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Cobiçando-me,

Desejando Você

Craving me, Desiring you


Série Triplo M - Livro 04

C. M. STUNICH
Equipe Pégasus
Envio: Soryu
Tradução e Revisão Inicial: Amanda H.
2 - Revisão Inicial: Carla PL
Revisão Inicial: Grasiele Santos
Revisão Final: Carla C. Dias
Formatação: Amanda H.
Leitura Final e Layout: Luisinha Almeida
Verificação: Camilinha
Sinopse:
Austin e Amy tiveram um tumultuoso romance: o sexy garoto
motoqueiro encontra inocente garota sulista.

Mas relacionamentos amadurecem e mudam e o verdadeiro teste de


amor é ver se este pode durar com os obstáculos.

Como Presidente da Triple M, Austin tem um monte de novas


responsabilidades. O clube está em transição do seu estilo de vida
nômade e na hora certa também.

Austin pode ter mais com que se preocupar do que apenas as motos,
loucura e o dinheiro. Algo novo, outra coisa... E não é apenas a
novidade empolgante de Beck e Tease que o está afetando. Austin
Sparks nunca foi um homem de uma mulher só e agora parece que
assim será. Austin ama Amy, mas ele pode propor o compromisso
final?

Ao mesmo tempo, os demônios estão ao redor, ameaçando


estraçalhar a nova estabilidade deles. O passado tem uma maneira
de recuperar o atraso e Triple M tem seu quinhão de demônios.

Os Broken Dallas e os Bested by Crows não estão convencidos de que


a vingança é um prato que se come frio. Nem de longe. Seria uma
pena se Amy tivesse que pagar o preço por isto.
Agradecimentos:
Ao primeiro amor, ao último amor e a tudo entre eles. Aos corações que
cantam e cintilam, cujas palavras soam como sinos de vento na noite.
Obrigada por ler este ‘Felizes para Sempre’.

Querido leitor:
Obrigada por me acompanhar e seguir o crescimento da Triplo M de
motoqueiros errantes à uma grande família feliz. Eu considerei mais livros
na série — com Kimmy e Christy ou Tax e Melissa — mas, pareceu certo
acabar aqui. Com um ‘Felizes para Sempre’. E também com os
personagens que começaram isso tudo, quando “Perdendo-me,
Encontrando você” se transformou de um romance único para uma
quadrilogia.

Eu espero que vocês tenham gostado das motos, do amor, do sexo e dos
tiroteios. Também espero que vocês se juntem a mim na minha próxima
aventura. Os personagem aqui podem ter encontrado a felicidade, mas há
um montão de outros protagonistas presos em minha mente,
desesperados para ganhar vida. Sigam-me no Facebook para todas
notícias fresquinhas ou mandem um e-mail se tiverem quaisquer dúvidas
sobre estes ou outros livros.

E por último, mas não menos importante: Adoro vocês! Obrigada por
lerem.

Com amor, C. M. Stunich

PS: Embora este seja o livro final desta série, há tanto mais que eu
gostaria de compartilhar com vocês. Se tiverem tempo ou espaço em seu
correio eletrônico, enviarei um informativo mensal com os novos
lançamentos, promoções e prévias. O formulário estará em meu facebook.
Nota da Revisora:
Nossa essa série foi incrível... Um final maravilhoso, não teria como
ser diferente, terminar por quem começou, sem deixar de fora as
outras histórias.

Grupo unido, guerreiro, companheiros mesmos, com todo o direito


de se chamarem de irmãos.

Com partes muito divertidas, quentes... Com bastante adrenalina em


cada batalha e novas surpresas a cada página.

Romance novo no ar e, como final feliz sem crianças não é final feliz,
esse contou com quatro novas adições e uma a caminho.

Série Maravilhosa...

Grasiele Santos.
Capítulo Um

Austin
Beck está rindo da minha cara no outro lado do quarto e
eu não sei por quê. Eu faço uma careta para ele enquanto
levanto minha marreta e miro cuidadosamente numa parede
próxima.

— Sua mamãe deixou você cair de cabeça no chão ou


algo assim? — Ele me pergunta, rindo estridentemente. —
Porque às vezes eu acho que você é o filho da puta mais
estúpido que já conheci. — Eu balanço a ferramenta na
drywall 1 e sorrio amplamente quando ecoa um barulho
satisfatório.

Pedaços de papel de parede velho caem no chão em um


monte de poeira. Acho que são de cachorrinhos ou algo
similar, mas não vou olhar muito. Toda essa parede vai
abaixo hoje. Por nove semanas trabalharemos nesta casa e
ela não está nem perto de estar pronta.

Isto aqui não é simplesmente a sede de um clube, um


lugar para reuniões e ter nossa bandeira. Esta é uma casa
para os não-desejados, para homens e mulheres que não se

1
Espécie de parede de gesso pré-fabricada. Nos Estados Unidos, são poucas as casas feitas com tijolos,
normalmente, as paredes são feitas ou com lâminas de compensado, madeira ou drywall – por isso que
nos filmes de ação, são feitos facilmente buracos nas paredes.
encaixam aqui ou ali. Este é um lugar onde Amy descansará
sua linda cabeça e eu quero que seja perfeito. Mesmo que eu
ainda esteja incerto sobre isso. Eu não gosto de fazer as
coisas de qualquer jeito.

— E por que isso? — Eu pergunto, desejando que eu


tivesse acabado de pegar o maldito telefone. Amy ligou duas
vezes hoje e eu não atendi nenhuma ligação. Eu não sei o
motivo. Eu acho que sou apenas um idiota.

Beck passa os dedos pelo cabelo ruivo, sorrindo muito.


Ele sempre foi um bobo alegre, mas desde que ele pegou essa
garota, Tease, ele ficou ainda pior. Agora ele é um bobo alegre
exibido, pavoneando-se como um galo que acabou
simplesmente de encontrar o galinheiro. Eu nunca vi Beck
tão feliz. Eu achava que o idiota estava a fim de Melissa, mas,
bem... Melissa é a fim do Presidente dos Setenta e Sete
Irmãos. Há muito tempo. E Beck e Tease eram assim.

— Por que você está evitando as ligações dela? — Gaine


pergunta, perplexo com o meu comportamento. Ele tem mais
paciência do que eu jamais terei. Eu dou outro golpe na
parede e não tenho certeza se tenho uma resposta para ele.

Não é uma questão se amo Amy ou não — isso nem


mesmo está em discussão. Eu nem poderia imaginar me
afastar de seu doce sorriso ou da sua risada discreta ou da
maneira como ela coloca seu cabelo sedoso atrás da orelha.
Mas eu estou me ajustando. As coisas estão tão complicadas.
Mesmo essa coisa da sede do clube. Faz sentido para todos,
especialmente depois de perder muito de nós, mas também
me aterrorizava demais. Eu não vou mentir sobre isso.

— Eu não estou evitando. — Eu digo, enquanto dou um


passo para trás e respiro fundo. Esta porcaria de obra não é
fácil. Apesar de eu ter conseguido um empréstimo para sede
do clube, não tive a mesma sorte em conseguir dinheiro extra
para pagar pela mão de obra necessária. Nós pagaremos com
sangue, suor e lágrimas. — Eu simplesmente não as
respondi.

— Como isso pode ser diferente? — Beck pergunta


enquanto dá um gole em sua água, fazendo uma pausa para
derramar um pouco do líquido em sua testa com um suspiro.
As gotas correm pelo seu rosto e caem no chão de madeira.
Não conseguimos substituir isso ainda. Está no fim de uma
lista muito longa que estamos cumprindo bem e devagar.

— Você não pretende enfiar o rabo entre as pernas e


fugir, né, Sparks? — Beck me pergunta enquanto coloca sua
água no chão e passa as mãos pelo rosto. Ele está sorrindo,
mas o seu olhar diz que não está brincando. Eu faço uma
cara feia para ele, e não me preocupo em responder a
questão. Ele me conhece melhor do que isso.

Eu dou outro golpe e o resto da parede desaba, as vigas


de madeira pendendo no teto, como aranhas. Eu esfrego o
braço em meu rosto e desço com a marreta, movendo-me
para a janela para olhar para fora, para a rua vazia. Esta
vizinhança não é nada além de um buraco decadente, cheia
de posseiros e viciados em drogas. Não existem vizinhos para
reclamar sobre o barulho das motos ou da gritaria estridente,
das idas e vindas de uma dúzia de poucas pessoas. Estamos
transformando esta casa encharcada de urina e ponto de
tiroteio, em um lar. Transformações. A vida se resume em
malditas transformações. E ninguém me avisou quão difíceis
elas são.

— Austin. — Gaine diz, com clara autoridade em sua


voz. Desde que nos reunimos como grupo e o nomeamos
como tesoureiro, ele tem estado em pé de guerra sobre isto ou
aquilo, sobre coisas que nem mesmo tem a ver com dinheiro.
Eu levanto as minhas mãos e tiro meu celular do bolso.

— Já estou telefonando. — Eu digo a eles enquanto


passo pela porta dos fundos e caminho pelas ervas daninha e
capim seco. Há vasos quebrados por toda parte, juntamente
com plantas coloridas que parecem como se alguém
realmente tivesse se importado com esse lugar em algum
momento.

Eu olho por cima do ombro para o terceiro andar e as


malditas janelas quebras. — Que merda. — Eu sussurro
baixinho, passando as mãos em meu rosto. Eu não faço a
barba há vários dias, mas Amy parece gostar. Ou pelo menos
eu acho que ela gosta. Às vezes, eu fico com muito medo de
perguntar o que aqueles pequenos lindos meio-sorrisos
significam. Eu ligo para a minha menina e espero.
— Austin. — Ela respira, atendendo a ligação com uma
ingestão aguda de ar. Eu sinto a palavra ir direto até os meus
pés, mais especificamente na região da minha virilha.

— Como está o seu dia? — Amy não espera que eu


responda, apenas continua falando, como se não pudesse
guardar as novidades. — Eu ouvi uma coisa maravilhosa
hoje. — Amy pausa abruptamente e eu só posso imaginá-la
apertando os olhos. — Mas eu não posso lhe contar. Não são
minhas novidades para compartilhar.

Eu dou risada. Como eu não poderia fazer isso? Amy me


faz querer sorrir, ver a vida sob uma luz diferente. Você já
ouviu a frase: ver o mundo por lentes cor-de-rosa? É assim que ela
tinge o mundo para mim.

— Então, por que você me ligou, doçura? — Eu


pergunto, examinando a tinta branca fresca no lado de fora
da casa. Isso aqui, aparentemente, é relíquia histórica e nós
estamos no caminho certo. Sem revestimento de vinil neste
bebê. Tivemos que lixar e reparar o tapume de madeira
original. Durante todo o tempo, tudo no que eu conseguia
pensar era que era um pé no saco. Agora, eu estou me
sentindo muito orgulhoso. — Hoje é o seu dia de folga. Você
nem mesmo deveria estar pensando em mim. — Eu posso
ouvir Amy sorrindo.

— Um dia de folga sem você não é bem um dia de folga.


— Ela faz uma pausa. — Eu estou me divertindo com as
meninas, mas eu sinto sua falta. Isso é estúpido? — Eu vou
para longe da casa e cutuco um pedaçinho de estátua
quebrada com a minha bota.

As suas palavras causam duas coisas opostas em mim.


Por um lado, eu quero pular de alegria. Por outro, o meu
coração começa a acelerar e o monstro repugnante da dúvida
invade o meu peito. Isso está acontecendo ultimamente,
aparece e some. Desde que Kent morreu. Desde que você o
matou, Sparks. Quando entrei na sala e vi Amy sangrando, eu
simplesmente pirei. Eu não pedirei desculpas por isso. Ainda
assim, a instabilidade que tem nos assolado desde então, está
ultrapassada.

— Não é nem um pouco estúpido, doçura. O trabalho


não é o mesmo sem você. — Eu sorrio e imagino Amy e eu
pressionados no minúsculo banheiro no térreo. Caramba. Eu
continuo pensando que, em algum momento, o sexo não será
tão bom ou não acharei Amy tão gostosa, mas isso nunca
acontece. Pelo menos não comigo. Há sempre a chance de
que a pequena Miss Amy possa ficar cansada de minha velha
bunda feia. — Mas você sabe, a ausência faz o coração ficar
mais afeiçoado. — Eu sorrio e troco o telefone de orelha. — E
o pênis mais duro. Espero que você esteja pronta para mim
quando eu chegar. — Amy ri, enquanto olho por cima do
ombro. Meus amigos têm o péssimo hábito de aprontarem
para cima de mim quando não estou olhando. Mais enxeridos
do que uma fofoqueira solteirona. Meu Deus do céu.
— Austin. — Amy diz novamente, mantendo a voz calma
e focada. — Eu liguei para você mais cedo porque queria lhe
perguntar uma coisa... — Ela deixa as palavras sumirem e eu
simplesmente sei que ela está mordendo os lábios. Estou
começando a aprender todos os hábitos de Amy: o jeito que
ela fala com as mãos, o jeito como seu cabelo cai quando ela
o coloca atrás da orelha. Embora ela não esteja aqui, eu
consigo vê-la. Soa patético, né? Eu entro em um pequeno
círculo, tropeçando num aglomerado de pedras que
provavelmente serviram de fogueira em algum momento. Eu
não estou prestando atenção e isso não é nada bom. — Mas
você não atendeu, então, eu... eu tomei uma decisão
executiva. — Amy limpa a garganta e eu me sinto culpado por
evitar suas ligações.

— Solte a bomba, doçura. — Eu digo enquanto Beck


aparece na porta, cruzando os braços sobre o peito largo. Ele
está sorrindo, como de costume. Eu mostro o dedo do meio
pra ele e tiro um pouco de cabelo loiro do meu rosto. Talvez
seja hora de cortar esta merda.

— Eu comprei uma moto, Austin. — Amy respira e


calafrios sobem pela minha espinha. — Não foi planejado. —
Ela fala correndo, tentando explicar enquanto meu coração
acelera e começa a palpitar dentro do meu peito. — Nós
fomos olhar e... A moto simplesmente me escolheu. — Ela
respira fundo. — Por favor, não fique com raiva. — Apesar de
tudo, eu me pego sorrindo. Minha pequena donzela sulista se
transformou numa garota motociclista de verdade, não é?
— Ei, se a atração da estrada não é a coisa mais
poderosa que existe, então, eu sou um mentiroso. Minha mãe
me criou para ser melhor do que isso. Você já a levou para
um passeio? — Pergunto, esperando que a resposta seja não.

Eu não sei por que, mas sinto que preciso estar lá no


momento que Amy Cross decolar em seu primeiro passeio,
irromper pelo pôr do sol e desaparecer abaixo de um trecho
aberto de estrada. Isto será um momento monumental.

— Desculpe-me, Sr. Sparks, mas eu acabei de me


lembrar de você dizendo que a única coisa na qual você
estava disposto a montar é em uma garota. Bem, a única coisa
que eu estou disposta a montar é em um cara. A partir de
agora, você deve chamar a minha moto de Senhor.
Capítulo Dois

Amy
Eu sempre gostei do crepúsculo. A ondulante cor
púrpura do céu noturno se choca com a laranja e rosa do sol,
dando origem à crença de que lá fora, em algum lugar, há
outro mundo pronto para ser explorado. Eu simplesmente
não entendo como alguém poderia ficar aqui e olhar para esta
beleza etérea, sem ficar completamente convencido da vida
após a morte. Eu não tenho a pretensão de saber no que isso
implica, apenas que isso existe. Beleza como esta
simplesmente não morre.

Eu jogo o cabelo para longe do meu rosto e mantenho


meu livro agarrado firmemente na minha mão. Eu pondero as
últimas palavras no meu capítulo enquanto eu examino as
nuvens que flutuam sem peso em cima de mim.

“Sali, eu nunca serei bom o suficiente para você. — Glance


Serone diz, enquanto olha pelas janelas que vão do chão ao teto em

meu novo apartamento. O apartamento que ele comprou para mim,

onde docemente fez amor comigo. Glance. O maior idiota do mundo e

o único homem capaz de derreter o meu coração.”

O meu livro favorito ganhou uma continuação, eu tenho


uma moto nova e o único homem capaz de derreter o meu
coração está vindo me ver com sua moto. Eu me ajeito no
assento, aproveitando o barulho reconfortante de couro
contra couro. Sim, isso mesmo. Você me ouviu: Amy Allison
Cross está usando calças de couro. E elas parecem muito bem em
mim, muito obrigada.

Uma brisa suave beija meu rosto, sua gentileza em


desacordo com o grunhido áspero das motos dos rapazes
conforme eles se movem pela estrada em nossa direção,
deslizando para o estacionamento de cascalho como uma
matilha de lobos. E o meu amor é o alfa, eu penso, sentindo um
monte de arrepios em meus braços nus. A noite está quente,
o restante do sol de verão beijando minha pele como
borboletas. Eu fecho o livro e o coloco de lado, saindo de
minha moto enquanto Austin sorri largamente para mim.

— Olá, Senhor. — Austin fala arrastado, passando por


mim como se quase não me notasse. Minha boca se contorce
para coincidir com o seu sorriso. Me viro e observo quando
Austin, Beck e Gaine circulam minha nova moto como
tubarões. — Harley Davidson. Não dá pra errar com elas. —
Austin se inclina e passa as mãos sobre a brilhante pintura
vermelha. — Uma Sportster, né?

— Uma Sportster Superlow — Kimmi fala, se aproximando


com Mireya e Christy. Kimmi está sorrindo de orelha a
orelha, os brincos de ouro captando os últimos raios de sol,
enquanto faz uma pausa perto dos guidões e passa os dedos
no cromado da parte de trás do espelho. — Uma moto do
tamanho perfeito para a Senhorita Amy, você não acha?

— E foi uma pechincha, também. — Mireya diz,


acenando sua mão com desdém. Eu percebo que ela não
deixa de lado sua nova moto, pressionando sua coxa no metal
atrás de conforto. — Blá, blá, blá. Chega de ladainha. Vamos
fazer um test-drive ou não? — Ela parece brava, mas eu
posso dizer que é tudo fingimento. Desde que ela se casou
secretamente com Gaine, Mireya tem sido realmente muito
legal comigo. Acho que podemos nos tornar amigas um dia.

Eu torço minhas mãos nervosamente e passo a língua


em meus lábios. Eu sei que o último golpe de Austin e Kimmi
deixou o clube com um monte de dinheiro, mas, pensando
bem, nós acabamos de comprar uma casa. Espero que ele
não fique com raiva de mim. Eu me aproximo e vejo seus
olhos castanhos se elevarem até os meus.

Ele ainda está sorrindo.

— O que você acha? — Eu nervosamente pergunto,


enquanto Austin fecha o espaço entre nós e me pega em seus
braços. Eu anseio seu toque ainda mais do que antes. A
atração inicial ainda queima entre nós, mas posso sentir uma
aflição mais profunda lá embaixo, algo que me diz que isso só
melhorará com o tempo. Como posso saber se ele sente o
mesmo? Na verdade, nunca dissemos aquelas palavras um ao
outro. ‘Eu amo você’.
Eu dou uma olhada em Beck e Tease, namorando como
adolescentes a poucos metros de onde estou. Eles já disseram
aquilo e acabaram de se conhecer, mas tudo bem. Se aprendi
alguma coisa ao ler romances, é que o amor nunca acontece
exatamente da mesma maneira. Às vezes, é um fogo que
queima lentamente e outras vezes, como fogos de artifício
dentro do coração. Eu não julgo que qualquer forma de amar
seja maior ou menor do que qualquer outra.

Eu olho novamente para Austin a tempo de vê-lo


caminhar em minha direção.

— Se Mireya diz que é uma boa moto, então, é uma boa


moto. — Gaine diz com um sorriso, dando a sua nova esposa
um olhar que a faz ficar brava e franzir o cenho. Mas só por
fora. Em seus olhos escuros, eu posso ver. Amor. Amor,
amor, amor. Está florescendo ao redor de todos nós.

Eu olho para Austin, sentindo um arrepio quando passa


os dedos pelos meus braços nus.

— Eu me lembro de lhe dizer algo sobre calças. — Ele


sussurra em meu ouvido. Eu fecho meus olhos e desmaio em
seus braços. Assim, como uma heroína em um dos meus
livros. Seu corpo está duro como rocha e quente e ele cheira a
suor e sujeira. É decididamente tão delicioso quanto parece.
— Algo como o que você nunca deveria usar. Eu não gosto de
obstáculos em meu caminho, doçura.
— Mas nós sairemos para um passeio. — Eu sussurro
enquanto me inclino, pressionando meu corpo no dele. Eu
posso sentir a ereção de Austin roçando em minha barriga
conforme me reclino em seus braços, deixando meu cabelo
verter pelas minhas costas enquanto ele pressiona seus
lábios quentes em minha garganta. Vagamente, percebo que
alguns dos outros membros da Triplo M estão assobiando do
estacionamento, mas não me importo. Quando estou aqui,
assim, nada mais importa. — Você... Você prometeu. — Eu
gemo, quase desejando que ele não tivesse.

— Prometi? — Austin pergunta, afastando-se e me


colocando de pé. Eu passo meus dedos em sua camiseta suja,
tirando algum do pó branco de seus ombros. Eu mantenho
meu olhar em seu peitoral, em vez de em seu rosto. Eu receio
que se olhar dentro daqueles olhos, começarei a cair e não
serei capaz de me segurar.

— Correr primeiro, transar depois. — Kimmi geme atrás


de Austin. — Nem todos têm parceiros para a noite. — Eu
ouço uma explosão de risos nervoso da garganta de Christy e
imagino que ela esteja olhando para a selvagem ruiva com
respeito e admiração. Eu não quero empurrar a minha amiga
para Kimmi simplesmente porque ela é a melhor amiga de
Austin ou até mesmo porque são as únicas duas lésbicas no
grupo, mas elas fariam um belo casal...

— Sim, nós ouvimos você. — Beck gargalha, batendo a


mão nas costas da sua amiga. Kimmi estreita os olhos verdes
e ajusta sua jaqueta sobre os ombros enquanto Austin se
afasta de mim com um suspiro. Eu tento não fazer beicinho,
mas é tão difícil ficar longe de um homem que simplesmente
parece o Adonis encarnado, apenas um pouco mais loiro e
com o cabelo um pouco menos crespo. — Além disso, nada
faz o sangue bombear do que uma boa e longa corrida.

— Como sei que você não está realmente se referindo as


motos? — Kimmi pergunta com uma boca franzida. Ela passa
a língua sobre os lábios vermelhos e aponta para a parte de
trás de sua moto enquanto Beck ri e balança Tease em seus
braços como se ela não pesasse nada. Eu penso na
emocionante notícia que ela compartilhou comigo hoje, e eu
mal posso manter as palavras contidas. Tease está grávida! Eu
quero gritar, pois quem não ama um bebê? Mas ela não
contou a Beck ainda, então, eu mantenho minha boca
fechada. Ela prometeu contar a ele esta noite. Eu sorrio para
eles e, pela primeira vez na vida, não tenho que imaginar o
que é se apaixonar tão rápido, correr pelo mundo em uma
velocidade vertiginosa e pousar na armadilha mais
deliciosamente decadente do universo. — Christy, se quiser
vir, é bem vinda a passear comigo. — Kimmi diz, agindo
suspeitamente indiferente.

Minha amiga balança a cabeça e sorri; o cabelo loiro


caindo sobre o seu rosto.

— Não, está tudo bem. Eu ficarei na piscina. — Christy


me olha de forma penetrante e pega o meu olhar. Eu imagino
que eu posso estar imitando o olhar “Oh, você não fez isso” da
minha mãe, mas não posso evitar. Acho que quanto mais
tempo eu fico longe dela, mais reconheço suas melhores
qualidades e começo imitá-las. Eu não imito nada do meu
pai.

— Nós podemos nadar quando voltarmos. — Digo,


tentando fazer uma afirmação. Christy não está tão bem aqui
como eu. Ela está passando por um momento infernal para
se ajustar. Eu sei que, provavelmente, não facilitei nada ao
passar tanto tempo com Austin e prometo a mim mesma que
tirarei um dia ainda nesta semana para nós duas. Durante
todo o dia, saímos com Kimmi, Mireya e Tease, explorando
esta cidade que em breve será a nossa casa. Algum tempo
sozinhas está na lista. — É como voar, Christy. — Eu
sussurro, as minhas palavras sendo apanhadas pelo vento e
vibrando como os fios de cabelo soltos em volta do meu rosto.

— Eu sei. — Ela diz, mas ela não elabora. Não posso


afirmar que ela não deu uma chance. Ela foi nômade com o
resto de nós nos últimos meses. — Mas eu... Isso me assusta
um pouco.

— A assusta? — Kimmi grita, levando suas mãos para


os lados de seu rosto. — Garota, você escolheu o estilo de
vida errado se uma moto a assusta. — Eu observo quando
Kimmi estende a mão, envolvendo seus dedos em torno do
pulso fino de Christy e puxando-a para frente. — Vamos. Não
há nada a temer senão o próprio medo.
Capítulo Três
Amy
O vento bate em meu rosto porque, embora esteja
usando o capacete, me recuso a abaixar a viseira. Os óculos
de sol que peguei emprestado com Kimmi afastam qualquer
coisa pior dos meus olhos, mas não ficaria surpresa se
acidentalmente acabasse engolindo um ou dois insetos no
caminho. Não me importo, no entanto. Nada importa, não
quando o mundo é dessa forma.

Eu acelero em direção ao brilho do horizonte, sabendo


que Austin provavelmente está rangendo os dentes vendo-me
pilotar tão rápido, mas é incapaz de me deter. Pura felicidade,
penso, enquanto alcanço uma curva e desacelero, inclinando
e tentando fazer o melhor para me lembrar de todas as coisas
que Austin ensinou. Ele permitiu que dirigisse a sua moto
algumas vezes, mas apenas em velhas estradas sem asfalto e
apenas se ele estivesse andando atrás de mim.

Hoje, estou por conta própria e a ausência de seus


braços em volta da minha cintura é tanto uma perda, como
um prazer. Pode não ser uma grande coisa para algumas
pessoas, mas o fato de que estou aqui, que estou controlando
este pedaço enorme de metal entre as minhas coxas, é uma
grande conquista para mim. É uma das poucas coisas que eu
já fiz sozinha. Além de dormir com Austin, eu penso com um
sorriso. Ou fugir para entrar em um clube de motociclistas.

Eu gosto da sensação da jaqueta de couro em meus


ombros e nem mesmo importa que esteja escrito Novata na
parte de trás. Eu pertenço a esse lugar. Não só em corpo,
mas em alma. As tragédias recentes ficaram para trás, Austin
Sparks e Triple M tem sido como um sonho para mim.

Eu alcanço um trecho plano da estrada e tento não rir


com o prazer. Certamente isso seria muito grosseiro.

— Isso é incrível! — Eu grito no microfone do meu


capacete e as palavras soam tão bem nos meus lábios que eu
digo novamente. — Tão incrível. — O riso faz cócegas em
meus ouvidos enquanto Beck explode na linha com um
grunhido.

— Segunda melhor coisa depois de um orgasmo, eu


sempre digo.

— Cale a boca, Beck e deixe ela se concentrar. — Austin


diz, e meu coração incha com o tom de proteção em sua voz.
Mas, embora eu deseje que ele me proteja, eu também quero
ser capaz de andar por conta própria. Eu passo a língua em
meus lábios e pego velocidade, me sentindo como uma deusa
da auto-estrada. Por um brevíssimo nanosegundo, fecho os
meus olhos e imagino que existem asas em minhas costas,
feitas de couro escuro que rangem conforme se abrem atrás
de mim em uma onda de escuridão.
Eu abro meus olhos e passo voando por uma fazenda e
um campo de flores brancas que estão pouco visíveis à luz
minguante do dia. Eu realmente não sei para onde estou indo
ou o que estou fazendo até que chego à saída que me levaria
para casa. Eu desacelero até parar e faço uma pausa na beira
da estrada, arrastando meus amigos comigo enquanto eu
retiro o meu capacete e meus óculos de sol.

— Tudo bem aí, querida? — Austin pergunta ao meu


lado. Eu coloco a mão em minha barriga, ouvindo o turbilhão
inquieto de meu estômago. Eu estou a quilômetros de
distância de casa (não tenho certeza sobre a exata distância),
mas sei que se tivesse que subir a rampa com a moto, eu
estaria lá antes da noite me atingir uma segunda vez.

Eu olho para longe da placa de saída e tento sorrir para


Austin. Acho estranho o meu comportamento, considerando
que passei por Wilkes para pegar Christy. Eu mal saí do hotel
e certamente não falei com ninguém que conhecia, mas eu
estava lá e não me senti assim. Talvez seja porque estamos
pensando em ficar em um lugar por um tempo?

Enquanto eu estava viajando, quase podia fingir que não


existia nenhuma casa, como se nunca nem mesmo tivesse
existido. Às vezes, ficar parado é mais difícil do que seguir em
frente. Eu não tenho certeza, mas não gosto desse
desconfortável mal-estar que se instalou em mim.

— Está tudo bem. — Eu digo a Austin, colocando meus


óculos de sol e meu capacete de volta. Está, digo a mim
mesma com firmeza. Está tudo bem, mas logo eu terei de lidar com os
demônios do meu passado. Ou seja, os meus pais. Isso faz meu sorriso
ficar mais amplo. Meu pai não gostaria de descobrir que o
comparei a uma entidade demoníaca de qualquer espécie.

— Bom. — Ele diz, inclinando-se e pressionando um


beijo em minha bochecha. Sua barba por fazer arranha a
minha pele e faz com que meus dedos apertem o couro da
minha calça. — Porque eu tenho grandes planos para quando
chegarmos ao hotel. Não gostaria que nenhuma crise
emocional interferisse em todas as coisas safadas que
pretendo fazer com você. — Ele sorri enquanto se afasta,
parando um momento para tirar o telefone do bolso. Ouço
Gaine gemer enquanto o ringtone do Nickelback toca
acentuadamente pelo ar.

— Sparks — Ele diz, segurando o celular em seu ouvido.


Leva apenas uma fração de segundo para o seu sorriso se
transformar numa careta furiosa. — Nós estaremos lá. — Ele
fala, desligando e abaixando a viseira antes de eu ter a
chance de perguntar o que está acontecendo. Quando ouço
suas próximas palavras, todos os pensamentos sobre meus
pais ou minha cidade desaparecem no fundo da minha
mente. — Hora de ir para a sede do clube. Temos problemas.
Capítulo Quatro

Austin
Eu nunca fui bom em matemática, mas quatro mais
quatro é oito. Eu tenho certeza disso. E também tenho
certeza absoluta de que oito é bem menos que sessenta. Se a
minha aritmética não estiver errada, então, sei que uma coisa
é certa: Broken Dallas grosseiramente nos excede em
número. Os quatro rapazes que temos em casa, além de
Beck, Mireya, Gaine e eu. Não é exatamente um jogo justo.

— Porra, nossa central de atividades. Merda. — Beck


diz, passando a mão pelo cabelo ruivo e jogando o capacete
com raiva na tosca grama que serve como um quintal na casa
abandonada que estamos escondidos. — Quanto tempo até
que o restante dos idiotas apareça? — Eu verifico meu
telefone com o cenho franzido.

— Quinze minutos. — Eu digo, mas realmente não


importa de qualquer maneira. Mesmo se tivéssemos todos os
nossos membros aqui, ainda estaríamos em desvantagem. —
A última coisa que precisamos é de outro tiroteio. — Eu não
consigo parar de pensar nos dez membros que perdemos na
luta com os Setenta e Sete Irmãos. Isso está em minha mente
durante boa parte do tempo e eu não sei como superar isso.
Margot, sua puta. Espero que você tenha recebido tudo que
merecia. Quase me matou deixá-la ir embora, mas era o que precisava
ser feito. Eu tenho que começar a pensar como um líder e não apenas
como um homem. Homens e líderes fazem escolhas diferentes, ou pelo
menos deveriam.

— Eu não quero que isso se transforme em um banho


de sangue. — Eu sussurro asperamente.

Broken Dallas está de volta e trouxeram reforços. Porra.


Isso aconteceria em algum momento. Eu só esperava que
fosse depois que estivéssemos estabelecidos e com mais
alguns membros para aumentar nossas fileiras. Acho que
deveria ter escolhido uma casa que eles nunca tivessem visto
antes. Suponho que eles nos encontrariam eventualmente,
apesar de tudo. O Código da Estrada exige retribuição por
erros cometidos.

— Cristo. — Eu passo a mão pelo meu cabelo e olho


para Gaine e Mireya sussurrando perto da varanda dos
fundos desta outra casa. Nem todo mundo sabe o que eu fiz,
mas eu comprei esta também. Ou melhor, Kimmi comprou.
Você não pensou que nós iríamos colocar quarenta idiotas
numa casa, certo? Nem mesmo se tivesse quinze quartos.

Eu sou o presidente há menos de dois meses e já tenho


delírios de grandeza. Eu me inclino na parede e fecho os
olhos com força. Aquele sentimento está de volta:
insegurança. E eu não gosto disso. Durante anos, fizemos as
coisas de uma maneira na Triplo M: Viajamos, roubamos
bancos e eu transava com quem eu queria, quando bem
entendesse. Esta nova vida é um giro de 180º e a volta está
me deixando tonto.

— Você quer que eu me esgueire entre eles e pegue


algum como refém? — Beck pergunta, mas ele sabe tão bem
quanto eu que não funcionará. Não de forma permanente.
Precisamos de outro plano e, como presidente, é meu
trabalho pensar em algo. Eu abro meus olhos e olho para o
meu amigo, vestido com uma camiseta vermelha apertada.
Parece que está pintada no maldito peito dele. Nunca o vi
usar nada assim antes. Eu imagino que isso é coisa de Tease.

A ficha cai. Tease. Setenta e Sete Irmãos. Melissa. É um


tiro no escuro, mas é melhor do que nada.

Eu me afasto da parede e tiro o celular do meu bolso.


Com esperança de que a ex-senhora Diamond esteja de bom
humor. Eu disco o número dela e rezo para que ela ainda
tenha o telefone da Triplo M.

— Não faz nem três meses que fui embora e você já


sente tanta falta de mim que mal pode esperar. — Melissa
ronrona ao telefone. Meu punho aperta ao meu lado, mas eu
me forço a relaxar. Isso é um bom sinal. Se ela está agindo
como no seu velho “eu” galanteador, então ela pode tentar
nos ajudar.
— Bom ouvir sua voz, doçura. — Eu digo, vendo como
as sobrancelhas de Beck se levantam numa questão. — Como
você está desfrutando o seu tempo como a nova senhora de
Tax? — Eu vejo um sorriso aparecer no rosto do meu amigo.
Tenho bastante certeza de que ele e Melissa estiveram
mantendo contato o tempo todo.

— Eu nasci para ser a esposa de um presidente, você


sabe disso. — Ela diz, fazendo uma pausa para tomar um
gole de alguma coisa. — Então, o que você quer? Obviamente
não está ligando apenas para jogar conversa fora.

— Bem... — Eu disse, olhando para o círculo de motos


na rua. Ninguém está se movendo, apenas bebendo cerveja e
fumando cigarros. Alguém até mesmo arrumou um aparelho
de som, enchendo a abandonada vizinhança com músicas
antigas de rock. Filhos da puta. Eu não sentarei aqui e
assistirei uma gangue rival dar uma festa não autorizada no
quintal da frente de minha casa. Eu olho para a casa, mas
está na escuridão e não há sinal dos quatro membros da
Triplo M que estão lá dentro. — Quão bem você e este tal de
Tax estão se dando?

— Você não me ouviu, Austin Sparks? Eu disse esposa.

Eu quis dizer esposa. Este não é um termo figurativo. —


Há pouco mais de dois meses e ela já se casou com o cara?
Eu sempre soube que esta mulher era problema. Eu resisto à
vontade de perguntar se ela já superou Kent.
— Por quê? O que você quer de Tax?

— Qual é a atual opinião dele sobre os Broken Dallas?


— pergunto, indo diretamente ao ponto. Você está disposta a nos
ajudar? Eu não gosto de abusar da fraqueza de ninguém, mas
temos a irmãzinha de Tax aqui e, pelas suas ações anteriores,
sei que ele se preocupa pra caralho com ela. Eu não colocarei
a cabeça da garota a prêmio ou algo do tipo, mas talvez, já
que ela é um membro do nosso clube agora, Tax esteja
disposto a nos dar uma mão aqui.

— Por quê? — Melissa pergunta e a sua voz é severa e


cortante. Eu lambo meus lábios rachados e penso em Amy.
Precisarei de toda a força para abrir mão do meu orgulho e
pedir ajuda a uma mulher que passei anos desprezando. Eu
olho para o rosto de Beck e me concentro em seus olhos
verdes. Idiota estúpido. Ele sempre gostou de Melissa e o
homem é um bom juiz de caráter, então, acho que talvez ele
veja algo nela que eu não veja. Eu tento achar conforto nisso.

— Eles têm todos os homens de seu grupo cercando a


sede do meu clube. — Eu espero por um riso ou uma
observação rude ou algo que a velha Melissa faria. Em vez
disso, tudo que recebo é o silêncio.

— Vou falar com ele e te ligo de volta. — O telefone fica


mudo e eu o deixo cair ao meu lado com um suspiro.

— Bem? — Beck pergunta, enfiando as mãos nos bolsos


e cheio de energia desenfreada. Se eu deixar ele solto, ele
destruiria. Aposto que ele mataria uma dúzia de caras antes
que eles conseguissem enchê-lo de buracos. — O que ela
disse?

— Você está pedindo ajuda a Melissa? — Mireya


pergunta com um sorriso de escárnio. Seus olhos escuros
brilham com irritação. — Como se não pudéssemos lutar
nossas próprias batalhas? Os Setenta e Sete Irmãos mataram
dez de nosso povo. Atiraram neles. E sim. — Ela levanta as
mãos. — Sim, eles podem ter sido enviados por Margot, e
talvez ela estivesse trabalhando para os Broken Dallas,
Bested by Crows ou quem quer que fosse, mas isso não muda
o fato de que as suas armas, as facas e as suas mãos
assassinaram os membros da nossa família.

— Isso não muda o fato de que fizemos o mesmo com


eles, lábios de mel. — Beck diz, pegando um cigarro e indo
para a varanda da frente, de modo que o Broken Dallas não
veja a fumaça. — Eu esfaqueei o sargento deles até a morte.
— Beck dá de ombros e se inclina, colocando o cotovelo no
joelho. Há um meio sorriso no rosto que promete violência.
Eu não invejo aqueles filhos da puta em campana.

— Realmente não temos muitas opções. — Gaine diz


com uma careta. A camiseta que ele tem hoje diz Nascido
ferrado e Criado Errado. Interessante escolha. Mireya rosna algo
desagradável baixinho e sou grato por não falar espanhol.
Não quero saber o que ela falou.
— Você quer matar a todos ou algo assim? — Ela
pergunta e dou de ombros.

Eu não pensei tão longe assim. Tudo depende do que os


Setenta e Sete Irmãos estão dispostos a nos oferecer. Eu
ainda tenho esse sentimento doentio em meu estômago e
uma noção aproximada de que essa porcaria não acabará até
que termine. O Broken Dallas terá que sumir. A mesma coisa
com os Bested by Crows. Eu não posso viver minha vida
inteira, preocupado se eles aparecerão no horizonte e foder
com a gente. Eu acho que o melhor cenário seria aumentar
nossas fileiras, transformar-nos mais um espinho para eles
do que eles são para a gente.

— Hijo de la puta. — Mireya rosna para mim enquanto se


afasta e faz uma pausa com o olhar voltado para a rodovia.

— Ligue para o grupo e diga para esperarem. — Eu digo


a Gaine, avançando pelo enorme quintal e indo para a cerca
dos fundos, testando as tábuas de madeira de má qualidade
com o meu pé. Com certeza, a maioria delas está solta e fácil
de passar. Eu tiro algumas e entro pela cerca que delimita o
terreno dos fundos da outra casa.

Assim que estou lá dentro, é fácil encontrar um local


para espiar e pegar um vislumbre do quintal e dos fundos da
casa. Ambas as portas que dão para o jardim da frente estão
abertas, dando-me uma visão clara da rua. Se for preciso,
farei meus rapazes esgueirarem-se até aqui e se juntarem a
mim. Assim podemos dar alguns tiros nesses babacas.
O meu telefone vibra e eu atendo antes que chame a
atenção em minha direção.

— Austin Sparks. — Não é Melissa.

— Boa noite, Tax. — Eu sussurro, rastejando por cima


da cerca e indo em direção aos meus amigos. O sol está
prestes a desaparecer e tudo o que temos como luz são as
poucas lâmpadas da rua pontilhando o céu com manchas
laranja. Metade delas está fraca e muitas completamente
apagadas. Este não é o cenário ideal para se estar. Sombras
rastejam ao meu redor, provocando arrepios em minha
coluna. Não quero perder outro membro deste grupo. É como
se pequenos pedaços da minha alma fossem arrancados. É
um sentimento muitíssimo desconfortável.

— Posso falar abertamente? — Ele pergunta e a sua voz


é áspera. Eu não tenho nenhuma ideia do que esperar. Talvez
um bom chute na bunda, dizendo-me para levar o meu
problema para outro lugar? Quem sabe?

— É claro. — Eu digo, puxando um cigarro e olhando


para o outro lado da rua, para a casa destruída. Esta está em
pior estado de conservação do que as outras duas que
compramos. Metades das janelas estão quebradas e existem
pichações por todas as laterais da casa, de diversas cores,
com vários palavrões e símbolos de rua que não vou nem
tentar decifrar. Espero que esses bandidos saibam que este
não é mais o território deles. Esta cidade pertence a Triple M
agora.
Isso se conseguir arrumar essa merda, Sparks. Você já está pedindo
ajuda e nem se mudou ainda. Eu deixo de lado isso e penso no
agora. Isso terá que esperar. O mundo está cheio de pessoas
que não se encaixam, pessoas procurando por algo diferente.
Eu não nos imagino com dificuldades de encontrar alguns
deles para se unir a Triplo M.

