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Geografia

Urbana
Profa. Dra. Elaine Mundim Bortoleto

Editora
Geografia Urbana

Profa. Dra. Elaine Mundim Bortoleto

Editora
GEOGRAFIA URBANA
EXPEDIENTE
COORDENAÇÃO GERAL COORDENAÇÃO DE
Nelson Boni REVISÃO ORTOGRÁFICA
Esthela Malacrida

AUTOR(ES) COORDENAÇÃO,
Profa. Dra. Elaine M. Bortoleto PROJETO GRÁFICO E CAPA
João Guedes

1º EDIÇÃO - 2022 | SÃO PAULO/ SP

Ficha Catalográfica/ ISBN

CATALOGAÇÃO ELABORADA POR GLAUCY DOS SANTOS SILVA - CRB8/6353

Editora
Sumário:
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS AULA 7: A URBANIZAÇÃO
SOBRE A CIDADE E O BRASILEIRA���������������������������� 7-1
URBANO���������������������������������� 1-1
AULA 8: MORADIA E
AULA 2: CAPITALISMO E O DESIGUALDADE SOCIAL
PROCESSO URBANO NA CIDADE: PERIFERIA E
INDUSTRIAL���������������������������� 2-1 HABITAÇÃO���������������������������� 8-1
AULA 3: A PRODUÇÃO DO ESPAÇO AULA 9: Metropolização e
URBANO���������������������������������� 3-1 Reestruturação Urbano
Industrial��������������������������������� 9-1
AULA 4: PROCESSOS E FORMAS
ESPACIAIS������������������������������ 4-1 AULA 10: Segregação Socioespacial
e Violência Urbana��������������� 10-1
AULA 5: DINÂMICA DA EVOLUÇÃO
URBANA – PROCESSO DE AULA 11: Problemas Ambientais
USO E OCUPAÇÃO Urbanos��������������������������������� 11-1
DO SOLO��������������������������������� 5-1
AULA 12: A GEOGRAFIA URBANA E
AULA 6: REDE URBANA����������������������� 6-1 O ENSINO DE GEOGRAFIA� 12-1
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS
SOBRE A CIDADE E O
URBANO
Tópicos
„„ ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS „„ CIDADE ABERTA/SEM MUROS������� 1-26
CIDADES���������������������������������������������� 1-3
„„ CARACTERÍSTICAS DAS
„„ CONCEITO DE CIDADE���������������������� 1-5 CIDADES EM SUA ORIGEM������������� 1-28
„„ CONCEITO DE URBANO�������������������� 1-7 „„ CIDADE-ESTADO NA GRÉCIA��������� 1-30
„„ ORIGEM E FORMAÇÃO DAS „„ EXPANSÃO DAS CIDADES NO
CIDADES: ANTIGUIDADE; IDADE IMPÉRIO ROMANO��������������������������� 1-34
MÉDIA E CAPITALISMO COMERCIAL1-9
„„ CARACTERÍSTICAS DA CIDADE����� 1-37
„„ A ALDEIA - CONDIÇÕES PARA O
„„ AS CIDADES NA IDADE MÉDIA –
SURGIMENTO DA CIDADE �������������� 1-14
FIM DO IMPÉRIO ROMANO�������������� 1-39
„„ AS CIDADES NA AN TIGUIDADE ���� 1-21
„„ FIM DO IMPÉRIO ROMANO –
„„ CIDADE NA MESOPOTÂMIA EXPANSÃO ÁRABE E A CIDADE����� 1-42
(sumeriana) 3.500 AC����������������������� 1-22
„„ REFLEXÕES FINAIS������������������������� 1-44
„„ CIDADE NO EGITO – 3.000 AC��������� 1-24
„„ REFERÊNCIAS:��������������������������������� 1-45
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS CIDADES

“ A urbanização como processo, e a cidade, forma


concretizada deste processo, marcam tão profunda-
mente a civilização contemporânea, que é muitas ve-
zes difícil pensar que em algum período da História
as cidades não existiram, ou tiveram um papel in-
significante. Entender a cidade de hoje, apreender
quais processos dão conformação à complexidade
de sua organização e explicam a extensão da urba-
nização neste século, exige uma volta às suas ori-
gens e a tentativa de reconstruir, ainda que de forma


sintética, a sua trajetória

(Sposito, 1988, p.06).

