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Copyright © 2022 Lettie S.J.


1ª Edição | Março/2022
Obra registrada no AVCTORIS

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de qualquer parte desse livro, por quaisquer
meios existentes, sem a prévia autorização por escrito da autora.
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, personagens e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos reais é mera coincidência.
Edição Digital | Brasil
___________________________________
Sumário
Sinopse
Playlist
Nota de Autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Epílogo
Biografia e Redes Sociais
Sinopse
Um erro crasso acontece na clínica de reprodução humana onde o poderoso
CEO Tyler Blackwolf deixou o seu sêmen congelado para ter filhos quando fosse
mais conveniente. Ele mesmo havia nascido de uma inseminação artificial e nunca
conheceu a própria mãe, portanto, na concepção fria de sua mente calculista, aquele
era o método mais seguro e confiável de ter o próprio filho. Conhecido no mundo
financeiro como O Lobo Negro de Wall Street , não apenas por causa do seu
sobrenome, mas por ser um predador implacável nos negócios, Tyler pretendia
escolher todas as características físicas e genéticas da mulher que seria a mãe do seu
herdeiro. Contudo, o destino não pode ser controlado, mesmo para um CEO
poderoso. Por causa desse erro, a filha do seu pior inimigo é inseminada com o
sêmen dele e engravida do meticulosamente planejado herdeiro Blackwolf.
Michelle Barton sempre sonhou com o homem ideal, mas nunca teve a
sorte de encontrá-lo, apesar dos vários pretendentes que tinha, todos almejando ser o
marido da filha do banqueiro Colin Barton. Após uma fatalidade, Michelle decide
ser mãe solo e recorre à clínica de fertilização mais renomada do país para
engravidar, escolhendo um pai que tivesse as características físicas do homem dos
seus sonhos, que seria um doador anônimo. Um doador que deixou de ser anônimo
quando o erro foi descoberto e um certo CEO vingativo surgiu na sua vida, cheio de
exigências, mas também de ódio.
O que nenhum deles esperava era o perigo que aquela gravidez traria. Tyler
e Michelle terão suas vidas viradas pelo avesso por um filho muito desejado por
ambos, ainda que por motivos diferentes.
Playlist
Love Bites — Def Leppard
Sky fall — Adele
Still Don’t Know My Nam e — Labrinth
Middle Of The Night — Elley Duhé
Mountains — Carolina Deslan des ft. Agir
Arcade — Duncan Laurence ft. Fletcher
Froz en — Madonna
It’ll Be Okay — Shawn Mendes
Summertime Sadness — Lana Del Rey
Não Me Perdoei — Victor e Leo
Mais ou Menos Isto — Rita Rocha

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Nota de Autora
Oi, meus amores.
Preparadas para mais uma viagem emocionante comigo? Desta vez, o nosso
destino é Wall Street em Manhattan, o centro financeiro americano. Vamos
conhecer a exclusiva Billionaires’ Row , onde mora o bilionário da Forbes, Tyler
Blackwolf. O sobrenome dele já diz tudo, não é mesmo? Não é à toa que este CEO é
conhecido no mundo financeiro como O Lobo Negro de Wall Street .
Neste livro, vou abordar algumas curiosidades sobre a inseminação
artificial, um mundo que passei a conhecer melhor depois das pesquisas que fiz para
construir o enredo. Garanto que há coisas bem interessantes que acontecem no ramo
e que talvez surpreendam vocês, por isso estejam atentas às notas de rodapé.
O livro tem alguns gatilhos, mas não os descrevi demais, um cuidado que
sempre tenho ao escrever. Há apenas uma menção à depressão e ao suicídio.
Agora, venham comigo conhecer Blackwolf, o lobo negro de Wall Street.
Boa leitura, obrigada por estarem aqui e não se esqueçam de avaliar o livro
no final. Que o coração de vocês fique bem quentinho (e outras partes do corpo
também, rsrs) com esta história de amor. Mais um dos meus amores predestinados,
do jeitinho que eu gosto.
Beijinho!

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Lettie S.J.
Capítulo 1

Nova York
Tyler
— E stou surpreso com a sua vinda ao meu escritório. — Cumprimentei
Gary com um caloroso aperto de mãos e me sentei, observando-o com atenção. —
Você está com uma cara terrível. Aconteceu alguma coisa que eu possa ajudar ?
Gary era meu primo, mas também era o melhor amigo que eu tinha desde a
infância, uma das poucas pessoas que me entendiam. Eu tinha de admitir que me
entender não era algo fácil para os outros, muito menos ser meu amigo, por isso
valorizava ainda mais a nossa amizade.
Estranhei a expressão carregada que ele trazia no rosto e que sequer
conseguia disfarçar.
— Eu precisava falar com você o mais rápido possível e já adianto que não
será um assunto fácil.
— Ser for algum problema que a clínica esteja passando, sabe que é só me
dizer e ajudo.
Gary era médico ginecologista especializado em reprodução humana e
recentemente havia realizado o sonho de sair do hospital onde trabalhava e abrir a
sua própria clínica de reprodução assistida. Eu não duvidava do sucesso da Plan Life
1
, mas talvez ele estivesse precisando de ajuda financeira para um investimento
maior na empresa.
— O problema não é comigo, mas com você, Tyler. Na verdade, é um
problemão.
Recostei-me contra o espaldar da cadeira, olhando-o com seriedade. Eu não
imaginava que problemão seria aquele, considerando que eu tinha tudo da minha
vida muito bem controlado.
— Então diga logo o que é e não faça mais drama. Se há um problema me
envolvendo, quero saber agora do que se trata — falei calmamente, apesar do meu
tom de voz ter soado muito duro. — Você sabe que não gosto de rodeios.
— Não vou fazer rodeios, apenas quis preparar você antes.
— Me preparar para o quê?
Ele suspirou profundamente, contraindo os lábios finos em um gesto tenso
e passando a mão com nervosismo pelos cabelos louros, como se estivesse se
enchendo de coragem para falar. Aguardei, tentando não perder a paciência com
tanto drama. Gary era um excelente amigo e um profissional competente, mas
pecava pelo excesso de sentimentalismo.
— Tem uma mulher que está grávida do seu filho.
Impassível, continuei olhando para ele enquanto a informação entrava no
meu cérebro e era analisada friamente.
Aquele suposto problemão não existia.
— Não sou doido de foder sem preservativo com tantas infecções sexuais
por aí. Nenhuma mulher pode estar grávida de um filho meu.
— Sim, pode — ele afirmou com convicção. — Você não entendeu. Houve
um erro na Fertile Future 2 e engravidaram uma mulher com o seu sêmen que foi
criopreservado 3 .
Desencostei-me lentamente da cadeira e me inclinei na direção dele,
apoiando os antebraços nos joelhos.
— O que foi que você disse?! — Apesar do meu tom de voz controlado, eu
me sentia enfurecer por dentro. — Me conte isso direito.
— É isso mesmo que você ouviu. Fiquei sabendo hoje pela manhã e vim
correndo lhe contar assim que pude. O assunto é tão sério que não quis falar por
telefone.
Inspirei fundo, enchendo o peito de ar para descomprimir a tensão.
— Quero os detalhes.
— Tenho um amigo médico que trabalha na Fertile Future. Ele foi hoje na
minha clínica para falar comigo em caráter confidencial e contou tudo o que
aconteceu. Confundiram o seu nome com o de um doador anônimo que foi escolhido
por uma paciente. Ela foi inseminada com o seu sêmen e não com o dele. Só depois
que tudo estava feito e a mulher já tinha ido para casa foi que perceberam o erro.
Porra! Eu não estou acreditando nesta merda!
— Quando foi isso?
— Há um mês.
— Um mês?! — rugi, cerrando os punhos de raiva. — E até agora ninguém
me disse nada?
— O coordenador do departamento se reuniu com os responsáveis para
decidir o que fazer, mas a decisão sem dúvida foi abafar o caso, já que ninguém
entrou em contato com você. Segundo Philip me contou, esta não foi a primeira vez
que aconteceu um erro desse tipo no departamento, apesar de ter sido a primeira vez
envolvendo um dos clientes VIP 4 . Das vezes anteriores, eles abafaram o caso dentro
do departamento assim que ficaram sabendo, sem passar o ocorrido para a diretoria.
O coordenador quis se preservar no emprego, sem dúvida. Depois que o primeiro
erro é encoberto, a situação se transforma em uma bola de neve e todos os erros
seguintes também precisam ser acobertados. Um escândalo de troca de embriões
mancharia a reputação da clínica e significaria a demissão de muita gente.
O absurdo daquilo me enfureceu ainda mais. Levantei-me da cadeira, sem
acreditar que o meu sêmen foi usado indevidamente por um bando de
incompetentes.
— Como é que você me indica uma clínica merda dessas, Gary? — rugi,
cerrando os punhos de raiva.
Ele se levantou também, fazendo um gesto conciliador com as mãos para
me acalmar.
— Eu nunca soube de nada que desabonasse o trabalho deles, Tyler!
Aquela clínica é considerada a melhor do país. Para mim e para muitos médicos da
área, a Fertile Future sempre foi uma referência, um exemplo de profissionalismo.
Foi por isso que a indiquei anos atrás para você quando me pediu orientação. Jamais
pensei que eles encobrissem erros dessa natureza, o que é extremamente antiético.
— Antiético uma porra! Isso é um crime e eles vão pagar. Hoje mesmo vou
acionar os meus advogados para entrar com um processo gigantesco contra eles.
Quero todos os responsáveis atrás das grades e ver a merda daquela clínica fechada!
— Não faça nada de cabeça quente .
— Você ainda não me viu de cabeça quente, Gary — garanti, mesmo me
sentindo ferver de raiva.
— E nem quero ver — ele desabafou, voltando a se sentar pesadamente na
cadeira. — Estou me sentindo culpado por ter colocado você nesta situação ao
indicar a Fertile Future. Sei que você estava planejando esse filho para depois que
conseguisse incorporar o banco de Colin Barton ao seu, porque antes precisa estar
focado nesta aquisição.
Só de ouvir falar o nome de Colin Barton, a minha raiva aumentou. Há anos
que eu lutava para comprar o Barton Bank 5 e tirar a família Barton do poder. Aquilo
era uma questão de honra para mim, desde que o meu pai havia falecido sem
conseguir destruir o homem que foi o seu maior inimigo durante décadas.
Ambos foram amigos e estudaram até finalizar a faculdade de Finanças,
ocasião em que decidiram abrir uma instituição financeira juntos e seguir como
sócios, consolidando a amizade que já existia. Mas Colin Barton era por demais
ambicioso e um grande cafajeste. Traiu o amigo e se apoderou do banco anos
depois, tirando o meu pai da sociedade sob a alegação de desvio de dinheiro.
Foi humilhante e vergonhoso para o meu pai, que ainda sofreu um outro
duro golpe ao ver a mulher que amava se casando com o seu ex-amigo e pior
inimigo. Margaret Barton o abandonou quando ele perdeu o prestígio, a reputação e,
logicamente, o dinheiro também.
Apesar de o meu pai nunca ter comentado nada comigo, eu desconfiava que
a traição da mulher que ele amava havia sido um golpe mais duro do que a perda
financeira ou a queda de sua reputação. Eu não duvidava que ele tirou forças do ódio
para se reerguer décadas depois, tornando-se mais rico e poderoso do que o homem
que o traiu.
O objetivo principal da vida do meu pai tinha sido tomar de volta tudo o
que Colin Barton havia tirado dele, exceto a mulher. A traição de Margaret Barton o
deixou marcado, a ponto de nunca ter se casado na vida. Quando quis ter um filho,
foi por inseminação artificial.
Ele foi honesto comigo e não escondeu a maneira como fui gerado. Como
nunca tive uma mãe, a ausência dela não me fez falta. Em contrapartida, o
relacionamento que eu tinha com o meu pai era perfeito, sempre fomos verdadeiros
amigos e não apenas pai e filho. Fomos companheiros em tudo e a morte dele aos
sessenta e três anos, vítima de um câncer de pâncreas, deixou-me devastado. Foi a
luta do meu pai contra o câncer que me fez tomar a decisão de congelar o meu
sêmen e garantir que teria espermatozoides saudáveis no futuro, quando decidisse
que estava na hora de ter o meu filho.
Há três anos que eu estava lutando sozinho para adquirir o Barton Bank e
não faltava muito mais para aquilo acontecer. Eu vingaria o meu pai, destruindo de
vez o homem que o traiu.
Depois que aquilo acontecesse, eu teria o meu filho por inseminação
artificial, seguindo o exemplo do homem que foi o meu herói a vida inteira, e não
apenas um pai. Planejei passo a passo aquele filho. Agora, aos trinta e cinco anos, eu
estava preparado para ser um pai igual ao que tive.
Fui criado por uma governanta que eu adorava e que até hoje trabalhava
para mim. O mesmo aconteceria com o meu filho, que teria um pai tão amigo que
compensaria a ausência de uma mãe. As mulheres eram muito traiçoeiras e eu não
queria que nenhuma delas tivesse direitos sobre o meu filho.
Voltei a inspirar profundamente, tentando manter o foco, apesar de me
sentir enfurecido com a Fertile Future. Eu nem queria pensar que o filho que
planejei com tanto cuidado ia nascer antes da hora e de uma mãe que não escolhi, de
uma mulher que nunca vi e que eu nem sabia quem era.
— Quero a ficha completa da mulher que está com o meu filho na barriga.
— Merda! — Gary blasfemou, fazendo uma careta e desviando o olhar do
meu, o que me deixou desconfiado.
— Gary — rosnei em tom ameaçador.
Ele bufou, exasperado.
— Todas as provas foram recolhidas, para não deixar pistas e ninguém
descobrir depois o que aconteceu. Podem até ter sido eliminadas, que é o mais
provável. Este é o procedimento padrão da coordenação, segundo Philip me contou.
Ele só ficou sabendo por que a namorada trabalha no setor responsável e uma amiga
confidenciou para ela ontem o que aconteceu. Mila desabafou com ele quando
estavam em casa. Os dois estão pensando seriamente em sair de lá. Inclusive, Philip
aproveitou para perguntar se ambos poderiam trabalhar comigo na Plan Life — ele
contou, ajeitando nervosamente os óculos sobre o nariz. — Philip e Mila sabem dos
problemas que vão ter caso acusem a clínica sem prova alguma em mãos, por isso
ele me pediu sigilo. Para ser bem sincero, acho que ele só me contou, porque sou seu
primo e quiseram que eu prevenisse você. Vai ser sempre a palavra do coordenador
contra a de qualquer funcionário que se atreva a falar algo fora da clínica, o que
nunca aconteceu até hoje.
Paralisei, incapaz de acreditar que nunca veria o meu filho.
Fil hos da puta!
— Alguém lá dentro deve saber quem foi a mulher.
— Pode ser que sim, mas Philip e Mila agora não têm mais como saber
quem é ela. A única coisa que Philip sabe, é que a mulher era alguém importante,
porque foi atendida no andar VIP da clínica. O seu sêmen foi enviado para o setor
que faz inseminação artificial intrauterina e não as fertilizações in vitro. A mulher
recebeu os espermatozoides direto no útero para que a fecundação acontecesse lá
dentro — ele me explicou os detalhes técnicos.
— Então, ela é a mãe.
— Sim, é. Se fosse uma fertilização in vitro, o óvulo poderia ser de
qualquer outra mulher, já que a fecundação acontece em laboratório e só precisamos
de um espermatozoide e de um óvulo, seja de quem for. A tal mulher poderia até ser
apenas uma portadora de gestação, a conhecida barriga de aluguel, que receberia
dentro do útero o embrião já desenvolvido em laboratório de um casal qualquer, por
exemplo. Só que este não foi o caso. A mulher que está há um mês grávida do seu
filho, recebeu os seus melhores espermatozoides para que fecundassem um óvulo
dela, entendeu?
Porra! A mulher é a mãe do meu filho e eu nem sei como ela é!
— Há alguma chance de essa fecundação não ter acontecido e ela não estar
com o meu filho na barriga?
— Sim, claro que há uma chance, mas eu não contaria com isso se fosse
você. A mulher pode, inclusive, engravidar de gêmeos.
— Eu não estou conseguindo acreditar nesta merda! — estourei, afastando-
me de Gary antes que descontasse no meu primo a raiva que estava sentindo.
Eu preciso encontrar essa mulher a todo custo!
Andei durante um bom tempo em frente à parede de vidro do meu
escritório em Manhattan, pensando nas implicações do que havia acontecido. Afinal,
aquele era mesmo um problemão, como Gary havia dito.
Minutos depois, virei-me para ele, que aguardava pacientemente na cadeira.
— O funcionário que descobriu o erro deve saber quem é ela — falei,
convicto. — Converse com o seu amigo e peça a ele que convença a namorada a
conseguir essa informação para mim. Eu pago o quanto for preciso para descobrir
quem é a mulher que está com o meu filho.
Capítulo 2
Michelle
V oltei a arrumar o porta-retrato com a foto da minha mãe sobre o console
da lareira do apartamento que eu havia comprado meses atrás, controlando as
lágrimas que teimavam em cair. Não havia feito nem um ano da morte dela, mas eu
ainda não tinha conseguido superar aquela perda.
Na foto, a minha mãe sorria ternamente ao meu lado, nós duas abraçadas e
felizes em umas férias que tiramos em Paris. Apesar dos sérios problemas que
tínhamos em casa, a felicidade era tanta quando estávamos juntas que nos
esquecíamos de tudo.
Como sinto sua falta, mãe!
Depois da morte dela, permanecer na mansão fria da família Barton se
tornou algo impossível para mim. Ainda passei alguns meses tentando, até desistir.
Depois, decidi lutar para conseguir sair de lá, mesmo contra a vontade do meu pai.
Graças a Deus, consegui.
Só fiquei triste em deixar o meu irmão para trás, que lidaria sozinho com a
personalidade despótica do poderoso Colin Barton. Andrew era dez anos mais velho
do que eu. Entre nós dois, a minha mãe teve um aborto espontâneo bem antes de eu
nascer.
O meu irmão aguentava a custo o nosso pai. Infelizmente, por ser o único
filho homem, tinha de cumprir o papel de herdeiro interessado nos negócios da
família, quando eu sabia que a verdadeira vocação dele era a pintura, igual a mim.
Eu achava que Andrew possuía um talento inquestionável, algo que nunca consegui
alcançar com os quadros que pintava. Como nunca pude me especializar, a pintura
acabou se transformando em uma fuga para mim, uma terapia, mas para ele era uma
necessidade da alma. Contudo, como dizer aquilo para um pai castrador que o
forçava a ser um executivo de terno e gravata?
Suspirei com tristeza, afastando-me da lareira e observando a decoração
que fiz no meu novo apartamento. Ele era minúsculo, se comparado com a
grandiosidade da mansão Barton, mas era meu. Eu o havia comprado graças à minha
mãe, que sabiamente deixou um bom dinheiro para mim guardado em uma conta
secreta que abriu no BW Bank 6 , um banco concorrente do Barton Bank, que era o
banco do meu pai. Ela sabia que apenas lá os tentáculos do marido não a
alcançariam.
Se eu fosse depender do dinheiro do meu pai para sair de casa, seria
obrigada a viver eternamente presa lá. Fui criada por ele para ser uma “esposa
exemplar” e não uma mulher dona da própria vida, com uma carreira e ambições
próprias. Se não fosse pela minha mãe, a minha vida teria sido sufocante.
Anos sendo apenas a “filha de Colin Barton” me deixou despreparada para
o mundo. Eu não tinha uma profissão definida e o dinheiro que a minha mãe deixou
não duraria para sempre. Precisaria gerir muito bem cada centavo, pois pretendia
que sobrasse o suficiente para terminar os estudos depois que o meu filho nascesse.
Eu tinha planos de me formar em artes plásticas, algo que sempre quis fazer e não
pude.
Era preciso encontrar uma maneira de sobreviver no futuro, ainda mais com
a chegada do meu filho.
Deitei-me no sofá da sala com um sorriso de satisfação, acariciando a
minha barriga.
— Em alguns meses estaremos juntos, fofinho. Lá do céu onde a vovó está,
tenho certeza de que ela está muito feliz com a sua chegada.
Aquela gravidez foi muito bem pensada durante o ano que passei de luto.
Uma decisão que tomei ao me lembrar da história de vida da minha mãe. Como
sempre fomos amigas e confidentes, ela havia me contado em segredo sobre o
namorado por quem foi apaixonada na adolescência e a quem teve de abandonar
para se casar com o meu pai.
Igual a mim, a minha mãe foi criada para ser a esposa exemplar de um
bem-sucedido homem de negócios e tinha o futuro garantido ao lado do homem que
amava. Até o dia em que ele foi acusado de fraude financeira e o meu avô a proibiu
de o ver novamente. O meu pai, que sempre esteve interessado nela, falou com o
meu avô e a pediu em casamento. Obviamente que foi aprovado pela família inteira
e ela foi obrigada a se casar.
— Eu me arrependi muito de não ter lutado para ficar com ele quando o seu
avô me forçou a me casar com o seu pai — ela havia me confidenciado em uma
ocasião em que estávamos sozinhas no meu quarto. — Eu era virgem naquela época.
Em vez de ter tido a minha primeira vez com o homem que amava, tive com o seu
pai depois do casamento. Quando chegar a sua vez, não deixe que ninguém a force a
aceitar um homem que não ame, filha. Só se case por amor.
— Até hoje não conheci ninguém que me interessasse, mãe. Deve ter algo
de errado comigo.
Ela riu, meneando a cabeça e me olhando com amor.
— Não tem nada de errado com você, fofinha. Os homens que conheceu até
hoje é que foram os errados. No tempo certo, Deus vai colocar no seu caminho o
homem ideal.
O problema era que o meu homem ideal parecia não existir. Eu já estava
com vinte e sete anos e nunca tinha me apaixonado na vida. Pretendentes não
faltavam, mas eram todos homens de negócios iguais ao meu pai, que só queriam
uma esposa rica para aumentar ainda mais a própria riqueza.
A última coisa que eu queria, era que o meu pai começasse a me pressionar
para aceitar a proposta de algum pretendente indesejado, como Nicholas Brooks, o
homem considerado por ele como o genro perfeito. Enquanto a minha mãe estava
viva, nós duas conseguimos evitar aquela tragédia, mas depois da morte dela, o meu
pai não esperou mais do que seis meses para começar a falar de casamento para
mim.
Antes que a pressão fosse insustentável, encontrei aquele apartamento com
a ajuda de Andrew e o comprei com parte do dinheiro que a minha mãe havia
deixado. Na semana seguinte, comuniquei a minha saída de casa.
— Você ficou louca?! — o meu pai havia gritado, enfurecido. — Não vai
sair de casa e ponto final!
— Sou livre para sair — lembrei-o o mais calmamente possível. — O
senhor vai me prender aqui?
— Claro que ele não vai — Andrew afirmou, defendendo-me e deixando
evidente que me apoiava. — Você já é maior de idade e pode ir morar onde quiser.
O meu pai ficou vermelho de raiva.
— E vai se sustentar com qual dinheiro? — perguntou, usando o seu poder
financeiro sobre mim. — Não vou lhe dar nem um centavo, muito menos sustentar
você fora de casa.
Eu sabia daquilo e agradeci mentalmente à minha mãe por ter pensado em
mim ao abrir aquela conta secreta.
— Tenho algumas economias.
— E elas vão durar a vida inteira? — Ele foi sarcástico no comentário.
— Trabalharei para me sustentar.
A gargalhada dele se espalhou pela ampla sala de jantar onde nós três
fazíamos a refeição.
— Você não sabe fazer nada! Vai trabalhar em quê?
— Nunca é tarde para aprender a fazer algo e estou disposta a tentar.
— Garanto que vai precisar de muita disposição para servir café em bares e
restaurantes a madrugada inteira.
Não comentei nada na ocasião nem ele insistiu no assunto e troquei um
olhar de gratidão com Andrew por me dar apoio. No dia seguinte saí definitivamente
de casa, esperando não voltar nunca mais.
Agora, deitada na sala aconchegante do meu apartamento, eu me sentia
livre e feliz para viver do jeito que quisesse, sem dar satisfações a ninguém, muito
menos a um homem dominador como o meu pai. Foi por causa daquele trauma
paterno que decidi ser mãe usando o sêmen de um doador anônimo. A última coisa
que eu queria para o meu filho ou filha, era ter um pai igual ao meu, sem
sentimentos, focado apenas no trabalho, frio, calculista e incapaz de amar. Andrew e
eu sabíamos muito bem como era conviver com alguém assim. Para mim, vinte e
sete anos de opressão tinha sido o suficiente. Demais até.
O meu celular tocou em cima da mesa de centro e estiquei o braço para
pegá-lo.
— Bom dia, senhorita Smith — uma mulher me cumprimentou quando
atendi, chamando-me pelo sobrenome de solteira da minha mãe. — Sou Melanie
Bishop e trabalho na Clínica Fertile Future. Estou ligando para marcar uma consulta
com a doutora Lisa Brown.
Lisa Brown era a ginecologista que havia feito o procedimento da minha
inseminação e eu me lembrava de termos nos despedido definitivamente da última
vez. Eu tinha a minha própria ginecologista e pretendia ser acompanhada por ela
durante a gravidez, dispensando os serviços da Fertile Future, fato que deixei bem
claro para a doutora Brown. Era estranho que agora estivessem me ligando para
marcar uma consulta com ela.
— Não me lembro da necessidade de uma nova consulta. Foi a doutora
quem pediu?
— Sim, foi ela mesma. Trata-se apenas de um novo procedimento que
estamos adotando, para ter a certeza de que está tudo bem. A senhorita Smith já
confirmou a gravidez?
Aquela funcionária só podia ser novata para estar perguntando-me aquilo.
Eu mesma já havia confirmado com a médica sobre a minha gravidez, informando
que a inseminação tinha sido um sucesso.
— Posso falar com a doutora? — pedi, sem disposição alguma de conversar
com uma atendente sobre um assunto que eu considerava confidencial e que só
deveria ser tratado entre a médica e eu.
Não foi à toa que fiz questão de preencher a ficha na clínica com o
sobrenome de solteira da minha mãe, em vez de colocar o conhecido sobrenome do
meu pai. Apenas a médica sabia quem eu era, para quem confidenciei a minha
verdadeira identidade. Seria preciso alguém investigar os meus documentos
registrados na ficha para comprovar que faltava o sobrenome principal.
— A doutora Brown não se encontra no momento. Temos um horário pela
manhã e outro à tarde, caso a senhorita possa comparecer amanhã mesmo.
Pareceu-me cedo demais. Na verdade, rápido demais.
Será que descobriram algo de errado com o sêmen que inseriram em mim,
tipo u ma anomalia?
De repente, fiquei insegura e coloquei a mão sobre a barriga.
Quando fui à clínica pela primeira vez e tive uma consulta com a médica,
uma das coisas que mais gostei foi poder escolher as características físicas do
doador anônimo que seria o pai do meu filho. Acabei por me divertir com a
experiência, escolhendo os atributos físicos do homem dos meus sonhos, como se
estivesse em uma agência de namoro e precisasse descrever o tipo de homem que eu
queria.
Preenchi a ficha colocando uma altura mediana, cabelos louros e olhos
claros iguais aos meus, além de um corpo magro. Eu não gostava de homens
truculentos, barbados e intimidantes. Esses, eu dispensava! Quase acrescentei que
ele tinha de ser carinhoso, simpático, sorridente e de bem com a vida, mas a clínica
não estava interessada na personalidade do homem ideal que eu queria para ser o pai
do meu filho, ou “o doador”, como o chamavam.
Agora, eu estava preocupadíssima que “o doador” não tivesse um
espermatozoide tão perfeito como me disseram e resolvi marcar o mais cedo
possível.
— Pode ser amanhã no primeiro horário livre que a doutora tiver.
— Às nove horas da manhã.
— Para mim está bom. Pode marcar.
Capítulo 3
Michelle
N ão dormi bem aquela noite e me acordei na manhã seguinte sentindo-me
estranha, levemente apreensiva com a consulta marcada às pressas pela doutora
Brown. Bem antes do horário marcado, eu já estava entrando na clínica e indo para o
elevador privativo do andar VIP onde ela trabalhava.
Tentei controlar o nervosismo enquanto parava atrás de quatro homens
engravatados que também aguardavam a chegada do elevador. Um deles olhou para
mim assim que me aproximei, parecendo muito atento ao que acontecia ao nosso
redor. Acostumada com aquela atitude e com a aparência truculenta dele,
identifiquei logo que se tratava de um segurança.
Ele pareceu satisfeito ao ver que eu era apenas uma mulher inofensiva e
voltou a olhar para a frente.
Observei-os discretamente, identificando de imediato a situação.
Dois deles eram seguranças. Um dos homens que estavam no centro
segurava uma pasta e consultava o celular, parecendo um executivo qualquer.
Talvez, um advogado. A minha atenção foi logo desviada para o homem de porte
altivo no meio deles, que, sem dúvida alguma, era o mais importante dos quatro.
Usava um terno azul marinho de alta qualidade, impecável e que favorecia o porte
poderoso. De costas, pouco pude ver além dos ombros largos em um corpo
aparentemente tão forte quanto o dos seguranças que o ladeavam. A postura altiva e
arrogante era algo que eu conhecia muito bem, típica de quem tinha excessivo poder
nas mãos, como o meu pai, e foi impossível não torcer a boca com desprezo com
aquela semelhança.
Mais um do no do mundo!
O elevador chegou e o outro segurança se adiantou para garantir a porta
aberta. O “dono do mundo” foi o primeiro a entrar no elevador depois que um casal
desceu, ficando de frente para mim. A expressão dura e rígida era salientada pelo
formato quadrado do rosto de traços fortes, que a barba escura e cerrada tornava
mais anguloso ainda. Nossos olhos se cruzaram e o dele era tão frio e seco quanto o
do meu pai, se não fosse pior. Fiquei com a impressão de não haver alma ali dentro,
apenas uma máquina programada para atingir um objetivo sombrio. Tive a certeza
de que o homem era mais perigoso do que os dois seguranças que o protegiam,
parecendo muito mais um assassino sem coração do que um alto executivo.
Um calafrio de medo percorreu o meu corpo ao dar de cara com aquela
energia macabra.
Que horror!
Permaneci parada, deixando que os quatro seguissem sozinhos. Eu estava
adiantada na consulta e tinha tempo. Podia muito bem esperar o elevador descer,
para depois subir sozinha, sem ser obrigada a seguir com aquele homem tenebroso.
— Pode entrar, senhorita — o segurança que segurava a porta convidou
educadamente.
— Vou na próxima vez, obrigada.
Ele não insistiu, nem ninguém se opôs, obviamente. A porta se fechou
lentamente e a última coisa que saiu da minha linha de visão foi o olhar gélido e o
rosto rigidamente impassível daquele homem.
Assim que ele desapareceu totalmente dentro do elevador, soltei a
respiração que havia prendido e suspirei de alívio. Só não fiz o sinal da cruz porque
seria um exagero no local onde eu estava.
Foi com curiosidade que fiquei olhando os números dos andares se
acendendo à medida que o elevador subia, apostando que ele seguiria para o último
andar, onde ficava a diretoria da clínica. Quando parou no décimo quinto,
comprovei a minha teoria.
Será que é um do s diretores?
Só de imaginar aquela possibilidade, já desgostei da clínica. Um homem
com aquela energia macabra não podia ser o responsável por trazer vidas ao mundo.
Ele parecia mais do tipo que tirava vidas.
Não demorou para ser a minha vez de entrar no elevador junto com dois
casais. A felicidade que emanava deles com a possibilidade de ter filhos limpou
rapidamente a energia anterior e me esqueci do encontro sinistro.
Assim que desci no meu andar, aproximei-me do balcão de atendimento da
recepção.
— Tenho uma consulta marcada com a doutora Lisa Brown.
A recepcionista, cujo crachá dizia se chamar Elizabeth Malory, olhou para
mim com interesse.
— É a senhorita Michelle Smith?
— Sim, sou eu mesma.
Ela sorriu, mas foi um sorriso que não chegou aos olhos e que não me
passou confiança. Aquilo me incomodou e pensei se estava demasiadamente
sensível por causa da gravidez. Primeiro, o homem macabro. Agora, a recepcionista
desagradável.
A mulher se levantou da cadeira no mesmo instante.
— Acompanhe-me, por favor.
Inspirei fundo e fui atrás dela, sendo conduzida para a sala de um dos
consultórios médicos. Não era a mesma sala onde fui atendida das vezes anteriores,
nem a médica que me aguardava lá era a doutora Lisa Brown.
— Bom dia, senhorita Smith — a médica estranha me cumprimentou com
um sorriso que também não achei ser sincero, enquanto a atendente saía da sala e
fechava a porta do consultório. — Sou a doutora Chelsea Anderson, a responsável
por cuidar do seu caso a partir de hoje. Sente-se, por favor.
Sentei-me, completamente aturdida.
— Onde está a doutora Lisa? Pensei que a minha consulta seria com ela.
— A doutora Lisa Brown já não trabalha mais na clínica. Todas as
pacientes dela passaram para mim, por isso a chamei aqui hoje, para poder examiná-
la e ter a minha própria opinião sobre como anda o seu tratamento de gravidez.
Não gostei nada daquilo.
— Não entendo por que não me disseram isso ontem quando marcaram a
consulta. Vim achando que teria uma consulta com a minha médica.
— Eu sou a sua médica — a mulher afirmou com uma voz que achei
antipática, aumentando o meu desagrado. — Quem lhe ligou ontem foi o setor de
marcação de consultas. Provavelmente a atendente não sabia que a doutora Lisa já
não trabalhava mais na clínica.
Se havia uma coisa fundamental entre médico e paciente era a confiança, e
eu não sentia confiança alguma naquela médica. Só não a dispensei e saí
imediatamente da sala porque antes precisava descobrir o motivo real daquela
consulta. Ainda estava na minha cabeça a hipótese de o sêmen do doador anônimo
ter algum problema.
— Sim, claro. É compreensível esse engano. Pode iniciar a consulta,
doutora.
Ela pareceu satisfeita.
— Vou pedir que tire a roupa na sala ao lado e coloque uma bata para que
eu possa fazer um exame ginecológico completo. Quero ver as condições da sua
gravidez.
Achei que íamos apenas conversar sobre o procedimento a que me submeti
e como eu me sentia, mas não fazer um exame físico. Eu jamais colocaria o meu
corpo nas mãos de uma médica com quem antipatizei de cara.
— Pensei que fôssemos apenas conversar.
A doutora Chelsea me olhou com um toque de ironia.
— Preciso ver como está o desenvolvimento da gravidez e não posso fazer
isso só com uma conversa — ela falou com autoridade de médica, como se quisesse
me forçar a atender à sua exigência.
O que ela disse tinha toda a lógica, mas o desconforto que eu sentia
também tinha muita lógica para mim.
— Tenho a minha própria ginecologista. Ela já está acompanhando a minha
gravidez e a doutora Lisa sabia disso. Leia a minha ficha com atenção, doutora —
informei calmamente, sem me deixar intimidar. — Se houve algum problema com o
esperma do doador anônimo que escolhi, pode me dizer. Se quiser saber como me
sinto fisicamente, também direi, mas que fique bem claro que não pretendo fazer
nenhum exame ginecológico aqui na clínica. Nada no meu contrato com a Fertile
Future me obriga a isso.
Usei o tom de voz de herdeira Barton, que era o único que aquela médica
parecia entender.
Ela sorriu mais uma vez, no que deveria ser um sorriso de desculpas, mas
que novamente não chegou aos olhos.
— Eu entendo tudo isso. O que estamos querendo é apenas ter a certeza de
que a inseminação foi um sucesso.
— Se não há nada de errado com o sêmen do doador anônimo, posso
garantir que foi um sucesso.
— Impossível haver algo de errado com o sêmen, senhorita Smith. O lema
da nossa clínica é o profissionalismo e a excelência. Só os melhores doadores são
aceitos. Isso é inquestionável.
— Foi exatamente por isso que procurei a Fertile Future. Por ser a melhor
clínica do país e ter profissionais humanizados — alfinetei-a, que de humanizada
não tinha nada.
Foi cômica a tentativa que ela fez de parecer simpática ao sorrir mais uma
vez.
— Só um minuto, por favor — ela pediu, pegando o telefone e falando com
a atendente. — Elizabeth, traga um café para mim e um chá para a senhorita Smith.
Hã?!
A doutora Chelsea desligou e pegou imediatamente a minha ficha, agindo
normalmente.
— Conte-me então como está se sentindo. Tem tido sintomas de gravidez,
como enjoos, dores nos seios, sonolência?
Nem cheguei a responder. A porta se abriu e a eficiente Elizabeth entrou
com uma rapidez impressionante, colocando uma bandeja pronta sobre a mesa.
As duas trocaram um olhar.
— Obrigada, Elizabeth — a médica agradeceu, olhando depois para mim.
— Sirva-se, senhorita Smith. Um chá é sempre melhor para uma gestante do que um
café.
Ela pegou a própria xícara e olhei para a minha, onde um chá de cor
amarelada me aguardava. Senti-me enjoada só de o olhar, quanto mais de beber.
— Agradeço, mas vou negar. Não aprecio nenhum tipo de chá.
— Sim, claro. — A médica voltou a olhar para a atendente, que aguardava
ao lado da mesa. — Pode levar.
Elizabeth pegou a bandeja e saiu, enquanto eu tentava controlar a sensação
ruim que me dominou. Podia parecer um absurdo, considerando que eu estava na
clínica mais renomada do país em matéria de reprodução humana assistida, mas
nunca me senti tão ameaçada na vida.
Devo estar mesmo muito sensível por causa da gravidez ou então estou
ficand o paranoica!
Aquele não era um dia bom para estar ali. Talvez, não fosse um dia bom
nem para sair de casa.
Decidida, levantei-me.
— Peço desculpas pela indelicadeza, mas preciso ir, doutora. Tenho um
outro compromisso inadiável.
Ela se levantou também.
— Mas ainda estamos no meio da consulta!
— Como foi uma consulta marcada às pressas pela clínica, acabei por
encaixar esse horário na minha agenda. Pensei que fosse algo mais rápido, mas
agora preciso mesmo ir.
Não dei mais satisfação alguma e fui para a porta, abrindo-a e saindo para o
corredor que levava à recepção. Passei por Elizabeth sem dizer absolutamente nada,
mas notei como ela se levantou abruptamente quando me viu indo embora.
Cada vez mais incomodada com aquelas duas, fui para o elevador, decidida
a nunca mais colocar os pés naquela clínica.
Capítulo 4
Tyler
— N osso profissionalismo é inquestionável — o doutor Harrison Davis
disse com um ar chocado. — Isso que está me dizendo é algo inadmissível na Fertile
Future, senhor Blackwolf.
Estávamos na sala da diretoria da clínica, para onde me desloquei naquela
manhã com a intenção de resolver pessoalmente o problema causado pela
incompetência dos funcionários da Fertile Future. A namorada de Philip não havia
conseguido descobrir nada sobre a “mãe” do meu filho, apenas que se chamava
Michelle Smith, um nome que não me dizia nada. Havia uma infinidade de Michelle
Smith no país.
— Inadmissível foi o erro que cometeram. O profissionalismo do qual fala
não existe. Quero saber agora mesmo quem é a mulher que está com o meu filho!
Ele meneou a cabeça em um gesto de incredulidade, os olhos arregalados
refletindo uma mistura de surpresa e de medo das consequências que um erro
daquele tamanho acarretaria para a reputação da clínica.
O doutor Harrison Davis não era apenas o diretor presidente da Fertile
Future, era também o dono da clínica, um profissional respeitadíssimo no mundo
pelo trabalho que desenvolvia na reprodução humana. Foi ele quem me atendeu
pessoalmente quando procurei a clínica para congelar o meu sêmen e ter a segurança
de que poderia ter um filho saudável a qualquer altura da minha vida. Nunca pensei
que estava colocando o destino do meu filho nas mãos de um profissional que sequer
imaginava os erros que aconteciam debaixo do próprio nariz.
— Eu preciso primeiro investigar isso que está me dizendo, para só depois
conseguir alguma informação concreta que possa lhe passar. Entenda que não estou
duvidando do que me disse, mas isso é um absurdo sob o meu ponto de vista. Não
consigo acreditar que um erro grotesco dessa natureza, imperdoável a nível humano,
tenha acontecido na minha clínica.
— Tenha acontecido, não. Esteja acontecendo por vezes seguidas. Pelo que
me informaram, esta não foi a primeira vez.
— O que é mais inadmissível ainda! Não fui comunicado de nada disso e
garanto que os responsáveis vão ser punidos. Só espero que entenda que não tenho
como lhe dar uma resposta neste exato momento sobre a mulher que foi inseminada
com o seu sêmen.
— Escute bem, doutor Harrison — praticamente rosnei para ele,
controlando a vontade de me levantar da cadeira e o agarrar pelo colarinho,
arrastando-o por cima da mesa até onde eu estava. — Tem uma mulher lá fora com
o meu filho na barriga e quero saber quem é ela. Quero para ontem a ficha completa
dessa mulher nas minhas mãos ou vou meter um processo milionário contra a clínica
que vai deixar vocês de portas fechadas. Todos os membros da diretoria e os outros
responsáveis vão dar consulta no presídio onde estarão cumprindo pena, que fique
bem claro.
Ele abriu mais os olhos diante da minha ameaça e os fixou em Ryan Fisher,
o meu diretor jurídico, que acompanhava tudo sentado na cadeira ao meu lado. O
médico parecia estar pedindo que o ajudasse a me acalmar, o que não aconteceu.
— No mínimo, constará do processo o erro profissional, a negligência, o
descaso ao lidar com a reprodução de vidas humanas, o descumprimento de contrato
e a eliminação de provas — Ryan disse com severidade, sem amenizar nem um
pouco a situação. — Vamos acrescentar também a publicidade enganosa, já que a
clínica tem como lema um profissionalismo inquestionável. Sem esquecer os danos
morais e emocionais do meu cliente.
O doutor Harrison ficou pálido diante da seriedade da situação, mas não
tive piedade alguma com ele.
— Encontre o meu filho imediatamente! — exigi, deixando bem claro que
iria até as últimas consequências para o encontrar.
— Preciso de um tempo para apurar os fatos.
— Tem uma hora para fazer isso. O meu advogado e um dos investigadores
da minha equipe ficarão aqui aguardando até que lhe passe as informações. —
Levantei-me, sentindo-me frustrado e enraivecido. — Agradeça por não ser a polícia
a investigar o caso.
Ele se levantou também, a fisionomia refletindo indignação.
— Tenho todo o interesse em investigar o que está acontecendo na minha
clínica e não vou deixar sem punição os responsáveis. Peço apenas que não envolva
a polícia nisso. Eu mesmo vou apurar os fatos e descobrir se realmente houve outros
erros além desse. Entenda que não estou desacreditando do que me disse. Eu jamais
faria isso. Ainda que fosse outro cliente que me procurasse com uma acusação dessa
gravidade, a minha atitude seria a mesma — ele garantiu e senti sinceridade no que
disse. — Estou tão enraivecido quanto você, Blackwolf. Dediquei a minha vida
inteira ao trabalho e a Fertile Future é o reflexo desta dedicação. Não admito que
ninguém destrua o que construí com esforço, nem manche a minha reputação.
Eu sabia muito bem o que era aquilo. O meu pai também havia construído
com esforço o próprio nome e depois o viu ser jogado na lama, tendo a reputação
destruída por Colin Barton. Apesar de ele ter conseguido se reerguer décadas depois,
não foi um processo nada fácil, ainda mais no ramo das finanças. Uma boa parte dos
investidores mais tradicionais continuaram sem fazer negócios com ele. A sorte
foram os novos investidores, um pessoal mais jovem e arrojado que acreditou no que
ele ofereceu, arriscando.
O meu pai costumava dizer que só havia conseguido por minha causa, uma
vez que eu era tão jovem e arrojado quanto a nova geração de investidores que tinha
surgido no mundo financeiro. Segundo dizia, se não fosse eu, ele continuaria sendo
apenas um fraudador, mas eu não acreditava naquilo. Eu até podia ter trazido
credibilidade para os nossos negócios, mas o meu pai sempre foi dono de uma mente
brilhante.
Olhando agora para o doutor Harrison, eu tinha noção de que não podia
tirar dele o direito de defesa do próprio nome.
— Se quer salvar a Fertile Future de um escândalo sem precedentes,
investigue a fundo o que aconteceu e me informe tudo sobre a mulher que foi
inseminada com o meu sêmen.
— Farei isso, fique tranquilo.
Ele estendeu a mão e apertei-a com firmeza, selando um acordo entre nós.
Saí da diretoria deixando Ryan e um dos investigadores da minha equipe
acompanhando tudo e fui para o elevador com Miles, o meu homem de confiança.
Entramos nele e consultei o relógio para ver quanto tempo ainda teria até chegar à
reunião que me aguardava no escritório.
Faltava ainda cerca de duas horas, tempo suficiente para eu ficar sozinho e
me preparar para os contratos que ia assinar.
O elevador parou em um dos andares e recuei para o fundo, enquanto Miles
permanecia atento à abertura da porta. Quem entrou foi a mesma mulher que estava
no térreo à espera do elevador e que havia se negado a subir em nossa companhia.
Na ocasião, senti o olhar crítico dela sobre mim, o que em nada me abalou.
Pensei que ela faria o mesmo e se negaria mais uma vez a seguir no
elevador em minha companhia, mas me enganei. A mulher entrou às pressas,
esbaforida, como se estivesse com urgência de ir embora. Atrás dela veio uma
atendente da clínica, que prontamente apertou o botão que mantinha a porta aberta.
— A doutora ainda precisa falar com a senhorita. — A atendente se calou
subitamente quando me viu parado atrás da mulher.
Eu não tive dúvida de que ela me reconheceu de algum lugar e fiquei
pensando de onde seria. Exceto se fosse uma leitora assídua das páginas de
economia e de finanças dos jornais e revistas, não havia como me reconhecer em um
rápido olhar.
— Estou atrasada para uma reunião e já informei isso à doutora — a mulher
respondeu, desviando a minha atenção.
Ela usou um tom de voz bastante firme, mas notei a atitude corporal
defensiva e tensa.
— Será só por mais alguns minutos, senhorita. É importante — a atendente
insistiu com cautela, o olhar fixo na mulher e não em mim.
— Infelizmente não posso.
— Mas...
— Desde quando os clientes são forçados a alguma coisa dentro desta
clínica? — perguntei, perdendo a paciência de vez com tudo o que dizia respeito à
Fertile Future.
A insistência da atendente era abusiva, quando estava mais do que óbvio
que a cliente em questão não queria voltar.
A atendente, cujo nome no crachá era Elizabeth Malory, voltou a me olhar.
Havia respeito nos olhos dela, mas também medo.
— Apenas cumpro ordens, senhor.
— Então a ordem está dada. Retire-se!
Ela entreabriu a boca, chocada com a minha grosseria, mas obedeceu no
instante seguinte.
— Sim, senhor.
Soltou o botão que mantinha o elevador aberto e se afastou. Observei-a
enquanto as portas se fechavam. Ela apertava os lábios tensamente, sem conseguir
disfarçar a frustração ao olhar para a mulher à minha frente, que soltou um longo
suspiro de alívio quando o elevador começou a descer.
Ela se virou para trás.
— Obrigada por... — Hesitou quando finalmente identificou quem eu era
—, por me ajudar.
A mulher devia estar mesmo muito perturbada para não ter notado com
quem dividia o elevador.
— Não há de quê — respondi com seriedade, ciente de que ela antipatizava
comigo.
Eu não ia fingir agora que não havia percebido a antipatia imediata que ela
sentiu assim que me viu entrando no elevador. Sem dúvida, julgou-me pela
aparência.
A mulher voltou a se virar para a frente e aprumou o corpo com rigidez,
provavelmente se sentindo mal agora que sabia com quem compartilhava o elevador.
Observei-a friamente enquanto descíamos. Ela era excessivamente magra e
aquela magreza afinava o rosto de linhas harmoniosas, o que lhe dava uma aparência
frágil e por demais delicada. Contudo, os olhos azuis reprovadores mostravam que a
delicadeza era apenas física, evidenciando uma personalidade forte e, talvez, difícil
de lidar. Os cabelos louros estavam soltos e iam até o meio das costas rigidamente
tensas, onde alguns cachos se formavam.
Notei a bolsa de marca que ela usava e as roupas de qualidade que vestia. A
aparência geral era de uma dondoca fútil da sociedade novaiorquina, sem nenhum
objetivo na vida que não fosse orbitar nos eventos sociais.
Chegamos ao térreo em total silêncio e Miles abriu a porta, deixando que
ela saísse primeiro.
Observei-a andar apressadamente para fora da clínica, como se estivesse
fugindo de alguma coisa. Só então me dei conta de que podia ter ajudado uma
criminosa disfarçada de socialite a escapar impunemente.
Vindo dessa clínica, tudo é possível!
Capítulo 5
Tyler
N o meio daquela tarde, Ryan Fisher me ligou da Fertile Future com uma
excelente notícia.
— Já tenho as informações comigo, senhor. Chegarei em trinta minutos no
escritório.
Excelente!
Ele sabia que o assunto era confidencial e que só deveria ser tratado
pessoalmente.
— Venha direto à minha sala. Estou aguardando.
— Sim, senhor.
Agora eu poderia encontrar a mulher que estava com o meu filho.
Se havia algo que aprendi ao longo da vida, era saber aguardar o momento
certo de conquistar cada um dos objetivos a que me propus alcançar. Apesar de
aquele assunto ter tirado parte da minha concentração desde que conversei com
Gary, agora ele estava resolvido. Faltava apenas falar com a mulher e pagar para que
ela fosse apenas a barriga de aluguel do meu filho, desaparecendo depois das nossas
vidas para sempre.
Trinta minutos depois, eu já estava com a ficha dela em mãos, junto com
um relatório que continha outras informações que o próprio Ryan havia investigado
no caminho de volta para o escritório.
Incrédulo, mas principalmente enfurecido, apesar de não demonstrar o que
sentia, olhei-o sentado à minha frente. Com um rosto redondo, cabelos ruivos e pele
cheia de sardas, Ryan empurrou os óculos sobre o nariz, sustentando o meu olhar.
— É isso mesmo que está aí, senhor. Ela é filha de Colin Barton — afirmou
com resignação, mesmo eu não tendo perguntado nada.
Controlei-me para não amassar os papéis que segurava, sem acreditar que o
meu filho teria como avô o meu pior inimigo. Eu sabia que Colin Barton tinha um
casal de filhos, mas nunca me preocupei com a garota, apenas com Andrew Barton,
o filho mais velho que trabalhava com o pai.
— Tem certeza disso? Essa Michelle Smith é mesmo a filha dele?
— Ela usou o sobrenome de solteira da mãe, omitindo o do pai,
provavelmente para não ser identificada, mas é ela. Os números dos documentos que
informou na ficha são realmente os dela e confirmei se tratar de Michelle Smith
Barton.
— Obrigado pelo excelente trabalho, Ryan. Agora pode ir — dispensei-o
em um tom de voz neutro e controlado.
— O que faço com relação à Fertile Future? Avanço com o processo?
— Avance. Quero todos os responsáveis atrás das grades, custe o que
custar.
Agora que eu sabia a identidade da mulher, não deixaria mesmo ninguém
impune. Todos os meus planos meticulosamente arquitetados durante anos estavam
em risco de rutura por causa da negligência de profissionais incompetentes.
Assim que Ryan saiu e fiquei sozinho, respirei profundamente várias vezes
para me acalmar, cerrando os punhos com força no relatório a ponto de sentir os
músculos dos braços se retesarem. Amassei o relatório lentamente, querendo que
fosse o pescoço de Colin Barton que estivesse agora em minhas mãos e não aqueles
papéis.
Controlar com vontade férrea a raiva que me consumia não estava sendo
fácil, mas eu não ia perder o juízo justamente agora. Precisava manter o foco, ser
frio, racional, pensar com clareza.
Aquele filho significava muito para mim. Eu o amei antes mesmo que fosse
gerado, certo de que teria com ele o mesmo companheirismo e amizade que tive
com o meu pai. Ele compartilharia comigo o mesmo objetivo de vida, recebendo
uma educação igual a que tive e herdando depois toda a minha fortuna. No tempo
certo, outros filhos ou filhas viriam através do mesmo método de reprodução
assistida.
As mulheres eram maravilhosas como amantes, mas não como esposas ou
como mães dos meus filhos.
Saber que a tal Michelle Smith era, na verdade, Michelle Barton, estava
sendo um duro golpe do destino nos meus planos. Ainda assim, o filho que ela
carregava na barriga era meu e eu não ia abrir mão dele. Mesmo sendo Michelle
Barton a mãe do meu filho, eu jamais o rejeitaria. Ele era o filho que tanto desejei, o
meu sangue, uma parte de mim. Fosse quem fosse a mãe, seria ela a renunciar à
criança quando nascesse.
Determinado a atingir aquele objetivo, desamassei o relatório e li todas as
informações que Ryan havia investigado sobre a mulher que invadiu a minha vida
sem pedir licença. Para aniquilar um inimigo, era preciso conhecê-lo a fundo e era
exatamente aquilo o que eu ia fazer com Michelle Barton.
Concentrei-me no relatório. Não havia foto dela na ficha da clínica, mas
aquilo não seria difícil de conseguir. As características físicas da mãe do meu filho
era algo que sempre quis escolher, mas o erro da Fertile Future me roubou esse
direito. Agora, era primordial descobrir a aparência física da filha de Colin Barton.
Digitei o nome dela no computador e logo encontrei as fotos que precisava.
Loura, magra, rosto oval fino e olhos azuis. A minha perplexidade não teve tamanho
ao descobrir que ela era a mulher antipática do elevador.
— Merda! Mas que grande merdaaa! — rugi alto dentro do escritório.
A cada minuto que passava a situação só piorava, tornando-se mais
complexa e difícil de ser resolvida. Convencer aquela mulher a desistir do filho a
meu favor não ia ser fácil, mas também não era impossível. Nada era impossível
para mim!
Peguei a ficha e comecei a ler com atenção as informações que constavam
nela.
A letra que a havia preenchido era elegante e feminina, sem erros de escrita,
o que já mostrava a educação esmerada que ela teve. Além do próprio nome, do
endereço da mansão Barton, dos dados pessoais e dos documentos, Michelle havia
colocado também as características físicas do homem que queria como doador
anônimo.
Torci os lábios com desprezo ao ler que ele deveria ter um metro e setenta
de altura, corpo magro, cabelos louros e olhos azuis, provavelmente para combinar
com os dela. Além daquilo, ainda acrescentou que, se possível, queria que o doador
fosse um homem simpático, compreensivo, divertido e de sorriso fácil.
Aquelas características físicas eram completamente opostas às minhas, isso
sem falar da personalidade do pai tão desejado por ela. Eu era quase vinte
centímetros mais alto, possuía um corpo avantajado e largo, além de ter cabelos e
olhos castanhos escuros, quase pretos.
O pai perfeito para o filho dela se assemelhava com um bom vivant 7
qualquer da sociedade novaiorquina, um janotinha que vivia divertindo-se o tempo
todo com os rendimentos do pai, sem mexer um único dedo para conquistar o
próprio dinheiro, sorrindo por qualquer motivo e aproveitando os prazeres da vida.
Com um esgar desdenhoso, virei a ficha para ler o verso, onde estavam
registradas as anotações feitas pela médica que a atendeu. A letra era quase ilegível,
mas entendível para mim. A minha surpresa ficou em saber que Michelle Barton era
uma mulher de vinte e sete anos que havia decidido engravidar através de uma
inseminação artificial mesmo sendo virgem.
Eu não fazia ideia dos motivos que a motivaram a engravidar sem nunca ter
experimentado uma relação sexual, mas havia uma coisa boa naquilo. Ela não tinha
um homem metido no processo de inseminação. Se existisse um namorado ou um
marido esperando ansiosamente por aquela gravidez, eu teria de lutar contra duas
pessoas e não apenas contra uma. A inexistência de um homem reivindicando os
direitos sobre o meu filho facilitava as coisas.
Eu só precisava agora conversar com a mulher e negociar um contrato com
ela em que renunciasse à criança após o nascimento, desaparecendo completamente
do meu caminho e das nossas vidas.
Capítulo 6
Michelle
M eu Deus, que d ia horrível!
Além da situação estranha com a médica substituta e com a atendente da
Fertile Future, ainda tive a desagradável surpresa de descer de elevador com o
homem mais tenebroso com quem cruzei na vida. Ele me causava uma repulsa
instintiva e quase não acreditei que aquele bloco de gelo me ajudou.
Fiquei em choque quando me virei para agradecer e vi que era ele.
Foi com um alívio muito grande que entrei no meu apartamento e tranquei
a porta à chave, agradecendo a Deus por tudo já ter passado. Eu esperava nunca
mais ver nenhum deles outra vez na minha frente.
Tomei um banho relaxante e logo depois liguei para o consultório da minha
ginecologista, conseguindo marcar uma consulta com ela dentro de dois dias. A
doutora Jane Young sempre foi a ginecologista da minha mãe e passou a ser a minha
também. Eu a adorava. Inclusive, foi ela quem me indicou a Fertile Future para fazer
a inseminação, depois de uma conversa que tivemos sobre o assunto.
No final da tarde, quando eu já me sentia bem mais tranquila, o celular
tocou com uma ligação do meu irmão querendo saber como eu estava.
— Como andam estes dois bebês? — ele perguntou em tom de riso,
provocando-me.
— Estamos ótimos e pare de me chamar de bebê — respondi com bom
humor. — E você? Está tudo bem por aí?
— Tudo igual como sempre. Papai de cara feia, os empregados silenciosos
e a mansão mais fria sem a sua presença aqui. Sinto sua falta, baby.
Eu conseguia imaginar facilmente o cenário que ele descreveu. Um cenário
que fez parte da minha vida depois da morte da minha mãe. A luz daquela casa
havia sido ela. Depois de sua morte, senti como se estivesse morando em uma
mansão fantasma carregada de más energias.
— Você é um amor, Andrew. Também sinto muito a sua falta. Por que não
sai logo daí e vai viver a sua vida longe da mansão? Acho que John ia amar que
você o assumisse de vez e fossem morar juntos.
Ele ficou calado quando me ouviu falar do namorado. O meu irmão ainda
não havia assumido a própria homossexualidade para o nosso pai, ciente de que o
poderoso Colin Barton seria capaz de matar o próprio filho se soubesse daquilo. Da
família, apenas a nossa mãe e eu sabíamos. Sempre fomos muito unidos e nunca
houve segredos entre nós três.
A situação de Andrew era muito pior do que a minha. O meu pai surtaria se
soubesse que engravidei por inseminação com o sêmen de um doador anônimo, mas
nunca me mataria, como faria com Andrew caso ele se casasse com outro homem e
não com uma das herdeiras novaiorquinas que ele insistia para o meu irmão
namorar.
Até aquele momento, Andrew havia conseguido evitar o casamento com
uma delas, mesmo já estando com trinta e sete anos e sofrendo a pressão do nosso
pai. Ele ainda aguentou ficar noivo de uma delas durante três anos, mas depois
desfez o noivado. Nós dois havíamos lutado quase que diariamente para
continuarmos solteiros depois que a nossa mãe partiu. Agora, eu não via escapatória
para ele além de fazer o que fiz e sair de casa o mais rápido possível.
— Ainda não chegou a hora de assumir o meu relacionamento com John e
ele sabe disso. Nosso pai anda muito nervoso ultimamente por causa de uns
problemas lá no banco e este seria o pior momento para eu sair de casa. — Ele
suspirou pesadamente e eu imaginava a pressão que devia sentir. — Estou mais
preocupado com você agora. Está precisando de alguma coisa? Sabe que não vou
deixar que passe dificuldades financeiras nem que lhe falte nada.
Sorri, amando-o ainda mais.
— Tenho o suficiente e você sabe disso. Nossa mãe foi previdente ao
deixar aquele dinheiro para mim no BW Bank. É um banco forte, muito maior do
que o do nosso e onde ele nunca vai conseguir colocar a mão no meu dinheiro.
Graças a Deus que são concorrentes e que existem pessoas mais poderosas no
mundo do que o nosso pai ou estaríamos mesmo mal. Sou econômica, também. O
dinheiro vai render o suficiente para eu ter uma vida tranquila pelos próximos anos.
— Nem me fale do BW Bank. Nosso pai não pode ouvir esse nome sem ter
ataques de raiva e ficar com um humor pior do que já tem. Quanto mais esse banco
cresce e se solidifica no mercado, mais ele surta.
— Sempre achei isso estranho. Há tantos bancos no país, mas parece que só
esse incomoda ao nosso pai.
— Ele tem tantas esquisitices que nem perco mais o meu tempo analisando
— Andrew desabafou comigo. — E você não deixe de me ligar se precisar de
alguma coisa. Tenho dinheiro suficiente para nós dois ficarmos muito bem e não
quero que falte absolutamente nada para você, baby.
— Você é o melhor irmão do mundo.
— Você também é a melhor irmã do mundo. Cuide bem do meu sobrinho
ou sobrinha.
Foi com um sorriso de alegria que desliguei o celular quando nos
despedimos, sentindo-me feliz como há tempos não me sentia.

