 4 – ARTES GREGA E ROMANA........................................................................................35


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................35
2 PERÍODO ARCAICO GREGO.........................................................................................................36
3 PERÍODO CLÁSSICO........................................................................................................................38
4 PERÍODO HELENÍSTICO.................................................................................................................41
5 ARTE ROMANA..................................................................................................................................43
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................46
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................47

TÓPICO 5 – ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA.......................................................49


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................49
2 IMPÉRIO BIZANTINO......................................................................................................................49

VII
3 PERIODO ROMÂNICO.....................................................................................................................51
4 O GÓTICO E AS TRANSFORMAÇÕES NA ARQUITETURA.................................................54
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................57
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................58

TÓPICO 6 – AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA:


ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO..............................................................59
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................59
2 RENASCIMENTO...............................................................................................................................59
3 O BARROCO........................................................................................................................................65
3.1 ARQUITETURA..............................................................................................................................69
3.2 ESCULTURA...................................................................................................................................70
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................73
RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................75
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................76

UNIDADE 2 – CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO


AO CONTEMPORÂNEO..........................................................................................77

TÓPICO 1 – ARTE NEOCLÁSSICA...................................................................................................79


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................79
2 NEOCLÁSSICO...................................................................................................................................79
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................89
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................90

TÓPICO 2 – ARTE NO ROMANTISMO...........................................................................................91


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................91
2 ROMANTISMO...................................................................................................................................91
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................100
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................101

TÓPICO 3 – ARTE NO REALISMO....................................................................................................103


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................103
2 REALISMO...........................................................................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................111

TÓPICO 4 – ARTE NO IMPRESSIONISMO....................................................................................113


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................113
2 A ARTE IMPRESSIONISTA..............................................................................................................114
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................119
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................120

TÓPICO 5 – ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA....................................................................................121


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................121
2 PÓS-IMPRESSIONISMO..................................................................................................................121
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................131
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................132

VIII
UNIDADE 3 – DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO..........133

TÓPICO 1 – REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS............135


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................135
2 EXPRESSIONISMO............................................................................................................................136
3 FAUVISMO...........................................................................................................................................139
4 CUBISMO..............................................................................................................................................141
5 ABSTRACIONISMO..........................................................................................................................146
6 CONSTRUTIVISMO..........................................................................................................................149
7 SUPREMATISMO...............................................................................................................................150
8 DADAÍSMO.........................................................................................................................................151
9 SURREALISMO...................................................................................................................................152
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................154
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................155

TÓPICO 2 – CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO...............................................................157


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................157
2 POP ART................................................................................................................................................157
3 OP ART..................................................................................................................................................159
4 MINIMALISMO..................................................................................................................................160
5 EXPRESSIONISMO ABSTRATO.....................................................................................................162
6 TACHISMO..........................................................................................................................................163
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................166
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................167

TÓPICO 3 – REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA...............................................169


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................169
2 REFLETINDO SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA................................................................170
3 ARTE CONCEITUAL..........................................................................................................................171
4 MOVIMENTO FLUXUS.....................................................................................................................174
5 ARTE POVERA....................................................................................................................................175
6 NEOEXPRESSIONISMO...................................................................................................................176
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................179
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................180

TÓPICO 4 – EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS...............................................181


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................181
2 HAPPENING........................................................................................................................................181
3 PERFORMANCE..................................................................................................................................182
4 VIDEOARTE.........................................................................................................................................183
5 BODY ART............................................................................................................................................184
6 FOTORREALISMO.............................................................................................................................185
7 INTERNET ART...................................................................................................................................187
8 STREET ART.........................................................................................................................................187
9 GRAFITE...............................................................................................................................................189
10 LAND ART..........................................................................................................................................191
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................199
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................200

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................203

IX
X
UNIDADE 1

A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,
A ARTE NA IDADE ANTIGA
E A ARTE NA IDADE MÉDIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar manifestações artísticas de cada civilização, iniciando com as


culturas antigas, da Pré-História até o Egito;

• reconhecer aspectos da arte do Oriente, a partir de três grandes civilizações:


sumérios, assírios e persas;

• compreender os movimentos artísticos ao longo da história a partir das


particularidades da Arte Bizantina, Românica e Gótica;

• refletir sobre as transformações ocorridas na arte e na arquitetura no


período da Idade Média reconhecendo os movimentos da história e os
contextos socioculturais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ARTE PRÉ-HISTÓRICA

TÓPICO 2 – ARTE NO EGITO

TÓPICO 3 – ARTE NO ORIENTE

TÓPICO 4 – ARTES GREGA E ROMANA

TÓPICO 5 – ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA

TÓPICO 6 – AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO


RENASCIMENTO E BARROCO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ARTE PRÉ-HISTÓRICA

1 INTRODUÇÃO
A História da Arte é a história dos seres humanos e suas obras. Erwin
Panofsky (1892-1968) defende que a história da arte pode ser compreendida com a
análise histórica e interpretativa dos objetos feitos pelo homem. Herbert Read (1893-
1968) entende que a história da arte é a história das maneiras e percepção visual – das
várias maneiras como o homem viu o mundo. Para Arnold Hauser (1998) no livro
História Social da Arte e da Literatura, perguntar quem é esse homem é fundamental
para compreender as transformações artísticas ocorridas ao longo da história.

O autor nos lembra de que no período em que o homem era nômade, ou seja,
vivia em busca constante de alimentos oferecido pela natureza, ele era Uno, físico-
material (corpo). Ao deixar de ser nômade e se fixar em lugares para cultivo de seu
alimento e lutar pela sobrevivência, passou a desenvolver uma relação de dualidade
com a natureza. Passou assim a nomear os fenômenos não compreendidos, por
exemplo, como o excesso de chuva ou a ausência dela. Surgiram os deuses e seus
diferentes nomes. Nesse momento o homem se tornou Duo, físico-metafísico
(corpo e alma) e abriu caminho para o que hoje denominamos fé, crença, religiões.
Arte, religião, filosofia e ciência desenvolveram uma relação complexa de múltiplas
influências que têm reflexos nas obras de arte até hoje.

George Lukacs (1885-1971) nos ensina que a Arte é uma forma única de
conhecer o mundo – o homem testemunha a vida e a simboliza na obra de arte;
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) aponta que a arte é intrínseca ao homem.

Em que momento da História nasce a Arte? A artista Dulce Osinski


(2001) aponta que ela nasce com o homem. Isso significa dizer que obras de artes
são fruto do material humano de um sujeito social e histórico. É considerada
ARTE PRÉ-HISTÓRICA as manifestações pictóricas desenvolvidas antes do
desenvolvimento da escrita e os historiadores dividiram-na em três períodos.
Neste tópico, estudaremos cada um deles.

Sabemos que os mais remotos antepassados – os primeiros homens –


começaram a se aprimorar do meio em que viviam, com galhos, pedras, ossos
para fazerem seus utensílios e com a pele dos bisões se aqueciam nos períodos
frios, além de viverem sob a proteção das cavernas. Depois de dominarem suas
criações foram se aprimorando, e com a evolução humana foi desenvolvida uma
cultura muito importante – a vida dos homens pré-históricos. Devido a sua longa
duração, os historiadores a dividiram nos seguintes períodos:
3
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

• Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada.


• Neolítico ou Idade da Pedra Polida.
• Primitivo ou Idade dos Metais.

2 PERÍODO PALEOLÍTICO
Vamos começar falando do homem pré-histórico a partir da Era Glaciária,
que durou dezenas de milênios. Em todo esse tempo que se presenciou o início
da história humana e da arte é que se dá o nome de Paleolítico. Este período foi
dividido em três períodos.

Pesquisadores apontam que o Período Paleolítico compreende as origens


do homem até 8000 a.C. Dentro desse período ainda existem subdivisões, uma
delas é o Paleolítico Inferior (5000.000 – 30.000 a.C.). Tem esse nome devido às
criações de instrumentos e armas produzidos em pedra, além de serem lascados
para adquirir as pontas e bordas cortantes. Com ajuda dessas ferramentas, os
homens iam em busca da sobrevivência. Eram denominados caçadores e coletores.
As mais antigas ferramentas foram encontradas na África, trabalhada pelo Homo
habilis. Há um milhão e meio de anos, o Homo erectus tomou seu lugar, ocupando
outras regiões, como da Ásia e da Europa.

O Paleolítico Médio, período que compreende 200.000 a 35.000 a.C., é


caracterizado pelo Homem Neandertal. Homens que se adaptaram ao período
frio da Europa. No contexto social e cultural desse período, podemos destacar o
uso de ferramentas como machadinhas, facas e lanças para uso alimentício. Mas
como defesa, usavam o corpo para as lutas. Outra característica cultural desse
período são as primeiras sepulturas: o homem, ao perceber que não veria mais
seu companheiro, cavou uma fossa onde o sepultou e colocou próximo ao morto
nacos de carne a fim de que ele pudesse se alimentar em algum momento da
sua viagem. Com o seu desaparecimento, surge outro tipo humano, semelhante
ao homem atual. Nesse período, o homem já demonstra uma estrutura de
organização social e comunitária.

O Paleolítico Superior é o período que compreende 35.000 a 8000 a.C. É


nesse período que surgem as primeiras manifestações artísticas feitas pelo Homo
sapiens. Muitas gravações foram encontradas nas paredes das cavernas, como
em Altamira (Espanha). Foi o primeiro conjunto pictórico com grande extensão
já encontrado. Ainda assim, foram descobertas outras pinturas em Lascaux e
Chauvet, na França.

As expressões artísticas encontradas consistiam em traços nas paredes das


cavernas. Esse traço é chamado de rupestre, do latim rupes, quer dizer “rocha”.
A arte desse período pode ser considerada naturalista – uma forma viva de
tradução da realidade. Caçador exímio, de sentidos apurados, a arte do homem
nas cavernas é elaborada e detalhista, impressionam pela representação do real.

4
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA

FIGURA 1 – CAVALOS DO SALÃO NEGRO DA GRUTA DE NIAUX, PIRENÉUS, FRANÇA

FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/aob/v10n3/14336.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2019.

Na imagem, os cavalos são representados de forma detalhista, incluindo


o movimento do grupo representado. A posição das cabeças e a variação de
tamanho conferem à imagem a impressão de deslocamento.

Ao olhar essas imagens, chamadas rupestres, é inevitável nos


questionarmos o que levou o homem a fazer tal representação pictórica e, muitas
vezes, em lugares de difícil acesso. Uma das possíveis explicações seria de que
estas pinturas seriam de homens caçadores, como ritual de magia. Mas que magia
seria essa? Uma hipótese é a de que eles faziam pinturas de animais transpassados
por flechas e lanças, como modo de aprisionar o animal na imagem, tendo assim
poder sobre ele, conseguindo de forma mais fácil aprisioná-lo. Nesse momento
histórico, é interessante observar que o homem se vê entre o real e o místico, e os
fenômenos da natureza.

FIGURA 2 – BISÃO 15000-10000 A.C., ALTAMIRA, ESPANHA

FONTE: Gombrich (1999, p. 41)

As pinturas realizadas, como os bisões, veados e cavalos impressiona a


capacidade de usarem traços fortes, possivelmente expressando ideia de vigor.
5
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Guedes e Vialou (1981) destacam que a linguagem visual das representações


rupestres oportuniza a compreensão sobre os traços estilísticos e formais dos
registros e também o acesso a conceitos imateriais, como sistemas de crenças,
marcas sociais, organização territorial.

Nesse período, a forma de esculpir e talhar eram atividades efetuadas para


exercer suas atividades cotidianas. Em seu desenvolvimento, o homem pré-histórico
apropriou-se de outros materiais, como a pedra, e realizou pequenas esculturas.

FIGURA 3 – VÊNUS DE WILLENDORF, C. 24000-20000 A.C., PEDRA, ALT. C. 0,12 M. MUSEU DA


HISTÓRIA NATURAL, VIENA

FONTE: Janson (2001, p. 44)

Entre as pequenas esculturas temos a representação do corpo feminino,


que está ligada à fertilidade. Flores (2013) lembra que a capacidade do corpo
feminino de gerar vida era visto como um poder, por isso sua representação em
esculturas pode ser entendida como um ato de veneração do sagrado feminino.

DICAS

Assista às transformações na representação das mulheres através da história


da Arte: https://www.youtube.com/watch?v=m1o6niEReWg.

O surgimento da arquitetura começou quando o homem pré-histórico


começou a sair de sua caverna e passou a fazer, também, a primeira escultura
monumental. Surgiu uma colossal arquitetura de enormes pedras erguidas em três
formas básicas: o dólmen, que consiste em enormes pedras verticais cobertas por
uma laje, parecendo uma mesa gigante. Alguns desses dólmens eram túmulos ou
casas de mortos e cromeleques (designação dada a um agrupamento de menires
organizado em círculo, com a ideia de recinto sagrado ou lugar de culto – alguns
podem estar relacionados à astronomia e ao estudo de fenômenos celestes).
6
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA

Apesar de rudimentares, os monumentos são considerados a primeira forma de


arquitetura monumental realizada pelo homem. Assim, segundo Silveira (2010),
o uso de materiais encontrados na natureza era pensado para a elaboração de
ferramentas e armas para sobrevivência e também para a construção de moradias
com pedras, madeira, argila e folhas. Ainda, segundo o autor, o uso de materiais é
um dado importante para a compreensão dos aspectos históricos da arquitetura,
pois as mudanças ocorridas têm também uma ligação direta com a descoberta
de novos materiais, além, é claro, das novas organizações sociais que geram
necessidades arquitetônicas.

Para Strickland e Boswell (2014), um exemplo arquitetônico é o


Cromeleque, conhecido como “Stonehenge”, localizado na Inglaterra. Algumas
pedras pesam 50 toneladas e têm 4 metros de altura. Estudiosos acreditam que a
construção esteja ligada ao culto do Sol.

FIGURA 4 – STONEHENGE

FONTE: <https://www.megacurioso.com.br/lugares-surpreendentes/85342-7-fatos-mitos-e-
curiosidades-que-voce-talvez-desconheca-sobre-stonehenge.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019.

O monumento é um círculo de pedras e está localizado no condado de


Wiltshire, sudeste da Inglaterra. Construído há cerca de cinco mil anos, a estrutura
desperta a curiosidade ainda nos dias atuais. Entre as inúmeras teorias existentes
que rondam a estrutura arquitetônica de Stonehenge, temos a informação de que
serviu de cemitério (pela descoberta de covas no local); também que o monumento
serviu de templo e de espécie de calendário astronômico para prever eventos
solares e eclipses.

A vida nômade do homem do período Paleolítico estava terminando


trazendo inúmeros desafios, dentre eles lidar com a natureza pouco conhecida.
Ao se fixar em determinado local e retirar seu sustento da terra, o homem inicia
outro ciclo de sobrevivência e conquistas: surge o período Neolítico.

De uma maneira geral é possível afirmar que os períodos estudados pela


História da Arquitetura correm paralelos aos da História da Arte, com diferenças que se
acentuam em alguns momentos e semelhanças que se encontram em tempos distintos.
7
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

3 CULTURAS RUPESTRES E O NEOLÍTICO


“Neolítico vem do grego e significa pedra nova. O homem aprendeu a
polir a pedra e a partir daí conseguiu produzir instrumentos mais eficientes e
resistentes. Como alternativa da caça, o homem descobriu a agricultura” (VIEIRA,
2009, p. 3). Também neste período passou a construir as primeiras moradias e
começou a domesticar os animais. Assim surgiram as primeiras famílias e logo
a divisão do trabalho. A descoberta de como produzir fogo através do atrito das
pedras modifica todo um sistema de vida e, sobretudo, o trabalho com metais.
Descobriu que o calor do fogo endurecia o barro e surgiu a cerâmica. Nesse período
foi deixado para trás o estilo naturalista do homem do Paleolítico; começaram a
aparecer pinturas com temas da vida coletiva e dança, mostrando movimento nos
braços e nas pernas, o que, aliás, demonstra que a dança, o movimento, além de
caminhar e correr, está no homem da Pré-História.

DICAS

Assista ao filme: A Guerra do Fogo


Data de lançamento: 1981
Direção: Jean-Jacques Annaud
Sinopse: O filme se passa nos tempos pré-históricos, em torno da descoberta do fogo. A
tribo Ulam vive em torno de uma fonte natural de fogo. Quando este fogo se extingue,
três membros saem em busca de uma nova chama. Depois de vários dias andando e
enfrentando animais pré-históricos, eles encontram a tribo Ivakas, que descobriu como fazer
fogo. Para que o segredo seja revelado, eles sequestram uma mulher Ivaka. A crueldade e o
rude conhecimento de ambas as tribos vão sendo revelados. O filme foi elogiado por criar
ambiente e personagens convincentes, por meio da maquiagem (premiada com Oscar) e da
linguagem primitiva (criada por Desmond Morrise Anthony Burgess).
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=x-e2B6ywHik.

4 COMUNIDADES PRIMITIVAS
A partir do filme A guerra do fogo, temos noção de uma das grandes viradas
na história da humanidade. A descoberta de como produzir e controlar o fogo dá
outra dimensão à existência do homem, que vai refletir na Arte Primitiva.

A partir disso, o modo de vida que passa o período Neolítico, onde


primitivos africanos viviam em seu local, sem expansões territoriais, suas criações
provêm de seus costumes e criações meramente de seu grupo. Aqui vamos ter
uma evolução social e cultural importante. O homem não é mais parasitário,
agora é caçador e produtor de seu alimento.

8
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA

Dentro desse contexto sociocultural, muitas tribos passaram a desenvolver


uma arte elaborada em cestaria, máscaras, talhas ou mesmo no trabalho com
metais, que de certa forma serviam para protegê-los. “É cada vez maior o número
de provas de que, sob certas condições, os artistas tribais podem produzir obras
tão corretas na representação, na interpretação da natureza quanto o mais hábil
trabalho de um mestre ocidental” (GOMBRICH, 1999, p. 44).

Para Santana (2018), as máscaras tiveram uso para as mais diversas


finalidades, dependendo da cultura e da religiosidade. Também os contadores de
histórias utilizavam a máscara para dar mais ênfase às narrativas.

As máscaras eram feitas de uma diversidade de formas (humanas, animais,


formas híbridas) que causam assombro e espanto. Eram criadas, provavelmente,
para afastar o inimigo.

Hoje, as máscaras – no senso comum – ficaram associadas às festas burlescas,


mas podemos ver que elas surgem como elementos ritualísticos e depois na Grécia
Antiga serviram para levar a mulher ao palco para encenar a comédia e a tragédia
(veremos isso mais adiante). No que se refere às máscaras africanas, elas trazem
em sua representatividade, o mundo espiritual e material e são usadas em rituais
variados, onde a dança, a música e o teatro compõem a cena dos rituais.

FIGURA 5 – MÁSCARA DE DANÇA INUIT, DO ALASCA, C. 1880 (MADEIRA PINTADA, 37 X 25,5 CM)

FONTE: Gombrich (1999, p. 50)

A máscara Inuit, apesar de pertencer ao período Moderno (século XIX),


apresenta características ritualísticas comuns ao período Pré-Histórico. O mesmo
serve para as máscaras africanas étnicas modernas. Nesse sentido, passado
e presente são resinificados pelas máscaras e carregam de forma simbólica as
culturas que representam.

9
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Os povos primitivos também faziam culto aos antepassados. Na Ilha de


Páscoa, encontram-se gigantescas figuras alinhadas, talhadas em rocha vulcânica,
chamadas de Moais. Veiga (2018) acentua que para a compreensão do contexto
que propiciou a criação dos gigantes de pedra, como são chamados os Moais, é
preciso recuar no tempo. Os moais – são cerca de 900 – com 4 a 6 metros de altura,
e seu peso médio é de 14 toneladas. Foram construídos na Ilha de Páscoa, um
dos lugares habitados mais remotos do mundo, a 3,7 mil quilômetros da costa do
Chile, no Oceano Pacífico. Para o cientista, segundo o autor, e que por se tratar
de uma sociedade complexa, as esculturas grandiosas podem ter sido feitas para
homenagear líderes mortos.

FIGURA 6 – IMAGENS DE MOAIS TALHADOS EM PEDRA – SÉCULO XVII

FONTE: <https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/48155-8-fatos-e-teorias-
fascinantes-sobre-a-ilha-de-pascoa.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019.

Os Moais expressaram suas crenças e valores nas esculturas, mas


dependendo da cultura outras formas de representatividade são encontradas.
Um exemplo é a técnica da pintura na areia. “A técnica, que exige considerável
perícia, consiste em lançar pó de pedra ou de terra de várias cores sobre um leito
plano de areia” (JANSON, 2001, p. 70).

FIGURA 7 – IMAGEM PINTURA EM AREIA – UMA RITUALÍSTICA DE CURA

FONTE: <https://ecitydoc.com/download/pictogramas-em-areia-dos-indios-navajo_pdf>.
Acesso em: 10 jun. 2019.

10
TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA

Essa pintura em areia era um ritual de grande intensidade emocional,


tanto para o médico como para o paciente, que estava adoecido.

Os exemplos de representação de crenças, valores, ideais e organização


político-social do homem deste período podem ser compreendidos ao conhecermos
os múltiplos elementos que hoje pertencem ao que chamamos de arte. A pintura,
a escultura e a gravura se revestem do cotidiano desses homens que deixaram as
marcas de sua passagem no mundo. Assim como o desenvolvimento do homem,
a arte também passa por constantes mudanças, e conhecer a história desse
desenvolvimento a partir dos vestígios artísticos encontrados é uma das formas
de compreender o homem na sua essência criadora.

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Pré-História é dividida em três períodos: Paleolítico ou Idade da Pedra


Lascada; Neolítico ou Idade da Pedra Polida; e Arte Primitiva.

• Homem do Paleolítico eram povos nômades (andarilhos) em busca da própria


subsistência e sua arte está nas primeiras impressões nas paredes das cavernas,
como também pequenas esculturas com formas desproporcionais.

• Na arte primitiva, o povo procurava fazer cestarias, máscaras com


intencionalidade de afastar seus inimigos, como também usavam para danças
e espanto de espíritos. Cultuavam esculturas que foram talhadas em rochas
vulcânicas.

• A arquitetura nasce com a necessidade do homem em marcar seu território e


buscar abrigo; se transforma ao longo do desenvolvimento dos grupos sociais.

12
AUTOATIVIDADE

1 A Pré-História apresenta períodos distintos, como o Paleolítico e o Neolítico.


Em relação a esses períodos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Neolítico e o Paleolítico tiveram o mesmo desenvolvimento artístico


destacando os traços geométricos do desenho e da pintura.
b) ( ) O desenvolvimento do cultivo do solo, de técnicas de caça e a
domesticação de animais se deu no período Paleolítico.
c) ( ) No período do Neolítico, os homens praticavam uma economia coletora
de alimentos.
d) ( ) O Paleolítico foi o período de grande desenvolvimento artístico com
desenhos naturalistas.

2 Sobre a arte primitiva, analise as sentenças a seguir.

I- O homem não é mais parasitário, agora é caçador e produtor de seu alimento.


II- Desenvolveram apenas a visão monista (visão mágica, sensualista, atendo-
se ao concreto, vida desse mundo).
III- As sociedades primitivas são de natureza predominantemente rural,
bastam-se a si próprias.
IV- Os povos primitivos não faziam culto aos antepassados.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas as sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença IV está correta.

13
14
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ARTE NO EGITO

1 INTRODUÇÃO
Quando estudamos a evolução histórica da humanidade, é importante
ressaltar que o Egito se forma socialmente por sua diversidade étnica. Nesse
sentido, é fundamental reconhecer que a civilização egípcia é um marco na
história social, cultural, política e econômica da humanidade, principalmente
pelo olhar acadêmico e epistemológico ocidental.

O país se desenvolveu às margens do Rio Nilo, e a história egípcia


antiga – a primeira das grandes civilizações – está dividida em dinastias, com
transformações na pintura, na escultura e na arquitetura.

O trabalho do artista não tinha a diferenciação que temos hoje na


contemporaneidade. O pintor e o escultor eram vistos com o mesmo peso do
ferreiro ou qualquer outro que tivesse a atividade a partir do uso das mãos na
construção de artefatos. Somente mais tarde, a partir do renascimento, inicia-se o
debate sobre o trabalho intelectual e o trabalho manual.

No que se refere à aquisição da técnica para a representação dos objetos


pelos artistas egípcios, Hauser (1998) situa o desenvolvimento do artista
essencialmente como aprendiz – todo artista era iniciado por um mestre; a regra
era representar as partes importantes dos objetos sem necessariamente ter relação
com o naturalismo. Esculpiam-se e pintavam-se elementos como deveriam ser
vistos e não como eram na realidade.

A arquitetura, principalmente a dos templos, era preparada para receber


o corpo mumificado do faraó e seus respectivos acessórios, pois acreditavam
em uma vida após a morte. Mas muitos mistérios rondam o interior de suas
construções. O Egito teve uma das mais rígidas civilizações. Com uma organização
social complexa, os egípcios desenvolveram a escrita, além de se destacarem na
matemática, ciência e medicina.

2 CULTURA URBANA E ARTE NO EGITO


Falar da organização social dos povos é falar também da organização do
poder e da hierarquia, o que mais tarde (no século XIX) seriam as classes sociais.
Por muito tempo, a civilização egípcia foi tida como a mais rígida e conservadora,

15
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

marcada pelas monarquias, divididas em antiga, média e nova, além das divisões
em dinastias. A mais antiga, segundo a velha tradição, teve início por volta de
3000 anos a.C. e terminou por volta de 2155 a.C., com a queda da Sexta Dinastia.

Depois da queda do poder faraônico centralizado no fim da Sexta Dinastia,


Janson (2001) lembra que o Egito entrou num período de perturbações políticas
que durou cerca de 700 anos e, nesse tempo, sucederam-se várias dinastias de curta
duração. Pouco depois de extinta a Décima Segunda Dinastia, o país enfraquecido
sucumbiu à invasão dos Hicsos, um povo da Ásia Ocidental, que governou durante
150 anos até que foi expulso pelos príncipes de Tebas (1570 a.C.).

Os 500 anos posteriores correspondentes às décimas oitava, nona e


vigésima dinastias, representam a Terceira Idade do Ouro do Egito. O país, mais
uma vez unido sob reis fortes, alargou as fronteiras para o Leste até a Palestina
e a Síria (por isso se chama também o período do Império). Este foi o período da
Monarquia Nova, última fase monárquica egípcia. Durante o longo período de
declínio, a partir de 1000 a.C., os sacerdotes alcançaram um poder cada vez maior
no Estado, mas sob os domínios gregos e romanos, a civilização egípcia terminou
numa imensa pluralidade de doutrinas religiosas esotéricas.

2.1 ARQUITETURA
O grande marco na arquitetura egípcia foram as pirâmides, as quais ainda
representam mistério para os engenheiros, devido à forma de construção. As
pirâmides foram cenário de grandes celebrações religiosas, tanto na vida como
após a morte do faraó.

Doberstein (2010) chama a atenção para as múltiplas representações


sociais da arquitetura da pirâmide, destacando as funções religiosa, política,
ideológica e administrativa.

As pirâmides que apresentam maior destaque foram: Quéops, Quéfren e


Miquerinos. Os seus nomes provêm de seus faraós. A pirâmide Queops é a maior
de todas, com 146,5 m de altura e 230 m de lado, sendo que não há material entre
os blocos que formam as paredes de pedra. Já a pirâmide de Quéfren, construída
décadas mais tarde, tem 143,5 m de altura e é a segunda maior pirâmide do
Egito, apresenta revestimento original de calcário fino e polido. E completando
o conjunto das pirâmides, tem-se Miquerinos. Esse conjunto de pirâmides servia
para abrigar os restos mortais dos faraós (SEIDEL; SCHULZ, 2006).

16
TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO

FIGURA 8 – PIRÂMIDES DE MIQUERINOS, QUÉFREN E QUÉOPS, EM GIZÉ

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Necr%C3%B3pole_de_Giz%C3%A9#/media/Ficheiro:All_
Gizah_Pyramids.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2019.

Gizé está localizada próxima ao Cairo, capital do Egito, e abriga as três


pirâmides, sendo hoje patrimônio Mundial da UNESCO.

Junto a estas pirâmides se encontra a Esfinge, a maior escultura do Antigo


Egito. Esta obra foi esculpida a partir de uma rocha e apresenta feições miscigenadas.

FIGURA 9 – ESFINGE – IV DINASTIA, C. 2530 A.C.

FONTE: <https://www.bluffton.edu/homepages/facstaff/sullivanm/egypt/giza/sphinx/distant2.jpg>.
Acesso em: 10 jun. 2019.

Vários pesquisadores afirmam que a cabeça da escultura provém de uma


unificação entre parte humana e parte animal, em que o corpo apresenta ser de
um leão e a cabeça de um faraó.

DICAS

Ao acessar o link a seguir e assistir ao vídeo, você conhecerá algumas teorias


sobre as Pirâmides do Egito e como elas foram construídas. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=4oDAc0nubAQ.

17
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

3 MONARQUIA ANTIGA E MONARQUIA MÉDIA


Além de legados arquitetônicos, a Monarquia Antiga teve incríveis
estátuas-retratos, provenientes de sepulcros e templos funerários. As esculturas
apresentam um conjunto de regras (cânones) referente à figura humana. As
posições escultóricas são representadas de acordo com a “posição hierárquica”
dos deuses, faraós e legados. Destacando que muitas esculturas estavam ligadas
à arquitetura, como o caso da figura a seguir, a estátua colocada no templo
funerário faria com que o Faraó pudesse ter relações com o mundo e garantir
uma vida tranquila, mesmo o túmulo sendo violado.

FIGURA 10 – ESTÁTUA EM FRENTE AO TEMPLO

FONTE: <http://museuegipcioerosacruz.org.br/ramses-ii-o-grande/>. Acesso em: 10 jun. 2019.

O faraó Mikerinos foi representado entre a deusa Hathor e a divindade


de uma província, para demonstrar o poder que ele exercia. Figuras em pé ou
sentadas mostravam o poder das estatuárias, mas denota-se a rigidez, a simetria
com que eram feitas. O resultado é uma imagem rígida e sólida.

No que se refere à Monarquia Média, as esculturas eram “menores, em


madeira pintada (figuras de animais e humanas), que apresentavam cenas do
cotidiano (barcos de pescadores, artesãos, tecelões e até pelotões de escravos).
Algumas esculturas eram colocadas próximas ao túmulo que servia para
acompanhar o faraó na vida após a morte. Como foram feitas em madeira, poucas
sobras restaram” (LISE, 1992, p. 154).

3.1 PINTURA EGÍPCIA


Na Monarquia Antiga, as regras pictóricas eram bem definidas. Neste
período, “o corpo feminino era sempre representado em amarelo claro ou rosa,
e o masculino castanho avermelhado e branco para o fundo. A pintura era
realizada em superfícies planas ou em relevo” (SEIDEL; SCHULZ, 2006, p. 128).
Primeiramente, eram traçadas as inscrições nas paredes e havia todo um cuidado
com a perfeição dos traços, e em seguida a cor completava a imagem. De onde
provinham as cores? Usavam as cores do meio natural, como os homens pré-
18
TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO

históricos. O amarelo e o castanho eram obtidos de terra natural, o branco do


gesso, azul e verde com cobalto e cobre como pigmentos, o negro do fumo. E
muitas das cenas provinham do cotidiano deles.

FIGURA 11 – TAWY E NAKHT REALIZANDO OFERENDAS – PINTURA DA TUMBA DE NAKHT, EGITO

FONTE: <http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2015/11/egito-negro.html>.
Acesso em: 1 out. 2019.

A diferenciação marcante da figura feminina e da figura masculina na


pintura egípcia obedecia às regras de divisão social, distinguindo além do gênero,
a divisão do trabalho.

Algumas mudanças acontecem na pintura da Monarquia Média, que


apresenta temas tradicionais, as figuras apresentam novas posições, além de
alturas diferentes. A cor é mais livre, quando surge a pintura sobre o sarcófago
de madeira. Eles ainda desenhavam sobre a pedra e depois faziam sulcos
contornando as imagens, e quanto mais profundo, mais a imagem se destacava,
dando a impressão de volume nos corpos.

FIGURA 12 – SARCÓFAGO DE MADJA, NO MUSEU DO LOUVRE

FONTE: <http://www.historia.uff.br/revistaplethos/nova/downloads/4,1,2014/7fabio.pdf>.
Acesso em: 10 jun. 2019.

A pintura no sarcófago de madeira apresenta cenas da vida social egípcia.


Traz também símbolos representativos da cultura, como o olho do deus Hórus.
19
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

4MONARQUIANOVA–DINASTIASXVIIIAXXI(1580-108)A.C.
Para Vieira (2009), o chamado Novo Império é marcado pelo intercâmbio
cultural no Egito. A Décima Oitava Dinastia começa com a expulsão dos hicsos
em direção a Kadesh pelo rei Ahmosis, que havia mantido seu poder em Tebas,
que passa a ser capital do Egito. Os faraós mais importantes do período foram
Tutmósis III (o Napoleão do Oriente), Amenhotep III e Ramsés II. Aliás, durante
o reinado de Ramsés II, o Egito conquistou a Núbia e construiu templos de Abu
Simbel (um complexo de dois templos escavados na rocha, um dedicado a Ramsés
II e o outro a Nefertari, sua primeira esposa).

NOTA

Uma curiosidade!
Ramsés II viveu quase 100 anos e teve mais de 180 filhos. Com sua morte, sucessivos
Ramsés foram deteriorando o Egito e perdendo a grandeza anteriormente conquistada.
Foi um período em que reis fortes comandaram. Com isso foram feitos arrojados projetos
arquitetônicos. A arte foi de muita qualidade e rica em detalhes.

4.1 ARQUITETURA
Para Seidel e Schulz (2006), são destaques arquitetônicos os templos de Luxor
e Carnac, ambos dedicados ao deus Amon. Para construções destes templos na
Monarquia foram empregados adobes (tijolo composto por terra crua, água, palha e
fibras naturais, como esterco de gado) cozidos ao sol, material que foi mais econômico.

FIGURA 13 – TEMPLO DE LUXOR

FONTE: <https://sites.google.com/site/nahistoriageral/idade-antiga/egito-antigo/templo-de-
luxor/templodeluxor>. Acesso em: 10 jun. 2019.

20
TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO

O templo mostrado na figura anterior foi construído na cidade de Luxor


e representa as figuras de pai, mãe e filho de uma família egípcia considerada
sagrada, conhecida como a tríade de Tebas: Amon, Mut e Khonso.

4.2 ESCULTURA
A escultura apesar de apresentar rigidez, começou a revelar informações
sociais, étnicas e profissionais. Um dos túmulos com maior destaque é do
Tutankhamon. Encontravam-se vasos, trono, carruagens e muitas peças
escultóricas, dentre elas duas peças representando o Faraó, feitas em ouro, além
da múmia com a máscara sobre seu rosto, mostrando o seu poder.

Falecido aos dezoito anos, Tutancâmon deve a fama ao fato acidental de ter
sido o único faraó cujo túmulo foi descoberto intacto nos nossos dias, com quase todo
o conteúdo. As enormes riquezas das sepulturas (só o caixão de ouro deste soberano
pesa mais de 113 quilos) atraíram saqueadores desde a Primeira Monarquia.

Os sarcófagos, objetos com forma retangular feitos para depositar o corpo


morto (na contemporaneidade temos o caixão que possui a mesma finalidade,
mudando apenas a ritualística), no Egito eram destinados para armazenar
o corpo do Faraó e por isso eram transformados em esculturas incríveis, com
entalhes, pinturas e detalhes que exaltavam o poder que o faraó exercia sobre o
seu povo. A escultura da rainha Nefertite foi talhada sobre pedra, apresentando
maior suavidade e delicadeza nos traços, como também na pintura.

FIGURA 14 – TAMPO DE ATAÚDE DE TUTANKHAMON. MUSEU EGÍPCIO – CAIRO

FONTE: Janson (2001, p. 63)

Além da riqueza externa do sarcófago de Tutankhamon, também foram


encontrados no túmulo muitos tesouros. Parte da riqueza do faraó foi depositada
no túmulo junto a seu corpo mumificado.

21
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

4.3 PINTURA
Se a escultura apresentou uma elegância e leveza esculpida, na pintura
foi apresentada a lei da frontalidade da figura humana, em que o tronco estava
sempre de frente, enquanto a cabeça, as pernas e os pés estavam de perfil. A
pintura era feita para decorar murais dos túmulos, em que além da figura
humana retratada também começaram a aparecer objetos, vasos e hieróglifos
como elemento estético. Para Seidel e Schulz (2006), nesse período era colocado
junto ao morto o papiro, para confortá-lo durante a sua passagem.

FIGURA 15 – A LEI DA FRONTALIDADE

FONTE: <http://arqueologiaegipcia.com.br/2017/01/22/a-lei-da-frontalidade-entendendo-as-
pinturas-egipcias/>. Acesso em: 10 jun. 2019.

A pintura revela aspectos da estrutura social egípcia, em que a cor pode


variar conforme o gênero, e também o tamanho das figuras representadas
obedecem à hierarquia da estratificação social.

Obedecendo à Lei da Frontalidade, as figuras se mostram de forma


múltipla em uma visão lateral e frontal ao mesmo tempo.

O papiro (papel fino, feito de uma planta da família das ciperáceas, cujo
nome científico é Cyperuspapyrus) também foi instituído em rolo. Era ilustrado com
cenas muito vivas, que eram acompanhadas de textos. Podemos destacar o Livro
dos Mortos, que era posto no sarcófago e que podia ajudar na sua viagem eterna.

22
TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO

FIGURA 16 – PAPIRO EGÍPCIO CARREGAVA FEITIÇO AMOROSO

FONTE: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/09/papiro-egipcio-e-decifrado-
e-revela-feitico-amoroso.html>. Acesso em: 10 jun. 2019.

Até hoje, muitos mistérios rondam o Egito, principalmente com a


organização e estrutura para construírem as pirâmides e seus labirintos. Estudos
semióticos sobre as pinturas, objetos encontrados e estudos aprofundados através
da alta tecnologia ajudam a escrever constantemente essa civilização.

23
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Egito foi dividido em monarquias: Antiga, Média e Nova.

• Na Monarquia Antiga, destacam-se as pirâmides do Egito. As esculturas eram


acopladas principalmente às portas dos templos e apresentavam uma pintura,
com cenas do seu cotidiano.

• Na Monarquia Média, as esculturas tiveram maior destaque, pois acompanhavam


o faraó após a sua morte. Nesse período surgiu a pintura sobre o sarcófago.

• Na Monarquia Nova, os sarcófagos eram esculturas que apresentavam uma


verdadeira obra de arte, pois era usado ouro para mostrar o poder que o faraó
exercia sobre seu povo. As pinturas ficaram mais ricas, com outros elementos,
como vasos, objetos e também com hieróglifos.

• A arquitetura egípcia concentrou-se nos templos funerários e nos templos


dedicados aos deuses.

24
AUTOATIVIDADE

1 Os povos da Idade Antiga criaram diversos tipos de escrita, dentre elas o


hieróglifo, no Egito. Escreva uma mensagem com símbolos e entregue para
alguém da sala com a respectiva legenda para que ela possa realizar a leitura.