1-3
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

A cidade do passado e a
cidade atual

Transformações no
processo de produção do
espaço urbano

1-4
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CONCEITO DE CIDADE

É muito difícil definir cidade a partir de um único conceito. Apresentamos aqui tre-
chos do trabalho do Prof. Pedro de Almeida Vasconcelos, “As metamorfoses do con-
ceito de cidade” (Mercator, Fortaleza, v. 14, n. 4, Número Especial, p. 17-23, dez,
2015) para uma percepção mais aprofundada do conceito e de suas transformações
ao longo da evolução da ciência geográfica.

O geógrafo Friedrich Ratzel, no seu livro Antropogeographie, de 1882, propôs a


seguinte definição de cidade: “um adensamento contínuo de pessoas e habitações
humanas, que ocupa uma considerável área do solo e que está localizado no centro
das principais linhas de tráfico”.

Lewis Mumford em seu livro A Cultura das Cidades, define a cidade como um “[...]
plexo geográfico, uma organização econômica, um processo institucional, um teatro
de ação social e um símbolo estético de unidade coletiva” (MUNFORD, 2008, p. 443).

1-5
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Henri Lefebvre foi um dos intelectuais que mais estudou as cidades, em “O Direito
à Cidade”, de 1968, ele definiu a cidade como “a projeção da sociedade sobre o terre-
no” (LEFEBVRE, 2002, p. 64).

Verifica-se que definições de cidade variam segundo a corrente em que o autor se


vincula, o geógrafo inglês David Harvey (1973, p. 34 e 174), define a cidade como um
“[...] sistema dinâmico complexo no qual a forma espacial e o processo social estão
em contínua interação”. Quando passou para o paradigma socialista o autor conside-
rou a cidade como “o lugar das contradições acumuladas”.

Para Sposito (1988), a cidade de hoje é o resultado cumulativo de todas as outras


cidades de antes, transformadas, destruídas, reconstruídas, enfim produzidas pelas
transformações sociais ocorridas através dos tempos, engendradas pelas relações
que promovem estas transformações.

1-6
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CONCEITO DE URBANO

Lefebvre em “A Revolução Urbana”, de 1970, afirmou que “o urbano (o espaço


urbano, a paisagem urbana) não o vemos”. O urbano “é uma forma pura: o ponto de
encontro, o lugar de reunião, a simultaneidade” (LEFEBVRE, 1970, p. 43).

Manuel Castells, publicou A Questão Urbana em 1972, a partir da concepção mar-


xista-estruturalista e considera o “espaço” como “um produto material, em relação
com outros elementos materiais [...] que dão ao espaço [...] uma forma, uma função,
uma significação social” e que o “espaço urbano” seria estruturado. Considerou tam-
bém “o espaço da produção como sendo o espaço regional e o da reprodução sendo
chamado espaço urbano”. Em 1975, definiu “estrutura urbana” como um “conceito que
especifica a articulação das instâncias fundamentais da estrutura social no interior das
unidades urbanas consideradas” (CASTELLS, 1972, p.152-477).

1-7
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Para Roberto Lobato Corrêa (1989, p. 9), o “espaço urbano” é um “espaço frag-
mentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e cam-
pos de lutas”.

Manuel Castells lançou o livro A Cidade Informacional, em 1989, com o subtítulo


de “Tecnologias de informação, reestruturação econômica e o processo urbano regio-
nal”, no qual ele anuncia “o surgimento histórico de um espaço de fluxos, superando o
significado do espaço dos lugares”, entretanto, não define cidade, trabalhando com a
noção de “cidade dual”, cuja estrutura espacial combinaria segregação, diversidade e
hierarquia (CASTELLS, 1975, p. 320-483).

Em 1994 Milton Santos estabeleceu a diferença entre “urbano”, que seria frequen-
temente o abstrato, o geral e o externo, e a “cidade”, seria o particular, o concreto
e o interno . A cidade seria para o autor ao mesmo tempo, uma região e um lugar
(SANTOS, 1994, p. 69-71).

