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LINKS URBANOS
da escala metropolitana à escala local
trabalho final de graduação
maria claudia levy figliolino
orientador: abílio guerra
dez.2013
2
Propõe-se a percorrer
diferentes células do
organismo vivo que é a
cidade, costurando-as
de modo sutil e discreto.
Direcionando-as para um
crescimento, que mesmo
que incontrolável, seja
consciente e includente.
Linkando-as, suavemente,
admitindo suas diferenças
e resultando na passagem
de uma à outra de maneira
leve, sem bruscas rupturas.
Sempre constante.
Da infraestrutura
metropolitana à escala
local, das decisões políticas
da macrometrópole ao
cotidiano do indivíduo.
Procura-se tratar com
abrangência dos opostos,
3
de modo a conectá-los, e
fazer com que trabalhem
juntos, e se multipliquem
com a tamanha
imprevisibilidade a que lhes
é inerente.
SARA BRAZIL_1930
8
“Habitar uma cidade é ser dela cidadão”
[Jorge Wilheim]
subcentros
3>
nova centralidade
5>
Assim como descreve Brissac: “Nos últimos anos, novos agentes e padrões de organização 5. Termo americano Leap Frog, para
do espaço urbano anunciam um outro ciclo de reestruturação. Megaprojetos internacionais subusrbanização. Ver: TOURINHO,
de redesenvolvimento vão reconfigurar regiões inteiras das cidades, baseados em Andréa de Oliveira. Op. Cit.
imensas estruturas arquitetônicas multifuncionais. Investimentos intensivos que exigem 6. ASCHER, François. Op. Cit. p.38
desregulamentação e subordinação da administração pública. Uma dinâmica que, devido a sua
escala, distingue-se por completo dos modos de ocupação e organização do espaço urbano até 7. BRISSAC, Nelson. Ver: < www.
então promovidos pelo Estado e pelos interesses imobiliários tradicionais.”[7] artecidade.or.br/novo/pesquisa/zl/zl>.
Acessado em 20 de Julho de 2013.
25
Mas, no fundo, o que torço mesmo é para que a 9. GUERRA, Abilio. Grotão do Bixiga.
esqueçam por mais algum tempo – com sorte, Arquiteturismo, São Paulo, ano 06,
n. 064.01, Vitruvius, jun. 2012 <http://
algumas décadas –, que troquem a revitalização www.vitruvius.com.br/revistas/read/
artificial da área pela vitalidade arcaica que lhe arquiteturismo/ 06.064/4389>
dá o caráter. O isolamento tem como aliado a
10. GUERRA. Abílio. Op. Cit.
própria inexistência oficial do Bixiga, bairro
tradicionalíssimo desprezado pela divisão Ao lado, os diferentes núcleos de forte
administrativa da cidade, afinal não passa de identidade dos bairros centrais, que
uma denominação popular para uma parte podem ser entendidos como fruto
das grandes barreiras [trens e
do distrito da Bela Vista, sendo o grotão sua avenidas] que confluem na região
parte mais baixa, geograficamente. Passear central de São Paulo. Ao mesmo
por ali é se deparar com a memória da cidade tempo que os isolam, são quem os
delimitam e os escondem; tornando-
provinciana que São Paulo foi até anteontem. os individualmente peças singulares
[10] formadoras desse grande tecido que
é a área central. Elaboração: MCLF
27
Nos bairros centrais não é apenas o Bixiga que se encontra nessa situação. Ao
observarmos a malha central, ela se divide pelos grandes eixos: Leste - Oeste, Norte
- Sul, desde a ferrovia até as grandes avenidas advindas do plano de Prestes Maia.
E o que está entre esses importantes rasgos, fios condutores de grandes fluxos,
são bairros ilhados, retalhos na colcha da cidade, consequentemente excluídos e
protegidos: protegidos da especulação, da invasão, do turista; excluídos por que o
mercado imobiliário lhe virou as costas; conhecidos por sua história: muitas vezes
bairros operários, tradição no samba, na macarronada, no comércio local ou serviço
especializado, mas sempre com cara de bairro.
Reconhecemos o traço que caracteriza os bairros centrais: seja por suas edificações
tombadas, seja pelo pequeno comerciante de ofício, seja pelo comércio especializado
que se estruturou de tal maneira a estabelecer uma dinâmica local paralela à dinâmica
metropolitana de incansáveis fluxos, gerando uma vida intrínseca ao local, de forte
reconhecimento daqueles que lá habitam.