Passei os dois dias seguintes ocupada em pintar um quadro que ficaria na


parede da minha sala quando estivesse pronto. Não faltava muito para aquilo
acontecer e resolvi me isolar do mundo para o terminar.
No dia da consulta com a minha ginecologista, cheguei à clínica bem mais
cedo do que o normal.
— Olá, Bertie! — cumprimentei a recepcionista, que me recebeu com um
sorriso caloroso.
Bertie era uma mulher na faixa dos trinta anos que trabalhava há pelo
menos uns dez com a doutora Jane. De rosto redondo, cabelos castanhos lisos e
ralos, era de uma simpatia ímpar. Ela sempre tratou a mim e à minha mãe com um
carinho enorme, e pessoas simpáticas me atraíam muito.
— Olá, minha querida. Chegou cedo para a consulta. — Ela se levantou e
veio me dar um abraço caloroso. — Como está se sentindo?
— Estou ótima, Bertie. Não pretendia chegar tão cedo, mas acho que estava
ansiosa para falar com a doutora Jane.
— Fique tranquila. Isso é mal de gestante de primeira viagem. — Ela riu,
compreensiva. — A ansiedade para saber como o bebê está se desenvolvendo é
sempre grande. Falo por experiência própria. Eu mesma não largava a minha
médica.
Olhei-a com verdadeiro carinho.
— Fiquei mais aliviada agora. Achei que fosse só eu.
— Que nada! A maioria das grávidas são todas iguais.
Ficamos conversando por vários minutos até uma paciente sair do
consultório e chegar a minha vez.
Assim que entrei na sala, a minha médica se levantou e veio me receber
com um abraço. A doutora Jane tinha mais de cinquenta anos, mas aparentava ter
dez a menos. Era uma mulher bem cuidada, com cabelos castanhos onde não se via
um único fio grisalho à mostra. Os olhos eram da mesma cor e a pele do rosto ainda
possuía bastante o viço da juventude.
— Minha querida, como está?
— Fisicamente me sinto ótima, mas emocionalmente nem tanto, doutora —
desabafei, rindo com um certo nervosismo.
— Sente-se e me conte o que está acontecendo — ela pediu, voltando a se
sentar na cadeira atrás da mesa.
Sentei-me também e contei tudo o que havia acontecido de estranho na
Fertile Future. Ela me ouviu com atenção, ficando cada vez mais séria à medida que
eu falava.
— Saí de lá me sentindo ameaçada, apesar disso parecer meio surreal.
Também não consegui descobrir se houve algum problema com o sêmen do doador
anônimo. Acha que isso é possível, doutora? Não vi nenhum outro motivo para
terem me chamado na clínica.
— Tenho de confessar que estou tão chocada quanto você, Michelle. Este
tipo de comportamento da médica e da atendente é muito fora do normal. Quanto ao
suposto problema com o sêmen, acho muito improvável que tenha acontecido. A
Fertile Future desenvolve um trabalho de excelência e os doadores são muito bem
selecionados. O material doado passa por um rigoroso processo de análise e só o que
há de melhor é colocado à disposição das pacientes.
Suspirei, ficando mais aliviada. Se a doutora Jane dizia aquilo, não havia
mesmo motivo de preocupação.
— Tentei raciocinar dessa maneira, mas a minha intuição me dizia que algo
estranho estava acontecendo ali. Fiquei desconfiada também com a troca da médica,
pois gostei muito da doutora Lisa. Já não posso dizer o mesmo da doutora Chelsea,
que não conquistou a minha confiança. Eu jamais deixaria que ela me examinasse.
— Isso foi o mais preocupante de tudo o que me contou. Um médico não
deve forçar o paciente a fazer um procedimento que ele não queira, ainda mais um
desta natureza. Vou conversar com o Harrison sobre o que aconteceu.
Eu sabia que ela conhecia pessoalmente o médico proprietário da Fertile
Future. Tanto, que havia me indicado a clínica dele.
— Eu não quero criar confusão nem prejudicar ninguém, doutora. Pode ter
sido só coisa da minha cabeça.
Ela me deu um sorriso tranquilizador.
— Não se preocupe. Tenho um ótimo relacionamento com ele e sei como
abordar o assunto. Confie em mim.
— Confio totalmente — afirmei sem hesitar.
— Agradeço a confiança, querida. Já que veio hoje, vamos antecipar o
exame da gestação e ver como você está.
Uma hora depois, saí da clínica sentindo-me aliviada, feliz e tranquila.
Estava tudo bem comigo e com o bebê. Não havia motivo algum de preocupação da
minha parte e a doutora Jane ainda tentaria descobrir para mim o que havia
acontecido na Fertile Future.
Resolvi ir para o centro comercial exclusivo que havia no caminho para
casa, onde compraria alguns itens de decoração para o quarto do meu bebê. Passei
horas agradáveis escolhendo roupinhas também, sonhando com o momento em que
poderia vesti-las nele ou nela. Optei por uma cor neutra, assim daria tanto para um
menino quanto para uma menina.
Eu havia acabado de sair da loja quando uma mulher passou por trás de
mim carregando um monte de sacolas e me empurrou com brusquidão contra a
proteção de ferro que circundava as escadas daquele andar do shopping. O que me
impediu de cair lá embaixo foi a grade. Se não fosse ela, eu teria me estatelado no
chão do andar inferior.
— É melhor ter cuidado! — uma outra mulher disse ao meu lado,
segurando-me pelo braço. — Essas grades são muito baixas e você pode cair.
— Eu sei disso! Foi aquela mulher que me empurrou — esclareci,
indicando a mulher que continuava andando com pressa ao longo do corredor de
lojas. — Que mal-educada!
A mulher que estava comigo ainda olhou para onde indiquei, mas agora era
impossível identificar a outra no meio de tanta gente.
— É cada vez mais raro encontrarmos pessoas educadas nas ruas — ela
reclamou com razão, olhando para mim depois com um sorriso. — Tenha cuidado.
— Obrigada pela atenção.
Ela foi embora e eu também. Por precaução, afastei-me da área próxima à
grade e segui em direção ao estacionamento. Peguei o carro e fui para casa, ouvindo
a minha playlist favorita e fazendo planos para quando o meu bebê nascesse.
Capítulo 7
Michelle
A chei que nunca mais ia ter problemas relacionados à Fertile Future, mas
como eu estava enganada. Redondamente enganada!
Na manhã do dia seguinte, abri a caixa onde guardava algumas coisas de
lembrança da minha mãe. Entre os objetos, peguei a foto dela abraçada com o
homem que havia amado antes de se casar com o meu pai. Eu pretendia pintar um
quadro deles.
Eu havia encontrado aquela foto escondida em uma das gavetas do closet
da minha mãe logo depois da morte dela e guardei comigo como se fosse um
tesouro. Na época em que a foto foi tirada, eles eram jovens e o amor que havia nos
olhos dos dois era tocante demais. A minha mãe estava linda nos braços dele. Eu
conseguia ver o quanto estava feliz e tranquila com o futuro que teria com o homem
que amava.
Coloquei a foto no canto do cavalete e comecei a fazer o esboço do quadro,
concentrando-me totalmente no trabalho. Uma hora depois, aprovei o esboço que fiz
e o guardei, planejando pintar o quadro no dia seguinte. Peguei uma outra tela com
uma paisagem desenhada e comecei a pintar, por achar mais fácil para o adiantado
da hora.
O meu celular tocou quando eu estava no meio da sessão de pintura. Sem
querer largar o pincel justamente naquele momento de inspiração, olhei para o
aparelho sobre a mesinha ao meu lado e resolvi não atender. Era um número que eu
não conhecia, por isso podia muito bem esperar.
Tirei o som do celular para não me incomodar e continuei pincelando a tela
até me dar por satisfeita. Só então voltei a colocar o som nele. Se a pessoa ligasse
novamente, eu atenderia. Se não ligasse, eu retornaria a ligação mais tarde.
Levei o quadro para a sala e o coloquei na parede que eu queria, afastando-
me depois para analisar o resultado. Não poderia ter ficado melhor! As cores
combinavam com o ambiente, exatamente como imaginei.
Eu estava comemorando a beleza da minha obra de arte quando o meu
celular voltou a tocar. Daquela vez fui atender, confirmando que era o mesmo
número que havia me ligado antes.
— Alô?
— Bom dia. Estou falando com Michelle Smith? — uma voz masculina
muito grave perguntou do outro lado da linha.
— Bom dia — respondi ao cumprimento com educação. — Sim, sou eu
mesma.
— O meu nome é Tyler Blackwolf e gostaria de marcar um encontro para
conversarmos sobre um assunto de nosso interesse.
Eu não conhecia nenhum Tyler Blackwolf, muito menos tinha algum
assunto em comum com ele. Pelo tom de voz do homem, parecia ser algo muito
sério.
— Posso saber do que se trata? Talvez possamos resolver por telefone
mesmo. Estou sem horário livre para me encontrar com o senhor.
— É um assunto particular e de caráter confidencial, que não deve ser
tratado por telefone. Seria melhor abrir um espaço na sua agenda.
Eu não conseguia imaginar que assunto particular e confidencial era aquele
ao qual ele se referia, um homem que era um total desconhecido para mim. Cogitei
seriamente a possibilidade de estar sendo vítima de uma brincadeira de mau gosto
ou de assédio.
— Prefiro que me adiante alguma coisa antes de alterar a minha agenda
para um encontro.
Ele permaneceu em silêncio por um instante e senti que não gostou da
minha insistência em saber do que se tratava.
— Sou o seu doador anônimo.
Hã?!
Paralisei, chocada.
— Meu o quê?
— O seu doador anônimo — ele praticamente soletrou com impaciência. —
Acredito que saiba ao que me refiro. Como eu já disse antes, esse não é um assunto
para ser tratado por telefone. Quando podemos nos encontrar?
O homem estava exigindo e não pedindo. Aquele tom autoritário me
lembrou o meu pai, o que não gostei nada. Além do mais, como é que o doador
anônimo podia saber que o sêmen dele gerou o meu filho? Tudo foi feito no mais
completo sigilo pela Fertile Future. O doador jamais deveria saber quem recebeu o
material que ele doou.
Deve ser um gol pe. Só pode.
De alguma maneira, aquele homem me viu saindo da clínica de reprodução
assistida, reconheceu-me como filha do banqueiro Colin Barton e achou que poderia
ganhar dinheiro às minhas custas, fingindo ser o meu doador anônimo.
Aquela era uma suposição meio surreal, mas nada melhor passou pela
minha cabeça que justificasse o absurdo da ligação.
— O senhor deve estar me confundindo com outra pessoa. Peço desculpas,
mas preciso desligar.
Desliguei a chamada e imediatamente depois bloqueei o número dele.
Aquilo me deu um alívio momentâneo, mas não eliminou a preocupação.
Algo de muito estranho estava acontecendo e me senti insegura pela primeira vez
desde que decidi ter um filho sozinha. Um filho que não deveria conhecer o pai, uma
vez que a mãe dele era uma virgem incapaz de se apaixonar pelos homens que
conheceu.
A última coisa que eu queria agora era um doador anônimo deixando de ser
anônimo.
— Meu Deus! Se for mesmo verdade, qual é a intenção desse homem?
Não aguentei a incerteza e liguei imediatamente para Andrew. Eu precisava
que ele me ajudasse a entender o que estava acontecendo.
Assim que o meu irmão me atendeu, contei tudo sobre a ligação.
— Ele só pode estar querendo dinheiro. Não consigo imaginar outra coisa
— Andrew disse depois que terminei de falar. — O estranho é ele ter descoberto
você, inclusive o seu número de celular.
— Você tem razão, nem pensei nisso. Será que algum funcionário da
clínica está metido nesse esquema e passou as minhas informações para ele?
— Isso é um absurdo se considerarmos o nível daquela clínica, mas não
descarto a possibilidade. Tem gente disposta a vender até a própria mãe por
dinheiro, quanto mais informações. Você tem todo o direito de processar a Fertile
Future.
— Ai, Andrew, nem me diga isso! Planejei tanto ter o meu filho em paz e
sozinha, sendo uma mãe solo livre de problemas com um homem exigindo a
paternidade dele. Não acredito que vou precisar processar a melhor clínica do país
por vazamento de informações.
— Tenha calma, Michelle. O homem pode ter desistido depois que você
desligou na cara dele e tudo isso dar em nada. Vamos aguardar. Se ele insistir de
alguma maneira, você liga para a clínica e marca uma reunião com a diretoria. Se
quiser, vou com você.
— Não precisa. Posso resolver tudo sozinha.
Não achei justo envolvê-lo nos meus problemas. Eu sabia que Andrew
quase não tinha tempo livre do trabalho no banco.
— Tudo bem, mas prometa que vai me pedir ajuda se precisar. Se este
homem insistir de alguma forma, me avise também. Posso investigar o número dele
e descobrir quem é.
— Mas eu não quero saber quem é ele! — frisei categoricamente. — Se for
mesmo o doador anônimo, quero que continue sendo anônimo para mim e para o
meu filho. Foi para isso que paguei caríssimo para passar por esse procedimento. Me
prometeram confidencialidade.
— Acho que o melhor a fazermos agora é aguardar para ver se ele vai
insistir. Não se preocupe, baby. Você tem todos os direitos sobre o seu filho e não
vou deixar que ninguém tire isso de você — ele me tranquilizou e suspirei,
relaxando. — Agora se cuide. Uma grávida não pode estar tão preocupada desse
jeito. Pense no meu sobrinho.
Fiz um carinho na minha barriga, sorrindo pela primeira vez desde que
recebi aquela malfadada ligação.
— Obrigada pelo apoio, Andrew. Amo muito você.
— Eu também amo você, baby. Volto a ligar quando chegar em casa à
noite.
Desliguei, permanecendo sentada no sofá com o olhar perdido na paisagem
do quadro que eu havia pendurado na parede da sala. Tanta coisa aconteceu naquele
curto espaço de tempo que nem parecia que o coloquei lá apenas minutos atrás.
Achei melhor voltar à pintura e distrair a minha mente do que havia
acontecido. Ficar remoendo o assunto não ia me ajudar em nada.
Peguei uma outra tela, separei os tubos com as cores de tinta à óleo que ia
usar e me concentrei em criar um novo quadro para colocar no hall de entrada.
Perdi a noção do tempo até a campainha tocar. Eu estava tão absorvida no
trabalho que me sobressaltei, errando uma pincelada.
— Oh, merda!
Corrigi o erro e só então me levantei para atender a porta, mas o que vi pelo
olho mágico digital me deixou boquiaberta.
Parado do lado de fora estava o homem desagradável que encontrei no
elevador da Fertile Future. Atrás dele, os dois seguranças que eu já conhecia.
Até me arrepiei diante da expressão fechada e da energia pesada que
emanava dele.
Mas como isso é possível?
Senti um mal-estar repentino e encostei a testa na madeira da porta,
respirando fundo para me recuperar. Eram tantos os questionamentos que se
agitavam na minha mente que fiquei atordoada. Afinal, como foi que aquele homem
descobriu onde eu morava? Quem era ele e o que queria comigo? Seria mesmo um
dos diretores da clínica? Se fosse, o homem não viria à minha casa sem avisar para
falar sobre o doador anônimo que havia me ligado. Depois me lembrei que preenchi
a ficha da clínica com o endereço da mansão do meu pai e não do meu novo
apartamento.
Enquanto eu pensava em tudo aquilo, a campainha tocou mais uma vez.
Voltei a olhar para o homem, cuja fisionomia havia ficado mais aterradora do que
antes, e só então a minha ficha caiu.
Não, meu Deus, n ão pode ser!
— Michelle Smith, precisamos conversar. Bloquear o meu número não vai
resolver a situação. — A voz gutural soou abafada do outro lado da porta, mas
bastante audível para mim.
Fechei os olhos ao ter a confirmação das minhas tristes suspeitas. Arrasada,
senti o desespero me dominar ao imaginar que aquele homem horrível fosse o pai do
meu filho.
Eu me nego a acreditar nisso! Eu me nego terminantemente a acre ditar
nisso!
Afastei-me, olhando horrorizada para a porta. A sensação que eu tinha era
de que ele conseguia me ver através da madeira sólida com aqueles olhos negros e
geladamente sombrios.
Eu não queria falar pessoalmente com ele, mesmo tendo consciência de que
não havia mais dúvida alguma que aquele homem não era um golpista qualquer que
me viu saindo da clínica e resolveu ganhar dinheiro me chantageando. Agora que o
reconheci como sendo o homem do elevador, aquela suspeita inicial caía por terra.
Ainda assim, eu continuava negando-me terminantemente a entrar em contato com o
doador anônimo, que, para o meu desespero, de anônimo já não tinha mais nada!
Decidida, fui pegar o meu celular, desbloqueando o número dele.
Imediatamente depois, liguei-lhe.
O homem me atendeu logo no segundo toque.
— Peço que vá embora e me deixe em paz — falei sem perder tempo com
cumprimentos. — Não temos nada para conversar sobre este assunto que o trouxe
aqui.
— Temos muito o que conversar. Fingir que nada está acontecendo é a pior
decisão que você poderia tomar, porque não vou desistir. — Ele foi duro, sem se
preocupar em amenizar o tom exigente e autoritário. — Nós dois fomos vítimas de
um erro e precisamos resolver esta situação o mais rápido possível. Abra a porta
para conversarmos ou me acompanhe até o meu escritório para tratarmos do assunto
com privacidade. Não vou conversar sobre um assunto desses por telefone nem ficar
gritando do lado de fora da sua porta.
O tom de voz dele era insuportável! Porém, mais insuportável ainda era a
possibilidade de ele ser mesmo o dono do espermatozoide que a Fertile Future
implantou em mim.
“Nós dois fomos vítimas de um erro.”
Um erro crasso, grotesco e que eu não conseguia aceitar. Só agora eu
entendia o motivo que o fez ir à clínica naquele dia e estar com aquela expressão
assustadora de quem seria capaz de matar alguém. Sem dúvida que o homem tinha
ido falar com o doutor Harrison Davis, dono da Fertile Future.
Lembrei-me da atitude estranha da doutora Chelsea e de como a atendente
foi atrás de mim praticamente dentro do elevador. Talvez elas duas soubessem do
erro e aquele tenha sido o motivo de marcarem a consulta. Tudo indicava que a
médica ia me contar o que havia acontecido, mas me neguei a ser examinada e fui
embora às pressas.
Merda!
Se eu já estivesse sabendo sobre o erro da clínica, teria dado um jeito de
aquele homem horroroso nunca saber da minha identidade ou onde eu estava.
Furiosa, desliguei o celular sem dizer mais nada e fui abrir a porta, disposta
a despachá-lo de vez da minha vida.
Capítulo 8
Michelle
P arte da minha coragem se desvaneceu quando abri a porta e dei de cara
com o olhar glacial daquele homem. Tyler Blackwolf era dono dos olhos mais frios
que já vi na minha vida e inspirei profundamente para aguentar o impacto da
presença dele.
Aquele olhar que eu achava sinistro, analisou-me de maneira penetrante de
alto a baixo, como se quisesse ter a certeza de que eu estava apta para ter um filho
dele. Tive a sensação de que me considerava apenas uma barriga de aluguel e não a
verdadeira mãe do bebê.
Quase mudei de ideia e fechei a porta na cara dele, mas me contive a
tempo. O homem tinha razão, precisávamos conversar e esclarecer tudo entre nós
dois, principalmente o fato de que ele teria de desaparecer da minha vida e da vida
do meu filho.
— Pode entrar, mas sozinho, por favor.
Fui o mais educada que consegui, considerando que estava sendo forçada a
recebê-lo em minha casa.
Ele ergueu uma mão e fez sinal para os seguranças, detendo-os lá fora e
entrando sozinho no apartamento.
Fechei a porta e o conduzi para a sala, oferecendo-lhe cortesmente o sofá
para que se sentasse. Como da vez anterior em que o encontrei, o homem trajava um
terno azul marinho impecável e de excelente qualidade, que se ajustava à perfeição
no corpo alto e largo.
Tyler Blackwolf era enorme e sua presença fez a minha sala parecer menor
do que já era.
Sentamo-nos de frente um para o outro, em lados opostos.
— Do que se trata? — Fui direto ao ponto.
— Do meu filho que está na sua barriga. — Ele foi tão direto quanto eu. —
Houve um erro na Fertile Future. Em vez de usarem o sêmen do doador anônimo
que você escolheu, usaram o meu, que não doei absolutamente nada para a clínica.
Paguei a criopreservação do meu sêmen para ter uma segurança futura, pensando em
usá-lo no melhor momento para mim.
Apesar de já suspeitar daquilo, a confirmação caiu como uma bomba no
meu colo. Observei os cabelos pretos dele, os olhos igualmente negros e tão duros, o
rosto de traços excessivamente angulosos que a barba não disfarçava, a fisionomia
carrancuda e fechada. Ele não se assemelhava em nada ao tipo físico do doador
anônimo que eu havia escolhido.
— Como tem tanta certeza de que houve um erro? Ninguém da clínica
entrou em contato comigo para falar a respeito de erros ou de trocas de material.
Achei melhor não comentar nada sobre a consulta estranha que tive com a
doutora Chelsea.
— Tenho conhecidos na área de reprodução humana que ficaram sabendo e
me contaram. Falei com o diretor e o erro já foi confirmado.
O homem nem precisava me dizer mais nada. O digníssimo doutor Harrison
Davis havia me entregado de bandeja para o cliente mais poderoso dele.
— O doutor Harrison confirmou o erro que cometeram com o senhor, mas
isso não quer dizer que tenham cometido algum erro comigo. O diretor tem cem por
cento de certeza de que sou eu a mulher que foi inseminada com o seu sêmen? —
Era estranho estar falando de algo tão íntimo com um total desconhecido. — Posso
estar grávida de qualquer outro homem que usou o mesmo serviço de
criopreservação, já que errar parece ser algo comum naquela clínica.
Ele endureceu ainda mais a expressão e o olhar se cravou em mim como
uma adaga, fazendo-me arrepiar de medo.
— Não há dúvidas quanto a isso, mas teremos cem por cento de certeza
quando você fizer o teste de paternidade. Já me informei e a partir da oitava semana
de gravidez um teste não invasivo pode ser realizado.
— Ninguém vai me obrigar a fazer esse exame ou qualquer outro que eu
não queira. — Fui firme ao manter a minha posição, sentindo-se indignada com
aquela imposição da parte dele. — Sugiro que investigue melhor quem foi a mulher
que recebeu o seu sêmen. Pode estar perdendo tempo aqui comigo, enquanto a
verdadeira mãe está com o seu filho por aí.
Ele me encarou em silêncio por longos instantes, com a fisionomia
inalterável e um olhar tão gelado que voltei a me arrepiar.
— Fingir não vai adiantar. Fugir, muito menos. — A voz insensível se
espalhou pela minha sala. — Estará cometendo o pior erro da sua vida se escolher
qualquer uma dessas duas opções, senhorita Smith.
— Está me ameaçando?
— Estou avisando.
F ilho da mãe!
— Sem dúvida que deve ter acontecido um erro. O senhor jamais poderia
ser o meu doador anônimo. Não tem nada a ver com as características que escolhi.
— Garanto que a senhorita também nem chega perto da mãe que desejei
para o meu filho, mas isso não vai me impedir de nada. — Olhou-me com desprezo.
— Infelizmente você foi a mulher inseminada com o meu sêmen e sei que realmente
engravidou. Vim acertar com você os meus direitos sobre a criança assim que ela
nascer.
— Você deve estar brincando! — exclamei, abismada com a ousadia dele.
Tyler Blackwolf manteve em mim o mesmo olhar sinistro.
— Tenho cara de quem está brincando?
Não, não tinha, o que só me desesperou ainda mais.
Isto não pode estar acontec endo comigo!
O meu maior pesadelo estava virando realidade. Tudo o que mais quis
quando decidi engravidar era não ter nenhum pai reivindicando direitos sobre o meu
filho. Agora, era exatamente aquilo o que estava acontecendo.
Eu tinha à minha frente o pior dos pais para o meu filho!
A semelhança de Tyler Blackwolf com o meu próprio pai era gritante. Não
em aparência, uma vez que eram fisicamente muito diferentes, mas em atitudes e na
maneira autoritária de exigir obediência imediata ao que queria.
— Sinto muito pelo senhor, mas não tenho culpa do erro que a clínica
cometeu. Apesar de não ter sido inseminada com o material do doador anônimo que
escolhi, o procedimento foi realizado e teve sucesso. Estou grávida do filho que
desejei ter “sozinha”. Aconselho que processe a clínica, receba uma indenização
milionária e tenha o seu filho planejado no futuro com a mulher ideal.
Ele cravou o olhar abominável em mim. Naquele momento, senti o quanto
o homem me detestava, mas não vacilei. Agi como se estivesse diante do meu pai e
o olhei com desafio.
— Não é assim tão simples, senhorita Smith. Não pretendo renunciar ao
meu filho. Quero-o assim que ele nascer! — Foi taxativo, chocando-me com aquela
exigência descabida. — Os meus advogados vão redigir um contrato para você
assinar, renunciando a meu favor.
Pisquei várias vezes antes de conseguir articular algo para dizer.
— O senhor deve estar louco se pensa que vou renunciar ao meu filho! Já
até me arrependi de tê-lo deixado entrar na minha casa. — Levantei-me, indignada.
— Retire-se imediatamente.
Ele também se levantou, só que muito lentamente, o olhar cortante
prendendo o meu.
— Não venha me enganar dizendo que vai amar incondicionalmente o filho
de um homem que não tem o aspecto físico do pai perfeito que você desejou para
ele. De que maneira vai tratar o meu filho quando ele crescer de cabelos e olhos
escuros iguais aos meus, em vez de louro e de olhos azuis como você sonhou? Seja
um menino ou uma menina, ficará comigo.
— Que absurdo isso! Eu nunca rejeitaria o meu filho por causa de
características físicas. Vou amá-lo de qualquer jeito, seja louro ou moreno. O que
rejeito totalmente é um pai para ele, seja você ou outro qualquer. Se eu quisesse um
pai para o meu filho teria me casado.
— Se eu quisesse uma mãe para o meu filho também teria me casado — ele
replicou de imediato. — O meu filho não precisa de uma mãe para ser feliz.
— O meu filho pode ser feliz só com a mãe dele, sem nenhum pai presente
— afirmei com a mesma determinação.
Ele rangeu os dentes, ficando mais assustador do que já era. Só então me
lembrei que estava sozinha com aquele homem no meu apartamento, que mantinha
dois seguranças na minha porta. Se Tyler Blackwolf me matasse em um acesso de
raiva, ninguém ficaria sabendo.
Oh, meu Deus! O nde me meti?
Respirei fundo e engoli em seco quando a realidade da minha situação se
abateu sobre mim. A ansiedade fez a sala girar ao meu redor e me senti a ponto de
desmaiar.
Agora não , por favor!
A última coisa que eu precisava para deixar tudo pior do que já estava era
desmaiar naquele momento. Por segurança, afastei-me para o lado, ficando longe do
alcance dele. Não adiantou muito, mas me consolei dizendo que já ajudava bastante.
— Peço que se retire, senhor Blackwolf. Não temos mais nada para
conversar.
— Você não vai ficar com o meu filho!
— Claro que vou ficar com o “meu filho”. — Mantive a minha posição,
sem fraquejar. — Para mim, ele não tem pai.
O homem deu um passo para mais perto de mim, que achei ameaçador.
— Não se aproxime!
Ele parou, estreitando os olhos escuros.
— Acha que vou agredir você? — perguntou em um tom de voz gutural.
— Eu não o conheço. Sei apenas que está disposto a tudo para tirar o meu
filho de mim.
Ele soltou uma imprecação entredentes em um tom de voz muito baixo,
mas entendi muito bem que me chamou de mulher idiota.
— Quando ele nascer, não antes!
— Nem agora nem depois. É meu filho e vai permanecer comigo. Agora
saia da minha casa ou chamarei a polícia.
Nós dois sabíamos que aquilo era um blefe. Blackwolf me mataria
facilmente com apenas uma das mãos antes mesmo que eu conseguisse dar um único
passo.
Ele permaneceu impassível, olhando-me friamente.
— Você tem duas opções, Michelle Smith. Resolver este assunto
amigavelmente comigo ou ser colocada no processo junto com a Fertile Future.
Garanto que vou conseguir em tribunal a guarda total do meu filho. Tive o meu
sêmen usado sem a minha autorização e pouco me importa se você sabia ou não de
quem era o espermatozoide que ia fecundá-la. — Deu um sorriso odioso, que só
aumentou a energia macabra dele. — Quem me garante que não fez tudo de comum
acordo com a médica que a atendeu na clínica, com a intenção de depois me dar um
golpe financeiro? Posso provar isso em tribunal.
Fiquei literalmente de queixo caído com aquela ameaça.
— O senhor é abominável, nojento mesmo! Eu não preciso do seu dinheiro
sujo! Quanto mais vejo quem é, mais forte fica a minha determinação de mantê-lo
longe do meu filho — exclamei sem esconder o nojo que sentia dele. — Filho
nenhum merece um pai assim!
Ele não pareceu se abalar com o que eu disse, apesar do músculo que
começou a pulsar na mandíbula enrijecida.
— Filho nenhum merece uma mãe golpista, que rouba o sêmen de um
homem rico para se dar bem na vida. Você escolhe se quer um acordo amigável ou
um processo judicial.
Passei a mão pelo rosto, tentando afastar a vertigem.
— O senhor me faz mal. Quero que saia agora da minha casa.
Tentei colocar força na minha voz, mas era tarde demais. Não consegui
mais controlar o meu corpo e apaguei completamente no instante seguinte.
Capítulo 9
Tyler
B astou apenas alguns minutos de conversa com Michelle Barton para eu
comprovar o quanto ela era irritantemente desafiadora, idiotamente cheia de razão e
insuportavelmente antipática.
Preferi fingir que não sabia que era também a filha de Colin Barton, já que
partiu dela a decisão de esconder a sua verdadeira identidade. A mulher devia ter
suas razões para omitir o sobrenome famoso do pai e eu pretendia descobrir quais
eram. Era estranho que estivesse morando sozinha naquele apartamento pequeno e
não na mansão Barton.
Sabendo de quem ela era filha, eu já esperava uma conversa difícil, mas não
tão difícil quanto aquela. Michelle Barton realmente me detestava, o que ficou
visível no tom de voz com que me ligou e na expressão do rosto quando abriu a
porta.
Ela fazia vir à tona o pior de mim, talvez por me lembrar do homem que eu
mais odiava na vida. Fui duro e impiedoso com ela, só não esperava vê-la desmaiar
à minha frente. Depois de tanta coragem ao me enfrentar, aquele sinal de fraqueza
me pegou desprevenido.
Rápido, segurei-a pela cintura, erguendo o corpo magro ao colo.
— Merda!
Em vez de ela aceitar logo o que era inevitável, ficou resistindo até não
aguentar mais!
Preocupado com o meu filho que ela tinha na barriga, coloquei-a deitada no
sofá, recriminando-me por não ter me lembrado daquilo antes de a forçar demais.
Acostumado a ser implacável nos negócios, esqueci que estava lidando com uma
mulher que sequer imaginava o quanto era preciso ser duro para se alcançar o topo
do sucesso no mundo financeiro.
Assim que a coloquei deitada, notei o quanto estava pálida. Agindo com
rapidez, coloquei algumas das almofadas do sofá debaixo de suas pernas e liguei
imediatamente para Gary.
Nem o deixei falar quando me atendeu.
— Estou com uma mulher grávida desmaiada, o que faço? Seja rápido!
— Ela levou alguma pancada na cabeça ou na área da barriga ao cair? —
ele perguntou com preocupação.
— Não. Eu a segurei antes disso.
— Ótimo! Então não há muito com o que se preocupar. — Senti o alívio na
voz do meu primo e fiquei aliviado também. — É ela?
Não havia necessidade de dizer mais nada.
— Sim, é.
— Entendo. Deve ter ficado assustada.
Rangi os dentes.
— Talvez.
— Uma mulher não é um homem de negócios, ainda mais se estiver
grávida.
Entendi o aviso de que a tratei como um adversário de negócios e não como
uma mulher deveria ser tratada.
— Já percebi isso.
— É um bom começo. Agora veja como está a pulsação dela. Vou lhe
ensinar.
Nos minutos seguintes, fiz tudo o que ele me orientou e comprovamos que
Michelle estava bem.
— Já não está tão pálida agora.
— O que é um ótimo sinal. Esses desmaios não são incomuns no primeiro
trimestre, mas uma gestante não pode estar sob muita tensão. — Senti o aviso nas
últimas palavras dele.
— Entendi.
— É bom que entenda mesmo. Quer que eu vá aí?
Observei o rosto dela com atenção. Apesar da pele quase translúcida de tão
alva, a palidez havia desaparecido por completo. Os cílios se destacavam nos olhos
fechados e os lábios rosados estavam entreabertos, dando-lhe uma aparência
vulnerável.
Pela primeira vez, vi nela uma beleza que antes não havia notado.
— Acho que não precisa. Sinto que ela está bem, apesar de não ter voltado
à consciência.
— Se a respiração e a pulsação estão normais, não há mesmo com o que se
preocupar. Vai ser uma questão de tempo para ela voltar a à consciência. Não a
deixe sozinha.
— Não deixarei — afirmei com uma determinação que me surpreendeu. —
Vou desligar agora.
— Qualquer coisa volte a me ligar.
— Ligarei.
— Boa sorte, Tyler.
— Obrigado.
Guardei o celular no bolso e permaneci ajoelhado ao lado do sofá estreito
onde ela estava. Uma mecha dos cabelos louros pendia até o tapete acastanhado e a
segurei, sentindo a maciez dos fios. Coloquei-a sobre o busto alto, descendo os olhos
pelo corpo magro demais para o meu gosto.
Sem resistir à tentação, coloquei uma mão sobre o ventre plano onde o meu
filho ou filha crescia. Apesar de não ter vindo na hora que eu planejava nem da
maneira como programei, eu me sentia feliz com a sua chegada.
— Cresça forte. Estou esperando por você aqui fora.
A respiração da mulher se alterou, como se ela estivesse inspirando
profundamente, e retirei a minha mão com rapidez. Levantei-me e fui me sentar na
poltrona em frente ao sofá, tendo a mesa de centro entre nós dois. Era melhor que
ela não me visse por perto quando voltasse à consciência.
Não demorou muito para aquilo acontecer. Tensamente sentado a observá-
la, acompanhei o momento exato em que Michelle abriu os olhos e olhou para o
teto, piscando como se ainda estivesse desnorteada.
Quando os olhos azuis se arregalaram, soube que havia se lembrado de tudo
e me preparei para a reação dela ao me ver ainda no apartamento.
Achei melhor me antecipar, tranquilizando-a.
— Não quis lhe fazer tanto mal assim. Sente-se melhor?
Ela virou a cabeça para o meu lado, ficando novamente tensa. Sentou-se
devagar, como se testasse o próprio corpo, enquanto eu a observava igualmente
tenso, esperando que realmente estivesse bem.
— Estou bem — respondeu depois de um tempo que me pareceu longo
demais, olhando de um jeito estranho para mim. — Obrigada por ter me ajudado.
Havia relutância naquele agradecimento, mas fingi não ter percebido.
— Peço desculpas pelo meu comportamento e pelas coisas que disse. Eu
poderia ter sido menos intransigente.
— Desculpas aceitas — ela suspirou pesadamente. — Acho que os últimos
dias me deixaram mais cansada do que pensei.
Observei-a minuciosamente, lembrando-me de como ela havia saído às
pressas da Fertile Future depois que a atendente tentou detê-la.
— O que aconteceu na clínica naquele dia?
Ela riu, mas parecia estar rindo de si mesma.
— Não sei. Talvez descobrisse se tivesse ficado na consulta, mas trocaram
a minha médica e não gostei da substituta. Ela me dava arrepios. — Olhou para mim
e corou ligeiramente.
— É o mesmo que sente quando está comigo — falei o que ela não quis
dizer.
Michelle desviou os olhos dos meus, fixando-os pensativamente na parede
em frente ao sofá, onde um quadro que retratava uma paisagem estava pendurado.
— São situações diferentes.
Incrivelmente, ela estava sendo diplomática e achei engraçada a tentativa
que fez de me enganar.
— Vou acreditar que o meu caso é melhor.
Ela me encarou.
— Faça como quiser.
Ficamos nos olhando como adversários em campos opostos, mas sem a
animosidade gritante de minutos atrás.
— Não vá mais se consultar naquela clínica. Não considero a Fertile Future
como um lugar confiável para você fazer o acompanhamento da gravidez.
— Não vou. Tenho a minha própria ginecologista, que já está me
acompanhando.
Fiquei satisfeito e aliviado ao saber daquilo.
— Não quer tentar se levantar para ver como se sente?
Quando ela fez o primeiro movimento para se levantar, levantei-me
também e me aproximei, ficando perto o suficiente para ajudar se precisasse.
Michelle me olhou com surpresa, mas se ergueu logo depois, firmando-se
nas pernas.
— Estou bem. Acho que foi mesmo um mal-estar passageiro.
Olhei-a com preocupação.
— Tem certeza?
— Sim, tenho — falou com firmeza. — Se eu sentir qualquer coisa
estranha ligarei para minha médica.
Uma inquietação indefinível me dominou ao pensar que deixaria Michelle
sozinha naquele apartamento. Senti vontade de levá-la para morar em minha casa,
onde sabia que ficaria em segurança durante todo o período da gravidez e do
nascimento do meu filho.
Contive aquela necessidade súbita, controlando-me.
— Mais tarde ligarei para saber como está. Peço que me atenda... por favor.
Ela riu, arqueando as sobrancelhas com uma expressão de divertimento.
— Acho que esta é a primeira vez na vida que você pede por favor a
alguém.
Contive a súbita vontade de rir com o comentário mordaz dela,
surpreendido comigo mesmo ao achar graça da crítica que fez de mim.
— Provavelmente.
Tirei um cartão do bolso interno do paletó e coloquei sobre a mesa de
centro.
— Você já tem o meu número, mas por segurança vou deixar um outro
número com você. Este é pessoal. Peço que ligue nele se precisar de alguma coisa
urgente.
Ela mordeu o canto do lábio e fez um trejeito engraçado com a boca,
olhando com desconfiança para o meu cartão.
— Você ficou tão bonzinho de repente — comentou com ironia, olhando-
me muito diretamente nos olhos. — Será que o lobo negro 8 está tentando se
disfarçar de cordeiro?
Daquela vez eu ri mesmo, fazendo-a arregalar os olhos de surpresa.
— Descubra por si mesma.
Sem dizer mais nada, fui para a porta. Eu sabia que ela só relaxaria
totalmente quando me visse fora do seu apartamento.
Michelle me acompanhou em silêncio, abrindo-a para mim. Me despedi
com um aceno de cabeça e saí, deixando-a sozinha.
Aguardei o som da porta sendo trancada à chave para me afastar com os
seguranças. Quando me sentei no banco de trás do Escalade parado à frente do
prédio dela, dei ordens para Miles, o meu segurança mais antigo e homem de
confiança.
— Quero que ela seja protegida dia e noite.
— Providenciarei isso agora mesmo, senhor.
Capítulo 10
Michelle
— A inda estou sem acreditar que ele foi aí — Andrew comentou, atônito.
Liguei para o meu irmão assim que Blackwolf saiu. Eu sabia que não
aguentaria esperar até que Andrew me ligasse à noite, como havia prometido.
— Agora que tudo acabou, estou achando que foi melhor ele ter vindo
mesmo me procurar. Sei que antes eu não queria nem ouvir falar na existência do
homem, mas pelo menos agora já sei quem é.
— Acho que o melhor de tudo foi saber que aquela clínica não é confiável.
Até eu pensei em ter um filho com reprodução assistida na Fertile Future,
contratando uma barriga de aluguel para que eu e John tivéssemos um filho. Agora
nem quero ouvir falar daquela clínica.
— Não desista, Andrew. Tem outras clínicas mais credíveis por aí.
— Está difícil de confiar, baby. Andei pesquisando para saber melhor como
lidar com a sua situação e fiquei horrorizado com o que descobri. Você sabia que
vários ginecologistas já usaram o próprio esperma para inseminar mulheres, dizendo
que era de doadores anônimos? 9
— O quê?! — Dizer que fiquei chocada era pouco. — Ai, meu Deus! Eu
não quero acreditar nisso!
— Pois acredite. Alguns desses médicos foram processados, mas outros
continuam impunes até hoje. Estou supondo que isso aconteça mais em clínicas
pequenas. O erro mais comum que encontrei foi mesmo a troca de sêmen,
principalmente se os doadores tiverem sobrenomes iguais ou parecidos. Enfim, basta
mexer no assunto para encontrar a podridão.
— Mas isso de médicos inseminarem as pacientes com o próprio sêmen é
um crime!
— Concordo e acredito que os procedimentos de reprodução humana
assistida ainda precisem de mais atenção dos governos mundo afora. Se olharmos
por esse lado, você até que teve sorte. Na falta de doadores, poderia ter sido
inseminada com o esperma de qualquer um dos funcionários da Fertile Future que
concordasse com o esquema.
— Oh, que horror! Devem existir profissionais com ética neste meio.
— Claro que existem. Estou apenas mostrando o lado negro da reprodução
assistida como ela é atualmente. De qualquer maneira, vou investigar o pai do seu
filho. Qual é o nome dele?
— Tyler Blackwolf.
— Blackwolf? — Andrew pediu uma confirmação do sobrenome e notei a
incredulidade na voz dele. — Tem certeza de que é Blackwolf?
— Tenho, mas você está falando de um jeito que até estou duvidando. —
Comecei a rir de mim mesma. — Espera um minuto. Ele me deu um cartão com um
número pessoal.
Levantei-me da cama e fui para a sala, onde o cartão ainda estava sobre a
mesa de centro.
Peguei-o, confirmando o nome.
— É isso mesmo. Tyler Blackwolf. Você o conhece? — O meu irmão não
respondeu e estranhei aquele silêncio súbito. — Andrew?
— Tem o nome da empresa dele nesse cartão?
Analisei-o dos dois lados.
— Não. Tem apenas o nome dele e o número do celular.
— O Tyler Blackwolf que eu conheço é o dono do BW Group 10 , um grupo
que detém várias empresas financeiras e que domina Wall Street. Só para você ter
uma ideia, o banco onde a nossa mãe abriu aquela conta para você é dele.
— O BW Bank é dele?
— É dele, sim. Tyler Blackwolf é atualmente o investidor mais respeitado
de Wall Street, mas é também o mais temido, o mais implacável nos negócios e o
mais arrojado nos investimentos. Ele trabalha com investimentos tradicionais, mas
também com os de alto risco, sendo considerado um especialista nestes últimos. Para
o cidadão comum que se interessa eventualmente pelas notícias financeiras,
Blackwolf é apenas o dono do BW Bank, mas dentro de Wall Street o homem é
muito mais do que isso, pois lida diariamente com bilhões de dólares em
investimento — ele explicou e notei a admiração com que falava de Tyler
Blackwolf. — Ele domina aquilo com uma habilidade impressionante, pelo menos
para mim, que trabalho nisso por obrigação e sei que não tenho talento algum para
os investimentos. Blackwolf é um homem jovem, deve ter a minha idade, se não for
mais novo.
Fiquei tão pasma com aquela enxurrada de informações que me sentei no
sofá, incapaz de me manter de pé. Lembrei-me da maneira autoritária e dura com
que ele falou comigo no início da conversa, só amenizando o tom de voz depois que
desmaiei.
— Estou tão... tão chocada que nem sei o que dizer — comentei, atordoada.
— Como é que vou lutar pelo meu filho contra um homem desses?
— Talvez nem tudo esteja tão mal assim para o seu lado. O homem é muito
discreto e se mantém longe das câmeras sempre que pode. Dizem as más línguas que
age assim por ser mesmo um lobo sorrateiro, o que é hilário. — Ele riu, divertindo-
se com as fofocas do mundo financeiro. — Independentemente do que digam, a
verdade é que o apelido de Lobo Negro não tem só a ver com o sobrenome dele. O
homem ganhou fama em Wall Street quando conseguiu levar à falência a primeira
empresa onde colocou o olho clínico dele, fazendo um jogo arriscado de oscilação
no valor das ações. Explicando de maneira simples, ele derruba as ações, compra em
baixa e vende em alta, lucrando bilhões nesse jogo arriscado. Quem investe com ele
lucra um absurdo também e foi assim que começou a ganhar a confiança dos
investidores. Eu jamais teria coragem para um investimento de alto risco dessa
natureza, mas o homem é um especialista e fez isso durante anos até chegar aonde
está agora. Tudo de maneira discreta, sem aparecer muito, até chamar a atenção de
Wall Street e descobrirem quem era o homem por trás da revolução silenciosa que
estava acontecendo no mercado financeiro. É por isso que eu acho que Blackwolf
não vai querer um escândalo de uso indevido de sêmen envolvendo o nome dele, a
menos que esteja disposto a tudo para ter este filho.
Fechei os olhos e engoli um gemido de desespero.
— Pela maneira como ele falou comigo, estou achando que é capaz de tudo
para ficar com o “meu filho” — choraminguei, passando a mão no rosto. — Pode
parecer imaturidade o que vou dizer, mas estou com vontade de fugir daqui e ir para
outro país ter o meu filho em paz. Nunca pensei que isso ia acontecer comigo.
— Calma, baby. Nenhum juiz tiraria o filho de uma mãe legítima para dar
ao pai, mesmo que ele seja o Lobo Negro de Wall Street. O que pode acontecer é
vocês dois ficarem com a guarda compartilhada da criança.
— Todos os meus sonhos e planos estão indo por água abaixo.
— Não vamos perder a esperança de resolver tudo amigavelmente. Acho
que a nossa maior preocupação agora não deve ser Blackwolf, mas o nosso pai —
Andrew me preveniu com uma voz muito séria, deixando-me em alerta. — Depois
que ele descobriu quem é o dono do BW Group, ninguém pode mencionar o nome
de Tyler Blackwolf na frente dele sem que tenha um surto de raiva.
— E por que tanta raiva?
Andrew deu um suspiro profundo de preocupação.
— Nosso pai esconde muita coisa de mim, mas nem tudo consegue evitar
que eu saiba. Descobri recentemente que estamos passando por sérias dificuldades e
os acionistas estão preocupados com isso. Um deles falou comigo em caráter
confidencial e foi assim que fiquei sabendo. Desconfio, mas não tenho certeza, que
Blackwolf colocou o olho em nós, o que significa que sentiu o cheiro de falência no
ar. O homem é como um lobo que fareja a presa quando está vulnerável e fica
esperando o melhor momento para atacar.
Até me arrepiei quando ele falou aquilo e me lembrei da sensação
desagradável que tive na primeira vez em que vi Tyler Blackwolf no elevador da
Fertile Future. A minha intuição estava certa. Ele era tão macabro quanto senti na
ocasião.
— Se o nosso pai souber que você fez uma inseminação artificial e está
grávida do arqui-inimigo dele, o mundo vai cair.
— Meu Deus, nem pensei nisso!
— E nem pense! Você precisa pensar é no filho que está na sua barriga.
Viver tendo sobressaltos e cheia de ansiedade pode ser prejudicial à sua gravidez.
Sabemos do risco de aborto nos primeiros três meses.
Assustada com o que ele disse, coloquei a mão sobre a minha barriga em
um gesto protetor.
— Você tem razão, Andrew. Eu tenho que pensar é no meu filho. Não vou
me preocupar com mais ninguém.
— Muito bem, é isso mesmo. Ficarei ligando para você sempre que puder,
mas me ligue de imediato se precisar de alguma coisa.
— Fique tranquilo, farei isso.
Depois que desliguei, ainda fiquei por um longo tempo sentada no sofá com
o cartão de Tyler Blackwolf nas mãos, sem acreditar na peça que o destino estava
pregando em mim.

Foi muito estranho voltar a falar com Blackwolf depois de saber a


verdadeira identidade dele. Cumprindo o que havia dito para mim, ele ligou à noite,
usando o número pessoal que estava no cartão que havia deixado comigo.
Atendi com muita cautela. Fazer de Tyler Blackwolf um inimigo era a pior
coisa que poderia acontecer em um momento tão crucial da minha vida. Tê-lo como
adversário já era difícil, mas como inimigo seria, sem dúvida alguma, o fim eterno
da minha paz de espírito.
— Como passou o restante do dia? Sente-se bem? — A voz dele soou tão
fria e sem emoção que nem parecia que estava realmente preocupado com o meu
bem-estar.
O homem voltou ao modo teneb roso de ser!
— Sim, estou muito bem, obrigada.
Fui bem formal na minha resposta, talvez assim com o tempo ele fosse
desistindo e se afastando. Eu precisava fazer com que ele se desinteressasse do
suposto filho e continuasse focado na sua escalada de sucesso financeiro em Wall
Street.
Ele ficou calado, como se estivesse analisando a minha resposta. Quando
voltou a falar, continuava com o mesmo tom impassível de voz.
— Quando tem consulta com a sua médica? Quero estar presente para saber
como está o meu filho.
Aparentemente ele não ia desistir, mas eu também não.
— Por tudo o que você me contou, entendi que não há certeza alguma de
que o meu filho é seu. Se erros dessa natureza são comuns naquela clínica, você
pode não ser o pai e acho que deveria pensar nessa possibilidade também. — Tentei
tirar a atenção dele de mim e jogar em outra mulher qualquer. — Não acredito que
eu tenha sido a única cliente a ser inseminada naquele dia. Já pensou se duas ou
mais mulheres saíram de lá inseminadas com o seu sêmen? Alguns filhos seus estão
espalhados por aí. Quem é antiético para uma coisa, será antiético para duas coisas,
ou até mais.
Um silêncio fúnebre se fez do outro lado da linha e fiquei com pena da
pobre criatura que caísse na desgraça de ser alvo da ira daquele homem. Tyler
Blackwolf era literalmente um lobo negro sanguinário e era justamente por causa
daquilo que eu tinha de sair da linha de frente dele.
— Bela tentativa, mas sinto desiludi-la. — A voz dele voltou a adquirir o
mesmo tom de desprezo de quando começamos a conversar na minha sala naquele
dia e percebi que eu estava mais do que nunca na linha de frente dele. — Você foi a
única paciente a ser atendida pela doutora Lisa Brown naquele dia. Ela esteve na
clínica especialmente para atender você e depois foi para o próprio consultório. Não
há possibilidade alguma de ter outras mulheres grávidas de um filho meu por aí. A
única é você e como pai tenho todo o direito de estar presente nas consultas pré-
natais que fizer e em saber como está o meu filho, nem que para isso eu consiga uma
ordem judicial. Aconselho a não esticar muito a corda, Michelle Barton. Você pode
se machucar quando ela arrebentar.
Oh, droga!
Se eu estivesse falando com outro homem que não fosse Tyler Blackwolf,
sem dúvida que o mandaria à merda e desligaria o celular, como fiz naquele dia de
manhã. Só que agora tudo era diferente. Eu tinha experiência suficiente com homens
poderosos como o meu pai para saber que eles não desistiam facilmente. Ao
contrário, quando tinham um objetivo, não descansavam até o atingir.
— Tive uma consulta nesta semana e só terei outra no próximo mês.
— A data e o nome da médica — ele pediu de uma maneira tão impessoal
que parecia estar tratando de negócios e não de uma consulta pré-natal.
Ainda pensei em negar, mas depois achei melhor “não esticar demais a
corda”, como ele mesmo havia dito. No dia seguinte conversaria com Andrew para
conseguir um bom advogado que me aconselhasse sobre o que fazer naquele caso.
— Dia vinte com a doutora Jane Young. — Passei o endereço para ele, sem
omitir nada. — Agora peço licença, mas preciso desligar. Já está tarde.
— Ligue-me se precisar de alguma coisa, Michelle Barton.
A maneira como ele pronunciou o meu nome foi tão cheia de desprezo que
eu só ligaria para aquele homem se estivesse louca.
Esp ere sentado!
— Ligarei para o meu irmão se precisar de alguma coisa. Boa noite.
Desliguei na cara dele, cansada de ser diplomática com um homem tão
insuportável.
Capítulo 11
Michelle
— T enho consciência de que ele foi tão vítima quanto eu, mas não quero
dividir o meu filho com um pai, ainda mais um pai que não escolhi — falei para a
doutora Jane em uma consulta de emergência que consegui ter com ela, ansiosa para
contar tudo o que havia acontecido desde a nossa última conversa.
— Eu sei disso e sinto muito por tudo o que está acontecendo com você,
Michelle. Na verdade, sinto-me até um pouco responsável, já que fui eu quem
indiquei a Fertile Future.
— Não se sinta responsável, por favor. Quem no mundo ia imaginar que a
clínica cometeria um erro crasso dessa natureza? Ninguém, tenho certeza. — Ergui
os ombros em um gesto de resignação, apesar de não me sentir nem um pouco
resignada. — Os únicos culpados são aqueles que erraram.
— Falei com Harrison e ele está arrasado com tudo isso. — Ela meneou a
cabeça com tristeza ao falar do dono da Fertile Future. — Ele levou uma vida inteira
dedicando-se a construir um nome respeitável, para agora alguns funcionários
incompetentes colocarem tudo abaixo. Segundo ele, Tyler Blackwolf está movendo
um processo milionário contra a Fertile Future. Harrison disse que não vai conseguir
pagar caso perca, o que é o mais provável de acontecer. O pai do seu filho está
insensível a todos os apelos que estão sendo feitos para resolverem tudo em um
acordo amigável.
Eu concordava com Blackwolf que a clínica merecia ser processada, mas,
por outro lado, também entendia o drama do doutor Harrison. Se fosse eu,
provavelmente faria um acordo amigável com o diretor, desde que os funcionários
responsáveis fossem punidos.
— Infelizmente não podemos fazer nada quanto a isso, doutora. Pelo pouco
que conheço de Blackwolf, já percebi que ele é do tipo implacável, irredutível e
imparável. Evito até pensar que possa realmente ser o pai do meu filho.
Ela segurou a minha mão por cima da mesa.
— Provavelmente ele é o pai, minha querida. Lógico que só teremos cem
por cento de certeza quando o teste de paternidade for feito, mas acho melhor não se
iludir muito que dê negativo.
Suspirei, desolada.
— Andrew já consultou um advogado especializado em direito de família e
perdi as minhas esperanças de realizar o sonho de ser uma mãe solo. Confirmando-
se que Blackwolf é o pai, vai ter todo o direito de conviver com o filho e obviamente
que nenhum juiz vai negar isso a ele. Vou ser obrigada a aceitar que o meu filho
tenha um pai tão ou mais autoritário do que o meu, com quem vou dividir a guarda
dele. — Passei a mão pelo rosto tentando não me desesperar. — Às vezes acho que
estou tendo um pesadelo que vai se acabar quando eu me acordar. Só que nunca
mais eu acordo!
— Calma, Michelle. Pense na gravidez, no seu filho. Você vai precisar
estar forte e saudável durante toda a gestação, não só fisicamente, como também
emocionalmente. É normal que esteja mais sensível neste período e que veja tudo
sob uma ótica meio sombria, mas acredito muito em Deus. Se Ele quis que
acontecesse assim, é porque há um bom motivo por trás disso tudo que
desconhecemos. Talvez o seu filho precisasse de um pai, mesmo você querendo ser
mãe solo. Se a sua mãe estivesse viva agora, provavelmente diria o mesmo para
você.
A doutora tinha razão, o que só comprovava o quanto conhecia bem a
minha mãe, que me diria exatamente aquilo.
Emocionei-me ao me lembrar dela, sentindo lágrimas nos olhos. Enxuguei-
as com um sorriso de desculpas.
— Acho que estou mais sensível mesmo.
— Pode chorar à vontade, minha querida. Os últimos dias foram tensos
para você e chorar é sempre uma maneira de lavar a alma. Tenho certeza de que se
sentirá mais leve depois.
Bastou aquelas palavras para eu começar a soluçar, sentindo uma falta
tremenda da minha mãe ao meu lado. Um ano de luto parecia pouco diante da
saudade enorme que ainda doía no meu peito.
Cobri o rosto com as mãos e chorei muito, surpreendida com o meu
descontrole.
— Desabafe, Michelle — a doutora Jane disse, sentando-se na cadeira ao
meu lado e abraçando-me com carinho. — Tenha fé, querida. No final vai dar tudo
certo.
— Eu estou tão assustada com tudo isso, com esse homem entrando na
minha vida. Não sei o que ele será capaz de fazer no futuro para ficar com o meu
filho.
— Não pense assim ou vai transformar a sua própria vida em um inferno.
Só Deus sabe o que vai acontecer no futuro de cada um de nós, mas você pode
ajudar pensando de maneira positiva. Você mal conhece Tyler Blackwolf. Todo
mundo tem um lado bom e ele também deve ter o dele. Julgá-lo precipitadamente
pela fama que tem é errado.
Mais uma vez ela estava com a razão e respirei fundo para me controlar,
aceitando o lenço de papel que me deu para limpar o rosto.
— Eu nem consigo me imaginar tendo uma consulta pré-natal com ele
presente ao meu lado, doutora. O homem parece ser tão inabalável e insensível a
tudo. — Tentei encontrar palavras que o descrevessem melhor, mas não consegui.
— Será que ele pelo menos vai se emocionar no dia em que ouvir o coração do filho
batendo?
— Vamos apostar? — Ela sorriu, piscando um olho para mim. — Fico com
o sim.
— Eu aposto que não.
— Saberemos quem vai ganhar no dia da consulta.
Cerca de trinta minutos depois entrei no carro e fui para casa, sentindo-me
outra. Aquela consulta me fez muito bem e agradeci mentalmente à doutora Jane por
ser tão carinhosa e especial comigo. Ela e a minha mãe sempre foram mais do que
apenas médica e paciente. As duas foram realmente amigas. Eu podia dizer que hoje
ela havia me tratado como se fosse uma filha, dando-me os conselhos de uma mãe e
não apenas as orientações de uma médica.
Foi pensando em tudo aquilo que dobrei a esquina que dava para a rua do
meu apartamento. Mal girei a direção, um outro carro me ultrapassou em alta
velocidade, chocando a lateral contra o meu, bem na altura da minha porta.
O susto foi enorme e instintivamente desviei a direção para o lado.
Perdi o controle do carro e subi o meio-fio, invadindo a calçada.
Desesperada, pisei no freio com brusquidão e fui arremessada para a frente com
violência, o cinto de segurança protegendo-me de danos maiores. Ainda assim, o
acidente me abalou muito. Perdi o fôlego e comecei a tremer, uma mistura de
preocupação e alívio me dominando.
Por sorte, aquela era uma rua residencial com pouco movimento de
pedestres, o que evitou que eu atropelasse alguém, mas me bateu uma insegurança
enorme com relação à gravidez.
Eu havia acabado de sair de uma consulta e confirmado que estava tudo
bem comigo. Agora, em questão de minutos, era assolada pela incerteza.
Atordoada, olhei ao meu redor. O carro que me jogou para fora da pista já
havia desaparecido e fiquei sem reação por um instante.
Uma batida na minha janela me trouxe de volta à realidade e olhei para o
lado. Um homem com a expressão preocupada fazia sinal para que eu baixasse o
vidro.
— Sente-se bem, senhorita? — ele perguntou assim que abri a janela.
— Sim, sim — balbuciei, respirando fundo. — Estou bem.
Uma mulher de meia-idade surgiu ao lado dele, olhando-me com a mesma
preocupação.
— Graças a Deus que você está bem. — Ela ergueu as mãos para o céu. —
Aquele louco devia ser preso por dirigir dessa maneira. É uma pena que não
consegui anotar a placa do carro, mas vi tudo.
— Sente-se mesmo bem? — o homem voltou a perguntar com o semblante
muito sério. — Posso chamar uma ambulância ou levá-la para o hospital.
— Estou bem. Obrigada pela ajuda, mas vou ligar para a minha médica e
ver o que ela diz.
Olhei com gratidão para os dois e fechei o vidro, respirando fundo para me
acalmar. As minhas mãos tremiam levemente quando liguei novamente o carro, mas
consegui tirá-lo da calçada e descer o meio-fio.
Cumprimentei os dois com um sorriso forçado e fui para casa com a
atenção redobrada. Provavelmente estava distraída antes e não notei a aproximação
daquele carro.
Assim que cheguei em casa, liguei para a doutora Jane.
— Se o cinto funcionou, evitando um impacto do seu corpo contra a
direção, não há com o que se preocupar, Michelle. Pelo que me contou, o carro
apenas subiu no meio-fio e não houve colisão com nada. Se você não tem nenhum
ferimento e se sente bem, o que deve fazer é descansar pelo menos por uns dois dias.
Fique deitada o máximo de tempo que puder, principalmente nas próximas horas.
Você tem o meu celular e pode me ligar a qualquer momento, caso sinta alguma
cólica ou indisposição. Irei à sua casa se for necessário.
— Obrigada, doutora. Farei isso.
Capítulo 12
Tyler
— E la não foi para o hospital?
Observei a expressão de Miles sentado à minha frente e soube da resposta
antes mesmo que ele falasse.
— Não, senhor. Disse apenas que ia ligar para a médica.
Que mulher ir responsável!
Michelle estava carregando o meu filho na barriga e eu não ia permitir que
o colocasse em risco.
— Obrigado, Miles. Se acontecer mais alguma coisa, avise-me de imediato.
Diga ao segurança que está na casa de Michelle que não a perca de vista em hipótese
alguma.
— Farei isso, senhor, mas tem algo importante que Ted comentou comigo e
que gostaria de dizer.
Ted era justamente o segurança que estava encarregado de proteger
Michelle e olhei com seriedade para Miles.
— Pode falar.
— Ele estava seguindo a senhorita Barton hoje de manhã e acha que não foi
realmente um acidente, como pareceu a princípio.
Fiquei tenso no mesmo instante, desencostando-me da cadeira e inclinando-
me sobre a mesa.
— Quer dizer que foi proposital?
— Isso mesmo. Ted desconfia que o motorista forçou propositadamente o
carro da senhorita Barton para fora da pista. Ela vinha distraída e não notou nada,
mas ele estava logo atrás e viu a manobra do motorista. O homem agiu rápido e
fugiu imediatamente depois, sem dar tempo de Ted ver todos os dígitos da matrícula
do carro. Ele só anotou os primeiros, mas ainda assim estamos tentando identificá-
lo.
A tensão que eu sentia se alastrou pelo meu corpo ao ficar sabendo
daqueles detalhes. Os seguranças da minha equipe eram experientes e se Ted
suspeitava que o acidente foi proposital, era porque havia sido mesmo.
— Quero pegar quem fez isso — rosnei para Miles, que mantinha a
fisionomia tão séria quanto a minha. — Encontrem-no!
— Já estamos providenciando isso, mas não posso dar a certeza de
conseguirmos. Uma senhora que estava nas proximidades testemunhou o acidente e
nos passou algumas informações, mas são imprecisas, pois tudo aconteceu muito
rápido.
Trinquei os dentes, determinado a descobrir quem estava por trás daquilo.
Algum inimigo de Colin Barton? Se fosse, por que investir contra Michelle
justamente agora que ela estava grávida do meu filho?
— É alguém que sabe que ela está grávida do meu filho — afirmei com
convicção, trocando um olhar de entendimento com Miles. — Não tem outra
explicação.
— Também cheguei a essa conclusão. É muito improvável que a senhorita
Michelle tenha inimigos que a queiram mal. Se até hoje ninguém fez nada contra
ela, mesmo sendo filha de um homem como Colin Barton, seria muito estranho que
começassem a persegui-la agora.
Apoiei os cotovelos na mesa e cruzei as mãos, esfregando os polegares,
pensativo.
Quem seria?
— Algum inimigo meu? Destruí muita gente no meu percurso. Muitos
homens perderam tudo, foram à falência e ficaram sem nada. Pode ser qualquer um
deles.
— É possível, mas se fosse por isso, o próprio Colin Barton teria uma fila
ainda maior de inimigos e a senhorita Michelle já teria sofrido algum tipo de
atentado — ele raciocinou sombriamente. — Pensei em alguém da clínica.
Estranhei aquela dedução dele.
— Da Fertile Future? — Contraí a boca com desprezo. — São amadores
demais para se arriscarem a esse ponto.
— Sem provas, sem crime.
Encarei-o gravemente, por fim entendendo aonde queria chegar.
— Se ela abortar com o tempo de gravidez que tem, não haverá prova do
erro que cometeram.
— Exatamente isso, senhor. É uma possibilidade que não podemos
descartar.
— Você tem razão. Pelo que entendi, apenas o irmão sabe que ela está
grávida. Fora ele, tem a médica que está acompanhando a gestação e os profissionais
da Fertile Future que estão envolvidos no caso.
— Sugiro reforçarmos a segurança em torno dela até termos algo mais
concreto. O ideal seria ela ficar sabendo das nossas suspeitas e tomar mais cuidado,
mas acho que não vale a pena preocupá-la antes da hora.
A questão não era só aquela. Michelle Barton era uma mulher difícil de
lidar e não ia gostar de saber que coloquei um homem seguindo os passos dela.
— Reforce a segurança. Quero um relatório diário de tudo o que acontece
com ela e das novidades sobre este acidente.
Depois que Miles saiu, fiquei olhando pensativamente para a vista do
Central Park visível através da parede de vidro, analisando se deveria ligar e falar
com Michelle, não só sobre as suspeitas do acidente, mas também para perguntar
por que ela não foi direto para o hospital ver como estava o meu filho. Se eu ligasse,
ela ficaria sabendo que dei ordens para que fosse seguida. Se eu não ligasse, ficaria
sem saber como o meu filho estava.
Só de imaginar qualquer tipo de ameaça pairando sobre ele, a raiva
explodia no meu peito. Junto com a raiva, aumentava também a vontade de trazer
Michelle para morar em minha casa até que ele nascesse. Contudo, eu sabia que
seria uma luta árdua conseguir convencê-la. Se havia algo que nos unia além do meu
filho, era a animosidade mútua que sentíamos um pelo outro.
Eu não conseguia me esquecer de que ela era filha de Colin Barton. Ser
obrigado a aceitar que fosse também a mãe do meu filho estava sendo um dos
maiores desafios da minha vida. Michelle era tão ardilosa quanto o pai e não
merecia confiança. A maior prova era o fato de ter me dito que só teria consulta com
a ginecologista no próximo mês, quando a primeira coisa que fez de manhã cedo foi
ir à médica sozinha.
Decidido, peguei o celular. Eu precisava escutar nem que fosse a voz dela
para ter certeza de que estava bem. Consequentemente, o meu filho também estaria.
Fiz a ligação e fiquei aguardando que atendesse, o que só aconteceu quase
no último toque.
— Eu estou bem e o “meu” filho também — ela disse assim que atendeu,
sem nenhum cumprimento educado e frisando o pronome possessivo. — Agora
posso descansar?
Incrivelmente, senti vontade de rir com o jeito direto como ela falou ao
reconhecer o meu número pessoal.
— Obrigado pela informação. Foi justamente para saber do “meu” filho que
liguei.
Ouvi um bufado impaciente dela ao perceber que eu não cederia a
paternidade assim tão fácil.
— Agora que já sabe, preciso desligar. Hoje não estou com ânimo para
lidar com o seu autoritarismo.
— Não espere delicadezas da minha parte, Michelle Barton. Não sei o que
é isso.
— Isso é algo que uma mãe ensina ao filho, mas parece que a sua não lhe
ensinou o básico da consideração humana. Sinceramente, eu não espero nada de
você, Tyler Blackwolf. Absolutamente nada. Com licença.
Michelle desligou na minha cara e daquela vez quem bufou com
impaciência fui eu. Já era a terceira vez que ela fazia aquilo comigo, algo que
ninguém nunca ousou fazer antes.
Sem sombra de dúvida, apesar do acidente, ela estava muito bem.
Capítulo 13
Michelle
A chei que poderia descansar naquele dia, mas a vida estava me pregando
uma peça atrás da outra. Quando a campainha da minha porta soou no meio da tarde,
fui atender já esperando ver no olho mágico o tenebroso Tyler Blackwolf
aparecendo sem ser convidado. Sem dúvida alguma, aquele homem precisava de um
bom banho de sal grosso.
Eu realmente senti um calafrio de medo ao olhar para a imagem do homem
que estava em pé na frente da minha porta, só que não era Blackwolf. Era o meu pai
e com uma expressão no rosto até pior do que a do Lobo Negro de Wall Street.
Estranhei sentir mais medo do meu pai do que de Blackwolf. Talvez o
afastamento do primeiro e a convivência maior com o segundo, estivesse fazendo-
me ver que ambos não eram tão parecidos assim quanto achei à primeira vista.
Igual à Blackwolf, o meu pai estava acompanhado por dois seguranças,
sendo um deles o que eu mais detestava. Huxley Miller assediava as empregadas da
mansão Barton e várias delas se queixaram à minha mãe. Mesmo ela tendo
intercedido em favor das empregadas da casa, o meu pai nunca o puniu ou demitiu
por causa daquilo, o que era revoltante.
Hesitei na hora de abrir a porta, ciente de que nunca havia dado ao meu pai
o endereço do meu apartamento. Para ele estar ali agora, foi porque mandou me
investigarem e seguirem os meus passos.
Merda! Quando é que vou ter paz?
Fechei os olhos e coloquei a mão sobre a minha barriga, que em breve
começaria a crescer. O sonho de ter o meu filho ou filha sem que o meu pai soubesse
tinha sido pura ilusão. Achei que ele me renegaria de vez quando eu saísse de casa,
mas agora percebia que não. Se brincar, mesmo que eu fosse para o outro lado do
mundo ele descobriria onde estava, querendo mandar na minha vida.
A campainha tocou mais uma vez de maneira irritante e pensei se dava
tempo de ligar para Andrew. Ele sempre me ajudava na hora de enfrentar o meu pai,
mas um terceiro toque me fez desistir. Respirei fundo, preparando-me
psicologicamente para enfrentar sozinha o poderoso Colin Barton .
Abri a porta, olhando-o com a expressão mais normal que consegui
imprimir no rosto.
O meu pai era um homem bonito que não aparentava os sessenta e cinco
anos que tinha. Ele se cuidava muito, era vaidoso e cheio de orgulho de si mesmo.
Alto, magro, com cabelos grisalhos que lhe davam um ar de dignidade, ele circulava
na alta sociedade com autoconfiança e domínio, conquistando a todos com muita
astúcia. Era um tirano doméstico disfarçado de respeitável homem de negócios, mas
só quem vivia sob o mesmo teto que ele o conhecia realmente.
— Olá, pai. Estou surpresa em vê-lo aqui.
— Não deveria. Você sabe que consigo tudo o que quero.
Sim, infelizmente eu sabia, mas sonhar não fazia mal a ninguém.
Deixei-o entrar e fechei a porta na cara de Huxley, antes que ele achasse
que também tinha o direito de entrar no meu apartamento.
— Apenas achei que o senhor não perderia o seu tempo me procurando, já
que quase não tem tempo para nada.
— Sempre tive tempo para os meus filhos.
Claro que teve. Ele precisava controlar os nossos destinos, mandar nas
nossas vidas, decidir o que seríamos e o que faríamos para atender aos interesses
dele.
Preferi não comentar nada sobre aquilo, indo direto ao assunto. Quanto
menos tempo ele passasse no meu apartamento, melhor.
— E o que o traz aqui?
— Esse filho bastardo que você tem na barriga.
O quê?!
Gelei na hora. Eu só tinha cinco semanas de gravidez e fisicamente não se
notava nenhuma alteração no meu corpo.
Como foi que ele descobriu tão r ápido assim?
Depois me lembrei que o poder do meu pai não tinha limites e tentei não
me abalar com o que ele disse. Contudo, não o deixaria chamar o meu filho de
bastardo.
— O meu filho não é um bastardo, pai. Esta maneira de falar é ultrapassada
e preconceituosa.
Ele me encarou com reprovação no meio da sala.
— E você se transformou rápido demais em uma mulher moderninha
depois da morte da sua mãe. Acha que vou aceitar que tenha o filho de um pobretão
qualquer que vendeu o próprio sêmen para ganhar dinheiro?
— Eles doam, não vendem.
O meu pai gargalhou com cinismo, mas os olhos continuavam duros.
— Você é muito ingênua se pensa isso. Tudo nesta vida vale dinheiro,
Michelle. Homens sérios têm mais o que fazer do que doarem espermatozoides para
mulheres como você, dispostas a pagarem caro para terem o filho de um
desconhecido. Que absurdo! Se queria um filho, por que não se casou logo com
Nicholas?
Nicholas Brooks era o genro perfeito para o meu pai, mas não o marido
perfeito para mim. Com quarenta e cinco anos e dono de uma rede de lojas de
departamentos com ações bem cotadas da bolsa de valores, ele era um homem igual
ou pior do que o meu pai. Divorciado e dono de um olhar nojento, ele só me dava
asco.
— Eu não amo o Nicholas — falei pela milionésima vez.
— Sua idiota! E por acaso ama o desconhecido de quem engravidou? — ele
perdeu a paciência, aproximando-se de mim com o rosto contorcido de raiva e
segurando-me pelo braço com força. — Você não vai me envergonhar tendo este
bastardo! Vai agora mesmo à uma clínica tirar esse filho, voltar para casa comigo e
se casar com Nicholas antes que ele descubra a loucura que fez!
Quase não acreditei no que ouvi.
— Quem está louco é o senhor! Eu não vou tirar o meu filho!
Puxei o meu braço com força, libertando-me dele e recuando para longe,
deixando a mesa de centro entre nós dois.
A distância que tomei não foi impedimento para ele me esbofetear com
força. O mundo girou ao meu redor, tudo ficou escuro e me senti caindo, enquanto a
minha mente desesperada só pensava em uma única coisa: o meu filho.
Não me deixe perdê-l o, meu Deus!
O impacto da bofetada me jogou com violência sobre o sofá, onde caí sem
fôlego. Mal me recuperei, a mão dele segurou o meu rosto com agressividade,
apertando a minha mandíbula até doer.
— Respeite o seu pai e me obedeça quando eu disser uma coisa — ele
rosnou, suspenso sobre mim. — Vá se arrumar para irmos a uma clínica tirar esse
bastardo agora!
— Sou maior de idade. O senhor não pode me obrigar a fazer isso.
— Eu posso tudo, Michelle! Quando é que você vai aprender isso? A sua
mãe e o seu irmão sempre protegeram você demais e olhe no que deu! Uma
desmiolada que resolve engravidar de um desconhecido e me envergonhar diante da
sociedade inteira. Você vai tirar esse filho hoje, antes que todos fiquem sabendo da
loucura que cometeu.
Fui agarrada pelo braço e levada à força pelo corredor em direção ao meu
quarto.
— Vista uma roupa decente para sairmos daqui.
— Eu não vou!
— Você tem dez minutos para se arrumar e sair comigo deste apartamento
ou mandarei Huxley dar um jeito de tirar você daqui, nem que seja desacordada.
Estremeci só de imaginar Huxley tocando-me, nem que fosse apenas para
me carregar até o carro do meu pai.
— Desista de mim e vá embora, pai. Esqueça que sou sua filha.
Ele me soltou com brusquidão dentro do quarto.
— Se a sociedade inteira não soubesse que você é minha filha, pode ter
certeza de que me esqueceria, Michelle. Agora se arrume! Tem dez minutos.
A porta foi batida com força quando ele saiu do meu quarto, deixando-me
sozinha. Cobri o rosto machucado com as mãos e comecei a chorar, desesperada,
tentando encontrar uma saída para a situação surreal que estava vivendo.
Eu queria fugir, mas não tinha como. Teria de passar pelo meu pai e pelos
seguranças para conseguir sair do apartamento. Queria ligar para Andrew, mas o
meu celular estava em cima da mesa de centro da sala e nem sempre o meu irmão
conseguia convencer o meu pai quando estava furioso daquele jeito.
A minha única chance de fuga era fora do apartamento e decidi representar
o papel de filha obediente, fingindo que ia com o meu pai para a clínica. No meio do
caminho eu encontraria uma maneira qualquer de fugir dele .
Vesti a primeira roupa que encontrei e fui para a sala, onde ele me
aguardava falando com alguém ao celular. Aproveitei que estava concentrado na
ligação e peguei o meu próprio celular na mesa de centro, guardando-o no bolso do
casaco. Coloquei a alça da bolsa no ombro e esperei.
O meu pai finalizou a ligação e caminhou para a porta, sem sequer me
dirigir a palavra. Saímos do apartamento, que tranquei com uma tristeza profunda,
pensando em como estaria quando conseguisse entrar nele de novo.
Evitei olhar para Huxley ou para o outro segurança enquanto acompanhava
o meu pai até o elevador. Quando ele chegou, entramos todos e fui controlando a
súbita vertigem que me acometeu assim que começamos a descer.
Respirei lenta e pausadamente para o mal-estar passar, rezando para me
recuperar logo e não perder nenhuma oportunidade de fugir.
O carro onde o meu pai tinha vindo com os dois seguranças estava parado
em frente ao prédio. Mal cheguei à rua, já pensei em uma maneira de sair correndo,
mas depois desisti da ideia. Huxley me alcançaria em questão de segundos e só Deus
sabe o que faria comigo depois disso.
Para piorar a situação, o meu pai me segurou logo pelo braço, forçando-me
a ir direto para o carro. Fui praticamente empurrada para dentro dele, sentando-me
no banco de trás. O meu pai se sentou ao meu lado, Huxley no banco do passageiro
e o outro segurança na direção.
Assim que o carro começou a andar, decidi enviar uma mensagem pelo
celular para Andrew. Cruzei as pernas e coloquei a bolsa no colo, escondendo o
celular que tirei discretamente do casaco. Com ele apoiado no banco ao meu lado,
procurei o número de Andrew, mas manipular o aparelho com uma única mão e
fingindo olhar para a frente era difícil demais. O que apareceu para mim foi a lista
das últimas ligações e a que recebi de Tyler Blackwolf estava logo em primeiro
lugar.
Segui a minha intuição e não pensei duas vezes em digitar uma mensagem
desesperada para ele.
“Preciso de ajuda, mas não me ligue, por favor. Estou sendo levada pelo
meu pai para tirar o n osso filho.”
Era a primeira vez que eu dizia “nosso” filho e não “meu” filho, mas se
existia alguém que lutaria por ele era Blackwolf. Tirei o som do celular e enviei a
mensagem, esperando em ansiosa expectativa que me respondesse.
Quase não acreditei no que li quando chegou a resposta dele segundos
depois.
“Já estou sabendo. Tenho um segurança seguindo vocês. Fique tranquila,
vou resolver isso. Cuide de manter o meu filho vivo.”
Ficar sabendo que ele havia colocado um segurança para me vigiar me
deixou mais desolada do que já estava. Aquilo era tão a cara do meu pai que foi
impossível não me sentir mal por Blackwolf ser o pai do meu filho.
Para piorar, ele escreveu “o meu filho”. Ao contrário de mim, que estava
desesperada a ponto de admitir que o filho era nosso, Blackwolf continuava frio e
controlado, mantendo a posição de único a ter o direito sobre ele.
Só Deus para saber como é que aquele homem conseguia estar tão calmo
em uma situação desesperadora como aquela.
Capítulo 14
Michelle
O meu pai me levou para uma clínica que eu nunca tinha visto ou ouvido
falar na minha vida. Eu me sentia sufocar dentro do carro quando o motorista parou
em um estacionamento deserto que havia nos fundos .
Até aquele momento, não cheguei a ver nenhum carro de segurança nos
seguindo, o que me deixou apreensiva. Onde estavam os homens de Blackwolf que
não chegavam?
Tive o meu braço novamente agarrado e fui forçada a acompanhar o meu
pai para dentro da clínica. Huxley entrou conosco, mas o outro segurança ficou
aguardando lá fora. Era menos um com quem me preocupar e pensei em tentar fugir
pela porta da frente. Eu até conseguiria me livrar facilmente do meu pai, mas como
faria com Huxley?
A ansiedade voltou com força total e me senti nauseada, com receio de
desmaiar a qualquer momento. Se aquilo acontecesse, só facilitaria as coisas para o
meu pai, que nem teria trabalho de me dominar para o médico tirar o meu filho.
Um homem atarracado usando uma bata apareceu assim que entramos.
— Boa tarde. Acompanhem-me, por favor.
O meu pai não disse nada, muito menos eu. Fomos conduzidos
silenciosamente por corredores estreitos até uma sala, onde um homem de meia-
idade com um rosto até bondoso nos agua rdava.
A porta foi fechada, com Huxley montando guarda do lado de fora.
Se Blackwolf demorar não vou ter c omo escapar!
— Boa tarde. É uma honra recebê-los na minha clínica. Sentem-se, por
favor.
— Não temos tempo para isso, doutor. Seja rápido! — o meu pai disse com
grosseria.
Olhei para o médico e decidi apelar.
— Eu não quero tirar o meu filho, doutor. Estou sendo obrigada. Me ajude!
O homem piscou, surpreendido com o meu pedido desesperado.
— Cale-se, Michelle! — o meu pai ordenou em um rosnado e pensei se ia
me bater de novo.
Respirando fundo para controlar a vertigem, ignorei-o, mantendo o foco no
médico.
— Por favor, doutor, me ajude.
— Mas... mas — o homenzinho gaguejou hesitante, olhando para o meu
pai.
— Chega! — o meu pai rugiu novamente, furioso. — Se você abrir a boca
para dizer mais alguma coisa, vou...
Ele nem chegou a terminar de falar. Um som estranho veio da porta e logo
ela estava sendo aberta por Tyler Blackwolf.
O alívio que senti ao vê-lo foi tanto que senti as minhas pernas tremerem e
as lágrimas subirem aos olhos. Nunca pensei que um dia fosse gostar de ver aquele
homem tenebroso à minha frente, mas foi exatamente o que aconteceu.
Usando o seu costumeiro terno impecável e emanando a energia de um
cavaleiro do apocalipse, ele fechou calmamente a porta e olhou para mim, como se
quisesse ter a certeza de que eu estava bem.
Confirmei com um leve meneio de cabeça e tentei ir para o lado dele, mas o
meu pai apertou a mão no meu braço, detendo-me.
Blackwolf olhou para o médico.
— Saia!
Uma única palavra dita por ele foi o suficiente para o médico desaparecer
da sala em questão de segundos. Ficamos os três sozinhos e foi quando notei a
expressão chocada no rosto do meu pai. Ele parecia estarrecido, como se estivesse
vendo o próprio demônio à frente dele.
Em parte eu entendia aquela reação, uma vez que era a mesma que senti
quando vi Blackwolf pela primeira vez. Só que o meu pai era um homem
acostumado a lidar com os tubarões de Wall Street e aquele assombro dele era
estranho demais.
— O que você está fazendo aqui? — Ele nem conseguiu disfarçar o choque
no tom de voz.
Blackwolf se aproximou lentamente, parando ao meu lado e de frente para
o meu pai.
— Vim salvar o meu filho que você pretendia matar — ele respondeu com
uma voz soturna, deixando transparecer um ódio tão grande que me fez prender a
respiração. — Solte-a!
Para a minha total estupefação, o meu pai obedeceu de imediato. Desconfiei
que não foi por causa da presença física intimidante de Blackwolf, mas por um outro
motivo que não ficou bem claro para mim. Apesar de o mal-estar me deixar
atordoada, notei que havia ali qualquer coisa mal explicada entre os dois e os
observei com atenção.
O rosto do meu pai se contorceu de raiva e ambos se encararam com um
ódio que parecia mortal. Quem ficou chocada fui eu ao identificar aquilo. Para mim,
estava muito óbvio que eles eram inimigos de longa data e que o ódio que sentiam
um pelo outro não era algo que havia acontecido naquele momento, mas que existia
há bastante tempo.
O meu pai me olhou, possesso.
— Você ousou engravidar dele e me fez acreditar que foi por inseminação?
Só então me lembrei de Andrew dizendo que o nosso pai tinha surtos de
cólera sempre que o nome do BW Bank era citado. Ali estava mais uma prova de
que a minha dedução estava correta.
Não cheguei nem a abrir a boca para responder e Blackwolf já se
antecipava em uma resposta.
— O filho é meu e nunca mais ouse chegar perto dele ou de Michelle — ele
assumiu a paternidade com aquele aviso em tom de ameaça, mas ignorou a
referência sobre a inseminação. — Se ela o perder por sua causa, você perde a sua
vida também.
Abri a boca em um arquejo de susto ao ouvir o que ele disse. Blackwolf
estava ameaçando matar o meu pai e fiquei paralisada de horror, mesmo sabendo
que era para defender o meu filho.
Em contrapartida, recebi um olhar de desprezo do meu pai.
— No dia em que ele der um chute na sua bunda e você estiver passando
por dificuldades, não me procure. Não tenho mais filha.
Virou-se e saiu rigidamente da sala, batendo a porta com força.
Inspirei fundo, assustada com tudo aquilo. Por outro lado, sequer acreditava
que o horror pelo qual passei havia se acabado.
Vacilei nas pernas e me segurei com força no espaldar da cadeira mais
próxima, onde me sentei pesadamente, pensando o que mais aconteceria para me
deixar emocionalmente aos pedaços.
Livre do perigo iminente, comecei a tremer. Fui assolada pelas dores das
agressões que sofri e que a adrenalina do perigo havia deixado em segundo plano. O
meu rosto esbofeteado latejava, assim como o lábio levemente inchado e o braço que
o meu pai havia apertado com força.
Cobri o rosto com as mãos trêmulas e controlei a vontade de chorar.
— Você está bem?
Blackwolf se agachou ao meu lado, estreitando o olhar ao analisar o meu
rosto com atenção.
— Ele bateu em você — afirmou com a voz endurecida onde se notava a
raiva ainda latente. — Atingiu a barriga?
— Não, foi só no rosto. Depois me arrastou para fazer o aborto aqui.
Ele se levantou, parecendo mais alto do que nunca na sala exígua do
médico.
— Vou levar você para o hospital agora mesmo. — Dirigiu-se para a porta,
que abriu com firmeza.
— Prefiro ir para a clínica da minha médica.
Blackwolf não disse nada, examinando o corredor.
— Vamos embora! — ordenou para alguém lá fora, provavelmente um dos
seguranças.
— Sim, senhor — uma voz de homem respondeu prontamente, como se
estivesse esperando apenas aquela ordem.
Levantei-me para sair da sala, segurando-me no encosto da cadeira para
testar o meu corpo. Apesar de me sentir tremer em uma espécie de reação pós-
traumática, fiquei satisfeita ao perceber que conseguia andar com segurança.
Blackwolf olhou para mim assim que dei o primeiro passo e caminhou
resoluto na minha direção com a fisionomia fechada, mas decidida. Sem que eu
pudesse evitar, pegou-me ao colo, surpreendendo-me e obrigando-me a abraçá-lo
pelos ombros .
Cruzamos o olhar por um milésimo de segundo e a sensação de estar tão
próxima dele foi perturbadora. Pensei ter visto um brilho diferente nos olhos
escuros, mas foi tão rápido que só podia ter sido imaginação minha.
Com a expressão fechada e a frieza característica de sempre, Blackwolf
saiu da sala comigo ao colo.
— Não é preciso — balbuciei, tentando soar natural.
Era estranha demais a intimidade de sentir as mãos dele no meu corpo e não
havia como evitar que o meu seio encostasse no peito largo. Mesmo com o terno que
ele usava, eu conseguia perceber a força do tórax amplo e dos braços que me
seguravam, além do aroma do perfume masculino que invadia os meus pulmões.
— Até que eu saiba como o meu filho está, é preciso, sim. — Foi a resposta
seca dele, deixando bem claro o motivo que o levou a me ajudar.
Obviamente que eu não esperaria outra coisa da parte dele.
Do lado de fora da clínica, dois veículos aguardavam no estacionamento.
Um deles era um luxuoso Escalade preto, para onde Blackwolf me levou. O carro do
meu pai já não se encontrava mais ali e agradeci a Deus por não precisar vê-lo, nem
à Huxley.
Um dos seguranças abriu a porta de trás e fui colocada no banco por
Blackwolf. Tentei por tudo que os nossos rostos não ficassem muito próximos, mas
teve um momento em que foi impossível. Fiquei de olhos baixos, sem ousar encará-
lo. Uma coisa era discutir com Blackwolf sobre o meu filho e outra totalmente
diferente era estar praticamente colada nele daquele jeito. Era realmente perturbador
estar tão perto de um homem demasiadamente enigmático, que exalava uma energia
pesada demais e um vazio na alma que me assustava.
Sem emitir uma única palavra nem amenizar a rigidez do rosto, ele fechou a
porta imediatamente depois, fazendo-me soltar o ar dos pulmões e respirar aliviada.
Capítulo 15
Tyler
A ssim que soube que Colin Barton havia entrado com dois seguranças no
prédio onde Michelle morava, saí do escritório e fui direto para lá, desconfiando
logo que o motivo só podia ser a gravidez dela. E se ele descobriu sobre a gravidez,
era porque andou vigiando a filha e também havia descoberto que ela engravidou
depois de uma inseminação artificial.
Michelle havia deixado muito claro que só o irmão sabia da inseminação e
ficou óbvio para mim que o relacionamento dela com o pai não era dos melhores. A
maior prova era o fato de morar sozinha em um apartamento simples, em vez de
residir na luxuosa mansão da família. Aquele era o único ponto positivo para ela,
entre tantos negativos que o sobrenome Barton trazia.
Conhecendo-o como eu conhecia, desconfiei que ele não ia gostar daquilo e
que faria questão de dizer pessoalmente à filha o que pensava do método que ela
havia escolhido para ser mãe. Contudo, eu o subestimei ao não prever que exigiria
que Michelle fizesse um aborto, ainda que não soubesse que eu era o pai.
Filho da mãe desgraçado!
Se ele tivesse conseguido matar o meu filho, eu não hesitaria em matá-lo
também, nem que fosse apodrecendo atrás das grades. Deixá-lo sem um centavo,
pobre e socialmente desmoralizado seria pouco para a minha sede de vingança.
Apesar de Michelle estar pálida quando entrei na sala do médico, o olhar
aliviado dela me deu a certeza de que estava bem. Aquele alívio em me ver mostrava
o nível de desespero que devia estar sentindo, porque ela literalmente me detestava.
O mais difícil ao enfrentar Colin Barton, era controlar a vontade de meter
um violento soco na cara dele. O homem tinha a idade do meu pai se ele ainda
estivesse vivo, mas aquilo não me impediria de socá-lo se fosse provocado.
Aquela não era a primeira vez que nos encontrávamos pessoalmente, apesar
de ser a primeira em que estávamos praticamente sozinhos. Ele sabia que eu era
filho do homem cuja reputação arruinou, tomando-lhe também a mulher que amava,
mas o verdadeiro ódio que Colin Barton sentia por mim vinha das perdas financeiras
que eu estava causando no patrimônio dele há anos. O golpe final estava perto e ele
sabia daquilo.
Anos de luta árdua para recuperar a honra do sobrenome Blackwolf no
mercado financeiro me ensinaram a usar a razão em vez da emoção em situações de
grande estresse. Eu conseguia ser frio, ainda que estivesse fervendo por dentro, e foi
como agi diante do meu maior inimigo. O irônico de tudo era estar defendendo a
filha dele e assumir o meu filho como se estivesse tendo um caso amoroso com ela.
Michelle Barton estava com o meu filho e, enquanto assim permanecesse,
estava também sob a minha proteção.
Acomodei-a no Escalade determinado a não me deixar envolver pela
sensação estranhamente forte que me dominou ao tê-la nos braços e sentir a leveza
do corpo esbelto colado ao meu. Michelle era muito magra para o meu gosto, mas
aquilo não impediu que o meu corpo reagisse ao contato com o dela.
Vi a perplexidade na expressão dos olhos azuis quando ela me encarou tão
de perto, mas ignorei o que Michelle pudesse estar sentindo e mais ainda o que eu
sentia, determinado a esmagar dentro de mim qualquer sentimento que não fosse
aversão pela filha de Colin Barton. Pensei apenas no meu filho e em nada mais.
Coloquei-a no Escalade e fechei a porta, falando com Miles.
— Para a clínica da doutora Jane Young.
Já havíamos investigado a médica de Michelle e Miles sabia onde ela
trabalhava.
Dei a volta ao carro e entrei, sentando-me ao lado dela. Miles se sentou na
direção e saímos da clínica com o veículo dos seguranças na retaguarda. Michelle
precisava ser examinada e quanto mais rápido chegássemos ao consultório da
médica, melhor.
Peguei o celular no bolso do paletó e liguei para lá. Assim que uma mulher
me atendeu, identifiquei-me.
— Sou Tyler Blackwolf e quero uma consulta urgente para Michelle Barton
— falei com desprezo o sobrenome dela, ainda sem conseguir aceitar totalmente que
fosse a mãe do meu filho.
— Para Michelle? — a mulher perguntou com preocupação na voz. —
Posso falar com ela, senhor Blackwolf? Sou Bertie Moore, a assistente da doutora
Jane Young.
— Preciso saber se ela poderá ser atendida agora, ou a levarei para um
hospital. Não há tempo a perder com conversas — exigi uma confirmação com
impaciência.
— A doutora está em uma consulta agora, mas é claro que poderá atender
Michelle logo depois. Posso falar com ela para saber como está, por favor?
— Só um instante.
Virei-me para Michelle, cujo olhar reprovador estava fixo em mim. Passei-
lhe o celular sem dar explicações das minhas atitudes.
— Bertie, a doutora vai poder me atender mesmo? — ela perguntou,
ouvindo o que a mulher dizia e olhando para mim depois. — Ele queria me levar
para o hospital, mas eu preferi que a doutora Jane me visse.
As duas conversaram por alguns minutos enquanto o carro percorria as ruas
da cidade, até Michelle desligar e me devolver o celular.
— Sente-se mesmo bem? — perguntei, referindo-me ao que ela havia dito à
assistente da médica.
— Sinto dores no corpo, mas nenhuma cólica, o que já me tranquiliza
quanto ao bebê. A doutora dirá algo mais certo.
Apesar do que disse, ela parecia exausta e fragilizada, o que me deixou
tenso. Observei o lábio inferior ligeiramente inchado.
— Foi a primeira vez que ele lhe bateu?
Michelle se surpreendeu com a pergunta, lançando um olhar admirado para
mim.
— Por que quer saber? Para o odiar mais do que já odeia? — Ela não mediu
as palavras, indo direto ao ponto. — Nem adianta negar. Vocês dois pareciam a
ponto de se matarem naquela sala e não foi por causa do meu filho.
Escondi um sorriso irônico ao ouvi-la dizer “meu” filho. Agora que estava
salva e em segurança, Michelle já não se referia a ele como nosso, como havia feito
na mensagem que me enviou.
— E quem lhe disse que eu ia negar?
Ela me olhou com curiosidade.
— Por que vocês dois se odeiam tanto?
Foi com dureza que devolvi o seu olhar.
— Obviamente que ele nunca lhe contou, mas também não sou eu quem
vou contar. É até melhor que não se meta neste assunto ou vai sair machucada.
Ela arquejou levemente, sem conseguir esconder a apreensão ao ver o que
achava ser o meu pior lado. Michelle Barton ainda não conhecia nem metade do
meu lado ruim e já se tremia de medo. O que sentiria então ao me conhecer por
completo?
Ela não disse nada e voltei a minha atenção para a janela, ignorando-a
durante o restante do percurso até a clínica.
Aquela mulher não ia tirar o meu foco da vingança que arquitetei
minuciosamente contra o pai dela.

