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Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de qualquer parte desse livro, por quaisquer
meios existentes, sem a prévia autorização por escrito da autora.
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, personagens e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos reais é mera coincidência.
Edição Digital | Brasil
___________________________________
Sumário
Sinopse
Playlist
Nota de Autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Epílogo
Biografia e Redes Sociais
Sinopse
Um erro crasso acontece na clínica de reprodução humana onde o poderoso
CEO Tyler Blackwolf deixou o seu sêmen congelado para ter filhos quando fosse
mais conveniente. Ele mesmo havia nascido de uma inseminação artificial e nunca
conheceu a própria mãe, portanto, na concepção fria de sua mente calculista, aquele
era o método mais seguro e confiável de ter o próprio filho. Conhecido no mundo
financeiro como O Lobo Negro de Wall Street , não apenas por causa do seu
sobrenome, mas por ser um predador implacável nos negócios, Tyler pretendia
escolher todas as características físicas e genéticas da mulher que seria a mãe do seu
herdeiro. Contudo, o destino não pode ser controlado, mesmo para um CEO
poderoso. Por causa desse erro, a filha do seu pior inimigo é inseminada com o
sêmen dele e engravida do meticulosamente planejado herdeiro Blackwolf.
Michelle Barton sempre sonhou com o homem ideal, mas nunca teve a
sorte de encontrá-lo, apesar dos vários pretendentes que tinha, todos almejando ser o
marido da filha do banqueiro Colin Barton. Após uma fatalidade, Michelle decide
ser mãe solo e recorre à clínica de fertilização mais renomada do país para
engravidar, escolhendo um pai que tivesse as características físicas do homem dos
seus sonhos, que seria um doador anônimo. Um doador que deixou de ser anônimo
quando o erro foi descoberto e um certo CEO vingativo surgiu na sua vida, cheio de
exigências, mas também de ódio.
O que nenhum deles esperava era o perigo que aquela gravidez traria. Tyler
e Michelle terão suas vidas viradas pelo avesso por um filho muito desejado por
ambos, ainda que por motivos diferentes.
Playlist
Love Bites — Def Leppard
Sky fall — Adele
Still Don’t Know My Nam e — Labrinth
Middle Of The Night — Elley Duhé
Mountains — Carolina Deslan des ft. Agir
Arcade — Duncan Laurence ft. Fletcher
Froz en — Madonna
It’ll Be Okay — Shawn Mendes
Summertime Sadness — Lana Del Rey
Não Me Perdoei — Victor e Leo
Mais ou Menos Isto — Rita Rocha
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Nota de Autora
Oi, meus amores.
Preparadas para mais uma viagem emocionante comigo? Desta vez, o nosso
destino é Wall Street em Manhattan, o centro financeiro americano. Vamos
conhecer a exclusiva Billionaires’ Row , onde mora o bilionário da Forbes, Tyler
Blackwolf. O sobrenome dele já diz tudo, não é mesmo? Não é à toa que este CEO é
conhecido no mundo financeiro como O Lobo Negro de Wall Street .
Neste livro, vou abordar algumas curiosidades sobre a inseminação
artificial, um mundo que passei a conhecer melhor depois das pesquisas que fiz para
construir o enredo. Garanto que há coisas bem interessantes que acontecem no ramo
e que talvez surpreendam vocês, por isso estejam atentas às notas de rodapé.
O livro tem alguns gatilhos, mas não os descrevi demais, um cuidado que
sempre tenho ao escrever. Há apenas uma menção à depressão e ao suicídio.
Agora, venham comigo conhecer Blackwolf, o lobo negro de Wall Street.
Boa leitura, obrigada por estarem aqui e não se esqueçam de avaliar o livro
no final. Que o coração de vocês fique bem quentinho (e outras partes do corpo
também, rsrs) com esta história de amor. Mais um dos meus amores predestinados,
do jeitinho que eu gosto.
Beijinho!
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indiretamente com a distribuição ilegal da obra e deixando de ajudar a autora.
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Lettie S.J.
Capítulo 1
Nova York
Tyler
— E stou surpreso com a sua vinda ao meu escritório. — Cumprimentei
Gary com um caloroso aperto de mãos e me sentei, observando-o com atenção. —
Você está com uma cara terrível. Aconteceu alguma coisa que eu possa ajudar ?
Gary era meu primo, mas também era o melhor amigo que eu tinha desde a
infância, uma das poucas pessoas que me entendiam. Eu tinha de admitir que me
entender não era algo fácil para os outros, muito menos ser meu amigo, por isso
valorizava ainda mais a nossa amizade.
Estranhei a expressão carregada que ele trazia no rosto e que sequer
conseguia disfarçar.
— Eu precisava falar com você o mais rápido possível e já adianto que não
será um assunto fácil.
— Ser for algum problema que a clínica esteja passando, sabe que é só me
dizer e ajudo.
Gary era médico ginecologista especializado em reprodução humana e
recentemente havia realizado o sonho de sair do hospital onde trabalhava e abrir a
sua própria clínica de reprodução assistida. Eu não duvidava do sucesso da Plan Life
1
, mas talvez ele estivesse precisando de ajuda financeira para um investimento
maior na empresa.
— O problema não é comigo, mas com você, Tyler. Na verdade, é um
problemão.
Recostei-me contra o espaldar da cadeira, olhando-o com seriedade. Eu não
imaginava que problemão seria aquele, considerando que eu tinha tudo da minha
vida muito bem controlado.
