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01/06/2022

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO A PARTIR DE HENRI LEFEBVRE E A DIMENSÃO ESPACIAL DA


AÇÃO POLÍTICA

Thiago Andrade dos Santos

INTRODUÇÃO

“Protestos populares como os de Junho de 2013, no Brasil, trazem à pauta a


chamada “problemática urbana” e com ela a luta de classes, pois, na contemporaneidade,
trabalhadores urbanos estão no centro do processo de acumulação, e as metrópoles são a
materialização das relações sociais de produção.” (p.169).

A “problemática urbana” a partir da luta de classes em 2013, onde as


trabalhadoras e os trabalhadores urbanos se localizam no centro do processo de acumulação,
utilizando a metrópole como o meio dessas relações sociais de produção.

“Tais protestos revigoram o pensamento dialético e mostraram que o espaço


não é um mero palco para a ação política.” (p. 169).

A partir desse sentido o autor tem como pressuposto a reflexão a partir das
impossibilidades de emancipação social através desses protestos, considerando a centralidade
da crítica da economia política do espaço desenvolvida por Henri Lefebvre .

Comenta sobre a importância do retorno para as ciências sociais e humanas


e para a possibilidade de romper a alienação na contemporaneidade, pois seus estudos ainda
mostram-se imprescindíveis para a compreensão e crítica do mundo moderno.

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO A PARTIR DE HENRI LEFEBVRE

“O Pensamento de Henri Lefebvre traz uma proposta metafilosófica e possui


elementos teóricos que articulam temas como o cotidiano, a alienação, a cidade, o urbano, o
rural, o capitalismo, as representações, as práticas espaciais, a linguagem, a ritmanálise, o
espaço e o Estado.” (p.171).

“A fragmentação do pensar e do agir sempre foi combatida veemente por


Lefebvre, de modo que em sua abordagem, todos os conceitos e categorias de análises
convergem uns para os outros, pois tinha em conta que a realidade em mesma não é
fragmentada.” (p. 171).

Lefebvre procurou não perder de vista a totalidade dos processos sociais!!!!!


O momento da produção do espaço mostra de forma mais cristalina o modo como todos os
temas abstraídos da realidade concreta se relacionam.

“De acordo com Carlos (2001, p.11), ao produzir sua existência, a sociedade
produz, continuamente o espaço. O espaço, enquanto um conceito, possui sua faceta de
abstrato, mas ganha concretude por ser o lugar de realização da vida humana e sua
configuração varia no tempo e no espaço (Carlos, 2001, p.11).” (p.171).

“Para entendermos a posição dominante exercida pela lógica do capital na


sociedade contemporânea, é necessária a compreensão do espaço produzido por ela, o espaço
abstrato.” (p.171).

O espaço ganha concretude por ser o lugar de realização da vida humana,


dependendo de como se é produzida a existência, sempre de maneira contínua...

“O espaço abstrato procura se alojar em todas as dimensões de existência


social como meio para atingir seu objetivo, servir à reprodução ampliada do capital e do mundo
das mercadorias.” (p.171).

“No capitalismo o próprio espaço é uma mercadoria produzida para a troca e


as relações que o produzem também assumem as formas fetichizadas e alienadas, assim como
no processo de produção das mercadorias” (p. 171-172).

De acordo com Lefebvre o espaço abstrato é produto de uma violência nem


sempre física, ele é político , instituído por um Estado, portanto, institucional. Logo, reflete-se
também conforme Lefbvre que a espontaneidade do mundo e das pessoas tem que pedir licença
ou autorização para emergir e, assim mesmo, sob forte vigilância. Espaço Abstrato, elemento de
dominação.

“Conforme pudemos começar a perceber, o pensamento lefebvriano permite


que pensemos a sociedade moderna para além da crítica da economia política desenvolvida por
Marx, para ser mais exato, apoiando-se nela para enxergar mais adiante.” (p.173).

Para Lefebvre o espaço não é um vazio, tem-se o espaço como forma e


conteúdo que conserva os resíduos de formações sociais passadas e novos elementos
produzidos em um constante processo dialético de (re) significação dessas formas.

“Devido ao caráter transdisciplinar do espaço, o autor promove uma critica


direta as disciplinas parcelares e clama por uma ciência que dê conta de entender o espaço em
sua multiplicidade sem, no entanto fragmentá-lo” (p.173).

Na ciências sociais por Lefebvre vinha fragmentada como: físico – natureza e


cosmos; mental – lógicas e abstrações formais; e o social. Portando o espaço social e o tempo
social são indissociáveis e produtos das relações sociais.

Pensar o espaço social é pensar a sociedade que o produziu, o organiza e


dele se apropria, pois o espaço possui uma função estratégica e serve, portanto, a uma
determinada lógica que nos últimos séculos tem sido a lógica do capital.

“O espaço, portanto, é o meio e não o fim (Lefebvre, 2008, p. 44)” (p. 173).

Processos que consiste o espaço social: espaços de representações (vivido);


as representações do espaço (concebido) e as práticas sociais (percebido).
“... aqueles que buscam controlar a vida social para fins específicos tem a
necessidade de adestrar os indivíduos, tornando suas vidas programadas para que as práticas
sociais delas decorrentes sejam engessadas e previsíveis” (p. 176).

