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Psicologia Social do Trabalho: encontros entre pesquisa e intervenção qualquer significado específico e é difícil considerar como um conjunto”, fazendo com que

Introdução “esse termo seja tão descritivo quanto psicologia do fora-do-trabalho” (p. 174).

Certa feita, em meados de 1980, líderes sindicais dos bancários do Estado de São Sem pretender adentrar nesse debate, procuramos neste artigo apresentar uma

Paulo, no Brasil, expressaram a necessidade de melhor entender porque era frequente a aproximação específica ao trabalho humano – a Psicologia Social do Trabalho – que se

ocorrência de problemas psicológicos e alto o consumo de medicamentos entre desenvolve a partir de algumas tradições específicas da psicologia social e não da relação

trabalhadores da categoria; além disso, queriam saber o que poderiam fazer para enfrentar com a perspectiva gerencial, conforme esclarece Sato (2010):

tal problema e, para isso, solicitam assessoria a um órgão sindical. No final dos anos 1990, “Podemos dizer que o Trabalho e as Organizações passam a ser objeto de

trabalhadores desempregados buscaram apoio para formar cooperativas autogeridas e investigação e de práticas para a psicologia a partir de duas perspectivas. A

encontraram respaldo em universidades. Na mesma época, trabalhadores em risco de primeira – que historicamente ficou conhecida como sendo 'a' Psicologia do

desemprego solicitaram o apoio do movimento sindical à sua reivindicação pelo direito de Trabalho e das Organizações – abraçou problemas e interesses postos pelo corpo

ocupar, produzir e recuperar, sob regime de autogestão, as fábricas onde foram empregados gerencial e pelo capital, articulando-se, por exemplo, com a administração e com a

durante anos. Esses são alguns episódios que ajudaram a conformar e configurar a pesquisa engenharia. A segunda, que tem os problemas humanos no trabalho como objeto e

e a intervenção da psicologia social do trabalho entre nós. que é informada pela leitura da Psicologia Social e pela medicina social latino-

O objetivo deste artigo é apresentar uma perspectiva sobre a pesquisa e a americana e da saúde coletiva: a Saúde do Trabalhador. Pode-se dizer que, embora

intervenção adotada por uma Psicologia Social dedicada aos fenômenos do mundo do ambas tematizem fenômenos do mundo do trabalho e dos processos organizativos,

trabalho. Essa Psicologia Social do Trabalho tem sido desenvolvida no Brasil desde pelo cada uma dessas vertentes encaminhou suas trajetórias isoladamente, mantendo,

menos os anos 1990, com raízes em tradições críticas da pesquisa e da atuação em no nosso caso, poucos pontos de contato, quer sejam tomadas as referências

psicologia social. Entre seus desdobramentos, encontram-se importante campos teórico-metodológicas, as práticas e os loci nos quais essas práticas são exercidas”

interdisciplinares, tais como o da Saúde do Trabalhador e o da Economia Solidária. (Sato, 2010, p. 41).

Procurou-se aqui situar essa abordagem, que tem se consolidado no Brasil, apresentar Essa segunda vertente assume um caráter crítico em relação às realidades do

elementos dessa perspectiva teórico-metodológica e, a partir de exemplos, elencar os traços mundo do trabalho e enfatiza uma opção pelo estudo do trabalho real a partir da

mais característicos do modo como temos realizado estudos e práticas profissionais no perspectiva dos próprios trabalhadores (Sato, Bernardo & Oliveira, 2008).

campo do trabalho. Diversas influências convergiram para compor o modo como fazemos a psicologia

A Psicologia Social do Trabalho no Brasil social do trabalho hoje no Brasil. Em especial, uma tradição de psicologia social que tem,

As aproximações da psicologia em relação ao trabalho são múltiplas (Drenth, entre outros temas, os modos de vida, as estratégias de sobrevivência, o trabalho, o

Thierry & Wolff, 1998), têm tradições relativamente consolidadas ao longo do tempo que desemprego ou os próprios trabalhadores e trabalhadoras como objeto (Sato, 2010).

se comunicam pouco entre si, tendo em vista as diferenças entre os objetos que constroem Na história de nosso grupo de pesquisa, destacamos os trabalhos de Mello (1985)

e, em seu conjunto, não compõem um corpo coerente e articulado de saberes. Na verdade, com empregadas domésticas, de Carvalho (1981), com operários, e diversos estudos de

essas características reforçam a atualidade da afirmação de Spink (1996) de que “o que Rodrigues (2005). Esses estudos abordam o trabalho como um dos fenômenos

hoje é chamado de psicologia do trabalho é uma lista de tópicos tão vasta que perde psicossociais presentes na sociedade que merecem ser analisados pela psicologia social e,

