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Componente Curricular

PSICOLOGIA E
SOCIOLOGIA DO
TRABALHO
Breve Histórico do Desenvolvimento da Psicologia
e da Sociologia do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Origem da Sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Influências para a Administração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Princípios da Administração Científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Relação Social Capital/Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Aspectos Psicológicos no Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

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Breve Histórico do Desenvolvimento da Psicologia
e da Sociologia do Trabalho

Psicologia do trabalho tão simples, visto que tais mudanças influenciam diretamente seu
significado.
A Abordagem Clássica da Administração procede dos efeitos A etimologia da palavra “trabalho” remete ao vocábulo latino
da Revolução Industrial, basicamente do crescimento acelerado e de- tripalium, que designa um instrumento de tortura composto por três
sorganizado das empresas. Isso exigiu a substituição do empirismo paus entrecruzados com a finalidade de causar desconforto no indi-
e da improvisação utilizados até então, além da necessidade de au- víduo torturado (CORTELLA, 2013). No dicionário, trabalho significa
mentar a eficiência e a competência das empresas em obter o melhor “esforço incomum, luta, lida”, “conjunto de atividades, produtivas ou
rendimento dos seus recursos e fazer face à concorrência que crescia criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim”, “exer-
entre as organizações.. cício efetivo dessa atividade” (HOUAISS, 2001). O termo também
A Psicologia permaneceu subordinada à Filosofia até parte do está relacionado à criação intelectual, como discursos ou disserta-
século XIX, quando, juntamente com a eclosão da Revolução Indus- ções, uma vez que, para alguns autores, estudar também configura
trial, adquiriu independência, unindo-se aos interesses das indústrias. trabalho.
Inicialmente, surgiu uma área da Psicologia, chamada psicologia in- Por muito tempo, foi comum relacionar o trabalho a uma es-
dustrial, que tinha como base as teorias administrativas. As principais fera social inferior, mas, com o desenvolvimento das sociedades,
tarefas pelas quais essa área era responsável eram a seleção e a fizeram-se necessárias algumas mudanças e, na contemporaneidade,
colocação do profissional no mercado de trabalho. Posteriormente, a o trabalho deixou de ter o sentido de desonra, passando a ser enten-
psicologia industrial passou a trabalhar também com orientação vo- dido como uma possibilidade de realização pessoal e social, fonte de
cacional e estudos sobre as condições de trabalho (SANTOS, 2001). dignidade.
Santos (2001) afirma que, devido à grande influência da escola Entretanto, é importante salientar que:
das Relações Humanas, criada por Elton Mayo, psicologia industrial
tinha como um de seus principais objetivos fazer com que a motiva-
ção estivesse presente nas indústrias, incentivando os trabalhadores
A sociologia do trabalho é o ramo da ciência que estuda a
a trabalhar. Outro objetivo era que a liderança surgisse na prática
categoria trabalho em seu aspecto mais abrangente, podendo
produtiva criada pelos chefes e, ainda, que a comunicação adequa-
reconhecer essa categoria, simplesmente, como toda ativida-
da auxiliasse, de forma apropriada, a circulação das informações e
de desenvolvida com finalidade de atender às necessidades
decisões.
humanas.
Segundo Siegel (apud SANTOS, 2001), durante a Segunda
Guerra Mundial, desenvolveram-se técnicas de treinamento, coloca- Rubem Valente
ção e classificação de pessoal e avaliação de desempenho. Já no
período pós-guerra, estabeleceu-se também o psicodrama de Moreno
e a dinâmica de grupos de Lewin, técnicas desenvolvidas para estu- Conforme Rubem Valente, podemos salientar três aspectos im-
dar os conteúdos individuas nas relações sociais em diferentes con- portantes que envolvem o trabalho: ação, necessidade e coerção.
textos e situações. Após a crise do fordismo, a psicologia industrial
passou a se chamar psicologia organizacional (GOULART; SAMPAIO
apud SANTOS, 2001). Trabalho como ação
Assim, iniciou-se, no final de 1950, a prática chamada de psi-
cologia organizacional, que não operava unicamente na prática do Aderir às tarefas livremente e movido por desejo caracteriza
trabalho, mas também nas estruturas das organizações. Entretanto, ação. Nesse aspecto, as atividades exercidas pelo trabalhador rela-
a psicologia organizacional não se separou da psicologia industrial, cionam-se com o prazer de executá-las.
apenas ampliou seus setores de trabalho (SANTOS, 2001).

Sociologia do trabalho
Dadas as grandes mudanças que o mundo contemporâneo
vem enfrentando, a investigação sociológica permanece como um
instrumento essencial para a reflexão sobre essas transformações e
seus impactos sociais. Nesse sentido, vamos pensar aqui sobre as
transformações no mundo do trabalho e sobre a reestruturação da
atividade produtiva na sociedade atual.

Conceito de trabalho
O trabalho sempre foi muito significativo na vida humana. Está
tão presente que, por vezes, parece algo fácil de conceituar. Porém,
se pensarmos nas transformações sociais, veremos que não é algo

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Trabalho como necessidade Em sua visão crítica, Marx apresenta a divisão do trabalho
como essencialmente má, destruidora das relações sociais entre os
A importância social direcionada ao trabalho deixa no sujeito homens e, portanto, promotora de alienação. Para Marx, ocorrem
a necessidade de produzir, refletindo diretamente no sentimento de duas divisões fundamentais: a separação entre os meios de produção
“existir” lançando no mundo sua contribuição e obtendo em troca a e força de trabalho e a subdivisão do trabalho em diversas etapas.
possibilidade de conseguir bens.

As mudanças no mundo do trabalho


Todas as ações apresentadas pelos modelos de organização
da produção que estavam relacionados ao sistema capitalista tiveram
Trabalho como coerção
um significativo reflexo na classe trabalhadora e no seu movimento
A situação financeira define a adesão ao trabalho, impondo sindical e operário, trazendo consigo alterações na sociedade e, por
exigências que devem ser atendidas, sem observar a vontade do tra- conseguinte, no mundo do trabalho (SANTOS, 2004).
balhador, que acaba por se submeter ao trabalho. Cabe ressaltar que o surgimento de novos modelos organi-
zacionais contribui para o crescimento de uma contradição histórica
relativa ao trabalho, pois solicita, de forma constante, a criação de
novas estruturas na produção, deixando para segundo plano a con-
dição humana do trabalhador. Sendo assim, adverte-se que pode ha-
ver um reforço na dimensão negativa, pois o sistema capitalista, que
busca sempre o seu próprio benefício por meio da lucratividade, está
atento apenas às questões objetivas, relegando as subjetivas, o que,
em alguns momentos, pode motivar o início de doenças ocupacionais
(SANTOS, 2004).

Anotações:

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Situação prática
1. Escreva sobre a importância de um Técnico em Segurança do Trabalho compreender a Psicologia e a Sociologia do trabalho.

