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SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Unidade III
7 TENSÕES ENTRE DIREITOS E NORMAS: PERDAS E GANHOS

Certos temores que estavam associados ao relógio agora mudaram‑se para


o celular: o medo de perdê‑lo, de que seja roubado, de que caia no chão
e quebre. Como dizia o texto de Cortázar, mas, agora, aplicado ao celular:
“dão‑lhe de presente a marca e a certeza de que é uma marca melhor do
que as outras”, dão‑lhe de presente a tendência a comparar seu celular com
os demais, a necessidade de recarregá‑lo, a ansiedade de saber quando vão
aparecer novos modelos com funções inesperadas. O relógio e o celular
requerem uma despesa inicial, mas os celulares se diferenciam porque só
existem se continuamos investindo.

Você também recebe de presente a facilidade de iniciar conversas a partir


de lugares remotos, a necessidade de ficar dependente dos chamados, a
pressa de ligar o celular antes de sair do cinema quando mal acaba de
passar o fim do filme para saber o que há de novo: o celular é o outro
espetáculo, as ilusões da tela grande competem com os entretenimentos
da íntima. Você recebe de presente a pergunta “onde você está?” que
costuma principiar as conversas pelo celular, o controle que seus familiares
tentam ter (por isso, dizem, tantos celulares são dados de presente pelos
maridos a suas mulheres e pelos pais aos filhos). Você também recebe
de presente a possibilidade de que o chefe ligue às onze da noite e
mande fazer um trabalho urgente. Enquanto os pós‑modernos celebram
a mobilidade e o nomadismo, a desterritorialização e a facilidade com
que nos comunicamos, na verdade nem todos podem fugir à exigência de
estar sempre disponíveis, à vigilância daqueles que lhe recordam que você
pertence a uma empresa e a um lugar mesmo estando em outra cidade
ou outro país.

[...]

As ligações múltiplas e rápidas são um capital social, porém – como acontece


com o dinheiro – nem todos as obtêm de maneira igual. Outras formas de
acumulação não digital da riqueza distribuem a possibilidade de dar ordens
ou a obrigação de cumpri‑las. Não importa a hora mostrada pelo seu
celular ou computador, você pode ser convocado ou receber uma mensagem
para que faça algo imediatamente. Onde está o poder: em conectar‑se
velozmente e com muitos ou na possibilidade de desconectar‑se? Você não
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ganha de presente o celular. Você é o presente, você é que é ofertado para o


aniversário do celular (CANCLINI, 2013, p. 40-41).

Mais uma parada em nosso roteiro. E consultando nosso mapa corporal, aguçamos a sensibilidade,
provocamos nossa cognição, abrindo nossas vias de apreensão e; desse modo, vamos nos aproximando
da realidade, procurando o que há de rural, de agrário (ou não); procurando também pelas cidades, com
objetos e relações rurais e agrários, mais ou menos presentes.

Metaforicamente, aproximando‑nos, agora, com auxílio dos olhos, ouvidos, nariz, com a memória da
situação do início do trajeto, em que estávamos com os pés no chão. É um momento de identificação
de forças contrárias àquelas apresentadas até então, procuramos rebeldia ao olhar. O enfoque passa a
ser crítico diante das relações sociais consolidadas, sejam econômicas ou culturais – crítica que parte
dos impactos reais das políticas de Estado na vida cotidiana, daí o foco na apreensão dos decretos e
diretivas que se materializam na comum unidade de pessoas, na percepção.

Dessa maneira, estamos procurando tanto os problemas inerentes aos aspectos da vida rural,
quanto falhas estruturais do Estado, em suas ações. Problemas nas associações privadas e/ou
mistas, falhas manifestadas nas formas de concentração de poder privado também em âmbitos
públicos, como os segmentos do aparato estatal, cuja instrumentalização precisa ser procurada em
sua composição e razões.

Nas malhas normativas que descrevemos, é o momento do corpo indócil, expressão de subversões,
alinhado ou não aos movimentos sociais:

• Nos campos: corpos rebeldes que já perceberam que a “diminuição das desigualdades”
promovidas pelas relações estritamente de mercado não leva a melhorias reais, integrais, mas à
homogeneização, a qual leva à questão rural‑agrária (sem‑terra, desemprego, tendência na queda
dos preços dos alimentos, queda nos preços vai de encontro às necessidades dos agricultores,
inseridos no mercado de bens agrários, como afirma Mazoyer, 2010), pois pelo mercado suas
condições de manutenção de “negócios sustentáveis”, economicamente, decrescem, conforme os
preços das corporações podem baixar, sem que seus insumos baixem;

• Nas cidades: trabalhadores despossuídos dos meios de produção assalariam‑se; emerge, assim,
uma questão urbana, como a rural, derivada da desigualdade, porém com problemas de acesso à
riqueza específicos, ligados à reprodução das condições de existência, diante de obstáculos como
trabalho indisponível, transporte com investimentos e diversificação insuficiente, portanto, com
este ineficiente; além de alimentação, habitação, saúde, educação, todos de alto custo. Percalços
ao modo de como os vê Castells, Lefebvre, Kowarick.

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Saiba mais

A expressão “corpo indócil”, para nós, faz sentido porque diante das
determinações redutoras do humano, o corpo‑sujeito rebela‑se, não em
busca de liberdades puras, absolutas ou naturais, mas de acordo com as
utopias de humanidade. E não se trata das reduções necessárias, como
aquelas de ímpeto, impulsos e paixões ameaçadoras e destrutivas do
próprio humano, como já nos ensinava Thomas Hobbes, para quem nossas
liberdades ilimitadas não são condizentes com a vida coletiva, requerendo
freios, no caso, de um Estado forte. Sobre o assunto, leia:

SILVA, H. A. As paixões humanas em Thomas Hobbes: entre a ciência e


a moral, o medo e a esperança. São Paulo: Cultura Acadêmica/Editora da
Unesp, 2009.

As reflexões de Han (2015) são convergentes às nossas quanto à inflexão histórica do cálculo econômico
marcado pela escassez, que se caracteriza agora pela abundância, isto é, momento cujas principais
questões sociais dão‑se em meio a excessos, diferentemente das equações convencionais baseadas em
condições de escassez e de carência, sociedade viral para a neural. Sua “sociologia do cansaço” põe‑se
em alerta diante dos excessos paradoxais das cada vez mais largas escalas e padronizações do fordismo e
do pós‑fordismo. Excessos relativos que, segundo Milton Santos, nos atam (proprietários ricos e classes
médias não mudam nada) aos arranjos sociais ou sociotécnicos elementares do capitalismo.

Daí o modo de vida de males sem defesas, sem alertas de perigos, que tomam os circuitos produtivos,
os quais seguindo o caminho dos circuitos produtivos, em suas múltiplas dimensões (culturais, espaciais,
históricas, biológicas, psicológicas, econômicas), tomam tanto as áreas rurais e atividades agrárias (ou
de poliatividades, como quer Graziano da Silva) quanto urbanas (em cidades ou “suas redes”).

Hoje concordamos que o rural não deveria ser somente caracterizado pelo “agro” (é lugar de
poliatividades), tampouco por atividades estritamente tecnológicas (comumente urbanas, das cidades).
A ideia é, exatamente, fugir dos extremismos, por meio de registros mais fieis dos modos de vida reais,
não de figuras metodológicas que falarão pelo modelo aplicado, do qual são deduzidas.

Nessa empreitada, a antropologia rural ilumina as relações que queremos entender e apresentar e Mellati
(2007) propõe instrumental conceitual elementar associado aos processos básicos às aproximações do
pesquisador; ao nos aproximarmos da sociedade estudada, devemos:

• relatar ou produzir levantamentos;

• sistematizar ou mapear o funcionamento;

• interpretar minuciosamente crises, relações críticas, atendo‑nos à ideia de movimento e mudança.


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Entre a procura, até certo ponto fracassada, de fundamentos racionais das ciências nos moldes
clássicos, positivistas e o enfrentamento da complexidade, temos um compromisso com a didática ao
apresentar uma síntese de ambos. Assumimos que os modelos que se universalizam não nos trazem o
cerne da vida social, assim como o relativismo também não o poderá fazer. O desafio é encontrar o bom
termo das posições.

Bem, nossa hipótese é de que há perdas de sentido das práticas, em geral, e do trabalho, em particular,
com seu produto em território rural ou urbano.

Vejamos a entrevista concedida por David Harvey (2012b), estudioso da vida moderna nas cidades.

As cidades rebeldes

Um grande teórico das metrópoles contemporâneas contesta hipóteses conformistas e


vê nestes centros, colonizados pelo capital, laboratórios de outra sociedade.

Acaba de sair, por enquanto, em inglês, um livro indispensável para quem quer debater
crise do capitalismo, degradação social e ambiental das cidades e busca de alternativas.
Numa obra curta (206 páginas), intitulada Cidades Rebeldes, o geógrafo, urbanista e
antropólogo David Harvey sustenta pelo menos três ideias polêmicas e indispensáveis, num
tempo de crise financeira, ataque aos direitos sociais, risco de desastre ambiental e rebeliões
contra o sistema. Elas estão expostas em detalhes em entrevista que Harvey concedeu a
John Brissenden e Ed Lewis, do excelente site britânico New Left Project.

A primeira provocação do geógrafo – que é também um dos grandes estudiosos


contemporâneos de O Capital, de Karl Marx (veja a área especialmente dedicada ao tema,
em seu site) – diz respeito ao papel das grandes metrópoles. Harvey discorda de dois tipos
de pessimismo. Estes grandes centros para onde fluem as multidões de todo o mundo no
século XXI, diz ele, são bem mais que templos da desigualdade, da vida automatizada e
cinzenta, da devastação da natureza.

É a elas que afluem – e lá que se articulam – as multidões às quais o capital já não


oferece alternativas. Esta gente estabelece novas formas de sociabilidade, identidade
e valores. É nas metrópoles que aparecem a coesão reivindicante das periferias; novos
movimentos, como occupy; as fábricas recuperadas por trabalhadores em países como
a Argentina; as famílias que fogem ao padrão nuclear‑heterossexual‑monogâmico.
Nestas cidades, portanto, concentram‑se tanto as energias do capital quanto às melhores
possibilidades de superá‑lo. Elas não são túmulos, mas arenas. Aí se dá o choque principal
entre dois projetos para a humanidade.

A segunda hipótese de Harvey diz respeito à própria (re)construção de um projeto


pós‑capitalista. O autor de Cidades Rebeldes está empenhado em identificar e compreender
formas de organização social distintas das previstas por um marxismo mais tradicional.
Ele reconhece: ao menos no Ocidente, enxergar na classe operária fabril o grande sujeito
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da transformação social equivale quase a um delírio. É preciso buscar sentidos rebeldes


nas lutas por direitos sociais empreendidas por um leque muito mais amplo de grupos e
movimentos. Não cabe nostalgia em relação às batalhas dos séculos passados: é hora de
tecer redes entres os que buscam de muitas maneiras, nas cidades, construir formas de vida
além dos limites do capital.

Mas esta abertura ao novo não significa, diz Harvey (e aqui está sua terceira provocação
fundamental), aderir a modismos. O autor saúda o surgimento de uma cultura da
horizontalidade e da desierarquização, nas lutas sociais. Mas sugere: para enfrentar um
sistema altamente articulado, será preciso construir, também, visões de mundo e projetos
de transformação que não podem ser formulados no chão de uma assembleia local de
indignados. Harvey teme que o horizontalismo – grosso modo, a noção de que tudo deve vir
das bases e ser debatido em assembleias – acabe se transformando num fetiche. Seria, ele
adverte, refazer pelo avesso a obsessão dos antigos Partidos Comunistas pela autoridade e
centralização. A entrevista completa vem a seguir.

John: Você diria que há um argumento central em As Cidades Rebeldes: do direito à


cidade à Revolução Urbana, ou o livro reúne diversos temas?

David Harvey: Um pouco dos dois. Se há um argumento central, ele está nos capítulos 2
(“As raízes urbanas das crises capitalistas”) e 5 (“Reivindicando a cidade para a luta
anticapitalista”). O capítulo 2 é essencialmente sobre as relações entre capital e urbanização;
o 5, sobre a oposição entre o capital e a urbanização. O conflito de classes está basicamente
nos capítulos 2 e 5.

John: Você fala sobre as rendas do monopólio e as contradições intrínsecas a esse


processo. Poderia explicar essas contradições e o significado delas para sua análise?

David Harvey: Argumenta‑se que capitalismo tem a ver com competição, algo
muito repetido e valorizado. Mas basta falar com um capitalista para descobrir que ele
prefere o monopólio, se houver essa possibilidade. O que existe na verdade, por parte do
capital, é uma incessante tentativa de evitar situações competitivas por meio de algum
truque monopolista.

Por exemplo, o fato de dar nome e marcas produtos é uma tentativa de colocar neles um
selo do monopólio. É por isso temos o swoosh do Nike [a seta estilizada que caracteriza a
marca], ou ícones parecidos, que tornam certos produtos diferentes de qualquer outra coisa.
Esta tendência ao monopólio é permanente. Ao escrever A Arte da Renda, eu quis chamar
atenção sobre como os capitalistas gostam de chamar algo de original, autêntico, único.
Eles adoram o “marketing da arte”. Há, portanto, um fluxo enorme de capital em direção a
qualquer coisa que se possa facilmente monopolizar.

John: Mas uma vez que esse processo começa…

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David Harvey: Bem, num certo momento, aquilo que não era uma mercadoria de marca
transforma‑se em algo menos exclusivo, uma commodity. Esta tensão sempre existe. Veja,
por exemplo, a modernização dos portos urbanos. O primeiro processo foi muito bom,
todos diziam “que interessante”. Agora, quando você vai a muitas cidades do mundo e lhe
perguntam: “Viu o porto?”, você responde: “Vi um, vi todos”. E Barcelona não parece mais
tão única quanto antes, porque seu porto (modernizado) se parece com qualquer outro.
Rotterdam, Cardiff e, claro, Londres têm um. Não é mais uma coisa única, se tornou apenas
um tipo de taxa urbana comum.

John: Você argumenta: “um espaço se abre, nessa tensão…”

David Harvey: Sim, acho, por exemplo, que a qualidade de vida em uma cidade
frequentemente é algo definido por seus habitantes, sua forma de vida, seu modo de ser.
Para que isso se torne único, o capital depende da inventividade de uma população para
fazer algo, para fazer algo diferente. O capital tende a ser homogenizante. As pessoas
frequentemente fazem o diferencial, produzem atrações únicas, existe um tipo de relação
aí. Isso significa que os movimentos populares podem ter espaço para florescer, para tentar
definir alguma coisa que é radicalmente diferente.

John: Você pode apontar exemplos de onde isso está acontecendo?

David Harvey: Sim. Em Hamburgo, existe uma área, o bairro St. Pauli, que era cheio
de squats (ocupações de prédios abandonados, em geral, feitas por jovens e imigrantes).
Eles criaram um ambiente único, muito diverso. Múltiplas etnias, classes, uma vida urbana
muito intensa. O setor imobiliário, muito presente em Hamburgo, havia transformado a
cidade em algo muito homogêneo. De repente, perceberam que existe esse bairro incrível,
e agora estão tentando apropriar‑se dele, comprando casas e alugando‑as por um preço
diferenciado, porque “não é interessante viver nesse bairro vibrante?”. Esse tipo de coisa
você vê nas cidades a toda hora: as pessoas criam um bairro único, ele se torna burguês
e entediante.

John: Sabemos que, no interior do capitalismo urbanista, há forças de compensação


muito poderosas. Como podemos reverter sua lógica?

David Harvey: Um exemplo: o movimento Occupy desencadeou, em Nova York, uma


resposta policial muito feroz e realmente exagerada. Basta você tentar participar de
uma marcha, ou manifestação semelhante, para que haja 5 mil policiais em seu redor – e
são bem agressivos.

Tentei entender por quê. Quando os Giants venceram o Superbowl (campeonato nacional
de futebol americano), as pessoas tomaram as ruas, interromperam a atividade normal de
maneira ainda mais clara e a polícia não fez nada. “Ah, eles estão apenas comemorando”.
Mas o Occupy cria, por seu significado político, uma resposta violenta. E se você pergunta
por que, sinto que Wall Street enerva‑se muito com a possibilidade de esse movimento virar
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moda. Se isso ocorrer, haverá uma clara demanda para responsabilizar pessoas por muito
do que aconteceu à economia. E o pessoal de Wall Street sabe o que fez, sabe que tem
responsabilidade e que pode acabar preso. Penso que dizem ao prefeito e a todas as demais
autoridades: “acabe com esse movimento antes que vá longe demais”. Isole‑o, faça com que
pareça muito violento. Então você acaba com esse tipo de resposta política.

John: Que outras qualidades do movimento Occupy lhe parecem significativas?

David Harvey: Eu estive fora ano passado inteiro, realmente não acompanhei o Occupy
em seu período mais ativo nos Estados Unidos. Mas algo que fizeram foi chamar muita
atenção para a questão da desigualdade social, para os bônus enormes pagos aos altos
executivos. Estes conceitos estão se espalhando. Antes do Occupy, nada disso era discutido.
Agora o Partido Democrata nos Estados Unidos, e até Obama, estão dispostos a tratar a
desigualdade social como um problema. Os acionistas das grandes empresas estão começando
a votar contra os grandes pacotes de bônus. Acho que tudo isso foi consequência da agenda
criada pelo movimento. Mas, como sempre acontece, os poderes políticos cooptam parte do
discurso contra o sistema e tentam diluí‑lo. Vivemos agora uma fase de certa cooptação, em
que os acionistas estão assumindo parte da retórica e Obama, outra parte.

