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Capa: LA Capas
Revisão gramatical e diagramação: Clara Taveira e Raphael Pellegrini
(Capitu Já Leu)
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Dois dias se passam desde que eu vi 135 se tocando. Ele não ficou
envergonhado quando me viu, pelo contrário, pareceu feliz com isso. Eu sei
que não fiquei feliz de ter ido dormir excitada, com vergonha de me tocar
com ele na porta ao lado da minha. Por que as paredes precisam ser finas?
Era uma grande surpresa um homem como ele não saber mexer
sequer numa televisão. Ele fora privado de coisas básicas, e isso me assusta
de uma tal maneira, assim como também me deixa extremamente triste.
Penso que devo ser forte para ele. Mas esse grande homem é mais esperto e
inteligente do que pensei, eu lhe ensinei e expliquei como funcionavam
algumas coisas da casa, e ele rapidamente aprendeu. Tinha sede de
conhecimento, mas também parecia já reconhecer o funcionamento de alguns
eletrodomésticos.
Marcus me liga pelo menos três vezes por dia, com medo que algo
aconteça comigo, fora as visitas surpresas. De alguma forma, eu sei que 135
não fará mal nenhum a mim. Eu sinto. Marcus parece pensar o mesmo que
eu, 135 pode ser a resposta de todas as nossas perguntas. Eu queria correr
para papai, mas sei quão delicado é esse assunto. Ele nunca foi o mesmo
desde o que houve.
Por incrível que pareça, estou gostando de ficar essas duas semanas
inteira em casa sem sair. Usei a desculpa para meus pais de que estou num
momento de autoconhecimento próprio e solitário e não gostaria de ser
incomodada.
Lola com certeza discorda dessa minha ideia de ficar dentro de casa,
já que me manda várias mensagens me chamando para sair. Luci, por outro
lado, sabe sobre tudo, afinal é a médica responsável, e me apoia, me ajudando
a salvar uma alma. Era o tipo de amiga que todas deviam ter, eu a conheço a
minha vida toda, estudei com sua irmã, Abby. Desde que me entendo por
gente, nós morávamos no mesmo prédio e nossas mães eram amigas. Assim,
nós três somos melhores amigas. Luci é mais velha do que nós, com seus
quase trinta anos, e ao contrário de mim, que aos vinte e um nem comecei a
faculdade, e nem sabia se conseguiria começar uma, ela já terminou a escola
de medicina, já atua como médica, e tem sua própria vida, trabalhando,
saindo, vivendo. Enquanto eu um dia serei obrigada a casar com um mafioso.
Abby nunca foi a mesma depois do que houve, e Luci precisou
amadurecer para cuidar da sua irmã e tentar melhorar um pouco a vida que
ela levava. Para piorar, alguns anos atrás seus pais foram assassinados, o que
acabou aumentando a depressão de Abby. O pai delas, apesar de não fazer
parte da máfia, tinha negócios com o meu pai. Quando eles morreram, as
meninas venderam a empresa, já que nenhuma delas almejava isso, e hoje
vivem com o exorbitante dinheiro recebido, assim como o seguro de vida, e
trabalham e estudam mesmo assim. Abby faz faculdade à distância, nunca sai
de casa, só sorri às vezes e falar é algo raro, somente quando era realmente
preciso. Ela hoje é só uma casca da menina que já foi e da mulher que
poderia ter sido.
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Meus olhos se moviam pela sala, vendo 169 andar pelo nosso espaço
de exercício, sem conseguir ficar parado num lugar só. Sua boca se mexia,
porém eu estava muito longe para ver o que ele falava. Quando chegou aqui,
dois anos atrás, aos quatorze, mal falava, estava revoltado e gritava que
todos iam se arrepender de tê-lo levado. Aquilo me fez ter esperança que sua
família viria por ele, mas com o passar dos anos, já não contava mais com
isso e posso dizer o mesmo sobre ele naquele momento. Não importa quem
ele era lá fora, aqui, ele não era nada. Os russos, por outro lado, não
esqueceram isso e faziam questão de atormentá-lo ainda mais do que aos
outros.
Nessa vida, você tinha que endurecer a casca ou seria cortado até
que o tecido machucado vire uma carapaça.
174 suspirou ao meu lado.
— Ele não vai durar se continuar assim — falou baixo, mas com a
voz dolorida.
Ele era tão novo, devia se agarrar à pouca esperança que restava
para se manter são.
— A doutora A tem entrado em sua cela... — murmurei para que os
guardas à distância não escutem.
169 tinha acabado de entrar na puberdade, pelos crescendo, voz
engrossando e ficando mais forte conforme malhava. Era o mais alto, não
mais forte que eu, mas não demoraria muito para me alcançar.
174 passou a mão pelos cabelos curtos, raspados rente à raiz, sem
saber o que fazer. Eu estava deixando meus cabelos crescerem, pelo menos
isso eu tinha escolha e não tiraria enquanto tivesse.
— Porra. Eles estão testando novas drogas nos mais velhos, eles
disseram que mantém os paus duros e dá uma vontade de foder tanto, que
dói. Só que aumenta os batimentos do coração, dois tiveram um ataque
cardíaco, e um morreu.
Olhei para meu amigo, vendo a ansiedade em seus olhos. 174 sempre
é somente um ano mais velho do que eu, mas com seu jeito irônico, parecia
ter menos. Eu tinha dezoito, de acordo com a minha ficha, eu vim aos treze,
porém minhas lembranças estão embaçadas por causa das drogas: não me
lembrava sequer do meu nome antes de chegar aqui. Às vezes, quando
durmo, lembro-me de risadas, de carinho e de olhos ímpares.
— Eles não vão testar em nós três agora. Somos os mais novos —
falei e tentei convencer a mim mesmo.
***
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Sinto que Stela está quase dormindo em meus braços, mas preciso que
ela fique acordada. Não gosto da ideia de eu ter causado dor a ela, mesmo
sendo inevitável. Eu me levanto e vou até a gaveta da cozinha onde ela
guarda os remédios, escolho um, encho um copo de água fresca para ela e,
depois de tomar o resto da garrafa, encho-a e a coloco de volta a geladeira,
como Stela me ensinou.
Coloco o copo no criado-mudo ao seu lado, junto com o remédio, e
vou até o banheiro, pegando uma toalha limpa e molhando um pedaço na
água quente. Stela ainda deve estar dolorida. Quando volto à cama, ela
começa a despertar, e eu vejo a expressão surpresa, tentando adivinhar o que
eu estou fazendo. Eu me sento à beira da cama e começo a abrir suas pernas,
mas ela as fecha rapidamente.
— O que está fazendo? — pergunta, sonolenta, começando a se
sentar, e seu rosto apresenta uma expressão de dor.
— Te limpando — respondo, voltando a abrir suas pernas. Ela
começa a negar, mas para quando eu lhe lanço meu olhar. — Eu estou te
limpando, Stela. O pano está quente e vai aliviar um pouco da dor que eu lhe
causei.
Seu olhar amolece.
— Você não me machucou. — Ela bufa ao ver a minha cara
descrente. — Não muito, amanhã já vou estar boa.
Eu não respondo e volto à tarefa, vendo uma pequena mancha na
cama embaixo dela e outra entre as pernas. Olho para meu pau semiduro, e
ele também está um pouco manchado de sangue.
— O que acha de um banho quente na banheira? — sugiro, lhe
estendendo o copo e o remédio. Ela aceita, grata, suspirando.
— Eu adoraria.
Corro para seu banheiro e ligo a banheira, como ela me ensinou,
apesar de eu nunca ter usado. Ela rapidamente se enche, e eu volto ao quarto
para ver Stela adormecida. Sorrio e a pego nos braços, ela não acorda de
primeira quando a levo para a banheira. Logo me sento e a coloco sobre o
colo. Ela geme se aconchega a mim.
Depois de limpos e secos, Stela sorri através do espelho, se
encostando em mim. Minhas mãos vão para a sua cintura.
— Foi a melhor noite da minha vida. Vou guardá-la para sempre —
ela diz, levantando a mão para acariciar meu rosto, sem tirar os olhos do
espelho, de nós.
— Nós temos a vida inteira juntos para fazer novas memórias.
Ela me dá um pequeno sorriso e boceja. Eu a pego nos braços, a
fazendo gritar e rir, e nos levo até a cama. Ela se aconchega em mim
novamente.
— Boa noite.
Beijo seu cabelo, preso em um coque que fiz após secá-lo. Repeti o
penteado em mim também.
— Boa noite, minha estrela.
***
Acordo cedo como de costume, Stela dorme em meus braços. Passei
boa parte da noite a observando, sem acreditar que era real. Ela solta um
pequeno som adorável quando eu toco seu rosto, rastreando seu nariz, cílios,
sobrancelhas e maxilar. Seus cabelos estão espalhados por todo o lado, um
tanto selvagens, o que eu gosto. Eu me levanto, mesmo querendo ficar com
ela aqui para sempre. Preciso alimentá-la. Não tenho nenhum bem para
provê-la ou fazê-la se sentir segura financeiramente comigo, então tento ser o
mais útil possível, apesar das opções limitadas.
Enquanto preparo o café, eu decido me arriscar e fazer aqueles
biscoitos gostosos que Stela me deixa ajudá-la. Eu gosto de observar as
coisas e aprendo rápido, então não é um grande trabalho para mim. O biscoito
demora mais de vinte minutos para ficar pronto, então, enquanto isso, pego
um livro qualquer na estante de Stela e começo a ler. É um conto de fadas,
chamado Cinderela. Olho para a figura da bela dama, de cabelos loiros presos
e vestidos azuis, e uma dor de cabeça começa. Sinto como se a tivesse visto
antes.
Sei que minhas memórias antigas da infância foram apagadas pelo
trauma e drogas que recebíamos, e a única coisa que eu sei é que todos os
números chegavam lá depois dos dez anos. Será que eu tinha família?
Amigos? Será que todos já haviam se esquecido de mim?
Não me permito pensar mais nisso, só me causaria mais dor. Nunca é
bom ansiar o que não tem, o sonho pode virar seu pior pesadelo, e às vezes o
esquecimento é a melhor opção.
O barulho do forno apita, e quando eu levanto os olhos do livro, dou
de cara com Stela, usando só minha camiseta, me olhando timidamente.
Percorro desde seus cabelos, novamente presos em um coque, seus belos
olhos esverdeados, agora um tanto avermelhados, seus seios marcados por
baixo da minha camisa, suas longas e delicadas pernas até seus dedos dos pés
pintados de rosa.
— Vem cá, querida.
Ela caminha até mim e me abraça quando para na minha frente. Eu
coloco as mãos em seu rosto e olho em seus olhos.
— O que houve, por que estão vermelhos?
Ela suspira.
— Acabei dormindo com as lentes, e aí irritou. Nem vou usar hoje.
Eu beijo a ponta do seu nariz enrugado.
— Não é preciso, afinal, você tem que se disfarçar mesmo. Vamos
conhecer sua Nova Iorque — brinco.
Ela fica tensa e suspira.
— Eu queria tanto ir, mas vamos ter que adiar. Minha mãe pediu que
eu passe a tarde em casa com ela, e quando vou lá, só Deus sabe quando
posso sair. Devo chegar aqui depois do jantar, o que seria muito tarde para
irmos.
Tento não deixar que veja a minha decepção, mas não me saio muito
bem.
— Se eu pudesse, cancelava, mas vão suspeitar e é capaz de alguém
aparecer aqui. Marcus provavelmente também vai estar lá, então vou usar
esse tempo para falar com ele, ver se tem mais alguma informação.
— Está tudo bem.
Ela me observa, suspirando, sabendo que não tem outra maneira.
— Hoje falarei com meu pai, não direi que você está aqui, só que
recebi uma informação sobre pessoas sendo usadas para testes da máfia
Russa, e que eles estão tentando tomar nosso território.
Sei o quanto é arriscado ela fazer isso, mas também é preciso; 174 e
169 precisam de mim.
— Me diga tudo que você sabe, por favor.
Eu me sento e sirvo sua caneca de café, tomando uma longa
respiração antes de começar:
— Éramos muitos, mas aos poucos ou éramos mortos ou
transportados para outros lugares, para lutas, usados como escravos ou
simplesmente mascotes de entretenimento. Alguns de nós, poucos, viravam
seguranças em outros lugares, fingindo que o que passamos não aconteceu.
— Eu começo a hiperventilar, falar sobre isso traz memórias que eu quero
esquecer. — No final, só sobramos nós três lá no laboratório, 174, 169 e eu.
Nós éramos cobaias de laboratório, fazendo testes de drogas. Eu era usado
como vitrine, liberado para missões com os cães e treinado para matar.
Cobrava dívidas, encontrava alvos e fazia eliminações, depois voltava para
eles, ansioso por mais drogas. — Minha voz sai rouca no final, relembrando
do meu relacionamento de amor e ódio com os entorpecentes. Stela segura
minha mão.
— Isso não é sua culpa.
— Eu matei tanta gente, Stela, sem sequer hesitar. Você está
segurando a mão de um assassino — confesso, sentindo-me melhor em
declarar o que ela com certeza já sabia.
— Todos nós somos pecadores, mas você nunca teve escolha. Ela foi
tirada de você. Eles corromperam algo inocente, puro.
— Saber isso não me torna menos corrompido, torcido, moldado.
Nós ficamos em silêncio, presos em nossos mundos. Depois do café,
eu não hesito em levá-la para sala. Stela faz uma ligação e fala baixo ao
telefone, em seguida vem se sentar ao meu lado no sofá e toca meu rosto com
as pontas dos dedos.
— Amanhã eu prometo que vamos sair, nem que seja só pra te levar a
uma boate! — declara, se mostrando firme em sua decisão. — Seu tour por
Nova Iorque está garantido.
— Eu tenho tudo que preciso aqui — respondo, a olhando nos olhos,
antes de descer o olhar por seu belo corpo. Suas bochechas coram.
— Eu amei a noite de ontem. Como já disse, foi a melhor da minha
vida.
Eu pego pela cintura e a puxo para meu colo.
— Ainda está dolorida? — pergunto, aproximando o rosto e
cheirando seu pescoço.
Ela morde o lábio, sem saber quão gostosa fica fazendo isso.
— Um pouco, mas eu gosto da dor. — Olha para meu peito enquanto
diz, antes de levantar a cabeça. — Eu gostaria de tentar algo.
Quero protestar quando ela se levanta, mas qualquer argumento pausa
em minha garganta quando ela se ajoelha no sofá. Sua respiração está rápida
quando começa a puxar minha calça. Meu pau é liberto de seu cativeiro, e
Stela morde o lábio, o observando com desejo e curiosidade. Sem que eu
precise falar nada, ela, com suas unhas bem tratadas, me envolve em sua
mão, arrancando uma respiração minha. Sua pele é quente, macia, a mão é
pequena como ela.