— Eu... Nós... Não perdoamos vocês pelo que aconteceu


e tenho certeza que vocês tampouco nos perdoaram também.
— Tax respira fundo. — Então, não, não enviaremos nossos
homens até aí e interferir em seu nome. — Eu aperto o
telefone com tanta força que tenho medo de quebrar a
maldita coisa. — Mas também temos um ditado. Caso haja
necessidade. Bem, a necessidade surgiu. Aquela garota,
Margot, já era uma filha da puta. — Eu sinto o meu sangue
congelar.

— Já era? — Eu pergunto, rezando para que Amy e


Kimmi estejam bem lá no hotel. Agora que nossa traidora
estava ali fora, elas deveriam estar seguras, mas nunca se
sabe. As pessoas têm maneiras de descobrir o que querem.
Pelo que sei, pode haver outro grupo vindo nesta direção. Eu
cerro os dentes e oro para que esta noite acabe logo.

— Eu não faço tortura ou assassinato de forma leviana,


Sr. Sparks. Eu daria à garota um julgamento justo, mas ela
desapareceu poucos dias depois que a pegamos. Ela não
derrotou quatro de meus homens por conta própria. — A voz
de Tax fica grave, num rosnado. — Então, eu não sei se ela
está com os Broken Dallas, mas posso dar um palpite
baseado no que você nos disse. São eles, os Bested by Crows
ou ambos, mas não dou à mínima. Eles contribuíram para o
incidente em Korbin, então, ter um preço é a pergunta sem
sentido e mais um requisito.

— Então vocês virão? — Eu pergunto, tentando


entender toda aquela confusão.

— Eu estou lhe pedindo um favor, de um Presidente


para o outro, avise-os que estamos na estrada e que
gostaríamos de ter uma conversa. É isso aí. Nada mais, nada
menos. Nós chegaremos à cidade pela manhã, desde que
esteja tudo bem para você — Tax está pedindo minha
permissão, como se este território já tivesse sido marcado
como meu. É uma sensação boa, não vou mentir. A sensação
desconfortável no estômago diminui por um momento e eu
sinto um sorriso iluminar meu rosto, um sorriso para
rivalizar até mesmo com o de Beck.

— Seria um prazer.
Capítulo Cinco

Austin
Com os meus amigos na retaguarda e meus inimigos a
minha frente. Ainda tenho quatro rapazes na casa e quinze
no parque aos fundos da propriedade. Há mais dez membros
da Triplo M do outro lado da rua, agachados nas sombras de
quintais abandonados.

— Já era hora de você aparecer. — Um dos homens fala.


Ele tem uma longa barba prateada e um rosto rude, que
estou começando a reconhecer. Já nos encontramos muitas
vezes. — Começamos a nos perguntar se simplesmente não
seria melhor queimar a casa e esquecer o passado.

Eu faço uma pausa, certificando-me estar debaixo de


um poste de luz, de modo que o idiota veja o sorriso em meu
rosto.

— Se continuaremos a nos encontrar assim, acho que


seria bom que conhecêssemos um ao outro. Meu nome é
Austin Sparks, mas acho que você já sabe disso. — Coloco as
mãos em meus quadris e observo o jeito como os olhos do
homem travam em Beck. Oh, ele lembra muito bem dele. —
Agora, é a sua vez. Diga o seu nome e explique-se por que
você acha que está tudo bem em acampar no gramado a
frente da nossa casa. — Eu mal consigo ver o homem sorrir
por trás de sua barba emaranhada. Seus olhos escuros são
como sombras, a luz fraca enfatizando as rugas em seu rosto,
mas fazendo pouco para iluminá-lo. Meu consolo é a arma
em meu quadril e o imbecil louco ao meu lado.

— Oh, eu não sei. — Ele diz, passando os dedos ásperos


pela barba. — Eu acho que você perdeu a chance de ser
gentil, quando este ruivo desrespeitou a mim e ao meu clube.
Acho melhor nos atermos estritamente aos negócios.

— E quais são? — Eu pergunto, sentindo a tensão ao


me redor pronta a entrar em erupção. Meu povo nunca
descontou sua fúria com um tiroteio em qualquer um, mas
estão ansiosos por isto. Espero que ninguém contraia o dedo
acidentalmente e dê um disparo. Eu mantenho o sorriso no
meu rosto.

— As mesmas exigências de antes, só que desta vez o


preço é dobrado. Queremos suas vadias, seus coletes e o
dobro da quantia que pedimos anteriormente. Você pode fazer
o primeiro pagamento quando devolvermos as garotas, depois
de um fim de semana cheio de diversão. — O homem faz uma
pausa e olha para seus homens. A maioria deles está
impassível, como se não tivessem um pingo de sentimento.

Nenhum homem de verdade quer uma mulher que não o


queira também. É preciso respeitar uma mulher e mostrar a
ela que o seu orgulho não deprecia ou intimida ninguém. Eu
sei disso há um longo tempo, mas algumas pessoas são
lentas na absorção.

Eu resisto à vontade de rosnar enquanto ele continua


falando. — Ou poderíamos brigar e derramar um pouco de
sangue para ver quem sai por cima. Não acho que você tenha
muita escolha. Os Bested by Crows tem um novo presidente e
estão prontos para falar sobre a morte de Kent. Eu imagino
que eles estarão aqui em breve. — Sr. Barba Grisalha sorri
para mim, fazendo com que eu franza os lábios
inconscientemente. Puta que pariu. Não eram boas notícias.

— Você aparece aqui dizendo que quer manter sua


fraternidade, mas não percebe que temos uma irmandade
com essas garotas. O que você está pedindo não acontecerá,
então pode atirar na gente se quiser. — Eu olho para Beck. —
Ou pelo menos tentar. Mas antes, tenho uma mensagem para
você. — Eu tento manter a alegria em minha voz — Os
Setenta e Sete Irmãos estão a caminho e eles também tem
alguns negócios que gostariam de discutir com você. — Eu
deixo as implicações pairarem no ar e não perco a contração
no rosto do Sr. Barba Grisalha, quando Beck começa a rir.
Capítulo Seis

Amy
— Você está tenso? — pergunto a Austin, passando os
dedos sobre seus ombros nus. — Você parece tenso. — Eu
não deixo de notar o modo como suas mãos apertam a colcha
enquanto pressiono meus seios em suas costas e me inclino
para beijar sua orelha.

É embaraçoso admitir, mas paquerar, beijar e fazer


amor são habilidades como quaisquer outras e acho que
fiquei muito boa nelas. Afinal de contas, eu tive um pouco
mais de prática. — Você não vai dizer o que está acontecendo,
então, não tenho nenhuma pista para julgar o seu humor.

— Eu não quero que nada preocupe sua cabecinha. —


Austin diz suavemente. Entretanto, posso perceber que seus
pensamentos estão muito longe. Eu resolvo mudar a tática.
Deslizo minhas mãos para frente e continuo descendo pelo
seu peito, sentindo seus mamilos endurecerem conforme
passo minhas mãos sobre eles. Ele estremece enquanto sorrio
para o volume aumentando entre suas pernas. E eu só me
apresso um pouquinho enquanto faço isso.

— Você disse que seríamos parceiros. Você disse que eu


seria mais do que uma... mulherzinha para você. — Eu digo e
as palavras soam estranhas quando saem de minha boca. Eu
posso aprender rápido, mas ainda sou uma recém-chegada a
este mundo. A terminologia não flui livremente em minha
boca, como acontece com Kimmi ou Mireya. Imagino que um
dia isso acontecerá, no entanto. Austin suspira e se inclina
para mim, olhando por uma mecha de seu cabelo loiro claro,
que ainda acho tão atraente como no dia em que o conheci.
Eu passo os dedos da minha mão direita ali.

— Você já se preocupou de não ser boa o suficiente? —


Austin pergunta, fechando os olhos por um momento. Eu fico
olhando para o seu rosto, para a pequena cicatriz em seu
lábio, a barba dourada ao longo de sua mandíbula e eu não
consigo descobrir o que ele quer dizer.

— Como assim? — Eu pergunto, enquanto ele suspira e


estende as mãos, apertando as minhas pequenas mãos.

— Apenas... Não ser boa o suficiente. — Ele respira,


abrindo os seus olhos castanhos e dando um sorriso falso.
Você não faz uma pergunta assim tão profunda e se sente
feliz com isso.

— Austin... — Eu começo, mas ele já está gargalhando e


me soltando, virando-se e me puxando para seu colo
enquanto nos empoleiramos no final da cama bordada de
flores. A expressão em seu rosto mudou de contemplativa
para faminta. Eu engulo em seco e tento não pensar muito
sobre o fim do meu livro.
O último capítulo de Sali e Glance me deixou suando tão
profusamente que Kimmi olhou para mim preocupada, com
os olhos arregalados. Ela pensou que eu estava com febre ou
algo assim.

Quando penso sobre o que fizeram naquelas páginas


deliciosamente sensuais, me sinto febril. — Austin... — Eu
digo novamente, mas minha voz sai superficial e ofegante,
fazendo meu estômago apertar de forma quase imperceptível.

— Está ficando tarde. — Ele ronrona, aninhando-se em


minha garganta e arranhando a pele macia com a mandíbula
mal barbeada. Um beijo escaldante se segue, queimando
minha pele e fazendo escapar um suspiro da minha garganta.

— Acho melhor nós irmos para a cama. Nós temos que


acordar cedo amanhã. — Austin aproxima seu rosto do meu e
pressiona sua boca em meus lábios. Eu gemo, arqueando as
costas quando a sua mão encontra o meu seio. De virgem à
deusa do sexo... Eu certamente percorri um longo caminho.

Eu o beijo, tentando colocar em minha língua os


sentimentos que não sairão da minha boca de qualquer outra
forma. ‘Eu amo você’, digo em pensamento, desejando que ele
dissesse isso primeiro. Eu quero tão desesperadamente que
ele faça isso. Nós estamos unidos agora, ele e eu. E sinto
como se nossas almas estivessem entrelaçadas, mas eu não
direi primeiro.

De todo modo, o meu personagem favorito dos livros,


Sali Bend, me deixou bastante cautelosa em deixar escapar
essas três palavras.

“Eu só disse a palavra ‘amo’ três vezes na minha vida e todas


as vezes terminou da mesma maneira: com um beijo e uma desculpa

sobre o tempo. Eu nunca vi nenhum desses homens novamente.”

Não que eu ache que Austin possa fugir ou me deixar.


Talvez eu seja apenas uma covarde... Será?

— Talvez devêssemos ir para a cama. — Eu digo, me


afastando de sua boca apenas o suficiente para dizer as
palavras. Austin sorri e dá outro beijo em minha boca antes
de me colocar em cima da cama e se levantar. Eu mantenho o
meu olhar fixo na tatuagem de caveira no centro do seu peito
enquanto ele se afasta e, com um sorriso safado e uma
risada, ele mexe no interruptor de luz.

O quarto fica em uma escuridão perfeita, somente um


raio do luar penetra pela rachadura das cortinas. Eu me
sinto subitamente tensa, como se minha pele estivesse
esticada. Meu corpo tamborila com excitação e nervosismo
enquanto meus olhos se acostumam com a escuridão e tento
espiar Austin vindo do outro lado do quarto em minha
direção.

Tenho um vislumbre dele desabotoando a calça e


deslizando-a sobre seus quadris. A tatuagem do Triplo M em
seu corpo me excita, enquanto fecho meus olhos e inclino a
cabeça para trás. Papai sempre costumava dizer que sexo
fora do casamento era pecado; se isso for verdade, então, este
é o mais sujo e mais delicioso pecado que existe. Eu arriscaria o
inferno por você, Austin Sparks — penso, enquanto a cama range
e ele aparece em cima de mim, com seus músculos rígidos e
linhas nítidas.

— Você é gostosa pra caralho, Srta. Cross. — Ele diz, e


sua voz, embora forte e carregada de desejo, tem uma pitada
de incerteza que não gosto. Pode ser pelo que aconteceu hoje,
mas espero que não tenha nada a ver comigo.

Eu limpo minha garganta. — Você também, Sr. Sparks.


— digo, enquanto ele desliza sua mão pela minha coxa. Sinto
arrepios intensos de prazer em todas as minhas terminações
nervosas, derretendo meu pobre cérebro antes mesmo de
realmente termos começado. Sua mão quente é um bom
contraste pela frieza do ar condicionado.

— Fale safadezas para mim, docinho. — Ele sussurra


enquanto sua mão procura pela minha calcinha. Eu parei de
usar calcinhas ultimamente. Elas parecem fazer mais mal do
que bem.

— Eu não sou muito boa nisso. — Eu digo, sentindo


minhas bochechas corarem. Eu falo isso, porque tenho
vergonha e não porque eu acho que falho em qualquer
habilidade. Os livros me ensinaram bem. Eu engulo e levanto
os braços, permitindo a Austin puxar minha camisola pela
minha cabeça. — Mas eu tentarei, se você quiser.

— Eu gostaria muito disso. — Ele rosna, curvando-se e


passando a língua em minha orelha. Ele mantém essa
distância frustrante entre nossos corpos, seu pênis perto da
minha abertura, mas não me tocando. Seu peito está vários
centímetros acima do meu e isso é irritante.

Eu quero sentir seu corpo pressionando o meu na cama,


me cobrindo com o seu calor duro e seus músculos tensos.
Entrelaço meus dedos atrás do seu pescoço e tento puxá-lo
para mim. — Ainda não, doçura. — Ele sussurra. — Não até
que você implore por isso.

Eu faço um biquinho com os lábios, mas não sei se ele


pode ver, porque meu rosto está no meio de meus seios nus.
Sua respiração faz cócegas em meus mamilos e antes que eu
possa dizer uma única palavra, ele está me massageando com
a língua, me degustando e arrancando um suspiro rouco de
minha garganta.

— Seja gentil com eles. — Eu sussurro. — Eles estão


doloridos. — Tudo o que escuto é um grunhido. Meus olhos
vibram e parece que estou prestes a desmaiar. Meus seios
estão doloridos, mas é tão bom que eu não posso lhe pedir
para parar.

Austin se ajeita lá embaixo, deixando o meu corpo em


chamas onde a nossa pele se toca, mas ele não entra em
mim. Em vez disso, ele continua beijando meu corpo, indo
para baixo, parando em meu umbigo em uma amostra
angustiante de autocontrole.

— Isso não é bem um pedido. — Ele diz, segurando


meus quadris com as mãos e pressionando pequenos beijos
nas linhas de meu osso pélvico. — Tem certeza que você
realmente quer isso?

— Sim. — Eu sussurro, parando para usar as palavras


de Sali novamente. Um dia, eu tenho certeza que encontrarei
algumas minhas, mas, por agora, isso terá que servir. —
Foda-me até que eu não consiga ficar em pé. — Eu digo, e
então ruborizo da cabeça aos pés.

Ainda bem que as luzes estão apagadas. Eu posso ser


capaz de reter um pouco da minha dignidade desta forma.
Austin move-se entre as minhas coxas com outro grunhido de
prazer, pressionando sua boca em minha abertura e me
provocando com sua língua.

Luzes brilham sob minhas pálpebras e eu juro, estou


prestes a ter um orgasmo.

— Foda-me até que eu mal possa respirar. Até eu


sufocar e me afogar no... — Sali diz a Glance que ela quer se
afogar no meio de seu amor eterno, mas não estou preparada
para essa declaração, então, mudo um pouco a frase. —
Calor da sua paixão.

Austin ri, uma completa gargalhada e se afasta por um


momento. Eu puxo seu cabelo e emaranho minhas mãos nos
fios loiros.

— Se você parar, Sr. Sparks, eu juro pelas profundezas


desta terra que ficarei extremamente puta com você. — Se eu
soubesse que palavrões parecem como seda vibrando nos
lábios cada vez que você os diz, eu teria começado a dizê-los
na terceira série.

— Oh, você quer que eu continue? — Ele pergunta, e


embora não consiga ver o sorriso em seu rosto na escuridão,
eu posso ouvi-lo. — Eu pensei que você estava citando um
maldito poema Shakespeariano ou algo assim.

— Eu poderia se quisesse. — Eu digo a ele altivamente,


puxando sua cabeça para cima e sentindo meu coração
acelerar conforme nossos peitos se alinham. Eu quero sentir
o dele também, saber que está batendo por mim do jeito que
o meu bate por ele. Porra. Eu só quero que ele diga: ‘eu te amo,
Amy.’ Se te comparo a um dia de verão, és por certo mais belo
e mais ameno.

— Sua putinha espertinha. — Austin grunhe enquanto


entra de mim com um único movimento. Eu dou um suspiro
e passo a língua sobre meus lábios, curvando-me até ele e
mordendo seu pescoço.

Assim que meus dentes tocam em sua pele, ele está


gemendo e se movendo com mais força, balançando sua
pélvis na minha com tanta força que eu sinto que meus ossos
quebrarão. Seria uma felicidade quebrada.

— Austin... — Eu gemo, me deixando ir. Eu aprendi


uma lição muito valiosa nos últimos meses: perder-se faz com
que seja mais fácil encontrar a si mesmo. E se você quiser ter
um orgasmo, é melhor saber como se encontrar. Caso
contrário, você recebe um bom sexo, mas nenhum clímax. Eu
dobro minhas pernas na altura dos joelhos e as espalho tão
amplamente quanto posso, apreciando a sensação de estar
cheia, como um quebra-cabeça que acabou de encontrar a
peça que faltava.

— Continue falando comigo, querida. — Ele resmunga


em minha bochecha, movendo sua boca para a minha e me
beijando, enquanto rudemente empurra minhas pernas com
uma mão e aperta os dedos no meu cabelo com a outra. —
Continue falando. Eu quero ouvir a sua voz.

— Foda-me, Austin. — Eu gemo em sua boca, lutando


para dizer as palavras entre beijos. — Foda-me e... Diga-me
quão gostosa eu sou. — Sua língua escorrega na minha,
quente e faminta, enquanto seu pau se movimenta em minha
boceta, arrastando-me para o precipício, me fazendo gozar
uma e outra vez.

Cada impulso me enche mais um pouco, deixando meu


corpo frenético e com comichão, como se isso não pudesse
acontecer rápido o suficiente. Ao mesmo tempo, eu não quero
que isso aconteça. Quero continuar me sentindo assim para
sempre.
— Você é a foda mais gostosa que eu já tive. — Ele rosna
em meu ouvido, dando-me calafrios quando seu cabelo
sedoso roça em meu rosto. — Mais apertada do que qualquer
mulher com quem já estive. — Eu não quero ouvir sobre
outras mulheres, então, o beijo novamente, fechando minha
boca na dele enquanto mantemos nossos corpos juntos. Sinto
um nó no estômago novamente, mas ignoro. Não importa.
Neste momento, só isso importa.

— Austin. — Eu choro novamente, deixando ele me levar


para mais perto do clímax. — Austin, Austin, Austin. — Seu
ritmo acelera e seu corpo fica tenso, os músculos contraindo
enquanto ele geme e derrama sua semente dentro de mim.

Eu solto meu aperto e gozo também, tentando me


igualar a ele enquanto ele investe contra mim com mais
alguns golpes bem colocados. — Austin, eu te amo.

As palavras saem, muito embora eu não pretendesse


dizê-las.

Será que o destino tem alguma coisa a ver com isso?


Capítulo Sete
Amy
— Você parece decididamente miserável. — Mireya diz,
batendo o prato em cima da mesa a minha frente. Eu não me
preocupo com isso... Mireya bate o prato todos os dias. Mas
hoje ela está se sentando comigo. Isso é um bom sinal, não é?

Eu me endireito, tirando o cotovelo da mesa e deixando


minha mão em meu colo. É bom ter amigas para conversar
sobre problemas com homens, mas como agir quando a dita
amiga costumava... Bem, fazer sexo com seu namorado?

Eu concentro meu olhar no bolinho meio comido e evito


olhar para o rosto carrancudo de Mireya. Ela é tão diferente
de mim. Às vezes, se sinto um pouco de ciúmes dela. Eu
nasci e fui criada para ser uma inocente donzela sulista e
mesmo com este jeans desbotado e esta camiseta velha, sinto
que ainda pareço como uma.

Mireya parece uma motociclista. Ela tem este quê durão


em sua beleza, este sexy fulgor que eu acho que jamais
poderia conseguir. Ela tem mais curvas que eu e seus lábios
são mais cheios. Eu tento não suspirar. Ninguém gosta de vinho,
a não ser que você esteja servindo queijo junto. 2

2
A palavra “vinho” é homófona a “chorão/chorona” em inglês. No original, a autora escreve
“whine/chorão”; ou seja, a frase é um duplo sentido de ninguém tolerar chorões, pessoas fracas.
Outra frase favorita da minha mãe.

— É Austin, não é? — Ela diz com um suspiro. Eu olho


para cima e sigo suas unhas vermelhas enquanto ela pega
um pedaço de torrada. Nós levantando tarde hoje.
Normalmente chegamos antes das oito da manhã. Eu olho
para o relógio. Já passa das nove e meia e ainda estamos
tomando o café da manhã.

Quando acordei esta manhã, Austin já tinha saído. Eu


não tenho certeza do que pensar sobre isso. — Você pode
muito bem me perguntar. Conheço o idiota por dez anos. —
Eu levanto os meus olhos até os dela, mas ela não está me
olhando. Ela está olhando para a toalha de mesa como se
esta tivesse todas as respostas. Ela parece distante, mas não
chateada. Não mais. Gaine realmente transformou Mireya,
mesmo que ela não saiba.

Mireya levanta os olhos escuros até os meus.

— E então? — Eu passo minhas mãos subitamente


suadas em minha calça jeans e respiro fundo, fazendo uma
pausa para arrumar o meu rabo de cavalo antes de falar.
Este é um momento estranho, na melhor das hipóteses, mas
eu tenho a sensação de que Mireya e eu estaremos uma perto
da outra por muito, muito tempo. Possivelmente para
sempre. Seria melhor se resolvêssemos nossos problemas.

— Eu, humm... — Eu mordo meus lábios e estendo a


mão para o meu chá. Está ridiculamente adoçado, como o
chá de qualquer donzela sulista adequada deve estar. — Eu
acho que disse algo que perturbou Austin na noite passada.
— Eu tomo um gole. — Eu não queria. Meio que... saiu.

— Durante o sexo? — Mireya pergunta absolutamente


desavergonhada. Eu fico um pouco vermelha. Olho ao redor
para as mesas vazias, esquadrinhando o buffet do café da
manhã, antes de olhar novamente para Mireya.

A última coisa que preciso agora é Gaine, Kimmi ou —


Deus me livre! — Beck, aparecendo sem o meu conhecimento
e escutando o que estou prestes a dizer. Eu gostaria de poder
falar com Christy sobre isso, mas ela é meio arisca quando se
trata de sexo.

Eu engulo em seco e me ajeito no assento, inclinando


minha cabeça e olhando fixamente para Mireya.

— Eu disse que o amava, embora eu tenha prometido a


mim mesma que não seria a primeira a dizer. — Eu expiro e
tomo outro gole do meu chá. O líquido quente acalma meus
nervos enquanto espero por uma resposta.

Mireya recosta-se na cadeira, a jaqueta de couro


enrugando enquanto ela franze os lábios vermelhos e bate
seu anel de casamento na mesa. Eu tento não olhar para ele,
mas é tão diferente dos que eu sempre vi lá em casa.

Eu juro, deve haver algum comitê secreto de mulheres


em minha igreja, que se reúnem e decidem por unanimidade
o anel todas devem usar: ouro branco de 18 quilates, com
pequenos diamantes. Caro, mas nunca chamativo. O de
Mireya está um pouquinho oxidado com um brilhante
conjunto de joias vermelhas no centro. Eu acho que pode ser
um rubi de verdade, mas estou com muito receio de
perguntar. Parece tão pessoal, de alguma forma.

— O que ele fez? — Ela pergunta, soando genuinamente


interessada. Eu abaixo a minha xícara de chá e pego meu
bolinho novamente, desenterrando os pequenos mirtilos da
massa seca. ‘O que ele não fez?’ seria a pergunta correta. Ele me
beijou, disse que eu era bonita, acariciou meus cabelos e me
segurou enquanto adormecemos. Ele apenas não disse de
volta.

— Ele foi tão gentil e cavalheiro como sempre. — Eu digo


para Mireya que sorri.

— Então, não é muita coisa, certo? — Ela pergunta e eu


me forço a sorrir de volta, pois estou bastante certa de que foi
uma piada. — Austin é... estranho. Ele passou grande parte
da sua vida fugindo que, quando chega a hora de ficar
parado, ele não sabe o que fazer. Eu não me preocuparia com
isso, se fosse você.

Mireya range os dentes e, em seguida, respira


profundamente. Eu observo quando, visivelmente, ela relaxa
por conta própria. — Ele nunca se relacionou com qualquer
mulher do jeito que ele se relaciona com você. Tenho certeza
que ele vai dizer de volta. Apenas lhe dê tempo.
— Obrigada, Mireya. — Eu digo e seu sorriso fica apenas
muito mais verdadeiro. O que ela não sabe é que estou
apenas agradecendo-lhe por suas palavras, não tanto pelo
sentido, porque não tenho tanta certeza de que ela esteja
certa.

Sinto que algo está começando a perturbar Austin e, se


eu não descobrir logo, ele pode muito bem entrar em uma
crise existencial.
Capítulo Oito

Austin
Melissa parece dez anos mais jovem, sério. Eu juro,
algumas das linhas de seu rosto desapareceram e ela está
agindo como antes, pendurada em Tax e balançando seu
cabelo loiro como se não tivesse nenhuma preocupação no
mundo. Espero que ela leve seus votos de sagrado
matrimônio mais a sério desta vez do que anteriormente. Não
que eu pense em usar isso contra ela. Kent Diamond não é o
homem mais bonzinho da face da terra.

— Obrigado por nos dar livre acesso em seu território. —


Tax diz formalmente, erguendo a mão para cumprimentar-
me. Eu estendo a mão e a seguro com firmeza, dando-lhe um
aceno de cabeça enquanto dou um passo para trás e me
alinho com Beck. Agora, somos apenas eu, ele e outros três
membros da Triplo M. Deixei todos no hotel com instruções
de não aparecerem antes das onze. Temos assuntos para
resolver aqui primeiro.

Não pense em Amy, faço uma nota mental, enquanto


começo a pensar nela novamente. Como não poderia, no
entanto? Ela disse que te amava ontem à noite desgraçado e o que você
fez além de borrar suas calças, morrendo de medo? Porra. Eu
realmente sou um idiota.

— Obrigado por nos dar a oportunidade de conviver com


sua irmã. Tease é uma pessoa incrível. — digo, esperando
que Beck não faça nenhum comentário rude. Eu o olho de
soslaio, mas ele permanece com sua atenção totalmente
focada no rosto de Tax. Surpreendentemente, nem se
preocupa em olhar para Melissa. O homem retribui o olhar.
Sinto que há algo que ambos sabem que eu não sei. Isso me
deixa desconfortável.

— Se você machucá-la, eu te matarei. Eu juro. — Tax


não olha para mim quando diz isso, mas provavelmente essa
declaração se aplica ao grupo todo. Ele pisca algumas vezes e
passa a mão em seu cabelo ruivo, tirando alguns fios de seu
rosto. — Agora, onde estão nossos amiguinhos?

Eu viro e vejo a rua vazia e não tenho nenhuma


resposta para ele.

— Eles ouviram o seu nome e fugiram como garotinhas


em direção ao pôr do sol. — Beck sorri, mostrando os dentes
brancos enquanto olha para o pequeno grupo atrás de nós.

Eu nunca fui bom em fazer rondas no grupo, mas olho


nos rostos e tento lembrar os nomes. Joel, Bishop e Bryan.
Todos os três se juntaram a Triple M depois de mim, mas eles
estão por aí há muito tempo. Eu tento dar um leve sorriso.
Esta merda de ser Presidente é uma das mais coisas difíceis
que eu já fiz.
— Se eles não estão aqui... — Tax diz, olhando para os
seus rapazes. — ...então, teremos que encontrá-los. — Eu
observo quando ele tira um telefone e desaparece no meio das
motos com facilidade. Seus homens estão olhando para nós
com expressões neutras, mas tenho a nítida impressão de
que se levantássemos um único dedo, eles atirariam em nós.
Foi um grande risco encontrá-los, mas, pelo menos por agora,
parece que valerá a pena.

Melissa dá um sorriso sem graça e segue Tax. Eu a vejo


ir e, em seguida, virar em direção a casa. Quando Tax
terminar o que estiver fazendo, tenho certeza que mandará
alguém me chamar.

Eu poderia muito bem espiar enquanto espero. Meus


companheiros da Triple M me seguem, esperando na
passarela enquanto abro a porta e entro. A casa está mais
quente do que um submarino no sol e não tenho paciência
para isso. Ar condicionado acabou de se tornar uma prioridade em
minha lista.

— Ei, Chefe. — Beck fala lentamente, se aproximando


de mim. Ele me segue enquanto caminho até a porta dos
fundos e a deixo aberta, acendendo um cigarro e olhando por
cima do meu ombro em sua direção. — Posso falar com você
por um minuto? — Eu dou de ombros e olho para os outros
caras, dando-lhes um aceno com a cabeça que espero que
signifique: deixe-nos em paz por um segundo. Eu saio e Beck me
segue.
— O que foi Evans? — Eu pergunto enquanto fumo meu
cigarro e tento acalmar a incerteza em meu estômago. Eu não
gosto de me sentir assim. Demorei um pouco para entender o
medo que parece uma tempestade de verão. Mas agora eu
entendo. E se eu não for bom o suficiente? A pergunta assola minha
mente e não consigo afastar a sensação que me atormenta. Você
não é. Você não está pronto para ser presidente, Sparks. Você não está
pronto para liderar estas pessoas. Olhe o que você fez e onde foi até
agora? Você fez dez de seus membros serem assassinados. Eles estão
mortos, Austin e eles nunca voltarão.

E então, existe Amy. Oh, Jesus! Amy.

Eu não sei como ser um parceiro. Eu nunca estive com


uma única mulher assim antes. Esta é a única vez em minha
maldita vida que estou sendo monogâmico e é a primeira vez
que alguém disse ‘eu te amo’ para mim quando realmente quis
dizer isso também. Então, o que faço agora? Como lidar com
isso quando sinto que estou falhando?

— Eu quero lhe contar uma coisa. — Beck continua com


as mãos levantadas. — É uma boa notícia, então não se
preocupe. — Ele faz uma pausa para limpar a garganta e
ajustar a sua estúpida camiseta. Outra camisa apertada,
como se ele estivesse em uma banda de rock ou algo do tipo.
Ele tenta não sorrir, mas a expressão permanece em seu
rosto como se tivesse nascido com ela. Aposto que ele saiu de
dentro da barriga de sua mãe sorrindo amplamente como um
idiota. — Tease está grávida.
Eu solto o cigarro na grama e vejo como as sobrancelhas
ruivas de Beck se levantam em surpresa.

— Não é um fantasma, Sparks. Não fique tão assustado.


— Ele esmaga o cigarro fumegante com a bota antes de
deixar a grama em chamas. — Isso é uma coisa boa. Bem na
hora, também. — Beck aponta para a sede do clube. — Nós
todos teremos a oportunidade de coexistir como uma família
feliz.

Minha garganta fica seca e eu acabo sentando numa das


velhas cadeiras do gramado. Eu não sei por que eu estou
pirando. Se o meu amigo está feliz, então eu estou feliz
também. Mas, merda... O bebê pode não ser meu — sabe
Deus o que eu faria se fosse! — mas parece que outra carga
de responsabilidade acabou de ser colocada sobre os meus
ombros e estou cambaleando com o peso.

— Estou muito feliz por você, Beck. — Eu digo, tentando


transmitir algum sentimento genuíno em meu tom de voz.
Algo diferente de medo. Meu amigo coloca suas mãos nos
quadris e me encara. Eu faço o meu melhor para não
encontrar seu olhar.

— Austin Sparks, se eu não o conhecesse bem, eu


pensaria que você acabou de tomar um tiro bem no peito.
Isso é algo para comemorar. Se eu soubesse que você
surtaria, eu teria esperado por um momento melhor.

— Eu estou bem. Realmente, eu estou feliz por você,


Beck. Eu só... essa coisa toda com os Broken Dallas está me
dando nos nervos. — Eu me forço a ficar de pé, e dou um
abraço em meu amigo. A última coisa que quero é arruinar o
seu momento. — Você já contou a Gaine ou Kimmi? — Beck
encolhe os ombros e acende seu próprio cigarro.

— Kimmi, sim. Gaine, não. — Ele sorri mais


amplamente. — Você sabe, existe uma hierarquia entre vocês
que gostaria de me ater. Além disso... — Beck olha para a
casa. — Gaine ficará todo sentimental e animado comigo. Eu
quero salvar essa cena para o final.

Ele vai em direção à escada e o sigo, apenas a tempo de


interceptar um homem dos Setenta e Sete Irmãos. É um mau
sinal que esteja quase aliviado de voltar a lidar com essa
porcaria? Violência é uma coisa, mas... bebês? Merda. Eu não
sei nada sobre isso.

O homem não diz nada, apenas gesticula para o


seguirmos lá para fora, onde Tax está esperando. Quando ele
vira para olhar para nós, vejo que está franzindo a testa
profundamente.

— Não conseguiu encontrá-los? — Eu pergunto antes


que ele tenha uma chance de falar.

— Na verdade... — Tax diz, removendo uma pistola do


coldre em sua cintura. — Nós localizamos. E é hora de
pagarem pelos crimes cometidos.
Capítulo Nove

Amy
Quando chegamos a casa, eu desço da minha moto —
sim, eu vim pilotando sozinha até aqui — e entro para começar a
trabalhar. Ontem foi o dia de folga das garotas e amanhã será
o dia de folga dos rapazes. Hoje, todos nós trabalhamos
juntos. Exceto Austin, Beck e alguns dos outros. Eu tento
não pensar muito sobre a mensagem que Kimmi recebeu
antes de chegarmos aqui. Eles estão correndo atrás dos
Broken Dallas. Meu estômago embrulha e eu coloco a mão
em minha boca. Eu acho que vou passar mal.

— Você está bem? — Tease pergunta, inclinando a sua


cabeça e me observando com os seus olhos cerrados. Seu
cabelo ruivo emoldura sua pele de porcelana como rubi.
Enquanto sou a simples e normal garota branca americana,
Tease não é. Ela é uma daquelas mulheres que você não
consegue desviar o olhar assim que a vê. Ela é bonita de uma
forma diferente de Mireya, mas não tão selvagem. — Porque
você não parece.

Eu começo a murmurar que estou bem, mas meu


estômago embrulha novamente e eu acabo no banheiro do
térreo, vomitando de uma maneira pouco feminina. Para
minha sorte, eu também consigo uma platéia para ver minha
vergonha.
— O que há de errado? — Kimmi pergunta, colocando
sua cabeça vermelha ao lado da de Tease. — Você comeu os
ovos mexidos esta manhã? Eu comi e não estou me sentindo
muito bem. Eu acho que eles foram mal cozidos.

— Poderiam me dar licença? — Eu pergunto, tentando


não parecer exasperada. Outra onda de náusea me atinge
enquanto eu aperto a suja borda do assento do vaso
sanitário. Nós tiramos as horrendas telhas do teto deste
cômodo ontem e a coisa toda está coberta de sujeira e pó. Só
de pensar nisso me faz vomitar novamente.

— Você precisa de alguma coisa? — Christy pergunta


enquanto eu me sento e limpo a boca com um pouco de papel
higiênico sobressalente. Eu olho em seus olhos azuis e sinto
consolo na calma que eles transmitem. Ela se sente mais à
vontade aqui na nova sede do clube, pelo que notei. Christy
pode ter “medo” de motos, mas certamente não tem medo de
reformas de casas. Eu a vi mergulhar na demolição da
cozinha com uma ferocidade que foi quase assustadora.

— Um pouco de água, por favor? — Eu peço,


recostando-me na parede e cruzando um braço sobre minha
barriga. Quando Christy retorna com a água, eu seguro a sua
mão e a puxo para se sentar ao meu lado, certificando-me
que dei a descarga e que o assento está abaixado. — Acho
que vou me sentar por algum tempo. — digo, enquanto ela se
instala com as costas no toucador do canto. É uma coisinha
insignificante com uma torneira de bronze e uma bancada
verde abacate que provavelmente foi colocado há pelo menos
uma década antes de eu nascer.

— Me faz companhia? — Christy balança a cabeça e


puxa seu cabelo para cima, prendendo os fios loiros num
rabo de cavalo com um elástico que tem em seu pulso. Seu
pescoço parece longo e pálido, como o de um cisne. — Nós
não tivemos a chance de passar tanto tempo juntas como eu
gostaria. — Eu admito e ela sorri.

— Você está ocupada. — Ela diz e fica vermelha. —


Merda. — Christy coloca suas delicadas mãos na boca e
arregala os olhos. Ela as retira lentamente. — Merda. — Ela
sussurra e dá um sorriso. Eu sorrio de volta.

— Maldição. — Eu rosno, me aproximando mais. Mas


não muito perto. Preciso escovar meus dentes primeiro.

— Vadia. — ela diz um pouco mais alto.

— Inferno. Merda. Tetas. Bunda. — Eu agito minhas


mãos e em seguida as coloco sobre minha boca. — Porra! —
eu grito, deixando a palavra ecoar por todo o espaço fechado.

— Boceta. Pau. Caralho. — Christy grita e caímos num


ataques de riso. É um pouco infantil, mas tente viver toda a
sua vida com a ameaça de sabão em sua boca e veja como
você se sai. Honestamente, minha mãe colocaria barras
inteiras de Dove em minha garganta e daria um sermão
durante uma hora. Depois, é claro, meu pai chegaria e não
seria o suficiente. Ele pegaria o cinto e me mandaria para a
cama sem jantar. Isso só aconteceu duas vezes, mas não
fiquei ansiosa para repetir. Esta nova liberdade que
descobrimos é bastante emocionante.

— O que está acontecendo aqui? — Kimmi pergunta,


olhando para nós. Seus brincos de esmeralda balançam com
o seu movimento. A maioria de nós, incluindo Mireya, coloca
um jeans e camiseta para o trabalho de reforma. Mas Kimmi
não. Ela usa o mesmo tipo de roupas de sempre: botas de
salto alto, calças apertadas de couro e, geralmente, um
espartilho ou regata.

Hoje ela está com um top verde que combina com seus
brincos, com pequenos grânulos de prata presos nele. Sua
calça preta e apertada de couro é a mesma de sempre, mas
hoje estava um pouco diferente com os saltos de lantejoulas
roxas. Eu acho que se você pode roubar bancos e fugir dos
policiais em um salto agulha, certamente você pode derrubar
uma parede ou duas.

Eu finjo não perceber como os olhos de Christy a


observam e um rubor aparece em suas bochechas.

— Eu ouvi distintamente a palavra boceta, então, tive


que ter certeza que não era uma festa da qual eu estava de
fora. — Kimmi pisca seus longos cílios, olhando diretamente
para Christy. Eu limpo minha garganta e olho para a feia
estampa de diamante do papel de parede perto do meu rosto.

— Ei, Christy, eu estava pensando que, se você quiser,


podemos pegar a minha moto esta noite e ir para algum
lugar, eu poderia dar algumas dicas sobre como dirigir.

Minha amiga arregala os olhos e olha para mim. Eu


finjo estar interessada no papel de parede. — É uma boa
noite para isto, então...

— Eu pensarei nisso. — Christy murmura, se


levantando tão rapidamente que tropeça e cai nos braços de
Kimmi. Parecia cena de uma comédia romântica. Eu cutuco o
papel craquelado com as minhas unhas e tento esconder
outra náusea. Não seria nada agradável vomitar durante o
momento especial de minha amiga. As duas estão abraçadas,
uma olhando nos olhos da outra. O primeiro amor é uma
coisa linda, não é? Gostaria de saber se Christy já sabe que
está apaixonada.

— Eu perguntarei novamente mais tarde. — Kimmi diz,


soltando Christy e dando um passo para trás. Ela olha para o
corredor e um sorriso torto ilumina seus lábios rosados. —
Quem sabe depois do almoço? — E então pisca para Christy e
desaparece. Minha amiga passa as mãos nos jeans novos —
possivelmente o primeiro que ela tem — e sai do banheiro
com a cabeça erguida, bem na hora que vomito novamente.

Quando saio, o trabalho está a todo vapor. Existem


alguns membros da Triplo M fumando e bebendo cerveja no
quintal, mas sei que terão tempo de fazer as coisas. Nunca na
minha vida conheci um grupo de pessoas tão trabalhadoras.
Eu sorrio e resisto à tentação de pegar o meu livro em minha
bolsa. Anteontem, Austin me pegou lendo um capítulo no
banheiro superior e zombou de mim o dia todo. Um dia ainda
o convencerei a ler um livro. Eu já consegui convencer
Mireya, Kimmi e até mesmo Melissa a lerem uns dos meus
romances da Sali Bend. É apenas uma questão de tempo.

Eu subo as escadas, passando a mão pelo corrimão


recentemente pintado. Ele tem um brilho perolado como o sol
no entardecer. Faço uma pausa no saguão, tentando me
lembrar qual dos quartos já está pintado. Eu flagro Christy
no terceiro quarto à minha direita com um rolo na mão e me
junto a ela.

