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Wild Child

Série Wild Ones


(Os Selvagens)
Livro 1.5
M. Leighton
Equipe Pegasus Lançamento
Envio: Soryu

Tradução:

Revisão Inicial:

2ª Revisão Inicial: Angeli

Revisão Final: Lyli Cunha

Leitura Final e Formatação: Lola

Verificação: Marta
Comentário
Da Revisora Final Lyli Cunha:

Eis a Continuação da série Os Selvagens, nesse livro, vocês


acompanharam a vida de Trick, o incrível e selvagem domador de cavalos
e Cammi, a mocinha que desafiou seu pai para ficar com nosso lindo
mocinho cowboy. (Bom até eu no lugar dela, considerando que o domador
de cavalos é um tudo), então, veremos como eles constroem seu caminho de
felicidade, seu casamento e o realmente e esperado felizes para sempre.

Entretanto o livro é narrado por dois novos protagonistas, Jenna,


sim dessa vez ela é a mocinha Selvagem, e Rusty. Nós conhecemos um
pouquinho deles no primeiro livro. De início, essa mocinha é das minhas,
ousada, destemida e provocadora, tipo meu número, mas ela também é
real, sofre e chora com as perdas e os desentendimentos, e também sabe
viver seu feliz para sempre como ninguém.

Nesse livro, há amor, companheirismo, amizade, provocação,


perdas, lutas e recomeços e, ele nos prepara para o próximo livro, com o
irmão de Jenna, um incrível bombeiro selvagem. Aproveitem a leitura!
Sinopse
Jenna Theopolis sempre soube o que queria. O número um em

sua lista de prioridades era sair da sua pequena cidade natal

Greenfield. Até que conheceu Rusty Catron.

A personalidade divertida de Rusty era a combinação perfeita

para a criança interior selvagem de Jenna. Mas o que começou

como um caso de verão, rapidamente se transforma em algo mais.

Pelo menos, para Jenna.

Rusty vive com o fantasma do abandono de seu pai desde

que era uma criança, mas agora ele está começando a sentir os

efeitos incapacitantes das suas cicatrizes. Ele quer confiar em

Jenna, mas, no fundo, ele não acredita que alguém tão selvagem e

livre possa ser domado.

Mas uma tragédia acontece, afastando Jenna de Greenfield e

deixando Rusty com uma escolha a fazer: enfrentar os seus

demônios interiores ou perder o amor de sua vida... Para sempre.

Para aqueles que amaram. E perderam


Capítulo 01
Maio

Jenna
—Nada de sexo antes do casamento. Para Trick e eu. Ou
para você e Rusty. — diz Cami.

Com a boca aberta, eu a vejo desembalar a sua mala. Ela


vai ficar comigo durante esta coisa ridícula de celibato que ela
está insistindo que ela e Trick têm de cumprir estes dias antes
do casamento. Mas ela não me tinha dito nada sobre eu
também ter de controlar a minha libido.

—O quê? —Exclamo, enquanto ela amontoa alguns


shorts ao lado dos poucos pertences que eu trouxe para casa
para este mês. Como acabei de me formar na faculdade, não
empacotei muito. Achei que não havia necessidade disso.
Agora, vendo toda a porcaria que Cami trouxe com ela, estou
feliz de não ter empacotado muita coisa. Não há aqui espaço
suficiente para nós as duas.

E nada de sexo para mim também? —Que ideia mais


esquisita é essa?

Ela ri.

—Eu sabia que você ia adorar.


—Hum, desculpe-me. Você acha que me conhece bem?

—Eu sabia que você ia adorar esta ideia... quando eu lhe


dissesse como isso seria bom para os meninos. Li um artigo
sobre os benefícios da antecipação. Sexualmente falando.
Então, eu comecei a pensar sobre o quanto isso faria os caras
sentirem a nossa falta, se não estivéssemos tão... acessíveis.
Eles irão nos apreciar muito mais e vão perceber a sorte que
têm de nos ter. —Cami acena com a cabeça lentamente, de
forma significativa, até eu começar a ver onde ela está
querendo chegar.

—Ohhh, eu acho que consigo ver o que pretende com


esta ideia.

Cami sorri.

—Isto não significa que não podemos provocá-los. E fazer


com que eles desejem que estivéssemos mais... disponíveis. Só
que não estaremos. Só estaremos mais acessíveis depois do
casamento.

—Certo. —Digo, concordando com a minha cabeça.

—Mas você tem que cumprir o combinado, Jenna. Não


pode ceder.

Já estou reconhecendo o mérito do seu plano e como ele


pode deixar as coisas muito boas para mim e para o Rusty.

—Não ceder à tentação, —eu concordo. —A menos que


Rusty finalmente diga que me ama. Se isso acontecer, eu vou
estar em cima dele como uma abelha em cima do mel. —Cami
franze o nariz, quando me olha.

—Ok, má analogia. Eu simplesmente não o largarei


nunca mais. Melhor assim?

Sua sobrancelha suaviza.

—Muito melhor. —Ela coloca as mãos dentro da sua


mala e pega mais roupas, algumas já estavam em cabides. Ela
vai até o armário e começa a colocá-las na metade vazia. —
Então, ainda não houve nenhum avanço nessa questão, ele
ainda não disse que a amava?

Suspiro.

—Não. Eu sei que ele me ama. Bem, pelo menos, eu acho


que sim, mas é como se ele estivesse bloqueado quando se
trata deste assunto. E, parece que ele irá fazer o possível para
não me dizer.

—Bem, desde que você saiba...

Sinto os meus lábios se curvarem numa careta, e eu não


consigo evitar franzi-los com desgosto. —Mas isso não é o
suficiente. Eu preciso ouvi-lo me dizer isso. Preciso acabar
com as minhas dúvidas, ter a certeza que ele me ama.

—Alguns caras simplesmente não gostam de expor os


seus sentimentos, Jenna.
Sento na cama, com os ombros caindo para frente,
enquanto pego a colcha.

—Eu sei. Mas espero que Rusty não seja um deles. Você
sabe como eu sou, Cami. Gosto das coisas simples. Acho que
não poderia viver a minha vida sempre me interrogando se ele
realmente me ama, se estou errada em relação a ele, ou se
tudo isto é fruto da minha imaginação.Eu não quero fazer
planos para o meu futuro, planos que o incluem, e....

O suspiro de Cami me interrompe.

—Isso significa que você conseguiu as entrevistas?

Eu não posso deixar de sorrir.

—Sim. Ambas.

—Jenna, que incrível! Ai meu Deus, isso é o que você


realmente queria.

—Eu sei, mas você consegue ver como isto está me


estressando? Eu não quero fazer planos para o meu futuro,
até que eu saiba que está tudo certo com Rusty. Quero dizer,
ele já pensa que eu sou aquele tipo de moça que não se prende
a nada e isto só vai fazer parecer que ele está certo.

—O tipo de moça que gosta de ir embora?

—Sim. Ele está sempre a provocar-me, dizendo que eu


sou muito inquieta para esta cidade, sobre o fato de eu ter
planos que são grandes demais para esse lugar. Eu nunca
tentei esconder o quanto eu odeio este lugar ou o quanto eu
quero viver em uma cidade maior. Talvez Atlanta. Mas, às
vezes, acho que ele nos vê como... temporários, por causa
disso. Ele acha que sou algum tipo de criança selvagem que
nunca vai sossegar.

—Você é uma criança selvagem, Jenna. Mas isso não é


uma coisa ruim. É quem você é. É o que faz todos nós te
amarmos tanto.

—Mas isso não significa que eu vou desiludir ou tratar


mal quem eu realmente amo.

— Sim, você tem razão. E, tenho certeza, que o Rusty


sabe disso também. No fundo, ele sabe disso.

—Esse é o problema. Eu não tenho certeza. Os seus pais


abandonaram-no quando ele era pequeno, e acho que isso
ferrou a sua cabeça.

Cami encolheu os seus ombros.

—Talvez você tenha razão, mas ele pode superar isso.


Você pode mostrar a ele que você está aqui para ficar. Com ele,
quero dizer.

Eu suspiro novamente.

—Isso é o que estou tentando fazer. Mas, às vezes, eu não


tenho certeza se serei o suficiente. Talvez, o Rusty é que seja
aquele tipo de cara que quer partir, que não se prende a nada,
nem a ninguém. Talvez o medo sempre vá impedi-lo de se
comprometer, de amar alguém como ele deveria, de criar
raízes. Isso é o que é importante, eu preciso saber o que ele
pensa, o que ele quer, para que eu possa seguir em frente, de
um jeito ou de outro. Mas estou com medo, apavorada em
contar-lhe sobre as entrevistas. O que isso significará para
ele? E, se ele pensar, que estou dizendo que vou deixá-lo e não
apenas esta cidade? O que irá acontecer se...

—Ele vai ficar por você, Jenna, —Cami interrompe,


quando ela termina de pendurar as suas roupas. Quando elas
estão todas muito bem arrumadas no meu armário, ela senta-
se comigo na cama, me batendo com o ombro até que eu olho
para ela. —Por você. Confia em mim. Esse rapaz te ama, não
importa o quanto ele tente negar. Basta dar-lhe tempo.

—Estou tentando. Estou tentando.

—Está vendo? Meu plano é uma boa. Talvez ele perceba


que não pode viver sem você. Que ele não quer tentar viver
sem você.

—Eu estava esperando que ele percebesse isso durante


uma das muitas e muitas semanas em que ficamos separados,
quando eu estava na escola, mas acho que ele ainda não sabe
o que quer.

Cami dá um tapinha no meu joelho.

—Agora você está de volta, em casa. E a faculdade


terminou. Talvez, agora, ele veja o quanto gosta de ter você por
perto. E quão terrível seria, se você tivesse um emprego em
Atlanta e não conseguisse voltar, tão frequentemente, como
quando estava na faculdade.

—Acredito que sim. Eu não posso esperar para sempre.

—Você não vai precisar. Eu prometo.

Eu só espero que ela esteja certa.

Afastando os pensamentos depressivos que estão


ameaçando estragar o bom humor de minha melhor amiga, eu
pulo para fora da cama e levo Cami comigo.

—Vamos lá, minha mulher sábia, eu acho que o meu Pai


Fab 1tem algo delicioso esperando por nós na cozinha.

Nós duas nos referimos ao meu pai como - Pai Fab -


desde que me lembro.

—Deus, eu queria que o meu pai cozinhasse como o seu.


E fosse tão doce quanto o seu.

—Mas, então, ele não seria Jack Hines, não é?

Cami suspira. —Não. E Deus me livre que eu tenha uma


relação de família que não me dê indigestão para o resto da
minha vida.

—Você e Trick são perfeitos um para o outro. Porém, a


vida das pessoas nunca é completamente sem problemas.
Deus nos dá a cruz que podemos carregar. A vossa vida estava

1
Fabuloso, maravilhoso
malditamente perto de ser perfeita, porra. —Eu lhe digo à
medida que caminhamos para a cozinha.

—Olhe a sua linguagem, mocinha. —Meu pai, Cris


Theopolis, me repreende a partir do outro lado da ilha da
cozinha.

—Desculpe pai. —Respondo formalmente, em tom de


brincadeira.

—Então... —ele começa a conversar, enquanto acumula


uma pilha de torradas e bacon francês em duas chapas: —
Hoje, o que vão fazer as minhas duas meninas favoritas?

Eu vejo como ele chuvisca o seu xarope de pêssego


caseiro sobre as torradas. Dá-me água na boca.

—Oh, apenas coisas de meninas. Coisas do casamento.


Você sabe, coisas divertidas.

—Cami, isso vai ser bom para Jenna —Papai diz,


enquanto desliza um prato na frente dela. —Talvez isso vá
fazê-la querer sossegar e dar alguns netos para este velho.

—Você não é velho o suficiente para os netos, papai.

—Claro que eu sou.

—Você não parece.

—Você está me bajulando, eu já poderia ter alguns netos,


apenas estou muito bem conservado.
—Eu sei. Eu tenho os seus genes da juventude e a sua
personalidade vencedora.

—Não vamos esquecer uma dose dupla de humildade. —


Meu pai diz ironicamente.

—Como eu poderia esquecer isso?

—Sim, de fato, como poderia esquecer? —Diz ele, rolando


os olhos. —Bem meninas, isto deve dar-lhes energia suficiente
para lidar com qualquer quantidade de emoção por causa do
casamento, assim, comam.

Olho para Cami. Ela já está segurando um pedaço e meio


de torrada. —Você não tem que dizer duas vezes.

Papai pisca para mim, e se inclina sobre a ilha para


acariciar a minha cabeça, tal como ele sempre fez. Ele é uma
das melhores coisas quando volto para casa. Esta cidade não é
exatamente o meu lugar favorito, mas há alguns aspectos
positivos. E, dois deles, estão na sala comigo, agora. Se não
fosse por eles, e Rusty, é claro, eu provavelmente nunca mais
voltaria.

Rusty, penso nele com um suspiro interno, enquanto dou


uma mordida na torrada. O fato de ser uma criança selvagem
pode influenciar o meu futuro.
Capítulo 02

Rusty

—Quem veio com essa ideia ridícula? —Eu pergunto.

Trick levanta a cabeça por cima do capô de um caminhão


Chevy 67.

—É difícil dizer. Eu apostaria em Jenna. Isso soa como


um plano perverso dela, você não acha?

Pensando por alguns segundos, eu tenho que concordar.

—Você, provavelmente, está certo. Ela deve ter lido em


alguma revista, ou algo assim, que depois de um tempo de
castidade o sexo seria melhor ou alguma besteira desse tipo.

—Isso soa como Jenna. E, apesar de eu ser a favor de


sexo fabuloso, agora posso te dizer que isso é desnecessário.
Não acho que seja possível a minha vida sexual ficar melhor.

—O mesmo aqui. Jenna é gata quente e fantástica na


cama.

Trick ri.

—Eu não estou surpreso. Eu já achava isso mesmo dela.


—Certo. Então, o que diabos é isto?

—Quem sabe? Elas são mulheres. Eu não acho que o


próprio Deus entende o que elas fazem às vezes.

—Cara, —eu digo, estendendo a minha mão para Trick


bater. E ele faz. —Não poderia estar mais de acordo.

—É claro, talvez Jenna queira mostrar-lhe o que está


perdendo. Você sabe, já que você é um covarde, não lhe
dizendo como se sente.

—Eu não sou um cobarde, seu idiota! Jenna e eu nos


entendemos. Nós dois sabemos que ela não é do tipo de ficar
por aqui.

—Não, ela não é, mas você sempre quis abrir uma


garagem em algum lugar perto de uma cidade maior, de modo
que você poderia fazer restaurações clássicas de alto nível.
Então, qual é o problema?

Eu dou de ombros.

—Não há nenhum problema. A Jenna é que se sente


inquieta. É o que é. Às vezes, as pessoas partem, não importa
o quanto você quer que elas fiquem. Confie em mim, Jenna
sabe como as coisas funcionam.

—Cara, eu acho que você não conhece essa menina, nem


a metade do que acha que conhece. Isso ou você está apenas
tentando perdê-la.
—Me diga, por que eu iria querer fazer isso?

—Sei lá. Você é o único que está problemas.

—Problemas? Vá se danar. Eu não tenho problemas.

—Claro que não. É perfeitamente normal um cara ser


absolutamente idiota e não contar à uma mulher como ele se
sente até perdê-la.

—Na verdade, provavelmente, isso é perfeitamente


normal. Essa maneira de atuar vem de ter bolas.

—Ou não ter bolas.

—Deus, você está intratável esta manhã. Qual é o seu


problema?

—Você acha que eu estou ansioso em dormir sozinho só


porque a sua namorada achou que seria uma experiência
legal?

—Hey, nós ainda não sabemos de quem foi essa ideia.


Não culpe a minha namorada. Foi, provavelmente, a sua noiva
que teve a ideia. Você está se casando em um par de dias.
Talvez haja algum tipo de superstição antiga e Cami leu sobre
isso.

Trick levanta a cabeça novamente.

—Por que ainda estamos falando sobre isso?

—Porque eu já tenho as bolas azuis, é por isso.


Trick ergue uma sobrancelha.

—Bem, então, nós vamos ter que fazê-las sofrer, até que
elas peçam para acabar com essa coisa estúpida.

Meu sorriso é lento e posso vê-lo refletido no rosto do


meu melhor amigo. —Oh, claro que sim, porra.

Eu gosto do som disso.


Capítulo 03
Jenna

Eu não posso esperar para Rusty ver o que estou


vestindo. Me vesti especificamente para torturá-lo.

Esta manhã, Cami e eu fizemos todos os tipos de saladas


e sobremessas para levar ao chá de panela com churrasco, na
casa dela. É um evento que não segue a tradição, mas ela
queria que Trick participasse de tudo com ela. Portanto, agora,
o chá de panela incluí o noivo, e a festa de despedida de
solteira de amanhã à noite, vai incluir os homens. Louco para
caramba, se você me perguntar. Mas ela não quer saber. Ela
quer Trick em tudo isso, e quem sou eu para tentar dissuadi-
la? Além disso, ela me deixou planejar a festa de despedida de
solteira. Só isso, já valeu a pena por milhares de outros
compromissos.

Há uma dúzia de carros estacionados ao longo do lado da


estrada que leva à casa de Cami, mas alguém colocou um
cavalete no lado da calçada onde ela geralmente estaciona.
Meu palpite é que foi Trick, salvando uma vaga para sua
noiva. Não vou negar que isso me provoca um pouco de inveja.
Eu quero isso para mim. Com Rusty. E se ele nunca chegar a
esse ponto?
E isso é um grande se.

Saio e retiro o cavalete para Cami poder estacionar. Nós


não perdemos tempo, e enchemos os braços com os pratos
embrulhados em papel alumínio, indo diretamente para o
quintal.

Eu olho em volta, enquanto caminhamos, mas Rusty está


longe de ser encontrado. Ele e Trick, devem estar fazendo
algumas coisas viris lá dentro. Seja o que for. Se eu tivesse
que adivinhar, diria que se trata de beber cerveja em algum
lugar da casa.

Cami e eu, estamos colocando os pratos em uma longa


mesa, coberta por uma tolha, quando vejo a porta do pátio se
abrir e Trick surgir. Sei que Rusty não vai estar muito longe
dele. E ele não está. Ele entra, segurando uma cerveja, como
Trick. Ambos estão rindo de alguma coisa. Viro-me para
encará-lo e esperar que os seus olhos me encontrem.

Quando o fazem, sinto o calor dos seus olhos azuis


brilhantes e sorrio, quando ele para de andar. Mesmo a esta
distância, posso dizer exatamente onde os seus olhos estão
passeando pelo meu corpo. Ele começa nos meus pés,
demorando-se nas minhas sandálias, de tiras sensuais. Então,
o seu olhar passa lentamente pelas minhas pernas, fazendo-as
formigar. Eu posso dizer o instante em que ele chega à bainha
irregular dos meus shorts de brim azul. Posso quase sentir os
seus dedos traçando a borda dos shorts, provocando o elástico
da minha calcinha por baixo. Eu aperto as minhas coxas para
parar a dor que começou no instante em que o vi. Não merece
a pena negar, pois acontece sempre isto.

Depois, os seus olhos continuam a subir, viajando sobre


a fatia de pele exposta em meu estômago até a borda da minha
t-shirt e, em seguida, param em meus seios. Eu vejo o seu
peito subir e descer com a respiração profunda, e os meus
mamilos tornam-se bicos pontudos. Vejo a boca de Rusty abrir
um pouco, e me pergunto se ele pode vê-los através da minha
camisa. Tenho a certeza que ele sabe que eles estão
implorando por sua boca.

Quando o seu olhar encontra o meu, eu sei que acertei.


Seus olhos estão atirando chamas azuis. E, o meu corpo,
reage a isso.

Muito lentamente, ele caminha em minha direção. Eu


não posso deixar de ficar animada quando o vejo. Seu andar
solto é como o de um leão, perseguindo a sua presa. E, eu
adoraria ser a presa de Rusty. Para ele me perseguir até me
pegar, me agarrar com as mãos, e me segurar para que ele
possa me devorar.

Caramba, mulher! Você tem que parar de pensar assim!

O corpo de Rusty é quase tão familiar para mim quanto o


meu. Quando vejo o seu cabelo castanho escuro, que aponta
para cima em todos os ângulos, os seus ombros largos
envoltos em algodão marinho confortável, e os seus jeans
rasgados que abraçam as suas coxas de forma perfeita,
considero abandonar o plano da Cami e pedir a Rusty que me
leve lá para cima e me deixe fazer alguns rasgos novos em sua
roupa.

Mas, quando olho em seus olhos, eu não sei. Vejo desejo


neles, mas também vejo outra coisa. Algo que eu sei que vai
fazer a pena esperar. Pelo menos, até que eu não aguente
mais. Por isso, continuo sorrindo, quando ele para na minha
frente.

—Maldita seja, mulher. —Ele respira, inalando


profundamente, e sinto a sua respiração tocar o meu peito.

Olho para ele com a minha expressão mais inocente, e


pisco os meus olhos arregalados para ele.

—O quê? —

—Você usou isso só para mim, não é?

Eu passo os meus dedos da minha clavícula até entre


meus seios e o estômago.

—O quê, estas roupas velhas?

—Sim, essas roupas velhas. —Rusty diz, olhando para a


esquerda e a direita. Em seguida, dá um pequeno passo para
mais perto de mim. Eu posso sentir as suas coxas contra a
minha e também posso sentir a crescente protuberância entre
elas. —Essa camiseta faz com que as minhas mãos cocem
para sentir os seus mamilos, —diz ele, puxando a barra da
minha camiseta, a parte traseira de sua mão fazendo cócegas
no meu estômago. —E esses shorts, que são tão curtos, que eu
poderia deslizar meus dedos até debaixo deles, —diz ele,
colocando uma mão entre nós, sobre a minha coxa. —E sentir
a sua calcinha úmida.

Estou sem fôlego. Já. E, eu sei por experiência própria,


que isto só vai piorar. Rusty faz comigo o que ninguém mais
no mundo pode fazer ou já fez.

—O que faz você pensar que ela está úmida?

—Porque eu sei, e porque eu a conheço, baby. Eu sei que


você a colocou com o pensamento que eu iria tirá-la. Eu sei
que, mesmo agora, você está querendo que eu a leve lá para
cima e tire cada uma dessas roupas de você e que eu faça...
Coisas para você.

—Talvez você esteja certo, —eu sussurro. —Mas nós dois


sabemos que não vai acontecer, por isso não importa.

—Isso vai deixar você tão miserável quanto eu.

—Talvez.

Ele me lança um sorriso desbotado. —Oh, não. Você vai


sentir-se miserável. Vou fazer isso acontecer.

Eu levanto uma sobrancelha. —É mesmo? Bem, então


vamos ver! Touché, gatinho.

—Touché, de fato. —
Com uma piscadela que transforma as minhas entranhas
numa desordem, Rusty dá um tapa em minha bunda, antes de
se mover sobre mim, o ombro tocando os meus mamilos
doloridos. Fecho os meus olhos, por um segundo, me
perguntando se isto pode realmente machucar e me deixar
salivando.

* * * * * *

Caio pesadamente em uma das almofadas grandes da


cadeira do pátio.

—Ufa! Fico feliz que acabou.

Ouço o suspiro de Cami. Ela está sentada no sofá ao ar


livre, com as pernas enroladas debaixo dela, e inclinada para o
lado de Trick.

—Eu também. Isto foi cansativo!

—Mas, pelo menos, não foi constrangedor. Eu estava


certa que o presente do Rusty seria uma cadeira de sexo e você
teria que explicar isso para a sua mãe.

—Rusty, o quê…? —Rusty pergunta, quando aparece na


porta, saindo para o pátio.

—Eu estava dizendo a eles que achei que você ia dar-lhes


algo como uma cadeira de sexo.
Ele sorri, e se senta em uma cadeira ao lado da minha.

—É por isso que eu quis comprar o presente sem você.


Eu queria mostrar que posso ser um cara comum, às vezes.

—Então, você está dizendo que um cooler e um barril


refrigerador foi sua única ideia de um cara normal?

—Eu não disse isso.

—Ah-ha! Eu sabia!

—Olha, eu sou um cara. É claro que eu pensei em uma


cadeira do sexo. Mas, achei que uma mulher idosa, de cabelo
azul e púdica, poderia ter um ataque cardíaco quando fosse
desembrulhada. Ou, que o pai de Cami poderia chicotear
minha bunda.

—Eu ficaria feliz em deixar Jack chicotear sua bunda por


um presente como esse.

—É claro que você ficaria! Mesmo que a amasse tanto.

—Bem, eu acho que você fez um ótimo trabalho, baby. —


Cantarolo para ele.

—Ótimo o suficiente para obter algum tipo de


recompensa? —Pergunta ele, balançando as sobrancelhas
para mim.

Faço uma pausa por alguns segundos. —Claro. O que


você tem em mente? —Eu sei exatamente o que ele tem em
mente, mas quero ouvir. Mesmo que não possa fazer o que ele
quer, eu ainda gosto de ouvir o que se passa na sua cabeça.

—Que tal irmos mergulhar pelados?

Animo-me instantaneamente. Não só por que soou


agradável e refrescante, mas parece divertido. Quente,
divertido e brincalhão.

—Depende. —Eu digo, ficando de pé. —Vocês dois vêm?


—Pergunto a Cami.

Ela olha para Trick e sorri. —Sim, eu acho que nós


vamos.

—Vamos? —Pergunta ele.

—Se você quiser me ver com o nada que estou usando


agora, então sim, nós vamos.

—Estou dentro. —Trick responde com entusiasmo. Todos


rimos.

Nós quatro caminhamos pelo quintal, banhado de brisas


quentes e de luar. Parece a noite perfeita para um encontro
impertinente, o que irá deixar a situação muito mais difícil...
não saciar nossos desejos. Mas acho que Cami está certa. Esta
será uma boa maneira de fazer Rusty ver o que ele está
perdendo. Talvez ele perceba que não quer ficar sem mim. E
que vale a pena tentar, de qualquer maneira. Rusty vale um
monte de tentativas.
Andamos um atrás do outro pela floresta. Eu já ouvi
Cami falar da lagoa em sua propriedade, e o quanto ela e Trick
amam visitá-la, mas nunca fui lá. Quando não há mais
árvores, nos deparamos com uma clareira oval dominada por
uma lagoa de água doce espumante e absolutamente
silenciosa. Eu posso ver porque é um de seus lugares
favoritos. Seria um dos meus também.

Trick e Cami vão para o outro lado do lago. De onde


estou, eu mal posso distinguir seus sussurros e risadinhas. É
apenas privado o suficiente sem que haja ... problemas.

Quando sinto um toque na minha bunda e Rusty aparece


ao meu lado, não penso em ninguém, exceto nele.

—Precisa de ajuda com isso? —Rusty pergunta,


arrastando a mão sobre o meu quadril, enquanto fica na
minha frente.

—Eu acho que sim. Este zíper pode ser terrivelmente


complicado. —Digo com falsa seriedade.

