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Ele sempre a viu como a


irmã do seu melhor amigo.
Ela sempre o viu como um
segundo irmão.
Ela é inteligente, meiga e
linda.
Ele é gostoso, galinha e mais
velho.
Conviveram por anos sem
nunca se notarem como
homem e mulher...
Até que um beijo bêbado
muda tudo e desperta um
poderoso desejo. Um desejo
que não será rapidamente
saciado.
Será que esse desejo ardente
entre Savannah
cfc e Justin se
transformará em amor? 2
Livro três da serie da paixão!
Livros anteriores:
Livro um – Paixão a Mil por Hora
Livro dois – Paixão à Flor da Pele
Contato da autora: r.r.beatrice@outlook.com
www.facebook.com/beatrice.beatrice.9847
Livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/autor/11707-r-r-beatrice

ATENÇÃO:
Quem já leu os dois livros anteriores sabe que o terceiro
livro seria “Paixão Sem Limites” narrado pelo Preston.
Mas houve uma mudança e o livro do Preston e da Julia
será lançado mais tarde.

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Todos os direitos reservados.

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ÍNDICE
6
Sem Amarras

11
Tentação

27
Ressaca

38
A vingança é doce

52
Apenas mais um capítulo

63
Não deveríamos

78
Vince é um canalha

95
A proposta

112
Erros do passado

125
Dependência

139
Bastardo romântico

160
Invadindo um baile de formatura

176
Jealousy is a bitter bitch

203
Finalmente apaixonados

223

4
Love sucks

252
Eu amo, tu amas, nós amamos

270
Nosso amor vale a pena

285
Despedida de solteiro

307
O casamento

327
O segredo de Jane

344
Seu passado nos condena

371
Isso não estava nos planos

386
Vermont

410
Retaliação

430
O maior dos amores

443
A fragilidade da vida

464
Epílogo

472
Agradecimentos

473
Playlist(zinha)

474
Álbum das crianças

5
Sem Amarras
Nove anos atrás...
— Isso...Assim, baby... — Gemo enquanto a loira gostosa que me deu
mole na festa da fraternidade, Carly ou talvez Casey, não lembro seu
nome, chupa meu pau. Enquanto ela me leva profundamente em sua
garganta eu chupo a deliciosa bocetinha da sua amiga. Não adianta
nem me perguntar o nome dela, também não sei. O que importa é que
são duas gostosas e não me deram trabalho nenhum para trazê-las até
meu apartamento, então que diferença faz como se chamam?
Eu praticamente só tive que fazer um movimento de cabeça e já tinha
as duas me seguindo até minha caminhonete.
Não vou ser modesto com você, falsa modéstia é perda de tempo, se
você é bom em uma coisa é bobagem fingir que não é. E se tem uma
coisa na qual eu sou bom é em conseguir mulheres, eu nem me esforço,
eu mal tenho que falar com elas, a minha boa aparência se encarrega
de tudo.
Mamãe e papai fizeram direito, meus olhos azuis e cabelos negros
chamam a atenção e se por um acaso isso não for o suficiente, eu
apenas tenho que dar aquele meu sorriso que desarma as garotas e
fazem suas calcinhas molhadas. Claro que meu corpo sarado também é
um belo de um imã de garotas.
Carly ou Casey mais parece um aspirador, ela me chupa com força
enquanto me lambuzo com os fluidos da outra garota sentada na minha
cara.
— Isso, gata...Rebola na minha cara.
Baby, gata, linda...É assim que eu as chamo, é muito mais fácil do que
lembrar seus nomes, ajuda a evitar muita confusão também. Quando
eu tinha 18 anos descobri de uma forma desagradável e dolorosa que a
garota não gosta quando erramos seu nome enquanto estamos fodendo
ela.
Além de evitar um ataque violento ao meu amigo ali de baixo, chama-
las assim me faz passar por carinhoso. Não que eu queira que elas me
achem um cara sentimental e do tipo que se envolve, eu sou justamente
o oposto disso, odeio toda essa baboseira de sentimentos, namoro e
exclusividade mas um cara não pode se enganar, ele não pode ser
totalmente frio e sem emoção, mesmo que ele só queira foder com a
garota e nunca mais vê-la de novo, as mulheres não funcionam desse
forma, mesmo se tratando de sexo sem compromisso.

6
— Ah cara...De novo? — A porta se abre e a voz de um Seth muito
irritado ecoa pela sala junto com os gemidos.
Eu esqueci de mencionar, Seth Careton é meu colega de apartamento.
Crescemos vizinhos e criamos uma amizade muito forte logo na
infância, essa amizade dura até hoje. Temos a mesma idade e viemos
estudar na Universidade de Dallas juntos, decidimos alugar um
apartamento fora do campus e dividi-lo.
Levanto o olhar e vejo Seth me olhando com nojo, como se ele fosse um
santo. Seguro a cintura da garota para que ela não saia de cima de
mim.
— No sofá não, cara. Eu sento aí. — Seth diz indignado e olhando para
o lado, evitando olhar para mim e as garotas.
— Foi mal, cara. Eu ia para o quarto mas essas garotas...Sabe como é
né, não deu tempo de chegar lá. — Eu digo sorrindo e vejo ele revirando
os olhos.
— Justin, nós já conversamos sobre isso. Cara, e se eu estivesse com a
Jane? Você sabe o problemão que você ia me meter com ela?
— Relaxe, gato. Você pode participar da nossa festinha se você quiser.
A garota sentada em cima de mim diz, ela e sua amiga não parecem
nem um pouco incomodadas com o fato de Seth estar aqui e elas
estarem completamente nuas, e bem...Em posições bem explicitas.
— Ótimo ideia, venha brincar com a gente, gostoso. — A garota que
estava me chupando diz com um sorriso malicioso no rosto.
— Urgh! Eu volto quando vocês tiverem terminado com...Isso. — Ele diz
com uma mistura de nojo e raiva e sai, batendo com força a porta atrás
de si.
Eu encaro a porta por um momento e depois olho para as garotas.
— Beleza, vamos continuar então. Me chupa gostoso, gata. — Digo
dando de ombros e enterrando minha cabeça no meio das pernas da
morena deliciosa.

— Quantas vezes eu falei, Justin? Quantas? Milhares...Eu já te pedi
milhares de vezes. Se você quer foder todas as garotas da universidade
isso é problema seu, mas não faça isso na nossa sala, ou na nossa
cozinha, ou no nosso banheiro ou em qualquer outro lugar que não seja
o seu quarto. — Seth esbraveja no meu ouvido enquanto eu pego uma
cerveja e vou me sentar no sofá.
— Qual é cara, não é nada demais. Relaxe.- Digo com os olhos focados
no jogo de futebol na TV.
— Nada demais? Nada demais? E se eu tivesse trazendo a Jane aqui? E
se nós entrássemos e ela tivesse visto aquilo?

7
— Qual o problema? — Pergunto sem entender o porquê o ataque de
Seth. Esse cara virou uma menininha depois que conheceu Jane no
Ensino Médio. Antes disso ele era igual eu, mas depois que ele colocou
os olhos na doce e inocente Jane, a aluna nova do primeiro ano, ele
mudou completamente. Virou um daqueles otários que faz tudo o que a
mulher diz e sofre feito um cão por ela. Só os babacas se apaixonam e
deixam que uma mulher controle suas vidas, é por isso que eu não me
apaixono. Nunca.
Nunca me apaixonei e nunca vou, jamais vou dar esse poder de me
controlar para uma mulher, jamais me tornarei tão vulnerável.
Eu tenho a vida perfeita, sem relacionamentos mas cheia de mulheres.
O que mais eu posso querer?
— Você está me escutando, seu babaca? — Uma almofada me acerta
em cheio na cabeça e eu olho irritado para Seth.
— Mas que porra, cara. Pare de dar ataque igual a uma menina. Que
saco.
— Justin, eu estou falando sério. Jane já não gosta que eu more com
alguém com uma fama como a sua. Eu menti para ela e disse que você
não traz garotas para o nosso apartamento, se ela descobrir que é
mentira...Ou pior, se ela chegar aqui e você tiver fodendo alguém na
sala...Essa merda vai chover em mim, cara.
— Tá, entendi. Agora me deixe em paz.
— Você entendeu mesmo?
— Aham. — Digo dando um gole na minha cerveja.
— Justin? — O tom de sua voz me faz virar a cabeça e olha-lo.
— Eu estou falando sério, cara. A Jane é muito importante para mim,
eu não posso perdê-la. Eu a amo, muito. Eu até acho que...Que é ela.
— Que é ela o que? — Pergunto confuso.
— Que é ela a mulher da minha vida, cara. É com ela que eu quero
ficar...Tipo, para sempre.
Levo a minha cerveja até a boca mas paro no meio do caminho quando
eu ouço o que ele diz. Olho-o nos olhos e vejo que ele realmente quis
dizer o que ele disse. E então eu caio na gargalhada.
— Ah Deus...Você não pode estar falando sério. — Digo tentando parar
de rir e me recompor.
— Estou falando muito sério. — Ele diz cruzando os braços.
— Mas cara, você tem só 20 anos. E vocês se conheceram na escola,
todo mundo sabe que esses namoros de Ensino Médio não duram.
— O nosso vai durar. Nós nos amamos de verdade.
— Você é louco, isso sim. Se prender a uma mulher quando tem tantas
com quem você pode se divertir sem ter o incomodo de ter alguém
sempre pegando no seu pé.

8
— Quando se ama você supera qualquer “incomodo” que possa surgir.
— Ah Seth, Seth...O que aconteceu com você, meu amigo? Se
prendendo a uma garota, quando você tem a atenção de metade das
gostosas da universidade...Esse não é o Seth que eu conheço.
— Eu me apaixonei, foi isso que aconteceu. Você deveria experimentar.
Dessa vez eu rio mais alto. Eu, me apaixonar? Nunca vai acontecer.
— Você sabe que isso nunca vai acontecer, cara. Eu não nasci para a
monogamia. Eu gosto é de curtir a vida. Você não sabe o erro que está
cometendo ao sair do clube dos solteiros convictos.
— Não, você não sabe o erro que está cometendo. Se apaixonar é a
melhor coisa que pode acontecer com alguém. — Ele diz com uma cara
sonhadora.
— Eu já acho que é a pior. Estou fora...Veja o que namorar com a Jane
está fazendo com você. Você perdeu todas as festas mais quentes da
universidade, que graça tem estudar se não pode participar das festas?
Em todas que eu vou, pelo menos uma dúzia...Eu disse UMA DUZIA de
meninas me perguntam de você. Você tem ideia que você poderia ter
comido todas elas, não é?
— Ah cara, não adianta, você não entende. — Ele passa a mão pelos
cabelos e se senta no braço do sofá.
— Realmente eu não entendo. Como se prender a uma garota pode ser
bom? Se quando você está solteiro você pode ter todas as garotas que
você quiser...
— Aí é que está, Justin. Quando você ama alguém, você não quer estar
com ninguém mais. É por isso que eu não ligo de perder essas festas,
ou de não ficar com essas garotas...Elas não me interessam nem um
pouco, a única garota que eu quero é a Jane, e por sorte ela me quer
também.
— Eu nunca vou entender isso.
— Vai sim, um dia você vai se apaixonar. Um dia você vai encontrar
alguém e essa pessoa vai virar seu mundo de cabeça para baixo. Ela vai
retirar essa venda dos seus olhos e te mostrar que a melhor sensação
do mundo é estar apaixonado, e não simplesmente estar
apaixonado...Estar apaixonado por ela será a melhor a sensação do
mundo, você vai perceber que não poderia ser nenhuma outra no lugar
dela. Você vai sentir sua falta quando ela não estiver em seus braços,
mesmo que você tenha acabado de abraça-la, você vai passar o dia
esperando ansiosamente para encontra-la e quando alguma coisa boa
ou ruim te acontecer, a primeira pessoa que virá a sua mente, aquela
que você vai querer que comemore com você ou então te console, será
ela. Seu mundo girará em torno dela e o seu maior medo será o de
perdê-la.

9
Engulo em seco e o olho admirado, ele realmente está apaixonado por
Jane. Eu achei que era bobagem, que logo ele iria se cansar dela. Parece
que eu estava errado.
Eu acho que se apaixonar é para os tolos, então eu não me apaixono,
mas quem sou eu para impedir que meu melhor amigo faça isso?
Mesmo que eu ache que seja a maior burrada que ele poderia fazer,
depois de ouvi-lo falar desse jeito não sou eu quem irá lhe dizer que se
apaixonar por Jane é errado.
— Não se preocupe, eu não vou mais foder ninguém fora do meu
quarto. — Olho-o nos olhos e deixo que ele veja que estou falando sério
e que eu respeito seus sentimentos por Jane, mesmo não concordando.
— Valeu cara. — Ele agradece com um aceno de cabeça.
— Sem problemas. — Levanto minha garrafa e dou um longo gole.
Seth olha estranhamente para o canto do sofá e leva sua mão para
pegar algo. Ele levanta o braço e pendurado em um só dedo, ele segura
uma calcinha fio dental vermelha. Alguma das meninas deve ter
esquecido.
A expressão no seu rosto é hilária, eu sorrio maliciosamente e pego a
calcinha, colocando-a no bolso da minha bermuda.
— Essa vai para a minha coleção. — Digo com uma voz vitoriosa e
escuto Seth soltando um suspiro ruidoso.
— Quando você se apaixonar, eu não quero estar aqui para ver.
— E por quê? Supondo que eu vá me apaixonar, porque você sabe que
não tem chance.
— Porque das duas uma...Ou você vai machucar o coração da pobre
garota, ou ela esmagará o seu.

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Tentação
Savannah
Dias atuais...
“Você é a pessoa mais burra do mundo, Savannah. Sua burra, idiota,
idiota!”
Estou com tanta raiva. Raiva dele, raiva de mim, raiva dela. Eu deveria
saber que ele não seria capaz de manter as calças no lugar.
Isso é culpa desses romances idiotas que me fizeram acreditar que ele
poderia mudar por mim. Que ele se contentaria em ter só a mim e não
procuraria outra. Como eu estava errada.
É claro que ele não aguentaria, com todas aquelas vadias da
universidade erguendo a saia e ficando de quatro quando ele passa, eu
nunca seria capaz de fazê-lo ser fiel. Eu não fui boa o suficiente para
ele. Assim como eu não fui para o Todd três anos atrás.
Os dois me traíram, os dois quebraram meu coração. Depois de Todd eu
tinha prometido a mim mesma que não iria mais me deixar envolver por
esse tipo de cara, mas eu não fui forte o suficiente.
O que eu posso fazer se eu me sinto atraída justamente pelos piores
caras? Aqueles que são galinhas, safados e infiéis, mas irresistivelmente
atraentes.
Vince é assim, ele é capitão do time de futebol americano da
universidade e é um colírio para os olhos. Cabelos ruivos, olhos verdes e
um corpo sarado com aquelas sardas charmosas que as pessoas ruivas
têm e que ficam lindas sob sua pele clara.
Todo mundo sabe da fama dele, pelos corredores dos dormitórios
feminino e masculino corre o boato que ele dormiu com metade das
alunas da universidade, e os mais corajosos ousam dizer que ele já
esteve com uma de suas professoras. Vince têm três professoras
mulher, uma tem mais de 60 anos, a outra é feia e a terceira é jovem e
linda, porém casada. Nem preciso dizer com qual os alunos acham que
ele dormiu, como se dormir com uma professora já não fosse escândalo
suficiente, o fato de ela ser casada só ajudou esse assunto a tomar
proporções enormes.
Claro que ninguém assumiu nada, Vince jurou para mim que tudo isso
é uma mentira.
Eu e ele nos conhecemos quando eu vim estudar aqui em Dallas.
Mesmo achando ele irresistível e sabendo da sua fama, acabei
permitindo que nos tornássemos amigos. Ele ficou um ano inteiro

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insistindo para que fossemos mais que amigos e eu sempre recusei,
justamente por saber que ele era um galinha. Tirando isso ele sempre
foi um bom amigo, e com o tempo eu fui perdendo a minha luta contra
esse meu lado que se sente atraída pelos caras errados, acabei me
deixando levar pela conversa doce de Vince e nós ficamos.
Surpreendendo-me, pois eu sabia que ele nunca ficava com a mesma
garota mais do que uma ou duas vezes, ele foi ficando mais próximo.
Ficamos várias vezes, ele até me chamou para alguns encontros. Depois
de um tempo nessa relação estranha, ele finalmente me pediu em
namoro. Fiquei com medo devido à fama dele e as más experiências que
eu tive no passado, falei isso para ele e ele me prometeu que estava
apaixonado por mim e que só queria a mim. Que ele não ligava mais
para as outras garotas, a única que ele queria era eu.
E a burra aqui acreditou. Fui enganada por quase um ano. Um ano em
que eu desperdicei com esse idiota, só para descobrir que ele tem me
traído com a vadia que eu achava ser minha amiga. Eu sempre soube
que Aletta é mais gostosa que eu e ela sempre chamou a atenção de
todos os caras da universidade, ela é minha colega de quarto e eu achei
que fosse minha amiga também.
Eu achava isso até alguma hora atrás quando eu peguei Aletta e Vince
transando no nosso dormitório. Eles acharam que eu iria passar o final
de semana com a minha família, e eu iria, ou vou...Não sei mais. Mas
quando percebi que havia esquecido meu celular pedi para Shanon dar
meia volta e me levar de volta.
Quando entrei no apartamento fui recebida por vários gemidos e
gritinhos, reconheci a voz de Aletta e fui em busca do meu celular em
silêncio para não atrapalhar ela e quem quer que estivesse com ela.
Até que eu congelei quando escutei Aletta chamando o nome de Vince.
Fiquei paralisada no lugar e não podia acreditar que o Vince que ela
estava chamando era o meu. O homem por quem eu sou tão
apaixonada.
Quando abri a porta e vi os dois pelados na cama meu coração se
quebrou imediatamente, lágrimas de pura tristeza nublaram minha
visão. Aletta me olhou como se eu não tivesse pegado ela na cama com
meu namorado, parecia que eu havia interrompido seus estudos pela
sua expressão fria. Ela não parecia surpresa, envergonhada, com
remorso ou qualquer outra coisa assim, mas acho que eu vi algo em
seus olhos...Satisfação, alegria por me ver tão claramente sofrendo. E
Vince...Bom, ele fez a cara que todos fazem quando são pegos em
flagrante.
Ele se cobriu com o lençol, ao contrário de Aletta que continuou com
seu corpo deslumbrante zombando de mim, e quando ele começou a
falar eu bati a porta e sai correndo daquele lugar.
Corri sem saber para onde estava indo, não liguei para os olhares
curiosos dos outros alunos que andavam pelo campus, simplesmente

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corri e quando não aguentava mais me escondi em um canto para poder
chorar em paz. E estou aqui até agora.
Por quê? Porque eu nunca sou boa o suficiente? Porque eu não consigo
fazer um cara querer só a mim?
Primeiro foi Todd, agora Vince. Só que agora está doendo muito mais do
que doeu com Todd. Porque eu nunca senti o que eu sinto por Vince, ele
roubou meu coração, ele fez eu me apaixonar perdidamente por ele só
para me magoar profundamente depois.
Encolho-me no canto, escondida de tudo e de todos, e choro
descontroladamente. Tento fazer essa dor no meu coração parar, mas
ela não para, ela continua zombando de mim.
Eu nunca vou ser amada por alguém, eu nunca vou ser única e
especial. Eu nunca vou ser boa o bastante para ser amada de verdade.
Nunca, nunca, nunca...

Justin
Apesar de morar e trabalhar em Dallas há pelo menos uns quatro anos,
não consigo ficar longe da “Sweet Berry Farm.” Aqui é meu lar. Foi onde
eu nasci, cresci e vivi muitos bons momentos.
E mesmo eu gostando de morar numa cidade grande, eu sinto falta da
tranquilidade de uma cidadezinha como Wills Point. Por isso, sempre
que posso venho para cá, ficar com a minha família.
Eles são a coisa mais preciosa para mim. Eu os amo demais.
— Como está o emprego, filho? — Mamãe, a qual eu seguro em meus
braços enquanto estamos sentados no sofá assistindo TV, me pergunta.
— Tudo ótimo. Estou muito animado com essa promoção, quando eles
me deram a noticia eu nem acreditei. Eles me deram um cargo de muita
confiança, depois disso o próximo passo seria me tornar dono do lugar.-
Eu digo brincando e nós dois rimos. — Não tem nível mais alto do que
estou para almejar.
— Ah filho, estou tão feliz por você, e muito orgulhosa também. —
Mamãe diz e eu abro um sorriso largo e sinto uma sensação de
satisfação em meu peito.
— Obrigado, mamãe. — Digo-lhe fazendo carinho em seus cabelos.
— E pensar que aquele menino irresponsável que levava tudo na
brincadeira e me dava muita dor de cabeça virou esse homem
trabalhador e responsável. — Ela diz com admiração mas posso ouvir
pelo seu modo de dizer que está sorrindo.
— Ei, o que é isso dona Alyssa? — Pergunto com falsa indignação.
— Ah Justin, você sabe que isso é verdade.
— Pior que eu sei.

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— Vou confessar que teve uma certa altura da sua vida, quando você
deveria ser um homem maduro mas continuava levando tudo na
brincadeira, que eu comecei a realmente me preocupar que você não
fosse crescer nunca. Acho que demorou, mas finalmente você é um
homem.
— Nossa mãe, muito obrigado. — Digo sarcasticamente.
— Estou bem mais tranquila agora. Apesar que... — Ela começa a falar
mas para, como se mudando de ideia e achando que é melhor
permanecer calada.
— Apesar que... — Incentivo-a a continuar.
— Apesar que... — Ela levanta o olhar e me encara nos olhos. — Filho,
quando você vai arrumar um relacionamento sério?
Eu solto um suspiro frustrado e reviro os olhos.
— Estou falando sério, Justin. Você logo vai fazer 30 anos e nunca nem
sequer namorou. Você já não está cansado de só ter sexo sem
compromisso?
— MÃE! — Olho-o para ela como se lhe tivesse nascido uma segunda
cabeça.
Eu posso ter 30 anos mas eu ainda não vou ter essa conversa com a
minha mãe.
— O que? Não é como se eu não soubesse das coisas que você faz. Todo
mundo sabe.
— Eu sei, mas não precisa ficar falando. E além do mais, eu não sou
mais assim, pelo menos não tanto. Eu aprendi a me controlar.
— Mas isso, essa vida que você leva, uma mulher diferente a cada noite,
isso não é...Vazio? Quer dizer, você não quer encontrar aquela mulher
especial que vai te fazer o homem mais feliz do mundo?
— Mãe, você sabe que eu não sou assim. Relacionamentos não são para
mim.
— Você quer dizer que nunca vai encontrar uma boa moça, casar, ter
filhos e ter uma família?
— Nada disso está nos meus planos, eu achei que você já tivesse
aceitado isso, mamãe.
— Eu achei que conforme você fosse amadurecendo você iria perceber
que todo mundo precisa de alguém. Veja seu irmão, você não tem
vontade de ter algo com alguém assim como ele tem com a Kim?
Ela me olha nos olhos e eu reconheço muito bem esse olhar. Ela está a
fim de falar sério e não vai deixar isso de lado até que tenhamos uma
boa conversa acerca desse assunto.
Eu apenas solto um suspiro cansado e desvio olhar.

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— Você não percebe o jeito que eles se olham? Você não quer olhar para
alguém daquele jeito? Que alguém olhe para você como a Kim olha seu
irmão?
— Justin. — Ela chama quando eu não digo nada e eu volto meu olhar
para ela.
— Eu...Eu não sei mãe, não sei, ok? Eu nunca senti essas coisas que
você, o Jax, o papai e milhares de outras pessoas vivem me dizendo. Eu
nunca amei uma mulher, eu não sinto falta porque eu não sei do que
supostamente é para eu sentir falta, entende? Eu não sei o que é amar
uma mulher, quere-la ao meu lado para o resto da vida. Como eu vou
sentir falta de algo que eu desconheço?
Projeto meu corpo para frente e apoio os braços em meus joelhos. Logo
sinto a mão de mamãe acariciando minhas costas.
— Eu só consigo ver o amor como uma forma deliberada de nos
machucarmos. Quando eu penso em amor, eu penso em corações
partidos, dependência, tristeza. Não consigo ver essas coisas boas que
tanto vocês falam...O que será que tem de errado comigo, mamãe?
— Oh meu menino. Não tem nada de errado com você.
— Então porque eu não vejo o amor como uma coisa boa, assim como
todo mundo? Porque eu não consigo querer ter só uma mulher?
— Talvez porque a mulher certa não tenha aparecido ainda.
Solto uma risada sem humor nenhum.
— Acho que ela está um pouco atrasada.
— Filho, tenha paciência. E acima de tudo, tente mudar essa sua ideia
errada sobre o que é o amor. É sofrimento sim, não vou mentir, mas
também é alegria. E essa alegria é tão profunda e verdadeira, que
compensa a parte ruim. Você tem tantos exemplos disso; Eu e o seu
pai, mesmo depois de anos de casados somos felizes e apaixonados, os
seus avós e até o seu irmão.
— Não sei se consigo, mamãe. Eu quero querer me apaixonar, mas
simplesmente não consigo. Eu já tentei.
— Justin, a gente não tenta se apaixonar. Simplesmente acontece,
muitas vezes quando menos se espera, e com quem menos se
espera...Pense desse modo, se ainda não aconteceu com você, quer
dizer que é porque o destino está te guardando uma bela surpresa. O
maior dos amores. E ele está por vir, meu querido. Basta ter fé.

Uma semana depois...


— Sexta feira! Aleluia! — Tommy batuca na porta aberta do meu
escritório enquanto diz animadamente.

15
Eu desvio meus olhos dos papeis que estava organizando apenas por
um segundo para olha-lo brevemente e depois volto meus olhos para os
documentos.
— Eaí, cara? Pronto para finalmente relaxar? — Ele diz parando em
frente a minha mesa.
— Estou atolado aqui, mas boa diversão para você. — Digo.
— Vamos lá, Justin. É sexta. Final de semana. Todo mundo está indo
para aquela nova casa noturna que abriu mês passado. — Ele se inclina
sob minha mesa e sussurra. — Ouvi um pessoal do RH que já foram lá
e parece que rola de tudo, cara. É o paraíso dos solteiros.
— Talvez um outro dia. — Digo colocando os papeis na pasta.
Tommy se afasta e vai até a porta.
— Will? Will, vem cá! — Ele chama e volta a sua posição anterior, em
frente a minha mesa.
Logo Will aparece na porta, seu cabelo já meio desalinhado e sua
gravata frouxa.
— O que foi?
— O Justin não está querendo ir com a gente ao Eros.
Will abre os braços e faz uma careta.
— O que é isso? Só porque foi promovido não anda mais com a ralé?
— Não é isso, vocês sabem disso.
— Então o que é? Vamos cara, você tem que ir. Vai ser divertido.
Reclino-me na cadeira muito mais confortável que a do meu outro
escritório e encaro os dois homens a minha frente. Eles me olham com
expectativa.
Passo a mão pelo rosto e decido que eles tem razão. Eu preciso me
divertir.
— Tudo bem. Vamos lá. — Digo me levantando e pegando meu paletó
pendurado no encosto da cadeira.
Tommy e Will sorriem e animados seguem para fora da minha sala.
Nós três e mais alguns outros caras do trabalho chegamos
ao Eros, sem muita dificuldade finalmente conseguimos entrar.
O lugar é enorme e está cheio de pessoas. A musica é alta, a iluminação
baixa e o ambiente abafado. Ainda bem que deixei meu paletó no meu
carro. Seguimos para uma área onde não há tantas pessoas se
empurrando e o som está abafado o suficiente para que consigamos
conversar sem que precisemos gritar.
Achamos uma mesa grande o suficiente para caber todos e vamos nos
sentar nela. Assim que sentamos uma garçonete com um vestido preto
curto e justo vem nos atender.

16
— O que posso fazer pelo senhor? — Ela pergunta com uma voz
sedutora e interesse nos olhos. Ela se inclina para frente um pouco ao
fazer a pergunta, me dando uma bela visão do seu decote.
— Uísque, por favor. Puro. — Peço.
— Mais alguma coisa? — Sua voz quase um gemido.
— Não. — Ela me olha intensamente e assente.
Depois de pegar os pedidos ela se vira para ir e eu a acompanho com
meus olhos. Sua bela bunda rebolando para um lado e para o outro, me
deixando hipnotizado.
— Cara, você tem que me ensinar como você faz isso.
A voz de Will me tira dos meus devaneios sobre como seria ter aquela
bela bunda montada em mim.
— Sério, abre o jogo, Justin. Você já tem mulheres suficientes aos seus
pés, não precisa de todas do maldito club.
Eu sorrio para ele e dou de ombros.
— Nasceu comigo, cara. É natural. Ou você tem ou não tem. — Digo
desabotoando as mangas na blusa e dobrando até os cotovelos.
— Filho da puta. — Ele xinga e eu rio, nessa hora a garçonete gostosa
chega e nos entrega nossas bebidas.
Ela coloca o copo a minha frente e num movimento que até poderia
parecer casual, mas não é, ela passa a mão por meu braço. Ela sorri
maliciosamente e novamente sai rebolando provocadoramente.
“Ela está pedindo! Talvez mais tarde...”
Pego meu copo preenchido até a metade com o liquido cor âmbar e tomo
um gole.
Os minutos se passaram e agora, com certo nível de álcool no sangue,
me sinto mais relaxado. Essa semana foi tão cheia que eu realmente
estava precisando disso, fico feliz que Tommy e Will tenham insistido
para que eu viesse, normalmente eu não recusaria um convite para a
balada, mas estava tão cansado que eu só queria a minha cama. Mas
pensando melhor, agora que estou aqui, talvez eu possa ir para minha
cama porém com alguma companhia.
— Já estamos sentados aqui tempo demais. Hora de ir à caça, rapazes.
Parecendo ler meus pensamentos, Will diz depois de tomar o último gole
da sua bebida e se levanta.
Imitando seu movimento, levantamos e seguimos para a pista de dança.
Incontáveis pessoas mexem seus corpos ao som da batida contagiante
da musica do DJ.
Vejo os caras se misturando a essas pessoas e procurando mulheres
que estejam sozinhas. Eu não preciso disso, basta eu sentar no bar
que elas vêm até mim, é só uma questão de tempo, sempre foi desse
modo, eu nunca precisei correr atrás de nenhuma mulher.

17
Eu simplesmente fico parado e deixo que elas venham até mim, e elas
sempre vêm.
Quinze minutos depois estou avisando Will que estou indo para casa,
ele reclama que ainda é cedo mas eu, sorrindo maliciosamente, aponto
por cima do meu ombro e assim que ele vê que eu não estou voltando
sozinho, sorri também.
Volto até a mulher que veio falar comigo enquanto eu estava no bar e
praticamente me implorou para leva-la para a cama. Até que é bonita,
para relaxar deve servir.
— Vamos, linda? — Pergunto envolvendo sua cintura com meu braço.
— Claro.
Abro caminho e a conduzo para fora do Eros. O segurança rapidamente
passa seus olhos pelas pernas da minha acompanhante e eu vejo um
pequeno sorriso se formar no canto de sua boca.
Ela pode até não ser tão bonita de rosto, mas com certeza é gostosa e
ter essas pernas envolta de mim vai ser uma maravilha.
Avisto meu carro a poucos metros de nós e apertando o botão na chave,
desligo o alarme. Quando vou abrir a porta para que ela entre, algo
chama minha atenção. Escuto uns gemidos e olho na direção de onde
eu acho que eles vieram.
Olhando para o lado vejo dois caras com uma mulher no meio deles,
eles estão beijando e lambendo o pescoço dela enquanto um deles está
com a mão dentro da sua saia.
Apesar de excitante, desvio o olhar, afinal tenho coisas mais
interessantes para fazer. Como por exemplo, eu mesmo enfiar a mão
dentro da saia da gostosa ao meu lado.
Mas assim que eu desvio o olhar me sinto impelido a olhar de novo, tem
algo me incomodando.
Olho de novo para o trio e tem algo errado ali. Estreito os olhos e olho-
os com curiosidade, aquela mulher, eu já vi esses cabelos castanhos
quase loiros antes.
Quando ela vira o rosto e posso vê-la melhor, meus olhos se arregalam e
meu corpo gela.
“Savannah? Mas que diabos...!”
Não pode ser, eu devo ter bebido demais. A Savannah que eu conheço
nunca estaria se agarrando com dois caras nos fundos de um club. Ela
ainda é uma criança e aquela ali no meio dos dois caras com certeza
não está fazendo algo que uma criança deveria fazer. Simplesmente não
pode ser.
Savannah deve estar em seu quarto no dormitório estudando para
alguma prova, essa mulher deve ser alguém extremamente parecida
com ela.

18
— Então, gato? Vamos? — Olho para a mulher encostada em meu
carro.
Mas e se for ela? Não posso deixa-la aqui com esses caras se
aproveitando dela.
— Só um minuto. — Eu peço e sem esperar uma resposta me dirijo com
passos firmes até o trio.
Quando chego perto o suficiente para constatar que se trata mesmo de
Savannah, eu paro em choque.
Não pode ser. A irmãzinha do meu melhor amigo tem a mão de um cara
dentro da sua saia. Eu vi essa menina crescer pelo amor de Deus. Não
posso deixar que isso continue.
A mão do homem mexe e Savannah solta um gemido alto.
“Já basta!”
— Ei, vocês! Larguem ela agora! — Eu digo furioso.
Os dois caras me olham curiosos, provavelmente se perguntando por
que estou acabando com a diversão deles.
“Filhos da puta!”
— Não escutaram? Soltem ela agora! — Digo me aproximando mais
ainda deles, Savannah me olha e sorri, encaro seus olhos vidrados e
percebo que deve estar bêbada.
Isso só faz com que eu tenha mais raiva desses idiotas.
— Porque você não dá o fora e nos deixa em paz? — Um dos caras diz
todo confiante.
— Porque você não cala a porra da sua boca e deixa ela em paz? —
Pergunto engrossando a voz.
— Olha aqui cara... — O outro homem diz levantando as mãos. — Não
estamos fazendo nada que ela não tenha pedido, ok?
— É verdade, eu pedi. — Savannah diz, claramente bêbada.
— Ouviu? Então agora dê o fora daqui.
— Seu filho da puta, o que eu ouvi é que ela está bêbada. Vou falar uma
última vez antes que eu perca o pouco da paciência que ainda me resta.
Deixem.Ela.Em.Paz.
— Mas que porra, cara. Quem você pensa que é?
— Eu sou o irmão dela. — Assim que eles assimilam minhas palavras
parecem recuar um pouco.
— Conta outra. — Um dos caras diz com um sorriso de escárnio no
rosto.
— Savannah, você me conhece ou não? — Pergunto olhando para ela,
que parece que vai desabar a qualquer minuto.

19
Ela dá alguns passos tontos em minha direção e na minha frente
aproxima o rosto como se não tivesse conseguindo me enxergar direito.
Ela me analisa por alguns segundo e então sorri.
— Justin, você por aqui! — Sua fala enrolada e quase inteligível.
Rapidamente envolvo meu braço em sua cintura para apoia-la.
— Viram? Agora eu sugiro que vocês se mandem antes que eu me
arrependa por não arrebentar a cara de vocês por mexerem com a
minha irmã. — Digo olhando-os com raiva.
Eles se olham e parecendo contrariados se vão.
Passo o braço de Savannah por meus ombros e seguro-a firme em sua
cintura fina.
— Savannah, vamos. Vou te levar para casa.
Ela não discute e me permite guia-la.
— Justin! Você não é meu irmão. Você mentiu. — Ela diz rindo.
— Eu sei. — Digo apenas. Carrego-a em direção ao meu carro.
Mas o que diabos aconteceu com ela? Savannah não é assim. Encher a
cara e se agarrar com qualquer um não combina com a Savannah doce,
inteligente e engraçada que eu conheço.
Por falar na Savannah que eu conheço, eu nunca havia visto-a usando
uma roupa assim.
Olho para suas pernas longas e torneadas que estão a mostra por causa
da mini-saia, seus seios - desde quando ela tem seios?- saltando para
fora da sua blusa justa e decotada.
Engulo em seco.
Não me lembro dela ter crescido desse jeito. Quando isso aconteceu?
Ela sempre foi a menina engraçada e divertida, muitas vezes até fofa,
mas eu não sabia que ela podia ser tão...Tão...Gostosa.
Que Seth não me ouça, mas Savannah se transformou em uma mulher
de deixar qualquer homem louco.
Não me sinto bem de pensar nela nessa forma, parece algo pecaminoso,
afinal ela é quase que uma irmã para mim. Eu, juntamente com Seth,
sempre fomos os irmãos mais velhos da S&S.
Faz um tempinho que não as vejo, mas elas não podem ter mudado
tanto em pouco tempo. Elas devem ter crescido em algum momento
antes disso e eu não me dei conta.
Será que Shanon também está assim?
Pobre Seth, vai ter muita dor de cabeça.
Pensar nisso me fez lembrar de algo.

20
— Savannah, a sua irmã por acaso não está lá dentro, não é? — Só que
me faltava ter que resgatar também Shanon da mão de algum filho da
puta safado.
— Claro que não. Eu vim sozinha...Mas eu não estou indo embora
sozinha. — Ela diz e ri.
Quando chegamos ao carro a mulher ainda está me esperando, ela olha
para Savannah e me lança um olhar confuso.
— Desculpe, linda. Mas surgiu um imprevisto. — Ela olha para
Savannah e cruza os braços.
— Eu tenho que leva-la para casa, ela é irmã de um amigo. Não posso
deixa-la aqui nesse estado.
A mulher fecha a cara, me olha com raiva e sai pisando duro. Seus
saltos fazendo barulho no asfalto.
— Ela não ficou nem um pouco feliz. — Savannah diz quase caindo e eu
tenho que segura-la. Apoio-a no carro e seguro seus ombros para que
não caia.
— Savannah, aqueles caras te embebedaram? — Pergunto sério.
Ela me encara com seus olhos verdes e ri.
— Claro que não. Eu bebi porque eu quis.
— Porque? Você não sabe que é perigoso vir a um lugar como esse
sozinha e ainda por cima ficar bêbada? Podem tentar se aproveitar de
você, como aqueles filhos da puta.
— Ah Justin... — Ela dá um passo em falso e eu a seguro pela cintura.
— Cuidado. — Alerto-a.
— Ninguém se aproveitou de mim. Eu queria ir para casa com aqueles
caras. — Por um momento acho que entendi errado por causa da sua
fala enrolada, mas ela realmente disse isso.
— Savannah, o que aconteceu? Você não é assim. — Olho-a com
preocupação.
— O que? Porque tem que ter acontecido algo? Porque eu não posso sair
e me divertir com vários caras? Porque só vocês homens podem ir numa
festa e pegar todas as mulheres que quiserem? — Ela me pergunta
agora parecendo com raiva.
Olho-a confuso. Do que ela está falando?
— Savannah, entre no carro. Vou te levar para casa.
— Não! — Ela grita. — Não quero ir para casa. Quero me divertir.
— Chega de diversão para você essa noite. — Digo afastando-a da porta
para poder abri-la.
— Não. Eu vim aqui para me divertir e você estragou tudo.
— Savannah...

21
— Aqueles caras iam me dar a diversão que eu estava procurando, mas
você mandou eles embora...Agora você vai ter que me divertir.
Ela diz e se joga em meus braços, seguro-a firme para que não caia.
— Você até que é bonitinho. — Ela diz e antes que eu possa assimilar o
que ela está prestes a fazer, antes que eu possa impedi-la, sua boca já
está na minha.
Surpreso tento afasta-la, mas ela envolve seus braços em meu pescoço
e se segura firme.
Tentando afasta-la sem machuca-la, sem querer eu pego em vários
pontos do seu corpo, sentindo suas curvas delicadas.
Sinto seus seios se esmagando contra mim e involuntariamente fico
excitado. Não deveria, ela é a irmã de Seth, mas irmã dele ou não ela é
gostosa. Mesmo minha mente dizendo que eu não deveria gostar, meu
pau diz algo totalmente diferente.
Ela abre a boca e sua língua acaricia meu lábio. Meio que como reflexo,
eu abro a boca e sua língua a invade. Sinto gosto de álcool.
Savannah devora minha boca e quando percebo estou fazendo o
mesmo.
“Não, Justin! Pare, pare agora! Ela não, você não pode!”
Os protestos de minha mente são ignorados e como muitos dizem, a
minha segunda cabeça passa a pensar por mim. Ignorando a
grandiosidade do erro que estou cometendo, seguro Savannah
fortemente e a puxo para mais perto de mim, até nossos corpos estarem
tão grudados que os limites de onde começa um e termina o outro são
confusos.
Encosto-a no carro com um pouco de violência, tenho medo de tê-la
machucado, mas ela solta um gemido que parece de desejo e não de
dor.
Passo minhas mãos por sua cintura fina e depois por seus quadris,
depois subo e aperto um de seus seios, eles são firmes e redondos. Ela
solta um gemido tão primitivo e tão sexual e ele faz sua viagem do meu
ouvido direto ao meu pau, que está totalmente duro e pulsa em minhas
calças.
Nossas línguas travam uma batalha ferrenha e violenta. Seguro seus
cabelos perto da raiz e puxo, fazendo com que seu pescoço se incline e
fique a mostra. Afundo-me ali e deposito leves mordidas por toda a
extensão da sua pele clara e macia.
Ela geme em apreciação e eu sinto que vou explodir a qualquer minuto.
“Que porra é essa?”
Quando foi a última vez que o gemido de uma mulher me excitou tanto
assim? Quando foi a última vez que eu estive tão próximo de explodir
tão rápido?

22
Não faço a mínima ideia. A única coisa que eu sei agora é que estou no
paraíso.
Essas curvas, esses lábios doces, essa pele macia, esse gosto – que
apesar da bebida – é único e delicioso.
Sinto as mãos de Savannah descendo do meu pescoço por meu peito,
até meu abdômen. Ela desce mais e acaricia a saliência na minha calça.
“Porra! Que delicia!”
Eu já fui tocado assim antes, mas nunca foi tão gostoso. Não sei o que
ela está fazendo, ou como está fazendo, mas seu toque é divino.
Ela aperta e esfrega a mão sob minha calça e eu fico mais duro ainda.
Mexo meu quadril sutilmente, esfregando minha ereção em sua mão.
“Caralho, ela é tão gostosa! Como eu não reparei nesse corpo antes? Uma
delicia...Será que eu tenho camisinha ou tenho que comprar?”
Nesse momento a minha ficha cai.
Eu vou transar com a irmã do meu melhor amigo? Não, eu não posso.
Mas eu quero. E muito!
Meu lado racional luta contra o meu lado que quer tirar sua roupa e
mergulhar profundamente em seu corpo.
Você não pode Justin! Não se trata só do Seth, ela está bêbada. Se
vocês fizerem algo, você vai ser igual aqueles filhos da puta
aproveitadores.
Você tem que parar.
“Eu tenho que parar! Agora!”
Com a maior força de vontade que eu já tive que usar em toda a minha
vida, eu seguro nos ombros de Savannah e a afasto.
Ela me olha com seus lindos olhos verdes brilhando de luxuria, suas
bochechas estão coradas e seus lábios inchados e vermelhos. Ela está
tão sexy que sinto vontade de chorar por não poder usufruir de toda
essa beleza.
Seus peitos fartos sobem e descem na sua tentativa de recuperar o
fôlego. Tento respirar profundamente e recobrar a razão.
— Venha cá, estava tão gostoso! — Ela diz e vem querer me agarrar de
novo, mas eu a impeço.
— Não, Savannah! Isso é errado, temos que parar!
— Se você não vai me dar o que eu quero então vou achar alguém que
dê. — Ela tenta se afastar mas eu a seguro.
— Está louca se acha que vou deixa-la sair por aí. Eu vou levar você
embora, em segurança.
— Eu não quero ir. Eu quero me divertir, eu mereço. Não é só ele que
pode, eu também posso.

23
— Do que você está falando? Ele quem?
— Vince...Se ele acha que eu vou ficar sofrendo por causa dele, ele está
muito enganado. Eu vou dormir com quantos caras eu conseguir e
depois vou esfregar isso naquela cara idiota dele. E daquela vadia
também.
Ela disse Vince? Será aquele mesmo Vince que eu ouvi Seth
comentando que era o namoradinho dela?
— Savannah, não estou entendendo nada do que você está falando.
Você não está bem e precisa descansar. — E eu preciso de um banho
gelado. Congelando.
— Venha, entre no carro...E não discuta.
— Eu não quero...Justin, eu não quero...Não vou entrar no carro. — Ela
protesta enquanto eu tento frustradamente enfia-la pela porta do
carona.
— Você vai entrar sim.
Finalmente consigo coloca-la sentada no banco, fecho a porta e com
medo que ela saia, eu corro até o outro lado e entro. Assim que faço isso
tranco todas as portas para não correr o risco de ela tentar escapar.
Coloco seu sinto e depois o meu, enfio a chave na ignição e ligo o motor.
— Qual o seu dormitório?
— Que dormitório? — Ela pergunta com a cabeça encostada no encosto
do banco.
— Seu dormitório, Savannah, onde você está morando pelos últimos
dois anos.
— Não sei. — Ela diz resmungando. Não adianta perguntar, ela está tão
bêbada que é capaz de me falar o numero errado e eu vou acabar
batendo na porta de outra pessoa.
Talvez eu posso leva-la até lá e depois tentar achar alguém que possa
me dar essa informação.
Não. Isso não vai funcionar. E agora?
Não posso leva-la até Wills Point, se a vissem nesse estado...
Mas que droga. O único jeito é levar Savannah para meu apartamento.
Conduzo o carro em direção ao meu prédio, Savannah parece meio
desmaiada no banco ao lado.
Dirijo no limite máximo da velocidade e dentro de alguns poucos
minutos chegamos. Dou a volta no carro e abro sua porta, solto o sinto
e tento puxa-la para fora do carro.
— Savannah. — Chamo-a. Ela me olha com os olhos quase fechados,
não sei se ela está consciente ou não.
Puxo-a para fora e ela envolve seus braços no meu pescoço.

24
Fecho a porta e ligo o alarme. Tento fazer com que ela de os próprios
passos, mas ela está toda mole e não me responde.
Solto um suspiro e me abaixando um pouco pego suas pernas e a
levanto, carregando-a no colo.
Quando o porteiro me vê, vem correndo abrir a porta para mim.
— Obrigado, Carlos.
— Por nada, senhor. Precisa de alguma ajuda?
— Só aperte o botão no elevador para mim, sim?
— Claro, senhor.
Vou até o elevador e Carlos o chama para mim, assim que ele chega eu
entro e Carlo entra junto, aperta o botão do meu andar e sai
rapidamente.
— Obrigado.
Ele diz algo mas não escuto porque as portas se fecham. Quando
chegamos ao meu andar, saio do elevador e vou até minha porta. Com
muita dificuldade consigo pegar a chave e colocar na fechadura, quase
deixo Savannah cair ao fazer isso. Ela resmunga algo, mas parece voltar
a dormir.
Adentro meu apartamento e fecho a porta com o pé. Vou direto em
direção a meu quarto e coloco Savannah em minha cama. No momento
que estou fazendo isso ela abre os olhos e encontra com os meus.
Ela sorri e puxa minha cabeça para mais perto.
— Faça-me esquecer dele. — Ela sussurra e me beija.
Oh Deus, de novo não. Não sei se terei forças para recuar novamente.
Seus lábios macios se fecham sobre os meus e suas mãos me seguram
pela nuca.
Seguro seus pulsos fortemente e me desvencilho do seu aperto,
rapidamente me levanto da cama e me afasto.
— É melhor você ir dormir.
Ela se senta e tira os sapatos, jogando-os no chão. Se levanta e fica ao
lado da cama, ela me olha com um sorriso malicioso e leva sua mão
para a borda da sua blusa.
— Savannah? — Pergunto com medo.
Ela levanta os braços e sua blusa vem junto.
“Ah merda!”
Ela a joga no chão e seus dedos vão para o botão da curta saia.
— Savannah, o que você está fazendo? Fique vestida...Por favor. —
Imploro.

25
Ela encaixa os dedos nos cantos e rebolando tira a saia, ficando parada
na minha frente apenas de calcinha e sutiã azul bebê.
“Caralho! Caralho! Caralho!”
— Eu só quero esquecer. Faça-me esquecer.
Ela pede de novo e eu não faço a mínima ideia do que ela quer
esquecer, não consigo me concentrar em nada que não seja seu corpo
maravilhoso.
Meus olhos o percorrem com avidez, com desejo.
Meu pau está doendo tanto, gritando por alivio. Mas eu não posso,
tenho que ser forte.
Ela caminha em minha direção e eu aos tropeços fujo para a porta
numa velocidade impressionante.
— Você pode dormir na minha cama. Tem um banheiro logo ali se você
passar mal. Se estiver muito mal pode me chamar. — Digo a sentença
rapidamente, tropeçando nas palavras e saio do quarto, fechando a
porta e deixando uma Savannah seminua com cara de frustração para
trás.
Vou até o minibar e pego uma cerveja.
“Cara, eu mereço uma medalha!”

26
Ressaca
Justin
Dormir a noite inteira nesse sofá acabou com as minhas costas. Bem,
dormir é modo de dizer, afinal se eu consegui fechar meus olhos e
perder a consciência por mais de duas horas é muito.
Demorou para que eu conseguisse desligar minha mente e finalmente
conseguir dormir, e quando isso aconteceu não demorou muito para
que os raios de sol atravessassem a janela e me despertassem.
Eu paguei muito caro nesse sofá, pelo menos essa porra deveria servir
para dormir.
Mas tenho que ser honesto, o sofá não foi completamente culpado por
eu não conseguir dormir na noite passada.
A culpa disso está dormindo nesse exato momento na minha cama.
Savannah Careton.
A irmãzinha do meu melhor amigo. Aquela que eu vi crescer. Aquela
que eu segurei em meus braços pela primeira vez quando tinha pouco
mais de um mês de vida.
Foi culpa dela que eu não conseguia desligar minha mente e ter uma
boa noite de sono.
Estou preocupado com ela. Ontem à noite, aquela Savannah que eu vi,
não era ela.
Se embebedar e se atracar com dois desconhecidos? De jeito nenhum
que a Savannah que eu conheço faria isso.
Mas talvez ela não seja mais a menina que eu conhecia. Depois que me
mudei para Dallas e ela foi para a universidade nós perdemos contato.
A cada dia no trabalho parecia que eu ganhava mais responsabilidades.
A cada dia eu me tornava mais ocupado e para ver minha própria
família demandava de muito esforço da minha parte. Mas eu nunca
deixei de visita-los no final de semana, ou então, pelo menos ligar para
conferir como todos tinham passado a semana.
E é claro que nessas idas até a fazenda dos meus pais eu
ocasionalmente via as gêmeas, mas era sempre breve. Apenas um “Oi,
como tem estado?” “Bem, e você?” “Como está a faculdade?” “Ótima”
“Que bom, tenho que ir, nos falamos qualquer hora.”
Isso quando nos encontrávamos, era difícil simplesmente encontra-las
por lá.

27
Talvez durante esse tempo distante ela tenha mudado. Talvez com a
influência - muito má - de alguma colega ela tenha se transformado da
água para o vinho.
Mas eu me recuso acreditar nisso. Savannah nunca foi uma menina
influenciável, e das gêmeas, sempre foi a com personalidade mais forte.
Algo fez com que ela agisse daquela forma. Ou melhor dizendo, alguém.
Estou cada vez mais convencido que o Vince que ela comentou ontem
durante sua falação bêbada, é o mesmo Vince seu namorado, é o mais
provável.
Ele deve ter feito algo muito sério para tirar Savannah do prumo dessa
forma.
Não quero força-la a nada, mas eu preciso saber se esse moleque que
ela namora fez algo que obrigue eu e Seth a bater a merda fora dele.
Levando em consideração que ela estava transtornada o suficiente para
se embebedar e deixar dois caras desconhecidos toca-la daquela forma,
eu diria que eu terei que ter uma conversa com esse tal de Vince. Uma
que ele não vai gostar nem um pouco.
A imagem da doce menininha que eu vi crescer, gemendo enquanto um
cara estava com a mão dentro da sua saia, vai ficar gravada a ferro na
minha mente para sempre.
O que não é o maior dos meus problemas se levado em consideração o
que aconteceu depois.
Como eu pude deixar aquilo acontecer?
Como eu pude ter sido tão leviano? Faz muito tempo que eu aprendi a
me controlar quando se trata de mulheres. Admito que eu ainda tenho
uma vida considerada bem promiscua, mas minha vida hoje em dia
comparada com a de quando eu tinha vinte anos é praticamente a de
um padre.
Eu me esqueci de tudo quando eu senti os lábios dela nos meus, suas
curvas femininas e delicadas contra mim, seu calor se misturando com
meu calor.
Foi uma sensação boa para caralho. Eu já troquei calor com muitas
mulheres, muitas mesmo. Tantas que eu não posso nem imaginar, e
nenhuma me fez sentir como quando eu tinha Savannah em meus
braços.
Eu não tenho noção do que isso quer dizer, mas não me parece algo
bom.
Parece-me que o melhor a fazer é ignorar aquela sensação, esquece-la
por completo e continuar vivendo como se eu nunca tivesse beijado,
tocado e desejado a irmãzinha do meu melhor amigo.
Simples assim? Simples assim. Afinal, fazer isso não deve ser tão difícil.
Não é como se ela fosse viciante.

28
Levanto-me e não querendo entrar em meu próprio quarto, vou até a
lavanderia e pego uma camisa que estava jogada lá por cima.
Eu sempre durmo pelado. Roupas na hora de dormir me deixam
desconfortável. Mas visto que eu estaria dormindo no sofá e Savannah
estaria no meu quarto, podendo acordar a qualquer hora - apesar de
que eu duvido que ela levantasse tão cedo - me obriguei a vestir pelo
menos uma calça de moletom.
Colocando a camisa sigo em direção à cozinha. Aquela menina vai estar
com uma baita ressaca quando acordar e provavelmente não vai querer
comer nada, mas eu estou morrendo de fome.
Quem sabe eu posso preparar para ela uma daquelas bebidas magicas
que eu aprendi a fazer e que curam as dores pós-bebedeira, aposto que
ela vai precisar muito.
Pego os ovos e o bacon na geladeira e vou preparar meu café da manhã.
Ovos mexidos, bacon, torradas e suco de laranja.
Coloco duas fatias de pão de forma na torradeira e enquanto espero
ficar pronto quebro e misturo os ovos no pote arredondado de vidro. Fiz
um pouco mais caso Savannah também queira, nunca se sabe.
A torradeira apita e os pães torrados saltam para fora, coloco-os em um
prato e coloco mais duas fatias para preparar.
Em uma frigideira frito as tiras de bacon e em outra remexo os ovos.
Pego as coisas no armário para arrumar a mesa, ocasionalmente
verificando a comida para não queimar enquanto distribuo os pratos e
talheres pela mesa.
Viro-me e mexo os ovos e viro as tiras de bacon. Coço meu queixo e jogo
o pano de prato em cima do ombro. Desligo o fogão e despejo a comida
em meu prato, deixando um pouco na frigideira para ela.
— Ahhhh.
Escuto um grito vindo de longe, mas inconfundivelmente vem de dentro
do meu apartamento. Coloco a frigideira no fogão e vou ver o que diabos
fez essa menina gritar desse jeito, mas não é necessário. Escuto uma
porta se abrindo e se chocando contra a parede com força e passos
descalços batendo apressadamente contra o piso de madeira.
Savannah aparece no meu campo de visão. Ela não está com uma cara
nada boa, seu cabelo está todo bagunçado e ela está vestindo uma
camisa minha. Graças a Deus ela cobre o suficiente de suas pernas e é
larga o bastante para caber duas dela ali dentro. Ótimo, isso vai evitar
distrações e pensamentos totalmente inapropriados e que eu não devo
ter mais sobre ela.
Savannah para na porta da cozinha com uma expressão de puro terror
na cara. Seus olhos estão tão arregalados que eu acho que vão saltar
das orbitas a qualquer segundo.
— Por favor, me diga que nós não transamos! — Ela diz parecendo
desesperada.

29
Então ela está assim por que acha que nós transamos.
Espera um segundo...Acho que pela sua reação eu deveria estar com
meu orgulho ferido. Seria tão horrível assim acordar e descobrir que
você havia passado a noite comigo?
— Ei, calminha aí, Little Nips. — Chamo-a pelo seu apelido de infância.
— Nós não transamos, ok?
Ela coloca a mão na barriga e solta um alto e longo suspiro de alivio.
— Como você está? — Pergunto me sentando em frente ao meu prato de
comida.
— Agora que você falou...Aí. — Ela diz levando a mão na cabeça e
fazendo uma careta de dor.
— Sente-se aí.
— Não sei se consigo comer alguma coisa. Estou me sentindo péssima.
Ela diz se sentando mesmo assim.
— Depois do quanto você bebeu não é de se admirar. — Digo baixinho e
empurro a caneca com bebida que eu preparei para ela.
— O que é isso? — Ela pergunta fazendo uma careta para o conteúdo
da caneca.
— A aparência não é boa, e o gosto menos ainda. Mas te garanto que
isso faz milagre contra a ressaca.
Meio hesitante ela leva a caneca até a boca e toma um gole.
— Urgh! Isso é horrível, a pior bebida que eu já tomei na minha vida.
— Lembre-se disso da próxima vez que quiser encher a cara. — Digo em
tom repreensivo.
Ela abaixa a caneca e me olha com a testa franzida.
— Justin, o que aconteceu ontem à noite? Como eu vim parar no seu
apartamento?
— Você não se lembra de nada do que aconteceu ontem à noite? —
Pergunto desconfiado.
— Não, quer dizer...Antes de eu começar a beber eu me lembro, mas
depois é tudo muito nublado, como um borrão.
Não sei se eu fico feliz ou não por sua afirmação. Talvez seja melhor
dessa forma. Será mais fácil fingir que aquilo entre nós nunca
aconteceu se ela não se lembrar.
— Bom, eu fui ao Eros ontem à noite com alguns amigos meus.
Quando estava saindo eu vi você com..Humm...Bem, com dois...Dois
caras. Você estava caindo de bêbada e eles estavam querendo se
aproveitar disso. Então eu te tirei de lá e te trouxe para meu
apartamento.

30
Ela apoia a testa em seu braço que repousa em cima da mesa e geme,
soando doente.
— Sinto muito, não queria estragar sua noite.
— Não se preocupe com isso. Não podia deixar você lá com aqueles
caras.
— Não acredito que eu fiz isso. — Ela diz num gemido lamentoso.
— Nem eu...Agora beba. — Digo e empurro a caneca até bater em seu
braço. Ela levanta a cabeça e me lança um olhar zangado.
— Não olhe para mim assim. Foi você que bebeu até não aguentar mais.
Ela abre a boca para dizer algo mas permanece em silêncio, pega a
caneca e fazendo uma careta bebe mais um gole.
— É como lamber a blusa de um jogador do Dallas Cowboy depois de
um jogo.
— E como diabos você sabe disso? — Pergunto rindo.
— Não enche. — Ela diz com um leve sorriso no canto dos lábios
enquanto toma mais um gole.
Ficamos em silêncio, ela ocasionalmente tomando da sua bebida,
sempre fazendo caretas engraçadas, e eu fazendo meu dejejum.
— Se mudar de ideia e quiser comer algo, deixei um pouco para você na
frigideira.
— Obrigada. — Ela diz parecendo meio tímida agora. — Por tudo.
Ela me olha com seus doces olhos parecendo caramelo derretido e eu
engulo em seco.
— De nada.
— Espero não ter feito ou dito nenhuma besteira para você ontem. —
Ela diz bem quando estou bebendo meu suco e eu engasgo.
— Oh não, eu fiz algo estupido, não foi? Por favor, me diga. — Ela diz
me olhando com uma carrinha torturada.
— Não, você não fez. — Decido mentir e não lhe contar tudo o que ela
fez ontem, só serviria para constrangê-la e deixar um clima estranho
entre nós. — Besteira você fez quando se embebedou daquela forma e
deu bola para aqueles dois aproveitadores. Aquilo foi muito perigoso,
Savannah. — Digo sério.
Ela abaixa o olhar com vergonha e faz uma carinha que me faz ter
vontade de aninha-la em meus braços e conforta-la até que se sinta
melhor.
— Eu sei, sinto muito. Eu fiz besteira.
— Besteira é pouco, mas não importa mais. Você tem que me prometer
que não vai mais fazer isso. Prometa.
— Eu prometo. — Ela diz baixinho.

31
— Prometa de verdade, Savannah. Dá próxima vez eu posso não estar lá
para te proteger...Prometa que você nunca mais vai beber e sair com
estranhos.
— Eu prometo, prometo, ok?
Respiro mais aliviado. É bom que ela tenha entendido o quão sério seus
atos foram. Esse mundo está cheio de malucos, aproveitadores e
pessoas muito más.
— Você não pode simplesmente ir embora de um bar com uma pessoa
que você não conhece. — Digo um pouco irritado depois de imaginar o
que poderia ter acontecido com ela se eu não estivesse lá. Será que
nunca ninguém disse para essa menina não falar com estranhos? Eu
estava lá enquanto ela crescia, me lembro muito bem de tia Marie
orientar as meninas sobre isso.
Ela cruza os braços e me olha com as sobrancelhas levantadas, com
uma expressão de acusação.
— O que foi? — Pergunto confuso.
— “Você não pode simplesmente ir embora de um bar com uma pessoa
que você não conhece.” — Ela diz imitando minha voz e meu jeito de
falar, o qual eu acho que ela está exagerando.
— Qual é, Justin, não seja hipócrita. Você faz isso o tempo todo. Aliás,
todos os homens fazem e ainda por cima depois se gabam com seus
amigos sobre quantas pegaram na balada.
— É diferente. — Digo tentando me justificar.
— Ah é? Posso saber como? — Ela pergunta petulantemente.
— É diferente porque eu sou homem e você...Você é...É...
— Eu sou o que? Vamos, fale...É porque eu sou mulher, não é? Você é
mais um daqueles idiotas que acham que só porque são homens podem
fazer tudo, não é isso? Pois eu tenho uma novidade para você Justin
Cord, as mulheres também podem ficar com quantos homens elas
quiserem, elas também podem sair para beber e ficar com alguém que
elas não conhecem só para ter sexo sem compromisso. Isso não é
exclusividade de vocês homens idiotas, inúteis, infiéis que só pensam
com a maldita cabeça de baixo. — Ela termina seu discurso gritando e
em pé, com ambas as mãos apoiadas na mesa e o corpo curvado
ameaçadoramente para frente.
Só percebo que havia recuado com o corpo quando me endireito na
cadeira. Olho assustado para ela e me pergunto de onde veio toda essa
agressividade e raiva contra os homens. Então me lembro de algo que
eu quero perguntar-lhe.
— Savannah, acalme-se ok? Eu não quis dizer isso, é só que para os
homens é menos perigoso. Vocês mulheres são fisicamente mais fracas
que nós, e não me olhe assim...É a natureza. A não ser que você seja
uma fisiculturista um homem será mais forte que você.

32
— Você é um idiota, sabia?
— Estou falando sério. Aqueles caras de ontem eram mais fortes que
você, facilmente poderiam te forçar a fazer algo que você não quisesse,
sem falar que eram dois.
— Mas eu não vou ficar aqui discutindo com você sobre igualdade entre
os sexos. O que eu quero mesmo que você me diga é o porquê você fez o
que fez.
— O que você quer dizer? — Ela me pergunta brava.
— Porque você bebeu daquele jeito e resolveu ir embora com aqueles
caras? Você não é assim, eu sei.
Sua expressão muda para uma mais triste e ela desvia o olhar.
— Me fale o que aconteceu para você agir daquela forma. — Peço.
Ela continua encarando a caneca a sua frente e não diz nada.
— Isso tem alguma coisa a ver com esse tal de Vince? — Assim que digo
seu nome ela me olha surpresa, posso ver sofrimento em seu olhar
também, como se ouvir esse nome lhe causasse dor.
— Você disse o nome dele ontem. — Respondo a pergunta silenciosa
estampada em seus olhos.
— Ele não tem nada a ver com isso. — Ela diz pouco convincente.
— Ah não? Então porque você disse o nome dele?
— Não faço a mínima ideia.
— Lembro-me muito bem de você dizer algo sobre se ele acha que você
vai sofrer por ele, ele está muito enganado e sobre dormir com quantos
caras você conseguir e depois esfregar isso na cara dele. E se não me
engano tinha uma vadia no meio dessa história também.
— Aparentemente eu falo muito quando estou bêbada. — Ela diz
parecendo amargurada.
Ela não tem ideia. E poderia dizer que ela faz muito também.
— Anda logo Little Nips, fale de uma vez.
— Não tem nada a ser dito. Eu realmente preciso ter um motivo para
querer sair e me divertir?
— Eu realmente espero que sim. Porque sair e fazer besteira com motivo
já é burrice, agora sem um...Aí já é demais.
Ela revira os olhos e solta um grunhido.
— Eu vou embora. Obrigada por ontem e por essa bebida horrível. —
Ela diz irritada e se levanta, mas eu sou mais rápido e a seguro pelo
braço.
— Espere. Não vá. — Peço.
Ela, de má vontade, se senta novamente.

33
— Eu só quero te ajudar. Eu me importo com você. Se estiver
acontecendo algo, então quero saber. Por favor.
Ela me olha fixamente e eu quase posso ver as engrenagens girando em
sua cabeça, decidindo se me conta ou não. Por fim ela solta um suspiro,
como se estivesse desistindo e me diz:
— Tudo bem, eu vou contar. Mas só se você me prometer que não vai
contar para ninguém, principalmente para o Seth.
— Eu prometo.
— É sério, Justin. Eu não contei isso para ninguém, e não quero que
ninguém saiba.
— Tudo bem, eu prometi, não vou contar nada.
— Tudo bem então...Não sei se você sabe mas eu estava namorando
com o Vince há um ano.
— Seu irmão havia comentado algo um tempo atrás. — Digo.
— Quando eu conheci ele, logo fiquei sabendo da fama que ele tinha na
faculdade. Ele era um pegador. Já ficou com praticamente todas as
meninas da universidade. Nós nos tornamos amigos e ficamos assim
por um bom tempo. Bem, para encurtar a história, ele me disse que
queria algo sério comigo, que havia mudado por mim e que não queria
saber mais de nenhuma outra mulher. Eu acreditei. Deixei-me envolver
e me apaixonei loucamente por ele...Uma semana atrás eu peguei ele na
cama com a minha amiga, ou pelo menos eu achava ser, e que também
é minha colega de quarto. Eles estavam no meu dormitório, eu abri a
porta do quarto e os dois estavam... — Ela cobre o rosto com a mão e
não termina a frase. Parece se engasgar com as palavras.
Eu não conheço esse cara. Nunca o vi. Mas eu odeio-o.
Como alguém pode trair uma menina tão doce, linda e maravilhosa
como Savannah? Esse filho da puta. Se ele aparecer na minha frente eu
vou arrebentar a cara do desgraçado.
— Sinto muito. — Digo sem saber o que mais devo dizer.
— Eu sei o que você está pensando. Que é um exagero minha reação,
que amores vem e vão, não é?
— Não estou pensando nada disso. E não acho que você esteja
exagerando, quando uma pessoa que gostamos muito nos magoa
profundamente...Bem, isso quebra nosso coração. É normal querer
esquecer, e cada um tem o seu jeito. O seu foi enchendo a cara, não foi
um bom jeito, mas foi o que você achou que te faria esquecer. Não te
culpo por tentar.
Agora o que ela me falou ontem a noite faz mais sentindo. Quando ela
tirou a roupa e disse que queria que eu a fizesse se esquecer.
Sinto um aperto no estômago e um gosto amargo na boca.

34
O amor é tão perigoso, olha só o que ele pode fazer com quem se
permite desfruta-lo. Ele pode destruir uma pessoa, acabar com ela por
completo.
Observando os olhinhos tristes de Savannah eu vejo que é exatamente
isso que aquele filho da puta fez com ela.
Fecho minhas mãos em punhos e tenho que lutar contra a vontade de
bater em algo com toda a minha força.
— Não foi a primeira vez que isso aconteceu. — Ela diz de cabeça baixa
e com a voz não mais que um sussurro.
— Como assim?
— Eu tive um namorado antes do Vince, o Todd, lembra?
Faço que sim com a cabeça.
— Ele foi meu primeiro namorado. Ele me traiu também, foi por isso
que nós terminamos, mas eu não contei para ninguém. Quando eu
descobri terminei com ele na hora, mesmo me doendo muito. — Ela fixa
o olhar em mim mas parece não me enxergar. Solta uma risada sem
humor nenhum, uma quase amarga. — Ele disse para todo mundo que
ele havia terminado comigo, e que ele havia me traído porque eu era
muito...Frígida.
Não achava que era possível ficar com mais raiva. Mas estava errado.
Todd.
Mais um nome na lista de caras que eu tenho que deixar em coma.
— O que era mentira porque eu e Todd nunca chegamos a...Bem, você
sabe, nós nunca transamos. Talvez seja por isso que ele tenha me
traído, mas esse não é o caso com Vince.
Tudo bem, imaginar que a minha Little Nips não é mais virgem não é
algo que me agrade nem um pouco. Faço uma careta ao pensar sobre
isso.
— Talvez ele esteja certo. — Ela diz.
— Quem?
— Todd. Talvez ele esteja certo sobre eu ser frígida. Ele não tinha como
saber, falou aquilo só para me atingir, mas talvez ele tenha acertado.
Foi por isso que Vince precisou procurar outra mulher, porque eu não
pude agrada-lo, não fui o suficiente.
— Hey, calma aí. Nunca mais fale isso Savannah. Entendeu? Nunca
mais fale isso. O que esses dois babacas fizeram não tem nada a ver
com você. Eles são uns filhos da puta que não foram capazes de
enxergar o tesouro que possuíam.
— Tá bom. — Ela ri em deboche e parece não acreditar no que eu disse.
— Estou falando muito sério, Savannah. A culpa dessas traições não foi
sua. Qualquer cara teria muita sorte de ter você.

35
— Então porque eles fizeram isso comigo, Justin? — Ela me olha com
os olhos ameaçando transbordar em lágrimas.
— Porque eles são uns ferrados. — Respondo.
— Sabe o que é pior... — A voz dela tremula. — Eu realmente amo o
Vince. — Ela não consegue mais segurar e as lágrimas escorrem
livremente por sua bochecha rosada.
Seus ombros começam a chacoalhar e ela cobre o rosto com as mãos.
Foda. Foda. Foda.
O que eu devo fazer quando uma mulher está chorando? Eu não sei
como agir nessa situação.
— Eu ainda o amo, muito...Meu coração está doendo tanto. — Sua voz
abafada por sua mão que cobre o rosto.
Nesse momento posso jurar que sinto dor física. Sinto meu coração se
rachando e se quebrando. Um buraco em meu peito é aberto.
Deus, como alguém pode fazer isso com ela? Sinto que faria qualquer
coisa só para fazê-la parar de chorar e sorrir novamente.
Estico meu braço e puxo seu corpo leve e pequeno para meu colo. Ela
vem sem resistência alguma, se senta em meu colo e me envolve com os
braços, sua cabeça escondida em meu pescoço.
Abraço-a forte e acaricio seus cabelos. Seu corpo dá pulinhos em meu
colo a cada soluço.
— Tudo vai ficar bem, Little Nips. Tudo vai ficar bem. — Tento
reconforta-la mas ela balança a cabeça discordando de mim.
— Vai sim, você vai ver. Você vai esquecê-lo.
— Mas eu não quero esquece-lo. Eu o amo. — Ela diz toda quebradiça.
— Gostaria de ter as palavras certas para te dizer, para fazer tudo ficar
melhor. Mas eu não as tenho.
Ela diminui o choro e levanta a cabeça, me encarando nos olhos.
Seu nariz e olhos estão vermelhos e sua expressão é tão triste, de tanta
dor, que sinto como se tivesse levado um soco no estômago.
— Não chore mais, ele não merece suas lágrimas. — Digo limpando as
manchas que as lagrimas fizeram em sua bochecha. Acaricio sua pele
macia com meu polegar e lhe ofereço um sorriso tímido. Não estou com
nenhuma vontade de sorri agora, mas me esforço por ela.
— Ele não te merece. Você é incrível Savannah, merece alguém muito
melhor que ele.
— Eu quero ele. — Ela diz ameaçando derramar as lágrimas que parece
ter sob controle agora.
— Ele não te merece. — Repito.
— Mas eu quero ele. Eu preciso dele. — Ela diz fazendo um biquinho.

36
— Você vai perdoa-lo então?
— Eu...Eu não sei. O que ele fez me magoou demais, não sei se sou
capaz de perdoa-lo. Mas eu sei que essa última semana tem sido um
inferno, não aguento mais ficar longe dele. Queria perdoa-lo e que
voltássemos a ser felizes como antes, mas também tem o meu orgulho
que não me deixa. Não sei o que fazer.
— Tenho certeza que logo você descobrira o que deve ser feito.
— Espero que sim.
— Sei que sim. Mas seja o que for, eu só quero que a sua decisão seja
aquilo que for o melhor para você. Ok?
— Ok. — Ela diz e eu até ganho um sorrisinho. Um caso imperceptível,
mas mesmo assim não deixa de ser um sorriso.
— Muito obrigada, Justin. Por ontem, por hoje...Por tudo. — Ela diz e
me dá um beijo na bochecha. Por um segundo pude jurar que senti
como se uma corrente elétrica estivesse passando por meu corpo, mas
então seus lábios se afastaram e tão rápido como veio, a sensação foi
embora.
— De nada, Little Nips. Sempre que precisar.

37
A vingança é doce
Savannah
Não é que ele tinha razão? O gosto daquela bebida era horrível, mas de
fato ela me ajudou com minha insuportável dor de cabeça. E foi tão
rápido que quando Justin estacionou seu carro na frente do meu
dormitório a dor já havia diminuído consideravelmente.
Tenho que pegar a receita com ele. Não que eu vá beber daquele jeito
novamente, de qualquer forma.
Quando entro em meu apartamento a primeira coisa que eu vejo,
infelizmente, é Aletta parada em frente à janela com as mãos na cintura
e um sorriso prepotente nos lábios.
Só de olha-la já me sinto doente. Durante essa última semana tenho
feito meu melhor para evita-la, nem sempre é possível, mas tenho feito
um bom trabalho.
E pensar que vou ter que dividir o apartamento com ela até me formar.
Eu cheguei a marcar um horário com a Sra. Crosby, a orientadora do
dormitório feminino, para pedir-lhe que me colocasse com outra
menina. Qualquer outra. Mas o pensamento de que se eu fizesse isso
estaria dando a impressão que ela me intimidou, me fez desistir.
Cancelei meu compromisso com a Sra. Crosby.
Eu posso não estar lidando com isso muito bem, mas tenho que pelo
menos fingir.
— Ora, ora. Resolveu aparecer? — Ela diz e eu apenas ignoro. Como
tenho feito quando as minhas tentativas de evita-la não funcionaram.
Sem olha-la ou falar qualquer coisa sigo em direção ao meu quarto.
— Rapidinha você, hein?
Seu comentário me faz parar. Lentamente viro-me para encara-la.
— Faz uma semana que você terminou seu namoro de um ano e já está
em outra? Acho que Vince não era tão importante, afinal. — Ela diz com
um sorriso que me faz ter vontade ir até ela, pegar seus cabelos e
esfregar sua cara no asfalto até arranca-lo de lá.
— Você não tem nada mais interessante para fazer do que ficar grudada
na janela cuidando do horário que eu chego em casa? — Digo com
desprezo.
— Não sei por que me tratar com tanta hostilidade. Afinal, depois de
hoje ficou muito claro que os seus sentimentos por Vince não são tão
fortes quanto ele pensava. Coitado, e pensar que ele se sentiu culpado.

38
Dou um passo ameaçador em sua direção e ela recua. Tento me
controlar. Agredi-la só iria me prejudicar, é isso que ela quer.
— Você não ouse falar sobre meus sentimentos por Vince. — Digo com
os dentes cerrados.
— Estou falando alguma mentira? Se você o amasse não estaria
dormindo com o cara que te trouxe agora a pouco.
— Eu não estou... — Começo a dizer mas me interrompo. Não devo
nenhuma explicação para essa vaca.
Olho-a com nojo e me retiro para meu quarto. Uma vez lá dentro tranco
a porta, fecho as cortinas e me jogo em minha cama.
Cubro-me e puxo o edredom até meu queixo, sentindo um frio que
arrepia meu corpo.
Fecho os olhos e o rosto de Vince me vêm à mente, como todas as noites
dessa semana infernal. A única vez que eu fui capaz de fechar meus
olhos e não enxerga-lo foi ontem à noite.
Apesar de que pode ter acontecido, afinal não me lembro de nada depois
que entrei no Eros. Mas se eu pensei nele antes de dormir não me
lembro, o que já é alguma coisa.
Quem me dera poder esquecer as outras noites.

— Qual é sis. Vamos lá. — Shanon diz dando um puxão na minha
blusa.
— Já disse que não estou a fim, Shanon. — Digo saindo para fora do
prédio no qual acabamos de ter aula.
— Por favor, porfavorzinho, vamos.
— Tenho que estudar, fica para uma próxima. — Digo tentando faze-la
largar do meu pé.
— Você me disse isso na vez passada. Entendo que você esteja mal, mas
vamos lá, você tem que seguir com a sua vida, sis.
Lanço lhe um olhar de “Não toque nesse assunto”.
— Eu só estou preocupada com você, te ver infeliz me deixa infeliz
também.
— Sinto muito, não queria te preocupar, mas estou bem. Sério. Só
preciso de um tempo.
— Você não pode... — Ela começa a dizer mas alguém chamando meu
nome a interrompe.
Olhamos para trás e vejo Vince vindo em nossa direção.
Lindo como sempre. Seus cabelos ruivos desarrumados numa bagunça
sexy, seus lindos olhos verdes e sua pele clara. Seu corpo grande e forte
que vem até mim com passos rápidos e seguros.

39
— Finalmente consegui te achar. Você vai falar comigo, não aceito não
como resposta. — Ele diz quando para na minha frente. Sua postura e
seu tom de voz tão confiantes que me impedem de lhe dizer não.
— Ann, bom, eu...Eu vou indo. Nos falamos depois. — Shanon diz e eu
levemente balanço minha cabeça para ela, pedindo-lhe que não. Não vá.
Ela me lança um sorriso tímido de desculpas e levanta os ombros como
se perguntando “O que eu posso fazer?”
Olho desesperada ela ir cada vez mais longe.
— Savannah. — A voz de Vince me chama. Sua rouca e sexy voz. Oh
Deus, me dê forças!
Viro-me e encaro-o, tento não deixar transparecer o quanto sua
presença me afeta.
Depois que o peguei na cama com Aletta nós nos falamos apenas uma
vez. Quando ele tentou se explicar mas eu não o deixei, afinal o que é
que tinha para ser explicado? Tudo estava muito claro para mim, então
terminei nosso namoro e disse que nunca mais queria vê-lo na minha
frente. Depois disso fiz de tudo para não encontra-lo novamente, e deu
certo, até agora.
— Você tem me evitado. — Ele diz parecendo magoado.
Sou eu quem tem o direito de estar magoada, não ele.
— Eu lembro claramente de ter dito que não queria vê-lo nunca mais, e
muito menos falar com você. Então, com licença. — Digo friamente, o
tanto quanto eu consigo com aqueles olhos me encarando, e me viro.
— Espera, Savy. — Ele diz segurando meu braço.
— Não me chame mais assim. — Digo me livrando do seu aperto com
um puxão do meu braço.
— Você sempre vai ser a minha Savy. — Ele diz e estende a mão,
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Sua mão
permanece em mim e eu a tiro rudemente, fazendo o suspirar
pesarosamente.
— O que você quer? — Pergunto querendo acabar logo com isso.
— Falei com Aletta ontem.
Solto um grunhido de raiva.
— Você precisa mesmo me falar sobre isso? — Pergunto com raiva.
— Não, não quis dizer desse jeito. Na verdade, ela veio falar comigo.
— E o que eu tenho a ver com o que vocês dois conversam?
— Ela veio me falar sobre você. Mais especificamente, veio rir de mim.
— Não estou entendendo e sinceramente não ligo.
— Ela veio me dizer que você já havia me superado, veio debochar de
mim porque eu fui esquecido sem nenhum esforço.

40
Cruzo os braços e fico em silêncio, não sei o que ele espera que eu diga.
— É verdade que você dormiu fora e quando voltou para casa um cara
te trouxe?
— Isso não é da sua conta, Vince. Não mais.
— Por favor, preciso saber. Você e esse cara, o que está rolando? Você
passou a noite com ele?
— Você não tem esse direito, não pode exigir nada de mim, não depois
do que você fez.
— Eu sei que eu errei, me perdoa. Foi um erro, eu me deixei levar,
deixei que ela me seduzisse, mas eu te amo, Savy. — Ele diz com um
olhar de filhotinho abandonado e a minha vontade de abraça-lo e dizer
que o perdoo é muito grande. Mas eu me controlo.
— Eu te amo. — Ele repete.
Droga, ouvir isso não é nada fácil. Sinto que vou chorar, mas não
posso, não na frente dele.
— Acabou, Vince. — Digo e espero que tenha soado convincente para
ele, porque para mim não soou.
— Só por causa de um deslize?
— Você dormiu com a minha amiga, isso está muito longe de ser só um
deslize. — Digo com raiva.
— Esqueça isso Savy, me perdoe. Vamos ficar juntos de novo.
— Não adianta insistir, Vince. Acabou, aceite isso.
— É por causa do cara, não é?
— Que cara?
— O que te levou para casa no sábado. Vocês estão juntos, não é? Pode
falar.
Quanta fixação. Não se pode mais receber uma carona sem que as
pessoas levem para o lado errado?
Imagina, eu e Justin, que ideia mais absurda.
— Olha Vince, eu não lhe devo nenhuma explicação, mas eu vou lhe dar
só para você para de me encher, ok? Eu e o Justin não... — Paro de
repente quando uma ideia me vem à mente.
Será que eu devo? Seria muito infantil, sem falar que seria errado
colocar o Justin no meio disso, mas...Seria bom para Vince aprender.
Situações difíceis requerem medidas desesperadas.
— Não somos um casal, mas estamos nos divertindo juntos. — Minto.
— O que você quer dizer com se divertindo juntos? — Ele pergunta com
a voz baixa e ameaçadora.

41
— Acho que você sabe muito bem o que eu quero dizer. Divertindo do
mesmo modo que você estava com Aletta.
Ele passa a mão pelos cabelos e solta um grunhido, faz uma careta de
raiva e solta um palavrão.
— Mas que merda, Savannah. Aletta tinha razão, você foi rápida hein.
Meu queixo cai e eu o olho incrédula. O cara que me traiu acabou de
me acusar por ficar com outro depois que terminamos?
— Pelo menos eu esperei nosso namoro terminar para sair com outro,
você fez isso enquanto ainda estávamos juntos. — Acuso-o indignada.
— Mas que porra. — Ele xinga de novo. — Quem é esse cara? Como
vocês se conheceram? — Ele pergunta com muita raiva.
— Não te interessa.
— Savannah... — Ele diz furioso e dá um passo ameaçador em minha
direção, me fazendo recuar automaticamente.
— O nome dele é Justin, eu o conheço faz um tempo, somos amigos. —
Vince foi na minha casa em Wills Point algumas vezes, mas ele nunca
viu Justin por lá e não me lembro de alguma vez ele ter escuta alguém
falando sobre ele, então minha mentira deve funcionar.
— Muito mais que amigos, eu diria. — Ele diz amargurado.
— De novo, não é da sua conta.
— Claro que é da minha conta. Minha garota está com outro cara...
— Não sou sua garota, Vince. — Corto-o.
— Vocês já tinham algo quando estávamos juntos?
Meu queixo cai pela segunda vez. Quanta audácia.
— Claro que não. Não acredito que você disse isso.
— Desculpa, eu não quis...É que saber que você está dormindo com
outro cara me deixa louco.
— Eu estou solteira, posso dormir com quem eu quiser.
Ele dá um passo para frente e antes que eu possa recuar, segura meus
braços e me puxa para perto de si. Muito perto.
— Ele te faz sentir como eu faço? Ele sabe exatamente onde tocar e o
que fazer para você gemer e ficar toda molhada? — Ele pergunta com a
voz baixa e rouca, me olhando bem nos olhos. Engulo em seco e sinto
meu coração disparar. Perigosa, essa proximidade é muito perigosa.
— Ele me faz sentir coisas que eu nunca senti antes. Ele é mais velho,
mais experiente e sabe exatamente o que fazer comigo. — Minha boca
abre e não faço a mínima ideia de onde tirei isso ou de como eu
consegui proferir uma sentença tão comprida com seu corpo tão perto
assim do meu, me fazendo sentir coisas que eu não quero sentir.

42
Vejo raiva e magoa em seus olhos e por um momento fico com pena,
mas só por um breve momento, pois em seguida me lembro o que ele fez
e sou eu quem sente raiva e magoa.
— Agora me solte e me deixe em paz. Já respondi o que você queria
saber, não me procure mais. — Me viro e vou embora, dessa vez ele não
me impede.
Não sei se rio da sua cara ou se choro. Bem feito para ele, é bom que eu
o tenha machucado com minhas palavras, mas ao mesmo tempo meu
coração dói por estar longe dele. Só queria poder correr para seus
braços e beija-lo sem parar.
Porque, Vince? Porque você tinha que me trair?

A semana passou e foi mais uma para entrar para a história das piores
semanas da minha vida. Vince tentou falar comigo mais algumas vezes,
mas sempre que eu o via fazia o caminho contrario imediatamente.
Machuca ficar tão perto assim dele. Ouvir sua voz, ver ele naquele
uniforme de capitão do time de futebol, ou pior, ver ele sem o uniforme
de capitão do time de futebol. Cometi o erro de ir assistir um jogo de
futebol americano que teve na quarta. Achei que não faria mal, eu
ficaria na arquibancada e ele no gramado, uma boa distância entre nós.
Como estava errada.
Não acho que ele tenha me visto no meio de tanta gente, mas eu com
certeza o vi. Depois de o jogo terminar, com o nosso time derrotando o
outro, Vince muito sensualmente retirou sua camisa e seus
equipamentos de segurança, bem na borda do gramado, bem onde eu
poderia vê-lo perfeitamente.
Ele ficou lá com aquele torso sarado nu, me fazendo lembrar as vezes
que eu percorri seu peito e seu abdômen com minhas mãos, com minha
boca. Lambendo-o e beijando aquelas poucas sardas que ele tem
espalhadas pelo peito.
Deus, eu amo aquelas sardas. Ele quase não as tem no rosto, você tem
que olha-lo muito de perto para ver um pouco em seu nariz. E em seu
corpo, não há muitas também, mas o suficiente para ser sexy. Eu
adorava beijar cada sarda do seu peito e depois lamber seu mamilo
rosado.
Não preciso dizer que sai de lá correndo. Não sei se serei capaz de
assistir a outro jogo do time da universidade.
Sei que prometi não beber mais, e eu não vou, não a ponto de ficar tão
bêbada, mas eu preciso de alguma distração. Por isso estou nesse
momento entrando na Eros. Vou tomar mais cuidado dessa vez,
prometo.
Depois de pagar minha entrada e passar pelo homem enorme vestindo
um terno preto, vou direto para o bar.
— Um Blue Margarita, por favor. — Peço ao bartender.

43
Sento-me num lugar que acabou de ficar vago e espero minha bebida, o
garçom pede meu cartão de consumação. Digita algo numa tela touch
screen e me devolve o cartão, juntamente com minha bebida azul.
— Obrigada. — Digo e tomo um gole, sentindo o gosto da tequila.
Viro meu rosto para observar as pessoas na pista de dança, que está
lotada. Todos estão dançando ao ritmo da batida da musica eletrônica
do DJ.
Há várias mulheres dançando juntas e rindo, e pessoas que parecem
não estarem dançando com ninguém especifico, mas há também vários
casais dançando realmente muito juntos, se esfregando e se beijando.
Tenho vontade de gritar para eles “Vão para um motel!”
Casais estúpidos, precisam ficar me lembrando o que Vince fez comigo?
Viro o resto do conteúdo do meu copo de uma só vez e peço mais
um Blue Margarita. Quando esse chega viro o copo e deixo o líquido
escorrer por minha garganta. Preciso de algo mais forte.
— Um Texas Tea, por favor. — Peço entregando meu cartão,
o bartender me lança um olhar estranho mas não diz nada e vai
preparar minha bebida.
Assim que ele me entrega tomo um longo gole. Ah sim, uma bela
mistura de tequila, rum, vodka, gin, uísque e licor. Talvez depois de uns
três desse as coisas comecem a melhorar.
Na metade do copo já me sinto mais leve, solta e feliz. Como se as
preocupações não existissem e a dor estivesse amortecida.
— Mais um. — Peço depois de beber até a última gota.
O bartender estende o braço para pegar meu cartão mas uma mão
grande e masculina se fecha sob a minha e arranca o cartão da minha
mão antes que o cara atrás do balcão pudesse pega-lo.
— Ela não está mais bebendo hoje a noite. — Uma voz alta, grossa e
parecendo bem zangada diz. Olho para trás e para cima e vejo um
Justin parecendo nada feliz me olhando com a cara fechada.
“Oh merda.”
— Você prometeu. — Ele sussurra em meu ouvido e sua respiração
quente tão perto me provoca arrepios.
— Eu prometi não ficar bêbada, e não parar de beber. — Digo com a voz
fraca, mas de alguma forma ele conseguiu me ouvir mesmo com a
musica alta pois faz uma careta.
— E depois de duas Margarita e dois Texas Tea como você acha que
iria ficar? — Ele pergunta cruzando os braços, olho meu cartão sumir
embaixo do musculo do seu braço assim como sua mão.
— Você estava me espionando? — Pergunto incrédula. Como não
percebi que alguém me observava?

44
— Eu estava ali o tempo todo. — Ele aponta para uma mesa em um
canto com um grupo de homens conversando e rindo, todos de camisa e
calça social, assim como Justin está. Claro, seus amigos do trabalho.
— Aquela mesa tem uma vista perfeita dessa parte do bar. Vi você
chegando e sim, fiquei te observando para ver se você iria cumprir sua
promessa, e ao que tudo indica, não. Você não cumpriria. — Ele diz
num tom que me faz olhar para baixo envergonhada.
Mas que saco, ele não tem o direito de controlar a minha vida e me fazer
sentir mal, como se eu estivesse fazendo algo muito errado e tivesse
desobedecendo-o. Merda, ele não é meu irmão, ele não é nada meu.
Amigo da minha família, só isso.
— Você não tem o direito de controlar o que eu faço. Você não é meu
irmão. — Digo tomando coragem e encarando seus olhos azuis.
— Graças a Deus por isso. — Ele diz sério e vejo seu olhar vacilar um
pouco para baixo.
— Ótimo. Já que estamos conversados, pode voltar para seus amigos.
Mas antes, devolva meu cartão. — Peço e estendo a mão, a palma para
cima esperando que ele faça o que eu pedi.
— Little Nips... — Ele diz e sua expressão se suaviza, assim como seu
tom de voz. — Eu só estou te protegendo, você não é minha irmã mas é
a do Seth, e ele é meu melhor amigo. Além do mais, eu me preocupo
com você, eu te vi crescer, tenho um carinho muito grande por você e
por Shanon.
Como posso ficar brava com ele depois disso? Quando evidentemente
ele se preocupa de verdade comigo.
— Naquela manhã do sábado passado eu achei que nós estivéssemos
ok. Você me confiou um segredo que não havia confiado a mais
ninguém, fiquei honrado por isso, achei que pudéssemos considerar um
ao outro como amigo. Estava errado? — Ele pergunta me fazendo sentir
mal por trata-lo rudemente.
— A minha amizade sempre foi mais forte com o Seth, mas eu sempre
achei que era pelo menos um pouco amigo de você e da sua irmã.
Lembra as vezes que eu e Seth defendemos vocês na escola? Aquela vez
quando você tinha 10 anos e perdeu o ônibus que te levaria naquela
excursão que você estava louca para ir, e eu e Seth te levamos de carro
até a Califórnia? Ou aquela vez quando você tinha 8 anos e estava triste
porque não conseguia vender os biscoitos que você tinha feito e você
queria muito ganhar o prêmio por vender mais, quem comprou todos os
seus biscoitos? — Ele pergunta com um leve sorriso nos lábios.
— Você. — Digo também com um leve sorriso ao me lembrar de como eu
fiquei feliz quando ele disse que levaria todos os biscoitos que eu tinha
feito. — Eu não ligava para aquele prêmio, eu só queria ganhar da Tracy
Willow. Ela disse que ninguém iria comprar meus biscoitos porque eles
eram horríveis, e eu fiquei com muita raiva dela. Por sua causa eu
ganhei, e uma das melhores sensações que eu tive na minha vida foi a

45
que eu senti quando vi Tracy morrendo de raiva quando a professora
anunciou que eu havia ganhado porque eu vendi 470 biscoitos. — Digo
rindo e ele sorri largamente.
— E aqueles biscoitos eram mesmo horríveis. — Ele diz e nós rimos. —
Até tentei comer alguns mas era intragável, nem os cachorros quiseram.
— Ele diz parecendo se divertir por rir de mim.
— Tudo bem, tudo bem. Já entendi que eu não tinha dotes culinários
naquela época.
— Nem de perto. — Ele diz eu mostro a língua para ele, fazendo o rir
mais.
— Mesmo meus biscoitos sendo horríveis, você comprava todos a cada
nova remessa que eu assava. Por quê?
— Por que...Bem, porque a sensação de ver seus lindos e grandes
olhinhos brilharem quando eu dizia que compraria todos, o seu sorriso
largo e verdadeiro...Faziam valer a pena.
Ele diz me olhando profundamente nos olhos, nesse momento não
falamos nada, apenas nos olhamos, ambos sorrindo um para o outro,
criando algo poderoso, uma ligação forte.
É claro que Justin é meu amigo. Como pude pensar de outra maneira?
Ele não é só o melhor amigo do meu irmão, ele também é o herói de
uma garotinha de 8 anos que queria muito vender mais biscoitos que a
sua coleguinha malvada. Ele e Seth sempre estiveram lá por mim
quando eu precisei, eu não tenho um irmão mais velho, eu tenho dois.
— Por favor, me perdoa. Você tem razão, você só estava fazendo isso
pensando no que é melhor para mim, você sempre fez o que achava ser
o melhor para mim e o que me faria feliz. Sinto muito se fui agressiva e
rude com você. — Me desculpo sinceramente.
— Não precisa se desculpar, Little Nips. É só prometer que vai se
lembrar disso de agora em diante. — Ele diz acariciando minha
bochecha gentilmente com o polegar.
— Eu prometo. E prometo também te compensar por te fazer comer
aqueles biscoitos.
— Antes tarde do que nunca. — Ele diz ainda com a mão em meu rosto
e um sorriso brincalhão em seus lábios, o que me faz rir.
Desvio o olhar para o lado e um cabelo cor de fogo chama minha
atenção. Na mesma hora congelo e paro de rir.
Não pode ser, ele não pode estar aqui. Esse lugar não é para
universitários, então porque Vince está aqui com seus amigos?
Droga.
Retiro rapidamente a mão de Justin do meu rosto antes que Vince veja.
Ele está em pé conversando com seus amigos e por um milagre ainda
não me viu.

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— O que foi, Little Nips? — Justin pergunta depois do meu gesto
repentino de afasta-lo.
— Ele está aqui...Vince. — Digo sem tirar meus olhos do sorridente
ruivo que ainda balança meu coração.
— Onde? — Justin pergunta se virando na direção de Vince e eu puxo
sua camisa para impedi-lo.
— Não olha agora. — Quase grito para ele, que se vira para mim
imediatamente.
— Quero saber quem é. — Ele diz voltando a sua expressão séria e
brava.
— É o ruivo de camisa preta conversando em pé com aqueles dois caras
ali. — Indico a direção com a cabeça discretamente.
Justin se vira e olha para Vince, observo seu perfil e vejo sua cara ficar
mais séria, se transformando numa carranca e seu maxilar ficar tenso.
— Ele é um moleque, quantos anos tem? — Pergunta voltando seu olhar
sério para mim.
— Ele é dois anos mais velho que eu. — Digo.
— 22 anos, uma criança ainda. Você deveria estar com alguém mais
maduro, que sabe como tratar uma mulher e não um moleque como ele.
— Ele é mais velho que eu, e eu não estou com ele, não mais.
— Mas queria estar, está estampado na sua cara para todo mundo ver.
— Muito obrigada. — Digo sarcasticamente.
— Sinto muito, mas é verdade. É só olhar na sua cara. Você vai acabar
perdoando esse idiota, não vai?
Eu olho para ele e não digo nada, desvio meu olhar e encaro Vince com
saudades.
— É você vai, mais cedo ou mais tarde você vai acabar perdoando-o.
Não gosto nada disso, Savannah. Você não deveria perdoar esse cara. —
Ele diz e eu me obrigo a desviar meu olhar de Vince e encarar Justin
nos olhos.
— Eu não posso evitar, eu o amo. E ele disse que me ama também, que
cometeu um erro e me quer de volta. Fui forte e não o perdoei, mas não
sei mais por quanto tempo vou aguentar.
— Mas que porra. — Justin xinga e esfrega o queixo.
— Já que você vai perdoa-lo você tem que pelo menos o fazer rastejar
um pouco, fazer ele sofrer e se dar conta do tamanho da burrada que
ele fez, para garantir que ele não vá fazer de novo. — Justin diz sério
mas eu não posso evitar e sorrio.
Eu gosto dessa ideia. É muito errado eu gostar dessa ideia? Quer dizer,
seria muito imaturo e de baixo nível querer vê-lo sofrer um pouco por
mim?

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— Mas como eu faria isso? — Pergunto interessada.
— Não sei, o que mais afetaria ele?
— Bom...Vince não gosta nem um pouco de perder, ele não lida nada
bem com isso. E é muito ciumento.
— Então aí está sua vingança. Faça-o pensar que te perdeu, faça-o
sentir ciúmes até ele não aguentar mais e vir rastejando pedindo o seu
perdão.
Olho para Vince e imagino-o desesperado para me ter de volta,
rastejando e implorando meu amor. Sim, isso me faria sentir vingada.
Sinto um sorriso lento se espalhar por meus lábios enquanto observo o
ruivo mais lindo que eu já vi. Se ele realmente me ama como diz que
ama, vai ter que provar.
Como se ouvindo meus pensamentos e sentindo meu olhar, Vince vira a
cabeça e seu olhar se encontra com o meu.
“Oh merda!”
Escondo-me imediatamente atrás do corpo de Justin e o olho
assustada.
— Ele me viu. — Digo sussurrando como se com medo que Vince
pudesse me ouvir. Justin deve ter lido meus lábios porque ele se vira e
encara Vince.
Tenho medo de olhar para ele, mas minha curiosidade é maior e eu
lentamente saio detrás do meu esconderijo para olhar para Vince.
Ele está parado encarando seriamente Justin, que também está o
encarando. Quase posso ver as faíscas saindo do olhar de ambos.
— Ele está bravo de me ver com você. — Digo para Justin.
— Deixe que fique. — Ele diz voltando seu olhar para mim.
— E se ele vir aqui? — Pergunto com medo.
— Daí eu cuido dele.
— Ele deve achar que você e eu estamos juntos. — Digo me arriscando
em lançar mais um olhar na direção dele. Vince ainda nos encara com
uma carranca no rosto.
— Porque ele acharia isso? Só porque estamos conversando? — Justin
pergunta e com um olhar de desculpas o encaro.
— Bem, pois é, sobre isso...Eu meio que posso ter dado a entender para
ele que eu e você... — Com vergonha não consigo terminar a frase.
— O que, Savannah? — Ele pergunta com um olhar que me faz
encolher.
— Que você e eu estamos...Dormindo juntos? — Minha frase acaba
soando mais como uma pergunta do que como uma afirmação.
— Porque você fez isso? — Ele arregala os olhos e pergunta surpreso.

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— Eu não sei, eu só...Não sei, urgh! Ele ficou sabendo que eu havia
dormido fora na sexta e que um cara havia me levado de volta para
casa. Ele ficou todo enciumado e queria saber quem você era. Acabei
dizendo que eu e você estávamos nos divertindo juntos, sabe, sexo sem
compromisso. Ele não sabe que é você, ele não te viu, mas eu falei que
era um cara mais velho e aposto que ele vai deduzir que é você. Eu só
queria que ele não achasse que eu estava sofrendo por causa dele. —
Digo olhando para baixo com vergonha e medo que Justin fique bravo
por eu o ter colocado nessa situação.
Mas quando escuto sua risada olho-o confusa.
— Parece que você já tinha tido aquela ideia de fazer ciúmes bem antes
do que eu. E até colocou em prática.
— Não, sinto muito, eu não estava pensando direito. Não queria te
envolver nessa história, eu ia acabar contando a verdade para ele, não
queria que te visse e achasse que nós...
— Está tudo bem, Little Nips. — Ele diz me cortando.
— Você não está zangado?
— Claro que não.- Ele diz com um sorriso. — Quando eu falei para você
fazer ciúmes para ele eu estava pensando em você pedir para alguém
que estuda com você, algum amigo da faculdade. Mas já que você
colocou na cabeça daquele moleque que nós estamos tendo algo, bom...
— Um sorriso perversamente divertido surge em seus lábios. — Terei o
maior prazer em te ajudar a fazer aquele idiota pagar pelo que fez.
Olho-o sem saber muito bem o que dizer, mas as poucos seu sorriso vai
me contagiando e sinto meus próprios lábios formarem um sorriso
perverso.
— Você faria isso por mim?
— Ah, Little Nips, você ainda pergunta?
Ele diz e segura minha mão, me puxando e me colocando de pé na sua
frente.
— Venha. — Ele começa a andar em direção a pista de dança, me
puxando pela mão.
Ele nos conduz até a borda da pista e para, se vira para mim e coloca
suas mãos na minha cintura, puxa meu corpo de encontro ao seu até
que estamos colados.
— Coloque suas mãos no meu pescoço. — Ele pede dizendo com sua
boca em minha orelha.
— O que estamos fazendo? — Pergunto envolvendo seu pescoço com
minhas mãos.
— Estamos dando um show que aquele moleque não vai esquecer. —
Ele diz rindo.

49
Sorrindo viro minha cabeça procurando por Vince, posso vê-lo
perfeitamente, assim como ele pode nos ver. Ele está nos olhando com
tanta raiva que eu até posso ver a fumacinha saindo de sua cabeça.
Olho para Justin e sorrio largamente.
Ele continua sendo meu herói.
— Dance comigo, Little Nips. Dance até explodirmos a cabeça daquele
moleque de tanta raiva.
Eu sorrio de orelha a orelha e Justin pisca para mim.
Tem álcool suficiente no meu sangue para eu conseguir dançar na
frente de tanta gente. Então começo a mexer meus quadris no ritmo da
musica eletrônica.
Fico com um pouco de receio e admito, vergonha, de dançar assim com
Justin, mas logo me sinto mais confiante e me permito me divertir, pelo
menos ele parece estar se divertindo também.
Justin sorri e mexe o corpo talentosamente. Ele com certeza sabe
dançar, acho que é uma necessidade quando se quer pegar mulheres na
balada. Saber dançar bem é essencial, e Justin é um dançarino exímio.
Com nossos corpos tão grudados quanto é humanamente possível,
mexo meu quadril sensualmente enquanto Justin passa as mãos pelas
minhas costas, que o vestido que estou usando deixa descoberta.
A batida da musica é eletrizante e contagiante, me deixo levar por ela e
sem constrangimento me esfrego em Justin. Pegando em seus braços,
enfiando minhas mãos em seu cabelo e as vezes levando minha boca
até sua orelha. Não digo nada para ele, mas é claro que Vince não tem
como saber disso.
Viro-me e grudo minhas costas na parte da frente do corpo de Justin,
que leva suas mãos até minha cintura e me segura firme. Encontro o
olhar de Vince e mexo meu quadril o mais sensualmente que consigo.
Levanto os braços e levo minhas mãos até o pescoço de Justin, trazendo
sua cabeça até meu pescoço, que eu exponho para ele.
Ele pega a deixa e deposita um beijo suave na pele logo abaixo da
minha orelha. O tempo todo eu sustento o olhar de Vince.
Ele parece perto de explodir de raiva. Bom.
Sorrio largamente quando vejo Vince praticamente jogando seu copo na
mão de seu amigo e saindo dali em direção à saída parecendo possesso.
Seus amigos parecem confusos e assim que eu o perco de vista me
afasto de Justin e me viro para ele.
— Ele foi embora, parecia furioso. — Digo com um sorriso de vitória. —
Muito obrigada, Justin.
Pego sua mão e o puxo para fora da pista de dança, de volta ao bar
onde estávamos antes. Acho um lugar livre e me sento na banqueta.

50
— Isso foi incrível, você é um gênio. — Digo rindo mas paro quando vejo
a cara estranha de Justin.
Droga, talvez eu tenha pegado pesado demais. Não deveria ter me
esfregado nele daquele jeito, ele deve ter ficado super desconfortável em
ter uma criança, como ele mesmo disse, se esfregando nele.
— Desculpa se eu peguei pesado demais lá. Não queria te deixar
desconfortável, se você não quiser mais me ajudar nesse plano maluco
eu vou entender.
Ele me olha parecendo não assimilar minhas palavras, mas logo ele
percebe sobre o que eu estou falando e sorri.
— Sem...Ranran... — Ele limpa a garganta e passa a mão pelos cabelos.
— Sem problemas. Fico feliz de poder ajudar.
— E ajudou, você precisava ver o jeito que ele saiu daqui. Foi hilário.
— Claro, que bom que nosso plano deu certo.
— Você vai continuar me ajudando, não vai? Por favor, ele já me viu
com você, só preciso que ele veja mais algumas vezes e aposto que ele
vai estar se roendo de ciúmes e pronto para implorar meu perdão. Por
favor, Justin. — Peço olhando-o esperançosamente.
Ele me olha parecendo estar participando de uma luta interior muito
grande.
— Por favooor. — Faço a minha melhor cara de filhotinho abandonado e
o olho fazendo biquinho.
— Porra, tudo bem. Eu te ajudo. Mas eu preciso de uma bebida agora.
— Isso. — Dou um gritinho de vitória e sorrio para ele.
Justin desvia o olhar e se dirige ao bartender.
— Um uísque duplo, por favor...E puro. Estou precisando.

51
Apenas mais um capítulo
Justin
— Dance comigo, Little Nips. Dance até explodirmos a cabeça daquele
moleque de tanta raiva. — Savannah dá aquele seu sorriso lindo e eu
pisco para ela.
Entrando no meu jogo, ela começa a mexer seu quadril com um pouco
de timidez, mas logo parece se soltar.
Mexo meu corpo junto com ela, estamos tão perto um do outro, mais
perto impossível. Subo minhas mãos da sua cintura para suas costas
nuas.
Durante todo o tempo em que fiquei observando-a de longe sentada no
bar, minhas mãos coçavam de vontade de acariciar a grande
quantidade de pele exposta das suas costas. Uma mulher como ela
usando um vestido desse deveria ser ilegal. Passo minhas mãos por
suas costas, fazendo carinhos suaves e sentindo o quão macia ela é.
Savannah mexe o quadril tão sensualmente que faz meu sangue ferver.
Estou começando a achar que isso não foi uma boa ideia.
Eu sou um belo de um masoquista de merda.
Savannah vai ficando animada, seu corpo se esfrega no meu e ela passa
suas mãos por meus braços. Eu confesso, forço-os para que meus
músculos saltem e ao passar as suas delicadas mãos ela possa senti-
los. Sua mão sobe até minha nuca e se enterra em meus cabelos, sua
boca se aproxima da minha orelha e acho que ela vai me dizer algo, mas
ela permanece em silêncio, a única coisa que ouço é sua respiração.
De repente ela se vira e gruda suas costas no meu peito.
“Oh não, isso não vai acabar bem.”
Caralho, ela começa a rebolar e esfregar sua bunda em mim.
Com o coração acelerado e um calor insuportável, coloco minhas mãos
em sua cintura fina.
Merda. Merda. Merda.
Isso não é bom...Quer dizer, é maravilhoso, mas não é bom porque
estou ficando excitado com a irmãzinha do meu melhor amigo, isso não
deveria estar acontecendo, eu deveria apenas estar ajudando-a a fazer
ciúmes para seu namorado.
Tenho certeza que se Seth nos vise dançando dessa forma eu já estaria
em um hospital há essa hora. Isso esta saindo do controle.

52
Eu deveria afasta-la, mas inferno se eu tenho força de vontade
suficiente para fazer isso.
Ela levanta os braços e coloca suas mãos no meu pescoço, inclina a
cabeça e expõe tentadoramente seu pescoço.
Sua pele é tão clara e parece tão macia, assim como a das duas costas,
suas mãos puxam minha cabeça para baixo e antes que eu possa me
deter, deposito um beijo na pelo logo abaixo da sua orelha.
Sua pele tem uma sensação muito boa sob meus lábios, seu perfume
me invade e eu agradeço a Deus que a musica está alta o suficiente
para que ninguém escute o gemido que eu acabei de soltar.
A sensação de Savannah em meus braços é tão maravilhosamente
indescritível, sinto que poderia ficar assim a noite toda. Fecho os olhos
e me permito aproveitar dos sentidos do tato e do olfato. Sinto seu
perfume inebriante e toco suas curvas excitantes.
Bem quando estou pensando que isso poderia muito bem ser a
descrição de como é o paraíso, Savannah se afasta.
Ela vira para mim com um sorriso satisfeito no rosto.
— Ele foi embora, parecia furioso. Muito obrigada, Justin.
Então pega minha mão e me puxa para fora da pista de dança. Eu
apenas a sigo atordoado com o rompimento súbito e o termino da
sensação maravilho que eu estava sentindo.
Eu não estava pronto para deixa-la ir ainda, queria segura-la por mais
algum tempo, prolongar a sensação de euforia que estava sentindo.
Ela nos leva de volta ao bar. Ainda bem que o ambiente é escuro, caso
contrario estaria extremamente envergonhado com a saliência na minha
calça.
O que eu diria para Savannah se ela olhasse para baixo e conseguisse
ver como ela tinha me excitado?
— Isso foi incrível, você é um gênio. — Ela diz se sentando num lugar
vago e rindo. Ela me olha nos olhos e seu sorriso diminui.
— Desculpa se eu peguei pesado demais lá. Não queria te deixar
desconfortável, se você não quiser mais me ajudar nesse plano maluco
eu vou entender.
Ela diz mas não compreendo suas palavras, ainda me sinto tão
atordoado. De repente suas palavras fazem sentido, sim, ela pegou
pesado demais.
Estou duro feito à porra de uma rocha.
Dou um sorriso desconfortável e digo:
— Sem...Ranran... — Limpo a garganta quando percebo que minha voz
falha e passo a mão pelos cabelos tentando lembrar o que eu queria lhe
dizer. — Sem problemas. Fico feliz de poder ajudar.
— E ajudou, você precisava ver o jeito que ele saiu daqui. Foi hilário.

53
— Claro, que bom que nosso plano deu certo. — Só vai me custar
minhas bolas, mas é, feliz em ter ajudado.
— Você vai continuar me ajudando, não vai? Por favor, ele já me viu
com você, só preciso que ele veja mais algumas vezes e aposto que ele
vai estar se roendo de ciúmes e pronto para implorar meu perdão. Por
favor, Justin.
Ela me pede me olhando com esperança. Ah Deus, não. Se as outras
vezes que ela precisar da minha ajuda eu acabar assim, vou ter um
sério problema de bola azul.
Deveria dizer para ela procurar outro para lhe ajudar com esse plano.
— Por favooor. — Ela diz fazendo biquinho e me olhando com aqueles
olhos grandes e expressivos que parecem ser capazes de hipnotizar
qualquer um.
Alguém realmente consegue dizer não para ela? Sei que eu não consigo,
não com ela me olhando assim.
— Porra, tudo bem. Eu te ajudo. Mas eu preciso de uma bebida agora.
— Digo já prevendo problemas.
— Isso. — Ela dá um gritinho e um pulinho no banco, fazendo seus
peitos saltarem no decote do seu vestido.
“Caralho. Onde eu fui me meter?”
— Um uísque duplo, por favor...E puro. Estou precisando. — Peço
ao bartender.
Eu sou mesmo um masoquista de merda!

Savannah
— Nossa, acho que é a primeira vez em duas semanas que eu vejo você
sorrindo. — Shanon diz, me puxando de volta das minhas lembranças.
Estava lembrando da noite de ontem, da cara de Vince. Foi perfeito.
Aposto que em um mês ele vai implorar para me ter de volta.
— Estou animada. — Digo me virando para ela.
— Estou vendo. Posso saber o porquê? Por um acaso você e Vince
voltaram? — Ela pergunta enquanto encara a estrada a sua frente.
— Não, não voltamos...Ainda. — Digo com um sorriso travesso.
— Ainda? Então vocês vão voltar. Mas porque eu tenho a impressão que
eu deveria estar sentindo pena do pobre coitado? — Shanon pergunta
rindo.
— Porque você deveria. Nós vamos voltar, mas não sem antes ele
aprender uma lição.
— E você não vai mesmo contar para a sua irmãzinha aqui, o motivo de
vocês terem terminado? — Sinto meu sorriso vacilar com sua pergunta,
mas por sorte ela está concentrada demais no transito e não percebe.

54
— Não. Mas não importa.
— Tudo bem, então, não quer contar não conte. Só quero que você
continue com esse sorriso no rosto, ok?
— Não se preocupe, se os meus planos derem certo, eu vou estar rindo
a toa pelas próximas semanas.
— É bom que você esteja animada, sei que todo mundo lá em casa
estavam preocupados com você também, eles não falaram nada para
você porque queriam lhe dar o seu tempo.
— Eu não queria preocupar ninguém. — Digo me sentindo culpada.
— Eu sei, mas eles são família, é inevitável que eles se preocupem.
Todos nós sabemos como você é apaixonada pelo Vince, mas estamos
todos torcendo para vocês voltarem.
— Sério? Todo mundo? — Pergunto incrédula.
Papai e Seth não gostam de Vince, depois que Seth descobriu sobre a
fama dele eles tentaram me fazer desistir do meu namoro, eu claro,
defendi Vince com unhas e dentes.
— Bem, você entendeu, não é?
— Sim claro, sei como papai e Seth devem estar torcendo para que eu e
Vince voltemos. — Digo sarcasticamente.
Atravessamos Wills Point e seguimos pela estradinha de terra que nos
levara até nossa casa.
Alguns minutos depois estamos estacionando o carro em frente a
familiar casa de madeira de dois andares.
Pegamos nossas bolsas que contem apenas o necessário para
passarmos o final de semana e seguimos para a porta da frente.
— Chegamos família. — Shanon grita.
— Estamos na cozinha. — A voz de mamãe ecoa pela casa.
Vamos até a cozinha e somos recebidas com sons de risadas e
cochichos. Mamãe, Jane e Kim estão limpando a bagunça que elas
fizeram na cozinha.
— Meninas, que bom que vocês chegaram. Estava com saudades. —
Mamãe limpa as mãos no avental e vem até nós com os braços abertos,
abraça eu e Shanon ao mesmo tempo e dá um beijo na bochecha de
cada uma.
— Tudo bem por aqui? — Shanon pergunta.
— Tudo ótimo, e a semana de vocês, como foi? — Mamãe quer saber.
Um inferno, tirando sexta à noite, sexta à noite foi demais.
— Tudo ótimo também, tirando que estamos cheias de trabalhos para
fazer e provas para estudar. — Shanon responde por nós duas.
— Meninas, que bom ver vocês.

55
— Bom ver você também, Jane. — Digo dando um abraço na minha
cunhada.
— Kim. — Abraço minha prima e dou lhe um beijo na bochecha.
— Parece que chegamos na hora certa. Que cheiro bom é esse? —
Shanon pergunta.
— Ah, estávamos fazendo umas tortas. Acabamos de coloca-las no
forno.
— Onde está papai e Seth?
— Os meninos foram caçar com Mark e Jax, voltam só no final da tarde.
— Temos a tarde toda para nós. — Jane diz.
— Sabem o que isso significa, não é? Tarde das garotas, vamos comer
doces, pintar as unhas uma das outras e colocar a fofoca em dia. — Kim
diz animada e todas concordam.
Eu sorrio, como é bom estar em casa.

Justin
Dez anos atrás...
— Já mandei você calar a boca, Justin. A minha irmãzinha está no
banco de trás, pelo amor de Deus. — Seth sussurra mas seu tom
irritado não passa despercebido.
— A Little Nips está dormindo, cara. Para que tanto estresse? —
Pergunto olhando para o banco de trás para verificar se ela está mesmo
adormecida. Savannah está deitada no banco com um travesseiro e
enrolada em uma coberta.
— E se ela acordar e ouvir você falando sobre...Sobre a porra da garota
que você fodeu? — O vejo apertando o volante até os nós dos seus dedos
ficarem brancos.
— Ela cabotou ali atrás cara, pare de ser tão estressado.
— Não, pare você de ser tão irresponsável. E além do mais, não quero
ouvir como a garota te fez um boquete, não preciso dessa merda. — Ele
diz fazendo uma careta.
— Cara, não foi só um boquete, foi o boquete. Foi tão bom que eu não
joguei o telefone dela fora, e estou até pensando em realmente ligar.
— E quebrar a sua regra de ficar com a mesma garota só uma vez?
— Você sabe que toda regra tem a sua exceção. Ei, ela tem uma amiga
bem gostosa, se quiser eu te apresento.
— Qual é a porra do seu problema, cara? — Ele me olha com se eu fosse
de alguma espécie diferente.
— O que?

56
— Jane. Esse nome te diz alguma coisa? — Faço uma careta. Lá vem ele
de novo com essa de que ela é o amor da vida dele e que ele só tem
olhos para ela e blá blá blá. Que saco.
— Quantas vezes eu vou ter que falar para você parar te ficar tentando
arrumar uma transa para mim? Cara, eu não sou mais assim, vê se
coloca isso nessa sua cabeça de merda, porra.
— Quanto mau humor, nossa. Se não quer, não quer. Não tem
problema, eu fico com as duas. Posso chamar mais algumas amigas
dela e fazer uma suruba, você é que vai sair perdendo.
— O que é suruba? — A voz sonolenta de Savannah me assusta. Seth
imediatamente me lança um olhar mortal, seu rosto ficando tão
vermelho que eu acho que ele vai explodir.
— Não é nada não, Savannah. — Seth diz tenso.
— Se o Justin vai fazer eu também quero. — Ela diz inocentemente e
Seth se engasga, eu só olho para ele e ele fala sem emitir som "Vou te
matar".
Viro-me para o banco de trás e vejo Savannah se levantando e
esfregando os olhos enquanto boceja.
— Hey, conseguiu dormir bem nesse banco desconfortável, Little Nips?
— Pergunto tentando desviar sua atenção para que não pergunte mais
nada.
— Consegui. Falta muito ainda? — Ela pergunta com seus olhinhos
ainda nublados pelo sono.
— Não muito, só mais umas duas horas. Quer um doce?
— Quero. — Ela diz sorrindo.
— Não é hora dela comer doce, Justin. — Seth diz e o sorriso de
Savannah some.
— O seu irmão é um desmancha prazeres. — Sussurro para ela e me
viro para frente.
— Vou parar no próximo posto para abastecer. — Seth informa. Não
muito a frente avistamos um posto e ele enche o tanque.
Quando ele desaparece dentro da loja de conveniência, eu abro o porta
luvas e pego a barra de snickers que eu havia comprado na última
parada que fizemos.
— Ei, princesa. Toma. — Jogo para Savannah, que sorri. — Só, não
deixa o chato do seu irmão ver. — Digo e pisco para ela, ganhando uma
risadinha.

— Obrigada por me trazer, Justin. — Abaixo-me para dar um abraço em


Savannah.

57
— De nada, princesa. — Digo dando-lhe um abraço e um demorado
beijo na bochecha. — Vê se na próxima excursão não perde o ônibus,
ok? — Pergunto com um sorriso brincalhão.
— Ok. — Ela diz desviando o olhar e suas bochechas ficam vermelhas.
Ela é tão fofa.
— Obrigada, Seth. — Seth pega a irmã no colo e a abraça forte.
— De nada, minha linda. — Ele beija sua bochecha e recebe um beijo
em troca.
— Desculpa fazer você vir até aqui. — Ela diz abraçando seu pescoço.
— Não precisa se desculpar minha linda, eu iria até o fim do mundo
para ver um sorriso nesse seu rostinho lindo. — Nesse momento um
sorriso largo domina o rosto de Savannah e seus olhos brilham.
— Te amo, Seth.
— Eu também te amo, minha princesa. Se comporte e obedeça a
professora, ok?
— Eu vou, prometo. — Ela responde com confiança.
— Essa é a minha menina. — Ele diz e a coloca no chão.
— Bom passeio, Little Nips. — Digo.
— Nos vemos quando você voltar, linda. — Seth se despede.
— Tchau. — Ela acena e se vira, carregando sua mochila com desenhos
de cowboy e franjas ela corre em direção a professora que a espera no
saguão do hotel.
Quando saímos do hotel e estamos perto do carro, me pegando
totalmente desprevenido, Seth me dá um soco no estômago.
Imediatamente me dobro e sinto o ar deixando meus pulmões.
— Isso é por fazer minha irmãzinha dizer que queria participar de uma
suruba.
— Merecido. — Ainda inclinado e lutando para respirar eu respondo.
Estou acostumado, vivemos nos socando e batendo o tempo todo. Coisa
de melhores amigos.
— Bom é isso. Quer pegar um quarto antes de voltarmos ou já quer ir
embora? — Seth pergunta como se não tivesse acabado de me dar um
soco, coloco minha mão na barriga e me apoio no carro, recuperando o
fôlego aos poucos.
— Nenhum dos dois. — Respondo.
— O que você quer fazer, então?
Não respondo imediatamente, respiro mais algumas vezes e espero a
dor passar.
— Quero que você pegue o seu carro e nos leve para a cidade do pecado.
— Ah não, você não está querendo ir para...

58
— Sim. Las Vegas, baby. — Digo com um sorriso afetado pela dor no
rosto.
— Cara, você está louco? Vamos pegar um quarto, dormir um pouco e
voltarmos para casa.
— Seth, a cidade cheia de cassinos e gostosas peladas que ficam se
esfregando em você fica a menos de cinco horas daqui. Nós temos que
ir.
— Isso é falta de sono, só pode.
— Ah qual é, o carro é seu, se você não for eu não posso ir. Por favor
cara, é a cidade do pecado, do pecado cara. — Digo e até fico com água
na boca de imaginar todos aqueles rabos e tetas desfilando
tentadoramente para lá e para cá.
— Se eu for para Las Vegas sem a Jane, ela me mata.
— Você pode pegar um quarto e descansar para a viagem de volta. Não
precisa ir a nenhum lugar comigo se não quiser.
Ele cruza os braços e vejo em seus olhos que está indeciso.
— Mas você não tem 21 anos, não vai poder fazer nada naquele lugar.
— Deixe isso comigo. — Sorrio largamente, ele me olha com a testa
franzida e depois que ele entendem o que quero dizer revira os olhos.
— Você está com uma identidade falsa, não é?
Apenas sorrio e dou de ombros em resposta.
— Seu filho da puta, você já tinha planeja de ir lá. Bem que eu achei
estranho que você tinha concordado rápido demais em fazer uma
viagem de 24 horas só pela Savannah.
Fecho a cara. Também não é assim, eu vim pela Little Nips também.
— Porra cara, eu vim por ela, mas antes de sairmos eu pensei “Porque
não?” nós já íamos estar aqui mesmo.
— Você é um fodido, não perde uma oportunidade, não é? — Ele
pergunta parecendo bravo comigo. Porque porra ele está bravo comigo?
— Vamos ou não?
— Tudo bem, eu te levo lá, mas eu vou direto para o quarto dormir. Não
quero que você me coloque em nenhuma enrascada com a Jane.
— Você é o cara. Agora vamos. — Digo animadamente.
Entramos no carro e Seth pega a estrada em direção a Cidade do
Pecado. Essa cidade foi feita para mim.

Cinco horas depois chegamos em Las Vegas e paramos no primeiro


hotel mais barato que vimos. Seth pega dois quartos, um do lado do
outro. Ele vai para o seu dormir, e eu vou na minha caçada a um Club
de Stripers.

59
Não preciso procurar muito, não muito longe do hotel vejo um.
Na entrada mostro minha identidade falsa, o segurança olha e nessa
hora me da um frio na barriga. Ele encara o documento e depois eu, e
para meu alivio me deixa passar.
Ando pelo corredor de veludo vermelho e ouço a musica abafada passar
pela porta no final do corredor.
Outro segurança abre a porta para mim e eu entro. O ambiente é
escuro, com várias decorações em neon.
Várias garçonetes gostosas com quase nada de roupa passam por mim
carregando suas bandejas.
Pego um lugar no sofá bem em frente ao palco e me sento, logo veem me
atender e eu peço uma cerveja.
Na minha frente, no palco, uma morena com uma bunda enorme e com
os peitos de fora faz pole dance.
Esse lugar é a porra do paraíso. Logo minha cerveja chega e eu bebo
enquanto observo a morena se esfregando e fazendo movimentos que
deixam meu pau cada vez mais duro.
Ela me vê babando por ela e sorri maliciosamente. Fica de quatro e vem
engatinhando lentamente me encarando nos olhos. Ela chega na beira
do palco e me chama com o dedo.
Aproximo-me dela e ela enfia seus peitos deliciosos na minha cara. Meu
pau pulsa.
Ela se afasta um pouco e começa a brincar com seus peitos, ela segura
um e abaixando a cabeça lambe o próprio mamilo.
Caralho! Eu poderia ficar aqui a noite toda.
Pego no meu bolso algumas notas e enfio na sua calcinha fio dental. Ela
pisca para mim e se afasta lentamente, voltando ao poste e se
esfregando nele.
Depois de uma meia hora só observando não aguento mais, meu pau
está duro pra caralho e eu quero a ação.
Chamo uma loira para se sentar no meu colo.
— Está sozinho, amor? — Ela pergunta se sentando no meu colo, seus
seios enormes a mostra.
— Que tal você me fazer companhia? — Pergunto com um sorriso safado
enquanto seguro sua cintura.
— Eu adoraria. Gosta do que vê, gostoso?
Passo minha mão por suas pernas e subo até seu peito firme, aperto e
brinco com o mamilo.
Ela se levanta e se senta em meu colo com as pernas abertas, de frente
para mim, seus peitos na minha cara.

60
Os seguro e aperto-os, levando a boca até um, chupo um depois o outro
enquanto ela se esfrega no meu pau.
— Que tal chamar uma amiga para se divertir com a gente? — Pergunto
ao pé do seu ouvido. Ela sorri e se levanta, segura minha mão e me
puxa.
Ela me conduz por um corredor e no meio do caminho uma morena se
junta a nós. Ela abre uma porta vermelha e me puxa pela camisa para
dentro.
Rindo eu entro no quarto com as duas. A noite vai ser boa.

61
62
Não deveríamos
Savannah
— Um cappuccino com creme e chocolate, por favor. — Peço para a
garçonete que veio me atender.
— Só um minutinho. — Ela diz depois de anotar meu pedido e se vai.
Recosto-me na cadeira do aconchegante Café da universidade, um
deles, o que fica mais perto da biblioteca e é o meu preferido.
Esse final de semana que passei com a minha família em Wills Point foi
revigorante, mas agora uma nova semana começou e eu tenho que
compensar o meu lapso das duas últimas semanas, por isso passei a
tarde toda hoje, depois da aula, na biblioteca estudando.
Minhas notas sempre foram excelentes, mas depois que terminei com
Vince alguns trabalhos que entreguei ficaram em um estado lastimável.
Sei muito bem que não posso permitir que ele afete tanto assim minha
vida, tenho que priorizar, mas é difícil.
É difícil esquecer quando todo dia tenho que voltar para casa que divido
com a mulher com quem meu namorado me traiu, é difícil me deitar em
minha cama e imaginar que a poucos metros dali, logo no outro quarto,
eu peguei Vince transado com outra.
É por isso que acho que não estou me sentindo tão culpada quanto
deveria com esse joguinho que eu e Justin estamos jogando.
Vince merece sofrer um pouco para dar valor aos meus sentimentos por
ele. Nada mais justo.
— Aqui está seu cappuccino.
— Muito obrigada. — Tomo um gole da bebida quente e deixo que ela
ajude a me aquecer nessa tarde um pouco mais gelada.
Olho distraidamente através da janela e observo os outros estudantes
conversando e indo de lá para cá.
Quando termino minha bebida pago a conta e me dirijo novamente para
a biblioteca. Pego um lugar numa mesa vazia, deposito os livros em
cima da superfície plana e retomo meus estudos. Não posso mais deixar
o que aconteceu com Vince prejudicar meus estudos.

COWBOYS Vs. BUFFS
GRANDE JOGO
SEXTA FEIRA DIA 19

63
Mais um jogo decisivo, como eu queria ir e ver Vince em ação, ele
realmente merece ser o capitão do time, ele é bom.
Será que meu coração aguentaria?
Fico observando o cartaz com a cabeça inclina e um sentimento de
saudades com um pouco de tristeza no coração.
Só de lembrar o que aconteceu na última vez que eu fui assistir a um
jogo na semana passada. Depois que eu sai correndo de lá fui direto
para o apartamento. Levou horas para que o fogo se apagasse, eu
tentava me concentrar em qualquer outra coisa, mas só o que vinha na
minha mente eram as memorias que ver Vince sem camisa me
trouxeram.
Todas as vezes que sua boca percorreu meu corpo, desde o pescoço,
passando pelos seios e por minha barriga, até...
Não. Chega, Savannah, não pense nisso.
Sinto meu corpo se arrepiar e um calor que começa no meio das minhas
pernas se espalhar por todo meu corpo.
Meu corpo sente falta do de Vince. Muito. Mas até essa saudade poder
ser saciada ainda terei que esperar, me controlar.
Sinto até um pouco de vergonha por estar tão...Sensível. Qualquer
pensamento, qualquer imagem ou som sugestivo me deixam inquieta.
Não sabia que eu era uma pessoa tão faminta sexualmente que apenas
duas semanas de abstinência já seriam uma tortura.
— Você vai ao jogo, Savy? — Uma voz sussurrada em meu ouvido me
faz saltar de susto.
Viro-me e praticamente dou de cara no peito de Vince. Ótimo, ele. Justo
agora, bem quando meus pensamentos estavam me levando para um
caminho perigoso.
— Porque você quer saber? — Pergunto cruzando os braços para que ele
não veja meus mamilos que marcam minha blusa.
— Porque eu gostaria muito que você fosse. Você me deixa tranquilo,
gosto de saber que você está me observando, ter minha garota torcendo
por mim é um baita de um incentivo.
— Eu não sou sua garota.
— Qual é, linda. Até quando isso vai continuar? Eu sinto sua falta. —
Ele coloca as mãos em minha cintura e eu me amaldiçoo por ter
estremecido com seu contato.
— Eu achei que tinha ficado claro na noite de sexta que eu não quero
mais nada com você. — Ao ouvir minhas palavras sua expressão fica
mais seria, sua testa franze levemente e vejo ele apertar e depois
afrouxar o maxilar.

64
— O seu showzinho com aquele idiota. Você realmente está saindo com
aquele cara?
— Já disse que sim, não disse?
— Se ele tocar em você daquele jeito de novo, eu acabo com ele. — Ele
diz, e apesar de sua expressão ser seria, eu rio.
— É o Justin que acabaria com você, Vince.
— O Justin... — Ele diz o nome fazendo uma careta. — Não teria
chance comigo porque eu estaria brigando pela minha garota.
— Eu não sou sua...
— É sim, Savy. É sim. — Ele diz me cortando, seu tom serio me faz
sentir borboletas no estômago. Ouvir Vince afirmar que eu sou sua
garota quase me faz ter vontade de desistir desse plano maluco e ir pelo
caminho mais fácil. Que seria simplesmente perdoa-lo, aqui e agora, e
acabar com essa tortura.
— Quando você vai aceitar que você me perdeu, Vince? — Enfatizo a
palavra “perdeu”. Ele vai ficar puto.
— Eu não perdi você, entendeu? — Ele diz mais irritadiço e eu tenho
que segurar meu sorriso. Até que provoca-lo é divertido, ele é tão
previsível em alguns aspectos.
— Eu terminei nosso namoro, não pretendo voltar mais com você e
estou com outro cara. Para mim isso é perder. — Digo provocando-o.
Seu maxilar fica tenso, ele segura minha nuca com uma mão e com a
outra coloca o dedo indicador na minha cara.
— Eu já disse e vou repetir. Você é minha, e se esse tal de Justin for
esperto o suficiente ele vai se afastar de você, ou eu mesmo vou força-lo
a fazer isso, entendeu? Diga para o seu namoradinho que se ele tocar
em você, eu vou atrás dele.
— Ele não vai se deixar intimidar por você. — Digo.
— Eu estou avisando, Savy. Ele está se aproveitando do nosso termino,
mas acontece que isso é temporário, eu e você vamos voltar.
Claro que vamos, mas antes quero vê-lo sofrer assim como eu sofri.
Não digo nada e nós nos encaramos por um breve momento, vejo seu
corpo relaxando e sua expressão voltar ao normal.
— Te vejo no jogo sexta. — Ele beija minha bochecha e se afasta.
Quando ele sai da minha vista, cambaleio para trás e me apoio na
parede.
Esse jogo vai ser divertido, mas também perigoso. Muito perigoso.

Justin
Confiro se peguei minha carteira, celular e chaves antes de sair. Hoje é
sexta, quase 19:30, e eu estou um pouco atrasado para ir me encontrar

65
com Savannah, tive algumas coisas para resolver no escritório que
levaram mais tempo do que eu achei que levaria.
Entro na minha Trailblazer 4X4, dou partida no motor e sigo em direção
a UTD. Ela me pediu que a acompanhasse nesse jogo dos Cowboys
contra os Buffs. Vince é o capitão do time e ela achou que seria uma
oportunidade perfeita para dar continuidade ao plano para fazer ele
rastejar para tê-la de volta, já que eu havia prometido ajuda-la, estou
indo a um jogo de futebol ao invés de ir ao Eros e procurar uma
companhia para passar noite. Talvez eu possa fazer isso amanhã, ou
posso depois do jogo voltar para casa, pegar meu celular e ligar para
uma das dez mulheres que eu de fato guardei o numero de telefone.
Acho que vou ligar para Brenna, ou talvez para Zara. Sim,
definitivamente eu poderia ligar para Zara, ela é a que menos exige de
mim e a que mais entende o meu estilo de vida.
Mas primeiro, vamos assistir esse maldito jogo.
Guio meu carro e devido ao transito bom, alguns minutos depois já
estou no meu destino. Acho um lugar perto de onde devo encontrar com
Savannah para estacionar. Desço, ligo o alarme e vou andando
lentamente em direção ao campo da Universidade, Savannah havia me
dito que quem chegasse primeiro deveria esperar logo na entrada
numero 2, então é para lá que eu me dirijo. Passo por vários estudantes
pintados de azul marinho e branco, e com roupas dessas cores também.
As cores da Universidade.
Lembro-me quando estudei aqui, não faz tantos anos assim. Momentos
bons foram aqueles, muitas festas, bebidas e mulheres.
Assim que avisto a entrada 2 para o campo, vejo também Savannah.
Seu olhar se encontra com o meu e ela abre aquela largo sorriso que é
lindo, e vem caminhando em minha direção.
Oh droga, alguém tem que dar uma burca para essa mulher. Como ela
consegue ficar tão sexy até mesmo para um simples jogo de futebol?
Savannah está com uma saia jeans clara tão curta que poderia ser um
cinto. Seth sabe que ela anda se vestindo assim? Por Deus, ela não
pode mostrar tanto de suas belas pernas. Falando em suas pernas,
como não reparar? São torneadas e tem uma cor dourada, um
bronzeado natural muito tentador e de dar água na boca.
São belas pernas para envolver em minha cintura e...
Não. Não pense nisso Justin, você não pode ficar excitado aqui.
Para completar ela está vestindo uma camisa estilo Jersey, justa e azul
marinho, com detalhes na manga e no colarinho em branco. Na altura
do peito, também em branco, está escrito “COWBOYS” e em baixo...Ah,
porra. Sério que ela escolheu justo uma camisa com o numero 69?
Isso me faz ter pensamentos que eu não deveria estar tento, envolvendo
uma posição sexual, eu e Savannah. Droga, pare Justin, ela está se
aproximando...