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resgate ao bairro
Ao lado: samba na Barra Funda
Brasil está com a cidadania atrasada.[1] entre amigos em dia de sábado. Rua
Anhanguera, 2013. Foto autora.
Estamos aqui retomando uma dinâmica que já foi muito
presente na cidade de São Paulo: a vida de bairro,
movimento muito rico e estimulador, principalmente
nos bairros centrais aqui tratados.
A vida de bairros anteriormente operários, onde se
localizavam pequenas vilas, era marcada pela criançada
na rua, os mais velhos papeando na porta de casa,
mensagens que eram gritadas da janela, roupas sendo
lavadas no espaço comum à todos, e etc. Cenas que
compõem o imaginário de quem pensa nos bairros
como a Móoca, Bom Retiro, Bixiga há 50 anos atrás.
Os próprios clubes esportivos, muito comuns na cidade
de São Paulo – a exemplo Clube dos Ingleses, Clube
Helvétia, Esporte Clube Sírio, entre outros – se iniciaram
a partir dessa forte dinâmica de bairro, para encontro da
sociedade civil, discussões das questões locais, trocas
intelectuais, culturais, etc.
O bairro corresponde à dimensão de ter-
30 ritório ideal para a reinvindicação coletiva.
Em território maior, na região administra-
tiva, surgem conflitos de prioridade entre
um bairro e outro; em escala menor, na rua
domiciliar, as reinvindicações esgotam-se
rapidamente. [2]
Dizer que hoje a vida de bairro não existe mais em São
Paulo seria um exagero. Mas podemos dizer sim que ela
está em extinção.
Segundo o arquiteto Jan Gehl a atual vida cotidiana,
antigamente totalmente atrelada ao espaço público,
hoje se alterou. As tarefas vinculadas à rotina, antes 1. Jorge Wilheim em entrevista
realizadas na rua, como passar um recado, chamar o realizada pela autora. Junho 2013
vizinho, lavar a roupa, brincar, socializar, etc., foram 2. WILHEIM, Jorge. Projeto São Paulo:
perdendo seu espaço no âmbito público. Podendo hoje propostas e melhorias da vida urbana.
ser realizadas dentro de casa, fenômeno fruto das novas Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982.
p. 64
tecnologias e intrínseco à dinâmica atual da sociedade.
[3] 3. Palestra proferida por Helle Søholt,
sócia fundadora do escritório Gehl
Atualmente o espaço público para ser atraente e Architects, na Prefeitura de São
Paulo em abril de 2013 na ocasião
congregar pessoas, precisa oferecer atividades da inauguração do projeto Centro
complementares à rotina. Trabalho este, que pauta a Diálogo Aberto, coordenado pela SP
Urbanismo.
31
ação do escritório Gehl Architects, especialistas em consultoria de governos, a que
Jan Gehl, importante arquiteto urbanista, com longa pesquisa na área e cunhador do
termo “Cidade para pessoas”, é fundador. [4]
Cidade como campo de negociação
São Paulo cresceu abruptamente nos anos 50, resultado da vinda de uma grande
massa de origem rural, que pouco sabia das tradições da vida urbana. A dinâmica
de inclusão dessa massa nas metrópoles marcou o processo de industrialização do
século XX.
Dubai. Foto Francesco Jodice, 2009.
Com a descentralização do processo industrial observada nas últimas décadas,
o desafio se coloca novamente: como reorganizar as cidades, como possibilitar o Ao lado: contraste entre construções
observada nos Campos Elíseos/Santa
desenvolvimento econômico em novas bases. Ceciília. Foto autora.
As dinâmicas da economia global têm provocado profundas alterações Próxima página: Largo da Concórdia.
na estrutura produtiva e na organização territorial do país, com a Foto Tuca Vieira.
emergência de novos pólos industriais e o redesenho da infraestrutura
logística, sobretudo ferroviária e portuária. Com isso altera-se o papel
estratégico da metrópole: ela deixa de sediar atividades industriais,
transferidas para outros locais, e tende a se consolidar como um centro
de gerenciamento corporativo e de serviços. [5]
O urbanista Jorge Wilheim, em sua extensa pesquisa, principalmente quando se
trata de São Paulo, fomenta uma ideia que nos é muito aprazível: a tentativa de
32
redinamização da grande metrópole de São Paulo através de múltiplas e pequenas
dinâmicas locais. Como organizar a cidade por bairros e não sob a atual lógica de
centralidades dispersas?