—Mmm, também achei isso. —Diz ele, dando um passo


para mais perto de mim. Posso sentir o calor que irradia de
seu corpo, como se não houvesse nada entre nós e já
estivéssemos sem roupa, sem ar, sem separação emocional.
Apenas... Calor. —Mas é melhor começar pela sua camisa. Eu
não quero me enrolar nela quando estiver trabalhando nesse
zíper com defeito. —Seus olhos parecem pretos na escuridão,
sua pupila dilatada oprime o azul de sua íris.
—Eu confio na sua opinião. —Respondo, com meu
coração já a mil.

—Levante os braços. —Ele ordena tranquilamente, seus


olhos nunca deixando os meus.

Obediente, elevo os meus braços sobre a cabeça, e


espero. Rusty me olha por alguns segundos, antes de
pressionar as palmas das mãos em minha cintura e as deslizar
lentamente para cima, acariciando as minhas costelas, e os
polegares provocarem os meus mamilos, enquanto ele arrasta
o material da minha camisa. Fecho meus olhos por um
instante, enquanto ele corre as suas mãos pelos meus braços.
Quando Rusty remove suavemente a camisa, abro os meus
olhos novamente, caindo de cabeça no desejo que vejo nos
olhos dele.

—Obrigada. —Falo baixinho.

—Agora, essa coisa irritante, —ele brinca, enquanto


desliza o dedo sob a alça do meu sutiã. —Eu tenho certeza que
ele poderá atrapalhar.

—Também tenho certeza. —Concordo, me esforçando


para me lembrar do meu objetivo, para que eu não fique
perdida no momento.

Rusty me envolve em seus braços, e abre o gancho do


meu sutiã com um simples toque de seus dedos. Ele corre as
mãos sobre meus ombros e meus braços, removendo as alças.
Vejo seus olhos piscarem para baixo. Meus mamilos
apertam quando o ouço chupar uma respiração através de
seus dentes cerrados. Eu sei que ele quer tocá-los. Ele adora o
meu corpo. Ele já me disse, umas mil vezes, que adora cada
centímetro dele. Mas desta vez, ele vai ter que amá-lo à
distância. Mesmo que seja a uma curta distância.

—Meus shorts. —Eu peço, sabendo que estou


perigosamente perto de ceder à necessidade que sinto de o
tocar.

O olhar de Rusty se encontra com o meu. Ele não se


move. Ou fala. Apenas me olha. Eu sei que ele está lutando
para não me tocar. E eu o deixo lutar.

Finalmente, ele cai de joelhos e coloca a mão na minha


cintura. Cuidadosamente, ele desabotoa os meus shorts e,
lentamente, os tira. Ele não me toca, exceto quando se inclina
para a frente, apenas o suficiente para pressionar os lábios na
borda superior da minha calcinha.

Calor flui para o meu interior, e o meu corpo pulsa,


desejando que ele me beije mais embaixo. E, depois me
continue beijando, ainda mais embaixo. Mas, ele não o faz. Ele
tem o seu rosto tão perto de mim que posso sentir a sua
respiração. Rusty puxa os meus shorts pelas pernas, e, depois,
faz o mesmo com minha calcinha.

Quando estou em pé diante dele, toda pelada, apenas


com os sapatos calçados, sentindo uma paixão por ele que
parece nunca morrer, ele olha para mim. Por alguns segundos,
acho que acabou. O jogo já durou o suficiente. Ele vai-me
beijar e eu vou deixar. Mas ele não o faz. Em vez disso, Rusty
lentamente se levanta, e diz:

—Sua vez.

Eu chuto os meus sapatos, inalo profundamente, e


enrolo os meus dedos na bainha da camisa dele. Eu puxo,
deixando as minhas mãos tocar sua pele dura e lisa, tanto
quanto eu quero. Posso sentir cada ondulação de seu
abdômen, cada protuberância dura de seu peitoral, mas não
sigo meu desejo de pressionar meus lábios neles.

Estico-me na ponta dos pés para puxar a camisa sobre


sua cabeça. Ele é mais alto do que eu, então tenho que
balançar um pouco em direção a ele para chegar alto o
suficiente. Meus seios roçam o seu peito, e eu suspiro. Eu não
consigo evitar, a sensação da sua pele tocando os meus
mamilos causa flashes de luz através de mim como um raio,
quente e elétrico.

—Jen-na. —Ele adverte rispidamente.

—Desculpe. —Eu ofego. Jogo a camisa para o lado e caio


de joelhos na frente dele. Estendo a mão para o botão da calça
jeans. Faço uma pausa com os dedos dobrados dentro de sua
cintura e olho para ele. Seu rosto está definido em pedra e sua
mandíbula está fechada. Sei que é difícil para ele. E quando
deixo os meus olhos viajarem para baixo, posso ver a enorme
protuberância, o que me garante o quão difícil é para ele.
Impulsivamente, eu me levanto e pressiono meus lábios nos
dele. Ouço-o gemer, e seus dedos enroscam em meu cabelo,
segurando-me por alguns segundos, antes dele puxar minha
cabeça.

—É melhor você se apressar ou tudo isso acabará aqui


mesmo. —Diz ele com voz rouca.

Eu sorrio para ele. —Não consegue lidar com isso? —

Ele abre a boca para dizer algo, mas para, apertando os


dentes. Ele me olha por um tempo, antes de curvar os lábios
em um sorriso.

—Vamos ver quem pode lidar com o quê. —Ele responde,


cruzando os braços sobre o peito. —Continue.

Ele está se preparando contra mim, o que me faz querer


provocá-lo muito mais. Eu quero quebrá-lo. Quero que ele
ceda, que não consiga me resistir. Quero que ele abandone
tudo por mim, por que sente a minha falta, por que me ama.
Isso é tudo que eu sempre quis de Rusty, a sua devoção. O
mesmo tipo de devoção que tenho por ele.

Com determinação, sorrio para ele, me abaixo e


desabotoo sua a calça jeans. Estendo a mão para o zíper, e
com facilidade, o abro sobre a sua ereção. Ignoro o pulsar
entre as minhas pernas. Trata-se de Rusty.
Corro as minhas mãos em volta de sua cintura e deslizo-
as sobre o seu bumbum, empurrando para baixo a calça
jeans, enquanto acaricio as costas de suas coxas, deixando
meu queixo roçar em sua barriga.

Com os olhos brilhando, Rusty olha para mim. Sinto-o


mudar quando ele arranca os sapatos e as meias. E,então, ele
fica à espera. À espera de eu terminar.

Eu coloco os meus dedos no interior de suas pernas e


acaricio o fundo da sua cueca boxer, corro os dedos para que
eu possa sentir o vinco onde suas coxas encontram os
quadris. Vejo ele se contorcer por trás do algodão branco.

Subindo as minhas mãos, chego até o elástico da cueca e


a puxo, liberando cuidadosamente o seu pênis, antes de
arrastá-la pelas suas pernas. Quando ele sai dela, seguro as
suas coxas enquanto me levanto. Quando deixo a minha boca
passar pelo seu comprimento duro, passo minha língua ao
longo da veia grossa que vai da base à ponta.

Posso ouvi-lo rosnar, e sorrio quando fico de pé na frente


dele.

—Pronto?

—Para mergulhar nu? Claro. —Ele responde, com um


sorriso lento chegando ao seu rosto.

Com uma velocidade impressionante Rusty me joga por


cima do ombro. Eu grito de surpresa e de alegria quando ele
sai correndo em direção à água e
salta da beirada, mergulhando-nos
na lagoa escura e fresca.

Capítulo 04
Rusty
Está tarde, e eu ainda não consegui dormir. Cami e
Jenna pediram que eu ficasse com Trick durante este período
forçado de celibato. Acho que cada um de nós deve tomar
conta do doutro, certificando-se que ninguém trapaceie. E é,
provavelmente, uma boa ideia, porque se alguma vez houve
uma noite em fosse provável eu subir em uma árvore para
tentar chegar a Jenna através da janela de Cami, hoje à noite,
sem dúvida, seria essa noite.

Apenas o pensamento de ouvir Jenna rir quando nós


brincamos na água, apenas a memória da sua brincadeira de
envolver os braços e as pernas em volta de mim e pressionar
os lábios frios nos meus, que o seu corpo apertado e quente
esteve a centímetros do meu pau bem duro, é o suficiente para
manter um homem acordado à noite.
Com um grunhido, jogo as cobertas e ando pela sala até
à cozinha. Tenho que rir, quando encontro Trick sentado na
ilha da cozinha, no escuro, tomando uma cerveja.

—Que diabo aconteceu, homem? —Diz ele, quando


acendo a luz.

—Se não está dormindo, vamos beber. Vá buscar seu


estoque de cerveja no andar de baixo. Vamos precisar de
muito mais do que aquilo que está na geladeira.

—Esta vai ser uma semana longa, não é?

—Claro que vai!

Nós dois suspiramos, e Trick levanta-se para buscar mais


cervejas. Eu ando até à geladeira e tiro as cervejas geladas
para dar espaço para as outras que virão. Eu acho que nós
vamos ter estas bebidas em menos de uma hora.

Balanço minha cabeça enquanto penso novamente em


Jenna. Eu não sei o que essa menina está tentando fazer
comigo, mas se isso incluir morte por excesso de excitação, ela
está indo bem.
Capítulo 05
Jenna

Já passou da hora do almoço, e estou pensando em


Rusty ainda mais do que o habitual, o que costuma ser muito.
Essa história toda de “não me toque” (ou, pelo menos, não
toque demais em nada) está me consumindo. Mas de uma
maneira boa. Por alguma razão, eu quase me sinto mais perto
de Rusty, como se estivéssemos compartilhando uma piada
privada. Eu acho que estamos partilhando, na verdade. A
piada particular é como os preliminares. E, nenhum de nós,
sabe até onde podemos ir, antes de ceder.

Metade da diversão é nos torturar-mos, antes de


cedermos ao nosso desejo.

—Então, eles vão nos encontrar lá, certo? —Pergunto a


Cami, que está sentada no banco do passageiro do meu carro,
brincando com seu telefone.
—Sim. Pela milionésima vez, sim! Eles deverão estar lá
cerca das 13h30.

—Ok. —Digo com um sorriso. Cami volta a sua atenção


para o telefone e digita algo furiosamente. —O que diabos você
está fazendo?

A cabeça de Cami estremece, e ela me olha com ar de


culpada, protegendo seu telefone celular contra o peito.

—Nada. Por quê?

Eu suspiro.

—Você está fazendo sexo por telefone!

—Não estou.

—Você está! Você está tendo um pouco de sexo sujo! E


nem se preocupou em esconder. Suas bochechas estão
vermelhas como um tomate e as suas pupilas estão enormes!

Cami sorri. —Elas estão?

—Oh meu Deus, vocês dois são horríveis!

—Você diz isso como se não fizesse o mesmo.

—Eu não mandei mensagem sobre coisas quentes a


Rusty desde que você me disse que estávamos fazendo essa
coisa... de ficar sem sexo.

—Sério? Estou impressionada.


—Você deveria estar, você garota, é uma bloqueadora de
macho do caralho!

—Garota bloqueadora de macho do caralho? —Ela ri.

Eu rio. —Eu não sei de onde essa agressividade saiu.


Veja o que a falta de sexo faz comigo?

—Eu percebi que você ia ceder. Você não é de ficar sem


sexo.

—Nem você. Pelo menos, não quando estamos falando de


Trick.

Ela sorri amplamente.

—Ele faz com que seja extremamente difícil fazer isto.

Meu suspiro é melancólico, com pensamentos sobre os


talentos... os instrumentos de Rusty.

—Tem que amar um homem que sabe fazer magia em


suas calças.

Às 13h22, Cami e eu estamos chegando no


estacionamento que fica fora da Loja Crazy Clawn Costume,
em Summerton. A cidade só fica a alguns quilômetros de
Greenfield, South Carolina. Nós saímos e caminhamos até à
porta, paramos para olhar uma imagem em papelão, em pé na
calçada, como uma orgulhosa sentinela bipolar, na entrada da
loja.
O cara está vestindo uma peruca vermelha, um nariz
vermelho mole, seu rosto está pintado de branco com um
sorriso grande e tem um tom de preto ao redor de sua boca.
Do pescoço para cima, ele é um palhaço. Mas a partir da
cintura para baixo, é uma história diferente. Ele está usando
uma gravata borboleta leve e graciosa, punhos e antebraço
como Conan, o Bárbaro, roupa interior com uma tromba de
elefante. É uma espécie de traje aglomerado.

—Por favor, Deus, me diga que você não pegou nada


disso para o Trick. —Cami diz, enquanto nos aproximamos da
porta, interrompendo os meus pensamentos.

Eu rio. —Bem, não todo ele.

Ela olha para mim e os cantos dos seus olhos se


estreitaram, eu sorrio de forma angelical.

A campainha soa quando atravessamos a porta de


entrada da loja. Um homem pequeno, de pele morena, usando
roupa de travesti- quero dizer, parecendo mesmo uma mulher
– nos cumprimenta perto da caixa registradora.

—Bem-vindas senhoras. —Diz ele, silibando.

Suas roupas são bastante femininas —mini vestido rosa


de paetês, agasalho de penas pretas, meias arrastão pretas,
plataformas de bolinhas cor de rosa, peruca rosa de seda, em
linha reta e partida de lado. Mas são os mamilos masculinos
rasos, visíveis acima do decote do vestido, que revelam o sexo
do funcionário à distância. Isso e a protuberância de cerca de
seis centímetros abaixo do umbigo.

—Eu sou Loretta. Posso ajudá-las a encontrar alguma


coisa?

Loretta?

O que eu pensei que era a voz de uma mulher fumante


no telefone aparentemente... Não era. Loretta é um homem.

—Eu sou Jenna. Liguei alguns dias atrás sobre algumas


fantasias para casal.

Loretta joga as mãos para o ar e sua boca forma um O de


excitação. —Oh, menina! Eu estive esperando por você. Eu
não posso esperar para você ver o que eu tenho para os caras.

Loretta, em suas plataformas, se dirige para mim, pega


minha mão e começa a me levar para o fundo da loja.
Rapidamente, pego o pulso de Cami. Se eu for, ela também
vai.

A parede de trás da loja é revestida com filas e filas de


prateleiras de metal. Não, Loretta não para, até que chegamos
no canto direito, de frente para uma prateleira, que fica
debaixo de uma placa que diz: Theopolis.

—Eu já reservei dois ou três tamanhos diferentes em


todos os trajes que você pediu.Eu tive cuidado com eles para
não os amassar . É a única coisa que eu gosto direita, sem
estar amassada. —Diz ele com uma piscadela e um cotovelo
nas minhas costelas. — Reservei trajes em tamanhos
diferentes. Eu sei o quão grandes esses meninos alimentados
podem ser. —Ele agita as sobrancelhas comicamente e
delicadamente dá um tapa em meu ombro. Eu rio, sem
rodeios.

—Bem, você conhece os seus fregueses. —Eu digo,


afirmando o óbvio. —A maioria dos que entram aqui, devem
parecer muito rudes.

—Mmm, eu me amo um pouco rude. —Diz Loretta com


um sorriso malicioso. —Agora, como vocês vão usar as
roupas? Espere! Não me diga. Deixe-me adivinhar.

Como o especialista que ele obviamente é, Loretta


descreve exatamente o que eu tinha imaginado nos vestindo.

—Droga, Loretta, você é boa! —Eu digo, espantada.

—Menina, eu possuo uma loja de roupa. Tenho um olho


para o animal interior. —Diz ele, confiante.

—Bem, dois dos caras devem estar aqui em poucos


minutos. Eles são os dois que estão nos dando mais trabalho
sobre os trajes. Você sabe como os homens teimosos podem
ser....

Loretta revira os olhos. —Mmm mmm, não sei?

—Então, nós decidimos fazer um pequeno show para


eles, para que, talvez, eles sejam um pouco mais... agradáveis.
Os olhos de Loretta acendem. —Oh, uma passagem de
fantasias? Conte-me tudo, com certeza vou querer ver!

—Eu estava pensando em algo um pouco mais... privado.

Loretta sorri. —Não que eu não aprecie o que você está


pensando, mas este é um negócio público.

—Oh, não tão privado. Eu só estava pensando que


talvez... pudéssemos fazer um pequeno show para os meninos.
Você sabe, deixá-los um pouco mais animados sobre as
roupas. E, nos ver nelas.

—Ohhh, eu vejo onde você está querendo chegar. Ligue


os motores a toda força. Seu desejo será garantido. Menina, eu
gosto como você pensa. E, acho que estes vestiários vão
funcionar muito bem para isso.

Ouço a campainha da porta da frente e meu pulso salta.


Têm de ser eles.

Loretta grita de emoção. —Devem ser eles. Vocês,


meninas, vão para lá, —diz ele, apontando para uma porta
com cortina. —Há duas salas separadas que podem ser
usados para a passagem de modelos. Sra. Theopolis, você vá
para a esquerda. Querida, você vai para a direita, —diz ele,
falando a Cami. —Eu vou levar o carrinho lá atrás, quando
levar os seus convidados para vocês. —Seus olhos estão
brilhantes e cintilantes. É fácil ver que ele realmente ama o
seu trabalho. E homens. Homens quentes alimentados com
milho.
—Parece bom, —eu digo, agarrando a mão de Cami. —
Vamos, mulher. Temos algumas torturas para infligir.

Antes de desaparecer, eu sussurro alto para Loretta. —


Loretta! O ruivo é meu.

Ele balança a cabeça e me dá uma piscadela. Cami e eu


estamos sorrindo enquanto atravessamos a cortina.
Capítulo 06
Rusty

Eu duvido que muitas coisas teriam me surpreendido


mais do que o homem que me cumprimenta a mim e a Trick,
na porta da loja de fantasias. Acho que a minha boca ainda
estava aberta, quando ele nos empurrou para o fundo da loja,
e através de uma cortina, onde Jenna e Cami estariam nos
esperando. Em algum lugar por lá.

—Eu sou Loretta, —o cara disse, como introdução. —Eu


vou ser o seu anfitrião para a exibição desta tarde. Posso
arranjar-lhe algo para beber, meninos?

Trick e eu olhamos um para o outro, e, em seguida, de


volta para ele e balançamos a cabeça.

—Não, obrigado.

—Tudo bem, então. Vocês podem aguardar aqui, —diz


Loretta, levando-me a uma cadeira vermelha de aparência
confortável e luminosa, posicionada na frente de um pequeno
cubículo privado com uma cortina de veludo preto cobrindo a
porta. —E você vem comigo, —diz ele docemente,
desaparecendo ao virar a esquina. —Vamos começar este
show. —Eu o ouço dizer quando estão indo embora.
Estou sentado na minha cadeira, me sentindo como um
idiota, quando ouço o crepitar de alto-falantes, minutos mais
tarde. Música começa a soar, um pouco antes das luzes se
apagarem. Uma luz aparece para iluminar a cortina espessa.

Eu reconheço a música. Chama-se You Can Leave Your


Hat On, e tem um antigo, tom burlesco. Ele define um estado
de espírito; eu só não sei qual. Até que eu vejo o movimento da
cortina.

Apenas o suficiente para que eu ver um joelho saltar para


fora, em sintonia com a música. Uma perna estica. É cheia de
curvas e coberta por uma meia arrastão, com uma liga na
metade da coxa. No pé, há um obscenamente alto salto preto
brilhante. As peças da cortina se abrem e Jenna entra a
passos lentos para fora do camarim.

—Oh droga. —Eu respiro, de repente me aquecendo para


a ideia de fantasias. Jenna sorri e, em seguida, faz uma pausa
e timidamente morde a ponta do dedo, olhando para mim por
debaixo de seus cílios.

—Eu acho que estou tendo alguma dificuldade em


encontrar, exatamente, a roupa certa. Estou procurando
algo... Sexy. O que você acha desta? —Pergunta ela, seus
lábios se curvaram um pouco, apenas o suficiente para ser
sugestivo. Deixo meus olhos deslizarem sobre sua roupa. Ela
está num bustiê cor de rosa e preto, seus seios estão
praticamente derramando para fora de alguns babados e uma
pequena coisa tipo calcinha. E meias de rede. E é isso.
—Ele ficou legal? —Ela pergunta baixinho, deixando as
palmas das mãos deslizarem sobre a curva de seus seios. —
Parece um pouco... apertado. —Antes que eu possa responder,
ela esquiva-se para longe da minha cadeira e se vira, me
espreitando por cima do ombro. Ela mexe a bunda apenas o
suficiente para chamar minha atenção. —Como se parece por
trás?

Eu olho para o rosto de Jenna. Vejo humor em seus


olhos. E calor. Ela está brincando comigo, mas está gostando,
também. Eu sempre amei isso nela.

—O ajuste é bom, mas como é o material? —Eu pergunto,


estendendo a mão para tocá-la. Antes de meus dedos
encostem em seu corpo, ela se endireita e começa a se afastar.

Ela para na porta do camarim, sorrindo para mim.

—Deixe-me tentar outra. Talvez algo que vá agradar a


sua mente ... Um pouco mais.

Quando a cortina se fecha, eu inclino a cabeça para trás


e fecho os olhos. Faz muito tempo desde que eu me
envergonhei em público. Se este é o caminho que esta tarde
vai seguir, talvez eu deva começar a pensar em beisebol. Ou
Margaret Thatcher. Nua. Em um dia frio.

Antes que eu possa conjurar algo ou me distrair nos


meus pensamentos, ouço os anéis da cortina chocalhar.
Então, tudo o que ouço é a música. E o baque das batidas do
meu coração, nos meus ouvidos.
Abro os olhos para ver Jenna mascarada e vestida com
um terno de couro de gato preto, com um zíper prata
cintilante, que vai da garganta até a virilha. Ela pavoneia-se
para mim, batendo um chicote de equitação preto, de couro,
sobre a palma da mão.

Ela para na frente da cadeira, e levanta uma perna para


mostrar o seu pé no braço da cadeira, calçado em lindos e
altos sapatos. Com as pernas abertas, eu vejo como ela arrasta
a cauda do chicote ao longo da coxa, parando apenas no V que
me dá água na boca. —Você gosta deste?

Eu olho para o seu rosto. Posso ver o brilho em seus


olhos quando ela me olha. Ela passa rapidamente o chicote
entre as coxas. Vejo-a separar os lábios como se ela estivesse
inalando ar, só que eu não posso ouvi-la. Ela pode estar
fazendo isso para me torturar, mas ela adorando também.

Estou prestes a tomar esse chicote de suas mãos e


mostrar a ela como eu poderia usá-lo, quando ela vira as
costas e caminha de volta para o lugar de onde veio. Meus
olhos estão colados em sua bunda. O sangue bombeia através
de meu corpo com cada balanço exagerado de seus quadris.

Enquanto espero, por mais que eu tente, eu não posso


pensar em beisebol ou velhas mulheres britânicas nuas. Só
posso pensar em Jenna. E o que ela pode estar usando em
seguida. E o quanto desejo que eu estivesse lá dentro,
enquanto ela se troca.
Quando as peças de cortina abrem uma terceira vez,
Jenna aparece vestindo um vestido branco minúsculo, com
uma cruz vermelha sobre o peito esquerdo. A parte superior é
dividida até o umbigo e, se ela se movesse para a direita, eu
provavelmente poderia ver seu mamilo. Em seus pés, tem
sapatos vermelhos. Em volta do pescoço, um estetoscópio
vermelho.

Ela começa novamente a vir em minha direção, mas


antes de chegar até a mim, ela para, arrastando o estetoscópio
ao redor do pescoço. Ela o deixa balançar em seus dedos, por
alguns segundos, antes de deixá-lo cair no chão, atrás dela.

Com olhos grandes e redondos, ela franze os lábios e diz:


—Oops! —Cobrindo a boca com a ponta dos dedos em um
gesto idêntico ao que Betty Boop faria. Então, em câmera
lenta, ela gira em seu salto alto vermelho e dobra-se para
pegar seu estetoscópio.

Como o vestido é curto sobe em seus quadris, e eu vejo a


curva de seu traseiro e a sombra escura entre as suas pernas.
Maldita seja, ela não está usando calcinha!

Eu não ligo para o lugar onde estamos ou para o fato de


que eu deveria as manter minhas mãos longe dela. Eu
simplesmente me levanto e vou até ela. Jenna me afeta, desse
jeito. Ela me consome. Completamente, às vezes.

Ela grita de surpresa quando a coloco em pé e giro em


torno dela. Puxo-a contra o meu peito, e levo o meu dedo aos
lábios dela. —Shhh... —murmuro, levando-a para o camarim
desocupado.

Uma vez lá dentro, eu puxo a cortina, que se fecha atrás


de nós. Com essa música ainda tocando, eu chego ao redor de
Jenna para sentir o zíper de seu traje. Sua respiração é pesada
quando toca meus lábios. Ela está ofegante.

Eu abro o zíper e puxo o material branco de seus ombros,


despindo-a até a cintura. Ela também não está usando um
sutiã por baixo; a roupa é muito decotada para usar um.
Gentilmente, eu espalmo o seu peito farto, esfregando a minha
mão calejada sobre o mamilo. A boca de Jenna se abre e eu
lembro-a de novo. —Shhh.

Eu dou um beliscão forte e sorrio quando ela afunda seus


dentes no lábio inferior. Curvo a cabeça, e chupo um mamilo
em minha boca, enquanto empurro o seu traje para baixo,
sobre seus quadris. Eu o deixo cair para baixo, à volta das
suas pernas, formando uma piscina no chão.

A respiração de Jenna é irregular, enquanto beijo o seu


corpo até ao seu estômago. Pegando a parte de trás do joelho,
eu empurro para que ela se incline para o canto para não
perder o equilíbrio. Depois, levanto seu pé e o sustento no meu
ombro, abrindo-a para mim.

Eu coloco um beijo na parte interna de sua coxa, antes


de deslizar a minha boca e acariciar a carne úmida, de seda,
entre as pernas. Eu passo minha língua sobre ela, apenas
uma vez, e inalo. —Deus, eu senti falta disso. —Sinto-me
estremecer quando eu exalo ar quente e úmido sobre ela.
Lentamente abaixo a perna e me ajeito para ficar diante dela.
—Eu sinto sua falta.

Os olhos de Jenna estão pesados, os seus lábios estão


tremendo. —Mas eu estou bem aqui. Eu sempre estive aqui.

—Ainda assim, eu não posso ter você. Posso? —Ela me


olha com seus olhos de avelã, mas não diz nada. Gostaria de
saber se ela está pensando a mesma coisa que eu. —Vamos
para casa. Antes que eu cometa um crime aqui.

—Eu não vou impedi-lo. —Responde ela baixinho.

—Oh, não. Quando a hora finalmente chegar, eu quero


você gritando meu nome. Mais de uma vez. —Com um sorriso
que sei que vai deixá-la louca, eu me afasto da cortina, ainda
falando com ela, antes de fechá-la. —Apenas se lembre disto,
quando nos virmos hoje à noite.

Eu sorrio todo o caminho para fora da porta. O


engraçado é que Trick já está esperando por mim.
Capítulo 7
Jenna

Quando entramos no Lucky, o único lugar que Cami


concordaria em ter esta festa de despedida de solteira
conjunta, meus olhos passeiam pela multidão procurando
Rusty. Eu não tenho certeza que há algo equivalente a bolas
azuis para as mulheres, mas se houver, eu tenho!