Exemplo: @ > / # &. Resposta:_____________


Legenda:
# T
& O
> G
@ E
/ I

2 Sobre a construção das pirâmides, analise as asserções e a relação proposta


entre elas:

I- Cientistas conseguiram explicar como as pirâmides do Egito foram


construídas e derrubaram alguns mitos que perduraram ao longo de
dezenas de anos.

Porque

II- Muitos disseram que alienígenas construíram as pirâmides, mas que, na


realidade, os antigos egípcios moveram os blocos numa espécie de trenó sob
a areia molhada.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) A asserção I está correta, mas não complementa a asserção II, que está
parcialmente correta.
b) ( ) A asserção II é um complemento da asserção I e ambas estão corretas
sobre a construção das pirâmides.
c) ( ) Ambas as asserções estão incorretas, porque muito se falou sobre a
construção das pirâmides e até agora não se tem uma comprovação de
sua construção.
d) ( ) A asserção II está correta, enquanto a asserção I não procede a sua
afirmação.

25
26
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ARTE NO ORIENTE

1 INTRODUÇÃO
Mesopotâmia – a “terra entre dois rios” (Eufrates e Tigre) – tinha como
capital a Babilônia, hoje situada no atual Iraque.

A história política da Antiga Mesopotâmia é marcada pelas rivalidades


locais, incursões estrangeiras. Sobre um fundo tão agitado é ainda mais notável a
continuidade das tradições culturais e artísticas. Essa herança comum se deve aos
primeiros povos – os sumérios.

Nesta geografia vamos olhar o legado da arte dos sumérios, assírios e


persas. Segundo Baumgart (1999), em meio a esta diversidade, as formas artísticas
conservam certa hegemonia devido à herança dos sumérios.

2 A ARTE DOS SUMÉRIOS


O povo sumério se desenvolveu ao sul da Mesopotâmia, atualmente sul do
Iraque. O foco de seu registro está centrado nas construções arquitetônicas, sendo
que as imagens concretizadas em estátuas presentes nas construções atuavam de
forma significativa na produção artística desse povo. Representavam seus deuses,
às vezes, em fusão com figuras de animais, com destaque para os olhos.

Um dos grandes legados dos sumérios foi a escrita cuneiforme, representada


com símbolos específicos que conseguiam transmitir suas ideias e representavam
objetos variados, sempre ligados aos fenômenos de seu cotidiano, contemplando
assuntos administrativos, políticos e econômicos. Registrados em placas de argila, é
através dessas inscrições que foi possível conhecer um pouco da vida dos sumérios.

FIGURA 17 – ESCRITA CUNEIFORME

FONTE: <https://www.estudopratico.com.br/escrita-cuneiforme/>. Acesso em: 8 maio 2019.

27
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

A escrita cuneiforme é um sistema que provavelmente teve origem


na Suméria. Consta de 600 caracteres, cada um dos quais representa palavras
ou sílabas escritas em tábuas de argila ou de pedra. Espalhados em cidades-
estados, a arquitetura suméria foi desenvolvida em prol da religião, realizando a
construção de grandes templos dedicados a seus deuses e também como espaço
de armazenamentos dos grãos necessários a sua alimentação. Nessas construções
destacam-se os zigurates, torres em degraus que completavam as construções
gigantescas assemelhando-se à construção das pirâmides egípcias. Pode-se
afirmar que a arte dos sumérios era fundamentada em suas crenças religiosas,
por isso a construção de grandes templos destinados ao louvor de seus deuses.

FIGURA 18 – ZIGURATE DO REI URNAMMU, UR, C. 2500 A.C.

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Zigurate_de_Ur>. Acesso em: 8 maio 2019.

Zigurates eram grandes escadarias que completavam as construções


em formato de pirâmides e serviam como locais de armazenagem de produtos
agrícolas e também como templos religiosos. Um famoso zigurate é a Torre de
Babel, referenciada na Bíblia Sagrada.

Infelizmente, o tempo não poupou as construções dos sumérios,


construídas com tijolos, elas foram destruídas e o que restou foram ruínas ou
partes das construções.

Na escultura dos sumérios, o material utilizado era a pedra e madeira,


associando alguns elementos como o ouro, o cobre e a prata. Os olhos e as
sobrancelhas eram inicialmente de materiais coloridos incrustados, e a cabeça
coberta por uma “cabeleira” de ouro ou cobre.

Assim, o legado dos sumérios se revelou nas descobertas arqueológicas


das placas de argila gravadas em sua escrita cuneiforme, em que seu cotidiano,
suas crenças e realizações foram registradas. As esculturas representavam
seus deuses e a arquitetura grandiosa era dedicada a eles. Essas manifestações
artísticas vão influenciar também os demais povos que reconheceram na arte
suméria importante fonte de inspiração, dentre eles os assírios.

28
TÓPICO 3 | ARTE NO ORIENTE

DICAS

Saiba mais sobre os Sumérios assistindo ao vídeo no link a seguir:


https://www.youtube.com/watch?v=KYVHYAQHHwM.

3 A ARTE ASSÍRIA
Em comum com os sumérios, o povo assírio também tinha como pano de
fundo de sua sobrevivência e de sua arte a região geográfica da Mesopotâmia, bem
como os rios Tigre e Eufrates. No entanto, o povo assírio é conhecido pela sua ativa
participação em guerras, voltado à conquista de territórios de outros povos.

Fernandes (2018) frisa que os guerreiros assírios eram chamados de “máquina


de guerra” pela formação do provável primeiro exército organizado da História.
Arqueiros, lanceiros, carros de combate e cavalaria formavam sua força de combate, foi
assim que conseguiram submeter várias das civilizações da Mesopotâmia ao seu jugo.

No que se refere à representação escultórica, os deuses eram fonte de


inspiração para os artistas que os esculpiam em miniaturas.

Na arquitetura, os assírios apresentaram clara influência dos sumérios,


diz-se que os assírios foram em relação aos sumérios o mesmo que os romanos
em relação aos gregos.

FIGURA 19 – CIDADE DE SARGÃO II, EM DUR

FONTE: <http://m.redeangola.info/palacio-do-rei-sargao-ii-destruido-pelo-estado-islamico/>.
Acesso em: 25 fev. 2019.

Essas construções em reverência aos seus reis e suas batalhas estão


exemplificadas em gigantescos painéis que em baixo-relevo representavam cenas
de caça e cenas militares e que ornamentavam suas construções arquitetônicas.
Esses painéis assumiam a função de narração das atividades desenvolvidas pelos
assírios, atuando também de forma didática.
29
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Santos (2013) destaca que os relevos assírios eram esculpidos em enormes


painéis de pedra calcária e alocados nas paredes dos palácios reais e formavam
uma narrativa visual, geralmente exaltando as conquistas do império, já que a
arte era patrocinada pelo Estado.

O legado dos assírios através de sua arte confere importante registro de


um povo que teve a sobrevivência e a conquista de territórios como fonte principal
de sua atuação. A influência da arte suméria é visível, no entanto, os assírios
conferem sua identidade na apropriação das formas de representação artística,
como a escultura e, principalmente, a arquitetura. Sua herança será assumida
pelo Império dos Persas.

4 A ARTE PERSA
A Pérsia recebeu o nome do povo que ocupou a Babilônia em 539 a.C.
e se tornou herdeira do antigo império assírio. Hoje tem o nome de Irã, nome
mais antigo e mais adequado. Janson (2001) observa que o Irã parece ter sido
uma via de acesso das tribos migratórias das estepes asiáticas, ao Norte, e da
Índia, a Leste. Os recém-chegados estabeleciam-se por algum tempo, dominando
a população local ou fundindo-se com ela até que se vissem, por sua vez, forçados
a sair – para a Mesopotâmia, para a Ásia Menor, para a Rússia Meridional – pela
onda seguinte de imigrantes.

A arte persa foi concentrada também na arquitetura e na escultura, e a


pintura também foi representada de forma significativa. No entanto, a arquitetura
vai sofrer modificações representadas em pequenas construções de tijolos e
argamassa. Já os palácios vão conservar a estrutura monumental.

FIGURA 20 – PERSÉPOLIS – ARQUITETURA IMPONENTE, TRABALHADA EM PRATA E OURO


ESCULTURAS EM RELEVO SIMBOLIZAM OFERENDAS AO REI

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/arte-persa.htm>. Acesso em: 8 maio 2019.

Importante frisar que de todas as manifestações artísticas do povo persa, a


arquitetura foi a de maior representação. Os palácios eram edifícios impressionantes
e um dos mais ambiciosos estava em Persépolis. O seu traçado geral, com imenso

30
TÓPICO 3 | ARTE NO ORIENTE

número de câmaras, salas e pátios reunidos sobre uma plataforma alteada,


lembrava as residências reais da Assíria, cujas tradições se mostravam dominantes.
A escultura e a pintura complementam a arquitetura persa.

Na escultura, a representação de animais e homens em seres mitológicos


ordenavam a crença em sua força guerreira de conquistas territoriais. Utilizavam
argila e mármore para esculpir suas figuras.

Foi na civilização persa que surgiram as famosas tapeçarias persas, que


cobriam as paredes dos palácios, tendo como tema animais, vegetais e cenas
de caça. Surgiu também o uso das sedas. Essa arte tem como suporte o tecido e
ditou a arte da tapeçaria por várias regiões próximas. Atualmente, a tapeçaria é
valorizada como representativa da arte persa.

FIGURA 21 – TAPEÇARIA PERSA

FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean-L%C3%A9on_G%C3%A9r%C3%B4me_-_
The_Carpet_Merchant_-_Google_Art_Project.jpg>. Acesso em: 1 out. 2019.

Na tentativa de conhecer as particularidades da arte persa, podemos citar


que, segundo Gonçalves (2016):

• Os principais trabalhos artísticos da Pré-História foram as peças de cerâmica e


as pequenas figuras de argila.
• No primeiro grande período da arte persa, durante o reinado dos aquemênidas,
a escultura ganhou uma característica monumental.
• Entre os primeiros exemplos da arquitetura persa, destacam-se pequenas casas
feitas à base de argamassa e tijolos de barro cru e secos ao sol, descobertas em
várias obras neolíticas do Ocidente do Irã.
• O primeiro momento de grande desenvolvimento da arquitetura persa tem
lugar com a dinastia dos aquemênidas (550 a 331 a.C.).

31
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

• Durante o período Aquemênida, as artes decorativas passaram a ser empregadas


nos artigos de luxo, como ornamentos e vasilhas de ouro e prata, jarros de
pedra e joias trabalhadas.
• Depois da conquista da Pérsia pelos árabes no ano 641, o Irã passou a fazer parte
do mundo islâmico. Seus artistas tiveram que se adaptar à cultura islâmica,
a qual, por sua vez, foi influenciada pela tradição iraniana. A arquitetura
continuou sendo a principal forma artística.

DICAS

Assista ao vídeo sobre detalhes da arquitetura persa em: https://www.youtube.


com/watch?v=cb6QPIGe2S0&t=31s.

32
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A arte do Oriente foi representada pelos sumérios, assírios e persas. Em suas


particularidades, cada civilização nos deixou sua marca através também de
sua arte.

• Os sumérios se destacaram na arquitetura e as esculturas eram inspiradas em


seus deuses. Outro legado importante dos sumérios foi a escrita cuneiforme.

• Os assírios eram a civilização mais guerreira, conquistando vasto território.


Suas esculturas eram em miniaturas representando seus deuses, utilizavam
também esculturas em baixo-relevo. Na arquitetura dos assírios, houve a
presença dos zigurates.

• A civilização persa foi marcada também pelas requintadas tapeçarias. Na


arquitetura e na escultura, ocorreu o uso de argila e mármore.

33
AUTOATIVIDADE

1 Um dos grandes legados dos sumérios foi a escrita, enquanto a arte assíria
tem os deuses como inspiração. Na arquitetura, os assírios têm a influência
dos sumérios. Diante disso, assinale a alternativa CORRETA sobre a relação
desses dois povos na arte arquitetônica:

a) ( ) Os arquitetos assírios construíram grandes igrejas para agradar aos


deuses de suas crenças.
b) ( ) A arquitetura dos assírios seguia uma inspiração egípcia e a figura das
pessoas já aparece retratada nas parede.
c) ( ) A arquitetura ainda não havia surgido nem entre os povos sumérios e
nem entre os povos assírios.
d) ( ) As construções, como os templos e os zigurates, levantadas pelos assírios,
tinham inspiração dos sumérios e os palácios atingiram dimensões sem
precedentes.

2 Acerca dos sumérios, assírios e persas, analise as afirmações a seguir:

I- Os sumérios começam a trabalhar a escultura e utilizam como material a


pedra e a madeira.
II- Já na Assíria, os artistas estavam muito mais interessados na pintura e,
portanto, pouco se interessaram pela escultura e pela arquitetura.
III- Mas foi na Assíria que o sistema sexagesimal de contar o tempo foi
desenvolvido.
IV- A arte persa tem um significado importante tanto na tapeçaria, como na
escultura, mas pouca representatividade na arquitetura.

É CORRETO apenas o que se afirma em:


a) ( ) I e III.
b) ( ) I, II e IV.
c) ( ) II, III e IV.
d) ( ) I e IV.

34
UNIDADE 1
TÓPICO 4

ARTES GREGA E ROMANA

1 INTRODUÇÃO
Segundo Funan (2002), os mais antigos antepassados dos gregos
chegaram à região da Grécia no final do terceiro milênio a.C. e logo se dirigiram
às ilhas do Mar Egeu.

Os primeiros gregos que ocuparam a região foram os jônios, eles


submeteram os antigos habitantes da Ásia Menor por meio da violência e os
reduziram à servidão. Os gregos incorporaram elementos culturais de outros
povos e os ressignificaram. O período de formação da civilização grega é de cerca
de quatrocentos anos, de 1100 a 700 a.C. Dos três séculos iniciais sabe-se pouco,
mas a partir de 800 a.C. os gregos emergem rapidamente à plena luz da história.
São desse tempo as primeiras datas precisas que chegaram até a atualidade: 776
a.C., ano da instituição dos jogos olímpicos e ponto de partida da cronologia
grega, assim como outras, um pouco anteriores da fundação de várias cidades.

Este tópico abordará as artes grega e romana. A arte grega com destaque
para o ideal de beleza. Os gregos tinham preocupação pela harmonia das formas,
principalmente nas esculturas. As construções não tinham preocupação utilitária,
enquanto na arte romana o enfoque era a praticidade e a utilidade.

Nas figuras a seguir observamos que o ideal grego de beleza apresenta


o predomínio do ritmo, do equilíbrio e da harmonia, valorizando as medidas
proporcionais. Já a arte romana sofre a influência grega e apresenta uma arte
naturalista, sem a beleza idealizada dos gregos.

FIGURA 22 – ARTE GREGA FIGURA 23 – ARTE ROMANA

FONTE: <https://www.bma.art.br/escultura- FONTE: <https://www.slideshare.net/hgp5/a-


grega/>. Acesso em: 15 jan. 2019. escultura-romana>. Acesso em: 15 jan. 2019.

35
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Observe na representação dos traços do rosto das duas esculturas. A


Figura 22 é de Apolo Belvedere, que representa o Deus Grego bem conhecido, o
Apolo. O rosto apresenta suavidade e simetria em uma junção de força e leveza.
Para eles, a razão e a sensibilidade foram essenciais para construir arte com mera
particularidade, pois exprimia valores como equilíbrio, harmonia, ordem e medida.

Já o rosto da Figura 23 (retrato séc. I a.C. Metropolitan Museum of Art


NY), de origem romana, traz a expressão humana em sua plenitude com os traços
originais. A representação naturalista era importante para os romanos, cultivando
a originalidade dos traços das figuras representadas.

Do ponto de vista artístico, podemos destacar os seguintes períodos


artísticos da Grécia Antiga:

• Arcaico: do século VII até a 1ª metade do século V a.C.


• Clássico: do século V até a metade do século IV a.C.
• Helenístico: do final do século IV até a metade do século I a.C.

2 PERÍODO ARCAICO GREGO


Durante o período Arcaico, temos a pintura de vasos e uma arquitetura
monumental, com destaque para a escultura. Por muitos séculos, a arte só se
expressava na cerâmica, apresentando alternância na decoração, às vezes eram
feitas linhas geométricas retilíneas, contínuas ou quebradas. Mais tarde vieram
os vasos de cerâmica que apresentavam figuras, bastante estilizadas, as figuras
negras e figuras vermelhas.

Inicialmente foi utilizada a técnica da figura negra sobre fundo vermelho.


O artista riscava os detalhes com agulha ou algo que apresentava uma ponta
fina. O maior pintor de figuras negras foi Exéquias. Depois o artista Eutímedes
inverteu o esquema de cores, deixando as figuras na cor natural e pintando o
fundo de negro, dando início às figuras vermelhas.

A pintura de vasos orientalizantes e arcaicas apresentavam uma diferença


de disciplina artística. Algumas figuras eram representadas como silhuetas
maciças, quer como simples contornos ou como a combinação de ambas as
maneiras de apresentá-las. Temos assim o surgimento do estilo “de figuras
negras”, traçadas em silhueta sobre o barro avermelhado.

36
TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA

FIGURA 24 – OBRA DE EUTÍMEDES

FONTE: <http://historiadaarte2ano.blogspot.com/>. Acesso em: 15 jan. 2019.

Os vasos gregos também obedeciam ao rigor da harmonia no encontro da


forma com as cores. Os desenhos aplicados nos vasos têm a intenção de retratar
cenas inspiradas na mitologia grega e também pessoas em suas atividades diárias.
Os vasos possuíam duas funções: utilitária (rituais religiosos, armazenar água,
vinho) e decorativo.

Medeiros (2018) frisa que no período, conhecido como Arcaico, a escultura


é feita em pedra, em que rapazes (Kouros) e moças (Korés) são criados pelo
escultor que representava superficialmente as feições e os músculos. As esculturas
masculinas são nuas e eretas, revelando a influência de outras culturas, pois eram
esculpidas numa pose de grande rigidez e frontalidade.

FIGURA 25 – FIGURA FEMININA (KORE), C. 650 A.C. – FIGURA DE JOVEM (KOUROS), C. 600 A.C.

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura_da_Gr%C3%A9cia_arcaica#/media/File:Kouroi2.jpg>.
Acesso em: 15 jan. 2019.

Nesse período chamado Arcaico, a escultura apresenta rigidez e seriedade.


Os corpos são talhados mais próximos da representação egípcia e mesopotâmia.
No decorrer do desenvolvimento da escultura grega esta representação mudará
drasticamente, incorporando o movimento e emoção.

37
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Quando os gregos começaram a construir os templos, a escultura foi


unificada a ela. Os gregos esculpiram, principalmente, na base triangular, grandes
guardiões que destacavam e engrandeciam e embelezavam a arquitetura.

Proveniente de tais feitos, a arte passou a evoluir principalmente o âmbito


da arquitetura, surgindo em vez de esculturas na base triangular, colunas que
vieram com propósitos sociais, isso no próximo período (PROENÇA, 2011).

3 PERÍODO CLÁSSICO
Foi no período Clássico que a perfeição artística teve seu apogeu. É chamado
de momento clássico, pois alcançou a clareza absoluta da visão. Tiveram domínio
do movimento nas esculturas, a arquitetura teve caráter social com o surgimento
do teatro, e as pinturas realizadas em vasos serviam como oferendas funerárias.

A arquitetura grega é reconhecida pelo uso de colunas que são registradas


em três ordens: dórica, jônica e coríntia.

A ordem dórica era simples e maciça. Os fustes das colunas eram grossos
e afirmavam-se diretamente no estilóbata. “Os capitéis, que ficavam no alto dos
fustes, eram muito simples. A arquitrave era lisa e sobre ela ficava o friso que era
dividido em tríglifos – retângulos com sulcos verticais – e métopas – retângulos
que podiam ser lisos, pintados ou esculpidos em relevo” (PROENÇA, 2011, p. 34).

A ordem dórica pode ser vista no Partenon, templo em homenagem à


deusa Atena. O templo consistia essencialmente em arquitetura exterior. Conforme
Robertson (1982), essa construção tinha um friso de 159 m de comprimento, e
esculturas nos dois frontões e nas 92 métopas. Podemos destacar ainda o templo
Hephaisteion, dedicado ao deus do fogo, que foi um dos mais preservados de Atenas.

A ordem jônica parecia dar mais leveza e era mais ornamentada que
a dórica. As colunas eram delgadas sobre uma base decorada. Os capitéis
ornamentados eram divididos em três faixas horizontais. O friso dividido em
partes ou decorado. Um exemplo de ordem jônica é o Templo de Atena Niké,
construído em mármore. Com as mesmas colunas, o Erecteion em Atenas veio a
ser construído para ser uma espécie de santuário. Frisando que algumas colunas
jônicas deram espaço para figuras femininas, de forma delicada complementavam
e ornamentavam o lugar.

38
TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA

FIGURA 26 – COLUNAS GREGAS


ORDEM DÓRICA ORDEM JÔNICA
Sima In
o clinad
Inc linad do
Geiso
n Incli o
Sima clina nado
Geis on In Cornija

ENTABLAMENTO
Cornija Geison
Geison
ENTABLAMENTO

Gotas Mútulo Friso


Friso Triglifo Métopa

Taenia Arquitrave
Regula ou Epistilo
Arquitrave Gotas
ou Epistilo Ábaco
Voluta Capitel
Ábaco
Capitel
Equino

COLUNA
COLUNA

Fuste

Fuste

Base

ESTILÓBATA ESTILÓBATA

ESTEREÓBATA ESTEREÓBATA

EUTINTÉRIA

FONTE: Janson (2001, p. 169)

O templo coríntio é uma derivação do jônico, mais adornado e elevado de


proporções. O seu capitel tem a forma de um sino invertido, coberto por folhas de
acanto, tornando-se padrão em Roma.

Uma construção que prevaleceu nesse período foi o “Teatro”, dividido em


três partes:

• Orquestra – local para danças, coro e representação de atores.


• Arquibancada – local para o público.
• Palco – lugar onde os atores se preparavam para entrar em cena.

O teatro mais famoso é o “Epidauro, notável por sua acústica perfeita e


podia acomodar até 14.000 pessoas” (PROENÇA, 2011, p. 35).

39
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

FIGURA 27 – TEATRO DE EPIDAURO, C. 350 A.C.

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Epidauro#/media/File:Epidauros-Theater-1.jpg>.
Acesso em: 15 jan. 2019.

A arquitetura grega influencia até hoje construções em todo o mundo. No


Brasil temos o Teatro da Paz, em Belém/PA, que foi projetado por um engenheiro
militar e as colunas no seu frontão são de inspiração grega.

Na pintura, durante o período Clássico, perdura a pintura em vasos, além


de pinturas em murais e mosaicos. As figuras com representações femininas eram
temas que serviam para os monumentos funerários de mulheres jovens.

FIGURA 28 – PINTURA EM VASO

FONTE: <https://fr.wikipedia.org/wiki/Sir%C3%A8ne_(mythologie_grecque)#/media/
Fichier:Odysseus_Sirens_BM_E440_n2.jpg>. Acesso em: 1 out. 2019.

O vaso da figura revela a delicadeza e o cuidado na representação do barco


e dos seres metafísicos. Requintada, a cerâmica grega anuncia também o estilo do
artista configurando assim uma assinatura pessoal na criação dos objetos, ora
utilitário, ora decorativo.

40
TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA

A escultura se liberta do bloco de pedra, pernas e braços ficam soltos,


há maior naturalidade nas posturas e rostos. As estátuas tinham tendência para
o Realismo, abandonando o Idealismo (PROENÇA, 2011). Os escultores mais
consagrados e suas execuções com maior destaque foram:

• Fídias: Partenon.
• Míron: Discóbolo.
• Policleto: Doríforo.
• Praxíteles: Afrodite de Cnido, Hermes e Dionísio.
• Leócares: Apolo de Belvedere.
• Lisipo: Apoxiômeno.

A obra Discóbolo foi destaque nas Olimpíadas em Atenas no ano de 2004.


O jovem atleta é representado no instante em que está prestes a lançar o pesado
disco. “Ele dobra o corpo para adiante e projeta o braço para trás de modo a
poder lançá-lo com mais força. No momento seguinte, vai girar e soltar o disco,
sustentando o lançamento com uma rotação do corpo” (GOMBRICH, 1999, p. 90).

FIGURA 29 – CÓPIA DO DISCÓBOLO

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Disc%C3%B3bolo#/media/File:Greek_statue_discus_
thrower_2_century_aC.jpg>. Acesso em: 14 fev. 2019.

A escultura Discóbolo até hoje inspira os atletas modernos. Utilizam a


posição do lançamento do disco para exercer a prática esportiva. Discóbolo possui
o equilíbrio e harmonia na representação do corpo humano, ao mesmo tempo
expressa movimento, força e elasticidade de um atleta com perfil de vencedor.

4 PERÍODO HELENÍSTICO
A partir do ano de 350 a.C., uma nova civilização começou a ascender
política e militarmente no mundo antigo, no chamado período Helenístico.
Segundo Johann Gustav Droysen (1808-1884), o termo vem do verbo grego

41
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

hellenizô, que significa “eu ajo como grego”, “adoto costumes gregos”, “falo como
grego” (DROYSEN, 1982). O rei Alexandre, o Grande, expandiu os domínios
macedônicos até a Ásia Menor, chegando até a Índia. Esse vasto domínio de
território formou o chamado mundo helenístico. Essa região não só definia os
limites do império macedônico, mas também indicava um conjunto de hábitos
e práticas culturais institucionalizadas pelo governo alexandrino. Nas artes
também ocorrem modificações.

Na época helenística, o centro dos acontecimentos artísticos desloca-se


da Grécia para o Oriente, e as influências durante esse trânsito resultam em um
híbrido internacional.

“O gosto helenístico na arte revela o interesse dos artistas pelas coisas antigas
e uma compreensão de ideais artísticos do passado” (HAUSER, 1998, p. 152).

Esse hibridismo internacional leva os escultores a trabalharem suas obras


dando a impressão de movimento, fazendo com que o observador olhasse em
torno da obra para ver seus ricos detalhes.

Na escultura Vênus de Milo, por exemplo, se vê uma nudez parcial e


alternância de membros tensos e relaxados. A perna esquerda inclinada para
frente e o tronco inclinado dão a impressão de que o corpo está em movimento.
A veste que cobria parte do seu corpo, esculpida de forma fina, dá a impressão
de que era tecido leve e fino, e drapeado, contornava sua silhueta, mostrando sua
sensualidade de forma discreta (PROENÇA, 2011).

FIGURA 30 – VÊNUS DE MILO, C. 200 A.C.

FONTE: <https://arthouse-online.nl/en/figurines-sculptures/751-venus-of-milo-figurine-
sculpture-8718375750124.html>. Acesso em: 14 fev. 2019.

Além do nu feminino – outra novidade – foi a representação de grupo de


pessoas, em vez de apenas uma. O grande desafio era formar um grupo de figuras
que sugerissem mobilidade e fossem belos de todos os ângulos (PROENÇA, 2011).

42
TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA

A obra Laocoonte e seus filhos apresenta movimentos de força pelo pai para
se libertar das temidas e grandiosas cobras; seus filhos com um ar de serenidade,
sentindo-se protegidos pelo seu herói, mesmo assim procuraram se contorcer
para se livrar da força do animal, que prendia seus braços e pernas.

FIGURA 31 – LAOCOONTE E SEUS FILHOS, C. 175-50 A.C.

FONTE: Gombrich (1999, p. 110)

A expressividade da escultura do período Helenístico impulsionou a


arquitetura, que eram verdadeiras obras de arte, pois cada detalhe da coluna,
escada e esculturas acopladas faziam delas peças únicas e pouco restou das
construções e esculturas gregas. Alguns sítios, templos e esculturas helênicas
fazem parte do Patrimônio Mundial da UNESCO.

5 ARTE ROMANA
A civilização romana (753 a.C.) demonstrou caráter prático em todos os
setores. Destaque para o planejamento urbano, onde são construídas estradas,
pontes, aquedutos em arco, construções para a massa popular, como circos e
teatros. A arquitetura romana consiste em conciliar os espaços às necessidades
urbanas. Tinham um olhar voltado à funcionalidade e não ao efeito arquitetônico.

As implicações dessa visão utilitarista dos gregos estão presentes também


na produção literária. Poesia, música e literatura trazem como pano de fundo a
complexidade da vida cotidiana. Seja com enfoque político ou religioso, a produção
literária de Roma tem na essência humana elementos que tornam a poética possível
e que se transformaram no legado artístico literário da civilização romana.

No que se refere às artes, historiadores contam que a inspiração dos


artistas romanos no legado grego é evidente. Politicamente, Roma conquista
a Grécia, mas se rende ao esplendor da arte grega. Muitas esculturas romanas
eram fruto do trabalho de artistas gregos, mas isso não significa que os romanos

43
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

se limitaram a copiar a arte grega. Os romanos inspirados na técnica apurada


dos gregos desenvolveram sua própria arte, com identidade de seus princípios
centrais como o conceito de utilidade e praticidade.

Na escultura destaque para os bustos e retratos, feitos sob encomenda. Era


comum que os líderes políticos tivessem um busto em sua homenagem. Buscando
a maior semelhança possível, alguns artistas utilizavam moldes do rosto do
homenageado, as máscaras eram feitas de cera no rosto do morto a ser representado.

FIGURA 32 – BUSTO DE BRUTO CAPITOLINO – 300-275 A.C.

FONTE: <https://historiaartearquitetura.com/2017/06/04/retratos-e-bustos/>.
Acesso em: 14 fev. 2019.

A riqueza dos detalhes no busto do imperador revela o cuidado do artista


em preservar as características originais do rosto. Por isso os moldes eram tão
importantes, para garantir a réplica em mármore da originalidade do homem que
não deve ser esquecido.

A arquitetura romana, por sua vez, resgata o aspecto sólido das


construções, principalmente nos templos. Já nas construções particulares, a
construção de jardins se destaca pela beleza e aconchego, dando um aspecto
agradável e acolhedor às moradias romanas. Os espaços públicos também
obedeciam à regra de planejamento em busca da funcionalidade. São exemplos o
Coliseu e o Panteão.

44
TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA

FIGURA 33 – O COLISEU, ROMA

FONTE: Gombrich (1999, p. 118)

FIGURA 34 – INTERIOR DO PANTEÃO, ROMA

FONTE: Gombrich (1999, p. 121)

O panteão apresenta uma planta circular fechada por uma cúpula. Lá o


povo se reunia para o culto. O chão e as paredes são feitos em mármore. Ali foram
depositados os restos mortais do artista Rafael (1483-1520).

O Coliseu, por sua vez, teve a combinação entre arco e colunas (que foi
destaque na Grécia). Chamado de anfiteatro, por abrigar muitas pessoas, foi
muito popular para as lutas dos gladiadores e para espetáculos.

45
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• A arte grega divide-se nos seguintes períodos: Arcaico, Clássico e Helenístico.

• O período Arcaico teve destaque para as cerâmicas, com figuras negras e


vermelhas, tendo pinturas mitológicas ou cenas do cotidiano.

• As esculturas apresentavam tamanhos acima do normal e as figuras masculinas


sempre eram esculpidas nuas e as femininas com vestes.

• No período Clássico começou a evoluir a escultura, apresentando maior leveza.


As obras pareciam mais realistas. Na arquitetura, tiveram destaque as colunas
dórica, jônica e coríntia.

• O período Helenístico trouxe mais sentimento e movimento para as esculturas,


período este que se destacou com esculturas em coletivo, apresentando uma
ação.

• As figuras femininas começam a ser esculpidas nuas.

• Muitas esculturas também foram acopladas à arquitetura, como no Egito, mas


com maior requinte.

• Começaram a surgir projetos de urbanização.

• Somente na arte romana são realizadas pontes, aquedutos, construções para a


população, assim começa o início da urbanização.

46
AUTOATIVIDADE

1 A arquitetura grega apresenta delicadeza e ricos detalhes em seus ornamentos.


Suas colunas são verdadeiras obras de arte. Faça uma pesquisa na internet em
que possa encontrar colunas em estilo grego no Brasil. Pesquise pelo menos
dois locais, anote e socialize essa pesquisa em grande grupo.

2 Na arquitetura grega, as ordens utilizadas principalmente nas colunas dos


templos eram:

a) ( ) Clássica, Arcaica e Dórica.


b) ( ) Dórica, Coríntia e Arcaica.
c) ( ) Jônica, Coríntia e Dórica.
d) ( ) Dórica, Jônica e Helenística.

3 Acerca da arte e arquitetura romana, analise as seguintes afirmações.

I- Os romanos deixaram uma vasta herança literária, da poesia à filosofia.


II- A arte romana mais expressiva e de maior significação histórica é a
arquitetura.
III- A arquitetura romana voltava-se ao efeito artístico.
IV- O Coliseu, com a combinação entre arco e colunas, é herança da arte grega.
V- Os romanos construíram pontes, aquedutos e marcam o início da urbanização.

Assinale a sequência CORRETA:
a) ( ) As alternativas I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As alternativas I, II, III e V estão corretas.
c) ( ) As alternativas II, III, IV e V estão corretas.
d) ( ) As alternativas I, II, IV e V estão corretas.

47
48
UNIDADE 1
TÓPICO 5

ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA

1 INTRODUÇÃO
O período da Idade Média marca o deslocamento da civilização europeia
para além das fronteiras setentrionais do mundo romano. Considerada uma
época de transição, as transformações foram essenciais para o desenvolvimento
da sociedade em geral.

Um dos destaques desse período é a forte influência da Igreja Cristã não só


nas articulações políticas, mas nas tomadas de decisões e a manutenção do poder.

Neste tópico, vamos ver também as manifestações artísticas denominadas


artes bizantina, românica e gótica. Cada uma, com suas características, foi
fortemente influenciada pela religião, e o espiritual ganhou importância na busca
dos artistas por uma arte que transcende o real.

2 IMPÉRIO BIZANTINO
Em 323 d.C., Constantino, o Grande, tomou uma decisão de mudar a
capital do Império Romano para Bizâncio, cidade grega que passou a se chamar
Constantinopla (hoje, Istambul). Depois de seis anos de construção, a transferência
foi oficialmente completada.

A mudança da sede do poder imperial iria provocar a cisão do Estado. Isso


ocorreu em menos de um século, embora os imperadores de Constantinopla não
renunciassem as suas pretensões sobre as províncias do Império do Ocidente. Em
Roma vai se desenvolver outro Estado com características diferentes do Estado
Bizantino ou de Constantinopla.

A arte bizantina pode ser reconhecida na influência sofrida pela arte dos
gregos, dos persas, dos armênios, entre outros. Nesse contexto, a arte tinha função
de retratar e divulgar a vida de Jesus Cristo, através dos belíssimos mosaicos.
A escultura não teve espaço significativo na arte bizantina, pois essa forma de
representação era malvista aos olhos da igreja, lembrando os romanos pagãos.

49
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

FIGURA 35 – O MILAGRE DOS PÃES E DOS PEIXES, C. 520, D.C.

FONTE: Gombrich (1999, p. 137)

A representação do milagre na figura anterior é um dos temas das


manifestações artísticas desse período. A vida de Cristo é disseminada de forma
poética anunciando novos tempos de acolhimento e amor.

A arte bizantina tem forte ligação com a religião, e sua criação busca
transcender o material e alcançar o espiritual. Vale ressaltar que houve diferentes
períodos na vigência da arte bizantina. A arquitetura bizantina teve como destaque
as construções das igrejas monumentais, como a antiga Igreja de Santa Sofia, em que
a decoração interna abriga uma série de mosaicos representando cenas do evangelho.
Conhecida como Hagia Sophia, essa edificação foi, no passado, uma catedral patriarcal
cristã ortodoxa grega, mais tarde transformou-se em uma mesquita imperial otomana
e, em 1935, passou a ser um museu em Istambul, Turquia. Construída em 537 d.C., no
início da Idade Média, ficou famosa por sua cúpula maciça. Hagia Sophia foi o maior
edifício do mundo e uma maravilha da engenharia de seu tempo.

FIGURA 36 – HAGIA SOPHIA

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Sofia#/media/File:Aya_sofya.jpg>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

No que se refere à pintura bizantina, esta não obteve lugar de destaque, nem
tampouco autonomia. Coube à pintura o lugar de ilustração em livros, na pintura de
afrescos e também em pequenos painéis, sempre com motivos religiosos.

Temos também na representação da pintura os ícones, quadros que


representam figuras sagradas como Cristo, a Virgem, os apóstolos, santos e mártires.
50
TÓPICO 5 | ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA

FIGURA 37 – MARIA

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-medieval/arte-bizantina/>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

A figura de Maria é tema recorrente na pintura bizantina. A mulher


escolhida entre os homens para gerar o filho de Deus é reverenciada e apresentada
ao mesmo tempo em sua humildade e grandeza. As cores utilizadas na figura
anterior trazem a ideia de serenidade. A cabeça levemente inclinada anuncia
obediência e gratidão pela maternidade divina. Na escultura, os artistas bizantinos
utilizaram o marfim em representações também de baixo-relevo.

Os mosaicos foram a forma mais significativa da arte bizantina, retratando


figuras importantes como o imperador, a imperatriz e a representação dos profetas.

DICAS

Assista ao vídeo e conheça o esplendor dos vitrais da arte bizantina. Acesse no link:
https://www.youtube.com/watch?v=SA1lTZxb76M.

3 PERÍODO ROMÂNICO
Neste período havia um crescente entusiasmo religioso, refletido no enorme
movimento das peregrinações e culminando, a partir de 1095, nas Cruzadas para
libertar a Terra Santa do domínio islâmico. Não menos importante foram as reaberturas
das vias comerciais do Mediterrâneo pelos barcos de Veneza, Gênova e Pisa. Além do
reavivamento do comércio e da indústria, houve o consequente desenvolvimento da
vida urbana. Essas transformações estão presentes nas manifestações artísticas.

A arte românica apresenta em suas pinturas cores suaves e o tema da


pintura tinha finalidade educativa. Na demonstração dos sentimentos e emoções,
as figuras retratadas sofriam certa deformação. A arte românica se desenvolveu a
partir do século XI e se estendeu até o início do século XIII, com forte influência
51
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

da arte romana, no entanto, com clara quebra de fronteira e unidade. Atingiu


várias regiões. Neste período, os mosteiros concentravam a produção artística e o
desenvolvimento científico e cultural e por muito tempo os monges tiveram forte
influência na arquitetura da época, principalmente nas igrejas católicas.

Surge assim uma arquitetura abobadada, de paredes sólidas e delicadas


colunas terminadas em capitéis cúbicos.

Foi nas igrejas que o estilo românico se desenvolveu em toda a sua


plenitude e se espalhou por toda a Europa.

FIGURA 38 – NAVE DA CATEDRAL DE DURHAM, 1093-1130

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_normanda#/media/File:Durham_Cathedral._
Interior.jpg>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, a Catedral de


Durham está localizada na cidade de Durham, na Inglaterra. Visitada por muitos
turistas, impressiona pela imponência e beleza. Destaque para os arcos ogivais na
nave da igreja. Apesar das transformações ocorridas em sua estrutura desde a sua
construção, preserva a influência românica.

No que confere à escultura, esta estava subordinada à arquitetura e


apresenta ampla representação de figuras e personagens, desde animais e vegetais
até a figura humana.