— Então diga logo o que é e não faça mais drama. Se há um problema me
envolvendo, quero saber agora do que se trata — falei calmamente, apesar do meu
tom de voz ter soado muito duro. — Você sabe que não gosto de rodeios.
— Não vou fazer rodeios, apenas quis preparar você antes.
— Me preparar para o quê?
Ele suspirou profundamente, contraindo os lábios finos em um gesto tenso
e passando a mão com nervosismo pelos cabelos louros, como se estivesse se
enchendo de coragem para falar. Aguardei, tentando não perder a paciência com
tanto drama. Gary era um excelente amigo e um profissional competente, mas
pecava pelo excesso de sentimentalismo.
— Tem uma mulher que está grávida do seu filho.
Impassível, continuei olhando para ele enquanto a informação entrava no
meu cérebro e era analisada friamente.
Aquele suposto problemão não existia.
— Não sou doido de foder sem preservativo com tantas infecções sexuais
por aí. Nenhuma mulher pode estar grávida de um filho meu.
— Sim, pode — ele afirmou com convicção. — Você não entendeu. Houve
um erro na Fertile Future 2 e engravidaram uma mulher com o seu sêmen que foi
criopreservado 3 .
Desencostei-me lentamente da cadeira e me inclinei na direção dele,
apoiando os antebraços nos joelhos.
— O que foi que você disse?! — Apesar do meu tom de voz controlado, eu
me sentia enfurecer por dentro. — Me conte isso direito.
— É isso mesmo que você ouviu. Fiquei sabendo hoje pela manhã e vim
correndo lhe contar assim que pude. O assunto é tão sério que não quis falar por
telefone.
Inspirei fundo, enchendo o peito de ar para descomprimir a tensão.
— Quero os detalhes.
— Tenho um amigo médico que trabalha na Fertile Future. Ele foi hoje na
minha clínica para falar comigo em caráter confidencial e contou tudo o que
aconteceu. Confundiram o seu nome com o de um doador anônimo que foi escolhido
por uma paciente. Ela foi inseminada com o seu sêmen e não com o dele. Só depois
que tudo estava feito e a mulher já tinha ido para casa foi que perceberam o erro.
Porra! Eu não estou acreditando nesta merda!
— Quando foi isso?
— Há um mês.
— Um mês?! — rugi, cerrando os punhos de raiva. — E até agora ninguém
me disse nada?
— O coordenador do departamento se reuniu com os responsáveis para
decidir o que fazer, mas a decisão sem dúvida foi abafar o caso, já que ninguém
entrou em contato com você. Segundo Philip me contou, esta não foi a primeira vez
que aconteceu um erro desse tipo no departamento, apesar de ter sido a primeira vez
envolvendo um dos clientes VIP 4 . Das vezes anteriores, eles abafaram o caso dentro
do departamento assim que ficaram sabendo, sem passar o ocorrido para a diretoria.
O coordenador quis se preservar no emprego, sem dúvida. Depois que o primeiro
erro é encoberto, a situação se transforma em uma bola de neve e todos os erros
seguintes também precisam ser acobertados. Um escândalo de troca de embriões
mancharia a reputação da clínica e significaria a demissão de muita gente.
O absurdo daquilo me enfureceu ainda mais. Levantei-me da cadeira, sem
acreditar que o meu sêmen foi usado indevidamente por um bando de
incompetentes.
— Como é que você me indica uma clínica merda dessas, Gary? — rugi,
cerrando os punhos de raiva.
Ele se levantou também, fazendo um gesto conciliador com as mãos para
me acalmar.
— Eu nunca soube de nada que desabonasse o trabalho deles, Tyler!
Aquela clínica é considerada a melhor do país. Para mim e para muitos médicos da
área, a Fertile Future sempre foi uma referência, um exemplo de profissionalismo.
Foi por isso que a indiquei anos atrás para você quando me pediu orientação. Jamais
pensei que eles encobrissem erros dessa natureza, o que é extremamente antiético.
— Antiético uma porra! Isso é um crime e eles vão pagar. Hoje mesmo vou
acionar os meus advogados para entrar com um processo gigantesco contra eles.
Quero todos os responsáveis atrás das grades e ver a merda daquela clínica fechada!
— Não faça nada de cabeça quente .
— Você ainda não me viu de cabeça quente, Gary — garanti, mesmo me
sentindo ferver de raiva.
— E nem quero ver — ele desabafou, voltando a se sentar pesadamente na
cadeira. — Estou me sentindo culpado por ter colocado você nesta situação ao
indicar a Fertile Future. Sei que você estava planejando esse filho para depois que
conseguisse incorporar o banco de Colin Barton ao seu, porque antes precisa estar
focado nesta aquisição.
Só de ouvir falar o nome de Colin Barton, a minha raiva aumentou. Há anos
que eu lutava para comprar o Barton Bank 5 e tirar a família Barton do poder. Aquilo
era uma questão de honra para mim, desde que o meu pai havia falecido sem
conseguir destruir o homem que foi o seu maior inimigo durante décadas.
Ambos foram amigos e estudaram até finalizar a faculdade de Finanças,
ocasião em que decidiram abrir uma instituição financeira juntos e seguir como
sócios, consolidando a amizade que já existia. Mas Colin Barton era por demais
ambicioso e um grande cafajeste. Traiu o amigo e se apoderou do banco anos
depois, tirando o meu pai da sociedade sob a alegação de desvio de dinheiro.
