MOSSORÓ
2018
SÚMARIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................
2. O CONTO E O SEU PERCURSO HISTÓRICO....................................................
2.1 A origem dos contos infantis ..................................................................................
2.2 O que é conto? ........................................................................................................
2.3 Contos maravilhosos e Contos de fadas ................................................................
3. OS CONTOS INFANTIS NOS ANOS INICIAIS ..................................................
3.1 A leitura em sala de aula.........................................................................................
3.2 A importância dos contos para a formação da criança ...........................................
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................
5. REFERÊNCIAS ......................................................................................................
1. INTRODUÇÃO
Vivemos hoje numa era digital, onde cada vez mais aumenta o número de
novas tecnologias usadas para o fim de entretenimento de milhares de crianças e
adultos no mundo todo. Com isso, os livros de contos que costumavam a ser lidos
diariamente, de pais para filhos, na finalidade de adormecê-los ou simplesmente
diverti-los, estão sendo substituídos por aparelhos eletrônicos cada vez mais
sofisticados. Diante disso, a opção pela leitura se torna progressivamente mais rara,
em função dos múltiplos desenhos animados e jogos disponibilizados pela internet.
Como assim afirma Oliveira et al (2016):
O ato de ler para crianças nem sempre é uma prática que se encontra
inserida no cotidiano dos lares de nosso país. Sabemos que apesar de algumas
pequenas melhorias que tivemos ao longo dos anos em nossa educação, o quadro
de analfabetismo ainda é grande em nosso país, consequentemente, nem sempre
há leitores na família, ou alguém que conheça a importância de incentivar a leitura
logo nos primeiros anos de vida da criança.
Não queremos dizer com isso, que um pai analfabeto não possa incentivar
seu filho a ler, mas que nem sempre é fácil incentivar a leitura quando não somos
leitores, com isso, a autora acima citada traz em sua fala considerações que são
importantes para que a leitura dos contos seja inserida nos anos iniciais da vida de
toda criança, em prol não apenas da formação de um leitor, mas como ferramenta
de suma importância em todo o processo de formação do aluno.
Pois entendemos que ser um leitor, abre caminhos para compreender melhor
os outros conteúdos que vão surgindo, sem contar que ajuda ao aluno a refletir,
compreender e interpretar de maneira mais clara as coisas do mundo em que vive.
Os contos, desde muito tempo, encantam crianças no mundo todo. Apesar de
ter surgido com o intuito de divertir adultos, como assim afirma Nelly Novaes Coelho
(2000), em seu livro Literatura Infantil: Teoria, Análise e Didática, por apresentar em
suas narrativas um mundo surreal e ao mesmo tempo real derivados do pensamento
mítico muito predominante no contexto em que foram criados, despertam nos
pequenos ouvintes um misto de fantasia e realidade, levando-os a voar em sua
imaginação.
Segundo Verônica Pontes (2012), apesar da presença de seres com poderes
sobrenaturais em suas narrativas, como heróis e fadas, por exemplo, os contos
sempre costumam a retratar uma realidade do nosso cotidiano e a ter, como figura
principal, personagens com características e sentimentos humanos. Isso revela o
porquê que esses contos, mesmo depois de passado tanto tempo e ser feito por
outros povos, continuam a falar aos nossos dias por meio de uma linguagem
universal e simbólica.
Assim sendo, essa linguagem possibilita que a criança se veja na história, se
identifique com os personagens e situações vividas por eles, passando, deste modo,
a encontrar soluções para os seus próprios problemas á medida que os
personagens desvendam uma saída para os seus.
Pontes (2012), ainda afirma:
Segundo a autora, os Grimm faz uma reformulação dos contos publicados por
Perrault por considera-los ainda inapropriados para as crianças. É dessa forma, que
eles retiram por completo todo conteúdo erótico e cruel dos contos de fadas e lhes
atribuem um final feliz, movidos pelo pensamento cristão em que estavam inseridos,
pois vinham de uma família Calvinista.