A investigação que foi feita sobre a doutora Jane Young não mostrou nada
que desabonasse a conduta médica dela durante os anos em que exercia a medicina.
Conhecê-la pessoalmente comprovou o que o relatório dizia.
Foi em tom firme que convenceu Michelle a me deixar participar da
consulta, alegando acertadamente que eu tinha aquele direito por ser o pai da
criança.
— Preciso saber se o meu filho está bem, doutora — disse-lhe assim que
nos sentamos no consultório.
— Primeiro vou examinar Michelle em particular na sala ao lado. Depois
conversaremos sobre o filho de vocês, senhor Blackwolf.
Concedi com um meneio de cabeça, vendo a lógica do que disse. Eu e
Michelle não tínhamos a proximidade de um casal normal para que eu estivesse
presente nos exames mais íntimos que ela faria.
— Aguardarei aqui.
As duas saíram da sala e peguei o celular para passar o tempo, analisando a
cotação das ações do Barton Bank na bolsa. Como esquematizei, continuavam
caindo rapidamente e não demoraria para chegar à lona, levando Colin Barton junto.
Passei os minutos seguintes fazendo análises de mercado, conferindo o
índice Dow Jones e Nasdaq, enquanto traçava mentalmente novos investimentos que
valiam a pena.
Quando a porta da sala de exames se abriu, observei logo o rosto de
Michelle. Ela era um livro aberto em matéria de emoções, sem esconder nada do que
sentia, pelo menos para mim. Foi com alívio que vi a expressão tranquila e o leve
sorriso que tinha nos lábios. Aquilo foi o suficiente para eu ter a certeza de que o
meu filho estava bem.
Ainda assim, era preciso a confirmação da médica.
— Ele está bem?
— Sim, está. — A doutora sorriu com segurança. — O saco gestacional
continua bem fixo à parede do útero, sem alteração alguma. Michelle também não
sente cólica e não há sangramento. O que ela precisa agora é de descanso total para
se recuperar do que passou hoje, sem novas atribulações ou visitas inesperadas.
Não seria no apartamento dela que Michelle encontraria aquilo, mas preferi
não comentar nada na frente da médica. Eu pretendia levá-la para minha casa, mas já
sabia que aquela não seria uma conversa fácil e era melhor que fosse em particular .
— Se é de descanso que ela precisa, é melhor irmos logo para casa.
Michelle já está liberada, doutora?
— Sim, está. — A médica se dirigiu à Michelle. — Vá para casa e
descanse, minha querida. Pelos próximos dias, evite receber visitas como a de hoje.
— Obrigada, doutora — Michelle agradeceu indo abraçar a médica.
Deixei que as duas se despedissem e fiz o mesmo com um aperto de mãos.
Do lado de fora da sala, Michelle se despediu de Bertie Moore com o mesmo abraço
e só depois me acompanhou de volta até o carro.
Antes de entrar no Escalade, dei ordens a Miles.
— Vamos passar no apartamento de Michelle para ela fazer as malas. Vou
levá-la comigo.
Ele aprovou a minha decisão com o olhar antes de se sentar na direção.
Agora só faltava convencer Michelle a morar comigo até o meu filho nascer.
Capítulo 16
Tyler
— O brigada por ter me ajudado com o meu pai.
Aquele agradecimento dito na porta do apartamento dela era uma
despedida, mas eu não ia embora sozinho. Estava decidido a levar Michelle comigo.
— Agradeça-me de uma outra maneira. — Segurei a maçaneta e entrei no
apartamento antes que ela batesse a porta na minha cara. — Faça as malas e venha
para a minha casa.
Fechei a porta e fui para a sala, obrigando-a a vir atrás de mim.
— O quê?! — Michelle reagiu de imediato como eu esperava. — Você
deve estar brincando!
Eu já estava preparado para aquela resistência e me virei calmamente para
ela.
— Você tem a mania de achar que sobra tempo na minha vida para eu fazer
brincadeiras — respondi muito sério. — Olhe para este apartamento, Michelle. Acha
que está segura aqui dentro?
— Acho! — afirmou com convicção. — Estou segura e longe de
companhias desagradáveis.
Era uma indireta para mim, mas a ignorei totalmente. Havia algo mais
importante em causa e a antipatia dela por mim pouco me importava.
— Isso até o seu pai enviar um dos seguranças dele para invadir o seu
apartamento e levá-la à força para algum lugar onde o meu filho será assassinado
antes de nascer.
Percebi que ela engoliu em seco antes de me responder.
— Ele não vai fazer isso, já desistiu de mim.
Não obstante o que disse, havia insegurança na voz dela.
— Nem você mesma acredita nisso. Igual a mim, sabe que o seu pai é
capaz de tudo, ainda mais agora que sabe de quem é o filho que você espera.
Lembra-se que eu e ele nos odiamos?
— Oh, isso não é justo! — exclamou, desolada.
— Nem sempre a vida é justa. Se você teimar em ficar no seu apartamento,
posso não conseguir evitar algo pior. Pessoas entram e saem do seu prédio a toda
hora e não tenho como impedir que alguém que queira lhe fazer mal suba até o seu
apartamento, exceto se colocar um homem aqui dentro com você, o que não farei.
Na minha casa é diferente. Só entra quem tem autorização. Você e o meu filho
estarão cem por cento em segurança.
— Não vou ser uma prisioneira na sua casa, Blackwolf.
Olhei-a com impaciência.
— E quem disse que estou aprisionando você? Pare de tirar conclusões
precipitadas. Poderá sair sempre que quiser, desde que leve um dos seguranças com
você.
— E se eu quiser receber visitas? O meu irmão sempre vem me visitar
quando pode.
Eu conhecia Andrew Barton. Apesar de ser filho de quem era, eu não
achava que fosse um homem igual ao pai.
— Ele poderá visitar você quantas vezes quiser.
Ela me olhou com irritação.
— E quem me garante que você vai cumprir a sua palavra depois que eu
estiver dentro da sua casa?
Era difícil não perder a paciência com Michelle, mas me lembrei a tempo
da gravidez e do desmaio que ela teve em nossa última conversa naquela sala.
Amenizei o tom de voz, porém, não doseei as palavras.
— Você conviveu tanto tempo com um homem execrável que já nem sabe
o que é um homem de verdade. Tenho vários defeitos, reconheço, mas nunca faltei
com a minha palavra. Se estou dizendo que você vai poder entrar e sair da minha
casa quando quiser, desde que esteja acompanhada por um segurança, é porque vai
poder fazer isso. Se afirmo que o seu irmão pode visitar você sempre que quiser, é
porque ele pode fazer isso.
— Você fala mal do meu pai, mas é tão autoritário quanto ele. Mandou me
vigiar sem me dizer nada, igual como ele faz.
— Mandei proteger você, não vigiar. Se não fosse o Ted, eu agora não teria
mais filho.
Ela empalideceu e trinquei os dentes para não falar mais nada que a
lembrasse do que passou.
— Sente-se, Michelle. Não há necessidade alguma de conversarmos de pé.
Ela se sentou pesadamente no sofá.
— Você só quer ter um filho para educar a ser um herdeiro, uma máquina
sem sentimentos igual a você. Eu quero um filho para amar.
— Lá vem você de novo com julgamentos preconcebidos. Quem lhe disse
que não vou amar o meu filho?
Recebi um olhar descrente.
— E você sabe o que é amar?
Eu podia não saber o que era amar uma mulher, porque nunca amei
nenhuma, fosse mãe ou amante, mas amei o meu pai e amaria o meu filho.
— De onde tirou a ideia de que não sei? — insisti na mesma tecla.
Michelle comprimiu os lábios com frustração e afundou o rosto nas mãos.
— Eu só quero paz para descansar e cuidar do meu filho. A minha vida de
repente virou de pernas para o ar.
— Vai ter a paz que precisa na minha casa. Ela é grande o suficiente para
você ter o seu próprio espaço e manter a sua privacidade.
Michelle baixou as mãos e olhou para mim.
— Você não é casado nem tem uma namorada que não vá gostar da minha
presença na sua casa? Não me envolva em confusões com outra mulher.
Cravei o olhar nela.
— Mulher nenhuma dá opinião na minha vida. Pode ficar tranquila que não
vai haver confusões com ninguém.
— Eu não entendo a necessidade disso. Se o segurança chamado Ted já está
fazendo a minha proteção lá embaixo, posso continuar aqui sem problema algum.
— Já lhe disse que não tenho como controlar todas as pessoas que entram
neste prédio. Ted teria que ficar de plantão na sua porta aqui em cima para eu ter a
certeza de que você está bem.
— Do jeito que você fala, até parece que vão querer me matar! Isso é um
exagero.
Não era, mas como dizer aquilo para uma grávida sem a deixar assustada
demais?
— Desconfiamos que o acidente de carro que você sofreu não foi um
acidente, mas algo premeditado.
Ela franziu a testa, muito séria.
— Como é que é?
— Ted estava acompanhando você e garantiu que o motorista que bateu no
seu carro fez de propósito.
Michelle abriu muito os olhos, por fim entendendo tudo.
— Ted é o homem que veio falar comigo depois do acidente.
— É ele mesmo. Assim que você veio para casa, ele nos informou o que
havia acontecido e falou das suspeitas que tinha.
— Meu Deus, eu não acredito! — Atônita, ela caiu contra o encosto do
sofá. — Por que alguém faria isso comigo? Nunca fiz mal a ninguém.
— Não é você, mas o meu filho. Desconfiamos que alguém da Fertile
Future esteja querendo eliminar as provas do erro que cometeram .
Michelle arregalou os olhos e vi uma súbita compreensão neles.
— Dias atrás uma mulher me empurrou com brusquidão no shopping e
quase caí. Foi logo depois de uma consulta que tive com a doutora Jane. Na hora,
apenas achei que ela estava com muita pressa, mas será que foi proposital?
Tenso, inclinei-me na direção dela.
— Se o acidente de carro não tivesse acontecido, eu até diria que não foi de
propósito, mas agora já temos dois atentados contra o meu filho. Querem eliminá-lo,
nem que para isso eliminem você junto.
Não precisei dizer mais nada para Michelle entender todo o contexto da
situação. Ela ficou imóvel, calada e pensativa, e deixei que levasse o tempo que
precisava para assimilar tudo.
Quando se ergueu e ficou de pé com a fisionomia decidida, levantei-me
também.
Trocamos um olhar. Pela primeira vez desde que a conheci, senti que
Michelle estava do meu lado e não contra mim. Estávamos juntos e não um contra o
outro.
— Vou arrumar as malas. Volto já.
Ela deu meia volta e foi para o quarto, prendendo o cabelo louro em um
coque na nuca. Observei o corpo esguio de costas, o meu olhar sendo atraído para a
curva sinuosa dos quadris que rebolavam a cada passada dela.
Merda!
Desviei o olhar para a varanda da sala, negando-me a sentir qualquer tipo
de atração pela filha do meu maior inimigo.
Tenso e fodido, caminhei impacientemente pela sala minúscula, o meu
olhar parando no porta-retrato sobre o console da lareira. Aproximei-me, analisando
a imagem da mulher que havia destruído o meu pai. Margaret Barton estava
abraçada com Michelle em frente à Torre Eiffel em Paris. Sorridentes, elas
esbanjavam felicidade para quem quisesse ver.
As duas eram realmente muito parecidas, o que só aumentava a minha
decisão de me manter o mais distante possível de Michelle.
Capítulo 17
Michelle
F oi com tristeza que fiz as malas para ir morar na casa de Blackwolf. Eu
havia comprado aquele apartamento com muito amor e cheia de planos de ter uma
vida feliz ali com o meu filho. Agora, os meus sonhos estavam desfeitos, destruídos
pela maldade dos outros.
Acariciei a minha barriga, inconformada.
— Eu sei que ele é o seu pai, mas é um chato insuportável.
Frustrada, voltei para a sala arrastando uma mala de rodinhas com as
minhas coisas pessoais. Assim que me viu, Blackwolf se aproximou, segurando a
alça e tirando-a das minhas mãos.
— Deixei outras duas malas no quarto, mas tem também o meu material de
pintura que gostaria de levar.
Notei o leve franzido de sobrancelhas dele quando falei da pintura.
— Me dê a chave do apartamento. Depois o meu pessoal levará para você
tudo o que precisar daqui.
Parecia algo tão definitivo que me senti mais entristecida ainda.
— Não pretendo demorar muito para voltar — avisei-o logo. — Vou
conversar com o meu irmão e encontrar uma solução para tudo isso.
Ele não comentou nada, apenas estendeu a mão com a palma aberta.
— As chaves.
Tirei o chaveiro da bolsa e o entreguei, sem tocar na mão dele. Blackwolf
fechou a mão sobre a chave e indicou a porta.
— É melhor irmos logo. Tenho uma reunião importante me aguardando.
Obviamente que sim. Ele precisava levar mais alguém à falência!
Sem contestar mais nada, fui até o console da lareira e peguei o porta-
retrato com a foto da minha mãe, que enfiei na bolsa. Assim que saímos do
apartamento, o mesmo segurança que dirigia o carro se adiantou para pegar a minha
mala de Blackwolf.
— Agora que você vai morar em minha casa, é bom que conheça os
funcionários que me atendem mais diretamente — Blackwolf disse, indicando o
segurança. — Este é Miles, o meu homem de confiança. Na minha ausência, poderá
contar com ele para o que precisar.
Eu já havia reconhecido Miles como sendo o segurança que esteve com
Blackwolf na Fertile Future e que me convidou para entrar no elevador. Só não sabia
que era o homem de confiança dele.
Pelo menos é mais simpático do que Huxley.
— Muito prazer, Miles.
Apesar de ele ser uma presença constante ao lado de Blackwolf desde que o
conheci, aquela era a primeira vez que éramos apresentados.
— O prazer é meu, senhorita — ele me cumprimentou educadamente.
— Michelle deixou duas malas no quarto e quer que o material de pintura
dela seja levado também. — Blackwolf entregou a chave do meu apartamento para o
segurança.
— Providenciarei tudo.
Sem mais nada a ser dito, Miles fechou a porta do meu apartamento e
fomos os três para o elevador, a caminho do meu novo lar pelos próximos meses.

— É aqui que você mora? — perguntei, tentando soar naturalmente.


— Aqui mesmo. Não se preocupe, são quatro andares e você terá o seu.
Um andar só para mim?
Eu esperava ter um quarto tão grande quanto o que ocupava na mansão do
meu pai, mas nunca pensei que teria um andar inteiro daquele arranha-céu
monstruoso.
Achei que o poderoso CEO do BW Group morasse em uma mansão
tradicional, mas fiquei abismada ao ser levada para uma penthouse 11 de quatro
andares no Central Park South, na conhecida Billionaires’ Row 12 de Manhattan.
Enquanto o elevador nos levava até quase o céu e eu apreciava a vista
privilegiada do Central Park, pensei que aquilo combinava com Blackwolf. Afinal,
que melhor lugar para o Lobo Negro de Wall Street morar que não fosse o próprio
coração de Manhattan?
Ao meu lado, ele permanecia em silêncio, segurando a alça da minha mala.
Miles havia desaparecido assim que descemos no estacionamento do prédio, que
parecia estar cercado pelos seguranças de Blackwolf. Quem visse, até pensaria que o
prédio inteiro era dele e não apenas quatro andares.
O elevador privativo da penthouse nos deixou diretamente no hall de um
dos andares. O luxo de tudo ao nosso redor era gritante, mas eu não esperava outra
coisa de Tyler Blackwolf.
Uma senhora de meia idade nos aguardava logo na entrada com um sorriso
sincero de boas-vindas. A presença dela e a expressão calorosa com que me recebeu
foi uma surpresa maior para mim do que conhecer a luxuosa penthouse da
Billionaires’ Row.
— Este será o seu andar e esta é Ruth, a minha governanta.
O sorriso dela se expandiu ainda mais ao se aproximar de mim.
— Seja bem-vinda, senhorita Michelle.
— O prazer é meu, Ruth. Você cuida sozinha dos quatro andares?
Eu esperava encontrar uma fila de empregados alinhados em estilo militar,
mas me enganei. Só havia ela.
Ruth riu ainda mais, olhando para Blackwolf sem o temor que eu esperaria
de alguém que trabalhasse para um homem tão sinistro.
— Temos uma boa equipe. A senhorita vai conhecer todos mais tarde.
Preferi que ninguém mais estivesse aqui para que pudesse descansar em paz.
Aquela última frase deixou evidente que ela sabia muito mais sobre mim do
que eu imaginava.
— Pode me chamar de Michelle.
Ela curvou a cabeça em um gesto de agradecimento, o mesmo sorriso
simpático nos lábios.
— Leve-a para o quarto, Ruth — Blackwolf se despediu de mim logo a
seguir. — Fique à vontade. Já tem o meu número e é só me ligar se precisar de
alguma coisa.
— Sim, claro. Obrigada.
— Cuide do meu filho. — Foi a única coisa que ele disse antes de voltar
para o elevador.
Mais uma vez, a última coisa que vi antes de as portas se fecharem foi o
olhar incisivo e sem emoção dele fixo em mim.
Que homem estranh o, meu Deus!
Com um suspiro, virei-me para Ruth, que não parecia nada surpreendida
com a menção dele ao filho. Como eu suspeitava, ela sabia de tudo.
— Venha, deixe-me levá-la para o seu quarto. Depois mostrarei o andar
inteiro.
— Quem mora nos outros andares?
— Acima de nós está a cobertura ocupada pelo Tyler — ela disse,
deixando-me abismada ao chamar Blackwolf de Tyler. — O andar abaixo de onde
estamos é usado como um escritório. Tem tudo o que ele precisa para estar
conectado com os negócios do grupo quando decide trabalhar em casa.
Ela pegou a minha mala e começou a andar por um corredor do lado direito
do hall, que deduzi levaria ao meu quarto.
— E o andar inferior ao do escritório?
— É usado para receber algumas visitas. Tyler não gosta de ninguém no
andar dele.
Nem me espan to com isso.
— Este andar aqui nunca foi ocupado por ninguém?
— Sempre ficou reservado para os filhos dele.
Aquilo me fez pensar e a curiosidade me venceu.
— Ele nunca foi casado?
— Não.
Notei que a resposta monossilábica era para resguardar a vida pessoal dele,
mas ainda assim não desisti. Se o homem era o pai do meu filho, eu tinha o direito
de saber algo sobre ele, já que ele sabia quase tudo de mim. Ou tudo!
— E os pais? Não moram com ele?
— São falecidos.
Céus! L ogo os dois?
Talvez fosse por isso que o homem era aquele bloco de gelo.
— Não tem irmãos?
— É filho único.
Ok, já percebi. Não faço mai s perguntas.
Entramos em um quarto com uma enorme cama de casal e janelões que
mostravam a paisagem do Central Park.
— Este é o seu quarto, mas se gostar de outro, posso mudar. Tem cinco
neste andar.
— Eu adorei este, Ruth. A vista é magnífica.
Ela sorriu, satisfeita.
— Tyler vai ficar satisfeito ao saber que gostou.
Eu duvidava que ele estivesse interessado em saber se gostei ou não, mas
achei melhor não comentar nada.
— Prefiro conhecer o andar inteiro em outra hora. Gostaria primeiro de
descansar um pouco.
— Claro que sim. — Ela indicou o telefone sobre a mesa de cabeceira. —
Se precisar de mim, disque o número vinte e falará diretamente comigo.
— Farei isso. Obrigada, Ruth.
Assim que fiquei sozinha, fechei a porta do quarto e fui abrir a mala. Eu
precisava falar com Andrew, mas antes tomaria um banho para relaxar.
Quando me olhei no espelho do banheiro, notei que o meu lábio inferior
ainda estava inchado, mesmo com a compressa de gelo que a doutora Jane havia
colocado na clínica. Suspirando, conformada, tirei a roupa e entrei debaixo do
chuveiro, ignorando a banheira convidativa no canto. Ela ficaria para um outro dia
em que eu não estivesse tão ansiosa para me deitar.
Vinte minutos depois, eu já estava na cama com o celular na mão. Liguei
duas vezes para Andrew, mas a ligação caiu e ele não me atendeu. Provavelmente
estava ocupado, mas a frustração me deixou arrasada. Aquele dia estava sendo
frustrante em muitas coisas e decidi que não valia a pena me preocupar com mais
nada.
Larguei o celular sobre a mesa de cabeceira e me afundei debaixo das
cobertas, fechando os olhos e adormecendo mais rápido do que pensei.
Capítulo 18
Michelle
N ão sei por quanto tempo dormi, mas me acordei com o som do celular
tocando. Abri os olhos ainda sonolenta e estranhei o lugar onde estava, até me
lembrar que havia me mudado temporariamente para a penthouse de Tyler
Blackwolf.
Só de me lembrar daquilo já despertei totalmente e foi quando peguei o
celular.
Era o Andrew retornando as minhas ligações e o atendi de imediato.
— Você me ligou. Está tudo bem, Michelle?
— Estou bem, mas precisamos conversar.
— Eu já tinha me programado para passar no seu apartamento quando
saísse do trabalho hoje, mas aconteceu uma bronca séria no banco e não poderei ir
— ele me explicou sem conseguir disfarçar o tom de urgência e de fatalismo na voz.
Fiquei tão preocupada com a maneira como o meu irmão falou, que até me
esqueci do motivo que me fez ligar para ele antes.
— O que foi que aconteceu de tão sério para você estar assim?
— Nem sei se devo lhe contar, Michelle. — Ele suspirou pesadamente. —
Não quero preocupar você no estado em que está.
— Ah, você vai contar, sim! Estou grávida e não doente. Garanto que vou
ficar pior se começar a imaginar coisas.
— Só um instante — ele pediu e logo depois ouvi o som de uma porta
sendo fechada. — Achei melhor vir para o banheiro para ninguém ouvir.
— Céus, então isso é mesmo sério.
— Muito sério. Estamos falidos, Michelle — ele sussurrou com desânimo.
— O Barton Bank está completamente falido.
Fiquei paralisada tamanho foi o choque ao ouvir aquela notícia.
— Falido, como? Não sou especialista em finanças, mas um banco como o
nosso não entra em falência do dia para a noite.
— O pior é que não foi do dia para a noite. Já vínhamos meio na corda
bamba há uns sete anos, mas o nosso pai estava conseguindo contornar bem a
situação. Tanto, que até relaxei. Só que há cerca de três anos a coisa começou a
piorar rápido demais e os empréstimos que pegamos com outros bancos não foram
suficientes para sanar o buraco que ficou nas nossas contas. Ao contrário, criou uma
bola de neve. Estávamos negociando com um outro banco uma linha de crédito de
novecentos milhões de dólares e só precisaríamos que o Estado garantisse os nossos
ativos, mas recebemos um sonoro não do Fed 13 . Só temos duas opções: aceitar a
falência ou a fusão com o Golden Bank 14 .
Dizer que eu estava chocada era pouco diante do susto que levei.
— Por que é que nunca fiquei sabendo disso?
— Você entrou em depressão depois da morte da nossa mãe e logo a seguir
veio a gravidez. Você estava tão feliz com a chegada do seu filho que achei melhor
poupá-la, achando que tudo se resolveria. Por outro lado, você sabe como é o nosso
pai. Se já era difícil ele reconhecer para si mesmo o afundamento do banco, quanto
mais para os outros. Até de mim ele escondeu que os empréstimos anteriores não
tinham resolvido o problema. — Senti a desilusão na voz dele com a falta de
confiança do nosso pai. — Confesso que não sei como isso é possível. Na minha
concepção, era dinheiro suficiente para nos reerguermos. Levei um susto tremendo
quando fiquei sabendo que continuávamos na mesma, se não pior do que antes, mas
você sabe que também não sou um expert nessa área, apesar de me esforçar muito.
Quem quiser me enganar maquiando os resultados, até consegue. Se não fosse o
John ter me alertado para uma série de coisas, provavelmente eu demoraria muito
mais tempo para descobrir tudo. Talvez se eu fosse mais capaz, tivesse conseguido
ajudar o nosso pai a salvar o banco.
Eu sabia do esforço de Andrew em assumir os negócios financeiros da
família, mesmo aquilo não sendo o que ele realmente tinha talento na vida. John era
um dos assessores do nosso pai e conhecia a fundo o funcionamento do banco, tendo
sido o responsável por ensinar muita coisa ao meu irmão. Tudo o que Andrew sabia
hoje sobre a gestão do banco, era muito mais mérito de John do que do nosso pai,
que pouco fez para o próprio filho aprender a gerir os negócios da família.
— Não assuma essa responsabilidade, meu irmão. Você sabe muito bem
que o nosso pai é um homem autocrático, orgulhoso e centralizador, que
dificilmente deixaria você tomar decisões no lugar dele, mesmo que fosse um
expert. Ele não ouve ninguém e talvez por isso esteja nessa situação agora.
Andrew suspirou pesadamente e permanecemos em silêncio por um longo
tempo, cada um tentando assimilar do seu jeito aquela bomba.
— Esse Golden Bank que você fala não é o banco de Boris Sinclair, aquele
amigo de papai?
— Sim, é.
— Então é uma boa fusão.
— Se você considerar que podemos perder o controle acionário do nosso
banco, já dá para ver que não será uma boa fusão. É exatamente isso o que o nosso
pai não quer. Ele está tentando há dias negociar a permanência dele como maior
acionista. Acabamos de ter uma reunião com eles e a resposta final deve sair daqui a
pouco.
— Confesso que ainda estou sem conseguir acreditar nisso. — Ri
nervosamente, passando a mão pelo cabelo. — O que vai acontecer se não houver a
fusão? Vamos perder tudo?
— O mais certo é termos todos os nossos bens confiscados pela justiça para
o pagamento dos empréstimos, dos correntistas, dos investidores e dos acionistas.
Ficaremos sem nada e o nosso pai talvez seja preso.
— Preso?
— Claro que sim, Michelle. Lidamos com dinheiro que não é nosso.
Gerimos fortunas de milhões de dólares no nosso banco de investimentos, que agora
está quebrado. Quando isso se tornar público, seremos odiados por quem perder tudo
nas nossas mãos. Nossos correntistas e investidores são de vários países, não apenas
americanos. O nome Barton vai parar na lama. Seremos desprezados por todo
mundo e isso vale para nós dois também, não apenas para o nosso pai. Teremos
sorte se escaparmos de um linchamento em praça pública por uma turba de clientes
revoltados.
Coloquei a mão sobre a barriga, onde o meu filho já crescia em meio a uma
crise jamais imaginada por mim dias atrás. Assustei-me com o que Andrew havia
acabado de dizer, incapaz de imaginar a cena de linchamento que ele descreveu. Eu
sabia que aquela era apenas uma maneira de falar da parte dele, uma vez que
dificilmente seríamos linchados na rua, mas aquilo não diminuiu a minha apreensão.
— Isso é muito sério, Andrew!
— Foi o que eu lhe disse desde o início.
Meu Deus, que horror!
— Se houver a fusão com o outro banco, nada disso vai acontecer, não é?
— perguntei, esperançosa.
— Como eu já disse, não será a melhor coisa para nós, mas posso dizer que
estaremos salvos de algo muito pior.
— Você me avisa assim que sair o resultado da fusão?
— Aviso, pode deixar.
— Vou ficar aguardando. Não se esqueça de mim.
— Não me esquecerei, baby. Mas o que era mesmo que você queria quando
me ligou?
Diante de tudo o que ele havia acabado de me contar, achei melhor não o
preocupar naquele momento com os meus problemas. Eu contaria tudo quando ele
me ligasse depois com o resultado da fusão.
— Eu falo depois. Vamos nos focar agora no banco, que é um assunto mais
sério. Há milhares de pessoas dependendo dessa resposta e não apenas nós.
— Você tem razão. Vou desligar, mas aguarde a minha ligação a qualquer
momento.
— Estou aguardando. Boa sorte, meu irmão.
— Obrigado, baby. Cuide-se!
Desliguei, sentindo-me completamente pasmada, desejando ardentemente
ainda estar dormindo e tendo um pesadelo que acabaria quando me acordasse.
Contudo, o tempo foi passando e a realidade não se desvanecia, comprovando que
eu estava mesmo acordada.
Não tive disposição para me levantar nem para fazer nada. Andrew havia
dito que o resultado da reunião sairia daqui a pouco e fiquei deitada aguardando.
De olhos fechados, lembrei-me dos tempos em que eu era feliz ao lado da
minha mãe. Nunca houve restrição de espécie alguma para o gasto de dinheiro com
carros, roupas, joias, viagens ou o que mais quiséssemos. Agora, vendo a situação
atual do banco, comecei a pensar se naquela época já não estávamos gastando um
dinheiro que não era nosso. Provavelmente, sim.
Por que o meu pai fez a merda de o cultar isso?
Se ele tivesse conversado com a gente e dito que precisávamos diminuir as
despesas, sem dúvida que teríamos feito exatamente aquilo. Eu era um zero à
esquerda em matéria de gestão bancária, mas sabia que manter um padrão de vida
acima do que se tinha era um erro que levava ao endividamento, fosse do que fosse.
O som do celular tocando me sobressaltou e o peguei às pressas. Era
mesmo o Andrew!
— E então, saiu o resultado?
— Nosso pai não aceitou a contraproposta que Boris Sinclair fez. O homem
voltou totalmente mudado da reunião a portas fechadas com os outros diretores
acionistas. Pelo que ele propôs, perderíamos tudo, inclusive o controle acionário do
nosso banco. O Barton Bank deixaria de existir e mudaria de nome.
Levei um baque com aquela notícia.
— Mas não vamos perder tudo de qualquer jeito se a fusão não for feita?
— Sim, vamos. Só que papai prefere enfrentar um processo de falência do
que dar o banco de graça para Boris, que mostrou ser um grande filho da mãe.
— Mas eles dois eram amigos. Como isso é possível?
Andrew deu uma risada amarga.
— Amigos, amigos, negócios à parte — ele citou o conhecido ditado
popular. — Antes eles estavam até entusiasmados com a nossa carteira de clientes,
agora alegam que os nossos ativos não valem o montante em dívida que temos.
Desconfio que aconteceu alguma coisa que os fez voltar atrás.
— Meu Deus! Estou mesmo sem acreditar — sussurrei, atordoada com
tudo aquilo. — O que vai acontecer agora?
— A ajuda financeira que pedimos ao Banco Central já foi negada. Sem a
fusão, seremos obrigados a entrar com um pedido de falência no Tribunal de
Falências aqui de Manhattan. Quando isso vier a público, vai gerar o caos e teremos
uma corrida dos correntistas às agências para tirar o dinheiro que têm lá. Isso será o
golpe de misericórdia no Barton Bank. Se brincar, não teremos dinheiro nem para
pagar um bom advogado para livrar o nosso pai da prisão.
— E como é que ele está?
— Estranhamente calado, o que me preocupa mais do que se estivesse
gritando. Não me atrevo nem a chegar perto para dar uma opinião. — O suspiro que
ele soltou foi de cansaço. — Quando sair daqui, vou passar no seu apartamento para
ver como você está e conversarmos melhor. Preciso ir agora.
Só então me lembrei que sequer havia contado para ele sobre a minha ida
para a penthouse de Blackwolf.
— Eu não estou no meu apartamento, Andrew. Vim morar por uns tempos
na casa de Tyler Blackwolf.
— Como é que é? — ele perguntou com a perplexidade na voz. — Você
está morando com Blackwolf?
— Não estou morando com ele, mas na casa dele. Na verdade, em um dos
andares da penthouse que ele tem na Billionaires’ Row.
— Mas o que foi que aconteceu para você ir morar aí? Sei que ele é o pai
do seu filho, mas não estou entendendo nada.
— Quando você chegar mais tarde eu conto tudo. Anote o endereço daqui.
— Nosso pai não vai gostar nada disso.
Sorri com tristeza, pois havia sido justamente o nosso pai o causador da
minha mudança.
— É melhor conversarmos quando você chegar.
Capítulo 19
Tyler
S entei-me com satisfação no sofá de frente para a parede de vidro do meu
escritório, apreciando a vista de Manhattan aos meus pés.
Foda-se, Colin Barton! Foda-se muito bem fodido!
A vingança alcançada tinha um sabor único, doce, viciante. O golpe final
sobre o homem que traiu o meu pai estava dado e eu ia assistir de camarote a queda
do desgraçado.
Sempre soube que a vitória seria uma questão de tempo e esperei com
paciência e obstinação que o momento chegasse. Ao longo dos últimos anos, fui
acompanhando o endividamento cada vez maior do Barton Bank. O banco devia
trinta vezes o que valia e não foi difícil dar o golpe final nele. Tive o cuidado de não
deixar muitas pistas que fizessem com que Colin Barton descobrisse antes da hora
quem era o homem por trás da sua queda.
Ele sabia da minha participação em algumas coisas, mas não em todas.
Contudo, em pouco tempo ele saberia de tudo.
Foi até fácil demais assegurar que a fusão do Barton Bank com o Golden
Bank não acontecesse. Boris Sinclair tinha um empréstimo considerável comigo e
não precisei de muito esforço para o convencer a voltar atrás na fusão. O dinheiro
que fez crescer a ganância de Colin Barton, a ponto de destruir a reputação do meu
pai, seria também o responsável por acabar com a reputação dele. Ganancioso e sem
escrúpulos, o desgraçado traiu o próprio amigo. Agora, seriam os amigos dele que
iam traí-lo, deixando-o sozinho. Eu mesmo me encarregaria daquilo.
Era fundamental que Colin Barton não recebesse a ajuda de ninguém, que
se visse sem alternativa nenhuma além de pedir a falência no tribunal, e aquilo
estava prestes a acontecer. No momento exato eu entraria em ação, deixando-o
descobrir que a vingança podia demorar, mas jamais deixava de alcançar aqueles
que dela se riam.
Fechei os olhos e encostei a cabeça no espaldar do sofá, lembrando-me do
meu pai, que tanto havia sofrido por causa da traição do melhor amigo e da mulher
que amava.
Agora, ele estava vingado!
Conseguimos, pai! Porra, conseguimos!
Mesmo que ele já tivesse morrido, aquela vitória era nossa. Minha e dele!
A única pessoa que infelizmente não sofreria com a falência da família era
Margaret Barton, a mulher que traiu o meu pai com o melhor amigo dele. Ela já
havia falecido, mas merecia sofrer tanto quanto o marido. Eu sempre soube que a
traição dela havia causado uma dor muito maior no meu pai do que a traição de
Colin Barton. O dinheiro que o meu pai perdeu não se igualou ao sofrimento de ver
a mulher que amava virando-lhe as costas e casando-se meses depois com o amigo
traidor.
Era uma grande ironia do destino que hoje a filha de Margaret Barton
estivesse grávida do meu filho e morando na minha casa.
Michelle!
Ela parecia fisicamente tão frágil que eu ficava perguntando-me como
conseguiria manter o meu filho na barriga durante os oito meses que faltavam da
gravidez.
A entrada inesperada de Michelle na minha vida era algo que eu ainda não
havia conseguido aceitar totalmente, apesar de já ter percebido que ela era muito
diferente do pai e que não parecia ser do tipo interessada apenas em dinheiro e em
status social como a mãe. Se fosse, teria ficado eufórica por ter engravidado, ainda
que por acaso, de um homem mais poderoso e rico do que o pai dela. Ao contrário,
Michelle não escondia a antipatia que sentia por mim nem a vontade de me ver pelas
costas. Eu tinha certeza de que o maior sonho dela agora era que eu desaparecesse
para sempre.
Um sorriso involuntário curvou os meus lábios ao pensar naquilo e me
lembrei dos olhos azuis chispando de raiva ao me enfrentar. Ela era corajosa e
aquela característica despertava a minha admiração.
Ainda assim, ela era a filha do homem que cresci odiando e da mulher que
desprezei mais do que tudo. Os pais dela causaram uma ferida profunda no coração
do meu pai, uma chaga que nunca cicatrizou, sangrando até o último suspiro dele.
Lembrar-me daquilo endureceu ainda mais o meu próprio coração e cerrei
os punhos com raiva.
Nada nem ninguém vai me impedir de ir até o fim com a min ha vingança!
Minutos depois, levantei-me e voltei ao trabalho. Ainda havia muito o que
fazer para Colin Barton perder tudo, inclusive a mansão onde morava. O banco era
apenas a primeira das coisas que ele perderia para o filho de Joshua Blackwolf.

Ainda não eram oito horas da noite quando o meu celular tocou com uma
ligação de Miles.
— Dois homens estão subindo para o andar da senhorita Michelle. Um
deles é o irmão, Andrew Barton. O outro se identificou como John Marshall.
Eu já esperava que o irmão dela viesse visitá-la, mas ter trazido outro
homem junto me deixou desconfiado. Que motivo faria Andrew Barton vir
acompanhado?
— Consegue descobrir quem é John Marshall?
— Consigo, sim. Ambos tiveram de apresentar um documento de
identidade para serem autorizados a subir.
— Assim que conseguir me informe.
— Sim, senhor.
Desliguei, olhando pensativamente as luzes noturnas de Manhattan à minha
frente.
Aquele visitante inesperado estava me incomodando. Eu não estava
gostando nada de saber que um homem que eu não conhecia estava visitando
Michelle em minha casa, mesmo que fosse acompanhado do irmão dela. Quando a
convidei para morar comigo, não pensei que houvesse um namorado na vida dela e
que ambos poderiam ficar encontrando-se debaixo das minhas barbas. Por ser
virgem, deduzi que Michelle não tinha namorado.
Merda, eu não quero isso!
Ela estava grávida do meu filho e eu não queria outro homem rondando
nenhum dos dois.
Foi contraindo a boca com irritação que coloquei o celular sobre a mesa de
trabalho e me levantei, esquecendo o gráfico do S&P 500 15 da bolsa de valores que
estava analisando no computador. Eu havia decidido trabalhar em casa naquele dia,
de onde coordenei passo a passo a queda de Colin Barton. Agora, a filha dele estava
tirando a minha concentração.
Fiquei de pé em frente à parede de vidro, analisando o que estava
acontecendo comigo. Nunca deixei ninguém interferir na minha vida e não ia ser
agora que uma mulher faria aquilo, muito menos a filha de Colin Barton.
Eu já estava decidido a descer e descobrir por mim mesmo quem era John
Marshall, quando Miles voltou a me ligar.
— John Marshall é um dos assessores de Colin Barton, com quem trabalha
há dez anos. É economista, tem quarenta e um anos, divorciado, sem filhos e com a
ficha limpa.
Eles vieram contar tudo à Michelle.
— Obrigado, Miles. É o suficiente. Me avise quando eles forem embora .
— Sim, senhor.
Depois de tudo que o pai fez com ela naquele dia, eu não precisava me
preocupar com a reação que Michelle teria ao saber da falência do banco. Ela era
forte e conhecia o pai que tinha. Apesar de ser uma notícia desagradável, não a
abalaria a ponto de prejudicar a gravidez.
Voltei a me sentar em frente ao computador, concentrando-me novamente
no trabalho. Cerca de uma hora depois, o meu celular tocou outra vez, mas não era
Miles avisando sobre a saída das visitas de Michelle. Surpreendentemente, era ela
mesma.
— Não sei se está em casa, mas o meu irmão veio me visitar e gostaria de
falar em particular com você.
Aquilo era o que eu esperaria de um homem preocupado com a irmã e
aprovei a atitude dele.
— Estou no meu escritório do andar de baixo. Peça para ele descer.
— Vou pedir, obrigada.
Não demorou muito para Andrew Barton sair do elevador e me
cumprimentar com um aperto de mãos.
— Obrigado por me receber.
— Michelle disse que gostaria de falar comigo.
Fisicamente ele lembrava um pouco o pai, enquanto Michelle era muito
mais parecida com a mãe, inclusive a cor dos olhos. Andrew tinha os olhos
castanhos de Colin Barton, mas neles não havia a mesma dureza do pai.
— Acho importante conversarmos agora que ela está morando aqui.
— Vamos nos sentar.
Levei-o para a sala e ofereci o sofá, sentando-me em frente a ele.
— Michelle já havia me contado que você é o pai do filho dela, mas só
agora fiquei sabendo que o meu pai tentou forçá-la a fazer um aborto hoje, o que é
inadmissível. Vim agradecer pessoalmente a você por ter impedido que isso
acontecesse. A minha irmã não ia aguentar mais essa perda.
Analisei-o com atenção e percebi que estava sendo sincero. Andrew Barton
realmente não concordava com o pai.
— É o meu filho. Claro que o salvaria.
Ele sustentou o meu olhar, entendendo bem o meu recado. O filho era meu
e eu faria tudo por ele.
— Sei que nenhum dos dois queria o outro na vida do filho e vocês vão ter
que resolver isso no futuro. Só queria aproveitar para dizer que estarei sempre do
lado da minha irmã para todas as lutas que ela precisar. Esse filho é muito
importante para Michelle.
— É muito importante para mim também.
— Não duvido, mas quando uma mulher engravida, ela dificilmente vai
superar a perda do filho, seja durante a gestação, seja depois de nascido.
— Há milhares de mulheres alugando o próprio útero por dinheiro, sem se
importarem com o filho que vão ter. Outras engravidam por interesse, atrás de uma
pensão vitalícia — falei friamente. — O que não falta hoje em dia são barrigas de
aluguel e golpes da barriga. Portanto, não venha me falar do sofrimento de mães que
perdem seus filhos.
Andrew Barton me encarou com seriedade.
— A minha irmã não se encaixa em nenhum dos casos que você citou. Se
pensa alegar isso em tribunal, vai cometer um erro muito pior do que o da Fertile
Future. Michelle quis fervorosamente esse filho, tanto que não se importou em fazer
uma inseminação artificial mesmo sendo virgem. Foi a perspectiva de ter esse filho
que a ajudou a sair da depressão depois da morte da nossa mãe. Se ela o perder, vai
se afundar de novo, e isso eu não vou deixar.
Ele falou em um tom de voz bastante decidido, mas não foi aquilo que me
deixou impressionado.
— Depressão? Não acho que a sua irmã seja uma mulher depressiva.
Ele sorriu com uma certa tristeza.
— Isso é porque você não a conheceu antes.
— Margaret Barton faleceu há um ano e você quer me convencer que
Michelle está com depressão esse tempo todo, por isso devo abrir mão do meu filho
para ela? Não sou um homem sentimental, Andrew Barton. Se fosse, já teria sido
massacrado na selva de Wall Street por homens como o seu pai.
Ele me olhou com estranheza diante da maneira dura como falei, mas não
me preocupei com aquilo.
— Quando Michelle me contou os motivos que a fizeram vir para cá, eu até
concordei, mas conversando com você agora, vejo que foi um erro. — Ele se
levantou do sofá. — Minha irmã não vai mais ficar aqui. Ela vai embora comigo
agora.
Uma po rra que vai!
Levantei-me também, jogando duro com ele.
— Vai levá-la embora para que matem mais facilmente o meu filho? Aqui
ele estará protegido, lá fora tem alguém querendo que morra antes de nascer. Se
você realmente ama a sua irmã e quer evitar que ela tenha uma nova crise de
depressão caso sofra um aborto, o lugar dela é aqui comigo.
— Posso cuidar de Michelle melhor do que você.
— Com qual o dinheiro, se estão falidos? Onde, se a mansão Barton e as
outras propriedades da família vão ser confiscadas para pagar os investidores e
correntistas? A partir do momento em que a falência do Barton Bank vier a público,
vocês vão ser odiados e o meu filho não vai ser mais um alvo da raiva de quem
perdeu o dinheiro nas mãos do seu pai.
Ele me ouviu com evidente assombro.
— Como é que você já está sabendo disso?
Ri com cinismo.
— O que é que acontece em Wall Street que eu não sei? — Lembrei-o com
quem estava falando. — Aconselho que não comente com a sua irmã nada do que
conversamos, para que ela não fique ansiosa e coloque a gravidez em risco. Já basta
o acidente de carro, a tentativa de aborto do seu pai e a falência do banco. Deixe-a
descansar e se recuperar de tudo isso. Poderá vir visitá-la sempre que quiser.
Andrew ficou calado e senti a frustração dele por não poder levar a irmã. A
meu favor existia o fato de aquele ser o pior momento para ele querer tirar Michelle
da minha casa.
— Você tem alguma coisa a ver com a nossa falência?
— Se o banco faliu, foi por incompetência do seu pai e não por esperteza
minha. Nem que eu quisesse conseguiria levar um banco sólido e bem administrado
à falência.
Com a fisionomia séria, ele fez um meneio de despedida com a cabeça.
— Boa noite.
Foi com a tensão se alastrando pelo meu corpo que o observei se afastar em
direção ao elevador. Andrew Barton saiu sem dizer se levaria ou não a irmã com ele.
Eu teria de contar que o amor dele por Michelle fosse maior do que a raiva que
estava sentindo de mim.
Imóvel em frente à parede de vidro, aguardei rigidamente a ligação de
Miles. Demorou vinte minutos para eu saber qual havia sido a decisão de Andrew.
— Eles foram embora, senhor.
— Sozinhos?
— Sim, apenas Andrew Barton e John Marshall.
O meu peito descomprimiu no instante seguinte à resposta dele.
Porra!
— Obrigado, Miles. Boa noite.
— Boa noite, senhor.
Ela ainda estava comigo!
Capítulo 20
Tyler
A semana passou sem que Colin Barton desse entrada no pedido de
falência. Mantive-me atento, acompanhando cada passo que ele dava, o que era
primordial para agir no momento certo.
Paralelo àquilo, pedi uma investigação sobre John Marshall. Eu queria
saber quem era o homem que tinha vindo visitar Michelle com Andrew. Só quando
vi a foto dele foi que o reconheci de ocasiões em que esteve ao lado de Colin Barton.
Ele tinha uma boa aparência, com cabelos levemente grisalhos nas têmporas e olhar
firme. Contudo, o fato de trabalhar como assessor do dono do Barton Bank o
colocava na minha lista negra.
No final daquela tarde, Miles me deu uma excelente notícia.
— O carro envolvido no acidente com a senhorita Michelle foi localizado e
o motorista identificado.
Comemorei batendo o punho fechado na madeira da mesa.
— Quem é ele?
— Donald Malory, marido de Elizabeth Malory, uma das recepcionistas da
Fertile Future que trabalha diretamente com a doutora Chelsea Anderson. Esta
ginecologista passou a ser a médica da senhorita Michelle depois que a médica
anterior foi afastada da clínica. Segundo apuramos, Lisa Brown foi afastada por
discordar das decisões do coordenador da área.
— Conseguiu encontrá-la? Pode ser uma testemunha contra a clínica. Fale
com Ryan.
O meu diretor jurídico era fundamental para agirmos dentro da lei, mas sem
deixar pedra sobre pedra na vida dos culpados.
— Pensei nisso e já estamos entrando em contato com ela.
Vão todos se foder na minh a mão agora!
Para mim, já não havia mais dúvida alguma de que eles se uniram para
eliminar a prova do erro que cometeram, e a prova era o meu filho. Se Michelle
abortasse “espontaneamente” depois de um acidente qualquer, ninguém teria como
provar que o filho era meu, exceto se os restos mortais do feto fossem analisados
para que um exame de DNA fosse feito.
Só de pensar naquilo, a minha raiva aumentava.
— Bom trabalho, Miles. Quero todos punidos, sem exceção. Ninguém vai
atentar contra a vida do meu filho e sair impune.
Apesar de já termos os culpados das duas tentativas de aborto contra
Michelle, decidi que ainda não contaria nada para ela. Se soubesse que não havia
mais perigo com relação àquilo, Michelle seria capaz de ir embora da minha casa no
minuto seguinte e eu a queria perto de mim para poder cuidar melhor do meu filho.
Eu não conseguia me esquecer que o próprio pai dela era um dos
interessados em matar o meu filho antes de ele nascer.

Diariamente Ruth me passava um relatório sobre Michelle assim que eu


chegava do trabalho e comecei a me preocupar à medida que a semana avançava.
— Como é que ela está hoje?
— Michelle está bem, mas acordou novamente com náuseas e não comeu
quase nada no café da manhã. Sempre fico esperando que se alimente melhor no
almoço ou no lanche da tarde, mas ela come muito pouco, o que me preocupa. É
muito magrinha e precisa ganhar algum peso durante a gravidez.
Olhei-a pensativamente.
— Vou falar com Gary sobre isso — decidi, disposto a ter uma opinião
especializada. — Pergunte a ela se gostaria de jantar aqui comigo hoje.
Provavelmente vai negar, mas convide mesmo assim.
Fingi não ver a surpresa no rosto de Ruth.
— Aqui, Tyler?
— Sim, aqui. Se ela aceitar, prepare a mesa no terraço.
Não fiz muito caso do leve sorriso satisfeito que curvou os lábios dela.
— Falarei com Michelle e direi algo depois.
Deixei que saísse da sala para pegar o celular e ligar para Gary. Apesar de
ter aprovado a médica de Michelle, eu preferia me orientar com quem eu realmente
confiava.
— Tem tempo para uma rápida consulta? — perguntei assim que ele me
atendeu.
— Claro que tenho, pode falar.
— É sobre a mãe do meu filho. Eu sei que algumas mulheres gostam de
fazer regime para ficarem magérrimas, mas me incomoda um pouco a magreza de
Michelle estando grávida. Existe alguma maneira de melhorar o apetite dela?
— A mulher quando está grávida já tem mais apetite do que o normal. Se
ela é uma mulher saudável, talvez seja magra por natureza. O importante é que
esteja tomando as vitaminas e suplementos necessários para a boa formação do feto,
principalmente no primeiro trimestre. O médico que a acompanha deve ter receitado
tudo.
— Não faço a mínima ideia se receitou, mas acredito que sim. A médica
dela me pareceu bastante confiável.
— Quem é?
— Doutora Jane Young. Você conhece?
— Conheço e é uma excelente profissional. Acho que você não tem com o
que se preocupar. A magreza deve ser do biotipo dela.
— Ruth comentou que Michelle amanheceu com náuseas e que quase não
comeu o dia inteiro. Eu não acho que isso seja normal.
— Ruth comentou isso? — ele perguntou sem esconder a admiração. — Eu
não estou acreditando que você levou a mãe do seu filho para morar aí com você.
— Ela está no andar abaixo do meu.
— Entendo. Talvez por isso ela esteja sem apetite.
Tentei não me irritar com o que ele disse.
— Está querendo dizer que é por minha causa?
— Claro, Tyler. Nervosismo, tensão e ansiedade podem tirar o apetite de
algumas pessoas.
Aquilo me lembrou de outra coisa.
— Depressão também?
— Sim, com certeza. Mas ela está com depressão?
— O irmão dela comentou comigo que Michelle teve uma depressão depois
do falecimento da mãe há um ano. Deu a entender que ela só melhorou
recentemente, depois que decidiu engravidar.
— Pode estar aí o motivo da magreza. Acredito que a médica dela esteja
atenta a tudo isso, mas você pode conversar com a doutora Jane e tirar essa dúvida
depois. Quanto à Michelle, é melhor pegar leve com ela. Já está mais sensível por
causa da gravidez e pressão demais pode servir de gatilho para a depressão voltar.
Fique atento.
Era só isso o que faltava para complicar ainda mais a situação!
— Ficarei atento. Obrigado pela ajuda, Gary.
— Se precisar de mim, sabe que é só me ligar.
Sim, eu sabia, mas esperava não precisar dele para nenhuma urgência
médica com Michelle.