Baseando-se em um modelo existente e efetivo de governo descentralizado como a
cidade de Paris podemos visualizar a ideia: organizar administrativamente a cidade
por arrondissements [equivalente a nossa divisão de subprefeituras], fornecendo aos
respectivos “subprefeitos” uma autonomia decisória efetiva perante a municipalidade,
ou seja de cunho jurídico e orçamentário.
Uma mairie [subprefeitura] de um arrondissement em Paris é o edifício político que
representa o conselho do arrondissement [conseil d’arrondissement], presidido pelo
Prefeito do arrondissement [Maire d’arrondissement, ou o equivalente ao Subprefeito
em São Paulo]. Este último por sua vez é eleito pelo próprio conselho, oito dias após
4. Jan Gehl (nascido em 17 de
a eleição do prefeito da cidade. setembro, 1936) é um arquiteto
dinamarquês e consultor de
O conselho de cada arrondissement por sua vez é escolhido através de eleições diretas, projeto urbano, cuja carreira
realizadas no próprio edifício da subprefeitura, sendo o número de conselheiros tem-se centrado na melhoria da
qualidade de vida urbana, orientando
proporcional à seu território. O voto não é obrigatório e a população ao votar precisa redesenhos de cidades, com foco
comprovar que mora nos limites administrativos daquela subprefeitura. no pedestre e ciclista. [fonte: www.
gehlcitiesforpeople.dk/]
A independência política e jurídica da mairie d’arrodissement veio a partir de uma lei
5. PEIXOTO, Nelson Brissac.
estabelecida em 1982, que organizou administrativamente as três maiores cidades Paisagens Urbanas. São Paulo, Senac
da França: Paris, Marseille e Lyon [Lei PML], prevendo esse espaço de representação São Paulo, 2004. p.44
33
34
35
do poder civil perante a municipalidade, além de prover uma gestão mais autônoma
dos diferentes bairros [descentralizando o poder no âmbito da municipalidade]. Um
equilíbrio entre o conselho da cidade de Paris e o conselho local do arrondissement.
Com poder decisório sobre seu território [referente sempre à questões de
administração local: escolaridade, auxílio social, equipamentos esportivos, lazer,
etc.] e de representatividade direta do cidadão. [6]
Dentro de seu edifício ocorrem exposições de alunos e artistas locais, eleições,
registros civis [casamentos, nascimento, óbito, título eleitoral], e, principalmente
organização e sistematização das atividades disponíveis na região: feiras livres,
festivais, cursos, entre outras atividades [comércios e serviços].
Praça de atendimento no Vale
O cidadão em contato com essas informações se apropria de seu bairro, sendo do Anhangabaú. Apesar do local
incentivado o contato entre moradores de uma mesma região, que utilizam a privilegiado, o edifício não é
convidativo. Foto Autora.
subprefeitura como espaço de troca e convívio, e principalmente como ferramenta
para ordenamento de informações do bairro, fomentando a dinâmica local social,
econômica, politica e culturalmente. A prática da cidadania pelo habitante é
conquistada, de tal maneira, que ele se sinta parte da política social de sua própria
rotina. Poder importantíssimo que todo habitante necessita para se tornar um
cidadão.
Mas quais são os problemas urbanos que se destacam ao analisarmos
a vida de um bairro e quais as formas de sua solução? É ao nível da Projeto Cine B na Luz. Associação
vida cotidiana do bairro que se percebem as carências em informações, Amo a Luz. Fonte: www.
36 apropriacaodaluz.blogspot.com.br/
em oportunidades de trabalho, creches, escolas de primeiro grau
e animação cultural. É ao nível do bairro que convém que se inicie a
organização da sociedade civil em seu legítimo anseio de participar com
eficácia. [7]
Por uma [re]apropriação do bairro
Quando se tratam de decisões municipais, de caráter abrangente da cidade, não
são todos os cidadãos que se sentem no direito e capacidade de comentar e se
posicionar. Mas quando se trata de sua rua, sua feira, sua praça, seu cotidiano e
Festival Baixo Centro, 2013. Carlos
rotina, um habitante de um bairro torna-se um expert, melhor do que ninguém nesse Serejo, Sebastião de Oliveia, Luana
conhecimento. Nesse caso imagina-se um debate público muito mais profundo e Minari, Jeff Lemes, Toco e Cau, do
palpável para um cidadão se apropriar, e assim exercer seus direitos. grupo Ocupeacidade. Foto Baixo
Centro.
