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Rhema de Educação

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A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO


INFANTIL

Cristina Aparecida Victor da S. Paião1


Profº Leonimar Bacchiegas2

RESUMO:
Contar e ouvir histórias faz parte da infância das crianças, e enquanto as ouve ela
está enriquecendo sua imaginação, ampliando seu vocabulário, e pode criar
imagens com os personagens e cenários, dando liberdade às suas ideias. Esse
gosto por histórias se dá pela proximidade de conta e também porque pode ser que
a história seja semelhante a alguma situação que a criança esteja vivendo, e
enquanto vai ouvindo percebe que outros passam por coisas semelhantes em algum
momento da vida. Contar histórias na educação infantil deve ser parte da rotina, uma
vez que é o lugar onde a criança entra em contato com o mundo das letras, e
começará a entender a importância da leitura na sua vida. Ao escolher o que contar
o professor deve pesquisar sobre o tipo de história, se com animais, se com fundo
moral ou conto de fadas, para enriquecer o vocabulário e mostrar os diferentes
gêneros textuais. A prática de ler e contar histórias pode beneficiar a formação dos
alunos, e facilitar o aprendizado dos demais conteúdos, devendo começar nas salas
da educação infantil, como primeiros passos para formar leitores. O contato com
livros e histórias ajuda a desenvolver o aspecto cognitivo, a socialização, o
entendimento das regras de convivência, a aquisição da linguagem, o
relacionamento com os demais alunos, os vínculos de amizade e família e a
formação do indivíduo leitor.

Palavras-Chave: Contação de histórias, Importância da leitura, Educação infantil.

SUMMARY:
Tell and hear stories is part of the childhood of children, and while she hears is
enriching your imagination, expand your vocabulary, and can create images with the
characters and scenarios, giving freedom to his ideas. This taste for stories gives the
account of proximity and also because it may be that the story is similar to a situation
that the child is living, and while listening will realize that others go through similar
things at some point in life. Storytelling in early childhood education should be part of
routine, since it is the place where the child comes into contact with the world of
letters, and begin to understand the importance of reading in your life. When
choosing what to tell the teacher should research about the kind of history, with
animals, with moral background or fairy tale, to enrich the vocabulary and show the

1 Graduada em Pedagogia pelo Centro de Educação a Distância Anhanguera Uniderp em 2012.


Acadêmica do Curso Pós graduação em Musicalização e Contação de História na Ed.Infantil e EF
pela Fatec – Rhema. Contato: crisvictor17@hotmail.com
2 Mestre em Letras pela Universidade Federal da Grande Dourados, professor de Metodologia

Científica do Instituto RHEMA. Contato: leoni_ivi@hotmail.com


different genres. The practice of reading and storytelling can benefit the education of
students, and facilitate the learning of other content, and should begin in the halls of
early childhood education, as first steps to form readers. Contact with books and
stories helps develop cognitive aspect, socialization, understanding the rules of
coexistence, the acquisition of language, the relationship with other students,
friendship and family ties and the formation of the individual reader.