Foi humilhante e vergonhoso para o meu pai, que ainda sofreu um outro
duro golpe ao ver a mulher que amava se casando com o seu ex-amigo e pior
inimigo. Margaret Barton o abandonou quando ele perdeu o prestígio, a reputação e,
logicamente, o dinheiro também.
Apesar de o meu pai nunca ter comentado nada comigo, eu desconfiava que
a traição da mulher que ele amava havia sido um golpe mais duro do que a perda
financeira ou a queda de sua reputação. Eu não duvidava que ele tirou forças do ódio
para se reerguer décadas depois, tornando-se mais rico e poderoso do que o homem
que o traiu.
O objetivo principal da vida do meu pai tinha sido tomar de volta tudo o
que Colin Barton havia tirado dele, exceto a mulher. A traição de Margaret Barton o
deixou marcado, a ponto de nunca ter se casado na vida. Quando quis ter um filho,
foi por inseminação artificial.
Ele foi honesto comigo e não escondeu a maneira como fui gerado. Como
nunca tive uma mãe, a ausência dela não me fez falta. Em contrapartida, o
relacionamento que eu tinha com o meu pai era perfeito, sempre fomos verdadeiros
amigos e não apenas pai e filho. Fomos companheiros em tudo e a morte dele aos
sessenta e três anos, vítima de um câncer de pâncreas, deixou-me devastado. Foi a
luta do meu pai contra o câncer que me fez tomar a decisão de congelar o meu
sêmen e garantir que teria espermatozoides saudáveis no futuro, quando decidisse
que estava na hora de ter o meu filho.
Há três anos que eu estava lutando sozinho para adquirir o Barton Bank e
não faltava muito mais para aquilo acontecer. Eu vingaria o meu pai, destruindo de
vez o homem que o traiu.
Depois que aquilo acontecesse, eu teria o meu filho por inseminação
artificial, seguindo o exemplo do homem que foi o meu herói a vida inteira, e não
apenas um pai. Planejei passo a passo aquele filho. Agora, aos trinta e cinco anos, eu
estava preparado para ser um pai igual ao que tive.
Fui criado por uma governanta que eu adorava e que até hoje trabalhava
para mim. O mesmo aconteceria com o meu filho, que teria um pai tão amigo que
compensaria a ausência de uma mãe. As mulheres eram muito traiçoeiras e eu não
queria que nenhuma delas tivesse direitos sobre o meu filho.
Voltei a inspirar profundamente, tentando manter o foco, apesar de me
sentir enfurecido com a Fertile Future. Eu nem queria pensar que o filho que
planejei com tanto cuidado ia nascer antes da hora e de uma mãe que não escolhi, de
uma mulher que nunca vi e que eu nem sabia quem era.
— Quero a ficha completa da mulher que está com o meu filho na barriga.
— Merda! — Gary blasfemou, fazendo uma careta e desviando o olhar do
meu, o que me deixou desconfiado.
— Gary — rosnei em tom ameaçador.
Ele bufou, exasperado.
— Todas as provas foram recolhidas, para não deixar pistas e ninguém
descobrir depois o que aconteceu. Podem até ter sido eliminadas, que é o mais
provável. Este é o procedimento padrão da coordenação, segundo Philip me contou.
Ele só ficou sabendo por que a namorada trabalha no setor responsável e uma amiga
confidenciou para ela ontem o que aconteceu. Mila desabafou com ele quando
estavam em casa. Os dois estão pensando seriamente em sair de lá. Inclusive, Philip
aproveitou para perguntar se ambos poderiam trabalhar comigo na Plan Life — ele
contou, ajeitando nervosamente os óculos sobre o nariz. — Philip e Mila sabem dos
problemas que vão ter caso acusem a clínica sem prova alguma em mãos, por isso
ele me pediu sigilo. Para ser bem sincero, acho que ele só me contou, porque sou seu
primo e quiseram que eu prevenisse você. Vai ser sempre a palavra do coordenador
contra a de qualquer funcionário que se atreva a falar algo fora da clínica, o que
nunca aconteceu até hoje.
Paralisei, incapaz de acreditar que nunca veria o meu filho.
Fil hos da puta!
— Alguém lá dentro deve saber quem foi a mulher.
— Pode ser que sim, mas Philip e Mila agora não têm mais como saber
quem é ela. A única coisa que Philip sabe, é que a mulher era alguém importante,
porque foi atendida no andar VIP da clínica. O seu sêmen foi enviado para o setor
que faz inseminação artificial intrauterina e não as fertilizações in vitro. A mulher
recebeu os espermatozoides direto no útero para que a fecundação acontecesse lá
dentro — ele me explicou os detalhes técnicos.
— Então, ela é a mãe.
— Sim, é. Se fosse uma fertilização in vitro, o óvulo poderia ser de
qualquer outra mulher, já que a fecundação acontece em laboratório e só precisamos
de um espermatozoide e de um óvulo, seja de quem for. A tal mulher poderia até ser
apenas uma portadora de gestação, a conhecida barriga de aluguel, que receberia
dentro do útero o embrião já desenvolvido em laboratório de um casal qualquer, por
exemplo. Só que este não foi o caso. A mulher que está há um mês grávida do seu
filho, recebeu os seus melhores espermatozoides para que fecundassem um óvulo
dela, entendeu?
Porra! A mulher é a mãe do meu filho e eu nem sei como ela é!
— Há alguma chance de essa fecundação não ter acontecido e ela não estar
com o meu filho na barriga?
— Sim, claro que há uma chance, mas eu não contaria com isso se fosse
você. A mulher pode, inclusive, engravidar de gêmeos.