Uma sociedade civil não articulada, no âmbito desse microcosmos tratado, não tem
conhecimento e acesso à seus direitos. A cidade vive uma constante mudança, a 6. Statut et institution de Paris. In:
cidade é um organismo vivo. Como criar mecanismos para manter esse organismo www.paris.fr/politiques. Acessado em
1 de novembro de 2013.
saudável e sempre preocupado com sua saúde e bem estar? Garantindo que cada
célula se represente e saiba seu lugar, suas necessidades e suas demandas. 7. WILHEIM, Jorge. Projeto São
Paulo: propostas e melhorias da vida
Fortalecer a dinâmica de bairro, não é um retorno à vida de comunidade. Muito menos urbana. Paz e Terra, Rio de Janeiro,
1982. p. 65
é uma utopia. É um modo mais organizado e sistemático de possibilitar o exercício
da cidadania em perímetros geográficos de proximidade e manter um mecanismo de
manutenção dentro de um contexto tão plural como é a cidade de São Paulo.
8. Pesquisa do arquiteto e urbanista As atividades locais, pequenos serviços, antigos moradores, tradições do bairro,
Jan Gehl, que se pauta na premissa
de que as cidades são feitas de comércios vicinais, já são inerentes aos bairros. Todo bairro possui sua dinâmica
pessoas e não de edifícios. Gehl prega própria, cotidiana viva, assiste todo dia o ir de seus habitantes, e os recolhe na hora
a importância do desenho para a
escala humana, desde o mobiliário
de dormir.
urbano à grandes metrópoles.
Enaltece o uso dos espaços públicos Como de uma maneira delicada e estimuladora dessas dinâmicas já preexistentes o
e defende que o Poder Público é poder público pode agir, para reforço de uma organização administrativa localizada?
um ator crucial para o diálogo do
território com a população. Para mais A partir da premissa da “Cidade para Pessoas” de Jan Gehl, [8], para esta ser de fato
informações ver: GEHL, Jan. Cidade
para pessoas. São Paulo, Editora vivida, é necessário instaurar-se uma dinâmica de organização política administrativa
Perspectiva. 2013 em que o cidadão tenha sua representatividade efetiva nas decisões. Abrindo-se
sempre que possível, processos abertos, transparentes e participativos.
Uma vida de proximidade significa distâncias físicas e geográficas acessíveis. Para se
criar laços sociais, afetivos e significativos com o lugar que se habita.
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Divisão de subprefeituras em
São Paulo realizada em 2002,
reestruturando a cidade em
áreas administrativas de 350 mil
a 450 mil habitantes. Cada uma
compreendendo um conjunto plural
de distritos. Na época eram 31,
atualmente são 32, com a nova de
Sapobemba. Fonte SMDU 2013
muito positivo e deu início a uma forte dinâmica de bairro, hoje indispensável nas 3. A história das mairies de Paris têm
seu início em 1795 enquanto divisão
cidades citadas. [3] territorial. Para mais informações
consultar www.paris.fr/
A representatividade observada na França, em níveis urbanos, civis e legislativos,
torna o cidadão muito mais implicado nas decisões políticas e consequentemente 4. About community Boards. Ver:
http://www.nyc.gov/html/cau/html/cb/
mais ativo, uma vez que sente a eficácia de sua participação. Já o sistema brasileiro, about. Acessado em 20 de setembro
federativo, importado dos Estados Unidos, nos coloca numa hierarquia em que o de 2013.
baixo escalão da pirâmide não possui autonomia legislativa e orçamentária. Ou seja,
não se desenvolvem projetos nos distritos, pois não há verba, nem poder jurídico
nas subprefeituras, ficando a cargo da Prefeitura coordenar. O que resulta numa
efetividade de poder muito restrita dos pequenos aglomerados.
Mesmo que falando abstratamente dos níveis de poder, em linhas gerais, o poder
decisório, seja do município, da subprefeitura, ou de associações de bairros, é muito
menor, comparando com o poder decisório e político da prefeitura.
Recaímos no problema de gestão pública que Jorge Wilheim está cansado de
reafirmar. Para ele tamanha é a importância da organização e sistematização do
território, que aceitou ser secretário estadual de Economia e Planejamento entre
O Conselho Participativo Municipal
1975 e 1979. Já havia compreendido que no fundo a questão recai na verticalidade/ é um organismo autônomo da
horizontalidade do sistema de governo. sociedade civil, reconhecido pelo
Poder Público Municipal como espaço
Em Nova Iorque foram criados além dos Boroughs [equivalente à nossa subprefeitura] consultivo e de representação da
sociedade nas 32 subprefeituras da
os Boards, conselhos formados por moradores da região eleitos para serem cidade de São Paulo. As eleições
44 representantes de um certo grupo, que se aproxima mais à nossa escala de bairro. serão dia 8 de dezembro de 2013. Não
se sabe ainda a efetividade que esse
Esses representantes, através de reuniões mensais na comunidade, conseguem conselho terá. Ver:
atuar como instrumentos de pressão sobre as decisões tomadas pelo poder público, www.conselhoparticipativo.prefeitura.