Como citar este artigo: Oliveira (Fábio de), Esteves (Egeu G.), Bernardo (Marcia H.), Sato (Leny).— Psychologie sociale du travail : rencontres entre recherche et intervention, Bulletin de psychologie, Tome 68
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assim, seus objetos de pesquisa não dizem respeito a problemas colocados pela gestão. Isso e busca elementos que permitem “uma complementaridade integrativa entre os conceitos
pode explicar, talvez, porque esses autores tenham se mantido fora das denominações de pessoa e processos sociais em vez do distanciamento provocado pelo binômio
psicologia organizacional/industrial ou psicologia do trabalho. tradicional indivíduo-sociedade” (Spink, 1996, p. 177).
Spink (1992, 1996) é uma das mais importantes influências dessa perspectiva de A Psicologia Social do Trabalho, em nosso ponto de vista, constituiu-se por uma
psicologia social que toma o trabalho como objeto. Seu artigo intitulado “A organização dupla afluência.
como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição da psicologia organizacional e do De um lado, como vimos acima, pelo aporte de uma Psicologia Social que já
trabalho”, de 1996, questiona o papel da psicologia em relação aos fenômenos relativos ao abarcava os processos psicossociais do “mundo do trabalho”, e que buscava compreender o
trabalho e propõe o seu estudo a partir das ações e dos sentidos construídos no dia a dia, trabalho como uma das principais atividades da vida adulta, a mediar e a integrar as
com maior ênfase nos processos do que nas estruturas. Essa perspectiva tem consequências dimensões subjetiva e objetiva da cotidianidade.
para o método de pesquisa e para a intervenção, com foco no cotidiano, nos micro-lugares De outro lado, pelas diferentes conjunturas políticas e econômicas do país: em um
e no campo psicossocial mutuamente compartilhado (Spink, 2003). primeiro momento, a abertura política e, posteriormente, a crise do emprego. A Psicologia
O que caracteriza essa tradição é a adoção de um olhar crítico, não naturalizador, Social do Trabalho configurou-se, ganhado identidade e autonomia, justamente ao estudar
para o universo social e para os fenômenos que o compõem. Nesse olhar, as relações de as dinâmicas psicossociais de reação e de enfrentamento desses problemas. Duas reações
trabalho se destacam. específicas à desestruturação (Mattoso, 1999), à reestruturação produtiva (Pochmann,
Deve-se dizer também que essa tradição passa a ganhar espaço no período final da 2001; Dowbor, 2002) e ao consequente desemprego ajudaram a conformar esta nova
ditadura militar, vivida pelo país entre o final dos anos 1960 e meados dos anos 1980, e Psicologia Social do Trabalho: uma no campo da saúde dos trabalhadores e outra no campo
está em consonância com um movimento mais amplo da psicologia social em outros países da geração de trabalho e de renda. Delas tratamos a seguir.
da América Latina, que buscava se afastar da perspectiva positivista até então A primeira dessas reações, que ajudou a configurar esta nova abordagem em
predominante na região. De acordo com Montero (2011), psicologia do trabalho, adveio da tradição psicossocial construída dentro do campo da
“A Psicologia Social Crítica teve seu início no fim dos anos 60, quando alguns Saúde do Trabalhador, que se configurou como um movimento importante no Brasil na
psicólogos sociais na Europa e EUA buscavam produzir formas de conhecer e década de 1980 (Sato, Lacaz & Bernardo, 2006). Ela surge no bojo da abertura política do
interpretar a sociedade que permitissem trabalhar de maneira efetiva sobre os final da ditadura militar e da presença dos sindicatos de trabalhadores na cena pública a
problemas que a afligiam. Foi também quando, na América Latina, começava a partir do chamado “novo sindicalismo” (Rodrigues, 1999).
existir um inconformismo com uma psicologia acadêmica incapaz não só de A introdução da obrigatoriedade de o Estado responsabilizar-se pela saúde dos
solucionar problemas sociais, mas até mesmo de reconhecê-los como objeto de trabalhadores na constituição brasileira foi resultado de uma intensa luta de movimentos
estudo. Nesse período, a obra transformadora e crítica de Paulo Freire, assim organizados de trabalhadores e de profissionais de saúde. Buscando um enfoque mais
como os trabalhos inovadores da Sociologia Crítica, já faziam sentir suas abrangente do que a tradição médica biologicista, a construção desse campo de saberes e de
conquistas” (p. 90). práticas tomou como base os preceitos da Saúde Coletiva e da Medicina Social
Dessa forma, os estudos nesse enfoque da psicologia social passam a apresentar Latinoamericana, os quais consideram a saúde como um processo histórico e social (Laurel
um fecundo diálogo com outras áreas do conhecimento, especialmente as ciências sociais, & Noriega, 1989; García, 1983). Desse modo, a Saúde do Trabalhador considera “o

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trabalho em suas diferentes formas de organização, divisão e valorização, características de salário mínimo equivalente a pouco mais de 100 dólares” (p. 592). Perante a precarização
cada formação social, compreendendo as relações entre trabalho e processo saúde-doença das relações e das condições de trabalho, ou do adoecimento pelas condições de trabalho e
em suas implicações históricas” (Sato, Lacaz & Bernardo, 2006, p. 282). pelo desemprego, não bastava constatar e descrever tais condições de vida e de trabalho,
Essa tradição em saúde do trabalhador inspirou-se fortemente no trabalho do nem apenas acolher o sofrimento dos trabalhadores: a sociedade demandava formas de
psicólogo Ivar Oddone e de seus colaboradores (Oddone, Re & Briante, 1981), no chamado reagir, impondo limites ou criando alternativas.
“Modelo Operário Italiano”. Assim, “a vivência e o saber operários assumem importante Dos interstícios do desemprego emergiram os milhares de grupos de trabalhadores
papel na estratégia de conhecer para transformar a realidade, na forma de interpretar o em regime de autogestão que, em pouco tempo, organizaram o movimento da Economia
adoecimento e organizar os serviços de saúde para operar sobre esta realidade” (Sato, Solidária (Gaiger, 1999). No fim dos anos 1990, cooperativas, associações e outros grupos
Lacaz & Bernardo, 2006, p. 283). demandaram formação e assessorias. As universidades responderam rapidamente a essas
Além dessa contribuição, a psicologia aproxima-se do campo da Saúde do demandas formando incubadoras de cooperativas populares (Guimarães, 1999). As centrais
Trabalhador por, ao menos, dois caminhos. Um, pela participação em órgãos sindicais criaram políticas e agências de fomento para empreendimentos coletivos
representativos do movimento sindical como, por exemplo, o Departamento Intersindical (Todeschini & Magalhães, 1999). Também surgiram associações de trabalhadores de
de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho, DIESAT (Ribeiro, Lacaz, empresas autogeridas, redes de empresas recuperadas, o Fórum Brasileiro de Economia
Clemente & Dutra, 2002). Outro, pela atuação nos serviços públicos de atenção à saúde dos Solidária e a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) do Ministério do
trabalhadores em ações de tratamento e de prevenção. O enfoque proposto pela área Trabalho e Emprego. Em menos de uma década, todo um quadro institucional foi criado.
impunha um olhar da psicologia que não se restringisse à tradição clínica centrada no Em 2005, havia ao menos 14.954 empreendimentos desse tipo, que geravam trabalho e
indivíduo, mas que incluísse os aspectos sócio-históricos envolvidos nas relações de renda, ainda que de modo precário, para cerca de 1,25 milhões de trabalhadores (Senaes,
trabalho. Configurando-se, inicialmente, como um campo de atuação prática para a 2006).
psicologia, logo a Saúde do Trabalhador tornou-se como um importante campo de pesquisa Naqueles anos, entrou para a agenda de pesquisa e intervenção de muitos
para uma psicologia que buscava compreender quais aspectos dos processos de trabalho psicólogos sociais e estudantes de psicologia não apenas o sofrimento e o adoecimento
levavam ao adoecimento dos trabalhadores e identificar formas de enfrentá-los. causados pelo desemprego – o que já constituía um tema importante – mas também as
A segunda reação da Psicologia Social do Trabalho à conjuntura político- invenções coletivas para enfrentá-lo. O interesse pelo cooperativismo popular, pelas
econômica adveio da Economia Solidária, campo de estudo e de intervenção que inclui o empresas recuperadas, em suma, pela auto-organização dos trabalhadores, entrou na
cooperativismo e a autogestão (Singer, 1998a, 2002). Esse campo, também de caráter psicologia brasileira e encontrou um de seus ancoradouros na Psicologia Social do
interdisciplinar, tomou forma com a chamada “crise do emprego dos anos 1990”, que Trabalho, contribuindo para o seu desenvolvimento.
assolou a América Latina e, em particular, o Brasil (Singer, 1998b; Mattoso, 1999). Pesquisa e intervenção
A gravidade do momento histórico demandou da psicologia o estabelecimento de Pelo caminho que seguiu, a Psicologia Social do Trabalho que temos desenvolvido
um marco interpretativo atento, nas palavras de Patto (2009), “ao fato de que não estamos estabelece relações relevantes entre as atividades investigativas e as práticas de
em uma genérica ‘sociedade industrial capitalista’, mas numa sociedade concreta em que a intervenção. Isso porque os pontos de partida mais frequentes para a pesquisa científica são
crueldade, a corrupção, a barbárie e a pobreza extremas encontram expressão em um os problemas concretos vividos pelos trabalhadores e sua investigação visa, direta ou