— Eu tive vontade de fazer isso desde que te vi se tocando naquela
noite — confessa, sem tirar os olhos do que faz.
— Retire a camisa, deixe-me te olhar.
Ela acena rapidamente, obedecendo e soltando os belos cabelos sem
que eu peça. Seus seios têm marcas que eu deixei e sei que entre suas pernas
também há. Essa é uma imagem que eu nunca esqueceria. Ela pode estar
ajoelhada na minha frente, mas é ela que tem o poder de me por de joelhos.
Sem que eu espere, ela aproxima o rosto, lambendo a ponta,
descobrindo meu gosto, sentindo com a língua minha ereção e descobrindo
como fazer. É dedicada, gemendo apreciativa a cada som que eu faço.
Quando me coloca dentro de sua boca, eu vejo estrelas. Já recebi alguns orais
antes, mas eram automáticos, sem sentimento, assim como o sexo. Com
Stela, eu descubro novas sensações, que nem sabia ser capaz de ter.
Lambendo os lábios, ela se afasta um pouco para me olhar, colocando
uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Não se segure, querido. Me diga o que você gosta, como você
gosta.
Eu suspiro, segurando seus cabelos em minha mão, dando um leve
puxão que a faz fechar os olhos e tremer. Ela gosta que eu seja mais bruto.
— Continue a fazer o que estava fazendo, está me deixando louco.
Ela sorri, feliz e orgulhosa de si mesma por fazer isso comigo. Sendo
mais ousada, ela tenta me tomar mais, arrancando um grunhido meu. Meu
pau acaba batendo em sua garganta e ela engasga, ficando com o rosto
vermelho.
— Isso, baby. Você faz tão gostoso — elogio, não gostando de vê-la
envergonhada.
Tomando isso como incentivo, ela me masturba na base enquanto
toma o que pode em sua boca quente e sedosa. Quando sua outra mão
desaparece entre as pernas, meus quadris levantam, fodendo lentamente sua
boca.
— Porra. Pare e sobe aqui — ordeno, e ela acena.
Vê-la nua à luz do dia quase me deixou tonto. Stela é a perfeição em
pessoa, com curvas nos lugares certos, pele sem nenhuma mancha além das
que eu deixei, imaculada, belos seios, bela boceta doce, e um rosto de anjo
para completar o pacote. Sabia que é errado, mas fiquei mais que satisfeito de
ser o primeiro a tê-la.
— Como você me quer? — ela pergunta, apressada, sem conseguir
ficar parada, movendo as pernas juntas para aliviar o tesão.
— Senta na minha cara primeiro.
Ela arregala os belos olhos verdes, cuja vermelhidão não diminui em
nada sua beleza. Eu estou corrompendo Stela, assim como fui corrompido,
mas pelo prazer em vez da dor.
— O que você disse?
Eu me deito, sorrindo do jeito pasmo que ela me olha. Reparo seus
olhos descendo para minha ereção dura, ansiosa por mais.
— Ou quer um meia nove?
Ela engasga.
— O quê?! — repete, suas bochechas e colo vermelhos.
Eu não aguento e dou risada.
— Vi num pornô e gostaria de tentar contigo. Tudo só com você.
Ela muda o apoio do corpo de um pé pro outro.
— Mas, mas... isso é errado.
Eu bufo.
— Não é não, isso é prazer. Agora vem aqui, que quero comer sua
bocetinha enquanto você chupa meu pau.
Ela parece indignada, mas seus mamilos duros e o encolhimento de
sua barriga, assim como sua respiração, a entregam. Ela quer isso tanto ou
mais do que eu.
— Vem, tenho certeza que você vai gostar. Realize minha fantasia e
me diga o que você quer que façamos.
Isso ativa sua curiosidade e consequentemente a minha. O que há na
cabeça doce e inocente de Stela?
— Eu não tenho fetiches — diz, bufando, se aproximando. — E você
com certeza fingiu que era inexperiente, não é possível! — reclama, me
fazendo gargalhar. Gosto de saber que mesmo não tendo feito nada mais do
que tomar uma mulher de quatro e ter meu pau chupado raras vezes, eu sei
como deixar minha mulher acesa.
— Sua culpa — respondo, sucinto, com um sorriso irônico.
Ela novamente bufa, parando na minha frente.
— E como vou fazer isso? Eu simplesmente jogo minhas pernas em
cima...
Ela não termina de falar, gritando quando eu a seguro pelas pernas e a
puxo para mim. Cheiro sua intimidade, a fazendo dar um tapinha em minha
mão, então deslizo a mão por seu quadril e a viro de costas pra mim, vendo
sua deliciosa bunda redonda. Eu quero fodê-la de costas para sentir seu corpo
esmagado pelo meu.
Seguro sua perna e a puxo, a colocando ao lado da minha cabeça. O
sofá é grande e largo, então nos acomodamos bem nele. Quando termino de
ajeitá-la, ela suspira antes de ficar de quatro em cima de mim. Sua vagina está
quase no meu rosto, rosada, inchada, molhada, pronta para ser chupada. Sinto
sua respiração quente no meu pau e não me poupo mais. Puxando-a pelos
quadris brutalmente, eu tomo o que me pertence.
Minha língua lambe toda sua boceta, degustando o sabor. Ela treme, e
os sons que faz reverberam direto em meu pau. Stela tenta se concentrar em
minha ereção quando acerto de leve um tapa na sua bunda, a deixando
surpresa. Eu sou puro instinto, puro desejo, puro prazer. Sua boca se fecha no
meu pau enquanto suas unhas se cravam em minha perna quando a penetro
com um dedo. Em um primeiro momento, eu pensei que ela ainda estava
machucada da noite passada, mas quando afasto a mão, ela resmunga e
choraminga por mais.
— Quero seu pau, 135.
Brinco um pouco mais com sua boceta até que Stela ofegue, antes que
eu pare.
— Ele é todo seu.
Ela se levanta e me olha com expectativa.
— Deite de bruços — peço com a voz rouca.
Ela obedece, com o peito no braço do sofá, e eu observo sua bunda
empinada, avermelhada pelo tapa, e logo perco o juízo. Passo a mão pela
barba, a sentindo molhada de Stela, que vira a cabeça para mim.
— O que você está esperando?
Ela levanta os pés e fica balançando para frente e para trás, me
olhando docemente, me instigando.
— Você pode me tomar ou ainda está dolorida?
Ela sorri para mim.
— Estou um pouco dolorida, mas quero passar o jantar com meus pais
te sentindo, porque assim eu saberei que foi real, não mais um sonho.
Não é preciso que diga mais nada: eu me ajoelho entre suas pernas, as
abrindo, e ela geme em antecipação. Pressiono minha ereção contra sua
entrada e a penetro lentamente, amando a sensação quente, o aperto, seu
corpo tremendo sob o meu, seus gemidos.
— Ai, Deus — ela geme, e eu vejo suas mãos enfiadas no sofá.
Coloco seus cabelos para o lado e beijo seu pescoço enquanto entro
nela lentamente até que se acostume com meu tamanho. Seguro sua cintura, e
quando ela começa a empurrar contra mim, entendo como um “vá mais forte”
e faço do jeito que a minha menina quer. Ela geme alto em agradecimento.
Eu a fodo mais duramente, gostando da ideia de ela me sentir por
horas. Minha mão encontra seu ponto de prazer, a fazendo se contorcer sem
decidir como proceder. Seguro Stela com firmeza pelo quadril, para que ela
não se mexa. O som que fazemos juntos é melhor que qualquer música que já
escutei.
Ela geme, e seu corpo convulsiona mais uma vez, mostrando que
gozou. Mesmo tentando controlar a respiração, ela consegue dizer:
— Goze em cima de mim. Quero estar marcada por você.
Seu desejo só desenfreia ainda mais o lado escuro que eu tenho, e
quando minha porra cai sobre sua bunda e suas costas, eu soube que nunca
me cansarei disso. Espalho todo o líquido viscoso branco por sua bunda e
costas, arrancando seus suspiros felizes.
Quando termino, a pego em meus braços, a abraçando.
— Você está bem?
Ela levanta o olhar para mim.
— Melhor do que nunca. — Então algo atravessa seu olhar. Uma
preocupação.
— O que houve?
— Você... — Limpa a garganta. — Você me acha suja por querer que
você... me bata, me pegue forte, me faça sua boneca?
Sinto meu pau começar a ficar duro novamente.
— Acho que fomos moldados do mesmo jeito, pelo menos nessa
parte, Stela. Tenho os mesmos desejos de fazer isso contigo.
Ela sorri, aliviada.
— Acho que somos a combinação perfeita.
Seu telefone começa a tocar, e ela suspira ao ver a mensagem.
— Mamãe me quer às três horas lá, para retocar a minha raiz.
Já é meio-dia, nem vimos a hora passar.
— Só vai dar tempo de almoçarmos e vermos um filme. O que acha?
Eu nego, apesar de adorar estar agarrado com ela.
— Gostaria de conversar.
— Tudo bem, sobre o quê?
Nem pensei duas vezes:
— Me conte da sua infância. Gostaria de conhecer mais você.
Ela para a fim de pensar um pouco e abre um largo sorriso.
— Quando eu era criança, minha mãe fez um quarto de princesa para
mim, todo rosa, repleto de bonecas, roupas de princesa e um grande castelo
de princesa, mas eu não gostava de nada disso. Preferia mil vezes passar meu
tempo no quarto dos meus irmãos. Era mais divertido. Mamãe ficava louca
quando eu decidia ir brincar com eles quando íamos para o parque ou clubes,
eu sempre chegava em casa toda suja, mas tão feliz. Eram bons tempos.
Minha imaginação vai para a pequena Stela, ela devia ser pequenina
como agora, só que com bochechas mais proeminentes e um sorriso
desdentado.
— Você devia ser a criança mais bonita do mundo.
Ela bufa uma risada.
— Não, nunca. Eu usava aparelho, meus dentes eram bem tortos e
separados. Só nunca sofri bullying na escola porque todos sabiam que meu
pai era importante.
— Da máfia — comento, como quem não quer nada, mas desejando
saber mais. Não me sinto traindo Stela, mas eu preciso de tudo que ela tem a
oferecer se isso ajudar a libertar meus irmãos. Eu nunca terei minha
felicidade sabendo que eles estão presos naquele inferno.
Ela joga os cabelos para trás e encosta a cabeça no sofá.
— Foi difícil crescer dentro de uma máfia. Sempre soube que teria
que me casar com um homem de lá, sempre soube que em breve seria uma
daquelas mulheres que via em festas. A maioria parecia triste, e nem joias ou
vestidos caros compravam a sua felicidade. — Suspira. — Mas o que mais
me deixou triste foi nunca poder escolher nada, nem minhas roupas. Ainda
pequena, meus cabelos começaram a ser pintados, minhas roupas sempre
eram encomendadas sem minha opinião, meus amigos, meus horários. Tudo.
— Mas você não parece ignorante aos assuntos da máfia.
Vejo que acertei na mosca quando ela morde o lábio, e é um desafio
não acabar com o assunto agora mesmo e a tomar novamente.
— Marcus me conta o que pode, papai não é sempre reservado
também, às vezes as coisas saem de sua boca. Também, quem sou eu? — Ela
ri sem humor. — Não sou nenhum perigo ou tenho qualquer anseio de
derrubá-lo. Eu amo meus pais, só não concordo em algumas coisas com eles.
Isso não me faz ser menos filha ou amá-los menos.
— Eles falavam coisas importantes na sua frente?
— Nem sempre, mas às vezes, no jantar, escapava algo, ou ele
deixava a porta do escritório aberto, ou até mesmo conversava na sala. É um
pouco difícil não ouvir, mas fui ensinada, assim como todas as mulheres na
máfia, a nunca falar o que escuto. — Dá de ombros. — E você, me fale de
você. Lembra com quantos anos chegou lá?
Fico tenso, mas me forço a falar. Ela estava sendo honesta comigo e
eu faria o mesmo com ela.
— Lembrar, eu não me lembro de quase nada. É tudo muito confuso,
escuro. Lembro da dor, da queimação nas veias, o corpo totalmente dolorido.
Lembro de estar numa sala branca, ligado a uma máquina. A enfermeira disse
que eu levei três tiros, mas que me recuperaria. Um dia, quando já estava
melhor e para ser liberado dali, um dos médicos esqueceu a prancheta com os
meus dados. Não havia nome, só meu número e a minha idade. Treze anos.
Depois disso, tenho a lembrança de ser tatuado na nuca e de ser levado ao
meu quarto, que na verdade era uma cela. Havia uns livros, não muito mais.
Éramos liberados para um pátio por algumas horas por dia. Alguns garotos
usavam esse tempo para malhar, enquanto outros liam ou então arrumavam
briga. Lá eu conheci 174, ele me ajudou a me adaptar. — Uma dor de cabeça
me toma, e Stela acaricia minha nuca, tampando uma tatuagem repleta de
escuridão com sua luz.
— Está tudo bem. Não precisa falar mais, sei quando isso dói. Tanto
mentalmente como fisicamente, né?
Eu aceno.
— É como se um martelo batesse na minha cabeça sempre que eu
tento me lembrar de detalhes. Um pouco da escuridão de anos atrás passou,
por causa da falta da droga, mas as coisas ainda são escuras.
— Odeio o que foi feito com vocês e dou minha palavra que farei de
tudo para que possamos salvar seus irmãos e destruir essa organização.
Ela se levanta, ainda nua. Seus seios estão avermelhados pelas minhas
mordidas e chupões. Sua cintura fina, pernas longas e seios empinados me
deixam louco.
— Preciso tomar banho, vamos?
Eu me levanto.
— Claro.
Enquanto ela anda pelo corredor, movendo os quadris sensualmente,
eu só consigo pensar que a quero de novo. Sua bunda está vermelha dos tapas
que lhe dei, e isso só me deixa com mais tesão. Entramos no chuveiro, e eu
fui carinhoso, a deixando limpa. Precisei me abaixar para que ela lavasse
meus cabelos. Ao sentir Stela acariciar meu couro cabelo, uma lembrança me
veio.
Eu pequeno, dentro de uma banheira grande com outras duas
meninas. Elas deviam ter uns oito anos. Nós brincávamos jogando água um
no outro. Um delas tinha cabelos escuros, e a outra estava embaçada, mas eu
podia ouvir o som de sua risada. Uma emoção me toma, e eu só volto ao
presente quando Stela chama meu nome.
— Ei, você se perdeu. Está tudo bem? — pergunta, acariciando meu
rosto, só então eu percebo que uma lágrima escorre.
Eu limpo a garganta.
— Sim, está.
— Algumas memórias estão voltando, não é?
Aceno, sem conseguir falar.