Desde que saímos da loja e recebi um beijo na bochecha


quando Rusty abriu a porta do carro para mim, fui incapaz de
pensar em algo diferente que seus lábios em mim. E o quanto
os quero em mim. Agora.

Eu não o vi ainda. Cami e eu nos dirigimos para o


conjunto de mesas que Daryl, o gerente de Lucky, colocou sob
a bandeira gigante onde se lê: “Parabéns, Trick e Cami!”. Por
trás disso, na frente do palco, foi colocada uma cortina que eu
peguei emprestada da funerária local. Eles usam isso como
uma divisória quando a necessidade surge. É grande, preta e
grossa para caramba, perfeita para o que eu precisava. Ela
esconde as duas principais atrações da noite.

Eu sorrio quando olho as roupas dos membros da festa


de casamento que já chegaram. As escolhi especificamente
para que elas se conjugassem.
Uma das damas de honra de Cami está vestida de
coelhinha da Playboy. Seu marido está usando um paletó de
smoking estilo Hugh Hefner, uma gravata e uma peruca
grisalha. Outra garota está vestindo uma fantasia de
enfermeira, uma que me dá calafrios quando eu olho para ela,
porque me lembra desta tarde. Seu acompanhante está
vestindo uma roupa de cirurgião. Há também um casal de
Pocahontas, um casal Marilyn e JFK, e um casal Fred e Ginger
que já estão aqui.

Enquanto Cami abraça todo o mundo, volto a procurar


Rusty. Desta vez, o vejo. E, ele me tira o fôlego.

Rusty é lindo de qualquer jeito, mas o traje destaca seu


corpo gostoso. Ele está sem camisa, apenas com uma bandana
em volta do seu pescoço e um chapéu de cowboy na cabeça.
Da cintura para baixo, ele é todo pernas longas e musculosas,
jeans apertados e botas empoeiradas. Tenho certeza que as
botas são dele, porque não escolhi botas com o seu traje.

Ele não me viu ainda, assim posso olhar a vontade. Seus


ombros largos são bronzeados e musculosos. Seu peito é largo
e bem desenvolvido. E seu estômago... Deus me ajude, eu amo
esse estômago! É duro e definido, e há uma trilha fina de
cabelo que leva de seu umbigo até o mais incrível... apêndice.

Sorrio quando penso nisso. Rusty, provavelmente, teria


um ataque, se soubesse que eu estava chamando aquilo de
"apêndice".
De repente, ele se vira e seus olhos encontram os meus.
É quase como se ele pudesse sentir a minha atenção nele. Ele
levanta uma sobrancelha escura, sem dúvida, se perguntando
sobre o que estou sorrindo. Eu sorrio ainda mais, sabendo o
quanto ele é curioso.

Não estou surpresa quando ele pega a sua cerveja e


caminha em minha direção. Ele caminha através do bar e
começa a desacelerar. Parece que, somente agora, ele está
percebendo o que estou vestindo. E eu diria que ele gosta, e
muito.

Contraio o meu estômago e coloco as mãos no quadril,


para deixá-lo olhar. Seus olhos vagueiam pelo meu próprio
chapéu de cowboy preto, sutiã de camurça com franja, minha
barriga e pernas nuas, até minhas botas, e, claro, meu micro
short com franjas.

Vejo a sua boca se abrir um pouquinho e sinto o meu


coração acelerar. Eu não tenho nenhuma dúvida, se
estivéssemos sozinhos, ou, até mesmo em um local diferente,
Rusty iria me pegar pela mão, me levar para o primeiro lugar
semiprivado que pudesse encontrar e enterrar o seu corpo no
meu, até que ambos perdêssemos a capacidade de pensar
direito.

É o que fazemos. É assim que nos afetamos,


mutuamente. E é maravilhoso.
Ele recomeça a se dirigir para mim. Cami passa na frente
dele e ele a olha, balançando a cabeça para a sua roupa. Ela
está usando um conjunto dominatrix de couro preto e Trick
está vestindo um parecido de submisso. Vejo a aflição de
Trick, e dou risada em voz alta, quando ele se vira e a vê. Sua
mandíbula afrouxa e eu estaria disposta a apostar que ele teve
uma ereção imediatamente. Eu não ficaria nem um pouco
surpresa se eles usassem esses trajes novamente. Em
particular.

—Então, qual é a próxima surpresa no mundo das


maravilhas do casamento planejado por Jenna?

—Você quer dizer que as fantasias não são o suficiente?


—Eu pergunto. —Você não gosta da minha fantasia? —Eu
olho para ele por debaixo dos meus cílios, propositadamente
tímida, enquanto brinco com a franja do meu sutiã.

—Eu ficaria feliz em mostrar-lhe o que penso de seu


traje. Mais tarde.

—Você o faria?

—Mmm, —ele ronrona, inclinando-se para beijar o meu


pescoço. Calafrios se espalham pelos meus braços.

—Bem, já que não pode me tocar agora, talvez as outras


coisas que planejei irão deixar sua mente distraída da minha
fantasia. E de todas as coisas que eu gostaria que você me
fizesse, neste traje. —Eu me inclino para Rusty, meus lábios a
menos de uma polegada de sua boca e sussurro. —E fora dele.
—Você é má. Você sabia? Você provavelmente vai para o
inferno por fazer isso comigo.

Eu corro meus dedos por seu peito nu, por seu queixo e,
em seguida, traço o lábio inferior com minha unha vermelha
brilhante. —Vamos queimar juntos.

—Você lidera o caminho. —Ele rosna com a voz rouca,


como se o calor entre nós tivesse chamuscado as suas cordas
vocais.

Eu planto a minha mão em seu peito e o empurro,


dando-lhe meu sorriso impertinente.

—Talvez mais tarde, —eu digo, dando um passo para


trás. —Ou talvez não.

A respiração de Rusty sibila por entre os dentes cerrados


e eu rio abertamente. Quem pensou que seria tão divertido?
Uma tortura, com certeza. Mas divertido, mesmo assim.
Capítulo 08
Rusty

Eu nunca pensei que pudesse ser tão difícil manter as


mãos longe de alguém. É claro que eu nunca tentei. Tudo que
posso dizer é que, quando eu finalmente chegar entre as
longas pernas de Jenna, vai haver uma explosão de
proporções épicas. E não serei apenas eu a fazer a explosão.

Enquanto observo Jenna, posso ver o convite que ela me


faz na forma como se move. Ela poderia muito bem estar se
roçando contra mim, perto o suficiente para eu tocá-la. As
coisas que ela faz com os quadris e as mãos, a maneira como
ela se inclina com essa deliciosa bunda e aponta perfeitamente
em minha direção - tudo isso é para mim, como se pudesse
sentir meus olhos sobre ela. Como se quisesse sentir as
minhas mãos sobre ela.

Eu sei disso porque ela continua olhando para trás,


certificando-se que estou vendo. Provocando-me. Eu estaria
disposto a apostar que o pequeno short que ela está usando,
tem uma mancha molhada. Estamos enrolados no último jogo
de gato e rato, e é para nos manter ambos ligados.

Eu a vejo quando ela vai para a cortina que está


estendida sobre a metade de trás da sala. Eu sei que há um
palco lá trás, mas tem que haver algo mais. Ela está a
esconder um espaço bem grande!

—Parece que estamos perdendo alguma coisa aqui, não


é? —Jenna pergunta, levantando a voz para que o resto do
grupo possa ouvi-la. As pessoas gritam e ela sorri, tomando
um punhado de cortina e a arrastando ao longo da linha
improvisada. Pouco a pouco, é revelado um grosso colchão
preto e vermelho. Isso é tudo que eu posso ver, porque está
muito escuro por trás da cortina.

Com um floreio, Jenna arremessou a cortina para trás. A


luz reflete-se sobre um único ponto, brilhando, sobre um touro
mecânico preto. A multidão vai à loucura. Tudo o que posso
pensar é ver Jenna montar essa coisa.

—Puta merda, essa vai ser uma longa noite. —Murmuro


para mim mesmo.

Jenna está sorrindo de orelha a orelha. —Tudo bem,


agora que tenho a vossa atenção, quem vai ser o primeiro a
montar o touro? Temos que dar algum uso a esta coisa antes
que o operador fique entediado e vá para casa. —Diz ela,
apontando para um velho, vestindo xadrez e claramente
entusiasmado, sentado em um banquinho no canto e
inclinando sobre um pequeno console. Ele provavelmente veio
com o touro mecânico. Acho que ele pode estar dormindo sob
a vasta aba do seu chapéu. Eu não posso ter certeza. —Vamos
lá, bando de maricas! Quem vai montá-lo primeiro?
Há muitos gritando e assobiando no meio da aglomeração
geral, mas ninguém se adianta. Vejo várias pessoas tentando
que Trick vá primeiro lugar, mas ele está resistindo, afinal está
satisfeito em se sentar ao lado de sua noiva quente.

Eu ouço o nome de Jenna acima da disputa, chamado


uma vez, duas vezes, em seguida, várias vezes. Em poucos
segundos, todo mundo está cantando para ela dar um passeio
no touro.

Com uma sacudida de cabeça exasperada, ela vira-se


para o touro. —Tudo bem. Eu vou mostrar como se faz. Eu
vou odiar demostrar para vocês como sei fazer isso bem. —Ela
brinca, com um sorriso arrogante.

O velho fica acordado e alerta, desliza para fora de seu


banco e se atrapalha ao ajudar Jenna, quando ela sobe no
touro. Quando ela está sentada em cima do touro, vejo sua
carranca. —Outra coisa que está faltando, —ela comenta em
voz alta, antes de gritar: —Música!

As luzes sobre o palco viram uma explosão de cores. Em


pé, com seus instrumentos e um membro sentado atrás da
bateria, estão os membros do Saltwater Creek, a banda que eu
costumava tocar. Olho para Trick. Ele está uivando de alegria
e com os braços erguidos para o ar. Ele costumava tocar
conosco, também. Ele olha para mim e sorri. Eu sei que isso,
provavelmente, deixa a sua noite muito melhor. Devolvo o
sorriso depois de olhar para trás para o palco.
—Alguma coisa ainda está faltando, —Jenna grita. —Oh,
eu sei o que é. Nós vamos precisar de alguém no baixo.

As pessoas começam a me olhar, e eu finalmente olho


para Jenna, onde ela está sentada, em cima do touro. Ela está
olhando para mim, sorrindo. Ela inclina a cabeça em direção
ao palco e eu olho para a direção que ela mostra. Todo mundo
na banda está me observando, sorrindo, e Sam, o guitarrista e
baixista, está tirando a alça de seu instrumento do ombro. Ele
caminha até a frente do palco e o oferece para mim.

Sair da banda foi uma decisão difícil, mas foi o certo. Os


negócios na garagem começaram a aumentar e era uma
questão de crescer e enfrentar as minhas responsabilidades,
preparando o terreno para o futuro, ou brincar com os
meninos.

Crescer venceu.

Mas ter a chance de voltar a subir no palco, ainda tem


uma atração especial. E Jenna sabe disso.

Eu não posso esconder meu sorriso quando pulo em cima


da plataforma e pego o baixo. Sam acena para mim, e eu
aceno de volta, colocando a pulseira de couro por cima do meu
ombro. Coloco minha mão contra o corpo do instrumento e
enrolo os dedos ao redor dele, me acostumando com a
sensação do metal frio contra a minha pele.

Olho para Jenna, e os seus olhos me dizem que ela sabe


que estou no topo do mundo agora, realizado. Isso me lembra
todas as coisas que eu amo sobre ela e que não tem nada a ver
com o seu corpo, mas com seu coração e sua alma. Ela pisca e
pede uma música.

—Who feels like makin’ love?

Fazendo um grande barulho, praticamente todos no bar


gritam, concordando, então fecho meus olhos e busco de volta
na minha memória os acordes da música. Por alguns
segundos, tudo se acalma e o mundo desaparece, como se
todos eles esperassem por mim para começar a escolher as
notas. Com o primeiro acorde, eu me lembro do quanto amo a
sensação das cordas sob meus dedos.

Depois de oito batidas, o resto da banda salta. Abro os


olhos para encontrar Jenna. Ela tira seu chapéu para mim,
deixando seu cabelo escuro e cintilante cair pelo esbelto rosto.
Quando ela o coloca na cabeça, seus olhos encontram os meus
e ela pisca para mim. Eu poderia facilmente largar o meu
violão, saltar para fora do palco, espalhá-la sobre o touro e
comê-la como sobremesa. Mas antes que eu possa realmente
terminar o pensamento, ela se agarra à corda de couro e acena
para o operador do touro o ligar.

A rotação começa lenta, o operador está tentando


combinar a batida da música. O corpo de Jenna se move no
tempo perfeito. É como se tudo entre nós e à nossa volta,
estivesse em sincronia.
É quase doloroso vê-la em cima do touro maldito. As suas
costas se arqueiam com cada rebolar da máquina, e ela gira os
quadris de forma fluida, como se estivesse conectado a ele.
Suas bochechas estão coradas, seus lábios estão um pouco
separados, e eu posso ver a ponta da sua língua roçando os
dentes. Espero que ela esteja pensando o mesmo que eu, que a
única coisa melhor do que isso seria se fosse eu entre as suas
pernas.

O operador aumenta a velocidade e Jenna desloca o


corpo e oscila com ele. Tudo muito bem, eu posso nos
imaginar na frente de um espelho com ela fazendo aquele
movimento em cima de mim. Para cima e para baixo no meu
pau, as coxas apertadas ao meu redor e seu corpo cremoso me
apertando.

Minha calça jeans fica apertada. Realmente apertada.


Como a canção fica mais calma, o operador retarda o touro
novamente, e Jenna olha para mim. O olhar que ela me dá diz
que ela sabe o que estou pensando. E eu murmuro
novamente. —Puta merda, que vai ser uma longa noite!
Capítulo 09
Jenna

Depois de ficar tão ligada, por Rusty me assistir montar o


touro, tudo o que posso fazer é manter minha compostura pelo
resto da noite. Eu o quero tanto quanto ele me quer.

Mas, me controlo. De alguma forma, consigo controlar-


me, enquanto aqueço as coisas mais um pouco. É a minha
missão fazer o que for preciso para ser tão doloroso para Rusty
como é para mim. E cada vez que olho para ele, eu sei que
está funcionando, cada vez ele sente mais pressão. A virilha da
calça jeans provavelmente está estendida até o limite, devido à
sua grande ereção. Eu não posso parar o sorriso de satisfação
que vem aos meus lábios, enquanto eu penso nisso.

Olho para Rusty, quando ele vê outra menina montar o


touro. Como se sentindo meus olhos e meus pensamentos, ele
muda seus olhos brilhantes e azuis para minha direção. Eu
pisco provocadora e ele levanta uma sobrancelha.

Eu me viro depois disso. Estou tentando não pensar em


colocar um fim a esse sofrimento, quando ouço o barman
tocar o sino, que assinala a última chamada para pegar uma
bebida. Eu resisto à vontade de beber, porque parte do meu
acordo com Daryl, para ele nos "emprestar" o Lucky esta noite,
foi que eu iria fechar o Lucky quando terminássemos, e voltar
bem cedo pela manhã, para tomar conta do caminhão quando
fossem recolher o touro mecânico.

Menos de uma hora depois, as luzes da casa piscam três


vezes seguidas e as luzes sobre o palco se apagam. É o meu
sinal para começar a espantar as pessoas para fora da porta.
Felizmente, a banda parou de tocar há cerca de uma hora,
para que mais ninguém quisesse ficar.

Quando o bar está vazio, exceto pelo velhinho que opera


o touro mecânico, eu dou-lhe cinquenta dólares e o empurro
para fora do local, fechando a porta depois dele sair, para que
eu possa ver se está tudo bem e desligar as luzes, antes que
eu vá para casa.

Acho o interruptor para desligar todas as luzes do lugar,


exceto aquela sobre a pista de dança, pista de dança que, esta
noite, foi ocupada por um touro mecânico. Eu ando por trás
do bar, à procura de um interruptor escondido. Olho através
do pequeno barração e da sala de descanso. Ainda sem sorte.
A única coisa que lá acho é o rádio, mas não há outros
interruptores de luz. Decido verificar o outro lado do prédio,
em algum lugar perto do palco, esperando que eu possa
encontrar os controles da luz.

Quando eu ando de volta para o bar, dou uma parada


súbita e um suspiro borbulha no meu peito. Tem alguém
sentado em cima do touro.
Só fico assustada por alguns segundos. Meu pulso
acelera por uma razão completamente diferente, quando
reconheço a figura em cima da máquina.

É Rusty. E ele está me observando.

Meus pés me movem lentamente em direção a ele. Meu


coração bate descontroladamente contra as minhas costelas.
Minha boca fica completamente seca, enquanto o observo.

A grande aba do chapéu de cowboy lança uma sombra


sobre seu rosto. Mas, mesmo assim, eu posso sentir os
brilhantes olhos azuis de Rusty fixos em mim. A luz caindo
sobre seus ombros acentua cada ondulação de músculos em
seus braços e abdómens, perfeitamente definidos, e com um
brilho suave e dourado. Suas mãos grandes estão
descansando sobre as coxas, está imóvel. Calafrios se
espalham pelos meus braços, quando olho aqueles longos
dedos e me lembro claramente do prazer que eles podem me
dar.

Tomo uma respiração profunda. —Bar fechado, senhor.


—Digo casualmente, quando me aproximo dele.

Ele não responde imediatamente. Quando faz, eu sinto


um flash de movimento quente através do meu núcleo. —
Pensei em dar uma cavalgada lenta no touro antes de você
fechar o bar. Eu perdi a minha chance mais cedo.
Meu estômago se contorce com a sua insinuação. Ele
está me pedindo. Inteligente. E ele está perfeitamente imóvel
enquanto espera minha resposta.

Ajustando a minha trajetória, viro à direita, e me dirigo


até ao pódio que abriga os controles de touro. Olho para o
console onde vi o velhinho trabalhar mais cedo. Eu olho para
trás, para Rusty, sabendo que se eu ligá-lo estarei dando a
minha resposta.

Minha pausa é apenas a de um batimento cardíaco antes


de colocar o interruptor vermelho para a posição ON. Para o
inferno com esse celibato e resistir a ele! Eu não sou a pessoa
que vai se casar. —Quão lento você quer isso? —Pergunto
provocativamente, a música sensual do rádio, que também já
liguei, só aumenta a intensidade do momento.

—O quanto lento você puder fazer. —Ele responde, com


um sorriso perverso torcendo os lábios.

Eu coloco a alavanca para cima um pouquinho, o


suficiente para que eu mal possa ouvir o zumbido de giro do
motor da máquina. Com um gemido, o touro se move
ligeiramente para frente e para baixo. Rusty movimenta
apenas seus quadris, enquanto monta com fluidez no touro
giratório. Quando o touro gira completamente, deixando-o de
frente para mim, novamente, eu vejo seus olhos brilhando,
quase selvagens. —Você vem?
Eu não lhe respondo. Não preciso. Eu saio de trás do
console e ando em direção a Rusty, dando-lhe a resposta à sua
pergunta. Antecipação passa através de mim, quando eu
passo por cima da espessa e escura cortina, e paro perto da
máquina que se está mexendo bem devagar.

Sem dizer uma palavra, Rusty estende as mãos. Sem


dizer uma palavra, eu as pego.

Sem esforço, ele me puxa para cima do touro, com ele, as


minhas costas ficam pressionadas contra o seu peito, seu
corpo duro me rodeando.

—Coloque as suas mãos aqui. —Ele sussurra em meu


ouvido, enquanto ele se inclina para frente, para me mostrar.

Eu faço o que ele pede, excitação enrola meu o estômago.


Sinto Rusty arrastar o meu cabelo para longe do pescoço, logo
antes de seus lábios tocarem a minha pele. Meus mamilos
franzem, reflexivamente.

—Você sabe o quanto eu queria estar aqui com você esta


noite? —Ele empurra os seus quadris contra a minha bunda.
Posso sentir o quanto ele está duro, como eu sabia que ele
estaria. —Observando você arquear as costas, —diz ele,
arrastando os dedos em minha espinha, fazendo-me curvar
para fora. Sua mão sobe para o gancho do meu sutiã, seu
dedo o desencaixa facilmente. Lentamente, ele corre as palmas
das mãos até o pescoço e, em seguida, para baixo, sobre meus
ombros, não parando até que ele roça as pontas dos meus
dedos, empurrando o meu top. —Eu ficava imaginando o quão
duro os seus mamilos ficariam se eu os tocasse, enquanto
você montava este touro.

Ele coloca as mãos em meus seios e aperta. Minha


respiração engata na garganta, e calor jorra em poças entre as
minhas pernas. —Eu sei que você estava desejando que eu
estivesse aqui com você, também. Eu podia ver isso em cada
balanço de seus quadris, —ele murmura contra o meu
pescoço, os dedos de uma mão traçam círculos em torno de
meu mamilo, enquanto a outra percorre o centro do meu
estômago. —E eu sei que se eu pudesse te tocar, eu
encontraria sua roupa molhada, —ele sussurra, mergulhando
a mão para baixo em meu short e cobrindo minha carne
ardente. —Mmmm, assim como está.

As luzes giram em torno de mim, emolduradas pelo breu


do bar vazio. Fecho meus olhos, abandonando-me ao
momento, na sensação que Rusty está me dando, quando ele
desliza um dedo dentro de mim.

Eu gemo, e deixo a minha cabeça cair para trás, contra


seu ombro. Ele revira o meu mamilo entre o indicador e o
polegar, enquanto empurra os dedos da outra mão dentro e
fora de mim. Em movimentos longos e profundos, como o
ritmo do touro. —Eu sabia que você estaria pingando.
Olhando-me enquanto eu a olhava. Eu desejei que você
estivesse cavalgando o meu pau em vez desse touro. Fantasiei
que você gozava para mim. Na frente de todas aquelas
pessoas. Eu sei que você gostaria disso, não é?
Preguiçosamente, ele arrasta os dedos para fora de mim
para provocar o meu clitóris com redemoinhos de prazer. Movo
os meus quadris contra ele, sem fôlego, quando a tensão
familiarizada se constrói dentro de mim.

Eu sinto Rusty se inclinar para longe de mim, antes dele


colocar as mãos em volta da minha cintura e me elevar,
virando-me no touro para eu me sentar de frente para ele, mas
não em cima dele.

O olhar em seu rosto é voraz ,quando ele tira o meu


chapéu e o arremessa na escuridão. —Você acha que há
alguém lá fora agora, Jenna? No escuro? Observando-nos
através das janelas?

Seus lábios se esmagam contra os meus, antes que eu


tenha tempo para responder. Sua língua toca levemente a
minha, enquanto as suas mãos percorrem os meus seios, a
minha barriga, as minhas costas e os meus quadris. Ele está
me tocando em todos os lugares, exceto o lugar que eu mais
preciso que ele toque.

Quando ele afasta os lábios para longe dos meus, ele


coloca a palma da mão entre meus seios e empurra
delicadamente, pedindo-me para deitar. Eu relaxo sobre a
cabeça do touro, deixando os movimentos lentos e fáceis da
máquina definir o ritmo para o que está por vir.

Rusty arrasta a mão pelo meu estômago, não parando até


atingir a junção das minhas coxas, amplamente afastadas. Eu
sinto-o mover o meu pequeno short para o lado. Há uma
pausa que dura à vida inteira. Cheia de calor, eletricidade e
antecipação selvagem. E, então, sinto a lambida quente da sua
língua. Resisto a me mover, apenas sigo o ritmo do touro
embaixo de mim. Relaxo sob sua boca, colocando as minhas
pernas para baixo ao longo dos lados da máquina, abrindo-as
ainda mais e dando a Rusty acesso completo do meu corpo. O
sangue está correndo para minha cabeça, como se meus
miolos nadassem levemente e eu sinto o aperto dos meus
músculos quanto Rusty empurra dois dedos dentro de mim.
Dentro e fora, ele os move juntamente com a língua que treme
sobre minha carne sensível.

—Gostaria de saber se alguém está me observando


lambê-la, vendo a minha língua quando eu faço isto, —diz ele,
removendo os dedos e substituindo-os com a língua. Ele
trabalha dentro de mim, me penetrando tão profundamente
quanto pode, com seus lábios se pressionando contra a minha
parte mais sensível. Quando ele se levanta para apertar o
pequeno músculo, sugando-o brevemente em sua boca, eu
perco a minha respiração, completamente.

—Rusty... —Eu consigo dizer por cima das luzes girando


e estonteante prazer.

—Eu aposto que todo o homem neste bar estava


desejando ter um gosto de você hoje à noite, provar com a
língua esse doce que sai de você quando goza. Mas eu sou o
único que pode ter um gosto seu. Eu sou o único que
consegue fazer você vir hoje à noite. —Diz ele, a vibração de
suas palavras viaja através de seus lábios e estimula a minha
carne pulsante.

—Rusty, por favor.

—Por favor, o quê? —Pergunta ele. —Por favor, me coma


na frente de quem pode estar assistindo? Ou, por favor, me
endireite para que eu o possa montar até que o meu gozo
escorra pelo seu pau e pelo touro?

Eu não posso pensar com ele dizendo essas coisas. Eu


não posso respirar com ele fazendo essas coisas... Tudo que
posso fazer é sentir. E eu sinto necessidade, necessidade do
corpo de Rusty. Enchendo-me. Alongando-me. Tirando-me do
sério.

E eu preciso disso agora. —Por favor. —Repito, sem


fôlego.

As mãos de Rusty me deixam por alguns segundos. Mas,


então, ele está enrolando minhas pernas em volta de sua
cintura, me levantando e me levando para baixo, em seu
comprimento duro e grosso.

Eu grito. Um grito arrancado de mim. Eu não posso


evitar. Nada do que senti jamais foi tão perfeito. Ou, mais
acertado.

Os nossos gemidos altos de prazer se misturam. Eu não


consigo separá-los. Só sei que não há melhor sensação do
mundo do que Rusty dentro de mim. Ao meu redor. Comigo.
Suas mãos estão no meu cabelo, enquanto ele me move
para cima e para baixo, sobre ele, mais e mais, a cada
movimento lento do touro. Tremo contra seu corpo, quando ele
toma o meu mamilo em sua boca e o chupa com força.

Derrubo seu chapéu e passo os dedos em seus cabelos,


segurando-o, enquanto ele move o meu corpo sobre o dele.

—Espero que alguém a observe quando você gozar para


mim, Jenna, —diz ele com a voz rouca, enquanto puxa minha
cabeça para trás e afunda os seus dentes na carne do meu
peito. —Eu quero que alguém veja a minha boca sobre esses
mamilos. Eu quero que alguém veja o seu belo corpo
montando o meu pau. Eu quero que alguém veja os meus
dedos mordendo essa bunda deliciosa.