66
— Oi, Justin. Obrigada por vir. — Ela diz e fica na ponta do pé para me
dar um beijo no rosto.
— Oi, Little Nips. Sem problemas, eu falei que te ajudaria, não falei?
Mas está tudo bem eu aparecer por aqui? Quer dizer, a Shanon não vai
estar aqui também?
— Ah não se preocupe com isso. Shanon está se matando de estudar
para uma prova difícil na semana que vem, e além do mais,
ela odeia futebol.
— E você não?
Começamos a andar lado a lado em direção ao campo.
— Agora não mais. Eu odiava no começo e comecei a assistir só por
causa que o Vince é o capitão do time, mas depois de algumas partidas
eu aprendi a gostar. E você? Quer dizer, você é homem, é claro que
gosta, né?
— Sim, eu aprecio uma boa partida de futebol de vez em quando.
— Muito obrigada mais uma vez, sei que você provavelmente tinha algo
mais interessante para fazer numa sexta à noite, mas o jogo não deve
terminar tão tarde, talvez sua sexta não esteja completamente perdida.
— Ela diz com um sorriso simpático.
Sim, eu com certeza terei que ligar para Zara para ela dar um jeito
nesse desconforto maldito no meu jeans.
Entramos no campo, ele está exatamente como eu me recordava. É
enorme, todo circundado por arquibancadas com quase todos os
lugares já ocupados. Os postes com holofotes acessos iluminam o
campo e a torcida, o placar acesso mostra o tempo restante até começar
a partida.
— Vamos nos sentar na primeira fila, o mais perto do campo para ter a
chance de Vince nos ver. — Ela diz e segurando minha mão, me puxa
por entre as pessoas na escadaria ainda tentando achar um lugar que
lhes agrade.
— Ali. — Ela aponta para dois lugares vagos e nós vamos abrindo
espaço entre as pernas das pessoas sentadas.
— Esse lugar é ótimo, se Vince olhar para esse lado com certeza nos
verá. — Ela diz se sentando e com um sorriso de satisfação no rosto.
Sento-me ao seu lado e tento com todas as minhas forças olhar para
frente, e não para o decote de sua blusa que mostra uma boa
quantidade dos seus seios.
As próximas horas vão ser muito torturantes.
Até o jogo começar, ficamos em silêncio, a ansiedade dela é perceptível.
Suas mãos estão inquietas e ela olha para o placar o tempo todo,
conferindo quanto tempo ainda falta para começar.

67
Quando a banda começa a tocar e os jogadores fazem sua entrada,
Savannah se levanta e começa a aplaudir os Cowboys, assim como
todos ao nosso redor.
O primeiro tempo passa e nenhum ponto é marcado, para nenhum dos
dois times.
— Ele nem olhou para cá. — Ela reclama parecendo decepcionada
quando o time vai para o vestiário e Vince ainda não nos notou.
A banda entra e começa a fazer seu show da hora do intervalo.
Realmente deve ter algo errado comigo, porque as lideres de torcidas
seminuas estavam o tempo todo pulando e fazendo suas aperturas e
agachamentos perto o suficiente e eu não conseguia parar de pensar e
querer olhar para as pernas de Savannah.
Isso não pode ser um bom sinal.
O time retorna a o segundo tempo começa. Vince ainda não nos
percebeu.
O jogo continua e depois de alguns minutos do começo do segundo
tempo, os Buffs fazem um Field Goal e o técnico dos Cowboys pede
tempo.
— É agora, o Vince esta vindo falar com o técnico, ele tem que nos ver.
Coloque o seu braço nos meus ombros...Coloque logo, Justin.
— Tudo bem, tudo bem.
Coloco meu braço em seus ombros e ela se aconchega em mim. Fico
tenso quando ela me abraça por trás e coloca a outra mão na minha
perna.
Localizo Vince quando ele retira o capacete e eu posso ver seu cabelo
cor de fogo todo bagunçado, o técnico fala com ele e com o resto do time
e parece estar muito zangado.
O técnico dispensa o time e Vince faz menção de colocar seu capacete
novamente quando seus olhos passam rapidamente pelo nosso lado da
arquibancada, vejo o exato momento que ele vê Savannah e eu. Ele
congela no lugar e sua expressão se torna furiosa na hora.
— Ele nos viu, ele nos viu. — Savannah resmunga quase sem abrir a
boca.
— Me beija. — Ela pede e seu pedido me pega desprevenido, olho-a
surpreso.
— Na bochecha, Justin, não precisa me olhar assim.
Então faço o que ela me pede. A puxo para mais perto, abraço-a com
ambos os braços e lhe dou um beijo na bochecha.
Quando olho para Vince ele está me fuzilando com os olhos, se um
olhar tivesse o poder de matar, eu estaria morto.
Vince se vira, coloca o capacete e corre de volta para o campo.

68
— Ele ficou furioso. — Comento.
— Ficou. — Ela diz sorrindo e se afasta de mim, nesse momento um
sentimento estranho me domina. Sentimento de perda.
Seu corpo pequeno, delicado e quente estava tão deliciosamente
aconchegado ao meu, não queria que ela tivesse se afastado.
Logo os Buffs fazem mais um Field Goal, agora eles estão com 6 pontos
e nós com 0.
O jogo começa a ficar mais violento, os Cowboys estão desesperados
para recuperar os pontos e os Buffs estão desesperados para manter a
liderança.
Quando Vince faz um touchdown e empata o jogo, o publico vai a
loucura. Savannah principalmente, ela levanta, pula e grita.
— Ele é tão bom, não é? — Ela diz com um olhar orgulhoso e isso me
incomoda.
Savannah está se esforçando tanto para ter de volta um cara que não a
merece, eu aceitei ajuda-la porque não queria vê-la sofrendo, mas se eu
pudesse escolheria um homem de verdade para ser seu namorado, ela
merece mais.
Como se Savannah já não achasse que Vince é o maioral, quando ele
faz um Field Goal nos últimos segundos do jogo e dá a vitória aos
Cowboys ela simplesmente enlouquece. Acho que ela esquece que está
tentando fazer ciúmes nele e que precisa que ele acha que ela é
indiferente a ele, e começa a gritar seu nome.
— Você viu como ele é demais? Ele merece ser o capitão, não merece?
— É, ele é bonzinho. — Digo por algum motivo incomodado com os
elogios que ela faz a ele.
— Bonzinho? Ele e incrível! Por causa dele nós ganhamos. — Ela diz
toda animada. Tudo bem, dá para perceber que ela não entende muito
de futebol, ele não foi incrível, qualquer um consegue fazer o que ele fez.
Os Cowboys comemoram, os jogadores levantam Vince e o colocam no
ombro. A torcida invade o campo e comemoram junto com os jogadores.
Eles gritam: Vince, Vince, Vince...
Qual é o problema de todos? Só eu aqui que vejo como ele é um idiota?
Não sei o que Savannah viu nele.
Depois que o time entra no vestiário e a maioria dos torcedores vão
embora, Savannah e eu vamos também.
— Onde você deixou seu carro? — Ela pergunta.
— Naquele lado. — Respondo.
— Eu te acompanho até lá, então. Acho que não está tão tarde, você
ainda pode salvar sua noite.
— Não quer que eu te acompanhe até seu dormitório? — Pergunto.

69
— Ah não, sempre que nosso time ganha eles fazem uma festa de
comemoração depois. Eu sempre ia com Vince, afinal eu era namorada
dele, quero ir hoje e ver como ele vai reagir.
— E você não vai querer que eu vá com você?
— Não precisa, já tomei muito tempo da sua sexta. Pode ir se divertir.
De repente a ideia de ir para casa e ligar para Zara não parece tão
atraente, eu gostaria de ir nessa festa e ficar um pouco mais com
Savannah. Mas claro que eu não vou confessar isso para ela.
Seguimos em direção ao meu carro sozinhos, o lugar parece deserto,
provavelmente todos devem estar comemorando a vitória com o time.
Por isso quando escuto passos apressados atrás de nós, me viro
curioso.
Mal terminei de virar todo o meu corpo quando uma mão fechada vem
em minha direção e me acerta a boca.
Savannah grita e eu tonto, cambaleio para trás e me apoio em uma
árvore.
Confuso e sem saber o que está acontecendo, tento focar o olhar para
ver quem é meu agressor.
Consigo focalizar o olhar a tempo de ver Vince vindo furiosamente em
minha direção.

Savannah
— Vince, pare com isso! — Grito desesperada quando Vince acerta um
segundo soco na cara de Justin. Mas ele não me escuta.
Ele acerta um soco no estômago e Justin se inclina com falta de ar.
Meu coração está acelerado e sinto lágrimas escorrerem por minhas
bochechas. Preciso fazer algo para ajudar Justin.
— Vince, por favor pare com isso. — Digo me jogando em cima dele para
tentar impedi-lo.
— Não se meta, Savannah. — Vince grita e me empurra para o lado.
— Não encoste nela. — Justin grita e recebe mais um soco, ele tenta se
estabilizar o suficiente para revidar os golpes mas ele está tonto e Vince
não lhe dá brecha.
Eu não vou conseguir para-lo, preciso de ajuda.
Saio correndo procurando por ajuda mas não encontro ninguém. Vejo
um carro manobrando e reconheço o motorista, é Guga, um amigo de
Vince.
Corro até o carro e bato no vidro ao seu lado.
— Pelo amor de Deus, Savannah, que susto. — Ele diz abrindo o vidro.
— Guga, por favor, você tem que me ajudar. — Digo sem fôlego pela
corrida.

70
— O que aconteceu? — Ele pergunta com a expressão preocupada.
— O Vince, ele está brigando, você tem que impedi-lo.
— Caralho. — Ele xinga saindo do carro.
— Marc, venha comigo. — Ele diz e só agora reparo que tem outro cara
com ele no carro.
Nós três então saímos correndo em direção a Vince e Justin.
— Vince, cara, pare com isso. — Guga grita assim que chegamos perto
dos dois.
Guga e Marc pulam em cima de Vince e o seguram, vou correndo até
Justin para ampara-lo.
— Vince, pare com isso cara.
— Me solta, eu vou acabar com ele. — Vince grita tentando
violentamente se soltar do aperto de Guga e Marc.
— Cara, você está louco? Você deveria estar comemorando. — Marc diz
para ele.
— Eu vou, depois que eu ensinar uma lição para esse filho da puta. —
Ele grita.
— Justin, você está bem? — Pergunto servindo-lhe de apoio.
— Estou.
Mas é claro que ele está mentindo. Que pergunta mais idiota a minha, é
claro que ele não está bem, sua cara está toda machucada.
— Savannah, é melhor você tirar seu amigo daqui. — Guga diz mal
conseguindo segurar Vince.
Balanço a cabeça e olho para Justin.
— Consegue chegar ao seu carro? — Pergunto e ele assente.
— Isso é por mexer com a minha garota, filho da puta. Se você chegar
perto dela de novo eu acabo com você, entendeu? Acabo com você. —
Escuto Vince gritando conforme nos afastamos.
Chegamos ao carro de Justin, ele me entrega a chave e eu o coloco no
banco no passageiro, escuto ele soltando alguns gemidos de dor, mesmo
ele tentando disfarça-los.
Corro até o lado do motorista e entro.
— Você quer ir para casa ou para um hospital? — Pergunto ligando o
carro.
— Para casa, hospital não.
— Tudo bem. Aguente firme, ok? Já vamos cuidar de você.
Piso fundo no acelerador e guio com pressa até seu apartamento.
Depois de ter feito o caminho na metade do tempo e com certeza depois

71
de levar uma ou duas multas por excesso de velocidade, chegamos ao
endereço de Justin.
Ajudo-o a sair do carro e a entrar no prédio. Assim que o porteiro nós vê
seus olhos se arregalam e ele corre para nos ajudar. Assume meu lugar
e escora Justin até o elevador, ele não faz nenhuma pergunta, talvez ele
esteja acostumado a ajudar os moradoras nas mais diversas situações.
— Ela cuida de mim a partir de agora, obrigado Carlos. — Justin diz
quando entramos no elevador.
— Sim, senhor. — Carlos me dá espaço e eu pego Justin, colocando seu
braço no meu ombro e meu próprio braço em sua cintura.
Quando chegamos em seu apartamento, levo-o direto para o sofá e o
mais delicadamente possível o sento.
— Você tem um kit de primeiros socorros?
— No banheiro do meu quarto. Última gaveta da esquerda. — Ele diz
parecendo estar com muita dor.
Droga, isso tudo é culpa minha, tenho que ajuda-lo.
Vou rapidamente até o banheiro e procuro pelo kit, assim que acho-o
volto correndo para a sala.
— Não se preocupe, vou limpar seus machucados. — Digo me sentando
ao seu lado no sofá.
Abro o kit e seleciono os objetos necessários para limpar seus
machucados e tirar o sangue da sua cara.
Enquanto preparo as coisas, observo Justin com a cabeça encostada e
os olhos fechados. Ele está com um corte nos lábios e outro na
sobrancelha e o canto do seu olha está ficando roxo.
— Vai doer. — Digo e ele abre os olhos e se endireita.
— Tudo bem.
Aproximo-me mais dele e encosto o algodão com o remédio no corte de
sua boca.
— Porra. — Ele xinga e eu retiro o algodão no mesmo instante.
— Desculpa. — Peço.
— Tudo bem. — Ele diz e eu hesitante volto a colocar o algodão em seu
machucado. Ele faz uma careta de dor mas não reclama dessa vez.
Limpo seus cortes e retiro todo o sangue da sua cara, que estava
dando-lhe um ar assustador e a impressão que seus ferimentos era
muito piores do que realmente são. Ele permanece em silêncio o tempo
todo, ocasionalmente fazendo caretas enquanto o limpo.
— Foi sorte. — Ele diz.
— O que? — Pergunto confusa.
— Foi sorte. Ele me pegou desprevenido.

72
Ah sim, claro que ele não vai querer admitir que apanhou de Vince. Tem
a ver com aquele orgulho masculino. É melhor eu concordar.
— Sim, claro, eu sei.
— É sério, ele me pegou desprevenido, se não eu teria acabado com ele.
— Tudo bem, Justin, agora fique quietinho para eu cuidar de você, ok?
— Ok...Mas ele me pegou desprevenido.
— Eu já entendi isso. — Digo com um sorriso no canto nos lábios.
— Quão mal é?
— Acho que não está tão mal quanto parecia. — Digo analisando seu
rosto depois que já cuidei de seus ferimentos.
— Você tem remédio para dor?
— Tenho, está ai. — Procuro pelo remédio dentro da bolsa e lhe entrego
assim que acho.
— Vou buscar água.
— Não precisa. — Ele diz e engole o remédio sem o auxilio da água.
— Sinto muito, Justin. Eu não achei que ele fosse...
— Está tudo bem. — Ele diz e se mexe, soltando um gemido.
— Está tudo bem mesmo? — Pergunto preocupada — Justin, me diga
onde você está com dor.
— Minhas costelas, mas...Ei, o que você está fazendo? — Ele pergunta
parecendo assustado quando levo minhas mãos para a barra da sua
camisa.
— Preciso ver se ele te machucou muito. Posso?
Ele me olha por um breve momento e depois assente. Levanto sua
camisa revelando seu abdômen sarado.
— Acha que consegue tira-la? — Pergunto.
— Se você me ajudar, acho que sim.
Ajudo-o a retirar a camisa, expondo seu torso musculoso. Justin é
muito forte, já dava para perceber só de olhar seu braço, mas agora
vendo-o sem camisa...Ele é realmente muito forte.
Começo a me perguntar se Vince realmente teve sorte.
Os peitos de Justin são grandes e parecem ser duros como pedra, seu
abdômen possui aqueles gominhos de barriga tanquinho e uma linha de
pêlos segue tentadoramente logo abaixo do seu umbigo para dentro das
suas calças.
Forço-me a parar de encara-lo com tanta admiração. Deixo sua camisa
de lado e pergunto:
— Qual lado está doendo?
— Esse. — Ele aponta para seu lado direito.

73
— Não está roxo, acho que já é um bom começo. Posso? — Pergunto
fazendo menção de encostar em suas costelas, ele me olha de um jeito
estranho mas assente.
Encosto meus dedos levemente na área das costelas e ele estremece.
— Desculpe. — Peço e tento ir com mais cuidado. — Acho que não está
quebrado, mas eu não sou a melhor pessoa para esse tipo de coisa,
acho que você deveria ir ao hospital.
— Não está doendo tanto assim. — Ele diz e eu não sei dizer se é
verdade ou se ele está se fazendo de forte.
— Justin...Sinto muito, é tudo culpa minha, como eu fui egoísta. —
Digo abaixando minha cabeça com vergonha.
— Não é culpa sua, Savannah.
— E sim. Vince havia me dito que se ele me visse com você de novo ele
iria acabar com você, mesmo assim eu quis te levar nesse jogo idiota
para fazer ciúmes para ele. Não achei que ele seria capaz de...Mas eu
estava errada, e agora você está assim e a culpa é toda minha. — Sinto
uma lágrima escorrendo por meu rosto.
— Me perdoa. — Peço e outra lágrima escorre.
— Ei, linda. Não chore. — Ele diz pegando meu queixo e me fazendo
olha-lo nos olhos. — Não tenho nada para te perdoar, ok? Você não tem
culpa.
— Mas ele me disse que ia...
— Não interessa se ele disse ou não, eu não te culpo. Eu aceite te
ajudar, eu aceitei a ir a esse jogo. Você não me obrigou a nada.
— Mas...
— Mas nada. — Ele me corta colocando seu dedo em meus lábios. —
Não quero mais ouvir você se culpando pelo que aconteceu hoje, ok?
— Ok. — Digo quase num sussurro, ele retira seu dedo dos meus lábios
e leva sua mão até minha bochecha, limpando minhas lágrimas.
— E não quero que você chore. — Ele diz com a voz rouca.
— Estou chorando porque eu não queria que isso acontecesse, não
queria que Vince fizesse isso com você.
— Esse cara, Savannah...Ele não te merece, você é tão melhor que isso.
Você merece alguém melhor, um homem. — Ele diz acariciando meu
rosto.
— E onde eu vou achar um homem? Na faculdade todos os caras são
iguais a Vince.
— Talvez você só tenha que procurar melhor, talvez esse homem esteja
mais próximo do que você imagine. — Ele diz se aproximando, seus
lindos olhos azuis encarando fixamente os meus.

74
Seu polegar acaricia minha bochecha carinhosamente enquanto eu vejo
confusa, seu rosto se aproximar do meu.
Ele está tão perto agora, sua boca a centímetros da minha.
— Justin. — Sussurro seu nome mas não sei mais o que dizer.
— Savannah. — Ele sussurra meu nome e o modo como ele o diz, com a
voz rouca e baixa, me provoca arrepios.
Antes que eu possa assimilar seu último movimento, a boca de Justin
encontra com a minha. Seus lábios macios permanecem parados,
apenas sustentando o contato com os meus.
Eu não sei o que fazer, estou tão surpresa com seu gesto que estou sem
ação.
Ele se afasta e me olha intensamente nos olhos, vejo algo em seu olhar
que eu não reconheço, mas faz meu corpo esquentar.
— Ah Savannah. — Ele diz meu nome novamente, sua mão desliza até
minha nuca e ele me puxa, fazendo nossos lábios entrarem em contato
novamente. Mas dessa vez eles os movimenta, acariciando meus lábios
com os seus.
Levo minha mão até seu pescoço e antes que eu possa ter consciência
do que estou fazendo, abro minha boca e deixo que sua língua brinque
com a minha.
Meu coração começa a palpitar, meu corpo se arrepia e minha cabeça
parece girar.
O que está acontecendo comigo? Meu Deus, estou beijando Justin? Isso
é...Isso é tão errado e tão...Bom.
Seu gosto é tão delicioso e a sensação da sua língua na minha é tão
maravilhosa que tenho vontade de gemer.
Desço minha mão do seu pescoço para seu peito. Sim, ele é duro como
pedra como eu havia imaginado.
Sinto a mão de Justin na minha coxa, ele começa a subi-la lentamente,
e sinto minha perna em chamas, como se sua mão fosse ferro quente e
ele estivesse me marcando.
Isso é tão errado, eu amo Vince não deveria estar beijando outro. Ainda
mais Justin, ele é...Ele é como um irmão, eu não deveria estar gostando
de beija-lo, isso tem que acabar.
Colocando ambas as mãos em seu peito, empurro-o.
— Justin, não. — Digo. Ele e se afasta e me olha quase que assustado,
como se a consciência do que nós fizéssemos finalmente o atingisse.
— Savannah eu...Eu sinto muito, eu não deveria ter...
— Me beijado? Não, com certeza não devia. — Mas foi tão gostoso.
— Sinto muito, por favor me perdoe. É que...Mas que droga, eu não sei
o que deu em mim nesses últimos dias, eu estou sentindo algo com

75
relação a você e que com certeza eu não deveria sentir pela irmã do meu
melhor amigo.
— O que? — Pergunto.
— Tesão, desejo...Muito desejo. — Suas palavras me atingem e ao invés
de me causar surpresa, repulsa ou qualquer outro sentimento, eu sinto
um calor insuportável percorrer meu corpo.
Justin sente tesão por mim? Mas como? Isso é tão estranho.
— Mas nós somos praticamente irmãos. — Digo e ele solta um gemido
quase de dor.
— Não diga isso, por favor. Só vai me fazer sentir pior com relação ao
que eu estou sentindo nesse momento. — Desvio meu olhar para seu
jeans, e ofego quando vejo uma saliência enorme.
Ah Deus, ele está excitado...Comigo?
— Eu sei que isso é estranho, mas eu não posso controlar por quem
meu corpo se excita ou não. Desculpe se eu passei dos limites ao te
beijar mas...Eu não pude resistir, você é maravilhosa, Savannah. Você
se transformou numa bela mulher e seria difícil para qualquer homem
resistir a você, quem dirá eu.
— Justin eu não sei o que dizer. Você é melhor amigo do Seth, você é
praticamente meu outro irmão mais velho e, e eu amo Vince, apesar de
tudo. Isso que aconteceu aqui é errado de tantas maneiras...
— Eu sei, eu sei.
— O que você sente é errado.
— Eu sei, eu tenho me sentindo um tarado filho da puta por estar
pensando em você desse jeito. Eu me senti horrível depois que eu me
mastu... — Ele começa a dizer mas quando percebe o que vai dizer seus
olhos se arregalam e ele para.
Oh.Meu.Deus. Não posso acreditar que ele ia dizer o que eu acho que
ele ia dizer.
Levanto-me do sofá rapidamente e me afasto dele.
— Você se... — Não consigo terminar a frase, é muito vergonhoso. —
Pensando em mim? — Pergunto olhando-o espantada.
Ele abaixa a cabeça com vergonha e não responde, mas não precisa, eu
sei muito bem que a resposta é sim.
Justin já se masturbou pensando em mim.
Uma mistura de surpresa e choque me domina e de novo aquele calor
maldito. Mas que diabos é isso? Porque esse calor infernal não me
deixa?
— Eu não queria, mas eu não aguentei. Por favor, não me odeie,
Savannah.
— Eu não te odeio. — Respondo.

76
Claro que eu não o odeio, porque odiaria? No momento eu estou é
assustada. Assustada por estar imaginando Justin se tocando, e mais
assustada ainda por sentir um líquido escorrendo pelo meio das minhas
pernas ao imaginar isso.
— Justin, eu preciso ir. — Digo saindo correndo em direção a porta.
Não sei o que está acontecendo comigo e não acho que seja seguro ficar
perto dele com seu torso sarado a mostra enquanto estou sentindo esse
desconforto na minha intimidade.
— Não, Savannah, por favor espere.
Paro em frente a porta e me viro para ele. Com um pouco de dificuldade
ele se levanta, o que só piora as coisas porque novamente eu vejo seu
ereção e me sinto pulsar lá embaixo.
“Merda, tenho que sair daqui.”
— Por favor, não fique com nojo de mim. — Ele pede parecendo
torturado.
— Eu não estou com nojo de você, Justin. — Muito pelo contrário, estou
sentindo um desejo enorme e que cresce cada vez mais, e isso está me
assustando pra caramba.
— Então porque você está indo embora correndo?
— Porque...Eu acho que é melhor a gente conversar outra hora. Agora
não dá.
Abro a porta e saio.
— Savannah, espera eu... — Não escuto o que ele diz, bato a porta e
saio correndo.
Entro no elevador e aperto o botão do térreo.
Encosto-me na parede e respiro fundo tentando assimilar tudo o que
aconteceu.
Justin me beijar, me desejar, se tocar pensando em mim...Isso tudo é
errado. Ele não devia me desejar e com certeza eu não deveria gostar do
seu beijo e nem de saber que ele me deseja e muito menos de saber que
ele se tocou pensando em mim.
Eu não deveria, mas a gente nem sempre faz o que se deve, não é?

77
Vince é um canalha
Justin
— Savannah, espera eu... — Não consigo terminar minha frase, ela se
foi.
Fico encarando a porta por alguns segundos me perguntando se eu
deveria ir atrás dela ou dar lhe um tempo. Escolho a segunda opção.
Passo a mão por meu rosto e meus cabelos frustradamente.
“Você é um idiota, Justin. Um idiota de primeira.”
Não posso acreditar que eu confessei para Savannah que eu já me
masturbei pensando nela, que tipo de idiota faz isso? Claro que foi sem
querer, eu estava desesperado tentando me justificar e quando eu
percebi já estava falando.
Não terminei a frase, mas não precisei, ela entendeu. E a sua
cara...Droga, ela deve estar com nojo de mim, me achando um tarado.
Ela me vê como um irmão mais velho e eu pensando nela como mulher,
mas que fodido.
Você sabia que isso ia acabar em merda, Justin. Não devia tê-la beijado,
mas eu simplesmente não pude evitar.
Desde que nos beijamos pela primeira vez, naquela noite que ela estava
bêbada, eu tentei fingir que não havia sido nada demais, tentei fingir
para mim mesmo que eu não queria mais.
Mas como eu queria.
Eu deveria ter me afastado, deveria ter negado em ajuda-la.
Eu deveria ter feito tanta coisa, mas não fiz.
Essa vontade de sentir seus lábios, seu gosto, seu calor novamente foi
crescendo a cada dia até que hoje eu não aguentei mais. E agora veja o
que aconteceu! Ela nunca mais vai querer olhar na minha cara ou falar
comigo.
“Você ferrou com tudo, Justin.”
Sento-me no sofá e começo apensar no que eu devo fazer para remediar
essa situação. E obvio que eu não posso mais ficar perto de Savannah.
Eu nunca senti esse tipo de necessidade, tão grande, por nenhuma
outra mulher. Porque tinha que ser justo com uma que eu não posso
ter?
O jeito é me afastar dela. É isso que eu vou fazer. Isso e pegar tantas
mulheres quanto eu conseguir, esse meu desejo tem que ser saciado, se
não sinto que vou ficar maluco. Tenho que achar uma mulher com

78
quem eu possa transar sem compromisso e sem sentir culpa nenhuma
por isso, e que seja capaz de tirar esse desejo por Savannah do meu
sistema.
Tenho que achar alguém que eu possa ter e que tenha os lábios tão
macios, o corpo tão delicado e o perfume tão inebriante quanto o dela.
Só assim vou conseguir ter um pouco de paz.
Mas primeiro eu devo me desculpar com Savannah por ser um filho da
puta. Amanhã irei falar com ela, e depois manter a maior distância
possível.

Savannah
Olho para as várias chamadas perdidas no meu celular. Todas de
Justin.
Desde o dia seguinte aquele em seu apartamento ele tem me ligado
constantemente e mandado mensagens, e eu tenho ignorado todas.
Não sei como lidar com isso. Eu só tenho conseguido pensar em nosso
beijo e em como eu gostei dele, e em como é errado eu ter gostado.
É errado, não é? Quer dizer, Justin é totalmente proibido para mim.
Primeiramente ele é muito mais velho, quase uma década inteira.
Segundo, ele é o melhor amigo do meu irmão, o que leva a terceira
coisa, ele é praticamente um segundo irmão para mim.
Sempre o achei um homem atraente, mas nunca tinha pensado nele de
fato como homem. Até ele ter me beijado e me confessado que me vê
como mulher. Toda vez que eu me lembro da sensação dos seus lábios
nos meus, da sensação da minha mão em seu peito e da sua em minha
coxa, um calor infernal me domina.
Mas que droga, o que eu devo fazer com isso? Eu não posso
simplesmente me entregar a luxuria, posso?
Não, claro que não. Se eu fizesse isso, se eu me deixasse levar por esse
desejo recém-descoberto por Justin e dormisse com ele, o que
aconteceria depois? Na outra manhã eu simplesmente iria embora como
se nada demais tivesse acontecido, ou talvez ele nem permitisse que eu
dormisse em sua cama.
Conheço muito bem a fama de Justin. Ele transa com inúmeras
mulheres, mas é só isso. Sem envolvimento emocional nenhum, depois
de elas darem o que ele quer, elas devem ir.
Seria eu capaz de aceitar isso somente para saciar meu desejo? Estaria
disposta a arriscar nossa relação de amigos e criar momentos
desconfortáveis, quando nos encontrássemos numa festa na fazenda,
por exemplo?
Não. Não vale a pena.

79
E além de tudo isso, tem Vince. O que ele fez foi horrível, o ver batendo
em Justin daquela maneira me fez pensar sobre algumas coisas, mas
mesmo assim, eu tenho sentimentos por ele.
Talvez eu não deveria, mas não se pode controlar o coração, exatamente
como não se pode controlar nosso desejo.
Por conta do que aconteceu depois do jogo, tenho evitado mais ainda de
encontrar Vince. Parece-me que logo não poderei mais sair desse
quarto, parece que de uma hora para a outra estou tendo de evitar todo
mundo.
Justin, Vince, Aletta.
Eu deveria ser uma pessoa mais corajosa e enfrentar meus problemas
de frente, e não simplesmente me esconder em meu quarto como uma
garotinha assustada.
Mas de novo, a gente nem sempre faz o que se deve.

— Bom turma, é só isso por hoje. Já estamos no horário então
continuamos na próxima aula, mas por favor, não se esqueçam de
antes de sair me entregar o trabalho. Não aceitaria outro dia.
Guardo minhas coisas na mochila e levanto-me, indo em direção a
mesa da professora.
— Aqui está, Sra. Pecked. — Digo lhe entregando o trabalho que eu
tanto me esforcei para fazer.
— Obrigada, Savannah.
Saio da sala com passos rápidos e o olhar baixo. Quero aproveitar que
Aletta não deve estar no nosso apartamento ainda, e correr para lá e me
trancar em meu quarto.
Eu literalmente fico enjoada toda vez que sou obrigada a olhar para a
cara daquela que um dia achei ser minha amiga.
Saio do prédio e desviando de um aluno aqui, outro ali, sigo na direção
de meu dormitório.
Passo a tarde inteira lá dentro, saindo ocasionalmente para comer
alguma coisa. Por sorte Aletta não voltou para cá depois da aula,
provavelmente ela deve estar dando em cima de algum cara
comprometido. Nojenta.
Só de pensar como eu fui idiota de confiar nela, achar que ela era
minha amiga, fico com tanta raiva.
Não sei como farei até me formar, não queria me mudar e dar o
gostinho da vitória para ela, mas também não posso mais viver assim.
Escondendo-me, sempre com cautela, me privando de andar em meu
próprio apartamento.
Quando o final do dia chega e não consigo mais olhar para nenhum
livro sem que minha cabeça doa, decido ir tomar um banho para

80
relaxar. São 18:30, talvez depois eu possa pedir algo para comer, ou eu
mesma fazer alguma coisa, não estou muito afim de sair hoje. Depois
talvez escutar um pouco de musica para relaxar e então dormir para
amanhã me matar de estudar novamente.
Saio do banho e assim que escuto um barulho na cozinha congelo. A
vadia está em casa. Vou direto para meu quarto e me tranco lá.
Passo hidratante no meu corpo, penteio meu cabelo e o seco com o
secador. Coloco meu pijama confortável de algodão e respiro fundo
antes de destrancar a porta e ir para a cozinha pegar algo para comer.
Chegando lá estranho ao ver várias sacolas em cima da mesa e Aletta
mexendo nelas.
— Veja só quem saiu do seu casulo. Sabe, você não precisa me evitar só
porque eu dormi com seu namorado. — Ela diz rindo e sinto a vontade
de pular em seu pescoço crescendo.
— Não estou te evitando, mas se tivesse, o motivo teria mais ver com o
fato que a sua cara parece com a do Grinch e me faz ter vontade de
vomitar.
— Nossa, não diria que você é um pessoa rancorosa, Savannah. Você
tem que superar o fato de ter pegado seu namorado transando comigo,
sabia? — Ela diz com um sorriso de vadia no rosto.
Abro a geladeira e pego os ingredientes necessários para me fazer um
sanduiche, queria comer alguma coisa de verdade, mas não suportarei
ficar aqui com ela tempo suficiente para fazer alguma comida mais
elaborada.
— Porque você não vai rodar sua bolsa na esquina, que é o seu lugar?
— Puta idiota, como eu queria bater nela até toda minha raiva se esvair
de mim.
Ela começa a rir escandalosamente.
— Você realmente ainda não esqueceu o Vince, não é? Se não, não
estaria com tanta raiva de mim. Mas sinto te informar que eu posso ter
o Vince a hora que eu quiser, só preciso estalar os dedos e ele vem
correndo, então é melhor você esquece-lo logo, se não seu pequeno e
frágil coraçãozinho vai se machucar mais ainda.
Não viro-me para ela ou respondo-a, jogo o conteúdo do sanduiche no
pão com pressa e tento me controlar para que minhas lágrimas não
escorram e eu me humilhe na frente dela.
Preciso sair daqui. Pego meu prato sem ter colocado nem metade das
coisas que eu gostaria e ainda sem olha-la, sigo para meu quarto e me
tranco lá.
Assim que a porta se fecha sinto as lágrimas transbordando de meus
olhos, chegando até o canto da minha boca, me fazendo sentir o gosto
salgado da tristeza e raiva.

81
Termino de comer meu sanduiche e vou me deitar, pego meu Ipod da
gaveta na cômoda de madeira ao lado da cama e coloco os fones de
ouvido.
Conforme as musicas vão trocando sinto meus olhos se fechando, e sem
me dar conta do momento exato, eu adormeço.

Barulhos de risadas e musica alta me despertam. Sento-me confusa por


causa do sono, meu Ipod está no chão, devo ter o derrubando na
agitação do meu sono, pego-o e coloco em cima da cômoda, olhando
para o relógio ao lado.
São 10 da noite. Mas que merda, quem está fazendo tanto barulho a
uma hora dessas? Algumas das meninas devem estar dando uma festa,
só pode.
Levanto-me apressadamente e vou até a porta, esfregando meus olhos
para que a nuvem nublada do sono me deixe. Destranco a porta e a
abro, imediatamente a musica alta chega aos meus ouvidos, as risadas
menos abafadas, escuto muitas vozes conversando.
Espera um minuto, isso está vindo do meu apartamento. Não acredito
que aquela vaca está dando uma festa sem me consultar.
Ando pelo corredor e vou até a sala, meu queixo cai quando vejo várias
pessoas bebendo, dançando e conversando. Todos tão alheios em suas
conversas que nem ao menos percebem minha presença.
Eles estão fazendo tanto barulho que não sei como a Sra. Crosby não foi
chamada ainda.
— O que você está fazendo aqui? Vai atrapalhar minha festa, volte para
o seu quarto. — A voz de Aletta me surpreende e eu olho para o lado,
apenas para vê-la com um vestido curto e segurando duas garrafas de
bebidas na mão.
— Aletta, você tem que mandar essas pessoas embora agora. — Exijo e
ela apenas ri e revira os olhos.
— Até parece que eu vou fazer isso.
— Esse apartamento também é meu, você não pode dar uma festa sem
falar comigo. Na verdade, você não pode dar uma festa e ponto. É
proibido.
— Saia da minha frente e não me incomode com essas suas baboseiras,
ok? — Ela possa por mim mas seguro seu braço.
— Eu quero dormir, tenho que estudar amanhã. Acabe com essa festa
agora, ou então leve-a para outro lugar. — Digo tentando controlar
minha raiva.
— Não. Você nunca ouviu o ditado “os incomodados que se mudem”?
Então, ou vá embora ou fique no seu quarto quietinha. Mas não venha

82
querer foder com a minha festa, ok? — Ela puxa o braço e vai rebolando
até o grupo de pessoas que estão sentados no sofá.
“Deus, dai-me forças para não acabar com essa vaca que chamam de
mulher.”
Pisando duro e desviando das pessoas e de um casal se pegando no
corredor, entro em meu quarto novamente, bato a porta com força e a
tranco.
Vou para debaixo das cobertas e pego meu Ipod novamente. Coloco um
som ambiente de chuva com uma flauta suave no fundo para ver se
consigo dormir.
Reviro-me na cama, aumento o volume, reviro-me de novo, fecho os
olhos e tendo me desligar do barulho insuportável que vem do lado de
fora do meu quarto.
Fico assim pela próxima meia hora, mas não consigo dormir. Os amigos
parasitas de Aletta são barulhentos demais.
Desisto de tentar dormir e me levanto, vou até a janela e abro a cortina,
observo a rua e as arvores iluminadas pelas fracas e amareladas luzes
dos postes. A essa hora é difícil encontrar pessoas caminhando por aí, é
tudo calmo e silencioso. Talvez eu pudesse sair e dar uma caminhada
pelo campus.
Decido que é isso que vou fazer.
Visto uma calça legging e uma blusa regata, colo meus tênis de corrida
e pego um moletom com as letras “UTD” bordadas na frente e visto, faço
uma rapo de cavalo e pego minha chave, colocando no bolso do
moletom, abro a porta e tento fazer o mais rapidamente possível o
trajeto do meu quarto até a porta de saída.
Felizmente, mas uma vez, ninguém parece perceber minha presença.
Todos estão bebendo, dançando, e muitos casais estão praticamente
fazendo sexo na minha sala.
Ótimo, agora nunca mais vou poder sentar naquele sofá, ou encostar
nas paredes, ou em qualquer outro móvel. Ainda bem que me lembrei
de trancar meu quarto, só de imaginar um casal de namorados indo até
lá e transando na minha cama como animais no cio me dá náuseas.
Desço as escadas, digito o código da porta, que realmente é uma
medida de segurança inútil porque todos sabem os códigos de cada
dormitório, justamente para ocasiões como essas, quando precisam ir a
alguma festa.
Assim que coloco meus pés no lado de fora sinto o ar fresco e gelado da
noite. Escondo minhas mãos no bolso e vou para a esquerda.
Não tenho pressa, não tenho destino, então simplesmente ando
calmamente pela calçada. Quando estou passando na frente do bloco do
dormitório ao lado do meu, uma Trailblazer preta chama minha
atenção, me fazendo parar. Ela está estacionada do outro lado da rua,

83
por causa dos vidros escuros não consigo dizer quem está lá dentro.
Vejo a placa e franzo a testa, um arrepio percorre meu corpo de repente.
Será que é ele?
Ando até o carro e dou duas batidinhas na janela do lado do passageiro,
imediatamente o vidro se abaixa, revelando o homem que eu imagina
que veria ali dentro.
— Justin? O que você está fazendo aqui? — Pergunto confusa.
— Você não tem atendido minhas ligações. — Ele diz com a voz fraca.
Olho para baixo e solto um suspiro.
Sim, eu tenho o evitado descaradamente de propósito, esperava que ele
pegasse a dica e não me procurasse. Como vou enfrenta-lo depois do
que aconteceu entre nós? Como vou olha-lo nos olhos depois de ter
sonhado com ele me tocando de um modo nada fraternal?
— Sinto muito. — Digo quase num sussurro. Forço-me a levantar os
olhos e olhar para ele, Justin está me encarando intensamente com
aqueles olhos azuis impressionantes.
— Você está me devendo uma conversa, lembra? — Ele diz com um leve
sorriso nos lábios.
Um pouco hesitante levo minha mão até a porta e a abro, entrando
timidamente no carro.
Justin passa o olhar por minhas pernas e solta um suspiro, olha para a
frente e resmunga algo.
Não sei o que dizer então permaneço em silêncio, esperando que ele
diga algo, mas ele também não o faz.
Entrelaço meus dedos no colo e fico encarando minhas mãos.
— Acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu no outro dia.
— Ele diz, eu balanço a cabeça ainda encarando minhas mãos.
— Eu pensei que o melhor seria te deixar em paz, mas eu queria te
pedir desculpas por te deixar desconfortável aquele dia, mas você
claramente não queria falar comigo, sempre ignorando minhas ligações
e mensagens.
Olho para ele com um olhar de desculpas e volto minha atenção para
minhas mãos em meu colo.
— Savannah, eu sinto muito...O modo como agi, as coisas que eu
falei...Entendo que possam ter te assustado, te pegado desprevenida.
Acredite, eu fui pego desprevenido por...Isso. — Olho-o com o canto do
olho e vejo que ele está indicando nós dois.
— Por favor, diga alguma coisa. — Ele pede.
O que eu posso dizer? Que eu fiquei sim surpresa com sua confissão, e
que até aquele momento nunca havia pensado nele como homem, mas
que depois do nosso beijo um desejo e um calor infernal tomaram posse
de mim?

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Não posso confessar isso para ele, é difícil até mesmo de admitir isso
para mim mesma.
— Por que você está aqui? Quer dizer, é tarde e...Se eu não atendi suas
ligações claramente não queria falar com você, então porque você veio
mesmo assim? — Digo tomando coragem e encarando-o nos olhos.
— Eu...Eu vim porque...Porque... — Ele desvia o olhar e parece nervoso,
sinto sua tenção daqui. — Bem, eu vim te pedir desculpas, como eu
falei.
— Só por isso? — Pergunto.
— Não. — Ele responde tão baixo, sua boca quase não faz movimento
nenhum, que penso que posso ter imagino sua resposta.
— Então o que mais você quer? — Pergunto e escuto um gemido, quase
como um uivo torturado, saindo de sua garganta.
Vejo suas mãos que seguram a base do volante, aperta-lo até os nós dos
dedos ficarem brancos. Ele se vira para mim e sua expressão é
machucada, como se ele estivesse sentindo algum tipo de dor física.
Ele me encara com a testa franzida e a respiração irregular.
— Você, eu quero você. — Ele diz quase que com um tom de desculpas,
com a voz não passando de um sussurro.
Meu corpo reage involuntariamente a suas palavras e a rouquidão de
sua voz, se arrepiando todo.
— Justin, nós não podemos... — Começo a dizer.
— Eu sei. Eu sei muito bem que nós não podemos. Você é a irmãzinha
do meu melhor amigo, é mais nova e me considera como um segundo
irmão, eu sei de tudo isso. Mas...
— Mas?
— Eu nunca desejei outra mulher como eu desejo você. No começo
achei que não era nada demais, achei que era algo que eu pudesse
controlar, aguentar. Mas está ficando insuportavelmente doloroso a
cada minuto que passa. Tentei fazer de tudo para acabar com isso,
tentei me satisfazer de várias formas possíveis, mas quando acabava
esse desejo ainda estava lá, crescendo mais forte e mais forte e mais
forte e Savannah... — Ele aproxima seu corpo e me olha como se
estivesse sendo torturado e quisesse minha ajuda para livra-lo da
agonia do sofrimento. — Estou ficando louco, sinto que posso ficar
literalmente louco se não tê-la. Esse meu lado que me diz que tocar em
você é errado, e que me impede de agarra-la e possui-la vorazmente,
está cada vez mais fraco. Achei que esses dias em que você vem me
ignorando ajudariam, que a distância ajudaria, mas eu estava errado. E
agora, aqui, tão perto de você...Sinto que não sou mais capaz de me
controlar.
Sua mão agarra meu pescoço e ele me puxa para mais perto de si,
nossos narizes se encostando.

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— Seus lábios são de longe a coisa mais gostosa que já provei. — Ele
sussurra para mim, sinto seu hálito quente em meu rosto.
Meu coração bate fortemente em meu peito, sinto minha respiração
ficando mais difícil a cada inspiração.
Cubro a sua mão em meu pescoço com a minha, tentando tira-la de lá
para me afastar, mas ele não me deixa.
Ele leva sua outra mão até minha bochecha e a deixa lá, nesse
momento sua boca vem faminta para a minha.
Abro-a para ele e sua língua vem ansiosamente brincar com a minha,
no primeiro contato escuto Justin gemer. Um fogo se acende em meu
útero e parece queimar meu corpo de dentro para fora.
Justin ataca minha boca com ferocidade, sua língua passeia pela minha
boca deixando em cada canto seu gosto delicioso.
“Oh Deus, isso é bom demais!”
Justin beija, mordisca e chupa meu lábio, me fazendo choramingar.
Desisto da ideia de tentar afasta-lo, não sou forte o suficiente para isso.
Deslizo minha mão por suas costas, abraçando-o apenas com um
braço. Justin faz o mesmo, desliza sua mão em direção as minhas
costas e me abraça forte, me puxando mais ainda para perto de si,
desconfortavelmente por causa do câmbio me deixo ser puxada para
mais perto do calor do seu corpo.
Passo minhas mãos freneticamente pelas costas de Justin, desejando
que ao invés do tecido de sua camisa, eu pudesse sentir sua pele.
Com minhas unhas arranho levemente sua pele por cima da camisa, ele
geme mais e seu beijo fica mais desesperado.
Sua mão desliza mais, saindo de minhas costas e fazendo seu caminho
para minha coxa, quando ele chega lá, ele a aperta e passa sua mão por
toda a extensão. Como estou um pouco de lado, não estou totalmente
sentada no banco, Justin se aproveita e sua mão logo desliza para
minha bunda, ele dá um tapa de leve e depois a aperta, me fazendo
gemer alto.
Meu gemido é acompanhado pelo seu, escutar Justin gemendo é muito
mais excitante do que eu poderia imaginar. Quando eu escutava Vince
gemendo não me provocava tanto calor assim, eu achava que o fato de
saber que Vince me desejava me provocava um calor que eu nunca
poderia sentir com outra pessoa, mas agora, com Justin...O jeito que
ele me beija, quase me devorando, o jeito que suas mãos viajam por
meu corpo, quase me reverenciando, isso tudo está me fazendo sentir
mais quente do que jamais estive.
Meu corpo todo está em estado de alerta, só o simples roçar da minha
calcinha contra minha carne encharcada está me deixando louca. Meus
mamilos estão tão duros que até doem, estou tão quente que sinto que
posso entrar me combustão instantânea.

86
Nunca senti isso antes, nem mesmo com Vince, esse calor e desejo
arrebatadores são experiências novas para mim, e apesar de estar com
medo e saber que o que estou fazendo é errado, não consigo querer
parar.
Nem mesmo a consciência que se Seth me visse assim com seu melhor
amigo, na verdade, se todos me vissem assim com Justin, ficariam
decepcionados e muito tristes, consegue me impelir para longe dos
braços do moreno lindo de olhos azuis.
Justin segura meu rabo de cavalo e puxa meu cabelo, sua boca dá uma
trégua para a minha, me possibilitando de tentar recuperar o fôlego.
Seus lábios macios beijam toda a linha do meu maxilar, depois vão
descendo pelo meu pescoço, ele dá leves mordidas em toda a extensão
de pele exposta. Eu gemo e aperto os olhos com força.
Ele alterna entre mordiscar, beijar e lamber meu pescoço. Mas não
importa o que ele faça, tudo me arranca gemidos necessitados.
Sinto sua respiração em minha orelha, logo sinto seus lábios se
fechando em meu lóbulo, ele o chupa e depois o puxa com os dentes.
Sinto que estou me transformando para um estado liquido, que estou
me desfazendo. Sinto o meio das minhas pernas ficar mais molhado e
quente.
— Vamos para meu apartamento. — A voz falhada de Justin sussurra
diretamente em minha orelha. — Por favor, venha comigo, eu preciso de
você.
— Justin. — Só consigo gemer seu nome.
— Meu corpo precisa mais de você agora do que do ar para respirar.
Venha comigo. — Ele pede e continua beijando meu pescoço, fazendo
com que formar qualquer pensamento racional seja muito, muito difícil.
— Justin, eu...Ann...Nós não podemos ir tão...Tão longe. — Digo em
meio aos suspiros que suas caricias arrancam de mim.
— Eu tentei, Savannah. Eu tentei ser bom, mas estou cansado de
resistir. Quero você, não importa as consequências.
— Não podemos, Justin.
— Sim, nós podemos. Nós precisamos. Você também me deseja, não é?
— Ele pergunta ainda me atacando com suas caricias enlouquecedoras.
— Sim. — Suspiro.
— E você está com medo desse desejo, não é?
— Sim.
— Eu entendo, sei que tudo isso é fodido demais. Estamos sentindo
desejo por uma pessoa que não deveríamos, mas por favor Savannah,
tudo o que eu te peço é uma noite...Só uma noite.

87
— E depois o que? Não podemos fazer isso sem prejudicar a sua relação
com meu irmão, com minha família, comigo. — Digo me afastando um
pouco para olha-lo nos olhos.
Seu olhar me surpreende, escorre luxúria. Justin me olha tão
fixamente, como só pudesse enxergar a mim.
Ele não diz nada com relação a minhas palavras. Afasto-me mais,
voltando a me sentar normalmente no banco, minha respiração ainda
irregular e meu corpo ainda sofrendo com o desejo.
Escuto a respiração pesada e barulhenta dele ao meu lado.
— Você também sente desejo por mim, porque não podemos ficar juntos
apenas por uma noite? Apenas para acabar com essa tortura? Ninguém
precisa ficar sabendo, nem Seth nem nossas famílias. E a nossa relação
só vai ficar estranha se a gente permitir, se a gente souber separar as
coisas podemos continuar sendo amigos e...
— Não. Pare agora, Justin. — Como ele pode falar isso? Como ele pode
“negociar” uma noite comigo, tratar algo assim com tanta indiferença?
Mesmo sendo apenas uma noite.
Eu sei que ele é assim, sempre tratando todas as mulheres e todas as
transas como sem importância, apenas interessado no prazer que elas
vão lhe proporcionar. Não sou idiota, já escutei Seth, meus pais, Jax e
até mesmo Kim comentando sobre a vida de libertino de Justin, já
cheguei até mesmo há comentar um pouco sobre isso com Shanon.
Mas ver esse lado dele em ação, ser tratada como apenas uma transa,
apenas uma noite de diversão...Não sei se consigo lidar com isso.
O único homem com quem eu já estive foi Vince, e eu só entreguei
minha virgindade para ele depois que eu tinha certeza que o amava.
Como eu me sentiria em fazer sexo com Justin sabendo que seria só
isso, apenas sexo? Sem compromisso, sem sentimentos, sem nenhuma
ligação emocional...
Não sei se eu consigo tratar essa intimidade tão grande entre duas
pessoas com tanta indiferença quanto ele.
Será que eu deveria tentar? Eu desejo Justin, isso é um fato. Se eu
fosse transar somente com a pessoa que eu amo, então eu nunca
mataria meu desejo por Justin, porque me apaixonar por ele é
totalmente impossível.
O que devo fazer? Não sei, estou confusa.
Mas eu sei que não gostaria nada de transar com Justin e depois ser
tratada com tamanha indiferença com que ele trata suas transas.
Não quero ser só mais um rosto, só mais uma noite, só mais um
orgasmo.
— Não quero ser só mais uma. — Digo encarando a noite através da
janela a minha frente.

88
— Savannah, eu te desejo como nunca havia desejado ninguém antes, é
algo muito forte. Mas eu não posso te oferecer mais que isso, mais que
a satisfação dos nossos desejos. Você é alguém com quem eu me
importo muito, então é claro que você não seria só mais uma, mas se
você está querendo algo como flores e balões então...Sinto muito, mas
isso eu nunca poderei dar para ninguém.
Não sei por que meus olhos se enchem de lágrimas. Luto para não
derrama-las, evito olha-lo nos olhos.
— Não sei se sou capaz de fazer isso, transar com você mesmo amando
Vince. Nunca tive sexo sem compromisso, não sei como me sentiria com
relação a isso. — Confesso.
— Você não quer descobrir?
— E se eu me deixar levar pelo meu desejo e me sentir um lixo depois?
Não terá volta. — Ele não diz nada, ainda não consigo encara-lo nos
olhos.
— Vince não merece toda essa consideração e com certeza não merece o
espaço que ocupa em seu coração. — Ele diz com a voz seria.
— Eu e ele vamos resolver nossos problemas, acho que com a sua ajuda
já fiz ele sofrer o suficiente.
— Você não pode estar falando sério, Savannah. Você não pode voltar
com aquele cara, ele não te merece. Sei que concordei em te ajudar no
começo, até mesmo te dei essa ideia de fazer ciúmes, mas eu nunca
achei que você e ele deveriam voltar.
— Eu o amo, e quem ama perdoa, não é?
— Eu sempre achei que você parecia ser uma pessoa forte, alguém que
nunca perdoaria ser enganada de uma forma tão baixa como a que
Vince te enganou.
Olho para o outro lado, tentando esconder meu rosto para que Justin
não veja a lágrima que escorre em meu rosto.
Ele tem razão, perdoar Vince e voltar com ele como se nada tivesse
acontecido vai me custar muito. Mas o que eu posso fazer? Eu o amo,
quero ficar com ele.
Mesmo sabendo que a sombra da sua traição sempre pairará sobre nós.
— Eu o amo, é isso que importa. — Digo para ele mas mais como um
modo de convencer a mim mesma.
— Não quero mais que você me ajude, e não quero mais que você me
procure. Acho que isso é o melhor para nós dois, já que esse desejo que
sentimos é tão forte.
— Você tem certeza? — Ele pergunta com a voz baixa.
— Sim.
— Tudo bem, não te incomodarei mais, mesmo que isso me custe
muito.

89
Ainda sem olha-lo nos olhos, abro a porta e saio. Ando de volta para
meu dormitório sem olhar para trás.
Só quero minha cama, mesmo com aquela festa maldita acontecendo lá,
minha cama me parece o melhor lugar para estar agora.

Alguns dias depois...
Termino de me arrumar, olho-me no espelho conferindo se tudo está em
ordem. Decidi que vou surpreender Vince na festa que vai ter hoje.
Decidi também que será hoje que vou acabar com nosso sofrimento e
que vou voltar com ele.
Desde daquele incidente com Justin em seu carro, pensei nele tão
constantemente quanto pensei em Vince, pensei também nas palavras
de Justin sobre Vince, o que me fez ficar pensando sobre minha relação
com meu ex e se realmente eu deveria perdoa-lo. Mas o fato é que meus
sentimentos por Vince ainda estão muito fortes, se perdoar ele é um
erro ou não, vou ter que descobrir dando-lhe uma segunda chance.

Quando chego à festa, no bloco do dormitório masculino, vejo inúmeras


pessoas, todas com copos vermelhos de plástico na mão.
Vou me infiltrando por entre elas, pedindo passagem para conseguir
subir a escada e chegar até os apartamentos, que é onde Vince deve
estar.
Quando finalmente chego ao corredor, a cena é a mesma, várias
pessoas bebendo e conversando. Todos os apartamentos estão com as
portas abertas, o que significa que todos os vizinhos decidiram
participar da festa, e o acesso a qualquer apartamento está liberado. O
que vai tornar um pouco mais difícil de achar Vince, mas tudo bem.
Entro no primeiro apartamento e procuro por ele nos cômodos do lugar,
mas Vince não está ali, e nem no próximo. Vou para a terceira porta,
assim que entro decido perguntar para um grupo de pessoas se eles
viram Vince.
— Oi, vocês por acaso viram o Vince? — Todos na universidade o
conhecem, então eles sabem exatamente de quem estou falando.
— Acho que vi ele entrar no apartamento do Drake, é o último da
direita.
— Obrigada. — Digo, mas o cara que me respondeu já virou a cara e
voltou a conversar com seus amigos.
Sigo para o último apartamento do lado direito, entro e tento localizar a
cabeça ruiva e linda de Vince no meio de tanta gente.
— Ei, você viu o Vince?
— Não.

90
— Oi, você viu o Vince? — Recebo apenas um balançar de cabeça.
Suspiro frustrada.
— Ei, você está procurando por Vince? — Uma voz feminina me
pergunta, viro-me e vejo uma garota encostada em uma parede.
— Sim, você sabe onde ele está?
— Acho que o vi indo em direção ao corredor um pouco antes de você
entrar.
— Ok, obrigada.
Desvio do mar de pessoas e vou para o corredor, assim que viro para a
esquerda a visão de Vince me faz congelar no lugar.
Ele está prendendo com seu corpo uma mulher, que claramente é
Aletta, contra a parede. Eles estão se beijando e sua mão está no seio
dela, e as mãos dela estão enroscadas em seus cabelos. Eu gostava
tanto de enfiar meus dedos por entre seus lindos cabelos cor de fogo, e
agora ela é que está fazendo isso.
Quero sair correndo daqui, mas meu corpo não responde.
“Não, de novo não!”
Sinto como se alguém estivesse com a mão dentro de meu peito,
apertando meu coração com toda a força, esmagando-o sem dó nem
piedade. Meus olhos rapidamente se enchem de água e as lágrimas
escorrem por meu rosto maquiado.
Vince coloca a mão em baixo da saia de Aletta e ela geme. Sinto que vou
vomitar.
Dou alguns passos, cambaleando para trás, me viro e saio correndo da
li, coloco a mão na boca para impedir que os soluços e o choro saiam.
Passo correndo, esbarrando em muitas pessoas na minha tentativa
patética de ir embora. Desço as escadas com pressa e quase viro meu
pé por causa desse salto maldito que eu coloquei para ficar bonita.
Finalmente chego até a porta e corro para fora do prédio.
Não há nada que eu possa fazer, tenho que aceitar que Vince não me
ama e que ele não é a pessoa que achei que ele fosse.
Ele disse que me amava, que me queria de volta, que tinha cometido
um erro. Ele parecia realmente estar arrependido, mas agora...Agora
vejo que ele mentiu, e ele sempre vai mentir. Ele sempre vai ser o
mulherengo que eu achei que ele tivesse deixado de ser.
Eu não fui capaz de ser boa o suficiente para que ele quisesse só a mim.
Ando pela causada, mal conseguindo enxergar direito por causa da
abundância de lágrimas que brotam em meus olhos.
Envolvo-me com meus braços, tentando mandar embora o frio.

91
O que eu farei agora? Vince é um canalha, mas eu o amo. Como
suportar o fato que ele não presta e que está nesse momento com
aquela vadia?
Dói demais. Preciso fazer parar de doer, preciso encontrar alguém para
me abraçar e me segurar em seus braços.
Mas quem? Ninguém sabe sobre a traição de Vince...Paro de repente.
Justin. Ele sabe, ele sabe de tudo e ele se importa o suficiente comigo
para me consolar.
E ele pode fazer muito mais do que isso, ele pode me fazer esquecer,
nem que seja só por um tempo.
Sim, eu preciso de alguém que seja capaz de me fazer esquecer Vince,
amenizar a dor em meu coração. E se tem alguém que pode fazer isso é
ele, mesmo que ele me queira apenas por uma noite, mas pelo menos
por essa noite eu terei braços fortes e um corpo quente para me
consolarem.
Que se danem todas as preocupações que eu tinha com relação a
dormir com ele. Que se dane tudo, só quero que a dor pare.
Tenho que chegar a Justin o mais rápido possível.

Justin
Coloco minha carteira e as chaves do carro dentro do bolso da jaqueta.
Uma hora atrás liguei para Zara e pedi que me encontrasse
no Eros. Definitivamente preciso de um pouco de diversão hoje, alguma
coisa para me distrair, e Zara é a sortuda escolhida para essa noite.
Espero que ela consiga me fazer relaxar, pelo menos um pouco, apesar
de ser difícil. Meu corpo não quer Zara, ou qualquer outra mulher, ele
quer ela.
A minha frustração nas últimas noites tem me deixado de mau humor,
nenhumas das mulheres que eu estive nos últimos dias conseguiram
desviar minha mente da mulher que vem tirando meu sono, muito
menos conseguiram saciar meu corpo. Estou morrendo de medo que
ninguém consiga fazer isso, e se eu tiver que viver com esse desejo
enlouquecedor para sempre?
E quando tiver alguma festa, ou um jantar na fazenda com a família
Cord e a família Careton, e eu ver Savannah, vou conseguir me
controlar? E se eu vê-la ao lado daquele idiota cabeça de ferrugem,
sabendo que ele tem algo que eu quero mas que nunca poderei ter, e
que ainda por cima não merece?
Porra preciso me encontrar com Zara logo e encher a cara.
Uma batida na porta ecoa pelo apartamento silencioso. Franzo a testa,
quem será? Não estou esperando ninguém, falei para Zara me encontrar
lá e não aqui.
Curioso vou abrir a porta. Quando vejo quem está do lado de fora,
parada em frente a minha porta, sou pego de surpresa.

92
Savannah está parada me olhando intensamente, seus cabelos estão
levemente enrolados e ela está com uma maquiagem forte, algo que
alguém usaria para ir a uma festa. Sua roupa nada mais é que um
vestido preto muito curto, com sapatos de salto matadores para
completar.
Estou excitado e confuso. O que ela está fazendo aqui? Achei que
tivesse dito que não queria mais contato comigo.
— Savannah, o que você está... — Não tenho tempo de terminar minha
pergunta, porque ela se lança para frente e se joga em meus braços,
sua boca atacando a minha e me pegando completamente desprevenido.
Mesmo surpreso, laço sua cintura com meus braços e correspondo ao
beijo.
— O que aconteceu? Achei que você não quisesse isso. — Digo sem
fôlego devido ao seu ataque voraz.
— Mudei de ideia. — Ela diz decidida.
— Por quê? — Pergunto soltando um gemido quando ela começa a
beijar meu pescoço.
— Isso realmente importa? — Ela coloca a mão em meu peito e me
empurra para trás, entrando no apartamento. — Estou aqui agora, vou
te dar aquela noite que você pediu, vou te dar tudo o que você quiser. —
Ela diz me olhando maliciosamente, tem algo diferente nela.
Engulo em seco ao ouvir suas palavras, meu coração acelera e
imediatamente o desejo incontrolável toma conta de mim, meu pau
desperta em minhas calças.
Foda-se o motivo dela ter mudado de ideia. Foda-se tudo. O que é
importa é que ela está aqui, e o meu tormento irá acabar.
Com um único passo quebro a distância que nos separava, envolvo sua
cintura com meu braço e a puxo para mim, seu corpo pequeno batendo
contra o meu, agarro seu pescoço e a empurro para trás. Fecho a porta
com um chute e prenso seu corpo violentamente contra ela.
Ataco sua boca como se ali estivesse todo o ar que eu preciso para
sobreviver. Passo minhas mãos por suas curvas delicadas e que me
deixam louco.
Ela levanta a perna e envolve meu quadril, sinto a ponta do seu salto
me cutucar. Meu sangue ferve. Empurro meu corpo mais para frente,
quero sentir suas curvas contra as minhas.
Minha mão vai para a sua perna que está em volta da minha cintura,
acaricio rudemente toda a extensão da sua coxa nua enquanto lambo
seu pescoço. Ela geme, me fazendo ficar mais duro.
Esfrego minha ereção nela freneticamente, fazendo-a gemer mais.
Deus, eu morri e estou no paraíso?

93
Pego sua outra perna e a puxo para cima, fazendo com que ela também
envolva minha cintura, impedindo que ela caia seguro em sua bunda.
Ela aperta firme suas pernas em volta da minha cintura e seus braços
em volta do meu pescoço.
Deixo uma mão em sua bunda, sustentando-a, e a outra deslizo até sua
bela coxa.
Caralho, essas pernas estão me deixando louco. Aperto sua coxa e
deslizo minha mão por debaixo da saia do vestido, pegando em sua
bunda nua.
Caralho! Porra! Foda!
A mulher está usando uma calcinha fio dental! Eu estou mesmo no
paraíso...Ou inferno!
Deslizo a outra mão para debaixo da saia do vestido e seguro sua bunda
nua com as duas mãos, aperto-a e dou lhe um tapa, pela sua reação no
carro aquele dia acho que ela gostou disso. E por sua reação agora,
tenho certeza.
Dou mais um tapa, dessa vez um pouquinho mais forte. Ela geme de
novo. Dou mais um tapa, ela geme mais alto.
Eu estou tão duro, tão necessitado, se não estiver dentro dela nos
próximos cinco minutos vou passar vergonha por explodir sem que ao
menos ela me toque.
Então, segurando-a forte para que não caia, sigo em direção a meu
quarto.
Vou dar-lhe motivos para não se arrepender de ter mudado de ideia.
Vou dar-lhe motivos durante toda a noite.

94
A proposta
Savannah
Agarro-me a Justin como se minha vida dependesse disso, me seguro
firme em seu corpo enquanto ele nos leva até o quarto, sua boca
devorando a minha no caminho.
Meu corpo arde de desejo, Justin tem algo, não sei o que ou como ele
consegue, mas tem algo em seu toque que desperta algo em mim que eu
nunca sequer havia imaginado. Algo selvagem.
A porta se abre e nós entramos, nossas bocas não desgrudam nem por
um segundo, suas mãos apertando firmemente minha bunda.
Justin me coloca no chão e dá um passo para frente, me fazendo
recuar. Assim que dou um passo para trás minha perna bate na cama.
É isso. Eu realmente vou transar com Justin Cord. Deus, nunca achei
que isso aconteceria, isso nunca nem sequer passou por minha cabeça
antes daquela noite em seu apartamento, mas surpreendentemente, eu
quero muito isso.
Eu quero que ele me ajude a esquecer Vince, mas eu também quero isso
porque eu o desejo muito.
Sem quebrar o beijo Justin se livra da sua jaqueta, arremessando-a
para longe como se não pudesse suportar aquele pedaço de couro. Suas
mãos vão para minhas costas, para os botões do meu vestido, ele
começa a abri-los.
— Merda, quantos botões esse maldito vestido tem? — Ele diz com seus
lábios roçando os meus e não posso evitar sorrir com a urgência em sua
voz.
Seus dedos com muita dificuldade atingem o último botão, com minha
ajuda o vestido tomara que caia desliza pelo meu corpo, parando em
meus quadris. Interrompo o beijo para deslizar o vestido por minhas
pernas, enquanto deixo o tecido preto cair até meus tornozelos Justin
tira sua camisa, expondo seu corpo sarado de dar água na boca.
— Caralho, você é gostosa demais. — Ele me puxa para perto de si
novamente e ataca minha boca mais ferozmente do que antes, ele me
espreme contra seu corpo duro, forte e quente e posso facilmente sentir
a impressionante saliência na frente da sua calça.
“Ele é enorme!”
As mãos de Justin viajam por meu corpo freneticamente, como se ele
quisesse aproveitar de cada curva, mas não soubesse por onde
começar.

95
Suas mãos vão até meus ombros e subitamente ele afasta o rosto e me
joga na cama com força, eu caio bem no meio do colchão, fazendo a
cama balançar.
Essa urgência dele só me excita mais, minha respiração está difícil,
falta oxigênio em meus pulmões e meu coração bate mais rápido que as
asas de um beija-flor.
O meio das minhas pernas pulsa e eu encaro Justin com o que tenho
certeza, deve ser o mesmo modo que ele me encara. Com luxuria densa
e pura, na sua forma mais concentrada, brilhando nos olhos.
Ele leva as mãos até seu cinto e começa a desafivela-lo.
— Agora vou te mostrar como um homem de verdade faz. — Ele diz e
abre o zíper, abaixa a calça com a cueca junto, tudo num movimento
rápido.
— Deus. — Não posso evitar de exclamar quando ele se levanta e posso
vê-lo em toda a sua glória. Foi uma exclamação sussurrada, quase
inaudível, mas ele deve ter ouvido, pois ele sorri largamente e vem para
cima de mim. Num movimento rápido e quase violento, ele arranca
minha calcinha fora e com suas mãos abre minhas pernas, ele solta um
gemido alto e fecha os olhos.
— Porra. — Ele diz apenas. Isso é bom ou é mal? Será que ele gostou do
que viu?
Seu corpo pesado se deita sobre o meu, sinto a ponta do seu membro
roçando minha entrada.
— Diga que você está tomando a porra da pílula, pelo amor Deus.
— Estou. — Respondo sem fôlego.
— Obrigado, meu Deus. — Ele exclama e num único movimento, rápido
e cru, ele me penetra por inteiro.
— Ohh! — Exclamo quando todo seu comprimento impressionante me
invade de uma só vez, me alargando de uma forma dolorosamente
deliciosa.
Justin está com cada braço em um lado da minha cabeça, se
sustentando neles para não me esmagar com seu peso impressionante.
Ele está com os olhos fechados e uma expressão de dor, ele também
não se mexeu dentro de mim.
Será que tem algo errado comigo? Ele não gostou de mim?
— Justin, tudo... — Me interrompo quando ele abre os olhos.
Ele me olha tão intensamente que minha capacidade de falar me
abandona. Seu olhar...Nunca ninguém me olhou assim antes.
— Porra, Savannah! Você é o paraíso, baby. A porra do paraíso, só para
mim a noite toda.
Sinto Justin se retirando de dentro de mim, só para logo em seguida me
penetrar novamente, com força.

96
Ele sai e depois retorna, com mais força.
Ele sai e depois retorna, com mais força ainda.
A cada estocada um grunhido reverbera do seu peito e ele aumenta a
velocidade com a qual investe contra mim.
A sensação ter o pênis dele me estimulando é quase enlouquecedora de
tão deliciosa, gemidos escapam por entre meus lábios e não há nada
que eu possa fazer para detê-los.
Estabeleço minhas mãos nas laterais de suas costas e conforme o
prazer vai se tornando arrebatador, aperto-o com força, penetrando sua
pele com minhas unhas.
Justin parece não se importar, ele geme sem pudor e aumenta mais o
ritmo. Seu quadril com movimentos frenéticos fazem seu corpo se
chocar contra o meu com violência, fazendo meu corpo balançar
descontroladamente e os gemidos da cama se unirem aos meus e de
Justin.
— Oh Deus, Savannah...Porra, baby, porra...
Ele começa a gritar meu nome e pequenos tremores tomam conta do
seu corpo. No momento que Justin solta um grunhido animalesco, sinto
seu sêmen sendo jorrado dentro de mim.
Justin desaba em cima de mim, seu peito inflando e desinflando com
dificuldade, tremores remanescentes ainda percorrendo seu corpo.
Bem, isso foi rápido. Droga, eu estava tão perto de atingir o clímax, mas
não importa, foi delicioso do mesmo jeito. Nunca senti tanto prazer na
minha vida.
— Isso foi incrível, Justin. — Digo a verdade.
De repente sinto o corpo de Justin tremendo, mas dessa vez os
tremores são provocados por sua risada.
Porque ele está rindo? Vendo a confusão estampada em meu rosto, ele
tenta se controlar.
— Você acha que já acabou? — Ele pergunta encarando meus olhos e
com um sorriso malicioso nos lábios.
Franzo a testa e o olho sem saber o que dizer.
— Ah Savannah, isso foi só o começo. Você nem gozou, como pode
achar que eu tinha terminado?
— Porque mesmo sem o orgasmo, foi incrível. — Respondo.
— Assim você me ofende, baby. Acha mesmo que eu sou homem de
deixar alguma mulher insatisfeita?
A menção das outras mulheres com quem ele já esteve não é
exatamente o que eu quero ouvir enquanto ele ainda está dentro de
mim.

97
— Eu não quis dizer... — Começo a dizer mas ele me interrompe, leva
seu dedão a minha boca e brinca com meus lábios.
— Menos conversa e mais ação, baby. — Justin se levanta mas não se
afasta, sinto que seu membro continua duro feito pedra, o que me
impressiona.
— Quero você completamente nua, vamos tirar isso daqui. — Ele diz
enfiando suas mãos entre minhas costas e o colchão para chegar ao
fecho do meu sutiã. Arqueio um pouco as costas para facilitar seu
trabalho.
Rapidamente Justin o abre e atira o tecido de renda para longe de nós.
Suas mãos se fecham imediatamente em meus seios e os apertam.
Sentir o atrito da sua mão contra a pele nua dos meus seios me faz
gemer. Justin os aperta e brinca com meus mamilos, rolando-os entre
os dedos fazendo-os ficarem duros.
— Você gosta disso? — Ele pergunta com um sorriso safado.
— Sim. — Digo em meio aos meus gemidos.
— E será que você vai gostar disso? — Ele se abaixa e sua boca se fecha
em meu seio, me fazendo gemer mais alto.
Ele abocanha o máximo que consegue do meu seio e chupa com força.
Sua língua brinca com meu mamilo e depois seus dentes, dando leves
mordidinhas.
Sinto o liquido do meu desejo escorrer de mim, Justin sente também,
pois ele levanta o olhar e sorri largamente, ele larga meu mamilo apenas
para dizer:
— Acho que isso é um sim. — Ele volta a me lamber, chupar
e mordiscar. Logo passa para o outro seio e repete o processo de
lambidas, mordidinhas e chupões.
— Acho que eu estou te devendo um orgasmo, não é? — Ele levanta o
corpo e com as mãos abre o máximo minhas pernas, se inclina um
pouco para frente e segura meu quadril.
Então lentamente começa a se retirar de dentro de mim, antes de se
retirar por completo, ele me penetra novamente.
Me penetra mais algumas vezes lentamente.
— Porra, eu estou vendo o meu gozo escorrer dessa linda bocetinha, e
isso é sexy pra caralho.
Justin aumenta o ritmo das estocadas gradativamente, até que nossos
corpos estão se chocando com violência novamente.
A sinfonia de gemidos recomeça, agarro-me aos lençóis com força
enquanto sinto que aquele meu orgasmo esquecido desperta e vem com
força total.

98
Quando repentinamente Justin sai de dentro de mim, me deixando com
uma sensação de vazio e frustração pelo orgasmo não atingido, eu solto
grunhidos de protesto.
Com suas mãos fortes Justin rapidamente me vira, me fazendo deitar
de bruços.
— Quero ver essa bela bunda sua balançando enquanto eu meto forte
dentro de você. — Suas palavras me fazem gemer. Nunca gostei quando
Vince falava sujo na cama, algo nele falando aquelas coisas soava
errado. Mas com Justin, soa mais que certo, e suas palavras me
excitam em um nível incompreensível.
— Por favor. — Sem fôlego imploro por ele, não aguento mais essa
tortura, preciso dele novamente dentro de mim.
Atendendo ao meu apelo, Justin me invade por trás. Ele deixa minhas
pernas juntas e no meio das dele, se inclina levemente sobre minhas
costas e mete com força.
Agarro os lençóis e fecho os olhos com força, posso senti-lo tão fundo
dentro de mim. Empino um pouco a bunda e Justin solta uma série de
xingamentos, seu ritmo aumenta, exigindo mais de mim e da pobre
cama, que balança e geme como se ela fosse a amante.
Olho sobre meu ombro a tempo de ver a mão de Justin, que está acima
da sua cabeça, descendo em direção a minha bunda com rapidez.
O estalo que o choque entre a palma da sua mão e a minha bunda faz é
alto, mas não tão alto quanto meu gemido.
Nunca achei que levar um tapa me faria gemer assim, desde aquele dia
no carro quando ele me bateu pela primeira vez, fiquei pensando sobre
isso.
Apanhar deveria ser associado a algo ruim, a dor, a punição. Não
deveria ter espaço na cama entre dois amantes para algo assim, mas
mesmo assim, quando sinto a mão de Justin se chocando com força
contra minha pele, força o suficiente para arder e não de fato doer, a
única coisa que eu sinto é o meu prazer sendo elevado a milésima
potência.
Meu corpo todo ardendo e em chamas, exatamente como o local em que
ele bateu.
— Mais. — Me pego dizendo sem nem ao menos me dar conta do que
estou pedindo.
Meu Deus, estou mesmo pedindo que ele me bata?
Sua mão desce contra mim novamente, exatamente com a força exata,
nem muito nem pouco. Sinto o ardor e a pele do local ficando febril, e
eu gemo.
— Mais? — Ele pergunta com a respiração difícil, seu membro entrando
e saindo de mim sem cerimonia, me invadindo e me alargando com
avidez.

99
— Mais. — Digo choramingando e ele faz o que peço, desfere mais um
tapa contra minha pele já sensível, ao sentir o contato eu grito e gemo.
Justin começa a estapear minha bunda enquanto eu grito
repetidamente “mais...mais...mais...”
Começo a gritar sem medo de que os vizinhos dele me ouçam, ficar
quieta enquanto esse prazer arrebatador domina meu corpo é
impossível.
— Oh meu Deus...Justin...Mais...Mais... — Grito em meio aos gemidos,
me contorço de prazer e agarro os lençóis.
— Justin...Oh meu Deus...
— Isso mesmo, grite o meu nome Savannah, grite.
Sinto meu orgasmo crescendo dentro de mim, crescendo cada vez mais
e até que chega no limite e...Explode.
— JUSTIN! — Meu grito ecoa pelo quarto juntos com os gemidos dele.
Esqueça o que eu disse antes. Agora eu posso dizer que nunca senti
tanto prazer na minha vida.

Já passam das duas da manhã. Justin sai de cima de mim e desmorona
ao meu lado, o colchão balança com o seu peso.
Sinto-me exaurida, como se tivesse corrido uma maratona. Mas isso
que acabou de acontecer aqui não deixa de ser isso, uma maratona. Só
que uma maratona de sexo.
Justin não estava brincando quando disse que ele me queria a noite
toda.
Nós transamos duas vezes na sua cama, depois fomos para o banheiro
onde transamos uma vez na pia e outra debaixo do chuveiro, depois
voltamos para o seu quarto e transamos no pequeno sofá de dois
lugares encostado em sua parede, e por fim, voltamos para sua cama e
transamos nela mais uma vez.
Essa última vez acabou de acabar e sinto que não serei capaz de andar
amanhã. Todas às vezes Justin me deu orgasmos indescritíveis, um
melhor do que o outro.
Agora, depois de horas transando, estamos ambos exauridos. Justin
conseguiu o que queria, conseguiu matar esse desejo incontrolável que
ele tinha por mim, e eu...Bom, eu não consegui o que queria, pelo
menos não tudo. Meu desejo por Justin foi saciado assim como o dele
por mim, mas eu me peguei várias vezes pensando em Vince. Mesmo
que essas vezes que eu pensei nele tenham sido para comparar como eu
me sentia durante o sexo com ele e com Justin, e Justin ganhou em
todos os quesitos possíveis, mesmo assim...Eu pensei nele.

100
Mesmo eu aproveitando o momento, mesmo está tendo sido sem duvida
a melhor noite - sexualmente falando - da minha vida, a sombra de
Vince estava lá, presente o tempo todo.
Fecho os olhos e esfrego o rosto com as mãos.
— Meu Deus, Savannah. Você foi incrível, sabia? Deus do céu, isso foi
maravilhoso, não tenho nem palavras.
O que eu devo fazer, se nem uma noite de sexo quente com Justin
conseguiu me fazer esquecer de Vince?
O que eu sei é que não posso perdoa-lo. Não mais. Já chega, ver ele
daquele jeito com aquela vadia foi a gota d’água.
Vince é um canalha. Ele sempre foi e sempre vai ser. Assim como todos
os canalhas do mundo, não tem como muda-los, é quem eles são.
Todd, Vince e até mesmo Justin...Ser assim faz parte deles, do que eles
são. Nem eu e nem ninguém vai conseguir mudar isso. Aquelas
histórias de caras como eles que se apaixonam e mudam por causa de
uma mulher, só acontecem em livro e filmes. Tenho que encarar a
realidade, se eu quiser fica com Vince, terei que dividi-lo, e nem o meu
amor por ele vale a pena descer tão baixo.
Por mais que eu vá sofrer, já tomei a minha decisão, está tudo acabado
entre Vince e eu. Acabado para sempre.
— Savannah? Ei, está me ouvindo? — A voz de Justin me puxa de volta
dos meus pensamentos, abro os olhos e viro o rosto para olha-lo deitado
ao meu lado.
— O que foi?
— Eu disse que você é incrível e que eu não tenho palavras para
descrever o quanto eu gostei de estar com você.
— Ah sim, eu também gostei de estar com você.
Ele me olha com a testa franzida, parece incomodado.
— Você gostou mesmo? Porque não está com cara de quem gostou.
— Eu adorei, Justin, não se preocupe. Foi a melhor transa que eu já
tive, você é sensacional. Nunca havia tido tantos orgasmos e todos eles
foram de tremer o chão. — Ele sorri orgulhoso e me olha satisfeito.
Meu corpo está tão exausto e minha carne tão sensível, espero que
Justin não esteja planejando mais uma “rodada.” Sendo assim, não há
mais nada a se fazer aqui.
Levanto-me e vou até minha calcinha jogada em um canto longe, sinto
os olhos de Justin por todo meu corpo acompanhando meus
movimentos.
Visto a calcinha e depois o sutiã, quando pego meu vestido e começo a
vesti-lo, Justin pergunta:
— O que está fazendo?

101
— Me vestindo. — Respondo.
— Por quê?
— Porque eu não posso ir embora só de calcinha e sutiã. — Com
dificuldade começo a fechar os botões do vestido.
— Você não tem que ir embora. — Ele diz se apoiando nos braços e
elevando o corpo um pouco.
— Achei que você nunca deixasse uma mulher dormir aqui depois de
uma transa. — Digo conseguindo abotoar o último botão.
Justin se levanta parecendo zangado, pega sua cueca boxer e veste.
— Savannah, eu te falei que você não é como as outras. É claro que
você pode dormir aqui, não precisa ir embora. — Ele diz parado no meio
do quarto com as mãos na cintura, me observa enquanto procuro meus
sapatos.
— Você viu meus sapatos? — Pergunto procurando perto da cama.
— Você tirou quando fomos para o banho. Você ouviu o que eu disse?
Você não precisa ir.
Vou até o banheiro e bingo, meus sapatos estão jogados no chão. Pego o
par e me apoio na porta para calça-los.
— Obrigada, mas eu prefiro ir. — Tenho que ir para casa me encolher
em minha cama e começar a tentar aceitar o fato de que eu nunca mais
vou ter Vince. Isso se algum dia eu de fato cheguei a tê-lo.
— Tem certeza que você não quer ficar? — Ele me olha parecendo um
pouco magoado.
— Tenho, mas obrigada pela oferta.
— Tudo bem, vou me vestir.
— Não precisa se incomodar. Eu pego um taxi.
— Claro que não, Savannah. Eu te levo.
— Sério, está tudo bem. Não tem problema nenhum em eu pegar um
taxi...Bem, eu adorei nossa noite juntos, foi muito boa. Não precisa me
acompanhar até a porta, a gente se vê depois, Justin. — Digo e me viro,
deixando para trás um Justin com uma cara confusa.
Sigo em direção à porta e saio. Sigo pelo corredor, meus saltos
estalando no chão e minhas pernas ainda um pouco instáveis devido às
investidas fortes de Justin.

Justin
Mas que porra acabou de acontecer aqui?
Savannah saiu correndo para longe de mim logo depois que transamos,
é isso mesmo?
Nunca nenhuma mulher fugiu de mim antes, sou eu quem fujo delas
depois do sexo, não o contrário.

102
Sento na cama ainda tentando entender o que acabou de acontecer
aqui.
Fiz algo errado? Ela não gostou?
Não, não, impossível. Elas sempre gostam, sempre terminam satisfeitas.
Isso é algo que eu garanto, mesmo que eu não tenha intenção de
transar mais de uma vez com a mesma mulher, e muitas vezes eu nem
vá vê-la outra vez, eu sempre garanto que elas sintam o máximo de
prazer. Eu sou bom nisso e com certeza nunca deixei a desejar,
nenhuma das minhas parceiras teve motivos para
reclamar, nunca. Então deve ter sido outra coisa que fez Savannah sair
correndo do meu apartamento.
Mas o que?

Savannah
Coloco tudo dentro de uma caixa.
Cartões, cartas, a almofada de coração, o ursinho de pelúcia falante,
cds, dois livros, a caixinha com o colar que ele me deu e nossa aliança
de compromisso.
Pego a caixa e desço as escadas, vou andando com ela em meus braços
até o dormitório masculino.
Espero que Vince esteja lá, assim posso falar tudo de uma vez e deixar
as coisas bem claras.
Subo as escadas do seu dormitório e paro em frente a sua porta.
Equilibrando a caixa em um só braço, bato três vezes na porta.
Escuto passos do outro lado, a chave girando na fechadura e alguém
mexendo no trinco. A porta se abre e Vince, com uma camisa de futebol
e calça jeans, me recebe.
Ele abre um sorriso largo quando vê que é eu, mas seu sorriso some
quando ele olha com confusão para a caixa que eu carrego.
— Bom dia, Vincent. — Luto para soar o mais indiferente possível.
— Vincent? Desde quando você voltou a me chamar assim?
— Desde agora. Espero não estar te interrompendo. — Digo dando uma
olhada para dentro do seu apartamento, o som de um jogo de futebol
vem da direção da sala.
— Ann, não, não está. — Ele parece confuso com meu modo de trata-lo.
— Que bom, de qualquer forma, eu vou ser rápida. Só vim lhe trazer
isso. — Digo e empurro em sua direção a caixa de papelão.
— Que porra é isso? — Ele pergunta olhando o conteúdo com
estranheza. Tento não demostrar a magoa por saber que ele não se
lembra que foi ele quem me deu tudo isso.

103
— Isso são todos os presentes que você me deu desde que começamos a
namorar, bem, com exceção das caixas de bombom, que obviamente eu
comi. Nossa aliança de compromisso está aí dentro também.
Ele solta um suspiro e volta seu olhar para mim.
— Savy, achei que você tinha desistido dessa ideia maluca de terminar
comigo.
— Eu tinha, eu vim na festa que teve ontem, vim para te dizer que
estava disposta a te dar uma segunda chance. Mas então te vi se
pegando com a vadia da Aletta no corredor do apartamento do Drake.
Ele abre a boca para dizer algo, mas o interrompo antes que ele possa.
— Não. Não negue, não tente se explicar...Eu vi muito bem o que você
estava fazendo com ela.
— Savy... — Ele chama meu nome me olhando com cara de filhotinho.
— Acabou, Vincent. E agora eu realmente quero dizer que acabou tudo
entre nós. Nosso namoro, nossa amizade, tudo. Achei que o melhor era
te trazer tudo isso, já que você quem me deu, você decide o que fazer
com isso, se quiser pode jogar fora ou colocar fogo. E não se preocupe,
não precisa devolver os presentes que eu te dei. Até nunca mais. — Digo
e me viro, ando rapidamente. Preciso sair daqui.
Quando estou quase virando o corredor e ficando fora da vista de Vince,
ele começa a falar.
— Tudo bem, ontem eu fiquei com a Aletta, confesso, ok? — Suas
palavras me fazem parar. -Mas eu só fiquei com ela por que você estava
andando por aí exibindo aquele cara mais velho, você estava me
rejeitando e eu sou homem, Savy...Eu só estava me aliviando até poder
ter você de volta, não significou nada, nunca significou. Por favor, Savy,
eu te amo.
Suas palavras aquecem meu coração, sinto minha determinação
fraquejar, mas somente por um breve instante. Lembro-me do que ele
fez, de quem ele é e nunca vai deixar de ser.
— Adeus, Vincent. — Digo com a voz fria, sem nem ao menos me virar e
olha-lo nos olhos, então recomeço a andar, caminhando cada vez para
mais longe dele enquanto Vince grita meu nome.

Alguns dias depois...
Ando por entre as prateleiras repletas de livros procurando por
especificamente um. Aquele que eu espero que me faça entender melhor
a matéria do Sr. Patterson.
Assim que o localizo pego-o e retorno para meu lugar. Abro no capítulo
que me interessa e tento fazer aquele amontoado de letras fazerem
algum sentido para mim.

104
Leio e releio o capítulo, depois pego minhas anotações da aula e
comparo ambos. Depois de muito analisar chego a uma conclusão. Das
duas uma; Ou o autor desse livro viajou bonito na hora de escrevê-lo,
ou meu professor não sabe de nada.
Fecho o livro frustrada e massageio minhas têmporas, acho que estudei
tanto que meu cérebro virou geleia.
Em meio ao silêncio da biblioteca, a voz de JJ Lawhorn começa a
cantar, constrangidamente percebo que sua voz vem direto de dentro da
minha bolsa.
Alguns outros estudantes que também estão passando sua tarde
estudando me olham com caras zangadas e a Sra. Lacey, a
bibliotecária, me olha feio e faz “Shhh” para mim.
Olho para ela com um olhar de desculpas e apressadamente abro
minha bolsa e agarro meu celular.

JUSTIN CORD chamando...

— Alô? — Atendo sussurrando.


— Alô, oi Savannah sou eu, Justin.
— Eu sei, seu nome apareceu na tela.
— Ah é, verdade. Então, como está?
— Estou muito bem.
— Que bom, eu estou bem também, caso queira saber.
— Claro, desculpe.
— Shhh. — Sra. Lacey faz ruidosamente.
— O que você quer Justin? Estou um pouco ocupada agora. — Digo
tentando falar mais baixo ainda.
— Sinto muito, não queria atrapalha-la. Estou ligando porque gostaria
que você jantasse comigo hoje.
— Jantar? Com você? — Pergunto confusa, realmente não espera por
esse convite.
— Sim, hoje à noite.
— Por quê? Você nunca me convidou para jantar antes.
— Eu sei...Então, você está livre hoje a noite?
— Ann sim, estou.
— Ótimo. Que tal umas 8 horas, no meu apartamento?
— Eu não disse que iria. — Digo mais rispidamente do que eu pretendia
e se faz silêncio no outro lado da linha.
— Por favor, Little Nips. — Ele pede com a voz mansa.

105
— Tudo bem, eu vou.
— Ótimo, estarei te esperando. Oito horas no meu apartamento, não se
esqueça.
— Certo, até lá então.
— Até as oito, tchau.
Encerro a ligação e guardo meu celular. Por que será que Justin me
convidou para jantar? Que coisa estranha.
Um movimento ao meu lado chama minha atenção, quando me viro dou
de cara com a barriga da Sra. Lacey.
Olho para cima, ela está com os braços cruzados e me lança um olhar
repreensor.
— Desculpe. — Digo e lhe dou meu melhor sorriso de desculpas.

Respiro fundo antes de bater a porta, estou quinze minutos atrasada.
Bato três vezes na porta e dois segundos depois Justin a abre, tão
rápido que me faz pensar se ele estava ao lado dela esperando.
— Oi. — Justin diz percorrendo meu corpo com seus olhos, se
demorando mais nas minhas pernas vestidas com meu jeans preto.
— Oi, desculpa o atraso, foi o trânsito.
— Sem problemas, o jantar acabou de ser servido, entre. — Ele diz com
um sorriso largo no rosto.
Ele abre espaço e eu entro em seu apartamento. A última vez que eu
estive aqui, ele abriu essa porta e eu pulei em seu colo e ataquei sua
boca, depois ele me levou até seu quarto e fez o melhor sexo da minha
vida.
Só de lembrar disso sinto meu corpo se aquecer.
Entro no apartamento e um cheiro delicioso de comida me recebe,
assim como uma musica baixa de fundo.
— Que bom que você veio, obrigado por aceitar meu convite.
— Claro, sem problemas. Obrigado você por me convidar.
— A comida está na mesa nos esperando, podemos? — Ele pergunta
fazendo gesto para que eu vá à frente.
Sigo em direção à sala de jantar, quando entro vejo a mesa posta para
dois. Alguns utensílios de porcelana fazem companhia para os pratos,
os talheres e as taças. Um cheiro muito bom sai deles.
— Por favor. — Justin diz puxando a cadeira para mim.
— Obrigada. — Digo sentando-me.
— Está faltando o vinho, volto em um minuto.
— Tudo bem.

106
Ele some pela porta, indo em direção à cozinha e logo retorna
segurando uma garrafa na mão.
Ele a abre e serve as duas taças até a metade, deixa a garrafa na mesa e
se senta em seu lugar, na cabeceira da mesa.
— Gostaria que eu lhe servisse?
— Por favor.
Ele pega meu prato e me serve, o cheiro delicioso e a aparecia suculenta
da comida abrem meu apetite. Depois ele serve a ele mesmo e volta a se
sentar.
Ele sorri para mim e eu sorrio para ele, sem graça.
— Espero que você goste.
Pego os talheres, coloco uma pequena quantidade neles e levo até a
boca. O gosto é tão delicioso quanto o cheiro e a aparência.
— Está delicioso. — Digo limpando a boca no guardanapo.
— Que bom, pedi para a Sra. Bennet caprichar. — Ele diz e toma um
gole de vinho.
— Quem?
— Sra. Bennet, minha empregada.
— Ah sim.
Continuamos comendo em silêncio, mas não aquele silêncio confortável,
e sim o muito desconfortável. Às vezes ele me olha e sorri sem graça e
eu retribuo o gesto igualmente sem graça.
Justin se mexe frequentemente na cadeira e parece inquieto, como se
quisesse dizer algo.
O que eu mais temia aconteceu, depois que transamos a relação entre
nós dois ficou estranha, isso é obvio pelo silêncio constrangedor e a
tensão pairando no ar.
— Como vão as aulas? — Ele pergunta de repente.
— Vão bem. — Digo e ele assente. Droga, devo me esforçar mais para
termos uma conversa, ele está se esforçando.
— Estou feliz que logo estarei formada, a experiência de fazer uma
faculdade é maravilhosa, mas sinceramente não vejo a hora disso tudo
terminar. — Digo e ele ri.
— Eu pensava da mesma forma, acho que todos os universitários
pensam assim. Não são todos que aguentam a pressão, se formar é algo
grande. Fico feliz que você esteja no seu caminho para conseguir mais
essa conquista na sua vida.
— Obrigada. Mas e você, como está o trabalho?

107
— Está muito bem, obrigado. Desde que fui promovido minhas
responsabilidades triplicaram e o meu tempo para fazê-las parece que
diminuiu, mas estou feliz. Gosto muito do que eu faço.
— A chave para o sucesso. — Digo.
— Com certeza.
Terminamos nosso jantar conseguindo amenizar o clima, depois que
conseguimos engatar uma conversa, o silêncio constrangedor não
voltou a nos incomodar mais.
— Gostaria de sobremesa? A Sra. Bennet preparou uma Mousse de
chocolate deliciosa.
— Adoraria.
— Ótimo, eu vou buscar, por que não me espera sentada mais
confortavelmente no sofá?
— Claro. — Pego minha taça de vinho e sigo para a sala. Sento-me do
sofá e deposito a taça na mesinha de centro.
Alguns instantes depois, Justin volta trazendo minha sobremesa e sua
taça de vinho reabastecida.
— Não vai comer? — Pergunto ao ver que ele trouxe sobremesa apenas
para mim.
— Não, mas por favor, fique a vontade.
Pego a colher e levo até a boca, sinto o gosto de chocolate e deixo a
mousse derreter em minha língua.
— Deliciosa mesmo, transmita meus parabéns a Sra. Bennet pelo jantar
maravilhoso e por essa sobremesa divina.
— Farei isso. — Ele diz com a voz rouca e baixa.
Levo mais uma porção de sobremesa a boca, Justin observa todos os
meus movimentos.
Seguro entre meus dedos o morango grande, suculento e lambuzado de
chocolate que enfeita a mousse e levo até a boca, mordo e solto um
gemido de apreciação.
— Tudo bem, já chega. — Justin diz impaciente.
Ele deposita sua taça na mesa, perto da minha, e rapidamente tira das
minhas mãos a sobremesa, também a depositando na mesa.
— Olha Savannah, eu te chamei aqui hoje porque eu preciso falar com
você. — Seu tom de voz é urgente.
— Então diga.
— A última vez que nos vimos... — Sua voz falha e seu olhar se torna
selvagem, sei que assim como eu ele está lembrando da nossa noite
juntos. — Bem, aquela noite foi muito intensa para mim, foi incrível,
não consigo encontrar palavras que possam te dizer o quanto aquela
noite mexeu comigo.

108
Ele faz uma pausa, esperando que eu diga algo, quando permaneço em
silêncio, ele continua.
— Eu nunca senti aquilo antes, aquele desejo, aquela fome de você,
aquela vontade incontrolável e enlouquecedora de te possuir...Eu nunca
perdi o controle desse jeito com nenhuma mulher. Eu nunca senti que
desejava tanto alguém que faria qualquer coisa para tê-la.
Ele para de falar novamente e vem se sentar mais perto de mim, com
esse movimento sinto meu coração saltar e meu corpo se arrepiar, só de
tê-lo mais perto.
— Lembra que eu havia te pedido apenas uma noite? Apenas uma noite
para saciar meu desejo por você.
— Lembro, e foi isso que eu te dei naquela noite que vim aqui.
— Sim, você me deu o que eu pedi, mas o problema Savannah...É que
eu quero mais. — Ele diz me olhando intensamente, seus lindos olhos
azuis parecem aquecer meu corpo, e essa palavra, “mais”, me faz tremer
levemente, só de pensar em ter outra noite daquelas com Justin.
— Como assim mais? — Pergunto para saber o que esse “mais” implica.
— Meu desejo por você não cessou com aquela noite, ele só aumentou.
Depois que você foi embora e durante esses dias que ficamos sem nos
falar, eu pensei sobre o assunto. Pensei no que eu estava sentindo e nas
consequências disso, por isso que eu não te liguei ou fui falar com você
durante dias, porque eu estava tomando uma decisão.
— E o que você decidiu? — Pergunto começando a ficar ofegante.
— Que eu quero você, não só por uma noite, duas ou três. Eu quero
você na minha cama, todos os dias.
Suas palavras surtem efeito diretamente no meio das minhas pernas,
sinto um calor infernal.
— Não acho que eu entendo, Justin nós...
— Me escute, apenas me escute. — Ele se aproxima mais.
— Savannah, eu percebi que meu desejo por você é forte demais para
ser saciado com uma misera noite ou duas. Eu preciso de mais, muito
mais. Por isso, eu gostaria de te fazer uma proposta.
— Que proposta? — Pergunto curiosa.
— Que a gente continue sendo amigos, mas amigos com um pouco mais
de intimidade.
— Você quer dizer amigos com benefícios?
— Isso, exatamente isso que eu quero. Eu sei que você ama o Vince e
disse que iria voltar para ele, mas depois daquela noite...Algo te fez
mudar de ideia e vir até mim, posso presumir que aquela noite que
tivemos significa que você e o Vince ainda não voltaram?
Ouvir sobre Vince ainda é doloroso demais, então não respondo, só
concordo.

109
— E vocês ainda estão separados, certo?
Concordo com um balançar de cabeça novamente.
— E você ainda quer voltar com ele?
— Não. A minha história com Vince acabou definitivamente. Eu ainda o
amo, mas está tudo acabado entre nós.
— Ele te fez algo ou...
— Por favor, não pergunte, não quero falar sobre isso.
— Tudo bem, não vou perguntar nada sobre esse assunto. Mas posso te
perguntar qual é a sua resposta para minha proposta?
— Sinceramente não tenho uma. Não sei o que pensar sobre isso.
— Você me deseja? Sente tesão por mim? Quer que aquela noite se
repita muitas e muitas vezes? — Ele coloca a mão em meu joelho e me
pergunta.
— Sim. — Respondo quase num sussurro.
— Então, aí está sua resposta. Por favor, Savannah, diga que sim.
— Eu...Eu não sei...
— Sua indecisão é por causa do que você sente por Vince?
— Não. — Respondo em um tom zangado. Por que ficar falando o nome
dele?
— Então por quê? Se eu te desejo e você me deseja...
— Não sei, Justin. Como seria essa relação de amigos com benefícios?
— Não tem muito mistério, nós continuaríamos amigos, porém faríamos
sexo. Mas tenho que deixar claro duas coisas. Primeira coisa é que
ninguém, ninguém pode ficar sabendo. Você sabe muito bem qual seria
a reação das nossas famílias se descobrissem, não é? Sem falar que
Seth me mataria por tocar na irmãzinha dele.
— E a segunda? — Pergunto.
— A segunda é que não pode haver, em hipótese alguma, envolvimento
amoroso. Nós não seremos um casal, não pode existir entre nós mais do
que amizade e respeito. O que eu quero dizer é que...Você não pode se
apaixonar por mim, Savannah.
Olho-o chocada. Quanta pretensão, como se eu fosse me apaixonar por
ele. Já gastei minha cota de homens galinhas pelo resto da vida,
aprendi minha lição, homens como Vince e Justin, nunca mais.
— Isso não é problema.
— Ótimo. Isso quer dizer que você aceita minha proposta? — Ele me
olha com esperança.
Aceito ou não aceito?

110
Talvez se eu me envolver constantemente com um homem como Justin,
esquecer Vince seja mais rápido.
Além do mais, o jeito que Justin fala sobre o seu desejo por mim, infla
meu ego. Minha autoestima está em queda depois da traição dos meus
dois últimos namorados, talvez dormir com um homem sexy como
Justin me ajude a me sentir mais confiante, e quem sabe ter mais
experiência para garantir que meu próximo namorado não tenha que
procurar outra mulher para satisfaze-lo.
Olho nos fundos dos olhos de Justin e enxergo o tamanho da vontade
dele de que eu aceite sua proposta.
Pensando bem, não tenho nada a perder e muito a ganhar. Claro, se
ninguém descobrir, porque se isso chegar aos ouvidos do meu irmão ou
do meu pai, Justin é um homem morto e eu me tornarei uma
prisioneira eterna.
— Tudo bem, eu aceito. Ninguém fica sabendo e nenhum de nos dois se
envolve emocionalmente, combinado?
— Combinadíssimo, agora venha aqui.
Justin me agarra e me puxa para seu colo, sua boca vem na minha
furiosamente. Ele me beija desesperadamente e com suas mãos fortes
aperta meu corpo.
— Quarto. — Ele se afasta apenas o suficiente para proferir essa
pequena palavra e volta a atacar minha boca.
Levantamo-nos desajeitadamente, com ele ainda me segurando nos
braços e sua boca ainda devorando a minha.
Aos tropeços e gemidos seguimos para seu quarto. De repente Justin
para e se afasta, caminha até o sofá e eu encaro suas costas confusa.
— O que foi? — Pergunto.
Ele se vira para mim e vem caminhando em minha direção com a
mousse nas mãos e um sorriso largo e safado nos lábios.
— Esquecemos a sobremesa.

111
Erros do passado
Justin
Oito anos atrás...
Decido deixar a porta aberta, assim não terei que ficar indo abri-la para
alguém a cada cinco minutos.
Não sei de onde está brotando tanta gente, pelo que eu me lembre, eu
havia convidado metade das pessoas que estão aqui. Provavelmente a
outra metade seja formada por acompanhantes e penetras.
Vejo mais duas amigas gostosas entrando pela porta e dou de ombros.
Para mim não importa, quanto mais pessoas melhor, afinal essa é uma
festa, mas não qualquer uma, é a porra da minha festa de aniversário.
Isso aí, 21 anos, baby!
Retorno da cozinha com uma cerveja e me apoio na parede enquanto
tomo um gole da bebida gelada. Observo todos com um sorriso no rosto,
eles estão dançando, conversando, se pegando...Isso sim é que é uma
festa.
O pessoal vai falar a semana inteira.
Meu sorriso some de meu rosto quando um Seth com uma expressão
confusa entra em nosso apartamento, ele olha todas as pessoas com
uma cara estranha e assim que me avista, sua expressão muda para
uma carranca.
— Você. — Ele diz parecendo bravo enquanto se aproxima.
— Hey, cara. Quer uma cerveja? — Digo despreocupadamente.
— Justin, o que está acontecendo aqui?
— O que parece, uma festa.
— Não me diga, gênio. Eu quero saber o que todas essas pessoas estão
fazendo aqui, você tinha dito que iria convidar poucas pessoas. — Ele
cruza os braços e faz cara feia, como se ele fosse o pai e eu a criança
que o desobedeceu e agora deve se explicar.
— Eu convidei, mas não tenho culpa que essas pessoas convidaram
outras pessoas e essas outra pessoas mais pessoas.
— Justin, deve ter umas 30 pessoas aqui. — Ele diz parecendo
indignado enquanto observa o ambiente. - E a maioria é mulher. Você
não presta mesmo, não é?

112
— Ah qual é, cara. Por que em vez de você ficar aí com essa cara feia e
reclamando de tudo, você não pega uma cerveja e aproveita a minha
festa de aniversário?
— De jeito nenhum, sei muito bem como essa festa vai ficar depois de
mais umas cervejas, ou vou é para o meu quarto.
— Como queira, mas não sabe o que está perdendo. Não esquece que
depois você vai ter que me compensar por perder a festa do seu melhor
amigo. — Digo com um sorriso brincalhão enquanto ele se afasta.
— Ah, claro. Pode deixar que eu vou fazer isso mesmo. — Ele diz
debochadamente e some no corredor que leva aos quartos e banheiro.

Já faz quase duas horas que a festa começou e ela está com tudo. Já
avistei cinco possíveis candidatas a se divertir comigo em meu quarto
depois. Talvez eu leve as cinco, já que está difícil de decidir. Sim, as
cinco gostosas e eu daria uma bela after party.
Quando estou bebendo mais um gole da minha cerveja, sinto mãos frias
tocando meu braço. Viro-me e me deparo com um sorriso malicioso
enfeitando uns lábios carnudos que eu conheço muito bem.
— Eva.
— Justin. — Ela me cumprimenta chegando mais perto.
— Não sabia que você estava na minha festa.
— Cheguei agora a pouco. Sabe, fiquei magoada por você não ter me
convidado. Mas acho que eu entendo, essa relação de ex namorados é
complicada mesmo.
— Eva, pela última vez, nós nunca fomos namorados. Eu não faço isso
e você sempre soube muito bem disso.
Eva McKenna é uma das mulheres mais gostosas que eu já tive o prazer
de provar. Não, na verdade, ela é a mulher mais gostosa.
Cabelos negros e sedosos, olhos azuis tão claros que até dói olha-los,
rosto fino, nariz empinadinho e lábios carnudos. E é claro, um corpo
sensacional, de deixar qualquer um louco.
Conheci Eva há uns nove meses, tivemos uma noite louca de explodir o
cérebro. Ela parecia um animal voraz, não sabia se era eu quem a
estava comendo ou o contrário. Depois disso nos encontramos mais
algumas vezes – ela com certeza não era mulher de uma vez só – ela
sempre vinha até mim com um apetite insaciável. Quando me dei conta,
já estávamos nesse lance a mais de quatro meses. Eu nunca havia
transado tantas vezes com uma única mulher antes, mas Eva era mais
velha e uma loucura na cama, então eu decidi que tudo bem manter
relações sexuais com ela frequentemente.
Obviamente ela sempre soube que não podia esperar mais de mim do
que orgasmos de enlouquecer a mente, ela tinha concordado com meus
termos.

113
Só que o tempo foi passando e sem me dar conta, a nossa relação foi se
tornando cada vez mais exclusiva, chegou a um ponto que eu não
estava vendo mais ninguém a não ser Eva. No começo eu não me
importei muito com isso, afinal ela satisfazia meus desejos e não me
cobrava em nada.
Mas tudo que é bom chega a um fim, e o nosso acordo de prazer mútuo
não foi diferente. Eva começou a ficar grudenta e muito ciumenta, e
quando ela começou a agir como se fosse minha namorada um alerta
vermelho soou em alto e bom som na minha cabeça. Eu tinha que dar o
fora.
Por mais que eu fosse sentir saudades do seu corpo maravilhoso e dos
orgasmos deliciosos que ela me deu, eu sabia que tinha que acabar com
aquilo antes que se tornasse algo que eu absolutamente não queria.
Um relacionamento sério.
A ideia de namorar, mesmo que uma gostosa como Eva, me deixou em
pânico. Afinal eu não sentia nada por ela, nada além de tesão, e com
certeza eu não queria renunciar a minha liberdade de poder enfiar meu
pau onde eu bem entendesse.
Então eu cortei relações com ela, parei de atender seus telefonemas,
parei de responder suas mensagens, parei de lhe dar atenção. Só a
constatação de quão perto eu havia chegado de ter uma relação de
verdade, deixou meu estômago doente. Depois de uma semana sem
noticias de Eva, alivio me inundou por saber que ela tinha se tocado e
que tudo estava acabado.
Pena que eu estava enganado. Eva não aceitou muito bem a
rompimento do que quer que tenha sido o que tivemos, então
assustadamente comecei a perceber por suas ações e conversas, que ela
realmente achava que éramos namorados, ela ignorou completamente
meus avisos quando nos conhecemos e começou a agir como uma
mulher age no fim de um relacionamento.
Agora faz semanas que ela não larga do meu pé, sempre tentando reatar
um namoro que nunca existiu.
— Ah Justin, você sabe muito bem que o que tínhamos era algo
especial. Tínhamos um relacionamento tão confortável, estava
funcionando para ambos os lados. Sem falar que o sexo era ótimo.
Estou com saudades de você, docinho.
— Nós não tínhamos um relacionamento, Eva. Pelo menos não do jeito
que você acha que tínhamos. — Digo tomando um gole da minha
cerveja e olhando desesperadamente para os lados, implorando com os
olhos que alguém venha me salvar.
— Docinho, pare com isso, pare de falar isso. Pare de ser tão teimoso e
volte para mim, prometo ser uma namorada muito compreensiva, você
pode até dar umas escapadinhas de vez em quando, podemos até dividir
algumas das suas putinhas. O que você acha?

114
Droga, agora ela conseguiu me deixar ligado. Só de pensar em Eva e
mais alguma gostosa me chupando quase, quase me faz ter vontade de
desistir dessa ideia de afasta-la.
Mas é melhor não arriscar, Eva já se mostrou ser uma mulher difícil de
desgrudar, não posso ceder à tentação, por mais difícil que seja.
— Sinto muito, baby. Não vai rolar.
Nesse momento certo movimento me chama a atenção. Uma mulher
vinda da direção do quartos passa correndo por todos, indo em direção
a porta. As pessoas resmungam, mas abrem caminho para ela.
Quando, para desviar de um casal, a mulher se vira levemente em
minha direção, reconheço-a.
— Jane? — Chamo a namorada do meu melhor amigo. O que será que
ela está fazendo aqui? Como ela ficou sabendo da minha festa?
Ela vira o rosto e procura pela voz que a chamou, seus olhos se
encontram com o meu e foda...Seu lindo rosto está machado de
lágrimas, sua expressão é uma mistura de nojo e tristeza. Ela não diz
nada para mim, retoma sua corrida e sai pela porta.
— Jane, espera. — Um Seth despenteado vem da mesma direção que
Jane veio alguns segundos atrás.
— Jane, por favor, meu amor. — Ele grita e vai tirando as pessoas do
caminho com violência.
Passa pela porta correndo atrás da namorada, escuto seus gritos
abafados pela musica chamando por ela.
“Droga, que porra será que aconteceu?”
— Segura aqui, gata. — Digo empurrando minha cerveja para Eva.
— Docinho, onde você vai? — Ela pergunta me olhando confusa, mas
não me dou o trabalho de respondê-la e vou correndo atrás da Seth.
Quando abro a porta do prédio e saio para o ar gelado da noite, vejo
Seth alcançando Jane e a fazendo olha-lo segurando em seu braço e
virando-a para ficarem frente a frente.
Vou correndo até eles e paro alguns passos longe com medo de invadir
o espaço dos dois.
— Me solta, Seth. — Jane grita tentando se livrar das mãos fortes de
Seth. O rosto dela está coberto de lágrimas.
— Não, você tem que me ouvir, por favor, meu amor.
— Não me chame mais assim, nunca mais me chame assim. Deixe-me
em paz.- Jane está descontrolada, não para de chorar.
— O que você quer dizer com “nunca mais”? — Seth pergunta e posso
ouvir medo em sua voz, ele vai lentamente soltando os braços de Jane.
“Será que devo interferir? Ir embora? E se eu precisar me meter no meio
dos dois?”

115
— Você entendeu perfeitamente, Seth. Está tudo acabado entre nós.
Caralho!
— Não! — Seth diz soltando um gemido de dor ao mesmo tempo em que
fala.
— O que está acontecendo? — Pergunto, mas os dois me ignoram.
— Jane, por favor, não faça isso comigo. Eu te amo. — Seth diz
parecendo pronto a cair de joelhos e implorar.
Jane solta uma risada sem humor nenhum, repleta de magoa e dor, os
mesmos que eu observo em seus olhos que brilham e estão vermelhos
por causa das lágrimas.
— Não minta mais para mim, Seth. Se você me amasse não estaria
dando uma festa que mais parece uma orgia. Se você me amasse não
estaria beijando aquela garota seminua no seu quarto. — A voz de Jane
falha no final da frase e ela leva a mão até a boca para segurar os
soluços.
“Opa, espera aí! O que ela falou que o Seth estava fazendo? Devo ter
entendido mal, não pode ser.”
— Meu amor, não é assim, você tem que acreditar em mim. Aquela
mulher apareceu no meu quarto, ela se jogou em cima de mim. — A voz
de Seth está desesperada assim como a expressão em seu rosto.
Jane solta uma risada de escárnio como quem não acredita.
— Essa desculpa já é velha, Seth. Pelo menos seja homem suficiente e
admita o que você fez.
— Mas eu não fiz nada. Eu te amo e só quero você, meu amor. — Ele
tenta levar sua mão até o rosto dela, mas Jane recua um passo.
— Não me toque. — Ela diz com uma cara de nojo e vejo uma dor
profunda se estabelecer nos olhos de Seth.
— Jane, pelo amor de Deus, me deixe explicar. Eu sei o que parece...
— Sim, eu também sei o que parece. Parece que eu me enganei com
relação a você, você não é quem eu achava que era. Você é egoísta, você
só pensa em sexo, em diversão, você é...Você é...Você é igual a ele. —
Ela aponta rapidamente para mim e me lança um olhar de nojo
misturado com pena. O que me faz recuar um passo.
Seth nem faz menção em se virar para mim, ele olha para Jane
fixamente e só para ela.
— Minha linda, não fala assim, você me machuca. Eu te amo, eu juro
por tudo que é mais sagrado que a única mulher que eu quero é você.
Eu não fiz nada com aquela mulher e nem com nenhuma outra depois
que eu conheci você. Eu não sabia dessa festa, na verdade eu sabia mas
não era para ser uma festa assim, era para ser só uma pequena
comemoração, as coisas saíram do controle, meu amor. Acredite em
mim.

116
— Como eu fui burra. Fui tão burra em achar que você na faculdade,
com todas aquelas mulheres gostosas lá, iria ser fiel a mim, uma garota
do ensino médio. Eu sou mais uma dessas garotas que se tornam tolas
por estarem apaixonadas, que não enxergam o óbvio. Mas eu não vou
mais ser assim. — Ela diz secando as lágrimas e parecendo ter acabado
de tomar uma decisão interna.
— Jane, por favor...
— Não, Seth. Chega. Se é isso que você quer, se é assim que você quer
viver... — Ela faz um aceno com a cabeça em direção ao nosso
apartamento. — Então seja muito feliz fodendo qualquer uma por aí.
Por que eu quero um homem que queira só a mim, quero um homem
que me ame e que queira se casar comigo, não quero alguém que só
pensa no prazer e não percebe que existem coisas mais importantes do
que sexo. Eu não quero falar com você nunca mais, e muito menos te
ver. Esqueça que eu existo, vá viver a sua vida desregrada e me deixe
em paz. Adeus. — Ela se vira e começa a caminhar para longe, Seth
está meio curvado, como se estivesse sentindo uma dor muito forte no
peito.
— Não, pelo amor de Deus, não vá embora meu amor. Não me deixe. —
Seth vai até Jane e tenta segura-la, mas ela se esquiva violentamente e
olha para ele com fogo nos olhos.
— Já disse para não me tocar, não quero suas mãos em mim, Deus
sabe onde elas estiveram e o que fizeram. Deixe-me em paz, Seth.
Acabou tudo entre nós e eu não quero mais saber de você. Eu vou
sofrer no começo, mas sei que vou superar, eu vou te esquecer. Vai ser
fácil, vai ser só lembrar do que eu vi hoje.
Seth solta um grunhido que vem do fundo do peito, um grunhido de
quem está com a alma quebrada. Ele cai de joelhos na frente de Jane a
agarra suas pernas, ele chora igual a uma criancinha. Diante de
tamanho desespero, sinto meus próprios olhos umedecerem.
— Não, Jane. Por favor, não faça isso comigo. Não sei viver sem você,
meu amor. Eu sou quem você sempre achou que eu era, eu sou o
homem certo para você, eu quero me casar com você...Deus, eu quero
viver o resto da minha vida com você, então não me deixe.
Jane coloca as mãos no rosto e seu corpo começa a tremer
violentamente.
— Eu te amo tanto, Seth. Por que você fez isso comigo? — Sua fala é
quase inteligível devido a quantidade de soluço e choro que ela produz.
— Eu também te amo, meu amor. Eu não fiz nada, nada, eu juro.
Acredite em mim. — Seth se agarra firmemente as pernas de Jane e
chora enquanto implora que ela não vá.
Olho ao redor do estacionamento, mas não vejo mais ninguém
observando a cena. Sinto-me um invasor, não deveria estar aqui, isso é
intimo demais, mas não sei o que fazer. Talvez Seth precise de um
ombro amigo, talvez eu possa ajudar de alguma forma.

117
— Não aguento mais isso, está doendo muito. Preciso sair daqui, me
solte. — Jane diz se desvencilhando do aperto de Seth. Ele
relutantemente e lentamente afrouxa os braços e Jane dá um passo
para trás.
— Não me procure mais. — Ela solta em meio aos soluços e sai dali
andando apressadamente. Mesmo com ela se afastando posso ver seus
ombros balançando violentamente.
— Não, Jane, não me deixe. Jane...Jane...Meu amor... — Seth grita para
ela, mas ela não volta. Ele apoia as mãos no asfalto e chora.
Com meu coração doendo por causa do sofrimento do meu amigo, com
cuidado me aproximo dele.
— Seth, venha. Você tem que sair daqui, venha irmão. — Paro ao seu
lado e lhe estendo a mão.
Ele controla o choro e gradualmente seus soluços param. Ele
lentamente levanta o olhar em minha direção, e o que eu vejo ali me
provoca arrepios. Ele me olha com puro ódio.
— Você. — A palavra reverbera em seu peito e sai como um rugido, um
olhar assassino me encara. — É tudo culpa sua, tudo culpa sua e dessa
sua festa desgraçada. — Ele diz se levantando e eu recuo um passo.
— Seth, cara, calma. — Digo com medo.
— Calma? Olha só o que você fez! — Ele grita e sua voz ecoa no
estacionamento vazio.
— Por sua culpa a mulher que eu amo me deixou. Você convidou essas
pessoas para a nossa casa, você convidou aquela mulher nojenta e olha
o que ela fez! Ela acabou com a minha vida, vocês dois acabaram com a
minha vida. — Ele grita a plenos pulmões, seu rosto fica vermelho
devido à raiva, uma veia salta de seu pescoço devido pressão.
— É tudo sua culpa, seu filho da puta. Por que você tem que ser esse
idiota de merda que você é? Por que você tem que ser um prostituto do
caralho? Por que você fez isso comigo, hein? — Ele se exalta mais se
isso é possível – e se aproxima mais de mim, com passos ameaçadores.
— É tudo a sua culpa. — Ele repete e com um passo fecha a distância
entre nós, suas mãos se fecham em minha camisa e ele me puxa com
violência para perto, nossos rostos a centímetros um do outro.
— Se a Jane não acreditar em mim, se ela não voltar para mim, eu juro
que eu vou acabar com você. Se ela não voltar, eu juro, Justin, eu vou
te matar seu desgraçado. — Ele diz com os dentes cerrados e os olhos
vermelhos pelo choro e pela raiva.
E a única coisa que eu consigo pensar agora é:
“Você ferrou com tudo, Justin. Você ferrou com tudo, seu pedaço de
merda.”

118
Pego uma cerveja na geladeira e caminho até o sofá, ligo a TV e deixo no
canal de esportes. Ao me sentar uma dor incomoda atinge minhas
costelas, levanto minha camisa e observo os hematomas.
Há alguns dias deixaram de ser roxos e agora estão meio amarelados.
Pois é, Seth cumpriu sua palavra. Obviamente ele não me matou, mas
fez um belo de um estrago na minha cara e em algumas outras partes
do meu corpo.
Uma semana depois do meu aniversário, Jane ainda não queria ver
Seth nem pintado de ouro, então ele veio para cima de mim com toda a
sua raiva e me deu uma bela de uma surra. Eu não revidei em nenhum
momento, apenas fiquei deitado no chão deixando que ele me batesse.
Eu não poderia bater em Seth, nem mesmo para me defender, quando
eu sabia que ele tinha razão em estar furioso comigo. Ver a dor nos
olhos dele durante toda aquela semana e saber que era culpa minha,
doeu mais do que seus golpes.
Ele e meu melhor amigo, e eu o amo. E mesmo agora, um mês depois
de Jane terminar com ele, ele ainda anda por aí com aquele olhar triste
nos olhos e aquela expressão desolada no rosto. Toda vez que eu olho
para ele, tenho vontade de pedir que ele me bata de novo. Nunca
imaginei que Seth ficaria assim com o termino de seu namoro, ele deve
amar Jane de uma forma que eu nunca vou compreender.
Por sorte, ele não deixou de falar comigo. Claro que nossa amizade não
está mais como antes, as coisas estão estranhas entre nós, mas pelo
menos ele não olhou em meus olhos e disse que nunca mais queria
falar comigo. Não sei se eu aguentaria isso, Seth e eu somos amigos
desde antes de ambos sabermos falar direito, ele não é só um amigo, é
meu irmão.
Espero com todo meu coração que ele consiga fazer Jane acreditar em
sua inocência, porque do contrário, não tenho certeza que Seth vá
algum dia me perdoar.
Numa noite algumas semanas atrás, quando eu não estava
conseguindo dormir por causa das dores dos meus hematomas, eu fui
até a cozinha buscar um analgésico, chegando lá ouvi o barulho da TV
vindo da sala. Quando espiei pela porta, vi Seth sentado no sofá
encarando a TV, mas sem realmente assistir o que estava passando, e
com um engradado de cerveja como companhia. Seus olhos estavam
vermelhos e inchados e ele parecia uma merda.
Aproximei-me meio hesitante e me sentei na poltrona longe do seu
alcance, ele não olhou em minha direção. Ficamos sentados em silêncio
por um tempo, logo ele começou a falar sobre aquele dia e eu apenas
fiquei em silêncio, escutando-o.
Era a primeira vez que ele tomou a iniciativa de me contar o que
aconteceu naquela noite.

119
Ele estava em seu quarto, a musica da minha festa chegando aos seus
ouvidos mesmo com a porta fechada, impedindo-o de se concentrar em
seus estudos para as prova finais.
Ele havia se esquecido de trancar a porta. Uma loira platinada com uma
bunda enorme e um peito igualmente grande (eu já havia provado
ambos um mês antes, eram deliciosos) chamada Candy entrou em seu
quarto achando que era o banheiro, ou pelo menos foi isso que ela lhe
disse. Seth indicou a verdadeira direção do banheiro, mas Candy
apenas sorriu para ele e fechou a porta atrás de si.
“O que você está fazendo aqui sozinho, gato?” Ela lhe perguntou.
Seth disse que tentou dispensa-la sem ser rude, porque algo na postura
dela fez um alarme soar em sua cabeça, ele sabia que ter ela em seu
quarto não era algo bom, mas ela se mostrou muito interessada nele e
não parecia que iria sair dali tão cedo.
Seth ficou desconfortável e só queria que ela fosse embora, não queria
ser rude com ela desnecessariamente, mas estava praticamente
expulsando-a do seu quarto.
“Um gato como você não deveria estar sem companhia. Que tal se eu te
distrair um pouco?” Nessa hora ele percebeu que claramente ela estava
disposta a deitar na cama e abrir as pernas para ele, um cara
totalmente desconhecido para ela. Ele se levantou e disse que tinha
namorada.
“E daí? Ela não está aqui, não é? Será o nosso segredinho.” Ela se
aproximou dele e acariciou seu peito, ele se afastou.
“Que foi, gato? Vem aqui, você pode ter o que quiser de mim.” Ela disse
maliciosamente e segundo Seth, ele ficou enojado na hora.
“Não. Por favor, acho melhor você ir embora e procurar alguém que queira
te dar o que você quer.” Seth foi firme, e ela riu.
“É tão fofo você ser fiel, mas nenhum homem é sempre fiel. Todos
possuem um limite, qual é o seu?”
Seth ficou a encarando sem saber o que dizer, ela se aproximou mais e
encostou seus peitos nele.
“Talvez esse seja o seu limite?”
Ela perguntou e surpreendendo Seth, agarrou a barra da sua blusa e
tirou a camisa. E não é que a vadiazinha estava sem sutiã?!
Ela ficou lá com aquelas peitões a mostra e Seth estava chocado demais
para dizer ou fazer algo. Ela o agarrou e jogou-o na cama, subindo em
cima dele e atacando sua boca enquanto se esfregava nele.
Nesse exato momento Jane abriu a porta e viu ele “beijando” Candy, e
anda por cima ela estava nua da cintura para cima.
É claro que ela achou que Seth sabia da festa e que estava a traindo
com aquela loira que estava com ele na sua cama. E o fato de ela ter
passado pela sala e pelo corredor e presenciado várias pessoas se

120
pegando e praticamente fazendo sexo na sua frente, só colaborou para
que ela pensasse que Seth frequentemente estava a enganando e que
nós sempre fazíamos festas orgásticas.
Jane saiu correndo de lá e Seth foi atrás, e as cenas seguintes foram as
que eu acompanhei.
Durante todo esse mês que se passou, Seth vem tentando convencer
Jane que ele não fez nada com Candy, e que foi ela que se jogou em
cima dela. Mas como eles estavam no quarto dele, deitados na cama, às
bocas coladas e ela estava praticamente nua, é claro que Jane não
acreditou nele.
— Filho da puta! — Seth entra em nosso apartamento parecendo
extremamente furioso e bate a porta com força.
Ele começa a andar de lá para cá passando as mãos pelos cabelos e
murmurando xingamentos e ameaças. Por um momento tenho medo,
mas então percebo que sua fúria não é dirigida para mim.
Ele parece tão transtornado e furioso que tenho medo perguntar o que
aconteceu. Mas uma coisa é certa, se ele está tão afetado assim, o que
quer que tenha acontecido tem a ver com Jane.
— Eu vou matar aquele filho da puta, eu juro que vou mata-lo. Se ele
pensa que vai ficar com ela, está muito enganado. Ela é minha, se ele
encostar nela eu vou acabar com ele...Quem ele pensa que é? Se
fazendo de prestativo, carregando a mochila dela... — Ele resmunga
para si mesmo, solta um grunhido de raiva e dá um soco com força na
parede, quando ele soca a parede com toda sua força de novo eu me
levanto.
— Ei cara, calma, você vai se machucar. O que aconteceu? — Pergunto
com cautela. Ele se vira e me olha como se só agora tivesse percebido
minha presença.
— Aquele filho de uma puta aconteceu. — Ele diz descontrolado.
— Que filho da puta? — Pergunto confuso.
— O filho da puta do Ryan Johnson. — Ele diz o nome fazendo uma
careta de nojo.
— Quem é esse?
— Esse é o moleque que está afim da minha Jane. Ele sempre gostou
dela, quando eu a conheci eles estavam tendo um lance, mas ela
acabou ficando comigo, só que esse filho da puta do Ryan sempre
gostou dela. Eles são colegas e ela sempre me disse que eles eram só
amigos, mas eu sei muito bem que ele quer algo mais.
— E o que esse cara fez para te deixar nesse estado?
— Eu fui até o colégio da Jane, queria tentar falar com ela de novo,
faze-la acreditar em mim. Fiquei dentro da minha caminhonete
esperando ela sair, acontece que quando ela estava saindo para ir
embora, ela não estava sozinha. O Ryan “Filho da puta” Johnson a

121
estava acompanhando, carregando a mochila dela e falando alguma
coisa que fez ela rir. Ele a levou até o seu carro e ela entrou, você
acredita nisso? — Ele me contava o que havia acontecido quase
gritando, continuava andando de lá para cá, não conseguindo ficar
quieto. Parecendo pronto para saltar no pescoço da pessoa mais
próxima – infelizmente para mim, essa pessoa sou eu – e estrangula-la
com as próprias mãos.
— É claro que eu os segui, e sabe aonde o desgraçado levou ela? No
cinema...Você acredita que esse idiota levou a minha Jane no cinema?
E ela foi com ele de bom grado, estava sorrindo para ele e os dois
estavam andando juntinhos. E eles foram assistir a um filme romântico,
a porra de um filme romântico.
Caralho, isso é foda. O que será que eu devo dizer para ele? Não faço a
mínima ideia, nunca estive nessa situação antes. Nunca senti ciúmes
em toda a minha vida, de ninguém. Nem mesmo da minha mãe quando
meus irmãozinhos, Holly e Jax, chegaram e ela deu toda a atenção para
eles. Completamente desconheço esse sentimento, então não sei como
ajudar meu amigo.
— E eu não falei a pior parte. Eu fui falar com a Lucy, a melhor amiga
da Jane, para perguntar o que está rolando entre a Jane e esse cara.
Ela estava tão furiosa comigo quanto à própria Jane, ela quase me
bateu por achar que eu tinha traído a amiga dela. E jogou na minha
cara que a Jane vai ao baile de formatura com o Ryan. Ele a convidou
semana passada e ela aceitou, Lucy disse até que elas saíram procurar
por vestidos e que Jane estava animada...Eu é que ia levar ela ao baile.
Ela tinha que estar animada procurando vestido para ficar bonita para
mim, e não para ele. — Ele grita e dá mais um soco na parede.
— Calma, Seth. Você precisa se acalmar ou vai acabar derrubando o
apartamento. — Digo.
— Me acalmar? E como você acha que eu vou conseguir fazer isso? Me
diga, como? — Ele se vira para mim e me olha com seus olhos injetados
de raiva. Recuo um passo, não é uma boa ideia faze-lo redirecionar sua
raiva para mim, ainda estou me recuperando da última vez que isso
aconteceu.
— Cara, não fique com raiva de mim, eu só estou tentando te ajudar. —
Digo erguendo ambas as mãos em sinal de paz.
— Humpf! Você já fez mais que o suficiente. — Suas palavras são frias
como gelo. Seth senta-se no sofá e esconde o rosto nas mãos, ao fazer
isso observo que os nós de seus dedos estão bem machucados.
— Não acredito que a perdi. — Seu tom glacial parece ter ido embora,
agora está mais para um tom de derrota.
— Você não a perdeu, Seth. Jane te ama, sei que vocês vão acertar tudo
logo. — Digo tentando anima-lo.
— Mas ela não acredita em mim, ela acha que eu e a estava traindo.
Deus, e eu não posso nem ficar magoado por ela não acreditar em mim.

122
A cena que ela presenciou, aquela mulher com os seios nus se
esfregando em mim...Droga, se a situação fosse ao contrário, eu
também teria reagido como ela.
— Você vai conseguir provar que não fez nada. Ela tem que acreditar
em você, meu Deus, se tem alguém incapaz de trair, esse alguém é você.
É só olhar na sua cara para ver o quanto a Jane significa para você, não
tem como acreditar que você faria uma coisa dessas. Isso está mais
parecido com algo que eu faria.
— Jane acredita. Ela realmente acredita que eu a trai, ela não quis nem
me deixar explicar, ela disse que uma imagem vale mais do que mil
palavras.
— Talvez ela só precise de mais tempo. — Sugiro. Apesar que um mês já
deveria ter sido tempo suficiente para ela esfriar a cabeça.
— Mais tempo? Mais tempo para que? Para ela ficar saindo com ele e
se esquecer de mim? — Ele me olha desolado, sua voz agora não passa
de um sussurro sem esperança.
— E o que você pretende fazer? Desistir dela e deixar aquele filho da
puta ficar com a sua garota? Olha Seth, você sabe muito bem que esse
negocio de se apaixonar não é comigo, mas se eu fosse apaixonado por
alguém e estivesse na mesma situação que você, o inferno que eu ia
desistir tão facilmente assim e deixar outro ficar com o que é meu. Você
tem que lutar, cara.
— Eu não sei o que fazer, Justin. Eu já tentei de tudo, mas ela não quer
me ouvir. Parece que ela não pode nem me olhar, todas as vezes que eu
fui tentar falar com ela, sua expressão se transformava em nojo. Você
tem noção do que é isso, cara? A mulher que eu amo tem nojo de mim.
— Suas últimas palavras quase não saem, lágrimas de tristeza
escorrem pelo seu rosto.
Nesse momento, pela primeira vez, mesmo sabendo que Jane não é a
culpada nessa história e eu sou, fico com raiva dela. Raiva dela por
fazer meu melhor amigo, meu irmão, sofrer dessa forma. Tenho raiva de
mim também, é claro, mas também tenho raiva dela e até desse tal de
Ryan.
Seth solta um suspiro de fazer doer à alma e se levanta, caminhando
com passos arrastados, segue em direção ao seu quarto.
— Seth? — Chamo-o.
— Hum?
— Você vai desistir?
Ele se vira em minha direção e me olha parecendo sem vida.
— Não, eu não vou. Eu só preciso pensar o que eu tenho que fazer para
tê-la de volta, e eu farei...Qualquer coisa. — Ele diz e volta a caminhar
em direção ao quarto.

123
Sento-me no sofá e tomo um gole da minha cerveja esquecida. Odeio ver
Seth assim, tanto furioso como quando ele entrou aqui, como todo
deprimido. Não sei de qual dos dois Seths eu tenho mais medo.
Sei que é um pensamento egoísta, mas ainda bem que isso nunca
aconteceu comigo...Me apaixonar quero dizer. Não sei se eu aguentaria
passar por isso que ele está passando.
Não aguentaria se alguém destruísse meu coração. É por isso que eu o
mantenho muito bem guardado, e nunca o darei para ninguém.
Ninguém. Nunca.

124
Dependência
Justin
Deixo meu corpo cair na cama.
— Meu Deus. — Fecho os olhos e tento estabilizar minha respiração. —
Se isso não é o paraíso, então não sei o que poderia ser. — Digo
sinceramente e escuto uma risadinha ao meu lado. Abro meus olhos e
admiro a bela mulher deitada a minha direita.
Savannah está deitada de lado, me observando. Ela segura o lençol
branco na altura do peito, escondendo suas curvas delicadas, seus
cabelos estão espalhados pelo travesseiro, parecendo uma capa de
veludo. Suas bochechas estão coradas, seus lábios inchados devido aos
meus beijos incessantes e seus olhos brilham com satisfação.
“Deus, como ela é linda!”
Viro-me de lado para ficarmos frente a frente. Não resisto à tentação de
tocar sua pele perolada e macia, então estico minha mão e acaricio a
pele nua de seu ombro.
— Então? — Pergunto dando-lhe um sorriso de canto. — Acha que eu
cumpri com o prometido? — Pergunto subindo minha caricia para seu
pescoço.
Ela faz uma cara brincalhona, fingindo avaliar a situação, e então sorri
largamente e solta um suspiro.
— Sim, sua promessa foi mais que cumprida. — Chego mais perto,
aproximando nossos corpos, e estico meu braço. Savannah deita-se nele
e se aconchega em mim, sua mão indo até minhas costas e fazendo
carrinhos circulares com seus dedos.
— Então você teve o melhor orgasmo da sua vida? — Pergunto com um
sorriso convencido no rosto enquanto passo minha mão pelas curvas do
seu corpo.
— Sim, mas acho que você já sabe disso, não é? Você e provavelmente
todos os seus vizinhos. — Ela dá um sorriso tímido e um tom rosado se
espalha por suas bochechas.
Deus, ela é tão adorável. Como ela consegue ser uma mulher
extremamente sexy, ávida e sensual numa hora, e na outra ser tão
tímida, delicada e encantadora?
— Hey, não tem com que se envergonhar, eu gosto de te ouvir. Uma
mulher que não tem medo de mostrar o quanto está sentindo prazer na
cama, é muito sexy e excitante. Eu adoro os barulhos que você faz, me
deixam louco.