— Deixe-as vir.
— E se forem ruins? E se eu descobrir que meus pais me venderam
ou me deram para eles?
Vejo o arrepio tomar seu corpo. Ela também teme por isso.
— A verdade é a melhor coisa. Por mais que doa, é melhor saber do
que viver na escuridão.
CAPÍTULO 9
STELA
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135
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Stela parece pronta para desmaiar. Ela não queria que seu irmão
descobrisse sobre nós. Sei que há vários motivos, mas ainda dói ser seu
segredo sujo.
Marcus limpa a garganta, completamente desconcertado de nos ver
assim, mas eu não me afasto de sua irmã. Quero mostrar que ela é minha, não
importa o que ele pense. O celular de Stela toca no meu antigo quarto, e um
pequeno sorriso me vem ao lembrar do que fizemos lá pouco antes.
— Desculpe — ela diz com sua voz suave e corre para o quarto.
Marcus, então, aproveita esse momento para falar:
— Você sabe que isso é errado. Que está prejudicando ela, né?
Um rosnado sai de mim.
— Eu nunca machucaria Stela.
Ele fica surpreso com a minha fúria, mas logo se recompõe.
— Ela precisa se casar, 135... Collins. Logo. Na máfia, tudo é uma
questão de conexões, e até hoje não há uma mais forte do que o sangue...
— Não — Stela diz ao entrar na sala, com o celular na orelha. — Eu
me recuso a morar com vocês novamente, mamãe! — Sinto meu sangue
gelar. Ninguém a tirará de mim! — Não vou! Sou maior de idade, sei quem
somos, mas você precisa entender. Eu preciso dessa liberdade. — Ela suspira,
noto que quis completar com um enquanto posso, mas não o faz porque estou
aqui.
Nós dois sabíamos que nosso relacionamento estava condenado antes
mesmo que pudesse acontecer, mas eu me recuso a desistir dela. Stela é
minha e sempre será, assim como eu sou dela.
— Sinto muito, mas você não pode me obrigar. Enquanto estiver
segura, daqui não saio. Não sou mais criança — afirma, decidida. Marcus se
aproxima e toca seu ombro, antes de pegar o celular de sua mão.
— Mãe, estou com ela. Stela não está em perigo. Ela está com os
seguranças. James está agora mesmo na porta. O prédio é seguro, há
seguranças nas entradas e qualquer pessoa que precise subir para um andar
tem que se apresentar. Sem falar que a passagem de qualquer pessoa pro seu
andar está bloqueada. Sim... sim... ok. É melhor assim... Eu sei, eu também.
Ele desliga e entrega o celular para ela.
— Mamãe disse que você pode continuar aqui até...
Stela o cortou.
— Obrigada! — Ela o abraçou, e quando se virou para mim, vi muita
semelhança entre os dois, por serem gêmeos, claro... mas vi semelhança em
mais alguém.
Marcus, depois de beijar a testa de sua irmã, se afasta para me olhar.
— Era com você que queria falar. Tenho algumas novidades.
Ele se senta no sofá e aponta para que eu faça o mesmo. Quero negar,
mas sei que isso só vai atrasar as coisas. Enquanto estou aqui, meus irmãos
estão sofrendo na mão de seus mestres.
— Um dos empresários que tinham negócios conosco sumiu há
semanas, e depois de muita pressão, seu filho abriu a boca. Seu pai foi numa
exposição na Rússia... — Ele respira fundo, se perguntando se deve ou não
falar na frente de Stela.
— Fale logo — minha menina cobra, cheia de coragem, me deixando
orgulhoso de sua força.
— Essa exposição era para ver o protótipo de uma droga que eles
estavam tentando começar a comercializar. A da obediência. — Fico tenso,
mas não demonstro as reações. — Ele conseguiu dizer o nome de algumas
das pessoas que também foram, e agora eles estão sendo investigados.
— E o que houve com o informante? — Stela pergunta.
— Seu pai traiu a família ao ir comprar coisas de fora. Ele
argumentou que a nossa máfia não vendia esse produto, mas mesmo assim.
Ele não devia ter ido ao nosso concorrente, ainda mais sobre algo tão
hediondo assim — Marcus explica com calma. — Sua pena foi leve, foi
retirado todo o apoio que a máfia dava a ele. Não demorará muito até que o
império dele caia sem a nossa ajuda. Essa foi uma pena leve, no entanto. Suas
informações foram úteis e nos deram uma luz.
Marcus me olha.
— Você era o protótipo, né?
Eu aceno uma vez, e Stela suspira ao meu lado, segurando minha
mão.
— Eles não vão desistir de você, não é?
Marcus nega.
— Não vão. Foi nos avisado que mais homens russos estão aqui te
caçando, ainda que eles não façam ideia que você está conosco por ora. A
informação também não vazou, já que ninguém além de Stela, eu e meus
homens de confiança sabem de você. Os vídeos das câmeras de segurança do
dia em que você foi salvo por nós foram completamente apagados.
Ele fica um tempo em silêncio, deixando a gente assimilar as coisas
ditas.
— E o que mais? — pergunto, sabendo que há mais por vir.
— Eu tenho um plano. Atraí-los. Você fazer algumas aparições em
lugares estratégicos, assim poderemos acompanhá-los e descobrir onde está
sendo a central deles.
— Não! — Stela fica de pé em um salto. — Não vai usá-lo como isca.
Se fizer isso, não seremos melhores do que as pessoas que fizeram isso com
ele. — Ela aponta o dedo trêmulo para seu irmão, mas parece cheia de
coragem. — Nós não o usaremos assim, tem que haver outra forma.
Marcus só a olha, sem demonstrar qualquer emoção.
— Há outros como você, lá não é? Se eles estão se mudando para cá,
você atraí-los só os deixará mais flexíveis a vir para cá. É aqui, nessa cidade,
que há o comercio. Que há compradores. Que há o dinheiro.
— Eu topo — anuncio, e Stela despenca no chão, chorando.
— Eu vou perdê-lo... Eu vou perdê-lo... — murmura com o rosto
entre as mãos.
Eu a pego sem hesitação no chão e volto a me sentar com ela em
meus braços, acaricio suas costas enquanto chora contra meu peito, agarrada
a mim. Dói vê-la com medo de me perder, mas é preciso.
— Eles são meus irmãos, Beija-Flor. Eu faria o mesmo por você —
falo contra seus cabelos.
Observo Marcus nos olhando, cauteloso e triste, mas não deixo isso
que isso me abata.
— Eu farei. Mas preciso que você descubra algo.
Marcus acena uma vez, esperando que eu explique.
— Lá, eles usavam lutas na gaiola por dinheiro. 174 luta pelo mundo.
Nunca perdeu. Ele luta em nome da Bratva. Tem o número marcado na nuca
como eu, mas atende nas lutas com o nome de Bones. Descubra se há alguma
luta recente dele, se ele está... — A palavra demorou a sair, e quando veio, foi
amarga. — Vivo. Descubra se ele está vivo.
Marcus hesita.
— Ele é como você? Quantos anos tem? Como ele é?
Stela fica tensa em meus braços, e eu me levanto, dando a conversa
como encerrada.
— Descubra isso para mim, e eu farei tudo para você. Agora vá
embora e deixe-me consolar minha mulher.
CAPÍTULO 14
STELA
***
135
***
Ela parece que deseja realmente dizer as coisas da letra, seus olhos
nunca deixando o meu. O corpo colado ao meu me deixa com dificuldade
para ouvir a letra.
Algo em você
Faz com que eu me sinta uma mulher perigosa
Algo em você, algo em você, algo em você
Me leva a fazer coisas que eu não deveria
Sua mão passa por todo meu peito antes de me puxar pelos cabelos e
colocar a boca na minha enquanto a música continua a tocar ao fundo.
— Que música é essa? — pergunto quando ela se afasta, se virando
de costas para mim e roçando a bunda contra minha ereção.
— Ariana Grande, Dangerous Woman. — Ela volta a se virar para
mim, dessa vez mais séria. — Eu enfrentarei qualquer batalha para ficar
contigo.
— Eu matarei qualquer um que ficar no meu caminho.
***
Já está na hora de irmos embora, percebo isso assim que Stela começa
a transar comigo em plena pista de dança. Ela está fora de si e isso me deixa
preocupado. Seus amigos não parecem estar em estado diferente. A bebida
transforma as pessoas, e apesar de amar Stela, eu não gosto dessa versão dela.
É como se ela estivesse se punindo por algo que eu nem sei o que é.
Meu celular toca, e eu vejo o nome de Marcus. Arrasto Stela até área
VIP e, depois de pedir uma água, eu a levo para se sentar num dos sofás. Ela
começa a beijar meu pescoço.
— Não. Beba a água — peço com a voz firme para ela me levar a
sério e atendo o telefone.
— Yan está na porta dos fundos esperando vocês — Marcus diz. —
Eu esperava mais de você. Estou arriscando tudo, usando meus contatos e
fazendo coisas nas costas de meu pai, para você ficar num lugar onde
facilmente poderia ser pego, ou até pior, poderiam levar Stela?!
Aceito calado a repreensão.
— Estamos saindo.
A ligação é encerrada, e eu me levanto. Surpreendentemente nós não
precisamos pagar nada, e mesmo assim eu me senti inútil, pois mesmo que
houvesse necessidade eu não teria um tostão para fazê-lo.
— Vamos, Stela.
Ela nega com a cabeça, mas se levanta.
— Ah, não. A noite não acabou. Tenho até meia-noite antes de voltar
a ser abóbora.
Não entendo o que ela quer dizer, mas aceno de todo jeito. Percebi
rapidamente que brigar com pessoas alcoolizadas não leva a nada.
— Vamos descer, então — falo com a voz carinhosa, e ela abre um
largo sorriso, me puxando para um beijo.
— Sabia que você ia entender. Vamos ficar aqui até fechar.
Seguro firmemente sua mão, mantendo nossos casacos na mão livre, e
nós voltamos a entrar na multidão. Como sou alto e não devo estar com a
melhor das caras, as pessoas abrem espaço sem nem mesmo reclamar. Stela
só percebe que estamos indo embora quando o segurança abre a porta da
boate depois que me aproximo. Eu jogo o seu casaco por seus ombros e visto
o meu rapidamente.
— Ah, não. Não quero ir embora! — ela protesta, agindo feito
criança, e antes que comece a fazer um escândalo, eu a pego nos braços e a
jogo sobre meu ombro. Ela grita, mas logo em seguida começa a rir.
Seu riso morre quando vê a cara de Yan e James. Eles abrem a porta
e, assim que entramos, a fecham com força. Stela sobe no meu colo, sem se
importar que eles estejam vendo.
— Eu queria tanto que essa noite durasse para sempre. Que nós não
fossemos ninguém. Queria que tudo fosse diferente...
— Stela... — começo, sem saber o que dizer.
A voz de Yan me corta:
— Stela, sente-se no banco e fique quieta. Você vai se arrepender
disso amanhã.
Ela bufa, mas obedece.
— Que saco de vida. Às vezes, eu queria nunca ter nascido, pelo
menos isso seria minha escolha!
Eu me viro para ela e agarro seu queixo, mantendo um aperto firme
para que Stela não se solte, a forçando a olhar nos meus olhos.
— Nunca repita isso. Sua vida é importante. Você é importante.
Nunca pense que não é. Você faria falta para muita gente.
Lágrimas grossas caem dos seus olhos, borrando sua maquiagem.
— Mas eu sou uma mentirosa, uma falsa. Uma mentira. — Soluça.
Eu abro a boca para responder, mas um tiro soa próximo. Abaixo
rapidamente Stela no banco.
— Um carro nos seguindo — Yan fala, mantendo a calma.
James, sem falar nada, abre o vidro do carona, ergue a arma e começa
a atirar. Eu saco a minha, e quando os tiros soam novamente e quebram o
vidro traseiro, sei que preciso agir antes que algo aconteça com Stela. Miro e
começo a atirar, consigo atingir o carona na cabeça e começo a mirar no
motorista, mas ele faz manobras para evitar ser pego.
— Tem dois no banco traseiro! — James grita.
Yan muda de rota, entrando e saindo de ruas com rapidez e precisão.
Mas no fundo, eu sei que quem nos persegue não vai desistir.
— São da máfia russa, certo? — pergunto a ninguém em particular.
— Acredito que sim — responde Yan. — Eles estão nos seguindo nos
últimos dias, até Stela percebeu.
Confiro o cartucho com as balas. Ainda tenho seis.
— Diminua a velocidade. Eu vou descer — anuncio. Olho a faca que
James tem no coldre e pego, a colocando na parte de trás da calça.
— Não! — Stela grita e agarra minha perna, seus olhos vidrados,
parecendo ter ficado sóbria. — Não faça isso. Por favor, não deixe eles te
levarem. Eu te amo!
Engulo em seco, tentado a responder o mesmo, mas não posso. Não
agora. Preciso me concentrar. Preciso ser forte para que Stela saia daqui em
segurança.
— Diminuam a velocidade e depois saiam — ordeno, e ela chora
mais.
Por incrível que pareça, Yan segue a minha ordem e diminui, eu
consigo me livrar do aperto de Stela e desço do carro, colocando as mãos
sobre a cabeça. Escuto o carro acelerar, mas não me permito olhar.
O tempo está ruim, com muita neve caindo e ventos que me fazem
estremecer. O carro com os russos param, e eu posso ver que eles estão
claramente confusos. Quando os três homens saem do carro, percebo de cara
que não são do alto escalão. Pela falta de joias, são simples cães.
Dois estão armados, um vem até mim com algemas em mãos. Como
eu suspeitava, eles têm ordens para não me matar. Quando um se aproxima o
suficiente, uma buzina soa à distância, os fazendo olhar em busca do barulho,
e eu uso isso a meu favor. Sacando a arma e a faca, eu puxo para mim o
homem que estava mais perto, passando a faca contra seu pescoço enquanto
atiro na cabeça do outro sem hesitação.
O terceiro homem tem a arma apontada para mim, mas hesita pela
ordem recebida. Eu uso esse espaço de tempo e atiro no mesmo momento em
que sou atingido no ombro, com a outra mão eu corto o pescoço do último
deles, empurrando o corpo ao chão.
Olho em volta, procurando se há mais deles, e fico sem reação quando
vejo o carro de onde saí vindo de ré até mim. Stela não me olha quando entro
no veículo, suas mãos estão trêmulas, e eu sei que ela viu o que fiz. Viu que
eu não hesitei em matar, que não tenho medo da morte.
Não tento me aproximar, com medo que isso desencadeie uma crise
nervosa. Meu ombro está sangrando muito, e sei que precisarei de mais
pontos. Yan e James conversam em voz baixa antes que James saque seu
celular e digite furiosamente. Depois de meia hora com o carro andando,
Stela levanta a cabeça, olhando para a janela, e finalmente fala algo:
— Para onde estamos indo?