Ed: Sobre isso, estamos interessados em suas discussões sobre estratégia. Como ponto de
partida, é claro que a concepção tradicional que a esquerda tinha, da classe operária industrial
como sujeito revolucionário e agente de mudança, não se encaixa mais no Ocidente. Você
pode contar como reconcebeu o sujeito revolucionário, quem pode constituí‑lo hoje e como
está relacionado às cidades e à identidade urbana?

David Harvey: Para tratar deste tema, faço uma pergunta: quem está produzindo e
reproduzindo a vida urbana? Se você olhar para o tipo de produção que prevalece hoje,
definirá o proletariado de maneira totalmente distinta da que se contentava em associá‑lo
ao trabalhador fabril.

Este é o passo necessário. A partir daí, é possível pensar em quais formas de organização
são possíveis hoje, entre as novas populações urbanas. Elas são mais difíceis de organizar,
precisamente porque não estão em fábricas. Por exemplo, a imensa quantidade de
trabalhadores que atuam no transporte de produtos e pessoas, de caminhoneiros a taxistas,
como organizá‑los?

Há algumas experiências interessantes a respeito, em Nova York e Los Angeles.


Politicamente, não é possível falar num sindicato nos termos tradicionais, é preciso criar
organizações diferentes.

Ou tomemos o caso dos empregados domésticos. É extremamente difícil organizá‑los,


particularmente quando são, como em muitos países do Norte, ilegais. Porém, são uma força
de trabalho bastante significativa, em muitas cidades. Parte do que estou dizendo é que todas
estas formas de trabalho desenvolvem‑se nas cidades e são vitais para a reprodução da vida
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urbana. Por isso, deveríamos nos preocupar em organizar politicamente estes trabalhadores,
para influir na qualidade e natureza da vida nas cidades. Em alguns casos, a organização
é muito difícil; em outros, pode ser muito vigorosa, mas assume frequentemente formas
muito distintas das tradicionais.

Ed: Você acha que a esquerda está mergulhada neste tema, em compreender os desafios
e oportunidades com que nos deparamos?

David Harvey: Penso que, historicamente, a esquerda sempre estabeleceu algum tipo de
separação entre o que você poderia chamar de organizações de trabalhadores, ou baseadas
em classes, e movimentos sociais. Uma de minhas batalhas nos últimos 30 ou 40 anos tem
sido dizer que é preciso enxergar estes movimentos como movimentos de classe. Penso que
houve uma relutância a aceitar isso, em muitos setores da esquerda.

Veja que esta relutância diminuiu, inclusive em razão da rapidez com que o trabalho fabril
desapareceu. Quando cheguei em Baltimore, em 1969, havia algo como 35 mil operários na
fábrica de aço. Quinze anos depois, eram 10 mil e na virada do século, apenas 2 mil. Se você
quisesse organizar algo politicamente em 1970, você abria um diálogo com o sindicato dos
metalúrgicos, porque eles tinham musculatura. Hoje, são irrelevantes. Mas, se o sindicato já
não conta, como organizar os trabalhadores? Diante desta questão, penso que a esquerda
passou a compreender e valorizar melhor os movimentos sociais.

Ed: Em relação às dificuldades na organização dos grupos de que estamos falando, você
investigou uma grande variedade de movimentos, em momentos diferentes. Existem lições
particulares que devam ser generalizadas?

David Harvey: A maioria dos grupos desse tipo aparece como de organizações por
direitos sociais. Sob esse guarda‑chuva, eles podem criar formas organizativas menos
restritas que as dos sindicatos convencionais. Agora, uma das coisas que vi em Baltimore foi
que um movimento de sindicatos convencionais pode ser hostil a essas novas organizações.
O movimento sindical convencional dividia‑se: algumas vezes eles apoiavam; mas era mais
comum considerarem essas formas de organização como uma ameaça a si próprio.

Penso que hoje, o movimento sindical convencional está preparado para enxergar essas
organizações como cruciais para apoiar suas lutas. Começa a surgir um tipo de coalizão. Na
marcha do Primeiro de Maio realizada em Nova York, há pouco, pessoas tradicionalmente
ligadas ao movimento sindical juntaram‑se aos movimentos sociais.

Sou muito a favor de uma forma diferente de organização sindical, de preferência local,
e não por setor. Acredito que os sindicatos convencionais devem prestar mais atenção
aos conselhos de comércio locais e aos conselhos municipais. Os sindicatos tendem a
se preocupar apenas com o bem‑estar de seus membros, e uma organização geográfica
precisa pensar no proletariado em geral, na cidade. Desse ponto de vista, uma forma de
organização diferente pode abranger uma cidade inteira, e unir pessoas envolvidas em
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sindicatos diferentes, com todas as suas diferenças, em um tipo de sindicato da cidade,


ou uma organização política da cidade.

Ed: No capítulo 5 do novo livro, você relaciona algumas de suas hipóteses sobre organização
urbana às dificuldades enfrentadas pelas formas tradicionais de organização da esquerda.
Não apenas no que diz respeito a diferente composição do proletariado, mas também nas
relações com organizações autônomas, como cooperativas; ou na dificuldade para atuar na
esfera estatal. Você parece sugerir que as cidades são locais de organização especialmente
poderosos e, se fosse possível organizar uma cidade inteira, então possivelmente estaríamos
muito empoderados. Por que você acha que as cidades são tão importantes? As cidades
radicalmente isoladas não sofreriam da mesma vulnerabilidade das cooperativas?

David Harvey: Gosto de pensar nas cidades porque são uma escala maior que uma simples
fábrica. Se você observar as fábricas recuperadas na Argentina, tomadas pelos trabalhadores
em 2001 – 2002, verá que uma das dificuldades que surgiriam desse movimento e das
associações de trabalhadores envolvidas é que, em certo ponto, como estão imersas num
sistema capitalista, veem‑se envolvidas na competição e, em consequência, em práticas de
auto exploração.

Marx tem uma série de passagens interessantes, onde se diz que o primeiro passo em
direção a uma transformação revolucionária é a tomada dos meios de produção pelos
trabalhadores; mas se ficarmos apenas nesse nível, não será suficiente. Se você começar a
pensar em organizar uma cidade inteira (e isso está começando a acontecer um pouco na
Argentina), as fábricas precisarão de matérias primas – se você está produzindo camisas,
precisa de tecido. Mas de onde vem o pano? Bem, você começa a criar uma rede; monta
uma rede de cooperativas produzindo coisas diferentes, interligadas.

Você pode imaginar que podem surgir, em uma área metropolitana, economias
interligadas dessa forma, o que nos levaria além das possibilidades de tomar apenas uma
fábrica específica. Outro fato interessante sobre as fábricas na Argentina é que quando
foram tomadas, não permaneceram simplesmente como fábricas. Tornaram‑se centros
comunitários, integraram realmente os bairros próximos, tinham programas educacionais e
culturais. Quando os donos voltaram, uns cinco anos depois, e disseram: “queremos nossa
fábrica de volta ou levaremos as máquinas”, a população saiu de suas casas para impedi‑los.
Assim, é muito mais fácil de defender as fábricas tomadas.

Claro que se você tentar criar uma cidade totalmente comunista no meio do capitalismo,
provavelmente irá sofrer uma repressão real e violenta. Estará numa situação como a da
Síria, em uma cidade como Homs onde há um movimento de oposição muito forte. De
certa forma, é uma cidade rebelde, cercada pelo exército e esmagada, com pessoas mortas
e outras submetidas.

Penso que há perigo real em ir muito longe e muito rápido. Quão longe uma cidade pode
ir, em relação a sua organização? Há exemplos disso: Porto Alegre construiu sua forma de
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orçamento participativo, e agora há orçamento participativo em muitas cidades do mundo.


Não é uma medida revolucionária, apenas uma medida transformadora que aprofunda a
democracia urbana.

Esse movimento tornou‑se significativo. Algumas inovações ocorrem no campo


ambiental. Outra cidade brasileira muito interessante é Curitiba, que trabalhou
questões ambientais e tornou‑se conhecida por organizar seu sistema de transporte
coletivo de uma forma ecológica e sofisticada. As inovações que vieram de lá também estão
sendo implantadas em outras cidades. Você pode imaginar uma situação como essa nos
termos do que chamo de “teoria dos cupins” [Harvey refere‑se aos casos em que é possível
corroer por dentro uma estrutura capitalista, sem alarde, até que ela entre em colapso], para
transformação social. Esta cidade agora tem uma estrutura institucional diferente, e você
começa a ver tais mudanças como algo que se espalha pela rede urbana.

Ed: No entanto, você também é crítico da teoria dos cupins…

David Harvey: É preciso sempre ter cuidado. Quando sou crítico, não estou desprezando.
Sustento que algumas estratégias são boas, que as pessoas poderiam adotá‑las, mas por
outro lado temos que considerar as limitações da realidade. Em que momento você passa
de uma “estratégia dos cupins” para outra? Uma das coisas em que realmente me empenhei,
no capítulo 5, foi tentar mostrar que há uma variedade de estratégias, para uma variedade
de situações e propósitos. Não devemos, portanto, nos restringir dizendo: “esta é a única
estratégia que vai funcionar”. Podemos adotar diversas, todas as que forem possíveis. Em
alguns casos, não há outra opção além de se envolver em estratégia de cupins; e é possível,
ainda assim, fazer um bom trabalho.

John: Você fala no livro sobre a cidade chinesa de Chongqing, onde Bo Xilai, líder
do Partido Comunista, liderou processos muito interessantes, até ser afastado. Seria um
exemplo dos riscos de ir “longe demais, rápido demais”?

David Harvey: Bem, eu não sou especialista em China, e me pergunto se ele era tão
brutal e tão corrupta como está sendo pintada; ou se o retratam dessa maneira porque
não gostam do modelo que estava desenvolvendo. Era maoísta na retórica; estava muito
preocupado com a redistribuição da riqueza. Estava muito claro que sua tentativa de se
tornar poderoso no Comitê Central baseava‑se no desenvolvimento deste modelo urbano
particular, radicalmente distinto do que se vê em Xangai, Shenzhen e lugares assim. Nesse
aspecto, eu o achava muito interessante.

Agora, tanto quanto sei, o Comitê Central tem adotado, como políticas nacionais, algumas
das práticas que Bo lançou em Chongqing. Isso é típico: como sabemos, há na China uma
necessidade de incentivar o mercado interno e alguma preocupação sobre redistribuição da
riqueza. Eles observaram um processo local bem‑sucedido e talvez tenham decidido enfrentar
estes problemas por meio de aumento salários ou construção de habitações, como Bo estava
fazendo. Pode ser o modelo chinês de urbanização, que tem sido, na minha opinião, bastante
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desastroso – ambiental e mesmo economicamente – mude nos próximos anos, nas mesmas
linhas que o dirigente afastado estabeleceu. Mas ressalto que são apenas especulações.

Ed: Quero voltar para o que você afirmou sobre abraçar uma pluralidade de estratégias, e
uma diversidade de formas organizacionais. Você tem participado de um debate permanente,
e às vezes ácido, opondo “horizontalistas” a “centralistas”, ou “verticalistas”. Pode falar mais
sobre isso, e como se relaciona a sua análise sobre capitalismo e cidade?

David Harvey: Acho que há hoje um grande apego pela horizontalidade. Tento dizer a
meus alunos que gosto de passar grande parte da minha vida no horizontal, mas também
gosto de ficar de pé de vez em quando e andar por aí! Porque acho que esta oposição não
é útil. Sou a favor de ser tão horizontal quanto você puder. Mas há o que chamo no livro de
uma espécie de fetichismo da forma de organização — o que foi terrível nas concepções
de centralismo democrático dos partidos leninistas e comunistas.

Repito: a questão é para mim, identificar que tipo de organização será capaz de enfrentar
e resolver cada tipo de problema. Acho que a horizontalidade pode ajudar a resolver alguns
problemas, em certas escalas, mas não funciona em outras situações. Vivemos num mundo
onde há sistemas muito estruturados, de maneira que você também precisa de estruturas de
comando e controle para lidar com eles. Por exemplo, uma estação de energia nuclear é um
sistema fortemente estruturado. Quando algo dá errado, você precisa reagir imediatamente,
caso contrário tudo acontece muito rápido e explode. A universidade não é um sistema
fortemente hierarquizado. Se algo der errado nela; se alguém não aparecer para uma
palestra, por exemplo, isso importa pouco: a instituição sobrevive perfeitamente bem. Mas
em sistemas fortemente hierarquizados, você precisa tomar decisões com rapidez.

Por isso, pergunto aos horizontalistas radicais: você quer organizar o controle de tráfego
aéreo por meio de princípios horizontalistas? Quer ter assembleias o tempo todo, na torre
de controle de tráfego aéreo? Será que funciona? Como você se sentiria se estivesse no
meio de um voo cruzando o Atlântico, e de repente dissessem: “bem, os controladores de
tráfego aéreo estão em assembleia, e eles vão nos informar amanhã o que decidiram”? Há
muitas atividades que precisam, como essa, de formas bem diferentes de organização. Acho
ótimos que as pessoas estejam debatendo horizontalidade, mas é ruim que digam algo
como: “ou é horizontal, ou não é nada”.

Ed: Estas ideias vêm de um semianarquismo, de uma profunda suspeita diante de


qualquer forma de autoridade. Você está dizendo, basicamente, que ser um radical, um
anticapitalista, ainda é necessário reconhecer que às vezes a autoridade tem o seu papel?

David Harvey: Sim, claro, acho que a autoridade tem seu papel. O problema importantíssimo
que se coloca é: como você controla uma autoridade? Quais são os mecanismos de revisão
de mandatos e de controle? Porque uma estrutura hierárquica pode, de fato, tornar‑se
autoritária. Mas há uma grande diferença entre autoritarismo e autoridade. Eu acho que em
certas situações, você precisa de alguém para exercer autoridade.
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Unidade III

O exemplo ilustre de que muitas pessoas lembrariam são os zapatistas. Mas eles,
militarmente, não são horizontais. Sobrevivem até hoje precisamente porque, se você tentar
mexer com os militares, eles têm um comando muito bom e estruturas de controle com
os quais podem resistir. Se você não tiver isso, será muito vulnerável. Uma das críticas
que sempre foram feitas à Comuna de Paris é que, devido a uma espécie de anarquismo
filosófico, não havia nenhuma autoridade central para defender a cidade inteira.

As pessoas defendiam seu distrito, mas não toda a cidade. Por isso as forças da reação puderam
atacar: não havia nenhuma estrutura de comando e controle para resistir militarmente à invasão.

John: Você fala, no novo livro, sobre Murray Bookchin, e sua abordagem sobre uma saída
para este problema de escala.

David Harvey: Sou um geógrafo, e o pensamento anticapitalista na Geografia sempre foi


predominantemente anarquista. Os anarquistas têm uma longa tradição de estarem muito
mais interessados em questões ambientais e urbanas que os marxistas. Eles exerceram, ao
longo do tempo, muita influência sobre as práticas de planejamento. Figuras como Lewis
Mumford, que vêm dessa tradição, exerceram muita influência – inclusive sobre mim,
obviamente. E Bookchin é seu herdeiro. Estou interessado em seus ensaios sobre municipalismo
libertário: fala sobre formas horizontais de organização descentralizada, mas, em seguida,
fala também sobre a confederação das assembleias regionais. Foca sobre as necessidades
das bio‑religiões, em vez de se limitar a comunidades particulares.

Ou seja, ele está disposto a pensar em uma estrutura hierárquica de algum tipo, tenta
falar sobre como os poderes foram atribuídos e como devem ser. Recorre a um pequeno
truque teórico de Saint‑Simon: diz que pode haver gerenciamento das coisas, não de
pessoas. Que se deve gerir, por exemplo, o abastecimento de água ou o saneamento de uma
região – mas não o que as pessoas fazem. É muito diferente da política real, mas a ideia, – e
o pensamento de Bookchin em geral – me parece muito interessante.

Participei, há duas semanas, de uma reunião em Nova York, com David Graeber. Murray
Bookchin compareceu ao debate. Sua filha estava na plateia, e nós conversamos sobre reunir,
num pequeno livro, uma seleção de escritos de Murray sobre o tema. Acho que é um momento
muito bom para reintroduzir a tradição anarquista, que pode contribuir para o debate sobre
algumas questões mais amplas. Por exemplo, como você realiza tantas assembleias municipais
e não coloca em questão o fato de algumas pessoas, com muitos recursos, converterem‑se em
ultraricos – enquanto muitos, sem recursos, reduzem‑se a ultrapobres?

Ed: Sua visão parece que, no fim das contas, será necessário um Estado. Parece que você
acha que Bookchin talvez aceite isso, mas não pode admitir.

David Harvey: Sim. Você sabe: o que se parece com um Estado, é visto como um
Estado, e se expressa como um Estado é um Estado! Há algo que se pode chamar de Estado
capitalista, que poderíamos querer esmagar. Mas há, também, uma forma de organização
168
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

que diz respeito às relações entre diferentes assembleias e grupos. E no plano mundial, você
também tem que pensar sobre certas questões como o aquecimento global. Precisam ser
abordadas e compreendidas em plano global. Significa que certas ideias sobre o que fazer
têm de ser resultado de uma preocupação mundial.

John: Isso nos leva de volta a um ponto que abordamos antes, sobre as organizações
com base geográfica. Existe uma oposição entre o urbano e o não urbano?