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Origem da Sociedade

Pensar as sociedades é pensar nos seres humanos. Aristóteles Corrente contratualista


afirmou, em suas contribuições, que o homem é um ser social, pen-
samento ao qual todos os pensadores da Idade Média e quase todos Essa corrente apresenta o meio como algo criado para manter
os modernos aderiram. Por esse viés, a vida em sociedade é um a ordem social, excluindo a vontade humana como fator único para
aspecto da natureza, especificamente da natureza humana. a construção de uma sociedade. Considera que se faz necessária a
Nesse sentido, faz parte da função de uma sociedade o esta- existência de um contrato social.
belecimento de regras a fim de que a ordem entre os homens seja Vamos conhecer alguns autores contratualistas e suas obras
mantida, bem como o oferecimento de meios para que se cumpram fundamentais:
os objetivos sociais, levando a sociedade a atingir um nível de satis-
fação social no qual existam de igual forma os deveres e os direitos. ● Platão: A República.
Tendo em vista esse aspecto da vida em sociedade, estabelece-se a ● Thomas Moore: Utopia.
conscientização de todos sobre o reflexo de suas atitudes, ou da falta
● Tommaso Campanella: A Cidade do Sol.
delas, no desenvolvimento de um grupo socializado.
● Thomas Hobbes: O Leviatã.
Existem duas teorias que buscam explicar a origem da socie-
dade: uma afirma que a sociedade é resultado de um impulso asso- ● Montesquieu: Do Espírito das Leis.
ciativo natural, a outra afirma que é fruto de um contrato firmado ● Rousseau: O Contrato Social.
entre os homens.
Só na convivência e na cooperação com os semelhantes o ho-
mem pode beneficiar-se das energias, dos conhecimentos, da
Corrente naturalista experiência e da produção dos outros, acumuladas através de
gerações, obtendo assim os meios necessários para que possa
Essa corrente defende um olhar para a união dos homens atingir os fins de sua existência, desenvolvendo todo o seu
como um evento natural, ou seja, considera a origem das sociedades potencial de aperfeiçoamento no campo intelectual, moral ou
como algo que ocorre sem qualquer pretensão prévia. técnico (DALLARI, 2012).
Vamos conhecer alguns autores naturalistas e suas conhecidas Segundo Dallari (2012), para que se tenha uma sociedade, é
frases: necessário:

● Finalidade ou valor social: É a busca pelo “bem comum”,


Idade Antiga que ocorre no conjunto de todas as formas da vida social e que
admitem e favorecem o desenvolvimento integral do indivíduo.
● Aristóteles: “O Homem é naturalmente um animal político”. Quando uma sociedade se organiza promovendo o bem de so-
● Cícero: “Os Homens se unem não pela necessidade dos bens mente uma parte de seus integrantes é sinal de que existe
essenciais à vida, mas porque o homem tem um instinto de uma falha nessa organização, a qual afasta a sociedade dos
sociabilidade inato”. objetivos que justificam sua formação.
● Manifestação de conjunto ordenado: É indispensável que
as manifestações aconteçam por meio de conjuntos ordena-
Idade Moderna dos, sempre com um determinado foco.

Ranelletti afirma que o Homem desde a época mais remota, Essas manifestações devem atender a três requisitos:
por mais rude e selvagem que possa ser sua origem, sempre foi e é
encontrado em convivência com outros. ● Reiteração: só por meio de manifestação conjunta e frequen-
te, que parta da integralidade social, haverá condições para
que os objetivos sejam alcançados.
O Cortiço, de Aluísio Azevedo ● Ordem: as manifestações devem poder ocorrer de forma que
(1890) é o mais expressivo ro- o bem comum possa prevalecer. Existem inúmeras possibilida-
mance naturalista brasileiro. Seu des de escolha entre os homens e as ações humanas. Deve-
foco é a população anônima e mos pensar na ordem universal primeiramente ao efetuarmos
marginalizada do Rio de Janeiro nossas escolhas.
do século XIX, ou seja, o cotidiano ● Adequação: cada grupo deve ter conhecimento sobre as neces-
de um cortiço. Lavadeiras, operá- sidades e probabilidades da realidade social para não ampliar os
rios, prostitutas, mascates, enfim, atos das manifestações no sentido contrário ao do bem comum.
uma expressiva variedade de per-
fis humanos compõe a narrativa O mesmo autor afirma que, para Montesquieu, existem tam-
do romance, cujo autor demons- bém leis naturais que levam o homem a escolher a vida em socieda-
tra preocupação em registrar e de. Essas leis são as seguintes:
analisar à luz da ciência os males
da sociedade brasileira da época. ● “o desejo de paz;
● o sentimento das necessidades, experimentado principalmente
na procura de alimentos;
● a atração natural entre os sexos opostos, pelo encanto que
inspiram um ao outro e pela necessidade recíproca;
● o desejo de viver em sociedade, resultante da consciência que os
homens têm de sua condição e de seu estado” (DALLARI, 2012).

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Poder social para a sobrevivência teriam de subordinar-se a eles, reconhecendo-
-os como chefes e satisfazendo sua vontade (DALLARI, 2012).
Pensar na organização e no funcionamento de uma sociedade Percebe-se, desse modo, que a superioridade relacionada com
requer particular cuidado quando o assunto é o poder. Independen- a força material perdeu cada vez mais o sentido conforme os homens
temente da época em que será estudado, esse tema merece uma obtinham mais entendimento, não aceitando ser diminuído por outro
atenção especial. homem pelo fato ter menos força física. Este estágio primitivo teve
Podemos apontar algumas características gerais para chegar- significativa duração, podendo ser observado no comportamento dos
mos a uma ideia relativamente precisa sobre o poder, sendo a pri- guerreiros (DALLARI, 2012).
meira a noção de socialidade, que revela o poder como algo social,
não podendo ser explicado por fatores individuais. Outra relevante
particularidade é a bilateralidade, a qual mostra que o poder será
a predominação de uma vontade. Nesse ponto, são necessárias duas Anotações:
ou mais partes envolvidas. Para acontecer a existência do poder, faz-
-se necessária a presença de vontades reprimidas (DALLARI, 2012).
A necessidade do poder na vida social é reconhecida pela
maior parte dos autores que tem pesquisado o tema; o que muda é
a justificativa para sua existência e as percepções sobre os aspectos
mais importantes. Dallari (2012) reforça que as teorias que negam o
poder apoiam-se apenas em suposições e hipóteses ao mencionar o
seu começo depois de certo momento na vida social, não apontando
qualquer informação concreta ou vestígio que comprove a existência
de um período anárquico. Ao observar o comportamento humano,
independentemente de época ou lugar, confirma-se que até nas so-
ciedades mais bemsucedidas e bem ordenadas acontecem conflitos
entre indivíduos ou grupos sociais, tornando necessária a intervenção
de uma vontade preponderante para conservar a unidade ordenada
em função dos fins sociais (DALLARI, 2012).
Verificando-se, afinal, as configurações atuais do poder e seus
métodos de atuação, chega-se às seguintes ideias:

● Existe o desejo de um reconhecimento da legitimidade do po-


der, visto que hoje ele já é reconhecido como necessário, e
isso acontece com a permissão dos que o aceitam.
● Busca-se ajustar os objetivos do poder e do direito, já que,
mesmo o poder não sendo puramente jurídico, ambos estão
interligados.
● Há um processo de objetivação que antecipa a vontade obje-
tiva dos governados ou da lei, desaparecendo a característica
de poder pessoal.
● Atendendo a um desejo de racionalização, desenvolveuse uma
técnica de poder que o torna despersonalizado (poder do gru-
po, poder do sistema) ao mesmo tempo em que busca meios
sutis de atuação, colocando a coação como forma extrema
(DALLARI, 2012).

Observa-se que existe nas sociedades mais primitivas uma


confusão entre vontade, poder e força material. Dessa forma, os
homens que defendiam os grupos das ameaças de outros homens,
de animais ou das forças da natureza eram os que detinham o poder
(DALLARI, 2012).
São muitas as justificativas para a invenção dessa base do
poder. Vamos resumir da seguinte forma:

Estágios mais primitivos da vida humana: os bens eram co-


muns, todos usufruíam dos resultados dos trabalhos de todos.

Após...

Os mais arguciosos entenderam que não era mais vantajoso


para sua sobrevivência continuar na dependência diária de obter al-
gum ganho, e os mais fortes começaram a buscar para si lugares
de mais facilidade para obter os alimentos, armazenando, conforme
fosse possível, e acumulando alguns bens de que todos precisavam.
Assim, nos períodos de falta, os que não tinham os itens necessários

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Situação prática
2. Aponte as principais características das correntes naturalista e contratualista.