— Para casa. Seu pai já ficou sabendo de tudo — James anuncia com
a voz monótona, sem qualquer emoção.
Stela ofega e fica tensa ao meu lado. Mesmo com medo de mim, ela
segura minha mão e me olha, preocupada.
Eu sabia que o que aconteceu agora não poderia ser ocultado. Em
breve, conhecerei o homem que fui mandado para matar.
CAPÍTULO 16
STELA
Eu tinha fodido tudo. Soube disso bem quando ouvi o primeiro tiro.
Eu fui irresponsável, mimada, egoísta. Querer e poder são coisas
completamente diferentes, eu já devia saber. Mas não há tempo para me
lamuriar, estamos a caminho da casa do meu pai. Hoje será o dia decisivo, e
eu não tenho ideia do que está por vim, só sei que não posso deixar 135 ser
morto por meu pai.
No meio do caminho, eu finalmente olho para ele.
— Não diga nada. Deixe-me falar.
Ele segura minha mão.
— Não deixarei você levar a culpa por nada.
Eu sorrio tristemente.
— Você terá que deixar, meu pai não vai me matar, mas não posso
garantir o mesmo de você.
***
O carro não nos levou até a empresa de papai, mas sim sua casa, o que
só deixou claro quão sério as coisas são. Somente assuntos importantes, que
exigem sigilo total e indispensável, são tratados em casa. Tento pensar no que
falar, falar uma história maquiada, mais bonita que a verdade. 135 ainda não
sabe que eu estou noiva, e essa verdade poderá aparecer se eu não for esperta.
Quando o carro para dentro do estacionamento, sinto meu corpo gelar
ao ver que já há quatro homens do meu pai à nossa espera. Rapidamente
devolvo a 135 a jaqueta e troco um olhar com ele, que está focado nos
homens.
— Só me acompanhe — imploro em voz baixa antes de sair do carro,
descalça, descabelada e emocionalmente acabada.
Subimos todos juntos no elevador, e minha mão procura a de 135, ele
a segura com firmeza, me dando força antes de soltar. Em nenhum momento
sua expressão muda. Ele está acostumado a esconder emoções, e eu me odeio
por colocá-lo novamente nessa situação.
A porta está aberta e há mais dois homens de guarda, enquanto papai
está sentado na sua poltrona favorita, ao seu lado de Marcus, que me lança
um olhar de aviso que eu não consegui compreender totalmente.
— Que bom que chegaram em segurança — papai diz, sem se
levantar, mantendo o olhar em 135. — Foi muito imprudente sair nessas
condições, Stela.
— Papai...
Meu pai me olha, e a frieza que vejo me paralisa. Ele olha meu
vestido, e então meus pés. Sua cara de nojo é suficiente para eu me sentir
baixa, um nada. E ele não está errado, estou num estado deplorável. Aperto
meu casaco mais contra mim, me tampando toda.
— Marcus já falou tudo que tinha para falar. Como sempre, ele
limpando suas cagadas.
Tremo e vejo pelo canto de olho as mãos de 135 se fecharem, mas,
fora isso, ele não muda a expressão. Eu queria agradecê-lo por isso, mas não
tenho como.
— Fique tranquila, Stela. Já conversei com papai, lhe contei tudo.
Você foi muito imprudente em arrastar Collins em suas trapalhadas.
Eu abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Marcus então continua:
— Contei de como você foi atacada ao sair daqui, tantas semanas
atrás. De como Collins te salvou, mesmo tendo sido ordenado pela Bratva a
nos vigiar. — Ele olha para 135. — Sei que pediu sigilo absoluto, mas foi
preciso falar com ele, depois do que Stela aprontou. — Ele me olha com
raiva, e não é fingindo.
Papai acende um charuto.
— Realmente fiquei impressionado, sua vida inteira gira em torno de
acabar com a Bratva, mas, sozinho, você não conseguiria nunca. Talvez
destronasse alguns, mas logo eles seriam substituídos.
135 não fala, se mantém quieto, só observando a situação.
— Tive que contar a ele sobre seu irmão, Max. Sei que você não quer
falar sobre isso, não precisa falar novamente — Marcus diz. — Contei de
como vocês moravam nas ruas e Max foi levado, dez anos antes, e de como
você planejou a sua vingança, trabalhando para eles, descobrindo coisas,
infiltrado.
Engulo o suspiro de alívio que quer me sair, me mantenho quieta e
não olho para ninguém. Sei que meus olhos me entregariam no momento que
cruzasse com alguém. Marcus mentiu por mim, ele não mentiu só para nosso
pai, mentiu para o nosso consigliere, o homem mais importante da nossa
máfia. Ele traiu a máfia por mim.
— Contei de como Stela ficou mexida com sua história e decidiu
acomodá-lo e tentar sozinha descobrir informações, e eu, tolo, topei, achei
que você fosse mais madura para tal coisa. — Marcus cospe, e eu tremo.
— Stela. — A voz fria do meu pai me faz olhá-lo, como era o
esperado. — Estou decepcionado por você não ter vindo a mim, mesmo que
entenda. Porém você sabe o risco que correu colocando um homem estranho
sob seu teto. Sabe o que seria falado a seu respeito se vazasse essa
informação. Seu nome estaria na lama, e você nunca conseguiria arrumar um
marido.
— Papai... — eu o corto não porque quero me justificar, mas porque
tenho medo que ele fale sobre Christian. — Eu sinto muito. Sinto muito por
mentir para você e por ter me arriscado.
Não consigo falar mais, me forço a quebrar. Choro por tudo e finjo
que estou chorando por isso. Eu fui corrompida e mentirei para o diabo para
proteger o homem que amo. Meus ombros tremem com a força do meu
soluço, e me humilho, deixando todos da sala me verem.
— Eu só queria fingir que sou uma menina normal — digo entre
lágrimas. — Eu só queria esquecer que sou a culpada por tudo.
Finalmente consigo atingir papai, que se levanta a passos seguros e
vem até a mim. Quando me abraça, comigo de costas para seus homens, eu
abro os olhos, agradecendo com o olhar Marcus e direcionando um pedido
silencioso para 135: deixe que eu assuma a culpa. Não tente ser meu herói.
Então fecho os olhos, escondo a vergonha que sinto por mentir e
choro mais alto no paletó de papai, esperando atrair a atenção de mamãe. Log
surge efeito, ouço o barulho de seus saltos característicos descendo as
escadas.
— Ah, minha menina. O que você aprontou?
Ela me tira dos braços de papai e me abraça, me dando o carinho que
eu preciso e força para continuar a mentir, mesmo que isso me quebre por
dentro.
— Eu só queria ajeitar meus erros, mamãe. — Dói mais que tudo usar
isso contra eles, mas é preciso. Eu nunca poderei me olhar no espelho
novamente sem me sentir suja. Estou cuspindo na memória dele.
— Ah, querida. — Mamãe solta um pequeno soluço contido, e eu
ouço meu pai dando ordens para que seus homens esperem lá fora.
Quando finalmente me afasto de mamãe, Marcus me olha com um
misto de horror, raiva e, mais que isso, decepção.
Olho no espelho da sala e só consigo ver o que me tornei. Quando fito
135, não posso deixar de pensar que, mesmo errando, essa é a decisão certa.
Afinal, o que uma garota que não tem qualquer escolha sobre seu futuro
poderia fazer além de usar o passado e manipular as pessoas com suas
lágrimas? Cada um tem sua arma, e essa é a minha.
Na máfia há dois tipos de pessoas: as que mandam e as que
obedecem. Eu nasci para ficar de um lado, mas isso não quer dizer que eu não
vou lutar com unhas e dentes para ficar do outro, quando assim me convir.
CAPÍTULO 17
STELA
PASSADO
Stela está manipulando seus pais, e eu não gostei de ver esse seu lado.
Não quero corrompê-la, e não quero que minha escuridão a tome, mas a cada
dia que passava eu via menos brilho nela. Stela assume a pose de filha
perfeita enquanto estamos na casa de seus pais, sempre impecável, com um
sorriso ensaiado, olhos azuis e pose. Seus pais não enxergam por baixo de sua
máscara, mas eu vejo o quanto isso está a consumindo.
Nós não conseguimos ficar sozinhos por muito tempo, confinados na
casa durante três dias. Toda hora Steven Greco me convoca e pede mais
informações. Eu lhe contei sobre as lutas clandestinas pelos estados
americanos, que rendiam um bom dinheiro, sobre as drogas que eles estavam
testando, sobre as apresentações, tudo isso usando a terceira pessoa, nunca
falando como se fosse eu. Não acho que Greco me deixaria ficar aqui se
soubesse quem eu realmente sou.
Ainda não consegui ligar os pontos de quem Stela falava quando
desarmou seu pai com as palavras, mas sei que tem algo aí. Não quero pensar
que ela me usou, mas vendo-a daquele jeito, comecei a me perguntar se Stela
realmente era ela mesma quando estava comigo ou era só mais uma de suas
máscaras.
À noite, depois que finalmente fui liberado de mais um jantar sério e
tenso, me joguei sobre a cama. Será mais uma noite mal dormida, não pelo
colchão não ser macio, mas pelo que falta nele. Stela.
Uma fraca batida me faz levantar, tenso, será que Greco percebeu que
eu não serei útil para ele e veio acabar comigo?
Preparado para destruir quem ficar no meu caminho, eu abro a porta,
me surpreendendo ao ver Stela e Marcus.
— Vocês têm meia hora, no máximo — ele alerta antes de se afastar.
Stela entra no meu quarto e fecha a porta atrás dela. Está linda, como
de costume, mas dessa vez usa uma camisola branca, cabelos soltos, rebeldes,
e seus olhos... seus olhos estão esverdeados, brilhando pela primeira vez
desde que chegamos aqui.
— Eu senti tanta saudade — ela diz e se joga nos meus braços, me
abraçando apertado.
Está mais magra, percebi assim que seu corpo encontrou o meu. Está
sofrendo. Eu a abracei, a levando até a cama e a deitando ao meu lado
enquanto ela chora.
— Vai ficar tudo bem — eu a consolo.
Ela finalmente levanta o olhar para mim.
— Eu não sei o que estou fazendo. Me sinto perdida, mas não posso
fraquejar. Me sinto suja.
Seco suas lágrimas e dou um beijo em cada olho.
— Me deixe ser sua bússola, me deixe te ajudar.
Ela sorri tristemente.
— Eu vi o seu olhar de hoje, nem você sabe quem eu sou.
Eu hesito, ela percebe. Não imaginei que tinha como ela perceber, mal
me olhou durante todos esses três dias, agindo como se eu não fosse nada.
Toco seu peito, do lado esquerdo.
— Conheço seu coração e sei que é meu, ele não pode negar.
Ela sorri novamente, entre as lágrimas, e joga as pernas por meu
quadril, sentando em cima de mim. Sem dizer nada, tira a camisola,
revelando estar nua por baixo. Ela quer esquecer a dor, conheço bem esse
olhar. desespero puro. Mas não posso negar seu alívio. Eu rolo por cima dela
e beijo sua pele, traçando cada detalhe, marcando na memória. Se eu tivesse
um lápis e um papel, eu desenharia esse corpo, que parece uma bela obra de
arte.
Arranco lágrimas e preciso tampar seus lábios com a mão para evitar
que a escutem pela casa. Quando ela despenca de volta na cama, com a
respiração rasa e mal mantendo os olhos abertos, eu a visto, a fazendo me
olhar.
— Mas e você? — pergunta com a voz baixa.
Eu beijo sua testa.
— Já ganhei o mundo só de você estar aqui comigo, agora deixe-me
te abraçar pelo tempo que ainda nos resta.
Ela se encolhe em meus braços, se virando de conchinha, o corpo se
encaixando perfeitamente sob o meu. Meus braços a seguram, e ela coloca a
mão por cima deles, como se temesse que eu a soltasse.
— Eu arranjarei um jeito de sermos livres. Eu prometo... — sussurra e
logo cai no sono.
Stela fez muitas promessas, e essa é a minha hora de retribuir.
Aproximando a boca da sua orelha, eu digo, sem saber se ela escutaria:
— Prometo nunca deixar de te amar.
Uma batida suave vem, e eu abro a porta para Marcus, que
rapidamente entra no quarto, suspirando ao ver que a irmã dorme em minha
cama.
— Que bom que ela pegou no sono, ela não dormiu nada nesses dias,
acabaria desmaiando.
Minha preocupação aumenta. Junto de sua família é o lugar onde ela
deveria se sentir segura, mas isso não está acontecendo. Stela está se
afogando em mentiras, tudo isso por mim.
— Marcus, seja sincero, há algo que possa ser feito para ficarmos
juntos?
Ele hesita.
— Tudo dependeria do meu pai, Collins. Há muito em jogo. — Ele
olha para a irmã enquanto fala. — Mas sempre há uma chance.
Isso é tudo que eu precisava ouvir.
— Amanhã vou contar toda a verdade a seu pai — anuncio, decidido.
— Não sei o que acontecerá comigo, só sei que não vou mais mentir.
Nós ficamos em silêncio por um momento, até Marcus ir à cama e
pegar Stela em seus braços. Queria fazer isso eu mesmo, entretanto sei que
não é possível. Quando chega à porta, ele se vira para mim.
— Pense mais sobre isso, Collins. Muita coisa pode acontecer. Há
coisas que você não sabe...
Eu o corto:
— A verdade sempre é a melhor opção.
— Nem sempre — ele responde, me deixando sozinho.
O quarto tem o cheiro de Stela, e só quando me deito e sinto o seu
aroma que me permito dormir um pouco. Amanhã será o dia de enfrentar
todos os demônios. Eu preciso estar preparado.
***
***
Poder ficar com 135, mesmo que por pouco tempo, foi o verdadeiro
paraíso no meio de tanto tormento. Em algum momento, eu devo ter
adormecido, mas acordo assim que ouço a voz de 135.
— Amanhã vou contar toda a verdade a seu pai — 135 anuncia,
decidido. — Não sei o que acontecerá comigo, só sei que não vou mais
mentir.
O quarto fica em silêncio absoluto, e eu não me atrevo a falar, quero
saber o que 135 está pensando em fazer para evitar ser morto. Sinto Marcus
me pegando no colo.
— Pense mais sobre isso, Collins. Muita coisa pode acontecer. Há
coisas que você não sabe...
Ele o corta:
— A verdade sempre é a melhor opção.
— Nem sempre — meu irmão responde, deixando-o sozinho.
Quando sou posta na minha cama, continuo fingindo dormir e, depois
de receber um beijo na testa, abro os olhos, focando no teto. 135 está com
esperança que se falar com papai, de algum modo haverá permissão para nós?