FIGURA 39 – ESCULTURA ROMÂNICA

FONTE: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=146>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

52
TÓPICO 5 | ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA

A escultura românica atrelada à arquitetura cumpria a função decorativa


e também pedagógica. Esculpiam as figuras compondo pequenas narrativas
inspiradas no evangelho.

A pintura românica também assume a função de narrar cenas religiosas,


em que a vida dos santos era pintada no interior das igrejas, além de retratar
figuras importantes.

Na arte românica ocorre o desenvolvimento das iluminuras, arte que alia


a ilustração e a ornamentação, muito utilizada em antigos manuscritos, ocupando
normalmente as margens, como barras laterais, na forma de molduras.

FIGURA 40 – A PINTURA ROMÂNICA NO ALTAR DA IGREJA DE SANTA MARIA DE AVIÁ, EM


BARCELONA, ESPANHA

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-romanica/>. Acesso em: 17 mar. 2019.

As narrativas na pintura românica seguem por quadros, um recorte no


todo. Maria e o Jesus menino ocupam a parte central da pintura, que é completada
pelos demais quadros. Era preciso educar as pessoas para conhecer a missão do
filho de Deus. Esse recurso pictórico com cunho pedagógico era necessário devido
ao grande número de pessoas que não eram alfabetizadas na escrita.

Na arte românica ocorre o desenvolvimento das iluminuras, arte que alia


a ilustração e a ornamentação, muito utilizada em antigos manuscritos, ocupando
normalmente as margens, como barras laterais, na forma de molduras. Sem
diminuir nenhuma das expressões artísticas desse período, é possível afirmar
que a arquitetura é a forma artística de destaque do legado da arte românica. As
demais artes, como pintura e escultura, estarão subordinadas à arte arquitetônica.

DICAS

Assista ao vídeo Arte Românica.


Acesse: https://www.youtube.com/watch?time_continue=5&v=codz9W9RD6I.

53
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Para uma síntese das características principais da arte românica, podemos


destacar alguns pormenores:

• A prevalência do desenho.
• As figuras apresentam proporções disformes com tendência para a
geometrização dos corpos.
• Cores planas e sem sombreados.
• Os cenários não apresentam importância, representados pelo fundo liso ou
inexistente.
• As composições complexas e desorganizadas.

Essas características da arte românica não tinham como objetivo o


Realismo, mas simbolizar o que era entendido como sobrenatural.

FIGURA 41 – PINTURA DOS MANUSCRITOS

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/tecnicas-artisticas-a-
iluminura/>. Acesso em: 17 mar. 2019.

A importância da pintura de manuscritos, mais comuns sobre pergaminho


e realizada por diferentes técnicas, foi muito grande na Idade Média, especialmente
durante os séculos XIII e XV. Pode-se falar em autêntica “idade de ouro da
iluminura”, com obras de excepcional refinamento. Tais iluminuras têm sempre
relação com um texto. Aparecem a princípio inseridas entre as frases ou intercaladas.

Na Idade Média, os livros que mais utilizaram iluminuras foram a Bíblia


(ou fragmentos de algumas de suas partes), os saltérios (livros de coro ou de
devoção com salmos), ou os Livros das Horas, que eram livros de devoções
para distintas “horas”, relacionadas à vida de Cristo ou da Virgem Maria, e as
atividades ligadas aos mortos ou de orações a santos.

4 O GÓTICO E AS TRANSFORMAÇÕES NA ARQUITETURA


Não há como definir a época gótica em termos de duração. Em princípio,
por volta de 1150, a região do gótico era bem limitada, correspondia apenas à
província conhecida por Ile-de-France (isto é, Paris e os arredores), o patrimônio

54
TÓPICO 5 | ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA

dos reis da França. Um século depois, a maior parte da Europa “ficaria gótica”,
da Sicília à Islândia, com exceção de algumas “ilhotas” românicas, aqui e acolá. O
novo estilo alcançou o Oriente Próximo, levado pelas cruzadas.

Por volta de 1450, a área do gótico começara a diminuir, a Itália já se


encontrava fora e em meados do século XVI ficara reduzida a quase nada. Por
isso o tempo gótico tem um aspecto complicador, variando de 400 anos em alguns
lugares até o mínimo de 150 em outros.

A arte gótica está ligada diretamente à arquitetura e à construção das


magníficas catedrais. Aconteceu em toda a Europa e foi na França que teve maior
repercussão, pois a igreja tinha um forte comando na sociedade francesa.

A arquitetura gótica era construída com base em princípios da igreja


e toda sua organização seguia esses fundamentos. As paredes eram a base, os
pilares representavam os santos e os arcos eram o caminho para Deus. Os vitrais
pintados tinham função didática e contavam a trajetória da humanidade contida
nas sagradas escrituras.

FIGURA 42 – ARTE GÓTICA. VISTA INTERIOR DA PAREDE SETENTRIONAL DA NAVE DA


CATEDRAL DE CHARTRES (1194-1220)

FONTE: Janson (2001, p. 465)

No detalhe da foto da nave da Catedral de Chartres temos o arco de ogiva,


característica marcante da arquitetura gótica. A ogiva é uma forma determinada
por dois arcos, comumente simétricos, que se cortam em ângulo. A palavra ogiva
começou a ser usada no século XVIII para designar um arco que define um ângulo
curvilíneo. A ogiva geométrica admite variações chamadas de arco ogival, arco de
ogiva e, até mesmo, arco quebrado, nas quais os centros dos arcos podem estar
dentro ou fora dos limites da forma. A ogiva também pode ser um elemento
tridimensional, oriundo da revolução da curva geométrica sobre o eixo de simetria.

No que se refere à escultura gótica, esta ocupa espaço na própria


arquitetura complementando a construção.
55
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

A pintura gótica teve um importante espaço, com destaque para a


representação dos fenômenos religiosos nos vitrais e afrescos. Observa-se por
parte dos pintores um cuidado intencional na escolha das cores, buscando um
diálogo com o público.

FIGURA 43 – A FUGA PARA O EGITO, DE GIOTTO, PÁDUA, ITÁLIA

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_do_g%C3%B3tico#/media/File:Flight_into_
Egypt_-_Capella_dei_Scrovegni_-_Padua_2016.jpg>. Acesso em: 17 set. 2019.

Nessa pintura, intitulada A Fuga para o Egito, de Giotto, prevalecem os


tons suaves retratando a simplicidade da Sagrada Família ao mesmo tempo em
que retrata Maria com postura digna.

DICAS

Assista ao vídeo Arte Gótica em:


https://www.youtube.com/watch?v=nRK8noyEpAw.

56
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• A arte bizantina tem forte ligação com a religião cristã e sua criação busca
transcender o material e alcançar o espiritual. Os mosaicos são uma forma
mais significativa da arte bizantina, retratando figuras importantes como o
imperador, a imperatriz e a representação dos profetas.

• A arte românica apresenta em suas pinturas cores suaves e o tema da pintura


tinha finalidade educativa. Foi nas igrejas que o estilo românico se desenvolveu
em toda a sua plenitude e se espalhou por toda a Europa.

• A arte gótica está ligada diretamente à arquitetura e à construção das


magníficas catedrais.

57
AUTOATIVIDADE

1 O Império Bizantino, também conhecido como Império Romano Oriental


ou Bizâncio, foi a continuação do Império Romano em suas províncias
orientais durante a Antiguidade Antiga e a Idade Média, quando sua capital
era Constantinopla (atual Istambul, antiga Bizâncio). Acerca da civilização
bizantina, no que se refere a sua arte e sua arquitetura, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) A civilização bizantina não teve influência da religião cristã,


concentrando figuras aleatórias na composição dos mosaicos.
b) ( ) A arte gótica está ligada diretamente à arquitetura e à construção das
magníficas catedrais.
c) ( ) A arte românica apresenta em suas pinturas cores fortes e o tema da
pintura tinha finalidade decorativa.
d) ( ) A arquitetura bizantina teve como destaque as construções de
monumentos públicos.

2 Durante a alta e a baixa Idade Média, do século XI ao século XV, a arte


ocidental desenvolveu-se em dois estilos, o Românico e o Gótico. Neste
período, a arte bizantina, por sua vez, se desenvolveu em Roma Oriental.
Nesse contexto, analise as afirmativas pertinentes à arte e arquitetura gótica,
bizantina e românica.

I- O arco de ogiva tornou-se uma característica marcante da arquitetura


gótica.
II- A escultura gótica ocupa um espaço na própria arquitetura, sendo o
resultado da decoração das grandes catedrais e outros edifícios religiosos.
III- O termo iluminura aplica-se somente à pintura dos manuscritos bíblicos.
IV- Os mosaicos foram a forma mais significativa da arte bizantina, retratando
figuras importantes como o imperador, a imperatriz e a representação dos
profetas.
V- A arte românica desenvolveu-se a partir do século XI e se estendeu até o
início do século XIII com forte influência da arte romana.

Agora assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As alternativas I, II, III e V estão corretas.
b) ( ) As alternativas I, III, IV e V estão corretas.
c) ( ) As alternativas II, III, IV e V estão corretas.
d) ( ) As alternativas I, II, IV e V estão corretas.

58
UNIDADE 1
TÓPICO 6

AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO


RENASCIMENTO E BARROCO

1 INTRODUÇÃO
Aqui vamos partir de um dos momentos de transformação temporal,
como lembra Janson (2001), sobre a transição da Antiguidade clássica para a
Idade Média, quando uma grande mudança, que se deu através da ascensão do
Islã, marca a separação entre as duas épocas. Nenhum acontecimento comparável
separa a Idade Média do Renascimento. Ele acrescenta ainda que os séculos XV e
XVI testemunharam alterações de longo alcance como a queda de Constantinopla e
a conquista do sudoeste da Europa pelos turcos, a expansão marítima que levou à
fundação do império ultramarino na América, na África e na Ásia. São as grandes
navegações e as “descobertas”, como a chegada dos portugueses à costa brasileira.

Com esta breve introdução, vamos conhecer o esplendor da Arte


Renascentista e o Barroco. Neste momento da história, a arte assume identidade
de autor, os artistas passam a ter suas obras reconhecidas pelo estilo e pela
assinatura. É neste período que os homens se empenham na criação de obras
magníficas na arquitetura, escultura e pintura.

2 RENASCIMENTO
Com a queda do império romano temos o ressurgimento da arte e da ciência.
A “Nova Idade” definia-se por uma espécie de retorno, um “renascimento”. O
Renascimento foi a época maior das descobertas em todos os campos de atuação
humana. Na ciência, na arte, na política e na cultura. O berço do Renascimento
foi a Itália, mas o movimento cresceu e atingiu a Europa. Alguns acontecimentos
importantes marcaram o desenvolvimento do Renascimento:

• Queda da influência da Igreja Católica.


• Racionalismo: tudo podia ser explicado pela razão.
• Individualismo e o hedonismo.
• O surgimento das cidades-estados.
• O desenvolvimento das línguas nacionais.
• Desmoronamento das estruturas feudais.
• O desenvolvimento da inteligência no domínio da magia, estudos cabalísticos
e astrológicos.
• Desenvolvimento do humanismo.
• Supremacia do homem.
59
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

• Descobrimentos geográficos e técnicas de guerra.


• Observação da natureza.

A palavra renascença significa nascer de novo ou ressurgir, e a ideia de tal


renascimento ganhava força na Itália desde a época de Giotto di Bondone (1267-
1337). “Quando as pessoas desse período queriam elogiar um poeta ou um artista,
diziam que sua obra era tão boa quanto a dos antigos” (GOMBRICH, 1999, p. 223).
Um movimento saudosista alimenta novas ideias e abrange várias esferas da cultura,
como os artistas, eruditos, cientistas, filósofos, arquitetos e governantes, pois “[...]
acreditavam que o caminho para a grandeza e o esclarecimento passava pelo estudo
das épocas áureas dos antigos gregos e romanos” (BECKETT, 1997, p. 82).

É pontual lembrar que foi no período do Renascimento que Cristóvão


Colombo realizou quatro viagens às terras que acreditava ser a Índia e que
constituíam um novo continente. O dia 12 de outubro de 1492, quando a primeira
expedição de Colombo desembarcou nas novas terras, é considerada a data do
descobrimento da América. Ao mesmo tempo, foi durante o Renascimento que,
em 22 de abril de 1500, a frota comandada por Pedro Álvares de Cabral chegou ao
território então denominado Ilha de Vera Cruz, que compõe o território brasileiro.

DICAS

Assista aos vídeos sobre a arte renascentista em: https://www.youtube.com/


watch?v=dVndoT87eTA.

O Renascimento abriga um enorme acervo de manifestações artísticas


e também grandes mestres. Existem também algumas obras que marcaram
definitivamente a pintura e a arte, de maneira tal que sua visualização basta para
que seja identificada em seu período histórico e também a identificação de seu
artista. Por exemplo, como as seguintes obras:

FIGURA 44 – SANDRO BOTTICELLI – O NASCIMENTO DA VÊNUS, C. 1480

FONTE: Janson (2001, p. 641)

60
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

Sandro Botticelli representa nesse quadro o nascimento da deusa Vênus


com os pés nas conchas rodeadas pela espuma das ondas do mar. O pintor também
considerou os detalhes descritos pela mitologia romana. O personagem masculino à
esquerda da tela representa o vento e a figura feminina representa as estações do ano.

FIGURA 45 – ANDREA MANTEGNA – SÃO SEBASTIÃO, C. 1455-60

FONTE: <https://en.wikipedia.org/wiki/St._Sebastian_(Mantegna)>. Acesso em: 17 mar. 2019.

São Sebastião, representado por Andrea Mantegna (1431-1506), traz os


saberes da arte greco-romana. O corpo do santo é pintado de forma que completa a
representação das ruínas, quase enganando os olhos sugerindo ser uma escultura.
A perspectiva também é explorada evidenciando o santo no primeiro plano.

Alguns artistas são referência no Renascimento, como Leonardo da Vinci,


que nasceu em Toscana e foi aprendiz do pintor Andrea Del Verrochio (1435-1488).
Também aprendeu técnicas de fundição e metalúrgica, estudou plantas e animais.
“Um verdadeiro homem da renascença, Leonardo não só foi um grande pintor,
mas também escultor, arquiteto, inventor, engenheiro e perito em campos como
a Botânica, Anatomia e a Geologia. Sua arte, caracteristicamente lírica, revela uma
crença imperiosa na natureza como fonte de inspiração” (BECKTT, 1997, p. 80).

61
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

FIGURA 46 – LEONARDO DA VINCI – MONA LISA, C. 1502

FONTE: Gombrich (1999, p. 300)

Mona Lisa – também conhecida como A Gioconda – é um dos quadros


mais populares, considerada uma pintura referência do período do Renascimento.
Na contemporaneidade, vários artistas fazem releitura da Mona Lisa e estudiosos
não se cansam de estudar a técnica pictórica utilizada por Leonardo da Vinci,
principalmente no que se refere aos olhos que sugerem a ilusão de ótica de
corresponder ao olhar do expectador, não importa a posição que este a observe. A
suavidade dos traços, técnica chamada de sfumato utilizada pelo artista, também
é um ponto importante de conquista na pintura.

DICAS

Conheça um pouco sobre o Renascimento do Norte. Acesse o link: http://


icultural1.blogspot.com/2012/05/renascenca-do-norte.html.

Outro importante artista do Renascimento foi Miguel Angelo Buonarroti


(1475-1564), florentino, membro da pequena aristocracia italiana. “Para ele, a
beleza era divina, um dos meios pelos quais Deus comunica-se à humanidade”
(BECKETT, 1997, p. 120). O Michelangelo, escultor e pintor, sua vida está
entrelaçada a sua arte, com angústia e esplendor.

62
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

FIGURA 47– MICHELANGELO – A CRIAÇÃO DE ADÃO – DETALHE DO TETO DA CAPELA SISTINA

FONTE: Gombrich (1999, p. 312)

A Criação de Adão foi baseada no livro A Genesis, que conta a criação de


Deus do primeiro homem na Terra. A figura é um detalhe da pintura do teto da
Capela Sistina. Michelangelo atribui a Deus e a sua criação corpos fortes, com
musculatura bem definida em um jogo representativo entre divino e humano.

Na escultura, o Renascimento será um período fértil e de grandes obras,


como Michelangelo (1475-1564), Donatello (1386-1466) e outros mais. Buscavam,
através da escultura, representar o homem real, inclusive em tamanho natural.
Os corpos eram esculpidos minuciosamente, com o máximo de detalhes.

FIGURA 48 – DONATELLO – DAVI – MUSEU NACIONAL, FLORENÇA

FONTE: <https://viaveneto.wordpress.com/2010/11/04/o-artista-da-acao/>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Donatello representou Davi em tamanho natural. Inova também quando


expõe a nudez total na escultura, um contraponto com a histórica bíblica em que
o rei Davi vence o gigante Golias. O artista joga com a força e a delicadeza no
corpo de Davi, revelando traços naturalistas em sua representação escultórica.

A arquitetura também teve seu espaço no Renascimento. Dois grandes nomes


se destacaram: Filippo Brunelleschi (1377-1446) e Donato Bramante (1444-1514).

63
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

FIGURA 49 – DONATO BRAMANTE – TEMPIETTO DE SAN PIETRO IN MONTORIO

FONTE: <http://www.arte.it/luogo/tempietto-di-san-pietro-in-montorio-4716>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

Localizado no mosteiro de San Pietro in Montorio, em Roma, a pequena


construção recupera elementos da arquitetura da Roma Antiga. É destaque
também pela proporção geométrica utilizada conferindo robustez e harmonia ao
pequeno templo.

FIGURA 50 – CAPELA PAZZI, 1430-33 – FLORENÇA

FONTE: <https://travel.sygic.com/pt/poi/capela-pazzi-poi:20660>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Localizada na cidade de Florença e considerada umas das arquiteturas


mais significativas desse período. Foi construída junto ao claustre principal do
monastério de Santa Cruz, com rigoroso estudo de ordem matemática, com
especial cuidado em sua proporção e equilíbrio.

O movimento do Renascimento atinge toda a Europa e a Alemanha


é também berço de grandes mestres, como Albrecht Dürer (1471-1528), com
suas pinturas magníficas, suas xilogravuras elaboradas e suas aquarelas sem
comparação. Ele afirma, em sua obra, que a beleza e a forma perfeita estão ligadas
à humanidade como um todo.

64
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

FIGURA 51 – OBRA DE ALBRECHT DÜRER: OS QUATRO APÓSTOLOS

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/albrecht-durer/#jp-
carousel-5114>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Albert Dürer foi um dos artistas que mais teve reconhecimento em vida.
O cuidado minucioso de suas pinturas conferiu ao artista lugar de destaque na
sociedade em que vivia, sendo reverenciado por ela. Na obra Os quatros apóstolos,
Dürer confere expressão ao rosto dos apóstolos possibilitando ao expectador a
leitura de uma narrativa pictórica e o reconhecimento dos apóstolos: João, com
o livro aberto; Pedro com as chaves; Paulo com a espada e o livro fechado; e São
Marcos, com o pergaminho.

É possível afirmar que o Renascimento foi um período importante da


História da Arte e envolve grande número de artistas, desde arquitetos, pintores
até escultores. Por isso, ao estudar o Renascimento ficamos com a sensação de que
todo o tempo possível dedicado aos estudos desse período é pouco, devido ao
grande número de informações a serem estudadas. Essa breve abordagem não é
suficiente para apresentar esse movimento gigantesco da história da humanidade.
Assim, o texto aqui apresentado pretende apenas mostrar o caminho a ser trilhado
na busca da dimensão artística e intelectual denominada Renascimento.

3 O BARROCO
O Barroco tem sido o termo usado pelos historiadores da arte durante
quase um século para designar o estilo dominante no período entre 1600 a 1750.
Para alguns, o Barroco é o espírito da Contrarreforma, e a arte barroca, segundo
Gomes e Fonseca (2013), provoca a expansão do mundo moderno, não apenas
geográfica, mas também intelectual, com a valorização do racionalismo.

Esse período artístico traz uma arte permeada por emoção e ornamentação.
A cor será o elemento principal da pintura em tons contrastantes de claro e escuro. O
tema da pintura barroca será o homem, seguindo o conceito do Antropocentrismo
e com forte influência da contrarreforma, na busca do fortalecimento da fé na
Igreja Católica.
65
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Na pintura teremos mestres como Caravaggio, com suas telas


monumentais destinadas à igreja; Rembrandt, com o realismo holandês em seus
retratos; Rubens, com suas obras religiosas; Velásquez como pintor oficial da
corte espanhola; e Vermeer, com sua luz e treva em equilíbrio dinâmico.

FIGURA 52 – REMBRANDT (AUTORRETRATO, 1665)

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/rembrandt/#jp-
carousel-7597>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Esse é um dos muitos autorretratos do pintor, que fez questão de registrar


as mudanças da fase da sua vida sempre de forma expressiva. Rembrandt realizou
autorretratos da sua juventude à velhice.

FIGURA 53 – PAUL RUBENS – SANSÃO E DALILA (1609-1610)

FONTE: <https://www.wikiart.org/pt/peter-paul-rubens/sansao-e-dalila-1610>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

Na pintura, Paul Rubens registra a história contada no Velho Testamento.


Sansão, o guerreiro israelita de força sobre-humana, foi derrotado por seu desejo
pela filisteia Dalila, que o enganou e o fez revelar a fonte secreta da sua força: seu
cabelo comprido. Na imagem, Sansão cai indefeso no colo de Dalila após perder
seus poderes ao ter seu cabelo cortado enquanto dormia.

66
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

FIGURA 54 – DIEGO VELÁSQUEZ: A RENDIÇÃO DE BREDA (1635)

FONTE: <https://taislc.blogspot.com/2013/06/velazquez-o-pintor-da-corte.html>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

Breda é uma praça holandesa que foi entregue aos espanhóis. O pintor
registra em primeiro plano os protagonistas da batalha: Ambrogio Spinola,
comandante das tropas espanholas, e o vencido, Justino de Nassau. Ao fundo vê-
se a praça conquistada.

FIGURA 55 – JOHANNES VERMEER (MULHER SEGURANDO UMA BALANÇA – 1662)

FONTE: <https://conversasdomano.blogspot.com/2017/07/o-pintor-da-luz.html>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

Simbólico, o quadro Mulher segurando uma balança, de Johannes Vermeer,


carrega elementos que precisam ser identificados para sua compreensão, por
exemplo, a corrente de ouro e as pérolas na caixa sobre a mesa são objetos que
revelam a importância do sujeito retratado. Historiadores afirmam que a modelo
era a sua esposa. Destaque para a maestria do jogo de luzes utilizado pelo artista.

67
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

FIGURA 56 – CARAVAGGIO: A VOCAÇÃO DE S. MATEUS, C. 1599-1602

FONTE: Janson (2001, p. 724)

Caravaggio é considerado o mestre da luz e sombra, técnica utilizada para


dar destaque a algumas partes da pintura, bem como conferir mistério à cena
parcialmente revelada. O quadro refere-se à chamada de Jesus a São Mateus para
ser um dos seus seguidores.

É também no período Barroco que teremos a representação feminina


como autoria na obra de Artemisia Genteleschi. Em seu trabalho destacam-se
temas relacionados à violência.

FIGURA 57 – ARTEMÍSIA GENTILESCHI: JUDITE E SUA CRIADA, C. 1610

FONTE: <http://www.percepolegatto.com.br/2013/12/20/a-tentacao-de-fraudar-a-propria-
historia/>. Acesso em: 17 mar. 2019.

A pintura se encontra no Palácio Pitti, em Florença. Artemísia Gentileschi


era filha de um pintor e por muito tempo teve em sua obra invisibilidade pelo fato
de ser mulher. Hoje, tem sua obra reconhecida na excelência das pinturas da época.

68
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

3.1 ARQUITETURA
Já na arquitetura, o estilo Barroco não pode ser definido com tanta
precisão como na pintura. No programa eclesiástico de construção iniciado em
Roma em fins do século XVI, destaca-se o arquiteto Carlo Maderno, que assume
a finalização da Igreja de São Pedro. O papa decidiu acrescentar uma nave ao
edifício de Michelangelo, convertendo-o numa basílica. Nesse mesmo projeto
tem-se a obra de Gianlorenzo Bernine (1598 – 1680), arquiteto e escultor, que se
dedicou inteiramente à parte da escultura.

FIGURA 58 – SÃO PEDRO DE ROMA, NAVE E FACHADA DE CARLO MADERNO, 1607-15

FONTE: <http://multiplosestilos.blogspot.com/2010/03/basilica-de-sao-pedro.html>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

A Basílica de São Pedro passou por inúmeras transformações em sua


estrutura e decoração. Simboliza a força e a importância do Catolicismo. Entre os
importantes artistas que participaram da construção e ornamentação da basílica
estão Maderno e Bernini.

FIGURA 59 – ORATÓRIO DE SÃO FELIPE NERI, ROMA, DO ARQUITETO BORROMINI

FONTE: <http://losguaposyborromini.blogspot.com/2014/09/obras-mas-importantes.html>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

69
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Francesco Borromini (1599-1629), segundo seus biógrafos, tinha parentesco


distante com Carlo Maderno e também foi um arquiteto que marcou o período
Barroco. Conhecido pela criatividade dita por alguns como pulsante, sua obra
influenciou a arquitetura não só da Europa como também da América do Sul.

DICAS

Para saber mais sobre a arquitetura barroca no Brasil, acesse: https://www.


youtube.com/watch?v=KiXkKfdUF7o.

3.2 ESCULTURA
A presença da escultura barroca é encontrada nas igrejas, em suas figuras
expressivas. Também nos castelos, como o de Versailles, a escultura ocupa espaço
significativo. Vários escultores têm suas obras como referência do Barroco, dentre
eles: Genlorenzo Bernini (1598-1680), François Girardon (1628-1715) e Antoine
Coysevox (1640-1720).

FIGURA 60 – OBRA DE BERNINI (APOLO E DAPHNE)

FONTE: <http://www.arteeblog.com/2015/06/a-historia-de-apollo-e-daphne-de-gian.html>.
Acesso em: 17 mar. 2019.

A escultura de Bernini foi feita em tamanho real e hoje se encontra na Galleria


Borghese, em Roma, na Itália. O artista esculpe a história do amor enfeitiçado de Apolo
pela linda Dafne, na imagem foge desesperado do deus Apolo.

70
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

FIGURA 61 – MONUMENTO A RICHELIEU (FRANÇOIS GIRARDON)

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/francois-girardon/#jp-
carousel-14423>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Monumento a Richelieu, de François Girardon, é um túmulo que está


localizado na Capela da Sorbonne, em Paris. Na parte superior do túmulo, o
escultor esculpiu a figura de Armand Jean du Plessisdo, cardeal Richelieu. Chama
a atenção para a representação da figura reclinada, rodeado pela simbologia dos
elementos da religião e da ciência.

O estilo Barroco foi fortemente desenvolvido no Brasil através da


influência portuguesa, sendo a obra do mestre Aleijadinho representativa desse
período. O estado de Minas Gerais apresenta em sua arquitetura os fundamentos
do estilo Barroco.

FIGURA 62 – ALEIJADINHO: NOSSA SENHORA DAS DORES

FONTE: <http://www.cultura.mg.gov.br/ajuda/story/4753-masp-inaugura-exposicao-com-obras-
de-aleijadinho>. Acesso em: 17 mar. 2019.

Aleijadinho retrata a Virgem Maria, que na obra recebe o nome de Nossa


Senhora das Dores devido ao sofrimento vivido pela mãe de Jesus Cristo nas
passagens bíblicas.
71
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Assim, finalizamos o estudo da Unidade 1. Acesse os links recomendados


para aprofundar os períodos da arte que estudamos até aqui. Esta unidade apresenta
o início da arte e suas principais representações, mas ainda há muito mais a ser visto
e estudado. Pesquise nos livros de arte, observe com atenção as imagens referentes
às obras deste período. Que esta parte do livro didático instigue você a ir em busca
de mais informações. São muitas, acredite, e vale a pena descobrir todo o esplendor
que a arte nos oferece em toda a trajetória da humanidade.

72
TÓPICO 6 | AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO

LEITURA COMPLEMENTAR

A ARTE RUPESTRE NO BRASIL

Gabriela Martin

O Brasil pré-histórico apresenta-se com tradições rupestres de ampla


dispersão através de suas grandes distâncias e ampla temporalidade. O registro
arqueológico e, concretamente, o rupestre assim o indicam. As tradições rupestres do
Brasil não evoluíram por caminhos independentes; os seus autores ou grupos étnicos
aos quais pertencem mantiveram contatos entre si, produzindo-se a natural evolução
no tempo e no espaço que nos obriga a estabelecer as subdivisões pertinentes.

Podemos afirmar que o registro rupestre é a primeira manifestação estética


da Pré-História brasileira, especialmente rica no Nordeste. Além do evidente
interesse arqueológico e etnológico das pinturas e gravuras rupestres como
definidoras de grupos étnicos, na ótica da história da Arte representa o começo da
arte primitiva brasileira. A validade ou não do termo "arte", aplicado aos registros
rupestres pré-históricos, é tema sempre discutido, embora toda manifestação
plástica forme parte do mundo das ideias estéticas e consequentemente da
história da Arte. O pintor que retratou nas rochas os fatos mais relevantes da
sua existência, tinha, indubitavelmente, um conceito estético do seu mundo e
da sua circunstância. A intenção prática da sua pintura podia ser diversificada,
variando desde a magia ao desejo de historiar a vida do seu grupo, porém,
de qualquer forma, o pintor certamente desejava que o desenho fosse "belo"
segundo seus próprios padrões estéticos. Ao realizar sua obra, estava criando
Arte. Se as pinturas de Altamira, na Espanha, ou as da Dordonha, na França,
são consideradas, indiscutivelmente, patrimônio universal da arte pré-histórica,
sabemos, entretanto, que pintadas nas profundidades das cavernas escuras,
não foram feitas para agradar ninguém do mundo dos vivos, não há motivos
aceitáveis para se duvidar ou negar a categoria artística das nossas expressivas e
graciosas pinturas rupestres do Rio Grande do Norte ou do Piauí.

Foi precisamente nos sertões nordestinos do Brasil onde a natureza


é particularmente hostil à ocupação humana, onde se desenvolveu uma arte
rupestre pré-histórica das mais ricas e expressivas do mundo, demonstrando
a capacidade de adaptação de numerosos grupos humanos que povoaram
a região desde épocas que remontam ao pleistoceno final. No estado atual do
conhecimento, podemos afirmar que três correntes, com seus horizontes culturais,
deixaram notáveis registros pintados e gravados nos abrigos e paredões rochosos
do Nordeste brasileiro. A esses horizontes chamamos tradição Nordeste, tradição
Agreste e tradição São Francisco de pinturas rupestres, somam-se as tradições
de gravuras sob rocha, conhecidas como Itaquatiaras. Foram também definidas
outras tradições chamadas "Geométrica", "Astronômica", "Simbolista" etc. que
podem ser incluídas nas anteriores.

73
UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA,

Utilização e o significado do sítio rupestre

Quais eram os lugares com pinturas e gravuras rupestres? Lugares de


passagem? De habitação? Ou santuários? Pela estrutura fechada da caverna e o
mistério que nelas se encerra, as cavernas paleolíticas da Europa foram consideradas
os santuários pré-históricos por excelência, mas o que dizer dos abrigos e paredões
nada profundos dos sítios rupestres do Brasil? Muitos deles não foram ocupados
por falta de material, de condições e o homem limitou-se a pintar e gravar suas
paredes. Outros, pelo contrário, tiveram ocupação intensa e duradoura, servindo
como lugar de habitação e de culto em épocas diversas. Mas, em geral, quando
os abrigos pintados foram utilizados como lugares cerimoniais, não foram
simultaneamente ocupados como habitação. Um abrigo tão privilegiado pela
situação, como a Toca do Boqueirão da Pedra Furada, teve ocupação longa, não
intensa, o que parece ser a tônica dos abrigos rupestres do Nordeste, indicando que
foram usados como lugares de culto e acampamentos temporários cerimoniais; a
moradia dos grupos humanos seria em aldeias, fora dos abrigos pintados. Noutros
casos foram utilizados simultaneamente como lugar de culto e cemitério.

O tipo de suporte e a estrutura são elementos essenciais e determinantes


para se compreender o sítio rupestre e a sua utilização. Os abrigos localizados
no alto das serras, ao longo dos rios, como é o caso da região do Seridó, nos
sugere serem lugares cerimoniais, longe das aldeias, que deveriam estar situadas
mais perto da água. Já os sítios da Serra dos Cariris Velhos, entre a Paraíba e
Pernambuco, situados em lugares de várzea, piemonte ou "brejos", mesmo sendo
também lugares de culto, nos dão a impressão de uma utilização habitacional,
mesmo que temporária, ou talvez lugar de culto perto da aldeia do grupo.

Quantas vezes os grafismos, que depois serão registrados nas pedras


durante milênios, não foram antes esboçados nas areias por algum "contador de
estórias"? A pauta cultural acompanha os homens, mas o intercâmbio de ideias
e conhecimentos não depende apenas de longas migrações. A herança cultural
explica-se também pela rede de comunicações através da qual se transmite a
informação de geração em geração.

Os limites científicos do conhecimento e da interpretação dos registros


rupestres são muito frágeis, na medida em que lidamos com o mundo das ideias,
num período da história humana do qual não temos um contexto global e esse é o
grande desafio da Pré-História. Sem negligenciar o rigor científico, não podemos
negar o valor da imaginação nos caminhos da Pré-História, para evitar que se
transforme numa árida relação de dados, sem atingir a realidade humana. De
fato, quando examinamos as diferentes teorias arqueológicas ou antropológicas
aplicada à Pré-História, vemos que a maioria percorre os terrenos da conjectura
e das hipóteses, mais ou menos bem formuladas, que permite apenas uma
aproximação relativa ao passado remoto da história do homem.

FONTE: MARTIN, Gabriela. A arte rupestre no Brasil. Associação Brasileira de Arte Rupestre.
Disponível em: http://www.globalrockart2009.ab-arterupestre.org.br/arterupestre.asp. Acesso
em: 17 set. 2019.

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RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Renascimento foi a época maior das descobertas em todos os campos de


atuação humana. Na ciência, na arte, na política e na cultura.

• O Renascimento abriga um enorme acervo de manifestações artísticas e


também grandes mestres.

• Alguns artistas são referência no Renascimento, como Leonardo da Vinci, por


exemplo.

• Os escultores no Renascimento, influenciados pelo Classicismo, buscavam


através da escultura representar o homem real, inclusive em tamanho natural.

• No Barroco, a cor foi o elemento principal da pintura em tons contrastantes de


claro e escuro. O tema da pintura barroca foi o homem.

• É no período Barroco que tivemos a representação feminina como autoria na


obra de Artemísia Genteleschi.

• O estilo Barroco foi fortemente desenvolvido no Brasil através da influência


portuguesa, sendo a obra do mestre Aleijadinho representativa desse período.

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AUTOATIVIDADE

1 Tendo em mente algumas características históricas e artísticas do


Renascimento e do Barroco, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O dia 12 de outubro de 1692, quando a primeira expedição de Colombo


desembarcou nas novas terras, é considerada a data do descobrimento
da América.
b) ( ) A base intelectual do Renascimento era sua versão do humanismo, e
esse novo pensamento se manifestou na arte, arquitetura, política,
ciência e literatura.
c) ( ) O tema da pintura barroca será o homem com forte influência da ciência
e da filosofia.
d) ( ) O Barroco apresentou uma arte permeada pela razão e com finalidade
educativa.

2 Tendo em mente algumas características históricas e artísticas do


Renascimento e do Barroco, analise as afirmativas a seguir.

I- A arquitetura também teve seu espaço no Renascimento. Dois grandes


nomes se destacaram: Filipo Brunelleschi e Bramante.
II- No período Barroco a representação feminina teve como autoria a obra de
Artemísia Genteleschi.
III- O mecenato, prática de financiamento das artes, foi fundamental para o
desenvolvimento da produção intelectual e artística do Renascimento.
IV- O estilo Barroco foi fortemente desenvolvido no Brasil através da obra do
mestre Aleijadinho.
V- A arquitetura Barroca, fortemente ligada ao Cristianismo católico, tem
forte presença nas pirâmides.

Agora assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I, II, III e V estão corretas.
b) ( ) As afirmativas I, II, IV e V estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II, III, IV e V estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas.

76
UNIDADE 2

CONHECENDO A ARTE DO MUNDO


MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o movimento denominado Neoclássico;

• apreciar obras dos principais nomes do movimento Neoclássico;

• compreender as expressões artísticas e o contexto sócio-histórico do


período Romantismo;

• identificar as obras e os artistas do Romantismo;

• estudar o Realismo em seus fundamentos filosóficos e artísticos;

• reconhecer as expressões artísticas dos impressionistas;

• compreender o lugar da fotografia e do movimento Pós-Impressionista.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – ARTE NEOCLÁSSICA

TÓPICO 2 – ARTE NO ROMANTISMO

TÓPICO 3 – ARTE NO REALISMO

TÓPICO 4 – ARTE NO IMPRESSIONISMO

TÓPICO 5 – ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA

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78
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ARTE NEOCLÁSSICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico vamos estudar o Neoclassicismo, também conhecido como
Academicismo. O termo neo significa novo e as expressões artísticas desse período
têm forte influência da arte grega e da arte romana. Longe de reproduzir a arte
do passado, os artistas do Neoclássico a revigoram de forma crítica, com temas
fortes e realistas.

No contexto sociocultural temos a burguesia como protagonista das


transformações sociais e a cidade de Roma, na Itália, como polo disparador de
questões que agitaram o século XVIII, que gerou o fortalecimento da classe burguesa.

Já as artes plásticas vão priorizar temas políticos com destaque para


figuras que serão retratadas com rigor e seriedade em temas como mitologia e
acontecimentos históricos.

Enquanto, na arquitetura, teremos uma nova concepção do uso dos


materiais e as técnicas utilizadas buscando a clareza na forma projetada, com
predomínio da forma clássica e da objetividade, monumentalidade como
características arquitetônicas desse período.

2 NEOCLÁSSICO
O Neoclássico, enquanto período histórico, tem como influências as ideias
do Iluminismo e da Revolução Francesa. Os defensores do Iluminismo priorizavam
a ciência e a razão, com investigação objetiva da natureza para sua compreensão.

O Neoclássico se caracteriza por ser um movimento artístico que fez um


retorno ao passado, buscando o que foi consagrado na arte greco-romana. Esse
movimento se solidificou a partir do século XVIII, estendendo-se ao século XIX,
quando a burguesia europeia se encontrava fortalecida. A fonte de inspiração dos
artistas neoclássicos são também os modelos orientados pelo rigor da Academia
de Belas Artes.