Não quero parecer rude ou algo do tipo, mas alguns


desses motociclistas têm a mão muito desleixada quando se
trata de pintura, então Christy e eu tomamos as rédeas. Além
disso, somos menos capazes de carregar os armários e movê-
los sozinhas. Algumas das pessoas aqui têm bíceps do
tamanho da minha coxa, pelo amor de Deus.

Eu pego um pincel e o mergulho na lata, apreciando a


textura suave da tinta fresca. A cor que escolhemos para este
quarto é um verde gelado, como sorvete de menta com chips
de chocolate. Supostamente, este será o quarto de Gaine e
Mireya.
— Amy, há algo que deseja me contar? — Christy
pergunta e eu sei que é um código para ‘há algo que quero lhe
dizer, então, por favor, me dê algo em troca’. É muito mais fácil
contar um segredo quando alguém já lhe contou um.

Eu dou um sorriso para ela e vou até a janela, pintando


cuidadosamente os pontos ao redor do acabamento branco.
Meu estômago ainda está um pouco desconfortável, mas eu
não penso muito sobre isso.

— Como o quê? — pergunto, tentando me focar no


trabalho e não na vista da janela. Percebo um movimento nos
arbustos. Será um gato? Eu me pergunto. Ou talvez um cão? Eu
gostaria de ter um cachorro, eventualmente. Um pequeno.
Um que eu possa levar em minha moto comigo. Eu sorrio
enquanto imagino uma versão mais moderna de Dorothy e
Toto em minha cabeça. Quão patético é isso?

— Você sabe, qualquer coisa. — Ela diz, tentando


desesperadamente soar indiferente. Eu passo o pincel na
parede e olho para ela, salpicando um pouquinho de tinta no
papel pardo que cobre o chão. Christy está corando, a
vermelhidão espalhando do pescoço para os ombros nus.

Meus lábios se contorcem num sorriso, enquanto


afundo de novo meu pincel e viro novamente para pintar a
parede da janela. Meu palpite é que admitirá que tem uma
queda por Kimmi. Eu espero que a gente tenha um ataque de
riso.
Certamente, não esperava nenhum tiro. Num momento,
estou pintando a parede cantarolando Do you believe in magic do
The Lovin’ Spoonful e, no seguinte, meu pincel cai no chão
fazendo barulho e estou segurando meu braço. A janela na
minha frente despedaçou aos meus pés. Provavelmente
estilhaçou antes que eu fosse baleada, mas as coisas estão
muito confusas em minha mente, talvez mais tarde eu me
lembre.

Eu grito e pressiono meus dedos firmemente na ferida.


O sangue escorre entre eles, deslizando em minha pele e
salpicando o chão.

— Amy! — Christy grita enquanto tropeço e bato as


costas na parede parcialmente molhada.

— Abaixe-se! — Eu grito para a minha amiga. — Fique


no chão! — Eu abaixo enquanto Christy solta seu rolo e fica
de joelhos. Literalmente, segundos depois, há sons de gritos
do lado de fora e aqui dentro. Algumas das garotas aparecem
na porta, abaixando-se e se arrastando em minha direção.

— Me deixe ver! — Kimmi diz, estendendo a mão e


tentando erguer as minhas. Eu mordo meu lábio e fecho os
olhos, lutando contra a onda avassaladora de náusea e
vertigem que me domina. Eu levei um tiro. É um pensamento
surreal, para ser sincera. Tento imaginar o que minha mãe
pensaria. Eu solto meus dedos e gemo quando sinto uma dor
excruciante que vai do meu braço até o meu cérebro.
— Aqui. — Tease diz, passando um pano limpo e
ajoelhando-se ao lado de Kimmi. Christy rasteja ao lado dela
e pressiona as costas na parede ao meu lado. Seus olhos
azuis estão arregalados de medo e vertendo lágrimas.

— Eu estou bem. Estou bem. — Eu continuo repetindo


as palavras, tentando mover a minha mão para segurar a da
minha amiga. Meu braço se recusa a obedecer meus
comandos e permanece imóvel, enquanto Kimmi e Tease
fazem alarido sobre isso. — Eu estou bem. Eu ficarei bem.

— Você está em estado de choque, isso sim. — Kimmi


rosna, andando de joelhos e olhando para fora. Eu viro
minha cabeça e tudo gira. Eu vejo membros da Triple M nas
ruas com armas, chaves de fenda e martelos, mas eu não
escuto mais disparos. O que aconteceu? Quem atirou em mim? Eu
me pergunto, enquanto inclino minha cabeça nos meus
ombros e meu queixo descansa em meu peito. — Você teve
sorte. — Kimmi respira, amarrando o pano ao redor de meu
braço. — Foi de raspão. — Ela olha por cima do ombro e olha
para o buraco de bala na outra parede.

— Quem é o médico de vocês? — Tease pergunta,


chegando perto e empurrando Christy para longe, para me
ajudar a levantar. Eu gemo quando Kimmi e Tease me
suspendem em seus ombros.

— Médico? Ela precisa ir a um hospital! — Christy grita,


enquanto saímos do quarto e entramos no corredor. Eu me
concentro nas gotas de sangue que pingam no chão e penso
distraidamente que elas se parecem com o rubi no anel de
Mireya.

— Hospitais fazem muitas perguntas. — Tease diz antes


que Kimmi tenha a chance de responder. — Negócios do
clube devem permanecer dentro do clube.

— Nós temos a Didi. — Kimmi diz, enquanto descemos


as escadas. — Esta não seria a primeira vez que ela remenda
um tiro. Tudo ficará bem. Você teve sorte, querida. Poderia
ter sido muito pior.

Tease e Kimmi me levam para fora e me colocam sobre


uma das cadeiras do gramado, abaixando-me suavemente.
Tease fica para trás e me cobre com sua jaqueta enquanto
Kimmi desaparece para encontrar Didi. Christy se ajoelha na
grama ao meu lado, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Eu prometo, sairei bem dessa. — digo, tentando


acalmá-la um pouquinho. Sinto-me tão estranha. A dor
diminuiu e o mundo está difuso. Sim, eu acho que
certamente estou em choque. Eu sei que é perigoso, mas isso
é quase tão longe quanto o meu conhecimento se estende.
Com sorte, esta Didi saberá um pouco mais do que eu.

— Filhos da puta! — Mireya rosna enquanto aparece na


porta, descendo os degraus com uma mulher mais velha a
seguindo. Eu tenho tentado lembrar os rostos e nomes de
todos, mas não sei quem ela é. Imagino que seja Didi.
— Vamos ver. — Ela diz, soltando o que parece ser uma
caixa de ferramentas perto dos meus pés.

— Você viu quem fez isso? — Kimmi pergunta, olhando


para fora da casa e segurando o celular em sua mão. Suas
sobrancelhas estão franzidas e seus lábios cerrados numa
carranca rara. Fixo meu olhar em seus brincos e não consigo
me afastar das brilhantes manchas verdes. A minha visão
fica turva, mas luto para me manter acordada.

— Ninguém viu. Pensávamos que poderia ser os Broken


Dallas ou algo assim, mas não conseguimos ver ninguém lá
fora. Merda. — Mireya gira nervosamente e olha para o
telefone na mão de Kimmi. — Você ainda não mandou uma
mensagem para Austin, não é? — Ela pergunta enquanto
Gaine sai pelas portas traseiras.

— Não há nada. — ele diz, cuspindo na terra e parando


com as mãos nos quadris. — Nenhum sinal de alguém lá
fora. — Ele levanta o rosto e olha para mim, empalidecendo
quando vê o sangue escorrendo em meu braço. Didi remove o
pano e joga na grama, abrindo seu kit médico. Eu fecho os
olhos e desvio o olhar. Se olhar para o que quer que ela esteja
fazendo, desmaiarei com certeza.

— Chega de conversa. — A velha senhora repreende,


com rispidez em sua voz. — Pegue uma caneta e papel. Vou
fazer uma lista de coisas para providenciarem. E que seja
rápido. Nós não temos o dia todo. — Eu escuto os passos de
Gaine enquanto ele se afasta rapidamente.
— Não conte a Austin ou ele ficará maluco e voltará
correndo para cá. Não sabemos o que ele está fazendo e não
podemos distraí-lo.

— Eu sei disso Mireya. Credo. — Eu abro meus olhos e


vejo Kimmi guardar o seu telefone. Ela olha para Didi e se
aproxima, inclinando-se para olhar para a ferida novamente.
Eu continuo desviando o olhar.

— Peguei o papel. — Gaine diz, entregando-o a Didi, que


rabisca algumas coisas e empurra no peito dele.

— Rápido, Gaine. — Ela diz e ele balança a cabeça,


saindo pela porta traseira. Poucos segundos depois, escuto o
som de uma moto ligando.

— Prepare-se, garota. — Didi diz e cometo o erro de


olhar para ela, encontrando uma agulha curva em sua mão
calejada.

Eu engulo em seco e escuto Christy dizer: — Oh meu


Deus. Você não está pensando em furá-la com isso, não é?

Essa é a última coisa que me lembro antes de desmaiar.


Capítulo Dez

Austin
Eu tenho a minha nova pistola Ruger P95 em minhas
mãos. Parece agradável e resistente, como se eu pudesse
derrubar um maldito urso com ela. O que era uma coisa boa,
porque alguns destes rapazes dos Broken Dallas são do
tamanho de ursos.

— Isso é uma merda. — Beck resmunga baixinho,


mirando com os dedos tremendo de adrenalina. — Ficarmos
escondidos aqui como um bando de gatinhos. O que Tax
pensa que somos, hein?

— Eu acho que ele tem consciência que você é o cara


que simplesmente transa com a irmã dele. — Eu digo e ouço
um monte de risadas dos três membros da Triplo M que estão
em pé ao nosso lado. — Então, cale a sua maldita boca e
apenas fique feliz que ele ainda não te castrou. Nós estamos
juntos nesta expedição como convidados, Beck. Seja grato
que os Setenta e Sete Irmãos sequer se incomodaram em
pilotar até aqui. Senão, estaríamos num beco sem saída.

— Bobagem. Eu poderia derrotá-los. — Beck diz com um


sorriso, olhando para a esquina. Eu me aproximo e olho
também. Tax está fora da nossa visão, mas seu novo sargento
está em pé à frente do grupo, com as mãos cruzadas. Eu não
posso escutar o que eles estão falando, mas o olhar no rosto
do Sr. Barba Grisalha não é agradável.

O sol está brilhando e o ambiente parece tranqüilo. Eu


não tenho nenhuma ideia de onde estamos ou por que
estamos aqui, mas não há ninguém por perto para reclamar.
Estamos em uma zona de armazéns, que está visivelmente
vazia neste dia ensolarado. Não tenho a pretensão de saber o
que o Broken Dallas está aprontando, mas parece um pouco
estranho, mesmo considerando a rixa entre nós.

Eu permaneço onde estou, esperando que isso acabe o


mais rápido possível. Eu não espero violência, não hoje. Esse
não é o jeito que as coisas acontecem. Mas, enquanto vejo o
vento soprar as ervas daninhas aos meus pés, um tiro
explode e sangue salpica o asfalto perto dos pés do sargento.
Barba Grisalha cai no cimento como um boneco quebrado.

Um instante depois, a rua se torna um caos.

— Isso aí! — Beck grita e eu quase dou um tiro em suas


costas, quando ele sai correndo direto para a confusão.

— Filho da puta. — Eu rosno baixinho, estendo a mão


mirando para o outro lado da esquina. Eu estou tão cansado
desses tiroteios. — Merda. Deus, dai-me forças. — Eu atiro
na coxa de um homem quando ele se aproxima e quase tenho
um troço quando escuto um tiro atrás de mim. Eu olho e vejo
dois rapazes atrás de nós, segurando armas e usando coletes
que eu conheço muito bem. Bested by Crows. Quando você
está na chuva, é para se molhar não é?

Eu fico de joelhos e escapo de levar um tiro no rosto por


milímetros que faria a minha avó morta se remexer em seu
túmulo. Eu miro no primeiro homem, um cara com cabelo
loiro brilhante e um rosto que me faz pensar que talvez ele
esteja relacionado com os finados irmãos Walker. Boa viagem,
penso enquanto atiro bem em seu peito. Sem brincadeiras.
Eu não gosto de matar, mas entre eles e eu, então, serão eles.

Meu homem cai apenas uma fração de segundo antes


que o outro caia. Eu olho para os meus rapazes com uma
compleição determinada em meus lábios, não é nem um
sorriso, nem uma carranca.

— Não morram. — digo, ficando em pé e correndo para a


lateral do prédio. Eu ouço um pequeno coro de “Sim, Pres”
enquanto me abaixo, parando atrás da moto de um dos
Setenta e Sete Irmãos. Eu mantenho a minha arma levantada
e pego o meu telefone com a outra mão, mandando uma
mensagem para Tax. Ele pode não receber, mas eu não tenho
a menor ideia de onde ele está e alguém precisa saber que os
Bested by Crows estão aqui também.

Beck está de pé bem à frente, seu cabelo ruivo brilhante


sob a luz solar. Há um pouco de sangue em seu lábio e um
homem caído aos seus pés, mas, por outro lado, ele parece
bem para mim. Eu coloco meu telefone no bolso e me sento,
olhando para um campo de batalha subitamente silencioso.
Este não parece um combate corpo a corpo como aconteceu
em Korbin quando lutamos contra os Setenta e Sete Irmãos.
Todo mundo, mas Beck buscou proteção de um tiro, e tudo o
que eu posso ver são as motos e corpos.

— Onde está Margot Tempe, aquela vadia? — ouço uma


voz perguntar ao longe, alguém do nosso lado. — Ela nos
pertence. Entregue-a e aceite a retribuição pelos crimes
cometidos contra os Irmãos. Diga-nos e iremos embora,
voltaremos para casa.

Ninguém responde.

O silêncio se estende longamente, enquanto esperamos


sob tensão.

Eu olho para cima e vejo Melissa sorrindo para mim por


detrás de uma moto nas proximidades. Eu nem mesmo posso
acreditar que Tax a deixou aqui para lutar. Eu balanço minha
cabeça. O que estou dizendo? Deixou? Ninguém diz ou
manda esta mulher fazer algo. Ela vive a vida como quer.

— Quem está perguntando por minha mulher? — Um


dos homens diz, levantando-se. Ele tem cabelos e olhos
escuros, um cavanhaque e excesso de confiança. Ele se
destaca a céu aberto, o alvo perfeito, mas ninguém atira nele.

Há um Código da Estrada aqui. E eu sei que não sou o


único que acredita nele. Eles podem atirar na cabeça desse
cara, mas esperarão que essa conversa tenha um final. Puta
que pariu.

— Eu perguntei. — Tax aparece no topo de um prédio


vizinho. Eu tenho a impressão de que ele não é visto muitas
vezes em público. Eu sei que eu sou um pouco diferente da
maioria dos presidentes de MC. Normalmente, você não vê os
filhos da puta. Quem coloca seu líder em perigo? Mas o meu
grupo é pequeno e sempre fizemos as coisas assim, logo,
permanecerá assim. Além disso, eu não sou do tipo que senta
e espera.

— Entregue-a pelos crimes cometidos. Tem nove de


vocês mortos, incluindo o seu sargento. Eu aceitarei isso
como retribuição. Agora, entregue Margot e nosso negócio
termina aqui. Estaremos quites. — Tax bate as mãos, tirando
a poeira delas e as mantendo abertas. Parece uma oferta
muito justa como qualquer outra que alguém receberia nesta
situação e o cara com o cavanhaque parece considerar.
Parece é a palavra-chave, eu acho.

Outro tiro ressoa e um dos homens de Tax o empurra


antes de ser atingido no ombro. Seus corpos giram na beira
do edifício e é como se um interruptor tivesse sido ligado.
Mais membros da Bested by Crows surgem por detrás do
alambrado à nossa direita, deixando corpos sangrando onde
os sentinelas dos Setenta e Sete Irmãos estavam parados.

— Puta merda. — Eu rosno, levantando-me e colocando


minha arma no coldre, trocando-a por um pé de cabra que eu
enfiei nas costas das minhas calças. Eu ouço o grito de
guerra de Beck uma fração de segundo antes de meus
ouvidos ficarem dormentes do som de tantas armas
explodindo ao meu redor. Balas zumbem ao redor, mas não
dou muita atenção. Beck é um maldito machado de batalha,
mas eu sou um filho da puta ágil. Mas esses filhos da puta
estão aqui com um propósito diferente: nos desarmar.

Eu bato meu pé de cabra no braço do primeiro cara que


vem atrás de mim. Pode me chamar de covarde se quiser,
mas eu não gosto exatamente do sentimento de uma arma
explodindo o crânio de um homem. Eu deixo isso para Beck
Evans.

Ou para Melissa Diamond.

Será que ela mudou de nome? — penso enquanto ela pega


um taco de beisebol e o balança para um home run3. O homem
que eu ataquei cai de joelhos, com sangue escorrendo das
laterais de seu rosto. Melissa não deixará isso terminar assim
e me obrigo a dar as costas. Não preciso ver essa merda.

Eu sigo pela multidão, afastando os caras enquanto


ando. Eu não sou exatamente um perito em artes marciais,
então, não perderei tempo no corpo a corpo. O que eu posso é
dar um palpite sobre o que está acontecendo aqui.

Eu me esquivo da multidão, indo para um espaço vazio

3
Jogada almejada por qualquer rebatedor de beisebol. Normalmente, ocorre quando o rebatedor bate
tão bem e forte que a bola sai do campo, indo parar nas arquibancadas, não dando nenhuma chance do
time adversário pegar a bola.
no fundo do estacionamento. Eu olho ao redor rapidamente,
tentando mapear a área.

— De onde eles vieram? — Tax pergunta, aparecendo ao


meu lado com meia dúzia de caras.

— Eu não tenho certeza. — digo, percorrendo uma


distancia e me agachando sob a cerca de arame. Tax e seus
rapazes me seguem. Quando chegamos na esquina de um
galpão enferrujado, nos deparamos com um grupo que não
esperava.

Um monte de caras com metralhadoras. Puta merda.

Eu recuo antes que me vejam e estendo o braço para


que Tax não avance. — Puta merda. — Eu sussurro, achando
que talvez tenhamos subestimado um pouco a situação.

Imaginei que haveria alguns rapazes à espera nos


bastidores, preparando para nos emboscar ou alguma merda
do tipo. O que eu não esperava era que eles tivessem com
malditas metralhadoras. Eu não sou nenhum perito em
armas, mas acho que elas são M16.

Eu gesticulo e me movo sem esperar para ver se Tax


está seguindo. Eu não pretendo ficar e ser perfurado por
balas. Filho da puta.

— O quê? — Tax pergunta assim que estamos do outro


lado da cerca, com as costas pressionadas no prédio de
tijolos, onde estávamos há apenas alguns minutos atrás,
quando pensei que poderíamos escapar sem violência. Que
absurdo.

— Há um grupo lá atrás com M16. — digo a ele,


enxugando o suor da minha testa. Eu olho para a esquina e
noto que a maré virou. Os membros dos Bested by Crows
sutilmente mudaram a luta para os Broken Dallas. Jogada
inteligente. Eu não preciso dizer a Tax o que estou pensando.
Eles nos massacrarão. Todos nós. Código da Estrada? Que merda eu
estava pensando?

— Precisamos sair daqui. — digo a Tax, mas ele está se


afastando de mim. — Onde você está indo? — Eu rosno para
ele, seguindo-o. Ele se move ao redor da cerca, mantendo a
voz baixa, quando me responde. — Cuidando dos negócios.

Meus lábios franzem, mas vou atrás dele. Certamente


aprenderei alguma coisa. Tax é presidente há muito tempo e
só escutei coisas impressionantes sobre os Setenta e Sete
Irmãos.

Caminhamos ao redor da cerca, parando onde os


homens com as metralhadoras estavam. Tax se move
lentamente em direção à cerca e faz uma pausa para
espreitar. Eu não sei o quanto ele pode ver. Esta coisa não é
grade de cadeia e sim de madeira sólida.

Fico ao seu lado e dou uma olhada. Os homens não


estão se mexendo, apenas esperando naquele lugar. Eu não
tenho nenhuma ideia do que estão esperando. Pelo que
imagino, se eles se mexessem agora, teriam uma chance
bastante sólida de matar todos os homens dos Setenta e Sete
Irmãos com apenas alguns toques nesses gatilhos. Eu não
posso ter certeza, mas sei que não são semi-automáticas.
Esses filhos da puta conseguiram armas automáticas. Se for
legal ou não, não está em questão aqui. Se fosse, todos
seríamos corretores de valores ou caixas de banco.

Eu posso estar errado, é claro. Talvez eu esteja


exagerando. Mas, então por que esses idiotas estão aqui, com
essas armas sofisticadas?

— Isso é um massacre? — Tax sussurra, recuando e


olhando ao redor. É estranho quão semelhante à Tease ele é.
O mesmo cabelo, os mesmos olhos e o mesmo nariz. Se ele
não fosse uma década ou mais, mais velho que ela, eu
poderia pensar que eles eram gêmeos. Apesar de tudo o que
aconteceu, ele parece ser um bom homem. — Bem, se esse é
o plano, alteraremos esse destino.

Todos nós paramos para ouvir, por força do hábito,


acredito. Nenhuma sirene.

Eu dou outra espiada por cima do muro e tento contar o


número de caras parado lá atrás, imóveis e tensos. Que merda
estão esperando? Eu não sei se a ideia de esperar para
descobrir é boa.

Amy surge em minha cabeça instantaneamente e


novamente começo a pensar no que aconteceria se eu
morresse hoje aqui. Tento afastar esse súbito pensamento
mórbido e lembrar-me do seu rosto perfeito, de seus doces
lábios e do seu belo corpo. Eu aperto minhas mãos. Daria
tudo para estar na sede do nosso clube, pintando paredes e
outras coisas do tipo, mas esta é a merda que tenho que
lidar. Que eu talvez sempre tenha que lidar. Eu deveria ter
deixado Kent vivo — o que é um pensamento estúpido. Afinal,
isso tudo é culpa dele. Nosso negócio estava tranqüilo antes.

Tento dizer a mim mesmo que posso lidar com isso, mas
não é fácil. É difícil seguir em frente quando você se sente
inadequado em todos os sentidos possíveis. Tax é o tipo de
homem que eu deveria ser, mas não sou.

Eu olho ao redor do beco onde estamos parados e vejo


uma lixeira perto da saída da rua. E então tenho uma ideia.
Não é muito brilhante, mas não vejo nenhuma outra escolha.

— Vamos. — sussurro, movendo-me à frente de Tax e


dos seus homens, parando ao lado da lixeira enferrujada e
tentando descobrir a melhor maneira de subir.

— Que merda você está fazendo? — Tax pergunta. Sinto


que ele está com vontade de correr e acabar com esses
imbecis com as próprias mãos. Eu duvido que realmente ele
faça isso, mas faz com que eu me sinta melhor por ter um
plano, afastando um pouco o desespero. Quem sabe seja um
exagero? Será que eles são reforço? Eu não sei. Mas não
gosto de como isso parece.
Eu caminho ao redor da lixeira e uso o prédio ao lado
para ir ao último andar. Sinto meus músculos esticando
enquanto tento ficar em silêncio. Eu deslizo de barriga e
acelero na beirada até que eu esteja o mais próximo possível
da cerca. Se alguém olhasse para este lado agora, veria um
pedaço da minha bunda por cima da cerca, mas, felizmente,
toda a atenção está na batalha ainda ocorrendo.

Sem que precisasse falar, Tax e seus homens me


seguem. Eles só precisam de um minuto. Coisa boa também,
porque assim que estamos em posição, os homens se viram e
começam a caminhar na direção do alambrado. Eu não sei
qual foi o sinal, mas eles saíram correndo.

— Pronto. — Eu digo, olhando na direção. Eu recebo um


aceno de Tax enquanto puxo minha Ruger e a seguro
firmemente em meus dedos suados. — Agora! — sussurro e
ficamos de joelhos, miramos e atiramos.
Capítulo Onze

Austin
Quando volto para a sede do clube, estou um caco. Eu
derramei mais sangue hoje do farei pelos anos que restam da
minha vida. Eu não gosto muito da sensação. Pelo menos, eu
tenho meus rapazes ao meu lado ainda. Não perdi um único
membro da Triplo M. Eu não perguntei quantos os Setenta e
Sete Irmãos perderam... Não era meu negócio.

— As luzes ainda estão acessas. — Beck diz alegremente


enquanto fazemos uma pausa na entrada da garagem e desço
para abrir a porta da garagem. Há um monte de motos aqui,
nem todas eram do clube, obviamente, mas algumas sim.
Beck e eu estacionamos, deixando os caras para limpá-las.
Sangue acaba com a pintura, você sabe.

Eu passo a mão pelo cabelo e troco um olhar com Beck.


Realmente não sei como descrever o que aconteceu hoje. Um
maldito pesadelo. Isso é o que foi. Pelo menos Tax e eu
cuidamos dessa merda. O problema é que não sei se isso
acabou. Não matamos todos, obviamente. Depois que
voltamos para a luta, alguns dos Broken Dallas e Bested by
Crows começaram a ficar preocupados e fugiram. Não nos
incomodamos em caçá-los. Já era ruim o suficiente. E então
passei as últimas horas cuidando dos feridos e movendo os
mortos. Porra. Não quero nunca mais fazer isso novamente.

— Guarde os detalhes para si por um tempo. — digo a


Beck enquanto abrimos a porta da frente e entramos. Havia
alguns caras na frente, mas não disseram nada quando
entrei, apenas assentiram em meu reconhecimento. Um
rápido olhar pelas janelas dos fundos mostra que há um
monte de membros da Triplo M no quintal com uma fogueira,
bebendo cerveja e se divertindo. Provavelmente não sabem o
quão grave está essa porcaria.

— Eu tenho um mau pressentimento, Beck. — digo


enquanto andamos até a porta de trás e olhamos para cima.
Kimmi está de pé no topo das escadas, parecendo nervosa.
Eu não gosto daquela ansiedade. Isso me assusta pra
caralho. Eu cerro meus dentes com força e olho para ela.

— O que foi? — pergunto, sobrecarregado, cansado e


muito puto. Quando ela fala, meu coração quase explode
dentro do meu peito.

— É Amy.

Subo as escadas antes que ela diga outra palavra, indo


direto para o único quarto iluminado. A porta bate na parede
quando ando até o encontro de Amy, descansando numa
cama no canto. Sua amiga Christy está dormindo numa
cadeira enquanto Tease cuida delas, segurando um livro em
suas mãos enquanto se recosta no final da cama. Meu
coração bate tão alto que mal consigo ouvir as minhas
próprias palavras quando saem da minha boca.

— O que aconteceu? — sussurro enquanto Beck e


Kimmi entram no quarto atrás de mim e fazem uma pausa.

— Oh, Austin. — Amy fala, tentando parecer alegre.


Devo ter uma expressão horrível em meu rosto. — Estou feliz
por você estar de volta. — Sua voz treme brevemente antes
que se recomponha e, inconscientemente, coloca um braço
sobre o peito, os dedos descansando num curativo no lado
oposto.
— O que aconteceu? — Eu pergunto novamente, mas
ninguém parece querer me responder. Eu não sei se estão
com medo de mim ou algum outro motivo, mas continuam de
boca fechada e evitando me olhar.

— Eu ia telefonar ou mandar uma mensagem para você,


mas Mireya me deu um bom argumento. — Kimmi começa
enquanto ando até outro lado do quarto, batendo forte a bota
no assoalho de madeira. Amy me observa ir, levantando seu
queixo, com o rosto impassível. — Pensamos que você poderia
estar numa situação complicada e não queríamos distraí-lo.

Eu me inclino e coloco minha mão suavemente na parte


de trás da cabeça de Amy, pressionando meus lábios nos
dela. Eu não percebo que eu sou aquele que está tremendo
até que me afasto e olho para as minhas mãos.

— Alguém atirou através de uma das janelas do lado


oeste da casa. — Tease diz, saindo da cama e tremendo
quando Beck vem por trás dela e envolve um braço em sua
cintura. — Amy foi atingida no braço. É uma ferida sem
gravidade, no entanto. — Ela acrescenta como se isso fosse o
que importasse para mim. Alguém atirou em minha Amy? Alguém
atirou nela, porra? Minha visão nubla sombriamente por um
momento e olho por cima do meu ombro.

— Saiam.

— Austin... — Kimmi começa, mas viro a cabeça e lhe


dou um olhar também. Ela levanta as duas mãos, franze os
lábios e então balança a cabeça. — Não importa. Christy? —
A amiga de Amy fica de pé e coloca uma mão no ombro de
Amy como se pedisse permissão. Amy acena e então se
afasta, levando Beck e Tease junto com ela. Eu apoio minha
testa no braço ileso de Amy e respiro e expiro novamente.

— Eu sobrevivi a um tiro. — Amy diz, estendendo os


dedos de sua mão boa para brincar com o meu cabelo. —
Suponho que isso me dê algum tipo de credibilidade nas
ruas? — Ela pergunta e dou uma risada suave, mantendo a
cabeça abaixada.

Eu me sinto um merda. Deveria existir alguma euforia


por sairmos bem e com vida hoje, alívio por saber que Amy
está bem, que não é tão grave quanto poderia ter sido. Mas
tudo o que sinto é a escuridão dentro de mim. Meu
pensamento relembra algumas imagens, momentos que eu
preferiria não reviver. Como o meu irmão. Como eu o fiz levar
um tiro. Mas ele não teve tanta sorte como Amy.
Eu olho para cima e encontro um rosto preocupado e
lábios fechados. As sobrancelhas de Amy estão franzidas
enquanto ela espera que eu diga alguma coisa. Eu me sento
na beira da cama, ouvindo o barulho das molas rangerem.

Ela não deveria estar deitada neste colchão velho. Eu


quero que Amy tenha uma boa vida, uma vida fácil. Porque
eu a amo. Eu amo. Eu percebi isso quando vi Kent tentando
matá-la, quando o sangue estava esvaindo de sua garganta.
Eu abro minha boca para dizer as palavras, mas elas ficam
presas, lá dentro, congeladas juntamente com meu coração.

— Isto é minha culpa, doçura. — digo. — E eu sinto


muito. Eu sinto muito, muito mesmo. — Eu balanço minha
cabeça e pego um cigarro, acendendo-o e levantando para
abrir a janela para deixar a fumaça flutuar para fora da tela.
Se ficar perto dela por mais um momento, eu desmoronarei.

Amy apenas observa, descansando a cabeça novamente


nos travesseiros e passando os dedos da mão esquerda pela
capa de um livro. A garota está sempre lendo, sempre perdida
dentro de um livro. Eu perguntei, há algumas semanas atrás,
se a leitura era uma fuga. Sabe o que ela disse? Costumava ser,
mas agora é apenas um período de férias. Eu não tenho a menor
ideia do que isso significa, mas quase me deixou curioso o
suficiente para descobrir.

— Você puxou o gatilho? — Amy pergunta e já posso ver


onde isso dará. Eu caminho até ela, observando o suave
cabelo castanho caindo em seu lindo rosto. Ela se ajeita e os
cobertores caem até o peito, expondo um pouco do decote de
sua blusa. Eu tento não olhar, mas, que se foda. Eu quero
jogar meu cigarro no chão, correr pelo quarto e beijá-la
muito. Em seguida, rasgar esses cobertores que estão
atrapalhando de desnudá-la e beijar seu corpo inteiro antes
de fazer amor com ela.

Mas eu não faço nada disso.

Primeiro, porque a menina levou um tiro; depois, porque


tenho a resposta para a minha pergunta. Eu não sou bom o
suficiente para esta mulher. Se fosse, eu não a arrastaria
para esta merda. Levar um tiro não é nada comparado com o
que pode acontecer. Se o que eu vi hoje for qualquer tipo de
indicação, estamos todos lascados.

— Isso não deveria ter acontecido a você, Cross. — Eu


digo, olhando para a luz laranja dos postes. — Eu nunca
deveria ter arrastado você para esta merda.

Amy se vira e coloca os pés no chão, com a boca cerrada


e o rosto vermelho.

— O que você está fazendo, doçura? — pergunto,


esmagando o cigarro no cinzeiro de vidro no parapeito da
janela. Eu caminho até ela, mas ela fica firmemente de pé.

— O que você quer dizer com isso? — Ela pergunta e eu


olho para longe. Não sei se é pelo dia que tive ou por tudo que
está acontecendo de uma só vez. De repente, me sinto
impaciente. Como se eu precisasse dirigir. Apenas sair pela
noite sem rumo. Eu sou um covarde, porra.

— Eu quero dizer que deveria tê-la deixado naquela sua


cidadezinha. — Assim que digo as palavras, sei que não
soaram como gostaria. Amy me dá um tapa no rosto, não tão
forte, apenas o suficiente para que eu saiba que não sou
desejado aqui agora. Tudo o que eu quero fazer é abraçá-la
forte, mas, ao invés disso, caminho em direção à porta.

— Encontre-se novamente, Austin Sparks e depois volte


para me ver pela manhã. — Amy se vira e sobe na cama,
deitando de costas, com um braço sobre seu rosto. Eu apago
a luz e não olho para trás.
Capítulo Doze

Amy
Eu passo a noite na sede do clube com alguns dos
membros da Triplo M e acordo me sentindo dolorida e um
pouco tonta, mas tudo bem. Acho que sobreviverei a isso, eu
digo a mim mesma com um sorriso, parando no banheiro
recém-reformado que fica ao lado do meu quarto. Nosso
quarto. Este quarto do canto, no qual passei as últimas
horas, que supostamente pertence a mim e Austin.

“Eu quero dizer que deveria tê-la deixado naquela sua


cidadezinha.”

Entendo o que ele tentou dizer — pelo menos acredito


que entendo. Mas ele não deveria ter dito. Lavo o meu rosto
cuidadosamente, sentindo o meu braço protestar e retesar
quando o movo. Eu não acho que consiga fazer muito
trabalho de reforma hoje. Pelo menos, a minha mão direita
ainda é funcional. Será que ainda consigo pintar?

Olho para o meu reflexo, para minha pele pálida e meus


lábios ainda mais brancos. Preciso comer alguma coisa,
encontrar Austin e resolver essa briga boba. Acho que esta é
oficialmente nossa primeira, mas tudo bem. Todos os casais
brigam em algum momento. Afinal somos humanos. O
importante é como superamos, quão rápido fazemos as pazes.

Sinto náuseas em meu estômago e imediatamente me


ajoelho e dou um longo suspiro quando cometo o erro de
estender a mão e apoiar a parede com o braço ferido. Eu me
curvo sobre o vaso sanitário, tossindo e arfando, incapaz de
vomitar qualquer coisa, exceto bile. Se for para ficar doente,
melhor ter algo para vomitar. Não ter nada é quase pior. Eu não
escuto a batida na porta porque estou muito ocupada
debruçada sobre o vaso sanitário.

— Amy? — Eu espero que seja Christy, mas não é.


Desta vez, é Tease. Ela se aproxima da porta do banheiro
ficando encostada no batente, olhando para mim. Não nos
conhecemos há muito tempo, mas gosto muito dela. Eu tenho
fantasias que um dia terei um grupo de amigas muito
parecidas com o que Austin tem. Meus próprios Beck, Gaine
e Kimmi. Espero que Tease seja uma delas. E o fato de que
ela está grávida é ainda mais emocionante. Ter a chance de
fazer parte da vida da criança. — Você tem enjôos matinais
piores do que eu. — Ela diz com uma pequena risada. Eu
acho era para ser uma piada.

— O quê? — pergunto. Eu choro e coloco meu braço


sobre meu peito, tocando suavemente o curativo enquanto
me viro para olhar para Tease.

— Você deveria ver Didi novamente. — Ela diz, franzindo


as sobrancelhas com preocupação. — acho que ela está lá em
baixo, onde costumava ser a cozinha. — Tease sorri de novo,
mas eu não me mexo de onde estou sentada.

Meu coração está batendo acelerado. Ai Jesus. Eu


engulo em seco e penso com muito cuidado. Minha vida tem
sido um vendaval ultimamente e eu não fiz as coisas com
tanto cuidado como deveria ter feito. Quando foi a última vez que
tomei uma pílula contraceptiva?

Eu penso nisso com afinco, mas minha cabeça está


totalmente confusa e com medo. Eu tomei regularmente.
Bem, na maior parte. Ok, talvez não na maior parte, mas,
frequentemente... Jesus, Amy!

E depois, há sete comprimidos em cada cartela que não


têm hormônios. Certamente não me lembro de fazer qualquer
pausa de uma semana com Austin. Minha garganta aperta.

— Oh Senhor, ajude-me. — Eu sussurro enquanto


Tease se abaixa ao meu lado. Eu olho diretamente em seus
olhos verdes e tento não desmaiar. — Eu acho que posso
estar grávida. — Ela pisca para mim algumas vezes, então
abre a boca, fecha e a abre novamente.

— Por que você acha isso? — ela diz e me lembro que


contou que ela e Beck nunca usaram preservativos e também
não tomava pílula. Era como se estivéssemos procurando por isso,
ela disse com um sorriso. Eu tentei ser boa, mas tudo estava
tão no ar.
— Eu não... — Eu paro e me forço a sorrir. — Será que
estou exagerando? — pergunto, forçando-me a me levantar
do chão com um grunhido. Tease me ajuda e sai do banheiro,
me esperando com uma expressão confusa no rosto.

Só porque meus peitos estão doloridos, me sinto um pouco tonta e


continuo vomitando, isso não significa nada. Eu passo as minhas
mãos na frente da calça jeans de ontem e desejo
fervorosamente roupas limpas.

— Existe uma possibilidade de você estar grávida? —


Tease pergunta e então respira profundamente. — Quer dizer,
vocês usam camisinha regularmente ou...? — Ela estende as
mãos e depois, dá de ombros.

Tease pode ter apenas dezoito anos, mas ela é muito


mais vivida do que eu. Sinto por um momento como se eu
estivesse conversando com a minha irmã mais velha.

— Nunca usamos preservativos. Eu estava tomando


pílula. — Eu sussurro, entrelaçando as mãos e olhando para
o espelho à minha direita. Eu me endireito e coloco a mão
sobre minha barriga. Nenhuma mudança aparente... —
Mas... nem sempre as tomei. E nós não paramos... — Eu
tento descobrir como dizer isso sem ser vulgar.

Não, eu não transei com Austin durante os dias mais


intensos da minha menstruação, mas eu... Certamente não
me abstive por mais de sete dias também. É possível ficar
grávida durante o período menstrual?
Eu me sinto ridiculamente mal informada no momento.
É um produto da minha criação: eu não fui nenhuma Carrie4,
mas eu não aprendi sobre a minha menstruação até depois
que eu a tive. Pelo menos, mamãe era bem informada o
suficiente para me dar as pílulas. Oh, a dicotomia de tudo isso. —
Ai, merda.

Tease franze as sobrancelhas e dá de ombros


novamente. — Eu tenho alguns testes de farmácia sobrando.
— Ela diz com um leve sorriso, afastando um pouco do seu
cabelo vermelho do rosto.

Como ela e Beck têm olhos verdes, cabelos ruivos e pele


clara, eu acredito que o filho deles será exatamente igual. A
menos, é claro, que eu esteja errada e nasça uma criança
com cabelos castanhos.

— Vamos voltar para o hotel por algum tempo para


comermos alguma coisa. — Eu tento sorrir de para ela, mas
não me sinto particularmente bem, e não tem nada a ver com
a ferida de bala. Este é um tipo diferente de doença, um medo
que está dando um nó em meu intestino. O que Austin diria sobre
isso?

4
Referência ao filme baseado no livro clássico de Stephen King, “Carrie: a estranha”. No filme, existe
uma cena emblemática de Carrie sofre bullying ao menstruar com 16 anos, sem saber o que é e o que
fazer, e as colegas enfiando absorventes em todos os cantos dela.
Capítulo Treze

Amy
— Seria meio divertido, né? — Tease diz, mexendo nos
restos do seu sanduíche. Ela está sentada na ponta da minha
cama, com o prato no colo, vestida com uma regata preta e
calça jeans novas. Eu ainda estou com meu roupão e uma
toalha enrolada em volta do meu cabelo molhado.

Tomar banho não foi tão agradável como deveria ter


sido. Eu tive que enrolar meu braço ferido com plástico, e
depois lutar para passar o xampu e condicionador nos
cabelos com uma mão só. Do ombro até o pulso, há uma dor
latejante, anestesiada um pouco pelo Ibuprofeno e o Tylenol que
tomei.

O trajeto até aqui foi ruim o suficiente, todo o sacolejar e


a luta para me manter sentada na moto de Beck. Ele me fez
sentar na frente dele enquanto me levava de volta, convencido
de que Austin cortaria o seu... Bem, ele fez uma referência obscena
aos seus testículos... se ele me deixasse pilotar a minha moto
ferida. Não que houvesse alguma maneira de saber disso...
Austin e sua moto sumiram.

Eu não perguntei a Beck se ele sabia onde o seu amigo


estava. Para ser honesta, não quero saber. Ele voltará em
breve, tenho certeza disso.

— O que seria meio divertido? — pergunto, dando um


olhar desconfiado na caixinha ao lado da TV. Isso é ridículo,
continuo dizendo a mim mesma, embora saiba que não é.
Mesmo se não tivesse ferrado com as pílulas, elas não são
100% eficazes. Isso é algo que eu deveria fazer regularmente
de qualquer maneira. Especialmente porque não menstruei
mês passado.

Foi necessário um forte raciocínio enquanto estava no


chuveiro, mas quando eu retrocedia os dias, só conseguia
lembrar do mês anterior. Nossa, Amy Cross. Como você se tornou tão
descuidada? Se eu estivesse prestado atenção, em vez de me
deleitar nos braços do meu namorado da vida real, eu poderia
ter notado.

Eu me movo casualmente em direção ao caixa rosa e a


pego, sentindo os dois testes de gravidez de lá de dentro
deslizarem.