incluindo e representando todos os diferentes grupos de moradores no processo, sp.gov.br/
assim como aprovar ou vetar projetos para a região. Os Boards, por sua vez, são
quem compõem o conselho dos Boroughs. Assim garantindo a participação mesmo
quando o território se apresenta extenso. [4]
As subprefeituras em São Paulo quando foram criadas, havia a intenção de
descentralização do poder. Contudo, o processo que se iniciou não obteve continuidade
na gestão seguinte, e retrocedeu.
Outro fator importante é considerar que a estrutura eleitoral brasileira é eficaz, e
o voto é obrigatório, o que já auxilia para uma reflexão política [mesmo que seja
mínima] pelos seus habitantes.
Como se utilizar da dinâmica eleitoral existente efetiva e da divisão das subprefeituras
já inerentes ao território desde 2002 para empoderar e legitimar as ações locais?
O Conselho Municipal, diretriz do Plano Diretor de 2002 e do Plano Diretor 2013, está
sendo pela primeira vez implementada este ano e será uma ferramenta que auxiliará
muito nesse processo. Contudo, qual a legitimidade desse conselho? Terá ele poder
Ao lado mapa das Communities
efetivo de decisão? Boards em Nova Iorque. Fonte www.
nyc.gov
Board Composition & Membership
Community boards are local representative bodies.
There are 59 community boards throughout the City, and
each one consists of up to 50 unsalaried members, half
of whom are nominated by their district’s City Council
members. Board members are selected and appointed
by the Borough Presidents from among active, involved
people of each community and must reside, work, or have
some other significant interest in the community.
Responsibilities
Community boards have a variety of responsibilities,
including but not limited to:
• Dealing with land use and zoning issues. CBs have
an important advisory role and must be consulted
45
on the placement of most municipal facilities in the
community. Applications for a change in or variance from
the zoning resolution must come before the board for
review, and the board’s position is considered in the final
determination.
• Assessing the needs of their own neighborhoods. CBs
assess the needs of their community members and meet
with City agencies to make recommendations in the City’s
budget process.
• Addressing other community concerns. Any issue
that affects part or all of a community, from a traffic
problem to deteriorating housing, is a proper concern of
community boards.
[efetividade dos conselhos municipais de Nova Iorque: os Boards. fonte: http://www.
nyc.gov/cau/cb]
Mairie du 19eme arrondissement
mairie de paris desde 1878
População: 184.787 habitantes
Território: 6, 79 km2
Densidade [hab/km2]: 27.489
[fonte www.mairie19.paris.fr/]
Diagrama do funcionamento
municipal de Paris atualmente.
Elaboração MCLF.
Cidade de Paris
População: 2.257.981 hab.
Território: 105,40 km2
Densidade [hab/km2]: 20.980
[fonte www.paris.fr]
48
Aricanduva Butantã
50
susbprefeitura são paulo: a edificação. fonte google street view
51
16eme
Aricanduva Butantã
52
susbprefeitura são paulo: o portal. fonte ww.prefeitura.sp.gov.br
53
são paulo
são organizadas em São Paulo e Paris. Eles têm a função de
dar uma primeira impressão de como as responsabilidades
básicas são arranjadas, identificando as principais funções
no nível federal, estadual e municipal. Ainda que oferecendo
uma visão geral comparativa, eles não têm a intenção de
fornecer um sistema detalhado de cada governo, que pode
ser encontrado apenas ao se analisar caso a caso.
54
Diagramas de comparação
governamental.
nível nacional
nível regional
nível estadual
nível municipal
nível distrital
Organização municipal Diagrama do funcionamento
de são paulo hoje municipal de São Paulo atualmente.
Elaboração MCLF
56
FUNCIONAMENTO DE PARIS
[exemplo] Exemplo de governo descentralizado:
Paris. As subprefeituras possuem
autonomia perante à municipalidade,.