Ruth confirmou que Michelle aceitou o convite para jantar comigo, o que
muito me surpreendeu. Depois do banho, aguardei-a na sala, determinado a ver com
os meus próprios olhos a quantidade de comida que ela ingeria na refeição.
Quando Michelle surgiu na entrada da sala ao lado de Ruth, levantei-me e
fui recebê-la, observando-a com atenção. Ela estava há uma semana na minha casa e
não gostei de comprovar que realmente parecia mais magra do que antes.
Os cabelos louros estavam presos no alto da cabeça em um coque elegante,
destacando os brincos e o colar em volta do pescoço esguio. O conjunto de joias era
de muito bom gosto, ornamentado com pequenas safiras azuis que combinavam com
os olhos dela.
O vestido preto de saia rodada até os joelhos possuía um decote redondo
que deixava parte dos ombros à mostra, ajustando-se ao corpo magro, mas também
ressaltando a cintura fina e o volume dos seios. Pela primeira vez prestei atenção ao
tamanho deles, grandes o suficiente para encherem as minhas mãos.
Desviei o olhar com rapidez, decidido a limitar o meu interesse apenas no
fato de ela ter um corpo saudável para abrigar o meu filho.
— Boa noite, Michelle. Confesso que não esperava que aceitasse o meu
convite.
— Não resisti à tentação de descobrir como era o esconderijo do Lobo
Negro de Wall Street — comentou com bom humor e uma pitada de provocação.
Não me espantei que ela soubesse do apelido que me deram em Wall Street.
Andrew provavelmente passou a minha ficha completa para a irmã.
— Não há nada de especial aqui. O andar é igual ao seu. — Olhei para
Ruth, que aguardava discretamente atrás de Michelle. — Obrigado, Ruth. Pode ir.
Quando ela se retirou, virei-me para Michelle.
— O jantar ainda vai demorar um pouco para ser servido. Temos tempo
para você conhecer o meu esconderijo.
Pelos minutos seguintes, mostrei-lhe os cômodos da cobertura, com
exceção dos quartos. Quando Michelle viu a piscina privativa, soltou uma
exclamação de surpresa.
— Afinal, os andares são diferentes. Você tem uma piscina maravilhosa
aqui, além dos terraços mais espaçosos.
— Sim, é verdade. Me esqueci disso.
Ela riu, meneando a cabeça.
— Você se esqueceu porque nem deve usar. Duvido que tenha tempo para
usufruir dela.
— Pois está muito enganada. Uso a piscina todos os dias para me exercitar
de manhã.
Michelle me olhou literalmente de queixo caído e fiquei satisfeito ao vê-la
atônita.
— Estou sem acreditar!
— Dá para notar.
Ri da cara de espanto dela, que arregalou ainda mais os olhos.
— Você riu! Acho que é a primeira vez que o vejo rindo sem ser com
cinismo.
Deixei de rir e fiquei sério ao ouvir o que ela disse. Até para mim mesmo
aquilo era uma surpresa, uma vez que nunca me vi pelos olhos de outra pessoa.
— Não se iluda comigo, Michelle. Sou o homem cínico que conheceu.
Ela ergueu os ombros em um gesto de pouco caso.
— Eu, me iludir com você? Pode ficar tranquilo que não vou cometer esse
erro. Apenas achei a mudança interessante. — Parada à minha frente, ela me olhou
com atenção. — Você deveria rir de verdade mais vezes, pelo menos de vez em
quando. Ficou menos sinistro e tenebroso.
— É isso o que acha de mim?
— Foi o que achei a primeira vez que o vi no elevador da clínica e é o que
continuo achando até agora — admitiu com coragem, ficando séria. — Sendo muito
sincera, com essa carranca você não se parece em nada com o pai sorridente,
carinhoso e bem-humorado que desejei para o meu filho. Não me leve a mal, mas se
parece demais com o meu pai e já convivi com isso tempo suficiente da minha vida
para não querer mais.
Ficamos nos encarando muito seriamente por longos instantes no meio do
terraço. Se havia um ponto positivo no nosso relacionamento, era o fato de não
usarmos máscaras um com o outro. Cada um sabia como o outro era. Sem medir as
palavras, Michelle sempre dizia exatamente o que achava de mim. Mesmo me
achando assustador, nunca deixou de expressar o que pensava ou sentia.
Ainda que eu não quisesse admitir, aquilo era algo que admirava nela.
— Touché 16 , Michelle. Agora que já expressou o que sente por mim, acho
que podemos jantar.
Ela soltou um suspiro e assentiu, virando-se para entrar, mas cometeu a
imprudência de o fazer pelo lado errado, aproximando-se demais da borda da
piscina. Os saltos altos resvalaram no piso e fui rápido em envolvê-la pela cintura
com um braço, afastando-a para longe.
Eu já a havia tocado antes e devia estar preparado, mas a sensação que me
dominou foi a mesma da primeira vez. Estranhamente forte e intensa.
— Não ande tão perto da borda — alertei, soltando-a de imediato.
— Foi um descuido meu — ela se recriminou, evitando o meu olhar.
Sem dúvida, sentia-se mal por ter um homem que achava sinistro tocando-
a. Ciente daquilo, procurei manter distância para evitar que ela não desfrutasse do
jantar como eu gostaria.
— Pedi que preparassem a mesa aqui no terraço. O tempo está bom nesta
época do ano, mas se sentir frio, podemos entrar.
— Para mim está ótimo. Podemos jantar aqui fora.
— Vamos então.
Capítulo 21
Tyler
L evei-a para o outro lado, onde o terraço era coberto e mais protegido do
vento. Ruth nos aguardava próximo à entrada.
— Já ia chamá-los. O jantar está pronto.
— Pode servir.
Puxei a cadeira para Michelle e me sentei em frente a ela, aprovando os
pratos que Ruth começou a nos servir com a ajuda de uma das empregadas da casa,
saindo logo depois e deixando-nos sozinhos.
— Fale-me um pouco do que tem feito desde que chegou aqui. Adaptou-se
bem à casa? Miles comentou comigo que todo o seu material de pintura já foi
trazido do apartamento.
— Sim, é verdade. Eles foram muito atenciosos e me ligaram de lá para
perguntar que outras coisas eu gostaria que trouxessem.
Ela levou a primeira garfada à boca e notei que parecia comer com gosto.
— Desde quando você pinta? — perguntei com verdadeiro interesse e não
apenas para manter uma conversa educada durante o jantar.
Michelle riu com prazer.
— Desde pequena, mas me considero uma pintora mediana. Acho que o
meu talento ainda não é suficiente para ser uma profissional, apesar de amar muito a
pintura. Pretendo estudar no futuro e me aperfeiçoar. Enquanto isso, a pintura é um
hobby e uma terapia para mim. E você, tem algum hobby?
— Não, não tenho tempo — tive de admitir, arrancando uma risada
divertida dela.
— Imaginei que não tivesse mesmo. Já vi que dedicou a sua vida inteira ao
trabalho.
— É o que a maioria das pessoas no mundo fazem, por isso acho que sou
normal.
— E como pensa ter tempo para um filho?
— Da mesma maneira como consigo ter tempo para nadar todos os dias de
manhã, jantar com uma visita como estamos fazendo agora, conversar com Ruth
sempre que quero, sair de férias quando sinto vontade.
Tomei um gole de vinho, observando-a. Ruth tinha razão. Michelle se
servia de pequenas porções, que, a meu ver, parecia pouco para uma gestante.
O jantar foi avançando e ela continuava no mesmo ritmo.
— Notei que comeu muito pouco. Não gostou dos pratos? — perguntei em
um dado momento, querendo esclarecer logo tudo.
Ela se surpreendeu com o meu comentário, olhando para o próprio prato.
— Gostei muito, muito mesmo. É que normalmente como pouco.
— Mas sabe que vai precisar comer melhor estando grávida. Não sou
médico, mas entendo que agora precise se alimentar por dois.
Ela meneou a cabeça com um meio sorriso nos lábios.
— Você está parecendo o Andrew quando pega no meu pé por causa da
quantidade que como. Vou responder o mesmo que digo para ele. Sei que preciso
comer melhor e estou me esforçando para isso.
— E por que precisa se esforçar para comer mais? Ter apetite para se
alimentar é algo natural no ser humano, a menos que esteja doente. É esse o seu
caso?
Ela me jogou um olhar sério.
— Não, não é. Pelo menos não é uma doença do corpo. — Ficou pensativa,
como se analisasse se devia se abrir comigo ou não. — Tive uma depressão tempos
atrás e ainda não me recuperei totalmente. Não funciono bem com pessoas me
pressionando, seja que tipo de pressão for. Se isso acontecer enquanto eu estiver na
sua casa, aviso logo que vou embora.
Ela não precisou entrar em detalhes nem dizer mais nada. Para mim, estava
óbvio que a pressão que recebeu foi do pai.
— Desde que me garanta que vai pensar no meu filho e fazer as refeições o
melhor que puder, não vou pressionar você. Nem tenho tempo para isso.
— Sagrada falta de tempo! — ela disse em tom de provocação.
Surpreendentemente, achei graça e ri também.
— Olha que sorte a sua.
Foi naquele clima de provocações e de troca de farpas que o jantar se
tornou mais agradável do que pensei a princípio. Quando chegou a hora da
sobremesa, ela apenas beliscou a torta de maçã.
— Achei que você ia devorar pelo menos a sobremesa. A maioria das
mulheres não resiste a um doce.
Michelle me olhou meio de lado, literalmente me analisando.
— Falou a voz da experiência no quesito mulheres, mas sinto decepcioná-
lo. Sou a exceção. Aprecio mais os salgados do que os doces.
Ela estava sendo a exceção em muitas coisas, a começar pelo desejo de ser
mãe solo sendo virgem.
— E por falar em exceções, por que decidiu ser mãe solo em vez de se
casar com o príncipe encantado bilionário e ser feliz para sempre?
A risada que ela soltou foi imediata, espontânea e sem ironia alguma.
Michelle estava realmente se divertindo com o perfil que tracei e me vi segurando a
vontade de rir também.
— Você está me surpreendendo, Blackwolf. Pensei que fosse achar este
jantar um evento aborrecido, mas estou me divertindo muito.
O mesmo estava acontecendo comigo, mas achei melhor não dizer nada.
— Pode me chamar de Tyler.
Ela parou de rir, fazendo um trejeito engraçado com os lábios.
— Na minha opinião, o nome Blackwolf combina mais com quem você
realmente é. O Tyler parece ser outro homem e não você.
— Está com medo de começar a gostar de mim se me chamar de Tyler?
Cravei o meu olhar no dela, desafiando-a a negar. Michelle era sempre
corajosa na hora de me encarar, mas daquela vez baixou os olhos antes de responder.
— Não corro esse risco.
A voz estava firme, mas o olhar que se ergueu para mim tinha uma emoção
mal disfarçada que me atingiu em cheio. Senti uma tensão diferente se espalhar pelo
meu corpo e me admirei que fosse sexual.
Não é possível que eu esteja me sentindo atraído por ela e ela por mim!
A última coisa que eu queria era me envolver com a filha de Colin Barton.
— Você não respondeu. Por que ser mãe solo sendo virgem?
A pergunta direta e até grosseira foi proposital, para que ela não se
esquecesse de quem eu era e continuasse me achando sinistro o suficiente para não
se aproximar muito.
Surtiu o efeito desejado. Michelle contraiu os lábios com desgosto.
— Os seus investigadores são muito competentes, tenho de admitir — disse
com desprezo, mas senti que havia uma certa tristeza também, que procurei ignorar.
— A informação estava na sua ficha da Fertile Future.
— Pior ainda. Me disseram que tudo naquela ficha era confidencial.
— Não para mim.
Ela me encarou sem demonstrar a emotividade da vez anterior.
— Já percebi — respondeu simplesmente, tomando um gole da água com
que se serviu durante o jantar. — A resposta é muito simples, Blackwolf. Quis evitar
que o pai do meu filho fosse alguém parecido com você. Focado apenas em
acumular riquezas, emocionalmente insensível, autoritário e calculista, sem limite
algum na hora de conseguir o que quer e cujo filho seria apenas o herdeiro desse
legado horrível. Homens como você só querem filhos que sejam uma cópia fiel de si
mesmos. Se não forem, serão forçados a ser, tendo a própria personalidade
massacrada por um pai opressor.
Deixei que Michelle falasse tudo o que pensava. Muito do que disse não me
surpreendeu, uma vez que ela já havia se expressado antes sobre o que achava de
mim.
— Essa é uma descrição do seu pai e não minha.
Ela riu com ironia.
— A descrição se encaixa direitinho nos dois e daí já se vê o quanto são
parecidos. No meio social onde cresci, existem homens demais como vocês dois,
mas devo confessar que Colin Barton e Tyler Blackwolf são insuperáveis. Uma
referência mundial.
Os olhos azuis me desafiaram. Em vez de raiva, senti mais admiração ainda
por ela.
— Você tem o péssimo hábito de me comparar ao seu pai, o que só mostra
o quanto está enganada a meu respeito. Também errou feio quanto ao meu filho.
Lógico que vou querer que ele siga os meus passos no mundo dos negócios, mas se
realmente não quiser, não o vou forçar. Terei outros filhos, até que um deles aceite o
meu legado horrível.
Ela respirou fundo ao me ouvir repetir o mesmo termo que ela usou, mas
não perdeu a oportunidade de me tirar da vida do meu filho.
— Se é assim, por que não tem logo outros filhos por inseminação e se
esquece do meu?
— Porque esse que você carrega é meu também e não sou homem de
rejeitar os meus filhos, o meu sangue. Ainda que eu tenha dez filhos, cada um deles
será especial para mim e vou amar todos. — Apoiei os antebraços na mesa e firmei
o olhar nela. — Antes que diga que sou machista e só quero filhos homens, saiba
que se vier uma menina e ela tiver talento financeiro no sangue igual a mim, terei o
maior orgulho que seja ela a assumir tudo o que tenho.
Michelle me analisou sem esconder a curiosidade.
— Por que inseminação? Você poderia escolher a mulher que quisesse para
ser mãe dos seus filhos. Uma daquelas lindíssimas e fabulosas que almejam um
bilionário rico como marido. Bastava se casar com ela e ter a família perfeita.
— Você tem os seus motivos, eu tenho os meus. Não quero uma mãe para
os meus filhos.
— Toda criança precisa de uma mãe ao lado.
Foi impossível não rir com cinismo daquele comentário.
— Toda criança precisa de amor e um pai pode dar esse amor para ela.
Ela bufou, vencida.
— Você tem razão, concordo que o amor é o que importa. Talvez eu pense
assim por causa do relacionamento maravilhoso que tive com a minha mãe. Em
contrapartida, tive um relacionamento péssimo com o meu pai. Nós duas éramos
muito unidas mesmo. Quando ela morreu de repente, fiquei sem chão. Na verdade,
estou sem chão até agora.
Michelle engoliu em seco e inspirou fundo, tentando controlar a emoção ao
falar da mãe, mas não conseguiu. Cobriu o rosto com as mãos e secou as lágrimas
que inundaram os olhos azuis, enquanto eu controlava a vontade absurda que senti
de colocá-la no colo e aconchegar junto ao peito.
— Me desculpe pelo choro. Acho que estou mais sensível por causa da
gravidez.
— Não precisa pedir desculpas. Você pode achar que não, mas entendo.
Também sofri muito com a morte do meu pai — falei sem pensar nas
consequências, até me lembrar que nunca havia tocado no assunto com ninguém.
Ela ergueu os olhos, deixando o rosto fragilizado à mostra. Havia uma dor
profunda naquele olhar com a qual me identifiquei e que me tocou de uma maneira
extremamente forte.
— A sua mãe faleceu na mesma época dele? Ruth comentou comigo que
ambos são falecidos.
Se Ruth disse aquilo foi porque Michelle perguntou. Ela era uma mulher de
confiança e jamais contaria o que sabia da minha vida pessoal.
— Não conheci a minha mãe.
Fui sincero, não vendo motivo algum para esconder aquilo dela, já que a
própria Michelle havia escolhido ter um filho por inseminação. Pela lógica, ela
entenderia a escolha do meu pai caso soubesse d e tudo.
— Oh, ela faleceu no parto? — perguntou com o rosto consternado. —
Sinto muito! Não quis tocar em um assunto delicado.
— Não é um assunto delicado, fique tranquila. Não conheci a minha mãe
porque nasci de inseminação artificial.
Ela arregalou os olhos, sem conseguir disfarçar o quanto estava abismada.
— Mas... eu pensei... Ruth deu a entender que... — Parou de falar,
literalmente sem palavras.
— Foi a Ruth quem cuidou de mim quando fui entregue ao meu pai após o
nascimento. Ele a contratou como babá e ela trabalha até hoje comigo. É casada com
um dos meus seguranças, tem três filhos e será a mulher que vai cuidar dos meus
filhos também.
Michelle reagiu assim que terminei de falar.
— Dos seus outros filhos, porque eu cuidarei do meu.
Mais uma vez voltávamos ao mesmo impasse. Cada um queria o filho para
si, sem querer a presença do outro.
— Em algum momento teremos de resolver isso.
— Eu não preciso resolver nada. Já me conformei em ter você na vida do
meu filho, mas não vou renunciar à guarda dele. É comigo que ele vai ficar, sou eu
quem vou cuidar dele e não vou deixar que ninguém o tire de mim.
— E como faremos? Porque eu também não quero viver longe dele e o ver
esporadicamente. Quero que ele more comigo, onde o poderei ver sempre que quiser
e onde também estará sempre protegido.
Ela fez um gesto impaciente com a mão.
— Você bem que podia ser desalmado, impiedoso e sinistro o suficiente
para não se importar com esse filho e nos esquecer. O que custa rejeitá-lo? Se você
se esforçar um pouquinho até consegue.
Contive um sorriso, sem me ofender com nada do que ela disse. Quanto
mais eu a conhecia, menos a achava irritantemente desafiadora, idiotamente cheia de
razão e insuportavelmente antipática, como havia acontecido no início.
— Sinto decepcioná-la, mas isso não vai acontecer. Sugiro que não se
preocupe com esse assunto agora. Cuide apenas que ele cresça forte e saudável na
sua barriga.
— Eu não vou deixar que o tire de mim quando ele nascer, Blackwolf —
ela foi taxativa na maneira de falar.
Endureci a expressão do rosto.
— E eu disse que ia fazer isso?
Ela piscou, pega de surpresa com a minha pergunta.
— Não com essas palavras, mas por tudo o que falou desde que nos
conhecemos, posso afirmar que deu a entender que era o que pretendia fazer em
tribunal.
— Isso foi antes de conhecer melhor você.
Ela arregalou os olhos, pasma.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer que somos pessoas adultas e podemos encontrar uma
solução que favoreça aos dois. Cada um cede de um lado. Você me aceita como pai
e eu aceito você como mãe. Ele deixa de ser o “meu” filho e o “seu” filho, e passa a
ser o “nosso” filho. Eu estou disposto a isso. Você está?
Notei quando ela colocou a mão sobre a barriga, olhando-me com
desconfiança.
— Você não combina no papel de cordeirinho, Blackwolf.
Meneei a cabeça, divertindo-me com ela.
— Começo a desconfiar que você prefere o lobo em vez do cordeiro.
— Já me acostumei com ele.
Analisei a mulher à minha frente, cujo olhar não fugiu do meu.
— Cuidado para não se acostumar demais a ponto de sentir falta depois.
— Não corro esse risco — ela afirmou pela segunda vez naquela noite e
sem hesitação alguma.
Michelle sustentou bem o meu olhar e havia intensidade suficiente entre
nós dois para me fazer pensar. Ambos estávamos cientes de que o jantar havia
elevado o nosso relacionamento para um nível que não existia antes. Demos um
passo à frente, mas aonde íamos chegar era uma incógnita até para mim, que
controlava com pulso firme tudo ao meu redor.
— Obrigada pelo jantar, Blackwolf — ela agradeceu em tom de despedida,
colocando o guardanapo ao lado do prato.
— Vou acompanhá-la até o seu andar.
— Não é preciso.
Levantei-me no mesmo instante.
— Faço questão.
Sem contestar, Michelle me deixou puxar a cadeira para ela se levantar e
acompanhei-a até o elevador privativo que nos levou até o andar dela.
Despedi-me no hall de entrada.
— Boa noite e obrigado pela companhia no jantar de hoje. Espero que volte
a aceitar um novo convite.
— Aceitarei. Boa noite, Blackwolf.
Capítulo 22
Tyler
O utra semana se passou sem que o processo de falência do Barton Bank
desse entrada no Tribunal de Falências de Manhattan. Colin Barton continuava em
negociações para tentar uma outra fusão, mas aquela tentativa também não ia dar em
nada. Eu me encarreguei de fechar as portas do sistema financeiro para ele. Seria
fracasso após fracasso, até que não lhe restasse outra alternativa além de aceitar a
falência. Ele só estava tentando adiar o inadiável.
O desejo de vingança que eu sentia continuava o mesmo, ainda que o meu
relacionamento com a filha dele estivesse evoluindo para um patamar que nunca
imaginei.
Propositadamente, demorei três dias para convidar Michelle para um outro
jantar. Quis testar a mim mesmo com aquele tempo, impondo um controle mais
rigoroso na súbita vontade que me dominou de estar com ela já no dia seguinte ao
primeiro jantar. Como Ruth me passava diariamente informações sobre a rotina dela,
eu sabia que Michelle estava bem, apesar de continuar tendo náuseas pela manhã e
de se alimentar de maneira frugal.
Na semana seguinte ela teria a consulta mensal com a doutora Jane Young,
ocasião em que eu pretendia colocar o assunto em pauta.
No jantar daquela noite, Michelle apareceu usando um vestido estampado
em tons de castanho, com a gola alta e a saia justa até o meio das pernas, que os
saltos altos destacavam. Os cabelos louros estavam totalmente soltos, dando-lhe uma
aparência que achei atraente e muito sensual. Ultimamente eu vinha notando mais a
beleza dela e tinha noção do risco que aquilo significava. Um risco muito grande.
Uma verda deira merda!
Igual como aconteceu na vez anterior, fui recebê-la na saída do elevador,
levando-a depois para a mesa de dois lugares do terraço.
— Como passou estes dias? — perguntei, assim que nos sentamos frente a
frente.
— Muito bem, apesar de continuar me sentindo ligeiramente indisposta
pela manhã.
— É por isso que não tem saído de casa?
Ela me lançou um olhar reprovador.
— Nem vou perguntar como é que você sabe que não tenho saído, mas
responderei mesmo assim. Não tenho saído por falta de vontade.
Não achei que aquilo fosse normal, pelo menos na minha visão das coisas.
— Você fez tanta questão de me dizer que não pretendia ser uma
prisioneira na minha casa e está há duas semanas trancada aqui dentro. Deduzi que
sairia bastante, nem que fosse para comprar o enxoval do bebê, visitar amigas, ir ao
shopping ou fazer qualquer outra coisa.
— Era importante garantir a minha liberdade, apenas isso. Tenho me
dedicado à pintura e descansado bastante, como a doutora Jane recomendou.
Ainda assim achei que duas semanas era muito tempo e pensei se a
depressão que ela teve no passado estaria começando a voltar.
— Estive pensando em montar um quarto para o nosso filho. Qual deles
você gosta mais?
Notei o brilho no olhar dela e fiquei satisfeito ao ver que tudo relacionado
ao bebê a entusiasmava.
— O que fica ao lado do meu. Tem uma porta de comunicação que poderá
ficar aberta, deixando-me mais próxima dele.
— Sei qual é e acho uma boa escolha. Se importaria de providenciar tudo
para deixá-lo pronto até a chegada dele? Ruth pode ajudar você no que precisar.
— Vou adorar fazer isso. Eu já estava montando um para ele no meu
apartamento e posso fazer o mesmo aqui. — Ela me olhou em dúvida. — Mas ainda
não definimos como faremos quando ele nascer.
— Temos tempo. Ainda é cedo para conversarmos sobre isso. — Ergui a
taça de vinho. — Ao nosso filho.
Ela sorriu e fez o mesmo com o copo d’água, tocando-o no meu.
— Ao nosso filho.
Aquele segundo jantar na companhia de Michelle foi mais agradável do que
o primeiro. A conversa fluía naturalmente e eram raros os momentos de silêncio.
Quando eles aconteciam, os olhares que trocávamos eram cheios de significado e
cumplicidade, sem necessidade de palavras, o que me deixou verdadeiramente
surpreendido com aquela súbita afinidade entre nós dois.
Quando terminamos o jantar, fomos nos sentar em um dos sofás rústicos do
terraço, de onde podíamos apreciar melhor a vista noturna de Manhattan.
— Está preparada para a consulta da próxima semana?
— Preparada e ansiosa! Já vou estar com oito semanas e poderei ouvir o
coraçãozinho dele.
Eu nem fazia ideia de que já era possível ouvir o coração do meu filho com
aquele tempo de gravidez. A única coisa que registrei na minha mente para ela fazer
com oito semanas era o teste de paternidade. Contudo, Michelle nem parecia uma
grávida, de tão lisa que a barriga dela estava.
— Ouviremos juntos, porque vou estar presente.
Ela mordeu o canto da boca, parecendo envergonhada.
— Eu tinha me esquecido disso.
— E vou estar na sala de parto também.
Horrorizada e boquiaberta, ela arregalou os olhos, fazendo-me rir.
— Peguei você.
— Oh, você é insuportável! — ela exclamou, mas riu logo depois.
Trocamos um olhar enquanto ríamos e preferi não comentar que aquela era
a mais pura verdade. Eu pretendia estar na sala de parto no dia do nascimento do
meu filho.
Fomos interrompidos pelo meu celular tocando sobre a mesa.
— Só um instante.
— Fique à vontade.
Levantei-me para o atender. Era Gabriel Cox, um dos juízes do tribunal de
falências e o assunto só poderia ser o Barton Bank.
— Boa noite, Gabriel. Boas notícias?
— Boa noite, Tyler. Sim, aconteceu o que esperávamos. Fui informado que
amanhã teremos o processo em mãos.
Olhei para Michelle sentada no sofá e me afastei para o outro lado do
terraço, evitando que ela acidentalmente escutasse alguma coisa.
— Então ele aceitou a derrota e vai mesmo dar entrada no pedido de
falência.
— Isso mesmo. Um dos advogados de Barton me ligou agora à noite para
conversar sobre os detalhes do processo. Acabei de desligar.
Porra, consegui!!!
— Conte-me mais.
Nos minutos seguintes ele me explicou o teor da conversa que teve,
acertando comigo os próximos passos que íamos dar.
— Já agendei uma reunião formal com Colin Barton e os advogados dele
para amanhã à tarde. Posso avançar com a sua proposta?
— Pode, sim, Gabriel. Vou pedir para Ryan comparecer ao tribunal no
horário marcado.
— Ótimo! Acredito que teremos sucesso.
— Também aposto nisso.
Tratamos de mais alguns pormenores e ficamos de definir o restante no
decorrer do dia seguinte. Quando desliguei, guardei o celular no bolso com um
sorriso de vitória.
Voltei para o sofá, onde encontrei Michelle semideitada e adormecida
contra as almofadas. Só então me dei conta de que havia demorado muito mais
tempo na ligação do que pensei e ela não aguentou esperar acordada .
Fiquei parado, sem conseguir fazer outra coisa que não fosse admirá-la.
Michelle parecia frágil e delicada, despertando um instinto de proteção em mim que
nunca senti antes por mulher alguma. O que ela estava fazendo para me conquistar
daquele jeito eu não sabia, mas a verdade era que a cada dia que passava eu me via
mais envolvido pela única mulher que deveria manter à distância.
Pensei em acordá-la, mas depois mudei de ideia. Decidi que a levaria para
dentro adormecida do jeito que estava. Se ela acordasse no meio do caminho,
deixaria que fosse para o andar de baixo. Se não acordasse, dormiria ali mesmo.
Com cuidado, peguei-a ao colo e fui para dentro sem que Michelle
despertasse. Parei em frente à porta do quarto de hóspedes, mas um impulso
repentino me fez seguir adiante e entrar no meu próprio quarto, onde a deitei na
cama, tirando-lhe os sapatos. Ela se aconchegou contra o travesseiro com um
suspiro, continuando a dormir.
Não me atrevi a tirar o vestido que ela usava para que ficasse mais
confortável. Da maneira como eu a conhecia e sendo ainda virgem, Michelle seria
capaz de ir embora no dia seguinte caso se acordasse nua na minha cama.
Preferi não analisar muito as minhas motivações para tê-la trazido ali.
Apenas tirei os sapatos e fui para o banheiro me preparar para dormir.
Quando me deitei ao lado dela minutos depois, foi pensando no inusitado
daquela situação. Era a primeira vez que eu tinha uma mulher adormecida na minha
cama. Sempre que fodia com uma delas, nunca era na casa onde eu morava e muito
menos na cama onde eu dormia. Agora, eu ia literalmente dormir com a filha do
meu inimigo.
Sempre achei que tinha uma cama grande, mas a impressão que fiquei
naquele momento era de que o tamanho dela havia diminuído de repente. Eu
conseguia sentir a presença de Michelle como se ela estivesse agarrada em mim e
não no lado oposto. O perfume suave e feminino parecia se espalhar pelo meu
quarto inteiro, invadindo os meus pulmões e tentando roubar a minha razão.
Foi com muita força de vontade que me deitei de costas para ela e fechei os
olhos, decidido a ignorá-la.
Michelle só está aqui por causa do meu filho. É tudo por causa d o meu
filho!
Capítulo 23
Michelle
V irei-me para o outro lado da cama e me cobri melhor com o lençol,
pensando em ficar deitada mais um pouquinho.
Por causa dos enjoos, as manhãs se tornaram a pior parte do meu dia desde
que fiquei grávida. Ultimamente eu vinha me sentindo cansada e sonolenta com uma
facilidade incrível, mostrando que a gravidez não era aquele mar de rosas que
imaginei quando decidi ser mãe solo.
Com um suspiro, encolhi-me mais debaixo dos lençóis, mas fui obrigada a
abrir os olhos quando o enjoo matinal que me acompanhava há dias começou a me
incomodar.
Ai, meu Deus, quando é que isso vai passar!
Apesar de a doutora Jane ter dito que era muito comum sentir náuseas e ter
vômitos pela manhã, eu ainda não havia me acostumado em ficar tão indisposta mal
me acordava.
Usei a técnica de respirar fundo várias vezes e pensar em coisas boas e
agradáveis como um jardim florido, mas de nada adiantou. O enjoo que senti foi tão
forte que parecia que as rosas do meu jardim imaginário tinham um odor enjoativo
demais, piorando a náusea.
Ciente de que logo depois viria a vontade de vomitar, sentei-me na cama.
Foi quanto notei que havia dormido com o vestido que usei no jantar com
Blackwolf. No chão, os scarpins pretos estavam jogados sobre o tapete.
Eu devia estar mesmo muito cansada na noite anterior para ter dormido
vestida daquele jeito. Não havia outra explicação.
Enquanto eu tentava entender como é que fui parar na cama se nem me
lembrava de ter andado até o quarto, a vontade de vomitar aumentou e me levantei
rápido em busca do banheiro. Cobrindo a boca com a mão, abri a porta às pressas e
fui direto para a pia, vomitando parte do jantar que não havia sido digerido pelo
estômago.
Depois que coloquei tudo para fora, apoiei-me com dificuldade e abri a
torneira. Molhei o rosto, respirando fundo para controlar a náusea e evitar mais
vômitos. Passei mais água no rosto, lavei a boca e me olhei no espelho no exato
instante em que Blackwolf entrou no banheiro vestido com um de seus ternos feitos
à medida.
Com a fisionomia grave e uma ruga de preocupação no meio da testa, ele se
aproximou de mim.
— Você está bem, Michelle?
Eu estava era totalmente confusa com a presença dele ali, mas um novo
espasmo de vômito subiu pela minha garganta e o esqueci por completo,
concentrada em superar a crise.
Um braço forte me envolveu pela cintura e me vi apoiada contra o corpo de
Blackwolf. Eu me sentia tão enfraquecida que nem reclamei, recostando-me nele
sem nenhuma cerimônia. Não podia negar que era reconfortante tê-lo ao meu lado
naquele momento e apenas fechei os olhos, aproveitando o apoio.
— Respire fundo. Deve ajudar.
Sim, ajudava e foi exatamente o que fiz. Deixei que ele me sustentasse,
sentindo a força do corpo alto junto ao meu. Era estranho e íntimo demais, mas
também reconfortante.
Ficamos naquela posição por um longo tempo, até eu sentir que o pior
havia passado. Voltei a lavar o rosto, aceitando a toalha que ele me deu.
— Sente-se melhor agora?
— Sim, já me sinto bem melhor.
Ele não esperou mais nada para me pegar ao colo e levar de volta para a
cama. Agiu tão rápido que nem tive tempo de protestar.
Quando eu já estava sentada na cama com ele ao meu lado, olhei-o muito
francamente.
— O que é que você está fazendo no meu quarto?
— Este quarto é o meu e não o seu.
Chocada demais, olhei ao redor, sem acreditar no que tinha ouvido. Foi
quando notei que tudo ali era mesmo diferente e paralisei.
— Como foi que vim parar no “seu” quarto?
Blackwolf parecia muito tranquilo, como se estarmos juntos no mesmo
quarto fosse a coisa mais natural do mundo.
— Você adormeceu no sofá ontem à noite e me senti culpado por tê-la
deixado esperando tanto tempo enquanto tratava de negócios. Trouxe-a para cá e
deixei que dormisse na minha cama.
Pisquei várias vezes antes de me sentir capaz de falar.
— Na sua cama? — balbuciei, estarrecida, enquanto a informação entrava
no meu cérebro. — Eu dormi... na sua cama?!
— Sim.
Ele continuava agindo com a maior naturalidade, enquanto eu me sentia a
um passo de surtar.
— E onde você dormiu? — perguntei, desconfiada e com receio de ouvir a
resposta.
— Com você.
Eu n ão acredito!
— Dormimos juntos?
Eu não conseguia me imaginar dormindo a noite inteira ao lado do homem
mais assustador que conheci até hoje. Ainda que o nosso relacionamento tivesse
melhorado bastante nos últimos dias, Blackwolf ainda era um homem que me
causava arrepios de medo quando estava sério demais.
— Sim, dormimos juntos. Dividimos a mesma cama — ele explicou com
paciência, como se estivesse falando com uma criança. — Mas não se preocupe.
Você continua tão virgem quanto antes, igualzinho como veio ao mundo.
Senti o meu rosto avermelhar de vergonha. Aquela já era a segunda vez em
menos de vinte e quatro horas que Blackwolf se referia à minha virgindade. Eu
estava começando a achar que era de propósito, só para me deixar constrangida.
Fosse proposital ou não, ergui o queixo e tentei agir tão naturalmente
quanto ele, apesar de saber que o rubor no rosto me denunciava.
— Não tenho problema algum com a minha virgindade, Blackwolf. Foi
uma opção de vida, assim como ser mãe solo também foi. — Fui firme na defesa dos
meus valores pessoais. — Mas, sendo virgem ou não, tenho o direito de escolher
com quem divido a cama onde durmo e não gostei de saber que dormimos juntos
sem que eu pudesse sequer dizer que não queria.
Ele me olhou de um jeito tão grave que até prendi a respiração, o calor que
havia nos olhos escuros minutos atrás se transformando em gelo em questão de
segundos.
— Pois saiba que nunca dividi com mulher alguma a cama onde durmo,
mas ontem não me importei que a mãe do meu filho dormisse ao meu lado. Pode
ficar tranquila que isso não vai mais se repetir.
Ele se levantou com a fisionomia fechada de sempre e foi fazer uma ligação
no telefone da residência.
— Ruth, venha ao meu quarto atender a Michelle. Ela passou mal e não
quero sair deixando-a sozinha — ele pediu, desligando logo depois e se
aproximando novamente de mim. — Ela vai ajudar você.
Blackwolf estava sendo educado e mostrando preocupação comigo, o que
me deixou com uma sensação de arrependimento por ter sido excessivamente
puritana.
— Peço desculpas por ter reagido tão mal, mas não estou acostumada a me
acordar no quarto de um homem ou de saber que dormi na cama com ele sem saber.
— Nunca precisei me aproveitar de mulher alguma. Se garanto que você
não foi tocada enquanto esteve na minha cama, é porque não foi mesmo.
Encarei fundo os olhos escuros. Apesar de profundos e quase sempre
sombrios, eram sinceros. Blackwolf era dono de uma honestidade crua e cortante,
sem necessidade de meias palavras ou subterfúgios. Ele falava a verdade, doa em
quem doesse.
— Acredito nisso.
O olhar grave não se alterou, muito menos a rigidez dos traços marcantes
do rosto barbado.
Uma batida discreta na porta anunciou a chegada de Ruth.
— Pode entrar — ele autorizou, pegando uma pasta preta sobre a poltrona.
— Preciso ir. Tenho uma reunião importante agora de manhã. Tenha um bom dia,
Michelle Barton.
Suspirei cansadamente quando fiquei sozinha com Ruth, sem entender a
minha reação exagerada ao fato de apenas ter dormido ao lado dele, afinal, nada
havia acontecido.
A única justificativa que podia dar a mim mesma era que Blackwolf me
desestabilizava até o último fio de cabelo. Ultimamente eu vivia pensando nele com
uma frequência impressionante e não entendia como aquilo podia acontecer, já que
sempre o considerei um homem detestável e, muitas vezes, até sinistro.
Talvez tudo aquilo fosse apenas a sensibilidade exagerada da gravidez.
Sim, de ve ser isso!
Capítulo 24
Michelle
— P osso visitar você hoje com o John? — Andrew perguntou quando me
ligou no meio da tarde.
— Sim, claro que pode. — Estranhei o tom de voz dele. — Está tudo bem?
— Sim, está. Conversamos quando eu chegar.
Aquela era a resposta típica dele para não me preocupar antes da hora, o
que só atiçou ainda mais a minha curiosidade.
— Tudo bem, eu aguardo.
— Até mais tarde, baby.
Quando Andrew chegou com John, já deduzi pela cara dos dois que algo
realmente sério havia acontecido. Considerando os eventos preocupantes dos
últimos dias, o que eles vinham me contar só podia ser algo relacionado com o
banco e com o meu pai.
Sentei-me no sofá da sala com Andrew de um lado e John do outro.
— A cara de vocês está terrível. Contem-me logo o que aconteceu.
— Demos entrada no pedido de falência em tribunal e tivemos uma
surpresa enorme ao nos reunirmos informalmente com o juiz que ficou com o caso.
Ele nos informou que o Fed 17 está preocupado com a instabilidade que a falência do
nosso banco poderá acarretar no mercado financeiro.
— Toda vez que um banco quebra, é sempre a mesma história — John
completou a explicação de Andrew. — Só que na hora de nos ajudar meses atrás, o
Fed tirou o corpo fora.
— Hoje descobrimos o porquê de todas as tentativas do nosso pai em salvar
o banco terem dado em nada — Andrew voltou a falar, daquela vez sem disfarçar a
raiva.
— E o que foi? — perguntei, mais do que ansiosa para saber.
— Tudo indica que as cartas já estavam todas marcadas desde o início para
que não tivéssemos outra saída que não fosse decretar a falência. Ficamos sabendo
que houve uma reunião a portas fechadas de um dirigente do Fed com alguns líderes
financeiros e políticos para evitar uma repercussão negativa da nossa falência. Desde
a crise financeira causada pela quebra do Lehman Brothers 18 , sempre que um outro
banco de investimentos de grande porte vai à falência, surgem rumores preocupantes
que causam instabilidade no mercado financeiro. O banco central quer evitar a todo
custo que o mesmo aconteça agora.
— Mas isso é compreensível. Acho que o banco central está certo.
Eu só via lógica na posição do Fed e não entendia o motivo da raiva do meu
irmão.
— Claro que eles estão certos em querer evitar uma nova crise financeira,
mas há coisas muito mal explicadas em todo o processo. Passamos meses
negociando várias fusões sem sucesso, Michelle. De repente, surge hoje uma
imposição do banco central para aceitarmos a venda do nosso banco para um
investidor de Wall Street que está interessado na aquisição dele.
— Mas isso não é bom? Pensei que fosse, já que vai evitar a falência.
— Não será uma fusão, mas uma aquisição. Se fosse uma fusão, ainda
poderíamos continuar donos do banco. Sendo uma aquisição, ele será vendido e
perderemos tudo.
— Mas não íamos perder tudo de qualquer jeito? Não estou entendendo a
reação de vocês.
Os dois trocaram um olhar.
— O BW Group comprou o nosso banco hoje por um valor irrisório,
Michelle. O Lobo Negro de Wall Street estava de tocaia este tempo todo, só
esperando o momento certo para atacar, que geralmente é quando a empresa já não
tem mais opção além da falência. Ele conseguiu manipular os fatos para nos
destruir. Não temos mais dúvida alguma disso.
Fiquei tão chocada que não reagi por um longo tempo, tamanha foi a minha
perplexidade. Eu sabia que Blackwolf odiava o meu pai, mas nunca pensei que
estivesse usando a influência dele para conseguir ficar com o nosso banco.
— Blackwolf fez isso?
Tentei esconder a desilusão na voz, sem querer que Andrew descobrisse o
quanto aquilo havia me abalado. Eu não esperava me sentir daquele jeito, mas saber
que Blackwolf agiu para destruir a minha família me deixou arrasada.
— Fez, Michelle — o meu irmão confirmou sem vacilar.
Olhei para John, esperando que ele me dissesse algo diferente.
— É verdade. Infelizmente o pai do seu filho é o responsável por todas as
portas terem sido fechadas para o Barton Bank conseguir se reerguer. Blackwolf é
um financista e investidor excepcional, mas também impiedoso quando quer
alcançar um objetivo. A maior prova está aí.
A imagem do rosto implacável de Blackwolf surgiu na minha mente. Até
que ponto ele realmente tramou contra o meu pai, um homem que nunca negou
odiar?
— E como está o nosso pai, Andrew?
— Fumaçando de raiva. Ele se trancou na sala da diretoria e mandou todo
mundo embora, inclusive nós dois.
Apesar de ele nunca ter sido um pai amoroso e interessado na minha
felicidade, preocupei-me que passasse mal estando sozinho.
— Não é arriscado demais deixá-lo sozinho depois de tanto estresse? Sei
que ele é um homem forte e saudável, mas a pressão pode ser demasiada até para
quem tem boa saúde. Nosso pai está com sessenta e cinco anos, pode ter até um
infarto.
Andrew soltou um suspiro profundo e olhou para John antes de me
responder.
— Pensamos a mesma coisa e foi por isso que ficamos lá durante a tarde
inteira. Só saímos quando ele também saiu, mas não sei para onde foi. Em casa não
está, porque já me informei sobre isso.
Apesar de nunca ter me envolvido nos negócios do meu pai, eu desconfiava
que ele tinha dinheiro guardado em algum lugar.
— Não vai sobrar nada? É que não consigo acreditar que o nosso pai não
tenha previsto que isso ia acontecer e se prevenido de alguma forma. Ele é muito
inteligente e perspicaz.
— Achamos o mesmo, mas não sabemos de absolutamente nada.
John se remexeu com inquietação no sofá, visivelmente nervoso.
— Se ele conseguiu desviar algum dinheiro antes que a bomba estourasse e
isso se tornar público, vai gerar um problema monumental no futuro. Os
investidores, acionistas e correntistas vão ficar furiosos e não vai ter lugar nesse
mundo onde o seu pai consiga se esconder sem ser caçado e preso.
Oh, meu Deus. Que horror!
— Eu estou tão chocada que nem consigo reagir.
Andrew me olhou com preocupação.
— Pense no seu filho e não deixe que os problemas do nosso pai afetem a
sua gravidez. Só vim contar pessoalmente por que seria mil vezes pior se você
ficasse sabendo através da televisão, dos jornais e das revistas de fofocas.
— Ou através de alguém que quisesse atingir você por ser filha de Colin
Barton.
Arregalei os olhos ao ser relembrada daquela possibilidade.
— Acham que isso seria possível? Eu sempre estive tão à margem dos
negócios da família.
— Muitos dos nossos amigos eram também clientes do banco, Michelle.
Como vão reagir ao saber que perderam dinheiro nas nossas mãos? É melhor não
atender ligações de nenhum deles por um bom tempo.
Ri nervosamente, passando as mãos pelos cabelos.
— Estou mesmo pasma!
Andrew me abraçou pelos ombros, beijando-me no rosto.
— Não se preocupe tanto. O Fed não tem interesse algum que a falência do
nosso banco venha a público, por isso tudo foi decidido a portas fechadas. O que
será anunciado depois é a compra do Barton Bank pelo BW Group, o que vai até
agradar aos correntistas. Basta que saibam que não vão perder um centavo e tudo
ficará bem.
Olhei-o com algum receio.
— Não tem mesmo como as pessoas ficarem sabendo da nossa falência?
Os dois trocaram um olhar que me deixou desconfiada.
— Não temos como dar essa certeza, baby. — Foi o John quem respondeu.
— Hoje em dia as informações são vendidas como banana na feira. Tudo é possível.
— Se essa informação vazar, ficaremos marcados — falei o óbvio. —
Sempre que nos encontrarem por aí, vão se lembrar que quase perderam tudo nas
nossas mãos. Será ainda pior se o nosso pai realmente tiver dinheiro guardado em
algum paraíso fiscal e eles souberem. Aí é que nunca mais vão se esquecer de nós.
O peito de Andrew se expandiu quando inspirou profundamente o ar,
deixando evidente que tinha consciência de tudo aquilo.
— Vamos viver um dia de cada vez. Apesar de Blackwolf ser um grande
filho da mãe, você está protegida aqui com ele. Tenho certeza de que não vai deixar
que nada de mal lhe aconteça, ou ao filho. De resto, é aguardar para ver o que o
amanhã nos trará.
Capítulo 25
Tyler
— M ichelle recebeu a visita do irmão e de John Marshall — Ruth me
informou assim que cheguei do trabalho. — Essa foi a única coisa que fugiu à rotina
dela hoje.
Eu já desconfiava que Andrew encontraria uma maneira de contar para a
irmã tudo o que havia acontecido com o Barton Bank e não me surpreendi quando
Miles me ligou no meio da tarde para informar sobre a visita. Ele tinha ordens de me
avisar sobre qualquer pessoa que subisse para o andar de Michelle e a visita do
irmão dela era esperada, mas não a de John Marshall.
— Como ela passou o restante do dia depois da visita?
— Michelle é naturalmente muito calada e gosta de ficar sozinha no canto
dela, concentrada na pintura. Desde que está aqui, não conversa muito comigo nem
faz confidências e hoje ficou do mesmo jeito durante o dia inteiro, Tyler.
Era melhor resolver logo o assunto do que ficar adiando.
— Convide-a para jantar comigo e me avise se ela aceitar. Vou tomar um
banho.
— Quem o procurou hoje foi Barbara, querendo saber quando poderá
voltar. Fiquei de ligar amanhã para dar uma resposta.
Parei no meio do caminho para o meu quarto, virando-me para Ruth. A
última coisa que eu queria era Michelle e Barbara se encontrando ali, mesmo
considerando que Michelle quase não saía do andar dela e que Barbara sempre
ficava no andar de baixo.
— Não a quero aqui. Diga-lhe que eu ligo se precisar.
— Farei isso. Vou falar com Michelle agora.
Fui para o meu quarto, largando a pasta e o celular sobre a mesa. Aquele
havia sido um dia cheio de reuniões, mas também cheio de vitórias. Consegui
alcançar o meu objetivo final de comprar o Barton Bank e acabar de vez com Colin
Barton. Agora ele sabia quem era o homem por trás da sua queda e a minha
vingança estava completa.
A única coisa que eu não entendia era o porquê de me sentir mais cansado
do que feliz com aquela vitória.
Deve ser por causa das poucas horas de sono que tive ao dormir c om
Michelle.
Aquela havia sido uma experiência agridoce. Ter passado parte da
madrugada acordado analisando os meus sentimentos por ela foi algo tão estranho
quanto estar dividindo a minha cama com a filha de Colin Barton.
Eu não sabia como Michelle estava conseguindo aquilo, porém, a cada dia
que passava, ela ocupava um espaço maior na minha cabeça e eu não estava
gostando nada de não ter o controle de mim mesmo.
Fui para o banheiro, convicto de que uma boa noite de sono resolveria tudo,
até mesmo a falta de vontade que sentia de foder com Barbara. Ela era uma mulher
experiente na arte de agradar a um homem, mas era a inexperiência de Michelle que
estava atraindo-me ultimamente, uma virgem puritana que me detestava.
Infelizmente para mim, aquilo era algo que eu não podia negar.
Quando terminei o banho, fui para a sala de estar, onde me encontrei com
Ruth.
— Michelle aceitou o convite, Tyler.
— Aguarde que chegue e leve-a até o terraço. Esperarei lá.
Daquela vez tudo seria diferente. Não seria eu a recebê-la.
Fui para o terraço e me sentei no sofá de frente para a beleza das luzes
noturnas de Manhattan. Apoiei a cabeça no encosto e olhei para o céu estrelado,
pensando no meu pai.
Enfim, o nome dele estava limpo e o de Colin Barton, sujo. O filho da puta
acusou o meu pai de desfalque, mas o fraudador sempre foi ele.
Olho por olho, dent e por dente!
Ruth chegou com Michelle minutos depois e me levantei para recebê-la,
forçando-me a não me deixar abalar pela beleza esguia em um macacão longo e
clássico de cor preta. As mangas compridas eram de renda e os saltos altos também
pretos a deixavam extremamente elegante. Os cabelos louros estavam novamente
soltos em ondas suaves até o meio das costas e inspirei fundo para aguentar o
impacto daquela beleza suave e tão delicada.
Os olhos azuis que me encararam tinham um brilho desafiador e logo vi
que a noite seria igualmente desafiadora.
— Como se sente? — perguntei depois de nos cumprimentarmos com
formalidade.
— Estou bem. E você, teve um bom dia de trabalho?
Notei a ironia no tom de voz dela.
— Foi um dia como outro qualquer. E o seu, foi bom? Soube que recebeu
visitas.
— Oh, claro! Sempre me esqueço que você é muito bem-informado de tudo
o que acontece aqui.
Assenti com tranquilidade.
— Isso mesmo. — Indiquei a mesa. — É melhor nos sentarmos ou o jantar
vai esfriar.
Fomos para a mesa e notei a tensão no corpo de Michelle ao puxar a
cadeira para que ela se sentasse. Sentei-me também e começamos a nos servir em
silêncio.
Permanecemos naquele mutismo durante metade do jantar, um tempo longo
demais para mim, e decidi colocar logo as coisas em pratos limpos.
— Estou me perguntando quando é que você vai me acusar de ter destruído
o seu pai — comentei calmamente.
Ela ergueu o olhar do prato.
— E por que eu deveria perguntar se sempre soube que você faria isso,
fosse algo justo ou injusto?
— Garanto que injusto não foi — afirmei com uma certa dureza. — O
banco já estava falido há muito tempo e não precisei fazer nada para que ruísse de
vez.
— Pode dizer o que quiser, mas a verdade é que quis se vingar do meu pai e
conseguiu.
— Apenas tomei de volta o que ele usurpou do meu pai. O que comprei
hoje não foi um banco, mas um monte de dívidas de Colin Barton, que roubou o
quanto pôde do dinheiro dos clientes.
Ela enrijeceu ainda mais.
— Roubou? — repetiu com os olhos chispando de raiva. — Não acuse o
meu pai sem provas, Blackwolf! Isso só mostra o quanto você é um homem perigoso
e que não merece confiança.
Perdi a paciência com a condenação arbitrária dela.
— Quanto você quer apostar comigo que o seu pai desviou dinheiro do
banco para um paraíso fiscal? Se você pedir dez milhões de dólares e ganhar a
aposta, eu dou. Se pedir o Barton Bank de volta, eu dou. Pode pedir o que quiser,
mas garanto que vou ganhar.
Ela inspirou fundo e pousou os talheres com lentidão exagerada.
— Para afirmar com tanta convicção, você só pode ter armado algum
esquema para incriminar o meu pai.
Fazia muito tempo que eu não me sentia ofendido com o que falavam de
mim, mas aquelas palavras de Michelle tiveram um efeito avassalador sobre a minha
honra.
— Não sou o crápula ganancioso e traidor do seu pai, que armou um
esquema para incriminar o próprio amigo, roubando não apenas o dinheiro dele, mas
também a mulher que amava, mesmo que ela não valesse nada.
Michelle me olhou de testa franzida.
— De qual mulher você está falando?
Estava na hora de ela saber toda a verdade.
— Da sua mãe!
Michelle se levantou abruptamente da cadeira.
— Da minha mãe? Você está dizendo que a minha mãe não valia nada?
Levantei-me também, o ódio que sempre senti por Colin Barton vindo à
tona de uma única vez.
— Estou falando a mais pura verdade. Ela abandonou o meu pai quando ele
perdeu tudo e foi logo para a cama do seu pai, casando-se com ele depois.
Michelle cobriu a boca com as duas mãos, deixando só os olhos azuis
arregalados de espanto à mostra .
— Era o seu pai? O homem que ela amou era o seu pai?
— Amou? — Soltei uma risada ácida quando ouvi aquilo. — Se a sua mãe
amasse o meu pai, não o teria abandonado quando ele mais precisou nem o
esqueceria tão rápido.
— Mas ela o amava! — afirmou com veemência. — A minha mãe repetiu
isso para mim várias vezes durante a vida inteira.
— E você acreditou? Porque eu não acredito.
Os olhos azulados soltaram farpas.
— Estranho seria se você acreditasse! Um homem amargurado pelo ódio e
com a alma endurecida desse jeito jamais vai saber o que é o amor.
Aproximei-me dela com um sorriso cínico.
— E você, sendo virgem, sabe o que é o amor? Quantos homens já amou
para falar com tanta convicção? Talvez saiba mentir e enganar tão bem quanto
Margaret Barton. Tal mãe, tal filha.
Não demorou nem um segundo para a mão de Michelle se chocar contra o
meu rosto em uma bofetada. Apesar da violência do gesto, ela não tinha força
suficiente para me machucar, mas, ainda assim, não deixou de ser uma agressão
física.
— Nunca mais volte a ofender a minha mãe! — ameaçou-me cheia de
coragem. — Pode me chamar do que quiser, mas a ela, não!!!
Não respondi nada, muito menos reagi. Com a mandíbula contraída, apenas
a olhei com seriedade por um longo tempo e foi quando Michelle caiu em si.
Engolindo em seco, ela deixou transparecer pela primeira vez um certo receio na
expressão.
— Não ouse me bater de volta.
Trinquei os dentes com mais força ainda.
— Não sou o seu pai, que bate em mulheres! — rosnei, enfurecido com o
péssimo hábito que ela tinha de me comparar com ele. — Mas aconselho que pense
bastante antes de repetir com outro homem o que acabou de fazer comigo. Apesar de
você me julgar tão mal, eu jamais revidaria, coisa que outro homem poderia fazer
sem remorso algum.
— Mesmo me arriscando a levar um tapa na cara, vou defender a minha
mãe sempre. Você não a conheceu como eu conheci. Julgou-a esses anos todos com
base no que o seu pai disse, um homem rancoroso que ensinou o filho a ser tão ou
mais rancoroso do que ele.
Aproximei-me ainda mais, ficando a um palmo de distância.
— Então me diga por que ela trocou o meu pai pelo seu depois da falsa
acusação de desvio de dinheiro do banco. Ela não hesitou em correr logo para a
cama de outro homem rico. Só amava o dinheiro e o status.
— O meu avô a obrigou a se casar com o meu pai! Ela se arrependeu muito
depois, mas já era tarde.
— Nunca é tarde para se admitir um erro quando se ama. Bastava ter se
divorciado dele e procurado o meu pai. Do jeito que ele a amava, teria perdoado e
ficado com ela.
Michelle me olhou com tristeza.
— Ah, nem me diga isso. Ela sofreu tanto por achar que o seu pai jamais a
perdoaria.
— A sua mãe não merecia o amor dele. Nem sequer lutou para ficarem
juntos.
— Ela admitiu para mim que foi fraca e você está sendo muito duro no seu
julgamento. Só agora entendo o motivo que a fez abrir uma conta para mim no seu
banco. Ela amava tanto o seu pai que confiou nele até o último minuto, colocando
todas as economias que tinha no BW Bank — Michelle me surpreendeu com aquela
informação que eu desconhecia totalmente. — Na sua opinião deturpada, o seu pai
era o homem perfeito e a minha mãe sempre foi a mulher cheia de defeitos que
nunca o mereceu. Começo a acreditar que ela fez bem em não o procurar, pois era
ele quem não valia nada.
Inspirei fundo ao ouvi-la ofender o meu pai.
— Cuidado com o que fala dele.
— Vou ter o mesmo cuidado que você teve ao falar dela.
Ficamos nos encarando e Michelle não desviou o olhar nem por um
segundo. Ela não sabia, mas havia herdado muito da força do pai.
— Você não tem mesmo noção do perigo.
Ela sorriu com melancolia evidente no olhar.
— Parabéns pela descoberta. — Desviou os olhos para a mesa de jantar,
mas antes notei o brilho de lágrimas neles. — Sinto muito, mas perdi completamente
a fome. Vou para o meu quarto.
Merda!
Michelle se virou para ir embora, mas agi rápido e me coloquei à frente
dela, impedindo-a de sair. Cerrei os punhos diante da súbita vontade que me
dominou de a arrebatar nos braços e beijar aqueles lábios rosados, devorando depois
cada pedaço da mulher que vinha mexendo comigo de uma maneira tão
inesperadamente intensa nos últimos dias. Uma mulher que eu queria odiar, mas não
conseguia.
O esforço que fiz para me controlar foi tão grande que passei a respirar
ruidosamente, cerrando com mais força os punhos para resistir à tentação.
Michelle apenas me observou com os olhos azuis que pareciam enxergar a
minha alma, uma alma que eu achava que nem tinha mais.
— Agora entendo por que você é desse jeito — ela comentou sem dar mais
explicações.
Havia compreensão no olhar que se fixou no meu e detestei a sensação de
estar exposto, sem proteção, a descoberto, à mostra.
Dominado por um impulso incontrolável até para mim mesmo, acostumado
a controlar cada emoção com pulso firme, arrebatei Michelle nos braços e saciei o
desejo de provar os seus lábios.
Magra e delicada, ela não conseguiu opor resistência alguma à minha força,
apoiando as mãos nos meus braços e soltando um arquejo de surpresa quando a
segurei pelos cabelos e a beijei, suguei, invadi com a minha língua.
Achei que Michelle fosse resistir, afastar-se, até mesmo me esbofetear de
novo, mas ela se rendeu completamente, beijando-me também e de uma maneira que
mostrava um desejo tão forte quanto o meu.
Apesar de perplexo ao ver que ela provavelmente vinha desejando aquele
beijo tanto tempo quanto eu, deixei a emoção dominar totalmente a minha razão.
Exultei quando ela me abraçou pelo pescoço com um gemido de prazer ao abrir a
boca para aprofundar o beijo.
Foi naquele instante que perdi o controle de tudo, cego pela paixão que ela
despertava em mim. Estreitei o abraço, descobrindo curvas tentadoras no corpo que
antes achava magro demais. Os seios firmes se apertaram contra o meu peito e a
cintura fina realçava a curva mais ampla das nádegas e dos quadris, onde pressionei
o meu pau que já endurecia.
— Tyler! — Michelle gemeu, chamando-me de Tyler pela primeira vez.
Aquilo me abalou como jamais imaginei e o beijo se tornou urgente,
premente, profundo. Os dedos suaves mergulharam nos meus cabelos, acariciaram a
minha barba, percorreram o meu rosto em um afago diferente de tudo o que já havia
sentido na vida. Havia mais do que desejo, paixão e luxúria ali. Era algo que eu não
sabia identificar, mas que me tocou fundo, fragilizou e também assustou.
Um alerta estourou na minha mente e parei.
Ela era a filha de Colin Barton e eu estava em vias de possuir a mulher que
deveria odiar, desprezar e manter o mais distante possível .
As coisas estavam fugindo do meu controle, acontecendo rápido demais até
para mim mesmo, um homem que não tinha freios quando queria muito alguma
coisa ou alguém. E eu a queria, porra! Queria muito.
M erda! Droga!
Segurei-a pela cintura e interrompi o beijo, afastando-me. Estávamos
ofegantes e inspirei fundo várias vezes para recuperar o controle.
Michelle ergueu os olhos para mim e trinquei os dentes ao ver o prazer que
ainda havia neles. Ela estava afogueada, arquejante, com os lábios levemente
inchados dos meus beijos e as faces ruborizadas. Estava linda, tentadora e
representando um perigo muito grande para os meus planos.
Desviei o olhar e o fixei nas luzes de Manhattan, o centro financeiro do país
e um dos mais importantes do mundo, que eu dominava. Eu era o Lobo Negro de
Wall Street e ela era a filha do homem que odiei a minha vida inteira. Eu não podia
me esquecer daquilo nem por um segundo.
Olhei-a novamente, agora no controle de mim mesmo.
— É melhor que vá para o seu quarto, Michelle — falei friamente,
afastando-me dela como se não tivesse acontecido absolutamente nada entre nós
dois.
Peguei a taça de vinho sobre a mesa e tomei um longo gole, recebendo em
cheio o olhar perplexo dela.
— Mas... mas — balbuciou tão desnorteada que nem conseguiu disfarçar.
— Como é que você consegue agir assim depois do que aconteceu?
— E o que aconteceu? — Fui novamente frio.
Ela meneou a cabeça, piscou várias vezes e franziu a testa. Por fim, a ficha
caiu.
— Você passou do calor para o frio em questão de segundos — comentou
mais para si mesma do que para mim.
Coloquei calmamente a taça vazia sobre a mesa e cruzei os braços sobre o
peito, aproveitando o comentário dela para deixar as coisas muito claras entre nós
dois.
— Esse calor que você fala nunca existiu. Nem cheguei a me excitar o
suficiente para querer foder com você.
A segunda bofetada que levei naquela noite não me pegou de surpresa,
como aconteceu com a primeira. Eu já estava preparado e não reagi de maneira
nenhuma, porque foi bem-merecida.
— Obrigada por me lembrar que você é tão crápula quanto o meu pai,
Blackwolf!
Com altivez, ela se virou e saiu do terraço, indo embora e deixando-me
com uma sensação estranha no peito. Descruzei os braços e respirei fundo,
dominado por um turbilhão de emoções contraditórias. Sentia-me tenso, rígido,
enraivecido, frustrado.
Peguei a taça de vinho e atirei-a com violência no chão do terraço, o som
do vidro estilhaçado se espalhando pela noite. Não demorou para ouvir passos
rápidos vindo na direção do terraço e logo Ruth apareceu com a fisionomia
preocupada.
— Aconteceu alguma coisa, Tyler?
— Vá ao quarto de Michelle e veja se ela está bem. Cuide dela até que
durma e me diga algo depois.
Ela olhou para a mesa, onde o jantar permanecia praticamente intacto nos
pratos. Suspirou pesadamente, a preocupação aumentando no rosto amadurecido
pelo tempo.
— Eu só queria lembrar que ela está grávida e ainda não passou dos
primeiros meses de risco de aborto.
— Obrigado, Ruth. Agora vá — disse entredentes, observando-a se afastar.
Caminhei até a piscina e me sentei em uma das cadeiras de frente para o
Central Park escurecido, onde fiquei até que ela me ligasse cerca de uma hora
depois.
— Michelle está bem. Consegui que ela comesse uma refeição leve e agora
já está dormindo.
— Fez bem, ela não comeu praticamente nada no jantar.
— E você, conseguiu comer?
Eu nem me lembrava do sabor da comida, quanto mais da quantidade que
comi.
— O suficiente, Ruth, obrigado. Não se preocupe comigo.
— Eu o criei e me preocupo.
Ela era uma boa mulher, o mais perto que cheguei a ter de uma mãe.
— Estou bem, garanto. Peça para alguém limpar o terraço e vá dormir
depois. Boa noite.
— Boa noite, Tyler.
Capítulo 26
Michelle
E u podia ser virgem, mas já havia beijado antes. Tudo bem que foi com
um namoradinho da escola e não com um homem maduro como Blackwolf, mas
pelo menos eu não era uma virgem no quesito beijo na boca. Ainda assim, nada me
preparou para o beijo de Blackwolf. Perdi a cabeça, perdi a noção de tudo quando
senti os lábios firmes dele nos meus.
Meu Deus, que loucura foi aquela?
Deitada na cama e olhando para o teto, eu estava sem acreditar no que havia
acontecido naquele jantar. Primeiro, a descoberta sobre o pai dele e a minha mãe.
Depois, o beijo quente, seguido pelo afastamento frio dele e pelas palavras
ofensivas. Por fim, as duas bofetadas que dei nele e que deixaram a minha mão
doendo.
Virei-me de lado na enorme cama de casal e abracei o outro travesseiro,
sentindo-me muito sozinha. Às vezes era difícil não me entregar à tristeza de não ter
mais a minha mãe comigo, de não poder conversar com ela sobre os meus
problemas, nem ouvir os conselhos amorosos que sempre me dava.
A minha vida havia sofrido uma reviravolta assustadora nas últimas
semanas. Todos os planos que eu tinha foram por água abaixo de uma maneira
vertiginosamente rápida, deixando-me meio perdida. Tudo por causa de Tyler
Blackwolf. Desde que ele surgiu no meu caminho, nada mais ficou como antes.
Além de mudar a minha vida, infelizmente aquele homem detestável havia
se apoderado também da minha vontade e eu me sentia cada vez mais atraída por
ele, o que era, no mínimo, chocante e surreal. Como era possível que eu estivesse
sentindo atração por um homem com quem antipatizei desde a primeira vez em que
o vi e que era tão carrancudo, insensível e frio?
Claro, tinha de ser a idiota da Michelle! E eu ainda o cham ei de Tyler!
Os diabinhos que habitavam o inferno deviam estar rindo muito de mim, e
com razão! Nem eu mesma estava acreditando que me entreguei àquele beijo como
uma paixão tão grande, sem me importar em nenhum instante com o fato de estar
beijando o abominável Lobo Negro de Wall Street.
E ainda fui rejeitada!!! Q ue vergonha.
Vergonha, não! Foi bem-merecido, para eu deixar de ser boba e
idiotamente ingênua.
Eu queria conseguir dormir rápido para me esquecer de tudo aquilo, mas a
minha mente ficava relembrando a sensação dos lábios dele nos meus, o prazer de
estar nos braços fortes, de sentir a excitação evidente do membro contra o meu
corpo. E ele ainda disse que não se excitou o suficiente para querer me foder! Eu
devia ser mesmo muito burra sexualmente, porque achei que ele estava tão fora de
controle quanto eu.
Suspirei, desgostosa comigo mesma. Ainda demorei para conseguir pegar
no sono, mas quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que me lembrei foi do
malfadado beijo e da vergonha monumental que passei.
Conformada, fiquei quietinha esperando para ver se sentiria enjoo naquela
manhã também. Foi com cuidado que me sentei minutos depois, esperando para ver
a reação do meu corpo. Quando nada aconteceu, ergui os olhos para o alto e
agradeci a Deus.
Já era tarde, perto nas nove horas, mas era um bom horário para enviar uma
mensagem ao meu irmão e pedir que me ajudasse a voltar para o meu apartamento.
Na casa de Blackwolf eu não pretendia mais ficar.
Levantei-me e peguei o celular na mesa de canto do quarto, determinada a
enviar uma mensagem para Andrew, mas me assustei com a quantidade de
notificações que havia nele, tanto de ligações não atendidas quanto de mensagens
não lidas.
Mas o que foi qu e aconteceu?
Às pressas, fui verificar de quem era aquilo tudo e não acreditei no que vi,
sentando-me novamente na cama. Não dava para ficar de pé com o horror que eu
estava vendo. Eram centenas de ligações e mensagens de amigos do meu pai, de
antigas amigas da minha mãe, de conhecidas minhas e até da doutora Jane sobre a
falência do banco .
“Michelle, querida, é verdade que o Barton Bank fechou? Estou
preocupada, pois a conta da clínica é de lá e tenho investimentos aplicados com o
seu pai.”
Eu não fazia ideia do que dizer a ela, mas nem tive tempo de pensar. Mal
terminei de ler a mensagem e já entrava uma nova ligação. Apesar de o aparelho
estar no silencioso, como eu sempre o deixava antes de dormir, levei um susto e o
soltei sobre a cama.
Era Nicholas Brooks, o homem com quem o meu pai queria que eu me
casasse, provavelmente querendo saber do paradeiro dele.
Que horror!
Fiquei olhando a chamada até ele desistir e desligar. Logo depois, uma
outra mensagem se juntou às demais que aguardavam leitura e não duvidei de que
fosse dele.
Antes que entrasse outra ligação, peguei o celular e liguei rapidamente para
Andrew.
— Saiu em todos os jornais agora de manhã — ele informou assim que me
atendeu. — O meu celular não para de tocar com clientes querendo saber do
dinheiro deles.
— O meu também, Andrew. Tenho um monte de mensagens para ler e
estou até com receio do que vou encontrar nelas.
— Não atenda nem responda a nenhuma delas.
— Como é que o nosso pai está lidando com isso? O celular dele é que não
deve estar parando de tocar mesmo.
Andrew não respondeu de imediato e um arrepio estranho percorreu o meu
corpo.
— Andrew?
— O nosso pai desapareceu, baby. Evaporou-se como fumaça.
— O quê?! — quase gritei no celular. — Mas... mas como? Você tem
certeza disso? Já procurou nos hospitais, falou com a polícia? Ele pode estar ferido
ou coisa pior.
— Eu não apostaria nisso. Algo me diz que ele fugiu e não foi sem
dinheiro.
A imagem de Blackwolf surgiu como um mau agouro na minha mente.
— Não me diga isso, Andrew. Por favor, isso não.
— Mas é a coisa mais certa de ter acontecido. Acho até que ele tinha um
esquema de fuga já montado há algum tempo e que planejou muito bem cada passo
que daria quando chegasse o momento. Ele nem em casa pisou ontem, nem para
dormir. Quando saiu do escritório no final da tarde, já foi com um destino certo, mas
desconhecido para nós. Tive a curiosidade de procurar o passaporte dele e não
encontrei, Michelle. Outros documentos importantes também desapareceram. Algo
me diz que em breve teremos más notícias do tribunal quando o banco passar por
uma auditoria.
Aquilo só aumentou a minha vontade de sair da casa de Blackwolf.
— Eu quero sair daqui, Andrew. Quero voltar para o meu apartamento.
— Eu não aconselho, ainda mais agora. Você está mais segura aí.
— Isso é porque você não sabe o que aconteceu ontem.
Contei tudo para ele sobre o pai dele e a nossa mãe, mas omiti a parte do
beijo. Andrew soltou um longo assobio de incredulidade quando terminei.
— Agora eu entendo a raiva do nosso pai toda vez que ouvia falar de
Blackwolf e do BW Group .
— E vice-versa. Blackwolf sempre destilou ódio quando falava do nosso
pai.
— Que ironia do destino você agora estar grávida do filho dele.
Dobrei as pernas e apoiei a cabeça nos joelhos, desconsolada.
— Estando grávida de um filho dele ou não, quero sair daqui.
— Eu não acho que isso seja motivo para você se expor em um momento
tão crítico como o que estamos passando agora. A menos que ele tenha maltratado
você, faltado ao respeito ou feito algo pior. Isso aconteceu?
— Não, fique tranquilo. Já lhe disse que ontem dei duas bofetadas na cara
dele e nem assim Blackwolf me agrediu. Quero sair daqui porque estou cansada de
tanto ódio, que vai ficar pior se o nosso pai realmente desviou dinheiro para um
paraíso fiscal qualquer.
— Se o nosso pai fez isso e o fato vier à tona, o melhor lugar para você é
justamente aí, Michelle. Eu até traria você para morar comigo, mas nem tenho onde
morar agora. — Riu com amargura. — A mansão será confiscada e os outros
imóveis também. Mesmo se não fossem, eu me sentiria na obrigação de vender tudo
para tentar ressarcir parte do dinheiro dos clientes. Vou ficar por um tempo na casa
de John, mas você sabe que ele passou a morar com a mãe depois do divórcio e não
há espaço lá para mais ninguém.
— Acha que o meu dinheiro também será confiscado?
— Como o seu dinheiro está em uma conta do banco de Blackwolf,
acredito que não. Na verdade, tudo depende da boa vontade dele. Agora é ele quem
manda em tudo e quem tem o poder de decisão sobre o que nós dois teremos ou
deixaremos de ter.
— Eu já ia propor que fôssemos morar juntos no meu apartamento.
— Também pensei nisso, mas primeiro precisamos esperar as decisões do
tribunal e de Blackwolf. Sair daí agora não seria a melhor decisão, mas se você fizer
mesmo questão, eu enfrento o que for ao seu lado, baby.
Emocionei-me com o amor dele e foi aquele amor que me ajudou a tomar
uma decisão.
— Obrigada por me apoiar, Andrew, mas você tem razão. Vou aguardar o
desenrolar dos fatos nos próximos dias para decidir o que fazer. Talvez seja melhor
mudar de número ou nunca mais deixarei de receber ligações e mensagens.
— Isso é fácil de resolver. Vou pedir a John para levar um cartão novo para
você. Só não vou eu mesmo, porque estou à procura do nosso pai e ainda tem muito
o que fazer aqui no escritório. Substitua o cartão no seu aparelho e está resolvido.
— O que digo para a doutora Jane? Não posso simplesmente ignorar a
mensagem dela.
— A compra do Barton Bank pelo BW Group ainda não foi divulgada e
não podemos nos adiantar nas informações. Blackwolf pode voltar atrás no
momento em que quiser e ficaremos mal. Diga a ela que vai falar comigo e que
cuidarei pessoalmente de ver tudo, mas não posso dar garantias agora, Michelle.
— Ai, meu Deus, que situação! Vou conversar com ela. Depois me dê
notícias sobre o nosso pai.
— Pode contar com isso, baby. Cuide-se e ao meu sobrinho.
Capítulo 27
Tyler
D esliguei o celular, olhando pensativamente para o aparelho.
Mas o que é que John Marshall quer c om Michelle?
Miles havia acabado de me informar que John tinha ido novamente visitá-
la, mas daquela vez estava sozinho, sem o Andrew. Imaginar que o interesse dele
fosse amoroso estava me deixando estranhamente inquieto e simplesmente detestei a
sensação.
Dei ordens para me informarem assim que ele fosse embora, mas a tarde
avançou sem nenhuma outra ligação de Miles, o que significava que John
continuava com ela.
Horas depois, percebi, atônito, que não conseguia me concentrar no
trabalho, o que era estarrecedor. Eu não me lembrava de quando foi que alguém foi
capaz de me desconcentrar do trabalho e comprovar aquilo me deixou mais
preocupado ainda.
Eu não era homem de fingir não perceber as coisas ou de fugir da realidade.
Sempre encarei tudo de frente, sem temor, sem dramas. O importante era resolver a
situação o mais rápido possível, sem deixar para depois. Sempre foi assim comigo e
não ia deixar de ser justamente agora com Michelle.
Peguei o celular e liguei para ela. Estranhamente, caiu na operadora. Tentei
outra vez, dando no mesmo. Após insistir várias vezes, não tive dúvidas de que o
celular de Michelle estava desligado, a menos que ela houvesse me bloqueado.
Insisti com o meu outro número, mas foi igual.
Liguei imediatamente para Ruth.
— Aconteceu alguma coisa com o celular de Michelle?
— Não estou sabendo, mas posso perguntar a ela, Tyler.
— Não, não precisa. Falarei com ela quando chegar. John Marshall ainda
está aí?
— Está. Acabei de servir um lanche para os dois.
Apertei o celular com mais força.
— Obrigado, Ruth.
Desliguei, lutando para controlar as emoções que se digladiavam no meu
peito. De um lado, havia a surpresa de me sentir incomodado com a visita de John.
No lado oposto, estava a raiva de mim mesmo por permitir que Michelle me
abalasse daquele jeito .
Voltei ao trabalho, mas foi em vão tentar me concentrar quando a mente
não parava de pensar nela. Decidi ir para casa antes do meu horário normal. Os
meus assessores entrariam em contato comigo se fosse necessário.
Depois do jantar da noite anterior, eu havia decidido não procurar Michelle
durante um bom tempo, vendo-a apenas na consulta com a médica. Tudo em vão.
Acabei parando o elevador no andar dela, em vez de ir direto para a minha
cobertura.
Não encontrei ninguém na sala e fiquei tenso ao imaginar que estivessem
no quarto. Eu me negava a analisar as motivações que me deixaram enraivecido
diante daquela possibilidade. Com passadas firmes, percorri as salas do andar
inteiro, encontrando-os sentados no sofá do terraço.
A raiva que eu estava tentando controlar cresceu quando os vi abraçados.
Michelle estava com as pernas dobradas em cima do sofá e totalmente apoiada no
peito dele, que a abraçava pelos ombros. Era uma posição de intimidade, reafirmada
pela conversa sussurrada em tom de confidência.
Cerrei os punhos, incapaz de controlar os meus batimentos cardíacos, que
aumentaram de ritmo quando a raiva se espalhou pelo meu corpo. Neguei-me a
analisar os meus sentimentos, só sabia que não a queria sendo abraçada por outro
homem.
— Boa tarde — cumprimentei de mau humor.
Ambos aprumaram o corpo e me olharam com surpresa. Michelle colocou
as pernas no chão e se levantou. Aquela era a primeira vez que nos víamos depois do
beijo do jantar da noite anterior e me forcei a não fixar os olhos nos lábios carnudos
e rosados, para não me lembrar do sabor viciante que tinham.
Que merda, eu a quero!
John se levantou também e o encarei diretamente, sem disfarçar o
desagrado de o ver ali.
— Boa tarde, Blackwolf. Este é John Marshall, um amigo de família. —
Michelle fez as apresentações. — John, este é Tyler Blackwolf.
— Já estivemos em alguns eventos, mas nunca o cumprimentei diretamente
— o homem disse, estendendo a mão para mim. — Muito prazer.
— Prazer também — cumprimentei-o com um aperto de mãos, que ele
correspondeu com firmeza, e virei-me a seguir para Michelle. — Liguei para você,
mas não me atendeu.
Ela me encarou como se estivesse surpresa por eu a ter procurado depois do
que havia acontecido na noite anterior. Na verdade, nem eu acreditava que estava
fazendo aquilo, quando prometi a mim mesmo que não faria.
— Eu troquei de número por um tempo. O outro está desativado.
Franzi a testa, estranhando aquela mudança.
— E por quê?
Ela ergueu os ombros em um gesto de pouco caso.
— Porque quis. O número é meu e faço o que quiser com ele.
Foi uma resposta para me desafiar e não a verdadeira.
— Quero saber o motivo.
— Ela diz se quiser — John interferiu, piorando o meu estado de espírito.
Cravei um olhar duro nele.
— Se eu quisesse a sua opinião teria perguntado. Aconselho a não se meter
na minha conversa com ela.
Aquilo era o mesmo que dizer que não se metesse com Michelle. Não
precisei falar e não tive dúvida alguma de que ele entendeu muito bem. O olhar com
que me encarou já dizia tudo.
— Blackwolf! Não admito que fale assim com John! — Michelle exclamou
com indignação, defendendo-o. — Você está sendo rude e descortês.
— E ele está se metendo onde não deve e com a pessoa errada — falei
calmamente, sem me importar em ser mais rude ainda. — Agora me diga por que
mudou de número.
— Acha mesmo que vou dizer?
— Ela está sendo assediada por correntistas do banco — John se adiantou
em uma resposta, pegando a mim e a Michelle de surpresa. — Alguns, inclusive,
estão sendo ameaçadores.
— John! — Michelle reclamou, chateada.
O homem a olhou com uma expressão séria.
— Blackwolf pode estar sendo rude, grosso e mal-educado, mas reconheço
que ele precisa saber do que está acontecendo para cuidar melhor de você quando
não estivermos ao seu lado.
Lancei um olhar reprovador para Michelle.
— Foi uma insensatez da sua parte querer me esconder isso.
— Nada disso estaria acontecendo se você não tivesse manipulado todo
mundo para impedir que o meu pai salvasse o banco. Não foi só a minha família que
você destruiu, mas milhares de famílias, tanto de funcionários como de correntistas,
investidores e acionistas.
Esforcei-me para não perder a paciência com ela, lembrando-me que estava
grávida do meu filho. Amenizei o tom de voz, mas não deixei de falar a verdade.
— Quantas vezes vou repetir que o seu pai afundou o banco sozinho, que
desviou dinheiro para fins pessoais e que é o único responsável pela queda do
Barton Bank?
— Mas ele podia ter conseguido salvar o banco com a fusão, só que você
não permitiu isso.
— Salvar para quê, Michelle? Para ele continuar roubando o dinheiro das
pessoas? — Tentei fazê-la entender o que realmente havia acontecido. — O seu pai
criou uma bola de neve que ia estourar mais dia, menos dia.
— Não o acuse sem provas.
— E quem lhe disse que não as tenho? — Olhei para John Marshall. — Se
você é minimamente competente no seu cargo, sabe muito bem do que estou
falando.
O homem ficou vermelho, mas não negou o óbvio.
Virei-me para Michelle, a quem eu esperava poupar de tanto estresse. Ela
havia engravidado em um momento crítico e tenso demais, tanto para mim quanto
para ela, mas eu não ia permitir que os problemas do banco prejudicassem o meu
filho.
— Os ânimos vão se acalmar assim que for anunciada a compra do Barton
Bank pelo BW Group. Infelizmente, a informação da falência vazou antes do
anúncio da compra, mas não tive culpa disso. Sempre há alguém vendendo
informações para a imprensa, por mais cuidado que tenhamos ao lidar com assuntos
delicados como esse.
Ela pareceu se acalmar ao ouvir a minha explicação.
— Quando isso vai acontecer? É que até a doutora Jane me procurou,
preocupada com o dinheiro dela. Me sinto mal com tudo isso.
— Não se sinta, porque não tem culpa. O anúncio deveria sair assim que a
análise das reais condições financeiras do banco fosse concluída, mas agora estamos
tentando que saia antes, para evitar instabilidade no mercado. Quero o seu número
antigo para saber quem está ameaçando você.
Ela olhou para John e trinquei os dentes para não reagir mal àquela troca de
olhares.
— Dê, Michelle. É melhor — ele aconselhou, mas notei que foi de má
vontade.
— Vou pegar no quarto.
Michelle saiu do terraço e me virei de frente para John. Estava na hora de
esclarecer as coisas entre nós dois.
— O que você quer com ela? — Fui objetivo e direto, sem meias palavras.
Ele sustentou o meu olhar pensativamente, como se analisasse se deveria
falar a verdade ou não. De repente, a expressão se tornou mais decidida ao me
encarar.
— O que eu quero é com o Andrew e não com a Michelle.
Levei apenas alguns segundos para entender o que ele disse e a merda da
tensão que eu sentia se evaporou no instante seguinte.
— E ele já sabe disso?
— Sabe, mas ainda não quer assumir publicamente.
Senti o drama da relação dos dois, já sabendo que não ia ser fácil o que
enfrentariam.
— Boa sorte — desejei, simpatizando mais com o homem.
— Desejo-lhe o mesmo.
Surpreendi-me com o comentário.
— E por quê?
— Você gosta dela. Ficou com ciúmes quando nos viu juntos.
Gelei ao ouvir de outra pessoa o que eu não queria admitir nem para mim
mesmo. Encobri o que sentia com uma expressão impassível.
— Você está enganado. Ela está com o meu filho e esse é o único interesse
que tenho em Michelle.
Um meio sorriso curvou seus lábios.
— Se você quiser continuar se enganando o problema é seu, mas a mim não
engana. Só tenha cuidado para não magoar a Michelle. Ela ainda não se recuperou
totalmente da depressão com a perda da mãe e está muito frágil. Merece um homem
forte ao lado, mas não alguém que termine de destruí-la.
Michelle surgiu na entrada do terraço e não respondi nada, nem sabia se
responderia caso ela não tivesse chegado.
— Está aqui com a senha. Me devolva depois.
Peguei o celular e me despedi dos dois, saindo sem olhar para trás.
Ciúmes? O que senti foi ciúmes?
Impossível! Eu nem sabia o que era aquilo. Emoções daquela natureza não
faziam parte da minha vida e não seria a filha de Colin Barton que mudaria o meu
jeito de ser.
Capítulo 28
Michelle
O bservei Blackwolf sair do terraço com o andar autoconfiante e a postura
altiva de sempre. Se hoje eu não o conhecesse um pouquinho melhor do que antes,
diria até que era um homem arrogante, mas não era de todo.
— Ele gosta de você e ficou com ciúmes.
Hã?!
Virei-me para o John, que só podia ter surtado. Se ele agora estivesse dando
cambalhotas no meio do terraço, não teria me surpreendido mais do que com aquele
comentário sem noção.
— Quem, o Blackwolf? — Explodi em uma gargalhada, meneando a
cabeça. — Você surtou, só pode.
Ele riu, mas foi um sorriso de quem tinha certeza do que dizia.
— Não surtei, garanto. Este homem está mais interessado em você do que
deixa transparecer e é compreensível que resista ao que sente. Afinal, você é a filha
do arqui-inimigo dele.
Lembrei-me da vergonha que passei com Blackwolf durante o jantar da
noite anterior. Quando ele me despachou não foi por causa do meu pai, mas porque
não se sentia excitado o suficiente comigo para continuar.
John estava vendo coisas onde não existiam.
— De onde você tirou essa ideia estapafúrdia, John? Blackwolf me detesta,
não me suporta, é sempre cínico e frio comigo. Ele só aguenta a minha presença
aqui por causa do filho que pensa que vai tirar de mim.
— Não acho isso. Inclusive, acredito que você possa virar o jogo a seu
favor na hora em que quiser.
Ou eu era muito ingênua ou muito burra.
— Não sei como, mas obrigada pelo conselho.
— Estou falando sério. — John voltou a se sentar no sofá e fiz o mesmo. —
Ele nunca tentou nada com você?
Eu confiava totalmente em John e não vi motivo para esconder a verdade.
— Ele me beijou, mas se afastou logo depois e estava tão frio quanto uma
pedra de gelo. Fui vergonhosamente dispensada. Sabe aquilo de “provei e não
gostei”? Pois foi exatamente assim.
John analisou o que eu disse com uma expressão pensativa.
— Você vai ter de quebrar o gelo dele — concluiu com um ar de sabedoria.
— E vou fazer isso para quê? — Encolhi os ombros, sem entender a
finalidade daquilo. — Para ser dispensada de novo? Deus me livre!
— Você gostou do beijo? — Ele quis saber com seriedade.
Vacilei na hora de confirmar.
— Não vou negar que gostei.
Gostar era pouco. Eu havia adorado!
— Então não custa nada tentar para ver no que vai dar. Se a minha teoria
estiver certa, Blackwolf não vai resistir. Em algum momento vai se entregar ao que
sente.
— E o que é que ele sente? Raiva, irritação? — Fui irônica.
— Atração, desejo, tesão. No tempo certo ele vai admitir.
— Enquanto isso, vou levando fora atrás de fora.
John riu, abraçando-me.
— O amor é um risco e garanto que sempre vale a pena arriscar.
— Oh, John! Você é um romântico!
— E você também é. Vá por mim, baby. Tenho um feeling que me diz que
você vai colocar uma coleira no Lobo Negro de Wall Street.
Daquela vez gargalhei alto e com gosto, divertindo-me muito.
— Nem tenho roupa para esse evento.