Só então, ele se inclina para trás e flexiona os quadris,


seus dedos cavam a minha bunda. Eu caio, mais
completamente sobre ele, levando cada centímetro de seu duro
comprimento. Com isso e mais um golpe, eu explodo em uma
chuva de sons suaves e luzes brilhantes. Meu corpo tem
espasmos em torno do dele, apertando-o firmemente,
puxando-o. Rusty moe os seus quadris nos meus, antes de me
segurar firme pela cintura, me levantando e abaixando em
cima de seu pau, uma, duas, três vezes.

O corpo de Rusty fica rígido embaixo de mim e abro meus


olhos um pouquinho, bem a tempo de vê-lo jogar a cabeça
para trás. Ele solta um grunhido que formiga ao longo dos
meus nervos. Então, sinto o pulsar quente do seu clímax,
jorrando em mim. Sinto-o dentro de mim e ao meu redor,
quando o tremor de seu corpo vibra através do meu núcleo.

Ainda inundada com a sensação, desmorono contra


Rusty e balanço suavemente ao ritmo do touro. Depois de
vários minutos de duração, com apenas o som da nossa
respiração pesada perfurando o silêncio em torno de nós,
Rusty abaixa a cabeça para encontrar meus olhos.

—Nunca tire isso de mim de novo. —Diz ele em voz baixa.

—Nunca me peça para tirar. —Eu respondo. Quando


olhamos um para o outro, vejo a luz brilhando sobre os
ângulos do rosto de Rusty e a ternura derramando-se das
profundezas dos seus olhos, e uma onda de emoção me
supera. —Eu te amo. —Murmuro.

Rusty não diz nada. Seus olhos procuram os meus,


quando ele se inclina para acariciar o meu rosto com as
pontas dos dedos. Deslizando a mão em torno da minha nuca,
ele me puxa para ele e captura os meus lábios. O beijo é doce.
Profundo. Enigmático. Ele diz algo. Eu só não sei o quê.
Capítulo 10
Rusty

Facilmente abro a porta da frente, da casa de Trick.


Estou esperando que ele já esteja na cama, dormindo com um
zilhão de doses de Patron e seu conjunto doloroso, sem
dúvida, de bolas azuis antes de seu casamento na parte da
manhã. Fecho a porta silenciosamente atrás de mim. —Você é
o pior melhor amigo de sempre, porra! —Ele resmunga na
escuridão.

—Santa Mãe! Você me assustou!

Com as luzes apagadas, eu mal consigo distinguir a


silhueta de Trick, sentado na ilha da cozinha. Vejo seu braço
se movimentar quando ele pega uma garrafa. Ele está
bebendo. Mais uma vez.

Estar sem sexo faz isso com um homem! —Você não acha
que deveria parar e dormir um pouco? Tenho certeza que é
suposto você estar apresentável quando Cami se encontrar
com você no altar.

—Vá à merda, cara! Estou tentando afogar a minha libido


para que eu possa honrar os desejos de minha noiva. Ao
contrário de algumas pessoas.

—Ei, não sou eu quem vai se casar, cara. Eu não tenho


nenhuma ideia de como Jenna e eu acabamos envolvidos
nisso.

—Porque vocês são os nossos melhores amigos. Deveriam


fazer como nós estamos fazendo para dar apoio moral.

—Eu estava fazendo isso para dar apoio moral.

—Então, onde você esteve durante as últimas duas


horas?

Eu ri. —Porra, faz tanto tempo?

—Você, amigo... —Trick grita, pulando. —Você estava


com a Jenna!

—Eu pensei que era sobre isso que estávamos falando.

Trick acende a luz da cozinha e posso ver que ele está


sorrindo. —Eu estava apenas brincando, cara. Não achei que
você se aguentasse tanto tempo ser estar com ela. Você
realmente não pode ficar longe dessa menina, não é?

Não tinha pensado nisso dessa forma. —Não tenho a


mesma motivação que você. Não sou eu que vou casar. Além
disso, você tem o resto da vida para transar com a sua esposa.
Meu tempo com Jenna é muito mais limitado.

—Essa é a sua escolha, imbecil.

—Não é minha escolha. É apenas assim.

—Só porque ela tem entrevistas, não significa que vai


conseguir esse trabalho. Além disso, não há nada segurando
você aqui. Nada que não possa fazer em outro lugar e estar
com ela.

Sinto como se ele tivesse me chutado nos dentes. Ou no


peito. Jenna tem entrevistas. E ela não me disse uma única
palavra sobre elas. Eu realmente não sei o que dizer. Posso
dizer pela expressão de Trick que ele sabe que falou demais.
Se ele não estivesse bêbado, nunca teria me dito e eu nunca
saberia. Até que ela já tivesse ido embora.

Por que ela esconderia isso, então? Ela estava apenas


pensando em ir embora e não dizer uma palavra? Isso não
parece com Jenna. Mesmo que eu esperasse que ela se fosse -
eventualmente - eu não consigo imaginá-la fazendo isso assim.

Mas, ainda assim, ela não me disse nada. Por uma razão.

—Jenna está apaixonada por você, idiota.

—Às vezes o amor não é suficiente.

Trick balança a cabeça. —Tanto faz. Você quer uma


cerveja?
—Não. —Digo, de repente me sentindo cansado. —Eu
acho que estou indo para a cama.

Trick termina sua cerveja.

—É. Eu também. Amanhã, o meu sofrimento chegará a


um fim explosivo.

—Informação demais, cara! —Murmuro indo embora. —


Informação demais.
Capítulo 11
Jenna
Passar a manhã inteira sendo
completamente mimada, limpa, polida, massageada,
preparada, enrolada e vestida com a minha melhor amiga no
seu dia do casamento é uma quantidade ridícula de diversão.
E as memórias de Rusty, ontem à noite, seu corpo duro entre
mim e um touro mecânico, apenas faz o meu humor ficar
muito mais leve.

Quando ficamos tão perfeitas quanto as mãos das


profissionais conseguem, nos movemos para uma sala enorme
cheia de espelhos, para nos vestir. Coloco o meu vestido, fecho
ele e giro na frente do espelho.

—Você realmente é a minha melhor amiga. —Digo a


Cami.

—Eu sei, mas o que eu fiz para você dizer isso agora? —
Ela pergunta com um sorriso travesso.

—Somente a melhor amiga no mundo inteiro iria escolher


uma cor que se adapte a ela e a sua melhor amiga,
especialmente quando elas são basicamente pólos opostos. —
Cami tem o cabelo vermelho escuro, olhos azuis e pele clara,
enquanto eu tenho cabelo preto, olhos escuros e pele morena.
Há, tipo, dez cores em um zilhão de que ficariam bem em nós
as duas. No entanto, Cami escolheu uma delas para usar no,
sem dúvida, dia mais importante da sua vida.

Cami dá de ombros.

—Eu não podia ter você sem graça, em pé atrás de mim,


certo?

Ela pisca, mas sei que isso não teve nada a ver com a sua
escolha. Ela é apenas aquele tipo de pessoa carinhosa,
atenciosa, altruísta. Mesmo no dia de seu casamento.

O vestido azul royal complementa a minha cor


surpreendentemente bem. Minha pele brilha como bronze,
meus olhos parecem gotas de ónix, e os meus lábios quase não
necessitam de baton vermelho. E o corte do vestido é soberbo.
O design lápis dele deixa a minha cintura estreita, minha
bunda redonda, e os meus seios parecem que estão enfiado
debaixo do meu queixo. Além disso, meu cabelo está sexy, com
cachos negros nas laterais, caindo para beijar os meus
ombros. Tudo em ordem, eu mal posso esperar para Rusty me
ver.

Depois da minha confissão, ontem à noite, sinto a


necessidade de surpreende-lo. Pelo bem de minha auto-
estima, tanto quanto por qualquer outra coisa.

Enquanto estamos sendo conduzidas para fora do salão


em direção à calçada, eu vejo o rosto familiar da mãe de Trick,
Leena, pairando à beira da multidão de meninas risonhas.
Olho para minha esquerda, para encontrar Cami, só que ela
não está mais ao meu lado. Me viro e a encontro parada,
olhando para Leena.

—Vamos lá, —digo, voltando para pegar a mão dela. —É


o dia do seu casamento. Você pode fazer isso. —Seus grandes
olhos pairam nos meus e eu posso ver que ela não está
convencida. —Você ganhou. Apenas lembre-se disso. Você.
Ganhou.

Pego a sua mão, puxo-a atrás de mim, e vamos para a


limusine que está à nossa espera. Todas as outras meninas
entram e, antes que possamos entrar, Leena se move na
direção da Cami. Eu começo a soltar a mão dela e a entrar na
limusine para dar-lhes um pouco de privacidade, mas ela me
aperta, pedindo para eu ficar. Então, eu fico.

Leena vem logo em seguida, não dando a Cami chance de


dizer qualquer coisa.

—Cami, eu não estou tentando estragar seu dia e eu não


estou tentando dificultar a sua vida, aparecendo aqui. Eu só ...
Eu só queria falar com você de antemão. Sem Trick. —Ela faz
uma pausa, e eu a vejo tomar uma respiração profunda, como
se estivesse reunindo coragem para fazer algo que não quer
fazer. —Eu amo o meu filho mais do que você pode imaginar,
mas não estou pronta para ficar ao redor da sua família ainda.
Eu não sei se isso vai mudar. Estou tentando ver você pela
pessoa que você é, não pelos erros da sua família. E, é por
isso, que eu quis vir hoje. Me desculpe por faltar aos outros
eventos. Eu só não acho que conseguiria estar em torno de...
todo mundo ainda. Eu quero ser parte da sua vida, parte da
vida do meu filho, e da vida de meus netos, mas agora eu não
posso prometer muito mais. Só sei que eu estou tentando. E
que eu estou aqui para o Trick. —Ela faz uma pausa, olhando
para longe novamente. —E para você.

Cami coloca as mãos sobre a boca, e aperta os olhos. Eu


vejo seus dedos tremerem. Não posso imaginar o que ela deve
estar sentindo. Mas, para seu crédito, ela se recupera
rapidamente, deixando cair as mãos e abraçando Leena.

—Obrigado, Leena. Aceito tudo o que você conseguir dar.

Leena olha para cima, obviamente desconfortável, dá a


Cami um pequeno sorriso e, em seguida, anda alguns passos,
fazendo um gesto em direção à limusine.

—É melhor você ir.

—Você não vem com a gente?

O sorriso de Leena é mais genuíno neste momento. —Isso


não é lugar para uma senhora de idade, muito menos para a
mãe do noivo. Você vá andando. Divirta-se. Aproveite este dia.

Cami sorri docemente e acena com a cabeça antes de


virar seus olhos brilhantes para mim.

—Pronta?

Lágrimas escorriam pelo seu rosto e ela não estava


tentando detê-las. Mas estava sorrindo. Ela não tinha que
dizer isso, mas seu casamento vai ser perfeito agora. Isto era
tudo o que ela precisava para ser a noiva mais feliz do planeta.
E eu estou feliz que ela conseguiu. Estou feliz por Trick,
também. Eu sei que isso tem pesado sobre ele mais do que
jamais admitiu. Concordo com a cabeça e engulo o nó de
emoção na minha garganta, enquanto subimos na traseira do
carro à espera.

A viagem para a igreja é muito... animada. Conversamos,


rimos e provocamos Cami sobre o conjunto de presentes
pervertidos que escondemos no porta-malas com sua
bagagem. Como não tinha havido um - chá de panela-,
algumas garotas se encarregaram de fazer para Cami... Um kit
de sobrevivência de noiva. Um encantador embrulho com uma
caixa de lembrança linda, cheia de loções e velas. Também tem
pintura corporal comestível, calcinhas com abertura e mais
algumas coisas criativas, algumas das quais envolvem
baterias. Em suma, é uma caixa cheia de merda que vai fazer
o rosto de Cami se transformar em oito tonalidades de
vermelho quando ela a abrir na frente de Trick.

—Talvez ele vá bater em você por ser uma menina tão


impertinente, Cam. —Eu provoco, de brincadeira.

—Oh meu Deus, Jenna! —Ela já ficando numa cor que


está a um passo de uma beterraba.

Tão divertido ser uma garota e ter uma melhor amiga


delicada e tímida!
Quando chegamos à igreja, todos os convidados já estão
lá. O bairro é tranquilo e o gramado está vazio, assim como os
degraus que levam até as portas da frente.

Segundos depois de nossa chegada, Xenia, a


cerimonialista, bem como Xena, a Princesa Guerreira, apenas
com menos couro e mais tafetá, vem até a porta e espreita
para fora. É como se ela tivesse um sensor que conseguisse
detectar a localização da noiva e do noivo em todos os
momentos. É meio assustador na verdade.

Ela enfia uma mão perfeitamente tratada para fora da


porta e dobra seus dedos em direção à igreja duas vezes. Eu
quase consigo ouví-la dizer com a sua voz de professora:

—Venha, venha! —E então ela desaparece para dentro,


sem dúvida para chamar a atenção de alguma pobre criança
barulhenta, usando uma régua.

Enquanto ela pode parecer o diabo, também pode


planejar um casamento como ninguém! Aposto que mesmo as
flores não têm a coragem de deixar cair uma única pétala até
que as festividades acabem e ela tenha ido embora.

Sim, é assim.

Todas nós embaralhamos para fora da limusine e


subimos os degraus para o vestíbulo. Quando tomo meu lugar
na frente da linha e o barulho do outro lado das portas se
acalma, a energia, a emoção, e significado do dia, finalmente,
se infiltram em mim e assumem todo o resto. Assim como
deveria ser.

Este é o dia do casamento da minha melhor amiga. Ela


vai se casar com o homem dos seus sonhos e começar a vida
que ela sempre esperou, e a vida que cada menina pede para
ter.

Eu deveria querer bater nessa garota sortuda.

Mas eu não sinto nada além de amor, felicidade e alegria


por ela. Sei disso pelo brilho do seu sorriso, me viro para ela e
olho para trás, para todas as outras madrinhas perfeitamente
penteadas e encontro seus olhos novamente. Ela acena com a
cabeça. Eu aceno com a minha. E entre nós, uma conversa
inteira acontece em um piscar de olhos.

Eu poderia chorar.

Mas não vou.

Não tenho certeza se me colocaram rímel à prova d'água,


embora eles seriam completos imbecis se não o fizessem.

A porta à esquerda se abre. Rusty caminha por ela e


pára. Meu coração pára de bater dentro do peito. Se eu pensei
que parecia quente...

Seu smoking é preto, a camisa é branca e sua cinta na


cintura tem o mesmo azul bonito do meu vestido. Seu cabelo
está escuro e parece recém-lavado. Seus ombros estão
incrivelmente grandes e fortes, como sempre. Sua cintura é
estreita e flui sem problemas em suas longas pernas.

Mas são os olhos que me capturam. Como sempre. Eles


estão presos nos meus quando os encontro, depois que
termino de avaliá-lo. Eles são azuis brilhantes. E muito
intensos. Faz-me perguntar o que está acontecendo por trás
deles. Porque algo está acontecendo, sem dúvida.

Deixando a porta fechar atrás de si, ele se move


lentamente em minha direção, não parando até estar de pé,
tão perto que meus seios quase tocam as suas lapelas.

Eu fico com falta de ar quando vejo os seus olhos


viajarem até ao meu decote e voltarem para aos meus olhos,
novamente. Eles correm por todo o meu rosto, apreciando
cada detalhe, até mesmo o meu cabelo cintilante.

Finalmente, ele termina sua inspeção e olha apenas nos


meus olhos, fazendo meus nervos incendiarem.

—Olá, bonito. —Eu digo, brincando, esperando parecer


natural, em vez de insegura.

—Você parece... Incrível. —Diz ele em voz baixa.


Atencioso.

O sangue que dá cor ao meu rosto é genuíno. Eu não me


envergonho com facilidade, mas algo sobre seu comentário
parece tão sincero que meu corpo reage de uma forma muito
física.
Assim que eu começo a procurar outra coisa para dizer,
ele repara que há música, tocando do outro lado da porta. Eu
respiro fundo, grata pelas notas, que me salvaram de mais
embaraço e aceno em direção ao interior da igreja.

—Vamos? —Rusty acena e eu sorrio, nos virando para o


santuário, no momento exato que os porteiros abrem a porta.

Tudo flui perfeitamente, assim como tínhamos praticado


no ensaio. Eu faço o meu melhor para desfrutar do dia perfeito
da minha melhor amiga, sem deixar as dúvidas e inseguranças
sobre Rusty o denegrir. É difícil, mas mantenho meu foco na
noiva e no noivo, o que faz com que seja, apenas um pouco,
mais fácil.

Quando chega a hora dos votos, Trick limpa a garganta e


pergunta se ele pode dizer algumas palavras. O ministro
balança a cabeça e sorri. Ele não parece nem um pouco
surpreso, o que me leva a crer que ele sabia que Trick faria
isso.

A igreja está absolutamente silenciosa em torno de nós,


todas as pessoas, sem dúvida, esperam ansiosamente para
ouvir o que ele tem dizer. Posso imaginar muito facilmente
como Cami deve se sentir agora. Se eu estivesse no lugar dela
e Rusty estivesse se preparando para dizer algo especial para
mim, eu seria uma bagunça atrás do meu véu.

—Desde que eu era criança, eu sempre soube o que eu


queria fazer com a minha vida, —Trick começa. —Eu queria
trabalhar com cavalos. Não ligava muito sobre o como, o quê e
onde, enquanto eu pudesse ficar perto deles. Eu pensei que
isso era tudo o que seria necessário para me fazer feliz. Até
que eu conheci você. Sem você, esses sonhos eram só...
Vazios. Não demorou muito tempo para ver que sem você, eu
nunca poderia ser feliz. Se você sabia ou não, a verdade era
que eu era seu desde o segundo que olhou para mim, com os
olhos mais bonitos que já vi. Sabia que você significava mais
para mim do que todas as riquezas, todos os cavalos, e todas
as coisas que o mundo tem para oferecer. E eu estava certo.
Cami, eu te amo com tudo o que sou, e com tudo que eu
sempre espero ser. Deste momento em diante, eu vou passar o
resto dos meus dias tendo a certeza que você nunca se
arrependa de ter me escolhido.

Suas palavras flutuam através da igreja como se fossem


asas do anjo. Tenho certeza de que cada coração parou, assim
como o meu. Conhecer um amor assim é o sonho de todos,
quer admitam ou não. E ter alguém que olhe para mim como
Trick estava olhando para Cami é o meu sonho.

Se ele não tivesse dito uma única palavra, o olhar em


seus olhos dizia tudo. Tudo o que ele vê é Cami. E isso é tudo
o que ele precisa ver. Estava ali em seu rosto, para que todos
possam ver. Assim como ele disse, ela é tudo para ele. Tudo.

Meus olhos piscam para Rusty. Ele estava me olhando


com uma expressão estranhamente intrigada. Eu desvio o
olhar. Meu coração não pode suportar essa dor.
Capítulo 12
Rusty

Eu agarro o braço de Trick após o fotógrafo terminar de


tirar um milhão de fotos. Quero falar com ele antes dele se
dirigir para o salão de recepção com Cami.

—Ei, cara, eu posso falar com você por um segundo?

—Claro, —diz ele, beijando a bochecha de Cami e dizendo


a ela que ele logo irá para perto dela. Andamos alguns metros.
—O que está acontecendo?

—Eu estaria na sua lista negra, para sempre, se saísse


agora? —Ele não diz nada, apenas me olha desconfiado. Me
apresso a explicar. —Tenho um trabalho importante para fazer
no carro, eu só tenho...

Trick começou a balançar a cabeça.

—Pare aí, cara. Você não tem que dar desculpas para
mim. Eu sei que você está cheio de merda. Não há nada que
seja tão importante, que você tenha que fazer hoje. —Eu não
tenho nada a dizer sobre isso. Porque ele está certo. Isso não
tem nada a haver comigo querendo dar o fora daqui agora. —
Mas, você é meu melhor amigo e eu te amo. Sou grato por você
ter feito tanto por mim.

Eu me sinto como uma pilha fumegante de merda. —Se


isso realmente significa muito para você, eu posso...

—Vai, cara. Saia daqui, —Trick diz com um sorriso,


quando me bate no ombro. —Vai fazer o que você precisa
fazer.

Eu sei por sua expressão e o olhar em seus olhos que ele


entende porque eu tenho que fazer isto. Ele não pode entender
tudo o se está a passar (porra, eu nem sequer entendo por
completo o que se está a passar), mas ele me conhece bem o
suficiente para saber que eu preciso sair daqui. E ele não faz
perguntas, algo pelo qual sou grato.

Todo este dia tem me feito sentir nervoso. A confissão de


Jenna ontem à noite me pegou de surpresa, embora já
suspeitava que ela me ama. O fato é que, no entanto, isso não
muda nada. Eu sei o tipo de pessoa que ela é. Eu já vi isso
antes. Com meu pai. Ela já está tentando esconder seus
planos de ir embora. Ela não podia nem mesmo encontrar
meus olhos na igreja. Você pode amar alguém e ainda assim a
deixar. Algumas pessoas são feitas dessa forma, sempre
querem pastos mais verdes para ir, sempre querem mudar. Eu
já vi isso antes. E não vou ficar ligado a uma pessoa como
essa novamente. Eu acho que hoje só me fez lembrar isso. E
isso faz eu me sentir uma merda.
Eu puxo Trick para um abraço e um tapa nas costas.

—Seja feliz, cara. E aproveite bastante a lua-de-mel.

Trick ri. —Oh, eu vou, mas eu não vou esperar até o


Tahiti para tirar esta maldita seca de mim. Pretendo tirar
Cami daquele vestido daqui uma hora.

Eu rio também, inclinando-me para bater meu punho


contra Trick. —Faça isso, meu amigo!

Trick acena e vira-se para o salão de recepção, então


escorrego, sobre a colina, por entre as árvores e desço até o
estacionamento atrás da igreja para pegar o meu carro.
Preciso de um pouco de velocidade e da liberdade da estrada,
para limpar a minha cabeça.

Sinto-me impaciente, enquanto deslizo para trás do


volante. Solto a minha gravata borboleta quando ligo o motor.
Em questão de segundos, eu acelero e dirigo o carro de volta
para a cidade, e, em seguida, em direção à estrada
interestadual. Eu quero um trecho longo e reto de estrada,
onde possa acelerar.

Quando vou para rampa da entrada e vejo que não há


carros na minha frente, ou mesmo muito ao longe, eu aciono e
puxo os quatrocentos cavalos de potência que eu consegui
com as modificações que fiz no meu GTO.

Eu exalo, com a paisagem andando velozmente e os


rugidos do motor em torno de mim, acalmando toda a merda
do meu passado com a mistura da merda do meu presente,
que escurece a minha cabeça. Eu não quero pensar neles. Eu
não quero pensar nisso agora. E, com certeza, não quero
pensar no futuro. Eu só quero sentir a estrada. E a velocidade.
E a manipulação de carro aperfeiçoado que eu praticamente
construí a partir do zero.

Estou tão perdido no momento que não vejo o


pulverizador fino de cascalho na estrada à minha frente. Até
que seja tarde demais.

E então, estou girando, fora de controle.

***

Acordo com o som da voz de um estranho.

—Você pode me ouvir, senhor? Senhor? Você pode me


ouvir? —Ele repete.

Eu sinto como se estivesse pendurado de cabeça para


baixo e, quando tento abrir os olhos, eles não cooperam. Eu
tento me mover, mas alguém ou algo está segurando meu
braço. Tento empurrar, mas a dor dispara sobre todo o meu
lado direito. Ouço um grito profundo.

E então não há nada.

*******

Algo está cobrindo meu rosto. Eu tento levantar a mão


para tirar isso, mas sinto os meus membros pesados demais
para se moverem. Sinto uma pressão sobre o meu braço
direito, como se algo estivesse o apertando com força.

Minha cabeça parece chumbo. Grosso, chumbo


dormente. Mais uma vez, eu tento abrir os olhos. Desta vez,
eles obedecem, e eu os abro apenas o suficiente para ver luzes
brilhantes, mas nenhuma me parece familiar. Parece que
estou me movendo, também.

—Senhor, você pode me ouvir? Você pode me dizer seu


nome? —A voz soa igual a do cara que ouvi antes. Eu quero
dizer para esse bastardo que se ele não parar de perguntar as
mesmas coisas, vou chutar seu traseiro, mas as palavras não
saem.

Ouço apenas alguém gemendo.

E, então, de novo, não há nada.

********

Há um sinal sonoro estranho. E sinto o cheiro de algum


tipo de produto químico áspero, como anti-séptico ou algo
assim. Quando tento virar o meu rosto, a dor queima o meu
cérebro como um ferro em brasa.

Que diabos?

O sinal sonoro acelera, e tento abrir os olhos para ver o


que está fazendo esse horrível ruído. Eu vejo um flash de
verde, sinal de hospital, em seguida, as luzes brilhantes, de
novo.

Eu ouço a voz de uma mulher.

—Respire fundo, Sr. Catron. Respirações lentas e


profundas. Você vai ficar bem. —Ela parece bastante razoável.
—Conte até dez para mim. —Diz ela.

Eu não ouço minha voz, mas na minha cabeça eu conto.

Um. Dois. Três...

E então não há nada.

Mais uma vez.

********

—Sr. Catron? Você está cansado. Pode abrir os olhos? —


Eu reconheço a sua voz, mesmo que pareça estar vindo
através de um túnel de um quilômetro de comprimento. Minha
cabeça parece um pouco confusa, mas não dói tanto como
antes.

—Sim. —Eu consigo responder. Minha língua parece que


está coberta de algodão e minha garganta nunca esteve tão
seca. —Água. —Eu resmungo.

—Você pode abrir os olhos e olhar para mim?

Estou um pouco irritado com seu pedido, mas cumpro o


que me pede. Com o que parece ser uma enorme quantidade
de esforço, abro as minhas pálpebras e tento focar no rosto
pairando acima de mim. Pisco duas vezes, e as coisas parecem
funcionar um pouco melhor.

—Muito bom. Agora eu vou deslizar um pedaço de gelo na


sua boca, ok? Não engula. Basta deixá-lo derreter na língua.

Deus, gelo parece maravilhoso! Abro um pouco a boca e


sinto quando o pequeno e frio cubo atinge a minha língua.

Eu fecho os meus olhos por um segundo, aproveitando o


líquido antes de abri-los novamente, concentrando-me mais
facilmente na mulher.

Ela é jovem e muito atraente. Seu cabelo é vermelho


escuro e está puxado para trás, em um rabo de cavalo. Seu
rosto é bonito e limpo, livre de maquiagem. Ela está usando
um uniforme de enfermeira. Eu reconheço porque vi a minha
mãe com um igual, quase todos os dias durante os últimos
quinze anos. Depois que papai saiu, ela se matriculou na
escola de enfermagem. Ela trabalhou no turno da noite
durante anos, enquanto fazia o mestrado. Ela não usa mais
uniforme, mas ainda trabalha no hospital.

—Você é uma enfermeira. —Eu digo, afirmando o óbvio.


Eu nem sei por que faço esse comentário.

—Sim, eu sou. Você sabe onde você está?

—Eu suponho que no hospital.


—Sim. Você está saindo de uma cirurgia. Você se lembra
o que aconteceu?

Eu tento me lembrar, mas tudo parece bastante confuso.