125
Ela sorri timidamente com minhas palavras e morde o lábio inferior,
fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo e indo direto para meu
pau.
“Ah, esse lábios!”
— Mas e os seus vizinhos, você acha que eles ouviram alguma coisa? —
Ela pergunta franzindo a testa, fazendo um vinco de preocupação se
formar ali.
— Não se preocupe, as paredes são grossas. E além do mais, se alguém
ouviu, eles devem se considerar uns bastardos sortudos.
— Justin! — Ela diz em tom indignado e esconde o rosto em meu peito.
Eu rio e acaricio seus cabelos.
— É brincadeira, baby. Ninguém te ouviu, fique tranquila, não deixe
isso te impedir de gritar meu nome quando estiver gozando. Eu
fodidamente adoro isso.
Não posso ver seu rosto, mas a certeza de que ela está corando me faz
sorrir. Adoro o jeito que ela fica quando está sem graça. É a coisa mais
fodidamente cativante que eu já vi.
É engraçado, quando Savannah e eu estamos transando, ela adora que
eu fale sujo. Ela nunca me disse isso com todas as letras, mas eu
percebo o quanto ela fica excitada quando eu sussurro em seu ouvido.
Mas quando eu falo coisas assim em outros momentos, ela se comporta
como uma virgem, ficando tímida. Eu acho isso extremamente
excitante. Essa mistura perfeita que ela tem de uma mulher recatada e
uma mulher voraz, me deixa tão duro.
Ficamos um bom tempo assim, calados e com as pernas e os braços
entrelaçados. Já estamos tão confortáveis com essa situação de “amigos
com benefícios” que nenhum dos dois sente a necessidade de preencher
o silêncio conversando sobre qualquer besteira.
Estamos confortáveis assim.
Eu nunca fiquei assim, abraçado, com mulher nenhum depois que
transamos. Nem mesmo com...Nem mesmo com ela.
É bom, eu gosto. Nas primeiras noites foi um pouco estranho para mim,
mas agora eu gosto muito, eu até anseio por esse momento em que logo
depois de ter um orgasmo maravilhoso, Savannah se aconchega em
mim.
Eu gosto muito de sentir suas curvas contra o meu corpo, o atrito da
sua pele com a minha, e até mesmo seus cabelos que insistem em ir na
minha cara quando estamos dormindo, eles cheiram tão bem.
Gosto também das nossas conversas antes de dormir, muitas noites
estamos cansados demais para conversar ou até mesmo sem assunto,
então aproveitamos do silêncio confortável, mas há noites em que
passamos horas conversando. Às vezes desabafando um com o outro,
contando algo de bom que aconteceu naquele dia ou revivendo nossas

126
memórias preferidas, preferencialmente as memórias que
compartilhamos.
Como naquela vez quando Savannah tinha 14 anos e teve o seu
primeiro encontro. Lembro que Seth ficou louco quando soube que seus
pais tinham deixado sua irmãzinha sair em um encontro com um cara
dois anos mais velho. Sem contar para ninguém, ele e eu seguimos
Savannah e Luke. Ficamos observando enquanto ele a levava para
jantar e depois iam ao cinema. Claro que Seth comprou duas entradas
para a mesma sessão, então entramos sorrateiramente na sala quando
as luzes já tinha se apagado e sentamos cinco filas atrás de Luke e
Savannah. Ficamos uma hora inteira praticamente deitados em nossas
cadeiras para não correr o risco que eles nos vissem. Mas quando Luke
abraçou Savannah e estava prestes a beija-la na boca, Seth se levantou
rapidamente e arrancou o pobre coitado de cima da irmã.
Seth ficou lá exigindo explicações enquanto o coitado do garoto se
borrava nas calças e tentava gaguejando explicar o que ele estava
querendo fazer com a irmãzinha dele.
Nós quatro fomos expulsos do cinema, Savannah ficou tão furiosa com
Seth e eu por arruinarmos seu primeiro encontro. Ela ficou duas
semanas inteiras sem falar conosco.
Enquanto revivíamos essa memória, ela tentou fingir que ainda não
havia me perdoado completamente por aquela noite, mas logo desistiu e
começou a gargalhar comigo.
Savannah está tão quieta em meus braços que acho que ela adormeceu,
mas então ela se mexe e se levanta, sentando na cama. Cobrindo a
parte da frente do seu corpo com o lençol, mas deixando suas costas
totalmente nuas, para o meu deleite.
— Você me dá uma carona? — Ela pergunta e eu franzo a testa.
— Carona para onde? — Pergunto confuso.
— De volta para meu dormitório. — Ela diz se levantando e levando
consigo um dos lençóis, se enrolando nele.
— Como assim? Achei que você fosse dormir aqui, como nas outras
noites. — Digo fazendo uma carranca.
Durante todo esse mês que Savannah e eu estamos nos relacionando,
ela dormiu aqui todas as noites. Todas. Sem exceção. No meu banheiro
até tem uma escova de dente para ela e alguns daqueles produtos pós-
banho para as mulheres que eu decidi comprar depois que fazia duas
semanas que ela estava dormindo no meu apartamento. Também
desocupei uma gaveta e um espaço no meu guarda roupa para ela
deixar algumas roupas quando ela deu a desculpa que não poderia
mais dormir aqui todas as noites porque era muito trabalhoso ficar
trazendo mudas de roupas para se arrumar no dia seguinte.
— Eu sei, desculpa, mas hoje não vai dar. — Ela diz colocando a roupa.
— Por que não? — Pergunto bravo.

127
— Eu tenho uma prova muito difícil semana que vem, o semestre está
acabando e a semana de provas se aproxima. Combinei de me
encontrar com as meninas da minha turma amanhã na biblioteca, logo
de manhã, às 7 horas. Vamos passar a manha toda estudando, depois
almoçamos e voltamos para estudar mais.
— Não vejo o porquê você não pode dormir aqui.
— Se eu dormir aqui, para chegar a tempo no horário que eu marquei
com elas, eu teria que acordar cedo demais. Além do mais, você sabe
muito bem que o horário que eu acordo não é o mesmo que eu me
levanto, não é? — Ela me olha com uma expressão acusadora. Não
tenho culpa que ela acorda sexy pra caralho todas as manhãs.
— Você não precisa ir, eu prometo que não encosto um dedo em você
quando acordar e te levo em tempo recorde até a universidade. Você vai
chegar super a tempo de se encontrar com suas colegas, prometo. —
Tento soar despreocupado, como se não estivesse implorando.
— Obrigada, mas acho melhor eu dormir no meu apartamento essa
noite, faz tantas noites que eu não durmo lá. Acho que vai ser bom
dormirmos sozinhos às vezes. Pense assim, você não vai ter ninguém
para dividir a cama, vai ter essa King Size só para você. — Ela diz
sorrindo, eu retribuo sorriso mas sem vontade, decido não dizer mais
nada para não parecer desesperado e concordo com ela, tentando não
parecer tão desapontado quanto estou.
De má vontade levanto-me e me visto. Ela pega sua bolsa e se
encaminha para a porta. De mau humor pego minha carteira e as
chaves do carro e descemos.

Ajeito o travesseiro e deito. Viro para o outro lado e puxo o edredom até
meu pescoço. Não fico nem cinco minutos assim e me viro para o outro
lado, puxo o edredom para baixo, deixando-o em minha cintura.
Fecho os olhos e tento desligar minha mente de tudo para que eu
consiga dormir. Não funciona.
Viro, ficando de barriga para baixo, aperto os olhos com força e solto
um suspiro. Preciso dormir, daqui a poucas horas vou ter que levantar
e ir trabalhar.
Viro-me de novo, deitando de costas. Olho para o relógio e vejo que são
1:30 da manhã. Eu tenho que acordar às 6h. Ótimo.
Eu sempre dormi como uma pedra, então porque porra eu estou me
revirando na cama faz horas sem conseguir dormir? Que saco.
Percebendo que não vou conseguir dormir tão cedo, decido me levantar
e trabalhar um pouco. Vou até meu escritório, sento-me na poltrona de
couro e ligo o notebook. Começo a trabalhar na nova proposta que vou
ter que apresentar para os acionistas da Thompson Reuters
Company, na semana que vem.

128
Peixe grande. Se eu fechar esse negócio, meu chefe vai beijar a sola do
meu sapato. Será um dos maiores contratos já assinados por nossa
empresa. Sem falar que ter a Thompson Reuters Company na nossa
lista de clientes irá atrair muitas outras empresas e companhias de
renome para nós.
Já tenho a apresentação toda na minha cabeça, comecei a trabalhar
nela alguns dias atrás e tenho mais essa semana para deixa-la perfeita.
As horas vão passando, continuo trabalhando na minha proposta
enquanto nas minhas costas Dallas pulsa com sua vida noturna
selvagem.

Savannah
Visto uma roupa confortável, calça cargo verde musgo e uma regata
branca. Desligo o secador e arrumo meu cabelo em um rabo de cavalo
funcional.
Graças a Deus que quando voltei da minha maratona de estudos com
as meninas, Aletta não estava em casa. Assim pude tomar meu banho
tranquilamente e agora, vou poder comer alguma coisa na mais
completa paz.
Estou tão cansada para fazer algo mais elaborado, então decido fazer
apenas um sanduiche. Depois de comer vou cair na minha cama e
desmaiar até amanhã.
Se fosse por Justin, eu estaria fazendo meu caminho para sua casa
agora mesmo. No final da tarde, quando eu ainda estava na biblioteca
me matando de estudar, recebi uma mensagem dele. Ele queria saber
se eu estaria lá no horário de sempre. Respondi dizendo que hoje não
poderíamos nos encontrar, pois depois de estudar o dia inteiro, estava
sem energia e a única coisa que eu queria era a minha cama.
Ele demorou em responder, e quando o fez, foi um curto e grosso “tudo
bem, nos vemos amanhã.” Muito diferente da sua primeira mensagem,
que parecia mais animada.
Talvez ele tenha ficado chateado por não tê-lo avisado antes, mas se for
isso, ele está exagerando. Nós passamos o último mês inteiro nos vendo
todos os dias, além de eu ter dormido todas as noites em seu
apartamento. Um ou dois dias sem sexo não deve mata-lo.
Caminho até a cozinha, mas paro no meio do caminho quando escuto
alguém batendo na porta, então vou abri-la.
Quando abro a porta, o ruivo do outro lado dela era a última pessoa que
eu esperava ver. Desde o dia em que eu joguei aquela caixa em seus
braços e disse que tudo entre nós havia terminado definitivamente,
Vince não me procurou mais, até hoje.

129
— Oi Savy. — Ele me cumprimenta com aquele sorriso que eu tanto
amava, surpreendentemente, percebo que ele já não me afeta tanto
quanto antes.
— O que você está fazendo aqui? Aletta não está.
— Eu não vim aqui por ela, vim falar com você. Posso entrar?
— Olha, Vincent, se eu me lembro bem, eu havia dito que não queria
mais te ver. Então, adeus. — Digo fechando a porta, ele estica o pé, me
fazendo abri-la de novo.
— Espere, Savy.
— O que foi?- Pergunto apoiando uma mão em minha cintura e outra
na porta.
— Você gostou das minhas flores? — Ele pergunta e eu o olho com
confusão.
— Que flores? — Pergunto.
— Eu te enviei um buquê de rosas vermelhas. Você não recebeu? —
Agora ele é quem parece confuso.
— Um momento, o buquê era para mim?
— Como assim?
— Três dias atrás Aletta recebeu um buquê de rosas vermelhas, mas ela
disse que era para ela. — Explico.
— Mas que vadia. — Ele sussurra para ele mesmo enquanto esfrega o
queixo. — Não era para ela coisa nenhuma, era para você. Eu tinha até
escrito um cartão com o seu nome. Pedi que o garoto da floricultura
estregasse somente para você, mas que idiota.
— Bem, então obrigada pelas flores. Mas você não deveria ter feito isso,
não estamos mais juntos.
— Sinto muito que você não tenha recebido meu presente. Eu sei muito
bem que não estamos mais juntos, mas isso não me impede de
continuar pensando em você, Savy. Eu te amo.
— Por favor, não comece. — Peço.
— Estou com tanta saudade de você, linda. Diga-me o que eu posso
fazer para te ter de volta.
— Vincent, eu já disse, acabou. — Dizer essas palavras não doeu tanto
como na última vez. É claro que eu não superei Vince completamente,
ver ele ainda mexe comigo, mas fico aliviada em constatar que ele não
me afeta tanto quanto antes, apesar de ainda provocar algumas reações
em meu corpo.
— Savy, minha linda, não seja tão dura comigo, por favor. Eu me
arrependi de ter feito o que fiz, eu nunca mais vou olhar para outra
mulher, eu prometo. Volte para mim e vamos continuar de onde nós
paramos. A gente sempre se deu tão bem, a gente se ama tanto, não
deixe Aletta atrapalhar isso.

130
— Acontece que não dá, Vincent. Eu não consigo esquecer o que você
fez, a magia acabou. Mesmo que voltássemos, não seria como antes.
Não insista em tentar reviver algo que está definitivamente morto. —
Surpreendendo a mim mesma, minhas palavras saem calmamente.
Ele dá um passo para frente e chega muito perto de mim, sua mão vem
para o meu rosto, ele acaricia minha bochecha e seu toque já não me
provoca mais arrepios.
— Eu quero voltar a ser só Vince para você, quero escutar de novo você
me chamando de “meu amor,” quero voltar a passar a maior parte do
dia ao seu lado, quero voltar a fazer amor com você, Savannah.
Oh caramba! Agora ele conseguiu alguma reação perceptível do meu
corpo.
Fazer amor...Eu sinto falta disso. Por mais que as minhas noites com
Justin seja arrebatadores e inesquecíveis, o que nós fazemos em sua
cama é sexo, e eu sinto falta de fazer amor. De ter essa intimidade com
alguém que eu ame e que me ame de volta. Ser selvagem, mas
apaixonado ao mesmo tempo. O sexo com Justin é selvagem, feroz,
necessitado, mas nunca suave, terno, carinhoso ou apaixonado.
Eu não quero me esquecer de como é isso, não quero só fazer sexo sem
amor.
Talvez eu possa ter isso de novo, algum dia. Mas infelizmente, não será
com Vince, mesmo que eu me sinta tentada a ceder.
— Sinto muito, mas não tem mais volta para nós. Realmente acabou
tudo. Quanto antes você aceitar isso, melhor. Só tente não cometer o
mesmo erro com a próxima garota pela qual você se apaixonar, ok?
— Eu sou apaixonado por você, só por você. E eu vou provar isso, vou
te mostrar que eu te amo e vou conseguir você de volta, você vai ver. —
Ele diz parecendo determinado.
— Adeus, Vincent.
— Adeus não, Savy. Até logo. — Ele diz e então se afasta, me dá um
sorriso um pouco triste e se vai.
Fecho a porta e apoio minha testa nela, fechando os olhos os aperto
com força. Depois de alguns segundos me dirijo ao meu quarto. Perdi a
fome.

Assim que termino de guardar meus materiais na bolsa escuto meu
celular tocando, saindo da sala de aula olho para o visor e sorrio ao ver
quem está me ligando.
— Alô?
— Olá, baby. — A voz sexy de Justin diz do outro lado da linha. — Não
estou te atrapalhando, não é? Está em aula?
— Não, não. Minha aula acabou de terminar.

131
— Estou te ligando para avisar que eu vou sair um pouco mais tarde do
trabalho hoje, então teremos que nós encontrar uma ou duas horas
depois do horário de sempre.
Ele diz e eu paro. Droga esqueci de avisa-lo. Fico em silêncio tentando
descobrir como dizer para Justin que pela terceira noite consecutiva,
não irei dormir em seu apartamento.
— Ainda está aí, baby?
— Sim, estou aqui.
— Algum problema?
— Não, é só que...Eu meio que tenho um compromisso hoje a noite,
então não poderemos nos ver.
— Ah de novo, Savannah? Mas que porra. — Ele parece bravo.
— Sinto muito, amanhã nos vemos, prometo.
— Eu quero te ver hoje, droga. Não dá para você cancelar seu
compromisso?
— Não, sinto muito.
— Mas o que de tão importante você vai fazer, afinal? — Ele pergunta e
pelo tom de sua voz posso apostar que nesse momento ele está com
uma carranca na cara.
— Hoje a noite terá uma exposição no museu Meadown de 62 pinturas
raras pintadas por Van Gogh, Monet, Homer e Seurat. A mulher
daquele filantropo, Paul Mellon, doou as pinturas depois que ele morreu
e será a primeira vez que elas serão expostas ao publico.
— Você vai me trocar por algumas pinturas, é isso? Por que você não
vai outra noite?
— Porque essa é a única noite de exibição aberta ao publico. Amanhã os
quadros vão para o museu da Califórnia. Combinei com minhas colegas
de irmos juntas na exposição.
— Você não precisa ir. — Rio do seu tom de voz.
— Claro que eu preciso, Justin, eu estudo História da Arte.
— Urgh! Tudo bem. Eu te ligo amanhã então, ok? — Ele diz de mau
humor.
— Tudo bem, até amanhã, tchau.
— É, tanto faz, tchau. — Ele diz e desliga, não posso evitar e sorrio com
o seu jeito. Esse mau humor todo é só porque não vamos nos ver de
novo hoje? Nossa!

Eu e as meninas chegamos ao museu Meadown cerca de uma hora
depois da exposição ser aberta. O local não estava lotado, mas também
não estava exatamente tranquilo, várias pessoas vieram aproveitar,

132
assim como nós, para ver essas pinturas magnificas que nunca tinham
sido expostas ao publico.
Eu, como uma apaixonada estudante da História da Arte, estou me
sentindo deslumbrada com essa oportunidade de ver tão de perto tais
pinturas.
Zoey, Britt, Darla e eu andamos lentamente, parando em frente a cada
caixa de vidro, protegida atrás de uma corda vermelha, que guarda as
valiosas obras de arte.
— Amei esse, olhe como é maravilhosamente simples. — Digo
observando uma pintura de uma paisagem bucólica, com várias
pessoas em suas roupas de camponês e uma casa vermelha e simples
ao fundo, cercada por colinas verdes.
— Meninas? — Pergunto quando não obtenho resposta ao meu
comentário. Viro-me e percebo que perdi de vista Zoey, Britt e Darla.
“Droga, onde essas meninas foram? Não acredito que me perdi delas.”
Acho que eu estava tão absorta com a beleza simplista do quadro que
não notei que elas seguiram em frente. Mas que seja, não me importo
de ficar sozinha se isso significa que eu posso seguir meu ritmo e
admirar os quadros o tempo que eu quiser.
Lentamente, levando o meu tempo, vou passando de quadro em quadro.
Admirando, absorvendo a arte e deixando que ela me inspire.
Não gosto de simplesmente passar o olhar pela tela e seguir para a
próxima. Não. Eu gosto de observar cada detalhe, cada pequeno e
mínimo detalhe, que para mim, faz toda a diferença e só ajuda a me
mostrar o porquê isso é considerado um obra de arte. As pessoas que
fizeram isso tinham um dom, e não serei eu quem passará
apressadamente por cada uma das obras sem dar o devido valor.
Aproximo-me o máximo que posso da corda vermelha que delimita até
onde podemos ir, me curvo um pouco sobre ela na esperança de
conseguir chegar mais perto da pintura e observa melhor os pequenos
detalhes.
— Deus, baby, será que você faz parte da exposição? Porque estou
percebendo muitos olhares em você esta noite. — Uma voz sexy
sussurra em meu ouvido, me fazendo dar um pulo e me desequilibrar.
Antes que eu me enrosque na corda vermelha e caia para o outro lado
dela, mãos fortes seguram meus braços e me puxam para junto de um
corpo firme.
Viro-me e meu olhar cruza diretamente com os olhos azuis mais lindos
que eu já vi, olhos que eu conheço muito bem.
— Justin? O que faz aqui? — Pergunto surpresa enquanto o moreno me
encara com um sorriso malicioso nos lábios. Suas mãos ainda me
seguram e nossos corpos estão colados. Posso sentir o frescor do aroma
do seu sabonete e perfume, seus cabelos pretos estão levemente

133
molhados, penteados numa bagunça tão sexy que faz o meio das
minhas pernas pulsar.
Deus, esse homem poderia facilmente ser considerado um Deus grego,
só que muito mais bem dotado do que as estatuas de mármore que eu
vi.
— Vim ver a exposição, não é óbvio? — Ele diz e dá uma piscadinha
para mim, aliviando o aperto de suas mãos em meus braços. Dou um
passo para trás, essa proximidade é perigosa demais, se ele continuar
me olhando da forma que ele está nesse exato momento vou acabar me
esquecendo de que temos publico e vou pular em seus braços.
— Esse não é o motivo. Você não estava nem aí para a exposição
quando eu te falei dela mais cedo. — Digo cruzando os braços,
desconfiada.
— Mudei de ideia. Pensei sobre ela e me pareceu tão interessante. Estou
curioso para ver os tais quadros de Van Gogh e não sei mais quem. —
Ele diz fazendo um maneio de mão, apontando para as obras expostas.
— Ah sim, posso perceber que você está exalando interesse. — Digo
revirando os olhos.
— Vejo que não acredita em mim. Mas estou falando a verdade, por que
mais eu viria a um museu se não para ver as obras expostas? — Ele
pergunta com ar inocente. Por um momento penso em respondê-lo e
dizer que acho que ele veio atrás de mim. Mas refreio minha língua, não
quero fazer papel de idiota, é óbvio que não deve ser esse o motivo. Ele
deve ter ficado realmente curioso com a exposição, ele não veria até
aqui somente para me ver, não é como se ele não conseguisse aguentar
mais e precisasse me ver imediatamente.
“Que idiota, Savannah. Você nunca foi o tipo de mulher irresistível.”
— Está certo então. Aproveite a exposição. — Digo dando-lhe um sorriso
e saindo para o lado, mas logo a mão de Justin me segura pelo cotovelo,
me fazendo virar novamente para ele.
— Ei, espera um minuto. Já que nós dois estamos aqui, por que não
aproveitamos da companhia um do outro?
— Tenho que achar minhas amigas, eu me perdi delas. — Digo.
— Tenho certeza que elas estão bem com você ficar um pouco comigo.
Venha, eu não entendo nada de arte, talvez você possa me ensinar
alguma coisa. Como, por exemplo, por que diabos as pessoas ficam
admiradas com um quadro de algumas frutas em cima da mesa. — Ele
diz e eu não aguento, jogo minha cabeça para trás e solto uma
gargalhada. Rapidamente me recomponho quando várias pessoas
próximas a nós me olham de cara feia, sinto minhas bochechas
pegarem fogo.
— Tudo bem, vamos então.
Justin e eu seguimos observando as pinturas, em todas elas eu tinha
que lhe explicar o porquê daquilo ser algo tão admirado pelas pessoas,

134
tentava lhe fazer enxergar como aquilo na nossa frente era algo belo. Ele
insistia em dizer que eu era a obra de arte mais linda ali, e que ele
preferia ficar observando a mim, então eu ria e seguíamos para a
próxima pintura.
Quando estou observando a sétima pintura depois da chegada de
Justin, escuto ele soltando um gemido ao meu lado.
— Mas que inferno, não aguento mais isso.
— Como é?- Viro-me para ele e pergunto. Ele se aproxima e encosta sua
boca em minha orelha.
— Venha comigo. — Ele sussurra numa voz sensual e meu corpo todo
se arrepia ao sentir seu hálito quente.
Antes que eu possa respondê-lo, Justin entrelaça seus dedos nos meus
e me puxa consigo, me guiando para Deus sabe onde.
— Justin, espera. Onde estamos indo? — Ele anda com tanta pressa,
me puxando com sigo, que tropeço algumas vezes e esbarro em algumas
pessoas. Meus pedidos de desculpas ficando para trás enquanto Justin
me conduz com demasiada pressa.
— Onde estamos indo, Justin? — Pergunto mais uma vez.
— Tenho que achar um lugar.
— Um lugar para que? — Pergunto e ele para abruptamente, quase me
fazendo me chocar contra suas costas. Ele se vira e o que eu vejo em
seu olhar faz com que uma corrente elétrica de pura excitação percorra
todo meu corpo, desde o topo da minha cabeça até o dedão do pé.
— Acho que não é preciso dizer o óbvio, mas você estava certa, eu não
vim aqui pelas obras de arte. Eu vim para te convencer a ir para casa
comigo.
— Justin, eu já te disse que eu realmente quero ver essa exposição. Não
estou saindo daqui. — Digo determinada e fazendo um biquinho
emburrado.
Ele sorri e se aproxima de mim para sussurrar algo.
— Eu sei, baby. Por isso e por causa da minha pressa de estar dentro
de você, eu tive que mudar meus planos. Não estamos mais indo para
meu apartamento, estamos indo achar um canto nesse lugar onde eu
possa levantar seu vestido e me enterrar fundo dentro de você. —
Escuto suas palavras com a boca entreaberta e um baixo gemido
escapa por meus lábios.
— Isso mesmo, baby. Venha, vamos fazer sexo selvagem no museu. —
Ele começa a me puxar novamente e dessa vez eu permito sem nenhum
protesto.
Suas palavras me deixaram em chamas, sinto o liquido da minha
excitação escorrendo entre minhas pernas.

135
Justin vai nos guiando por entre os corredores, quanto mais para o
norte da construção nós vamos, menos pessoas encontramos. Até que
paramos em frente a uma porta com uma placa e com os dizeres:
ATENÇÃO!
ACESSO RESTRITO
APENAS FUNCIONÁRIOS
— Perfeito. — Ele diz e olhando para os dois lados do corredor, abre a
porta e me puxa para dentro da sala mal iluminada.
— Justin, não deveríamos entrar aqui. E se alguém nos achar? — Por
algum motivo estou sussurrando.
— Não se preocupe, linda. É só não fazermos barulho. — Ele fecha a
porta e eu observo a sala que entramos. Está iluminada apenas por
fracas luzes amarelas fixadas nas paredes, vejo algumas estátuas, vasos
e pinturas. Deve ser alguma exposição ainda não aperta ao publico.
Justin vem faminto para cima de mim, seu braço enlaça minha cintura
e puxa meu corpo para junto do seu enquanto sua outra mão sobe até
meu pescoço.
Sua boca desce na minha e ele ataca meus lábios, beijando-os,
mordiscando-os e lambendo-os. Arrancando-me gemidos com seu
ataque voraz a minha boca e sem quebrar o beijo, Justin me arrasta até
um canto e me encosta na parede com violência.
Deus, eu adoro essa pressa dele, faz me sentir tão desejada.
Sua mão viaja por minhas curvas e para em minha coxa, ele puxa
minha perna para cima e eu enlaço sua cintura com ela, puxando seu
quadril de encontro com o meu. Sinto sua ereção se esfregando contra
minha carne molhada e necessitada, e gemo.
Justin aperta e acaricia rudemente minha perna que está em sua
cintura e com a outra mão aperta meu seio. Seus beijos desesperados
descem por meu maxilar até meu pescoço. Ele lambe minha pele desde
minha clavícula até o lóbulo da minha orelha, que ele morde
provocando uma pontada aguda de dor.
— Justin, por favor. — Imploro sem fôlego em meio aos meus gemidos.
— O que você quer, Savannah? Você quer que eu te foda contra essa
parede enquanto todas aquelas pessoas estão lá fora, é isso que você
quer, baby? — Ele pergunta voltando a atacar minha boca, sua língua
provocando a minha. Apenas gemo em resposta.
Escuto o barulho de algo sendo rasgado e percebo o tecido frágil de
minha calcinha jogado no chão ao lado.
Levo minhas mãos até os cabelos de Justin e enfio meus dedos entre os
fios macios, fazendo com ele gema profundamente.

136
Justin desabotoa a calça e sem qualquer aviso, dá uma estocada forte
contra mim. Sinto seu membro grande e grosso forçando sua entrada
pelo meu canal apertado e gemo com a dor sublime.
Justin joga sua cabeça para trás e geme alto, seu gemido ecoa pela sala
e tenho medo que alguém possa ter escutado.
Tento escutar atentamente par ver se alguém se aproxima, mas os
únicos sons que escuto são os da união de nossos corpos e os gemidos
de Justin.
Segurando minha coxa com uma mão e com a outra apertando meu
seio, Justin investe contra mim num ritmo frenético e repetidas vezes.
Sua boca viaja por todo meu pescoço, me lambendo e mordendo.
Seguro seus ombros com força e gemo com a sensação deliciosa que é o
sentir entrar, se retirar e entrar de novo em mim, repetidas vezes.
— Oh meu Deus, Justin, não pare. — Fecho os olhos e gemo
descontroladamente.
— Não vou parar, baby, não vou, quero que você goze bem gostoso para
mim.
— Oh Justin, estou tão perto, estou tão perto. — Ele aumenta o ritmo,
fazendo seus quadris se chocarem com força contra os meus.
— Isso, baby, isso...Oh Deus Savannah, você é deliciosa, não aguento
mais, vou gozar, baby. — Ele diz e nesse momento sinto meu orgasmo
explodindo dentro de mim. Justin cobre minha boca com a sua para
que eu não grite e goza enquanto continua me penetrando.
Ficamos um minuto abraçados sem nos mexermos, tentando recuperar
o fôlego. Então ele se afasta e sai de dentro de mim, me deixando com
uma sensação de vazio. Sinto meus joelhos fraquejarem e arrumo meu
vestido.
Justin fecha a calça e arruma a camisa, depois passa a mão pelos
cabelos que eu baguncei ainda mais.
Faço o mesmo, tendo a certeza que meus cabelos devem estar uma
bagunça delatora. Ele se abaixa a pega minha calcinha, levando-a até
seu nariz.
— Você cheira tão bem. — Ele guarda a calcinha no bolso da calça, mas
não sem antes eu conseguir ver uma mancha molhada enorme.
Olhe a que ponto esse homem consegue me excitar. Meu Deus!
— Não tenho certeza se consigo andar. — Digo com a voz ainda um
pouco rouca, Justin sorri maliciosamente e vem me beijar.
Seus lábios acariciam os meus, mas dessa vez não tão desesperados.
— Venha, vamos terminar de ver essa exposição para podermos ir para
minha casa para o segundo round. — Ele diz me puxando em direção da
porta.

137
— Primeiro preciso ir ao banheiro. — Digo sentindo o gozo de Justin
escorrendo por minha perna.
Ele me olha com um sorriso largo e orgulhoso, eu reviro os olhos e
passo pela porta que ele abre para mim.

Justin
Acaricio levemente o braço nu de Savannah enquanto observo-a dormir.
Ela parece um anjo, tão inacreditavelmente linda.
Ela adormeceu logo depois de transarmos pela segunda vez essa noite,
dessa vez mais confortavelmente em minha cama. Mas tenho que
confessar que àquela hora no museu, em pé e contra a parede, foi
incrível. Savannah estava tão necessitada quanto eu, ela me desejava
tanto quanto eu a desejava, e apesar de ser desconfortável para ela,
encostada naquela parede fria e dura, eu não pude resistir, não estava
aguentando mais. Precisava dela naquele exato momento ou ficaria
louco.
Deito-me atrás dela, colando a frente do meu corpo com suas costas.
Encaixo seu corpo com o meu, meu pau esfregando em sua bunda.
Abraço sua cintura e deito minha cabeça perto da dela, seus cabelos
veem na minha cara, fazendo cócegas no meu nariz e eu inspiro
profundamente seu perfume.
Abraço-a apertado, ela geme e se mexe um pouco, colocando seu braço
em cima do meu que descansa na curva de sua cintura. Entrelaço
nossos dedos e com um sorriso no rosto fecho os olhos.
Aos poucos sinto minha consciência deslizando em direção ao sonho.
Sinto-me tranquilo e relaxado, o sono vem facilmente.
Eu sei o que você está pensando, eu também notei isso. Mas eu vou
fingir que não percebi que a minha insônia dos dois últimos dias se
deve ao fato de que Savannah não dormiu comigo. Vou fingir também
que o fato de estar me sentindo incrivelmente em paz e feliz nesse
momento, não tem nada a ver com ela estar aconchegada em meus
braços.
Vou fingir, porque não quero pensar no que isso significa. Não agora.

138
Bastardo romântico
Justin
— Não, você não fez isso. — Savannah me encara com a boca aberta e
uma expressão perplexa no rosto, a qual só me faz gargalhar mais
ainda.
— Sim, eu fiz baby.
— Justin, não acredito. Você era mesmo um pestinha quando criança
hein, coitada da tia Alyssa. — Ela diz rindo e esse som, eu juro, é o mais
relaxante que eu já ouvi. A risada dela faz coisas comigo, com meu
corpo, e faz com que eu tenha vontade de faze-la rir o tempo todo.
— Não se esqueça que o seu irmão estava junto comigo nessa.
— Mas quem que foi “o cabeça” e planejou tudo? — Ela pergunta
levantando uma sobrancelha e me olhando desconfiada.
— Tudo bem, admito que foi eu. Eu arrastei o pobre Seth comigo nessa,
mas se serve de consolo quando a gente foi pego, eu levei toda a culpa
por ele.
— Isso foi antes de eu nascer, não foi?
— Foi, eu tinha uns 6 ou 7 anos.
É tão estranho quando eu paro para pensar que a mulher ao meu lado,
a mulher com quem eu venho mantendo relações sexuais muito
frequentemente, é a mesma pessoa que eu vi crescer. Deus, eu segurei
ela ainda bebê, isso é estranho demais. Praticamente uma década de
diferença.
— Savannah, você não liga para a minha idade? — De repente pergunto,
pegando-a de surpresa.
— Como assim, o que você quer dizer?
— Eu sou bem mais velho que você, você não liga para isso?
— Você liga?
— Eu? Não sei, na verdade não. É que com você é diferente. Acho que
com outras mulheres da sua idade não seria tão estranho, é que
quando eu penso que vi você crescer...
— Eu não me importo nem um pouco com a nossa diferença de idade,
Justin. Admito que foi um pouco estranho no começo, você me viu
crescer e eu te vi como o melhor amigo do meu irmão mais velho a
minha vida toda, muitas vezes te via como um segundo irmão. O mais
estranho para mim é isso, eu acho, o fato de um dia eu ter o
considerado como um irmão e não os 9 anos que nos separam.

139
— Entendi. Sabe, eu estou gostando muito do tempo em que estamos
passando juntos. Digo, não só o sexo, que é incrível por sinal, mas eu
aprecio os momentos como esse também. — Digo encarando o Jardim
Botânico de Dallas onde estamos fazendo um piquenique.
— Eu também, sinto pela primeira vez que somos próximos de fato.
Amigos. Eu gosto de pensar em você como um amigo, acho que em
algum momento a nossa relação foi cortada totalmente, e nenhum de
nós dois percebemos. Mas eu gosto que estejamos retomando isso, só
espero que quando esse lance de amigos com benefícios acabar, que
ainda possamos manter a parte do amigos. — Ela diz me encarando
com um sorriso amigável no rosto.
Não sei o porquê, mas com a menção da palavra “acabar” um mal estar
tomou conta do meu estômago. Não quero que isso acabe, ainda não,
minha necessidade por ela ainda é grande demais.
— Claro que sim. Não vamos mais nos afastar como fizemos antes, ok?
Mesmo quando a parte do beneficio acabar, vamos continuar saindo e
conversando como agora. — Digo e deposito um beijo suave em sua
mão.
— Eu adoraria isso, Justin.
Nesse momento uma bola de futebol americano aterrissa perto dos pés
de Savannah, fazendo-a dar um pulinho de susto. Olho na direção que
a bola veio e vejo um cara vindo correndo até nós.
Ele usa uma bermuda e uma regata branca, deixando a mostra seus
braços fortes.
— Hey, foi mal, acho que eu não medi muito bem minha força. — O loiro
estilo surfista diz com um sorriso no rosto quando para em frente de
Savannah, ela olha para cima com a mão na testa e os olhos semi
fechados e o nariz franzido por causa da luz do sol.
— Sem problemas. — Ela diz, o cara se abaixa, pega a bola e coloca-a
em baixo do braço. Ele dá um passo para o lado, ficando de perfil para
mim e protegendo Savannah do sol.
— Espero que não tenha te acertado. — Ele diz dando-lhe um sorriso
que eu conheço muito bem.
“Oh não cara, ela não vai cair na sua.”
— Não se preocupe, não acertou. — Savannah retribui o sorriso e eu
juro que vi os joelhos do moleque vacilarem.
Filho da mãe, seus olhos viajam por Savannah avaliando-a, e seu
sorriso fica maior. Não posso culpa-lo por isso, ela com esse vestido de
verão com suas belas pernas de fora é de chamar a atenção de qualquer
um. No momento que ela apareceu em meu apartamento eu tive
vontade de cancelar o piquenique e leva-la direto para meu quarto.
— Tudo bem então, a gente se vê por aí. — Ele diz e pisca para ela.
“Aposto que você gostaria disso, idiota.”

140
— Tudo bem.
O mala sem alça me ignorou o tempo todo, nem se dignou a olhar para
mim, se virou e correu de volta para o seu grupo de amigos.
Savannah pega um morango e leva até a boca, mordendo um pedaço.
Observo-a mastigando e ela percebe meu olhar sob ela, então sorri.
Ela não faz a mínima ideia do quanto é atraente. Ela nem percebeu que
o aspirante a Andrew Brees ali jogou a bola nessa direção de propósito.
Aposto que se ela quisesse, ela facilmente conseguiria ter qualquer cara
fazendo o que ela pedisse. Droga, ela conseguiu me convencer a vir até
aqui, sentar ao lado desse jardim colorido de tulipas e fazer um
piquenique, e ela só precisou me olhar com seus lindos, grandes e
expressivos olhos verdes e dizer a palavra “por favor” e eu já estava
igual a um idiota arrumando a porcaria de uma cesta de vime.
Mas devo admitir, isso não esta nada mal, na verdade, ficar aqui sem
fazer nada, conversando com ela e sentindo o frescor do vento e
admirando o céu azul é bem gostoso. Sinto-me relaxado como não me
sentia a um bom tempo.
Savannah está sentada tão perto de mim, enquanto ela olha para cima
e observa os desenhos das nuvens – um hábito que ela tem desde
pequena – eu a observo. Seus cabelos sendo jogados para trás pelo
vento, sua pele se eriçando com o frio de final de tarde, o sol que faz seu
caminho para se pôr e ilumina seu rosto, fazendo com que ela pareça
um ser divino, iluminado, tão inconcebivelmente belo.
“Preciso capturar esse momento. Para sempre.”
Sem que ela perceba, pego meu celular e tiro uma foto sua de perfil. Ao
ouvir o barulho que o celular fez, Savannah se vira e rapidamente cobre
o rosto com a mão.
— Justin, o que você está fazendo? — Ela pergunta indignada.
— Tirando uma foto sua, não é obvio? — Ela abaixa sua mão do rosto,
olha para mim com uma sobrancelha erguida e parecendo brava agarra
meu pulso e abaixa minha mão, eu a levanto de novo e tento tirar mais
uma foto dela, mas ela não deixa.
— Não, Justin. — Ela diz e vira o rosto para o outro lado.
— Só mais uma foto, vamos lá Little Nips. Vamos guardar a lembrança
dessa tarde para sempre.
— Não, eu não gosto de tirar foto. — Ela diz ainda com o tronco virado
parcialmente para o outro lado.
— E o porquê disso? — Pergunto curioso.
— Eu só não gosto...Minhas fotos sempre ficam estranhas.
— Claro que não, já vi várias fotos de você com o seus irmãos e seus
pais, você estava linda em todas.
Ela não diz nada mas vejo sua cabeça balançando, ela discorda de mim.

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— Ah é, está discordando do senhor-sabe-tudo aqui? — Pergunto em
um tom divertido.
— Senhor-sabe-tudo? — Ela se vira e me pergunta rindo.
— Vou te mostrar que sempre tenho razão. — Digo e tento tirar mais
uma foto dela, mas ela diz não e me pede para parar. Seguro seu braço
e tento faze-la se virar para mim.
— Não, Justin. Chega. Para com isso.
Jogo meu peso em cima dela, fazendo-a se desequilibrar e cair deitada
para trás em cima da toalha, ela solta um gritinho que me faz rir. Não
lhe dou tempo de se levantar, sento-me em cima dela, tomando o
cuidado de sustentar a maior parte do meu peso com minhas pernas
para não esmaga-la.
— Justin Cord, saia de cima de mim agora mesmo. — Ela diz em um
tom autoritário, o que só me faz rir mais ainda dela.
— Depois que eu tiver a minha foto, baby. — Digo levantando o celular e
tiro a foto.
Olho na tela, a foto teria ficado perfeita se não fosse a mão de Savannah
cobrindo a maior parte do seu rosto.
— Qual é, Little Nips. Você me conhece, eu não vou desistir.
— Se eu deixar você tirar uma foto, só uma, você vai sair de cima de
mim?
— Vou. — Respondo.
— Tudo bem. — Ela diz e tira a mão da frente do seu rosto. — Vai logo
com isso.
Por um momento, um breve momento, sinto que não consigo me mexer.
A visão de Savannah deitada com seus cabelos espalhados para todos
os lados, seus olhos verdes parecendo mais claros do que nunca, suas
bochechas coradas e seus lábios rosados me faz perder o fôlego.
— Anda logo com isso Justin. — Ela diz e só então eu percebo que
estava segurando minha respiração, deixo o ar sair lentamente
enquanto tento me controlar para que as batidas do meu coração
voltem ao normal.
— Não se mexa, ok? Eu já volto. — Digo saindo de cima dela.
— Justin?
— Fique assim, não se mexa nem um milímetro. — Digo me levantando
e indo até o jardim bem perto de onde estamos.
Arranco uma tulipa roxa do jardim e volto para onde Savannah ainda
está deitada, como eu pedi. Sento-me em cima dela novamente e coloco
a tulipa roxa atrás da sua orelha esquerda, lentamente deslizo minha
mão e sutilmente acaricio seu rosto macio, Savannah solta um suspiro
e fecha os olhos.

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— Sorria. — Eu peço. Ela abre os olhos e dá um sorrisinho tímido para
meu celular, tiro a foto e mostro para ela.
— Viu? Nem um pouco estranha.
— Ficou bonita.
— Ficou mesmo. — Concordo admirando a tela do meu celular. Guardo-
o no bolso e sorrio para ela, ela sorri e então distraidamente morde seu
lábio inferior.
“Ah Deus, esse lábios!”
De repente sou tomado por uma vontade incontrolável de beija-los. Me
curvo sobre Savannah, me abaixando lentamente, a deixando saber
qual é a minha intenção. Ela não me impede, apenas me encara
intensamente, abre um pouco os lábios, num convite silencioso.
Passo meu dedo por sua bochecha, fazendo um carinho gentil, e então
quebro a distância que nos separava e a beijo.
Seus lábios são tão macios, tão gostosos de serem provados. Tão
lentamente quanto vou mexendo meus lábios contra os dela, vou
deslizando meu corpo, para que toda a extensão do meu corpo esteja
encostando no dela.
Ela abre a boca e eu a invado, sua língua vem de encontro com a minha
e uma brinca com a outra.
Savannah geme e o som viaja por todo meu corpo, me causando
sensações que até então, eram desconhecidas para mim. Sinto a
necessidade de aprofundar o beijo, e bem quando eu vou fazer isso, um
estrondo alto rompe a bolha de sensações estranhas mas boas em que
estávamos. Savannah treme em baixo de mim e eu relutantemente
afasto nossos lábios, olho para cima e deixo uma maldição sair.
Cinco minutos atrás o céu estava limpo e o sol estava brilhando fazendo
seu caminho para se pôr, agora o céu está cheio de nuvens cinzas e o
sol está escondido atrás delas.
De repente, escuto mais um estrondo de trovão e saio de cima de
Savannah.
— Droga, acho que vai cair um temporal. É melhor irmos. — Digo me
levantando.
— De qualquer forma logo já iria escurecer mesmo. — Ela diz e começa
a me ajudar a guardar as coisas na cesta.
Guardamos tudo e vamos em direção a onde estacionei meu carro,
quase chagando lá a chuva começa a cair. Savannah e eu corremos a
distância que falta, pego a chave e destravo as portas, quando entramos
no carro ela começa a rir.
— Isso foi divertido, acho que eu não me molhava toda assim com chuva
faz muito tempo.

143
— Vamos trocar de roupa antes que você acabe pegando uma
pneumonia. — Digo colocando a cesta no banco de trás e ligando o
carro.
— Exagerado. — Ela diz sorrindo, reviro meus olhos e guio o carro até
meu apartamento.

No tempo em que chegamos ao meu prédio, a alegria de Savannah já


tinha me contagiado e estávamos ambos conversando e rindo enquanto
entravamos na recepção.
— Boa tarde, Carlos. — Digo sorrindo para ele.
— Boa tarde, senhor. — Ele diz mas me olha de uma forma estranha.
Savannah e eu subimos até meu andar, vejo-a tremer então envolvo seu
corpo com meus braços. Quando entramos no apartamento deixo a
cesta de piquenique em cima do primeiro móvel que vejo e puxo
Savannah comigo.
— Vamos nos secar antes de ficarmos doente.
Levo-a até meu banheiro e começo a tirar minhas roupas.
— O que você esta fazendo?
— Tirando minhas roupas. Não podemos tomar banho vestidos,
podemos?
Entro no box e faço sinal para que ela me acompanhe. Seus olhos
lentamente viajam por meu corpo nu e param na minha ereção. Ela
morde o lábio inferior e quando seus olhos voltam a encarar os meus,
vejo desejo neles, fazendo meu pau pulsar.
Ela começa a tirar a roupa e eu a observo atentamente, como um leão
faminto observa sua presa, ansioso para devora-la.
Ligo o chuveiro na água quente e quando ela entra no box, puxo-a para
debaixo da água comigo. Suas curvas delicadas se encaixam
perfeitamente com meu corpo. Beijo-a como se fosse a última vez, quase
a devoro. Suas mãos viajam por minhas costas e apertam minha
bunda, nesse momento perco meu controle e a espremo contra a
parede, levanto sua perna e deslizo para dentro do calor do seu corpo.
Ela geme, eu gemo, e nós dois nos perdemos um no outro.

Termino de me secar e coloco uma calça de moletom, Savannah vai


direto ao espaço no guarda-roupa que eu liberei para ela e começa a
pegar uma calça, eu vou até ela e tiro a calça da sua mão.
— Nada de roupa, baby. Quero você andando pela minha casa como
veio ao mundo. — Digo sorrindo maliciosamente.
Ela me olha de um jeito que me faz ter vontade de me enterrar nela
novamente. A seguro na cintura e puxo seu corpo para junto do meu,

144
seus seios nus roçando contra os meus. Essa é uma porra de sensação
deliciosa.
— Quero você de novo, Savannah. — Sussurro para ela.
Savannah agarra meu pescoço e ataca minha boca, gemo enquanto
deslizo minhas mãos por todo seu corpo. A conduzo até minha cama e a
deito, depositando vários beijos por seu pescoço.
— Justin. — Ela suspira meu nome e levanta o quadril, ansiosa para me
ter dentro dela.
Suas mãos vão até minha calça e começam a abaixa-la, mas então uma
batida forte na porta nos para. Caralho!
“Eu vou matar quem quer que seja!”
— Ah merda! — Savannah reclama.
— Shh, vamos ficar quietos, quem quer se seja vai embora logo. —
Sussurro para ela e então outra vez a pessoa bate na porta.
— Acho melhor você ir atender. — Ela diz e eu solto um suspiro
frustrado.
— Nem pense em mexer seu corpinho nu daqui. Vou dispensar quem
quer que seja e volto logo para continuarmos de onde paramos. — Dou-
lhe um beijo rápido nos lábios e me levanto, arrumando minha calça.
Furioso com quem quer seja que esta do outro lado da porta por
interromper meu momento com Savannah, vou abrir a porta de cara
feia.
“Tenho que falar com Carlos, para ele interfonar antes de deixar alguém
subir.”
Abro a porta e a imagem de Seth parado ali, bem na minha frente, me
congela no lugar. Olho para ele com os olhos arregalados e meu coração
começa acelerar.
— Seth? O que diabos você está fazendo aqui? — Pergunto
nervosamente depois que me recupero do susto.
— Nossa, isso é jeito de tratar o seu melhor amigo?
— Desculpa, é só que você me pegou de surpresa. — Digo implorando
mentalmente para que Savannah fique no quarto e bem quieta.
Se Seth pegar sua irmã na minha casa, na minha cama, e ainda por
cima nua...Sou um homem morto. Ele nunca entenderia que ela é uma
adulta e que consentiu com tudo que aconteceu entre nós. Ele ainda vê
as gêmeas como duas crianças.
— Está tudo bem, cara? Você está meio pálido. Cheguei em um mal
momento?
— Na verdade sim.- Digo fechando um pouco a porta e bloqueando a
visão do meu apartamento com meu corpo. Será que Savannah deixou
algo dela à vista? Deus, Seth tem que ir embora agora.

145
— Sinto muito, mas eu preciso conversar com um amigo, vai ser rápido.
— Ele diz abrindo caminho e entrando no apartamento.
Merda! Merda! Merda!
— Então Seth, me fale o que aconteceu. — Digo quase gritando para que
Savannah me escute e se esconda.
Ele se senta no sofá e esfrega o rosto, vou me sentar com ele.
— Eu e a Jane tivemos uma briga.
— Qual o motivo? — Pergunto.
— Filhos. — Seth diz tristemente.
— Ela quer começar uma família, esse é o problema? — Pergunto e Seth
ri sem humor nenhum.
— Antes fosse. É justamente o contrário, cara. Eu acho que já está na
hora de termos um filho, mas ela quer esperar mais. Você sabe que eu
sempre quis formar uma família com ela, meu sonho é ver a barriga
dela crescer e saber que uma vida está se formando lá dentro, uma vida
que nós dois criamos juntos. Eu quero tanto isso, cara, mais que tudo.
Então uns meses atrás eu toquei no assunto com ela.
— E ela?
— Ela disse que é cedo ainda, que ela quer muito ter filhos comigo só
que não agora. Eu venho tentando conversar com ela desde então, mas
ela sempre diz que não, que devemos esperar mais, que ainda não é o
tempo certo e um monte de desculpas. Mas eu não quero esperar mais,
cara. Eu quero ter um filho com a mulher da minha vida, mas ela não
quer.
— Calma, Seth. Vocês vão ter filhos na hora que for para ser, não se
preocupe com isso.
— E se ela não quiser mais ter filhos comigo, e se ela estiver usando
isso de não ser a hora certa apenas como desculpa? — Ele me olha com
preocupação nos olhos e eu tenho que rir da sua insegurança.
— Por favor, Seth. Você e a Jane, junto com o pé no saco do meu irmão
e a Kim, são os casais mais apaixonados que eu conheço. O jeito que
vocês se olham, cara, não precisa dizer mais nada. É óbvio que a Jane
te ama, e eu sei que ela sempre quis ser mãe. Vocês tem que sentar com
calma e conversar sobre isso, sem brigar.
— Mas eu tentei conversar com ela, ela está irredutível. Ela disse que
quer esperar pelo menos mais uns dois ou três anos até pensarmos em
filhos.
— Três anos não é muito. — Digo e me arrependo na hora que as
palavras saem da minha boca, Seth me olha parecendo estar prestes a
perder a paciência.
— É muito para mim. Sei que você não é capaz de entender esse
sentimento, mas eu quero mais do que tudo ter um filho para ensinar a

146
pescar, caçar, jogar futebol...Ou uma menina, para mima-la e ser a
minha princesa para sempre. Eu quero ter isso com a Jane, eu a amo e
quero que o nosso amor de frutos. Mas é claro que você não entende,
nem sei o porquê eu vim aqui. — Ele diz irritado e se levanta, indo em
direção à porta.
— Hey, calminha aí cara. Eu sou o seu melhor amigo, você pode sempre
contar comigo, você sabe disso.
Ele pare de andar e se vira para mim, colocando as mãos na cintura e
parecendo muito frustrado.
— O que eu faço, Justin? Eu quero ter uma família com ela mais do que
tudo. Nós estamos casados há um tempo agora, aproveitamos esse
tempo só nós dois e foi maravilhoso, mas eu estou pronto para ter
filhos, eu quero muito ter filhos.
— Seth, eu não sei exatamente qual o melhor conselho...Mas eu acho
você deve deixar a poeira abaixar um pouco e então vocês dois tentarem
resolver isso juntos, como um casal. Não deixem que algo que seria um
motivo de alegria para vocês seja o motivo de vocês se afastarem um do
outro.
Seth passa a mão pelos cabelos e lentamente concorda com a cabeça.
— Soa como algo sensato a se fazer. — Ele diz olhando fixamente o
chão. — Acho que eu vou fazer isso.
— Ótimo. E se você precisar de mais conselhos sábios é só me pedir.
Seth solta uma gargalhada e vem me dar um abraço.
— Valeu, cara. Sempre soube que apesar dos pesares, eu posso contar
com você.
— Sempre, irmão. — Digo dando dois tapas em suas costas.
— Bom, obrigado por me escutar, acho que agora eu vou deixar você
voltar para a sua garota.
— Como assim? — Pergunto olhando assustado e Seth solta mais uma
gargalhada.
— Ah cara, é óbvio, não? Você atendeu a porta com uma baita ereção.
Sinto muito se atrapalhei vocês, mas eu realmente precisava conversar.
Olho para ele e abro a boca, mas não sei o que dizer. Deus, se ele
soubesse quem é que está no meu quarto...Não gosto nem de pensar na
sua reação. Ele se sentiria traído, e com toda razão, se eu não desejasse
tanto Savannah que chega até a doer, eu nunca faria isso com ele. Às
vezes eu me sinto tão culpado quando eu penso no que estou fazendo,
mas é mais forte do que eu.
— Sem problema, cara. — Seth olha para além de mim com a testa
franzida, depois dá um sorriso brincalhão.
— Piquenique? — Ele aponta para algo, me viro e vejo a cesta de
piquenique. Droga!

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— Levando ela em um passeio antes de para sua cama? Nossa, quem é
você e o que você fez com o meu amigo?
— Muito engraçado, Seth. — Digo empurrando ele para a porta.
Assim que ela está fora do meu apartamento fecho a porta e encosto-me
nela.
— Cara, não acredito que isso acabou de acontecer. — Digo para mim
mesmo.
— Ele já foi? — Escuto a voz sussurrada de Savannah vindo do
corredor.
— Sim, ele já foi.
— Ah me Deus, não acredito que ele veio aqui enquanto a gente
estava... — Ela aparece enrolada no lençol e vem até mim.
— Eu sei. Você precisava ter visto a minha cara quando eu abri a porta.
Quase morri de susto.
— Coitado do meu irmão, eu sei que ele sempre quis ter um filho com a
Jane.
— Você ouviu nossa conversa?
— Só um pouco. — Ela diz envergonhada.
— Pois é, mas infelizmente isso só eles podem resolver, não podemos
fazer nada.
— Eu sei mas...Não gosto de ver ele sofrendo. — Ela diz com uma
carinha triste e sinto imediatamente vontade de consola-la.
— Hey, não fique assim. Sei que aqueles dois vão resolver tudo logo,
logo. — Digo abraçando-a.
— Espero que sim, eu ia adorar ter um sobrinho ou uma sobrinha. —
Ela diz e eu sorrio ao imaginar Savannah segurando um bebê. Sei que
ela seria uma tia maravilhosa, assim como ela será uma mãe
maravilhosa algum dia. Tudo o que ela quiser ser, ela será
maravilhosamente bem.
— Que tal voltarmos para a cama agora, hein? — Ela se afasta e me dá
um sorriso safado.
— Excelente ideia.

Savannah
Não consigo parar de encarar Seth durante todo o jantar. Coitado do
meu irmão, eu sei o quanto ele ama Jane e o quanto ele quer uma
família com ela. O pior é que eu não posso nem ao menos lhe oferecer
uma palavra de apoio, se ele soubesse como eu descobri sobre a briga
entre ele e Jane, bem, então eu teria que dizer que eu era a mulher com
quem Justin estava naquela tarde. Isso com certeza seria uma tragédia.

148
Ele e Jane estão sentados um ao lado do outro, como sempre, mas a
tensão entre eles é perceptível, todos na mesa devem estar sentindo
também.
— Então Kim, como estão os preparativos para o casamento? — Mamãe
pergunta.
— Nossa tia, nem comecei a ver nada ainda. Minha formatura foi
semana passada, preciso descansar um pouco. — Ela diz rindo e
tomando um gole do seu suco.
— Mas vocês querem se casar daqui a dois meses, temos pouquíssimo
tempo para preparar tudo. Temos que começar a providenciar as coisas
o mais rápido possível. — Mamãe diz ansiosa. Olho para Shanon e nós
duas sorrimos uma para a outra. Nós duas sabemos que o grande
sonho de mamãe é ajudar nos preparativos do nosso casamento, ver
suas menininhas se casando, mas como isso está bem longe de
acontecer ela está direcionando todas as suas expectativas e animações
para a coitada da Kim.
— Vocês vão querer se casar aqui na fazenda, não é mesmo? Eu tomei a
liberdade de comprar algumas revistas com decorações lindas para
casamentos ao ar livre, você tem que ver Kim, dá vontade de fazer
vários casamentos só para poder usar aquelas decorações, você vai
amar. — Mamãe e Kim passam o jantar todo conversando sobre os
preparativos para o casamento dela e de Jax, e Shanon, Jane e eu
acabamos sendo recrutadas para ajudar.
Depois do jantar mamãe serviu a sobremesa, torta de maça. Algo mais
tradicional impossível. Mas ninguém ousa reclamar, a torta de maça da
dona Marie é a melhor de todo o Texas.
Digo boa noite para papai e mamãe, Seth e Jane, e Kim, eu e Shanon
subimos e quando vou me despedir dela e entrar em meu quarto ela
segura meu braço e entra no quarto comigo.
— O que foi, Shanon? — Ela fecha a porta e vai se sentar na minha
cama.
— Preciso falar com você, sis.
— Agora? Estou com sono, conversamos amanhã, pode ser?
— Ah Savannah, eu preciso mesmo falar com a minha irmã e melhor
amiga, por favor.
— Tudo bem, desembucha de uma vez. — Digo me sentando ao seu lado
na cama.
— É que eu conheci um cara. — Ela diz com um sorriso apaixonado.
— Ah meu Deus, Shanon, isso é demais. Quem é ele? Eu conheço? —
Pergunto animada pela minha irmã.
— Sabe o Colin Bailey que está no time de baseball da faculdade? — Ela
pergunta animada e eu faço uma cara de nojo.

149
— Ah não, Shanon, você está apaixonada pelo Colin? Aquele cara é
nojento. — Digo indignada, como minha irmã pode se apaixonar por
aquele cara?
— Urgh! Claro que não, Savannah. Colin é um idiota.
— Então por que você disse...
— Quer deixar eu terminar, fazendo o favor? — Ela diz irritada.
— Tudo bem, tudo bem.
— Então, umas três semanas atrás eu estava sentada no jardim do
campus, embaixo daquela árvore que fica perto do prédio de anatomia.
Eu estava lendo e o idiota do Colin estava treinando arremessar e pegar
a bola com algum amigo dele ali perto. Acontece que aquele filho da
mãe acertou aquela maldita bola de baseball em mim, bem no meu
olho.
Abro a boca e xingo Colin e suas últimas três gerações. Aquele
desgraçado acertou minha irmã? Mas isso não vai ficar assim.
— Calma, Savannah, posso ver daqui a fumacinha de raiva saindo da
sua cabeça.
— É claro que eu estou com raiva, aquele idiota te acertou com uma
bola, e no olho.
— Não foi nada realmente, quer dizer, na hora doeu para caramba e até
ficou um pouco roxo mas...
— Ficou roxo? Mas como é que eu perdi um olho roxo? Eu não te vi com
nenhum hematoma. Você passou maquiagem?
— Você teria visto se você não andasse tão ocupada fazendo Deus sabe-
se lá o que no último mês e não tivesse me ignorado completamente.
Mas agora não é hora de falar disso, foco aqui Savannah.
Sinto-me um pouco mal por que sei que é verdade, eu tenho ignorado
minha irmã e até alguns dos meus amigos por causa do tempo que eu
tenho passado com Justin. Eu até deixei de visitar minha família alguns
finais de semana por que estava com ele, se não fosse Shanon insistir
eu estaria com ele agora e não na fazenda passando o fim de semana
com minha família.
Eu sou uma péssima filha e irmã!
— Tudo bem, desculpe. Continue.
— Então, como eu estava dizendo...Na hora doeu muito e eu até achei
que tinha ficado cega. O idiota do Colin veio me pedir desculpas e dizer
que tinha sido sem querer, aham sei. Enfim, eu fiz ele me levar até a
enfermaria para darem uma olhada no meu olho. Achei que iria ter que
enfrentar a assustadora Marta quando chegasse lá, mas fazer o que,
estava doendo muito. Acontece que quando eu cheguei lá, Savannah,
não era a Marta que estava na enfermaria para atender os alunos. —
Ela diz com um sorriso de orelha a orelha.

150
— Não? Então quem estava lá? — Pergunto ansiosa.
— Era o novo enfermeiro...Ah Savannah, quando eu vi ele eu...Eu me
esqueci de tudo. Da dor, do meu nome e até mesmo de respirar. E
quando ele falou comigo então, meu Deus achei que iria morrer. Aquela
voz sexy dele é de matar qualquer uma. — Ela diz ainda sorrindo e com
um brilho nos olhos que eu nunca tinha visto até então.
— Shanon do céu, me conta tudo sobre esse cara. Como ele se chama?
— Pergunto dobrando minhas pernas e sentando em cima delas, quase
pulando em cima de Shanon de tanta empolgação.
— O nome dele é Miguel Villareal. Acho que ele deve ser descendente de
mexicano, espanhol ou alguma coisa do tipo. Ele é lindo, Savannah.
Tem cabelos pretos enrolados, olhos âmbar e pele dourada. E quando
ele tocou meu rosto para examinar meu olho, eu achei que iria
desmaiar.
— Nossa, sis...Acho que eu não te vejo animada assim por causa de um
cara desde, bem, eu acho que nunca te vi animada assim por causa de
um cara. — Digo rindo para ela.
— Eu sei, eu sei. Não sei o que está acontecendo comigo, só sei que não
aguentava mais e precisava falar com você. Desde daquele dia na
enfermaria eu fico tentando arrumar desculpas para aparecer por lá. Eu
já até fingi torcer o tornozelo e uma dor de estômago só para ir lá ver
ele.
— Mas por quê? Se você gosta dele não precisa ficar arrumando
desculpas para vê-lo, apenas convide-o para sair.
— Não sei se eu consigo. E se ele tiver namorada? E se ele disser não?
Ah meu Deus. — Ela diz colocando as mãos no rosto.
— Ele demostrou algum interesse em você? — Pergunto.
— Não sei, quer dizer...Ele sempre é muito gentil e amável, ele sempre
sorri quando eu apareço lá, e faz piada e diz que eu sou desastrada e
frequento mais a enfermaria do que a sala de aula, e ele me olha de um
jeito diferente. Mas não sei, pode ser tudo coisa da minha cabeça.
— Eu acho que você tem que parar de ser uma menininha, seja uma
mulher e vá lá e pergunte se ele quer sair com você, se ele disser que
não, você sai de lá com o queixo erguido como se não fosse nada
demais.
— Mas vai ser demais, não sei se eu consigo ser rejeitada por ele. E se
ele disser que tem namorada acho que eu vou passar mal. — Ela diz
mexendo as mãos impacientemente.
— Não seja medrosa, Shanon.
— Não implique comigo. Se a situação fosse o contrário você também
não teria coragem de ir falar com ele.
— Claro que teria. — Digo indignada e ela apenas levanta uma
sobrancelha e cruza os braços.

151
— Todo bem, eu também não teria. Mas não estamos falando de mim, e
sim de você. Se você gosta dele tem que tentar, sis.
— Eu não sei, Savannah. Toda vez que eu chego perto dele me dá uma
coisa estranha na barriga, não sei se conseguiria convidar ele para sair.
Eu iria gaguejar, passar a maior vergonha e depois sair correndo de lá.
— Shanon você não... — Paro de falar quando escuto meu celular. Pego
ele e vejo que é uma mensagem de Justin. Tento não demostrar
nenhuma emoção para que Shanon não perceba.
Justin: Olá, Little Nips, só queria te desejar uma boa noite. Vou sair
com alguns amigos do trabalho então a gente se fala na segunda.
Até lá, bjos!
Franzo a testa ao ler a mensagem dele. Sair com os amigos? O que ele
quis dizer com isso, será que ele vai sair para se embebedar e ficar com
alguém, algum mulher?
Pensar nele com outra mulher me faz ficar imediatamente com raiva.
Sei que a gente não falou nada sobre ser exclusivo, mas eu achei que
estava implícito no nosso acordo. Eu não estou nem um pouco a fim de
dividir o Justin com alguma dessas vadias que ele encontra nas suas
noitadas.
O que nós temos é só sexo, ok eu entendi e aceitei isso, mas eu não vou
dividir a cama dele com outra, ou outras.
E porque nos falamos só na segunda? Por acaso ele vai estar ocupado o
domingo todo brincando com a vadia que ele vai pegar hoje na balada?
— Urgh! — Digo jogando meu celular na cama.
— O que foi, sis? Algum problema? — Shanon pergunta e eu tento
desfazer a minha cara emburrada.
— Não, não é nada.
— Você parece bem frustrada para ser nada. — Ela comenta me olhando
desconfiada.
— Não é nada, é sério.
— Ok, é assim então? Eu aqui abrindo meu coração para você e você aí
escondendo coisas da sua própria irmã?
— Shanon, não faça drama, não é nada, sério.
— Tudo bem, então. — Ela diz se levantando.
— Hey, onde você vai?
— Eu vou dormir e ter um sonho muito agradável com o meu enfermeiro
lindo.
— Você vai chama-lo para sair ou vai ficar só no sonho? — Pergunto.
Ela não diz nada, apenas me dá um sorriso fraco e então vai embora.
Essa minha irmã...Ela pode parecer não ter um pingo de vergonha e ser
super extrovertida, mas quando se trata de um cara que ela gosta, não

152
somente está interessada, mas um que ela realmente gosta, ela fica
mais tímida do que eu. Espero que ela tome a iniciativa e convide esse
tal de Miguel para sair.
Levanto-me e vou me preparar para dormir, coloco meu pijama e vou ao
banheiro escovar os dentes. Quando volto para meu quarto vejo a luz do
meu celular piscando, indicando que tenho uma mensagem. Pego o
celular achando que pode ser alguma coisa do Justin, mas quando vejo
o nome de Vince paro um momento antes de abri-la.

Vince: Pensando em você...


Não acredito. Quando passa alguns dias sem noticias dele e eu começo
a pensar que ele esqueceu da minha existência, boom, ele aparece de
novo.
Qual é a do Vince? Quer dizer, se ele me amasse mesmo ele não teria
feito o que fez, por que ele continua insistindo nisso, ele não percebe
que isso me faz mal? É inevitável, por mais que meus sentimentos por
ele agora não estejam nem perto do que eram antes, eu ainda sinto uma
tristeza por tudo o que aconteceu. Eu ainda não consegui bloquear
totalmente os momentos incríveis que tivemos juntos, assim como não
consegui bloquear a imagem dele com Aletta. Ainda machuca, não
tanto, mas machuca.
Deixo o celular na cômoda ao lado da cama e me deito, apago o abajur e
fecho os olhos tentando relaxar.
Quando estou quase adormecendo escuto meu celular apitar indicando
mais uma mensagem.
Maldição.
Minha curiosidade é maior que meu sono, então estendo o braço e
agarro o aparelho.
Vince: Ainda pensando em você...
Logo em seguida vem outra mensagem.
Vince: Savy, por favor, me responda. Vamos conversar.
Olho a mensagem e por um momento me sinto tentada a responde-lo.
Deixo o celular descansando em meu peito enquanto encaro o teto
fixamente.
Alguns minutos se passam e outra mensagem chega.
Vince: Quando penso em você me sinto flutuar,
me sinto alcançar as nuvens,
tocar as estrelas, morar no céu...
Tento apenas superar
a imensa saudade que me arrasa o coração,
mas, que vem junto com as doces lembranças do teu ser.

153
É através desse tal sentimento, a saudade
que sobrevivo quando estou longe de você.
Ela é o alimento do amor que encontra-se distante...
Tudo isso acontece porque amo e penso em você...
Leio sua mensagem e sinto um calor se espalhar por meu peito e um
frio na barriga. Isso não é justo.
Várias imagens dos momentos felizes que eu passei com Vince invadem
minha mente. Eu amei tanto ele, tanto.
Se ele não tivesse me traído, se ele não tivesse matado meu amor por
ele...Ah Vince!
Sinto uma lágrima solitária escorrendo por meu rosto. Seguro meu
celular e clico em responder.
Fico encarando a tela por alguns minutos, para então finalmente digitar
uma resposta.
Savy: Citando Shakespeare? Nunca achei que esse dia chegaria!
Aberto em enviar antes que eu possa mudar de ideia. Menos de um
minuto depois recebo uma resposta.
Vince: Para você ver o que você faz comigo, Savy. Pelo menos fez
com que você me respondesse ;)
Savy: Só respondi pq fiquei surpresa. Achei que alguém poderia ter
pegado o seu celular e estar mandando msgs românticas!
Vince: Tão difícil assim de acreditar que era eu? Eu sempre fui
romântico com você, Savy!
Savy: Não me faça rir...
Vince: Ai, assim você machuca meu pobre coração, e olha que ela já
está bem judiado. Como assim? E aquela vez que eu paguei para o
vigia do planetário deixar a gente entrar depois do horário? Eu te
mostrei todo o universo naquela noite, isso pra mim é super
romântico.
Sinto minhas bochechas pegarem fogo e um pequeno sorriso se formar
em meus lábios. Eu lembro muito bem daquela noite. Vince me levou
até o planetário, estendeu uma coberta no chão e nós dois ficamos
horas deitados olhando para cima vendo as projeções dos planetas.
Depois fizemos amor lenta e apaixonadamente enquanto a imagem de
várias estrelas giravam em nossas cabeças.
Savy: Ok, admito, aquilo foi muito romântico.
Vince: Eu nunca vou me esquecer daquele dia, de nenhum dia em
que passamos juntos. Como eu queria voltar no tempo, garantiria
que eu não seria um idiota e não te perderia.
Savy: Infelizmente o que está feito está feito, não tem como voltar
atrás.

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Vince: Você está em Dallas?
Savy: Wills Point.
Vince: Que pena, queria tanto te ver, estou com tanta saudades :(
Savy: É melhor continuarmos mantendo distância, assim as coisas
ficam mais fáceis.
Vince: Não tenho certeza sobre isso, as coisas estão bem difíceis
para mim, Savy.
Não fique com dó dele, Savannah, não fique. Foi ele quem provocou
isso, foi ele quem causou esse sofrimento todo, não você.
Vince: A gente poderia pelo menos voltar a se falar, a se ver...Você
está me matando me afastando da sua vida assim, Savy.
Savy: Você me magoou muito...
Vince: Eu sei, e você não tem ideia do quanto eu me odeio por isso!
Savy: O que está feito está feito. Vou dormir agora, boa noite!
Vince: Espera!
Vince Deixa eu te pergunta uma coisa...
Savy: O que?
Vince: Se eu fosse romântico, tipo, muito romântico mesmo, eu
teria alguma chance de voltar com você?
Savy: Não.
Vince: Não? Assim, sem dó nem piedade? Um talvez teria
machucado menos.
Savy: Mas teria sido uma mentira.
Vince: O quão romântico é um cara aparecer na janela do quarto da
garota que ele ama a noite, com toda a sua família dormindo, e
recitar Shakespeare?
Savy: Muito romântico, pq?
Vince: Vá até a sua janela, Savy!
“O que, como assim?”
Jogo meu celular e saio correndo da cama, me embolando na coberta.
Chego até a janela do meu quarto, que fica no lado da casa, e a abro.
— Ah meu Deus! — Exclamo surpresa quando eu vejo alguém lá
embaixo. Está muito escuro, mas o cara iluminado pela luz da lua e que
segura um buquê de flores é, sem sombra de duvidas, Vince.
— Deus do céu, o que você está fazendo aqui? — Sussurro rezando para
que meus pais não acordem.
— O meu amor eu guardo para os mais especiais. Não sigo todas as
regras da sociedade e às vezes ajo por impulso... — Ele começa a dizer.
— Shhh, você vai acordar meus pais.

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—...Erro, admito. Aprendo, ensino. Todos erram um dia: por descuido,
inocência ou maldade...
— Se meu pai ver você aqui ele vai te matar, cala essa boca.
—...Conservar algo que faça eu recordar de ti seria o mesmo que admitir
que eu pudesse esquecer-te. — Ele fica em silêncio por um momento e se
aproxima mais da casa.
— Eu nunca vou te esquecer Savannah. Eu te amo.
Ah meu Deus. Ah meu Deus!
Esse filho da mãe traidor sabe como fazer uma garota ficar balançada.
Mas que droga.
— Vince, isso foi lindo. Mas você tem que ir, se meu pai te pegar aqui
ele...
— Você me chamou de Vince. — Ele diz com um sorriso e só então
percebo que o chamei pelo apelido carinhoso e não por seu nome,
Vincent.
— Chamei. — Admito.
— Venha aqui embaixo ou eu subirei até aí. — Ele diz.
— O que? Não, você tem que ir embora. Como você entrou aqui, aliás?
— Nada é impossível para um homem apaixonado.
Maldito bastardo romântico! Mas que droga, não caia nessa, Savannah.
— Então, devo subir até aí?
Desvio meu olhar dele e olho para além, para o horizonte distante e
penso por alguns minutos.
— Eu estou descendo. — Digo e fecho a janela antes de poder ouvir sua
resposta.
“Não acredito que estou fazendo isso! Vou descer apenas para dizer que
ele vá embora, nada mais.”
Calço minha bota ugg e desço as escadas o mais silenciosamente
possível. Acendo a luz da varanda e destranco a porta.
Quando abro a porta vejo Vince parado no final da escada, eu fecho a
porta atrás de mim e ele sobe os degraus e para na minha frente. Seus
olhos viajam pelo meu corpo, olho para baixo e percebo que estou
apenas de pijama, um short curto e uma regata de algodão.
Ele lambe o lábio e me olha com desejo, cruzo os braços da frente do
meu peito e me sinto desconfortável.
— Você não deveria estar aqui. — Digo-lhe.
— Talvez, mas eu precisava te dar isso. — Ele estica o braço e me
entrega o buquê de rosas vermelhas.
— Sinto muito que você não tenha recebido o anterior. — Ele diz com
aquele sorriso que ele sabe que faz meus joelhos fraquejarem.

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— Você poderia me entregar segunda na faculdade. — Digo cheirando as
rosas.
— E perder a chance de agir como os mocinhos dos livros românticos
que você lê? — Ele diz e eu não consigo evitar que um sorriso tímido se
espalhe por meu rosto.
— Elas são lindas, obrigada.
— De nada. — Ele diz e acaricia meu rosto.
— Não, por favor. — Peço e ele afasta a mão com um olhar triste nos
olhos.
— Sinto muito. — Ele sussurra e olha para baixo. — Por tudo. Espero
que algum dia você não me odeie mais.
— Vince, eu não te odeio. — Digo sentindo pena dele.
— Não? — Ele levanta o olhar e me encara. Sinto meu coração
amolecendo cada vez mais.
— Não. Eu te odiei quando eu abri aquela porta e vi você na cama com
ela, eu te odiei naquela festa quando eu vi você com ela de novo, mas
agora, eu não te odeio mais. O que eu sinto agora é tristeza...Tristeza
pelo que poderia ter sido, mas nunca será.
— Ainda pode ser, Savy, ainda pode ser.
— Não, Vince. Não pode.
— Por favor, me dê mais uma chance.
— Eu não posso...Não consigo. — Digo e sinto meus olhos se enchendo
de lágrimas, forço-as a não se derrabarem.
— Eu te amo. — Respiro fundo, lutando para não quebrar na frente
dele.
— É melhor você ir agora.
— Por favor, Savy.
— Vince...
Ele coloca as mãos no bolso da jaqueta e assente tristemente algumas
vezes.
— Entendi, você não vai mesmo me dar uma segunda chance, não é?
— Sinto muito.
— Será que podemos voltar a ser amigos? Ou pelo menos conversar de
vez em quando?
— Talvez, não posso prometer nada.
— Acho que já é um começo, algo para eu ter esperança. — Ele diz com
um sorriso fraco.
Ele se aproxima e me dá um beijo rápido na bochecha e então se afasta,
indo embora.

157
— Vince? — Chamo-o e ele se vira.
— Sim?
— A gente se fala segunda, na faculdade, pode ser? — Pergunto e vejo
um brilho em seu olhar que rapidamente identifico como esperança.
— Só como amigos, quero dizer. — Rapidamente acrescento, mas o
brilho no seu olhar ainda está lá e lentamente um sorriso alegre se
espalha pelo seu rosto.
— Claro. Até segunda então.
— Obrigada pelas flores, de novo.
— O prazer é meu, Savy. — Ele diz e então se vira e começa a caminhar
para longe, provavelmente para seu carro que deve ter ficado na
estrada, já que a porteira sempre fica fechada a noite.
Observo-o até ele ser tragado pela escuridão da noite.
Entro em casa e tranco a porta, me encosto nela e solto um suspiro.
Mas que droga. O que acabou de acontecer aqui? Eu perdoei Vince?
Estou disposta a voltar a ser sua amiga? Porcaria.
Fecho os olhos e os esfrego com os dedos. Quando olho para cima vejo
Shanon me olhando com um sorriso reconfortante.
— Você estava aí o tempo todo, hein? — Pergunto.
— Quase. Mas ouvi uma boa parte da conversa, sinto muito.
— Tudo bem, antes você do que papai ou mamãe.
— Porque você não me contou que o motivo de você e o Vince
terminarem foi porque ele te traiu?
— Não queria que ninguém soubesse, acho que fiquei com vergonha,
com medo que vocês me dissessem “eu te avisei”.
— Ah sis, ninguém diria isso. — Ela diz e vem me abraçar.
— Sinto muito mesmo que ele tenha feito isso com você. Mas me
parecesse que ele está mesmo arrependido.
— Você acha?
— Foi o que pareceu.
— Eu não sei o que fazer, Shanon.
— Acho que retomar a amizade com ele aos poucos pode ser um bom
começo, desde que isso não vá machucar você, é claro. Agora se você
não conseguir ser amiga dele novamente, então é só me falar que eu o
faço ficar longe de você. Ninguém mexe com a minha irmã. — Ela diz
toda protetora e eu rio.
— Eu te amo, Shanon.
— Eu também te amo, sis. Faça o que você acha que é o certo, não
importa o que seja, eu sempre vou te apoiar. Sempre.

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Escuto suas palavras e meu coração se enche de amor por ela, mais do
que eu já sentia antes. Eu amo tanto minha irmã, Seth e meus pais.
Preferiria morrer a machuca-los.
Eles são as únicas pessoas que eu tenho certeza que nunca vão me
trair.

159
Invadindo um baile de formatura
Justin
Oito anos atrás...
— Você tem certeza que quer fazer isso? — Pergunto. Quando ele não
me responde viro-me e o vejo encarando fixamente a porta do ginásio.
— Seth, cara, você está me ouvindo?
— O que? — Ele pergunta parecendo sair de algum tipo de transe e seu
olhar encontra com o meu.
— Você tem certeza quer ficar? Quer dizer, são 9 horas ainda, eles só
vão sair lá pela meia noite, ou mais tarde.
— Tenho certeza. Não vou sair daqui até que eles saiam também. — Ele
diz voltando a observar através do vidro do carro quem entra e quem sai
do ginásio.
— Tudo bem, você quer ficar aqui e bancar o perseguidor, tudo bem
para mim, mas eu estou dando o fora. — Antes que eu possa sair, sua
mão pesada repousa sobre meu ombro.
— Nem pense em ir embora, você causou isso então você vai me ajudar
a concertar.
— Cara, o que a gente pode fazer se ela quiser fazer alguma coisa com
ele? — Seth vira a cabeça lentamente e eu juro que nunca vi um olhar
tão assassino em seu rosto como agora.
— Ela.Não.Vai.Fazer.Nada.Com.Ele. — Ele diz com os dentes cerrados e
as mãos fechadas em punho.
— Tudo bem, então o que estamos fazendo aqui? Você acha que ele vai
tentar algo com ela e você espera ir lá, salva-la e se tornar o seu herói?
— Mais ou menos isso.
— E se ele não tentar nada? — Pergunto e Seth dá uma risada seca.
— Ele vai tentar. Ela é linda, ele é um moleque que só tem uma coisa na
cabeça e hoje é a noite da formatura deles. Todos os garotos lá dentro
estão esperando transar depois do baile e você sabe muito bem disso.
— Tudo bem, então você vai garantir que ele a leve direto para casa
depois do baile. — Ele apenas assente. — E vai ser só isso, não é? Você
não vai se meter em nenhuma confusão, vai?
— Meu Deus, Justin, quando foi que você virou uma garota? Achei que
você corresse em direção de problema, e não corresse dele.

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— Isso é ferrado, cara, só digo isso. — Digo soltando um suspiro de
derrota e me reclinando mais no banco do carro.
Ficamos alguns minutos em silêncio, imersos no completo e absoluto
tédio, até que Seth começa a resmungar.
— Ele deve estar nesse momento dançando com ela, segurando na sua
cintura e sussurrando em seu ouvido. Bastardo. Eu que deveria estar
com ela lá dentro...Maldito Ryan Johnson.
— Aposto que ele está imaginando como vai se dar bem hoje a noite,
idiota, a única coisa que ele vai ganhar hoje se tentar algo com ela é um
olho roxo.
— Não acredito que estou perdendo esse momento da vida dela, eu
queria estar com ela lá dentro, dançando juntos uma musica
romântica, pegando ponche quando ela estivesse com sede,
emprestando meu paletó quando saíssemos e ela estivesse com frio.
Levar ela para algum lugar e faze-la se sentir amada.
— Eu que deveria estar lá dentro com ela. — Ele diz mais uma vez e eu
reviro os olhos com impaciência. Deus do céu, não aguento mais ouvi-lo
reclamando e não fazendo nada.
— Então entre lá. — Digo de saco cheio.
— Como assim? — Ele me olha curioso. — O que você quer dizer?
— Isso que você ouviu. Entre lá e dê um chega para lá naquele garoto e
dance com a sua garota.
— Ela não quer me ver nem pintado de ouro, Justin. Ela nunca vai
largar ele para dançar comigo, ela foge toda vez que me vê.
— Você não parou para pensar o motivo dela fugir e não querer ficar
perto de você? — Ele me olha confuso e eu continuo. — Ela sabe que se
ficar tempo suficiente perto de você, ela vai ceder. Ela te ama e quem
ama é fraco.
— Ela não me quer por perto porque ela não me suporta, ela está
magoada.
— Cara, entre lá dentro e a faça te escutar por pelo menos cinco
minutos. Ela nunca te deu chance de explicar o que realmente
aconteceu. Já passaram meses desde a festa, ela está de cabeça fria
agora. Se você insistir, ela vai ceder.
— Mas na festa de formatura dela? Você está dizendo para eu
simplesmente entrar lá e arranca-la dos braços daquele moleque e
obriga-la a me escutar?
— Exatamente isso que eu estou dizendo.
— Muito cavalheiro. Não vai funcionar, não tem como eu ir lá, afastar o
idiota e faze-la me escutar.
— Bem, nisso você tem razão. Você tem que conversar com ela longe do
idiota.

161
— Só se você me ajudar com isso. — Ele diz me olhando com um sorriso
lento e diabólico surgindo em seus lábios e iluminando seu rosto.
— Como assim te ajudar? Ajudar como?
— Vamos entrar lá, localizar os dois e esperar o melhor momento. Então
quando chegar a hora, você arranca o moleque de lá e leva para algum
lugar, o banheiro, os fundos do ginásio, amara ele e joga na caçamba de
lixo...Sei lá, qualquer coisa que vá mante-lo afastado dela tempo
suficiente para que eu a convença a me escutar.
— Cara, isso vai dar merda. — Digo tendo uma sensação ruim sobre
isso.
— Você me deve essa, Justin. — Ele joga na minha cara e a culpa por
ter dado aquela maldita festa onde tudo aconteceu me atinge como um
soco no estômago.
— Tudo bem, vamos nessa. — Digo saindo do carro.
— Se eu soubesse que iriamos invadir a festa tinha me vestido melhor.
— Seth diz arrumando a camisa de flanela verde e passando as mãos na
calça jeans.
“Depois eu que sou menina.”
Passamos pela porta e andamos pelo corredor, mas paramos quando
vemos uma mesa com duas garotas bem ao lado da porta fechada que
leva para a festa.
— Merda, sujou. Só entra quem tem ingresso. — Seth diz virando para
mim e passando a mão pelos cabelos.
— E agora? — Pergunto.
Ele vira a cabeça discretamente e observa as duas garotas que estão
conversando.
— Você tem que ir lá e persuadi-las a nos deixar entrar.
— Com persuadi-las você quer dizer...
— Quero dizer dar em cima delas. Mas isso não vai ser um problema,
não é? Você vive para isso.
— É, mas em cima de garotas gostosas, essas daí... — Olha para as
duas garotas com seus vestidos estranhos. Seth sabe que quem fica
encarregado de recolher os ingressos na entrada são as pessoas que
não receberam nenhum convite para ir ao baile. Ou seja, normalmente
garotas estranhas que nenhum cara quer ser visto com.
— Ou você faz isso ou não vamos conseguir entrar.
— Vamos tentar a porta dos fundos. — Digo com esperança.
— Você sabe que a porta dos fundos do ginásio só abre por dentro. Você
já estudou nesse colégio, cabeção. — Ele diz me dando um tapa na
parte de trás da cabeça.
— Tudo bem então, e se oferecermos dinheiro? — Sugiro outra opção.

162
— Elas tem cara de quem vão gostar mais de um cara bonitão como
você dando em cima delas do que de algumas notas, meu amigo. — Ele
diz com uma cara divertida.
Ele está se divertindo as minhas custas. Filho da mãe.
— Porque não vai você falar com elas, você também é bonitão, amigo. —
Digo com raiva contida.
— Eu sou um homem comprometido. Não vou dar em cima de outra
mulher enquanto a mulher que eu amo está do outro lado da porta.
— Você é um fodido mesmo, sabia? — Pergunto e começo a caminhar
em direção à mesa com as duas meninas, posso ouvir a risada de Seth e
tenho que me lembrar de que só estamos nessa situação por culpa
minha, e que eu devo isso para ele.
Paro em frente da mesa com o meu melhor sorriso “arranca calcinha”,
as duas param de conversar quando percebem minha presença e se
viram em minha direção. As duas abrem a boca e me olham como se
quisessem me devorar.
Sinto um arrepio e o meu sorriso vacilar, mas disfarço e continuo
sorrindo para elas. Apoio ambas as mãos na mesa e me inclino para
frente.
— O que moças tão lindas estão fazendo aqui que não estão lá dentro se
divertindo?
Elas se olham com sorrisos tímidos no rosto, as bochechas da loirinha
se transformam com tons de vermelho e sua amiga, a morena, abre a
boca e gagueja:
— Esta-tamos recolhendo-do os ingressos.
— É, porque nenhum garoto nos convidou para o baile. — A loira diz
olhando para baixo e com um tom de voz que faz me sentir mal.
Sua amiga morena rapidamente tenta a cutucar disfarçadamente
repreendendo-a por ter contato o fato vergonhoso.
— Pois eu acho que é eles que saíram perdendo. — Digo com a voz baixa
e sedutora e pisco para elas.
Elas soltam risinhos e não conseguem me olhar direto nos olhos.
— Acho que vocês deviam largar o posto, ir lá dentro e mostrar para
aqueles idiotas o que eles estão perdendo. — Digo e acaricio a bochecha
da morena e depois da loira. Quando as toco dão a impressão que estão
prestes a entrar em combustão ali mesmo, bem em frente aos meus
olhos.
— Todos os garotos já possuem um par, não teríamos ninguém com
quem dançar. — A loira diz e me dá um sorriso triste.
— Qual é o nome de vocês, lindas? — Pergunto.
— Sandy. — A morena responde.

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— Amber. — A loira responde em seguida.
— Muito bem, eu vou dizer o seguinte Sandy e Amber, eu dançarei com
vocês, o que acham?
— É sério isso? Você vai dançar com nós duas? — Sandy pergunta com
um sorriso animado.
— Você não estuda aqui, não é? Você é mais velho. — Amber diz me
olhando curiosa.
— Não, linda, não estudo. Eu estudo na UTD.
— Você está na faculdade! — As duas exclamam juntas e eu tenho que
rir. Garotas de ensino médio sempre terão esse fetiche com caras da
faculdade.
— Isso mesmo, lindas.
— E o que você esta fazendo no nosso baile? — Amber pergunta.
— E se oferecendo para dançar conosco? — Sandy complementa.
— Estão vendo aquele cara ali? — Viro-me parcialmente e aponto para
Seth, que está com as mãos no bolso da calça e olha em nossa direção,
quando ele vê as meninas o observando sorri para elas.
Quando me viro para elas de novo, vejo que estão praticamente
babando enquanto olham para Seth.
— Podem tirar o cavalinho da chuva, lindas, aquele ali tem namorada. E
é por isso que eu estou aqui. Aquele ali é o meu melhor amigo, ele se
chama Seth e namora uma garota que estuda aqui. Resumindo a ópera,
os dois brigaram e ele quer fazer uma surpresa para ela hoje a noite,
acontece que ela está lá dentro. — Aponto para a porta fechada de onde
uma musica abafada ecoa. — E eu precisava muito mesmo que vocês
deixassem nós dois entrarmos, mesmo sem um convite.
As suas se olham com um misto de desconfiança e medo.
— Não sei não. — Sandy diz parecendo indecisa.
— Nós não temos permissão de deixar ninguém entrar sem convite ou
que não estude aqui. — Amber complementa.
— Ah, por favor, lindas. Vocês tem a chance de ajudar o meu amigo de
coração quebrado e vocês realmente não vão fazer isso? Não custa
nada. Olhe, nós entramos lá, ele e a Jane se reconciliam e depois nós
três dançamos até não aguentarmos mais, o que vocês me dizem?
— Espera um momento, você disse Jane?
— Jane Mahler? — Amber pergunta.
— Essa mesma, vocês a conhecem?
— Conhecemos. — Elas respondem juntas.
— As meninas daqui sempre são umas vadias com a gente, menos a
Jane, a Jane sempre é legal.

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— Então, deixem Seth e eu entrarmos. A Jane vai ficar muito feliz.
Elas ficam em silêncio um momento enquanto decidem, depois de
alguns segundos sorriem e assentem com a cabeça.
— Tudo bem, mas não vão fazer nada que vá nos colocar em confusão,
ok?
— Ok. — “Não posso prometer nada”. Penso.
Viro-me para Seth e faço sinal para que ele se aproxime, ele caminha
em minha direção com um olhar determinado.
— Essas lindas liberaram para entrarmos. — Digo para Seth e ele lhes
dá um sorriso de agradecimento.
— Muito obrigado.
Elas ficam tímidas e apenas sorriem como resposta para ele.
— Obrigado, lindas. — Digo e dou um beijo na bochecha de cada uma,
seguindo Seth para dentro do ginásio sem ficar para ver a reação delas.
Deixo a porta se fechar atrás de mim e observo o ambiente. O local está
lotado de adolescentes dançando ao ritmo da musica tocada por uma
banda também de adolescentes, que se encontra no palco do outro lado
do ginásio.
A decoração me lembra Mardi Gras, acho que esse deve ser o tema. Há
balões por todo lugar, muitas cores e a maioria das pessoas estão
usando máscaras.
— Fique de olho, se você ver ela me avise. — Seth grita no meu ouvido e
eu apenas concordo com a cabeça.
Depois de alguns minutos passando os olhos pelo local e sem obter
sucesso, finalmente localizo Jane e...Merda! Ela está dançando com o
idiota.
Os dois estão de máscaras, mas eu sei que são eles. Tenho que avisar
Seth que os localizei, mas ele não ficará nem um pouco feliz quando ver
os dois dançando juntos, mas que droga, a musica é animada então
porque esse idiota está espremendo Jane contra seu corpo?
Bato no ombro de Seth e aponto para a pista de dança, na direção dos
dois. Assim que Seth os vê sinto-o ficar tenso.
— Calma. — Digo em seu ouvido. Ele observa os dois dançando com um
olhar muito zangado e fico com medo que ele decida encher o cara de
porrada na frente de todo mundo.
— Eu vou tirar o cara daqui e você pega o lugar dele. Dança com ela e
vê se pelo amor de Deus fazem as pazes logo, ok? — Ele apenas assente,
então nos encaminhamos para onde os dois estão dançando.
Vou na frente e Seth vem logo atrás de mim, tomamos o cuidado para
que Jane não nos veja antes da hora. Chego por trás dela e a seguro
pelos braços, sem dar tempo dela ou do idiota reagirem, puxo-a

165
rapidamente dos braços dele e a giro, jogando-a nos braços de Seth que
está atrás de mim.
Não fico para ver o que acontece, com um aperto firme agarro Ryan e o
empurro para fora daquele amontoado de adolescentes.
Ele começa a se debater e a tentar se soltar e começa a me xingar, mas
não o escuto claramente por causa da musica, algumas pessoas nos
encaram rapidamente com curiosidade mas logo voltam sua atenção
para seu par.
O arrasto sem maiores dificuldades até a porta dos fundos, abro-a e o
jogo para fora do ginásio, ele cambaleia e quase cai no chão. Saio para o
ar fresco e ameno da noite e deixo a porta se fechar atrás de mim.
— Você está louco, cara? Quem diabos é você? — Ele pergunta bravo e
retira a máscara preta que cobria apenas metade do seu rosto.
— Justin Cord, amigo do Seth, muito prazer. — Digo me divertindo com
a situação.
— Posso saber por que você me arrastou aqui para fora, idiota?
— Para o Seth poder dançar com a Jane em paz e para que eles façam
as pazes sem ter a sua presença apaixonada para incomoda-los. — Digo
com um sorriso falso.
— Seu idiota, a Jane está comigo agora. — Ele diz e pelo bem estar do
coração de Seth e pelo bem da cara desse moleque, espero que ele não
esteja se referindo a ela estar com ele como namorada.
— Ele a traiu e agora vem querer ela de volta? Bom, é tarde demais. Ela
merece alguém melhor.
— E esse alguém melhor seria você? — Pergunto rindo.
— Seria sim. A Jane estava começando a se curar e eu estava a
ajudando, não vou permitir que ele a machuque de novo. — Ele diz todo
corajoso e começa a caminhar para a frente do ginásio.
— Epa, onde você pensa que vai? — Digo dando um passo grande e o
segurando pelo braço.
— Me solta, otário Eu vou voltar para a minha garota. — Ele diz
tentando se livrar do meu aperto de aço. Jogo minha cabeça para trás e
solto uma gargalhada, sinto algumas lágrimas escorrerem dos meus
olhos de tanto rir. Quando me recupero olho-o seriamente.
— Olha aqui babaca, primeiramente, ela não é a sua garota. Ela é do
Seth e sempre será, porque aqueles dois nasceram para ficarem juntos,
ok? E olha que eu estar dizendo essa palhaçada toda é um grande
negocio, porque eu não acredito muito nisso, mas enfim...Segunda
coisa, ele não traiu ela, não que eu tenha que dar alguma satisfação
para você, mas ele nunca faria isso. E terceiro, acho melhor, para o seu
próprio bem, você ficar longe dela. O Seth é um cara ciumento e se você
continuar dando em cima da garota dele, não vai ser nada bonito.
— Você está me ameaçando?

166
— Eu não, estou apenas te avisando, dando um conselho se preferir. O
Seth e a Jane se amam, muito mesmo. De um jeito tão forte que eu
nunca vou ser capaz de compreender, e apesar de eu ser muito cético
com relação a essas baboseiras de amor e achar que isso é sinônimo de
problema, o meu amigo não acha. Ele acredita no amor e se entregou de
corpo e alma nessa relação com a Jane. Demorou um pouco para eu
entender e até mesmo aceitar essa relação deles, e mesmo ainda não
compreendendo muito bem, eu respeito. Ela faz o meu amigo feliz então
o que me importa se eu acredito no amor ou não? Seth está feliz, então
eu estou feliz, e qualquer um que quiser atrapalhar essa felicidade, vai
ter que se ver com o Seth e comigo. Você está entendendo o que eu
estou dizendo, bro? — Acabo falando mais do que deveria, mas pelo
menos acho que atingi o resultado esperado. Vejo o idiota engolindo em
seco e parecendo amedrontado. Sorrio internamente.
Ninguém vai atrapalhar a felicidade do meu melhor amigo. Seth não é
meu irmão de sangue, mas é de coração, e depois de ver ele se
transformar em um lixo ambulante com o termino do namoro, meio que
caiu a minha fixa. Prometi para mim mesmo que apesar de achar que o
amor o transformou em uma menininha chorona e que ele deveria estar
pegando o maior número possível de mulheres ao invés de uma só, eu
não faria mais piadas sobre isso, ou diria como ele esta cometendo um
grande erro ou ainda brincar com ele e dizer que se ele quisesse eu
poderia arrumar um rabo gostoso para ele para dar uma variada. Não
farei mais isso. Vou respeitar a escolha do meu melhor amigo, se ele
quer se amarrar a só uma garota apenas com 21 anos, então vou dar
apoio total. E se alguém ameaçar esse relacionamento, eu brigarei como
se a causa fosse minha. Porque afinal, é isso que irmãos fazem um pelo
outro.
— E se ela não quiser se afastar de mim? — Ele pergunta.
— Não me interessa, é melhor você se afastar dela, porque se você
continuar essa amizade com segundas intenções, eu acabo com você. E
sim, isso sim foi uma ameaça.
— Será que você pode me soltar?
— Se você tentar ir lá dentro e atrapalhar o dois você vai se arrepender.
— Digo e solto o idiota.
Alguns minutos se passam e eu continuo do lado de fora do ginásio
vigiando o Ryan “babaca” Johnson. Ele não tentou fugir nenhuma vez,
mas mesmo assim por precaução, fico perto dele e de olhos bem abertos
e atentos.
— Não acredito que estou perdendo meu baile de formatura. Qual é,
cara, me deixe voltar lá para dentro.
— Para que? Para você ir lá dentro e atrapalhar os dois? Nem sonhando.
Se o Seth ou a Jane não deram sinal de vida ainda significa que ele
conseguiu pelo menos conversar com ela. Nós vamos esperar aqui até
que Seth apareça, se tivermos que esperar a noite toda, esperaremos.

167
Ele solta um grunhido de frustração misturado com raiva e chuta a
parede.
— Será que eu vou ter que gritar pedindo ajuda? — Ele me lança um
olhar raivoso e eu sorrio maliciosamente.
— Igual a uma donzela em perigo? — Provoco-o e ele fica vermelho de
raiva. — Além do mais, pode gritar, ninguém vai te ouvir com o barulho
da musica lá dentro.
Mais alguns poucos minutos passam até que a porta pela qual saímos
abre e uma Jane sem máscara aparece. Ela sai e anda em nossa
direção, vejo Seth vindo logo atrás dela. Pela sua cara posso começar a
cantar vitória, Seth parece mais relaxado, mais feliz e aquele antigo
brilho está de volta em seus olhos.
O velho e bom Seth está de volta. Graças a Deus.
— Olá, Justin.
— Oi, Jane. — Cumprimento-a sorrindo. Ela olha para Ryan e lhe dá
um sorriso tímido, como se desculpando-se.
Não me passa despercebido que Seth passa seu braço em volta dos
ombros de Jane possessivamente quando ela se dirige a Ryan. Ele está
deixando claro para o idiota a quem ela pertence e eu acho isso
engraçado, obviamente não rio, mas por dentro me divirto e começo a
me questionar como será isso. Como deve ser sentir ciúmes de alguém,
como será agir possessivamente? Esse sentimento é um campo
totalmente desconhecido para mim e sinceramente eu acho tão
engraçado quando eu presencio alguma cena de ciúmes de um cara
com a sua garota. Quer dizer, tem tantas mulheres por aí, porque ter
medo de ficar sem aquela se é só procurar outra caso ela vá embora?
— Ryan, sinto muito ter deixado você só com o Justin, aqui fora. — Ela
me lança um olhar mas logo se vira para o idiota de novo.
— Jane, o que está acontecendo, você voltou com esse cara? — Ele
pergunta olhando para Seth com uma expressão de nojo, que não é
muito diferente de como Seth está encarando ele.
— Sim, Seth e eu voltamos. — Ela confirma.
— Isso. — Dou um grito vitorioso e um soco no ar, animado. Eu já tinha
percebido, mas ouvi-la confirmando é muito melhor.
Os três me olham. O idiota com raiva, Jane com estranheza e Seth com
diversão.
— Foi mal. — Digo dando um sorriso tímido e eles voltam a conversar.
— Você vai mesmo voltar com esse cara depois do que ele fez? — O
idiota pergunta parecendo indignado e vejo a mão de Seth que pende ao
lado do seu corpo se fechar em punho, mas ele se controla e não diz
anda.
— Ryan, eu e Seth conversamos e eu acredito nele...

168
— Não é possível. — Ele a corta. — O cara te trai e você o perdoa? Você
não tem amor próprio, Jane?
— Não ouse falar assim com ela, seu merdinha. — Seth retira seu braço
dos ombros de Jane e avança para cima do idiota, mas Jane toca nele e
lhe olha com olhos suplicantes. Seth recua imediatamente.
— Olha Ryan, eu vim aqui para me desculpar por te deixar esperando e
por não poder mais ser a sua companhia hoje à noite, eu vim aqui por
que eu te devo isso. Mas eu não te devo explicações de nada mais. Eu
amo Seth e ele me convenceu que é inocente, eu acredito nele e acho
que fiz uma enorme burrada ao duvidar dele. Então sim, eu voltei com
ele e você não tem nada a ver com isso. — Jane diz com a voz
controlada e calma e Seth nem tenta disfarçar o sorriso enorme que
domina seu rosto, ele laça a cintura dela e lhe dá um beijo no topo da
cabeça.
— Não tenho nada a ver com isso? Tudo bem, talvez você tenha razão.
Mas você já se esqueceu qual ombro amigo estava lá quando você
precisou? Quem te ouviu quando você precisava desabafar e quem te
abraçou e te ajudou a ajuntar os cacos quando você estava
despedaçada? — O sorriso de Seth desaparece e uma expressão de raiva
e náusea passa por suas feições.
— Não, eu não me esqueci, Ryan. Você sabe muito bem que eu sou
muito grata por você ter estado lá por mim. Eu não quero que a nossa
amizade termine assim, eu me importo com você. — Ao ouvir isso Seth
aperta o maxilar e seu corpo todo fica tenso. — Mas eu amo Seth e é
com ele que eu quero ficar para sempre. Gostaria muito que você
pudesse aceitar isso e que nós continuássemos sendo amigos.
O idiota solta uma risada debochada e passa a mão pelos cabelos. Ele
balança a cabeça devagar enquanto encara o chão e fica em silêncio
alguns segundos.
— Se você prefere acreditar nesse cara, que assim seja. Mas na próxima
vez que ele te machucar, não venha correndo para mim.
Seth solta um grunhido e Jane rapidamente lhe lança um olhar,
pedindo silenciosamente que ele não se exalte.
O idiota se vira e sai caminhando, Jane encara suas costas com
tristeza, certamente lamentando a perda de um amigo.
Começo a respirar mais aliviado, finalmente as coisas estão bem de
novo, e nenhum sangue foi derramado.
— Só mais uma coisa. — O idiota para e diz, se vira e caminha de volta
até nós, mas dessa vez parando mais longe de nós três do que ele
estava antes.
“Merda, cedo demais para falar.”
— O que foi, Ryan? — Jane pergunta.
O idiota coloca as mãos no bolso da calça social preta e encara Seth
com um sorriso diabólico no rosto.

169
“Merda, isso não vai prestar.”
— Você pretende contar para o seu namoradinho tudo o que aconteceu
entre nós? — O super, mega, idiota sem noção pergunta.
— Do que você está falando? O que aconteceu entre vocês? — Seth
pergunta se virando para Jane. Ela o olha assustada e segura em seus
braços.
— Calma, Seth. Não aconteceu nada. — Ela diz.
— Como não? Jane, está se esquecendo daquela noite em que...
— Cala a boca, Ryan. — Ela diz irritada.
— Não, cala a boca por quê? Deixe ele falar. Que noite? O que
aconteceu? — Seth diz tremendo de raiva.
— Não é nada, não significou nada. — Jane diz se desculpando.
— Ah então aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta e meu corpo todo
fica em alerta. Se o Seth se exaltar eu vou ter que apartar a briga ou se
não esse idiota vai acabar indo para o hospital, não que eu
pessoalmente queira evitar isso, por mim ele podia ir para o raio que o
parta, mas Seth teria sérios problemas.
— Sim, quer dizer não, quer dizer, mais ou menos. — Jane se enrola e
está claramente nervosa.
Droga. Por favor Deus, que ela não tenha feito nada com o idiota, ou ele
é um homem morto.
— O que aconteceu, Jane? — Seth pergunta sem paciência, se exaltando
um pouco e fazendo Jane recuar um passo.
— Eu e...Bom, foi uma noite que eu estava muito mal e...A gente acabou
meio que... — Ela tenta explicar mas sem conseguir formar uma frase
compreensível, começa a gaguejar e os olhos se enchem de lágrima e eu
tenho vontade de chorar também.
“Estava tudo indo tão bem, se não fosse esse filho da puta. Eu vou
acabar com ele.”
— Não consegue? Tudo bem, eu conto. Eu e Jane dormimos juntos. — O
idiota diz com um sorriso presunçoso no rosto. Antes que eu posso fazer
qualquer coisa, antes que Jane possa abrir a boca para se defender e
sem mesmo perguntar se aquilo era verdade, Seth desfere um soco bem
no queixo do idiota.
Jane solta um grito e cobre a boca com as mãos, o idiota grita de dor e
cambaleia para trás com a mão no queixo e Seth sem dar tempo para
que ele se recomponha, parte para cima com uma fúria sanguinária.
Seth acerta socos e chutes no idiota, que tenta revidar, mas não
consegue acertar Seth nem uma única vez. O meu amigo é o melhor
lutador não profissional que eu conheço.
Jane grita e pede que Seth pare.

170
— Seth, por favor, pare com isso...Seth, é mentira, eu e ele não
dormimos juntos, pare por favor. — Jane pede desesperada e assim que
ouve as palavras, Seth para, deixando o idiota muito machucado caído
no chão.
— Como assim? Você não dormiu com ele? — Ele pergunta com
confusão e raiva misturados no olhar, e Jane balança a cabeça.
— Então sobre o que você estava tão nervosa? O que aconteceu que
você não estava conseguindo me contar? — Ele pergunta se
aproximando dela.
— Seth, meu amor...Eu e o Ryan não dormimos juntos, pelo menos não
do jeito que ele deu a entender e que você acha que foi. — Ela diz
enxugando as lágrimas do rosto.
— Como assim? — Seth pergunta frio como gelo.
— Eu e ele dormimos juntos, mas não desse jeito, nós literalmente
dormimos na mesma cama. — Ela explica e vejo as expressões duras do
meu amigo se transformarem em alivio.
— Não se esqueça de contar o que aconteceu antes, querida. — O idiota
diz quase como um gemido, Seth vira para ele e antes que a pancadaria
recomece eu vou até o idiota caído no chão e o levanto puxando-o pelo
colarinho da camisa e o coloco de pé.
— Cale essa porra dessa boca se você não quiser que ele te mate, filho
da puta. — Digo, eu mesmo querendo dar uma lição nesse cara para ele
deixar de ser tão otário.
— O que aconteceu antes? — Seth pergunta com um misto de ansiedade
e medo na voz.
— Foi numa noite, fazia umas cinco semanas que a gente tinha
terminado e eu estava muito mal. Tinha encontrado uma foto nossa,
daquele feriado que a gente passou na Florida, lembra? Aí eu procurei o
Ryan, precisava conversar com alguém e ele estava me ajudando tanto
nas últimas semanas. A gente foi para o quarto dele e ficamos deitados
na cama escutando a chuva enquanto eu alternava entre chorar e
desabafar.
Seth escuta atentamente cada palavra de Jane, ele não se mexe nem
um milímetro, toda sua atenção no que ela está contando.
Provavelmente está decidindo se ele vai matar ou não o idiota, que por
sorte está de boca fechada.
— A gente ficou horas daquele jeito, conversando ou então em silêncio
enquanto eu chorava. Eu estava tão triste, eu estava morrendo de
saudades e queria correr de volta para os seus braços, mas sempre que
eu pensava em fazer isso a imagem de você com aquela mulher seminua
se beijando voltava a minha cabeça. Várias vezes eu pensei se eu teria
me precipitado em não te ouvir, talvez você realmente fosse inocente,
pensando bem, eu sabia que aquele cara não era o Seth de verdade.
Mas eu estava machucada demais somente com a possibilidade de ter
me enganado tanto com relação a você e aquela imagem de vocês dois

171
no seu quarto não saia da minha cabeça. — Jane começa a chorar e
Seth a puxa para seus braços, ele a abraça firme e apoia o queixo no
topo da sua cabeça.
— Shhh, baby, está tudo bem. Eu te amo. — Ele diz para ela e ela chora
mais.
Quando ela se recompõe, se afasta e limpa as lágrimas, respira fundo e
continua.
— Logo nossa conversa foi indo em outras direções, Ryan foi me
distraindo da minha dor e era por isso que eu estava andando muito
com ele nas últimas semanas, ele sempre conseguia me distrair nem
que fosse por um momento. Fomos conversando sobre diversos
assuntos até que em um momento, não sei exatamente como, surgiu
um clima. Nós nos aproximamos e ele me beijou, fiquei surpresa mas
não o afastei, e acabei retribuindo. O beijo foi se tornando cada vez
mais intenso e menos inocente, até que quando me dei por mim, eu
estava deitada de costas na cama e o Ryan estava em cima de mim me
beijando.
Seth e eu escutamos o relato de Jane sem emitir som nenhum, os dois
muito interessados em saber o que de fato aconteceu entre eles.
— Mesmo pensando que você tinha me traído, eu estava me sentindo
péssima, muito culpada por estar beijando outro. Quando ele começou
a me acariciar eu me senti doente, sabia que não podia continuar com
aquilo, então pedi que ele parasse. Ele parou e eu pedi desculpas por
ter deixado aquilo ir longe demais, ele pediu desculpas e disse que tinha
sido um momento de fraqueza e que não queria se aproveitar do meu
estado, mas que não pode resistir. Eu disse que estava tudo bem, mas o
problema era que eu ainda te amava. E foi isso, depois disso eu deitei
em seu braço e nós conversamos até ambos cairmos no sono.
— Um nos braços do outro? — Seth pergunta com dor na voz.
— Sim. — Jane diz tão baixo que mal a escuto, ela olha para o chão
envergonhada.
— Sinto muito, Seth. Mas eu te amo, por favor, me perdoe.
Seth encara o chão e não diz nada.
— Seth...Você vai me deixar? — Jane pergunta engasgando com as
próprias lágrimas.
O silêncio perdura, o ar carregado com tensão.
— Acho melhor você ir embora, antes que eu me arrependa por não
acabar com você por ter beijado e acariciado a minha noiva. — Seth diz
e eu, o idiota e Jane o olhamos com os olhos arregalados em surpresa.
— Noiva? — O idiota e Jane perguntam ao mesmo tempo. Mas eu
rapidamente compreendo o que ele quer dizer.
Seth já havia falado diversas vezes sobre a vontade de pedir Jane em
casamento. Ele disse que queria comprar um anel lindo e fazer algo

172
especial, e que isso seria muito em breve, mas aí todo esse mal
entendido aconteceu. Acho que o meu amigo não quer perder mais
tempo.
— Sim, noiva. Quer dizer, se você aceitar se casar comigo, é claro. —
Jane cobre a boca aberta em surpresa com as mãos e começa a chorar,
mas dessa vez de felicidade.
Ela começa a balançar a cabeça freneticamente e pula nos braços de
Seth.
— Sim, sim, sim, sim...Mil vezes sim, meu amor. Eu aceito me casar
com você, Seth. Eu te amo tanto. — Ela diz apertando-o forte e
descendo sua boca na dele. Seth a envolve com seus braços e a beija
tão intensamente e apaixonadamente que eu sinto a necessidade de
desviar o olhar.
— Ah meu Deus, estou tão feliz. — Jane diz sem fôlego quando eles
param de se beijar.
— Eu também, meu amor. O que eu mais quero é que você seja minha
mulher para sempre. Eu te amo mais que tudo, Jane Mahler. — Eles
sorriem um para o outro e se beijam apaixonadamente de novo.
Por um momento, e eu disse apenas por um momento, sinto uma dor
aguda no peito. Por um momento, por um breve momento, que assim
como rapidamente surgiu rapidamente foi embora, eu senti no fundo da
minha alma o desejo de ter aquilo que Seth e Jane tinham, junto com o
desejo veio à dor, por saber que eu nunca encontraria aquilo.
A verdade é o seguinte; Eu vivo falando que não acredito no amor, mas
na real, eu acredito. Eu digo que não porque eu tento convencer a mim
mesmo que eu sou o único normal e o resto do mundo é que tem algum
problema. Mas isso é uma grande e deslavada mentira. Eu sou o que
tem problemas.
O fato é, eu simplesmente não entendo o amor, e não consigo senti-lo –
o amor que um homem sente por uma mulher, eu quero dizer – porque
é claro que eu amo meus pais, irmãos e amigos. Eu não consigo querer
amar alguém, o que eu quero mesmo é desejar o sentimento de querer
amar alguém. Dá para entender?
Eu sei, é confuso. Eu também muitas vezes não entendo. E apesar de
99% do tempo eu estar bem com o fato de não conseguir amar uma
mulher e ter um relacionamento sério, de não sentir falta disso e achar
que tudo bem se eu nunca me apaixonar, tem 1% do meu tempo,
quando eu presencio momentos como esse entre meus pais, ou os pais
de Seth, ou meus tios, ou meus primos ou meus amigos, que eu sinto
uma dor muito forte em meu peito.
Uma dor que dói não pela falta de amor, mas por ser uma pessoa
incapaz de amar, ou de pelo menos sentir falta de possuir a capacidade
de ter esse sentimento.
Seth se afasta de Jane e se vira, encarando o idiota. Limpo as lágrimas
dos meus olhos antes que elas caiam me denunciando ou que alguém

173
perceba meus olhos marejados. Agradeço a Deus por a dor sempre
chegar e ir embora tão rápido, não sei se aguentaria ela por mais que
um breve instante, e morro de medo que um dia ela chegue e não vá
mais embora.
Não sei se tenho mais medo dessa dor, ou da dor que eu sentiria se eu
pudesse amar e tivesse meu coração despedaçado, como Seth.
Talvez essa incapacidade de amar seja uma benção disfarçada de
desgraça.
— Pelo amor de Deus, Justin. — Seth diz meu nome me trazendo de
volta à realidade. — Tire esse cara da minha frente antes que eu mude
de ideia e termine o que eu comecei.
— Você ouviu. Se mande, cara. — Digo me abaixando para pegar a
máscara do idiota e lhe entregando.
Acompanho-o até um pedaço do caminho e depois volto para ficar ao
lado de Jane e Seth. Olho para ver se o idiota está mesmo indo embora
e alivio percorre minhas veias quando vejo que ele de fato se foi.
— Você tem certeza que quer casar? Você não precisa tomar essa
decisão agora e...
Seth a cala com um beijo, quando se afasta aposto que Jane não se
lembra mais o que estava falando.
— Eu quero me casar com você, quero muito. E eu não decidi isso
assim, de uma hora para outra.
— Ah não? — Ela pergunta enlaçando seu pescoço e sorrindo
apaixonadamente.
— Não. Já faz um tempo que eu venho pensando nisso, eu até cheguei a
olhar alguns anéis, e só não comprei um porque não achei nenhum que
fosse perfeito o suficiente para você.
— Oh Seth. Eu não preciso de nada disso, você pode amarrar um
barbante em meu dedo que eu serei a mulher mais feliz do mundo. —
Ela diz e o beija de novo.
“Talvez eu deva ir embora.”
— Nada disso, você terá o anel mais lindo do mundo, e eu não medirei
esforços para encontra-lo. Sinto muito não poder te dá-lo agora, sinto
muito também por esse pedido nada romântico. Eu estava planejando
algo muito mais perfeito, mas eu meio que tive que improvisar. — Ele ri
e a beija na ponta do nariz.
— Ah meu amor, isso foi perfeito, pode apostar.
— Quer curtir o resto do seu baile, só que com o acompanhante certo
dessa vez? — Seth lhe pergunta.
— Eu gostaria. Você faria isso por mim?
— Minha Jane, você ainda não percebeu que eu faço tudo por você? —
Ele pergunta a olhando com amor enquanto acaricia sua bochecha.

174
— Percebi, mas eu ainda pergunto por que às vezes acho que estou
sonhando, e que alguém tão perfeito como você só pode ser fruto da
minha imaginação.
Seth ri e a abraça. Já estava com saudades da risada do meu amigo,
fazia muito tempo que não a escutava.
— Então vamos. Vou rodar você por aquela pista até você ficar tonta. —
Ele repousa o braço nos ombros dela e ela enlaça a cintura dele com o
braço.
— Justin, você vem ou vai ficar parado aí a noite toda? — Jane para, se
vira e me pergunta.
Seth me olha e o sorriso no rosto dele é contagiante. Permito deixar pela
primeira vez em alguns meses o peso da culpa escorregar de meus
ombros e cair no chão. Sinto-me muito mais leve. Eu não arruinei a
vida do meu melhor amigo para sempre. Ele está feliz de novo, e eu
ajudei isso acontecer. Sorrio largamente para os dois e pisco para Seth
quando digo:
— Eu vou com vocês. Tem duas garotas a quem estou devendo uma
dança.

175
Jealousy is a bitter bitch
Justin
Acordo e a primeira coisa de que tenho consciência é do corpo quente
aconchegado em mim. Ainda com os olhos fechados, aperto o meu
braço que esta repousado na cintura dela e a abraço apertado. Enterro
meu rosto no seu pescoço e inalo o delicioso aroma que ela tem
enquanto esfrego minha ereção em sua bunda.
Savannah geme ainda dormindo e eu me esfrego mais nela.
Lembro que no começo eu fiquei apavorado com o fato dela estar
dormindo tão frequentemente aqui em casa que até precisava de um
espaço para suas coisas. Lembro também que naquela primeira manhã,
quando eu acordei e fui ao banheiro e vi a sua escova de dente junto
com a minha, eu achei que ia pirar. Fui até o guarda-roupa, depois abri
a gaveta na cômoda e fiquei uns bons 15 minutos encarando as roupas
e os pertences dela enquanto ela dormia a menos de 5 metros de mim.
Eu achei que ia começar a surtar, até então minha ficha não tinha
caído, Savannah estava praticamente se mudando para meu
apartamento. Ok, tudo bem, se mudando é exagero afinal ela só trouxe
algumas poucas mudas de roupas para ter que evitar o transtorno de
sair daqui de manhã com a mesma roupa do dia anterior. E foi eu quem
trouxe essa ideia a tona, na hora eu só estava ansiosa para faze-la
aceitar dormir comigo sempre e não pensei no que de fato isso
significava.
Caralho! Nenhuma mulher, com exceção de Eva Mckenna dormiu – no
sentido de dormir mesmo - comigo. E mesmo ela, nunca teve nenhum
espaço só dela dentro do meu antigo apartamento. Savannah é a
segunda mulher com quem eu tive relações sexuais mais de três vezes e
é a primeira a conseguir me fazer baixar a guarda a ponto de deixar que
ela juntasse sua escova de dente com a minha.
Pensando nisso agora, não sei como isso foi acontecer, e ela ainda
conseguiu me enfeitiçar de tal modo, que foi eu quem insistiu para que
ela fizesse isso.
Deus, essa mulher é uma coisa! Não sei exatamente que coisa, mas ela
é.
Mas tenho que ser justo aqui, depois do meu ataque de pânico e com o
passar dos dias, eu percebi que Savannah não é nenhuma Eva. Ela não
vai dar ataque e me perseguir quando esse nosso lance terminar, igual
Eva fez. Esse pensamento me fez relaxar e eu me permiti a aproveitar a
presença constante de Savannah no meu apartamento.

176
E agora, depois de tantos e tantos dias com ela dormindo na minha
cama a noite toda, eu não podia estar mais feliz com a minha decisão
de deixa-la ficar aqui comigo. Acordar sentindo o calor do seu corpo no
meu, seu cheiro único e inebriante, ver seu sorriso lindo que me deixa
de bom humor logo pela manhã e ouvir sua voz rouca me dizendo “bom
dia” me provoca uma porra de uma sensação maravilhosa. Sem contar
o bônus de ter sexo logo pela manhã, o que deixaria qualquer um com
um ótimo humor, e Savannah sempre acorda tão sexy. É uma delicia.
Levanto sua blusa do pijama e espalmo minha mão em sua barriga lisa,
lentamente a deslizo para dentro do seu short de algodão. Não sei qual
é a desses pijamas velhinhos e de algodão dela, mas eles me dão um
tesão enorme.
Imediatamente acho o que estava procurando e começo a acariciar seu
clitóris com os dedos. Savannah se remexe e geme, mas não acorda.
Como essa mulher gosta de dormir, meu Deus, estou para ver alguém
com o sono tão pesado e que durma tanto.
Continuo a estimulando pacientemente com os dedos enquanto começo
a depositar beijos suaves em seu ombro e pescoço.
Savannah geme de novo e eu sei que ela está despertando.
— Acorde, baby. — Digo quando sinto que estou perdendo a batalha
contra seu sono e que ela está adormecendo novamente.
Enfio dois dedos dentro dela enquanto continuo acariciando o clitóris
com o dedão. Savannah abre os olhos, muito desperta agora.
— Bom dia. — Ela diz com a voz rouca e com aquele sorriso capaz de
iluminar até o dia mais nublado.
— Bom dia. — Dou-lhe um sorriso malicioso e continuo a penetra-la
lentamente com os dedos.
— Humm, Justin. — Ela geme e diz meu nome. Ela morde o lábio
inferior e fecha os olhos, começando a mexer os quadris.
— Sabe, toda vez que eu fico com saudades de dormir no meu
apartamento eu lembro a mim mesma que acordando lá eu tenho que
enfrentar aquela vadia, enquanto que quando eu acordo aqui, eu tenho
isso. — Ela mexe os quadris provocadoramente e sorri maliciosamente.
— Acho que esse pensamento não te deixa em duvida sobre onde você
deve passar a noite. — Digo.
— Nem um pouco. — Ela sorri e eu lhe dou um beijo. O beijo logo passa
de algo morno para quente como o inferno. Sinto meu pau doendo de
tanto desejo.
Retiro minha mão de dentro do seu short e deslizo-a por baixo de sua
blusa, logo alcanço seu seio nu. Savannah gosta de dormir de pijama,
mas sempre sem calcinha ou sutiã.
“Obrigado, meu Deus.”

177
Aperto seu seio e brinco com seu mamilo duro enquanto a beijo
intensamente, os gemidos que ela solta enquanto nossas línguas
brincam uma com a outra percorrem todo meu corpo, me deixando
louco.
Rapidamente deito em cima dela e puxo sua blusa, interrompemos o
beijo apenas para tirar a blusa e joga-la no chão.
Faço meu caminho da sua boca até seu pescoço, traçando uma linha
molhada de beijos. Ela suspira e acaricia minhas costas com uma mão
enquanto a outra se perde em meus cabelos.
Vou beijando-a lentamente até alcançar a parte superior de seu seio.
Seguro os dois com as mãos e sinto-os, aperto-os e brinco com ambos
os mamilos enquanto olho em seus olhos verdes, lindos e hipnotizantes
como uma esmeralda.
— Caralho, eu adoro esse dois. Tão grandes, redondos e durinhos. E
esses mamilos rosadinhos, humm, são de dar água na boca. — Digo
antes de colocar minha boca em um dos seus mamilos e lambe-lo.
— Justin. — Ela geme meu nome. Eu adoro quando ela faz isso.
Lambo o outro sutilmente, apenas provocando-a e ela resmunga. Sorrio
e começo a chupar seu seio, intercalando minha atenção entre os dois.
Chupo, lambo e dou leves mordidinhas, fazendo com que ela se
contorça em baixo de mim.
Lambo o vale entre seus seios e traço um caminho de beijos até seu
monte de Vênus, deposito um beijo ali e levanto o olhar, encarando
Savannah com um sorriso provocador nos lábios.
— Justin, por favor. — Ela pede.
Passo o dedo por seus lábios inchados e molhados.
— Essa bocetinha é muito gulosa. — Digo e Savannah geme enquanto
brinca com seus seios. — Você quer que eu te faça gozar com a minha
boca, baby?
— Por favor, por favor. — Ela implora choramingando.
— Oh meu Deus. — Ela exclama quando minha língua a toca. Lambo-a
desde sua entrada até seu clitóris, várias vezes.
Concentro minha atenção no clitóris, acariciando-o com minha língua
enquanto a penetro com dois dedos.
— Justin...Oh Deus...Por favor. — Ela geme e eu sinto que posso gozar
só de ouvi-la. Os gemidos de Savannah são tão sexys, ela não solta
aqueles gemidos exagerados e que são tão falsos quanto uma nota de 3
dólares, mas também não tem vergonha de mostrar que está sentindo
prazer. Seus gemidos são excitantes e me deixam tão duro que eu
sempre tenho medo de passar vergonha e gozar sem nem ao menos ela
me tocar.
Quando a sinto pulsando envolta dos meus dedos, chupo-a mais
intensamente. Savannah geme e se contorce com seu orgasmo.

178
Não dou-lhe tempo para se recuperar, deslizo meu corpo para cima
ficando em cima dela, tomo sua boca com a minha e a penetro com um
único golpe. Rápido e duro.
Ela arfa e arranha meus braços com as unhas. Estou tão desesperado
para conseguir minha libertação, que lhe penetro com força, nossos
corpos se chocando e estalando. Nossos gemidos preenchendo o quarto.
Transar com Savannah é tão bom. Ficar dentro dela é uma delicia, o
seu gosto é uma delicia, as curvas do seu corpo, os sons que ela faz, a
forma apaixonada e voraz que ela se comporta na cama mesmo sendo
uma pessoa tímida, tudo é sexy, excitante e delicioso.
Quando sinto meu orgasmo caminhando cada vez para mais perto da
liberdade, aumento o ritmo e agarro seu seio, apertando-o rudemente.
Quando meu orgasmo chega, é de fazer o chão tremer. Ele vem como
uma forte onda, me arrasta e eu me deixo levar. Afogo-me nesse mar de
novas sensações que só Savannah me faz sentir.
— Vou tomar um banho. — Ela diz depois que meu corpo para de
tremer e nossas respirações voltam ao normal.
— Tudo bem, vou fazer nosso café da manhã. — Digo e me retiro de
dentro dela. Pego minha calça de moletom e vou até a cozinha.
Como estamos atrasados, não faço nada de especial. Arrumo a mesa
com algumas frutas; Morangos, uvas, bluberry, melão em cubos e
amoras. Iogurte, leite, suco de laranja, café, pão, pão integral, torradas
e cereal.
Alguns minutos depois Savannah aparece de banho tomado, toda
arrumada e com sua mochila pendurada em seu ombro.
— Estou faminta. — Ela diz se sentando e se servindo de iogurte com
cereal, amora, morangos e bluberry.
— Está tudo bem? Normalmente você não é tão quieto assim no café da
manhã. — Ela comenta antes de levar uma colherada da sua mistura de
café da manhã até a boca.
— Não é nada, é só que hoje eu tenho uma reunião muito importante,
tenho que apresentar uma proposta que se aceita, trará um contrato de
muitos milhões de dólares para a empresa.
— Você podia ter treinado a apresentação comigo. Eu teria sido super
imparcial e honesta. — Ela pisca e sorri. Não posso evitar sorrir
também. Ela é tão adorável.
— Obrigado. Mas na verdade eu já apresentei essa proposta, para os
acionistas da empresa. Eu tinha que convence-los para que eles
convencessem o Sr. Thompson que valia a pena marcar uma reunião
comigo. Vou me encontrar com ele hoje à tarde e se ele ficar tão
impressionado quanto os outros, esse contrato entre nossas empresas
será assinado logo, logo.
— Entendi. Bom, boa sorte então, não que você precise de sorte.

179
— Obrigado. Acho que dessa vez toda ajuda é bem vinda, um pouquinho
de sorte não vai fazer mal nenhum.
Terminamos nosso café da manhã e eu vou tomar um banho super
rápido, Savannah decide ficar me esperando mesmo já estando bem
atrasada.
Depois do banho me visto rapidamente e dentro de poucos minutos
estamos entrando no elevador juntos. Aperto o botão e assim que as
portas se fecham eu a puxo para junto de mim e lhe dou um beijo.
Quando a porta do elevador se abre separo nossos lábios e ambos
saímos ofegantes.
Entramos no carro e eu ligo o radio, está tocando Lady Antebellum,
“Just a Kiss” e Savannah começa a cantarolar a musica.
I know that if we give this a little time
(Eu sei que se dermos tempo ao tempo)
It will only bring us closer to the love we wanna find
(Só iremos nos aproximar do amor que queremos encontrar)
It's never felt so real
(Nunca foi tão real)
No, it's never felt so right
(Não, nunca pareceu tão certo)

Saio da sala de reuniões muito mais tranquilo do que quando entrei.
Tudo saiu exatamente como eu havia planejado, a apresentação saiu
perfeitamente. Apesar de eu já tê-la apresentado para os acionistas há
duas semanas, hoje a apresentação seria diferente, eu teria que ficar
durante uma hora dentro de uma sala apenas com outro homem, e não
um homem qualquer. Carlson William Thompson, o fundador e maior
acionista da Thompson Reuters Company, e o meu verdadeiro alvo. Se
eu conseguisse acerta-lo em cheio com a minha proposta então esse
contrato já estaria no papo.
E pela expressão em seu rosto durante toda a apresentação, pelos
comentários e interesse que ele demostrou, estou mais que confiante
que ele ficou impressionado com a minha proposta, muito bem
impressionado.
Tento não deixar o meu sorriso vitorioso se espalhar por meu rosto,
ainda não. Até o segundo antes dele assinar o contrato, tudo pode
acontecer.
— Justin, estou realmente muito impressionado com a sua proposta. —
Ele diz enquanto caminha ao meu lado pelo corredor em direção aos
elevadores.
— Quando Robert me disse que a proposta era digna da minha atenção,
eu não imaginava que seria algo tão bem elaborado e com tanta
probabilidade de funcionar. Admito que estou muito impressionado com
seu desempenho e estou tentadíssimo a fechar esse contrato com vocês.
— Ele diz e eu tento controlar a minha animação, mas é muito difícil, se

180
esse contrato realmente sair e eu for o intermediário, vai ser uma das
melhores coisas que poderia acontecer com a minha carreira aqui
na Townsend.
— Fico extremamente feliz de ouvir isso, Sr. Thompson. Seria um prazer
para a Townsend ter uma parceria com vocês, e tenho certeza que seria
muito vantajosa para ambos os lados. — Digo e chamo o elevador,
quando ele chega entramos e continuamos nossa conversa sobre
negócios até chegarmos ao térreo. Acompanho-o até a porta e nos
despedimos:
— Foi um imenso prazer finalmente conhece-lo Sr. Thompson. — Digo
lhe estendendo a mão.
— Igualmente Justin. — Ele aperta minha mão. — Gostaria de convida-
lo para almoçar na semana que vem para discutirmos alguns detalhes
do contrato, seria possível?
— É claro, seria um prazer esclarecer qualquer duvida que possa ter
permanecido. Estou à disposição.
— Maravilha, nesse caso então, minha secretaria liga para sua para
combinarmos o horário.
— Perfeito. Tenha uma boa tarde.
Ele entra no seu Rolls Royce cinza e eu observo o carro com um sorriso
no rosto até ele sumir de vista.
Tudo esta correndo perfeitamente. Não quero me precipitar e cantar
vitória antes da hora, mas só se uma merda muito grande acontecesse
para esse contrato não ser fechado.

Savannah
Durante o caminho todo até a enfermaria eu fico me perguntando se
isso é o certo a se fazer. Talvez o melhor seja deixar ela resolver isso, eu
não deveria estar me metendo na vida da minha irmã desse jeito.
Mas droga, eu tive uma conversa com ela e a medrosa da Shanon me
disse que não pretende convidar Miguel para sair e que não vai deixa-lo
saber que ela está caindo de amores por ele. A garota se apaixonou
perdidamente a primeira vista, fica sonhando acordada com o cara o
tempo todo mas está morrendo de medo de chama-lo para sair e deixa-
lo saber do seu interesse.
Eu sei que o que eu estou prestes a fazer pode deixa-la muito, mas
muito furiosa. Se ela fizesse o mesmo comigo acho que provavelmente
ficaria meses sem falar com ela.
Mas...Eu só quero que ela seja feliz, e além do mais, se ele disser não eu
nem conto para ela o que eu fiz, e se ele disser sim, ela vai acabar me
agradecendo no fim das contas.
Paro em frente à enfermaria e a encaro. Entro ou não entro? Faço isso
ou não faço?

181
Eu quero tanto ver a Shanon feliz, todos merecem encontrar uma
pessoa legal e se apaixonar, eu quero que ela tenha isso. E se depender
dela, ela vai deixar a oportunidade de ter isso com o Miguel passar sem
fazer nada.
Decido que eu vou fazer, não importa que ela fique furiosa depois, então
entro na enfermaria rapidamente antes que eu perca a coragem.
Quando entro olho direto para a mesa na entrada, está vazia.
— Miguel? — Chamo um pouco hesitante. Escuto um barulho na sala
ao lado e logo um homem alto, moreno e muito gato sai de lá de dentro.
“Meu Deus, a Shanon tinha razão quando disse que ele é lindo.”
— Oi. — Digo um pouco sem graça. Deus, eu estou mesmo fazendo
isso? Vou me passar pela minha irmã? Nós já fizemos isso antes, mas
quando éramos crianças.
— Shanon? — Ele me olha com a testa franzida.
— Sim, sou eu, a Shanon. — Minha voz sai tão falsa e trêmula. Droga,
ele vai sacar que eu não sou minha irmã.
— Você está meio...Diferente. — Ele diz ainda me olhando com um
pouco de estranheza.
Merda! Eu e Shanon somos gêmeas idênticas, como é que ele percebeu
alguma diferença?
— Estou? — É a única coisa que eu consigo responder.
— É, não sei o que é...Mas deixa para lá. — Ele diz balançando a cabeça
e abrindo um sorriso enorme, ele se aproxima um pouco e sua postura
delata seu nervosismo.
Ah sim, esse cara está totalmente na da minha irmã. Olha só o jeito que
ele olha para ela, quer dizer, para mim, mas ele acha que é ela então dá
no mesmo.
— Não me diga que você se machucou de novo? Eu te falei, você deveria
andar com um trevo de quatro folhas, uma ferradura e um pé de coelho.
— Ele diz rindo.
— Um trevo, uma ferradura e um pé de coelho? — Pergunto levantando
as sobrancelhas e rindo.
— É, dão sorte, assim talvez você se machucaria menos.
— O pé de coelho não deu sorte para o coelho. — Digo cruzando os
braços e ele ri.
— Verdade. Estou apenas implicando com você, sei que é meio estranho
dizer isso, e por favor não me leve a mal, mas eu gosto que você seja
desastrada. — Ele diz se apoiando na mesa e me lançando um olhar
tímido.
— Ah é? E o porquê disso? — Pergunto.