Isso só prova o quanto ele é ingênuo e fora do nosso mundo. Ele está
assinando sua sentença de morte, e eu não deixarei isso acontecer.
Se houvesse alguma prova de que meu irmão está vivo, tudo seria
diferente e uma chance real se... achássemos Drew vivo e o trouxéssemos pra
casa. Meu coração acelera, e eu chego a pensar que estou tendo um infarto.
Se trouxermos Drew para casa, papai terá uma dívida de sangue com 135,
será uma questão de honra dar qualquer coisa que ele pedir. 135 poderá ter
um cargo bom dentro da nossa máfia e, assim, pedir minha mão em
casamento.
A esperança vem até mim pela primeira vez. Mas é logo seguida pelo
desânimo. Papai nunca aceitaria ir atrás de Drew, para ele, meu irmão estava
morto, e ele se culpa por isso. Não deixa sequer que falássemos seu nome,
portanto sei que ele dificilmente escutaria. Mas não há outra maneira,
somente papai tem poder para armar um resgate...
Eu me levanto num pulo e caço meu celular no quarto. Trêmula,
digito o número. Demora um pouco, ainda mais por ser meio da noite, mas eu
não me permito sentir vergonha. Apollo King atende com a voz grossa de
sono.
— Stela? Está tudo bem?
— Apollo... eu preciso de um favor.
***
Sei que estou arriscando tudo, mas precisava fazer isso. Entro no
quarto de 135 sem fazer barulho, vendo que meu menino dorme
pesadamente. Há uma camada de suor sobre ele, mas eu não me permito
distrair. Com cuidado, eu caço seu caderno de desenho, que está sempre com
ele, achando-o dentro da jaqueta. Vejo que está aberto numa folha, num
desenho que ele estava terminando. Ofego ao ver.
É ele.
Meu irmão.
Eu tenho certeza. Apesar do desenho estar em preto e branco, eu
reconheceria de longe as pintas em seu rosto.
Rasgo a folha e olho o caderno, sem me permitir abrir para ver mais.
Esse é seu diário, e eu não tenho direito de pegar sem avisá-lo, mas não há
tempo para isso.
Nas pontas dos pés, eu vou até o escritório de papai, coloco o desenho
em cima de sua mesa, apoiado sob um peso de papel, e deixo meu anel de
noivado em cima. Tenho certeza que só isso não bastará, papai é cético e dirá
que 135 achou alguma fotografia antiga, mesmo que isso seja impossível, já
que não há qualquer foto de Drew à mostra.
Depois de feito, eu passo a mão pelos cabelos, desesperada, tentando
traçar um plano na cabeça. Então faço algo que nunca achei que fosse capaz:
abro o cofre de papai e roubo um pouco do seu dinheiro. É preciso.
Volto para meu quarto e encho uma bolsa com roupa, não posso me
dar ao luxo de fazer uma mala. Por enquanto, isso deve servir. Talvez meus
esforços só estejam me levando à guilhotina, mas não fará diferença se 135
não estiver comigo. Pelo menos com meu plano, temos uma chance.
— Se arrume, nós vamos sair.
Sem contestar, ele rapidamente se veste e verifica se sua arma está
carregada.
— O que houve?
Eu me aproximo, parando em sua frente e olhando dentro dos belos
olhos.
— Você precisa confiar em mim. Não podemos mais ficar aqui. —
Não posso contar a ele a minha suspeita de estar grávida, só o preocupará
ainda mais. — Eu não posso ficar aqui. Ainda há uma chance para nós. —
Seguro sua mão. — Nós não temos muita chance, mas essa é a minha única
alternativa. Você aceita?
— Sempre!
Estou arriscando tudo, e depois disso, não haverá uma chance. Eu
estou traindo meu pai e toda a máfia de Nova Iorque, sei que as
consequências serão graves caso eu esteja errada. Estou me condenando à
morte e enfraquecendo os Greco. Ruindo o império que meu pai construiu a
base de leis e sangue.
CAPÍTULO 20
STELA
***
Desembarcamos em Boston uma hora depois. Talvez já saibam que
fugimos, já que é tão cedo, sete horas da manhã agora, e o turno de Yan
costuma ser até sete e meia. Papai costuma acordar às oito em ponto para
tomar seu café enquanto lê o jornal.
Era meio de março e o tempo estava bem frio e caindo neve, apesar de
já estarmos no final do inverno, então não demoramos para entrar dentro do
carro que já nos aguardava. Demorou cerca de uma hora para chegarmos ao
Ponto Zero, a sede da máfia Raffaelo. Eles foram ousados em colocar todo os
setores operantes de seus empreendimentos no mesmo lugar, porém quem
seria louco de tentar fazer algo contra eles? Os Raffaelos revolucionaram a
máfia e criaram um sistema complexo que funciona com perfeição.
Fomos pela entrada traseira, passando pela boate Abaixo de Zero.
Não há muitas pessoas aqui, então passamos direto até o elevador, com dois
homens nos acompanhando. Eles apertam o botão do da cobertura, e meu
estômago embrulha, tudo está em minhas mãos agora. Sei que não
conseguirei manipular Dominic, ele é esperto demais para isso — e eu não
quero mais mentir. Contarei a verdade de uma vez por todas e só espero que
135 me perdoe por mentir para ele.
O elevador se abre, e caminhamos, passando direto pela recepção, o
que só prova que ele já me espera. Quando liguei para Apollo, no meio da
madrugada, implorei para que me conseguisse uma reunião com Dominic.
Ele ficou preocupado e me ofereceu asilo, mas não queria colocar os Greco
contra os King, e sei que isso aconteceria. É uma questão de honra.
A porta é aberta, mas antes que pudéssemos entrar os homens
começaram a nos revistar.
— Não levem para o lado pessoal, todas as pessoas que querem falar
comigo passam por essa avaliação — Raffaelo diz, impecável como de
costume. Seus olhos azuis intensos me olham por um momento antes de
mirarem 135 dos pés à cabeça.
Os homens tiram a arma de 135 e se afastam.
— Quando vocês saírem da minha sala, terão seus pertences de volta.
Ele abre mais a porta, nós convidando a entrar sob o olhar atento. Ele
fecha a porta atrás de si e vai para a sua bela mesa.
— Suponho que seu pai não saiba que você está aqui — diz com
simplicidade. — Tenho que confessar que estou surpreso de você estar aqui.
— Ele olha para 135. — E você seria?
Eu coloco minha mão sobre a de 135.
— É sobre isso que eu vim — respondo por ele. — Há cerca de dois
meses, eu o achei, na verdade ele me encontrou. Me salvou de ser violentada
depois que saí da casa de meus pais sem supervisão.
Raffaelo levanta a sobrancelha.
— Eu o levei para minha casa. Ele não tem um nome, e sim um
número. 135 foi levado pela Bratva quando ainda era criança e fizeram
experiências com eles.
Raffaelo apoia os cotovelos na mesa enquanto observa 135 com
atenção.
— Isso é verdade?
135 acena sem hesitação.
— Fomos testados com drogas de obediência desde que me lembro.
— E por que tenho que acreditar que você não é um espião russo? —
pergunta sem se mover.
— Você tem razão, não há nada que prove o contrário, mas se eu
fosse, já teria levado Stela. Tivemos diversas oportunidades. — Ele me olha.
— Eu nunca machucaria Stela.
Raffaelo limpa a garganta.
— O que você está fazendo aqui, Stela?
Eu respiro fundo.
— Eu sei que estou passando por cima de meu pai ao vir te pedir
ajuda, mas não há outro jeito. Meu pai não suporta que ninguém cite o nome
de Drew. Se eu chegasse lá contando essa história, meu pai o mataria sem
hesitação.
— O que seu irmão tem a ver com isso? Que eu me lembre, ele foi
morto pelos russos anos atrás. — Raffaelo sabe bem disso porque é amigo do
meu irmão.
Eu olho para meu colo, sentindo o olhar de 135 queimar em mim.
— O homem que o levou tinha uma tatuagem na nuca, 111. — 135
fica tenso ao meu lado, e Raffaelo também. Levanto o olhar direto para
Raffaelo. — No começo, eu achei que talvez tivesse uma chance do meu
irmão estar vivo...
— Stela — 135 começa a falar, e eu o olho.
— Eu peguei um dos seus desenhos. Um dos seus irmãos é Drew, eu
tenho certeza.
Raffaelo suspira e se levanta, passando a mão pelos cabelos.
— Isso é muito sério para se afirmar, Stela.
Eu me levanto também.
— Era ele, os sinais exatos pelo rosto, o olhar...
135 continua tenso ao meu lado, ainda sentado.
— Isso pode ser manipulado, ele poderia estar te enrolando numa
armadilha! — Raffaelo exclama.
135 se levanta também.
— Ninguém quer matar esses filhos da puta tanto quanto eu! Eles me
roubaram da minha família, fizeram todos pensarem que eu estava morto!
Torturaram a mim e meus irmãos!
— O quê? Você se lembrou? — pergunto, e ele acena uma vez.
— Essa noite. Sonhei com minha irmã. É minha última lembrança
antes dos tiros. — Ele toca o peito, e eu lembro de ver marcas finas, mas
nunca perguntei sobre, já que o faria pensar no passado.
Raffaelo ri descrente.
— Isso está cheirando a armadilha. Manteremos esse homem preso
até tudo ser investigado. Queremos pegar esses filhos da puta, mas não vou
colocar tudo nas mãos dele.
135 dá um passo à frente, querendo encarar Raffaelo, e eu me coloco
na sua frente.
— Ele é nossa única chance.
Meu amor me olha.
— Ele não acredita na gente, não irá ajudar a recuperar meus irmãos...
— Ele hesita. — Seu irmão. Você me usou para descobrir sobre ele?
Seu olhar ferido arrepia até a alma.
— Não! Eu juro. Eu sempre quis te ajudar. Tinha a esperança de meu
irmão estar vivo, mas te ajudaria de todo jeito. Nenhum ser humano merece
ser privado da liberdade.
— Stela. — Raffaelo suspira. — O que você esperava vindo aqui?
Eu me viro para ele.
— 135 sabe que a Bratva usa um dos seus irmãos para lutas na gaiola,
poderíamos recuperá-lo e, junto com eles, encontrar os chefes e descobrir
onde os outros estão. Eles estão tentando montar um laboratório em NY.
Raffaelo estava pensativo.
— Você o ama?
— Sim — respondo sem hesitação.
— Você sabe o que está colocando em risco vindo até mim?
Volto a acenar.
— Se eu estiver certa, poderei voltar para casa com minha honra e
135 poderá pedir um cargo, e em seguida...
— Sua mão? — Raffaelo adivinha e franze a testa, mas não comenta
o fato de eu estar noiva. Ele olha minha mão e vê que estou sem o anel. — Eu
posso tentar falar com seu pai, ele deve estar com mais raiva ainda de você
vir até mim...
— Você conhece meu pai, ele é cabeça dura. Não vai aceitar
investigar...
A porta se abre, e eu vejo Isis entrar com duas canecas de café.
— Olha o que trouxe! Você saiu tão depressa hoje, que nem tomou
café. Pode me pagar do jeito que você quiser...
Ela para ao nos ver, mas não parece sem graça.
— Em reunião? — Sorri.
135 se vira para ela, e eu vejo a expressão despojada de Isis mudar
antes de a mulher soltar um grito de gelar a alma.
— O que houve? — Dominic exclama, indo até ela. Os seus homens
tomam a sala, apontando armas.
Isis não consegue falar, só treme. Eu não tenho ideia do que está
acontecendo. E ela não para olhar para 135. Começo a temer que ele tenha
feito algo com ela quando estava sob efeito das drogas. Eu me viro para ele a
fim de perguntar, mas ele não tira os olhos dela.
— Ai, meu Deus! — Isis coloca as mãos na boca.
— Anjo, você está me assustando. Ele fez algo para você?
Ele faz sinal para os homens pegarem 135, e antes que eu possa negar,
Isis sai do transe.
— Abaixem as armas... Eu acho que ele é meu irmão.
CAPÍTULO 21
135
Os olhos. São a primeira coisa que reparo na mulher que entra na sala.
Ela tem uma beleza exótica, mas não me deixa surpreso, e sim com uma
sensação de déjà vu. Seus olhos fazem parte dos meus pesadelos e sonhos.
Minha dor de cabeça, que eu já sentia desde ontem, aumenta, e me
sinto sobrecarregado. Novos flashes chegam, mas eu não desvio os olhos da
mulher à minha frente. Escuto Raffaelo mandar os homens deixarem a sala, e
ele me olha antes de desviar de volta para sua mulher.
— Você está enganada, anjo — ele diz, mas posso dizer que ele não
tem certeza.
A mulher se apoia nele e dá um passo à frente.
— Não pode ser... — ela murmura. A primeira lágrima cai de seu
olho castanho.
Eu limpo a garganta.
— Seu nome é Isis?
Ela engasga, e mais lágrimas caem. Raffaelo a segura antes que ela
caia.
— O que está acontecendo aqui?!
Stela toca meu braço.
— Você a conhece?
Eu nego e depois aceno, confuso.
— Acho que sim. Não sei...
A mulher se aproxima e para na minha frente.
— Ethan, é você?
Minhas sobrancelhas franzem porque esse nome me é familiar, mas
Collins também era.
— Eu me chamo Collins, eu acho.
Ela morde o lábio e seca as lágrimas, porém novas surgem.
— Seu nome é Ethan Collins. Eu tenho certeza.
Raffaelo puxa Isis para ele, a olhando com atenção.
— Isso é insano. Quais as chances disso acontecer? Isis, isso pode ser
um golpe, tente ser racional.
— Droga, Dominic! Eu conheço meu irmão. Seu rosto não mudou, os
olhos são os mesmos. É como se eu visse meu pai jovem novamente!
Raffaelo passa a mão pelo rosto e acena.
— Tudo bem, vamos fazer os testes de DNA.
Stela despenca na cadeira, me preocupando.
— Você... você é irmão dela? Da Isis?
Eu não aceno e nem nego. Em vez disso, pego meu caderno e começo
a passar as folhas à procura do desenho da menina de olhos ímpares, quando
chego a ele, olho do desenho para a mulher perto de mim. As duas são bem
parecidas, para dizer a verdade, e certamente não existem muitas mulheres
com olhos de cores diferentes, de cabelos loiros, que tiveram um irmão
parecido comigo. São coincidências demais.
— Você realmente acha que eu sou seu irmão?
Ela acena, parecendo realmente certa.
— O que aconteceu com você? Onde você estava todos esses anos?
Achamos que tinha morrido, eu segurei seu corpo em meus braços! — Sua
voz transmite muita emoção.
Raffaelo a puxa para ele e a abraça, enquanto nos dá um olhar de
aviso para ficarmos quietos. Ele não quer que Isis saiba agora do inferno que
vivi. Eu toco meu peito, como no sonho que tive essa noite.