Lembro-me de sentir o carro começar a deslizar e me lembro
de ver trechos de grama... Pedaços de grama caindo. Lembro-
me vagamente de ouvir alguns sons metálicos, altos, mas
nenhum que realmente fizesse sentido. O melhor que me
consigo lembrar é que eu estava tendo um acidente, mas dos
detalhes simplesmente não me consigo lembrar. —Acho que
tive um acidente, mas não me lembro de muita coisa.

—Sim, você teve um acidente de carro. Você sofreu uma


concussão grave, várias contusões e seu braço direito quase
foi arrancado. Você foi levado para a cirurgia, uma hora após
ter chegado na ambulância. Vai passar algum tempo na UTI,
até que possamos ter certeza que você não sofreu quaisquer
ferimentos internos. Você está com dor?

Suas palavras se misturam na minha cabeça.

—Uhhh... —Ela está me contando muito, e muito rápido.


Não consigo pensar.

—Em uma escala de um a dez, sendo um sem dor e dez a


pior dor que você já experimentou, onde você classificaria sua
dor?

Sinto dor em apenas um ponto.

—A minha cabeça. Isso dói.


—Você tem uma dor de cabeça

Não foi isso que eu disse?

—Sim.

—Isso poderia ser por causa da anestesia ou dos


narcóticos. Assim que chegar lá em cima, vou pegar um pouco
de Tylenol.

Concordo com a cabeça, me sentindo aborrecido e


irritado, de repente.

Eu fecho os meus olhos contra a visão de retângulos de


luz por cima de mim, e relaxo contra o colchão da maca. À
medida que passamos pelos corredores, penso no que me foi
dito.

—Qual foi o braço machucado? —Eu pergunto, incapaz


de recordar claramente tudo o que enfermeira disse.

—O seu direito.

Uma sensação suave de alarme passa por mim, mas o


mundo está muito confuso para processar ou me debruçar
sobre isso.

—Posso usá-lo?

—Você vai precisar de algum tipo de fisioterapia, mas o


médico reparou tudo da melhor maneira possível.

—O meu carro?
—Eu não sei nada sobre isso, mas considerando a forma
em que você chegou, estou pensando que ele vai precisar de
muito trabalho para ficar bem.

Caramba!

Depois de uma curta viagem no elevador, a enfermeira


me leva para um curto corredor e através de portas
automáticas. O mundo fica quieto, de repente. Eu mal consigo
ouvir o clique de fechamento das portas atrás de nós.

À medida que a enfermeira me empurra mais para dentro


da nova área, ouço sussurros abafados e bipes fraços. Abro os
olhos novamente, quando estou sendo colocado em um quarto.
À minha esquerda, há uma janela. A cortina está fechada
contra o sol poente. À minha direita, está uma parede de
janelas que dão para uma configuração semi-circular de
estação de bancadas e uma enfermaria. Esta deve ser a UTI.

Após alguns segundos, ouço um baque quando uma


enfermeira ajusta o freio da minha cama, e então ouço a voz
da minha mãe. —Ele foi capaz de consertar tudo?

Levanto a minha cabeça para tentar localizá-la, mas caio


de volta sobre o travesseiro. Deve pesar pelo menos cinqüenta
quilos.

—Mamãe?

Sinto a sua mão fria pegar a minha mão esquerda.


—Eu estou aqui, Jeff. —Diz ela. Com a sua calma e
prática voz de enfermeira. Sinto que estou a sorrir. Ela é a
única pessoa no planeta que me chama Jeff. Jeffrey quando
ela está zangada. —Dê-me apenas alguns minutos para falar
com a enfermeira. Eu já volto.

Ela beija minha testa e, em seguida, não ouço mais suas


vozes. Eu quero esperar ela voltar e responder a todas as
minhas perguntas, mas porra! Estou tão cansado, de repente.
Talvez se eu descansar por apenas alguns minutos...

********

Quando eu acordo, abro os olhos imediatamente e sem


esforço.

Já era maldito tempo disso acontecer! Eu penso para


mim mesmo.

Levanto a minha cabeça e, apesar do pulsar maçante que


começa instantaneamente, eu olho ao redor. Há algumas
pessoas atrás do balcão alto do posto de enfermagem. Todas
as luzes estão acesas e, quando me viro para olhar para fora
das janelas, vejo que está escuro lá fora. Mas o que me intriga
é que eu tenho que olhar por algum tipo de engenhoca para
ver.

O braço direito está imobilizado por uma série de fios. O


meu braço está engessado e há tiras saindo do meu cotovelo.
Elas estão anexadas a algum ponto fixo que não posso ver.
Meu cotovelo está dobrado em um ângulo de noventa graus e
meu braço inferior esta engessado, também. Existem tiras
saindo de debaixo dele para as minhas mãos, e elas se ligam a
alguns fios que sobem em uma póle que está em algum lugar
abaixo de contrapesos, em torno do pé da cama.

—Que diabos?—Eu digo a ninguém em particular.

Uma sombra cai sobre mim e eu olho para trás em


direção à porta. Minha mãe está lá. Apesar de não ser curto,
seu cabelo morango está fora do lugar, as suas roupas e
maquiagem deixa parecer que ela acabou de chegar ao
trabalho, há um olhar exausto sobre ela que não estou
acostumado a ver.

Meu estômago se afunda.

—O quê? Algo está acontecendo. Eu posso ver isso em


seu rosto.

Ela caminha mais para dentro da sala e me dá um


sorriso, enquanto se senta na borda da cama. —Não posso
simplesmente ficar feliz por você estar bem?

—Claro que você pode. Houve alguma dúvida que eu não


ficaria?

—Não realmente. Você está aqui apenas como medida de


precaução, no caso eles terem perdido alguma coisa interna.

—Bem, então, porquê a preocupação?


—Bem... É só que... Jeff, seu braço está em péssimo
estado. E eu sei como você é impaciente. Você precisa
entender o quanto é importante você deixá-lo curar direito e
perceber que vai estar muito limitado por um tempo. Se você
força-lo, filho, poderá ter danos permanentes.

—Força-lo? Como que diabos eu vou forçar? Eles me tem


enfaixado como um maldito fantoche!

—Com toda a razão. Você foi jogado para fora do carro e


seu braço direito, deve ter ficado enroscado no seu cinto de
segurança de alguma forma. Quase foi arrancado. O osso
rotador foi rasgado, você deslocou seu ombro, seu úmero foi
quebrado em dois lugares, o seu...

—Fale Inglês, mulher. —Interrompo bruscamente,


tentando adicionar uma nota de brincadeira na minha voz,
mas falhando miseravelmente. O fato que ela está agindo desta
maneira está me deixando preocupado.

—Você deslocou seu ombro, você estragou tudo o que o


articula, quebrou o braço em dois lugares, quebrou ambos os
ossos em seu braço inferior e sofreu danos no ligamento em
sua mão direita, rachou três costelas e machucou seu quadril
direito. Você também teve uma concussão e eles retiraram um
monte de vidro para fora do seu rosto. Isso é simples o
suficiente para você?

—Então o que você está dizendo é todo meu lado direito


está machucado?
—Sim, para dizer o mínimo.

—Ok, então quanto tempo vou ficar aqui?

—Semanas. Você não...

—Semanas? Você está brincando comigo? Por que não


podem apenas me colocar em um molde normal e me enviar
para casa em poucos dias?

—Porque as suas lesões são graves, Jeffrey. Isso é o que


estou tentando dizer. Você não pode apressar isso ou você
poderá ter danos permanentes.

—Que tipo de dano permanente?

—O tipo que significa que você nunca poderia recuperar a


plena utilização da sua mão e braço direito.

Oh merda.

Agora vejo por que ela parece tão chateada. Meu


trabalho, minha vida, todos os meus sonhos dependem de eu
ser capaz de usar as minhas mãos e braços para trabalhar em
carros. Cacete, teria sido melhor ter quebrado a minha perna
do que o meu braço. Ou até mesmo o meu braço esquerdo.
Mas não, foi o direito. Deus Todo-Poderoso, não o meu lado
direito!

O que diabos eu vou fazer com minha a garagem? Com os


veículos que já fui contratado para restaurar? Eu estava tendo
essa parte do meu sonho. Tem sido um processo lento, mas eu
podia vê-lo começando a tomar forma. Mas agora... Depois
disso…

—Bem, eu acho que vou ter que me curar rápido e bem.

—Eu sei que você vai. Se fizer o que eles dizem.

—Eu vou, eu vou, —eu digo, já aborrecido e pronto para


deixar essa conversa para trás. —Quem mais está lá fora? Tem
alguém?

Mamãe balança a cabeça.

—Você só saiu da cirurgia há um par de horas, Jeff. Dê-


lhes algum tempo.

—Bem, Trick está na sua lua-de-mel, eu tenho certeza. E


Jenna provavelmente nem sabe ainda, não é?

—Eu conversei com Leena. Ela ligou quando soube. Ela


disse que ia falar com Trick, mas pedi para esperar até que
eles tirassem alguns dias para desfrutar de sua viagem e para
dizer-lhes que você estava ficando bem. Eu sabia que você não
queria que eles corressem para casa para vê-lo. Você ainda vai
estar aqui quando eles voltarem.

—Não, eu não iria querer isso. —Depois de alguns


segundos, eu pergunto-lhe novamente sobre Jenna. —Então
você não ligou para Jenna?

Ouço seu suspiro.

—Sim, eu liguei para Jenna.


—Será que ela vem?

—Eu não sei. Ela desligou o


telefone.

Ela desligou? O que diabos


isso quer dizer?

Capítulo 13
Jenna

Eu nunca estive tão despedaçada e tão confusa em toda a


minha vida! Eu estava me recuperando da morte da minha
mãe, quatro anos atrás, mas eu ainda odiava hospital.
Felizmente, ela quis passar seus últimos dias em casa, o que
foi capaz de fazer, mas eu me lembro do cheiro e da
desesperança, quando eu voltava para casa com meu pai,
enquanto ele chorava em silêncio no banco da frente. Apesar
de tudo, eu odeio hospitais. Eu sinto falta de ar só de pensar
em ir visitar Rusty. Tanto que eu me apavorei e desliguei na
cara da mãe dele, eu vou ter que ligar e me desculpar. E eu
vou até lá. Mais tarde.

Depois que eu conquistar o primeiro passo, o primeiro


passo para Rusty.

Apesar do meu medo de hospitais, apesar do fato que eu


provavelmente ofendi sua mãe, apesar do fato que eu fiz uma
das maiores confissões da minha vida e ele não ter dito nada,
apesar do fato dele ter fugido do casamento, eu vou ver Rusty.
No hospital. Porque eu o amo.

Fiquei um pouco magoada quando descobri que ele


deixou o casamento antes da recepção. Não só ele não me
procurou para falar que estava indo embora, mas também
pareceu que ele estava me evitando por completo. Não entendi.
A única coisa que consigo imaginar é que o uso da palavra
com A o tinha assustado. Tenho certeza que Rusty sabe que
eu o amo, mas eu nunca tinha dito a niguém antes dele. Até
ontem à noite.

Talvez a tudo isto se pudesse acrescentar o fato de que


ele, provavelmente, não tem sentimentos mais profundos por
mim. Talvez tudo isto seja apenas um bom sexo e ótima
companhia, nada mais.
Enquanto coloco um par de
jeans, me preparando para sair me
lembro de outra coisa que me deixa
nervosa. E se ele não me quiser lá?
O que eu vou fazer?

Eu afasto o pensamento da minha mente. Eu não posso


pensar nisso agora. Eu tenho que ir. Não só é a coisa certa a
fazer, mas é o Rusty. E eu o amo. E ele quase foi tirado de
mim. Eu tenho que vê-lo novamente. Eu tenho que ir.

Capítulo 14
Rusty
O tempo parecia diferente por algum motivo. Mais lento.
Como se cada minuto fosse uma hora. Talvez porque eu
dormia muito. Talvez porque eu não conseguia dormir agora.
Talvez seja porque estou esperando. Por Jenna.

Eu não sei o que pensar sobre ela. Eu não consigo


entendê-la. E não tenho certeza se eu deveria ao menos tentar.

Estava esperando que me tivesse enganado sobre ela, que


ela realmente não fosse como o meu pai. Ele sempre achou
que havia algo melhor em outro lugar também. Então, ele foi
embora. Ele me abandonou e à minha mãe e nunca olhou
para trás.

Eu sempre procurei não cometer o mesmo erro que ela


cometeu. E, quanto mais eu penso sobre isso, mais eu percebo
que pessoas não mudam. As coisas que eu amava tanto na
Jenna provavelmente são algumas das coisas que vão levá-la
para longe de mim. Eu acho que você realmente não pode ter o
bolo e comê-lo ao mesmo tempo, tem de se escolher.

Talvez eu devesse deixar ela partir. Se ela odiava


Greenfield antes, odiaria o dobro se ela sentisse que tinha que
ficar para cuidar de um inválido que pode ou não ter um
futuro para ambos.

Não, os dias de ter alguma coisa para oferecer a Jenna, o


tempo em que poderia competir com o resto do mundo
acabaram. Acho que é hora de deixá-la ir, antes que ela corte
tudo comigo e corra.
Capítulo 15
Jenna

Como se vê, a minha memória (e provavelmente minha


imaginação, até certo ponto) tinha difamado os hospitais
muito mais do que o necessário. Pelo menos até agora, eu
acho, enquanto ando no elevador para o terceiro andar.

Estou inclinada a repensar a minha bravata quando as


portas se abrem e um longo corredor estéril se estende diante
de mim. O cheiro forte de desinfetante pica o meu nariz e me
faz pensar em coisas desagradáveis, pessoas doentes, pessoas
morrendo e pessoas que estão perdendo outros. De certa
forma, pelo menos, na maneira como reage a minha memória,
é como se o hospital tivesse levado a minha mãe de mim.
Visita após visita, mês após mês.

As portas começam a se fechar de novo, então saio à


pressa. Depois de duas respirações profundas e trêmulas,
começo a voltar para trás, apenas para encontrá-las fechadas
e, meu meio de fuga se foi. Por um segundo, o pânico me
atinge. Eu giro em um círculo, desnorteada, procurando o
sinal de saída vermelho brilhante. Sinto a minha testa
formigar com o suor. Ao mesmo tempo que as paredes ficam
cada vez mais próximas, o ar fica cada vez mais pesado.

Oh merda, merda oh, oh merda!

Finalmente, vejo a saída. Dou um passo em direção a ela,


mas uma onda de calor jorra sobre o meu rosto, fazendo o
quarto nadar bem diante dos meus olhos. Estendo a mão para
a parede, para qualquer coisa que seja constante, em um
mundo que cresceu preocupantemente instável.

Por que eu vim? Por que eu vim?

Minha palma bate no concreto fresco da parede e eu me


inclino em direção a ela, apertando a minha bochecha na
superfície pálida e pintada. Meu pulso está acelerado, meu
coração está batendo forte, e a minha mente confusa está
lutando para responder à minha pergunta simples.

Por que eu vim? Por que eu vim?


Mas, finalmente, como uma brisa fresca na pele
ressecada, minha cabeça limpa o suficiente para eu sentir a
resposta.

Rusty. Eu vim para Rusty.

Eu fecho meus olhos e tomo uma respiração profunda,


me firmando. Apenas o pensamento dele, no fato que ele está
tão perto de tomar toda minha vida de uma forma muito
permanente e irrevogável, dá-me o foco que preciso para obter
um controle sobre mim mesmo.

Não me movo por vários minutos, enquanto espero minha


calma ser restaurada. Ainda apoiando-me fortemente contra a
parede, testo as minhas pernas trêmulas. Não me sinto forte
de nenhuma forma, mas elas são fortes o suficiente para me
apoiar. Essa é a coisa principal. Me afasto do concreto e aliso o
meu cabelo antes de virar e ver duas portas de madeira,
intimidantes, na minha frente.

Ao me aproximar, leio as letras grandes e vermelhas


estampadas em ambos os painéis. Pessoal autorizado. Eu mal
me encaixo nessa descrição.

Mastigo o meu lábio, enquanto penso no que vou fazer


agora. Ao olhar casualmente para a esquerda e para a direita,
vejo a pequena campainha ao lado da porta. Há um sinal
abaixo que tem uma programação de horas das visitas e o
procedimento para entrar.
Seguindo as instruções, eu pressiono na campainha e
espero. Depois de alguns segundos, ouço uma voz bastante
agradável.

—Posso ajudá-la?

—Hum, eu estou aqui para ver Rust—er, quer dizer,


estou aqui para ver Jeff Catron.

—Espere por favor.

A linha cai, deixando-me em pé na frente da porta,


olhando para a caixa como uma idiota. Olho ao redor para me
certificar que ninguém está me observando. Ainda estou
sozinha, graças a Deus.

Finalmente, ela fala novamente.

—Quarto 312. Pode entrar.

Um clique é seguido por um zumbido alto, pouco antes


das duas portas se abrirem em direções opostas, permitindo-
me passar.

O centro da sala é grande, agradável e dominado por um


enorme posto de enfermaria. Disposto em um semi-círculo em
torno dele havia um anel de quartos de pacientes, todos com
janelas e portas de vidro que permitiam os enfermeiros ver o
interior, se as cortinas estiverem abertas. Olho para minha
esquerda para ver o quarto 312. Penso que Rusty esteja na
outra extremidade, então começo a caminhar ao longo da
enfermaria até chegar ao seu quarto.
A cortina está fechada e não ouço nenhum som vindo
dele. Hesitante, bato na estrutura metálica que rodea a porta
de vidro.

—Entre. —Ouço Rusty dizer. Meu coração salta uma


batida e seco as minhas mãos úmidas na bunda da minha
calça jeans, antes de abrir a porta.

Quando espio para dentro, vejo Rusty deitado na cama,


com o braço ligado a todos os tipos de fios, ou cordas, ou algo
assim. Suas bochechas mostram sinais de sua barba escura,
como se a tensão das últimas horas o atingisse por completo.
O cenho franzido que ele está usando só contribui para essa
impressão.

—Hey. —Digo fracamente.

Ele estreita os olhos para mim antes de falar.

—Hey. —Ele responde na mesma moeda e não me faz


sentir melhor sobre as coisas.

—Posso... Posso entrar?

—Eu disse “entre”, não disse? —Tenho certeza que a


pequena curva dos seus lábios é uma tentativa de suavizar
sua resposta mal-humorada, mas não magoa menos o meu
coração.

Tentando tomar o controle da situação, como uma


menina grande, devolvo o seu sorriso apertado e entro,
dirigindo-me para a única cadeira no quarto. Sento-me na
borda, agarrada à minha bolsa como uma tábua de salvação.

—Então, como você está se sentindo?

—Como pareço que me estou sentindo? —Ele pergunta


com um breve sorriso fraco.

—Tenho certeza de que você já esteve melhor.

—Sim, eu estive melhor.

—O que aconteceu? Quero dizer, obviamente, que esteve


um acidente, mas...

Rusty respira fundo e encolhe os ombros.

—Eu ainda estou confuso com alguns dos detalhes, mas


pelo que eu me lembro, derrapei num pouco de cascalho na
interestadual e deslizei para o acostamento. Devo ter capotado
o Bode algumas vezes, também.

Embora ele casualmente se refira ao seu GTO como –


bode - seu tom é verdadeiro, me dá a impressão que ele não
está tão indiferente sobre o acidente.

—Isso soa mal.

Ele dá de ombros novamente.

—Poderia ter sido pior.


—Sim, podia ter morrido. Mas, meu Deus, olhe para você.
Quantas lesões você tem?

—Manguito rotador rasgado, ombro deslocado, múltiplas


quebras no braço, três costelas quebradas e uma variedade de
cortes, arranhões e contusões.

Eu tremo com a dor que envolve o meu coração. Dói-me


pensar que Rusty está ferido. E, enquanto olho para ele,
deitado na cama todo enfaixado e amarrado, me dói ainda
mais saber que não há nada que eu possa fazer para ajudá-lo.

—Quanto tempo até você conseguir... Quanto tempo você


vai ficar aqui?

Eu vejo o seu cenho, antes dele olhar pela janela, atrás


da minha cabeça, e percebo que não era a pergunta certa a
fazer. Algo sobre isso o incomoda. Mas, honestamente, eu não
sei o que dizer. Ele está agindo como se não se importasse com
a minha presença, o que está me fazendo querer sair deste
lugar ainda mais rápido.

—Provavelmente um bom tempo. Muito tempo para você


ainda estar por aqui. —Diz ele, sem sequer me olhar, enquanto
fala.

Suas palavras são como punhais no meu coração. Meu


maior medo foi confirmado. Rusty realmente não me quer por
perto. Acho que eu era boa o suficiente para ele se divertir,
mas não boa o suficiente para me manter.
Com meu coração encolhendo dentro do peito, tudo o que
consigo fazer é conter as lágrimas. Me viro para fora da janela,
ao mesmo tempo que olho para a escuridão crescente,
enquanto eu me recomponho. Penso em Rusty, na forma
brutal como ele me dispensou, e faço o que consigo para me
manter inteira.

Fico com raiva. —Bem, isso provavelmente é uma coisa


boa. Eu odeio hospitais. —Digo, voltando a olhá-lo e forçando
um sorriso.

—Não sinta que tem de voltar aqui, novamente. Não vai


ferir meus sentimentos.

Mais punhais. Eu quero gritar com ele, dizer-lhe que


passei o inferno só para chegar até aqui e apenas vê-lo esta
noite. Mas eu não vou. Eu não quero sua piedade. Ou um
tapinha nas costas. Eu não quero que ele seja bom para mim
porque já consegui isso dele, antes.

Então, em vez disso, dou o que estou recebendo. Olho por


olho. Casual para casual.

Concordo com a cabeça e me inclino para frente,


preparando-me para ficar de pé.

—Ok. Talvez eu venha aqui novamente antes de ir


embora, se eu tiver tempo.

—Antes de ir embora? Já está correndo?

Algo em seu tom é sarcástico.


—Eu não estou correndo, —respondo defensivamente. —
Me formei na faculdade. Tenho que arrumar um emprego,
eventualmente.

—Isso deve ser fácil. Tenho certeza que você já tem


algumas coisas programadas. Um plano de fuga. —Seu tom é
tão amargo que meu coração cai no chão de concreto. Agora,
eu definitivamente não podia dizer a ele que tenho entrevistas
marcadas. Não vou dar-lhe a satisfação de saber que está
certo. É a minha vez de estreitar os olhos para Rusty. —
Cacete, qual é o seu problema?

—Problema? O que faz você pensar que eu tenho um


problema?

—Você faz parecer como se eu estivesse fugindo de algo,


quando tudo que estou fazendo é iniciar minha vida.

—Certo. E isso é exatamente o que você deveria estar


fazendo. O momento é perfeito. Este é o melhor. Você precisa
continuar com os seus planos, longe daqui.

Sento-me, olhando para o seu rosto bonito, enquanto


meu coração está vomitando sangue ao redor da ferida que as
suas palavras afiadas fizeram. Ele continua, golpeando a faca
um pouco mais profundo.

—Você precisa encontrar um lugar onde possa fazer


novos amigos. Encontrar um trabalho que você ama.
Encontrar um pouco de felicidade.
Suas palavras dizem que ele quer que eu vá e encontre a
felicidade, mas algo sobre sua atitude desmente seu bem-
querer. De certa forma, sinto que ele está me culpando por
querer mais.

—Por que quando você diz isso, soa como uma coisa
ruim?

—Eu não faço ideia. Deve ser sua imaginação.

—Não é minha imaginação, Rusty, —digo, colocando-me


de pé. —Você me culpa por querer um emprego e usar a
educação que passei os últimos quatro anos recebendo?

—De modo nenhum. Eu sabia que isso era o que você


faria.

—Mais uma vez, você faz isso soar como se fosse uma
coisa ruim.

—Eu não estou fazendo isso soar coisa nenhuma. Só


estou dizendo que nós dois já sabíamos, Jenna. Você estava se
preparando para ir embora. Era apenas uma questão de
tempo.

—Ah, então agora eu sou uma pessoa terrível por não


querer ficar em Greenfield pelo resto da minha vida?

—Eu não quis dizer isso.—

—Mas isso é o que você quis dizer.


—Não me diga o que eu quis dizer, —ele diz. —Você não é
o tipo que se contenta, Jenna. Isso é tudo que estou dizendo.
Você é do tipo que tem grandes planos, para uma vida melhor.
E isso não inclui esta cidade ou as pessoas dela. Nós dois
sabíamos disso. E foi divertido enquanto durou. Não há razão
para arrastar isso.

Isso dói. Eu disse a ele que o amava há menos de vinte e


quatro horas. Embora parecesse uma eternidade agora, Rusty
agia como se nunca tivesse acontecido, como se eu nunca
tivesse tido sentimentos por ele. Ele fez parecer como se
fôssemos uma forma conveniente de passar meu tempo em
Greenfield, nada mais. Como se estivéssemos destinados ao
fracasso.

—Uau, —eu digo, tentando manter a dor afastada da


minha voz. Cavo fundo, procurando um pouco de orgulho para
me ajudar a sair dessa sem deixar as coisas piores do elas já
estão. —Você tem tudo planejado pra mim, então, não é,
Rusty?

—É o que é, Jenna.

—Eu acho que não vou te incomodar mais, então. —Com


a cabeça erguida, dou passos largos através do quarto, em
direção à porta. Demoro em cada passo que dou, dando a
Rusty todas as chances de me parar. Para me dizer que estou
errada. Para me pedir para ficar.
Mas ele não o faz. Quando ele
fala, é só para me dizer adeus.

—Desejo-lhe felicidades,
Jenna. —Rusty diz baixinho,
enquanto puxo a porta. Eu não viro quando respondo.

—Obrigado, Rusty. Você também.

Quando deixo a porta bater atrás de mim, desta vez eu


corro. Corro até que eu esteja no elevador, segurando um
punhado de lágrimas.

Capítulo 16
Rusty

Não há, absolutamente, dúvida nenhuma que tenho


dúvidas sobre as últimas palavras que Jenna e eu dissemos
um ao outro. Infelizmente, ela fez o que eu pedi e foi embora.
Não só tem sido solitário e chato por aqui, mas eu tenho tido
muito tempo para pensar nela.

Eu oscilo entre a tristeza e a amargura. Por um lado,


sinto que a empurrei para longe. Talvez ela tivesse certa e teria
ido de qualquer maneira. Mas talvez, apenas talvez, ela teria
me provado o contrário e teria ficado aqui. Se eu não a tivesse
praticamente empurrado para fora da porta.

Mas depois de pensar sobre isso por um tempo, a


amargura aumenta. Mesmo se Jenna ficasse, mais tempo, não
teria sido permanente. E eu não sou o caso de caridade de
ninguém. Eu não quero que ela fique por pena de mim. Oh,
inferno, não!

Não é necessário dizer que eu sou praticamente um urso


mal humorado quando Trick e Cami chegam da lua de mel e
vêm me visitar.

—Tem um quarto regular agora, hein? Ouvi dizer que


você passou algum tempo na UTI. —Trick diz, enquanto
caminha com a mão de Cami dobrada firmemente na dele.
Eles estão ambos bronzeados e brilhantes. E não apenas com
o brilho que vem de apanhar sol. É o tipo de brilho que vem a
partir de algum lugar mais profundo, o tipo que vem por
estarem felizes até em suas almas.