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indiretamente, a construção de formas de seu enfrentamento, desde a ação de torná-los pela cooperação, entendida como atributo necessário para a produção do novo
públicos e objeto de debates até as ações de transformação das realidades de trabalho. conhecimento. Seguindo a mesma lógica, a objetividade do conhecimento foi substituída
Trata-se de uma modalidade engajada de pesquisa, não necessariamente pesquisa-ação, que pela validação social do conhecimento.
guarda semelhança com o que Burawoy (2005) denominou, no campo da Sociologia, como Estando tais iniciativas fortemente preocupadas com a serventia da pesquisa para
“sociologia pública”. Se considerarmos, como Becker (1999), que a ciência é um aqueles que estão envolvidos com o problema estudado, reconhece-se o conhecimento
empreendimento coletivo, podemos observar que, no conjunto, as ações desses psicólogos científico-acadêmico e o do senso-comum como igualmente relevantes. Mais, reconhece-se
sobre o mundo do trabalho, pesquisa e intervenção são atividades articuladas e que se que o conhecimento é produzido junto e só é plausível se for compreensível para os
alimentam mutuamente. sujeitos envolvidos na situação pesquisada. Também admite-se que os resultados serão
Historicamente, a vinculação da pesquisa à ação conta com iniciativas importantes válidos se conseguirem elucidar os problemas que motivaram a pesquisa. Ademais, deve-se
no campo da psicologia social. Referências seminais são os estudos sobre dinâmica de lembrar que a esse tipo de pesquisa não pretende generalizar resultados...
grupo realizados por Kurt Lewin, nos Estados Unidos da América, nos anos 1930 e 1940. Assim, em 1943, Kurt Lewin lançou, a partir da Psicologia Social, os fundamentos
Sua contribuição está presente na origem das chamadas pesquisa-ação e pesquisa- paradigmáticos para a construção de novos e diversos métodos não-positivistas de pesquisa
intervenção (Engel, 2000; Rocha & Aguiar, 2003; Paulon, 2005, Spink & Spink, 2007). Ao social, tais como a Pesquisa Ação Crítica, a Pesquisa Participante e a Pesquisa Intervenção
lado da Teoria de Campo (Lewin, 1965), a pesquisa-ação aparece como uma importante (Rocha & Aguiar, 2003). Tais métodos de produção social do conhecimento têm, em
contribuição da Psicologia Social para o conjunto das Ciências Sociais. comum, o fato de estarem ligados “a projetos emancipatórios e autogestionários,
Para Lewin, as ações sociais só são adequadamente compreensíveis “desde principalmente nos movimentos comunitários e nas iniciativas em educação popular junto a
dentro” do campo psicossocial daquele que age. Por estarem envolvidos em situações a populações excluídas” (Rocha & Aguiar, 2003, p. 65) e buscam superar as críticas e os
serem objeto da pesquisa e da ação, Lewin propõe que trabalhadores, alunos, fiéis etc. – os limites da teoria de Kurt Lewin, como, por exemplo, a de que ela minimizaria a dimensão
diversos segmentos da população – tenham uma participação ativa na própria pesquisa, política dos processos observados, reduzindo os conflitos de classe a atritos locais,
ajudando o pesquisador a responder os problemas da investigação. De seu lado, para que o considerados resultado da inadequação de atitudes individuais (Thiollent, 1985). Ademais,
pesquisador tenha condições de perceber os significados envolvidos nas ações sociais, é ainda com Rocha e Aguiar (2003):
necessário que ele apreenda o mesmo quadro de significações utilizado por aqueles “Tais experiências caminham no sentido da articulação entre teoria/prática e
“naturalmente” envolvidos na situação. Em situações complexas, construir tal repertório sujeito/objeto, na medida em que o conhecimento e a ação sobre a realidade se
requer que o pesquisador lance mão de observação, de entrevista e, além disso, que se fará na investigação das necessidades e interesses locais, na produção de formas
aproxime do cotidiano do grupo, de modo a ter melhores condições para a apreensão do organizativas e de uma atuação efetiva sobre essa realidade, podendo levar a
repertório de significados necessário à compreensão dos atos e dos significados sociais. É transformações sociais e políticas, dando às populações excluídas uma presença
assim que essa pesquisa torna-se uma ação coletiva, uma pesquisa-ação, a qual exige uma ativa na história” (p. 65).
relação de cooperação ativa. No Brasil, Paulo Freire (1999) é uma importante referência sobre a relação
Nessas formulações de Kurt Lewin está presente a matriz de uma nova relação dialética entre objetividade e subjetividade na pesquisa, fundamentalmente quanto à
entre sujeitos conhecedores e objetos cognoscíveis, na qual a neutralidade foi substituída relevância de considerar a percepção social da população envolvida a cerca de sua própria