Período de grande expressão na literatura, arquitetura, pintura e escultura


com ênfase na elegância e simplicidade, defendendo a supremacia da técnica,
da formalidade e uma prévia da obra antes da execução, não importando a
linguagem artística ou arquitetônica.
79
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

A pintura neoclássica apresenta o olhar racional do artista. A filosofia


iluminista era o referencial teórico que orientava a produção artística: razão e
inteligência. De forma minuciosa, os pintores garantem a exatidão dos contornos
das figuras representadas. Segundo Janson (1996, p. 6), especialmente “na
pintura, a tendência antirrococó foi, inicialmente, mais uma questão de conteúdo
do que de estilo”. Os temas pintados no Rococó eram próximos do cotidiano da
burguesia, recheados por delicadezas, aproximando um pouco de detalhes de
frivolidade. Nesse sentido, o Neoclássico renega a temática e se volta ao passado.
As cores têm especial atenção e a busca da harmonia é no cuidado com o uso da
cor. A pintura neoclássica é forte, realista também na representação da emoção,
que a complementa. Entre os importantes artistas do Neoclássico, Jacques-Louis
David é conhecido como o pintor da Revolução Francesa, e suas obras retratam a
figura do Imperador Napoleão e seus feitos de conquistas e lutas.

FIGURA 1 – O JURAMENTO DOS HORÁRIOS, JACQUES-LOUIS DAVID (1748-1825)

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-juramento-dos-horarios-
jacques-louis-david/>. Acesso em: 8 mar. 2019.

O tema histórico será exaustivamente trabalhado pelos pintores


neoclássicos, e Jacques-Louis David é uma referência do tema e do movimento.
Neste quadro intitulado O Juramento dos Horácios, o artista problematiza
a lealdade à pátria, à família e ao amor. Em guerra, as famílias Horácio e
Curiacio se encontram em defesa do estado e nos laços de afeto de um Horácio
por uma Curiacio.

Analisando a arte neoclássica a partir da estética, Argan (2006, p. 21)


pontua que “entendida como uma filosofia da arte, a teoria estética do século
XVIII tem como representantes Kant e Hegel”. Nesse sentido, a estética como
filosofia do conhecimento ou da ação fica marcado pelo conceito da filosofia do
belo. Mas nesse caso, o belo completa o autor. É o resultado de uma escolha e toda
escolha é uma ação crítica e racional.

80
TÓPICO 1 | ARTE NEOCLÁSSICA

FIGURA 2 – JACQUES-LOUIS DAVID, RETRATO EQUESTRE DE BONAPARTE NO


MONTE SAINT-BERNARD, 1801

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-18/neoclassico/>.
Acesso em: 6 abr. 2019.

Na imagem, o imperador francês, Napoleão Bonaparte, não foi só


protagonista de conquistas territoriais na Europa. Foi nas artes plásticas
amplamente retratado por diversos artistas em diferentes momentos da sua vida.
O artista registra a passagem de Napoleão com seu exército nos Alpes, através do
Monte São Bernardo, em 1800, rumo à Itália.

Sobre a identificação do movimento Neoclássico com os princípios


morais e estilístico greco-romano, historiadores apontam que o cenário do
desenvolvimento da indústria tecnológica colabora para que as representações de
temas históricos na arte sejam classificadas como antigas e associadas aos gregos
e romanos. No entanto, ainda que os valores morais dessa época tenham tido
destaque nas obras de vários artistas, o Neoclássico não deve ser considerado
um movimento saudosista dos valores clássicos, mas sim uma ressignificação das
descobertas artísticas historicamente construídas.

No entanto, além do tema histórico, o movimento Neoclássico também


registrou a mitologia, os retratos e as paisagens. Um dos artistas que representou
esse olhar neoclássico foi Jean-Auguste-Domenique Ingres (1780-1867). Em traços
finos e precisos registrou em suas obras os fenômenos do seu tempo, em que os
retratos apontaram as vaidades da burguesia europeia.

81
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 3 – A BANHISTA DE VALPICON, 1808, JEAN AUGUSTE DOMINIQUE INGRES


(1780-1867). MUSEU DO LOUVRE, PARIS

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-banhista-de-valpincon-
ingres/>. Acesso em: 8 mar. 2019.

Nesse quadro, o artista registra o momento do banho da personagem,


revelando de forma suave a nudez do corpo feminino. O rosto é preservado e a
toalha em volta do braço e nos cabelos completam a composição.

A pintura neoclássica era predominantemente representada por homens,


enquanto temos pouco conhecimento sobre as mulheres pintoras dessa época.
Sabe-se que o corpo feminino e a figura feminina estão presentes na arte como tema
representado. Há muito tempo as mulheres ocupam a imagem nas telas e esculturas. As
representações do feminino se dão em torno da mitologia, como as vênus largamente
representadas em pinturas e esculturas. No período do nascimento do Catolicismo,
a representação de virgens estava ligada ao nascimento de Cristo pelo corpo de uma
mulher, chegando o filho de Deus ao ápice de humanidade. No entanto, o protagonismo
feminino como artista foi um árduo caminho, com representantes desse período.

Uma delas é Maria Anna Angelika Kauffmann (1741-1807). De naturalidade


suíça, teve uma carreira bem-sucedida em Londres e Roma; e também foi uma
das duas mulheres que fundou a Royal Academy, em Londres, em 1768.

FIGURA 4 – MARIA ANNA ANGELIKA KAUFFMANN. HECTOR DEIXANDO ANDROMACHE, [S/D]

FONTE: <https://www.tate.org.uk/art/artists/angelica-kauffman-303>. Acesso em: 8 abr. 2019.

82
TÓPICO 1 | ARTE NEOCLÁSSICA

A artista parte da mitologia grega e retrata o momento de despedida entre


Andrômaca, a esposa, e seu marido, Hector, que parte para uma batalha.

No que se refere à arquitetura e à escultura neoclássica, estas também


apresentam os fundamentos das construções de um passado glorioso, como o
Renascimento e os princípios dos templos greco-romanos.

A arquitetura neoclássica pode ser identificada pelos elementos arquitetônicos


com as fachadas retas, colunas e frontões com herança do período Clássico grego. Todos
os exageros e detalhes do Barroco e do Rococó desaparecem na arquitetura neoclássica,
dando destaque às características de praticidade e funcionalidade.

Mesmo assumindo os valores do Clássico, esse movimento não perde seu


caráter crítico principalmente no que se refere ao ideal de beleza do Classicismo
do período do Renascimento. Tem-se assim elementos do Clássico ressignificados
à realidade moderna.

Argan (2006) lembra que o processo de escavação das cidades de Herculano


e Pompeia, cidades romanas destruídas pela erupção do monte Vesúvio, revelaram
a vida cotidiana dos que ali viveram. Tal conhecimento nos diz o autor, alimenta
a ideia da cidade como reflexo dos valores da população na qual ela foi projetada.
Técnicos e engenheiros passam a trabalhar em prol da coletividade.

Nesse sentido, o conceito de urbano ganha força ainda buscando certa


unidade de estilos, que para os arquitetos da época corroborava para a ordem
social. Nesse compasso de pensamento, as estruturas projetadas passam a ser
organizadas em grandes formatos, principalmente as construções públicas.

Em Roma, ainda segundo Argan (2006), o arquiteto Giuseppe Valadier


representa o gosto da burguesia que se mostra culta e combate os exageros
deixados pelo estilo arquitetônico do barroco.

FIGURA 5 – GIUSEPPE VALADIER. VILLA TORLONIA, 1806

FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Villa_Torlonia_(Roma). Acesso em: 14 abr. 2019.

83
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

Atualmente, essa construção arquitetônica é considerada um palácio, mas


sua construção original pertencia à família Pamphilj, sendo considerada uma
propriedade agrícola. Somente quando o arquiteto Giuseppe Valadier assumiu o
desafio de reconstrução e renovação arquitetônica do espaço é que a construção
se renova e assume os princípios do Neoclassicismo.

Podemos notar que o frontão do palácio dialoga com os valores


arquitetônicos do estilo romano, mas se atualiza em sua totalidade. Mesmo
considerando os cuidados de conservação na sua estrutura, o palácio parece não
deixar dúvida de seu pertencimento artístico arquitetônico do neoclássico, por
isso muitas vezes denominada de conservadora.

As construções públicas com o estilo neoclássico se espalham pelas


cidades europeias ao longo do século, conferindo à organização urbanística de
algumas cidades certa racionalidade que acompanha as transformações da época.

FIGURA 6 – PANTEÃO DE PARIS, FRANÇA, 1758, INÍCIO DA CONSTRUÇÃO

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/neoclassicismo/>. Acesso em: 8 mar. 2019.

O Panteão Nacional de Paris foi construído em sua obra original para ser
uma igreja em homenagem à Santa Genoveva, a pedido do rei Louis XV. Sua
construção começou em 1758 e se estendeu por 26 anos. Possui 110 metros de
altura e 84 metros de altura.

FIGURA 7 – PLANTA ORIGINAL DA NAVE CENTRAL DA IGREJA SANTA GENOVEVA, 1758

FONTE: <https://pt.slideshare.net/hcaslides/panteo-de-paris>. Acesso em: 14 abr. 2019.

84
TÓPICO 1 | ARTE NEOCLÁSSICA

No Brasil também temos construções com elementos do período


Neoclássico, que chegaram com a família real ao Rio de Janeiro, através da
Imperial Academia de Belas Artes, sendo o estilo neoclássico oficial da corte.

Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (1776-1850) é o arquiteto


de maior prestígio que chega ao Brasil, deixando construções importantes no
estilo neoclássico como, por exemplo, a sede da reitoria Pontifícia Universidade
Católica no Rio de Janeiro.

FIGURA 8 – GRANDJEAN DE MONTIGNY PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA


NO RIO DE JANEIRO, 1826

FONTE: <http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/missao_artistica.html>.
Acesso em: 8 abr. 2019.

Outro exemplo da arquitetura neoclássica no Brasil é o famoso Palácio do


Catete, no Rio de janeiro, atual museu da República. Projetado pelo arquiteto alemão
Carl Friedrich Gustav Waehneldt, em sua fachada deixa registrada a herança da
arquitetura greco-romana, com paredes sólidas e janelas em harmonia matemática.

Saladino e Oliveira (2012) pontuam que a construção é referência do


Neoclassicismo tardio no Rio de Janeiro, tendo sido reconhecido por sua
importância histórica e artística. Para os autores, hoje o Palácio do Catete é lugar
de memória e de sociabilidade de moradores e turistas.

FIGURA 9 – CARL FRIEDRICH GUSTAV WAEHNELDT (1830-1873). PALÁCIO DO CATETE,


NO RIO DE JANEIRO, 1894

FONTE: <https://arquiteturadobrasil.wordpress.com/arquitetura-neoclassica-no-brasil/>.
Acesso em: 10 mar. 2019.

85
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

O Palácio do Catete hoje é sede do Museu da República, local onde morou


o presidente Getúlio Vargas. Em uma das visitas ao museu é possível reviver a
rotina do local através da decoração das mesas e espaços de convivência partilhada.
A iluminação do museu confere um clima de nostalgia e uma rápida imersão ao
tempo passado. Do teto, lustres de beleza ímpar completam a decoração no estilo
neoclássico com pinturas revelando a orientação religiosa da época, com figuras
centrais do Catolicismo. É possível também reconhecer nas formas escultóricas a
herança dos valores artísticos da Academia de Belas Artes.

DICAS

Saiba mais sobre o período Neoclássico, o estilo arquitetônico, principais


pintores e escultures acessando o link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=AqpT8jR-vlw.

No que se refere ao desenvolvimento da escultura neoclássica, esta


segue o padrão da arquitetura e da pintura, mas é menos ousada que as duas.
“Os escultores estavam subjugados pela autoridade atribuída às estátuas da
Antiguidade” (JANSON, 1996, p. 308).

Assim, a escultura é desenvolvida com base nos ensinamentos da arte


escultórica do Renascimento e dos gregos e a arquitetura também é fortemente
influenciada. Um dos representantes da escultura neoclássica é Antônio Canova,
sendo que sua obra foi fortemente influenciada pela riqueza escultórica da Grécia.

FIGURA 10 – ANTÔNIO CANOVA, EROS E PSIQUE (1787-93)

FONTE: <https://artrianon.com/2018/11/07/obra-de-arte-da-semana-psique-reanimada-por-um-
beijo-do-amor-de-canova/>. Acesso em: 10 mar. 2019.

Observe a imagem, em que a famosa escultura Canova (1757-1822) registra o


momento em que Eros ressuscita Psique com um beijo. Fruto da mitologia romana,
a história de Eros e Psique perpassa os conflitos entre os deuses e os humanos.

86
TÓPICO 1 | ARTE NEOCLÁSSICA

Atualizando a lenda dos amantes apaixonados, a história de Eros e Psique


é metaforicamente usada na psicologia como orientadora para o desafio do
autoconhecimento. Conta a lenda, que ao descumprir o acordo com o marido
de não olhar seu rosto, acaba sendo abandonada por Cupido e inicia uma longa
jornada para recuperar seu amor.

Os desafios enfrentados por Psique em busca do reencontro com o amado se


assemelham aos desafios do cotidiano que enfrentamos em variadas situações. Nesse
sentido, a arte tem como fonte a mitologia e registra uma parte da história, levando o
expectador a querer saber mais sobre o amor de um deus com uma mortal.

Escrita no século 2 d.C., discorre sobre o amor improvável entre um deus e


uma mortal. Psique possui uma beleza incomum e seus admiradores a comparam
a uma deusa, tamanho é o encantamento que sua beleza provoca nas pessoas. No
conto, Afrodite fica preocupada com a adoração a Psique e condiciona o destino da
mortal a casar com uma criatura horrível. Para garantir o castigo a Psique, recomenda
que Eros, o deus do amor, fizesse com que ela se apaixonasse pela criatura horrorosa,
agora seu marido. No entanto, em um momento de distração, Eros se distrai e acaba
se encantando por Psique. Nasce o amor entre um deus e uma mortal.

Outro escultor importante desse período foi Jean-Antoine Houdon (1741-


1828), que se destacou esculpindo bustos e estátuas de personalidades da época.
No que se refere ao material utilizado pelos artistas nas esculturas, havia a
preferência pelo mármore branco.

FIGURA 11 – JEAN-ANTOINE HOUDON. BENJAMIN FRANKLIN (1706-1790)

FONTE: <https://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/72.6/>. Acesso em: 10 abr. 2019.

Nesse busto, Houdon retrata a figura emblemática de Benjamin Franklin,


cientista e diplomata americano que se destacou por sua luta abolicionista e figura
central na luta pela independência norte-americana.

Nesse período, ainda, a literatura, escultura, pintura e arquitetura


sofrem influência dos elementos do Classicismo, que por sua vez também
retomam os elementos greco-romanos. Podemos dizer que o Neoclassicismo
87
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

foi um movimento do século XVIII que reviveu os princípios estéticos clássicos


questionando os elementos estéticos do Barroco e do Rococó. A configuração
da sociedade desse período está mais próxima do que era considerado profano,
visto as ideias do pensamento iluminista que borbulhavam na época. De
uma maneira geral, é considerado um movimento aliado à alta burguesia e à
monarquia que ainda resistia.

Finalizamos o estudo da arte neoclássica neste tópico e, por conseguinte,


convidamos você a ampliar seus conhecimentos estudando outro movimento
importante: o Romantismo.

88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A fonte de inspiração dos artistas neoclássicos eram também os modelos da


Academia de Belas Artes.

• A natureza era também a fonte de inspiração dos artistas neoclássicos.

• A pintura neoclássica apresentou o olhar racional e equilibrado, tinha a filosofia


iluminista como referencial: razão e inteligência.

• O Neoclássico foi também um movimento crítico ou com tendência antirrococó.

• Jacques-Louis David e Jean-Auguste-Domenique Ingres são representantes do


movimento Neoclássico.

• A arquitetura e a escultura neoclássica apresentam os princípios dos templos


greco-romanos.

89
AUTOATIVIDADE

1 O movimento Neoclássico é conhecido pelo resgate dos valores clássicos ou


greco-romanos. Nesse contexto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Neoclássico, enquanto período histórico, tem como influência as


ideias da Revolução Industrial.
b) ( ) Teve forte expressão na literatura, arquitetura, pintura e escultura
defendendo a supremacia da técnica.
c) ( ) A pintura Neoclássica apresenta o olhar subjetivo do artista.
d) ( ) A arquitetura neoclássica preserva os exageros e detalhes do Barroco e
do Rococó.

2 Com base na origem do termo Neoclássico, seus cânones e sua orientação


moral e espiritual, é correto afirmar que:

I- O termo neo significa novo e a expressão artística do Neoclássico tem e


influência da arte grega e da arte romana.
II- A orientação dos artistas neoclássicos segue o modelo da Academia de
Belas Artes.
III- Os escultores neoclássicos seguiam os modelos das estátuas da Antiguidade.
IV- A configuração da sociedade desse período está mais próxima do que era
considerado sagrado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença IV está correta.
b) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

90
UNIDADE 2 TÓPICO 2

ARTE NO ROMANTISMO

1 INTRODUÇÃO
O romantismo não se refere propriamente a um estilo específico, mas
antes a uma atitude de espírito que pode revelar-se sob muitos aspectos. É um
conceito amplo e difícil de definir, como observa Janson (2001, p. 829), ao ressaltar
que “romantismo vem dos ‘romances’, histórias de aventuras medievais (como as
lendas do Rei Artur ou do Santo Graal), tão em voga nos finais do século XVIII e
assim chamados por serem escritos em língua ‘românica’ e não em latim”.

O interesse por um passado gótico, por tanto tempo desprezado, era o


sintoma de uma reação contra a ordem social e a religião estabelecida ou quaisquer
outros valores consagrados, atitude nascida de um forte desejo de emoções novas.
Qualquer experiência, real ou imaginária, serviria desde que fosse intensa.

Como escreve Argan (2006), os artistas românticos se deparam com um


mundo que se apresenta como possibilidade frente às transformações que a
indústria provoca. Nesse sentido, os materiais em evidência passam a ser vistos
pelos artistas como possibilidade de uso criativo e a arte encontra nas questões
que pertencem ao povo, assim surgem novas temáticas que merecem ser
poetizadas. Nesse sentido, a arquitetura em sua relação com o espaço urbano
reúne uma variedade de estilos.

Portanto, neste tópico, estudaremos o Romantismo. Um pouco diferente


do que a nomenclatura sugere, os artistas românticos exaltavam a liberdade do
homem, sua natureza instintiva. Os românticos entendiam a emoção como sendo
suficiente em si. O sentimento aqui é prioridade, almejavam combater o mal
através dos instintos primeiros: amor, violência e poder.

2 ROMANTISMO
O cenário do movimento romântico é a Europa do ano de 1800, com
destaque para a Revolução Industrial, a Declaração dos Direitos Humanos e a
turbulenta era napoleônica. Nesse sentido, os artistas românticos vão priorizar
em suas obras elementos como subjetivismo; egocentrismo e idealismo no amor
e na figura feminina.

91
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

Ribeiro (2010) aponta que o Romantismo tem como pano de fundo um


ambiente intelectual de grande rebeldia; liberalismo político; inconformismo
social e, nas artes, repúdio pelas regras. O artista, por sua vez, assume a
individualidade subjetivista quando defende que o sentimento vem do espírito e
sendo espiritual nasce com sua natureza humana.

Nesse movimento artístico e cultural ocorre uma crítica à figura do homem


racional do Neoclássico e a busca do subjetivo dos indivíduos, dando espaço para
que a identidade de cada artista e seus valores morais fossem reconhecidos como
importantes. A literatura foi a expressão mais forte do Romantismo e influenciou
mudanças de postura da sociedade europeia: o romântico acreditava que se o
homem se comportasse apenas de “modo natural”, dando livre vazão a seus
impulsos, o mal desapareceria. “Em nome da natureza, exaltou a liberdade, o
poder, o amor, a violência, os gregos, a Idade Média, ou qualquer outra coisa que
o estimulasse, embora realmente exaltasse a emoção como um fim em si mesmo”
(JANSON, 1996, p. 309). Victor Hugo (1802-1885) aparece como um dos maiores
representantes do Romantismo literário. Entre suas principais obras temos: Os
miseráveis – 1862; Os trabalhadores do mar – 1866.

Para os artistas românticos, o sentimento é o bem maior na criação da arte,


contrariando os ideais neoclássicos que tinham a razão como força norteadora da
produção artística, intelectual e científica.

DICAS

Para saber mais sobre o Romantismo, suas influências e características


principais, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=2bPkqlV-o0w&t=270s.

A pintura romântica apresenta traços dramáticos em seus temas, o


sentimento é marca forte da expressão pictórica desse período, sendo que a
pintura histórica é exaustivamente explorada pelos artistas românticos.

Os artistas românticos faziam referência à natureza, fonte de inspiração e


admiração. As pinturas românticas exigem reação do expectador, seja pelo tema
histórico, pela cor contagiante que envolve dramas humanos ou mesmo pela
beleza da natureza aprisionada em suas telas.

Para Argan (2006, p. 33), os artistas românticos não só se deparam com


as transformações que passa a sociedade, como passam a “refletir sobre a sua
relação com a natureza, ampliando o pensamento para questionar qual o lugar do
artista e da arte nessa relação”. Surge, nesse sentido, nos diz o autor, a pergunta:
Sobre o que a arte ensina a ver?

92
TÓPICO 2 | ARTE NO ROMANTISMO

Também por isso, a pintura de paisagens é tema recorrente entre os


românticos, sendo Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875) um dos mais destacados.
O artista dedicou várias telas à representação da paisagem e já anuncia em algumas
delas a discussão em torno da importância da luz na pintura da natureza.

FIGURA 12 – JEAN-BAPTISTE CAMILLE COROT. AS QUATRO HORAS DO DIA, 1858

FONTE: <http://www.arteeblog.com/2015/02/a-historia-das-4-obras-as-quatro-horas.html>.
Acesso em: 18 abr. 2019.

A pintura “As quatros horas do dia” registra as nuances de tons que os


períodos do dia apresentam: manhã, meio-dia, tarde e noite revelam a aproximação
do artista com as mudanças que a natureza passa ao decorrer das horas.

Na mesma percepção das nuances de luz da natureza temos os quadros


de Théodore Rousseau (1812-1867). Alguns críticos de arte apontam o registro
pictórico de Rousseau como o disparador da pintura impressionista.

FIGURA 13 – THÉODORE ROUSSEAU. CREPÚSCULO EM SOLOGNE, 1867

FONTE: <https://www.wikiart.org/pt/theodore-rousseau/twilight-in-sologne-1867>.
Acesso em: 15 abr. 2019.

Assim como Rousseau, os artistas começam a registrar nas telas a natureza


em sua plenitude, podendo ser entendido como um testemunho do momento
apreendido, valorizando o processo de criação.

Delacroix e Goya são também destaques da pintura desse período, assim


como a utilização da cor como elemento significativo para a representação de
suas criações. Temas de caráter social e político também são marcas desse período
artístico denominado Romantismo.
93
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 14 – EUGÈNE DELACROIX: A LIBERDADE GUIANDO O POVO (1830), MUSEU


DO LOUVRE – PARIS

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-liberdade-guiando-o-povo-
eugene-delacroix/>. Acesso em: 10 mar. 2019.

Eugene Delacroix (1798-1863) registra nesse quadro o levante de julho


de 1830, na França, que causou a queda de Carlos X por Luís Felipe, duque de
Orléans. A cena apresenta o movimento crucial da revolta: o rompimento das
barricadas pelos rebeldes.

Outro pintor de destaque no Romantismo foi o espanhol Francisco José


de Goyay Luciente (1746-1828), conhecido como Goya. Destacou-se com seus
retratos e composições criativas e permeadas de liberdade.

FIGURA 15 – O FUZILAMENTO DE 3 DE MAIO, 1814, DE FRANCISCO JOSÉ DE GOYA Y LUCIENTES

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/o-3-de-maio-de-1808-em-
madri-francisco-de-goya/>. Acesso em: 12 mar. 2019.

Nesse quadro, Goya registra pictoricamente de forma expressiva o


levantamento de 3 de maio, ocorrido em 1808, após Napoleão invadir a Espanha,
momento em que as tropas francesas atiraram contra os revoltosos. Entre os
condenados ao fuzilamento, o artista destaca um dos personagens. Centralizado
na cena que registra a execução, de blusa branca levanta os braços rendido às
armas, mas mantém a postura de enfrentamento com a certeza de que a causa
ainda resistiria à tirania do imperador. Na composição da cena, a luz e a sombra
constituem elemento central para a dramaticidade do tema, como se tivesse um
holofote direcionado ao que iriam ser executados.
94
TÓPICO 2 | ARTE NO ROMANTISMO

No que se refere à arquitetura do Romantismo, esta traz como inovação


o uso de materiais como o ferro, que segundo Janson (1996), nunca tinha sido
usado. Os novos materiais, que a partir do Romantismo passam a estruturar e
compor a arquitetura, permite também a aparição de vários estilos, em linhas e
formas múltiplas. Somente as igrejas e os castelos seguiam com a tradição clássica
da arquitetura.

Ainda segundo Ribeiro (2010), os arquitetos do Romantismo voltam-se


para a Idade Média e elegem o estilo gótico como inspiração.

FIGURA 16 – PALÁCIO DE WESTMINSTER EM LONDRES, REPROJETADO POR CHARLES BARRY


E AUGUST PUGIN (1870)

FONTE: <https://www.tudosobrelondres.com/palacio-westminster>. Acesso em: 15 mar. 2019.

Conhecido também como a Casa dos Parlamentos, é exemplo da


arquitetura romântica. Solidez e grandiosidade formam um conjunto que
combina com o espírito dos arquitetos e artistas desse período, que revalorizam
a arquitetura do período gótico entendendo como um encontro desse estilo com
a civilização industrial.

A arquitetura gótica é cristã, lembra Argan (2006, p. 31), “sua existência


para o alto em suas torres gigantesca sugere infinitude igual ao espírito que habita
o corpo”. É na Inglaterra que se inicia o resgate do estilo gótico para a arquitetura
do Romantismo, e muito dessa influência se deve aos escritos de Goethe sobre a
catedral de Estrasburgo e Hegel que, segundo o autor, identifica o gótico como
expressão do ethos cristão.

Na escultura romântica nota-se uma aproximação com a escultura


neoclássica, no entanto, os temas trouxeram como novidade a representação de
animais e cenas de caça, mantendo também a representação de cenas heroicas
e da mitologia. De uma maneira geral e consenso entre críticos e historiadores
de arte, a escultura desse período não teve protagonismo similar à pintura, por
exemplo. Vamos encontrar a escultura ainda como complementar às narrativas
visuais. Pode-se dizer que, de certa forma, a escultura romântica não requereu
seu lugar de existência, vindo complementar as construções arquitetônicas e
monumentos funerários. Dois escultores são representativos no Romantismo:
Jean Baptiste Carpeaux e François Rude.
95
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 17 – UGOLINO E SEUS FILHOS,1865-67, JEAN-BAPTISTE CARPEAUX, 1827-1875

FONTE: <https://www.metmuseum.org/pt/art/collection/search/204812>. Acesso em: 15 mar. 2019.

Carpeaux baseou sua obra no canto 33 do Inferno de Dante, esculpe a partir dos
escritos do poeta o espírito do Conde Ugolino que devorava o Espírito do Arcebispo
Ruggieri. A escultura traz o momento de angústia de Ugolino mordendo as mãos por
desespero à condenação de prisão e morte por fome. Ao ver o desespero e silêncio do
pai, as crianças declaram estar dispostas a ter suas carnes como alimento do pai, que
responde apenas com silêncio. No texto, Dante dá voz ao condenado que declara:
“Durante esse dia, e o outro, ninguém falou nada. No quarto dia, Gaddo lamentou
aos meus pés e depois morreu. Depois eu os vi morrendo um a um, do quinto ao
sexto dia, os outros três. Por mais dois dias, já cego, chorei sobre seus corpos mortos,
até que no oitavo dia a morte me levou” (ALIGHIERI, 1999, p. 228).

A obra é baseada na visão medieval do inferno como o lugar dos mais


dolorosos e insuportáveis castigos. É também a primeira parte da obra de Dante
seguida do purgatório e do paraíso.

FIGURA 18 – FRANÇOIS RUDE, 1833-36, MARSELHESA – PARTIDA DOS VOLUNTÁRIOS DE 1792

FONTE: <http://www.19thcenturyart-facos.com/artwork/marseillaise-%E2%80%93-departure-
volunteers-1792>. Acesso em: 15 mar. 2019.

96
TÓPICO 2 | ARTE NO ROMANTISMO

François Rude esculpiu esse grupo para compor o Arco do Triunfo de


Paris, que possui caráter patriótico. A junção das figuras compõe a narrativa com
personagens bastante expressivos.

Santos (2018) frisa que ao se falar do Romantismo no Brasil, destaca-


se a literatura trazida por Portugal e França. Os escritores românticos vão nos
presentear com uma literatura que dará ênfase à imaginação e fantasia somada
a um sentimento de nacionalismo exacerbado. O movimento inicia-se em 1836,
com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. O
Romantismo é considerado um movimento importante por requerer a autonomia
da literatura brasileira, até então fortemente influenciada pela literatura portuguesa.

Para Ricúpero (2004), o Romantismo no Brasil marca a ideia de se construir


o conceito de nação brasileiro e tudo o que nela estava envolvido, principalmente
a compreensão de uma identidade nacional.

As artes plásticas terão nomes importantes, como Pedro Américo, Vitor


Meirelles, Almeida Júnior, entre outros que exaltaram a natureza e o popular em
busca da nacionalidade brasileira.

FIGURA 19 – PEDRO AMÉRICO (1843-1905). INDEPENDÊNCIA OU MORTE, 1888

FONTE: <http://virusdaarte.net/pedro-americo-independencia-ou-morte/>. Acesso em: 16 mar. 2019.

O quadro retrata Dom Pedro I na parte mais alta da colina do Ipiranga,


tendo atrás de si um pequeno grupo de acompanhantes. O artista reconstrói o
momento da proclamação da independência do Brasil. O tema retratado pelo
pintor é marco de nascimento político da nação brasileira e sua importância
histórica perpassa a construção da memória do processo de libertação da colônia
e autonomia territorial. Além disso, o Romantismo empreende o desafio de buscar
o testemunho artístico desse movimento histórico importante.

Schlichta (2009, p. 32) pontua que a pintura do gênero histórico contribui


“para a construção de uma leitura gloriosa de nosso passado afinada com o
discurso de duas instituições: a Academia Imperial de Belas Artes (1826) e o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838)”.

Ainda, para a autora, a representação do príncipe exalta a importância


da sua figura como imperador e registra a cena política em sua perspectiva de
valorização do momento histórico (SCHLICHTA, 2009). Soma-se a intenção
97
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

valorativa do uso das cores, a distribuição dos personagens na tela, a composição


em semicírculos insinuando a unidade do grupo e a representação suntuosa do
animal no qual o imperador está montado, destacando-se dos demais.

FIGURA 20 – VICTOR MEIRELLES (1832-1903). A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL, 1861. MUSEU


NACIONAL DE BELAS ARTES

FONTE: <http://www.museus.gov.br/a-primeira-missa-no-brasil-de-victor-meirelles-chega-a-
brasilia-para-exposicao/>. Acesso em: 16 mar. 2019.

Pintura representativa na carreira do artista, A primeira Missa no Brasil


é considerada uma pintura histórica e os personagens têm suas identidades
marcadas nos traços culturais destacados no quadro. Com dimensões de 268 cm
x 356 cm, o quadro oferece ao expectador um momento de respiração acelerada.
Não se sabe explicar se pela grandiosidade da tela ou pelo jogo impressionante
de luz e sombra. A pintura que já foi exposta em vários momentos nas capitais
brasileiras é um convite para revisitar um passado que pertence a todos nós, e
nesse sentido a fruição da pintura pode proporcionar uma imersão na história
que também compõe nossa brasilidade.

Rosa (2016) analisa que ao pintar a Primeira Missa no Brasil, Victor Meirelles
testemunha de forma pictórica o momento histórico do país em processo de
colonização. Ressalta também que, sendo o artista formado pelos cânones da
Academia Imperial de Belas Artes, o artista assume os valores do colonizador
ao retratar o processo civilizatório de forma idealista, sem registrar qualquer
confronto ou resistência por parte dos indígenas.

98
TÓPICO 2 | ARTE NO ROMANTISMO

FIGURA 21 – RECADO DIFÍCIL, 1895. ALMEIDA JÚNIOR. MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES

FONTE: <http://virusdaarte.net/almeida-junior-recado-dificil/>. Acesso em: 16 mar. 2019.

A poética do artista registra o sofrimento de forma única. As figuras


retratadas não deixam dúvida quanto à separação da classe social. Os pés descalços
da criança e a cabeça levemente inclinada sugerem humildade do personagem.

Como você já percebeu ao estudar o Romantismo, a arte brasileira tem um


espaço significativo, tanto na literatura como na pintura. Mesmo ainda subordinada
à Europa, a produção artística brasileira busca sua identidade e autenticidade. Os
primeiros passos começam a ser dados em direção ao reconhecimento negado
pelos colonizadores: de uma arte brasileira.

Prosseguindo nossos estudos da História da Arte, vamos agora estudar o


Realismo. Boa leitura!

99
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Romantismo surgiu na Europa no ano de 1800. É um movimento artístico e


cultural que faz uma crítica à figura do homem racional do Neoclássico. Para
os românticos, o sentimento é o bem maior na criação da arte.

• Na pintura romântica, os traços são dramáticos, pois o sentimento é marca


forte da expressão pictórica. São representantes da pintura do Romantismo:
Delacroix e Goya.

• A arquitetura do Romantismo apresenta vários estilos e uso de novos materiais.

• Na escultura romântica, nota-se uma aproximação com a escultura neoclássica,


com representação de animais e cenas de caça, cenas heroicas e da mitologia.
São importantes escultores do Romantismo: Jean Baptiste Carpeaux e Francçois
Rude.

• No Brasil, o Romantismo é representado por Pedro Américo, Victor Meirelles,


Almeida Júnior, entre outros.

100
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o pensamento que orientava os artistas do Romantismo, assinale a


alternativa CORRETA:

a) ( ) O Romantismo é marcado pelo repúdio às regras.


b) ( ) Os artistas românticos exaltavam a liberdade, mas também a razão.
c) ( ) A arquitetura do Romantismo é uma cópia do Neoclássico.
d) ( ) O termo Romantismo vem dos “romances” e se refere ao amor.

2 São muitos os artistas do movimento denominado Romantismo. Da mesma


forma, diferentes linguagens artísticas vão assumir o pensamento dessa
época em suas representações artísticas. Partindo desse contexto é correto
afirmar que:

I- A Primeira Missa no Brasil, 1861, de Victor Meirelles, é um quadro


representativo do movimento chamado Romantismo.
II- Jean Baptiste Carpeaux é referência na escultura romântica.
III- A literatura foi a expressão menos marcante do Romantismo.
IV- A arquitetura do Romantismo traz como inovação o uso de materiais como
o ferro.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

101
102
UNIDADE 2 TÓPICO 3

ARTE NO REALISMO

1 INTRODUÇÃO
O Realismo começou na França e um ponto marcante desse período
vem do campo da literatura com a publicação de Madame Bovary, romance
de Gustave Flaubert, publicado em 1856. Em Portugal, um dos representantes
desse movimento literário foi Eça de Queirós, com O crime do Padre Amaro, e no
Brasil com Machado de Assis, que sai do Romantismo e entra na fase realista com
Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881.

Esse movimento se caracteriza por ser um antirromântico e tentar traduzir


as coisas como realmente se apresentam – em especial as questões sociais e suas
complexidades. Surge, assim, a crítica política e a crítica social que não apenas
descrevia e mostrava o que se passava na sociedade da época, mas propunha
uma reflexão sobre os temas. Aliás, discussões que se estendem até os dias de
hoje, afinal, o sistema capitalista e suas imbricações estão no centro de tudo. É
bom lembrar que naquele momento ocorria a segunda revolução industrial, o fim
do sistema escravocrata e a mão de obra escravizada estavam sendo substituídas
pela mão de obra dos imigrantes.

O Realismo, segundo Janson (2001), se caracterizou como um movimento


artístico e literário do século XIX na Europa. Os artistas realistas utilizaram em
suas obras temas do cotidiano da classe trabalhadora e fizeram críticas à sociedade
burguesa. Nesse período histórico, a ciência se desenvolveu e influenciou
também o pensamento artístico, que entendeu que a observação da realidade era
fundamental para o desenvolvimento do pensamento racional.

2 REALISMO
Movimento que se debruça para observar e registrar a realidade, prioriza a
razão e a ciência na análise dos fenômenos. O Realismo como movimento artístico
surge na França no século XIX, mas se estende por toda a Europa. A filosofia que
orienta a criação artística desse período é uma volta à razão e à soberania da
ciência e sua comprovação científica.

Ao lado do crescimento da industrialização no final do século XIX surge o


Realismo. Os europeus, que agora detinham domínio sobre o conhecimento científico
e as técnicas para compreender e dominar a natureza, acreditaram ser necessário

103
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

deixar de lado as subjetividades e emoções, focando muito mais na realidade


procurando se adequar às necessidades de então. A sociedade agora precisa de
praticidade. As pessoas estão voltadas a trabalhos que demandam otimização do
tempo, estando elas dentro de fábricas, escolas, hospitais e moradias. Desta forma, o
luxo dos palácios e a ostentação das famílias reais deixam de ser o centro das atenções
para os artistas. Proença vai apontar que o artista agora, independentemente de sua
posição, está focado em transmitir a realidade e reproduzir em suas obras seres
como eles mesmos, ou que estejam dentro dos ambientes em que estes frequentam
e observam, muitas vezes refletindo suas pretensões políticas. Nesse período, os
pintores devem ter a mesma objetividade de estudo de um cientista ao esboçar seus
traços. “Não cabe mais ao artista melhorar esteticamente o que já é belo na natureza,
mas mostrar os pontos mais expressivos da realidade natural, deixando de lado os
temas mitológicos, bíblicos, históricos e literários, dedicando-se ao homem e ao seu
meio como eles realmente são” (PROENÇA, 2012, p. 131).

A emotividade dos artistas românticos é rejeitada pelo Realismo e a


beleza é entendida como real e objetiva. Na escultura, as figuras retratadas serão
detalhadas para uma maior aproximação da realidade. Na pintura apareceram
artistas importantes como Édouard Manet (1832-1883), Gustave Coubert (1819-
1877), Honoré Daumier (1808-1879), entre outros.

FIGURA 22 – ALMOÇO NA RELVA, 1863. ÉDOUARD MANET

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/almoco-na-relva-edouard-
manet/>. Acesso em: 16 mar. 2019.

A tela Almoço na relva, de Édouard Manet, foi rejeitada pelo júri do


Salão de 1863 devido à polêmica causada pelo tema. Uma mulher nua entre
cavalheiros para um piquenique foi uma afronta aos padrões morais da época,
mesmo sendo uma representação artística. Para os críticos da época, a mulher
retratada em nada lembrava a mitologia, tornando a figura feminina tão real
que a cena se tornava obscena.

O tratamento de luz e sombra pelo artista também merece destaque. A pele


branca da personagem nua é destacada no jogo de luminosidade da composição.
Os cavalheiros têm suas vestimentas quase absorvidas pela sombra projetada
pelas árvores, que parecem brincar de se esconder com o sol que rege o dia.
104
TÓPICO 3 | ARTE NO REALISMO

Édouard Manet seguiu o pensamento da época buscando questionar


valores e padrões estéticos, e buscou inovar tanto na composição de cenas quanto
no uso das cores, que em contraste sutil representa os personagens inseridos
na cena quase como um recorte e colagem. Por essa forma de composição,
historiadores apontam essa obra como marco do movimento modernista.