— Eu não estou conseguindo acreditar nesta merda! — estourei, afastando-
me de Gary antes que descontasse no meu primo a raiva que estava sentindo.
Eu preciso encontrar essa mulher a todo custo!
Andei durante um bom tempo em frente à parede de vidro do meu
escritório em Manhattan, pensando nas implicações do que havia acontecido. Afinal,
aquele era mesmo um problemão, como Gary havia dito.
Minutos depois, virei-me para ele, que aguardava pacientemente na cadeira.
— O funcionário que descobriu o erro deve saber quem é ela — falei,
convicto. — Converse com o seu amigo e peça a ele que convença a namorada a
conseguir essa informação para mim. Eu pago o quanto for preciso para descobrir
quem é a mulher que está com o meu filho.
Capítulo 2
Michelle
V oltei a arrumar o porta-retrato com a foto da minha mãe sobre o console
da lareira do apartamento que eu havia comprado meses atrás, controlando as
lágrimas que teimavam em cair. Não havia feito nem um ano da morte dela, mas eu
ainda não tinha conseguido superar aquela perda.
Na foto, a minha mãe sorria ternamente ao meu lado, nós duas abraçadas e
felizes em umas férias que tiramos em Paris. Apesar dos sérios problemas que
tínhamos em casa, a felicidade era tanta quando estávamos juntas que nos
esquecíamos de tudo.
Como sinto sua falta, mãe!
Depois da morte dela, permanecer na mansão fria da família Barton se
tornou algo impossível para mim. Ainda passei alguns meses tentando, até desistir.
Depois, decidi lutar para conseguir sair de lá, mesmo contra a vontade do meu pai.
Graças a Deus, consegui.
Só fiquei triste em deixar o meu irmão para trás, que lidaria sozinho com a
personalidade despótica do poderoso Colin Barton. Andrew era dez anos mais velho
do que eu. Entre nós dois, a minha mãe teve um aborto espontâneo bem antes de eu
nascer.
O meu irmão aguentava a custo o nosso pai. Infelizmente, por ser o único
filho homem, tinha de cumprir o papel de herdeiro interessado nos negócios da
família, quando eu sabia que a verdadeira vocação dele era a pintura, igual a mim.
Eu achava que Andrew possuía um talento inquestionável, algo que nunca consegui
alcançar com os quadros que pintava. Como nunca pude me especializar, a pintura
acabou se transformando em uma fuga para mim, uma terapia, mas para ele era uma
necessidade da alma. Contudo, como dizer aquilo para um pai castrador que o
forçava a ser um executivo de terno e gravata?
Suspirei com tristeza, afastando-me da lareira e observando a decoração
que fiz no meu novo apartamento. Ele era minúsculo, se comparado com a
grandiosidade da mansão Barton, mas era meu. Eu o havia comprado graças à minha
mãe, que sabiamente deixou um bom dinheiro para mim guardado em uma conta
secreta que abriu no BW Bank 6 , um banco concorrente do Barton Bank, que era o
banco do meu pai. Ela sabia que apenas lá os tentáculos do marido não a
alcançariam.
Se eu fosse depender do dinheiro do meu pai para sair de casa, seria
obrigada a viver eternamente presa lá. Fui criada por ele para ser uma “esposa
exemplar” e não uma mulher dona da própria vida, com uma carreira e ambições
próprias. Se não fosse pela minha mãe, a minha vida teria sido sufocante.
Anos sendo apenas a “filha de Colin Barton” me deixou despreparada para
o mundo. Eu não tinha uma profissão definida e o dinheiro que a minha mãe deixou
não duraria para sempre. Precisaria gerir muito bem cada centavo, pois pretendia
que sobrasse o suficiente para terminar os estudos depois que o meu filho nascesse.
Eu tinha planos de me formar em artes plásticas, algo que sempre quis fazer e não
pude.
Era preciso encontrar uma maneira de sobreviver no futuro, ainda mais com
a chegada do meu filho.
Deitei-me no sofá da sala com um sorriso de satisfação, acariciando a
minha barriga.
— Em alguns meses estaremos juntos, fofinho. Lá do céu onde a vovó está,
tenho certeza de que ela está muito feliz com a sua chegada.
Aquela gravidez foi muito bem pensada durante o ano que passei de luto.
Uma decisão que tomei ao me lembrar da história de vida da minha mãe. Como
sempre fomos amigas e confidentes, ela havia me contado em segredo sobre o
namorado por quem foi apaixonada na adolescência e a quem teve de abandonar
para se casar com o meu pai.
Igual a mim, a minha mãe foi criada para ser a esposa exemplar de um
bem-sucedido homem de negócios e tinha o futuro garantido ao lado do homem que
amava. Até o dia em que ele foi acusado de fraude financeira e o meu avô a proibiu
de o ver novamente. O meu pai, que sempre esteve interessado nela, falou com o
meu avô e a pediu em casamento. Obviamente que foi aprovado pela família inteira
e ela foi obrigada a se casar.
— Eu me arrependi muito de não ter lutado para ficar com ele quando o seu
avô me forçou a me casar com o seu pai — ela havia me confidenciado em uma
ocasião em que estávamos sozinhas no meu quarto. — Eu era virgem naquela época.
Em vez de ter tido a minha primeira vez com o homem que amava, tive com o seu
pai depois do casamento. Quando chegar a sua vez, não deixe que ninguém a force a
aceitar um homem que não ame, filha. Só se case por amor.
— Até hoje não conheci ninguém que me interessasse, mãe. Deve ter algo
de errado comigo.