182
— Porque assim você vem bastante aqui, e eu posso te ver. — Ele me dá
um sorriso tímido e eu sorrio para ele.
“Ah meu Deus, a Shanon tem que sair com esse cara, ele é um fofo.”
— Sinto muito te decepcionar, mas hoje eu não estou aqui pelos seus
cuidados médicos. — Digo.
— Não?
— Não.
— Então o que te trouxe até aqui? — Ele pergunta com um olhar de
flerte.
— Eu vim saber se você por acaso quer sair comigo algum dia desses. —
Pergunto e por um momento ele parece surpreso, como se não
esperasse que eu fosse ser tão direta. Acho que a minha irmã esteve
agindo muito timidamente perto dele, essa não é uma Shanon que ele
esperava ver, com certeza.
Ele abre a boca mas parece não saber o que dizer. Droga, será que eu
interpretei mal os sinais e ele irá me dizer não?
— Eu...Ann...Eu quero sim. Na verdade, eu quero muito sair com você,
Shanon. — Ele diz sorrindo largamente.
— Ótimo.
— Sinceramente, eu já estava querendo te convidar desde daquela vez
que você veio aqui com aquele olho roxo, mas não tive coragem. Fico
feliz que você tenha me convidado, porque se dependesse de mim ia
demorar. Eu sou tão tímido quando se trata de chamar uma garota
para sair. — Ele diz encarando o chão e parecendo envergonhado.
— Para falar a verdade, eu também sou muito tímida quando eu
conheço um cara novo. Mas eu quero mesmo sair com você, então... —
Deixo o resto da frase morrer no ar.
— Será que você pode me dar o seu numero de telefone para eu te ligar
e combinarmos o dia?
— Claro. — Respondo.
Vou até a mesa, parando do seu lado e anoto o número do celular de
Shanon, quase que escrevo o meu número por engano.
— Prontinho, aqui está. — Entrego o papel para ele.
— Perfeito. Eu te ligo então.
— Vou estar esperando.
— A gente se vê então.
— Certo, até depois.
— Até, tenha uma boa tarde. — Ele diz e se aproxima, segura minha
mão e a beija.

183
“Ah meu Deus, minha irmã encontrou um cavalheiro. Estou tão feliz
por ela.”
Sorrimos uma última vez um para o outro e eu vou embora. Uma vez
fora da enfermaria, respiro mais aliviada, não tinha certeza se isso ia
funcionar e muito menos se ele iria aceitar o convite. Mas ele aceitou, e
disse que queria convidar ela para sair desde a primeira vez que eles se
viram.
Cara, eu preciso contar isso para a Shanon.
Sigo caminhando pelo campus com um sorriso no rosto. O que eu fiz
não foi totalmente correto, mas acabou dando certo, agora a minha
irmã e o cara que ela está caidinha tem um encontro.
Certamente ela não vai ficar zangada comigo quando eu contar que ele
aceitou, ou vai?
Continuo caminhando enquanto penso como contar para Shanon o que
eu fiz e imaginando diversas reações da parte dela, quando escuto
alguém chamando meu nome.
— Savy.
Olho para trás e vejo Vince fazendo sinal com a mão e sorrindo para
mim. Curiosamente, a visão dele já não me provoca mais borboletas no
estômago. Claro que ele continua lindo e gostoso, mas essa beleza não
tem mais o mesmo efeito que tinha antes.
— Oi. — Digo quando ele para na minha frente.
— Oi, eu te procurei por toda parte. Fui falar com você depois que sua
aula acabou mas você já tinha saído.
— É, foi mal. Estava na enfermaria.
— Você está bem? — Rapidamente seu olhar muda para preocupação.
— Sim, está tudo ótimo comigo. É só que eu tinha que...Fazer uma
coisa. — Digo com um sorriso envergonhado. Ainda não acredito que eu
fingi ser minha irmã e marquei um encontro para ela.
— Que susto, achei que tinha acontecido algo com você. Que bom que
você está bem. — Ele diz chegando mais perto e exagerando na
preocupação e principalmente na invasão do meu espaço.
— É, estou. Inteira. Nada de errado. — Olho desconfortavelmente para
ele e lhe dou um sorriso nervoso.
— A gente se vê por aí. — Digo e me viro, mas Vince me segura pelo
braço e vem ficar na minha frente.
— Espera, achei que você tinha falado que a gente ia se ver hoje. — Ele
diz.
— Acabamos de nos ver. — Digo e tento ir embora mas ele me segura de
novo.
— Tem alguma coisa errada? Você parecia disposta a ser pelo menos
minha amiga quando conversamos na sua varanda.

184
— Não tem nada errado.
— É aquele cara? — Ele pergunta fazendo uma careta de poucos
amigos.
— Que cara, Vince?
— O idiota que eu dei uma surra. Como é o nome dele mesmo?
— Justin.
— Isso, Justin. É por causa dele que você ainda está fugindo de mim?
Seu namoradinho não te deu permissão para você ser minha amiga? —
Ele pergunta ríspido.
— Você está louco se acha que algum dia vou permitir que um homem
me diga de quem eu devo ou não ser amiga. Além do mais, o Justin não
é meu namorado. E foi bom você tocar nesse assunto, porque eu ainda
estou com aquela briga de vocês dois entalada na garganta. — Digo
cruzando os braços e fazendo cara de brava.
— Foi para ele aprender a não mexer com a garota dos outros, espero
que ele tenha aprendido. Vocês ainda estão saindo?
— Isso realmente não é da sua conta. — Digo ficando irritada com sua
atitude.
— Quer saber, não importa. Eu só quero que a gente deixe para trás
tudo isso, ok? Se você não vai voltar comigo, quero pelo menos voltar a
ser seu amigo. Pode ser?
— Não sei se isso vai dar certo, Vince.
— Por quê?
— Você não traiu minha confiança só como namorada, mas como amiga
também. A amizade que nós tínhamos antes de começar a namorar,
simplesmente não sei se tem concerto, entende?
— Acho que sim. Mas e se fossemos devagar? Retomando ela aos
poucos?
— Talvez, quem sabe.
— Vamos fazer isso, por favor? Não quero que você saia da minha vida,
Savy.
Encaro seus lindos olhos verdes, que são quase na mesma tonalidade
do que os meus, só que muito mais penetrantes. Encaro com saudades
o rosto do homem que até pouco tempo atrás eu amava com todo meu
coração.
— Tudo bem, Vince. Nós podemos ser amigos, ou pelo menos, tentar. —
Ele abre um sorriso do tamanho do Texas e me abraça. Hesito um
momento mas acabo retribuindo o abraço.
Ele me puxa para mais perto e eu posso sentir toda a extensão firme e
forte do seu corpo contra o meu.

185
— Que tal nós irmos almoçar para comemorar? — Ele se afasta e
pergunta animado.
— Comemorar? — Pergunto sorrindo com a sua empolgação infantil.
— Sim, venha, vamos comer. — Ele agarra meu braço e começa a me
puxar.
— Tudo bem, vamos almoçar então. Quer ir ao restaurante universitário
ou...
— Mas é claro que não. Vamos comer comida de verdade, eu conheço
um restaurante fora do campus que é uma delicia.
Não digo nada e deixo que ele me segure pela mão e me leve até seu
carro.

— Savannah Careton, me diga que você não fez isso. — Shanon diz num
tom baixo e moderado, mas muito ameaçador, depois que ela para de
tossir e limpa a bebida que ela derramou em sim mesma quando
cuspiu.
Acho que fiz bem em lhe contar o que eu fiz em um lugar publico. Assim
ela não pode pular no meu pescoço, não com todas essas testemunhas.
— Foi mal, sis. Eu fiz. — Digo me encolhendo na cadeira do restaurante
enquanto ela me fuzila com os olhos.
— Não. Não posso acreditar que você fez isso. Me diga que você não fez.
— Eu fiz, mas eu fiz pensando na sua felicidade.
— Você não tinha esse direito. — Shanon se descontrola por um
momento e grita. As pessoas nas mesas a nossa voltam nos olham com
repreensão. Shanon fecha os olhos, aperta o nariz e respira fundo.
— Você não tinha o direito de se meter na minha vida dessa forma.
— Mas Shanon...
— Sem essa de Shanon. Não acredito que você foi tão intrometida,
egoísta e agora eu te odeio Savannah.
— Não você não odeia. Eu sei que eu não devia ter me passado por você,
mas você não iria convida-lo para sair mesmo estando louca por ele, eu
só queria que você desse uma chance para esse sentimento.
— Não acredito que você me fez passar por idiota. Eu confiei em você e
você me traiu.
— Não, Shanon. Por favor não fale assim.
Ela permanece em silêncio encarando o prato. Dou-lhe o seu tempo e
não falo nada.
— Qual foi a resposta dele? — Ela pergunta depois de alguns minutos,
ainda encara o prato, talvez com medo da resposta.
Abro um sorriso enorme, é agora que ela vai me perdoar.

186
— Ele disse que sim. — Digo e ela imediatamente levanta o olhar e me
encara com um misto de surpresa e animação.
— Ele aceitou?
— Aceitou. E não foi só isso.
— Não? O que mais ele falou? Anda, me conta tudo. — Ela se remexe na
cadeira impacientemente.
— Ele disse que queria te chamar para sair desde o primeiro dia,
quando vocês se conheceram. Mas ele é tímido demais quando se trata
de garotas.
— Ah meu Deus. Ele queria me chamar para sair esse tempo todo? —
Eu apenas balanço a cabeça com empolgação.
— Mas e aí, o que aconteceu depois?
— Eu dei o número do seu celular, ele disse que iria ligar.
Ela caça o celular desesperadamente dentro da bolsa e olha a tela.
— Não tem nenhuma chamada. — Ela diz decepcionada.
— Calma, Shanon. Eu falei com ele ontem, logo ele vai ligar, você vai
ver.
— Não acredito que eu vou sair com o Miguel. — Ela diz com um olhar
apaixonado e um sorriso involuntário surgindo no rosto. Mas logo ele
some e ela me encara seriamente.
— Mas eu ainda não te perdoei e estou furiosa com você, hein. — Ela diz
me apontando o dedo.
— Mas não me odeia mais, não é? — Pergunto com um sorriso de vitória
no rosto
— Odeio só um pouco. — Ela diz tentando esconder o sorriso que se
forma em seus lábios.
— Acho que eu posso conviver com isso. — Digo e ambas rimos.

Alguns dias depois...
— O que você acha desse Kim? — Pergunto lhe mostrando um arranjo
de flores. Ela caminha até mim e segura o arranjo na mão, analisando-
o.
— É lindo Savannah. Uma boa opção.
Kim, Shanon, tia Alyssa, mamãe e eu estamos andando a manhã toda
pelo centro de Dallas e seus arredores para escolhermos as flores do
casamento.
Já estramos em tantas floriculturas e eu já cheirei tantas flores, que
meu nariz está vermelho e coçando.
— Ah Kim, olha esse arranjo de flores Calla. É lindo. — Tia Alyssa grita
do outro lado da loja.

187
Não sei quem está mais empolgada com esse casamento; Tia Alyssa,
mamãe ou Kim. Poderia colocar nessa equação a tia Bárbara, mas a
mãe da Kim infelizmente não está participando de todo o processo já
que ela mora em outro estado.
Vamos até tia Alyssa para ver as flores que a deixaram tão animada.
Mas eu fico mais afastada dela, me escondendo atrás de Shanon.
Não sei explicar, mas não estou me sentindo confortável perto dela. O
que é muito estranho, já que ela é minha tia. Bom, não tia de verdade,
tipo de sangue, mas é de coração. Ela esteve presente em toda a minha
infância e eu amo ela como uma segunda mãe.
Mas toda vez que ela se aproximou de mim hoje, que ela me olhou nos
olhos, eu me senti impelida a me afastar. É como se ela fosse capaz de
enxergar através de mim e pudesse descobrir meu segredo; Que eu
estou dormindo com o filho dela.
Só o pensamento das duas famílias descobrirem sobre o meu
envolvimento casual com Justin me deixa inquieta. Deus, seria uma
confusão enorme.
— Savannah? — A voz de mamãe me puxa de volta de onde quer que eu
estava.
— Hum?
— Filha, onde você estava?
— Ah desculpa, estava distraída.
— Então, o que você acha dessas flores Calla? Perfeitas, não? — Kim diz
com um sorriso animado.
— Sim, sim, são lindas. Mas você não pretende que a decoração toda
seja feita com elas, não é?
— Por quê? Achei que você tinha gostado. — O sorriso de Kim se
desmancha.
— Elas são lindas, prima. Mas encher o casamento com elas, não sei
não. — Digo fazendo uma careta.
— Você pode fazer o buquê das madrinhas e o seu com essas flores, e a
decoração com outro tipo de flor. — Sugiro e o sorriso volta ao seu rosto.
Alyssa e mamãe concordam com a cabeça entusiasmadas.
— Sim, ótima ideia, filha. Kim, ficaria lindo, querida. O seu buquê
de Callas rosas ou roxas e o das meninas laranja ou amarelo. Oh
ficaria uma maravilha.
Todas soltam gritinhos animados e batem palmas. Eu sorrio. Amo tanto
a minha família.
Elas se afastam e vão continuar sua caçada pela flor perfeita para os
arranjos e a decoração, eu fico para trás, olhando algumas flores que
parecem esquecidas e que não recebem atenção de ninguém. Elas com
certeza não são apropriadas para um casamento, mas são lindas.

188
— Hey sis. — Shanon para ao meu lado.
— Hey.
— Algum problema?
— Não, nenhum. Por quê?
— É só que parece que toda hora que eu olho para você, você está
divagando ou algo assim. Tem algo te preocupando?
— Não, na verdade não. Não é nada demais.
“Só não consigo ficar perto da tia Alyssa porque estou dormindo com o
Justin.”
Como eu queria de fato dizer isso em voz alta. Contar para alguém
sobre o Justin e eu. Sei que o que nós temos não é nada demais, mas
eu estou sentindo uma necessidade enorme de desabafar com alguém
nos últimos dias.
Os últimos dias...Não sei o que, mas sinto que algo dentro de mim vem
mudando dos últimos dias para cá.
Sinto-me estranha quando estou com Justin, e me sinto mais estranha
ainda quando não estou com ele.
Eu não consigo parar de pensar nele, nas noites que passamos juntos,
nas conversas que tivemos, nos sorrisos que ele me deu, nos toques
quase carinhosos que trocamos durante o café da manhã.
É uma sensação estranha, não sei o que pode ser. Quando estamos
longe um do outro me pego esperando ansiosamente nosso próximo
encontro, e quando ele finalmente chega, eu me esqueço de tudo e me
entrego a essa descarga de sensações quase místicas, tão
incompreensíveis e únicas.
— Tem certeza que está tudo bem? Você sabe que pode sempre contar
comigo, não é?
— Sei sim.
— Não é aquele idiota traidor do Vince te incomodando de novo, não é?
— Ela pergunta agressivamente e eu rio.
— Não, ele não está me incomodando nem um pouco. Na verdade, a
gente tem conversando na faculdade nesses últimos dias, e tem sido
bem legal. Estamos retomando nossa amizade devagar.
— Então você decidiu perdoar mesmo ele, hein? É isso mesmo que você
quer, ser amiga do Vince de novo? — Ela me pergunta e eu não a
respondo por vários minutos.
— Acho que sim, não sei se isso é o certo a se fazer. Mas você sabe que
eu tenho um coração de manteiga, não é? Ele disse que quer pelo
menos ser meu amigo, já que a nossa relação de namorados está
perdida para sempre.
— Você ainda sente algo por ele? — Ela pergunta. Dou-lhe um olhar de
aviso, não quero falar sobre meus sentimento pelo Vince agora.

189
— Porque se você ainda o ama, não sei se essa amizade é algo bom para
você. Nem para ele na verdade. Mas se você já o superou, bem, então eu
fico mais tranquila com essa reaproximação de vocês, porque sei que
você não corre o risco de se machucar.
— Eu ainda não tenho certeza quais são meus sentimentos por ele. Mas
eu não o amo mais, Shanon. Ele me machucou demais, acho que a dor
foi lentamente matando o amor que eu sentia. Passei por vários estágios
desde o dia que eu vi ele com ela. Desespero, magoa, raiva, tristeza,
raiva de novo, indecisão, mais magoa, até que eu cheguei ao ponto que
estou agora. Não sinto mais nada disso, eu estou pronta para esquecer
tudo e perdoa-lo de verdade, tentar recuperar um pouco do que
tínhamos como amigos. E eu sei que não o amo mais, mas ainda sinto
algo por ele. Entende? Isso soa tão confuso, eu sei...
— Não, acho que eu entendo sim. Acho que talvez essa reaproximação
de vocês sirva para te dar uma luz e te fazer perceber o que você
realmente sente por ele.
— Talvez...Então você acha que eu estou certa em permitir que ele se
reaproxime?
— Acho que sim, sis. Apesar de eu estar morrendo de raiva dele e
querer arrancar suas bolas pelo que ele fez...Acho que você tem que
resolver isso de uma vez por todas.
Sorrio para minha irmã e abro os braços, chamando-a para um abraço.
— E pensar que sempre diziam que eu era a mais sensata, com a
cabeça no lugar. — Digo rindo.
— Hey, quem dizia isso? Eu sempre fui muito sensata. — Ela diz
indignada e eu rio. Acaricio seus cabelos e a abraço forte.
Shanon e eu sempre tivemos uma ligação muito forte. Não sei se é pelo
fato de sermos irmãs, gêmeas ou simplesmente porque entendemos e
apoiamos uma à outra.
Só sei que eu a amo com todo meu coração, e quero sempre o melhor
para ela, assim como sei que ela quer o melhor para mim.
— Ah meu Deus, eu sou uma péssima irmã. Esqueci-me de te perguntar
como foram as coisas com o Miguel ontem a noite. — Digo.
— Ah Savannah! Foi in-crí-vel! — Ela diz com os olhinhos brilhando.
Ontem foi a segunda vez que Miguel marcou um encontro com ela em
menos de uma semana, sem falar que eles se viram todos os dias na
faculdade nesses últimos dias.
— Ele é tão romântico, tão fofo, tão inteligente, tão bem humorado,
tão...Tão perfeito. — Ela sorri de orelha a orelha.
— Ele te beijou? — Sussurro para ninguém nos ouvir. Ela balança a
cabeça e quase posso ver os fogos de artificio enquanto ela comemora.
— Foi maravilhoso. Eu estava encostada no carro dele, estávamos
conversando. Eu estava falando nem me lembro mais sobre o que e ele

190
só ficava lá me olhando com um sorriso bobo no rosto. Eu perguntei o
que ele estava olhando e ele disse “a mulher mais linda na qual eu já
repousei meus olhos” e eu não conseguia respirar, ele se aproximou e
me puxou para si, ele ficou acariciando meu rosto enquanto nos
olhávamos profundamente nos olhos. Eu juro, Savannah, eu senti como
se ele estivesse olhando minha alma, nunca me senti daquela forma.
Então ele me beijou, tão lentamente e tão apaixonadamente que eu
achei que iria morrer de felicidade. — Ela me conta praticamente dando
pulinhos de alegria e meu coração se enche e transborda de amor e
felicidade por ela.
— Shanon, estou tão feliz por você. Quando que ele vai lá em casa,
quando ele vai conhecer papai e mamãe?
— Não sei, nós não falamos sobre namoro, conhecer os pais nem nada
disso. Mas Miguel é um cara das antigas, sei que ele não estaria
dizendo e fazendo essas coisas se não quisesse algo sério. Então logo vai
acontecer.
— Shanon, isso é demais! Tenho certeza que papai e mamãe vão
aprovar ele.
— Você acha mesmo?
— Tenho certeza.
— Ah Savannah, estou tão feliz, você não pode nem imaginar o quanto.

Olho para o relógio quando escuto uma batida na porta. Quem será a
essa hora?
Tiro todos os papeis e livros que me cobriam e levanto do sofá. Quando
abro a porta vejo Shanon toda produzida na minha frente.
— Shanon, o que você está fazendo aqui e porque está vestida assim? —
Digo apontando para seu vestido tomara que caia verde escuro.
— Eu estou aqui, querida irmã, porque hoje é sexta e eu, você, o Miguel
e o Ben vamos sair para nos divertimos. — Ela diz e passa por mim,
entrando no apartamento como um furacão.
Fecho a porta com uma expressão confusa no rosto.
— Quem é Ben? E como assim vamos sair?
— Ben é um amigo do Miguel, e vamos sair saindo, ué. — Ela diz
sentando no único espacinho do sofá que não está ocupado com o meu
material de estudo.
— Aquela vadia da Aletta, está aí?
— Não. Aquela lá vive mais fora do que aqui, graças a Deus.
— Ótimo, então vá se arrumar que eu te espero aqui, mas não demore,
ok? Temos que encontrar com os meninos daqui quarenta minutos.
Olho para ela como se minha irmã tivesse perdido a sanidade. Do que
essa mulher está falando? Eu não posso sair, tenho que estudar para a

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prova de segunda, esse é o motivo de eu estar aqui solitária nesse
apartamento e não nos braços de Justin.
— Shanon, eu não posso sair hoje, não sei se você percebeu, mas eu
estou estudando. — Digo apontando para os livros ao seu lado.
— Sim, eu percebi isso, essa pequena biblioteca no sofá e na mesa me
deram uma bela dica disso. Parece que eu vim para te salvar, então.
— Salvar do que, sua avoada?
— De ter uma sexta completamente solitária e tediosa. De nada, sis.
— Ah mas eu não começaria a te agradecer agora, sis.
— Pois devia, porque eu não estou simplesmente te salvando do tédio
absoluto. Eu estou te levando de encontro a um cara super, mega fofo e
gato. Quando eu conheci o Ben pensei em vocês dois juntos na hora, ele
é tão a sua cara, sis. Então tomei a liberdade de marcar um encontro
de casais para hoje à noite. Agora vá se arrumar.
— Shanon, primeiro; Eu não preciso de você me arrumando encontros,
eu não quero sair com nenhum cara, ok? E segundo; Eu tenho que
estudar, por mais que eu fosse adorar sair com você e o Miguel, tenho
prova na segunda logo no primeiro horário.
— Desculpa, mas só o que eu ouvi foi blá, blá, blá, estudar, blá, blá,
adorar sair, blá, blá, blá.
Cruzo os braços e a olho de cara feia.
— O que foi? — Ela pergunta.
— Divirtam-se e mande um olá para o Miguel.
Ainda me dá vontade de rir quando eu lembro a primeira vez que o
Miguel viu Shanon e eu juntas, ela não havia contado que era gêmea.
Foi hilário, e ele ainda não sabe que quem o convidou para sair fui eu e
não Shanon.
— Nada disso, você vai comigo Savannah Careton, nem que eu tenha
que te arrastar. O Ben vai estar te esperando, você não vai ter coragem
de dar um bolo num cara fofo como ele, não é?
— Mas eu nem marquei nada com ele, foi você. — Acuso-a.
— Igual você fez comigo e com o Miguel. — Ela diz com um sorriso
diabólico.
— Ah, então isso é a sua vingança? Não é justo, eu sabia que você
gostava do Miguel, eu nem conheço esse tal de Ben.
— Não é vingança, até poderia ser, mas não é. Eu só quero que você
conheça um cara legal e saia para se divertir. Desde que você terminou
com o Vince você não saiu com ninguém.
Mas que droga, eu conheço minha irmã muito bem, ela vai continuar
insistindo até que eu ceda. Não posso ir a um encontro, eu estou com
Justin. Bem, não estou com ele no sentido de estar mesmo com ele,
estamos só transando, mas mesmo assim. Nunca chegamos a conversar

192
sobre exclusividade, e por mais que eu quisesse tocar nesse assunto, eu
nunca disse nada. Se ele tem dormido com outras enquanto estamos
nesse lance, não quero saber, não sei por que mas isso me deixaria
muito puta da cara.
— Não dá, Shanon, sério. É melhor você ir antes que se atrase.
— Savannah, eu não vou sair desse apartamento sem você comigo. E
você sabe que eu estou falando muito sério, vou ficar aqui e não vou
deixar você estudar.
Esfrego o rosto e solto um suspiro de frustração. Pior que ela vai fazer
exatamente isso que ela disse. Vou ter que ir, não tem jeito.
— O que você tem planejado?
— Nada demais. Vamos jantar e depois talvez ir beber alguma coisa,
dançar um pouco.
— Tudo bem, eu vou. Mas eu não estou interessada em ter nada com
esse tal de Ben, ouviu? Não me importa o quanto ele é fofo e não sei
mais o que. Não estou interessada.
— Tudo bem, tudo bem. Entendi.
— Certo. Vou me arrumar e você faça o favor de arrumar essa bagunça
de livros e papeis, ok?
— Ok.
Vou em direção ao banheiro e antes de fechar a porta ouço Shanon
gritando:
— Vista algo bem quente!
Reviro os olhos e vou tomar um banho super rápido. Quando saio do
banheiro com a toalha enrolada no corpo e vou até meu quarto, Shanon
está tirando um vestido do armário e colocando em cima da cama.
— Não vou poder nem escolher minha roupa?
— Já escolhi por você. Você vai ficar muito gata nesse vestido.
— Eu estava pensando em usar algo menos...Curto e decotado. — Digo
olhando para o vestido repousado em cima da cama.
— Estamos sem tempo, então vista isso que eu escolhi porque temos
que fazer a maquiagem ainda.
Não querendo discutir com minha irmã, já que é inútil mesmo, visto
uma calcinha e depois o vestido tomara que caia com lantejoulas prata
que eu comprei há algum tempo, mas nunca usei.
Ela pega meu par de sapato peep toe preto e joga para mim, eu os
calço.
Shanon me ajuda com a maquiagem e depois faz algo com o meu
cabelo, deixando ele cair em ondas por minhas costas.
— O Ben vai pirar. — Ela diz me observando com um sorriso malicioso
nos lábios.

193
— Shanon! O que foi que eu disse?
— Agora é tarde demais, vamos. — Ela me puxa, pego minha bolsa e
saímos.

— Olha, aquele ali é o Ben. — Ela aponta para uma mesa quando
paramos na entrada do restaurante.
Olho na direção que ela indica e logo vejo Miguel e outro cara sentados
numa mesa para quatro, conversando.
— Eu disse que ele é um gato. — Ela sussurra para mim e me puxa,
sem muita escolha eu a sigo.
Assim que paramos do lado da mesa, Miguel e Ben nos olham. Tenho
vontade de rir quando vejo que os dois arregalam os olhos e nos olham
com admiração.
— Shanon. — É só o que o pobre coitado do Miguel consegue dizer. Ben
se levanta e Miguel imita o amigo.
— Ben, deixa eu te apresentar a minha irmã, Savannah. Seu par essa
noite. — Ela diz com diversão na voz e eu tenho vontade de chuta-la.
Sorrio com vergonha e estendo a mão, para meu alivio percebo que ele
também está nervoso.
— Savannah, esse é Ben Harper, o amigo do Miguel do qual eu te falei.
Trocamos um aperto de mãos e algumas palavras tímidas, ele sorri para
mim e parece desconfortável.
Shanon tinha razão, Ben é um homem bonito.
Na faixa dos 25 anos, alto, cabelos loiros e olhos cor de mel e um
sorriso extremamente fofo.
— É muito bom ver você de novo, Savannah. — Miguel me diz com um
sorriso simpático, depois que eles puxam nossas cadeiras e nos
sentamos.
— Muito bom ver você também, Miguel. — Retribuo o sorriso.
O garçom vem até nossa mesa e anota nosso pedido. Conversamos,
Shanon e Miguel mais soltos e despreocupados e Ben e eu ainda muito
tímidos, até que nossa comida chega.
Está deliciosa. Esse restaurante é um dos melhores da cidade e me
surpreendi quando cheguei aqui. Parece que Miguel está querendo
mesmo impressionar minha irmã.
Apesar de me sentir desconfortável por estar vestida mais para uma
balada do que para um restaurante desse tipo, e por causa da
proximidade de Ben, consigo aproveitar a deliciosa comida e vou me
soltando aos poucos.

194
As poucas vezes que direcionei meu olhar para Ben, ele estava me
observando. Toda vez que eu o pegava me encarando, ele desviava o
olhar envergonhado por ter sido pego.
É, parece que será uma longa noite.

Justin
Não acredito que deixei o pessoal do escritório me arrastar de novo para
o Eros. Estou cansado, com dor de cabeça e ainda por cima de mau
humor porque Savannah vai ficar no seu apartamento hoje à noite e eu
vou ter que dormir sem ela.
Assim que achamos uma mesa peço um copo de uísque. Uma hora. Só
vou ficar por uma hora, só para que esse babacas que eu chamo de
amigos não me encham o saco.
— Mas que cara é essa, Justin? Até parece que está em um velório. —
Tommy diz.
Apenas solto um grunhido, mas acho que por causa da musica alta ele
não ouviu, e viro o uísque.
Solto um suspiro impaciente quando quarenta minutos depois, uma
grupo de amigas vem até nossa mesa.
Cada uma parece ter um de nós como alvo. Eu sou o alvo de uma
morena gostosa com silicone, ela logo vem ficar ao meu lado e tenta
começar uma conversa.
— Posso me sentar, gato?
— Fique à vontade. — O lugar não é meu, de qualquer forma.
Ela se senta perto demais, suas coxas nuas encostam na minha perna e
ela esfrega seus seios no meu braço.
— Eu sou Veronica.
— Justin. — Digo de mau humor e tomo um gole de uísque.
— Você não se importa se eu te fizer companhia, não é Justin? — Ela se
esfrega mais em mim e apoia o braço em meu ombro.
“Que mulher chata. Como eu queria estar em casa enterrado bem fundo
em Savannah.”
Sinto os dedos de Veronica acariciarem minha nuca e depois se
afundarem em meu cabelo. Rapidamente pego sua mão e a coloco em
seu próprio colo. Ela me olha confusa.
— Qual o problema, gato?
— Não encoste em mim. — Digo rudemente e ela joga sua cabeça para
trás e ri.
— Estava querendo um pouco de diversão hoje à noite, que tal a gente ir
para um lugar mais reservado? — Ela diz e desliza sua mão pro minha
perna e aperta meu pau.

195
Levo um susto e me afasto dela.
— Não estou interessado. Pode ir procurar outro. — Digo lhe lançando
um olhar zangado.
— Ah, Justin, vamos lá, prometo que você não vai se arrepender. — Ela
vem e sussurra em meu ouvido.
“Deus, dai-me paciência.”
Tento usar a tática de ignorar. Olho para o lado fingindo que essa
mulher chata não está ao meu lado. Vejo Tommy e Will com as duas
amigas de Veronica, trocando caricias e sinto um enjoo.
— Estou sem calcinha e toda molhada. Vamos para o banheiro e eu
chupo o seu p...
— Chega, ok? — Afasto sua boca da minha orelha e a olho com nojo.
Será que essa mulher não tem um pingo de respeito próprio? Fica se
esfregando e falando essas coisa para um completo desconhecido, e se
eu fosse um psicopata, um tarado que fosse machucar ela?
Meus olhos viajam por seu corpo. Ela é gostosa e sabe disso. Enquanto
observo-a, imagens dela de joelhos no banheiro desse lugar me
chupando vem a minha mente. Contrariando tudo que eu achei que
soubesse de mim mesmo, tudo que eu achei que fosse, não me sinto
excitado. Pela primeira vez sinto nojo ao imaginar transar com uma
mulher cuja a única coisa que eu sei é o nome. Olho para Tommy e Will
com as garotas e sinto meu estômago se revirando.
Porque dessa vez é diferente? Porque dessa vez estou com nojo e não
excitado?
Não sei. Só sei que tenho que sair desse lugar.
Levanto-me abruptamente, pego algumas notas e jogo na direção de
Will.
— Pague a minha conta para mim, por favor. Estou indo embora.
— Tão cedo?
Não me dou ao trabalho de responder e caminho para longe deles. Não
vejo a expressão de Veronica ao deixa-la sozinha e também não me
importo se ela ficou ofendida ou não. Espero nunca mais vê-la.
Vou desviando da multidão de pessoas tentando chegar até a saída.
Vejo a porta e só preciso me livrar desse bando de bêbados para chegar
até ela e estar livre para ir para casa e ficar em paz.
Paro de andar quando dois casais cruzam a porta rindo.
“Mas que porra ?”
Olho atônito Shanon e Savannah com dois caras irem em direção a uma
mesa vazia. O moreno que estava segurando na cintura de Shanon se
senta ao lado dela e o loiro ao lado de Savannah.
Fico encarando aquela cena sem conseguir desviar o olhar.

196
“Que porra Savannah está fazendo aqui?”
Observo ainda sem conseguir desviar o olhar ou me mover, enquanto
eles pedem algo para a mulher que foi atende-los.
O loiro apoia seu braço em volta da cadeira de Savannah e diz algo para
ela. Ela se aproxima dele e ele diz algo em seu ouvido. Ela ri e parece
concordar.
Sinto um fogo crescendo dentro de mim, sinto calor, como se não
tivesse mais sangue correndo em minhas veias, e sim lava quente.
Uma vontade enlouquecedora de ir lá e arrancar o braço do loiro surge.
Tenho vontade de chegar até ele e empurra-lo no chão para bem longe
de Savannah.
O que ela está fazendo com ele, afinal? E quem é ele?
Os quatro conversam e a bebida chega. Que porra está acontecendo ali?
O cara ao lado de Shanon acaricia sua bochecha e lhe dá um beijo
suave. Olho para seu amigo para ver se ele vai fazer o mesmo com
Savannah.
Eu juro que se ele encostar nela eu vou lá e acabo com ele.
Que caralho! Obviamente Shanon e o moreno estão juntos. Será que
Savannah está com aquele cara?
Mas que porra! Foda-se! Eles estão num encontro duplo, deve ser isso.
Sinto minha raiva crescendo cada vez mais forte.
Savannah está em um encontro. Ela não pode estar em um encontro,
ela é minha.
Eu vou acabar com a festa deles e é agora.
Caminho com raiva pura exalando de todo meu corpo, mas rapidamente
me detenho.
Não posso fazer isso, não posso ir até lá sem que Shanon saiba o que
está acontecendo entre Savannah e eu.
Porra!
Não acredito que Savannah está saindo com aquele cara. Não acredito
que ela mentiu para mim.
Droga, estou sentindo tanta raiva que tenho vontade de quebrar toda a
merda desse lugar.
Se ela está transando com ele ao mesmo tempo em que esta comigo, eu
juro que eu vou...Eu vou...Vou matar esse filho da puta.
Passo a mão por meus cabelos e percebo que ela está tremendo.
Encaro minhas mãos tremulas de raiva. Observo Savannah se
levantando e se afastando da mesa, fecho minhas mãos em punho e
aperto-as até que os nós dos meus dedos fiquem brancos.

197
“Ela mentiu para mim. Ela mentiu para mim para poder encontrar com
aquele idiota.”
Mas isso não vai ficar assim. Não vai mesmo.
Vou atrás de Savannah e vejo-a entrando no banheiro. Paro em frente
da porta por um minuto e sem pensar duas vezes entro no banheiro das
mulheres.
O banheiro está vazio, tem algumas cabines e apenas uma está
ocupada.
Encosto-me na pia e cruzo os braços, tento controlar os tremores de
pura raiva. Encaro a porta da cabine fechada fixamente, como se eu
quisesse que ela sentisse meu olhar fulminante. E espero que ela esteja
sentindo mesmo.
Escuto a descarga e a tranca da porta se abrindo, Savannah sai da
cabine distraída e quando me vê parado na sua frente dá um pulo.
— JESUS! — Ela leva a mão até o peito e se apoia na cabine. Olho-a
com raiva, tenho vontade de ir até ela e chacoalha-la e gritar com ela.
— Deus do céu, que susto! O que na terra você está fazendo aqui? — Ela
pergunta ainda se recuperando do seu susto.
— Eu poderia fazer a mesma pergunta. Só que eu já sei a resposta. —
Digo tentando me controlar para não gritar. Aperto os músculos do meu
braço e os deixo cruzados com força em frente ao meu peito para que eu
não de um soco na parede ou em alguma outra coisa.
— Não estou entendendo, Justin. O que está acontecendo, você está
com uma cara tão estranha.
Mas como ela é fingida! Tem coragem de se fazer de inocente na minha
cara.
Não suporto mais isso e sinto minha raiva saindo do meu controle. Em
um único passo chego até ela e dou um soco na estrutura da cabine ao
lado dela, o som alto ecoa pelo banheiro e Savannah dá um pulo,
levando a mão até a boca.
— Meu Deus, você está louco?
— Não sei, me diga você, Savannah. Porque eu me lembro bem de você
ter me dito que iria passar a noite estudando, será que eu estou ficando
louco ou entendi mal, hein? Talvez você estivesse se referindo a estudar
a anatomia humana, quem sabe? Talvez você tenha pedido ajuda ao seu
amiguinho loiro sentado naquela mesa agora mesmo. — Digo a
centímetros do seu rosto, o maxilar cerrado e as palavras malmente
saindo de meus lábios.
— Eu posso explicar, você entendeu tudo errado.
— Mas é claro que você pode me explicar. Você pode e você vai. Quero
saber quem é aquele cara e o que vocês estão fazendo juntos. — Seu
olhar confuso muda e vejo raiva em seus lindos olhos verdes.

198
— Espera aí um minuto. Eu não te devo explicação nenhuma, eu te dou
se eu quiser, você não tem direito de exigir nada de mim. Eu posso sair
com quem eu quiser a hora que eu quiser. — Ela afunda seu dedo no
meu peito, me fazendo recuar um passo.
— É claro que você me deve satisfações, eu não vou permitir que você
durma comigo e ao mesmo tempo durma com outro.
Sua boca abre em choque e ela me empurra.
— Eu não estou dormindo com ele, seu idiota. Ele é amigo do namorado
da Shanon, só isso.
— Não parece nem um pouco que é só isso. Não parece que você está
vestida para “só isso” parece que você está vestida para provocar um
ataque cardíaco no cara. — Digo olhando seu vestido colado ao corpo.
Olho suas pernas nuas, subo o olhar passando por seu quadril e sua
cintura fina, terminando no decote que molda seus seios perfeitamente.
“Merda, Justin! Suba o olhar, suba a porra do olhar.”
Sinto meu corpo se arrepiar e a excitação percorrer meu corpo. Aí eu
lembro que ela se vestiu assim para ele e a minha raiva volta com força
total.
— Você nega que você e sua irmã estão em um encontro duplo?
— Não nego mas...
— Então você mentiu para mim que iria estudar só para sair com aquele
filho da puta. Por acaso ele vai te dar algo que eu não te dou?
Laço sua cintura e puxo seu corpo para junto do meu. Minha excitação
se misturando com minha raiva e me deixando confuso.
Não sei se grito com ela ou se a beijo. Seus lábios são tão irresistíveis,
então encolho a segunda opção. Puxo seu pescoço e sua boca se choca
contra a minha. Beijo-a violentamente, ainda morrendo de raiva por ela
estar com aquele cara.
— Não quero te beijar. — Ela diz me empurrando para longe.
— Porque não? — Pergunto sem fôlego.
— Porque você esta agindo como um idiota e eu estou furiosa com você.
— Você está furiosa comigo? Você está furiosa? Essa é boa, sou eu
quem tem o direito de estar furioso aqui.
— Posso saber que direito é esse? Nós não temos nada, se eu quiser
ficar com ele ou qualquer outro, eu posso.
Só de imaginar ela com aquele cara ou outro, me deixa cego de fúria.
Agarro-a pelos braços e olho fundo em seus olhos.
— Você não vai ficar com ele, entendeu? Você vai embora comigo agora.
— O inferno que eu vou. Você não manda em mim, Justin.
— Olha aqui Savannah, se você pensa que... — Nesse momento a porta
se abre e uma mulher entra, ela para quando vê nós dois.

199
— Humm, está tudo bem aqui? — Ela diz olhando para minhas mãos
segurando os braços de Savannah.
— Está sim. — Respondo.
— Eu estava falando com ela, bonitão.
Percebo que eu devo estar parecendo um louco violento, então solto
Savannah e tento suavizar minha expressão.
Deus, será que essa mulher pensou que eu iria bater em Savannah? Eu
nunca bateria numa mulher, nunca.
Mas pelo seu olhar eu devo ter dado essa impressão. Meu Deus! Eu
nunca seria capaz, é só que eu fiquei tão furioso, mas se eu fosse bater
em alguém seria no loiro idiota, não nela.
— Está tudo bem sim, obrigada. — Savannah diz e a mulher assente, se
vira e vai embora, desistindo de usar o banheiro.
— Viu o que você fez? Fez eu parecer um louco violento. — Digo.
— Eu fiz? Eu fiz? Você fez isso sozinho. E você é louco mesmo se por um
momento achou mesmo que eu iria para casa com você.
— Você não pode ficar aqui com aquele cara.
— Justin, eu já falei, não tem nada acontecendo entre eu e o Ben. Não
tem motivo para você ficar com ciúmes.
— Ciúmes? Quem disse que eu estou com ciúmes, eu não sinto ciúmes.
Nunca senti e não iria começar a sentir por você.
— Ah não, então porque você está agindo assim?
— Porque eu não quero ficar com você sabendo que outro cara está te
tocando também, nenhum homem gostaria disso. Não é ciúmes, se você
quer ficar com outros caras então me diga agora e a gente acaba o
nosso lance e ambos ficamos livres. Se for isso que você quer então me
diga, porque eu acabei de recusar uma morena gostosa e talvez de
tempo de ir atrás dela.
Antes que eu possa assimilar qualquer coisa, a mão de Savannah vem
em minha direção e acerta meu rosto, causando um estalo e uma
ardência instantânea.
— Você é um filho da mãe mesmo. Pode ir atrás da sua morena gostosa,
eu não ligo. Pode fazer o que quiser que eu não ligo. Não quero mais
falar com você, seu idiota. Não me procure mais, entendeu?
Ela diz furiosa e sai do banheiro pisando duro.
Droga. Droga. Droga. Não, merda! Não era isso que eu queria. Tenho
que ir atrás dela e explicar que eu só falei de Veronica porque estava
com raiva.
— Savannah, espera. — Saio do banheiro rapidamente, quando abro a
porta dou de cara com um homem enorme de terno e ele me segura pelo
colarinho.

200
“Oh merda!”
— Então você é o filho da puta que está incomodando as minhas
garotas?
— O que? Não.
— Ah não? Vai me falar também que entrou no banheiro errado sem
perceber?
— Não, eu...Hey, espera aí. — Digo enquanto ele começa a me arrastar
para fora.
— Eu não fiz nada, é sério. Me solta.
O cara gigante continua me arrastando para fora enquanto as pessoas
olham. Ele chega na porta de saída e me joga para fora, quase perco o
equilíbrio e caio.
— Rock, esse filho da puta estava no banheiro feminino, não quero mais
ver a cara dele aqui, entendeu?
Rock, outro segurança/montanha ambulante, me olha com raiva.
— Entendido. Quer que eu cuide dele?
— Não perca seu tempo, só não deixe mais ele entrar aqui.
— Eu não fiz nada, me deixe explicar o que aconteceu...
Rock avança para cima de mim e mete o dedo na minha cara.
— Se eu ver o seu rosto por aqui de novo, eu vou te arrebentar filho da
puta. Agora se manda. — Ele diz e me empurra. Desisto de tentar
explicar o que aconteceu, eles não vão acreditar em mim de qualquer
forma.
Vou até meu carro, chuto uma lata de lixo no caminho, depois chuto o
pneu do carro antes de entrar nele.
— Porra! — Passo a mão pelos cabelos e aperto os olhos. Não acredito
em tudo que acabou de acontecer.
Savannah não pode estar falando sério sobre não querer mais me ver,
certo? Certo?
Merda! E agora eu não posso voltar lá dentro e me explicar para ela,
pedir desculpas. Tenho uma pequena sensação que ela não vai atender
se eu ligar.
Não acredito, vou ter que esperar para falar com ela amanhã. Vou me
explicar e tudo vai voltar ao normal.
Que porra deu em mim? Nunca me senti tão não no controle assim. É
como se algo estivesse me controlando, não consegui controlar meus
atos e o que saia da minha boca. A única coisa que eu sentia era a raiva
borbulhando dentro de mim.
Eu fiz o certo, não é? Que homem gostaria de saber que a mulher com
quem ele está dormindo também está dormindo com outro?

201
Eu sei o que você está pensando. Eu nunca liguei para isso antes, é
verdade. Mas com Savannah é diferente, não suporto a ideia de outro
também estar tocando nela.
Mas isso não é o que ela falou. Eu não estou sentindo isso. Eu
absolutamente não estou com ciúmes dela. Ter ciúmes implica
sentimentos que eu não sou capaz de sentir. Eu só não quero que
ninguém toque nela enquanto eu estiver tocando, só isso. É só isso.

202
Finalmente apaixonados
Justin
Acordo e a primeira coisa que faço, antes mesmo de abrir os olhos, é
procurar aquele corpo macio e quente que eu conheço tão bem. Tateio a
cama ao meu lado procurando por ela, mas minha mão encontra
apenas com o lençol frio.
É nesse momento que minha ficha cai e eu me lembro do que aconteceu
sexta à noite. Ela não está aqui, como não estava ontem e nem sábado,
mas minha mente continua insistindo em me fazer de idiota e me
fazendo procurar por ela quando acordo.
Terceira noite seguida, isso já está começando a me dar nos nervos.
Venho tentando falar com Savannah o final de semana todo, até fui à
faculdade, mas chegando ao seu apartamento me encontrei com sua
desagradável colega de quarto e ela disse que Savannah estava
passando o final de semana em Wills Point com a família. Eu não
poderia procura-la lá.
Liguei várias vezes, enviei diversas mensagens e até deixei um recado
no seu correio de voz. E ela não deu sinal de vida, não me respondeu
nem ao menos para me mandar parar de procura-la.
Isso está me deixando louco, não só pelo fato de sentir saudades dela,
mas também por causa da culpa que está me corroendo. Eu não devia
ter agido tão violentamente, aos olhos de Savannah eu devo ter
aparentado ser um cara descontrolado e violento, e eu não sou assim,
pelo menos não com mulheres.
Levanto-me e caminho até o banheiro para cuidar das minhas
necessidades básicas e nesse meio tempo tomo uma decisão. Hoje na
hora do almoço eu vou até a UTD e vou fazer Savannah conversar
comigo, vou me desculpar e nós vamos nos entender e hoje mesmo vou
poder ter ela novamente em meus braços.

Não espero ela sair do prédio, sei exatamente qual aula ela está tendo
agora e em qual andar, então entro no prédio e vou esperar Savannah
sair da sua aula, vou ficar ao lado dos elevadores onde sei que ela tem
que passar para poder sair daqui.
Saio no andar dela e fico encostado em um canto onde eu tenho uma
boa visão de ambos os lados do corredor, como não sei de qual lado ela
virá, observo ambos, atento para qualquer sinal de sua presença.
Depois de poucos minutos eu a vejo. Ela vem andando pelo corredor a
minha esquerda, sozinha e olhando para os próprios pés.

203
Não espero ela chegar até mim e vou a encontrar no meio do caminho.
— Savannah.
Ao ouvir seu nome levanta a cabeça, quando ela me vê uma expressão
zangada surge em seu belo rosto.
— Não acredito, o que você está fazendo aqui? — Ela pergunta parando
de andar e cruzando os braços.
Paro em frente dela, como sou mais alto uns bons centímetros, ela tem
que levantar um pouco a cabeça para me encarar nos olhos.
— Eu vim para conversar com você.
— Não temos nada para conversar. Porque você não vai conversar com
a morena gostosa de sexta e me deixa em paz? — Ela diz com amargura
e sai andando. Rapidamente me viro e a seguro pelo braço, puxando-a
de volta para ficarmos frente a frente.
— Eu não estava falando sério sobre isso. Se você tivesse atendido pelo
menos uma vez das centenas que eu te liguei, já teríamos conversado e
você saberia que eu falei aquilo somente porque estava nervoso.
Ela não diz nada, apenas me olha com uma expressão impaciente.
Aproveito a brecha e falo tudo que eu queria.
— Olha, Little Nips, aquela noite eu falei coisas que eu não deveria e agi
de uma forma que eu não queria. Estou o final de semana todo
tentando falar com você para me desculpar por tudo que aconteceu. Eu
já tinha bebido um pouco e quando vi você com aquele cara interpretei
da maneira errada. Achei que você poderia estar se encontrando com
ele ao mesmo tempo em que estava comigo, e isso me deixou puto. Mas
se eu tivesse parado um pouco para pensar...Eu deveria saber que você
não é assim, você não dormiria com ele e comigo ao mesmo tempo.
Sinto muito se te ofendi com a minha desconfiança, eu perdi a cabeça e
isso não vai mais acontecer. Por favor, me desculpe, por tudo.
Vejo sua expressão se suavizar com meu discurso de desculpas e
aproveito para dar o tiro de misericórdia.
— Sério, eu realmente sinto muito. Sei que eu errei e estou me sentindo
péssimo, não quero que as coisas acabem assim entre nós, na verdade,
eu não quero que elas acabem. — Dou-lhe aquele sorriso que eu sei que
mexe com ela e vejo o resto da sua raiva se dissipar dos seus traços.
— Também não quero que o nosso lance acabe, eu não falei sério
quando disse que não queria mais te ver. Eu estava nervosa também.
— Eu sei, e com razão.
— O que você fez foi muito errado.
— Eu sei.
— Eu fiquei muito brava com você, e eu ainda estou um pouco. Mas se
você realmente se arrepende, então eu te desculpo. — Não consigo
segurar o sorriso que se espalha por meu rosto.

204
— Então estamos bem? Quer dizer, voltamos com o lance de amigos
com benefícios? — Pergunto dando-lhe o meu outro sorriso que as
mulheres gostam, sexy mas inocente ao mesmo tempo. Vejo algo
mudando em seus olhos e ela leva a mão até seu rosto, colocando
nervosamente uma mecha do seu cabelo para trás da orelha.
— Tudo bem, mas temos que conversar sobre algo antes. — Ela diz
parecendo nervosa.
— Sobre o que?
— Sobre sermos exclusivos nesse nosso lance. Eu sei que o que temos é
apenas...Sexo sem compromisso. — Ela sussurra as últimas palavras e
olha pelo corredor para ver se alguém a escutou. — Mas eu acho que
nós deveríamos estabelecer se podemos sair com outras pessoas ou
não, porque se a gente já tivesse conversado sobre isso antes, no
começo, teríamos evitado o seu ataque de ciúmes de sexta a noite e...
— Ei, espera um minuto. — Suas palavras me pegam de surpresa e leva
um segundo para eu absorve-las, ela se interrompe e me encara com
seus grandes e lindos olhos verdes.
— Só para deixar claro, mais uma vez, o que aconteceu sexta não tem
nada a ver com ciúmes, ok? — Ela revira os olhos e me olha parecendo
impaciente.
— Foi ciúmes sim, porque é tão difícil de admitir isso? Não tem nada
demais em sentir ciúmes dos outros. — Ela pergunta com uma
expressão confusa.
— Eu admitiria, se eu realmente tivesse sentido ciúmes, mas eu já te
disse que o que aconteceu sexta foi por que...
— Ah por favor, Justin. Nem comece com aquela baboseira, aquilo foi
muito mais do que orgulho masculino bobo. Se realmente fosse o que
você diz ser, você teria esperado para falar comigo no outro dia, ou até
poderia ter ido tirar satisfações comigo ali mesmo, mas você nunca teria
ficado tão nervoso daquele jeito. Você ficou com ciúmes sim, admita de
uma vez. — Ela diz se exaltando um pouco.
— Porque eu mentiria sobre isso? Eu estou falando sério, eu não senti
ciúmes. Porque você continua insistindo nessa ideia? — Pergunto
indignado com sua teimosia.
— Só porque é a verdade. Aquela noite você disse que não sentia ciúmes
e não iria começar a sentir por mim, aquilo foi cruel se você quer saber,
e agora o mínimo que você pode fazer, além de pedir desculpas, é
admitir que você agiu sob efeito do ciúmes que você sentiu ao imaginar
que eu estava me relacionando com Ben. — Ela diz como se fosse a
coisa mais lógica do mundo. Eu realmente nunca vou entender como
funciona a cabeça das mulheres.
— Eu não vou dizer que eu senti algo que eu não senti só porque você
quer. É melhor você desistir dessa ideia ou não vamos poder retomar o
nosso lance — Digo cruzando os braços e olhando-a de um modo que
ela possa perceber que eu estou falando muito sério.

205
— Ótimo, se é assim que você quer, que assim seja. — Ela diz e sai
pisando duro.
— Ei, espera, onde você está indo? — Seguro-a novamente pelo braço e
faço-a se virar para mim.
— Você disse que ou eu desistia da ideia que você ficou com ciúmes de
mim ou esse lance de dormirmos juntos não iria mais funcionar, não foi
isso?
— Sim, mas...
— Então, ou você admite que sentiu ciúmes do Ben ou acabou.
— Como assim? — Pergunto com um leve sentimento de desespero se
instalando em minha garganta, impedindo que minha voz saia alta e
clara.
— É isso que você ouviu. Só vamos voltar com o lance de amigos com
benefícios quando você admitir o que você sentiu aquela noite.
“Mas que merda! Do que essa mulher está falando? Ela ficou maluca?
Mas que porcaria!”
Abro minha boca para tentar dissuadi-la dessa ideia maluca, mas nesse
momento ambos nos assustamos com uma exclamação vinda detrás de
mim:
— Ah meu Deus!
Savannah e eu viramos na direção daquela voz e quando eu vejo quem
está atrás de nós congelo no lugar, escuto Savannah ofegar. Ambos
ficamos encarando Shanon sem saber o que fazer.
Deus, o quanto da nossa conversa ela escutou? Mas devido a sua
expressão, acredito que ela tenha ouvido o suficiente.
Olho para Savannah e ela olha para mim, seu olhar cheio de desespero
e medo. Voltamos nosso olhar para uma Shanon muito surpresa, ela
fica alternando seu olhar entre eu e sua irmã enquanto seu queixo está
no chão.
— Shanon, eu posso explicar. — Savannah finalmente diz, mas sua voz
sai trêmula e fraca e ela não continua.
— Ah meu Deus! — Shanon diz outra vez, pronunciando cada palavra
lentamente. Ela pisca várias vezes, leva uma mão até a cabeça e a
balança incrédula.
— Vocês...Vocês...Vocês dois estão...Ah meu Deus. — Shanon parece
desnorteada, continua alternando entre olhar para mim e para
Savannah, ela nos olha como se estivesse vendo duas aberrações, seus
olhos e sua expressão revelam o tamanho do seu choque.
— Shanon, tenha calma, por favor. — Peço para ela.
— Calma? Como você pode me pedir calma quando eu descubro que
minha irmã está...Está...Oh Deus, que ela está dormindo
com você. Justo com você. — Ela diz ‘você’ fazendo uma careta,

206
parecendo que para ela a ideia de se referir a mim, a Savannah e dormir
juntos na mesma sentença é algo inimaginável.
— Eu sei que você está surpresa...
— Surpresa? Eu não estou surpresa Savannah, eu estou chocada. Eu
estou sem palavras, eu...Eu não...Eu... — Shanon não consegue
concluir seu pensamento, fica gaguejando e repetindo as palavras,
então leva a mão até a boca e começa a resmungar coisas que não
consigo entender.
— Calma, Shanon. Não é grande coisa... — Começo a dizer mas paro
quando ela me olha como se eu tivesse lhe dado um tapa na cara.
— Como não é grande coisa? É claro que é. Você é o melhor amigo do
Seth, você é amigo dele a tanto tempo que é praticamente da nossa
família, e você tem a idade dele, você estava lá quando nós duas
estávamos crescendo pelo amor de Deus. Além disso, você é tipo um
prostituto, todo mundo sabe disso.
Sinto a raiva crescer dentro de mim em questão de segundos. Entendo
que ela está surpresa pelo que descobriu, mas não tem o direito de me
insultar.
— Shanon, não fale assim dele. — Savannah me defende antes que eu
tenha a oportunidade de fazer isso eu mesmo. Ela repreende a irmã
com a voz severa e Shanon a olha – se possível – mais chocada ainda.
— Mais é a verdade e você sabe muito bem disso, Savannah. Não posso
acreditar que você está se envolvendo com ele sabendo como ele é.
Amigos com benefícios, é sério isso Savannah? Você pirou de vez, não
é?
— Não, Shanon. Eu sei que parece algo ruim agora e eu não queria que
você tivesse descoberto dessa forma, mas...
— Ele te seduziu, foi isso? Só pode ter sido. Não acredito que ele não
perdoou nem a irmã do melhor amigo. — Ela se vira para mim e me
lança um olhar zangado, aponta o dedo para mim e diz:
— Você deveria ter vergonha de você mesmo. Como você pode? Não
acredito. Mas se você acha que vai usar a minha irmã como todas as
outras, você está muito enganado, ouviu? Eu vou contar para Seth e ele
vai quebrar essa sua cara de conquistador barato. — Ela diz quase
partindo para cima de mim.
— Não, por favor, Shanon, você não pode contar para Seth nem para
ninguém. Por favor, sis. — Savannah pede suplicante.
— E porque não? Isso é loucura, Savannah. Ainda não posso acreditar
que você está prestando um papel desses. Nossa família precisa saber
para acabar com essa palhaçada. — Ela diz e se vira, indo em direção
aos elevadores.
— Droga. Não se preocupe, eu vou atrás dela e vou garantir que ela não
conte nada. — Savannah diz e apressadamente vai atrás de Shanon.

207
E eu fico ali parado, meu cérebro tentando assimilar que se Savannah
não conseguir convencer Shanon a ficar quieta, eu serei um homem
morto.
“Ah meu Deus! Seth vai me matar.”

Savannah
Saio do elevador correndo, procuro por Shanon desesperadamente, mas
não a vejo. Droga, ela já deve ter saído do prédio.
Não consigo acreditar que isso está acontecendo, Deus, se ela contar
para nossa família o que ela descobriu...Não consigo nem imaginar as
consequências disso tudo.
Tenho que impedi-la. Tenho que convence-la a não contar nada.
Saio do prédio e procuro por ela freneticamente, quando a vejo grito seu
nome:
— Shanon, espere!
Ela me escuta e para, vira para trás e me observa com uma cara muito
zangada enquanto corro até ela.
— Espera, por favor. Temos que conversar sobre isso.
— Savannah, essa loucura tem que parar. Você sabe muito bem como o
Justin é. A gente cresceu ouvindo as fofocas sobre ele, como você pode
ficar com ele sabendo que você é só uma brincadeira, um meio de ele
conseguir prazer? Se você queria um pouco de diversão depois do que
aconteceu com Vince, procurasse em outro lugar, tem tantos caras
loucos por você, mas você definitivamente não deveria ter buscado
distração na cama dele, alguém que supostamente deveria ser nossa
família, nosso amigo, praticamente nosso irmão...
— Eu sei, eu sei. Fique calma, ok? Podemos conversar sobre isso antes
que você vá correndo contar para nossa família?
Ela cruza os braços e me olha com severidade.
— Por favor?
— Tudo bem. — Ela diz de má vontade.
— Será que podemos conversar no seu dormitório? A Azul está lá?
— Não, ela ia almoçar com alguns amigos e depois sair com eles.
— Ótimo, então vamos para lá. Não quero correr o risco de irmos para o
meu apartamento e de Aletta atrapalhar nossa conversa.
— Que seja. — Ela diz emburrada, e então seguimos para seu
dormitório. Caminho ao seu lado, ambas em silêncio, porém respiro
mais aliviada. Tenho a chance de evitar uma tragédia, tenho que
conseguir convence-la a não falar nada sobre Justin e eu, ou então
tanto ele como eu estamos ferrados.

208
Chegamos ao seu dormitório e felizmente ela tinha razão, sua colega de
quarto, Azul, não está em casa. Sento-me no sofá enquanto Shanon,
ainda muito inquieta, fica andando de lá para cá.
— Muito bem, pode começar a me explicar essa loucura toda. Como
tudo isso começou?
Respiro fundo, e então começo a lhe contar tudo. Desde daquele dia em
que flagrei Vince e Aletta na cama e como eu sofri e fique transtornada
com a traição dele. Como comecei a me comportar diferente por causa
do meu sofrimento, como comecei a sair à noite e a beber, e como teve
uma noite em que eu bebi tanto que nem eu mesma me lembro de tudo
o que aconteceu. E que na manhã seguinte a essa noite eu acordei no
apartamento de Justin e ele me deu uma bronca, fui contando todo o
resto. Contei tudo que aconteceu desde aquela manhã e como eu me
senti, tanto com Justin como com Vince.
Quando termino de lhe contar tudo, Shanon está sentada ao meu lado
no sofá me olhando atônita.
— Por favor, diga alguma coisa. — Peço.
— Se isso começou logo depois que você terminou com Vince, então
você e Justin estão...Nisso há...
— Um pouco mais de dois meses, sim. — Digo.
— Meu Deus, Savannah. — Ela coloca a mão na testa e apoia o braço
no joelho.
— A conversa que eu ouvi...Vocês estavam brigando, não é? Pelo que ele
fez sexta no Eros.
— Sim, pelo ataque de ciúmes que ele teve.
— Por isso que aquela noite você voltou do banheiro parecendo tão
nervosa...Então pelo que entendi, ele não quer admitir que sentiu
ciúmes, é isso?
— Sim, ele tem algum problema em admitir o que sentiu naquela noite,
como se fosse grande coisa.
— E porque você quer tanto que ele admita ter sentido ciúmes? Por que
é tão importante para você? — Ela pergunta.
— Por que...Bem, porque ele disse coisas naquela noite no Eros que me
magoaram. Eu só quero que ele para de mentir para mim e para si
mesmo e admita o que sentiu.
— Mas não é só isso, não é? Tem algo mais. — Ela diz me olhando nos
olhos, com uma expressão desconfiada.
Desvio o olhar com medo que ela possa ler em meus olhos a verdade.
Ou pelo menos o que eu acho que é a verdade, nem eu sei direito o que
está acontecendo comigo, estou tão confusa. Passei o final de semana
inteiro pensando e pensando sobre meus sentimentos e a conclusão que
cheguei é assustadora demais, não quero admitir para mim mesma,
quem dirá para outra pessoa.

209
— Não, é só isso. Ele feriu meu orgulho e eu sei que ele estava com
ciúmes, você precisava ter visto o jeito que ele agiu. Só quero que ele
admita a verdade.
Shanon me lança seu olhar analisador e eu me encolho um pouco.
Odeio quando ela faz isso, ficar me analisando para ver se estou
mentindo ou não. Não sei se é porque somos gêmeas ou porque somos
muito amigas, mas uma sempre, ou pelo menos quase sempre, sabe
quando a outra está mentindo e quando está falando a verdade.
— Não, não é só isso, eu posso ver em seus olhos. Tem algo que você
não está me contando.
Droga. Essa não podia ser uma daquelas vezes que ela não consegue
me decifrar?
— Não, é só isso mesmo, o que mais seria? — Pergunto dando uma
risada nervosa e soando falsa até para mim mesma.
— E eu é que sei? Me diga você. Porque esse desespero para que ele
assuma que teve ciúmes de você?
— Shanon, eu não estou desesperada, e eu já falei, só quero que ele
assuma a verdade.
Ela cruza os braços e levanta uma sobrancelha.
— Fala logo.
— Não é nada, é sério. — Digo me levantando e ficando de costas para
ela, na esperança que isso dificulte para ela descobrir meus
sentimentos. Envolvo meus braços em volta do meu corpo e me aperto,
esfregando as mãos em meus braços.
Não quero dizer em voz alta, não quero porque ao dizer em voz alta vai
parecer mais real, mais assustador. E além do mais, estou confusa
sobre isso, talvez não seja nada, talvez eu esteja apenas confundindo
meus sentimentos.
Fecho os olhos e aperto meu nariz.
— Savannah?
Respiro fundo e me viro para ela, e o que eu vejo em seus olhos me faz
ter vontade de vomitar. Eu vejo compreensão e pena em seus olhos
verdes tão parecidos com os meus.
— Por favor, me diga que eu estou errada. — Ela sussurra. Não consigo
mais olha-la nos olhos, então desvio o olhar e encaro o chão com um
olhar triste.
— Ah não! É isso, não é? Você...Você está apaixonada por ele, não está?
Fecho os olhos e os aperto com força, abro a boca, mas não consigo
emitir nenhum som, a não ser o gemido que me escapa, seguido pelas
lágrimas que eu jurei não derramar.
— Ah meu amor. — Shanon se levanta rapidamente e me abraça, eu
retribuo o abraço e envolvo seu corpo com meus braços, apertando-a

210
forte. Não consigo mais segurar e as lágrimas deslizam livremente por
meu rosto.
— Sinto muito. — Eu digo.
— Pelo que? Você não tem que se desculpar por estar apaixonada, a
gente não controla essas coisas, sis.
— Eu sei. — Sua mão acaricia minhas costas e a outra meus cabelos.
— Você gosta mesmo dele? — Ela pergunta e eu posso sentir o medo em
sua voz. Ela está com medo por mim, está com medo que eu me
machuque mais uma vez. E eu também.
— Acho que sim, eu não sei.
— Como assim você não sabe, ou você gosta ou não.
— Então acho que eu gosto. Eu não consigo parar de pensar nele, não
consigo parar de querer ficar com ele. Eu queria tanto que ele sentisse
alguma coisa também, queria tanto que ele me dissesse que ele também
não cumpriu o nosso trato e se apaixonou por mim.
— Meu amor, minha queria, não é fácil isso que eu tenho para te dizer,
mas...Você sabe que isso não vai acontecer, não é? Você sabe como ele
é.
— Eu sei, eu sei muito bem. Ele nunca namorou, nunca se amarrou a
ninguém, nunca amou nenhuma mulher. Talvez ele não tenha mesmo
sentido ciúmes de mim, talvez seja algo da minha cabeça, talvez seja eu
me iludindo porque eu sei que se ele admitir ter ficado com ciúmes, na
minha cabeça maluca eu vou ter esperança que ele possa sentir alguma
coisa a mais por mim
— Não diga isso, você não é maluca, sis. Você é inteligente, simpática,
uma boa pessoa e muito linda. — Sorrio ao ouvir sua tentativa de me
fazer sentir melhor.
— Muito linda? Você só diz isso porque você é igualzinha a mim. — Ela
ri e me aperta mais forte em seus braços.
— Não importa, é a verdade. Nós somos super lindas. Eu já tenho o
Miguel, e sei que logo você vai ter alguém especial também, alguém que
vai saber te dar o devido valor. Mas infelizmente esse alguém não é o
Justin, sei que isso pode te machucar agora, mas o quanto mais cedo
você acabar com essa maluquice e se afastar dele, melhor.
— Eu não quero me afastar dele. — Digo num sussurro.
— Mas não era isso que você estava prestes a fazer hoje? Eu ouvi muito
bem você dizendo que ou ele admitia o que sentiu com relação ao Ben
ou vocês não dormiriam mais juntos.
— Eu sei o que eu disse. Mas eu falei aquilo com esperança que ele
cederia. Eu sei que ele não tem sentimentos por mim como eu tenho por
ele, mas eu tinha esperança que pelo menos ele gostasse o suficiente de
dormir comigo para não querer que isso acabasse por enquanto.

211
— Eca. Por favor, não diga mais nada. Só de pensar na minha irmã
fazendo sexo com o cara que eu sempre considerei parte da
família...Simplesmente eca.
— Eu te amo, sabia? — Pergunto.
— É claro que eu sei, e eu também te amo, sis. Muito. E é por isso que
eu me preocupo tanto com você, eu não quero que ninguém te faça
sofrer. Por favor, se afaste dele, não deixe que ele quebre o seu coração,
estou te implorando, por favor se afaste dele. — Ela separa nossos
corpos e me diz seriamente enquanto olha no fundo dos meus olhos.
— Eu não posso fazer isso.
— Você tem.
— Não sei se eu consigo. Ele é como uma droga para mim, não consigo
ficar sem. — E lá vai aquele olhar de pena de novo, não gosto que
sintam pena de mim. Shanon acaricia minha bochecha e me dá um
sorriso triste.
— Então pelo menos tente.
— Acho que eu posso fazer isso.
— Bom, então tente. Eu sei que você vai conseguir. É só você lembrar
que ele não é assim, que ele não é o tipo de cara que você quer. Ele não
é capaz de sossegar com uma mulher só, mesmo que você conseguisse
começar algum tipo de relacionamento mais sério, ele acabaria te
traindo. Você não quer aquela história do Vince tudo de volta, não é?
— Não, não quero. — Digo dando um suspiro derrotado, sei que ela tem
razão, por mais que doa, ela tem razão.
— Ótimo. E sempre que você precisar de alguém para conversar sobre
isso, pode contar comigo. Apesar que eu acho que você só pode contar
comigo, a não ser que mais alguém saiba sobre vocês dois.
— Não, você é a única que sabe. Quer dizer, tirando o Vince que acha
que eu e Justin somos namorados, mas ele não sabe que Justin é o
melhor amigo de Seth.
— Certo.
— Você não vai falar nada, não é? Por favor, não conte para ninguém o
que você descobriu.
— Tudo bem, não vou contar. Só tenha cuidado, por favor.
— Eu terei, prometo.

Sentindo-me ao mesmo tempo triste e feliz por ter confessado meus
sentimentos por Justin para Shanon, volto para meu apartamento.
Toda essa comoção me fez perder o apetite, vou comer qualquer coisa
em casa mesmo.
Enquanto subo as escadas digito uma mensagem para Justin.

212
Savannah: Problema resolvido, conversei com S. e ela guardará
nosso segredo.
Quase imediatamente recebo uma resposta.
Justin: Bom. Agora temos que resolver o nosso outro problema.
Temos que conversar.
Assim que leio a mensagem desligo o celular, sei que assim que ele
perceber que eu não irei respondê-lo ele ficará me ligando igual a um
louco.
Sei muito bem qual é o problema que ele quer resolver. Ele quer
continuar com esse lance de amigos com benefícios, a verdade é que eu
também quero. Claro que eu gostaria de ter muito mais dele do que
apenas sexo sem compromisso, mas eu não posso ter mais, e mesmo
que ele me ofereça pouco, é tudo o que eu tenho. Não sei se consigo
abrir mão disso.
Jogo-me no sofá desanimada.
“Como Savannah, como você se deixou se apaixonar por Justin?”
É uma excelente pergunta, para a qual eu não tenho uma boa resposta.
Simplesmente aconteceu. Quando eu me dei conta, Justin já tinha se
apossado do meu coração. E tudo foi acontecendo tão sorrateiramente
que eu não percebi até ser tarde demais.
Justin é um homem muito lindo, provavelmente o mais lindo que eu já
vi em toda a minha vida. Fico me perguntando como eu não o notei
antes. Claro que antes de tudo isso eu já havia notado o quão lindo ele
é, afinal, ele não teria centenas de mulheres aos seus pés se não fosse,
eu já tinha até chegado a achar ele muito atraente, mas nunca imaginei
algo acontecendo entre nós. Nunca tive fantasias ou algo do gênero com
ele.
Mas agora...Agora que eu sei como ele realmente é, e eu não digo
apenas fisicamente – apesar que a visão dele nu é impactante o
suficiente para fazer uma garota começar a ter fantasias – mas eu
conheci ele por dentro também. E apesar dele ter muitos defeitos, ele é
uma boa pessoa. É tão lindo por dentro como é por fora, arrisco-me a
dizer até que ele é mais lindo por dentro.
O seu maior defeito, e o que mais me incomoda, é o fato dele não parar
com uma mulher só. Mas mesmo levando uma vida promiscua, ele
continua sendo uma pessoa honesta, porque pelo que eu sei, ele nunca
iludiu uma garota prometendo algo que ele sabia que não poderia dar.
Ele fez isso comigo também, antes de começarmos a nos envolver, ele
deixou muito claro o que tudo aquilo seria.
“Você não pode se apaixonar por mim, Savannah” foi o que ele disse. Eu
achei que aquilo não seria problema algum, nunca imaginei que...Mas
agora é tarde demais.
Eu descumpri a minha parte no acordo. Eu me apaixonei por Justin
Cord e agora, de uma forma ou de outra, estou ferrada.

213
Justin
Alguns dias depois...
— Justin, o que está errado com você, cara? — Will diz entrando em
minha sala sem nem ao menos bater. Levanto o olhar dos papeis que
estava lendo e vejo ele se aproximando com uma carraca na cara e uma
pasta na mão.
— O que você quer, Will? Estou trabalhando.
— Que bom que você está fazendo isso agora, porque quando você
estava revisando isso aqui... — Ele diz jogando a pasta que segurava em
cima da minha mesa. — Você podia estar fazendo muitas coisas, menos
trabalhando.
— Do que você está falando?
— Estou falando dos números da Global Networks. — Abro a pasta e me
deparo com os papeis que eu revisei ontem.
— Eu dei uma olhada nisso ontem, o que tem de errado?
— Ah não é nada demais, só praticamente toda a tabela da página 23.
— Isso é impossível, aquela estagiária montou a tabela e eu conferi,
estava tudo certo.
— Não, Justin, não está tudo certo. Tem alguns números errados e os
que estão certos foram colocados nas sessões erradas. Você deveria ter
percebido o erro quando você supostamente “conferiu” os papeis.
— Ei, calma, ok. Não estou gostando nada do seu tom de voz. Foi um
erro, acontece.
— Me desculpe se eu estou nervoso, mas erros como esse não podem
acontecer, Justin. Você liberou os papeis para serem enviados para o
vice-presidente da Global Networks e eles estavam piores do que se uma
criança de 8 anos os tivesse feito. Você já imaginou se eu não tivesse
decidido dar uma última olhada rápida? Eles teriam papeis assinados
por você e com os dados completamente errados. Acabei de salvar a sua
bunda, de nada.
Encaro a tabela da página 23 e não acredito. O cretino do Will está
certo, os erros são absurdos.
— Esse é o mesmo documento que eu examinei ontem? — Pergunto
cético, sem acreditar que eu deixei passar tantos erros.
— É sim, veja ali embaixo, é a sua assinatura.
— Não acredito, isso está horrível. Ainda bem que você percebeu esses
erros antes de enviar os papeis.
— Pois é, já imaginou o problema que isso geraria? Agora o que me
preocupa muito mais que esses papeis, são os que você me entregou
da Asian Systems.

214
— O que tem eles?
— O gráfico que foi anexado estava desatualizado.
— Não é possível, eu conferi aqueles papeis duas vezes na segunda.
— Pois eu estou te falando, o gráfico estava errado.
— Mas que merda. — Me xingo mentalmente por ter sido tão estupido e
ter cometido erros tão primários. Eu não cheguei até aqui à toa, eu
sempre fui muito bom no que eu faço e levo meu trabalho muito a sério.
— Agora eu te pergunto, como isso foi acontecer? Dois erros
monumentais na mesma semana. — Ele me questiona com as mãos na
cintura.
— Eu não sei, eu...Achei que tinha feito tudo certo. Que droga. — Fecho
os olhos e apoio as mãos no rosto, como se estivesse rezando. E talvez
eu devesse mesmo, talvez eu devesse pedir a minha concentração e a
minha sanidade de volta, porque nos últimos dias sinto que estou
perdendo ambos.
— Talvez se você esteja com algum problema, seja melhor pedir uma
licença ou algo do tipo. — Will comenta.
— Não, não há necessidade para tanto. É só que estou tendo uma
semana um pouco difícil, só isso.
— Tudo bem, eu entendo, todos temos problemas. Mas você não pode
deixar isso afetar seu trabalho, principalmente porque você tem muita
responsabilidade nessa empresa. Não quero pegar no seu pé, apenas
estou te dando um toque como amigo.
— Sim, eu sei, Você tem razão. Isso não vai mais acontecer, eu prometo.
— Digo me levantando e colocando meu paletó.
— Vai sair? Onde você vai?
— Vou resolver o problema que tem me distraído. — Respondo
passando por ele e saindo do escritório.

Determinado a não desistir, volto para o carro para esperar que alguém
apareça. Quase derrubei a porta do apartamento de Savannah de tanto
esmurra-la, pelo visto nem ela e nem a colega de quarto estão em casa
hoje.
A última notícia que eu tive diretamente de Savannah foi a mensagem
solitária que ela me enviou dizendo que tinha resolvido o problema com
Shanon. Depois disso parece que ela simplesmente sumiu do mapa.
Hoje é quinta- feira da semana seguinte, ou seja, dez dias sem
Savannah.
Liguei, enviei inúmeras mensagens, vim procura-la em casa várias vezes
em vários horários diferentes e ela nunca estava. É como se ela
soubesse que eu tentaria contata-la de qualquer maneira e ela
propositalmente estivesse se mantendo o máximo possível fora de casa.

215
Pelo menos hoje eu não tive o desprazer de encontrar com a sua colega,
Aletta.
Que mulher mais desagradável.
Mas dessa vez eu vou esperar até que ela volte para casa. Eu vou falar
com ela e de hoje não passa.
Não posso mais permitir que essa situação continue, eu estou no limite
entre a sanidade e a loucura, e essa merda está afetando meu trabalho.
Não posso permitir que erros como aqueles aconteçam novamente,
nunca.
Isso tudo é culpa de Savannah, dela e dessa teimosia irritante dela.
Mas hoje ela vai finalmente conseguir o que quer. Vou admitir que eu
senti ciúmes dela com aquele babaca do Ben.
Depois de tanto lutar, depois de tanto nadar, vou morrer na praia. Mas
se esse é o único jeito de ter aquela teimosa de volta, que assim seja.
Depois de tantos dias sem ela, honestamente, estou disposto a implorar
para que ela volte para mim.
Eu cheguei a um certo ponto emocional, que realmente me deixou
preocupado. Savannah sumiu, mas as poucas coisas que ela mantem
no meu apartamento continuam lá. Algumas poucas peças de roubas,
um calçado, alguns produtos de higiene, nada demais. Mas o suficiente
para me lembrar constantemente dela, como se eu precisasse disso,
como se eu precisasse de algo para me lembrar a falta que ela me faz.
Quatro dias atrás, creio eu, cheguei ao ápice do meu desespero. Fiz algo
que eu nunca, mas nunca vou admitir para alguém.
Dormi abraçado com uma blusa de lã usada que ela deixou jogada em
cima do sofá.
“Deus do céu, o que está acontecendo comigo?”
Eu ainda não acredito que eu fiz mesmo isso, e para piorar, eu tenho
dormido com ela desde então. Não é a mesma coisa que ter a verdadeira
Savannah, de carne e osso, comigo, mas ajudou um pouco.
A blusa ainda possuía o seu cheiro, uma mistura perfeita do seu
perfume com o seu cheiro natural.
Uma fragrância divina e altamente viciante.
Mas acho que de tanto cheirar a blusa, seu cheiro foi sumindo, o que
me fez procurar desesperadamente por outra peça de rouba usada que
ela tenha deixado por lá. Mas foi em vão, tudo estava limpo e com
cheiro de amaciante.
Todos esses dias torturantes sem sua risada, sem seu sorriso, sem sua
voz, sem seus beijos e sem seu calor me fizeram pensar. Pensar muito.
Eu acho que eu, talvez, possa estar...Sentindo algo por ela.
Eu realmente não sei como lidar com isso, com esse bolo de
sentimentos que reviram meu estômago e embolam minha garganta.

216
Eu estou com tanto, mas tanto medo. Eu nunca me apaixonei, como já
é de conhecimento de todos há muito tempo, eu não tenho a experiência
necessária para detectar em mim mesmo os sintomas de se estar
apaixonado. Eu nem achei que isso seria possível de acontecer comigo,
não depois de tanto tempo.
Eu não sei se isso que eu estou sentindo é paixão ou algum outro
sentimento confuso. E eu estou muito assustado, porque seja o que for,
é forte demais e eu não estou conseguindo administra-lo muito bem.
Estou torcendo com todas as minhas forças para que não tenha
acontecido, que eu não tenha finalmente me apaixonado. Porque se isso
for verdade, eu vou sofrer como nunca antes em toda a minha vida.
Savannah não gosta de mim dessa forma. Eu ainda acho que ela gosta
do Vince, na verdade, no fundo eu tenho certeza que ela ainda tem
sentimentos por ele.
Ela pode até me enxergar como um homem, pode sentir tesão por mim
e gostar do nosso tempo juntos, mas ela nunca vai me ver como eu a
vejo. Ela nunca vai sentir a minha falta como eu sinto a dela. Porque ela
é capaz de se apaixonar e se desapaixonar, como qualquer outra pessoa
normal.
Eu não. Essa é a primeira vez em trinta anos, trinta logos anos, que eu
sinto algo assim e eu não tenho certeza se poderia sentir novamente por
outra pessoa.
Dormir com ela escondido é uma coisa, agora assumir para todos que
eu posso estar sentindo algo a mais por ela é outra totalmente diferente.
A família dela não aprovaria, a minha não aprovaria e Seth me mataria.
Sem falar no aspecto merecedor.
O fato é simples e claro como água. Eu não sou merecedor de possuir o
coração de alguém como Savannah. Ela é perfeita, inexperiente porém
apaixonada, doce e possuidora de uma beleza angelical.
E eu sou sujo, já estive com tantas mulheres e fiz tantas coisas com
elas que muitos, se soubessem de tudo, teriam nojo de ficar perto de
mim.
Eu não fui forte o suficiente para ficar longe dela, porque se eu tivesse
pelo menos um pingo de força, autocontrole e dignidade, não teria nem
tocado nela para começo de conversa. Não teria sujado seu corpo
deixando que ela se deitasse com alguém tão “usado” como eu, mas a
carne é fraca e eu não pude resistir, mas isso ainda tem concerto, é só
ela achar um cara digno.
Agora, eu seria capaz de deixar ela me levar para dentro do seu coração
e assim se sujar de uma vez por todas com a minha bagagem de vida?
A resposta desanimadora é sim, eu sou covarde e egoísta o suficiente
para permitir isso.
Por favor, que Deus queira que eu esteja apenas confuso e não
apaixonado, e que Savannah seja esperta e não sinta nada por mim.

217
As horas passam e eu espero. Eu e meus pensamentos.
Sei que estão me esperando no escritório, mas não posso sair daqui
sem uma solução para minha angustia.
Decidi que por hora, vou manter em segredo a minha descoberta, sobre
a minha possível paixão por Savannah, e vou apenas lhe dizer sobre
meu ciúmes. Afinal, uma confissão é o suficiente por agora.
Perdido em meus pensamentos quase não percebo quando Savannah
vai caminhando pacificamente até seu dormitório. Observo-a
distraidamente entrar no prédio e sumir de vista.
Meu coração acelera devido a sua breve visão e a ansiedade toma conta
de mim.
Saio do carro e caminho até o prédio. A porta tem um sistema de
segurança de código, mas é tão fácil entrar que é como se não tivesse.
É só esperar alguém chegar ou sair, nenhum morador se importa de
deixar uma pessoa claramente que não tem o código e nem estuda aqui
entrar. Dou sorte e no momento que chego à porta, tem duas meninas
saindo.
Seguro a porta antes que se feche e entro, subo os degraus enquanto
repasso tudo o que quero dizer em minha cabeça. Quando paro em
frente a sua porta, sinto um nervoso, e se ela não quiser mais esse
lance de amigos com benefícios? O que eu vou fazer, roubar mais
roupas usadas?
“Nossa, você é doente, Justin.”
Bato na porta e espero, desabotoo o paletó, os botões da manga e o
colarinho, na tentativa de conseguir respirar mais facilmente e ficar
mais confortável. Bato novamente e espero.
Quando escuto o barulho da chave na fechadura, apoio um braço no
batente da porta e respiro fundo. A porta se abre e pela primeira vez em
dez dias vejo-a novamente.
“Deus, ela ficou mais linda nesses últimos dias! Como isso é possível?”
Savannah me olha assustada e começa a fechar a porta, eu estico a
mão e a seguro, impedindo que se feche na minha cara.
— Espere, por favor, apenas me escute.
Ela abre a porta e se apoia nela, me olhando intensamente. Olho no
fundo dos seus olhos e deixo as palavras emboladas pela pressa saírem
como uma enxurrada de minha boca.
— Você tinha razão. Eu admito, eu estava com ciúmes de você. — Uma
tristeza súbita aparece em seus olhos, me deixando confuso. Mas não
era isso que ela queria, que eu admitisse que ela estava certa? De
qualquer forma, continuo:
— Eu não tive intenção de te insultar sugerindo que você e aquele cara
estavam dormindo juntos, eu sei que você não dormiria comigo e

218
também com ele, mas eu estava cego pela raiva. Fiquei com medo
porque quando eu vi você com ele, foi como um lembrete. Um lembrete
de que a qualquer minuto você pode encontrar alguém e se apaixonar, e
então me deixar. Não que estejamos juntos, eu sei, mas é que eu não
estou pronto para não ter você na minha cama, para deixar você ir,
ainda não. Por favor, me perdoe por ser tão idiota. Eu agi e falei coisas
guiado pela raiva, pelo ciúmes e pelo medo. Será que podemos, por
favor, voltar a ter o nosso...Lance?
Ela permanece em silêncio, pensando. Mas porque a demora? Será que
ela não quer mais saber de mim?
Vejo em seus olhos uma grande indecisão, ela está ponderando, se
decidindo, isso quer dizer que ela não tem certeza e que sua resposta
pode ser um ‘não’.
“O que eu farei se ela disser não?”
— Tudo bem. — Sua voz sai tão baixa e fraca que penso ter escuta mal.
— Podemos voltar para o nosso...Lance.
Um sorriso enorme, maior do que o Texas, surge sem que eu possa
impedi-lo, dou um passo para frente quebrando a distância que nos
separa e agarro Savannah, envolvendo seu corpo com meu braço e
cobrindo sua boca com a minha.
“Deus, como eu senti falta disso”.
Com a outra mão seguro seu pescoço e aprofundo o beijo. Quando ela
geme, acho que vou me desfazer ali mesmo. Não vou aguentar muito
mais.
Entro no apartamento sem me separar dela e com um chute fecho a
porta. Abandono sua boca com relutância e desço até seu pescoço, sinto
seu perfume e a aperto mais contra meu corpo.
“Mil vezes melhor do que cheirar a maldita blusa”.
Beijo seu pescoço e deposito leves mordidas por sua pele clara,
Savannah geme e suas mãos vão até minhas costas, me aranhando
sobre a grossa camada de roupa.
Chupo o lóbulo da sua orelha e volto a atacar sua boca, sua mão viaja
até meus cabelos e ela os puxa, me deixando louco.
Em um movimento rápido a levanto e a carrego, ela envolve as pernas
na minha cintura e eu sigo em direção ao seu quarto. Chegando lá, a
deito na cama e tiro o paletó e a camisa, junto novamente nossos
corpos e recomeço o ataque voraz a sua boca. Beijo-a quase com
violência, tentando matar a saudades acumulada de dias num único
instante.
Pego a barra de sua blusa e a puxo, nossas bocas se separam apenas
para eu poder tirar e arremessar aquele pedaço de pano idiota para bem
longe.

219
Preciso dela, preciso agora, mais do que qualquer coisa, preciso senti-
la, preciso do seu calor. Levo minha mão até o botão de sua calça e
desabotoo-o, tiro a calça e também a jogo para longe.
Começo a acaricia-la por cima do tecido fino da calcinha, me pegando
de surpresa e me deixando confuso, ela para meus movimentos
colocando sua mão sobre a minha.
— O que foi, algo errado? — Pergunto sem fôlego, preocupado que ela
tenha mudado de ideia.
— Quero fazer isso diferente. — Ela diz também com dificuldade para
respirar.
— Como?
— Devagar. — Ela sussurra.
— Baby, não acho que eu consiga ir deva... — Num movimento rápido
ela sai de baixo de mim, me virando e invertendo a posição. Agora estou
deitando de costas e ela está em cima de mim, sua bunda se esfregando
na minha ereção.
— Savannah. — Suspiro seu nome.
— Shhh apenas aproveite. Quero te mostrar algo, então fique quietinho.
— Ela sussurra, seus lábios roçando levemente os meus.
— Tudo bem. — Concordo com o coração quase saltando pela boca. Ela
encosta seus lábios nos meus, dando-me um beijo suave.
Sua língua morna acaricia meu lábio inferior, minhas mãos viajam
lentamente por suas curvas.
“Isso é o paraíso, definitivamente o paraíso”.
Seus beijos viajam pelo meu maxilar até meu pescoço, sinto que posso
explodir a qualquer segundo. Quero dizer para ela ir rápido porque não
sei mais quanto tempo vou aguentar, mas ela quer fazer isso devagar, e
se é isso que ela quer é isso que ela terá, mesmo me custando muito
para não pressiona-la embaixo de mim e me enterrar rápido e forte
dentro dela.
Suas delicadas mãos vão até minha calça e roçam minha ereção, sinto
meu pau pulsar.
Isso é uma tortura, mas ao mesmo tempo uma delicia.
Ela desabotoa a calça e eu levanto o quadril para ajuda-la, ela puxa a
calça com a boxer junto e minha ereção salta livre, dura como uma
pedra.
Ela tira meus sapatos, minhas meias e joga minha calça junto com as
outras roupas no chão. Ela fica parada em pé ao lado da cama
observando meu corpo com um olhar faminto.
Quando ela leva as mãos até as costas tenho a impressão que meu
coração para uma batida, quando seu sutiã cai no chão, revelando seus
seios perfeitos, sinto meu autocontrole vacilar.

220
Ela engata os dedos na calcinha e a puxa para baixo, tenho que fechar
os olhos por um momento, respirar fundo e tentar me acalmar. Mas é
difícil, faz tantos dias.
Abro os olhos novamente quando sinto ela subindo em cima de mim,
cada perna em um lado do meu corpo, ela senta no meu colo e se
abaixa para me beijar.
— Linda, não aguento mais. — Digo num tom de suplica.
Quanto Savannah toma minha ereção nas mãos, tenho certeza que vou
gozar ao menor movimento dos seus dedos.
Ela eleva o corpo e posiciona minha ereção na sua entrada, então
lentamente, muito lentamente, vai descendo com o corpo.
Ela solta gemidos baixinhos enquanto a penetro como ela queria,
devagar. Sinto suas paredes estreitas, molhadas e quentes me
envolvendo e gemo.
Savannah sobe e desce lentamente, me provocando. Ela joga a cabeça
para trás e segura os seios.
— Justin. — Suspira meu nome.
Como, como posso me controlar diante dessa visão? Ela parece uma
deusa. A deusa da sensualidade, da feminilidade, da luxúria e da
paixão.
Ela deita seu corpo sobre o meu, seus seios nus roçando minha pele e
me beija intensamente. Acaricio suas costas suavemente enquanto ela
me beija e me faz penetra-la.
Quando ela para de se mover assumo o controle. Levanto o quadril e
abaixo-o, levanto e abaixo-o. Não consigo manter esse ritmo tão lento,
então aumento um pouco a velocidade, mais ainda assim a penetro
lentamente, quase dolorosamente.
À medida que nosso orgasmo vai se construindo, nossos gemidos ficam
mais alto, nossos beijos mais desesperados e a nossa ligação mais
rápida.
Quando sinto Savannah pulsar em volta de mim e seus gemidos se
transformarem quase em gritos, seguro-a forte e a beijo. Meu orgasmo
chegando enquanto ela ainda se recupera do seu, jorro minha
libertação dentro dela enquanto gemo contra sua boca.
Quando nossos tremores cessam, ela repousa a cabeça em meu ombro,
escondendo seu rosto na curva do meu pescoço. Escuto ela suspirar e
sorrio.
Isso foi tão intenso, tão maravilhoso, tão perfeito. O melhor orgasmo da
minha vida.
Enquanto acaricio a pele macia das curvas delicadas do corpo de
Savannah, sinto uma paz invadir meu espirito, uma felicidade tranquila
invadir meus pensamentos e meu corpo, sinto um sentimento mais
forte do que sou capaz de compreender, invadir meu coração.

221
Sei que o fato de eu nunca ter sentido isso dificulta a identificação e a
compreensão de um sentimento tão complexo e poderoso, mas de
alguma forma agora eu sei, não me restam mais dúvidas.
Estou apaixonado por Savannah Careton. Completamente apaixonado.

222
Love sucks
Justin
— Esse lugar é muito chique. — Savannah comenta observando o
ambiente.
— Você merece. — Digo dando-lhe um sorriso nervoso. “Isso e o que
mais você quiser”.
— Se eu soubesse que veríamos a um lugar como esse, teria me vestido
melhor. — Ela diz com um sorriso tímido.
— Não sei do que você está falando. Você está linda, como sempre. —
Digo e vejo suas bochechas corarem um pouco. Depois de tudo que já
fizemos juntos, era de se esperar que ela não sentisse mais vergonha, e
o fato de ela ainda corar quando eu a elogio me fascina.
Estou tão nervoso, sinto praticamente todas as partes do meu corpo
suando. Savannah e eu estamos em um encontro - mas ela não sabe
disso - e eu nunca estive em um antes, ela acha que foi só um convite
para jantar, mas para mim é a chance de mostrar como eu me sinto
através das minhas atitudes. Eu não faço a mínima ideia de como
contar para ela como eu me sinto, então resolvi tentar mostrar. Acho
que ela já deve ter percebido que dos últimos dias para cá, eu venho a
tratando diferente. Eu realmente espero que ela tenha notado a
diferença.
Se ela percebesse o que eu sinto sem tem que me fazer falar seria uma
maravilha, porque só de pensar em me declarar para ela, sinto uma dor
no estômago e minha garganta se fechando.
Quando levanto a mão para pegar a taça de vinho, percebo
vergonhosamente que ela está tremendo um pouco, pego a taça
rapidamente para que ela não veja o tremor e na minha pressa, ao
trazer a taça em direção à boca, eu a bato no meu prato, provocando
um alto barulho agudo e fazendo com que alguns casais nas mesas
mais próximas virem o pescoço para me encarar.
— Justin, está tudo bem com você? — Ela pergunta me olhando
analisadoramente.
— Sim, sim está tudo ótimo. Porque a pergunta?
— Sei lá, você parece um pouco...Nervoso. Está tudo bem mesmo?
— Não, bobagem, porque eu estaria nervoso? — Faço uma pergunta
retórica e sorrio nervosamente. — Garçom. — Chamo-o ansioso para
mudar de assunto.
“Merda! Se controle, Justin.”

223
— Estamos prontos para fazer o pedido.
— Sim, senhor.
Fazemos nossos pedidos. Eu escolho a plancha de grelhados do mar
com aspargos frescos, cogumelos e batatinhas na manteiga de limão
com alho crocante, e uma salada caprese. Savannah pede ravióli de
queijo gruyére com picadinho de mignon e cogumelos paris, e uma
salada pomodori. Para sobremesa pedimos uma Tarte
Tartin caramelizada de maçã com sorvete de baunilha para dois.
— Então, como está o trabalho? — Savannah pergunta depois que o
garçom se afasta da nossa mesa.
— Está indo muito bem. — “Tirando o fato de eu ter cometido erros
horrendos porque não parava de pensar em você”.
— E aquela proposta da qual você havia me falado, ocorreu tudo bem?
— Ela pergunta parecendo genuinamente interessada e eu me
surpreendo dela ainda se lembrar sobre isso.
— Ah sim, a proposta da Thompson Reuters. Foi melhor do que eu
esperava.
— Sabia que você ia conseguir. — Ela me diz dando um sorriso
orgulhoso. — Você assinou o contrato, então?
— Ainda não. Carlson Thompson, o dono da Thompson Reuters, é quem
tem que assinar o contrato. Ele me pediu para adiar o fechamento da
nossa parceria até que ele voltasse da Bélgica. Vou me encontrar com
ele essa semana.
— Isso é ótimo, Justin. Deve ser maravilhoso conseguir ser bem
sucedido fazendo aquilo que se gosta.
— De fato, é sim. Tenho certeza que você será a melhor aluna graduada
em História da Arte que a UTD jamais viu, então você vai ver por si
mesma o quão gratificante é. Aposto que você vai trabalhar em vários
museus ao redor do mundo e vai ser a profissional mais solicitada. —
Ela começa a rir antes mesmo de eu terminar de falar.
— Está bem... — Ela diz revirando os olhos.
— Não, é verdade. Você sempre se dedica com afinco a tudo o que faz,
além do mais, pela quantidade de noites que você me trocou pelos
livros, é melhor que você seja boa mesmo. — Digo dando-lhe um sorriso
malicioso e me sentindo relaxado pela primeira vez na noite.
— Ah é, se não você vai fazer o que? — Ela pergunta rindo.
— Se não vou ter que te castigar. Quem sabe, talvez amarra-la na cama
e lhe dar alguns tapas. — Digo mudando o tom de voz, dizendo as
palavras provocantes em um tom mais baixo e grave, de um modo
sensual, e olhando-a maliciosamente.
Seus olhos adquirem um brilho faminto, seus lábios se separam e sua
respiração fica difícil, como se o ar de repente tivesse se tornado mais
denso.

224
Olhamos um nos olhos do outro, e nesse momento sinto que nos
conectamos de alguma forma, fico em transe, hipnotizado por suas
duas belas esmeraldas. Sinto meu desejo por ela aumentando, me
deixando com um calor infernal e uma vontade enlouquecedora de lhe
arrancar a roupa.
— Aqui está, senhor...Senhora. — A mágica do momento é quebrada
quando o garçom traz nossos pratos, ele reabastece nossos copos com
vinho e nos deixa a sós.
— Bom apetite.
— Obrigado. — Savannah e eu dizemos ao mesmo tempo.
Durante o jantar, eu fui me permitindo me sentir mais a vontade, mas a
chama inicial do nervosismo ainda estava presente. É como se depois
do que eu descobri, eu tivesse perdido completamente a capacidade de
simplesmente ficar perto de Savannah, agora que eu sei que eu gosto
dela, me sinto nervoso e desesperado para provar algo, eu só não sei o
que exatamente.
Quando estamos comendo a sobremesa Savannah tenta disfarçar um
bocejo, mas percebo pelos seus olhos cansados que está na hora de ir.
Pago a conta e seguimos lado a lado e em silêncio para o
estacionamento.
Ela caminha tão perto de mim, seu corpo quase se encostando ao meu.
Meu olhar se concentra na sua mão pendendo livremente ao lado do
corpo, e então sutilmente eu entrelaço nossos dedos. Minha atitude
inocente parece assusta-la, ela afasta a mão e me olha com um olhar
indecifrável.
— O que você está fazendo?
— Nada. — Respondo constrangido com a rejeição.
Eu sou bom o suficiente para dar-lhe orgasmos, mas aparentemente
não para segurar sua mão em público, percebo com tristeza.
Só queria toca-la. Toca-la sem que isso necessariamente leve-nos a
fazer sexo, queria apenas poder sentir seu calor, beija-la na frente de
todos e dizer a todos que estamos juntos.
Mas não estamos. Não do jeito que eu gostaria.
Ótimo, a parte do sofrimento de se estar apaixonado já começou,
quando a parte boa vai vir? Será que eu finalmente comecei a sentir
algo por alguém, apenas para não ser correspondido?
Isso seria uma bela de uma sacanagem do universo.
Quando estaciono em frente ao dormitório de Savannah, um desânimo
enorme se infiltra em mim.
— Não tem mesmo como você passar a noite comigo hoje? — Pergunto
numa última tentativa patética de salvar minha noite.
— Sinto muito.

225
— Tudo bem. — Não está tudo bem, não. — A gente se vê amanhã,
então.
— Certo, até amanhã. — Ela abre a porta e faz menção de sair, mas
para quando sente minha mão em seu ombro.
Deslizo minha mão para seu pescoço e a puxo para um beijo. Tento
transmitir todos os meus sentimentos por ela nesse beijo; Paixão,
carinho, necessidade...Espero que ela sinta.
— Boa noite, Little Nips. — Sussurro, nossos lábios ainda se
encostando.
— Boa noite, Justin. — Ela diz com a voz rouca. Percebo com felicidade
que ela parece sim, afetada pelo nosso beijo.
Observo ela sair do carro e subir os degraus de pedra do prédio. Antes
de passar pela porta se vira e me olha por um segundo. Não sorri ou
acena, apenas me olha com uma tristeza que me pega desprevenido e
me angustia.
Mas então ela entra no prédio e me deixa encarando a porta com a testa
franzida.
“O que será que a está incomodando?”

Savannah
Tenho que subir as escadas até meu apartamento me apoiando nas
paredes.
O que foi aquilo que acabou de acontecer? Aquele beijo...
Por um momento parecia que, bem, parecia que ele estava querendo me
dizer alguma coisa, parecia que havia sentimento ali. Foi tão intenso e
cheio de paixão que eu ainda sinto minhas pernas fracas.
Quase parecia que ele gostava de mim, depois daquele beijo eu até
poderia acreditar nisso, se não fosse pelo fato que é do Justin Cord que
estamos falando. Ele simplesmente não é assim, como Shanon fez
muita questão de ressaltar. Falando nela, Shanon vai me matar quando
descobrir que eu e Justin voltamos com o nosso...Lance.
Abro a porta e entro no apartamento escuro, encosto-me à porta
fechada e traço com os dedos o sorriso bobo que se forma em meus
lábios.
Pode até ter sido coisa da minha cabeça, mas o beijo foi bom de
qualquer forma. Acho que eu seria a mulher mais feliz do mundo se o
Justin realmente tivesse me beijado com algo a mais, se ele estivesse
começando a desenvolver sentimentos por mim.
Mas que porcaria, porque ele tem que ser tão viciante? Eu sei que para
evitar me machucar em um futuro muito próximo, quando ele me der
um pé na bunda, eu mesma tinha que parar com isso agora, mas eu
não consigo. Sei que pode parecer degradante, mas eu preciso

226
aproveitar o que ele me dá e pelo tempo que ele quiser, não consigo
simplesmente me afastar agora só porque é o certo a se fazer.
Se eu soubesse que ia acabar me apaixonante justo por ele, não teria
aceitado a proposta que ele me fez alguns meses atrás. Mas agora é
tarde demais, eu estou tão apaixonado por Justin como eu nunca estive
antes. Nem mesmo com Vince, que eu tenho certeza ter sido o cara pelo
qual eu mais me apaixonei antes de Justin. Mas agora, o que eu sentia
por Vince parece brincadeira de criança, se comparado com o que estou
sentindo por Justin.
Vou até meu quarto e tranco a porta, vou até a mesa de madeira e ligo
meu computador. Respondo alguns e-mails e dou uma olhada em
algumas promoções que eu recebi. Nada que me interesse, a não ser por
um e-mail especifico de uma loja de noivas.
Eu sou uma das damas de honra de Kim, juntamente com Shanon,
Gwen – a melhor amiga da minha prima – e Mitchie, outra amiga de
Kim. E como é o nosso dever ajudar em tudo que tem relação a esse
casamento e garantir que tudo seja perfeito, desde que ela me fez o
convite para ser sua madrinha eu estou de olho em tudo que envolve
casamentos; Buffets, floriculturas, spas, lojas de noiva, loja de tecidos,
decoradores, ofertas de passagem aérea para a lua de mel, etc.
Cadastrei meu e-mail em pelo menos trinta e dois sites diferentes para
receber ofertas e novidades.
E esse e-mail que eu recebi de uma loja de Austin especializada em
vestidos de noiva me deixou bem empolgada, eles receberam alguns
modelos novos e eu tenho certeza que isso vai animar Kim.
O casamento é em mais ou menos um mês, e tudo já está pronto ou
quase pronto. Como Jax estava desesperado para se casar logo, o gênio
marcou a data para apenas dois meses depois da formatura de Kim, é
claro que como não é ele quem está tendo de organizar tudo, para ele
apenas dois meses soou um tempo muito razoável.
Eu, Shanon, mamãe, Alyssa, Mitchie, Bárbara e Kim temos feito o que
podemos para organizar esse casamento a tempo, até Gwen e Bárbara,
que moram em outro estado tem ajudado como podem, fazendo
telefonemas e mandando os convites eletrônicos por e-mail. O fato de
tanto o noivo como a noiva quererem algo simples, também é de grande
ajuda.
Conseguimos organizar um casamento lindo e do jeito que Kim queria
em muito pouco tempo, agora só falta alguns pequenos ajustes, mas o
essencial já está pronto. Quer dizer, menos uma coisa, e justamente
uma das mais importantes.
O vestido de noiva da Kim.
A coitadinha está quase arrancando os cabelos por ainda não ter
achado o vestido perfeito. Ela ficou louca porque alguém tinha dito para
ela que todo o casamento gira em torno do vestido de noiva, e como ela
não achou o dela ainda...Bem, tivemos que mudar um pouquinho as

227
coisas, pois se esperássemos achar o vestido perfeito para depois
encomendar as flores e a decoração para ficarem em harmonia com o
vestido, Kim se casaria daqui há seis meses, não um.
Todas as madrinhas estão empenhadíssimas em ajuda-la a encontrar “o
vestido”, aquele que no momento em que ela se olhar no espelho vestida
com, lágrimas de genuína felicidade transbordarão de seus olhos e
sinos começarão a tocar. Ou é pelo menos isso que esperamos.
Não adianta encaminhar o e-mail para Kim, em Wills Point dificilmente
as pessoas lidam com computadores, tablets ou qualquer coisa mais
tecnológica do que um celular e uma TV.
Então anoto o endereço da loja e o telefone, amanhã mesmo irei falar
com Kim sobre isso.
Escuto o familiar barulho que meu celular faz quando recebo uma
mensagem e vou checar para ver quem pode ser à uma hora dessas.
Olho a tela e vejo que é uma mensagem de Vince. Quando abro-a, leio:
Vince: Campo de futebol. Preciso de você, por favor.
Nossa, faz mesmo muito tempo que eu não recebo uma mensagem
dessas.
Isso é meio que um código nosso, ou era. Vince é um cara sempre muito
confiante em si e nas suas habilidades, mas às vezes ele tem problemas
e incertezas como qualquer um, e normalmente o lugar que ele vai para
tentar clarear a cabeça e resolver esses problemas, é o campo de futebol
da faculdade.
Quando namorávamos, e antes disso também, quando ele realmente
estava confuso ou com algum problema que o estava incomodando
muito, ele me mandava uma mensagem parecida com essa. Quando eu
a recebia sabia que era coisa séria, porque Vince não é o tipo de cara
que normalmente expõe suas fraquezas, então eu sempre ia correndo
até ele.
Mas agora a questão é; Devo ir atrás dele? Quer dizer, se ele me enviou
essa mensagem a essa hora, algo deve estar mesmo o incomodando, e
se eu realmente estou voltando a ser sua amiga, eu deveria ir, não é
mesmo? Afinal, é para isso que os amigos servem, ajudar uns aos
outros.
Decido ir, talvez ele esteja mesmo precisando de alguém para conversar.
Quando chego à porta tenho a visão desagradável de Aletta, vestindo
apenas um robe transparente, parada em nossa pequena sala de TV.
— Nossa, já vai sair de novo? — Ela pergunta com aquela voz
debochada dela.
— Não vejo como isso possa ser da sua conta.
— Você nunca recolhe as suas garras, não é mesmo?

228
— Com você por perto, não mesmo. Nunca se sabe quando vai dar o
bote. — Digo e abro a porta, quando ela entende o que eu quis dizer -
que eu a chamei de cobra - começa a me dizer algo, mas eu bato a porta
e não a escuto.
“Deus do céu, como foi que ela e eu fomos amigas por dois anos antes
disso?”
Quando estou na metade do caminho, e estremeço por causa de uma
brisa gelada, percebo que eu não troquei de rouba. Estou vestida com a
rouba com a qual fui jantar com Justin. Calça jeans skinning preta,
uma blusa de seda fina e ankle boots preta.
Quando chego ao campo, logo localizo Vince, além de ser porque não há
mais ninguém aqui, ele sempre se senta no mesmo lugar. Na parte de
cima da arquibancada, bem no meio do campo.
Aproximo-me dele, está com os braços apoiados no joelho e o queixo
apoiado nas mãos, sua expressão é pensativa, concentrada, como se ele
estivesse assistindo a um jogo que só ele vê.
— Oi. — Digo me sentando ao seu lado. Ele me olha e parece um pouco
surpreso, mas um sorriso contido surge em seus lábios.
— Oi. Obrigado por vir, não tinha certeza.
— É isso que amigos fazem, não é? — Pergunto e aperto seu ombro.
— É. É sim. — Ele responde de uma forma triste, voltando seu olhar
para o campo iluminado pelos fortes holofotes.
— Então, o que é que está te incomodando?
— Sabe o próximo jogo, de sexta? — Ele pergunta ainda encarando o
campo.
— Sei sim.
— Então, Steve Tischy vai estar aqui. Você acredita que ele vai assistir o
jogo? — Ele pergunta se virando para mim, eu o olho com confusão.
— Você sabe quem ele é, certo? — Sorrio timidamente e balanço a
cabeça.
— Meu Deus, garota. — Ele diz fingindo estar exasperado e eu rio.
— Hey, não sou eu a viciada em futebol aqui. — Defendo-me.
— Ele é o presidente do New York Giants.
— Ah meu Deus, Vince, ele está vindo para dar uma de olheiro? —
Pergunto empolgada.
— Não, não na verdade. Mas ele vai assistir o jogo, e quem sabe se
alguém jogasse bem o suficiente para chamar a atenção...
— Você é o capitão do time, ele vai acabar notando você.
— Eu sei.

229
— Imagina se ele se interessasse por você, muitos jogadores famosos
foram descobertos assim, não é? Em jogos de colégio e faculdade.
— Sim. — Ele diz apenas.
— Você está nervoso, é isso? — Pergunto e ele balança a cabeça.
— É isso mesmo o que você quer, jogar futebol profissionalmente?
— É o que eu mais quero. — Ele responde me encarando seriamente.
— Então arrase no jogo de sexta.
Ele ri parecendo desanimado.
— Não é tão fácil assim, Savy.
— Claro que é. É só você jogar como sempre, você é muito bom Vince.
— Chego mais perto dele, nossas coxas se encostam, coloco minha mão
em sua perna e lhe dou um apertão. — Eu confio em você, na sua
habilidade, na sua capacidade. Você não é o capitão à toa, você é o
jogador que mais faz gols nesse time.
— É touchdown, linda. — Ele diz com um sorriso divertido no rosto.
— Tanto faz. Gols ou touchdowns, não importa, você faz muito deles e é
isso que esses caras querem, não é?. — Ele ri e segura minha mão que
está em sua perna.
— Estou com medo. Não é que eu ache que eu não jogo bem, mas tenho
medo de não jogar bem o suficiente para me tornar profissional.
— Você joga, Vince. Aliás, eu não sei como você não foi contratado
ainda. Esse idiotas não sabem o bom jogador que estão perdendo.
Ele me olha com as expressões parecendo mais tranquilas, acho que
falar sobre isso o ajudou. Seus olhos viajam pelo meu corpo e brilham
com admiração.
— Você está muito linda. Alguma ocasião especial? — Ele quer saber.
— Não, nada demais, só sai para jantar. — Tento parecer casual para
que ele não pergunte mais nada sobre o assunto. Ele balança a cabeça
levemente e parece querer dizer algo, mas permanece em silêncio um
momento.
— Desculpe se eu atrapalhei alguma coisa. — Ele diz por fim.
— Eu tinha acabado de chegar quando você enviou a mensagem, está
tudo bem.
— Obrigado por vir até aqui e ficar escutando minhas besteiras. — Ele
aperta minha mão levemente.
— Não é nenhuma besteira. E não se preocupe, é normal ficar nervoso.
— Os Giants sempre foram meu sonho.
— É mesmo? — Ele balança a cabeça como resposta.

230
— Eu sei que você vai conseguir, mas se por um acaso não for dessa
vez, não desanime. Essa é a primeira oportunidade de várias que você
terá para mostrar seu talento, tenho certeza.
— Você acha mesmo?
— Acho.
— Você vai assistir ao jogo sexta? Por favor, você sabe que a sua
presença me dá sorte.
— Tudo bem, eu estarei aqui sexta, torcendo por você. — Digo com um
sorriso amigo.
— Obrigado, isso é importante para mim.
— Não há de quê.
— Sei que eu não mereço sua amizade e seu apoio, não depois do que
eu fiz com você. — Ele diz abaixando a cabeça envergonhado.
Quando ele a levanta novamente e me encara, seus olhos brilham
cheios de lágrimas não derramadas.
— Eu sinto...Tanto. — Sua voz falha e uma lágrima rebelde escapa e
escorre por sua bochecha. Sinto meu coração se apertando. Ele
entrelaça os dedos da nossa mão que ainda está junta repousada em
sua perna.
— Ter perdido você será o grande arrependimento da minha vida. — Ele
diz, agora mais lágrimas caindo de seus olhos.
— Vince... — Minha voz sai fraca, quase um sussurro. Sinto um
desconforto enorme do estômago e um aperto na garganta. — Eu já te
perdoei, estamos voltando a ser amigos, vamos simplesmente tentar
esquecer isso, ok?
— Não dá. Como esquecer toda a dor que eu te causei? Como esquecer
que eu te perdi? Eu ainda te amo, Savannah, e é muito doloroso. — Sua
voz falha de novo, e mais lágrimas são derramadas, sinto meus olhos
ficarem marejados.
— E sabe o que é o pior? A culpa é toda minha. Não tem ninguém a
quem culpar, a não ser eu mesmo. Eu não sei por que eu fiz aquilo, eu
nem a desejava...
— Vince, por favor, não. — Peço, sinto uma lágrima escorrendo por meu
rosto e rapidamente a limpo. Eu não o amo mais, mas as feridas ainda
não estão cicatrizadas completamente, e elas ainda podem doer. Doer
não por mim, mas pela Savannah que já foi muito apaixonada por ele.
— Por favor, eu preciso falar...Eu não a desejava, Savy, eu juro.
— Então, por quê? — Sinto mais uma lágrima escapando.
Ele me olha, o verde dos seus olhos mais claros por causa das lágrimas.
— Eu não sei. Talvez porque eu seja o cara mais idiota do mundo? Eu
estava com a garota mais especial que eu conheço e a magoei sem nem
ao menos saber o porquê eu fiz isso.

231
— Vince, você já tinha... — Paro e respiro fundo, essa dúvida me
atormenta desde o primeiro momento. — Você já tinha me traído antes
disso? — Consigo ouvir o medo em minha própria voz.
A princípio ele não me responde e nem olha em meus olhos, quando ele
vira o rosto e nossos olhos se encontram ele começa a chorar.
— Sinto muito, eu realmente sinto.
Sinto uma dor horrível, como se além dele fazer novas feridas em meu
coração, ele tivesse acabado de reabrir aquelas que estavam
cicatrizando.
Escuto um gemido e percebo que saiu da minha garganta. Vince chora
mais ainda.
— Quantas vezes? — Pergunto num sussurro.
— Duas. Com Aletta e a outra, com uma garota numa festa de
comemoração depois do jogo.
— Mas eu fui com você em todas as festas. — Digo horrorizada me
afastando dele.
— Eu sei. — Ele me encara visivelmente com dor no olhar.
— Ah meu Deus. — Digo me levantando e colocando uma mão no peito.
Acho que não consigo mais respirar.
— Meu Deus, você fodeu uma garota qualquer enquanto a sua
namorada estava a poucos metros de você? Qual é o seu problema? —
Pergunto gritando, minha visão nublada pelas incessantes lágrimas que
escorrem por meu rosto.
— Perdão, por favor, me perdoa. — Ele diz, seu corpo chacoalhando
com o choro forte.
Não consigo acreditar nisso, sinto que vou vomitar a qualquer segundo.
Sinto tanto nojo, tanta raiva, tanta magoa que chega a me deixar
desnorteada, dou alguns passos cambaleando para trás.
Sinto uma dor tão excruciante que apenas respirar é difícil, parece que
o ar se recusa a entrar em meus pulmões.
— Me perdoa, mas eu precisava te contar tudo, se nós vamos ser
amigos eu tinha que...
— Nós não vamos ser amigos, não depois disso! — Grito para ele com
raiva e vejo-o se encolhendo.
— Não, por favor. Eu sei que eu não mereço, mas não consigo viver sem
ter você por perto.
— Então você vai ter que aprender. — Digo e me viro, e saio correndo.
— Não, Savannah, por favor espere. — Ele corre atrás de mim e me
alcança, sua mão se fecha em meu braço e ele me puxa, me virando
para si. Suas mãos seguram firmemente meus braços e não consigo me
soltar.

232
— Me solta, eu não quero... — Minha frase é interrompida por seus
lábios. Ele aperta meu corpo contra o seu e sua língua consegue invadir
minha boca. Seu beijo é desesperado, ansioso, rude.
Com algum esforço consigo empurra-lo, dou um passo para trás e
estico o braço, impedindo que se aproxime novamente.
— Não. — É tudo o que digo, e então me viro e corro para longe dali.
Entro no apartamento correndo e me tranco em meu quarto. Jogo-me
na cama e trago meus joelhos até meu peito, abraçando minhas pernas,
querendo me encolher o máximo possível.
E fico assim até os soluços e os tremores cessarem.

Justin
Estaciono a caminhonete em frente à casa, saio do carro e minhas
botas de cowboy provocam estalos quando piso nos cascalhos no chão.
Subo os degraus, abro a porta e assim que entro o familiar e
reconfortante cheiro de lar me recebe.
— Mãe, pai, Jax? Tem alguém em casa? — Grito.
Escuto passos no andar de cima e logo vejo mamãe descendo as
escadas com uma expressão confusa no rosto.
— Justin, o que você está fazendo aqui?
— É muito bom ver você também, mamãe. — Digo enquanto a puxo
para um abraço e um beijo.
— Sim, claro, é bom ver você também, lógico. Mas você não deveria
estar no trabalho, filho? É dia de semana.
— Sim, eu sei. Mas hoje eu não tinha muito trabalho no escritório então
sai um pouco mais cedo e resolvi vir ver se tinha algo que eu pudesse
fazer por aqui. — Mamãe me dá aquele olhar desconfiado dela, espero
que ela não perceba que estou mentindo, mas a dona Alyssa sempre
percebe quando seus filhos estão mentindo para ela.
— Que bom que você veio, então. Acho que poderíamos usar um par de
mãos extras em muitas coisas aqui. — Tudo bem, talvez ela não
perceba sempre.
— Onde está Jax e papai?
— Seu pai está lá fora concertando a cerca, e Jax foi...Bem, ele foi
visitar sua irmã.
— Jax foi visitar Holly? — Pergunto surpreso.
Essa é uma parte na história da nossa família e que é muito triste,
minha querida irmã Holly – que atualmente está com 21 anos – sofre de
bipolaridade e ciúmes patológico, ou pelo menos sofria, agora graças a
Deus ela está muito melhor. Mas infelizmente, alguns anos atrás essa
doença – que nós ainda não sabíamos que ela tinha – fez com que ela

233
fizesse coisas muito horríveis. Ela era apaixonada pelo nosso irmão
adotivo, Jax, mas acho que a palavra que se encaixa melhor é
obsessiva. Para encurtar a estória, ela sequestrou Kim, a namorada de
Jax, e iria realmente mata-la se não fosse Jax chegar no momento
certo. Infelizmente as coisas saíram mais ainda do controle e ela acabou
atirando nele, felizmente não foi nada muito grave, mas Holly foi presa e
depois diagnosticada, sendo mandada assim para se tratar em um
hospital psiquiátrico em Austin. Como Kim não prestou queixas e foi
comprovado que Holly estava doente, ela não foi condenada há passar
vários anos na cadeia, mas Jax nunca a perdoou, ou era isso o que eu
pensava até agora.
— Eu sei, também fiz essa cara quando ele me falou que iria vê-la. Mas
como eu venho querendo que esse reencontro aconteça a tanto tempo,
não discuti com ele.
— Mas ele foi sozinho? Mamãe, você lembra o que aconteceu a última
vez que ele foi vê-la, anos atrás, não sei se isso é uma boa ideia.
— Calma, aquela vez ele ainda estava muito bravo com ela, foi errado o
forçarmos a ir vê-la. Mas dessa vez é diferente, parece que Kim o
convenceu a perdoa-la, e ela foi com ele até Austin para conversarem
com sua irmã e resolverem isso de uma vez por todas. E eu estou muito
feliz se você quer saber, quero minha família reunida novamente.
— Ah mamãe, eu também quero. Muito. Só estou com um pouco de
medo, só isso.
— Sua irmã está muito melhor agora, Justin. Ela está tomando os
remédio, indo as consultas com os psiquiatras, você saberia disso se a
visitasse com mais frequência.
— Hey, não precisa disso, dona Alyssa. Só estou preocupado, mas se
você diz que está tudo bem, eu acredito. Mãe sempre sabe de tudo
mesmo.
— E não se esqueça disso, mocinho. — Ela diz dando um tapa na
minha bunda e eu rio.
— Acho que eu vou ir ajudar papai com aquela cerca.
— Ele está perto do cercado dos bois. — Ela diz e eu saio.
Vou andando e alguns instantes depois vejo papai ao longe,
concertando a cerca, vou até ele meio nervoso, vir para Wills Point
especialmente para conversar com meu pai é o meu verdadeiro objetivo.
— Oi, pai. — Digo chegando por trás dele e pegando-o de surpresa.
— Ah, Justin, meu filho. Que surpresa, não esperava te ver por aqui
durante a semana, você não deveria estar no trabalho? — Ele diz
enquanto trocamos um abraço rápido.
— Deveria, mas não tinha tanto trabalho assim hoje, sai mais cedo e
resolvi dar uma passada por aqui.

234
— Que bom que você veio, já falou com a sua mãe? Ela vai ficar muito
feliz se você ficar para o jantar.
— Já falei sim, ela disse que o senhor estava aqui e vim saber se eu
posso ajuda-lo.
— Ah mas é claro, ajuda é sempre bem vinda, ainda mais para um
velho como eu.
— O senhor não está velho, papai. — Digo rindo e dobrando as mangas
da minha blusa xadrez.
— Mas não estou novo também. — Ele me diz com aquele sorriso de
quem sabe das coisas.
Vou até a sua camionete estacionada ao lado da cerca e pego um par de
luvas e as coloco.
— Porque o senhor não descansa um pouco enquanto eu continuo com
isso daqui? — Pergunto pegando da sua mão o martelo.
— Acho que eu vou fazer isso, já não sou tão resistente como há vinte
anos. — Ele diz e vai se sentar na parte detrás da caminhonete, na
caçamba aberta.
Continuo o concerto de onde ele parou e começamos a conversar sobre
amenidades.
— Pai, como é mesmo a história de quando você e mamãe se
conheceram? — Pergunto depois de termos ficando em silêncio por
alguns minutos.
— Não esperava por essa. — Ele diz.
— Como assim? — Pergunto confuso.
— Eu percebi que você queria me perguntar alguma coisa quando você
chegou, uma pergunta que estava te deixando nervoso, só não esperava
que fosse sobre como sua mãe e eu nos conhecemos. Você já sabe essa
história, já contamos várias vezes para vocês.
— Sim, eu sei que quando vocês se conheceram ela estava com o seu
melhor amigo, mas vocês acabaram se apaixonando e ficaram juntos,
mesmo com os seus pais não aprovando ela. Mas eu quero saber mais,
o que vocês sentiram, como você se sentiu por se apaixonar pela
namorada seu melhor amigo, como vocês contaram para todo mundo
que estavam juntos, qual foi a reação de todos, essas coisas.
— Ah sim. Bem, é uma história um pouco longa.
— Eu tenho tempo, se você tiver. — Digo. Ele fica com o olhar vidrado,
olhando em minha direção, mas sem me ver de fato. Parecendo estar
voltando para a noite que se conheceram há tantos anos atrás. Ele
permanece em silêncio por tanto tempo que acho que não vai me
contar, mas então ele começa a falar:
— Foi numa noite de agosto, há um pouco mais de trinta anos atrás.
Jacob Daniels e eu fizemos o ensino médio e a faculdade juntos, aonde

235
íamos éramos conhecidos como Jacob e Mark, os amigos inseparáveis.
— Ele dá uma risada saudosa, porém triste.
— Depois que Jacob e eu nos formamos, ele se mudou para uma
cidade no estado de Nova York, mas nós sempre nos comunicávamos
por telefone. Passado um pouco mais de ano depois que ele havia se
mudado, ele me convidou para ir visita-lo. Eu ainda não tinha um
emprego fixo então fui para passar um mês lá, já com a mentalidade de
quem sabe arrumar um emprego para mim também. Ele foi me buscar
no aeroporto e matamos a saudade, ele disse que queria me mostrar a
cidade e que no dia seguinte iria me apresentar para seus novos amigos
e para sua namorada.
“Então na noite do dia seguinte ele me levou até um bar em que ele e
seus amigos sempre se reuniam. Quando nós aproximamos da mesa
cheia de pessoas conversando e rindo, eu a vi. Sua mãe. Meus olhos
pareciam ter sido puxados para ela, foi a primeira pessoa em quem eu
reparei e a única. Eu fiquei momentaneamente sem reação, senti algo
estranho acontecendo dentro de mim, foi uma sensação muito
estranha, as coisas ao meu redor pareciam ter sumido, meu coração
começou a bater tão rápido como se eu tivesse acabado de correr uma
maratona. A mulher mais linda que eu já tinha visto em toda a minha
vida, e quando ela me viu sorriu, e meu filho...Que sorriso.”
Papai diz com um brilho emocionado nos olhos e um sorriso apaixonado
no rosto, o que me faz sorrir também.
— Quando Jacob me apresentou a ela e disse que aquela era a famosa
Alyssa, sua namorada, eu senti uma coisa horrível em meu peito. Uma
das maiores decepções que eu já senti foi saber que eles estavam
juntos, foi como correr para abrir os presentes em baixo da árvore na
manha de natal e descobrir que seu irmão ficou com todos os
brinquedos que você queria e você ganhou só roupas sem graça. — Ele
ri da sua própria analogia.
“Não conversei com ela naquela noite mais do que o essencial, ela
estava curiosa sobre mim porque ao que parece, Jacob tinha ficado
muito animado com a minha visita e tinha falado muito sobre nossa
amizade para ela. Ela foi muito simpática, mas eu não conseguia ser
muito amigável com ela porque a cada vez que eu a olhava, eu a achava
mais linda. Enfim, aquele mês passou e eu descobri que não queria
voltar para o Texas, que eu queria ficar lá, e mais assustadoramente, eu
percebi que era por causa dela. Eu não queria sair de perto de Alyssa,
mesmo que ficar lá significava ter que vê-la com Jacob. Eles pareciam
muito apaixonados, estávamos juntos há dez meses, e toda vez que ele
a beijava era como um soco no meu estômago, a única coisa pior era ver
ela beijando ele.”
Paro de mexer na cerca e vou me sentar ao seu lado na caminhonete,
hipnotizado por suas palavras. Papai nunca tinha sido tão detalhista e
aberto com relação aos seus sentimentos sobre essa história antes, ele e
mamãe nunca a contaram com detalhes, apenas superficialmente.

236
— Eu acabei voltando para o Texas no final daquele mês, mesmo
querendo ficar. Mas eu sabia que tinha que ir embora, tinha que voltar
para casa, para minha família e tinha que me afastar de Alyssa porque
eu estava apaixonado por ela, desde daquele primeiro momento no bar,
e bem, ela era a namorada do meu melhor amigo e os dois estavam
apaixonados. Por mais que eu quisesse ficar perto dela, conversar com
ela, escutar sua risada e conhece-la melhor, aquilo tudo era muito
doloroso. Eu nunca tinha sentido aquilo antes, por nenhuma outra
mulher e eu estava com muito medo. Sabe, eu acho que é assim que a
gente sabe que é a pessoa certa.
— Como assim? — Pergunto.
— Alguns dizem que é quanto você só quer ficar perto dela, ou quando
você só pensa naquela pessoa, ou então quando você imagina viver com
a pessoa para sempre e isso não te deixa com medo. Pois eu acho que
quando a gente encontra a pessoa certa, quando a gente ama de
verdade, o maior sinal é o medo.
— Medo? — Pergunto confuso.
— O medo, sim. Medo do sentimento, sabe? Porque ele é tão forte, tão
grande, tão poderoso, tão confuso que é extremamente assustador. Eu
fiquei apavorado quando conheci sua mãe, porque eu fui dominado por
um sentimento que eu não conhecia e eu não tinha nem sequer a
chance de tê-la. Era visível que ela era apaixonada por Jacob e eu não
tinha a menor chance. Então para mim, isso é a maior característica do
amor. Se o cara, por mais durão que seja, morre de medo do que sente
pela garota, então ele a ama de verdade.
“E eu tinha muito medo mesmo, e quanto mais o tempo passava, mais
eu tinha medo, porque eu já tinha voltado para o Texas fazia meses e
não tinha nem um único dia em que eu não pensava na sua mãe. Eu
tentei procurar outras mulheres capazes de me fazerem sentir algo mais
poderoso do que eu sentia por Alyssa, é claro que eu fui idiota e não
tinha percebido que eu nunca iria sentir aquilo de novo por outra, mas
eu tentei. Tentei me apaixonar por outra.”
— Mamãe me disse uma vez que a gente não tenta se apaixonar,
simplesmente acontece. — Comento lembrando da conversa que eu tive
com mamãe sobre me apaixonar. Papai ri e passa a mão pelos cabelos.
— E ela tem razão, como sempre. Mas eu não sabia disso naquela
época, e eu estava apavorado para arrancar a namorada do meu melhor
amigo do meu coração, então...
— Você se envolveu com outras.
— Sim, muitas. Não com tantas quanto você já se envolveu na sua vida,
é claro.
— Hey, muito obrigado. — Digo sarcasticamente e ele ri. Pelo jeito a
minha reputação vai me perseguir para sempre, onde quer que eu vá,
ela estará lá.
— Mas o que aconteceu? Como você e mamãe se reencontraram?

237
— Bom, é óbvio que a minha tentativa de esquecê-la não deu certo, mas
pelo menos eu consegui ir pensando menos nela. E quando eu estava
achando que eu poderia estar me esquecendo dela, o destino resolveu
brincar comigo. De uma forma bem cruel, devo acrescentar.
— O que aconteceu? — Pergunto curioso.
— Ela e Jacob vieram para Dallas, visitarem os parentes dele e
anunciarem que estavam noivos. — Meu queixo cai involuntariamente e
eu olho chocado para papai.
— Eu não sabia que mamãe já tinha sido noiva, quer dizer, antes de
você. — Ele ri e continua.
— Pois é, mas ela foi, e quando eu fiquei sabendo...Nem sei descrever o
que eu senti, e quando eu a vi novamente depois de tantos meses,
percebi derrotadamente que aquilo de ter a esquecido era apenas uma
ilusão. Eu continuava loucamente apaixonado, bastou apenas um olhar
para eu perceber como eu tinha sido idiota em achar que iria conseguir
esquece-la.
E a novidade não era só que eles iriam se casar, Jacob tinha recebido
uma oferta de trabalho em Dallas e Alyssa tinha acabado de se formar e
tinha conseguido uma vaga para fazer uma pós na UTD. Então eles
estavam de mudança para cá. Iriam comprar um apartamento e morar
juntos.
— Nossa, você deve ter...Bem, deve ter sido bem complicado para você,
não?
— Complicado é pouco. Eu fiquei com muito mais...
— Medo. — Termino sua frase e sorrio para ele.
— Bem, com eles vindo morar para cá nós três começamos há passar
muito tempo juntos. Descobri várias coisas em comum com sua mãe e
descobri também que ela era uma boa amiga. Começamos uma amizade
bem forte, e eu sempre guardando comigo aquele segredo. Era tão
sufocante.
“Eu sei muito bem como é ser sufocado por um segredo”. Penso sobre o
meu segredo de estar dormindo com Savannah e principalmente sobre o
fato de eu ter descoberto que eu estou perdidamente apaixonado por
ela. As vezes eu tenho vontade de gritar para todo mundo, mesmo
sabendo que ela não sente o mesmo.
— Meu sentimento por ela só crescia, e nossa amizade também. Jacob
logo foi promovido e começou há passar muito tempo trabalhando, e eu
e Alyssa passávamos cada vez mais tempo juntos. Acho que eu era meio
masoquista, mas não conseguia lhe dizer não quando ela me ligava para
ir encontra-la porque Jacob estava trabalhando até mais tarde. Queria
passar cada segundo que eu podia com ela.
— Eu entendo. — Digo sem pensar e me recrimino. Papai me olha com
uma cara estranha, mas não pergunta nada.

238
— Comecei a perceber alguns sinais de que ela também estava sentindo
alguma coisa, mas então Jacob aparecia e ela parecia estar super
apaixonada por ele. Eu ficava tão confuso, não sabia se aquele interesse
por parte dela era só coisa da minha cabeça ou de fato ela gostava de
mim. Talvez ela gostasse de nós dois. Teve uma noite que saímos para
jantar nós três, mas Jacob recebeu uma ligação do trabalho e teve que
ir, então ficamos só ela e eu. Jantamos, conversamos e rimos muito. Na
hora de ir embora eu perguntei se ela não gostaria de passear um
pouco, ela disse que ainda não conhecia muito bem a cidade e que
queria sim. No meio do nosso passeio eu senti que...Como é que vocês
jovens dizem mesmo? Rolou um clima.
“Eu estava cansado de não saber se ela gostava de mim ou não, estava
cansado dos seus sinais confusos e não aguentava mais não ter ela
para mim. Então sem pensar eu a beijei, e para minha surpresa ela
retribuiu. Mas depois se afastou, disse que aquilo era muito errado e
nós fomos embora. Não consegui dormir naquela noite, só consegui
pensar nos seus lábios nos meus. Era enlouquecedor. Alguns outros
beijos aconteceram depois daquele, em todos ela parecia querer
também, mas sempre se afastava e falava como aquilo era errado. Eu
achava que ela estava apaixonado por mim, mas estava com...Medo.
Decidi tomar a iniciativa e me declarei para ela, contei que eu a amava
desde da primeira vez que eu a vi.”
— E ela?
— Ela disse que estava apaixonada por mim, muito. Só que ela não
queria magoar Jacob, ela estava confusa e não sabia o que fazer. Mas
acabou que nosso amor foi maior que tudo isso, então ela terminou o
noivado para podermos ficar juntos e saiu do apartamento que dividia
com Jacob.
— Como Jacob reagiu?
— Como você acha? Primeiro ele ficou confuso, querendo saber por que
ela estava terminando com ele. Quando ela disse que nós estávamos
apaixonados, ele ficou louco. Veio atrás de mim e nós brigamos feio, ele
me bateu, mas eu não conseguia bater de volta, apenas tentava me
proteger. Acho que era porque eu estava me sentindo muito culpado, ele
amava muito ela e eu sabia disso.
— Deve ter sido difícil escolher entre seu melhor amigo e a mulher que
você ama.
— Foi, mas eu sabia quem seria minha escolha. Eu amava muito sua
mãe, na verdade ainda amo demais, e apesar de ter me doido muito,
muito mesmo magoar Jacob dessa forma e perder sua amizade, eu
sabia que conseguiria viver sem ele na minha vida, mas não sem sua
mãe. Então ficamos juntos mesmo magoando Jacob, nenhum de nós
dois ficamos feliz de fazer isso com ele, mas estávamos muito
apaixonados um pelo outro e não conseguíamos mais ficar separados. E
mesmo que não ficássemos juntos, sua mãe me ama e não amava mais
ele, de qualquer forma ela acabaria não se casando com ele. Ele achava

239
que eu tinha feito tudo de propósito, que eu tinha tramado tudo isso
pelas suas costas, eu tentei explicar que simplesmente tinha
acontecido, mas ele não queria me escutar. Ele disse que me odiava e
que nunca iria me perdoar, e nunca perdoou.
— Vocês nunca mais se falaram?
— No começo eu tentei, mas ele dificultava muito as coisas, chegando
até a me agredir várias vezes em que eu tentei falar com ele, então eu
desisti. Depois de alguns anos de casado, quando você era bebê, eu o
procurei e descobri que ele tinha se mudado para Montana, entrei em
contato e ele me disse para nunca mais o procura-lo. A última vez que
eu tentei fazer contato foi há uns dez anos atrás, ele ainda estava
morando no mesmo lugar em Montana, então eu o escrevi uma carta, e
ele nunca respondeu.
— Sinto muito, por ter perdido seu melhor amigo.
— Eu também, mas todo dia que eu acordo e vejo sua mãe ao meu lado,
eu penso “valeu a pena”.
— E como vocês lidaram com o fato da sua família não gostar de
mamãe?
— Na verdade não era bem a minha família, só a minha mãe. Todos
ficaram um pouco receosos por mim, pelo modo como tínhamos
acabado ficando juntos , eles tinham medo que sua mãe fizesse a
mesma coisa comigo que ela fez com Jacob. Mas logo todos perceberam
que nós estávamos mesmo apaixonados.
— Menos vovó.
— Menos a sua vó. Ela achava que Alyssa era uma vadia, e chegou a
falar isso para ela em várias ocasiões. Ela não se conformava pelo que
tínhamos feito ao pobre Jacob, mas eu ela perdoou, mas a
aproveitadora que seduziu seu filho e o fez trair seu melhor amigo, não.
Foi difícil no começo. Sua avó não foi no meu casamento.
— Sério? — Pergunto espantado. — Isso é muito triste, sinto muito, pai.
— Foi muito triste não ter ela comigo naquele dia tão especial. E foi
mais triste porque eu tive que me afastar dela.
— Por causa da mamãe?
— Sim, sua avó tratava muito mal Alyssa. Sua mãe não me contava
nada, não querendo me fazer ficar com raiva da minha própria mãe,
mas quando eu descobri que ela estava infernizando a vida da minha
esposa eu parei de falar com ela. Ficamos um tempo assim, até que
Alyssa ficou grávida de você, então sua avó quis se reaproximar. Ela e
sua mãe realmente conversaram, acho que pela primeira vez, e
acabaram se entendendo. Eu diria que minha mãe tinha passado de
odiar Alyssa para suporta-la, algo que eu não tinha conseguido que ela
fizesse, mas você conseguiu. Tinha jeito com as mulheres mesmo antes
de nascer, rapaz. — Ele diz e ambos rimos.