David Harvey: Muitas pessoas me fazem essa pergunta. Elas dizem “a cidade não existe
realmente hoje. Você está falando sobre o direito a algo que não existe mais?” Ou: “você
está falando sobre a cidade, por que não sobre o campo. Por que você não fala sobre as áreas
rurais?”. Minha resposta é que, de fato, nos últimos cinquenta anos, nós nos tornamos um mundo
totalmente urbano, e o que pode ter sido verdade há algum tempo – a existência de uma vida
urbana e uma vida camponesa autossustentável, independente – desapareceu em grande parte.
O que você vê é um contínuo entre o campo e a cidade. Na América Latina, por exemplo, se você
está na área rural, as pessoas assistem aos mesmos canais na televisão, dirigem os mesmos
carros. Isso é o que chamo de desenvolvimento geográfico desigual no interior do processo
de urbanização.

E desse ponto de vista, você diz que as diferenças no interior das cidades são tão
significativas quanto as diferenças entre a cidade e subúrbio, e o subúrbio e as zonas não
urbanas. Há tantas diferenciações no interior do próprio processo de urbanização, que a
diferença entre áreas ricas e favela é dramática – na realidade, mais dramática que a que
existe entre o que acontece na cidade e fora dela.

Há formas de organização que refletem isso. O movimento dos trabalhadores sem‑terra


no Brasil tem conexões urbanas muito amplas e as leva muito em conta. Ele não se vê fora
do mundo autônomo, mas como parte de um processo geral de urbanização. É como quero
ver este processo. Há, em alguns lugares, tentativas de organizar uma cadeia de produção
de alimentos para as cidades, que começa nos campos e passa por várias etapas. Vendendo
a produção diretamente aos supermercados, por exemplo – o que me parece uma ideia
muito interessante. Em El Alto (subúrbio popular de La Paz, Bolívia), um dos meus exemplos
preferidos, a conectividade entre as pessoas que vivem na cidade e as que estão fora dela é
muito, muito forte. Foi ampliada, nos últimos dez ou quinze anos, por causa do agronegócio
e a forma com que o campo tem se transformado em uma paisagem capitalista.

Ed: Então um urbanismo revolucionário é uma forma universal de revolução política?

David Harvey: Eu diria que sim. A única razão pela qual me atenho a palavra “cidade”
é que ela tem um significado icônico e é foco de sonhos e utopias. Ao mencioná‑la, você
está invocando o imaginário de uma cidade linda, uma cidade na colina etc. Continuo com
o termo “cidade”, mas entendo perfeitamente que, em um sentido estrito, diferenciado de
todo o resto, ela essencialmente desapareceu.
Fonte: Harvey (2012b).

169
Unidade III

Dentre os problemas e as saídas anunciadas por Harvey para o estado de coisas de saber extrínseco
e abstrato, estão aquelas que pleiteiam novas formas (e novas leituras de antigas formas) de relações e
usos ambientais.

7.1 Diferenças, contrariedades ao modelo único de inserção no movimento global

A essa altura saltam aos olhos (narizes, ouvidos) as formas diferenciadas e as maneiras em que
cada um toma para si o entorno imediato até os pontos mais distantes das cadeias de acontecimentos!
E nos indagamos sobre essa fenomenologia, ou seja, o modo como os fenômenos são conhecidos pelo
corpo‑sujeito.

Algo dessas questões desafiadoras estão presentes no trecho sobre a poesia nos usos que Marcovaldo
faz da capital, interiorano de vida rural, então em Roma. Italo Calvino (1994) em Marcovaldo ou As
estações na cidade mostra a fruição e os usos que a personagem Marcovaldo faz da cidade em geral,
e da praça, em particular, que é sempre possível ver além do texto imposto, da ordem imposta como
norma. Ele vê coisas em todos os lugares por onde passa, coisas que ninguém vê! É um belo exercício de
percepção e lirismo. Segue trecho do posfácio sobre o curioso personagem em sua busca incessante
de migrante no lugar atual (uma grande cidade) por elementos que ficaram para trás (as coisas do campo).

As estações da cidade [posfácio]

[…]

O livro Marcovaldo ou as estações na cidade se compõe de vinte contos. Cada conto


é dedicado a uma estação; o ciclo das quatro estações se repete, portanto, cinco vezes no
livro. Todos os contos têm o mesmo protagonista, Marcovaldo, e seguem mais ou menos o
mesmo esquema.

O volume foi publicado pela primeira vez em 1963, em Turim, pela editora Einaudi, com
ilustrações de Sergio Tofano. O texto de apresentação (escrito provavelmente pelo autor) dizia:
“Dentro da cidade de concreto e asfalto, Marcovaldo vai em busca da Natureza. Mas ainda
existe a Natureza? A que encontra é uma Natureza ardilosa, falsificada, comprometida com
a vida artificial. Personagem engraçada e melancólica, Marcovaldo é o protagonista de uma
série de fábulas modernas” que – dizia mais adiante a mesma apresentação – “se mantêm fiéis
a uma estrutura narrativa clássica: a das histórias em quadrinhos das revistas infantis”.

O perfil do protagonista é apenas esboçado: é uma alma simples, um pai de família


numerosa, trabalha como ajudante de pedreiro ou carregador numa firma, é a derradeira
encarnação de uma série de cândidos heróis joão‑ninguém, ao estilo de Charlie Chaplin.
Com uma particularidade: a de ser um “Homem da Natureza”, um “Bom Selvagem” exilado
na cidade industrial. De onde ele veio, de que lugar sente saudade, isso não é dito; poderiam
defini‑lo como um “imigrado”, embora essa palavra nunca apareça no texto; mas a definição
talvez seja imprópria, porque todos nesses contos parecem “imigrados” num mundo estranho
do qual não se pode fugir.
170
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

A melhor apresentação da personagem está no primeiro conto: “Esse Marcovaldo


tinha um olho pouco adequado para a vida da cidade: avisos, semáforos, vitrines, letreiros
luminosos, cartazes, por mais estudados que fossem para atrair a atenção, jamais detinham
seu olhar, que parecia perder‑se nas areias do deserto. Já uma folha amarelando num ramo,
uma pena que se deixasse prender numa telha não lhe escapavam nunca: não havia mosca
no dorso de um cavalo, buraco de cupim numa mesa, casca de figo se desfazendo na calçada
que Marcovaldo não observasse e comentasse, descobrindo as mudanças da estação, seus
desejos mais íntimos e as misérias da existência”.

Essas palavras podem servir de apresentação tanto da personagem quanto da situação


comum a todos os contos, situação que poderia ser sintetizada da seguinte maneira: no
meio da grande cidade, Marcovaldo 1) procura o revelar‑se das estações nas alterações
atmosféricas e nos mínimos sinais de vida animal e vegetal, 2) sonha a volta a um estado de
natureza, 3) enfrenta uma decepção inevitável.

Os contos às vezes seguem esse esquema na forma mais simples, justamente como
histórias em quadrinhos (assim os mais breves: “Cogumelos na cidade”, “O pombo municipal”,
“O tratamento com vespas” etc.), com a surpresa no quadrinho final (aliás, surpresa ruim,
porque esses contos se parecem com aquelas historinhas cômicas “sem palavras” que
inevitavelmente acabam mal), às vezes como pequenos contos amargos, quase realísticos
(como “A marmita”, “Ar puro”, “Uma viagem com as vacas”), e finalmente como contos
em que estado de alma e paisagem prevalecem (como a solidão do animal em “O coelho
venenoso” ou o desnorteamento na neblina em “O ponto errado”).

Talvez para salientar o caráter de fábula, as personagens dessas pequenas cenas de vida
contemporânea – sejam elas varredores, guardas‑noturnos, desempregados, carregadores –
possuem nomes pomposos, medievais, quase de heróis de poemas de cavalaria, começando
pelo protagonista. Apenas as crianças têm nomes normais, talvez porque apenas elas são
mostradas como são, e não como caricaturas.

A cidade não é nomeada nunca; por alguns aspectos poderia ser Milão, por outros (o
rio, os morros) pode‑se reconhecer Turim (a cidade onde o autor passou grande parte da
sua vida). Sem dúvida, essa indeterminação é procurada pelo autor para significar que não
se trata de uma cidade, mas da cidade, uma metrópole industrial qualquer, abstrata e típica
como abstratas e típicas são as histórias contadas.

Mais indeterminada ainda é a firma, a fábrica onde Marcovaldo trabalha: nunca


conseguimos saber o que é fabricado ali, o que é vendido sob a misteriosa sigla SBAV, o
que contêm as caixas que Marcovaldo carrega e descarrega oito horas por dia. É a firma, a
fábrica, símbolo de todas as firmas, todas as fábricas, as sociedades anônimas, os logotipos
que reinam sobre as pessoas e as coisas do nosso tempo.

Em contraste com a simplicidade quase infantil do enredo de cada conto, a postura


estilística se baseia na alternância de um tom poético‑rarefeito, quase precioso (a que a frase
171
Unidade III

tende, sobretudo quando alude a fatos da natureza), e do contraponto prosaico‑irônico


da vida urbana contemporânea, das misérias pequenas e grandes da vida. Diríamos,
aliás, que o espírito do livro está essencialmente nesse contraponto estilístico: ele está
presente até nos contos com enredo mais breve e elementar, concentrando‑se às vezes
na primeira frase, que tem a função de introduzir o tema da estação (“O vento, vindo
de longe para a cidade, oferece a ela dons insólitos, dos quais se dão conta somente
poucas almas sensíveis, como quem sofre de febre de feno e espirra por causa do pólen
de flores de outras terras”). Em outros contos, ao contrário, ainda que o enredo não seja
nada mais que a série habitual de quadrinhos, cada detalhe é pretexto para um trecho
de elaboração estilística requintada (por exemplo, em “Férias num banco de praça” a
comparação entre a cor da lua e a do semáforo amarelo). Chega‑se assim aos contos
em que o requinte da prosa corresponde a uma invenção narrativa quase igualmente
elaborada, como na multicolorida visão final de “A chuva e as folhas”, ou, resultado
ainda mais complexo, no início de “O jardim dos gatos obstinados”, em que vemos a
cidade das empreiteiras engolir a “cidade dos gatos”, que constituía também para os
homens o verdadeiro espaço vital.

Um fundo de melancolia tinge o livro do começo ao fim. Poderíamos dizer que,


para o autor, o esquema das historinhas cômicas é apenas o ponto de partida e que, ao
desenvolvê‑las, ele se entregou a uma sua veia lírica amarga e dolorida. Mas Marcovaldo,
apesar de todas as derrotas, nunca é um pessimista; está sempre pronto a redescobrir,
dentro do mundo que lhe é hostil, a fresta de um mundo feito à sua medida; ele nunca
se rende, está sempre pronto a recomeçar. Sem dúvida, o livro não convida a uma
postura de otimismo superficial: o homem contemporâneo perdeu a harmonia entre ele
e o ambiente onde vive, e superar essa desarmonia é uma tarefa árdua; as esperanças
fáceis demais, idílicas, sempre se revelam ilusórias. Mas a postura que domina é a da
obstinação, da não resignação.

Podemos agora definir melhor a posição deste livro frente ao mundo que nos cerca. É a
nostalgia, a saudade de um idílico mundo perdido? Uma leitura nessa chave, comum a tanta
literatura contemporânea que condena a desumanização da “civilização industrial” em nome
de um sentimento nostálgico do passado, certamente é a mais fácil. Mas, observando com
maior atenção, vemos que aqui a crítica à “civilização industrial” é acompanhada de uma
crítica igualmente decidida a todo sonho de “paraíso perdido”. O idílio “industrial” é alvejado
tanto quanto o idílio “campestre”; não apenas uma “volta atrás” na história é impossível, mas
também aquele “atrás” nunca existiu, é uma ilusão. O amor de Marcovaldo pela natureza é
aquele que pode nascer apenas num homem da cidade; por isso não podemos saber nada
da sua origem extraurbana; esse estranho à cidade é o cidadão por excelência.

[…]

Fonte: Calvino (1994, p. 137‑140).

172
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Saiba mais

Dentre os inúmeros trabalhos sobre cidades sustentáveis, destacamos


o texto de Cecília Polacow Herzog, escrito pelo espectro de países com
que trabalha.

HERZOG, C. P. Cidades para todos: (re)aprendendo a conviver com a


natureza. Rio de Janeiro: Mauad X: Inverde, 2013.

7.2 Campos e cidades rebeldes, movimentos sociais urbanos

Se, por um lado, temos os processos homogeneizantes, por outro, há um apelo ou deveria
haver, aos retratos etnográficos dos povos que, mesmo sendo misturados, até mesmo nivelados na
base, estão fora da briga pelo topo. Sempre há especificidades, sempre devem ser resgatadas de
nossas profundezas tribais, comunais, ancestrais dos fios culturais de cada sociedade.

Desse modo, surge a questão das possibilidades em meio à tanta vigilância e punição (Michel
Foucault), elaborando racionalidades alternativas (Jürgen Habermas), entendendo o campo de forças
envolvidas (Pierre Bourdieu) e as cifração do social (Milton Santos). Então, a questão é: como se
apropriar dos aspectos que ora são requeridos pelo mercado, pelos agentes de mercado com poder
classificatório e normativo?

Como privilegiar o republicanismo e a democracia nos âmbitos rurais e urbanos, diante da


instrumentalização dos símbolos e discursos com vistas à sujeição, que se apropria das tradições, das
posses e dos corpos, incorporando tudo ao universo das mercadorias? Por meio da educação diretiva,
age o pensamento único, do modo como vê Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Henri Lefebvre, David
Harvey e Milton Santos.

Saiba mais

Há um grande poder nas narrativas, nas versões disseminadas pelos


grupos controladores dos recursos de uma dada sociedade. Há verdadeiras
“segundas realidades” (discursos paralelos de grupos que nomeiam e
significam a realidade). Discursos que se tornam o verdadeiro mundo, o que
antes acontecia no tempo longo de gerações, agora basta poucos meses e
até dias, pelas redes sociais na Internet.

A seguir, um expressivo exemplo desse fenômeno de poder das histórias.

LE CLÉZIO, J. M. G. Raga. Rio de Janeiro: Record, 2011.

173
Unidade III

Outro exemplo trata‑se de uma ficção (histórico‑arqueológica) de Allan


Moore sobre milênios de um mesmo lugar no Reino Unido; mostrando
nuances, sutilezas, especulações e desencontros a partir de materiais
vestigiais e documentais, que falam pelo enredo e pelas personagens.
Recomendável pelo alcance da arte no tema.

MOORE, A. A voz do fogo. São Paulo: Conrad, 2012.

Os movimentos e organizações sociais, além das manifestações de vários segmentos das sociedades
em várias partes do mundo, são o melhor do exercício político, expressando a multiplicidade de projetos
de sociedade. Aqui, é o trabalho de cada um, junto com as faces culturais do humano, que vão expor
suas particularidades ou a essência do ser social, que podem amparar a construção da cidadania com
bases públicas. O foco é a visão política.

A cidadania formal é aquela prometida no terreno normativo, enquanto a cidadania real é aquela
constituída nos afazeres dos habitantes em seus próprios meios: os espaços rural e urbano. Os direitos e
normas, quando necessários, segundo Hannah Arendt (2006) dificilmente garantirão justiça.

Aqui, o núcleo dinamizador dos eventos é o político. Experiências, práticas e percepções novas são
requeridas, com novas organizações e grupos, eventuais e permanentes. O foco político descobre movimentos
por ocupação de espaços (Occupy) da parte de diferentes grupos (identificados, agregados por idades, renda,
representações, procura por lazeres, entre outros motivos). Os grupos perseguem ideias que nascem das
possibilidades culturais, antes de a utopia constituir seu lugar político que garantirá sua reprodução.

A segurança, a violência real e a percebida em meio a esse jogo de forças são resultantes de idílios e
distorções nas causas da segregação socioespacial, e tal percepção advém do foco na dimensão política
da sociedade.

As soluções impostas, ao longo de nossa história, têm sido quase sempre privadas (mesmo quando
provenientes do Estado, em suas várias esferas, da União, dos estados federados e dos municípios),
normalmente parciais e dualistas; enquanto as públicas devem ser portadoras de legitimidade. É o que
define o âmbito público, a própria ideia de república trata do que é de todos.

O direito à terra, no campo e na cidade, do modo como discutimos nesse trabalho, envolve leis, novas ou
reformadas, planos reguladores das relações sociais com base nas noções de público (riqueza da vida social) e
privado (relações sociais degradadas em benefício próprio), evidenciando as razões dos grupos políticos.

Emerge o trabalho coletivo que em tese seria como o Estado republicano com o ser social privado,
corporativo; assim, a configuração econômica do Estado‑territorial é o mercado nacional, isto é, agente
das relações internacionais.

Mais adiante, traremos uma reflexão de Milton Santos sobre a seletividade do desenvolvimento pela
difusão de inovações, desqualificando e precarizando o acesso aos recursos e ao próprio trabalho.
174
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Os agentes sociais buscam melhores condições para si, em meio à arena em que todos querem mais
espaço para manobrar, portanto, é assim que surgem os agentes que cobram dívidas públicas, como aquelas
garantidas constitucionalmente, tais quais: terra, habitação, segurança, educação, entre outros direitos.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no campo; ou sem-teto, na cidade, são
expressões desses projetos que não se satisfizeram com a partilha automática de riquezas; querem
participar ativamente. Vamos ilustrar o acesso seletivo à terra e o papel do Estado por meio de uma
música do grupo Skank.

Sem Terra

Tenente Gama estará na barra do Brooklin atento


Zé da Navalha na boca do rio Urutu
Quatro patrulhas vão cobrindo os quatrorizonte
Nego DJ Adílio leva o rádio

Aurili bon bonga


A cobra vai pular
Aurili bon bonga
Permiso, êêêêêê!