FIGURA 23 – O DESESPERO, 1845, AUTORRETRATO DE GUSTAVE COURBET

FONTE: <http://valiteratura.blogspot.com/2011/04/gustave-courbet-1819-1877-e-o-realismo.
html>. Acesso em: 16 mar. 2019.

Artista que tinha o mundo real como inspiração. Nesse autorretrato, Courbet
nos brinda com o tema desespero de forma poética e intensa. A beleza da obra contrasta
com o sentimento que a figura representa. O expectador corre o risco de fruir a obra
de forma tão intensa em sua porção estética que acaba relevando a dor representada.

Os temas preferidos de Coubert foram os de caráter de denúncia das


mazelas sociais.

FIGURA 24 – GUSTAVE COUBERT. OS QUEBRADORES DE PEDRA, 1849

FONTE: <http://virusdaarte.net/courbert-os-quebradores-de-pedra/>. Acesso em: 12 abr. 2019.

Nesse quadro, o pintor Gustave Coubert assume a denúncia social ao pintar


o empobrecimento e a vida miserável dos camponeses de seu país. Quebrar pedra
para sobrevivência para ser uma existência condenada na terra. Ainda que de forma
magistral na composição da cena e no uso de luz e sombra, o artista nos brinda com
a beleza da forma, não passa despercebida a contradição do tema retratado.
105
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 25 – HONORÉ DAUMIER. O VAGÃO DE TERCEIRA CLASSE, 1860-63

FONTE: <http://obviousmag.org/archives/2013/11/honore_daumier_um_homem_rindo_do_
seu_tempo.html>. Acesso em: 16 mar. 2019

Nesse quadro, Daumier traz o cotidiano de pessoas que compartilham


o trem, em primeiro plano os representantes do povo e, em segundo plano,
representantes da burguesia. O tema em si registrado em um quadro já é polêmico,
visto que a sociedade não via a classe trabalhadora como digna de ser registrada
pela arte. Mas a intenção do artista é também denunciar o contexto de miséria
da classe trabalhadora. Nesse sentido, a composição da cena traz personagens
duramente castigados pela sua condição social em primeiro plano da tela. É
visível na expressão entristecida dos rostos, a dureza da vida transformada em
exaustão. Velhos e crianças reforçam a cena de penúria do grupo retratado.

O Realismo na escultura foi inspirado no homem real e o contexto em


que estava inserido. Os artistas desse período assumem em suas obras gestos
políticos se posicionado perante a sociedade. O uso dos materiais também
assume a transgressão do movimento fazendo com que alguns deles, como o
bronze, fossem apresentados sem retoques, gerando até certa brutalidade devido
ao pouco polimento da peça. Algumas obras vão eternizar gestos humanos, por
exemplo, a obra do francês François-Auguste-René Rodin (1840-1917).

FIGURA 26 – AUGUSTE RODIN. O PENSADOR, 1902. MUSEU RODIN, PARIS – FRANÇA

FONTE: <https://arteeartistas.com.br/o-pensador-auguste-rodin/>. Acesso em: 19 mar. 2019.

106
TÓPICO 3 | ARTE NO REALISMO

Na escultura O Pensador, o artista se inspirou na obra Divina Comédia de


Dante Alighieri e a figura lembra uma passagem da obra lembrando Dante em
frente aos portões do inferno. É considerada a escultura mais famosa de Rodin,
tendo sido inúmeras vezes replicada.

FIGURA 27 – AUGUSTO RODIN. PRIMAVERA ETERNA, 1884. MUSEU DE ARTE DA FILADÉLFIA

FONTE: <https://www.artsy.net/article/artsy-editorial-rodin-captured-human-desire-clay-
bronze>. Acesso em: 12 abr. 2019.

No Brasil, o Palacete das Artes Rodin Bahia abriga obras do escultor


francês. São elas: O homem que anda sobre a coluna, Jean de Fiènnes nu, A mártir e
Torso de sombra. O museu Rodin Bahia fica em Salvador – BA, no bairro da Graça.

DICAS

Visite o museu Rodin! Faça um tour virtual e conheça outras obras do escultor
francês. Acesse: http://musee-rodin.fr/en/collections.

No que se refere à arquitetura, o Realismo apresenta construções urbanas


como resultado da Era Industrial. Os palacetes e os templos não são mais
preocupação dos arquitetos desse período, que se dedicam a construir espaços
para a nova organização social da classe burguesa e operária. Assim, a função da
construção era fator determinante nas construções desse período.

107
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 28 – TORRE EIFFEL, 1889 – GUSTAVO EIFFEL

FONTE: <https://www.pariscityvision.com/pt/paris/lugares-marcantes-de-paris/torre-eiffel/
historia-torre-eiffel>. Acesso em: 19 mar. 2019.

A Torre Eiffel é marco da arquitetura desse período principalmente pelo


uso do material: uma torre de ferro, de base quadrada, com 125 metros de largura
e 300 metros de altura.

Localizada no Champ de Mars, em Paris, tornou-se referência da


França. Sendo o edifício mais alto da cidade, atualmente é considerado um dos
monumentos mais visitados do mundo. Em sua estrutura singular, se mistura
com as configurações da cidade compondo de forma harmoniosa o lugar. Com o
passar do tempo, a Torre Eiffel passou a ser parte da identidade de Paris e lugar
de desejo dos turistas que a visitam durante todo o ano.

Também o teatro foi o campo fértil do pensamento dos artistas do


Realismo, em que o homem e seu cotidiano eram motivos de interpretação.
Segundo Cebulski (2012), os principais nomes do teatro são de Alexandre Dumas
Filho (1824-1895) e Emile Augier (1820-1889). Do primeiro são as peças A Dama das
Camélias (1849 -1852), O Mundo Escuso (Demi monde, 1855), A questão de dinheiro
(La question d´argent,1857) e O Filho Natural (1858).

FIGURA 29 – ALEXANDRE DUMAS FILHO. CAPA DO LIVRO A DAMA DAS CAMÉLIAS, 1848

FONTE: <http://aimer-la-france.blogspot.com/2013/05/a-dama-das-camelias.html>.
Acesso em: 12 abr. 2019.

108
TÓPICO 3 | ARTE NO REALISMO

No Brasil, o Realismo ganhou força também na literatura com as obras de


Machado de Assis (1839-1908): Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borbas
e Dom Casmurro. Outro importante escritor realista brasileiro foi Raul Pompeia
(1863-1895), sendo O Ateneu uma de suas principais obras. A literatura brasileira
desse período ultrapassa o caráter lúdico e assume questões sociais como forma
de análise da realidade. Nesse período, o movimento da história aponta para a
modernização, deixando para traz a relação latifundiária e a monocultura.

FIGURA 30 – MACHADO DE ASSIS. MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, 1881

FONTE: <https://interesses-sutis.blogspot.com/2017/10/resenha-memorias-postumas-de-bras-
cubas.html>. Acesso em: 12 abr. 2019.

Nesse livro, Machado de Assis apresenta uma visão cruel da natureza


humana a partir da narrativa de um defunto. A infância do personagem, Brás
Cubas, oriundo da sociedade patriarcal brasileira da época, foi vivida com
privilégios e caprichos patrocinados pelos pais. Tal condição social permite que
o personagem ainda garoto tenha como “brinquedo” de estimação o negrinho
Prudêncio, que ora se transformava em montaria para o garoto, ora era alvo de
maus-tratos naturalizados na época.

Quando jovem, gasta o dinheiro da família com Marcela, a prostituta. Para


ela, Brás Cubas escreve: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos
de réis”. O personagem acredita no amor da prostituta e por isso reconhece que
amor e interesse financeiro estão intimamente ligados.

O livro tem uma narrativa ácida e muitas vezes irônica, e também por isso vale
a leitura. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 na cidade
do Rio de Janeiro. Neto de escravos alforriados, não pôde frequentar regularmente a
escola, tornando-se autodidata. Em 1897, Machado funda a Academia Brasileira de
Letras, sendo o primeiro presidente e ocupando a Cadeira nº 23.

Chegamos ao final dos estudos sobre o Realismo. Esperamos ter apontado


alguns caminhos para que você descubra muito mais sobre a produção artística e
seus saberes. Acesse os links, consulte a bibliografia recomendada, alimente sua
curiosidade acerca da história da arte. No próximo tópico, convidamos você a
estudar o Impressionismo. Bons estudos!
109
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Realismo surgiu na França do século XIX. No Realismo, a criação artística


priorizou a volta à razão, influenciada pela ciência. A emotividade dos artistas
românticos é rejeitada pelos realistas, a beleza é real e objetiva.

• São destaques na pintura: Édouard Manet, Gustave Coubert, Honoré Daumier,


entre outros.

• Na arquitetura, o Realismo apresenta construções urbanas e segue a lógica da


Era Industrial.

• No teatro, o homem e seu cotidiano eram motivos de interpretação.

• No Brasil, o Realismo ganhou força também com as obras de Machado de Assis


e Raul Pompeia.

110
AUTOATIVIDADE

1 O Realismo é um movimento questionador da emotividade e que vai


priorizar a razão. Tem como berço a Europa e a efervescência dos ideais do
século XIX. A partir desse contexto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Realismo começou na Itália.


b) ( ) A emotividade dos artistas românticos é assumida pelo Realismo.
c) ( ) O Realismo na escultura se inspira no homem real, sendo Auguste
Rodin um representante importante.
d) ( ) A arquitetura desse período é uma réplica das construções greco-
romana.

2 Os artistas do Realismo vão testemunhar o mundo real em diversas


linguagens artísticas, por exemplo, a literatura e a pintura. A partir desse
contexto, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) No Brasil, o Realismo ganhou força também com a obra de Machado de


Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
b) ( ) O teatro foi um campo pouco significativo no Realismo.
c) ( ) A arquitetura desse período chamado Realismo apresenta construções
urbanas em consonância com a Era Industrial.
d) ( ) O Realismo teve como orientação filosófica a volta à razão e à soberania
da ciência e sua comprovação científica.

111
112
UNIDADE 2
TÓPICO 4

ARTE NO IMPRESSIONISMO

1 INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial significou a substituição da ferramenta pela
máquina, consequência do capitalismo como modo de produção dominante. Esse
momento, conforme observa Janson (2001), de passagem da energia humana para
a motriz, é o ponto culminante de uma revolução tecnológica, social e econômica
que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média, sobretudo nos
países onde a Reforma Protestante tinha reduzido o poder da Igreja Católica:
Inglaterra, Escócia e Países Baixos. É a ascensão da burguesia e novos conceitos
sobre a sociedade e a evolução da ciência, que permitiu o mundo ocidental
conhecer a fotografia, tintas em tubo, teorias sobre a luz, entre outras.

“Proporcionando o início de novas tendências e revolucionando o


século XX, o Impressionismo parte da direta observação do efeito da luz solar
sobre os objetos, registrando nas obras o efeito que essa luz causa nas cores da
natureza” (PROENÇA, 2012, p. 140). As concepções desse movimento são muito
mais práticas do que teóricas e esse é um dos pontos que o diferencia de seus
antecessores. As pinturas impressionistas podiam registrar o efeito da luz solar
nas cores da natureza e as modificações que estas acabam refletindo, a depender
da intensidade do sol, eliminar as linhas, pois elas são uma abstração dos olhos
humanos para representar as imagens, as sombras devem ser coloridas, seguindo
a impressão visual de quem as vê, o contraste deve ser alcançado de acordo com
as cores complementares, as cores e tonalidades devem ser puras e separadas em
pequenas pinceladas nos quadros.

Na arquitetura tem-se o princípio da funcionalidade, a racionalidade e


o interesse coletivo sobrepõe a individualidade. O século XX traz o desafio de
pensar as construções arquitetônicas no contexto urbano.

Na conjuntura atual, um grupo de artistas denominado impressionista


se rebelou e queria estabelecer arte em que podiam estar próximos da natureza
e representá-la com enfoque na incidência da luminosidade. Com estudos
pictóricos, artistas procuraram ampliar o conceito impressionista e agregar
pontos obtendo novos resultados de luz e sombra.

113
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

2 A ARTE IMPRESSIONISTA
Impressionismo foi um movimento artístico que teve seu início na
França, no final do século XIX, tendo aversão à arte acadêmica que era ensinada
em escolas artísticas da Europa. Um grupo de artistas propunha exaltar traços
pictóricos imediatos.

A fonte principal para a execução era a natureza. Procuravam captar as


impressões daquele momento, registrando luz e cor e transpô-las diretamente
para a tela. Algumas características facilitam a hora de analisar uma obra
impressionista, tais como:

• Na pintura teremos a predominância das tonalidades que os objetos adquirem


ao serem expostos à luz natural, bem como as mudanças dessas tonalidades.
• Desaparecem as linhas que contornavam as figuras, pois representam apenas
uma parte e não o todo do objeto.
• As sombras passam a ser representadas como luminosas e coloridas, se
afastando dos tons escuros, como o preto, por exemplo.
• As cores se encontram no objeto retratado e não são previamente misturadas.
É o olho do observador que faz o encontro, gerando outros tons.

Assim, o artista impressionista não se preocupava com contornos, pois


na natureza não havia linhas de contorno. Colocava sua tela em meio à natureza
e começava a pintar usando as cores primárias (amarelo, azul e vermelho) e as
secundárias (violeta, verde e laranja), que eram aplicadas diretamente do tubo
com o dedo, pincel ou da própria espátula na tela. Ao pintar desta forma, de
perto se notavam apenas manchas, mas ao se afastar e apreciar a obra de longe,
as pinceladas pareciam ter forma. Os artistas também foram influenciados pelas
estampas japonesas, pois muitas peças vinham do Japão embrulhando a porcelana,
sendo admiradas por alguns artistas, como Manet, Monet, Degas e outros.

Monet, durante uma aula de pintura acadêmica, se recusou a fazer a


atividade, pois o professor havia pedido para os alunos pintarem a partir de
modelos antigos, ele e outros jovens se recusaram, assim, esse grupo de artistas
pintou muitas paisagens e fez a exposição onde foram recusados, pois pintar sem
fazer um esboço e depois cuidadosamente terminar a obra não era adequado para
a época (STRICKLAND; BOSWELL, 2004).

FIGURA 31 – IMPRESSÃO: NASCER DO SOL, MONET, 1872. MUSEU MARMOTTAN, PARIS

FONTE: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/impressionismo-pintores-como-monet-
tem-luz-e-movimento.htm>. Acesso em: 19 mar. 2019.

114
TÓPICO 4 | ARTE NO IMPRESSIONISMO

A obra Impressão: Nascer do Sol teve influência no reconhecimento do


grupo de artistas, que recebeu o nome de Impressionistas.

Pierre Augusto Renoir (1841-1919), dentre os impressionistas, pintava


pessoas, fazia vários retratos. Segundo Strickland e Boswell (2004, p. 35), Renoir
“fragmentava a forma em manchas brilhantes de luz, aplicadas em pinceladas
curtas, de cores distintas e se recusava a usar preto”. Não era uma cor, ele dizia,
acreditando que o preto fazia um buraco na tela.

FIGURA 32 – O ALMOÇO DOS REMADORES, 1880-1881 – PIERRE AUGUSTO RENOIR

FONTE: <http://virusdaarte.net/renoir-o-almoco-dos-remadores/>. Acesso em: 19 mar. 2019.

Nesse quadro, o artista desafia as regras morais da época e expõe os dois


personagens centrais com os braços musculosos à mostra. Percebe-se que os demais
integrantes da cena estão com trajes da época, tornando despojada a vestimenta
dos dois personagens, contrastante com a composição geral. Mesmo assim, o
clima retratado na tela é de harmonia e o grupo não parece se preocupar com as
dissonâncias dos personagens em suas vestimentas informais. Percebe-se que o
pintor, apesar de extremo cuidado com os detalhes, prioriza a totalidade da cena.

Outro pintor interessante desse período foi Edgar Degas (1834-1917). Seu foco
maior eram ambientes interiores, onde a luz era artificial e captava os movimentos e
a expressão dos rostos. Sua maior especialidade era a figura humana. De acordo com
Janson (2001), apesar dos quadros pintados a óleo, Degas não abandonou a antiga
fidelidade ao desenho. O autor destaca ainda a fascinação do artista pelo movimento
dos corpos, registrado nos inúmeros trabalhos sobre as bailarinas.

115
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 33 – QUATRO DANÇARINAS, 1899. EDGAR DEGAS

FONTE: <http://obviousmag.org/archives/2014/02/edgar_degas_-_a_pequena_bailarina.html>.
Acesso em: 19 mar. 2019.

Esse quadro de Degas é um dos muitos com essa temática deixado pelo
pintor. Estima-se que a metade da produção do artista esteja ligada ao tema das
bailarinas. Nessa composição, o artista nos presenteia com um pequeno grupo
de jovens bailarinas que se dedica aos detalhes da roupa. Podemos notar que
elas fazem um movimento conjunto partilhando com o espectador a preocupação
com a manga do collant de bailarina. Ao mesmo tempo em que nos envolve no
gesto, nos causa expectativa para o próximo gesto.

A pintura de Degas, segundo críticos de arte e historiadores, se torna


inconfundível pela característica de captura do momento. Com forte influência
da técnica fotográfica, o artista transforma sua percepção em câmera e seleciona
de forma primorosa os gestos que merecem ser eternizados.

No Brasil, segundo Chaimovich (2017), a Escola ao Ar Livre, em Niterói, foi


marco do movimento impressionista. Em 1890, o artista Eliseu Visconti, segundo
o autor, junto a outros, passa a experienciar os cursos livres de belas artes. Entre
os apreciadores da pintura impressionista há destaque para dois pintores negros:
os irmãos João e Arthur Timótheo da Costa.

FIGURA 34 – MENINO, 1918. ARTHUR TIMÓTHEO DA COSTA

FONTE: <http://www.wikiwand.com/pt/Artur_Tim%C3%B3teo_da_Costa>. Acesso em: 19 mar. 2019.

116
TÓPICO 4 | ARTE NO IMPRESSIONISMO

Nesse quadro de Arthur Timótheo, intitulado Menino, a poética do artista


traduz com maestria a figura de um menino negro, possivelmente alguém
comum, mas que representa a negritude afro-brasileira.

FIGURA 35 – PAISAGEM, 1921 – JOÃO TIMÓTHEO DA COSTA

FONTE: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa23602/joao-timotheo-da-costa>.
Acesso em: 19 mar. 2019.

Joao Timótheo, diferentemente do irmão, priorizava a pintura das


paisagens, tema recorrente na obra do artista.

DICAS

Visite o site do MASP – Museu de Arte de São Paulo. O acervo do museu é


também um testemunho histórico da arte universal e revela as influências da arte brasileira.
Acesse: https://masp.org.br/.

No que se refere à arquitetura do final do século XIX e início do século


XX, há destaque para a pluralidade nas edificações, ênfase na verticalização
e novas técnicas construtivas. A organização urbana na perspectiva da
modernidade encontra um conjunto arquitetônico repleto também do desafio da
sustentabilidade. Klein (2016) enfatiza que, nos anos 1960, surge no contexto da
arquitetura a preocupação com a conservação de construções antigas, que o autor
chama de “setores salvaguardados”. Nesse sentido, a sociedade urbanística,
na perspectiva da arquitetura, convive com o novo e o velho e nem sempre de
maneira harmoniosa.

No Brasil, a arquitetura desse período sofre influência estrangeira


assumindo os valores que estavam sendo discutidos.

117
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 36 – VISTA DA AVENIDA MARECHAL FLORIANO, 1921 – RIO DE JANEIRO/BRASIL

FONTE: <https://rioprimeirasposes.ims.com.br/presenca-estrangeira-na-arquitetura-do-rio-de-
janeiro-no-inicio-do-seculo-xx/>. Acesso em: 19 mar. 2019.

Os centros urbanos ganham atenção maior no planejamento arquitetônico.


Construções novas disputam espaço com a revitalização dos prédios antigos,
as construções dos portos, de ferrovias, o desenvolvimento da indústria e as
inovações tecnológicas.

118
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um grupo de artistas propunha se desvincular de uma arte imposta, chamada


de acadêmica, e promover estudos da realidade, com destaque para a natureza,
onde a luminosidade era exaltada nas telas. Esse grupo foi chamado de
Impressionista.

• Monet, Renoir e Degas foram os principais integrantes do Impressionismo.


Cada um procurou captar a impressão do momento, principalmente em
ambientes exteriores, mas também foram realizadas pinturas em interiores.

• O artista Edgar Degas foi um artista de pinturas de interiores. Ele procurou


captar os rápidos movimentos das bailarinas, como também de um ambiente
movimentado por diversas pessoas.

• A arquitetura do século XX se caracteriza pelo uso de materiais como o concreto


e o desafio da preservação e inovação.

119
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o Impressionismo e o uso das cores e linhas é CORRETO afirmar que:

a) ( ) O Impressionismo preserva os moldes da Academia de Belas Artes.


b) ( ) Funcionalidade e racionalidade foram descartadas na arquitetura desse
período.
c) ( ) Os pintores deram ênfase à pintura de ambientes internos.
d) ( ) O artista impressionista não se preocupava com contornos.

2 Nos estudos realizados sobre o movimento denominado Impressionismo,


no que se refere ao pensamento filosófico que influenciou os artistas, assinale
a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Na arquitetura tem-se o princípio de individualidade.


b) ( ) As pesquisas da ciência no Impressionismo permitiu desenvolver a
fotografia, tintas em tubo, teorias sobre a luz, entre outras.
c) ( ) Os artistas denominados impressionistas queriam estar próximos da
natureza.
d) ( ) Edgar Degas, conhecido como o pintor das bailarinas, tinha fascinação
pelos movimento dos corpos.

120
UNIDADE 2 TÓPICO 5

ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA

1 INTRODUÇÃO
O Pós-Impressionismo pode ser entendido como um período de transição
entre o Impressionismo e o Expressionismo. Nesse momento, a Europa vive as
mobilizações e revoluções operárias. No Brasil, os movimentos abolicionistas
ganham força e, logo a seguir, tardiamente, se promulga o fim do sistema
escravagista no país.

A Revolução Industrial causou mudanças no modo de viver das


pessoas, jornadas de trabalho, exploração infantil e muitas construções de forma
desordenada, trazendo problemas de saúde e de ordem social. Com a Revolução
Industrial, muitas pessoas e, principalmente, artistas, observaram o declínio do
artesanato devido às produções em série produzidas pelas concorrentes máquinas.

Teve seu início em 1885 e permanece até o início do cubismo. Foi


uma tendência que influenciou fortemente as artes plásticas e se afasta do
impressionismo ao assumir a importância da subjetividade, do humano, do
emocional e do sentimental expostos nas obras e não somente da reprodução
da realidade, “os artistas buscavam novos estilos através de novos conceitos e
técnicas acentuando as cores” (PROENÇA, 2012, p. 145).

No que se refere à arquitetura, o desenvolvimento urbanístico se apresenta


como um desafio à estética do século XX, visto que as diferenças de classe
compartilham de maneira diferente o mesmo espaço territorial. Nesse sentido,
predomina a funcionalidade da arquitetura urbana.

2 PÓS-IMPRESSIONISMO
Depois de um grupo conquistar e mostrar uma arte chamada impressionista,
numa época em que o academicismo era o ideal de arte, surgem outros artistas
que não se sentiam muito satisfeitos com o Impressionismo. Nessa época de
“revolucionar” não se reuniam para pintar, mas cada um apresentou um estilo
próprio de novas representações. Destacaram-se por pesquisas de composições
cromáticas. A pintura desenvolveu-se em 1886, com Gauguin, Cézanne, Van
Gogh e Toulousse-Lautrec, os quais apresentaram um trabalho muito pessoal. A
subjetividade ganha destaque entre os pintores desse período.

121
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

Para compreender esses artistas, vejamos em qual segmento cada um se


distingue, com características individuais.

Paul Cézanne (1839-1906) começa com uma pintura mais empastada,


com muito preto e branco. Conheceu Camile Pissarro e aprendeu com ele a dar
pinceladas mais suaves, abandonando o estilo forte de pintar. A arte do artista
amadurece e começa a tomar outras formas. Começa a dar aparência geometrizada
aos objetos – cilindros, cones, esferas nas telas (PROENÇA, 2012).

FIGURA 37 – NATUREZA-MORTA COM MOLDE DE GESSO, 1894, PAUL CÉZANNE

FONTE: <http://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/paul-cezanne/#jp-
carousel-10099>. Acesso em: 25 mar. 2019.

A perspectiva inovadora do artista, que teve contato com o movimento


impressionista, propiciou ampliar as pesquisas pictóricas, buscando as formas
geométricas das figuras pintadas. O processo de pesquisa da forma de Cézanne
abre espaço para o Cubismo.

Outro pintor importante desse período foi Paul Gauguin (1848-1903). Ele se
preocupava pela ideia e não pelo efeito da pintura. Pintava de memória, pois ela
conservava o essencial das formas e das cores, com isso ele começou a influenciar
outro movimento chamado Fouvismo, que será estudado na unidade seguinte.

Strickland e Boswell (2004) pontuam que as obras de Gauguin revelam a


influência egípcia nas composições planas, nas pessoas em primeiro plano e nas
menores ao fundo. Ainda, segundo os autores, o artista contribuiu para a arte
com as formas aplainadas, inovações em cores intensas e ricas.

122
TÓPICO 5 | ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA

FIGURA 38 – AVE MARIA, 1891 – PAUL GAUGUIN

FONTE: <https://www.ebiografia.com/paul_gauguin/>. Acesso em: 25 mar. 2019.

O período em que viveu no Taiti, mais especificamente nas ilhas


Marquesas, foi um dos períodos mais produtivos da carreira do pintor. Inclui nas
pinturas os temas de clássicos personagens locais, dando ênfase ao colorido da
terra onde vivia.

Na Figura 38, Gauguin reproduz o tema cristão a partir dos personagens


locais em uma clara valorização da cultura taitiana. O anjo que faz a saudação
a Maria é representado com asas amarelas e a vestimenta segue os padrões dos
nativos. Outro ponto interessante na pintura de Gauguin é o uso das cores e a
organização do cenário. Em primeiro plano, temos a figura feminina com uma
criança sentada em seu ombro, em evidente referência a Maria e ao menino Jesus.

Já o pintor holandês, Vincent van Gogh (1853-1890), foi um dos artistas


mais significativos da arte pós-impressionista e um dos mais conhecidos na
contemporaneidade devido à popularização de seu trabalho através do cinema
(Com amor, Van Gogh, 2017, ganhador do Oscar de melhor filme de animação) e
documentários. Um dos temas de seus quadros era a vida no campo e o contato com os
impressionistas foi decisivo na pesquisa pictórica do artista. Outro tema marcante de
seus quadros são os girassóis, incorporada a força da cor amarela usada com maestria.

FIGURA 39 – SEQUÊNCIA DE GIRASSÓIS PINTADOS EM 1888 – VICENTE VAN GOGH

FONTE: <https://www.ebiografia.com/breve_biografia_van_gogh_obras/>. Acesso em: 25 mar. 2019.

123
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

Apaixonado pelo tema, Van Gogh pintava compulsivamente o vaso com


os girassóis dando a cada versão da composição cores e movimentos distintos.

Não podíamos deixar de registrar um pintor pós-impressionista que


se destaca na representação de personagens que vivem a boemia da cidade,
considerados a margem dos padrões morais da sociedade vigente. Toulouse-
Lautrec (1864-1901) registra momentos interessantes, como dançarinas, cabarés,
artistas de circo, bares de café, entre outras pessoas. Em traços rápidos, ele captava
o mais significativo.

Destacando a característica do trabalho do artista, Proença (2012, p. 248)


explica que “de modo geral, o que caracteriza a pintura de Toulouse-Lautrec é
a sua capacidade de síntese, o contorno expressivo das figuras e a dinâmica da
realidade representada”.

Devido à forma de exercer seu trabalho, acabou desenvolvendo outra arte,


a dos cartazes e pôsteres publicitários. Ainda segundo a autora, com seus cartazes
anunciando, por exemplo, os espetáculos de dança do famoso Moulin Rouge, o
pintor inaugurou uma nova forma de publicidade: a que procura conquistar o
público por meio de imagens coloridas e atraentes, e de textos curtos e criativos,
que fixam a informação principal na memória do público.

FIGURA 40 – CARTAZ DO MOULIN ROUGE, 1891 – TOULOUSSE-LAUTREC

FONTE: <https://www.ebiografia.com/toulouse_lautrec/>. Acesso em: 25 mar. 2019.

Foi a partir dos cartazes anunciando as atrações do cabaré Moulin Rouge


que Toulousse-Lautrec ganhou visibilidade e concentrou sua arte nas litografias
com temas variados.

Na Figura 40, o artista cria o cenário do cabaré, tendo como matriz a litografia
colorida, com estimativa provável de 3.000 cópias reproduzidas. As famosas
dançarinas surgem em silhuetas coloridas tendo ao fundo o público representado
na cor preta em um contraste bastante interessante, sugerindo sombras. Destaque
também para as letras utilizadas pelo artista, que complementam a arte, fazendo
com que tenha um valor superior a um simples cartaz.
124
TÓPICO 5 | ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA

Na arquitetura desse período teremos o encontro da indústria com o


design. O alemão Peter Behrens desenvolveu o desenho industrial a partir das
necessidades da nova sociedade, que exigia dos arquitetos planejamento e junção
de técnicas construtivas.

FIGURA 41 – PETER BEHRENS. TURBINE FACTORY, 1909-10

FONTE: <https://www.khanacademy.org/humanities/art-1010/architecture-20c/a/peter-behrens-
turbine-factory>. Acesso em: 25 mar. 2019.

As construções arquitetônicas desse período buscavam responder às


necessidades de uma sociedade industrial.

Argan (2006) pontua que houve uma separação entre arquitetura e artes
devido às diferenças de conceitos assumidos nos dois segmentos: útil e decorativo.
Enquanto os artistas, herdeiros dos modelos da Escola de Belas Artes, defendiam
um ecletismo nas junções arquitetônicas, “o banco deveria ter a aparência de
um castelo renascentista” (ARGAN, 2006, p. 90). Os arquitetos renunciam ao
ecletismo e à arte e assumem os princípios da engenharia como proposta de uma
arquitetura funcional.

125
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

LEITURA COMPLEMENTAR

UMA BREVE HISTÓRIA DOS CARTAZES

Vosnier Cambeses

“Cartazes são mensageiros. Cartazes é expressão de cultura. Cartazes deixam marcas. Visíveis
e inconfundíveis como partem de um processo de comunicação, eles dependem do local e data de
publicação. Bons cartazes falam uma linguagem internacional”. Manfred Triesch.

FIGURA – CARTAZ DE SAINT-FLOUR, 1454

FONTE: <https://historiadocartaz.weebly.com/origens.html>. Acesso em: 15 abr. 2019.

O primeiro cartaz era apenas escrito, sem imagem. Somente no final do


século XIX foram unidos imagens e textos.

Relatam os estudiosos que os primeiros cartazes foram desenvolvidos por


meio de xilogravuras, obtidas através da impressão de matrizes de madeira pelos
povos orientais, principalmente japoneses e chineses, ainda no século X. Mas foi
somente no final do século passado que a arte de reunir textos e ilustrações em
uma folha de papel alcançou maior projeção ao ser propagada pelos mercadores
europeus, e um alto grau de sofisticação logo impingida pelos artistas plásticos da
época. A integração entre produção artística e industrial é exemplificada na carreira
de Jules Cherét. Filho de um compositor tipográfico e aprendiz de um litógrafo em
Paris, ele foi para Londres estudar as técnicas mais recentes. De volta a Paris em
1860, Cherét gradualmente desenvolveu um sistema de 3 a 4 cores de impressão.
O estilo de Cherét atingiu seu auge por volta de 1880 e foi adotado e desenvolvido
por outros artistas como Pierre Bonnarde, o famoso Henri de Toulouse-Lautrec.

126
TÓPICO 5 | ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA

FIGURA – CARTAZ, ESPECTÁCULO COM LEONA DARE, 1883, JULES CHÉRET. PARIS, FRANÇA

FONTE: <https://comjeitoearte.blogspot.com/2012/03/o-cartaz-art-nouveau.html>.
Acesso em: 15 abril. 2019.

Consagrado por retratar cenas da vida noturna e do submundo parisiense,


Toulouse-Lautrec, por exemplo, assinou centenas de cartazes de divulgação de
espetáculos de cabaré, então reproduzidos através de pedras litográficas. Foi nas
mãos de Toulouse-Lautrec que a arte publicitária, através do toque impressionista,
tornou-se famosa. Apesar da fotografia já existir há algumas décadas, suas imagens
não podiam ser reproduzidas nem em grandes formatos, nem em grande escala.

Artistas então pintavam o design dos cartazes, que era transferido à mão
para a superfície das pedras para impressão litográfica – uma para cada cor.

Na virada do século, o movimento mais importante no design de cartazes


era a Art Noveau. Seu expoente mais famoso e extravagante foi o artista checo
Alphonse Mucha. Seus cartazes contêm belas mulheres de longos cabelos ondulados,
emolduradas por uma decoração floral e traços orgânicos. Os cartazes artísticos
deste período demonstraram liberdade estética e ousadia criativa que acompanhou
o primeiro confronto com as inovações tecnológicas em produção gráfica.

FIGURA – ALFONS MUCHA, PIERRES PRÉCIEUSE (1900)

FONTE: <http://www.romemuseumguide.com/alphonse-mucha/>. Acesso em: 15 abr. 2019.

127
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

Quando os artistas, ao invés de adicionarem texto com tipos de impressão,


desenharam eles próprios seu lettering, e eram responsáveis por cada elemento
num design que intencionava a reprodução por máquina, eles estavam praticando
o que posteriormente foi reconhecido como design gráfico.

O período entre as décadas de 20 e 30 foi bastante rico tanto em


movimentos no design de cartazes quanto na pintura: Bauhaus, De Stijl, futurismo,
cubismo, entre outros. Entretanto a maioria dos cartazes produzidos durante
essas duas décadas visava promover produtos comerciais ou eventos culturais.
Desenvolvendo concepções cubistas e construtivistas, os cartazes marcantes de
A. M. Cassandre dominaram a publicidade francesa no período entre guerras. Ele
interessava-se especialmente pelas letras, segundo ele, um elemento indispensável
e muitas vezes negligenciado no design de cartazes. Cassandre acreditava que a
função primeira do cartaz era veicular a mensagem.

FIGURA – A. M. CASSANDRE – AU BUCHERON, 1923

FONTE: <https://retrographik.com/a-m-cassandre-art-deco-poster-artist/>. Acesso em: 15 abr. 2019.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os cartazes que anunciavam


produtos deram lugar àqueles que ajudavam a promover os esforços de guerra,
por meio de apelos de recrutamento ou veiculação de informações. Os governos
que encomendavam esses cartazes queriam urgentemente mensagens diretas e
eficazes; assim assumiram o risco de contratar e dar liberdade a jovens designers
modernistas. Os resultados foram, muitas vezes, controversos, mas vêm deste
período alguns dos mais criativos designs de cartazes. As portas também foram
abertas para anúncios comerciais mais inventivos depois que a guerra terminou.
Raymond Savignac foi o mestre da comunicação visual. Seus numerosos cartazes,
produzidos para clientes no mundo todo, caracterizam-se pelo design simples,
direto, bem-humorado e eficaz.

Durante a década de 60, os cartazes foram cada vez mais encarados e


vendidos como obras de arte a serem emolduradas e penduradas nas paredes.
Nos EUA e na Europa, museus e galerias de arte encomendavam, publicavam e
comercializavam cartazes de muitos grandes artistas, inclusive Andy Warhol, René
Magritte e Roy Lichtenstein. As décadas de 60 e 70 presenciaram o surgimento de
uma série de movimentos de fundo político/social que acabaram por influenciar de
forma decisiva o design gráfico, entre eles o movimento estudantil, o psicodelismo
e o punk. Os cartazes desta época eram criados para uma plateia exclusiva, com

128
TÓPICO 5 | ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA

letreiros praticamente ilegíveis, carregando a mensagem implícita: “Se você não


consegue ler, não é para você”. O psicodelismo começou na costa oeste dos EUA
e se espalhou pela Europa com o movimento hippie.

Por outro lado, os designers japoneses cresciam em importância


internacional, pois estavam mais dispostos do que os demais a abraçar a nova
tecnologia. Na década de 70, a tecnologia ampliou ainda mais a liberdade dos
designers, propiciando-lhes maior controle sobre a composição tipográfica e a
reprodução da imagem. Já na era contemporânea, poucos são os artistas gráficos
cujas obras se destacam quantitativa e qualitativamente. Um exemplo é Ikko
Tanaka, que possui obras fixadas em museus como o MOMA, de Nova Iorque. Os
cartazes de Ikko Tanaka são conhecidos pelo uso sutil da cor. Embora claramente
japoneses, demonstram uma compreensão do pensamento ocidental moderno
em relação ao design.

FIGURA – MULHER SEM TÍTULO, 1984. IKKO TANAKA

FONTE: <http://www.theblendwithin.com/features/ikko-tanaka>. Acesso em: 15 abr. 2019.

Alguns dos cartazes mais controvertidos do século foram produzidos por


Oliviero Tosconi para a Benetton, empresa italiana de confecção. Sob o slogan
“The United Colours of Benetton” ele expôs imagens chocantes e violentas,
inclusive Cristo como um aidético moribundo, um carro se incendiando e
uma mulher dando à luz. O único ponto em comum entre as imagens é o fato
de impressionarem. Embora alguns críticos questionaram a sua relevância em
relação ao produto, os cartazes atraíram grande interesse.

FIGURA – WHITE, BLACK E YELLOW. OLIVIERO TOSCONI, 1996

FONTE: <https://wwd.com/fashion-news/fashion-scoops/oliviero-toscani-shows-his-
magnificent-failures-with-an-exhibition-in-milan-10805826/>. Acesso em: 15 abr. 2019.

129
UNIDADE 2 | CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO

Apesar dos muitos gastos em campanhas publicitárias pela televisão, o


comércio e o governo não abriram mão da comunicação direta e eficaz do cartaz.
O computador continua cada vez mais importante no design de cartazes, e
novos programas permitem a manipulação da imagem em níveis nem sonhados
anteriormente. O trabalho resultante pode mesclar qualquer combinação de
fotografia, ilustração e tipografia.

FONTE: Adaptado de: CAMBESES, Vosnier. Uma breve história dos cartazes. Disponível em: https://
imasters.com.br/noticia/uma-breve-historia-dos-cartazes. Acesso em: 19 set. 2019.

130
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• Pós-Impressionismo foi um movimento em que artistas queriam prover uma


liberdade individual de expressão pictórica.

• Cézanne, Gauguin, Van Gogh e Loutrec, como esses artistas são conhecidos,
foram à procura da construção de uma identidade pessoal projetada em suas
telas.

• Gauguin, artista que propunha realizar pinturas mais primitivas, também


procurava fazer estudo de cores e pintar com cores primárias e secundárias.

• Van Gogh foi um artista que procurava fazer várias versões de uma mesma
cena, como também procurava se retratar diversas vezes. Teve destaque para
trabalhar com empaste grosso.

• Lautrec foi um artista inovador, podemos dizer irreverente, pois apresentava


um traço leve e livre, que propiciou construções de cartazes publicitários,
começando assim a promover um evento através da arte publicitária.