1-8
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

ORIGEM E FORMAÇÃO DAS CIDADES: ANTIGUIDADE;


IDADE MÉDIA E CAPITALISMO COMERCIAL

A primeira semente para o surgimento das cidades foi lançada no Período Paleolítico.
Mesmo sem ter se fixado a uma única moradia, a caverna tinha um grande significa-
do para o homem paleolítico, representava mais que apenas um lugar de segurança,
mas o local onde também desenvolvia relações pessoais e sociais (acasalamento, a
partilha do alimento em grupo, a pratica de seus rituais e suas artes) relações e
ações, que depois também serão motivo de fixação nas cidades.

De acordo com Sposito (1988, p. 08 ):

Se a “semente” fora lançada durante o paleolítico, é efetivamente no período se-


guinte, mesolítico, que se realiza a primeira condição necessária para o surgimento
das cidades: a existência de um melhor suprimento de alimentos através da domesti-
cação dos animais, e da prática de se reproduzirem os vegetais comestíveis por meio

1-9
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

de mudas. Isto se deu há cerca de 15 mil anos e todo esse processo foi muito lento,
porque somente três ou quatro mil anos mais tarde essas práticas se sistematizaram,
através do plantio e da domesticação de outras plantas com sementes, e da criação
de animais em rebanhos.

Faz-se relevante ressaltar que para que essa “domesticação” de animais e plantas
ocorresse, foi necessário uma revolução sexual também, com a fixação do homem a
um território, ocorrendo não a divisão sexual do trabalho – a separação entre o traba-
lho do homem e da mulher.

“ Aquilo a que chamamos revolução agrícola foi, mui-


to possivelmente, antecedido por uma revolução se-
xual, mudança que deu predomínio não ao macho
caçador, ágil, de pés velozes, pronto a matar, impie-
doso por necessidade vocacional, porém, à fêmea,
mais passiva, presa aos filhos, reduzida nos seus
movimentos ao ritmo de uma criança, guardando e

1-10
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

alimentando toda sorte de rebentos, inclusive, oca-


sionalmente, pequenos mamíferos lactantes, se a
mãe destes morria, plantando sementes e vigiando
as mudas, talvez primeiro num rito de fertilidade, an-
tes que o crescimento e multiplicação das sementes
sugerisse uma nova possibilidade de se aumentar a
safra de alimentos. (...) Com a grande ampliação dos
suprimentos alimentares, que resultou da domesti-
cação cumulativa de plantas e animais, ficou deter-
minado o lugar central da mulher na nova economia.
(...) A casa e a aldeia, e com o tempo a própria cida-


de, são obras da mulher.

(MUNFORD, 1961, P. 12)

1-11
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

“ Antes da cidade, houve a pequena povoação, o san-


tuário e a aldeia; antes da aldeia, o acampamento, o
esconderijo, a caverna, o montão de pedras; e antes
de tudo isso, houve certa predisposição para a vida


social [...]

(MUNFORD, 1 2008, p. 11)

1-12
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

• Cidade dos mortos


Referências espaciais dos
• Cavernas
grupos paleolíticos
• Reservas de água, caça e pesca

• Domesticação de plantas e animais;


• Desenvolvimento agrícola e doméstico;

Consequências:
• suprimento alimentar amplo e seguro;
• fixação em aldeias;
• ampliação da população
(Esquema: Turra Neto, Necio, s/d)

1-13
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

A ALDEIA - CONDIÇÕES PARA O SURGIMENTO DA CIDADE

A aldeia é, apenas, um aglomerado de agricultores. “Uma comunidade de agricul-


tores, por mais densamente aglomerados que vivam seus habitantes e por maior que
ela seja (de fato, ela não pode ser muito grande, devido ao caráter extensivo das
atividades primárias) não pode ser considerada uma cidade” (SINGER, 1973, P. 13).

Destaca-se que no neolítico já havia se realizado a primeira condição para o surgi-


mento das cidades, qual seja a fixação do homem à terra através do desenvolvimento
da agricultura e da criação de animais, mas faltava a concretização da segunda con-
dição, que é uma organização social mais complexa.