Ela riu, meneando a cabeça e me olhando com amor.
— Não tem nada de errado com você, fofinha. Os homens que conheceu até
hoje é que foram os errados. No tempo certo, Deus vai colocar no seu caminho o
homem ideal.
O problema era que o meu homem ideal parecia não existir. Eu já estava
com vinte e sete anos e nunca tinha me apaixonado na vida. Pretendentes não
faltavam, mas eram todos homens de negócios iguais ao meu pai, que só queriam
uma esposa rica para aumentar ainda mais a própria riqueza.
A última coisa que eu queria, era que o meu pai começasse a me pressionar
para aceitar a proposta de algum pretendente indesejado, como Nicholas Brooks, o
homem considerado por ele como o genro perfeito. Enquanto a minha mãe estava
viva, nós duas conseguimos evitar aquela tragédia, mas depois da morte dela, o meu
pai não esperou mais do que seis meses para começar a falar de casamento para
mim.
Antes que a pressão fosse insustentável, encontrei aquele apartamento com
a ajuda de Andrew e o comprei com parte do dinheiro que a minha mãe havia
deixado. Na semana seguinte, comuniquei a minha saída de casa.
— Você ficou louca?! — o meu pai havia gritado, enfurecido. — Não vai
sair de casa e ponto final!
— Sou livre para sair — lembrei-o o mais calmamente possível. — O
senhor vai me prender aqui?
— Claro que ele não vai — Andrew afirmou, defendendo-me e deixando
evidente que me apoiava. — Você já é maior de idade e pode ir morar onde quiser.
O meu pai ficou vermelho de raiva.
— E vai se sustentar com qual dinheiro? — perguntou, usando o seu poder
financeiro sobre mim. — Não vou lhe dar nem um centavo, muito menos sustentar
você fora de casa.
Eu sabia daquilo e agradeci mentalmente à minha mãe por ter pensado em
mim ao abrir aquela conta secreta.
— Tenho algumas economias.
— E elas vão durar a vida inteira? — Ele foi sarcástico no comentário.
— Trabalharei para me sustentar.
A gargalhada dele se espalhou pela ampla sala de jantar onde nós três
fazíamos a refeição.
— Você não sabe fazer nada! Vai trabalhar em quê?
— Nunca é tarde para aprender a fazer algo e estou disposta a tentar.
— Garanto que vai precisar de muita disposição para servir café em bares e
restaurantes a madrugada inteira.
Não comentei nada na ocasião nem ele insistiu no assunto e troquei um
olhar de gratidão com Andrew por me dar apoio. No dia seguinte saí definitivamente
de casa, esperando não voltar nunca mais.
Agora, deitada na sala aconchegante do meu apartamento, eu me sentia
livre e feliz para viver do jeito que quisesse, sem dar satisfações a ninguém, muito
menos a um homem dominador como o meu pai. Foi por causa daquele trauma
paterno que decidi ser mãe usando o sêmen de um doador anônimo. A última coisa
que eu queria para o meu filho ou filha, era ter um pai igual ao meu, sem
sentimentos, focado apenas no trabalho, frio, calculista e incapaz de amar. Andrew e
eu sabíamos muito bem como era conviver com alguém assim. Para mim, vinte e
sete anos de opressão tinha sido o suficiente. Demais até.
O meu celular tocou em cima da mesa de centro e estiquei o braço para
pegá-lo.
— Bom dia, senhorita Smith — uma mulher me cumprimentou quando
atendi, chamando-me pelo sobrenome de solteira da minha mãe. — Sou Melanie
Bishop e trabalho na Clínica Fertile Future. Estou ligando para marcar uma consulta
com a doutora Lisa Brown.
Lisa Brown era a ginecologista que havia feito o procedimento da minha
inseminação e eu me lembrava de termos nos despedido definitivamente da última
vez. Eu tinha a minha própria ginecologista e pretendia ser acompanhada por ela
durante a gravidez, dispensando os serviços da Fertile Future, fato que deixei bem
claro para a doutora Brown. Era estranho que agora estivessem me ligando para
marcar uma consulta com ela.
— Não me lembro da necessidade de uma nova consulta. Foi a doutora
quem pediu?
— Sim, foi ela mesma. Trata-se apenas de um novo procedimento que
estamos adotando, para ter a certeza de que está tudo bem. A senhorita Smith já
confirmou a gravidez?
Aquela funcionária só podia ser novata para estar perguntando-me aquilo.
Eu mesma já havia confirmado com a médica sobre a minha gravidez, informando
que a inseminação tinha sido um sucesso.
— Posso falar com a doutora? — pedi, sem disposição alguma de conversar
com uma atendente sobre um assunto que eu considerava confidencial e que só
deveria ser tratado entre a médica e eu.
Não foi à toa que fiz questão de preencher a ficha na clínica com o
sobrenome de solteira da minha mãe, em vez de colocar o conhecido sobrenome do
meu pai. Apenas a médica sabia quem eu era, para quem confidenciei a minha
verdadeira identidade. Seria preciso alguém investigar os meus documentos
registrados na ficha para comprovar que faltava o sobrenome principal.
— A doutora Brown não se encontra no momento. Temos um horário pela
manhã e outro à tarde, caso a senhorita possa comparecer amanhã mesmo.
Pareceu-me cedo demais. Na verdade, rápido demais.
Será que descobriram algo de errado com o sêmen que inseriram em mim,
tipo u ma anomalia?
De repente, fiquei insegura e coloquei a mão sobre a barriga.