Keywords: Storytelling, reading Importance, Early Childhood Education

1 INTRODUÇÃO

O momento de contar histórias certamente é aguardado pelas crianças todas


as noites, seja pela mãe, pai ou avó, mas é um hábito muito agradável e que traz
satisfação à criança, pois ela se aproxima da mãe e tem alguns minutos para
desfrutar das histórias e fantasias dos livros.
Enquanto ouve as histórias a criança está enriquecendo sua imaginação,
ampliando seu vocabulário, e pode criar imagens com os personagens e cenários,
dando liberdade às suas ideias.
Da mesma forma que as brincadeiras, as histórias e contos de fadas ajudam
a criança a lidar com seu inconsciente, expressando algumas sensações e sonhos,
de forma natural. Além de criar o hábito da leitura, incentiva o aprendizado e
aperfeiçoamento da própria leitura, no caso de crianças menores, satisfaz a
curiosidade natural, leva a refletir sobre outras realidades, de outros países e de
outras crianças, que vivem de forma muito diferente delas. Por isso mesmo que tal
hábito não deve ser jamais perdido, para que as crianças tenham essa introdução ao
mundo das fantasias, dos heróis, das fadas, e que criem suas histórias a partir
destas também.
Os adultos igualmente se encantam com os contos de fadas, pois muitas
delas remetem à sua própria infância, e com as histórias que ouviram, trazendo
lembranças saudosas dos momentos antes de dormir.
Assim, com as histórias a criança entra em contato com mundos fabulosos,
conhece personagens fortes e corajosos, e se identifica de alguma forma com eles e
deseja ouvir sempre mais. Pode ser que a história seja semelhante a alguma
situação que esteja vivendo, como perda de um parente, separação dos pais,
mudança de cidade, desafetos na escola, e enquanto vai ouvindo percebe que
outros passam por coisas semelhantes em algum momento da vida.
Contar histórias na educação infantil deve ser parte da rotina, uma vez que é
o lugar onde a criança entra em contato com o mundo das letras, e começará a
entender a importância da leitura na sua vida.
Sempre que observa alguém lendo, a criança passa a se interessar por livros,
por isso, mesmo antes de aprender a ler as crianças devem manusear os livros,
observar as ilustrações e tomarão o verdadeiro gosto pela leitura.
O presente estudo tem por objetivo analisar a bibliografia pertinente aos
contos, a literatura infantil e qual a importância da contação de histórias para as
crianças, os alunos da educação infantil, bem como entender de que forma esta
prática pode colaborar com a formação literária e a aquisição do gosto pela leitura. A
prática de ler e contar histórias pode beneficiar a formação dos alunos, e facilitar o
aprendizado dos demais conteúdos, devendo começar nas salas da educação
infantil, como primeiros passos para formar leitores.
A pesquisa realizada foi bibliográfica a fim de aprofundar os conhecimentos
sobre o Conto de Fadas, sendo no capítulo inicial, com os tipos, gêneros e o público
alvo desde tempos antigos; a importância de se contar histórias para as crianças
como uma aproximação dos pais e para ampliar o vocabulário desde pequenos, e o
cuidado ao escolher os livros, a forma de trabalha-los na escola e como contribuem
para o entendimento dos textos, interpretação e futura produção de texto, de forma
geral desde a educação infantil.

2 O CONTO DE FADAS

Desde narrativas simplificadas em livros infantis, até as grandes produções


cinematográficas, o conto de fadas está presente na infância de todos, e encanta
adultos também, lotando salas de cinemas com frequência. As crianças não se
cansam de assistir novas versões das mesmas histórias, pois são seduzidas pela
graça e magia destas formas literárias. Como bem afirma Coelho (1991, p.11) “A
Literatura é, sem dúvida, uma das expressões mais significativas da ânsia
permanente de saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas
as épocas”.
Os contos de fadas ou contos maravilhosos são uma forma de narrar que
nasceu na Antiguidade, e por muito tempo foram contados, transformados e
espalhados por toda parte, e permanecem até hoje. Mesmo tendo origem comum,
assumem detalhes diferentes em cada nação. Eles constituem o acervo da chamada
Literatura Infantil Clássica, com milhares de narrativas infantis (COELHO, 1991).
O contar uma história pode ser feito oralmente ou com registro escrito, e não
tem compromisso com algum evento real, uma vez que realidade e ficção não
possuem limites. Para relatar um fato, alguém precisa tê-lo presenciado, para então
contar a alguém o ocorrido, mas um conto é inventado, “(...) é a arte de inventar um
modo de se representar algo” (GOTLIB, 1995).
O conto pode ser a representação de fatos cotidianos, com a intenção de
registrar com mais fidelidade a realidade de um povo, mas, ainda sim, será uma
obra de ficção, pois será contada de forma literária, conforme as intenções do autor,
que podem ou não se distanciar da verdade, como explica Gotlib (1995).
Em linhas gerais, como descreve a autora, a história do conto passa por
poucas fases: a criação do conto e sua transmissão oral, e mais tarde passou a ter o
registro escrito do que era contado, para então chegar a criação por escrito de
contos, com os recursos literários que mais agradassem ao autor.
Jolles (1995) explica que

O conto, entendido como fábula que se conta às crianças para diverti-las,


liga-se mais estreitamente ao conceito de estória e do contador de estórias,
e refere-se, sobretudo, ao conto maravilhoso, com personagens não
determinadas historicamente, e narra como as coisas deveriam acontecer,
satisfazendo assim uma expectativa do leitor e contrariando o universo real,
em que nem sempre as coisas acontecem da forma que gostaríamos (1995,
p.17).

