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Nossa próxima parada será no interior da Bahia. Numa zona rural, há uma
escola muito simples, onde podemos ver a Kailany, uma menininha de 3 anos
e meio, segurando um papel e um lápis. Sentada na soleira da porta e, muito
compenetrada, faz como se estivesse escrevendo, imitando a letra cursiva de
um adulto. Atenta, a sua professora pergunta o que ela está escrevendo. A
menina não titubeia e responde: uma histólia. Dá vontade de esperar para
conhecer o enredo, mas precisamos continuar nossa jornada e observar mais
experiências de leitura e de escrita entre os pequenos.
E para que Adriana, Kailany, Teresa e Pedro soubessem de tudo isso, podemos
afirmar que participaram de muitas situações em que a leitura e a escrita se
fizeram presentes, de forma contextualizada. O que isso significa? Que
observaram adultos escrevendo bilhetes, fazendo listas, lendo histórias. Que
estão buscando compreender e apropriar-se de seu uso.
“As crianças são facilmente alfabetizáveis, desde que descubram, através de contextos
sociais funcionais, que a escrita é um objeto interessante que merece ser conhecido (como
tantos outros objetos da realidade aos quais dedicam seus melhores esforços intelectuais).”
Leia mais
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turma
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de histórias
Todas essas são experiências que leitores e escritores proficientes têm em seu
cotidiano. São experiências que existem fora da escola, estão no mundo, na
vida. No entanto, sabemos que, por mais que estejam no mundo, nem sempre
estão efetivamente presentes na vida de todas as famílias. Muitas crianças
terão apenas na escola a oportunidade de ter essas experiências, já que, em
nossa sociedade tão desigual, a leitura e o contato com os textos também não
se dá de forma equânime.
“Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e
acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto
familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita,
reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na
Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e
das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil,
propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o
desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do
conhecimento de mundo.”
E ainda:
“Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita
que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo
letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da
escrita como sistema de representação da língua.”
Referências
Andruetto, Maria Teresa. A leitura, outra revolução. São Paulo: Edições SESC,
2017.
Ana Carolina Carvalho é psicóloga formada pela USP e mestre em Educação pela
Unicamp. Formadora de professores do Instituto Avisa Lá e da CE CEDAC. Professora
do curso de Pós-Graduação “Investigações e Fazeres com Crianças de 4 a 6 anos” do
Instituto Singularidades.