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realidade concreta, entendida como o conjunto de fatos e dados sobre uma determinada trabalhadores a partir do final da década de 1980, os serviços públicos de saúde passaram a
circunstância “e mais a percepção que deles esteja tendo a população envolvida”. ter de realizar atividades de prevenção, de atendimento a trabalhadores e de promoção de
Simplesmente por que, diz ele: “não posso conhecer a realidade de que participam a não saúde no âmbito do trabalho. Para tal, foram criadas unidades específicas – atualmente,
ser com eles como sujeitos também deste conhecimento que, sendo para eles, um denominadas Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) – com equipes
conhecimento anterior (o que se dá ao nível de sua experiência cotidiana) se torna um novo multiprofissionais que, em geral, contam com psicólogos.
conhecimento” (p. 35). Na mesma direção não-positivista, ele também propõe que a Conforme foi dito anteriormente, a perspectiva da compreensão da relação saúde-
população envolvida se torne participante ativa da pesquisa, e não objeto a ser pesquisado: trabalho-doença como um processo sócio-histórico apontava a necessidade de que o olhar e
“a pesquisa, como ato de conhecimento, tem como sujeitos cognoscentes, de um lado, os as próprias intervenções de psicólogos nesse campo fossem muito mais abrangentes do que
pesquisadores profissionais; de outro, os grupos populares e, como objeto a ser desvelado, aquelas vinculadas à clínica liberal, perspectiva que estava em consonância com a da
a realidade concreta” (p. 35). Psicologia Social do Trabalho. Mas, se esse enfoque da psicologia fornece subsídios para a
Isso não foi diferente nas experiências fundadoras da Psicologia Social do prática cotidiana, as intervenções no campo da Saúde do Trabalhador propiciam uma
Trabalho, nas quais os pesquisadores conheceram o trabalho a partir do olhar e das infinidade de temas de pesquisa.
vivências dos trabalhadores e se envolveram nas lutas destes últimos, seja no O exemplo apresentado a seguir refere-se justamente a uma pesquisa de doutorado
enfrentamento do desemprego, na negociação em prol da saúde dos trabalhadores ou na (Bernardo, 2006), a qual buscou responder indagações formuladas a partir da intervenção
tentativa de viabilização da autogestão. profissional de uma psicóloga nesse campo e cujos resultados forneceram elementos para
Alguns estudos clássicos de Peter Spink, desenvolvidos no Tavistock Institute, intervenções posteriores.
remetem claramente à pesquisa-ação de Kurt Lewin e constituem bons exemplos dessa Depois de mais de dez anos de trabalho em centros de referência, na virada do
relação entre pesquisa e intervenção (Spink, 1982a, 1982b). Do mesmo modo, em seus século, a pesquisadora começou a notar uma mudança nos relatos dos trabalhadores
estudos mais recentes, o conceito de “campo-tema” amplia o conceito original para atendidos nesses serviços. Se, antes, eles se referiam prioritariamente a problemas físicos
ressignificar a relação entre o pesquisador e o campo (Spink, 2003). relacionados ao trabalho – especialmente distúrbios osteomusculares devido a movimentos
Da pesquisa à intervenção e da intervenção à pesquisa repetitivos e à cadência acelerada –, posteriormente, passaram a mencionar cada vez mais
Nesse contexto as pesquisas e intervenções têm abordado fenômenos do mundo do problemas de ordem psíquica, que relacionavam às “pressões” no trabalho e às crescentes
trabalho em geral, como desemprego, trabalho precário e informal, raça e gênero, trabalho responsabilidades que lhes eram atribuídas (especialmente, referente à qualidade dos
em situações análogas à escravidão, processos organizativos em contextos não produtos).
convencionais, entre outros. Ao mesmo tempo, também era possível observar uma mudança no discurso dos
A fim de ilustrar a relação dialógica entre pesquisa e intervenção, apresentamos a gerentes, que enfatizava a “humanização” do trabalho, com maior participação e autonomia
seguir dois exemplos nos campos acima referidos, a Saúde do Trabalhador e a Economia dos empregados nas empresas, mas que, no entanto, tomava a direção oposta do que era
Solidária. dito pelos trabalhadores. Importante destacar que tal mudança discursiva também era
A Saúde do Trabalhador e a pesquisa em Psicologia Social do Trabalho observada em programas televisivos e em publicações da área de gestão empresarial,
Com a obrigatoriedade de o Estado responsabilizar-se pela saúde dos demonstrando que ela não era fortuita. Logo foi possível compreender que, na verdade, a