A produção do campo que alimentava as aldeias, mantendo as necessidades bási-


cas e certo armazenamento, para a entressafra. Mas, se naquele ano a colheita fosse
ruim, por causa de qualquer incidente natural ou humano, o suprimento se esgotava
rapidamente e a fome passava a atingir a aldeia. Impelidos pela necessidade, os gru-
pos neolíticos começaram a desenvolver técnicas para ampliar a área produzida e a

1-14
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

produtividade; técnicas de armazenamento em maior escala; bem como toda uma or-
ganização social, religiosa e política, para garantir o armazenamento e gestão do ex-
cedente e para coordenar os trabalhos coletivos em obras públicas, como a irrigação
e as construções de templos e armazéns. A guerra também passou a demandar mais
recursos e especialistas. (Turra Neto, s/d; Sposito, 1988)

A produção do excedente alimentar se coloca como uma das condições essenciais


para que se efetive uma divisão social do trabalho, que por sua vez abre a possibili-
dade de se originarem cidades. Singer acrescenta uma segunda condição necessária
para a constituição da cidade:

“ É preciso ainda que se criem instituições sociais,


uma relação de dominação e de exploração enfim,
que assegure a transferência do mais-produto do
campo à cidade. Isto significa que a existência da
cidade pressupõe uma participação diferenciada dos
homens no processo de produção e de distribuição,

1-15
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

ou seja, uma sociedade de classes. Pois, de outro


modo, a transferência de mais produto não seria
possível. Uma sociedade igualitária, em que todos
participam do mesmo modo na produção e na [pág.
14] apropriação do produto, pode, na verdade, pro-
duzir um excedente, mas não haveria como fazer
com que uma parte da sociedade apenas se dedi-
casse à sua produção, para que outra parte dele se


apropriasse

(SINGER, 1973, p. 14)

Fortalecimento da figura masculina -protetor/defensor do grupo - o impulso mas-


culino por controlar a natureza a partir das técnicas e outros grupos humanos a partir
das armas foi o que originou uma organização social mais complexa, que teve como
desdobramento e como condição para sua realização uma organização espacial mais

1-16
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

complexa: surge a cidade, distinta e se-


parada do campo e da aldeia, exercen-
do controle sobre ambos.

O caçador, elemento superado da


economia anterior, tornou-se figura
importante na comunidade agrícola,
e passou a desempenhar uma tarefa
maior, a de governar os aldeões. Por
isso, Mumford (2008, p. 15) afirma que
a mulher, que tinha sido uma figura fun-
damental na aldeia neolítica, pelo seu Passagem do caçador à condição de chefe
político-religioso.
papel no desenvolvimento da atividade
agrícola, volta à condição secundária.

1-17
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

„„A origem da cidade é política e religiosa


Lugar de dominação. Nela os excedentes alimentares são transformados em po-
der militar, dominação política e reverência às deidades.

Constata-se que a relação de dominação originada entre aldeões e caçador-chefe


político-rei, gerou condições para uma relação de exploração. Assim, os tributos tão
característicos da vida urbana provavelmente originaram-se no respeito ao “caçador”
traduzidos nas oferendas ao rei. As oferendas, e depois o pagamento sistematizado de
tributos, nada mais eram do que a realização concreta da transferência do excedente
agrícola, do mais-produto, revelando a referida participação diferenciada dos homens
no processo de produção, distribuição e apropriação da riqueza. Ai se originou a so-
ciedade de classes, e se concretizou a última condição necessária e indispensável à
própria origem da cidade (SPOSITO, 1988).

Para Singer: a cidade é a sede do poder, local de moradia da classe dominante.


O campo é onde se dá a atividade primária, é autossuficiente.

1-18
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Assim, sem o excedente capturado do campo, a cidade não existiria. Para ga-
rantir esta transferência permanente do excedente do campo, toda uma série de insti-
tuições sociais surgiram...

Isso quer dizer que, para existir cidade, é preciso uma sociedade de classes (ou
seja, participação desigual das pessoas na produção e distribuição da riqueza).
Há uma centralização do poder – uma minoria dominando uma maioria – seguiu-se
uma centralização e concentração espacial do poder e dos recursos – aplicados
para maior controle da natureza e maior domínio de homens e territórios (Turra Neto,
s/d).