— Não sei o que aconteceu comigo ou como cheguei lá — anuncio.
Olho para Isis... minha irmã. — Tudo é muito confuso ainda, não tenho
muitas lembranças, mas reconheço seus olhos.
Ela larga Raffaelo e vem para mim, me abraçando apertado.
— Senti tanto sua falta.
— Preparem o carro! — Raffaelo anuncia a seus homens. — Vamos
resolver isso em casa, com calma. — Ele olha para Stela quando fala, só
então eu percebo que ela está pálida. Quero me aproximar dela e perguntar se
está bem, mas também não quero largar minha irmã.
— Estou aqui, pequeno anjo — falo.
Nós somos levados para o elevador, e Isis nunca me solta, me olhando
durante todo o tempo. Ela não chora novamente e coloca seus óculos escuros,
obtendo uma pose segura. Percebo então que, para esses homens, ela é mais
do que a esposa do chefe, ela é uma chefe como ele. Como ela conseguiu
isso, eu não tinha a menor ideia.
Dominic vai para o banco do motorista, e Isis, no carona, segurando
sua mão. Stela se encolhe em meus braços, e então eu percebo que deve ser
muita informação para ela também. Eu mal consigo assimilar tudo que houve
em tão pouco tempo. Quero saber dos meus pais, reencontrá-los, abraçá-los.
O carro vai direto para uma grande mansão. Dominic sai primeiro do
carro, indo direto para casa, Stela segura minha mão e me dá um olhar,
implorando para que eu não a solte.
— Não vou — garanto, e ela relaxa um pouco. — O que vai
acontecer?
Ela ainda parece em choque.
— Se você é realmente irmão dela, tudo mudou... — sussurra quando
saímos do carro. Sem me importar que Isis nos veja, eu aproximo o rosto do
seu.
— Nós precisamos conversar. Não gosto que você tenha me guardado
segredos, me usado como marionete, eu tinha direito de saber sobre meu
irmão... seu irmão.
Seus olhos marejam.
— Ele é seu irmão também.
Isis limpa a garganta.
— É melhor termos essa conversa lá dentro.
Passamos por mais dois seguranças, que ficam no lado de fora da
porta. Ambos me olham com desconfiança. Ao entrarmos no recinto, a
primeira coisa que reparo é que na casa, apesar dos tons sóbrios, há belos
quadros que fazem todo o trabalho com cores. São belos, coloridos e cheios
de vida, algo que eu poderia olhar por horas sem ficar cansado.
— Ethan... você pode me explicar o que aconteceu? — Isis pede.
É tão estranho que ela me chame por Ethan. Quanto mais eu a olho,
mais eu vejo a semelhança com a menina de minhas memórias. Era realmente
ela. Eu tinha uma irmã. Desvio o olhar para o chão, para que ela não veja
minhas lágrimas.
— 135... Ethan... foi levado pela Bratva quando garoto — Stela
começa, sabendo que eu não posso falar.
— O quê?! Como isso é possível? Eu vi o corpo dele! Nós o
enterramos.
Raffaelo se aproxima com o celular em mãos.
— Eu estou trabalhando nisso, já mandei o laboratório de genética
mandar alguém aqui para coletar amostra de vocês e puxei a certidão de óbito
dele. Se quiser, podemos abrir a lápide para pegar amostras do corpo lá
dentro também... se é que há um corpo.
Isis passa as mãos pelos cabelos, e eu vejo uma tatuagem dentro do
cotovelo escrito Nunca Chore, porém a primeira palavra está riscada com
uma linha vermelha.
— Eu vou matar todo mundo — ela diz com simplicidade enquanto
caminha até o sofá e se senta, com o rosto entre as mãos. — Eu vou virá-los
do avesso e dar de comida aos porcos enquanto estão vivos.
Raffaelo franze a testa, mas não contesta sua mulher. Em vez disso,
ele se vira para nós dois.
— Aceitam uma água, um suco? — Stela acena. — Venha comigo.
Depois de hesitar um pouco, Stela se vai. Não demoro a perceber que
Raffaelo fez de propósito para me deixar sozinho com Isis, mas não entendo
a repentina ausência de desconfiança, sendo que não tem certeza sobre quem
sou de verdade.
Quando eles saem, eu me sento ao lado de Isis e, hesitando, toco suas
costas. Ela levanta o olhar para mim.
— Se eu soubesse que havia uma mísera chance de você estar vivo,
eu teria ido até o fim do mundo por você — diz, a voz saindo fraca e
quebrada. — Eu devia ter desconfiado depois que descobri que Valentina e
Benjamin estavam vivos. Eu sou uma idiota!
Benjamin? Valentina? Nenhum desses nomes me faz ter qualquer
sensação de conhecimento.
— Você não é. Não tinha como saber.
— Nós perdemos tantas coisas.
— Eu estou aqui agora.
Ela pega minha mão e segura forte.
— Você se lembra de mim?
— Tive sonhos... Vi seu rosto e na última noite sonhei que nós dois
conversávamos.
Ela morde o lábio.
— Eu posso te abraçar?
Em vez de responder, eu a puxo para mim, sentindo seu cheiro e
dizendo a mim mesmo que não é um sonho. É real. Eu encontrei minha
família.
— O que aconteceu contigo? — ela pergunta, com a voz quebrada,
mas querendo saber. — Por que Stela te chama de 135, por que ela estava
contigo? Ela sabia?
— Eu fui testado com drogas a minha vida toda, Isis. Fui criado para
obedecer ordens, matar...
Ela me aperta a mão.
— O esquadrão não tem mais poder sobre a nossa vida.
Minha testa se franze.
— Esquadrão? O nome é familiar, porém não sei o que está dizendo.
A expressão de Isis se espelha à minha.
— Você não estava falando sobre o esquadrão? Drogas? Do que está
falando?
Raffaelo volta a tempo de ouvir a última parte e se aproxima com um
copo de água em mãos e uma cerveja. Ele entrega a última para mim.
— Anjo, beba um pouco.
Isis se levanta.
— Que porra vocês estão me escondendo?!
— Se lembra das drogas de obediência que estão tentando rodar por
Nova Iorque? — Raffaelo pergunta, e Isis começa a negar.
— Não... não, ele não faz parte disso. — Ela me olha com esperança.
— Diz que teve algum engano.
Em vez disso, eu me levanto e retiro o casaco e, em seguida, a camisa,
virando de costas e levantando os cabelos para que ela veja a tatuagem na
minha nuca, marcada em minha pele.
— Eu fui treinado com drogas de obediência, esteroides e tudo mais
que você possa imaginar. Eu fui o único dentre os meus irmãos em que a
droga funcionava perfeitamente. Eu tinha de obedecer a quem fazia isso, ou
então sentia uma queimação forte nas veias. Fui moldado por eles, sou o
assassino perfeito deles, a amostra deles.
Ela olha para meu peito, diretamente para as marcas das três balas,
quase desbotadas pelo tempo. Passa os olhos pelas minhas cicatrizes e ofega.
— Foi um plano de Walter, tem que ser. Queria que aquele
desgraçado estivesse vivo para matá-lo novamente.
Um soluço alto e quebrado lhe escapa, e logo Raffaelo está a
segurando em seus braços enquanto ela bate nele.
— Isso não podia ter acontecido. Ele sofreu tanto. Isso não podia ter
acontecido... — ela murmura, chorando.
Stela funga em pé, no canto da sala, e limpa as lágrimas, mas novas
começam a cair. Quero abraçá-la, mas ainda estou confuso por todas as suas
mentiras. Ela me magoou.
A campainha toca, e Isis assume a postura que vi mais cedo, minha
irmã é forte demais. Ela assim como eu foi moldada para suportar as piores
situações e sobreviver, eu posso ver isso claramente através do seu olhar, pois
é o mesmo que o meu.
Um de seus seguranças entra acompanhado de uma mulher de meia-
idade que carrega uma maleta.
— Olá, bom dia. De quem que eu devo recolher amostras?
Isis é a primeira a falar.
— Minha e desse senhor, por favor. — A voz sai neutra, sem
demonstrar nada apesar dos olhos estarem vermelhos.
Rapidamente a mulher faz o trabalho, recolhendo amostra de saliva e
fios de cabelo. Depois de feito, ela lacra os pacotes com nossos nomes
escritos dentro e coloca numa maleta que eu vejo estar com senha.
— Em vinte e quatro horas, entraremos em contato para dar a
resposta. Obrigada.
Quando ela sai, Isis me olha.
— Irmãos, você falou deles algumas vezes. Quem são?
Meu coração dói de falar deles.
— São 174 e 169. São meus irmãos de cela.
— Como podemos salvá-los e destruir a todos, preciso de uma lista
com nomes, lugares e tudo que você souber. Nós os traremos de volta. Nós
vamos até o inferno para trazê-los e queimaremos todos que ficarem no nosso
caminho.
Um suspiro aliviado sai de mim.
— Obrigado.
Ela se abaixa na minha frente.
— Nunca me agradeça.
— Nunca peça desculpas — eu jogo de volta, e ela sorri.
— Você parece um selvagem com todo esse cabelo. Mamãe
provavelmente cortaria enquanto você dorme.
Um sorriso me escapa.
— Onde eles estão?
Sua expressão brincalhona acaba, e ao ver a dor refletida em seus
olhos, eu sei.
— Quando aconteceu?
— Há quase cinco anos... Eles estavam investigando sobre o
esquadrão, e encomendaram a morte deles. Mas eu os vinguei.
Então isso me bate. Eu nunca veria meus pais de novo. Minhas
memórias sobre eles eram rasas, e só Deus sabia quando voltariam mais
lembranças. Eu só tenho Isis.
Só percebo que estou chorando quando ela toca meu rosto e seca
minhas lágrimas.
— Está tudo bem. Eu sei que dói, mas você não está mais sozinho e
nunca estará. Você tem a mim, a Dominic, uma porrada de crianças, nossa
avó, nosso primo Theo e nossos amigos. Todos sentem sua falta e te querem
com a gente. Somos uma grande família.
Eu tenho Stela também. Olho para minha menina, que está sorrindo
para mim, sabendo exatamente o que estou pensando. Posso ver que ela está
aliviada. Quando ela expressou que essa descoberta mudaria tudo, eu não
havia entendido, até agora. Eu faço parte da família do capo, o comandante
de tudo. Eu poderia ficar com Stela sem qualquer empecilho. Mas por que
não me sinto aliviado? Porque essa descoberta parece ter me deixado ainda
mais confuso.
— Espera, você disse crianças? — pergunto quando assimilo a
informação.
Isis ri e aponta para um porta-retrato à distância. Raffaelo vai até lá e
o pega, me entregando. Na foto, que parece ter sido feita no natal, pela
decoração, há muitas pessoas, mas eu foco principalmente nas crianças, há
realmente muitas delas.
— São todos seus? Quantos anos têm?
Isis ri alto, e até Raffaelo acompanha.
— Não, só esses. — Ela aponta para uma bela menina loirinha, que
parecia muito com Isis quando criança, e para dois outros menores, que
estavam um no colo de Raffaelo e outro no meio das outras crianças. — E
agora também temos a Iris, minha menininha. Ela nasceu há duas semanas.
Reparo que na foto ela está com uma barriga enorme, o que não altera
sua beleza em nada. Imediatamente eu imagino Stela grávida, com uma
grande barriga, andando descalça por nossa casa em Nova Iorque.
— Falando nisso, logo ela deve estar chegando. Eu só ia visitar Dom
rapidamente antes de voltar para casa, a deixei com Carina.
— Carina? — De primeira, eu não reconheço o nome, mas conforme
penso, vejo seu rosto em minha mente com um sorriso aberto.
Abaixo o olhar para foto e aponto para a bela mulher de batom
vermelho nela.
— Ela é Carina, não é?
Olho pela foto para as outras mulheres, mas nenhuma me é familiar.
Passo para os caras e tenho a mesma sensação, porém só um me chama a
atenção.
— Quem é esse?
Isis nem olha a foto.
— É Miguel. Nosso amigo. Ele vivia lá em casa... o conhecemos
quando ele foi para o esquadrão na mesma turma que eu e viramos amigos.
Ele passou as férias e o natal conosco, e vocês ficaram amigos.
Não tenho muitas lembranças dele, mas meu interior sabe de algo.
— Ele protegia você. Quando fui baleado?
Isis suspira.
— Você foi morto... foi levado perto do natal.
Ficamos em um silêncio agradável. Raffaelo fala algo com Stela, e ela
acena e olha para todos nós.
— Então vocês vão ajudar a recuperar Drew e o outro homem?
— Claro que sim — Isis responde, olhando como se lembrasse agora
que ela ainda está aqui. — E Drew seria...?
— Meu irmão — ela responde.
Isis levanta a sobrancelha.
— Foi você que o trouxe aqui, por seu irmão, eu suponho. Mas como
vocês se conheceram?
— Isis... — Raffaelo começa, mas Isis não tira os olhos de Stela.
— O que você está fazendo aqui? Como conhece meu irmão?
— Isis, Stela me salvou, e eu tenho vivido com ela durante dois
meses... Eu a amo — conto, e minha irmã pula em pé.
— O quê?! Você seriamente estava usando um homem sem memória
como um boneco?
Stela dá um passo para trás, como se tivesse sido atingida, mas Isis
não para. Ela é como uma leoa protegendo seu filhote.
— Isis, eu aprecio a sua preocupação, mas está tudo bem. Não fui
forçado a nada, Stela não quis se render a mim durante muito tempo.
Isis caçoou.
— Claro. — Ela olhou entre nós e cruzou os braços. — Você contou a
ele?
Stela fica ainda mais pálida, e eu tenho medo que ela acabe
desmaiando, mas a pergunta de Isis me para. O que mais Stela esconde de
mim?
— Por favor. — Stela engasga, com a voz sofrida. — Eu ia contar, eu
desisti de tudo por ele.
Isis ri sem humor.
— Claro que desistiu, mas isso foi antes de trair meu irmão? Você
estava noiva, e eu te vi se agarrando com Christian na festa de noivado de
vocês.
— O quê? — eu rujo.
Isis começa a andar diretamente até Stela, e Raffaelo a para no meio
do caminho, a segurando — não há dúvidas que minha irmã queria bater na
minha mulher... minha mulher? Stela estava noiva de outro homem? Olho
para o anel no dedo de Isis, e isso me bate pela primeira vez. Usar anel no
dedo significa compromisso.
— Isis, não faça isso. Você está de resguardo — Raffaelo diz com
segurança na voz. — Stela desistiu de tudo, arriscou tudo para vir aqui. Ela
sequer sabia que você era irmã dele.
— Isso é mentira! — minha irmã exclama. — Ela viu os desenhos,
tenho certeza. É tudo um plano. Essa menina é sonsa!