—Meu Deus, já estava na hora! —Digo. —Estou surpreso


que ainda sobre alguma coisa dela. Quanto tempo faz?

Trick ri. Cami cora.


—Apenas duas semanas, seu idiota. Que diabo se passa
com você?

—Para além do óbvio? —Eu pergunto.

—Sim, espertinho. Para além do óbvio.

—Eu estou aqui. Não é o suficiente?

—Eu achei que você estaria recebendo três banhos de


esponja por dia de Jenna. —Ele brinca.

—Dificilmente.

Trick me dá um suspiro exasperado.

—Tudo bem, o que você disse a ela? Isso tem que ser
culpa sua. Caso contrário, Jenna provavelmente estaria aqui
agora, ensaboando você com uma esponja.

—Quer dizer que não falou com ela desde que voltou?

—Não falei.

Nós dois olhamos para Cami. Seus olhos ficam


arregalados e sua expressão se transforma como a de um
animal encurralado.

—O quê? Nós literalmente dirigimos do aeroporto até


aqui. Eu não vi ninguém ainda.

—Ainda não viu, mas você já conversou com alguém? —


Trick pergunta.
A boca de Cami abre um par de vezes, como se ela
quisesse dizer alguma coisa, então, finalmente ela a fecha e
suspira.

—Sim.

—Jenna?

—Sim.

—E então?

—E, ela perguntou se já tínhamos vindo te visitar. Eu


disse que não.

—Foi isso?

—Praticamente. —Cami olha entre eu e Trick e de volta.


Ela se agita nos calcanhares e solta a mão de Trick,
esfregando as dela uma na outra. —Então, onde está a
máquina de vendas? Preciso comprar uma garrafa de água ou
algo assim. Estou com sede.

História plausível, eu acho. Mas não digo isso.

—Eu andei um pouco ontem, quando eles me deixaram


sair da cama para fazer PT. No final do corredor há uma, para
a esquerda.

—Eles já o deixam sair da cama? —Trick pergunta depois


Cami sair.
—Claro que eles deixaram! Eu quase beijei o pobre rapaz
que tinha sido meu enfermeiro ontem, quando ele me disse
que eu poderia andar. Antes disso, meu braço estava em
tração. Eu não poderia nem mesmo dar uma mijada, sem que
fosse um grande ato.

—O que você fez quando finalmente se levantou?

—Eles queriam que eu fosse devagar. O que de esperar


pois danifiquei, bastante, alguns ligamentos do meu quadril.
Mas eu estava determinado que mesmo que chovesse ou
fizesse sol eu iria sair desta maldita cama. Eu queria que eles
soubessem que eu estava pronto para me dispensarem.

Faço uma pausa antes de terminar de contar o que


aconteceu. É durante esse tempo, que Trick, meu melhor
amigo que me conhece melhor do que ninguém, entende tudo.

—Caiu em cima da sua bunda, não foi?

Não posso deixar de sorrir.

—Basicamente. Eu estava muito mais fraco do que


pensei que estaria. Quando o terapeuta me pegou, eu tentei
caminhar. Pensei em mostrar a ele como autosuficiente eu
sou. Bem, eu mostrei a ele.

Trick joga a cabeça para trás e ri. Eu balançei minha


cabeça, deixando-o tirar isso do seu sistema.

—Será que ficou melhor depois que eles pegaram sua


bunda patética?
—Sim, um pouco. Eu ainda estou meio fraco, mas estou
fazendo o máximo que consigo para sair da cama. Vou sair
daqui assim que for humanamente possível.

Trick acena com a cabeça, ainda sorrindo. Quando o


silêncio se estende, ele anda mais para perto da cama.

—Então, o que aconteceu com Jenna? Você fez algo


estúpido, não foi?

—Cara, por que você está sempre do lado dela?

—Porque eu sei como você é. Você é um cara. Fazemos


coisas estúpidas.

—Bem, não fui eu dessa vez. Ela estava se preparando


para sair de qualquer maneira. Poupei-lhe o trabalho de ter
que voltar aqui e de fazer de babâ.

—Você realmente é um idiota, não é?

—Não, porque eu estava certo. Ela não vai ficar por aqui,
Trick. Esse nunca foi seu plano. E ainda não é. Ela estará
começando um trabalho em outro lugar. Ponto. Fim.

—Só porque ela não quer viver nesta cidade para sempre
não significa que ela não quer ficar com você. Porra, você
mesmo fala sobre ir para longe daqui e abrir uma loja de
restauração de clássicos, perto de uma grande cidade. Como é
que isso é diferente?
—Porque eu nunca deixaria alguém que eu amo. Não por
um trabalho, não por qualquer coisa.

—Alguma vez você já pediu para ela ficar? Por você?

—Não.

—Por que não?

—Eu sei que ela não quer isso. Por que eu iria pedir a ela
para ficar quando sei que ela não quer?

—Então, como porra você pode ficar bravo por ela ir


embora?

Estou ficando irritado.

—Olha, eu não posso explicar isso para você. Você,


obviamente, não entende. Ela não é o tipo de ficar por aqui. É
isso. Foi uma coisa divertida enquanto durou. Agora acabou.
Deixe isso em paz, sim?

Trick apenas balança a cabeça, mas não diz mais nada


sobre isso. Mesmo assim, de certa forma, eu gostaria que ele o
fizesse.
Capítulo 17
Jenna

Eu vago sem rumo pela casa. Passeio pelo salão, com o


seu sofá marrom confortável e paredes creme escuro, em
seguida, na sala de jantar. Deixo meus dedos trilharem sobre
as costas da cadeira, notando as bordas desgastadas. É o
naipe que meus avós deram aos meus pais como um presente
de pedido de casamento quando assinaram sobre o pomar
depois de saírem para curtir sua aposentadoria na Flórida.
Uma vez, ele foi novo. Agora parece velho e desgastado. E eu o
amo. Cada ponto suave, cada ponto desbotado é o resultado
de ser manuseado milhares de vezes por mamãe e papai, por
Jake e eu.

Embora meu pai nos tivesse enviado para a escola logo


após a morte de minha mãe, esta casa ainda mantinha um
milhão de memórias preciosas. Elas apenas não são
suficientes para me fazer querer ficar aqui. Poucas coisas são.

Sigo em frente, para a cozinha, observando, como sempre


faço, o leve cheiro de pêssegos. Deve estar permanentemente
embutido na madeira dos pisos e no reboco das paredes. A
cozinha sempre cheirava a doces, assim como o pomar lá fora.
—Quanto tempo mais você vai ser capaz de deixar essas
pessoas longe, Jenna?

Assustada, me viro para a porta dos fundos. Encontro


Cristos Theopolis, meu pai, ali, de pé, me olhando. Seus olhos
são da mesma cor, mel quente, que os do meu irmão, só que
agora, detêm preocupação. Essa é a única diferença, porque os
de Jake nunca ficam assim. De alguma forma, a vida deixou
seu coração duro e principalmente inacessível.

Eu suspiro.

—Mais algum tempo. É apenas uma entrevista, papai.

—Só uma entrevista. Só o resto da sua vida, você quer


dizer.

—Quem disse que eu irei gostar de trabalhar lá?


Formação em administração, com foco em marketing não é um
campo restrito. Eu poderia trabalhar em qualquer lugar, em
várias colocações.

—É uma grande empresa, Jenna. Você foi a única que


tentou convencer-me do sucesso deles, apenas um par de
meses atrás. Por que a hesitação repente?

—Eu... Eu... Eu não sei. —Digo, com um encolher de


ombros, caminhando para a janela da cozinha, para olhar lá
fora.

—O que deu em você, Jen? Ultimamente, está tão


distraída. Você parece inquieta e... Bem, infeliz.
Eu suspiro.

—Acho que eu estava esperando que Rusty saísse do


hospital antes que eu fosse embora.

—Rusty? Eu pensei que vocês dois estavam separados.

—Nós estamos. Isto é, se realmente estivemos juntos.

—O que isso significa?

Eu suspiro novamente.

—Oh nada. Eu acho que estou apenas... Esperando.

—Sobre o quê? O que você acha que vai acontecer se ele


sair antes de você ir embora?

—Eu não sei, eu...

—Você acha que ele poderia propor casamento? Quero


dizer, vocês terminaram. Esperar não será bobo? Talvez você
devesse seguir em frente.

Suas palavras atingiram um ponto sensível.

—Deus, papai, eu não sou estúpida. Eu sei que ele não


vai sair e implorar para reatarmos. Mas eu gostaria de ter a
certeza que sua vida voltou ao normal, sabe?

—E se isso não acontecer? E depois? O que você acha


que vai ser capaz de fazer por ele?
—Eu não posso fazer nada por ele. Sei disso. Mas se as
coisas não funcionarem para ele por aqui...

—Jenna, você tem que parar com isso. Você não pode
colocar sua vida em espera por um menino.

—Ele não é um menino, papai. E ele não é apenas - um


menino - de qualquer maneira. Eu o amo. Se houver pelo
menos uma hipótese de podermos estar juntos, eu vou esperar
por ela.

Mesmo para os meus próprios ouvidos, soei iludida e


patética. E isso partiu meu coração, em pedaços ainda mais
pequenos. Pareço ser a única que não consegue ir, que não
segue em frente.

—Você quer que ele venha até você, só porque ele não
tem mais nada? Prefere que ele te escolha porque não tem
uma melhor opção?

Isso é como um bisturi no meu estômago.

—Claro que não.

—Então, quanto tempo você vai esperar, querida? Quanto


tempo mais? Alguma vez você já pensou nisso? Qual é o limite
para ele escolher você primeiro? Porque você merece ser a
primeira.

Pela milionésima vez, sinto a queimadura das lágrimas


no fundo dos meus olhos.
—Eu não sei. Mas eu não posso ir ainda. Eu não posso
fazer isso, papai. —Eu sinto que estou pendurada pelo fio mais
fino do mundo, o da esperança. Mas não acho que isso é o
suficiente para me manter inteira. Eu desmorono. —Eu
simplesmente não posso fazer isso. Eu não posso deixá-lo
assim.

Enterro meu o rosto em minhas mãos. Após uns


segundos, sinto braços fortes e familiares ao meu redor. Uma
mão acaricia o meu cabelo, enquanto o meu pai me acalma.

—Shhh, menina. Vai dar tudo certo. Eu prometo. Basta


deixar acontecer, como deve ser. Não lute contra isso.

O problema com esse conselho é que eu tenho medo de já


saber como isso vai acabar. Eu só não tenho certeza se
consigo viver com isso.
Capítulo 18
Rusty

Acho que é o que acontece quando você é um babaca


total com quase todo mundo, eles param de vir te ver. Eu
estava culpando meu humor ranzinza por estar confinado em
um quarto de doze por doze, uma janela, uma porta e um
monte de máquinas, mas agora estou começando a ver qual é
realmente o problema. Cada pessoa que entra pela porta não é
Jenna e, isso me irrita. Instantaneamente.

No início, Trick estava me visitando todos os dias e ficava


por umas duas horas, mas, agora, ele vem apenas ás vezes e
nunca fica durante muito tempo. Posso dizer que ele fica
ansioso para ir embora cinco minutos após chegar. Não ajuda
que, há duas semanas, depois da sua primeira visita, quando
ele voltou de sua lua de mel, eu disse a ele e a Cami que não
queria falar sobre Jenna. Então, nós não falamos sobre ela.
Nunca. Eles nunca a mencionaram. E, claro, eu nunca
perguntei. Acho que ela se foi e encontrou um ótimo trabalho
em algum lugar. Penso que nunca vou saber se não engolir
algum orgulho maldito e perguntar.

Mas, novamente, eu realmente gostaria de saber? Será


que realmente quero saber como ela está feliz, vivendo em
outro lugar, sem mim? Não, não realmente. Sinto como se
uma faca tivesse sendo torcida dentro de mim.

Após a visita de Trick, para terminar o dia, já longo, a


única coisa que tenho que olhar é a PT. Eles me dizem que
estou indo muito bem, com minha respiração profunda,
minha série de exercícios de movimento e minha deambulação
(uma palavra chique para caminhadas), terei alta assim que o
gesso do braço for retirado. Então vou começar a PT, mais
uma vez.

Isso é muito bom e corto. Eu só quero sair deste lugar o


mais rápido possível. Preciso começar minha vida, também.
Seja qual for o tipo de vida que eu consiga ter.
Capítulo 19
Jenna

—Então, como é que ele está? Ele está ficando mais


forte? Será que já conseguiu uma data para ter alta? —
Pergunto a Cami, no instante em que ela atende o telefone. Eu
sei que Trick foi visitá-lo de manhã e já deve estar de volta
agora.

—Ei, ei, ei! Dê-me dez segundos para responder uma


pergunta de cada vez. Nossa, —ela geme. Fico em silêncio
absoluto enquanto espero. —Trick ainda está o chamando de
bastardo rabugento, se isso te diz alguma coisa sobre como ele
está. Ainda não está feliz por estar no hospital. Sim, ele está
ficando mais forte. Ele arrasou em todas as PT e tem andando
pelos corredores todas as horas do dia e da noite,
evidentemente. E sim, ele tem uma data para receber alta.
Bem, mais ou menos.

Sinto que um pedaço de pau foi enterrado em meu peito.

—O que quer dizer com uma data mais ou menos?

—Eles estão dizendo que será nos próximos dias. Eu não


tenho nenhuma ideia de quando.

—Bem, por que não pergunta ao Trick?

—Jenna! Ele não pensa como você. Ele é um cara.


Lembra? —Ela suspira.

—Eu sei. Sinto muito. Estou muito curiosa.

—Eu sei. —Diz ela, com seu tom calmo e agora sombrio.

Faço uma pausa, debatendo a sabedoria de fazer minha


próxima pergunta. Perguntei-lhe a mesma coisa, um par de
vezes antes e a resposta sempre me perturbava. Mas ainda
assim, eu não consigo parar de me agarrar à esperança.

Pelo menos, por mais algum tempo.

—Ele perguntou por mim?

Há uma pausa.

—Não.
Embora, tenha uma dor aguda no meu coração, também
fico irritada. Como diabos ele pode simplesmente seguir em
frente assim?

—Então ele não falou de mim, nem uma vez, desde que
vocês voltaram? —Eletricidade estática crepita na linha entre
nós. E meu coração cai através das tábuas do chão do meu
quarto. —Diga-me, Cami. Eu preciso saber. Estou ficando
louca e se algo aconteceu, eu preciso saber.

—Nada aconteceu... —Diz ela vagamente.

—Então, o que foi dito?

—A segunda vez que fui vê-lo, ele disse que não queria
falar sobre você.

—Mas por quê? —Eu pergunto, minha voz é baixa, até


mesmo para os meus próprios ouvidos.

—Ele disse que estava cansado de ouvir sobre isso.

Eu posso ouvir a dor nas palavras de Cami. Ela odeia me


dizer algo tão doloroso, mas eu a encurralei com aquela
pergunta. Caso contrário, ela nunca me diria, nunca iria me
machucar com isso.

Mas eu precisava saber. Por mais que doesse, eu


precisava saber.
Eu olho para a minha mão, fechada sobre minha coxa. O
ar em torno de mim fica espesso e irrespirável. Minha cabeça
lateja com a necessidade de gritar. Ou chorar. Ou desmoronar.

Eu limpo a garganta, em seguida, tomo uma respiração


profunda, recusando-me a deixar que minha melhor amiga
veja o quão profundamente ferida eu estou. Ela já viu o
suficiente, ouviu o suficiente. Não vou continuar a fazer isso
com ela.

—Bem, nesse caso, eu acho que tenho alguns


telefonemas para fazer.

—Jenna, eu sinto muito. Eu não sei o que... Eu


realmente pensei...

—Não se desculpe. Nós duas esperávamos. E nós duas


estávamos erradas. Acontece que nenhuma de nós conhecia
Rusty muito bem.

—O que você vai fazer? —Ela pergunta, cuidadosamente.

—Eu vou ligar para os recursos humanos desses dois


lugares que eu estava adiando. Se eles ainda tiverem as vagas,
vou marcar uma entrevista de novo. Só que desta vez, eu vou.
Não há nada que me segurando aqui. Nada, nem ninguém.

E, pela primeira vez desde que conheci Rusty, sinto que


isso é absolutamente, cem por cento, verdade.
—Por que você não vem aqui hoje à noite? Eu vou alugar
alguns filmes e podemos sair. Ou podemos ir ao Lucky. Tudo o
que você quiser fazer.

Eu sorrio. Mesmo escondendo isso dela, Cami me


conhece bem o suficiente para saber que estou morrendo por
dentro. E, sem dúvida, está preocupada comigo.

—Não. Vou deixar vocês dois, recém-casados, com suas


aventuras sexuais pervertidas. Acho que vou ficar aqui com o
papai. Preciso passar algum tempo de qualidade com ele já
que não vou estar aqui por muito mais tempo.

—Sim, isso é provavelmente uma boa idéia.

Ela parece um pouco magoada com minha escolha.

—Você sabe tão bem quanto eu que ele não irá me visitar
quando eu for embora, ao contrário de você. O homem se
recusa a sair de casa.

—Verdade. E por que isso? O que há de tão fabuloso em


permanecer em Greenfield o tempo todo?

—Bem, não é realmente Greenfield, é esta casa. É onde


ele passou o tempo com a mãe. Acho que ele nunca vai amar
outro lugar, tanto quanto ama este.

Cami suspira.

—Isso é tão doce.

—Eu sei. A não ser que isso destrua a sua vida.


—Sim, o amor pode fazer isso.
Se você deixar.

—Eu acho que sim. Acho que


às vezes você apenas tem que
cortar as suas perdas.

—Às vezes você tem. —Ela concorda.

A pergunta é: Como?

Capítulo 20
Rusty

Eu olho para o relógio na parede. Passa das sete da noite.

—O que você ainda está fazendo aqui? —Pergunto à


minha mãe quando ela entra. Normalmente, ela me visita
várias vezes ao longo do dia e, em seguida, vai para casa em
torno das seis ou mais.
Ela não me responde imediatamente. Apenas anda em
minha direção, com os braços cruzados sobre o peito, e senta-
se à beira da minha cama. Ela parece estar imersa em
pensamentos.

—Eu já lhe disse que seu pai voltou depois que ele me
deixou da última vez?

Eu sinto como se tivesse que balançar a cabeça, para


limpá-la. Por que tocou nesse assunto, do nada?

—O quê? Do que você está falando?

Ela olha para longe, com um sorriso melancólico no


rosto.

—Seu pai tinha grandes sonhos. E ele era um homem


muito determinado. Teimoso. Um pouco como você. Ele achava
que havia mais na vida, para além dessa cidade pequena.

Eu cerro os dentes. Irrita pensar nele, pensar no que ele


fez para a mamãe, para nós, muito mais falar sobre isso.

—Eu sei. Ele era um idiota. Você merecia coisa melhor.

—Você ficava tão animado quando ele chegava em casa.


Ficava nas nuvens, achando que ele sempre ia voltar. Então
você ficava deprimido por dias. Às vezes não comia. Eu recebia
cartas de seus professores. Era um ciclo. Foi difícil para você.

—Mas uma vez que ele nos deixou, ficamos muito bem,
nós vivemos muito bem sem ele.
—Você está certo. Nós vivemos. Mas ele voltou uma vez,
uma vez que você não soube.

Eu dou de ombros.

—E então?

—Ele me perguntou se eu não iria com ele. Ele havia


conseguido um emprego como cantor de música country, na
sua equipe de turnê. Também ajudava a descarregar
equipamentos dos caminhões. Ele só sabia que seria sua
grande chance. E ele queria que eu fosse com ele.

Eu não sei como me sinto sobre esta nova informação,


mas estou confuso sobre o porquê dela estar me contando isso
agora.

—Obviamente, você disse não, né?

—Certo. Eu lhe disse que não. Eu sabia que nada me


faria mais feliz do que ter os dois juntos, mas ele não estava
pensando em você, como deveria. Ele não estava pensando
como um pai. E a escola? E quanto à estabilidade? Você não
pode criar um filho na estrada, como um trabalhador
contratado como cantor de música country.

—Então ele nos deixou para seguir seu grande sonho. Eu


já sabia disso, mamãe, mesmo que eu não soubesse que ele
voltou uma última vez.

—Sim, o resultado final foi o mesmo. Mas você sabe, eu


poderia ter lhe pedido para ficar. E ele teria ficado. E as coisas
teriam sido como sempre foram. Mas eu ainda o amava e
queria que ele fosse feliz. Eu sabia que ele nunca poderia ser
feliz aqui. E eu sabia que precisava de mais do que visitas
esporádicas ou uma vida na estrada. Então fiz a única escolha
que eu senti que podia. Eu disse a ele para ficar longe. Eu
disse a ele para perseguir seus sonhos, para encontrar a
felicidade lá fora, mas eu também disse para ele nos esquecer.
Eu sabia que você nunca teria a chance de se curar se ele
continuasse entrando e saindo de sua vida.

Mesmo que eu entenda por que ela fez isso, não estou
certo se posso entender por que ela escondeu isso de mim todo
esse tempo. Ela me deixou pensar que ele nos abandonou,
porque amava seus sonhos mais do que a nós. De certa forma,
isso era verdade. Mas ele teria continuado a nos visitar, se ela
não tivesse lhe dito para ficar longe. E eu não estou certo
sobre como me sinto sobre isso agora, o que eu sinto por ele. E
por ela.

—Mãe, por que você está me contando isso, agora? —


Pergunto, meu tom é repleto de frustração.

—Porque eu sempre pude ver como ele te machucava


quando e vinha e, em seguida, quando ia. Mas eu nunca vi o
quanto doeu quando ele saiu e nunca mais voltou. Mas estou
vendo isso agora. E eu não quero que você viva sua vida com
base em um único evento, o qual você não teve todas as
informações.
Eu nem sei o que dizer sobre
isso. Quero perguntar-lhe do que
diabos ela está falando ou se está
tomando remédios de outra pessoa.
Mas eu não o faço. Porque quanto
mais eu penso sobre isso, mais eu acho que sei o que ela está
tentando dizer. E mais, eu acho que ela está tentando me
ajudar a não perder alguém que vou me arrepender, pelo resto
da minha vida.

Capítulo 21
Jenna
Um latido alto na minha orelha direita me
proporciona um despertar muito rude. Depois de passar a
noite quase sem dormir, me virando, agonizando sobre a
minha situação com Rusty, não estou totalmente surpresa
quando rolo para olhar o relógio e ver que é quase meio-dia.

Einstein, meu assustadoramente inteligente,


Labradoodle¹ branco, late novamente, jogando as patas
enlameadas ao lado da cama e me arranhando com suas
garras sem corte.

—Einstein, não! —Eu brigo.

Ele me encara por alguns segundos, ofegante.


Finalmente, desliza os pés para fora da cama, em seguida, se
vira e trota para o meu armário. Ele traz de volta um tênis, cai
no chão ao lado da cama e late novamente.

—É muito cedo para andar. —Digo-lhe, me jogando de


volta no meu travesseiro. Ouço as unhas dos seus pés sobre a
madeira e alguns segundos depois o barulho de outro sapato
batendo no chão. Outro latido. —Einstein, eu disse não!

Outra raspagem da pata grande faz com que eu me


levante e saia da cama. Com raiva, eu agarro sua coleira e o
reboco para a porta. Ao mesmo tempo ouço o som de um
motor, alto, na frente de casa.

Eu paro e ouço. Einstein fica absolutamente imóvel,


enquanto me observa. Ele é um cão muito inteligente e esse
comportamento não se parece com ele. Um pequeno fio de
alarme serpenteia em minha espinha.

Ouço o motor desligando. Em seguida, uma porta bater.


Em seguida, outra. E então alguém está gritando:

—Ele está no pomar. Por aqui. —A voz é forte, o sotaque é


desconhecido, e penso que houve alguma coisa com os
homens da colheita.

Mas se alguém está ferido no pomar, por que é um


funcionário está falando, ao invés de meu pai?

Apreensão me deixa completamente acordada. Raciocino


comigo mesmo que provavelmente é porque papai ainda está
no pomar. Ele não é o tipo de pessoa que deixa alguém
machucado sozinho. Ele mandaria alguém pedir ajudar. Ele
provavelmente ligou para o SAMU a partir de seu telefone
celular e, em seguida, disse a um dos funcionários para
esperar os paramédicos chegarem.

Saltando do quarto e correndo para a janela, puxo a


cortina rosa pálido e espio pelas frestas.

Há uma ambulância na minha garagem. Eu vejo um cara


de cabelos escuros, com calça jeans e uma camisa branca
(obviamente o funcionário), levando dois homens da
emergência, usando uniformes, para o pomar. Alguma coisa
está obviamente muito errada; eles não perdem tempo quando
desaparecem no meio das árvores, carregando a maca
carregada de suprimentos com eles.
Mais uma vez, Einstein late para mim, puxando-me para
a porta. Sua persistência está me deixando mais nervosa do
que qualquer coisa, então me apresso pelas escadas, até a
cozinha e pego o walkie-talkie do balcão. Ele permanece no
mesmo lugar em todos os momentos. Todo mundo sabe que
não deve nunca tirá-lo dali.

Pressiono o botão e falo por ele.

—Papai? Está tudo bem?

Eu ouço um estalo de estática seguido de silêncio.


Aguardo alguns segundos, pela resposta. Quando não chega
nenhuma, eu chamo novamente.

—Cris Theopolis, qual é o seu vinte?

Usar linguagem de motorista de caminhão, sempre,


sempre me faz rir. Desde que eu era uma garotinha.

Sempre.

Com exceção de hoje. Hoje não é engraçado. E a razão é


porque meu pai sempre, sempre, sempre responde de
imediato.

Sempre.

Com exceção de hoje.

Como se eu tivesse engolido um pedaço de chumbo, a


boca do meu estômago parece pesada e com medo. Alguma
coisa está terrivelmente errada. Eu posso sentir isso, com um
ar frio na minha nuca. A pele em meus braços se enche de
calafrios.

—Papai? —Eu chamo de novo. Sei que há ansiedade em


minha voz e que eu provavelmente não soo como eu. É difícil
falar através do medo que estou sentindo.

Finalmente outro crepitar de estática é seguido por uma


voz, mas não é meu pai.

—Quem é? —Um homem pergunta com seu Inglês


quebrado.

Medo irrompe em terror.

—Sou Jenna Theopolis. Meu pai é dono desta


propriedade. Eu preciso falar com ele, por favor.

—Os homens só agora chegaram aqui. Eles o levarão ao


hospital. Não posso falar agora.

A linha fica morta.

E o pânico se instala dentro de mim.

Estou sozinha. Tenho pouca informação e um peso quase


insuportável se aloja em meu peito. E meu pai está no pomar.
Em algum lugar. Machucado.

Meu coração está batendo contra minhas costelas,


ameaçando quebrá-las em pequenos pedaços, preciso
descobrir o que está acontecendo. Subindo as escadas de dois
em dois degraus, corro para o meu quarto e coloco algumas
roupas. Menos de cinco minutos depois, pego o walkie que
nunca sai da cozinha e abro a porta da frente, totalmente
vestida e pronta para vasculhar cada centímetro do pomar
para achar o meu pai, se for necessário.