De acordo com Falconi e Farago (2016), os irmãos Grimm foram
grandes pesquisadores que se formaram em Direito na Universidade de Kassel e
eram amantes dos estudos. Através dos relatos e narrativas de tradição oral,
buscavam proteger e reafirmar as origens da realidade histórica do povo alemão.
Conforme isso Coelho (2003, p.23 apud Falconi e Farago, 2015, p. 91) diz que:
Há algum tempo, o gênero literário conto tem se tornado dentro das escolas
brasileiras um recurso indispensável no enriquecimento da prática do professor.
Entretanto, com as reformas na educação e atualizações na Lei De Diretrizes e
Bases, este tem ganhado um espaço bem mais considerável nas propostas
educacionais, visto o reconhecimento de sua grande importância tanto para o auxilio
da prática pedagógica de professores alfabetizadores como para a formação do
aluno nas esferas cognitiva, emocional e social.
Sabendo, pois, que é nos primeiros anos iniciais do ensino fundamental que
se espera que os alunos desenvolvam habilidades na leitura e iniciem a construção
de seus perfis de alunos leitores, os contos infantis funcionam como materiais ideais
nesse processo, já que suas narrativas encantadoras costumam sempre atrair a
admiração e o interesse das crianças.
Os Parâmetros curriculares Nacionais – PCN (1997) de Língua portuguesa,
nos objetivos propostos para o primeiro ciclo do ensino fundamental, propõem que
os alunos sejam capazes de:
Daí que quando se vai ler uma história – seja qual for- para a criança,
não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se
vê na estante... E aí no decorrer da leitura mostrar que não está
familiarizado com uma ou com outra palavra (ou com várias), empacar ao
pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não
percebeu o jeito como o autor construiu as frases e ir dando as pausas nos
lugares errados, fragmentando um parágrafo porque perdeu o fôlego ou
fazendo ponto final quando aquela ideia continuava, deslizante na página ao
lado... (ABRAMOVICH, 1997, P. 19 e 20).
A forma como o professor ler os contos para os seus alunos é fundamental
para alcançar os objetivos propostos para uma boa leitura, pois se não houver o total
envolvimento do contador e o domínio das técnicas de entonação da fala
necessárias para a contação de história, não será possível fazer fluir todo o
encantamento e as múltiplas sensações provindas do mundo maravilhoso dos
contos infantis. É necessário, também, que o professor faça uma leitura do conto
antes de ler para os alunos, para ter ciência do que está sendo lido e assim
apresentar uma postura de familiarização com a história da narrativa, pois é
somente assim que o narrador transmitirá aos ouvintes a confiança, e, em resposta
disso, despertará a atenção e interesse dos alunos.
A escolha do livro tem um poder considerável no estímulo desse interesse. Em
sua seleção, o professor precisa analisar se este apresenta-se próximo a realidade
dos alunos, de sua faixa etária, do nível intelectual e linguístico necessários para a
sua compreensão.
Bernadino e Souza (2011), explica:
. A didática do conto de histórias é motivante e enriquecedora nas
series inicias, mas com o cuidado de que a estrutura da narração deve ser
previsível para a criança, de fácil linguagem, com imagens e possibilidade
de explorá-las posteriormente de forma lúdica, às narrativas possibilitarão
as crianças um melhor desenvolvimento da capacidade de produção e
compreensão textual. (BERNADINO; SOUZA, 2011, p. 238).
Sabemos que em nada adianta insistir em uma leitura quando não se percebe
o entusiasmo por parte dos ouvintes ou dos leitores, nem tampouco a sua
compreensão. Em razão disso, evitar leitura de narrativas muito longas e com
palavras muito complexas para leitores iniciantes se torna um ponto relevante a ser
considerado pelo professor no momento da seleção de livros.
Por mais que a criança ainda saiba ler, tecnicamente falando, disponibilizar o
contato manual com os livros é fundamental para cultivar a afeição pela obra como
objeto, pois, ao folhear as páginas, esta notará que pelo simples movimento dos
seus dedos será possível descobrir mundos sem sair do lugar.