Há controvérsias sobre a própria origem dessa estrutura de classes: ela tanto po-
deria ter surgido a partir da diferenciação interna da comunidade, que estava se cons-
tituindo em urbana, quanto da dominação do urbano sobre o não urbano. Ou seja, é
possível que a constituição da realeza, a partir da transferência do excedente agrícola,
do mais-produto, tenha se dado tanto em troca da proteção que o rei dava aos mora-
dores desta aldeia — transmudando-se em cidade —, como pela dominação deste rei

1-19
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

sobre outras aldeias ou trabalhadores agrícolas “interessados” também na proteção


militar-divina do rei.

Essa questão fortalece o entendimento de que, apesar de muitas cidades terem


surgido ao redor do mercado, não se pode dizer que fossem cidades comerciais. O
mercado era apenas o sítio no qual se localizava a cidade.

1-20
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

AS CIDADES NA AN TIGUIDADE

De acordo com Sposito (1988) Os autores apontam a origem das cidades prova-
velmente perto de 3500 a.C, seu aparecimento na Mesopotâmia (área compreen-
dida pelos rios Tigre e Eufrates), tendo surgido posteriormente no vale do rio Nilo
(3100 a.C), no vale do rio Indo (2500 a.C.) e no rio Amarelo (1550 a.C). A explicação
de ordem “geográfica”, natural se apresenta como causa mais efetiva para seu surgi-
mento próximo aos rios - as primeiras cidades surgiram em regiões com predomínio
de climas semiáridos, daí a necessidade de se fixarem perto dos rios, repartir a água,
repartir os escassos pastos, e proceder ao aproveitamento das planícies inundáveis,
ricas de húmus e propícias ao desenvolvimento da agricultura. “Assim, embora fos-
sem resultado do social e do político enquanto processo, as primeiras cidades tiveram
suas localizações determinadas pelas condições naturais, de um momento histórico,
em que o desenvolvimento técnico da humanidade ainda não permitia a superação
destas imposições” (SPOSITO, 1988, p. 15).

1-21
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CIDADE NA MESOPOTÂMIA (sumeriana) 3.500 AC

Cidades-estado independentes ao longo dos vales e rios): uso da planície; disputa


pelos territórios - expansionismo fruto de guerras e conquistas.

1-22
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

1-23
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CIDADE NO EGITO – 3.000 AC

Rede de cidades ao longo do Vale do Rio Nilo: baixo e alto Nilo

1-24
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CIDADES MURADAS: cercadas por muros e algumas tinham fossos, o que indi-
vidualizava, de forma clara, o espaço urbano, e facilitava a tarefa dos governantes de
defender seus governados de um ataque inimigo. As formas predominantes eram de
ruas e muros traçados retilineamente, formando entre si ângulos retos.

Babilônia in Benévolo, 1976, p.35

1-25
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CIDADE ABERTA/SEM MUROS

–– Absolutismo centralizado e teocrático: Faraó é autoridade e deus;


–– Coesão política dada pela religião (não é preciso muralha);
–– Crença na imortalidade: vida após a morte era mais importante
–– Cidade dos mortos: construção de túmulos e pirâmides fora da cidade;
–– Construções em pedra (durar) e mobilização de enorme F T;
–– Cidade dos vivos: em barro, mais frágil. Por vezes acampamentos enquanto
construíam pirâmides. Cidades provisórias.

1-26
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Cidade no Antigo Egito

1-27
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES EM SUA ORIGEM

–– Cidadela: lugar central, situado no alto (sítio em acrópole). Alto de colina: fun-
ção defensiva e simbólica (domínio/poder)
–– A cidadela é repertório das mais ricas relíquias da arte e da técnica: a arte
monumental reduzia o homem a uma posição inferior;
–– A cidadela era expressão do poder, nela se concentravam o templo, o ar-
mazém, o palácio: o poder se irradiava da cidadela para toda cidade e aldeias
e os tributos afluíam para dentro dela.
–– A muralha: artifício militar de defesa e de controle da pop. Urbana - produziam
distinções sociais e ambientais
–– A cidadela também tinha papel econômico: foi onde primeiro se realizava o
mercado (no templo) – economia totalitária;

1-28
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

–– Os meios de transporte eram o elemento dinâmico da cidade (cidade e


navegações);
–– Mercado e mercadores

(Turra Neto, s/d)

1-29
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CIDADE-ESTADO NA GRÉCIA

–– Separação do poder político e religioso;


–– Colonização grega do mundo mediterrâneo entre 750 e 500 ac;
–– Colônias que se formaram pela expansão do comércio e busca de terras férteis,
depois tornadas Estados independentes;
–– Expansão da civilização grega.