— Ter bebês ao mesmo tempo. — Ela diz, pegando seu


prato e o colocando de volta na bandeja de serviço de quarto
que está na mesa perto das portas da varanda. Tease olha
por cima do ombro e me lança um sorriso. Não tenho certeza
se ela está falando sério ou se está apenas tentando me fazer
sentir melhor. De qualquer forma, eu agradeço.

— Acho que sim. — digo, me perguntando se deveria


estar animada ou com medo do resultado. Eu quero um bebê?
Realmente nunca dei muita atenção a isso. Eu fui criada com
uma ideia preconcebida de como a minha vida seguiria.
Crescer, casar, ter filhos e ajudar na igreja. Era isso. Então, sequer
tive a oportunidade de considerar não ter filhos.

Meu estômago embrulha novamente enquanto me


preparo e respiro profundamente. Não há razão para ficar
remoendo isso em minha cabeça até que tenha certeza de
qualquer maneira. Eu dou um olhar a Tease e ela dá um
sinal de positivo em resposta.

— Ok. — digo mais para mim mesma do que para ela.


— Vamos acabar logo com isso, não é? — Eu entro no
banheiro e fecho a porta antes que eu mude de ideia.
Ignorância é uma benção, certo? Eu coloco a caixa em cima
na bancada, levanto o meu robe e me preparo para... fazer
xixi. Não soa tão assustador quando você coloca dessa forma,
certo? Certo?

Eu utilizo os dois testes e os coloco sobre a bancada,


sentando no chão de ladrilhos enquanto espero. Acima de
mim, o ventilador zumbe, bloqueando qualquer som do lado
de fora do banheiro.

Eu observo que a caixa diz “resultados em um minuto” com


dois pontos de exclamação muito animados após a frase, mas
me sento lá por uns bons quinze minutos, puxando a toalha
do meu cabelo e escovando as mechas castanhas com lentos
movimentos.
Sou uma nova mulher. Uma mulher independente. Eu estou em um
clube de motociclistas. Eu faço minhas próprias decisões. Eu sobrevivi a
um ferimento de bala. Eu repito as reconfortantes frases em
minha cabeça, uma frase a cada escovada, até que meu
cabelo está totalmente penteado. Eu aperto mais firme o robe
em minha cintura e me sento, alcançando um dos testes e
trazendo-o para mim.

Existem duas linhas rosa no centro oval. Duas linhas


distintas que, de acordo com a bula na lateral, significam
apenas uma coisa: estou grávida. Engulo em seco, minha boca
subitamente seca e jogo o teste na lata de lixo perto do vaso
sanitário.

Eu fecho os olhos e pego o segundo teste, inclinando-me


na parede, fazendo uma prece silenciosa. Sobre o que
exatamente é a oração, não tenho certeza. Ainda não estou
em conflito interno, ainda não tenho certeza de como me
sinto sobre isso.

Talvez, se Austin e eu não tivéssemos brigado na noite


passada, eu não me sentiria assim. Mas como não passou de
um simples bate-boca, estou certa de que quando ele chegar
aqui, tudo ficará bem. Ele pedirá desculpas e nós seguiremos
em frente.

Eu abro os olhos e olho para o segundo teste. Grávida.


As duas linhas rosa me encaram e quase posso ouvi-las
dizendo ‘como você acha que ela lidará com isso? Com felicidade, igual
a uma dama? Ou com petulância, igual a uma criança?

Eu ignoro o zumbido em minha cabeça e fico de pé.


Tease está passando por esta mesma coisa, mas com uma
atitude um pouco diferente da minha. Ela parece estar
entusiasmada.

Eu jogo o segundo teste na lata de lixo e lavo minhas


mãos antes de sair do banheiro com um suspiro.

— Tease... — Não é Tease que está sentada em meu


quarto, mas Austin. Eu solto um gritinho antes de colocar
minhas mãos em minha boca.

— Calma boneca. Relaxe, sou apenas eu. — Austin está


usando seu colete e botas de couro, seu cabelo loiro
grudando na testa suada. Eu faço o possível para não
desmaiar e cruzo os braços sobre o peito. Eu me recuso a
olhar para o banheiro, para a lata de lixo e o seu conteúdo.
Eu não esconderei esta informação de Austin, mas preciso de
um tempo para processá-la antes de deixá-lo a par do
assunto.

Ele tenta sorrir para mim, a pequena cicatriz em seu


lábio esticando sua boca. — Você está tão infeliz em me ver?

— Eu não estou infeliz em vê-lo. — digo, inspirando e


expirando profunda e lentamente. O incômodo robe
instantaneamente parece como lingerie sob seu olhar e sou
muito consciente de quão fácil seria tirá-lo dos meus ombros.
— Eu só não esperava vê-lo. Onde está Tease?

Austin dá alguns passos em minha direção, parando


com as mãos sobre meus braços. Eu sei que ele está
pensando sobre o tiro, talvez sobre a nossa discussão ontem
à noite.

— Ela saiu assim que entrei. — Austin sorri, mas posso


dizer que não é inteiramente verdadeiro. — acho que ela ficou
preocupada que talvez quiséssemos mandar ver. — Eu recuo
um pouco e lhe dou uma olhada.

— Certamente não mandaremos ver. — digo de maneira


pretensiosa. Eu volto para o banheiro, com ele me seguindo e
pego um pouco de papel higiênico do rolo, fingindo limpar
meu rosto antes de soltar na lata de lixo para encobrir as
evidências. — Não até conversarmos sobre o que aconteceu
ontem à noite.

Eu coloco minhas mãos na bancada do banheiro e finjo


que não sinto seu corpo endurecendo por cima de mim e as
calças ficando mais apertadas a cada segundo. É dificil
coexistirmos em um espaço pequeno sem nos atracarmos
como animais no cio. Eu franzo meus lábios. Grávida. A
palavra é como um sussurro, mas que fica martelando em
meu ouvido.

— Amy, eu fui um idiota na noite passada. Eu não


deveria ter dito aquilo. É claro que estou feliz que te tirei
daquela cidadezinha. É que ontem vi algumas coisas que
realmente ferraram com a minha cabeça e eu reagi. Mal. Eu
somente estou muito preocupado com você.

— Eu estou bem, Austin. Eu gosto daqui.

— Sim, mas você levou um tiro, Srta. Cross. Um tiro. E


este não é um incidente isolado. Nós perdemos dez membros
do nosso grupo. E se você tivesse sido um deles?

Eu entendo o ponto de vista de Austin. O que ele precisa


entender é que não me importo. Quer dizer, eu me importo
com as vidas perdidas e a tragédia, mas eu não me importo
com o perigo. Se esse é o preço que tenho de pagar para ficar
e viver com ele, então, assumirei o risco.

— Austin... — começo, virando-me e percebendo que a


minha bunda está pressionada firmemente na bancada. Ele
está tão perto que posso sentir sua respiração em meu rosto
quando ele se inclina e respira o meu perfume. — Eu quero
ficar com você.

— E se eu não for bom o suficiente, Amy? — diz em um


sussurro. As grandes e belas mãos de Austin roçam
delicadamente nas mangas no meu robe. Acho que ele está
com medo de me tocar.

Eu coloco minhas mãos em seu peito e o afasto um


pouco. — Eu sou um péssimo presidente e talvez eu seja
um... péssimo amante. Namorado. Seja como você queira me
chamar. Eu não nunca fiz nada assim antes. — Ele sorri
ligeiramente. — Quando se trata de relacionamentos, sou
quase tão virgem quanto você era.

Eu seguro o seu rosto mal barbeado, apreciando a


textura áspera contra a minha pele suave.

— Você não é um péssimo presidente. Por que você não


pode ver em si mesmo o que todo mundo vê em você, Austin?
Você tem um coração forte e uma mente sã. Isso é tudo. —
Eu o solto e recuo, observando seus olhos escuros me
seguirem com desespero e a fome. — Agora, peça desculpas
por ontem à noite e nós seguiremos em frente.

Eu tento fazer minha voz soar mais vivaz, mas sai


quebradiça e desejosa. Eu acabo de descobrir que há uma
boa chance de que eu esteja grávida e eu já estou preparada
para pular de volta na cama? Tenha vergonha, Srta. Cross. Tenha
vergonha. Mas acho que é tarde demais para me preocupar
com essas coisas.

— Eu realmente sinto muito pelo que disse Amy. Você


precisou de mim e eu agi como um grande idiota. — Eu
gargalho e tampo a minha boca quando bato meus
calcanhares na lata de lixo com os testes de gravidez. Eu
recuei o máximo que poderia. Minha respiração tremula em
minha garganta, dando-me novamente aquela nervosa dor de
estômago.

— Você está perdoado. — digo, observando-o dar um


suspiro de alívio. Austin passa os dedos em seu cabelo, as
tatuagens em seus braços brilham sob a forte luz
fluorescente. — Mas você ainda não melhorou, não é?

— Eu estou um pouco estressado, doçura. Não mentirei


para você. — Ele vira e inclina as costas na parede,
examinando-me com moderação e desejo em seu olhar
escuro. — Eu não quero falhar, mas parece que é só isso que
faço ultimamente.

Eu abaixo minhas mãos até o nó do meu robe. Eu penso


brevemente se deveria contar sobre os testes ou não, mas
decido que não. Não quando ele está assim tão estressado.
Eu não quero que o momento seja angustiante e, como posso
esperar que ele reaja positivamente, quando ainda não sei
como eu me sinto sobre tudo?

— Vai ficar tudo bem. — digo, desamarrando o robe e


deslizando-o pelos meus ombros. Eu estremeço um pouco
quando passa sobre meu curativo, mas mantenho a minha
expressão facial agradável. Para os homens sexo é o equivalente a
uma sessão de leitura na frente de uma lareira é para as mulheres,
chocolate e vinho incluídos. Eu agradeço Sali Bend pelo seu
conselho e deixo meu robe cair no chão.

— Dê outra chance e você verá. — A contenção nos


olhos de Austin se quebra e ele caminha pelo quarto em
minha direção, segurando meus cotovelos tão suavemente
que quase traz lágrimas aos meus olhos.

Eu o beijo com força e intensidade, pressionando meu


corpo nu no dele. Muito embora ele não tenha dito, eu sei que
ele me ama. Ninguém poderia beijar assim, se não sentisse
aquela dor estilhaçar a alma por dentro. Eu me afasto de
repente e agarro seu pulso, arrastando-o para o quarto, mas
além da cama. Austin levanta as sobrancelhas quando paro
na frente da porta de correr da varanda e deixo-a aberta.

O quente calor do verão invade, chocando-se com o


vento frio do ar condicionado. Eu sorrio diante do seu olhar
perplexo e olho para fora, para as varandas próximas. Não há
mais ninguém ao redor e mesmo se houvesse — perdoem minha
linguagem — que se foda. Aquela cena final no romance de
Sali e Glance está me perseguindo e, enquanto sentir esta
coragem, levarei isso adiante.

— Sente-se. — Eu sussurro para Austin, agarrando sua


camisa e puxando-a sobre a sua cabeça. Ele permite,
observando enquanto eu a jogo no chão de cimento. O chão
está quente, mas não é insuportável. Combina com o fogo que
está queimando internamente.

— E é por isso que eu gosto de você, Amy Allison Cross.


Você nunca deixa de me surpreender. — Austin senta na
cadeira, levantando os pés e estendo a mão para desabotoar
as calças. Eu espero de pé, descaradamente nua no ar
quente. Eu comparo o meu humor ao tiro recebido, isso pode
machucar mais tarde, mas eu poderia muito bem estar em
choque mental agora. Dane-se.
Eu deixo meus olhos esquadrinharem todas as
tatuagens de pistola em sua clavícula, a asa de demônio em
seu ombro, os crânios e as rosas. Como se ter o corpo de um
deus grego não fosse suficiente, o meu homem é decorado
também. Um pequeno rubor aparece em meu rosto. Meu
homem. Meu. Eu sinto uma ligeira possessividade me dominar,
respirando fundo enquanto Austin liberta-se de suas calças.

— Pelo menos você tem o bom senso de me ouvir. — Eu


digo com um pequeno sorriso, levantando minha perna sobre
a cadeira de modo que esteja montada nele, mas não sentada
— ainda não. Eu inclino minha cabeça para trás enquanto
suas mãos deslizam em minhas coxas, fazendo o prazer
percorrer em minha pele sensível. Ele acaricia minha bunda,
demorando enquanto aperta a carne macia entre os dedos
antes de mover as mãos e segurar firme em meus quadris.

Austin se inclina para frente e pressiona sua boca em


minha barriga, beijando-me com uma fome que ameaça via à
tona e me consumir. Mas não importa, quero ser devorada. Quando
ele vai para os meus seios, eu o impeço ao me curvar,
sentando-me nele e roçando seu pau em minha boceta, mas
não deixo ele me penetrar. Ainda não. Coloco minhas mãos
ao redor de seu pescoço, desfrutando da sensação de seu
cabelo enquanto nos beijamos novamente, esfregando nossos
peitos nus.

A brisa tremula meu cabelo ao redor do meu rosto,


misturando nossos cabelos. Passo meus dedos nos músculos
fortes do pescoço e ombros de Austin, deslizando-os até sua
garganta e desfrutando da sensação forte e resistente em sua
mandíbula, em suas maçãs do rosto e em seu nariz reto.

Eu fecho meus olhos e finjo que sou cega, como se a


única maneira de dizer como ele parece fosse pelo tato. Eu
passo meus polegares nas sobrancelhas de Austin,
deslizando meus lábios nos dele, mas sem beijar, apenas
degustando e respirando.

Eu decido levar minha coragem adiante.

— Eu amo você, Austin Sparks. — sussurro, mantendo


os olhos fechados, para não ver a expressão em seu rosto. Eu
o beijo forte e rápido, descendo a mão e guiando-o para
dentro de mim. Não quero forçar uma resposta, simplesmente
deixo que ele saiba como me sinto. Eu já disse, então não há
como voltar atrás de qualquer maneira. Mesmo que quisesse.
O amor não é algo pelo qual se deva sentir vergonha, não
quando é assim tão belo.

O pau de Austin desliza profundamente, penetrando-me


diretamente até o âmago enquanto o som do tráfego zumbe
na rodovia. É tentador pensar que alguém poderia sair para
sua varanda e nos ver. É improvável, mas o pensamento é
excitante.

Eu pressiono meu rosto com firmeza no de Austin e


mexo meu corpo, esfregando-me nele. Eu me mexo num
ritmo dolorosamente lento, gemendo quando suas mãos
encontram meus quadris e descansam lá, tremendo
violentamente. Mas ele se contém, me fazendo derreter como
geléia quando penso em toda a força em seus músculos, em
todo o poder. Ele poderia facilmente assumir o controle, mas
não o faz, deixando-me manter o ritmo. Seus dedos pairam
sobre a minha pele, tocando, mas sem apertar. Depois de
alguns momentos, ele os abaixa e encontra o meu clitóris.

Eu me sento um pouco para trás, espalhando minhas


mãos em seu peito musculoso. O calor do sol torna sua pele
suada e escorregadia, deixando-me quase louca. Eu aprecio o
seu peito definido, sentindo-os da mesma maneira que eu
senti seu rosto.

Quando abaixo minhas mãos até a barriga de Austin, eu


abro os meus olhos, capturando seu olhar selvagem. Ele
realmente é como um lobo alfa, não é? — penso enquanto deslizo as
duas mãos, ignorando a pontada em meu braço. Eu coloco
minhas mãos sobre as dele enquanto ele esfrega meu clitóris,
levando-me a um orgasmo alucinante.
Capítulo Quatorze

Austin
Na manhã seguinte, antes mesmo do sol nascer, estou
deitado na cama, segurando Amy, quando meu telefone toca.
Até mesmo Jesus sabe quão ferradas as coisas estão se
alguém ligar antes do sol aparecer.

Sem acordar minha mulher, eu viro e pego o meu


celular, dirigindo-me para a varanda, confiante de que
ninguém esteja acordado a esta hora. Ou então terão uma
visão privilegiada da minha nudez.

Eu não reconheço o número, então, atendo bufando


rudemente: — Austin Sparks.

— É Tax. — O Presidente dos Setenta e Sete Irmãos não


espera que lhe faça perguntas. — Tenho algumas informações
que achei que lhe seriam úteis. — Ouço um som de farfalhar
de pano e um grunhido. — Estou ligando como uma cortesia
profissional. — Ele faz uma pausa. — E porque você tem a
minha irmãzinha aos seus cuidados.

— Merda, não gostarei disso, né? — pergunto, olhando


por cima do meu ombro. Amy está se mexendo com um
murmúrio, seu angelical rosto na quase total escuridão do
início de uma manhã. Eu olho pela janela, em direção à
cidade. A área metropolitana maior aqui é conhecida como
Bandit, Tennessee. Nosso novo território. Em breve, terei que
fazer ligações para os MC’s mais próximos. Pelo menos por
enquanto, toda esta área está totalmente desocupada.

— Eu consegui mais algumas informações sobre as


armas, entre outras coisas. — Tax suspira pesadamente,
como se não tivesse dormido nada nas duas últimas noites.
— Você estava certo. M16. Automáticas. Ilegais e duplamente
mortais. Você deve proteger sua retaguarda. Os Bested by
Crows e os Broken Dallas estão putos e se uniram. O
presidente anterior de vocês, Kent Diamond, fez algumas
ofertas para o trânsito de armas, drogas, mulheres, etc.
Quando você o matou e também os irmãos Walker, muitas
informações morreram com eles. Mas não suas promessas.
Eles fizeram acordos com algumas pessoas muito
desagradáveis. Agora estão na corda bamba por não
cumprirem os seus contratos. — Tax suspira, enquanto
agarro com força o corrimão da varanda — Ou seja, você está
na corda bamba pelos negócios que não deram certo. Só quis
avisá-lo. Mantenha a sua guarda alta e não se atreva a deixar
algo acontecer com a minha irmã ou você rezará para os
Bested by Crows o pegarem.

— Como você sabe disso? — pergunto, ouvindo um


gemido pelo telefone. Não é um som agradável, soa como
tortura. Merda. Tax suspira.
— Não importa. Use a informação que eu acabei de lhe
dar, termine a sede do seu clube e mantenha a minha irmã e
seu bebê em segurança. — Tax desliga o telefone antes que
eu possa dizer alguma coisa, deixando-me com um coração
acelerado e o pânico me atordoando. Ninguém nunca disse
que este trabalho seria fácil, mas por isso, não esperava.

Fico na varanda por algum tempo, tentando me


controlar física e emocionalmente. Eu não sou um homem fraco —
digo a mim mesmo — Mas parece que o ônus da prova está pesado
sobre meus ombros. Eu preciso me provar com ações, não com palavras.

Eu me recomponho e volto para o quarto, encontrando


Amy acordada e sentada na cama, com os braços ao redor
dos joelhos. Ela parece contemplativa. Eu coloco meu telefone
em cima da mesa perto da varanda e fecho a porta.

— Você acordou cedo. — ela diz — Eu preciso dizer o


que eu sei. Porra, eu preciso dizer a todos da Triplo M o que
eu sei e depois preciso me certificar que estejamos
preparados. Eu só preciso descobrir a melhor maneira de
fazer isso. — Está tudo bem?

— Por enquanto, doçura. — digo, nem um pouco


surpreso ao ver que meu pau está mais do que feliz em
encontrá-la acordada. Chova ou faça sol, Sr. Sparks nunca
me decepciona. Eu sigo na direção dela, subindo na cama e
deslizando meu braço ao redor da cintura de Amy. Eu dou
um beijo em sua garganta e sinto seu pulso. — Como está o
seu braço? — Amy pigarreia bruscamente. Merda. E agora? Eu
me pergunto enquanto me sento e tento entender sua
expressão.

Determinação. Temor. Orgulho. Felicidade. Tristeza. É


como olhar através de um caleidoscópio.

Amy coloca um pouco de seu lindo cabelo castanho


atrás de uma orelha.

— Austin... — ela diz e sua voz está muito séria. Eu


puxo os cobertores sobre minha ereção e espero ela terminar
de falar. Não há sentido em tentar apressar isso. Eu quase
não quero saber. Eu me pergunto se isso tem a ver com
aquelas três pequenas palavras, que estiveram me assolando
por algum tempo. ‘Eu amo você’.

Eu amo Amy, mas não quero dizer até que eu esteja


pronto. Eu poderia dizer isso de volta, com certeza. Não iria
me matar, mas não significaria o que ela quer que signifique.
Eu não tenho certeza do que exatamente estou esperando ou
se estou mesmo à espera de qualquer coisa, mas o momento
ainda não chegou. Eu tenho certeza que saberei quando for.

Amy vira para mim, colocando as mãos em cima das


minhas. Eu não posso afastar o meu olhar de seu braço, do
curativo que nem deveria estar lá. Se eu a tivesse protegido
devidamente, isto não teria acontecido. E você ainda nem
descobriu quem fez isso. Recomponha-se, Austin.
— Sinto muito, desculpe. — Amy diz, fechando os olhos
e abaixando o rosto. Ela se inclina para frente e aperta seu
rosto em meu bíceps. Um esmagador instinto protetor
desperta em mim e me vejo abraçando Amy e olhando para o
teto com uma oração em meus lábios. Não deixe que eu estrague
tudo. — Este é um assunto difícil de abordar...

— Você não precisa me contar se não quiser. — Eu


sussurro, deixando meu queixo encostado em sua cabeça. Eu
me pergunto se poderia fugir de qualquer problema do MC
hoje. Eu ficaria contente em fazer algo normal com Amy,
como levá-la para jantar fora, sair para uma caminhada,
qualquer coisa. — Nós podemos apenas... sei lá, destruir
aquele sanitário horroroso no banheiro do térreo. — Amy ri e
levanta o rosto, sorrindo de forma radiante para mim. Eu tiro
o cabelo de sua testa.

— Obrigada por tornar isso mais fácil. — ela diz e eu


levanto uma sobrancelha.

— De nada — digo, puxando-a para o meu colo,


respirando o hálito quente de sua garganta.

Amy se contorce, esfregando seu corpo em meu pau. Eu


estou prestes a deslizar dentro dela quando ela diz:

— Austin, eu estou grávida.


Capítulo Quinze

Amy
Austin para, agarrando meus braços e me fazendo
morder o lábio de dor quando sua mão roça meu curativo.

— Merda, doçura. — Ele respira, soltando. — Eu sinto


muito. — Eu me sento para trás, indo para uma distância
segura de sua região genital. Não há nenhuma maneira de
pensar claramente se estivermos grudados assim.

No entanto, não olho para longe. Mantenho meu olhar


focado em Austin. — O que... O que você... — Ele parece
desorientado, como se tivesse se perdido em algum lugar
dentro de si mesmo.

— Quer dizer, eu acho que posso estar enganada, mas


fiz dois testes hoje e ambos deram positivo. — Eu continuo
observando o rosto de Austin em busca de algum sinal de
como deveria me sentir. Contudo, não estou exatamente
apreciando o que vejo. — E quando finalmente me sentei e
pensei nisso, percebi que não menstruei no mês passado.

Austin permanece em silêncio, encostado na cabeceira


da cama. Eu espero um minuto inteiro que ele me responda,
mas ele não o faz. Ele fica somente olhando para mim.
— Austin?

— Amy. — Ele responde suavemente, sua voz não soa


com raiva, nem desapontada, apenas vazia. Ele está tentado
aceitar a ideia assim como eu.

Austin passa os dedos em seu cabelo enquanto espero,


tentando ser paciente, mas incapaz de parar os pensamentos
em minha cabeça. Tease disse que Beck gritou de alegria
quando contou a ele, tomou-a nos braços e fez amor com ela.
Isso não é nem um pouco parecido.

— Você não precisa dizer nada. — digo, começando a me


levantar. — Apenas pensei que deveria saber. — Eu deixo os
lençóis escorregarem e começo a sair quando Austin segura
em meu pulso direito e me puxa até ele, envolvendo-me em
seus braços e pressionando seu rosto em minhas costas. A
barba em seu queixo faz cócegas e eu me contorço.

— Deus, mulher. — diz, com a voz áspera e cheia de


emoção. — Há quanto tempo você sabe?

— Desde ontem à tarde. — admito enquanto permito


que Austin me puxe de volta para a cama e me deite de
costas. Ele se inclina sobre mim, roçando os dedos em minha
bochecha. — Por que, isso importa?

— Eu estou feliz que você contou. — ele diz e tenho


dificuldade em ler a emoção em seu rosto. Não tenho muito
tempo para descobrir, porque Austin recua e me vira,
puxando a minha bunda para a beira da cama e
pressionando seu pau entre as minhas nádegas. Oh Céus. Eu
toco na roupa de cama, tentando descobrir o que exatamente
está acontecendo. Esta é uma alegre... união? Ou Austin está
tentando transar por falta de uma alternativa melhor? Eu não
posso dizer.

— Austin, o que você está fazendo? — pergunto sem


fôlego. Eu mal consigo respirar. Ele ri e o som faz arrepia minha
nuca. Eu me inclino até ele e mordo o lábio enquanto ele
desliza em mim, provocando, mas não penetrando. Que homem
cruel. Como posso fazer isso quando não tenho ideia do que está
pensando?

— Comemorando. — Austin sussurra asperamente


enquanto investe em mim, enchendo-me com uma forte
explosão de som em sua garganta. Eu pressiono meu rosto
na cama, sentindo o aroma acentuado de sexo. Tivemos um
momento muito bom aqui, não terminou na varanda. O sexo
da noite passada foi imensamente diferente. Não há nada
suave no que Austin está fazendo comigo agora.

— Você quer ter um filho comigo? — pergunto. Bom,


perguntar não seria a palavra certa. Precisamente, eu gemo a
frase, deixando-a sair de meus lábios e pairar no ar que nos
rodeia. A frase parece tão estranha, emaranhando-se ao redor
e enredando nossas almas firmemente. Espero que isto seja
realmente o que Austin quer. É difícil dizer.
— Eu quero você. — Austin rosna, segurando-me firme,
metendo tão rápido, forte e frenético que quase posso
imaginar que somos estranhos transando em um beco, num
encontro ilícito. Nem por qualquer esforço de imaginação eu
chamaria isso de fazer amor. — Você é minha, Amy. Eu lhe
disse isso.

— E você é meu. — digo, tentando manter minha voz


firme, mesmo com la petite mort5 se aproximando. Austin me
agarra mais forte, colocando uma mão em meu cabelo,
puxando meu rosto e me forçando a arquear as costas para
ele.

Talvez devesse sentir-me desprezada por não termos


uma conversa detalhada e profunda, discutindo opções,
planos ou lógica. Mas não estou. Austin não é assim. Austin
fala com ações e intenções ao invés de palavras. Sinto essa
possessividade irradiando dele, esta exposição rude de afeto.
Ele é, afinal de contas, um motociclista safado.

— Você é minha e se ficará grávida com a semente de


alguém, que seja a minha. — gemo, sentindo o som
borbulhar em minha garganta, desfrutando do êxtase
primitivo e ordenhando seu pênis com apertadas contrações
da musculatura. Eu gozo primeiro, descansando nas mãos da
pequena morte, sentindo-a envolver sua capa escura e me
absorver.

5
Em francês, a “pequena morte” seria o orgasmo.
Capítulo Dezesseis

Austin
— Caramba, puta que pariu. — Beck gargalha, batendo
na coxa e levantando a garrafa de cerveja para um brinde. —
Você e eu, somos como duas ervilhas numa maldita vagem.

— Você é um filho da puta maluco. — digo a ele, mas eu


consigo tilintar o vidro marrom da minha garrafa na dele.
Gaine se junta a nós franzindo a testa ligeiramente e Kimmi
em seguida. À medida que nos acomodamos em nossos
assentos e fingimos que todo o maldito restaurante não está
olhando diretamente para esses quatro loucos no bar, Beck
começa sua verborragia novamente.

— Passeando pela vida, dois solteirões... — Ele começa e


eu lamento. Ele não gosta quando eu escuto Nickelback no
telefone e eu não gosto quando ele começa com suas
histórias. — ...encontraram duas damas muito mais jovens.

— Jesus Cristo! — Gaine diz, inclinando seu cotovelo no


balcão. Kimmi apenas fica sentado, sorrindo ao longe.

— E em um período mais curto do que passo de um


pônei, compramos algumas casas e engravidamos nossas
namoradas. Vivendo o sonho americano, amém!
— Você esteve bebendo antes mesmo de chamá-lo para
vir aqui, né? — Beck franze suas sobrancelhas, com os olhos
verdes brilhando. Ele está realmente emocionado com tudo
isso e não é apenas o seu sentido usual de bom humor. Beck
está feliz.

— Droga, não. — Ele diz. O que provavelmente é 99%


por cento que seja mentira. — Eu e Tease estávamos
escolhendo nomes de bebê, como um casal adequado.

— Eu vou ser titia duas vezes. — Kimmi grita, agitando


suas longas e falsas pestanas no seu rosto. Eu vejo enquanto
ela toma outro gole de cerveja. — Amy provavelmente está
ainda mais adiantada que Tease, não é?

— Sempre tentando me superar, né, Austin Sparks? —


Beck diz, estreitando os olhos e apontando a garrafa de
cerveja na minha direção.

— Ele está definitivamente bêbado. — Gaine fala,


pedindo um pouco de uísque e deixando sua cerveja de lado.
Ele cruza as mãos atrás da cabeça, endireitando-se e olhando
para Beck e para mim com um olhar avaliador. Seu cabelo
escuro está desalinhado e há definitivamente um chupão ou
dois aparecendo perto da gola de sua camisa, mas não digo
nada sobre isso. Não é da minha conta de qualquer maneira.

— Merda, você só está com inveja porque sabe que


Mireya Sawyer é incapaz de engravidar. Os demônios não
podem se reproduzir.
— Vá se foder, você e sua avó morta, Beck. — Mireya
contra-ataca, aparecendo atrás dele e estendo a mão para
roubar sua cerveja. Ela olha diretamente em meu rosto e
sinto um nó em meu estômago. Não sinto nada romântico por
ela, mas ainda é minha amiga e a amo. É apenas a nossa
história sórdida que faz o medo enrolar em minhas
entranhas. — O que vocês estão comemorando? A gravidez de
Tease?

— Sim e não. — Kimmi diz, endireitando-se e mexendo


em seus brincos. Ela olha para Mireya. — Amy está grávida,
também.

— Amy? — Mireya praticamente engasga, dando-me um


olhar difícil de decifrar. — Jesus Cristo, vocês dois. É preciso
uma aldeia para educar uma criança e agora temos duas?

— Retribuir o favor quando Gaine finalmente descobrir


como colocar a sua semente selvagem em seu ventre
diabólico. — Beck ri da própria piada e começa em uma nova
garrafa.

— Você é um maldito idiota. — Mireya diz, franzindo o


cenho para o meu amigo e sentando-se ao lado de Gaine. Eu
olhar para ela, não porque quero, mas porque posso sentir
seu olhar queimando como laser em mim. É mais seguro não
desviar o olhar neste momento, senão ela poderia me
incinerar. — Quando você descobriu?

— Aproximadamente... — olho para o meu relógio. — 12


horas atrás. — Eu olho novamente para Mireya, de pé com as
mãos em seus quadris, o casaco pendurado livremente nos
ombros e exibindo a pele perfeitamente bronzeada e um top
vermelho extravagante que tenho certeza que é tudo para o
benefício de Gaine. — Por quê?

— Acho que isso explicaria o seu humor hoje. — Gaine


diz, colocando o braço ao redor da cintura de Mireya e
abraçando-a. Eu sou um filho da puta tão burro. Passei anos
assistindo esses dois e nunca notei nada entre eles. Eu
realmente terei que prestar mais atenção para não cometer os
mesmos erros com Amy. Eu não quero mais ser indiferente e
estúpido.

Eu giro a garrafa em minhas mãos e me pergunto o que


realmente ela fazendo lá em cima. Ela disse que está
planejando uma leitura, mas quem sabe? Só espero que não
esteja chateada. Eu realmente tentei ser atencioso hoje, falar
com ela, beijá-la e abraçá-la. Nós não discutimos exatamente
o assunto em questão, mas tenho certeza iremos. Foi preciso
um segundo para processar o que ela disse, mas depois que
superei o choque inicial, me senti bem. É muita
responsabilidade, mas tenho que amadurecer. Se for um pai,
serei um malditamente bom e, com certeza, não deixarei meu
filho ser tão fodido quanto eu.

Um bebê. Porra. Quem imaginaria?

Eu tomo outro gole de cerveja. — Isso realmente coloca


uma pressão para cuidar de tudo. — digo, pensando no
telefonema de Tax esta manhã.

— Eu sei. — Gaine responde, apertando os lábios. —


Mas tudo ficará bem. Passaremos por esse problema como
sempre fazemos. Os fantasmas serão banidos. Nos livraremos
dos restos do lixo de Kent e viveremos felizes para sempre. —
Ele sorri e quero acreditar em seus sonhos de contos de fadas.
Deve ser bom ser Gaine.

— Você vai ter um bebê com sua amada. Anime-se! —


Beck dá um tapa em minhas costas, bebendo cerveja e
tinindo seu copo no de Kimmi. Eu sorrio para ele, levantando
a minha própria garrafa para mais um brinde.

Acho que a questão neste momento não é “e se eu não for


bom o suficiente”. Terei que ser bom o suficiente. Não existe outra
escolha. Eu amo Amy Cross. Olho para o balcão de pedra
polida sob minhas mãos e tomo posse do que sinto. Amy é
minha e este bebê é meu. Porra. Aquela casa é minha. Este
clube é meu.

Tomo um último gole da minha bebida e a coloco sobre o


balcão. O que estou fazendo aqui quando minha mulher está
lá em cima? — Com licença, rapazes. — digo, mexendo meus
ombros para aliviar um pesado dia digno de safadezas. —
Senhoras... — aceno para Mireya e Kimmi, ignorando os
assovios que me seguem por todo o carpete vinho do
restaurante até as portas do elevador. Eu me inclino na
parede e balanço a cabeça.
— Puta merda, Austin. Por que entre tantos na terra
Deus deu justamente a você um bebê? — Eu mesmo
respondo a minha pergunta. — Talvez para me despertar e
fazer meu sangue correr? Será isso?

Saio do elevador com um sorriso em meu rosto e um


coração pronto para deixar de lado a dúvida. Tudo parece
bom até encontrar dois dos meus homens caídos no chão no
final do corredor. Verifico os pulsos, mas eles não estão
mortos, apenas nocauteados. — Que porra é essa? — Eu tiro
meu celular e disco o número de Beck antes mesmo de
chegar à porta do meu quarto. — Venham aqui. Agora.

Deslizo a chave para abrir a porta e sinto o suor


encharcando minha camisa. — Amy?

Ando pelo quarto e entro no banheiro, encontrando a


banheira cheia e um livro fechado sobre a bancada. Amy não
está aqui. Olho ao redor, em completo pânico e procurando
desesperadamente um sinal, um maldito sinal de que ela está
bem. Eu volto para o quarto e encontro seu celular na
cômoda ao lado da TV. A mochila de Amy está escancarada,
roupas espalhadas pelo chão. Isso não é típico dela. Ou ela
saiu com pressa ou alguém a fez sair com pressa.

— Porra. — Minha voz está tremendo e aperto tanto os


dedos em minha mão, que machuco minha palma. Depois de
das dúvidas, da minha estupidez, quando finalmente decido
afastar tudo recebo a prova de que estou certo. Sou um líder de
merda.
Capítulo Dezessete

Amy
Não quero dizer que Margot está sendo particularmente
cruel comigo, mas também não posso dizer que gosto de ser
seqüestrada. Principalmente quando tinha um banho de
espuma e um livro esperando por mim.

— Eu não queria fazer isso. — a voz de Margot é rude,


mas é só aparência. No fundo, posso sentir a sua
vulnerabilidade. Isso me dá um pouco de esperança. Estou
amarrada e vendada na parte de trás de um carro.
Aparentemente, nem todos os MC’s fazem o trabalho sujo
com motos. — E não tive a intenção de atirar em você
também. Posso ter deixado a minha raiva levar a melhor.

Eu sinto o carro desacelerar, o motor roncando


enquanto seguimos em marcha lenta até parar. Um minuto
mais tarde, começamos a nos mover novamente, meu corpo
batendo nos assentos enquanto Margot acelera com uma
sacudida. Eu resmungo quando esmago meu braço ferido,
apertando meus olhos com dor.

— Eu pensei que você fosse Kimmi. — Margot diz com


raiva, enquanto faz uma curva acentuada. — Não havia
nenhuma maneira de entrar lá e seqüestrá-la. Vamos ser
honestas, Amy. Você foi uma escolha fácil. — Eu sinto o
cheiro do cigarro — Tease seria uma escolha mais fácil, mas
tudo bem. — Margot suspira e continua dirigindo.

Eu tento manter o bom humor, mas sei o que pode


acontecer comigo. Se Margot estiver trabalhando sozinha,
talvez ela simplesmente me use como refém, mas se
realmente estiver com os Bested by Crows e Broken Dallas,
eu verei o lado feio da vida com meus próprios olhos.

Mas não. Austin virá atrás de mim. Eu sei que virá. Eu


respiro fundo e tento colocar toda a minha confiança nele,
ainda que ele não tenha em si mesmo.

Não consigo fazer nenhuma pergunta. Este não é um


romance de Sali Bend. Onde está me levando? Você está louca? Eu
estou esperando um bebê. Se fosse um livro de Sali, tenho certeza
que já teria escapado, usando uma faca escondida em meu
cabelo, que de alguma forma cortaria as cordas dos meus
pulsos. Mas do jeito que as coisas estão, eu apenas luto para
manter o peso longe do meu braço ferido.

Margot me pegou completamente de surpresa, entrando


no banheiro e me pegando — literalmente — com as calças
abaixadas. Ela me obrigou a me vestir rapidamente com uma
arma apontada em minha direção, por isso, infelizmente, não
tenho nada extravagante ou inteligente na manga.

Margot parou de falar, me deixando em silêncio,


tentando escutar o som de motos ao longe. E meu dia estava tão
bom — penso, imaginando a linda cor lavanda que pintamos
no quarto de Kimmi. Bem, Christy pintou a maior parte. Eu
ajudei com as bordas; Austin também estava lá, trabalhando
nas sancas6. Eu esperava que, quando ele voltasse, nós
pudéssemos conversar. Eu suponho que não era para ser.

Uma gangue de motoqueiros, um cara motoqueiro e um


bebê. É uma combinação interessante, mas não vejo por que
não poderia funcionar. Na verdade, quando fecho meus olhos
e deixo meus pensamentos vagarem, imagino isso se
transformando em algo bonito. Austin não disse nada de
imediato, mas tive um bom sentimento dele hoje, uma aura
positiva. Às vezes, acontecem coisas não planejadas que é a
única coisa que você realmente precisa.

Eu respiro fundo pelo nariz e tento manter a calma.


Ficar maluca não ajudará em nada. Eu prevejo que Austin
me salvará, mas tenho que me preparar para a possibilidade
de que ele não chegue a tempo. Eu me recosto e tento bolar
um plano.

6
Moldura de gesso ou de outro material de qualquer perfil instalada no encontro do teto com as
paredes.
Capítulo Dezoito

Austin
Eu tenho que deixar o pessimismo de lado. Eu não
tenho tempo para isso.

— Beck e eu sairemos agora. Gaine reúna os caras e


forme um grupo. Envie todos os outros para a sede do clube
para ficar de olho. — Eu tiro o celular de Amy do meu bolso
traseiro e verifico se a arma está no coldre. Todo mundo está
me olhando como se esta fosse uma causa perdida e eu não
gosto disso. — Merda! Eu disse agora. — passo empurrando
os meus amigos e desço as escadas. Eu não tenho paciência
para esperar o elevador. Estou mais do que ciente do que está
em jogo aqui. A sanidade de Amy, sua dignidade, sua vida. A
vida do meu bebê. — Porra.

— Austin, mais devagar. Se você perder o controle não


será de nenhuma utilidade para a pequena Srta. Cross. — Eu
ignoro Beck, ouvindo o pesado soar de seus passos enquanto
descemos as escadas, passando pela porta dos fundos e pelo
calor quente do estacionamento. Tento não olhar para a moto
de Amy enquanto eu subo na minha. Iremos recuperá-la. Tudo
ficará bem. Preciso continuar dizendo isso, mesmo que eu não
acredite.
— Austin! — Beck agarra a parte da frente da minha
moto e se aproxima. — Não podemos simplesmente correr
sem rumo pela cidade. Precisamos ter uma ideia de onde
iremos. Se formos a uma direção e Amy estiver do outro lado
da cidade, o que adiantaria?

Fecho os olhos e respiro fundo. Eu sei que Beck está


certo. Eu entendo, mas aquela sensação de mal estar no
estômago — aquela me deixou tão inseguro sobre Amy, a
sede do clube e toda essa nova vida — mudou. Pelo menos eu
posso ver o idiota que fui.

— Ok. — Passo minhas mãos pelo meu rosto e, em


seguida, as abaixo. Eu olho para Beck. Sua determinação faz
com que me sinta melhor, me afasta do precipício por um
momento. — Então, quando eu saí, Amy estava bem. Ela,
obviamente, teve tempo suficiente para preparar um banho.
Quanto tempo ficamos no bar? Meia hora? — Beck assente
enquanto mordo meu lábio e tento pensar.