Três coisas importantes aconteceram nos dias seguintes. A primeira foi a


constatação de que o meu pai havia realmente fugido para algum lugar
desconhecido, abandonando os filhos e deixando uma bomba para Andrew resolver.
Aquela fuga era a maior prova da culpa dele na má administração do banco
e em um provável desvio de dinheiro. A investigação avançava e eu já contava que o
desfalque fosse provado.
A segunda coisa foi o anúncio da compra do nosso banco pelo BW Group,
fato que tranquilizou de vez os correntistas e o mercado financeiro. Contudo, os
rumores e fofocas maledicentes contra o meu pai continuaram impiedosamente. De
vez em quando, Andrew e eu também éramos citados nas revistas sensacionalistas,
como sendo os filhos do fraudador do Barton Bank.
Por último, o tempo mostrou que John estava redondamente enganado com
relação ao interesse de Blackwolf em mim. A maior prova daquilo foi o quanto ele
se manteve afastado nos dias seguintes. Quem trouxe o meu celular de volta foi a
Ruth, informando que ele já havia recolhido os dados que precisava.
Eu não tinha experiência alguma em seduzir um homem e também não
sabia se estava interessada o suficiente em Blackwolf para me arriscar. Ele era o pai
indesejado do meu filho, um homem implacável na hora de alcançar um objetivo e
que poderia muito bem me deixar com o coração partido lá na frente. Eu precisava
estar focada em ficar com o meu filho e não dar brecha para Blackwolf o tirar de
mim.
Só voltei a vê-lo no dia da consulta com a doutora Jane. Ele me ligou logo
de manhã cedo.
— Passarei aí no horário marcado para irmos juntos.
— Sim, claro. Estarei esperando.
Naquele dia eu faria o tão esperado ultrassom e estava cheia de expectativa.
Cerca de uma hora antes, bebi a quantidade de água que Bertie me orientou,
preparando-me para o grande momento.
Vesti um conjunto de calça e blusa em vez de um vestido, para facilitar na
hora do exame. A última coisa que eu queria era me expor demais com Blackwolf
estando presente. Deixei os cabelos soltos, fiz uma maquiagem leve e aguardei.
Ele chegou pontualmente, frio e distante como sempre. O silêncio era quase
palpável dentro do elevador privativo. O Escalade preto já estava de prontidão no
estacionamento do prédio, com Miles e outro segurança a postos.
Blackwolf abriu a porta para mim, mas não entrou de imediato. Primeiro
conversou com Miles e só então deu a volta e se sentou ao meu lado, o corpo alto e
avantajado ocupando grande parte do espaço do banco. Observei as pernas longas e
fortes próximas às minhas, sentindo-me dominada por sua presença. O Escalade era
um carro grande, mas parecia pequeno com ele dentro.
Como das vezes anteriores, seguimos com os dois seguranças à nossa frente
e o trajeto foi feito no mesmo silêncio também. Tive vontade de ligar para John e
dizer o que achava da teoria romântica dele.
Ignorei a presença de Blackwolf e me distraí observando a cidade pela
janela do carro. Quando chegamos ao consultório, Bertie veio me abraçar assim que
entrei.
— Como é bom ver que você está bem, mesmo com tudo o que aconteceu,
querida.
Eu sabia que ela estava referindo-se à falência do banco, mas não quis
conversar sobre o assunto na presença de Blackwolf.
— Estou bem, Bertie. — Indiquei-o ao meu lado. — Lembra-se de Tyler
Blackwolf?
— Sim, claro que me lembro! Boa tarde, senhor Blackwolf. — Ela sorriu
com simpatia para ele, mas não recebeu o mesmo sorriso simpático de volta, apenas
um cumprimento educado, bem típico dele. — A doutora já está aguardando na sala.
Bertie nos acompanhou e fui recebida com o mesmo abraço carinhoso pela
doutora Jane. Depois do susto que ela passou por causa do dinheiro investido no
banco, agora a médica estava mais tranquila e notei o olhar agradecido que deu para
Blackwolf.
Ele havia se tornado o anjo salvador de todos os correntistas do Barton
Bank, já Andrew e eu passamos a ser os filhos do diabo. Enquanto isso, o diabo-pai
permanecia escondido em algum lugar, provavelmente usufruindo do dinheiro que
desviou dos clientes. Nunca na minha vida pensei que passaria por aquilo.
Conformada, sentei-me na cadeira e me preparei psicologicamente para ter
a minha primeira consulta com o anjo salvador ao lado.
— Com o tempo de gravidez de oito semanas, hoje será possível ouvir os
batimentos cardíacos do filho de vocês. Vou fazer um ultrassom abdominal e não
transvaginal, que é menos invasivo.
Senti o meu rosto avermelhar com a alusão à minha virgindade na frente de
Blackwolf, mas disfarcei bem.
Quando decidi engravidar mesmo sendo virgem, conversei bastante com a
doutora Jane e ela disse que evitaria os exames mais invasivos. Quanto ao parto ser
normal ou cesárea, eu ainda não havia decidido, achando melhor deixar primeiro a
gravidez acontecer e avançar, para só depois decidir.
— Com esse tempo de gestação já é possível fazer um teste de paternidade.
Gostaria que fosse feito hoje — Blackwolf praticamente exigiu, pegando-me
completamente desprevenida.
Ele sempre afirmou tão categoricamente que não duvidava que o filho era
dele, que eu nem me lembrava mais do teste de paternidade. Fiquei pensando se o
beijo havia precipitado nele a decisão de fazer o teste.
Talvez ele tenha esperança de descobrir que não é o pai e assim se livrar
logo de mim.
Se a doutora Jane também foi pega de surpresa com aquela exigência,
disfarçou muito bem.
— Sim, é verdade. Existe um teste de paternidade não invasivo que pode
ser realizado a partir da oitava semana. Com esta idade gestacional, Michelle já tem
dois DNA no sangue: o dela e o do feto. Só vou precisar coletar uma amostra de
sangue dela e de saliva da sua boca — ela explicou diretamente para Blackwolf, mas
depois olhou para mim também. — É necessário que ambos concordem em fazer o
teste de paternidade para que ele seja realizado.
Senti o olhar pesado de Blackwolf, que aguardava a minha decisão junto
com a doutora Jane. Apesar de ter me negado a fazer o teste quando nós dois
conversamos pela primeira vez no meu apartamento, eu agora já não via motivo
algum para recusar.
— Por mim podemos fazer — respondi calmamente.
A doutora Jane sorriu satisfeita, mas Blackwolf continuou sério.
— Então vamos dar andamento à consulta. Me conte como tem se sentido,
Michelle. Os enjoos melhoraram?
— Um pouco, mas continuo me sentindo indisposta pela manhã. De resto,
sinto-me muito bem.
— Isso é ótimo. Quanto aos enjoos, já lhe disse que são normais no
primeiro trimestre, desde que não haja muitos vômitos. Tem conseguido se
alimentar bem?
— Com exceção do café da manhã, tenho feito as outras refeições
normalmente.
Mal terminei de falar, Blackwolf me surpreendeu mais uma vez.
— Michelle come muito pouco na minha opinião. Ainda mais para uma
grávida — criticou, dirigindo-se à médica.
— Gordura não é sinônimo de saúde — repliquei de imediato.
Ele me jogou um olhar condescendente, como se estivesse falando com
uma criança.
— Não estou dizendo que você é doente, apenas que se alimenta muito
pouco para uma gestante. Só quero que a doutora me dê a certeza de que você está
bem, mesmo com esta quantidade mínima de alimentos que ingere.
Decidida, virei-me para a doutora Jane.
— Diga para ele, doutora. Pode contar tudo.
Ela arregalou os olhos, sem conseguir disfarçar a surpresa.
— Tudo?
Se ele era mesmo o pai do meu filho e também filho do homem que a
minha mãe amou, estava na hora de saber de tudo.
— Sim, doutora. Tudo.
Trocamos um olhar e senti que ela ainda estava em dúvida se havia
entendido realmente o que eu quis dizer. Autorizei em silêncio, reafirmando a minha
decisão, mesmo começando a sentir as emoções à flor da pele.
A doutora Jane desviou o olhar para Blackwolf.
— Vou ser rápida na explicação para poupar a Michelle. A mãe dela sofria
de depressão há anos. As crises iam e vinham, mas melhoraram muito depois do
nascimento dos filhos. Andrew passou um tempo fora quando fez faculdade, mas
Michelle nunca se afastou de casa e conviveu mais tempo com os problemas do
casamento dos pais. Ela sempre foi muito ligada à mãe e quando Margaret faleceu,
quem entrou em depressão foi a Michelle. Como é óbvio, perdeu muito peso durante
este período, que está recuperando agora.
A doutora Jane olhou novamente para mim. Aquele era o momento de
parar, caso eu quisesse mudar de ideia. Assenti, autorizando que continuasse.
— A depressão de Michelle não foi apenas por sentir a falta da mãe, mas
principalmente pelo sentimento de culpa de não ter conseguido salvar Margaret.
— E que culpa ela tem? Um acidente de carro é uma fatalidade que pode
acontecer com qualquer um.
Senti o olhar de Blackwolf em mim, mas não o encarei, permanecendo
rigidamente virada para a frente.
— Não foi um acidente, mas um suicídio.
Comprimi os lábios com força ao ouvir aquela palavra, segurando as
lágrimas. Se havia algo na minha vida que eu tinha certeza de que nunca ia me
acostumar, era ouvir aquilo. Nunca!
— Suicídio?! — Blackwolf tinha a perplexidade na voz. — Ela se
suicidou?
— Sim, isso mesmo. Margaret deixou uma carta de despedida para
Michelle.
Não aguentei mais e a primeira lágrima caiu, que enxuguei rapidamente.
— Porra, eu não acredito! — ele blasfemou em um rosnado entredentes,
virando-se na cadeira e ficando de frente para mim. — Por que é que você não me
contou isso quando conversamos sobre ela?
Olhei para a doutora Jane em um pedido mudo de socorro. Nós duas nos
levantamos no mesmo instante e logo ela estava abraçando-me com força, enquanto
eu chorava toda a dor que ainda sentia por não ter conseguido ajudar a minha mãe a
querer viver, apesar de todo o amor que partilhávamos. Ela aguentou o quanto pôde,
mas nem os medicamentos que o psiquiatra receitou impediram que tirasse a própria
vida em uma de suas crises mais fortes.
— Michelle!
A voz preocupada de Blackwolf soou logo atrás de mim, mas não me soltei
da doutora Jane, encontrando consolo nela, que amou a minha mãe tanto quanto eu.
Já ele a odiava! Odiou durante a vida inteira.
— Dê-lhe um tempo — a médica pediu e ouvi a segunda blasfêmia dele.
Blackwolf não estava acostumado a ouvir alguém lhe dizendo o que fazer
ou o impedindo de fazer o que queria.
— Fique calma, minha querida. Venha, sente-se um pouco.
Voltei a me sentar na cadeira e respirei fundo para controlar o choro. Ela foi
pegar uma caixa de lenços na gaveta e me ofereceu.
— Peço desculpas — murmurei, sentindo-me subitamente exausta. —
Ajude-me, doutora. Não quero prejudicar o meu filho.
— Não vai, fique tranquila. Está tudo bem com ele. Daqui a pouco faremos
o ultrassom e você vai comprovar isso.
Limpei o rosto e assoei o nariz, começando a me sentir mais calma.
— Podemos fazer logo o exame?
— Claro que sim. Vou chamar Bertie para ajudar você a se preparar.
Assim que ela se afastou, Blackwolf voltou a se sentar na cadeira ao meu
lado, pegando-me de surpresa ao segurar a minha mão e beijar o dorso.
— Eu sinto muito. Muito mesmo! — Havia sinceridade no olhar sério que
prendeu o meu.
Não comentei nada, apenas meneei a cabeça. Ele não soltou a minha mão
nem eu a puxei de volta. Ficamos de mãos dadas até a doutora Jane desligar o
telefone e Bertie entrar na sala.
Estava na hora de colocar a tristeza de lado e ouvir o coração do meu filho
pela primeira vez. Depois dos eventos dramáticos dos últimos dias, eu tinha urgência
em saber se ele estava bem.
Capítulo 29
Tyler
E u ainda estava em choque depois de ficar sabendo do suicídio de
Margaret Barton. Nunca ia imaginar a verdade do que havia acontecido com ela.
Na época, a notícia que circulou nas revistas foi que a esposa do dono do
Barton Bank perdeu o controle do carro na curva da estrada e despencou de uma
altura de trinta metros, tendo morte imediata.
Obviamente que Colin Barton alterou os fatos para se proteger dos boatos,
caso a informação do suicídio vazasse. Ele jamais faria aquilo para proteger outra
pessoa que não fosse a si mesmo.
Desgraçado!
Ver Michelle devastada nos braços da médica me abalou de uma maneira
tão profunda como jamais imaginei. Queria ser eu a abraçá-la, mas o afastamento
que impus nos últimos dias agora agia contra mim.
Foi controlando com pulso firme as emoções, que a vi sendo levada depois
por Bertie para uma outra sala onde o ultrassom seria realizado, deixando-me
sozinho com a médica.
— Não a julgue por nunca ter contado a verdade. É muito difícil para
Michelle tocar neste assunto.
— Eu entendo, mas se soubesse disso antes teria evitado falar certas coisas
para ela.
— Vocês vão ter um filho em comum e terão de aprender a se aceitarem
mutuamente para o bem da criança — aconselhou com um olhar de sabedoria. —
Gostaria de ter mais tempo na minha agenda de hoje para dar mais atenção à
Michelle, mas estou com os horários cheios. Conto com você para dar o apoio que
ela precisa.
— Ela terá — afirmei sem hesitar nem um segundo .
Aquilo era algo que eu faria independentemente de qualquer coisa.
— Fico mais aliviada ao saber disso. Agora vamos ao exame.
Fomos para uma sala contígua, onde Michelle estava deitada em uma
espécie de maca ao lado da aparelhagem do ultrassom. A blusa estava erguida e a
calça semiaberta, expondo pela primeira vez diante dos meus olhos a barriga lisa que
abrigava o meu filho. A pele alva fazia sobressair um sinal que ela tinha próximo ao
umbigo e outros menores ao redor, chamando a minha atenção.
Bertie colocou uma cadeira perto da maca e me ofereceu, retirando-se
depois da sala. A médica se acomodou em frente ao aparelho e me sentei ao lado de
Michelle.
— Preparem-se para ver o filho ou filha de vocês.
— Estou tão ansiosa!
A alegria dela era evidente e foi naquele momento que as palavras de
Andrew realmente fizeram sentido para mim.
“Foi a perspectiva de ter esse filho que a ajudou a sair da depressão
depois da morte da nossa mãe. Se ela o perder, vai se afundar de novo e isso eu não
vou deixar.”
Como era esperado, ele não havia tocado no assunto do suicídio, apenas
citado a morte da mãe. Agora que eu sabia da verdade, entendia melhor o desejo de
Michelle de ser mãe e o quanto seria devastador para ela perder o filho.
O nosso filho!
Apesar de ter pedido para fazer o teste de paternidade, eu tinha certeza de
que Michelle estava grávida do meu filho. Alguns diriam que era instinto paterno,
mas eu afirmava que era convicção mesmo. Aquele teste de paternidade serviria
para esfregar na cara de quem duvidasse que o filho era meu!
Que o fi lho é nosso!
Aquela percepção das coisas nunca pesou tanto sobre mim. O filho que
planejei criar sozinho tinha uma mãe que precisava dele e a quem eu já sabia que
não poderia negar mais nada.
A doutora Jane se concentrou no trabalho, deslizando o aparelho sobre o
ventre plano de Michelle e um silêncio expectante tomou conta da sala. Acompanhei
as imagens que apareceram no monitor do aparelho, sem identificar nada que se
parecesse com o meu filho.
Passado algum tempo, a doutora ampliou a imagem e nos mostrou onde ele
estava.
— Aqui está o saco gestacional. Dentro, o filho de vocês.
Só então eu o vi e senti um baque no peito ao comprovar o quanto era
pequeno dentro de Michelle. Parecia tão frágil que inspirei fundo quando o meu
instinto de proteção explodiu de uma maneira absurda no peito. O filho que tanto
desejei estava diante dos meus olhos e, mesmo minúsculo, era grande em
importância na minha vida.
Sem avisar, a médica fez com que o som do coração dele batendo invadisse
a sala e engoli duro para conter a emoção. O efeito em mim foi devastador.
Porra, é o meu filho!
Profundamente abalado, recostei-me contra o espaldar da cadeira, olhando
fixamente para a imagem dele e tentando me manter controlado.
— Oh, é o coraçãozinho dele! — Michelle exclamou assim que o ouviu,
sorrindo de felicidade. — Quase não acredito. É lindo!
Os olhos azuis se encheram de lágrimas, mas daquela vez as lágrimas eram
de alegria. Virou-se para mim, eufórica.
— Você está ouvindo, Tyler? É ele!
Ela estava tão feliz que nem percebeu que havia acabado de me chamar de
Tyler.
— Estou — respondi com rouquidão, estranhando o nó na garganta.
Segurei a mão dela, apertando-a em um gesto de comunhão e partilha, mas
também de intimidade. Michelle voltou a olhar para o monitor, mas não soltou a
mão da minha.
— É tão pequeninho ainda, doutora.
A médica riu.
— Mas vai crescer e muito. Espere só para ver.
A risada de Michelle se misturou com o som das batidas do coração do
nosso filho e me assustei com o sentimento de posse que me dominou com relação
aos dois. Aquilo era tão incomum quanto preocupante, ainda mais para um homem
como eu, que nunca senti nada parecido na vida com relação a mulher alguma.
O que ela fez comigo?
— No próximo ultrassom vocês vão até se assustar ao ver o quanto ele
cresceu. Saberemos então se é um menino ou menina, a menos que queiram
descobrir antes, através de um exame de sexagem fetal. Se quiserem, já é possível
fazer. O resultado sai em cerca de três dias 19 .
— Por mim, fazemos, mas depende de Michelle querer também.
Não a forcei, deixando que decidisse, atitude raríssima em mim. Antes
daquela consulta, eu decidiria o que quisesse, sem me preocupar com os desejos
dela. Agora, via-me incapaz de forçá-la a alguma coisa, o que era alarmante.
Michelle olhou para mim e vi o quanto estava admirada com o que eu disse,
mas também feliz.
— Eu quero fazer — concordou comigo, apertando a minha mão.
— Ótimo! Deixe-me só finalizar o exame e vou providenciar isso também.
— A médica voltou a se concentrar no aparelho e logo depois liberou Michelle. —
Pode se limpar, agora. Tem lenços de papel ao seu lado.
Michelle pegou alguns e começou a limpar o gel da pele, enquanto eu não
conseguia desviar o olhar da barriga e do ventre plano à minha frente. Eu me sentia
muito atraído por ela, a mulher indesejada que entrou na minha vida à força por
causa de um erro de inseminação.
Quando ela estava terminando de se limpar, não resisti à tentação de cobrir
a mão dela com a minha sobre a barriga, desejando estar mais próximo do meu filho,
mas também tocar nela.
Michelle paralisou, olhando-me atônita. Senti quando inspirou fundo e
sustentei o olhar azulado. Achei que fosse afastar a minha mão logo a seguir.
Contudo, depois da surpresa inicial, ela retirou a mão dela debaixo da minha e
deixou que a tocasse.
Foi com uma emoção desconhecida no peito que espalmei a mão sobre a
barriga plana, de pele macia e suave ao toque, que abalou a estrutura da frieza com
que eu lidava com tudo ao meu redor. Senti-me desestabilizado, estremeci,
emocionei-me .
Era o meu filho que estava ali sob o meu toque, pequeno, diminuto, frágil e
precisando da minha proteção para nascer e crescer forte igual ao pai. Foi com um
gesto de posse que deslizei a palma ao longo da barriga dela, apertando-a depois
pela cintura e olhando significativamente para Michelle.
Ela prendeu a respiração e entreabriu os lábios rosados, atraindo o meu
olhar para eles. Quando nos entreolhamos de novo, senti que uma ligação
inquebrável havia sido criada entre nós dois. Incrivelmente, aquilo não me
desagradou como talvez acontecesse antes. Ao contrário, só reforçou o sentimento
de posse que crescia cada vez mais pela mulher que era também a mãe do meu filho.
Capítulo 30
Michelle
— P or que não me contou?
Aquela era uma pergunta que eu já esperava de Blackwolf, por isso não me
surpreendi quando ele a fez assim que nos sentamos no banco de trás do Escalade.
— Tenho dificuldades de falar sobre isso e também não confiava em você a
esse ponto — fui sincera.
Ele contraiu o rosto e o olhar sério se fixou no meu.
— É justo e peço desculpas pelo que falei da sua mãe. Eu teria repensado a
minha opinião sobre ela se soubesse dessa verdade há mais tempo.
Acreditei no que disse. Blackwolf não era do tipo de falar as coisas apenas
para agradar aos outros. Era direto até doer.
— Desculpas aceitas.
Ele segurou a minha mão em um gesto de apoio.
— Eu jamais ia imaginar isso. Sinto muito mesmo por sua mãe.
Blackwolf estava começando a ver o outro lado da moeda, a versão da
história pelo lado da minha mãe. Era importante que ele visse tudo por outro ângulo
e não apenas pelo do pai dele.
O olhar escuro se aprofundou, igual como aconteceu na sala de exames. Era
como se uma forte atração nos atasse um ao outro, o que me deixou sem fôlego.
Resisti, mantendo-me o mais serena que pude.
— Quero que se mude para o quarto ao lado do meu — ele determinou de
repente, chocando-me.
O quê?!
— Me mudar? — repeti como uma idiota.
— Sim. Quanto mais perto estiver de mim, mas rápido poderei ajudar você
no que precisar — explicou com uma calma invejável. — Já dormimos juntos e não
aconteceu absolutamente nada, então você sabe que está segura ao meu lado. Não
vejo problema algum que ocupe um dos quartos da cobertura, a menos que esteja
com medo de morar na toca do lobo.
As últimas palavras foram ditas com um meio sorriso nos lábios, que era
uma mistura de divertimento e ironia, bem típico de Blackwolf.
Não consegui ficar séria com aquela referência ao que eu havia dito no
nosso primeiro jantar juntos. Acabei rindo também.
— Tenho juízo, não medo — esclareci, tentando não me abalar com a
intensidade daquele olhar. — Também não vejo motivo para me mudar. Ruth está
sempre preocupada com o meu bem-estar, além das outras funcionárias que cuidam
do apartamento. Acho um exagero dormir no quarto ao lado do seu, considerando
que sequer simpatizamos um com o outro.
— Foi você quem antipatizou comigo logo no primeiro dia, não eu. Para
mim, você era apenas mais uma mulher na fila do elevador.
Oh, obrigada por me fazer sentir t ão especial!
Obviamente que eu jamais impressionaria à primeira vista um homem igual
à Blackwolf, mas saber daquilo pela boca dele não ajudou em nada ao meu ego se
sentir melhor.
— Não chamaria de antipatia, mas de instinto feminino, que se confirmou
logo depois quando você bateu na porta do meu apartamento. Enfim, acho que
estamos bem em andares diferentes.
— Eu não acho e quero que pense na possibilidade de se mudar o mais
rápido que puder. Aproveite e venha jantar comigo hoje, Michelle. Tenho um outro
convite para lhe fazer.
Fiquei curiosa.
— Não pode dizer o que é agora?
Aquele meio sorriso dúbio voltou a curvar os lábios que já haviam me
beijado até me deixarem em chamas. Desviei o olhar, lembrando-me de que as
chamas foram apagadas logo depois com um balde de água tão gelada quanto ele.
— Terá de aceitar jantar comigo para saber.
Meneei a cabeça com reprovação.
— Depois vem dizer que o acho antipático.
Para minha surpresa, o sorriso dele se ampliou, divertindo-se
verdadeiramente com o meu desagrado.
— Um dia você ainda vai gostar de mim, Michelle.
Detestei o calor que se espalhou pelo meu corpo.
— Além de antipático, também é arrogante.
— Confiante.
Contive um bufado de exasperação, resolvendo contra-atacar para não me
sentir tão vulnerável ao magnetismo gritante que ele passou a ter sobre mim.
— Começo a desconfiar que você gosta mais de mim do que aparenta,
Blackwolf.
Encarei-o com coragem, lembrando-me da maneira como ele acariciou a
minha barriga no final do exame. Eu podia jurar que a emoção que vi refletida na
expressão dele não foi só por causa do filho, mas por sentir algo mais forte por mim.
Um brilho indefinível cintilou no olhar astuto dele. Literalmente, um olhar
de lobo diante da presa e o meu coração disparou no peito.
— Claro que gosto de você. Afinal, é a mulher com quem serei forçado a
compartilhar o meu filho, a mãe dele. Raramente sou forçado a algo, mas consigo
me adaptar bem quando é necessário. Aprendi a gostar de você.
Since ro até doer!
— Estou me sentindo uma plebeia diante de um rei muito magnânimo —
ironizei. — Obrigada por aceitar esta humilde súdita em seu palácio, vossa
majestade.
Frio e controlado do jeito que ele era, Blackwolf nem se abalou com o que
eu disse, apenas me olhou como se eu fosse mesmo uma súdita impertinente.
— Aceita ou não o meu convite para jantar? — Ignorou a minha
provocação e foi ao que o interessava.
Tive vontade de dizer um sonoro não, mas seria imaturidade da minha parte
levar tudo para o lado pessoal só porque ele me dispensou depois daquele beijo que
não saía da minha cabeça.
Eu também precisava aceitar que teria de compartilhar o meu filho com
Blackwolf, um pai tão indesejado para mim quanto eu era uma mãe indesejada para
ele.
Só não sei c omo é que vou conseguir isso me sentindo tão at raída assim.
— Aceito.
— Ótimo. — Ele parecia ter acabado de fechar mais uma negociação
financeira e contive um suspiro de desânimo. — Aguardarei você no terraço, por
isso pode entrar e ir direto para lá. Assim já vai se acostumando a andar pelos
cômodos para quando se mudar.
— Mas eu não disse que ia me mudar.
— Sei que não, mas vai pensar e decidir o que será melhor para o nosso
filho. Considere que será só até ele nascer. Veremos o resto depois. — Antes que eu
pudesse responder, fez um gesto com a mão e tirou o celular tocando do bolso. —
Peço desculpas, mas preciso atender.
A ligação de negócios durou o restante do trajeto até a Billionaires’ Row.
Ele só desligou quando descemos do carro e entramos no elevador privativo.
Blackwolf me deixou no meu andar e se despediu rapidamente, já tirando o celular
de novo do bolso do paletó.
Fui para o quarto e me sentei na cama, pensando se deveria ou não me
mudar para a cobertura. Eu tinha de reconhecer que me sentia sozinha com um andar
inteiro só para mim. No início era bom, mas depois a solidão passou a tornar o lugar
meio depressivo.
Não cultivei amizades ao longo da minha vida para agora ter um grupo de
amigas com quem sair. A nossa vida familiar na mansão Barton era tão
desestruturada, pesada e opressiva, que perdi o contato com as poucas amigas que
tive na adolescência. A minha única e grande amiga ficou sendo apenas a minha
mãe.
Com quem mais convivi nos últimos anos, fora ela, o Andrew e o Jo hn?
Ninguém!
Eu sabia que precisava resgatar as minhas amizades do passado ou fazer
novas amizades, mas me faltava motivação, ainda mais agora que estava grávida.
Não tinha disposição nenhuma de responder perguntas pessoais, de falar sobre a
inseminação que fiz e muito menos de mentir.
Mais ta rde, talvez.
Tirei o celular da bolsa e vi uma mensagem da doutora Jane, a quem eu
havia dado o meu número novo.
“Ligue-me assim que puder”.
Estranhei aquele pedido, considerando que acabávamos de sair do
consultório. Fiquei preocupada que fosse algo sobre o bebê e liguei de imediato.
— Aconteceu alguma coisa, doutora?
— Nada sério, Michelle. Apenas achei importante informar sobre o teor da
conversa que tive com Blackwolf enquanto você se arrumava depois do exame.
Logicamente que aquilo atiçou a minha curiosidade.
— E o que foi que conversaram?
— Ele quis saber se os seus exames estavam todos em dia, principalmente o
das infecções sexualmente transmissíveis.
— Ai, que horror! Sei que ele é excessivamente preocupado com o filho,
mas isso é uma informação pessoal demais.
Para o meu espanto, a doutora Jane riu com gosto.
— Sim, aparentemente foi este o motivo da pergunta, mas será que foi
apenas por causa do filho? Pense, Michelle.
— Não consigo ver outro motivo, doutora.
Ela voltou a rir do outro lado da linha.
— Às vezes me esqueço da sua falta de experiência amorosa, minha
querida. Tenho quase cem por cento de certeza que o interesse dele não era apenas a
saúde do filho, mas da mulher por quem está atraído e por quem sente desejo sexual.
Não acredito! Será mesmo?
— Está enganada, doutora. Blackwolf mantém uma boa distância de mim,
apesar de às vezes demonstrar que gosta da minha companhia. Acho apenas que
aprendeu a gostar da mãe do filho dele.
Não quis entrar nos detalhes do que havia acontecido depois do primeiro e
único beijo que trocamos.
— Seja o que for que ele sente por você, a minha experiência de médica diz
que havia também interesse sexual na pergunta. Ele pensa ou já pensou na
possibilidade. Quis avisar para você ficar prevenida. Caso não queira nada com o pai
do seu filho, é melhor estar atenta.
— Estarei, doutora. Obrigada por me ligar avisando.
— Você sabe que tenho um carinho muito grande por você que não tem
nada a ver com o fato de ser sua médica — ela lembrou em um tom de voz bem
maternal. — Ah, já ia me esquecendo. Ganhei a aposta. Ele nem conseguiu disfarçar
a emoção quando ouviu o coração do filho .
Eu já nem me lembrava mais daquela aposta, mas ela tinha razão.
Blackwolf realmente se emocionou durante o ultrassom. Restava saber se acertei
quando lhe disse no carro que ele gostava mais de mim do que aparentava.
Pelo que a doutora Jane havia acabado de me dizer, tudo indicava que
acertei.
Acho que está na hora de descobrir isso também!
Capítulo 31
Michelle
“T enho um feeling que me diz que você vai colocar uma coleira no Lobo
Negro de W all Street.”
Foi a lembrança daquelas palavras de John que me fizeram escolher um
vestido sensual para o jantar com Blackwolf. Escolhi um que tinha o decote bem
mais pronunciado do que os anteriores que usei na presença dele. Eu o achei ideal na
hora em que o peguei, mas depois que o vesti fiquei na dúvida. O problema era o
tamanho dos meus seios, que estavam ligeiramente maiores por causa da gravidez e
quase pulavam do decote.
O tecido leve estampado de azul-marinho se ajustava bem ao meu corpo até
os joelhos. Analisei com um olhar crítico o resultado final, com receio de deixar
evidente demais as minhas intenções.
Com os cabelos soltos, calcei as sandálias de salto alto e me dei por
satisfeita, saindo logo do quarto antes que mudasse de ideia.
Quando cheguei no terraço da cobertura, encontrei Blackwolf sentado no
sofá de frente para a piscina e o celular na mão. Conforme ele havia me dito,
daquela vez ninguém me esperou na porta do elevador. Nem ele, nem Ruth.
Foi estranho ir entrando sem cerimônia alguma no espaço dele, um lugar
que a própria Ruth já havia me dito que Blackwolf mantinha só para si mesmo, sem
gostar de receber ninguém ali. Aquilo fazia com que fosse mais incrível ainda o
convite para que eu ocupasse um dos quartos do andar.
Um dos quartos, não! O quarto ao l ado do dele!
Assim que me viu surgir na porta do terraço, Blackwolf se levantou e veio
ao meu encontro. Foi com confiança que me aproximei, sentindo o olhar penetrante
percorrer o meu corpo. Quando ele se fixou novamente no meu rosto, senti as faces
arderem.
— Vejo que encontrou o caminho sozinha.
Uma brisa suave soprou e trouxe o perfume masculino ao meu nariz,
inebriando-me.
— Tenho boa memória. Só espero não ter me atrasado muito.
— Chegou na hora certa. Venha, vamos nos sentar.
Fomos para a mesa, onde me sentei depois de ele puxar a cadeira para mim.
Blackwolf se acomodou à minha frente logo a seguir, mas só voltou a falar quando
já estávamos servidos.
— Tenho de confessar que hoje me emocionei ao ouvir o coração do nosso
filho.
Admirei-me que ele confessasse aquilo para mim.
— Estou mesmo surpresa com este seu comentário. Jamais imaginei que o
veria um dia admitir ter se emocionado com alguma coisa.
A risada baixa e sensual dele me arrepiou toda.
— Imagino o quanto mais vai se surpreender quando souber das outras
emoções que consigo sentir.
O comentário foi tão cheio de significados que quase me engasguei.
Respirei fundo e me controlei, aproveitando a oportunidade que ele mesmo me deu.
— Me diga uma.
Blackwolf bebeu lentamente um gole de vinho e me olhou com um ar
pensativo antes de responder.
— Provavelmente vou me emocionar bastante quando o meu filho nascer.
Deu de dez a zero em mim!
Eu era mesmo um fracasso na arte da sedução. Só mesmo o John para me
convencer de que eu, sendo virgem e nunca tendo me apaixonado por ninguém,
conseguiria seduzir um homem como Blackwolf.
Meu Deus! Em que momento ele deixou de ser sinistro e passou a ser t ão
atraente?
Aquela havia sido uma mudança drástica, chocante e assustadora demais. O
que era mais preocupante ainda naquilo tudo era a possibilidade de acabar
seriamente apaixonada por ele e sofrer depois, quando Blackwolf não sentisse o
mesmo por mim.
Lembrei-me da minha mãe e da vida triste que ela teve ao lado do meu pai,
um homem frio e calculista, incapaz de amar. Homens como ele e Blackwolf
sentiam prazer sexual e nada mais. As emoções provinham do instinto e não do
coração. Se acontecesse alguma coisa entre nós dois, significaria apenas sexo para
ele.
“Em vez de ter tido a minha primeira vez com o homem que eu amava, tive
com o seu pai depois do casamento. Quando chegar a sua vez, não deixe que
ninguém a force a aceitar um homem que não ame, filha. Só se cas e por amor.”
Amor! Era o amor que eu procurava e não momentos de prazer nos braços
de um homem cujo coração parecia ser tão frio quanto ele.
“Não tem nada de errado com você, fofinha. Os homens que conheceu até
hoje é que foram os errados. No tempo certo, Deus vai colocar no seu caminho o h
omem ideal.”
Ergui os olhos do prato e os fixei em Blackwolf, dando com o olhar dele
em mim.
Será que ele era o homem certo? Em sã consciência eu diria que não.
Blackwolf era o oposto de tudo o que desejei e a personificação de tudo o que
sempre detestei.
— Você ficou calada de repente.
— Peço desculpas. De vez em quando a minha mente se dispersa. Deixei de
lhe responder alguma coisa?
— Não, de jeito nenhum. — Ele tomou mais um gole de vinho com os
olhos argutos examinando-me. — Vou aproveitar para fazer o convite que falei no
carro. Um dos meus investidores vai dar uma festa neste sábado para comemorar as
bodas de pérola 20 do casamento dele. Gostaria de ir comigo? Sei que é um convite
feito em cima da hora, mas o casal é muito simpático. Talvez você até os conheça.
São Bill e Rebecca Stamford.
Só faltavam dois dias para a tal festa e eu não esperava por um convite
daqueles vindo de Blackwolf. Se chegássemos juntos nas bodas de um casal tão
tradicional quanto era Bill e Rebecca Stamford, certamente haveria comentários
depois sobre também sermos um casal.
— Vamos protagonizar a maior fofoca da década em plena festa.
Ele endureceu o olhar.
— Deixe que falem.
Não era tão simples assim.
— Todos vão achar que você comprou o banco do meu pai e a mim
também, ou que me vendi por ter perdido tudo, ou até coisa pior.
Blackwolf segurou a minha mão sobre a mesa com uma pegada firme e
rápida.
— Deixe que achem e falem o que quiserem. Garanto que ninguém vai dar
um pio na nossa frente. Em algum momento as pessoas vão descobrir sobre o nosso
filho. Pode ser quando a sua barriga crescer e souberem que está morando comigo
ou até mesmo depois de ele nascer.
— Ainda mais isso! Vão dizer que dei o golpe da barriga em você —
exclamei, arregalando os olhos. — Meu Deus, nunca pensei nisso!
Ele apertou a minha mão com mais firmeza.
— Mas eu pensei e decidi que é melhor enfrentar tudo agora do que lá na
frente. Não sou do tipo de adiar o que tem de ser feito e quero calar a boca de todo
mundo antes que o meu filho chegue. Não vou admitir que ninguém aponte o dedo
para ele depois de nascido.
Blackwolf tinha razão e me recriminei por nunca ter pensado nas outras
implicações que o erro da Fertile Future traria para nossas vidas.
Olhei-o, desanimada.
— Vou encontrar conhecidos lá.
— Você vai enfrentar todos comigo ao seu lado e não sozinha. Estaremos
juntos, Michelle.
O tom firme e a fisionomia séria já diziam tudo sobre a determinação de
Blackwolf.
— Muitos me odeiam hoje por causa do que o meu pai fez — lembrei-o.
— Todos eles estão com os seus investimentos assegurados por mim.
Ninguém vai ousar dizer ou fazer nada contra você estando comigo.
Não tive dúvida alguma de que ele cairia pesado em cima de quem fizesse o
contrário, mas seria vergonhoso para mim estar ao lado do homem que comprou o
banco falido do meu pai fraudador.
— Sei que não vou poder me esconder a vida inteira das pessoas nem fugir
das consequências do que o meu pai fez, mas preciso de um tempo para pensar.
Havia compreensão no olhar dele quando assentiu.
— Terá esse tempo.
Ele ergueu a minha mão e a beijou. Os lábios firmes e a barba roçando a
minha pele fizeram com que um calor gostoso se espalhasse pelo meu corpo.
— Agora relaxe e aproveite o jantar. — Ele soltou a minha mão e sorriu,
voltando a pegar a taça de vinho. — Hoje ouvimos o coração do nosso filho e quero
fazer um brinde a ele. Ainda é pequeno, mas a doutora tem razão quando diz que nos
assustaremos com a rapidez com que vai crescer.
Soltei uma risada de felicidade ao me lembrar daquele momento único.
Peguei o meu copo de água e brindamos ao nosso filho.
— Ao nosso bebê.
Bebemos um gole com os olhos fixos um no outro.
— E por falar nele, como anda a decoração do quarto que escolhemos?
Entusiasmei-me com o assunto.
— Está ficando lindo! Você precisa ver depois.
— Verei, mas me conte agora como ele está ficando. Ainda não sabemos se
é menino ou menina. Como está fazendo com as cores?
Conversamos bastante sobre os detalhes do quarto do nosso filho e nem
senti o tempo passar. Da mesa fomos para o sofá perto da piscina, onde a conversa
se diversificou para outros assuntos. Blackwolf podia ser um homem carrancudo e
excessivamente sério, mas era sociável, dono de uma fluência verbal invejável e
sabia conduzir muito bem uma conversa.
A um determinado momento ele tocou no assunto da minha mudança.
— Já decidiu quando vem ficar aqui comigo?
A maneira como ele falou deixou tudo íntimo demais, como se eu fosse me
mudar para ficar “com ele” e não para apenas “ocupar o quarto ao lado do dele”.
— Ainda estou pensando — falei a verdade. — Se decidir me mudar, é só
falar com a Ruth?
— Sim, ela providenciará tudo. Poderá trazer o seu material de pintura e
transformar uma das salas em ateliê. Há espaço suficiente aqui. Fique à vontade
também para usar a piscina e o que mais quiser.
Observei-o com atenção sentado tão perto no sofá.
— Estou impressionada com o seu convite para eu vir morar aqui.
Blackwolf virou o corpo meio de lado, colocando um braço sobre o encosto
do sofá logo atrás de mim, o que nos aproximou ainda mais.
— Fiz porque quero, e se quero, faço.
Simples assim. Sem demasiadas explicações ou justificativas.
— E para variar você consegue tudo o que quer.
— Tudo — confirmou, mas sem arrogância, apenas com confiança.
O olhar penetrante deslizou pelo meu rosto com aquela intensidade
característica dele, descendo depois pelo meu pescoço e busto. Senti como se
estivesse sendo tocada, acariciada, seduzida. Foi impossível controlar a respiração e
não ficar ofegante quando os olhos escuros se fixaram nos meus seios, refletindo um
desejo tão grande que tirou o meu fôlego.
Era o desejo de um homem maduro, experiente e que emanava
masculinidade por todos os poros. Inspirei fundo, tensa, ansiosa, excitada, molhada.
Ele estava tão perto que eu podia sentir o calor do corpo grande me
envolvendo, atraindo, seduzindo. Eu estava pronta para ter a minha primeira
experiência sexual com ele, o homem mais improvável que podia existir para mim,
mas que havia me conquistado nas últimas semanas com a sua personalidade forte e
carismática, levando-me da rejeição à aceitação completa.
Eu queria ser mais experiente para saber o que fazer, como o seduzir
também, mas me sentia dividida entre a ousadia e a insegurança. O que fiz a seguir
foi instintivo. Deitei a cabeça para trás, apoiando-a no braço dele sobre o encosto do
sofá. A posição íntima nos deixou mais próximos ainda. Se Blackwolf baixasse a
cabeça apenas alguns centímetros, nós nos beijaríamos.
Senti no rosto a respiração quente, o hálito rescendendo a vinho tinto se
misturando nos meus pulmões com o aroma do perfume masculino. Eu me sentia
bombardeada por sensações estimulantes demais e queria muito aquele beijo, aquele
momento, aquela primeira vez.
O olhar de Blackwolf se desviou dos meus seios e se fixou no meu.
Aqueles olhos escuros, que normalmente eram frios e glaciais, pareciam arder de tão
quentes. O impacto do desejo quase animal que brilhava neles me chocou, mas
também me fascinou. Entreabri os lábios em um arquejo ofegante, ansiosa pelo beijo
que sabia que viria.
Senti o braço sob a minha cabeça enrijecer e o corpo dele ficar tenso. O
rosto adquiriu uma expressão mais tensa ainda e não precisei que nada fosse dito
para entender que Blackwolf estava resistindo o quanto podia ao desejo que o
dominava. Ele estava lutando para manter o controle sobre si mesmo e o único
motivo era mais óbvio ainda. Eu era a filha de Colin Barton, o homem que ele
odiava. Era a mulher com quem ele não queria ter nada, exceto o filho que foi
inseminado por engano dentro de mim.
Aquela verdade ficou tão clara quanto água e me senti ridícula por estar
praticamente implorando por um beijo, por um toque, por amor.
— Já está muito tarde e tenho uma reunião amanhã cedo. — A voz grave
aumentou a minha vergonha ao me rejeitar pela segunda vez, dispensando-me
dolorosamente.
Aprumei o corpo no sofá e me afastei dele.
— Você tem razão, já está tarde. — No instante seguinte fiquei de pé,
ansiosa para ir embora. — Obrigada pelo jantar. Boa noite, Blackwolf.
Ele se levantou também.
— Vou acompanhar você.
— Não precisa! — neguei com certa brusquidão, fazendo um gesto com a
mão para o deter. — Vim sozinha e posso perfeitamente voltar sozinha.
Encarei-o com a mesma fria educação com a qual ele me olhava e fui
embora de cabeça erguida.
Apesar do andar confiante, o meu rosto ardia de vergonha e humilhação. Eu
me sentia uma idiota por ter acreditado em John e passado a segunda maior
vergonha da minha vida.
“Fiz porque quero, e se q uero, faço.”
Se ele não fez, é porque não queria mesmo.
Capítulo 32
Michelle
D ormi pensando em tudo o que havia acontecido e acordei do mesmo jeito.
Passei o dia inteiro analisando a situação e cheguei à conclusão de que me iludi à
toa. Blackwolf realmente não sentia nada por mim além de consideração pela
mulher que seria a mãe do filho dele, antes indesejada, mas que agora aceitava.
John se enganou, eu me enganei. A atitude correta a partir daquele
momento era agir naturalmente e com maturidade, sem melindres infantis.
Naquele mesmo dia, liguei para informar que concordava em ir às bodas de
pérola com ele.
— Esta foi uma excelente decisão, Michelle. Por nosso filho, está na hora
de enfrentarmos a sociedade onde ele vai viver.
— É por concordar com isso que decidi ir.
— Então também decidiu se mudar para a cobertura — afirmou,
indiretamente querendo me influenciar a dizer que sim, caso ainda não tivesse
decidido.
— Por enquanto não — informei com tranquilidade, sem me deixar
manipular. — Direi algo quando tomar uma decisão.
— Temos tempo. — Optou por não me pressionar. — Passarei aí para
pegar você na noite da festa.
— Estarei pronta. Bom trabalho, Blackwolf.
— Tenha um bom dia, Michelle.

Tyler apareceu para me pegar na noite das bodas de pérola usando um traje
black tie de corte perfeito. O smoking elegante só o tornava mais másculo e atraente.
O cabelo preto penteado para trás e a barba bem aparada completavam o visual
arrasador daquele homem enigmático.
Da minha parte, escolhi um vestido longo da Gucci no estilo strapless 21 ,
cujo decote pronunciado favorecia os meus seios maiores da gravidez e o azul
marinho do tecido contrastava com o meu tom de pele. Decidi usar um conjunto de
colar e brincos de diamantes que ganhei de presente da minha mãe no meu
aniversário de vinte e um anos. Eu só ia sofrer um pouco com os saltos altos, mas
não havia como evitar.
Assim que Tyler chegou, senti o olhar intenso percorrer o meu corpo por
completo, detendo-se por mais tempo no meu busto que o modelo destacava.
— Não sabia se você teria alguma joia para usar hoje e acabei por escolher
estas. — Ele me surpreendeu ao tirar um estojo de dentro do smoking e me oferecer.
— Veja se gosta.
Toquei o colar que estava no meu pescoço, olhando abismada para o estojo
na mão dele.
— Já estou usando as minhas joias, mas obrigada.
— Se gostar dessas, também serão suas. Comprei para você.
Eu ia negar, mas seria o cúmulo da falta de educação se eu não
demonstrasse o mínimo de interesse. Blackwolf teve o cuidado de não me deixar
sem uma joia para usar em um evento social importante, onde todas as mulheres
estariam exibindo o que de mais caro possuíam.
— Obrigada, Blackwolf.
Peguei o estojo e abri, inspirando fundo quando vi o colar e os brincos
lindíssimos de safiras azuis e diamantes que ele estava oferecendo-me.
— Meu Deus, são lindos! — exclamei, sem conseguir esconder a
admiração.
— Deixe-me ajudar. — Ele pegou o colar da caixa. — Vire-se, Michelle.
Nem questionei, ainda em choque com o presente que ele havia me dado.
Fiquei de costas e puxei o cabelo solto para a frente, sentindo os dedos firmes
abrirem o meu colar e substituírem pelo dele.
O arrepio de prazer que percorreu o meu corpo sob o toque das mãos
masculinas foi tão intenso que fechei os olhos, dando graças a Deus por estar de
costas para ele.
— Deixe-me ver como ficou — Blackwolf pediu e achei que a voz grave
estava mais enrouquecida do que o normal.
Fiquei de frente para ele, cujo olhar deslizou pelo meu busto antes de se
fixar no colar.
— Perfeitos. — O elogio parecia ser mais para os meus seios do que para o
colar e pensei se estava vendo nele um desejo que era meu. — Use-os hoje.
Sem condições alguma de falar, tirei os meus brincos simples de diamantes
e coloquei os de safira, usando o mesmo estojo para guardá-los com o colar que
ganhei da minha mãe.
Blackwolf olhou com aprovação para o resultado final.
— Agora podemos ir.
Coloquei o estojo sobre a mesa de centro da sala e aceitei o braço que ele
educadamente me ofereceu como apoio.
A mansão de Bill e Rebecca Stamford parecia a bolsa de valores de tantos
investidores que identifiquei assim que chegamos na entrada do grande salão onde a
festa das bodas acontecia. Todos os conhecidos do meu pai pareciam estar presentes
com suas esposas e contive um suspiro conformado por ter de enfrentá-los.
De mãos dadas com Blackwolf, observei o salão lotado com as mesas
completamente ocupadas por figuras ilustres da sociedade novaiorquina.
— Vai ser uma longa noite — comentei ironicamente.
Blackwolf colocou a minha mão no braço dele, apertando-a em um gesto
significativo de apoio.
— Posso dizer que todos aqui têm dinheiro investido comigo e vão tratar
você muito bem, esteja comigo ao lado ou sozinha. Agora vamos.
E foi de braços dados que entramos na festa, chamando a atenção imediata
de todos.
— Você está roubando a cena.
Ele não se abalou em nada, agindo com a autoconfiança de sempre.
— “Estamos” — corrigiu-me. — E esta é a intenção.
Mal demos dez passos, já pude comprovar o tamanho do poder daquele
homem. À medida que passávamos pelas mesas, gradativamente todos os homens se
levantavam para o cumprimentar com um aperto de mãos e um sorriso que refletia
respeito e admiração genuínos por Blackwolf.
— Acredito que já conheça Michelle Barton — ele dizia.
— Claro que conheço! É um prazer vê-la de novo, Michelle.
Fossem os homens, suas esposas, os filhos ou namoradas, todos me
cumprimentaram. Blackwolf ia me apresentando a cada um deles depois dos
cumprimentos iniciais. A mão só soltava a minha se fosse para envolver a minha
cintura ou ficar pousada no meio das minhas costas. Um toque íntimo que me
abalava mais do que eu gostaria.
— Meu Deus! Estou impressionada ao ver como todos estão quase beijando
os meus pés.
— É bom que beijem o chão onde você pisa — rosnou ao meu lado com
uma seriedade tão grande que me impressionou ainda mais.
Apesar de o percurso até a mesa reservada para Blackwolf ser pequeno,
demoramos quase trinta minutos para chegar lá. A posição era privilegiada e ao lado
da mesa da família Stamford. Sentados nela, havia um casal que eu não conhecia.
Contudo, antes que fôssemos apresentados, Rebecca Stamford se aproximou para
nos cumprimentar.
Era uma senhora muito elegante e bem cuidada, que não aparentava os mais
de cinquenta anos que devia ter.
— Tyler, como estou feliz que tenha conseguido vir. — Ela o abraçou com
evidente carinho.
— Eu não deixaria de vir por nada, Rebecca.
Ela olhou para mim por sobre o ombro dele e sorriu.
— Você trouxe a Michelle! — A senhora Stamford veio me abraçar logo a
seguir, dispensando a necessidade de apresentação dele. — Você ficou tão linda
quanto Margaret, minha querida.
— Obrigada, senhora. E parabéns pelas bodas de pérola.
— É algo que está se tornando tão raro hoje em dia que temos de
comemorar — brincou, piscando um olho para nós dois.
Ela era encantadora e entendi perfeitamente como havia conseguido chegar
a um marco tão importante de um casamento quanto aquele.
O marido se aproximou de onde estávamos, cumprimentando Blackwolf
com um abraço e palmadinhas nas costas.
— Tyler! Então já chegou.
— Há alguns minutos e devo dizer que essas bodas de pérola vão marcar a
história. Parece que Wall Street inteiro está aqui.
Bill Stamford soltou uma risada.
— Vamos abrir o pregão daqui a pouco.
Os dois riram da brincadeira, mostrando o quanto o relacionamento que
cultivavam ia além dos negócios.
— Bill, ele trouxe a filha de Margaret. — A senhora Stamford puxou o
marido pelo braço. — Veja só como ela cresceu rápido e ficou a cara da mãe.
— Você tem razão, Becca. Está muito parecida com Margaret. — Ele me
cumprimentou com dois beijos no rosto. — Seja bem-vinda à nossa casa, minha
querida.
— É um prazer para mim. É a primeira vez que compareço a uma boda de
pérola e estou encantada com tudo.
— Um dia terá a sua também.
— Quem, eu?! — Não pude deixar de rir. — Não sei se consigo.
— Consegue, sim. Tyler só é duro por fora.
Fiquei tão chocada que nem consegui disfarçar a tempo.
— É melhor você parar com essa conversa, Bill. Daqui a pouco Michelle
vai me pedir em casamento — Blackwolf ironizou.
E ngraçadinho!
— Ele só está falando isso porque já neguei vários pedidos de casamento
dele — cochichei em tom de confidência para Bill e Rebecca.
Os dois caíram na risada e joguei um olhar de desafio para Blackwolf, que
meneou a cabeça com um sorriso de admiração nos lábios.
— Touch é , Michelle.
— Vocês são perfeitos um para o outro. — Bill Stamford voltou a dar
palmadas nas costas de Blackwolf. — Você encontrou uma mulher à altura da sua
personalidade, meu caro.
Preferi não comentar nada sobre aquela última observação. Blackwolf usou
a sua notória capacidade de conduzir as pessoas e mudou sutilmente o tema da
conversa para outros assuntos. Com mais alguns minutos, o casal se despediu para
dar continuidade à solenidade das bodas de pérola e pudemos nos dirigir para a
mesa.
Nela, um homem de rosto redondo e óculos estava sentado ao lado de uma
mulher morena muito bonita.
— Este é o meu primo Gary Mitchell e a esposa — Blackwolf apresentou.
— Gary e Melody, esta é Michelle Barton.
Os cumprimentos foram efusivos e gostei muito do casal. Melody era
enfermeira e Gary era ginecologista.
— Gary tem uma clínica de reprodução humana — Blackwolf explicou
depois que começamos a conversar. — Na verdade, foi ele quem me indicou a
Fertile Future.
O que significava que devia saber do erro e da minha gravidez.
— E me arrependi amargamente da indicação que dei.
Com aquele comentário, Gary confirmou as minhas suspeitas. Empurrando
os óculos sobre o nariz, ele olhou para mim com um sorriso que achei bondoso.
Aparentava ter a idade de Blackwolf.
— Está gostando de morar na casa do meu primo? Espero que ele não
esteja dando muito trabalho. Sei que Tyler não é um homem muito fácil de lidar.
Senti que a preocupação dele era genuína e aprovei que não tivesse receio
de falar o que pensava na frente do primo poderoso. Por sua vez, Blackwolf apenas
bebeu mais um gole de whisky, sem parecer incomodado com o que Gary viesse a
falar sobre ele.
— Estou gostando muito de morar lá. Nós dois temos nos entendido muito
bem.
Ao falar aquilo, percebi que era a mais pura verdade. Apesar das
divergências de opinião que tivemos, sempre conseguimos nos entender depois.
— Qual é a sua clínica, Gary?
Ele abriu um sorriso de orgulho.
— É a Plan Life.
— Oh, mas eu conheço! — exclamei sem esconder a surpresa. — Foi uma
das que a doutora Jane cogitou de me indicar.
Ele meneou a cabeça em um gesto que achei bastante humilde.
— Sinto-me honrado que uma profissional como a doutora Jane Young
tenha pensado em indicar a minha clínica. Ainda somos novos no mercado, se
comparados com a Fertile Future.
A conversa continuou entre nós quatro de uma maneira muito agradável,
mas era interrompida de tempos em tempos por outras figuras ilustres que se
aproximavam para falar com Blackwolf. Fossem investidores, empresários ou
políticos, todos pareciam ter algo a dizer para ele. Nem o meu pai tinha tantos
contatos importantes assim como eu estava vendo com Blackwolf, principalmente
com homens do governo e da política.
No geral, a festa em si acabou por se tornar bem melhor do que eu
esperava. Ao meu lado, a presença marcante daquele homem enigmático não me
deixava esquecer da forte atração que sentia por ele e que a cada momento parecia
crescer.
Era impressionante a mudança ocorrida no nosso relacionamento desde que
nos conhecemos.
Talvez a convivência esteja mudando a nós dois de um jeito que nem
percebemos.
Como eu nunca havia participado de uma festa de aniversário de
casamento, uma vez que os meus próprios pais nunca comemoraram nenhuma das
datas do casamento deles, achei linda a cerimônia de confirmação dos votos
matrimoniais que aconteceu cerca de uma hora depois. Em sequência, o casal
dançou uma valsa muito romântica e até suspirei de tão emocionada que fiquei. Era
visível o amor que Bill e Rebecca sentiam um pelo outro.
Só depois foi que a festa propriamente dita começou, com o salão de dança
sendo aberto para todos acompanharem o casal ao som da música tocada ao vivo por
uma banda, cujo vocalista cantava divinamente.
Bill e Rebecca fizeram um sinal para a nossa mesa, chamando-nos para
participar. Pensei que Blackwolf fosse negar, mas foi com naturalidade que ele se
levantou e me ofereceu a mão, ajudando-me a me levantar também.
Gary fez o mesmo com Melody e fomos para a pista de dança improvisada,
misturando-nos com os outros convidados que dançavam.
Tentei não me abalar ao ser envolvida pelos braços de Blackwolf quando
começamos a dançar ao ritmo da música lenta que tocava. Achei que ele não tivesse
jeito para a dança, mas o homem parecia alcançar a perfeição em tudo o que fazia.
Até dançando os passos eram confiantes e a pegada era firme.
Mesmo usando saltos altos, tive de erguer o rosto para falar com ele.
— Estou surpreendida que você dance tão bem.
— Faço outras coisas igualmente bem, Michelle — ele troçou da minha
surpresa. — Não sou bom apenas em investir dinheiro e levar empresas à falência,
como dizem por aí.
— Não há nada melhor do que saber o que falam de nós.
— Sei de tudo o que dizem de mim.
— Ah, claro. Me esqueci que você controla o mundo — alfinetei.
O que recebi foi um olhar enigmático.
— Controlo o mundo ao meu redor e de quem me interessa.
Tentei não levar aquilo para o lado pessoal, achando que ele tinha interesse
em mim. Blackwolf era obcecado pelo filho e não pela mãe dele. Eu já havia tido
provas suficientes daquilo para me iludir novamente.
Contudo, para contradizer o que eu pensava, nossos olhares se cruzaram e a
mão grande no meio das minhas costas desceu até a cintura, atraindo-me para mais
perto dele. Não foi nada explícito demais, mas pude sentir a virilidade do corpo
masculino por inteiro.
A intimidade do gesto me fez inspirar fundo de tão intensa que foi a
sensação e me vi incapaz de resistir. Fosse por carência ou por outro motivo
qualquer, fechei os olhos e apoiei levemente a cabeça no ombro dele, aproveitando o
momento enquanto ele existia. Eu sabia que depois tudo voltaria ao que era e aquele
instante se perderia no tempo, transformando-se em uma lembrança boa do passado.
— É muito cansativo para você ficar tanto tempo em pé com esses saltos
altos?
A pergunta me trouxe de volta à realidade.
— Um pouco, mas a festa está valendo a pena. Bill e Rebecca são mesmo
especiais e adorei presenciar a felicidade deles. Tudo muito diferente do casamento
dos meus pais, onde não havia amor.
Blackwolf não comentou nada, mas minutos depois sugeriu que
voltássemos à mesa para que eu descansasse um pouco.
Gary e Melody pareciam estar esperando apenas aquele sinal para voltarem
à mesa também e logo entendi o porquê.
— Preciso ir ao banheiro, Michelle. Vem comigo? — Melody pediu em um
sussurro assim que se sentou ao meu lado.
— Claro que sim. Vamos. — Virei-me para Blackwolf. — Volto já.
Ele me olhou com a testa franzida, mas entendeu do que se tratava quando
viu Melody se levantar.
— Tenha cuidado.
Eu desconfiava que Blackwolf seria um pai superprotetor. Só esperava que
não fosse também castrador. O filho ainda nem havia nascido e ele já o cercava de
cuidados excessivos.
— Não se preocupe. O seu filho está bem.
Ele segurou a minha mão sobre a mesa e me olhou com a fisionomia muito
séria.
— São os dois. É você e ele!
Arquejei com a força daquele olhar e as implicações do que disse.
Não se iluda, Michelle. Três rejeiçõ es é demais.
— Nós dois estamos bem. Volto já.
Levantei-me e fui com Melody até o banheiro. Não demoramos muito lá,
mas quando saímos havia uma surpresa para mim do lado de fora.
Um homem se aproximou assim que começamos a percorrer o corredor de
volta ao salão onde acontecia a festa e quase não acreditei quando o reconheci.
Era Nicholas Brooks, o homem com quem o meu pai queria que eu me
casasse.
Capítulo 33
Tyler
A companhei Michelle com o olhar à medida que ela se afastava pelo salão
na companhia de Melody. Ela estava linda com aquele vestido sem alças, que
valorizava na perfeição o busto sensual. Assim que entrei na sala de estar do andar
dela e a vi levantando-se do sofá, senti o abalo que a presença daquela mulher
causava em mim.
Eu prestava atenção em tudo nela, absolutamente tudo. Nada escapava à
necessidade de que passei a sentir de esmiuçar detalhadamente cada gesto que ela
fazia, cada emoção refletida nos olhos azuis, cada mudança que o corpo delicado
começava a ter devido à gestação do meu filho. Ela havia me enfeitiçado de uma
maneira tão sutil que a princípio nem notei. Quando realmente vim perceber, já era
tarde demais para arrancar de dentro de mim a obsessão que desenvolvi por ela.
Merda! Mas que g rande merda!
Eu não podia e nem ia me envolver seriamente com Michelle Barton.
Precisava vê-la apenas como a mãe do meu filho, a mulher com quem seria obrigado
a dividir a atenção e o tempo dele, mas que nunca faria realmente parte da minha
vida.
O meu olhar desceu pelas costas esguias dela e se prendeu no rebolado
naturalmente sensual dos quadris, onde as nádegas redondas chamavam a atenção. O
meu pau se contraiu diante da visão e afastei a vista rapidamente.
Dei de cara com Gary sentado à minha frente na mesa, cujo olhar me
observava com preocupação.
— Você está apaixonado por ela.
Aprumei o corpo, mantendo o rosto impassível.
— Não seja romântico, Gary. Garanto que não estou — afirmei, bebendo
um gole do meu whisky.
— Está, sim. Nunca o vi tratar uma mulher como trata a Michelle.
Fiquei fodido comigo mesmo por ter deixado transparecer qualquer tipo de
interesse por ela.
— Ela está grávida, lembra-se? Não se esqueça que aquela mulher está com
o meu filho na barriga. Você mesmo me acusou de estar tratando Michelle como se
ela fosse um homem de negócios e não como uma mulher grávida, que exige mais
cuidados. Agora está reclamando.
Gary apenas me analisou atentamente com a mesma expressão preocupada.
— Sei o que digo. Só peço que se lembre que ela não merece sofrer pelos
erros do pai. Não se vingue nela.
Olhei-o duramente.
— Eu jamais faria isso com Michelle e me espanta que pense tão mal assim
de mim, Gary.
— Não é nesse sentido que estou falando, Tyler! — impacientou-se,
fazendo um gesto na direção de onde ela havia acabado de desaparecer com a
esposa. — Michelle corre o risco de se apaixonar por você e depois sofrer quando o
seu ódio pelo pai dela o impedir de enxergar que também está apaixonado.
Daquela vez quem perdeu a paciência fui eu. Apesar de Gary ser meu
primo e único amigo verdadeiro, não gostei de ter alguém interferindo no meu
relacionamento com Michelle.
— Lembre-se que você está falando com um homem que não dá valor
nenhum a esse romantismo piegas de estar apaixonado. Para mim, uma mulher
precisa me satisfazer na cama e só. Não tem isso de estar apaixonado, de sofrer por
amor, de amar “até que a morte nos separe”. Para minha sorte, nem sei o que é isso!
— “Isso”, como você fala, é “estar apaixonado”, Tyler. Amamos a mulher
que acelera os nossos batimentos cardíacos, que toma conta do nosso pensamento
quando não está ao nosso lado, que nos faz rir até de bobagens, a quem queremos
proteger de tudo e que nos faz querer matar quem a magoar. Fora isso, ela tem o
poder de nos excitar com um único olhar e de nos dar orgasmos incríveis na cama
que nenhuma outra consegue. Isso é amor!
Foda-se, caralho!!! Não pode ser amor. Não vou me apaixonar pela filha
de C olin Barton!
Determinado a colocar um ponto final naquela conversa, soltei uma risada
cínica, lançando um olhar indulgente para ele.
— Você é mesmo um romântico assumido, Gary. Vê amor em todo lado.
— Bebi calmamente mais um gole do meu whisky antes de continuar. — Aprendi a
gostar dela, mas como mãe do meu filho. Você sabe que não tive escapatória além
de aceitar Michelle nessa função de mãe. Vejo-a como se fosse uma barriga de
aluguel que contrataria para gerar o meu filho e nada mais. Sinto decepcioná-lo, mas
não estou apaixonado. Não sei o que é isso e pretendo continuar sem saber.
Capítulo 34
Michelle
— B oa noite, Michelle — Nicholas me cumprimentou, parando à minha
frente com os olhos presos no meu decote.— Há dias que tento falar com você e não
consigo.
Eu não estava disposta a conversar com ele, muito menos a responder
qualquer pergunta que tivesse para me fazer, mas a boa educação me impedia de
simplesmente virar as costas e seguir em frente.
— Nicholas, esta é Melody Mitchell — apresentei-a, virando-me depois
para ela. — Nicholas Brooks é um amigo do meu pai.
Eles dois se cumprimentaram, mas Nicholas ignorou-a logo a seguir,
dirigindo-se a mim.
— Liguei várias vezes nos últimos dias, Michelle. Por que não me atendeu?
E por que deveria?
O tom exigente era desproposital, além do fato de eu não ter nenhuma
obrigação de o atender.
— Mudei de número e provavelmente nem vi suas ligações, mas poderá
falar com Andrew. Ele está resolvendo tudo dos negócios do meu pai.
Nicholas se virou para Melody.
— Pode nos deixar a sós por um momento? Preciso falar em particular com
Michelle.
Ela foi pega de surpresa tanto quanto eu, mas manteve a educação.
— Sim, claro. — Olhou para mim. — Quer que aguarde na entrada do
salão, Michelle?
— Não precisa. Apenas avise na mesa que chego daqui a pouco, por favor
— pedi com um sorriso.
— Farei isso. Com licença.
Mal ela se afastou, virei-me para Nicholas, aguardando que falasse logo o
que queria.
— O que você faz na festa com Tyler Blackwolf, o homem que destruiu o
seu pai?
O absurdo daquela pergunta me revoltou.
— E desde quando tenho que dar satisfações da minha vida para você?
— Desde o momento em que firmei um acordo com o seu pai para o nosso
casamento e ele me garantiu que estava tudo acertado com você.
— Ele fez um acordo do meu casamento com você?! — Nem consegui
disfarçar o horror e o encarei, enojada. — Não estou sabendo de nada disso.
— Pois saiba que injetei capital no Barton Bank em troca de ter você como
minha esposa. Agora imagine a minha surpresa ao saber da falência do banco e de
como Colin desapareceu, junto com a minha noiva. Quase não acreditei quando a vi
entrando na festa de braços dados com Blackwolf.
Meneei a cabeça, horrorizada com aquilo tudo. O meu pai havia
praticamente me vendido para aquele homem em troca de capital para o banco. Só
agora eu entendia por que ele sempre quis me casar à força com Nicholas e me levou
àquela clínica para abortar.
— O BW Group comprou o banco do meu pai e você não perdeu o seu
dinheiro. O investimento está assegurado. Quanto ao casamento, sinto muito, mas eu
jamais aceitaria tal imposição. Sou livre para escolher o homem com quem vou me
casar.
— E acha que esse homem é Tyler Blackwolf? Ele jamais se casaria com a
filha de Colin Barton! O que vai fazer é foder você e descartar depois.
Tive até ânsia de vômito tamanha foi a repulsa que senti daquele homem.
Olhei-o, profundamente enojada.
— Mil vezes Blackwolf do que você!
Ele ficou vermelho de raiva.
— Em que ele é melhor do que eu se também está pagando para ter você na
cama? Você se vendeu e agora quer dar uma de ofendida para cima mim?
A minha indignação não teve tamanho e meti a mão na cara dele,
esbofeteando-o com gosto. Na hora, não me importei se havia alguém nas
proximidades que testemunhasse a cena deprimente, apenas cedi à raiva. Só depois
foi que me lembrei de quando fiz o mesmo com Blackwolf e ele me preveniu de não
esbofetear outro homem, sob o risco de ser agredida de volta.
Pela expressão furiosa de Nicholas Brooks, não tive dúvida de que ele faria
exatamente aquilo, o que já mostrava que tipo de marido seria.
Recuei um passo para longe dele e protegi instintivamente a barriga, com
receio de receber algum golpe nela. Contudo, o golpe não veio. Em vez disso, um
corpo enorme se colocou à minha frente.
— Repita para mim o que disse para ela, seu porra! — A voz fria de
Blackwolf exigiu e respirei aliviada ao vê-lo entre nós dois.
Graças a Deus que ele era superprotetor com o filho e não ficou na mesa
me esperando chegar.
— O meu assunto é com a Michelle — Nicholas respondeu sem disfarçar a
raiva. — Não se meta, Blackwolf!!
No instante seguinte ele estava sendo erguido pelo colarinho do smoking e
empurrado com violência contra a parede.
— A Michelle é um assunto meu e ninguém vai chegar perto dela. Não se
meta você com a minha mulher!
M inha mulher?
Olhei chocada para as costas largas de Blackwolf, que agora estavam
rígidas de tensão. Bem mais alto e mais forte do que Nicholas, o braço musculoso
mantinha o homem contra a parede, cujos pés mal tocavam o chão.
— Sua mulher? Isso só até você pagar pelos serviços dela na cama e
descartar depois.
Quase não acreditei que ele ousou dizer aquilo para Blackwolf.
Que ho mem nojento!
Assim que Nicholas terminou de falar, o punho fechado de Blackwolf se
chocou contra o rosto dele. Apesar de estar furiosa com o homem, presenciar aquela
agressão não me fez sentir melhor. Ao contrário, aumentou o meu mal-estar quando
vi Nicholas se chocar contra a parede e escorregar para o chão.
Foi quando consegui reagir.
— Tyler, não! — Aproximei-me dos dois. — Por favor, não faça isso.
— Fique longe, Michelle! — ele ordenou sem nem se virar para mim,
fazendo-me parar no mesmo instante.
Blackwolf voltou a segurar Nicholas pelo smoking e o empurrar outra vez
com violência contra a parede. O som da cabeça do homem batendo de encontro ao
cimento me deu náuseas.
— Filho da puta! Michelle é mulher demais para se vender a um homem, e
você nem homem é para dizer isso dela — Blackwolf rosnou com uma raiva fria que
se espalhou lugubremente pelo corredor.
O rosto barbado estava com aquela expressão tenebrosa de quando o vi pela
primeira vez no elevador da Fertile Future e que tanto me assustou na ocasião.
Agora que o conhecia melhor, eu não sentia mais medo, mas ainda assim fiquei
impressionada com a agressividade que brilhava nos olhos escuros. Eu nunca o tinha
visto daquele jeito, nem quando enfrentou o meu pai na clínica de aborto.
— Tyler, vamos embora, por favor — apelei mais uma vez, esperando que
me ouvisse. — Estamos em uma festa e ele não vale a pena.
Pela maneira como Nicholas foi chacoalhado novamente contra a parede,
achei que Blackwolf não fosse me ouvir, mas a seguir ele o largou com brusquidão.
Nicholas caiu de quatro no chão em uma posição humilhante. Sentou-se
logo depois com dificuldade e pôs a mão na cabeça. Fiquei preocupada, pensando se
o homem ia perder a consciência ali na minha frente. Eu já conseguia imaginar a
festa sendo interrompida para uma ambulância entrar e levá-lo inconsciente para um
hospital. Contudo, Nicholas se levantou cambaleando e se firmou nas pernas.
— Desapareça da minha frente antes que eu mude de ideia e ache que vale
a pena acabar com você agora.
— Vou processá-lo por isso! — Nicholas ameaçou com um olhar de ódio.
— É o que espero que faça, assim os dois processos se cruzam em tribunal,
porque também vou processar você por assédio, ameaça e agressão à Michelle. As
mensagens que enviou para o celular dela já estão com os meus advogados. É só
esperar.
Aquela informação me surpreendeu. Eu já nem me lembrava mais das
centenas de mensagens que havia recebido quando a notícia da falência veio à tona.
Nunca mais usei o número antigo e as ameaças de Nicholas ficaram esquecidas para
mim, mas não para Blackwolf.
Foi com um olhar rancoroso que aquele homem nojento ajeitou o smoking,
passou a mão na mandíbula golpeada e na cabeça, afastando-se pelo corredor e
voltando para a festa.
Blackwolf observou-o desaparecer com o semblante severamente fechado,
os lábios contraídos e os punhos ainda cerrados, em uma postura que impressionava
pela violência controlada a custo. Quando olhou para mim, a expressão suavizou e
só vi preocupação nele.
Aproximou-se de mim, arrebatando-me junto ao peito.
— Porra, Michelle! Você está bem?
Agarrei-o com força pela cintura, precisando de apoio e encontrando no
corpo forte.
Meu Deus, como é bom estar nos braços dele!
De olhos fechados, inspirei fundo e deixei que a virilidade de Blackwolf me
envolvesse, o aroma masculino invadindo os meus pulmões e atuando como um
calmante.
— Estou bem.
— Vim assim que Melody disse que você estava conversando com um
homem chamado Nicholas. — Ele ergueu o meu rosto pelo queixo, olhando-me com
profundidade. — Você não devia ter ficado sozinha com ele.
Não havia reprimenda na voz dele, apenas preocupação.
— Estamos em uma festa na casa dos Stamford. Não achei que houvesse
perigo em conversar com ele aqui.
— Não haveria, se ele fosse um homem decente e não um filho da puta —
disse duramente, sem medir as palavras.
Agora que tudo havia acabado, a única coisa que eu queria era sair dali.
— Podemos ir embora? Quero ir para casa.
— Nós vamos, fique tranquila. Pedirei à Gary que se desculpe com Bill e
Rebecca em meu nome.
Senti-me culpada por estar tirando-o da festa sem falar com os anfitriões.
— Podemos nos despedir deles antes de sair.
Blackwolf me segurou pelo queixo e analisou o meu rosto com um olhar
crítico. Tentei aparentar tranquilidade, mas me sentia arrasada e ele notou.
— Não, vamos embora agora — decidiu com firmeza. — Amanhã falarei
com Bill e explicarei tudo. Ele e Rebecca vão entender.
Não retruquei, nem me achava em condições de dizer nada. Eu só queria a
paz e a segurança de estar em casa.
Com o braço dele envolvendo a minha cintura, deixamos a festa sem
chamar a atenção de ninguém. Blackwolf pegou o celular no bolso e ligou para
Miles, depois para Gary.
O Escalade já nos aguardava na entrada da mansão quando saímos e nunca
me senti tão bem ao me ver cercada pelos seguranças de Blackwolf. Suspirei de
alívio ao entrar no carro com ele ao meu lado.
O percurso foi feito em silêncio, com ele concentrado em enviar mensagens
pelo celular. Pelo semblante carregado, eu não duvidava que estivesse dando ordens
para alguém agir contra Nicholas. Enquanto isso, eu controlava o quanto podia as
emoções, quase à beira de uma crise de nervos depois do que havia descoberto na
festa.
Eu não estou acreditando que o meu pai me vendeu como se tivesse o
direito sobre a minha vida!
Aquilo era revoltante demais e eu me sentia enojada, ultrajada e
enraivecida.
Já no elevador do prédio, notei quando Blackwolf apertou o botão da
cobertura dele e não o do meu andar. Olhei-o interrogativamente.
— Durma comigo hoje. Você está precisando de apoio e eu estou
precisando cuidar de vocês dois. Não quero que fique sozinha no seu andar.
A minha primeira reação foi de negar, mas depois desisti. Eu tinha que
admitir para mim mesma que estava precisando da força dele e foi o que fiz. Apenas
assenti, ciente de que não queria ficar sozinha.
Mal descemos do elevador na cobertura, ele me pegou ao colo e levou para
o quarto dele. Só me colocou no chão dentro do banheiro.
— Pode usar a roupa que quiser do meu closet. Os pijamas podem ficar
grandes, mas vão servir para você dormir hoje aqui comigo. Vou aguardar no quarto.
Se precisar de qualquer coisa, me chame.
Assim que ele saiu, tirei as joias, as sandálias de salto alto e a roupa,
entrando no box para tomar um banho. Foi debaixo da água morna que a crise de
choro veio. Apesar de nunca ter tido um pai amoroso, era horrível saber que fui
praticamente vendida para um homem nojento que ia me tratar tão mal quanto ele
tratou a minha mãe.
Coloquei a mão sobre a barriga, jurando a mim mesma que se tivesse uma
filha ela jamais seria tratada como uma mercadoria para se ganhar vantagens
financeiras. Mesmo com todos os defeitos que Blackwolf tinha, algo me dizia que
ele jamais faria aquilo.
Terminei o banho, vesti um roupão e sequei o cabelo o melhor que pude.
Quando saí do banheiro, Blackwolf desligou o celular e se aproximou, o olhar atento
no meu rosto.
— Venha, Michelle. Vou lhe mostrar onde estão os pijamas. Escolha o que
quiser.
Ele me deixou sozinha no closet e vesti o primeiro que encontrei. Era
enorme, mas ajustei tudo para caber em mim e voltei para o quarto, ansiosa para me
deitar.
Todas as luzes estavam apagadas, exceto a luminária da cabeceira dele.
— Boa escolha — ele aprovou o pijama. — Pode se deitar. Vou tomar um
banho.
Ele foi para o banheiro e me deitei, esperando adormecer logo, mas ainda
estava acordada quando Blackwolf voltou usando um pijama azul claro que me
deixou boquiaberta. Eu estava acostumada a vê-lo sempre de terno e gravata ou
usando camisas sociais de mangas compridas. Aquela era a primeira vez que o via
de mangas curtas, que deixavam os braços musculosos à mostra.
Meu Deus, que braços são esses?!
Agradeci aos céus pela luz estar apagada e pela claridade muito difusa do
quarto não alcançar totalmente o meu lado da cama, ou ficaria envergonhada caso
ele me visse devorando-o com os olhos. O tecido leve da calça do pijama pouco
escondia do volume por baixo da cueca e das coxas grossas. Subindo o olhar,
deparei-me com um abdômen bem definido sob a blusa fina do pijama, um tórax
avantajado e aqueles bíceps desenvolvidos que deviam hipnotizar as mulheres e
causar inveja aos homens.
Completamente em choque com aquela beleza masculina tão crua, fechei os
olhos rapidamente quando ele veio para a cama e se deitou ao meu lado. Blackwolf
não percebeu que eu ainda estava acordada e abri os olhos levemente, observando-o
na penumbra.
Deitado de costas, ele olhava para o teto com a expressão endurecida. O
perfil másculo estava com uma aparência mais temível ainda devido às sombras do
quarto, mas aquilo não me assustou como antes. Hoje eu conseguia ver a beleza rude
daquele homem, onde antes só via frieza e maldade. Apesar de ser o Lobo Negro de
Wall Street, ele era um homem que tinha uma honra própria, que era respeitado pela
sua inteligência e sagacidade, que despertava a admiração de todos.
Mesmo sendo durão, implacável e impiedoso na hora de manipular o
mercado financeiro a seu favor, hoje eu sabia dos motivos pessoais que o fizeram ser
assim.
Ao meu lado, estava um homem gerado através de uma inseminação
artificial e nascido de uma barriga de aluguel, cuja mãe nunca conheceu e que foi
educado por um pai vingativo que incutiu no filho o mesmo desejo de vingança.
Blackwolf foi criado por uma governanta bondosa, mas eu notava que não havia da
parte dele um vínculo verdadeiro com Ruth. Ele gostava dela, mas não a amava
como uma mãe substituta. Também não tinha irmãos, apenas Gary, um primo com
quem não conviveu na mesma casa, mas com quem tinha alguma proximidade.
Eu me questionava se ele saberia o que era o amor.
Provave lmente, não.
Capítulo 35