Algo me diz que eu deveria esperar, que sair não é a


melhor coisa a fazer, mas ignoro essa voz. Não sou o tipo de
pessoa que espera; Sou o tipo de pessoa que age. Para melhor
ou pior, para recuar ou seguir em frente, eu ajo. E agora,
estou agindo. Vou encontrar meu pai.

Einstein e eu paramos em cima do muro. Agacho e pego o


seu rosto em minhas mãos, olhando diretamente em seus
sombrios olhos castanhos e inteligentes.

—Leve-me até o papai, Einstein. Leve-me para ele.

Com um latido, Einstein decola. Estou no seu encalço,


ignorando as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e a dor nas
minhas pernas, enquanto me esquivo de troncos e galhos para
perseguir o cão, que corre por entre as árvores, em vez de
seguir as trilhas entre elas.

Outro latido e Einstein abruptamente corta para a


esquerda e para baixo. Corro para alcançá-lo. Quando saio
para uma abertura, vejo um funcionário levando os dois
paramédicos em minha direção, em direção a casa. Entre os
homens que trabalham na emergência, está a maca. No topo
está meu pai.

—Papai! —Eu grito, minha voz embargada de emoção.


Três pares de olhos me observam, enquanto eu corro em
direção a eles. Meu pai não se move.

Quando eu chego a eles, eles não param. Estão andando


rapidamente. Eles nem sequer abrandam tempo suficiente
para me deixar falar com o meu pai.

Eu ando ao lado da maca. Meu pai está deitado de


bruços, coberto por um lençol branco e amarrado de forma
que não pode se mover ou cair. Uma máscara de oxigênio está
cobrindo a parte inferior do seu rosto, um rosto que está
inegavelmente pálido. Seus olhos estão fechados e, quando
chego a tocar no topo do braço dele, mais próximo a mim,
suas pálpebras nem sequer piscam.

—Papai? —Ele não responde. Seus cílios não vibram.


Ele não vira a cabeça. Ele não move um músculo.

Oh Deus! Oh Deus! Oh Deus!

—O que aconteceu? —Peço, em geral, falando para quem


quiser me responder.

Um dos EMTs responde. Eu posso dizer pela sua


expressão que ele está tentando ser gentil, o que me perturba
ainda mais. O que ele está escondendo?

—Nós não podemos ter certeza, minha senhora, mas


considerando o que este homem disse, parece que ele caiu de
uma escada e bateu a cabeça. Nós não sabemos nada ao certo
até levá-lo ao hospital. Ele está apresentando sinais de
resposta.

O funcionário do pomar caminha para mais perto de


mim.

—Ele caiu da escada. Não acordava. Chamamos a


emergência.

Na minha cabeça, eu posso imaginar. A primeira seleção


das frutas é feita por meu pai. É algo que ele e minha mãe
aparentemente costumavam fazer juntos, a cada ano, sem
falhar. E eles sempre usavam a mesma escada, a escada que
tinha sido usada pela família de minha mãe há gerações. Essa,
velha, maldita escada de madeira frágil.

Essa escada, esse ritual que significava o mundo para


eles. E poderia ter me custado o meu.

Einstein nos leva de volta para o portão. Eu não saio do


lado do meu pai quando eles o levam para a ambulância. Com
um movimento, os paramédicos baixam as pernas da maca,
enquanto abrem as portas de trás.

Ninguém olha para mim. Ninguém diz uma palavra.


Estou apavorada.

Em estado de choque, eu aguardo, enquanto os


paramédicos recolhem as pernas da maca e empurram meu
pai no compartimento traseiro e vazio da ambulância. Um
EMT sobe atrás dele.

—Você é bem-vinda para vir junto, se estiver confortável


indo agora. Se preferir ir dirigindo, tudo bem, mas precisamos
sair agora. Neste momento. —Diz ele, enfaticamente.

Eu processo muito pouco do que ele está dizendo.

—Minhas chaves, —eu digo, aturdida. Sei que eu preciso


ir buscá-las.

O EMT acena.

—Nos encontre lá.

Com as pernas trêmulas, corro para casa, e pego minha


bolsa. Quando eu volto, a ambulância está partindo. Vou para
o meu carro, para segui-la.

Minhas pernas estão dormentes. Meu pé parece pesado,


onde pressiona o pedal do acelerador. Minhas mãos parecem
congeladas, enquanto pego o volante. Nada parece estar
funcionando bem. Meus pensamentos estão confusos, escuros
e cheios de pressentimentos. Sinistro.

Na parte de trás da minha mente, fico pensando que deve


haver algum engano. Ou que ainda estou sonhando, que isso
não pode estar acontecendo. Que meu pai não pode estar
ferido, gravemente, que ele apenas não me ouviu chamando
por ele. Certamente ele não o fez ou teria aberto os olhos.
Mas ele estava tão quieto. Tão, tão, tão quieto.

Minha mente se agita, mixando e remixando minhas


emoções em uma pasta grossa que o pensamento racional não
pode penetrar. Mas um sentimento se esconde por trás de todo
o resto, como um profundo horror. É a horrível certeza
angustiante de que algo está muito errado e que minha vida
nunca mais será a mesma.

Nunca.

*********

No hospital, no temido hospital, novamente sigo as


placas que dizem EMERGÊNCIA por todo o caminho até às
duas largas portas de madeira onde está escrito,
"somente pessoal autorizado". Ainda confusa com o que a
manhã trouxe para mim, olho fixamente para a sinalização
para obter um pensamento construtivo.

Com um clique silencioso, as portas se abrem e duas


enfermeiras emergem. Elas sorriem para mim como se o meu
pai não estivesse em uma sala ali atrás, possivelmente
escapando deste mundo, levando com ele a única âncora que
me resta.

Quando elas passam por mim, escorrego através das


portas, despercebida. Faço meu caminho lentamente, através
do labirinto de salas idênticas, com cheiros idênticos e
trabalhadores idênticos, meus olhos, constantemente,
buscando o rosto familiar do meu pai.

Portas idênticas após outras e ainda nenhum sinal do


meu pai. Eu chego ao final do corredor e viro a esquina. Mais à
frente, vejo o posto de enfermagem à minha direita. Quando
ando em direção a ela, passo por um quarto com uma
enxurrada de atividades dentro. Os enfermeiros se
embaralham rapidamente dentro e fora, carregando coisas
diferentes. Uma voz masculina áspera está latindo ordens,
exigindo coisas diferentes. Eu percebo, enquanto assisto, que
não preciso perguntar a ninguém como encontrar meu pai.

Eu o encontrei.

A dor excruciante no meu peito me diz isso.

Paro do lado de fora da sala, olhando pela janela,


observando a cena como se eu assistisse a um acidente de
trem. Um acidente de trem em que todo o meu mundo está
deitado sobre os trilhos.

Eu ouço a palavra – afaste-se-, seguida de um som


estranho. Eu sei o que é. Eu nunca ouvi isso antes, mas posso
adivinhar. É a máquina que dá choque a um coração
morrendo, para tentar trazê-lo de volta à vida.

Estou, muda e imóvel, ouvindo, assistindo,


desintegrando-me no interior, a comoção morre e ouço a
mesma voz masculina, não tão dura mais, pronunciar a hora
da morte.
Como em um filme mudo, rostos sombrios vêm para fora
da sala, um por um. Alguns olham para mim à medida que
passam; outros não encontram meu olhar. Parece que eles
sabem quem eu sou. Talvez possam sentir a agonia que vem
de mim, em ondas.

Finalmente, o médico emerge. Abro a boca para falar,


para dizer-lhe quem eu sou. Ouço alguém dizer meu nome.
Mas, certamente, essa não é a minha voz, aquele som
quebrado. Certamente não é.

Mas tem de ser. O triste olhar de simpatia no rosto do


médico me diz isso. Diz que ele é o portador de más notícias. E
ele sabe que está as entregando a mim.

Suas palavras chegam de uma longa distância, como se


ele estivesse falando do outro lado de uma grande e vazia sala.
Eu o vejo chegar com compaixão e colocar a mão no meu
braço. Sinto seu toque, mesmo usando camada sobre camada
de lã grossa.

Ele me pega pelos ombros e me vira, me levando a uma


pequena sala privada, escondida, em um canto tranquilo de
um corredor. O mobiliário azul suave e paredes castanho-
acinzentado são claramente destinadas a acalmar, mas sinto
apenas desespero.

Devastação.

Coração partido.
Eu vejo seus lábios se moverem quando ele me explica o
que aconteceu. Algumas palavras ecoam na minha mente de
uma forma desarticulada, coisas como fratura de crânio
basilar, fatal e instantânea.

Acho que ele me pergunta sobre outros


parentes para notificar e alguém com quem eu possa ficar,
mas eu não posso ter certeza. Como um rádio com má
recepção, estou entrando e saindo do mundo ao meu redor.

Eu ouço a voz de novo, a voz da menina, quebrada. Ela


pede para vê-lo. Ela derrama meus pensamentos, mas é quase
irreconhecível para mim.

Eu assisto o médico acenar solenemente. Então, ele está


me tocando de novo, me levando de volta pelos corredores,
para uma sala agora vazia. Bem, não completamente vazia.
Apenas vazia de vida.

Mãos gentis me posicionam ao lado de meu pai, em


seguida, empurra-me para baixo, em uma cadeira. E então eu
estou sozinha. Com meu pai. Uma última vez. Para dizer às
coisas que ele nunca vai ouvir e implorar por coisas que ele
nunca poderá me dar.

Sua mão parece pequena e pálida quando deslizo os


dedos sobre a palma da mão fria. Ele sempre parecia maior
que a vida, mesmo suas mãos. Mas isso não é mais o caso.
Elas são minúsculas diante da morte. Tudo é.
Eu me inclino para frente em minha cadeira e passo os
meus dedos por sua bochecha. É firme e fresco. Ainda. Sem
vida. Nunca mais vou ver o sorriso que enfeitava seu rosto com
tanta frequência. Nunca mais vou ver o amor que brilhava em
seus olhos. Nunca mais vou ouvir a voz que acalmava minha
alma preocupada.

Nunca.

Essa é uma palavra que vou ter que me acostumar.

Todas as coisas que eu tinha como garantido, todas as


coisas que pensei que iriam existir por muito tempo, todas as
coisas que levavam uma etiqueta que dizia, "um dia", agora
dizem "nunca". Todos os "alguns dias" e "um dia", todos
os ‘talvez’ e ‘se’ agora são "nunca". Nunca é a nova constante.
A única coisa que sempre será verdade agora é que ele se foi.
Ele foi embora para sempre.

Deixo minha cabeça cair sobre seu ombro uma última


vez. A umidade se espalha sob meu rosto e não acontece nada.
Ele nada faz.

Eu não sei quanto tempo fiquei assim quando uma


enfermeira vem para me ajudar a levantar. Ela explica algo
sobre ter que levá-lo para a funerária e depois me diz que eu
preciso descansar um pouco.

Alguma coisa em mim diz que isso é engraçado -


descansar. Descansar? Quem poderia descansar em um
momento como este? E que tipo de
pessoa iria até sugerir isso?

Meu rádio desaparece dentro


e fora outra vez, levando a
enfermeira e suas palavras bobas com ele. Distraidamente, eu
quero saber se vou ser capaz de experimentar o verdadeiro
descanso alguma vez mais. Agora, eu nem tenho certeza que
vou ser capaz de experimentar verdadeiro sentimento, alguma
vez, muito menos descanso. Ou paz. Ou felicidade. Apenas
dormência. Dormência abençoada.

Ela me leva até a porta e eu olho para trás, para o meu


pai, mais uma vez. E então, com uns passos que me levam
para fora do quarto, vou desaparecendo para longe dele, como
ele de mim.

Capítulo 22
Rusty
Estou surpreso quando vejo mamãe voltar pela porta. É
sábado, então ela ficou em casa a maior parte do dia, veio aqui
depois do almoço para me ver, antes de ir recuperar o atraso
com alguns papéis e, em seguida, voltaria para casa. Só que
ela não fez isso. Ela está aqui ao invés disso.

—Eu pensei que você estava indo para casa? —Ela não
me responde de imediato, o que me dá tempo para notar sua
expressão. Ela tem uma má notícia. Eu posso ver isso na
maneira como sua boca está apertada nos cantos. —Por favor,
não me diga que eles decidiram me manter aqui mais uma
semana.

—Filho, eu tenho más notícias.

—Bem? Quais são elas?

Há uma longa pausa e um suspiro antes dela responder.

—Eu estava vendo alguns relatórios com o gerente da


unidade de baixo, na ER, quando eles trouxeram
Cris Theopolis.

Usando meu braço bom, me esforço e levanto meu tronco


da cama.

—O quê? O que aconteceu?

—Aparentemente, ele teve um acidente no pomar. Ele


faleceu, querido.
Eu jogo as cobertas e saio rapidamente para fora da
cama. Eu não hesito. Nem por um segundo, nem por um
segundo.

—Jeff, me escute. Eu vou fazer o que você precisar de


mim para fazer, mas você precisa ficar parado até eles
deixarem você ir.

—Para o inferno com isso! Vou sair daqui.

Eu ando até o armário para pegar as roupas que mamãe


me trouxe há poucos dias.

—Jeffrey, isso pode te prejudicar. Poderia...

Com raiva, eu giro em direção a ela.

—Eu não dou à mínima, mãe. É Jenna. —Quando ela


não faz nada, apenas olha para mim, eu repito. —É Jenna.

Eu puxo as calças jeans que iria usar quando eles me


dessem alta. Pois vou usá-las hoje.

Quando for encontrar Jenna.

Capítulo 23
Jenna

Ouço a buzina novamente. Eu


me pergunto por que as pessoas vagamente ficam buzinando
para mim. Estou dentro das linhas.

Outro carro voa, passando como se eu estivesse parada.


É então que eu percebo que estou. Mais uma vez. Pela quarta
vez, eu parei no meio da estrada e nem sequer percebi, até que
um carro buzina com raiva e depois acelera como um morcego
fora do inferno.

A enfermeira no ER perguntou se havia alguma família


que ela pudesse chamar por mim. Olhei fixamente para ela
como eu passasse por uma lista mental que veio com
ninguém. Minha mãe está morta. Meu pai está morto. Meu
irmão é.... Bem, ele está em algum lugar. Mas não aqui. Minha
resposta para ela foi não, eu não tenho família para ela
chamar.

Eu poderia ter tido a ela para chamar Cami, mas ela


parecia longe hoje. Sua vida é feliz e perfeita, não é um lugar
para todos os meus problemas e aflições e muito menos um
lugar de morte e perda.

Sem ela, eu realmente estou sozinha. Sozinha. A única


outra pessoa que significa alguma coisa para mim nesta
cidade não poderia se importar menos que meu mundo
simplesmente explodiu. Ele deixou seus sentimentos sobre
mim muito claros.

Enquanto eu saio da estrada, para a longa viagem que


leva à minha casa, me lembro como, apenas algumas semanas
atrás, eu estava apreciando as sensações de conforto que esta
parte da viagem me trazia. Agora, ela parece vazia. Oca.
Dolorida.

Uma vez que estaciono no meu lugar habitual, em casa,


eu saio do carro e com as pernas duras, faço meu caminho até
os degraus, para a varanda. A porta está entreaberta. Eu nem
sequer me preocupei em fechá-la antes de sair, para seguir a
ambulância.

Eu empurro-a e paro dentro do hall de entrada para


ouvir, cheirar e sentir a casa, do jeito que eu sempre fiz. Mas
eu não sinto nada familiar ou reconfortante. Esta não é a casa
que eu retornei por tantos anos. Este é apenas o lugar que
meu pai já não habita. É apenas uma série de salas com o
fantasma de sua memória. Nada mais.

Eu ouço um clique lento e constante e olho para cima,


para ver Einstein em pé na porta da cozinha. Seus olhos estão
sóbrios quando ele me observa. Ele cai no chão e coloca sua
cabeça sobre as patas e faz um gemido suave na parte traseira
de sua garganta. Ele sabe que algo está errado. Muito errado.

Eu passo por ele no caminho para a cozinha. Vejo meu


pai reaquecendo frango frito para mim e esfregando minha
cabeça, da forma amorosa que ele costumava fazer. Afasto-me
e vou para a sala. Eu vejo meu pai rindo, comendo pipoca e
me dando conselhos filosóficos. Volto para as escadas e sei
que, no topo, é o seu quarto, agora e para sempre... Vazio e
frio.

Já não há nenhuma felicidade aqui, qualquer conforto.


Há dor, perda e um futuro sem meu pai. Do assoalho não
escorre mais xarope de pêssego; eles escorrem o tipo mais
horrível de desgosto. As paredes não agitam com o riso; elas
mexem com o sofrimento. O ar não tem cheiro de casa; ele tem
cheiro do meu próprio inferno pessoal.

Então eu corro.

Eu corro de volta pela casa, de volta para a porta, de


volta para a garagem. E eu estou lá. Olhando para a casa.
Sabendo que não posso voltar para dentro dela. Não agora.
Talvez nunca.

Pouco a pouco, esta cidade tem tomado cada pedacinho


de felicidade que eu já tive. Ela engoliu tudo e deixou-me aqui,
de pé, quebrada e sozinha, olhando para uma casa vazia, com
uma vida vazia.

Sinto a primeira gota fria, como uma lágrima, escorrer


por minha bochecha. Eu olho para o céu, para as nuvens
cinzentas maçantes que espelham a desolação do meu peito e
vejo a chuva começar. Lento no início, como se o próprio céu
estivesse subitamente sentindo minha dor. E então, com meu
coração quebrado, o tempo fecha e chora por mim, uma chuva
torrencial cai sobre o meu rosto, virado para cima.

Impermeável à chuva torrencial, fico na calçada, na


chuva, olhando para a casa. Desejando com todo meu coração
que as gotas lavassem minha dor, minha alma.

Eu olho para as janelas e vejo buracos negros


escancarados olhando para mim, zombando de mim com o que
já não está por trás delas, com quem, já não está por trás
delas. E nunca estará novamente.

Num segundo o controle tênue que tenho sob minhas


emoções está intacto, no próximo ele se foi. E a maldição
quebra.

Um grito ecoa na minha cabeça, como o choro de um


coiote ecoa através de um canyon, é arrancado dos meus
pulmões, do meu peito e dos meus lábios em um gemido longo
e agonizante. A chuva rouba o som e leva-o para o chão, onde
ele está tão morto quanto meu pai. E eu estou mais uma vez
sozinha no silêncio ensurdecedor.

Virando as costas para casa, decolo em uma corrida para


o portão do pomar, que tirou a vida do meu pai. Se eu tivesse
uma faca, eu iria cortar a casca de cada árvore no meu
caminho, até sua vida sangrar em profundos e pegajosos
riachos. Penitência para a vida que elas roubaram.
Eu não posso ver além das lágrimas, além da chuva.
Passado e dor. Meu pé encontra um buraco e meu equilíbrio é
perdido. Vejo a terra que vem para o meu rosto com uma
velocidade alarmante. Meus joelhos batem primeiro, o impacto
me faz ranger os dentes. Eu fecho meus olhos e estico os
braços para me preparar. Mas antes de fazer contato com o
chão, dedos fortes estão enrolados em torno dos meus braços,
parando minha descida.

Um batimento cardíaco traz confusão. A seguir, o


reconhecimento. Eu não tenho que olhar para trás para saber
quem me segurou. Quem me pegou. Quem me salvou.

Rusty me vira para ele. Eu olho em seus olhos. Eles estão


profundamente tristes no momento, como se eles fossem um
reflexo dos meus.

—Jenna. —Ele sussurra suavemente.

—O que você está fazendo aqui?

Seus olhos pesquisam os meus.

—Eu vim para você.

—Mas por quê? —Eu pergunto, não querendo ceder à


esperança que me deixou tão devastada, muitas vezes antes.

—No caso de você precisar de mim. —Ele responde,


simplesmente.
Amargura sobe para a superfície, para misturar com a
dor. Ela borra as linhas dos meus sentimentos.

—Você não deveria, —cuspo. —Eu não preciso de você.

Vejo um flash de dor atravessar seus olhos.

—E se eu precisar de você?

—Mas você não precisa. Você deixou tudo muito claro.

—Eu fui um idiota, Jenna. Eu fui um orgulhoso, idiota


arrogante. Mas estou aqui agora. Isso não conta para alguma
coisa?

—Não, isso não conta. Não pode. Não pode. —Eu assobio,
minha voz fica cada vez mais alta, quando minhas
emoções queimam. —Eu não posso mais esperar por
você, Rusty. Eu não posso perder mais ninguém. Meu coração
não aguenta. Você teve sua chance e você estragou tudo.
Agora deixe-me ir e cai fora de minha terra, porra.

Eu torço meu corpo, tentando ficar livre de seu aperto de


ferro, tudo em vão. Apesar do fato de que um braço dele ainda
estar imobilizado, Rusty ainda é mais forte do que eu.

—Eu não posso. —Ele rosna para baixo, em meu rosto.

—O que você está fazendo aqui? —Eu grito, canalizando


minha raiva do mundo, minha raiva com a vida, minha raiva
de Rusty. —Você não deveria estar no hospital, esquecendo
que eu existo?
—Eu estava, mas eu saí.

—Então, volte. Eu não quero você aqui.

—Eu não posso. —Diz ele novamente.

—Por que não?

—Porque eu vim aqui por você, Jenna.

—Por quê? Eu não pedi para vir aqui. Eu nunca lhe pedi
coisa alguma. Mas agora eu estou pedindo. Estou lhe pedindo
para sair. Basta sair. Deixe-me em paz!

—Eu não posso. —Ele repete, com raiva, seu rosto é uma
máscara torcida de uma alma torturada.

—Por quê? —Eu grito.

—Porque eu não posso deixar você ir. Eu te amo muito!

Meu coração para por um instante, dividido entre euforia


e devastação. Mas eu não posso me dar ao luxo de ficar com a
euforia. A devastação a seguir poderia muito bem ser meu
fim.

—Você não pode me dizer isso hoje. Você não pode fazer
isso comigo hoje. Eu perdi tudo. Tudo. Você não pode voltar
para a minha vida e, em seguida, deixar-me de novo, seu
bastardo, —eu grito, batendo os punhos contra seu peito. —
Você não pode fazer isso hoje. Você não pode... Não... Isso... —
Minhas palavras são sufocadas pelos soluços que não consigo
mais conter. De repente, desprovida da capacidade de ficar em
pé, eu desmorono na lama, suspensa somente pelo aperto das
mãos de Rusty em meus braços.

—Jenna, por favor, —ele sussurra, tentando mais uma


vez me puxar para o seu peito com o braço bom. Desta vez eu
deixo, a vontade de lutar foi drenada para fora de mim com os
primeiros soluços. —Deixe-me ajudá-la. Apenas me dê este dia
e eu vou. Apenas o presente. Por favor, Jenna. —Em sua
pausa, sinto um suspiro expandir seus pulmões. —Por favor.

Finalmente, exausta, me derreto em Rusty. De joelhos,


na chuva, na lama, eu enterro meu rosto em seu pescoço e
choro. Com a minha alma, eu choro. Cada soluço parece como
se ele fosse arrancado de mim, rasgado violentamente de um
lugar que nunca devia ser tocado de forma tão cruel. E estou,
viva, mas só fisicamente, com nada além de feridas abertas e
jorrando sangue que ninguém mais pode ver.

Quando estou rouca, meus soluços são nada além de


coaxos. Com apenas um braço funcional, Rusty me embala
suavemente contra ele, se levanta e me leva com ele para longe
do pomar.
Capítulo 24
Rusty

Eu carrego Jenna em direção à porta da frente de sua


casa, pensando apenas em tirá-la da chuva. Eu mal ouço
quando ela fala baixinho no meu ouvido.

—Em qualquer lugar, menos lá. Eu não posso voltar lá.

—Ok. —Digo a ela, desviando para o carro da minha


mãe. Eu me viro para levá-la para o banco do passageiro e
ligar o motor, mas depois me dá um branco. Para onde posso
levá-la?

Apenas um lugar me vem à mente. O único lugar que ela


se sentiria melhor, eu acho.

Cami.

Eu dirijo com cautela. É um pouco irritante que minha


primeira vez de volta ao volante seja na chuva, em um carro
desconhecido e com Jenna de luto, no banco ao meu lado. Ah,
e com o meu braço direito engessado. Inferno, eu não acho que
as condições poderiam ser muito piores.

Nós finalmente chegamos à casa da Cami. Estaciono e


ando até a porta do lado do passageiro. Abro e me inclino para
pegar Jenna, não lhe dando outra escolha a não ser me deixar
levá-la novamente. Eu sinto que eu preciso carregá-la. Talvez
mais do que ela precisa de mim.

Uma vez que ela está em meus braços, percebo que ela
não teria argumentado sobre qualquer maneira. Ela está
dormindo. Eu não tenho certeza se isso é uma coisa boa.

Corro para a porta e toco a campainha. Trick responde


dentro de alguns segundos.

—O que... —Ele franze a testa em confusão quando olha


para mim e para Jenna, de pernas cruzadas sobre o meu
braço engessado.

—Pode me emprestar seu quarto no andar de baixo? —


Peço calmamente.

—Claro. —Ele diz, sem hesitar, abrindo mais a porta para


que possamos passar.

Ele não faz perguntas, o que eu aprecio. É uma coisa de


caras.

Eu estou caminhando através da cozinha


quando Cami aparece na porta.

—Oh meu Deus, o que aconteceu? —Ela pede, correndo


em minha direção, com os olhos em Jenna.

—Shhh, —eu advirto. —Ela está bem. Deixe-me levá-la lá


para baixo e eu vou voltar e explicar tudo.
—Não! Você pode me dizer agora. Ela está bem? O
que aconte...

—Cami! —Eu falo, interrompendo-a. Quando ela fica com


a boca fechada e olha para mim, eu adiciono. —Por favor.

Os olhos violetas de Cami fazem buracos em mim


enquanto ela me encara. Ela não diz nada durante alguns
segundos. Tenho certeza que ela está debatendo a sabedoria
de deixar sua melhor amiga aos meus cuidados quando eu fui
um idiota. Mas ela cede.

—Ok, mas você vem direto aqui para cima. —Ela


sussurra.

Concordo com a cabeça e continuo até as escadas que


levam para o porão. Eu bato no interruptor de luz com o
cotovelo e desço os degraus para o silêncio frio do nível mais
baixo.

Eu paro no patamar da parte inferior. A luz da escada só


penetra alguns centímetros, em todas as direções. Quando eu
saio para a escuridão é de alguma forma, como pisar em uma
paz abençoada. A luz me mostrou muita dificuldade
recentemente. Eu poderia apreciar alguma escuridão. A
escuridão, onde há apenas eu e Jenna. E talvez mais uma
chance para eu não estragar tudo.
De memória, levo-a para a suíte de hóspedes que Trick e
Cami fizeram aqui. Eu mal posso ver a cama com a pouca luz
do dia que escoa através da pequena janela na parte superior
de uma das paredes. Vou até a cama e a coloco suavemente
sobre o colchão. Ela se mexe muito pouco.