Eles pitimbam, negarfam, então hão de ter


Bate o bongô, drum machine, bate o xequerê
Batecumã nego véi de guerra
Colono branco e a lua estratagema

Aurilibilim bajé pajé pai chamou


No cabo do teletrônico mensageou

Na terra dos sem‑terra


A barra vai pesar
Quem ignora erra
Quem quer ignorar

Sofrer o baque todos eles já sofreram


No Paraná, no Pará, no Espírito Santo
Bate imigrante nego véi de guerra
Quebratabaque o atraso, o quebranto
Na terra dos sem‑terra
A barra já pesou
Quem ignora erra
Quem ignora errou

Fonte: Rosa; Amaral (1996).

175
Unidade III

As políticas governamentais, as práticas levadas adiante por empresas privadas e os trabalhos de


inúmeras organizações sociais são responsáveis pela direção e pela qualidade do desenvolvimento do
país (ABRAMOVAY, 2010). Esse autor reflete a relação desintegrada entre essas diversas instâncias com
suas atribuições, não formando um todo coerente, o que lhes retira justamente o alcance estratégico.
Para ele:

Desenvolvimento sustentável é o processo de ampliação permanente das


liberdades substantivas dos indivíduos em condições que estimulem a
manutenção e a regeneração dos serviços prestados pelos ecossistemas
às sociedades humanas. Ele é formado por uma infinidade de fatores
determinantes, mas cujo andamento depende, justamente, da presença de
um horizonte estratégico entre seus protagonistas decisivos (ABRAMOVAY,
2010, p. 97).

Para Abramovay, a sustentabilidade é de qualidade ética, estando em jogo “o conteúdo da própria


cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as sociedades optam por usar os
ecossistemas de que dependem” (ABRAMOVAY, 2010, p. 97).

Ainda segundo esse autor, embora tenham ocorrido melhorias sociais no Brasil, persistem graves
problemas no acesso à educação, moradia, justiça, segurança. Ele vê graves problemas nos padrões
dominantes de produção e de consumo que se apoiam na degradação ambiental muito mais vigorosa do
que o poder da legislação voltada à sua contenção. Haveria de promover inovação tecnológica “cada vez
mais orientada a colocar a ciência a serviço de sistemas produtivos altamente poupadores de materiais,
de energia, e capazes de contribuir para a regeneração da biodiversidade” (ABRAMOVAY, 2010, p. 98).
Indo direto ao ponto em sua análise da estrutura produtiva brasileira, o autor acrescenta que:

[…] os significativos progressos dos últimos anos são ameaçados pela ausência
do horizonte estratégico voltado ao desenvolvimento sustentável, tanto por
parte do governo como das direções empresariais: de um lado a redução no
desmatamento da Amazônia não é acompanhada por mudança no padrão
dominante de uso dos recursos. Assim, apesar da contenção da devastação
florestal, prevalece entre os agentes econômicos a ideia central de que a
produção de commodities (fundamentalmente carne, soja e madeira de
baixa qualidade), minérios e energia é a vocação decisiva da região. Além
disso, ao mesmo tempo em que se reduz o desmatamento na Amazônia,
amplia‑se de maneira alarmante a devastação do cerrado e da caatinga.
De outro lado, o segundo exemplo aqui apresentado mostra que o trunfo
representado pela matriz energética brasileira não tem sido aproveitado para
a construção de avanços industriais norteados pela preocupação explícita
em reduzir o uso de materiais e de energia nos processos produtivos.
A consequência e o risco é que o crescimento industrial brasileiro – ainda
que marcado por emissões relativamente baixas de gases de efeito estufa
– se distancie do padrão dominante da inovação contemporânea, cada vez
mais orientada pela descarbonização da economia (ABRAMOVAY, 2010, p. 98).
176
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Antes de mostrar processos agropecuários industriais com crescentes valores econômicos agregados
à produção, muito impactantes nas organizações dos grupos humanos, em seus estilos de vida e sistemas
ambientais, e nas alternativas mais sustentáveis; serão apresentadas, brevemente, formas de vida e
produção que têm melhores relações com os ambientes, usando‑as, mas mantendo‑as, como agriculturas
sustentáveis originais, com métodos vernaculares e que podem nos ensinar muito ainda hoje.

São formas de vida muito antigas, com aproximadamente 10.000 anos, (HAVILAND et al., 2011), que
praticavam atividades de coleta (extrativismo) e cultivo (agricultura, pecuária) similares àquelas que hoje
chamamos agroecologia: conjunto de conhecimentos e procedimentos inspirados nos baixos impactos
negativos dos velhos saberes e usos. A agroecologia soube aprender.

O território, que é nossa porta de entrada para essas questões, é moldado pelos usos dos grupos
sociais, suas ligações com a natureza, mais especificamente com aquilo que chamamos de ecossistemas
ou conjunto ambientais, e mais organismos, identificando‑os, classificando‑os, inventariando‑os,
aplicando conhecimento, e também pelo modo como esses grupos representam tais usos na cultura que
desenvolvem. Por usos, nos referimos a todo trabalho desenvolvido pelo ser humano sobre as coisas,
mudando‑as e também transformando a ele próprio.

Usar as coisas ao nosso redor é o que enraíza a história humana, portanto sigamos com uma
palavrinha sobre como nos relacionamos com o ambiente circundante baseados na necessidade
irrefletida de sobrevivência e no impulso de criar meios diferentes dos naturais que lhe antecedem.

Em busca dos sujeitos sociais, fazemos a mesma pergunta essencial que Maria José Carneiro (2000):
em que consiste o “familiar” da chamada “agricultura familiar”?

A autora lembra que Weber ensina que os modelos classificatórios, ou as tipologias, não se referem
à realidade empírica imediata; mas que nem por isso deixam de ser construídos em conformidade com
essa realidade, encontrando nas relações sociais a matéria‑prima para essas construções abstratas.
Ou seja, o modelo não pode jamais ser reduzido a um conjunto de relações sociais observáveis em uma
realidade dada. É necessário buscar, portanto, o significado dos fatos e das relações sociais (de trabalho,
por exemplo) no contexto em que se expressam e na sua relação com a totalidade que os envolve,
já que, em se tratando de sistemas, cada parte não pode ser entendida isoladamente da outra, daí a
importância do debate e de suas causas subjacentes.

O debate sobre a agricultura familiar no Brasil nos chama a atenção para, ao menos, dois problemas
que necessitam maiores investimentos dos estudiosos do assunto. Um deles diz respeito à dificuldade
em se articular o modelo construído como definidor da agricultura familiar e a realidade da qual se está
tratando. Aqui, encontramos duas alternativas: não é raro que se atribua a essa construção abstrata o
status de realidade ou, no caminho inverso, que se tome uma determinada realidade, normalmente aquela
que se está estudando, como modelo ou expressão do que se entende por agricultura familiar. Ambas as
abordagens acabam dificultando ainda mais a já complicada tarefa de se trabalhar comparativamente
e dar conta da heterogeneidade das formas através das quais a agricultura familiar se expressa no País
(CARNEIRO, 2000).

177
Unidade III

A autora adverte que a “abordagem e interpretação da realidade pressupõem, portanto, a escolha de


uma estruturação teórica que irá definir os princípios de articulação entre os componentes do sistema,
ou seja, a maneira como abordaremos um tal grupo, uma dada sociedade” (CARNEIRO, 2000, p. 153).

No que nos interessa particularmente nesta apresentação, caberia enfatizar que o significado das
atividades não agrícolas deverá ser buscado na posição que elas ocupam no conjunto das estratégias
familiares de reprodução social e, sobretudo, o contexto socioeconômico em que se mostre.

Nesse sentido, não podemos falar das atividades não agrícolas como um fenômeno único e
homogêneo, da mesma maneira como seria inadequado se referir ao pluriativo como uma nova
categoria social no meio rural (CARNEIRO, 2000).

Ela faz considerações teóricas e metodológicas sobre a pesquisa com os agentes e grupos em espaço
rural. Uma estruturação é tão verdadeira quanto outra, pois:

[…] tratam‑se de alternativas que irão orientar nosso olhar de maneira


a enfatizar, ou a menosprezar, determinados aspectos da realidade. As
classificações e as definições que lhes seguem são frutos, portanto de um
determinado olhar e, como tai, são expressão de determinados interesses
sobre o social já que informam, normalmente, práticas políticas ou propostas
de intervenção. Aceitar a relatividade ideológica de uma classificação
tipológica ou de um modelo (entendido aqui também como conceito) não
significa, porém, abolir o rigor teórico‑metodológico, mas, sim, atentar para
os limites do conhecimento sobre a realidade.

Esta chamada teórica é importante quando estamos tratando das mudanças


ou transformações em curso no meio rural e, especificamente das que
dizem respeito â atividade não agrícola e sua relação com a agricultura
familiar. Em relação a esse tema, a maior ou menor flexibilidade do modelo
de agricultura familiar está associada também à noção de pluriatividade.
Podemos perguntar, por exemplo, até que ponto o exercício da atividade
extra‑agrícola, por si só, seria suficiente para quantificar o fenômeno da
pluriatividade entendido como expressão da secundarização da atividade
se, historicamente, essa é uma prática recorrente em várias regiões do país?
(CARNEIRO, 2000, p. 153‑154).

Para pormenores sobre a análise “agricultura familiar”, vamos ao seguinte trecho de Carneiro:

Em que consiste o familiar da agricultura familiar?

[…] Como essa noção se refere de imediato a um setor da economia, a agricultura, é


comum que as análises se voltem para a dinâmica de produção, ou seja, que se detenham
nos fatores reconhecidos como da esfera do econômico e que interferem de maneira mais
visível na produção tais como: a mão de obra utilizada, área plantada, a relação com o
178
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

mercado e a ação da tecnologia sobre esse conjunto de fatores. É interessante observar que,
nessas análises, o adjetivo “familiar” só é acionado para caracterizar a equipe de trabalho.
O caráter familiar da chamada “agricultura familiar” se reduz, assim, ao “trabalho familiar”
em oposição ao que é entendido como “não familiar”, ou seja, o trabalho assalariado.

A discussão então passa para a quantificação máxima possível de trabalho assalariado,


dentro da unidade de produção agrícola, de maneira a não descaracterizá‑la como
“familiar”. Nestes termos, uma questão qualitativa, de caráter conceptual, passa a ser
tratada como a uma questão quantitativa. Aqui caberiam várias perguntas que uma
abordagem meramente quantitativa não apresenta resposta satisfatória. Por exemplo:
uma exploração agrícola que utiliza mão de obra contrata, assalariada, apenas nos períodos
de colheita pode ser considerada uma unidade de produção familiar? Ou, de outro lado,
uma exploração agrícola em que alguns dos membros da família recorrem ao trabalho
assalariado e com esse rendimento (às vezes melhor remunerado que o trabalho agrícola)
contratam mão de obra extrafamiliar para realizar o trabalho que eles próprios não estão
realizando perderia o seu caráter familiar? Uma unidade de produção sustentada na
atividade do casal cujos filhos exerçam atividade extra‑agrícola, assalariada ou não, seria
considerada uma exploração pluriativa ou só seriam pluriativas as unidades em que o
chefe da unidade de produção exerça, ele próprio, atividade fora da exploração agrícola?
Bem, poderíamos continuar enumerando uma série de questões cujas respostas não
seriam satisfatoriamente respondidas da perspectiva unicamente quantitativa, ou seja,
em termos de horas de trabalho dedicado fora da unidade de produção familiar ou em
termos de número de braços extrafamiliar contratado.

Primeiramente é necessário definirmos a nossa unidade de análise quando o objeto de


estudo é a dinâmica da agricultura familiar para então centrarmos na discussão da questão
correlata, ou seja, do caráter familiar da agricultura familiar.

Fonte: Carneiro (2000, p. 153‑154).

A expectativa de consumo ou acesso à riqueza social produzida, com um ideal de cidadania, está na
base das relações entre os agentes concretos; o envelhecimento direcionado dos objetos e das ideias.

A autora fala de seu apreço pela produção orgânica, discorrendo sobre a situação brasileira. Ela traça
um quadro evolutivo, que vai dos anos 1980 e 1990, com a multiplicação das organizações ligadas à
produção orgânica, crescimento da quantidade de produtores e aumento da produção, da diversidade
e da qualidade. Lembra‑nos que, em duas décadas, (seu texto de referência é de 2000), o mercado fica
restrito a poucas feiras e cestões ou sacolões com venda direta ao consumidor. Atualmente, essas feiras
fixaram‑se e algumas tornaram‑se minimercados e estão presentes em praticamente todas as capitais
do Centro‑Sul do país.

[…] as feiras se enquadram perfeitamente na filosofia do movimento orgânico,


que preconiza a comercialização direta do agricultor ao consumidor, de
modo a: (1) estabelecer uma relação personalizada e de cooperação entre o
179
Unidade III

produtor e o consumidor e (2) possibilitar maiores ganhos aos agricultores e


menores preços aos consumidores (KHATOUNIAN, 2001, p. 32).

O autor aponta o aumento da demanda por produtos orgânicos, levando “as grandes redes de
supermercados a estabelecerem estandes específicos num número crescente de lojas no Centro‑Sul”
do país, requerendo “organização de um mercado atacadista”, sendo incorporados os produtos
orgânicos às vias construídas de distribuição. Ele fala em estimativas de crescimento desse mercado
em 30% ao ano (KHATOUNIAN, 2001, p. 32).

A produção orgânica no Brasil inclui hortaliças, soja, açúcar mascavo,


café, frutas (banana, cítrus), cereais (milho, arroz, trigo), leguminosas
(feijão, amendoim), caju, dendê, erva‑mate, plantas medicinais e vários
produtos de menor expressão quantitativa. A produção animal orgânica
é ainda muito restrita, constituindo uma das áreas de maior possibilidade
de retorno dentro do mercado orgânico. Há iniciativas na produção de
aves de postura e de corte, bovinos de leite e carne, suínos e abelhas. Os
principais produtos exportados têm sido a soja, o café e o açúcar, mas a
evolução do mercado e das iniciativas de produção tem sido muito rápida
(KHATOUNIAN, 2001, p. 32‑33).

Khatounian faz importantes considerações sobre o que chama de “descompasso entre os anseios
da população consumidora por produtos limpos e a percepção pelos agricultores e distribuidores
das oportunidades de negócios que tais anseios representam” (p. 33). Acha que há “despreparo dos
técnicos e agricultores”, ainda muito dependentes dos produtos agroquímicos. Daí indica o treinamento
desses profissionais (técnicos e agricultores), já na primeira fase das iniciativas de produção orgânica, e
arremata: “a agricultura orgânica utiliza menos insumos materiais que a agroquímica, mas exige muito
mais de um produto intangível: o conhecimento” (KHATOUNIAN, 2001, p. 33).

A questão política dos interesses corporativos é fundamental e ajuda a entender por que não há
disseminação e por que o mercado não é formado integralmente por produtos saudáveis:

Essa menor dependência de insumos materiais levanta contra a produção


orgânica o peso econômico da indústria química, o que tem retardado o
desenvolvimento de soluções que prescindam de produtos comprados.
A própria indústria, por seu turno, tem investido no desenvolvimento
de produtos biotecnológicos, supostamente mais simpáticos aos olhos
dos consumidores. As primeiras indústrias com patentes de produtos
biotecnológicos já alardeiam à opinião pública os danos que as concorrentes
causam com seus produtos químicos tóxicos. Não obstante, a oposição entre
o movimento orgânico e a indústria não cessou, posto que o movimento
procura estimular o funcionamento dos controles naturais existentes em
cada propriedade agrícola, enquanto a indústria continua trabalhando no
sentido de os agricultores terem de comprar anualmente seus insumos
(KHATOUNIAN, 2001, p. 32‑33).
180
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Khatounian continua explicando que, “do ponto de vista técnico, a agricultura ecológica tem sido
relativamente bem‑sucedida, apesar de o apoio da investigação científica e assistência técnica oficiais
terem sido quase nulos até muito recentemente” (KHATOUNIAN, 2001, p. 32‑33). As políticas públicas
voltadas para esse fim, seja no nível dos municípios ou dos estados, deveriam ser maciças, com vistas
ao desenvolvimento.

O autor ainda afirma que, do ponto de vista da tecnologia, os cultivos orgânicos “costumam
apresentar elementos recuperados de bons exemplos do passado, combinados com procedimentos de
ponta em termos de manejo de microrganismos, controle fitossanitário, variedades, máquinas e insumos
ecologicamente corretos” (KHATOUNIAN, 2001, p. 32‑33).

Lembre‑se de que há lacunas tecnológicas em algumas culturas, notadamente naquelas que também
são as mais problemáticas na agricultura convencional, tais como a batatinha, o tomate, o algodão e as
uvas europeias, dentre outras. Porém, afirma que há duas frentes:

• a pesquisa tem se voltado para a busca de soluções ambientalmente melhores, atacando os


problemas mais persistentes;

• solução também possível, mas ainda incipiente, é a reeducação do consumidor, eliminando ou


reduzindo os produtos cuja produção é mais problemática.

Embora estratégico, não parece simpático ao cultivo da biodiversidade esse segundo caminho, o da
redução, sendo que o próprio autor acrescenta essa reflexão: “plantas bem adaptadas em ambientes
bem manejados, normalmente produzem bem, a despeito de pragas e doenças” (KHATOUNIAN, 2001,
p. 33‑34).

É muito importante entendermos o debate sobre a “agricultura sem agrotóxicos” que tem, de um
lado, aqueles de posição acadêmica cientificista com grande apelo aos avanços da química na nutrição
artificial e no combate aos desequilíbrios ecológicos por envenenamento; e, de outro, aqueles com
abertura tanto ao (re)aprendizado das tradições quanto para novas experiências com tecnologias
limpas, naturais. E, assim, para tanto, devemos recorrer ao corpo conceitual desse questionamento:

No Brasil, houve grandes discussões no meio agronômico a partir do final


da década de 1970 e que se estenderam por quase toda a de 1980. De um
lado, estava um pequeno grupo, que salientava os efeitos indesejáveis da
produção centrada em insumos industriais. Do outro lado, estava todo o
establishment agronômico. Para o grupo majoritário, à época, os problemas
causados pelo modelo convencional ao ambiente e à saúde humana
eram vistos como um alarmismo sem fundamento. Quando muito, esses
problemas eram considerados pequenos efeitos colaterais de um bom
remédio. E, como supostamente não havia outra alternativa, era necessário
aceitá‑los como preço da solução (KHATOUNIAN, 2001, p. 34).