240
— Mas quando eu era criança eu me lembro de vovó tratando mamãe
super bem, ela até parecia preferir ela a você. — Papai ri novamente.
— Elas ficaram amigas depois, e sua vó passou a amar sua mãe como
se fosse sua própria filha.
Fico em silêncio por um momento, repassando em minha cabeça toda a
história de amor dos meus pais.
— Essa é toda a história. Tem algo mais que você queria saber? — Ele
pergunta.
— O amor de vocês era meio que...Impossível, não é?
— Esse é um jeito de ver as coisas. Mas eu te digo uma coisa filho, não
existe amor verdadeiro que não seja capaz de transformar as coisas
impossíveis em possíveis.
— Então você acha que todo amor é mais forte do que as situações
impossíveis em que ele se encontra? — Pergunto olhando-o nos olhos.
— Todo amor verdadeiro, sim. Tenho certeza.
— Como você pode ter tanta certeza? Acho que você está sendo
romântico demais, pai. Infelizmente existem amores, que mesmo sendo
sinceros, não são possíveis.
Ela encara o horizonte por vários minutos, calado, seu olhar pensativo e
compenetrado.
— Justin, você está apaixonado, filho? — Ele me pergunta e eu percebo
que ele tenta soar normal, mas há uma certa ansiosidade por detrás de
suas palavras.
Demoro para responde-lo, eu não admiti isso para ninguém, apenas
para mim mesmo, e não foi algo fácil.
Abro a boca mas não consigo fazer isso, não consigo admitir em voz
alta, é mais difícil do que imaginava. É como se eu estivesse tentando
fazer algo contra a minha natureza.
— Sim. — Digo com uma voz fraca, é a única palavra que eu consigo
dizer. Meu pai me olha com um sorriso enorme, aposto que ele está
pensando “finalmente”, mas quando vê minha expressão seu sorriso
morre.
— É um amor impossível?
— Não sei se é amor, mas e impossível. — Respondo, e é verdade, eu
estou apaixonado por Savannah, mas ama-la? Se a teoria de papai
estiver certa, se o amor verdadeiro é identificável pelo medo que
sentimos dele, então eu...Eu acho que eu posso ama-la sim.
Porque eu estou completamente apavorado pela enormidade e pela força
do que eu sinto por Savannah.
— Por quê?
— Por vários motivos. — Digo tentando me esquivar de sua pergunta.

241
— Quais? — Não posso ser completamente sincero com ele, se não ele
vai descobrir de quem eu estou falando. Mas bem que eu queria
finalmente colocar tudo para fora e contar para alguém essa história
maluca entre Savannah e eu. Capaz de meu pai ter um ataque do
coração se ele descobrisse que a mulher que estamos conversando é
Savannah Careton.
— O fato de eu ser conhecido por todo mundo como um prostituto. —
Digo me lembrando de como Shanon me chamou quando descobriu
sobre Savannah e eu. — Um cara que nunca se apaixona e vive com
uma mulher diferente a cada noite, mesmo que eu não seja mais como
há alguns anos atrás, a reputação me persegue, e a verdade é que até
muito pouco tempo atrás eu continuava dormindo com várias mulheres,
eu parei de fazer isso quando eu comecei a me envolver com ela. Mas
mesmo assim, eu sempre vou ter essa reputação, e é ela que faz com
que a família dela não vá me aceitar, isso e outras coisas também.
— Entendo. — Ele diz pensativo.
— E tem o fato dela ser mais nova também.
— Mais nova quanto, Justin? — Ele me dá aquele olhar desconfiado, e
de quem está prestes a me dar um sermão.
— Calma, pai. Ela é maior de idade, não se preocupe.
— Como ela se sente com relação a você? Ela corresponde ao seu
sentimento?
— Eu acho que não. — Digo tristemente.
— Como assim acha que não?
— Eu não contei para ela, para ninguém na verdade, você é o único que
sabe.
— Então quando você disse que começo a se envolver com ela, você
estava falando de sexo e não romanticamente?
— Sim, tudo começou como algum tipo de relação sexual casual em que
ambos concordamos. Ela se sentia atraída por mim e eu estava louco de
desejo por ela, como nunca havia sentido por outra mulher na minha
vida. Ficamos nesse lance casual por alguns meses, ainda estamos na
verdade, mas eu acabei me apaixonando e não sei o que fazer.
— Conte para ela como você se sente, é claro.
— Mas eu acho que ela ainda gosta do ex namorado. Ele a magoou
muito, mas ela ainda o amava quando a gente começou esse lance, na
verdade acho que foi um dos motivos dela querer se envolver
casualmente comigo. Ela não demostra ainda ama-lo, mas eu vi como
ela o amava muito somente há muito pouco tempo atrás, ela me disse
com toda as letras que o amava muito quando começamos a nos
envolver.
— E mesmo assim você aceitou ficar transado com ela? — Ele pergunta
com aquele tom de reprovação que só um pai sabe fazer.

242
— Não é como se eu tivesse me aproveitado dela. — Digo me
defendendo.
— Na verdade, é isso mesmo. Ela estava frágil e magoada com o
namorado, claramente ainda o amava e mesmo assim você a convenceu
a se envolver nisso só porque você a desejava como nunca havia
desejado outra mulher. Isso foi muito egoísta, filho.
— Eu não a forcei a fazer nada. — Mas eu fiquei a perseguindo. Droga,
será que eu me aproveitei mesmo da fragilidade de Savannah? Mas que
porra, não quero ser um aproveitador.
— Tudo bem, não precisa ficar bravo comigo.
— Desculpe. É só que isso que eu sinto, nunca senti antes, você sabe
que eu nunca me apaixonei e eu só estou com muito...
— Medo. — Ele termina minha frase assim como eu havia feito com ele
e me dá um sorriso condescendente.
— Sim, estou apavorado. Apavorado porque eu nunca gostei de
ninguém antes e de repente eu percebi que eu gosto dela demais,
apavorado que ela não goste de mim, apavorado que ela seja o amor da
minha vida e eu não seja o dela.
— Se ela for mesmo o amor da sua vida, ela vai gostar de você, mesmo
que ainda não goste, ela irá um dia. Isso ou você está enganado e ela
não é o amor da sua vida. Você já pensou que todo esse medo que você
está sentindo pode ser só porque ela é a sua primeira paixão, e não
porque você a ama?
— Você acha? Eu não sei, pode ser. O que você quis dizer com mesmo
que ela não goste ela irá?
— Porque se ela for mesmo o seu amor verdadeiro, você será o dela. Não
existe amor verdadeiro não correspondido, o que existe são pessoas que
acham que amam de verdade e não são correspondidas, mas então elas
vão lá e se apaixonam de novo e pensam “agora sim, ela é o amor da
minha vida”. Isso não existe filho, as pessoas são muito levianas com
esse assunto, acham que qualquer paixão é amor verdadeiro. Mas
acontece que quando realmente é, ele é para sempre, você não
simplesmente esquece a pessoa e acha outro amor verdadeiro, as coisas
não funcionam assim.
— E quando a pessoa morre e o outro se apaixona de novo. Você está
dizendo que essa segunda pessoa nunca vai ser o amor verdadeiro da
primeira pessoa?
— Para mim, não. Ela pode até amar de novo, mas verdadeiramente e
de todo coração, não. Sempre existirá um espaço especial para o amor
verdadeiro que morreu no coração. Eu mesmo, se sua mãe morresse...
— Ele faz uma careta como se só pensar nisso o machucasse. — Eu
nunca amaria outra mulher, nem menos, nem mais e nem igual ao
quanto eu amo ela. Simplesmente não consigo me imaginar amando
outra mulher, nem que seja só um pouco.

243
— Então você está me dizendo que se ela for a mulher da minha vida,
eu também serei o homem da vida dela, se não, eu estou sendo leviano
e apenas estou confundindo uma paixãozinha com amor?
— Exatamente isso que eu estou dizendo. Talvez você só esteja confuso
e como essa é a primeira vez que você se apaixona, não saiba lidar com
esse sentimento.
— Ou talvez ela só foi capaz de me fazer me apaixonar, porque ela é a
mulher da minha vida.
— Talvez. Mas eu nunca ouvi falar de uma pessoa que nunca se
apaixonou antes de conhecer o amor da sua vida, com exceção àqueles
sortudos que os encontram logo de cara. Mas não ache que só porque
ela conseguiu mexer com você e as outras não, que ela é para sempre.
— Acho que você pode ter razão, faz sentido até. Mas é difícil me
imaginar sentindo algo mais forte do que isso por outra mulher, mas
como você mesmo disse, ela é minha primeira paixão, eu não sei
realmente muita coisa sobre esse assunto. Eu posso estar muito errado.
— Mas uma coisa nessa história toda é certa e clara como água.
— O que?
— Você tem que contar para ela como você se sente.
— E se ela não sentir o mesmo, como eu faço para saber que eu devo
insistir ou que eu devo recuar porque ela não é mesmo o amor da
minha vida.
— Isso só depende de você. Você vai sentir quando a hora de desistir
chegar, e se vocês forem mesmo feitos um para o outro, ela se
apaixonará antes de você desistir.
— Mas e se eu insistir, ela se apaixonar mas não for o amor da minha
vida?
— Eu acho que você faz perguntas demais, meu filho. E infelizmente eu
não sei a resposta para todas elas. Mas o que as pessoas normais
costumam fazer, é arriscar. — Ele diz com um sorriso divertido,
zombando de mim.
— Então acho que eu tenho que arriscar.
— Eu acho que sim. Você vai me dizer quem é a mulher
que finalmente conquistou o coração inalcançável do meu filho?
— Sinto muito, mas eu não posso, ainda não. É complicado.
— Tudo bem, apesar de que agora eu estou muito curioso para saber o
porquê do mistério todo. Mas eu vou confiar em você e não vou te
pressionar a me contar nada. E saiba que não importa o quão
complicado ou impossível às coisas possam parecer entre vocês dois, eu
vou sempre te apoiar, e no que eu puder te ajudar, é só pedir.

244
— Obrigado, pai. Obrigado por me escutar e me aconselhar, eu vou
dizer tudo o que eu sinto para ela. — Dou lhe um abraço meio
desajeitado.
— Que bom, meu filho. Espero que vocês dois se ajeitem e que eu e sua
mãe possamos conhecê-la logo. Sua mãe vai ficar louca quando
descobrir que você finalmente se apaixonou. Ela se preocupa muito com
você e que você nunca vá sossegar.
— É, eu sei. — Rio. — Será que você pode guardar segredo por
enquanto? Eu queria muito falar para mamãe sobre isso, mas sabia que
ela iria pirar e ficar animada, e você era a minha melhor escolha para
me abrir.
— Pode deixar, não vou contar para ninguém. E obrigado pela confiança
em mim. Agora acho melhor você terminar essa cerca antes que o sol se
ponha.
— Está certo. — Pulo da caçamba e volto até a cerca.
Mesmo morrendo de medo de como Savannah vai reagir, eu decido que
eu devo contar como me sinto. Talvez ela nem esteja mais apaixonada
por Vince e mesmo que ela não goste de mim, eu posso convencê-la a
me dar uma chance.
Eu só não posso mais ficar reprimindo o que eu sinto quando estou
perto dela, preciso lhe dizer que estou apaixonado e que não quero mais
que sejamos amigos com benefícios, e sim namorados. Se ela aceitar,
depois eu vejo como lidar com Seth e a reação de nossas famílias.
Pego o martelo e começo a concertar o restante da cerca.
— Então, você vai ficar para o jantar, filho?

Não sei por que não estou conseguindo falar com Savannah. A última
vez que eu falei com ela foi antes de ontem.
Ontem de dia eu tentei entrar em contato, mas seu telefone estava
desligado, imaginei que pudesse estar estudando então não liguei mais,
então de noite eu estava em Wills Point jantando com minha família
depois de ter uma longa e esclarecedora conversa com meu pai, lhe
enviei uma mensagem dizendo que passaria a noite na fazenda e só
voltaria para Dallas pela manhã, mas ela não me respondeu.
E agora isso, estou o dia todo ligando para ela e seu celular continua
desligado, não sei o número do seu apartamento e nem se ela tem
telefone fixo, nunca perguntei.
Por isso, assim que sai do trabalho fui direto para UTD. Preciso saber se
aconteceu alguma coisa, porque nós estávamos bem e ela não tem
motivos para estar me ignorando. E também estou louco para
finalmente lhe confessar que eu estou apaixonado por ela, e estou
ansiosa para ver qual será sua reação. Acho que se ela me dissesse que
também gosta de mim eu explodiria de felicidade.

245
Bato na porta do seu apartamento e infelizmente sua desagradável
colega abre a porta.
— Olá, bonitão. Você de novo por aqui? — Ela abre um sorriso lento e
predatório quando me vê parado a sua frente, e eu juro que sinto um
frio na espinha.
— Olá, Savannah está?
— Está, mas não sei se ela vai querer falar com você. — Ela diz
colocando a mão na cintura.
— É que aquela lá não sai do quarto a dois dias. Nem para ir ao
banheiro ou tomar banho. — Ela diz fazendo uma careta de nojo.
— Como assim não sai do quarto? Ela não foi as aulas, não comeu?
— Não que eu saiba, eu não a vi sair do quarto nem uma única vez.
— Mas o que aconteceu, ela está bem? — Pergunto e sinto a
preocupação e o medo de que algo a tenha acontecido me deixando
desesperado.
— E como é que eu vou saber? — Ela pergunta com descaso.
— Você não foi verifica-la? E se ela está desmaiada lá dentro ou algo
assim? — Pergunto indignado com a falta de sensibilidade e querendo
estrangular essa mulher. Se algo aconteceu com Savannah eu vou
mata-la por não ter a ajudado.
— Vou vê-la. — Passo por ela e entro no apartamento mesmo sem ser
convidado. Ela dá um passo desiquilibrado para trás e então fecha a
porta.
— Não sei o que alguém como você está fazendo com ela. — Ela diz, me
fazendo parar no meio do caminho.
— O que? — Pergunto me virando para ela.
— Você é gostoso demais, merece alguém melhor do que ela. Você sabe
que eu poderia te oferecer muito mais diversão, não é? — Ela diz
ronronando, numa tentativa patética de ser sensual, e se aproxima de
mim. Se fosse em outros tempos, eu provavelmente teria aceitado sua
proposta. Mas agora ela só me enoja, e eu me pergunto se foi assim que
ela seduziu Vince e fez com que ele traísse Savannah, ou talvez ela nem
precisou ter trabalho com ele, aquele cara é um filho da puta e é
nojento igual a essa mulher. Eles se merecem.
— Não existe nada, absolutamente nada que você possa me oferecer. E
você está errada, ela é quem merece alguém melhor do que eu. E
merece uma colega de quarto melhor também, uma que não seja uma
vadia louca e nojenta que fica se oferecendo para o primeiro cara que
encontra. — Digo e me afasto, mas não sem antes ver sua expressão de
choque pelas minhas palavras.
Vou até o quarto de Savannah e bato na porta.
— Savannah, você está me ouvindo? Sou eu Justin.

246
Alguns segundo se passam e eu bato de novo.
— Vá embora. — Um sopro de voz vem de dentro do quarto.
— Savannah, você está bem? Abra a porta, você precisa comer.
Nenhuma resposta.
— Savannah, se for verdade o que aquela mulher disse, você não sai daí
de dentro há dois dias. Você precisa abrir a porta e me dizer o que está
acontecendo, baby.
— Só vá embora, por favor. — Ela responde.
— Não, Savannah. Você precisa me dizer o que está acontecendo, estou
tentando falar com você desde antes de ontem, mas seu celular só dá
desligado. Converse comigo, me conte o que aconteceu. Por favor.
Dessa vez ela não responde.
— Por favor, estou ficando preocupado.
Escuto um barulho vindo de dentro do quarto, depois a chave na porta
e então silêncio de novo.
Giro a maçaneta e entro no quarto escuro, procuro pelo interruptor e
acendo a luz. Meus olhos viajam pelo quarto e encontram Savannah
encolhida na cama.
Fecho a porta e vou correndo até ela, sento-me da beirada da cama e a
olho.
Seus cabelos estão desgrenhados e seus olhos vermelhos, como se ela
tivesse passado esse dois dias chorando. Sua aparência está abatida e
suspeito que seja pela falta de alimento.
— O que aconteceu, baby? — Pergunto com a voz calma e baixa, já que
ela parece tão frágil, como se fosse se quebrar a qualquer momento.
— Não quero falar sobre isso, só me deixe sozinha. — Ela diz com fiapo
dolorido de voz e isso corta meu coração. Sou capaz de fazer qualquer
coisa para tira-lhe a dor e faze-la voltar a ser aquela Savannah
sorridente e alegre.
— Isso está fora de questão. Conte-me o que aconteceu e quem sabe eu
possa ajuda-la, hum? — Digo e acaricio seus cabelos.
— Você não pode, ninguém pode. — Ela sussurra.
— Diga, o que aconteceu? Você está me preocupando, baby. — Digo
agora acariciando sua bochecha.
Só quero puxa-la para meu colo e ficar segurando-a e protegendo-a de
tudo que possa machuca-la.
— Foi ele. — Ela diz e eu mal consigo ouvi-la.
— Hã? Ele quem?
— Vince. — Ao ouvir esse nome congelo. Retiro minha mão de seu rosto
e trago-a novamente para junto do meu corpo.

247
Vários sentimentos me dominam. Raiva, ciúmes e medo são os mais
dominantes.
— Ele te fez alguma coisa? — Pergunto com ódio.
— Ele me confessou que Aletta não foi a única mulher com quem ele
transou quando estava comigo. Ele confessou que ficou com uma garota
na mesma festa em que tínhamos ido juntos, ele me deixou sozinha e
foi transar com outra, e a idiota aqui achando que ele tinha ido
conversar com os amigos. — Ela começa a chorar.
— Filho da puta. — Sinto meu ódio por esse cara crescendo cada vez
mais. Fecho os punhos e os aperto com raiva, mas aí um sentimento
muito mais desagradável me domina quando percebo uma coisa.
Eu estava certo. Savannah ainda gosta de Vince, não estaria desse jeito
se não gostasse.
Ciúmes e um enjoo horrível tomam conta de mim, tão forte que
conseguem até sobrepor a raiva que estou sentindo daquele pedaço de
merda.
— Por que ele foi te dizer isso justo agora? — Pergunto tentando com
todas as minhas forças não demostrar a tristeza que estou sentindo.
— Ele disse que queria ser honesto comigo para que possamos ser
amigos.
— E dá onde ele tirou essa ideia que vocês seriam amigos? Que idiota.
— Digo debochando dele. Esse cara é um fodido mesmo, que ódio.
— É porque nós meio que já éramos amigos de novo. — Ela diz e parece
um pouco envergonhada ao dizer isso.
Suas palavras me pegam de surpresa, e parece que eu acabei de levar
um soco no estômago. Mais raiva, ciúmes e tristeza vêm como uma
onda.
— Como assim? — Pergunto com medo.
— Ele me procurou um tempo atrás e disse que queria que voltássemos
a ser amigos. E eu aceitei.
“Ela tinha voltado a ser amiga dele esse tempo todo? Conversando e
saindo com ele de novo?”
Ah meu Deus, isso dói. É claro que ela ainda ama ele, eu fui tão idiota
de achar que não. Mesmo ele sendo um filho da puta e magoando-a, ela
o ama. Ela só está me usando para tentar esquece-lo, é claro. Como eu
sou idiota. Ela ama ele, não eu, ela nunca vai sentir nada por mim.
Luto para que as lágrimas que eu quero tanto derramar não caiam, não
posso chorar na frente dela. Não posso mostrar que me importo e que
saber dessa amizade me machuca tanto assim.
— Ah. — É a única coisa que eu consigo dizer sem quebrar e começar a
chorar.

248
— Desculpa, eu sei que isso pode te incomodar, por causa daquela vez
que ele te bateu.
— Tudo bem. — Digo desviando o olhar dela, sabendo que se eu
mentisse olhando em seus olhos eu não aguentaria.
Ela acha que o único motivo para eu me importar é por causa daquela
noite que o canalha me atacou - noite, aliás, que terá volta – mas nem
passou por sua cabeça que eu não gostaria de vê-la com ele porque eu
sentiria ciúmes, por que eu gosto dela. Ela não entendeu nenhum dos
meus sinais.
— Não vamos falar dele, vamos falar de você. Você tem que voltar para
as aulas, tem que sair desse quarto e tem que comer, Savannah. —
Digo depois que consigo me controlar o suficiente para não correr o
risco de chorar na sua frente.
— Eu não estou com fome. — Ela diz desanimada.
— Savannah... — Me deixa tão triste vê-la sofrendo, ainda mais
sabendo que é por causa dele.
— Eu só quero ficar sozinha agora. Prometo que amanhã eu volto a ir
para a aula.
— Tudo bem, mas você tem que comer alguma coisa agora. Eu vou
preparar algo para você.
— Não, não quero nada...
— Sem discussão. Você vai comer alguma coisa, vai sair desse quarto e
amanhã vai voltar a assistir as aulas e a sua vida normal, entendido?
— Entendido.
— Ótimo, eu vou preparar algo para você comer e enquanto isso você
vai tomar um banho.
— Mas...
— Sem mas, vá logo. Você não pode ficar trancada nesse quarto para
sempre.
— Seu chato. — Ela diz se levantando da cama.
— Sou chato por que me preocupo com você.
— Você podia se preocupar menos. — Ela diz indo para o banheiro e
fechando a porta.
“Eu poderia ‘menos’ muitas coisas com relação a você, Savannah.
Poderia te amar menos, por exemplo. Deveria te amar menos. Assim não
seria tão doloroso.”
Vou até a cozinha e graças a Deus não encontro com Aletta, a cobra
deve estar de volta ao seu ninho, também conhecido como quarto.
Vasculho a geladeira e os armários e decido que como ela não come há
dois dias, é melhor preparar algo leve e sem gordura. Então faço um
sanduiche natural.

249
Quando Savannah sai do banho sua expressão está um pouco melhor e
seus olhos não mais tão inchados. Faço-a comer na cozinha e me
prometer que mais tarde, quando eu já tiver ido embora, ela vai comer
mais alguma coisa.
Sirvo um copo cheio de suco de laranja e a observo comer e beber tudo.
— Você não precisa ficar me observando para ver se eu vou comer tudo,
como uma criança.
— Eu sei, mas eu gosto de te ver comer. — Digo sem querer e ela me
olha estranhamente por um segundo.
Se ela soubesse que eu gosto de observa-la fazendo qualquer coisa.
Principalmente comendo, rindo, dormindo e o melhor de todos,
gozando.
— Prontinho, comi tudo, viu? — Ela diz de forma petulante mostrando o
prato e o copo vazios.
— Essa é a minha garota. Agora tenho que ir. Mas não se esqueça, você
me prometeu comer algo mais tarde e a voltar a ir as aulas amanhã.
Mas como eu sou muito chato, vou te ligar para garantir que você faça
as duas coisas. — Ela revira os olhos e me acompanha até a porta.
— Tenha uma boa noite, a gente se vê amanhã. E se precisar de alguma
coisa, me ligue, qualquer horário, ok? Não deixe aquele filho da mãe
fazer isso com você. — Dou-lhe um beijo na testa e vou embora, com o
coração pesado como uma âncora.

A manhã toda passou muito devagar. Assim que acordei liguei para
Savannah para garantir que ela tinha comprido sua promessa e tinha
ido para a aula. Fiquei feliz ao ouvir vozes no telefone e uma Savannah
mal humorada dizendo que estava no meio da aula. Fiquei mais
tranquilo por ela não estar mais trancada, mas ainda assim, triste pelo
motivo de tê-la deixado naquele estado de ontem.
Constatar que a mulher que você ama, ama outro, não é algo muito
agradável e me tirou o sono ontem à noite. Fique abraçado com o
travesseiro que tem o seu cheiro, mas nem isso acalmou a tempestade
que estava minha mente e meu coração.
Agora já é quase hora do almoço e tenho que ir me encontrar com
Carlson Thompson. Espero que ele finalmente marque um dia para
assinar esse maldito contrato.
Mesmo não sendo hoje o dia de assinarmos os papeis, ele pediu para
que eu levasse algum advogado da empresa, que ele levaria o seu.
Assim poderíamos discutir o que quer que seja que o está segurando
com relação a essa parceria.
Então entro em meu carro e sigo na direção do caro restaurante onde
temos uma mesa reservada. O advogado que eu escolhi foi Will, além de
ser meu amigo é o melhor advogado que a Townsend possui, mas essa

250
manhã ele está resolvendo alguns assuntos fora do escritório e deve nos
encontrar no restaurante.
Por causa do transito chego apenas alguns minutos antes do horário
marcado, e torço para que o Sr. Thompson não esteja adiantado alguns
minutos. Deixa-lo esperando não é algo nada bom.
— Olá, estou aqui para encontrar uma pessoa. — Digo para a
recepcionista do luxuoso restaurante.
— Possui reserva, senhor?
— Sim, está no nome de Carlson Thompson.
Ela confere o nome no seu aparelho eletrônico, levanta seu olhar
novamente para mim com um sorriso de desculpas.
— Sinto muito, mas a mesa ainda não está pronta. Gostaria de esperar
no bar, temos as melhores bebidas.
— É claro.
— Quando sua mesa estiver pronta, mando chama-lo, senhor.
— Tudo bem, obrigado. — Digo e sigo em direção ao bar.
O bar está praticamente vazio, também, é hora do almoço. Sento-me no
banco de madeira envernizada e com acento de couro, e como estou
aqui a trabalho e sei que provavelmente terei que tomar vinho no
almoço, peço apenas uma dose de Martini.
Rapidamente o garçom entrega minha bebida e eu a bebo calmamente,
olhando o relógio de vez em quando, e procurando o Sr. Thompson e
Will, mas nenhum dois chegou ainda.
Deposito o copo vazio em cima do balcão e como a azeitona que veio
junto com o drink.
Escuto alguns barulhos de salto alto no mármore do chão, que são mais
evidentes porque como havia dito, o bar está quase deserto e está muito
silencioso.
— Quanto tempo, docinho. — Escuto uma voz feminina atrás de mim.
Congelo na hora ao reconhecer aquela voz doce e sensual e tão, tão
familiar.
Viro-me e dou de cara com ela. A louca perseguidora que eu não via há
anos, e que está sorrindo maliciosamente para mim.
Eva McKenna.

251
Eu amo, tu amas, nós amamos
Justin
Oito anos atrás...
Deixo meu corpo exaurido cair na cama, e assim como o cansaço, o
arrependimento toma conta de mim e me deixa sem reação.
Eu prometi para mim mesmo que isso não iria mais acontecer, e eu
estava indo tão bem, tinha até conseguido recusa-la na minha festa de
aniversário. Ah, se Eva não fosse tão gostosa...
— Docinho, você é incrível, sabia? — Ela diz se apoiando nos cotovelos,
não se preocupando em cobrir seus peitos com o lençol.
— Sim, eu sei. — Digo de forma arrogante, e ela solta uma gargalhada.
— Por isso que eu gosto de você. Somos tão parecidos.
— Acho que não, baby, não somos nada parecidos.
— Você que se engana, somos mais parecidos do que você pensa, e é
exatamente por isso que devemos ficar juntos.
— Você é maluca, não é? Só pode. Eu já disse que eu não me
comprometo com nenhuma mulher, nunca. E eu já havia dito que todo
esse lance de fazermos sexo toda hora e sairmos estava acabado.
— Mesmo assim, aqui estamos. Na sua cama, no seu quarto, no
apartamento que você divide com seu amigo. Acabamos de fazer sexo
delicioso e selvagem, mesmo você tento me chamado de louca
perseguidora e dito que não queria mais me ver.
— Isso é porque eu sou fraco quando se trata de mulheres como você, e
você sabe disso. Mas essa foi a última vez. — Ela solta outra
gargalhada.
— Foi isso que você disse na vez passada, e na outra, e na outra e na
outra...
— Tudo bem, eu já entendi que autocontrole e força de vontade não são
o meu forte. Mas estou falando sério dessa vez.
— Claro que está. Porque você não vê de uma vez por todas que nós
fomos feitos um para o outro e devemos ficar juntos para sempre,
docinho?
Ótimo, tudo de novo. Porque é que eu tive que ceder a tentação? Essa
mulher nunca vai me deixar em paz, que saco! Mesmo o sexo sendo
sensacional, ela é maluca e eu tenho que ser mais forte na próxima vez
que ela começar a arrancar as roupas fora e se esfregar em mim.

252
— Olha, Eva, se tem alguém aqui que tem que ver alguma coisa, é você.
Eu não sinto nada por você além de tesão, bom, na verdade, depois que
você começou a me perseguir e bancar a louca, também sinto um pouco
de raiva. Mas é só isso. Não te amo, não quero ter um relacionamento
com você e não quero mais te ver. Vá embora agora.
— Mas eu te amo, docinho. E eu amo o suficiente por nós dois. — Ela
começa a beijar meu peito, seguro-a e a jogo para o lado.
Levanto-me e visto minha calça, então pego suas roupas e joga para ela.
— Vista-se e de o fora, rápido.
Ela solta um suspiro, mas levanta-se e começa a se vestir como eu
mandei.
— Você vai acabar percebendo que eu tenho razão, e vamos ficar juntos
no final. É só uma questão de tempo, você vai ver. — Nem me dou ao
trabalho de respondê-la. Toda vez é a mesma merda, a mesma ladainha
maluca.
— A gente se vê depois, não precisa me acompanhar até a porta. — Ela
me dá um beijo rápido nos lábios e se encaminha para a porta.
— Eu não ia mesmo.
Deus do céu, que mulher maluca, gostosa, mas muito maluca. Porque
ela não aceita que não tem nada entre nós e parte para outra?
A última coisa que eu preciso ou quero é uma mulher grudada no meu
pé.

— O que foi? Parece que viu um fantasma, docinho. — Eva diz com
evidente satisfação por sua súbita aparição ter me deixado sem fala.
— Eva...O que você está fazendo aqui? Faz tanto tempo.
— Seis anos, quase sete. Eu sei. Senti sua falta, Justin. Você sentiu a
minha? — Ela pergunta sugestivamente.
Eu ainda a olho sem conseguir acreditar que ela está mesmo na minha
frente, depois de todos esses anos.
Meus olhos viajam por seu corpo, ela não mudou nada. A não ser que
agora está muito mais elegante, com ar e uma postura refinados, e com
um enorme anel de diamantes no dedo.
— Você é casada? — Pergunto incrédulo encarando seu anel.
— Muito bem casada, por sinal. Não vai ficar com ciúmes, não é? Você
teve a sua chance.
Deus do céu, isso é algo que eu nunca imaginaria. Eva casada! Quem
será o pobre coitado?
— Ah, Justin, vejo que já conheceu minha esposa. — Carlson
Thompson surge atrás de Eva vindo de Deus sabe onde.

253
Observo abismado seu braço ir até a cintura de Eva e permanecer lá.
Isso não pode ser verdade, eu devo estar sonhando.
Eva McKenna é a esposa de Carlson Thompson? Esse mundo
é mesmo muito pequeno.
Sabendo que tenho que manter a postura profissional, me recomponho
e coloco um sorriso no rosto.
— Ah sim, Sr. Thompson. Acabei de conhecer sua esposa, é um prazer
senhora. — Digo voltando meu olhar para Eva e sorrindo.
— O prazer é todo meu, acredite. — Ela diz sugestivamente, e na hora
olho para seu marido, mas ele parece alheio aos olhares de sua esposa
para mim e sua forma provocadora de falar.
Nesse instante um funcionário do restaurante vem nos dizer que nossa
mesa está pronta.
— Com licença, senhores, senhora. A mesa está pronta, queiram me
acompanhar, por favor.
Seguimos o funcionário e nesse momento vejo Will chegando, bem a
tempo.
— Desculpe o atraso, o trânsito está uma loucura. — Will diz ao se
aproximar.
— Sem problemas. Sr. Thompson, esse é Will Stuart, um dos advogados
da Townsend, o melhor devo acrescentar.
— Muito prazer, Sr Thompson. — Ele e Will trocam um aperto educado
de mãos.
— Muito prazer. Essa é Eva McKenna Thompson, minha esposa e
minha advogada.
Will cumprimenta Eva, mas vejo seu sorriso presunçoso quando ela
percebe minha reação ao descobrir que ela é a advogada.
Tudo bem, esse dia está muito bizarro. Eva ter se casado já é algo
espantoso, com o dono da Thompson Reuters Company é mais ainda,
agora, ela ser a advogada dele? Quando eu a conheci ela já tinha idade
para ter se formado, mas ela não estava nem na faculdade e gritava
para quem quisesse ouvir que nunca iria atender as expectativas da sua
família e fazer direito.
— Bom, vamos nos sentar?
Todos concordamos e voltamos a seguir o homem que estava
pacientemente no canto esperando as apresentações para poder nos
guiar até nossa mesa.
Não sei não, mas essa aparição de Eva não está me cheirando bem. É
melhor eu ficar de olhos bem abertos, porque se ela ainda for pelo
menos um pouco tão louca como era alguns anos atrás, vai me causar
muita dor de cabeça.

254
Savannah
Ainda me sentindo um pouco eufórica, mas sobretudo relaxada, depois
dos orgasmos maravilhosos, deito no peito nu de Justin e deixo que seu
calor me reconforte.
Acho que ficar em seus braços é uma das dez melhores coisas na vida, e
das outras nove, pelo menos seis tem a ver com Justin.
É incrível como ele conseguiu se infiltrar para dentro de mim, sobre
minha pele.
Justin é uma grande parte da minha vida agora, e ele nem sabe. Ele
tem uma importância, que chega a ser patética, se você parar para
pensar na nossa “relação”. Ele é tudo para mim, e eu sou nada para ele.
E podem falar o que for, Justin não é só um rostinho bonito, eu já sabia
isso, mas depois do modo que ele agiu comigo quando eu estava
deprimida, tive certeza. Ele foi tão fofo, na hora eu o tratei mal, mas
depois que ele se foi e eu parei para pensar no seu modo carinhoso,
meu coração se aqueceu. Eu sei que ele não é assim com todo mundo,
por isso seu gesto significou mais ainda.
Eu meio que entrei em um lugar escuro depois da minha conversa com
Vince. Eu fiquei tão magoada, tão dolorida por dentro, foi horrível. Não
porque eu ainda sinto algo por Vince, a cada dia que passa eu tenho
mais certeza que ele não está mais em meu coração, mas foi muito
dolorido descobrir que ele tinha feito aquilo enquanto eu ainda o
amava. Eu senti uma dor enorme por saber que enquanto eu o amava
com todo o meu coração, ele me traia.
Eu sofri não por amar ele, mas pelo amor que um dia eu senti, porque
só eu sei o quanto ele significou para mim.
Mas depois de Justin ir me salvar e me puxar para fora daquele buraco
escuro no qual eu estava, eu percebi que Justin tinha razão, eu não
podia deixar Vince fazer aquilo comigo.
— Você está quieta hoje. — Justin comenta enquanto acaricia meu
ombro nu.
— Isso tem a ver com...Com aquele cara? Você ainda está assim por
causa dele?
— Não.
— É só isso que eu recebo? Um ‘não’? — Sorrio. Apoio-me em meu
braço e levanto a cabeça.
— Isso não tem nada a ver com Vince. Isso tem a ver com a minha
família.
— Como assim, aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta preocupado.
— Ah Justin, eu não sei ao certo. Parece que as coisas não estão indo
nada bem para Jane e Seth.
— Ainda aquela história da Jane não querer ter filhos?

255
— Acho que é mais complicado que isso. Não era para eu ou Shanon
ficarmos sabendo, mas ela escutou uma conversa e me contou. Parece
que Jane anda muito estranha ultimamente.
— Estranha como, baby?
— Ela começou a vir para Dallas com muito mais frequência, e quando
Seth lhe perguntou sobre isso ela lhe deu uma desculpa que depois
Seth descobriu ser uma mentira. Ela anda irritadiça e meio distante.
— Será que ela está com algum problema? Seth tentou falar com ela?
— Parece que sim, mas não adiantou nada. Na conversa entre Seth e
mamãe que Shanon ouviu, Seth disse algo que...Ele disse que acha que
Jane está tendo um caso. — Digo tristemente e a reação de Justin foi
igual a minha reação quando Shanon me contou. Espanto.
Incredulidade.
— Não. Jane não faria isso, não posso acreditar que seu irmão
realmente pense que Jane o trairia. Eles se amam tanto, me recuso a
acreditar nisso.
— Seth não comentou nada com você?
— Não, nós nos falamos por telefone algumas vezes depois daquela vez
que ele veio aqui, mas ele não me falou nada sobre isso.
— Achei que talvez ele tivesse falado, ou pelo menos comentado alguma
coisa, afinal vocês são melhores amigos.
— Talvez seja algo que ele queira manter só entre vocês.
— Estou tão preocupada, Justin. Nem por um segundo eu achei que
Jane pudesse estar traindo meu irmão, mas ela tem estado estranha
mesmo.
— Linda, não se preocupe com isso. Sei que Seth e Jane vão resolver
isso tudo, eles se amam demais.
— Espero, não gosto de ver meu irmão triste e infeliz. — Deito-me
novamente em seu peito e envolvo sua cintura com meu braço.
Em momentos como esse, é tão fácil fingir que Justin sente o mesmo
que eu. Que ele me ama.
— O que você vai fazer amanhã? — Ele pergunta.
— Eu falei com Kim hoje, amanhã passaremos o dia todo em Austin a
procura do vestido de noiva perfeito.
— Ela ainda não comprou um vestido? Mas eles vão se casar em
semanas.
— Eu sei. — Rio. — E isso a está deixando maluca. Acho que, sem
brincadeira, ela já deve ter provado uns 40 vestidos, e não gostou de
nenhum.
— Quem vai com vocês?
— Shanon, Mitchie, sua mãe e a minha.

256
— Mas vocês voltam ainda amanhã?
— Não sei, Kim disse que se precisar, dormiremos lá, porque ela não vai
sair daquela cidade sem um vestido.
— Nesse caso, já que possivelmente eu não vou te ver amanhã, vou ter
que começar a matar a saudades agora. — Ele diz com uma voz sexy e
me vira na cama, me deixando de costas, e sobe em cima de mim. Eu
rio enquanto ele beija várias vezes meu rosto. Ele finalmente chega a
minha boca e me beija com tanto desejo, que me aquece
instantaneamente.
— Justin. — Seu nome me escapa por entre os lábios em forma de
suspiro.
Suas mãos viajam por meu corpo e sua essência se mistura com a
minha. É como se fossemos um só.

Infelizmente aquela loja da qual eu havia recebido um e-mail não
agradou Kim. Ela experimentou vários vestidos e não gostou de
nenhum. Ou tinha renda demais, ou era espalhafatoso demais ou
simples demais.
E depois de passarmos a manhã toda caçando o vestido perfeito e só
recebermos negativas em troca, eu e as meninas começamos a ficar
frustradas.
— Nunca imaginei que seria tão difícil, queria que minha mãe estivesse
aqui. — Kim diz meio chorosa quando nos sentamos na mesa
do Perla’s para almoçarmos.
— Calma Kim, nós vamos encontrar o vestido perfeito, não se preocupe.
— Alyssa tenta reconforta-la e segura à mão de Kim.
— Estamos todas aqui a sua disposição, vamos encontrar esse vestido,
nem que tenhamos que rodar Austin inteira, não é meninas? — Mamãe
diz e todas concordamos.
Kim faz um sinal com as mãos e balança a cabeça.
— Não quero mais falar sobre vestidos agora. Mitchie, Aaron te falou
alguma coisa sobre o que os meninos planejam fazer na despedida de
solteiro?
— Não, ele não comentou nada comigo. — Mitchie responde.
— Mas você perguntou para ele? — Mitchie balança a cabeça
negativamente.
— Ah Mitchie, mais atitude menina. Você está encarregada de descobrir
o que os meninos vão aprontar.
— Como você sabe que eles vão aprontar alguma coisa? — Alyssa
pergunta rindo.
— Desculpa, Alyssa, mas você conhece seus filhos. Principalmente o
Justin... — A menção do nome dele meu corpo todo se arrepia. —

257
Aposto que ele e o tarado do primo do Aaron, Jason, vão querer levar
todos em algum clube duvidoso.
— Kim! — Mamãe a repreende.
— Tudo bem, Marie. Você tem razão, Kim. Mas o Jax não vai aceitar
isso, e o Justin, por incrível que pareça, está mais comportado agora. —
Ela diz rindo e um leve sorriso no canto dos meus lábios me escapa.
Ela não falaria isso se soubesse o que o Justin anda fazendo e com
quem. Como se sabendo que estamos falando dele, recebo uma
mensagem:
Justin: Como vai a caça ao vestido perfeito? Acha que consegue
voltar a tempo de dormir aqui? Minha cama fica tão vazia sem
você!!
Sorrio ao ler sua mensagem e respondo-o imediatamente.
Savannah: Infelizmente as noticias não são boas, sem sorte na
nossa caçada. Não sei se voltaremos para Dallas hoje :/
— Savannah, você está me escutando? — A voz de Kim me traz de volta
dos meus pensamentos sobre Justin.
— Oi?
— O que você vai querer, menina distraída. — Mamãe diz e só agora
percebo que tem uma moça ao lado da nossa mesa anotando os
pedidos.
— Ah sim, eu vou querer... — Pego o menu e peço o primeiro prato que
vejo. — Esse Perla’s Bouillabaisse.

Depois do almoço fomos a mais três lojas e agora estamos na quarta.


Kim já está provando seu terceiro vestido, estou começando a pensar
que teremos que partir para uma quinta loja quando Alyssa pede que
Kim experimente um modelo que ela particularmente achou lindo.
Kim faz uma careta como se não gostando muito do vestido, mas Alyssa
insiste e ela cede.
— Ah meu Deus. — Escutamos a voz de Kim vinda de dentro do
provador e todas paramos de conversar na hora.
— Kim, querida, está tudo bem? — Mamãe pergunta, mas não obtém
uma resposta. Alguns instantes depois Kim aparece e seu rosto está
cheio de lágrimas.
Todas nós nos levantamos quando vemos Kim com o vestido. Ela está
linda.
Está tão perfeita e radiante, que ficamos em silêncio por um momento,
apenas a encarando.
— Acho que é esse. — Kim diz emocionada. Vejo mamãe e Alyssa
enxugando suas próprias lágrimas.

258
— Kim, você está linda. — Mamãe diz com admiração na voz.
— Perfeita, minha querida. — Alyssa complementa o elogio.
O vestido não tem nada demais, na verdade é bem simples, mas é lindo
em toda a sua simplicidade e combina perfeitamente com Kim e o estilo
do casamento. Ao ar livre e sem muita pompa.
O vestido é longo e tem uma pequena calda, mas não é armado, o tecido
cai livremente perto do corpo. Na frente tem algumas flores rendadas e
a renda se estende até a parte que cobre os seios, com um decote
modesto e tiras que sobem e se mesclam com o detalhe em renda dos
ombros.
Kim se vira e eu posso ver que a parte de trás tem um enorme e ousado
decote em “v” que termina em um laço, expondo uma grande
quantidade da pela clara de suas costas.
— É perfeito, prima. — Digo sorrindo para ela.
— Pela sua reação, é esse mesmo?
— Sim, ele é simples, mas perfeito. É lindo e é como eu queria. — Kim
diz com um sorriso enorme.
— Então a caçada ao vestido de noiva perfeito está oficialmente
encerada? — Shanon pergunta parecendo um pouco mais animada do
que deveria.
— Sim, é esse. Tenho certeza. — Ela diz e todas nossas aplaudimos e a
abraçamos, rimos e choramos.
Esse casamento vai ser tão lindo. Jax e Kim se amam tanto e vai ser
maravilhoso presenciar a união desses dois.

259
O dia foi divertido, mas estou exausta e feliz por não ter precisado
dormir em Austin e estar de volta ao meu pequeno apartamento em
Dallas. Mas feliz ainda por chegar aqui e Aletta não estar presente
empesteando o ar com sua presença fétida.
Depois que achamos o vestido, decidimos ficar mais algumas horas na
cidade e fazer algumas outras compras. Fomos ao shopping e apesar de
Kim já ter comprado lingerie suficiente para umas quatro luas de mel,
ela quis comprar mais, o que foi uma experiência meio estranha se
levando em consideração que Alyssa, mãe de Jax, estava junto.
Aproveitei um momento de distração das meninas e escolhi algumas
lingeries sexys para mim. Justin vai pirar quando ver o que eu comprei.
Batemos perna no shopping mais um pouco e compramos algumas
outras coisas. Levamos menos tempo nas compras do que havíamos
pensado anteriormente, então cheguei em casa por volta das 19 horas.
E assim que cheguei em casa uma ideia me veio a mente. Justin acha
que eu vou dormir em Austin hoje, ou então chegar tão tarde que não
poderemos nos ver, mas ainda é cedo e eu sei que ele vai gostar se eu
aparecer no seu apartamento para lhe fazer uma surpresa.
E eu posso fazer aquilo que eu estava querendo mas sempre me
esquecia. Perfeito.
Vou até a cozinha e verifico se tenho todos os ingredientes necessários.
Em uma das nossas conversas Justin admitiu que comera os meus
biscoitos mesmo sendo horríveis, claro que eu era só uma criança e não

260
sabia cozinhar, mas eu prometi recompensa-lo por isso, e como agora,
modéstia a parte, eu cozinho muito bem...Isso vai ser perfeito.
Vou aparecer em sua casa com uma fornada de biscoitos quentinhos e
deliciosos e com uma lingerie sexy por baixo das roupas. Uma bela
opção para quem passaria a noite sozinho.
Sorrio animada e separo todos os ingredientes para fazer a fornada de
biscoitos, depois que os coloco no forno e aciono o timer vou tomar um
banho.
“Justin vai ter uma surpresa bem gostosa hoje à noite.” Penso
maliciosamente.

Justin
Escuto alguém a porta e vou atender. Quando abro vejo Patrick e
Suzana parados com um sorriso animado no rosto.
— Patrick.
— Justin, quanto tempo, cara. — Nos abraçamos animadamente.
— E essa é a pequena Suzana? Nossa, como você cresceu. — Digo lhe
cumprimentando com um beijo no rosto.
— Entrem, por favor. — Peço e abro caminho para que um dos meus
grandes amigos da época da faculdade e sua irmã mais nova entrem.
— Quanto tempo, cara. — Patrick comenta.
— Pois é. Venham se sentar, fiquem a vontade. — Digo encaminhando-
os para o sofá. — Como estão as coisas em Washington?
— Maravilhosas. Mas sabe como é, uma vez cowboy sempre cowboy,
sinto muita falta desse lugar.
— Você que quis se mudar assim que se formou. — Lembro-o.
— E me levou junto. — Suzana comenta com ar divertido.
— Você adora Washington, não finja que não.
— Eu adoro mesmo.
— Aceitam algo para beber? Vinho, uísque, cerveja?
— Eu aceito um uísque. Suzana não bebe, não tem idade para isso. —
Patrick diz protetor e vejo sua irmã revirando os olhos.
— Um suco então? — Pergunto.
— Não, mas obrigada. — Ela diz sorrindo amigavelmente.
Levanto-me e busco dois copos com uísque, um para ele e outro para
mim.
— Vou te falar Patrick... — Digo lhe entregando o copo e sentando-me
novamente. — Quando você me ligou hoje dizendo que estava em Dallas
e perguntando se poderíamos jantar, fiquei muito surpreso. Reencontrei

261
outra pessoa daquela época uns dias atrás, mas devo dizer que você é
uma companhia muito mais agradável. — Digo e ele ri.
— Então, o que te trás de volta?
— Negócios. E aproveitei para trazer Suzana, ela estava com saudades
de alguns velhos amigos.
— Fico feliz que você tenha me ligado. Você tem noticias de algum dos
rapazes de antigamente?
— Tenho o telefone do Peter e do Derek, mas raramente nos falamos, o
que é uma pena. Seth ainda está por aqui?
— Está sim, ele e a esposa, Jane.
— Ainda casados?
— Ainda casados e mais apaixonados do que nunca. — Digo mas então
me lembro do que Savannah me contou. Não. Tenho certeza que eles
vão conseguir passar por isso, o amor deles é forte o suficiente. O amor
deles é daqueles que são raros de se encontrar, seja o que for que
estiver acontecendo com Jane, eles vão superar isso, juntos.
— Quem diria, não é que esse namoro de ensino médio durou? Que
sorte ele tem. Eu me divorciei recentemente. — Ele diz e vejo um pouco
de tristeza brilhar em seus olhos.
— Que pena, sinto muito. — Digo.
— Tudo bem, não era para ser. Mas e você, ainda o mesmo Justin que
morre de medo de relacionamentos que eu me lembro? — Pergunta
divertido e bebe o uísque.
Na hora penso em Savannah e em como eu gostaria de ter um
relacionamento sério com ela, e um sorriso me vêm aos lábios.
— Hum, devo deduzir que esse sorriso bobo é um não?
— O que eu posso dizer, as pessoas mudam. — Digo sorrindo de canto.
— Mas olha, por essa eu não esperava. Como é o nome da operadora de
milagres? Porque fazer Justin Cord se apaixonar é um verdadeiro
milagre, com certeza.
— É segredo.
— Mistério, não é? Gostei, apimenta a relação. — Ele diz com um olhar
conspiratório e uma voz malandra.
— Patrick! Estou bem aqui. — Suzana diz. Ela estava tão quieta que por
um momento até havia me esquecido que estava presente.
Patrick apenas ri e dá de ombros.
— Espero que estejam famintos, pedi para a Sra. Bennet caprichar
porque teríamos convidados muito especiais. Vou ver se está tudo
pronto, só um minuto.
— Sra, Bennet, está tudo pronto? — Pergunto enfiando minha cabeça
pela porta da cozinha.

262
— Ah sim, está tudo pronto. — Aquela senhora de meia idade, que me
lembra aquelas vovós corujas, me responde.
— Ótimo, obrigado.
— O jantar está pronto. — Digo ao voltar para a sala.
Vamos até a mesa de jantar e o cheiro delicioso proveniente da cozinha
atiça meus convidados.
— Hum, que cheiro maravilhoso. — Suzana comenta.
— Muito, se o gosto for pele menos a metade que é o cheiro, a comida
estará divina. — Patrick diz.
— Acredite, o gosto estará melhor. A Sra. Bennet é uma cozinheira de
mão cheia.
Então o jantar é servido e Patrick e Suzana podem comprovar que eu
falava muito sério. A comida estava espetacular como sempre.
— Ah Patrick, deixe-a tomar um gole de vinho. — Digo ao meu amigo
quando ele não deixa sua irmã experimentar o excelente vinho que
escolhi para o jantar.
— Sim, só uma taça. — Suzana pede.
— Meia taça, e só. — Ele diz lhe dando aquele olhar severo de irmão
mais velho e por um momento sinto uma saudade enorme de Holly.
Mamãe está certa, tenho que visita-la com mais frequência.
Suzana prova o vinho e sorri.
— Delicioso. — Ela toma todo o conteúdo de sua taça e eu a reabasteço
antes que Patrick possa dizer algo.
— Se não fosse por sua mulher misteriosa, diria que está tentando
embebedar minha irmãzinha. — Patrick diz e ri.
Estou pronto para lhe dar uma resposta à altura, mas sou interrompido
quando Suzana sem querer deixa derramar quase todo o vinho em seu
vestido claro.
— Ah droga, meu vestido novo! — Ela exclama se levantando
rapidamente e tentando limpar a mancha com o guardanapo, o que só
deixa-a pior.
— Não tente limpar, se não vai ficar pior. — Digo.
— Não acredito, esse vestido é novo e muito caro, agora é inútil. — Ela
diz tristemente.
— Calma, se agirmos rápido pode ser que tenha salvação. Tire o vestido
que eu peço para a Sra. Bennet tentar dar um jeito nisso, ela conhece
vários truques domésticos para tirar manchas. Uma vez derrubei vinho
no tapete, e ela tirou facilmente.
— Tirar o vestido? E você quer o que, que ela fique nua? — Patrick
pergunta levantando a sobrancelha, me questionando.

263
— Claro que não. Venha, Suzana. Vou lhe emprestar alguma roupa
minha enquanto a Sra. Bennet cuida do seu vestido. — Digo
levantando-me e ela timidamente me segue.
— Sinto muito mesmo, Justin. Sou uma atrapalhada. — Ela diz com as
bochechas coradas de vergonha.
— Não se preocupe. — Dou-lhe um sorriso simpático. — Acidentes
acontecem.
Levo-a até meu quarto e por um segundo me pergunto se Savannah se
importaria se eu emprestasse alguma roupa sua para Suzana, mas
decido que é melhor não, afinal são suas roupas e ela não está aqui
para consentir, então pego uma calça de moletom com elástico e uma
camisa minha e entrego para ela.
— Pode vestir isso, é meu e provavelmente ficará grande, mas é só até
limparmos seu vestido.
— Muito obrigada, Justin. E desculpe, de novo.
— Sem problemas. Fique a vontade. Mas troque-se rápido para ter mais
chances de salvar seu vestido.
— Tudo bem. — Ela diz.
Fecho a porta do quarto e volto para a companhia de Patrick. Assim que
me sento na mesa de jantar, escuto uma batida na porta.
“Quem será?”
— Só um minuto, Patrick. Com licença. — Digo e vou receber a pessoa
inesperada.
Quando abro a porta, me pegando desprevenido pois não esperava vê-la
essa noite, Savannah me encara com um sorriso largo e um pouco
safado no rosto. Seus olhos brilham com excitação, e por um momento,
a visão do seu belo rosto me deixa sem palavras.
— Oi, Justin.
— Savannah? O que você está fazendo aqui? — Pergunto confuso pois
achei que ela ficaria até tarde em Austin fazendo compras.
— Voltamos mais cedo. Isso é para você. — Ela diz e só agora percebo
que carrega um prato envolto em papel filme e cheio de biscoitos com
gotas de chocolate e que parecem deliciosos.
— Eu disse que iria te compensar por você ter comido aqueles biscoitos
horríveis anos atrás. Queria lhe fazer uma surpresa, está surpreso? —
Ela pergunta ainda sorrindo como se estivesse tramando algo.
— Bem, estou. Não esperava vê-la hoje à noite. — Mas não estou
reclamando, de forma alguma.
— E eu tenho outra surpresinha para você, embaixo da minha rou... —
Savannah se interrompe bruscamente e olha para além de mim, seu
sorriso morrendo nos lábios e o brilho do seu olhar se apagando.

264
Olho para trás e vejo Suzana vinda da direção do meu quarto, usando
minha calça e minha camisa, que ficam enormes nela, e seu vestido
manchado nas mãos.
— Ah, pelo visto você já tem companhia. — Ela diz com rancor, sua voz
trêmula.
Olho novamente para ela para pergunta-lhe o que ela quis dizer com
isso, e me deparo com seus olhos cheios de lágrimas.
— Bom, não quero atrapalhar a sua diversão. Adeus. — Ela empurra o
prato na minha direção, e se eu não tivesse bons reflexões ele teria se
espatifado no chão, se vira e sai andando tão rápido que praticamente
está correndo.
Depois de um segundo tentando entender o que acabou de acontecer
aqui, minha ficha caia. Olho para Suzana vestida com as minhas
roupas, vinda do meu quarto e que me olha com confusão no olhar.
“Ah merda, Savannah achou que eu e Suzana...Porra”.
— Segura aqui. — Dou o prato com os biscoitos que Savannah fez para
mim para Suzana e saio correndo do apartamento.
Não posso deixar Savannah pensar que alguma coisa estava
acontecendo entre Suzana e eu. De repente a ideia de ela achar que eu
estava dormindo com outra me causa náuseas. E medo.
Se ela soubesse que eu só tenho olhos para ela. Olhos e todo o resto,
tudo é só dela.
— Savannah, espera, eu posso explicar. — Grito, mas é tarde demais.
As portas do elevador se fecham com ela dentro, só tive tempo de ter
um vislumbre de seu rosto manchado por lágrimas. Caralho.
Quase quebro o botão chamando o elevador, quando ele finalmente
vem, aperto o botão do térreo e juro por Deus, esse elevador nunca
pareceu tão lento. Por sorte ele não parou em nenhum andar.
Saio para a recepção e procuro por ela, mas não consigo acha-la. Um
desespero angustiante começa a tomar conta de mim, como aqueles que
precedem algo de muito ruim.
Preciso acha Savannah e dizer que ela entendeu tudo errado.
Percebendo que ela não está mais por aqui, saio correndo para fora do
prédio. Graças a Deus consigo acha-la. Ela está tentando colocar as
chaves na porta do carro, mas posso ver que suas mãos tremem.
Vou correndo até ela, desesperado para esclarecer o mal entendido.
— Savannah, espere, por favor.
Quando ela escuta minha voz, se vira imediatamente, e sua expressão é
um misto de raiva e magoa.
— O que você está fazendo aqui? Devia estar lá em cima com
sua...Amiga. — Ela diz fazendo uma careta.

265
Paro na sua frente e me corta o coração ver seu rosto manchado pelas
lágrimas.
— Você entendeu tudo errado, me deixe explicar. — Imploro com o
coração batendo a mil por hora em meu peito.
— Eu entendi tudo perfeitamente. Eu não estaria na cidade para te
divertir então você achou outra, não é? Tudo bem, se é isso que você
quer, vá em frente. — Ela diz com magoa e percebo que tenta se
controlar para não chorar mais, mas seu lábio treme e seus olhos se
enchem com mais lágrimas não derramadas.
— Não, Savannah. Não é nada disso que você está pensando. Suzana e
eu não...
— Quer saber? — Ela me corta, parecendo muito furiosa agora. — Eu
achei que a gente tinha combinado que seriamos exclusivos, mas acho
que eu fui muito idiota de achar que você se contentaria em ficar só
comigo.
— O que? Não, não Savannah. Me deixe explicar.
— Não tem nada para ser explicado. Eu cansei disso, Justin. Eu cansei
desse nosso lance, cansei de aceitar as migalhas da sua atenção, cansei
de me machucar e me iludir achando que algum dia você pudesse
mudar, e eu definitivamente cansei de sentir o que eu sinto por alguém
como você, que nunca vai corresponder aos meus sentimentos. — Ela
está praticamente berrado. Ela se vira para entrar em seu carro, mas eu
a seguro pelo braço ainda me sentindo tonto com suas palavras.
Ela disse o que eu acho que disse? Eu imaginei a parte em que ela
gritou e admitiu que tem sentimentos por mim?
Ah meu Deus, acho que não consigo respirar.
— O que você disse? — Pergunto desesperado para que ela repita, mas
ela não diz nada.
Seguro seu outro braço e a puxo para perto de mim, aproximo meu
rosto do seu e luto para controlar essa onda de sentimentos que bate
fortemente em mim, vinda de todos os lados.
— O que você disse, Savannah? — Minha voz sai mais aguda devido ao
desespero.
— Que eu estou cansada do nosso lance. — Ela responde, apesar da
raiva e da magoa ainda estarem lá, sua voz vacila.
— Não, a outra coisa, sobre sentimento. O que você quis dizer? — Falo
rápido, minhas palavras atropelando umas as outras. Preciso que ela
repita, preciso saber se eu imaginei aquilo, se eu interpretei mal suas
palavras, ou se ela realmente quis dizer o que eu acho que ela disse.
— Nada, não foi nada. Agora não importa mais. — Ela diz aparentando
estar um pouco mais calma, mas as lágrimas escorrem livremente pelo
seu rosto.

266
— Ah Savannah... — Sinto meus próprios olhos lacrimejarem e o peso
do meu amor por ela esmagar meu coração. Assim tão perto dela, a
única coisa que eu quero é beija-la e abraça-la tão apertado e nunca
mais solta-la. Eu não aguento mais isso. — Se você não tem nada a me
dizer sobre sentimentos, eu tenho. Eu estou cansado também, sabe?
Cansado de mentir, de guardar esse segredo. Eu não me importo mais
se você não sente o mesmo, não me importo com seu irmão ou nossas
famílias. Eu simplesmente não aguento mais guardar algo tão grande e
poderoso dentro de mim, isso está me consumindo, eu tenho vontade de
gritar para o mundo todo ouvir.
— Do que você está falando? — Ela me olha confusa.
— Eu te amo. — Falo de uma vez. Seus olhos se arregalam e sua boca
abre em espanto. Sinto um alivio tão grande por finalmente admitir isso
em voz alta, que um sorriso se forma em meus lábios.
Afrouxo um pouco o meu aperto em seus braços, já que ela não está
mais se debatendo, e puxo-a para mais perto, nossos corpos
pressionados um contra o outro.
— Eu te amo com todo o meu coração, com toda a minha alma. Eu te
amo com todas as forças do meu ser, com cada suspiro, com cada
pensamento, com cada fôlego. Cada pedacinho de você, eu amo por
inteiro. Eu amo tudo o que você toca, tudo o que você ama, tudo o que
você pensa, tudo o que você é, eu amo o mundo só porque você está
nele. Eu amo você, Savannah, e não quero ninguém além de você. —
Sinto uma lágrima escorrendo por minha bochecha. —Tudo o que está
em meu coração e em meus pensamentos é você, você meu amor, você e
mais ninguém. E não quero que sejamos amigos com benefícios, que
tenhamos um lance ou nada disso. Eu quero você para mim e só para
mim, eu quero que você seja minha, quero ter um relacionamento sério
com você como eu nunca quis nada em toda a minha vida. Eu quero
você, eu preciso de você. — Minha voz falha, quase não consigo ver
Savannah e sua reação devido as lágrimas que agora escorrem
livremente de meus olhos. Mas ela parece chocada, isso eu posso
garantir.
— Mas...Mas eu...Eu achei que você não sentia esse tipo de coisa, e
aquela mulher lá em cima...Ela estava...
— Não é nada disso que você está pensando. Suzana é a irmã de um
amigo meu, amigo que aliás está lá em cima também, ele veio me visitar
e estávamos jantando. Ela derramou vinho em seu vestido e eu lhe
emprestei algumas roupas, só isso. — Limpo as lágrimas de meu rosto
com uma mão, mas continuo segurando-a por perto com a outra, e
então limpo suas lágrimas e aproveito para acariciar seu lindo rosto.
— E você está certa, eu não sentia esse tipo de coisa. Não até pouco
tempo atrás, não até começarmos a nos envolver e eu me apaixonar
perdidamente por você.
Ela começa a balançar a cabeça e posso ver que está se esforçando para
entender tudo o que eu lhe disse.

267
— Eu sei que você ainda ama Vince, mas ele não presta Savannah, e se
você me der uma chance eu juro que eu...
— Eu não amo Vince. — Ela me corta e diz com confiança.
— Não? — Pergunto. Agora eu que estou confuso. É claro que ela o
ama, eu vi como ela ainda se importa com ele.
— Não, eu não o amo, Justin.
— Mas...E aquela noite, eu vi você sofrendo por ele, eu achei que...Você
estava tão mal e eu achei que... — Agora é a minha vez de não
conseguir formular uma frase decente devido à confusão.
— Não. Aquilo que aconteceu, o modo como eu me comportei...Não teve
nada a ver com o que eu sinto por Vince, tinha a ver com o que
eu sentia. É complicado e não tem importância, o que importa agora é
que, eu não amo Vince, eu amo você, Justin.
Tudo bem, esse deve ser mais um daqueles meus sonhos super
realistas em que ela diz que me ama. Não posso acreditar que seja real,
tudo o que eu tenho sonhado há semanas é ouvi-la dizer que me ama.
Ela realmente disse isso? Meu Deus, não consigo falar, não consigo me
mover, não consigo nem respirar.
Tenho medo de fazer qualquer coisa que possa me acordar desse sonho.
Eu não quero acordar, quero ficar nesse lugar para sempre, um mundo
de sonhos onde Savannah acabou de confessar que me ama.
— Você ouviu o que eu disse? Você está me ouvindo, Justin?
— Diga de novo. Diga, por favor. — Seguro seu rosto com ambas as
mãos e imploro com lágrimas de felicidade transbordando de meus
olhos. — Diga que você ama, por favor.
— Eu te amo, Justin. Eu estou completamente, perdidamente e
irrevogavelmente apaixonada por você. E eu quero ser sua tanto quando
você quer que eu seja.
Ah meu Deus! Sinto uma descarga tão grande de alivio, euforia e pura
felicidade que sinto meus joelhos vacilarem por um segundo.
— Ah Savannah. Você não sabe o quanto eu sonhei em te ouvir dizendo
isso, baby. Eu também te amo, muito, muito, muito. — Digo-lhe e sem
demora aproximo nossos rostos e junto nossos lábios.
Deixo que toda a alegria e amor que estou sentindo passem de mim
para ela, através de nossos lábios.
Sinto tanta paixão emanando dela quanto de mim mesmo. É tão
mágico, tão puro, tão verdadeiro.
Eu nunca me senti tão bem e tão feliz em toda a minha vida. Sinto
como se tivesse passado todos esses 29 anos em um martírio, e agora
estivesse finalmente livre. Finalmente vivo.

268
Agarro Savannah e a espremo contra mim, agarro-a, acaricio-a e a beijo
freneticamente. E ela, tão igualmente desesperada, me abraça forte e
devora minha boca com paixão.
Quando ficamos sem fôlego, nos afastamos somente o suficiente para
deixarmos um pouco de ar entrar em nosso pulmões e voltamos a nos
beijar ferozmente.
E ficamos assim não sei por mais quanto tempo, e sinceramente não me
importo com mais nada, nem com Patrick e Suzana me esperando lá em
cima, nem com as pessoas na rua, nem com as pessoas que não
aprovarão nosso amor, nem com Vince e nem com ninguém.
A única pessoa que importa é ela. Ela, e somente ela.
“Savannah me ama, ela realmente me ama!”

269
Nosso amor vale a pena
Justin
— Eu te amo. — Digo pela milionésima vez, e digo de coração.
Não sei, mas sinto como se todos esses ‘eu te amo’ não ditos ao longo
desses anos, estivessem desesperados para se libertarem. Estou
bombardeando Savannah com uma enxurrada de palavras e gestos
carinhosos, e para minha felicidade, ela não parece se importar.
Depois da nossa declaração e de me livrar dos meus convidados na
sexta à noite, eu “raptei” Savannah e nós dois ficamos o final de
semana inteiro juntos, trancados em meu apartamento.
— Eu também te amo. — Ela responde e dá um beijo em meu peito nu,
depois volta a se deitar em meu braço e eu não consigo tirar esse
sorriso bobo da minha cara, e não tenho certeza se eu ao menos quero.
Estou me sentindo tão bem e tão feliz.
Aperto meus braços em volta do seu corpo quente e delicado e beijo
seus cabelos. Ficamos em silêncio por vários minutos seguidos, mas
não precisamos mais tanto de palavras, nossas caricias, beijos e
sorrisos falam por si só.
Savannah começa a rir sozinha e eu lhe pergunto o que é tão
engraçado, ela me diz que não é nada.
— Conta, o que foi? — Pergunto quando ela ri de novo.
— É só que...Não era para eu me apaixonar, lembra? — Ela diz e eu
posso sentir o sorriso em seus lábios.
Eu sorrio ao me lembrar daquela noite em que eu lhe fiz aquela
proposta e deixei claro que nenhum sentimento amoroso poderia surgir
da nossa relação casual, o que na época parecia algo absurdo para
mim, e tenho certeza que para ela também. Ela garantiu com tamanha
veemência que não corríamos esse risco, e eu sabia, ou pelo menos
achava que sabia, que aquilo não era um problema para mim também.
Mas aqui estamos nós, ambos descumprimos nosso acordo, e eu não
poderia estar mais feliz por isso.
— Fico contente que você tenha feito. — Digo acariciando levemente
suas costas.
— O que acontece agora? — Ela pergunta com um tom mais sério,
preocupado eu diria.
— O que você quer dizer? — Pergunto e ela levanta a cabeça, apoia o
queixo em meu peito e me encara com seus lindos e hipnóticos olhos
preciosos.

270
— O que acontece agora, com nós...
— Como assim o que acontece agora? Agora nós vamos ficar juntos,
muito juntos. E vamos contar para todo mundo que estamos
namorando.
— Você sabe que nossas famílias não vão reagir muito bem.
— Sei.
— E Seth provavelmente será o pior de todos. — Ela diz com pesar.
— Sei disso também, mas não importa, eu não posso mais ficar longe
de você. Gostaria muito de ter a aprovação de todos, principalmente de
Seth, mas eu não vou deixar nada atrapalhar essa felicidade que eu
estou sentindo. Nem mesmo meu melhor amigo.
Ela fica quieta e com o olhar distante, então uma pergunta muito
importante se forma em minha mente e eu a pergunto:
— E você, vai?
— Não, claro que não. Eu também quero muito ficar com você. Mas eu
tenho medo da reação de todos, eu os amo muito e não queria
desaponta-los.
Sinto um aperto no peito com suas palavras, o fato dela achar que me
namorar vai desapontar sua família me magoa um pouco, mas no final
ela está certa, se eu fosse Seth ou Mark, não iria querer um cara como
eu para ser o namorado de alguém como Savannah.
— Desculpe, eu não quis dizer assim... — Ela diz quando percebe
minha reação. — Eu não acho que ficar com você seja motivo par
desapontar meus pais, mas algo me diz que eles sim.
— Eu sei, eu não sou exatamente o melhor pretendente, alguém que
eles iriam querer para você. Eu entendo isso.
— Mas não importa. Eu te amo e quero ficar com você, vai ser
complicado, mas eles vão ter que acabar aceitando, porque eu não
quero mais ninguém. — Ela sorri carinhosamente e me beija. Suas
palavras me fazem sentir melhor, mas ainda sinto um certo desconforto
e sei que dias difíceis estão a caminho.
— Mas tem uma coisa. — Ela diz mordendo o lábio inferior.
— O que?
— Acho que devemos esperar o casamento de Jax e Kim e toda essa
crise no casamento do meu irmão passar, para só então contarmos para
eles sobre nós. — Ela diz com cautela, observando atentamente minha
reação, que não poderia ser diferente. Fico indignado.
— Mas claro que não. Savannah, eu quero contar para todo mundo
sobre nós o mais rápido possível. Essa semana ainda. Quero que o
mundo todo saiba que estamos juntos.
— Justin, não podemos jogar uma noticia dessas, que pode abalar a
relação entre nossas famílias, semanas antes do casamento do seu

271
irmão e quando o meu próprio irmão está passando por um momento
delicado com Jane.
— Olha, eu entendo que você esteja preocupada com a reação de todos
e também com o casamento de Seth e Jane, mas nós não podemos
colocar as necessidades deles na frente das nossas.
— Mas não estamos fazendo isso, Justin. Não estou falando para
mantermos nosso relacionamento em segredo para sempre, só por um
tempo, só até as coisas não estarem tão complicadas.
Quero dizer-lhe que isso é uma ideia absurda e que não faz sentindo,
quero convence-la que esperar é perda de tempo e que devíamos contar
tudo agora, mas minha frustração é tão grande que não consigo dizer
nada.
Savannah fica me encarando com seus olhos grandes e pedintes e sinto
todos os sentimentos ruins que nossa conversa me provocou irem
embora. Olhando seu rosto lindo, sentindo seu corpo junto ao meu.
Saber que ela me ama, bem, é isso que importa, eu sei que ela me ama
e ela sabe que eu a amo, os outros não tem importância para mim, pelo
menos por agora posso conviver com o fato de namorarmos em segredo,
eu acho. Posso tentar.
— Tudo bem. Se é isso que você quer, então manteremos tudo em
segredo.
— Obrigada. — Ela abre um sorriso largo.
— Mas... — Digo em um tom de alerta. — Não por muito tempo, ok?
— Ok.
— Agora vem cá. — Puxo seu corpo para cima do meu e junto nossas
bocas para mais um beijo apaixonado.

Savannah
— Sis, onde é que você esteve esse final de semana? Estou tentando
falar com você e não te encontro. — Shanon me diz e me dá um beijo no
rosto, depois se senta na minha frente na mesa do barzinho.
— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto encarando-a e tentando
decifrar sua expressão.
— Aconteceu muita coisa. Eu fui passar o final de semana em Wills
Point para finalmente conversar com papai e mamãe para que eles
conheçam o Miguel, ele já está me enchendo com isso e quer conhecer
nossos pais logo. Mamãe marcou um jantar lá em casa, amanhã, e eu
quero que você vá, ok?
— Mas é claro que eu vou. — Digo um pouco magoada que ela tenha
pensado que eu poderia me recusar a ir. — Mas você não está toda
agitada desse jeito só porque queria me contar sobre o jantar, não é?
— Não, tem outra coisa, uma bem menos agradável.
— O que foi?

272
— É Seth e Jane. Eles foram almoçar lá em casa no sábado, o clima
entre eles estava tenso, mas até aí tudo bem. Acontece que do nada eles
começaram a brigar, tipo, brigar mesmo. Eles gritaram e Seth até
quebrou algumas coisas. Mamãe ficou furiosa com ele.
— Meu Deus, isso é uma merda. — Sinto um aperto no coração pelos
dois. O que será que está acontecendo, eles sempre foram tão
carinhosos, amorosos e apaixonados.
— Foi um horror, nunca vi Seth tão bravo e revoltado. Mas o que mais
me assustou foi Jane, nunca a vi daquele jeito, nem parecia ela.
Quando Seth começou a gritar com ela, ela ficou descontrolada,
começou a chorar e a gritar. Não sei não Savannah, acho que algo
muito sério está acontecendo com Jane e ela não está contando para
ninguém, nem para Seth.
— Você acha que pode ser verdade, quero dizer, que ela está traindo
ele? — Pergunto com medo. Apesar de eu acreditar com todas as
minhas forças que isso é impossível, que Jane nunca faria isso, ainda
tem aquela parte minúscula, aquela pontinha de duvida, que me faz
pensar “mas e se...”.
— Não, não acredito nisso e não entendo como Seth pode pensar que
isso seja uma opção. Ele jogou isso na cara dela durante a briga, ele
disse que ela estava traindo ele e era por isso que estava agindo tão
estranha. Ela parecia verdadeiramente indignada quando ele falou isso
e disse que era um absurdo. Mas então mais uma vez, ele perguntou se
não era isso, então porque todas as mentiras e os segredos sobre o que
ela vem fazendo nas últimas semanas. E ela não disse nada, é por isso
que eu acho que algo grave está acontecendo com Jane.
— Mas que droga, Shanon. Não tem nada que possamos fazer para
ajudar os dois? Estou muito preocupada com eles.
— Eu sei, eu também. Mas infelizmente não sei se podemos fazer
alguma coisa, papai conversou com Seth e mamãe com Jane, mas não
sei se vai resolver muita coisa.
— Queria tanto poder ajudar, me sinto tão impotente vendo Seth
sofrendo e não podendo fazer nada.
— Talvez, deveríamos conversar com Jane, tentar descobrir o que está
acontecendo com ela.
— Ou, talvez, devêssemos seguir ela numa dessas vezes que ela sai e
não diz para onde realmente está indo. Assim podemos descobrir de
uma vez por todas o que está acontecendo.
— Você acha? Seguir Jane, não é algo muito...Radical?
— Pode ser, mas se queremos mesmo ajudar...Não acho que se
conversarmos com ela, Jane vai nos contar o que está acontecendo, ela
não contou para ninguém, não vai contar para nós.
— Nisso você tem razão. Mas não sei, estaremos invadindo a
privacidade dela.

273
— É o único jeito de nós fazermos algo. É isso ou ficar sentada
esperando que os dois resolvam tudo sozinhos, mas aí pode ser tarde
demais.
— Não, tudo bem, você tem razão. Vamos fazer isso, vamos seguir Jane.
Pedimos uma bebida e alguns petiscos para comermos.
— Mas agora eu quero saber de você. Onde esteve o final de semana
inteiro que não atendeu nenhuma das minhas ligações? Mamãe me
perguntou o porquê você não foi para Wills Point comigo e eu não tinha
ideia.
A menção do final de semana meus lábios se abrem em um sorriso
involuntário, só de lembrar das palavras de Justin e do jeito carinhoso e
apaixonado que ele me tratou sinto um calor em meu peito.
— Pelo sorriso bobo no rosto, tem homem no meio. Deixe-me adivinhar,
Vince? — Ela pergunta e assim que escuto o nome de Vince, meu
sorriso morre e uma carranca se forma em meu rosto.
— Claro que não, porque você acha que é ele? — Pergunto emburrada e
Shanon parece momentaneamente surpresa por minha reação.
— Eu só achei que...Deixa para lá. Mas você passou o final de semana
com alguém, e se não é ele, quem é?
Sei que Justin e eu combinamos segredo sobre nosso relacionamento,
mas Shanon já sabe sobre nós, que tivemos um lance de sexo casual.
Ela ficou furiosa e preocupada, porque temia que eu me machucasse,
talvez se eu contar para ela que meus sentimentos são correspondidos,
ela mude de opinião e nos apoie. Seu apoio ajudaria muito na hora em
que formos contar para nossas famílias.
— Shanon, não surte ok? Mas eu passei o final de semana com Justin.
— Assim que digo seu nome sua expressão muda e percebo a raiva
começando a irradiar dela, ela me fuzila com os olhos e aponta o dedo
na minha cara.
— Você prometeu, você disse que iria ficar longe dele. Não acredito,
Savannah, porque você está fazendo isso consigo mesma? Você não vê
que ele...
— Ele me ama. — Digo bruscamente e ela para seu sermão e me olha
confusa.
— O que você disse?
— Ele me ama, Shanon. Ele se declarou para mim, e as coisas que ele
disse... — Um sorriso apaixonado surge em meus lábios. — Ele se
apaixonou por mim, sis.
— Justin se apaixonou por você? — Ela pergunta levantando uma
sobrancelha e soando descrente. Eu apenas balanço a cabeça.
— Justin? Justin Cord? Esse Justin?
— Que outro seria? — Pergunto rindo com sua reação.

274
— E ele disse com todas as letras que está apaixonado...Por você? —
Sua falta de fé que até então era engraçada, agora está me irritando
profundamente.
— Porque você acha tão difícil acreditar que ele se apaixonou por mim?
— Pergunto na defensiva.
— Não é isso, o que eu realmente acho muito difícil de acreditar é que
ele tenha se apaixonado, ponto.
De repente o mau humor vai embora, e a lembrança das palavras de
Justin naquela noite trazem o sorriso de volta aos meus lábios.
— Você tinha que ter visto como ele agiu comigo o final de semana
inteiro...
— Não tenho certeza que seja algo que eu gostaria de ter visto. — Ela
diz fazendo uma careta.
— Estou falando sério, Shanon. Aquele não era o Justin que achávamos
que conhecíamos. Ele foi romântico, carinhoso e não parava de falar
que me amava. — Digo quase saltando em cima de Shanon de tanta
felicidade.
Ela me olha com várias emoções confusas e demora até dizer algo
novamente.
— Me desculpa, mas eu não faço a mínima ideia do que pensar sobre
isso.
— Sei que é inusitado, mas eu estou tão apaixonado por ele, Shanon. E
eu vi nesse final de semana que ele sente o mesmo. Estamos
namorando e eu realmente gostaria do seu apoio.
— E o Vince? — Ela diz como se ele fosse sua última esperança. — Eu
odiava ele, mas com a perspectiva de você e Justin juntos...Bem, Vince
não parece tão ruim agora. — Meu queixo cai e a olho espantada.
— Você não pode estar falando sério.
— Entre as famas ruins que os dois tem, a de Vince é menor, além do
mais, acho que ele gosta mesmo de você.
Meu queixo cai de novo. Como ela pode falar isso?
— Não acredito que você está me falando isso. Vince é um canalha,
Shanon. — Minha voz sai estridente.
— Justin também. E não me olhe com essa cara, sinto muito dizer isso,
mas você sabe que é verdade. Eu amo o Justin, como um irmão, mas
ele definitivamente não é o cara que eu gostaria para você, sis. Na
verdade, nem Vince...Já o Ben é outra história, ele é lindo, inteligente,
do tipo fiel e romântico e ele já perguntou sobre você várias vezes e...
— Não. Ben de novo, não. Por favor.
— Savannah, ele é um fofo e eu sei que ele ficou muito impressionado
com você. Você devia parar de ignorar ele.

275
— Você deveria parar de me ignorar. Shanon, você não ouviu uma
palavra do que eu disse? Eu amo Justin, ele me ama e nós começamos
a namorar. Quer você, Seth ou qualquer outro goste ou não.
— Que seja, eu só estou preocupada com você. Mas pelo visto não
existe nada que vá fazer você enxergar as coisas como elas são, uma
pena. Como sua irmã, é meu papel te alertar quando eu acho que você
está fazendo uma burrada, assim como é meu papel te apoiar se você
não me der ouvidos. Então, eu só posso desejar que ele esteja sendo
sincero, e que não vá te magoar. — Ela faz seu discurso impaciente, se
reclinando na cadeira e parecendo frustrada, como se estivesse falando
com uma criança.
— Muito obrigada, sis. —Digo, sentindo como se um peso tivesse sido
retirado de meus ombros. Alcanço sua mão por cima da mesa e a
seguro, lhe dando um sorriso agradecido.
— Como é que você pretende contar?
— Na verdade, você será a única a saber por uns tempos. Decidimos
não falar nada, por causa do casamento da Kim e desse problema com
Seth e Jane.
— Sei, isso foi ideia dele? — Ela pergunta e posso ver as desconfianças
e as acusações se formando em sua mente.
— Não, foi ideia minha. Por ele, gravaríamos uma mensagem falando
sobre nosso namoro e tocaríamos pela cidade toda no alto falante de um
carro. — Me lembro da sua reação a minha ideia de manter tudo
escondido por um tempo. Ele parecia tão afoito em contar tudo, como se
com medo de explodir com a pressão do nosso segredo.
— Sério isso?
— Sim, é isso que eu estou tentando te falar, sis. Quando você ver o
jeito dele, você vai acreditar, não tem como ele estar mentindo sobre o
que sente por mim. Estou tão feliz. — Minhas bochechas doem de tanto
sorrir, mas não consigo parar.
— Bem, acho que vou ter que ver esse milagre com os meus próprios
olhos. Mas eu realmente espero que você esteja certa e eu errada. Quero
tanto que você seja feliz, sis.
Ela diz mas eu vejo a desconfiança e incredulidade brilhando em seu
olhar. Ela vai ver. Ela vai ver que Justin está sendo sincero.
Ele me ama. Eu senti isso em seus beijos e no jeito que ele me olhou.
Eu vi as lágrimas escorrerem por seu rosto enquanto ele abriu seu
coração para mim.
“Ele me ama, ele me ama e ele me ama.”
Ai que vontade de sair pulando e cantando por aí.

Justin
— Bom dia.

276
— Bom dia, Sr. Cord.
— Bom dia, Diana.
— Bom dia, Sr Cord.
Entro no elevador e assim que saio no andar do meu escritório vejo Mia,
minha secretária, trabalhando em sua mesa.
— Bom dia, Mia. — Digo com o mesmo sorriso de orelha a orelha com o
qual eu cumprimentei qualquer pessoa que passou por mim hoje.
Mia me olha surpresa, mas logo faz questão de disfarçar. Eu nunca fui
um chefe ruim, mas também nunca fui daqueles caras sorridentes que
parecem sempre de bem com a vida e de bom humor. Com certeza eu
estou parecendo ser um deles hoje.
Mas como poderia ser diferente? Estou mais feliz do que em toda a
minha vida.
— Bom dia, Sr. Cord. Como está?
— Estou ótimo, perfeito. E você? — Ela parece ser pega de surpresa de
novo pela minha resposta animada.
— Tudo ótimo. — Ela me dá um sorriso tímido. — Esses são seus
recados dessa manhã. — Ela me entrega alguns papeis com nomes e
números de telefone para que eu retorne as ligações.
— Muito obrigado, vou cuidar disso agora mesmo. — Digo e vou até
minha sala.
Retiro meu paletó e penduro na cadeira, sento-me a frente de minha
mesa e o sorriso continua em meu rosto.
Savannah. É tudo por causa dela. Meu Deus, como é bom estar
apaixonado, eu não fazia ideia que o sentimento de gostar de alguém e
ser correspondido fosse tão descomunalmente grande e capaz de fazer
alguém se sentir assim, a sensação é tão boa que pode ser comparada a
se estar drogado.
Sinto-me bem, feliz, eufórico, agitado, com o coração batendo rápido
toda vez que eu penso nela.
Quer saber, preciso falar com ela, ouvir sua voz. Pego meu celular e ligo
para Savannah.
— Alô?
— Oi, linda. — Me reclino na cadeira sentindo meu corpo todo se
arrepiar com o simples som de sua voz.
— Ah, oi...Ann...Rebeca. — Ela diz com a voz estranha.
“Rebeca?”
— Ah, você está com alguém conhecido por perto, não é? — Digo
entendendo a situação.
— Isso mesmo, estou com Kim e Shanon experimentando pela última
vez o vestido de dama de honra.

277
— Ah entendi. Será que podemos almoçar juntos hoje?
— Sinto muito, Rebeca, mas acho que vou acabar almoçando com as
meninas. — Posso sentir por sua voz que Savannah está desconfortável.
— Ah, tudo bem. — Digo e não escondo meu desânimo. — Mas nos
vemos hoje a noite, não é?
— Claro.
— Ótimo, porque já estou com saudades.
— Eu também.
— Tudo bem, vou ir trabalhar e deixar você experimentar seu vestido.
Até mais tarde, te amo.
— Sim, até mais tarde, um beijo.
Desligo e jogo o celular em cima da mesa. O sorriso, ao pensar me
Savannah, ainda está em meu rosto, o sentimento maravilhoso ainda
aquece meu peito, mas esse súbito desespero de querer estar perto dela
está me consumindo, me provocando uma sensação ruim de urgência.
É tão estranho, nunca tive tanta vontade de ver e estar com alguém,
acho que é uma sensação boa e ruim ao mesmo tempo.
Passo pela manhã de trabalho com um único desejo em minha mente e
coração; Que a noite chegue logo e eu possa ver Savannah.
Apesar da ansiedade que eu venho sentindo, consigo me concentrar nas
obrigações que tenho e até consigo passar pelas partes chatas e
burocráticas sem estragar o meu humor.
Bem, isso até Mia me dar uma noticia que acabaria com o bom humor
de qualquer homem sensato.
— Sr. a senhora Thompson está aqui e gostaria de vê-lo. — Mia diz ao
telefone.
Sinto o meu bom humor me escapando pelos dedos e solto um
xingamento depois de desligar o telefone e autorizar a entrada de Eva.
Segundo depois, Mia abre a porta e Eva, vestida em um terninho feito
sobre medida, entra com sua presença prepotente de sempre. Acho que
certas coisas nunca mudam.
Faço um maneio de cabeça para que Mia nos deixe a sós, ela fecha a
porta deixando apenas Eva e eu.
— Sra. Thompson. — Digo e não podia me sentir mais desconfortável.
Não sei se devo levar em consideração nossa intimidade do passado e
chama-la de Eva ou não, então opto pela formalidade. E pela sua
gargalhada foi a opção errada.
— É bom saber que você ainda consegue me fazer rir depois de tantos
anos. — Ela diz vindo em direção as duas cadeiras em frente a minha
mesa, e se senta em uma delas.
— Como tem passado, docinho? — Pergunta cruzando as pernas.

278
— O que você quer, Eva? — Pergunto desistindo do tratamento formal.
— Vim convida-lo para almoçar hoje, para falarmos de negócios.
— Seu marido vai também? — Pergunto desconfiado.
— Carlson está ocupado hoje, então será somente eu e você. — Ela diz
com um sorriso sugestivo.
— Obrigado, mas creio que terei que recusar sua oferta. Não acho uma
boa ideia ficarmos sozinhos.
— Porque, tem medo de não resistir a mim? — Pergunta empinando o
nariz e é minha vez de gargalhar.
Ela continua maravilhosa, é verdade, mas não me atraí como quando
eu era novo e irresponsável. Agora eu tenho Savannah, muito mais
linda e perfeita.
— Não se preocupe, tenho um bom controle sobre mim mesmo.
— Então venha almoçar comigo. Precisamos conversar sobre sua
proposta, você precisa me convencer, porque Carlson não vai fechar
contrato nenhum sem a minha aprovação.
— Você está brincando, não é?
— Não, falo muito sério. Além de ser sua advogado sou sua esposa, ele
sempre pede minha opinião, tanto profissional como pessoal, sobre seus
negócios.
— Não dá para acreditar. — Digo encarando-a incrédulo.
— Nunca ouviu falar que atrás de um grande homem sempre há uma
grande mulher?
— Não quero almoçar com você, mas se é para falar sobre essa parceria
acho que não tenho escolha.
— E não tem mesmo. — Um sorriso lento e vitorioso surge em seus
lábios.
— Muito bem, então vamos. — Digo. Meu bom humor todo indo para o
ralo.

Savannah
— Estou me sentindo a personagem principal em um filme de
espionagem muito ruim. — Digo para Shanon.
— Uma das personagens principais você quis dizer, não é?
— Estou com medo do que vamos descobrir. — Confesso enquanto
esperamos escondidas dentro do carro, que Jane saia do mercado.
— A essa altura, eu só quero é descobrir o que está acontecendo. Se for
coisa boa ou não, depois a gente lida com isso, só sei que não podemos
deixar que eles continuem brigando e se afastando cada vez mais.
— Eu sei, mas...Olha, a Jane está saindo. — Digo quando a vejo saindo
do mercado com várias sacolas de compras.

279
Shanon liga o carro e esperamos alguns segundos até sair do
estacionamento e continuar seguindo Jane.
— Tem certeza que ela não vai ver o nosso carro indo trás dela, não é?
— Não se preocupe, estou mantendo uma boa distância.
Além do mercado, Jane parou na farmácia e em algumas lojas, não se
encontrou e nem falou com ninguém. Quando pegou a única estrada
que liga Dallas a Wills Point, concluímos que ela estava voltando para
casa e paramos de segui-la.
— Acho que teria sido fácil demais se tivéssemos descoberto o segredo
logo no primeiro dia. — Shanon diz como um consolo para nosso
fracasso.
— É. — Digo desanimada. Estou tão ansiosa para descobrir qual é o
problema de Jane, sei que não deveríamos estar nos metendo na vida
dela e de Seth, mas eu sinto que algo grave está fazendo Jane agir
dessa forma que não lhe é característica.
— Não desanime, sis. Vamos continuar de olho, e ei, talvez nem
precisemos nos envolver, vamos torcer para que eles acabem resolvendo
isso por conta própria. — Shanon diz, mas ambas sabemos, sentimos,
que a coisa é muito mais complexa do que isso.
Shanon guia o carro pelo campus até o estacionamento perto do seu
dormitório. Nos despedimos quando me afasto de seu carro.
— Não se esqueça do jantar para apresentar Miguel amanhã à noite.
— Pode deixar, estarei lá. — Digo e me viro completamente para o outro
lado, indo em direção ao meu próprio dormitório.
Chegando perto do familiar prédio de pedra com estilo gótico, vejo Vince
e na mesma hora me viro e começo a fazer o caminho oposto, torcendo
para que ele não perceba minha presença.
— Savy. — Não, não tenho sorte. Nunca pensei que fosse sentir isso,
mas já está me irritando essa perseguição de Vince, o cara está se
transformando em um verdadeiro stalker.
— Espera, Savy. — Escuto seus passos apressados e caminho mais
rápido, fingindo que não é comigo.
— Hey, espera. — Ele entra na minha frente, me fazendo parar
abruptamente para não trombar nele.
— Me deixe em paz, Vince, eu já disse que aquele lance de tentarmos
ser amigos já era. Me esquece. — Digo sem receio de ferir seus
sentimentos, isso é, se ele de fato sente algo por mim, o que eu duvido,
se não ele teria dado mais valor ao nosso relacionamento ao invés de
sair me traindo por aí.
— Eu já disse que não consigo. — Ele diz tentando parecer apaixonado,
mas só conseguindo me deixar mais impaciente ainda. Reviro os olhos e
passo por ele, mas ele segura meu braço me fazendo parar.

280
— Você não foi ao jogo, você disse que iria mas não foi. Nós perdemos.
— Eu fiquei sabendo. — Digo friamente.
— Eu disse que sua presença me dava sorte.
— Agora é culpa minha que vocês perderam, é? — Digo me virando para
ele e cruzando os braços.
— Não, claro que não. Eu só...É que...Olha, Savy, eu te amo, ok? Não
sei mais o que eu posso fazer ou falar para te provar isso.
— Ah, você já fez demais, pode ter certeza. — Digo sarcasticamente.
Vejo magoa em seus olhos, e por um segundo apenas, sinto pena. Mas
ela logo vai embora.
— O que eu posso fazer, me diga, eu faço qualquer coisa para ter você
de volta...Qualquer coisa.
— Vince, olha...Eu estou namorando, ok? Eu segui em frente, e acho
que você deveria fazer o mesmo. — Vejo magoa, tristeza, ciúmes e raiva
passarem por seu rosto.
— Namorando? Com quem? — Ele assume uma postura que até me dá
um pouquinho de medo.
— Com... — Tudo bem, meu namoro com Justin era para ser segredo.
Merda, você e essa boca grande, Savannah. — Não te interessa com
quem.
— Não precisa dizer nada, eu já faço ideia de quem seja...Parece que
aquela cara não ouviu meu conselho, não é? Acho que vou ter que dar
uma surra nele de novo. — Vince diz ameaçador.
— Ah, me poupe. Você o pegou desprevenido. — Repito o que Justin
havia defendido com tamanha veemência naquela noite. Ele garantiu
que se não fosse o elemento surpresa, ele teria acabado com Vince. —
Esse é o único motivo de você ter conseguido acerta-lo. Agora, me deixe
em paz, ok? Eu e o Justin. Estou falando muito sério, Vince. — Digo
fazendo a cara mais seria que consigo e vou embora, dessa vez para
meu alívio, ele não me segue ou tenta me impedir.
“Meu Deus, esse cara precisa de uma namorada. E rápido.”

Mal digo oi quando a porta se abre, e Justin me agarra e me puxa para
dentro. Sua boca vem desesperada de encontro com a minha, como se
não nos beijássemos há semanas.
— Meu Deus, o que é isso? — Pergunto sem fôlego quando ele
finalmente dá uma trégua a minha boca e começa a depositar seus
beijos apaixonados por toda a extensão de meu pescoço.
— Senti sua falta. Preciso de você para salvar meu dia.
— O que aconteceu? — Pergunto aproveitando de suas caricias e
envolvendo seu corpo com meus braços.

281
— Problemas na empresa. Uma certa pessoa querendo ferrar com meu
contrato com a Thompson Reuters Company. — Sua voz sai estranha e
abafada por que sua cabeça está enterrada em meu pescoço.
— Qual o proble... — Começo a perguntar, mas sua boca volta a atacar
a minha.
— Não quero falar disso agora, não quando tenho você em meus braços
e uma utilidade muito melhor para minha boca.
Justin me arrasta em direção ao sofá da sua sala, sem nunca quebrar o
contato entre nossos corpos e nossa boca.
Suas mãos viajam freneticamente pelo meu corpo, me apalpando, me
acariciando e me apertando.
Minhas mãos também viajam por seu corpo, sinto os músculos do seu
peito forte e os gominhos do seu abdômen sarado, depois escorrego
minhas mãos até sua bunda perfeita e aperto com força, o que faz com
que Justin solte um grunhido primitivo e cheio de desejo.
Ele me joga no sofá e agarra minhas pernas, num movimento tão rápido
que parece ensaiado, Justin tira minha calça e minha calcinha.
Quando o vejo se ajoelhando diante do sofá, começo a tremer em
antecipação. Ele segura minhas coxas e me obriga a abrir minhas
pernas o máximo possível.
Normalmente ele gosta de me provocar, começando suas caricias com a
boca bem devagar, mas não dessa vez. Ele enterra sua cabeça entre
minhas pernas e assim que sinto o primeiro contato de sua língua
contra meu sexo, solto um grito misturado com gemido.
“Isso é bom demais.”
Como tudo que Justin faz, ele é o melhor. Ele faz os movimentos certos,
na velocidade certa e nos pontos certos, não podendo me provocar outra
reação se não me agarrar ao sofá e gemer sem pudor algum.
Enfio meus dedos em seus cabelos escuros e macios e os puxo diante
da intensidade do meu prazer. Os barulhos provenientes do que sua
boca está fazendo comigo são tão eróticos, tão excitantes, que
juntamente com as caricias de sua língua morna, me levam até a borda.
— Justin...Vou gozar. — Gemo para ele.
Justin intensifica as lambidas e os chupões e sinto meu orgasmo
desabrochando lindamente como uma flor na primavera, e me atingindo
com força suficiente para me deixar sem ar.
Arqueio as costas, abro a boca em uma suplica gloriosa e silenciosa e
vejo tudo ao meu redor fora de foco. Meu corpo treme e meu coração
bate acelerado, logo aquele bem estar pós-orgástico domina meu corpo
e sinto todos os meus músculos relaxando.
Fecho os olhos e tento fazer o ar voltar a entrar normalmente em meus
pulmões.

282
“Caramba, esse foi dos bons!”
Claro que com Justin, todos os meus orgasmos são de me fazer querer
subir pelas paredes, mas tem vezes que eu acho que ele consegue se
superar.
Quando escuto o barulho de um zíper se abrindo, espio com um olho e
vejo Justin já completamente nu vindo para cima de mim.
Seu corpo se encontra com o meu, me cobrindo como um cobertor
quente e muito gostoso. Sua boca captura a minha e a ponta de sua
ereção se encaixa em minha entrada.
— Eu te amo, Savannah. — Ele sussurra para mim e então me penetra,
mas apenas um pouco.
— Eu te amo. — Ele repete e me penetra mais um pouco. Sua ereção
me invadindo dolorosamente devagar.
— Eu te amo, eu te amo, eu te amo... — Quando ele está todo dentro de
mim, Justin fecha os olhos com força e solta um gemido.
— Deus, eu queria ficar aqui para sempre. Você é o paraíso,
o meu paraíso. — Seus olhos azuis tão lindos se abrem e me encaram
com tanto amor que sinto um arrepio percorrer meu corpo e uma
sensação estranha, porém gostosa, se acomodar em meu estômago.
— Eu te amo, Justin. — Digo e percebo que minha voz sai rouca pela
emoção. O que está acontecendo aqui é tão simples, mas eu juro que
sinto o amor de Justin irradiando até mim, e ele é tão poderoso. Sinto
algo em meu coração que me faz ter vontade de chorar.
É como se algo dentro de mim estivesse despertado pela primeira vez. A
percepção assustadora do que eu sinto por Justin é algo além da minha
capacidade de compreensão, algo além do que se é possível exprimir em
palavras, e mesmo assim, diante de algo tão grande a apavorante, me
sinto leve, em paz.
Sentindo Justin me penetrando lentamente, percebo o que ele está
querendo me dizer, mesmo sem as palavras exatas.
Não estamos transando, fazendo sexo ou qualquer outro nome que você
queira chamar. E também não estamos só fazendo amor, é muito além.
Estamos nos conectando, fundindo nossos corpos e nossos corações
para nos tornarmos um só.
Sentindo as investidas de Justin contra mim e os beijos apaixonados ao
longo do meu pescoço e meu rosto, e depois de perceber algo tão
importante sobre nossos sentimentos, não consigo mais controlar e
permito que algumas lágrimas escorram pelo meu rosto.
— O que foi, meu amor? — Justin pergunta suavemente quando
percebe que estou chorando.
— Eu nunca achei que fosse me sentir tão feliz como agora. — Digo,
minha voz parecendo o sopro fraco do vento.

283
— Eu nunca achei que fosse amar alguém, obrigado por me mostrar
que eu estava errado. Obrigado por me amar de volta. — Ele diz e
percebo que está falando sério e de fato me agradecendo por retribuir
seus sentimentos.
— Justin. — Seu nome sai de meus lábios em um sussurro um segundo
antes dele me beijar.
Eu nunca tive tanta certeza antes na minha vida como a que eu amo
Justin. E tenho certeza agora também, que eu vou enfrentar quem quer
que seja que for contra nosso amor.
Não vou deixar ninguém me tirar dos braços de Justin e vou lutar por
nós dois, mesmo que seja contra minha família.
Nosso amor vale a pena.

284
Despedida de solteiro
Savannah
— Nós temos tão pouco tempo, logo vou ter que voltar para o escritório,
não atenda. — Justin diz puxando meu corpo nu para junto do seu, me
impedindo de chegar até meu celular que toca estridentemente.
Meus protestos são silenciados por seus lábios gentis. Suspiro de prazer
e me perco em suas caricias, o celular e aquele que me liga logo
esquecidos.
Quando a pessoa do outro lado insistentemente liga mais uma vez,
Justin solta um suspiro exasperado e me solta.
— Atenda e depois desligue esse aparelho maldito.
Pego o celular e atendo sem olhar o visor.
— Alô?
— Aleluia, sis. Porque você não atendeu quando liguei a primeira vez?
— A voz de Shanon chega aos meus ouvidos com interferência.
— Oi, Shanon... — Me deito na cama segurando o aparelho com uma
mão e o lençol, cobrindo meus seios, com outra. — É que eu
estava...Humm...Ocupada.
— Olha, te liguei por causa de Jane, ela está vindo para a cidade. Se
você chegar até aqui nos próximos vinte minutos conseguiremos segui-
la e...
— Sinto muito, mas eu não vou poder fazer isso hoje. — Sorrio e bato
na mão de Justin quando ele tenta puxar meu lençol para deixar
exposto meus seios. Ele não gosta que eu me cubra, diz que eu sou
linda e que gosta de me observar, o que me deixa um pouco sem graça,
é estranho ter ele olhando meu corpo o tempo todo.
— Shanon, já estamos nisso há uma semana e não descobrimos nada, a
não ser a frequência com que Jane vai ao supermercado e a farmácia.
— Digo assim que minha irmã começa a protestar.
— Talvez você tenha razão, talvez não. Você não acha que ela percebeu
que estamos a seguindo e vem nos despistando a semana inteira, acha?
— Será? É possível, mas acho que não. — Respondo.
— Tudo bem, de qualquer forma, vou segui-la sozinha hoje, se não
acontecer nada que indique o porquê do comportamento estranho de
Jane, essa história de segui-la acaba aqui.
— Por mim tudo bem, apesar de me deixar triste que não tenhamos
conseguindo descobrir nada para ajudar Seth.

285
— Eu sei, eu também. — Ela responde com uma voz triste. — Espero
que se acertem sozinhos.
— Qualquer novidade me avisa, ok?
— Tudo bem, até mais sis.
— Até. — Encerro a chamada e devolvo o celular para o seu lugar.
— Que conversa estranha foi essa? — Justin me puxa para seus braços
e eu descanso minha cabeça em seu peito.
— Você vai rir, ou não. Mas eu e Shanon temos seguido Jane para
tentar descobrir o que está acontecendo com ela.
— Sério isso?
— Muito sério. Eu te disse o quanto queria ajudar meu irmão, mas
infelizmente não descobrimos nada seguindo Jane. E pelo que eu sei, as
coisas não estão muito melhores entre ela e Seth. — Digo com pesar.
— Sinto muito por isso, linda. — Sorrio ao ouvi-lo me chamando de
linda. Ah, como eu adoro quando ele me chama de linda, amor,
princesa ou esses outros apelidos carinhosos. Justin tem se mostrado
um namorado muito atencioso, carinhoso e romântico. Certa vez
quando estávamos na cama, um nos braços do outro logo depois de
fazermos amor, ele me confessou que estava muito inseguro e com
medo de não saber me tratar como eu merecia, que devido a sua falta
de experiência nesse quesito, não sabia como ser um bom namorado,
mas estava mais que disposto a aprender se eu tivesse paciência com
ele.
Difícil acreditar em suas palavras quando eu me sinto a mulher mais
feliz e amada do mundo, para mim sua dedicação compensa sua falta
de experiência em namoros, e ele tem se saído maravilhosamente bem
em ser meu companheiro. Claro que Justin tem seus defeitos, e que às
vezes provocam alguns atritos, mas todos somos assim.
— Espero que com o casamento da Kim e do Jax, eles se acalmem o
suficiente para resolverem os problemas sem brigar mais.
— Nossa, não acredito que o meu irmãozinho vai se casar. Estou tão
feliz por ele. — Justin diz com orgulho na voz.
— Ele e a Kim formam um casal tão bonito, não é? Também estou
muito feliz que eles finalmente vão se casar.
— Quando é mesmo que vocês vão buscar o pessoal no aeroporto?
— Amanhã. Gwen e Aiden e a tia Bárbara devem chegar no começo da
tarde. Titio vai chegar um dia antes do casamento, junto com um amigo
de Kim, Preston.
— Droga. — Justin diz ao ver que horas são. — Preciso voltar para o
escritório.
Sinto falta do seu contato, do seu calor, no mesmo instante em que ele
se levanta apressadamente da cama.

286
Observo com um sorriso travesso quando ele volta do banheiro, com o
cabelo ainda molhado do banho, e se veste.
Justin tem um corpo maravilhoso, toda vez que ele começa a tirar as
roupas na minha frente, meu coração bate mais rápido pelo desejo e
pela necessidade de vê-lo em toda sua glória. Mas devo admitir, nunca
achei que vê-lo se vestir fosse tão excitante quando vê-lo se despir.
Justin é absolutamente sexy em tudo que faz, até mesmo quando está
cobrindo aquele corpo feito para o pecado.

Justin
— Senhor, a Sra. Thompson está aqui e deseja vê-lo.
Era só o que me faltava agora. O que será que ela quer dessa vez? Pelo
menos pior que aquele almoço maldito não pode ser, ainda não acredito
que ela tenha me dito aquelas coisas.
— Tudo bem, pode deixa-la entrar. — Digo com muita má vontade.
Quando Eva entra, faço questão de mostrar meu aborrecimento por vê-
la, deixando a expressão carrancuda.
Ela senta-se em uma das cadeiras a minha frente sem ser convidada,
age como se fosse dona do lugar e isso me irrita pra caralho.
— O que você quer? — Digo sem rodeios e sem me preocupar se estou
sendo grosseiro.
— Vim saber qual é a sua resposta, afinal você não me procurou ou me
telefonou.
— Eu já te disse a minha resposta naquele almoço, onde você me fez
aquela proposta infame.
— Sei disso, mas achei que talvez você quisesse reconsiderar, afinal é a
sua carreira que está em jogo. — Ela diz com um sorriso satisfeito que
embrulha meu estômago.
Não acredito que ela tenha vindo aqui para falar daquela proposta, não,
chantagem é a palavra mais correta, depois de tudo o que eu disse
naquela tarde.
— A minha resposta é a mesma.
— Você tem consciência que se sua resposta continua sendo não, eu
vou persuadir Carlson a assinar o contrato com outra empresa, e não
com a Townsend, não é?
— Você foi muito clara quando me chantageou na primeira vez, e como
eu disse minha resposta continua sendo não. — Digo decidido.
— Você vai perder um dos maiores contratos, se não o maior, por causa
desse seu orgulho bobo e daquela mulherzinha que...
— Não ouse falar nela, ok? — Digo com raiva quando ela coloca
Savannah no meio.

287
Como o meu relacionamento com Savannah ainda é segredo, a única
coisa que eu contei para Eva era que eu estava apaixonado e muito feliz
com uma mulher só, claro que ela não aceitou a minha recusa a ceder a
sua chantagem muito bem.
— Nossa, quanta disposição em defender a mulher misteriosa. Nunca
achei que esse dia chegaria, você esta mesmo apaixonado, Justin? —
Eva lança-me um olhar cético.
— Eu a amo com todas as minhas forças, é por isso que eu arriscaria
tudo, inclusive um contrato milionário, por ela. — Digo com ferocidade.
— Você tem certeza disso? Aposto que seu chefe não vai gostar nada de
você ter perdido o contrato para a concorrência.
— Nós não vamos perder. Você pode até tentar persuadir seu marido a
assinar com outros, mas Carlson é um homem de negócios, ele sabe
que nós somos a melhor escolha.
— Você não está mesmo levando a sério o meu poder de influencia-lo,
não é? Muitos contratos já foram fechados por minha causa, assim
como muitos não foram. Eu sou a advogada dele, e caso meus
argumentos como profissional não consigam o que eu quero, você pode
imaginar que eu tenho outros meios para persuadi-lo. Você mesmo já
experimentou alguns deles, e devo dizer que eu melhorei muito com os
anos.
Sinto meu estômago se revirar com as lembranças que suas palavras
me trouxeram. Quem me dera eu pudesse tirar tudo de sórdido que eu
fiz no passado, com ela e com todas as outras.
— Acho que vou arriscar. Se for só isso que você veio fazer aqui, pode ir.
— Levanto-me de minha cadeira e aponto para a porta, num convite
nada amistoso para que ela suma de uma vez.
Eva se levanta, mas não se encaminha para a porta, ao invés disso dá a
volta na mesa e se aproxima, meu corpo fica tenso na hora e dou um
passo para o lado oposto.
— Ela realmente vale tudo isso? Duvido que ela concorde em fazer todas
as coisas que eu fazia e que eu sei que você adora. — Ela diz num
ronronar sedutor, sua mão alisando minha gravata azul escuro que
combina com meus olhos.
— Ela vale mais do que você possa imaginar, não tem nada que eu não
faria por ela, e principalmente, não tem nenhuma chance de eu fazer
algo que vá magoa-la e machuca-la.
— O que os olhos não veem, o coração não sente. — Ela diz com aquele
sorriso predatório, que um dia, há muito tempo atrás, me excitava. Mas
não mais. Seguro sua mão que agora começava a deslizar de minha
gravata para meu peito.
— Eu a amo. Aceite isso e vá ser feliz com seu marido, e me deixe em
paz.

288
— Ah Justin, você já se esqueceu como é estar comigo. Garanto que
uma vez que você se lembre, não vai mais ficar fazendo declarações
para essa mulher que você acha que ama, e vai voltar para mim
rastejando, desesperado pelo tipo de prazer que só uma mulher como
eu pode te oferecer.
— Isso não tem a menor chance de acontecer. Agora, faço o favor de
se... — Não tenho tempo para terminar minha frase, porque Eva se atira
em meus braços tão subitamente que meu tempo de reação é mínimo,
dando-lhe uma brecha para juntar sua boca com a minha.
Seguro seus braços e tento afasta-la, mas suas mãos se entrelaçam em
meu pescoço e a mantem firmemente colada a mim. Sendo assim, tento
livrar meu pescoço de suas garras, mas até que consiga sua boca
continua na minha, me provocando tanto nojo e repulsa que sinto que
posso vomitar a qualquer instante.
Quando finalmente consigo me livrar dela, a empurro sem pensar nas
consequências de uma possível queda, ela de fato se desequilibra mas
se mantem em pé e não cai.
Esfrego minha boca com força tentando me livrar de qualquer resquício
de Eva, havia prometido a mim mesmo quando me descobri apaixonado
por Savannah, que meus lábios – assim como eu por inteiro – seriam
apenas da minha linda Little Nips. Sinto muita raiva de Eva por me
fazer quebrar minha promessa.
— Saia daqui! Agora! — Grito tão alto que tenho certeza que todos no
andar ouviram. Eva parece surpresa e por um momento, assustada com
minha reação. É bom mesmo que ela sinta medo, que ela veja o quão
sério estou falando.
Vendo que ela nem ao menos saiu do lugar, agarro-a pelo braço de uma
forma rude e que deve estar machucando-a e a arrasto até a porta.
— Diga o que quiser ao seu marido, não me importo. Só não quero ter
que ver sua cara novamente. — Esbravejo com fúria, quando abro a
porta e a jogo para fora.
A surpresa inicial dá lugar a raiva, e Eva me fuzila com os olhos. Ainda
mais por ter algumas pessoas no corredor e que acabaram de
testemunhar sua expulsão, deixando-a humilhada e furiosa.
— Você vai se arrepender disso, Justin. — Ela diz com os dentes
cerrados. — Esse contrato vai ser a primeira coisa que você vai perder.
Depois será seu emprego, depois sua vadiazinha e por último sua
dignidade, quando você vir me procurar rastejando e implorando para
que eu o perdoe e aceite de volta. Você vai se arrepender amargamente
por essa humilhação e por todas as outras que me fez passar no
passado.
Se ela pretendia dizer algo mais, não sei, pois bati a porta com força em
sua cara.

289
Fecho e abro os punhos repetidas vezes, sento-me novamente a mesa e
tento com todas as minhas forças me acalmar, mas essa mulher
conseguiu me fazer explodir.
Depois de alguns minutos, quando percebo que minha raiva não se
abrandou, sei que só tem uma pessoa que pode me fazer esquecer de
Eva e de minha raiva.
— Oi, meu amor. — A voz animada de Savannah me recebe assim que
ela atende a ligação. Um sorriso imediato se forma em meus lábios, e
como se fosse milagre, sinto a raiva se apaziguando dentro de mim.
“Meu Deus, o que essa mulher faz comigo!”
— Oi, minha princesa. Pela sua recepção posso presumir que está
sozinha?
— Estou, mas não por muito tempo, logo teremos que buscar o pessoal
no aeroporto.
— Ah é verdade, não quero te atrapalhar, mas estava com saudades,
precisando ouvir sua voz. — Digo recostando a cabeça na cadeira e
fechando os olhos, imaginando ela segurando o celular e conversando
comigo, com aquele sorriso lindo no rosto.
— Que bom que você ligou, também estava com saudades.
— Vamos nos ver hoje à noite? — Pergunto apesar de sempre nos
vermos, por isso quando ela excita, pressinto que hoje a noite será
diferente.
— Não sei, amor. Agora que a Gwen vai vir para cá, a Kim vai querer
sair, ter uma noite de meninas ou sei-la. E ainda tem a despedida de
solteiro amanhã. Falando nisso, você sabe o que os meninos pretendem
fazer?
— Nada está definido ainda, que eu saiba.
— Você vai? — Ela diz com a voz menos animada.
— Bem, é a despedida do meu irmão, então vou sim. — De repente,
quando percebo o que está por trás de sua pergunta, sinto um sorriso
ainda maior se espalhar por meu rosto. — Porque, está com ciúmes?
— Humm, isso depende de onde será essa tal despedida. — Eu rio.
— Não se preocupe, não sei exatamente os planos de Jax, mas duvido
que seja algo que vá desagradar minha princesa ciumenta.
— Mitchie escutou uma conversa de Jason com Aaron, eles estavam
falando sobre a despedida de Jax ser num clube de stripers. E a Kim
também acha que vocês vão aprontar. — Ela diz com certo desconforto
na voz.
— Acho muito difícil que Jax vá concordar com isso de stripers, amor.
Você e Kim não precisam se preocupar.
— É, na verdade isso tem mais a cara do Jason mesmo.

290
— Mas e vocês, tenho que me preocupar com essa despedida de
solteiro?
— Eu não faço a mínima ideia do que a Kim pretende, ela foi muito
vaga. Apenas disse que ela mesma iria organizar a despedida, porque se
dependesse de nós tudo seria muito sem graça.
— Bem, se tratando da Kim, eu espero qualquer coisa. O que me deixa
tranquilo, é que se ela quiser fazer qualquer coisa mais maluca, o Jax
vai botar um freio nela. Mas de qualquer forma, tenha juízo amanhã.
Ela ri e meu bom Deus, parece com a risada de um anjo, um som quase
divino e que arrepia meu corpo. Será que algum dia isso vai mudar, vou
me acostumar a ela e essas sensações?
— Você também, hein.
— Pode ficar tranquila, linda. Mas agora, vou desligar, tenho que
trabalhar. Se você conseguir escapar de qualquer programa que a Kim
tenha em mente para hoje à noite, apareça para me fazer uma surpresa.
— Infelizmente não tenho mais nenhuma lingerie nova com que te
surpreender. Acho que vou ter que ir sem nada por baixo, então. — Ela
diz com a voz baixa, e imagens de Savannah nua invadem minha mente
e eu gemo.
— Baby, não faça isso comigo. Como você espera que eu vá para a
minha reunião com uma baita ereção?
— Se vire, bonitão. — Ela diz rindo. — Cuide disso você mesmo por
agora, e eu prometo que na próxima vez que nos virmos, eu cuido para
você.
Gemo de novo ao telefone. Como, como ela consegue ser essa mistura
perfeita de uma mulher sensual e tímida? Isso me enlouquece!
— Você está me provocando, linda. Vou ter que cuidar de você mais
tarde. — Digo maliciosamente.
— Estou contando com isso. — Ela diz e simplesmente desliga, e me
deixa encarando o celular, me perguntando como é possível que a cada
dia eu a ame mais.

Savannah
— Lá estão eles. — Kim dá um grito animado e sai correndo em direção
a sua melhor amiga, Gwendolyn, e seu marido, Aiden.
Eu já havia visto Gwen uma vez, mas seu marido é a primeira vez que
vejo. Quanto mais me aproximo dele, mas percebo como ele é
incrivelmente lindo. Loiro, olhos claros, e um corpo que pelo que dá
para perceber, é forte e rijo.
Ele está usando uma calça jeans surrada, uma camisa social preta com
as mangas dobradas, expondo algumas tatuagens, e um coturno. Sua
postura é intimidante, diz claramente “não mexa comigo” e admito, é

291
muito sexy esse estilo bad boy. Antes de Gwen se afastar dele para
abraçar Kim, seu braço estava protetoralmente ao redor da esposa.
Não a muito que dizer da melhor amiga da minha prima, ela é linda.
Cabelos castanho escuro e traços lindos e suaves, como eu me
lembrava. Gwen e Aiden formam um casal lindo, e somente pelo jeito
que se portam perto do outro, posso dizer que são completamente
apaixonados.
Shanon se aproxima comigo do casal recém chegado, assim que Kim
solta Gwen eu e Shanon a cumprimentamos, e em seguida Aiden nos é
apresentado. Contrastando com sua aparência intimidadora, ele nos dá
um sorriso lindo e charmoso.
É, Gwen é uma garota de sorte.
Tia Bárbara diz algo sobre Kim ter corrido abraçar Gwen primeiro e não
ela, Kim diz algo para sua mãe, parecendo provoca-la e então a abraça.
Depois é a vez de Shanon e então finalmente a minha.
Colocamos as malas no porta malas do carro e seguimos para a
fazenda. Aiden e Gwen ficarão na casa dos Cord, enquanto os pais de
Kim ficarão lá em casa.
Quase uma hora depois, quando chegamos à fazenda, mal
estacionamos o carro e mamãe sai correndo de casa e segura sua irmã
em um abraço apertado.
Muita conversa, abraços e apresentações seguem. Mamãe havia
preparado um verdadeiro café, com tudo que se tem direito, para nossos
convidados.
No final da tarde Shanon e eu nos despedimos de todos e pegamos o
carro, guiando de volta para Dallas.
Ela parece muito diferente agora que estamos sozinhas e confinadas no
ambiente pequeno do carro, ela está quieta demais e com um olhar
preocupado.
— Algo errado, sis? — Pergunto depois de mais de meia hora de
silêncio.
— Eu ainda não sei, talvez.
— Como assim? Você e o Miguel brigaram, é isso?
— Não, Miguel e eu estamos ótimos. O problema é a Jane.
— O que aconteceu, você finalmente descobriu algo? Fale logo. — Digo
me empertigando no banco, minha voz soando urgente demais até para
mim.
— Eu não sei se é relevante, se tem algo a ver com o problema entre ela
e Seth, provavelmente não. Mas quando eu a estava seguindo ontem,
bem, ela foi para o posto de saúde, e ficou um bom tempo lá dentro.
— Ela pode ter tido uma consulta médica rotineira, nada demais. —
Comento.

292
— Poderia ser, se ela não tivesse saído de lá aos prantos. Não a segui
até lá dentro, estacionei o carro perto o suficiente para ver quando ela
saísse, mas para que ela não me enxergasse. Quando ela saiu do posto
de saúde estava visivelmente abalada, chorando muito apesar de tentar
disfarçar, e tremia também. Derrubou as chaves e mal conseguiu abrir
o carro de tanto que tremia. Ela ficou uns bons vinte minutos dentro do
carro chorando. Fique tão preocupada, Savannah, queria ir até lá e
falar com ela, perguntar o que estava acontecendo. Mas acabei não
indo, então de repente ela se recompôs e seguiu o caminho de volta
para Wills Point.
— Você acha que... — Engulo as palavras amargas, mas elas voltam e
me obrigam a proferi-las. — Você acha que tem algo de errado com
Jane? Que talvez ela esteja doente?
— Não faço ideia, mas algo aconteceu, com certeza. Mas sabe que faz
sentindo, se ela está com algum problema grave de saúde, seria motivo
suficiente para ela agir estranhamente. E as suas idas misteriosas até
Dallas, talvez ela esteja indo em consultas médicas.
— Mas, porque não contar para Seth, para todos nós? Assim
poderíamos apoia-la no que quer que seja. — Shanon balança a cabeça
tristemente e minha pergunta paira no ar, sem resposta.
Por favor, Deus, que não tenha nada de errado com Jane. Por favor.
— O que você acha que devemos fazer com essa informação? Confessar
para Jane o que você viu e exigir uma explicação?
— Talvez? — Ela me lança um olhar questionador e percebo que ela não
faz a mínima ideia do que devemos fazer agora.
— Acho que sim, devemos falar com ela. Nos metermos no casamento
dos outros não é nada agradável e educado, mas talvez se conversarmos
com ela e blefarmos, se dizermos que sabemos que tem algo de errado
com sua saúde e que queremos ajuda-la, então talvez ela conte tudo de
uma vez.
— Mas que merda, ela tinha que contar tudo para Seth, não para nós.
Não quero ficar numa posição difícil com Jane, muito menos com Seth.
— Mas é o que temos que fazer, se ela não procura ajuda da família,
então teremos que ajuda-la na marra. Seja o que for, ela não pode
enfrentar isso sozinha.
— Concordo. E além do mais, pode ser que não seja nada disso, não é?
Ela pode estar saudável como um cavalo e nós é que estamos vendo
coisas. — Franzo a testa com sua comparação, e torço para que ela
tenha razão, mas algo no meu coração diz que não é nada disso, que
Jane está com algum problema de saúde e alguma noticia perturbadora
a fez chorar escondida em seu carro ontem.
— Temos que falar com ela, logo depois do casamento de Jax. — Digo
com uma voz sombria, e com o coração pesado de preocupação.

293
— Isso seria divertido.
— Com certeza. — Kim concorda com Gwen enquanto descemos as
escadas rindo. Alyssa e Mark organizaram um grande almoço para
juntar as duas famílias antes do casamento, mais para um momento de
descontração, e alguns amigos foram convidados também. Como
Mitchie e o namorado Aaron, Jason – primo de Aaron – além de é claro,
Gwen, Aiden e Miguel.
Shanon, Mitchie, Kim, Gwen e eu fomos para cima depois do almoçar
para fofocarmos e tentarmos arrancar de Kim, o que ela pretende para
sua despedida de solteiro, hoje à noite. É claro que são as damas de
honra que deveriam cuidar disso e fazer uma surpresa para a noiva,
mas como com Kim nada é convencional, ela é quem nos surpreenderá.
Quando estamos chegamos ao pé da escada, escutamos a voz de um
Jason muito indignado vindo da sala ao lado.
— Não acredito que vocês vão cortar meu barato. Qual é, isso é uma
despedida de solteiro ou o que?
— Hey, o que está acontecendo? O que vocês fizeram para deixar esse
menininho emburrado? — Kim curiosa entra na sala e pergunta,
bagunçando o cabelo de Jason como se ele fosse uma criança. O que às
vezes eu acho que ele é.
Jax, sentado no sofá ao lado de Justin, estende a mão e quando Kim a
segura, ele a puxa para sentar em seu colo.
Aaron puxa Mitchie para seus braços e Gwen se aproxima de Aiden, que
também está na sala, e abraça sua cintura. Shanon vai se sentar ao
lado de Miguel, no outro sofá, e ele funga em seu pescoço, a fazendo rir
e se encolher.
Não consigo me segurar e meu olhar se volta para Justin, ele me encara
disfarçadamente e eu lhe dou um sorriso rápido e tímido. Olhando em
seus lindos olhos azuis, posso até adivinhar o que ele está pensando
agora, com todos esses casais e suas demostrações de afeto. Ele queria
me puxar para si e me abraçar, ele queria poder demostrar nosso amor
na frente de todos, como nossos amigos. Ao invés disso, temos que ficar
separados, fingindo estarmos indiferentes com a presença um do outro.
“Em breve, em breve contaremos a todos.”
O casamento de Kim é amanhã, depois disso falaremos com Jane e
tentaremos faze-la confessar qual é o problema, para tentarmos ajuda-
la e ao meu irmão. E logo,logo mesmo, quando nossas famílias
estiverem menos alvoroçadas com essa história de casamento e brigas
conjugais, vamos contar para todos. Não vamos mais esconder nosso
amor, e ele vai poder me abraçar em público sempre que quiser.
— Não é nada meu amor, é só o Jason...Bem, sendo Jason. — Jax diz
para Kim.

294
— Aposto que se eu conversasse com a Kim, ela seria muito mais
compreensiva do que vocês, idiotas. — Jason diz e vejo a curiosidade
nos olhos da minha prima.
— Então fale de uma vez. — Ela diz encarando Jason.
— Cara, não. Deixa para lá. — Jax diz em um tom menos amistoso.
— É, Jason. Esquece, se você quer ir, vá sozinho. — Aaron diz.
— Ah meu Deus, fale logo. — Kim reclama.
— O negocio é o seguindo, gata. — Jason começa a dizer com aquele
jeito tão característico dele. — Eu quero dar ao seu noivo, uma
verdadeira despedida de solteiro, uma que ele nunca irá esquecer,
acontece que esses perdedores estão barrando minha ideia. — Ele
aponta para os “perdedores” na sala.
— E como seria uma verdadeira despedida de solteiro? — Kim pergunta
com um sorriso divertido.
— Num bar de stripers, é óbvio. — Jason responde como se Kim fosse
idiota.
— Mas nós já falamos para ele que não vai rolar, ele só não entendeu
isso ainda. — Jax se apressa em explicar.
— Porque não vai rolar? — Kim pergunta e Jax a olha confuso, como se
fosse óbvio e ela não precisasse perguntar.
— Ann, porque é um bar de stripers. — Ele diz a palavra lentamente,
como se testando se Kim realmente sabe o significado. — Onde
mulheres ficam nuas, algumas até se esfregando e você e, hum, outras
coisas acontecem.
— Desde que seja só para olhar, não vejo problemas. — Kim diz
naturalmente, e a reação que vem a seguir é de puro espanto, todos
olham para ela parecendo por um momento em choque. Jax a olha
como se ela tivesse acabado de lhe dar um tapa.
— Você está dizendo que por você tudo bem irmos a um lugar para ver
mulheres peladas? — Ele parece não acreditar na compreensão da
noiva, na verdade nem eu.
— Desde que seja só para ver.
Jax fica sem saber o que dizer, os meninos se olham com confusão e
Jason começa a rir.
— É por isso, cara... — Ele aponta o dedo para Kim. — Que eu amo a
sua noiva. É isso aí, essa noite será épica. — Ele diz dando um soco no
ar com demasiada empolgação.
— Você está falando sério, Kim? — Justin pergunta, ainda surpreso
pelo inesperado rumo daquela conversa.
— É claro, cunhadinho. Mas, bem, tem uma pequena condição.
— O que? — Jax pergunta curioso.

295
— Ah não é nada demais, só que se vocês meninos vão se divertir, nós
meninas também merecemos ter uma, como Jason disse, verdadeira
despedida de solteiros. Vocês vão ver algumas stripers e eu e as
meninas alguns gogo boys.
— É claro que não! — Justin praticamente grita e todos olhamos para
ele surpresos com a veemência e ferocidade que ele diz essas palavras.
— Nossa irmão, você não acha que tinha que deixar essa reação para
alguns de nós que de fato precisamos nos preocupar? Não é a sua
namorada que está propondo ir ver caras pelados.
Justin me encara e eu o olho assustada. Ele está começando a ficar
vermelho e me lança aquele olhar determinado, me dizendo sem
precisar de palavras “sem chance”. Ele está dando bandeira, agindo
como um namorado ciumento na frente dos outros.
“Droga, Justin. Pare de me encarar, agora.”
— Faço das palavras de Justin as minhas. É claro que não. — Aiden
que até então estava quieto, diz parecendo de mau humor.
— De jeito nenhum. — Aaron diz puxando Mitchie para mais perto.
— Nem pense nisso, Shanon. — Miguel diz para minha irmã.
— Bem, então nada de stripers para vocês também. — Kim diz e a cara
de Jason vai até o chão.
— Mas...Mas...Qual é, é uma condição muito razoável, caras.
— De jeito nenhum, elas não vão ir ver alguns filhos da puta
marombados tirando a rouba. — Aiden diz sério, quase bravo.
— De acordo. — Miguel e Aaron dizem, e vejo Justin balançando a
cabeça em concordância. Mas o que ele está fazendo? Vão perceber
alguma coisa.
Tento mandar algum sinal discreto para que ele para de agir assim,
mas ele está concentrado demais na negociação da despedida de
solteiro para me notar.
— Não acredito que você teve essa ideia, Kim. Achou mesmo que isso ia
funcionar? Não gostei nada disso. — Jax diz sério, num tom de clara
repreensão.
— É justo. Se vocês vão fazer, nós também podemos.
— Não, ninguém aqui vai fazer nada...Eu disse nada, Jason. — Jax diz
duramente para Jason que começou toda essa conversa que culminou
em vários namorados enciumados.
Jason não me parece nem um pouco feliz quando percebe que essa ele
já perdeu, não adianta discutir.
— Ótimo, vamos fazer algo sem graça então. — Ele diz emburrado.
Deus, ele é mesmo uma criançona.

296
— Ann...Kim?
— Sim?
— Você tem certeza que é aqui? — Pergunto olhando o lugar com
desconfiança enquanto descemos do carro.
— Certeza absoluta. — Ela responde com um sorriso largo. Oh não, eu
conheço esse sorriso. As meninas logo percebem também e todas
encaramos Kim.
— O que foi? — Ela pergunta inocentemente.
— Kim, isso é um bar de stripers. — Gwen diz o óbvio apontado para o
bar que fica do outro lado do estacionamento.
— Eu sei exatamente o que é, Gwen. Mas obrigada pelo comentário
observador.
— Mas eu achei que fossemos a um bar, sabe...Normal. — Mitchie diz.
— Ah meninas, vamos nos divertir. Essa é a minha despedida de
solteira, afinal.
— Kim, se os meninos descobrirem sobre isso...Todos nós tínhamos
combinado que hoje a noite não envolveria pessoas nuas, nem para eles
nem para nós.
— E vocês acham mesmo que eles vão ir a um bar e apenas beber e
conversar? Qual é, vocês conhecem os homens melhor do que isso. Eles
estão com Jason e Justin, os dois maiores pegadores que eu conheço,
essa noite vai ser cercada por peitos e bundas. — Desvio o olhar ao
escutar pegador e Justin na mesma frase.
“Não se esqueça que ele mudou, Savannah, e ela não sabe disso,
ninguém sabe, mas ele mudou.”
— Você está dizendo que eles vão ver stripers mesmo depois do que
combinamos? — Gwen pergunta.
— Como você pode ter certeza?
— Já disse, eles estão com Jason e Justin. Merecemos nos divertir
também, essa noite será nosso segredinho, lembrem-se, o que acontece
na despedida de solteiro, permanece da despedida de solteiro. — Kim dá
um sorriso triunfante e marcha em direção a entrada do bar, cheia de
mulheres.
Ela vai andando rebolando com seu vestido marrom escuro curtíssimo,
que combina perfeitamente com sua pele clara e seus cabelos cor de
fogo.
Gwen, com seu vestido prata com lantejoulas, Shanon com um verde na
cor dos seus olhos, Mitchie com um bordô lindo de morrer e eu com
meu vestido azul soltinho, porém curto, muito curto. Tenho que dizer,
estamos sexys pra caramba, quem nos vê acha que sabíamos o tempo
todo para onde estávamos vindo, e nos arrumamos assim de propósito.
Mas a verdade é que Kim nos pegou de surpresa, espero que isso conte

297
em nossa defesa se essa nossa vinda até aqui nos causar problemas
mais tarde.
Vamos para a fila de mulheres formada ao lado de uma parede com
vários cartazes com caras musculosos e os dizeres “Noite das
Mulheres”.
Quando finalmente entramos, me sinto desnorteada pela musica alta e
a iluminação precária, tenho que caminhar olhando para o chão para
não tropeçar em algo e cair, ainda mais com esses saltos enormes.
O lugar está lotado e achar uma mesa vai ser um verdadeiro milagre,
procurando por um lugar para nós sentarmos vejo que há mulheres de
várias idades, dos 18 aos 50 e todas estão bebendo e falando alto
tentando serem ouvidas por suas amigas por cima da música.
Localizo uma mesa em um canto, é pequena demais para nós cinco,
mas vai ter que servir. Chamo a atenção das meninas e vamos até a
mesa antes que outro grupo de amigas a alcance antes de nós.
Assim que nos sentamos um homem usando uma calça social preta e
nenhuma camisa vem até nossa mesa com um sorriso atraente no
rosto.
— Vão querer beber o que, senhoritas? — Seus olhos flertando com
todas nós, algo que ele deve ter sido instruído a fazer com todas as
clientes.
— Champanhe, estamos comemorando. — Kim diz batendo palmas
animadas.
— Excelente, posso perguntar o que belas mulheres como vocês estão
comemorando hoje?
— Estamos comemorando que há essa hora amanhã, eu serei a senhora
Cord. — Ela grita e levanta os braços, animada.
Tudo bem, se ela já está assim agora, ninguém dê champanhe para ela,
por favor.
— Uma despedida de solteiro? Então vocês não podem ficar sentadas
aqui atrás, venham comigo que eu as levarei ao melhor lugar da casa.
Nós nos entreolhamos e um pouco hesitantes seguimos o garçom, ele
nos conduz até um espaço vazio bem em frente ao palco onde não há
uma mesa, somente um sofá em formato de “U” de couro vermelho
sangue com alguns apoios para copos.
— Por favor, fiquem à vontade que em um minuto eu lhes trago o
champanhe.
— Muito obrigada. — Kim agradece.
Kim se senta bem ao meio do sofá, com eu e Gwen a sua esquerda e
Shanon e Mitchie a sua direita.