1-30
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

1-31
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Novo padrão de cidade-estado século 500 ac.: Pólis Regime DEMOCRÁTICO:


decisões tomadas na Assembleia de cidadãos. Cargos renovados constantemente
para evitar associação com regime dos imperadores.

Cidadãos: os homens livres filhos de atenienses (excluídos os estrangeiros,


mulheres e escravos).

Forma da cidade: acrópole (lugar central) Templo dos Deuses Paço Municipal
(substitui o palácio) Anfiteatros.

1-32
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Ágora: ponto de encontro, mercado, centro


dinâmico. Separado do Templo (separação
religião-negócios) 3 funções: lugar da
assembleia, da palavra; lugar do mercado
(trocas); centro festivo (SCIFONI, 2013).

1-33
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

EXPANSÃO DAS CIDADES NO IMPÉRIO ROMANO

–– Domínio territorial imposto pelas cidades – estado;


–– Unificação do império sob comando de Roma, atingiu norte África, Oeste da
Ásia, região do mediterrâneo, partes da Europa;
–– Controle de cidades por via comercial: cidades especializadas (divisão inte-
rurbana do trabalho). Especialização de ofícios;
–– Legislação protetora do comércio.

1-34
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Domínios do Império Romano

1-35
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

O Império Romano é sem dúvida o melhor exemplo de expansão da urbanização


na Antiguidade, por conta de um poder unificado. A vitória dos romanos sobre os gre-
gos da Itália e Sicília, e a anexação dos impérios cartaginês e helenístico, permitiram
a apropriação e o aperfeiçoamento dos sistemas econômico e administrativo já desen-
volvidos por estes povos.

Além disto, o Império estendeu-se para a Europa ocidental, permitindo o desenvol-


vimento urbano em regiões habitadas por “bárbaros”. [...]. O poder político do Império
Romano permitiu portanto, não apenas que a urbanização deixasse de ser um proces-
so “espontâneo”, uma vez que muitas cidades foram fundadas nas áreas recém-con-
quistadas para permitir a hegemonia política romana sobre estas áreas, como também
acabou por propiciar uma ampliação imensa da divisão interurbana do trabalho [...].

1-36
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

CARACTERÍSTICAS DA CIDADE

Templo - oração Anfiteatro – eventos como o circo Estádio – disputas esportivas

Termas – banhos públicos Vias pavimentadas – estradas com pedra batida, com
pontes de pedra sobre cursos d’água Viadutos Aquedutos – 13 no total trazem 1 bilhão
de m3 de água/dia.

Rede de esgotos em parte da cidade (restante em poços ou a céu aberto)

Fórum – equivalente a ágora grega, lugar das assembleias. Não era simplesmente
uma praça aberta: tinha prédio da justiça, espaço para oradores.

Domus: moradia dos mais ricos em casas individuais

Insular: moradia dos mais pobres, habitações coletivas, de vários andares e de


padrão semelhante.

1-37
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

   

Monumentalidade das construções, refinamento artístico, os ornamentos, obras de


arte, espaços públicos de festas, eventos coletivos (Scifoni, 2013.)

1-38
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

AS CIDADES NA IDADE MÉDIA – FIM DO IMPÉRIO ROMANO

“ A partir do século V d.C, com a queda do Império


Romano, houve um declínio expressivo no processo
de urbanização. Ocorreram, então, uma desestrutu-
ração da rede urbana que havia se desenvolvido sob
a hegemonia do poder político centralizado, uma di-
minuição da importância e portanto do tamanho das
grandes cidades, e o desaparecimento de muitas
pequenas cidades do Império.

Este processo não se deu de forma homogênea por


todo o território sob o domínio romano, como vere-
mos logo adiante, mas o fato é que houve um declí-
nio muito forte da urbanização, e isto tem a ver com
transformações econômicas, sociais e políticas que

1-39
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

vão se dar no território europeu, a partir da queda do


poder político centralizado em Roma e da invasão


árabe

(SPOSITO, 1988, p. 22)

O período medieval é marcado pela queda do Império Romano, que se deu no


século V (ano 476), e constituiu-se concretamente na quebra da hegemonia política
romana sobre a bacia do Mediterrâneo — grande parte da Europa, norte da África e
Oriente Médio.