181
Unidade III

Saiba mais

Recomendamos a leitura do livro de Khatounian como contato inicial


tanto com os aspectos técnicos quanto políticos do referido debate ligado
à questão ambiental, em geral, e agrário‑alimentar, especificamente:

KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu:


Agroecológica, 2001.

Lembrete

A ecologia não pode nos salvar sem a economia. O que é preciso fazer é
submeter a economia aos ritmos e recursos ambientais, e não o contrário.

Observação

Agrotóxicos (venenos cuja finalidade é matar organismos vivos associados


às espécies cultivadas) provocam poluição e doenças (desequilíbrios nos
sistemas), quer sejam ambientais, ecossistêmicos ou no corpo. Os usos de
venenos nas atividades agrárias devem ser tomados no contexto de relações
sociais mais amplas e do mercado. Tanto as várias formas de poluição quanto
as doenças devem‑se, por exemplo, a substâncias (como o CO2), que não são
nocivas em si mesmas, mas que, em excesso ou em falta, provocam problemas.

As poluições e as doenças estão associadas às cadeias de valor e fluxo de


serviços e mercadorias: poluições ambientais estão ligadas aos mercados
de equipamentos de tratamentos, catalisadores, de certificadores desses
equipamentos; enquanto da produção de doenças decorrem cadeias de
drogas ou medicamentos, exames e consultoria médica, toda uma estrutura
industrial e de serviços.

8 SOLUÇÕES, APONTAMENTOS E PERSPECTIVAS

Se nossos pesquisadores não levam em consideração a recomendação


tantas vezes feita por Marcel Mauss, de que os fenômenos sociais devem
ser estudados como “fenômenos totais”, é porque, desde o florescimento
dos estudos de comunidade entre nós, mais e mais se avolumou aqui
a influência americana: na sociologia americana, a multiplicação das
pesquisas parceladas é incalculável, permanecem isoladas e fechadas sobre si
mesmas, não levando a nenhuma formação sintética explicativa. Parece que,

182
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

entre nós – herança infeliz da influência americana –, também aumentam


aceleradamente os trabalhos que poderiam ser rotulados de “colheita de
dados sem teoria” (QUEIROZ, 1972b, p. 523).

Seja como for, depois das dezenas de entrevistas que fiz, livros que li, documentários
que vi e lugares que visitei para produzir este livro, uma coisa me parece certa: o
futuro da comida é uma volta ao passado (KEDOUK, 2013, p. 214).

8.1 Visão ou percepção intencionada

Estamos no campo da experiência inteira, e nesse caminho ou método depositamos esperança


(confiança nas estruturas científicas, ao modo de Charles Sanders Peirce ou Julían Marías) na
aproximação das coisas procuradas. Ao seguir visando soluções alternativas, voltamos o olhar para o
horizonte de possibilidades.

O corpo intenciona, deseja soluções e, desse modo, cada um perfaz com sua vida‑projeto sua unidade
(ou Gestalt), nem sempre democrática, nem sempre inclusiva. Mas a vida‑projeto, como a vê Sartre,
tem um movimento que envolve a todos na própria busca, pois se é meu projeto, e este logicamente
é sempre bom, então será de igual modo bom para todos; é a ética do existencialismo sartreano, nos
caminhos da “unidade”: o humano inteiro no horizonte das possibilidades.

Tendo marcado mais esse ponto em nosso mapa corporal, damos um salto para alguns projetos
(de vida) de melhoria coletiva, que se propõem a irradiar benefícios nas relações próximas e pelos
encadeamentos que devem conduzir tais benefícios.

Nossas soluções, como acredita Sartre, devem ser boas para todos. E são multidimensionais; atendem
a todas as esferas da vida social, nas diversas escalas, desde o indivíduo motivado socialmente até as
instituições. Falemos do comércio justo como solução que transborda, como veremos, da economia
para as demais dimensões sociais. O objetivo político mais antigo é o da qualidade de vida; para tanto,
seguiremos por casos expressivos de alternativas.

8.2 Urbanização, modernização e ambiente como recurso

Processos ubíquos, à conveniência e à revelia dos países historicamente periféricos, passam por onde
interessa, seguindo a “lógica do gerente de banco”: no discurso, todos interessam, entretanto, quem se
quer ver nas agências é o cliente (ou candidato a sê‑lo) cuja demanda seja solvável, aquele que pode
pagar pelos produtos e serviços.

Vimos o peso da norma para os habitantes dos espaços rural e urbano; agora vejamos as saídas pela
cultura, pelas tradições preteridas, articuladas criticamente.

Se a história fenomênica, daquilo que aparece, é uma história de usos sociais do ambiente, então usos
antropocêntricos geraram espaços sociais insustentáveis, pela simples ideia reinante de natureza infinita.
Percebemos num determinado momento que as atividades, agrárias e industriais, estabeleceram‑se
183
Unidade III

sob dinâmicas predatórias, tanto no que concerne às relações entre as pessoas quanto destas com os
ambientes que as circundam e suportam.

Começamos seguindo a lógica da unidade social e ambiental e, portanto, precisamos tragar as


metodologias de avaliação socioambiental (diagnóstico e prognóstico), para o seio das ciências humanas
e sociais, relacionando sociologia e sustentabilidade.

Desse modo, uma avaliação de impacto ambiental pode ser posta a favor da população‑alvo do
levantamento, sendo instrumento (e procedimentos) de política ambiental capaz de assegurar que se
faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano
ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao
público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados em conjunto (BARBIERI,
2010; SEIFFERT, 2007).

As metodologias de diagnóstico socioambiental envolvem certa intersubjetividade e convívio para


sua efetividade, pois a avaliação de impacto ambiental, além de ser instrumento da Política Nacional
de Meio Ambiente que visa garantir “livre acesso às informações sobre o empreendimento, quanto ao
envolvimento e à participação da comunidade nas decisões governamentais”. A avaliação de impacto
ambiental, “de caráter preventivo, tem como objetivo principal subsidiar a decisão do órgão público
como instrumento de gestão ambiental” (SEIFFERT, 2007, p. 161); e acrescentaríamos que deve ser de
controle coletivo dos recursos locais.

São seus componentes e objetivos da avaliação de impacto ambiental:

Dentre os componentes da AIA, há de se destacar o EIA (Estudo de Impacto


Ambiental), instrumento de decisão técnica, que no Brasil visa subsidiar o
licenciamento ambiental. Está incluído no EIA que este deve discriminar
todos os aspectos técnicos da atividade que se quer licenciar, é, portanto,
onde este deve estar inserida a análise de risco. O segundo componente
neste processo, que também tem o amparo legal e formal é o RIMA (Relatório
de Impacto Ambiental). Este tem objetivo claro e explícito; é o documento
escrito ao qual a população tem acesso, para entender a razão da atividade
a ser implantada. O teor do EIA e RIMA deve ser substancialmente o mesmo,
mas a linguagem pode ser diferente (BARBIERI, 2010, p. 281).

Um roteiro básico para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental:

• Informações gerais.

• Caracterização do empreendimento.

• Área de influência.

• Diagnóstico ambiental da área de influência.


184
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

• Qualidade ambiental.

• Fatores ambientais: meios físico, biológico, antrópico.

• Análise dos impactos ambientais (descrição e síntese).

• Proposição de medidas mitigadoras.

• Programa de monitoramento dos impactos ambientais.

O Relatório de Impacto Ambiental (Rima) é o documento que apresenta resultados dos estudos
técnicos e científicos de avaliação de impacto ambiental.

O diagnóstico socioambiental é a descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal
como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto
(CONAMA, 1986). Mas deveria ser muito mais, do ponto de vista do das ciências humanas e sociais,
seria preciso enriquecer a definição com os atributos sociológicos, antropológicos e políticos das regiões
afetadas pelos empreendimentos. O mesmo vale para o prognóstico:

O conjunto de ações que servirão na análise dos impactos ambientais


do projeto e suas alternativas, através da identificação da magnitude
e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes,
discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos),
diretos e indiretos, imediatos e a médio e longos prazos, temporários e
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas
e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais (CONAMA, 1986).

Precisamos ir além das tipologias de impactos predefinidos, mergulhando nos lugares estudados
para aferir sua qualidade “real”, seja no campo, seja na cidade.

A execução do levantamento interdisciplinar de dados e informações para diagnóstico e prognóstico


socioambiental de áreas urbanas e rurais, prevê a junção das ciências sociais e ambientais.

Podem funcionar como instrumentos didáticos os estudos e a pesquisa para o diagnóstico e o


prognóstico ambientais de determinado lugar.

8.2.1 Escopo dos estudos de impactos ambientais

• Captar o estado de degradação socioespacial dos lugares requer caracterização dos usos territoriais
(história do envolvimento do ser humano com o ambiente), do sentido socioespacial da ocupação
humana, considerando suas consequências nas áreas estudadas.

• Os aspectos físicos e biológicos do território, como relevo, cursos d’água, fauna e vegetação, em
linhas gerais, são os recursos às atividades; já os aspectos culturais do território são a história da
conformação das paisagens.
185
Unidade III

• Objetivos na descrição da área de estudo – escalas metropolitana e intraurbana (cartografia de


base e temática).

• Observar, sentir e perceber os lugares visitados como conjuntos, suas formas e funções dinâmicas
como ambientes naturais culturalmente transformados pelas atividades sociais.

• Observar que alguns dos aspectos geográficos são: topografia (formas de relevo e associações),
hidrografia (formações d’água), pedologia (solos), além da vegetação, e fauna eventual, entre
outros, bem como as interações entre o meio e os grupos sociais, baseados no conceito de
território (organização do espaço).

• Enfatizar a conexão, a interação entre todos os elementos, vistos ou apenas inferidos em sua
história como paisagens (seres vivos, objetos técnicos, obras de saneamento básico e ambiental,
por exemplo; qualquer coisa que pareça merecer atenção). Políticas, leis e decretos estão presentes
nas paisagens observadas; procurar sinais, indícios de sua presença na organização da ocupação.

• Exercitar, então, a decomposição e a recomposição das paisagens em unidades com certas


identidades com vistas à análise e intervenção, cartografando‑as, de modo a espacializar, classificar
e enumerar os elementos vistos.

• Descrever as relações entre processos sociais de ocupação do ambiente, organização do território


e paisagens – temas de pesquisa dos grupos.

8.3 Abordagem estrutural com registro cartográfico

Aspectos físicos

• Relevo, córregos, rios e canais (geomorfologia, topografia e relevo; e hidrografia, cursos d’água em
geral). Aqui, deve‑se definir, representar e descrever as características físicas básicas das áreas, de
modo a relacionar os planos de análise e percepção e os territórios no momento atual.

• O ar na cidade (climatologia, condições atmosféricas em geral, matéria particulada e “audiometria


regional”, além das características visuais, sonoras, palatais e olfativas). Definir, representar e
descrever as características básicas da área, de modo a relacioná‑las ao território no momento.

Aspectos biológicos

• “Organismos na cidade” (distribuição da vegetação, da fauna eventual, vida micro e macroscópicas).


Aqui, deve‑se descrever e representar a vida do ponto de vista da biologia básica da área, de modo
a relacionar os seres encontrados nesse nível ao território que todos ocupamos. Estão incluídas
as áreas de uso privado e coletivo, como residências, edifícios de trabalho, ruas, parques, praças,
largos etc.

186
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Aspectos culturais

• Descrição geral da paisagem: a relação da sociedade com o ambiente, com ênfase na história
da ocupação da área (história da ocupação da região e problemas socioambientais provindos
dessa relação). Problemas da ocupação da região, na forma e no conteúdo, como distribuição de
resíduos sólidos, habitação, circulação de pessoas e coisas, sem‑teto etc.

• Impactos de grandes empreendimentos. Aqui, deve‑se definir, representar e descrever a


noção de impactos ambientais, sua incidência na região, além da visão dos afetados direta ou
indiretamente por eles.

• Projetos e programas públicos (e privados) para a área, com vistas à consecução de urbanização
sustentável. Aqui, deve‑se definir, representar e descrever alguns dados sobre programas
disciplinadores do uso do espaço; sobre a espacialização da legislação e diretrizes gerais e
atividades permitidas, zoneamento e equipamento.

Na elaboração do trabalho é dada ênfase à percepção e às vivências dos sujeitos envolvidos, alunos
pesquisadores e pesquisados, e atenção aos indícios históricos e de processos geoecológicos.

Recomendações para o trabalho de campo e de compilação:

• Observar todo o ambiente, as paisagens e seus movimentos.

• Anotar tudo, para permitir contextualizar elementos e dados e não deixá‑los soltos.

• Localizar os lugares e os fatos marcantes mediante o uso de croquis e mapas.

• Relacionar entre si todos os elementos vistos.

• Associar os objetos e as ações percebidos com tudo aquilo que já for conhecido, referenciando‑os.

Encaminham‑se recomendações para a elaboração e apresentação do trabalho, que se desdobra


primeiro descritivo, segundo sintético‑interpretativo. Envolve, também, trabalhos para levantamento
de campo e pesquisa em fontes secundárias – organização de grupos coordenados e elaboração de
cronograma coletivo de apresentação dos resultados parciais e finais.

Pede‑se a cada grupo para confeccionar um “Caderno de Campo” com as seguintes características:

• tamanho adequado às representações cartográficas, iconográficas, dos dados em geral;

• objetivos e justificativa da coleta de material, por página ou tema;

• articulação entre as linguagens/mídias (presentes, resumidas, citadas etc.);

187
Unidade III

• variação escalar: ensaios sobre a escala ideal de análise e representação dos processos;

• registro do desenvolvimento do trabalho, com vistas às atividades parciais (podendo liberar o


grupo da prova individual);

• comentar sensações, emoções e apreensões gerais do trabalho de campo.

Exemplo de aplicação

Seguindo as diretrizes do Modelo de levantamento de dados para diagnóstico e prognóstico


socioambiental, reflita sobre o exercício a seguir, cuja finalidade é nos colocar em uma situação de
pesquisa profissional.

Questão para debater em pequenos grupos e registrar os resultados:

Um exercício bastante didático por contrastar duas percepções: a do técnico, especialista e mesmo
a do cientista que estuda, planeja e gerencia os problemas; e aquela do morador, do habitante que as
vivencia. O principal aqui é a sensibilização, principalmente para o que é novo, para o que é desconhecido.
Os alunos são estimulados a observarem o quadro a seguir acompanhado por um excerto do texto.

É muito simples o que devemos fazer: na tabela a seguir, há duas colunas que nos interessam – a
primeira e a terceira –, que apresentam numerações discrepantes entre a hierarquização inicial das variáveis.
A primeira coluna foi estabelecida pelos técnicos e pesquisadores, e a segunda é resultante de discussão em
plenária (com os envolvidos, além dos técnicos e pesquisadores). Ou seja, as duas colunas são diferentes. Então,
com base na análise do quadro e na leitura do trecho do texto de Akerman, reflita sobre as asserções a seguir:

Deve‑se dirigir as observações e os comentários para as constatações de que:

• a primeira coluna da tabela a seguir é prevista pela equipe técnica e tudo indica seu desconhecimento
e falta de experiência pessoal das carências das áreas estudadas;

• enquanto a segunda coluna apresenta a síntese das discussões entre os técnicos e os habitantes (senso
comum fundamental por levar vida à ciência), hierarquiza os números de modo que os valores das
variáveis mudam conforme se vivenciam os problemas e a carência não é apenas estudada, mas vivida.

O trecho a seguir ampara o raciocínio:

A fim de se decidir quais variáveis deveriam ser incluídas no índice de


carência a ser usado no município de São Paulo, organizou‑se um seminário
com a participação de planejadores de doze instituições públicas municipais
e estaduais.

Foram formados dois grupos de trabalho e utilizando o método “técnica de


Delfos”, procedeu‑se a escolha de cinco variáveis. Estas foram escolhidas a
188
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

partir de uma lista de variáveis obtidas dos documentos e estudos disponíveis


em São Paulo, as quais têm sido associadas em estudos internacionais e
locais como indicadores de carência social e de ambiente.

Esta lista, que não se pretendeu que fosse completa, representava um


amplo espectro de possibilidades tendo como critério a disponibilidade
da informação. Cada participante, baseando‑se nas discussões de grupo,
ordenou essas variáveis de acordo com sua própria opinião sobre quais
seriam as melhores preditoras de carência social.

Dois critérios foram sugeridos para a escolha das variáveis. O primeiro, a


validade da variável, isto é, a sua relevância ou importância como medida
de carência em São Paulo; e o segundo, a confiabilidade da variável, que
poderia ser definida como uma medida de qualidade do dado, ou em outras
palavras, “se podemos confiar na informação gerada pelo indicador”.

Uma vez completado este exercício, todos os formulários foram computados,


e foi produzida uma classificação geral das variáveis. Discutiu‑se em plenária
esta classificação, e foi facultada aos participantes a revisão da lista preliminar.

Terminado este exercício, foram apresentadas as cinco variáveis que irão


compor o índice de carência a ser usado pelo projeto. A tabela apresenta a
classificação final de todas as variáveis (AKERMAN et al, 1994, p. 323‑324).