Michelle
A cho que suspirei profundamente sem nem perceber, porque Blackwolf
virou imediatamente o rosto para o meu lado, pegando-me de olhos abertos.
— Você está acordada.
— Não estou conseguindo dormir.
— Não deixe que aquele covarde tire o seu sono. — A voz soou tão séria
quanto a fisionomia carregada que eu conseguia enxergar na penumbra do quarto.
— Não é ele, mas o meu pai. Eu não esperava que tivesse praticamente me
vendido para Nicholas em troca de dinheiro.
Blackwolf se virou de frente para mim na cama, em uma posição que nos
deixava mais próximos, mas que também tirava do rosto forte a pouca claridade que
o iluminava. Deixei de ver as expressões dele, mas ter o corpo enorme tão perto me
deixou afogueada.
— O que Nicholas lhe disse?
Foi difícil me concentrar na conversa. Na primeira vez em que dormimos
juntos, eu estava realmente adormecida o tempo inteiro e me acordei com a sensação
de que nem havia dividido a cama com ele. Se o próprio Blackwolf não tivesse me
dito, eu até acharia que ele ocupou outro quarto e me deixou sozinha no dele.
Contudo, agora, a consciência de que estávamos juntos no espaço restrito de uma
cama era gritante demais para mim. Mesmo sendo uma cama de casal enorme, a
intimidade era palpável.
— Ele disse que injetou capital no banco em troca de se casar comigo,
firmando um acordo com o meu pai. Como tentou falar comigo várias vezes e não
conseguiu, deduziu que fugi junto com ele e ficou surpreso quando me viu entrar na
festa com você.
— Vocês chegaram a ficar noivos ?
— Não, nunca! — neguei, horrorizada com aquela possibilidade. — O meu
pai vinha tentando há anos que eu aceitasse a aproximação de Nicholas, dizendo que
ele estava interessado em mim e que aquele seria um excelente casamento, mas
nunca permiti que sequer chegasse perto. Nicholas passou a ser presença constante
em casa, tanto nos jantares que o meu pai promovia para os amigos, quanto nos
jogos de tênis, nas festas e comemorações da família. Em tudo ele era inserido sem
que eu pudesse fazer nada. Sempre me mantive distante e a minha mãe nunca saía
do meu lado nessas ocasiões, com Andrew mantendo-se atento a tudo. Nós três
éramos contra, mas o meu pai era muito... autoritário e controlador.
Preferi não dizer que ele batia em todo mundo se não fizéssemos o que
queria. Tivemos uma vida familiar terrível, sofrendo com as imposições arbitrárias e
a violência do poderoso Colin Barton. Andrew foi o que teve mais sorte, pois foi
estudar fora e só voltou quando terminou a faculdade. Já eu, fiquei sozinha com a
minha mãe e aqueles foram os anos mais sombrios da minha vida.
Surpreendi-me quando a mão de Blackwolf acariciou o meu rosto com uma
suavidade que não se esperaria de um homem tão forte e que havia socado outro
violentamente há pouco mais de uma hora.
Fiquei sem conseguir reagir e evitei admirar abertamente o corpo de
músculos tão bem definidos, mas encontrei coragem para encarar diretamente o
olhar profundo, mesmo conseguindo ver tão pouco dele.
— Você disse para ele que eu era sua mulher.
— Disse — confirmou com a voz grave.
— Mas não sou.
O polegar roçou a minha face e o meu coração disparou.
— Não, não é.
Uma parte de mim queria que Blackwolf afirmasse o contrário e a desilusão
foi grande.
— Então, por que disse?
Ele não respondeu, mas o braço ficou rígido de tensão. Os músculos
pareceram aumentar de tamanho diante de tanta contenção e senti a turbulência
sombria que o dominava.
O peito amplo se expandiu quando ele inspirou profundamente por vezes
seguidas, como se estivesse controlando-se a custo. Aquilo era meio assustador
vindo de um homem que aparentava sempre tanta frieza e me lembrei do ódio que
Blackwolf nutriu a vida inteira pelo meu pai.
E eu sou a filha dele!
A tristeza me dominou, mas também a certeza de não querer me envolver
com um homem dividido entre o amor e a vingança.
Amor? Ele nem sabe o que é isso!
— Se o ódio que você sente pelo meu pai é maior do que qualquer
sentimento que tenha por mim, não vá em frente.
A mão grande deslizou pelos meus cabelos, segurando-os na altura da nuca
com uma pegada que achei demasiado possessiva e que me fez ofegar.
— Foda-se o seu pai! — rosnou com uma voz gutural que parecia vir de um
lugar escuro dentro dele. — Porra! O que sinto por você é mais forte!
A pressão nos meus cabelos aumentou e nem tive tempo de respirar antes
que a boca dominadora se apossasse dos meus lábios em um beijo carnal. Ele
suspendeu o corpo sobre o meu e me senti deliciosamente pressionada contra a
cama.
Nem hesitei em abraçar os ombros largos, deslizando as mãos ao longo dos
braços musculosos que tanto admirei antes, até o envolver de vez pelo pescoço. No
instante seguinte, ele pressionou a virilha no meu quadril e arquejei ao sentir o
membro volumoso tocando-me de uma maneira tão íntima. Diferentemente do que
havia acontecido no primeiro beijo durante o jantar no terraço, agora estávamos
deitados em uma cama, o que tornava o contato físico muito mais erótico. As roupas
de dormir também eram mais leves e permitiam uma aproximação genital que era
inédita para mim.
Uma mistura de excitação e receio me dominou ao ter tamanha intimidade
com ele. Totalmente seduzida, abri a boca e deixei que a língua exigente me
invadisse, sentindo-me devorada, tamanha foi a paixão com que fui beijada.
Há dias que eu sonhava com aquele beijo e gemi de prazer, afundando os
dedos nos cabelos pretos e lisos, sentindo a maciez dos fios levemente úmidos do
banho. O cheiro daquele homem, a paixão mal controlada, a masculinidade gritante,
tudo, absolutamente tudo, excitava-me, molhava-me, derretia-me.
Eu já não tinha dúvida alguma de que estava apaixonada. Aquela certeza foi
suficiente para me fazer tomar a decisão de me entregar a ele, de ter a minha
primeira vez com o homem que eu desejava, que eu queria, por quem estava
perdidamente apaixonada.
Decidida, acariciei as costas largas e separei as pernas, deixando-o se
encaixar entre elas. A nova posição arrancou um grunhido de prazer da garganta
dele e um gemido da minha.
— Oh, Tyler!
Mãos exigentes me seguraram com força pelo cabelo, imobilizando a
minha cabeça.
— Diz o meu nome de novo! — rosnou no meu ouvido, a barba roçando a
área sensível do meu pescoço e estimulando os meus sentidos.
Não precisei de esforço algum para gemer novamente o nome dele.
— Tyler!
— Porra, Michelle!
Daquele momento em diante não houve mais resistência alguma da minha
parte em chamá-lo pelo nome. Esqueci-me completamente do sobrenome
Blackwolf, que eu associava ao homem de quem deveria me manter afastada para
não sofrer. Blackwolf me rejeitaria, mas o Tyler, não.
Toda a minha resistência foi quebrada, desfazendo-se sob as mãos
experientes que me excitaram além do que jamais imaginei. Perdi a noção de tudo
quando ele envolveu um dos meus seios por baixo da blusa do pijama, estimulando
o mamilo e levando-me ao céu.
— Quis muito fazer isso — ele admitiu roucamente, erguendo a blusa e
tomando o mamilo com a boca. — E isso.
Fechei os olhos e arquejei de puro prazer. Era bom, muito bom! Eu nunca
havia tido uma experiência daquelas na minha vida e estava extasiada com a
sensação.
Arqueei o corpo a cada nova sugada que a boca sedenta imprimia no
mamilo já sensível, os pelos da barba ajudando a aumentar o meu prazer. A
excitação contraiu o meu sexo molhado, que era estimulado pelo membro
endurecido que ele pressionava contra mim.
Com um gesto decidido, Tyler abriu a gaveta da mesa de cabeceira e tirou
um preservativo, que jogou sobre o travesseiro. Ajoelhou-se depois na cama e me
ajudou a tirar a blusa do pijama. Soltei um arquejo apreensivo assim que fiquei
deitada com os seios totalmente expostos diante daquele homem enorme ajoelhado
entre as minhas pernas. Tyler era impressionante em tamanho e ficou ainda mais
quando despiu a blusa do pijama que usava, ficando de peito nu à minha frente.
Oh, Senhor!
Nunca me senti tão pequena, frágil e indefesa quanto naquele momento. O
homem era uma máquina! Parecia feito à mão de tão perfeito!
Enquanto eu estava chocada com tudo aquilo à distância de um toque, ele
se ocupava em me despir da calça do pijama e da calcinha. Nem tive tempo de sentir
vergonha com a minha nudez. Logo a seguir, Tyler tirou o restante do pijama dele,
junto com a cueca.
Paralisei e engoli em seco ao vê-lo completamente nu. Engoli tão duro
quanto o membro ereto que surgiu diante dos meus olhos surpresos.
Ofeguei nervosamente.
— Tyler eu... eu...
— Não se assuste comigo, Michelle — tranquilizou-me ao notar o meu
receio. — Não vou machucar você. Apenas relaxe.
Voltou a se deitar ao meu lado, abraçando-me. Ao primeiro contato dos
nossos corpos nus, ofeguei mais ainda, cruzando o olhar com o dele, que refletia um
desejo animal que me assustou e excitou ao mesmo tempo.
Foi com aqueles dois sentimentos misturando-se dentro de mim que fechei
os olhos ao ser novamente beijada com paixão. Nossas pernas se enroscaram umas
nas outras e fui dominada na cama pelo tamanho superior dele. Contudo, fui também
aconchegada, acarinhada, protegida.
Uma das mãos se insinuou entre as minhas pernas, estimulando-me com o
dedo, enquanto a boca se ocupava com os meus seios. Eu já estava molhada há
muito tempo, mas fiquei ainda mais com o vaivém experiente com que ele
manipulou o meu clitóris e com a paixão com que sugava o meu mamilo.
Ardi sob os dedos e a boca dele. Queimei, vi estrelas.
Eu mesma me abri mais para Tyler em busca de um prazer maior, sentindo
o dedo grosso ir invadindo aos poucos o meu interior. Ergui o quadril, sentindo um
prazer enorme com aquele atrito gostoso, mas que nem se comparou ao que veio
depois.
Sem que eu esperasse, ele já estava com a boca no meu clitóris, a língua me
levando à loucura.
— Meu Deus, Tyler! — exclamei em meio ao silêncio do quarto.
Ele era uma mistura bombástica de rudeza com gentileza. Ora me beijava,
ora me mordia. Chupava com força, depois acariciava. Nada escapou da sua boca,
língua e dentes.
Por Deus, ele está literalmente me comendo gostoso e eu est ou adorando!
Segurando com força os ombros largos, abri mais as pernas, oferecendo-me
para ele despudoradamente. Eu queria mais, muito mais. Queria tudo dele, queria ser
realmente a mulher dele.
Nunca pensei que fosse me sentir daquele jeito, mas era o efeito que aquele
homem complexo tinha sobre mim.
Quando Tyler se deitou sobre o meu corpo, soube instintivamente que ele ia
me possuir e aguardei o momento com ansiedade, pois já estava quase implorando
pela satisfação total. Achei que ele fosse me penetrar naquele mesmo instante, mas
Tyler ficou parado respirando ruidosamente, uma das mãos segurando-me
firmemente pelos cabelos com aquela pegada que me imobilizava.
Arqueei o meu corpo em busca do dele, fazendo com que o membro ereto
ficasse mesmo na minha entrada molhada. Movimentei-me contra ele, sentindo o
calor, a dureza, a rigidez deliciosa.
— Oh, Tyler, como é gostoso!
Ele estremeceu e soltou um grunhido rouco que era de prazer puro, rude,
cru. A outra mão segurou com força uma de minhas coxas e fui beijada com uma
certa ferocidade, mas que na hora só aumentou o meu desejo. Agarrei-o com a
mesma força pelo cabelo, intensificando o beijo.
Foi daquela maneira que fui possuída logo depois, o membro endurecido
abrindo caminho aos poucos dentro de mim. No começo doeu e pensei se
conseguiria mesmo receber aquilo tudo, mas a dor foi suportável e se perdeu depois
no meio de tanto prazer.
Eu não fazia a mínima ideia se toda virgem sentia o mesmo na hora de ser
possuída, mas estar totalmente preenchida por Tyler foi a melhor experiência da
minha vida.
Ficamos fortemente abraçados um ao outro durante o instante seguinte à
penetração. Fui agarrada com mais força, com muito mais possessividade, até que
ele começou a fazer os movimentos que me incendiaram de vez. Nossos corpos se
chocaram sobre a cama com um vigor cada vez maior. O ritmo foi crescendo na
mesma velocidade que o prazer alcançava níveis absurdos dentro de mim.
Agarrei-me nele e fui igualmente agarrada. Sem que eu esperasse, o meu
orgasmo veio poderoso, intenso e profundo como o próprio Tyler era.
Eu gemi, arquejando nos braços dele. Tyler rosnou, ofegando enquanto me
possuía. Os sons que escaparam da garganta dele ao gozar me impressionou pela
intensidade. Nunca pensei que um dia fosse ver o impassível Tyler Blackwolf sem
controle algum, tão arrebatado pela paixão e aparentemente tão vulnerável nos meus
braços quando o orgasmo veio.
Mesmo depois que o desejo já havia sido saciado, ele não me largou.
Apenas saiu de cima de mim e se deitou ao lado, levando-me junto e beijando-me na
boca. Foi um beijo duro, que provavelmente me deixaria com os lábios inchados
diante de tamanha paixão, mas também foi intenso e quente, muito quente.
Colados um ao outro, permanecemos fortemente abraçados depois.
Meu Deus, onde está o homem frio, insensível e distante?
Eu tentava encontrar naquele homem apaixonado o Blackwolf que conheci,
mas não conseguia. A mudança era radical, só que para melhor.
— Você está bem, Michelle? E o nosso filho?
A voz dele estava firme como sempre, mas notei a preocupação e não
consegui conter um sorriso de felicidade.
— Estamos bem, não se preocupe.
Ele acariciou a minha barriga.
— Perdi o controle e posso ter sido muito duro com você.
Fiquei chocada que ele admitisse ter perdido o controle. Afinal, quando foi
que o Lobo Negro de Wall Street perdeu o frio controle dele antes daquela noite? Eu
suspeitava que raramente, ou nunca.
Nem quero me iludir demais achando que ele realmente g osta de mim!
Ainda assim, o meu coração traiçoeiro disparou no peito diante daquela
possibilidade.
— Estou bem — reafirmei. — Quantas mulheres fazem amor estando
grávidas e não têm nada? Se sangrar alguma coisa, não será do nosso filho, mas
posso conversar com a doutora Jane amanhã.
Tyler ficou em silêncio por tanto tempo que ergui o rosto para o olhar. As
sombras do quarto escondiam muito do semblante dele, mas deu para ver que estava
demasiado sério.
Pensei se havia falado algo de errado e cheguei à conclusão de que o termo
“fazer amor” não fazia parte do vocabulário de um homem como ele, que tinha dito
dias atrás que não estava excitado o suficiente para me foder. O que havia acabado
de acontecer entre nós dois podia ter significado para ele apenas uma boa foda. Em
momento algum Tyler se declarou apaixonado por mim, apenas se excitou o
suficiente para ir até o fim.
É triste, mas provavelmente essa é a verdade. Uma d ura verdade.
Suspirei, conformada. Fechei os olhos e encostei a cabeça do peito dele,
dizendo a mim mesma que ia aproveitar o momento enquanto durasse. Eu estava
apaixonada e a minha primeira vez havia sido exatamente como sempre sonhei. Eu
me sentia feliz e o futuro a Deus pertencia.
— Se sentir alguma coisa me avise — ele pediu com preocupação na voz.
— Aviso, sim.
Recebi um beijo na testa e fui aconchegada melhor nos braços dele. Beijei o
peito forte que me servia de travesseiro e voltei a fechar os olhos, sorrindo.
A minha primeira vez havia sido realmente maravilhosa.
Capítulo 36
Tyler
F azer amor.
Eu nem sabia o que era amar uma mulher, quanto mais fazer amor com ela.
Eu fodia, sentia prazer, gozava, mas não amava. Amei o meu pai e só, a mais
ninguém.
Apesar das minhas certezas, sentia que precisava analisar tudo o que havia
acontecido naquela noite para entender melhor o que se passava comigo.
Observei Michelle adormecida sobre o meu peito, depois de proporcionar a
experiência sexual mais profunda da minha existência. Em poucas horas e por causa
dela, quebrei todas as convicções de uma vida inteira e senti emoções
descontroladas que raramente tinha. Fui dominado pelo ciúme, pela possessividade,
pelo desejo de matar Nicholas se ousasse tocar nela, pela paixão desenfreada de
possuí-la, por um sentimento absurdo que eu me negava a chamar de amor, mas que
me fez ansiar por uma penetração sem preservativo algum.
E foi o que fiz, porra! E foi bom pra caralho!
Apesar de a doutora Jane ter confirmado que Michelle era uma mulher
saudável, achei que não chegaria àquele ponto. Nunca deixei de usar o preservativo,
não só por causa das infecções sexualmente transmissíveis, mas também pelo risco
de engravidar uma mulher. Ter um filho era algo muito importante para mim, um
assunto que eu levava muito a sério. O meu pai me ensinou desde cedo que foder só
com proteção e não vi necessidade alguma durante a minha vida de fazer o
contrário.
Isso até conhecer Michelle, uma virgem que engravidou do meu filho por
engano. Uma mulher cheia de virtudes que me detestou logo de cara, que me
enfrentou, desafiou e acabou por conquistar.
Se eu fosse acreditar em tudo o que Gary me disse na festa, estaria agora
convencido de que realmente havia me apaixonado por ela. A minha mente se
negava a aceitar que eu estava amando tão obsessivamente a filha do homem que
tanto odiava. Mesmo sabendo que Michelle era inocente, por que tinha de ser logo
ela?
Eu não era homem de viver dramas, algo para o qual não tinha paciência,
muito menos tempo a perder. Normalmente, resolvia tudo de maneira bastante
racional. Era estranho demais que agora estivesse dramatizando o que sentia por
Michelle.
Decidi não pensar demais no assunto. Talvez esse estivesse sendo o meu
erro. Por agora, importava apenas que ela era a mulher que eu queria e que tinha.

Acordei na manhã seguinte bem mais tarde do que o normal. O sol já estava
alto no céu quando abri os olhos, iluminando o quarto através da cortina aberta em
uma das paredes de vidro que davam para o Central Park.
Deitada de lado, Michelle dormia à minha frente, as costas coladas no meu
peito e as nádegas macias contra a minha virilha. A minha perna estava enroscada
nas pernas esguias dela e os cabelos louros próximos do meu rosto exalavam um
perfume suave.
Para quem nunca havia dormido a noite inteira com uma mulher depois da
foda, acordar agarrado em uma era uma experiência estranha, mas deliciosa. Sequer
a toquei na outra única vez em que dormimos juntos e agora me surpreendia com o
prazer de despertar acompanhado.
Ergui o corpo sobre o braço e observei o rosto adormecido dela. Os lábios
entreabertos e as feições completamente relaxadas mostravam o quanto ainda estava
adormecida. Desci o olhar pelo corpo nu de pele acetinada, que pouco pude ver na
noite anterior com a escassa luz do quarto. Mesmo magra, Michelle tinha as curvas
nos lugares certos e era sensual do jeito dela.
O meu olhar parou na barriga de dois meses, que praticamente nada
mostrava da gravidez. Contudo, era ali que estava o meu filho e contive a vontade de
a acariciar, com receio de acordar Michelle.
Na noite anterior, dominado pela paixão, não me lembrei que poderia
prejudicar o meu filho com o ímpeto da posse, mas Michelle estava certa quando
disse que mulheres grávidas tinham vida sexual normal.
Afastei-me com cuidado, mas na hora de tirar a perna de cima das dela,
Michelle se remexeu e abriu os olhos sonolentos. Virou-se para trás e me viu,
arregalando os olhos. O rosto adquiriu um tom rosado quando enrubesceu ao se
lembrar do que havia acontecido e acompanhei com prazer aquelas emoções se
sucederem.
— Bom dia, Michelle.
Ela segurou o lençol e se cobriu como pôde.
— Bom dia, Tyler.
Ouvi-la usando o meu nome satisfez uma necessidade de posse que ainda
me surpreendia pela intensidade.
— Como se sente agora pela manhã?
Ela se remexeu na cama, como se testasse o próprio corpo.
— Estou bem. Não sinto nada.
— Nem os enjoos?
— Melhoraram bastante ultimamente. — Olhou-me com curiosidade. —
Estava indo trabalhar?
— Perdi a hora hoje e só vou à tarde. Ia nadar na piscina. Quer vir comigo?
Ela sorriu e inspirei fundo quando os olhos azuis brilharam com a
expectativa de usar a piscina.
— Quero, sim. Só não tenho biquíni aqui.
— Use sua lingerie, ninguém vai ver. Acompanho você usando uma cueca.
Ela soltou uma risada que encheu o quarto de alegria e o meu coração
também. Eu gostava de vê-la rindo.
— Sinta-se orgulhosa por eu usar uma cueca. Normalmente, nado sempre
nu, mas desta vez resolvi ser solidário com você. — Levantei-me, oferecendo a mão
para ela. — Vamos?
Michelle ficou ainda mais vermelha ao me ver nu diante dela. O olhar
percorreu o meu corpo com rapidez e baixou, mas foi o suficiente para uma centelha
de prazer fazer o meu desejo despertar.
Ela vestiu a blusa do pijama e pegou a calcinha que estava jogada ao lado
do travesseiro, para só então segurar a minha mão e se levantar. Assim que ficou de
pé ao meu lado, vi a mancha de sangue no lençol branco onde ela esteve deitada.
Fiquei imediatamente preocupado.
— Tem certeza de que está bem?
— Sim, tenho.
Quando me viu olhando para a cama, olhou também e as faces ficaram mais
rosadas do que já estavam. Rápida, puxou o lençol e cobriu a mancha.
— Pronto, resolvido. — Olhou-me novamente. — Já disse que me sinto
bem.
Peguei-a ao colo e levei para o banheiro.
— De qualquer maneira, converse depois com a médica. — Coloquei-a no
chão. — Agora vista a calcinha e o sutiã para irmos nadar. Pegue um roupão
também e leve o tempo que precisar para ficar pronta.
Deixei-a sozinha e voltei para o quarto. Minutos depois, já vestido com
uma cueca e o roupão por cima, liguei para Ruth.
— Sirva o café da manhã no terraço, mas longe da piscina. Vou estar lá
com Michelle.
— Farei isso. — Ela não demonstrou na voz nenhuma surpresa por
Michelle estar comigo.
— Traga ao meu quarto algumas roupas para ela vestir e lingerie também.
Depois providencie que tudo dela seja trazido para cá. Michelle vai dividir a
cobertura comigo.
— Foi a melhor decisão. Ela ficava muito sozinha ali e é sempre bom para
uma grávida estar mais tempo acompanhada.
— Coloque o material de pintura no quarto ao lado. Ela depois decidirá
onde pretende pintar.
Desliguei e fui abrir as portas de vidro que davam para a varanda.
Estávamos no auge do verão e a temperatura era a ideal para usarmos a piscina
exterior.
Michelle apareceu ao meu lado usando o roupão e sorriu ao sentir o sol no
rosto.
— O dia está lindo!
— É melhor irmos logo. À tarde preciso trabalhar.
Segurei-a pela mão e saímos do quarto.
Assim que chegamos à piscina, tirei o roupão e aguardei que ela fizesse o
mesmo. Michelle tirou o dela e pude ver o corpo esbelto de frente e por inteiro pela
primeira vez, sem lençóis, sem blusas ou escuridão escondendo nada. O conjunto de
lingerie era de renda preta com detalhes prateados e o sutiã deixava à mostra parte
dos mamilos, ressaltando o arredondado sensual dos seios.
Sem roupa se notava muito mais que ela era uma falsa magra. As curvas
que eu via na minha frente eram sensuais e me atraíam muito.
Michelle lançou aquele olhar rápido e fugidio pelo meu peito, que me
atiçava mais do que eu gostaria de admitir. Só esperava que ela estivesse sentindo
pelo meu corpo a mesma forte atração que eu estava sentindo pelo dela. Eu não
chegava nem perto de ter o tipo físico do pai perfeito que ela havia colocado na ficha
da Fertile Future.
— Sabe nadar?
— Sei.
— Ainda assim tenha cuidado. — Fiz um gesto para a piscina. — As damas
primeiro.
Ela entrou na minha frente usando os degraus, deixando-me ver as nádegas
deliciosas na calcinha exígua, quase um fio dental. Mergulhou depois suavemente,
nadando com lentidão para longe da borda. Só mergulhei de cabeça quando ela já
havia alcançado uma distância segura. Nadei com vigor até o extremo da piscina,
depois voltei e repeti o percurso algumas vezes, fazendo pelo menos uma parte do
meu treino diário. Aquele era um hábito saudável que eu procurava manter a todo
custo, mesmo que estivesse sobrecarregado de reuniões de negócios. Ajudava a
relaxar, tirando a tensão do meu dia a dia.
Decidi não concluir o treino completo por ser muito longo e eu queria
aproveitar o tempo com Michelle na água. Encontrei-me com ela nas escadas, onde
estava sentada me observando.
— Eu já teria morrido se tivesse nadado tudo isso. Devo ser muito
preguiçosa — comentou com divertimento quando me aproximei.
Segurei-a pela cintura e atraí para mim. O corpo macio se grudou ao meu
por baixo da água.
— É um treino puxado que faço todos os dias. Acho que seria demais para
você. — Mirei aqueles olhos azuis que pareciam mais límpidos sob o sol, perplexo
comigo mesmo por estar tão envolvido com ela. — Continua se sentindo bem
mesmo depois de nadar?
Ela me abraçou pelo pescoço e deitou a cabeça no meu ombro, deixando-
me levá-la para o meio da piscina.
— Muito bem, não se preocupe — sussurrou próximo ao meu ouvido.
Recebi um beijo no pescoço como se fosse para me tranquilizar, sem
nenhum significado erótico, e aquele carinho espontâneo me tocou mais do que
pensei. Muitas mulheres já passaram pelos meus braços, mas os gestos que elas
faziam pareciam ser sempre calculados, feitos para me excitar, para manter aceso o
meu desejo e o interesse nelas. Não havia aquela naturalidade de Michelle em
demonstrar um carinho sem pretensão alguma que não fosse acalmar a minha
preocupação com ela e com o meu filho.
Fiz com que envolvesse a minha cintura com as pernas e segurei-a pelos
cabelos. Nossos olhares se cruzaram segundos antes que eu a beijasse, sugando os
lábios carnudos e invadindo a boca macia com a língua.
Ela soltou um gemido de prazer, correspondendo com a mesma paixão. As
mãos acariciaram os meus cabelos de um jeito tão amoroso que a emoção explodiu
no meu peito.
Porra!
Neguei-me a analisar o que era aquilo que estava sentindo por Michelle e
que crescia mais a cada dia desde que a conheci. Se ela não tivesse perdido a
virgindade na noite anterior e eu não estivesse tão decidido a dar um tempo para que
se recuperasse, foderia com ela novamente naquele exato instante, só para provar a
mim mesmo que tudo não passava de sexo, de prazer, de desejo carnal.
Não podia ser nada além daquilo. Nada mais!
Interrompi o beijo, ignorando o meu pau que já endurecia, as reações do
meu corpo e qualquer outro sentimento.
— É melhor irmos tomar o café da manhã. Pedi que servissem aqui no
terraço.
Ela sorriu, sem sequer imaginar o que acontecia dentro de mim.
— Confesso que estou com fome, o que até me surpreende. Quase todos os
dias, Ruth se esforça muito para que eu coma algo de manhã.
Voltei a beijá-la. Uma, duas, três vezes seguidas. Depois, nadei com ela até
a borda, ajudando-a a sair da piscina.
— Enxugue-se antes de vestir o roupão para não ficar muito molhada.
Michelle pegou uma das toalhas e começou a secar os cabelos. Fiz o
mesmo e só depois fomos de roupão até a mesa posta com o café da manhã.
Observei que ela realmente se alimentou bem enquanto conversávamos. Ri
várias vezes com as coisas que me dizia, algumas delas para me provocar
descaradamente.
— Deixou de me achar um homem tenebroso depois de ontem à noite?
Ela ficou calada por alguns instantes, mastigando pensativamente, mas
havia um brilho risonho nos olhos.
— Ainda acho meio assustador, mas só quando está nu.
Soltei uma risada mal ela terminou de falar, realmente admirado com a
presença de espírito daquela mulher. Sem dúvida alguma, Michelle me conquistava
mais a cada dia.
“ Amamos a mulher que acelera os nossos batimentos cardíacos, que toma
conta do nosso pensamento quando não está do nosso lado, que nos faz rir até de
bobagens, a quem queremos proteger de tudo e que nos faz querer matar quem a
magoar. Fora isso, ela tem o poder de nos excitar com um único olhar e nos dá
orgasmos incríveis na cama que nenhuma outra consegue. I sso é amor!”
Bebi mais um gole de suco, que engoli com certa dificuldade.
Não po de ser amor!
Capítulo 37
Tyler
F osse ou não fosse amor, a verdade é que trabalhei a tarde inteira pensando
em Michelle e cheguei em casa bem mais cedo do que o normal, cansado de fingir
para mim mesmo que não estava ansioso para vê-la.
Percorri a cobertura à procura dela sem a encontrar em nenhum dos
cômodos. Pensei que talvez estivesse no andar de baixo, pintando, mas todo o
material de pintura continuava no quarto ao lado do meu.
Peguei o telefone na mesa de cabeceira e liguei para Ruth.
— Onde está Michelle?
— Ela saiu no início da tarde com Melody e ainda não voltou.
— E por que não me avisaram? — perguntei, tentando controlar a súbita
irritação.
— Eu não sabia que era para avisar quando ela saísse, Tyler. As suas
ordens foram para avisar quando Michelle recebesse visitas em casa.
Trinquei os dentes e consultei o relógio. Eram seis horas da tarde.
— Sabe para onde elas foram?
— Não me disseram e também não perguntei. Ia parecer que estava
controlando os passos dela.
Nunca fui controlador com nenhuma das mulheres com quem fiquei, muito
menos pedi a alguém que as controlasse para mim. Pouco me importava para onde
iam ou com quem estavam, já que não havia nenhum compromisso da minha parte
com elas.
Perceber que estava agindo diferente com relação à Michelle serviu como
um freio para mim.
— Fez bem em não perguntar, Ruth. Vou ligar para ela.
Contudo, antes fiz uma ligação para Miles.
— Ted está com Michelle?
Eu seria capaz de socá-lo se ele dissesse que não sabia que Michelle estava
fora de casa com Melody.
— Está, sim. Ele me avisou que ia acompanhá-la em um passeio com a
senhora Mitchell.
— Da próxima vez quero ser avisado imediatamente quando ela sair de
casa. Basta me enviar uma mensagem.
— Farei isso, senhor.
Desliguei, caminhando pelo quarto com o celular na mão, irritado com a
minha reação à ausência dela em casa. Só quando já me sentia mais controlado foi
que liguei para Michelle.
— Oi, Tyler! Estou surpresa de você me ligar no meio do expediente.
— Cheguei mais cedo em casa e estranhei não encontrar você.
Ela riu, feliz.
— Melody ligou me convidando para conhecer a clínica do seu primo.
Estou na Plan Life.
Senti o peito descomprimir da tensão.
— E gostou da clínica?
— Muito! Não tem a grandiosidade da Fertile Future, mas é excelente em
tudo o que vi. Foi uma pena não ter vindo aqui antes de ir lá.
— Gary é um excelente profissional e a Plan Life ainda vai crescer muito.
— Eu não queria pressionar Michelle a voltar, mas acabei fazendo. — Você tem
ideia de que horas vem para casa?
— Ainda não, mas aviso assim que sairmos daqui. Ted está comigo. —
Tranquilizou-me, como se achasse que eu estava preocupado apenas com o meu
filho e não ansioso para tê-la novamente nos braços.
Comprimi os lábios, travando a vontade de dizer exatamente aquilo. Que a
queria de novo, que desejava entrar nela outra vez, que ansiava por aquele orgasmo
incrível do qual Gary falou e que parecia que só ela me dava.
Droga!
— Consegue chegar a tempo do jantar?
— Melody não falou nada de jantarmos juntas, por isso acho que sim.
“Acho que sim” não era a resposta que eu queria e me surpreendi com a
necessidade que senti de exigir que viesse.
Mas que merda é essa que está acontec endo comigo?
Profundamente irritado com o que estava sentindo, esfriei logo a voz.
— Me avise a tempo.
— Aviso, sim.
Desliguei, jogando o celular sobre a cama e afrouxando a gravata do
colarinho, determinado a não permitir que Michelle interferisse tanto assim na
minha vida.

Ela veio jantar em casa e chegou esbanjando felicidade. Estava linda com
uma calça jeans colada ao corpo esbelto e uma blusinha fina que destacava ainda
mais o tamanho dos seios que eu agora conhecia intimamente. Calçava sapatos
baixos confortáveis e tinha o longo cabelo louro preso em um rabo de cavalo.
Vestida daquele jeito casual e com os cabelos presos, ela parecia muito
mais uma garota de vinte anos do que uma mulher de vinte e sete. Tanta jovialidade
e alegria me fez sentir mais velho do que os meus trinta e cinco anos. Um lobo velho
e sisudo demais, que a desejava de uma maneira visceral.
— Cheguei a tempo! — comentou sorridente e esbaforida ao entrar no
quarto, onde eu havia decidido trabalhar no notebook até o horário do jantar. —
Demorei, porque Melody me convidou para conhecer a casa onde eles moram. É
simplesmente linda, com jardins maravilhosos, aconchegante e bem familiar.
Michelle largou a bolsa sobre a poltrona com os olhos brilhando ao falar
com entusiasmo da casa de Gary. Eu a conhecia e não achava que merecia tantos
elogios, apesar de reconhecer que era uma moradia bastante familiar.
— Melody me disse que a comprou pensando nos filhos que estão
programando ter daqui a uns dois anos, quando a clínica estiver mais estabelecida.
Aquela era a casa que eu teria comprado para morar com o meu filho, onde criaria
um foxhound 22 para correr com ele pelo gramado.
Quando ela percebeu que eu continuava sentado em silêncio, tendo o
notebook e vários papéis espalhados à minha frente, fez uma careta engraçada que a
deixou mais tentadora ainda.
— Desculpe, interrompi o seu trabalho com a minha tagarelice. Vou tomar
um banho e estarei pronta em poucos minutos.
Larguei a caneta sobre o papel onde fazia anotações e me levantei,
aproximando-me dela. A tensão que controlei desde que cheguei em casa e não a
encontrei voltou com força total e me vi incapaz de a controlar novamente.
Foi sem emitir uma única palavra nem esboçar nenhuma emoção no rosto,
que segurei Michelle pelo rabo de cavalo e a atraí pela cintura, devorando aqueles
lábios carnudos com uma ânsia que surpreendeu até a mim mesmo. Eu sentia fome
dela, uma fome insaciável que precisava ser satisfeita naquele exato instante.
Pressionei-a contra o meu corpo, praticamente tirando-a do chão. Eu queria
senti-la por inteiro, totalmente nua, totalmente minha outra vez.
Michelle correspondeu com o mesmo fervor, abraçando-me com força pelo
pescoço, as mãos macias afundando-se nos meus cabelos.
— Oh, Tyler — gemeu na minha boca. — Passei a tarde inteira pensando
nisso, pensando em você!
Porra!
Arranquei a blusinha pela cabeça dela e abri o sutiã, sedento por aqueles
seios, cujo primeiro mamilo abocanhei com gosto, sugando-o com a força nascida
do desejo avassalador que sentia por aquela mulher.
Ela jogou a cabeça para trás e arqueou o corpo, esfregando-se contra mim
para aliviar parte da excitação que sentia, o que endureceu ainda mais o meu pau,
que só pensava em possuir novamente o seu interior molhado e apertado.
Com mãos firmes e o olhar sério fixo nela, tirei a minha camisa e comecei a
abrir a calça. Michelle fez o mesmo com a dela e nos livramos das nossas roupas
com rapidez. Mal fiquei nu, agarrei-a novamente ainda com a calcinha branca e
transparente, que nada escondia dos meus olhos.
O contato dos seios contra o meu peito e da barriga ainda lisinha contra o
meu pau, foi o suficiente para tirar a minha razão. Eu a queria. E queria fundo,
rápido, duro.
A lembrança do meu filho foi o que me fez refrear parte da urgência que
sentia de fodê-la do jeito que eu queria. Refreei-me o quanto pude, levando-a para a
cama, onde arranquei aquela calcinha minúscula e separei suas pernas, vendo pela
primeira vez com a luz acesa o sexo da mulher que me enlouquecia de tesão.
Até estremeci com a visão erótica, rosada, molhada à minha espera. Fiquei
mais duro ainda, o meu pau ereto à frente daquela delícia tentadora. Que merda de
poder era aquele que Michelle tinha sobre mim, eu sinceramente não sabia, mas tudo
nela atingia um ponto crucial que existia bem fundo no meu peito.
Ela soltou uma exclamação de surpresa ao se ver completamente aberta
daquele jeito para mim. Nossos olhares se encontraram e observei o rosto corado de
vergonha.
Sem desviar o olhar, passei o dedo ao longo do sexo molhado dela,
sentindo-o deslizar na umidade sedosa até chegar ao clitóris, que massageei com
firmeza. Com a outra mão, segurei um dos mamilos que apontavam para cima,
prensando-o entre os dedos no mesmo ritmo dos carinhos no clitóris.
Michelle fechou os olhos, arquejou, contorceu-se, gemeu. Ficou mais
molhada do que já estava e separou ainda mais as pernas, abrindo-se totalmente para
mim. Estava linda entregue ao prazer daquele jeito e o meu pau doía de vontade de
penetrá-la de imediato, mas segurei o meu desejo, aumentando o dela. Eu queria vê-
la se desmanchar sob os meus dedos, queria ver a expressão do rosto perfeito
quando gozasse nas minhas mãos e intensifiquei os movimentos, aprofundando o
dedo no interior macio dela e voltando depois ao clitóris inchado.
— Tyler!
Ela agarrou o lençol com força e não resisti de provar aquilo tudo à minha
frente. Inclinei-me e sorvi com a boca a umidade dela, deliciando-me com o seu
sabor e cheiro. Voltei a estimular o clitóris com a língua, chupando-o levemente.
— Meu Deus! — ela exclamou, ofegante.
Segurou-me pelos cabelos e se abriu mais.
— Fala, Michelle! — exigi roucamente, roçando a barba na parte interna
das suas coxas. — Me diz o que quer.
— Quero... que me faça gozar, Tyler — ronronou sensualmente,
arqueando-se contra a minha boca. — Me chupa mais.
Agarrei-a com força pelas nádegas e fiz o que pediu, comendo com gosto
aquela mulher que me enlouquecia. O meu pau doía de vontade de foder, mas não
demorou muito para eu sentir que Michelle estava gozando.
Não interrompi. Deixei que o orgasmo dela viesse todo, que ela
aproveitasse ao máximo, até o último segundo, para só então virá-la de bruços na
cama e me deliciar com a visão do sexo molhado naquela posição obscenamente
deliciosa.
Penetrei-a no instante seguinte, lentamente, sem a pegada forte que eu
queria, mas o suficiente para enlouquecer com o interior apertado que se abria para
mim, a umidade do gozo dela facilitando a penetração.
Gemi quando entrei fundo, os meus olhos presos em cada parte do corpo
feminino que me recebia, nas nádegas redondas e gostosas, o que só aumentava o
meu tesão.
Agarrando-a com firmeza pelas coxas, iniciei a foda mais poderosa da
minha vida, o sentimento de posse crescendo à medida que via o meu pau se
apoderar do interior de Michelle e o prazer alcançar níveis alarmantes até explodir
em um orgasmo que me arrebatou.
Soltei um rosnado alto dentro do quarto, tamanha foi a força do meu gozo.
Investi tudo dentro dela, derramei até a última gota no interior da mulher que me
sugava tudo, até a razão. Aquelas fodas sem preservativo com Michelle se
transformaram na experiência sexual mais importante da minha vida.
Foi com o coração batendo forte dentro do peito que me deitei sobre ela
logo depois, sentindo-me mais vulnerável do que gostaria de admitir para mim
mesmo.
Agarrei-a com força junto ao peito, negando-me, mais uma vez, a analisar o
que sentia. Michelle se aconchegou nos meus braços com um suspiro de prazer e
beijei os lábios rosados, prendendo-a mais ainda junto a mim com as pernas.
Permanecemos abraçados em silêncio, até eu me lembrar do meu filho.
— Falou com a doutora Jane sobre ontem à noite? Está tudo bem mesmo?
— Falei. Ela disse que não há com o que se preocupar se eu estiver me
sentindo bem, sem cólicas ou sangramento depois da primeira vez. Conversei com
Melody também e ela me tranquilizou da mesma maneira.
Ou seja, Gary já estava sabendo que tirei a virgindade de Michelle logo
depois de socar Nicholas Brooks nas bodas dos Stamford.
Merda! Agora ele nunca mais vai me deixar em paz com aquela histó ria de
amor!
Capítulo 38
Michelle
A s bodas de pérola de Bill e Rebecca aconteceram no sábado e na
segunda-feira as revistas de celebridades já noticiavam a fofoca do ano. A grande
maioria com um teor maldoso.

Filha de Colin Barton é vista ao lado do maior investidor de Wall Street,


o bilionário Tyle r Blackwolf .
Michelle Barton nunca mais foi vista nos círculos sociais depois da
falência do Barton Bank, o banco da família que foi comprado pelo BW
Group. Não haveria nada de extraordinário nisso, se o dono do BW Group
não fosse o bilionário Tyler Blackwolf, com quem Michelle entrou de
braços dados na festa das b odas de pérola de Bill Stamford, outro grande
investidor de Wall Street.
Será este um novo investimento financeiro de Michelle Barton? O tempo
dirá.
A festa para comemorar os trinta anos de casamento de Bill e Rebecca
Stamford foi a mais badalada dos últimos tempos e teve a presença de
figuras ilustres do meio financeiro, político e televisivo.

Várias fotos dos convidados faziam parte da matéria, incluindo algumas


nossas. Primeiro, de braços dados a caminho da mesa. Depois, ao lado de Bill e
Rebecca. Por fim, dançando uma música lenta, que era a foto mais bonita de todas.
Fechei o site da revista no meu notebook com um suspiro de resignação,
uma vez que aquilo era o esperado. Eu sabia que iam me rotular de interesseira e
golpista, mas a minha ida à festa foi um risco calculado. Tanto eu quanto Tyler
tínhamos consciência de que só o tempo faria com que todos se calassem. O estrago
feito pelo meu pai não seria esquecido facilmente.
Decidida a enfrentar de uma vez por todas a maledicência das pessoas, criei
coragem para ler a reportagem de outra revista de celebridades.
Bill Stamford comemora trinta anos de casamento com uma festa
monumental em sua mansão.
A festa das bodas de pérola de Bill e Rebecca Stamford aconteceu neste
último sábado e reuniu nos salões da mansão do casal as maiores fortunas
do país, se não do mundo. A escandalosa cifra de bilhões de dólares
parecia ser a senha para entr ar na festa.
E por falar em escândalo, vários convidados ilustres estiveram presentes,
entre eles um dos bilionários do topo da Forbes. Tyler Blackwolf se fez
acompanhar por Michelle Barton, a filha de Colin Barton , o homem
responsável pelo maior escândalo financeiro dos últimos tempos com a
falência do Barton Bank. Aparentemente, a filha do ex-banqueiro sabe
investir melhor do que o pai e também está se dando melhor na vida do que
ele.

O restante da reportagem falava sobre os detalhes da festa e de outros


convidados, mas o estrago já estava feito. Agora, eu era a mulher que se deu bem na
vida ao me tornar amante do homem que comprou o banco falido do meu pai.
Que horror!
Desisti de ler aquelas revistas de fofocas e pesquisei apenas o nome de
Tyler e as referências das bodas. Apareceram inúmeras reportagens de jornais
renomados e outros especializados na área financeira. Todos os que li faziam uma
abordagem séria sobre a nossa aparição juntos na festa, mas foi a matéria do mais
respeitado de todos que me emocionou profundamente.

Raramente visto em festas, Tyler Blackwolf prestigia o amigo Bill


Stamford em seus trinta anos d e casamento.
Dono de um dos maiores bancos de investimentos do mundo, Tyler
Blackwolf tem uma relação de amizade com Bill Stamford que ficou
confirmada neste último sábado. O bilionário dono do BW Group, foi um
dos convidados da festa de aniversário de casamento do amigo com
Rebecca Stamford, que aconteceu na mans ão do casal.
Blackwolf raramente é visto em festas, mas não deixou de comparecer a
esta em especial, sendo acompanhado por Michelle Smith Barton, neta do
falecido Jefferson Hill Smith, um dos maiores investidores do seu tempo.
Para quem esteve presente na festa, foi notória a cumplicida de do casal.
Cientistas afirmam que os lobos só têm uma única companheira durante
toda a vida e parece que Blackwolf encon trou a dele.

Prendi a respiração com o que li e disse a mim mesma que ia comprar


aquele jornal só para guardar a reportagem de lembrança e mostrar ao meu filho
quando ele nascesse, ainda que eu e Tyler não estivéssemos mais juntos. Apesar de
ter engravidado por inseminação artificial, eu queria que o meu filho soubesse que
amei o pai dele.
Amei? Oh, meu Deus! Como é que deixei iss o acontecer?
Fechei os olhos quando aquela verdade se abateu sobre mim. Eu estava
realmente apaixonada por Tyler! Estava amando o homem que passei a achar
enigmaticamente atraente e carismático, mas que possivelmente nunca ia sentir o
mesmo por mim. Claro que havia atração física da parte dele, só que o sentimento
parecia não ir além daquilo. Desejo e paixão existiam, mas eu continuava
desconfiando que Tyler tinha uma dificuldade muito grande em amar.
No que eu me meti!
Conformada, fechei os sites, decidida a não ocupar mais o meu tempo com
as reportagens sobre nós dois.
Eu já ia desligar o notebook quando entrou uma ligação no meu celular. Era
da doutora Jane e atendi com grande expectativa.
— Estou ligando para avisar que o seu exame de sexagem fetal está pronto,
minha querida — informou com satisfação e notei a alegria na voz dela.
— Ai, estou tão ansiosa para saber se é menino ou menina!
— Acabei de enviar para o seu e-mail, assim ficará com ele de lembrança.
Antes que me pergunte, o pai não sabe de nada.
Soltei uma risada com o tom de secretismo que ela usou.
— Eu já ia perguntar isso mesmo! Tyler é tão controlador que tenho certeza
de que deixou ordens para ser o primeiro a saber.
— Ele realmente deixou ordens sobre isso, mas não sou obrigada a cumprir.
Rimos bastante.
— Até consigo imaginar a cara que ele vai fazer quando souber que não foi
obedecido.
— Eu simpatizo muito com ele hoje em dia, mas você é a mãe e tem de ser
a primeira a saber. Agora vá no seu e-mail e aproveite o resultado, minha querida.
— E o teste de paternidade, quando sai?
— Esse vai demorar mais uns quatro dias para ficar pronto, mas eu aposto o
meu diploma como será positivo.
Achei graça do jeito como ela falou.
— A doutora anda apostando muito alto ultimamente.
Ela soltou uma risadinha divertida.
— Até agora tenho acertado.
— Vou me lembrar disso na próxima aposta que fizermos.
— Estou ansiosa para apostar sobre um certo casamento.
Daquela vez gargalhei mesmo, afinal, ela só podia estar brincando.
— Com essa eu vou me despedir. Obrigada, doutora Jane.
Desliguei e fui direto no meu e-mail para ver o resultado do exame. Abri
com ansiedade e soltei uma exclamação de doce surpresa.
— Aaaah, meu Deus! Eu não acredito!
Coloquei a mão sobre a barriga, rindo e chorando ao mesmo tempo. Eu
estava mais do que ansiosa para contar a novidade quando Tyler chegasse.
Capítulo 39
Michelle
A minha felicidade não tinha tamanho, mas parte dela foi diluída no meio
da tarde. Andrew me ligou no horário do almoço e até achei que fosse para falar
sobre as reportagens das bodas dos Stamford, mas me enganei.
— Vou passar hoje aí. Precisamos conversar. — A voz dele tinha aquela
entonação de quando queria tratar de algo muito sério, mas senti que não tinha nada
a ver comigo e com Tyler.
Pensei se deveria falar naquele momento que estava morando com ele na
cobertura e que Andrew não deveria ir para o meu antigo andar, mas depois mudei
de ideia. Era melhor contar pessoalmente.
— A que horas você vem?
Torci para que não fosse no final do expediente, quando Tyler também
chegava do trabalho. Eu pretendia conversar com Andrew em particular no andar
que ocupei antes.
— Depois das quatro, pode ser?
Aquele era o horário ideal.
— Sim, para mim está ótimo.
— Me aguarde, então.
Desliguei com um suspiro de resignação por ter de aguardar para saber do
que se tratava, mas já me preparei psicologicamente para alguma notícia
desagradável. Andrew estava sério demais para o meu gosto e só podia ser porque
vinha alguma bomba por aí.
Desci para o meu antigo andar na hora marcada e fiquei esperando.
O meu irmão chegou sozinho, sem a companhia de John e com o semblante
fechado, o que já me deixou mais certa ainda de que algum problema o preocupava.
— Existe um lugar mais reservado aqui onde possamos conversar que não
seja a sala? — sussurrou no meu ouvido quando me abraçou.
— O meu quarto. Vamos!
Levei-o para lá e fechei a porta, sentando-me com Andrew na cama.
— O que foi que aconteceu? A sua cara até me assusta.
Ele passou as mãos pelos cabelos louros e me olhou com um ar
preocupado.
— Adivinha quem me ligou.
Pela expressão do olhar dele consegui adivinhar logo e uma sensação ruim
me dominou.
— O nosso pai? — sussurrei aquela pergunta, com medo até de falar alto
sobre ele.
— Acertou!
— Mas... mas como? — balbuciei, chocada. — Ele não tinha desaparecido?
— Foi uma mulher quem me ligou, dizendo que estava falando comigo a
pedido dele. Eu investiguei e descobri que o número é de uma das ilhas da
Indonésia. A mulher só passou a ligação para ele depois que eu dei a minha palavra
que ia manter sigilo sobre o número dela.
— Na Indonésia? — Arregalei os olhos. — Mas como ele foi parar lá?
O semblante de Andrew ficou mais carregado ainda.
— A Indonésia é um paraíso fiscal, baby. Tudo indica que o nosso pai
realmente abriu uma offshore 23 do outro lado do mundo, para onde foi assim que a
justiça caiu em cima do banco.
— Meu Deus, Andrew! — sussurrei, incrédula. — Então ele já tinha
mesmo tudo planejado.
— Tudo indica que sim.
— E o que ele queria com você?
O olhar do meu irmão ficou mais carregado ainda.
— Não era comigo que ele queria falar, mas com você, baby — Andrew me
surpreendeu com aquela informação. — Ele tentou ligar para você, mas não
conseguiu, porque o seu número não é mais o mesmo. Acho que só por isso apelou
para mim.
— Ele queria falar comigo?
Eu não fazia a mínima ideia do que o meu pai queria me falar, mas, fosse o
que fosse, não devia ser coisa boa.
— Isso mesmo. Queria falar com você!
— E por quê? Na última vez que nos vimos ele quis matar o meu filho!
— Lembrei-me disso na hora, mas quando perguntei o que ele queria com
você, não me falou nada. Na verdade, não respondeu a nenhuma das minhas
perguntas sobre as merdas que fez no banco ou porque desapareceu sem nem falar
com os filhos. Apenas exigiu que eu desse o seu número, mas me neguei a dar. Ele
insistiu, propondo que eu viesse procurar você e explicasse tudo. Caso aceitasse
falar com ele, eu deveria ligar do meu número para o número da tal mulher.
Meneei a cabeça com incredulidade.
— Ah, Andrew, não vejo coisa boa vindo daí. Só consigo imaginar que seja
algo relacionado ao meu filho ou a Tyler.
Andrew me olhou de um jeito estranho.
— É a primeira vez que vejo você usando o primeiro nome de Blackwolf e
de um jeito bem diferente de antes. O que aconteceu para mudar tanto?
Havia chegado a hora.
— Estamos juntos — expliquei, tentando não ficar envergonhada por
admitir aquilo para o meu irmão. — Já não moro mais neste andar. Estou com ele na
cobertura.
Fazia muito tempo que eu não via Andrew ficar boquiaberto e sem
palavras, mas foi exatamente o que aconteceu naquele momento. Mordi a ponta do
lábio, aguardando que dissesse algo.
— Deixa eu ver se entendi bem. Você não é mais virgem, é isso? Estão
juntos como um casal.
— Sim, é isso.
Os olhos dele faiscaram.
— Mas que filho da puta! Ele se aproveitou da sua fragilidade para seduzir
você!
— Não! Não foi nada disso, Andrew. Eu queria que acontecesse tanto
quanto ele.
— Você o detestava, Michelle! Como é que agora vem me dizer que queria
ficar com ele e que estão juntos?
Encolhi os ombros diante de algo que não tinha uma explicação lógica.
— A convivência me mostrou que ele não é tão mau quanto aparentava.
Para ser muito sincera, passei a me sentir atraída e quis muito que acontecesse. Hoje
estamos bem e gosto muito dele.
O rosto de Andrew ficou mais preocupado ainda.
— Ele não é homem de assumir um compromisso sério com ninguém.
Ainda mais se considerarmos de quem você é filha.
Suspirei, resignada.
— Sei disso e estou procurando não ter ilusões. Eu quis, estou feliz e não
vou pensar no amanhã.
— Até que o amanhã chegue e a desilusão também, quando ele terminar
tudo. Você vai me desculpar, mas estou com vontade de meter um soco na cara de
Blackwolf!
Segurei-o pelo braço para que se acalmasse.
— Não fique tão preocupado comigo. Prometo que não vou me afundar na
depressão outra vez. Acho que já sou adulta o suficiente para escolher o homem com
quem me relacionar sem que o meu irmão queira socá-lo .
— Sei que é adulta, mas não consigo entender essa sua escolha! Você é um
poço de sensibilidade e Blackwolf é um homem frio e insensível, que destrói as
pessoas como um rolo compressor. Você não é do tipo que pensa unicamente em
sexo, então, como é possível que esteja com ele?
— Tyler não é tão frio quanto parece, garanto. Pelo menos comigo mudou
muito e é isso o que me importa. Fez questão que eu fosse com ele à festa das bodas
de pérola de Bill e Rebecca Stamford, para enfrentarmos logo a sociedade onde o
nosso filho vai viver. Ele queria que todos soubessem que estávamos morando
juntos antes que a minha barriga crescesse.
Andrew não conseguiu disfarçar a perplexidade.
— Eu não sabia que você tinha ido à festa com ele.
— Saiu nas revistas.
— Eu não tenho tido tempo nem para dormir direito, quanto mais para ler
revistas.
Olhei-o com atenção e notei o quanto realmente parecia cansado.
— É muito injusto que o nosso pai tenha deixado esse encargo nos seus
ombros.
O meu irmão sorriu com tristeza.
— Ele deixou a merda toda para eu limpar e agora está atrás de você para
pedir algo, não tenho dúvida.
— Podemos não ligar para ele.
— E ficarmos sem saber o que ele está armando dessa vez? Não podemos
ser coniventes com as coisas erradas que o nosso pai faz.
— Concordo, mas também não podemos nos envolver. A partir do
momento em que ligarmos, já estaremos envolvidos.
Andrew passou a mão nervosamente pelo cabelo.
— Estou cansado dessa merda toda, Michelle. Você queira ou não queira
falar com o nosso pai, vai ter sempre o meu apoio, mas acho que devemos descobrir
o que ele quer.
Pensei, pensei e pensei, até chegar à conclusão de que seria mais perigoso
ignorar o que ele queria do que ficar sabendo e nos precavermos.
— Vamos ligar — decidi, disposta a resolver logo tudo.
Andrew aprovou a minha decisão com o olhar e pegou o celular no bolso.
— Tente tirar informações dele, porque a mim não respondeu nada.
Precisamos saber onde está, por que desapareceu sem explicações, quando pretende
voltar.
— Tentarei.
Ele fez a ligação e não demorou muito para ser atendido.
— Sou eu, o Andrew. Pode passar para o meu pai? — Ele ouviu o que a
mulher falou do outro lado da linha e olhou para mim. — Sim, ela está comigo.
Aguardamos até que o nosso pai assumiu a ligação.
— Estou com a Michelle e não sairei do lado dela — avisou com um tom
de voz duro que nunca o vi usar antes com o nosso pai.
Peguei o celular, respirando fundo para enfrentar o que vinha pela frente.
— Alô, pai.
— Até que enfim consigo falar com você. O que aconteceu com o seu
número?
— O óbvio: tive de trocar por outro. Até ameaças recebi quando a notícia
da falência foi divulgada.
— Bando de idiotas! — ele xingou com desprezo.
— O que o senhor queria que eles fizessem depois de perderem tudo?
Foram roubados, lesados financeiramente, pai.
— Não venha me dar lição de moral, Michelle! Se o desgraçado do
Blackwolf não tivesse feito de tudo para me impedir de reerguer o banco, ninguém
seria lesado em nada.
— Ele não fez isso. Foi o senhor quem levou o banco à falência — falei
com coragem.
— Cale-se! Você não sabe de nada da área financeira nem como funciona o
mundo de Wall Street.
— E o senhor deve saber muito bem, já que desapareceu assim que a
falência foi decretada, deixando o Andrew sozinho. Por que fez isso, pai? Por que
desviou dinheiro do banco?
— Aquele dinheiro era meu e de mais ninguém. Quantos fazem isso e não
acontece nada? Até os juízes que me condenaram têm dinheiro em paraísos fiscais.
Todos os ricos e milionários têm dinheiro em paraísos fiscais! — rosnou com raiva
do outro lado da linha. — Você sempre foi uma alienada com relação a tudo do
banco, mas agora está se achando muita coisa para vir me dar lição de moral.
Contive a vontade de desligar na cara dele e nunca mais voltar a falar com
meu pai.
— Se acha que sou uma alienada que não sabe de porra nenhuma, por que
quis falar comigo? — estourei, revoltada.
— Para você falar com Blackwolf e o convencer a desistir de me processar.
A justiça só quer me pegar por causa dele, que está manipulando todos para me
destruir. Ele já tem o banco, já tem tudo. Tem até você e um filho. Que me deixe em
paz!
Ah, n ão acredito!
— Não vou fazer isso, pai. Não tenho influência nenhuma sobre ele para
pedir nada, muito menos se for algo relacionado ao senhor.
— E vai deixar que o seu pai seja preso? Sei que ele assumiu você,
Michelle. Saiu em todos os jornais e revistas que a filha de Colin Barton está com o
maior investidor de Wall Street e agora também dono do Barton Bank. — O tom de
desprezo se confundia com a inveja e o ódio nas palavras dele. — Para melhorar,
você ainda está grávida de um filho de Blackwolf.
A raiva me dominou de maneira imediata.
— Um filho que o senhor tentou matar!
Ao meu lado, Andrew se remexeu com inquietação ao entender do que
falávamos.
— Claro que tentei! — o meu pai admitiu sem remorso algum. — Abomino
a ideia de ter um neto que seja filho de Blackwolf. Era para você ter se casado com
Nicholas.
— A quem o senhor me vendeu! — acusei, enojada.
— Deixe de tanto drama. Apenas acertei o seu casamento com ele, um
homem experiente, rico e interessado em tê-la como esposa.
— Chega, pai! Não temos diálogo algum e vou desligar!
— O que você vai fazer é me ouvir, Michelle! Você tem Blackwolf nas
mãos e poderá conseguir com ele a minha liberdade. Se não fizer isso, será a
responsável pela minha prisão e possível morte naquele inferno.
Fiquei horrorizada que ele tentasse jogar a responsabilidade das merdas que
fez em cima de mim.
— O único responsável por tudo o que está sofrendo agora ou que venha a
sofrer no futuro, é o senhor mesmo. Não me sentirei culpada de nada.
— Eu conheço a filha que tenho e sei que você vai se sentir culpada. Esse
filho que tem na barriga é a sua melhor arma para conseguir tudo de Blackwolf.
Uma mulher também consegue muitos favores na cama de um homem. Salve o seu
pai antes que...
Desliguei na cara dele, devolvendo o celular para Andrew como se
queimasse as minhas mãos.
— Que nojo! Meu Deus, que horror!
— O que ele queria? Não sei se entendi tudo.
— Queria que eu convencesse Tyler a desistir de um processo contra ele,
mas eu nem sabia que isso estava acontecendo. Mesmo que soubesse, não vou fazer
nada do que me exigiu. Que poder tenho sobre Tyler para conseguir que desista de
alguma coisa? Além do mais, nosso pai errou e tem de pagar por isso.
Andrew me abraçou pelos ombros e encolhi as pernas sobre a cama,
agarrando-me nele.
— Há males que vêm mesmo para o bem. A melhor coisa que podia ter
acontecido nessa situação toda foi a mudança do seu número de celular, assim ele
não vai conseguir mais entrar em contato com você. Terá de falar comigo e vou
negar todas as vezes.
Capítulo 40
Tyler
A reunião da tarde se prolongou noite adentro e tive de ligar para Michelle
no intervalo do café, avisando que provavelmente não chegaria a tempo de
jantarmos juntos.
— Jante sem mim hoje. Comerei qualquer coisa quando chegar.
— Posso esperar por você — ela sugeriu e senti que realmente faria aquilo.
— Não quero que altere o horário das suas refeições por minha causa, ainda
mais no seu estado.
— Tudo bem, jantarei sozinha.
Senti a tristeza na voz dela e fiquei preocupado. Eu havia recebido no meio
da tarde a informação de que Andrew tinha ido visitá-la e pensei se era algo
relacionado a ele.
— Está tudo bem com você?
— Sim, está. Pode se concentrar no trabalho, Tyler.
Pensei em fazer aquilo mesmo, mas não consegui sem antes tentar
descobrir o que era.
— Você está triste.
Ela riu de um jeito que achei muito sensual e apertei mais o celular na mão.
Sem esforço algum, Michelle conseguia me abalar com coisas simples.
— É que eu tinha uma surpresa para você hoje, mas ela pode aguardar.
Tentei imaginar qual seria a surpresa, mas na minha cabeça só vinham
cenas eróticas.
— Ia fazer um striptease hoje?
A risada dela me fez rir também.
— Não era bem isso, mas gostei da sugestão.
O meu corpo reagiu de imediato à aceitação dela.
— Vou cobrar.
Michelle riu mais uma vez, fazendo o meu pau pulsar de excitação
antecipada.
— Preciso treinar antes. Acho que não tenho muito jeito.
— Vamos descobrir isso na hora.
Quando desliguei, foi controlando a vontade de dar a reunião por encerrada
naquele instante e ir para casa. Só depois foi que vi a insensatez daquele
pensamento. Nunca na minha vida uma mulher ficou à frente do meu trabalho e não
ia ser agora que eu me deixaria levar pela paixão.
Isso mesmo, apenas paixão, sexo. Não era amor.

Cheguei bem mais tarde do que o previsto, mas foi proposital.


Inconscientemente, quis provar a mim mesmo que Michelle não tinha tanto poder
assim para mandar nos meus pensamentos e ações.
Era quase meia noite e ela já estava deitada, dormindo. A luz da mesa de
cabeceira estava acesa e um livro sobre pintura jazia próximo ao travesseiro,
deixando evidente que havia adormecido durante a leitura.
Observei-a por longos instantes antes de pegar o livro para guardar. Apesar
de ter sido bastante cuidadoso e não ter feito barulho, ela abriu os olhos sonolentos.
— Você chegou.
— Já é tarde. Volte a dormir.
Ela olhou para o relógio sobre a mesa de cabeceira, mas não comentou nada
com relação à hora.
— Jantou alguma coisa?
— Fui jantar em um restaurante com os meus assessores e advogados.
Volte a dormir, Michelle. Não queria ter acordado você.
— Não faz muito tempo que peguei no sono. Estava lendo enquanto o
esperava.
Eu sabia que o comentário foi feito sem nenhum tipo de cobrança, mas
ainda assim me senti culpado por não ter ligado para avisar que ia jantar fora, que
não chegaria tão cedo e que ela fosse dormir.
— Da próxima vez não me espere acordada.
Ela assentiu com um leve movimento de cabeça, os olhos azuis muito
límpidos deixando transparecer um desapontamento que atravessou o meu peito.
— Farei isso.
A resposta foi tranquila apesar de tudo. Ela apagou a luz da cabeceira e se
virou de lado para voltar a dormir.
Fiquei parado, cerrando os punhos de raiva. Raiva de mim mesmo.
Mas que porra es tou fazendo?
Contraí a mandíbula com força e fui para o closet, tirando a gravata e
jogando-a na poltrona junto com o paletó. Olhei-me no espelho, sem reconhecer
aquele homem à minha frente, que perdia o controle diante de uma mulher a quem
não deveria amar.
Amar! De novo esta me rda de amor!
Livrei-me do restante da roupa e fui para o banheiro, entrando de cabeça
debaixo do jato de água. Cerca de vinte minutos depois, vesti um pijama curto e
voltei para o quarto.
Aproximei-me silenciosamente da cama, tentando não a acordar mais uma
vez. Deitei-me, observando Michelle de costas para mim. A respiração lenta e
pausada indicava que já dormia de novo.
Depois de um bom tempo olhando para teto, dei-me conta de que não
conseguiria dormir tão cedo. Sentia-me alerta e inquieto demais, algo raro em mim,
que normalmente adormecia em poucos minutos.
Passei uma mão pelo rosto, ciente do que me mantinha acordado.
Eu precisava de Michelle! Precisava ver o olhar apaixonado e confiante
dela, o sorriso suave e provocador, sentir o carinho das mãos macias no meu corpo,
ouvir os sussurros e gemidos no meu ouvido, possuir aquela mulher que me
enlouquecia de tesão. Ela havia entrado sob a minha pele, se apossado da minha
vontade, tomado conta dos meus pensamentos, esmagado a minha razão.
Eu me sentia em guerra comigo mesmo. Ainda que a emoção estivesse
ganhando terreno sobre a razão, eu resistia bravamente. Não queria me render, não
queria me entregar e depois perder.
Droga! É tudo med o de perder!
Aquela verdade doeu e não foi pouco. Paralisado, tomei consciência pela
primeira vez de algo que nunca havia prestado atenção antes, mas que agora se
esfregava na minha cara. Quando o meu pai perdeu Margaret Smith e foi obrigado a
vê-la casada com Colin Barton, ele morreu por dentro. Durante todo o restante da
sua vida, o meu pai não conseguiu ser um homem completamente feliz longe dela,
nunca conseguiu amar outra mulher. Foi apenas ela, unicamente ela, mais ninguém.
Testemunhar tamanho sofrimento, mesmo quando ele sorria para mim, foi
algo que marcou demais o menino, o adolescente e o homem que me tornei. Havia
momentos em que eu não entendia o porquê de ele se deixar quebrar daquele jeito.
Muitas vezes senti mais raiva de Margaret do que de Colin Barton, por fazer o meu
pai sofrer mesmo depois de décadas de separação.
Odiei a palavra amor. Desprezei o amor. Não suportava a merda do amor,
que só me fazia rir com cinismo de homens como Gary, completamente
apaixonados.
Trinquei os dentes, cerrei os punhos, tive vontade de gritar de raiva.
Provavelmente gritaria se estivesse sozinho, mas estava com ela, a mulher que
estava roubando a minha razão, entrando no meu sangue, fodendo com a minha
cabeça!
Isso só pode ser uma maldição. A maldição dos Blackwolf!!!
Era uma ironia que mãe e filha tivessem esse poder sobre nós dois, pai e
filho. Só que eu não ia deixar que o mesmo acontecesse comigo. Precisava manter o
domínio, controlar o poder de Michelle, em vez de ser dominado por ela.
Foi um erro grotesco da minha parte tê-la trazido para dormir comigo. Eu
deveria ter deixado que ocupasse o quarto ao lado, jamais dividir a minha cama com
ela, algo que nunca fiz antes com mulher alguma. Foi uma atitude impensada que
agora cobrava o seu preço. Aquela intimidade havia sido a causadora de tudo.
Amanhã mesmo vou pedir que ocupe o quarto ao lado. Quando eu quiser
foder, será lá e não aqui.
Depois que tomei aquela decisão bastante racional, consegui finalmente
relaxar na cama. O alívio descomprimiu o meu peito e senti o corpo se livrar da
tensão.
Satisfeito, virei-me de lado para dormir. A posição me aproximou mais de
Michelle e o aroma suave do perfume dela encheu os meus pulmões quase no
mesmo instante. De olhos fechados, o cheiro parecia mais inebriante e poderoso.
Como aquele era o último dia que dividiríamos a cama, não vi problema
algum em dormir abraçado a ela. Envolvi lentamente a cintura esguia para não a
acordar, aproveitando para colocar a mão sobre a barriga ainda lisinha de dois
meses. Em breve ela faria três e ficaria mais arredondada com o crescimento do meu
filho.
— É um menino.
A voz dela ecoou pelo quarto com suavidade, mas com uma força que me
derrubou completamente, mesmo estando deitado. Imóvel, duvidei até do que tinha
ouvido.
— Eu sempre disse à minha mãe que queria ter um menino primeiro e uma
menina depois, igual como ela teve. Ainda me lembro de como ela ria feliz quando
conversávamos sobre isso. — O tom de voz era nostálgico, uma mistura de alegria
pela chegada de um menino e de tristeza pela ausência da mãe. — Não sei se você
gostou, mas eu amei estar grávida de um menino. Já tenho até o nome dele. A minha
mãe me pediu para que se chamasse Joshua.
Senti um baque no peito ao ouvir o nome do meu pai e gelei na hora. A
emoção atravessou o meu coração e me vi sem condições de reagir.
— Se você não gostar do nome que nós duas escolhemos, eu sinto muito,
mas não vou mudar — ela continuou, sem imaginar o abalo que estava causando em
mim. — É uma homenagem a ela que vou manter até o fim. Quando eu tiver uma
filha, vai se chamar Margaret.
Michelle ficou em silêncio, talvez esperando que eu dissesse algo, que
contestasse, que exigisse que o nosso filho tivesse outro nome. Contudo, pela
primeira vez na vida, a minha garganta estava tão travada de emoção que eu não
conseguia articular nem uma única palavra.
Ela se virou para mim. Apesar das sombras do quarto, notei que estava
tranquila, plena, confiante e mais linda do que nunca.
— Era essa a surpresa que eu tinha para contar no jantar de hoje. Como
percebi que você ainda estava acordado, achei melhor falar logo.
Engoli duro para destravar a garganta, lutando para manter o rosto
impassível e esconder o que sentia, mesmo sabendo que a pouca luz que havia no
quarto não permitiria que ela visse o quanto eu estava abalado.
— Esse é o nome do meu pai. — A minha voz soou gutural, gravemente
enrouquecida até para mim mesmo, mas foi o melhor que consegui naquele
momento.
Michelle tentou abafar uma exclamação de surpresa com a mão, mas não
conseguiu. Estava em choque.
— Oh, eu não sabia! A minha mãe nunca me disse qual era o nome do
homem que amou, apenas me falava algumas coisas sobre ele. Só fiquei sabendo
que era o seu pai por você mesmo, mas também nunca me interessei em saber qual
era o nome dele.
Incapaz de falar, sem condições alguma de responder, expressei o que
sentia da única maneira que consegui. Beijando-a com sofreguidão, ânsia e avidez.
Saber que o meu filho ia ser um menino e que teria o nome do meu pai,
desestruturou-me, quebrou algo muito duro dentro de mim, deixando-me vulnerável,
à descoberto. A mulher que sempre achei que nunca amou o meu pai, arriscou-se a
desafiar o próprio marido ao sugerir que o neto tivesse o nome do antigo namorado.
Eu me sentia em carne viva, totalmente exposto e incapaz de lidar com a
emoção que umedeceu os meus olhos. Eu tinha nos braços a única mulher que
conseguia penetrar fundo o meu interior, indo até as entranhas e segurando o meu
coração nas mãos. E foram aquelas mãos que acariciaram os meus cabelos,
apalparam os meus braços, deslizaram pelas minhas costas por baixo do pijama, com
uma ânsia que se comparava à minha.
Michelle usava uma camisola curtinha, que ergui até acima dos seios cheios
e redondos, cujos mamilos suguei com voracidade. Ela gemeu e aquele som elevou a
minha excitação a um patamar altíssimo, mas foram as pernas esguias envolvendo-
me pela cintura que me endureceram por completo.
Eu a queria e era naquele exato instante.
Puxei a calcinha minúscula de tirinha para o lado e toquei-a, sentindo o
quanto já estava molhada.
— Quero agora! — rosnei, beijando-a novamente.
— Toma o que é teu.
Porra!
Perdi a razão por inteiro. Não sobrou nada além de desejo puro, latente e
urgente. Empurrei a minha cueca para baixo e penetrei Michelle de um golpe só,
sugando a ar com força quando ela se abriu para mim, recebeu-me e envolveu como
uma luva. Quente, macia, apertada, minha!
— Oh, Tyler! É tão bom assim.
Possuí aquela mulher com o tesão explodindo por todos os poros,
enlouquecendo a cada investida do meu pau no interior úmido e justo. O ritmo era
frenético e o orgasmo chegou rápido, mas tão intenso que estremecemos juntos,
como se uma descarga elétrica tivesse nos atingido.
Urrei de prazer, exauri as minhas forças dentro de Michelle, a mulher que
eu não queria admitir que amava com todas as minhas forças.
Quando o último espasmo do gozo se desfez, ficamos um longo tempo
agarrados um ao outro, ofegantes. Demorei a sair de dentro dela e me deitar ao lado,
abraçando-a junto ao peito.
De olhos fechados, fui recuperando aos poucos o controle de mim mesmo.
— Se em algum momento você não quiser que eu fique mais com você, é
só me dizer, Tyler. Garanto que vou aceitar sem dramas — ela falou de repente,
deixando bem claro que havia sentido o meu distanciamento quando cheguei. —
Você não é homem de ficar calado quando algo o desagrada, então não faça isso
com relação a mim. Se eu sentir que sou de mais na sua vida, vou embora.
— Nunca!!! — neguei com uma determinação tão dura quanto a minha voz
soou. — Você é a minha mulher e o seu lugar é ao meu lado.
E foda-se t odo o resto!
Capítulo 41

Michelle
“V ocê é a minha mulher e o seu lugar é a o meu lado.”
Fechei os olhos ao ouvir aquela afirmação de posse depois de fazermos
amor tão intensamente, sentindo-me feliz como nunca antes. Apesar de Tyler jamais
ter dito que me amava, não resisti em dizer o que sentia.
— Eu te amo, Tyler — sussurrei no ouvido dele, jogando alto com a sorte.
Ele estremeceu, depois ficou imóvel, os músculos tensos. Cheguei a achar
que se afastaria, mas ele me abraçou com mais força ainda. Apesar daquela
demonstração de apego, não me disse o mesmo, não se declarou também, não falou
absolutamente nada.
Pelo menos não se afastou.
Aquilo já era alguma coisa. Quem sabe um dia, com o tempo, ele também
me amasse.
Dormimos fortemente abraçados um ao outro. Na manhã seguinte, ele saiu
para o trabalho depois do habitual mergulho na piscina para se exercitar e de tomar o
café da manhã comigo. Aquela tensão palpável que senti nele quando chegou quase
à meia-noite já não existia mais. Tyler estava mais carinhoso do que nunca comigo,
cheio de cuidados e feliz por ter um menino.
— Agora já podemos providenciar o que quisermos na cor azul para
decorar o quarto dele — Tyler comentou despreocupadamente enquanto bebia um
gole de café.
Ele estava muito atraente naquele dia, já vestido com o terno para ir
trabalhar. Só faltava colocar o paletó, que estava jogado sobre o sofá. Admirei-o em
silêncio, notando o quanto os cabelos negros penteados para trás e a barba bem-feita
só o tornavam mais viril.
— Vou aproveitar para completar o enxoval dele.
Recebi um olhar de preocupação.
— Só tenha cuidado para não se cansar demais. Vamos ter tempo para tudo.
— Não vou exagerar.
O café da manhã se prolongou por um tempo a mais do que o normal,
enquanto conversávamos. Naquele dia, Tyler sem dúvida chegaria atrasado ao
escritório.
— Você chegou a ver as reportagens sobre as bodas de Bill e Rebecca? —
ele perguntou de repente, olhando-me com atenção.
Torci o nariz em uma careta ao me lembrar do que havia lido.
— Vi algumas revistas e jornais, mas nada do que li me surpreendeu. Eu já
esperava por aquilo.
— Fico satisfeito ao ver que não se deixou abalar por nada do que
publicaram. Foi a nossa primeira aparição juntos e é normal que causasse muita
especulação. Com o passar do tempo vai deixar de ser novidade.
— Na hora me chateei um pouco, mas depois passou.
Tyler se inclinou para o meu lado e me deu um beijo na boca.
— Esqueça tudo o que leu. — Acariciou a minha barriga. — Eles nem
imaginam o que vem por aí.
Coloquei a minha mão sobre a dele, sentindo-me feliz demais.
— Joshua vai chegar abalando as estruturas de Wall Street.
Tyler soltou uma risada e nunca o vi tão descontraído. Até perdi o fôlego,
admirando-o.
Ele voltou a me beijar na boca.
— Preciso ir agora, mas hoje chego cedo.
Saber que ele estava saindo tarde para o trabalho e que chegaria cedo,
aumentou a minha felicidade, mas tentei não demonstrar demais. Tyler era um
homem arredio e desconfiado, igual ao lobo que trazia no nome. Ora se aproximava,
ora se afastava, mantendo um distanciamento seguro. A noite anterior foi uma das
poucas vezes em que o vi perdendo o controle sobre si mesmo. A primeira vez foi ao
socar Nicholas na festa, ontem foi por causa do nome do filho.
Observei-o afastando-se, alto, seguro, imponente. Ele até podia continuar
tendo uma aparência que impressionava pela seriedade e frieza, mas era, sem
dúvida, também muito atraente.
Assim que ele saiu, comecei a pesquisar as lojas onde encomendaria o
material que faltava para a decoração do quarto de Joshua. A design de interiores
que contratei só estava aguardando que eu soubesse o sexo do meu bebê para
finalizar os detalhes.