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Influências para a Administração

Correntes filosóficas Francis Bacon

Desde a antiguidade, a Administração recebeu grande influên- Desde a Antiguidade


cia da Filosofia. até o início da Idade Moderna,
ocorreu, por parte da Filoso-
fia, um direcionamento para
Platão inúmeras preocupações que
não estavam relacionadas aos
“Platão (429 conflitos administrativos. A
a.C.-347 a.C.), filósofo determinação do que seria es-
grego, discípulo de Só- sencial, acidental ou acessório
crates, dedicou-se for- foi realizada por Francis Bacon
temente às problemá- a partir de experimentos. Ba-
ticas políticas e sociais con antecipou-se ao princípio
essenciais ao desenvol- conhecido em Administração
vimento social e cultu- como o “princípio de pre-
ral do povo grego. Em valência do principal sobre o
sua obra, A República, acessório” (CHIAVENATO, 1983).
expõe o seu ponto de Francis Bacon (1561-1626), filósofo e estadista inglês, é o res-
vista sobre a forma peitado fundador da Lógica Moderna, baseada no método experi-
democrática de gover- mental e indutivo.
no e de administração
dos negócios públicos”
(CHIAVENATO, 1983). René Descartes
O “filósofo René
Descartes (1596-1650),
Aristóteles matemático e físico
francês, é considerado
“Aristóteles (384
o fundador da Filosofia
a.C.-322 a.C.), outro filó-
Moderna. As reconhe-
sofo grego, discípulo de
cidas coordenadas car-
Platão, deu enorme im-
tesianas foram criadas
pulso à Filosofia, princi-
por Descartes e foi de
palmente à Cosmologia,
muito valor o impulso
à Nosologia, à Metafísi-
que deu à Matemática e
ca, às Ciências Naturais,
à Geometria da época.
ampliando as possibilida-
Na filosofia, celebrou-se
des para o conhecimento
pelo livro O Discurso do
humano na época. Foi o
Método, onde descreve
fundador da Lógica. No
os principais preceitos do seu método filosófico, hoje denominado
seu livro Polí tica, estuda
‘método cartesiano’” (CHIAVENATO, 1983).
a organização do Estado
e diferencia as três for-
mas de administração
pública, sendo elas: Anotações:
● Monarquia ou go-
verno de um só (que pode redundar em tirania).
● Aristocracia ou governo de uma elite (que pode descambar em
oligarquia).
● Democracia ou governo do povo (que pode degenerar em
anarquia)” (CHIAVENATO, 1983).

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Thomas Hobbes
“Conforme Hobbes (1588-1679), o homem vive inicialmente em “estado de
natureza”, mencionando esta expressão não somente para os estágios mais re-
gressivos da História, mas, também, no momento em que o homem age de forma
instintiva, não reprimindo suas ações, ou pela voz da razão ou pela presença de
instituições políticas eficientes. Assim, pois, o estado de natureza é uma perma-
nente ameaça que pesa sobre a sociedade e que pode brotar sempre que a paixão
calar a razão ou a autoridade falhar” (DALLARI, 2012).

Influência da organização da Igreja Católica


A organização eclesiástica serviu para muitas organizações que buscavam experiências bem sucedidas para tomar como modelo. Sendo
a Igreja Católica uma organização extremamente bem-sucedida, seus princípios e suas normas administrativas foram modelares.

Organograma da Igreja Católica Estrutura de uma organização

ALTO CLERO – VATICANO MATRIZ


Papa – Cardeais Presidente – Vice-presidente

CLERO SECULAR – DIOCESES MATRIZES E FILIAIS


Bispos – Diáconos – Presbíteros Diretores – Gerentes – Supervisores

CLERO REGULAR – PARÓQUIAS MATRIZ E FILIAIS


Padres – Monges – Ordens Chefes – Líderes – Equipes

Influência da organização militar


O surgimento da Teoria da Administração também recebeu RESUMINDO
influência da organização militar. O princípio da unidade de comando
(pelo qual cada subordinado só pode ter um superior) é o núcleo das ● A organização eclesiástica da Igreja Católica influenciou o
organizações militares. A forma hierárquica de organização conheci- pensamento administrativo.
da nos sistemas militares aparece nas organizações quando encon-
● A organização militar também trouxe importante influência
tramos diferentes tipos de escalas de responsabilidades, devendo os
para a Administração, colaborando com alguns princípios
indivíduos prestar informações aos seus superiores (CHIAVENATO,
da Teoria Clássica da Administração.
2000).
● A Revolução Industrial criou o contexto industrial, tecnoló-
Chiavenato (2000) relaciona a antiguidade do conceito de hie-
gico, social, político e econômico de situações, problemas
rarquia nas organizações com a guerra, exemplificando com o fato
e variáveis, a partir do qual teria início a Teoria Clássica da
de que todo soldado deve saber o que se espera dele. No início do
Administração.
século XIX, o general Karl Von Clausewitz escreveu um tratado sobre
a guerra e seus princípios, mostrando como administrar os exércitos. ● Também os economistas liberais deram algum apoio ao
Ele considerava que, para uma boa organização, a disciplina era um surgimento de alguns princípios de Administração que te-
requisito básico (CHIAVENATO, 2000). riam grande aceitação mais tarde (CHIAVENATO, 2003).

Influência dos economistas liberais


Após o século XVII, inúmeras teorias econômicas centradas
Anotações:
na explicação dos fenômenos empresariais (microeconômicos) e ba-
seadas em dados empíricos começaram a se desenvolver. No fim do
século XVIII, os economistas clássicos liberais conseguiram a aceita-
ção de suas teorias.
As ideias liberais são derivadas do direito natural, segundo o
qual a ordem natural é a ordem mais perfeita. Entende-se que os
direitos econômicos humanos devem ser inalienáveis e que existe
uma harmonia preestabelecida em toda a coletividade de indivíduos
(CHIAVENATO, 2003).

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Situação prática
3. Como se deu a influência das diferentes correntes filosóficas e organizações na Administração?

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Princípios da Administração Científica

A Escola da Administração Vamos entender melhor o estudo e a análise dos tempos e