Curvo-me e pressiono meus lábios em sua testa. Eu não


sei se ela tem noção do que está se passando, mas eu falo com
ela, de qualquer maneira. Apenas no caso.

—Descanse Jenna. Eu estarei de volta. Eu prometo. —Eu


sussurro. Ela não responde. Poucos segundos depois, ela rola
para o lado e ouço sua respiração se tornar profunda e
uniforme. —Eu vou estar aqui sempre que você abrir seus
olhos. Eu juro. —Eu digo. Desta vez, é mais para o meu
benefício do que o dela.

Regresso ao andar de cima. Cami espera no degrau mais


alto, com os braços cruzados sobre o peito e o inferno em seus
olhos.

—Droga, Rusty, o que está errado com ela? O que você


fez?

—Mantenha sua voz baixa. —Digo a ela. —Eu não fiz


nada para ela. Seu pai faleceu, em um acidente no pomar,
hoje.

O suspiro de Cami é seguido pelas mãos cobrindo a boca


e os olhos cheios de lágrimas.
—Meu Deus! Meu Deus! Pobre Jenna! —Ela fecha os
olhos e desliza as mãos para cima, para cobrir todo o rosto.
Trick chega por trás e a puxa para os seus braços. Dou-lhes
um minuto, alguns minutos, para Trick confortar Cami e
para Cami se recompor. Ela conheceu o pai de Jenna por
anos. Não há dúvida que ela sente alguma sensação de dor e
perda, também, para não mencionar a simpatia por sua
melhor amiga.

Quando ela descobre seu rosto e enxuga os olhos, eu


continuo.

—Mamãe estava lá em baixo, no ER e ela me disse de


imediato. Jenna já havia deixado o hospital, então fui para a
casa dela. Encontrei-a na chuva. Ela não queria voltar para
dentro de casa, então eu a trouxe para cá.

—Estou feliz que você fez, —diz Cami, a bondade volta


aos seus olhos. —Eu vou cuidar dela. Tenho certeza que você
precisa descansar. Você não deveria nem estar fora do
hospital, não é?

—Eu estou bem. E eu vou ficar com ela esta noite, se


você não se importa.

—Você realmente não precisa fazer isso. Eu vou ter


certeza que ela saiba...

—Sem ofensa, Cami, mas não é um pedido. Eu vou ficar.


Ou eu vou levá-la comigo quando eu sair.
Cami me olha desconfiada, mas, novamente, ela cede.

—Ok, ok. Posso, pelo menos, ir vê-la?

—Eu venho te buscar quando ela acordar, eu quero estar


lá, quando ela o fizer.

Cami balança a cabeça, possivelmente em aprovação. Eu


não posso ter certeza.

—Tudo bem.

Ela olha de mim para Trick e então se vira e caminha


lentamente de volta para a sala de estar. Eu sei que ela não
gosta, mas, pelo menos, reconhece que não estou discutindo
quanto a isso. Ela pode aceitar isso ou discutir. Sua escolha.
Ela escolheu aceitar.

Menina esperta.
Capítulo 25

Jenna

A vida, ou o que se parece com a imitação razoável disso,


tem abrandado. No início, foi uma série de luz, flashes de
tempo, de sons, de pessoas e lugares.

Havia vários cômodos na minha casa. Em seguida, houve


as janelas vazias, dos quartos no andar de cima. O rosto
de Rusty na chuva. Depois, houve o painel de um carro
desconhecido.

Acordei algum tempo depois, em um quarto escuro, com


a fraca visão de Rusty, pairando sobre mim. Nós olhamos um
ao outro por uma eternidade. Ou durante alguns segundos.
Eu não tenho certeza de qual. Eu fiquei completamente
imóvel, quando o colchão ao meu lado afundou e ele se
estendeu ao meu lado, me puxando para os seus braços.

Houve mais tempo depois disso. Horas ou dias, eu não


sei, mas eu acordei novamente, no mesmo quarto escuro. Sob
meu ouvido estava um coração batendo e até mesmo uma
respiração profunda. Ergui a cabeça para confirmar o que eu
já sabia. Era Rusty. Tinha adormecido me segurando.
Ainda assim, houve mais coisas. Ainda assim, eu não sei
quanto. Eu acordei assustada com os gritos de uma menina.
Não demorou e Rusty estava acariciando meu cabelo, me
acalmando com as suas palavras, e me fazendo perceber que a
menina era eu. E que os gritos eram meus.

Lembro-me da luz do dia depois disso. E Rusty. Ainda.


Sempre, ao que parecia.

Havia preocupação em seu rosto e em seus olhos. Mas


havia algo mais, também. Algo que me recusei a pensar. Então
eu dormia.

Havia impressões vagas, também. Dedos na minha


bochecha, lábios contra os meus, palavras sussurradas em
meu ouvido. Algo que fez meu coração cantar e chorar, tudo
no espaço de uma batida do coração. Então eu mergulhei de
volta no sono, em fuga.

Quando eu não podia me esconder mais, acordei com a


visão de Cami, sentada na cadeira de balanço no canto. Eu a
assisti por alguns segundos antes de me mover. Ela parecia
cansada, enquanto balançava suavemente para trás e para
frente, com a cabeça apoiada na almofada e os olhos fechados.
Perguntei-me brevemente o que estava pesando tanto sobre
ela.

Sua cabeça se endireitou e seus olhos se abriram,


travando nos meus, imediatamente. Eu sabia o que a
preocupava. Era eu.
Ela veio para a cama, se enrolou ao meu lado, enfiou os
dedos nos meus e nós choramos. Juntas. Eu não sei por
quanto tempo nós fizemos isso antes de adormecer
novamente. Quando acordei, ela estava em roupas diferentes,
de pé na porta.

—Onde está o Rusty? —Perguntei.

—Ele disse que você estava bem e que te fez uma


pergunta... E que você não lhe respondeu. E que ele iria voltar,
se você o quisesse.

Meu coração se partiu um pouco mais. Eu não sei por


quê. Talvez porque ele já estava em um milhão de pedaços
minúsculos e a felicidade fere tanto quanto tristeza. Ou talvez
porque eu não conseguia distingui-las. Talvez elas sejam
a mesma coisa. Ou talvez, não pode haver uma sem a outra.

Após esse momento, o tempo acelerou em um borrão,


uma rápida sucessão de imagens, lugares, emoções difusas e
decisões, tudo definido contra o pano de fundo de uma dor
inimaginável e a sensação de perda. Eles correram juntos,
além do meu controle, como cores de água em uma chuva fria
e dura.

Havia arranjos a fazer, agentes funerários para falar,


músicas para escolher e lápides para selecionar. Havia
pensamentos de telefonemas, mas realmente não havia
nenhum para fazer, a não ser para o meu irmão, Jake.
Embora ele sempre fosse tão distante emocionalmente, quanto
geograficamente, prometeu que viria. Esse momento se
destacou entre os demais.

E agora, de alguma forma, eu estou aqui. Em um


cemitério. À luz do sol. Em um vestido que eu não me lembro
de comprar, na frente de um caixão que não me lembro de
escolher.

Meu irmão está ao meu lado, parecendo uma versão


infeliz e amarga de meu pai, com seu cabelo preto, pele escura
e olhos cor de âmbar e recebemos as dezenas de pessoas que
vieram prestar suas últimas homenagens ao meu pai. Ele
balança a cabeça educadamente e eu digo coisas que
realmente não quero para pessoas que eu realmente não
conheço, enquanto elas passam em fila indiana. Eu os vejo vir
e ir, e tudo o que eu sinto é.... Vazio. E solidão.

Mesmo a presença de Ellie, a ciumenta e vingativa irmã


da minha mãe, não me abala de meu estupor. Eu reconheço o
cabelo - lixo de trailer- e seu vestido - lixo de trailer - quando
ela pisa na fila. Reconheço o cheiro de vodka em sua
respiração e o jeito que ela enrola o lábio em desgosto. Mas
ainda assim, não me sinto como se eu estivesse presente. Não
totalmente.

Eu escuto quando ela fala, mas eu realmente não


entendo o que é ela está tentando dizer. E uma parte de mim
pensa que eu não quero entender, realmente. Pelo menos, não
hoje.
—Estou tão triste de ouvir sobre seu pai. —Eu ouço a
mentira. —Você já leu o testamento e cuidou de todos os
arranjos?

Eu não respondo. Simplesmente observo, desejando que


ela desaparecesse. Ou eu.

—Bem, —ela continua, —deixe-me saber quando o fizer.


Tenho certeza que ele fez algumas disposições para vocês dois,
como um bom pai faria, mas esse pomar deve vir para mim.
Justamente. E desde que vocês, crianças, não têm interesse
em viver lá como eu e Turkey temos...

Uma parte de mim, uma parte de mim que vê e sente


como se eu estivesse observando-a a uma grande distância,
está ficando com raiva. Ela corre o risco de penetrar meu
casulo dormente. Mas eu resisto.

—Que história é essa, Ellie? —Jake pergunta, protetor,


aproximando-se de mim.

—Jake, querido, você sabe tão bem quanto eu que vocês


não querem o pomar. E isso deve ficar comigo de qualquer
maneira, então por que nós não falamos com os advogados e
vocês assinam a posse para mim e Turkey? Vocês vão se sentir
melhor, sem ter que se preocupar com o lugar.

—O inferno que eu vou, —Jake morde. —Minha mãe iria


rolar em seu túmulo se achar que eu dei o lugar que ela
amava tanto a você.
Mesmo a partir de dentro da minha realidade difusa, vejo
o comportamento doce de Ellie se dissolver em um de
desprezo.

—Vamos ver o que os advogados têm a dizer sobre isso,


então. Eu tentei fazer isso da maneira mais gentil, mas você
está tornando isto horrivelmente difícil, filho.

—Eu não sou seu filho, —Jake rosna. —E nós vamos ver
quem fica com o quê. Agora, pegue sua bunda esfarrapada e
vá para casa antes de realmente me deixar louco.

Eu sei que eu deveria sentir raiva. Posso ver isso na


maneira como Jake olha para mim, como se estivesse
esperando eu falar. Só que eu não faço. Porque eu não posso.
Eu não posso sentir nada agora. Eu simplesmente assisto,
como se estivesse assistindo a um jogo, do banco,
enquanto Ellie encara Jake e leva o marido, Turkey, pelo
braço, para longe.

—Venha. Eu sabia que isso seria um desperdício de


tempo.

A fila começa a diminuir. Quando isso acontece, um


pensamento aleatório persegue através de minha cabeça, mais
e mais e mais.

O que eu faço depois disso?


Nenhuma resposta vem a mim. Eu aperto mão após mão,
aceito abraço após abraço até que não sobrou ninguém na
linha, e sou só eu e Jake, de pé no cemitério, sozinhos.

É quando estou olhando para os túmulos que me cercam,


brilhando ao sol como diamantes negros, que eu o vejo.

Rusty.

De pé, à sombra de uma árvore, ele está vestindo um


terno preto, a jaqueta está caída sobre um dos ombros. Seu
braço direito está livre, coberto apenas por uma camisa
branca, de manga, desabotoada, que se encaixa sobre o seu
gesso.

Eu não tenho nenhuma ideia de quanto tempo ele esteve


lá, mas uma parte de mim diz que ele esteve lá o tempo todo.

À distância, olhamos um para o outro. Depois, pouco a


pouco, como o amanhecer rompendo a escuridão da noite, o
sentimento começa a penetrar em minha pele, a brisa, o sol no
meu rosto, a dor em minha alma, a certeza no meu coração.

Tudo na minha visão, no meu mundo, na minha vida,


entra em foco, claro, quando estou prendendo a respiração e
olhando para Rusty. Esperando. Finalmente, com uma clareza
que só pode trazer uma grande tragédia, eu vejo Rusty.
Realmente o vejo. Eu vejo o medo com que ele viveu e vejo a
insegurança que cresceu com ele. Eu vejo o cara pelo qual eu
caí de amor e vejo o homem que ele se tornou, desde que o
destino interveio e nos uniu.
Eu dou um passo à frente e eu paro. E espero. Imóvel, ele
me olha, assim eu dou outro. E mais outro. E outro ainda,
caminhando até que eu esteja perto o suficiente para sentir o
cheiro de seu sabonete, girando em torno de mim como um
nevoeiro reconfortante.

—Eu sei que eu não deveria ter vindo. —Ele começa.

—Então, por que veio?

—Porque eu não poderia ficar de fora. Eu tinha que saber


que você estava bem.

—Eu estou bem. —Asseguro-lhe, mesmo que nós dois


saibamos que isso é uma mentira. —É só isso? Quero dizer,
você, apenas, vai sair agora?

—Eu não quero, mas vou, se for isso que você quer.

—Eu nunca quis que você fosse embora, Rusty.

—E eu nunca quis que você fosse... —Ele responde. —


Mas eu sabia que você iria. Eu sabia que tinha que ir.

—Então por que você disse aquelas coisas, no hospital?

Rusty respira fundo e olha para longe, antes de voltar


seus olhos para mim.

—Eu estava tentando fazer o que era certo. Para nós


dois.

—E agora? O que você está tentando fazer agora?


—Sobreviver. —Diz ele, simplesmente.

Minha mente confusa não está funcionando bem o


suficiente para dar sentido a esses enigmas, então eu espero.
Espero que ele se explique.

—Jenna, eu posso sobreviver sem você. Eu posso existir,


—ele começa, as palavras me cortando como uma faca na
manteiga. —Mas não seria qualquer tipo de existência do tipo
que eu quero. Você é o que faz minha vida valer à pena. Você é
a minha luz do sol, você é o riso e os sorrisos. Você é as noites
quentes e as brisas frescas. Você é como toda boa memória e
momento e sonho que eu já tive envolvido, tudo em um. E se
você for embora, você levará uma parte viva de mim com você.
Sem você, eu poderia muito bem estar morto. Então, sim, eu
posso sobreviver sem você. Mas isso é tudo o que eu estaria
fazendo. Eu não sei como pedir desculpas por ser um idiota e
um imbecil, e por deixar algo tão estúpido como o medo ficar
entre mim e a única chance de ter e viver uma completa
felicidade. Eu não sei como te dizer que te amo por todas as
coisas que você é e todas as coisas que você nunca vai ser. Eu
não sei como dizer que, quando minha mãe me contou sobre o
seu pai, senti uma dor no meu peito, literalmente, com
a ideia de você estar em algum lugar, sozinha e sofrendo, e eu
não estar lá para te segurar, enquanto você chorava. Eu não
sei como te dizer que eu te seguiria até os confins da terra, só
para ouvir você dizer que me ama mais uma vez. Ajude-
me, Jenna. Ajude-me a dizer as coisas certas. Ajude-me a fazer
as coisas certas. Ajuda-me a ser o tipo de homem que você
poderia passar o resto vida amando. Porque é isso que eu
quero ser.

Enquanto eu estou, peito a peito, com Rusty, ouvindo


sua voz rouca, deixando a sinceridade dele me lavar como uma
maré de limpeza, eu percebo que é inteiramente possível
experimentar a dor mais agonizante e a felicidade mais
maravilhosa ao mesmo tempo na vida. E talvez seja a presença
de dor que amplia, de algum modo, a felicidade.

Eu olho para trás, por cima do meu ombro, para o caixão


de mogno que está brilhando intensamente no outro lado do
cemitério e eu sei que meu pai está olhando para mim. Assim,
como eu sempre esperei, ele está aqui comigo em um dos dias
mais importantes da minha vida. E ele sempre estará. Eu
posso não ser capaz de estender a mão e tocá-lo ou sentir seus
braços em torno de mim, mas ele está aqui do mesmo jeito. E
eu vou levá-lo comigo. Sempre.

Com meu primeiro sorriso, em dias, florescendo em meu


rosto como um velho amigo, eu volto para Rusty.

—Eu não preciso de nenhuma dessas coisas, Rusty. Eu


nunca precisei. Tudo o que eu sempre quis, tudo que eu
sempre precisei, foi do seu amor. Enquanto eu tiver isso, nada
mais importa.

—Mas eu...

—Shhh, —eu digo, colocando o dedo sobre seus lábios


quentes. —Não. Não há mais desculpas. A vida é curta demais
para voltar atrás, para olhar para trás. Contanto que você me
ame, isso é tudo que importa. Isso é tudo que sempre vai
importar.

—Eu te amei desde do momento em que conheci


você, Jenna. E eu vou te amar muito tempo depois que eu me
for deste mundo.

Chego mais perto e coloco meus braços ao redor do seu


pescoço, dando-lhe uma piscadela maliciosa.

—Por que você demorou tanto?

Ele sorri para mim.

—O trânsito estava um inferno.

Eu rio quando seus lábios cobrem os meus. E, sob o sol,


sinto meu pai sorrindo para mim —os dois homens que eu
mais amei na minha vida, aqui comigo. Sempre no meu
coração.
Epílogo

Jenna

Três meses mais tarde

—Eu me pergunto o que é tudo isso. —Medito em voz alta


para Rusty, quando ele voa através das curvas que levam
a casa de Trick e Cami.

Esta é a primeira vez que estou de volta


em Greenfield, em mais de um mês. Jake é como um cão com
um osso, ficando em casa, cuidando de Einstein, e fazendo
tudo que pode para impedir a minha tia de tirar a nossa
herança. Estou aliviada que ele quis fazer isso. Eu ainda tenho
dificuldade em entrar pela porta da frente daquele lugar. Mas
isso não significa que quero que Ellie o tenha. Eu só preciso de
tempo. E Jake está me dando isso.

Rusty e eu estivemos ocupados - eu com meu novo


emprego, Rusty com fisioterapia e montando sua nova
garagem em Atlanta. E nós dois, transformando o nosso novo
apartamento em um lar.

—Eu tenho as minhas suspeitas. Desde que Rags venceu


sua última corrida, e eu nem sei quantas são agora,
Trick começou a receber todos os tipos de ofertas para domar
e vender cavalos. E para a reprodução, também. Todo mundo
quer um pedaço de Rags. Mas, da última vez que falei com ele,
Trick não tinha ainda decidido nada. Estou querendo saber se
ele já fez alguma coisa ou está se preparando para isso. De
qualquer maneira, você sabe como ele é. O cara é tão
dramático e misterioso quanto minha bola esquerda. Todo
esse suspense tem que ser ideia de Cami.

—Claro que é, seu bobo. Que cara é todo dramático no


relacionamento?

—Exatamente, o que me faz pensar que é....

—Espere! —Eu grito, estendendo a mão para detê-lo. —


Retiro o que disse. Eu não quero saber o que você pensa. Eu
quero ser surpreendida.

Rusty encolhe os ombros.

—Tanto faz.
Estou olhando para fora da janela, para a paisagem e
pensando, quando entramos numa estrada menor, que nunca
notei que a estrada maior continuava.

—Gostaria de saber aonde isso vai. —Falo apontando


para a estrada, que ficou do outro lado.

Quando Rusty não responde, Olho para ele. Ele está


olhando para o espelho retrovisor.

—Eu não sei. —Admite ele virando os olhos para mim. —


Mas que tal se a gente virar, ver onde isso vai e ter algum
prazer durante a tarde, antes de ouvir esta grande notícia?

—Não, nós não podemos fazer isso. Eles estão esperando


por nós.

—Não vai demorar muito. —Diz ele com um sorriso.

—Ah, então você não está preocupado comigo. É isso que


você está dizendo?

—Você está dizendo que não acha que eu posso fazer


minha magia nesse corpo delicioso em um curto espaço de
tempo?

—Não, eu não estou dizendo isso. Eu quis dizer...

—Desafio aceite. —Diz ele com um sorriso, levando o


carro a uma parada brusca, em seguida, fazendo uma inversão
de marcha.
Quatorze minutos depois, estamos de volta na estrada,
ambos vestindo sorrisos muito satisfeitos.

—Duvide de mim novamente, —Rusty diz com um meio-


sorriso arrogante. —E veja o que acontece.

—Com prazer.

Ele se estica e pega a minha mão, trazendo meu pulso


aos lábios dele, antes de colocar nossos dedos entrelaçados em
sua coxa. Um pequeno sorriso se estende sobre seus lábios,
enquanto ele dirige pela estrada que leva à casa de Cami. Eu
inclino minha têmpora contra o encosto de cabeça e o observo.
Não posso deixar de pensar em como a vida é cheia de
momentos preciosos e imagináveis.

Menos de quinze minutos depois, estamos sentados no


sofá de Cami, segurando copos de champanhe e observando
nossos melhores amigos sorrirem um para o outro.

—Pelo amor de Deus, diga-me ou enfrente


as consequências. —Eu digo, quando não posso ter mais um
segundo de suspense.

—Você é tão impaciente! Dê-nos um minuto.

—Por quê? Você está trabalhando a coragem para ficar


nua e perguntar se queremos trocar? Porque eu posso lhe
poupar algum embaraço.

—Oh Deus, Jenna! Claro que não.


—Então, se apresse, mulher! Vamos!

—Não é assim tão fácil. Estamos à espera de um


telefonema.

—Um telefonema?

Minha curiosidade é oficialmente aguçada.

O silêncio se estende e, só quando estou prestes a abrir a


boca de novo, o celular de Trick toca.

Ele sorri e diz: —Ela está? —Pausa. —Essa é uma ótima


notícia! E obrigado por me ligar com os resultados.

Quando ouço isso, cubro minha boca aberta com a mão e


luto contra as lágrimas que estão ardendo meus olhos.

—Oh meu Deus. —Murmuro.

Antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, Trick


finalmente fala. —Esse era o escritório do veterinário. Eles
acabaram de voltar com os resultados dos exames de sangue
do laboratório.

Eu deixo cair minhas mãos.

—O veterinário? É isso? —Obviamente, eu estava prestes


a saltar para uma conclusão muito errônea.

—Sim. Eu usei alguns dos ganhos da última corrida de


Rags 'para procriar Patty com um garanhão que venceu o
Kentucky Derby duas vezes e o Preakness uma vez. —Trick
olha para Cami e sorri antes de trazer sua atenção de volta
para nós. —O seu trabalho de sangue confirma que ela está
grávida. Homem ou mulher, nós estamos nomeando potro de
Justy, por vocês dois. Os padrinhos.

—Faço o que agora? Estou confusa.

Eu olho para Rusty e ele parece estar tão confuso quanto


eu. Ambos olhamos para Trick.

—Cara, você vai ter que soletrar as coisas. Nós apenas


batizamos algumas arvores aqui perto e nossos cérebros não
estão totalmente funcionais ainda. —
Solta Rusty honestamente. Eu bato no braço dele pela sua
confissão, mas quando ele pisca para mim, não posso deixar
de sorrir.

—Vamos falar sobre as regras e regulamentos para usos


aceitáveis de minha propriedade mais tarde, —Trick brinca
com severidade. —Neste momento, estamos pedindo-lhes,
basicamente, para que vocês sejam os padrinhos dos nossos
filhos.

—Ohhh, —Rusty e eu dizemos simultaneamente. —É


claro que nós vamos ser padrinhos de seus filhos. Por que você
pensou o contrário? —Eu pergunto.

—Bem, nós meio que achamos que aceitariam. —


Diz Cami. Seu sorriso diz que há mais. Quando ela não diz
nada de imediato, eu suspiro, e ergo minhas mãos sobre
minha boca novamente. —Oh meu Deus, Oh meu Deus, Oh
meu Deus!

O sorriso de Cami fica mais largo e o sorriso de Trick se


estende de orelha a orelha.

—Estou perdendo alguma coisa? —Rusty pergunta.

Cami vira os olhos brilhando para ele, enquanto Trick


enrola seus braços em volta de seu pescoço e a abraça.

—Estou grávida, Rusty. Trick e eu vamos ter um bebê.

Lágrimas estão derramando pelo meu rosto e meus dedos


quando Rusty se levanta, pega a taça de champanhe de Cami
e a vira em um único gole.

—Eu acho que você não vai precisar disso, então.

Nós todos rimos.

Isto está cada vez melhor e melhor.


Rusty

A pele de Jenna ainda está úmida da massagem


minuciosa que acabei de lhe dar. Meus dedos deslizam
suavemente através de seu estômago plano. Esfrego círculos
sobre ele, em torno de seu umbigo e entre suas costelas. É em
momentos como este que estou ainda mais feliz por ter me
curado tão bem. Eu odiaria não poder tocar Jenna assim.

—O que você está pensando quando você faz isso? —Ela


pede.

—Fazer o quê?

—Tocar minha barriga assim.

—Eu faço muito isso ou algo assim?


—Você tem feito nos últimos dias. Estou ficando gorda ou
algo assim?

Eu reviro os olhos e ela sorri. Ela não está engordando e


sabe disso. Jenna tem um corpo que noventa e nove por cento
da população feminina do mundo mataria para ter. Eu
mataria por isso, também. Apenas de uma maneira diferente.

Eu volto a explorar a paisagem sutil de seu estômago.

—Bem?

—bem o quê?

—Você vai me dizer o que é tudo isso, ou não?

Eu dou de ombros, tentando ser indiferente.

—Eu só estive pensando como isso ficaria um pouco mais


redondo, como você seria grávida.

Há uma longa pausa.

—Isso preocupa você?

—Preocupação? Claro que não. Eu não posso imaginar


qual seria a sensação de tocá-la assim, sabendo que meu
bebê, nosso bebê, está crescendo dentro de você.

Ouço um suspiro suave e olho para cima, nas piscinas


escuras de seus olhos.

—O que está errado?


Ela balança a cabeça, mas não diz nada.

—O quê? Isso te incomoda?

Ela balança a cabeça novamente. Eu posso ver que ela


está lutando contra as lágrimas. Seus olhos brilham de uma
maneira diferente quando ela está tentando não chorar.

—Então o quê?

Ela leva pelo menos um minuto para me responder, e


mesmo assim, sua voz soa um pouco grossa.

—Eu só não sabia que você pensava em coisas desse


tipo.

—E você? Já pensou em coisas assim?

—Às vezes.

—E então?

—E o quê?

—Isso te faz feliz? Pensar em ter o meu bebê? Ter o nosso


bebê?

Eu posso dizer que ela está ficando engasgada


novamente. Ela apenas balança a cabeça.

—Eu poderia passar o resto da minha vida tocando em


você, assim, assistindo nossos bebês crescerem dentro de
você, criá-los juntos, enquanto perseguimos nossos sonhos e
os tornamos realidade.

Ela ri, é exatamente o que eu queria. Um dos sonhos que


eu ainda tenho que contar a Jenna é sobre observá-la
caminhar pelo corredor da igreja, lindamente decorado, para o
nosso futuro, para mim e nossa vida juntos. Vou contar-lhe
tudo sobre isso, algum dia, em breve. Quando eu der a ela o
anel que está escondido na gaveta de cima da cômoda, com
algumas velhas meias de caça que eu tenho. Quando eu pedir
a ela para passar o resto de sua vida como a Sra.
Jeffrey Catron. Mas agora, estou feliz apenas por abraçá-la. E
dizer a ela que eu a amo. E chamá-la de minha.

Já estava na hora.

FIM

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