Por não ter compromisso com a precisão histórica, nem com fatos reais, o
conto diverte e encanta, agradando crianças e adultos, e leva-os a imaginar as
cenas com seus personagens fantásticos. Mesmo tendo sido criados para adultos,
os contos clássicos infantis agradam os pequenos, porque contam coisas comuns
da vida, de forma alternativa e que agrada sempre, “(...) ao transmitir a mais
verdadeira maneira de ver e sentir a vida” (COELHO, 1991, p.18).
A autora acrescenta ainda que,
De igual modo, a Literatura infantil tem sua importância na formação das
crianças como leitores, e como importante instrumento de conhecimento,
pois funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua
possível/impossível realização”. Pode, assim, ser considerada como arte da
palavra, um fenômeno da criatividade que representa o mundo, o homem, a
vida através da palavra (COELHO, 2000, p.24).

A Literatura infantil começa a aparecer no início do século XVIII, uma época


em que a criança começou a ser vista como um indivíduo diferente do adulto, e
portanto, tinha necessidades e características próprias. Devia ser preparada para a
vida adulta, com a educação que a nobreza podia oferecer, dada por preceptores,
sendo sua leitura os grandes clássicos. As poucas crianças da classe pobre que
tinham acesso a algum livro ouviam sobre histórias de cavalarias, aventuras, contos
folclóricos e lendas (CUNHA, 1995).
A partir desta realidade é que foram sendo criados os materiais específicos
para a educação das crianças, incluindo também a literatura, mas estes eram em
sua maioria informativos e enciclopédicos. Vieram mais tarde as adaptações dos
clássicos e dos contos de fadas, que até então eram voltados para os adultos.
São exemplos desta transição os Contos dos Irmãos Grimm e Perrault, e seus
contos folclóricos republicados para crianças (CUNHA, 1995). Na verdade, até hoje
são feitas novas adaptações de tais contos, e atraem muitos curiosos. Outros
exemplos são Lewis Carroll, Mark Twain, Charles Dickens, Andersen e outros.
No Brasil essa valorização da Literatura infantil também ocorreu, começando
com obras portuguesas, assim como Carlos Jansen (Robinson Crusoé, As viagens
de Gulliver), Figueiredo Pimentel e seus Contos da carochinha, Coelho Neto. Até
que a obra de Monteiro Lobato deu início a Literatura infantil brasileira, com seus
personagens nacionais e folclóricos, com os quais se podiam observar diversos
questionamentos sobre problemas da sociedade, usando a dialeto brasileiro em
suas criações. Lobato fez também adaptações de contos de fadas, como Peter Pan
e Pinóquio.
A Coelho (2000) explica ainda que por muito tempo a Literatura Infantil foi
considerada como um gênero de menor importância, pois era vista como “meros
livrinhos repletos de figuras”, com a simples função de distrair as crianças com
histórias para dormir.
Por outro lado, Coelho (2000) fala que essa visão foi sendo modificada,
quando a Psicologia experimental demonstrou sua importância para o
desenvolvimento dos estágios, da infância à adolescência, e como contribuem para
a formação da personalidade. Proporciona à criança a possibilidade de conhecer
melhor a noção de criança e de adulto, da necessidade de se comunicar com
clareza aos destinatários pretendidos.
Os primeiros livros infantis têm uma função estético-formativa, que pretendem
educar a sensibilidade com sua beleza e encantos, e assim a Literatura infantil
auxilia no processo de ensino aprendizagem, pois o gosto artístico e crítico vai
sendo formado, mesmo ao ouvir as histórias antes de dormir. Com o passar do
tempo, esse gosto vai sendo apurado para se tornar em prazer de ler (COELHO,
2000).
O contato com livros e histórias, para Abramovich (2006) ajuda a desenvolver
o aspecto cognitivo, a socialização, o entendimento das regras de convivência, a
aquisição da linguagem, o relacionamento com os demais alunos, os vínculos de
amizade e família e a formação do indivíduo leitor. “Ouvir histórias pode estimular o
desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o
livro, o escrever, o querer ouvir de novo. Afinal, tudo pode nascer dum texto!” (2006,
p.29).