• A arquitetura desse período é considerada o marco do design industrial, com


uso de diferentes técnicas de construção para atender à demanda da nova
sociedade.

131
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o movimento pós-impressionista, identifique as suas principais


características e assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Foi durante o movimento pós-impressionista que o artesanato entrou


em declínio, devido à produção de peças em caráter industrial.
b) ( ) As pinturas de Paul Gauguin têm influência grega.
c) ( ) A arquitetura se volta ao molde clássico.
d) ( ) É o momento de maior junção entre arte e arquitetura.

2 Assinale a alternativa INCORRETA nas afirmações sobre o movimento


denominado pós-impressionista, no que se refere aos artistas, princípio
arquitetônico e momento histórico:

a) ( ) Van Gogh e Toulousse-Lautrec são nomes importantes deste movimento.


b) ( ) Predomina a funcionalidade da arquitetura urbana.
c) ( ) O Pós-Impressionismo pode ser entendido como um período de
transição entre o Romantismo e o Realismo.
d) ( ) Na arquitetura deste período teremos o encontro da indústria com o
design.

132
UNIDADE 3

DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO
MUNDO CONTEMPORÂNEO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as transformações sociopolíticas e da arte nos séculos XX e XXI;

• conhecer artistas e obras;

• relacionar a arte com outras áreas de estudos e campos profissionais;

• discutir tendências artísticas que eclodiram a arte moderna;

• refletir sobre as diferentes linguagens artísticas na arte contemporânea;

• entender as características da arte contemporânea;

• reconhecer os entrelaçamentos filosóficos e políticos da arte contemporânea.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS


MODERNOS

TÓPICO 2 – CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO

TÓPICO 3 – REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA

TÓPICO 4 – EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

133
134
UNIDADE 3
TÓPICO 1

REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS


MODERNOS

1 INTRODUÇÃO
Chegamos à última unidade do livro didático! Neste primeiro tópico, será
exposta a transformação da arte moderna, mediante um cenário de transformações.
Muitos movimentos artísticos que surgiram na primeira metade do século XX, em
meio a conturbações políticas e sociais, problemas econômicos devido a guerras
mundiais, fizeram com que artistas se expressassem de maneiras diversas dentro
desses estilos e de suas tendências.

Como contexto histórico tem a crescente urbanização de algumas cidades


gerando um protagonismo de algumas capitais. O cenário de desenvolvimento
acelerado está ligado aos modos de produção e distribuição das riquezas, muitas
vezes representadas pelos comércios de produtos. Essa dinâmica do capitalismo
resulta no fatiamento da sociedade em classes sociais e no fortalecimento da
burguesia, surgindo as lutas políticas e ideológicas.

Nesse mundo urbano em transformação ocorrem alterações econômicas


e políticas, entre elas a Revolução Russa, o nascimento do fascismo italiano, o
nazismo na Alemanha e a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Durante este
século também acontece o desenvolvimento da energia nuclear, a conquista do
espaço, o desenvolvimento tecnológico (em especial o computador e os meios de
comunicação visual) e o uso de satélites. Destaca-se, nesse período, a valorização
e a expansão do campo da publicidade.

Com o passar do século XX, alguns movimentos artísticos são


considerados libertários pelo uso de cores e formas e por representarem uma arte
que transforma, tencionando o seu papel social. Os artistas procuravam explorar
elementos da linguagem e cultura visual, utilizando novos materiais.

Essa ebulição de pesquisa na arte compartilhava também a efervescência


das mudanças que permeavam o cenário sociopolítico daquele período. O
desenvolvimento industrial se expandia e influenciava fortemente a vida
social das pessoas, conferindo dinâmicas diversas. Por sua vez, os movimentos
artísticos se articulavam acompanhando essa forma de pensar, por exemplo,
como o movimento artístico denominado Futurismo, inspirado na velocidade e
na mecanização imposta pela nova era industrial e tecnológica. Por outro lado,
os artistas dos movimentos surrealista e dadaísta surgem para fazer a crítica ao

135
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

futurista. Nesse mesmo fluxo tensivo, artistas dos movimentos denominados


pop-art e op-art potencializam reflexões em torno da cultura dos centros
industrializados em diálogo com a produção literária.

Proença (1998) destaca que os estudos psicanalíticos freudianos vão


proporcionar aos artistas uma produção artística voltada à crítica à cultura
europeia. Ainda segundo a autora, alguns movimentos como o Dadaísmo e o
Surrealismo passam a expressar a falta de sentido na vida contemporânea de
forma fantasiosamente através de suas pinturas.

No que se refere à arquitetura, Argan (2006) aponta as transformações


desse período como um fator de questionamento das estruturas das cidades que
se tornam inadequadas ao desenvolvimento urbano acelerado.

As tendências artísticas serão apresentadas de forma simplificada, uma


vez que elas surgiram em diferentes momentos nos mais diversos lugares do
mundo, fazendo compreender a essência dos mais importantes estilos citados
neste livro. Então, vamos iniciar os estudos numa perspectiva de ampliar o olhar
sobre a arte, sobre o que ela representa na sociedade, na vida do ser humano.

2 EXPRESSIONISMO
Segundo Argan (2006, p. 227), “o expressionismo é um fenômeno europeu
com dois centros distintos: o movimento francês dos Fauves (“feras”) e o
movimento alemão Die Brücke (“A ponte”)”. O autor frisa que o Expressionismo,
compreendido como movimento que teve seu início entre 1904 e 1905, não
surgiu como oposição às correntes modernistas, mas sim no interior delas, como
superação de seu ecletismo, como discriminação entre os impulsos progressistas
e a retórica progressista, como concentração da pesquisa sobre o problema
específico da razão de ser e da função da arte. Os principais artistas pertencentes
a esse grupo são: Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Emil Nolde (1867-1956),
Egon Schiele (1890-1918), Karl Schmidt-Rottluff e Oskar Kokoschka.

O Expressionismo tem como característica trazer para as telas a


potencialização do drama, da esperança, do sofrimento e de deformações humanas
através do uso das cores, trazendo sentimentos carregados de intenções sociais
e morais, sendo extremamente subjetivo. Esse movimento teve como inspiração
o pintor norueguês Edward Munch (1863-1944), que pintou uma das obras mais
famosas do mundo: O grito.

136
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

FIGURA 1 – EDWARD MUNCH. O GRITO (1893)

FONTE: <https://arteeartistas.com.br/o-grito-edvard-munch/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

Tendo como pano de fundo a doca de Oslofjord, em Oslo, na Noruega, o


pôr do sol se revela nas pinceladas do artista, tendo como centro em seu quadro
uma figura com expressão de sofrimento emocional.

DICAS

Acesse o site do artista, lá você poderá encontrar diversas informações sobre


ele e suas obras. Não se esqueça de ativar a tradução para o português. Veja o link: https://
munchmuseet.no/en/.

Pode-se notar que os expressionistas fugiam de uma pintura regrada e


tradicional, pois manifestavam suas emoções que, muitas vezes, o público se
sentia incomodado, justamente porque o Expressionismo distanciou-se da beleza.
Tinha como característica deformar a realidade através das cores fortes, com
tendência pelas temáticas trágicas e deprimentes. Os artistas trabalhavam com
senso de criatividade e procuravam terminar suas obras o mais rápido possível.

FIGURA 2 – EMIL NOLDE. A ÚLTIMA CEIA, 1909

FONTE: <http://wwwpoetanarquista.blogspot.com/2012/04/pintura-emil-nolde.html>.
Acesso em: 19 abr. 2019.

137
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Emil Nolde, no quadro intitulado A Última Ceia, representa um tema


religioso bastante conhecido, mas diferencia a pintura usando pinceladas livres,
cores vivas, formas expressivas e figuras distorcidas.

Uma figura importante do movimento expressionista foi o artista Ernst


Kirchner. Ele foi um dos fundadores do grupo Die Brücke (A ponte), movimento
que priorizava a temática da vida social.

FIGURA 3 – ERNST KIRCHNER. A BANDOLIMINA (1921)

FONTE: <https://www.theartnewspaper.com/preview/kirchner-s-exotic-journeys-were-all-made-
in-his-mind>. Acesso em: 19 abr. 2019.

No quadro A Bandolimina, Ernst Kirchner utiliza uma paleta de cores


vibrantes, em que figura e fundo se harmonizam com o mesmo ritmo e plano
sem perder suas particularidades.

Egon Schiele vai brindar o espectador com quadros que trazem figuras
expressivas de sofrimento. A realidade em suas dores e cores ganham forma nas
mãos do artista que utiliza a figura humana como porta voz de sua arte.

FIGURA 4 – EGON SCHIELE. AUTORRETRATO, 1912

FONTE: <https://arteref.com/arte/egon-schiele-revolucionou-o-modo-de-ver-a-pintura-
figurativa/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

138
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

Nesse autorretrato, Schiele apresenta um movimento interessante do


corpo desafiando o espectador a compreender a apreensão do movimento pelo
artista. A pintura deixa evidente as rápidas pinceladas com figura e fundo que se
mesclam sem perder o destaque da figura.

Sobre a arquitetura no século XX, Foster (2015) escreve que durante muito
tempo a pintura e a escultura estiveram presentes nas construções arquitetônicas,
seja completando o cenário ou ainda dividindo com as construções o status
artístico. Será neste novo século que a união arte e arquitetura ganham outro
delineamento, criando o cenário imagético em sua totalidade, em conexão com o
desafio do uso de novos materiais (tecnologia) e o desenvolvimento urbanístico.
O autor traz como exemplo dessa relação o surgimento das construções que
abrigam os museus, centros artísticos e os festivais.

A arquitetura expressionista se desenvolve, segundo Argan (2006), no


cenário pós-guerra alemão que traz o desafio de reconstrução; nesse sentido, os
arquitetos assumem o espírito construtivo de um país em recuperação de sua
democracia. Destaque para Bruno Taut (1880-1938), Erich Madelson (1887-1953) e
Hans Scharoun (1893-1972).

FIGURA 5 – BRUNO TAUT. PAVILHÃO DE VIDRO PARA A EXPOSIÇÃO DE WERKBUND, 1914.


COLÔNIA, NO OESTE DA ALEMANHA

FONTE: <https://www.hetschip.nl/en/visitors/activities/upcoming-bruno-taut>.
Acesso em: 19 abr. 2019.

O Pavilhão de Vidro era considerado uma casa de arte. Sua estrutura de


concreto coberta com placas de vidro colorido funcionava como espelhos e os
reflexos de luz conferiam à construção uma identidade inovadora. Sua construção
foi financiada pela associação da indústria alemã.

3 FAUVISMO
O movimento nominado Fauvismo se deve aos artistas que durante
o Salão de Outono, em Paris (1905), foram chamados de fauves – feras, em
português. A referência às feras se deve à intensidade com que usavam as
cores puras, sem misturá-las. A marca desse movimento é a simplificação das

139
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

formas, das figuras e o emprego de cores puras, resultando em uma pintura


bidimensional, que abandona a realidade visual, deforma as imagens e atribui
à cor o papel central. A maioria das pinturas são representadas com temas
alegres. Os críticos de arte e historiadores apontam nessas obras a influência da
pesquisa pictórica do primitivismo de Paul Gauguin e a veemência das cores
fortes de Vicent van Gogh, ambos estudados anteriormente. O Fauvismo teve
vida curta, terminou por volta de 1908.

Dentre os artistas desse movimento encontram-se: Georges Rouault


(1871-1958), Maurice de Vlaminck (1876-1958), Raoul Dufy (1877-1953), André
Derain (1880-1954) e o artista com maior destaque foi Henri Matisse (1869-
1954). Uma de suas características era não se preocupar com o Realismo,
pregava uma explosão de cor.

FIGURA 6 – HENRI MATISSE. A DANÇA, 1910

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-danca-henri-matisse/>.
Acesso em: 19 abr. 2019.

Um dos quadros mais famosos de Matisse, A dança, apresenta figuras


simplificadas em linhas que sugerem a dança de roda. O artista não se preocupa
com as formas, mas com a maneira de representá-las.

Compõe a tela cores intensas e corpos de figuras que dançam entre o céu
e a terra. Os braços e os pés sugerem a continuação do movimento iniciado pelo
outro, como numa roda que gira sem interrupção.

Canton (2010) nos chama a atenção para a cobertura da tela e a ausência


de espaços em branco. Para o autor, Matisse tem eu seu trabalho a marca de
composições diferentes, influências recebidas das viagens do artista ao Marrocos,
principalmente das padronagens e estamparias que existe naquele país.

DICAS

Acesse o site com a biografia e obras referente ao artista Henri Matisse. Não se
esqueça de clicar em traduzir. Acesse: http://www.henri-matisse.net/.

140
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

4 CUBISMO
No movimento Cubismo, os artistas interessaram-se pelas obras
impressionistas de Paul Cézanne, em que o artista trazia uma natureza expressa
em cones, esferas e cilindros. Outra influência importante são os traços das
máscaras africanas, um elemento trazido por Pablo Picasso em suas viagens ao
continente africano.

Mas os cubistas queriam ir mais longe, propunham decompor os objetos,


assim não se preocupariam com a perspectiva ou das três dimensões das figuras,
que os renascentistas traziam em suas telas. Dois momentos, apresentados a
seguir, caracterizam o estilo.

• Cubismo Analítico (1908-1911)

Nessa etapa, o quadro se torna objeto, e o uso das cores escuras como
cinza, preto e marrom colaboraram para tal propósito. Além de estudar um
tema e apresentá-lo de todos os lados, levaram a fragmentá-lo e espalhá-lo pela
tela, dificultando o reconhecimento das figuras nas pinturas. Segundo Canton
(2010, p. 46), “para realizar esta tarefa, os cubistas começaram a fragmentar uma
imagem fazendo com que ela pudesse ser vista ao mesmo tempo sob vários
ângulos. A ideia era dar à pintura uma capacidade mais analítica, mais completa
de representação”. Entre os artistas representantes desse período temos Pablo
Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963).

FIGURA 7 – GEORGES BRAQUE. GARRAFA E PEIXES, C.1910-12

FONTE: <https://www.tate.org.uk/art/artists/georges-braque-803>. Acesso em: 19 abr. 2019.

Georges Braque foi um pintor, desenhista, gravador e escultor francês,


referência na fase do cubismo analítico. Neste quadro, Garrafas e peixes, descontrói
a forma conhecida das figuras representadas, misturando as linhas e cores,
exigindo do espectador o desenvolvimento de um olhar investigativo, provocado
pelo título da obra.

Os dois artistas, Picasso e Braque, procuraram nessa etapa sobrepor


muitas vezes as formas e, para isso, tinham que deixar de lado as cores para não
interferir na composição e fragmentação das formas (CANTON, 2010).

141
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

• Cubismo Sintético (1911-1914)

Em 1912, os artistas diminuem a decomposição da forma, retornando às


estruturas geométricas simples e reaparecendo o sentimento da cor (CANTON,
2010). Os objetos preferidos foram escolhidos devido às formas simples, como
violão, livros, cadeiras, janelas, partituras, entre outros.

FIGURA 8 – JUAN GRIS. CAFÉ DA MANHÃ, 1914

FONTE: <https://pinturassurrealistas-tamara.blogspot.com/2013/12/el-desayuno-juan-gris.html>.
Acesso em: 19 abr. 2019.

Estes objetos, ao serem incorporados na tela, ganham novos sentidos,


exprimindo relação entre forma (dos objetos) e cor que fora empregada na tela.
Em 1914, aparecem inovações, agregando-se letras tipográficas, madeira, jornal,
metal nos quadros, além de desenvolver a textura. Artistas que fizeram parte:
além de Pablo Picasso e George Braque, compunham o grupo Juan Gris (1887-
1927), Fernand Léger (1881-1955) e Robert Delaunay (1885-1941).

O artista Pablo Picasso, de origem espanhola, era inventivo e revolucionário.


Durante sua caminhada artística estudou a arte grega, romana e egípcia.

FIGURA 9 – PABLO PICASSO. O POETA, 1911

FONTE: <https://unhasinspiradas.wordpress.com/2012/03/03/o-cubismo/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

142
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

No quadro intitulado O Poeta, a fragmentação intensa da figura do poeta se


afasta da representação moderna da figura de forma radical. Com recortes sucessivos,
o artista quase esconde a figura humana entre linhas monocromáticas, onde apenas
uma cor predomina e a variedade fica por conta dos diferentes tons da mesma cor.

Ele passou por diversas fases. Uma delas é a fase azul (1901-1907), em que
mostrava o cotidiano trágico da sociedade (mendigos, pobres, alienados), adotando
as cores azul e cinza, além de alongar os membros para reforçar as figuras.

FIGURA 10 – PABLO PICASSO. CAFÉ DA MANHÃ DE UM HOMEM CEGO, 1903

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/pablo-picasso/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

O predomínio da cor azul nos quadros desse período marcou a produção


do artista, os quais recebem a denominação dessa fase. Com forte tendência a
expressar melancolia, o artista se volta ao cotidiano de pessoas que enfrentam
dificuldades, poetizando em cores e formas a tristeza alheia. Já a outra fase do
artista é chamada de fase rosa (1905-1906), em que suas pinturas são mais serenas
e sensuais. Ele procurava retratar dançarinos, arlequins e artistas circenses usando
tons rosa e de terra.

FIGURA 11 – PABLO PICASSO. MENINO COM UM CACHIMBO, 1905

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/pablo-picasso/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

143
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

O quadro Menino com um cachimbo marca a fase rosa do artista. Além da


transformação da cor, essa nova fase assume a representação de figuras mais alegres.

Em 1907, o artista teve contato com a arte africana e voltou-se mais para o
cubismo em sua última fase. “Os artistas africanos usavam não só madeira e latão,
mas também conchas, penas, ossos, palha e pedacinhos de metal. Eles mostraram
como era possível ver o mundo de maneira diferente e produzir algo novo,
original e empolgante” (MASON, 2004, p. 11). Vendo a criatividade desses artistas,
a liberdade de criar sem se preocupar com algo acadêmico, Picasso procurou
também ser irreverente, quando produziu o quadro Les Demoiselles d'Avignon (As
donzelas de Avignon), em que não usava perspectiva e sombreamento. Brincava
com as formas, chegando a colocar a face de perfil e o olho em uma visão frontal.

FIGURA 12 – PABLO PICASSO. LES DEMOISELLES D'AVIGNON, 1907

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/pablo-picasso/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

Na tela Les Demoiselles d'Avignon, Picasso transfigura corpos e máscaras


africanas conferindo uma dinâmica inovadora. A composição do quadro leva o
espectador a mergulhar em uma experiência pictórica que lembra espelhos em
fragmentos.

Pablo Picasso trabalhou com outros artistas, fazendo experimentos com


materiais diversos, mas alguns foram convocados para a Guerra, e Picasso como
não se alistou, pintou paisagens cubistas, naturezas mortas e uma série de pinturas
de mães com filhos, possivelmente pela morte de sua terceira mulher. Pintou
Guernica, uma das suas mais famosas criações. Foi um artista que experimentou
vários materiais para se expressar, como óleo, tinta de impressão, crayon,
esculturas em ferro, bronze, metal, gravura, litogravura e cerâmica. Procurou
sempre inovar, por isso o que importava era o processo criativo em si.

144
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

FIGURA 13 – PABLO PICASSO. GUERNICA, 1937

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/pablo-picasso/>. Acesso em: 19 abr. 2019.

Essa tela é uma manifestação sobre o episódio trágico do bombardeio da


cidade civil Espanhola de Guernica, ocorrido no dia 26 de abril de 1937. Era um dia
comum, em que as pessoas faziam suas tarefas cotidianas e foram surpreendidas
com o bombardeio. Picasso, em seu estilo cubista de paleta monocromática,
registra o resultado da violência, com representação de dor, morte e revolta.

DICAS

Veja o documentário referente a Pablo Picasso e compreenda o universo deste


esplendoroso artista. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=2JcI5yxOd8c.

Na escultura, a efervescência do Cubismo assume formas a partir de


materiais como bronze e mármore. Destaque para Henri Laurens (1885-1954),
Jacques Lipchitz (1891-1973), Ossip Zadkine (1890-1967), além de Picasso e
Braque, que não se limitaram à pintura.

FIGURA 14 – OSSIP ADKINE. LE POÈTE, 1942

FONTE: <https://www.zadkine.com/de/portfolio/arbeiten/bildhauerei/le-poete/>.
Acesso em: 19 abr. 2019.

145
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A fragmentação da figura e a justaposição das linhas também aparecem


na escultura cubista, materializando a ideia inicial de uma pintura objeto por
sua composição tridimensional. As figuras representadas possuem a mesma
organização de linhas e cores, porém em dimensão diferenciada. Enquanto o
quadro é bidimensional, a escultura é tridimensional.

O Cubismo será também de inovações e desafio para o campo da


arquitetura. Para Argan (2006, p. 305), “o espaço cubista se tornará viável e
habitável na arquitetura, contribuindo para a formação do princípio estrutural
do funcionalismo arquitetônico”.

FIGURA 15 – SVEN GOTTFRID MARKELIUS (1889-1972). VILLA MYRDAL, 1937

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sven_Markelius#/media/File:Villa_Myrdal_1937c.
jpg>. Acesso em: 19 abr. 2019.

Trata-se de uma casa projetada por Makelius, em Bromma, Estocolmo.


O destaque da casa era o efeito acústico de intercomunicação entre os cômodos,
característica considerada importante para o arquiteto. A intercomunicação entre
os cômodos hoje é considerada um incômodo devido à falta de privacidade, mas
a acústica integrada foi uma experiência importante na época.

5 ABSTRACIONISMO
O Abstracionismo caracteriza-se por uma pintura que apresenta liberdade no
uso de formas orgânicas ou geométricas, além de explorar o uso das cores, ritmos e
texturas. Surge a proposta de que ao deslumbrar a obra, cada pessoa possa ter uma
compreensão, valorizando as experiências dos sujeitos e delegando a ele o processo
de fruição da obra. Ocorre um processo em que o espectador é também um criador, a
partir da subjetividade potencializada no encontro com a obra de arte.

Segundo Proença (2011), a pintura abstrata caracteriza-se pela ausência


de relação imediata entre as formas e as cores representadas e as formas e as
cores reais. Por isso uma tela abstrata não representa de forma figurativa ou
fotográfica a realidade que nos cerca, também não existe uma sequência de fatos
representados por imagens.

146
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

Um dos representantes deste movimento foi Vassily Kandinsky (1866-


1944), que elaborou uma série de estudos envolvendo arte e espiritualidade. Seu
estudo pictórico acabou dando origem ao livro Do Espiritual na Arte. A música
também era uma fonte de inspiração para o artista e muitas de suas obras têm um
envolvimento entre cores, sons e o estado emocional.

FIGURA 16 – VASSILY KANDINSKY. IMPROVISAÇÃO 26, 1912

FONTE: <https://budita.wordpress.com/2009/03/20/analise-critica-sobre-a-pintura-de-
kandinsky/>. Acesso em: 26 abr. 2019.

A pintura Improvisação 26 reflete a proposta da pintura de Kandinsky, que


defendia a renuncia à figuração como o único meio para alcançar uma pintura
pura. Nesse sentido, críticos e historiadores definem que sua obra supera qualquer
conceito de imitação ou decoração. A obra de Kandinsky pode ser comparada
à composição musical; a distribuição da cor no quadro se aproxima das notas
musicais de harmonia e contraste.

Para o artista do abstracionismo geométrico, o holandês Piet Mondrian, os


seres são vistos através de um conjunto de linhas (verticais, horizontais, diagonais
e curvas). No entanto, as linhas diagonais e curvas fizeram pouco tempo parte de
suas criações, pois as abandonou e deu lugar às linhas verticais que representavam
a vitalidade e as linhas horizontais que representavam a tranquilidade. Para o
artista, as linhas horizontais e verticais, quando unificadas, formavam um ponto
de equilíbrio, sendo preenchidas com as cores primárias, além do preto e branco.
Outros profissionais se inspiraram em suas obras, como arquitetos, desenhistas
industriais e até do ramo das artes gráficas. “Mondrian não ia à busca da emoção
pura e lírica; o seu objetivo, segundo afirmava, era a ‘pura realidade’, que definia
como o equilíbrio de posições desiguais, mas equivalentes” (JANSON, 2007, p. 964).

Muitos artistas assumiram em seus trabalhos o conceito do abstracionismo


geométrico, chegando a formar um grupo com designers e arquitetos que
produziram uma revista chamada Stijl (O estilo).

147
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 17 – PIET MONDRIAN. TRAFALGAR SQUARE, 1939-43

FONTE: <https://www.moma.org/collection/works/79879>. Acesso em: 26 abr. 2019.

A obra intitulada Trafalgar Square ou Praça Trafalgar foi o primeiro quadro


de uma série de pinturas de Mondrian. Por cada cidade que o artista passou
como refugiado durante a Segunda Guerra Mundial, Mondrian pintava uma tela
e conferia o nome da cidade em que estava. A composição da obra traz planos
pequenos de cores primárias; dois campos retangulares formam uma grade
preta. Grandes marcas se inspiraram nas obras do artista, como a grife italiana
Moschino, e também seguiu tendência com calçados (Nike) e acessórios.

No Brasil, um dos nomes mais importantes do movimento do


Abstracionismo é Lygia Clark (1920-1988), umas das representantes do movimento
conhecido como Neoconcretismo. Liberdade e subjetividades eram elementos
centrais na obra da artista.

FIGURA 18 – LYGIA CLARK. PLANOS EM SUPERFÍCIE MODULADA, 1957

FONTE: <https://www.artbasel.com/catalog/artwork/37720/Lygia-Clark-Planos-em-
superf%C3%ADcie-modulada>. Acesso em: 28 abr. 2019.

Planos em Superfície Modulada, de Lygia Clark, leva o espectador por


labirintos pictóricos de forma simplificada aos olhos, mas complexa aos sentidos
e em seu conjunto propõe a continuidade do olhar.

Na arquitetura, destaque para Charles-Edouard Jeanneret-Gris (1887-


1965), mais conhecido por Le Corbusier, que figura como um dos mais importantes
artistas e arquiteto do século XX. Le Corbusier a partir da formula pitagórica,

148
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

“o homem como medida de todas as coisas”, vai escrever o Modulor, livro com
orientações sobre a arquitetura: um edifício com o propósito de não atrapalhar a
natureza e sim acolher (ARGAN 2006, p. 266).

FIGURA 19 – LE CORBUSIER. PALÁCIO DA ASSEMBLEIA (CHANDIGARH, ÍNDIA)

FONTE: <https://herschelsupply.co/stories-design-spotlight-le-corbusier/>. Acesso em: 1 maio 2019.

O Palácio da Assembleia de Chandigarh, na Índia, é um bom exemplo


do que Le Corbusier entendia como arquitetura integrada. Linhas retas que
se encontram formando cubos é a característica dessa construção; fica quase
indivisível a água e o concreto que formam o todo do planejamento arquitetônico.

6 CONSTRUTIVISMO
Dentro da arte abstrata se desenvolveu na Rússia, em 1910, o movimento
construtivista, idealizado por artistas jovens, como: Alexander Rodchenko (1891-
1956), Natalia Goncharova, Olga Rozanova (1881-1962), Vladmir Tatlin (1885-
1953), entre outros. Eles tiveram outra iniciativa para a arte, design de objetos
e roupas, pôsteres e até cinema. “O construtivismo utilizava uma forma de
representação geométrica, com formas simplificadas e seriadas, que retratava um
novo ser humano, vivendo em um mundo industrial, rápido e eficiente, habitado
por pessoas iguais, com os mesmos direitos e deveres” (CANTON, 2010, p. 55).

Projetava-se um novo meio e caminho de se fazer arte, em que os


artistas viam na arte abstrata como possibilidade de estabelecer vínculo com os
operários das indústrias, pois a sociedade precisava uma nova e moderna arte.
Esse pensamento pode ser visto nas construções, em que os elementos em nada
remetiam ao passado. O artista Tatlin, depois da Segunda Guerra Mundial,
tentou combinar arte e arquitetura, que acabou projetando um monumento para
exposições e congressos. Mais tarde, ele e o artista Rodchenko dedicaram-se ao
desenho industrial, além de Rodchenko se tornar fotógrafo.

No que se refere à arquitetura desse período teremos a união entre design


gráfico e a publicidade, que com o uso de novos materiais (antena de rádio, cabos
tensionados, estruturas de concreto e vigas metálicas) vão surgir novas formas

149
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

arquitetônicas. Várias foram às influências desse pensamento no decorrer do


tempo, por exemplo, os clubes operários. A construção da sociedade comunista
passava também pelo seu planejamento urbano.

FIGURA 20 – VLADIMIR TATLIN. MONUMENTO À TERCEIRA INTERNACIONAL, 1919

FONTE: <http://vanguardasufms.blogspot.com/2011/12/construtivismo-russo.html>.
Acesso em: 28 abr. 2019.

Vladimir Tatlin projetou o “Monumento à Terceira Internacional” (1919-20).


A maquete vista na foto foi feita em madeira, ferro e vidro, mas nunca foi construída
na escala monumental; encontra-se no Museu Nahel de Arte Moderna de Paris.

7 SUPREMATISMO
Tendo as figuras do quadrado e círculo como centrais na composição das
obras, o suprematismo surgiu em 1913 tendo como referência a obra do russo
Kazimir Malevich (1878-1935). Uma arte que buscou a simplificação nas cores e
formas; “o quadro torna-se não mais um objeto, e sim uma ideia mental e abstrata,
estabelecendo uma ligação direta entre o mundo exterior material, e o mundo
interior intelectual. Sentimentos e pensamentos poderiam ser transmitidos
através de formas puramente abstratas” (CANTON, 2010, p. 56-57).

Nessa perspectiva temos uma composição pictórica que se funda na linha


reta, tendo o quadrado como elemento básico; com declarado repúdio à arte do
passado. Para o artista, cores e formas abstratas ultrapassam a objetivação da
representação do mundo – por isso suprematismo (suprema, além da narrativa e
da imagem) alcançando um estado perceptivo essencial de fruição da obra.

150
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

FIGURA 21 – KAZIMIR MALEVICH. CÍRCULO NEGRO, KAZIMIR MALEVICH, 1915, STATE RUSSIAN
MUSEUM, SÃO PETERSBURGO, RÚSSIA

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/abstracionismo-
geometrico/suprematismo/#jp-carousel-2557>. Acesso em: 1 maio 2019.

A princípio, os especialistas definiram essa obra como possuidora de uma


mensagem gráfica devido à objetividade imagética contida na obra. No entanto,
depois de algumas exposições da obra, várias discussões vieram à tona, por
exemplo, a ausência da cor preta, pois segundo especialistas, existe no quadro
uma mistura de cores que remetem ao preto, mas não o uso direto da cor preta.
Outra discussão aflorada está em torno de uma possível figura que se constrói na
retina do expectador quando se olha fixamente, por alguns segundos, o círculo.

8 DADAÍSMO
O dadaísmo pode ser denominado como o movimento da contestação
social e artística. Acontece quase simultaneamente em Zurique e nos Estados
Unidos; utiliza instrumentos variados e materiais inusitados. O cenário político
social é a Primeira Guerra Mundial. Para os artistas dadaístas, a arte não poderia
estar apenas voltada à apresentação e contemplação do belo.

Os artistas estavam desiludidos com a política e com a arte, procurando


expressar sua revolta através do sentido irônico com o momento que a sociedade
vivenciava, produzindo uma série de objetos de arte e eventos que provocavam
estranhamento. O termo “Dadá” possui múltiplas explicações: quer dizer
cavalinho de madeira, ou também pode ter sido pelo barulho de balbuciar que
as crianças fazem, ou também pode ter sido por uma expressão na Romênia
(CANTON, 2010).

“Os artistas se sentiram frustrados com a decepção e o sofrimento


causado pela guerra. Proclamavam uma antiarte e uma criação baseada no acaso,
no absurdo, no irracional” (CANTON, 2010, p. 74). Não tinham pretensão de
formular teorias para explicar o que o grupo queria transmitir, para fugir do
raciocínio, criaram o automatismo psíquico, quer dizer, uma criação automática.
Mas como? Tendo uso do instinto e da ação subconsciente, não dando ênfase à
razão. É uma arte com a junção de materiais que formavam uma composição não
real, abrindo portas para um movimento que iria surgir depois: o surrealismo.

151
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Dadaísmo foi uma arte considerada absurda; os artistas poderiam utilizar


materiais simples do cotidiano ou no outro extremo ressignificar obras de arte
de grandes mestres da pintura, como o quadro Monalisa, do artista Leonardo
da Vinci, que teve agregado um bigode. Onde está a criação? A intervenção na
imagem original serviu para ironizar, criticar e, principalmente, questionar: Tudo
é arte? O que seria arte?

Entre os artistas que fizeram parte desse movimento, encontramos: Marcel


Duchamp (1887-1968) e Francis Picabia (1879-1953). Eles foram os fundadores do
movimento em Zurique, capital da Suíça. Hans Arp (1887-1966), Francis Picabia
(1879-1953) e Max Ernst (1881-1976) lideraram em outros países da Europa.

FIGURA 22 – MARCEL DUCHAMP. A FONTE, 1917

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/fonte-marcel-duchamp/>.
Acesso em: 1 maio 2019.

Duchamp provoca o cenário artístico quando assina um mictório – objeto


comum comprado em casa de materiais de construção. Seu pensamento era de que
a arte não estaria no objeto em si, mas na ideia que ele poderia provocar. Portanto, a
arte com o movimento Dadaísta se transformou, pois foram utilizados vários objetos
do cotidiano para sua criação, mostrando que o conceito é que se transformava
em obra de arte. “Ao deslocar os produtos manufaturados de seu espaço original
e inverter sua disposição, como nas obras Fonte e Roda, Duchamp impregna de
ironia os símbolos do avanço da civilização ocidental” (CASTRO, 2014, p. 2).

O dadaísmo deu início também a algumas técnicas, por exemplo, a


fotomontagem. Como já fora estudado, os cubistas incluíram colagens em suas
pinturas, mas o Dadá trabalhou somente com colagens. Trata-se de uma colagem
feita com fotografias, em geral, tiradas de revistas.

9 SURREALISMO
O surrealismo surgiu na França, em 1924, com o escritor André Breton,
expondo ao público o interesse de explorar a mente, o sonho. Os artistas desse
movimento defendiam que as obras deveriam ser construídas com as imagens do
pensamento e do inconsciente.
152
TÓPICO 1 | REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS

O campo da psicanálise através da figura de Sigmund Freud empolgou


os artistas do surrealismo: “É como se até então apenas a ponta do iceberg que é
o consciente humano tivesse sido descoberta. O que está por baixo faz parte do
inconsciente ou subconsciente” (CANTON, 2010, p. 76).

Obras surrealistas seriam resultados de pensamentos absurdos,


lembrando sonhos que muitas vezes não compreendemos, em que elementos e
pessoas fazem parte de uma composição dita irreal. Podemos transpor um sonho
em uma tela? “A noção de que era possível transpor um sonho diretamente do
subconsciente para a tela, sem a intervenção do consciente do artista, não resultou
na prática, verificou-se que certo grau de orientação era inevitável. No entanto,
o surrealismo estimulou várias técnicas novas de provocar e explorar efeitos do
acaso” (JANSON, 2007, p. 972).

Os principais pintores surrealistas desenvolveram estilos muito pessoais,


mas com o mesmo foco, o de retratar o mundo dos sonhos, do acaso, dos
conteúdos inconscientes diretos, sem controle da lógica racional. Entre os artistas
surrealistas, citamos alguns: Salvador Dalí (1904-1989), Juan Miró (1893-1983),
Giorgio de Chirico (1888-1978) e René Magritte (1898-1967).

FIGURA 23 – SALVADOR DALÍ. A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA, 1931

FONTE: <https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/>.
Acesso em: 1 maio 2019.

Nessa tela, A persistência da memória, Salvador Dalí dilui o tempo nas formas
contorcidas dos relógios. Elementos como a luz e a sombra também transmitem
as reflexões do artista sobre o movimento contínuo do tempo.

153
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A arte moderna é datada na primeira metade do século XX e surge em meio


a conturbações políticas e sociais, problemas econômicos devido a guerras
mundiais. Esse contexto turbulento fez com que os artistas se expressassem de
maneira diversa, gerando os inúmeros movimentos artísticos.

• Os artistas expressionistas apresentavam uma pintura com dramaticidade,


esperança, sofrimento e deformações humanas. O uso das cores reforça a
tradução de sentimentos carregados de intensões sociais e morais.

• Os fauvistas ou feras, como eram conhecidos, usavam cores puras, simplificavam


as formas das figuras, tendo projeção de movimento.

• Os cubistas propunham decompor a forma dos objetos. Assim nasceu o cubismo


analítico e o sintético. O cubismo analítico procurava fragmentar a imagem,
dificultando a compreensão. Já no cubismo sintético, os artistas procuravam
agregar materiais diversos na tela, completando a imagem. Na arquitetura
cubista prevalece a funcionalidade.

• O movimento abstrato apresenta liberdade no uso de formas orgânicas ou


geométricas, além de explorar cores, ritmos e texturas.

• O construtivismo utilizava uma forma de representação geométrica, com


formas simplificadas e seriadas, acreditavam que precisavam de uma nova
arte, novas construções modernas, não tendo ligação com o passado.

• Os suprematistas queriam buscar a simplificação nas cores e nas formas. Para o


artista, o quadro torna-se não mais um objeto e sim uma ideia mental e abstrata.

• Os dadaístas, desiludidos com a política e com a arte, procuraram expressar


sua revolta do cenário pós-Primeira Guerra Mundial através da banalização da
escolha de objetos e a contestação das belas artes.

• Obras surrealistas seriam resultados de pensamentos absurdos, sonhos que


muitas vezes não são compreendidos. Esses pensamentos foram colocados nas
telas em posições irreais.

154
AUTOATIVIDADE

1 A arte construtivista aconteceu na Rússia, no começo do século XX. Ela rompe


com a arte de representação da natureza priorizando o objeto industrial. Os
artistas desse período acreditavam que a arte deveria suprir necessidades
práticas da vida social. Esses princípios influenciaram principalmente a
arquitetura. Com base nessa assertiva, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) O construtivismo projetava um novo meio e caminho de se fazer arte,


em que os artistas viam na arte abstrata um caminho para estabelecer
vínculo com os operários das indústrias.
b) ( ) O construtivismo surge a partir da arte abstrata.
c) ( ) A arquitetura construtivista recusou o uso de materiais pré-fabricados.
d) ( ) Artistas como Olga Rozanova e Vladmir Tatlin tiveram outras iniciativas
para a arte, como design de objetos, roupas, pôsteres e até cinema.

2 O dadaísmo foi um movimento radical de crítica cultural aos modelos


culturais passados e presentes. Apresentou-se em várias frentes como
revista, manifesto, exposição e outros. A partir dessa assertiva, analise as
afirmações a seguir.

I- O dadaísmo surge na França e muitos artistas passaram a viver em Paris


devido as milhões de pessoas mortas e feridas na Primeira Guerra Mundial.
II- O mais relevante do dadaísmo estava nos artistas se rebelarem contra os
absurdos da guerra.
III- A pintura abstrata caracteriza-se pela ausência de relação imediata entre as
formas e o dadaísmo apresentava textos sem coerência, tudo sem sentido,
tudo era absurdo.
IV- O dadaísmo abre portas para um movimento que iria surgir depois: o
surrealismo.