Fazer uso de livros com bastantes ilustrações é apropriado para esta fase de
leitor iniciante, pois as crianças ainda são muito movidas pela alegria das cores e a
curiosidade de saber de que forma cada personagem está desenhado.
Sobre a importância das ilustrações nos livros infantis, Coelho (2000) afirma:
.
Enxergar a leitura como algo prazeroso é essencial. Infelizmente em muitas
escolas a leitura é passada como uma obrigação, isto é, que é preciso ler para
realizar uma tarefa e para conseguir boas notas. E isso tem contribuído
grandemente para que muitos alunos tenham a visão da leitura como sinônimo de
desgaste e exaustão.
A professora A, em sua fala também refere-se ao momento da leitura como
algo que precisa ser prazeroso para os alunos quando diz que:
Dessa forma, fica evidente que não é só a Língua Portuguesa que pode ser
trabalhada na leitura dos contos infantis, mas todas as outras disciplinas podem ser
vistas conjuntamente por meio da interdisciplinaridade, pois uma história pode
abordar de forma divertida: as culturas e histórias dos povos, regiões, formas de
governo e até mesmo os temidos cálculos matemáticos. Assim, enfatizamos que a
aprendizagem pode ocorrer de forma lúdica, por meio do prazer e diversão e não
somente pela transmissão de conteúdos disciplinares.
A Professora C, falando ainda sobre o momento da escolha dos livros, cita
algo bastante interessante:
Acontece também, da gente trabalhar com a sequência didática
onde a gente pega um livro e durante uma semana a gente trabalha
somente com aquele livro, com aquela história, aí com aquele livro que a
gente escolheu pra fazer a sequência didática, a gente trabalha atividades
interdisciplinares né, introduzindo a matemática, o português, história,
Geografia, ciências entre outras. (professora C, 1º ano. Entrevista sobre o
uso dos contos nos primeiros anos iniciais. 2018).
Essa inter-relação possibilita que o aluno venha alargar seus horizontes ao
enxergar o mundo em sua totalidade, passando a construir uma leitura critica sobre
a realidade que o cerca. É nesse sentido, que podemos formar leitores críticos e
reflexivos, que conseguem ler além do que convencionalmente está escrito.
As possibilidades de atividades que podem ser desenvolvidas após o
momento de leitura são muitas, mas não necessariamente elas precisam estar
ligadas a ideia de um dever que a criança faz por obrigação. O professor pode criar
um momento de discussão por meio do qual os alunos irão trabalhar a oralidade e
comunicação, ao expressar suas compreensões e suas emoções, bem como,
possibilitar a troca de opiniões com os demais colegas sobre os vários aspectos da
literatura:
[...] quando a gente termina a leitura, que a gente vai fazer o momento da
oralidade, eles dizem coisas, eles já criam coisas que a gente nem falou no
livro né, então eles passam a imaginar diferente do que a gente até leu,
então isso ai é um ponto positivo que é a questão da compreensão deles.
(PROFESSORA C, 1º ano. Entrevista sobre o uso dos contos nos primeiros
anos iniciais. 2018).
Em síntese, são inúmeros benefícios que os contos infantis podem trazer para
a alfabetização de alunos e para a melhoria da prática de professores em sala de
aula, devendo assim, estar presente diariamente nos anos iniciais, pois essa
ferramenta não apenas contribui para o desenvolvimento cognitivo dos alunos, mas
exerce, também, um grande poder na vida emocional e social das crianças.
É nesse sentido, que os contos falam tanto as crianças, pois como toda obra
de arte, eles têm o poder de se comunicar de forma singular a cada ouvinte ou
leitor.
Os inicios “Era uma vez” ou “Há muito tempo atrás”, leva a criança a imaginar
não um mundo concreto, como o que vivemos aqui, mas a viajar em um espaço e
tempo do inconsciente. “São as coordenadas que colocam a estória não no tempo
ou no lugar da realidade externa, mas num estado da mente.” (BETTEHEIM, 1998,
p.79). Nesse estado, tudo é possível acontecer, pois é movido pela fantasia. É
desse modo, que se torna tão comum para a criança ouvir uma narrativa onde os
animais falam, pessoas voem, objetos com poderes existam, pois elas entendem
que se trata de uma viagem ao mundo da imaginação.