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mudança tinha a finalidade de legitimar novas configurações exigidas por outros modelos públicos ou suas próprias residências.
de gestão e de organização do trabalho adotados nas grandes empresas, os quais tinham As entrevistas, abertas e em forma de conversa, tiveram como eixo norteador a
como eixo a ideia de ‘flexibilidade’. vivência dos entrevistados no seu trabalho. Esse método propiciou uma situação “menos
Foi essa contradição entre o que diziam os trabalhadores e o discurso da gestão estranha e tensa para os entrevistados” (Hammersley & Atkinson, 2001). Muitas dessas
que motivou a pesquisa que relatada a seguir. Seu principal objetivo foi investigar como os conversas ocorreram em grupos, o que também facilitou que os trabalhadores
trabalhadores submetidos aos modelos de organização do trabalho “flexíveis” vivenciavam confrontassem ou complementassem informações fornecidas pelos colegas.
sua atividade laboral e as possíveis repercussões desses modelos para a saúde dos Os relatos dos trabalhadores foram confrontados com o discurso presente em
trabalhadores, especialmente, a saúde mental. publicações da área de gestão empresarial e o das próprias empresas (obtidos em
Importante destacar que as características do trabalho contemporâneo tem sido publicações direcionadas aos trabalhadores ou em seus sites), bem como com textos
foco de muitos estudos em Ciências Sociais e é possível observar um crescente interesse críticos relativos às novas propostas de organização do trabalho. A discussão teve como
pelos aspectos subjetivos envolvidos. Como exemplos, pode-se citar as referências de eixo quatro temas que estavam entre os mais comuns no discurso de gestão empresarial:
Boltanski e Chiapello (1999) e de Linhart e Linhart (1998) ao “controle da subjetividade”, competência, participação, trabalho em equipe e autonomia. Vale destacar que esses temas
de Alves (2011) à “captura da subjetividade” do trabalhador pelo capital, de Antunes também eram emblemáticos, uma vez que haviam feito parte das próprias reivindicações
(1995) ao “envolvimento cooptado” e de Linhart (2009) à “precariedade subjetiva”. dos trabalhadores, em décadas passadas, por melhorias nas condições de trabalho (o que
Contudo, apesar desse interesse, é bem mais comum que estes fenômenos sejam aponta para uma apropriação de elementos do discurso dos trabalhadores pelo discurso
abordados em uma perspectiva macrossocial. Por outro lado, estudos que focalizam a gerencial) (Boltanski & Chiapello, 1999).
perspectiva dos próprios trabalhadores com referência ao seu cotidiano são menos A investigação possibilitou desvelar as sutilezas da vivência cotidiana dos
frequentes. E é exatamente essa compreensão “desde dentro” do campo psicossocial trabalhadores, abrangendo diversos aspectos, dentre os quais: os mecanismos de poder
daquele que age, conforme Lewin (1965), que é priorizada no enfoque da psicologia social utilizados pelas empresas, a resistência dos trabalhadores e o desgaste da saúde devido às
do trabalho e que guiou a pesquisa. Sendo assim, seu foco foi a vivência de trabalhadores características do trabalho.
inseridos nas áreas de produção de duas montadoras de automóveis de origem japonesa que Apesar de as gerências adotarem fortemente um discurso de que todos faziam
adotavam o modelo de organização do trabalho que orienta o discurso gerencial sobre parte da ‘família-empresa’ e que, portanto, teriam interesses comuns, a grande maioria
flexibilidade, o toyotismo (Antunes, 1999). daqueles que participaram da pesquisa não se identificava com esse discurso e ressaltava os
Do ponto de vista metodológico, a proposta inicial era a de um estudo etnográfico aspectos negativos do seu trabalho. Esses trabalhadores não viam perspectiva de se manter
nos locais de trabalho. No entanto, a entrada nas áreas de produção das empresas não foi no mesmo emprego por muitos anos, alegando que ou seriam demitidos ou acabariam por
permitida. Assim, foi necessário buscar outros caminhos para conseguir acesso aos adoecer, tal a intensidade da demanda física e mental. De um modo geral, logo no começo
trabalhadores. Para isso, o contato com o sindicato de trabalhadores foi fundamental. Por de cada conversa, ouviam-se extensos relatos de uma vivência de intensa exploração física
intermédio dele, identificou-se que o campeonato de futebol organizado pelo clube de e mental. Nesse sentido, “expressões como ‘ritmo alucinante’, ‘trabalho incessante’,
campo do sindicato seria um momento interessantes para os primeiros contatos. Depois, ‘loucura’, ‘desespero’, ‘estresse’, ‘depressão’, (...) foram utilizadas pela maioria dos
foram realizadas entrevistas em outros locais indicados pelos trabalhadores, como espaços entrevistados ao descrever aspectos da organização do trabalho a que estavam submetidos”