Stela chora, encolhida, mas estou preso no chão, sem conseguir me
mover.
— Eu nunca mexi no diário de 135 até ontem à noite, quando procurei
o desenho dos seus irmãos pra confirmar minha suspeita. Não vi os outros
desenhos. Eu juro. — Ela olha para mim enquanto fala.
— Seu nome é Ethan, não um número! — Isis grita, pronta para
atacar Stela. — Sua safada manipuladora!
Stela levanta o queixo com orgulho.
— E o que você sabe de mim?! Nós nos vemos raríssimas vezes, você
não me conhece para me julgar. Para você é fácil fazer isso, já que está
sempre por cima, não sabe o que nós, mulheres reais, nascidas na máfia,
passamos. Eu errei, mas não sou a vilã da história. — Seu lábio treme, e ela
aponta o dedo trêmulo para Isis. — Eu desisti de tudo. Tudo. Por uma única
chance de conseguir ficar com ele, de mantê-lo vivo. Você não pode querer
dizer que conhece, porque você não sabe de nada!
A porta se abre, e um homem alto, loiro, com uma cicatriz na
bochecha, entra na sala com um bebê embrulhado nos braços.
— O que está acontecendo aqui?
Fico preparado para enfrentá-lo, caso precise. Nunca machucaria um
bebê, mas não conheço esse homem e nem sei o que faz aqui.
— Jace, mande o segurança vir jogar essa garota na rua! — Isis
exclama.
— Não. Se ela sair, eu também vou. — anuncio.
Apesar de qualquer coisa, Stela cuidou de mim, colocou um teto sobre
minha cabeça, me acolheu, me segurou enquanto eu estava em crise, me
mostrou sua cidade, dividiu sua vida comigo. Eu não retribuiria toda a sua
bondade a deixando sem nada. Ela não podia voltar para Nova Iorque sem
maiores consequências por sua traição. Não quero nem pensar o que
aconteceria com ela.
— O quê? Ela te traiu, te usou, que parte você não entendeu?!
Eu olho para Isis, seriamente.
— Você não tem que se meter nisso. É assunto meu e de Stela. Você
devia ser grata a ela, pois se não fosse por ela, eu estaria morto.
Eu e Isis nos encaramos, até ela suspirar.
— Quando tivermos os seus irmãos aqui, eu quero ela fora da nossa
casa e da nossa vida!
Stela olha para o chão, dilacerada, sem ter qualquer outro lugar para ir
que lhe ofereça segurança. Ela está presa sob o teto onde é julgada por Isis.
— Isis, chega! Sei que você está protetora com Ethan, mas você não
está vendo que essa menina está a um passo de se quebrar? Ela desistiu de
tudo para trazê-lo para cá. — Raffaelo encara Isis, que fica em silêncio,
sabendo que passou dos limites. — Vou levá-la para um quarto, ela deve
estar acabada física e mentalmente — diz, mais calmo, então olha para Jace.
— Obrigado por ter trazido ela, irmão. Dê Iris para a mãe.
Jace entrega minha sobrinha para Isis, que aceita com gratidão e vai
logo cheirar o bebê antes de se afastar para o outro lado da sala, querendo
ficar sozinha.
— Esse é Ethan, o irmão de Isis, e esse é meu amigo e segundo no
comando, Jace Donavan. — Raffaelo nos apresenta antes de ir até Stela e
segurá-la delicadamente pelas costas, a guiando até o segundo o andar. Ela
olha por cima do ombro para mim, com um pedido nos olhos para eu a
acompanhar, porém não consigo manter o olhar por muito tempo.
Stela me traiu. Não só estava noiva como também estava beijando
essa pessoa. Isis viu e não mentiria ou aumentaria sobre isso. Minha cabeça
está cheia, e eu só quero ficar sozinho para pensar sobre tudo. Se eu ainda
amo Stela? Sim, com todo o meu coração, mas a traição me corrói.
— Outro morto que volta dos vivos? — Jace fala, sorrindo de leve. —
Ouvi coisas boas sobre você. Minha mulher tem muito carinho por você. —
Quando se refere à sua mulher, ele deixa claro sua posse, mas eu não entendo
o porquê disso, não é como se eu fosse roubá-la, nem a conheço.
— Jace... — Isis o chama.
Ele se vira, e ela nem precisa falar nada.
— As crianças podem ficar lá em casa hoje. Vou buscá-las na escola,
não se preocupe. Deixarei com Carina e vou para o Ponto Zero cuidar os
afazeres de hoje. Amanhã, viremos todos para ver vocês. Hoje, aproveitem o
tempo sozinhos para se reconectarem.
Ele se aproxima e beija sua testa antes de me dar um último olhar e se
afastar, saindo de casa. Isis vem até mim, com o bebê nos braços.
— Não acho que começamos bem. Que tal a gente falar mais um
sobre o outro enquanto eu te conto o que aconteceu em todos os quatorze
anos que você ficou... fora.
— Eu adoraria.
Lembro de Stela, seu irmão é com certeza 169. Como não percebi
antes a semelhança, nem lembrei de como meu irmão tinha certeza que seria
vingado? Ela não aguentará a verdade do que aconteceu com ele, então eu
guardarei para mim até que ele tivesse seguro.
CAPÍTULO 22
STELA
174 apareceu com uma tatuagem nas costas, uma de muitas que
viviam aparecendo em todas as lutas que ele ganhava. Mas junto com elas,
vinham novas marcas de corte, queimaduras e até mesmo chicote. Eu
conhecia a última marca: o mestre não gostava quando eu o olhava nos
olhos e me acertou até que eu não o fizesse mais. Meus olhos eram
expressivos demais e mostravam o quanto eu o odiava.
— Ganhou outra luta? — perguntei enquanto levantava alguns pesos.
169 estava a meu lado, olhando para o chão. Ele finalmente pôde sair
da enfermaria depois que cortou a garganta, porém sua voz saí mais rouca
do que tudo e, com isso, ele falava menos do que antes.
— Claro — 174 disse orgulhoso, ele odiava e amava lutar. Sentia-se
vivo lá dentro. — Queria que vocês estivessem lá, o cara parecia um touro de
tão grande. Chegou a rasgar o calção quando caiu, mostrou o cu pra todo
mundo.
Eu ri alto e, ao meu lado, vi os ombros de 169 tremerem um pouco
por seu riso contido.
— Juro, e eu não podia nem rir, porque senão Mestre Uta ia cortar
meu pau por envergonhá-lo.
— Você ganhou o quê? — perguntei. 174 tinha mais regalias que a
gente, ganhava comida boa durante as viagens, dormia em quartos legais,
enquanto eu era obrigado a dividir com os cães.
O sorriso dele o entregou.
— Três mulheres. Uma loira, uma morena e uma negra. A noite
inteira.
Eu rolei os olhos, continuarei a negar mulheres. Não queria receber
esse tipo de recompensa, queria minha liberdade e a dos meus irmãos.
— Você devia receber dinheiro — 169 falou pela primeira vez em
semanas, sua voz saiu grossa, ainda que não tanto quanto da última vez. —
Você seria rico dentro da máfia. No entanto, você recebe só prostitutas que
não valem nem dez por cento do que você deveria receber.
174 deu de ombros, mas pude ver sua tristeza.
— É o que temos, irmão.
— Quando sairmos daqui, você nos bancará com suas lutas —
brinquei.
174 deu um sorriso largo.
— Claro, mas só se vocês virarem minhas putinhas.
Eu bati em seu ombro.
— Sabia que você sempre foi apaixonado pela gente.
169 balançou a cabeça, mas seus ombros, antes tensos, estavam
relaxados e só ver aquilo me deu um enorme alívio.
Aguente firme, meu irmão.
Sei que tem algo errado no momento que acordo no meio da noite,
depois de desmaiar por cansaço. Uma empregada trouxe meu jantar, e eu
aceitei, grata, apesar de só conseguir beliscar a deliciosa refeição. Ainda não
tive coragem de descer e encarar a todos. Ethan devia estar no auge da
felicidade em reencontrar sua família. Dói em mim que seus pais tenham
partido e ele nunca terá a chance de revê-los, mas oro com força para que ele
se lembre de todos os bons momentos com eles.
Eu me levanto quando a sensação de mal-estar não passa. Visto um
robe por cima da camisola e saio do quarto. Não preciso nem pensar em
procurar de quarto em quarto, pois escuto um barulho no quarto ao lado do
meu. Barulho esse que eu já conheço, mas não ouço há semanas. Ethan está
tendo um pesadelo.
Abro a porta, agradecendo por ele não ter trancado. Ele nunca o fazia
no banheiro ou no nosso quarto, e a da sala era trancada quando batida, então
eu não tinha de me preocupar.
Entro no quarto e o vejo se remexendo na cama. Suor cobre seu
corpo, mesmo o quarto estando em temperatura ambiente. Ele veste só um
par de calças e está descalço. Eu me aproximo da cama com calma, porque
sei que ele nunca me machucaria, porém está dormindo e seu corpo está em
alerta. Ele ainda se culpa por ter me machucado antes, então não darei
motivos para ele sofrer novamente.
— Estou aqui, meu amor... — sussurro e paro ao lado de sua cama.
Ele respira fundo, e eu sei que está sentindo meu cheiro. Eu m arrisco ao
levar a mão à sua cabeça e retirar os cabelos do rosto.
Ele desperta, e eu não hesito em me deitar ao seu lado. Se ele me
quiser fora de seu quarto, terá que me expulsar, eu não o deixarei sozinho.
— Estou aqui para você. — Coloco a cabeça em seu ombro, e sua
respiração começa a se acalmar.
Ele não responde e nem me envolve em seus braços como sempre fez,
mas não me rendo. Eu farei tudo para que ele me perdoe e, apesar de odiar,
eu guardarei minhas desconfianças de estar grávida para mim, não o farei
voltar para mim por esse motivo.
Penso em passar a noite acordada, aproveitando que ele está comigo,
mas o sono do cansaço de todo o dia me vence, e eu adormeço em seus
braços, não antes de sussurrar:
— Me desculpe.
Não escuto sua resposta e nem tenho certeza se ele ouviu, ele nem se
mexeu. Era como se só estivesse aproveitando a nossa última noite juntos,
mas não quis me tocar. Isso doeu.
***
***
***
— Seus olhos vão cair se continuar olhando para ele. — Isis se senta
ao meu lado, falando baixo enquanto na televisão passa um filme que
mantém as crianças entretidas.
Desvio o olhar para um dos quadros que ele pintou quando criança, e
Isis ri.
— Sabe, eu admito que estou sendo muito protetora com Ethan, mas é
porque eu perdi meu irmão por muito tempo e sentia que devia, de alguma
forma, protegê-lo.
— Eu entendo, acho que faria o mesmo com meu irmão.
Nós ficamos em silêncio e, quando nos olhamos, temos o
conhecimento que ambas amamos Ethan e não abriremos mão dele. Isis
suspira.
— Deus te ajude se você magoar meu irmão, eu vou acabar com você.
Eu cruzo os braços.
— Até parece que ele deixaria... Não que eu vá machucar ele.
Durante o resto da festa, conheço vó Maria, que me conta histórias de
seu netinho querido e m mostra fotos dele mais novo que me fazem
emocionar. Será que nosso filho será loirinho como ele? Será que terá cabelos
escuros? Será que terá olhos verdes ou azuis, ou será que teria heterocromia
como a tia?
O parabéns acontece, e eu fico babando pelo bolo, literalmente. Está
tão delicioso, que como duas fatias grossas sem me importar com nada. Estou
mil vezes mais feliz me aceitando como eu sou do que quando estava no
padrão de magreza. Depois disso, as crianças se organizam pelos colchonetes
no chão, prontas para dormir. Isis e Carina vão dormir na sala também, para
cuidar das crianças.
Depois de me despedir de todos, subi os degraus da escada, sentindo
um olhar sobre mim. Eu me viro e, por cima do ombro, vejo Ethan me
olhando intensamente, mas quando percebe que eu o notei, desvia o olhar
antes de correr para seu quarto. Agora que o aniversário de Dante acabou,
todos focaremos na missão de salvar os outros, o que significa que ele estará
longe por um tempo — isso se conseguir voltar.
Não sei ao certo se foi uma crise de ansiedade ou a saudade, mas eu
corri para seu quarto, fechando a porta atrás de mim. Por um momento, penso
estar no quarto errado por não haver ninguém aqui, mas logo em seguida a
porta do banheiro se abre, e Ethan sai do cômodo, usando somente calças. Eu
quero correr as mãos pelos cabelos mais curtos, que não tiraram em nada sua
beleza, mas sim a evidenciaram. Agora eu posso ver seu rosto inteiro, e não
há como ele fugir.
— Stela, o que está fazendo aqui?
Eu estufo o peito, tentando parecer mais forte do que realmente sou.
— Estou aqui para tomar o que é meu. O que eu devia ter feito desde
que chegamos aqui.
Ele abre a boca, mas eu o corto:
— Você vai deitar nessa cama, me abraçar a noite toda, e amanhã
conversaremos.
Estou realmente cansada, acredito que nossa conversa será longa e eu
quero estar cem por cento desperta para lhe dizer todos os prós e contras de
ficar comigo. Eu lutarei por ele, não deixarei que nossos sentimentos
morram.
— Tá bom... — ele murmura, parecendo realmente cansado.
Espero que se deite e puxe as cobertas, e só então me deito ao seu
lado.
— Ethan...
— O quê?
— Nada, eu só gosto de poder te chamar pelo seu nome. É bonito... —
murmuro e me encolho nos seus braços, pegando seu braço e passando por
mim. Espero até ter certeza que seu corpo está relaxado, então murmuro com
um fio de voz, sem conseguir me conter: — Eu te amo, Ethan. Para sempre.
***
***
***
STELA
Horas se passam, e Isis vem pra sala, parecendo tão forte como de
costume, mas consigo enxergar o medo nela. Está tão nervosa quanto eu. Ela
caminha até a cozinha para ganhar tempo.
— Dominic ligou ou mandou mensagem? Algum de seus homens? —
pergunto.
Ela vira de costas e finge caçar algo na geladeira.
— Parece que alguém fez uma limpa aqui — diz sem me olhar,
tentando me distrair.
— Isis!
Ela finalmente se vira para mim.
— Não, ok. Mas isso pode significar um monte de coisas. Prefiro
pensar que eles estão dentro do avião, portanto não podem ligar.
— E antes?
Ela para pra pensar um pouco antes de dar de ombros.
— O celular provavelmente acabou a bateria. — Ela me lança um
olhar de aviso, para que eu cale a boca.
Discutir com ela não adianta, então volto para a sala, me sentando e
batendo o pé no chão rapidamente. Já passa das onze, cadê eles? Olho para
minhas unhas, querendo roê-las mais um pouco, porém não sobrou nada.