Científica foi iniciada pelo engenhei- movimentos apresentados por Taylor:
ro americano Frederick Winslow Os tempos e movimentos apresentados pelos operários na
Taylor (1856-1915), considerado o execução de uma tarefa serviram de instrumento para racio-
fundador da Teoria da Administração nalizar o trabalho nas indústrias. Os movimentos utilizados em
Científica. Nascido na Filadélfia, nos uma operação eram divididos e subdivididos; toda execução
Estados Unidos, em seus primeiros era observada sistematicamente, o que oportunizou verificar
estudos travou contato direto com que os movimentos inúteis poderiam ser eliminados e os úteis
os problemas sociais e empresariais simplificados, racionalizados ou misturados com outros movi-
decorrentes da Revolução Industrial. mentos proporcionando economia de tempo e esforço do ope-
Iniciou sua vida profissional como rário (CHIAVENATO, 2003).
operário, em 1878, na Midvale Steel
Frederick Winslow Taylor Company, uma importante empresa
na Filadélfia. Passou a capataz, con- Administração como ciência
tramestre, chefe de oficina e, por fim, a engenheiro, em 1885, quan-
do se formou pelo Stevens Institute. Taylor teve inúmeros seguidores O segundo período de Taylor corresponde à época da publi-
e provocou uma revolução no pensamento administrativo e no mun- cação do seu livro Principles of scientific administration (“Princípios
do industrial da sua época (CHIAVENATO, 1983). de Administração Científica”), quando concluiu que a racionalização
Para Taylor, a existência da Administração Científica era ba- do trabalho operário deveria ser logicamente acompanhada de uma
seada na mudança de entendimento tanto por parte dos empregado- estruturação geral da empresa e que tornasse coerente a aplicação
res quanto por parte dos empregados, quanto ao comprometimen- dos seus princípios (CHIAVENATO, 1983).
to mútuo entre ambos, caso esta mudança não ocorra não existirá Segundo Chiavenato (1983), para Taylor, as problemáticas vi-
administração científica (CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005). venciadas nas indústrias poderiam ser reunidas em três fatores:
A abordagem da Administração Científica enfatiza o es-
tudo focado nas tarefas executadas pelos operários nas indústrias. ● A redução intencional da produção por parte dos operários,
Seu nome deve-se à tentativa de aumentar a eficiência industrial por movimento chamado de vadiagem sistemática, evitando, as-
meio da aplicação de métodos. sim, a diminuição de salários por parte da gerência.
Seu projeto inicial era eliminar o desperdício e os prejuízos ● A falta de conhecimento, por parte da gerência, sobre o tempo
sofridos pelas indústrias americanas e elevar seu nível de produtivi- necessário para a realização das tarefas bem como sobre a
dade, aplicando métodos e técnicas da engenharia industrial. Os es- rotina que envolvia as mesmas.
tudos e as experiências de Taylor tinham por objeto, inicialmente, os ● A falta de uniformidade das técnicas e/ou do método de tra-
operários; posteriormente, Taylor expandiu as suas conclusões para balho.
a administração geral.
Os principais métodos científicos aplicáveis aos problemas Para Taylor, os elementos de aplicação da administração cien-
da Administração são observação e mensuração (CHIAVENATO, tífica são:
1983).
● Estudo de tempo e padrões de produção.
● Supervisão funcional.
O primeiro período de Taylor está relacionado ao período ● Padronização de ferramentas e instrumentos.
da publicação de seu livro Shop management (“Administração ● Planejamento das tarefas.
de Oficinas”). Nessa obra, o foco era estudar os tempos e mo- ● Princípio da exceção.
vimentos, e, para isso, o autor utilizou-se das técnicas de ra-
● Utilização da régua de cálculo e instrumentos para economizar
cionalização do trabalho operário.
tempo.
● Fichas de instruções de serviço.
O que Taylor procurou dizer em seu livro Shop management ● Noção de tarefa, associada a prêmios de produção pela sua
foi que: execução eficiente;
● Sistemas para classificação dos produtos e do material utiliza-
● O baixo custo das unidades na produção e os salários altos do na manufatura.
deveriam ser o objetivo de uma administração adequada. Além
● Sistema de delineamento da rotina de trabalho.
disso, os problemas deveriam ser analisados por meio de mé-
todos científicos de pesquisa que oportunizassem a criação de Taylor afirma que a maioria das pessoas acredita que os in-
princípios e processos com um determinado padrão para con- teresses fundamentais dos empregadores e dos empregados são
trolar as operações que acontecem nas fábricas. necessariamente contrários uns aos outros. Porém, para a adminis-
● Deveria haver um padrão baseado em estudos científicos tan- tração científica isso não é verdade; ela entende que ambos possuem
to nas colocações como no aperfeiçoamento dos empregados, interesses únicos, implicando que as prosperidades do empregador
visando ao cumprimento de normas e dos objetivos de pro- e do empregado estão diretamente relacionadas. É preciso que o
dução. trabalhador obtenha o que realmente precisa (altos salários) e o em-
● Deveria ser valorizada uma “atmosfera de íntima e cordial coo- pregador também, isto é, baixo custo de produção (CHIAVENATO,
peração” entre os administradores e os empregados, garantin- 1983).
do um ambiente psicológico que possibilitasse a aplicação dos
outros princípios por ele mencionados (CHIAVENATO, 1983).

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Princípios da Administração Científica Segundo Fayol, para uma administração eficaz devem ser se-
guidos quatorze princípios. São eles:
Vamos conhecer os mais importantes princípios defendidos pe-
los estudiosos da Administração. ● Divisão de trabalho: designação de tarefas específicas para
cada indivíduo, resultando na especialização das funções e se-
paração dos poderes.
Princípios que, para Taylor, evidenciam a ● Autoridade e responsabilidade: autoridade é todo direi-
administração científica to dos superiores de darem ordens (mandar) e que, teorica-
mente, serão obedecidas (fazer obedecer). Responsabilidade é
1° princípio: Busca agregar todos os conhecimentos tradicionais, o resultado natural da autoridade.
que estavam apenas registrados nos conhecimentos dos trabalhado- ● Disciplina: é o respeito aos acordos estabelecidos entre a
res e, então, organizá-los com um determinado regramento, sendo empresa e seus agentes.
essa uma tarefa para os gerentes, os quais apenas solicitarão aos
● Unidade de comando: implica que cada indivíduo terá ape-
trabalhadores que executem o que foi planejado.
nas um superior. Um funcionário deve receber ordens de ape-
2° princípio: Seleção dos operários de acordo com suas aptidões, e nas um chefe, a fim de evitar contraordens.
oferta de preparo e treinamento para que produzam mais e melhor, de
● Unidade de direção: deve haver um só chefe e um só pro-
acordo com o método planejado para que atinjam a meta estabelecida.
grama para um conjunto de operações que visam ao mesmo
3° princípio: Baseia-se em trazer para os trabalhadores o conhe- objetivo. O controle único é possibilitado por meio da aplica-
cimento da ciência. Será feito somente se existir uma gerência para ção de um plano para grupo de atividades com os mesmos
essa aproximação acontecer. objetivos.
4º princípio: Distribuição do trabalho e das responsabilidades para ● Subordinação de interesses individuais aos interesses
que a organização seja a mais disciplinada possível. gerais: os interesses gerais da organização devem prevalecer
CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005.
sobre os interesses individuais.
● Remuneração do pessoal: deve se dar de maneira justa,
baseando-se nos fatos externos e internos e ser suficiente para
Princípios da administração de Fayol garantir a satisfação dos funcionários e da própria organização.
● Centralização: implica a defesa da estrutura hierárquica, res-
Engenheiro de minas e administrador francês, Henri Fayol
peitando à risca uma linha de autoridade fixa.
(1841-1925) foi um dos primeiros estudiosos a analisar a natureza
da atividade empresarial, a formular uma teoria completa de gestão ● Cadeia de comando: essa cadeia vai do primeiro ao último
e a definir as principais atividades do gestor dentro das organizações: escalão, respeitando o princípio do comando.
planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. ● Ordem: deve ser mantida em toda organização, preservando
Para Fayol, as funções de um administrador eram: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar.
● Equidade: refere-se ao tratamento das pessoas com justiça,
● Prover os recursos conforme avaliação do futuro. respeitando os direitos iguais.
● Proporcionar tudo o que é favorável ao funcionamento da em- ● Estabilidade do pessoal: é importante pois uma rotativida-
presa, seja na esfera material ou social. de alta tem consequências negativas sobre o desempenho da
● Observar o funcionamento da organização, alcançando o maior empresa e a moral dos funcionários.
número de empregados e obtendo retorno no interesse dos ● Iniciativa: deve ser entendida como a capacidade de esta-
aspectos globais do negócio. belecer um plano e cumpri-lo, faz aumentar o zelo e atividade
● Harmonizar todas as atividades do negócio, facilitando seu tra- dos agentes.
balho e sucesso. ● Espírito de equipe: refere-se ao trabalho realizado em con-
● Verificar se tudo está ocorrendo conforme o plano escolhido para junto (CHIAVENATO, 2003).
que, caso ocorra algum desvio, exista a possibilidade de retificá-
-lo antes que aconteçam recorrências (CHIAVENATO, 2003).

Anotações:

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Princípios de eficiência de Emerson de vencido o prazo de pagamento dos salários e da matéria-
-prima adquirida. A velocidade de produção deve ser rápida: “o
Harrington Emerson foi minério sai da mina no sábado e é entregue sob a forma de um
um engenheiro que apresentou carro ao consumidor na terça-feira, à tarde”, dizia Ford.
uma possibilidade de facilitar as ● Princípio de produtividade: objetiva aumentar a capacida-
formas de trabalho. Ele divulgou de de produção do homem no mesmo período (produtividade)
a administração científica, de- por meio da especialização e da linha de montagem, assim,
senvolvendo os primeiros traba- o operário pode ganhar mais e o empresário ter uma maior
lhos sobre seleção e treinamento produção (CHIAVENATO, 2003).
de empregados (CHIAVENATO,
2003). O aperfeiçoamento na linha de montagem representa a grande
contribuição de Henry Ford para a organização industrial, permitindo
um significativo aumento de produtividade. Ford propôs uma inver-
são de fluxos no interior dos processos de fabricação de automóveis:
por meio das esteiras, o trabalhador é abastecido, em seu próprio
Os princípios de rendimento preconizados por Emerson são os
posto, de todos os insumos necessários à realização do seu trabalho.
seguintes:

● Traçar um plano bem definido, de acordo com os objetivos.