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(Bernardo, 2009, p. 150). para intervenções de prevenção e para o atendimento a trabalhadores já doentes,
Praticamente todas as falas evidenciavam a sensação de se estar sendo explorado especialmente no estabelecimento de nexo entre o sofrimento/adoecimento psíquico com
ao máximo na sua força de trabalho e não de um trabalho mais humanizado, tal como era aspectos da organização do trabalho, que nem sempre são fáceis de identificar 1.
apregoado no discurso gerencial. Ao contrário, “os mecanismos de controle utilizados – Finalmente, deve-se dizer que, ao ser divulgada no formato de livro e em artigos
possibilitados, sobretudo, pela força da ameaça de demissão – são vivenciados pelos científicos (Bernardo, 2009; Bernardo, 2009a, Bernardo & Sato, 2010), a pesquisa também
trabalhadores como formas de violência: violência psicológica, no caso das ‘pressões’ e colabora para o debate público sobre o tema, incluindo a formação crítica de psicólogos e
das ‘humilhações’ cotidianas, e violência física, no caso da imposição de um ritmo de de outros profissionais.
trabalho ‘insuportável’” (p. 159).
Assim, apesar da tentativa de dissimulação das relações de dominação por Notas da aproximação entre a Psicologia Social e a Economia Solidária
mecanismos simbólicos (Bourdieu, 1996), sobretudo o discurso gerencial, a pesquisa A inserção da psicologia social no campo da economia solidária, desde o fim dos
possibilitou observar que o engajamento subjetivo referido pelos autores da sociologia do anos 90, acompanhou a criação deste campo praticamente desde o início. Naqueles anos,
trabalho não parecia ter sido alcançado no caso dos trabalhadores entrevistados. Quando vários estudantes de psicologia já estavam envolvidos atividades de “incubação”, ou seja,
ingressavam nas empresas, eles tendiam a acreditar no discurso oficial, mas logo atividades de formação em cooperativismo e de assessoria a cooperativas e a grupos
percebiam suas contradições (Bernardo, 2009, p. 158). informais da economia solidária. Esta inserção inicial se deu nas Incubadoras Tecnológicas
Nesse contexto, alguns se autodenominavam de “revoltados” e se contrapunham de Cooperativas Populares - ITCPs, criadas em diversas universidades brasileiras a partir
abertamente às propostas da gerência, tanto participando de ações coletivas orquestradas de 1996, a fim de facilitar as atividades de extensão universitária no campo da geração de
pelo sindicato, como por meio de táticas cotidianas de sabotagem ou manipulação das trabalho e renda (Guimarães, 1999). Destas primeiras atividades de intervenção realizadas
normas impostas de modo a utilizá-las a seu favor (Certeau, 1990). Mas também havia um por psicólogos com grupos da Economia Solidária, surgiram, pouco depois, as perguntas
número considerável de trabalhadores que, apesar de identificar as condições negativas que que configurariam diversas pesquisas posteriores em Psicologia Social do Trabalho.
vivenciavam, eram mais submissos e fatalistas, acreditando que tais condições dificilmente Dentro deste contexto, citaremos como exemplo o estágio de estudantes de
mudariam e, assim, “aguentavam” até o seu limite. graduação2 realizado na ITCP-USP por alunos do Curso de Psicologia da USP, nos anos de
Finalizada a pesquisa, seus resultados puderam ser utilizados na intervenção em 1999 e 2000. Embora pudéssemos nos referir a outras experiências profissionais, a escolha
diferentes contextos. No âmbito da organização coletiva dos trabalhadores, eles mostraram por relatar este estágio é devida à sistematização pela qual esta prática passou, o que
ao sindicato que mudanças na organização do trabalho poderiam constituir-se como possibilita uma revisão detalhada do processo de pesquisa decorrente da intervenção. Este
“reivindicações dignas de credibilidade” (Bihr, 1998), capazes de mobilizar os
1
trabalhadores. Ao desnaturalizar o discurso gerencial, a pesquisa também forneceu Importante esclarecer que o nexo do adoecimento com o trabalho, no Brasil,
garante diversos direitos aos trabalhadores que não são possibilitados no caso de doenças
argumentos para que se pudesse rebater a alegação das empresas de que elas atendiam originadas em fatores fora do trabalho.
2
demandas históricas dos trabalhadores ao propiciar supostas participação e autonomia aos Os estágios, no Brasil, se dividem entre obrigatórios e não-obrigatórios. Os
obrigatórios são aqueles que fazem parte da estrutura curricular do curso e são
seus empregados. considerados imprescindíveis para a formação profissional. Durante a realização dos
No âmbito da atenção à saúde dos trabalhadores, a pesquisa ofereceu subsídios estágios, os alunos realizam práticas profissionais sob uma dupla supervisão acadêmica (na
Universidade) e profissional (no local de estágio).
Como citar este artigo: Oliveira (Fábio de), Esteves (Egeu G.), Bernardo (Marcia H.), Sato (Leny).— Psychologie sociale du travail : rencontres entre recherche et intervention, Bulletin de psychologie, Tome 68
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estágio estava relacionado às disciplinas da área de psicologia social e do trabalho e ao autônomo, isto é, sem coordenação ou hierarquia interna, a este grupo foi atribuída a
Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho – CPAT-USP. Um grupo de alunos3 propôs responsabilidade pela incubação do grupo de artesãs. As atividades consistiam,
desenvolver seu trabalho na ITCP-USP. A ideia era engajar-se nas atividades de basicamente, em um Curso de Formação em Cooperativismo e em ações de assessoria no
intervenção realizadas pela incubadora e, simultaneamente, realizar uma minipesquisa processo de viabilização e formalização de uma cooperativa de artesanato. Assim, “o
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relatando experiências de autogestão . Gepem-Itapevi organizou seu trabalho com diversas atividades semanais: preparação de
Nos primeiros meses na ITCP, o grupo se envolveu com as diversas atividades que aula, uma tarde de curso em Itapevi e uma reunião pós-aula de impressões, além de um
já estavam em andamento. Eram ações de formação em cooperativismo, visando à rodízio para trabalhos de assessoria ao grupo de artesãs” (Andrada et al., 2001).
constituição de cooperativas trabalho. Até que, “em julho de 1999, a incubadora recebeu Quanto à pesquisa, o “grupo de psicólogos” manteve a ideia inicial de relatar a
um convite para conhecer um grupo de mulheres artesãs moradoras de um bairro pobre e “experiência da autogestão” das artesãs de Itapevi. Isto consistiu em sistematizar todas as
periférico da cidade de Itapevi”. (Andrada et al., 2001), que fica na Grande São Paulo. Este atividades realizadas com a ItaCooperArte - Cooperativa de Artesanato de Itapevi.
grupo havia se juntado para discutir questões do bairro, de saúde da mulher e também para “Para cada aula foram feitas anotações nos cadernos de campo dos pesquisadores,
tentar criar opções de trabalho, assim, fizeram bazares, venderam alimentos com um posteriormente sistematizadas sob um relato coletivo de todo o processo de
carrinho de pastel, até que uma delas aprendeu, em um programa vespertino de televisão, a formação, o que constituiu a fonte primária desta pesquisa: o Diário de Campo
tecer cestaria em jornal. Depois, buscaram apoio da ITCP-USP para qualificar o trabalho e, final do Curso de Formação em Cooperativismo – Itapevi. A partir deste foram
talvez, organizar uma cooperativa. percebidos, definidos, organizados e categorizados temas que se configuraram em
Este convite possibilitou a criação de um novo Grupo de Ensino, Pesquisa e duas grandes categorias de observação: negociações da autogestão em ação e;
Extensão Multidisciplinar (Gepem). A ideação de Gepem, contudo, merece um breve considerações de aspectos da vida pessoal no trabalho, sendo que a pesquisa
destaque: ateve-se à primeira” (Andrada et al., 2001).
“Quando a ITCP/USP foi lançada publicamente, em agosto de 1999, foi Este processo de sistematização da prática como atividade de pesquisa, contudo,
proclamado por seus porta-vozes que é um projeto universitário completo por só foi possível devido ao trabalho coletivo nas reuniões semanais de supervisão do
abranger atividades de ensino (cursos de formação e de formadores em estágio5. Nestas reuniões, as questões advindas do trabalho com o grupo ganhavam novos
cooperativismo), de pesquisa (diversos alunos de pós-graduação desenvolvem nomes e leituras - cotidiano, negociação, conflito, poder etc. Emergiu daí, gradualmente,
pesquisas sobre economia solidária) e de extensão. O objetivo dos Gepem, além um quadro de significação acerca dos processos psicossociais que ocorrem no cotidiano da
de acompanhar a cooperativa em incubação, é desenvolver em conjunto ensino, autogestão de uma cooperativa. Os resultados desta intervenção-pesquisa foram
pesquisa e extensão, sempre em estreito contato com cooperativas” (Singer, 2000, apresentados em aulas, minicursos e congressos 6.
p. 129).
O Gepem-Itapevi foi formado, inicialmente, por estudantes de pedagogia, 5
A supervisão estava a cargo da professora Leny Sato.
6
geografia, ciências sociais e psicologia. Constituído aos moldes de um grupo semi- O trabalho foi apresentado pela primeira vez em 1999 na V Semana de Psicologia
do IPUSP, com o título: "Cooperativismo e Psicologia: resignificando o trabalho e a ação
humana". Em 2001 foi apresentado no XI Encontro Nacional da ABRAPSO, com o título