A decisão que eu tomar agora pode afetar se Amy vive


ou morre. Se irão estuprá-la. Oh Deus. Minha preciosa doçura. A
adrenalina me domina e sinto minha visão tremer de ódio. Se
eu colocar minhas mãos nesses filhos da puta, eles pedirão
pela morte. — Não vimos ninguém suspeito e nenhum dos
caras percebeu nada, então, acho que não havia muitos
deles. — Eu mordo a minha unha até sangrar. — Vamos dizer
que eles chegaram nela cerca de quinze minutos depois que
eu saí. Isso dá tempo de Amy ter preparado o banho e outras
coisas mais. — Eu olho para o céu, para os tons suaves de
laranja e respiro fundo. — Há apenas uma estrada principal
saindo daqui e, se você quiser manter uma boa velocidade, é
nessa direção que você iria. Não tem nenhuma estradinha
lateral, especialmente não quando você é de fora da cidade.
Meu palpite é que foram para o sul. Ninguém em seu juízo
perfeito iria para o norte, na direção ao território dos Setenta
e Sete Irmãos. Então, se não perdemos tempo e tivermos uma
velocidade boa, talvez possamos alcançá-los antes que eles
saiam da estrada.

Beck acena rapidamente, saudando-me com um meio


sorriso e depois sobe em sua moto. Eu os lidero para fora do
estacionamento, apenas alguns segundos antes de Gaine e
Mireya emergirem do hotel.

Eu acelero e desapareço no tráfego.


Capítulo Dezenove

Austin
Beck e eu pegamos a estrada, mantendo nossos olhos
nas motos.

— Você acha que ela estaria num carro, caminhonete ou


algo assim? — Eu pergunto a Beck. Não é exatamente fácil
lutar com uma mulher briguenta em sua moto. Beck deve
saber, considerando que ele fez algum sequestro recente de
sua autoria. Todavia, duvido que quem pegou Amy seja tão
suave como meu melhor amigo foi.

— Talvez. — ele responde através do intercomunicador.


É bom ter um filho da puta como Beck do seu lado. — Mas
como saberemos disso? — Eu balanço minha cabeça, mesmo
que saiba que ele não pode me ver. Ele está certo. Se Amy
está em uma dessas minivans, na parte de trás de um sedan
ou no meio do banco de um SUV, como saberei?

Eu cerro os dentes e continuo pilotando, incerto se


estou na direção certa. Eu foco minha mente e sigo em frente.
Não posso sentar, esperar e não fazer nada, então tenho que
arriscar aqui, mesmo que seja a escolha errada.

Eu vou entre os carros, procurando nas janelas pelo


rosto de Amy ou talvez até mesmo por alguém que eu poderia
reconhecer. Parece que eu estou à procura de uma agulha
num palheiro, mas eu tenho que tentar.

Seja o que for, preciso continuar lutando. Acho que toda


aquela frase “você nunca sabe o quanto algo é precioso até perdê-lo”
é verdadeira. Eu estou sentindo falta de Amy tão ferozmente
que meu peito parece que está prestes a explodir.

Eu fui bom hoje, mas eu não fui bom o suficiente.


Quando Amy me contou que estava grávida, eu deveria tê-la
puxado para mim e lhe dito que estava feliz, que não existe
outra mulher nesta terra com quem gostaria de ter um filho.
Eu deveria ter dito que a amava.

— Beck, eu sou um idiota.

— Eu sei que você é irmão, está tudo bem. Uma boa


mulher pode curar qualquer doença. — Eu suspiro no
microfone.

— E eu sou um líder de merda.

— Você é um líder inexperiente. Há uma grande


diferença aí, Sparks. Você acha que eu colocaria minha vida
em risco por você, se não achasse que você poderia fazer
isso? Porra, eu chutaria o seu traseiro do trono e colocaria
Kimmi lá se eu não acreditasse que você é capaz.

— Você é um bom amigo, Beck. — digo quase a


contragosto.
— E você é um maldito puxa-saco. Vamos encontrar
Amy e acabar com isso, certo?

— Amém. — Eu sussurro, jogando a minha moto para a


direita, deslizando sobre o tráfego como um fantasma. Isso é
uma das coisas agradáveis sobre andar de moto... Você se
torna alheio ao resto do mundo quando está sobre rodas. Eu
acelero a frente de Beck, lutando para conter a descarga de
adrenalina que está correndo em minhas veias. Neste
momento, não tenho outra saída. Eu tenho que mantê-la
engarrafada até a hora de soltá-la.

Eu passo ao redor do caminhão e acabo alguns carros à


frente de Beck, pilotando em uma velocidade que não era
permitida. A estrada se estende diante de mim, entorpecendo-
me e envolvendo minha alma no momento. O vento toca os
meus ombros, cortando através da minha jaqueta de couro
como facas, que me acordam e tornam minha memória tão
afiada.

Eu vejo Amy curvada naquela moto Road King outrora,


tão inocente, mas desesperada para partir. Eu vejo a mim
mesmo, ficando envolvido em sua mente, invadindo e
assumindo o controle. Eu estive pensando apenas em mim,
mas foi realmente Amy cuja vida mais mudou.

Eu aperto minhas mãos tão forte que machucam,


acelerando, com os olhos examinando os carros ao redor. Eu
poderia ter sorte, pegar um vislumbre de Amy e agir como um
herói salvando-a de um destino pior que a morte. Em vez
disso, eu recebo um telefonema. Eu paro no acostamento da
estrada, derrapando no cascalho com uma maldição e uma
chamada à Beck pelo intercomunicador. Meu capacete sai e
atendo o telefone, sem olhar o número.

— Austin Sparks. — É uma voz que eu reconheço.


Merda. Margot Tempe. Nossa traidora está de volta e,
aparentemente, muito ansiosa para me irritar. — Eu sei que
você está me seguindo, mas precisa parar. Eu não
machucarei Amy, mas preciso que você me escute. — Meu
primeiro impulso é mandar ela se foder, mas isso não ajudará
a minha mulher e é tudo que importa para mim. Pelo menos
estamos no caminho certo. Se ela sabe que a estou seguindo,
então, devemos tê-la ultrapassado ou aparecido em seu
espelho retrovisor, certo?

— O que você quer Margot? — pergunto, desejando que


eu tivesse seguido o conselho de Beck e atirado na nuca da
maldita. Mas essa não era a decisão certa a fazer e ainda
defendo a minha escolha original. Eu escuto a pausa na
linha, e sei que ela não bolou esse plano todo por conta
própria. — Por que Amy?

— Não é realmente sobre Amy, Austin. — Ela diz


enquanto eu esfrego os dedos pelo meu cabelo em um gesto
de frustração. Beck desliza para perto de mim e levanta a
viseira. Eu gesticulo para ele se afastar, apontando para a
estrada com minha mão esquerda. Felizmente, somos amigos
tempo o suficiente para que ele entenda o que estou tentando
dizer. Beck assente, coloca o capacete de volta no lugar e
decola, fundindo-se com o tráfego como um dançarino ou
algo assim. — Isto é sobre nós.

— Quem seria esse “nós”? — pergunto, resistindo à


vontade de fazer sinal de aspas com os meus dedos. Não tem
ninguém ao redor para ver essa porcaria. Eu viro a cabeça
para longe do tráfego, desejando estar longe do barulho. Eu
não quero perder uma maldita palavra deste telefonema.
Fazer isso pode mudar tudo.

— Os Branded Kestrels7. — Margot diz, sua voz abafada


pelo barulho de um caminhão nas proximidades. — A fusão
dos Bested by Crows e do Broken Dallas.

— Você não é nada pra eles, Margot. — digo, tentando


atingir seu calcanhar de Aquiles com as palavras. Ela sempre
foi uma garota fraca. Se aliar a esses babacas for qualquer
indicação, ela ainda é. — Você é menos do que o cromado de
suas motos, baby. Se você está tentando comprar uma vida
com liberdade de Amy, você está muito enganada quando
chegar a hora do pagamento.

— Eu não estou comprando nada. — Margot grita


comigo e me pergunto o quanto a sua dignidade foi taxada
nos últimos meses. Eu não estou blefando aqui. Ela é,
provavelmente, um brinquedo para ser usado e descartado. É
um triste fato neste mundo. Eu não sei por que uma mulher
se exporia a essa bosta. — Como você teria reagido a uma
7
Em inglês, seria algo como “Falcões Estigmatizados”.
dúzia de caras de colete entrando no hotel? Eu tingi meu
cabelo de loiro, coloquei um pouco de maquiagem
extravagante e a Triplo M sequer me notou. Ninguém me
reconheceu até que eu fui lá em cima. Quão patéticos vocês
são?

— Porra. Sua estúpida. Que merda você quer? Fale logo.

— Austin, temos alguns contratos pendentes e foi sua


culpa não conseguirmos cumpri-los. Você cumprirá sua parte
do acordo, quer queira ou não. A oferta ainda está de pé.
Suas mulheres, seus coletes e dinheiro. Eu espero que o seu
último golpe tenha sido bom porque você precisará de tudo
que puder. Isso não acabou, Sparks. Temos credores e há
dívidas a vencer. Alguém tem que pagar e não seremos nós.

— Como isso trará Amy de volta? — Eu grito, frustrado


demais. Eu perdi Beck de vista, mas tudo bem. Enquanto ele
estiver no seu encalço ou, pelo menos deixando a cadela
nervosa, é onde ele precisa estar. Eu o alcançarei. Então,
estourarei a cabeça de Margot.

— Você tem que fazer uma escolha, Austin Sparks. Sua


mulher ou seu clube. — Meu coração bate tão rápido e tão
forte que parece um martelo esmurrando um prego em meu
peito. Eu me sinto mal. — Se decidir pelo seu clube,
ficaremos com Amy e ela será a primeira vadia no nosso
estábulo de prostitutas.

O telefone fica mudo e eu solto um grito.


Capítulo Vinte

Austin
Eu ligo para Margot Tempe de volta, fervendo de raiva.
Voltamos com esta merda novamente, né? Simplesmente não
arrancarei cabeças, mas me transformarei em um autêntico
clone do Beck, saboreando o gosto de sangue e rindo quando
meu martelo encontra um crânio macio para esmagar.

— Excelente. — Ela diz com sua voz firme por fora, mas
fraca por dentro. Ela não é uma vilã muito impressionante. —
Você já tem uma resposta?

— Margot Tempe, sua vagabunda, eu juro pelos peitos


da minha mãe...

— Cuidado, Austin. — Ela repreende, com a voz


carregada de dor, assim como um moleque petulante
precisando de uma surra. — Você não está no controle desta
vez. Você tem uma escolha a fazer. Ou você tem uma
resposta ou não. — Eu abro minha boca para amaldiçoar a
sua avó e toda a sua família, quando Margot xinga
abruptamente. — Caralho!

O palavrão coincide com um sedan preto dando uma


guinada na pista próxima a mim. Um SUV prateado bate na
lateral e o carro gira como um pião, cortando o arame farpado
a apenas vinte metros de onde estou sentado.

— Margot? — Minha voz é praticamente um sussurro,


afogando-se ao som de seus gritos. O sedan preto atinge a
vala ao lado da estrada e capota, deslizando alguns metros
antes de parar. — Margot? — Eu ouço gemidos e gritos
distantes de passageiros. Eles ecoam duplamente em meu
ouvido, confirmando o meu pior pesadelo. Este é o maldito
carro. — Amy!

Eu saio da minha moto rapidamente, pulando a cerca e


correndo pela grama seca tão rápido quanto posso. O
distante som das sirenes ecoando é um réquiem para o meu
medo latejante.

— Eu não as vi! — A pessoa no SUV prateado está


gritando, caída na parte de trás do seu veículo, mas não se
aproxima. — Foi um acidente. — Eu deixo a garota chorando
e fico de joelhos ao lado do sedan.

As pessoas começam a parar ao redor e correr em minha


direção, mas as ignoro, verifico a janela quebrada da frente e
encontro Margot viva, mas sangrando. A ignoro também,
voltando minha atenção para a parte de trás. Eu estendo a
mão para tentar abrir a porta, mas está trancada.

— Filha da puta. — rosno, liberando a adrenalina que


estava me oprimindo. Sequer tenho tempo para pensamentos
lógicos, apenas impulsos básicos para orientar minhas mãos.
Amy. Merda. Amy. Amy. Porra. Eu rastejo para frente, estendendo
minha mão e procurando o botão da trava. Só leva um
segundo, mas juro por Deus, é como um maldito século.

— Minha esposa está atrás. — Eu digo para a primeira


pessoa que está ao meu lado. Amy pode não ser realmente a
minha esposa, mas deveria ser. — Você ajuda a garota na
frente. — Eu agarro a maçaneta e começo a puxá-la. As
janelas são pretas, então, não sei com o que estou lidando
aqui. Ela poderia estar morta. Mutilada.

A porta amassada está presa ao chão, obrigando a usar


toda a minha força para abri-la. Ficando de joelhos, vejo Amy
deitada imóvel e sangrando no teto do carro. Ela está
amarrada, amordaçada e com os olhos vendados.

Pela primeira vez, depois de um longo tempo, sinto


lágrimas em meus olhos, mas as afasto, franzindo os lábios
com determinação e rastejando dentro do carro para dar uma
melhor olhada nela. — Amy? — sussurro, mas ela não
responde ou se move.

Eu não posso dizer se ela está respirando ou não. Eu


abaixo minha mão e tiro a venda cuidadosamente. Eu finjo
que seu corpo é feito de vidro, com medo de movê-la até que
os paramédicos cheguem. Não quero que nada do que eu faça
agora comprometa que ela saia daqui viva.

Os olhos de Amy estão fechados, seus cílios escuros


descansando sobre as suas bochechas pálidas. Há sangue
escorrendo pela lateral de seu rosto, mas nenhum ferimento
visível, pelo menos não desse ângulo.

Eu tiro uma faca de minha bota e a uso para cortar a


mordaça. O tecido está encharcado de sangue e saliva. Assim
que eu a tiro, Amy começa a resmungar, tossindo e gemendo
enquanto vira para o lado e respinga sangue no teto em sua
bochecha.

— Querida? — sussurro, tocando em seu cabelo


suavemente, movendo a minha faca até as amarras em seus
pulsos. O curativo em seu braço esquerdo ferido está
encharcado de sangue. — Você pode me ouvir, Cross? Você
está aí?

Saber que ela está viva me enche de alívio e afasta as


dúvidas. Não consigo entender como esse carro se envolveu
neste acidente. Coincidência? Destino?

— Amy, por favor, querida. Deixe-me saber que está


bem. — retiro a corda de seus pulsos, soltando seus braços
lentamente. Um grito escapa de sua garganta, ecoando pelo
carro amassado e provocando a pior agonia que senti em toda
a minha vida. — Porra, docinho, eu sinto muito. — decido
não cortar a corda de seus tornozelos. Não quero machucá-la
novamente.

— Austin? — Amy choraminga com os lábios


ensanguentados. Arregalo meus olhos quando me inclino
sobre ela, colocando uma mão em sua bochecha enquanto
suas pálpebras começam a se agitar.

Um segundo depois, um homem toca em minha perna e


me pede para dar espaço. São os paramédicos. Às vezes a
força é o melhor que pode fazer, não importa a situação.
Outras vezes, é necessário aceitar que você não pode fazer
todas as coisas. Deixo-a nas mãos dos especialistas e me
afasto, com a promessa de segui-la ao hospital.

A vingança queima escaldante e dolorosa, no fundo da


minha mente.
Capítulo Vinte e Um

Amy
Acordo me sentindo muito dolorida e com o meu
estômago embrulhado. Levanto a mão para colocá-la sobre
minha boca e grito quando a dor ricocheteia pelo meu corpo.
Oh céus. Abro os olhos e, por um segundo, fico cega pelas
luzes brancas acima de mim, as paredes e pisos estéreis e as
flores.

— Onde... — A palavra fica presa em minha garganta


seca, ameaçando sair de meus lábios juntamente com uma
onda de náusea.

Meu corpo parece ter sido processado em uma máquina


de lavar, girado de um lado e do outro. Todos os meus
músculos estão doloridos e parece que meus ossos foram
quebrados e colocados no lugar novamente. O que aconteceu?

Eu me recordo de Margot me seqüestrando momentos


antes de entrar na banheira e de ler o livro que tinha
separado. Lembro-me de ouvir Margot ameaçando Austin.
Lembro-me de sentir medo. Também me recordo de estar
grávida.

Eu tento mexer minha mão direita em vez de minha


esquerda e fico aliviada quando esta obedece.

Eu coloco meus dedos sobre minha barriga e, de


repente, algo que parecia tão complicado, torna-se simples.
Eu quero ter esse bebê. Eu não esperava isso, mas também não
esperava por Austin. Além disso, vi como a vida é quando
tudo sai como planejado. Pode funcionar para algumas
pessoas, mas não para mim.

— Meu bebê. — Eu sussurro, lutando para me sentar.

— Shh, acalme-se. — Eu reconheço essa voz. Viro


minha cabeça para o lado e minha visão fica turva,
obrigando-me a fechar os olhos antes de ter um vislumbre
daquele rosto familiar.

— Mamãe? — pergunto, lutando contra outra onda de


náusea. — O que você está fazendo aqui? Onde está Austin?
— Não mentirei. Nenhuma filha ficaria desapontada ao
descobrir que sua mãe está por perto em uma situação
crítica, mesmo que estejam brigadas. Mas a pessoa que eu
mais preciso neste mundo é Austin Sparks.

Tenho uma vaga lembrança de ouvir a sua voz naquela


memória escura no intervalo entre a conversa de Margot e
onde estou agora. O que aconteceu nesse meio tempo, eu não
sei, mas isso realmente não importa. Eu estou viva e segura.
Contanto que eu ainda tenha o meu bebê, tudo pode ser
esquecido.
— Não seja boba. Eu estou aqui porque sou a sua mãe.
— Eu sinto suas mãos frias em minha testa, tirando meu
cabelo do rosto. Quando o mal-estar em meu estômago
retrocede, abro os olhos novamente e vejo minha mãe em pé
num raio de sol. No único raio dourado que atravessa pelo
vão da cortina.

Mamãe age normalmente, como se nada tivesse


acontecido entre nós, como se eu não tivesse fugido e
desaparecido por vários meses. — Relaxe por um momento
antes de tentar se sentar. Eu não quero que você desmaie
novamente.

Eu encosto minha cabeça nos travesseiros brancos e


cogito fazer uma pergunta que eu tenho muito medo. Papai
está aqui? Eu limpo minha garganta e tento decidir se me sinto
à vontade para fazer outra perguntar a minha mãe, uma que
absolutamente preciso ter a resposta agora.

— Mamãe, o meu bebê... O meu bebê está bem? — Ela


finge que não me ouve, caminhando até a janela e puxando a
cortina. A luz do sol destaca a elegância do simples vestido
creme e a perfeição das ondas enquanto caem até seus
tornozelos, que rodopiam suavemente quando ela se vira para
me encarar. Seus olhos castanhos têm um brilho que tiram o
fôlego. Eu sempre me perguntei como nasci tão singela
enquanto minha mãe é uma obra de arte viva.

Ela me encara e este olhar que tive sobre mim tantas


vezes subitamente se torna menos assustador, menos severo.
Eu não tenho mais medo dela e isso faz com que me sinta
bem. Ou me faria, se tivesse uma resposta à minha pergunta.
Eu aperto meus dedos no fino tecido do meu vestido do
hospital.

— Mamãe? — pergunto e ela suspira, caminhando até


um vaso de rosas perto da porta. Ela afofa o ramo com a
mão, fazendo uma pausa para ajustar uma flor.

— Como você acabou amarrada e amordaçada na parte


de trás de um carro? — Ela pergunta e eu quase grito, as
lágrimas ardendo em meus olhos enquanto olho para o teto e
rezo para Sali Dobre por força.

— Não seja cruel. — sussurro, perguntando-me por que


ela está aqui, por que eu não estou cercada por membros da
Triplo M. Eu preciso ver Austin e eu adoraria ver Tease, Kimmi e
até mesmo Mireya. Eu fiquei contente em ver a minha mãe,
mas se ela não vai agir como uma mãe, eu preferia que ela
simplesmente partisse. — Eu perdi o meu bebê? — Mamãe
ironiza e balança a cabeça, colocando uma mecha de cabelo
atrás da orelha.

— Seria uma benção se você tivesse. — Ela fala para


mim e eu suspiro. Por um segundo, ela me lembra uma
madrasta má de um conto de fadas, como se a qualquer
momento pudesse crescer uma cauda e virar um dragão que
cospe fogo.

— Isso foi muito rude da sua parte. — sussurro. Eu


quase a chamo de rameira, mas as palavras não trarão alívio.

Ele está bem, eu penso, deixando a palma da minha


mão pousar em minha barriga. Nós dois estamos bem. Então,
onde está Austin? Eu não sou boba o suficiente para pensar
que ele me deixou. Ele nunca faria isso. Meu palpite é que ele
não é permitido aqui. Aposto que nenhum deles é. — O que
você disse aos funcionários? — pergunto a ela, mas sei que
provavelmente ela não responderá a essa pergunta também.

— Jesus Cristo, Amy. — Ela grita as palavras de seus


lábios franzidos como veneno. Eu me encolho e me
repreendendo por ser fraca. Forçando meus cansados e
doloridos músculos a me levantar, olho para ela. — Amarrada
e amordaçada? Como em um filme de terror. Você desaparece
e eu não tenho notícias suas e então Christy... — Mamãe
bufa. — Você vai me dizer onde ela está agora. O Sr. e a Sra.
Hall estão aqui para buscá-la.

— Christy é uma mulher adulta, assim como eu. Se ela


quiser ver os pais, ela pegará um telefone. — Os lábios de
mamãe estão tão apertados que ficam brancos.

— Não se estiver amarrada e amordaçada na parte de


trás do carro de algum gangster mafioso, ela não irá. — eu
quase gargalho.

— Máfia? Eles são motociclistas, mãe. Pelo menos diga a


terminologia correta. — Minha mãe dá um passo para frente,
como se quisesse me bater, mas não o faz. Ela abaixa o braço
e fica parada ao lado da cama de hospital.

— Você vai para casa comigo e seu pai. Nós a


mandaremos para longe por algum tempo e quando voltar,
todos os seus pecados serão perdoados.

Eu cerro meus dentes e sinto minhas mãos fecharem.


Do jeito que ela fala, parece que tenho dezesseis anos e que
não uma mulher de vinte e um anos com um amante e um
bebê a caminho. Uma mulher que sobreviveu a um ferimento
de bala. Sim, estou muito orgulhosa desse fato. Eu posso
tripudiar sobre isso por algum tempo ainda.

— Você espera que eu diga sim a esta proposta? —


pergunto, olhando para o meu braço esquerdo. Há uma tipoia
agora e como mamãe não está com seu humor muito
solidário, terei que esperar um enfermeiro ou médico entrar e
me dizer o que há de errado.

— Eu não acho que você tenha uma escolha. Você vê


seus motociclistas aqui agora? — Ela dá um olhar triunfante,
os olhos faiscando perigosamente. Se eu estivesse inteira e
bem, eu teria dado um tapa nela.

— Eu não sei o que você disse para a equipe daqui, mas


quando souberem que Austin é o pai do meu bebê, eles o
deixarão entrar.

— Você não é nada, além de uma puta inútil e suja que


não sabe o valor de sua própria vida. — Os olhos castanhos
de minha mãe enchem de lágrimas e, embora ela tenha
acabado de me insultar, me sinto mal por ela. Eu me sinto.
Ela me ama e está preocupada. Compreensível, considerando
as circunstâncias. Mas se ela quer que eu tenha uma relação
com ela, então, terá que redirecionar seu foco para ficar
comigo ao invés de simplesmente tentar me controlar. — O
que há de errado com você? Onde está a filha que passei a
minha vida criando corretamente?

— Mamãe, por favor, acalme-se. — digo, tentando


manter minha voz firme e uniforme. — Austin tem sido um
perfeito cavalheiro comigo... — Mamãe interrompe antes que
eu termine a frase.

— Ao enfiar seu pau na minha filha? Sobre uma mesa


de bilhar? Em um bar? — Ela atira a última palavra de sua
boca tão rápido que quase fico com torcicolo. Oh, sim. O vídeo.
Eu não esqueci que Mireya enviou aos meus pais a minha fita
de sexo com Austin, mas eu gostaria. Agora, aqui está, o
tema da conversa. Bem, isso é muito embaraçoso.

— Ele é o primeiro e único homem com quem eu já


estive e ele me ama. — Mesmo que ele nunca tenha dito isso, eu
penso comigo mesma. — Eu o amo. Nós teremos um bebê,
mãe. — Ela balança a cabeça e me pergunto se ela ouviu uma
única palavra do que disse.

Minha mãe não costuma falar palavrões ou


vulgaridades, então isso é um mau sinal. Abro minha boca
para falar novamente ,quando a porta do quarto do hospital
abre e meu pai entra. Ele tem uma enfermeira com ele, uma
agradável senhora com cabelo escuro e um toque suave. Ela
me verifica primeiro, faz algumas perguntas e monitora meus
batimentos cardíacos, impedindo-me que me concentre em
meu pai.

Eu temo o momento em que ela sai do quarto.

— Amy. — Papai diz muito agradavelmente. Ele sabe


que há olhos e ouvidos em todos os lugares num hospital e
eu não posso imaginar que faria qualquer coisa para
manchar o seu bom nome.

Mamãe está perto dele, de braços dados. Eu tento não


olhar para o seu rosto, mas está tão severo, muito mais
acentuado do que me lembro. — Há alguns policiais
esperando lá fora para falar com você. Assim que estiver bem
o suficiente, eles gostariam de entrar. — Ele sorri e olho para
longe, quase em tom desafiador.

Porra. Eu penso a palavra em minha cabeça, não para o


benefício dos meus pais, mas porque não quero que saibam
como eu estou preocupada. Se há uma história, algo que devo
dizer para o benefício do clube, eu não o que é. Eu incrimino
Margot?

— Mande-os entrar. — Eu digo, levantando o meu


queixo. Eu não tenho nada a esconder. Isso é o que eles têm que
pensar. É o que todo mundo precisa pensar. Minha
esperança é que estejam aqui apenas sobre o acidente, que
eles não me perguntem sobre o ferimento a bala em meu
braço esquerdo ou qualquer coisa que aconteceu antes. Os
assassinatos, os tiroteios, os assaltos a bancos. Meu pai sorri para
mim e desaparece, retornando com dois detetives cujos
nomes eu completamente apaguei. Minha mente está muito
ocupada bolando uma história.

— Margot Tempe... — Eu digo a eles, decidindo deixar


de fora qualquer coisa relacionada aos clubes de motoqueiros
nesta conversa. — Ela estava com ciúmes que sua ex-
namorada a deixou pela minha melhor amiga. — Eu me
deleito com as expressões em todos os rostos.
Capítulo Vinte e Dois

Amy
Depois que os detetives saem, meus pais desaparecem
por algum tempo e acabo caindo no sono. Parte de mim quer
saber se realmente estou cansada ou se simplesmente estou
evitando a inevitável conversa com o meu pai.

Quando volto a abrir os olhos, o quarto está muito


escuro, iluminado apenas pelo brilho de luz das máquinas
que me cercam em ambos os lados, um mar de eletrônicos
pulsando no tempo da batida do meu coração. Estou sozinha
por enquanto, coberta sob uma onda de negritude e envolta
do anonimato. Aqui está a minha chance.

Eu me esforço para me sentar, provocando um suor que


gruda meu cabelo em minha testa. Demora algum tempo,
mas consigo, dando-me uma congratulação mental pelo
esforço. ‘Bom trabalho, docinho’ — digo a mim mesma com um
pequeno sorriso.

Há um telefone com fio branco sobre o criado mudo


perto da minha cama, cercado por flores e obscuro em toda a
sua antiguidade. Enquanto as máquinas de monitoramento
do meu corpo parecem algo saído de um romance de ficção
científica, este telefone é praticamente uma relíquia. Eu me
inclino, gemendo com a dor no meu flanco, estendendo a
mão. Pode ser apenas dois centímetros de distância, mas
parece um milhão.

Eu faço uma pausa, recostando-me e respirando


profundamente. Uma última tentativa e acabo com o telefone
na mão, arrastando toda a base comigo. Eu coloco fone no
meu ouvido, discando o número de Austin de memória. Eu fiz
questão de decorar alguns dos números quando ele os deu
para mim, apenas por precaução. Parece que foi uma
habilidade bem aprendida.

Eu fecho meus olhos com força e espero. Leva apenas


dois toques para ele atender.

— Austin Sparks. — Ele fala, a voz rouca e cheia de


emoção. Eu começo a chorar. Eu não quero, mas é bom ouvir
sua voz. Eu fungo uma vez antes de responder e logo ele
percebe que sou eu. — Docinho?

— Austin... — Eu sussurro enquanto as lágrimas


salgadas escorrem pelo meu rosto. — Eu estou bem, Austin.
— Eu o ouço rosnar baixinho, xingando e agradecendo a
Deus pelo meu telefonema. Eu respiro fundo e sussurro —
Assim como nosso bebê.

— Amy Cross, eu sinto tanto a sua falta que dói. — Ele


diz as palavras rapidamente, amaldiçoando novamente. Onde
será que ele está?
— Há quanto tempo estou aqui? — pergunto a ele. Pode
ser um dia, pode ser uma semana. Eu não tenho nenhuma
noção de tempo agora.

— Quatro dias. Eu queria lhe ver, Amy. Eu tentei todos


os dias, mas eles não me deixaram entrar. Não deixaram
nenhum de nós entrar. Eu disse que éramos casados, mas
não pude provar, então seus pais disseram que eu era um
mentiroso, que você não me queria lá. Eu não sou
exatamente tão convincente como um pastor, então, eles me
mandaram ir embora.

— Onde está você agora? — pergunto com o coração


acelerado. Eu não devo nada aos meus pais e eles certamente
não estão no controle de minhas ações, mas não quero lidar
com eles agora. Se eles entrarem e me encontrarem no
telefone com Austin, outra briga acontecerá e simplesmente
não tenho forças para isso no momento.

— Na sede do clube. — Ele diz com a voz subitamente


baixa e tranquila. — Não quisemos correr o risco de qualquer
outra pessoa ser sequestrada. Margot se foi, você sabe.
Deixou o hospital antes mesmo de descobrirmos o quarto que
estava.

— Não é culpa sua, Austin.

— Amy. — Ele diz com firmeza, deixando-me surpresa.


— Foi minha culpa. Eu sou o líder da Triplo M. É sempre
minha culpa se algo acontecer com um de vocês. Eu não acho
que tenho sido um líder muito bom até agora, mas prometo a
você, princesa, que isso mudará. — Eu coloco meus dedos em
minha garganta, surpresa com o quanto este pequeno
discurso está me afetando. Austin é... excitante quando
assume o controle. Amy Cross! Eu me repreendo. Agora não é o
melhor momento para molhar os lençóis hospitalares com luxúria. —
Amy, sobre o bebê... — É a minha vez de interromper Austin.

— Não. — digo a ele, balançando a cabeça, embora não


possa me ver. — Não por telefone, não agora. Seja o que for
que você queira dizer, quero que seja pessoalmente. — Eu
torço o fio ao redor do meu dedo, como uma colegial de
décadas anteriores, antes mesmo dos celulares terem sido
inventados. — Eu não estou tão ruim assim. Agora que estou
acordada, imagino que possam me liberar em um dia ou dois.
— Eu levo meus dedos à minha cabeça. Eu ainda não sei
todos os detalhes, se eu tive uma concussão ou outra coisa,
mas me sinto bem. Um braço torcido em vez de quebrado,
alguns hematomas e alguns cortes aqui e ali. Eu não vejo
nenhuma razão para que ficar no hospital. — Você virá me
buscar?

— Eu dirigiria até os confins da terra para encontrá-la,


docinho. — Eu sorrio e então franzo imediatamente a testa
quando a porta começa a abrir.

— Eu ligo quando souber mais. — Faço uma pausa


quando o rosto do meu pai aparece no vão da porta. — Eu
amo você. — Então desligo antes que Austin tenha a chance
de responder.

O telefone clica suavemente no lugar enquanto olho


para cima e encontro os olhos de meu pai. Eles são azuis,
como os meus, mas muito, muito mais escuros. Talvez, os
olhos realmente sejam as janelas da alma e eu esteja
simplesmente olhando profundamente dentro da dele?

Ele age como se estivesse cheio de luz santa, mas tudo


que vejo é escuridão. Aqueles que são verdadeiramente
felizes, divinos por natureza, não julgam os outros por suas
diferenças. — Papai. — digo a palavra lentamente, deixando
que ouça o poder em minha voz. Eu não serei influenciada.

Meu pai caminha até se sentar na beirada da cama. Seu


cabelo escuro está perfeitamente penteado e está usando um
terno muito bom. Deve ser novo, porque é um que nunca vi
antes. O ar no quarto tem o particular cheiro do meu pai:
tabaco e pepinos. Eu não me importo; é certamente melhor
do que o rançoso mau cheiro acentuado de iodo.

— Amy. — Sua voz é a mesma que a minha: firme e


inflexível. Esta é uma batalha que ele já acredita que ganhou.
Quando estende o braço para colocar uma das mãos na
minha, eu deixo. Se Papai pedisse desculpas para mim agora,
dissesse que estava genuinamente arrependido de todas as
surras e todo sofrimento moral e psicológico que acumulou
sobre mim todos esses anos, provavelmente o perdoaria. Mas
ele não fará isso. E saber isso é uma das coisas mais difíceis.
— Eu tenho um amigo com um rancho a duas horas de
Wilkes. Ele concordou em deixar você ficar lá pelo resto de
sua gravidez.

— Porque ter um filho fora do casamento, mesmo que


com o homem que amo, é totalmente inaceitável? O que as
pessoas em Wilkes vão dizer? O que a igreja pensaria? — Eu
coloco a mão sobre a minha boca em um suspiro de mentira,
apreciando a carranca seguinte do meu pai.

— Todos nós cometemos erros em nossas vidas, Amy.


Você é jovem e quando ficar um pouco mais velha perceberá
que uma vida como esta não é uma vida. Querida, você foi
sequestrada. Por quê? Porque duas motociclistas lésbicas
entraram em uma briga de amantes?

Eu o olho diretamente em seu rosto e em seguida, mudo


nossas mãos, de modo que a minha esteja cobrindo a dele.

— Eu admito que o sequestro não foi totalmente


agradável, mas há riscos em todos os tipos de vida, e eu
escolhi esta. Eu aceito o preço. Pai, alguns momentos de
tragédia valem uma vida de alegria. Se você não pode ficar
feliz por mim, então, não podemos ter um relacionamento.
Sinto muito. Mas a porta ficará sempre aberta. Quando
estiver pronto para ser um avô para este bebê, eu terei você
por perto. — Eu solto sua mão, observando o rubor escalar
de seu pescoço para o rosto. Não é como ele gostaria que isso
terminasse. Ele se acostumou a me controlar e eu deixei.
Durante vinte e um anos, eu permiti. Não mais. Eu não me
arrependo da minha escolha.

— Não seja uma pessoa sem lógica, Amy. Pense na sua


mãe. Ela esteve doente de preocupação, esperando você ligar
para ela e que você nunca ligou. Ela passou quase todos os
últimos três meses chorando.

Eu não duvido de suas palavras. Na verdade, se ele


tivesse dito outra coisa, eu o teria chamado de mentiroso. —
Vocês podem ser um casal, mas ainda são pessoas distintas.
Cada um tem sua própria decisão a tomar.

— Não é assim que as coisas funcionam, Amy. — Meu


pai me interrompe, levantando-se. Eu o observo ficar de pé.
— Você não pode se negar a ir com a gente, não querer um
relacionamento com sua mãe. Eu sei que você não quer isso.
Ela ficará arrasada se fizer isso.

Eu engulo as lágrimas. Eu tenho que ser firme com eles.


Durante toda a minha vida, meu pai me tratou como uma
criança. Agora, sinto que a situação se inverteu. Como
Glance Serone diria:

“Você sempre terá uma dívida com os seus pais por a terem

criado. Em algum momento, a dívida terá que ser retribuída. Você

pode fazer isso ao ensinar-lhes uma coisa ou duas. Eles podem se

surpreender ao aprender, mas há sabedoria em cada criança.”

Claro que então ele sorriria e provavelmente transaria


com Sali no encosto do sofá, mas ainda há inteligência e uma
pitada de razão em suas palavras.

Eu continuo firme.

— Se é o que deseja fazer, não posso impedi-lo, mas


peço que reconsidere. Pegue o meu número de telefone e me
ligue quando mudar de ideia. — Papai me ignora, franzindo
suas sobrancelhas escuras sobre os olhos.

— Onde está Christy? Os seus pais estão preocupados,


especialmente depois do absurdo que você disse a polícia.

— Christy é uma mulher adulta, Papai. Se quiser falar


com os seus pais, ela ligará para eles. — Eu faço uma pausa.
— E ela é lésbica, pai. E tem orgulho disso. — Meu pai torce o
nariz e então se vira, saindo pela porta com o máximo de
autocontrole que possui.

Eu relaxo novamente nos travesseiros, subitamente


esgotada. A carga emocional de lidar com a própria família
pode até ser comparada a um terrível acidente de carro.
Confie em mim, eu fui parte de ambos e posso facilmente
testemunhar qual é mais doloroso.

Eu estou prestes a cair no sono quando a porta se abre


e minha mãe entra. Ela faz uma pausa ao pé da minha cama
enquanto olhamos uma para a outra.

— O seu número. — diz com a voz entrecortada. Ela


olha rapidamente para a porta, como se estivesse com medo
que meu pai entre e a pegue. Eu procuro por algo para
escrever, gemendo com o movimento, quando ela suspira e
joga uma caneta e um bloquinho de notas adesivas amarelas
em minha direção. Eu escrevo os números e entrego para ela,
levando um susto quando se aproxima... e dá um beijo em
minha testa. Sem outra palavra, minha mãe desaparece e em
meus lábios, nasce um sorriso.

Este acidente de carro pode não ter sido a pior coisa que me
aconteceu. Para ser honesta, pode simplesmente ter sido uma das
melhores.
Capítulo Vinte e Três

Austin
Eu passei quase uma semana na miséria, à espera de
Amy, sem saber o que estava acontecendo naquele maldito
hospital. Maldita burocracia e dois pais beatos que me
impediram de estar ao seu lado e deixaram um vazio em meu
estômago. Eu fui um louco, admito. Meus companheiros da
Triplo M aprenderam me evitar a todo custo. Hoje, estou
ainda pior, andando pelo meu quarto como um urso
enjaulado. Não, não é meu quarto... Nosso quarto.

— Pare de agir como um homem enlouquecido, Austin


Sparks. — digo a mim mesmo, fazendo uma pausa para olhar
no espelho sobre a cômoda. Sim... cômoda. Mesmo que a
casa não esteja terminada, eu tenho móveis para Amy.

No início, era apenas uma cama para descansar, mas


depois tornou-se uma mesa de cabeceira, uma lâmpada, uma
foto, até mesmo um maldito vaso de plantas. Que imagem
estranha o Sr. Austin Sparks passou em todas as lojas de
móveis e antiguidades que visitou.

Embora os funcionários das lojas olhassem para mim


como se fosse um assassino condenado, andando por aí com
o colete do meu clube e minhas botas favoritas, eu consegui
reunir um conjunto muito legal de coisas para Amy.

Eu posso ser um homem rude, mas eu tive uma mãe


que gerenciava uma loja de noivas. Eu a observava trabalhar
todos os dias depois da escola, eu a vi montar um lugar que
era o sonho de toda mulher. As garotas costumavam arfar e
chorar quando entravam lá. Minha mãe sabia como decorar,
então que se dane quem não goste, mas eu sei como decorar
também. Eu olho para as paredes, para o teto alto e as
sancas. Está pronto. Concluído. Eu gostaria de dizer o
mesmo sobre mim.

Eu coloco minhas mãos ao meu rosto mal barbeado e


em meu cabelo despenteado. Porra, eu cheiro a suor e sujeira
e não pareço muito melhor. Kimmi provavelmente está
voltando agora, sentada com Amy em nosso carro novo. Sim,
carro. É um palavrão, eu sei, mas o que eu farei com um
bebê? Merda, com dois bebês? Colocá-los na parte de trás da
minha moto? Então, comprei um carro. Não é chique, mas
servirá. Eu queria que Amy visse — mais do que ouvisse —
que estou pronto para esta nova vida.

— Eu deveria ter ido ao hospital. — murmuro, tirando


minha roupa e colocando-as em um cesto. Minha avó ficaria
orgulhosa de mim. O quarto não estava pronto para Amy, no
entanto; eu precisava dar os toques finais. Ou eu continuo
me dizendo isso. Na realidade, acho que só estava
preocupado com minha reação. Quando a vir, posso
enlouquecer.
Eu tomo banho o mais rápido que posso, evidentemente
aproveitando nosso novo banheiro chique e saio para
descobrir que Amy já está sentada na cama esperando por
mim. Há um olhar de pura admiração em seu rosto e um livro
descartado ao seu lado, é claro.

— Austin. — sussurra, olhando em volta com admiração


para as claras riscas azuis e brancas na parede, para os
quadros cuidadosamente pendurados, o tapete, as arandelas
brancas que emolduram o espelho. — O que você fez? —
Todavia, acho que ela notou mais o berço. Eu comprei um
fodido berço. Quem um dia imaginaria isso, não é? — Por
quê? — Parece que ela está segurando as lágrimas, mas eu
não sei o motivo. Esse é um bom momento, certo?

Eu caminho em sua direção, com nada além de uma


toalha enrolada na minha cintura. Curvando-me, coloco a
mão em seu joelho.

— Isso se chama “Eu sinto muito por ser um idiota, docinho”.


Espero que goste. — Ela olha para mim lentamente,
estendendo os dedos nas laterais do meu rosto. Eu fiz a
barba para ela, de modo que a pele do meu rosto está suave.
Espero que ela goste disso também. — Eu fui um idiota, Amy.
Eu sempre fui um andarilho, sabe? Eu não queria ficar
acorrentado a um lugar ou a uma mulher. — Eu aperto seu
joelho enquanto estou falando, para que saiba que não me
refiro a ela. — Mas enquanto estava pirando sobre perder
essa parte da minha vida, não estava prestando nenhuma
maldita atenção no que eu estava ganhando.