Se eu achava que a única repercussão negativa da nossa ida juntos às bodas


de pérola seria a ligação do meu pai, enganei-me terrivelmente.
No final daquela tarde, acomodei-me com Ruth no terraço para
escolhermos no notebook o papel de parede para o quarto de Joshua. O tempo estava
agradável, com o sol quente e nem uma única nuvem encobrindo o azul do céu.
Quando fui morar na penthouse, achei que Tyler teria um exagero de
empregados circulando pelos andares, mas nem eram tantos assim e a paz ali em
cima não tinha preço. Para minha sorte, Tyler gostava de tranquilidade tanto quanto
eu.
Ruth controlava tudo com uma eficiência discreta e todos os empregados
aparentavam gostar do que faziam. Ali, as empregadas que cuidavam da casa
conversavam e riam normalmente, algo raro de acontecer na mansão Barton, onde o
silêncio era pesado e opressivo.
— Está na hora do seu lanche — ela informou consultando o relógio. —
Vou trazer e depois continuamos.
Ruth não deixava passar um minuto sequer dos meus horários de refeição,
algo com o qual eu já estava me acostumando e adorando. Era impossível não gostar
de ser mimada daquele jeito, uma sensação boa demais para quem sentia tanta falta
da mãe como eu.
— Obrigada, Ruth.
Ela saiu para providenciar o lanche e fiquei sozinha. Recostei-me contra o
espaldar da cadeira, admirando a paisagem privilegiada da penthouse. Eu gostava
dali, mas preferia criar o meu filho em uma casa tradicional, com jardins e um
quintal amplo onde ele pudesse brincar com um cachorro.
Acariciei a minha barriga e sorri, feliz.
— Como é que vamos convencer o papai a morar em outro lugar?
Eu ainda estava sorrindo quando senti que não estava mais sozinha no
terraço. Olhei para o lado, achando que fosse Ruth voltando com o lanche, mas levei
um susto tremendo quando vi uma mulher ruiva parada na porta de vidro, o olhar
fuzilante fixo em mim e na minha barriga.
A cobertura era um lugar restrito, cujo acesso só era permitido a poucos
empregados de confiança de Tyler e fui pega desprevenida com a presença dela.
Tirei a mão da barriga e aprumei o corpo na cadeira, pensando que talvez
ela tivesse confundido os andares, mas mudei de ideia ao observá-la melhor. A bolsa
de marca que trazia ao ombro, a roupa elegante que usava, o andar autoconfiante à
medida que se aproximava de mim e a expressão decidida no rosto, definitivamente
não eram de uma empregada. Tyler também não estava no prédio, o que já
descartava a hipótese de ser uma visita de negócios que tivesse errado de andar.
A minha intuição feminina disparou e tive a certeza de me ver diante de
uma mulher que possuía ligações íntimas com ele.
Foi com o coração disparado no peito e uma sensação de fatalismo no
coração que a observei aproximando-se até parar à frente da mesa onde eu estava.
— Quem é você?
A pergunta foi feita para mim com rispidez.
— Posso perguntar a mesma coisa. — Mantive a calma. — Quem é você?
Este andar é restrito.
— Sei que é, por isso estou perguntando quem é você para estar aqui.
Daquela curta distância, notei que os cabelos ruivos não eram naturais, mas
aquilo não diminuía a beleza agressiva dela. Nem de longe eu me comparava com
tanta energia sexual quanto a daquela mulher. A maquiagem realçava os olhos
castanhos e o corpo era exuberante.
Nunca me senti tão magra e sem atrativos.
— Sou Barbara, a namorada de Tyler — apresentou-se com arrogância,
usando um tom bastante territorial.
O meu coração doeu com a confirmação do que eu já suspeitava. Mesmo
sofrendo por dentro, consegui permanecer calma e controlada enquanto ela
estreitava o olhar e me analisava.
— Estou reconhecendo você. É a filha de Colin Barton.
Mal ela terminou de falar, a minha ficha caiu e não contive um sorriso
cínico. Mesmo tentando fingir que não sabia quem eu era, ficou óbvio para mim que
ela sempre soube desde o início, por isso tinha ido à cobertura de Tyler. As
reportagens sobre as bodas estavam causando um efeito dominó.
— Agora que já sabemos quem somos, pode ir embora. Tyler não está aqui.
Procure-o no escritório.
— Passei no andar do escritório, mas ele não está lá. Geralmente nos
encontramos no andar inferior, que é o meu.
A informação foi intencional e surtiu o efeito desejado. Senti um baque no
coração e me lembrei de Ruth dizendo que o andar abaixo do escritório de Tyler era
usado para receber “algumas visitas”.
“Tyler não gosta de ninguém no andar dele.”
Em outras palavras, ele não gostava de foder com as amantes na cobertura e
reservava o andar inferior da penthouse para os encontros amorosos.
A raiva, o ciúme e mais um monte de outras merdas explodiram dentro de
mim, mas não deixei transparecer nada. Viver anos sob o jugo de um pai tirano me
ensinou a esconder muito do que sentia.
Foi com firmeza que a encarei.
— Se quiser esperar por ele, faça isso no seu andar inferior. Se Tyler a
colocou lá, é porque não a quer aqui. É melhor se manter no seu lugar.
Ela arfou, visivelmente ofendida. Barbara parecia ser do tipo incapaz de
aceitar que estava em uma posição inferior a mim nos desejos de Tyler. Mal sabia
ela que a última coisa que eu queria era disputar a atenção dele. Ao contrário, a
vontade que eu tinha era de nunca mais o ver.
— Sua vadia! Quem pensa que é para me dar ordens aqui dentro?
Fiz uma cara proposital de horror, bastante teatral e muito cínica.
— Estou espantada com o baixo nível das mulheres com quem Tyler se
envolve. Você parece mais acostumada a lutar por território nas ruas de Manhattan
do que circular em ambientes de luxo.
Se Barbara pensou em me atacar, mudou de ideia quando Ruth surgiu com
uma bandeja nas mãos. A governanta se recuperou rápido do susto e marchou para
onde nós duas estávamos com a fisionomia de uma general indo para a guerra.
— Senhorita Barbara, o que faz aqui? — perguntou, colocando a bandeja
sobre a mesa. — É melhor que se retire. Tyler não gosta que subam ao andar dele.
— Não gosta, mas ela está aqui! — rugiu, furiosa, apontando o dedo para
mim.
— Vou repetir pela última vez. — Ruth foi dura. — Retire-se da cobertura,
se não quiser que eu chame os seguranças.
— Quero que chame é o Tyler e ele que me explique o que ela faz aqui.
Fiquei enojada com toda aquela situação. Fechei o notebook com
brusquidão e me levantei, decidida a sair dali.
— Não tenho estômago para isso, Ruth. Resolva-se sozinha com ela.
Virei-me para ir embora, mas Barbara se colocou na minha frente.
— Está se sentindo toda confiante só porque deu o golpe da barriga para
salvar o banco do seu pai ladrão. Pensa que não topei o seu segredinho sujo?
Nunca dei uma bofetada em alguém com tanto gosto quanto naquele
momento. A quarta bofetada que eu distribuía desde que me envolvi com Tyler
Blackwolf.
O meu filho não era um segredinho sujo e filha da puta nenhuma ia dizer
aquilo sem receber o que merecia.
Barbara reagiu de imediato e ergueu a mão para devolver a bofetada, mas
acabou por bater no notebook, que usei para me proteger. Ela soltou um grito de dor
quando a mão se chocou contra o metal, mas aquilo foi pouco para mim. Golpeei o
ombro dela com o notebook e a mulher caiu pesadamente no chão como um saco de
batatas, toda esparramada.
Larguei o notebook sobre a mesa e saí de lá respirando fundo para me
acalmar. Fui para o quarto e me tranquei nele, sem querer ver ninguém, até perceber
que aquele quarto não era um refúgio para mim, pois era de Tyler. Tudo ali era dele,
inclusive eu, que acreditei que um dia conseguiria conquistar um homem avesso ao
amor como ele.
Que boba! Que burra que eu fui!
Sentei-me na cama, atordoada e sem saber o que fazer. Fiquei um tempo
indefinido na mesma posição, achando tudo aquilo surreal demais. Passei a manhã
inteira sentindo-me tão feliz depois do que havia acontecido entre nós dois de
madrugada, que agora estava com dificuldades em assimilar a dura realidade.
Lembrei-me de Tyler chegando quase à meia-noite, frio, distante e
impessoal. O que havia quebrado aquela dureza não foi nenhum sentimento de amor
por mim, mas a notícia sobre o filho e o nome que teria.
O amor dele sempre foi só para o filho e não para mim. Comigo, era apenas
desejo, sexo, nada mais. Era o mesmo que sentia por Barbara ou por qualquer outra.
Sou apen as mais uma!
Caí para trás na cama e chorei muito, cobrindo o rosto com as mãos e
recriminando-me por ter sido tão ingênua. Tyler nunca havia me dito uma única
palavra de amor. Nunca o ouvi sequer dizer que eu era especial para ele, quanto
mais que me amava, ainda que estivesse tendo o maior orgasmo do mundo.
Aquela verdade doeu e de repente fui assolada por uma vontade urgente de
sair dali, de respirar outros ares, de não estar no ambiente dele, de não ver ao meu
redor marcas da presença de Tyler em todo lugar.
Troquei de roupa em tempo recorde. Abri a porta do quarto usando uma
calça comprida jeans confortável, uma blusa simples e um par de tênis. Dentro da
bolsa pendurada no ombro, levava as chaves do meu carro e do meu apartamento, a
minha carteira com algum dinheiro, o celular e uma tonelada de desilusão.
Cruzei-me na sala com Ruth, que parecia estar de plantão à minha espera.
— Sente-se bem, Michelle? Para onde vai?
Havia preocupação tanto na pergunta quanto na expressão do rosto dela.
— Não se preocupe, estou bem. Só vou dar uma volta por aí.
— Tyler vai ficar preocupado. Espere que ele chegue para conversarem.
Eu estava pouco me lixando para a preocupação de Tyler. Quanto à Ruth,
eu gostava muito dela, mas era óbvio que sempre soube da existência de Barbara.
Como tudo o que dizia respeito a ele, a fiel governanta jamais falaria nada.
Eu não a condenava por aquilo, afinal, ela o criou e com certeza o amava.
Mesmo assim, era difícil de desculpar.
— Há quanto tempo eles dois estão juntos?
— Tyler vai lhe dizer se perguntar a ele.
Era a resposta esperada, mas ainda assim insisti.
— Quantas vezes ele se encontrou com Barbara no andar dela enquanto eu
estava aqui na cobertura?
— Nenhuma.
— E fora daqui?
Ela ficou calada, obviamente porque não sabia. Os encontros fora da
penthouse iam além do conhecimento dela.
— Nenhuma.
A voz masculina que respondeu soou poderosa da entrada da sala e me virei
para encarar Tyler, que acabava de chegar. Ficou claro para mim que Ruth o avisou
sobre o acontecido.
Com a fisionomia dura e fechada, ele olhou para a governanta.
— Deixe-nos a sós, Ruth. Não quero absolutamente ninguém aqui.
A ordem foi dada em tom de reprimenda, sem esconder o quanto estava
furioso pela falha na segurança que havia permitido à Barbara entrar na cobertura.
Ficamos sozinhos em um momento decisivo para o nosso relacionamento.
Capítulo 42
Michelle
— P or que mentiu para mim sobre ela?
— Nunca menti para você — ele afirmou com seriedade, sem desviar os
olhos dos meus.
Apontei o dedo na cara dele.
— Quando você me chamou para vir morar aqui, eu perguntei se era casado
ou se tinha alguma namorada que não fosse gostar da minha presença na sua casa.
Muito espertamente, você não confirmou se existia alguém, apenas me garantiu que
não haveria confusões com outra mulher. Você foi um cafajeste, Blackwolf! —
explodi, enraivecida, empurrando o dedo no peito dele. — Se envolveu comigo
tendo a porra de uma namorada.
Ele tentou segurar a minha mão, mas a puxei com força, libertando-me.
— Ela foi uma amante de ocasião, Michelle. Eu não namoro com ninguém!
— rugiu com as narinas dilatadas pelo esforço de se conter. — Barbara nunca
significou nada para mim.
Se ele achava que aquela resposta em tom de desprezo ia me acalmar, se
enganou e feio. Fiquei mais indignada ainda, doeu muito mais fundo.
Se ele não namora com ninguém, o que eu significo? Apenas a nova
amante de ocasião?
Engoli em seco, empurrando a dor para dentro.
— Se Barbara nunca significou nada para você, por que não acabou tudo
com ela quando ficamos juntos?
Ele demonstrou impaciência com a minha pergunta.
— Não posso acabar o que nunca existiu! Ela só me atendia quando eu
ligava, sem compromisso algum.
Fiz uma careta de nojo com aquela resposta seca.
— Vocês homens são execráveis. Não quero saber dos detalhes sórdidos
dos seus encontros com ela.
Ele inspirou ruidosamente e o peito amplo se expandiu, tornando o corpo
grande mais impressionante ainda.
— Não deixe que isso abale o nosso relacionamento, Michelle.
— Qual relacionamento? — Olhei-o com raiva e seriedade. — Me diga o
que significo para você! Sou o quê, afinal? Outra amante de ocasião?
— Não, porra! Significa muito mais do que isso.
— Então, me diga! Fale! — desafiei-o. — Diga o que significo, o que sente
por mim!
A respiração dele ficou pesada, ofegante, ruidosa. Parecia alguém que
sentia falta de ar, mas era apenas a luta interior de um homem acostumado a não
sentir nada por ninguém e que agora não sabia lidar com as próprias emoções.
A minha grande dúvida era se ele realmente sentia algo por mim ou se eu
estava batendo em um coração de aço que nunca se abriria para o amor.
— Você me ama, Tyler? — Fui mais direta.
O rosto de ângulos marcantes se contraiu, fazendo um músculo pulsar na
mandíbula forte. Ele encolheu os ombros e fez um gesto de pouco caso com as
mãos.
— Eu não sei o que é o amor, Michelle. Não espere isso de mim.
Uma desilusão enorme me deixou aos pedaços. Eu arrisquei e perdi. Era
preciso aceitar que perdi.
— Quer saber o que é o amor? — perguntei com tristeza, colocando a mão
sobre o coração dele. — Se eu for embora daqui e isso que você tem aí dentro doer
de saudade, de angústia, de aflição, é amor. Se sentir a minha falta e tudo ao seu
redor perder a graça, é amor. Se achar que a sua cama à noite parece maior e mais
fria com a minha ausência, é amor. Se é só comigo que sente vontade de abraçar, de
beijar, de aconchegar junto ao peito depois de um orgasmo, é amor. Se sou a única
que você consegue chamar de “minha mulher” e se esse sentimento é verdadeiro, é
amor. Agora, se tudo isso o que falei não existir, é porque você não me ama e pode
ficar com suas amantes de ocasião.
Tirei a mão do peito dele e me afastei, indo para o elevador privativo.
— Não vá!
O meu coração deu um pulo no peito ao ouvir a voz enrouquecida pedindo-
me para ficar. Parei, virando-me para ele. Eu precisava de muito mais do que apenas
um pedido como aquele. A posição de atual amante não era o que eu queria para
mim.
— Por que não devo ir? Se for só por causa do nosso filho, eu não vou
ficar.
Aguardei ansiosamente ouvi-lo admitir que me amava. Eu o conhecia muito
bem e sabia que Tyler jamais diria aquilo se realmente não me amasse, ainda que
fosse pelo filho. Ele tinha uma noção de honra muito grande e não mentiria para
mim apenas para me manter na penthouse até o filho nascer.
— Apenas não vá. Fique comigo.
Se ele não dissesse o que sentia por mim em um momento tão crucial como
aquele, nunca mais diria.
— Preciso saber o porquê — insisti, ciente de que não conseguiria viver ao
lado de um homem que era incapaz de dizer que me amava. — Eu ficaria aqui por
amor. E você, por que quer que eu fique?
A resposta não veio nem o olhar deixou transparecer sentimento algum.
Olhei-o com tristeza. Não havia amor da parte dele.
Durante os passos que dei até apertar o botão do elevador e as portas se
abrirem, ainda tive esperanças de que Tyler percebesse que me amava e viesse atrás
de mim, mas nada aconteceu.
Entrei no elevador e apertei o botão do estacionamento. As portas
começaram a se fechar e encontrei coragem para erguer o olhar e fixar nele.
Tyler continuava parado no mesmo lugar, com os punhos cerrados ao lado
do corpo e o rosto contraído, mas sem fazer um único gesto para que eu ficasse, sem
emitir as palavras que me fariam ficar.
Quando as portas se fecharam de vez e o elevador começou a descer, soltei
um suspiro trêmulo e enxuguei as lágrimas que caíram.
Havia sido uma ilusão boba a minha de achar que Tyler amaria a filha do
homem que odiava. Ele foi concebido, criado e educado para odiar e destruir o meu
pai, jamais sentiria alguma coisa especial por mim. Eu era e sempre fui apenas a
mãe indesejada do filho dele. Uma mulher que ele passou a aceitar por força das
circunstâncias.
A paixão e o desejo? Talvez fossem as mesmas com as quais ele fodia
mulheres como Barbara.
Quando o elevador chegou no estacionamento privativo, limpei as lágrimas
e fui direto para o meu carro. Ted já estava a postos para me acompanhar no carro
dos seguranças, provavelmente alertado por Ruth ou pelo próprio Tyler.
Cumprimentei-o com um aceno de mão quando passei por ele no meu
carro, saindo do prédio em direção ao meu apartamento. Fui pelo caminho mais
longo, para ter tempo de espairecer um pouco. Andrew e John estavam morando
nele desde que os nossos bens foram confiscados para pagar parte das dívidas que o
nosso pai havia deixado. O único bem que ficou de fora do confisco foi o meu
apartamento, por ordens de Tyler.
Eu não queria chegar lá com o rosto inchado de tanto chorar ou o meu
irmão surtaria de raiva.
Apesar de ter a chave reserva do apartamento comigo, toquei a campainha
para avisar da minha chegada. Quem veio abrir a porta para mim foi o John e
suspirei de alívio ao comprovar que Andrew não estava em casa. Para minha sorte, o
meu irmão continuava no escritório, onde trabalharia até finalizar a entrega do banco
aos novos gestores do BW Group sob as ordens de Tyler.
Atirei-me nos braços de John assim que o vi.
— Baby, o que aconteceu?
Ele fechou a porta e me levou para dentro. Eu precisava daquele apoio e
carinho, desesperadamente. Nunca me senti tão sozinha.
Só depois de soluçar bastante e colocar para fora toda a dor que sentia, foi
que contei para ele o que havia acontecido. John me ouviu em silêncio e com uma
expressão consternada no rosto.
— Ele é mais duro na queda do que pensei. Achei mesmo que Blackwolf
um dia cederia ao amor, mas me enganei. — John me abraçou outra vez com
carinho. — Eu sinto muito por ter sugerido que você o conquistasse, baby. Você está
sofrendo por minha causa.
— Não se culpe. Eu já me sentia atraída por ele antes de você falar aquilo.
Acho mesmo que acabaria acontecendo alguma coisa entre nós dois, só não pensei
que me envolveria tanto a ponto de sofrer quando houvesse uma separação.
— Você é sensível demais para não se envolver. Fora isso, era virgem. Ele
foi o seu primeiro homem, o seu primeiro amor. Não poderia deixar de sofrer com o
fim.
— Nem sei o que vou dizer para o Andrew. Ele vai ficar furioso.
— Não poderemos esconder isso dele, mas podemos contar de uma maneira
mais leve. O ideal é que você não esteja com esta cara inchada de tanto chorar nem
com esse olhar de tristeza. Também precisa pensar no bebê. Ele deve estar tão triste
quanto você.
— Oh, não quero que ele fique assim! — exclamei, colocando a mão sobre
a minha barriga.
— Dizem que o bebê sente tudo o que a mãe sente quando ainda está na
barriga dela e eu acredito nisso. Seja forte por ele, baby.
— É um menino — contei, limpando as lágrimas.
— Um menino? — Ele me abraçou com mais força ainda. — Parabéns,
Michelle. O Andrew vai adorar saber.
— Vou ficar aqui com vocês. Algum problema?
— De jeito nenhum! — Ele riu, meneando a cabeça. — Fomos nós que nos
apropriamos do seu apartamento e ficaríamos chateados se você fosse para outro
lugar ou se ficasse com Blackwolf sem querer. Somos uma família e ficaremos
juntos.
John me segurou pelo rosto, a maturidade brilhando nos olhos que me
fitavam com um carinho de irmão mais velho.
— Amar é também aceitar as imperfeições do outro. Veja o meu caso, que
até hoje espero que Andrew assuma o nosso relacionamento. O meu amor não
diminuiu por causa disso. Suspeito que o seu não vai diminuir também, por isso
quero que pense bastante no que vai dizer para Blackwolf caso ele entre neste
apartamento atrás de você.
Ri com tristeza e ironia.
— Ele nunca vai fazer isso, mas obrigada pelo conselho, John. Você é um
amor!
Enquanto o ódio corroesse o coração de Tyler, não haveria lugar para mim
dentro dele.
Capítulo 43
Tyler
— M ichelle!!! — gritei para as portas fechadas do elevador, sem acreditar
que ela realmente havia ido embora.
Porra, ela me dei xou mesmo!!!
Eu não contava com aquilo. Joguei alto e perdi, achando que ela ficaria
comigo mesmo que eu não dissesse nada. Subestimei a necessidade que ela sentia de
saber que era amada, de ouvir da minha boca que a amava.
Por que não falei? Por que não a impedi d e ir embora?
Furioso comigo mesmo, peguei o celular no bolso do paletó e liguei para
Miles.
— Quero uma escolta agora para Michelle! — rosnei quando ele me
atendeu.
— Ela já tem dois seguranças que a acompanham para onde for — ele me
lembrou.
— Michelle saiu agora. Se ela não voltar para cá, quero uma escolta vinte e
quatro horas por dia. Me informem cada passo que ela der e que não fique sem
proteção nem por um minuto.
— Entendi agora. Vou providenciar.
Desliguei, enfiando automaticamente o celular de novo no bolso. Depois
afrouxei a gravata do colarinho, como se fosse ela a responsável por aquela sensação
estranha que me engasgava, oprimia e esmagava.
Foi com as palavras de Michelle sobre dor, saudade e angústia martelando
na minha cabeça que observei a sala silenciosa. Senti um vazio no peito que me fez
arrancar de vez a gravata e caminhar resoluto para o terraço. Livrei-me dos sapatos e
meias, tirei o paletó, o restante do terno e a cueca, para depois mergulhar na piscina
e nadar vigorosamente pelo tempo que precisei para extravasar totalmente a raiva e a
tensão que me dominavam.
A vontade que eu sentia de esganar Barbara era tão grande que precisei me
controlar para não cometer aquela loucura. Ruth havia me contado tudo o que ela
havia dito para Michelle e a bofetada que a filha da puta levou foi pouco.
Michelle enfrentava com coragem o que fosse e não ia ficar sem defender o
filho, o que só aumentava a admiração que eu sentia por ela.
Eu aguento a ausência dela. Eu consi go aguentar.
Foi repetindo várias vezes aquilo que saí da piscina e fui para o meu quarto,
onde tomei um banho, ignorando o shampoo dela ao lado do meu, os cremes
femininos sobre a bancada, o roupão que ela usava pendurado no suporte.
Apesar de Michelle ter um banheiro só dela no quarto ao lado, gostava de
usar o meu, onde tomávamos banho juntos sempre que os nossos horários
permitiam.
No closet, algumas roupas dela se confundiam com as minhas. Ainda me
lembrava do dia em que ela havia colocado um dos vestidos no meio dos meus
ternos.
— Você tem um closet no quarto ao lado que pode usar — informei na
ocasião, mas ela apenas riu.
— Gosto de ver as minhas roupas no meio das suas. Dá uma sensação de
intimidade, não acha?
Na ocasião apenas meneei a cabeça com um sorriso de tolerância, mas
agora o meu peito doía ao ver aquele vestido colorido no meio dos meus ternos
escuros.
Eu consi go aguentar.
Procurei o celular para ver se havia alguma notícia de Miles sobre ela e só
então me lembrei que o deixei no bolso do paletó que larguei no terraço. Fui para lá
e o peguei, vendo a notificação de uma chamada dele.
Liguei imediatamente.
— Pode falar.
— Ela ficou no apartamento. O irmão está morando lá com John Marshall.
Eram dois homens para cuidar dela e já me tranquilizei mais.
— Ainda assim quero um forte esquema de segurança.
Depois que terminei de acertar tudo com ele, liguei para Ruth.
— Prepare o meu jantar.
— Para dois?
Crispei a mão que segurava o celular.
— Não. Só para mim.
Jantei no terraço, tentando encontrar prazer novamente em ficar sozinho
dentro de casa, inclusive na hora de dormir. Eu, que nunca gostei de dividir a minha
cama com ninguém antes de Michelle, agora sentia falta do corpo esguio enroscado
no meu.
“Se achar que a sua cama à noite parece maior e mais fria com a minha
ausênc ia, é amor.”
Virei-me na cama, deitando-me de lado e de costas para o lugar onde
Michelle antes dormia. Eu estava decidido a provar a mim mesmo que conseguia
superar a ausência dela. Fazia muito pouco tempo que nos conhecíamos e não devia
ser difícil voltar à minha antiga vida de homem sem compromisso com ninguém.
Eu só precisava superar os primeiros dias, aquele tempo de transição entre
estar com ela e estar sozinho. Depois tudo voltaria ao normal.
Eu aguento a ausência dela. Eu consi go aguentar.

— Michelle ligou e me pediu para levarem o material de pintura para o


apartamento dela — Ruth me informou ao me servir o café da manhã.
Uma semana havia se passado desde que Michelle foi embora. De lá para
cá, o meu humor estava péssimo e ficava cada dia pior.
— Ainda não — neguei secamente.
— Não? — Ruth se surpreendeu diante da minha negativa. — É que ela
gosta tanto da pintura, Tyler.
— Ainda não — repeti com autoridade para não ter de ouvir mais nada.
— E o que direi a ela?
— Que me ligue e peça a mim.
Michelle não havia me ligado nem uma única vez desde que tinha ido
embora. Todas as vezes em que nos falamos, fui eu quem liguei para saber como ela
estava. Aquilo acontecia todos os dias quando eu chegava em casa do trabalho e a
conversa era sempre a mesma.
— Você está bem?
— Não se preocupe. Joshua está bem — ela sempre respondia a mesma
coisa.
— Fico tranquilo em saber que ele está bem, mas quero saber de você,
Michelle.
— Estou ótima. E você?
— Também estou .
Ela ficava em silêncio depois, aguardando que eu dissesse mais alguma
coisa. Eu sabia o que ela esperava ouvir, mas a lembrança do homem semimorto que
o meu pai foi ao longo da vida por causa da perda de Margaret, fazia-me calar. Eu
terminava por me despedir logo depois e desligar.
No quarto dia em que ela foi embora, recebi no meu e-mail pessoal o
resultado do teste de paternidade enviado pela doutora Jane. A médica colocou dois
destinatários na mensagem: eu e Michelle. Não me surpreendi com o resultado
positivo, afinal, eu não tinha dúvidas de que Joshua era o meu filho. O resultado
serviu apenas para consolidar mais ainda a minha ligação com Michelle.
Dia após dia, eu vinha aguentando com muito autocontrole a falta que
sentia dela, tentando não me impressionar com tudo o que Michelle havia dito antes
de partir, sobre o que era o amor. A verdade era que aquelas merdas todas pareciam
estar se concretizando para mim .
Eu sentia uma saudade visceral dela, quase doentia e obsessiva. Apesar de a
tensão sexual estar se acumulando no meu corpo, não tinha o mínimo tesão de
procurar outra mulher para me satisfazer. Era Michelle que eu queria, que desejava,
com quem fantasiava. Nenhuma outra .
Eu estava lutando com todas as minhas forças para não me transformar em
uma cópia do meu pai, para não ser um homem pela metade por causa de uma
mulher que o deixou. Se eu já tinha um receio fodido disso antes de ela ir embora,
agora que Michelle havia mesmo me deixado as coisas ganhavam uma proporção
assustadoramente grande.
Admitir que a amava seria o maior risco da minha vida, muito maior do que
todos os investimentos de altíssimo risco que fiz até hoje em Wall Street. Desses eu
não tinha receio algum, mas no caso dela tudo era diferente. Michelle era, sem
dúvida alguma, o investimento de mais alto risco que já surgiu na minha vida. Era
tudo ou nada. Era subir ao topo do mundo ou descer ao fundo do poço.
Havia muito em jogo. Tudo o que eu era estava em jogo e diariamente me
esforçava para não ceder, para não arriscar, para me manter firme. Sentia-me forte
para resistir e seguir em frente sem ela.
É isso! Ainda estou firme na minha decisão. Tenho forças pa ra resistir.
Assim que terminei o café da manhã, fui ao ateliê improvisado de Michelle,
o único local da casa que eu vinha evitando desde que ela havia entrado no elevador
e nunca mais voltado.
Lá dentro, tudo permanecia como havia deixado. Enviar o material de
pintura agora parecia um corte definitivo entre nós dois e algo em mim queria evitar
que aquilo acontecesse.
Quando ela ainda morava comigo, eu raramente entrava ali. Foram poucas e
rápidas as vezes em que fui à procura de Michelle no ateliê.
Fora o meu quarto onde dormíamos, aquele era o lugar da casa onde a
presença dela era mais forte.
Andei em meio aos cavaletes de pintura, olhando os quadros semiprontos
em cada um deles. Só agora, observando tudo sem a presença de Michelle, foi que
notei que dois deles estavam separados dos outros na parte de trás do ateliê e
cobertos por um pano.
A curiosidade me fez levantar o tecido de um deles e a perplexidade com o
que vi me deixou estático.
Eu esperava encontrar mais uma das paisagens que ela tanto gostava de
pintar, mas o quadro era de um casal abraçado. Foi a foto antiga em preto e branco,
que estava encaixada na madeira do canto inferior do cavalete, que me abalou.
Reconheci o meu pai, apesar de ele estar muito jovem. A mulher que abraçava era
Margaret Barton. Ambos sorriam e era notória a felicidade que sentiam.
Aquele homem jovem da foto possuía uma alegria de viver e um brilho no
olhar que nunca vi no meu pai. Parecia outra pessoa, um homem que nunca conheci.
Um homem apaixonado que tinha nos braços a mulher que amava.
Foi quase com devoção que peguei a foto e o olhei mais de perto, sentindo-
me devastado pela saudade. No verso, havia uma declaração escrita com a letra
firme dele.
“Para o meu a mor eterno.”
Engoli duro para tirar o travo de emoção da garganta. Eu sempre soube que
o meu pai havia amado muito Margaret Barton, mas nunca tinha visto nada que
comprovasse aquele amor. Agora, nas minhas mãos, estava a prova mais
contundente e esmagadora do amor dele, e dela também. A jovem sorridente nos
braços do meu pai não se assemelhava em nada à mulher de olhar vazio que saía nas
revistas. Só na foto do porta-retrato com Michelle foi que vi Margaret transparecer
alguma alegria.
Respirando pesadamente, olhei para o outro quadro coberto pelo tecido
branco, provavelmente mais uma foto dos dois. Ansioso, ergui o pano e algo
quebrou dentro de mim. Estremeci violentamente, crispando a mão no algodão
macio.
O quadro estava inacabado. Na verdade, era quase um esboço, mas se via
claramente que era um casal abraçado. Igual como no outro quadro, havia uma foto
no canto inferior do cavalete. Era uma foto minha e de Michelle nas bodas de Bill e
Rebecca, provavelmente recortada de uma das várias revistas que noticiaram a festa.
Nela, estávamos dançando e me lembrei daquele momento como se o
estivesse vivendo novamente. Michelle estava com o rosto erguido para mim,
olhando-me com aquela expressão apaixonada que eu tão bem conhecia e da qual
sentia uma saudade dolorosa. Recordei-me do quanto quis beijá-la na boca enquanto
a música lenta tocava, olhando-a sem saber que deixava transparecer o mesmo que
ela.
Era amor! Ninguém precisava me dizer que aquilo que eu estava vendo era
amor! Foi aquele o momento eternizado pelo fotógrafo. O de um casal apaixonado.
Ver aquela foto nossa sendo igualmente reproduzida no quadro fez com que
o vazio que eu sentia no peito ficasse maior e mais profundo, principalmente quando
comparava os momentos que vivi com ela com os que passei a viver sozinho, sem
ela.
A solidão, que antes me fazia tão bem, agora pesava como chumbo e me
senti atacado por todos os lados com as lembranças do que vivemos.
Só agora eu entendia por que o amor do meu pai por Margaret nunca se
acabou, mesmo com a separação, com a dor da traição e com o passar do tempo.
Abalado demais para me sustentar nas pernas, caí de joelhos no chão e
afundei o rosto nas mãos, sentindo as emoções esmagarem a minha razão sem
piedade alguma. Eu não sabia lidar com aquilo, muito menos conseguia conter o
turbilhão de sensações que me assolavam naquele momento. Eu me sentia golpeado
no peito e algo sangrava dentro de mim.
— Porraaa!!! — gritei quando a dor se tornou insuportável.
Não me reconheci naquele homem ajoelhado no chão, que tremia no
esforço de controlar a si mesmo. Eu estava sofrendo de saudades de Michelle, da
mesma maneira como o meu pai havia sofrido durante décadas por Margaret. A
diferença era que ele não pôde ter de volta a mulher que amava, mas eu podia. Ainda
podia.
Foi quando decidi dar um basta naquela situação.
Eu não consigo mais ague ntar isso!!!
Quebrei totalmente no sétimo dia sem Michelle.
Capítulo 44
Tyler
— A ndrew não vai gostar da sua visita — John me preveniu assim que
abriu a porta do apartamento para mim. — Você fez a baby sofrer.
Entrei, deixando Miles e os outros seguranças do lado de fora.
— Quero falar com ela.
— Ele não vai deixar.
Vamos ver se não!
— Ninguém vai me impedir.
Andrew pareceu adivinhar que cheguei, porque surgiu no hall estreito do
apartamento de Michelle, ficando rubro de raiva assim que me viu.
— Filho da puta, o que faz aqui?
Ignorei a ofensa, até porque nem sabia quem era a minha mãe.
— Vim conversar com Michelle.
— Saia daqui! Você não vai piorar o estado da minha irmã.
Franzi o cenho de preocupação com o que ele disse.
— Pior, como? Michelle não está bem?
Ele tentou avançar para cima de mim, mas John o segurou.
— Calma, Andrew. Bater nele não vai fazer com que Michelle fique
melhor.
— O que ela tem, porra? — exigi saber com grosseria, já a ponto de invadir
o apartamento e descobrir sozinho. — Quero falar com ela agora!
— Ela não quer mais ver você!
— Não é bem assim — John contradisse Andrew com seriedade. — Quem
tem de decidir isso é a Michelle, não nós. Se eu estivesse no lugar dela, não ia gostar
de saber que o meu irmão me impediu de ver o homem que amo.
— Ele não a ama! — Andrew grunhiu entredentes, apontando o dedo para
mim. — Você só vai fazer Michelle sofrer ainda mais e ela está grávida!
— O que eu e Michelle sentimos um pelo outro é assunto nosso e de mais
ninguém. Garanto que não consigo me esquecer nem por um minuto que ela está
grávida. Agora saia da minha frente ou vou invadir este apartamento à força até que
seja ela a me dizer para ir embora.
— Foda-se!
Ele tentou me socar, mas me desviei a tempo. Por sua vez, John tentou
segurá-lo. Ambos acabaram por bater na parede do hall, fazendo um quadro cair até
o chão, o estrondo se espalhando pelo apartamento.
Três homens lutando naquele corredor estreito ia ser um inferno, mas
ninguém ia me impedir de falar com Michelle.
Uma batida urgente soou na porta.
— Senhor, está tudo bem aí? — Miles perguntou, forçando a fechadura.
— Está tudo bem. Aguardem aí fora.
Andrew se irritou ainda mais ao ouvir o que eu disse.
— Tudo bem, uma porra! Estou cansado de você e dos seus seguranças.
Saia daqui agora.
— Andrew, o que está acontecendo?
A voz nervosa de Michelle soou vinda da sala e o meu coração disparou no
peito. Empurrei quem estava à minha frente e entrei na sala, parando bruscamente ao
ficar diante dela.
Era a primeira vez que nos víamos em sete dias e vacilei como nunca antes.
A vontade de a arrebatar nos braços, de beijar, de amar foi tanta que até doeu.
Michelle usava um vestido florido na altura dos joelhos e estava descalça,
como se tivesse vindo às pressas para a sala, sem dúvida alguma depois de ouvir o
som do quadro caindo no chão.
Achei que estava mais magra, parecendo muito frágil também, o que me
deixou preocupado.
— Tyler! — ela exclamou com os olhos azuis arregalados de surpresa. —
O que faz aqui?
— Olá, Michelle. Vim conversar com você.
Andrew surgiu ao meu lado junto com John.
— Vá para o quarto, baby. Eu resolvo isso.
Olhei firmemente para Michelle.
— Só vou embora se você disser que não quer falar comigo, mas peço que
me dê uma chance de conversarmos.
Ela olhou para o irmão, depois para mim, adivinhando o que havia
acontecido no hall.
— O que quer falar comigo, Tyler?
— Em particular — pedi, tentando não soar exigente demais.
Andrew cruzou os braços no peito, deixando bem claro que não ia sair da
sala para me dar nenhuma privacidade. Michelle jogou um olhar de reprovação para
o irmão, mas ele parecia decidido a me impedir de ficar sozinho com ela.
— Vamos para o meu quarto — ela decidiu com uma tranquilidade que
beirava a apatia, mas que serviu para aliviar a tensão que eu sentia de ouvir uma
provável negativa.
Andrew bufou, exasperado, mas John foi mais sábio.
— Deixe-os resolver a vida deles.
Ignorei os dois e segui Michelle até o quarto dela. Era pequeno, assim
como o apartamento inteiro, mas estava bem arrumado e a decoração era em tons
suaves de bege.
Ela se sentou na cama depois de fechar a porta.
— Sente-se, Tyler.
Não havia outro lugar para me sentar que não fosse na cama, o que agradeci
mentalmente. O tamanho do quarto não permitia a existência de uma poltrona ali
dentro.
Sentei-me ao lado dela, aspirando com prazer o perfume que usava e que eu
já conhecia tão bem. Michelle ergueu o rosto para me olhar e respirei fundo ao vê-la
tão perto depois de tantos dias separados. Mesmo sentados, ela era bem mais baixa
do que eu.
— O que queria falar?
Não doseei as palavras, indo direto ao ponto.
— Quero que volte a morar comigo, que fique comigo. — Pigarreei em
uma tentativa falha de tirar a rouquidão da minha voz. — Sinto a sua falta, Michelle.
Ela inspirou fundo ao me ouvir. Os lábios se entreabriram de surpresa,
como se já nem esperasse mais aquilo de mim.
— E por que quer que eu volte? — sussurrou desconfiada, totalmente
descrente dos meus verdadeiros motivos.
Aquela era uma pergunta difícil de responder. Eu não sabia se a minha
resposta era o que ela queria ouvir, muito menos se o que eu diria faria com que
Michelle voltasse para mim.
— Eu nunca soube o que era amar uma mulher até você aparecer na minha
vida. Se tudo o que você me disse quando partiu é realmente o amor, então, não
tenho dúvida alguma de que amo você. E não é pouco! É muito, é profundo, forte e
intenso demais.
Não deixei de fixar nem por um instante os olhos azuis, que piscaram muito
quando terminei de falar. Ela estava controlando a emoção, mas eu a conhecia o
suficiente para saber que estava fragilizada demais e que não conseguiria se conter
por muito tempo.
Na verdade, nem eu estava conseguindo muito sucesso em segurar a
vontade de apertar Michelle nos braços e não soltar nunca mais. Já havia crispado as
mãos uma dezena de vezes desde que me sentei ao lado dela, controlando a ânsia de
tocá-la.
— Esta merda dói muito e não vou dizer que gosto de me sentir assim tão...
vulnerável — desabafei, esfregando uma das mãos na nuca para tentar diminuir a
tensão. — Vem doendo desde que você foi embora e só diminuiu agora que estou ao
seu lado. Pela primeira vez na minha vida não estou conseguindo lidar bem com
algo. Sempre dominei tudo com confiança, mas esse sentimento não tem controle
algum.
Ajoelhei-me no chão para ficar de frente para ela e arrisquei tudo,
absolutamente tudo. Segurei-a pelo rosto, as minhas mãos tão grandes envolvendo
por completo as faces macias.
— Você me fez descobrir que tenho medo de amar, Michelle. Ainda que
inconscientemente, lembro-me sempre do meu pai e de como ele sofreu quando
perdeu a sua mãe. Eu nunca quis passar pelo mesmo, por isso resisti tanto em me
apaixonar por você, mas foi em vão.
— Eu também podia sentir esse mesmo medo, Tyler. Vi a minha mãe sofrer
por amor a vida inteira, mas foi de arrependimento por não ter lutado para ficar com
o seu pai. Nunca me esqueço do dia em que ela chorou horrores e teve uma crise
depressiva forte. Demorei a conseguir que me contasse o que estava acontecendo.
Ela me disse que o homem que amava havia morrido. Depois daquele dia, definhou
aos poucos, até se suicidar anos depois. Testemunhei toda a dor dela, mas isso não
me impediu de querer amar e ser amada.
Quanto mais detalhes eu ficava sabendo da vida de Margaret, mas me
arrependia de ter julgado tão mal aquela mulher. No fundo, ela foi apenas mais uma
vítima de Colin Barton.
Michelle tinha razão e a minha admiração por ela só cresceu.
— Pode me dar mais uma chance, por favor? — implorei, esperando que
ela dissesse que sim. — Sei que sou um homem difícil de entender e que aparento
não ter sentimentos. Ainda tenho dificuldades de falar de amor, mas nunca senti por
mulher nenhuma o que sinto por você. Quer voltar para mim?
Ela não respondeu, apenas meneou a cabeça em um gesto afirmativo, mas
foi o suficiente para um rosnado de alívio escapar da minha garganta. De um único
fôlego, tomei os lábios carnudos em um beijo sedento e profundo, exultando de
prazer quando os senti nos meus.
Que sauda de da porra!
Ela correspondeu com a mesma avidez e nossas línguas se tocaram com a
ansiedade nascida de uma saudade dolorosa demais, de uma necessidade premente,
mas também de uma emoção que aqueceu o meu peito. Era o amor do qual ela tanto
falava e que, agora, eu também já conhecia.
Com Michelle nos meus braços, aquele amor era algo muito bom, mas sem
ela, era cruel demais.
Saciei parte da minha saudade com aquele beijo, mas o desejo contido,
controlado e represado por tantos dias, agora parecia exigir uma satisfação rápida e
imediata. O meu pau endureceu e me sentei de novo na cama, puxando-a para o meu
colo.
Michelle se esfregou em mim ao senti-lo e me abraçou com mais ardor.
— Oh, Tyler!
— Quero muito você, mas não vai ser aqui — grunhi nos lábios dela. —
Vamos para casa. Quero possuir você na minha cama. O seu lugar é lá, comigo.
Michelle afagou os meus cabelos, dando vários beijos pelo meu rosto com
aquele jeito único dela que me desestruturava. Segurei-a pelos cabelos e tomei a
boca saborosa em um beijo meio bruto, que refletia a necessidade que sentia dela.
Toquei os seios volumosos, ansioso para prová-los outra vez, mas não
podia arriscar sermos interrompidos. A porta não estava trancada à chave, nem eu
me sentia à vontade com Andrew na sala destilando raiva.
Segurei-a com força e me levantei da cama com Michelle nos braços.
— É melhor pararmos por aqui. Me dê só um tempo e saímos do quarto
para você dizer ao seu irmão e a John que vai comigo.
— Ele vai ficar furioso. Andrew anda muito tenso desde que o nosso pai
fugiu deixando tudo para ele resolver sozinho. Normalmente é mais tolerante e
sensato.
Eu já havia percebido aquilo, mas tinha planos para ambos. Tanto para ele
quanto para John.
— Vou conversar com os dois depois e fazer uma proposta para
continuarem gerindo o banco junto com o meu pessoal. Se o seu irmão superar a
raiva que tem de mim, poderá ficar bem na vida.
— Oh, Tyler, você faria isso? — Os olhos azuis brilharam de felicidade. —
Os dois merecem, sabe?
Sorri diante da alegria dela e aquele era o primeiro sorriso verdadeiramente
satisfeito que eu dava em dias.
— Já notei há tempos que eles merecem, mas era preciso chegar a hora
certa para esta conversa acontecer. Agora, antes de qualquer outra coisa, quero levar
você para casa.
— Vou contar tudo para os dois.
— Vamos juntos.
Coloquei-a no chão e aguardei que calçasse as sandálias. Antes de sairmos
do quarto, segurei Michelle pela cintura e voltei a me sentar na cama, colocando-a
entre as minhas pernas. Foi com emoção que envolvi a cintura delicada e encostei o
rosto na barriga dela, onde estava o meu filho.
— Senti falta de você também, Joshua.
Michelle acariciou os meus cabelos enquanto eu beijava o ventre onde o
meu filho estava.
— Ele também sentiu saudades do pai.
Fechei os olhos, garantindo ao meu filho que não ficaríamos mais longe um
do outro.
— Você está mais magra — comentei, passando as mãos pelo corpo dela.
— Perdi um pouco a fome.
Era uma maneira suave de dizer que se sentiu deprimida com a separação.
Por tudo o que ouvi de Andrew e de John no hall, eu já não tinha mais dúvidas
quanto àquilo.
Levantei-me mais do que decidido.
— Vamos para casa. Estamos precisando um do outro.
Segurei-a pela mão e fomos para a sala. Assim que entramos de mãos
dadas, notei o sorriso discreto de John e a cara mais amarrada ainda de Andrew.
— Michelle vai comigo — anunciei com um olhar direto para o irmão dela.
Ele contraiu os lábios e olhou para Michelle.
— Não acho que deveria ir. Corre o risco de ser magoada outra vez.
— Isso não vai acontecer — afirmei secamente antes que ela respondesse.
Michelle apertou a minha mão em um pedido silencioso de tolerância com
ele.
— Eu quero ir, Andrew. — Soltou a minha mão e foi abraçar o irmão, que
a apertou com força junto ao peito. — Vou ficar bem com o Tyler.
John abraçou os dois também e notei o quanto os três se amavam.
Nem acredito que cheguei a sentir ciú mes de John!
Agora, era evidente demais para mim a ligação que ele tinha com Andrew.
— Não vê que os olhos dela estão brilhando de novo? — John comentou
para Andrew. — Deixe-a ir e ser feliz com ele. Aqui a nossa baby estava se
afundando na tristeza.
Andrew olhou de cara feia para mim.
— Só vou deixar dessa vez, mas se magoar Michelle de novo, nunca mais
vai vê-la ou ao bebê, mesmo que você seja um bilionário filho da mãe!
— Andrew!
Michelle o repreendeu pela ofensa, mas aquilo realmente não me atingia.
— Desculpa, baby. — Ele se desculpou com a irmã, mas não comigo, que
teoricamente era o ofendido.
Deixei passar a situação, afinal, ele tinha todos os motivos para não gostar
mesmo de mim. No tempo certo, Andrew Barton me pediria desculpas e aceitaria as
minhas desculpas também.
— Vou trocar de roupa e pegar a minha bolsa para irmos — Michelle falou
para mim.
Assim que ela saiu da sala, Andrew não perdeu a oportunidade de me dar
mais um aviso.
— Cuide bem dela e do meu sobrinho.
— É o que pretendo fazer e vocês continuarão sendo bem-vindos na minha
casa para visitar Michelle. Sem lutas no hall de entrada.
Ele bufou com desprezo diante da menção à maneira como havia me
recebido minutos atrás.
— Você está saindo daqui sem levar um único soco na cara pelo que fez
Michelle sofrer esses dias.
Encarei-o gravemente, cansado das ameaças dele.
— Posso não aparentar o que sinto, mas garanto que também sofri com a
separação ou não teria vindo aqui hoje para levar Michelle de volta. Se ela não
significasse nada para mim, pode ter certeza de que seguiria feliz com a minha
antiga vida, o que não é o caso. Que fique bem claro entre nós que você só não
recebeu um soco na cara por ser irmão dela. Não costumo ouvir ofensas sem reagir.
Conciliador como sempre, John se colocou previdentemente entre nós dois.
— A baby não merece ver os dois homens que ama se esmurrando.
Lembrem-se dela, por favor.
Mais jovem e mais estourado dos dois, Andrew se afastou e foi para a porta
da varanda, olhando a rua lá fora com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Ele era
um bom irmão por defender Michelle, mas a minha paciência também tinha limites.
Ela não demorou a voltar usando um outro vestido. O modelo se parecia
mais com o de uma grávida, marcando os seios, mas folgado na linha da cintura até
o meio das pernas. Usava uma sapatilha baixa e confortável e trazia a bolsa no
ombro.
— Podemos ir.
Ela foi se despedir com emoção do irmão, depois de John.
— Amanhã vamos visitar você — Andrew prometeu, deixando muito claro
que queria ter certeza de que ela estava bem.
Michelle sorriu, feliz.
— Venham mesmo. Vou ficar aguardando.
Quando saímos do prédio e Michelle se sentou no banco de trás do
Escalade, soltei um suspiro de alívio. Fiz sinal para Miles e entrei também.
Agora que a tinha de volta, ninguém mais nos separaria!
Capítulo 45

Tyler
P ara minha surpresa, Michelle adormeceu nos meus braços durante o
percurso do apartamento até minha casa. Só então me dei conta do quanto ela
parecia exausta, um cansaço visível nas olheiras que lhe marcavam o rosto.
O sentimento de culpa tomou conta de mim, pois me sentia responsável
pelo estado em que ela se encontrava. Eu sabia que Michelle havia tido uma
depressão há pouco tempo e sem dúvida a nossa separação pesou muito nela. Além
disso, a gravidez já a deixava mais sensível do que o normal, o que deve ter ajudado
a deixá-la emocionalmente abalada. Se eu, que sempre me considerei imune à dor do
amor, sofri com a separação, quanto mais Michelle, que era bem mais emotiva.
Só agora eu entendia a dimensão da raiva de Andrew quando entrei no
apartamento. Ver a irmã novamente deprimida por minha causa, e ainda mais
estando grávida, aumentou o antagonismo que sempre sentiu por mim.
Aconcheguei-a mais junto ao peito, determinado a cuidar dela até que
voltasse a ser como antes. A primeira providência seria fazer com que dormisse e
descansasse assim que chegássemos em casa.
Quando o Escalade parou no estacionamento, tive de acordá-la para que
descesse do carro.
— Desculpa! Acabei adormecendo. — Ela passou a mão no rosto para
espantar o sono e nunca a achei tão frágil.
— Você está cansada, é normal que adormeça. É melhor subirmos logo
para você descansar.
Michelle não comentou nada nem opôs resistência ao que eu disse. Aceitou
a minha ajuda para descer do carro e ir para o elevador. Mantive o braço envolvendo
firmemente a cintura dela, que se encostou em mim em busca de apoio.
Assim que entramos na sala da cobertura, Ruth apareceu.
— Senhorita Michelle! — exclamou com um sorriso emocionado ao vê-la
entrar comigo. — Que bom que voltou. Sentimos a sua falta.
Michelle sorriu, abraçando-a.
— Também senti falta de vocês, Ruth.
Quando as duas se afastaram, Ruth analisou o corpo de Michelle com um
olhar crítico.
— Tem se cuidado?
— Estou bem, não se preocupe.
Ruth trocou um olhar comigo e senti a preocupação dela.
— Nós dois vamos descansar agora, mas capriche no jantar. Faça um dos
pratos que Michelle gosta.
— Farei com o maior prazer — Ruth garantiu com um sorriso satisfeito.
Levei Michelle para o quarto, decidido a vê-la descansar.
— Agora você vai se deitar e dormir. Ficarei com você.
— Só estou assim porque não dormi muito bem ontem à noite. — Ela
tentou justificar o cansaço.
— Sinal de que precisa mesmo descansar. Deite-se, Michelle.
Fechei as cortinas para diminuir a luminosidade do sol que entrava pelas
paredes de vidro e me preparei para me deitar com ela. Assim que a abracei,
Michelle soltou um suspiro de satisfação, apoiando o rosto no meu peito e fechando
os olhos.
Foi com surpresa que a vi pegar no sono segundos depois.

Assim que apareci na sala, Ruth se aproximou.


— Como ela está?
— Dormindo pesadamente.
— Parecia exausta e abatida.
Comprimi os lábios com força, ciente da minha culpa no estado em que
Michelle se encontrava.
— Sei que fiz merda, mas juro que não vai se repetir.
Recebi um olhar de aprovação dela, que sorriu satisfeita.
— Vocês dois precisam um do outro — declarou com sabedoria, mas
depois ficou séria de repente. — Por falar nisso, queria lhe mostrar uma coisa, Tyler.
Saiu uma reportagem sobre a gravidez de Michelle. É de uma revista de fofocas e
desconfio que seja obra de Barbara.
F ilha da mãe!
— Me mostre.
Ela saiu e voltou minutos depois com uma revista nas mãos. Peguei-a,
sentando-me para ler.
— Obrigado, Ruth. Pode se retirar.
Quando fiquei sozinho, contive um xingamento ao ver qual era a revista. A
24
Stars se autointitulava como a mais nova revista de celebridades do país, mas não
passava de um tabloide sensacionalista.
Só que em breve eles teriam um processo milionário com o qual lidar.

Saiba tudo em primeira mão sobre a gravidez de Michelle Barton, a


herdeira falida do Barton Bank.
A família Barton era dona do Barton Bank, o banco que causou desespero
nos correntistas e investidores no mês passado quando decretou falência.
Michelle Barton era a herdeira do grupo financeiro comandado pelo pai,
o ex-banqueiro Colin Barton. Enquanto o pai desaparecia de vista,
Michelle se preparava para ser cada vez mais vista nos eventos sociais,
sendo o último deles a festa das bodas de pérola de Bill Stamford e esposa.
Na ocasião, ela surpreendeu a todos ao comparecer acompanhada por um
dos homens mais ricos do mundo, muito conhecido em Wall Street e que
comprou o banco do pai dela. Conseguem adivi nhar quem é?
O que ficamos sabendo em primeira mão, é que Michelle está grávida e
que a gravidez deve ser de pouco tempo, pois a barriga ainda nã o é
visível.
Quando ela apareceu nas bodas de pérola de braços dados com o
investidor de Wall Street, surgiu um boato dizendo que a herdeira falida do
Barton Bank havia se dado muito bem na vida. Não querendo ser
maldosos, mas temos de convir que ela realmente agiu rápido.
Teremos aqui o conhecido GBB*? O tempo dirá!
(*) Golpe do Baú e da Barriga.

Trinquei os dentes com uma raiva fria dominando-me ao terminar de ler o


texto e de olhar as fotos de Michelle que acompanhavam a reportagem. Além
daquela em que entramos juntos nas bodas de Bill, conseguiram também fotos
antigas dela com o pai e a família, inclusive uma de biquíni com a mãe em um iate
no Caribe, onde estavam de férias.
A legenda abaixo da foto era provocadora.

Enquanto os correntistas sequer imaginavam que o banco estava às portas


da falência, a família se divertia em uma das muitas férias de luxo ao redor
do mundo. Nesta foto, estã o no Caribe.

Eu não podia culpar o comentário maldoso sobre as férias de luxo enquanto


o banco falia, porque aquilo era uma verdade, mas Michelle não tinha culpa dos
erros do pai, muito menos merecia ser exposta em uma reportagem daquele nível.
Peguei imediatamente o celular e liguei para Ryan. Assim que o meu
diretor jurídico atendeu, falei-lhe da reportagem.
— Processe, feche, tire de circulação. Faça o que for preciso para mostrar
que se foderam ao publicar esta merda. — Fui seco e incisivo. — Procure Barbara
Gates no número que vou lhe dar. Informe que vai entrar com um processo contra
ela por invasão de domicílio, agressão, difamação, danos morais e o que mais você
conseguir meter em cima dela. Quero esta mulher se borrando nas calças de tanto
medo.
Eu podia não esganar Barbara com as minhas próprias mãos, mas ia
esganar com o meu poder.
Capítulo 46
Tyler
— G BB? Que nojo! — Michelle fez uma careta de desprezo quando
terminou de ler a reportagem. — Não quero mais saber de nada do que falarem de
mim por aí. Sempre vivi nessa sociedade e sei como as coisas funcionam. Vou
simplesmente ignorar.
Coloquei o celular de lado e bebi um gole de vinho. Ele havia dormido até
tarde e tínhamos acabado de jantar no terraço há pouco tempo. Agora, estávamos no
sofá, aproveitando que o tempo na cidade continuava bom.
— Eu não ignorei nem vou ignorar.
Michelle soltou uma risada divertida.
— Você não seria Tyler Blackwolf se não fizesse nada.
— Vê como me conhece bem?
Ela tirou as sandálias e dobrou as pernas sobre o sofá, aconchegando-se
sobre o meu peito.
— Ver essas fotos das férias no Caribe me deu saudades da minha mãe. Foi
a nossa última viagem juntas.
Merda!
Coloquei a taça de vinho sobre a mesa e atraí Michelle para o meu colo,
abraçando-a com força. Ela se aconchegou com evidente prazer.
— Eu não sabia ou teria dado um jeito de não lhe mostrar essa foto. Não
quero que fique triste.
— Não estou. Sinto saudades, mas não é a tristeza de antes. Desde que
engravidei que a minha vida ganhou um outro sentido.
— Desde que me conheceu também? — provoquei-a.
Michelle soltou uma risada descontraída que encheu o meu peito de paz.
— Principalmente. — Ela soltou um longo suspiro logo depois. — Ver o
meu pai nessas fotos me lembrou algo que ainda não tive a oportunidade de contar
para você. Ele ligou para o Andrew pedindo para falar comigo.
Fiquei imediatamente tenso com aquela notícia.
— O que ele queria com você? — Não consegui evitar a dureza na voz.
Ela pareceu ficar constrangida, mas não se calou.
— Queria que eu convencesse você a não o processar. Disse que a justiça
só quer pegá-lo por sua causa, que você tem poder para conseguir que o deixem em
paz.
Fiquei furioso com a ousadia dele de pedir aquilo para Michelle. Por outro
lado, fiquei também preocupado. Colin Barton era esperto demais e já devia ter
percebido que Michelle possuía influência suficiente sobre mim para conseguir
aquilo e muito mais.
— Isso é responsabilidade da justiça e não minha. Mesmo assim, eu jamais
o ajudaria. — Preferi não dizer que jamais ajudaria o homem que odiei a minha vida
toda. — O seu pai desviou dinheiro do banco e precisa prestar contas disso à justiça.
Ele disse onde está?
— Não, mas o número era de outro país e conversamos pelo celular de
Andrew. — Ela me olhou com um certo receio. — Apesar de tudo o que ele fez, não
me peça para entregar o meu pai, Tyler.
Eu tinha outras maneiras de conseguir aquele número sem que Michelle ou
Andrew ficassem sabendo ou precisassem se envolver.
— Eu jamais faria isso e peço que não comente com ninguém o que acabou
de me contar. Diga ao seu irmão para fazer o mesmo.
Michelle me abraçou pelo pescoço com força e engoli em seco diante do
tamanho do amor que sentia por ela. Agora que eu sabia o que era o amor, sentia-me
mais confiante de reconhecer o quanto a amava.
— Eu te amo, Michelle — declarei-me roucamente.
Ela me olhou, emocionada.
— Oh, Tyler. Eu também te amo muito.
Acariciei uma das faces dela com o polegar até chegar aos lábios,
pressionando o inferior para baixo, observando ambos se separarem sensualmente.
Desci a boca para eles, sugando o inferior entre os meus até ela soltar um gemido de
prazer.
Aproveitei a posição semideitada dela nos meus braços para enfiar a mão
por baixo do vestido que usava e puxar a calcinha pelas coxas esguias.
— Tyler! — ela voltou a gemer quando entendeu as minhas intenções.
— Não se preocupe. Estamos sozinhos e esse lado do terraço não é muito
iluminado. Só quero tocar em você por baixo do vestido.
E foi o que fiz depois de tirar a calcinha dela pelas pernas. Levei a peça
minúscula de renda preta ao nariz e inspirei com prazer o cheiro da minha mulher.
— Delicioso — grunhi com os olhos presos em Michelle, que arfou de
excitação com o meu gesto.
Ela ficou em ofegante expectativa e não deixei que esperasse por muito
tempo. Voltei a enfiar a mão por baixo do vestido, acariciando primeiro as pernas
esguias, depois as coxas roliças, até me aproximar aos poucos do que eu realmente
queria tocar.
Michelle já estava molhada à minha espera quando deslizei o dedo entre as
dobras macias, acariciando com especial atenção o clitóris sensível.
— Oh, Tyler. É tão bom.
— Abre só um pouco mais.
Ela fez o que pedi, separando melhor as pernas e dando-me mais acesso ao
seu interior sedoso. Era difícil não sentir no dedo aquele canal apertado e querer
fazer o mesmo com o meu pau ali dentro.
— Me dá um seio — exigi, controlando o meu desejo para aumentar o dela.
Michelle puxou a alça do vestido e deixou um dos seios à mostra. Ver o
mamilo sob a luz difusa da noite me excitou de uma maneira absurda. Coloquei o
mamilo tenro na boca e suguei com prazer, mamando e chupando até ela se
contorcer nos meus braços.
— Entra em mim, Tyler — pediu da maneira mais irrecusável do mundo.
Eu jamais teria autocontrole suficiente para negar um pedido daqueles.
— Sente aqui em cima.
Ajudei-a a ficar de joelhos e abri a minha calça, descendo-a até as coxas
com a cueca. O meu pau duro pulou para fora e Michelle se sentou em cima,
jogando a cabeça para trás à medida que ele entrava. Enquanto isso, eu fechava os
olhos, tamanho foi o prazer de me sentir profundamente dentro dela.
— Porra, Michelle. Você me enlouquece!
Ainda tive o cuidado de usar o vestido largo para nos cobrir antes de
posicioná-la melhor em cima de mim, os seios que eu tanto amava próximos do meu
rosto.
— Está bom para você? — rosnei, roçando a barba no busto alto.
— Sim, muito.
Coloquei uma mão por baixo do vestido e estimulei o clitóris dela com o
dedo, amando ver como se arqueava nos meus braços.
— Tyler, Tyler — ele repetia o meu nome sem parar, enquanto se movia
em cima de mim cada vez mais rápido.
— Isso! Mexe esse corpo em cima do meu pau até me enlouquecer,
Michelle! — exigi com a voz rouca ao sentir o meu pau duro sendo montado por ela.
Michelle foi magnífica e me levou rápido para um orgasmo fodidamente
poderoso, que exauriu as minhas forças quando me derramei em jatos vigorosos
dentro dela. Agarrado naquela mulher que havia se tornado o meu tudo, literalmente
vi estrelas, e não eram as que brilhavam no céu.
Esgotada depois do gozo, ela se deixou ficar sentada sobre mim, enquanto
nossas respirações ofegantes se acalmavam. Agarrados um no outro, nos beijamos
na mesma sintonia, permanecendo face a face por um bom tempo.
— Acho que não tenho forças para chegar até o quarto — ela admitiu com
um sorriso envergonhado.
— Eu levo você.
Ajeitei o vestido dela sobre os seios e ajudei-a a sair de cima de mim.
Voltei a subir a minha calça e fiquei de pé, pegando-a ao colo. Quando chegamos ao
quarto, ela apontou para o banheiro, onde a deixei sozinha.
Fui fechar as cortinas e puxar os lençóis da cama. Cerca de vinte minutos
depois, já estávamos deitados e nunca me senti tão feliz na vida, tendo nos braços a
mulher que eu amava .
Capítulo 47
Michelle
U m mês depois de voltar a morar com Tyler na penthouse, eu já havia
recuperado o peso que perdi e ainda ganhado alguns quilos a mais com os mimos de
Ruth e os cuidados dele.
O dia da minha consulta com a doutora Jane chegou e eu estava ansiosa
para saber como o meu filho estava. Ted parou o SUV no estacionamento da clínica,
desceu do carro junto com o outro segurança e veio abrir a porta para mim. Ele me
acompanhou até a recepção e só saiu quando examinou o local e se sentiu satisfeito.
A sala de espera estava vazia, como sempre acontecia entre uma consulta e
outra. Raramente eu cruzava com alguma paciente que também estivesse
aguardando. A doutora Jane não costumava atrasar as consultas e o agendamento
funcionava muito bem, mesmo tendo como pacientes um número considerável de
mulheres da alta sociedade.
Como sempre, Bertie se levantou da cadeira para me dar um abraço.
— Minha querida, você está mesmo ficando uma grávida muito bonita.
Soltei uma risada de felicidade.
— Você é um amor, Bertie. Vê beleza em mim até quando estou
desarrumada.
— Mas é a verdade! — ela afirmou com seu eterno bom humor. — Estou
estranhando que tenha vindo sozinha hoje.
— Tyler teve uma reunião de última hora agora à tarde que não conseguiu
adiar, mas me garantiu que vem. Ele já deve estar a caminho. Como cheguei um
pouco adiantada, vai dar tempo.
— Ah, agora está explicado. Pelo pouco que conheço dele, sei que nada o
faria perder a consulta.
Fiquei mais feliz ainda ao ouvir aquilo, porque era a mais pura verdade.
Tyler fazia questão de estar presente em todas as consultas para acompanhar o
crescimento do filho. Ele tentou cancelar aquela reunião, mas parece que o assunto
era mesmo urgente.
— Sente-se, querida. O dia hoje foi meio caótico aqui, mas agora as coisas
estão voltando aos eixos. Daqui a pouco chega a sua vez de entrar.
Sentei-me no sofá confortável e ela voltou para o seu posto de trabalho.
— O que foi que aconteceu?
— Nosso sistema informático sofreu a segunda pane neste mês. Tivemos de
chamar a assistência técnica às pressas por duas vezes ou a clínica ia parar. Ficamos
sem conseguir acessar as consultas, as fichas das pacientes, os exames e a
contabilidade.
— Imagino o estresse que foi para vocês. Já resolveram o problema?
— O sistema ainda não voltou totalmente. Os técnicos estão na sala de
informática tentando resolver de vez o assunto.
— Se já estão aqui, não deve demorar muito agora.
— Estou rezando por isso!
Ficamos conversando amenidades até chegar a hora da consulta.
Preocupada, consultei o relógio.
— Acho que Tyler não vai conseguir chegar na hora.
Ainda pensei em ligar para ele, mas depois desisti. Eu não queria
interromper a reunião. Se ele não havia ligado até aquele momento para desmarcar,
era porque vinha.
— Você vai entrando para adiantar tudo. Assim que ele chegar, eu o levarei
à sala — Bertie me tranquilizou.
Eu não podia atrasar a agenda da doutora Jane e fui para a sala, esperando
que desse tempo para Tyler chegar.
— Como você está linda, Michelle! Gosto de ver essa expressão de
plenitude no seu rosto. — Foi a primeira coisa que a médica disse quando me
abraçou.
— Vocês duas combinaram de me encher de elogios hoje — comentei,
abraçando-a com carinho.
— Bertie também disse isso? Ora, que coincidência! Juro que não
combinamos. — Sua risada encheu a sala de boas energias, mas depois ela olhou
para a porta fechada. — Ele não veio hoje? Não acredito!
Foi a minha vez de rir muito com a cara engraçada que ela fez.
— Tyler ficou preso em uma reunião importante, mas disse que vem. Só
não sei se vai ser a tempo.
— Para ele não ter vindo junto com você, deve ter sido uma reunião
importante mesmo. Infelizmente, não poderei aguardar que ele chegue e espero que
entenda.
— Claro que sim! Ele também vai entender.
— Então vamos começar. Sente-se, querida.
Mal nos sentamos, a porta se abriu atrás de mim. Respirei aliviada por
Tyler ter conseguido chegar a tempo e me virei com um sorriso, que se apagou do
meu rosto quando um homem entrou na sala usando uma camisa com o logotipo da
empresa de informática.
Fiquei tão decepcionada por não ser o Tyler, que só depois de alguns
instantes foi que me dei conta do inconveniente da presença dele ali. O homem
havia entrado sem bater na porta e no meio de uma consulta ginecológica. E se eu
estivesse nua?
A doutora Jane se levantou de imediato, indignada.
— Você não pode entrar aqui no meio de uma consulta!
— Cale-se ou vai morrer antes da hora! — ele ordenou, tirando uma pistola
do cós da calça, que apontou para a cabeça dela.
Paralisei ao ver aquela arma, chocada demais para reagir.
Meu Deus, o que é isso?
O homem não era um técnico de informática, mas um assaltante. Tinha um
rosto estranho, com a pele esticada e pálida demais. Lembrei-me de Ted lá fora com
o outro segurança e pensei como conseguiria alertá-lo para o que estava acontecendo
ali dentro.
Qualquer intenção de pedir ajuda que eu ainda tivesse, foi massacrada
quando um outro homem entrou na sala. Completamente abalada, observei-o trancar
a porta à chave e se sentar tranquilamente na cadeira ao lado da minha.
O meu mundo foi abaixo.
— Pai! — exclamei, horrorizada. — Mas o que é que o senhor faz aqui?
Usando um dos seus ternos impecáveis, ele parecia um respeitável homem
de negócios e não um fraudador do próprio banco.
Ele não estava n a Indonésia?
— Vim acompanhar a sua consulta, Michelle. — A resposta foi desprovida
de qualquer sentimento ou amor por mim.
— Peço que se retire com o seu... segurança, senhor Barton. — A doutora
Jane foi seca ao falar com ele, estando bem mais no controle da situação do que eu.
— Só vou me retirar depois que a doutora fizer algo para mim. Quero o
filho de Tyler Blackwolf morto e é a doutora quem vai fazer isso agora.
O quê?!
Ao ver o meu filho sendo ameaçado, o entorpecimento que eu sentia
desapareceu no mesmo instante. Levantei-me e recuei para o fundo da sala.
— Ninguém vai tirar o meu filho!
O olhar frio do meu pai se fixou em mim e nunca me senti tão menos filha
dele quanto naquele instante.
— Você escolhe se quer que a médica tire a criança ou se prefere que
Huxley tire na porrada.
Huxley?
Estremeci, horrorizada, virando-me para o homem que o acompanhava. Os
olhos escuros que se fixaram em mim possuíam um brilho de crueldade que
reconheci com tristeza. Era ele, mesmo que o rosto estivesse bastante diferente.
— Mas que absurdo é esse? — a doutora Jane exclamou, tão horrorizada
quanto eu.
— Não tenho tempo para conversas, apenas faça o que estou mandando!
— Nunca fiz nenhum aborto e não é agora que vou fazer.
A pistola foi pressionada contra a cabeça dela.
— Vai fazer, sim! E rápido — Huxley ameaçou.
— Michelle já passou do tempo de gravidez para um aborto seguro — a
doutora Jane falou dirigindo-se ao meu pai. — Se fizer agora, poderá ter sérias
complicações que podem causar esterilidade ou até mesmo morrer.
Senti vontade de chorar só de ouvir aquilo.
— Ou você faz ou ela vai engolir à força o remédio que eu trouxe. Não sou
tão idiota assim, doutora. O médico que me deu, garantiu que funciona direitinho.
— Ela não pode ter um aborto induzido por medicação com a idade
gestacional que tem agora. Esse médico é um assassino!
— Chega, doutora! Vai fazer e ponto final.
Apesar do choque que me paralisava, consegui encontrar voz para falar
com o meu pai.
— Eu não acredito que o senhor vai arriscar a minha vida desse jeito.
— Você é jovem, forte e saudável, Michelle. Não vai morrer. Jane Young é
uma excelente profissional e não vai deixar que isso aconteça, não é mesmo,
doutora? — Olhou com cinismo para a médica e depois para mim. — Quem vai
morrer é o filho de Tyler Blackwolf.
— É o meu filho também, o seu neto!
Um esgar de raiva contorceu o rosto dele.
— Não terei netos vindos daquela cria do inferno. Jamais vou deixar que o
sangue sujo dos Blackwolf se misture com o da minha família.
Sangue sujo era o dele, mas o instinto de sobrevivência me fez calar. A
minha situação era delicada demais e rezei fervorosamente para que Tyler chegasse.
Cruzei o olhar com o da doutora Jane, nós duas estarrecidas demais com o
que o meu pai havia acabado de dizer. Uma expressão de determinação tomou conta
do rosto dela.
— A minha missão é trazer crianças ao mundo e não as matar, senhor
Barton. Retire-se da minha clínica e não volte nunca mais. Não haverá nenhum
aborto aqui.
O meu pai fuzilou-a com o olhar duro.
— Péssima resposta, doutora.
A um gesto dele, Huxley golpeou-a na cabeça com violência e a doutora
Jane caiu ao chão como uma boneca de pano. Fiquei horrorizada ao assistir aquela
cena, mas o meu horror só aumentou quando me vi sozinha com eles dois.
Meu De us, e agora?
Eu precisava salvar o meu filho e apelei de todas as formas.
— Tem dois seguranças lá fora e vão chegar mais daqui a pouco com Tyler.
— Blackwolf agora está ocupadíssimo me prendendo lá na Indonésia. — O
meu pai riu com cinismo. — Nem pelo filho ele abandonaria a reunião em que o seu
maior inimigo vai ser detido com um criminoso internacional. Confio no ódio que
ele sente por mim para o manter afastado daqui. Chegou a sua hora, Michelle.
— Não, pai! Por favor!
Recuei para mais longe ainda deles, tentando encontrar uma maneira de
defender o meu filho.
— Quando Blackwolf descobrir que não existe mais filho algum, vai dar
um chute na sua bunda e quem vai recebê-la de braços abertos é Nicholas. O idiota
ainda quer você, apesar de tudo. Parece que o desejo dele é maior do que a raiva de
não ter mais uma mulher virgem na cama.
Se eu já estava enojada com tudo aquilo, fiquei mais ainda ao ouvir falar de
Nicholas. O meu horror não tinha tamanho!
— Prefiro morrer!
— Deixe de drama, Michelle. — Ele foi tão duro comigo que nem parecia
que eu era filha dele. — Huxley!
— Pai, por favor!
Ele não respondeu, muito menos se sensibilizou com as minhas lágrimas ou
apelos. Olhei para Huxley, que já se aproximava de mim com um brilho de prazer
nos olhos cruéis.
— Vocês dois não vão conseguir escapar da prisão se não fugirem agora.
O meu pai nem se dignou a responder. Foi Huxley quem o fez, sorrindo
com perversidade.
— Vamos sair tranquilamente pelos fundos, enquanto os dois idiotas
aguardam por você na frente. Não se preocupe, benzinho. Vai ser rápido.
Ele guardou a pistola no cós da calça e tirou uma caixinha do bolso, de
onde retirou dois comprimidos.
— Agora seja boazinha e abra a boca.
Recuei à medida que ele avançava.
— Bertie! — gritei o mais alto que pude.
Ele sorriu com selvageria.
— Ela está descansando agora.
Ele a matou? Não é possível!
— Ted! Socorro!!! — Não desisti de pedir ajuda, voltando a gritar alto.
— Cale-a! — o meu pai ordenou.
Huxley avançou rápido e tapou a minha boca, imprensando-me contra a
parede.
— Ninguém vai ouvir, mas se você gritar de novo, juro que dou um soco na
sua barriga e tiro esse menino com os meus punhos.
Soluçando de desespero, protegi a minha barriga como pude, cruzando os
braços na frente. Comprimi os lábios com força quando ele libertou a minha boca
para me fazer engolir os remédios.
— Abra a boca!
Ele tentou enfiar dois comprimidos de uma só vez entre os meus lábios sem
conseguir, até mudar de posição e ir para o canto da minha boca. Os dedos
grosseiros forçaram sem piedade e foi com angústia crescente que senti os remédios
ultrapassarem os lábios. Trinquei os dentes, impedindo que fossem adiante.
Huxley apertou a minha garganta.
— Engula!
Fiz o oposto e cuspi os dois comprimidos na cara dele.
Tyler, pelo amor de Deus, chega logo!
Capítulo 48
Tyler
G irei a montblanc 25 entre os dedos, aguardando pacientemente o momento
em que o telefone ia tocar e a notícia da prisão de Colin Barton na Indonésia seria
confirmada. Dentro da sala de reuniões, o meu diretor jurídico e o meu homem de
confiança aguardavam o mesmo.
Nós três estávamos há mais de uma hora em contato direto com os
investigadores responsáveis pelo caso, seguindo cada passo da operação que eles,
junto com o FBI e a Interpol, estavam deflagrando na ilha do arquipélago da
Indonésia onde o desgraçado havia se escondido.
Olhei o meu relógio no pulso, preocupado com o avançar dos minutos. Eu
não queria perder a consulta de Michelle, mas também não podia abandonar a
reunião no meio. Muitos esforços haviam sido feitos por todos para que aquele
objetivo fosse alcançado e eu permaneceria com eles até o fim.
Desde que fiquei sabendo da ligação que Colin Barton fez para Andrew,
acionei o meu pessoal para rastrear o celular do irmão de Michelle e conseguir o
número que havia ligado do exterior. Andrew possuía vários contatos fora do país, o
que atrasou um pouco a identificação daquele que realmente queríamos, mas não
impediu que o conseguíssemos.
Agora era questão de tempo. Só mais alguns minutos e eu poderia me
encontrar com Michelle no consultório da doutora Jane, tendo a satisfação de saber
que o pai dela estava finalmente preso.
Dez minutos depois, o celular de Miles tocou. Ele atendeu imediatamente e
colocou no alto-falante.
— O homem que vive com Sari Yani é muito parecido fisicamente com
Colin Barton, mas não é ele. É quase um sósia. — A voz do investigador soou
gravemente séria. — Fomos enganados. Ele fugiu.
Mas que porra é essa que es tou ouvindo?
Bati a caneta com força na madeira da mesa, furioso.
— Filho da puta!! — rugi, enfurecido. — Ele nos fez de otários, de idiotas!
Miles e Ryan não estavam menos enraivecidos do que eu com aquela
péssima notícia.
Para mim, agora estava óbvio que Colin Barton enganou a todo mundo
desde o início. A ligação para Andrew havia sido planejada, assim como também foi
planejado o pedido para falar com Michelle, tudo para deixar pistas de que estava na
Indonésia.
Ele havia jogado com os filhos. O desgraçado sabia que o sentido de honra
de Andrew e Michelle era maior do que a lealdade familiar para com ele. Mesmo
que Andrew não contasse para ninguém, Michelle sem dúvida contaria para mim. Se
com isso ela conseguisse me convencer a ajudá-lo a não ir para a prisão, Colin
Barton sairia lucrando.
Foi um plano ousado e arriscado o dele, mas que mostrava o quanto era
inteligente na hora de enganar, de mentir e conseguir o que queria.
Miles e Ryan continuaram conversando com o investigador, mas eu já não
ouvia mais nada, furioso por ter me deixado ludibriar daquela forma. Quando eles
desligaram, nossa frustração era palpável.
— Mas, afinal, o que ele realmente queria ao nos atrair para a Indonésia?
A pergunta de Ryan era a mesma que eu tinha na cabeça.
— Desviar a nossa atenção do verdadeiro lugar onde está agora — deduzi,
sem ver outra explicação.
— Se ele queria isso, bastava não ter ligado para os filhos. Foi esta ligação
que nos fez chegar até ele — Miles raciocinou.
— Acho que ele quis tentar primeiro o caminho mais fácil, que era
Michelle me convencer a ajudá-lo. Como ela se negou, ele seguiu em frente com o
plano alternativo.
— Isso significa que agora ele pode estar em qualquer lugar do mundo. —
Miles olhou para mim com uma carranca.
— E me odiando ainda mais.
A imagem de Michelle e Joshua foi a primeira coisa que veio à minha
cabeça mal terminei de falar.
— Confirme com Ted se está tudo bem com Michelle. — Levantei-me,
finalizando a reunião. — Vou encerrar por aqui, Ryan. Mantenha contato com os
investigadores e depois me passe os detalhes.
— Farei isso e espero ter boas notícias para dar.
Eu também!
Quando ele saiu da sala, peguei a pasta e me organizei para ir embora.
— Ted disse que a senhorita Michelle continua na consulta e que está tudo
sob controle. Não há nenhuma movimentação estranha na clínica e a paciente
seguinte ainda não chegou.
Relaxei com aquelas informações.
— Vamos embora.
Saímos da minha sala e pegamos o elevador até o estacionamento, onde o
Escalade nos esperava com o motorista.
Quando o carro estacionou ao lado do SUV dos seguranças de Michelle, eu
estava dez minutos atrasado. Desci rápido e entrei na clínica seguido por Miles,
esperando ver Bertie na recepção, mas a mesa dela estava vazia.
Impacientei-me por ter de esperar, pensando seriamente em ir sozinho até a
sala da doutora e bater na porta, mesmo interrompendo o ultrassom. Deduzi que
Bertie tivesse ido ao banheiro, até ver um celular caído no chão ao lado da cadeira
dela. O meu olhar foi direto para o telefone sobre a mesa de trabalho, notando o fone
colocado discretamente fora do gancho.
Uma tensão fodida se espalhou pelo meu corpo ao desconfiar que algo
estava errado.
Michelle!
Decidi invadir a sala da médica de qualquer jeito, mas antes fiz um sinal
para Miles parado na porta, que prontamente se aproximou de mim. Da posição em
que ele estava, não tinha como ver o mesmo que eu.
Quando ele parou ao meu lado, apontei para o celular no chão e o fone fora
do gancho. Ele não precisou de mais nada para tirar a pistola do coldre axilar.
— Vou atrás de Michelle — informei em tom baixo.
— Deixe-me primeiro ver o que está acontecendo, senhor.
— Não vou esperar nada.
Ele se colocou à minha frente.
— É o meu trabalho. Não posso deixar que vá sozinho e seja ferido.
— Se corro perigo, ela também está correndo — rosnei, tentando manter
um controle que já escapava das minhas mãos. — Me dê a pistola e pegue outra com
Ted. Você sabe que sei usar.
— Só um instante, senhor!
Ele foi rápido até a porta e fez sinal para Ted, mas em vez de pegar uma
pistola com ele e me dar, ambos entraram na clínica. Os outros dois seguranças
ficaram de prontidão lá fora.
Porra! Eu não acredito que esta merda está acontecendo!
Tenso e impaciente, obriguei-me a deixá-los agir, mas nunca foi tão difícil
ficar sem fazer nada sabendo que Michelle e o meu filho podiam estar correndo
perigo. Não era a primeira vez que atentavam contra os dois.
Miles olhou para mim.
— Mostre-me onde fica a sala da doutora.
Eu já estava indo para lá antes mesmo de ele terminar de falar.
— Aja naturalmente, mas não fique de frente para a porta — orientou-me
quando chegamos.
Coloquei-me ao lado do batente e bati na madeira, girando a maçaneta, mas
ela não se abriu. Estava trancada e foi quando joguei a prudência à merda.
— Michelle! — chamei alto, forçando a fechadura mais uma vez.
— Tyler! — ela respondeu lá de dentro, mas a voz estava embargada como
se estivesse chorando.
Fod am-se todos!
— Abra a porta para mim!
Michelle não abriu, mas ouvimos sons de movimentação lá dentro e não
parecia ser dela. Fiquei mais tenso do que antes e tomei distância para arrombar a
porta, mas Miles me impediu, segurando-me pelo braço.
— Será um alvo fácil se houver alguém armado lá dentro.
— Solte-me e isto é uma ordem! Não vou deixar Michelle sozinha.
— Se morrer não poderá fazer nada por ela. — Miles me enfrentou com o
semblante sério. — Pode me demitir depois, mas não antes de eu eliminar quem está
lá dentro.
Não havia tempo para discussões.
— O que sugere?
— Tentarmos descobrir se há uma outra entrada para este consultório.
Lembrei-me da sala contígua onde o exame de ultrassom era realizado.
— Existe!
Decidido, fui para lá, sendo seguido por Miles. Ted ficou para dar cobertura
à saída do consultório.
Entrei na sala de exames, que estava às escuras, esperando que a porta de
comunicação também não estivesse trancada. Caminhei com cuidado na escuridão
até me aproximar dela e fazer um sinal para Miles atrás de mim.
Dali, já era possível escutar a voz grave de um homem falando lá dentro e
outro respondendo. Apesar de não ser alto o suficiente para entender o que diziam, o
fato de saber que havia dois homens dentro do consultório com Michelle fez a
adrenalina correr furiosamente no meu sangue. Eu queria colocar a mão neles e
socar até matar, se fosse possível.
Com a arma em punho, Miles fez um gesto para que eu ficasse atrás dele e
segurou a maçaneta, abrindo a porta lentamente. Uma fresta de luz entrou pela
abertura ínfima, mas foi o bastante para vermos o que acontecia na sala ao lado.
Como eu era mais alto do que ele, consegui ver sem nenhuma dificuldade o
que a abertura mostrava da sala. A primeira pessoa que apareceu no meu raio de
visão foi um homem segurando uma pistola, que conversava com... Colin Barton!
Senti o meu corpo se contrair de raiva mal controlada.
Filho da puta! É aqui qu e você está!
Capítulo 49
Tyler
I nspirei fundo e cerrei os punhos para manter a calma e não perder a razão.
Eu não conseguia ver Michelle, o que me deixou mais preocupado ainda.
Apesar de Colin Barton ser um monstro em forma de gente, eu acreditava que ele
não a mataria, mas ao meu filho, sim.
Miles abriu um pouco mais a porta e consegui ver a doutora Jane sentada
no chão com as costas apoiadas na parede. Ela parecia atordoada e limpava a boca,
de onde um filete de sangue escorria. Aquilo já nos deu uma amostra do quão longe
os dois homens estavam dispostos a ir para cumprirem a missão que os trouxe de
volta a Nova York. E a missão era, sem dúvida alguma, matar o meu filho.
Eu sabia que a prudência era fundamental para salvar Michelle e Joshua,
mas a urgência de empurrar Miles da minha frente e entrar na sala para enfrentar os
dois era avassaladora. Também era uma insensatez, considerando que eu não estava
armado, mas o amor que eu sentia pela minha mulher e pelo meu filho exigia uma
ação imediata.
Dentro da sala, os dois homens conversavam olhando para a porta do
consultório, onde eu deveria estar do lado de fora. Colin Barton desapareceu do meu
raio de visão e voltou arrastando Michelle pelo braço. Vê-la, fez com que o tênue
autocontrole que eu tinha ameaçasse se romper de vez e lutei com todas as minhas
forças para me segurar.
Miles ergueu a mão pedindo calma.
— Abra a porta para ele — Colin ordenou para Michelle em um grunhido
irado.
— Não! — ela negou bravamente, mas notei como os braços envolviam
protetoramente a barriga.
Aquele era um forte indício de que o nosso filho ainda estava vivo e me
emocionei como nunca pensei na vida. Eu precisava dos dois comigo, para sempre!
À minha frente, Miles estava tão tenso quanto eu, à espera do momento
certo para invadir a sala, que surgiu quando o homem armado veio para perto de
onde estávamos, posicionando-se para me matar quando eu supostamente entrasse
pela outra porta.
Era o momento perfeito e Miles não o perdeu. Rápido e preciso, entrou na
sala e encostou a pistola na testa do atirador, que foi pego totalmente de surpresa.
— Largue a arma! — ordenou secamente, sendo obedecido de imediato sob
o olhar atônito de Colin Barton.
Michelle soluçou de alívio quando me viu entrar na sala logo depois,
enquanto Miles se apoderava da arma do criminoso e o forçava a se deitar no chão
com as mãos na cabeça.
Sem a ameaça de um atirador pronto para me matar, avancei com tudo para
cima do covarde do Colin Barton. Agarrei e torci o pulso da mão com que ele
segurava Michelle pelo braço, forçando-o a soltá-la.
Foi com gosto que o segurei pelo colarinho do terno e o imprensei contra a
parede.
— Filho da puta! — rugi na cara dele. — Você nunca mais vai encostar a
mão em Michelle de novo nem tentar matar o meu filho. Vou cuidar pessoalmente
para que apodreça na pior prisão que exista neste país.
— Solte-me, Blackwolf! Eu não fiz nada. Estava apenas acompanhando a
minha filha na consulta e isso não é crime.
— Conte as suas mentiras para o juiz antes da condenação.
Meti um soco na cara dele com um prazer violento e não tive pena alguma
quando o desgraçado caiu no chão e ficou imóvel.
— Tyler!
Foi o grito de Michelle que refreou a ânsia que eu sentia de bater mais nele.
Parei por causa dela, que já devia estar abalada demais com tudo o que havia
acontecido, para ainda ver o próprio pai sendo massacrado, ainda que ele merecesse.
Virei-me para ela, que se atirou nos meus braços e soltei um rugido de
alívio ao tê-la comigo.
Peguei-a ao colo e tirei imediatamente dali, voltando para a sala de exames
e deixando que Miles e os seguranças cuidassem do resto.
Coloquei-a no chão, abraçando-a com força e beijando-a no rosto repetidas
vezes.
— Michelle, Michelle — grunhi, apaixonado. — Eu não ia aguentar perder
você.
— Oh, Tyler. Quis tanto que chegasse logo.
— Você está bem? E Joshua?
— Estamos bem, mas ele queria matar o nosso filho. Tentou me forçar a
tomar um remédio abortivo. Cuspi tudo antes de engolir, mas fiquei com medo de
não ter sido rápida o suficiente. Não quero perder o nosso filho.
O meu peito se comprimiu de angústia com aquela possibilidade.
— Não vai perder! — Acariciei a barriga dela. — Fique calma para ele
também ficar. Estou aqui com vocês.
Ela me abraçou com mais força, aconchegando-se no meu peito.
— Eu te amo tanto, Michelle. — Soltei a emoção represada dentro de mim.
— Oh, Tyler. Eu também te amo muito!
Segurei-a pela nuca e beijei os lábios que se encontraram com os meus
necessitados de amor. Saboreei a boca da mulher que eu amava de uma maneira tão
intensa que às vezes até me assustava, mas também seduzia. Tê-la nos meus braços
acalmou a angústia que senti diante da possibilidade de perdê-la.
Foi com preocupação que a coloquei deitada na maca de exames.
— Fique aqui e descanse até que a doutora Jane possa ver como está.
Aquilo aconteceu cerca de trinta minutos depois, quando Colin Barton e o
criminoso que o acompanhava já estavam com a polícia. Bertie foi encontrada
amarrada e amordaçada na sala de informática, mas estava bem. Assim que foi
libertada, ligou para as pacientes que tinham consulta marcada para aquele dia e
cancelou tudo, fechando a clínica.
Michelle fez o ultrassom e respiramos aliviados ao ouvir o coração do
nosso filho.
— Ele está bem, graças a Deus — a doutora informou com um sorriso tão
aliviado quanto o nosso.
— O remédio que cuspi não vai fazer mal a ele?
— Só se fosse engolido ou se tivesse dissolvido na sua boca é que poderia
afetá-lo. — A médica olhou para mim. — Repouso absoluto para Michelle nos
próximos três dias e depois pode voltar à rotina normal. Qualquer indisposição,
liguem-me imediatamente, mas acredito que isso não vai acontecer.
— Obrigado, doutora. Não deixe de se cuidar também e de me ligar se
precisar de alguma coisa.
Agora que eu sabia que Michelle e Joshua estavam bem, a minha prioridade
máxima era vê-la protegida em casa. Apesar do susto que levamos, pelo menos
agora Colin Barton estava preso e era na prisão que ele ia ficar, o único lugar onde
não conseguiria mais prejudicar ninguém.
Enquanto procurávamos o desgraçado na Indonésia, ele já havia voltado
clandestinamente para os Estados Unidos, atrás de se vingar de mim, matando o meu
filho. Ele pouco se importou se Michelle sofresse ou até morresse durante o aborto.
O objetivo era me atingir, e quase conseguiu. Quase.
Agora, Colin Barton sabe que não se destrói um Blackwolf tão facil mente
assim.
Já no Escalade, recostei-me no banco com Michelle nos braços e fechei os
olhos com um prazer enorme. A sensação que eu tinha era de ter passado a minha
vida inteira trabalhando para aquele momento chegar. Agora que a prisão e queda de
Colin Barton era um fato consumado e irreversível, parecia que uma nova vida se
abria para mim.
Uma vida ao lado de Michelle e d o meu filho!
No início, achei que era uma ironia do destino que tivesse sido justamente
ela a mulher inseminada por engano com o meu sêmen. Agora, eu via aquele erro
como uma bênção, mesmo não acreditando muito que fosse merecedor de receber
bênçãos de Deus.
Michelle e Joshua eram a minha redenção, tudo de mais valioso que eu
possuía.
Capítulo 50
Tyler
N unca me senti tão aliviado quanto no momento em que entrei com
Michelle em casa. Agora, ela e o meu filho estavam definitivamente em segurança.
Alertada pelos seguranças, Ruth apareceu assim que saímos do elevador
para ver se precisávamos de algo. O olhar preocupado foi logo para Michelle.
— Está mesmo tudo bem com Joshua?
— Está, Ruth. Não se preocupe — Michelle respondeu com um sorriso
tranquilizador, mas eu sabia que ainda estava abalada com tudo o que havia
acontecido.
Preocupado, peguei-a ao colo e fiz um sinal para Ruth nos acompanhar. Já
no quarto, coloquei Michelle no chão, segurando-a firmemente pela cintura.
— Ajude Michelle enquanto tomo algumas providências urgentes, Ruth.
Ela precisa de descanso absoluto — informei com seriedade, ciente de quantas vezes
tive de repetir a mesma coisa nos últimos tempos.
Quando planejei ter um filho, nunca pensei que ele se tornaria um alvo tão
visado antes mesmo de nascer. Uma coisa era ter adversários de negócios, outra era
ter inimigos dispostos a matar sua família.
Ruth foi prontamente ao banheiro preparar um banho para Michelle. Nos
meus braços, ela olhou para mim.
— Vem ficar comigo depois?
— Claro que venho. Ruth não sairá do seu lado até eu chegar. — Beijei-a
levemente nos lábios. — Não pretendo demorar muito, mas há coisas que preciso
fazer. Tome um banho e se deite depois. Farei o mesmo quando chegar.
Ela sorriu, mas notei que era um sorriso meio triste e trinquei os dentes de
raiva de Colin Barton.
Ruth surgiu na entrada do closet e me despedi dela.
— Volto logo. Agora vá com Ruth.
Quando as duas entraram no banheiro, saí do quarto e fui para a sala, onde
me sentei com o celular na mão. Liguei imediatamente para Andrew, que me
atendeu no segundo toque.
— O seu pai acabou de ser preso depois de tentar matar o meu filho pela
segunda vez. — Fui direto, sem perder tempo com cumprimentos.
— O meu pai? Mas ele está fora do país — Andrew exclamou, perplexo.
— Isso é o que todos nós pensávamos. Ele enganou a todo mundo. Fez a
mim, a vocês e à polícia de idiotas.
Contei para ele tudo o que havia acontecido na clínica da doutora Jane, mas
também o fiasco que foi a operação deflagrada na Indonésia para prender Colin
Barton.
— Eu estou pasmo. Parece que estou ouvindo o enredo de um filme policial
de Hollywood e não um drama real que acabou de acontecer com a minha família.
Eu entendia o choque de Andrew, mas para quem tinha um pai como o
dele, aquele final dramático sempre foi uma possibilidade.
— Como está Michelle?
— Abalada e é aqui que você e John entram. Quero convidar os dois para
se mudarem do apartamento de Michelle e virem morar aqui na penthouse, onde
ficarão mais perto dela. Podem ocupar o andar em que ela ficou quando veio morar
aqui, que é o mais perto do meu. Em poucos meses estarei me mudando com
Michelle para a casa de West Village e este imóvel aqui ficará desocupado. Assim,
pelo menos tem alguém da família usufruindo dele.
Andrew não respondeu de imediato, como se o meu convite tivesse sido um
choque maior para ele do que as barbaridades que o pai fez.
— Obrigado pelo convite, mas não tenho como dar uma resposta agora.
Preciso primeiro conversar com John para ver se ele concorda.
— Conversem e me digam algo depois.
— Vou falar com ele agora e depois passamos aí para ver a Michelle. Estou
preocupado com ela.
— Não quero influenciar a sua decisão de vir morar aqui, mas quanto mais
perto vocês dois estiverem de Michelle, mais rápido ela vai se recuperar do trauma
do que viveu hoje. Principalmente você.
— Sei disso.
Andrew foi sucinto na resposta, mas eu sabia que o que eu havia dito
pesaria da decisão dele.
— Mesmo que decidam não morar aqui, venham prontos para passar pelo
menos três dias com Michelle. É o tempo do descanso absoluto que a médica
aconselhou para ela. Estamos esperando vocês.