Em termos populacionais uma
subprefeitura em Paris [Mairie
PREFEITURA d’arrondissement] possui metadedo
númeto de habitantes de uma
SUBPREFEITURA subprefeitura em São Paulo
EQUIPAMENTOS
MUNICIPAIS
Descentralização e participação:
_Retomar o conceito de descentralização
do poder, dando maior autonomia às
subprefeituras;
_Proceder, em cada subprefeitura, à
realização de Planos de Bairros e eventual
avaliação e revisão dos Planos Diretores de
cada subprefeitura;
_Implementar a constituição e atuação de
conselhos, de modo especial os Conselhos
de Representantes, revendo a melhor forma
de ver a sociedade sendo representada, em 57
cada subprefeitura, fortalecendo assim a
legitimidade da política de descentralização;
_Implantar novas formas eletrônicas de
expressão e participação cidadã, e fazer, sem
hesitação, uso das formas constitucionais de
consulta popular;
_Iniciar estudos, levantamentos e debates
destinados a reunir subsídios para o próximo
Plano Diretor Estratégico, com vigência de
2012 a 2022.
[Trecho de propostas pontuais para São Paulo em: WILHEIM, Jorge. São Paulo uma
interpretação. 2011, p. 225]
58
2.
terrain vague: obsolescência e
oportunidade
59
• sambódromo
• escola de samba
60
• parque da água branca
• estação marechal
deodoro • terminal
princesa
isabel
• praça da
república
• espaço anhembi • estação tietê
61
• largo do paissandú
• estação brás
• parque dom pedro ii
• anhangabaú
• terminal dom pedro ii
• subprefeitura da sé
O Centro é o espaço de representação de
nuances da linha férrea, que foi rasgando parte da área 2. MEYER, Regina Maria Prosperi;
central, outra parte foi sendo construída já no tecido GROSTEIN, Marta Dora. A leste do
centro. Territórios do urbanismo. São
danificado. As grandes avenidas também tiveram sua Paulo, Imprensa Oficial do Estado de
parte na conexão de grandes eixos metropolitanos que São Paulo, 2010. P. 21
segmentavam na escala do humano: o próprio Elevado
Costa e Silva, a Avenida Radial Leste, Avenida do Estado,
Avenida Rio Branco, entre outros importantes eixos
viários presentes na malha central. O resultado desses
grandes recortes e costuras foram bairros escondidos,
dinâmicas internas muito fortes e únicas em cada ilha
conformada pelos desenhos axiais que convergem
sentido Vale do Anhangabaú, como previa o plano de
Prestes Maia.
63
Barra Funda de Baixo
65
estaçao barra funda
66
67
68
69
estação da luz
O resultado da desindustrialização é o
Existe por si, pelo vazio conformado pelo limite dos bairros
que o rodeiam. Cresceram desde seu início de maneira
indiferente um com outro, afinal desenvolveram-se do
impulso gerado pela linha férrea, cada um com um fim
definido pelas estradas de ferro, desenhando o terrain
vague [2] aqui em questão.
1. MORALES, Ignasi Solà. Terrain
Campos Elíseos meio ao luxo de uma sociedade burguesa Vague, Anyplace MIT 95
Esse buraco tornou-se a própria metáfora para o esvaziamento posterior que a linha
de trem passou a significar na rede de transportes brasileira. A razão principal pela
qual São Paulo desenvolveu-se e inchou, deixou de ser importante para o momento 71
econômico seguinte almejado pela metrópole, que na década de 30 já vinha iniciando
sua tendência à indústria automobilística.
Foto aérea Nelson Kon, 2009 A crise do café afetou os barões e os bairros industriais sofreram, e sentiram essa
queda. Juntamente com eles, a ferrovia, que lá estava para testemunhar essa
bara bom
dinâmica que viria ao fim.
funda retiro
Bairros importantíssimos para a concepção da cidade, foram esvaziando-se. O
transporte férreo foi perdendo sua força e cedendo seu lugar na economia. O que não
santa campos
cecilia elíseos se pensou, imagino que naturalmente, pois foi a primeira vez que o mundo vivenciou
essa experiência, era o destino desses terrenos centrais, vastos, e agora esvaziados
de conteúdo e sentido no contexto que viria a seguir.
Esquema dos distritos ao redor
do terreno. Elaboração MCL Espaços intersticiais surgiram e nada se fez. Regiões foram degradando-se e fomos
nos distanciando deles, ao invés de combatê-los, integrando-os ao tecido consolidado.
Segundo Solà-Morales “são bordas carentes de uma incorporação eficaz, são ilhas
interiores esvaziadas de atividade, são esquecidos restos que permanecem fora da
dinâmica urbana”.