Vida nas cidades diminui, - êxodo para campo. Cerca de 20% da população na
Europa fica nas cidades. Cidade perde papel político, de controle do território. Cidade
fortificada: defesa - surgimento do Burgo.

1-40
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Característica das cidades medievais: Cidades isoladas, vida fechada, murada.


Poucas mantiveram papel ativo na economia como as cidades comerciais da Itália
(Gênova e Veneza)

Forma arredondada: ruas em curva acompanham topografia (cidades em acró-


pole) – planta orgânica. Ruas irregulares, mas é possível orientar-se por ela (contrá-
rio da cidade muçulmana) (SPOSITO, 1988/SCIFONI, 2013).

    

Cidade Medieval: Planta converge para o topo: campanário, igreja e praça (cen-
tro da cidade).

1-41
AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

FIM DO IMPÉRIO ROMANO – EXPANSÃO ÁRABE E A CIDADE


Granada/Esp.
●● Sec. VII dc. os árabes invadem a
costa do mediterrâneo;
●● Cidade muçulmana: sociedade
fechada, religiosa. Cidade não
apresenta regularidade no traça-
do: ruas formam labirintos. Vida Ronda/Esp.

familiar: aspecto reservado;


●● Equipamentos: não tem fóruns,
teatros, anfiteatros, estádios e
ginásios. Só: mesquita e termas
para banhos e casas ou palácios
particulares. Bazar: centro do
comércio.

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AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

Século X: nova vida econômica nas cidades (fim das invasões), comércio se
expande.

Baixa Idade Média: crescimento da população no campo, pressão sobre a terra,


exigência ampliada dos senhores de extração de renda da terra pressiona aumento de
produtividade, esgotamento de terras Crise do feudalismo. Surgimento de novo sujeito
social: comerciante.

Troca e moedas se generalizam e põe em xeque o regime de economia natural.

Crescimento do comércio e das cidades: forças para capitalismo.

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AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

REFLEXÕES FINAIS

Ao analisar o processo de urbanização do século IV a.C. até os séculos X e XI dC.,


verifica-se que este apresenta as condições econômicas, sociais e políticas neces-
sárias à sua origem e evolução. O fato urbano pré-capitalista foi bastante expressivo,
como bons exemplos disto, estão tanto as cidades antigas localizadas na bacia do
Mediterrâneo, quanto as orientais, todas essencialmente políticas - evidenciando a
cidade como local de “dominação”. Destaca-se, inclusive, o papel das “cidades” feu-
dais, pois mesmo pequenas e muitas vezes com um caráter urbano discutível, por seu
caráter pouco político e muito mais religioso, estavam inseridas na economia feudal, e
ao mesmo tempo em conflito contra ela, sendo que as contradições existentes no in-
terior desse modo de produção permitiram a sua desagregação, bem como a retoma-
da, aos poucos, de seus papéis, dando sustentação à organização de um novo modo
de produção — o capitalista — que se inicia nos últimos séculos do período medieval
(SPOSITO, 1988.).

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AULA 1: NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO

REFERÊNCIAS:
BENEVOLO, L. História da cidade. São Paulo: MUNFORD. L. A cidade na história. São Paulo:
Perspectiva, 2007. Martins Fontes, 2008.
CASTELLS, Manuel. A questão urbana. São SPOSITO, Maria Encarnação B. Capitalismo e
Paulo: Paz e Terra, (1972) 2006. urbanização. São Paulo: Contexto, 1988.
CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. SCIFONI, Simone. Geografia Urbana I -
São Paulo: Ática, 1989. GEOGRAFIA/FFLCH/USP, 2013.
HARVEY, David. A produção capitalista do es- SINGER, P. Economia Política da urbanização.
paço. São Paulo: Anna Blume, 1973. São Paulo: Brasiliense, 1973.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Vasconcelos, Pedro de Almeida . As metamorfo-
Horizonte: Humanitas, (1970) 2002. ses do conceito de cidade. (Fortaleza, v. 14, n.
4, Número Especial, p. 17-23, dez, 2015).

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