Amy desliza os dedos pelo meu rosto, deixando suas


mãos caírem nos meus ombros. Seu toque me deixa louco e
eu mal posso me conter enquanto me ajoelho ali, tremendo e
desesperado de desejo. Eu quero transar com ela, fazer amor
com ela, seja o que for. Eu só quero estar dentro dela. Não,
não, eu preciso estar dentro dela. — Um homem de verdade cuida
de sua família, Amy. A Triplo M é a minha família, você é a
minha família e... — eu engulo em seco. — ...este bebê é a
minha família.

Amy se inclina e me beija tão suavemente que seus


lábios parecem como tecido roçando em minha pele. Eu não
sou um homem poético, mas se fosse escreveria sonetos. Amy
move a boca até o meu queixo, beijando a pele recém-
barbeada, passando a língua ao longo do osso da mandíbula
e por todo o caminho até a minha orelha. Eu tremo e aperto o
joelho dela com tanta força que ela salta de surpresa.

— Você está ferida, baby. — digo, o meu pensamento me


levando de volta para aquele momento doentio quando
descobri que ela havia sumido, para aquele momento ainda
pior quando o carro capotou e eu pensei que ela poderia estar
morta. Ainda não tive a oportunidade de lidar com os filhos
da puta do clube Branded Kestrel, mas terei. Eu só estou
aguardando a oportunidade perfeita. Eu não fui um líder
muito bom, mas eu serei. Só preciso de mais uma chance
para provar isso. — Não podemos, você sabe, mandar ver. Se
você continuar fazendo isso, eu não serei capaz de me
controlar.

— Você não pode me algemar ou me penetrar em uma


bancada, mas ainda posso fazer sexo. — Amy sussurra em
meu ouvido — Nada aqui embaixo sofreu qualquer dano. —
Sua respiração quente faz meu pau ganhar vida e coloco
minhas mãos em seus quadris, passando-as em suas costas
e puxando-a para a cama ao meu lado. Eu presto especial
atenção ao seu braço esquerdo, certificando-me que esteja
deitada com este lado virado para cima. Eu pressiono minha
ereção em suas costas e passo minha língua em sua orelha.
— O que você está fazendo? — Ela sussurra enquanto puxo a
toalha e levanto sua saia.

— Pela primeira vez, você realmente me ouviu, Amy


Cross. Você realmente está começando a aprender como uma
aluna adequada. — Ela geme e arqueia as suas costas,
deixando-me deslizar o meu pau entre suas pernas e
encontrar sua abertura. Está quente e pronta para mim,
espalhando o máximo que posso enquanto me movo
lentamente para dentro, empurrando fundo e parando com
nossos corpos conectados. — Eu realmente odeio essas
calças.

— Austin, vá devagar. — Ela suspira enquanto eu


estendo a mão pelo seu corpo e encontro seu clitóris. —
Passaram-se dias e eu estive presa naquele hospital horrível
sem nada para ler. — Amy choraminga quando meu aperto
fica mais tenso e roço meus dentes em seu pescoço. Meu
peito pressiona ao longo do comprimento de suas costas,
implorando pelo contato pele a pele. Eu a massageio por um
momento mais antes de deslizar a mão e empurrar sua
camisa de lado, soltando o sutiã e esfregando minha pele na
dela. Ela geme e balança seu quadril para trás, encostando
seu corpo no meu e fazendo ambos suspirarmos de prazer. —
Eu já vou gozar e o deixarei na mão.

— Tudo bem, docinho, porque hoje à noite, você vai


gozar muito. Mais do que deveria até ser permitido. — Eu
empurro meu quadril em sua bunda, apreciando a suavidade
de suas nádegas enquanto nossas pélvis estão conectadas.
Movo minha mão para sua barriga, para dentro de sua
camisa, por baixo do sutiã solto e encontro seus seios.

— Austin, eles estão doloridos. Eu não estou brincando


sobre isso. — diz, tentando fazer beicinho com seus lábios,
mas falhando quando acaba gemendo. — Seja gentil com
eles. — Eu acaricio-a suavemente, rangendo os dentes para
controlar os impulsos animalescos dentro de mim. Gentil. Eu
tenho que ser gentil. Isso será um desafio.

Eu levo minha mão novamente para seu quadril,


segurando firme enquanto me movo dentro dela, apreciando a
umidade escorregadia conforme deslizo para dentro e para
fora, provocando pequenos gemidos em seus lábios que me
levam até o limite da minha sanidade. Meus dedos encontram
o clitóris de Amy novamente, circulando o pequeno broto
tenso e colocando apenas pressão suficiente nele para que
sua boceta prenda-se em mim, apertando, latejando e
ameaçando despedaçar meu pau. Puta que pariu.

— Goze para mim, baby. Apenas uma vez para aliviar a


pressão. Então, passaremos para o número dois.

— Austin, pare. — diz, mas não soa como se quisesse


que eu parasse. Amy move seu quadril no meu, acelerando o
ritmo enquanto eu esfrego seu clitóris em círculos, levando-a
a um orgasmo arrepiante que rasga seu corpo e quase
atravessa o meu. Eu cerro os dentes e atraso minha
libertação, apertando os músculos do estômago e saindo de
Amy com muita força de vontade. — O que você está fazendo?
— pergunta enquanto fica deitada lá, toda atrevida, bonita e
vulnerável. Toda minha.

Eu vou para a beira da cama e agarro os pés de Amy,


puxando suas meias e botas e jogando-as no chão. Veja, é
por isso que gosto de mulheres. Seus pés não cheiram como
algo que parou lá e morreu — como os de Beck — em vez disso,
cheiram a sabonete e rosas. Me diga como isso é possível.

— Cite-me um pouco mais de Shakespeare, baby. —


sussurro no arco de seus pés. Eu pressiono meus lábios em
sua pele e ela geme, apertando os dedos do pé. Minúsculas
gotas de suor se acumulam em suas costas e barriga,
lembrando-me que o ar condicionado continua no topo da
minha lista. Por enquanto, porém, aproveitarei isto. O calor
amplifica o cheiro de sexo no quarto, esticando a pele das
minhas bolas e me prometendo um puta orgasmo.

— Foda-se Shakespeare. — Amy geme, rolando de


costas e fazendo uma careta. Eu quase fico selvagem ali, ao
ver meu bebê com dor, mas ela prende seu olhar no meu. —
Não se atreva a parar.

— Oh, você está me dando ordens agora, hein? —


pergunto, deslizando minhas mãos para baixo de seu pé. Eu
li alguma coisa enquanto ela esteve fora — não muito — e
descobri que mulheres grávidas gostam de seus pés sejam
massageados. Isso posso fazer.

Eu pressiono meus dedos em sua carne e ela


choraminga. Pela expressão em seu rosto, parece que posso
também estar muito bem tocando seu clitóris. Olha só, um
recurso inexplorado que ignorei por todos esses anos. E eu pensava que
era um garanhão?

— Você é tão meu quanto sou sua. Eu não vejo por que
não. — Amy levanta o queixo desafiadoramente, mordendo o
lábio quando eu aperto seu pé novamente. O ar quente no
quarto gira preguiçosamente, agitado pelo ventilador de teto,
e roça em meu pau, extraindo um pequeno gemido da minha
garganta. Eu pego o outro pé de Amy e o movo para baixo,
deslizando seus pés em meu pau. Seus sucos atuam como
lubrificante enquanto gemo e empurro suavemente entre eles.

— O que você... Austin... — observo suas pupilas se


dilatarem e um rubor surgir em suas bochechas. — Você é
um safado! — Amy engole em seco, enquanto sorrio
amplamente para ela.

— Agora, aí está a conversa obscena que esperava. —


Eu continuo a empurrar lentamente entre seus pés, o pré-
sêmen vazando do meu pau e mantendo-o bom e
escorregadio. Não tão bom quanto uma boceta — nada é —
mas serve.

— Eu sou a... — Amy engole em seco novamente e limpa


a garganta, descansando a cabeça nos travesseiros. Sua mão
direita se esgueira por entre suas pernas e encontra seu
clitóris, esfregando suavemente através deste antes de
adentrar da sua própria umidade. — Eu sou a futura mãe de
seu filho. Você deveria me tratar com respeito.

— Oh, docinho. — rosno, sentindo meu sangue bombear


mais rápido e meu pau inchar de prazer. — Quando estou
com você, estou mais feliz do que um carrapato em um cão
de caça.

— Isso é nojento. — Ela choraminga, mas não para de


enfiar o dedo em si mesma. O olhar em seu rosto diz que é
tudo, menos isso.

— E eu respeito você, princesa. Eu respeito você pra


caralho por aturar um imbecil como eu. — abaixo os pés de
Amy para os meus lados e rastejo para frente, ajoelhando
entre suas pernas e passando a mão em meu pau.
Nós nos damos prazer juntos, observando, o ar entre
nós tremendo de tensão. Eu aperto a mão pelo meu pau,
minha bunda contraindo firmemente enquanto me esforço
para não gozar nos seios de Amy. Isto não é sobre mim, não
hoje. Eu terei minha diversão mais tarde, quando estiver
inchada e grávida do meu bebê. Depois, deixarei o selvagem
dentro de mim vir à tona. Agora, quero ver se consigo fazê-la
gozar três vezes.

— Você sempre celebra grandes ocasiões com sexo? —


ela pergunta e eu paro, recuando e agarrando-a por baixo da
coxa. Empurro sua a perna em direção ao seu seio, de modo
que eu tenha uma bela visão lá debaixo. Eu coloco os meus
dedos em minha boca, revestindo-os de forma boa e certa, e
então os empurro, bem próximo aos dela. Nossos dedos se
misturam em seu calor apertado por um momento antes que
ela desista e caia para trás, espalhando sua mão molhada em
sua barriga.

— Existe uma maneira melhor? — pergunto e ela


assente. Eu levanto uma sobrancelha enquanto Amy mantém
os olhos fechados e arqueia as costas. Eu acrescento um
terceiro dedo. — O que você acha?

— Um passeio de moto. — ela sussurra e dou risada,


inclinando meus dedos e procurando aquele pontinho doce
que leva as mulheres à loucura. Eu não sei bem por que
chamam de Ponto G, mas imagino que seja muito gostoso,
então, talvez, seja isso.
— Docinho, a menos que eu esteja te montando,
respeitosamente tenho que discordar. — pressiono meu
polegar em seu clitóris, guiando-o para trás e para frente
enquanto a fodo com a minha mão. A boceta de Amy já está
tão apertada que é difícil de mover. Eu dou um sorriso e
espero que seu segundo orgasmo seja melhor que o primeiro.

— Foda-me, Austin. Eu quero você dentro de mim. —


Ela geme, sua voz quase inaudível diante dos sussurros
escorregadios e molhados de sua boceta. Eu não paro, nem
mesmo quando sua pequena mão aperta meu pulso tentando
me afastar. — Eu preciso do seu pau.

Eu dou risada e Amy ruboriza. Eu dou um tapa na pele


clara de seu quadril e tento não gozar quando o sacode
sedutoramente. Amy está em boa forma, mas ela ainda é uma
mulher curvilínea. Uma mulher perfeita. Minha mulher.

— Goze para mim mais uma vez e eu lhe darei meu pau.

— Austin!

— Amy. — Eu respiro, acelerando meu ritmo e batendo


os nós dos meus dedos em sua boceta. Ela se contorce,
estendendo a mão e apertando o travesseiro em seu rosto.
Amy morde o tecido com força, balança o quadril e goza
novamente, encharcando minha mão com seus doces sucos.

Um som escapa de sua garganta, como um animal no


cio. Aquilo me leva a loucura de verdade. Mesmo se quisesse,
não posso esperar mais. Arrasto-a até mim com pouco
esforço. Eu pressiono a cabeça do meu pau em sua abertura,
sentindo a acolhida calorosa de sua boceta molhada.

O suor escorre pela sua barriga, pontilhando os seios


com umidade. A bonita e pequena saia creme de Amy está
levantada de seus quadris, deixando-a totalmente exposta.
Eu sorrio e empurro, enchendo-a enquanto ela grita e se
contorce sob mim.

— Eu não posso fazer isso de novo, Austin. — Ela


choraminga, mantendo os olhos fechados. Eu me inclino
sobre ela, sua perna ainda em minha mão esquerda. Se eu
aprendi alguma coisa nesses últimos meses, é que a
senhorita Amy Cross é flexível. Eu pressiono sua perna até seu
seio, com meus lábios pairando a apenas alguns centímetros
dela.

— Abra os olhos. — lhe digo e ela abre. Seus cílios


vibram e aqueles grandes e lindos olhos azuis me olham
fixamente enquanto começo a me mexer. Ela está tão úmida e
pronta que eu não preciso ir devagar. Eu extravaso, batendo
o meu corpo no dela, desfrutando da leve brisa do ventilador
de teto em minhas costas. — Continue me olhando, docinho.
— ordeno, mantendo nossos olhares presos, nossos rostos a
centímetros de distância. Amy coloca uma das mãos em meu
peito, tocando minha pele gentilmente. Ela passa suas unhas
em meu corpo enquanto geme, tocando as minhas tatuagens
e traçando-as com os dedos trêmulos.
Embora ela seja minha, já marcada com a minha
semente, mordo meus lábios com força e gozo dentro dela,
apreciando a expressão espantada em seu rosto com formato
de coração. Minha libertação é rápida e ágil, extraindo sons
de puro prazer de minha garganta. Acho que a Senhorita
Cross gosta disso também, porque coloca sua mão
novamente em seu clitóris, esfregando com força e gozando
como a gatinha selvagem que sei que ela é.

Merda, e eu estava preocupado sobre estar com uma


mulher pelo resto da minha vida? Eu solto a perna de Amy,
ofegando e olhando para seu rosto. No entanto, não saio dela,
apenas ficamos juntos no corpo, como tenho bastante certeza
que já estamos na alma.

— Você é mais mulher do que pensei um dia ter. — digo


e eu espero que ela saiba que é um elogio. Amy sorri e levanta
a mão direita para roçar em minha mandíbula.

— E você... — ela diz — ...é certamente o único homem


capaz de derreter a minha calcinha e decorar o meu quarto.
Austin Sparks, eu te amo como o deserto ama a chuva.
Capítulo Vinte e Quatro

Amy
Eu durmo direto até a manhã seguinte, aliviada por
estar em casa e completamente exausta pelos cuidados de
Austin. Até mesmo pensar nisso me faz corar, embora não
saiba por que. Certamente não é a primeira vez que fizemos
sexo. Eu sinto minhas bochechas esquentarem, mesmo
através da vermelhidão de minha pele feita pelo preguiçoso
calor do verão.

Hoje estou usando calças de couro, apesar de não ser o


tipo de roupa mais confortável para vestir. Eu simplesmente
quero. Eu tive que voltar para casa vestindo as roupas que
minha mãe havia levado ao hospital para mim. Roupas da
antiga Amy que mais parecem uma toalha de mesa que
qualquer outra coisa. Eu prontamente as joguei na enorme
lata de lixo pela porta da frente, cheia até a borda com
pedaços de reboco velho.

— Então, você ainda está viva? Que vergonha! — me viro


e encontro Mireya encostada na parede onde os balcões
costumavam estar. Ela sorri e posso ver que ela só está
brincando. Seu cabelo escuro está penteado para trás e
bagunçado, salpicado com pó branco e manchado com tinta
rosa. Eu sempre achei que ela era bonita quando ela estava
enfeitada e vestida com seu melhor equipamento de gata
motociclista, mas, na realidade, acho que ela está bonita
mais bonita agora.

Eu sorrio de volta.

— Você viu Christy? — pergunto, ajustando o meu braço


na tipoia. Não está quebrado, apenas torcido, mas ainda está
um pouco dolorido. Minha cabeça lateja no ritmo da serra
que escuto funcionando em outra parte da casa, mas a
ignoro. Eu tenho remédio para isso e não me esqueci de que
eu estava num pequeno coma. Eu prometo a mim mesma a
pegar leve.

Mireya puxa um cigarro do bolso da calça jeans e o


acende. — Acho que está lá em cima com Kimmi. — levanto
as sobrancelhas e Mireya encolhe os ombros.

— Não me pergunte. Eu não sei. — fecho a tampa da


lata de lixo e subo as escadas, procurando por Christy. Eu a
escuto antes de vê-la, rindo como eu não a escuto há muito
tempo, como se o mundo estivesse aberto e pronto para ser
explorado. Meu sorriso aumenta. Eu viro a maçaneta da
porta e entro num quarto rosa claro, menor do que o meu e
de Austin, mas, ainda assim, de bom tamanho. Christy está
encostada na parede à minha frente, seu cabelo loiro preso e
seus olhos azuis brilhando. Quando ela me vê, ela grita.

— Amy! — Christy praticamente corre pelo quarto e, em


seguida, para bruscamente quando vê a tipoia no meu braço.
Eu coloco meu braço bom em volta do seu pescoço e lhe
dou um abraço. Kimmi passa um braço sobre sua testa e nos
observa com um sorriso.

— Nem parece que você a buscou no hospital ontem. Se


eu não soubesse, diria que você não a tinha visto nas últimas
semanas. — Kimmi dá um passo para trás e olha para a
parede com um olhar crítico. — Pelo menos você está de
volta, Amy e pode dizer a Christy o quão nojenta esta cor é.
Eu chamo de Vômito rosa bebê.

— Esse tom de rosa é chamado de Lábios Femininos. —


Christy corrige, afastando-se de mim e colocando as mãos na
parte inferior das costas. Kimmi levanta uma sobrancelha
laranja.

— Eu já vi um monte de lábios femininos.8 — diz, fazendo


nós duas corarmos. — e nunca vi nenhum que fosse desta
cor. Se tivesse visto, provavelmente teria ligado para a
emergência.

— Você é nojenta. — Christy diz, mas diz de forma


carinhosa o suficiente.

— Eu não pretendia interromper a festa das pintoras,


mas pensei que seria divertido se déssemos um passeio. Há
algumas lojas não muito longe daqui e eu estou desesperada
para esticar as pernas. — Kimmi me olha, descansando uma

8
Em inglês, “lady lips”, além de significar os lábios da boca, numa gíria mais vulgar, também serve como
os lábios vaginais.
mão na bainha de seus jeans.

— As coisas podem parecer casuais, mas estamos em


guerra. — Kimmi sorri. — Se você quiser dar uma
caminhada, terá que levar uma comitiva com você. — O
sorriso dela aumenta. — Vá perguntar a Beck.

Eu agarro Christy pela mão e a arrasto para fora do


quarto, rezando para que Beck não esteja... errr... Ocupado
com Tease no momento. Eu preciso conversar com Christy.
Eu sinto que é importante fazer isso. Continuo prometendo a
mim mesma que passaremos algum tempo juntas, mas
nunca sigo em frente com isso.

Depois do acidente, que poderia ter sido muito pior, eu


sinto que não posso adiar por mais tempo. Felizmente, Beck
está de pé na base das escadas quando passamos por lá. Eu
faço uma parada abrupta e Christy bate em minhas costas.
Olho para ele, que sorri amplamente quando me vê.

— Bem, droga. Achei que você tivesse voltado como um


fantasma, considerando que não tive a chance de ver seu
rostinho bonito ontem, apenas um monte de gemidos e
suspiros. — ruborizo novamente, mas levanto meu queixo
com altivez.

— Perdoarei a sua indelicadeza se prometer nos levar


em uma pequena caminhada. — olho para a porta do meu
quarto. Poderia perguntar a Austin se ele poderia nos
acompanhar, mas não quero que Christy se sinta como uma
“vela”. É melhor se arrastarmos Beck junto. — Traga Tease e
vamos tomar um sorvete. — Beck aperta sua garrafa de água
vazia e a joga sobre o ombro. Esta salta para fora da borda da
lixeira e atinge Mireya na perna. Ela faz uma carranca para
ele, mas não diz nada.

— Eu nunca diria não a tal senhora encantadora. — diz,


gesticulando para a escada. — Venham até aqui e vamos
embora.
Capítulo Vinte e Cinco

Amy
— Você está feliz aqui? — pergunto a Christy enquanto
damos as mãos, andando na rua calmamente. Beck e Tease
estão a uma boa distância atrás de nós, mas não duvido da
capacidade de nos manter seguras numa crise. Beck é uma
máquina e Tease cresceu nesta vida. Eu não estou
preocupada.

Além disso, as coisas parecem quase notavelmente


silenciosas. Eu tenho a sensação de que não lidaremos com
mais nenhum soco ou chutes — quando a próxima onda de
problema chegar, será grande o suficiente para bloquear o
sol. É apenas o meu palpite, é claro.

— Aqui? — Christy pergunta, olhando para as casas


abandonadas à medida que caminhamos. — Tipo, nessa
cidade?

— Tipo, neste clube? — digo, olhando para nossos dedos


entrelaçados. Andávamos para qualquer lugar juntas quando
garotinhas, sempre de mãos dadas. Christy é o meu apoio e o
meu conforto, por isso nem me importo se Mireya tira sarro
de nós por isso. — Eu não tinha certeza que conseguiria
inicialmente.
Eu respiro fundo e espero que ela responda. Eu preciso
contar a ela sobre seus pais em breve, que eles estavam
esperando no hospital também. Provavelmente deveria ter
contado assim que a vi ontem, mas não consegui. Em meu
coração, receio que Christy desista e desapareça um dia,
voltando para sua vida miserável em Wilkes.

— É difícil para mim. — admite, passando sua mão livre


em seu cabelo loiro. Ele está balançando suavemente pelo
seu pescoço, feliz por estar livre do rabo de cavalo que usava
antes. — Muito mais difícil do que foi para você, eu acho.
Você é uma pessoa muito mais forte do que eu, Amy. — Eu
aperto sua mão.

— Isso não é verdade e você sabe disso. Todos têm força


dentro de si, se souberem onde procurar. Todos nossos
pontos fortes residem em lugares diferentes, alguns mais
difíceis de encontrar do que outros. Você chegará lá. — Eu
digo e então, repenso a minha declaração. — Não, você está
chegando lá agora. Ou pelo menos parece estar. Você sempre
foi uma fã de reformas? — Christy cora e pisa sobre uma
rachadura na calçada, cheio de ervas daninha e capim. É
meio que bonito de certo modo diatópico.

— Eu gosto de ver a transformação, sabe. De quebrado,


para inteiro novamente. — ela dá de ombros, como se seu
comentário não significasse nada. — Simplesmente encontrei
algo com o qual me identifico. — Christy respira fundo e olha
por cima do ombro. Seus olhos encontram os meus e sua
boca abre e fecha como se estivesse prestes a contar um
segredo. Ao invés disso, diz: — Eu estou até começando a
gostar de motos.

Minha vez de levantar minhas sobrancelhas. — Sério? —


sorrio. — Kimmi Reynolds tem algo a ver com isso?

— Você é uma vadia, sabia? — ela diz e quase tropeça


na palavra com “V”. — Mas sim, talvez. Ela parece ser uma
boa pessoa. — Christy morde o lábio e olha sobre o ombro
novamente antes de se inclinar e sussurrar — Há uma forte
possibilidade de que ela seja viciada em sexo. — Eu dou
risada, quase tão alto quanto Beck atrás de nós.

— Você está certíssima sobre isso, peitudinha. — ele diz.


Christy e eu nos inclinamos uma na outra, gargalhando.

— Ele ouve tudo. — Christy diz com os olhos arregalados


e nós duas coramos. Eu não sei o que ela está pensando, mas
eu sei onde meu pensamento está. Na cama com Austin. Eu
tremo.

— Estou feliz que esteja bem, Amy. — Ela diz enquanto


chegamos ao final do quarteirão e as casas voltam ao normal.
Os gramados aqui são principalmente verdes, ao invés de
marrons e as casas bem cuidadas. Só mais um quarteirão até
chegarmos à pequena fileira de lojas.

— Eu estou feliz que estou bem, também.


— E o seu bebê? — Christy diz e sorrimos docemente
uma para a outra. Quando lhe contei que estava grávida, ela
surtou um pouquinho. No bom sentido, no entanto. Christy
está animada para ser uma tia. — Eu estou feliz que ela ou
ele está bem, também. — Eu sorrio para ela.

— Eu duvido que você pensará nisso quando lhe


implorar para trocar as fraldas. — Christy revira os olhos
azuis.

— Oh, por favor. Você sabe que ficarei feliz em ajudar.


— Ela olha para a calçada e sorri suavemente. —
Pessoalmente, a ideia de parir é bastante repulsiva para mim,
então, estou feliz que você seja a pessoa “abraçando a causa”.

Eu esbarro em seu braço de forma brincalhona com o


meu ombro conforme atravessamos a rua. Caminhamos em
silêncio por um momento, antes de criar coragem. — Você
sabe que meus pais estavam no hospital, mas sabia que os
seus estavam também? — O rosto de Christy empalidece e ela
balança a cabeça. Eu afasto meu olhar, na direção dos toldos
e da abundância de flores coloridas que enchem a calçada á
frente.

— Você os viu? Eles estão bem? — Ela pergunta a voz


muito mais silenciosa do que estava a um momento atrás.

— Eu não os vi pessoalmente, mas meu pai disse que


estavam lá. A menos, claro, que ele estivesse mentindo, mas
eu não acredito. Eles queriam levá-la para casa.
— Bem, eu não voltarei. — Christy declara firmemente e
eu fico surpresa com a veemência em sua voz. — Mesmo que
às vezes seja assustador aqui... — ela me dá um olhar — ...é
melhor estar com as pessoas que te amam por quem você é.
Amy, a única razão pela qual sobrevivi em Wilkes é porque
você estava lá também. Essa é a verdade.

— Minha mãe anotou meu celular, muito embora meu


pai tenha dito que não podia. — Christy e eu ficamos em
silêncio por um momento. Sabemos como isso pode acabar se
meu pai algum dia descobrir que fez isso. — Talvez um dia
possamos ter um relacionamento maduro com eles. Eu não
sei se estão prontos para isso, mas estarão eventualmente.
Eu tenho certeza disso.

— Se conseguirem esquecer aquele vídeo. — Christy diz


e bato em seu braço, parando do lado de fora de uma
sorveteria que parece estar aqui desde os anos cinquenta. De
um jeito bom, no entanto. — Eu sei que ainda estou tentando
superar.

— Oh, quieta, sua pirralha.

— Mas uma mesa de bilhar? Amy, Meu Deus. Esses


romances devem ter verdadeiramente apodrecido seu cérebro.
— Ela sorri enquanto a empurro com o meu quadril e em
seguida, a arrasto para dentro da loja. O dia de hoje está
bom, positivo, normal. Eu queria que todos os dias pudessem
ser assim tão maravilhosos, mas, às vezes, o destino tem
outros planos.
Capítulo Vinte e Seis

Austin
Agora que Amy está de volta, parece que tudo está
pronto. É hora de parar, esperar e agir. O primeiro passo é
encontrar Margot Tempe e meter uma maldita bala em sua
cabeça. Eu fiz a coisa certa antes, deixando-a se afastar de
nós, mas agora que paguei minha dívida com os Setenta e
Sete Irmãos, é hora de eliminar a ameaça. Eu odeio fazer
isso, mas eu não arriscarei Amy, Kimmi ou qualquer outra
pessoa no clube. Não mais.

Faço uma curva sinuosa com minha moto, apreciando a


sensação do vento em meu corpo, o sol esquentando o couro
em minhas costas. Agora que temos a sede do clube, vou ter
que arrumar tempo para pilotar. Não será apenas uma
simples parte do meu dia. Isso me assustou antes, mas me
sinto melhor agora. Talvez não subestime a relevância. Se for
um prazer mais do que uma obrigação, será que não
apreciarei mais? De qualquer forma, Kimmi e eu planejamos
parar de roubar bancos, então, sei que conseguirei alguma
quilometragem durante essas corridas, pelo menos.

Embora aprecie o rugido do motor e a luz do sol sobre o


cromado, não significa que esta seja uma viagem prazerosa.
Infelizmente meus membros da Triplo M e eu estamos numa
missão. Se deixar o desrespeito que os Bested by Crows e o
Broken Dallas me dispensaram sair barato, então, não serei
nada. Se for fraco neste mundo, isso é uma sentença de
morte. Se eu deixar isso passar, até mesmo se eles se
cansarem de mim e desaparecerem, eu terei outros
problemas. Preciso provar a todos que posso ser um líder.

— Você pode desligar essa bosta e colocar um pouco de


música de verdade? — Beck pergunta, rompendo o sistema
de intercomunicação e cortando Hell Yeah do Rev Theory. Eu o
ignoro e continuo dirigindo. Ele pode ser nosso novo
Sargento, mas eu sou o Pres. Eu tomo as decisões
importantes. Eu sorrio sob minha viseira, fazendo a próxima
curva de forma agradável e afiada, ouvindo o rugido do
asfalto tão logo este desaparece debaixo da minha moto.

Mireya Sawyer deu-nos algumas informações muito


valiosas: a localização da sede dos Bested by Crows. Tem sido
o mesmo maldito lugar por mais de duas décadas e, de
acordo com ela, os imbecis têm muito orgulho dali. É claro
que não vivem lá como planejamos fazer, mas merda,
ninguém nunca disse que a Triplo M não era uma anomalia
no mundo dos MC’s.

Ao irmos até lá, estamos apostando. Eu tenho vinte


membros comigo e o resto está na sede do clube. Nós
poderíamos ser oprimidos e acabarmos em outro tiroteio, mas
também poderíamos ter sorte e pegá-los no momento em que
poucas pessoas estão lá. Essa é a esperança. Como a minha
canção favorita do Nickelback: “Burn it to the Ground”9,
incendiaremos aqueles filhos da puta. O objetivo é dizer que
não toleraremos mais as suas merdas. Espero que funcione.

— Você é um verdadeiro filho da puta, Austin Sparks. —


Beck murmura enquanto avançamos em direção à saída e
avistamos várias casas suburbanas e bonitos gramados
verdes.10 Os Bested by Crows mantém sua sede num longo
reduto, fechado e escondido do mundo. De acordo com
Mireya, você nunca saberia ao olhar. Eu ignoro meu amigo e
mantenho o foco na tarefa em jogo. Quanto mais cedo
acabarmos com essa merda, mais rápido voltarei para Amy e
isso é tudo no que eu realmente dou a mínima agora.

— Diga o caminho, querida. — digo a Mireya, seguindo a


sua moto e desacelerando substancialmente à medida que
entramos no subúrbio, desviando de mini vans e recebendo
encaradas de donas de casa sulistas. Mireya não responde e
só posso imaginar o que está pensando em sua cabeça agora.
Este lugar traz algumas lembranças difíceis para ela e estou
orgulhoso que ainda foi capaz de liderar o caminho.

— Estamos quase lá. — responde finalmente, nos


levando a um parque nas proximidades. Alinhamos nossas
motos ao longo do lado sul do estacionamento e descemos,
arrastando nossos mantimentos com a gente. Será preciso
um monte de gasolina para queimar essa merda até o chão.
9
Traduzindo: “Incendeie até o chão”
10
Nos Estados Unidos, os subúrbios são áreas afastadas dos centros metropolitanos, onde somente
existem casas, normalmente bem bonitas e grandes.
Exemplo: http://peterlarson.org/wp-content/uploads/2010/05/Suburban-Street.jpg
— Tudo bem. — Eu coloco um cigarro na boca. —
Kimmi, Beck, Mireya e eu seguiremos por entre as árvores e
vasculharemos o lugar. Se parecer que podemos entrar e sair
sem um banho de sangue, voltaremos, pegaremos vocês, e
seguiremos no mesmo caminho. — Já falamos sobre este
plano duas vezes pela manhã, mas quero ter certeza que todo
mundo entenda. Eu não estou brincando por aí, não mais.

Bishop assente, virando-se para vigiar os outros


enquanto nos vamos para a parte de trás de um parque
infantil, que felizmente está vazio no momento. Ninguém fala
enquanto caminhamos por entre as árvores, passando por
pontos de sombra e luz solar. Está um dia muito bom hoje.
Que vergonha que teremos que estragar isso.

A caminhada leva mais tempo do que esperava e no


momento que chegamos ao local, o suor está rolando pelo
meu rosto e encharcando minha camisa.

Todos param e olham para o cercado de ferro forjado


que rodeia a construção. Não parece nada extravagante. Eu
acho que para a maioria das pessoas isso pareceria uma
pousada ou algo do tipo.

— Não parece que exista uma maldita alma aqui. — digo


enquanto Mireya aperta os olhos e tenta manter uma cara
séria enquanto olha para o prédio. Não funciona. Ela
comprime os lábios e franze a testa.

Não há uma única moto no enorme estacionamento de


cascalho. A menos que todas estejam na garagem de quatro
portas na parte de trás. Ficamos ali por um tempo,
observando a propriedade e tentando determinar se
realmente está tão vazia quanto parece.

— Talvez eles não a estejam usando mais — Beck


sugere, coçando a nuca. Kimmi e eu trocamos um olhar
enquanto Mireya avança e caminha pela cerca, em direção ao
portão.

— Depois de duas décadas, simplesmente a


abandonariam? Besteira. Talvez sejamos apenas sortudos. —
Ela acelera o passo, forçando o resto de nós a segui-la. Puxo
minha arma do coldre e xingo baixinho. Se alguma coisa
acontecer com Mireya enquanto eu estiver com ela, Gaine
arrancaria minhas bolas. E pode apostar que usaria uma faca
enferrujada, também. Eu confio nele o suficiente para manter
Amy segura, então, tenho de retribuir o favor.

Mireya pausa perto do portão e agita a mão mostrando a


uma placa. Não é chique, mas embaixo do endereço está
escrito “Clube Bested by Crows”. Bizarro demais.

— Eu disse. — Ela ralha, estendo a mão e empurrando a


porta. A porta abre amplamente, sem cadeados, sem nada.
Isso não é um bom sinal. Eu coloco minha mão em seu
ombro.

— Isso pode ser uma armadilha — digo, olhando para


Beck. Ele dá de ombros e seu olhar demonstra que não tem
nenhuma idéia. — Não podemos simplesmente entrar lá. —
Mireya franze os lábios e me olha de cima abaixo. Eu sei que
seu ódio pelos Bested é mais profundo do que qualquer coisa
que jamais poderia compreender, mas está cegando seu bom
senso. Ela se afasta de mim e entra correndo no
estacionamento.

— Filha da puta. — rosno, correndo atrás dela com Beck


e Kimmi bem atrás de mim. Eu mencionei que Kimmi decidiu
se juntar a nós hoje usando um sutiã cravejado e saltos de
12cm? Essa garota não reconheceria o bom senso mesmo se
este chutasse a sua bunda.

Mireya se move rápido, porém silenciosamente, como


uma sombra vestida em calças de couro, botas e jaqueta. Ela
não se preocupa em usar o elemento surpresa, movendo-se
dos degraus até a porta da frente. Esta, pelo menos,
realmente está trancada.

— Você está completamente louca? — Kimmi rosna,


parando ao seu lado e olhando pelos vidros que ladeiam a
porta. — Você quer que a gente morra?

— Não há ninguém aqui. — Mireya diz isso quase como


se fosse uma coisa ruim.

— Bem, há móveis lá dentro. — Kimmi acrescenta,


olhando para nós dando de ombros. — Mas ela está certa.
Não há uma alma lá dentro que eu possa ver. Além disso,
vocês não acham que eles teriam se anunciado caso tivessem
visto a gente se aproximando?

— A menos que estejam se escondendo lá dentro,


preparando uma emboscada. — olho por cima do ombro,
mas, realmente, está assustadoramente quieto aqui, como
uma cidade fantasma. Mireya se vira para mim, inclinando as
costas na porta.

— Eles se fundiram com o Broken Dallas. Talvez


finalmente abandonassem este lugar — ela olha para longe,
até o estacionamento e os bosques com um olhar distante,
como se houvesse outro tempo sobreposto com este. Eu
estalo meus dedos em frente ao seu rosto, malditamente certo
que essas são lembranças que ela não deveria ser permitida a
se aprofundar. Pelo menos não agora.

— Você acha que eles fariam isso? — Mireya se afasta e


deixa seu cabelo escuro cair em seu rosto como uma cortina.
Quando ela volta seu olhar para o meu, as memórias se
foram e não há nada lá, exceto arrogância mordaz.

Graças a Deus que ela está com Gaine agora. Se as


fantasias de contos de fadas de alguém poderiam derreter um
coração congelado, seriam as dele.

— Faz uma década desde que eu fui membro. Como


posso saber?

— Bem... — Beck diz, acendendo um cigarro como se


não tivesse uma preocupação no mundo. — Não parece que
este lugar foi abandonado há muito tempo, se for isso
mesmo. Podemos simplesmente pegá-los num momento
vulnerável. — ele dá uma tragada em seu cigarro — acho que
devemos fazer o que viemos fazer e acabar logo com isto. Se
eles usam este lugar ou não, eles receberão a mensagem. —
Beck começa a descer os poucos degraus de volta ao
estacionamento. — Eu chamarei os outros e pegaremos os
fogos e iluminar este bebê como numa exibição de fogos de
artifício no dia da independência. — Ele sorri e pisoteia por
todo o cascalho, deixando eu e as meninas sobre o alpendre,
como convidados indesejados.

Eu não queria que as coisas exatamente chegassem a


socos, mas isso é quase pior. Se eles não estão aqui, então,
onde estão? E se não podemos encontrá-los, o que isso
significa? Eu duvido que essa merda tenha acabado. Se não
chegarmos a eles, eventualmente virão até nós.

— A sede do Broken Dallas é bem fora de rota. Nós


poderíamos ir até lá, mas é uma viagem muito mais
demorada. Eu não sei se fico confortável em abandonar o
grupo por tanto tempo. — Até mesmo estar longe do clube
neste momento me deixa ansioso. Kimmi percebe que estou
perdido em meus pensamentos, então balança a cabeça e
seus brincos voam com o movimento.

— Não. Eu tenho um pressentimento... — ela olha


novamente para a casa. — ...que não teremos muito mais
sorte lá também.
— E por que isso? — pergunto, na esperança de que ela
esteja certa. É muito mais fácil defender o seu território do
que invadir o de outra pessoa.

— Se eles estão se fundindo e circulando sob um nome


diferente, algumas coisas têm que mudar. Se eles pagarem
mais homenagem a um grupo do que o outro, isso gerará
brigas e desavenças. — Kimmi desce os degraus, parando na
brita com o olhar focado ao além. — Acho que talvez
precisaremos esperar que eles venham até nós. — ela olha
por cima do ombro e me dá um olhar muito estranho quando
me vê sorrindo. — Que porra é essa expressão?

— Bem... — É a minha vez de puxar um cigarro. —


...quando vierem, simplesmente teremos que nos certificar
que eles nunca mais saiam.
Capítulo Vinte e Sete

Austin
Eu deixo os outros membros da Triplo M com todo o
trabalho pesado, ficando de pé com os braços cruzados e meu
rosto voltado para o céu. Eles chutam a porta e ensopam o
local com a gasolina, encharcando até que o cheiro exale para
fora e seja pego na brisa, queimando minhas narinas.
Quando estão prontos, Beck lidera todos de volta para mim e
passa uma caixa de fósforos.

— Nós fizemos uma linha de gasolina do lado de fora,


para que possamos começar o incêndio de vários de lugares.
No entanto, pensei que gostaria de fazer as honras da casa.
— Eu pego os fósforos e subo em direção a casa, parando a
meio caminho do monte de cascalho. Eu me viro e flagro
Mireya olhando para mim com uma intencionalidade que
poderia matar. Essa mulher é mais assustadora do que uma
freira numa escola, às vezes. Eu olho para os fósforos em
minha mão e depois caminho até ela.

— Você quer a honra, querida? — pergunto, estendendo


a mão com a palma para cima. Mireya olha para por um
longo tempo, tempo suficiente para que eu quase retire a
minha oferta e me vire.
— Na verdade, sim. — finalmente diz, dando um passo à
frente e pegando os fósforos. Ela acende um imediatamente,
segurando a chama na frente de seu rosto por um momento
antes de pisar para frente e jogá-lo na linha de líquido que faz
uma trilha degraus abaixo.

A casa não explode como nos filmes — não é assim que


a gasolina funciona — mas chamas correm, numa labareda
de calor, queimando e se espalhando rapidamente.

Mireya e eu recuamos a uma distância segura e


observamos como a casa de seus pesadelos se transforma
lentamente numa bola furiosa de chamas, saindo pelo portão
somente após o som de sirenes ao longe. Seja o que for que
esteja acontecendo com os Bested by Crows, isso tem que
machucar pelo menos um pouco. Você não mantém uma
sede de clube e um nome por duas décadas para desistir
facilmente. Com esperanças, isto lhes dará a minha
mensagem: não fodam com Austin Sparks.
Capítulo Vinte e Oito
Amy
Antes de Austin acordar na manhã seguinte, eu exploro
a outra casa. O trabalho finalmente começou nesta aqui e a
cerca entre as duas casas foi demolida formando um único
muro que envolve ambas as propriedades. Eu certamente
espero que esteja dentro dos padrões.

Eu ando pelos corredores e digo nomes, listando quem


ficara em cada quarto. Austin finalmente exibiu uma planta,
certificando-se que todos estavam felizes com os arranjos.
Fiel à sua palavra, ele realmente está arrumando as coisas.

Eu sorrio aos membros da Triplo M enquanto passo,


abrindo portas e olhando para o papel de parede mofado,
janelas quebradas e um velho saco de dormir com cheiro de
urina. Eu tenho que dizer, esta casa está mais avançada na
sua decadência do que a outra.