Quando fui à clínica pela primeira vez e tive uma consulta com a médica,
uma das coisas que mais gostei foi poder escolher as características físicas do
doador anônimo que seria o pai do meu filho. Acabei por me divertir com a
experiência, escolhendo os atributos físicos do homem dos meus sonhos, como se
estivesse em uma agência de namoro e precisasse descrever o tipo de homem que eu
queria.
Preenchi a ficha colocando uma altura mediana, cabelos louros e olhos
claros iguais aos meus, além de um corpo magro. Eu não gostava de homens
truculentos, barbados e intimidantes. Esses, eu dispensava! Quase acrescentei que
ele tinha de ser carinhoso, simpático, sorridente e de bem com a vida, mas a clínica
não estava interessada na personalidade do homem ideal que eu queria para ser o pai
do meu filho, ou “o doador”, como o chamavam.
Agora, eu estava preocupadíssima que “o doador” não tivesse um
espermatozoide tão perfeito como me disseram e resolvi marcar o mais cedo
possível.
— Pode ser amanhã no primeiro horário livre que a doutora tiver.
— Às nove horas da manhã.
— Para mim está bom. Pode marcar.
Capítulo 3
Michelle
N ão dormi bem aquela noite e me acordei na manhã seguinte sentindo-me
estranha, levemente apreensiva com a consulta marcada às pressas pela doutora
Brown. Bem antes do horário marcado, eu já estava entrando na clínica e indo para o
elevador privativo do andar VIP onde ela trabalhava.
Tentei controlar o nervosismo enquanto parava atrás de quatro homens
engravatados que também aguardavam a chegada do elevador. Um deles olhou para
mim assim que me aproximei, parecendo muito atento ao que acontecia ao nosso
redor. Acostumada com aquela atitude e com a aparência truculenta dele,
identifiquei logo que se tratava de um segurança.
Ele pareceu satisfeito ao ver que eu era apenas uma mulher inofensiva e
voltou a olhar para a frente.
Observei-os discretamente, identificando de imediato a situação.
Dois deles eram seguranças. Um dos homens que estavam no centro
segurava uma pasta e consultava o celular, parecendo um executivo qualquer.
Talvez, um advogado. A minha atenção foi logo desviada para o homem de porte
altivo no meio deles, que, sem dúvida alguma, era o mais importante dos quatro.
Usava um terno azul marinho de alta qualidade, impecável e que favorecia o porte
poderoso. De costas, pouco pude ver além dos ombros largos em um corpo
aparentemente tão forte quanto o dos seguranças que o ladeavam. A postura altiva e
arrogante era algo que eu conhecia muito bem, típica de quem tinha excessivo poder
nas mãos, como o meu pai, e foi impossível não torcer a boca com desprezo com
aquela semelhança.
Mais um do no do mundo!
O elevador chegou e o outro segurança se adiantou para garantir a porta
aberta. O “dono do mundo” foi o primeiro a entrar no elevador depois que um casal
desceu, ficando de frente para mim. A expressão dura e rígida era salientada pelo
formato quadrado do rosto de traços fortes, que a barba escura e cerrada tornava
mais anguloso ainda. Nossos olhos se cruzaram e o dele era tão frio e seco quanto o
do meu pai, se não fosse pior. Fiquei com a impressão de não haver alma ali dentro,
apenas uma máquina programada para atingir um objetivo sombrio. Tive a certeza
de que o homem era mais perigoso do que os dois seguranças que o protegiam,
parecendo muito mais um assassino sem coração do que um alto executivo.
Um calafrio de medo percorreu o meu corpo ao dar de cara com aquela
energia macabra.
Que horror!
Permaneci parada, deixando que os quatro seguissem sozinhos. Eu estava
adiantada na consulta e tinha tempo. Podia muito bem esperar o elevador descer,
para depois subir sozinha, sem ser obrigada a seguir com aquele homem tenebroso.
— Pode entrar, senhorita — o segurança que segurava a porta convidou
educadamente.
— Vou na próxima vez, obrigada.
Ele não insistiu, nem ninguém se opôs, obviamente. A porta se fechou
lentamente e a última coisa que saiu da minha linha de visão foi o olhar gélido e o
rosto rigidamente impassível daquele homem.
Assim que ele desapareceu totalmente dentro do elevador, soltei a
respiração que havia prendido e suspirei de alívio. Só não fiz o sinal da cruz porque
seria um exagero no local onde eu estava.
Foi com curiosidade que fiquei olhando os números dos andares se
acendendo à medida que o elevador subia, apostando que ele seguiria para o último
andar, onde ficava a diretoria da clínica. Quando parou no décimo quinto,
comprovei a minha teoria.
Será que é um do s diretores?
Só de imaginar aquela possibilidade, já desgostei da clínica. Um homem
com aquela energia macabra não podia ser o responsável por trazer vidas ao mundo.
Ele parecia mais do tipo que tirava vidas.
Não demorou para ser a minha vez de entrar no elevador junto com dois
casais. A felicidade que emanava deles com a possibilidade de ter filhos limpou
rapidamente a energia anterior e me esqueci do encontro sinistro.
Assim que desci no meu andar, aproximei-me do balcão de atendimento da
recepção.
— Tenho uma consulta marcada com a doutora Lisa Brown.
A recepcionista, cujo crachá dizia se chamar Elizabeth Malory, olhou para
mim com interesse.
— É a senhorita Michelle Smith?
— Sim, sou eu mesma.