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Alcione Silva, Cris Andrada, Daniela Fernández e Egeu Esteves. “Psicologia: trabalhadoras como sujeitos da construção negociada e cotidiana de uma
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Para acesso ao resultado desta pesquisa, consultar o artigo de Andrada (2006). cooperativa de artesanato”.
Como citar este artigo: Oliveira (Fábio de), Esteves (Egeu G.), Bernardo (Marcia H.), Sato (Leny).— Psychologie sociale du travail : rencontres entre recherche et intervention, Bulletin de psychologie, Tome 68
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Diversos episódios que envolviam a construção do trabalho autogestionário foram tem comparação", diziam. (3. Constrangimentos revelam conflito)
discutidos e examinados. Aqui, apresentaremos uma síntese de um dos casos de Ainda no início do curso, a equipe trouxe (...) o "exercício do café", (...) sugerido
negociação da autogestão em ação, o “caso do café”. Trata-se de uma edição do texto de no material orientador do curso de formação para abordar temas da autogestão,
Andrada et al. (2001)7. como a formalização de procedimentos (...). Com esta atividade tematizou-se
- O caso do café muitas práticas geralmente tácitas que, (...) também demandam por negociações
“Ao conhecer as mulheres artesãs de Itapevi, a equipe notou que o hábito de tomar de caráter micropolítico. (...) Por exemplo, para que uma cooperativa possa dispor
café já fazia parte do cotidiano do grupo (...). Já no primeiro encontro, podia-se de um lanche dia após dia, é necessário: (1) comprar os ingredientes,
perceber a presença das garrafas térmicas e dos copos plásticos sobre uma possivelmente tarefa esta acompanhada de uma breve pesquisa de mercado, (2)
pequena mesa. (...) (1. Cooperativa como coletivo e empreendimento). adotar uma "receita"; (3) estabelecer uma divisão de tarefas para estas atividades e
“Na segunda visita ao grupo, a equipe de formadores pergunta às artesãs sobre as também para a elaboração do café propriamente. (...). (4. Negociações
formas de organização delas com questões rotineiras, por exemplo, (...) a micropolíticas)
viabilização do café de todo dia. Elas disseram que não havia muitas regras, e Interessante notar que as pessoas responsáveis pela atividade haviam contemplado
quanto ao café, contam que ora uma pessoa traz uma garrafa de casa, ora outra, o todos os itens do lanche, exceto o café propriamente dito. (...) A certa altura, uma
que gerava um excesso eventual de café ou até falta dele (...). Neste caso, Lúcia, a cooperada disse: "Gente, aqui, agora, com o pessoal da USP não é hora para
dona da casa, preparava e ofertava o seu cafezinho, o que confirma a fala da artesã discutir isso. Amanhã a gente conversa”. Mobilizadas por esta questão, e também
Matilde: “café a gente nunca deixou faltar”. (2. Enunciação e acordos tácitos) por uma necessária mudança na organização do grupo na atividade da pintura da
“Com o início do curso (...) pudemos perceber o surgimento de comentários cestaria, as artesãs decidiram marcar a primeira assembleia do grupo sem a nossa
acerca dos diferentes cafés, trazidos por cada pessoa. Elas comentavam a presença. Ao final deste encontro, Fran desabafa: "Resolver conflito é aprender
qualidade das marcas, as proporções usadas, os gostos pessoais. Alguns deles mais, é conversar, não é esconder a sujeira embaixo do tapete”.(5. Definição do
seguem resgatados aqui: "Bom mesmo é o 'Café Pelé'! Que marca você usa?"; "Eu campo de mediação)
gosto de vários, 'Pilão', 'DoPonto', só que são mais caros..."; "Eu gosto é de café Na semana seguinte as mulheres contaram a reunião (...). E, com relação ao
forte e doce. Tem que ter seis medidas de café e seis de açúcar."; "Para cada lanche, comunicaram sua deliberação, ele seria uma "oferta", um "presente". Para
garrafa? Nossa! Mas aí fica caro. Eu uso só metade..."; "É por isso que fica isso, pensaram em organizar uma equipe de 4 a 6 pessoas que forneceriam os
assim..." O surgimento destas comparações suscitou constrangimentos expressos ingredientes e uma dupla que faria o lanche, havendo um sistema de rodízio de
por várias das integrantes do grupo, à vez que consolidava a preferência da forma a não sobrecarregar ninguém. A equipe, surpresa, (...) agradeceu após
maioria pelo café feito por Lúcia, a dona da casa: "Gostoso é o café da Lúcia, não considerar com elas a possibilidade de também realizar ofertas. (6. Escolha
organizacional)
7
Andrada, C.; Esteves, E.; Fernandez, D.; Silva, A. (2001). Autogestão e Porém, pôde-se perceber que a formalização teve seus limites (...): a organização
Psicologia: trabalhadoras como sujeitos da construção negociada e cotidiana de uma
cooperativa de artesanato. In: Anais do XI Encontro Nacional da ABRAPSO Psicologia da equipe referida por elas como deliberação daquela assembleia nunca ocorreu.
Social e Transformação da Realidade Brasileira: desafios e perspectivas para a ABRAPSO Passados alguns dias, surge afixada, em uma das paredes do ateliê (...) uma escala
21 anos depois. Porto Alegre: ABRAPSO SUL.
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de pessoas responsáveis por, a cada semana, trazer o lanche (...). As pessoas, outros cursos de psicologia. E pelo fato de os estudantes estarem em campo, vivendo e
orientadas pela lista, passaram a trazer prontos de casa o bolo ou a torta salgada, e acompanhando a realidade dos trabalhadores e de seus empreendimentos, emergiram
por muito tempo levavam o pó e o açúcar aleatoriamente, disponibilizando-os para questões tanto para a atuação profissional do psicólogo quanto para a pesquisa. Diversas
que Lúcia fizesse o café ao gosto da maioria delas. (8. Enunciação formal x eram as demandas que os empreendimentos apresentavam aos estudantes de psicologia:
Escolha prática) conflitos grupais; lideranças centralizadoras; pouco envolvimento de alguns trabalhadores
Com a consolidação do fundo comum da cooperativa, as artesãs passaram a com o grupo; dificuldades de compreensão, por parte de familiares e amigos, sobre o que é
realizar coletivamente a compra de diversos materiais necessários para suas uma cooperativa etc.
atividades e (...) optaram também por comprar os ingredientes do café. Entretanto, É evidente que os trabalhadores, e também os gestores das ITCPs, de início
ressalte-se, apenas Lúcia "passava" o café todos os dias, diferenciando agora com esperavam que os estudantes aplicassem técnicas para resolver tais problemas. Porém, a
etiquetas, em uma das estantes de sua cozinha, o pote "café Itacooperarte" do pote vontade geral entre tais estudantes, compartilhada com muitos supervisores de estágio,
"café Lúcia". (9. Mais acordos tácitos) visava inverter o sentido. Ao invés de aplicar técnicas construídas em contextos laborais
Os formadores seguiram por muitos meses recebendo a oferta do saboroso café, heterônomos e autocráticos, deveriam aproveitar a situação para desenvolver técnicas
desconhecendo movimentos do grupo. Certa ocasião, ouviu-se Matilde correr para novas, adequadas à realidade dos empreendimentos da Economia Solidária, sobretudo no
a cozinha dizendo: "Já chegaram! Vou passar o café!" “Mas como? Não era que se refere à autonomia coletiva, democracia e autogestão.
sempre a Lúcia que fazia isto?” Eis que elas nos contam que muitas conheciam a E foi justamente ao propor e realizar intervenções visando lidar com tais questões,
receita do famoso café, e que partilhavam com Lúcia a missão de ofertá-lo a todos que estudantes e psicólogos passaram a ver e a se interessar por elas, porém formuladas de
os presentes, em uma demonstração da necessidade crescente do rodízio de outras maneiras: onde e como acontece a autogestão no cotidiano? Que sentidos os
tarefas, determinada pelo processo de produção da cestaria. (10. A realidade muda trabalhadores atribuem à cooperativa? Como negociam e decidem os rumos da
e novas escolhas são necessárias) cooperativa? O que pensam e conversam sobre como deve ser e agir um cooperado? Como
* * * assumem para si a identidade de cooperado? Quais as repercussões da autogestão em
Este caso, junto com as negociações necessárias para organizar a produção da outras esferas da vida? Por que a economia solidária é tão feminina? Etc.
cestaria, ou para a escolha do regime de remuneração da cooperativa, relatados por Estas questões, entre muitas outras, levaram a pesquisas de mestrado e de
Andrada (2006), possibilitaram ao “grupo de psicólogos” concluir que “no contexto de uma doutorado na interface entre economia solidária e psicologia social. Poucos anos depois os
organização autogestionária, as negociações micropolíticas cotidianas são fundantes da primeiros resultados apareceram.
própria existência e manutenção da cooperativa” (Andrada et al., 2001). Se, de um lado, o Este é o relato do início de uma história que teve diversos desdobramentos, entre
cotidiano laboral e gerencial exige negociações micropolíticas, geralmente conflituosas, eles, a própria reconfiguração da Psicologia Social do Trabalho.
por outro lado, as negociações resultam em novos acordos e novos significados que Considerações finais
modificam o cotidiano e a própria cooperativa, a reconfigurando a cada momento. Ao se considerar as práticas que vinculam pesquisa e ação, temos observado nos
Os contatos iniciais entre Psicologia Social e Economia Solidária, no início dos dois campos que aqui se apresentou (Saúde do Trabalhador e Economia Solidária)
2000, ocorreram em muitas situações como esta, em outras universidades, outras ITCPs e diferentes acentos sobre a investigação e sobre a intervenção, produzindo combinações