Tabela da classificação de todas as variáveis:

Tabela 4

Número Indicadores Classificação


1 Renda familiar per capita ‑> 1
2 Acessibilidade ao emprego 8
3 Proporção de população não economicamente ativa 11
4 Abastecimento de água 6
5 Consumo de água per capita ‑> 4
6 Rede de esgoto ‑> 3
7 Percentagem de população analfabeta e com primário incompleto ‑> 2
8 Padrão da área construída 9
9 Erosão e inundação 12
10 Sexo do chefe da família 10
11 Número de pessoas por domicílio ‑> 5
12 Metros quadrados de construção per capita 7
13 Proporção de migrantes 13

Fonte: Akerman (1994).

189
Unidade III

Lembrete

É muito importante entrar no espírito do exercício proposto


anteriormente, pois sua principal característica é promover uma revisão de
posições unilaterais, quando confrontadas com aquelas do público que se está
estudando e em cuja realidade se vai interferir. É uma ótima lição para o
jovem pesquisador tomar consciência do respeito acadêmico e profissional.

8.4 Algumas considerações sobre o campo que queremos

Abrimos uma seção para trazer experiências cujas motivações, as formas sociais e o pano de fundo
predominante são rurais, de acordo com conceituação que utilizamos neste livro‑texto. Sublinhamos
que de modo algum estamos seccionando, separando os âmbitos rural e urbano, pois perfazem a
unidade social, regional, com atributos mais ou menos, em outros, marcantes ou identitários. O próprio
município é uma entidade que vincula práticas urbanas e rurais, de formas variadas.

Saiba mais

As observações sobre os casos que seguem enredam (ou devem


enredar) cidades e campos, por meio tanto de circuitos econômicos e
comerciais quanto por conexões culturais, muito próximas daquelas de
Raymond Williams:

WILLIAMS, R. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo:


Companhia das Letras, 1989.

Quais as alternativas econômicas, produtivas, que privilegiem a população como um todo? Quais
são as formas que não apenas beneficiem os grupos que controlem os setores econômicos? Como
atuar politicamente sobre as distorções proporcionadas por tais grupos controladores, reprodutores
responsáveis pelos movimentos concentradores próprios do capitalismo.

Existem algumas soluções simples, mas não menos engenhosas. Aliada às demais formas democráticas
de economia (mais ou menos democráticas dependendo dos interesses e composição dos agentes
propositores), como a economia social, a solidária, e até mesmo a criativa, temos uma proposta de
atividade econômica também em bases democráticas, e muito interessante é a do comércio justo ou
fair trade, cujo principal papel é permitir controle maior do produtor sobre seu trabalho, bem como
afastar do campo os atravessadores e exploradores dos trabalhadores. Portanto, ao encurtar os circuitos
econômicos cujos extremos são produtores e consumidores, os trabalhadores conseguem aumento do
retorno nesses momentos das relações de produção; valorizam trabalho e consumo, procurando afastar
os intermediários que aviltam as margens dos produtores e inflam os preços ao consumidor.

190
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Com todas as vantagens em diminuição dos custos para a população, ainda temos muitas mais: as
cadeias refeitas, reelaboradas pelos agentes envolvidos no comércio justo, alimentam a produção com
dinamismo político, participação nas decisões e realizações, sem o grande número de aproveitadores,
cuja intromissão daninha é quase naturalizada. Tal dinamismo envolve relações de vida comunitária e de
vizinhança crescentes nos espaços rurais com quaisquer que sejam os níveis de urbanização.

Antes de apresentar dois casos de êxito empreendedor viabilizado nos níveis individual e coletivo, no
campo e na cidade, precisamos estabelecer algumas condições para essa frente de projetos democráticos;
que coloquemos em pauta algumas discussões canônicas que, ao surgirem, aparecem como verdadeiras
profissões de fé de agentes corporativos, entrincheirados em suas disciplinas acadêmicas, institutos de
pesquisa e aparatos de Estado.

Assim, devemos procurar os significados expandidos de termos como mercado, por exemplo. E, ao
fazê‑lo, encontramos fios diversos que conectam os seres humanos e mais um imenso potencial de
sociabilidades convencionais (expressões de culturas locais) e de ajuda mútua (as experiências mais
diversas, retratadas pelos meios de comunicação do Fórum Social Mundial – FSM, e pelos veículos do
Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais – Clacso, por exemplo).

Numa palavrinha sobre mercado como construção social, Karl Polanyi nos acode com a flexibilização
do termo:

As ideias de Weber sobre o mercado permitem identificar a impessoalidade


das relações sociais, aspecto que ganha espaço no processo de modernização.
Nessa condição, o fenômeno social do mercado se apresenta como
autônomo e distante das relações sociais. Condição esta que é criticada e
reconsiderada por Karl Polanyi (2011), para quem a regulação da vida social
pelo mercado depende da existência de valores específicos e instituições,
portanto, não pode ser considerada natural. Este pensamento se opõe à
relativa naturalização da operação do mercado, marca dos autores liberais
da Economia. Para Polanyi, nenhuma economia havia sido controlada por
mercados até a modernidade (CARVALHO, 2015, p. 34).

Bem, explorando a margem de escolhas e decisões apontada por K. Polanyi, podemos estender o
raciocínio para a sociologia econômica

A Sociologia Econômica, termo usado por Weber e Durkheim, é um


campo em expansão na academia brasileira. Pode ser definida “[…] como
a perspectiva sociológica aplicada a fenômenos econômicos” (SMELSER;
SWEDBERG, 1994). Essa área do saber critica a noção de Homos economicus
e a ciência econômica, ou seja, de forma mais concisa, seria a aplicação de
conceitos, ideias e métodos sociológicos a fenômenos econômicos como
mercado, comércio internacional, empresas, organizações etc. Esta definição
é estendida por Smelser, que adicionou a esta a interação pessoal, grupos,
estruturas sociais e controles sociais (SMELSER; SWEDBERG, 1994). A Nova
191
Unidade III

Sociologia Econômica (NSE) acrescenta as perspectivas de rede sociais,


gênero e contextos culturais como temas centrais da Sociologia Econômica
(SMELSER; SWEDBERG, 2005) (CARVALHO, 2015, p. 41).

A sociologia criticaria, assim, a ciência econômica neoclássica por idealização formalista das
relações sociais, sobrelevando o papel das médias e normais estatísticas na explicação positivista
dos comportamentos individuais, atendo‑se aos neoclássicos, por exemplo, ao caráter mercantil
e individualista da dinâmica social. Nesse ramo da economia, o foco está nos agentes econômicos
(produtor, consumidor, atravessador etc.) como entes essencialmente racionais (e egoístas), ou melhor,
que priorizam seus ganhos individuais.

Saiba mais

Há economistas que se insurgem contra essas reduções excessivas que,


embora não devam ser descartadas, pois oferecem soluções práticas aos
negócios no que tange às quantidades (de tempo, espaço e bens), devem
ser bastante relativizadas. Robert Kuttner, em Tudo à venda, faz excelente
estudo sobre essas questões:

KUTTNER, R. Tudo à venda: as virtudes e os limites do mercado. São


Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Assim, a sociologia econômica tem origem no início do século XX, marcadamente “entre os anos
de 1890 a 1920, com os textos de Weber, Durkheim e Simmel, e após 1980, com emergência da Nova
Sociologia Econômica”. Ao citar Smelser e Swedberg em vários momentos de sua tese, Carvalho (2015)
afirma que “o objetivo das produções, grosso modo, era […] combinar a análise de interesses econômicos
com uma análise das relações sociais”.

As obras clássicas que cunharam o sentido e exemplificaram o uso do


termo Sociologia Econômica são aplicadas por Durkheim (1981) na sua
obra Da divisão do trabalho social, por Simmel (1989), em A filosofia do
dinheiro, e por Weber (1994), em Economia e sociedade. Esses trabalhos
assumem o papel de serem pioneiros no debate desse campo de estudo
e [citando Smelser e Swedberg, 2005, p. 7] “em segundo lugar, eles se
concentraram na a maioria das questões fundamentais do campo: O que
é o papel da economia na sociedade? Como é que a análise sociológica
da economia diferiu da dos economistas”? O que é uma ação econômica?
(CARVALHO, 2015, p. 41‑42).

Antônio Daniel Alves Carvalho (2015) estabelece a comparação entre as ideias da sociologia econômica
e o mainstream da Economia, ressaltando alguns aspectos que permitem evidenciar diferenças entre as
áreas, conforme demonstra o quadro a seguir:

192
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Quadro 1 – Sociologia econômica e mainstream da economia: a comparação

NSE Mainstream da economia


O ator é influenciado por outros O ator não é influenciado por
O conceito de ator atores e faz parte dos grupos e da outros atores (“individualismo
social e/ou econômico sociedade. metodológico”).
Muitos tipos diferentes de Todas as ações econômicas são
Ação econômica ação econômica são usados e a racionais; racionalidade é um
racionalidade é variável. pressuposto.
Ações econômicas são limitadas Ações econômicas são
pela escassez de recursos, pela limitadas por gostos e
Restrições sobre a ação estrutura social e os significados pela escassez de recursos,
na estrutura social. incluindo tecnologia.
A economia é vista como uma O mercado e a economia
A economia em relação parte integrante da sociedade, a são as referências básicas;
à sociedade sociedade é sempre a referência sociedade é um “dado”.
básica.
Descrição e explicação; raramente Previsão e explicação;
Objetivo da análise previsão. raramente descrição.
Muitos métodos diferentes são Formal, construção de
usados, inclusive os históricos e modelos, especialmente
Métodos usados comparativos, os dados são muitas matemática, sem dados ou
vezes produzidos pelo analista dados oficiais são muitas vezes
(“mãos sujas”). utilizados (“modelos limpas”).

Fonte: Smelser; Swedberg (1994 apud CARVALHO, 2015).

Temos estabelecido as condições para as alternativas de vida e arranjos sociais multidimensionais,


com mudanças nas relações econômicas, fundiárias, políticas, culturais, e o argumento principal é que há
níveis de afastamento cognitivo e conceitual da produção do alimento, com a perda da consciência dos
mecanismos e relações agrárias, no Brasil ainda típicas em boa parte das sociedades e espaços rurais, o
“setor primário da economia”. Trata‑se de confrontação do “valor econômico estrito” por meio da baliza
“valor da vida saudável”. Educação a serviço da cultura, esta, de fato coletiva e promotora da saúde;
fórmula da sustentabilidade. Uma fonte de ideias de grande inspiração é o documentário Sustentável,
de 2016.

Os objetivos são a conquista da consciência social da importância histórica de comer, isto é, adequada
aos estilos de vida, e tanto por meio do (re)aprendizado criativo e coerente de formas tradicionais
quanto por modos totalmente novos. Em suma: construção da saúde pela qualidade de vida (qualidade
ambiental), na qual se tangencia na prática a noção de sustentabilidade.

Os meios para isso são o manejo correto dos ecossistemas, nos planos científico (física, química e
biologia) e sociológico (cultura em suas várias dimensões: base simbólica, percepção e memória, história
e técnica; cultura expressa nos usos territoriais dos lugares), seguido por práticas econômicas inovadoras
(mesmo quando milenares) diante da padronização das redes e sistemas em escala planetária: comércio
justo ou fair trade, economia social, solidária, colaborativa e criativa como instrumentos de inserção
social, consciência dos processos globais de produção (cadeias completas, contra o fracionamento do
processo produtivo).

193
Unidade III

O documentário Sustentável (2016) permite pensar nas relações de manutenção da existência


são sempre socioambientais, pois envolvem pessoas, recursos (primários ou transformados), cultura
(simbolização). As relações tornam‑se mais complexas, de fato, e complicadas para aqueles que não as
querem resolver, portanto com propostas ao mesmo tempo mais pobres:

Complexificam‑se o ato e as condições de comer apoiadas no fracionamento


progressivo das cadeias produtivas e seus instrumentos (economia,
procedimentos e instrumentos...).

Empobrecidas, as conexões entre instâncias sociais responsáveis pelo ato


de comer: produtores (seus saberes, crenças, práticas diversas e seu modo de
vida), consumidores (nos sentidos lato, de tudo envolvido nos circuitos
produtivos e estrito, ato de consumo físico). Rick Bayless, Chef do “Frontera
Grill” se perguntava “como eu faria uma boa comida se eu não tinha conexão
com as pessoas que a produziam?” (SUSTENTÁVEL, 2016).

No fair trade ou comércio justo, o vendedor é o produtor. Na verdade, é um resgate de formas de


economia de “circuitos menores”, de mais fácil gerenciamento do produtor direto, que na prática vai
atuar em escalas locais, mesmo que o programa fair trade seja internacional. O grande objetivo é a
retirada dos intermediários que lucram em detrimento do produtor e consumidor.

Todas as facilidades tecnológicas, expressas nas intrincadas relações da vida cotidiana, apoiam‑se
na velocidade de transporte (levar produtos e serviços pelos circuitos mercantis e financeiros) e
comunicações (informações e propaganda a serviço do crescimento do consumo), explicam a miríade
de alimentos processados (BRAVERMAN, 1987); (SUSTENTÁVEL, 2016).

Tais processos baseiam‑se desde o início em grandes monoculturas e intenso processamento;


ganhando, desse modo, tempo para os produtos circularem e esperarem até o consumo.

A questão da tecnologia não pode ser vista de modo isolado, pois temos que nos perguntar sempre
quem ganha e quem perde desde sua concepção, suas intenções, seu desenvolvimento e emprego. Uma
referência importante nessa questão é Laymert Garcia dos Santos (2003).

A principal pergunta está invertida, pois nosso foco, como civilização, é como produzir mais e com
maior lucro concentrado; quando deveria ser como produzir o que precisamos de fato, para a demanda
real de saúde, de modo adequado a nossa vida moderna, que exige balanço nutricional bem diferente
de outros tempos.

A produção concentrada de cunho corporativo não deixa espaço para a transformação dos processos
de modo a atender aos ideais, aos parâmetros (tradicionais e ou modernos) de saúde.

História e tradição se combinam nos movimentos que são às vezes contraditórios. Enquanto
tratarmos solo, folhas e água como sujeira, continuaremos descartando soluções integradas.

194
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Estamos tratando da perda de horizontes da unidade dos corpos humanos, dos micro e macro‑organismos
e os ambientes da Terra, sejam predominantemente rurais ou urbanos. Perda da totalidade nos significados e
nos sentidos das ações e das práticas sociais em geral, que adquire maior gravidade nas concepções sociais
fragmentárias dos Estados em seus vários níveis (união, unidades federadas e municípios) acerca da vida
individual e socioambiental, cada vez mais desintegrada de suas dimensões.

Depois, o raciocínio passa a ser intermediado por questões e exemplos destacados do extremamente
importante documentário Sustentável, que traz várias pessoas das cidades e dos campos que estão
ligadas, de algum modo, por pessoas que as conectam. É excelente a perspectiva porque todas
participam da qualificação de suas atividades: produtores rurais, chefes de cozinha e donos de
restaurantes, padeiros, pesquisadores.

A seguir, falaremos de trechos do documentário Sustentável.

Alternância de milho (com nitrogênio e outros fertilizantes minerais) e soja em Iowa, nos Estados
Unidos da América, é o tipo de cultivo no qual as ervas daninhas são erradicadas por agentes químicos.
Este é o sistema majoritário e perverso (SUSTENTÁVEL, 2016).

Então, o que fazer? Matt Liebman, pesquisador da Iowa State University, fala da experiência de redução
de 95% desses insumos. Ao trocar os cultivares para aveia e trevo ou aveia e alfafa, o trevo retira o nitrogênio
do ar e leva até suas raízes. Também fala sobre as razões presentes na diversificação de sistemas e diminuição
da dependência de agentes químicos industrializados. A principal delas: não sabemos o custo dos danos
ambientais, comprometimento da água, do solo, contaminação de outras culturas (SUSTENTÁVEL, 2016).

Se os custos externos fossem computados, a agricultura convencional seria muito mais cara do que
se propaga.

Fred Kirschenmann, do Leopold Center for Sustainable Agriculture, comenta as calamidades


causadas pelo uso intensivo e contínuo de nitrogênio nos solos, exemplifica com seu ciclo, que cruza
todo o país (EUA) de Norte a Sul, desembocando no rio Mississipi; assim, poluir o rio implica estender a
contaminação ao Golfo do México. Quem paga essa conta? Quem tem o direito de poluir? Poluir o lugar
onde mora e estender a poluição por outros estados e regiões? (SUSTENTÁVEL, 2016.)

Deve‑se diversificar, diz ele, pois o solo absorverá mais água no período das chuvas e reterá mais
água no período de secas. Mas, e o mercado? O solo vivo e saudável é, portanto, mais resiliente. O modelo
de negócios vigente é concentrado e domina a lógica de investimentos e serviços financeiros.

Os mares de milho e soja obedecem à lógica dos papéis negociados nos mercados, em suas diversas
escalas. Os sistemas financeiros, técnicos e culturais são voltados para a manutenção dessa matriz.
Alteração radical de hábitos alimentares (e produtivos) tradicionais só vimos na América conquistada,
que tem suas matrizes alteradas pelo paladar e imposição europeus (CROSBY, 1993).

A percepção dos chefs de cozinha do ciclo produtivo inteiro é algo muito antigo que recomeça. É de
grande estímulo ao produtor com métodos sustentáveis.
195
Unidade III

O filho de Marty (SUSTENTÁVEL, 2016) aponta mais da perversidade a que somos levados (o
exemplo é estadunidense, mas serve para as regiões enredadas pela globalização): há um custo
enorme nos subsídios pagos pelo Estado aos agricultores convencionais, pois são muito dependentes
das cotações das bolsas de commodities; e, quando em baixa, precisam de aportes governamentais.
Ou seja, é mais lucrativo de modo privado e os prejuízos são públicos. Precisamos entender melhor
o capitalismo.