2.1 A hora da história

Ao compreender como as histórias agradam as crianças, os professores


devem estabelecer o hábito, criar um momento adequado, para que seja esperado e
apreciado por elas. Mesmo sendo um costume comum, contar histórias e ler livros
foi substituído por tantos brinquedos eletrônicos, vídeo games, TV que ler deve ser
um costume a resgatar, na escola e nas casas também.
Como explica Fernandes (2003)

O ato de contar histórias está presente no cotidiano humano de diferentes


classes sociais ou em culturas distintas sendo passado através das
gerações com o objetivo de encantar a todos com a magia que representa.
A origem das histórias e os gêneros literários são variados, mas possuem a
mesma função: atender à imaginação e aos anseios humanos de responder
dilemas como medo, alegria, perdas, angústias e outros.

Por usar uma linguagem simbólica, os contos e histórias infantis atuam no


desenvolvimento humano, por sua função simbólica, fazendo com que a criança crie
em sua mente as imagens e os personagens que aparecem nas histórias, de forma
que tais associações ensinem sem que seja necessário dar explicações, pois a
criança assimila o que ouve.
Por meio desta Função Simbólica a criança assimila a linguagem dos
símbolos, presentes nas histórias, e querem sempre ouvir novamente, por
apreciarem essa “viagem aos seus sentimentos inconscientes e imaginários,
distantes ou possíveis de serem expressos”. Por precisarem desse aspecto lúdico
encontrado nas histórias para compreender o mundo em que vivem, ouvir as
historias contadas pelos adultos passa a ser um meio de compreender o mundo,
além de permitir que entendam muitos dos sentimentos que não sabem definir, além
de proporcionar agradável divertimento (FERNANDES, 2003).
Encontra-se no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(1998) as recomendações para que a leitura e contação de histórias seja tornado
uma prática comum, devido a importância da leitura para o domínio da linguagem,
fazendo com que contar histórias seja visto como um procedimento pedagógico para
que se compreenda que a leitura tem uma função social. Ou seja, ouvir histórias, os
livros com seus personagens agem facilitando o entendimento da leitura e escrita.
Pode-se dizer então, que o livro é um instrumento de recreação e entretenimento
para as crianças, além de fonte inesgotável de formação e conhecimento através
dos momentos de contar histórias (MEC, 1998).
Complementando essa recomendação do Referencial Curricular (1998) sobre
a importância de aproximar as crianças dos livros, Antunes (2001) afirma que além
de ouvir as histórias, se deve deixá-las manipular os livros, para que se tornem
atrativos, e que elas participem do momento, e logo elas estarão contando a mesma
história para os colegas, mostrando como apreendem os significados e o que mais
lhes chama a atenção. Essa participação promove grande estímulo para explorarem
novas linguagens e para que aprendam a contar e criar suas próprias histórias.
Hoje vivemos cercados de equipamentos, com um mercado de consumo que
lança recursos de mídia eletrônica em grande quantidade, para crianças e adultos,
de qualquer idade, com objetivo de entreter e ensinar, mas, como aponta um
importante estudo, no caso de material para crianças pequenas voltados para a
alfabetização precoce, o público alvo eram os pais, ansiosos por tornar os filhos
mais competitivos quando chegassem a escola (NEUMAN, 2016).
Nas palavras de Neuman (2016)

Preparar a criança para a leitura pós-alfabetização é muito mais do que


colocar um livro à sua frente. O hábito da leitura por curiosidade e prazer
depende, em boa parte, de boas memórias da infância em torno de palavras
e histórias. E elas dificilmente se formam na ausência de exemplos adultos
e de afeto.

É clara a mensagem, de que esse gosto pela leitura não é um hábito


mecânico, mas está relacionado a essa proximidade, ao afeto presente nesse
momento de contar a história, seja em casa ou na escola, são as lembranças que
incentivarão a criança futuramente.
Mesmo para os bebês, o ato de ler livros é significativo, mas sua futura
alfabetização não depende de ter e manusear livros somente. Outras atividades são
igualmente importantes, como cantar, por exemplo, que as ajuda na aquisição da
linguagem, ao ouvir o som de rimas e melodias simples com repetições fáceis.
O brincar com objetos simples e variados, produzindo sons para cada um
deles, transformando-os em personagens, aguça a criatividade e as diferentes
linguagens, conforme explica Neuman (2016), e continua falando que

A experiência com a leitura cedo é acompanhada de um aprender a


aprender, adquirir compreensão sobre narrativas. Os dois primeiros anos de
escolaridade são importantes mas, se a criança chega lá sem ter
experimentado o estímulo adulto, não há professor dedicado que possa
compensar na sala de aula. Falo de uma desvantagem que pode
acompanhar o aluno pelo resto de sua vida escolar. Sempre digo, quando a
criança pisa na escola pela primeira vez chega na companhia da geração
que a enviou para lá.