Meia hora depois, Isis se levanta.
— Eu deveria começar a preparar o almoço, eles chegarão com fome.
— Ela parece tão certa que tudo ocorreu bem. Gostaria de ser assim.
O celular de Isis toca, nos fazendo pular. Quando ela o atende, eu sei
na hora que não são notícias deles.
— Quem? — ela reponde e franze a testa. — Um minuto, vou ver se
ela pode atender.
— Quem é?
Só estamos nós duas aqui e Iris. Vô Raffaelo levou as crianças para
sua casa junto com Vó Maria, que sentiu a tensão, ainda que ninguém tenha
contado a ela sobre o plano de salvar 174.
Isis limpa a garganta, parecendo descrente e um pouco raivosa.
— Christian Harris está na minha porta, querendo entrar para falar
com você.
— O quê?! Eu não o convidei.
Isis dá de ombros.
— A única coisa que sei no momento é que não podemos deixá-lo lá
fora. Seria um escândalo deixar o futuro consigliere de Denver lá fora nesse
frio.
Isis está vestida para matar, como de costume, com calças jeans
escuras e um casaco preto em gola V. Ela vai correndo colocar seus saltos.
Eu fico do jeito que estou, com um moletom de Ethan que peguei da roupa
suja, roubado de seu quarto. Provavelmente, na verdade, é de Dominic, mas
tinha o cheiro de Ethan. Uso também uma calça preta e meias grossas. Meus
cabelos estão em nós embolados num coque no alto da cabeça. Eu sou o
oposto de tudo que Christian conheceu.
Isis volta à sala e me dá um sorriso solidário quando vê que eu
continuo do jeito que estava.
— Não vou deixá-los sozinhos, seja franca e clara... — Ela me dá um
sorriso um pouco malvado. — Diga que ele é meu irmão, assim Christian não
poderá ofendê-lo sem que eu enfie o dedo no seu cu.
Eu não tenho tempo para rir ou ficar em choque com suas palavras,
porque Isis caminha a passos seguros e abre a porta da frente. Junto de
Christian, um dos homens de Dominic entra para garantir nossa segurança,
afinal, só há nós duas na casa e não é seguro ou certo ficarmos sozinhas com
um homem — ainda que, eu imagino, Isis desse conta dele sozinha.
Christian cumprimenta Isis beijando sua mão como um perfeito
cavalheiro.
— Está linda como sempre, senhora Raffaelo.
Isis suspira, e eu quase rolo os olhos. Com seu charme, até Isis ele
conquistou. Christian caminha a passos seguros até mim e, me
surpreendendo, me abraça forte.
— Stela, estava tão preocupado. Seu pai não disse absolutamente
nada sobre o que estava acontecendo, Marcus não teve notícias. — Ele segura
meu rosto em mãos. — Você está claramente abatida, seja o que for, eu vou
resolver. — Ele se vira para Isis, que olhava a cena, chocada. — Isis, se
puder avisar a Raffaelo que eu estou aqui, agradeceria muito, sei que é de
última hora, mas gostaria de uma reunião a respeito de Stela. Gostaria de
saber o motivo de ela estar sendo mantida aqui.
Isis ofega.
— Nós não sequestramos ela e ela não é presa.
O olhar de Christian deixa claro que ele não acredita, mas não
contesta. Eu devo acabar com isso.
— Christian, eu não estou presa aqui. Vim porque quis. — Eu me
afasto um pouco dele e cruzo os braços. — Eu sinto muito, não posso casar
com você.
— O quê? Por quê?
Ouvimos um choro baixo, e Isis resmunga.
— Iris acordou! — Ela me dá um olhar de desculpa antes de correr
para sua filha.
Christian me observa com curiosidade, tentando me entender.
— Foi por causa do nosso beijo no casamento? — Ele então olha para
o segurança à distância e fala mais baixo. — Por que você está aqui? Me diga
a verdade, talvez manter o casamento seja mais seguro para você.
Ele me lança um olhar que implora para que eu seja sincera.
— Não é isso. Eu não fui totalmente sincera com você. — Um bolo
toma minha garganta. Ele não merece isso, mas eu não posso mandar no meu
coração. Mesmo se pudesse, meu escolhido sempre seria Ethan. — Eu amo
outra pessoa.
Christian arregala os olhos antes de assentir, se mantendo firme.
— Eu entendo isso. Ele faz parte da máfia?
Eu nego, mas depois aceno, só para voltar a negar. Não sei se Ethan
realmente ficará na máfia, se passará no teste, nada é claro ainda.
— Stela, você tem certeza sobre isso? Nós podemos fazer funcionar.
— Ele toca meu braço, e eu desmorono.
— Eu o amo e estou grávida. — Eu tampo a boca logo em seguida.
O choque atravessa seu corpo. Eu não queria que ele fosse o primeiro
a saber e tremi, me odiando por ter deixado essa informação vazar.
— Por isso você saiu de Nova Iorque? Mas o que está fazendo aqui?
Ouço Isis descendo as escadas e aproveito para falar.
— Ele é irmão de Isis, mas nós não sabíamos sobre isso quando nos
conhecemos. Só quando viemos para cá descobrimos.
Christian passa a mão por seus cabelos, retirando seu penteado
perfeito.
— Isso é muita informação.
Eu seguro sua mão.
— Ainda vamos ajudar sua irmã, eu te prometo.
— Marcus não se casará com ela se você não se casar comigo — ele
declara, parecendo mais chateado por essa questão do que qualquer outra
coisa, e isso me traz alívio.
— Qual o problema com sua irmã? — Isis pergunta.
Christian fica tenso.
— Pode contar a ela. — Eu confio em Isis e talvez ela possa ajudar.
Eu devo pelo menos isso a ele. Se conseguir me livrar do marido da irmã dele
e de alguma forma arranjar para que ela não se case novamente, Marcus não
precisaria cumprir com o combinado.
Suspirando, ele conta toda a história, e Isis ouve com calma,
acenando.
— Acho que precisamos de um café. Aceita?
Quando ele aceita, Isis lhe entrega o bebê antes de ir para a cozinha, e
o gesto por si só mostra a confiança que ele não fará mal à pequena menina
em seus braços.
— Ela é tão linda — diz quando se sentou no sofá ao meu lado.
Iris abre os seus belos olhos, e ele ofega.
— Olhe, tem os olhos da mãe. — Ele acaricia a pequena cabeça antes
de voltar a atenção para mim. — Eu sinto muito que as coisas tenham ido por
esse lado, mas eu entendo. Quando se encontra o amor temos que agarrar.
Isis retorna e nos serve. Christian promete que não falará sobre o que
foi dito hoje e diz que mandará um comunicado sobre o rompimento do
noivado, usando o pretexto que não sente ser o momento certo de se casar.
Isso seria aceito pela famiglia, homens podem mandar e ditar quando querem
se casar, enquanto para as mulheres, só resta aceitar. Isis diz que conversará
com Dominic a respeito da situação da irmã, prometendo que ela nunca será
obrigada a se casar novamente.
Isis pega Iris quando ela começa a reclamar no colo de Christian.
— É melhor eu ir — ele diz, nos levantamos, e sou abraçada por
Christian.
Meus ombros caem um pouco em alívio, mas só estarei totalmente
tranquila quando tiver Ethan comigo.
A porta da frente se abre, e a primeira coisa que escuto é o rugido de
Ethan.
— Que porra é essa?
CAPÍTULO 31
ETHAN
***
***
— Poshli![7]
Caminhei atrás dele como de costume, olhando para o chão. Nós
entramos no carro, e eu nem tentei me localizar, sabia que não teria coragem
para fugir sem meus irmãos. Eu sabia que viver ali era errado, nós não
devíamos estar em um lugar que não queríamos estar, onde não podíamos
sair e éramos obrigados a usar drogas.
Chegamos a um lugar que parecia abandonado, abri a boca para
dizer isso ao mestre, porém me calei a tempo. Ele nunca errava. Talvez ele
tivesse decidido me matar. Quis correr, mas meu corpo não parecia
trabalhar direito.
Ao entramos lá, reparei que havia dois dos cientistas que cuidavam
de meus irmãos e eu. Eles tinham pranchetas, e assim que eu entrei,
começaram a anotar. Mestre se virou para mim e me olhou com nojo.
— Se ajoelhe.
Mesmo querendo fugir, meu corpo obedeceu, caindo aos seus pés.
— Estique a mão.
Quando o fiz, ele colocou duas adagas nela. Ele aproximou a boca da
minha orelha, e eu senti o seu cheiro de cigarro e perfume amadeirado.
— Se prepare e não me decepcione.
Ele se afastou, indo em direção aos outros, e eu fiquei ali, ajoelhado,
sem me mexer, pelo que pareceram horas. Ouvi uns resmungos, mas não me
mexi.
— Se levante e mate — mestre ordenou.
Eu fiz o que ele pediu antes mesmo de pensar, me virei, vendo que
havia um homem do outro lado. Ele estava sem camisa e era forte como eu,
parecia levemente tonto e com medo. Eu já havia matado antes, mas foram
os guardas que tentaram me estuprar em minha cela quando fiquei mais
velho. Aquilo era diferente de qualquer coisa.
Eu me concentrei nele, na minha vítima, mas pude ouvir a voz do
mestre ao fundo:
— Aquele é 144, era um prodígio, mas as drogas pararam de
funcionar com ele, nem mesmo para luta ele serve. Fraco demais.
144, eu não o conhecia. Será que havia muitos de nós? Eu não queria
matá-lo, mas, mesmo assim, meu corpo avançava em sua direção. Lágrimas
banhavam meu rosto, mas eu não conseguia parar. Quando me aproximei e
tentei matá-lo de uma vez só, ele colocou o braço na frente, o que me fez
cortar seu braço num corte fundo. Ele gritou, e eu chorei mais. 144 tentou
fugir, mas eu o peguei, e com um olhar dentro dos seus olhos, eu implorei
por seu perdão, perdão por mim também, que estava sendo um monstro. Com
esse último olhar, eu passei a faca por sua garganta, sentindo a pele e
músculos se romperem. O sangue jorrou, sujando ambos, e quando ele caiu,
eu caí junto.
— Eu não queria... — murmurei enquanto segurava sua garanta. —
Me desculpe, eu não queria.
Sua mão encontrou a minha, e seus olhos demonstravam o medo, o
pavor, mas conforme a vida foi saindo de seus olhos, eu pude ver a gratidão,
pois nessa vida, só a morte era uma opção.
Foi nesse momento que eu jurei a mim mesmo que mataria Mestre
Iuri. Ele me corrompeu, mas eu nunca seria como ele, e enquanto fosse vivo,
eu oraria por uma chance de matá-lo, mesmo que isso só trouxesse mais
sangue em minhas mãos.
***
No dia seguinte, Isis me abraça forte, e isso me faz pensar que não
tivemos oportunidade de nos despedir na primeira vez em que fomos
separados. Seguro minha irmã contra mim, sentindo seu cheiro e calor.
— A distância não vai nos separar — prometo.
Ela funga.
— Ah, eu sei bem disso. Quebro a sua cara se não me ligar sempre.
Beijo sua testa e me separo, cumprimento Dominic, Jace, Miguel,
Mila e, por último, Carina, que chora.
— Ah, droga. Meu cérebro está mandando que eu sequestre você, mas
sei que vamos nos ver novamente, muitas vezes.
— Nós nos veremos no noivado — Valentina diz, sendo a voz da
razão.
Eu me abaixo para ficar à sua altura, e ela sorri. Minha sobrinha é tão
linda.
— Sim, vamos nos ver no noivado, e nas férias da escola você pode
vir nos visitar.
Seus olhos brilham, e ela pula, animada.
— Eric pode ir também?
— Claro. — Bagunço seus cabelos e beijo sua testa.
Stela e 174 já estão dentro do jato, já se despediram de todos. Após
lançar um último tchau, entro, vendo que os dois estão quietos. 174 dorme na
poltrona e Stela está ao seu lado, olhando para o nada.
— Ei, está tudo bem?
Ela me olha e solta uma longa respiração.
— Só estou pensando como será reencontrar meu pai. Eu tenho que
me manter forte, Ethan. Mas eu não sei se consigo. — Sua voz falha.
— Claro que consegue. Acredite em mim. — Pego sua mão, e ela
sorri.
— Vou ser uma dor no traseiro de todos. Ninguém vai me diminuir.
Eu sorrio largamente.
— Isso mesmo. Não importa como você tenha que ser na frente dos
outros, eu sei quem você é de verdade, e isso é o suficiente.
Ela me lança um olhar.
— Você também precisará ser forte, não dar sombra de dúvidas
mesmo quando não souber o que vem a seguir.
— Seu serei sua rocha se você for a minha.
— Sempre.
— Sempre — repito.
CAPÍTULO 36
STELA
IMPLACÁVEL
174, agora conhecido como Bones, se sente preso, mais do que estava
quando era cativo dos russos. Jogado em um novo mundo, que ao mesmo
tempo se parece com o antigo, ele sente falta dos maus hábitos. Lutar e
transar é tudo que ele sabe. Tudo que ele é bom.
Luci está sempre ocupada, nunca tem tempo para si mesma. Entre
cuidar de sua irmã mais nova e trabalhar, ela sequer pensa em ter férias, até
que outra coisa começa a tomar conta de seu pensamento. Ou melhor,
alguém. Enquanto cuida da saúde física de Bones, ela sente uma ligação com
ele, mas não pode se render. Conseguiu por muito pouco se livrar das garras
da máfia e não quer voltar. Tudo em Bones tem um sinal de perigo e ela
precisa se proteger do mal, já que foi tão atingida na vida por causa desse
meio.
Mas quando a tentação se torna difícil de resistir e o perigo aparece,
eles precisam decidir de uma vez em que lado estão e o que devem fazer.
Bones fará de tudo para proteger as pessoas que se tornaram
importantes para ele e se vingar de todos que lhe fizeram mal. Ele era
implacável. Quando estava ligado, ninguém podia impedi-lo.
Agradecimentos
CONTOS:
Meu Anjo Mafioso (conto do vô Raffaelo e Christina, avôs de
Dominic)
Uma surpresa Mafiosa (conto do dia dos namorados de Isis e
Dominic)
Trilogia Os King:
Meu Querido Consigliere
Meu Amado Consigliere
Meu Devasso Consigliere (em breve)
Livro único:
Amor In FIGHT
CONTATO
[1]
“Vamos” em russo.
[2]
Plural de consigliere.
[3]
Família em italiano.
[4]
Segurança disfarçado.
[5]
“Mate todos” em russo.
[6]
“Meu cachorro” em russo.
[7]
“Vamos” em russo.
[8]
Seu nada, em Russo.