● Estabelecer o predomínio do bom senso.
● Oferecer orientação e supervisão competentes;
● Manter disciplina.
● Impor honestidade nos acordos, ou seja, impor justiça social
no trabalho.
● Manter registros precisos, imediatos e adequados.
● Oferecer remuneração proporcional ao trabalho desempenha-
do.
● Fixar normas padronizadas para as condições de trabalho.
● Fixar normas padronizadas para o trabalho em si.
● Fixar normas padronizadas para as operações. Ford implantou a esteira mecânica, que visava a aumentar a
capacidade de produção pois levava até o trabalhador as peças e/ou
● Estabelecer instruções precisas.
os materiais que ele necessitava para executar sua tarefa.
● Oferecer incentivos ao maior rendimento e à eficiência (CHIA-
Com tais princípios, o ganho de produtividade foi elevado:
VENATO, 2003).
fabricou-se 15 milhões de veículos entre 1908 e 1926, tornando o
automóvel um produto de consumo de massa.
Princípios básicos de Ford Outra característica do fordismo foi a dominação, por meio do
controle de capital, de todas as etapas do processo produtivo, desde
Podemos dizer que este é o mais as matérias-primas até a distribuição (por exemplo, possuir planta-
conhecido de todos os iniciantes da ções de seringueira para fabricar os pneus e adquirir uma frota de
administração científica. Henry Ford navios para os transportes).
(1863-1947) iniciou sua vida profissio- O fordismo teve seu ápice no segundo pós-guerra (1945-
nal como mecânico, chegando a enge- 1968), período conhecido na história do capitalismo como “anos dou-
nheiro-chefe de uma fábrica. Idealizou rados”. Entretanto, a rigidez do modelo que o levou ao auge também
e projetou um modelo de carro e, em foi a causa de sua decadência.
1899, fundou com alguns colaborado-
res a sua primeira fábrica de automó-
veis, que logo foi fechada. Ford queria
divulgar um produto que antes era
usado somente por milionários, queria
vender os carros a preços populares e
com a garantia de assistência técnica, modificando as estratégias co-
merciais da época (CHIAVENATO, 2003).
Aliado a isso, escreveu livros e aplicou a linha de montagem
em série como forma de diminuir custos e produzir mais em menos
tempo. Vejamos os princípios de sua filosofia de trabalho, conhecida
como fordismo:

● Princípio de intensificação: procura diminuir o tempo de


produção, garantir emprego imediato dos equipamentos e da
matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado.
● Princípio de economicidade: visa a reduzir ao mínimo o vo-
lume de estoque da matéria-prima em transformação, fazendo
com que, na época, o automóvel fosse pago à empresa antes

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Assim, a partir da década de 1970, depois que a General Mo-
tors flexibilizou sua produção e seu modelo de gestão, lançando di-
versos modelos e cores de veículos e adotando um sistema de gestão
Anotações:
profissionalizado baseado em colegiados, ela ultrapassa a Ford como
a maior montadora do mundo. Aliado a isso, após os choques econô-
micos propiciados pelo petróleo e a entrada de competidores japone-
ses no mercado automobilístico, o fordismo e a produção em massa
entraram em crise e começam, gradativamente, a serem substituídos
pela produção enxuta, com modelos de produção baseados no Siste-
ma de Produção ou Toyotismo. Em 2007, a Toyota tornou-se a maior
montadora de veículos do mundo e pôs um ponto final no fordismo.

O sistema Toyota
A formação do sistema Toyota de produção foi realizada por
Eiji Toyoda, da família proprietária da Toyota, e Taiichi Ohno, o chefe
da engenheira da empresa. Ambos concluíram que o sistema Ford
não poderia funcionar na Toyota, a qual, à época, era menor e neces-
sitava de soluções eficientes e menos caras. Ao longo de vinte anos,
Ohno e Toyoda estabeleceram os princípios que formam a base do
sistema Toyota de produção: eliminação de desperdícios e produção
de veículos com qualidade (MAXIMIANO, 2000).

Eliminação de desperdícios
Para os japoneses, a precaução e a abundância utilizada pelos
ocidentais como recurso de proteção das empresas nas emergências
era o desperdício. O sistema Toyota eliminou-o aplicando a filosofia
do just-in-time e racionalizando o trabalho. Just-in-time significa pro-
duzir apenas o necessário, no momento certo (MAXIMIANO, 2000).

Produção de veículos com qualidade


Os defeitos eram tratados individualmente, e a orientação pas-
sada aos trabalhadores era a de que, ao observar algum problema
que não conseguissem resolver na linha de produção, ela fosse pa-
rada e cada erro analisado sistematicamente, buscando responder à
pergunta “por quê?” até encontrar a razão inicial do problema. Essa
forma foi nomeada de “cinco porquês” (MAXIMIANO, 2000). Segundo
Ohno (1997), ao se perguntar cinco vezes “por quê?” e respondê-las,
pode-se chegar à verdadeira origem do problema, que geralmente
está escondida por trás de sintomas óbvios. Essa abordagem científi-
ca tornou-se a base da prática do sistema Toyota de produção.
Outro aspecto importante de salientar quanto a esse sistema é
a mudança que ocorreu na relação homem-máquina. Se no fordismo
a relação era entre um homem e uma máquina, no toyotismo, depen-
dendo do setor de produção, a relação era de um operário para cada
cinco máquinas. Diferentemente do sistema clássico de produção de
massa planificado, que era relativamente pouco versátil, o sistema
Toyota, revelou-se muito plástico, adequando-se bem às mais diver-
sas condições (AMBONI, 2001). A flexibilidade do sistema da Toyota
levou cerca de vinte anos para se firmar como forma eficiente de
produção, mas o reflexo de seu início gerou muitas transformações,
fazendo com que o trabalhador tenha precisado adaptar-se a este
novo modelo (BUENO et al., 2007).

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Situação prática
4. Sintetize as principais ideias dos pensadores da administração científica.

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Relação Social Capital/Trabalho

O Brasil, assim como a maioria das sociedades, organiza-se


em um sistema capitalista. Vamos pensar o que isso significa? RIQUEZA CRIADA
No capitalismo, os trabalhadores vendem seu trabalho ao capi- PELOS TRABALHADORES
tal para conseguirem formas de sobrevivência.
Marx (apud FERREIRA, 2008) assegura que, se ocorrer um au-
mento na valorização das coisas e ao mesmo tempo uma redução
do mundo dos homens, poderá ocorrer um significativo aumento de
produção que não será garantia de valor, isto é, não existirá o me- PATRÃO
recido respeito para com as relações, imperando, então, as coisas SÁLARIO
em detrimento do homem. Assim, haveria uma comparação entre o
homem e uma mercadoria, e o que ele cria ganha autonomia, não
tendo mais ele poder algum sobre o que criou. O autor assim define
o processo de alienação:

[...] o trabalhador se relaciona com o produto do seu trabalho


como a um objeto estranho. Com base nesse pressuposto, é
claro que quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo,
mais poderoso se torna o mundo dos objetos que ele cria dian-
te de si, mais pobre ele fica na sua vida interior, menos perten-
ce a si próprio [...] A alienação do trabalhador no seu produto
significa não só que o trabalho se transforma em objeto e as-
sume uma existência externa, mas que existe independente-
mente, fora dele e a ele estranho, e se torna um poder autôno-
mo em oposição a ele; que a vida que deu ao objeto se torna TRABALHADOR
uma força hostil e antagônica (MARX apud FERREIRA, 2008).