298
— Meu Deus, se esse é o nível dos garçons, só posso imaginar como
serão os caras que farão as apresentações. — Shanon diz seguindo
nosso garçom com olhos gulosos.
Yeap, aparentemente uma rápida visão de um cara gostoso é sudiciente
para ela esquecer os protestos contra nossa noite de luxúria.
O garçom volta rapidamente e entrega uma taça de champanhe para
cada uma.
— Vocês desejam mais alguma coisa? — Ele pergunta solicito.
— Não, por enquanto é só isso, obrigada.
— Se precisarem de alguma coisa, me chamo Tony, é só me chamarem
que eu venho imediatamente atender as suas necessidades...Qualquer
uma que seja. — Ele diz sugestivamente passando seu olhar por todas
nós, mas se demorando em Gwen. Ela sorri sem graça e coloca uma
mecha atrás da orelha, ele pisca para ela e vai embora.
— Está com tudo em Gwen. — Kim diz provocadoramente.
— Eu sou uma mulher casada.
— Isso não te faz menos atraente para os outros homens. — Kim diz.
— Mas faz os outros homens menos atraentes para mim. — Gwen
rebate.
Passamos a próxima meia hora conversando e bebendo, além de nos
divertirmos com os flertes de Tony e o desconforto de Gwen sob os
olhares inconvenientes do garçom sarado.
— Então Tony, quando que o show começa? — Shanon pergunta
quando Tony vem nos trazer mais uma rodada de champanhe, percebo
que ela já está meio alta.
— Daqui alguns minutos. Tenham paciência meninas, tenho certeza
que vocês vão se surpreender com nosso show de hoje. — Ele sorri e
tenho a impressão que ele está falando sobre algo além, como se
soubesse de algum segredo.
Deus do céu, ao mesmo tempo em que é excitante estar aqui – admito –
me sinto nervosa por causa de Justin.
Kim disse que os meninos estão aprontando, mas e se eles não
estiverem? Ou se eles estiverem mesmo vendo stripers, mas Justin
decidiu não fazer parte por respeito a mim?
Droga, estou me sentindo uma traíra, devia arrumar uma desculpa e ir
embora. Será que elas acreditariam em uma dor de barriga?
Do nada o bar inteiro fica no escuro e a música para. Uma única luz
surge no centro no palco, bem a nossa frente, forte e quase nos
deixando cegas.
“Oh merda! Vai começar.”
As mulheres ficam todas em silêncio encarando o palco com
expectativa, a luz do palco diminui e fica mais fraca, o silêncio é

299
rompido pelo barulho do aparelho que solta muita fumaça e as
mulheres aplaudem e assoviam.
Uma música começa a tocar no mesmo instante que uma silhueta
aparece no centro do palco, o homem está com uma roupa de policial,
óculos escuros e um quepe, sua cabeça está baixa.
A mulherada grita, assovia e bate palma. Kim seguindo o exemplo,
praticamente pula do sofá, gritando e aplaudindo. Gwen e eu nos
olhamos e ela me dá um sorriso, Shanon não faz movimentos bruscos,
mas não tira os olhos do homem no palco, Mitchie coitada, parece
desconfortável e não consegue olhar para o homem por mais de cinco
segundos seguidos sem desviar o olhar.
A música é sexy e tem um ritmo contagiante, a letra é explicita e fala
sobre ficar nu e ter uma noite suja.
O policial dança provocativamente no ritmo da música, a cada
movimento sugestivo as mulheres conseguem se superar e gritar mais
alto.
Ele leva as mãos aos botões da camisa enquanto mexe seus quadris e
as mulheres ficam loucas, algumas se levantam e vão ficar mais perto
do palco. Vejo algumas jogando notas de dinheiro para o homem.
De um jeito muito sexy, ele vai desabotoando a camisa lentamente, seu
sorriso largo e safado indicando que ele está se divertindo em ver todas
essas mulheres loucas de tesão por ele.
Faltando metade dos botões ele puxa a camisa num movimento rápido e
expões seu torço sarado e depilado.
As mulheres deliram e até mesmo minhas amigas não se controlam,
Mitchie que é a mais tímida do grupo, não consegue esconder o sorriso
de apreciação e devora o striper com os olhos.
Tenho que admitir que até mesmo eu estou ficando um pouco excitada
com os movimentos sugestivos, sinto um incomodo crescente no meio
de minhas pernas. Esse homem certamente sabe como mexer o corpo, e
que corpo ele tem. Não é nada exagerado ou artificial, é natural e bem
defino como o de um bom trabalhador braçal.
Ele tira a camisa e me surpreende ao joga-la em nossa direção, a
camisa cai na cara de Kim e ela rapidamente a tira e fica segurando.
Ele aponta para uma mulher sentada em uma mesa e a chama com o
dedo, ela vem rapidamente até a beira do palco, sua cabeça ficando na
altura da braguilha da calça do policial. Ele se mexe sensualmente e ela
passa a mão pelo seu corpo e depois prende uma nota no cós da calça.
Quando consigo tirar meus olhos do peito musculoso e me concentrar
na cara do homem por mais de um minuto eu sinto que já o vi antes.
Mesmo com os óculos e o quepe ocupando boa parte do seu rosto, a
fumaça e a iluminação baixa, sinto que já o vi antes.

300
Tento forçar meu cérebro a se lembrar, a reconhece-lo. Tenho certeza
que eu não conheço nenhum striper, mas a sensação ainda está lá, me
alfinetando.
A música e a dança erótica continuam, o homem coloca a mão no botão
de sua calça como se fosse abri-la, mas não o faz. Ele pula do palco
para o chão e continua sua dança mais perto das mulheres excitadas.
Ele para de dançar e tira o quepe, jogando-o para uma mulher que o
agarra e grita enlouquecida.
Lentamente ele caminha em nossa direção, eu o olho melhor e antes
mesmo dele retirar os óculos eu já o reconheci.
Meu queixo simplesmente cai até o chão. Não, não pode ser, impossível.
Devo estar imaginando.
— Kim? — Chamo-a hesitante, por favor que mais alguém esteja vendo
isso e eu não esteja maluca. Viro-me para minha prima, ela e as
meninas estão igualmente surpresas, queixos caídos e olhos
arregalados.
Jax com certeza se divertindo com nossa reação, ri.
“O policial striper sexy é na verdade Jax? Mas que merda é essa?”
Olho para Gwen e ela parece tão surpresa quanto o resto de nós. Jax se
aproxima e para na frente de Kim, ela o olha como se ele fosse de outro
planeta. Pelo sorriso de satisfação na cara dele essa era a reação exata
que ele esperava.
— Ouvi dizer que a senhorita veio até aqui procurando por diversão
porque irá se casar amanhã. — Sua voz é abafada pela música, mas
ainda assim audível.
Kim não consegue tirar a expressão de perplexidade da cara e quando
ela não diz nada, Jax coloca as mãos na cintura e lhe olha
intensamente.
— Eu preciso saber se isso é verdade senhorita, pois eu tenho ordens
para fazer um show exclusivo para a noiva. Se não for você terei que
fazer o show para outra. — Ele diz provocativamente erguendo uma
sobrancelha e algumas mulheres mais perto de nos gritam “aqui”, “me
escolhe”, “faz um show só para mim delícia”.
— Sim, sou eu. Vou me casar amanhã. — Kim balança a cabeça várias
vezes e continua olhando para Jax como se ele fosse alguém famoso e
ela não acreditasse que ele está ali falando com ela.
— Perfeito. Só espero que seu noivo não se importe. — Ele dá um meio
sorriso sexy.
— Ele não vai, eu garanto. — Kim diz entrando no jogo de Jax, seja lá
qual for.
Jax se aproxima mais e colocando uma perna em cada lado se senta de
frente no colo de Kim. As mulheres gritam, eu vou mais para o canto do

301
sofá, chegando mais perto de Gwen. Kim visivelmente respira com
dificuldade, parece hipnotizada pelos olhos de Jax.
A essa altura a música já mudou e agora está tocando “Mo Cash”, Jax
recomeça seus movimentos sensuais com o quadril e se esfrega sem
vergonha alguma em Kim. Eu coloco a mão na boca em surpresa com
seus movimentos explícitos, eles estão praticamente transando em
público.
Do outro lado, vejo Mitchie e Shanon também se afastando e parecendo
desconcertadas.
Kim parece que está pronta para entrar em combustão a qualquer
momento, seu peito sobe e desce com dificuldade enquanto ela olha
fixamente nos olhos de Jax, quase posso ver as faíscas.
É errado eu me sentir excitada com os movimentos do noivo da minha
prima? Pior, irmão do meu namorado? Porque Deus, está muito calor
aqui e eu não consigo desviar o olhar.
Jax pega um punhado de cabelo da parte detrás da cabeça de Kim e
puxa, forçando a cabeça dela para trás. Mesmo com a música alta,
posso jurar que a ouvi gemendo, ele lambe seu pescoço e depois ataca
sua boca. As mulheres assoviam e gritam incentivos, vejo a língua de
Jax invadindo a boca de Kim, eles se beijam tão intensamente e de um
modo puramente carnal e sinto que sou alguma voyeur ou algo do
tipo. Tomo um longo gole da minha bebida e pelo canto do olho vejo
Gwen se remexendo no lugar.
Kim empurra Jax violentamente e respira com dificuldade, Deus até eu
estou com a respiração difícil quem dirá ela. Jax sai do seu colo e ela se
levanta, suas pernas fraquejam e Jax a apoia, sem dizer nada ou sequer
olhar para nós ou qualquer outra pessoa, Kim o puxa pelo braço em
direção à saída. Eu e todas as meninas nos olhamos confusas, não
sabemos se devemos ir embora também ou não.
— Devemos... — Pergunto.
— Não, não acho que seja uma boa ideia sair agora. Corremos o risco de
ver algo que não gostaríamos. — Gwen diz.
— Eles devem estar indo direto para casa, ou talvez não aguentem tanto
tempo e vão para um motel. — Shanon diz com um sorriso malicioso.
— Eu aposto que eles só vão aguentar esperar até chegar ao carro.
Lembrem-me de nunca mais pegar carona com esses dois. — Gwen diz
fazendo uma careta.
— Wow, que show certo meninas? — Outro cara seminu aparece no
palco e diz no microfone.
— Vocês querem mais? — Todas gritam em resposta.
— Foi o que eu pensei. Imagino que vocês estejam pegando fogo, eu
tenho o cara certo para cuidar de vocês, garotas. Conheçam Eric. — Ele
diz e a luz se apaga de novo, apenas para logo em seguida acender e
revelar um cara vestido de bombeiro parado no palco, a música agitada

302
começa e o homem começa a dançar. Olho bem para ele para ver se não
é mais algum conhecido e com alivio percebo que não o conheço.
— Devemos ir embora? — Mitchie pergunta parecendo ansiosa para sair
daqui.
— Acho melhor. Já que a Kim se foi não tem o porquê ficarmos. —
Gwen responde.
— É, isso não é bem verdade, não é, Gwen? — Shanon diz apontando
para o “bombeiro” com os músculos a mostra. — Para mim tem um
motivo muito convincente, mas tudo bem, vamos embora.
— Se o Jax fez essa surpresa para a Kim é porque ele sabia que ela
pretendia vir para cá, e se ele sabia os meninos também sabem. —
Gwen diz o óbvio, mas que ninguém havia notado além dela.
“Merda, é verdade. Justin vai me matar.”
— Ótimo, agora vou ter um grande problema com Aiden.
— E o Aaron...Ele parece quieto e tímido, mas tem ciúmes até da
própria sombra. Estou tão ferrada. — Mitchie diz esfregando o braço e
com uma cara de medo. Tenho certeza que todas nós estamos com
medo das consequências dessa noite.
Levantamo-nos, pegamos nossa guia e entramos na fila para pagar.
— Meninas, não tem motivo para todas ficarem na fila. Se quiserem eu
pago e vocês podem esperar no carro. — Gwen diz.
— Tudo bem, nos vemos lá fora. — Eu digo para ela e eu, Shanon e
Mitchie seguimos para fora do bar.
Saímos do bar e somos recebidas pelo ar fresco da noite.
— Que loucura, não acredito no que acabou de acontecer. Jax fez
mesmo aquilo? — Shanon diz.
— Eu sei, sis. Estamos todas tão chocadas quanto você.
— Estou ferrada, ferrada. — Mitchie diz colocando a mão na testa. —
Sorte sua Savannah, que não vai ter ninguém para brigar com você por
ter vindo nesse bar maldito.
“Rá, você que pensa, amiga”.
Shanon, a única que sabe sobre Justin e eu, me lança um olhar
cúmplice.
Seguimos distraidamente em direção ao carro, e nós três paramos de
andar ao mesmo tempo quando percebemos quatro corpos grandes
encostados em uma caminhonete estacionada ao lado do nosso carro.
Aiden, Aaron e Miguel estão nos olhando com uma expressão séria e
com os braços cruzados na frente do peito. Justin está ao lado deles
tentando parecer indiferente a situação, mas posso ver fúria em seus
penetrantes olhos azuis.

303
Ele me olha de um jeito que me faz ter vontade de correr. Seus olhos
viajam pelo meu corpo, e vejo a expressão de desaprovação quando ele
vê meu vestido.
Eu e as meninas nos olhamos e a expressão em nossos olhos dizem
tudo. Sabemos que estamos encrencadas.
— Podemos explicar. — Mitchie se adianta em explicar.
— Tenho certeza que podem. — Aaron diz numa voz fria.
Tento não manter meus olhos em Justin porque seu olhar é intenso
demais, ele não tira os olhos de mim e não de um modo bom, ele não
parece nem um pouco feliz e se alguém perceber o jeito que ele me olha,
vão sacar tudo na hora. Ainda bem que todos estão distraídos demais
para observar Justin e perceber como ele parece aborrecido.
— Saindo tão cedo, não quer curtir o resto do show, Mitchie? — Aaron
pergunta acidamente enquanto olha para ela de uma forma que a faz se
encolher. Ela não estava brincando, Aaron é mesmo muito ciumento.
— Meninos... — Eu chamo com uma voz mansa, Justin levanta uma
sobrancelha como se esperando minha explicação. — As meninas não
têm culpa. — Digo na esperança que Justin entenda que eu também
não tenho culpa. — Nós não sabíamos que a Kim nos traria aqui. Não
foi nada planejada, da nossa parte pelo menos.
— Eu não acho que ela tenha obrigado ninguém a entrar. — Justin não
se contém e diz algo pela primeira vez, sua voz tão gelada como um
iceberg.
Dou-lhe um olhar de “não coloque mais lenha na fogueira” e ele
continua com a mesma expressão.
— Não, mas... — Não sei como defender as meninas e a mim mesma, e
isso é frustrante demais, onde estão as palavras certas quando se
precisa delas? Quando não continuo, Justin me dá um olhar de “foi o
que pensei”.
— Onde está Gwen? — Aiden pergunta com uma expressão nada
amigável, perceptivelmente ele está tentando controlar o tom de voz mas
mesmo assim sua pergunta sai de uma forma ríspida.
— Ela ficou lá dentro...Para pagar a conta. — Rapidamente acrescento
quando vejo sua expressão mudar rapidamente para uma muito, mas
muito furiosa.
Sem dizer nada ele marcha em direção ao bar.
— Acho melhor irmos embora. — Miguel diz e de todos, ele parece o
menos incomodado por saber onde a namorada estava, mas isso não
significa que ele está totalmente despreocupado, vejo o jeito que ele olha
para Shanon, ela também terá problemas.
— Claro, se as meninas já tiverem terminado o que vieram fazer aqui. —
Aaron dá um sorriso cínico e escuto Mitchie soltar um suspiro.
— Aaron...

304
— Agora não, Mitchie. Vamos conversar depois. — Ele diz firme, e ela
não insiste.
Shanon pega a chave e vai abrir o carro, os meninos se dispersam e
agora parecem menos tensos.
— Vocês vão na frente e nós vamos com nosso carro seguindo vocês
atrás, está muito tarde e a estrada para Wills Point é mal iluminada. —
Justin diz protetoramente.
— Aiden, fique calmo por favor. — Todos viramos a cabeça quando
escutamos a voz de Gwen.
Ela está andando rápido tentando alcançar o marido, Aiden segue em
nossa direção parecendo transtornado.
— Vamos embora logo. — Ele diz quase gritando para nós.
— O que aconteceu, cara? — Miguel pergunta.
— Aconteceu porra nenhuma, agora vamos. — Vejo que Miguel abre a
boca para falar algo, mas a expressão de Aiden o faz ficar quieto.
— Meu amor. — Gwen chama pelas costas dele e ele passa a mão pelo
rosto.
— Gwen, vamos voltar agora.
— Aiden...
— Gwen...Por favor, só vamos voltar, ok?
Ela suspira, mas concorda.
— Vamos meninas. — Digo tentando disfarçar o silêncio tenso que se
instalou no ambiente, e todas nós entramos no carro.
— Vamos estar logo atrás de vocês. — Aaron diz e bate a porta do nosso
carro. Ninguém diz nada e o silêncio é intenso, Shanon liga o motor e
arranca.
O caminho todo o carro dos meninos nos acompanham de perto, não
consigo mais aguentar o silêncio e pergunto para Gwen:
— Gwen, está tudo bem?
— Está sim. — Ela responde olhando pensativamente pela janela.
— O que aconteceu lá dentro para deixar o Aiden daquele jeito? —
Mitchie pergunta.
Ela demora tanto para responder que eu acho que ignorou a pergunta.
— Aiden chegou bem quando Tony estava falando comigo.
— O garçom foi falar com você?
— Foi, ele nos viu saindo e veio falar comigo. Aiden chegou quando ele
me entregava o número do seu telefone e cochichava no meu ouvido.
— Isso não é bom. — Eu digo.

305
— Não. Eu tive que segurar Aiden para não pular em cima do Tony.
Claro que ele viu isso não como uma tentativa de evitar que eles
brigassem, mas sim como se eu estivesse defendendo Tony. Cara, eu
vou ter muito trabalho quando chegarmos. — Ela diz apoiando a cabeça
no banco.
— Não entendo, como eles sabiam que a gente tinha vindo nesse bar? —
Shanon expressa nossas dúvidas em voz alta.
— Acho que Jax conhece a noiva que tem. — Mitchie diz.
Passamos o resto do caminho em silêncio, quando chegamos à fazenda,
Aiden não diz nada quando o carro para, ele apenas desce e passa
direto por nós, seguindo o caminho que liga nossa fazenda com as do
Cord, ele desaparece na escuridão sem dizer uma palavra e Gwen corre
atrás dele.
Acho que ela terá mais problemas do que todas nós.
Despedimo-nos de Mitchie e ela entra com Aaron no carro dele
estacionado em frente à casa. A pobre coitada parece apavorada.
— Bom, eu vou entrar. Boa noite. — Digo, deixando Shanon e Miguel
sozinhos, além de um Justin visivelmente tentando com todas as forças
parecer calmo. Eu o conheço e sei que está se esforçando para não tirar
satisfações comigo agora mesmo, e aproveitando que ele não pode falar
nada agora, fujo para dentro da casa.
Vou até o quarto onde estou dormindo com Shanon, para ter espaço
para nossos hospedes, e me jogo na cama.
Sei que não vai acontecer, mas qualquer barulhinho que escuto pelos
próximos 15 minutos, acho que é Justin vindo até mim com aquele seu
olhar zangado.
Shanon ainda não subiu, se ela está brigando com Miguel ou fazendo as
pazes, não sei dizer.
Quando começo a me acalmar e perceber – com alivio – que o confronto
com Justin ficará para amanhã, ou possivelmente por causa do
casamento, para depois, meu celular vibra indicando uma mensagem
recebida.
Olho a tela e meus temores se confirmam. É uma mensagem de Justin.
Justin: Esperando aqui fora. Preciso falar com você, AGORA!!!
“Oh merda, estou tão ferrada!”

306
O casamento
Savannah
Finalmente o grande dia chegou. Minha prima se casará hoje numa
linda cerimônia ao ar livre no final da tarde.
As meninas e eu acordamos muito cedo para podermos chegar a Dallas
a tempo do horário marcado no spa.
Eu com certeza vou precisar de um tratamento especial, pois quase não
dormi ontem a noite e estou com olheiras horríveis. Tudo isso por culpa
e uma pontinha de medo, porque ontem eu não fui me encontrar com
Justin.
É, eu sei, sou uma covarde. E admito, ontem eu fui mesmo. Mas você
também sentiria medo se Justin Cord tivesse te olhado do modo como
ele me olhou quando os meninos foram nos buscar no bar de striper.
Quando ele percebeu que eu ainda não havia descido para me
encontrar com ele, recebi outra mensagem muito zangada, achei que
talvez o melhor fosse ignorar, mas depois mudei de ideia e lhe enviei
uma mensagem dizendo que estava cansada e depois conversaríamos.
Desliguei o celular e tentei dormir, mas uma parte de mim estava
morrendo de medo que Justin entrasse na casa e viesse até meu
quarto, mais furioso do que nunca por eu não ter ido falar com ele.
Claro que isso não aconteceu, ele deve ter percebido que eu realmente
não iria descer e foi embora. Mas soltando fumaça pelas ventas, eu
aposto.
Agora, eu e as meninas estamos recebendo uma massagem relaxadora e
dividindo uma com a outra, as consequências da nossa pequena
travessura de ontem.
— Ah meu Deus, Vick. Você tem mãos de anjo. — Kim geme enquanto,
Vick – sua massagista – lhe aperta nos pontos certos das costas.
— Mas, continue Mitchie, o que aconteceu depois? — Shanon pergunta
curiosa.
— Bom, então, depois que eu o convenci a não dormir no sofá, nós
continuamos discutindo por pelo menos mais uma hora. E sabe como é,
não discutimos só sobre ontem, outras questões mal resolvidas
aparecerem e quando me dei conta, estávamos discutindo sobre coisas
que aconteceram há mais de um ano atrás.
— Mas vocês resolveram tudo, certo? — Mitchie me dá um sorriso tão
largo que não é preciso respostas.

307
— Sexo de reconciliação é o melhor. — Ela diz e vejo suas bochechas
corarem em seguida. Ela esconde o rosto, como se não acreditando no
que acabou de falar e nós rimos.
— E você, Gwen? Realmente espero não ter feito você e o Aiden
brigarem. Eu sei como ele é explosivo.
— Ontem a noite foi...Complicado. Não podíamos gritar um com o outro,
afinal não estávamos na nossa casa e nem sozinhos. Ele deu tudo de si
para tentar se manter calmo, mas o Aiden é muito ciumento, ele ficou
falando e falando durante tanto tempo. Tive que repetir um milhão de
vezes que eu não sabia onde iriamos, e no final, acho que ele acreditou
porque te conhece Kim e sabe como você é meio maluca. Mas mesmo
acreditando em mim, ele ainda queria satisfações por causa do Tony.
Ele pegou o papel com o telefone dele, e literalmente, o deixou em
pedacinhos. Só depois disso que ele foi se acalmando e então nós, bem,
fizemos as pazes...Vocês sabem. E você, Shanon?
— Ah, o Miguel não foi tão difícil assim de dobrar. Ele ficou chateado,
tivemos uma pequena discussão e fizemos as pazes, e sim Mitchie, você
tem razão...Sexo de reconciliação é o melhor.
Ótimo, todas se deram bem ontem a noite, menos eu.
— E você Kim? Como foi sua noite com Jax “o striper”? — Shanon
pergunta sorrindo maliciosamente.
— Deus, ainda não acredito que ele fez aquilo. — Ela exclama fechando
bem os olhos e balançando a cabeça. — Foi tão...
— Quente?
— Eu ia dizer surpreendente, Shanon. Mas sim, foi quente. Quer dizer,
eu sempre soube que o Jax é um homem sexy, mas ontem...O jeito que
ele dançou, o modo como falou comigo. Eu sou sortuda, ou o que?
— Imagino então, que não houve discussão por causa de termos ido ao
bar. — Comento.
— Não, na verdade, Jax e eu não tivemos muito tempo para conversar,
se é que vocês me entendem...Mas ele me contou que tinha certeza que
eu levaria vocês até um desses bares, ele supôs que nós iriamos no
mais badalado da cidade e subornou o gerente para deixa-lo se
apresentar. Ele não pareceu ter ficado muito bravo, mas ele disse que a
próxima vez que eu passar perto de uma bar de striper ele vai me deixar
de castigo. — Ela diz sorrindo largamente e com um ronronar vindo do
fundo da garganta, tenho a impressão que ela tomou o que ele disse
mais como uma promessa do que como uma possível punição.
— Ah meninas, vocês tiraram um peso das minhas costas. Estava com
medo que eu tivesse provocado uma discussão mais séria entre vocês e
os meninos. Afinal fui eu quem as levou até o bar, fico feliz que tudo
tenha acabado bem para todas.
Pois é, não diga nada ainda prima. Ainda tenho que enfrentar a minha
fera ciumenta, e não sei como as coisas vão ocorrer com ele.

308
— Tudo vai bem quando termina bem. Agora só tenho que me
preocupar em ficar perfeita para me casar com meu cowboy. — Kim diz
em meio aos gemidos que as mãos habilidosas de Vick lhe provocam.

— Hey, prima. Já faz meia hora que você não diz nada, está tudo bem?
— Pergunto enquanto as cabeleireiras trabalham em nossos penteados.
— Sim, é que...Está chegando a hora, estou nervosa.
— Está tudo bem, amiga. É normal ficar nervosa, afinal você vai se
casar hoje.
— Não sei não, Gwen...Sinto que eu vou ter um ataque de pânico a
qualquer segundo. — Gwen ri e balança a cabeça.
— É assim mesmo, você não lembra o meu estado no dia do meu
casamento? Eu achei que ia desmaiar e estava tremendo inteira. É
super normal você se sentir assim.
— Minha barriga está doendo. — Kim reclama em um gemido e todas
nós rimos.
— Não tem graça, meninas. Isso deveria ser agradável, não me fazer
passar mal.
— Vai passar, não se preocupe.
— Assim espero, não quero me casar com dor de barriga. — Dessa vez
nem mesmo a cabeleireira aguenta e todas rimos da cara de Kim.
— Tem alguma coisa que eu posso fazer por você, para te ajudar a ficar
mais calma? — Pergunto.
— Na verdade tem sim...Me alcance meu celular, por favor.
Eu e as meninas nos olhamos curiosas, mas eu faço o que me pede e
pego o celular da sua bolsa e lhe entrego.
— Com licença. — Kim pede para as moças que estão cuidando dela e
levanta desajeitadamente. Para não borrar suas unhas recém-pintadas,
ela anda parecendo um pinguim até um canto e liga para alguém.
— Para quem você acha que ela está ligando? — Shanon sussurra.
— Não sei. — Mitchie responde também em um sussurro.
Ficamos em silêncio enquanto Kim conversa no telefone, ninguém
querendo demostrar, mas todas tentando escutar a sua conversa. Mas
ela está falando baixo e a única coisa que escutamos são múrmuros
indistintos.
Depois de alguns minutos ela desliga e solta um suspiro aliviado, ela
volta a se sentar no seu lugar e nós ficamos a encarando com um olhar
curioso no rosto.
— Estou mais tranquila agora. Obrigada. — Ela diz me entregando o
seu celular.

309
Ok, seja qual foi conversa que ela acabou de ter, parece que funcionou e
ela está se sentindo melhor.
Ainda bem, porque a última coisa que queremos é uma noiva com os
nervos à flor da pele.

Justin
Jax está terminando de se arrumar, mas mais parece que é para um
funeral do que para seu casamento.
Desde que ele recebeu aquela ligação há umas duas horas, sua
empolgação cedeu lugar para uma carranca de preocupação.
E agora ele está de frente para o espelho há pelo menos 15 minutos
tentando acertar o nó da gravata.
— Ah meu Deus, filho. Deixe que eu faço isso. — Papai se cansa da
enrolação e vai dar o nó ele mesmo.
— O que está acontecendo, filho? Você não parece feliz. — Papai diz
enquanto arruma Jax como se ele fosse uma criança.
— Você não está reconsiderando, não é? — Pergunto mesmo sabendo
não ser o caso.
— Mas é claro que não, Justin, que ideia. Eu espero por esse dia a
muito tempo.
— Então o que foi, tem algo errado? — Aiden, o marido da melhor amiga
de Kim que também está aqui para ajudar, pergunta.
— Não é nada, só estou nervoso.
— É mais que isso, eu te conheço, irmão. Você ficou estranho depois
daquele telefonema. — Digo cruzando os braços e me encostando na
parede.
— Que telefonema, filho? — Papai pergunta preocupado.
Jax passa o olhar pelos três homens na sala e então solta um suspiro e
esconde as mãos no bolso da calça.
— Era a Kim, que me ligou mais cedo. Ela estava nervosa, começou a
falar sobre o futuro e sobre não sei mais o que. Ela não estava
parecendo muito com quem queria se casar, acho que ela pode estar
reconsiderando. — Ele diz com um vinco de preocupação se formando
em sua testa.
— Mas que besteira, é claro que ela quer se casar com você, não sei o
porquê, mas ela quer. — Digo aproveitando para provoca-lo.
— Ela disse alguma coisa sobre cancelar, adiar?
— Não, pai, ela não disse. Mas ela não parecia feliz, sua voz estava
diferente. Vocês acham que é possível que ela mude de ideia?
— Claro que não, aquela mulher te ama, meu filho. Se ela está
estranha, é apenas por causa do nervosismo, é normal.

310
— Você acha mesmo? Você e mamãe ficaram nervosos também, é
mesmo normal, não é?
— Claro que sim, ambos ficamos nervosos a ponto de tremer
perceptivelmente, mas nem por um segundo pensamos em mudar de
ideia.
— Eu também fiquei nervoso, cara, e muito. E não é para menos, é o
dia mais feliz da sua vida, é claro que você vai ficar tenso e nervoso. —
Aiden diz.
— O dia mais feliz da sua vida até seus filhos nascerem. — Papai
corrige sorrindo para Aiden.
— Bom, isso eu ainda não posso dizer. — Ele sorri.
— Não se preocupe com nada, filho. Apenas termine de se arrumar,
porque é a noiva que sempre chega atrasada. Vamos lá que está quase
na hora.
Quando Jax finalmente fica pronto, ouvimos uma batida na porta, logo
em seguida a cabeça de Aaron aparece.
— Tudo certo por aqui? — Ele pergunta.
— Tirando o fato que eu estou quase tendo um infarto...E estou suando
horrores. — Jax diz puxando o colarinho da camisa.
— Filho, pare de ficar desarrumando o que eu acabei de arrumar.
— Foi mal. Está difícil de respirar. — Ele diz inspirando e expirando
lentamente.
— Fique calmo. Não há razão para se preocupar. — Papai o tranquiliza.
— É cara, fique calmo, vai dar tudo certo. — Aiden diz.
— Falar é fácil...Os dois homens casados do recinto, algum conselho?
— Sim. Aproveite todos os momentos dessa noite, mas principalmente
aprecie o momento que a música começar e a Kim começar a caminhar
lentamente até você. Esse momento, você nunca vai esquecer. É aí que
você vai ter que se segurar para não cair de joelhos e chorar como uma
menina. Porque quando você ver a mulher que você ama vestida de
noiva, parecendo um anjo caminhando em sua direção, você vai ter
vontade de fazer exatamente isso. Se ajoelhar, chorar e agradecer aos
céus por ser tão sortudo. — Aiden diz com um sorriso nos lábios, mas
os olhos seriamente fixados em Jax.
— Exatamente, aproveite esse momento, meu filho. Aproveite para
admira-la, não tire seus olhos dela. Eu lembro como se fosse ontem
quando a sua mãe fez o seu caminho até mim, ela estava perfeita. A
mulher mais linda que eu já vi em toda a minha vida...E ainda é.
Jax assente e se olha no espelho, vejo um sorriso escorregando por seus
lábios, lentamente tomando forma.
— Finalmente chegou a hora. — Ele diz sorrindo ainda encarando seu
reflexo.

311
— Uma vez um garoto de 11 anos me disse que tinha encontrado a
mulher com quem iria se casar... — Digo me aproximando de Jax. — Eu
ri e achei que era mais uma daquela estupidez inocente de criança,
cheguei até a tirar sarro da cara daquele garoto. Hoje ele está parado na
minha frente, e não é mais o mesmo garotinho que eu me lembro, ele é
um homem. E o mais impressionante, ele está indo se casar com aquela
tal garota que ele havia me falado há 14 anos atrás. Jax, meu
irmão...Por favor, seja feliz, é só isso que eu te peço e te desejo.
Jax me dá um sorriso emocionado e me abraça forte, retribuo e o
envolvo com meus braços, dando alguns tapas em suas costas.
— Obrigado, Justin. Obrigado, irmão.
— Ann...Está na hora pessoal, Jax tem que descer porque logo a noiva
estará aqui. — Aaron diz meio sem graça e Jax e eu nos afastamos.
Aaron, Aiden, Jax, papai e eu descemos e seguimos para o local da
cerimônia, que será na propriedade dos Careton, não muito afastado da
casa, perto da divisa com a fazenda da minha família.
Há um caminho enfeitado com tochas e flores que nos guiam da casa
até o local da cerimônia, ando lentamente pelo caminho, observando a
bela extensão plana de terra que eu chamo de lar e sentindo o ar fresco
e revigorante que acaricia minha pele.
Depois de uma breve caminhada, chegamos ao local onde foi arrumado
tudo.
Mais de cem cadeiras estão distribuídas pela grama, cruzadas por um
caminho enfeitado com flores e velas e que termina na mesa onde o juiz
realizará a cerimônia. Kim e Jax decidiram se casar apenas no civil.
Um arco com flores enfeita o local onde os noivos ficarão no momento
em que o juiz realizará a cerimônia. Eu e os outros padrinhos ficaremos
em pé ao lado direito da mesa, e as damas de honra ao lado esquerdo.
As cadeiras estão na extremidade direita do terreno, próximos a cerca
de madeira que delimita a propriedade. Nessa cerca a um portão, que
está aberto e deixa livre a passagem para a nossa fazenda, onde será
realizado o jantar.
A maioria das cadeiras já estão ocupadas, e aqueles que ainda não se
sentaram estão no seu caminho.
Paramos para cumprimentar nossos conhecidos e seguimos para onde
devemos estar. Todos os padrinhos – Aaron, eu e mais dois amigos de
Jax – ficamos esperando no nosso canto.
— Jax... — Preston, outro amigo de Kim, chama. — O juiz chegou.
— Ah meu Deus, agora está quase, só falta a Kim. — Jax diz com um
misto de empolgação e nervosismo.
— Seu pai já está pedindo para que todos se sentem, e então ele trará o
juiz aqui e é só esperar a noiva chegar para podermos começar.

312
— Certo. — Jax balança a cabeça vezes demais, abre e fecha as mãos e
respira fundo. Posso ver o brilho do seu suor na testa.
— Jax, lembre-se, relaxe, ok? — Coloco minha mão no ombro dele e lhe
dou um aperto encorajador.
— Tudo bem, relaxar. Relaxar. Preciso relaxar. — Ele fica repetindo
para si mesmo e eu sorrio.
“Será que eu vou ficar assim tão nervoso quando for me casar?”
Uou! De onde veio esse pensamento? Calminha aí, um passo de cada
vez, Justin. Ainda é cedo demais para pensar nisso, acabei de começar
com esse negócio de relacionamento sério e monogamia.
Eu amo Savannah, mas será que estou disposto a me casar com ela?
Bem, eu sei que eu não quero que ela se case com outro, e eu sem
dúvida não quero outra mulher, mas...Casar?
Essa palavra é meio assustadora. Acho melhor parar de pensar sobre
isso, porque mais assustador que a própria palavra, é o fato de eu estar
imaginando Savannah vestida de noiva andando lentamente a caminho
de se tornar minha esposa e estar gostando disso.
Papai chega trazendo o juiz, ele e Jax conversam e espero que isso
distraia Jax do fato de Kim estar um pouquinho atrasada. O que é
perfeitamente normal, eu sei, mas vai falar isso para o senhor nervoso
ali.
Quando passa 15 minutos do horário que era para Kim chegar,
começam as brincadeiras de que noiva tem que sempre se atrasar,
quando passa 30 minutos vejo Jax se remexendo e com uma expressão
preocupada no rosto, quando o atraso chega há 45 minutos, ele quase
arranca meu braço quando me puxa para longe da mesa e do juiz.
— Alguma coisa está errada.
— Jax, ela só está atrasada, logo ela estará aqui, não se preocupe.
— Não. É quase uma hora de atraso, aconteceu algo...Ela percebeu que
não quer mais se casar comigo, é isso. — Ele diz parecendo estar
prestes a chorar.
— Claro que não, Jax. — Digo esfregando o rosto. Lá vem o papo de
desistência de novo.
— É sim, eu percebi que ela estava hesitante ao telefone quando
conversamos. Ela desistiu, ela vai me abandonar no altar, ela não me
quer mais. E agora, o que eu faço se ela não me quiser mais? — Ele me
lança um olhar desesperado e se não fosse por isso, eu juro que dava
um murro nele.
Ele começa a passar a mão pelos cabelos nervosamente e a andar de
um lado para o outro.
— Ela não quer mais se casar comigo, ela não me quer mais. Minha
vida acabou.

313
Reviro os olhos e sinto minha paciência acabando. Seguro Jax pelos
ombros e o chacoalho com força para ver se ele acorda.
— Ela. Só. Está. Atrasada. Entendeu? Agora se recomponha homem de
Deus, você parece uma menina chorona. — Ele me olha sem dizer nada
e então volta para seu lugar.
— Jax, as meninas chegaram. — Aaron vem correndo nos dizer.
— A Kim também, né? — Jax pergunta estupidamente.
— Sim, ela também. — Aaron responde rindo.
— Graças a Deus. — Jax solta um suspiro alto e ruidoso.
Vou para meu lugar ao lado dos outros padrinhos e espero. Logo Gwen,
Shanon e Mitchie surgem. Todas com o mesmo modelo de vestido – mas
em cores diferentes – e botas de cowboy. E logo atrás delas, eu vejo
Savannah.
“Ah meu Deus!”
Como alguém pode ser tão perfeito? Deus, se eu ao menos tivesse
reparado antes como ela é linda, todos esses anos com ela aqui, bem ao
meu lado. Todos esses anos achando que eu nunca seria capaz de
amar, que eu nunca acharia uma mulher capaz de me fazer sentir essas
coisas que eu sinto com Savannah, todo esse tempo tudo o que eu mais
precisava estava bem diante dos meus olhos.
Achei que nada pudesse me distrair da raiva que eu estava sentindo
depois da noite de ontem naquele maldito bar, mas a visão de Savannah
com seu vestido amarelo até os joelhos e botas de cowboy marrom
muda o meu foco, me fazem esquecer toda a raiva e o ciúmes.
E a ver caminhando até aqui, segurando um buquê de flores laranja, só
faz com que minha mente vá novamente para aquela fantasia de
minutos atrás onde a imaginei andando por um corredor como esse
para se tornar minha esposa.
Porque meu coração está tão acelerado? Porque essa sensação
maravilhosa dentro de mim ao me imaginar colocando um anel na sua
mão?
Meu Deus, eu não estou pronto para isso, mas que a perspectiva de
passar o resto da vida ao lado de Savannah está me deixando eufórico,
isso está.
Ela se aproxima, mas não me olha nem uma única vez, quando passa
por mim abaixa a cabeça e segue para seu lugar ao lado das outras.
Então quando tudo está pronto, a música começa e todos viram suas
cabeças para trás, ficando em pé.
De repente eu a vejo, Kim aparece segurando o braço do seu pai. Ela
está sorrindo largamente e está visivelmente tentando não quebrar e
começar a chorar. Ela anda lentamente ao ritmo da marcha nupcial,
olho para Jax e vejo-o sorrindo como um bobo, seus olhos focados em

314
Kim. Uma lágrima escorre por sua bochecha e ele parece feliz como
nenhum outro homem na face da terra.
Diante de um momento repleto de evidente amor, não posso evitar em
ficar sentimental. A minha vontade de virar a cabeça e olhar para
Savannah está me matando, ela ainda está encrencada, mas eu a amo e
a quero. Quero poder admirar sua beleza e beijar seus doces lábios a
hora que eu quiser, sem me preocupar se alguém vai descobrir.
Isso tem que acabar, temos que revelar nossa relação para todos, não
quero mais esperar.
Kim então finalmente chega aos braços de Jax, e o juiz dá inicio a
cerimônia.
Na hora certa, os noivos trocam declarações de amor e todos choram
diante do poder e da sinceridade das palavras. Jax faz um discurso
muito emocionante e que arruína a tentativa de Kim de não chorar.
Na hora do beijo, Jax segura Kim bem apertado em seus braços e a
beija tão intensamente, tão apaixonadamente, que posso jurar ter
escutado alguns suspiros femininos.
Todos aplaudimos enquanto eles alternam entre se beijarem, limparem
as lágrimas e sorrirem para os convidados.
Logo a fila para dar parabéns para os recém-casados se forma, vou até
Jax e lhe puxo para um abraço.
— Parabéns, irmão. Que você e sua esposa sejam muito felizes.
— Kim, parabéns, cunhadinha. Cuide bem do meu irmão e sejam
felizes. E caso ele não se comporte, me avise que eu vou dar um puxão
de orelha nele, ok? — Digo abraçando seu corpo pequeno e ela ri.
— Muito obrigada, Justin.
Logo um grupo se forma mais para o lado, enquanto os outros
parabenizam os noivos. Eu, Aiden, Aaron, Preston, Miguel, Mitchie,
Shanon e Gwen. Vejo impotente Savannah deliberadamente não se
juntar a nós, e começo a achar que ela está me evitando.
— Ah meu Deus, não acredito que a minha melhor amiga acabou de se
casar. Foi tudo tão lindo. — Gwen diz, seus olhos vermelhos pelo choro.
— Foi lindo mesmo. A coisa mais linda que eu já vi. — Mitchie diz.
Conversamos mais um pouco e então seguimos pelo portão de madeira
e logo estamos na propriedade da minha família. A decoração do lugar
está incrível. Várias mesas redondas com cadeiras distribuídas pela
grama, todas com toalha branca e tecidos enfeitando as cadeiras.
Louças caras repousando em cima das mesas.
Tendas para os músicos, para a comida e para os convidados
espalhados pelo lugar. Mais a frente, uma plataforma não mais alta que
um degrau onde será o local para dançar. Tochas, velas e pequenas
luzes iluminando o ambiente, sem falar que quando o dia tiver
totalmente ido embora, teremos a lua e as estrelas para nos iluminar.

315
Depois que Jax e Kim e nossas famílias se sentaram a mesa principal,
chega a hora dos discursos. Muitos amigos e familiares de ambos
falaram e emocionaram muita gente, até eu arrisquei um pequeno
discurso.
Depois de todos falarem, foi mostrado um vídeo no telão. O vídeo era
feito por montagens de fotos de Jax e Kim e algumas filmagens.
Várias fotos lindas dos dois juntos apareciam enquanto uma musica
romântica tocava, em todas elas os dois estavam sorridentes e
obviamente felizes e apaixonados.
Algumas filmagens foram mostradas, como uma em que eles estavam
de férias em uma praia na Califórnia. Alguém estava filmando enquanto
Jax e Kim brincavam juntos na água do mar, eles jogavam água um no
outro e riam, Jax foi pegar ela mas Kim desviou e começou a correr na
areia, Jax a alcançou e segurou firme, a girando no ar junto com ele.
Outra filmagem era de um natal em que passamos todos juntos em
uma estação de esqui.
Kim tentando permanecer em pé na prancha e falhando terrivelmente,
levando um belo tombo e caindo de bunda no chão. Eu me lembro
disso, fui eu quem filmou ela caindo.
Todos os convidados riem nessa parte, assim como o Jax da filmagem,
mas ele logo vai ajuda-la a se levantar, enquanto eu fico segurando a
câmera e rindo. Quando a montagem em vídeo acaba todos aplaudem e
o casal que é o centro das atenções de hoje se beijam e se olham
apaixonadamente.
Durante o jantar foi tempo para todos se recuperarem de tanto choro,
conforme o tempo passava todos se descontraiam cada vez mais, as
risadas foram tomando conta das mesas. Depois teve o bolo, Jax e Kim
tiraram aquela famosa foto dos noivos cortando o bolo juntos, eles
distribuíram os pedaços e a festa seguiu noite adentro.
Na hora da dança, como é costume, a primeira foi exclusiva dos noivos.
Que dançaram lindamente uma musica lenta e romântica.
Logo outros casais se juntam a eles, fico morrendo de vontade de tirar
Savannah para dançar, afinal não teria nada demais nisso e ninguém
desconfiaria, mas pelo modo como ela parece estar me evitando o
casamento inteiro, não acho que ela aceitaria. E além do mais, ela está
dançando com Preston agora, então só me resta admira-la
disfarçadamente.

Savannah
Eu juro que podia sentir os olhares de Justin queimando minha pele
durante toda a noite.
Eu venho evitando-o o casamento inteiro, e graças a Deus ele teve o
bom senso de não se aproximar, mas não sou ingênua ao ponto de
acreditar que estou livre de quaisquer consequências e que eu posso
evita-lo para sempre, na verdade nem quero, imagine ficar fugindo do

316
homem que eu amo? É só até eu ter certeza que ele está mais calmo,
talvez amanhã já possamos conversar. Pelo menos ele não está mais me
olhando daquele modo aterrorizante de ontem à noite.
Faço o caminho de volta para minha mesa, sento-me e a visão de um
grupo de pessoas chama minha atenção.
Kim, Jax, Justin, Alyssa, Mark, Holly e Diana estão conversando. É tão
bom ver essa cena, é maravilhoso que os pais de Jax tenham aceitado
que Diana – a mãe biológica dele – faça parte das suas vidas agora. E
Holly, fico muito feliz pelos Cord em vê-la recuperada. Sei que foi muito
difícil para toda a família, se Jax – Deus me livre – tivesse morrido, ou
então Holly tivesse atirado e matado Kim, a dor seria imensurável. Mas
graças a Deus ela se tratou e Jax e Kim foram capazes de perdoa-la.
É bom ver a família reunida, me dá uma sensação de paz e felicidade,
mas também me faz pensar em como a noticia do meu namoro com
Justin vai afetar essa união. Será que os Careton e os Cord vão
continuar amigos, como será que nossos pais reagiram a noticia?
A festa continua até que finalmente chega a hora dos noivos se
despedirem e irem para a Lua de Mel.
Quando chego na cada dos pais de Justin, todos os convidados que
ainda não foram embora estão parados em volta da pick-up de Jax, que
está com os vidros pintados com a frase “Recém casados”. Jax aparece
na porta da casa, e segura a mão de Kim que vem logo atrás.
Todos os convidados começam a gritar, assoviar e bater palmas. Kim
está linda com um vestido curto e soltinho cor de vinho.
Os recém-casados descem os degraus da varanda de mãos dadas
enquanto algumas pessoas jogam arroz nos noivos.
Jax puxa Kim para debaixo do seu braço e com a mão protege seu rosto
dos pequenos grãos brancos que são atirados neles sem trégua.
Quando chegam ao carro as pessoas se aquietam e param de
bombardeá-los. Os pais de Kim logo vão abraça-los e desejar boa
viagem, depois é a vez dos pais de Jax. Diana o abraça e vejo-a enxugar
o rosto. Sally, a irmãzinha de Jax, dá um pulo no colo dele quando Jax
se abaixa para abraça-la, ele ri e a segura no colo enchendo-a de beijos
no rosto.
Ele a coloca no chão e continua se despedindo dos parentes e amigos
mais próximos. Logo chega a vez de Gwen e ela começa a chorar e não
larga mais a amiga, em seguida Aiden se despede. Depois Mitchie,
Aaron, Shanon, eu, Justin, Jane, Seth...Todos desejando felicidades ao
casal.
Mais algumas despedidas, acenos de mão para aqueles não tão
próximos da família e que ficaram assistindo de longe e os dois entram
na pick-up.
Acenamos para eles enquanto o carro lentamente se afasta e antes de
desaparecer totalmente de vista Jax buzina.

317
Então eles se vão. Fico observando o local em que o carro desapareceu
no horizonte com um sorriso bobo no rosto.
Poucas horas depois de os noivos terem partido todos os convidados
que ainda estavam aproveitando a festa, vão embora. Sobrando apenas
os Careton e os Cord, além do pessoal contratado para fazer a limpeza
de toda essa bagunça.
Papai e mamãe ficam conversando com os pais de Justin, assim como
Seth e Jane, que ainda estão em uma situação tensa entre eles, mas
felizmente hoje aparentam estar melhores. Talvez esse clima de
casamento tenha apaziguado um pouco as constantes brigas.
Não vejo Justin em lugar algum e acho que assim é melhor, me despeço
de todos e faço meu caminho de volta para nossa fazenda.
No caminho passo pelos vários homens e mulheres desarmando as
tendas e retirando a mesa onde estávamos pouco tempo antes.
Sigo pelo caminho iluminado por tochas de volta para minha casa, ando
despreocupadamente olhando para cima e observando as estrelas e a
lua. Até que um outro farfalhar na grama indica que não estou tão
sozinha quanto imaginava.
Olho para trás e vejo Justin vindo perigosamente tentador em minha
direção. Ah, o que ver esse homem de terno faz comigo!
— Finalmente a sós. — Ele diz e tento decifrar seu tom para descobrir o
quão encrencada estou.
Justin se aproxima lentamente, as mãos no bolso da calça, o paletó
desabotoado, sem gravata e com o colarinho aberto, mostrando uma
boa extensão de pele.
Ser tão sexy assim deveria ser proibido. Não sei se fico com medo ou
excitada.
— Acho que temos que conversar sobre algo, mas não me lembro o que
é...Ah sim, lembrei. É sobre o fato de você ter me enganado e ter ido
naquele bar para ver homens ridículos tirarem a roupa. — Ele diz
sarcasticamente, parando intimidadoramente na minha frente.
— Eu não te enganei. — Minha voz sai baixa.
— Ah não? — Ele levanta uma sobrancelha.
— Eu não sabia, nenhuma das meninas sabia, foi ideia da Kim. — Me
defendo.
— Não duvido. Mas a pergunta é, depois que você chegou lá e viu o que
ela tinha em mente, porque você não foi embora? Você queria ver outros
homens pelados, é isso, Savannah? Achou que eu nunca iria descobrir?
— Ele diz e dá um passo para frente, diminuindo mais ainda a distância
entre nossos corpos.
— Não, não é isso. Eu...Eu não sei. Todas as meninas entraram e eu
acabei indo junto, não sabia que desculpa eu poderia dar para sair dali.

318
— Se eles já soubessem sobre nós, nenhuma desculpa seria necessária.
— Ele diz sério.
— Eu sei, eu sei.
— Temos que contar, Savannah. Amanhã.
— Amanhã? — Pergunto surpresa.
— Sim, não aguento mais isso. Seth e Jane parecem longe ainda de se
entenderem, não vai dar para esperar mais. Vamos contar amanhã. —
Ele diz firme, me fazendo acreditar que a decisão já foi tomada e não há
nada o que eu possa fazer.
— Tudo bem, amanhã nós contamos para todos. Podemos organizar um
almoço antes que o pessoal vá para o aeroporto e então damos a noticia.
— Perfeito. — Ele diz e ficamos em silêncio. Seus olhos azuis e
analisadores percorrem meu corpo. Imediatamente sinto um fogo
crescer dentro de mim.
— Você está muito, muito linda. — Ele diz numa voz baixa e rouca e
que arrepia todo o meu corpo.
— Você está muito bravo sobre ontem? — Pergunto estranhando que ele
não tenha agido tão explosivamente como eu havia imaginado.
— Estou, quer dizer, estava. Ontem eu estava furioso, hoje estou bem
menos. É difícil me concentrar em qualquer outra coisa quando a única
coisa que eu quero é arrancar esse seu vestido e me enterrar fundo em
você. — Ele segura minha cintura e me puxa de encontro ao seu corpo
forte.
— Justin...Aqui não. Alguém pode nos ver.
— E daí? Vamos contar para eles amanhã mesmo. — Ele diz enterrando
a cabeça em meu pescoço e depositando vários beijos carinhosos.
— Mas não quero que eles descubram dessa forma, vendo nós dois
assim. — Não consigo conter um suspiro devido suas caricias. Ele já me
conhece tão bem, sabe me desarmar por completo.
— Preciso de você agora, Savannah. — Ele sussurra para mim e então
ataca minha boca.
— Justin, não...Alguém vai...Nos ver. — Tento dizer entre as tentativas
dele de retomar o beijo.
— Então venha comigo. — Ele segura minha mão e me puxa.
— Para onde você está me levando?
— Para o celeiro, você vai receber sua punição por ontem à noite.
Chegamos ao celeiro vermelho e branco, Justin acende a luz e deixa a
porta aberta. Ele me pega e me empurra contra a parede, espremendo
meu corpo com o seu.

319
— Você está tão sexy nessas botas. — Ele puxa uma perna e coloca em
volta da sua cintura. Sua ereção pressiona contra o meio das minhas
pernas.
Ele levanta me vestido e acaricia minha coxa. Com uma mão fica
segurando minha perna enquanto que com a outra segura firmemente
meu pescoço e me beija ferozmente.
Ele se aperta mais contra mim e eu gemo, levo minhas mãos até se
cabelo e me perco na macies de seus cachos escuros.
— Eu te amo. — Ele sussurra e começa a beijar e morder meu pescoço.
Gemo mais alto e o aperto forte.
Suas mãos vão para a alça do meu vestido e ele as abaixa. Puxa o tecido
amarelo para baixo, até minha barriga, expondo meu sutiã de renda
branca.
Ele fecha uma mão em meu seio e o aperta.
— Justin. — Gemo seu nome. Preciso do seu toque.
— Você é tão linda, eu te amo tanto, Savannah.
— Também te amo, Justin. Muito.
Sua boca volta a atacar a minha, sua língua brincando e provocando a
minha. Sua mão acariciando e apertando meu seio por cima do tecido
fino, fazendo meu mamilo ficar duro e pronto para sentir sua língua
provoca-lo.
Beijamos-nos desesperadamente, precisando cada vez mais um do
outro. Eu o amo tanto, como pode, não é? É muito engraçado as
brincadeiras que o universo prepara para gente. De todos os homens do
Texas, do mundo até, quem diria que eu me apaixonaria justo por
Justin? Ele que sempre me tratou como uma irmãzinha, ele que é tão
errado para mim, mas ao mesmo tempo tão certo.
Justin esfrega sua ereção enorme em mim e eu gemo em sua boca
enquanto sua língua não me dá trégua e seus lábios massageiam os
meus.
“Isso é perfeito.”
— Mas que porra é essa? Solte-a agora seu filho da puta. — Um grito
feroz e que ecoa no silêncio da noite nos assusta. Sinto meu coração
disparar e dessa vez não tem nada a ver com Justin e suas caricias.
Nós dois olhamos para a direção do grito e vemos Seth parado na porta
do celeiro, vermelho e com ódio brilhando no olhar.
“Oh não, não, não!”
Justin dá um passo para trás, se desvencilhando da minha perna que
estava em sua cintura. Rapidamente abaixo a saia do vestido e subo o
tecido e recoloco as alças no ombro, escondendo meus seios.
— Seth, calma, cara. Eu posso explicar. — Justin fala e eu posso ouvir
o desespero em sua voz.

320
— Explicar o que, porra? Que você estava abusando da minha irmã?
Você é um filho da puta mesmo, mexer com ela foi longe demais até
para você, seu merda. — Seth grita como eu nunca havia escutando
antes. — Eu vou acabar com você, seu desgraçado. — Ele parte para
cima de Justin com seu rosto vermelho de raiva e um olhar assassinado
nos olhos.
Atiro-me na frente de Justin, protegendo-o com meu corpo e fazendo
com que Seth tenha que parar bruscamente para não bater em mim.
— Não. — Digo para ele.
— Savannah, saia da frente. — Seth ordena com uma voz que me dá
arrepios.
— Não, Seth. Não vou deixar que você machuque ele.
— Eu vou fazer mais do que apenas machuca-lo, eu vou matar esse
desgraçado. Agora saia. — Ele segura meu braço e me empurra para
longe, cambaleio mas não caio.
— Não toque nela. — Agora é o grito de Justin que preenche o
ambiente.
— Filho da puta, você que não deveria tocar nela, você nunca deveria
ter tocado nela. — Seth esbraveja e em um moviemento rápido demais
para assimilar, ele acerta um soco certeiro no queixo de Justin.
Justin cambaleia para trás com a mão no queixo e Seth aproveita e lhe
dá um soco no estômago, fazendo Justin se dobrar de dor, lutando para
recuperar o ar nos pulmões.
— Não, pare! — Grito estérica para Seth.
— Vá embora, Savannah. Isso não vai ser bonito.
Seth se prepara para atacar Justin mais uma vez, mas eu me jogo
novamente ente os dois e me inclino sobre Justin, que ainda está
indefesso e curvado, tentando se recuperar do soco no estômago.
— Pare de machuca-lo, por favor. — Peço e sinto uma enxurrada de
lágrimas descerem dos meus olhos e deslizarem por minhas bochechas.
— Saia daqui, Savannah, eu já falei. Eu vou acabar com esse tarado
nojento.
— Não, não. Você não entende, ele não me forçou a fazer nada. Foi tudo
consentido, eu aceitei tudo, ele não me obrigou. — Justin endireita a
postura, mas sua cara ainda é de dor.
— Você é uma criança, ele te manipulou porque é um filho da puta que
não perdoa nem a própria irmã do amigo. Ele é um nojento pervertido,
eu já devia ter notado isso antes, devia ter percebido como ele é, mas
nunca achei que ele fosse capaz de fazer isso. Ele tem que pagar
Savannah.
— Seth, eu não estou me aproveitando dela, eu a...
— Cala a boca! Cala a porra dessa boca, desgraçado.

321
— Eu a amo. Eu amo Savannah, Seth. — Justin diz confiante, sem se
intimidar pelos berros de Seth.
Seth dá um passo para trás e nos olha incrédulo.
— Não acredito que você está fazendo isso com a minha irmã, que você
chegou a esse ponto. Iludi-la dizendo que a ama para leva-la para a
cama.
— Eu a amo.
— Você não ama ninguém, você e eu sabemos disso. — Seth grita a
plenos pulmões, olhando a expressão em seu rosto agora, eu realmente,
realmente estou com medo dele. Sinto meu corpo tremendo e me
encolho.
— Você está assustando Savannah. — Justin diz saindo detrás de mim
e ficando ao meu lado, envolvendo meus ombros com seu braço, me
consolando.
— Não encoste nela. — Seth segura Justin pela camisa e o arrasta até a
parede. Jogo-me contra Seth tentando liberar Justin. Desestabilizo meu
irmão e com toda a minha força empurro seu peito, fazendo cambalear
para trás.
— Não chegue perto dele, Seth. Não vou deixar você encostar um dedo
sequer nele. Eu o amo, e eu acredito que ele me ama também, nós
vamos ficar juntos quer você goste ou não. — Digo chorando.
— Ele está te enganando, Savannah. Meu Deus como você é burra, você
não vê? — Ele grita na minha cara e eu me encolho.
— Grite com ela mais uma vez e você vai se arrepender. — Justin diz
ameaçador.
— Não precisa fingir que se importa com ela. Ou você está fingindo
porque ainda não conseguiu o que queria, hein? Você conseguiu,
Justin, você fodeu minha irmãzinha?
Sinto como se o meu mundo todo tivesse se desmoronado. As palavras
de Seth me machucam e me fazem sentir vulgar e apenas mais uma na
vida de Justin. Coloco a mão no coração e me curvo com a dor que
sinto.
Numa inversão de papeis, Justin é quem segura Seth pela camisa e lhe
dá um soco.
— Nunca mais fale assim da sua irmã, ouviu? Eu juro por Deus que se
você falar isso de novo eu vou perder a cabeça.
Seth se recupera do soco e estranhamente vejo magoa em seu olhar.
— Eu achei que você fosse meu amigo. — Ele diz esfregando o lugar
onde Justin lhe acertou. — Eu achei que sempre pudesse contar com
você. Eu nunca imaginei que você fosse esse tipo de pessoa, que você
me trairia dessa forma. Meu Deus, como eu pude me enganar tanto a
seu respeito? Eu sempre perdoei as suas falhas, até te perdoei quando

322
você quase me fez perder a mulher que eu amo. Mas isso...Isso eu
nunca vou perdoar.
— Seth, por favor, não diga isso... — Digo sabendo que as palavras de
Seth têm mais poder de ferir Justin do que seus socos. Eu sei o quanto
Justin gosta de Seth, toda essa raiva deve estar magoando-o muito. —
Justin mudou, ele não é mais o mesmo. Ele me ama.
— Ele é exatamente o mesmo, Savannah, exatamente. Você não o
conhece como eu, você não sabe as coisas que eu sei, você não viu as
coisas que eu vi. Ele não tem concerto, ele nunca será capaz de fazer
você feliz e te amar como você merece, você não vê isso?
— Não é verdade. — Digo balançando a cabeça enquanto lágrimas
incessantes caem dos meus olhos.
— Não posso permitir isso, não posso permitir que ele te use mais
ainda.
— Eu já falei, porra, não fale assim dela. — Justin explode ao meu lado
e tenho que me enfiar na sua frente e segura-lo para não partir para
cima de Seth.
— Ou o que? Você vai me bater? Pode vir. Agora ou depois, não importa,
eu vou acabar com você pelo que você está fazendo. Ela não vai poder te
proteger para sempre.
— Savannah, vá para casa. — Dessa vez a ordem vem de Justin.
— O que? — Olho-o com medo.
— Vá para casa, seu irmão e eu temos que resolver isso, meu amor. —
Quando Justin me chama de meu amor, escuto Seth soltar um
grunhido.
— Não, não posso, vocês vão acabar se matando. — Falo desesperada.
— Por favor não, Justin, por favor.
— Vá para casa, Savannah. Você nunca mais vai ver esse pedaço de
merda. — Seth diz.
— Não, não, não. Parem vocês dois. Vocês não vão brigar e você não vai
me impedir de ver Justin.
— Vá para casa, Savannah. — Seth diz sombrio. — Eu preciso fazer
isso.
Seth rapidamente e sem me dar tempo para reagir, me empurra
novamente para longe. Dessa vez não tenho tempo de tentar interferir,
eles se atacam como animais e não a nada que eu possa fazer.
— Não, por favor, parem. — Grito para os dois.
Justin não acerta muitos socos em Seth, ele tenta apenas se defender e
somente acerta meu irmão quando necessário. Imagino que ele não
queira de fato brigar com o melhor amigo.
Já Seth não. Ele tenta acertar Justin de todas as maneiras, e
infelizmente, meu irmão briga muito bem.

323
— Pare, Seth. Pare. — Meus gritos não surtem efeito nenhum, então
saio correndo do celeiro em busca de ajuda. Corro o mais rápido que
minhas pernas conseguem.
Me pego correndo pela segunda vez para salvar a bunda de Justin, mas
eu sei que Seth é capaz de fazer muito mais estragos que Vince.
— Me ajudem, por favor, me ajudem. — Grito quando chego perto da
casa dos Cord.
Entro correndo na casa e dou de cara com o peito forte de Aiden.
— Você que estava gritando? O que aconteceu? — Ele pergunta
assustado.
Logo Aaron, Preston, Miguel, Mark, Shanon, Mitchie, Gwen, Jane,
Alyssa, papai e mamãe aparecem, todos confusos e assustados com a
minha gritaria.
— Vocês tem que parar ele, ele vai acabar matando-o.
— Quem? — Aiden segura meus ombros e pergunta.
— Seth. Seth está espancando Justin no celeiro, vocês tem que para-lo.
Demora apenas um segundo para que todos compreendam minhas
palavras e saiam correndo da casa.
Logo as mulheres ficam para trás, não conseguindo alcançar os homens
e eu que corremos a toda velocidade.
Aiden é o primeiro a entrar no celeiro, eu entro bem quando ele está em
cima de Seth arrancando-o de cima de um Justin caído no chão e cheio
de sangue.
Ver ele daquele jeito me desespera e eu grito, vou correndo até o homem
que eu amo no chão, quase inconciente.
É preciso Aiden, Aaron e papai para segurar Seth.
— Me soltem, eu vou matar esse desgraçado.
As mulheres ficam assistindo tudo chocadas demais para falar ou fazer
algo, e enquanto os homens tentam segurar e acalmar Seth, eu choro
por Justin.
— Meu amor. — Digo bem baixinho e passo a mão por sua testa.
Seu nariz está cheio de sangue, seus dois olhos inchados e um corte
profundo logo acima do olho.
“Não, meu amor, meu amor. Pobre, Justin. Meu amor.”
Sinto uma mão em meu ombro e quando olho para cima vejo Miguel, ele
se ajoelha ao meu lado.
— Deixe-me ajuda-lo.
Graças a Deus que ele é enfermeiro.
— Ele vai ficar bem, não é? — Pergunto com medo.

324
— Vai sim, mas acho que devo leva-lo para o hospital, ele pode ter
batido com força na cabeça e ter causando uma concussão.
Sinto a raiva crescendo dentro de mim, a essa altura já levaram Seth
para fora do celeiro. Levanto-me sentindo muito ódio de Seth e vou para
fora.
— Se alguma coisa acontecer com ele, eu nunca vou te perdoar, ouviu?
— Grito na cara de Seth.
— Ele mereceu. Isso e muito mais. — Seth não está mais sendo
segurado, mas os meninos ainda estão cercando-o, impedindo que volte
para dentro do celeiro.
— O que é que está acontecendo aqui? — Mark questiona com um tom
de autoridade impressionante.
— Porque você bateu no meu filho, Seth? — Alyssa pergunta chorando,
quase tão desesperada quanto eu.
— Porque o seu filho não presta. Ele estava se aproveitando da minha
irmã. Aquele filho da puta lá dentro seduziu Savannah. — Seth grita
para todos ouvirem. Só queria que um buraco se abrisse agora e me
engolisse para dentro.
— Que história é essa? — Papai pergunta encarando Seth e eu. Todos
ficam em silêncio, esperando uma resposta minha.
— Eu...Eu e o Justin...A gente...A gente está... — Minha voz sai trêmula
por causa do choro e não consigo falar.
— Ele estava agarrando ela lá dentro. Ela acha que ele a ama, porque
aquele desgraçado está enganando ela para poder leva-la para cama. —
Seth diz.
O que vem a seguir são várias exclamações, sussurros, olhares
espantados e incrédulos.
— Isso é verdade? — Papai pergunta com raiva.
— Não, claro que não. Justin e eu nos apaixonamos, ele mudou e ele
não está se aproveitando de mim. Nós nos amamos de verdade.
— Oh meu Deus. — Escuto mamãe exclamando.
Todos se olham sem saber o que fazer, parecendo perdidos e sem saber
como reagir. Se acreditam em Seth ou em mim.
— Uma ajudinha aqui. — Miguel surge apoiando Justin. Aaron sai
correndo e ajuda a escorar o corpo fraco de Justin.
Seth faz menção de partir para cima de Justin de novo, mas o seguram.
— Não deixem ele se aproximar. Precisamos levar Justin para o
hospital. — Miguel diz.
— Vou buscar a caminhonete. — Mark diz e sai correndo.
Rapidamente ele volta e Miguel e Aaron colocam Justin dentro da
caminhonete com cuidado.

325
Vou em direção ao carro, mas a mão de Seth segurando meu braço me
impede de continuar.
— Onde você pensa que vai?
— Eu vou para o hospital com ele. — Digo me livrando do seu aperto.
— Nem pensar. Você fica aqui.
— Você não pode me impedir. — Digo-lhe.
— Mas eu posso. Você fica.
— Mas papai... — Lanço-lhe um olhar suplicante.
— Até eu descobrir se esse cara está ou não se aproveitando de você,
você não chega perto dele, entendeu?
Olho-o tristemente e começo a chorar.
— Ele não está se aproveitando, papai, eu juro. Deixe-me ir com ele,
preciso ficar perto dele.
— Não, você não vai chegar perto dele até Justin e eu termos uma
conversa. — Balanço a cabeça e escondo meu rosto nas mãos e choro.
Miguel, Aaron, Mark e Alyssa entram na caminhonete com Justin e vão
embora para o hospital. Observo a caminhonete se afastar e meu
coração dói, porque eu queria estar com Justin, com meu amor.
Olho para todos que sobraram ali, parados, mas especialmente para
papai e Seth.
— Vocês nunca vão me afastar dele, ouviram? Nunca. — Grito e então
saio correndo em direção a minha casa.
Corro com todas as minhas forças, corro enquanto as lágrimas
escorrem e o vento chicoteia minha pele e meu coração dói.
Entro em casa, subo as escadas e corro para meu quarto. Bato a porta
com força e a tranco.
Então me jogo na cama e choro com a cabeça enterrada no travesseiro.
Choro muito.

326
O segredo de Jane
Justin
Desvio meu olhar da janela do hospital quando escuto uma batida na
porta. A cabeça de papai aparece e ele entra, fechando a porta atrás de
si.
— Que bom que já está acordado, filho.
— É meio impossível dormir muito por aqui. Enfermeiras entrando e
saindo, barulhos no corredor, pessoas gemendo. Isso aqui é assustador.
— Você estará em casa antes do almoço. — Papai diz vindo se sentar na
beirada da minha cama.
— Não entendo porque tive que passar a noite aqui. Eu deveria estar em
casa trabalhando, tenho coisas importantes para resolver para
segunda.
— Você acha mesmo que estaria em condições de trabalhar hoje? Sei
que você adora seu emprego, mas vai ter que pegar leve pelos próximos
dias.
— Queria estar em casa. — Reclamo.
— Você ouviu o que o médico disse ontem. Você não tem nada sério,
mas ele queria que você passasse à noite para ter certeza que não
sofreu nenhum trauma nessa cabeça dura. — Ele diz batendo de leve
na minha cabeça.
— Como está se sentindo hoje, filho?
— Melhor, mas ainda com dor. E por causa desse maldito olho inchado,
só consigo enxergar parcialmente. Eu não devo estar nada bonito, não
é?
Ele segura meu queixo e vira meu rosto, analisando meus machucados.
— Realmente, ele não pegou leve com você. Mas nada que não esteja
melhor daqui a alguns dias.
— Acho que vou ter que trabalhar em casa, então.
Passam-se alguns minutos sem que digamos nada, papai está inquieto,
eu o conheço e sei que tem algo que ele quer me dizer. Deixo que tome o
seu tempo, porque eu já faço uma boa ideia sobre o que ele vai querer
falar.
— Filho, eu não falei nada ontem porque sua mãe estava aqui, mas eu
gostaria de te fazer uma pergunta.
— Pode perguntar, acho que já sei sobre o que é.

327
— Aquela tarde que você me procurou para perguntar sobre mim e sua
mãe...Naquela tarde quando você admitiu estar apaixonado. O amor
impossível que você disse que estava vivendo, era com Savannah, não
é?
— Era sim, era ela. Entende agora o porquê eu não podia falar nada?
Era complicado, ainda é.
— Coloca complicado nisso. — Ele diz esfregando o queixo. — Se eu me
lembro bem, você havia dito que o relacionamento de vocês começou
com...Bem, com sexo casual.
— Sim, foi assim que tudo começou.
— Então você estava transando com a irmã do seu melhor amigo, sem
intenção nenhuma de levar aquilo a sério. — Isso não foi uma pergunta
e o seu tom desaprovador não me passou despercebido.
— Você falando assim até soa como algo ruim. — Digo desviando meu
olhar com vergonha.
— Mas é, Justin. Você se apaixonar por ela não, mas o modo como
começou...Como você vai explicar como tudo começou para Hank, para
Seth? Você cometeu um erro em se deixar levar, filho, e agora você...
— Eu não vou me afastar dela, se é isso que você vai dizer. — Digo
ferozmente. Não importa se ele, mamãe ou qualquer um me pedir para
me afastar, dizer que isso é o certo a se fazer, eu não vou deixar
Savannah.
— Calma, eu não ia dizer isso. Eu só ia dizer que você terá que
enfrentar as consequências de um mau começo.
— Eu vou enfrentar qualquer coisa por ela. — Digo seriamente olhando-
o nos olhos. Papai franze a testa e me olha com aquele seu olhar
analisador.
— Você realmente gosta dela, não é? Quero dizer, realmente gosta dela.
— Eu a amo mais que qualquer coisa, pai. Ela se tornou tudo para
mim, tudo. Todo o meu mundo.
— Eu posso ver em seus olhos, que você está sendo sincero.
— Por favor, não me diga que eu devo me afastar dela.
— Eu nunca diria isso, meu filho. Não depois de claramente ver que
você a ama. Eu sei que você está sendo sincero com relação aos seus
sentimentos e eu vou apoia-lo.
Uma onda de alívio enorme percorre meu corpo, tranquilizando pelo
menos um pouco minha alma.
— Que bom que você acredita. Estava com medo que você fosse ficar
cético como Seth.
— Eu não. Acredito em você, filho, e sua mãe também.
— É mesmo?

328
— Sim, eu e ela conversamos sobre isso. Ela sabe que você não seria
capaz de fazer o que Seth disse, e ela viu como Savannah reagiu ontem.
Ela estava desesperada, defendendo você ferozmente das acusações do
irmão. Claramente vocês se amam. — Um largo sorriso se forma em
meus lábios ao ouvir suas palavras.
— Nos amamos mesmo, pai. Muito. Ela me faz tão feliz que acho que
vou explodir.
— Eu não poderia estar mais feliz por você. E sua mãe, está radiante
com a ideia de você finalmente ter se apaixonado. Contudo, peço que
você tenha cuidado, filho. Os Careton são nossos amigos há anos, e
Savannah é uma menina muito especial, cuide bem dela.
— Eu vou, pai. Preferiria morrer a magoa-la.
— Você sabe que vai ter que ter uma conversa com a família dela, não
é? E Seth...Realmente não sei como as coisas vão ser com ele, mas você
tem que estar preparado para a possibilidade de ter que escolher entre
seu melhor amigo e a garota que você ama. Acha que pode fazer essa
escolha?
— Eu já fiz. Eu amo Seth como um irmão, não guardo nenhuma magoa
pelo que aconteceu ontem e gostaria muito que pudéssemos acertar
tudo, mas se ele dificultar as coisas, é ela quem eu vou escolher. E ele
não vai me impedir de ficar com a mulher que eu amo. Ninguém vai. —
Papai sorri e vejo que me olha com algo muito parecido com orgulho.
— Fico feliz que você esteja tão decidido a correr atrás da sua felicidade,
meu filho. É só isso que sua mãe e eu queremos, que você seja feliz.
— Obrigado, pai. Isso significa muito para mim. — Digo segurando sua
mão.
— Bem, você está com fome? Quer que eu compre algo para você
comer? — Ele oferece mudando de assunto.
— Ah, por favor. Estou faminto e a comida daqui é horrível.
— Granny’s?
— Não se esqueça das rosquinhas. — Digo e ele ri.
— Tudo bem, não vou esquecer. — Ele diz indo em direção à porta.
Quando ele sai e fecha a porta, fico repassando em minha cabeça nossa
breve conversa. Meu pai é incrível mesmo, o melhor de todos. Ele
sempre esteve disposto a me apoiar, mas sabia ser duro também,
quando necessário. Mas sempre foi muito carinhoso, e saber que mais
uma vez ele está ao meu lado, principalmente por se tratar de um
assunto tão importante, significa o mundo para mim.
Alguns minutos depois, quando alguém bate a porta, me pergunto se
papai teria sido tão rápido assim em me conseguir meu café da manhã.
Mas quando a porta se abre, é Hank Careton quem entra.
— Posso entrar, Justin?

329
— Claro, por favor.
Um pouco hesitante ele se aproxima da minha cama, faz uma careta
quando vê meu rosto machucado de perto.
— Como você está?
— Bem, só com alguns hematomas. — Digo apontando para meu rosto.
— Sinto muito, por Seth ter feito isso com você. Mas não posso dizer
que se eu estivesse no lugar dele, teria feito diferente. — Ele diz e eu o
olho surpreso. — Bem, você deve entender, ela e minha filha, é irmã
dele, faríamos qualquer coisa para protegê-la.
— Eu entendo isso, Hank.
— É por isso que eu vim aqui, Justin. Eu preciso saber quais são as
suas intenções com a minha filha. Preciso ouvir de você, o que é que
está acontecendo.
— Eu posso garantir, minhas intenções com Savannah são as melhores
possíveis...Ela não veio com o senhor? Queria vê-la.
— Não. Eu gostaria que vocês não se vissem até eu ter essa conversa
com você. Ela é minha filha, Justin, preciso saber o que você está
fazendo com ela. — Posso ver o medo por Savannah estampado em seu
rosto, o desespero em sua voz.
Meu Deus, será que aos olhos dele eu sou um destruidor de coração
que não pensaria duas vezes em magoar sua filha? Por favor, ele me
conhece a vida toda, eu entendo que esteja preocupado, mas magoa ver
que eu tenho tão pouco crédito com pessoas que eu considerava
amigas.
Mesmo ainda sentindo um pouco de dor na área das costelas, me sento
na cama, para olha-lo do mesmo nível.
— Pois eu vou te falar o que está acontecendo então, senhor. Como você
já deve muito bem ter consciência, sua filha é linda, engraçada,
inteligente, simpática e tem um coração maravilhoso. Acontece que eu
me apaixonei perdidamente por ela. Eu carrego em meu coração mais
amor por ela do que sou capaz de suportar. Eu a amo com todas as
minhas forças, e nunca, jamais, seria capaz de engana-la e magoa-la.
Eu entendo o seu medo e o do Seth, afinal eu nunca fiz questão de
esconder o meu disinteresse em ter um relacionamento sério, mas eu
juro Hank, que isso mudou. Eu amo sua filha, e só quero ela.
Termino de falar e espero pela reação de Hank, mas ele simplesmente
fica parado, me olhando, e não diz nada.
— Você...Você realmente está falando sério. — Ele diz em um sussurro
para ele mesmo, parece incrédulo.
— Eu amo Savannah, Hank. E significaria muito para mim, e para ela
também eu sei, se você nos apoiasse. — Ele passa a mão pelos cabelos e
vai até a janela.

330
— Nunca imaginei que vocês dois...Ela é uma criança, e você é tão mais
velho.
— Hank, eu sei que você quer acreditar que ela vai ser para sempre a
sua garotinha, mas Savannah não é mais uma criança. Ela tem 20
anos.
— É que...Eu não quero que ela se machuque. Quando você tiver uma
filha, você vai entender.
— Eu te prometo, eu nunca vou fazer algo que possa magoar Savannah.
— Ele permanece em silêncio por alguns instantes, sempre encarando a
paisagem lá fora e nunca os meus olhos. Então ele finalmente solta um
suspiro e se vira em minha direção.
— Acho que não a nada que eu possa fazer, não é? Como você mesmo
disse, ela não é mais uma criança e eu não posso impedi-la de ficar com
quem ela quiser. Você pareceu muito sincero sobre gostar dela, e pelo
que eu pude perceber, ela também gosta muito de você. Vou ser franco
com você Justin, não estou completamente confortável com vocês dois
juntos como um casal, mas vou te dar o meu voto de confiança. Não
vou ser contra o relacionamento de vocês, e pelo pouco que eu conversei
com Marie ontem, acredito que depois que eu lhe contar o que você me
disse hoje, ela também não vai ficar contra.
— Muito obrigado, Hank. Eu...
— Mas vou te dizer uma coisa...Magoe a minha filha com esse seu estilo
de vida liberal, e eu vou chutar a sua bunda com tanta força que você
vai parar em Oklahoma. — Ele diz com aspereza.
— Eu não vou. Mas se isso acontecesse, eu teria o maior prazer em
deixar você chutar minha bunda, senhor.
— Ótimo, acho que estamos conversados então.

Savannah
Droga. Foi tão difícil conseguir dormir ontem, e quando eu finalmente o
fiz, já era muito tarde. Como resultado acabei dormindo demais, preciso
me apressar se eu quiser chegar a Dallas antes do horário de visita do
hospital acabar. Escutei eles conversando ontem que Justin estava
bem, mas passaria a noite em observação.
Arrumo-me apressadamente, pego minha bolsa e as chaves do carro e
saio correndo escada a baixo.
— Filha? — Paro bruscamente quando ouço a voz de mamãe.
— Filha, o café está na mesa, venha comer... — Ela para de falar
quando me vê parada perto da porta.
— Onde você vai?
— Estou indo para o hospital, preciso ver ele, mãe.
— Seu pai disse que não queria você perto dele até os dois conversarem.

331
— Papai não está aqui agora.
— Tem razão, ele está a caminho do hospital agora mesmo. — Ela diz
colocando as mãos na cintura.
— O que?
— Ele saiu faz meia hora.
— Porque vocês não me avisaram para eu ir junto?
— Você não ouviu o que eu disse? Seu pai não quer você perto do
Justin até ele saber quais são as intenções dele com você.
— Ah meu Deus. — Digo esfregando a testa. — Isso é ridículo. Eu tenho
que ir ver como ele está. — Giro a maçaneta da porta.
— Savannah, espere.
— O que foi, mamãe? — Pergunto me virando para ela.
— Como...Como isso foi acontecer? Quero dizer, você e o Justin? Isso é
tão estranho e...
— Olha mãezinha, eu sei, e eu vou explicar tudo mais tarde, ok? Agora
eu preciso mesmo ir. — Vou até ela e lhe dou um beijo na bochecha,
então saio correndo até o carro. Preciso chegar logo naquele hospital e
impedir que papai estrague tudo com Justin.

— Oi, bom dia. Gostaria de saber em qual quarto Justin Cord está. —
Digo para a moça atrás do balcão.
— Só um minuto... — Ela digita algo no computar e então diz: — Quarto
633. O horário de visita acaba em dez minutos.
— Tudo bem, obrigada. — Digo e vou apressadamente procurar o
quarto de Justin.
Passo pelo quarto 625, 626, 627 e tão distraída procurando o número
certo que estou, só vejo papai pouco antes de me esbarrar com ele.
— Savannah, o que você está fazendo aqui? Eu não tinha dito que...
— Você viu ele? Como ele está? — Pergunto preocupada.
— Ele está bem, um pouco dolorido, mas bem.
— Preciso vê-lo. O que vocês conversaram? Você não estragou tudo, não
é papai?
— Calma, menina. Justin e eu conversamos, e eu acredito que ele goste
mesmo de você.
— Sério? — Pergunto com um sorriso se formando em meus lábios.
— Sim, não vou ser contra vocês ficarem juntos, mas vou ficar de olhe
nele, hein? E se ele fizer alguma coisa para você que eu não gostar...

332
— Ah papai. — Não deixo que termine de falar, pois me jogo em seus
braços e lhe dou um abraço apertado. — Isso significa muito para mim,
obrigada.
— Só quero que você seja feliz, minha princesa. — Ele diz acariciando
meus cabelos.
Estou tão feliz que poderia explodir. Estava com tanto medo que a
conversa entre papai e Justin fosse mal e que ele quisesse me proibir de
namorar Justin, claro que isso não me impediria, mas assim as coisas
vão ser bem mais fáceis. Ter o apoio dele me faz sentir mais leve, mais
tranquila e menos culpada.
— Vou vê-lo, o horário de visitas já está acabando. — Digo me
desvencilhando de seus braços.
— Tudo bem, vá.
— Até logo, e obrigada de novo, por entender. — Viro-me e vou até o
bendito quarto 633.
Abro a porta devagar, sem fazer barulho. Justin está deitado na cama,
olhando para a janela.
— Posso entrar? — Assim que ouve minha voz, ele se vira rapidamente
e abre um sorriso largo.
— Meu amor. — Tento sorrir, mas a visão do seu rosto machucado faz
com que o sorriso fique preso nos lábios e meu coração fique pesado,
dolorido.
— Justin. — Sussurro seu nome. Caminho até a cama e fico ao seu
lado.
— Meu amor, que bom que você está aqui. Acabei de falar com seu pai,
e ele...
— Eu sei. Encontrei com ele no corredor, ele me disse. — Digo tentando
lhe dar um sorriso reconfortante.
— E o meu pai também entendeu, ele disse que vai nos apoiar.
— Isso é maravilhoso, meu amor. — Digo segurando sua mão.
— Acho que não foi tão ruim quanto havíamos imaginado, quer dizer,
com Seth foi. Mas nossos pais, acho que eles estão reagindo melhor do
que esperávamos. — Ele diz sorrindo animadamente, mas não consigo
retribuir o sorriso, não quando ele está deitado em uma cama de
hospital todo machucado por minha culpa.
— O que foi, amor? Você não está feliz? — Ele pergunta.
— Ah meu amor, é claro que eu estou feliz. Ter o apoio de papai
significa muito, mas...Você está aí, todo machucado. Não acredito que
Seth tenha te batido dessa maneira. — Sinto meus olhos começarem a
se encherem de água.
— Ei, não fique assim. Nós dois sabíamos que ele não reagiria bem.

333
— Eu sei, mas eu achei que ele fosse gritar, ficar bravo, até te dar um
soco. Não imaginei que ele te mandaria para o hospital.
— Está tudo bem, eu estou bem.
— Está mesmo? Você não parece muito bem, não está doendo? —
Pergunto acariciando de leve seu rosto.
— Dói só um pouco, mas estou bem, juro.
— Sinto muito. — Uma lágrima traidora escorre por minha bochecha.
— Sabe o que você pode fazer para eu me sentir melhor? — Ele
pergunta.
— O que?
— Primeiro, pare de chorar. — Ele estica o braço e limpa minha
bochecha. — E segundo, você pode me dar um beijo. — Não consigo
evitar e sorrio. Inclino-me sobre ele e deposito um beijo carinhoso em
seus lábios.
Quando faço menção em me afastar, sua mão vai até meu pescoço e me
mantém no lugar. Seus lábios são tão macios, reconfortantes e
familiares. Permito-me perder a noção de tudo que não seja Justin, por
isso me assusto quando escuto alguém limpando a garganta atrás de
nós.
Afasto-me num pulo e me viro, dando de cara com um Mark muito
desconcertado.
— Desculpe, não queria interromper, mas trouxe sua comida, filho. —
Ele diz levantando uma caixa de padaria e uma caneca do que, pelo
cheiro, presumo ser café.
— Tudo bem, pai.
— Oi, Savannah. — Mark me cumprimenta com um sorriso tímido.
— Oi, Mark. — Digo também um pouco envergonhada. Ele se aproxima
e entrega a comida a Justin.
— Sinto muito, filho, mas vou ter que ir, o horário de visita já acabou e
logo vão aparecer para nos tirar daqui.
— Tenho que ir também. — Digo.
— Claro, tudo bem. Daqui uma hora eu devo ter alta, você vai voltar
comigo até meu apartamento, não é? — Ele dirige sua pergunta para
mim.
— É claro, meu amor. — Respondo.
— Ótimo.
— Até logo. — Me despeço.
— Hey, e o meu beijo? — Olho para ele e depois para Mark, sem graça.
Tudo bem, isso ainda é um pouco estranho.

334
Dou um beijo de despedida em Justin, e então eu e Mark seguimos para
fora do quarto. Caminhamos lado a lado pelo corredor branco e largo.
Olho-o de canto e vejo um pequeno sorriso nos lábios de Mark.
— Feliz? — Pergunto.
— Muito. Em 29 anos nunca vi aquele brilho nos olhos do meu menino.
O jeito que vocês se olham...Me lembra muito de mim e Alyssa. —
Sorrio com suas palavras. Se ao menos Seth conseguisse ver o que
parece que todos estão conseguindo.

Justin
Finalmente em casa. Sei que passei apenas algumas poucas horas no
hospital, mas foi suficiente para me deixar angustiado e louco para
voltar para o conforto do meu apartamento.
Quando finalmente tive alta, papai e Savannah me acompanharam até
em casa, logo mamãe também se juntou a nós. Os três ficaram me
fazendo companhia por várias horas, até que foram embora, pouco
tempo atrás.
Agora estou sozinho, anestesiado pelos comprimidos para dor que o
médico me receitou. Gostaria que papai e mamãe não tivessem se
demorado muito, queria ficar a sós com Savannah, temos tanto para
conversar. Quero saber melhor sobre como ela está se sentindo com
relação a como o nosso relacionamento foi revelado, e confesso que
queria que ela fosse a minha enfermeira. Adoro quando ela se preocupa
comigo, quando cuida de mim.
Até poderia ter pedido para que ela dormisse aqui, mas não quero forçar
a barra, tenho certeza que mesmo aprovando nosso namoro, Hank vai
querer conversar com a filha, assim como provavelmente Marie.
Espero que Seth esteja mais calmo e não pegue pesado com Savannah.
Sei que mesmo Seth achando que eu estava errado nessa situação toda,
ele não deveria ter me agredido, mas não consigo ficar com raiva dele. A
verdade é que eu me sinto culpado pelo modo como as coisas entre eu e
Savannah começaram.
Eu sei que ela é uma mulher adulta, capaz de tomar as próprias
decisões, mas se a situação fosse ao contrário, não importa quantos
anos minha irmã tivesse, eu ficaria muito puto se o meu melhor amigo
estivesse tendo uma amizade colorida com ela. E depois de tudo que eu
já disse e fiz na presença de Seth todos esses anos, eu entendo seu
receio de deixar sua irmã namorar comigo.
Mas a parte em que ele gritou para quem quisesse ouvir que eu estava
me aproveitando dela, magoou. Ele é meu melhor amigo, ele deveria
saber que eu nunca seria capaz de dizer para Savannah que eu a amo
apenas para dormir com ela. Isso está anos-luz além do que eu seria
capaz de fazer.
Tenho muito medo que Seth não entenda e não aceite o meu
relacionamento com Savannah. Tenho medo que ele a influencie contra

335
mim, afinal, eu sei o quanto ela ama o irmão e o quanto sua opinião é
importante para ela. Também tenho medo de perder a amizade dele,
muito medo.
Espero não precisar chegar ao ponto de ter que escolher ou um ou
outro. Claro que eu escolherei Savannah, mas sem Seth, para sempre
vou ter um vazio em meu peito.
Eu o conheço há tanto tempo, uma vida inteira. Mesmo na memória
mais antiga, dos meus mais tenros anos, Seth era uma figura sempre
presente.
Como tínhamos a mesma idade, éramos vizinhos e os únicos meninos
em um raio de vários quilômetros, o forte laço que criamos logo no
começo de nossas vidas era algo inevitável.
Nós sempre tivemos personalidades contrastantes, mas que se
completavam. Contávamos tudo um para o outro.
Eu dormia em sua casa e ele na minha, às vezes acampávamos, sempre
perto da casa, porque tínhamos medo de ir muito para longe nos limites
escuros e silenciosos da fazenda. Claro que nenhum dos dois admitia
ter medo de acampar no escuro.
Quando chegou certa idade, começamos a conversar sobre meninas,
beijos e amassos e mais tarde sobre sexo.
Falávamos sobre tudo, contávamos tudo, estávamos sempre juntos. A
iminência do fim de tudo isso, é desoladora.
Mas se tem algo que me consola, é que no final vai valer a pena. É tudo
por ela. Minha princesa, minha linda, meu amor. Minha.

Savannah
Sei que tem algo errado assim que abro a porta de casa. É como se eu
pudesse sentir a mudança no ar, ficando mais denso, mais pesado.
Fecho a porta cuidadosamente, escutando atentamente para tentar
discernir as vozes vindas da sala.
Uma é de Shanon, outra de papai, mamãe também está presente e
alguém usando um tom severo...Seth. Agora reconheço sua voz.
Caminho em direção à sala e encontro todos com caras sérias. Eles
param de falar assim que eu chego, vejo que Jane também está
presente, mas sem participar da discussão.
— Onde você estava? — Seth se vira para mim e pergunta, colocando as
mãos na cintura.
Não gosto do seu tom autoritário, então levanto a cabeça, encaro-o nos
olhos e digo com confiança.
— Estava com Justin.
— Como assim estava com Justin? Eu disse que você nunca mais veria
aquele cara. — Ele diz elevando a voz.

336
— Sua recomendação foi devidamente anotada, mas eu escolhi ignora-
la e continuar vendo meu namorado. — Digo cruzando os braços e com
um sorriso de escárnio nos lábios.
— Não acredito nisso. Aquele desgraçado conseguiu mesmo fazer sua
cabeça, não é?
— Seth... — Digo tentando apelar para a razão. — Você conhece Justin
a sua vida toda, você sabe que ele nunca seria capaz de me enganar.
Ele é o seu melhor amigo, acha mesmo que ele faria algo tão cruel
comigo?
— Uma coisa certa você disse, eu o conheço a minha vida inteira. E eu
sei que suas raízes estão fundas demais nesse estilo de vida, para ele
larga-lo agora.
— As pessoas mudam. — Digo começando a perder a paciência.
— Sim, as pessoas mudam. — Ele grita, me fazendo dar um pulo com
sua mudança súbita de tom. — Quando elas entram na vida adulta,
quando elas estão no começo dos seus vinte e poucos anos, quando elas
têm que crescer e começar a agir como gente grande. Elas não mudam
aos 30 anos, Savannah. Ele não mudou até agora, não vai ser depois de
ter vivido metade da sua vida que ele mudará.
— Isso é besteira. Todos tem o direito de mudar.
— Ok, ele mudou. — Ele balança as mãos no ar. — Vamos imaginar que
ele tenha mesmo mudado. Você acha mesmo que ele vai conseguir fugir
de anos e anos de hábito? Não importa o quanto ele queira mudar – isso
se ele realmente quiser mudar – no final, ele vai acabar agindo segundo
as vontades do seu pau, como ele sempre fez.
— Seth! — Papai repreende Seth com uma voz autoritária.
— Ela tem que saber como as coisas são, pai. Por mais feia que a
verdade seja, ela precisa ser dita. É melhor ela saber agora, quando
ainda dá tempo dela sair disso tudo sem se magoar, do que depois,
quando ele fizer alguma merda com ela.
— Controle as palavras, filho. — Papai adverte.
— Você pode até conhecer o Justin há anos, mas você só conhece o
velho Justin. O novo, o apaixonado, carinhoso e que me ama, você não
conhece.
— Savannah...Minha irmã. Eu te amo com todas as minhas forças, eu
não posso deixar você se meter em algo em que você claramente vai sair
devastada. Tudo o que eu faço é para o seu bem.
— Foi para o meu bem que você espancou o seu melhor amigo?
— Ele não é mais o meu melhor amigo.
— Eu deveria nunca mais falar com você depois do que você fez com
Justin. Mas eu te amo demais para fazer isso. Mas o meu amor por você
não é maior do que o que eu sinto por Justin, e mesmo me doendo
muito não ter o seu apoio, eu não vou me afastar dele.

337
— Meu Deus, como você é teimosa. — Ele se aproxima e esbraveja em
meu rosto. Fico desconcertada com suas mudanças bruscas de humor.
— E você arrogante, não quer admitir que está errado.
— Isso porque eu não estou errado.
— Seu melhor amigo e sua irmã estão apaixonados, e você não
consegue aceitar isso. Fica querendo arrumar desculpas e pretextos
para nos separar.
— O que eu estou fazendo é para o seu próprio bem, eu sou seu irmão
mais velho e tenho que cuidar de você.
— Eu não sou mais uma criança, você não precisa cuidar de mim.
— Aparentemente eu preciso sim, já que você está agindo pior que uma
criança. Você está sendo mimada e burra.— A essa altura já estamos
gritando um com o outro.
Abro a boca, surpresa por suas palavras. Sinto a raiva crescendo cada
vez mais dentro de mim.
— Não se atreva a me chamar de mimada e burra... — Grito dando de
dedo em seu peito. — E não venha descontar as frustrações do seu
casamento no meu relacionamento. Você não é feliz com Jane e não
quer que ninguém mais seja, não é de admirar que ela não te queira
mais.
Nessa hora várias coisas simultâneas acontecem. Papai se levanta de
onde estava sentado e grita meu nome, Shanon e mamãe levam à mão a
boca em surpresa, Jane arregala os olhos e parece envergonhada, e
Seth dá um passo para trás e me olha tão chocado como se eu tivesse
acabado de lhe dar um tapa. E eu me arrependo das palavras cruéis,
tenho vontade de retirar o que eu disse, mas é tarde demais.
— Já chega, essa discussão já foi longe demais. — Papai diz olhando
para Seth e eu. — Savannah, o que acontece no casamento do seu
irmão só diz respeito a ele e Jane, e ninguém aqui tem o direito de se
meter. — Nesse momento lanço um olhar para Shanon, ela me olha e
sei que também está pensando sobre o fato de termos seguido Jane.
Ainda temos que falar com ela e contarmos que sabemos que tem algo
muito errado acontecendo, provavelmente com sua saúde, isso eu ainda
não sei ao certo.
— E Seth, você está certo sobre ser o irmão mais velho e ter que cuidar
das meninas. Mas existem certos momentos em que temos que saber
quando recuar, e esse é um deles. Eu fui pessoalmente conversar com
Justin hoje de manhã, ele me disse como se sente com relação a sua
irmã, eu acreditei nele e na verdade dos seus sentimentos. Savannah
tem a minha permissão para namorar Justin, não que ela precisasse de
qualquer maneira, sua irmã já é uma mulher adulta.
— O que? — Seth olha para papai como se tivesse acabado de lhe
nascer uma segunda cabeça. — Você vai permitir que ela continue com
aquele cara, você está louco?

338
— Seth, tenha mais respeito com seu pai. — É a vez de mamãe entrar
na briga.
— Não posso acreditar que você vai deixar isso acontecer. — Seth diz
incrédulo olhando para papai.
— Mesmo que eu quisesse fazer algo, não tenho mais completa
autoridade sobre a vida dos meus filhos, vocês já são todos adultos.
— Mas...
— Sem mas, filho. Justin merece uma chance, eles merecem uma
chance de nos provar que estamos errados e que se amam. Espero que
você não interfira mais no relacionamento da sua irmã. — Papai diz
firmemente e eu lhe dou um leve sorriso.
Seth olha para todos na sala, procurando por apoio, mas ninguém –
nem mesmo Jane – se manifesta em seu socorro. Então ele sai da sala
furioso e sem dizer mais nenhuma palavra, segundos depois escutamos
a porta da frente batendo com força, e mais alguns segundos depois, o
barulho de sua caminhonete arrancando violentamente.

Jane
Não consigo ficar parada por mais do que poucos segundos. Ando de
um canto para o outro remexendo as mãos nervosamente.
Já são onze horas e Seth ainda não voltou para casa. Estou tão
preocupada, ele saiu tão transtornado depois da discussão com
Savannah, tenho medo que ele acabe fazendo alguma besteira.
Dizem que só nos lembramos de Deus nos maus momentos de nossa
vida, que ninguém se lembra de agradecer as coisas boas e só querem
saber de reclamar e pedir. É verdade, infelizmente. Nunca fui uma
pessoa muito religiosa, mas nos últimos dias, depois de ter recebido
aquela noticia da minha médica, comecei a rezar todas as noites.
Sento-me no sofá e junto minhas mãos, começo a rezar para que Seth
esteja bem, e que volte para mim são e salvo.
Perto da meia noite, escuto um barulho na fechadura e logo depois a
porta sendo aberta. Levanto-me e vou confrontar Seth, nos
encontramos na porta da sala, ele para na minha frente e me olha
parecendo surpreso.
— O que você está fazendo acordada? — Ele pergunta e eu sinto o bafo
de bebida.
— Estava te esperando. Você andou bebendo?
— Talvez. — Ele responde passando por mim.
Fecho os olhos e respiro fundo. Essas últimas semanas tem sido tão
difíceis, grande parte por minha culpa, se eu tivesse sido honesta desde
o começo, mas simplesmente não tive coragem.
— Onde você estava, Seth? — Viro-me para ele. Ele para de andar e me
olha com a testa franzida.

339
— Você se importa?
— É claro que eu me importo, você é meu marido.
— Achei que você ficaria feliz se eu ficasse fora por mais tempo, assim
quem sabe, você até poderia trazer seu amante para cá e se divertir um
pouco.
Abro a boca para respondê-lo, mas consigo me conter a tempo. É
preferível não dizer nada, já que negar não é suficiente para ele, e
nossas brigas sempre começam assim.
Não posso culpa-lo por criar diversos cenários para justificar minhas
mentiras, mas magoa demais saber que ele pensa que eu ter um
amante é uma possibilidade.
Eu o amo mais que minha própria vida, depois que o conheci nenhum
outro homem sequer teve espaço em minha mente e em meu coração.
Seth é todo o meu mundo, e ele tem me destruído com todas as
desconfianças e palavras duras.
— Foi o que eu pensei. Agora se você me dá licença, estou exausto.
— Você estava com outra? — Pergunto com a voz trêmula de medo.
Seria razoável deduzir que já que Seth acha que eu tenho um amante,
que ele poderia fazer o mesmo para se vingar.
— Porque, só você tem o direito de se divertir? Você trair os votos que
fizemos no dia em que nos cassamos está tudo bem, mas se eu quiser
fazer o mesmo, não posso, é isso?
— Você...Você estava com outra mulher, sim ou não? — Minha voz fica
presa na garganta, sinto meu estômago se embrulhando e o medo
crescendo dentro de mim.
Se Seth tiver beijado outra, dormido com outra mulher, eu juro que
posso morrer de tristeza.
Ele me olha apenas por um momento, mas que para mim pareceu uma
eternidade.
— Não, eu não estava com outra mulher. Ao contrário de você, eu ainda
sou fiel ao nosso casamento.
— Pare, por favor, pare com isso. Eu já disse mil vezes que eu nunca te
trai, me machuca tanto que você pense isso de mim.
— E o que você queria que eu pensasse, hum? Você tem ficado tardes
inteiras fora e mentido sobre onde estava, tem agido estranha, tem me
afastado, não me quer mais por perto.
— Eu sei, mas eu não tenho um amante, eu juro. Não é sobre isso que
se trata tudo.
— Então sobre o que é? Diga-me, se você não tem um amante, qual o
motivo de tudo isso?

340
Abro a boca mas as palavras não veem, é tão difícil juntar a coragem
necessária. E se ele não me quiser mais depois que eu lhe contar a
verdade? Eu quero contar, mas não consigo.
— Quer saber, esquece. Vou pegar minhas coisas e dormir no sofá. —
Ele diz e se vira. Cada passo que ele dá para mais longe de mim, mais
eu sinto que nosso casamento está indo por um caminho sem volta.
Sinto que estamos ficando cada vez mais distantes, rumando para a
separação que eu sei que no fundo nenhum de nós quer.
“Você pode impedir isso, Jane, apenas conte. Conte de uma vez...Ande,
conte logo. Conte! Não seja covarde, conte!”
— Eu tenho um tumor. — As palavras jorram por entre meus lábios.
Seth congela no lugar, sinto meus olhos ficarem embaçados pelas
lágrimas não derramadas.
— No útero...Eu tenho um tumor no útero. Está em um estado muito
avançado, não tem outra alternativa se não a cirurgia. Minha médica
disse que como demorei em ser diagnosticada, é possível que o tumor
tenha me tornado...Tenha me tornado infértil. Quando eu mentia sobre
onde eu estava, era porque eu estava no médico, ou em algum outro
lugar, chorando. — Digo sem mais conseguir segurar as lágrimas.
Seth continua parado, olho ansiosamente suas costas, esperando sua
reação. Mas ele não diz nada e sai. Apenas vai embora.
Nesse momento sinto algo dentro de mim se quebrando, talvez seja meu
coração, já que ele está doendo muito.
Minhas pernas fraquejam e eu tenho que ir me sentar no sofá. Sinto
como se algo tivesse apertando meu peito, tornando a respiração difícil.
Escondo o rosto nas mãos e choro violentamente, fazendo todo o meu
corpo tremer.
Sinto o peso esmagador da solidão, sinto frio, muito frio. Até que braços
quentes me envolvem, reconfortantemente.
Não preciso olhar para saber que é Seth, então permaneço com o rosto
enterrado nas palmas de minhas mãos.
Ele me puxa para si e me abraça com força, sinto toda a rigidez dos
seus músculos e o calor familiar de seu corpo.
— Me perdoa. — Ele sussurra. Levanto a cabeça e olho em seus olhos.
Seu rosto está coberto por lágrimas.
— Me perdoa, meu amor, por favor. — Ele esconde o rosto em meu
pescoço e chora ruidosamente.
— Por favor, me diga que isso não vai te tirar de mim. Me diga que você
vai ficar bem. Por favor.
— Eu vou ficar bem. — Digo levando minha mão até seus cabelos e
acariciando-os.
— Não quero te perder. — Sua voz sai abafada pelo meu pescoço.

341
— Você não vai. — Tento me controlar e parar de chorar, mas é difícil.
— Sinto muito, me perdoe por ter sido um idiota, por ter sido um
péssimo marido. Eu sinto tanto. — Seu corpo treme e eu o abraço forte.
— Me perdoe por não poder te dar um filho, acredite, é o que eu mais
queria. — Sussurro para ele.
— Não me peça perdão, você não tem por que.
— Tenho sim. Eu sei que o quanto você quer um filho, e eu não posso te
dar, eu não posso fazer de você o homem mais feliz do mundo, porque
eu não sou fértil.
— Eu já sou o homem mais feliz do mundo. — Ele diz e me beija. Não é
um beijo apaixonado e cheio de desejo, e sim carinhoso e completo de
adoração e amor. Aquece meu coração.
— Você é maravilhosa, eu te amo tanto e você me faz muito feliz. Sinto
muito por não ter percebido que algo tão sério estava acontecendo, sinto
muito por ter pensado o pior de você, sinto muito por todas as palavras
duras que eu disse e a maneira fria que eu te tratei. Espero que um dia
você possa me perdoar.
— Eu já te perdoei, meu amor. Eu te amo tanto, que mesmo você
machucando meu coração, ele ainda quer ser seu.
— Jane, você é minha vida, não sei o que eu faria sem você, por isso eu
agi como um idiota. A ideia de você estar com outro, de você amar
outro...Me matava lentamente todos os dias. Sei que eu deveria ter
confiado em você, mas...Eu sou um idiota, o maior dos idiotas e não
mereço alguém como você.
— Eu te amo, Seth. Por favor, me beije.
Ele atende ao meu pedido e mais uma vez junta seus lábios com os
meus. Sua língua invade minha boca e acaricia a minha, me fazendo
gemer. Seth me puxa para seu colo e eu vou de bom grado. Nos
beijamos com toda a força do nosso amor.
— Vai dar tudo certo, você vai ver. — Ele diz quando nossos lábios se
desgrudam. — Você vai fazer essa cirurgia e eu estarei lá ao seu lado.
Você vai voltar a ficar saudável e nunca, nunca vai me deixar. — Ele me
aperta em seus braços e eu me aconchego nele.
— Estou com medo. — Admito.
— Tudo bem. Tudo bem ter medo, mas você é uma mulher forte, tenho
certeza que vai passar por isso.
— Mas e se esse tumor realmente tiver me deixado com problemas e eu
nunca poder ter um filho?
— Então adotaremos um. — Ele diz limpando as lágrimas do meu rosto.
— Você faria isso?
— Mas é claro, eu sou capaz de fazer qualquer coisa se você estiver ao
meu lado. E tenho certeza que seriamos tão felizes com essa criança

342
como se ela fosse realmente nossa, e eu a amaria como se ela tivesse
nascido daqui. — Ele diz espalmando a mão em minha barriga.
Sinto meus olhos se encherem de água de novo, mas dessa vez de alívio
e amor.
“Eu amo tanto esse homem, meu Deus.”
— Seja o que for que aconteça, enfrentaremos isso juntos.
— Juntos. — Repito.
— Será que você pode me perdoar por ter sido um idiota completo e me
dar outra chance?
— É claro, meu amor. — Digo e depois o beijo.
Ele me segura firme e então se levanta do sofá, me carregando em seus
braços.
— O que você está fazendo? — Pergunto quando ele começa a andar
comigo no colo.
— Vou te levar para o quarto e vou fazer amor com você à noite
inteira.— Ele diz sem tirar os olhos dos meus.
— Te amo, sabia? — Encosto minha cabeça em seu peito e digo com um
pequeno sorriso nos lábios.
— Eu também te amo, muito. Vou te mostrar o quanto.

343
Seu passado nos condena
Savannah
Um mês depois...
— Obrigado mesmo por ir comigo nesse jantar. — Justin me agradece
novamente enquanto olha concentrado a estrada a sua frente.
— O prazer é todo meu, meu amor.
— Já disse que você está linda nesse vestido? — Ele pergunta com um
sorriso malicioso surgindo no canto dos lábios.
— Só umas vinte vezes. — Respondo sorrindo.
— Você está linda nesse vestido. — Ele segura minha mão e leva até a
boca, beijando-a.
— E você está muito sexy nesse terno. — Mordo o lábio inferior e
admiro como a roupa preta se molda em seu copo perfeitamente.
O luxuoso Violethold Palace Hotel é o nosso destino nessa noite amena.
Uma vez por ano a família Pinkerton, dona da imponente e
poderosa Voltlin & Pinkerton Company, organiza um jantar beneficente e
convida todas as companhias e empresas associadas. Todos os fundos
arrecadados são revertidos para instituições de caridade.
— Esqueci-me de te perguntar antes, como está indo Jane? — Justin
quer saber.
— Ela está surpreendentemente calma, a cirurgia foi marcada para
semana que vem. — Respondo.
Pobre Jane, ainda não acredito em tudo isso que está acontecendo com
ela. Quando ela e Seth reuniram a família e contaram que Jane tinha
um tumor no útero e que precisaria operar, todos foram pegos de
surpresa. E quando ela chorando disse que como resultado ela poderia
nunca conseguir engravidar, todos ficaram em um silêncio pesaroso.
Naquele dia Shanon e eu finalmente entendemos o motivo de Jane ter
saído do consultório chorando, acabou que nem precisamos falar com
ela e admitir que havíamos seguido-a. Ela mesma resolveu contar a
verdade, e ainda bem que ela fez isso, pois agora Seth e ela voltaram a
se dar bem.
— Coitado do Seth, sei o quanto ele queria ter um filho com Jane. Ainda
tem chance dela conseguir engravidar, não é?
— O tumor pode deixar ela infértil, não é certeza, então eu diria que
sim, ela ainda pode engravidar. Tudo vai depender de como a cirurgia
ocorrerá e do tratamento que ela vai fazer depois disso.

344
— Queria poder estar ao lado de Seth e apoia-lo. — Justin diz
tristemente. Encaro seu perfil, seus traços perfeitos e sua pele
levemente dourada devido ao forte sol texano. Não sobrou nenhum
resquício da luta entre ele e Seth, ele voltou a ser perfeito, e pelo que me
parece, não há resquícios nenhum da briga no coração de Justin
também. Tenho a impressão que ele nem leva o ataque brutal de Seth
em consideração, ele fala sobre meu irmão com saudades e tristeza,
nunca com raiva ou mágoa. E mesmo depois do que Seth fez com ele
naquela noite, naquele celeiro, Justin consegue se preocupar
genuinamente com meu irmão cabeça dura e teimoso.
Já faz um mês que estamos juntos abertamente, sem mais esconder e
mentir, e tudo tem ido muito bem, devo dizer. Nossas famílias já
parecem estar acostumadas com a ideia de nos dois juntos, as coisas
voltaram ao normal, não é mais aquele choque e desconforto quando
alguém dos Cord ou Careton nos pegam aos beijos. Papai e Justin até já
saíram para um final de semana de pescaria juntos, o que eu achei
super demais. Não sei o que aconteceu naquele final de semana, só sei
que os dois voltaram unha e carne, desde então papai parece idolatrar
Justin como ele nunca havia feito antes, e Justin adora papai, sempre
fala nele como se fossem bons e velhos amigos.
Já me passou pela cabeça que talvez Justin esteja tentando colocar
papai para substituir Seth, o que faz meu coração doer por ele, apesar
de também me deixar feliz que dois, dos três homens mais importantes
da minha vida, estejam se dando tão bem.
Mamãe também quebrou o preconceito inicial contra nosso namoro e
tem tratado Justin muito bem. Alyssa me trata como uma filha muito
querida, é até engraçado de ver. Sempre que estamos sozinhas, ela me
agradece por fazer do seu Justin um homem feliz, isso sempre me deixa
envergonhada e emocionada ao mesmo tempo.
Jax, que ficou sabendo sobre seu irmão e eu somente quando voltou da
Lua de Mel, é o único que ainda não se acostumou muito com a ideia,
não que ele não nos apoie, porque ele o faz, mas ele confessou que
ainda acha muito estranho quando vê Justin e eu nos beijando e nos
abraçando. Mas apesar da estranheza, posso ver a felicidade pelo irmão
em seu rosto.
— E como Seth tem te tratado? Ele continua te ignorando? — Justin
pergunta com a testa franzida.
— Não completamente, mas não estou levando muito para o lado
pessoal. Ele meio que tem ignorando todo mundo depois da noticia do
problema de Jane, ele tem cuidado tanto dela, é lindo. Esses dias ela
estava ajudando mamãe a carregar umas caixas pesadas, quando ele a
viu fazendo força saiu correndo igual a um louco e pegou a caixa dos
braços dela. Depois brigou com mamãe dizendo que ela não podia
carregar peso. Mamãe e Jane riram da cara dele, Jane disse: “Amor, eu
tenho um tumor no útero, não uma criança. Posso carregar peso
normalmente.” É claro que Seth não achou nenhuma graça.

345
— Jane parece estar levando toda essa história de tumor muito bem. —
Justin comenta.
— Parece que os papeis se inverteram. No começo Jane estava uma
pilha de nervosos e era Seth quem tinha que acalma-la. Agora Jane está
calma e confiante e Seth está todo paranoico, ele fica vigiando todos os
passos de Jane, cuidando pessoalmente de tudo que ela precisa. Fico
feliz que Jane tenha alguém para cuidar dela nessa situação difícil.
— É, mas quem está cuidando de Seth? Ele precisa de um amigo
nessas horas, se ele me deixasse eu podia... — Ele não termina a frase.
— Eu me sinto péssima por vocês não serem mais amigos. Queria tanto
que ele entendesse e aceitasse nosso namoro.
— Eu também, minha princesa, eu também.
— Acho que talvez se dermos a ele mais tempo, talvez ele se acostume
com a ideia e venha atrás de você para pedir desculpas, aí tudo vai
voltar a ficar bem. — Digo com esperança.
— É, talvez. — Justin diz com um sorriso fraco, tentando me passar
confiança, mas falhando terrivelmente. Sei que para ele essa amizade já
está perdida, ele não tem esperanças de que Seth o perdoe.
— Eu queria mesmo é que ele te pedisse desculpas. Ele não tem mais
falado besteira para você, não é?
— Não, não tem. — Desvio o olhar para as luzes da cidade lá fora. Não
posso permitir que Justin veja a mentira em meus olhos.
Eu não quero e nem tenho coragem de contar para ele que nas poucas
vezes em que Seth vem falar comigo, ele se aproxima apenas para tentar
me envenenar contra Justin. Ele conta, mais detalhadamente do que eu
gostaria, todas as coisas sórdidas do passado de Justin. Tenho que
ignora-lo e sair de perto, porque é doloroso demais.
É muito difícil tentar afastar da minha mente as imagens das situações
que Seth me descreve.
Sei que em algum lugar da cabeça confusa de Seth, ele acha que está
fazendo o que é melhor para mim, mas me sinto horrível quando ele
começa a me dizer que eu tenho que me afastar de Justin e procurar
alguém melhor, quando ele começa a me contar sobre as orgias e festas
que Justin deu na época da faculdade.
É difícil olhar para seu rosto lindo e não me perguntar quantas foram.
Mais de 50? Mais de 100? Sempre que esses pensamentos me vêm à
mente, tento bloquea-los com as memórias que eu tenho do novo
Justin. Aquele que é carinhoso, romântico, que me ama e é fiel a mim.
— Bom, não quero ele falando merda para você. Se ele fizer ou falar
qualquer coisa que nos envolva, eu gostaria que você me dissesse, ok?
— Tudo bem. — Respondo desconfortável, me sentindo péssima por
estar mentindo para ele. Mas será que algum bem resultaria em eu
dizer para Justin que Seth tem me contado toda a sua vida sexual? Só

346
iria constrangê-lo e servir para deixar um clima estranho entre nós, sem
contar que provavelmente ele iria querer saber o que Seth me contou, e
não sei se tenho coragem de repetir tudo aquilo. É nojento.
— Já disse que você está linda nesse vestido? — Ele pergunta rindo,
aliviando a pressão que a conversa sobre Jane e Seth havia posto no ar.
— Eu sei que é difícil para você lembrar o que já disse ou não, sabe, por
causa da sua idade...Por isso vou relevar esse seu lapso. — Digo
brincando. Justin abre a boca surpreso o que me provoca uma
gargalhada.
— Você está me chamando de velho, é? — Ele diz sorrindo. — Então
você vai ver. — Ele enfia a mão embaixo da minha coxa e começa a fazer
cócegas na parte detrás do meu joelho.
Solto um grito na hora e tento ao mesmo tempo tirar sua mão e me
afastar dele, o que obviamente não dá por causa da maldita porta.
— Não, Justin, você sabe que eu não gosto. — Depois que ele descobriu
o ponto onde eu mais tenho cócegas, tem sido uma tortura.
— É isso que quem me chama de velho recebe. — Ele diz e eu continuo
me contorcendo e rindo.
— Pare, por favor, você vai bater o carro...Justin, pare, você vai acabar
matando nós dois. — Ele finalmente para, mas minhas bochechas já
estão doendo de tanto rir, ele volta a segurar o volante com as duas
mãos, rindo da minha cara.
— Idiota, você fez eu amassar o meu vestido. — Digo e lhe dou um tapa
no braço.
Alguns minutos depois chegamos ao Violethold, assim que
estacionamos em frente ao hotel, um homem de terno abre a porta para
mim, saio do carro tomando cuidado com meu vestido longo e agradeço-
lhe a ajuda.
Justin entrega a chave para o manobrista e logo ele some com o carro.
Justin caminha até o meu lado e me oferece o braço.
— Sabe, eu vou ter sérios problemas para me concentrar em qualquer
coisa hoje a noite que não seja em como você está sexy com esse
vestido. — Ele diz analisando meu vestido longo e preto, elegante porém
com um toque sexy, devido a fenda em uma das pernas e a alça de um
ombro só de tecido transparente. — Sorrio para ele e encaixo meu braço
no seu.
— Trate de se comportar hoje à noite, ouviu?
— Tudo bem, eu vou ser um bom menino, mas só se você prometer ser
uma garota muito má quando chegarmos em casa. — Ele sussurra para
mim e meu corpo todo se arrepia na hora.
— Você não presta, Justin Cord, sabia disso? — Meu sorriso denuncia o
quanto eu gostei da sua proposta.

347
— Mas você me ama do mesmo jeito. — Ele diz com um sorriso
convencido.
— Amo mesmo. — Respondo e ele me beija rapidamente nos lábios.
Seguimos para a recepção do hotel, onde nos informam que o jantar
está acontecendo no salão principal. Chegando lá, temos que parar na
entrada para informarmos nossos nomes.
— Justin Cord e acompanhante. — O segurança verifica se o nome de
Justin está na lista e então nos deixa passar.
O salão é grande, e quando eu digo grande não estou brincando, é
enorme. As paredes são cor de gelo com detalhes em dourado, há
diversas colunas de pedra branca perfeitamente lisa e do teto
abobadado pende um lustre de cristal enorme, com mais três lustres
menores ao redor.
Bem ao fundo no salão vejo um palco que obviamente não pertence à
decoração original, deve ter sido montado especialmente para os leilões
de hoje à noite. Além do palco, no fundo encontram-se as grandes
mesas redondas, cobertas com toalha de seda branca, porcelana e
cristais.
No meio de tudo isso estão inúmeros homens e mulheres, todos
vestidos com esmero. E se movimentando habilidosamente por entre
esses homens e mulheres de negócio, estão os garçons. Os sapatos de
todos estalando sobre o chão de mármore.
— Venha, vamos conhecer os abutres. — Justin diz.
— Abutres? Justin, eles estão aqui para a caridade.
— Não, eles estão aqui para se autopromover. Ter a imagem de sua
empresa ligada a caridade é tudo o que eles querem, eles não ligam
realmente se estão ou não ajudando alguém.
— Que horror, mas pelo menos nessa tentativa de se autopromover,
eles de fato arrecadam dinheiro e ajudam instituições beneficentes, não
é?
— Sim, pelo menos isso. — Andamos pelo salão lado a lado, Justin
cumprimenta com um aceno de cabeça e um sorriso simpático aqueles
que se dignam a olhar em nossa direção.
— Justin. — Uma voz grave soa atrás de nós. Quando nos viramos vejo
um homem baixo e corpulento, sem boa parte dos cabelos, mas com
uma expressão amigável no rosto.
— Sr. Marcos, como está? — Justin o cumprimenta com um aperto de
mão.
— Estou ótimo, obrigado. E você?
— Melhor impossível. — Justin responde com um sorriso largo. —
Permita-me apresentar minha bela namorada, Savannah Careton.

348
Um pouco tímida e me sentindo completamente um peixe fora d’água,
cumprimento o homem a minha frente.
— Muito prazer, Sr. Marcos.
— Oh, mas o prazer é todo meu. Uma bela mulher de fato, meu amigo.
Você deve ser um homem de muita sorte.
— Sou mesmo. — Justin diz passando a mão em volta de minha
cintura.
— Maravilha. E como vão as coisas na Townsend? Ouvi dizer que você
perdeu aquele contrato com a Thompson Reuters Company, uma pena,
de fato. — Sr. Marcos diz e eu o olho confusa, imediatamente lanço meu
olhar confuso para Justin, mas ele finge não notar, porém percebo que
fica desconfortável.
Eu não sabia que Justin tinha perdido o contrato, ele não me disse
nada. Que estranho. Ele estava tão animado e com tanta certeza que a
sua proposta tinha impressionado, o que será que saiu errado? E
porque ele não comentou nada comigo?
Essas perguntas me deixam curiosa, mas agora não é o momento para
tentar obter uma resposta.
— Ah sim, é uma pena realmente, mas somos uma empresa muito
capaz e tenho certeza que outras ótimas oportunidades surgirão. —
Justin diz claramente tentado se esquivar do assunto.
— Tenho certeza que sim. Agora, se vocês me dão licença...Acho que
acabei de ver Frederic Salazar e gostaria de lhe dar um olá. — Ele diz se
despedindo com um sorriso e deixando Justin e eu a sós.
— Porque você não me disse que havia perdido o contrato? — Pergunto
encarando seus olhos azuis, que agora estão sérios.
— É complicado, não é assunto para discutirmos agora, tudo bem? —
Ele acaricia meu braço e eu aceno condescendente.
— Venha, quero te apresentar para algumas pessoas. — Deixo que ele
me conduza para o amontoado de pessoas completamente estranhas.
Passo a próxima hora sendo apresentada e conversando com várias
pessoas, algumas interessantes e outras nem tanto, na maior parte do
tempo deixo que Justin os distraia e só falo quando falam comigo, ou
ocasionalmente quando tenho segurança o suficiente para não achar
que vou falar alguma besteira.
Assim que o chatíssimo Sr. Pecked nos deixa a sós, pego uma taça de
champanhe do garçom e bebo metade do conteúdo em um único gole.
— Sinto muito por fazer você ter que aturar essas pessoas.
— Tenho certeza que você vai saber como me recompensar depois. —
Digo e pisco, Justin abre um sorriso lento e safado, daqueles que faz
coisas engraçadas com o meu corpo e me deixam inquieta.

349
— É uma pena que eu prometi me comportar. Mas tenho certeza que a
espera vai valer a pena. — Sinto meu desejo despertando e tenho que
morder o lábio para não gemer.
— Justin, que bom que você pode vir. — De repente uma voz de mulher
me tira dos meus pensamentos pecaminosos com relação ao meu
namorado delicioso. Justin se vira e vejo-o ficar pálido na hora, como se
tivesse visto um fantasma. Seu corpo fica tenso e ele assume uma
postura defensiva.
Olho com curiosidade para a mulher que provocou essa reação. Ela é
alta, cabelos negros e olhos azuis, tão claros que parecem irreais, lábios
cheios assim como seus seios, que praticamente estão saltando para
fora do seu vestido vermelho sangue. Aparenta estar na casa dos 30,
não mais que 35 anos.
Ela alterna seu olhar entre Justin e eu, talvez seja impressão minha,
mas ela parece estar se divertindo com a reação estranha dele. Justin
continua olhando-a, branco como papel.
— Não vai nos apresentar? — Ela pergunta para ele erguendo uma
sobrancelha. Justin continua sem reação, parecendo uma estátua.
— Muito bem, então. Eva McKenna Thompson. — Ela diz estendendo a
mão com unhas tão compridas que parecem garras.
— Savannah Careton, muito prazer.
— Savannah, nome interessante. — Ela diz, o sorriso nunca deixando
seus lábios. — Você e Justin estão juntos?
— Sim. — Justin responde antes de mim, seu braço me envolvendo
protetoramente. — Estamos juntos. — Ele diz seriamente, de um jeito
que me faz pensar que há algo a mais por detrás de sua declaração.
— Nunca achei que veria esse dia. Justin Cord amarrado a uma só
mulher. — Ela diz e sinto um frio na espinha na hora. Ela conhece
Justin, não só na vida profissional, mas na pessoal também. Agora eu
percebo, o modo como ela o olha, seu comentário, sua postura superior.
Ela está querendo me intimidar, ela foi uma das muitas mulheres com
quem Justin dormiu.
Droga, essa que é provavelmente uma das mulheres mais bonitas que
eu já vi, já dormiu com meu namorado. Isso não é legal, nem um pouco.
Porque ela tinha que ser tão gostosa e perfeita?
Agora a reação de Justin faz todo o sentido do mundo.
— Vocês se conhecem há muito tempo? — Não consigo refrear minha
curiosidade.
— Ah sim, uns 8 anos, não é Justin?
— Mais ou menos. Se você nos der licença... — Justin diz ríspido e sai
puxando o meu braço. Ele nos leva até um canto afastado.
— Savannah, tem algo que eu preciso te contar, mas é complicado
demais para dizer agora e...

350
— Eu sei, já entendi. Você e aquela mulher já...Já dormiram juntos, não
é? — Pergunto com a voz baixa. Justin solta um suspiro e demora um
instante para responder.
— Sim, é isso. Eva e eu já nos envolvemos. Sinto muito, não achei que
ela estaria aqui essa noite, deveria ter imaginado.
— Você tem mantido contato com ela todos esses anos?
— Não, até a alguns meses atrás eu não tinha notícias dela fazia seis
anos.
— E depois de seis anos o que fez vocês entrarem em contato de novo?
— Você não vai acreditar nisso, mas...Ela é casada com Carlson
Thompson.
— O mesmo Carlson Thompson da Thompson Reuters Company?
— Esse mesmo.
— Isso que é coincidência.
— Foi por isso que eu perdi o contrato. Eva fez o seu marido assinar
com a concorrência para me punir.
— Punir pelo que?
— Porque eu me recusei a dormir com ela de novo, porque eu estava
apaixonado por você. — Arregalo os olhos e abro a boca em choque.
— Ela queria dormir com você mesmo sendo casada? Mas que vadia. —
Xingo.
— Eu sei. E ela é louca também, olha...Eva foi a única mulher, além de
você, com a qual eu dormi várias vezes. Mas isso foi há muito tempo
atrás, na época da faculdade. Quando eu quis terminar tudo, ela não
aceitou muito bem e começou a me perseguir. Foi difícil mas depois de
um tempo eu consegui me livrar dela, eu fique anos sem saber dela, até
que uns meses atrás ela apareceu como a esposa do dono da empresa
com quem eu estava fazendo negócio. Ela quis um “recordar é viver”
mas eu nunca tocaria nela de novo, então ela prometeu se vingar, e fez.
Eu perdi o melhor contrato que eu poderia conseguir em toda a minha
carreira, perdemos milhões e milhões de dólares. Não disse nada sobre
a volta dela porque não queria te chatear, mas sinto muito, sei que eu
deveria ter te contado.
— Tudo bem, se você fosse me contar toda vez que você vê uma mulher
com quem dormiu, teríamos um problema. — Digo mais rudemente do
que pretendia, vejo magoa nos olhos dele e me arrependo do que disse
imediatamente.
Justin enfia as mãos no bolso da calça e abaixa à cabeça, seu olhar
ficou tão triste de repente que eu sinto vontade de me bater.
— Sinto muito, não deveria ter dito isso. — Digo querendo voltar cinco
minutos no tempo e começar tudo isso de novo.
— Tudo bem, não tem problema. — Ele diz me dando um sorriso fraco.

351
— Olha, eu não estou brava que você não me contou sobre Eva. Vamos
esquecer esse assunto. Sinto muito que ela tenha prejudicado seu
trabalho, mas isso também significa que você não vai ter nenhuma
ligação com ela, o que sinceramente me enche de alívio.
— Eu não suporto a ideia de nem ao menos ver ela, ela é maluca e não
vale nada. Quero distância de Eva assim como eu quero que você fique
longe dela, ok? Nada de bom pode vir dela então se ela tentar se
aproximar de novo, vamos apenas ignora-la, pode ser?
— Será um prazer.
— Ótimo, não vamos deixa-la estragar nossa noite. Venha, o jantar logo
vai ser servido. — Ele segura minha mão e nos encaminhamos para
nossa mesa.

O jantar estava ótimo, a comida uma delícia e só os melhores vinhos.


Fico me perguntando se eles percebem que o dinheiro gasto para
organizar essa festa, deve ser pelo menos ¼ do que eles arrecadam a
noite inteira.
Enfim, depois do jantar deu-se início aos leilões. Muitos dos aqui
presente cederam boa parte do que se estava sendo leiloado.
Um vinho Napa Valley 1941 foi vendido por incríveis 24.675 dólares.
Um Cheval Blanc 1947 foi arrematado por 33.781 dólares.
Esse pessoal vai mesmo beber esses vinhos? Porque se fosse eu a
compradora, não teria coragem de beber tantos mil dólares.
Um final de semana em uma ilha particular na Tailândia – quem é que
compra uma ilha? E na Tailândia! – foi vendido por, pasmem, 267 mil
dólares.
Quem vê tudo isso, até pode achar que eles estão mesmo preocupados
em ajudar as crianças e os doentes das instituições beneficiadas. O
teatro é bem convincente, devo admitir.
O leilão seguiu e muitas coisas foram vendidas por presos absurdos,
mas a maioria aqui é milionária, então acho que gastar 200, 300, 500
mil para eles não é nada.
Quando Justin levantou a placa e arrematou um monomotor Cirrus
SR20 por 483 mil dólares, me engasguei com meu vinho.
Rindo da minha reação ele sussurrou em meu ouvido que
a Townsend sempre lhe dá dinheiro para comprar o que quiser nesses
leilões, e que obviamente as coisas adquiridas por ele são propriedades
da empresa e não de Justin.
Por isso estranhei quando Justin deu o lance inicial para comprar um
final de semana em uma cabana de luxo nas montanhas de Vermont.
O que a Townsend vai fazer com um final de semana em uma cabana?
Talvez presentear o melhor funcionário? Séria uma boa tática para
incentivar seus empregados.

352
— Sete mil dólares. — Outro homem dá o lance pela cabana de
Vermont.
— Dez mil dólares. — Justin rebate.
— Onze mil. — O mesmo homem diz.
— Doze mil. — Justin oferece.
— Treze mil. — O homem insiste.
— Vinte mil. — Justin diz com um tom de voz autoritário, como se
desafiando o homem a superar seu lance.
O homem nada diz, por sua expressão parece aceitar a derrota. Apenas
um final de semana em uma cabana em um pequeno estado dos
Estados Unidos não parece apetecer mais ninguém, então o leiloeiro diz:
— Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... — Ele bate o martelo. —
Vendido para o cavalheiro por vinte mil dólares.
Todos aplaudem e o próximo item é apresentado.
— O que a Townsend vai fazer com um final de semana em Vermont?
— Pergunto curiosa.
— Eles não vão fazer nada, porque fui eu que comprei, não a empresa.
Já eu, pretendo fazer muitas coisas em Vermont...Com você. — Ele diz
me olhando tão intensamente e com um sorriso tão safado, que sinto o
meio das minhas pernas ficar completamente molhado.
Engulo em seco e tenho que me lembrar de onde estamos para não
começar a gemer com as imagens que sua promessa me provocam.
— Volto em um minuto. — Sussurro para ele e me levanto. Preciso ir ao
banheiro, tenho que fazer xixi e verificar se minha calcinha não está
encharcada ao ponto de manchar o tecido do vestido. Não que minha
excitação fosse ficar visível no tecido escuro, mas não quero andar por
aí com uma mancha úmida.
Abro a porta do banheiro e o encontro vazio, vou até uma das cabines e
cuidando com o vestido, sento-me e faço o que tenho que fazer. Olho
para minha calcinha e como eu já imaginava, ela está com uma mancha
enorme. Culpa de Justin, porque ele tem que me excitar apenas com
um olhar, ou com um sorriso, ou com o seu jeito de falar?
Me limpo e arrumo o vestido, abro a porta da cabine e vou lavar minhas
mãos na pia. Quando estou terminando de seca-las, a porta do
banheiro se abre. Pelo espelho vejo Eva, meu corpo fica tenso na hora.
Ela me lança um sorriso largo e predatório, caminha lentamente até
parar ao meu lado.
— Olá. — Ela diz.
— Oi.
— Você por acaso não teria um batom, teria? — Ela pergunta se
olhando no espelho e fingindo ajeitar o cabelo.

353
Droga, ela é tão linda. É maravilhosa, posso ver claramente o porquê
Justin a quis, qualquer homem iria querer.
— Não. — Respondo e me viro em direção a porta, mas ela segura meu
pulso e pede que eu pare.
— Preciso conversar com você. — Ela diz.
— Não sei se temos algo para conversar. — Ela me segura de novo.
— Temos sim, temos que conversar sobre Justin, tenho que alerta-la. —
Desisto de tentar ignora-la, paro na sua frente com os braços cruzados,
numa posição defensiva.
— Eu entendo você, entendo o porquê você está com Justin. Sejamos
sinceras, que mulher em sã consciência não aceitaria as migalhas de
atenção de um homem tão viril e atraente como ele, não é mesmo?
Basta uma palavra dele que esquecemos todo nosso autorrespeito e
caímos aos seus pés. Foi isso que aconteceu com você, não foi?
Aconteceu comigo também. — Ela se encosta da pia e inclina a cabeça,
me lançando um olhar analisador dos pés a cabeça.
— Não entendo, eu tento compreender, mas não consigo. — Ela
comenta.
— O que? — Pergunto.
— O porquê ele estar com alguém como você. Quando ele me disse estar
apaixonado, eu imaginei que seria por uma mulher de verdade.
Abro a boca e infelizmente o choque de sua palavras é grande demais
para me permitir lhe dar uma resposta a altura.
— Ah, não me olhe assim, você sabe que é verdade. Justin é um tipo
único de homem, ele merece muito mais do que você pode oferecer,
ele precisa de muito mais do que você pode oferecer.
— Eu posso lhe dar tudo o que ele precisa. — Respondo confiante.
— É mesmo, tem certeza disso? No momento em que eu coloquei meus
olhos em você, eu percebi que você não faz o tipo de Justin. Ele tem
necessidades muito singulares, e não é toda mulher que é capaz de
atendê-las. Você certamente não é.
— E você é? — Pergunto soltando uma risada de escárnio.
— Obviamente.
— Você é maluca mesmo, você não tem nada a oferecer a Justin, nada
que ele queira ou precise.
— Não era isso que parecia quando ele me chamava até o seu
apartamento para me foder. Ele parecia estar gostando muito do que eu
tinha a oferecer. — Ela sorri ao me ver vacilar.
— Isso foi há muito tempo, Justin mudou.
— Eu não acho, não. Justin sempre teve uma certa inclinação se
tratando de sexo, uma inclinação muito forte, é algo que faz parte dele e
nunca irá embora.

354
— Seja o que for, eu posso cuidar dele.
— É mesmo? Então talvez eu tenha me enganado com relação a você.
Talvez você só aparente ser uma garota inexperiente, inocente e cheia
de pudor, mas por dentro você é uma devassa tanto quanto eu. Diga-
me, você não adora os sons que Justin faz quando você está chupando
ele? Ou então como ele fica excitado quando você está de quatro e
deixa-o fazer sexo anal? Ah sim, eu adorava quando ele me comia por
trás. Mas nada supera o prazer que eu sentia quando participávamos
de uma orgia. Ele parecia uma criança numa loja de doces. Adorava
quando eu e alguma outra mulher chupávamos seu pau como se fosse
um pirulito. — Ela joga a cabeça para trás e ri. — Deixe eu te contar
sobre a vez que ele me fodeu com mais outras três desconhecidas que
nós encontramos em um bar...
— Chega! — Grito. Sinto meus olhos se encherem d’água e luto com
todas as minhas forças para não derrama-las, não posso chorar, não na
frente dela. Sinto meu estômago ficando doente, me sinto enojada ao
imaginar Justin, Eva e outras mulheres, todos juntos na mesma cama.
Sinto que posso vomitar a qualquer momento.
— Se você nem aguenta escutar sobre, com certeza ainda não fez essas
coisas com ele, não é mesmo? Uma pena, porque se você não fizer, se
você não for esse tipo de mulher, ele não vai te querer. Justin não gosta
de mulherzinhas inocentes e que são extremamente entediantes na
cama, ele gosta de ação. Ele gosta de sentir prazer sem pudor, sem
restrições, ele gosta de algemar, amarrar, bater, dividir, ele gosta de
sexo na sua forma mais suja, mais impura, ele gosta de se enfiar em
todos os buracos que você tem e não de fazer amor.
— Cala a boca. — Digo com os dentes cerrados.
— Você está assim porque sabe que é verdade. Ou você se transforma
no que ele precisa, faz o que ele realmente gosta, ou sai do caminho e
deixa uma mulher de verdade cuidar do seu homem. Sinceramente, eu
não acho que você seja capaz de ser o tipo de mulher que ele gosta,
então na verdade você só tem duas opções. Ou você se afasta de Justin
agora, deixando o caminho livre para mim, ou você fica com ele mais, o
que? Um, dois meses? Que é o tempo que eu estimo que vá levar até ele
se cansar de você e te dar um pé na bunda, e sai dessa história sem
dignidade alguma. Não importa, qualquer que seja o caminho que você
escolher, vai acabar com você sozinha e Justin na minha cama. E sabe
por quê? Porque eu sou o tipo de mulher que Justin gosta, e ele é o tipo
de homem que eu gosto. E quando eu quero algo, eu tenho, custe o que
custar.
Ela se vira para o espelho, arruma o cabelo e esfrega os lábios um no
outro.
— Considere-se avisada, queridinha. — Ela diz e passa por mim, saindo
do banheiro.
Assim que a porta se fecha vou até a pia e me apoio nela, respiro fundo
e não consigo mais prender as lágrimas.