Atualmente a questão pula aos olhos. O problema é mundial. Não há metrópole que
não sofra dessa decisão tomada por políticas passadas. Como resolver? O vazio está
lá, materializado, enorme, complexo, difícil de se pensar um reestabelecimento.
Esse movimento para com o patrimônio industrial, ou mais importante, vazio
industrial, encontra-se cada vez mais em pauta no mundo contemporâneo. Sabemos
que temos que reciclar, aproveitar estruturas pré concebidas, redes centrais de
articulações vitais. Contudo a batalha é sempre a mesma. A reconversão.
Mas o que verdadeiramente merece destaque é pensar o vazio não como algo negativo,
72 que segrega. E sim como o que permite, como se a todo minuto se encontrassem
Terrain vague. Foto Marcus Vinicius
num estágio de plena transformação, ou seja, pensar o vague como a onda, em pleno Damon, 2013.
movimento, caminhando para o infinito das possibilidades que o abraçam.
desabitada, improdutiva
e muitas vezes perigosa,
contemporaneamente à
margem do sistema urbano e
parte fundamental do sistema.
[...] O vazio é a ausência, mas
também a esperança.
[Solà-Morales. Ignasi. “Urbanité Intersticielle”. Inter Art Actuel, n. 61, 1995. In: CARERI, Francesco.
Walkscapes. O caminhar como prática estética. 1ª Edição, Barcelona, Gustavo Gili, 2013. p. 43]
74
O IBA Emscher-Park foi o plano de reabilitação
galpão
anhanguera
clube b
senac
[arquivo]
76
colegio estadual
alarico silveira
galeria baró
teatro escola
novos protagonistas macunaíma
urbanos levantados
casa de cultura
comércio e serviços digital
entrevistados
equipamentos
importantes levantados goma oficina
estação marechal
deodoro
berlin instituto criar
favela do
moinho 77
nova estação
intermodal
[proposta]
oficina cultural
oswald de casa do povo
andrade
colégio liceu
coração de jesus
estação julio
prestes
Paralelo ao forte caráter histórico e tradicional do bairro Miguel Metralha, jornalista que
[2] – presente desde as ruínas e edifícios históricos trabalha em editora de revista de
degradados até os pequenos comércios locais – existe pornográfia na Luz. Cena de “O
Pornógrafo” de João Callegaro, 1970.
o esvaziamento estampado nas ruas, resultado do Cinema Marginal e Boca do Lixo.
processo industrial que por lá passou. A ausência do
poder público que abriu espaço para a marginalização
[3], a ocupação, a tomada do espaço por aqueles que lhe
tiveram para si.
De forma alguma vemos uma falta de vitalidade nos bairros, mas sim um descuido,
degradação, falta de segurança, má gestão pública. Ao observar o “mapa emotivo”
do bairro em questão percebemos este momento de revalorização e ressignificação.
E isso deve-se ao novo movimento de pessoas na área. Simples e apenas. Pessoas,
gente, seres, que usam, passam, consomem, fazem, trazem, expões, ousam, levam,
constroem, destroem, transformam.
Os protagonistas urbanos ocupam o Minhocão aos domingos, geram atividades Minhocão durante o Festival Baixo
noturnas e diurnas, articulam a população, promovem atividades, exigem, lutam, Centro, 2013. Foto Tiago Queiroz.
Factory de Andy Warhol. Soho, NY. Abre-se espaço para um estilo de vida alternativo, aberto, gera vida à região, atrai todo
tipo de público, traz diversos tipos de atividade. A área torna-se mais movimentada,
por consequência mais segura, por conseguinte valoriza-se – surgindo um segundo
problema que merece muita atenção: a “expulsão” das classes menos favorecidas.
Queremos uma cidade que seja para a morada, para a cidadania, para todos.
60.000
BARRA FUNDA
56.000m2 289.000m2
MOINHO
76.000m2
86
0m2
87
LUZ
PARI
107.000m2
124.000m2
BRÁS BRESSER
70.000m2
104.000m2
A partir do princípio de que a metrópole
1_urbano
contemporânea tem como seu maior caráter a
presença simultânea do local e do metropolitano, como
duas escalas distintas, buscamos um modelo que trate
deste paradoxo de modo que eles consigam conviver,
assim como seus habitantes consigam se identificar.