Dessa forma, o trabalho de contação de histórias na educação infantil pode


preencher as lacunas que possam existir nesse período de aprendizado pelas
histórias que deveria ter acontecido na família, com o preparo dos momentos de
leitura, de um cantinho para folhear os livros e explorar as cores, desenhos e
páginas ilustradas.
Para Piaget (2002) o desenvolvimento da criança é como uma passagem de
um estado de menor equilíbrio para outro de maior equilíbrio, o que chamou de
equilibração progressiva, intimamente ligada ao funcionamento completo do
organismo.
Por isso Piaget separou o desenvolvimento infantil em períodos, conhecidos
como período sensório motor; período pré-operatório; período operatório concreto e
período formal; de forma que o desenvolvimento se dá pela interação da criança
com o meio físico e social na qual está inserida, permeada pelas emoções e
sentimentos que manifesta. Sua inteligência também se desenvolve por meio dessa
interação, e conforme amplia seus conhecimentos, melhor compreende o mundo
que a cerca.
É importante começar a vivenciar novas emoções que vêm com a idade, e as
histórias dos contos contribuem para isso, ao relatar situações variadas que
despertam raiva, alegria, ansiedade, anseios, conforme os acontecimentos com os
personagens, e como descreve Abramovich (2006)
É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes,
como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem estar, o pavor, a insegurança, a
tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as
narrativas provocam em quem as ouve, com toda sua amplitude,
significância e verdade que cada uma delas faz (ou não) brotar, pois é ouvir,
sentir e enxergar com os olhos do imaginário (2006, p.17).