Ela sorriu, mas foi um sorriso que não chegou aos olhos e que não me
passou confiança. Aquilo me incomodou e pensei se estava demasiadamente
sensível por causa da gravidez. Primeiro, o homem macabro. Agora, a recepcionista
desagradável.
A mulher se levantou da cadeira no mesmo instante.
— Acompanhe-me, por favor.
Inspirei fundo e fui atrás dela, sendo conduzida para a sala de um dos
consultórios médicos. Não era a mesma sala onde fui atendida das vezes anteriores,
nem a médica que me aguardava lá era a doutora Lisa Brown.
— Bom dia, senhorita Smith — a médica estranha me cumprimentou com
um sorriso que também não achei ser sincero, enquanto a atendente saía da sala e
fechava a porta do consultório. — Sou a doutora Chelsea Anderson, a responsável
por cuidar do seu caso a partir de hoje. Sente-se, por favor.
Sentei-me, completamente aturdida.
— Onde está a doutora Lisa? Pensei que a minha consulta seria com ela.
— A doutora Lisa Brown já não trabalha mais na clínica. Todas as
pacientes dela passaram para mim, por isso a chamei aqui hoje, para poder examiná-
la e ter a minha própria opinião sobre como anda o seu tratamento de gravidez.
Não gostei nada daquilo.
— Não entendo por que não me disseram isso ontem quando marcaram a
consulta. Vim achando que teria uma consulta com a minha médica.
— Eu sou a sua médica — a mulher afirmou com uma voz que achei
antipática, aumentando o meu desagrado. — Quem lhe ligou ontem foi o setor de
marcação de consultas. Provavelmente a atendente não sabia que a doutora Lisa já
não trabalhava mais na clínica.
Se havia uma coisa fundamental entre médico e paciente era a confiança, e
eu não sentia confiança alguma naquela médica. Só não a dispensei e saí
imediatamente da sala porque antes precisava descobrir o motivo real daquela
consulta. Ainda estava na minha cabeça a hipótese de o sêmen do doador anônimo
ter algum problema.
— Sim, claro. É compreensível esse engano. Pode iniciar a consulta,
doutora.
Ela pareceu satisfeita.
— Vou pedir que tire a roupa na sala ao lado e coloque uma bata para que
eu possa fazer um exame ginecológico completo. Quero ver as condições da sua
gravidez.
Achei que íamos apenas conversar sobre o procedimento a que me submeti
e como eu me sentia, mas não fazer um exame físico. Eu jamais colocaria o meu
corpo nas mãos de uma médica com quem antipatizei de cara.
— Pensei que fôssemos apenas conversar.
A doutora Chelsea me olhou com um toque de ironia.
— Preciso ver como está o desenvolvimento da gravidez e não posso fazer
isso só com uma conversa — ela falou com autoridade de médica, como se quisesse
me forçar a atender à sua exigência.
O que ela disse tinha toda a lógica, mas o desconforto que eu sentia
também tinha muita lógica para mim.
— Tenho a minha própria ginecologista. Ela já está acompanhando a minha
gravidez e a doutora Lisa sabia disso. Leia a minha ficha com atenção, doutora —
informei calmamente, sem me deixar intimidar. — Se houve algum problema com o
esperma do doador anônimo que escolhi, pode me dizer. Se quiser saber como me
sinto fisicamente, também direi, mas que fique bem claro que não pretendo fazer
nenhum exame ginecológico aqui na clínica. Nada no meu contrato com a Fertile
Future me obriga a isso.
Usei o tom de voz de herdeira Barton, que era o único que aquela médica
parecia entender.
Ela sorriu mais uma vez, no que deveria ser um sorriso de desculpas, mas
que novamente não chegou aos olhos.
— Eu entendo tudo isso. O que estamos querendo é apenas ter a certeza de
que a inseminação foi um sucesso.
— Se não há nada de errado com o sêmen do doador anônimo, posso
garantir que foi um sucesso.
— Impossível haver algo de errado com o sêmen, senhorita Smith. O lema
da nossa clínica é o profissionalismo e a excelência. Só os melhores doadores são
aceitos. Isso é inquestionável.
— Foi exatamente por isso que procurei a Fertile Future. Por ser a melhor
clínica do país e ter profissionais humanizados — alfinetei-a, que de humanizada
não tinha nada.
Foi cômica a tentativa que ela fez de parecer simpática ao sorrir mais uma
vez.
— Só um minuto, por favor — ela pediu, pegando o telefone e falando com
a atendente. — Elizabeth, traga um café para mim e um chá para a senhorita Smith.
Hã?!
A doutora Chelsea desligou e pegou imediatamente a minha ficha, agindo
normalmente.
— Conte-me então como está se sentindo. Tem tido sintomas de gravidez,
como enjoos, dores nos seios, sonolência?
Nem cheguei a responder. A porta se abriu e a eficiente Elizabeth entrou
com uma rapidez impressionante, colocando uma bandeja pronta sobre a mesa.
As duas trocaram um olhar.
— Obrigada, Elizabeth — a médica agradeceu, olhando depois para mim.
— Sirva-se, senhorita Smith. Um chá é sempre melhor para uma gestante do que um
café.
Ela pegou a própria xícara e olhei para a minha, onde um chá de cor
amarelada me aguardava. Senti-me enjoada só de o olhar, quanto mais de beber.
— Agradeço, mas vou negar. Não aprecio nenhum tipo de chá.
— Sim, claro. — A médica voltou a olhar para a atendente, que aguardava
ao lado da mesa. — Pode levar.