grandes terrenos
89
diretriz de atuação nos grandes terrenos
90
Situação Atual_
92
croquis de estudo
93
metro
situação
cptm
linha 1 azul
linha 3 vermelha
94
zeis e distritos
ATUAL
comercial zeis 3
residencial
misto
95
barra funda
bom retiro
TRANSPOSIÇAO A JARDIM
PARQUE DESENVOLVER DA LUZ
AGUA
BRANCA 97
1 2 3
ANHANGABAU
legenda
1.av. são joão
2.av rio branco
3. av. do estado
4. av. norma p. gianotti
diretriz de ação 1
> Âgua
metro_linha16
1
2
3
98
OBJETO
DESENVOLVIDO
5 1 2
2 Água
O segundo momento foi o desejo do elemento água, que
se faria presente ao longo do terreno todo. O córrego
Anhanguera seria destamponado [assumindo que tal ação
só seria viabilizada se implementado um sistema de troncos
coletores ao longo dos rios afluentes ao Tiete]. E seria criado
um espelho d’água [5 cm apenas, para baixa manutenção e
101
evitar dificuldades de travessia], como elemento ordenador do
território, de modo a se implementar os programas ao longo
deste novo eixo criado.
LINHA 7
CPTM
102
LINHA 8 SENA
CPTM audio
CICLOVIA
AVENIDA SILOS
RIO
BRANCO
103
espelho d’água
108
EDUCAÇÃO/CULTURA/LAZER INFORMAÇÃO/REFEIÇÃO/DESCANSO/WI-FI
109
programa
ACOLHIMENTO
ACESSO DIGITAL:
LEITURA/DESCANSO/
110
AUDITÓRIO
A
L
RU
AB
OR
_SENAC F
AC
112 EA C
RU
AA
E
NH
O D
REC
AN
RU AG B C
GU
ER
_CACC
A
ELEVAÇAO
B OESTE A
LOVIA
CAMINHO VERDE / CIC
RUA CAPISTRANO
_RUÍNAS
_EMEF
D
113
G C B
ACESSO
PRINCIPAL
B. GRAMA
perspectiva interna
SENAC
RUA GRECO
estrutura
CPTM
elevação oeste
CACC
CONSELHO
GESTOR
115
O jardim romântico de Rosa Kliass
referência:
parque da juventude_são paulo
Ao caminhar pela intervenção de Kliass no Parque da Juventude em São
Paulo, é impossível não sentir paz e quietude. O que antes representava
repressão, agora é elemento lúdico, promotor de convivência e bem-
estar à população. O usuário sente-se distante do presídio que ali
habitava [Carandiru].
O elemento que era antes um segregador, tornou-se o elemento
integrador. O que antes era motivo de alerta, virou fonte de prazer. O
muro neste projeto não é uma barreira, e sim um convite à um agradável
passeio. Se este possui alguma relação com a memória do presídio?
Quem decide é o usuário. Segundo palavras da autora: “Se você quiser
que exista uma relação com a memória do presídio, ela existe!”.
corte longitudinal
como suporte para novos significados atribuídos pela negociação e
pelo compartilhamento de usos, poderemos promover a fricção entre a
universalidade da técnica com particularidades da cultura local. Ou fomentar
a reorganização de sistemas de escala metropolitana fechados, em um campo
aberto de possibilidades aderentes à localidade. Contrários e, por que não,
complementares”
[FRANCO. Fernando de Melo. Contrários e contraditórios, em: ROSA, Marcos Leite (Org.).
Microplanejamento. Práticas urbanas criativas. São Paulo, Editora de Cultura, 2011. p.146 ]
120
121
corte longitudinal
corte transversal A
122
corte transversal B
123
corte transversal D
concurso open house vitra_concepção do perspectiva
cruzamento de dois prismas, buscando o externo
dentro do interno.
124
corte longitudinal. destaque para a varanda interna à edificação fonte acervo SPBR
A inserção do edifício se dá aproveitando as duas cotas de
referência:
midiateca da puc do rio_angelo bucci
nível, que caracterizam a área destinada, no campus da PUC -
Rio de Janeiro.
modulação
foi imaginada a partir
da premissa da pré-
fabricação. Um módulo
que poderia ser
reproduzido em série,
com a cobertura no
topo e passível de se
elevar do chão para
a permeabilidade do
terreno. De modo a se
adaptar a diferentes
relevos e poder ser
reproduzido ao longo da
linha férrea sem limitação.
126
3. LAJE ALVEOLAR
4. TRELIÇA METALICA
DE AÇO PATINÁVEL
APARENTE 350mm 3 2
5. MONTANTES
50X100mm
6 5 4
6. CHAPA PERFURADA
DE COBRE
127
módulo explodido sem escala
5.0m
7.5m
128
131
132
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