Envolve a interiorização de ritos, ritmos, gestos, gostos, enfim, modos de ser


e agir (autor)... Em vigiar e punir, Foulcault (1987) buscou compreender os artifícios que, na
modernidade, os homens tem desenvolvimento para o governo de si e dos outros...

A PRODUÇÃO E A INDUÇÃO DAS DIFERENÇAS

“O capitalismo nasceu das práticas mercantis que se generalizam a tal ponto


que aqueles que detinham o poder político, a nobreza feudal e os membros do clero, não
encontraram meios para contê-las e foram tendo que fazer concessões diversas até o capital se
por de pé na história” (p. 177).

“Se o espaço está sendo utilizado como forma de acumulação e de


repressão social, pensando no caso do processo de metropolização, por exemplo, ele também
pode ser revertido como um espaço de luta e resistência” (p. 177).

É nesse sentido que o Lefebvre trabalha com a concepção de estratégia


urbana, a prática social é analisada enquanto prática industrial e prática urbana. Persistindo em:
O que implica distinções entre prática política e prática revolucionária, em outros termos, uma
estrutura da Práxis.

“O conceito de espaço diferencial representa a possibilidade concreta de que


um mundo diferente e possível surja de práticas espaciais autônomas em meio à impossibilidade
de o Estado e o capital manterem o caótico e contraditório espaço que eles produziram
(Lefebvre, 1991, p. 290 apud Costa, 2007)”. (p.178).

“O espaço diferencial surgira, então, da incapacidade de reprodução das


relações de produção advindas do estranhamento do homem em relação ao caráter fetichista e
alienado do mundo das mercadorias, cujo próprio espaço das cidades, outrora local da
reprodução social, da política e da festa, tornando uma mercadoria cara e produzida para o
consumo de poucos.” (p. 178).

“Nesse sentido, como mudar o rumo da sociedade em direção ao espaço


diferencial em oposição ao homogeneizante espaço abstrato? É preciso o resgate da utopia. O
espaço abstrato, na impossibilidade de solucionar completamente suas contradições internas,
produz o que Lefebvre denomina diferenças induzidas, que são, em alguma medida, estratégias
para que a crítica social permaneça no interior de um conjunto ou de um sistema engendrados
de acordo com uma determinada lei ou de uma determinada ordem preestabelecida.” (p. 178).

“As diferenças induzidas conduzem à situação de diferença mínima, ou seja,


superam-se abstratamente as diferenças imanentes à sociedade, enquanto as diferenças
produzidas conduzem à diferença máxima, ou seja, a exacerbação das diferenças”. (p. 179).
“O espaço diferencial para Lefebvre, é a materialização de um espaço
comum, onde não se tentaria quantificar ou homogeneizar as diferenças, mas reconhece-las,
pois, elas não são quantificáveis ou homogeneizáveis.” (p. 179).

O URBANO UMA UTOPIA CONCRETA?

Para Lefebvre (1999, p. 47), “o urbano é um campo de tensões altamente


complexo; é uma virtualidade, um possível-impossível que atrai para si o realizado, uma
presença-ausência sempre renovada, sempre exigente.” (p. 180).

O processo de urbanização capitalista muda a forma como nos relacionamos


com o tempo e o espaço, com a natureza e com o ser humano e é, sobretudo um processo
social que modifica a forma como nos relacionamos com nós mesmos e com os outros.

“O urbano em Lefebvre implica uma disputa política no e pelo espaço,


portanto, uma práxis em torno da concretização ou não dessa utopia burguesa. De um lado, a
busca pela homogeneização da práxis social e, do outro, as possibilidades de resistência dos
que buscam o diferente e a possibilidade de um processo de transformação.” (p. 181).

A cegueira em relação ao urbano consiste em não ver sua lógica e seu


movimento dialético e seu vazio e sua virtualidade estarem “preenchidos” principalmente pelo
urbanismo, atento apenas à funcionalidade das operações e dos objetos (Lefebvre, 1999, p.47).
(p. 182).

“O urbano proferido por Henri Lefebvre é uma virtualidade, algo em disputa e


incrito no real como possibilidade e que se desenha no horizonte como um projeto utópico,
tendencialmente, mas não exclusivamente da classe burguesa, que, apesar de deter os meios
de produção de mercadorias e de nossas vidas, o controle dos meios de comunicação e do
Estado não consegue a completa homogeneidade do processo abstrato”. (p. 182).

UM BREVE ENSAIO CRÍTICO ACERCA DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013 NO


BRASIL: A NECESSIDADE DE SE (RE) PENSAR A AÇÃO POLÍTICA TAMBÉM POR UM VIÉS
ESPACIAL

 Expressivos protestos populares, em pleno mês de Copa das


Confederações, dezenas e milhares de pessoas saíram às ruas das
principais capitais brasileiras para manifestar suas indignações diversas
contra aquelas opressões que lhes afligiam;
 Os protestos de Junho deram novo fôlego dialético, principalmente no
que toca as questões que envolvem a luta de classes no espaço urbano;
 Os trabalhadores urbanos dependem das metrópoles para sobreviver,
pois é nas zonas industriais, produtivas, ou nos centros comerciais,
reprodutivos, que eles vendem a sua força de trabalho para conseguir seus
salários ao final do mês;
 Resolução dos problemas urbanos, através da revolução.
 A importância da manifestação coletiva consistente, ex: protesto em são
Paulo pela MPL – mov. Passe livre, propagou para outras capitais do país;

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