Nesse sentido, os contos funcionam como instrumentos poderosos no exercício
da fantasia e no desenvolvimento da imaginação.
Ainda segundo Bettelheim (1998), o maior benefício dos contos infantis,
principalmente dos contos de fadas, é no âmbito emocional, pois realiza a tarefa de
desenvolver a fantasia, fornecer escapes necessários, falando aos medos e às
ansiedades, ou seja, às agitações internas da criança e ainda proporcionar a
recuperação e o consolo desses conflitos.
Os contos infantis podem falar sobre qualquer dilema da existência humana,
como o medo, rejeição, angustias, tristezas, perdas, separações, entre tantas mais,
e o mais interessante é que costumam a tratar de forma mais natural possível.
Alguns começam retratando a morte como uma realidade, como acontece nos
contos João e Maria, Branca de Neve, Cinderela, dentre outros, que iniciam o
enredo já com a ausência de um ou dos dois progenitores do personagem principal.
Nesses contos, a morte é enfrentada como um dilema angustiante, que
causa abandono e carência, mas o desfecho da estória com “o final feliz” consola e
encoraja as crianças, mostrando que é sempre possível encontrar uma saída para
suas aflições.
O herói do conto de fadas avança isolado por algum tempo, assim
como a criança moderna com frequência se sente isolada. Ajuda-o o fato de
estar em contato com coisas primitivas – uma árvore, um animal, a natureza
-, da mesma forma como a criança se sente mais em contato com essas
coisas do que com a maioria dos adultos. O destino desses heróis a
convence de que, como eles, ela pode se sentir rejeitada e abandonada no
mundo, tateando no escuro, mas, como eles, no decorrer da sua vida ela
será guiada passo a passo e receberá ajuda quando necessário.
(BETTELHEIM, 1998, p.20).
Segundo a autora, os valores que são transmitidos nos contos de fadas sempre
foram importantes para a vida humana, pois são princípios que auxilia no convívio
social. Deste modo, os vilões sempre serão aqueles personagens com condutas
egoístas, opressoras e impiedosas, enquanto os heróis apresentam personalidades
compassivas e humanas.
A dicotomia entre Bem e Mal, presente nos contos de fadas, se torna ainda
mais aceitável diante de sua linguagem simbólica. Quando a criança costuma a se
identificar com os bons heróis, por exemplo, não é devido a sua bondade, mas por
apresentarem um forte apelo positivo. (BETTELHEIM, 1998).
A linguagem simbólica dessas narrativas possibilita que a criança enxergue as
bruxas, gigantes e vilões como os obstáculos que precisa enfrentar no seu dia a dia,
logo, o triunfo do bem sobre o mal, no desfecho da estória, traz a esperança de que
ela também conseguirá vencer.
Algumas narrativas dos contos maravilhosos, por sua vez, não costumam
retratar, de forma clara, essa distinção entre bem e mal, certo e errado, visto que,
em determinadas estórias, o personagem principal usa de comportamentos amorais
para alcançar os seus objetivos, como enganar, trapacear, roubar, etc. Contudo,
ainda assim, esses contos passam uma mensagem positiva à criança, isto é, que
qualquer pessoa, mesmo diante de uma vida de fracassos e derrotas, tem a
possibilidade de se erguer e conquistar vitórias.
A respeito disso, Bettelheim(1998) esclarece:
.
Referencias
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 12ª ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1998.
______. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 28ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra,
2007.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. São Paulo:
Moderna, 2000.
OLIVEIRA, Jacqueline de Souza et al. Os contos infantis nas séries iniciais: uma
breve contextualização. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 13, n. 2, p. 66-76, 2016.
Disponivel em > www.univates.br › Capa › v. 13, n. 2 (2016) › Oliveira < Acesso em :
28 ago. 2017.