— Por Deus. — aperto minha mão sobre meu nariz e


bato na porta do quarto à minha esquerda. Este lugar tem
três andares, só Deus sabe quantos metros quadrados e
quinze quartos. Eu pergunto: quanto custou? Continuo
andando, curtindo o meu breve momento de solidão,
esperando esbarrar em Christy em algum ponto. Quero ver se
me ajudará com a colocação de azulejos num dos banheiros
na outra casa.

Quatro portas depois, eu faço uma descoberta muito


interessante: Kimmi e Christy se beijando, os corpos
pressionados na parede de um quarto vazio.

— Uau. — pulo e bato meu braço ferido na porta,


extraindo um pequeno suspiro de meus lábios e atraindo as
atenções de ambas para mim. Kimmi sorri maliciosamente,
colocando um pouco de seu cabelo laranja atrás da orelha e
mantendo a outra mão firmemente ao redor da cintura de
Christy. Minha amiga, por outro lado, grita incrivelmente
alto, como se uma matilha de lobos raivosos estivessem
comendo seus calcanhares.

— Amy! — Ela grita, com os olhos arregalados — O que


está fazendo aqui? — Eu levanto uma sobrancelha, apertando
meu braço esquerdo e passando suavemente os dedos no
curativo sobre o ferimento de bala.

— Eu acredito que poderia perguntar-lhe o mesmo — Eu


mordo meus lábios com força e tento não rir. Se rir, Christy
nunca me perdoaria e poderia muito bem permanecer virgem
pelo resto de sua vida, apenas por simples despeito. Me
pergunto se este é o segredo que ela queria me contar... — Eu
devo dar às duas mais um pouco de privacidade?

Christy grita “não” praticamente ao mesmo tempo em


que Kimmi rosna “sim” e simplesmente decido dar o fora de lá
antes que faíscas voem. Eu acabo sentada no topo da escada
com o meu livro aberto no colo e um sorriso no meu rosto.

“Você nunca realmente conhece alguém até que o tenha dentro

de você. Este é o último maldito pensamento que me ocorre antes de

Paul — A Tempestade Indomável — Wolfe empurrar seu pênis em

minha boceta desesperadamente dolorida.”

Eu coloco meu dedo sobre a passagem e olho para o


teto, tentando imaginar qual seria o nome de Austin se ele
fosse algum tipo de lutador profissional ou outra coisa. Eu
decido que Austin — Derretedor de Calcinha — Sparks seria uma
boa escolha e me foco novamente no meu livro.

“ Paul usa seus músculos enormes para me manter pressionada

na parede, minhas pernas dobradas na altura dos joelhos, os pés

balançando no ar. Eu não preciso me preocupar em me segurar. Ele

cuida disso para mim, prendendo-me com suas estocadas selvagens e

bíceps fortes como pedra. Eu aperto meus dedos ao redor das suas

suadas protuberâncias de orgulho masculino revestindo seus braços e...

— Aham. — viro meu rosto e vejo Christy de pé, com o


rosto vermelho como beterraba. — Você é uma pentelha e
isso é tudo o que tenho a dizer. — Christy passa por mim,
descendo as escadas e saindo pela porta da frente.

Ouço uma risada do corredor no andar de cima e vejo


Kimmi pavoneando-se pelo tapete gasto em minha direção.
Ela faz uma pausa e depois decide se sentar ao meu lado,
batendo uma bolsa enorme entre nós. Parece que está cheia
de ferramentas: martelos, chaves inglesas, chaves de fenda.
Eu não posso evitar o sorriso em meu rosto.

— Você não apenas seduziu a minha virginal melhor


amiga, mas também não parece estar incomodada em usar
uma caixa de ferramentas? — Kimmi levanta as sobrancelhas
e depois sacode a cabeça com uma risada. Ela aponta para
seus sapatos ridiculamente brilhantes.

— Fashion é ser funcional, minha querida Amy Cross. —


Ela se abaixa e começa a fuçar o conteúdo da bolsa. — Além
disso, funciona, não é? — Kimmi continua vasculhando
enquanto espero que fale da sessão de amassos com Christy.
Ela não fala. Ao invés disso, tira um revólver da bolsa e
limpa-o com o tecido esvoaçante de sua blusa.

— Aqui. — olho para a arma prateada reluzindo na sua


mão e não sei o que fazer.

— O que é isso? — pergunto, quase com medo de


estender a mão e pegar a arma. Quase. Minha curiosidade me
vence e, quase por vontade própria, minhas mãos pegam o
revólver e o coloca em meu colo. — Está carregado? — Kimmi
ri e abaixa a bolsa entre seus pés.

— Eu posso ser idiota, mas eu não sou tão idiota. — ela


procura em sua bolsa novamente e me passa uma caixa
pequena. Quando abro a parte de cima, eu encontro balas
dentro. Oh céus. Calafrios rastejam em minha coluna não
posso decidir se são do tipo bom ou não. Eu não tenho
nenhuma ideia de como usar esta arma, como carregar,
atirar ou limpar. Mas imagino que se soubesse, a habilidade
viria a calhar. Não que eu esteja desesperada para atirar em
qualquer um, mas uma dama nesta vida nunca pode ser
muito cuidadosa.

— Peça a Sparks para lhe ensinar. — Kimmi me dá um


olhar malicioso e fico vermelha, embora apenas um pouco. —
É hora de você e Christy aprenderem algumas habilidades
para a vida.

Uma embalagem de donuts sai da bolsa, parcialmente


esmagada, mas ainda comestível. Kimmi me oferece um e eu
balanço minha cabeça. — Eu não sei o que acontecerá, mas
algo irá. É apenas uma infeliz inevitabilidade. — Kimmi
coloca um donut na boca, cobrindo os lábios recém-pintados
com açúcar. Ela deve tê-los pintado depois que sessão de
amassos acabou.

— Você já deu a Christy uma arma?— pergunto e Kimmi


balança a cabeça, inclinando-se para trás e colocando os
braços atrás dela para o equilíbrio enquanto ela mastiga o
donut de forma pensativa.

— Você a assustou pra cacete, então perdi minha


chance. — Um sorriso se espalha pelo rosto de Kimmi
enquanto ela inclina a cabeça na minha direção e sussurra:
— Mas eu não acho que seria tão difícil conseguir outra. —
Ela agarra a sua bolsa pela alça, levanta e desaparece
escadas abaixo, deixando-me sozinha com Paul, a tempestade
sensual. Por mais deliciosamente suculento que seja, prefiro
muito mais o meu namorado da vida real.

Eu fecho a capa e levo meus dedos ao abdômen


perfeitamente nítido e dolorosamente detalhado na frente,
sorrindo enquanto me levanto e o coloco debaixo do braço.
Com a outra mão, eu seguro o revólver, frouxamente e
apontado para o chão. Espero sinceramente que não assuste
qualquer um dos meus caros companheiros da Triplo M a
atirarem em mim por acidente.

Eu volto para o nosso quarto e o encontro vazio. Eu


procuro um lugar para esconder a minha nova arma e decido
colocá-la no criado mudo do meu lado da cama. Quando
penso nos possíveis cenários nos quais necessitaria de algum
tipo de arma, esta parece ser uma boa opção. Meu livro volta
à prateleira, o início de uma nova coleção que espero que
transborde pelo quarto e me soterre com literatura
empoeirada. Em breve terei um e-Reader, mas por enquanto,
a suculência de páginas frescas e o cheiro de tinta são
suficientes para mim.

Eu saio do quarto para procurar Austin e acabo


esbarrando com ele no corredor. Vê-lo atravessar o estreito
espaço à frente faz com que a respiração fique presa em
minha garganta e meu coração acelerado, batendo fortemente
em meu peito. Cada vez que o vejo, é como se estivéssemos
nos encontrando pela primeira vez novamente. Hormônios
preenchem o meu sangue com a luxúria, molhando minha
calcinha e transformando meus lábios em um redondo “O”.

Austin ri e levanta seus dedos, esfregando-os sobre


meus lábios enquanto suspiro de prazer. — Onde você esteve
boneca? — ele pergunta e juro pela Bruxa Má do Oeste que
quase derreto. Inconscientemente, me vejo nas pontas dos
pés, o rosto inclinando para trás e os dedos espalhados no
peito largo de Austin. Ele coloca um braço em volta da minha
cintura e coloca a outra mão em minha nuca, guiando nossas
bocas para um beijo sensual, muito mais sexy e úmido do
que gostaria, parada assim no meio do corredor.

— Eu encontrei Christy e Kimmi dando uns amassos. —


sussurro e a sua gargalhada burburinha por mim, indo direto
aos dedos dos meus pés. Eu o beijo novamente, deslizando
minha língua na dele, saboreando o homem, o mistério que é
Austin Sparks. — Eu não posso acreditar que tenho seu filho dentro
de mim — penso e sinto um aperto em meu ventre. É muito
embaraçoso pensar sobre isso. Austin gozou dentro de mim e
agora estou grávida. Sim, é biologia, mas não parece tão
científico quando você é a pessoa relacionada ao fato.

— Droga. Tem certeza que é verão? Porque parece que é


primavera. — Eu dou risada, deixando Austin me segurar
firmemente contra ele, aproveitando a sensação de seus
braços. Quando estamos assim, parece que nada no mundo
pode me machucar. Nem um tiro, nem um furacão, nem um
motociclista louco com um corvo na parte de trás de sua
jaqueta. Eu sorrio e fecho os olhos, saboreando a sensação da
quente respiração de Austin em meu pescoço enquanto ele se
abaixa e pressiona outro beijo em minha garganta. — Deus...
— ele rosna e eu tremo. — ...Se você já não estivesse grávida,
seu poderia deixá-la grávida novamente. — Austin me apóia
na parede.

— O que você está fazendo? — sussurro, tentando


espiar ao redor por seus ombros e ter certeza que ninguém
subirá as escadas e nos encontrará numa posição
comprometedora.

— Estamos passando tempo juntos. — geme, esfregando


uma ereção muito dura e insistente em mim. Eu me agarro
em seus ombros e penso nas lojas que vi perto da sorveteria.
Há uma em particular onde eu gostaria de levar Austin. Eu
bato nos seus ombros, tentando evitar que ele levante minha
saia até meus quadris. — Outra saia. Caramba, docinho, você
vai me estragar com fácil acesso.

— Austin, eu quero levá-lo a um lugar. — digo enquanto


ouço seu zíper deslizando sobre a braguilha. Um momento
depois, sinto minha calcinha sendo puxada de lado e mordo
os lábios para não gritar enquanto seu pênis me enche,
batendo minha bunda na parede. Igualzinho a Paul, ‘a
Tempestade Indomável’, Wolfe. Ah, como a vida imita a literatura.
— Em um encontro, Austin. — choramingo enquanto ele
resmunga, empurrando para dentro de mim novamente e
transformando os meus ossos em gelatina.
— Em um minuto, baby. Iremos aonde você quiser. —
Inclino minha cabeça nele, envolvendo a minha perna
esquerda ao redor de seu corpo, sentindo sua calça caída
abaixo de sua bunda, deixando suas nádegas nuas. Eu
esfrego a pele do meu calcanhar contra elas, orando a Deus
que não sejamos pegos por Christy ou, céus, por Beck. As
brincadeiras nunca terminarão.

— É melhor ser mais do que um minuto. — sussurro,


sentindo minha bunda raspar na parede recém-pintada. —
Ou não iremos a lugar algum. — Austin ri, mas não para de
se esfregar em mim, enterrando seu corpo no meu. Seus
gemidos de prazer se misturam aos meus e logo somos
apenas uma suada bagunça se contorcendo. Felizmente,
Austin continua mais de um minuto, tempo suficiente para
que eu goze forte, gemendo ridiculamente alto e abrindo os
olhos para encontrar Gaine olhando para nós dois com horror
enquanto sai de seu quarto.

Pelo menos não era Beck.


Capítulo Vinte e Nove
Amy
Com a minha saia de volta no lugar e minhas coxas
ardendo com a lembrança recente do pau latejante de Austin,
estamos andando na rua juntos, de mãos dadas, somente ele
e eu. Isso não acontece com freqüência, acreditem ou não.
Ser presidente de um MC não é uma tarefa fácil e tudo que
passamos recentemente, além da construção das casas,
tomou uma grande quantidade de tempo livre de Austin.
Parecemos encontrar muitos momentos livres para ter sexo —
como o que acabou de acontecer — em contrapartida,
momentos como estes têm sido poucos e distantes entre si.

Eu aprecio a sensação firme de seus dedos ao redor dos


meus, entrelaçados numa deliciosa mistura de suavidade e
aspereza. Eu puxo nossas mãos até os meus lábios para um
beijo e ele sorri para mim.

— Eu nunca tive muitos encontros em minha vida,


docinho. Eu não posso mentir sobre isso. — Austin olha para
mim, seu cabelo loiro movendo-se delicadamente ao redor de
seu rosto com a brisa vespertina. A pequena cicatriz em sua
boca deixa seu sorriso apenas um pouquinho torto e, devo
admitir, é a coisa mais adorável que já vi em toda a minha
vida. — Para onde vamos, afinal? — ele pergunta, olhando ao
redor com um ar descontraído desmentido pela intensidade
em seus olhos castanhos. Ele está atento, pronto para nos
proteger de qualquer ameaça que surgir. Felizmente, neste
dia, não houve nenhuma. Todo mundo fica pensando que
algo terrível acontecerá, mas, já que ainda não está aqui, eu
vou aproveitar o dia com o meu... Eu paro. O que Austin é
exatamente? Meu namorado? Parece um termo muito
imaturo. Amante? Muito casual. Ele será o pai do meu filho,
meu primeiro e único amor. Eu não tenho nenhuma ideia de
como chamá-lo. Eu deixo esse problema para lá por agora,
mas o guardo para trazer à tona depois.

— Se lhe disser agora, você pode virar as costas e correr.


— aprecio a expressão de confusão em seu rosto e continuo
andando, puxando-o depois da sorveteria até uma loja que
não tive coragem de entrar no outro dia, especialmente com
Christy. O seu corpo inteiro dela teria ficado vermelho e seus
olhos completamente arregalados.

— O que é isso? — Austin pergunta enquanto paramos


na frente de uma loja preta com janelas coloridas e plumas
enroladas ao redor dos pescoços de manequins seminuas. Eu
limpo minha garganta e dou licença para um casal coberto
dos pés à cabeça de tatuagens. A menina pisca para mim
enquanto passam e dá um olhar de aprovação a Austin. Eu
olho para o motoqueiro alto e lindo ao meu lado, com
tatuagens brilhando em seus braços musculosos e uma
sobrancelha arqueada em dúvida.
— Isto, meu caro Austin... — digo, pressionando outro
beijo nos nós dos seus dedos. — É um sex shop. — o arrasto
para a porta antes que pense numa rota de fuga e paro,
embasbacada olhando para as paredes roxas e as prateleiras
de lingerie. De um lado, há um balcão com uma moça loira,
organizando uma prateleira cheia de perucas coloridas.

Atrás dela, uma entrada para o Quarto Negro. Repleto de


Safadezas. Apenas Maiores de 18 anos. Eu tento com força afastar o
sorriso do meu rosto, mas não funciona. Num momento,
penso que o que estou fazendo deve, de alguma forma, ser
inerentemente errado e então eu estou sorrindo loucamente,
assim como Beck durante uma briga.

— Puta merda! — Austin diz enquanto solto de sua mão


e exploro a loja como um homem no deserto, há muito tempo
longe de água. Ah, sim, penso enquanto passo meus dedos
nas lingeries. Calcinhas de renda são legais — principalmente
quando foi obrigada a usar roupas íntimas de muito bom
gosto, maçantes, sem renda e beges — mas o que eu
realmente quero ver está lá atrás.

— Docinho? — Austin diz enquanto me pergunto como


esta loja tem sobrevivido tão perto do Cinturão da Bíblia. E
decido que eu não dou a mínima.

— Aqui atrás! — Eu grito conforme passo por uma


boneca inflável, ruborizando quando minha mão roça em seu
peito de plástico. Quando entro no outro quarto, meu queixo
cai e meu coração acelera. Há prateleiras de vidro na maioria
das paredes, revestidas com paus. Paus, paus, paus. Por todo
o lugar. Paus de vidro, paus de silicone, paus que parecem
tão reais que poderiam facilmente ser confundido com um
verdadeiro. No centro do cômodo existem caixas cheias de
camisinhas, garrafas de lubrificante e loções. Tudo isso é
intercalado com outros itens aleatórios, como cintas penianas
— Christy e Kimmi vêm à mente — chicotes, pornografia,
velas e plugues anais. Eu suspiro e coloco uma mão sobre
minha boca.

— Oh céus. — sinto calafrios em minha pele. Meus


olhos estão tão arregalados que começam a marejar com o
jato frio do ar condicionado. Minha mãe daria um tapa em
meu rosto se soubesse que estive aqui, e papai? Oh Deus. Ele
provavelmente pegaria o cinto.

— Amy. — Austin rosna, vindo atrás de mim e


apertando seus dedos em meu ombro. — Sua safadinha. —
tremo e viro o rosto para ele, abraçando-o tentando não
implorar uma repetição do que fizemos mais cedo. Sim, a loja
intensificou minha libido. Isto é verdade.

— Não. — sussurro ferozmente para ele. — Você me


deixará louca se continuar fazendo coisas desse tipo. —
Austin olha para mim com um sorriso perverso no rosto. —
Seja um cavalheiro, enquanto está aqui. — Eu dou uma
tossida e coloco minha mão sobre os meus lábios. — Solte a
fera mais tarde.
— E se eu quiser soltar a fera agora? — engulo em seco
e me afasto dele, colocando muito mais espaço entre nós. Eu
viro e finjo estar interessada numa caixa de preservativos
quando tudo que me interessa são... os paus. Eu só quero
tocar em um. Um dos falsos, claro.

— Você precisa aprender um pouco de autocontrole. —


digo, fingindo que realmente acredito no que estou dizendo.
— Quando o bebê nascer, você terá que lembrar que há um
lugar e hora para esse tipo de comportamento. — Austin vem
para trás de mim e apalpa a minha bunda com força,
passando e parando ao lado de uma prateleira de vidro cheia
de vibradores. Eu preciso de um desses, penso enquanto observo
Austin pegar um e ligá-lo. A ponta rosa rodopia em um
círculo selvagem enquanto Austin levanta as sobrancelhas
loiras e um riso escapa de sua garganta.

— Posso ajudá-los? — uma mulher pergunta,


aparecendo atrás de mim e me dando um susto. Eu me viro
para encará-la com a mão espalmada no peito e tento não
corar.

— Eu... não tenho certeza. — A mulher sorri, afastando


alguns fios castanhos do seu rosto. Não deixo de notar a
forma olha para Austin e para as suas tatuagens e seu colete
de couro com interesse. Eu resisto à vontade de virar o rosto
dela com força de volta para o meu. Acho que terei que me
acostumar com mulheres olhando para Austin Sparks. Ele é
muito encantador, sou a primeira a admitir.
— Você está procurando um vibrador? Um dildo? Eu
tenho alguns novos títulos pornôs que são grandes sucessos
com casais. — sinto outro rubor subindo pelo meu pescoço e
eu não consigo decidir como responder a essa pergunta.
Quão descaradamente ela discute os itens do comércio. Se eu
pudesse ser tão ousada...

— Estamos apenas olhando por enquanto, obrigada. —


digo caminho em direção a Austin e o vejo com um chicote na
mão. Ele o sacode para mim, depois o estende e me acerta em
cheio na bunda. Eu dou um tapa em sua mão. — Você está
aceitando isso melhor do que pensei. — digo, imaginando se
ele já entrou em um lugar como este com outra pessoa.
Mireya, talvez? — Faz isso com frequência? — Austin
pendura o chicote de volta e muda seu foco para uma
prateleira cheia de dildos de vidro, brilhando na luz suave da
loja.

— Nunca. — diz e deixo escapar um suspiro que nem


sabia que eu estava segurando. — Mas merda, docinho, isto
está se transformando num encontro bastante interessante.
Eu sempre soube que você era uma vadia safada, mas isso é
algo totalmente novo.

— Você... gosta? — pergunto, quase com medo do que


ele dirá. Eu quero que ele goste, porque, bem, eu gosto.
Austin olha para mim, dando um passo a frente e colocando
as mãos em meus quadris.

— Amy, não se preocupe com o que eu gosto ou não


gosto. Eu quero que seja você mesma... — Austin faz uma
pausa. — ...mesmo que seja uma pequena dama sulista
pervertida.

Eu finjo dar um tapa em seu rosto, descansando minha


mão suavemente em sua bochecha. — O que você quer daqui
que eu não posso dar-lhe em casa? — Ele pergunta com uma
piscadela. Abro a minha boca, deixando meus olhos
deslizarem até os vibradores.

— Para ser honesta, Austin. Eu estou perfeitamente feliz


com tudo o que você me dá. — Eu tento não corar
novamente. Isso seria um pouco exagerado, eu acho. — Mas
eu quero... Tudo isso. — Austin segue o meu olhar.

— Tudo?

— Eu quero tentar tudo. — sussurro, olhando para ele.


— E você deveria me ensinar. Você prometeu.
Capítulo Trinta
Austin
— Eu só posso ensinar o que sei. — digo a Amy, o olhar
ficando preso nisto, naquilo ou naquela outra coisa. Há muito
para olhar aqui. Puta que pariu. Eu estou em um sex shop
agora. Nem sabia que havia tantos pequenos complementos
interessantes. Eu fui bem feliz com o pacote básico até agora
na vida.

Amy tira a mão do meu rosto e coloca um pouco do seu


sedoso cabelo castanho atrás da orelha. Meus dedos se
contorcem conforme só imagino, mas especificamente me
recordo de envolver minhas mãos nele e puxá-lo com força.
Eu tenho que segurar uma onda de luxúria. Embora talvez
seja normal andar por um lugar como este de pau duro, a
garota arrumando as prateleiras está me olhando de maneira
desagradável. Eu prefiro não dar mais um motivo para olhar
para a minha ereção.

— Então acho que aprenderemos juntos. — Amy tosse,


com uma voz rouca enquanto se afasta de mim, ficando
somente longe do meu alcance e parando ao lado de uma
arara de algemas. Oh, Deus do céu! Fico atrás dela, esfregando
meu corpo em suas costas, mas sem tocá-la. O gemido que
escapa de seus lábios rosados me faz rosnar em seu ouvido.
— Acho que levaremos uma dessas. — digo, pegando
uma caixa e passando pela Senhorita Amy e seus lábios
repentinamente franzidos. Ela olha para mim com seus olhos
azuis brilhando. Pego uma vela também. Uma rosa. Não
tenho certeza exatamente do que eu farei com isto, mas
quando Amy sorri para mim, vejo que estou no caminho
certo. — E isso. — Eu pego o vibrador rosa com a coisinha
rodopiando no topo. Não se parece nem um pouquinho com
pênis para mim, mas, talvez, este seja o objetivo?

— Você está interessado em penetração, vibração ou


ambos? — A vendedora pergunta, aparecendo do meu lado
feito um fantasma. Todo o movimento me faz lembrar Kent e
preciso me controlar para não fazer uma careta. Quando ele
fazia merdas assim, era como assistir a um vilão vampiro se
materializar no ar. Para ser sincero, esta mulher é menos
assustadora, mais como uma ajudante ao invés de um
inimigo ou algo parecido.

— Querida, não estou interessado em nenhum deles. —


aceno meu queixo para Amy. — Mas a mãe do meu bebê
provavelmente prefere vibração. — Eu olho para Amy e a vejo
mordendo os lábios novamente. Porém a expressão em seu
olhar é amável. Não quero jamais perder isso. O dia em que
perder, serei um homem morto, no coração no mínimo, senão
na alma. — ela recebe bastante penetração em casa.

— Austin Sparks! — Amy me repreende, ficando ao meu


lado e tirando o vibrador rosa de minhas mãos. Ela o coloca
de volta na prateleira. — Em primeiro lugar, esse é o modelo
de exibição. Em segundo lugar, esta simpática senhora aqui
não quer saber de nossa vida sexual.

A mulher acena sua mão com desdém. — Não seria a


primeira, nem a última vez que ouço todos os detalhes
sórdidos. Você não acreditaria no tipo de informação algumas
pessoas compartilham. — A mulher ajusta a parte superior
de sua blusa e não está mais interessada em me olhar, e sim
concentrada em Amy agora. — Então, vibração? Durante a
relação sexual ou apenas quando o homem estiver fora da
cidade?

Eu solto uma gargalhada, levantando minhas mãos para


e me afastando. Deixarei Amy lidar com essa parte da
conversa. Ela me dá outro olhar enquanto eu sigo na direção
da entrada da loja.

— Pegue o que você quiser docinho. — Eu coloco a vela


e as algemas no balcão. — Mas certifique-se de levar estas
porcarias também. — Eu sorrio largamente. — Vou escolher
algo para você vestir.
Capítulo Trinta e Um

Amy
Austin e eu voltamos para a casa com um saco preto de
grandes dimensões, cheio de presentinhos. Eu o faço carregar
o pacote pela sede, na frente dos membros da Triplo M que
estão trabalhando no jardim da frente e finjo que não escuto
os gritos e assobios. Eles acontecem tantas vezes, de
qualquer maneira, que estou aprendendo a bloqueá-los. Mas
ainda não estou disposta a carregar um saco cheio de
brinquedos sexuais na frente de um monte de motociclistas.

Gaine está na porta quando entramos. Seus olhos


imediatamente assimilam o pacote na mão de Austin. Eu não
olho para ele também — não é fácil lembrar que ele nos
flagrou fazendo sexo há cerca de uma hora atrás.

A ‘caminhada da vergonha’ é algo que nunca deveria existir;

porque se está envergonhada do que faz, por que continua fazendo?

Mais sabedoria de Sali Bend para aplicar, enquanto


ignoro a sobrancelha levantada e os curiosos olhos castanhos
que nos seguem.

Eu não sei o que esperava quando levei Austin àquela


loja, mas não acho que foi isso. Presumi que talvez
comprássemos um anel peniano vibratório ou algo do tipo,
uma pequena recordação para brincar. Eu não tinha ideia
que ele me compraria um vibrador, algumas algemas e um
dildo de silicone, roxa.

— Você é um santo. — digo enquanto entramos em meu


quarto lindamente decorado. Meus olhos se focam no berço e
meus dedos deslizam em minha barriga. Eu vomitei esta
manhã antes de sair para explorar, mas apenas uma vez. E
fiz mais quatro testes de gravidez, apenas para ter certeza.
Assim, enquanto o enjoo matutino está melhorando, estou
completamente grávida. Eu coloco minhas mãos em meu
rosto e me viro para olhar para Austin quando ele fecha a
porta atrás de mim.

A janela está aberta, a luz do sol entrando pelas leves


cortinas rendadas que Austin pendurou. Os pássaros
gorjeiam alegremente, misturando-se com o barulho das pás,
serras e martelos ao fundo.

— Obrigada por carregar isto. Particularmente não


queria passar por Gaine. — Austin joga a sacola em cima da
cama e então sorri amplamente para mim.

— Você está preocupada com o que aquele filho da puta


pensa? Depois que ele e Mireya foram pegos se atracando
numa escadaria em um hotel por um casal de velhinhos?
Ignore aquele estúpido.

A fechadura da porta se encaixa no lugar numa fração


de segundo antes de Austin se esfregar em mim, me
mostrando exatamente como se sente sobre o nosso dia até
agora. Ele esfrega sua ereção na parte inferior das minhas
costas, provocando-me sem piedade. Se ele não parar com
isso, puxarei seu piercing Prince Albert, bem rudemente,
também. A quem estou enganando de qualquer forma?
Austin provavelmente gostaria disso.

— Provavelmente deveríamos ajudar na demolição na


segunda casa. — digo a Austin, embora minha voz se quebre
quando digo isso. As mãos de Austin agarram meus cotovelos
enquanto ele se inclina e beija meu pescoço.

— Provavelmente deveríamos fazer o que disser que


devemos fazer. Caso contrário, não serei capaz de pensar
direito. Poderia até derrubar a parede errada por acidente. —
Austin se esfrega com mais firmeza em mim. — Agora, abra a
sacola e escolha o seu veneno.

— Deus querido, você é insuportável. — digo, mas gemo


enquanto falo, então, não é tão crível quanto gostaria que
fosse. Austin recua o suficiente para que eu seja capaz de
formar pensamentos pouco coerentes, correndo para a beira
da cama e espalhando nossos itens pervertidos de vez. Eu
vasculho entre eles, perfeitamente consciente de que Sparks
está olhando para mim e ao mesmo tempo abrindo suas
calças.

Seu pau salta livre, o piercing na cabeça de seu pau


brilhando ao sol. Eu empurro algumas das caixas de lado e
pego o dildo. É uma escolha ousada, mas uma vez li uma
cena em que o herói fodida a boca da heroína com um,
enquanto cuidava da parte de baixo. Eu dou uma tossida e
coloco a mão sobre meus lábios. Eu tenho pensamentos tão
sórdidos, devo ter sido condenada ao inferno desde o início.
Agora, como digo isso a Austin? Nós somos amantes, mas ainda
estamos trabalhando nessa estranha fase intermediária em
que algumas coisas são confortáveis e fáceis, enquanto
outras ainda estão... esquisitas.

Eu começo a abrir a embalagem, ignorando os pequenos


grunhidos que escapam da garganta dele enquanto se
acaricia. Agora tudo o que preciso fazer é descobrir como
formular a pergunta: Querido Austin, você colocaria este pênis de
borracha em minha boca enquanto fode a minha boceta? Eu franzo a
testa. Este não será um assunto fácil de abordar, mas estive
pensando sobre isso por algum tempo. Romances fazem isso
com uma pessoa. Além disso, esta será o mais próximo de um
ménage que provavelmente terei. Não que particularmente
queira outro homem no quarto com a gente, mas porque
Austin jamais permitiria isso.

— Deite de costas e se foda com isso enquanto eu


assisto. — Ele rosna e levo um susto segurando o brinquedo
em meu peito enquanto olho para ele por cima do ombro.
Austin está brincando o seu piercing agora, apreciando a
expressão em meu olhar.

— Vou lubrificá-lo primeiro. — sussurro, gostando da


maneira como ele range os dentes e abaixa seu jeans
violentamente, de modo que atinge o chão ao redor de seus
pés calçados com botas. Eu me levanto e caminho até Austin,
tentando ser recatada. Ainda é uma habilidade que estou
trabalhando. Eu passo meus dedos no braço de Austin,
beijando seu bíceps e a boca de uma de suas tatuagens da
caveira. Eu deslizo minha língua em sua pele, traçando as
tatuagens que decoram seu corpo.

Eu levanto meu outro braço e lhe mostro a curva roxa


do nosso novo brinquedo. — Talvez você possa lubrificá-lo
para mim? — pergunto docemente. — Parece que compramos
tudo, exceto isto na loja. — Eu luto contra o rubor. Não há
necessidade para isto agora, correto? Eu levanto o brinquedo
e toco a cabeça do meu dildo de silicone na mandíbula
suavemente raspada de Austin.

— Jesus Cristo, mulher. — Ele diz, agarrando o meu


pulso e batendo o meu corpo contra a frente do dele. Seu pau
pressiona a minha barriga e eu mordo meu lábio. — Você
está tentando colocar um pau na minha boca? — Eu dou
risada, muito embora não queira.

— Você não vai chupar para mim? — pergunto com um


beicinho. Austin levanta as sobrancelhas.

— Docinho, a única pessoa aqui que vai chupar


qualquer coisa hoje é você.
Capítulo Trinta e Dois

Austin
Eu puxo Amy até o chão, tentando ser gentil com seu
braço ferido e tudo mais. Realmente não tenho qualquer
fantasia de chupar um pau de borracha, mas se Amy
realmente quer que faça isso, posso simplesmente fazer.

Querido Jesus, o que Beck faria se algum dia descobrisse esta


merda? De qualquer forma, já que eu prefiro que não
descubra, tento uma técnica diferente para distraí-la. Amy é
uma gatinha safada e aposto a minha dignidade de que ela
ficará feliz com qualquer coisa mais criativa que eu inventar.

Eu me levanto e olho para ela, acariciando meu pau com


os dedos apertados, persuadindo o pré-sêmen da ponta e
estendendo a minha mão em busca do vibrador. Amy o
entrega para mim rapidamente. Eu esfrego os dedos no
brinquedo, revestindo-o com a minha semente e depois o
devolvo para ela.

— Foda-se com isso enquanto você me chupa. —


ordeno, apreciando a sensação de assumir o controle. Amy
gosta também. Suas pupilas se dilatam e ela levanta sua
mão, acariciando o comprimento do meu pau. Ela molha seus
lábios e afasta os joelhos, abaixando a mão do braço sem
ferimento e gemendo quando encontra seu ponto doce. Eu a
observo com cuidado, obrigando-me a ficar parado enquanto
ela desliza o brinquedo dentro de si. — Isso é gostoso, baby?
— pergunto enquanto aperta as coxas e se senta totalmente,
usando as mãos para acariciar meus quadris, minha pélvis e
minhas bolas.

— Não tão gostoso quanto você. — sussurra, se


curvando para frente e lambendo todo o comprimento do meu
eixo, desde a cabeça do meu pau até a base. Eu costumava
pensar que um boquete era apenas um boquete, mas Amy
Cross, a virginal donzela sulista, é a melhor que eu já tive.
Não tenho nenhuma dúvida. Eu gemo e enredo meus dedos
em seus cabelos, sem puxar, apenas apreciando a textura
sedosa em minha pele. Quando faço isso, ela geme também e
a vibração formiga pelo meu pau direto para o meu cérebro.
Aquele pobre filho da puta já está condenado e apenas
começamos.

Amy me lambe de cima abaixo, como um maldito


sorvete, parando os lábios na cabeça do meu pau. A mão que
circunda o meu pau é gostosa e firme, guiando-o de volta a
sua boca, traçando as linhas de seus lábios cor de rosa com
meu piercing, como se estivesse colocando maquiagem ou
algo assim. Amy provoca minhas bolas ao mesmo tempo,
puxando-as suavemente, acendendo uma ardente chama que
tira um pouco do meu autocontrole. Eu gostaria de agarrar a
sua nuca e foder aquela linda boquinha, mas não faço isso.
Eu sou o cavalheiro aqui, antes de qualquer coisa. Merda.
— Austin. — Amy sussurra na textura escorregadia do
meu pau. — Posso tentar outra coisa?

— Você não está tentando foder a minha boca com


aquela coisa de novo, não é? — pergunto e ela ri, enviando
uma nova vibração pelo meu pau.

— Não. — E em seguida ela se afasta. Eu a mantenho


imóvel com as mãos em seu cabelo.

— Mantenha esse brinquedo dentro de você, docinho. Se


ele sair, você receberá uma surra. — Amy estremece e não
tenho certeza se foi uma grande ameaça, mas tudo bem.

Nosso quarto está cheio de ameaças vazias, do tipo que


ficam ditas por não ditas. Eu assumo o controle do meu pau,
bombeando com força e rapidez, apertando com firmeza
enquanto assisto Amy lutar para rastejar até a cama com o
vibrador ainda dentro dela. Eu odeio admitir, mas estou
quase com ciúmes daquele fodido brinquedo, pronto para
destroçá-lo e lançá-lo por todo o quarto, reivindicar sua
boceta como minha.

Em vez disso, eu me mantenho imóvel pronto para


tentar o que quer que Amy queira jogar comigo. Ela é a
Rainha do Boquete, afinal de contas. Eu observo enquanto
ela abre outra embalagem, tirando um feio vibrador branco
que se parece mais com algo que minha mãe poderia colocar
em seus pés no final de um longo dia de trabalho do que um
brinquedo sexual. É apenas uma estúpida varinha de plástico
com um círculo na ponta.

Amy morde o lábio e choraminga um pouco enquanto se


arrasta em direção à parede e o coloca na tomada. Ela olha
para mim e liga o interruptor. Um zumbido atravessa do
quarto assim que o vibrador começa a funcionar, zumbindo
acentuadamente na tarde tranquila. Amy volta para mim na
hora certa, tomando conta do meu pau antes de pirar e ir
atrás dela. Eu não tenho ideia do que ela planejou para este
brinquedo estranho — ela o pegou quando eu estava caçando
alguma lingerie — mas eu estou animado para descobrir.

Os lábios de Amy fecham ao redor da ponta do meu pau,


tomando-me centímetro por centímetro. Eu fico todo excitado,
meu coração batendo acelerado que parece que eu poderia
muito bem ter um ataque cardíaco agora e morrer feliz. Mas,
então, no meio do caminho, ela se afasta, respirando e
começando tudo novamente. É quase doloroso assisti-la
assim de cima, ver meu pau desaparecer em sua garganta.

— Porra, docinho. — gemo, inclinando minha cabeça


para trás. O vibrador ainda está na mão direita de Amy,
zumbindo ao longe, mas inútil como um balde de água em
uma monção. Eu fecho os olhos, apreciando o movimento
lento de sua boca, seu calor quente sugando forte ao redor do
meu pau. Paraíso, perfeito paraíso. Eu tenho a mãe do meu filho
de joelhos na minha frente e ela não apenas dá o melhor
boquete e uma transa quente, mas também me ama. A mim.
Este estúpido, teimoso e volúvel idiota que sou. Ela me ama,
e ela me disse isso diretamente e não nunca disse nada.
Porra.

— Amy... — começo, abrindo os olhos e olhando para


baixo a tempo de vê-la engolir todo o meu pau. Este pode não
ser o momento mais romântico do mundo, mas queria dizer
quando parecesse certo e, merda, esse momento é agora. Não
é exatamente a melhor história para contar aos amigos e
familiares, mas é real e patente e é isso que farei.

Amy levanta o vibrador até o seu rosto e pressiona a


ponta da varinha nele.

— Puta que pariu! — grito, puxando seu cabelo com


força, agitando meus quadris incontrolavelmente enquanto
gozo, jogando meu sêmen no fundo de sua garganta. A
vibração do brinquedo me deixa desnorteado e acabo
tropeçando, tremendo, suando e com mais tesão do que um
cachorro no cio. — Onde você aprendeu a fazer isso?

Amy mexe desliga o vibrador, colocando-o suavemente


no chão e limpando os lábios delicadamente com o tecido de
sua camiseta. Sua pele está rosa por toda parte e seus olhos
rodeados por desejo escuro, cheios de fome. Ela olha para
mim com seus olhos azuis. — Com um livro.

Chega. Estou farto de ser um homem gentil. Eu avanço,


levanto Amy sob as axilas e jogo o resto que compramos para
o chão. — Deite-se, senhorita Cross e vou lhe ensinar uma
coisa ou duas.
Capítulo Trinta e Três
Amy
— Como o quê? — pergunto enquanto Austin desce as
mãos e as desliza sobre minha barriga. Ele rasga minha
camisa e pega um sutiã de renda preto do chão.

— Como o que me transforma em um homem maluco.


Coloque isso. — Ele também me dá uma calcinha e uma
tanga. Fico olhando para os pedaços de tecido como se nunca
tivesse visto algo parecido antes. Eu, Amy Cross, usando
lingerie? É um pensamento tão estranho. Tento não deixar
escapar qualquer riso nervoso.

— Acho que acabei de descobrir isso, não foi? Você


gostou do vibrador? — dou um sorriso quando ele rosna,
rasgando suas calças, mas deixando suas botas. Ah e a
camisa sai também. Lá está ele, Austin Sparks em toda a sua
glória, seu pau ainda molhado da minha saliva, a tatuagem
da Triplo M em seu quadril, gritante em seus músculos
tensos.

— Você não pode fazer isso com um homem, não


quando ele está prestes a dizer: eu te amo.

Eu congelo, como um cervo flagrado nas luzes do farol


da caminhonete do meu pai.
— O quê? — Minha voz é um sussurro, meu corpo como
uma corda, esticada tão forte que não consigo nem respirar.
Não ajuda muito que a minha boceta esteja apertadamente
comprimida ao redor do dildo, ainda preso profundamente
dentro de mim, esfregando em meus pontos doces quando me
movo.

— Você não pode simplesmente atirar essa bomba em


mim quando estou me preparando para o maior momento da
minha vida. — As lágrimas vêm a seguir, mesmo que sejam
bobas, mesmo que este seja um assunto tão caprichoso.
Austin de fato me ama, eu sei disso. E eu o amo. E teremos
um bebê juntos, então, por que isso importa tanto? Mas
importa. Realmente importa.

— Amy... — ele diz, se aproximando e colocando seus


dedos em meu queixo. Nossos olhos se encontram e embora
ele esteja nu e ereto e meu corpo esteja tremendo de desejo,
satisfeito, mas querendo mais, eu penso que isso é muito
romântico.

Nosso momento não ocorre em um bosque iluminado


por velas ou durante um jantar num bistrô francês ou no
topo do Empire State à meia-noite, mas acontece. Acontece
tão rápido que sequer percebo o que está acontecendo de
início, que as nossas almas estão se entrelaçando, nos
unindo para sempre.

O romance não é definido pelo lugar, pelo tempo ou até


mesmo pelas palavras ditas, é definido pelo sentimento, pela
sensação de que você faria qualquer coisa, qualquer coisa, por
esta pessoa e que ela faria qualquer coisa por você.

Finalmente encontro minhas palavras, não as dos meus


livros, as de Sali Bend ou as de minha mãe. Minhas palavras.
Minhas. Para combinar perfeitamente ao lado do meu Austin
e das suas palavras.

— Eu amo você, Amy Cross. Acho que desde o momento


que conheci você. Eu era muito estúpido para perceber, tinha
muito medo de me importar tanto, tentar com tanto
empenho. Mas estou resolvendo os meus problemas e lhe
prometo que enquanto eu estiver vivo e respirando, eu lutarei
para estar com você, nem que eu precise enfrentar um
incêndio. Escalarei montanhas. — Austin usa seus polegares
para enxugar as lágrimas do meu rosto. — Andarei por
desertos. — Ele faz uma pausa e sorri para mim. Meu corpo
aperta o dildo, desejando que fosse ele que estivesse lá, ao
invés do brinquedo. — Eu posso até mesmo chupar esse seu
pau roxo, se é isso que você quer.