355
Assusto-me quando a porta se abre novamente. Mais uma vez vejo Eva
pelo espelho, viro meu rosto rapidamente para ela não ver que estou
chorando.
— Ah, já estava esquecendo. Só para o caso de você achar mesmo que
ele te ama...Eu e Justin nos beijamos mês passado, no escritório dele.
Tenho quase certeza que ele não te contou isso, não é? Só não
transamos porque fomos interrompidos. Não se iluda, criança, ele não
te ama. — Ela diz e fecha a porta, me deixando sozinha novamente.
Fecho os olhos com força e levo a mão até a boca, para abafar os
barulhos que saem.
Sinto uma forte náusea subindo rapidamente, só tenho tempo de correr
até a cabine mais próxima e me jogar no chão. Vomito todo o jantar
dentro do vaso sanitário.
Espasmos fortes percorem meu corpo enquanto coloco tudo para fora.
Quando finalmente não tenho mais nada no estômago, levanto-me e
puxo a descarga.
Vou até a torneira e enxáguo a boca, percebo com alívio que o hotel tem
um kit para uso dos hóspedes e convidados. Procuro por um
enxaguante bucal e encontro um pequeno frasco, coloco na boca e faço
um gargarejo. O tempo todo com lágrimas escorrendo por minhas
bochechas.
Quando finalmente tiro o gosto ruim da boca, me olho no espelho. Meu
Deus, minha boa aparência já era, estou horrível.
Sinto vontade de me sentar no chão e ficar encolhida, chorando, a noite
inteira. Não quero sair daqui e ter que enfrentar todas aquelas pessoas.
Sinto um vazio no peito que é muito doloroso. Sinto medo, não quero
perder Justin, eu o amo tanto.
Todas as palavras de Eva ficam se repetindo e se repetindo em minha
cabeça, me machucando cada vez mais, toda vez que eu as escuto
novamente.
Muitas imagens de Justin fazendo aquelas coisas que ela disse surgem
em minha mente, se somando a aquelas que Seth já tinha colocado lá.
Tento bloquea-las com a força das minhas memórias boas com Justin.
Todos os momentos carinhosos e cheios de amor. Mas as imagens
sórdidas resistem bravamente, imagens do velho Justin lutando com as
do novo Justin.
Tento me lembrar se alguma vez Justin demostrou estar insatisfeito
com nossa vida sexual. Para mim sempre é tão bom, tão perfeito, não
poderia ser melhor. Mas e para ele? Será que ele acha que eu sou muito
sem graça, muito...Frígida?
Se eu não consegui satisfazer nem Todd nem Vince, levando-os a ter
que me trair, como eu espero conseguir satisfazer um homem como
Justin? Ele é muito mais intenso, mais experiente, tem expectativas
mais altas.

356
Eva tem razão, eu nunca fiz aquelas coisas. Meu Deus, eu nunca nem
sequer fiz sexo oral em Justin. Foi algo que eu simplesmente não me
lembrei.
Eu já fiz isso com Vince, e eu até que gostava, mas eu só fazia quando
ele pedia, a iniciativa nunca partia de mim. Não havia percebido que eu
nunca fiz isso por Justin, ele já me deu prazer tantas vezes com a boca,
e eu nunca retribui.
“Meu Deus, ele deve achar um tédio quando transamos.”
Sinto minha cabeça girar um pouco, levo a mão até a testa e me apoio
firme da pia para tentar focar a visão.
Eu tenho que fazer algo, não posso perder Justin. Se ele tiver que ir
atrás de Eva ou qualquer outra mulher para satisfazer seus desejos, eu
não vou aguentar. Se ele me deixar, não sei como me recuperar dessa
vez. O que sinto por ele é único, nunca senti por ninguém mais. Seria
devastador se ele não me quisesse mais.
Mas o que mais machuca, o que não sai da minha cabeça de jeito
nenhum é: Ela e Justin realmente se beijaram quando nós estávamos
juntos? Ou ela está tentando me enganar? Será que eles se beijaram
mesmo? Ele ia transar com ela se não tivessem sido interrompidos? Ah
meu Deus, eu preciso ir embora, eu quero ir embora desse lugar.
Preciso voltar para lá antes que Justin venha me procurar. Já demorei
demais. Só quero que essa noite termine logo.
Pego uma toalha de papel e limpo as manchas de lágrimas no rosto,
ainda bem que minha maquiagem é à prova d’água.
Tento voltar a estar pelo menos apresentável, arrumo o cabelo e o
vestido, respiro fundo e tento me controlar, mas sei que estou
quebradiça por dentro, não posso baixar a guarda e quebrar na frente
de todos.
“Se controle, Savannah, você lida com isso depois.”
Inspiro e expiro algumas vezes e tomo coragem para voltar para a mesa.
Assim que abro a porta do banheiro vejo Justin caminhando na minha
direção.
— Ah, aí está você. Já estava ficando preocupado, você demorou. Está
tudo bem? — Ele pergunta parando na minha frente. Só de olhar em
seus olhos já sinto vontade de desmoronar e chorar.
— Sim, desculpe, está tudo ótimo. — Forço-me a sorrir. Ele me olha
franzindo a testa.
— Tem certeza que está tudo bem?
— Sim, tenho. Vamos.
A próxima hora foi um verdadeiro martírio, e quando Justin perguntou
se eu queria ir embora, foi com grande alívio que eu respondi que sim.

357
Permaneci quieta todo o caminho de volta, o que não passou
despercebido para Justin.
— Você está tão quieta, encarando a janela como se quisesse derreter o
vidro com o olhar. Está realmente tudo bem, amor?
— Só estou com um pouco de dor de cabeça. — Minto.
— Deveria ter me dito, teríamos ido embora antes.
— Você estava lá a trabalho, não queria atrapalhar.
— Você nunca atrapalha, amor. Pode confiar em mim sempre para falar
qualquer coisa. — Sei que ele está se referindo a dor de cabeça, ou
qualquer outra coisa no geral, mas minha mente vai direto na direção
de Eva. Eu deveria contar para ele sobre a visita que ela me fez no
banheiro? Deveria contar que eu sei sobre o beijo, ou espero ele me
confessar? Já faz um mês, se ele não disse nada até agora não vai dizer
mais. O que isso significa? Se eu confronta-lo, ele irá negar?
Oh Deus, são tantas perguntas que aquilo de estar com dor de cabeça
já não deve ser mais uma mentira.
Quando chegamos ao seu prédio, Justin vem abrir a porta para mim e
me ajuda a descer do carro. Subimos até seu apartamento, no elevador
Justin me agarra e me espreme com seu corpo, sua boca desce até meu
pescoço e me provoca arrepios.
— Que tal você me deixar curar essa sua dor de cabeça? — Ele
sussurra com a sua voz rouca e sexy.
— Tudo bem. — Eu cedo.
Quando paramos no seu andar, ele me puxa para fora do elevador com
pressa. Entramos em seu apartamento e imediatamente sua boca ataca
a minha.
— Finalmente vou poder arrancar esse vestido de você. — Ele diz, suas
mãos abrindo o zíper da minha roupa. Ainda no corredor a caminho do
quarto, eu perco meu vestido e Justin seu paletó. Chagando no quarto,
Justin tira a camisa e os sapatos. Depois tira meu sutiã. Ele me joga na
cama e suas mãos vão até o botão de sua calça. Quando ele a abaixa,
sua ereção salta livre, me fazendo pulsar com desejo.
Ele deita-se em cima de mim e me beija apaixonadamente, sua mão
desliza por minha barriga e entra em minha calcinha, ele começa a me
acariciar com seus dedos habilidosos e eu gemo.
“Ah sim, eu adorava quando ele me comia por trás. Mas nada supera o
prazer que eu sentia quando participávamos de uma orgia.”
A voz de Eva ecoa em minha cabeça e eu a mando para longe.
— Meu Deus, como eu te amo. — Ele diz, me beijando, me acariciando.
“Ele gosta de sentir prazer sem pudor, sem restrições, ele gosta de
algemar, amarrar, bater, dividir, ele gosta de sexo na sua forma mais

358
suja, mais impura, ele gosta de se enfiar em todos os buracos que você
tem e não de fazer amor.”
Saia da minha cabeça, Eva. Saia!
“Justin sempre teve uma certa inclinação se tratando de sexo, uma
inclinação muito forte, é algo que faz parte dele e nunca irá embora.”
Nunca irá embora, nunca irá embora, nunca irá embora. As palavras se
repetem em minha mente.
“Só para o caso de você achar mesmo que ele te ama...Eu e Justin nos
beijamos mês passado, no escritório dele.”
Não é verdade, não pode ser verdade. Justin não faria isso comigo.
Ele começa a puxar minha calcinha para baixo, sua boca se fecha em
meu seio.
“Diga-me, você não adora os sons que Justin faz quando você está
chupando ele?”
Eu não sei os sons que ele faz, eu nunca fiz isso por ele. Mas ela sabe,
muitas e muitas mulheres sabem, muitas já viram ele gozando. Como
ele fica lindo quando está gozando, várias mulheres já lhe deram prazer,
chuparam ele. Eu não.
— Justin... — Chamo seu nome.
— Eu sei, amor. — Ele diz se encaminhando para o meio das minhas
pernas.
— Não. Eu quero...Não, espere. Pare, Justin. — Digo e ele para na hora,
encontra com meu olhar e me olha confuso.
— O que? O que foi?
— Não faça isso. É a minha vez. — Ele se levanta e eu o empurro para o
colchão, ele cai de costas e eu monto em cima dele.
Eu não posso oferecer tudo o que ele gosta, não posso dividir ele com
nenhuma outra mulher, não suportaria. Mas isso eu posso fazer.
Começo a beijar seu peito, passo a língua por seus mamilos, Justin
geme.
Vou descendo cada vez mais, beijando a região de suas costelas,
lambendo e mordendo-o. Cada vez que eu deslizo minha boca mais para
baixo, mais sua respiração fica irregular.
— Savannah. — Ele geme meu nome.
Seguro sua ereção em minha mão, fazendo um movimento de vai e vem.
Aproximo-a de meus lábios, fechando minha boca na ponta de sua
excitação.
— Ah meu Deus...Isso.
Chupo-o e levo-o mais fundo, brincando com a minha língua por todo o
seu comprimento.

359
Sempre que eu chupava Vince, ele parecia ficar louco, sempre me
dizendo como eu era boa nisso, como ele foi o meu primeiro, foi ele
quem me ensinou tudo o que eu sei. No começo ele foi me instruindo,
dizendo o que gostava e o que não, até que eu aprendi tudo o que ele
gostava. Não sei como Justin gostaria que eu fizesse com ele, mas ajo
por instinto, chupando-o e lambendo-o, e ele parece estar gostando.
Suas mãos estão agarradas ao lençol, sua respiração está acelerada e
ele faz sons muito eróticos. Sem contar que ele está duro como uma
pedra, então acho que devo estar fazendo isso certo.
— Savannah...Meu amor...
— Você gosta disso? — Pergunto prendendo seu olhar no meu,
lambendo-o da base até a ponta.
— Ah Deus, sim, sim eu gosto, muito.
Chupo-o avidamente até que ele me impede.
— Não quero gozar agora. — Ele diz quando eu protesto e tento leva-lo
novamente em minha boca.
Ele me puxa e me deita na cama.
— Isso foi uma delícia, meu amor. Essa sua boca linda parece o
paraíso, você toda parece. — Suas mãos começam a percorrer todo o
meu corpo.
— Você é tão linda, tão gostosa, eu te quero mais que qualquer coisa,
Savannah.
— Eu também te quero, Justin. — Suspiro enquanto suas mãos me
acariciam.
Ele segura minhas pernas e as abre ao máximo, então abaixa a cabeça
no meio delas e quando sinto sua língua meu mundo todo se desfaz. Só
sobrou o prazer, puro e concentrado, e eu me perco completamente
nele.

Justin
Não tem como meu humor estar melhor hoje. Vou admitir sem vergonha
alguma que eu estava completamente errado, se apaixonar é algo
extraordinário, maravilhoso.
Eu amo tanto Savannah e esse amor me dá forças para todo. Sinto-me
mais feliz, mais leve, mais capaz de enfrentar os problemas, sinto que
finalmente tenho um propósito na vida. Um rumo, uma direção.
Savannah é a minha bússola, sem ela estaria perdido. Nunca serei
capaz de deixar de ama-la, e espero que ela sinta o mesmo.
Estaciono o carro na frente da Bachendorf’s. Entro na joalheria e vou
direto falar com uma moça atrás do balcão de vidro.
— Olá, senhor. Como posso ajuda-lo?

360
— Eu vim buscar um relógio que eu havia deixando aqui para que
concertassem.
— Qual o seu nome?
— Justin Cord.
— Só um momento, Sr. Cord.
— Obrigado. — A moça sorri e some em uma porta no fundo da loja.
Enquanto espero que a moça volte com meu relógio, algumas peças na
vitrine chamam minha atenção. Há uns colares e pulseiras muito
bonitos, passo os olhos por eles, mas um item em especial chama
minha atenção. Um anel princesa com vários pequenos diamantes.
— Aqui está, senhor. — A moça volta e me entrega uma caixa de veludo
negro.
— Obrigado.
— Gostaria de vê-lo de perto? — Ela percebe que estou olhando o anel e
pergunta.
Não sei, eu gostaria de ver o anel de perto? É um anel de noivado, mas
só ver não faz mal, não é?
— Sim, eu gostaria, por favor. — A vendedora sorri e vai buscar o anel.
Ela pega uma chave, destrancando a vitrine e pegando o anel que eu
admirava.
— Esse é um clássico anel com corte princesa, de 2.5 quilates. — Ela
informa enquanto me entrega o anel.
— É muito bonito. — Digo admirando-o.
— Nós temos alguns outros modelos que acabaram de chegar, se o Sr.
quiser ver. — Ela oferece.
— Eu gostaria de ver alguns, por favor.
A vendedora se vai por alguns instantes e volta carregando uma caixa
aveludada. Ela deposita a caixa no balcão e a abre, retira um anel de
dentro e me entrega.
— Temos esse. O diamante maior é de 2 quilates, a faixa de platina
também possui diamantes menores, é outro clássico de lapidação
princesa.
Analiso o anel e o devolvo. É lindo, mas não consigo imaginar Savannah
usando-o, não combina com ela. Então a vendedora me mostra outro
modelo, e depois outro, e mais outro.
— Temos esse daqui. Possui 3 quilates e...
— É esse. — Interrompo-a no meio da frase e arranco o anel de sua
mão, ávido para olha-lo mais de perto.
— É perfeito. — Sussurro para mim mesmo.

361
Admiro o lindo anel. Ele possui três pedras de diamante em formato
oval. A maior está no centro, e nos dois lados há mais duas pedras
menores. Ficaria perfeito na mão delicada de Savannah.
— É esse, é perfeito. Vou levar.
A vendedora abre um sorriso largo, com certeza muito contente com a
comissão que vai ganhar por essa venda.
— Pois não, vou guarda-lo para o Sr.
Ela guarda o anel dentro de uma caixa quadrada de veludo azul escuro
e coloca dentro de uma pequena sacola, assim como a caixa com meu
relógio. Ela me entrega o certificado de autenticidade do anel e eu lhe
entrego meu cartão de crédito.
Depois de pegar meu cartão me despeço da vendedora e volto para meu
carro. Uma vez lá dentro, pego a caixinha com o anel e a abro.
Eu não pretendia comprar um anel de noivado quando vim aqui,
comprei-o meio que por impulso. Não é só porque eu o comprei que eu
tenho que pedi-la em casamento, posso esperar se eu quiser. Posso
deixar o anel guardado até que a hora certa chegue.
Guardo o anel e ligo o carro, guio de volta para meu apartamento, só
imaginando a cara de Savannah quando a hora chegar e eu pedi-la em
casamento.

Savannah
Termino de almoçar e me encaminho para meu dormitório. Tenho uma
prova difícil daqui a dois dias e tenho que usar todo o tempo vago que
tenho para estudar para ela.
Caminho pelo campus distraidamente. Chego ao meu prédio e subo as
escadas lentamente, quando viro em meu corredor, levo um susto com
a quantidade de flores que estão na frente da minha porta.
Chego bem na hora em que Justin está amarrando vários balões em
formato de coração na maçaneta da minha porta.
— Justin? — Ele se assusta quando o chamo, mas sorri assim que me
vê.
— Ah, oi amor. Como foram as aulas essa manhã?
— Bem, obrigada...Ann, Justin, porque o meu corredor está parecendo
uma floricultura? — Pergunto me aproximando dele, ainda encarando
os diversos vasos e buquês de flores espalhados pelo chão.
Têm rosas brancas e vermelhas, margaridas, tulipas coloridas e flores
do campo. Sorrio ao perceber um ursinho grande no meio de todas
essas flores, ele segura um coração que diz “eu só tenho olhos para
você”.
Justin se aproxima e laça minha cintura, me puxando para junto de si.
Ele segura meu pescoço e junta sua boca com a minha. Me dá um beijo
tão apaixonado, tão cheio de amor que eu me esqueço de tudo o que

362
vem me atormentando desde aquele jantar maldito. Esqueço-me sobre o
tal beijo entre ele e Eva – o qual eu ainda não tive coragem de
questiona-lo – esqueço-me de todas as mulheres com quem ele já
esteve, esqueço-me de tudo que é ruim. Nesse momento só existe Justin
e eu.
Quando ele se afasta estou ofegante e com os joelhos fracos. Só ele para
ser capaz de me fazer sentir isso apenas com um beijo.
— Uma vez eu te disse que nunca poderia te dar flores e balões. Eu só
queria que...Queria que você soubesse que eu mudei. — Ele diz e eu
sinto meu coração inchar, tanto que eu acho que vai explodir.
— Ah, Justin. — Digo sorrindo e acariciando seu rosto.
— Eu te amo, Savannah, e pretendo me comportar como o idiota
apaixonado que sou. Vou te dar flores, balões, ursinhos e tudo o que
você quiser. Qualquer coisa para te provar que eu mudei e que eu te
amo com todas as minhas forças.
Ele segura a mão que acariciava seu rosto e lhe dá um beijo.
— Justin, por favor, me leve para dentro daquele apartamento e faça
amor comigo. — Peço em um sussurro.
— Tudo o que você quiser, minha linda, tudo o que você quiser.

— Savannah, você pode levar isso lá para fora e colocar na mesa? —
Mamãe pede.
— Claro. — Pego a travessa de vidro e me encaminho para a grande
mesa com bancos de madeira que foi colocada atrás da casa, ao ar livre.
Hoje é domingo e decidimos fazer um grande almoço em família. Os
Careton e os Cord, todos reunidos para um farto almoço junto das
pessoas que amamos.
Papai está sentado na varanda bebendo cerveja com Seth. Shanon está
com Miguel – já o consideramos parta da família – e eu, mamãe e Jane
estamos terminando de arrumar a mesa.
Alyssa, Mark, Justin, Jax e Kim ainda não chegaram.
Estou colocando a travessa de salada de batatas na mesa quando
escuto o barulho de rodas nos cascalhos na frente da casa.
Justin.
Sorrio e saio correndo para recebê-lo.
Quando chego à frente da casa e vejo Vince saindo do carro, congelo no
lugar. Não pode ser, eu devo estar imaginando. Que diabo ele está
fazendo aqui?
— Vince, o que você pensa que está fazendo aqui? — Pergunto furiosa
enquanto me aproximo de seu carro. Não acredito que ele teve a cara de
pau de vir até a minha casa.

363
— Você deve ir embora, agora. — Digo olhando-o severamente.
— Ele não vai a lugar algum, ele é meu convidado. — Escuto a voz de
Seth atrás de mim.
— Como é que é? — Viro-me olhando chocada. Eu só posso ter
entendido errado.
— Eu o convidei. — Seth repete.
— Como assim você o convidou, você está louco? — Seth se aproxima
sem se deixar abalar pelo olhar fulminante que estou lançando para ele.
— Vocês me obrigam a ter que aceitar que aquele filho da mãe que você
chama de namorado se sente na mesma mesa que eu. Então ele vai ter
que aceitar que o meu convidado se sente nela também.
— Você não pode fazer isso. Isso aqui é um almoço de família. — Digo
histérica.
— Eu tinha pedido para papai e mamãe se eu podia convidar um amigo,
eles permitiram.
— Mas aposto que eles não sabiam que era Vince, não é? E desde
quando você o considera um amigo? Você sempre o odiou, você só está
fazendo isso para provocar Justin. — Digo dando com o dedo em seu
peito.
— Não importa meus motivos, ele é meu convidado e ele fica. — Ele
volta seu olhar para Vince, que assiste nossa discussão quieto. — O
pessoal está lá atrás, pode ir até lá Vince, sirva-se de cerveja e o que
você quiser, fique à vontade.
— Obrigado, Seth. — Vince diz e se dirige para a parte dos fundos da
casa, eu apenas o olho se afastar com a boca aberta, ainda não
acreditando no que Seth está fazendo.
Não posso acreditar que ele esteja agindo dessa maneira. Meu Deus,
alguém abduziu meu irmão e colocou esse clone incrivelmente idiota no
lugar?
— Você tem que falar para ele ir embora, agora. — Emprego o máximo
de autoridade na voz que consigo.
— Não. Ele fica.
— Porque você está agindo dessa maneira? Você não acha que deveria
estar mais preocupado com a cirurgia da sua mulher do que agir como
uma criança?
— Eu estou preocupada com ela, e estou cuidando para que ela tenha
tudo o que precisa. Não precisa se preocupar.
— Seth, por favor. Você sempre odiou Vince.
— Eu não vou mudar de ideia, Savannah. — Ele diz se afastando.
— Vince me traiu. — Digo e ele para. — Foi por isso que eu terminei
com ele, porque eu o peguei na cama com a minha colega de quarto. —
Vejo raiva passar por seus olhos.

364
— E ele já tinha me traído antes disso também. Eu odeio ele, Seth. Você
convidou um cara que me fez sofrer, para perturbar um cara que me
ama de verdade e só tem me feito feliz.
Ele me olha, mas não diz nada.
— Por favor, faça Vince ir embora antes que Justin chegue. Pare de ser
tão hostil, tão teimoso e tão infantil. Todos têm agido como adultos com
relação à Justin e eu, menos você. Você tem agido como uma criança
mimada que está emburrada porque as coisas não saíram como queria.
— Ele fica. — Ele diz teimosamente.
— Eu vou falar com papai, ele vai fazer Vince ir embora. — Ameaço.
— Ele não vai expulsar um convidado meu.
— Eu não vou mais falar com você, você já magoou demais Justin. Ele é
seu amigo e está sofrendo com todo esse seu ódio, aí você pega e
convida aquele cara para uma reunião de família, uma tarde que era
para ser cheia de alegria, só porque você é egoísta e quer machucar o
homem que eu amo. Eu não vou te perdoar por isso, esse não é o Seth
que eu amo e admiro. — Digo magoada com sua atitude irracional e vou
em direção aos fundos da casa.
Chegando lá vejo Vince com uma cerveja na mão, sozinho em um canto,
olhando para os lados parecendo desconfortável.
Papai me olha com um olhar de desculpas, mamãe e Jane estão
fingindo que tudo está perfeitamente bem e Shanon me olha confusa
assim que entro em seu campo de visão.
Caminho determinada até Vince.
— Você tem que ir embora. Agora.
— Seu irmão me convidou, tenho o direito de estar aqui.
— Você não tem direito nenhum. — Digo elevando a voz. — Você sabe
que ninguém te quer aqui, nem mesmo Seth, ele te convidou só para
provocar Justin.
— Sabe, eu não gostava do seu irmão tanto quanto ele não gostava de
mim, mas depois que eu fiquei sabendo que ele deu uma bela de uma
surra no seu namoradinho, acho que ele até que é um cara bem legal.
— Como é que você...Esquece. Você é um idiota, não acredito que eu
cheguei mesmo a amar você. — Vejo seu rosto murchar e magoa passar
pelo seu olhar. Poderia até sentir pena dele, se ele não fosse um idiota
traidor.
— Você quer mesmo ficar em um lugar que você sabe não ser bem
vindo?
— Eu quero ficar no mesmo lugar que você, não importa onde isso seja.
— Ele diz dando um passo em minha direção e colocando sua mão em
meu rosto, que eu rapidamente retiro.
— Vince, só vai embora, por favor.

365
— Eu te amo, Savy.
— Eu não te amo mais, Vince.
— Eu posso fazer você voltar a amar.
— Não, não pode. Entenda isso de uma vez por todos e pare de agir
como um perseguidor, vá viver sua vida.
— Eu não consigo tirar você da minha cabeça, eu penso em você o
tempo todo. Eu sei o quanto eu te machuquei, eu sei o quanto eu fui
um filho da puta, mas se você pudesse me dar só mais uma chance...
— Não, Vince não dá. Eu amo o Justin, estou completamente
apaixonada por ele, não quero mais ninguém além dele. E se você me
ama tanto quanto você diz, você vai embora agora.
Ele me olha tristemente, leva sua mão até meus cabelos e os acaricia.
— Você não está sendo justa, você sabe que eu te amo de verdade.
— Então vá embora, agora.
Ele toma um gole da sua cerveja e deixa a garrafa na mesa.
— Tudo bem, eu vou, para mostrar que eu te amo. Me leve até o meu
carro.
— Tudo bem. — Digo revirando os olhos e o acompanho de má vontade.
— Tchau. — Digo quando chegamos ao seu carro e me viro para voltar
para minha família.
— Espera. — Ele segura meu braço.
— O que foi?
— Pelo menos me de um beijo de despedida.
— Então você vai parar de enrolar e vai embora? — Pergunto.
— Vou, prometo. — Solto um grunhido impaciente. Minha intenção é
lhe dar apenas um beijo rápido na bochecha, mas quando meus lábios
encostam-se na sua pele, ele me abraça e segura minha nuca. Vira o
rosto e faz com que nossos lábios se encontrem, tudo em um
movimento rápido demais para que eu possa reagir.
Sua língua tenta invadir minha boca e eu a mordo, fazendo-o me soltar
e falar um palavrão enquanto leva a mão até a boca.
— Seu idiota, vá embora e não me procure mais. — Suas mãos seguram
meus braços e ele me puxa com força para junto de si, nossas bocas
separadas por poucos centímetros.
— Você não pode fazer ou dizer nada para que eu desista de você.
— Mas eu posso. — Escuto a voz grave de Justin e me viro em sua
direção. Ele está a poucos metros de nós e escutou tudo, Jax e Kim
estão logo atrás dele.
— Largue a minha namorada, agora. — Ele diz com uma voz
assustadora. Vince me solta e encara Justin com um olhar arrogante.

366
— Sua por pouco tempo. — Ele diz sorrindo. Justin quebra a distância
com dois passos largos e agarra Vince pela camisa.
“Oh não! Meu Deus, porque Justin tem sempre que se meter em alguma
briga?”
— Se você chegar perto dela de novo, se você falar com ela ou olhar
para ela, eu vou atrás de você, entendeu? — Justin diz numa voz
sombria. Jax se aproxima do irmão cauteloso, pronto para apartar uma
briga se necessário.
— E eu vou estar te esperando.
— Justin. — Chamo-o e coloco uma mão em seu braço, ele me olha e
suaviza a expressão imediatamente.
— Solte-o. — Peço e ele larga Vince no mesmo instante, dando um
passo para trás e me puxando para perto de si, envolvendo meus
ombros com seu braço.
— Saia daqui, antes que eu perca a paciência com você.
— Tudo bem, já estou de saída, mas por que ela pediu e não porque
você quer. — Vince abre a porta do carro, mas antes de entrar se vira
para mim.
— O que nós tínhamos era especial demais para você me esquecer tão
facilmente...
— Humpf. — Bufo e solto uma risada sem humor nenhum. — Esquecer
você foi tudo, menos fácil.
— Eu sei que em algum lugar aí no fundo você ainda me ama. Você vai
voltar a ser minha, nossa história não acabou, Savy.
— Filho da... — Justin parte para cima de Vince, mas eu o seguro a
tempo.
— Por favor, Justin. Não aqui. — Ele me ouve e recua, Vince entra no
carro.
— Até depois, minha linda. — Vince diz e arranca com o carro.
— Filho da mãe. Quem ele pensa que é para te chamar de Savy, de
minha linda? Deus, eu quero matar esse pedaço de merda. — Justin diz
vermelho de raiva.
— Calma, cara. — Jax diz colocando a mão em seu ombro.
— Calma nada, eu vou acabar com ele isso sim. O que ele estava
fazendo aqui? Porque você deixou ele chegar tão perto? — Justin diz
redirecionando sua raiva para mim.
— Hey, calma. Foi Seth quem convidou Vince.
— Seth? — Kim pergunta confusa.
— É, ele o convidou só para provocar Justin.
— Mas Seth não odiava Vince?

367
— Pelo jeito ele me odeia mais. — Justin diz encarando o chão, a raiva
em sua voz sumiu e foi substituída por magoa.
Ele não olha para ninguém e vai em direção a casa, sumindo pela porta
da frente.
— Droga, eu vou atrás dele. — Digo e saio correndo para dentro.
— Justin, espere. — Ele para e se vira, com as mãos na cintura. — O
que foi?
— Não fique assim, por favor.
— Como você quer que eu fique? Eu chego aqui e vejo a minha
namorada nos braços do ex e ainda por cima descubro que o meu
melhor amigo me odeia ao ponto de convida-lo apenas para me atingir.
— Eu não estava nos braços de Vince.
— Estava sim, vocês estavam quase se beijando. — Obviamente agora
não é uma boa hora para admitir que Vince me beijou.
— Amor...
— Acho melhor eu ir embora. — Ele diz.
— Não, não fale besteira. Não deixe que os idiotas do Vince e do Seth
estraguem nosso dia. Vamos mostrar para Seth que não há nada que
possa nos separar, que estamos felizes juntos e que nos amamos.
— Não posso acreditar que ele me odeie tanto assim. — Justin diz
passando a mão pelos cabelos.
— Uma hora ou outra ela vai acabar entendendo. E mesmo que ele não
entenda, isso não vai nos separar. Eu não vou permitir que Seth nos
atrapalhe, a partir de hoje não vou mais falar com ele, agora sou eu
quem vou ignora-lo.
— Não quero que você se afaste do seu irmão por minha causa.
— Não é por sua causa, é por causa dele mesmo. Ele que tem agido
como um idiota.
— Chamar Vince não foi a primeira coisa que ele fez, foi? Ele tem feito
outras coisas que você não me contou, não é?
— Justin...Deixa isso para lá, não importa.
— Importa para mim, o que ele tem feito? Ele tem te tratado mal?
— Não exatamente.
— Então o que é?
— Ele tem tentado me convencer a te deixar, ele tem...Ele fica me
contanto coisas.
— Que tipo de coisas? — Ele pergunta com um leve tom de desespero
na voz.
— Coisas que você fez no passado, com outras mulheres. Ele fica me
dizendo que você é nojento e que eu mereço coisa melhor. Ele me

368
contou sobre as festas de troca de casais que você deu no apartamento
que vocês dividiam na faculdade, sobre as vezes que ele pegou você com
mais de uma mulher transando na sala, das vezes que ele não
conseguia dormir por causa dos gemidos. E da vez que...Da vez que
você transou com um homem. — Assim que digo isso Justin fica branco
como papel e rapidamente desvia o olhar, com vergonha. Ele se vira,
ficando de costas para mim.
— Eu estava bêbado, foi só uma vez.
— Eu não estou julgando, Justin.
— Eu sinto muito que tudo isso seja verdade.
— Justin, olhe para mim. — Peço e ele balança a cabeça em negativa.
— Tenho muita vergonha de tudo o que eu fiz.
— Não tenha, por favor, olhe para mim. — Ele lentamente se vira,
quando vejo as lágrimas escorrendo de seus lindos olhos azuis, sinto
uma vontade enorme de chutar a bunda de Seth. Definitivamente eu
não estou mais falando com ele.
— Ele tem razão, você merece coisa melhor.
— Hey, não fale uma coisa dessas. — Digo abraçando-o. — Eu não
gosto nem um pouco do seu passado, não vou mentir. Odeio que você
tenha estado com tantas outras pessoas, mas seu passado faz parte de
quem você é agora, e eu te amo. — Ele me abraça forte.
— Se eu soubesse...Se eu soubesse que iria encontrar esse sentimento
tão puro e bonito, o nosso amor, eu teria feito tudo diferente. Não teria
encostado em nenhuma outra mulher, teria esperado por você.
— Queria ter esperado por você também. — Digo.
— Só de imaginar que você já dormiu com outro homem, me deixa cego
de ciúmes, mesmo tendo sido apenas um. Não posso nem imaginar
como você se sente sabendo de tudo o que eu fiz. Sinto muito meu
amor, que você tenha que aguentar isso.
— Não quero mais falar sobre isso, por favor. Vamos esquecer tudo isso,
pelo menos por hoje, vamos fingir que nada disso com Vince aconteceu
e vamos aproveitar o dia juntos.
— O que você quiser, meu amor. Mas eu não vou me esquecer dele, se
Vince chegar perto de você de novo, não vai ter nada que vá conseguir
me impedir de dar uma lição nele. E com relação à Seth, eu também
não vou permitir que ele continue te envenenando contra mim. Ele não
quer aceitar nosso namoro, muito bem então, mas ele não tem o direito
de tentar atrapalha-lo.
— Não vamos deixar ele nos atrapalhar. — Digo.
— Não vamos deixar ninguém nos atrapalhar, promete?
— Prometo. — Respondo.

369
— Ótimo, eu prometo também. Vamos permanecer firmes, meu amor, e
juntos. Haja o que houver.

370
Isso não estava nos planos
Justin
— Com licença Sr. Cord. — A recepcionista do prédio onde trabalho me
chama quando passo por ela logo no começo da manhã.
— Sim, Marilu?
— Ann...Tem uma mulher aqui que gostaria de falar com o senhor.
— Quem?
— Eva Thompson, senhor. Ela tentou subir no seu andar, mas foi
impedida pelos seguranças porque sua secretária disse que tinha
ordens para não deixa-la subir, porém, não podemos impedi-la de ficar
lhe esperando no saguão. — Ela me diz com um sorriso de desculpas.
— Entendi. Obrigada, Marilu. — Dou lhe um sorriso desanimado, meu
dia já azedou.
Viro-me na direção do saguão onde vejo algumas pessoas em pé e
algumas outras sentadas nos sofás de couro. Não demora muito e eu
reconheço os cabelos negros de Eva, solto um suspiro impaciente e vou
em sua direção.
— O que você está fazendo aqui? — Paro na sua frente e tento
perguntar com uma voz contida, mas é difícil disfarçar a raiva que
sinto.
Ela levanta o olhar e um sorriso venenoso se espalha por seus lábios,
ela levanta-se do sofá, deixando seu corpo muito próximo do meu. Dou
um passo para trás, o que parece diverti-la ainda mais.
— Vim falar com você, docinho. — Deus, meu estômago embrulha toda
vez que ela me chama assim. É impressionante como as coisas mudam,
no passado ela costumava me excitar como nenhuma outra, agora ela
me enoja como muitas outras.
— Você já se esqueceu da conversa que tivemos aquele dia no meu
escritório? Eu não quero te ver nunca mais, Eva.
— Como eu poderia me esquecer daquele dia? Do nosso beijo... — Ela
diz com um sorriso dengoso, sua mão alisando meu terno.
— Não existe isso de ‘nosso’ beijo. Você me beijou a força e foi horrível.
— Você gostava tanto dos meus beijos antes. Principalmente quando eu
te beijava aqui embaixo... — Ela diz escorregando sua mão em direção à
braguilha da minha calça. Seguro sua mão com força e a afasto de mim.
Olho para os lados para ver se alguém percebeu seu movimento ousado.
— Pare com isso, Eva.

371
— Docinho, não precisa fingir que você não gosta disso.
— É mais do que não gostar, eu odeio isso, e eu te odeio. Você me
lembra de um passado que eu luto diariamente para esquecer. — Por
um breve momento vejo magoa passar por seus olhos, mas logo ela
disfarça e aquele brilho impertinente retoma seu lugar.
— Muito bem, você definitivamente quer isso do jeito difícil, não é? Eu
te dei todas as chances possíveis, Justin, mas você insiste em me
recusar, em me humilhar, como naquele dia no seu escritório. É, eu me
lembro bem daquele dia, me lembro também que eu lhe fiz uma
promessa, e eu sempre cumpro com o que eu prometo.
— Você já teve a sua vingança infantil, você prejudicou minha carreira,
agora me deixe em paz.
— Agora quem parece que não se lembra daquele dia é você. Já se
esqueceu do que eu te disse? Isso apenas começou Justin, aquele
contrato foi a primeira coisa que você perdeu.
— Você não pode mais me prejudicar. — Digo confiante, mas é apenas
uma fachada, a verdade é que eu estou com medo. Medo porque Eva
está com aquele olhar determinado de quando ela quer algo e não há
ninguém que possa impedi-la.
— Vamos ver o que eu posso fazer quanto a isso... — Ela diz remexendo
em sua bolsa, olho curioso para ver o que ela procura. Ela sorri
parecendo empolgada quando retira um celular da bolsa enorme que
pende do seu antebraço.
Fico mais curioso ainda, descanso as mãos na cintura e olho
impacientemente para Eva.
— Diga-me Justin, o que você acha que a sua namoradinha irá pensar
quando ela ver... — Ela vira o celular na minha direção. — Isso. — Ela
parece se deliciar com as palavras.
Olho a tela do celular, uma filmagem está passando. O ambiente é
escuro e não consigo ver muita coisa, mas consigo distinguir vários
corpos nus. Uma musica, tão alta que chega até meus ouvidos
completamente distorcida, sai do aparelho que Eva segura na altura do
meu peito.
Quem está filmando está andando pelo que parece ser uma festa
de swing, não sei por que meu corpo todo se arrepia, sinto meu
coração batendo rapidamente e um nó em meu estômago se forma.
Algumas das pessoas dançam e outras fazem sexo, no sofá, no chão, em
todo lugar. Começo a sentir um mal estar e sinto que estou suando frio.
A pessoa que filma anda, parece seguir por um caminho restrito, ela
para em frente a uma porta e a abre, entra em um ambiente claro o
suficiente para que eu veja que é um quarto. Com o barulho da musica
alta abafada no quarto, os gemidos são audíveis. Uma sinfonia de
gemidos sai do celular, estou tão horrorizado que não me importo se as

372
pessoas mais próximas de nós também estão escutando o que parece o
áudio de um filme porno.
Ao se aproximar de uma cama, a filmagem mostra claramente dois
homens e três mulheres. Quando reconheço o homem de joelhos na
cama, comendo uma das mulheres que está de quatro com a cabeça
enfiada no meio das pernas de uma segunda mulher, levo à mão a boca
como se isso pudesse impelir a bile de subir.
Sou eu nessa filmagem. Sou eu fodendo aquela mulher de quatro. De
repente sinto um medo terrível, o que mesmo que Eva disse, mostrar
isso para Savannah?
Oh Deus não, ela não pode ver isso.
As coisas no vídeo começam a ficar mais ‘pesadas’, mas não consigo
desviar o olhar, é como em um acidente de carro.
Quando eu começo a fazer algo que eu não tenho coragem nem ao
menos de falar, arranco o celular da mão de Eva e pauso o vídeo. Olho
para os lados e vejo algumas pessoas nos olhando com vergonha,
curiosidade ou choque. É, acho que elas escutaram os gemidos
obscenos
Pela expressão triunfante de Eva, a minha reação era a que ela estava
esperando.
— Como você conseguiu isso? — Minha voz não sai tão irritada quanto
eu queria porque ainda estou muito abalado com a ideia de Savannah
ver esse vídeo.
— Uma das festinhas que frequentávamos. Eu sabia que filmar você me
serviria para alguma coisa algum dia.
Raiva, vergonha e medo começam a queimar dentro de mim,
provocando uma chama muito perigosa. Aperto no botão de deletar,
nunca mais quero ver essa filmagem na minha vida.
— Pode deletar, é claro que eu tenho outras copias. — Ela diz pegando o
seu celular de volta.
— O que você quer? — Pergunto com os dentes cerrados, tenho medo de
abrir a boca e acabar gritando com todas as minhas forças.
— Você ainda precisa perguntar? — Ela ri. — Eu quero você.
— Não acredito que você guardou durante todos esses anos esse vídeo,
você é uma vadia louca, sabia?
— Eu sabia que me seria útil em algum momento. E esse é o momento
perfeito.
— Porque agora? Se você tinha isso com você todo esse tempo, porque
me chantagear só agora?
— Porque antes não teria adiantado nada. Diga-me, se eu tivesse
aparecido com esse vídeo alguns anos atrás, e tivesse ameaçado de

373
mostrar para a sua família ou colocar na internet se você não ficasse
comigo, o que você teria feito?
— Teria rido da sua cara. — Respondo sem pensar.
— Exatamente. Porque você não se importava com que os outros
pensavam de você. Mas agora, você se importa, não é? Agora você está
apaixonado e não quer que sua namoradinha veja com seus próprios
olhos como você é pervertido, não quer que os pais dela vejam, estou
certa ou não, Justin? — Juro por Deus que o que eu mais quero no
momento é tirar seu sorriso de vitória aos socos. Mas calma, Justin,
você não bate em mulheres, mesmo nas vadias como Eva. E você está
no seu emprego, se acalme.
Fecho os olhos e respiro fundo, tentando controlar esse mar de
diferentes emoções que se agita dentro de mim.
— Eu não sei o que você quer que eu diga. — Digo sentindo aquele
sentimento horrível de impotência. Ela está certa, não posso conceber a
ideia de Savannah ver esse vídeo. Uma coisa é falarem para ela o que eu
fazia, outra bem diferente é ela ver com seus próprios olhos.
Eu não suportaria se ela desistisse de mim, se decidisse que eu não
valho a pena, se ela percebesse que o meu passado é um fardo pesado
demais para se carregar.
— Eu quero... — Ela guarda o celular e pega um pedaço de papel. —
Que você me encontre nesse endereço, sexta às 21 horas.
Ela me entrega o papel, que vejo se tratar de um dos seus cartões de
visita, com um endereço rabiscado em sua letra.
— Se você não estiver lá às 21 horas em ponto, eu vou fazer com que
Savannah e toda a sua família vejam aquele filmagem. A decisão é sua.
Até logo, docinho. — Ela se inclina e beija meu rosto. Estou tão
aturdido que não reajo a sua aproximação, encaro-a fixamente
enquanto se afasta e vai embora. Quando ela está fora do meu campo
de visão sinto como se uma tonelada estivesse sobre meus ombros, me
empurrando para baixo, sento-me no sofá e esfrego meu rosto com força
onde ela me beijou. Sinto tanto nojo, como eu nunca senti antes em
toda a minha vida.
“Deus, como eu pude me envolver com alguém como ela? Onde eu estava
com a cabeça?”
Observo com pesar o cartão em minha mão. Não posso ceder e ir
encontrar com Eva, mas também não posso deixar Savannah ver
aquelas cenas nojentas.
Ela é tão inocente, tão pura, tão delicada, não posso a expor a esse tipo
de coisa. Ah meu Deus, o que eu faço?
Descanso a cabeça no sofá, encarando o teto decorado a cima de mim e
tentando controlar o embrulho em meu estômago.

Savannah

374
— Não sei qual comprar.
— Leve um de cada, sis.
— Tudo bem. — Pego um teste de gravidez de cada marca e coloco na
cesta de plástico azul.
Eu vou fazer todos eles, mas somente para provar para Shanon que ela
está errada, porque é óbvio que eu não estou grávida. Eu não posso
estar grávida.
Ela se fixou nessa ideia desde que eu comentei que estava tendo alguns
sintomas estranhos nas últimas semanas.
As coisas começaram naquela noite do jantar beneficente, depois das
ameaças e revelações de Eva me senti muito mal, a ponto de vomitar
todo o jantar. Achei que tivesse ficado enojada com as coisas que ela me
disse. Mas então me senti mal no dia seguinte também, e no outro,
estranhei, afinal, fazia tempo que não ficava doente. Depois de alguns
dias sem enjoos e me sentindo ótima, cheguei à conclusão que o meu
mal estar tinha se dado graças a algum vírus.
Mas então em uma certa manhã, subitamente um enjoo fortíssimo me
atingiu ao sentir o cheiro de café da manhã enquanto eu passava por
uma padaria. E foi nesse dia que os enjoos voltaram com força total,
junto com tontura e sonolência. Achei que talvez fosse o estresse, afinal
estava acontecendo tanta coisa; Os problemas de Seth com meu
namoro, a presença de Eva, a cirurgia de Jane – que aliás, foi um
sucesso, agora ela só precisa se cuidar – e também as provas na
faculdade.
Estava tão preocupada com essas coisas, que não havia notado que eu
estava atrasada uma semana. Juntando todos os pontos, Shanon
anunciou com grande certeza que eu estava grávida, mas apesar de
todos os sintomas apontarem para a confirmação dessa suspeita, eu me
recuso a perder as esperanças. Eu não posso estar grávida.
Chego ao caixa e a moça me lança um olhar estranho ao ver as cinco
caixas de teste de gravidez, ela tenta me dar um sorriso reconfortante,
mas não adianta, meus nervos estão à flor da pele.
Pago pelos testes e ando apressadamente para o carro.
— Podemos fazer isso no seu apartamento? — Pergunto.
— Aletta?
— Exatamente, não quero correr o risco de ela estar lá.
— Tudo bem, vamos.
Shanon liga o carro e seguimos para seu dormitório. Ambas em silêncio,
ela dirigindo e eu rezando, tem que ser um alarme falso.
“Por favor, meu Deus, eu prometo que se eu não estiver grávida, eu nunca
mais vou transar sem camisinha.”

375
— Savannah, pare com isso. — Shanon diz retirando minha mão da
boca. — Desse jeito você não vai mais ter unha para roer daqui a pouco.
— Estou nervosa, nunca imaginei que cinco minutos pudessem
demorar tanto. — Digo balançando minha perna impacientemente.
— Calma, não adianta nada ficar nervosa agora.
— Shanon, não acredito que isso está acontecendo comigo. — Digo
esfregando o rosto com as mãos.
— Você e o Justin não usam camisinha?
— Não, eu disse para ele que não tinha problema, eu estou tomando
pílula.
— Ah Savannah, você sabe muito bem que pílula e camisinha não são
completamente seguros, por isso tem que usar os dois juntos, sem falar
nas doenças sexualmente transmissíveis...
— O Justin está limpo, com isso você não precisa se preocupar. Ele
disse sempre fazer os exames a cada dois meses, quando começamos a
nos envolver, ele tinha acabado de fazer um.
— Bom, pelo menos ele não era um prostituto irresponsável...Oh,
desculpe. — Ela diz ao ver a minha reação à palavra ‘prostituto’.
— Tudo bem. — Digo tristemente. Ele meio que era mesmo, a única
diferença é que ele não cobrava.
— Foi mal mesmo, sei que você não gosta dessa palavra. O Justin
mudou, eu acredito nisso agora, sinto muito ter chamado ele assim.
Apenas lhe ofereço um sorriso fraco e volto a roer minhas unhas. Olho o
relógio, e pelo amor de Deus, ainda falta dois minutos. Levanto-me da
cama e começo a andar pelo quarto de Shanon, de um lado ao outro.
Depois do que pareceu uma eternidade, ela diz:
— Cinco minutos, sis.
— Ah meu Deus. — Estava tão ansiosa para ver o resultado, e agora
que está lá, não consigo ter coragem para ir ver quantos malditos
risquinhos tem no maldito palito branco.
Sinto uma náusea no estômago, aquele mal estar típico de quando se
está sobre grande pressão, sinto as palmas da minha mão suando. Não
consigo fazer isso, definitivamente não consigo.
— Quer que eu veja? — Shanon pergunta ao ver o meu olhar de pânico.
Apenas balanço a cabeça em sinal afirmativo.
Ela se vira e vai na direção do banheiro, tendo um segundo
pensamento, eu seguro-lhe o braço e a paro. Tenho que ser corajosa, eu
é que tenho que ver.
— Não, espera. Eu tenho que fazer isso. — Digo, ela me dá um sorriso
de incentivo, respiro fundo e vou em direção ao banheiro.
Chegando lá fecho a porta atrás de mim e encaro os potinhos com urina
e os palitinhos que repousam dentro. Cinco testes, cinco resultados, os

376
cinco vão conter apenas um risco e então eu vou poder respirar aliviada
e rir disso mais tarde.
Acho que é melhor fazer isso rápido, simplesmente pegar o teste e olhar.
Mas não consigo, eu o pego, mas não consigo encara-lo, fico observando
o meu reflexo no espelho.
Não vou conseguir forçar meus olhos a olhar para baixo, então viro o
teste para o espelho e vejo o resultado pelo reflexo.
Sinto que meu coração parou uma batida, então ele começa a bater
mais rápido que as asas de um beija-flor. Por um segundo sinto como
se o chão tivesse se abrido aos meus pés e eu estivesse caindo. Sinto
um frio na barriga, sinto aquela familiar sensação que sempre acontece
pelo menos uma vez na vida de todos, a sensação que você está em um
mundo paralelo e que aquilo que está acontecendo não está de fato
acontecendo.
Meus olhos viajam rapidamente para baixo, e eu confirmo o que eu vi
pelo espelho...Dois risquinhos.
“Não! Não pode ser”.
Jogo o resultado na pia, como se ele tivesse me queimado. Com medo e
hesitante, pego o segundo, dois risquinhos. Pego o terceiro teste,
também dois risquinhos, pego o quarto, um risco, vejo o quinto e
último...Dois risquinhos.
Apoio-me na beirada na pia, acho que estou entrando em pânico. Não
consigo respirar, ah meu Deus, não consigo respirar.
Respiro profundamente e solto o ar lentamente, mas não está ajudando
em nada, o ar continua entrando preguiçosamente em meus pulmões,
me sufocando.
Minha visão está ficando embasada, minhas pernas estão fraquejando,
acho que vou desmaiar.
— Shanon. — Chamo por minha irmã, mas minha voz não sai nada
mais do que um sussurro. — Shanon. — Tento de novo, dessa vez
minha voz sai alta o suficiente para ela escutar, porém trêmula, o que
deve ter denunciado meu estado, pois Shanon abre a porta com um
olhar preocupado.
Ela não pergunta nada, eu não digo nada. Ela vê em meus olhos tudo o
que precisa saber, ela leva a mão até a boca.
— Ah meu Deus, eu vou ser tia? — Ela pergunta com um sorriso
enorme se formando nos lábios.
Ela está rindo? Por acaso isso parece engraçado?
Balanço a cabeça negativamente várias vezes, agravando a minha
tontura. Quase caio, mas Shanon me ajuda a tempo e me ajuda a ir
sentar no vaso sanitário.
— Como assim, você está grávida ou não? — Ela pergunta ansiosa. Não
consigo parar de olhar para o azulejo a minha frente. Será que estou em

377
estado de choque? Ainda não consigo respirar direito. Sinto meus olhos
se encherem d’água, não foi assim que eu imaginei, quando acontecesse
era para eu estar formada, casada, não na situação em que eu me
encontro agora.
— Um deu negativo. — Digo com a voz baixa.
— Um? Mas e os outros quatro?
Abro a boca mas não consigo emitir nenhum som, não consigo dizer em
voz alta que eu estou...Que eu estou...Oh Deus, eu não consigo nem
pensar nas palavras.
— Fale logo, Savannah. — Ela pede com urgência, mas eu
simplesmente não consigo lhe dizer.
Ela se irrita com o meu silêncio e vai até a pia, olhando os resultados
por si só.
— Ah meu Deus, sis...Você está grávida. — Shanon diz com uma voz
emocionada.
— Não! — Digo categoricamente. — Um deu negativo. — Digo como se o
fato de apenas um resultado ter dado negativo anulasse os outros
quatro positivos.
— E quatro deram positivo, é claro que você vai ter que fazer o exame de
sangue para ter certeza, mas...Exames de farmácia são bem
seguros, sis. Não acredito que eu vou ser titia. — Ela diz dando
pulinhos de alegria.
Será que ela perdeu o pouco juízo que tinha? Porque ela está feliz, ela
não vê que isso é uma tragédia?
— Porque você está com essa cara, sis? Você está grávida, deveria estar
feliz. — Ela diz ficando de joelhos na minha frente, um sorriso bobo em
seus lábios.
— Isso é uma tragédia. — Ela parece pessoalmente ofendida com as
minhas palavras.
— Como você pode falar isso, Savannah? Tem um bebezinho aí dentro,
seu filho e do Justin, é uma benção, não uma tragédia.
— Você não entende, Shanon. — Digo ainda em um estado meio
catatônico.
— Não entendo mesmo, achei que você sempre quis ter filhos.
— E eu queria, eu quero...Mas não agora, eu tenho 20 anos, ainda não
me formei, não estou casada e...Meu Deus, não posso contar isso para o
Justin.
— Como não? Ele é o pai, ele tem que saber.
— Ele vai surtar, Shanon. Ele vai me culpar, porque eu disse que tudo
bem não usarmos camisinha. Será que ele vai achar que eu fiz isso de
propósito?

378
— Tudo bem, agora você está começando a falar muita
besteira, sis. Primeiro que você não fez essa criança sozinha, Justin
não é burro e sabe muito bem os riscos de transar sem camisinha,
mesmo com você tomando pílula. E é claro que ele não vai achar que
você fez isso de propósito, que ideia maluca é essa?
— Ah Shanon, ele vai surtar, ele vai sair correndo no momento em que
contar.
— Claro que não, ele te ama.
— Como eu vou contar para ele que ele vai ser pai? Até ontem ele tinha
medo de apenas namorar, não posso chegar e jogar uma bomba dessas
nele. Ele vai sair correndo e me deixar. — Apoio a cabeça nas mãos e
começo a chorar. Sinto a mão de Shanon acariciando minhas costas e
isso me dá algum conforto.
— Ele não vai te deixar. Isso pode ter sido um pouco inesperado, mas
Justin nunca te deixaria grávida e sozinha. Ele está tão mudado, que
acho que é até capaz dele te pedir em casamento quando souber da
criança. Ele amadureceu e é um homem de verdade agora, todo mundo
viu as mudanças em seu comportamento.
— Ah meu Deus, você acha que ele faria isso, me pediria em
casamento? Eu não quero isso, não quero que ele se sinta obrigado a se
casar comigo só porque estou grávida.
— Eu não quis dizer...
— Se ele pedir, eu não vou aceitar. Não quero me casar só porque fiquei
grávida. — Deus, essas palavras ainda saem tão estranhamente de
meus lábios, sinto como se não fosse comigo, como se eu tivesse
assistindo a cena de longe, e outra pessoa fosse a protagonista.
— Calma, Savannah, eu não quis dizer isso...Droga. Você tem que se
acalmar, e depois temos que marcar uma consulta para você, o médico
vai pedir um exame de sangue para confirmar e se você estiver mesmo
grávida, ele vai nos dizer o que devemos fazer.
— Você vai à consulta comigo?
— Mas é claro, se você quiser eu vou.
— Eu quero, não posso fazer isso sozinha.
— Você não precisa, conte para o Justin amanhã mesmo e ele pode ir
ao médico com você.
— Não! Não vou contar para ele, não vou contar para ninguém, você
tem que me prometer que não vai falar nada. — Digo me levantando
rapidamente e me afastando de Shanon.
— Savannah, você tem que contar. Justin é o pai, ele tem que saber
para estar ao seu lado quando precisar, e nossos pais...Você não acha
que eles vão fica felizes em saber que serão avós?

379
— Não posso contar agora. Justin acabou de começar a aceitar a ideia
de estar um relacionamento, e nossa família...Não posso contar agora,
não depois do que aconteceu com Seth e Jane.
— O que eles tem a ver com isso?
— Jane acabou de fazer uma cirurgia para retirar um tumor, ela pode
nunca conseguir ter filhos e isso é o que ela mais quer, como você acha
que ela e Seth vão se sentir quando eu falar que estou grávida? Não
posso contar nada agora.
— Savannah, Seth e Jane vão ter que aceitar, você não pode viver sua
vida em função do que os outros vão pensar, do que eles vão sentir.
Você tem que contar para Justin o mais rápido possível, e depois para
papai e mamãe.
— Não.
— Savannah... — Ela me chama com aquele tom reprovatório.
— Não, Shanon. Não posso dizer nada por enquanto, não até ter certeza
absoluta. Depois do exame de sangue, se eu estiver realmente grávida,
eu conto.
— Mas...
— Sem mas, é assim que vai ser. — Digo decidida.
— Tudo bem, se é isso que você quer. — Ela diz, claramente não
concordando com minha decisão.
Como eu vou contar para Justin que ele será pai? Ele vai se sentir
sufocado, assustado, vai sair correndo direto para o seu antigo estilo de
vida. Todas aquelas coisas que Eva disse. Ele ainda está se
acostumando com a ideia de um relacionamento, levou anos até que ele
conseguisse ter coragem para se envolver seriamente com alguém, se eu
disser agora que estou grávida, todo o seu progresso vai por água
abaixo. Ele vai se sentir preso e vai fugir, mesmo Shanon dizendo que
ele não me abandonaria, eu sei que ele vai se sentir assustado o
suficiente para correr para bem longe. Mesmo que depois o seu senso
de dever lhe devolva a razão e ele volte, mas vai ser por causa da
criança e não por minha causa, ele vai querer continuar comigo por
causa do bebê e eu não posso permitir isso. Não posso permitir que ele
se sinta obrigado a ficar comigo, não quero que ele se sinta infeliz e
preso a mim, sempre desejando estar em qualquer outro lugar.

— Então, o que diz aí, doutor? — Pergunto ansiosa para o homem de
cabelos grisalhos sentado do outro lado da mesa.
— Parabéns, você está grávida. — Ele diz dobrando os papeis do exame
de sangue que eu fiz e me dando um sorriso verdadeiro.
Então é isso, eu estou mesmo grávida. Sinto a mão de Shanon
apertando a minha, olho para o lado e ela me lança um daqueles seus
sorrisos de apoio.

380
Sinto meus olhos se enxerem d’água, meus pensamentos giram como
um redemoinho, confusos, dentro de minha cabeça.
Agora é real, agora é certeza, isso está mesmo acontecendo.
— Você tem o apoio do pai da criança, querida? — O doutor me
pergunta observando meu rosto machado pelas lágrimas.
— Ele não sabe ainda, eu não contei. — Digo com a voz fraca.
— Entendo, caso você precise de ajuda, nós temos ótimos programas
para mães solteiras. — Ele diz me entregando alguns folhetos. — Essas
mulheres são maravilhosas, você sempre encontrará alguém para
apoia-la nesses grupos.
— Ela tem quem apoia-la. — Shanon diz de repente, soando ofendida.
— Nossos pais vão apoia-la e eu também. E o Justin também vai, tenho
certeza, Savannah. — Ela diz essa última parte se dirigindo a mim.
— Obrigada. — Sorrio para ela e enxugo as lágrimas.
O doutor começa a nos explicar quais deverão ser meus passos a partir
de agora. Tenho que marcar uma consulta e começar a fazer o pré-natal
imediatamente, para garantir que tudo está bem com meu filho.
Meu filho...Isso ainda é tão estranho de pensar. Não acredito que estou
mesmo grávida, que eu vou ser mãe. Isso tudo é muito surreal.
Deixo que Shanon preste atenção nas recomendações do doutor e fico
imaginando em minha mente as diversas reações de Justin quando eu
lhe contar.
Ele vai gritar? Vai sair correndo sem dizer nada? Vai me culpar? Ou vai
enfrentar tudo como um homem, porém nem um pouco feliz? Não quero
ser a causa da infelicidade de Justin, eu sei que ele não está pronto
para ser pai ainda, nem sei se algum dia estará.
Mas agora não tem mais volta, a criança já está aqui dentro, a
sementinha já está crescendo dentro de mim. Uma criação de Justin e
minha, algo que fizemos juntos. Se as circunstâncias fosse outras, eu
estaria chorando de emoção, de felicidade, se eu tivesse certeza que é
isso o que Justin quer, eu seria a pessoa mais feliz do mundo.
Coloco a mão em minha barriga e a acaricio. O filho de Justin está aqui
dentro, mesmo que ele me deixe, mesmo que tudo o que Eva me disse
for verdade, eu vou para sempre ter um pedaço do homem que amo
comigo.
Essa ideia é o suficiente para colocar um sorriso em meu rosto.

Após ficar uns bons minutos convencendo Shanon de que estou bem e
não preciso mais de sua companhia, ela finalmente me deixa sozinha
em frente ao meu dormitório.

381
Sei que o doutor disse que todo esse cansaço é normal, mas me sinto
exausta tanto fisicamente como emocionalmente, e preciso
urgentemente da minha cama.
Subo as escadas até meu andar quase me arrastando, um sono vindo
do nada de repente tomou conta de mim e não paro de bocejar.
Abro a bolsa e procuro por minhas chaves, ao virar em meu corredor
sou surpreendida por ver que tem alguém sentado no chão, ao lado da
minha porta.
Os cabelos ruivos não me deixam errar, penso em dar meia volta e fugir,
mas Vince levanta o olhar e me vê parada no começo das escadas. Ele
rapidamente se levanta e vêm até mim, ignorando-o passo por ele e vou
abrir minha porta.
— Savy.
— Por favor, hoje não, Vince. Não estou legal. — Digo colocando a chave
na fechadura e destrancando a porta.
— O que você tem, está bem? — Ele pergunta, a preocupação genuína
em sua voz não me deixa dispensa-lo com aspereza.
— Estou sim, apenas cansada, obrigada. — Digo olhando-o nos olhos e
dando-lhe um sorriso gentil. Abro a porta e entro no apartamento,
quando me viro vejo Vince entrando sem ser convidado.
— Vince, eu já disse, por favor, não estou com paciência para você hoje.
Vá embora.
— Você diz que está bem, mas sua carinha diz o contrário. — Ele diz
segurando meu queixo e analisando meu rosto.
— Eu estou bem, já disse.
— Aquele cara não te fez nada, não é? — A essa altura já sei muito bem
a quem ele se refere sempre que diz ‘aquele cara’.
— Não, Justin não me fez nada. Vá embora, por favor. — Aponto para a
saída.
— Você não está com uma cara boa, acho melhor não te deixar sozinha.
— Ah ótimo, me livrei de Shanon apenas para que Vince ocupasse seu
lugar, o que eu tenho que fazer para ficar sozinha com meus
pensamentos? Pior é que eu não estou nem com forças de discutir com
ele e expulsa-lo daqui.
— Vince, quando você vai entender que eu não te quero mais na minha
vida? Você está me exaurindo com essa sua insistência.
— Ótimo, assim fica mais fácil de você ceder. — Ele diz fechando a
porta.
Solto um suspiro cansado e logo em seguida um bocejo.
— Você parece bem cansada mesmo, porque não se senta confortável
no sofá e eu te preparo um chá? — Ele pergunta com um sorriso
inocente no rosto. Vince se ofereceu mesmo para me fazer um chá? Tem

382
como esse dia ficar mais surreal? Descubro que estou mesmo grávida e
meu ex namorado obsessivo quer me fazer um chá, a vida tem um
senso de humor estranho.
— Obrigada, mas acho melhor você ir embora. — Respondo me jogando
nas almofadas macias.
— Por quê?
— Humpf, você ainda pergunta? Nós não somos namorados e não
somos amigos, Vince. Sei que você está tentando reatar nosso namoro,
mas agora mais do que nunca isso é impossível.
— O que você quer dizer com agora mais do que nunca? — Ele pergunta
se aproximando.
— Nada, eu só quis dizer que agora eu me apaixonei por outro, sinto
muito, mas essa sua perseguição tem que parar. Se Justin descobrir
que você está aqui ele vai...
— Foda-se ele. — Vince me interrompe e vem se sentar ao meu lado no
sofá. — Foda-se o seu namorado, eu não vou desistir de você, Savy.
— A questão aqui não é só ele, é eu também. Eu de verdade não quero
mais nada com você, Vince. Não tem nada que você possa fazer para
mudar isso.
— Tem que ter alguma coisa, tem que ter algo que eu possa fazer.
— Sinto muito, mas não há nada. Acabou, para sempre.
— Eu te amo.
— Engraçado, porque será que esse amor todo só apareceu depois que
você me perdeu?
— Eu sempre te amei. — Ele responde magoado.
— Se isso é verdade, então porque você fez o que fez? — Ele abre a
boca, parece pronto para responder, mas então se detém.
— Acho que isso que você pensa ser amor, é apenas uma obsessão.
Você devia parar com isso, para o seu próprio bem. — Meus olhos estão
cada vez mais pesados, encosto a cabeça no sofá e fecho os olhos.
— Você deve ir agora. — Digo no meio de um bocejo. — Feche a porta
quando sair.
Sinto o sofá se mexendo quando Vince se levanta, o esgotamento
emocional e o sono vão me vencendo e finalmente adormeço.

Minha consciência desperta, mas está tão gostoso aqui que me recuso a
abrir os olhos. Estou deitada, mas pelo que eu me lembro, eu dormi
sentada no sofá. Estou sentindo uma coberta em cima de mim, quem
foi que me cobriu?

383
Mexo-me e sinto uma mão em minha cintura, abro os olhos assustada e
dou de cara com o rosto de Vince me observando. Solto um grito de
susto e se não fosse por seu braço me segurar, teria caído do sofá.
— Hey, calminha, sou eu.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Pergunto analisando a
situação.
Estou deitada no sofá com Vince deitado ao meu lado, perto demais.
Percebo que estou deitada em seu braço direito e o outro ainda está em
minha cintura.
A luz que entra pela janela da sala é fraca e não ilumina nada,
deixando-nos em um ambiente escuro. Meu Deus, já deve estar
escurecendo, quanto tempo eu dormi?
Faço menção de me levantar, mas Vince me abraça, me segurando no
lugar.
— Não quis deixar você sozinha, você não parecia bem. Só queria cuidar
de você.
— Então você me deitou, me cobriu e depois veio dormir comigo? —
Digo deixando-o ouvir em minha voz que eu não gostei nada disso.
— Foi.
— Me solte Vince, quero levantar. Você não deveria ter ficado, vá
embora agora. — Ele não me escuta e continua me segurando em seus
braços.
— É tão bom ficar com você assim, tão pertinho de mim.
— Me solte, Vince.
— Você lembra quando costumávamos ficar assim na minha cama,
abraçados logo depois de fazermos amor?
— Vince...
— Sinto falta disso. — Ele diz em um sussurro, sua boca se aproxima e
ele me rouba um beijo. Na tentativa de me desvencilhar dele, acabo
caindo no chão.
— Ai, que droga. — Digo sentindo a dor do meu tombo.
— Savy, você está bem? — Ele se levanta do sofá rapidamente e me
estende a mão, eu dou um tapa nela e me levanto sozinha.
— Você é tão idiota, Vince. E burro, qual a parte de eu não te quero
mais que você não entendeu? Que coisa, me deixe em paz. Você fica me
perseguindo implorando para voltarmos, tenha um pouco mais de amor
próprio. Vá procurar outra e me deixe em paz. — Despejo minha
frustração em cima dele, tento ignorar a dor na minha bunda.
Ele fica parado sem dizer nada, então vou até a porta e a abro.

384
— Saia agora, e se você voltar a me procurar, eu juro por Deus que eu
vou pedir um mandado de restrição na justiça. — Encaro-o com a porta
aberta.
— Eu só queria cuidar de você. —Ele diz bravo.
Ele pega sua jaqueta no encosto do sofá e sai do apartamento rápido e
destrutivo como um furacão.
Bato a porta com força e me dirijo à cozinha para beber um como
d’água. Tenho tantas coisas em que pensar agora, a última coisa que eu
preciso é me preocupar se magoei os sentimentos de Vince,
principalmente depois que ele foi tão leviano com os meus. Espero que
ele tenha entendido agora, de uma vez por todas, que eu não quero
mais nenhum tipo de relação com ele.
Bebo minha água, agarro minha bolsa em cima do balcão e vou para
meu quarto. Apesar de o cochilo ter renovado minhas forças, ainda me
sinto um pouco cansada.
Sento-me na cama e procuro pelo papel dentro da bolsa. Quando o
encontro desdobro-o e leio mais uma vez o resultado.
Tenho que começar a refazer meus planos, essa criança vai mudar
tudo, nada vai ser como era antes. E apesar de saber que eu tenho
pessoas que me apoiarão, sinto medo.
Queria que meu primeiro filho chegasse alguns anos depois de já estar
casada com um homem carinhoso e que me amasse, não quando estou
namorando com um cara tão assustadiço e escorregadio como Justin.
Eu acredito que ele realmente me ama, esse não é o problema,
mas...Será que ele ama o suficiente?
É isso que em breve eu vou descobrir, porque agora que eu tenho a
certeza, eu vou ter que contar para ele. Contar que nós fizemos um
outro ser humano juntos, criamos uma vida que irá alterar o curso da
nossa própria para sempre.

385
Vermont
(DICA: PROCURE NO GOOGLE IMAGENS POR - MONTPELIER VERMONT IN FALL)

Savannah
— Savannah, baby...Você está me escutando? — A voz de Justin me
trás de volta dos meus pensamentos.
— Ann, sim, estou. — Minto.
— Então, o que você acha?
— Sobre o que? — Ele solta um suspiro e quando me viro para ele, está
me olhando com uma cara séria.
— Você não estava me escutando, não é? O que está acontecendo com
você, faz uns três dias que você está agindo de uma forma estranha,
parece sempre distante.
— Não é nada, está tudo bem.
— Então me diga, o que você acha de irmos passar aquele final de
semana em Vermont amanhã?
— Amanhã? Mas é muito em cima da hora.
— Mas não é como se fosse uma viagem que precisa de semanas de
preparo. Eu gostaria muito de estar bem longe daqui nesse final de
semana. Podemos ir amanhã depois que você sair da aula e voltamos no
domingo à noite.
— Mas e o seu trabalho, você não precisa trabalhar amanhã?
— Não se preocupe com isso, eu já resolvi tudo.
— Ah então já está decidido que vamos amanhã?
— Bem, não, se você não quiser não precisamos ir. Mas eu gostaria
muito de ir.
— E tem que ser amanhã? — Pergunto notando que ele parece ansioso
para ir logo para Vermont.
— Tem. Por favor, vamos?
Penso um pouco a respeito, eu não quero ir passar um final de semana
romântico em uma cabana no humor em que eu tenho estado
ultimamente, mas se for pensar bem, talvez essa possa ser uma ótima
oportunidade para lhe contar sobre o bebê.
— Tudo bem, se é importante para você, podemos ir amanhã.
— Ótimo. — Ele parece aliviado. Acho estranho, mas não questiono, ele
tem os seus motivos para querer ir parar Vermont e eu tenho os meus.

386
Depois de um voo de cinco horas, finalmente chegamos à cidade de
Montpelier, em Vermont. O segundo estado menos populoso dos
Estados Unidos.
No aeroporto Justin e eu pegamos um táxi que nos levou até uma loja
de aluguel de carros. Lá, Justin me explicou que precisaríamos alugar
uma caminhonete 4x4, porque é o único jeito de conseguirmos subir
pelo caminho difícil que nos levará até a cabana. E sem um carro para
podermos ir e volta da cidade quando quiséssemos, ficaríamos sem ter
como voltar para Montpelier caso acontecesse alguma coisa.
Então colocamos nossas coisas no porta malas e Justin assume o
volante. Para chegarmos ao caminho de acesso à cabana, temos que
atravessar a pequena cidade de 7.850 pessoas.
O lugar é absolutamente adorável, as casas são construídas em um
estilo clássico, há muito verde e poucos prédios. Possui o típico estilo
calmo e pacato de uma cidade rural.
E as cores, ah as cores...Estamos no auge no outono, como em Dallas
quase sempre parece que estamos no verão, já havia me esquecido
como um lugar pode ficar lindo nessa época do ano. Muitas folhas secas
amarelas, laranjas, vermelhas e algumas verdes enfeitam o chão e os
galhos das árvores e arbustos.
Como já passa das sete horas da noite, a cidade está banhada com as
luzes artificiais amarelas dos postes e das casas, dando um ar quase
mágico para a cidade.
Observo as pessoas andando pelas causadas, algumas famílias, alguns
casais, alguns grupos de amigos, algumas pessoas estão sentadas nos
bancos com um copo de plástico de onde sai um vapor quentinho, que
combina perfeitamente com o clima um pouco mais gelado.
Logo Justin sai da cidade e guia o carro por uma estrada com cercas de
madeira em ambos os lados, com apenas alguns postes com fracas
luzes. Seguimos por um caminho e logo chegamos à pequena estrada de
chão que leva a cabana. Seguimos por essa estrada que logo começa a
ficar íngreme, e logo percebo que graças a Deus estamos com uma
caminhonete, caso contrário não conseguiríamos subir a montanha.
Cerca de meia hora depois, finalmente chegamos a um portão de ferro
grande e imponente. Justin desce do carro para abrir o portão e
seguimos viagem. Mais uns dez minutos seguindo por uma estrada,
dessa vez sem chacoalhar tanto, e avistamos a cabana. Tudo bem,
cabana não é o nome apropriado, mansão seria mais adequado.
Quando Justin estaciona na frente da casa, desço do carro rapidamente
e olho para a construção impressionante.
A “cabana” tem três andares e é suficientemente larga para que um
caminhão não consiga esconde-la. Ela é construída toda com uma
madeira escura e tem muitas janelas.
— Uau, isso é bem mais do que eu esperava. — Justin comenta
parando ao meu lado.

387
— Com certeza, esse lugar é incrível. — Digo com um sorriso
empolgado.
— Vamos ver se é igualmente impressionante por dentro? — Ele
pergunta com um sorriso tão animado quanto o meu.
Então seguimos para a grande porta da frente. Justin que tem a chave,
destranca-a e a abre para mim. Quando entramos é
simplesmente...Uau.
Acho que alguém – o caseiro ou algo do tipo – sabia que viríamos, então
as luzes de fora e de dentro já estão acessas.
Justin fecha a porta e vem se juntar a mim para contemplar a luxuosa
decoração.
— Venha, vamos fazer um tour. — Justin me puxa consigo.
Percorremos os três andares, cada cômodo nos deixando mais perplexos
do que o último.
A mansão denominada erroneamente de cabana, possui quatro quartos
e três suítes, cinco banheiros, uma cozinha enorme, uma sala de jantar
e duas salas de estar, uma menor e outra maior, com lareira e um vidro
enorme substituindo a madeira no lugar da parede. Além de uma
sauna, uma piscina externa, uma pequena academia com três paredes
inteiras de vidro com uma vista impressionante, uma sala de jogos e
uma área grande de lazer nos fundos. Ah, e ainda tem o lustre. Meu
Deus, quem coloca um lustre enorme de vidro numa “cabana”?
— Eu vou pegar nossas malas e depois que tal tomarmos um banho e
jantarmos?
— Parece perfeito. — Respondo.
— Ótimo, pode escolher qual das suítes você quer que fiquemos, eu já
volto.
Quando Justin volta com nossas malas, subimos até o quarto e ele nos
prepara um banho. Depois de ficarmos pelo menos uma hora na
banheira nos beijando e acariciando, saímos e fomos até a cozinha. A
geladeira e os armários estavam cheios, e eu e Justin preparamos
juntos nosso jantar.
A noite teria sido perfeita, se as duvidas e preocupações que eu trago
comigo tivessem ficado em Dallas, e não enraizadas em meu coração.

Tão exaustos que estávamos por causa da viagem, dormirmos assim
que deitamos na enorme cama de casal. Os primeiros raios de sol da
manhã de sábado nos despertou. Durante toda a manhã Justin agiu
um pouco estranho, parecendo tenso e nervoso. A hora mais estranha
foi quando ele insistiu que eu desligasse meu celular, que incrivelmente
tinha sinal aqui em cima, e ele também desligou o seu. Ele disse que
não queria que ninguém nos incomodasse, mas senti que tinha um
motivo oculto por detrás do pedido aparentemente normal.

388
Apesar de Justin alegar que queria passar o final de semana apenas ele
e eu, isolados na montanha, não aguentamos e decidimos ir logo depois
do almoço para Montpelier, a cidade é pequena e acolhedora demais
para resistirmos.
Passamos a tarde toda conhecendo a cidadezinha, e me apaixonei por
ela mais do que já havia ontem, quando passamos rapidamente por
aqui.
Visitamos as pequenas lojinhas, comemos em um delicioso restaurante
e tiramos fotos da igreja, da prefeitura e outras construções lindas.
A tarde foi tão agradável que por um momento eu esqueci tudo o que
me preocupava e me concentrei apenas em Justin.
Quando voltamos para nossa cabana, Justin insistiu em me preparar
um banho de banheira com sais enquanto ele – sozinho, que fique
registrado – preparava o jantar. Claro que ele na cozinha não poderia
acabar muito bem, mas ele estava sendo tão fofo que não disse nada e
deixei que ele cuidasse de mim.
Tomei meu banho atenta a qualquer sinal de fumaça ou cheiro de
comida queimada. Mas surpreendentemente quando sai do banheiro
um cheiro muito bom me recebeu, me troquei rapidamente e quando
cheguei à sala de jantar, Justin estava terminando de servir a mesa.
— Humm, que cheiro bom.
— Você parece surpresa, devo me sentir ofendido? — Ele pergunta com
um sorriso brincalhão nos lábios.
— Não, é só que eu não sabia que você tinha tais dotes culinários.
— E eu não tenho, mas fiquei horas assistindo aqueles programas
culinários da TV a cabo, queria cozinhar algo para você.
— Você assistiu aqueles programas chatos por minha causa? A maior
prova de amor que pode existir. — Digo brincando e rimos.
— Vai rindo, vai...Você vai ver só quando provar da minha comida, acho
que tenho jeito para a coisa.
Jantamos e admito, a comida estava deliciosa, talvez ele tenha jeito
para a coisa mesmo. Depois do jantar tiramos a mesa e colocamos os
pratos na máquina de lavar. Ainda na cozinha, Justin me agarrou e me
beijou de um jeito que parecia querer tirar todo o ar dos meus pulmões,
meus joelhos vacilaram e ele me segurou, me carregando até o quarto
no colo.
Uma vez lá, tiramos as roupas um do outro e nos deitamos nus, nossos
corpos entrelaçados, na cama.
Justin me penetrava com paixão, com desejo. Nossos corpos se
encaixando perfeitamente, como se tivessem sido feitos um para o
outro.
A uma certa altura, não consiguindo mais bloqueá-la, a voz de Eva volta
a assombrar meus momentos com Justin.

389
“Ah, não me olhe assim, você sabe que é verdade. Justin é um tipo único
de homem, ele merece muito mais do que você pode oferecer,
ele precisa de muito mais do que você pode oferecer”.
Amaldiçoo-me por ser tão fraca e não conseguir impedir que as palavras
de Eva ecoem em minha mente.
Elas sempre veem em momentos como esse, como que para me lembrar
que eu nunca serei capaz de satisfazer Justin.
“Justin não gosta de mulherzinhas inocentes e que são extremamente
entediantes na cama, ele gosta de ação”.
“...ele gosta de se enfiar em todos os buracos que você tem...”.
Será que sou capaz de fazer isso? Talvez eu devesse me esforçar mais
para satisfaze-lo ao invés de julgar suas preferências, com certeza tem
coisas que eu não posso fazer, por isso tenho que me esforçar para
conseguir aquelas que estão ao meu alcance.
Eu vou provar para ele que eu posso fazer as coisas que ele gosta, que o
sexo comigo não precisa ser sempre passional.
— Justin. — Seu nome sai junto com um gemido.
— Sim, meu amor.
— Posso te pedir uma coisa? — Digo as palavras com insegurança.
Estou morrendo de medo, nunca fiz isso antes, nem sequer pensei em
fazer.
— Você pode me pedir o que quiser, meu amor, qualquer coisa e eu faço
por você. — Ele diz beijando meu pescoço e investindo contra mim,
fazendo com que seja difícil pensar em qualquer outra coisa além de
como é bom senti-lo dentro de mim.
— Me... — Fecho os olhos com vergonha das palavras que estou prestes
a dizer. — Me come por trás. — Digo mais baixo que um sussurro. Ele
para de se mexer imediatamente e levanta o corpo um pouco, me
olhando confuso.
— Você quer dizer, de quatro?
— Eu quero dizer... — Ah meu Deus, porque é que ele já não entendeu?
Ele vai mesmo me fazer dizer as palavras? Sinto meu rosto pegando
fogo, desvio o olhar e digo com a voz fraca.
— Eu quero sentir você dentro de mim, mas no outro lugar, você sabe.
— Ah meu Deus, que vergonha. Eu devo estar fazendo um papel
ridículo. Você é tão estupida Savannah.
Ele parece realmente muito surpreso com meu pedido, ele se levanta e
sai de dentro de mim, me deixando com uma sensação de vazio.
— Você está falando sério, sexo anal? — Ele me olha incrédulo. Aposto
que ele nunca esperava isso de mim, mas eu vou provar que posso me
transformar, pelo menos um pouco, no tipo de mulher que ele gosta.
— Sim.

390
— Você tem certeza? — Algo estranho passa por seu olhar.
— Tenho. — Não. — Eu quero. — Não, você não quer.
— Ann...Tudo bem. Você já...Já fez isso antes? — Ele pergunta fazendo
uma careta.
— Não, nunca fiz. Quero experimentar isso com você. — Ele parece
aliviado com minha resposta.
— Tudo bem, então espere aqui. — Ele levanta e vai em direção ao
banheiro, observo sua bunda linda e mordo o lábio. Os caras que
acham que mulher também não repara na bunda estão redondamente
enganados, e a de Justin é perfeita.
Quando ele volta, está carregando uma camisinha e um frasco.
— O que é isso? — Pergunto.
— Camisinha e um óleo, já que não temos lubrificante. — Ele diz
colocando os objetos na mesinha ao lado da cama.
— Você quer mesmo isso? — Ele pergunta uma última vez.
Eu não quero, estou com medo, mas eu tenho que fazer isso. Por ele.
Talvez seja até gostoso.
— Sim, eu quero. — Digo tentando não deixar transparecer o medo em
minha voz.
— Então se vire. — Ele manda e eu me viro, deitando de barriga para
baixo. — Levante um pouco o quadril. — Eu faço como ele me pede e ele
enfia uma almofada em baixo do meu estômago.
— Por que isso? — Pergunto com a bunda levemente elevada por causa
da almofada.
— Essa é a melhor posição para a primeira vez. — Ele explica. Não
quero nem começar a pensar como meu namorado sabe qual a melhor
posição para o sexo anal. Espanto as imagens inconvenientes e respiro
fundo. Meu pulso está acelerado e sinto que estou tremendo.
— Relaxe, meu amor. — Ele diz com uma voz suave. — Feche os olhos e
relaxe, eu vou te fazer uma massagem primeiro.
Fecho os olhos e tento controlar minha respiração. Você tem que fazer
isso, Savannah, não é para você é para ele, é para o Justin sentir
prazer. Sinto o colchão afundar e Justin subir em cima de mim, uma
perna em cada lado do meu corpo. Sinto sua ereção roçando em mim e
pulso com o desejo.
Sinto algo gelado se derramando na base da minha coluna, e um cheiro
gostoso tomar conta do ambiente. Justin espalha o óleo com ambas as
mãos por minhas nádegas.
Ele pede que eu abra um pouco as pernas e eu faço, ele me massageia,
arrancando suspiros de mim. Derrama mais óleo e continua sua
massagem, suas mãos subindo por minhas costas. Eu gemo mais.
— Isso é tão bom. — Suspiro.

391
Ele me suja com mais óleo, e dessa vez suas mãos deslizam até o meio
das minhas pernas, ele massageia meu clitóris e me penetra com dois
dedos. Seguro os lençóis e fecho os olhos com força.
— Meu Deus, isso é muito sexy, meu amor. Estou tão duro.
Ele continua me massageando e me penetrando, até que eu não me
importo com mais nada, tudo já esquecido devido o prazer que ele me
proporciona.
Sinto meu orgasmo crescendo, ele começa a me penetrar mais rápido,
acrescentando o terceiro dedo. Agarro-me aos lençóis e grito quando
meu orgasmo me atinge com força.
Escuto o barulho de plástico sendo rasgado, olho por cima do ombro e
vejo Justin colocando a camisinha.
É agora, meu coração volta a bater rápido e eu tremo, e isso não tem
nada a ver com o orgasmo incrível que eu acabei de ter.
Justin derrama óleo em sua ereção e em mim, lambuçando ambos.
— Tudo bem, amor, apenas relaxe, ok?
— Ok. — Fecho os olhos e mordo o lábio.
Sinto sua ereção forçando entrada em um lugar que eu nunca imaginei
ser invadida. Sinto uma pressão forte, sinto como se estivesse sendo
rasgada, e dói muito mais do que eu imaginava. Mesmo estando toda
lambuzada de óleo, o progresso na penetração é mínimo, e cada
milímetro mais para dentro que Justin empurra, mais dói. É quase
insuportável.
— Relaxe, minha linda, relaxa que vai mais fácil. — Mordo com força
meu lábio e tento suportar a dor sem soltar grunhidos angustiados.
Tento relaxar o corpo, mas é difícil quando estão te penetrando por trás.
— Está doendo? — Ele pergunta preocupado.
— Bem pouquinho. — Minto. Eu não sou muito de falar palavrão,
mas...Caralho, está doendo muito!
Sinto ele derramando mais óleo e empurrando mais para dentro. Não
consigo segurar e gemo de dor, só espero que ele ache que é de prazer.
— Tem certeza que não está doendo?
— Tenho. — Respondo com a voz mais parecida com um choro. —
Continue.
— Acho melhor não, se você quer mesmo isso, podemos comprar alguns
plugs anais e começar com um bem pequeno.
— Não, não. Continue. — Ele não entende, eu preciso conseguir fazer
isso, preciso provar que eu posso fazer isso.
Ele continua empurrando lentamente e a dor é dilacerante. Sinto
lágrimas de dor escorrerem por meu rosto e a dor só vai aumentando
até chegar em um nível que eu não aguento mais, mordo o lençol para
não gritar para que ele pare.

392
— Amor, acho melhor parar. — Ele diz e eu balanço a cabeça em
negativa. — Savannah, eu vou parar.
— Não, Justin, não pare.
— Savannah...
— Não, Justin, não. — Grito quando sinto ele retirando o pouco que
havia penetrado em mim.
— Ah meu Deus, está sangrando, que droga, Savannah. — Ele
rapidamente sai de cima de mim.
— Está saindo sangue, merda, merda... — Ele começa a xingar. —
Merda, eu machuquei você. — Ele diz com desespero na voz.
Sinto uma dor horrível e me viro para ver a quantidade de sangue que
está saindo.
— Não, não se mexa. — Justin diz parecendo não saber o que fazer. Ele
pega a sua cueca box e some no banheiro, segundos depois ele volta –
vestido com a cueca – e começa a me pegar no colo. Agarro-me ao seu
pescoço e gemo com a dor provocada por sua invasão.
— Calma, amor, eu vou cuidar de você. — Ele me carrega ao banheiro e
vejo que a torneira da banheira está aberta, enchendo-a.
Ele cuidadosamente me coloca na água quente e barulhos por causa da
dor escapam da minha garganta.
— Isso deve ajudar. A água está muito quente?
— Não. — Ah meu Deus, está ardendo e doendo muito, e a água quente
só parece piorar tudo.
Justin se afasta da banheira e passa a mão pelos cabelos, parecendo
transtornado.
— Pelo amor de Deus, Savannah, porque você não me pediu para
parar? — Ele não está gritando, mas seu tom de voz é severo, me
fazendo encolher na banheira.
— Eu não queria que você parasse.
— E você simplesmente ia aguentar a dor calada? Saiu sangue,
Savannah, você entende isso? Eu te machuquei pra caralho, porra. —
Ele dá um soco na parede me assustando.
— Sinto muito. — Digo abraçando minhas pernas, meu lábio inferior
começa a tremer e tento segurar o choro.
— Fique um pouco aí para ver se a dor passa, se continuar saindo
sangue ou doendo muito, me chame. — Ele diz desligando a torneira,
sua voz fria como gelo. Quando ele vai se afastar eu seguro seu braço.
— Justin. — Ele puxa o braço e não me olha nos olhos.
— Não. — É tudo o que diz e então se vira e sai, batendo a porta com
força.

393
Apoio à testa em meus joelhos e choro. Eu sou uma inútil mesmo, eu
deveria ter aguentado, Eva tem razão, eu não consigo ser o tipo de
mulher que Justin quer.
Mesmo a água estando quente, sinto meu corpo tremendo, choro até
soluçar.
Não sei quanto tempo fico sentada chorando na banheira, só sei que a
água já está gelada e eu ainda não tenho coragem de sair daqui e
enfrentar Justin. Ele parecia tão bravo.
Quando não aguento mais o frio, levanto-me e me enrolo na toalha. Dou
alguns passos e a dor volta a me incomodar. Tenho que dar passos
pequenos e lentos, porque mesmo a água quente tendo me ajudado um
pouco, ainda dói.
Abro a porta do banheiro e vejo Justin de costas, só de cueca olhando
através da janela. Quando ele me escuta se vira, sua expressão séria e
dura. Ele pega um roupão de pano branco em cima da cama e caminha
até mim.
Ele tira minha toalha e joga no chão, então começa a vestir o roupão em
mim, ele dá um nó apertado e me pega no colo, me depositando na
cama. Ele puxa as cobertas e me cobre.
— Aqui, um remédio para a dor. — Ele me entrega uma capsula e um
copo d’água.
— Obrigada. — Digo e tomo o remédio. Ele deposita o copo na mesinha
perto da cama e se senta na beirada. Ele me olha fixamente nos olhos
pela primeira vez desde que brigou comigo no banheiro, fica em silêncio,
parecendo me analisar.
— Como você está?
— Bem.
— Não minta para mim de novo, Savannah. — Ele diz rapidamente e eu
olho para baixo envergonhada.
— Está doendo um pouco, mas o banho ajudou. — Respondo com a voz
fraca.
— Bom. Agora me diga, o que diabos você estava pensando quando
insistiu para eu continuar mesmo quando você não estava mais
aguentando a dor? — Seu tom ríspido de voz me dá vontade de chorar.
— Eu...Eu não sei...Eu só queria tentar isso.
— Não, tem algo mais, não é? Você estava desesperada pedindo para eu
não parar, mesmo doendo. Por quê?
— Eu já disse, eu queria fazer isso com você. — Respondo abraçando
minhas pernas em um modo protetor.
— Essa parte eu entendi, o que eu não entendi é o porquê você querer
tanto isso ao ponto de suportar uma dor dessas?

394
— Eu só...Eu só... — Não consigo inventar nenhuma desculpa, minha
voz vai sumindo e eu começo a chorar ruidosamente.
— O que está acontecendo, Savannah?
— Eu só queria que você pudesse fazer comigo as coisas que você gosta.
— Digo fungando e limpando o nariz no roupão. Quando ele assimila
minhas palavras, fica branco como papel.
— De onde veio isso? — Fecho os olhos e respiro fundo, então olho para
ele e lhe digo.
— Ela disse que eu precisava fazer essas coisas se eu quisesse que você
continuasse comigo.
— Ela quem? — Ele pergunta confuso.
— Eva. — Digo baixinho, apoiando o queixo em meu joelho. Justin
arregala os olhos e levanta da cama num pulo, como se tivesse acabado
de levar um choque.
— Como assim, quando você falou com ela? — Ele pergunta furioso.
— Ela me abordou no banheiro, naquela noite no leilão. — Confesso.
— Então foi por isso que você demorou, e foi por isso que você estava
estranha. — Ele coloca as mãos na cintura. — E ela te disse que se você
não fizesse isso eu ia te deixar?
— Sim.
— Filha da...Urgh...Eu vou matar aquela mulher. — Justin começa a
ficar descontrolado, ele passa as mãos pelos cabelos e anda de um lado
para o outro.
— Eu juro que se ela aparecesse na minha frente agora eu a matava.
Vadia louca da porra. — Ele começa a gritar e de repente um vaso com
flores se estilhaça na parede, me fazendo dar um pulo e me encolher
mais embaixo das cobertas.
Justin começa a xingar como eu nunca havia ouvido antes, nunca
havia o visto tão nervoso.
— O que mais aquela coisa te disse? — Ele pergunta finalmente
parando em um só lugar, em pé ao lado da cama, sua respiração
irregular e seu olhar fulminante. — Me diga tudo e não omita nada,
Savannah. — Ele diz com autoridade. Então eu conto, suas palavras
ainda estão muito bem gravadas em minha memória, então reproduzo
fielmente nosso diálogo daquela noite, as reações de Justin são
diversas. Raiva, indignação, vergonha – quando repito as palavras de
Eva sobre o que eles faziam juntos – todo momento ele profere ameaças
a Eva.
— Não acredito que você fez isso, não acredito que você achou que eu
fosse te deixar caso você não fizesse essas coisas. Eu te amo, porra. Eu
não vou te deixar nem que você queira, eu não posso mais viver sem
você, não consigo, você não entende isso?

395
— Justin, ela disse outra coisa também. — Agora é a hora da verdade.
— O que?
— Que ela foi ao seu escritório e vocês se beijaram, e quase...Quase
transaram.
— E você acreditou nela? — Ele pergunta com um tom acusatório.
— Não...Sei, talvez, sei lá.
— Isso é culpa minha, eu deveria ter te falado sobre a visita que ela me
fez. — Ele vem se sentar na beirada da cama, estende o braço e segura
minha mão.
— Ela foi até meu escritório, queria que eu voltasse a me relacionar com
ela, mas eu recusei. Ela partiu para cima de mim e me beijou, mas eu
juro que não correspondi, meu amor. Eu a afastei e expulsei-a do
escritório. Dei ordens para não deixarem mais ela entrar lá.
— Então é verdade, vocês se beijaram? — Pergunto sentindo uma dor
no coração.
— Não, ela me beijou, eu não a beijei. Eu a afastei, a única que eu
quero beijar é você, ninguém mais, acredite em mim.
— Ela disse que vocês só não transaram porque alguém os
interrompeu.
— É mentira, aquela vadia louca está mentindo. Depois que eu a
empurrei para longe, eu a arrastei para fora e a expulsei, foi nessa hora
que ela ameaçou me tirar o contrato e disse que iria nos separar. É isso
que ela quer, meu amor, nos separar, não deixe que ela faça isso, por
favor.
— Porque você não me contou antes?
— Desculpa, eu devia ter contado, eu só não queria aborrece-la lhe
contando sobre Eva, e eu estava com medo também, e vergonha. Por ter
um dia me envolvido com uma pessoa como ela.
— Não minta mais para mim. — Peço engasgando com o choro.
— Eu prometo, nunca mais vou esconder nada de você. Prometo meu
amor.
— Você está bravo comigo?
— Com você? Não, nunca. — Ele suaviza a voz e chega mais perto, me
puxando para seus braços. — Mas por favor, nunca mais faça isso. Eu
te amo, Savannah, e quando estamos juntos, fazendo amor, é a melhor
sensação da minha vida. Eu amo o que nós fazemos e amo o jeito que
nós fazemos. Se algum dia você quiser fazer algo, pode me pedir, mas
desde que seja porque você quer, e não porque você acha que tem que
fazer. O sexo e para ser algo bom para nós dois, não só para um ou
outro, eu cuido das suas necessidades e você das minhas, mas desde
que as coisas que fazemos estejam boas para os dois. Prometa-me que

396
você nunca mais vai mentir e me pedir para fazer algo que você não
quer.
— Prometo.
— E prometa que você nunca mais vai dar ouvidos a Eva e que vai ficar
longe dela.
— Prometo. — Digo me aconchegando em seus braços.
— Eu te amo, minha linda. Só você, e para sempre, o que você faz ou
deixa de fazer na cama nunca vai mudar isso. Eu amo cada segundo
que eu passo com você.

Acordo sentindo o corpo de Justin entrelaçado com o meu. Levanto-me
e deixo-o dormindo. Vou tomar um banho de chuveiro bem rápido e
quando saio do banheiro ele já está acordado.
— Bom dia. — Ele diz e eu respondo, ainda estou envergonhado pelo
que aconteceu ontem.
— Vou tomar um banho. — Ele diz indo até o banheiro, parando para
me dar um beijo na testa. Escuto a água do chuveiro e me visto. Vou
escovar os dentes e pentear o cabelo, tento não ficar observando Justin
ensaboar aquele corpo perfeito, se não é capaz de eu voltar para dentro
do box.
Deixo Justin tomando banho e me dirijo para a sala, a enorme com
lareira e a parede de vidro. Sento-me no sofá e a dor me faz lembrar o
quão eu fui ridícula ontem à noite. Insistir para que ele continuasse,
mesmo quando eu não estava mais aguentando a dor, foi estúpido. Mas
o pior foi o motivo, não acredito que eu deixei mesmo que Eva entrasse
em minha cabeça desse jeito. Por causa dela Justin ficou chateado
comigo, e com ele também, apesar de que o que aconteceu ontem não
foi sua culpa, apenas minha. Mas ele está mal por ter me machucado.
Agora eu entendo o porquê o sofá de couro marrom está posicionado de
frente a essa parede, mesmo que isso faça com que a sala fique
parecendo desorganizada, é simplesmente porque a vista dessa grande
parede feita inteiramente de vidro é de tirar o fôlego. Imagino que de
todas as estações do ano, Montpelier fique mais linda no outono.
Observo as montanhas no horizonte e as árvores com suas folhas
frágeis caindo devido à época do ano. Essa paisagem me passa uma
sensação de serenidade, de paz, de conforto. Permito-me absorver cada
detalhe dessa paisagem natural digna de uma pintura.
Levo um pequeno susto ao sentir uma mão deslizando por meu ombro
até meu pescoço, levanto a cabeça e vejo Justin me olhando fixamente,
mas não mais sério como ontem, apenas intensamente. Ele contorna o
sofá e senta-se, deixando o espaço de um assento entre nós.
— Tenho duas coisas que eu gostaria de lhe dizer. — Ele diz olhando
para frente. Viro-me para ele, encolhendo as pernas e puxando-as para
debaixo de mim.

397
— Diga.
— Prometi nunca mais mentir para você, então devo te contar sobre o
que aconteceu entre Eva e eu, alguns dias atrás, e como isso tem a ver
com a minha pressa em vir para cá.
Olho-o confusa, com um vinco na testa, mas deixo que continue sem
interrupções.
— Eu sei que preciso te dizer, e eu pretendia fazer isso, só não sabia
quando. Mas acho que não devemos guardar segredos um do outro, eu
me arrependi por não ter te contado sobre o beijo e não quero cometer
esse erro de novo. — Ele faz uma pausa, respira profundamente e então
se vira, seu olhar encontrando com o meu.
— Nossa vinda para cá, justo nesse final de semana, tem dois motivos.
O primeiro, eu lhe digo mais tarde, o segundo, é porque Eva foi até
a Townsend me chantagear. Como eu já te disse, ela é louca e ela me
perseguiu por muito tempo anos atrás, quando eu decidi que não queria
mais nada com ela. Ela tentou me obrigar a voltar a me envolver com
ela, e ela usou um...Um vídeo para isso. Uma filmagem na qual eu faço
coisas que gostaria de não entrar em detalhes, mas que é da época da
faculdade, quando eu e ela ainda nos envolvíamos. Ela me disse que se
eu não a encontrasse em um quarto de hotel, sexta feira, ela mostraria
o vídeo para você e para sua família. — Ele abaixa o olhar, parecendo
envergonhado.
Tento digerir suas palavras. Tudo bem, Eva possui um vídeo de Justin,
um com o conteúdo que pelo que ele deu a entender, é íntimo.
E ela tentou chantageá-lo, tentou obriga-lo a dormir com ela para que
não vazasse o tal vídeo. Apesar do desconforto de saber que Eva tem um
vídeo íntimo do meu namorado, não posso evitar que um pequeno
sorriso surja em meus lábios. Porque no dia em que ele deveria se
encontrar com ela, ele estava viajando comigo. Ele não cedeu à
chantagem, e ele está me contando, está sendo honesto mesmo que isso
o envergonhe.
Ele teve a chance de me trair, eu provavelmente nunca iria descobrir – a
menos que Eva viesse se vangloriar como ela fez com o beijo – mas ele
não o fez, ele escolheu me contar, mesmo correndo o risco dela liberar
um vídeo constrangedor. Ele escolheu ser fiel a mim.
— Então você decidiu fugir para cá, comigo.
— Sim. Só queria te tirar de lá, onde ela pudesse lhe mostrar aquele...
— Ele faz uma careta de nojo e não termina a frase.
— Qual o segundo motivo para você querer vir para cá? — Pergunto
curiosa.
— Ainda não, baby. — Ele me olha com um sorriso fraco nos lábios. —
Precisamos conversar sobre a ameaça de Eva.
— Tudo bem.

398
— Obviamente eu não cedi à chantagem, isso significa que ela vai ficar
muito brava. Provavelmente ela deve estar me procurando ou te
procurando para mostrar a filmagem agora mesmo. Eu tinha que te
alertar sobre isso, porque meu amor...Quando voltarmos para Dallas, é
provável que sua família já tenha visto, e ela vai querer te mostrar
também, talvez ela até coloque na internet, não sei. Eu tinha que te
contar para que você esteja preparada. — Ele diz com uma voz triste.
Só de imaginar meus pais vendo o tal vídeo...Será que isso vai faze-los
mudar de ideia com relação a aprovar meu namoro? Realmente espero
que não.
— Não veja, por favor, não veja o vídeo. — Ele pede com um tom
torturado. — Não quero que você fique com aquelas imagens gravadas
na memória para sempre. Ignore-a, não olhe para o vídeo, por favor, me
prometa que você não vai assistir. — Ele está quase implorando, a
angustia em seu olhar está me matando.
— Não vou, eu prometo que não vou ver. — Tento tranquiliza-lo. Ele
fecha os olhos e solta um suspiro aliviado. Quando ele me olha
novamente, o mar antes revolto de seus lindo olhos azuis, está calmo.
Ele se aproxima, quebrando a distância antes imposta por ele mesmo.
Segura minha mão, e o calor que passa para o meu corpo através do
seu é reconfortante.
— Sinto muito, eu não faço ideia do que nos espera quando voltarmos a
Dallas. Desculpa por toda a vergonha que você vai passar com sua
família, e com os outros se ela resolver compartilhar o vídeo online. Eu
queria não ter sido quem eu fui, queria ter sido capaz de ver o que eu
vejo agora. Desculpa por tudo o que ela te disse no leilão, desculpa por
não ter te passado confiança o suficiente para que você não acreditasse
nas palavras dela. Desculpa por ter feito você acreditar que precisava
fazer o que você fez ontem para que eu ficasse com você. Desculpa não
ser alguém de quem você tem orgulho em apresentar para seus pais,
desculpa ter feito você brigar com seu irmão. Desculpa pelo modo que
eu te tratei no começo, por ter te feito aquela proposta, eu não deveria,
você é especial e merecia muito mais do que eu te ofereci. — É com um
aperto no coração que eu vejo as lágrimas escorrerem por suas
bochechas.
Levo minha mão até seu rosto e limpo-o.
— Não me peça desculpas, nada disso que você disse importa. O que
importa, é quem você é agora, as atitudes que você tem hoje, o homem
que você é quando está comigo. E tenha certeza, esse homem me dá
muitos motivos para que eu tenha orgulho dele. Eu te amo, Justin, e
sou eu quem deve lhe pedir desculpas por ter deixado Eva fazer minha
cabeça e por não ter confiado em nós dois.
— Eu te amo, Little Nips. — Sorrio ao ouvir o apelido, ele me chamava
assim quando eu era criança. Quem diria que anos depois daquelas
tardes onde ele brincava comigo e com Shanon, estaríamos aqui, ambos
perdidamente apaixonados um pelo outro.

399
— Eu também te amo, meu amor. — Justin se aproxima mais, fazendo
nossos narizes roçarem um no outro.
— Não deixe mais que Eva te faça duvidar de mim, por favor. — Ele
pede em um sussurro.
— Não vou.
— Eu te amo, Savannah, e pelo amor de Deus, nunca duvide disso,
nunca pense, nem por um segundo sequer, que isso possa mudar. —
Não consigo dizer nada, não consigo lhe prometer coisa alguma, porque
eu sei que as coisas estão prestes a mudar. Justin diz isso agora, mas e
quando souber sobre nosso filho? Como ele vai se sentir sobre isso?
Minhas duvidas são deixadas momentaneamente de lado, quando seus
lábios macios encontram com os meus. Meus medos com relação à
chantagem são esquecidos quando sua língua se encontra com a
minha. Minhas inseguranças com relação a sua reação a chegado do
bebê se desfazem quando ele me puxa para seu colo e nossos corpos se
encaixam com perfeição.
Meu mundo se desfaz quando ficamos nus e ele começa a fazer amor
comigo, lenta e apaixonadamente.

— Qual era a segunda coisa que você queria falar comigo? — Pergunto e
Justin ri. Ainda estamos deitados preguiçosamente nos braços um do
outro depois de fazermos amor.
— Você é realmente muito curiosa, hum? Mas para satisfazer sua
curiosidade, precisamos nos vestir e ir lá para fora. — Levanto a cabeça
que descansava em seu peito e olho-o curiosa.
— Não dá para falar aqui e agora?
— Não.
— Tudo bem, então. — Levanto-me e começo a me vestir. Justin ri com
minha pressa. Ele pede que eu lhe espere do lado de fora, na entrada
para o bosque nos fundos da cabana, então é para lá que eu vou.
Alguns instantes depois ele aparece. Vestido com uma calça jeans e
bota marrom, uma camisa de flanela xadrez azul e um cachecol de
caxemira cinza pendendo do seu pescoço. Avalio-o e mordo o lábio
inferior, talvez eu não esteja tão curiosa assim e prefira voltar lá para
dentro e arrancar suas roupas, de novo.

400
Ele sorri ao me ver avaliando-o e segura minha mão, entrelaçando
nossos dedos. A situação tensa por causa do episódio de ontem
totalmente esquecida.
— Vamos? — Ele pergunta com um sorriso largo.
— O que você quer me falar precisa ser dentro do bosque? — Pergunto
levantando uma sobrancelha. O que será que ele está aprontando?
— Sem perguntas, apenas relaxe e vamos passear um pouco. Há dois
quilômetros daqui, tem um lago muito bonito. — Ele diz e começa a
caminhar, me puxando consigo.
Então entramos no bosque, um vento gélido sopra em nossos rostos e
eu me aconchego nos braços de Justin, mesmo estando de casaco.

401
— Isso aqui está lindo demais. — Exclamo olhando a paisagem e
encantada com as altas árvores de troncos grossos e arbustos, todos
com as folhas amarelas e laranjas.
A cada passo dado em cima das folhas secas, o chão farfalha. Graças ao
outono, forma-se um lindo tapete de folhas de um amarelo queimado.
— Adoro o silêncio daqui. Só o barulho do vento e dos animais. —
Justin diz parecendo muito feliz em contato com o ar fresco e puro da
montanha.
— Também, adoraria ter uma casinha em um lugar como esse, onde eu
pudesse passar os feriados e os finais de semana. — Comento.
— É mesmo?
— Aham. — Respondo.
— Eu também, estou adorando esse lugar. Não me importaria de ter
uma cabana aqui.
— É um ótimo lugar, e Montpelier é uma cidadezinha tão, mas tão
linda.
Continuamos nossa caminhada lentamente, aproveitando do contato
com a natureza e conversando sobre diversas coisas.
Justin me guia por um caminho que logo nos leva até uma pequena,
rústica e adorável ponte de madeira escura que nos permite atravessar
um córrego cheio de pedras verdes de limo.
Depois do córrego, andamos por cerca de mais uns 20 minutos, até que
Justin anuncia que estamos chegando.
Conforme andamos, percebo que ele fica mais quieto e mais tenso ao
meu lado. Parece nervoso.
Assim que tenho o primeiro vislumbre do lago, descubro o porquê. Um
sorriso lentamente se espreguiça por meu rosto e eu corro para ver tudo
de perto.
A beira do lago está igualmente cheia de folhas caídas, as águas estão
calmas e parecem com um grande manto azul, que reflete a cor do céu.
Em baixo de uma árvore grande há alguns poucos metros da margem,
está uma toalha estendida no chão, com algumas almofadas e uma
cesta de vime repousando nela. Várias pétalas de rosa vermelha estão
jogadas no chão ao redor da toalha, contrastando com a cor das folhas.
— Justin, como você...Quando você...Ah meu Deus, é lindo. — Digo
encarando o cenário digno de um filme de romance.
— Surpresa. — Ele sussurra em meu pescoço, seus braços me
envolvendo por trás. — Esse era o outro motivo pelo qual eu queria te
trazer aqui. Eu queria um tempo só para nós, longe de tudo e de todos,
longe de Seth e de quem mais quisesse atrapalhar nosso amor.
— E qual é a segunda coisa que você quer falar comigo? — Pergunto
ansiosa.

402
— Ainda não. — Sinto o sorriso em sua voz. — Venha.
— Como você preparou tudo isso? Quando?
— Eu tenho meus contatos. — Ele diz e pisca para mim.
Sento-me em uma almofada macia e de um tecido azul escuro, Justin
se senta na minha frente, a cesta entre nós. Ele a abre e começa a tirar
o seu conteúdo e deposita-los em cima da toalha.
Uvas, morangos, amoras, queijo, geleia, pão, biscoitos, bolo e por fim,
uma garrafa de vinho e duas taças enroladas em guardanapos de pano.
— Meu Deus... — Digo me esticando para olhar para dentro da cesta. —
Isso aí é como aquela bolsa da Hermione. — Digo e ele ri.
— Gostou das minhas escolhas?
— Amei, tudo parece delicioso. — Digo sem conseguir tirar esse sorriso
bobo do rosto.
— Que bom. — Ele diz me entregando as duas taças. Justin abre o
vinho tinto e despeja em ambas as taças até a metade, deixando a
garrafa de lado pega a sua bebida e a levanta no ar.
— Um brinde a mim, você e esse lugar onde podemos fingir estarmos
em nosso próprio mundo e nos amarmos em paz.
— Um brinde a nós, meu amor. — Digo encostando nossas taças de
leve. Disfarço e dou apenas um gole bem pequeno em meu vinho, mas é
o suficiente para saborear o gosto delicioso.
Começamos a comer todas as coisas deliciosas que ele trouxe, estou
com uma fome monstro, mas tenho a desculpa de estar comendo por
dois. Isso me faz lembrar que tenho algo muito importante para lhe
contar, mas não agora, depois.
Passo geleia em mais um pão e como. Tudo está tão perfeito, não quero
correr o risco de estragar contando para Justin sobre o bebê e ele sair
correndo. Então decido fazer isso depois de comermos.
Passamos agradáveis momentos, nos deliciando com a comida e
conversando sobre amenidades, nos permitindo esquecer todos os
problemas que nos cercam. Permitindo-nos a fantasiar com um mundo
só nosso, num lugar lindo e isolado como esse, apenas Justin e
eu...Bem, e o nosso filho também.
Depois de comermos e acharmos padrões nas nuvens enquanto
estávamos deitados nas almofadas, Justin se levanta e me estende a
mão.
— Já quer ir embora? — Pergunto deixando que ele me ajude a
levantar.
— Não, quero conversar a tal segunda coisa com você.
— Oh...Tudo bem. — Não sei porque fico nervosa, talvez seja pela
seriedade com que ele profere essas palavras e a forma intensa com que
me encara.

403
— Eu também tenho algo sobre o qual gostaria de conversar com você.
— Digo sem pensar duas vezes, para não perder a coragem. É agora, eu
vou contar.
— Tudo bem, mas eu posso falar primeiro? — Ele segura minha mão e
me arrasta em sua caminhada. Deixo que ele me guie e caminho na
margem do lago junto com ele.
— É que o que eu tenho para te falar é muito importante. — Digo.
— Eu também. — Ele me olha de uma forma tão séria, como ele nunca
havia me olhado antes, então decido o deixar falar primeiro.
— Tudo bem, fale.
— Sinceramente, nem sei por onde começar. — Ele respira fundo e
seguimos caminhando lentamente. Alguns momentos passam e quando
eu acho que ele desistiu de falar, ele começa:
— Acho que não tem como fazer você entender a grandiosidade da paz e
da alegria que você me faz sentir, porque você não sabe como eu me
sentia antes de você. Então vou tentar lhe explicar de uma forma bem
simples. Eu não sentia nada... — Ele diz olhando para frente e eu sigo
olhando o seu rosto de perfil. — Eu sempre amei meus pais, meus
irmãos, meus avós, até mesmo alguns poucos amigos, mas mesmo
assim, eu sentia que faltava algo. O amor que eu sentia por eles era
meio que mecânico, como se fosse algo que tivesse que sentir, entende?
É meio difícil de explicar e imagino que seja mais ainda de entender,
mas a questão é que eu na maioria da minha vida, me sentia vazio,
sentia como se algo estivesse faltando. É um sentimento horrível esse,
sabe...Eu olhava o mundo a minha volta e via que apesar dos pesares,
todos pareciam acabar encontrando o seu rumo, menos eu. Eu sentia
como se fosse um barco à deriva, tinha uma força que me empurrava e
empurrava mas que nunca me levava a lugar algum. O mar estava
feroz, me balançando, me golpeando com suas fortes ondas, como se
quisesse me afundar, me carregar para baixo, e eu resistia, mas com
muito medo dele conseguir. Eu me sentia desesperado para chegar até
terra firme, para achar um lugar seguro, uma salvação, uma
redenção...Você consegue imaginar o tamanho da minha agonia? — Ele
olha para mim com um olhar torturado, não deve ser fácil para ele falar
sobre isso.
Balanço a cabeça em sinal positivo, sim, eu posso imaginar. Meu Deus,
só pelo jeito dele falar já me sinto sufocada, para ele que de fato passou
anos se sentindo assim, deve ter sido um inferno.
— Nunca imaginei que você se sentia assim, você sempre pareceu uma
pessoa...Feliz.
— E em certos momentos eu até era, mas em outros esse vazio que eu
sentia era grande demais para ignorar. Nos primeiros anos da minha
adolescência essas sensações sombrias eram mínimas, mas o tempo foi
passando e eu fui crescendo. Fui vendo meus amigos se apaixonarem,
começarem a namorar, e eu simplesmente não conseguia sentir o que

404
eles me descreviam. Imaginei que era porque eu não havia encontrado a
pessoa certa, passeia a imaginar que talvez aquele vazio fosse a falta
dessa pessoa especial. Que quando eu a encontrasse, tudo ficaria bem.
Mas eu nunca a encontrava, eu nunca nem sequer me interessava por
uma garota além de sexualmente, pensar em ficar com uma mesma
garota, ter que agir como os meus colegas apaixonados? Não, aquilo me
dava pânico. Comecei a perceber os sinais e cheguei à conclusão que
alguma coisa deveria estar errada comigo, quanto mais os anos se
passavam e eu só conseguia olhar para as mulheres como meros
objetos sexuais, fui chegando a conclusão que o problema era com os
outros. É muito mais fácil admitir que os outros é quem tem problemas
e não você. Conclui que todos a minha volta eram idiotas iludidos,
acreditando em algo como amor, monogamia, relacionamentos, e eu era
o único que conseguia enxergar que essas coisas não existiam. Afinal,
devia eu acreditar em algo que eu nunca havia sentindo e só ouvido
falar? O problema é que, todos a minha volta acreditavam nesse
sentimento, todos estavam vivendo ele, e ao mesmo tempo em que eu
agradecia por não ser mais um idiota apaixonado...Eu queria ser um
idiota apaixonado, eu ainda precisava de alguma coisa para preencher
esse vazio que eu sentia. Eu queria sentir aquilo que todos diziam
sentir, o frio na barriga, a vontade louca e incontrolável de querer ficar
com aquela pessoal especial, os sorrisos bobos e a risada frouxa, eu
queria muito saber como era sentir isso, mas eu não...Simplesmente
não conseguia.
— Então você escolheu ignorar esse sentimento e preencher o vazio com
o seu estilo de vida...Ann...Não muito ortodoxo.
— Exatamente.
— E funcionava? Quero dizer, o vazio ia embora?
— Na hora sim, mas depois ele voltava, com mais força. Em algum
momento do caminho, eu simplesmente me perdi, Savannah. Já não
sabia mais o que estava fazendo. Não sabia o porquê era do jeito que eu
era. Eu cresci em um lar carinhoso, com pais amorosos, com família e
amigos também amorosos. Eu tinha tudo para ser um romântico
incorrigível.
Sem que eu me desse conta, acabamos nos afastando muito do lugar
onde havíamos feito nosso piquenique, olhei para trás e não conseguia
mais ver a toalha onde havíamos sentado. O lago, então percebi, era
muito maior do que eu imaginava. De repente eu reparei em algo que
não havia visto antes, estava tão absorvida pela confissão angustiante
de Justin, que não havia visto que há poucos metros de onde
estávamos, havia um pequeno cais de madeira em forma de “T”.
— Sinto muito que você tenha passado por tudo isso. — Digo, mas ele
permanece em silêncio. Justin parece também ter reparado no pequeno
cais, porque ele nos guia em sua direção.
Chegamos lá e subimos, a madeira escura e velha rangendo sobre
nossos pés. A água calma, apenas com ocasionais ondulações. Fico na

405
beira, caso caindo na água, e observo o horizonte. Posso ver as diversas
montanhas ao longe, e a vegetação variada que se estende dessa
montanha até as outras. O sol está se pondo atrás de uma delas,
banhando-me com os últimos raios quentes antes da escuridão da noite
chegar.
— Foi você. — Escuto a voz sussurrada de Justin.
— O que? — Olho para meu lado esquerdo, onde ele está parado de
olhos fechados e cabeça erguida, também saboreando o conforto que o
calor do sol proporciona.
— Foi você... — Ele vira o rosto e me olha. — Você é a minha terra
firme, foi você quem me livrou da agonia de ser uma pessoa
constantemente com algo faltando. Você é a minha pessoa especial. —
Sinto meus olhos se enxerem rapidamente d’água.
— Justin... — Minha voz sai rouca pela emoção. — Isso é a coisa mais
linda que alguém já me disse.
— Savannah... — Ele vira o corpo e eu imito o movimento, ficando cara
a cara com ele, o sol iluminando apenas um lado dos nossos rostos
agora. — Você é tudo para mim, meu amor. Eu não sei o que eu faria se
te perdesse, nunca vou poder te agradecer o suficiente pela alegria que
você me faz sentir. Eu morro de medo de te perder, eu nunca senti
tanto medo em toda a minha vida. Imaginar um futuro sem você é como
imaginar a terra sem o sol, tudo se tornaria frio, sombrio e sem vida. —
Ele segura minhas mãos na sua e as aperta. — Eu me arrependo de
como as coisas entre nós começaram, porque você merecia muito mais
do que aquela proposta, mas ao mesmo tempo não consigo me
arrepender totalmente, porque foi por causa daquela proposta que
começamos há passar mais tempo juntos e acabamos nos apaixonando.
Uma vez minha mãe me disse que a gente não pode tentar se apaixonar,
que isso simplesmente acontece, e que muitas vezes é quando e com
quem menos se espera. E que se isso não tinha acontecido comigo
ainda, era porque o destino estava me guardando o maior dos amores...
O que eu posso dizer? As mães sempre estão certas, não é? — Eu rio. —
Ela tinha razão, e agora eu sei o porquê eu nunca me apaixonei antes,
era porque eu estava esperando você. — Ouvir suas palavras e ver uma
lágrima escorrendo do seu rosto é demais para mim, começo a chorar.
Quero dizer algo, preciso dizer algo depois de tudo o que ele me disse,
mas não consigo, a emoção fechou minha garganta e eu fico igual a
uma boba chorando e encarando-o nos olhos.
— Gostaria de lhe pedir algo, meu amor. Lembra quando eu lhe pedi
apenas uma noite? Bem, eu vou ser mais ganancioso agora, e vou lhe
pedir todas as noites, pelo resto de nossas vidas. — Ele leva a mão até
o bolso da calça e pega algo, observo incrédula ele se abaixando e
ficando de joelhos. Levo a mão até a boca e sinto as lágrimas jorrando
por meus olhos.

406
— Savannah Careton, você me daria à honra de ser minha esposa? —
Ele pergunta segurando um anel lindo, com três pedras ovais de
diamante. É perfeito.
Olho-o ainda sem acreditar que isso está acontecendo. Eu não suspeitei
de nada, não achei que ele estivesse pronto para dar um passo desses,
estamos juntos há pouco tempo e...De repente percebo uma coisa. Isso
está indo rápido demais, o Justin que eu conheço, mesmo estando
apaixonado, não iria me pedir em casamento apenas alguns meses
depois de começarmos a namorar, a não ser que...Mas como, como é
que ele descobriu? Shanon lhe contou?
— Como é que você descobriu? — Pergunto-lhe, a imensa felicidade que
eu sentia indo embora pelo fato de descobrir que ele só está me pedindo
em casamento por causa do bebê.
— Descobri o que? — Ele pergunta franzindo a testa.
— O que eu ia te contar hoje. — Digo quase histérica.
— Amor, do que você está falando? — Ele continua de joelhos, mas
abaixa a mão estendida que segurava o anel.
— Você está me pedindo em casamento porque você descobriu o que eu
iria te contar hoje, não foi? Foi a Shanon que lhe contou?
— A Shanon...Mas do que você está falando? Ela não me contou nada,
eu não faço a mínima ideia do que você pretende me contar. — Vejo a
sincera confusão em seus olhos.
“Oh merda, acho que eu acabei de estragar o meu pedido de casamento”.
— Não?
— Não. Mas agora estou curioso... — Ele diz se levantando. — O que é
que você tem para me contar que você acha ter o poder de me fazer te
pedir em casamento?
“Merda, merda, merda! Agora é a hora”.
— Ann...É que...Humm... — Fico balbuciando e não consigo lhe dizer. É
muita informação passando em minha cabeça.
Se Justin não sabe sobre a criança, então isso quer dizer que ele
realmente quis me pedir em casamento. E eu estraguei o momento mais
romântico da minha vida, parabéns Savannah.
E ainda por cima, ele vai ficar bravo quando perceber que eu insinuei
que ele se casaria comigo só por causa do nosso filho. E não vamos
esquecer a sua reação ao fato de ser pai, ele estar pronto para casar
significa que ele não vai reagir tão mal assim a noticia da gravidez?
— Savannah, fale de uma vez porque você está me deixando assustado.
O que está acontecendo, o que você tem para me contar?
— Justin, você...Você vai... — Deus, porque isso é tão difícil? Eu sou tão
covarde!
— Eu vou... — Ele me incentiva a continuar.

407
— Você vai ser...Pai. — Digo baixinho, quase em um tom de desculpas.
Encolho-me prevendo sua explosão, mas os gritos não vêm, ele apenas
fica parado como uma estátua. Sua única reação perceptível foi os olhos
arregalados, e talvez e leve palidez que tomou conta do seu rosto.
Ele fica vários segundos sem se mexer ou falar algo, e eu com medo de
deixa-lo mais nervoso, fico quieta, apenas desejando que um buraco se
abra e me engula.
— Eu...Eu vou ser...Pai? — Sua voz sai rouca, mas com nenhum sinal
de que ele está bravo comigo.
— Sim.
— Ah meu Deus, não acredito nisso. — Ele diz se curvando e apoiando
as mãos no joelho, respirando com dificuldade.
— Sinto muito, Justin, eu estava tomando pílula e...Por favor, não
brigue comigo, eu sei que você não deve querer um filho agora, desculpa
mas...
— Como assim, desculpa? Você está me dizendo que sente muito por
me dar a noticia mais maravilhosa da minha vida? — Ele endireita a
postura e parece respirar mais uniformemente agora. Um sorriso largo
se espalha por seu rosto e seus olhos se enchem de lágrimas.
— Savannah, meu amor...Meu Deus, você está mesmo grávida?
— Estou. — Respondo olhando confusa com sua reação. Ele está em
choque?
— Ah meu Deus. — Ele esconde o rosto nas mãos e começa a chorar.
— Você está...Feliz? — Pergunto hesitante. Ele enxuga o rosto na blusa
e me olha confuso, mas ainda com um sorriso no rosto.
— Você não? Meu amor, nós vamos ter um filhinho, meu Deus do céu,
feliz é pouco para descrever o que eu estou sentindo. — Ele ri e chora
mais. Ele se ajoelha novamente, mas dessa vez é para beijar minha
barriga.
Ele abraça minha cintura e espalma a mão em meu estômago, por baixo
de minhas roupas.
— Um filho...Oh meu deus, ou uma filha, pode ser uma menina. A
minha princesinha. É isso, nós vamos ter uma princesa, meu amor,
tenho certeza, é uma menina.
— Justin, não tem como saber ainda. — Respondo sorrindo aliviada e
emocionada com seu jeito carinhoso.
— Eu sei, eu sinto...Tem uma princesinha crescendo aqui. — Ele
levanta minha blusa e beija minha barriga várias vezes. — Nós vamos
ter uma filhinha, meu amor, e ela vai ser linda como você. — Ele
levanta o olhar, encontrando-o com o meu, ambos sorrimos e
choramos.

408
Acaricio seus cabelos enquanto ele beija e acaricia minha barriga. Rio
quando ele começa a se apresentar como sendo o pai, é estranho ter ele
assim de joelhos e se apresentando para a minha barriga.
— Eu sou seu pai, minha princesa. E eu vou cuidar de você para
sempre, nunca vou deixar ninguém te fazer mal. — Justin fica muitos
minutos assim, ajoelhado, abraçando e beijando minha barriga.
Quando ele finalmente se levanta, me puxa para um abraço e me beija
com tanto amor e adoração, que sinto meu coração inflar e bater
descompassado.
— Meu amor, ah meu amor... — Ele enche meu rosto de beijos. —
Obrigado por me fazer o homem mais feliz do mundo. Eu prometo que
vou cuidar de vocês duas para sempre, não vou deixar que nada de mal
aconteça com a minha família. Vocês são todo o meu mundo, eu te
amo, e já amo essa criança com todo o meu coração. Obrigado,
Savannah, obrigado.
Envolvo meus braços bem apertados envolta dele e beijo o homem da
minha vida. Estou tão feliz com a reação de Justin, depois disso, estou
me sentindo tão boba por ter ficado paranoica com como ele reagiria.
— Eu te amo, Justin. Desculpa ter estragado o seu pedido de
casamento.
— Eu também te amo, meu amor. Não precisa pedir desculpas, você me
deu a melhor noticia do mundo, eu estou radiante. — Ele se afasta um
pouco e me olha com o seu sorriso de gato Cheshire. — Mas você não
me respondeu, então vou pedir de novo.
— Você quer se casar comigo, meu amor? — Ele pergunta se ajoelhando
pela terceira vez, estendendo mais uma vez o anel.
Sorrio e balanço a cabeça. É claro que eu quero me casar com Justin,
ele é o homem da minha vida, aquele que eu quero ao meu lado para
sempre.
— Sim, eu quero mais que tudo me casar com você, Justin. — Ele solta
uma exclamação aliviada e eu rio, ele se levanta e coloca o anel em meu
dedo, não tenho tempo para observar como ficou em minha mão, pois
Justin mais uma vez me enlaça e me puxa para um beijo apaixonado.
Deus, eu posso jurar que de uma hora para a outra eu fui transportada
para o paraíso. Não quero que esse momento acabe nunca.

409
Retaliação
Savannah
Nunca vi Justin tão animado como agora. Estamos arrumando as
malas para – infelizmente – deixarmos Montpelier e retornarmos a
Dallas, e enquanto ele coloca suas coisas dentro da grande e retangular
mala, não para de falar excitadamente sobre contar as novidades para
nossas famílias, sobre marcar logo uma data para o casamento, sobre ir
comigo na minha próxima consulta, etc. Ele parece estar a um passo de
sair saltitando como uma gazela pelo quarto...Tudo bem, essa imagem
me faz soltar uma gargalhada, meu Deus, não sou nada romântica.
— Você está rindo de mim, futura Sra. Cord? — Ele para o que estava
fazendo e me olha com a sobrancelha levantada.
— Oh não, eu não ousaria. Só estou feliz que você esteja tão animado.
Quando nos afastamos do lago e decidimos voltar para a cabana, Justin
me carregou nas costas o caminho todo, ele falava mais euforicamente
sobre nossos planos para o futuro do que agora. Eu estava radiante
com a sincera e evidente felicidade em seu rosto e no seu modo de falar.
Passei tanto tempo sentindo medo da sua reação, cheguei até a
conjecturar hipóteses absurdas, mas que para mim, naquela hora,
pareciam razoáveis. E quando eu finalmente contei o que vinha me
angustiando, sua reação não poderia ter sido melhor. O peso que foi
tirado de cima de mim era esmagador.
Voltamos para a cabana e Justin imediatamente nos levou para cima,
deitou-me na cama e fez amor comigo. É difícil acreditar quando ele diz
nunca ter feito isso antes – amor eu quero dizer – pois ele consegue
misturar perfeitamente o fazer amor com fazer sexo. Foi suave e ao
mesmo tempo rude, foi selvagem e ao mesmo tempo passional.
Passamos algumas horas nos braços um do outro, ele me fazendo
contar sobre quando eu descobri que estava grávida, quem estava
comigo, como eu me senti, tudo. Me abri com ele e conversamos sobre
as minhas inseguranças. É claro que essa conversa só serviu para eu
me sentir mais ridícula ainda sobre em algum momento ter pensado
que Justin fugiria ou se casaria forçado comigo. Felizmente ele não se
magoou por eu ter pensado dessa forma, ou pelo menos não demostrou
estar magoado.
Quando eu cheguei aqui, somente há dois dias, eu estava com medo,
insegura e me sentindo triste. Agora estamos fazendo as malas e planos
para o futuro, sem conseguir manter as mãos longe um do outro por
mais de cinco minutos. Parece que eu fui transportada direto de um
pesadelo para o melhor dos sonhos.

410
— Então, o que você acha? Como vamos chegar a Dallas amanhã bem
de manhã, podíamos contar as novidades para eles na hora do almoço,
ou talvez no jantar.
— Acho que um jantar seria ótimo, mas...Não acha que estamos
esquecendo de algo? — Pergunto hesitante, o assunto é delicado.
— O que?
— O vídeo de Eva. — Seu sorriso some na hora e eu me sinto mal por
estar estragando sua alegria. Mas é um assunto que precisa ser
discutido.
— Eu até tinha me esquecido disso. — Ele responde abaixando a
cabeça.
— Será que eles já viram? — Pergunto com traços de medo na voz.
— Não sei. Estamos isolados aqui, não sabemos o que esta acontecendo
na fazenda. Talvez ela já tenha mostrado, talvez não. Ela é maluca e eu
não sei como ela pretende agir.
Dobro minha blusa e guardo com as outras, me sinto culpada pelo
clima pesado que se instaurou no quarto.
— Você acha que isso pode fazer os seus pais reagirem mal a noticia do
nosso casamento?
— Talvez. — Respondo sinceramente.
— Eu consegui conquistar a confiança deles, eles me deram uma
chance, e agora aquela vadia vai estragar tudo. — Ele diz irritado.
— Eu vou conversar com papai e mamãe, eles vão entender que o
Justin da filmagem não é o mesmo que vai se casar comigo. Vai ficar
tudo bem, meu amor. — Digo indo abraça-lo.
— Promete? — Ele pergunta envolvendo seus braços em mim.
— Prometo. Nós prometemos não deixar nada nos atrapalhar, lembra?
Não vai ser isso que vai nos fazer descumprir a promessa. E tenho
certeza que depois que eles ouvirem a palavra ‘avós’ vão esquecer
qualquer outra coisa.
Sinto um sorriso se formando em seus lábios, a alegria de volta em sua
voz quando ele diz:
— Minha mãe vai ficar louca, ela sempre quis tanto um netinho. —
Sorrio ao imaginar a cara de Alyssa quando contarmos, imagino a cara
de todos.
Com exceção de Seth, imagino que todos vão ficar felizes por nós.
Pensar em Seth me entristece um pouco, mas o nosso afastamento não
é culpa de ninguém além dele mesmo. Só espero que com a noticia do
casamento, ele perceba o quão injusto tem sido com Justin e peça
perdão.

411
Terminamos de fazer as malas e as colocamos no chão. Uma de Justin e
uma minha. Vamos tomar banho e fazemos amor novamente, embaixo
da água quente do chuveiro.
Procuramos deixar à cabana tão em ordem como a encontramos, apesar
de certamente ter alguém que vá vir limpa-la assim que sairmos.
Enquanto Justin leva as malas para o carro, encaro meu celular. Estou
com medo de liga-lo. Será que Eva me mandou o vídeo como
mensagem? Será que se eu ligar o aparelho vou receber inúmeras
mensagens de Shanon dizendo que nossos pais estão loucos atrás de
Justin e mim porque ele viram o tal vídeo?
Decido que o melhor é que o celular continue desligado, vou deixar para
lidar com tudo pessoalmente.
Vou até a grande parede de vidro da sala admirar a bela paisagem uma
última vez. Mas logo minha atenção é prendida por algo mais belo. Meu
anel de noivado.
Elevo a mão na altura dos meus ombros e observo o anel. É
maravilhoso, deve ter custado uma fortuna. Fico feliz e agradecida pela
consideração de Justin em me comprar algo assim, mas se ele tivesse
me pedido em casamento com um barbante amarrado no lugar, teria
sido perfeito do mesmo modo.
Tão distraída que estou admirando a joia que simboliza nosso
compromisso, que não escuto Justin se aproximando, tomo consciência
da sua presença apenas quando ele envolve seus braços em minha
cintura e me abraça por trás.
— Não me diga que está reconsiderando. Porque eu não vou permitir
que você me escape, você é minha. — Como se para confirmar suas
palavras, ele me puxa para mais perto e me abraça mais apertado.
— E eu não gostaria que fosse diferente, meu amor. Estou admirando,
de forma alguma reconsiderando.
— Vou sentir falta dessa vista. — Justin diz depois de alguns minutos
de silêncio. Ambos olhamos admirados para as enormes montanhas
banhadas pelo escuro e denso manto da noite.
Por mim ficaríamos mais uma semana, apenas um final de semana é
muito pouco para desfrutar de uma cidadezinha tão adorável como
essa. Mas infelizmente temos responsabilidades, uma vida, problemas
que necessitam de nossa atenção.
Falando em problemas...A imagem de Vince surge em minha mente
imediatamente. Justin foi tão corajoso em me contar sobre a chantagem
de Eva, deve ter sido difícil e muito vergonhoso, mas ele honrou nosso
acordo de sem mais omitir nada um do outro. Eu devo honra-lo
também. Tenho que lhe contar sobre o que aconteceu entre Vince e eu,
não quero estragar mais ainda o seu humor, mas infelizmente falar
sobre Vince e Eva é necessário.
— Amor... — Chamo-o apreensiva, não sei como ele reagirá.