Estão CORRETAS as afirmativas:


a) ( ) I e II.
b) ( ) I e IV.
c) ( ) I, III e IV.
d) ( ) II, III e IV.

3 O surrealismo foi lançado pelo poeta francês André Breton, em outubro de


1924. Na concepção dos artistas surrealistas, a arte deveria se desvencilhar
da lógica e da razão e ir além do estado de consciência, buscando a liberdade
de expressão da imaginação e dos sonhos. O surrealismo teve como uma de
suas influências as(os):

a) ( ) Ideias de Freud e a psicanálise.


b) ( ) Teorias do desenvolvimento cognitivo.
c) ( ) Teorias do inconsciente coletivo de Jung.
d) ( ) Preceitos da sociedade de consumo.
155
156
UNIDADE 3
TÓPICO 2

CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO

1 INTRODUÇÃO
Os conflitos no mundo, as demandas de uma sociedade e as crises de uma
determinada época não precisam interferir diretamente nas produções artísticas,
mas o artista também é sujeito dessa história e passa a refletir e traduzir as questões
do seu tempo provocando transformações no contexto que lhe serve de inspiração.

No final do século XX, os países europeus começam a se recuperar dos


danos causados pela Segunda Guerra Mundial, que perdurou entre 1939 a
1945. Com o crescimento da população, a indústria se acelera para fornecer ao
mercado diversos artigos, estimulando o consumismo. A relação entre cultura
americana e a cultura europeia estreita-se; a situação política na Europa torna-
se mais perturbada e artistas e estudiosos de origens alemã, russa e espanhola
procuraram refúgio na América livre.

No que se refere ao desenvolvimento da cultura visual, movimentos


artísticos como Pop Art (arte popular e cultura de massa), Op Art (ênfase na
ilusão de ótica), Minimalismo (redução dos elementos que compõem a imagem),
Expressionismo Abstrato (surge nos Estados Unidos) e Tachismo (França)
confere ao período uma singularidade devido às escolhas pictóricas dos artistas.
Cauquelin (2005) revela no sistema da arte contemporânea a relação arte e
mercado. O consumo passa a ocupar não só a engrenagem do desenvolvimento
industrial e tecnológico, mas também fornece elementos para o questionamento
da estética existente.

2 POP ART
É uma arte que ganhou muita força em 1950, devido ao aumento do consumo.
Mas o que significa pop art? Deriva do inglês e significa “arte popular”. Apareceu
nos Estados Unidos, mas acabou repercutindo por diversos países. Os artistas da
pop art defendiam que a arte deveria circular com as massas e para as massas, em
linguagem acessível. O popular e o cotidiano representados artisticamente seriam
reconfigurados sem perder a comunicação com o grande público.

157
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Nesse movimento de aproximação com o popular, utilizavam em


seus trabalhos artísticos elementos popularizados pela mídia, como novelas,
quadrinhos, personagens do cinema, objetos de consumo como refrigerantes,
entre outros. Os artistas da pop art tinham uma formação erudita e procuravam
atingir a massa urbana com a escolha de temas conhecidos.

Para McCarthy (2002), os artistas da pop art, voltando sua atenção para a
cultura popular, reforçaram a ideia de que a arte moderna deveria tirar energia dos
elementos do cotidiano e objetos de consumo, até então nunca contemplados pela arte.

Alguns artistas que se destacaram no movimento Pop Art foram: Andy


Warhol (1928-1987), Roy Lichtenstein (1923-1997), Robert Rauschenberg (1925-
2008), Edward Hopper (1882-1967), entre outros.

FIGURA 24 – ANDY WARHOL. SEM TÍTULO DE MARILYN MONROE, 1967

FONTE: <https://revolverwarholgallery.com/andy-warhol-artist-icon-iconic-portraits-famous-
revolver-gallery/>. Acesso em: 1 maio 2019.

Com esse trabalho, o artista usou uma variação de cor, permanecendo


os traços que caracterizam a atriz. Uma possibilidade de compreender essa
obra é considerar a intenção do artista, que como os objetos são produzidos em
série, a imagem de um artista pode ser manipulada para o consumo do público
(PROENÇA, 1998).

Obras de arte de Warhol, em mais de 50 anos continuam presentes.


Profissionais de várias áreas usam sua arte, estampando-a em objetos e roupas,
propagando a popularidade da arte pop. No Brasil, a Arte Pop brasileira teve
seu início durante a década de 1960. Os artistas priorizaram a forma e a técnica
utilizada pelos artistas norte-americanos, como por exemplo, a reprodução em
série. Entre os artistas brasileiros, destaque para Wesley Duke Lee (1931).

158
TÓPICO 2 | CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO

DICAS

Conheça um pouco mais sobre o movimento pop art (principais artistas,


obras, influências e contexto sociopolítico) assistindo ao vídeo: https://www.youtube.com/
watch?v=Auw60Bu6s3o.

3 OP ART
Op art vem do inglês e significa “arte óptica”. As obras dão a sensação de
estarem em movimento, representando diferentes figuras geométricas, em preto
e branco, ou coloridas, combinadas de modo a provocar no espectador sensações
de movimento.

Para Lucie-Smith (1983), as obras do movimento op art se propõem a


interagir com o espectador a partir da sensação de movimento que, por sua vez,
desencadeia uma resposta dinâmica do olho e tensão psicológica. Nesse sentido,
passam a dialogar de forma intensa e livre com signos ligados à publicidade, às
mídias de massa, por Hollywood e pela indústria cinematográfica.

Obras que apresentam movimento, vibração ou volume, foram


desenvolvidas e criadas por artistas como: Victor Vasarely (1908-1997), Alexandre
Calder (1908-1976) e Bridget Riley (1931).

FIGURA 25 – BRIDGET RILEY. MOVEMENT IN SQUARES, 1961

FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/artes/a-opart.htm>. Acesso em: 1 maio 2019.

A composição em justaposição de quadrados que se alternam em branco


e preto provocam na retina do observador uma sensação de movimentação
inquietante quando observada por algum tempo de forma fixa.

Outro representante do movimento foi Alexander Calder, com uma obra


escultura que se aproxima de um móbile.

159
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 26 – ALEXANDER CALDER – MÓVEL, 1932

FONTE: <https://www.tate.org.uk/art/artworks/calder-mobile-l01686>. Acesso em: 1 maio 2019.

Impulsionadas pela corrente de ar, a escultura móbile tem as peças


suspensas que, ao se movimentarem, provocam uma experiência visual no
expectador. Calder é considerado pioneiro na escultura móvel.

4 MINIMALISMO
Surgiu na década de 1960, nos Estados Unidos. Na pintura, essa arte
tem como características: formas retangulares e cúbicas, iguais e repetidas. Já na
escultura, os artistas usavam materiais industriais, ferro, aço, tubo fluorescente,
tijolos e tinta industrial.

As obras minimalistas possuem um mínimo de recursos e elementos.


A pintura minimalista usa um número limitado de cores e privilegia formas
geométricas simples, repetidas simetricamente. No decurso da história da arte,
durante o século XX, houve três grandes tendências que poderiam ser chamadas
de “minimalistas”: (manifestações minimalistas: construtivismo, vanguarda russa,
modernismo). Os construtivistas, por meio da experimentação formal, procuravam
uma linguagem universal da arte, passível de ser absorvida por toda humanidade.

FIGURA 27 – DONALD JUDD. UNTITLED, 1967

FONTE: <https://www.moma.org/audio/playlist/1/92>. Acesso em: 1 maio 2019.

160
TÓPICO 2 | CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO

De um modo geral, todos esses movimentos vão encontrar eco nas obras
de vários artistas brasileiros. Buscando caminhar com as linguagens artísticas
de cada época, a arte brasileira se apropria do fluxo criativo dos movimentos
artístico do século XX. Nesse sentido, as reverberações da arte, como apontado no
título deste capítulo, atravessam fronteiras temporais e geográficas.

Na arquitetura do século XX não foi diferente. Os arquitetos europeus


propunham pensar o urbano e sua configuração arquitetônica a partir das
turbulências políticas e sociais que influenciavam a formação de grupos que
compartilhavam territórios considerados públicos. Em contrapartida, questões
como territorialidade e identidade também são fatores que influenciaram a
arquitetura deste século, priorizando a racionalidade.

No Brasil, destaque para o arquiteto Oscar Niemayer, considerado o


pai da arquitetura moderna. Com um estilo inconfundível e centenas de obras
espalhadas pelo mundo, Niemayer foi o arquiteto que projetou vários edifícios
públicos de Brasília, a capital do Brasil. Com um desenho de linhas inovadoras,
utiliza em suas construções materiais como o concreto e o vidro.

FIGURA 28 – OSCAR NIEMAYER. CONGRESSO NACIONAL

FONTE: <https://www.ebiografia.com/oscar_niemeyer/>. Acesso em: 1 maio 2019.

O congresso nacional é um dos prédios que compõe o planejamento


arquitetônico da cidade de Brasília, considerada uma das mais modernas devido
à arquitetura singular de Niemayer.

DICAS

Saiba mais sobre a arquitetura do século XX, principais nomes, estilos, materiais
usados. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=d3iJegOW9FM.

161
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

5 EXPRESSIONISMO ABSTRATO
O expressionismo abstrato ou ainda american-type painting, action painting
foi um movimento artístico dos anos 1940, com origem nos Estados Unidos, mais
especificamente na cidade de Nova Iorque, sendo que alguns críticos de arte
denominam esse movimento de Escola de Nova Iorque.

As pinturas desse movimento geralmente são criadas em grandes suportes


e os artistas utilizam gestos rápidos e instintivos no desenvolvimento de suas
obras, como por exemplo, Jackson Pollock (1912-1956).

O artista americano Jackson Pollock estudava a filosofia do Extremo


Oriente e aplicava seus fundamentos em suas obras. Também pesquisava a
psicanálise de Young. Segundo Argan (2006), em seus estudos artísticos, Pollock
admirava o muralismo mexicano representado por José Orozco e Diego Rivera
(1883-1949), além da influência da obra de Pablo Picasso, intitulada Guernica.

FIGURA 29 – JACKSON POLLOCK. RITMO DO OUTONO (NÚMERO 30), 1950

FONTE: <https://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/57.92/>. Acesso em: 2 maio 2019.

Uma pintura gestual, que a partir de movimentos ritmados une o corpo


do artista ao pincel e à tinta, se tornando quase um corpo estendido. Referente a
sua obra, seu pensamento acerca da arte se materializa primando o automatismo
da criação em um ritual “que mantém uma excitação constante, quase de lúcido
delírio, da qual também contribui o álcool” (ARGAN, 2006, p. 81).

Outra característica do movimento expressionista abstrato é o uso das


cores suaves ou intensas, em harmonia ou desarmonia. Localizadas em formas
abstratas, nascidas do inconsciente dos artistas, tinham a intenção de propor a
autonomia desses elementos visuais, sua interação e diálogo com o espectador.

Mais do que romper com a arte do passado, o Expressionismo Abstrato


se configura como importante movimento pós-guerra que questiona valores
existentes e propõe ação corporal na criação da obra, valorizando os elementos
visuais. A arte expressionista não se propunha a representar abertamente objetos,
mas sugerir através da ação do artista a compreensão de seus signos visuais.

As formas e cores eleitas por esses artistas eram também marca da


individualidade na arte, gesto pensado e trabalho com a alma e com o corpo, em
um cenário econômico de produção em massa.
162
TÓPICO 2 | CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO

As telas desse movimento artístico, denominado Expressionismo Abstrato,


nos brindam com marcas visíveis do instrumento utilizado em sua criação, como os
pincéis. As cores se sobrepõem, se misturam, formam fronteiras, desafiam limites
e padrões de representação, chamando o espectador para a sensibilidade máxima.

Outro importante representante desse movimento foi Mark Rothko (1903-


1970). O artista concentra sua produção nas cores e formas abstratas defendendo
que a arte deve ser sentida, tanto para o artista que a cria como para o espectador
que frui a obra.

FIGURA 30 – MARK ROTHKO. RED, ORANGE, TAN AND PURPLE, 1949 (DETALHE)

FONTE: <http://obviousmag.org/archives/2010/10/a_arte_meditativa_de_mark_rothko.html>.
Acesso em: 2 maio 2019.

O quadro intitulado Vermelho, laranja, tangerina e roxo provoca esse


encontro de cores improváveis, mas não impossíveis. Para o espectador é uma
imersão em um universo colorido e de possibilidades de fruição.

O expressionismo abstrato marca a arte moderna com sua digital


inconfundível e alavanca a necessidade dormente de outros artistas a criarem
uma arte pessoal, questionando valores pictóricos impostos por instituições de
arte que ditavam as regras deste universo de criação. Era um viva ao novo; ao
repensado e principalmente ao pleno de sentidos.

6 TACHISMO
O tachismo se configura como um movimento artístico dos anos 1940,
com origem na Europa, no período Pós-Segunda Guerra. Segundo Argan (2006),
pode-se interpretar esta arte que recebe o nome de tachismo (de tasch, mancha).
Visualmente, apresentam suas particularidades em manchas coloridas, às vezes
uniformes e também de ordens geométricas.

Os artistas exploram a desordem, com pinceladas vigorosas concedem


certa autonomia ao material utilizado, quando deixam a tinta escorrer livremente.
No Brasil, o movimento ganha força na obra de Tomie Ohtake (1913-2015) e
Manabu Mabe (1924-1997).

163
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 31 – MANABU MABE. VENTO VERMELHO, 1997

FONTE: <http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=174&evento=1>.
Acesso em: 2 maio 2019.

O mural Vento Vermelho, de Manabu Mabe, foi especialmente criado para


compor a capela de Santo Amaro na Fortaleza da Barra Grande, na entrada do
porto de Santos/SP.

No que se referem às demais obras de artes em outros suportes, como


a escultura e a gravura, é importante salientar que segue a efervescência deste
período. É possível perceber que a pintura tem um espaço expandido saindo das
telas e ocupando as ruas, mesclando-se com a tecnologia.

As nuances do século XX são percebidas no uso de materiais distintos,


nas configurações sociais, nas tensões políticas, nas ideologias de cada época
que não passam despercebidas pela arte. É certo que teremos uma acentuação
do individualismo na maioria dos movimentos considerados vanguarda desse
período, mas também é importante reconhecer a arte política e social de vários
artistas. Entre eles, Antoni Tàpies (1923).

FIGURA 32 – ANTONI TÀPIES. LECTURA, 1998

FONTE: <https://antonioalves.blogs.sapo.pt/antoni-tapies-1626>. Acesso em: 20 jul. 2019.

164
TÓPICO 2 | CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO

No campo da arquitetura do século XX, teremos uma variedade de estilos


e uma ampla variedade de uso de materiais como ferro, vidro, concreto, madeira
e material reciclado. Muitas vezes utilizados de forma conjunta, esses materiais
se mesclam no projeto urbanístico das cidades que crescem desordenadamente.
Temos assim visualidades arquitetônicas diversas: nas metrópoles temos
desenhos arquitetônicos distintos lado a lado nas cidades, centros comerciais com
arquitetura arrojada e periferia com arquitetura simplificada. Centros modernos
e favelas dividem o espaço urbanístico das metrópoles.

165
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Na segunda metade do século XX, a arte apresentou-se mais livre. Os artistas,


através dela, queriam fazer críticas, denunciar problemas sociais e demonstrar
liberdade de expressão.

• O contexto sociopolítico que marcou esse período está ligado às guerras e à


Revolução Russa.

• A arquitetura assume um compromisso de integração à natureza e passa a


pensar o espaço arquitetônico não apenas no individual, mas no coletivo.

• Pop art surge com a proposta de popularizar a arte trazendo como tema de
pintura objetos populares da cultura de massa.

• Op art foi a criação de obras que dão a impressão de movimento, de ilusão. A


partir deste conceito, o artista Alexandre Calder introduziu os móbiles, muito
usados atualmente.

• A arte minimalista era mostrar a essência, ou seja, o mínimo na pintura, música


e literatura. Na pintura, essa arte tem como características: formas retangulares
e cúbicas, iguais e repetidas.

• O Expressionismo Abstrato foi um movimento artístico dos anos 1940, com


origem nos Estados Unidos; as pinturas desse movimento geralmente são
criadas em grandes suportes e os artistas utilizam gestos rápidos e instintivos
no desenvolvimento de suas obras.

• Tachismo é um movimento que apresenta em suas obras manchas coloridas, às


vezes, uniformes e de ordens geométricas.

166
AUTOATIVIDADE

1 Observe a tela de Andy Warhol:

FIGURA – CHE GUEVARA/ANDY WARHOL/ 1968

FONTE: <https://www.wikiart.org/en/andy-warhol/che-guevara>. Acesso em: 1 out. 2019.

A imagem apresentada é uma obra de Warhol e pertence a uma série que faz
referência a outros ícones do século XX. Sobre o artista e a obra é CORRETO
afirmar que:

a) ( ) Che Guevara, Pelé e Marilyn Monroe são referências em suas áreas de


atuação e foram retratados por Warhol porque o artista queria que os
jovens os imitassem.
b) ( ) Nesta obra da pop art, Andy Warthol denunciava as ações do regime
cubano por meio da imagem de Che Guevara, ao mesmo tempo que
criticava o predomínio cultural americano.
c) ( ) A proliferação de imagens produzidas pela publicidade, cinema, TV
e jornais estimulou uma pintura que trouxe para a tela, com a pop art,
referências conhecidas.
d) ( ) O artista buscava apenas a beleza estética para inserir uma cultura
clássica na sociedade.

2 Jackson Pollock sempre se mostrou interessado pelo automatismo psíquico


do surrealismo e, portanto, elaborou a metodologia de seu trabalho como um
ritual, numa condição de excitação constante, quase de um lúcido delírio.

167
FIGURA – JACKSON POLLOCK/ PINTURA DE AÇÃO/ EXPRESSIONISMO ABSTRATO

FONTE: <http://www.artmuseum.cz/umelec.php?art_id=349>. Acesso em: 1 out. 2019.

Assinale a alternativa que define o movimento artístico em que este artista


está inserido:

a) ( ) Expressionismo dadaísta.
b) ( ) Expressionismo figurativo.
c) ( ) Expressionismo surrealista.
d) ( ) Expressionismo abstrato.

3 Nascido em meados dos anos 1940, na França, tem a abstração informal


como característica marcante e certo lirismo na composição de cores. O
significado do nome deriva do termo que significa mancha. Assinale a
alternativa CORRETA que compreende o movimento artístico:

a) ( ) Tachismo.
b) ( ) Fotorrealismo.
c) ( ) Street Art.
d) ( ) Arte Abstrata.

168
UNIDADE 3
TÓPICO 3

REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA

1 INTRODUÇÃO
A arte contemporânea se caracteriza por um movimento artístico
influenciado pelo pensamento filosófico pós-moderno. Tem como contexto
sociopolítico as transformações Pós-Segunda Guerra Mundial – o avanço da
globalização, cultura de massa e o desenvolvimento das novas tecnologias e
mídias. Em clima de reconstrução, o cenário artístico propunha aos artistas e ao
público novas experiências. A arte contemporânea tem suas obras pautadas nos
processos, ou seja, na ideia. Configura-se assim a centralidade do conceito da obra
e a atitude do artista. Teremos propostas de expressões artísticas a partir de técnicas
inovadoras, como por exemplo, a junção de técnicas e áreas específicas como a
pintura, a dança, a música, o teatro, a escultura, a literatura, a fotografia e a moda.

A arte contemporânea teve seu início na década de 1960, passando a


valorizar muito mais o ideal artístico do que a obra acabada; em algumas obras,
a materialidade perde importância e o objeto não existe. Em uma performance,
por exemplo, a obra é efêmera. Essa temporalidade curta de algumas expressões
artísticas se aproxima do cotidiano com o objetivo de provocar a reflexão sobre o
ambiente, o consumo, a violência e a sociedade.

Ao negar qualquer expectativa de que ela vai durar, a arte efêmera muda
propositalmente a relação entre arte e plateia. Na arte de vanguarda do
século XX, a efemeridade foi estrategicamente recrutada para minar o
sentido material das obras de arte como objetos cujo valor pode crescer
com o tempo (investimento) ou avalizar ambientes sociais de elite com
sua presença. Colagens cubistas e objetos encontrados surrealistas, feitos
com materiais perecíveis comuns, mas agora tidos como arte histórica,
desafiam os esforços dos administradores de museu em dotar estes
produtos efêmeros com um senso de permanência (BIRD, 2012, p. 207).

Os artistas contemporâneos reivindicam a autonomia das obras; o processo


artístico passa a ser visto como ideia – que pode ser uma crítica aos aspectos
formais da arte do passado como também crítica às instituições e ao sistema de
seleção do mercado de artes, centrados na sociedade de consumo.

A data de nascimento da arte contemporânea vogaria algures entre


1960 e 1969. No decurso dos anos 60, impuseram-se a pop art, o novo
realismo, a op art e a arte cinética, a minimal art e o colorfield paiting,
o fluxus enxameou, os happenings proliferaram; no final do decênio,
surgiram a arte conceptual, o anti-form, a arte povera, a land art, a body
art, o support-surface..., inúmeras formas de arte que recorrem a todo
o tipo de materiais heteróclitos, objetos fabricados, materiais naturais e
perecíveis, e até ao próprio corpo do artista (MILLET, 1997, p. 15).

169
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

O planejamento urbano não será isento desse caldeirão de ideias e


emoções; há construções arquitetônicas que apesar da sua funcionalidade
parecem obras de arte materializadas em grandes proporções, podendo ser
chamadas, em alguns casos, de arquitetura fantástica.

2 REFLETINDO SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA


Se durante o período conhecido como Arte Moderna tínhamos a dualidade
entre pintura e escultura (ainda que agregasse materiais diversos em sua criação),
na arte contemporânea tem-se a decomposição dessa dualidade. Archer (2001),
em seu livro Arte Contemporânea: uma história concisa traz à tona a discussão da
arte que se apresenta expandida e complexa.

Argan (2006) lembra que as transformações na arte contemporânea devem


ser avaliadas pelo peso do valor de mercado viabilizado pela sucessão de correntes
e rápida renovação de valores. A defesa da arte como expressão potencializa
a individualidade do artista e, com isso, o mercado de arte representado pelo
marchand se agita em busca incansável por novos talentos.

Com o desafio proposto pelos novos materiais e a possibilidade de agregar


técnicas e linguagens artísticas, a arte contemporânea nos revela uma profusão de
obras em seus diferentes formatos. Com características fortemente interativas, em
seu leque de originalidade vai nos desafiar à fruição da obra em nova percepção,
pois algumas obras não mais permanecem em suportes – em alguns casos deixam
de existir materialmente, como a performance, por exemplo, em que o artista
executa a obra com elementos artísticos da dança, do teatro, entre outros. “A arte
deixa de ser um núcleo relativamente definido e estável – como era, por exemplo,
a forma no modernismo – para antes constituir essa produção de imagens acerca
(das imagens das imagens) da arte” (AGUIAR; BASTOS, 2013, p. 2).

Entre as características da arte contemporânea temos a inovação no uso de


suporte da obra, como por exemplo, produtos de consumo. Se na arte moderna
a tela foi o suporte mais utilizado, nesse novo momento da arte ela perde a
centralidade, sendo que algumas vezes é reconfigurada com outros materiais.
Argan (2006) vai pontuar que a recusa do passado (especificamente os princípios
da arte moderna) era uma forma de requerer a originalidade e permitiu aos
artistas agregar no mesmo plano de valores obras distintas em técnica, tema e
valores culturais.

Outra característica singular da arte contemporânea são as temáticas


utilizadas pelos artistas. Em suas expressões, a maioria vai eleger o cotidiano
como fonte de inspiração e os temas sempre estarão em diálogo com a vida
cotidiana das massas.

170
TÓPICO 3 | REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA

A arte tornou volátil e móvel, cortada de um contexto, e não tem a


garantia assegurada nem privilegiada no meio das mais variadas
reflexões do mundo contemporâneo. O mundo da arte e o mundo do
cotidiano se misturam e se sobrepõem. O espaço do museu e da galeria
também foram quebrados. As atividades passam de um mundo a
outro e evidentemente afetam a prática artística e a experiência estética
(BINI, 2018, p. 70).

A cultura popular passa a ser vista pelos artistas como campo fértil para
pensar esse novo momento na arte, em franco questionamento dos conceitos de
arte e artesanato. Influenciados pela mídia, as novas tecnologias terão espaço
garantido nas criações artísticas que irão problematizar a divisão entre arte e
tecnologia. Entre as teóricas mais influentes sobre arte e tecnologia temos Lucia
Santaella. Um dos seus estudos problematiza a aproximação da arte com a
comunicação, discute o corpo expandido (as implicações do uso de tecnologias
nas performances e no teatro; a tecnologia e a televisão, o cinema, a robótica).

De uma maneira geral podemos dizer que os artistas contemporâneos


questionam valores do período da arte moderna, bem como os materiais utilizados
e os temas escolhidos.

O artista contemporâneo não está mais em busca da beleza da forma:


ele está em busca de uma nova sensibilidade, que pode se afastar dos
ideais estéticos da beleza. Mas ele quer provocar o observador a refletir
sobre si mesmo e sobre seu papel no mundo. A arte contemporânea
está voltada principalmente para as questões existenciais, para o fazer
pensar (BINI, 2018, p. 62).

Os artistas levantam a bandeira da pluralidade na arte com uso total de


liberdade criativa. No Brasil, o marco do movimento da arte contemporânea é a partir
de 1950, com figuras expressivas, principalmente retratadas nas obras de Lygia Clark.

3 ARTE CONCEITUAL
A arte conceitual nasce no centro do movimento do Grupo Fluxus e
afasta-se da materialidade da obra, e a poética se realiza no campo das ideias.
Seu contexto é a década de 1970, na Europa e Estados Unidos. A arte conceito se
espalha pela cidade, em intervenções que modificam temporariamente o lugar
que acolhe a criação do artista. “A arte perde a sua materialidade inscrita, por
exemplo, numa tela e, em boa medida, passa a se articular como um conceito”
(AGUIAR; BASTOS, 2013, p. 3). Nesse sentido, nos diz as autoras, materializou
o pressuposto da obra de arte como expressão; um conceito sobre a própria obra
de arte. Sobre a individualidade do artista, Argan (2006) problematiza que a
experiência estética é individual, mas não descarta totalmente o caráter coletivo,
pois a cultura de massa não extingue a individualidade quando esta estiver
resguardada pelo princípio da liberdade.

171
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 33 – OBRA CEILING PAINTING, DE YOKO ONO – DO GRUPO FLUXUS, EXPOSTA EM


1966, EM LONDRES (INGLATERRA)

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-conceitual/>. Acesso em: 2 maio 2019.

A obra instalação intitulada Pintura no Teto (tradução em português), de


Yoko Ono (1933), foi construída com papel, vidro, uma armação de metal, uma
corrente de metal, uma lupa e uma escada pintada. A palavra YES está impressa
no pedaço de papel. A instalação traz uma proposta de interatividade e convida
o espectador a experienciar a obra subindo a escada e utilizando a lupa. Sobre
a importância da arte conceitual, Argan (2006) aponta a consciência pictórica
desses artistas, lembrando que essas pesquisas fazem parte de um pensar
estético, apontando o fim técnico da arte, operando uma redução fenomenológica,
entendendo a arte como, também, espiritual.

Nessa forma de expressão artística, o espectador visualiza as ideias,


reflexões e pensamentos do artista criador, materializados em suportes variados.
Os elementos utilizados carregam significações importantes, assim como a junção
de elementos que dialogam quando dividem o mesmo espaço.

Recheada de um tom de crítica as mazelas da sociedade contemporânea,


a arte conceitual se qualifica pela ação e pela ocupação dos espaços da cidade,
saindo das galerias, ampliando seu campo de atuação. A arte conceitual desafia
o entendimento do público, exige que o espectador reflita e decifre a junção de
elementos presentes na obra.

No Brasil, o pensamento acerca da arte conceitual ganha força, surgindo


intervenções artísticas, performance representada por Cildo Meirelles (1948),
Artur Barrio (1945), Carlos Fajardo (1941), Mira Schendel (1919-1988), Antônio
José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga (1952-2016), Waltércio Caldas
(1946) e José Rezende (1959).

172
TÓPICO 3 | REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA

FIGURA 34 – CILDO MEIRELLES. PROJETO COCA-COLA (1970)

FONTE: <https://www.ebiografia.com/cildo_meireles/>. Acesso em: 2 maio 2019.

O caráter político na obra de Cildo Meireles se acentua no projeto Inserção


em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca-Cola. Utilizando adesivos silk-screen, o artista
escrevia mensagens grafadas nas garrafas retornáveis de Coca-Cola. Essas
mensagens só podiam ser lidas enquanto a garrafa estivesse cheia, pois a tinta
vitrificada em branco só aparecia quando em contraste com o líquido escuro do
refrigerante. Essas mensagens continham frases contra o regime político da época
e contra o imperialismo norte-americano.

Na arte conceitual, a realidade é pensada, sentida, elaborada com o


objetivo de provocar no público a reflexão perante o objeto não explicado. Os
objetos utilizados na arte conceitual podem causar estranhamento, fazendo surgir
a necessidade de entender a proposta visual do artista.

Além das linguagens ditas tradicionais, como desenho, pintura, escultura


e gravura, diversos são os suportes, meios e formas utilizadas pelos artistas da
arte conceitual, como videoarte, fotografia, instalação, performance, happening,
internet etc.

FIGURA 35 – TUNGA. AMBER CHAMBRE, 2006

FONTE: <https://www.tungaoficial.com.br/pt/trabalhos/amber-chamber/>. Acesso em: 2 maio 2019.

173
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A obra instalação denominada Quarto Amber (na tradução para o


português) é constituída por latão, tela de latão, tela de aço, resina epóxi,
alumínio, alumínio fundido, cabo de aço e material elétrico.

4 MOVIMENTO FLUXUS
Para Zanini (2004, p. 3), “Fluxus não era simplesmente um ato de fazer
repensar a tradição da arte ou mesmo de encaixar-se em contextos contra culturais
correntes, e sim uma oposição completa a qualquer continuidade estabelecida ou
atual”. O Grupo Fluxus reuniu músicos, artistas plásticos e poetas radicalmente
contra ao status quo da arte, isso significa liberdade de criação, princípio
altamente contagiante que acabou agregando vários artistas de todo o mundo e
influenciando outros espalhados pelo mundo.

Fortemente inspirado pelo movimento dadaísta e pela obra contestadora


de Marcel Duchamp, um grupo de artistas anuncia uma catarse coletiva e reúne
diversas linguagens da arte: música, dança, teatro, poesia, vídeo, fotografia, entre
outras. O que significa a palavra fluxus? Este nome está ligado a um movimento
de música da Alemanha, em 1962. George Maciunas (1931-1978) batizou o
movimento de Fluxus, que significa fluxo – movimento, circulação de pessoas
em determinado espaço. Em um mesmo espaço pode-se apreciar as diversas
linguagens, em que a arte é única e indescritível. Assim o movimento mobilizou
artistas dos mais diversos países, como França, Estados Unidos, Japão, Alemanha
e países nórdicos.

FIGURA 36 – GEORGE MACIUNAS. MANIFESTO DO GRUPO FLUXUS, 1963

FONTE: <http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo5/fluxus.html#>.
Acesso em: 2 maio 2019.

174
TÓPICO 3 | REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA

No texto do manifesto temos a crítica sobre o papel do artista: “livrem o


mundo da doença burguesa, da cultura 'intelectual', profissional e comercializada.
Livrem o mundo da arte morta, da imitação, da arte artificial, da arte abstrata.
Promovam uma arte viva, uma antiarte, uma realidade não artística, para ser
compreendida por todos, não apenas pelos críticos, diletantes e profissionais”.

Havia entre os participantes uma conectividade que servia como


combustível que motivava as práticas artísticas experimentais e plurais. Podemos
dizer que esse espírito contestador e libertário ganha força no decorrer do século
e impulsiona os demais movimentos artísticos além da fronteira, ressignificados
pelas culturas e movimentos urbanos.

5 ARTE POVERA
Movimento artístico dos anos 1960, na Itália, que desafia a produção artística
elitizada. A escolha dos materiais utilizados nas obras da arte povera representa a
posição dos artistas frente à sociedade de consumo. Nessa ação criativa, os artistas
propõem elevar o comum ao status de arte, desafiando os limites impostos pela
sociedade que controla o universo artístico. Usam materiais orgânicos, do cotidiano,
simples e perecível, além de sucatas. A origem do termo povera significa pobre (em
italiano), referindo-se à singeleza dos materiais utilizados pelos artistas.

Os artistas se posicionam politicamente frente à sociedade de consumo


que domina a América, buscando valores morais e éticos. Os principais
representantes da arte povera foram: Giovanni Anselmo (1934), Mario Merz
(1925-2003), Michelangelo Pistoletto (1933) e Jannis Kounellis (1936).

FIGURA 37 – MICHELANGELO PISTOLETTO. VIETNAM, 1962-65

FONTE: <https://www.menil.org/collection/objects/476-vietnam>. Acesso em: 2 maio 2019.

Pistelotto, nesta obra, chama o espectador para também compor a obra,


sendo que para isso basta contemplá-la. O espelho reflete o visitante fruidor,
fazendo-o participar do protesto contra a guerra do Vietnã. É nessa perspectiva que
175
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

os artistas da arte povera chamam a atenção da sociedade, utilizando elementos


simples, em propostas urgentes de pensar a complexidade das relações humanas
em uma sociedade de consumo.

A utilização dos materiais de uso cotidiano é explicitamente apresentada


na obra de arte, no entanto, o simbolismo está presente na escolha dos objetos
utilizados. Segundo Argan (2006), a postura dos artistas da arte povera revela
uma crítica à sociedade capitalista e de consumo.

A arte povera desafiava a ordem estabelecida das coisas e valorizava


mais os processos da vida do artista que buscavam poesia na presença
de materiais, do que os objetos que ofereciam apenas significado.
O observador destas obras de arte, confrontado com o fato de sua
existência, devia sentir-se igualmente livre para explorar a informação
que elas ofereciam (ARCHER, 2001, p. 69).

Contrapondo elementos em sua estrutura, os artistas da arte povera


experimentam, anunciando o resultado da ação do tempo sobre os objetos unidos
em sua possibilidade de gerar reflexões.

6 NEOEXPRESSIONISMO
O movimento denominado Neoexpressionismo marca a volta das
linguagens iniciais da arte, como a pintura e a escultura. O berço do movimento
é a Europa, mais precisamente a Alemanha, espalhando-se pela Itália e, mais
tarde, Estados Unidos. Por ser um movimento de arte contemporânea, o
Neoexpressionismo soma as linguagens tradicionais com outros materiais
inusitados. O resultado são obras de arte que utilizam a tinta e elementos comuns,
como areia, palha, entre outros materiais diversos fixados na tela.

Segundo Carvalho et al. (2009), esse movimento marca os anos 1970/80 e as


temáticas dos artistas circulam em meio à retomada do individual e do emocional,
buscando agora, na pintura, material ideal pra a expressão de trabalhos também
autobiográficos. Pode-se associar o movimento neoexpressionista, segundo os
críticos de arte, como um retorno à pintura e uma negação aos movimentos do
minimalismo e da arte conceitual. A pintura e a escultura são revalorizadas e
trazidas para o cenário contemporâneo, moldando-se às exigências da arte atual.

FIGURA 38 – ANISH KAPOOR. AINDA UNTITLED, 2016. AÇO INOXIDÁVEL

FONTE: <https://www.lissongallery.com/artists/anish-kapoor>. Acesso em: 3 maio 2019.

176
TÓPICO 3 | REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA

Anish Kapoor (1954) é um artista inglês de origem indiana; traz como


caraterística de suas obras a crítica social. De renome internacional, sua trajetória
se dá em esculturas públicas, algumas em grande formato.

No Brasil, esse movimento é representado na obra de Nuno Ramos (1960),


Paulo Monteiro (1961), Daniel Senise (1955), entre outros.

FIGURA 39 – PAULO MONTEIRO. O INTERIOR DO ESCRITÓRIO A DISTÂNCIA BARROCO,


2016, BRUXELAS

FONTE: <https://officebaroque.com/exhibitions/103/paulo-monteiro-the-inside-of-distance>.
Acesso em: 3 maio 2019.

O interior da distância é o nome da exposição de Paulo Monteiro e a obra


apresentada compõe o todo da exposição em Bruxelas, em 2016. Escultor, pintor,
desenhista, gravador e ilustrador. Para a crítica de arte, sua trajetória artística foi
construída com influências do neoexpressionismo alemão. Da pintura em tela à
escultura em argila e chumbo, marca o cenário nacional e internacional.

Nuno Ramos agrega em sua produção artística trabalhos em gravura,


pintura, fotografia, instalação, poesia e vídeo. Inicia sua trajetória com obras
tridimensionais que aos poucos se afasta do figurativo. Questões sociais são
elementos presentes em alguns dos seus trabalhos. A instalação intitulada Bandeira
Branca na 29A, na Bienal de São Paulo, provocou tensão entre o público ao expor um
casal de urubus em cativeiro. O confinamento em nome da arte irritou integrantes
dos grupos de defensores dos animais que fizeram uma campanha com assinaturas
para remover os animais da exposição. O artista argumentou que os urubus eram
de cativeiro (Parque dos Falcões, Sergipe) e que estavam acostumados com o limite
de espaço e que não era sua primeira exposição, pois os mesmos animais já tinham
participado em Brasília de uma outra instalação do artista.

FIGURA 40 – NUNO RAMOS. BANDEIRA BRANCA, 2010

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/29a-bienal-de-sao-paulo-
nuno-ramos/>. Acesso em: 23 jul. 2019.
177
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Bandeira branca é composta por três grandes esculturas em formas


geométricas cercadas por uma tela de proteção que acompanha, de alto a baixo, a
rampa e as curvas do prédio da Bienal. Poleiros fazem referência a chaminés, de
onde as aves saem. Para o artista, o urubu tem a simbologia da efemeridade da
vida com a presença constante da morte.

Outro representante brasileiro desse movimento denominado


Neoexpressionismo é Daniel Senise, pintor e gravador. Recebe medalha de ouro
na 1ª Bienal Latino-Americana de Arte sobre Papel. Em 1985 recebeu medalha de
ouro na 1ª Bienal Latino-Americana de Arte sobre Papel.

FIGURA 41 – DANIEL SENISE. MENINA, OSSO E CÃO, 1994

FONTE: <http://www.danielsenise.com/obra/silhuetas/>. Acesso em: 23 jul. 2019.

Para a curadora e crítica de arte, Daniela Name, a obra de Daniel Senise marca
a volta da pintura ressignificada pela poética do artista; propõe uma nova relação
com a imagem. Na obra Menina, Osso e Cão prevalece a silhueta da figura, “Uma
silhueta é o negativo de uma imagem. Mais do que uma sombra, a silhueta é uma
falta, mas sem qualquer profundidade. Evidencia um jogo entre a mancha e a linha,
dois elementos constitutivos básicos da história da pintura” (NAME, 2015, s.p.).