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diversas entre ambas, num único e mesmo processo, matizando-as: em nossa experiência, manipulatório. São Paulo: Boitempo.
pesquisa e ação convivem, ora presentes no mesmo ato, ora de modo sincrônico, ora de Andrada, C. F. (2005). O encontro da política com o trabalho: história e repercussões da
modo sequencial, ora como atividades de profissionais e de pesquisadores independentes experiência de autogestão das cooperadas da UNIVENS. Dissertação de Mestrado,
entre si, mas presentes no mesmo campo e produzindo efeitos de modo articulado e Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
complementar. Andrada, C. F. (2006). Onde a autogestão acontece: revelações a partir do cotidiano.
A pesquisa pode ser conduzida por psicólogos que se reconhecem enquanto Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 9 (1), 1-14.
identidade profissional como profissionais “da prática” e, por outro lado, a intervenção Andrada, C. F. (2013). Trabalho e política no cotidiano da autogestão: o caso da rede
pode ser desenvolvida por profissionais cuja identidade se estrutura em torno da atividade Justa Trama. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
de pesquisa. Paulo.
Embora não necessariamente planejada, essa articulação entre pesquisa e Andrada, C., Esteves, E., Fernandez, D. & Silva, A. (2001). Autogestão e psicologia:
intervenção existe e acontece de diversos modos. trabalhadoras como sujeitos da construção negociada e cotidiana de uma cooperativa de
Além disso, é importante destacar que em qualquer uma dessas modalidades, a artesanato. In Anais do XI Encontro Nacional da ABRAPSO Psicologia Social e
população envolvida participa de modo mais ou menos ativo como pesquisadores “não Transformação da Realidade Brasileira: desafios e perspectivas para a ABRAPSO 21 anos
profissionais” (Freire, 1999, p. 35). depois. Porto Alegre: Abrapso Sul.
Embora, no Brasil, a divisão social do trabalho da produção do conhecimento Antunes, R. (1995) Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do
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pesquisa, pode-se reconhecer, no âmbito das políticas públicas e da atuação dos Antunes, R. (1999). Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do
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vinculação entre a pesquisa e a intervenção; mesmo que não exista entre nós uma forte Becker, H. S. (1999). Métodos de pesquisa em ci ncias sociais (4 ed.). São Paulo: Hucitec.
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do trabalho, cujo compromisso volta-se à melhoria de condições de trabalho e de vida a Bernardo, M. H. (2009). Trabalho duro, discurso flexível: uma análise das contradições do
partir do ponto de vista dos trabalhadores. Para tanto, o horizonte de visibilidade que se toyotismo a partir da vivência de trabalhadores. São Paulo: Expressão Popular.
pretende alcançar nas pesquisas e nas intervenções é a dos fazeres cotidianos de e no Bernardo, M. H. (2009b). Flexibilização do discurso de gestão como estratégia para
trabalho. Compreende-se que tais fazeres são processos micropolíticos, dinamizados pelo legitimar o poder empresarial na era do toyotismo: uma discussão a partir da vivência de
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