Ao planejar o momento para ler ou contar histórias o professor precisa ter


cuidado ao escolher os livros, uma vez que seus alunos estão na fase pré-
alfabetização e é interessante começar com uma narrativa simples e palavras
conhecidas, que façam parte do seu repertório. Deve contar também com o texto
imagético, com a ilustração que fará ao contar cada história, com uso das figuras do
próprio livro, com bonecos ou objetos representando os personagens, com a
entonação de voz, e então o texto escrito terá sentido para os alunos. “Com o texto,
as imagens e os sons serão aguçados os sentidos deles, suas percepções, a
linguagem oral e a memória", explica Abramovich (2006).
Nas salas da educação infantil, deve-se usar livros que fazem uso do lúdico e
da fantasia, que despertem a imaginação e que descrevam situações conhecidas
pelos alunos. Além de permitir que as crianças passem tempo manuseando os
livros, observando as figuras, para que posteriormente sejam capazes de
reconhecer uma história pela capa do livro, ou por seus personagens. “A leitura em
voz alta e a contação de histórias são práticas que devem estar presentes na escola,
pois quando partilhada, a leitura se torna saborosa, se transforma em uma
experiência formadora”.
Como nos ensina Jordão (2015)
Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso
mesmo, uma das mais fantásticas que existem, por isso o estímulo à leitura
pode começar desde cedo, ainda na educação infantil. Como mediadores,
pais e educadores têm a missão de apresentar os livros, as histórias e o
mundo da imaginação a seus filhos e alunos.
Os professores enfrentam dificuldades para ter essa rotina de contar histórias
na educação infantil, devido a indisciplina, a dificuldade de concentração de alguns
alunos e até mesmo a falta de material, pois não se pode contar a mesma história
repetidas vezes. É necessário ir educando as crianças para esse momento, e fazê-lo
de forma bem divertida, para que eles queiram se sentar para escutar na próxima
aula.
Para isso as sugestões são muitas, como trazer objetos para ilustrar,
bonecos, fantoches, cenários, tudo que for possível para dar vida e forma aos
personagens, para que se crie esse gosto por ouvir as histórias, e assim conseguir a
atenção dos pequenos.
Mas esse problema não é da nossa década, nem somente da educação
infantil. Cunha (1995, p.10,11) após várias pesquisas de campo, afirmou que
trabalhar com a literatura infantil mostra dificuldades em todos os níveis
educacionais, como escassa bibliografia, difícil acesso a textos infantis, baixo
investimento das escolas, poucas experiências de apoio para um trabalho prático e
eficiente com a leitura para crianças e jovens.
Dentre os alunos que responderam à pesquisa de Cunha (1995) as respostas
sobre as preferências de entretenimento mostraram que as mais votadas fora a TV,
esporte, cinema, vídeo games, e a leitura ficou em penúltimo lugar. Mesmo os mais
velhos que responderam gostar de leitura não souberam citar os últimos cinco livros
que leram, não possuem mais que 10 livros em casa e não frequentam nenhuma
biblioteca.
Por parte das escolas, as respostas da pesquisa de Cunha (1995) mostraram
que os professores de Língua portuguesa solicitam a leitura de um livro por
semestre, para ser avaliado por resumo ou prova. Estes dados demonstram como é
difícil tornar a prática da leitura um hábito que traga satisfação aos alunos, diante de
tantas opções de entretenimento que possuem e mais ainda, do pouco incentivo e
exemplos que recebem.
Tais respostas e atitudes demonstram como é urgente que se tenha a leitura
como hábito, não importa a idade, para facilitar o aprendizado, a linguagem e
comunicação de modo mais amplo, que as histórias podem proporcionar às
crianças.
As crianças sentem vontade de contar suas histórias, seja de algo que
aconteceu realmente, ou o que viram, ou assistiram na TV, ou descobriram, e com
as histórias, isso pode se tornar mais fácil e compreensível, pois terão maior
compreensão das formas de se expressar, do repertório de palavras.
Mesmo que contar histórias não seja mais um costume dos pais, deveria ser
praticado, para auxiliar na construção de uma identidade social e cultural, que se
obtém ao ouvir as diferentes narrativas.
Para Abramovich “(...) é importante para a formação de qualquer criança ouvir
muitas histórias, e escutá-las é o início da aprendizagem, para ser um leitor e ter um
caminho absolutamente infinitivo de descobertas e compreensão do mundo”. (2006,
p. 16)
Antunes (2001) também revela que durante as histórias as crianças elas
marcam o personagem de que mais gostaram, por terem se identificado com ele ou
pela situação que ele vive. Mas revela que é preciso dar oportunidade para que as
crianças comentem, contem e fantasiem a partir da história, interagindo com o
contador também, para que tenha proximidade com o narrador e com o livro.
Ao imaginar as cenas da história, a criança pode sentir emoções variadas,
como explica Antunes (2001), pois está recebendo os fatos, os sentimentos dos
personagens, e enquanto isso aprende coisas que talvez só use em momento
futuros, mas que remeterão às histórias que ouviu na infância.
Lajolo (2005) diz que a literatura é uma modalidade privilegiada de leitura,
pela qual se expressa e discute os impasses da vida, e não pode ser vista como um
ato mecânico e formal do professor, pois “transcende as palavras e demonstra
sentidos, que podem ser compreendidos de modos diferente pelo sujeito que lê”.
Ninguém fica indiferente ao ouvir uma história, pois ao se combinar com as
experiências pessoais, terá um sentido único para cada um.
Dohme (2010) afirma que as histórias transmitem valores educacionais que
trabalham os aspectos internos do leitor ou ouvinte, como o caráter, o raciocínio, a
criatividade, o senso crítico e a imaginação.
O autor acrescenta que os professores e os pais devem procurar entender o
que agrada as crianças, assistir seus desenhos, brincar juntos, conhecer seus
heróis, para poder escolher as que mais se assemelham ao comportamento que tal
aluno ou filho tem demonstrado. Por isso é necessário atentar para os títulos e a
indicação da idade recomendada, sempre lendo com antecedência para verificar se
todas as partes da história serão interessantes e pertinentes à sala.
Dohme (2010) define por idades as escolhas de histórias, conforme o
desenvolvimento da criança, começando bem cedo, até os dois anos a criança é
voltada para os movimentos e o tom de voz, e irá se interessar por objetos ou
bonecos usados para ilustração, como bichos que falam, livros com aplique, relevo e
materiais resistentes, para que possam manusear livremente.
Até chegar aos seis anos as crianças se interessam muito pelas fantasias,
fatos inesperados, heróis, fadas, pois o fantástico as encanta, e não se cansam de
ouvir repetidas vezes as mesmas histórias ou músicas. Esse fascínio faz com que
queiram ouvir e ver novamente, pois estão absorvendo todos os detalhes daquele
mundo que descobriram por meio do livro.
E o benefício desta repetição é o conhecimento do mundo que percebeu
naquela narrativa, como explica Bettelheim, tais conhecimentos promovem o
desenvolvimento da criança, ajudando a se relacionar melhor com seus pares de
forma prazerosa. “Quanto mais aumentam os excessos e apelos a que as crianças
são submetidas nos dias atuais, numa era digital e prática, é fundamental manter a
magia de uma boa história no imaginário infantil” (2006, p.12).
É tarefa dos professores usar as histórias infantis para ajudar a criança a
perceber os conflitos e como pode superá-los, e fazendo uso desse importante
recurso é possível mostrar outras situações semelhantes. “O que torna uma história
estimulante é a capacidade de provocar na criança a coragem para enfrentar suas
próprias dificuldades” (BETTELHEIM, 2006).
Ao falar sobre a importância da fantasia das histórias para o desenvolvimento
da criança Sisto (2001, p.32) explica que “Uma história estimulante pode apresentar
toda sorte de construção. O que se oculta e vai se revelando aos poucos é próprio
do jogo, também da linguagem”.
Se para contar uma história for possível usar outros recursos, que possam
enriquece-la é importante que não se perca o real teor da narrativa, o tom de voz, a
emoção dos acontecimentos, e seja possível imaginar os cenários onde se passa a
história. Sisto (2001) acrescenta que em nossos dias praticamente não há lugar para
ouvir em silêncio algo contado ou lido, devido aos inúmeros aparelhos e ruídos das
cidades, que preenchem o tempo livre.
Então, se o hábito de ler e contar histórias for estabelecido na rotina diária
das crianças, para “contar de reis e rainhas, príncipes e princesas, gnomos e
duendes, meninos e meninas, animais falantes e coisas de outro mundo e coisas
desse mesmo mundo” (2001, p.19) esse mundo imaginário e fantástico vai encantar
quem ouve, principalmente se for feito de forma alegre, dinâmica, como quem já
presenciou ou viveu estas coisas, que muito interessa às crianças.