178
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Arte contemporânea representa vários movimentos artísticos que surgiram


Pós-Segunda Guerra Mundial e agrega várias linguagens artísticas em forte
questionamento aos valores da arte moderna. Os artistas priorizam a ideia
do objeto muito mais do que no objeto em si, se aproximando ainda mais da
cultura de massa.

• Música, poesia, dança, pintura em um mesmo espaço? É chamado de fluxus,


ou seja, fluir.

• A arte conceitual afasta-se da materialidade da obra e a poética se realiza no


campo das ideias.

• A escolha dos materiais utilizados nas obras da arte povera representam bem
a posição dos artistas frente à sociedade de consumo. Nessa ação criativa, os
artistas propõem elevar o comum ao status de arte.

• O movimento neoexpressionista representa a busca do sentimento e da


individualidade dos artistas, recuperando a pintura e a escultura como
importantes instrumentos de expressão dentro do movimento contemporâneo.

179
AUTOATIVIDADE

1 Sobre a arte conceitual, analise as afirmativas a seguir.

I- O fim técnico da arte, operando uma redução fenomenológica, entende a


arte como também espiritual.
II- Os anos de 1980 representam historicamente o período de abrangência da
arte conceitual.
III- A crítica às instituições, a efemeridade dos meios e a precariedade dos
materiais utilizados caracterizam a arte conceitual.
IV- Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Artur Barrio, Raimundo Cela e Lygia Clark
foram artistas participantes de exposições da arte conceitual no Brasil.
V- O grupo Fluxus, constituído por artistas de diversas nacionalidades e forte
atuação política, colaborou de forma decisiva para a divulgação da arte
conceitual.

Estão CORRETAS somente as afirmativas:


a) ( ) I, II e III.
b) ( ) III, IV e V.
c) ( ) I, III e V.
d) ( ) I, II, III e IV.

2 O Grupo Fluxus foi um movimento que teve origem nos anos 1960. Faziam
parte deste grupo artistas como Joseph Beuys (conhecido principalmente
por suas performances), Nam June Paik (artista pioneiro da videoarte) e
John Cage (pioneiro da música aleatória e da música eletroacústica). Sobre
o Grupo Fluxus é INCORRETO o que se afirma em:

a) ( ) O grupo valoriza a criação coletiva e o uso de diversas linguagens e


meios.
b) ( ) O grupo assume os ideais burgueses e capitalistas da época, criando
uma arte comercial.
c) ( ) O grupo refletia sobre a participação social e política da arte e defendia
a ideia de que todos deveriam ser capazes de compreender a arte.
d) ( ) Nenhuma das alternativas.

3 Movimento artístico que surgiu na Alemanha, em 1980, e propunha resgatar


a pintura como meio de expressão e a identidade cultural alemã. No entanto,
a proposta dos neoexpressionistas atravessou fronteiras influenciando
inúmeros artistas, inclusive no Brasil. Sobre o Neoexpressionismo é correto
afirmar que:

a) ( ) Seus principais nomes foram Di Cavalcanti e Cândido Portinari.


b) ( ) Surgiu na Rússia.
c) ( ) A pintura e escultura se moldam às exigências da arte contemporânea.
d) ( ) Desenvolveu-se na década de 1990.
180
UNIDADE 3
TÓPICO 4

EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico serão apresentadas algumas expressões artísticas
contemporâneas, que apresentam singularidades em sua criação por meio da
utilização de diferentes materiais e suportes, que evidenciam a pluralidade das
expressões artísticas no cenário contemporâneo.

De uma maneira geral podemos afirmar que a Arte Contemporânea deve


ser entendida em sua complexidade ideológica como conceitual, com possibilidade
de criação que propõe liberdade total, sendo por meio do uso de materiais e de
espaços de exposições inusitados – que se tornam surpreendentes – ou por ser
mutante e multifacetada.

2 HAPPENING
A forma de expressão artística conhecida como Happening é fortalecida
nas ruas com a participação indireta e às vezes direta do público. Os artistas
são também atores que interagem com os espectadores – o termo happening é
proveniente do inglês, e significa acontecimento.

Entre os nomes mais importantes temos Allan Kaprow (1927-2006), pintor


norte-americano que utilizou o termo pela primeira vez para designar uma
categoria artística. Geralmente, as produções dessa categoria eram realizadas fora
dos museus e galerias.

FIGURA 42 – ALLAN KAPROW. QUINTAL, 1967, NO MUSEU DE ARTE DE PASADENA

FONTE: <https://www.nytimes.com/2009/09/13/arts/design/13johnson.html>.
Acesso em: 1 maio 2019.

181
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Outro artista precursor do happening foi Jim Dine (1935), que defendia
o deslocamento da arte das telas para as ruas com o intuito de se aproximar das
pessoas. Um exemplo é a performance de Robert Rauschenberg (1925-2008), que
soltou trinta tartarugas sobre um palco carregando lanternas em seus cascos.
O próprio artista acompanhou o movimento das tartarugas vestido de forma
inusitada, com calças de jóquei.

A improvisação é um dos elementos centrais do happening; junto ao


inesperado da ação artística partilhada tem-se o cenário nada convencional
como ruas, espaços abandonados, um estabelecimento comercial ou qualquer
outro espaço.

3 PERFORMANCE
A performance tem como característica central o uso do corpo do artista
e de outros corpos participantes na construção da poética colaborativa. Peled
(2012) cita alguns exemplos:

a) Paris, 1980: um detetive segue uma artista durante um dia, registrando todas
suas ações cotidianas.
b) Fortaleza, 2008: a presença do renomado artista japonês Souzousareta
Geijutsuka na cidade altera o desempenho da mídia local.
c) Londres, 2008: ao circular no vão central de um museu, policiais montados em
cavalos direcionam o público.

Os exemplos de performance têm em comum a estranheza frente à


alteração do cotidiano, ou ainda a alteração do estado comum de algumas ações no
campo artístico. Para o autor que exemplifica as performances citadas, o próprio
termo é contestado desde a sua origem, sendo a sua construção conceitual ampla.
Podemos compreender a performance como um campo híbrido.

Pele, cabelo, ossos, unhas, fezes – materiais fornecidos pelo corpo


humano têm sido usados com frequência em obras de arte. Juntamente
com o surgimento das performances na década de 1960, os artistas
ocidentais passaram a dar nova atenção ao corpo humano, tanto como
ferramenta quanto como material para fazer arte (BIRD, 2012, p. 192).

Em 2019, na SP-Arte, mais de 100 galerias abrem suas portas para os artistas
da performance. Espalhados pelo Pavilhão da Bienal, com horários específicos
e distintos da programação, artistas nacionais e internacionais pulverizam o
público com a pluralidade da performance. Entre elas a performance intitulada
Ponto e Vírgula, de Maria Noujaim.

182
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

FIGURA 43 – MARIA NOUJAIM. PONTO E VÍRGULA, 2019

FONTE: <https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,sp-arte-2019-performances-passam-a-
ocupar-todo-o-pavilhao-da-bienal,70002775654>. Acesso em: 23 jul. 2019.

A galeria de arte Jacqueline Martins, que representa as obras da artista,


descreve em 2018 a performance Ponto e Vírgula, de Maria Noujaim, como
permeada por movimentos entre escultura e linguagem, forma e poesia. No corpo
carrega uma espacialidade através do uso de materiais e desenhos.

4 VIDEOARTE
A videoarte tem a imagem como protagonista das cenas a partir de vídeos
sincronizados que estimulam a percepção do espectador de múltiplas formas. É
também o meio que alguns artistas começam a experimentar outras linguagens
de arte trazendo como suporte escolhido a crítica aos programas televisivos.

Nam June (1932-2006) foi um dos primeiros artistas a usar esta forma
de expressão e se apropria da tecnologia de forma criativa. Utiliza projeções
dentro de performances e instalações. Nos dias atuais, podemos notar uma forte
presença da videoarte nas Bienais de Arte ou em museus de arte contemporânea,
onde a tecnologia e a arte se entrelaçam trazendo um novo olhar sobre as
diversas abordagens.

As imagens em sequência, do artista Nam June Paik (1932-2006), estão


vinculadas a sons, fazem o espectador imaginar, refletir, questionar e compreender.

FIGURA 44 – NAM JUNE PAIK. SONHO NA INTERNET

FONTE: <https://zkm.de/en/event/2004/12/nam-june-paik-internet-dream>. Acesso em: 1 maio 2019.

183
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A obra com 52 monitores apresenta diferentes imagens individuais


formando uma imagem global gigante. Nam June Paik procurou tornar estranha
a televisão ao público da arte que no cotidiano está acostumado com ela. Por isso,
em sua obra Sonho na Internet, monitores são apresentados repetidas vezes, como
as mensagens nas redes sociais, buscando configurar outra relação com o objeto:
a tela da tv ou do computador.

Para Viveiros (2013, p. 281), “a década de 60 foi uma época de protestos e a


obra de Paik representou o primeiro desafio à hegemonia das mídias, (jornal, rádio,
televisão, internet etc.) controlado por interesses comerciais, políticos e militares”.

5 BODY ART
Body art se caracteriza como uma linguagem da arte contemporânea
que tem como suporte o corpo. Segundo Argan (2006), pode-se definir essa
manifestação artística como uma relação indivíduo x ambiente, onde o sujeito
busca a individualidade em um momento único.

Nesse tempo de criação artística, alguns sentimentos são explorados


de forma intensa, como a dor e a busca do limite do corpo do artista. O corpo
agora passa a ser um suporte que será transformado, em sua cor e textura, e a
materialidade é minuciosamente experimentada.

FIGURA 45 – YOURI MESSEN-JASCHIN. HALLOWEEN, 1998

FONTE: <https://messenjaschin.wordpress.com/2014/08/17/switzerland-zapoff-lausanne-
halloween-photography-by-estelle-kromah-11-4-2006/>. Acesso em: 2 maio 2019.

A apresentação ao público das manifestações artísticas deste movimento


se assemelha à apresentação cênica, em articulação com diferentes linguagens
como a música e a literatura, o que gera aproximação com o happening e a
performance que utilizam essa maneira de chegar ao público.

184
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

DICAS

Conheça um pouco mais sobre arte da transformação do corpo. Assista ao


vídeo sobre a body art. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=1_wd-LYAsZM&t=52s.

6 FOTORREALISMO
O fotorrealismo é um estilo de arte contemporânea que soma o realismo
da fotografia com a pintura. É o resultado e a representação fantástica dos
sentimentos humanos que habitam as metrópoles, como solidão, tristeza, riso,
encontro e desencontro. A figura humana recebe destaque em alguns trabalhos
de fotorrealismo, o que torna a obra complexa e mais aberta à comparação com
o real. Aqui, a técnica é fundamental: poderia ser uma fotografia, mas é pintura!

FIGURA 46 – KEVIN PETERSON. FUNERAL, 26 X 36, ÓLEO NO PAINEL

FONTE: <http://kevinpetersonstudios.com/about>. Acesso em: 2 maio 2019.

As obras fotorrealistas de Kevin Peterson (1979) apresentam uma doçura


saudosista de momentos vividos por pessoas comuns. Mesmo quando seu
trabalho retrata a dor e o sofrimento que as pessoas vivem nos grandes centros
urbanos, sua obra realiza a crítica em tons suaves.

Outro artista importante do movimento é Yigal Ozeri (1958), que com seu
pincel talentoso apresenta em suas obras mulheres em momentos de abandono
da vida ou de êxtase em viver.

185
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 47 – YIGAL OZERI. SEM TÍTULO. ÓLEO SOBRE TELA

FONTE: <https://www.tribes-gallery.com/artist/yigal-ozeri/>. Acesso em: 2 maio 2019.

A figura retrata, em óleo sobre tela, sugerindo a mistura de representação


com a realidade. A sensação é de que a qualquer momento a personagem vai se
movimentar. Ozeri nasceu em Israel e é reconhecido pelas suas obras fotorrealistas.
Tem destacado personagens femininas; seus processos de criação começam com o
artista tirando fotos que em sequência são editadas em Photoshop. Após, é impresso
e usado como material de referência para suas pinturas a óleo altamente detalhadas.

As ruas e sua dinâmica do cotidiano também são temas do fotorrealismo.


Quem nos apresenta com maestria é Ralph Goings (1928-2016). Pessoas, objetos e
fenômenos cotidianos são temas do trabalho desse artista.

FIGURA 48 – RALPH GOINGS. VIDA COM COLHERES, 2006. IMPRESSÃO.


GRAVURA COM ACRÍLICO

FONTE: <https://www.artspace.com/ralph-goings/still-life-with-spoons>. Acesso em: 2 maio 2019.

O artista é conhecido por suas pinturas fotorrealistas. Seu processo de criação


consiste em utilizar fotografias que são depois projetadas em telas para pintar.

186
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

7 INTERNET ART
Linguagem artística que tem como suporte as redes virtuais. Além da
desmaterialização da obra, essa forma de arte busca a interatividade com o
espectador, convidando-o a interferir na obra. Essa interatividade acontece
em tempo real, sendo que se fundem as ideias do artista e do espectador no
decorrer da alteração da obra. Mesmo virtual, a sensibilidade dos envolvidos é
fundamental para que o resultado da obra seja gratificante, durante sua criação e
não somente no produto final.

“A internet trouxe novas aptidões para a arte em termos de questões sociais e


políticas, ela mudou o conceito mundo de um mapa cheio de compartimentos para
uma rede conceitual de conexões múltiplas e em mutação” (BIRD, 2012, p. 205).

A 24ª Bienal Internacional de São Paulo, de 1998, com o tema UM E/ENTRE


OUTRO/S utilizou a projeção de obras além de aplicativos que propunham a
interatividade. A proposta era oferecer ao público de qualquer parte do mundo a
visita virtual à Bienal.

FIGURA 49 – ALEXANDRE MALHEIRO. TRABALHO DIGITAL EM WEBSITE, 2016

FONTE: <http://twixar.me/c821>. Acesso em: 2 maio 2019.

Alexandre Malheiro (1980) é designer gráfico e artista plástico, cria obras


digitais de grandes dimensões utilizando cores vibrantes, formas geométricas,
sem fugir da representação realista. As obras de internet arte ou web art ocupam
espaço importante no círculo de exposições de arte contemporânea, como por
exemplo, as bienais.

8 STREET ART
Movimento artístico que tem o espaço urbano como local de expressão. A
street art ou arte de rua agrega várias formas de se expressar, sendo que cada uma
recebe um nome, dependendo de sua forma, linguagem e suporte, por exemplo, a
187
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

stickers, cartazes lambe-lambe, estêncil. A street art é também um trabalho solitário,


por isso as características dessa forma de arte são tão mistas. Também conhecida
como arte urbana, e mais tarde arte pública, algumas ramificações dessa forma
de expressão se concretizam no espaço urbano e à margem dos órgãos públicos.
As várias manifestações artísticas abrigadas nessa dominação street art reconhece
também o trabalho dos malabaristas, das estátuas vivas, entre outras.

Diógenes (2011) salienta que o street art engloba as mais diversas expressões
artísticas no espaço urbano, em diferentes formatos e temas. Para o autor, Bansky
representa de forma legítima o movimento quando em suas diferentes facetas
imprime nos muros sua arte irreverente e reflexiva.

FIGURA 50 – BANKSY (1974 – IDADE 45 ANOS). MENINA COM BALÃO

FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/arte-de-rua-street-art/>.
Acesso em: 2 maio 2019.

Em 5 de outubro de 2018, na casa Sotheby's, em Londres, o quadro


Menina com Balão foi leiloado por R$ 5 milhões e autodestruído de forma parcial.
O mecanismo de destruição da obra falhou, mas a proposta era que a obra se
autodestruísse assim que fosse fechada a compra.

Os grafites de Banksy são inconfundíveis, ainda que o artista trate de


temas conhecidos. Com traços precisos e representação poética, generosamente
faz a partilha de sua obra com as ruas das metrópoles, com forte crítica social.

DICAS

Conheça um pouco mais da obra do artista britânico Banksy; pintor de grafite,


pintor de telas, ativista político e diretor de cinema. Acesse: http://www.banksy.co.uk/in.asp.

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TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

9 GRAFITE
O grafite é considerado o elemento visual do hip-hop e caracteriza-se por
se situar entre a legalidade e ilegalidade, embora não deva ser confundido nem
associado ao vandalismo. O Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU-
SP) agrega à arte do grafite. São 66 painéis de grafite instalados nos pilares que
sustentam o trecho elevado da Linha 1-Azul do Metrô de São Paulo.

A denominação grafite define as inscrições feitas nas paredes e muros.


No início, quando surgiram as primeiras paredes pintadas, houve quem as
identificasse como uma forma de contravenção, de intervenção imprópria. No
entanto, o movimento vai ganhando força e assume seu papel de arte urbana.
Muitas vezes confundida com pichação, o grafite, como linguagem artística,
busca ação no protesto social nas ruas das cidades.

DICAS

Você já se perguntou qual é a diferença entre grafite e pichação? Acesse o


vídeo e confira: https://www.youtube.com/watch?v=cqxyzff6ayQ.

FIGURA 51 – MUSEU ABERTO DE ARTE URBANA DE SÃO PAULO

FONTE: <http://www.pacodasartes.org.br/notas/maau_projeto.aspx>. Acesso: 3 maio 2019.

Segundo o Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo, o projeto de


grafite surgiu de um acontecimento corriqueiro vivido pelos artistas Binho
Ribeiro (1971) e Chivitz (1982), que enquanto grafitavam as mesmas pilastras do
metrô sem autorização, foram denunciados e presos. Surge daí o projeto que se
expande, promovendo programas nas escolas da região.

No cenário europeu, um dos mais importantes grafiteiros foi Jean-Michel


Basquiat, que com sua poesia em desenhos e textos cobria as paredes da cidade
de Nova Iorque.

189
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 52 – JEAN-MICHEL BASQUIAT. SEM TÍTULO, 1961

FONTE: <http://basquiat.com/>. Acesso em: 23 jul. 2019.

A Europa vive o movimento do grafite desde o século XX, sendo que seu
início foi marcado por protestos sociais, de forma poética artística. Espalhou-se pelo
mundo, assumindo diferentes roupagens (cores, formas, estilos) e cada dia mais
vem se desenvolver, conservando a sua bandeira de crítica à política social vigente.

O desejo dos artistas contemporâneos de dialogar com os espaços


públicos da cidade como forma de expandir suas poéticas fica cada vez
mais ameaçado e torna-se um contraponto à ameaça da violência, ao
medo, ao isolamento, proposto por uma arquitetura de muros, grades
e vigilância. O grafite é um dos modos mais eficientes encontrados por
alguns artistas para furar esse paradigma (CANTON, 2009, p. 42-43).

No Brasil, o trabalho dos grafiteiros “os gêmeos” são referência importante


no grafite. Os artistas são de São Paulo, irmãos que se dedicam à arte urbana e
seus trabalhos cruzam as fronteiras reforçando um estilo de grafite brasileiro.

FIGURA 53 – OS GÊMEOS

FONTE: <http://www.osgemeos.com.br/pt/biografia/>. Acesso: 3 maio 2019.

Gustavo e Otávio Pandolfo nasceram em 1974, em São Paulo. Eles


cresceram no bairro do Cambuci, na zona sul da capital paulista. Com um estilo
bem peculiar, é praticamente impossível se deparar com uma criação dos gêmeos
e não identificar. Do Brasil para o mundo é como podemos definir o trabalho dos
irmãos, reconhecidos internacionalmente.

190
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

O grafite é também o resultado do questionamento à ditadura da arte


erudita. Aqui, o popular é tema e também raiz da ação. Os (às vezes) anônimos
artistas das ruas, geralmente dos grandes centros urbanos, deixam sua marca e
expressam seu pensamento.

Os grafites correspondem à representação visual do hip-hop e são a


sua caracterização e expressão artística nos locais públicos, sendo a sua autoria
representada através de um pseudônimo (tag), correspondente a um artista. Os
grafites estão presentes em locais onde se impõem à totalidade da população
urbana e não apenas aos apreciadores. Esse é um dos principais fatores de
diferenciação dos demais modelos de arte e também uma evidente aproximação
ao modelo pós-moderno de publicidade.

NOTA

O que representa o movimento hip-hop na arte? O hip hop é um movimento


de artistas que têm a música (Rap), a dança (Break) e o grafite como elementos de sua
expressão. É uma dança em que o corpo fica leve e solto. Tem sua origem na Jamaica.
Com origem na periferia dos grandes centros, esses artistas buscam mudança de vida e
reconhecimento artístico.

Aqui citamos uma pequena amostra do mundo do grafite. O universo


dos grafiteiros é gigante. Alguns de renome nacional e internacional, outros são
reconhecidos em sua região e anônimos para o resto do país. A verdade é que
os grafiteiros estão espalhados pelas ruas das grandes e das pequenas cidades,
deixando-as mais bonitas e alegres. E não é só isso. Se olharmos com atenção os
desenhos, poderemos refletir sobre a nossa sociedade por meio das cores e das
formas, representadas por esses artistas que têm a rua como seu atelier partilhado.

10 LAND ART
Rosalind Krauss (2007), no livro Caminhos da Escultura Moderna, aponta
o início da land art no final dos anos 1960 (Estados Unidos e Europa), quando
ocorre a expansão da escultura na busca do diálogo com o ambiente e o
observador, em uma tríade permeada pelo movimento.

A land art, também conhecida como arte da terra, tem como proposta
aproveitar a organização original do ambiente, construindo suas obras a partir
das características ambientais naturais existentes no espaço escolhido para
criação artística. Eles trabalham as esculturas integradas de forma direta à
paisagem, tal como se apresenta em todos os seus aspectos: da sua natureza a
sua configuração sociocultural.
191
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A autora confere o aumento da escala dos objetos – gigantismo da obra –


como forma de envolver o observador e dar a ele a tarefa de se movimentar em
torno do objeto artístico em uma proposta de interação.

Isaac (2013) lembra que, no início da land art, o objetivo principal era
ocupar os territórios para além das galerias e museus; uma forma de criticar o
mercantilismo da arte. No seu desenvolvimento, os artistas da land art, segundo
a autora, passam a assumir em suas produções causas sociais e ecológicas
evidenciando suas problemáticas.

Um dos artistas representativos da land art foi Joseph Beuys (1921-1986).


Destaque para a obra de paisagem 7000 carvalhos, em Kassel, na Alemanha, em
razão da 7ª Documenta (1982 – importante exposição de arte contemporânea
internacional que acontece a cada cinco anos).

FIGURA 54 – JOSEPH BEUYS. 7000 CARVALHOS, 1986

FONTE: <http://www2.eca.usp.br/cap/ars18/v9n18a08.pdf>. Acesso em: 1 out. 2019.

A obra 7 mil carvalhos é considerada uma das mais significativas. O artista


plantou junto às colunas de basalto das ruas mudas de carvalhos, enquanto
que uma sala do museu, segundo a autora, serviu de ponto de apoio ao projeto
artístico. Ao transformar o espaço natural do ambiente em local de criação, Beuys
inter-relaciona “arte, paisagismo e mobilização social em questões do lugar, da
cidade” (ISAAC (2013, p. 65).

O artista norte-americano, Jim Denevan (1962), utiliza o ambiente


em obras gigantescas como se moldasse a natureza que encontra. Chamado
popularmente como artista da areia, suas obras modificam de forma temporária
o lugar de intervenção do artista. As surpreendentes formas geométricas podem
cobrir vários quilômetros de areia e exigem do artista muitas horas de trabalho.

192
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

FIGURA 55 – JIM DENEVAM. AREIA, 2012

FONTE: <https://catracalivre.com.br/cidadania/5-artistas-visuais-que-tem-natureza-como-
inspiracao/>. Acesso em: 23 jul. 2019.

O caráter efêmero da intervenção artística ambiental de Jim Denevam é


capturado pela lente fotográfica que permite a divulgação dos trabalhos. O artista
já desenhou várias obras nas praias ao norte da Califórnia, onde vive. No entanto,
não se limita a elas, pois seu trabalho cruza fronteiras.

O material extremo da escultura de ambiente é a própria terra,


visto que proporciona uma liberação total das limitações da escala
humana. Alguns delineares de estruturas primárias têm-se voltado,
muito logicamente, para a “arte da terra”, criando projetos que se
estendem por muitos quilômetros. Estes sucessores atuais dos índios
que construíram os mound neolíticos podem dispor de maquinaria
moderna para a remoção da terra, mas tal vantagem fica anulada pelos
elevados custos e pela dificuldade de achar locais apropriados neste
planeta superpovoado (JANSON, 2007, p. 1015).

No Brasil, os artistas também elegeram a natureza para as suas criações.


Arte e paisagem ocuparam o processo artístico de representantes do movimento
Land Art, como Rodrigo Bueno (1967) e o coletivo BijaRi (grupo formado em 1997
por arquitetos, artistas, cenógrafos, designers).

Rodrigo Bueno cria a partir do conceito de arte e sustentabilidade uma


proposta estética de objetos que poderiam virar sucata. Do seu atelier, em São
Paulo, cria obras que intitula como lugares de encontro.

FIGURA 56 – RODRIGO BUENO. TERRA PROMETIDA, 2013

FONTE: <http://ouseja.jor.br/rodrigo-bueno-o-artista-plastico-que-leva-a-mata-adentro-de-nos/>.
Acesso em: 23 jul. 2019.

193
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A obra intitulada Terra Prometida, de Rodrigo Bueno, está permanentemente


exposta no espaço SESC Interlagos, em São Paulo. O objeto automóvel, modelo
fusca, com sua lataria pintada se mescla com o cultivo das plantas em um encontro
entre o orgânico e a indústria. A obra de Bueno é também um apelo à nova geração
pensar o futuro que está sendo construído hoje. É também inspiração para outros
artistas do movimento land art, como o Coletivo Bijari.

FIGURA 57 – COLETIVO BIJARI. INTERVENÇÃO JAPAN HOUSE.


SÃO PAULO. ESTÚDIO BIJARI

FONTE: <https://arteref.com/coletivo/as-multi-facetas-do-coletivo-bijari/>. Acesso em: 23 jul. 2019.

A intervenção do grupo levou a fachada da Japan House (casa japonesa)


com luzes e cores na junção arte, designer e tecnologia. Tendo como referencial
a iluminação das cidades japonesas, que lembram lanternas e luminárias, o
coletivo Bijari destaca a luz reconfigurando a visibilidade da reforma que passava
a construção arquitetônica original.

194
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

LEITURA COMPLEMENTAR

ARTE E CIDADE: VIVÊNCIAS URBANAS E RELAÇÕES ESTÉTICAS

Janaina Rocha Furtado


Andréa Vieira ZanellaI

Vàsquez (1999) salienta que são várias as formas do ser humano se


relacionar com a realidade. Essas formas, por sua vez, não se desenvolvem
paralelamente, pois decorrem das especificidades de cada contexto social e
cultural, de cada momento histórico que privilegia algumas e pouco valora outras.
Nos centros urbanos, a partir da racionalidade moderna, foram priorizadas as
relações prático-utilitárias, e a percepção do ser humano em relação à paisagem
urbana se tornou predominantemente operacional e cristalizada.

As propostas de plano diretor partem dessa concepção prático-utilitária e


se centram, geralmente, nos desenhos de linhas retas que privilegiam a ocupação
racional do espaço urbano. As avenidas e ruas, espaço de passagem de veículos e
seus condutores sempre apressados, apresentam poucos lugares para os pedestres
ou mesmo para estacionamento: o objetivo não é a parada, e sim o fluxo sempre
contínuo, que permite às pessoas se deslocarem entre pontos específicos, pré-
determinados. As praças, por sua vez, cada vez mais clean, deixam de ser locais
de encontro para serem pontos de espera do transporte coletivo, geralmente
atrasado. E aos olhares, o que se apresenta? Cimento, vidros, linhas retas, uma ou
outra árvore agonizante.

A estrutura da cidade atual viabiliza esse trânsito rápido e contínuo de


pessoas desconhecidas, permeado de imagens sobrepostas e superficiais, que se
impõem veementemente a um olhar desatento pelo espaço. A duração do olhar
sobre o urbano é a duração do segundo que se faz necessário para ir, para passar,
sendo rara a duração que se perde na contemplação. O todo que se apresenta
como urbano, para aquele que sempre vai velozmente, é um todo desprovido dos
detalhes, que exigem um caminhar mais lento, um parar pra ver.

Para romper com a cegueira que nos impede de admirar o entorno,


Peixoto (1999) defende o olhar estrangeiro, que procura ver o lugar como se fosse
a primeira vez, superando as imagens que se difundem pela cidade, banalizadas
pela repetição incansável de si mesmas. Um olhar que re-introduz à paisagem
a singularidade, a história e o encantamento e que, portanto, viabiliza relações
estéticas e a constituição de sujeitos outros. Procurar o olhar que estranha o lugar
familiar é dispor-se a ver o que até então parecia invisível e propor, para esse fim,
uma outra cultura visual, uma educação do olhar que passa pela necessidade de
reinventar nossa sensibilidade visual.

De certa forma, a arte urbana, que se intensificou nas décadas de 60 e


70, veio romper com os espaços de exposição tradicional, com os museus e
galerias, para falar e dialogar com os lugares e recolocar as artes entre os objetos
195
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

cotidianos e mesmo industriais (PEIXOTO, 2002). E, como objeto do cotidiano,


veio reivindicar um sujeito do olhar, a presença humana, as marcas contínuas e
singularidades que fazem desses espaços – privatizados pelas fábricas, outdoors,
estabelecimento comerciais e outros – novamente espaços públicos, lugares de
pessoalidade e relações estéticas informais.

Com sua proposta de ocupação de espaços inusitados, de abrir novas


possibilidades de se perceber o entorno, a arte urbana provoca a desautomatização
da percepção para ampliar as relações do ser humano com a realidade,
modificando essas relações e os próprios sujeitos, na medida em que esse ser
humano se implica na contemplação, a partir da sensibilização do olhar. Isso
provoca rupturas com a concepção clássica de estética e possibilita pensar na
viabilização de uma educação estética através da arte na cidade.

Assim como em outros modos de arte, a arte urbana permite um momento


de criação, porque o processo de percepção requer que o sujeito recrie o objeto
e, partindo da sua forma e do seu significado, imponha a este sentidos próprios
(VYGOTSKY, 2001). São esses novos sentidos que promovem uma relação
diferente do ser humano com a cidade e, mais do que com o objeto de arte, com o
entorno que lhe constitui. A relação estética dialoga assim com o extraestético, o
artístico com o não artístico, sendo que a arte urbana favorece essa comunicação
porque quebra o isolamento imposto pela Modernidade entre sujeito e objeto
estético, este último sempre exposto em um lugar que se quer neutro.

A todo momento, a arte na cidade comunica-se com o lugar em que está


inserida, com os outros objetos e com as pessoas que por ali transitam e que podem
vir a estabelecer relações estéticas com ela. Sendo assim, “as relações com o lugar
tornam-se um componente indissociável da obra de arte. Essa nova experiência
estética substitui a contemplação de objetos autônomos deslocados do contexto
por uma colocação em situação” (PEIXOTO, 2002, p. 18).

A ideia que sustenta a criação em arte urbana é de que a cidade, como


destaca Certeau (2000), é discurso humano, é uma construção social e histórica
que comunica, modifica-se, extrapola qualquer tentativa racional de planejar as
etapas, de compreendê-la como a uma máquina. O ser humano que nela habita
não é somente um ser da razão, mas ser criativo, que estabelece relações afetivas,
imaginárias e estéticas com o entorno urbano, construindo e constituindo-se nele,
relacionando-se com as pessoas tendo esse entorno como contexto. Portanto, é
possível e fundamental pensar em uma outra comunicação desse ser humano
com o espaço e em um outro trajeto do olhar sobre o mesmo, resgatando o lugar
em seus detalhes, naquilo que oferece ao sentimento de participação, de fazer-
se junto no diálogo urbano, implicando as pessoas nesse processo. A arte ali
está para ser vista, para suscitar emoções em quem passa e, por que não dizer,
fazer emergir outros e diferentes discursos visuais, imagens outras que venham
a significar a imagem mostrada e provocar nossa forma já acostumada de ler o
mundo e decifrar as imagens que nele se saturam.

196
TÓPICO 4 | EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS

A cidade é o lugar onde o público e o privado, o sujeito e a coletividade,


se imbricam, onde as condições, as forças potencializadoras das ações humanas
se articulam. Não é um espaço físico apenas, mas espaço de significação. Nesse
sentido é que problematizamos esse espaço através da arte visual, para retomá-lo
por sua dimensão humana, antropológica, e não tecnológica e funcional apenas.

Essa discussão está imbuída de uma preocupação com o futuro que


queremos e como queremos nossas cidades, o que implica a necessidade de
se enfatizar a multiplicidade de sentidos e significações que o mundo urbano
oferece. A resposta possível ao futuro das grandes cidades dirige-se a uma
questão fundamental em nossos dias: revitalizar os sentidos das utopias,
buscando as energias criativas das manifestações artísticas e retomando o
caráter instaurativo das imagens urbanas como elemento fundamental. Em
outros termos, pensar a cidade do futuro não a partir de perspectivas dualistas,
mas colocando em relação dialógica a sensibilidade artística e a racionalidade
técnica (LIMENA, 2001, p. 41-42).

Se, por um lado, hoje é praticamente impossível se abster da reflexão


sobre as relações entre cidade e natureza, uma vez que as discussões ecológicas
trazem à cena as preocupações com o meio ambiente e alertam para a sua
destruição, decorrente do avanço tecnológico desenfreado, por outro lado, esse
mesmo avanço tecnológico, que possibilitou a industrialização, comercialização
e consumo de produtos, bem como o desenvolvimento acelerado dos meios de
comunicação de massa, requer que reflitamos sobre o lugar da arte e das relações
estéticas com a cidade e com a natureza.

Em relação à exposição ou intervenção da arte urbana, existem problemas


técnicos que precisam ser pensados: o tipo de material a ser utilizado, o local
para a exposição, o apoio municipal e da comunidade, o tamanho adequado
das obras, entre outros aspectos. A arte urbana interfere não somente em uma
outra concepção estética da obra, mas também em uma outra concepção social e
comunicacional (CANCLINI, 1982). Essas preocupações são fundamentais para
pensarmos a cidade como uma construção humana, cujas relações podem ser
modificadas e, portanto, como espaço de diálogo e não de imposição de uma
ou outra estética, geralmente objetivada em esculturas e bustos espalhados pelas
cidades, que pouco dizem respeito aos seus moradores.

No entanto, permanece uma certa preocupação de que esse tipo de arte


seja mais um modo disfarçado de publicidade e política corporativa, uma vez que
esses projetos podem ser utilizados para promover os locais como lugares únicos
e vendê-los para turistas, assim como utilizados para ornamentar e embelezar
a cidade para satisfazer seus moradores. “Sob o pretexto de ressuscitar lugares,
a arte in situ acaba sendo mobilizada para apagar as diferenças, através da
serialização mercantil das cidades” (PEIXOTO, 2002, p. 21).

Essas questões requerem atenção, e necessário se faz analisar


detalhadamente os projetos de reurbanização através da arte e da arquitetura. Entre
vários aspectos a serem considerados, destaca-se a preocupação com intervenções

197
UNIDADE 3 | DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

que esvaziam as características arquitetônicas, sociais e históricas dos lugares,


mesmo que o objetivo das mesmas não seja adequar-se a essas características e
ressaltá-las; o respeito às condições específicas de cada bairro, cidade ou país,
para não tornar a arte apenas uma distração das verdadeiras aflições e tormentos
do ser humano na cidade moderna. Articular as necessidades públicas e locais é
imperativo, no entanto faz-se mister não confundir arte urbana com renovação
urbana ou recuperação de habitação inadequada (ARTE PÚBLICA, 1998).

FONTE: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682007000200007>.
Acesso em: 23 jul. 2019.

198
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• O happening foi uma expressão artística que surgiu nos anos 1950 e tinha como
principal característica o uso dos suportes do teatro com as artes visuais, tendo
o público como participante da obra.

• A performance se caracteriza pelo uso do corpo do artista ou de convidados que


utilizam várias linguagens das artes visuais, além da música, poesia e dança.

• A videoarte surgiu como meio de criticar o que era passado nos programas da
tv e na internet. Através do uso de tecnologias, os artistas criam sequências de
imagens, fazendo com que o espectador faça a leitura da obra somente através
das imagens.

• Body art se caracteriza como um movimento da arte contemporânea que tem


como suporte o corpo.

• O fotorrealismo se configura como uma linguagem de arte contemporânea que


soma o realismo da fotografia com a delicadeza da pintura.

• A internet art tem como suporte as redes virtuais e busca a desmaterialização


da obra e a interatividade com o espectador.

• A street art tem o desenho como principal força expressiva e soma várias maneiras
de se expressar: stickers art, stencil, lambe-lambe, malabarismo, entre outros.

• O grafite é uma linguagem da arte contemporânea, que faz parte do movimento


hip-hop e também da street art. Os artistas grafiteiros espalham seu desenho
pelos muros e ruas das cidades, trazendo mensagens de crítica política e social.

• A land art é um movimento que agrega artistas conectados com o ambiente e a


natureza. A arte sai do atelier e dos suportes tradicionais, como pintura e escultura,
e passa a ser construída no ambiente natural onde o artista realiza a obra.

199
AUTOATIVIDADE

1 Body art é o nome do movimento artístico que teve suas origens nas pinturas
e escarificações feitas pelos povos indígenas, aborígenes e africanos. O
suporte utilizado por esses povos para desenvolver suas criações era(m):

a) ( ) A argila.
b) ( ) O corpo.
c) ( ) As pedras.
e) ( ) Os ossos de animais.

2 Sobre o fotorrealismo é correto afirmar que:

a) ( ) Também conhecido como hiper-realismo, propõe uma forma de retratar


o mundo com fidelidade fotográfica.
b) ( ) A arte fotorrealista se utiliza de técnicas modernas de desenho.
c) ( ) A arte fotorrealista não se prende a detalhes.
d) ( ) As cores usadas na arte fotorrealista são sombrias e frias.

3 Na zona portuária do Rio de Janeiro foi criado um mural de 3 mil metros


quadrados, desenvolvido pelo artista brasileiro Eduardo Kobra, em 2016.
Essa arte muralista, que também está representada na street art, chama a
atenção pelas cores e impressões tridimensionais. Na obra, denominada
Etnias, cinco rostos representam etnias de cada continente.

FIGURA – TODOS SOMOS UM (ETNIAS) RIO DE JANEIRO, BRASIL (2016)

FONTE: <http://www.eduardokobra.com/etnias/>. Acesso em: 1 out. 2019.

A partir dessas informações, analise as seguintes afirmações.

I- Os grafites estão presentes em locais onde se impõem à totalidade da


população urbana e não apenas aos apreciadores.
II- Técnicas variadas de pintura são utilizadas na realização de um mural e
muitos artistas das artes plásticas saíram das escolas de arte para divulgar
suas produções em muros e paredes.

200
III- No cenário europeu, um dos mais importantes grafiteiros foi Jean-Michel
Basquiat.
IV- O grafite se desenvolve num trabalho coletivo e serve para diversos
discursos, dentre os quais, os afirmativos étnicos.

É CORRETO apenas o que se afirma em:


a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I, II e IV.
d) ( ) II, III e IV.

201
202
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