Desta forma a produção gerada pelo trabalho ganha forma de


objeto, gerando algum material independente do trabalhador Anotações:
que o produzir, processo que é denominado como a alienação
do trabalho. Na sociedade capitalista, o trabalho aparece como
algo estranho ao trabalhador, pois o produto do seu trabalho
é algo que não lhe pertence e é apropriado pelos capitalistas,
que são os proprietários dos meios de produção e controlam o
sistema produtivo (FERREIRA, 2008).
A alienação do trabalho possui profundo reflexo na vida do
homem, pois o aprisiona de forma que sua natureza, sua vitalidade,
seus corpos físicos e espirituais ficam aprisionados, comprometendo
o resultado de suas ações. Ao ver sua capacidade de ação reduzida
pelo trabalho, o homem aliena-se do seu resultado de trabalho e
também dos demais seres humanos (MARX apud FERREIRA, 2008).
No capitalismo, não é possível obter o resultado total do tra-
balho e ocorre uma limitação na livre escolha dos trabalhadores, não
oportunizando uma reflexão sobre seu processo de trabalho. O capita-
lista paga ao trabalhador pelo seu trabalho apenas um salário equiva-
lente ao necessário para sua subsistência. Para que a força de trabalho
se mantenha e a mão de obra seja assegurada, torna-se o salário um
custo necessário, pois, ao receber somente o necessário, os homens
deixam de ser livres e passam a viver para o trabalho que lhes oferece
condições para a subsistência. Ao impor suas condições à classe tra-
balhadora, a sociedade capitalista faz com que a alienação se reprodu-
za de geração para geração, mantendo as condições propícias para a
produção e reprodução da ordem social capitalista (FERREIRA, 2008).
Nos dois sentidos, portanto, o trabalhador torna-se servo do
objeto; em primeiro lugar, pelo fato de receber um objeto de
trabalho, isto é, de receber trabalho; em seguida, pelo fato de
receber meios de subsistência. Desse modo, o objeto capacita-
-o para existir, primeiramente como trabalhador, em seguida,
como sujeito físico. A culminação de tal servidão é que ele só
pode manter-se enquanto sujeito físico, enquanto trabalhador
e só é trabalhador enquanto sujeito físico (MARX apud FER-
REIRA, 2008).

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O que é Mais-valia
Mais-valia é o nome dado por Karl Marx à diferença entre o IMPORTANTE
valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que
seria a base da exploração no sistema capitalista. Uma vez pago o
Quando são colocados os termos dominação e exploração
salário de mercado pelo uso da força de trabalho, os capitalistas po-
não estamos querendo expressar qualquer juízo de valor, não
dem lançar mão de duas estratégias para ampliar sua taxa de lucro:
existe a intenção de causar qualquer discussão, apenas está
estender a duração da jornada de trabalho mantendo o salário cons-
sendo explanado como o capital e o trabalho se relacionam
tante – o que Marx chama de mais-valia absoluta; ou ampliando a
cientificamente (GUARESCHI, 2005).
produtividade do trabalho pela via da mecanização – o que ele chama
de mais-valia relativa.

A separação do Capital e do Trabalho reflete na produção de do-


minação e exploração – eles precisam estar separados para que
estes movimentos existam! Quando o indivíduo está produzindo
IMPORTANTE para si, não existe mais capitalismo. E esta é a questão central:
a grande luta é fazer com que as pessoas ou trabalhem no que
O trabalho possui uma dupla dimensão: como atividade pela é delas (terra para quem nela trabalha), ou recebam o fruto jus-
qual o homem se autodetermina e se transforma em um ser to de seu trabalho (não sejam explorados) (GUARESCHI, 2005).
social, distinguindo-se dos demais seres vivos, e como ativida-
de alienada, quando subordinado às finalidades do modo de
produção capitalista.
Anotações:

Relação entre o trabalho e o capital


Para entender o nome que daremos a essa relação, é preciso,
antes, chegarmos à resposta de uma pergunta: o que valora todas
as coisas?
Segundo Guareschi (2005), A palavra “valor” é um pouco com-
plicada. Existe o “valor moral” que configura as limitações acordadas
entre tradições de grupos e povos sobre a forma como devemos viver
em sociedade. Há o “valor natural”, que é o valor que algo possui por
ser “natureza”, como o ar, a água, a terra. E há o “valor econômico”,
que resulta do trabalho humano. Assim, valor é diferente de preço,
valor é também diferente de utilidade: uma caneta estragada não
escreve, não é útil; mas o seu valor é o mesmo; quanto se gastou
para fazer esta caneta. Resumindo: É o trabalho humano que produz
todo o valor, toda a riqueza”.
Guareschi (2005) afirma, ainda, que:
Se for o trabalho humano que produz toda a riqueza, por que
é que o lucro vai para quem tem o capital (terra e fábrica)? Como se
chama a relação pela qual o dono do capital, sem trabalhar ou traba-
lhando um pouco apenas, fica com a maioria do lucro? Essa relação
se costuma chamar de expropriação ou exploração, isto é, a relação
pela qual um tira uma coisa do outro.
Qual, então, é a diferença entre um sistema cooperativo e um
sistema capitalista a partir das relações de produção?

a a
em em
Sist rativo Sist lista
po ita
cor cap

Relações entre as pessoas Cooperação Dominação


Relações entre o trabalho
Apropriação Exploração
e o capital

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Situação prática
5. Com base no que foi estudado, faça uma reflexão sobre sua relação com o trabalho (passada, atual ou futura).

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Aspectos Psicológicos no Trabalho

Os primeiros estudos sobre o sentido do trabalho foram feitos significado muito grande, o que os fazem superar as más condições
por Hackman e Oldhan (1975), dois psicólogos que pensaram na re- de trabalho, os esforços, o sofrimento e a dor. A autora afirma, ainda,
lação da qualidade de vida no trabalho e o sentido deste. Segundo que, mesmo em um trabalho alienado, há lugar para que o indivíduo
os autores, a existência de sentido no trabalho é de grande valor e encontre sentido no desempenho de suas atividades.
verdadeiramente necessária para quem o está realizando. Observam- Alguns operários vivenciam um sentimento de valorização pes-
-se três características fundamentais que envolvem o sentido do tra- soal e familiar, mesmo aqueles que associam o trabalho somente às
balho: questões financeiras. Outros, no entanto, apresentam uma marcante
inquietação com a autonomia financeira, que influencia a forma como
● Variar os afazeres, possibilitando ao trabalhador que utilize
atuam na construção da vida da própria família. No que diz respeito
as mais diversas competências, para que possa ocorrer uma
ao sentido do trabalho, os trabalhadores analisados por D’Acri exalta-
identificação do trabalhador com a tarefa que está sendo exe-
ram experiências como a realização das atividades, as formas como
cutada.
resolviam as dúvidas ou problemas, o insucesso com as tarefas pres-
● Oportunizar ao trabalhador uma ampla visão sobre todo o pro- critas, das quais não participavam, a inovação e a criatividade para
cesso que envolve a tarefa que por ele está sendo executada atender à execução do trabalho.
– desde o início até o final da operação –, permitindo a ele,
Após analisarmos tantos sentidos e significados atrelados ao
assim, perceber seu significado e refletir sobre a contribuição
trabalho, observamos que o conceito de tal termo pode ser cons-
para o ambiente social, autonomia, liberdade e independência.
truído coletivamente em determinado contexto histórico, econômico
Essas noções definirão o empenho que será dispendido por
e social. Além disso, é caracterizado por ser uma produção pessoal
ele na realização das tarefas, aumentando sua sensação de
ligada às expectativas individuais dos significados coletivos, nas ex-
responsabilidade sobre elas.
periências obtidas no cotidiano.
● O retorno (feedback) referente ao desempenho apresentado
Cabe salientarmos que existem casos em que o trabalho como
pelo trabalhador nas atividades realizadas, oferecendo ao in-
forma apenas de coerção pode levar o indivíduo ao adoecimento. É
divíduo a oportunidade de fazer as mudanças necessárias e
nesse contexto que surgem as psicopatologias do trabalho.
obter uma melhora na sua atuação.