3 CONCLUSÕES

Com as pesquisas para este artigo foi possível entender como é importante
para as crianças ter o momento das histórias, seja por alguém da família ou na
escola, e como esse hábito será válido em seu gosto por ler mais no futuro, depois
de ser alfabetizado.
Em algumas escolas, como a rede escolar adventista existe o costume de
utilizar histórias bíblicas integradas em seu currículo escolar, as professoras da
educação infantil contam histórias bíblicas para ensinar perseverança, esperança, fé
e amor ao próximo. Ao aplicar histórias bíblicas as professoras utilizam meios como
vídeos, bíblia ilustrada, livros e encenação, utilizando as crianças como personagens
e assim as histórias são contadas com a participação das crianças, que aprendem
mais por fazerem parte do enredo, criando uma lembrança e fixando mais
claramente em suas mentes.
Além destas vantagens, as histórias contadas pelos professores na educação
infantil, favorecem na criança o interesse pela leitura, como afirma Simões (2000), as
histórias infantis são usadas pelos pais ou professores para distrair, pois a criança
geralmente demonstra um interesse especial por elas, e levam para a criança o
gosto pela leitura, o conhecimento do universo da ficção e também transmitem valor
cultural para toda a educação da criança.
Fica evidente que a contação de histórias, começando mesmo quando são
bebês, propiciam às crianças adentram o mundo da fantasia, da criatividade e dos
contos, que estimulam o pensamento criativo, amplia o vocabulário e incentiva o
gosto por se tornar leitor no futuro, sendo que as crianças que não têm contato com
livros em casa, quando pequenos, certamente terão menos interesse por eles no
futuro.
De forma que incentivar o momento da história trará grandes benefícios à
aprendizagem futura da criança, além de promover um momento de proximidade
com a mãe, pai, avó ou professora que conta as histórias. Deve ser um hábito
cultivado desde cedo, e preservado como uma tradição cultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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