Eu fecho meus olhos. — Eu faria o mesmo por você. —


digo e então abro meus olhos e coloco os meus braços ao
redor de seu pescoço. — Eu te amo mais do que
possivelmente consiga dizer, mas tentarei. — me aproximo,
apertando minhas coxas. — Austin abaixa e aperta a minha
bunda firmemente. — Eu amo você como as estrelas amam o
céu, como a lua ama o sol, como a luz do dia ama a noite.
Você faz meu estômago de contorcer e tira o meu fôlego. —
dou um sorriso. — Você me faz querer declamar poesia e citar
Shakespeare, dizer coisas destinadas exclusivamente às
páginas de livros. — beijo suavemente a sua boca. — Você me
deixa confortável o suficiente para querer ser eu mesma.

— Ok, chega. — Austin usa a outra mão para me


apalpar entre as coxas. — Chega dessa merda de amorzinho.
Pelo menos em voz alta de qualquer maneira. Se vamos
continuar, vamos usar linguagem corporal. — Eu gemo
quando seus dedos encontram o brinquedo, tirando-o
lentamente e então o colocando novamente. Eu mordo meu
lábio. — Coloca o sutiã e a calcinha para mim? — Eu aceno
enquanto Austin tira o vibrador e dá um passo para trás.

— Fique com ele — digo, antes que ele tenha a chance


de jogar no chão, colocar numa gaveta ou qualquer outra
coisa. Está... molhado com o meu gozo, então não tenho
certeza de qual lugar seria apropriado. Eu engulo em seco.
Depois de uma confissão sincera assim, como posso pedir
uma coisa tão pervertida? Bem, porque o meu nome é Amy
Cross e porque leio romance — com orgulho! E não me importo
se umas centenas de pessoas me ouçam dar risada, ficar
vermelha com as constrangedoras conotações das palavras
ou exibir homens nus nas capas dos meus livros. Boa
literatura só pode ser definida por quão excitantes são as
cenas de sexo. Bem, pelo menos em meu livro. — Eu quero
que você o coloque em minha boca. — Sequer ruborizo
quando digo isso. Ao invés, dou um passo para trás, solto
minha saia até o chão e retiro minhas roupas íntimas bege de
muito bom gosto — apesar de totalmente sem graça.

— Você é uma garota louca. — Austin diz, descansando


na cama, entre os travesseiros, com uma mão em sua cabeça
e a outra segurando o brinquedo. — Mas é por isso que eu
amo você. — ele faz uma pausa. — Porra, isso foi bem mais
fácil do que pensei. — Ele observa eu trocar de roupa para o
fio dental e sutiã push-up com um olhar obscurecido. — Você
me perdoa por não ter dito isso antes?

— Eu posso perdoar um monte de coisas. — sussurro,


olhando para baixo e admirando a forma como a minha pele
parece brilhar com uma luz perolada, emoldurada lindamente
na renda escura do sutiã.

Eu viro e olho nervosamente para o espelho. Foi-se a


garota com tedioso cabelo castanho e olhos sem brilho, uma
garota cujo pai uma vez a comparou a um lago plácido, sem
nuvens para estragar a sua quietude.

Hoje, com os olhos escuros coroados com a luxúria,


lábios cheios e inchados e cabelo despenteado eu pareço
positivamente selvagem. Eu faço uma expressão sexy com a
minha cara e não me sinto como uma criança. Desta vez, eu
me sinto uma mulher.

Eu olho para Austin e rebolo até a cama — nunca tinha


rebolado antes, então acho que faço um trabalho bastante
adorável nisso. Quando chego perto o suficiente, Austin me
agarra pela cintura e me puxa, beijando-me nos lábios e
deslizando em cima de mim, seus músculos rígidos roçando
na minha pele macia. Quando ele olha para mim, eu sei que
não existe outro lugar no mundo em que gostaria de estar.
Capítulo Trinta e Quatro

Austin
Amy está deitada embaixo de mim, parecendo uma
deusa — se é que já vi uma. Seu cabelo castanho caído ao
redor de seu rosto em forma de coração emoldura uma beleza
que é quase irreal. Talvez seja porque eu tenho sentimentos
por ela, porque o meu coração acelera quando ela entra no
quarto, porra, eu não sei, mas posso dizer, sem sombra de
dúvida, que ela é a mulher mais atraente que já vi.

— Você tem certeza que quer isso? — pergunto,


segurando o brinquedo no alto. Amy morde os lábios e olha
para longe — ou seja, sim, ela quer, mesmo que ela esteja
quase com vergonha demais para admitir. Eu pego o
brinquedo e o coloco entre seus lábios, surpreso com o quão
apertado meus músculos ficam quando o vejo desaparecer
em sua garganta. Eu começo a bombear o vibrador na boca
de Amy, apreciando a maneira como seus olhos vibram
enquanto ela saboreia seus próprios sucos, gemendo
enquanto a fodo com ele. Eu me posiciono para entrar nela,
deixando o brinquedo de lado e agarrando seus quadris. —
Você é uma garotinha muito, muito safada, não é, Amy
Cross? — pergunto enquanto entro profundamente, a
enchendo completamente. Amy usa sua própria mão para me
provocar com o brinquedo, tirando-o de sua boca e passando
sua língua na ponta. Ela o acaricia tão amavelmente,
sugando-o profundamente novamente, saboreando com um
gemido, que fico com ciúmes, arrancando a maldita coisa de
sua mão e o fazendo voar pelo quarto.

— Austin Sparks! — Ela geme em afronta fingida,


levantando seus quadris para me encontrar. — Eu acho que
você quebrou um vaso. — me inclino e rosno em sua orelha.

— Você pode usar todos os brinquedos que quiser, mas


quero que lembre quão mais gostoso você me sente.

— Oh, Deus, sim. — Ela respira, envolvendo suas


pernas ao meu redor. Eu me endireito, empurrando meus
quadris com força, aproveitando a fricção de sua calcinha que
acaricia meu pau a cada golpe. Não me preocupei em tirá-la
— isso aqui é metade da diversão.

Os seios cheios de Amy mal balançam presos na renda


escura de seu novo sutiã. Eu gosto tanto desse visual que
tenho vontade de jogar fora todas as suas outras coisas e
encher as gavetas com isso. A renda é uma invenção muito,
muito poderosa.

— Você é tão gostoso, Austin. — ela sussurra, me


fazendo cerrar os dentes apenas para segurar a onda de
hormônios. Eu sinto que poderia gozar uma centena de vezes
e ainda continuar duro. Não há tempo suficiente no mundo
para me fazer sentir como se já tivesse terminado com Amy
Cross. Eu sinto que poderia transar com ela para sempre e
ser feliz a cada segundo.

— Quero vê-la em cima de mim. — digo, abaixando-me


para trocar nossas posições. Eu me retiro com um grunhido e
viro de costas, agarrando o quadril de Amy enquanto monta
em minha barriga, abaixando a mão e guiando meu pau
novamente ao seu devido lugar no universo.

Ela me toma integralmente, até ao último centímetro,


sentada em meus quadris, mordendo os lábios e com os olhos
semicerrados. — Você é a mulher mais linda que já vi em
minha vida. — digo, decidindo que uma verdade como esta é
infinitamente melhor quando revelada.

Amy sorri enquanto começa a se mover, colocando a


mão em sua calcinha e encontrando seu clitóris. Eu sei o
momento exato, pois todo o seu corpo comprime ao redor do
meu, me apertando tão forte que é como se ela estivesse
implorando para gozar dentro dela. Meus dedos apertam a
colcha.

— Você é o homem mais lindo que já vi em minha vida.


— Ela responde e posso dizer que ela está dizendo a verdade.
Eu levanto minha mão e coloco meus dedos em sua barriga,
passando a mão sobre o local onde meu filho passará os
próximos meses. Não poderia pensar em um lugar melhor
para estar. Amy para de se mexer, abaixando a mão até a sua
calcinha e inclinando-se para mim, os olhos fechados com
emoção. — Você está com medo? — Ela pergunta, mas já
estou sorrindo, colocando meus dedos em sua nuca e
puxando-a para um beijo.

— A única coisa neste mundo da qual tenho medo, Amy


Cross, é perdê-la. Todo o resto é moleza. — Minha língua
desliza em sua boca, saboreando-a, absorvendo seu calor.
Nós ficamos enlaçados assim, esfregando os quadris, os
corpos encharcados de suor, até que encontrarmos o nosso
orgasmo. Nosso orgasmo. Amy e eu gozamos juntos, como o
casal do conto de fadas que ela sempre acreditou, mas que
nunca acreditei. Até agora. Até este momento. Este único e
perfeito momento.
Capítulo Trinta e Cinco

Austin
Eu acordo na manhã seguinte com um enorme sorriso
em meu rosto. Eu sempre fui um filho da puta meio normal
quando se tratava de sexo, mas estar com Amy me torna um
filho da puta safado. Uau. Eu juro que nunca mais reclamarei
sobre aqueles romances dela. Nenhum homem em sã
consciência faria isso depois de ver as coisas que eu vi. Puta
que pariu.

Eu me levanto parcialmente na cama, olhando para o


rosto adormecido de Amy. Ela é angelical quando está assim,
toda doce e inocente. A garota safada está escondida. Eu me
curvo para beijar sua testa, tentando ignorar a minha furiosa
ereção. Quando o telefone toca, quase jogo a maldita coisa
pela janela. Só que sou mais esperto que isso. Nós estamos
no limbo agora, descansando entre o desastre e o sucesso. Eu
tenho que levar este clube ao topo ou não valho porcaria
alguma.

— Alô. — atendo, não reconhecendo o número no


identificador de chamadas. Provavelmente indicaria que algo
errado estava acontecendo, mas ainda estou meio confuso do
sono e sexo. Eu tenho Amy Cross em meus pensamentos no
momento.
— Austin, escute-me com muita atenção. — É Tax.
Minha ereção desaparece como se não tivesse existido. Abaixo
as pernas, os músculos ficam tensos e a ansiedade destrói
meu cérebro com preocupação. É agora. Tem que ser agora. Com
a sede do clube vazia, sabia que se resumiria a isso. — O
Broken Dallas e os Bested by Crows estão sob a nova insígnia
‘Branded Kestrels MC’ e farão uma visitinha a você. Eu tenho
um conhecido que negocia armas não oficialmente e disse
que se recusou a vender a eles qualquer coisa depois de
nosso pequeno confronto. O boato é que conseguiram outra
fonte. Eles ainda me devem pelo que aprontaram nos
armazéns. — Tax pausa e, no silêncio pesado, sei que há
mais do que apenas isso. Ele está preocupado com a sua
irmã mais nova. — Nós faremos uma pequena visita a eles,
mas parece que chegarão antes de nós aí. Eu sugiro que você
bole um plano.

Meu coração bate forte, mas o ignoro. Estou pronto para


isso. Depois de meses, acabarei com isso. Que tipo de
presidente eu seria de se não fizesse? Eu não preciso trazer
meu bebê para esta merda. Hora de acalmar a tempestade.

— Eu tenho um plano, irmão. — digo, esperando que ele


não se ofenda com o termo. Será difícil, não tenho nenhuma
dúvida, mas precisa ser feito. — Estive pensando nesse
assunto por algum tempo. Ficaremos bem, mas se desejar
sua vingança hoje, apreciarei sua ajuda.

Tax grunhe e escuto o som de motos acelerando ao


fundo. Acho que quando disse que estava a caminho,
realmente falou sério. — Seguraremos a barra enquanto
esperamos. Não se preocupe com a sua irmã, Tax. Beck
morreria antes de deixar algo acontecer com ela.

Tax rosna. — Sim, é melhor para ele, considerando que


ela tem dezoito anos de idade e está grávida. Isso é o mínimo
que o filho da puta poderia fazer por ela. — Tax faz uma
pausa. — Mas não nos preocuparemos com isso agora. Eu
darei uma bronca em seu sargento depois. Veremos se você
sobreviverá esta noite. — Tax desliga o telefone, deixando-me
com o suave som da respiração de Amy e o zumbido do
ventilador.

Eu coloco os cotovelos sobre os joelhos, fecho os olhos e


respiro fundo.

— Austin? — olho para trás e vejo Amy segurando uma


arma em sua pequena mão pálida. Minha mulher grávida
está deitada nua com um maldito revólver. — Você está bem?

— De onde surgiu isso? — pergunto, voltando a encará-


la e notando que minha ereção retornou. Nem um pouco
apropriado, mas merda, quem se importa? Amy sorri
suavemente e dá de ombros com delicadeza.

— Kimmi me deu depois que a peguei beijando Christy.


Acho que isso deveria me manter calada. — Ela sorri
maliciosamente e coloca a arma no cobertor. — Mas hoje
acho que poderia simplesmente ajudar a salvar a minha vida.
— Eu aceno para ela, orgulhoso de ser o homem que
escolheu para ter em sua vida. Eu me inclino e pressiono
minha boca na dela, saboreando coragem, amor e medo. Mas
é isso que a faz valente. Se você não tiver medo de algo, então
isso não te tornará forte. Corajoso, talvez. Mas não valente.
Para ser valente, você precisa lutar contra algo que te
assuste. Essa é a regra.

— Tudo ficará bem, Amy. Não deixarei nada acontecer


com você.

Ela sorri e coloca a palma da mão em meu rosto. — Eu


sei. — ela se senta ereta e dá um ardente beijo em meus
lábios mais uma vez.

Meu coração está pronto para esta batalha, pronto para


que ela termine, mas meu pau gostaria de aproximadamente
meia hora pelo menos. Eu dou um aperto no seio de Amy,
uma piscadela e me levanto.

Uma calma me invade como um nevoeiro.

Presidente.

Eu farei por merecer esse termo, mesmo que isso me


mate.
Capítulo Trinta e Seis

Amy
Austin não pede que me esconda ou desapareça
enquanto esta batalha toma lugar. Estou começando a
perceber que este lugar realmente parece com um lar. E eu
não me refiro ao local. A casa é agradável e meu quarto é
perfeito, como se tivesse saído de uma página de uma revista.

Estou falando sobre Austin. Austin é como um lar e se a


minha presença não o distrair do que ele estiver fazendo, eu
ficarei ao seu lado.

— Beck. — Austin entra no quarto, usando o molho de


chaves que leva a qualquer cômodo da casa. Ele é o único
que tem uma cópia. Eu sorrio para Tease enquanto ela puxa
os lençóis sobre os seios e nos olha por cima do ombro.

Ela está sentada praticamente na mesma posição que


estava ontem à noite, então entendo o quanto isso é
perturbador. Eu finjo que nem percebo que ela está sobre o
corpo de Beck ou que não sei que ele provavelmente está
dentro dela neste momento. Eu mantenho meu rosto estoico.
— Nós temos problemas.

Imediatamente, Tease rola e Beck se levanta. Eu afasto


meu olhar da sua ereção e uso novamente aquela habilidade
maravilhosa, de fingir que não vejo nada.

— Onde? — Beck pergunta com uma voz áspera. Mas


quando olho em seu rosto, ele está sorrindo.

A expressão de Austin é sombria, porém determinada.


Ele está com a jaqueta preta de couro da Triplo M, um bom
contraste com a camiseta branca que está usando por baixo.

Eu estou com jeans e botas pretas, sem saltos —


infelizmente, não sou Kimmi — Eu e Austin estamos vestidos
combinando. Parece apropriado, como um uniforme militar
ou algo do tipo.

— Aqui. — Austin diz enquanto Beck fala alguns


palavrões e agarra uma calça jeans do chão. Ele a veste
enquanto esperamos.

— O Broken Dallas e os Bested by Crows, ou seja, os


Branded Kestrels... — Austin despeja as palavras, arrastando
com desgosto o seu sotaque sulista — Estão a caminho.
Agora. Com armas. Provavelmente algumas grandes, como as
M16 que vi anteriormente. Prepare-se. Coloque tábuas de
madeiras nas janelas do lado de dentro em toda a parte
traseira e dianteira. Deixe apenas espaço suficiente para
passar o cano de uma arma ou uma faca. Tomaremos uma
posição defensiva.

Beck grita, levantando uma camisa, como uma


bandeira. Austin olha para Tease. O seu rosto está tenso e
determinado. Sei que, assim como eu, ela não irá embora.
Nós lutamos aqui hoje, como membros iguais do clube, como
parceiras de nossos homens, como mulheres que estão
autorizadas a serem irmãs de uma fraternidade.

— Estaremos prontos em dois minutos. — Ela nos


assegura, acenando e deixando os lençóis caírem, tão
igualmente desembaraçada sobre sua nudez quanto o seu
amante. Ela coloca um pouco de cabelo atrás da orelha
enquanto vira para ir embora. — Ou menos.

Austin os saúda com um dos seus sorrisos típicos e nos


leva ao fundo do corredor, parando em cada quarto, dando
ordens para cada membro da Triplo M que encontrava. Todos
são importantes aqui e hoje são parte do plano de Austin. Eu
não poderia estar mais orgulhosa. Ele sempre teve isto dentro
de si, simplesmente se recusava a enxergar.

Descemos as escadas, encontrando Gaine e Mireya na


cozinha, com cervejas em suas mãos. Pode ser cedo, mas
regras sobre bebida não se aplicam aqui. Se alguém neste
clube quer uma maldita cerveja, eles conseguem uma. Eu
sorrio.

— Peguem suas armas e preparem-se. — Austin diz,


parando brevemente na frente deles. — Temos problemas.
Nossos velhos amigos estão chegando para acertar as contas,
e nos certificaremos que isto termine a nosso favor. Ajudem
Beck e Tease a colocar madeiras em todas as janelas. —
Austin apenas faz uma pausa para dar um pequeno suspiro.
— Onde está Kimmi? — pergunta enquanto seus amigos
abaixam suas cervejas e pegam algumas placas de madeira
compensada que estão encostadas nas paredes.

Não existe perda de tempo aqui. Tudo tem que ser feito
exatamente assim, da maneira correta. O objetivo não é
apenas ganhar, sei disso. Austin disse que o seu Código da
Estrada exige respeito e requer intenção.

Hoje, mostraremos que não seremos desrespeitados, que


este é o nosso lugar e que é hora de nos deixarem em paz.
Mas sei que Austin não está disposto a perder qualquer um
dos nossos quarenta membros. Precisamos sobreviver com o
menor número possível de feridos ou de vidas perdidas.

— Na outra casa. — Gaine diz, mas já estamos perto da


porta. Austin dá ordens a todos lá dentro, os manda trancar
a garagem e colocar sentinelas para guardar as motos.
Continuamos andando pelo pátio e subimos até a outra casa.

— Kimmi, precisamos que todos estejam preparados. —


dou um sorriso para Christy que está sentada na ponta de
uma velha bancada, corando. Eu sorrio novamente, apenas
para que saiba que não me importo com o tanto de tempo ela
gasta com Kimmi Reynolds e que, mesmo se ela se apaixone
por ela, não teria importância. Merda, eu dou um sorriso
ainda maior para que ela saiba que, se ela não gostar de
Kimmi, se ela mudar de idéia e se escolher outra vida, seja
qual for, ainda a amarei. Ficamos nos olhando por um
momento.
— Oh, Deus. — Kimmi geme, agarrando sua bolsa de
ferramentas e colocando-a sobre o ombro. — Está na hora,
não é? — Austin acena uma vez, rapidamente.

— Hora de varrer Kent, seu lixo e todo o nosso excesso


de bagagem de debaixo do tapete e acabar de vez com isso.
Hora de mostrar quem realmente somos.
Capítulo Trinta e Sete

Austin
A pior parte de qualquer guerra é a espera, o silêncio
que precede aquela única explosão de som, ação, dor e morte.
Tudo isso acontece num instante tão rápido, que pode muito
bem ser em um piscar de olhos. O que o torna isto tão difícil
e doloroso é toda essa quietude prévia.

Eu tenho meu grupo posicionado exatamente onde


quero, cada pessoa em seu devido lugar, cada par de mãos
numa engrenagem desta bomba-relógio. Amy está ao meu lado,
onde deveria e como espero que sempre esteja. Tenho uma
arma em minhas mãos.

Enquanto sento e espero no escuro, nos fundos da casa,


penso sobre como lidaremos com as conseqüências desta
merda. Haverá bastante sangue e provavelmente, cadáveres.
No passado, tudo o que precisávamos fazer era correr e
continuar correndo. Essa é a parte boa de ser nômade. Agora,
nossas escolhas são mais limitadas. Teremos que limpar essa
porcaria rapidamente, antes que alguém verifique.

Em alguns lugares, a polícia tem o tino contra qualquer


MC que atravesse seu caminho. Eles procurarão maneiras de
pegá-los. Aqui, é o contrário. Isso é bom, mas não dura para
sempre. Só porque não podem interferir numa grande troca
de tiros, não significa que não virão mais tarde. Minha única
esperança é que estamos longe o suficiente de vizinhos, de
modo que acabaremos com isso rapidamente. Tease me disse
que Tax tem algo com policiais, que ele conhece algumas
pessoas com influência e pode garantir que nos deixem em
paz, mas não posso contar com isso. Além disso, há sempre
um preço para esse tipo de coisa e não sei qual poderia ser o
de Tax. Acho que descobriremos quando acontecerem.

O som de motos ruge ao longe, ecoando alto no silêncio


sepulcral do nosso clube. Ninguém se mexe, mas sinto a
tensão pairando no ar, tornando o ambiente já quente em
escaldante. Meus companheiros da Triplo M esperaram muito
tempo para descontar a raiva e agora é a chance. Eu respiro
profundamente.

Amy coloca a mão em meu pulso e trocamos um longo


olhar, cheio de amor e compreensão, com a promessa de que,
ainda que morrermos hoje, que nunca seremos realmente
separados. É exatamente o que preciso. Levanto minha mão e
dou um sinal, chamando um grupo seleto: Beck, Joel, Bryan,
Kimmi e três outras pessoas. Todos os demais esperam neste
quarto, acima do meu e de Amy. Está repleto de móveis
revestindo as paredes, fazendo com este que seja a melhor
esperança de um refúgio seguro, caso ocorra troca de fogo
pesada, enquanto nossos inimigos estiverem na casa.

Amy faz um pequeno som enquanto eu saio, mas nós


dois sabemos o plano, que voltarei aqui depois da primeira
onda de ataques. Nós temos isso sob controle.

Eu não pergunto se todos sabem o sinal; eles sabem.


Quando eu atirar, eles atiram. É isso aí. Simples. Eu engulo
quaisquer vestígios de medo e os afasto. Não há tempo para
isso.

Os Branded Kestrels estacionam suas motos, sem se


preocuparem em esconder a abordagem. Quando olho para
fora das janelas, vejo o porquê. Eu conto aproximadamente
oitenta homens. E provavelmente há mais duas dúzias que
não posso ver. Se esses filhos da puta forem realmente
inteligentes, precisaremos da ajuda dos Setenta e Sete
Irmãos, mas apenas se vivermos o suficiente para chegarem
até aqui.

— Austin Sparks. — É o homem de antes, com os


cabelos e olhos escuros, cavanhaque e cheio de arrogância.
Acho que ele é o novo Pres, talvez o sargento. Tanto faz.
Pouco me importa. Ele será o primeiro em que mirarei.

Eu apoio a minha arma no pequeno buraco na madeira


compensada. Sei que isso não nos dará muita proteção, caso
esses filhos da puta comecem a utilizar as M16 que estão
apontando para nós, mas pelo menos torna a nossa posição
quase impossível determinar pelo exterior.

— Última chance de se render. Se fizer isso, pegaremos


o que queremos e você partirá e nunca mais voltará. É isso
ou morrerá hoje. — O homem faz uma pausa e a raiva
transparece em seu rosto — Você queimou uma relíquia
importantíssima outro dia e agora existem algumas pessoas
que gostariam de vê-lo fazer uma troca justa. Desista da sede
do clube e saia, sem armas, sem bancar o espertinho.

Eu aponto minha arma. Imaginei que haveria pelo


menos um ou dois minutos de papo furado antes da violência
começar. Mas interromperei isso em trinta segundos. Olho
para a fileira abaixo, para as outras sete pessoas que estão
comigo. Sete pessoas muito conscientes de que poderemos
morrer dentro de poucos segundos.

Eu coloco o dedo no gatilho, fecho os olhos e respiro.


Quando os abro novamente, minha arma dispara, assim
como a dos outros ao meu lado. Meu tiro sai um pouco longe,
errando o Presidente, mas atingindo outro homem bem no
peito. Ele cai no chão, levando a arma junto com ele. Vejo
algumas das outras balas encontrarem seus alvos e então
atiramos novamente. Só temos tempo para mais dois tiros
antes que percebam que estamos no segundo andar e
decidam encher-nos de buracos.

Nem me incomodo em abaixar, me afasto, ficando atrás


da linha de móveis que colocamos aqui apenas para esta
finalidade. Não parará todas as balas, mas pelo menos
teremos algo entre eles e nós. Eu não verifico para ver se
alguém está ferido — não posso fazer isso antes de tudo
acabar ou posso não sobreviver. Ao invés disso, me concentro
em rastejar em direção ao corredor, até o quarto mais
próximo às escadarias e mirando através de outro conjunto
de furos na parede aqui.

Nossa pobre casa precisará de uma tonelada de reparos


depois que esta merda terminar.
Capítulo Trinta e Oito

Amy
Eu ouço os tiros e mordo os lábios até sangrar, orando
aos deuses das motocicletas para que Austin saia disso bem. Eu
aperto a minha mão sobre a de Christy, olhando-a com uma
arma em sua pequena mão e seu corpo tremendo de medo.
Tivemos cerca de dez minutos para descobrir como usar
essas armas, fazendo um curso intensivo com Kimmi no
quintal. Não sei quão boa de mira serei, mas, pelo menos
tenho uma arma para combate. Contanto que possa me
proteger e manter a maioria dos Branded Kestrels fora deste
quarto, serei útil para o grupo.

Mireya continua vigiando pela janela, em busca de


alguém que tente esgueirar-se pelos fundos. Seus ombros
estão tensos, mas seus olhos nunca se desviam deste único
propósito, nem mesmo quando escutamos as portas sendo
arrombadas e gritos ecoando pela casa.

— Seus malditos covardes! — ouço o grito, mas o ignoro


focada apenas na soleira da porta deste quarto. Preciso ter
cuidado para não me engajar em qualquer fogo amigo, mas
também para parar qualquer inimigo. Há sete de nós aqui.
Não é muito, mas temos um grupo pequeno e um grande
plano. Eu escuto os xingamentos e palavrões, as portas
batendo, alguns tiros dispersos, mas não há ninguém lá
embaixo, pelo menos não do lado de dentro. Temos algumas
pessoas espalhadas escondidas lá atrás, mas é só isso.

Demora um tempo, quase uma eternidade, antes de


finalmente ouvirmos som de botas na escada. Uma onda de
tiros vem logo a seguir e depois pancadas, provavelmente de
corpos, barulhos de colisão que ecoam pelas escadarias. Mais
tiros são disparados e então desaparecem mais uma vez
enquanto os Branded Kestrels tentam descobrir o que está
acontecendo. Austin Sparks fez bem. Eu comparo a nossa
batalha com a Guerra Revolucionária Americana. Em uma
escala muito menor, é claro, mas há semelhanças.

— Amy, estou com medo. — Christy sussurra, mas não


posso lhe oferecer qualquer conforto. Tudo que posso fazer é
ficar focada. Os sons de passos continuam e, em seguida,
sons de portas sendo chutadas, enquanto os homens
procuram por nós. Eles encontrarão apenas quartos vazios.

Pouco tempo depois, nova rodada de tiros. A terceira


onda de tiros passa pelos buracos que fizemos na parede,
disparando sobre os homens no corredor. Diferentes sons
seguem enquanto os Branded Kestrels descobrem onde
alguns dos membros da Triplo M estão escondidos.
Grunhidos e o estalar de armas substitui o som de tiros.

Minha respiração fica mais lenta e mais pesada quando


ouço Austin dar um grito do outro quarto, chamando seus
amigos e explodindo do quarto numa confusão de sons. Eu
tremo, esperando pelo som das metralhadoras, mas os
quartos são muito pequenos, facilitando acertar um dos seus
do que encontrar um alvo. Mais passos nas escadas e um
minuto depois, vejo o primeiro rosto hostil.

Um tiro atinge o homem em cheio na cabeça —


definitivamente não é meu. Minha primeira bala acerta a
parede e mais corpos aparecem, tentando nos esmagar. Eu
começo a atirar, descarregando meu revólver no meio da
multidão. Eu acho que atinjo alguns dos homens, mas o
sentimento não é bom. Eu não quero fazer isso. Eu preferiria
não fazer. Mas farei o que for preciso para fazer valer esta
vida e minha liberdade, seja certo ou errado.

Eu me lembro do que estes homens queriam fazer


comigo, do que fizeram com Mireya, do tráfico de drogas, a
prostituição forçada, a luta nos armazéns. Eu absorvo tudo
que Austin me disse sobre eles e uso como uma capa para me
proteger. Talvez nunca mais seja a mesma depois disso, mas
o crescimento é adquirido com mudança e nem toda a
mudança é indolor.

A entrada para o quarto e o labirinto de móveis que


construímos retarda nossos atacantes, de modo que a
situação evoluiu para um impasse, com eles de um lado de
nossas paredes improvisadas e nós do outro. Ninguém se
mexe.

Escuto botas arrastando, armas sendo recarregadas,


alguns xingamentos, alguns sussurros. No final do corredor,
outra batalha se trava, mas a bloqueio, tentando restringir
meu foco. Quando estou engatinhando em direção a Mireya,
que se afastou da janela, um raio de sol cobre minha pele.
Olho por cima do ombro e vejo um grupo de homens e a
única mulher que vi do lado deles até agora: Margot Tempe.

Ela me vê e levanta a arma, mais rápido do que consigo,


e então, simplesmente sei que levarei um tiro. O tempo fica
parece parar e, um segundo depois, vejo seu sangue
pulverizando a parede e seu corpo caindo como um fantoche,
sem ninguém para segurar as cordas.

Olho para Christy, respirando com dificuldade,


segurando a arma com as mãos trêmulas. Ela salvou a minha
vida. Ela me olha por um segundo, antes de sermos atacadas
de ambos os lados. Alguns dos homens que entraram pela
janela caem sobre a beirada, baleados por nossos membros
no quintal, mas ainda há vários deles — muitos por sinal.

Esforço-me para recarregar a arma, mas me atrapalho e


a munição sai rolando pelo chão. Um homem avança para
cima de mim, aparentemente também sem a sua arma e
colidimos. Meu corpo bate na parede com um grunhido e
uma faca atinge meu braço, cortando profundamente, mas
não mutilando. Eu grito e tateio minha cintura, pegando a
minha própria faca, uma que Austin me deu esta manhã. Se
este homem quisesse me matar, provavelmente teria feito. Em
vez disso, ele me agarra pelos cabelos e me arrasta para
frente. Não sei quais são as suas intenções — me nocautear?
Pegar-me de refém? Estuprar-me? — não importa. Se eu
hesitar, poderia perder tudo, destruir Austin e arruinar a
chance do meu bebê ter uma boa vida, tudo de uma só vez.

Enfio minha faca em seu intestino e torço. A sensação


do corte da lâmina na carne é nojenta e perturbadora, mas
pelo menos ele solta meu cabelo e tropeça para trás. Eu olho
para cima e me vejo cara a cara com o cano de uma arma.
Capítulo Trinta e Nove
Austin
Eu estava certo: um local estreito significa menos tiros e
mais ação corpo a corpo. Eu sei que os membros da Triplo M
conseguem manejar um martelo como ninguém, então, luto
com um sorriso nos lábios. Não é um sorriso de felicidade, é
um rugido feroz. Eu me sinto como um lobo lutando para
defender sua alcateia.

Uso uma chave inglesa e assumo a retaguarda,


contornando a briga e avançando para enfiar minha arma na
na cabeça dos inimigos. Quanto menos mortos, melhor. Não
pretendo matar todo mundo, apenas a maioria deles. Meu
verdadeiro objetivo é encontrar o Presidente. Aposto que
depois do primeiro tiro, ele ficou para trás do quebra-quebra.
Agora só preciso encontrá-lo.

Quando decido que estamos vencendo aqui, me afasto,


contornando pelo corredor e indo até a porta do quarto de
Amy apenas a tempo de ver uma arma apontada para seu
rosto. Tiro minha arma do coldre e dou um tiro. O homem cai
no chão, sangrando pelo pescoço. Amy olha para mim e,
mesmo com tudo o que nos rodeia, travamos olhares.

Entro no quarto e ajudo Mireya e os outros a derrotar os


retardatários.
— Eu tenho que encontrar o Pres deles. — digo sem
preâmbulos. Não há tempo para essa merda. — Vamos lá. —
Os membros restantes da Triplo M no quarto me seguem sem
reclamar. Não tenho tempo para contá-los, mas escuto mais
do que apenas os passos dos meus amigos atrás de mim
enquanto descemos as escadas. Eu olho para trás e vejo Amy,
Mireya e Christy me seguindo. Quando chego ao primeiro
andar, Gaine está me esperando.

— Há um pequeno grupo lá fora. — Gaine franze os


lábios. — Com suas M16 em riste, é claro. — Passo por ele e
olho pela janela. A madeira compensada na frente ainda está
em seu lugar, então gesticulo para todos os outros esperarem
enquanto avanço e dou uma olhada para o lado de fora pela
ripa estreita. O presidente do Branded Kestrels ainda está de pé,
mas parece nervoso.

Enquanto observo, ele sobe em sua moto e gesticula


para os membros restantes do seu clube o seguirem. Há
aproximadamente uma dúzia deles. Eu espero que guardem
suas armas e liguem os motores. Assim que viram suas
cabeças para a rua, eu atraio o grupo com um aceno de mão,
saio para a varanda e dou um tiro.

O pneu traseiro do Pres explode e sua moto dá uma


guinada, caindo ao chão no giro das rodas e no som
estridente de metais. Alguns dos outros caras caem, rolando
de suas motos e caindo no chão, aproximadamente dois
metros de distância de nós. Para Os últimos membros
restantes continuam dirigindo, desaparecendo ao longe. Eu
acho que não teremos que nos preocupar mais com eles.

— Minha perna, caralho! — O homem está gritando, se


contorcendo em agonia preso sob a moto. Caminho até ele em
esperar pelos outros. Quando os sons da casa cessam os
demais membros da Triplo M emergem das sombras. Assim
que estou sobre o homem — aquele que cometeu o erro fatal
vindo até aqui — escuto o som de motos. Setenta e Sete Irmãos.

Gesticulo para Gaine e ele me ajuda a tirar o homem de


debaixo de sua moto, desarmá-lo e levantá-lo para enfrentar
a multidão com uma arma apontada. Espero até que a
maioria esteja aqui fora, Amy ao meu lado, meus amigos
reunidos com suas mulheres e Tax, orgulhoso por sua irmã, e
todos os seus homens.

— A Triple M nunca foi um MC grande ou influente, mas


estamos unidos pelo coração e pela determinação de nossos
membros. — olho para Amy, para seu cabelo macio
ondulando na brisa e seu belo sorriso. — Não seremos
intimidados ou desrespeitados. Não nos esconderemos ou
seremos expulsos. Não desistiremos. — estendo minha mão e
aperto a de Amy, odiando o que preciso fazer, mas sabendo
que farei de qualquer maneira.

Olho para o presidente do Branded Kestrels, o clube de


motoqueiros que durou apenas um minuto e não me importo
que não saiba o seu nome ou de onde é. Tudo o que sei é que
este é o meu ato irrevogável como presidente, a minha chance
de mostrar a minha força e ser o líder que meus amigos
querem.

— Você, senhor, cometeu muitos erros hoje. Desonrou a


si mesmo e a sua fraternidade com suas ações covardes e sua
fuga frustrada. — mantenho minha arma em sua cabeça e
observo enquanto a urina encharca a parte da frente da sua
calça. Eu puxo o gatilho, mas nada acontece. Não é por acaso
que a minha arma não possui nenhuma munição. Isto aqui
foi feito de propósito. — Mas não derramarei outra gota de
sangue hoje, nem um fiapo extra de vermelho nesta disputa.

Agora tire o seu traseiro do meu território e vá embora.


Se algum dia o vir novamente, talvez mude de ideia. — abaixo
minha arma, aceno para Gaine e observamos enquanto o
homem tropeça aterrorizado, mancando sem nada e ninguém
ao seu lado.

Olho para Amy e vejo que seus olhos estão cheios de


lágrimas. Coloco minhas mãos em seu rosto e nos beijamos.

Ao fundo, não ouço nada, exceto o som de aplausos.


Epílogo

Amy Sparks
Felizes para sempre.

É uma frase que se encontra no final de muitos livros,


mas não na vida real.

Felizes para sempre é algo difícil de determinar porque


cada dia é novo, trazendo consigo novos desafios e triunfos
duramente merecidos.

Mas, às vezes, você simplesmente sabe que, não importa


o que aconteça, você não se arrependerá do momento em que
você encontra a perfeição do presente, o deleite daquele único
segundo que parece que deveria durar para sempre. É assim
que determino que terei o meu ‘felizes para sempre’.

Olho para o anel em meu dedo e depois para o quintal.


É mais como um parque, na verdade, um caminho sinuoso
cheio de árvores e restos de motos antigas sepultadas. Flores
crescem ao redor como se fossem estátuas, expostas nessa
bagunça verde como decorações, testamentos de quem somos
e de onde viemos.

— Olhe para você, minha adorável esposa grávida. —


Austin Sparks aparece ao meu lado, encharcado de suor e
coberto de manchas de óleo. Ele se inclina e me beija nos
lábios, incendiando-me com o calor e atingindo direto o meu
coração, cegando-me com o sabor persistente de amor que
repousa em seus lábios. — Aproveitando o clima?

— Tentando ter mais alguns raios de sol antes que este


bebê venha. — Eu passo os dedos em minha barriga inchada
enquanto ouço som de risos e crianças. Quatro delas no total,
nem todas minhas, é claro. Apenas uma delas é minha, a
menina com o cabelo loiro e brilhantes olhos azuis. Então, há
os pequenos gêmeos ruivos de Beck e Tease e a surpresa de
Gaine e Mireya.

— Christy está fingindo uma dor de cabeça novamente?


— pergunto enquanto Austin senta ao meu lado e segura em
minha mão. Nos casamos aqui faz um tempo, então este é um
lugar especial para nós.

Eu coloco o meu e-Reader de lado, parando numa


passagem muito obscena em meu livro, para que possa
desfrutar o momento. Demorou quase um ano, depois que
nos mudamos para a sede do clube, para Austin me pedir em
casamento. Mas ele fez direito, na parte de trás de uma moto
com as insígnias do clube, com um sorriso em sua boca torta.
Eu aperto a sua mão e sorrio.

— Está. — ele responde, inclinando a cabeça na cadeira


e fechando os olhos. — Ela diz que não quer assistir a este
nascimento mais do que quis ver o último. Meu palpite é que
ela terá uma dor de cabeça contínua até depois que o bebê
nascer. Se estiver doente demais para ir, você sabe. — ele ri.

— Tax e Melissa passaram por aqui? — pergunto,


mudando de assunto. Se Christy não quer ir, tudo bem.
Kimmi irá ao hospital, queira Christy ou não, e a
acompanhará. Elas são inseparáveis. Além disso, não faltarão
pessoas ao meu lado, sobretudo meu marido, Austin Sparks.
E a minha mãe, é claro. Ela estará lá, também. Se todos da
Triplo M pudessem vir, eles provavelmente viriam. Bem, a
maioria deles de qualquer maneira. Eu sorrio com o
pensamento de Beck desmaiando no chão da sala de parto da
Tease. Cada um tem sua fraqueza.

— Eles passaram. Melissa devolveu algum livro que você


emprestou e deu a entender que os Setenta e Sete Irmãos
podem expandir o seu território. Há um clube entre nós que
está metido em algum tipo de merda. Caso haja necessidade.
Eu disse que eu não me importo. — Austin abre os olhos e
levanta a cabeça, sorrindo para a nossa filha quando ela
passa correndo, levantando os dedos a sua boca para um
perfeito beijinho. — Qualquer coisa que torne o mundo mais
seguro para vocês me faz um homem muito, muito feliz.

— Sem passeios de moto até que ela tenha dez anos. —


digo com firmeza. — Se você se preocupa tanto com
segurança, me ouvirá sobre isto.

— Quatro. — contrapõe. Levanto uma sobrancelha. —


Cinco?
— Você realmente é insuportável, sabia? — digo e
Austin sorri amplamente.

— Docinho, se você está disposta a me aturar, isso é


tudo o que realmente importa. Você diz dez, então, esperarei
até que ela tenha quinze anos.

— Eu amo você, Austin Sparks. — digo.

— E eu também amo você, Amy Cross.

Nunca foram ditas palavras mais verdadeiras.

E assim eles viveram felizes para sempre.

Fim
Sobre a Autora
C. M. Stunich foi criada sob um nevoeiro numa área conhecida
simplesmente como Eureka, Califórnia.

Um lugar misterioso, esta estranha terra arbórea cultivou em


Caitlin (sim, esse é o nome dela!) o desejo de escrever estranhos
romances ficcionais sobre monstros perversos, trens mágicos e Leões
da Neméia. (joguem no Google!) Atualmente, gosta de drag queens, de
muitos gatos e de dança do ventre tribal.

Pode ser contatada através do email: author@cmstunich.com


pois ama ouvir seus leitores.

A Sra. Stunich também escreveu esta biografia e não tem sabe


por que decidiu referir-se a si mesma na terceira pessoa.

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