Mark Smallwood, do Rodale Institute, afirma que a agricultura convencional é baseada na química
(e quantidades), enquanto a orgânica é na biologia (e na qualidade).

O discurso diz que a produção orgânica não produz em larga escala para o comércio exterior; mas
Mark contradiz essa máxima, afirmando que se igualam.

Ele fala em agricultura orgânica regenerativa, que alimentaria o mundo para sempre e não por 50 anos.

John Ikerd, de University of Missouri, fala da lógica sedutora, da racionalidade da agroindústria; sua
fácil aceitação se deve tanto à lógica dos mercados quanto a cenários de fome e perdas da agricultura
tradicional (SUSTENTÁVEL, 2016).

A modernização da agricultura segue o discurso da eficiência, da segurança alimentar, e do retorno de


mercado (valor de troca). As promessas da indústria não se efetivam, pois trocamos a ausência/falta
de alimentos por alimentos nocivos à saúde, como obesidade e doenças cardiovasculares.

Perversidade expressa, no limite, pelos suicídios “na crise da lavoura dos anos 80”, que obrigou
fazendeiros a venderem suas fazendas. John Ikerd diz que ficou intrigado com tais suicídios e descobriu
a ligação profunda desses fazendeiros com suas terras, “era como perderem a si mesmos! Não era só um
trabalho, era a vida dessas pessoas sendo destruídas”. A questão é ética (SUSTENTÁVEL, 2016).

Marty é fazendeiro e o importante pivô tomado pelo filme e criou um grupo de cooperação entre
produtores sob demanda, e se expande ano a ano. Criou a rede complementar entre colaboradores
interessados da região (produtores com operação ociosa), encurtou o circuito econômico (rural‑urbano)
com produtos diferenciados e até mesmo desprezados pelos fazendeiros convencionais (ervas
consideradas daninhas, o mato; algumas espécies de grãos já considerados extintos). Muda a forma de
produzir daqueles que o seguem em sua empreitada..., a Stwart’s Land, seu projeto. Promove um resgate
social e psíquico das famílias engajadas (SUSTENTÁVEL, 2016).

Marty fala em desenvolvimento endógeno e sustentável, mas do ponto de vista de uma vida boa,
saudável, sem privilegiar a fundamentação científica, mas sem desconsiderá-la (SUSTENTÁVEL, 2016).

Professor de marketing alimentar da Saint Joseph’s University, John Stanton fala, em entrevista aos
direitos, do apelo das embalagens, com foco no que falta nos produtos, fala das dificuldades de tratar
de uma produção local com cadeias fracionadas do capitalismo globalizado (produtos são compostos
ao longo de cadeias por vários países do mundo). Dá o exemplo da laranja (Brasil – Flórida e Geórgia),
para mostrar quanto as dietas locais têm sido supridas por produtos estrangeiros (SUSTENTÁVEL, 2016).
196
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Marion Nestre, autora de livro sobre políticas alimentares, fala do mercado e de seus investimentos
pesados em publicidade (SUSTENTÁVEL, 2016).

Marty fala de sua motivação em criar a rede complementar (complementaridade entre atividades
rural‑urbanas de vários tipos), de uma noção de interligação e interdependência entre as pessoas e com
suas fazendas (terras), com o objetivo de prover os seres humanos com bons produtos com boa comida!
Marty tem um manejo incrível, intenso, e ao criar porcos, preocupa‑se com a qualidade, tanto da carne
quanto da vida do porco, isto é, do ciclo todo até a compostagem (SUSTENTÁVEL, 2016).

O documentário trata da redescoberta pelos chefs de cozinha das origens de sua arte. Ao visitarem
a fazenda de Marty, eles codeterminam sua produção, aprendem (SUSTENTÁVEL, 2016). Isso é
revolucionário. Além disso, fala da importância dos grãos para a segurança alimentar mundial; grãos
representam 75% da produção agrícola (SUSTENTÁVEL, 2016).

A variedade é resgatada; espécies em desuso, em decorrência de dificuldades de manejo, são


resgatadas para aumento da diversidade ecossistêmica e alimentar. Resolvem‑se problemas de manejo
utilizando conhecimentos da própria biodiversidade, optando‑se por inserir todo um ecossistema como
cultivo (SUSTENTÁVEL, 2016).

O filme traz questões impensáveis para a produção em massa das grandes indústrias (como
o documentário Mondovino já havia feito). Separamos o agro (atividades do universo produtivo
primário) e a cultura, do modo como já fizemos com ars e techné; arte e técnica, que se referiam
ao mesmo objeto.

Como pensar em fazer pães com pasta madre ou fermentação natural, que é muito superior em
todos os sentidos, no mundo veloz de hoje? Como se dedicar à alimentação no mundo que não deixa
tempo para tanto?

As leis ajudam a manter o estado de coisas diante da pressão da produção... uma certa inércia das
práticas agronômicas/econômicas. É só observarmos a conivência de ambas as frentes, produtivas
e analíticas. Há forte tendência ao pragmatismo e ao atavismo, de técnicos, administradores e até
mesmo acadêmico.

Bill Nyman cria animais com a perspectiva da “bioenergética”, com serviço de nutróloga, alimentação
balanceada. É um espetáculo de se ver a visão unicista (SUSTENTÁVEL, 2016).

O filme mostra como o agronegócio pode ser reinventado por meio do investimento no manejo
de pastagens, vinculado à preservação do solo socavado pelas patas do gado e com a manutenção da
umidade pela vegetação. Tudo resolvido com o conhecimento da própria natureza (SUSTENTÁVEL, 2016).

Para os membros da cultura Amish, que o diretor entrevista, nossa cultura e costumes estariam
muito degenerados, para uma agricultura orgânica, sustentável. Seria, então, necessária uma agricultura
regenerativa, que cumpriria tal função, e na qual as plantas desenvolvessem enorme resiliência ante os
estresses a que as submetemos, de temperatura à pressão de outras espécies, sendo economicamente
197
Unidade III

mais viáveis as fazendas com “produção” sustentável; e isso é novo de se ouvir; mais rentáveis, opondo‑se
ao dito corrente de que são mais onerosas (SUSTENTÁVEL, 2016).

Os profissionais mostram como se deve cuidar dos cultivares, com análises da seiva das plantas, por
exemplo: os excessos (de minerais) é que estão causando problemas, trata‑se, basicamente, de nutrir
corretamente as plantas. Mostram, além disso, curiosos casos de pioneirismo com cerejas e batatas, que
podem servir de regulação ambiental (SUSTENTÁVEL, 2016).

Todos devem assistir e refletir sobre o que mostra este documentário.

Citamos breves estudos de casos rurais e urbanos para mostrar algo de bom, de qualificação da
produção e melhoria de nossa saúde, já feito no Brasil. Primeiramente, o caso da cooperativa dos
produtores de caju, como atividade rural‑urbana. Mais adiante, virá o caso urbano‑rural.

Saiba mais

Estudo de caso na Coopercaju (Serra do Mel‑RN)

O município de Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, localizado a


aproximadamente 285 quilômetros de Natal, tem sua origem em um
projeto de colonização agrícola da década de 1960, desde então tem sido
pioneiro no beneficiamento artesanal de castanha de caju.

Serra do Mel foi distribuído em 23 vilas, cada uma com nome de um


Estado brasileiro, cada lote varia o número de casas, que pode haver 22,
70, 80 casas. Cada família recebeu 50 hectares de terra, sendo 15 hectares
para o cultivo do cajueiro, 10 hectares para o cultivo da faixa branca,
cultura de subsistência (milho, feijão...), e 25 hectares de mata, para área
de preservação. Os lotes foram entregues já com as casas construídas a
população, por isso é denominado colonização.

A associação dos produtores, moradores, é exportadora e possui várias


certificações, de comércio justo, de agricultura orgânica, agricultura
biodinâmica, entre outras.

Mudou a vida de todos os envolvidos e da região.

SILVA, E. E. da; MEIRELES, E. C. de. Agricultura familiar, competitividade


e economia solidária: um estudo de caso na COOPERCAJU e sua dinâmica
no mercado internacional. Observatório – Monografias em Comércio
Exterior, ano 3, v. 1, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3yQI3u5. Acesso
em: 21 maio 2019.

198
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

8.5 Algumas considerações sobre a cidade, o novo urbano que temos hoje

A taberna. Ponto nevrálgico de vida social. O que você acha da taverna?


Se esta pergunta fosse dirigida a uma centena de pessoas selecionadas
aleatoriamente fizesse não seria certamente pejorativo uma enorme
percentagem de respostas. A taberna? Para a maioria das pessoas,
incluindo aqueles que a frequentam, é um lugar enfumaçado, muito pouco
recomendável, onde as pessoas vão para fugir na bebida. A palavra tem
mau aspecto e o lugar, reputação insalubre. No entanto, a experiência
dos novos bairros urbanos nos obriga a reconsiderar a questão. Na maior
parte dos novos bairros, grandes ou pequenos, os técnicos de boa vontade
fizeram desaparecer, como inúteis e supérfluos, o café e também a rua. Estes
técnicos obedeceram, sem saber bem, imperativos morais ou filosóficos que
os fatos terminariam por refutar. O remédio para os males que queriam
combater – contra o alcoolismo, perda de tempo – revelou‑se pior do que
a doença. Nestes novos bairros, a vida social apequenou‑se e deteriorou‑se
singularmente. As pessoas mergulharam em sua privacidade, não sem
reclamar do incômodo no seio da própria vida familiar, pelo ruído e pelo
quase desaparecimento das tradicionais relações de vizinhança, vizinhança
de imóveis algumas vezes demasiado homogêneos, outros demasiado
heterogêneos. Em suma, apesar do relativo conforto das acomodações, esses
homens e mulheres não são felizes. Aborrecem‑se sem admitir ou confessar
(LEFEBVRE, 1978, p. 135, tradução nossa).

Os terceiros espaços possuem funções importantes para a sociedade civil,


para a democracia, para a participação cívica, além de estabelecerem um
sentido para o uso do espaço. Um terceiro espaço é definido em termos de
sua função, que é fornecer um espaço público informal onde a comunicação
e o diálogo são as atividades essenciais e acessíveis a todos os membros de
uma comunidade, facilitando e promovendo a interação criativa entre estes.

Todas as sociedades têm pontos de encontro informais, mas o novo dos


tempos modernos é a intencionalidade de procurá‑los como algo vital para
as necessidades da sociedade atual.

Os terceiros espaços são lugares onde as pessoas se reúnem, principalmente


para desfrutarem da companhia uns dos outros com tal regularidade que,
muitas vezes, este se transforma em uma segunda casa (OLDENBURG, 1982;
1989; 1999). Na sociedade contemporânea, os terceiros espaços oferecem
alívio para as demandas estressantes de trabalho e proporcionam às pessoas
inclusão social e sentimentos de pertencimento associados à participação
nas atividades sociais, pois fortalecem os laços de comunidade através da
interação social, promovendo segurança (SILVA, 2014, p. 1).

199
Unidade III

A teoria do third place, ou terceiro espaço, refere‑se ao conceito de construção de comunidades


introduzido pela primeira vez por Ray Oldenburg, em 1982. Em seu livro posterior, The Great Good
Place (1989), Oldenburg se refere ao terceiro espaço como o meio social que separa dois ambientes
sociais usuais: a casa e o local de trabalho. Segundo o autor, as comunidades estáveis são compostas
de um primeiro lugar, que é a própria casa; e um segundo lugar, que é o local de trabalho, onde as
pessoas passam a maior parte de seu tempo e que serve como uma âncora para a vida em comunidade
(OLDENBURG, 1989; SILVA, 2014).

Tanto a taberna de Henri Lefebvre quanto o café de Ray Oldenburg citado nas epígrafes trazem dois
aspectos de uma questão maior: um dos aspectos é aquele da “destruição criativa” das cidades, e o outro
trata dos males de toda a destruição promovida em nome da modernização de lugares; oferece guarida
e oportunidades, além de estímulos ao convívio. Portanto, enquanto temos exemplos aos montes de
destruição com as frentes de investimento e lucro aniquilando a memória das paisagens, sem considerar
os aspectos culturais das cidades, os terceiros espaços de Oldenburg cumpririam o papel de reservas de
convivência e exercícios de vizinhança.

Junto com a busca dos elos perdidos de vizinhança e amizade nas finadas cidades, emergiriam mais
frentes da sustentabilidade, como é o caso do cuidado.

“Cuidado” deveria ser a palavra do século, seguida pela “convivência”.

Donos do lugar

Cuidar da cidade começa com a boa vizinhança

Quando era estudante de arquitetura, Roberto Pompéia ouviu de um dono de construtora


uma frase que jamais esqueceria: “É um absurdo pensar em se dedicar aos pobres, pois os
pobres não têm como te pagar”. A sentença surtiu efeito contrário. Roberto tornou‑se um
representante da arquitetura popular no Brasil. Foi integrante do Laboratório de Habitação
da Unicamp (LabHab), que se especializou em projetar mutirões para erguer casas na
periferia, durante 13 anos. Quando o Laboratório foi extinto, em 1999, trabalhou sozinho
para terminar um mutirão no sul de Minas Gerais. Ao todo foram mais de 15 comunidades
em estados como Alagoas, São Paulo e Rio Grande do Sul. Roberto acaba de defender, na
USP, a tese de doutorado em que conta a história do LabHab e dos mutirões em que esteve
envolvido. “A vivência nas favelas e na periferia me trouxe a certeza de que a preservação
e a qualidade do espaço público dependem de uma identidade coletiva que zela pelo seu
lugar”, diz. E para se criar essa identidade coletiva é preciso antes voltar os olhos para a
história de cada morador. E nisso não importa classe social, raça, credo, religião.

Como surgiu a questão da identidade em seus trabalhos?

A maior parte das pessoas que moravam nas periferias, onde realizávamos os mutirões,
vinha de fora, pois quando a pessoa não vê futuro em sua cidade natal parte para a
metrópole. Contrapor‑se à sua história original é a primeira quebra de identidade. Quando
200
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

a pessoa chega à cidade grande, vem a segunda. Quem era Zezinho ou Mariazinha lá no
interior vira um zé‑ninguém. Estranha à cidade, a tendência da pessoa é se voltar para
dentro. É muito comum a pessoa construir um barraco e, na parte interna, botar azulejos
da melhor marca, mas não se preocupar com o acabamento externo, pois não quer mostrar
nada de bom para fora, quer mais é se cercar. Daí vêm os cacos de vidro nos muros, as cercas.
Primeiro, porque as pessoas se sentem seguras, obviamente, mas também porque a rua, que
na cidade de origem era o lugar que agregava, na cidade grande, é o lugar que desagrega.

Como isso se revertia?

Quando comecei a trabalhar nos mutirões, notei a importância da cozinha coletiva


na obra. O momento da refeição parecia uma comunhão: todo mundo em volta da
mesa comendo a mesma comida e trocando histórias. Havia pessoas absolutamente
tímidas que, quando alguém perguntava “e aí, você veio de onde?”, começavam a
contar sua história, e parecia que começavam a crescer, a ficar importantes dentro
do grupo. Todos ficavam absolutamente em silêncio ouvindo. Aí essa pessoa, que
aparentemente não era nada, passava a ser alguma coisa. É como se ela “re‑significasse”
seu papel dentro da comunidade.

É o primeiro passo para a identidade coletiva?

Sim. Não existe possibilidade de se construir uma identidade coletiva sem o reforço da
identidade individual. Você só forma a identidade coletiva quando se reconhece como um
ser importante dentro da comunidade, diferente e único. Na hora em que você resgata
sua história, mesmo com os erros e fracassos, você cria uma estrutura, que é você mesmo,
e passa a ser respeitado. A palavra respeito vem de re‑spectare: olhar muitas vezes para
trás. E a história do coletivo é formada por um grande número de histórias individuais,
a partir do momento em que você tem uma relação franca com o outro, em que você
respeita o outro porque conhece sua história. Você não está vinculado ao vizinho pelo
espaço físico simplesmente.

Como isso contribui para a preservação do espaço público?

Quando você sente que o espaço é seu, você cuida e quer interferir, você limpa, não
deixa abandonado. Então, o limite entre o público e o privado é muito menos hostil, as
cercas são mais baixas, as pessoas convivem mais. Mas às vezes ocorre o contrário. Espaços
comuns são tratados como privados.

Teoricamente, o hall do apartamento, por exemplo, pertence tanto a você quanto ao seu
vizinho. Muitas vezes, entretanto, acabamos estabelecendo uma fração do hall como nosso
e, se a plantinha da vizinha cresceu demais e saiu dos limites, já nos sentimos agredidos.

O que fazer para melhorar a situação?

201
Unidade III

Manter o habitar na dimensão humana, que é o contato direto entre as pessoas.


Um estudo feito na Universidade de Harvard, em 2001, concluiu que, quanto mais fortes são
os laços sociais entre as pessoas de uma comunidade, maior é a qualidade de vida e o nível
de satisfação. Tive a oportunidade de conhecer, em Paris, um bairro que foi construído no fim
da Segunda Guerra. Na rua que me mostraram havia prédios de quatro andares, de um lado,
e de 12, do outro. O grupo que prestava assessoria técnica à periferia de Paris constatou que
a vida dos que moravam nos edifícios mais baixos (onde foram criados espaços comunitários
como áreas de recreação e clube de idosos) era muito melhor que a dos que moravam nos
apartamentos mais altos (onde não havia nenhuma iniciativa para agregar seus moradores).
O diagnóstico foi preciso: a diferença entre eles estava principalmente na escada. As pessoas
dos prédios baixos, sem elevador, tinham de se encontrar pela escada. Os que subiam cruzavam
com os que desciam; ao se passar pelos andares, era inevitável “sentir” os apartamentos, ouvir
barulhos mais íntimos, sentir o cheiro de uma comida apetitosa ou, até mesmo, dar uma
olhadela pela porta de um apartamento, aberta por descuido ou generosidade; ajudar alguém
a carregar as compras e logo depois ser convidado para um cafezinho. Nos prédios com
elevador, o isolamento é muito maior, as pessoas mal se conhecem.