Conforme a percepção de Hackman e Oldhan, são três os com-


ponentes que definem o trabalho como uma estrutura afetiva, sendo
eles: o significado, a orientação e a coerência.
Anotações:

● O significado refere-se às representações que o sujeito tem de


sua atividade, assim como o valor que lhe atribui.
● A orientação é a sua inclinação para o trabalho, o que ele bus-
ca e o que guia suas ações.
● A coerência é a harmonia ou o equilíbrio que ele espera de sua
relação com o trabalho.

Entre 1981 e 1983, a equipe de investigação Meaning of Work


International Research Team (MOW) ganhou destaque por suas pes-
quisas com amostras representativas de oito países, objetivando a
definição e identificação de possíveis variáveis que justificassem os
significados que os sujeitos atribuem ao seu trabalho. A partir dos
principais componentes verificados, a equipe passou a conceituar o
significado do trabalho como um construto psicológico multidimen-
sional e dinâmico, formado pela interação entre variáveis pessoais e
ambientais e influenciado pelas mudanças no indivíduo, ao seu redor
ou no trabalho (TOLFO; PICCININI, 2007).
Antunes (apud TOLFO; PICCININI, 2007) elucida sobre a im-
portância de estabelecer uma relação entre sentido e trabalho na
atual realidade social. Segundo o autor, para que exista uma vida
cheia de sentido fora do trabalho, é necessária uma vida dotada de
O sofrimento no trabalho
sentido dentro do trabalho. Não podemos reduzir a relação do homem com o trabalho à
É necessário que exista um momento de realização no âmbito remuneração financeira, pois o trabalho serve como conteúdo muito
profissional para que o indivíduo encontre um sentido na vida, por importante na construção das vidas. Para alguns, atingir um status
exemplo, se o trabalho ocorre de forma livre e autônoma, o trabalha- social tem reflexo em todos os âmbitos da vida, não se restringin-
dor pode buscar tempo livre para estabelecer seus contatos sociais, do somente ao ambiente do trabalho. Existe uma relevância muito
humanizando sua existência e conectando-se com o sentido mais significativa na vida do indivíduo quando falamos de sua atividade
profundo da vida, a integração do emocional com o social. Ao buscar profissional, pois, em alguns casos, essa é uma parte essencial do
um sentido no trabalho que se executa, ocorre o entrelaçamento en- universo individual e social de cada um, podendo tanto levar ao equi-
tre trabalho e liberdade (ANTUNES apud TOLFO; PICCININI, 2007). líbrio e desenvolvimento do ser humano quanto ser responsável por
D’Acri (apud TOLFO; PICCININI, 2007) ressalta que alguns tra- danos à saúde.
balhadores encontram sentido mesmo em trabalhos nocivos, fazendo
com que exista desejo em permanecer na atividade. Para alguns,
deixar sua marca no mundo por meio de sua vida funcional tem um

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Nos estudos sobre as condições de trabalho, aparece cada vez Relações de trabalho
mais a presença de elementos que agridem a saúde do trabalha-
dor, como desgaste físico e envelhecimento precoce, implicações das Por muito tempo acreditou-se que as problemáticas das ques-
diferentes relações do homem com seu trabalho (DEJOURS, 1994). tões de produção, como o aumento da produção no menor tempo
Destacamos o sofrimento como efeito causado por algo, e o conhe- possível, seriam resolvidas pelo maquinismo (máquinas) e pela eco-
cimento da causa como uma forma de superá-lo. De acordo com nomia (dinheiro).
Arendt (apud OLIVEIRA, 2003), a condição humana está submetida
à condição de sofrimento.
Pensemos no sofrimento relacionado ao contexto trabalhista. O que é mais importante?
Desde a origem da palavra trabalho, existe uma relação com o sofri-
mento, o qual pode ser dividido em dois tipos diferentes: o sofrimen- Um bom contador com uma calculadora mediana ou uma óti-
to patogênico e o sofrimento criativo. Nesse momento, nos detere- ma calculadora manejada por um contador desinteressado e
mos no sofrimento patogênico, pois ele surge “[...] quando todas as sem conhecimentos básicos em contabilidade?
margens de liberdade na transformação, gestão e aperfeiçoamento
da organização do trabalho já foram utilizadas. Isto é, quando não há
nada além de pressões fixas, rígidas, incontornáveis, inaugurando a
Comumente encontramos organizações preocupadas em obter
repetição e a frustração, o aborrecimento, o medo, ou o sentimento
funcionários satisfeitos com seu salário, plano médico, odontológico,
de impotência” (DEJOURS apud OLIVEIRA, 2003).
abono de Natal, etc., visando a um bom andamento da empresa. Po-
O sofrimento possui relação direta com o trabalho quando não rém, mesmo quando esses requisitos são atendidos, existem empre-
existe mais sentido, para o trabalhador, em manter-se realizando de- sas nas quais a evolução não anda assim tão bem. Entre os possíveis
terminada tarefa. Por vezes, o valor apresentado na cultura de uma motivos, está o ambiente que é oferecido aos funcionários. É preciso
empresa entra em atrito com os valores pessoais do trabalhador. Nes- que exista, nesse ambiente, confiança mútua e respeito humano.
se momento, instala-se uma desconfortável situação com influência
Geralmente as ordens são passadas de modo bastante direto e
direta do sentido atribuído ao trabalho pelo trabalhador. Sintomas
autoritário, sem a possibilidade de maiores explicações por parte dos
como a ausência de disposição e investimento afetivo acarretam o
superiores ou questionamentos por parte dos subordinados. Nesse
aumento de cansaço e falta de envolvimento para a elaboração das
sentido, para uma boa produtividade e um bom relacionamento na
tarefas, comprometendo a evolução profissional do trabalhador (OLI-
empresa, é importante atentar para o fato de que está cada vez mais
VEIRA, 2003).
evidente nas pesquisas organizacionais que uma pessoa que sabe a
Ainda que seja reconhecido o reflexo na saúde mental do tra- importância e o valor do seu trabalho produz muito mais do que uma
balhador quando ele recebe a devida consideração por seus trabalhos pessoa que simplesmente cumpre ordens.
prestados, é comum encontrarmos nas organizações resistências em
Agora, o que são as relações humanas realmente? Refere-se,
aderir a esse movimento, o que leva à permanência do sofrimen-
com frequência, a:
to no trabalho. Para que não aconteça um prejuízo significativo na
saúde mental do trabalhador, ele se utiliza de defesas psíquicas para
suportar ou diminuir os danos. Quando as defesas são construídas
de maneira coletiva pelo grupo, passam a serem chamadas de “es- Relações interpessoais
tratégias coletivas de defesa”. Essas estratégias coletivas de defesa
contribuem, em alguns casos, de forma determinante para a harmo-
nia no ambiente coletivo de trabalho, pois, além das tarefas a serem Segundo Minicucci (1982), essas relações podem ocorrer entre:
administradas, é necessário administrar as vivências, muitas vezes
envolvidas em pressões diárias (DEJOURS apud OLIVEIRA, 2003). ● Uma pessoa e outra (exemplos: marido e mulher, vendedor e
Segundo Dias (apud OLIVEIRA, 2003), algumas mudanças in- comprador, professor e aluno).
fluenciam diretamente na vida psíquica do trabalhador. Vamos conhe- ● Membros de um grupo (exemplo: pai, mãe e filhos, no lar).
cer algumas delas: ● Grupos de uma organização (exemplo: os grupos de trabalho
em uma firma).
● O crescimento das diferentes forças produtivas;
● O desenvolvimento das tecnologias; Os seguintes elementos designam relacionamentos entre pes-
● A evolução das ciências e das máquinas; soas em diferentes níveis, e, juntos, compõem as relações humanas:
● O meio ambiente físico (luminosidade, temperatura, barulho,
etc.);
Relações públicas
● O meio químico (poeira, vapores, gases, etc.);
● O meio biológico (vírus, bactérias, fungos, etc.);
Relações comunitárias
● As condições de higiene e segurança. Relações humanas
Relações internacionais
Todos esses fatores devem ser observados com cuidado pois
possuem um reflexo direto na vida do trabalhador, podendo favorecer
Dinâmica de grupos
o desenvolvimento de sofrimento psíquico.