— Estou alerta demais para dormir — Michelle desabafou assim que me


deitei ao lado dela depois de um banho. — Achei que fosse cair na cama e
adormecer rápido como das outras vezes, mas dessa vez não consigo.
Com ela deitada sobre o meu peito, acariciei os cabelos louros, tentando
fazê-la relaxar.
— Não se cobre tanto, Michelle. O importante é que consiga relaxar e não
dormir. O sono virá no momento certo.
— É que aquelas cenas horríveis não saem da minha cabeça. Nunca
suportei a presença de Huxley, mas hoje foi a primeira vez que ele me tocou. Que
nojo!
Enquanto ela estremecia de nojo, eu me enrijecia de raiva.
— Huxley é o homem que estava com o seu pai?
— Sim, é o homem de confiança do meu pai, assim como Miles é para
você. Ele estava com o rosto estranho hoje, mas era ele. Foi quem me forçou a tomar
o remédio abortivo.
Abracei-a com mais força e inspirei fundo, tentando não deixar que ela
notasse o quanto fiquei tenso.
— Tente se esquecer disso. Sei que não é fácil, ainda mais sendo tão
recente, mas procure se lembrar que agora estão presos. Nenhum deles vai chegar
mais perto de você.
Deitei-me de frente para ela, acariciando as faces macias, que beijei várias
vezes. Michelle fechou os olhos e se entregou ao momento.
Decidido a fazer com que se esquecesse de tudo o que havia passado, fiz
amor com ela lentamente, sem pressa, beijando-a ao longo de todo o corpo,
reverenciado cada pedaço da mulher que era dona do meu coração e da minha razão.
Não a penetrei, apenas excitei até o orgasmo de Michelle vir. O momento era dela e
não meu.
Quando Michelle gozou sob a minha língua no clitóris sensível, o corpo
delicioso se contraindo com os espasmos do orgasmo, eu sabia que ela já não se
lembrava mais de nada do que viveu.
Logo depois, ela caiu em um sono profundo e só então me levantei e fui
para o banheiro satisfazer o tesão acumulado no meu pau duro, que exigia uma
punheta rápida e vigorosa. Gozei sentindo falta do interior macio e apertado de
Michelle.
Tomei outro banho e voltei para o quarto, deitando-me para velar o sono
dela.

Quando Andrew e John chegaram, Michelle já havia dormido cerca de três


horas e tinha acabado de acordar.
— Você conseguiu me fazer dormir — ela comentou com um sorriso
preguiçoso e satisfeito assim que abriu os olhos e me viu ao lado.
— Estou às ordens sempre que precisar.
Ela riu ainda mais, feliz. Abraçou-me, enroscando-se em mim.
— Te amo muito.
Aquela declaração aqueceu o meu coração.
— Também te amo muito. — Beijei os cabelos macios, sentindo-me menos
preocupado ao vê-la feliz. — Você se acordou na hora certa. Ruth acabou de me
avisar que Andrew e John chegaram.
Michelle ergueu rápido a cabeça do meu peito.
— Aaah, que bom! Quero muito estar com eles.
Fez menção de se levantar às pressas, mas não a soltei.
— Calma. Eles tão cedo vão embora. Vieram para passar uns dias com
você.
— Oh, Tyler! Se isso for verdade, vou adorar.
Sorri enigmaticamente.
— Talvez tenhamos a sorte de conseguir mais do que isso. Agora vamos.
Arrume-se, mas sem pressa.
Em vinte minutos já estávamos na sala, onde Andrew e John nos
aguardavam conversando. Assim que nos viram chegar, eles se levantaram e abriram
os braços para Michelle, que se atirou neles, sendo abraçada pelos dois ao mesmo
tempo .
— Vocês estão mesmo bem, baby? — Andrew perguntou, com o semblante
preocupado, querendo saber da irmã e do sobrinho.
— Sim, estamos bem. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou os dois no
rosto. — Descansei bastante quando cheguei. Sinto-me melhor agora do que quando
cheguei.
Cumprimentei-os com um aperto de mãos e nos sentamos para conversar.
Michelle ocupou o mesmo sofá onde eles estavam, deixando-me sozinho em outro.
Sentada no meio dos dois, ela olhou para mim com um pedido de desculpas.
— Como passo muito pouco tempo com eles, vou ficar aqui, assim mato
melhor as saudades.
Não reclamei, mas olhei significativamente para Andrew.
— Temos uma boa notícia para lhe dar, baby. — Ele começou e sorri com
satisfação. — Eu e John decidimos aceitar o convite de Blackwolf e nos mudarmos
para cá. Vamos ficar no andar de baixo, o mesmo que você ocupava.
Michelle olhou de mim para eles, boquiaberta e completamente
embasbacada.
— Meu Deus, é sério isso? — exclamou, esbanjando felicidade. — Eu não
acredito!
Abraçou o irmão pelo pescoço, beijando-o repetidas vezes no rosto. Fez o
mesmo com John e depois veio me abraçar também. Recebi um beijo estalado na
boca.
— Obrigada, Tyler! Você me fez a mulher mais feliz do mundo agora.
Capítulo 51
Tyler
D ias depois, foi com um prazer imenso que vi a satisfação no rosto de
Ryan ao me informar sobre o destino do pai de Michelle.
— São muitos crimes nas costas de Colin Barton, que vão mantê-lo na
prisão pelo resto da vida, considerando a idade que já tem. Além de fraude fiscal, há
também a falsificação de documentos bancários enquanto gestor do banco e de
documentos pessoais para fugir do país. Ele criou uma organização criminosa, tendo
funcionários do banco e seguranças cumprindo suas ordens.
Aqui se faz, a qui se paga!
— Miles me informou que ele fugiu em um jato privado previamente
preparado, que fez escala em vários países antes de realmente chegar à Indonésia.
— É isso mesmo. Foi lá que ele abriu há décadas uma offshore com o
dinheiro desviado do banco.
— Mas que alega ser dele por direito — completei com ironia.
— É o que todos dizem. Deve ser por isso que a prisão está cheia de
inocentes — Ryan foi tão irônico quanto eu.
— A fuga após o pedido de falência foi premeditada. Barton calculou
detalhadamente cada passo que ia dar quando a merda estourasse.
— Temos de admitir que ele é mesmo um homem muito inteligente. Já
tinha percebido que a bolha ia se romper em breve e arquitetou tudo
minuciosamente.
— Acho que devo agradecer ao ódio que ele sente por mim. Se não fosse
tão forte, Barton não teria voltado ao país.
— Já que citou isso, a invasão da clínica, o sequestro da filha e as agressões
físicas feitas às mulheres que lá estavam, também constam na lista dos crimes que
vai ter de pagar. Agora não há mais escapatória para ele.
É o fim da linha para você, C olin Barton!
Lembrei-me do meu pai, que conseguiu se reerguer abrindo uma pequena
corretora e lutando arduamente para crescer em Wall Street, mesmo pesando sobre
os ombros dele a acusação injusta de desvio de dinheiro. Ele era bom no que fazia e
alguns antigos investidores apostaram no talento que tinha de multiplicar dinheiro.
Entre esses investidores que arriscaram continuar confiando no meu pai,
estava Bill Stamford, um homem que tinha o meu respeito e que hoje investia
comigo.
Agora, sabendo do destino de Colin Barton, eu me sentia de missão
cumprida. Foi com um sorriso de vitória que troquei um aperto de mãos com o meu
diretor jurídico.
— Excelente trabalho, Ryan! Demorou, mas o nosso objetivo foi
alcançado.
— A partir de agora pode deixar comigo — Ryan assumiu com gosto. —
Vou providenciar uma longa estadia dele na prisão.

A minha vida nunca foi tão vibrante, intensa e feliz como passou a ser
desde que assumi o meu amor por Michelle. Sem barreiras emocionais, eu agora
podia extravasar totalmente tudo o que sentia, sem receio algum. Às vezes, até me
policiava para não ser excessivamente apaixonado, possessivo ou controlador. Eu
não queria que ela se sentisse sufocada ou oprimida, mas depois que liberei
totalmente o meu amor, havia momentos em que o controle fugia das minhas mãos e
me excedia.
Eu estava tendo alguma dificuldade em gerir aquilo tudo dentro de mim,
mas até agora Michelle não havia dado sinais de se sentir incomodada. Ao contrário,
ela aparentava estar cada dia mais feliz.
Com quatro meses de gravidez, a barriga já era visível com qualquer roupa
que ela usasse. Aos meus olhos, a minha mulher estava mais linda do que nunca, e
não era apenas por ter ganhado peso e estar com um corpo mais curvilíneo ou com
os seios maiores e tentadores. Era, principalmente, pela expressão de plenitude no
rosto, pela alegria que os olhos azuis irradiavam, pela maturidade com que abraçava
o papel de mãe de um filho que desejou ardentemente, pela personalidade que me
seduzia cada vez mais.
Foi tudo aquilo que me fez tomar uma decisão inédita na minha vida.
— Hoje vamos fazer um passeio — informei despreocupadamente durante
o café da manhã de um domingo.
Com a mudança de estação, o tempo havia esfriado consideravelmente e
passamos a fazer as refeições dentro de casa. Só íamos ao terraço quando o sol
estava a pino no céu. Entretanto, a parede de vidro na sala de jantar permitia uma
visão esplendorosa do Central Park.
— Um passeio? — Os olhos dela brilharam diante da perspectiva. — Para
onde vamos?
— É surpresa.
A risada alegre dela aqueceu o meu coração ainda despreparado para tanta
emoção em tão poucos meses.
— Oh, Tyler. Não se deve deixar uma mulher grávida ansiosa. Quero saber
que surpresa é essa.
— Vai deixar de ser surpresa se eu contar.
Ela me olhou com cara de inocente.
— Só uma dicazinha.
Aquele jeito de pedir mexeu comigo, mas mantive firme a decisão de não
estragar a surpresa que havia planejado para ela.
— Fique quietinha e não me tente. Surpresa é surpresa e você só vai saber
na hora.
Michelle olhou para a barriga.
— Ouviu isso, Joshua? Surpresa é surpresa. Não adianta pedir antes da
hora.
Soltei uma risada com a provocação que ela estava fazendo para dobrar a
minha resistência. Beijei-a, completamente apaixonado, saboreando os lábios
macios sob os meus.
— Agasalhe-se bem. A dica é que pode estar frio no lugar aonde vamos.
— Isso não é dica, Tyler! Está frio em toda Nova York.
Fiz-me de desentendido.
— Nem percebi.
Michelle meneou a cabeça com um sorriso e se levantou.
— Vou me arrumar agora mesmo. Só quero ver que surpresa é essa.
Eu esperava que ela gostasse. Pela primeira vez na minha vida, sentia-me
em dúvida se havia feito a escolha certa.
Cerca de uma hora depois, tive a resposta que queria.
Ainda pensei em dirigir eu mesmo o Porsche que estava na garagem e
seguir sozinho com Michelle para aproveitar melhor o domingo. Contudo, à medida
que a gravidez dela avançava, eu vinha escolhendo sempre a opção mais segura.
Irmos os dois no banco de trás do Escalade com os seguranças à frente era a melhor
escolha.
Quando entramos em West Village, Michelle se virou para mim.
— Gosto muito daqui — comentou com um sorriso nos lábios. — É onde
Melody e Gary moram e estou começando a desconfiar que a surpresa é um almoço
de domingo na casa deles.
— Já dei dicas de mais, por isso vou ficar calado.
— Ora, você não me deu dica nenhuma! — Beliscou-me na cintura. — Mas
se a surpresa é essa, eu adorei.
A surpresa não era aquela, mas só quando paramos em frente à townhouse
26
de quatro andares que eu estava comprando em West Village para nós dois, foi que
Michelle percebeu que não íamos para a casa de Gary.
— Chegamos. Já podemos descer — informei, analisando as expressões do
rosto dela.
Michelle admirava pela janela do Escalade a estrutura da mansão. Na
verdade, mansões, porque eu havia comprado três delas, para termos mais
privacidade e espaço.
— Quem mora aqui? — ela perguntou com curiosidade, ainda achando que
íamos almoçar na casa de alguém.
— Seremos os moradores dela se você gostar e quiser morar em uma casa
parecida com a de Gary e Melody.
Michelle se virou rápido para mim, boquiaberta.
— Nós dois morarmos aqui?!
— Com o nosso filho — confirmei.
Ela fechou os olhos e cobriu o rosto com as mãos.
— Aah, eu não acredito! — A voz saiu abafada, mas notei o quanto estava
emocionada.
Abracei-a, beijando os cabelos louros.
— Gostou da surpresa?
Michelle apenas meneou a cabeça afirmativamente, mas depois tirou as
mãos do rosto e me abraçou apertado.
— Nunca pensei que um dia você faria isso, Tyler. Sei que gosta de morar
na penthouse.
— Isso era antes de ter você e Joshua na minha vida. Pensei bem e
concordo que uma criança precisa de uma casa com quintal para poder correr com
um cachorro, que depois vai sujar tudo dentro de casa.
Ela riu, secando as lágrimas que escorriam dos olhos azuis.
— Eu e essa minha sensibilidade exagerada de grávida — tentou justificar
o choro.
Segurei-a pelo queixo e fiz com que olhasse para mim.
— Chore o quanto quiser. Preciso apenas saber se gostou da surpresa.
— Gostei muito mesmo. Na verdade, amei.
Soltei o ar que prendia no peito com a afirmativa dela.
— Vamos descer para você conhecer tudo por dentro. Ainda vou fazer
algumas reformas, mas estará tudo pronto quando Joshua nascer. Assim que as três
casas estiverem interligadas, teremos todas as comodidades da penthouse e um
pouco mais. Aqui a piscina será olímpica, bem maior do que a de lá.
— Três casas?
— Sim, estou comprando estas três aqui. — Apontei para elas, que
Michelle olhou abismada.
— Meu Deus, é um exagero, Tyler!
Resolvi expor parte do que havia me motivado a comprar as três casas
geminadas.
— Não será um exagero quando Margaret chegar.
Michelle ergueu o olhar embasbacado para mim com a referência que fiz à
filha que ela disse que ainda queria ter e batizar com o nome da falecida mãe.
— Margaret? — balbuciou com os olhos mais brilhantes ainda de lágrimas.
— Sim, a nossa filha.
Aquilo era o máximo que eu conseguia expor do meu íntimo para ela. O
amor ainda era algo que me assustava e o mais prudente era ir com calma. Contudo,
ficou mais do que explícito que eu queria Michelle para sempre em minha vida, que
queria outros filhos e construir uma família com ela.
— Margaret pode demorar a chegar. — Ela sondou sutilmente aquilo que
eu ainda não estava preparado para falar tão abertamente. — Antes pode vir outro
menino.
Eu entendi o que ela queria saber e não a deixei sem resposta.
— Teremos espaço para todos eles.
Soltando um arquejo emocionado, Michelle me abraçou novamente com
força.
— Oh, Tyler! Você tirou o dia de hoje para me fazer chorar de alegria.
Aquilo era tudo o que eu precisava ouvir.
— O meu amor por você não tem tamanho nem medida, Michelle — grunhi
roucamente no ouvido dela. — Não sei onde tudo isso vai dar, mas sei que quero
você ao meu lado.
A vontade que eu sentia era de beijar vorazmente aquela boca carnuda que
tanto me enlouquecia na cama, mas me contive a tempo. Os seguranças no banco da
frente tiravam a nossa privacidade, apesar da divisória de vidro fechada impedir que
ouvissem o que falávamos.
— Vamos descer. Quero que veja se realmente gosta das casas.
Mal entramos na primeira delas, Michelle já se encantou com tudo e tive a
certeza de ter feito um excelente negócio.
Capítulo 52
Tyler
D emorou, mas todos os envolvidos no erro cometido pela Fertile Future
foram punidos em um processo que correu em segredo de justiça.
A clínica e cinco médicos responsáveis foram processados por erro e
negligência profissional, descumprimento de contrato e publicidade enganosa. A
parte criminal pelas tentativas de fazerem Michelle abortar recaiu sobre a doutora
Chelsea Anderson, a verdadeira responsável pela troca do sêmen, além da
recepcionista Elizabeth Malory e do marido dela, que se encarregaram de cumprir o
plano do aborto fora das dependências da clínica.
Apesar de ter ficado provado que o doutor Harrison Davis era inocente, não
deixei de mover um processo milionário contra a clínica dele. A investigação
comprovou que o nosso caso não foi o único ocorrido lá dentro, fato que não podia
ser ignorado ou esquecido por mim ou pela justiça. Quantas mães, pais e crianças
poderiam continuar sendo prejudicados se nada fosse feito?
A única consideração que tive pelo homem foi evitar um escândalo
monumental que destruísse totalmente a reputação dele. O diretor presidente da
Fertile Future se viu falido com a indenização que teria de me pagar. A clínica ainda
funcionava, mas lucro algum se comparava ao valor que me deviam.
No final das contas, acabei ficando com uma clínica falida nas mãos, mas
que decidi reerguer em vez de fechar.
— Ela é sua.
Coloquei os papéis de compra da Fertile Future na frente de um Gary
abismado.
— Minha? — sussurrou, embasbacado. — Você está me dando a Fertile
Future?
— Comprei para você. Incorpore as duas clínicas em uma só e dê um
serviço de qualidade para os clientes de ambas. Ninguém merece passar pelo que
passei ao imaginar o meu filho na barriga de uma mulher que não escolhi, apesar de
hoje estar apaixonado por ela.
— Porra, Tyler! Como é que você compra a Fertile Future sem falar
comigo?
Como sempre, Gary tinha de fazer um drama com tudo.
— Não quer? — Fui objetivo.
— Claro que quero! Mas fui pego de surpresa com essa aquisição. Você
podia ter me avisado.
— Se eu tiver de falar com você toda vez que precisar fazer um
investimento, é melhor eu me aposentar. — Ri só de imaginar a situação. — É um
presente que eu e Michelle estamos dando para você e Melody. Graças a Deus, a
Fertile Future vai deixar de existir e passar a ser Plan Life.
Gary se levantou da cadeira em frente à minha mesa no escritório do BW
Group e veio me abraçar, emocionado.
— Obrigado, Tyler!
Abracei-o também. Gary era uma das melhores pessoas que já conheci na
minha vida. Para minha sorte, era meu primo.
— Não vá chorar, porra.
— Claro que não vou!
Rimos, solidificando ainda mais a nossa amizade e os laços familiares.

Assim que entrei na cobertura da penthouse, Michelle se aproximou vindo


da sala. Com cinco meses, ela agora exibia com orgulho a barriga dilatada de
grávida.
— Nem mais um passo, senhor Blackwolf! — Fez um gesto teatral com as
mãos para me fazer parar. — Antes que vá para o quarto, quero lhe mostrar uma
coisa. Feche os olhos!
Comecei a rir, surpreendido com aquela novidade.
— O que é que você andou aprontando na minha ausência?
Apesar da pergunta, fechei os olhos e aguardei.
— Você vai saber agora.
Michelle segurou as minhas mãos e me levou para a sala. Não andamos
muito até pararmos.
— Pode abrir os olhos.
Abri com bastante curiosidade em descobrir do que se tratava. O que
encontrei à minha frente foi a parede lateral da sala, onde dois quadros estavam
pendurados lado a lado. O nosso e o dos nossos pais.
Michelle havia terminado as duas pinturas e a perfeição das pinceladas me
impressionou uma vez mais, apesar de já saber o quanto ela era talentosa.
Eu já havia contado para Michelle sobre a ocasião em que descobri a
existência do quadro dos nossos pais. Agora, vendo-o pronto, a emoção foi enorme.
— Ficaram perfeitos, Michelle. O seu talento é incrível e o lugar desses
quadros é exatamente esse.
O rosto dela ficou rosado com o elogio, que sabia ser sincero. Ela tinha
consciência de que eu não a elogiaria se realmente não fosse talentosa.
— Eu também achei que esta parede era a ideal para eles. — Ergueu os
olhos para mim. — Estou mesmo feliz que tenha gostado, Tyler.
— Gostei e muito — afirmei, ainda admirando as pinturas que ele havia
feito.
Aqueles dois quadros eram muito importantes para mim. Foi ao vê-los que
reconheci a força do amor que sentia por Michelle e descobri que não podia viver
sem ela, fosse ou não fosse filha de Colin Barton.
Aquela mulher, que era uma mistura de força e fragilidade, ensinou-me que
o amor podia vencer o ódio. O nosso quadro mostrava o amor que ela sentia por
mim e a imagem retratada foi o detonador da decisão mais importante da minha
vida. Uma decisão que trouxe uma mudança radical para o antigo Tyler Blackwolf.
Eu podia continuar sendo o Lobo Negro de Wall Street, mas agora tinha uma
companheira para vida inteira, e um filho que seria fruto do nosso amor.
Com Michelle, aprendi que o amor curava tudo, mesmo que sangrasse
muito antes de curar.
Ciente da sorte que tive quando ela foi inseminada com o meu sêmen,
peguei Michelle no colo e comecei a andar para o nosso quarto. Ela riu, abraçando-
me pelo pescoço.
— Vai tomar banho antes do jantar?
— Vamos.
Michelle riu ainda mais ao me ouvir falar no plural.
— Eu já tomei o meu.
— Vai precisar tomar outro depois do que vou fazer com você.
Cruzamos o olhar e não escondi o desejo urgente que sentia dela.
— É mesmo? — provocou-me. — E o que vai fazer comigo?
— Uma inseminação natural.
Ela soltou uma risada deliciosamente sensual e me olhou de um jeito tão
excitante que o meu pau pulsou de antecipação. Sem dúvida alguma, ela era a
mulher da minha vida.
Aquela certeza causou uma euforia no meu coração e me vi refém de um
sentimento possante e indomável. Eu não tinha controle algum sobre mim mesmo.
Quem me controlava era Michelle.
Entrei no quarto com ela nos braços e bati a porta com pé. Foi quando a
beijei com uma ânsia louca, desmedida, desesperada. Michelle correspondeu da
mesma forma, tirando o meu paletó e desabotoando a camisa. Puxei o nó da gravata
e joguei-a no chão, abrindo depois a calça.
Em poucos segundos me despi, começando a tirar o vestido que ela usava.
Ficamos frente a frente e completamente nus, cada um admirando a nudez do outro.
Michelle mordeu a pontinha do lábio ao olhar para o meu pau ereto, teso, duro.
Ofegante, segurou-o com a mão macia, acariciando-o na ponta com o polegar.
Arrebatei-a nos braços e levei para a cama, onde provei cada pedaço do
corpo da mulher que eu amava. Suguei os mamilos dos seios inchados da gravidez,
chupei o sexo úmido e rosado, aspirando com gosto o cheiro íntimo dela, beijei os
lábios carnudos que igualmente me enlouqueciam.
Quando não aguentei mais, deitei-a de lado e a penetrei por trás, sentindo as
nádegas redondas contra a minha virilha. Desde que a barriga dela começou a ficar
maior, aquela se tornou uma das melhores posições para nós dois. Ela gostava e eu
adorava!
Com ela deitada de lado à minha frente, eu conseguia estimular o clitóris
sensível e levar Michelle rapidamente ao orgasmo, gozando também logo depois.
Era rápido e fodidamente gostoso.
Daquela vez não foi diferente. Senti a pressão no meu pau chegar a um
patamar enlouquecedor a cada estocada dentro dela. Fechei os olhos e deixei o gozo
vir, explodindo em um orgasmo pujante, forte e poderoso, que me fez gemer alto
dentro do quarto.
— Caralho! Que gostoso! — Suguei o ar com força, ofegante. — Eu te
amo, Michelle!!!
Não consegui conter as palavras, não consegui calar o amor, estremecendo
com um prazer inigualável.
Quando tudo acabou, desabei na cama atrás dela, segurando-a firmemente
entre os meus braços. Ficamos naquela posição até voltarmos a respirar
normalmente.
Muito certo do que fazia, coloquei possessivamente uma das mãos sobre a
barriga de cinco meses.
— Quero que se case comigo, Michelle. Aceita ser minha esposa?
Ela soltou um arquejo de susto e virou o rosto para mim, sem conseguir
disfarçar o quanto estava perplexa.
— Esposa, Tyler? — Quis uma confirmação, sem acreditar no que tinha
ouvido.
Eu entendia a dúvida dela, afinal, nunca me envolvi emocionalmente com
mulher alguma, quanto mais amar a ponto de pedir em casamento.
— Sim. Minha esposa.
Ela aparentou ficar mais incrédula ainda.
— Mas... mas tem certeza?
A expressão dela me fez rir.
— Nunca tive tanta certeza na minha vida. Agora me responda, aceita ser
minha esposa?
Apesar de toda a minha confiança ao falar com ela, a verdade era que os
tentáculos da incerteza também apertavam o meu peito. Michelle podia não querer
um homem que até meses atrás a havia rejeitado duramente por ser filha de Colin
Barton. Contudo, eu confiava que ela consideraria o quanto eu havia mudado de lá
para cá.
— Aceito — confirmou, tirando a tensão do meu corpo.
Porra! Nunca pensei que fosse tão difícil.
Aliviado, abracei-a contra o peito e beijei os lábios da mulher que havia
domado o homem irascível que eu era.
Capítulo 53
Michelle
O magnata de Wall Street, Tyler Blackwolf, anuncia a chegada próxima
do seu herdeiro e o noivado com Mic helle Smith.
Há algum tempo que Tyler Blackwolf e Michelle Smith são vistos juntos nos
eventos sociais. Apesar de serem muito discretos com sua vida pessoal,
recentemente vazou na imprensa a informação de que Michelle estava
grávida. Nada foi confirmado na época, mas agora o financista mais
representativo de Wall Street anuncia oficialmente que o seu herdeiro com
Michelle está perto de chegar e que ambos estão de casame nto marcado.
Parece que O Lobo Negro de Wall Street realmente encontrou a sua
companheira.

Sempre que pensei como seria o dia do meu casamento, jamais imaginei
que me casaria grávida de seis meses. Vendo agora o vestido de noiva colado na
minha barriga distendida, eu só conseguia rir. Não só pelo inusitado da situação, mas
também de pura felicidade.
Seríamos três no altar e não apenas dois.
Cheguei a pedir a Tyler que nos casássemos depois do nascimento de
Joshua, mas ele não aceitou, justificando que queria que o filho nascesse com os pais
já casados.
Segundo Andrew, o motivo não era só esse, mas a necessidade de me
prender logo. O meu irmão afirmou categoricamente que Tyler era ciumento,
possessivo, territorial e tinha medo de me perder.
Na ocasião, gargalhei muito, mas a cara séria de John me fez cair na real.
— Vocês acham isso mesmo?
— Claro que sim! — eles responderam em uníssono.
Meneei a cabeça em dúvida.
— Ou eu sou cega demais ou vocês estavam vendo coisas que não existem.
Tyler nunca demonstrou ciúmes de outro homem na minha frente.
— Não se chateie com o que vou dizer, baby, mas você é cega — John
afirmou com um sorriso divertido.
— Você nunca conversou com ele como nós dois já conversamos —
Andrew completou com seriedade. — Blackwolf não mostra o lado predador dele
para você, apenas para os homens com quem você se relaciona.
Dizer que fiquei chocada com o que eles disseram era pouco.
— Isso é muito mal?
— Claro que é! — Andrew afirmou.
— Não é — John discordou do meu irmão. — Se for apenas o instinto
protetor de um macho alfa que ame você, não é mal, baby.
— Seja o que for, pelo menos agora você já sabe que o seu príncipe
encantado é mesmo um lobo negro sorrateiro, capaz de atacar quem se aproximar do
território dele.
Lembrei-me da maneira violenta como Tyler agrediu Nicholas nas bodas de
pérola e tive de concordar com eles dois. Contudo, aquele foi um caso excepcional.
Ainda assim, não resisti de tocar no assunto com Tyler quando ele chegou à
noite em casa.
— Você seria capaz de ameaçar um homem que se aproximasse de mim?
Não estou falando de casos como o de Nicholas, mas de um homem comum mesmo.
Tyler parou de tirar a gravata e se virou lentamente para mim.
Incrivelmente, achei o gesto muito parecido com o de um lobo prestes a atacar.
Notei de imediato o brilho frio no olhar escuro, algo que eu raramente via desde que
ficamos juntos.
— Tem alguém incomodando você?
— Não, não tem ninguém.
Ele parou à minha frente e o olhei muito diretamente.
— Sim ou não? — insisti na pergunta.
— Sim, ameaçaria — afirmou com gravidade e sem hesitação alguma. —
Por que a pergunta?
— Porque eu ia ficar muito triste se você fizesse isso com quem amo, como
Andrew ou John.
Ele entendeu bem a situação.
— Desde que eles não magoem você, nada vai acontecer. Vou defender a
minha mulher seja de quem for.
A voz soou firme e determinada, assim como o beijo de tirar o fôlego que
recebi depois. Naquela noite, fui amada até quase a exaustão, esquecendo-me
completamente do assunto.
Agora, vestida de noiva, eu tinha consciência de que estava prestes a me
casar com um homem realmente ciumento, possessivo, territorial e que não queria
me perder. Que aquele homem fosse Tyler Blackwolf, era mesmo uma ironia do
destino.

Quem me levou ao altar foi o Andrew e me emocionei ao ser entregue por


ele a Tyler.
O nosso casamento aconteceu em uma cerimônia íntima com poucos
convidados selecionados, entre eles Bill e Rebecca Stamford. Fiz questão de
convidar a doutora Jane com o marido e os filhos, além de Bertie, que compareceu
com o noivo. Gary e Melody foram nossos padrinhos, assim como Andrew e John.
Emocionei-me durante a cerimônia, principalmente quando Tyler
pronunciou os votos de casamento com a voz firme e grave, deixando bem claro
para todos o quanto me amava.
Obviamente que chorei, não só por ser um momento muito marcante da
minha vida, como também por me lembrar na minha mãe.
“No tempo certo, Deus vai colocar no seu caminho o h omem ideal.”
Ela tinha total razão. Apesar de termos nos conhecido devido ao erro
terrível da Fertile Future, Deus havia colocado no meu caminho o homem certo e
ideal. No começo eu o detestei, para depois me apaixonar e, por fim, amar. Agora,
aquele homem enigmático, complexo e carismático estava tornando-se o meu
marido.
Afinal, Deus escreve mesmo certo por li nhas tortas.
Capítulo 54
Michelle
Q uando fiz oito meses de gravidez, chegou o momento de nos mudarmos
para a nossa nova casa da West Village.
Eu estava apaixonada pela moradia. Apesar de achar que Tyler exagerou na
compra de três casas geminadas para uma família que ainda era pequena como a
nossa, caprichei na decoração e ela ficou aconchegante do jeito que eu queria.
Os meus oito meses já pesavam, sinal de que Joshua seria grande como o
pai e que não demoraria muito a chegar. Como a minha gravidez estava muito
adiantada, suspendemos a ida a eventos sociais, mas o mesmo não acontecia com as
reuniões familiares em casa. Habitualmente, promovíamos almoços e jantares com
Andrew e John, Gary e Melody, além dos tios e outros primos de Tyler que eu não
conhecia.
A hora de Joshua aconteceu semanas depois de nos mudarmos para West
Village e eu nunca ia me esquecer daquele momento que marcou tanto a minha vida.
Não foi só por ser o nascimento do primeiro filho, mas por Tyler ter feito questão de
ficar comigo na sala de parto e acompanhar a chegada de Joshua.
A presença de Ruth ao meu lado foi uma benção. No meio da tarde,
chamei-a para dizer que estava sentindo-me estranha e não sabia se já eram os
indícios do parto. Mãe de três filhos, ela rapidamente confirmou que eu estava
sentindo as contrações e providenciou tudo o que eu precisava, avisando a todos os
interessados. Logicamente que o primeiro a ser avisado foi o Tyler, que estava no
trabalho e informou que voltaria de imediato para casa.
Uma enfermeira parteira foi enviada pela doutora Jane para me acompanhar
até a hora de ir para a maternidade e Melody também fez questão de vir, mesmo
com a Plan Life cheia de trabalho depois da aquisição da antiga Fertile Future.
De todos eles, o primeiro a chegar foi Tyler. Eu estava sentada em uma das
poltronas do nosso quarto, sob o olhar vigilante de Ruth, quando ele entrou com uma
ruga de preocupação no meio da testa.
— Vocês estão bem? — Foi a primeira coisa que perguntou ao se ajoelhar
no chão à minha frente.
— Estamos, mas você não precisava vir tão cedo. O trabalho de parto pode
durar horas.
A presença dele me deixava feliz e mais confiante, mas ambos sabíamos
que a espera podia ser longa.
A fisionomia decidida dele disse tudo.
— Cheguei no momento certo e vou ficar com você até o fim.
Ele segurou o meu rosto com as duas mãos e prendeu o meu olhar com
intensidade. Um leve sorriso curvou os seus lábios, deixando evidente o quanto
estava feliz que o momento tivesse chegado. Sorri também, emocionada. O nosso
sonho de ter um filho nos braços estava em vias de se concretizar.
Ele juntou as nossas testas e depois me deu um beijo rápido, mas muito
apaixonado.
Nas horas seguintes, Tyler cumpriu o que disse e não saiu do meu lado para
nada, exceto na maternidade, quando foi se preparar para estar comigo na sala de
parto. Àquela altura, eu já via estrelas de tanta dor que sentia, mas estava decidida a
ter um parto normal.
Joshua veio ao mundo berrando como um desesperado, parecendo querer
gritar para todos que havia chegado. Depois de horas lutando para suportar a dor do
parto, aquele som parecia música aos meus ouvidos.
Fechei os olhos e ri de alívio e felicidade.
— Haja pulmões! — a doutora Jane brincou ao mostrá-lo para nós dois,
ainda preso pelo cordão umbilical.
— Oh, meu Deus! — exclamei, chorando emocionada.
Joshua era mais parecido com Tyler do que comigo, com um chumaço de
cabelos escuros grudados na cabeça pelas secreções. Por Deus, como o meu filho era
lindo!
Sentado ao meu lado e ainda segurando firmemente uma de minhas mãos,
Tyler olhava para Joshua com uma expressão de incredulidade, que se transformou
logo depois em orgulho.
— É forte como um Blackwolf deve ser. Ele enfrentou vários inimigos
enquanto estava na barriga e tem todo o direito de gritar agora.
A doutora Jane trocou um olhar satisfeito comigo, antes de colocar Joshua
deitado sobre o meu peito. Foi quando nós dois pudemos tocar nele pela primeira
vez.
Abracei-o junto aos meus seios, acariciando o corpinho miúdo.
— Aaah, Tyler! Ele não é lindo? Se parece tanto com você!
Ele riu, visivelmente orgulhoso e tão emocionado quanto eu.
— Notei isso também — concordou com a voz grave e enrouquecida,
enquanto acariciava o cabelo do filho.
Recebi um beijo na testa, o olhar escuro prendendo o meu.
— Obrigado por me dar o filho que tanto desejei.
Sorri, plena de felicidade.
— Digo o mesmo. De todos os erros da clínica, acho que o nosso foi o
único que era o certo.

A semelhança entre Tyler e Joshua era tão grande que se tornou o fato mais
comentado por todos que nos visitaram ainda na maternidade.
— Ele tinha de ser tão parecido assim com o pai? — Andrew comentou ao
ver o sobrinho no berço hospitalar, mas era uma provocação para Tyler. — Devia se
parecer mais com você, Michelle.
Deitada na cama, tentei não revirar os olhos ao comentário do meu irmão,
mas o mesmo não aconteceu com John, que cutucou Andrew com o cotovelo em um
aviso para ser menos provocador.
Atualmente, Andrew e John trabalhavam no antigo Barton Bank, que havia
se transformado em mais uma agência do BW Bank depois da aquisição. Ambos
eram os responsáveis por tudo lá, reportando-se diretamente a Tyler. Incrivelmente,
Andrew passou a gostar mais de trabalhar no banco depois da saída do meu pai, mas
agora também reservava parte do seu tempo para a pintura.
Sempre que podia, Andrew não perdia a oportunidade de provocar o
cunhado, que continuava chamando de Blackwolf.
De braços cruzados ao lado dos dois, Tyler apenas riu do comentário do
meu irmão.
— Ele tem algo de Michelle, sim. Os olhos são mais claros do que os meus.
Eu nem havia notado aquilo e me surpreendi com o que Tyler disse.
— Como é que você viu isso? — Andrew perguntou, inclinando-se mais
sobre o berço e observando o sobrinho mais de perto, que havia acabado de se
acordar com a movimentação no quarto. — Porra, você tem razão!
Joshua choramingou quase no mesmo instante.
— Não o assuste com palavrões, Andrew — pedi, mesmo sabendo que não
foi aquilo que fez o meu filho chorar.
Pelas minhas contas, estava quase na hora da mamada e Tyler deduziu o
mesmo. Com a firmeza de quem fazia tudo com confiança, ele pegou o filho no
berço e o trouxe para mim.
— Vamos conversar um pouco lá fora enquanto Michelle amamenta. —
Deu-me um beijo na testa antes de sair. — Vou chamar Ruth para ficar com você.
A fiel governanta estava acomodada no quarto ao lado e vinha me ajudar
com Joshua sempre que eu precisava.
Os três saíram e provavelmente conversariam sobre negócios, como sempre
acontecia quando Andrew e John iam à nossa casa.
Nossa casa!
Ri com o inusitado daquela situação. Nunca na minha vida pensei que um
dia chamaria a mansão do temido e tenebroso Tyler Blackwolf de “nossa casa”.
— De sinistro o papai só tem a fachada, não é, meu amor? — falei para o
meu filho, que começou imediatamente a mamar.
Tyler e eu estávamos mais do que ansiosos para levar Joshua para casa e
iniciarmos a nossa nova vida com ele. Mesmo quando ainda não nos conhecíamos,
nós dois já sonhávamos com o dia em que seríamos pai e mãe. Agora, apesar de
todas as ameaças que o nosso filho sofreu, o sonho estava realizado.
Nos meus braços eu tinha o nosso maior tesouro e nunca me senti mais feliz
na vida.
Passei dois dias na maternidade e só então pude ir para casa.
Quando o nosso filho estava quase completando um mês de vida,
quebramos o resguardo, mesmo sem autorização da médica, que aconselhou
esperarmos quarenta e cinco dias por ser mais seguro. Não houve penetração, mas
abusamos dos toques íntimos com as mãos e a boca.
Eu já vinha notando os olhares de desejo de Tyler para o meu corpo sempre
que eu terminava de amamentar, que trocava de roupa ou me deitava de camisola ao
lado dele para dormir. Mesmo que eu estivesse usando o sutiã nada sensual da
amamentação, ele me devorava com os olhos, mas não me tocava de jeito nenhum.
Eu sabia que Tyler estava se controlando e aquilo começou a me excitar com o
avançar dos dias.
No início, eu vivia tão cansada com a nova rotina de mãe que mal tinha
tempo para descansar, quanto mais para sentir desejo. Eu caía na cama e dormia
como uma pedra, só acordando de madrugada para dar de mamar com a ajuda de
Tyler e voltar a dormir logo a seguir.
Ele tirou duas semanas de folga para ficar mais tempo em casa, voltando a
trabalhar depois por meio período. Contudo, à medida que Joshua crescia e a nossa
rotina ficava mais organizada, o meu corpo também voltava ao normal e passei a
querer mais de Tyler do que apenas beijos castos nos lábios, na testa ou nos cabelos,
que era o máximo que ele me dava durante o resguardo prescrito pela doutora Jane.
Perto dos trinta dias de parto, eu já olhava Tyler de cueca com desejo
suficiente para querer ser possuída por completo. Os braços poderosos, o peito
amplo, as pernas fortes e o membro volumoso sob a boxer começaram a mexer
comigo, mesmo com ele evitando os contatos íntimos.
Certa noite, não resisti. Vesti uma camisola curta e o abracei assim que se
deitou ao meu lado na escuridão do quarto. Rocei as minhas pernas nas dele e enfiei
a mão por baixo da blusa do pijama que usava. O corpo grande se retesou com os
músculos endurecendo, o que só me excitou ainda mais. Levantei a blusa dele e
beijei o abdômen reto e bem definido, deixando a minha língua percorrer a pele
quente até morder levemente os músculos da cintura.
Tyler sugou o ar com força, o som espalhando-se sensualmente pelo quarto.
— Porra, Michelle! — grunhiu roucamente, enroscando a mão nos meus
cabelos. — É melhor parar.
Apesar do que disse, ele segurou os meus cabelos com mais força, como
fazia quando estava excitado. E excitação não falta em Tyler ou o membro grosso
não teria endurecido tão rapidamente.
Ousada e decidida a ir até o fim, enfiei a mão sob a calça do pijama,
afastando a cueca e tocando nele. Estava duro, muito duro!
Fiquei molhada só de sentir aquela potência toda nas mãos e fui até o
ouvido dele.
— Faz amor comigo do jeito que der, Tyler — sussurrei, beijando-o no
pescoço. — Não precisamos de penetração para gozar.
Com um rosnado de desejo, ele firmou a mão na minha nuca e devorou a
minha boca com um beijo duro e urgente, mudando nossas posições na cama e
ficando por cima de mim.
Pronto! Foi o suficiente.
Eu havia conseguido quebrar o controle dele. Daquele momento em diante,
foi Tyler quem dominou tudo. Fui devorada não apenas com um beijo na boca, mas
com a boca dele no meu corpo inteiro. Só os seios inchados de leite não foram
sugados com força, mas ainda assim foram beijados, lambidos e acariciados.
— Eles estão lindos desse jeito — elogiou, referindo-se ao tamanho bem
maior do que antes.
Eu já nem raciocinava direito, completamente perdida de desejo. Quando a
língua exigente tocou o meu clitóris sensível, eu era uma massa disforme de prazer
puro nas mãos dele. Com as mãos firmes separando as minhas pernas, deixei que
Tyler me levasse à loucura com habilidade, deixei que o orgasmo viesse poderoso e
explodisse com força dentro de mim.
Os espasmos do prazer ainda percorriam o meu corpo quando Tyler se
ajoelhou entre as minhas pernas e segurou o membro endurecido que apontava para
cima. Ele se masturbou de uma maneira excitante na minha frente, olhando com um
prazer obsceno para o meu sexo aberto.
— Porra, Michelle, como você é gostosa! — rugiu ofegante, gozando logo
depois sobre a minha barriga.
Vê-lo dominado pelo prazer daquele jeito me deixou mais apaixonada
ainda. Era impressionante ver um homem tão másculo e controlado quanto Tyler
gozando entre as minhas pernas. Ele parecia vulnerável e poderoso ao mesmo
tempo.
Quando a última gota de sêmen foi expelida e os olhos turbulentos se
fixaram nos meus, perdi o fôlego diante do que vi neles. Havia amor, paixão,
devoção. Com os cabelos negros despenteados, a barba cerrada e os olhos escuros
com aquele brilho animal, Tyler nunca se pareceu tanto com o sobrenome que tinha.
Um lobo negro.
Ele abriu a mão sobre a minha barriga e espalhou o sêmen por ela como se
fosse um creme corporal. Era a pegada possessiva e territorial de um macho sobre a
sua fêmea.
— Foi por causa dele que nos conhecemos — comentou roucamente,
referindo-se ao próprio sêmen. — Foi ele que nos uniu e ninguém vai nos separar.
O h, meu Deus!
Fiquei até sem palavras, mas também não tive como falar nada. Fui beijada
logo depois e nunca me senti tão unida a Tyler quanto naquele momento.
Epílogo

Quatro anos depois


Tyler
E ntrei em casa preocupado, pensando em como daria aquela notícia para
Michelle. Ao meu lado, Andrew e John permaneciam calados.
— Aguardem aqui enquanto falo com ela.
Eles assentiram e se sentaram no sofá da sala. Eu já havia combinado com
Andrew que seria eu a contar tudo para Michelle e só depois ele conversaria com a
irmã.
Como eu sabia que ela gostava de ficar no ateliê durante parte da manhã,
arrisquei ir direto para lá e não me enganei. Ela estava envolvida nos estudos do
curso superior de artes plásticas que vinha fazendo.
Assim que entrei, ela levantou o olhar do livro e sorriu.
— Você veio almoçar em casa hoje! — exclamou, feliz, mas depois ficou
séria ao ver a expressão do meu rosto. — Aconteceu alguma coisa?
Aproximei-me, beijando os lábios rosados antes de me sentar ao lado dela.
Não havia como amenizar a notícia que eu tinha que dar e fui direto como sempre.
— Assim que cheguei no escritório, fui informado sobre o falecimento do
seu pai na prisão ontem de madrugada, Michelle. Vim lhe contar antes que saia em
algum noticiário.
Ela inspirou fundo, soltando depois um arquejo de surpresa e dor, os olhos
azuis brilhando de lágrimas.
— Ele morreu? — sussurrou com uma voz sofrida. — Mas como, Tyler? O
que fizeram com ele?
Eu sabia que Michelle ficaria devastada, mesmo que o pai tivesse sido um
crápula com ela. Isso sem falar da tentativa de matar o nosso filho, de tudo o que fez
contra o meu pai, do sofrimento que causou à própria esposa e de roubar os milhões
de correntistas do banco.
— Ninguém fez nada contra ele. — Aquela era a parte mais difícil de
contar e que eu esperava que não fosse um gatilho para ela. — O seu pai se suicidou.
Com os olhos esbugalhados, Michelle ficou sem reação, completamente
imóvel. No instante seguinte, atirou-se nos meus braços em busca de conforto,
apertando-me com força. Os soluços sacudiram o corpo dela e trinquei os dentes de
raiva.
Foda-se, C olin Barton!
Quem quisesse que me taxasse de insensível, mas eu não conseguia
lamentar a morte dele. A minha única preocupação era que Michelle não sofresse
demais ao saber que o pai também se suicidou igual à mãe dela.
Coloquei-a no meu colo, aconchegando-a contra o peito.
— Não fique assim, por favor.
Eu nem sabia o que dizer sobre a morte dele, exceto que foi bem-merecida,
que ele foi um covarde até o último instante e que não merecia a filha que teve.
Deixei que Michelle chorasse tudo o que precisava. A sensação que eu
tinha era de que a dor que ela sentia era mais por se lembrar do suicídio da mãe, a
quem realmente amava, do que pelo suicídio do pai. Uma coisa puxou a outra e ela
agora sofria pela perda de Margaret, como se tivesse sido a mãe a morrer naquela
madrugada.
Michelle demorou a controlar o choro e aguardei abraçando-a firmemente.
Quando os soluços diminuíram, ela limpou o rosto com a manga do blusão que
usava, respirando fundo para se acalmar.
— É muito triste que os dois tenham tido o mesmo fim, ainda que por
motivos diferentes.
— Pode ter sido o mesmo fim, mas acho que cada um está em um lugar
diferente agora. Ela, em um melhor do que ele.
Se havia mesmo um inferno, eu não tinha dúvida alguma de que era o lugar
para onde Colin Barton foi mandado e que seria lá que realmente ia colher o que
plantou.
Segurei o rosto de Michelle com minhas mãos, amando cada pedaço
daquela mulher que era dona do meu coração.
— Não pense muito nisso, apenas reze. Foi o que fiz pelo meu pai quando
morreu e tenho certeza de que Deus vai ouvir as suas preces por eles.
Ela assentiu, respirando profundamente outra vez.
— Andrew já sabe?
— Sabe. Ele e John estão na sala aguardando para falarem com você.
Ela desceu do meu colo.
— Quero vê-lo.
Abracei-a pelos ombros e fomos para a sala. Mal entramos, ela se soltou de
mim e correu para os braços do irmão, ambos abraçando-se com força.
— Não fique triste, baby — Andrew consolou a irmã. — No fundo, eu
sempre soube que isso podia acontecer. Até que demorou muito. Não pensei que ele
aguentasse quatro anos na prisão.
John trocou um olhar carregado comigo e vi nele a mesma revolta que eu
sentia com o sofrimento que Colin Barton causou aos filhos durante a vida toda.
— Fiquem aqui hoje — convidei, ciente de que Andrew e Michelle se
sentiriam melhor perto um do outro. — As crianças vão adorar ter os tios em casa.
— Obrigado, Tyler. Aceitamos — John respondeu pelos dois.
Michelle se afastou do irmão ao ouvir falar dos filhos.
— Ah, eles vão adorar mesmo. Joshua adora o John.
— E a mim, não? — Andrew perguntou, provocador como sempre.
Ela riu com o irmão.
— Quem adora você é a Margaret.
Minutos depois, subimos para o andar das crianças, onde Joshua e Margaret
se divertiam com Ruth e a babá nos horários em que a mãe estudava no ateliê.
Assim que me viram, os dois correram para mim.
— Papai! Papai!
Joshua estava com quatro anos e Margaret com apenas dois aninhos.
Enquanto ele era uma cópia fiel minha, ela era uma cópia fiel de Michelle. Os
cabelos não eram tão claros quanto os da mãe, mas eram igualmente louros. Os
olhos eram de uma tonalidade esverdeada, em vez de azuis cintilantes como os de
Michelle. O rostinho tinha um formato delicado de coração, contrastando com o
rosto mais quadrado do irmão.
Agachei-me e peguei os dois ao mesmo tempo, colocando cada um em um
braço. Fui abraçado pelo pescoço e beijado no rosto ao meu tempo.
— O papai hoje vai ficar em casa e trouxe os tios também.
Os dois gritaram de alegria quando viram Andrew e John atrás de mim.
Passei-os para eles e abracei Michelle, que agora sorria ao ver os filhos felizes com
os dois.
O latido estridente de Toby se espalhou pela sala, querendo receber atenção
também. Com o rabo balançando freneticamente, o foxhound se aproximou de mim,
a quem parece ter escolhido como dono.
Agachei-me ao lado dele, acariciando o pelo macio.
— Não seja ciumento, Toby.
— Olha só quem fala! — Andrew me provocou mais uma vez, um hábito
comum nele ao qual eu já estava acostumado.
Michelle não conteve uma risadinha.
— Deve ser por isso que eu e Toby nos damos tão bem — comentei
despreocupadamente, erguendo-me e abraçando-a.
Ruth se aproximou com um sorriso de satisfação ao me ver em casa com
Andrew e John.
— Já que hoje teremos a família inteira reunida, vou na cozinha orientar
melhor o pessoal.
— Ruth, você vale mais do que todos os gestores do banco — Andrew
elogiou, beijando-a no rosto.
— Uti! — Margaret repetiu no colo dele.
— Ruth — ele corrigiu.
— Uti — ela insistiu, como se fosse ele que estivesse falando errado.
Foi impossível não rirmos com a cara de reprovação que Margaret fez para
ele.
— Você precisa aprender a falar direito, Andrew. Só fala errado. — Foi a
minha vez de provocá-lo.
A cena serviu para desanuviar um pouco a tristeza de Michelle e Andrew
com a notícia da morte do pai, e eu esperava mesmo que tudo relacionado a ele fosse
esquecido com o passar do tempo.

— Ele já dormiu — Michelle cochichou no meu ouvido assim que Joshua


foi vencido pelo sono no colo dela.
Eu já havia colocado Margaret na cama, mas Joshua era sempre o mais
resistente na hora de dormir. Só não resistia muito quando ia para o colo da mãe.
A noite havia sido agitada para os dois com a presença de Andrew e John
em casa, mas, ainda assim, Joshua demorou a adormecer. Sempre que podíamos,
dispensávamos a babá e íamos nós mesmos colocar nossos filhos para dormir. Foi o
que fizemos naquela noite, um momento único com a minha família que eu fazia
questão de preservar.
Peguei Joshua com cuidado do colo de Michelle e o levei para a cama,
beijando os cabelos dele logo depois. Ainda ficamos observando-os por algum
tempo antes de irmos para o nosso quarto.
Assim que fechei a porta, abracei Michelle, observando-a com atenção.
— Como se sente?
Ela sorriu e senti que estava tranquila.
— Estou bem melhor. O choque inicial já passou e agora me sinto mais
conformada com o que aconteceu.
O alívio que senti ao saber que ela estava superando a notícia, foi enorme.
A última coisa que eu queria era ver Michelle sofrendo.
Beijei-a de leve nos lábios, depois fui aprofundando o beijo à medida que
ela foi correspondendo. Achei que Michelle não ia querer fazer amor comigo
naquela noite, mas me enganei. Ela retribuiu cada um dos meus carinhos, tão ansiosa
quanto eu.
O corpo dela continuava quase igual como era antes, mesmo depois de
engravidar duas vezes. A única diferença eram os seios maiores e os quadris
ligeiramente mais largos. De resto, continuava esbelta e elegante como sempre foi,
com um poder de sedução incrível sobre mim.
O Tyler Blackwolf de anos atrás não existia mais. Aquele homem que não
sabia o que era o amor, que desdenhava de homens que amavam perdidamente uma
única mulher e que fodia sem se envolver, já não existia mais. Sendo muito sincero
comigo mesmo, eu não sentia saudade alguma do que fui.
Todos os bilhões de dólares que eu tinha não se comparavam em valor ao
que existia entre nós dois. Aquele amor valia mais do que tudo o que eu possuía na
vida.
Enlacei a cintura dela com força e a ergui do chão. Michelle envolveu a
minha cintura com as pernas e levei-a para a cama, onde a deitei. Antes de me juntar
a ela, tirei o pulôver e despi a calça com a cueca. Assim que me viu nu, ela se
ajoelhou na beirada da cama e me beijou no abdômen, as mãos macias segurando o
meu pau.
Estremeci de antecipação e estremeci mais ainda quando a boca úmida o
envolveu totalmente.
— Porra, Michelle. Chupa!
Ela chupou até que as minhas pernas fraquejassem a tal ponto que precisei
me sustentar na cabeceira da cama.
— Tira logo a roupa — exigi, quase a ponto de gozar.
Michelle se despiu sensualmente, a nudez do corpo curvilíneo aumentando
o meu tesão.
— É assim que você me quer? — perguntou, mordendo a ponta do lábio.
Para me provocar ainda mais, ela se deitou e separou as pernas, começando
a se acariciar na minha frente. Uma das mãos estimulou um mamilo e a outra desceu
para o clitóris, deslizando facilmente no sexo molhado.
Ela quer me enlouquec er de tesão!
— Se continuar com isso, vou me enterrar em você e foder com força.
Um sorriso convidativo curvou os lábios que tinham acabado de me chupar.
— E o que está esperando?
Po rra nenhuma!
Segurei-a pelos tornozelos e puxei para mim, enterrando-me nela como
disse que faria. Michelle fechou os olhos e arqueou o corpo, ofegando de prazer.
Não deixou de se tocar, excitando-se e excitando-me com aquela visão erótica.
Foi uma foda poderosa, onde paixão, tesão e amor se misturaram em uma
combinação explosiva. Quanto mais fundo eu ia, mais Michelle parecia querer, até
que ela soltou um longo gemido de prazer ao gozar. Fui mais rápido ainda e gozei
logo depois, sentindo-me sugado pelas entranhas dela.
Michelle queria tudo de mim e havia conseguido.
Caí pesadamente ao lado dela na cama, agarrando-a nos meus braços com
um certo desespero.
— Eu te amo muito, Michelle! Você é a minha vida.
— E você é a minha. — Havia amor nos olhos azuis. — Também te amo
muito.
Engoli em seco a emoção que travou a minha garganta. Eu me sentia muito
exposto naqueles momentos, mas também igualmente forte. Sabia que era dominado
por ela, mas que também a dominava.
Depois de uma vida inteira sozinho, eu havia encontrado a minha
companheira, a única mulher que tocou o meu coração e me ensinou que o amor não
enfraquecia um homem. Ao contrário, tornava-o invencível.

FIM
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Biografia e Redes Sociais
Lettie S.J. é de Recife, mas reside em Portugal desde 2007. Romântica
assumida e apaixonada por livros desde sempre, diz que não escreve apenas os
romances, mas que também respira, vive e sonha com eles. Tem uma predileção
especial pelos históricos e medievais, contudo, começou na escrita com os
contemporâneos. Gosta de abordar temas fortes em um enredo com suspense, ação e
amor. Publicou o primeiro livro em 2016 no Wattpad, o new adult Linhas do
Destino, que ganhou neste mesmo ano o Prêmio Wattys da plataforma online,
mudando o rumo de sua história e resgatando-a em uma fase difícil da vida. Afinal,
quem disse que livros não salvam vidas? Em 2017, tornou-se Embaixadora do
Wattpad. Em 2020, ganhou seu segundo Prêmio Wattys com o romance
policial/suspense, O Desaparecimento de Mary Anne. Atualmente, tem vários e-
books publicados na Amazon que a tornaram uma autora best-seller no ranking dos
mais vendidos, além de ter livros físicos publicados por editoras no Brasil e em
Portugal.
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Grupo de leitoras no Facebook: Lettie S J - Romances

1 Clínica fictícia criada para o livro.


2 Clínica fictícia criada para o livro.
3 Processo de congelamento em tanques de nitrogênio líquido por um período indeterminado.
4 Sigla do inglês Very Important Person (pessoa muito importante).
5 Banco fictício criado para o livro.
6 Banco fictício criado para o livro, cuja sigla significa BlackWolf Bank.
7 Homem que usufrui dos prazeres da vida sem se preocupar com nada.
8 Ela faz uma alusão ao sobrenome dele, Blackwolf, que significa Lobo Negro.
9 Este fato é verídico e não foi o único. Um deles aconteceu no Texas (EUA), mas há registro
também em outros países. Foram descobertos depois da facilidade de se fazer exames de DNA
online com empresas que localizam os familiares através de um mapeamento.
10 Grupo fictício criado para o livro.
11 Apartamentos localizados na cobertura ou nos andares superiores de um prédio, caracterizado
pelo pé direito (teto) alto e um (ou mais) terraços ao redor. Elas podem ser duplex, triplex ou ter
quantos andares o proprietário tenha dinheiro para comprar.
12 Grupo de arranha-céus que estão entre os mais altos e caros do mundo, localizados no Sul do
Central Park em Manhattan, Nova York. São considerados como imóveis de ultra luxo. Uma
mansão de quatro andares em um desses arranha-céus da Billionaires’ Row custa atualmente
cerca de 250 milhões de dólares.
13 Fed eral Reserve é o sistema de reserva federal ou sistema de bancos centrais dos Estados
Unidos. É citado de maneira simples como The Fed (O Fed).
14 Banco fictício criado para o livro.
15 Standard & Poor’s 500 é o índice considerado como o principal indicador de avaliação das
ações do mercado norte-americano.
16 Palavra francesa que significa “toque”, usada na esgrima pelo atacante que é atingido pelo
adversário, reconhecendo a precisão do golpe. Em uma discussão, é o reconhecimento da vitória
do interlocutor.
17 Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos).
18 O Lehman Brothers foi um dos mais fortes bancos de investimento dos Estados Unidos (e do
mundo) que faliu em 2008, causando uma crise financeira mundial.
19 Atualmente, o exame de sexagem fetal em laboratório demora de três a dez dias. Em caráter
de urgência, é possível ser liberado em três dias.
20 Aniversário de trinta anos de casamento.
21 Termo em inglês para vestido sem alças.
22 Raça de cachorro.
23 Sociedade ou conta bancária aberta em países localizados fora do domicílio do proprietário,
que oferece sigilo e uma série de benefícios fiscais. Mais comumente conhecidos como “paraísos
fiscais”.
24 Revista fictícia criada para o livro.
25 Marca alemã de canetas de luxo.
26 Townhouse é uma casa geminada, conceito de imóvel originado na Inglaterra e Irlanda, mas
que foi incorporado nas colônias britânicas da época.

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