Como fomentar esse contato direto nos prédios altos?

Crie um projeto coletivo. Se você tem um projeto comum, que seja botar uma luminária
legal no hall, já vale. Pode ser que saia uma coisa horrível, que as pessoas queiram colocar
um lustre de cristal, mas é uma discussão saudável. Se há um salão de festas no prédio,
vamos fazer uma festa lá?

Projetos coletivos se contrapõem ao espaço que tenta ser o menos coletivo possível.
Agora, é difícil, você tem que enfrentar um monte de coisas chatas.

Mas, às vezes, é preciso passar pela chateação para resolver as questões da coletividade.
Quanto mais relações houver entre as pessoas, melhor. Mesmo que seja para criticar, para
xingar, pois isso é menos solitário do que a não convivência. Por que é tão encantador andar
nas ruas de Nápoles, de Veneza?

Não só porque são estreitas e cheias de história, mas porque sempre tem aquela gritaria,
o varal na janela. Cria‑se essa quase promiscuidade urbana que até certo ponto é saudável.
Fonte: Santos (2007).

Exemplo de aplicação

O texto anterior é uma entrevista com o arquiteto Roberto Pompéia. Este é um exercício de percepção
ambiental com base no fortalecimento dos vínculos com o outro cultural, e nosso objetivo é qualificar as
relações socioambientais em oposição ao massacre normativo da criatividade na vida cotidiana.

A entrevista torna‑se interessante para nós à medida que traz um conjunto de questões diferentes
daquelas feitas pelo comum dos profissionais, pois considera as dimensões da sociabilidade, da afetividade,
202
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

da memória, da amizade, do respeito, do fortalecimento dos vínculos no presente. O argumento é de


que tais elementos fortalecem laços para a defesa do entorno como lugar dos sentidos e, assim, de si
mesmo no mundo inóspito para o migrante. Porém, o raciocínio pode ser estendido às territorializações
de todos nós.

Com base no texto anterior e nas propostas de qualificação ambiental, responda às questões a seguir:

• Quais são os principais problemas identificados pelo entrevistado e as soluções gerais por
ele apontadas?

• Qual é o foco dessas propostas e o que permite ao autor acreditar nesse caminho de enfrentamento
dos tais problemas?

Saiba mais

Muito próximo dessa linha de atuação, de qualificação socioambiental


do entorno, porém de dentro da academia, segue sugestão do texto sobre
projeto, coordenado pelo antropólogo e educador Carlos Rodrigues Brandão.

BRANDÃO, C. R. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para


conhecer, pensar e praticar o município educador sustentável. 2. ed. Brasília:
MMA, 2005. (Programa Nacional de Educação Ambiental). Disponível em:
https://bit.ly/3PiAUde. Acesso em: 3 jun. 2019.

Ainda no que diz respeito às alternativas para as cidades, junto com a inovação do comércio justo
apontada para o campo, indicamos agora experiência equivalente ao caso da Coopercaju, dessa vez
ocorrida na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais.

Poços de Caldas é primeira Fair Trade Town entre as regiões produtoras de café
do globo

O relato da pesquisa é bem interessante e mostra tanto os maiores desafios da rede


mundial de certificação do comércio justo quanto as especificidades da implantação
desse tipo de organização em Poços de Caldas. Barone e Frederico (2015) apresentam o
duplo caráter do comércio justo em atuar dentro e fora do mercado; havendo perigos de
cooptação das iniciativas para usos pelo marketing corporativo, desprovidos do conteúdo
social, dos projetos políticos.

No dia 12 de dezembro de 2012, a página especializada da web Café Point anunciou a


seguinte manchete “Poços de Caldas é primeira Fair Trade Town entre as regiões produtoras
de café do globo”. Outros jornais e sites da internet também apresentaram a novidade

203
Unidade III

[…] como: Primeira cidade de comércio justo na América Latina e em um país produtor.
O município brasileiro de Poços de Caldas, localizado na região sul de Minas Gerais, bem
como outros municípios vizinhos, possuíam associações de pequenos produtores e empresas
com certificação Fair Trade, voltadas principalmente à exportação de produtos para países
desenvolvidos. A novidade da notícia reside na iniciativa de promover o consumo de
produtos de comércio justo nos mercados locais dos países do sul.

Em geral, o Comércio Justo foi estabelecido como uma colaboração comercial entre


produtores do Sul e consumidores do Norte. No entanto, recentemente alguns
países produtores começaram a se organizar para criar redes de consumo locais com a
intenção de diminuir a dependência de mercados externos. Nesse sentido, a cidade de
Comércio Justo de Poços de Caldas, destaca‑se como o primeiro e, até agora, o único
município brasileiro que reúne as três esferas da regulação social (governo, empresas e
representantes da sociedade civil organizada). Seu objetivo é estabelecer uma maior
relação entre o campo e a cidade, através de políticas municipais de incentivo consumo e
disseminação de produtos de Comércio Justo em um país produtor.

[…]

A inserção do Brasil no comércio justo foi estimulada principalmente devido aos


problemas enfrentados pelos agricultores na década de 1990. A aceitação de políticas
neoliberais e a falta de regulamentação na política cafeeira do Estado se refletiu na queda
dos preços internacionais e a porcentagem recebida pelos cafeicultores no valor final do
produto. Estes valores atingiram as taxas históricas mais baixas no início dos anos 1990 a
2000 (Talbot, 2004, Oxfam International, 2002). As organizações de produtores que tinham
o perfil e o desenvolvimento de negócios suficiente para atender aos critérios e demandas
da Fair Trade Labelling Organization International (FLO), viram na inserção do Comércio
Justo uma oportunidade de buscar novos mercados e agregar valor aos seus produtos.

Ao mesmo tempo, para a FLO, o objetivo de atender à crescente demanda internacional


por café de Comércio Justo, tornou‑se uma estratégia para a inserção de produtos brasileiros.
Isso aconteceu porque o Brasil foi tratado como o maior produtor mundial de rubiácea.
Atualmente, o café é o principal produto comercializado pelo Comércio Justo, responsável
por cerca de 60% da receita total da FLO em 2012 (FLO, 2013). Ao contrário da maioria das
commodities agrícolas, a maior parte da produção mundial de café é produzida por pequenos
produtores familiares (Oxfam International, 2002). No Brasil, esses dados não diferem, cerca
de 90% dos produtores de café possuem menos de 100 hectares e, desse total, quase 40%
possuem propriedades inferiores a 10 hectares. Estima‑se que a agricultura familiar seja
responsável por 40% da produção nacional de café (IBGE, 2006).

[…]

Fonte: Barone; Frederico (2015, p. 59‑73).

204
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

A maior bandeira do comércio justo é a melhoria da qualidade de vida e trabalho para os produtores
e para os consumidores, cujas atividades são sistematicamente aviltadas pelos atravessadores e
intermediários que auferem e concentram os lucros do processo produtivo, prejudicando todos os
outros cidadãos.

8.6 Vida humana, que transforma necessidades e matéria em vida, em sentido

A partir do que foi apresentado, podemos concluir que as alternativas ao modelo atual de exploração
dos recursos ganham terreno quando alimentadas com cuidadoso e despojado estudo das práticas sociais
originais, em geral, e produtivas, em particular; isto é, as práticas nativas ou autóctones, vernáculas,
vistas anteriormente.

Vimos, também ajudados pela abordagem sobre as perdas de qualidade advindas das mudanças
culturais nas simbologias das necessidades do trabalho, que o próprio caráter da produção é deslocado
do suprimento básico à sobrevivência para os aumentos em escala que não compensam os riscos e
impactos negativos à integridade alimentar; há uma geração de insegurança alimentar.

Com a escala nos moldes convencionais, há empobrecimento da biodiversidade, um empobrecimento


simbólico, com esquecimento e desuso de rituais associados aos ciclos produtivos e consequente
aplanamento dos gostos.

As perdas são de ordem material, geradas em meio às atividades e procedimentos produtivos já


descaracterizados e sem identidade trabalhador‑ambiente. A organização intrínseca à vida social passa
a ser chamada “gestão simplificada”, e aí ela é vazia, sem imaginação ou conteúdo do grupo.

Com os problemas ambientais e alimentares mais prementes, aprendemos que, se estamos nos
envenenando, também podemos limpar os ambientes e a produção em todas as suas etapas, fundindo os
conhecimentos das atividades agrárias aos ecológicos, agora com ética. Colocamos as bases da noção de
sustentabilidade, tratando‑se do potencial desdenhado de produzir em frentes que trazem experiências
de manejo novas e antigas coordenadas. Assim, ficamos conhecendo exemplos de atuação de agentes
envolvidos nessas novas formas de pensar, limpas, ecológicas, orgânicas, a partir da realidade, e não
fugindo dela, como querem os críticos.

Encerramos com a pesquisa de Kedouk (2013) sobre dinâmica social, que nos é muito cara: a produção
de sujeitos individuais, a mais antiga e útil que existe. Há, aqui, quando da inserção do assunto, um
debate entre duas concepções de crescimento econômico: uma, atrelada às demandas internacionais às
quais visa atender, assim fazendo caixa e patrocinando desenvolvimento; e a outra, que acredita que, se
todos que souberem fazer alguma coisa, o fizerem efetivamente em suas casas, com os equipamentos
que já possuem, um grande passo já terá sido dado para a cidadania por meio da integração social pela
economia. A primeira é baseada em grandes visões estruturais e sistêmicas, enquanto esta última tem
suas crenças na liberdade de exercer conhecimentos e com eles participar ativamente da vida social
local e regional, em princípio.

Em seu posfácio, falando da “volta da comida de verdade”:


205
Unidade III

Hoje, 60 produtores fazem parte da Família (grupo de agricultores e


educadores ambientais chamado Família Orgânica, que acaba de inaugurar
uma sede própria em Piracaia, também em São Paulo), que mantém
convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para fazer pesquisas.
Organizamos cursos e convênios com escolas, restaurantes e instituições
para conscientizar o consumidor, além de vender em feiras e eventos do
setor. Uma das maiores apostas da Família Orgânica é resgatar alimentos
que foram esquecidos no nosso cardápio, como serralha, beldroega, caruru,
capuchinha, taioba e azedinha, que são hortaliças baratas, de fácil cultivo e
ricas em vitaminas e antioxidantes (KEDOUK, 2013, p. 214).

Prato sujo

A produção artesanal de comida também está voltando à tona. É o caso dos queijos
de regiões mineiras como Serro, uma cidade que foi colonizada pelos portugueses e se
desenvolveu por causa da mineração. As famílias por ali tinham o costume de fazer o
próprio queijo, principalmente quando queriam agradar as visitas que chegavam ou
presentear alguém que morava longe – os queijos eram despachados para o País inteiro,
na Serra da Canastra, também. Os tropeiros que passavam na cidade guiando animais de
uma região para outra davam uma parada na Canastra para se abastecer com o queijo
típico de lá. Quando as minas se esgotaram, os moradores começaram a produzir para
vender, e fizeram desse trabalho sua fonte de renda. Até que, em 1952, uma lei federal
que tem o objetivo de garantir a segurança alimentar tornou inviável a venda desses
queijos. É que eles são artesanais, feitos com leite cru – os industrializados levam leite
pasteurizado, o que aumenta o prazo de validade e reduz o risco de contaminação por
bactérias – e ficam prontos para o consumo depois de passar pelo processo de maturação
que dura entre 16 e 22 dias. A maturação é o tempo que o queijo fica descansando para
ficar com a consistência, o cheiro e o sabor característicos. Cada tipo tem um tempo
diferente. Quando a tal lei entrou em vigor, determinou que os queijos feitos com leite
cru só poderiam ser vendidos em outros Estados se passassem por um período mínimo de
maturação de 60 dias. Uma norma dessas só serve para os produtos cozidos, que seguram
bem o longo tempo no mercado. Em outras palavras, favorecem a indústria. As famílias,
que vivem do queijo há 200 anos, passaram a trabalhar na clandestinidade e a ver seus
lucros despencarem. Quando tentaram emplacar uma lei parecida na França, onde cem
dos cerca de 360 tipos de queijo são produzidos no sistema artesanal, teve quebradeira
geral. O roquefort francês, que foi proibido de entrar nos Estados Unidos e virou estopim
de uma gigantesca manifestação contra leis que favorecem os grandalhões do ramo e
empobrecem os pequenos produtores, é feito com leite de ovelha cru.

A proibição levou o governo de Minas Gerais a fazer um acordo de cooperação com


a França para importar conhecimento e técnicas modernas que garantam a segurança
alimentar e a competitividade no mercado. Agora, o Ministério da Agricultura estabeleceu

206
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

uma certificação específica para esse mercado e pretende reduzir o tempo mínimo de
maturação para 16 dias, no caso do queijo de Serro, e de 22 dias para o da Canastra.

Gosto da ideia de comer queijo feito por uma família que tira sua renda disso. Gosto
mais ainda da ideia de ter uma horta em casa. Vivo tentando montar uma, mas preciso
deixar o romantismo de lado e assumir que nunca deu certo comigo. Nem meus vasinhos
de temperos frescos na janela vão para frente. É que ervas, alfaces e repolhos criados em
casa não são como cães. Você compra a melhor terra para alimentá‑los e o canteiro mais
bonito para servir de casinha. Mas eles preferem morrer secos a pedir água. Não perdoam
desatenção, nem mesmo se você teve uma semana dura. E acabam sendo comidos por
cochonilhas, aqueles insetos brancos, marrons ou amarelos que grudam nos caules para
se alimentar da seiva. Eles só aparecem quando há desequilíbrio na terra: muito ou pouco
nutriente, muita ou pouca água, muito ou pouco sol. Em minha defesa, devo dizer que
continuo tentando, com a melhor das intenções.

Fonte: Kedouk (2013, p. 168‑170).

Em suma, estamos promovendo a fragmentação dos afazeres, de sua inteligência e do conhecimento


do corpo, mas a ótima notícia é que podemos melhorar.

207
Unidade III

Resumo

Procuramos o estabelecimento da cidadania em seus aspectos formais


e reais, para os habitantes dos espaços rurais e urbanos, a vida diante dos
direitos e normas.

Há mudanças na sociedade, com movimentos e organizações sociais,


manifestações políticas e multiplicidade de projetos. Trazemos a agricultura
familiar, as ruralidades e um pouco da vida nas cidades. Descobrimos que o
trabalho de cada um não tem sentido, individual e coletivo, há fragmentação
do fazer, da inteligência e do conhecimento do corpo todo.

Ao final desta unidade, buscam‑se as ações alternativas da política


diante das perdas de sentido do trabalho e de seu produto, seja em território
rural ou urbano. Apresentam‑se os elementos comuns da natureza para
provocar novas formas de vê‑los, exercitando a sensibilidade e a percepção,
enxergando‑os mais de perto.

208
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

Exercícios

Questão 1. (PUC‑RJ 2012, adaptada)

Figura 12

A charge do cartunista Angeli (2006) se refere à:

A) Natureza das políticas públicas que priorizam coisas e não pessoas.

B) Forma como os migrantes são tratados nos grandes centros Brasileiros.

C) Discriminação sofrida por negros e nordestinos na cidade de São Paulo.

D) Politização da patrimonialização da cultura cosmopolita das metrópoles.

E) Qualidade de vida de pedestres e motoristas nas metrópoles brasileiras.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: a charge mostra um viaduto tombado pelo patrimônio histórico nacional, o que significa
que esse viaduto tem proteção especial do poder público, não podendo ser destruído ou alterado.
Ao mesmo tempo, a charge mostra moradores de rua debaixo desse mesmo viaduto, o que significa

209
Unidade III

pessoas excluídas e marginalizadas da sociedade sem nenhum suporte ou proteção do poder público.
Diante dessa situação, o cartunista nos leva a concluir que as políticas públicas, muitas vezes privilegiam
as coisas em detrimento das pessoas, que deveriam ter prioridade em qualquer Estado minimamente
preocupado com seus cidadãos.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: pela charge não sabemos a procedência das pessoas.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: pela charge não sabemos a procedência e a cor de pele das pessoas, em meio à fuligem, toda
espécie de material particulado (sujeira), procedente, principalmente das emissões de veículos automotores.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há referências à cosmopolitismo e politização seria o caminho da melhoria.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há referências disso na charge.

Questão 2. (UFTM) Analise a ilustração e as afirmações que seguem.

Visão de uma cidade sustentável

Figura 13

210
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA

I – Uma sociedade sustentável reconhece que depende de suas relações com a natureza, promovendo
sua evolução de forma a amenizar os impactos ambientais.

II – A busca por fontes alternativas de energia, o incentivo a projetos de redução e reciclagem de


lixo e a execução de políticas que visem à racionalidade na utilização dos recursos naturais podem ser
consideradas medidas fundamentais para promover a sustentabilidade.

Com relação às afirmações, pode‑se dizer que:

A) I e II são verdadeiras, mas se contradizem.

B) I e II são verdadeiras, mas não se relacionam.

C) I e II são verdadeiras e relacionam‑se.

D) Somente I é verdadeira.

E) Somente II é verdadeira.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a afirmativa está correta porque apresenta os principais núcleos da sustentabilidade:


relações ecoeficientes sociedade-natureza, racionalizando, desse modo, as atividades produtivas.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: essa afirmação é uma variação sobre o tema da afirmação anterior; estão corretas e se
relacionam.

211
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