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Participação em um grupo de trabalho Também é importante sabermos como agir em relação às se-
guintes situações:
Estabelecer uma convivência com outras pessoas é uma tarefa
delicada, em especial no ambiente de trabalho, pois estamos falan-
do, na maioria das vezes, de pessoas desconhecidas e com as quais Espera por uma promoção
teremos contato diário. Essa tarefa fica ainda mais difícil quando não
O progresso profissional é desejado por muitos, porém, o de-
estamos preparados para mudanças. É preciso que saibamos como
sejo de evoluir e a autocrítica devem andar juntos. Avaliar os aspec-
nos portar quando chega um colega novo, quando entramos em uma
tos a serem melhorados auxilia-nos no aprimoramento profissional.
nova empresa, para ser promovido, em caso de brigas, para evitar
Ademais, quando existe uma organização na empresa em que traba-
conflitos, etc.
lhamos, nosso esforço e busca por uma capacitação contínua serão
Nesse sentido, alguns aspectos são muito importantes: vistos pelos líderes, tornando mais possível uma promoção, que será
apenas uma consequência de nosso empenho.
Conhecer a empresa
Participação em reuniões
Conhecer as regras do local onde trabalhamos pode evitar
muitos constrangimentos. Além disso, é de suma importância tomar- Existem locais que possibilitam aos empregados participarem
mos conhecimento do regimento interno da organização na qual tra- das reuniões da empresa, podendo, inclusive, emitir opiniões sobre o
balhamos e saber as funções que cada colega exerce. trabalho. Saber participar de forma adequada requer treinamento e
preparo. Para isso, é importante:
Conhecer colegas e superiores ● Falar francamente.
Não basta conhecer as funções que cada um exerce no seu lo- ● Ouvir cuidadosamente.
cal de trabalho, é importante observar o temperamento dos seus co- ● Ficar sentado durante todo o tempo, participantes nunca falam
legas e superiores. Existem temperamentos de toda natureza, alguns de pé.
mais tranquilos, outros mais agitados. Se observarmos isso, seremos ● Não interromper quem estiver com a palavra.
profissionais diferenciados, pois poderemos adotar uma conduta mais
● Não monopolizar a discussão.
assertiva em nossas relações profissionais.
● Não fugir da discussão.
● Expressar qualquer discordância.
Conhecer a si mesmo ● Não deixar suas observações para depois.
A mesma conduta deve ser adotada para com nós mesmos. ● Apresentar perguntas para a reunião.
Ponderar nossa responsabilidade nos aspectos positivos e negativos ● Levar os problemas do grupo para casa, estudá-los e refletir
nas relações é fundamental para o bom andamento do grupo. Reco- sobre eles.
nhecer nossas características e permitir que o grupo as conheça tam-
bém é de extrema importância. Devemos nos tratar com sinceridade,
sem buscar somente qualidades ou depositar as obrigações sempre
nos colegas, pois a responsabilidade do sucesso ou insucesso de uma Anotações:
relação é de ambas as partes.
Devemos sempre avaliar as razões de nossos sentimentos.
Por que não gostamos do Sr. João? Por que estou chateado hoje?
Respondendo a essas questões, poderemos evitar muitos conflitos
internos e externos.

Saber o momento de falar e calar


Uma palavra pode exercer diversas funções; ela pode levantar
ou derrubar alguém. É por meio dela que nos comunicamos com os
colegas ou recebemos orientações dos superiores. A linguagem é o
instrumento essencial das relações humanas. É por sua importância
que devemos tratá-la com cuidado, sabendo usar o tom adequado
para cada situação, falar no momento oportuno e usar termos ade-
quados ao contexto. No entanto, é pertinente lembrarmos o seguinte
provérbio: “A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro”. Muitas
vezes nos preocupamos em falar bem, mas, para uma comunicação
efetiva, faz-se necessária a sutileza da escuta. Então, antes de nos
preocuparmos em saber o que falar, devemos ficar atentos ao que
está sendo expresso pelos outros.

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Relações humanas entre os grupos poderá aumentar uma comunicação com ruídos e/ou blo-
queios. Isso serve para todos os cargos da empresa.
O êxito nas relações entre grupos depende de inúmeros fato- ● As rivalidades: a relevância do regimento interno de uma
res. Veremos alguns deles. empresa está, entre outras funções, na repartição clara e ra-
Clareza na distribuição das atividades é extremamente impor- cional das equipes, das comissões e dos grupos de trabalho,
tante para um grupo organizado, sendo essa ação uma das primeiras pois uma possível falta de clareza é geradora de inúmeros pro-
a ser realizadas, pois esse movimento tem reflexo direto nas relações blemas de competência.
humanas dentro de uma organização (WEIL, 2009). ● As frustrações: vivenciar sentimentos de frustrações faz par-
Outro aspecto importante envolvendo as relações humanas te da vida, mas se o grupo as apresenta de forma demasiada
são os problemas decorrentes desta, pois os grupos sociais passam para seus membros poderá colocar a sua existência em peri-
por diversas transformações na sua evolução, o que, por vezes, gera go, especialmente quando as frustrações afetam as relações
diversos problemas. humanas.
Chiavenato (2008) diz que os interesses contrários e as ati- A convivência no ambiente de trabalho de pessoas com per-
tudes e ações opostas nos relacionamentos podem originar os con- fis muito distintos pode acarretar em problemas de relacionamento
flitos. Ele conceitua conflito como “a interferência deliberada sobre bem significativos. Pensar no estabelecimento de uma comunicação
a tentativa de outra parte de atingir seus objetivos”. Sendo assim, assertiva e um ambiente de cooperação é buscar relações humanas
o conflito surge no momento em que existe algum interesse e uma satisfatórias (SAMPAIO, 2002).
ação ou omissão de acontecimentos, com objetivos contrários, não
permitindo que se atinja o resultado esperado. Uma forma de lidar
com esses conflitos nas organizações é por meio da disciplinas, exi-
gindo autocontrole dos indivíduos e agindo somente com condutas IMPORTANTE
aceitáveis pela organização. Para que isso ocorra, é necessária a ado-
ção de medidas para prevenção ou resolução de conflitos.
Vamos ponderar sobre alguns exemplos práticos de problemas
Fatores preocupantes para o
nas relações de trabalho e suas possíveis causas apresentadas por relacionamento entre colegas de trabalho
Souza (2001):
Doenças contagiosas, assédio sexual e uso de drogas desfa-
● A saída de um membro do grupo: quando um grupo fun- vorecem as relações interpessoais (MILKOVICH; BOUDREAU,
ciona bem e existe união, a saída de um membro pode causar 2000). “Essas relações também podem ser prejudicadas devi-
um desequilíbrio. do à discriminação por sexo, cor, opção sexual, nacionalidade
ou naturalidade, religião ou classe social. Dessa maneira, tor-
● A chegada de um novo membro no grupo: quanto maior
na-se indispensável o gerenciamento dessas situações desa-
a solidariedade entre os membros do grupo, maior será a difi-
gradáveis. Isso pode ser feito a começar pelas vítimas, através
culdade para a entrada de novos membros, especialmente se
da promoção de programas internos de assistência (auxílio
esse grupo estiver há muito tempo sem mudanças.
contra o alcoolismo ou contra uso de drogas, por exemplo) e
● A distância social: a distância social entre os colegas pode oferecimento de serviços de profissionais específicos, como
acarretar problemas frequentes nas relações humanas, pois terapeutas e psicólogos” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000).

Anotações:

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Situação prática
6. Você (ou alguém que você conheça) já teve problemas nas relações de trabalho? Comente e analise com o grande grupo.

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Referências

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