412
— Sim, linda?
— O fato de você ter sido honesto comigo sobre o que te fez vir correndo
para cá, significa muito para mim. Acho que eu te devo o mesmo, tenho
que ser honesta com você.
— Tem algo acontecendo?
— Não é nada realmente, mas quero que você fique sabendo sobre o que
aconteceu por mim, e quero que você entenda que não significou nada.
— Estou com a sensação que não vou gostar disso. — Ele diz se
afastando e me virando para me olhar nos olhos.
— Aconteceu uma coisa... — Começo. — Foi no dia em que eu fui ao
médico ver o resultado do meu exame de sangue e tive a certeza que
estava grávida. Quando voltei para meu dormitório Vince estava lá me
esperando. Nós conversamos brevemente, mas eu estava tão cansada,
emocional e fisicamente, que acabei adormecendo no sofá. Eu achei que
ele tinha ido embora, mas quando eu acordei ele estava...Bem, ele
estava deitado no sofá, comigo.
A expressão brava que surgiu em seu rosto assim que mencionei o
nome do meu ex namorado, agora se tornou não apenas brava, mas sim
furiosa.
— Você está me dizendo que aquele filho da puta aproveitou que você
estava dormindo e se deitou ao seu lado? — Ele claramente está
tentando conter a voz.
— Sim.
— Então vocês dormirão juntos. Abraçados? — Posso ver o controle
tentando fugir do seu poder, mas ele resiste e claramente luta contra a
vontade de explodir.
— Sim. — Respondo.
Ele balança a cabeça e permanece em silêncio, encarando um ponto fixo
no horizonte, além da janela atrás de mim.
— Tem mais. — Digo e ele me olha com os olhos semicerrados.
— O que?
— Ele me beijou. — Conto me lembrando de quando Vince me apertou
contra seu corpo e juntou sua boca com a minha.
Vejo um fogo muito diferente daquele de quando ele está com desejo
passar por seus olhos. Ele repousa as mãos na cintura e não me olha
nos olhos quando pergunta:
— Você sentiu algo, por menor que seja? — Sua voz treme.
— Senti. Eu senti raiva, me afastei e o mandei embora.
— Nada de coração acelerado? Nada de frio na barriga? — Ele pergunta
e eu tenho que rir.

413
— Eu só sinto essas coisas com você, meu amor. — Seguro seu queixo e
faço-o olhar para mim. — O que eu sentia por Vince não existe mais há
um bom tempo. Agora só existe você em minha mente e em meu
coração. Eu te amo.
Justin me puxa para si e me abraça, encaixando a cabeça em meu
pescoço e puxando uma lufada de ar profunda.
— Pensei naquela vez que você chorou em meus braços por causa dele,
o quanto você disse que o amava e o queria.
— Aquilo já passou, está tão distante do que eu sinto agora, que
parasse que foi em outra vida.
— Tenho muito medo de te perder. — Ele admite.
— Você acha mesmo que corre esse risco? Quem tem medo de ser
abandonada aqui sou eu. Eu te amo e nunca te trocaria por nenhum
outro homem.
— E eu não te trocaria por nada nesse mundo, não existe nada que eu
queira mais do que ficar com você e nossa princesinha. Não vou ficar
parado enquanto Eva, Vince e até mesmo Seth tentam nos separar.
Assim que voltarmos a Dallas, vou tomar providências contra todos que
desejam nos ver longe um do outro.
— Justin, o que você pretende fazer? — Pergunto olhando-o com a testa
franzida e com um pouco de medo do que ele tem em mente.
— Tudo o que for necessário. — Ele responde.

Justin
Entro no prédio com passadas largas e determinadas. Olho para meu
celular pela terceira vez em um intervalo de tempo de dez minutos.
Savannah iria faltar aula e ir até a fazenda para conferir quais foram os
estragos de Eva, ela disse que me ligaria assim que pudesse para me
manter informado.
Enquanto isso, pretendo começar o meu plano de retaliação. Passo pelo
saguão e olho para o lugar onde, poucos dias antes, Eva me mostrou
aquele vídeo nojento e tentou me chantagear. Não tive nenhuma noticia
dela até agora, ela não me ligou ou deixou mensagem, mas sei que deve
estar furiosa por eu não ter cedido e ido encontra-la sexta, não sou
ingênuo o suficiente para achar que as coisas vão ficar por isso mesmo.
Vem chumbo grosso por aí, por isso mesmo eu pretendo dessa vez estar
preparado para enfrenta-la.
Desço no meu andar e pego os recados com minha secretária, entro em
minha sala e me tranco lá dentro.
Observo o porta retrato com uma foto de Savannah que enfeita minha
mesa. Pai, eu vou ser pai. Essa mulher maravilhosa me deu dois
presentes inestimáveis. Uma filha – não importa o que ela diga, eu sei
que é menina – e uma resposta afirmativa ao meu pedido. Eu vou me
casar com a mulher que eu mais amo e nos vamos ser pais.

414
Não consigo nem começar a descrever o tamanho da alegria que estou
sentindo desde do momento em que ela me deu essas duas coisas.
É pensando nela e na minha filha, que pego o telefone e chamo Will até
minha sala.
Poucos minutos depois escuto uma batida em minha porta e a cabeça
sorridente de Will aparece.
— Hey, Justin. Que bom que já está de volta, achei que não viria
trabalhar hoje. — Ele diz se aproximando de minha mesa.
— Nem sei se estou com cabeça para trabalhar hoje, mas precisava
falar com você urgente.
— Aconteceu algo? — Ele se senta na cadeira a minha frente.
— Sim. Primeiro de tudo, eu vou me casar. — Digo e uma risada me
escapa quando vejo a cara engraçada que Will faz.
— Como assim? Ah meu Deus, é sério isso?
— Muito sério. Pedi Savannah em casamento esse final de semana e ela
aceitou.
— Cara, uau...Parabéns. É uma pena que você não fará mais parte do
nosso grupo de solteiros, mas também, não acho que você vá sair
perdendo, com uma mulher igual a que você tem, o que mais você
poderia querer, não é? — Ele pisca e me lança um sorriso travesso.
— Exatamente, eu já tenho tudo o que eu possa querer. E tem
mais...Ela está grávida, eu vou ser pai, cara. — Meu sorriso se alarga e
Will parece mais surpreso ainda.
— O que? Cara...Nossa, deixa eu te dar os parabéns direito. — Ele se
levanta e eu faço o mesmo, ele me dá um abraço e uns tapas nas
costas.
— Estou muito feliz por você, cara. Sei que essa mulher te mudou, todo
mundo aqui viu como você ficou mais feliz e menos ranzinza. — Reviro
os olhos e volto a me sentar em minha cadeira.
— Obrigado...Eu acho.
— Era esse o assunto urgente?
— Não. O que eu tenho para falar com você é algo extremamente
desagradável e que requer muita discrição.
— Pode falar. — Sua expressão fica séria depois de ouvir a urgência em
minha voz.
— É uma situação delicada, mas eu sei que posso contar com você. —
Ele balança a cabeça concordando. — Uma mulher com quem eu me
envolvi alguns anos atrás ressurgiu em minha vida para atormentar o
meu relacionamento, ela está me chantageando e eu gostaria de fazer
algo a respeito.
— Claro, no que eu puder ajudar...Só preciso que você me coloque a par
da situação. Quem é ela?

415
— Aí é que entra a parte mais complicada. Ela é a esposa do Carlson
Thompson. — Assim que digo essas palavras e Will as assimila, seus
olhos quase saltam para fora e seu queixo cai.
— Você se envolveu com a esposa gostosona do poderoso dono das
companhias Thompson?
— Muito tempo atrás, Will. Antes dela ser casada com ele.
— Puta merda, cara. Conta mais, isso vai ficar cada vez mais
interessante, não é? — Ele se empertiga na cadeira e parece mais
animado do que uma criança prestes a ouvir uma história que adora.
— Ela é maluca cara, pirada. Me perseguiu durante meses anos atrás e
agora que nos reencontramos ela voltou a fazer isso. Ela possui um
vídeo, não adianta me peguntar que eu não vou dar detalhes, e
ameaçou envia-lo para Savannah e a família dela se eu não dormisse
com ela. O prazo acabou e eu não cedi a sua ameaça, não sei se ela
pretende mostrar só para eles ou se para o mundo todo.
— Colocar na internet? Isso não é nada bom.
— Eu sei. Por isso preciso da sua ajuda, quero neutralizar essa ameaça
e garantir que Eva nunca mais ameaçe eu ou Savannah. Hoje em dia
existe leis contra esse tipo de coisa, não é? Você é o advogado aqui, me
dê alguma luz.
— Minha área não é a criminalística, mas posso te indicar vários
colegas excelentes.
— Ótimo, por favor, faça isso. Mas tem outra coisa que eu gostaria de te
pedir.
— Só falar.
— Eu preciso que você monte um dossiê sobre Eva para mim. Eu quero
saber todos os podres dela, desde a época em que estávamos juntos até
hoje, preferencialmente as coisas ilegais que ela fez.
— Tudo bem. Mas o que você pretende com isso?
— Ela causou dor a pessoa mais importante da minha vida, e por causa
disso, eu pretendo acabar com ela.

Savannah
— Alguém em casa? — Chamo assim que abro a porta. O fato de eu não
ter recebido nenhuma mensagem durante o final de semana não
significa nada, mas confesso que me deu uma certa esperança que Eva
não tenha agido ainda e dê tempo de Justin e eu tentarmos contornar a
situação.
— Filha. — Mamãe aparece com um sorriso no rosto e os braços
abertos.
— Como foi seu final de semana?
— Foi ótimo. E por aqui, alguma novidade? — Pergunto apreensiva.

416
— Não, nada de interessante. Tudo tranquilo como sempre.
— Mesmo?
— Sim. Porque, deveria ter acontecido algo?
— Não, não. Só querendo saber, mas me diga... — Tento mudar de
assunto e não deixar transparecer o tamanho do alívio que eu sinto ao
constatar que pelo menos por enquanto, eles ainda não sabem da
existência da filmagem. — Como está Jane?
— Ah, ela está ótima. Ela e o seu irmão estão muito otimistas depois
que falaram com a médica.
— Que bom, torço muito por eles.
— Savannah, quando você e Seth vão voltar a se falar? — Mamãe
pergunta com uma expressão triste, sei que essa briga entre meu irmão
e eu não afeta apenas nós dois.
— Isso só depende dele. Quando Seth parar de ser um idiota e pedir
desculpas a mim e Justin, aí talvez eu volte a falar com ele.
— Ah filha. — Mamãe acaricia meu rosto e me dói ver a tristeza em seus
olhos. Só me faz ter mais raiva de Seth.
— Queria conversar com a senhora sobre uma coisa importante.
— Pois fale.
— Gostaria de organizar um jantar com toda a nossa família e os Cord.
Justin e eu temos algo para contar para todos. — Um sorriso começa a
se formar nos lábios de mamãe.
— Ah meu Deus, vocês vão...
— Nada disso, sem mais informações por enquanto. Vai ter que esperar
até a hora do jantar. Será que você pode, por favor, preparar algo
especial e avisar a todos que ele e eu queremos comunicar algo a todos.
— Eu já posso imaginar o que seja, oh Deus. Por favor, me diga agora,
filha. Ele pediu você em casa...
— Psiu, mãe. Não estrague a surpresa, você vai saber junto com os
outros. — Digo dando-lhe um sorriso travesso. Sabia que assim que eu
falasse algo, minha mãe iria desconfiar sobre casamento, por isso vai
ser muito mais divertido quando contarmos sobre o bebê. Ela nunca vai
suspeitar.
— Oh céus, vou começar a preparar as coisas. Preciso ver se tenho
tudo, se não você terá que ir até Wills Point e comprar algumas coisas
para mim...Ah, e tenho que ligar para Alyssa. — Mamãe diz se
encaminhando para a cozinha. Só ela para querer começar a preparar o
jantar às 9 horas da manhã.
Sorrio com o seu evidente entusiasmo e me sinto um pouco diabólica
por armar para que ela se concentre na possibilidade de Justin ter me
pedido em casamento, e não que eu possa estar grávida.
Será uma grande surpresa para todos. Bem, menos para Shanon.

417
Vou atrás dela na cozinha e uma pilha de cartas em cima do balcão do
corredor chama minha atenção.
— Mãe, essas cartas são as correspondências que chegaram hoje? —
Grito para ela observando o envelope pardo junto com os outros
envelopes brancos.
— É sim. Porque, está esperando algo? — Ignoro sua pergunta e pego o
envelope que me chamou a atenção e me trouxe uma sensação ruim.
Não a nada escrito, além de “Família Careton” em uma letra cursiva
elegante e feminina. Sinto um arrepio na espinha.
O envelope ainda está lacrado, então abro-o e retiro seu conteúdo. Um
DVD e um papel dobrado que diz o seguinte:
Tenho certeza que esse não é o homem que vocês querem para a sua
adorável Savannah. Assistam esse DVD e vejam quem Justin Cord
realmente é.
E.M.T.
Eles não sabem de nada não porque ela não enviou a filmagem, mas
apenas porque eles ainda não abriram o envelope. Meu Deus, ainda
bem que eu vi isso antes de papai e mamãe.
Rapidamente guardo tudo dentro da bolsa e tento me recompor para ir
falar com mamãe sem que ela perceba que algo aconteceu.
Mas antes, envio uma rápida mensagem para Justin.
Savannah: Eles não viram. Interceptei o dvd antes deles, está
seguro. Por enquanto está tudo normal, mas tenho a sensação que
ela não deixará por isso mesmo. Precisamos fazer algo. Sua S.
Quase que imediatamente recebo uma resposta.
Justin: Já estou fazendo algo a respeito. Falou para eles sobre o
jantar?
Savannah: Oq vc quer dizer com isso? Sim, mamãe desconfiou na
hora que estamos noivos, mesmo eu não estando com o anel. Mas a
outra noticia, ela nunca desconfiará, vamos pegar todos de
surpresa ;)
Justin: Apenas confie em mim, quando chegar a hora eu te conto
tudo, ok? Como assim não está com o anel??? Não quero vê-la sem
ele nunca!!
Savannah: Eu confio. Usar um anel de noivado seria óbvio demais,
não acha?? Queremos fazer uma SURPRESA, lembra? Depois disso
prometo não tira-lo mais.
Justin: Bom ponto, entendi. Vc pode trazer o dvd para mim?? Vou
precisar dele para oq estou planejando.
Savannah: Tudo bem. Chego aí daqui duas horas, pode ser?
Justin: Perfeito...Lembre da sua promessa, não assista, mesmo que
você queira muito.

418
Savannah: Não vou, pode confiar. Nos vemos logo, te amoo!!!
Justin: Eu amo mais. Você e nossa princesa!!
Savannah: Ou príncipe...
Justin: Não, é princesa mesmo!! Te amo, bjos!!
Rio ao ler sua mensagem. Justin tem uma certeza irritante que nosso
bebê é uma menina, não tem como ele saber e mesmo assim ele age
como se estivesse certo. Só quero ver sua cara quando o médico nos
falar que é um menino. Sim, eu aposto que é um menino.
Vou até a cozinha para me despedir de mamãe, se eu ficar muito tempo
por aqui, ela vai conseguir me irritar o suficiente para que eu lhe
confirme que o motivo do jantar é o meu noivado com Justin.
Além do mais, preciso entregar esse DVD para Justin. Só Deus sabe o
que ele está planejando, mas eu confio nele e sei que na hora certa ele
vai me contar.

Justin e eu chegamos juntos para o jantar, não sei por que, mas estou
muito nervosa.
— Relaxe, meu amor. — Justin diz quando percebe minha tensão.
— Eu estou relaxada. — Minto, mas é mais para que eu mesma acredite
do que ele.
— Ah é mesmo? Então porque você está esmagando minha mão? — Ele
diz com um sorriso divertido no rosto. Olho para baixo, para nossas
mãos entrelaçadas. Não havia percebido que apertava sua mão com
tanta força, afrouxo o aperto e lhe dou um sorriso de desculpas.
— Está tudo bem, tudo vai ficar bem. Eles vão ficar felizes por nós. —
Ele diz com tanta confiança que me tranquiliza. Ele tem razão,
provavelmente é besteira que eu esteja tão nervosa. Eu tenho essa
tendência a pensar o pior das reações das pessoas.
— Você tem razão, vamos.
Entramos na casa dos meus pais e assim que fazemos isso, um cheiro
maravilhoso vindo da cozinha nos recebe.
— Chegamos. — Justin anuncia. Andamos em direção as vozes que
escutamos, vindas da sala de estar. Quando chegamos a porta, mamãe
já estava fazendo seu caminho para nos receber.
— Que bom que vocês chegaram, meus amores. — Mamãe me abraça e
depois Justin.
Olho para a sala e vejo todos ali; Alyssa, Mark, Jax, Kim, Shanon,
Miguel e papai.
Os únicos que faltam são Holly, Jane e Seth. Holly provavelmente não
pode vir, já que ela mora em Austin e esse jantar foi organizado em
cima da hora, mas quanto ao meu irmão?

419
Depois de dar um abraço e um beijo em todos, pergunto para ninguém
especial:
— Onde está Seth e Jane?
— Eles não chegaram ainda. — Mamãe diz tentando fingir um sorriso.
Nos sentamos na sala com todos para conversarmos até que o jantar
esteja pronto. Ninguém toca no assunto, mas a ansiedade é perceptível
no ar. Apesar de desconfiarem, eles estão esperando a nossa
confirmação, é até engraçado ver suas expressões inquietas e o evidente
esforço para não perguntarem nada. Eles sabem que quando chegar a
hora, nós falaremos. De todos os presentes, quem parece mais prestes a
explodir e nos chacoalhar procurando por respostas é Alyssa, a mãe de
Justin.
Ela sim, eu tenho certeza que ficará feliz com ambas as noticias.
Quando mamãe anuncia que o jantar está pronto, todos nos dirigimos
para a mesa posta.
— Não podemos começar sem Seth. — Digo apreensiva por ele não ter
chegado ainda.
— Vou ligar para ele e perguntar o porquê da demora. — Mamãe diz e
some pela porta.
Todos nos sentamos no lugar. Olho para minha mão nua, meu anel está
escondido seguramente em minha bolsa, depois de contar-lhes as
novidades, vou coloca-lo e deixar que admirem. Shanon com certeza
ficará louca.
Mamãe retorna com um misto de tristeza e vergonha no rosto.
— Ann...Ele e Jane não veem. — Assim que ela diz essas palavras um
silêncio pesado e constrangedor se instala no ambiente.
— Eu falei para aquele garoto que isso era importante. Que Savannah e
Justin tinham algo importante para nos contar. — Papai diz
evidentemente irritado com Seth.
— Foi por isso mesmo que ele não veio. — Justin diz sem emoção.
O clima pesado continua até que mamãe se esforça para mudar a
situação. Ela serve a comida na mesa junto com uma garrafa de vinho.
Comemos, conversamos e rimos durante pelo menos uma hora, depois
disso mamãe serve a sobremesa. Que são as suas famosas tortas, é
claro.
Estou levando mais uma garfada a boca, quando de repente mamãe
explode e bate da mesa.
— Tudo bem, vocês já nos torturam o suficiente. Confirmem logo o que
todos aqui já suspeitam. — Ela diz impaciente. Todos se calam e olham
para mim e para Justin com expectativa.
Sorrio para meu noivo e ele sorri para mim, segura minha mão por
debaixo da mesa e entrelaçamos nossos dedos.

420
— Savannah e eu quisemos reunir todos os que nós amamos nesse
jantar para contar que...Sim, estamos noivos. — Assim que Justin diz
essas palavras, Alyssa, Shanon, Kim e mamãe soltam um grito em
uníssono que me obriga a largar a mão de Justin e tampar meus
ouvidos.
Os homens a mesa são mais contidos, mas todos se levantam com
sorrisos nos rostos e vem nos cumprimentar. Alyssa sai
apressadamente na frente de todos e me dá um abraço que quase leva
nos duas ao chão.
Logo mamãe se junta a ela e as duas me abraçam e falam ao mesmo
tempo coisas que eu não compreendo muito bem.
— Calma, calma...Vocês estão me sufocando. — Digo rindo.
— Temos outra novidade. — A voz de Justin soa mais alta do que os
gritinhos e falatório da minha mãe e sogra.
Elas se afastam e nos olham extáticas. Os homens também com aquele
olhar e sorriso bobo nos lábios.
Justin se aproxima de mim e me envolve com um braço e repousa sua
mão em meu estômago.
— Vocês vão ser vovós. — Ele e eu falamos ao mesmo tempo, como
tínhamos combinado.
O queixo de todos caem, Alyssa coloca a mão no coração e ela e mamãe
começam a chorar. Mark e papai se olham com emoção e se abraçam.
Jax vem e dá um abraço de urso no irmão. Uma confusão se segue,
todos querem nos abraçar e dar os parabéns ao mesmo tempo.
Papai me abraça e começa a chorar, me fazendo chorar também.
Todos estão em êxtase e junto com a emoção e choradeira vem as
perguntas; Como foi o pedido, quando descobrimos sobre o bebê, qual a
data do casamento, cadê o anel de noivado e assim por diante.
Pego meu anel e coloco no dedo, mostrando para todos. Passamos as
horas seguintes num estado de extrema excitação e alegria pura.

— Viu, eu disse que não tinha com que se preocupar. Todos estão
muito felizes por nós.
— Eu sei, fiquei tão feliz que tivemos o apoio de todos. — Digo para
Justin enquanto ele nos leva de volta para Dallas. — Só queria que Seth
tivesse vindo. — Complemento com tristeza.
— Seu irmão é o maior cabeça dura que eu já vi na vida. — Justin diz
soltando um suspiro. Eu sei que ele sente falta do melhor amigo.
— Talvez depois que ele saiba sobre o casamento e o bebê, ele
finalmente veja que você mudou e que nós nos amamos.
— Sobre isso...Eu gostaria de contar para Seth, sozinho. — Ele diz e eu
o olho confusa.

421
— Como assim? Não acha que isso é algo que devemos fazer juntos?
— Eu sei, por isso se você não concordar eu não vou fazer nada, mas é
que...Eu não me esqueci do que ele fez. De quão idiota ele foi ao lhe
contar sobre minha antiga vida e chamar aquilo filho da mãe do seu ex
para o nosso almoço em família. Estou com isso entalado na minha
garganta até agora. Quero de uma vez por todas ter uma conversa
muito séria com seu irmão, vou deixar claro que nada que ele possa
fazer vai nos separar.
— Não sei se eu gosto muito dessa ideia, amor. Você lembra o que ele
fez com você, Justin, você foi parar no hospital. Tenho medo que...
— Não tenha. — Ele me corta e segura minha mão. — Confie em mim,
meu amor.
— Você sabe que eu confio. Se é isso que você quer, tudo bem, vá em
frente. Mas tome cuidado, não deixe Seth lhe bater, se não eu juro que
eu vou acabar com ele.

Justin
Estaciono minha caminhonete em frente à casa onde meu ex melhor
amigo mora. Ontem foi o cumulo da idiotice ele não aparecer no jantar.
Eu vi o olhar de tristeza nos olhinhos de Savannah, e aquilo acabou
comigo. Saber que ela ama tanto o irmão, mas mesmo assim se afastou
dele por minha causa, faz meu coração pesar com culpa.
Eu voltei da viagem a Vermont decidido a neutralizar todas as possíveis
ameaças ao meu relacionamento com Savannah. Já comecei a fazer isso
com relação a Eva, espero que até o final dessa semana o dossiê esteja
pronto, também vou marcar uma reunião com o advogado especializado
em crimes dessa espécie.
Subo na varanda e bato a porta. Uma Jane surpresa me recebe, aposto
que de todas as pessoas do mundo, eu seria a última que ela esperaria
ver batendo a sua porta, devido as circunstâncias.
— Justin, aconteceu algo? O que você está fazendo aqui? Se Seth te ver
ele...
— Eu vim para falar com ele. Onde aquele idiota está?
— Ele foi procurar uma ovelha que escapou, logo deve estar de volta.
Quer entrar?
— Obrigado. — Entro e a sigo até a sala. — Como você tem estado,
Jane?
— Muito bem obrigada. — Ela remexe as mãos nervosamente. —
Desculpe, não quero ser rude, mas...Não acho que você estar aqui seja
uma boa ideia.
— Eu entendo sua preocupação, mas vou lhe dizer o mesmo que disse
para Savannah. Não precisa se preocupar, eu vim em paz, apenas para
conversar.

422
— O problema é que pode ser que Seth não veja dessa forma, ele pode
encarar sua vinda até aqui como uma provocação.
— Eu só vim para lhe contar algo que ele deveria ter ouvido no jantar de
ontem, se vocês tivesse ido. — Lanço-lhe um olhar acusatório, mesmo
sabendo que ela não tem culpa. Jane desvia o olhar para o chão e
parece envergonhada. Aposto que ela queria ir, mas Seth deve ter
impedido-a.
— Sinto muito. Você pode me dizer agora se desejar. — Ela me dá um
sorriso simpático.
— Savannah e eu vamos nos casar. — Digo com um sorriso largo no
rosto.
— Oh meu Deus, Justin. — Ela leva as mãos até a boca. — Isso é
maravilhoso, parabéns. — Jane se levanta e vem me abraçar.
— Obrigado. E tem mais uma coisa também.
— E o que é?
— Savannah está grávida, eu vou ser pai. — Não profiro as palavras tão
animadamente quanto gostaria, pois sei da situação delicada de Jane
após a cirurgia.
— Oh...Isso é...Isso é fantástico. — Ela diz com um sorriso vacilante e
que não chega aos olhos.
— Isso é fantástico mesmo. — Ela diz e me abraça. — Parabéns. — Sua
voz sai chorosa.
Me sinto horrível quando vejo seus olhos cheios d’água. Pobre Jane, ela
não merece passar pelo que está passando. Talvez eu não devesse ter
lhe contado.
— Sinto muito, Jane. Eu sei que...
— Oh não, eu é que sinto muito. Estou feliz por vocês, de verdade, é só
que...É difícil. — Ela diz limpando as lágrimas do rosto.
— Sinto muito mesmo. Espero que tudo de certo para vocês.
— Obrigada, Justin.
— Amor, você não vai acredita onde... — A voz de Seth se aproxima e ele
se cala, assim que me vê parado perto de sua esposa. Sua expressão
muda imediatamente para uma carranca.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Ele olha para Jane e vê seus
olhos vermelhos pelo choro. — O que você fez para minha mulher, seu
filho da mãe?
— Justin não fez nada, amor. — Jane se apressa em esclarecer. — Ele
veio te contar algo muito importante, acho melhor você ouvi-lo.
— Nem fodendo. — Ele grunhe.

423
— Seth, por favor, escute o que Justin tem a dizer. Vou deixa-los a sós.
Com licença. — Quando ela passa por Seth, ele lhe dá um beijo rápido e
carinhoso nos lábios, e então Jane some deixando apenas nós dois.
— Não tem absolutamente nada que você possa dizer que me interesse.
A não ser que você tenha resolvido criar vergonha na cara e acabar com
essa palhaçada que você chama de relacionamento. — Ele diz ríspido.
— Não, na verdade o que eu tenho para te dizer é justamente o
contrário.
— Como assim? — Ele franze a testa e cruza os braços. Vejo os
músculos dos seus braços se apertarem na camisa e me lembro da dor
de sentir toda a força deles investida contra meu rosto.
— Seth...Sua irmã e eu vamos nos casar.
Seus braços caem ao lado do corpo, seus olhos se arregalam e primeiro
uma expressão de surpresa, depois de horror, se instala em suas
feições.
— Você está mentindo, não pode ser. — Ele diz incrédulo.
— E tem mais...Ela está grávida de um filho meu. — Assim que digo
essas palavras, Seth faz um barulho semelhante como se tivesse
acabado de levar um soco no estômago. Ele dá alguns passos
desnorteados para trás até bater na parede, onde se apoia, visivelmente
abalado pela noticia.
— Não pode ser verdade... — Ele diz balançando a cabeça. — Não
acredito.
— Nós anunciamos para todos ontem, no jantar.
— E como ele reagiram?
— Muito bem, todos ficaram muito felizes.
— Bando de cegos. Será que só eu vejo que isso é um desastre? — Ele
faz uma pergunta retórica, mas não posso deixar de responde-la.
— Isso não tem nada de desastre. Sua irmã e eu nos amamos e...
— Cala a boca. Chega, não aguento mais ouvir essas palavras saindo
dessa sua boca suja. — Ele me olha com nojo.
— É a verdade.
— Você é o pior ser humano que eu conheço. Não posso acreditar que
você engravidou minha irmã. Você vai casar com ela só por causa da
criança, não é? Vai condena-la a uma vida infeliz.
— Claro que não. Eu a pedi em casamento antes de saber sobre o bebê.
Você acreditando ou não, gostando ou não, eu amo a sua irmã com
todas as minhas forças. — Digo, mas é como se não tivesse, Seth parece
não me escutar.
— Você é mais baixo do que eu jamais poderia imaginar. Você é doente,
sabia?

424
— E você é teimoso, cego, idiota e a lista continua. — Digo cruzando os
braços.
— Você veio até a minha casa para me insultar, quem você pensa que
é?
— Não, eu vim até a sua casa para lhe contar que você será tio e que
em breve, muito em breve, Savannah e eu vamos nos casar, e se você
quiser receber um convite, é melhor você pedir perdão a ela e mudar
sua atitude.
— Sua cara de pau me assusta ao mesmo tempo que me enoja. Eu
nunca vou mudar de opinião sobre você, eu nunca vou apoiar a maior
besteira que minha irmã poderia fazer na vida.
— Porque você é tão cego? De onde está vindo toda essa estupidez, essa
raiva cega e essa teimosia? Você não enxerga que estou sendo sincero?
— Digo indignado com como ele pode ser burro.
— A única coisa que eu enxergo, é que você é um bom mentiroso.
— E pensar que Savannah achou que a noticia do nosso casamento
fosse fazer você mudar de ideia. — Digo balançando a cabeça
tristemente. Coitada do meu amor, vai sofrer quando souber que seu
irmão talvez não tenha mais concerto.
— Só espero que ela veja quem você realmente é antes do casamento.
Mas infelizmente o mal já está feito, e está crescendo na barriga dela.
Em um mero segundo minha visão escurece e sinto meu sangue ferver.
Atravesso a sala com dois passos longos e agarro Seth pela camisa.
— Nunca, ouça bem, nunca mais ouse falar assim da minha filha, ou
eu vou acabar com você. — Digo com os dentes cerrados, meu nariz a
poucos centímetros de encostar no seu.
— Vá embora daqui agora. — Ela retira minha mão com violência e
arruma a camisa.
— Eu vou, não tem mais nada que eu queira fazer aqui. Agora eu vejo
que nossa amizade acabou e não tem mais salvação, tentei
ser condescendente com você, mas chega. Agora quem não quer mais
saber de você sou eu. Sua teimosia e ignorância estão machucando a
pessoa que eu mais amo no mundo, e eu não vou te perdoar por isso.
— Bom, porque eu nunca vou te perdoar pelo que você está fazendo
com a minha família.
— Eu não quero ver você perto de Savannah novamente.
— Você não pode me impedir de ver minha irmã se eu quiser. — Ele diz
petulantemente.
— Posso sim, mas não será preciso, pois basta eu dizer sobre como você
falou da nossa filha, para que ela nunca mais queira te ver.
— Filho da puta, é isso que você quer? Fazer minha própria irmã me
odiar?

425
— Você já está fazendo isso muito bem sozinho. — Minhas palavras
parecem pegar em algum ponto fraco dele, fazendo-o engolir suas
próximas palavras.
— Só vou lhe dizer uma última coisa, Seth. Nunca mais tente fazer ou
dizer algo para nos separar, ou eu juro por Deus que eu vou esquecer
tudo o que passamos juntos, e vou acabar com você com minhas
próprias mãos. Você não tem ideia do tamanho do amor que eu sinto
por Savannah, e eu vou fazer o que for necessário para que ninguém
nos separe. Adeus.
Afasto-me e vou embora.
— Você está morto para mim. Você e ela, os dois. — Sua voz fria faz
com que eu congele no lugar.
Não posso acreditar que ele disse isso. Meu Deus, como ele tem
coragem? A raiva se reascende dentro de mim ao ouvir suas palavras.
Como poderei dizer isso para, Savannah? Ela ficará de uma maneira
que eu não serei capaz de suportar vê-la. Ela sofrerá além do
suportável, não posso contar sobre as palavras cruéis do irmão.
Fecho os olhos e me permito por um breve segundo, sentir a dor que
suas palavras me causam. “Você está morto para mim...”. Essas
palavras calam profundamente dentro do meu coração, mas não há
tempo para permitir que elas me dilacerem. O que está perdido está
perdido. Tenho que me concentrar na minha futura esposa e na família
que vamos formar. Tenho que protege-las a qualquer custo, não tenho
tempo para usufruir da dor de uma amizade perdida.
Caminho para fora da casa, querendo fugir do ar pesado. Sinto o vento
e o ar fresco em meu rosto, que me fazem sentir melhor.
As providências contra Eva já estão sendo tomadas. Seth já foi. Agora
falta Vince.

Não foi tão difícil assim descobrir onde Vince estaria antes do almoço. A
Universidade deveria proteger melhor os dados dos seus alunos.
Estaciono há alguns metros do prédio onde ele deve estar terminando
sua última aula de hoje e espero.
O prédio de Savannah fica longe o suficiente daqui para que eu não me
preocupe dela aparecer, mas caso eu seja pego, tenho a desculpa que
vim encontra-la, pois combinamos de almoçar juntos hoje, para
conversar sobre como Seth reagiu a noticia do casamento. Ainda não sei
como serei capaz de mentir para ela, na verdade não sei se deveria, eu
prometi nunca mais esconder nada dela, mas será que vale a pena
cumprir essa promessa se isso for quebrar seu coração? Como posso
dizer que Seth disse que para ele, ela está morta? Que nós dois
estamos. Isso foi pesado e cruel demais. Cada vez tenho mais certeza
que, assim como eu mudei, Seth também mudou. Infelizmente para
pior. Não quero nem pensar que essa mudança possa ser culpa minha,
talvez se eu tivesse sido honesto desde o começo...

426
Minhas duvidas e auto-condenação são interrompidos pela visão de
uma cabeça ruiva e uma jaqueta do time de futebol americano da
Universidade. É ele. Vince sai do prédio com mais dois caras, eles estão
conversando e rindo.
A visão dele me causa nojo e acima de tudo, raiva. Ele a abraçou, a
beijou. Saio do carro e bato a porta com mais força que a necessária.
Aproximo-me dele com passos determinados, os punhos cerrados ao
lado do corpo.
— Vince. — Chamo. Minha voz sai grossa e ameaçadora. Bom.
Ele e seus amigos se viram para mim, vejo um sorriso impertinente
surgir em seus lábios.
— O que você quer? — Ele cruza os braços e seus amigos me olham
desconfiados, com certeza já sentiram a tensão no ar.
— Conversar sobre Savannah. — Digo simplesmente. Ele olha para seus
amigos e faz um movimento de cabeça, eles se entreolham e então vão.
— Aqui não. — Ele diz e caminha até a lateral do prédio. Pela sua
postura posso dizer que ele já deve ter percebido o que eu quis dizer
com ‘conversar’. Pelo menos o filho da mãe não é burro.
— Pelo visto ela contou sobre o beijo. — Vince para de andar e se vira
para mim, deixando sua mochila cair no chão.
— Estava ansioso por esse momento. — Ele diz com um sorriso
convencido no rosto.
— Eu também. — Digo e parto para cima dele.
Toda a minha raiva, toda a minha frustração, me dominam de uma só
vez. Disfiro um soco em sua direção com toda a minha força e o mais
rápido que consigo.
Vince parece não esperar essa agilidade de minha parte e nada pode
fazer para impedir que meu punho acerte seu queixo. Ele cambaleia
para trás e eu deixo que se recomponha. Esse soco deve diminuir uma
boa parte da sua arrogância.
Ele me olha surpreso e com a mão no queixo. A petulância deixa seu
rosto e dá lugar ao ódio. Ele solta um grunhido e vem para cima de
mim, com velocidade e vontade, como se eu fosse um dos seus
adversários em um jogo de futebol.
Seus braços prendem minha cintura e ele me derruba no chão,
disferindo logo que imediatamente um soco em meu rosto.
Mas ele não tem a menor chance. A raiva que eu sinto por saber que ele
beijou a minha mulher me impulsiona e sinto que sou capaz de brigar
com o seu time inteiro e sair vitorioso. Ele beijou os lábios errados,
abraçou o corpo que me pertence. E eu sou um louco ciumento da
porra.
Rapidamente e sem muito esforço, inverto a situação, bato suas costas
com força no chão e fico em cima dele, acertando diversos socos em seu

427
rosto. Com um golpe que ele deve ter aprendido em alguma aula de luta
profissional, ele me joga para o lado e se levanta rapidamente.
Esperto. Sabe que se continuar no chão suas chances são quase nulas.
Ele levanta os punhos na altura no queixo e eu me jogo contra ele,
nossos corpos se chocando com violência. Meu punho acertando seu
rosto e o seu passando longe de mim, desvio com habilidade todas as
suas investidas, e acerto todas as minhas em seu rosto ou estômago.
Ele já aparenta cansaço, e me aproveito disso para recuperar
o fôlego também.
— Fique longe dela. — Ameaço.
— Será necessário mais do que isso para me afastar dela.
— Estou avisando, isso pode parar aqui. Nunca mais chegue perto de
Savannah e eu vou embora agora.
— O que, não aguenta mais? — Ele me provoca. Parto para cima dele de
novo. Dou-lhe uma rasteira ao mesmo tempo que agarro seu braço e o
torço dolorosamente para trás de suas costas.
Ele cai de cara no chão e eu subo em suas costas, na primeira tentativa
dele de se livrar de mim, estico seu braço e empurro para frente. Ele
grita de dor.
Apoio meu joelho com força em suas costas bem em cima das costelas e
faço pressão.
— Você nunca mais vai chegar perto dela, entendeu? — Digo,
ameaçador.
— Você não pode me impedir... — Empurro seu braço esticado mais
para frente e ele grita novamente.
— Estou perdendo minha paciência com você. Essa é sua última
chance, não quero que você fale, olhe ou pense nela, entendeu?
— Eu a amo e eu sei que ela... — Empurro mais seu braço em direção a
cabeça, deixando-o numa posição não natural e que deve estar doendo
pra caralho.
— Será que vou ter que quebrar seu braço para que você entenda? —
Digo forçando-o mais.
— Não, não, não cara, eu entendi, eu juro que entendi...Por favor, esse
é o braço que eu arremesso, por favor.
— Então diga, quero ouvir você. — Ele demora para falar algo então eu
forço mais seu braço. Basta um bom empurrão para frente e seu braço
estará quebrado. Vince começa a chorar de dor e esconde o rosto.
— Eu não vou chegar perto dela, ok? Não vou mais procura-la. Agora
larga meu braço, porra.
— Não estou blefando, se você aparecer em nossas vidas de novo, um
braço quebrado será o menor dos seus problemas. — Digo e largo seu

428
braço. Retiro meu joelho de suas costas e levanto-me. Vince permanece
no chão, envergonhado ou dolorido demais para se levantar.
Pela primeira vez me preocupo se alguém testemunhou o que
aconteceu, mas parece que ninguém viu ou ouviu nada.
Arrumo minha camisa e os cabelos e me dirijo para minha
caminhonete, a satisfação de ter batido nesse filho da puta é
indescritível.
— Eu disse que ele tinha me pego desprevenido. — Digo com um sorriso
vitorioso e satisfeito no rosto.

429
O maior dos amores
Justin
Dois meses depois...
— Como estão os preparativos, amor? — Seguro o celular entre o ombro
e a orelha enquanto uso as duas mãos para fazer uma curva acentuada.
— É? Ótimo! Você sabe que pode me passar mais coisas para fazer, não
é? Não quero que você fique sobrecarregada com o casamento, o bebê, a
faculdade e tudo o mais. Prometo fazer tudo direitinho e não estragar
nada. — Rio com sua resposta.
— O que? Ah sim, já cuidei dos convites, pode ficar tranquila...Sinto
muito, mas hoje não vai dar. Tenho um almoço com Charlie...Sim, sim,
não se preocupe. Eu aviso se eles mudarem a data da audiência...Não,
eu já disse que não quero você lá, amor...Não interessa, quero você e
minha princesinha o mais longe possível daquela maluca...Tudo bem,
nos falamos mais tarde. Te amo. — Encerro a ligação com a sensação
que eu ainda vou ter algum trabalho para convencer Savannah a não
me acompanhar a audiência de Eva. Apesar de Savannah insistir que
seu testemunho é necessário, temos tantas provas contra Eva que
Charlie acredita não ser necessária a sua presença. Decisão da qual eu
assino embaixo.
Conseguimos juntar provas suficientes da chantagem de Eva, além do
dossiê recheado que Will me entregou e que por sua vez, entreguei a
Charlie que o anexou nas acusações contra Eva. Acontece que na
investigação muito bem realizada por meu amigo, muitas coisas sujas
do passado de Eva foram desenterradas, além das coisas mais recentes,
como por exemplo, o fato dela estar fraudando documentos e desviando
dinheiro da empresa do marido. Depois de dois meses de enrolações, a
justiça finalmente será feita e ainda essa semana Eva será julgada, e
segundo Charlie, condenada a pagar pelo que fez. Mas de qualquer
forma, ela já recebeu o que merecia. Depois da suspeita levantada
contra ela, pelo o que eu fiquei sabendo, uma bela de uma investigação
muito mais minuciosa do que a de Will, foi feita pelos acionistas
da Thompson Reuters Company. Carlson pediu o divórcio e a deixou
com uma mão na frente e outra atrás. Não sei se essa parte é verdade,
mas parece que ele a humilhou e a expulsou de casa, sem deixar que
ela levasse suas joias, roupas ou nada que fosse de valor. E agora além
do meu processo contra ela, ainda há o da própria T. R. Company. É, a
situação de Eva não é muito promissora.
Charlie – que é um excelente advogado por sinal – conseguiu uma
ordem na justiça para apreender todas as cópias da filmagem, e graças

430
a Deus, os pais de Savannah não sabem de sua existência, muito
menos outras pessoas
Chego a Townsend e vou direto para meu escritório, tenho que me
esforçar para me concentrar em meus afazeres e não no almoço que
terei com Charlie para esclarecer algumas últimas coisas antes da
audiência.

Entrelaço meus dedos nos de Savannah e entramos no consultório.
Como nas outras vezes, falamos com a recepcionista, Savannah lhe
entrega um papel que ela destaca e depois carimba e vamos nos sentar
na sala de espera.
Essas cadeiras desconfortáveis e estreitas são perfeitas apenas por um
motivo; Savannah tem que praticamente sentar em meu colo para não
invadir o espaço da pessoa que senta no seu outro lado.
Passo meu braço por seus ombros e a abraço, enfio meu nariz em seus
cabelos e inalo o familiar e reconfortante perfume. Ela já tem cheiro de
lar, meu lar.
Espalmo minha mão em seu estômago e faço movimentos circulares e
gentis. Depois de vários e vários minutos que pareciam não passar
nunca, o nome de Savannah foi chamado e nós entramos para falar
com a médica.
Como sempre eu não entendo nada, Savannah balança a cabeça
concordando e eu apenas fico olhando para a médica me pergunta o
que diabos ela quer dizer. Ela examina Savannah, faz perguntas de
como ela tem estado desde a última consulta e enfia aquele negocia
dentro dela. Meu Deus, já começo a ter calafrios quando ela pede que
Savannah coloque o avental e deite com as pernas abertas, quando ela
pega aquele negocio e coloca uma camisinha e um gel e enfia no meio
das pernas da minha mulher, eu juro que posso desmaiar, toda vez.
— Como você espera assistir o parto se não consegue nem assistir a um
exame de ultrassom transvaginal, papai? — A médica pergunta com um
sorriso brincalhão nos lábios. Essa mulher tem zombado de mim desde
a primeira vez que eu vim aqui com Savannah.
“Quem é que disse que eu vou assistir o parto? Gritaria mais que
Savannah quando a hora chegasse.”
Ela continua o exame e não parece ter nada fora do normal, nem com
Savannah nem com o bebê. Não consigo segurar minha ansiedade,
apesar de Savannah já ter tentado me explicar que vai demorar
algumas semanas ainda, mas quero ouvir o que a médica tem a dizer,
por isso lhe pergunto:
— Doutora, você não pode ver se é menino ou menina com esse
aparelho aí? — Pergunto apontando para a enorme coisa que ela retira
de dentro da minha futura esposa.

431
— Ainda é cedo demais, papai. Existe procedimentos para descobrir o
sexo da criança já com 8 semanas de gravidez, mas o mais
recomendado é esperar até a 16ª semana.
— Então vamos ter que esperar quase dois meses? — Savannah
intervém.
— Se vocês quiserem ter certeza, então sim.
— Não precisamos desse procedimento, já sabemos que é uma
menininha. — Digo me aproximando de Savannah e lhe fazendo um
carinho na testa.
— Ah, mais um pai vidente, que divertido. — A médica diz. Estou
falando, ela não perde uma oportunidade de zombar de mim.
Savannah tem permissão para se vestir e voltamos a nos sentar na
mesa de frente para a doutora, que agora escreve algo em alguns papeis
de receita.
— Aqui está, querida. Tudo está normal, mas gostaria que você tomasse
essas vitaminas. — Ela entrega as receitas. — Uma é logo quando você
acorda e outra uma hora antes do jantar. Não há necessidade de você
voltar antes que daqui um mês, mas caso aconteça qualquer coisa
nesse período, sinta-se a vontade para me ligar ou vir aqui.
— Muito obrigada, doutora. — Savannah levanta-se e elas trocam um
aperto de mão.
Nos despedimos e seguimos para o carro. Pego as receitas da mão de
Savannah e tento me lembrar qual a farmácia mais perto.

Savannah
Sei que Justin não deve estar nada feliz, e apesar de estar apreensiva,
acho que o certo a fazer é ir assistir essa audiência.
Não sei muito bem que roupa usar nesse tipo de ocasião, então coloco
uma calça preta, uma blusa de seda e um blazer.
Demorei para conseguir convencer Justin a me levar junto, foi
necessário uma boa tática de persuasão, mas finalmente, meio de mau
humor, ele cedeu.
No horário combinado, desço e encontro Justin dentro de sua
caminhonete me esperando. Quando ele me vê, sai e abre a porta para
mim.
— Oi, meu amor. — Digo dando-lhe um beijo. Pela expressão em seu
rosto, posso dizer que ele não está nem um pouco confortável com essa
situação.
— Oi. — Ele diz simplesmente.
— Ah Justin, não fique com essa cara.
— Que cara?

432
— Que cara? — Imito sua voz grossa e tento fazer graça, mas ele não
sorri. — Essa cara que você está agora.
— Eu não queria que você fosse, eu já disse isso. — Ele diz ficando
emburrado como uma criança.
— Mas acontece que eu vou, então trate de tirar essa carranca do rosto.
— Digo entrando no carro e fechando a porta.
Ele entra no carro e dá a partida, o caminho todo até o Tribunal é feito
em silêncio. Posso sentir a tensão que emana de Justin. Ele está
nervoso por ver Eva novamente, e eu também estou, confesso.
Quando chegamos lá, a primeira pessoa que encontramos é Charlie, o
advogado que está defendendo Justin nesse caso de chantagem.
— Justin.
— Charlie. — Eles trocam um aperto de mãos.
— Lembra-se da minha noiva, Savannah?
— Ah sim, mas é claro, como esquecer uma jovem tão linda. — Ele diz
beijando minha mão. — Como vai a gravidez?
— Muito bem, obrigada.
Justin e Charlie conversam e usam termos legais que eu desconheço,
então logo estou por fora e deixo de prestar atenção ao que se está
sendo dito. Observo o grande e elegante saguão onde aguardamos o
julgamento, ele é todo decorado em cores escuras, os barulhos das
solas dos sapatos que se chocam contra o mármore do piso parecem
trovões.
Logo um homem na faixa dos 40 e poucos anos, bem apessoado,
charmoso e com uma presença imponente entra no saguão
acompanhado de três homens igualmente intimidantes.
— Aquele é Carlson Thompson, o ex marido de Eva e o dono da empresa
na qual ela estava desviando dinheiro. — Justin me esclarece em tom
sussurrado.
— E também o homem que fez a burrada de dispensar um contrato com
vocês só porque a esposa o convenceu. — Complemento enquanto
observo o Sr. Thompson de longe. Como um homem com um charme e
uma aura de poder assim como ele, pode se deixar influência por uma
mulher como Eva? Mesmo ela sendo sua esposa e advogada na época,
ele deveria ter sido mais esperto e visto que ela estava errada.
— Exatamente...Amor, tem certeza que você não quer ir para casa com
a Serena e descansar?
Olho-o com uma sobrancelha levantada e cruzo os braços.
— Serena?
— Sim. É que eu fiz uma lista de nomes de menina que eu acho bonito,
aí resolvi começar a testar.

433
— Eu acho que além dessa criança começar desde cedo a desenvolver
transtorno de personalidade múltipla, também vai desenvolver um
trauma, porque você vai ficar chamando por nomes de meninas, sendo
que nosso bebê é um menino. — Justin ri e envolve os braços em minha
cintura.
— Você não acredita mesmo no meu sexto sentido de pai, não é?
— Hey, são as mulheres que tem sexto sentido.
— Vai ser menina. — Ele diz confiante.
— Vai seu um menino. — Digo.
— Quer saber, não importa. De qualquer forma, seja o que for, teremos
que rapidamente fazer outro bebezinho para aquele que errar o sexo. Aí
você fica com um menino e eu com uma menina.
— Ah é? E quantos outros filhos você pretende fazer comigo? —
Pergunto laçando seu pescoço e puxando sua boca para perto.
— Pelo menos cinco. — Ele responde me pegando de surpresa.
— Cinco? Não, três está bom.
— Quatro. — Ele tenta negociar.
— Três. — Digo balançando a cabeça.
— Tudo bem, três. — Ele diz revirando os olhos e fingindo estar bravo.
Eu rio dele e Justin me dá um beijo. Quando começo a me esquecer de
onde estamos e o beijo começa a se aprofundar, um limpar de garganta
no separa.
— Vai começar. — Charlie diz desconfortavelmente, sem nos encarar
nos olhos.
— Tudo bem, obrigado.
— Chegou a hora. — Digo com um misto de ansiedade e medo.
— Tem certeza que você não...
— Justin...Não. — Ele revira os olhos, dessa vez de verdade, e seguimos
Charlie para a sala onde testemunharemos qual será o destino de Eva.
Um pouco hesitante eu entro na sala, até que Justin me tranquiliza
dizendo que Eva ainda não está presente.
Justin se recusa a sentar ao lado do seu advogado e de Carlson e seus
homens, vamos nós dois nos sentar nas cadeiras reservadas ao público,
como essa não é uma sessão aberta não há mais ninguém presente,
nem mesmo a imprensa. Aposto que Carlson fez tudo em seu poder
para que essa história não vazasse na mídia.
Não precisei nem vê-la, para saber que ela havia entrado na sala. De
repente o ar ficou mais pesado, meu coração começou a bater
rapidamente e um calafrio percorreu meu corpo. Logo em seguida, Eva
passou com um homem – que suponho ser seu advogado – a ladeando.
Impecável como sempre, ela usa um terninho preto com lapelas de

434
seda, que combina com seus longos e sedosos cabelos negros. Ela
parece uma viúva negra, pronta para injetar seu veneno.
Um brilho de surpresa passa em seus olhos azuis claros quando ela me
vê sentada ao lado de Justin, mas logo é substituído por divertimento,
como se ela estivesse achando tudo isso muito engraçado. Um teatro,
um circo, uma palhaçada.
Um sorriso lento desliza em seus lábios e ela se dirige para seu lugar.
Não sem antes eu perceber o olhar que ela e Carlson trocam. As coisas
não estão em um estado amigável entre eles, e imagino que não tinha
como ser diferente, depois do que ela fez.
Não demora muito para que a audiência comece. As próximas duas
horas passam lentamente e são extremamente exaustivas, mas tento
acompanhar tudo o que se está sendo dito.
Depois de um intervalo de meia hora, onde podemos esticar as pernas e
comer algo rapidamente, voltamos para escutar a sentença.
O promotor se pronuncia e enrola um monte até dizer qual é a decisão
final. Quando ele profere a palavra ‘culpada’ Eva parece realmente
surpresa. Ela achou mesmo que iria se safar dessa? Mesmo com o
melhor dos advogados, era uma causa perdida, depois de todas as
provas...
Seu advogado lhe segura pelo braço e sussurra lhe algo que imagino
que seja um alerta para que se controle.
Eva é condenada há passar sete anos na cadeia, podendo fazer um
terço dessa pena em liberdade, caso haja bom comportamento, e
realizando trabalhos comunitários.
Eu achei uma pena leve, mas Eva não parece compartilhar da minha
opinião, pois ela se levanta dando um tapa na mesa e começa e gritar,
indignada por ter que ir para a cadeia. Carlson também se manifesta,
expressando seu descontentamento com o que ele chamou de
“absurdo”. Pela raiva em seus olhos, Eva passaria a vida toda presa.
Seu advogado tenta acalma-la e logo os seguranças são chamados para
conte-la. Depois de agredir um dos seguranças, ela é algemada e
arrastada para fora da sala.
Justin e eu nos levantamos quando os dois homens puxam-na pelo
mesmo corredor no qual ela entrou com aquele sorriso prepotente e o
queixo erguido em superioridade.
Procuro pela mão de Justin atrás de conforto, e ele envolve seus braços
em minha cintura.
— Você vai me pegar, Justin. Você vai me pagar. — Ela grita, parecendo
mais do que nunca, louca. Os seguranças tentam arrasta-la para fora,
mas ela resiste com uma força e determinação impressionantes.
— Vocês dois, você e essa sua vadia. Guarde bem minhas palavras,
putinha, você vai me pagar. — Instintivamente minha mão vai

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protetoralmente até minha barriga, que com um pouco mais de oito
semanas, está levemente saliente.
Eva segue com os olhos o meu movimento, ela olha com choque o
pequeno volume em meu estômago e depois olha diretamente em meus
olhos.
— Vocês dois vão se arrepender. Você vai se arrepender, eu vou acabar
com a felicidade de vocês, eu vou destruí-los. — O olhar cego por
vingança e a expressão diabólica que ela carrega em seu rosto me fazem
tremer e Justin me abraça mais apertado.
— Eu vou me vingar... — Essas são suas últimas palavras antes que
Eva seja arrastada para fora, e seus gritos não passem de ecos de um
mau presságio.

Minhas aulas de hoje terminaram e decido almoçar em casa mesmo,
Aletta nunca está nesse horário por lá então devo ter um pouco de
sossego.
Faz uma semana desde o julgamento de Eva, e eu ainda não consigo
tirar da cabeça os seus gritos histéricos jurando vingança. Justin
tentou me tranquilizar, disse que ela nada pode fazer detrás das grades,
mas acho que só agora estou começando a me sentir mais tranquila.
Abro a porta do apartamento e a primeira coisa que vejo é a bolsa da
minha insuportável colega de quarto jogada no chão.
O que diabos ela faz aqui? Aletta nunca para em casa, um dos motivos
de ter sido consideravelmente fácil continuar vivendo no campus.
Assim que fecho a porta ela surge do nada atrás de mim, me dando um
susto.
— Até que enfim você chegou. — Ela diz cruzando os braços na frente
do corpo e com um brilho estranho no olhar.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto.
— Eu moro aqui também, sabia? — Ela diz sarcasticamente.
— Você sabe o que eu quis dizer. Você nunca está em casa para o
almoço. — Digo passando por ela, deposito minhas chaves no balcão e
retiro meu casaco.
— Eu sei, mas eu estava querendo muito falar com você.
— Alguma coisa com relação ao apartamento? Não me diga que você vai
sair daqui! — Digo com animação e uma pontada de esperança.
— Não é isso. — Ela revira os olhos e faz um som grotesco com a
garganta.
— Então fale logo, não tenho o dia todo. — Descanso as mãos na
cintura.
— Me diga uma coisa, o seu noivo se chama Justin Cord, não é?

436
— Sim, por quê?
— Ah, eu só queria ter certeza. Sabe, tá rolando um vídeo
muito...Revelador dele na internet. — Ela pega seu celular do bolso da
calça, clica na tela e vira o aparelho para mim.
Gemidos sexuais enchem a sala vindos do pequeno aparelho em suas
mãos. Não tenho nem tempo de alertar a mim mesma para virar o rosto,
meus olhos parecem ser puxados para a tela onde o vídeo que Eva fez
de Justin está passando.
Levo a mão até a boca para impedir que um grunhido de dor me escape
por entre os lábios. Claramente é Justin, muito mais novo, mas é ele.
Meu noivo está de joelhos em uma cama com mais um homem e três
mulheres. Ele investe contra uma mulher de quatro enquanto ela faz
sexo oral em outra.
Os gemidos são altos, frenéticos, obscenos, pura luxúria.
— Desligue isso. — Digo apertando os olhos com força e virando a
cabeça.
— Pela sua reação você ainda não tinha visto, eu presumo. — Os
gemidos continuam a chegar até meus ouvidos. Tampo-os com ambas
as mãos tentando inutilmente não escuta-los.
— Desligue isso, agora. — Grito para ela, mas Aletta não para o vídeo.
Um gemido em particular fica mais alto e desesperado. Uma das
mulheres deve estar chegando ao orgasmo.
“Ah meu Deus!”
Corro até meu quarto e fecho a porta com força, mas ela bate no pé de
Aletta e volta para trás, batendo na parede com força.
— Me deixe em paz. — O vídeo ainda está passando em seu celular e
não quero nem imaginar o que eles estão fazendo agora, mas os
gemidos são muito sugestivos.
— Eu não consigo parar de ver esse vídeo, e aposto que muita gente
também. Agora sim eu entendo o porquê você dispensou Vince para
ficar com esse cara, ele é demais. Deve ser tão melhor que Vince na
cama. Como eu gostaria de passar uma noite com ele...
— Cala a boca. — Grito para ela. — Cala essa maldita boca, sua vadia.
— Arranco o celular de sua mão e jogo com toda a minha força na
parede. Ele se choca contra a parede e depois se desmonta no chão.
Aletta me olha chocada e fica furiosa.
— Sua idiota, meu celular. — Ela vai ajuntar o aparelho quebrado do
chão. — Você vai me comprar um novo.
— Eu disse para você parar. — Me defendo.
— Você é louca mesmo. Bem feito que esse vídeo tenha vazado, e sabe o
pior? Ele está bombando na internet. Já tem mais de 600 mil
visualizações, e olha que foi postado somente há 6 horas.

437
“Oh não! Cem mil visualizações por hora? Não acredito, isso não pode
estar acontecendo. Como?”
— Eu já achava que ele era homem demais para você, mas depois de vê-
lo em ação? Agora tenho certeza. Ele merece uma mulher como eu, ah
sim, eu saberia dar um trato nele, pegar gostoso...
Antes que eu possa assimilar o que estou prestes a fazer, minha mão
levanta e então desce com toda a força no rosto de Aletta, fazendo sua
cabeça virar com violência e provocando um estalo alto.
Ela imediatamente esconde a marca vermelha da minha mão em seu
rosto e me olha horrorizada. Ela não esperava esse tipo de reação de
mim, confesso que eu também fiquei surpresa com a minha explosão.
— Cretina, você me paga... — Não fico para escutar o resto, saio
correndo em direção à saída. Mas Aletta vem atrás de mim, ela está
bufando de raiva. Ela agarra meus cabelos e sua mão vai em direção ao
meu pescoço, consigo me desvencilhar, mas não sem antes receber um
arranhão, que me faz gemer de dor.
Pego minha bolsa, quase derrubando o seu conteúdo na pressa de sair
daqui. Desço as escadas correndo e me afasto o mais de pressa possível
do prédio, olho para trás mas Aletta não me segue.
Percebo que estou soluçando e tremendo, mal consigo enxergar de
tantas lágrimas que escorrem de meus olhos.
Agarro meu celular e ligo para Shanon, tenho que digitar duas vezes
porque tremo tanto que aperto o numero errado.
— Oi, sis. Como vai? — Ela atende animada.
— Shanon... — Minha voz se quebra e ela assume um tom preocupado
na hora.
— Savannah, você está chorando? O que aconteceu?
— Ah Shanon... — Choro e não consigo lhe dizer coisa alguma.
— Calma, sis. Respire. Me diga onde você está que eu vou te encontrar.
— Por favor, eu preciso de você... — Digo tampando a boca tentando
conter os soluços.

Justin
Assim que saio da reunião ligo o celular e vejo que tem quinze
chamadas perdidas de Shanon e duas mensagens. Estranho.
Abro a primeira mensagem e está escrito:
Shanon: Justin, onde vc está? Te liguei várias vezes, me ligue
assim que puder!!
A outra tinha sido enviada sete minutos depois da primeira.
Shanon: Justin, me ligue agora!!! É a Savannah!!

438
Meu corpo todo gela e sinto um nó no estômago. A segunda mensagem
foi enviada a mais de meia hora atrás.
“Merda, merda, merda! O que será que aconteceu com Savannah?”
Vou apressadamente para minha sala e chamo Shanon. Ela atende no
segundo toque.
— Alô, Shanon? Sou eu, o que houve? Savannah está bem? É o bebê?
— Minhas perguntas saem atropeladas.
— Calma, Justin. Ela está bem, por enquanto pelo menos.
— O que aconteceu? Quero falar com ela, passe o celular.
— Ela está dormindo agora, eu lhe dei um calmante.
— Porque diabos você lhe deu um calmante? Ela está grávida, não pode
ficar tomando essas coisas. — Sei que Shanon não tem culpa de eu
estar nervoso, mas mesmo sem merecer grito com ela.
— Porque eu não sabia mais o que fazer, você não atendia o
celular...Fiquei perdida aqui.
— O que aconteceu, Shanon? — Pergunto andando de um lado para o
outro da minha sala.
— Não sei ao certo. Savannah me ligou chorando e muito nervosa, fui
busca-la e ela estava chorando muito e com um arranhão...
— Um arranhão? Como assim um arranhão? Onde? Quem fez?
— Calma, Justin. É na lateral do pescoço, não sei quem fez, ela não
disse coisa com coisa. Quando eu perguntei o que aconteceu, ela só
ficou falando sobre um tal vídeo que foi parar na internet e “como ela
conseguiu fazer isso?” — Suas palavras me fazem congelar no lugar,
sinto algo estranho, uma tontura e enjoo. — Você sabe do que ela está
falando?
— Shanon, ela disse se viu o vídeo? — Pergunto com medo na voz.
— Ela não disse nada, mas acho que para ficar daquele jeito deve ter
visto, não sei...O que está acontecendo, Justin?
— Por favor, Shanon, fique com ela. Não a deixe sozinha, ok? E
qualquer coisa me ligue, meu celular vai ficar ligado o tempo todo.
Quando ela acordar me avise.
— Tudo bem, mas o que... — Desligo em sua cara.
“Deus, não! Savannah viu o vídeo, ela tinha prometido, caralho! O que eu
faço agora, ela me viu fodendo outras mulheres...Ao mesmo tempo.”
Cubro a boca com medo que a bile suba.
“Foi ela...Foi Eva, aquela vadia desgraçada! Mas como?”
Uma raiva descomunal se acende dentro de mim. Meu vídeo está na
internet, para todos verem. E o pior, Savannah o viu.

439
“É tudo culpa daquela mulher. Maldita, maldita, maldita, mil vezes
maldita!”
Começo a tremer de ódio e vejo vermelho. Vermelho de vingança, de
sangue, quero estrangular Eva com minhas próprias mãos. Ela deu um
jeito de colocar o maldito vídeo na internet, mesmo presa.
Sinto vontade de gritar, então grito. Sinto vontade de destruir tudo,
então destruo. Jogo todo o conteúdo de minha mesa no chão; Papeis,
telefone, pastas, meu computador, até mesmo o porta retrato de
Savannah. Pego a luminária e jogo contra o vidro da janela. Atiro as
almofadas do sofá na parede, atingindo os quadros e os derrubando.
Pego todas as decorações da estante e jogo no chão, na parede, em
todas as direções. Quebro tudo, e minha raiva não diminui o suficiente.
— Maldita. — Grito com todas as minhas forças.
Quando não tem mais nada para que eu possa quebrar, me acalmo,
respiro fundo e tento recuperar o fôlego.
— Por quê? Por que meu Deus? Eu só quero paz, só isso. Só quero ser
feliz. — Sinto o desespero tomando conta e começo a chorar.
E agora? O que Savannah vai dizer? Ela vai ficar com nojo de mim, eu
sei que ela disse que nunca iria me abandonar...Mas e se ela tiver ficado
muito chocada?
A porta da minha sala abre subitamente e minha secretária entra,
parando assustada enquanto olha para todo o estrago que fiz.
— Senhor...
— Chame Will, e coloque Charlie Spencer no telefone...Agora! — Grito,
fazendo-a dar um pulo.
— Sim, senhor. — Ela fecha a porta apressadamente com uma cara de
medo.
Imagino que eu deva estar de dar medo mesmo.

Savannah
Volto à consciência preguiçosamente. Sinto uma mão acariciando
minha testa e meus cabelos, meus olhos tremem e estão pesados
demais para abrirem.
— Savannah, acorde. — Uma voz carinhosa me chama. — Acorde,
minha linda.
Com algum esforço abro os olhos e vejo Justin sentado na beirada da
cama, ao meu lado. As caricias que eu senti ao acordar vinham dele.
— Justin? — Pergunto meio grogue.
— Como você está, amor?
— Bem, eu... — Levanto-me e sento-me, tentando clarear minha mente
confusa. Aos poucos minhas memórias vão voltando.

440
— Justin, o vídeo... — Digo, minha voz saindo esganiçada pelo
desespero.
— Eu sei, amor, eu sei.
— Ela disse que ia se vingar, ela disse...Oh Justin, já foi visto por muita
gente, muita gente mesmo. — Sinto meus olhos marejarem.
— Eu sei, linda. Charlie já está tomando as providências para tentar
rastrear a fonte e tirar o vídeo do ar.
— Ah meu Deus, minha cabeça. — Sinto uma dor no lado esquerdo.
Escondo o rosto nas mãos procurando alivio para a dor.
— Savannah... — Justin me chama com uma voz fraca. — Você viu, não
viu? O vídeo. — A tristeza em sua voz esmaga meu coração. Olho para
ele, mas não consigo responder, apenas balanço a cabeça. Aquelas
imagens se repassando em minha mente, juro que ainda posso ouvir os
gemidos.
— Não. — Ele desvia o olhar e aperta o nariz, fechando os olhos com
força. — Me perdoa, meu amor. — Ele balança a cabeça, inconformado.
— Sinto muito, eu não queria ver, mas...Aletta me pegou desprevenida,
ela simplesmente me mostrou e eu fui incapaz de desviar o olhar. Mas
não assisti até o final.
— Pelo menos isso. — Ela parece um pouco – bem pouco – aliviado. Me
pergunto o que será que ele faz no final do vídeo? As coisas só devem
ter ficado piores.
— Aquele pedaço de merda que você chama de colega de quarto é quem
te mostrou o vídeo?
— Sim, eu fiquei sabendo que estava na internet por ela.
— Quem fez isso no seu pescoço? — Ele pergunta apontando para o
meu lado direito, levo a mão e me encolho na hora que toco minha pele
rasgada e dolorida.
— Foi ela, nós discutimos. Eu quebrei seu celular e lhe dei um tapa, ela
puxou meus cabelos e me arranhou.
Justin levanta da cama e dá um soco na parede.
— Ela vai se arrepender. — Ele ameaça, sombrio.
— Não, Justin, é melhor...
— Você está bem?
— Sim.
— Tem certeza?
— Tenho.
— E Ivy? — Dou-lhe um sorriso triste, devido as circunstâncias, ao
ouvir o outro nome que ele está testando para nosso bebê.
— Tudo bem com nosso bebê. — Acaricio minha barriga.

441
— Que bom. Vou pegar algo para cuidar do seu pescoço. Quer algo
mais?
— Água, por favor.
— Claro. — Ele sai e dentro de poucos minutos está de volta.
Enquanto ele limpa meu arranhão com algo que arde, tento convence-lo
de que estou bem e que não deve se preocupar.
— Estou bem, de verdade. Nós duas estamos.
— Ela vai pagar, isso não vai ficar assim...Mulher nojenta.
— Não. Deixe para lá.
— Como? Ela te bateu. — Ele diz indignado.
— Mas eu bati primeiro, eu perdi a razão quando levantei minha mão
para ela. Vamos esquecer isso.
— Não sei se posso. — Ele solta um suspiro frustrado.
— Tente...Por mim. — Acaricio seu rosto.
— Tudo bem, vou tentar. Mas você não pode continuar mais morando
com ela. — Ele diz irritado.
— Mas onde eu vou morar, Justin?
— Comigo, é claro. Logo vamos nos casar mesmo.
— Você está falando sério? — Só de pensar em trocar a companhia
diária de Aletta por Justin, faz um sorriso brotar em meus lábios.
— Sim, a menos que...A menos que você tenha mudado de ideia, ou
esteja repensando sobre nós...Você sabe, por causa do que você viu. —
Ele abaixa a cabeça tristemente.
— Claro que não, eu te amo, nunca vou mudar de ideia. Se você estiver
mesmo falando sério, eu aceito morar com você.
— Ah meu amor, isso vai ser perfeito. — Ele me dá um sorriso fraco,
mas sincero, e me abraça.
— Eles tentam e tentam, mas nunca vão conseguir nos separar. Sua
mãe tinha razão, nosso amor é o maior dos amores, Justin. Nada pode
destruí-lo. — Sussurro com minha boca a apenas um suspiro de
distância da sua.
— Deus, eu te amo tanto, você não faz ideia.
— Faço sim, porque eu te amo igual.
— Ah Savannah...
— Me beije, Justin. — Ordeno e ele não demora em obedecer, junta
seus lábios aos meus e por esse breve momento, enquanto nossas
línguas se acariciam, esqueço de todos os problemas. Imagino que ele e
eu estamos na cabana nas montanhas, em Vermont. Que estamos à
beira no lago, nos beijando, nos amando. Com apenas o céu e a
natureza como testemunhas do nosso amor, que irá durar para sempre.

442
A fragilidade da vida
Savannah
Um mês depois...
Sinto um aperto no peito ao observar Justin sentando em sua mesa
encarando fixamente um ponto invisível. Como eu gostaria de poder
fazer algo para anima-lo um pouco, tirar essa carga de raiva e desânimo
de cima dele, mesmo ele tendo todo o direito de se sentir dessa forma,
odeio ver o olhar derrotado em seu rosto.
Mesmo que Charlie tenha conseguido tirar o vídeo de Justin de
circulação rapidamente, o pouco tempo em que ele ficou no ar, foi o
suficiente para fazer alguns estragos.
Justin perdeu o emprego na Townsend. Eles disseram que não
poderiam manter um funcionário, especialmente um que ocupa um alto
cargo dentro da empresa, depois de um escândalo desse gênero, eles
não queriam a figura de Justin ligada a marca deles. Justin acha que o
fato dele ter perdido o contrato com Carlson Thompson, também ajudou
seus superiores a tomarem a decisão de o mandarem para o olho da
rua.
Justin ficou extremamente infeliz, porque além dele amar seu emprego,
nós estamos planejando um casamento e vamos ter um bebê.
“Pior hora para se perder o emprego” ele disse. Tentei tranquiliza-lo e
lhe dizer que não precisamos fazer nada de extraordinário para o
casamento, que poderíamos cancelar várias das coisas que planejamos
fazer e que são, de fato, descartáveis. Faríamos uma cerimônia simples
e familiar.
Ele não gostou nada disso, disse que eu não deveria me preocupar
porque tinha uma boa quantia guardada e que ele queria que eu tivesse
o casamento dos meus sonhos. Ele parecia tão transtornado, que não
me incomodei em lhe dizer que as fantasias do casamento dos meus
sonhos nunca envolveram um vestido caro, uma comida fina ou uma
decoração luxuosa. Minhas expectativas sempre estiveram voltadas ao
noivo, o homem que estaria me esperando no final do corredor.
Justin atingiu todas as expectativas e com certeza as ultrapassou. Ele é
tudo o que eu poderia querer.
Aproximo-me dele e quando Justin me vê, ergue o olhar e me dá um
sorriso fraco.
— Minha linda. — Ele estende a mão para mim e eu me sento em seu
colo. Seus braços fortes aquecem meu corpo e eu descanso minha
cabeça em seu peito.

443
— Como está nossa pequena Winifred?
— Urgh...De todos os nomes que você tem usado, esse é o pior. — Ele ri
e eu fico feliz ao ouvir esse som, fico mais feliz ainda por ter sido eu
quem provocou essa reação nele.
— É um belo nome.
— É horrível, Justin. Nossa filha sofrerá bulling na escola.
— Sofrerá? Então você desistiu e vai assumir que eu estou certo?
— Nunca, ainda acho que é um menino. — Digo encarando-o nos olhos
e sorrindo com um misto de confiança e zombaria.
Ele me abraça e ficamos algum tempo em silêncio, apenas escutando
nossas respirações. Apoiada em seu peito, escuto o reconfortante bater
do seu coração, que junto com o meu, se ajustaram para baterem em
sincronia, como se fossemos um só.
— Acho melhor você ir para a cama, precisa descansar.
— Só se você for comigo. — Digo.
— Acho que vou ficar aqui mais um pouco. — Levanto a cabeça e
encaro-o seriamente nos olhos.
— Odeio ver você assim, meu amor. Sei que essa situação toda
envolvendo o...Bem, eu sei como você deve estar se sentindo, mas não
desanime. Tudo vai dar certo no final, você vai ver.
— Queria ter o seu otimismo...Eu perdi meu emprego, milhões de
pessoas por todo o pais me viram fazendo coisas das quais eu me
arrependo, incluindo seus colegas...
— Já disse para você não se preocupar com eles, eu não ligo para os
comentários maldosos, você também não deveria.
— E tem seus pais.
— Eles não viram o vídeo.
— Mas agora eles sabem da existência dele, o que para mim é
suficiente.
— Eles foram muito compreensivos.
— Eu sei, mas isso não diminui a vergonha que eu sinto. Aposto que
eles devem estar tão orgulhosos do homem que vai casar com a filha
deles. — Ele diz sarcasticamente.
— Hey... — Seguro com ambas as mãos seu rosto. — Não fale assim.
Você é um homem honesto, inteligente, de bom coração, carinhoso com
sua família e comigo, é claro que você é alguém de quem se deve ter
muito orgulho. Eu sei que eu tenho, e nossa filhinha também terá.
Vejo seus olhos se enxerem de emoção, ele me trás para mais perto e
me aperta firme contra seu corpo.
— Eu te amo tanto. Vocês duas são tudo para mim.

444
— Não se preocupe, eu sei que logo você vai arrumar outro emprego.
Você é brilhante. — Digo encorajando-o.
— E se eles não me quiserem por causa do escândalo?
— Então são eles que vão sair perdendo. — Ela dá uma risada fraca e
depois suspira.
— Ah Savannah, não sei o que eu faria sem você, meu amor.

Justin
Nunca fui uma pessoa muito paciente, sempre quis ter tudo na hora,
por isso essa espera está me matando. Porque eles não ligam logo?
Mesmo que seja para me recusar, assim pelo menos eu teria uma
resposta.
Até agora não recebi nenhuma ligação de nenhuma das três empresas
nas quais eu deixei meu currículo. Talvez eu devesse começar a
procurar emprego nas empresas menores, o salário não seria tão bom,
mas pelo menos eu não estaria desempregado.
Tomo mais um gole do meu uísque e tento não deixar meus
pensamentos irem pelo caminho sombrio que eles parecem tanto
quererem seguir.
“Espero que ela sofra muito na prisão”.
Fecho os olhos e tento pensar em qualquer coisa, menos na raiva que
eu sinto de Eva. Eu prometi para mim mesmo que não iria mais pensar
nela, mas é difícil quando o ódio que cresce em meu coração parece se
enraizar cada vez mais.
Eu quero tanto destruir essa mulher, tanto. Mas Savannah me fez
prometer que eu não deixaria o ódio tomar conta, e eu estou tentando
profundamente.
Assim que ouço o toque do meu celular, atravesso a sala com três
longas passadas e o pego, na pressa, esqueço-me de ver o nome no
visor.
— Alô?
— Justin, sou eu. — Sinto uma pontada de decepção ao ouvir a voz de
Charlie Spencer do outro lado.
— Ah oi, Charlie.
— Ainda bem que eu te encontrei, preciso falar com você agora mesmo.
— O tom de urgência em sua voz me alerta que algo não está certo.
— O que aconteceu, Charlie?
— É sobre Eva...Ela fugiu da cadeia essa manhã.

Savannah
Meu celular toca pela quinta vez só essa manhã, não preciso olhar o
visor para saber quem é.

445
— Oi amor. — Digo revirando os olhos.
— Oi, onde você está agora? — Justin pergunta com aquele tom
protetor e preocupado que assumiu há três dias, quando descobrimos
que com a ajuda de seu advogado, Eva havia conseguido fugir da
cadeia.
— Estou na mesma loja que estava quando você me ligou há uma hora.
— Digo passando pela sessão de carrinhos.
— E está tudo bem?
— Sim, tudo na mais perfeita ordem, não precisa se preocupar.
— Não sei não, acho melhor eu ir te encontrar, podemos fazer as
compras juntos.
— E a sua entrevista, como fica?
— Que se dane a entrevista, prefiro ficar ao seu lado e me certificar que
você e nossa princesa vão ficar bem.
— Justin, sinceramente, acho que você está se preocupando demais,
amor.
— Como você pode estar tão calma? Aquela maluca está solta por aí,
Deus sabe onde e planejando Deus sabe o que.
— Eva pode ser maluca, mas ela não é burra. Acha mesmo que ela
correria o risco de ficar por aqui e ser presa novamente?
— E Shanon, ela não pode ficar com você? — Esfrego a testa e solto um
suspiro frustrado.
— Você já perguntou isso, lembra? Ela tem as suas próprias coisas para
resolver.
— E a sua mãe, ela não pode te acompanhar?
— Justin, até mamãe achar alguém para traze-la até Dallas e até ela
chegar aqui, eu já terminei as minhas compras.
— Mas e se...
— Não se preocupe, ok? Estou quase terminando por aqui, comprei
umas roupinhas lindas. — Digo acariciando minha barriga com a mão
livre.
Estou com 15 semanas e minha barriga já está bem grandinha e
redonda, adoro ficar passando a mão por ela.
— Tudo bem, só tome cuidado. E me avise quando estiver voltando.
— Tudo bem, não se preocupe comigo. Se concentre em arrasar nessa
entrevista, você vai conseguir o emprego, você é o melhor. — Quando
ele responde, sinto o sorriso em suas palavras.
— Vou fazer o meu melhor, obrigado acreditar em mim, amor.
— Eu sempre acreditei em você, Justin, sempre. Tenho muito orgulho
de você, amor. Te amo.

446
— Eu também te amo, muito. Vou desligar, acho que está chegando
minha vez.
— Tudo bem, até logo.
— Até logo...Ah, diga a nossa pequena Gina que papai mandou um oi.
— Ok, eu digo. — Digo com um sorriso bobo se formando em meus
lábios. Se Justin já é tão carinhoso agora, imagine depois que esse bebê
nascer. Ele será um pai maravilhoso.
Desligo o telefone e continuo andando pela enorme loja para crianças.
Isso é muito divertido, estou adorando andar por esse lugar e ver as
roupinhas, os sapatinhos e os brinquedos e imaginar que logo o meu
bebezinho vai estar em meus braços e o apartamento de Justin vai estar
cheio de brinquedos jogados pelo chão.
Justin disse que queria comprar uma fazenda em Wills Point, uma
de preferência ao lado da dos nossos pais, onde nossos filhos teriam
muito espaço para correr e muitas árvores para subir, mas agora que
ele perdeu o emprego, acho que não será possível. Bem, eles sempre
terão a casa dos avós para fazerem isso.
Como ainda não sabemos o sexo do bebê, e eu estava conversando com
Justin e tentando convence-lo que seria uma boa ideia esperarmos o dia
do parto para descobrir, comprei muitas coisas que servem tanto para
menina como para menino.
Mas admito que a sessão para meninas me chamou a atenção, e apesar
de eu achar que é um menino, não pude resistir e comprei um
vestidinho pelo qual me apaixonei assim que coloquei os olhos nele.
É um vestidinho de verão de manga e com babadinhos na saia, é cheio
de bolinhas e tem um laço rosa na frente.
Depois de comprar várias roupinhas e alguns sapatinhos, vou até o
caixa pagar por minhas compras. É nessa hora que meu celular toca de
novo.
— Oi, amor, estou pagando pelas compras agora mesmo e devo estar
em casa em no máximo quinze minutos.
— Ótimo, vá para casa direto e me espera lá, ok?
— Ok, aconteceu alguma coisa? — Pergunto estranhando sua voz.
— Não, não foi nada, é só que...Não sei, estou com uma sensação ruim
no peito, um mau pressentimento. Me prometa que você vai pegar o
carro e vai direto para casa.
— Eu prometo, mas eu não estou de carro.
— O que, porque não? — Ele parece irritado.
— A médica me aconselhou a fazer um pouco de caminhada, lembra?
Não tinha intenção de vir até tão longe, mas aí eu vi essa loja e tinha
umas coisinhas tão lindas na vitrine que eu...

447
— Tudo bem, termine aí e vá direto para casa. Nos encontramos lá...Ah
merda, tenho que ir, acabaram de me chamar. Te amo, se cuide.
— Também te amo, boa sor... — Ele desliga. Encaro a tela do celular
com a testa franzida. Justin tem estado meio sobrecarregado nesse
últimos dias, por causa da fuga de Eva e da pressão imposta por ele
mesmo de conseguir um trabalho tão bom quanto o seu anterior.
Entrego o dinheiro a moça e com um sorriso faceiro pego as sacolas e
saio da loja.
Ando pelas causadas lotadas de Dallas com o sorriso da mulher mais
feliz do mundo. Daqui cinco meses e uma semana eu vou estar sofrendo
provavelmente a pior dor da minha vida, mas tenho certeza que vai
valer a pena quando eu estiver segurando meu filho ou filha nos braços,
com meu marido ao meu lado.
Não vejo a hora desse mês passar e o dia do meu casamento finalmente
chegar.
Paro na beira da calçada enquanto espero o sinal para pedestres mudar
de vermelho para verde.
Assim que o homem verde aparece para mim do outro lado da rua, piso
na faixa de pedestres. Escuto um barulho alto e olho para o lado, um
carro preto vem em alta velocidade. Não me preocupo já que o sinal está
fechado para ele e continuo atravessando a rua. Quando o barulho do
motor não diminui, muito pelo contrário, parece aumentar, olho para o
lado de novo.
O carro preto está muito rápido, com pavor percebo que não vai dar
tempo dele parar, ele vai me acertar.
Tento correr, mas não há tempo para que eu desvie. O carro vem com
toda a sua velocidade e força destrutiva e me acerta.
Sinto uma dor insuportável da cintura para baixo quando a frente do
carro acerta minhas pernas. O impacto faz com que eu passe rolando
pelo para-brisa e voe por cima do carro, as sacolas se soltam de minhas
mãos e solto um grito, ou pelo menos acho que tentei gritar enquanto
estava voando no ar e logo em seguida caindo em direção ao asfalto
duro.
Caio de costas com força, minha cabeça bate no chão e uma dor aguda
se junta aquela que sinto em minhas pernas, sinto algo molhado
escorrendo de minha cabeça, sinto gosto de sangue na boca.
“O que acabou de acontecer? Eu fui...Eu fui atropelada?”
Minha visão fica turva e a luz vai diminuindo, não consigo pensar,
minha cabeça dói muito.
“Onde eu estou? O que aconteceu?”
Não consigo me concentrar em nada, meu corpo todo dói como se eu
tivesse caído dentro de uma colheitadeira. Não consigo respirar, dói
demais.

448
Escuto alguns gritos, mas estão abafados, muito longe.
“Será que estou sonhando?”
A luz vai diminuindo cada vez mais, e a última coisa que eu vejo antes
dela sumir por completo e eu mergulhar na escuridão, é um vestidinho
com laço rosa caindo em câmera lenta no chão.

Justin
A porta do elevador se abre, e eu com um sorriso no rosto e um buquê
de flores nas mãos, entro no apartamento ansioso para contar a
novidade para Savannah.
Eu consegui o emprego. Ela vai ficar tão feliz e orgulhosa de mim.
— Amor? Cheguei. — Grito e minha voz ecoa pelo apartamento vazio.
Estranho.
Fecho a porta atrás de mim olhando o apartamento com um vinco na
testa. As luzes estão apagadas e tudo parece estar exatamente como eu
deixei antes de sair.
— Savannah, baby... — Acendo as luzes. — Amor? — Nada. Apenas o
silêncio.
Vou até nosso quarto, mas está vazio. Banheiro, também vazio.
Cozinha, idem.
Deposito o buquê em cima da mesa da sala de jantar e afrouxo a
gravata. Que estranho, já era para Savannah estar em casa, onde será
que ela se meteu?
Pego meu celular para ligar para ela e solto uma maldição quando
percebo que me esqueci de ligar o aparelho depois que sai da entrevista.
Assim que a tela volta à vida, sou bombardeado com dezenas de
notificações de ligações e mensagens perdidas. Antes que eu possa
verificar cada uma, o aparelho começa a tocar.
JAX chamando...
— Oi, Jax. — Atendo.
— Justin? Graças a Deus, estou igual a um louco atrás de você.
— Acabei de chegar em casa, aconteceu alguma coisa? — Pergunto
preocupado com o tom de desespero em sua voz.
— Ah Justin, eu nem sei como te contar o que aconteceu. É a
Savannah, irmão.
Meu sangue gela na hora e tenho que me apoiar na mesa.
— O que aconteceu com ela? Ela está bem? E a minha filha? Fale de
uma vez, Jax. — Digo angustiado.
— Justin, a Savannah está no hospital, ela foi...Ela foi atropelada. —
Suas palavras não passam de sussurros, mas é como se ele tivesse as
gritado para mim.

449
Seguro a mesa com força e sinto como se tivesse acabado de levar um
soco no estômago, não consigo respirar.
— Justin? Justin, ainda está aí?
— Estou aqui, Jax. Pelo amor de Deus, me fale como ela está. — Digo
sem fôlego, ainda lutando para conseguir respirar.
— Não sabemos, ninguém nos disse nada. Ligaram para nós há meia
hora dizendo que ela tinha dado entrada no hospital, viemos correndo
para cá, mas até agora não nós deram mais nenhuma informação.
Marie e Hank estão desesperados.
— Como assim não deram informações? — Solto alguns palavrões e
corro para a porta. — Estou indo para aí agora, tente descobrir como
ela está, por favor. Preciso saber se ela e a minha filha estão bem. —
Chamo o elevador e limpo as lágrimas que escorrem de meus olhos.
— Tudo bem, vou tentar descobrir algo, venha o mais rápido possível,
tem um detetive aqui querendo falar com você.
— Um detetive? — Que porra um detetive quer falar comigo agora?
— É, o motorista que acertou Savannah... — Escutar essas palavras faz
com que eu me curve com a dor em meu coração. — Fugiu sem prestar
socorro, as pessoas do local chamaram a ambulância e a policia.
— Filho da puta, ele atropelou uma mulher grávida e simplesmente a
deixou jogada na rua? É bom que descubram logo quem é, para que eu
possa mata-lo.
Dou um soco na parede do elevador com toda a minha força, uma raiva
misturada com desespero toma conta de todo o meu corpo. Estou com
medo, mas estou com tanta raiva de quem quer que seja esse motorista,
que juro que poderia mata-lo com minhas próprias mãos.
— Justin, por favor, se acalme.
Saio pelo lobby e corro até meu carro, a adrenalina correndo junto com
o sangue por minhas veias.
— Estou indo, me dê dez minutos.
— Não dirija igual a um lou... — Ele começa a dizer, mas encerro a
chamada.
Ligo o carro e saio dirigindo igual a um louco, como Jax mesmo falou.
O desespero vai se infiltrando cada vez mais, e começo a imaginar
diversos cenários, um mais horrível que o outro.
E se ela perder o bebê? E se ela morrer?
“NÃO! Deus, não, por favor, não leve nenhuma das duas, eu imploro!”
Sinto uma dor insuportável no peito e tenho que levar a mão até o
coração. Só de imaginar seu corpo sem vida...Piso mais fundo no
acelerador, tenho que chegar até elas.

450
Constantemente esfrego meus olhos para dispersar as lágrimas e
conseguir enxergar a estrada a minha frente. Esse maldito hospital
nunca pareceu tão longe.
Exatamente sete minutos depois, paro o carro no estacionamento do
hospital. Pulo para fora batendo a porta e corro para a porta de vidro
automática que não para de se abrir para que o fluxo de pessoas entre e
saia. Vejo Jax me esperando do lado de fora.
— Jax. — Chamo-o e corro até meu irmão.
— Justin. — Ele abre os braços e me puxa de encontro a si.
— Descobriu algo, como ela está? — Agarro seus ombros e olho
angustiado no fundo dos seus olhos. O que eu vejo lá não é bom, não é
nada bom. Antes mesmo dele abrir a boca eu já sei que não será uma
boa notícia, então começo a chorar em seu ombro.
— Sinto muito, Justin, mas...O estado dela é grave. Não falaram nada
mais que isso e que ela está...No centro cirúrgico.
— Cirurgia? Porque ela precisa de cirurgia? O que está acontecendo,
Jax? — Me agarro a ele como se meu irmão fosse aquele que está me
impedindo de afundar e me perder na imensidão escura de um oceano
tempestuoso.
— Eu não sei, eu não sei.
— E a minha filha? — Ele parece não ter coragem de me dizer que não
sabe se ela está bem ou não, então apenas balança a cabeça.
— Oh Deus, por quê? Por quê?
— Sei que é difícil, mas tente se acalmar. Vamos subir e nos encontrar
com os outros, quem sabe conseguimos mais alguma notícia. — Ele me
escorra para dentro do hospital, eu apenas sigo-o, estou com muita dor
agora para saber em qual direção estou indo.
Ela tem que ficar bem. Elas tem que ficarem bem.
Isso deve ser um pesadelo. É, isso é um pesadelo, só pode ser. Aquele
Deus tão bondoso sobre o qual mamãe me falava quando criança, não
pode ter me dado Savannah apenas para depois tira-la de mim.
Ele não me daria a felicidade de ter criado um outro ser humano com a
mulher da minha vida, apenas para me tirar os dois assim.
Seria me pedir para aguentar uma dor impossível. Eu simplesmente
não posso, não consigo seguir em frente sem elas.
As primeiras pessoas que eu vejo na sala de espera, são Seth e Jane,
eles estão abraçados em pé em um canto e Seth está com uma cara,
que se possível, deve estar pior do que a minha.
Marie está sentada com os ombros caídos, derrotados, e o rosto
vermelho e os olhos inchados de tanto chorar. Hank está ao seu lado
consolando-a, mas sua situação não está muito melhor que a da
esposa.

451
Shanon está com Miguel ao seu lado, ela parece perdida, como que sem
sua gêmea ao lado, ela não soubesse o que fazer a seguir. Kim está com
ela.
Um homem baixo e gordo em um canto observa qualquer movimento
com olhos de águia. Deve ser o tal detetive que Jax mencionou.
Mamãe e papai também estão aqui, e apesar de desde garotinho minha
mãe ter sido minha fortaleza, aquela a quem eu sempre corria quando
precisava de colo, dessa vez eu corro para os braços de meu pai.
— Pai. — Chamo, ele levanta o olhar e assim que me vê, abre os braços.
Abraço-o forte e começo a chorar novamente.
— Ela vai ficar bem, meu filho.
— Como você sabe? Você falou com o médico? — Pergunto com
esperança que nesse tempo com Jax lá embaixo, eles tenham ficado
sabendo de algo.
— Não, sem notícias ainda, mas temos que pensar positivo, ter fé.
— Ah pai, eu não sei o que eu vou fazer se algo acontecer a elas. —
Soluço em seu ombro.
— Shhh, não diga nada. Ela vai ficar bem, ela e o bebê, você vai ver. —
Ele passa a mão em meus cabelos, igual quando eu era criança, e isso
de alguma forma me reconforta um pouco.
Seus braços me soltam e são substituídos pelos de mamãe.
— Ah mãe. — Agarro-a e puxo-a para mim.
— Calma, meu menino, calma. — Escuto o choro em suas palavras.
— Ela está em cirurgia, mãe.
— Eu sei, filho.
— Isso não é bom, quer dizer que ela não esta bem. Quer dizer que eu
posso perde-la. — Enterro meu rosto em seu pescoço.
— Você não vai, Savannah é forte e vai passar por essa, você vai ver.
Escuto alguém limpar a garganta atrás de nós e me viro, o mesmo
homem baixo e gordo está me olhando sem graça, mas ainda sim com
um olhar duro e profissional.
— Desculpe-me, sei que esse é um momento delicado, mas preciso lhe
fazer algumas perguntas.
— Deixe-o em paz, não vê que ele está sofrendo? — O instinto protetor
de mamãe está em alerta total e ela grita com o detetive.
— Desculpe-me Sra. Cord, mas eu preciso falar com seu filho, quanto
mais rápido eu puder falar com ele, mas chances temos de conseguir
prender o responsável por fazer isso com a Srta. Careton.
— Tudo bem, mãe, eu falo com ele. — Digo para ela enquanto enxugo o
rosto e tento me acalmar.

452
— Eu sou o Detetive Gordon Race. — Ele diz estendendo a mão depois
que chegamos a um canto longe o suficiente para que ninguém escute
nossa conversa.
— Justin Cord.
— Sr. Cord, quando foi a última vez que você falou com sua noiva? —
Ele pergunta levando a mão até o casaco e pegando algo, espero ver um
bloquinho e uma caneta, mas ele tem um pequeno gravador na mão.
— Algum problema se eu gravar nossa conversa? — Ele pergunta com
uma sobrancelha levantada quando vê que eu observo o pequeno
aparelho em sua mão.
— Não.
— Então, quando foi?
— Hoje, eu liguei para ela um pouco antes de ir fazer uma entrevista de
emprego. Ela disse que estava terminando de fazer compras e que iria
para casa logo em seguida.
— Entendi. Olha, Sr. Cord, eu vou ser honesto com você. A policia não
está tratando desse caso apenas como um caso de atropelamento e
negligência, temos motivos que nos levam a crer que a sua noiva sofreu
uma tentativa de homicídio.
— Homicídio? Porque vocês acham isso?
— Várias testemunhas do atropelamento, relataram que o carro veio
deliberadamente para cima dela, sem tentar frear ou desviar.
Levo a mão a boca e me apoio na parede atrás de mim.
— O Senhor sabe de alguma desavença ou alguém que poderia querer
fazer mal a Srta. Careton?
Fecho os olhos e sou transportado novamente para aquele dia no
julgamento.
“Ela jurou se vingar...Foi ela, só pode ter sido Eva. Vou mata-la”.
— Eu sei quem foi, foi ela.
— Ela quem, Sr.?
— Eva McKenna Thompson. — Digo seu nome com nojo e raiva.
— A ex-esposa do milionário Carlson Thompson?
— Sim, ela.
— Desculpe-me, mas como ela se encaixa nessa história?
— Ela vazou um vídeo comprometedor meu como vingança. Eu a
processei e ajudei a descobrir que ela estava desviando dinheiro, então
ela foi presa e jurou que iria se vingar de mim. Ela sabe que não há
melhor maneira de me atingir que indo atrás da pessoa que eu mais
amo.
— Entendo, mas ela não está presa? Como ela poderia...

453
— Ela fugiu, alguns dias atrás com a ajuda do seu advogado. — Vejo o
detetive Race ficar levemente pálido.
— Vou tomar as devidas providências agora mesmo, se foi ela quem
tentou matar sua noiva, vamos pega-la. Com licença. — Ele guarda o
gravador no bolso e some de vista com passos apressados.
Não acredito que Eva foi capaz de fazer algo assim, mas se não foi ela,
quem mais poderia ter sido? Com certeza foi ela quem mandou que
atropelassem Savannah, talvez ela mesma tenha dirigido o carro.
Espero que o detetive Race a ache logo, eu vou estrangula-la com
minhas próprias mãos.
— Justin. — Mamãe me chama, uma enfermeira está parada no meio
deles dizendo algo, vou até ela correndo.
— A Srta. Careton está no centro cirúrgico e infelizmente não há muito
que eu possa dizer agora.
— Nos diga qualquer coisa, por favor. — Seth implora com lágrimas no
rosto.
— Bem... — A enfermeira nos lança um olhar de pena e parece se
decidir se nos conta algo ou não. — Seu estado é grave. Ela perdeu
muito sangue, bateu a cabeça com muita força o que acabou causando
uma lesão, quebrou duas costelas e uma delas acabou perfurando o
pulmão... — Sinto os braços de Jax me envolverem, me apoio nele para
não cair no chão. Sinto-me doente e pronto para desmaiar. — Quebrou
uma perna e possivelmente...Fraturou uma vértebra. Sinto muito,
estamos fazendo o melhor que podemos.
— Oh Deus, não. — Marie chora e abraça Hank. Seth chora nos braços
de Jane, Miguel consola Shanon e eu sinto todo o meu mundo
desmoronando.
“Aquela maldita acabou com Savannah. Ela a machucou de um jeito, mas
eu vou machuca-la muito mais. Eva vai me pagar”.
— Sinto muito, assim que tiver mais notícias, eu lhes informo. — Ela
diz e se vira.
— Espere... — Peço tão baixo que ela não me escuta. — Espere, e a
minha filha? — Pergunto ainda apoiado em Jax, como se eu fosse um
moribundo.
Ela se vira e me dá um olhar triste.
— Sinto muito, mas não posso dizer mais nada, em breve o doutor deve
vir falar com vocês.

Em breve...Gostaria de achar essa enfermeira e lhe perguntar qual a sua


noção de em breve, pois parece que já se passou uma eternidade e
ninguém se dignou a vir falar conosco.

454
Não consigo ficar parado, ando de um lado para o outro, sempre me
recompondo apenas para em seguida me sentir quebrando novamente.
A sala de espera mergulha em um silêncio perturbador e sombrio, de
repente se ouve um choramingo dolorido, é Shanon ou Marie, mas
sempre tem alguém perto o suficiente para consola-las imediatamente,
então elas se acalmam e o silêncio volta a reinar.
Às vezes escuto alguns gemidos angustiados e me viro para ver qual
pobre alma atormentada que o soltou, então percebo que fui eu.
O detetive Gordon Race não apareceu, espero que ele esteja atrás de
Eva nesse exato momento, uma enfermeira passa e eu a agarro e exijo
saber sobre Savannah, ela me olha como se eu fosse louco e apenas me
responde que ela ainda está em cirurgia. Com horror descubro que se
passou apenas uma hora.
Deus, parece que faz semanas que estou aqui esperando por notícias.
— Como ela está? — Uma voz recém-chegada chama a atenção de
todos, me viro e vejo aqueles cabelos ruivos malditos.
Por um momento acho que estou enganado, mas não, ele está aqui, ele
realmente teve coragem de vir até aqui. Como ele ficou sabendo o que
aconteceu?
— O que você está fazendo aqui? Vá embora. — Grito para que Vince
vá.
— Eu vim por que eu preciso saber como ela está. — Seus olhos
vermelhos indicam que ele estava chorando. Foda-se, eu não tenho
pena.
— Você não tem nada que saber dela, vá embora agora. — Dou passos
longos e ansiosos para chegar logo até ele e descontar toda a minha
frustração em sua cara, mas braços fortes me seguram, viro o rosto e
vejo Seth.
— Hora e lugar errados. — Ele diz.
— Eu só quero saber como ela está, por favor. —Sua voz falha e uma
lágrima escorre por seu rosto.
— Ela está muito mal, ela está em cirurgia e esses médicos malditos
não me dizem se eu vou perde-la ou não. — Grito com raiva para ele,
grito tão alto que tenho certeza que os pacientes e médicos nos outros
andares também escutaram.
— Agora você já sabe, vá embora. — Como se para me provocar, ele
caminha e se senta em um lugar vago.
— Filho da... — Jax dá um puxão em meu braço.
— Ele só está preocupado com ela, como todos nós. Apenas ignore-o.
Estou prestes a agarrar Vince pela camisa e joga-lo para fora daqui,
quando um homem vestido com uma roupa de cirurgião aparece, ele
está sem luvas e sem a máscara e sua cara é indecifrável.

455
— Familiares da Savannah Careton? — Como resposta todos nos
aproximamos e o cercamos, olhando com expectativa.
— Nós fizemos tudo o que pudemos, mas a situação dela é muito
complicada. Estamos tentando de tudo para salvar ela e o bebê...A
paciente teve uma parada respiratória na mesa de cirurgia, eu não sei
se conseguiremos salvar mãe e filho, nem mesmo se conseguiremos
salvar a mãe. Sinto muito.
Eu caio. A dor da queda é amortecida pelo meu próprio estado de
torpor. Minha visão fica nublada, os sons ao meu redor vão diminuindo,
ficando abafados.
— Justin? Justin? — Escuto alguém chamando meu nome, não faço a
mínima ideia de quem seja.
Vejo um vulto se ajoelhando na minha frente, mas não consigo
distinguir quem é.
— Justin? Você está me escutando? — A voz que chega aos meus
ouvidos é lenta, distorcida.
— Acho que ele está em choque. — Uma voz feminina diz, acho que foi
mamãe.
Vejo tudo ao meu redor em câmera lenta e como se fosse um borrão, a
única coisa que está clara em minha mente são as palavras do médico.
“A paciente teve uma parada respiratória na mesa de cirurgia, eu não sei
se conseguiremos salvar mãe e filho, nem mesmo se conseguiremos
salvar a mãe”.
Se conseguiremos salvar mãe e filho...Mãe e filho...Mãe e filho...
“Eu vou perde-las, eu vou perder as duas pessoas mais importantes da
minha vida. Elas vão morrer e eu não posso fazer nada para impedir”.
Sinto algo estranho, uma escuridão tomando conta do que sobrou do
meu coração.
Sinto que minha vida está lentamente escapando de mim, como a areia
que escorre por entre os dedos, como a poeira que é tão facilmente
carregada pelo vento, como o tempo que nos escapa sem que possamos
fazer nada. Sinto toda a minha força e vontade de viver fluindo para
longe de mim, sinto como se nunca mais fosse ser feliz de novo.
Então eu desmaio, mas eu preferia que estivesse morrendo, porque eu
me recuso a viver em um mundo sem Savannah e a nossa bebezinha.

Sinto minha cabeça girando e a boca seca, abro os olhos lentamente.
Estou em um quarto que eu nunca vi antes, iluminado apenas pela luz
do abajur ao lado da cama.
Escuto um bipe e vejo uns aparelhos estranhos ao meu lado. Esfrego os
olhos e reparo que tem alguém deitado no pequeno sofá do outro lado
do quarto.

456
Mamãe.
Sento-me e à medida que a tontura vai passando, a dor excruciante da
realidade destroça meu coração.
— Savannah... — Choramingo seu nome.
Deus, eu desmaiei. Por quanto tempo fiquei desacordado? A cirurgia já
acabou? Será que eu estou respirando enquanto Savannah está em
algum lugar dura, fria e sem vida? Ou os médicos conseguiram salva-
la?
— Savannah...Savannah... — Chamo seu nome como se fosse uma
oração. Mamãe desperta ao ouvir meus lamentos.
Pulo para fora da cama. Onde estão minhas roupas? O que é isso em
meu braço?
Tiro a agulha que estava transportando algo diretamente para minha
corrente sanguínea e vou procurar minhas coisas.
— Filho? — Mamãe pergunta com a voz sonolenta.
— Onde estão minhas roupas, mãe? Preciso sair daqui, preciso vê-la,
mesmo que ela esteja...Morta. — Começo a chorar e passo a mão
freneticamente pelo pescoço, tentando me livrar dessa coisa invisível
que me sufoca.
— Calma, filho, por favor, sente-se.
— Não, não posso. Quanto tempo eu fiquei aqui? A cirurgia já acabou?
— Já, filho, a cirurgia acabou.
— Eles salvaram Savannah? — Pergunto me aproximando dela.
— Sim, ela precisa de muito descanso, mas eles conseguiram salva-la.
— E a minha filhinha, mãe? Eles salvaram ela? — Pergunto em um
sussurro.
Mamãe coloca as mãos em meu rosto e vejo lágrimas em seus olhos,
mas então ela sorri.
— Sim, eles conseguiram, meu filho. Eles salvaram as duas.
Não consigo acreditar em suas palavras, não pode ser, Deus, muito
obrigado.
Abraço-a forte e ambos choramos, mas dessa vez de alivio.
Mal posso acreditar, ela não morreu, eles conseguiram, eles salvaram
as duas. Bendito sejam esses médicos, eles as salvaram.
Mesmo com essa boa notícia, meu coração ainda encontra-se nas
sombras, a dor e angustia da possibilidade de perder as duas foi real
demais para ir embora tão rapidamente.
— Eles conseguiram, mãe? Mesmo? Savannah está bem, e o bebê?

457
— Sim, meu filho. Ela está em observação e ainda não pode receber
visitas, mas ela conseguiu, eu disse que Savannah era forte. Eu disse,
meu menino.
— Ah, mamãe...Eu não sei o que eu faria se ela tivesse morrido.
Mamãe me arrasta para o sofá onde ela estava dormindo e faz com que
eu me deite com a cabeça em seu colo.
— Pronto, meu menino, pronto, pode chorar. Coloque tudo para fora. —
Ela diz acariciando meus cabelos.
— Fiquei com tanto medo... — Digo soluçando em seu colo.
Depois de ficar sem lágrimas, levanto-me e tiro a roupa de hospital que
alguém colocou em mim e visto as minhas próprias.
— Eu preciso vê-la, mãe. Só assim eu vou conseguir acreditar que ela
está bem mesmo.
— Ela não pode receber visitas, meu filho.
— Não me importa, eles tem que me deixar entrar.
— Eles não deixaram nem Marie e Hank.
— Mas eu sou o noivo dela.
— E eles os pais. Acalme-se, tome um café e coma algo, você ficou
apagado por umas seis horas.
— Seis horas? — Pergunto surpreso.
— Sim, eles te deram um calmante. Parece que quando estavam te
trazendo para cá, desmaiado, você acordou e começou a gritar. Eles
acharam melhor te dopar.
— E o detetive Race, alguma novidade da parte dele?
— Filho, porque não conversamos sobre isso depois? Vamos nos
concentrar no fato de que Savannah e o bebê estão vivos e vão ficar
bem, ok?
— Ok, mas eu vou vê-la. — Abro a porta do quarto e mamãe vem
apressada me seguindo pelo corredor.
Vejo um médico parado ao lado de uma porta analisando uns papeis em
uma prancheta.
— Oi, eu preciso ver minha noiva, ela acabou de sair da cirurgia.
— Quem é a sua noiva? — O médico levanta os olhos dos seus papeis e
me pergunta.
— Savannah Careton.
— A moça grávida que foi atropelada? — Faço que sim com a cabeça. —
Sinto muito, mas ninguém pode vê-la por enquanto.
— Mas eu preciso vê-la.

458
— Ela nem está consciente, assim que ela estiver liberada para receber
visitas, a família será informada.
— Mas... — Mamãe segura meu braço e me puxa.
— Você ouviu o médico, filho. Vamos esperar até que ela possa receber
visitas. Venha, vamos nos encontrar com os outros antes que alguém
perceba que você não está mais no quarto.
Muito cansadamente arrasto meus pés e voltamos para a sala de
espera. Todos estão com as expressões melhores, mais confiantes,
porém ainda preocupadas.
Dou um abraço forte em papai, Hank e Marie. Ninguém foi embora
durante o tempo que eu fiquei apagado, com exceção de Vince.
Graças a Deus alguém foi sensato o suficiente e o fez ir embora, não
teria forças ou paciência para aguentar sua presença.
Sento-me no sofá de dois lugares e faço algo que eu odeio, mas que é a
única opção. Eu espero.
E espero, e espero e espero.
Horas se passam, mamãe me traz comida e café, mas não consigo
comer nada, simplesmente não consigo fazer nada até que eu veja com
meus próprios olhos que Savannah está bem.
Mais uma eternidade se passa, sinto meus olhos pesados, meu corpo
esgotado assim como minha mente.
Miguel levou Shanon para casa para tomar um banho e descansar um
pouco, papai achou melhor levar mamãe também. Ela queria que eu
fosse junto, mas o único jeito de eu sair daqui, é quando Savannah
receber alta. Caso contrário, eu não vou arredar o pé desse lugar.
Apoio os cotovelos nos joelhos e descanso a cabeça em minhas mãos,
fecho os olhos e tento não começar a chorar novamente de frustração.
Sinto a presença de alguém na minha frente. Abro os olhos e levanto a
cabeça, vejo Seth segurando dois copos de plástico da Starbucks.
— É para você. — Ele diz me estendendo um dos copos. Olho em seus
olhos e não vejo mais nenhum vestígio do ódio que eu vi na última vez
que nos falamos.
— Obrigado. — Pego o copo fumegante e sinto o cheirinho de café, dou
um gole e queimo a língua.
— Posso me sentar? — Ele aponta para o lugar vago ao meu lado.
— Tanto faz. — Digo dando de ombros.
Ele se senta e toma seu café em silêncio. Quando eu finalmente começo
a achar que ele não vai dizer nada, ele começa:
— Sei que eu fui o pior melhor amigo do mundo, assim como o pior
irmão. Apesar de achar que estou pedindo muito, espero que um dia
você e Savannah possam me perdoar.

459
Viro-me para ele e vejo arrependimento em seu olhar, e dor.
— Acho que é meio tarde para isso. — Digo.
— Eu sei que eu fui um completo idiota... — Dou uma risada
sarcástica.
— Completo idiota é muito, muito pouco. Você me espancou, ameaçou,
tentou me afastar da sua irmã, contou para ela coisas nojentas sobre
mim, falou mal da minha filha e disse que eu e Savannah estávamos
mortos para você. — Ao escutar minhas palavras, um tremor percorre
seu corpo e ele abaixa a cabeça, envergonhado.
— Eu não quis dizer aquilo, eu nunca quis que você ou Savannah
estivessem...Deus, eu sei que aquilo foi horrível. Você imagina como eu
me senti culpado quando aquilo que eu disse quase se tornou verdade
hoje? Eu não sei o que faria se perdesse minha irmã.
— O que você quer Seth? — Minha voz sai mais ríspida do que eu
pretendia.
— Eu quero meu melhor amigo de volta, eu quero minha irmãzinha de
volta, eu quero ter a oportunidade de brincar e mimar o meu sobrinho
ou sobrinha.
— Sobrinha, é uma menininha.
— É? Uma menina? — Vejo seus olhos cheios d’água e ele me dá um
sorriso tímido.
— Sim, e ela vai ser linda como a mãe.
— Tenho certeza que sim. Eu quero tanto fazer parte da vida de vocês,
agora eu vejo como agi de uma forma horrível. Por favor, me perdoe por
não enxergar que você realmente amava minha irmã. Eu me senti tão
traído e com tanta raiva e com ciúmes. Eu não sei o que deu em mim,
eu me arrependo profundamente de tudo o que eu fiz e disse, Justin.
— Eu não sei se consigo te perdoar, Seth.
— Eu entendo, mas será que você pode tentar?
— Eu não sei. Eu não estou com cabeça agora para pensar sobre isso,
estou preocupado com Savannah e estou louco de vontade de vê-la e
abraça-la, estou focado nela e na minha filha, e em fazer a pessoa que
fez isso com elas pagar. Não tenho tempo para você agora.
— Tudo bem, eu entendo. — Ele diz tentando disfarçar a magoa. — Eu
não mereço mesmo o seu perdão, mas eu vou torcer para consegui-lo.
Quando você estiver pronto, se você estiver pronto, sabe onde me
encontrar.
Ele se levanta e vai se sentar com Jane no outro lado da sala. Dou mais
um gole em meu café e continuo esperando e esperando e esperando.

— Eu já conversei com Savannah, ela estava confusa e não se lembrava
muito bem do que tinha acontecido. Ela perguntou pelo bebê e logo

460
depois por você. Mas Justin, tem algo que você precisa saber antes de
entrar lá dentro.
— O que?
— Savannah não está sentindo as pernas.
— O que? Ah meu Deus. — Porque ninguém nos disse isso antes? Marie
e Hank vão ficar arrasados.
— Mas acalme-se, não temos motivos para achar que a lesão será
permanente. Será preciso acompanhamento constante e muita
fisioterapia, mas as chance dela estar cem por cento em poucos meses é
muito grande.
— Como ela reagiu quando percebeu que não estava sentindo as
pernas?
— Incrivelmente, ela reagiu bem. Muitos pacientes se desesperam e é
necessário seda-los, mas Savannah compreendeu tudo o que dissemos
para ela e ela sabe que se se esforçar, poderá voltar a andar
normalmente.
— Posso vê-la agora doutor? — Não consigo esconder a ansiosidade em
minha voz.
— Pode sim. — Ele me dá um sorriso e faz sinal para que eu entre.
Abro a porta lentamente, não sei porque mas estou com medo, meu
coração está quase saltando para fora do peito.
Entro no quarto com receio, assim que a vejo deitada na cama, imóvel,
eu congelo no lugar.
— Justin? — Sua voz fraca, não mais que um fiapo, me chama e todo o
controle que eu estava tentando manter vai embora pela janela. As
lágrimas vêm com força como um tsunami e eu corro até ela.
— Meu amor, meu amor. — Paro ao seu lado e me dói profundamente o
coração ao vê-la cheia de hematomas e toda imobilizada devido a
violência da batida que a machucou tanto.
— Justin, não chore. — Seguro sua mão e beijo cada um dos seus
dedos.
— Eu achei que iria te perder. — Escondo o rosto com vergonha por
estar chorando igual uma criancinha.
— Mas eu prometi não te deixar nunca, lembra? — Ela me dá um
sorriso fraco, demostrando o quanto está cansada.
— Lembro, meu amor, eu lembro. — Digo e então beijo seus lábios. —
Posso te abraçar? — Pergunto quando me afasto.
— Com cuidado. — Ela responde.
Hesitantemente envolvo meus braços nela, tenho vontade de esmaga-la
contra mim, mas tenho que me contentar apenas com um abraço sem
graça e superficial. Minha mão escorrega até sua barriga e eu a
acaricio.

461
— Como está nossa pequena Jessica?
— Jessica? Eu gostei desse nome.
— É o primeiro da minha lista que você gosta. — Digo sorrindo.
— É o primeiro que é bonito. — Ela diz e eu rio.
— Eu senti tanto medo, achei que iria perder vocês duas. Eu nunca
quero sentir isso de novo, nunca. É o pior sentimento do mundo, o
desespero e o medo que eu senti hoje vão me assombrar para o resto da
vida.
— Eu estou aqui, eu estou bem, quebrada mas bem. E não vou a lugar
algum.
— Eu te amo tanto, Savannah.
— Eu também te...Oh.
— O que foi? — Pergunto preocupado quando ela leva a mão até a
barriga e faz uma cara estranha.
— Acho que ela se mexeu. — Savannah diz com um sorriso enorme no
rosto.
— O que? Deixa eu sentir. — Tiro sua mão e substituo com a minha.
Savannah ri da minha reação.
— Ainda é cedo para isso, mas eu juro que senti algo.
— Não estou sentindo nada. — Reclamo.
— Acho que você não vai conseguir sentir, só eu.
— Mas eu quero senti-la.
— Calma, logo ela vai estar chutando como um bom jogador de futebol,
você vai ver.
— Eu amo tanto ela. Minha pequena Jessy. — Acaricio sua barriga e lhe
dou um beijo.
— Eu estou tão cansada, acho que vou dormir. — Savannah diz com os
olhinhos já se fechando.
— Você dormiu por horas, fique acordada e fale comigo. — Peço
egoistamente.
— Não consigo, amor. Fique aqui comigo, segure minha mão enquanto
eu durmo.
Seguro sua mão e beijo seu rosto.
— Eu não vou a lugar nenhum, quando você acordar eu vou estar aqui.
Prometo.
Vejo Savannah adormecer, puxo uma cadeira e me sento ao seu lado,
segurando sua mão e acariciando sua barriga.

462
E pensar que eu poderia ter perdido isso. Mas Deus ouviu minhas
preces, ele não as levou de mim, eu nunca vou esquecer o que Ele fez,
o presente que ele me deu.
Eu vou ser eternamente grato por esse milagre em minha vida.

463
Epílogo
Savannah
Alguns meses depois...
— Não filha, você se senta ali, ao lado de Justin. — Mamãe me
repreende quando faço menção em me sentar em algum lugar aleatório.
Reviro os olhos e com um sorriso divertido vou me sentar no lugar
escolhido por ela.
— Pessoal, venham logo, a ceia está na mesa. — Mamãe grita para os
que ainda não vieram se sentar na enorme mesa posicionada no meio
do jardim, nos fundos da casa.
Sei que pode parecer meio estranho uma ceia de Natal ao ar livre, mas
contrariando o clima típico para essa época do ano, o Texas está
sofrendo com uma onda de calor mais intensa que o normal, tornando a
comemoração impossível em um lugar fechado.
Mas penso que deveríamos começar fazer nossas comemorações no lado
de fora todos os anos, é muito mais agradável. Estou adorando ver a
mesa enorme e farta, com tanta comida que quase não se pode ver a
toalha por baixo, mas também, com todas as pessoas convidadas não
poderia ser diferente. Não que eu esteja reclamando, estou adorando ter
os nossos amigos e familiares reunidos.
Mamãe, Jane e Kim fizeram um ótimo trabalho com a comida, eu e
Shanon também ajudamos, e posso dizer com orgulho que pelo que eu
provei, a minha parte ficou igualmente deliciosa. Além da comida e da
companhia, o lugar foi enfeitado muito lindamente.
A nossa árvore ficou lá dentro, é claro, mas a decoração da casa e do
jardim ficaram de tirar o fôlego. Como eu adoro essa época do ano.
Luzes pisca-pisca enfeitam toda a casa, além de se infiltrarem pelos
galhos das árvores e dos arbustos.
Logo vejo Justin surgir de dentro da casa, ele está conversando
animadamente com seu melhor amigo, conhecido também como “meu
irmão idiota que foi perdoado”. Um sorriso enorme toma conta do meu
rosto quando vejo o pequeno embrulho de quase um aninho usando um
vestidinho cor de rosa em seu colo. Não adianta, Justin é um pai tão
coruja, não importa quantas vezes eu diga que ele vai acabar
estragando-a sempre carregando-a no colo, basta eu virar as costas e
ele pega Jessica nos braços.
Mas sinceramente, eu amo isso. Ver ele com nossa filha só faz com que
eu me apaixone cada dia mais por ele. Não poderia pedir um pai melhor
para a minha pequena Jessica. Ele é sempre tão carinhoso com ela, ele
a ama de uma forma que enche meu coração de amor pleno e puro, tão

464
forte que sempre me provoca lágrimas. E ela o adora, quando ele chega
do trabalho e vai vê-la, ela abre os bracinhos e os agita freneticamente,
fazendo diversos barulhos que Justin jura ser ela falando ‘papai’. Ele
que vá sonhando, sua primeira palavra será ‘mamãe’.
Justin sorri quando se aproxima e vê que eu o observo. Ele vem e se
senta ao meu lado, segurando nossa filha meio sonolenta nos braços.
Acaricio as bochechas macias de Jessica e ela segura meu dedo
indicador com sua mãozinha pequena e gorducha, soltando um bocejo.
Ela é a coisinha mais linda que eu já vi. Puxou meus cabelos claros,
mas seus olhos são azuis como os do pai.
Nessa noite especial, muitos dos nossos amigos e parentes estão
conosco, e enquanto eles vão se aproximando e sentando-se em
qualquer lugar, deixando mamãe com uma expressão desesperada –
que me faz rir – Trey, um menininho adorável de três anos para entre
Justin e eu e fica encarando Jessica em silêncio.
Ele é filho dos nossos novos vizinhos, Wayne e Amy Callahan, que
compraram um pedaço de terra a alguns quilômetros de nós, cinco
meses atrás. Trey ficou fascinado por Jessica desde o momento em que
nós fomos com ela até sua casa para desejar boas vindas à família
Callahan. Wayne e Amy não demoraram muito para conquistar a
simpatia tanto dos Careton quanto dos Cord, e nossas famílias se
tornaram amigas.
Sempre que Jessica está presente, Trey fica rondando quem quer que
esteja com ela no colo. Uma vez ele insistiu que queria segura-la,
quando Amy disse que era melhor não, afinal ele era só uma criança e
Jessica ainda era muito pequena e frágil, ele lhe disse:
“Por favor, mamãe. Ela é tão bonita, prometo cuidar direitinho dela”.
Jessica foi então para o seu colo, e ele a segurou em seus bracinhos e
olhou no fundo dos seus olhos e sorriu.
A partir desse dia Amy e eu sempre brincávamos com a possibilidade
deles acabarem se apaixonando quando ficassem mais velhos, claro que
não falávamos a sério, mas Justin não gostou nada disso mesmo assim.
Não por fazer alguma objeção a Trey ou a sua família, mas por puro
ciúmes da filha.
“Não fale uma coisa dessas nem brincando. Jessica não vai
namorar”. Ele disse quando eu comentei pela primeira vez sobre como
Trey parecia hipnotizado por nossa filha, eu nada disse, apenas sorri.
Doce ilusão.
Não posso nem imaginar a tortura que será para Justin quando ela
crescer e os meninos começarem a se interessar por ela, ou pior,
quando ela começar a se interessar por eles.
— Oi Trey, tudo bem, campeão? — Pergunto bagunçando lhe os
cabelos.

465
— Aham... — Ele esconde as mãos atrás das costas e balança o
corpinho timidamente. — Posso pegar ela?
— Ah sinto muito, mas a Jessica está dormindo agora, vamos deixar ela
no colo do pai por enquanto e depois do jantar você a segura, pode ser?
Ele me olha decepcionado e assente, então se afasta cabisbaixo.
— Ele é um amor, parece gostar tanto da Jessica. Tenho a sensação que
eles serão grandes amigos e talvez...
— Não comece, amor. — Justin diz me cortando e eu sorrio.
Finalmente todos já estão à mesa. Todos os Careton e os Cord, inclusive
Holly e seu novo namorado, Fernando, que foi seu psicólogo enquanto
ela estava internada e acabou se apaixonando por ela. Meus avós e os
de Justin, os pais de Kim, meus tios e tias e primos, Mitchie e Aaron –
que estão noivos! – e Jason, Wayne, Amy, o pequeno Trey e o seu irmão,
Tyler. Todos reunidos para celebrar o Natal.
Justin deita Jessica em sua cadeirinha de bebê e a coloca entre nos
dois. Papai se levanta e pede silêncio, pede que todos juntemos as mãos
e oremos.
Ele faz uma oração/discurso, agradecendo a Deus pela oportunidade de
poder reunir aqueles que são importantes em nossas vidas.
Agradecendo a minha recuperação total e a saúde de Jessica,
agradecendo a paz e harmonia que se instaurou em nossas famílias,
agradecendo nossos amigos antigos e os recém-chegados. E encerrando
com um pedido que essa alegria nos acompanhe por muitos e muitos
anos.
— Amém. — Todos dizem em uníssono.
Papai faz as honras e corta o peru enorme com molho de cranberry,
distribuindo um pedaço para cada um. Sirvo-me com purê de batatas,
bolinhos assados, legumes, além de é claro, um suculento e generoso
pedaço de peru.
Como sempre acontece em uma família grande, o barulho das
conversas é ensurdecedor. Um grupinho conversa sobre algo aqui, outro
grupo conversa sobre outro assunto ali, e pronto, a deliciosa bagunça
está feita.
Estamos todos conversando animadamente depois do jantar, esperando
alguns minutos para fazer a digestão e finalmente comer a sobremesa.
Adivinha o que mamãe preparou? Isso mesmo, torta. Dessa vez de
abóbora, como manda a tradição.
— Com licença...Humm...Com licença. — Uma voz se eleva e se
sobrepõe a todas as outras, ficamos em silêncio imediatamente e
olhamos curiosos para Seth.
— Eu gostaria de falar algumas palavras. — Ele diz com um sorriso no
rosto. Todos nos ajeitamos em nossos lugares e o encaramos
estaticamente.

466
— Primeiramente, queria dizer o quanto estou feliz por estar aqui
reunido com a minha família e com nossos amigos. Queria agradecer
Justin e Savannah por terem sidos compreensivos comigo e terem
perdoado as burradas que eu fiz, queria agradecer a minha esposa linda
por ter sido paciente comigo e por me aguentar todos esses anos.
Queria agradecer a todos vocês por fazerem parte da minha vida, mas
acima de tudo, gostaria de agradecer a Deus... — Ele estende a mão
para Jane, ela a segura e se levanta, ficando ao lado do marido. — Por
ter colocado essa linda mulher no meu caminho, e apesar das
dificuldades, por ter me abençoado com a felicidade de ser pai.
Nesse momento o caos – de um jeito bom – se instala na mesa. Todos se
olham, sorriem e falam ao mesmo tempo.
— Oh meu Deus, Jane, você está grávida? — Mamãe pergunta
colocando a mão na boca e se levantando para abraça-la.
— Você vai ser vovó de novo, mãe. — Seth diz com um sorriso enorme.
Todos nos levantamos e vamos aos poucos dar os parabéns aos mais
novos papais do pedaço.
Estou imensamente feliz por Seth e Jane, depois de descobrir o tumor
de Jane e dela fazer a cirurgia, todos ficamos com muito medo que ela
não conseguisse engravidar. Eles ficaram todos esses messes tentando
e agora, finalmente, eles vão realizar o sonho de ter um filho.
“Ah meu Deus, eu vou ser titia”.
Dou um abraço apertado em Jane e depois em Seth.
— Parabéns, Jane. Quantas semanas? — Pergunto.
— Seis. — Ela responde com um sorriso do tamanho do Texas, não, do
tamanho da Rússia, e esfrega a barriga.
— Estou tão feliz por vocês, Jane. Será que vai ser uma menininha para
fazer companhia para a Jessy? — Pergunto passando a mão em sua
barriga.
— Será? Eu estou tão feliz que não pensei sobre se eu quero um menino
ou uma menina. Seth quer os dois. — Ela diz rindo.
A euforia que a notícia da gravidez de Jane provocou se segue, e quando
Miguel pede a atenção de todos, mamãe já começa a balbuciar sobre
mais um netinho.
— Calma, Marie. Shanon não está grávida. Não está, não é amor? — Ele
pergunta para ela fingindo preocupação e todos rimos.
— Não, mas também temos uma novidade para vocês. — Ela diz se
aconchegando nos braços de Miguel.
Eles se olham com um sorriso apaixonado e parecem se esquecer de
nós, ficamos encarando-os com expectativa e então finalmente eles
dizem juntos.
— Vamos nos casar. — Uma série de gritinhos, palmas e exclamações
se seguem. Mamãe parece radiante, acho que nunca a vi tão feliz.

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Também, com tanta notícia boa, quem não ficaria assim?
Corro para abraçar minha irmã e lhe dar os parabéns. É aquela
confusão, todos querendo abraça-los ao mesmo tempo, no meio disso
tudo mamãe começa a chorar, então Shanon chora junto com ela, Jane
também vai na onda e quando vou ver eu também estou derramando
lágrimas de felicidade.
Essa noite com certeza vai ficar marcada em minha memória com uma
das mais felizes da minha vida, claro que nenhuma memória vai
superar a do dia do meu casamento e o dia em que vi pela primeira vez
minha pequena Jessy. Ou quando vi Justin a fazendo dormir pela
primeira vez, ah sim, aquele dia foi emocionante e feliz além dos níveis
imagináveis.
Nossa comemoração se estende noite adentro, presentes são trocados,
histórias de infância são contadas, os sorrisos e risadas são fáceis e os
corações de todos estão em paz. Essa noite quase parece algo mágico,
daquelas que só se encontra nos finais felizes de livros.
Ao passar das horas, nosso grupo vai diminuindo, quando Amy e
Wayne decidem que está na hora de ir embora, Trey começa a chorar.
— Mas Jessy e eu estamos brincando, não quero ir para casa. — Ele diz
na sua voz melodiosa de criança e faz um biquinho.
Na verdade ele está brincando sozinho, Jessy é tão pequena ainda que
só fica olhando para ele com seus grandes olhos azuis, mas Trey parece
não se importar que Jessy ainda não consegue responder as perguntas
que ele faz para ela, ou que ela não possa correr com ele.
Eu o escutei cochichando para ela uma vez:
“Não vejo a hora de você falar e andar, Jessy. Vamos correr e brincar o
dia inteiro, você vai ser minha melhor amiga, não vai?”
Se Trey fosse filho único, até poderia achar que esse apego com Jessica
fosse carência, mas ele e o irmão Tyler se dão bem e vivem brincando,
acho que ele simplesmente ficou encantado com Jessica.
Justin decide que é melhor irmos para casa também, Jessica parece
exausta e admito que foram emoções demais hoje e eu também estou
cansada.
Então nos despedimos de todos e seguimos para o carro.
— Não acredito que Jane está grávida, estou tão feliz por eles. —
Comento enquanto Justin arruma a cadeirinha com Jessica no banco
detrás.
— Eu sei, eles merecem depois de tudo o que passaram com a doença
de Jane. Fico feliz que Seth vai poder ter a alegria de ser pai, assim
como eu. — Ele fecha a porta e espio pela janela Jessica dormindo.
— E Shanon vai casar.
— Essa noite realmente foi cheia de notícias boas. Quase achei que Jax
iria se levantar e dizer que Kim estava grávida também.

468
— Essa fazenda ficaria cheia de crianças.
— Talvez possamos contribuir com mais uma ou duas crianças. — Um
sorriso lento e safado surge em seus lábios, ele me puxa pela cintura e
acaricia meu rosto gentilmente antes de me beijar apaixonadamente.
Envolvo meus braços em seu pescoço e lhe dou total acesso, sua língua
brinca com a minha e eu mordo seu lábio inferior, fazendo-o soltar um
gemido baixo e torturado.
— Vamos logo para casa, quero deitar minha linda esposa em nossa
cama e fazer amor com ela o resto da noite. — Ele sussurra para mim,
fazendo meu corpo se arrepiar.
— Será um prazer lhe atender, Sr. Cord. — Ele me dá mais um beijo
antes de abrir a porta do carro para que eu entre.
Seguimos pela estrada de terra iluminada apenas pelos faróis do carro,
a fazenda linda que Justin comprou não fica muito distante daqui,
apenas alguns quilômetros, fica no meio do caminho entre a fazenda da
minha família e a dos Callahan.
— Eu já disse o quanto te amo hoje? — Justin pergunta tirando a mão
do câmbio e entrelaçando seus dedos nos meus.
— Não o suficiente. — Brinco com ele.
— Bem, então tenho que me esforçar mais. — Ele pisca para mim. —
Que tal eu te mostrar o quanto eu te amo quando chegarmos em casa?
— Promessas, promessas... — Digo revirando os olhos.
— Ah Savannah, assim você vai acabar levando umas palmadas. — Ele
diz com a voz baixa e sedutora.
— Mais promessas, Sr. Cord, espero que você tenha mesmo a intenção
de cumpri-las. — Ele me lança um olhar cheio de luxúria e um sorriso
malicioso.
— Eu vou cumprir cada uma, Sra. Cord, cada uma. — Suas palavras
lentas e sugestivas me aquecem, aperto sua mão e levo-a até a boca,
dando-lhe um beijo.
Um sorriso preguiçoso se forma em meus lábios. Essa é a vida que eu
sempre quis, esse é o tipo de felicidade que eu tanto ansiava.
Graças a Deus que eu aceitei aquela proposta.

Fim...
...ou quase...

469
Eu sei que vocês estão curiosos sobre o que aconteceu com Eva, Vince e
Aletta. Não se preocupem, eu não iria embora sem lhes satisfazer essa
curiosidade.
Bem, vocês acreditariam se eu dissesse que Vince e eu meio que nos
tornamos amigos? Pois é, eu sei, não nos falamos todos os dias, ou
visitamos a casa um do outro – até porque ele não mora mais no Texas
– mas depois de tudo o que aconteceu na minha vida, percebi que não
adiantava de nada guardar rancor ou magoa em meu coração. É claro
que a situação é complicada, mas eu o perdoei de coração e às vezes
nos falamos por telefone, ele está morando em Nova York e – pasmem –
ele conseguiu realizar o grande sonho de jogar no New York Giants. Ele
está no começo da carreira, mas já está chamando bastante atenção da
mídia, e das mulheres. Parece que Vince não tem jeito mesmo, ele é
visto a cada semana com uma mulher diferente. Acho que esse
simplesmente é o jeito dele, e eu só posso desejar que ele seja muito
feliz com a vida que escolheu para si.
Claro que Justin não gosta muito dessa amizade entre Vince e eu,
sempre que os Giants vencem e ele liga para mim perguntando se eu
assisti o jogo, Justin fica puto, sai da sala e vai brincar com Jessy.
Mas Justin sabe que ele é o único homem na minha vida, e essa minha
relação com Vince é apenas uma amizade que foi construída tendo
como base o carinho que sobreviveu a toda a magoa do passado.
É muito mais fácil esquecer, perdoar e deixar o passado no passado
quando se esta casada e extremamente feliz, as minhas memórias com
Vince são apenas isso, memórias. Nem boas ou ruins. São o que são e
já não influenciam minha vida de forma alguma.
Quanto a Aletta, bem, sinceramente não sei muito sobre ela e não faço
questão de saber. Por causa do acidente e da minha gravidez, tive que
tirar uma licença da faculdade, ainda não voltei a estudar, mas espero
logo poder recomeçar de onde eu parei e me formar.
A última vez que eu escutei sobre ela foi através de Shanon, parece que
um dos caras com que ela dormiu tinha AIDS e Aletta levou um baita
susto achando que poderia estar infectada também e que iria morrer.
Acabou que ela está bem e saudável, mas sabe como são as más
línguas da UTD, o boato de que ela tinha AIDS se espalhou por todo o
campus e ninguém quis mais chegar perto dela, como se AIDS fosse
igual gripe e pudesse passar através de um espirro. Não adiantou nada
ela dizer que tinha feito o exame e tinha dado negativo, ela ainda sofre
preconceito como se realmente estivesse doente. Deve estar sendo
horrível, mas espero que isso sirva para ela mudar e aprender que nem
sempre aqueles que estão na farra com você, podem ser considerados
seus amigos.
E quanto a Eva, bem, me desculpem mas esse é um assunto que não
gosto muito de falar. Vocês me entendem, não é? Mas posso, com
tremendo alivio no coração, dizer que sua ação desesperada e hedionda
teve consequências. Ela foi capturada, transferida para a prisão da

470
Califórnia e felizmente, só vai poder sair quando a minha pequena Jessy
tiver seus próprios filhos.
É, parece que teremos muitos e muitos anos de paz e alegria pela
frente.
Sei que eu não sou uma personagem de um livro e minha vida não é
uma história de conto de fadas, mas me permitam terminar com uma
frase que eu acho que se encaixa muito bem na minha vida ao lado de
Justin e da minha filha...
“E viveram felizes para sempre!”

Fim

471
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos que acompanharam Justin e Savannah.
Gostaria também de agradecer a todos que me mandaram mensagens e
–mails de incentivo e com palavras amigas.
Caso você tenha baixado esse arquivo e não tenha lido a estória no site
onde ela foi postada originalmente (wattpad.com) preciso que você saiba
de uma coisa, eu sou apenas uma amante de livro que gosta de
compartilhar as estórias que escreve, então para deixar claro, eu não
sou de fato uma escritora e talvez minhas estórias não sejam tão boas
assim, mas eu as escrevo com muito carinho e me esforço bastante. E
realmente sou grata a quem dá uma chance e lê o que eu escrevo. Se
você está lendo isso, provavelmente leu todo o meu livro, e mesmo
gostando ou não, obrigada por pelo menos me dar uma chance!
Desculpem os erros, mil beijos!

R. R. Beatrice

472
Playlist(zinha)
3 Doors Down – Here Without You

Dan Torres – I can’t Live Without Your Love

Ed Sheeran – Kiss me

Lady Antebellum – Just a Kiss

Vegas Audio Ninjas – Mo Cash!

Westlife – Us Aganist the World

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Álbum das crianças
Jessica Lisa Careton Cord - Um ano -

Jessica – 10 meses – e Justin

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Jessy – 2 anos -

Jessy – 3 anos -

475
Os gêmeos
Andrew e Ethan – 7 meses –
(são 2 anos mais novos que Jessica)

Andrew – Um ano e dois meses –


(sorriso safadinho desde criança)

Hb

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Ethan – Um ano – (fazendo biquinho depois de
aprontar)

Hannah Marie Careton Cord – 3 meses –

(um ano mais nova que os gêmeos)

477
Jessy – 3 anos - e Hannah - 1 mês -

Andrew na praia – 6 anos -

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Jessy – 6 anos – e Trey – 9 anos -

Hannah – 2 anos -

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Jessy – 5 anos – e Trey – 8 anos -

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