Elizabeth pegou a bandeja e saiu, enquanto eu tentava controlar a sensação
ruim que me dominou. Podia parecer um absurdo, considerando que eu estava na
clínica mais renomada do país em matéria de reprodução humana assistida, mas
nunca me senti tão ameaçada na vida.
Devo estar mesmo muito sensível por causa da gravidez ou então estou
ficand o paranoica!
Aquele não era um dia bom para estar ali. Talvez, não fosse um dia bom
nem para sair de casa.
Decidida, levantei-me.
— Peço desculpas pela indelicadeza, mas preciso ir, doutora. Tenho um
outro compromisso inadiável.
Ela se levantou também.
— Mas ainda estamos no meio da consulta!
— Como foi uma consulta marcada às pressas pela clínica, acabei por
encaixar esse horário na minha agenda. Pensei que fosse algo mais rápido, mas
agora preciso mesmo ir.
Não dei mais satisfação alguma e fui para a porta, abrindo-a e saindo para o
corredor que levava à recepção. Passei por Elizabeth sem dizer absolutamente nada,
mas notei como ela se levantou abruptamente quando me viu indo embora.
Cada vez mais incomodada com aquelas duas, fui para o elevador, decidida
a nunca mais colocar os pés naquela clínica.
Capítulo 4
Tyler
— N osso profissionalismo é inquestionável — o doutor Harrison Davis
disse com um ar chocado. — Isso que está me dizendo é algo inadmissível na Fertile
Future, senhor Blackwolf.
Estávamos na sala da diretoria da clínica, para onde me desloquei naquela
manhã com a intenção de resolver pessoalmente o problema causado pela
incompetência dos funcionários da Fertile Future. A namorada de Philip não havia
conseguido descobrir nada sobre a “mãe” do meu filho, apenas que se chamava
Michelle Smith, um nome que não me dizia nada. Havia uma infinidade de Michelle
Smith no país.
— Inadmissível foi o erro que cometeram. O profissionalismo do qual fala
não existe. Quero saber agora mesmo quem é a mulher que está com o meu filho!
Ele meneou a cabeça em um gesto de incredulidade, os olhos arregalados
refletindo uma mistura de surpresa e de medo das consequências que um erro
daquele tamanho acarretaria para a reputação da clínica.
O doutor Harrison Davis não era apenas o diretor presidente da Fertile
Future, era também o dono da clínica, um profissional respeitadíssimo no mundo
pelo trabalho que desenvolvia na reprodução humana. Foi ele quem me atendeu
pessoalmente quando procurei a clínica para congelar o meu sêmen e ter a segurança
de que poderia ter um filho saudável a qualquer altura da minha vida. Nunca pensei
que estava colocando o destino do meu filho nas mãos de um profissional que sequer
imaginava os erros que aconteciam debaixo do próprio nariz.
— Eu preciso primeiro investigar isso que está me dizendo, para só depois
conseguir alguma informação concreta que possa lhe passar. Entenda que não estou
duvidando do que me disse, mas isso é um absurdo sob o meu ponto de vista. Não
consigo acreditar que um erro grotesco dessa natureza, imperdoável a nível humano,
tenha acontecido na minha clínica.
— Tenha acontecido, não. Esteja acontecendo por vezes seguidas. Pelo que
me informaram, esta não foi a primeira vez.
— O que é mais inadmissível ainda! Não fui comunicado de nada disso e
garanto que os responsáveis vão ser punidos. Só espero que entenda que não tenho
como lhe dar uma resposta neste exato momento sobre a mulher que foi inseminada
com o seu sêmen.
— Escute bem, doutor Harrison — praticamente rosnei para ele,
controlando a vontade de me levantar da cadeira e o agarrar pelo colarinho,
arrastando-o por cima da mesa até onde eu estava. — Tem uma mulher lá fora com
o meu filho na barriga e quero saber quem é ela. Quero para ontem a ficha completa
dessa mulher nas minhas mãos ou vou meter um processo milionário contra a clínica
que vai deixar vocês de portas fechadas. Todos os membros da diretoria e os outros
responsáveis vão dar consulta no presídio onde estarão cumprindo pena, que fique
bem claro.
Ele abriu mais os olhos diante da minha ameaça e os fixou em Ryan Fisher,
o meu diretor jurídico, que acompanhava tudo sentado na cadeira ao meu lado. O
médico parecia estar pedindo que o ajudasse a me acalmar, o que não aconteceu.
— No mínimo, constará do processo o erro profissional, a negligência, o
descaso ao lidar com a reprodução de vidas humanas, o descumprimento de contrato
e a eliminação de provas — Ryan disse com severidade, sem amenizar nem um
pouco a situação. — Vamos acrescentar também a publicidade enganosa, já que a
clínica tem como lema um profissionalismo inquestionável. Sem esquecer os danos
morais e emocionais do meu cliente.
O doutor Harrison ficou pálido diante da seriedade da situação, mas não
tive piedade alguma com ele.
— Encontre o meu filho imediatamente! — exigi, deixando bem claro que
iria até as últimas consequências para o encontrar.
— Preciso de um tempo para apurar os fatos.
— Tem uma hora para fazer isso. O meu advogado e um dos investigadores
da minha equipe ficarão aqui aguardando até que lhe passe as informações. —
Levantei-me, sentindo-me frustrado e enraivecido. — Agradeça por não ser a polícia
a investigar o caso.
Ele se levantou também, a fisionomia refletindo indignação.
— Tenho todo o interesse em investigar o que está acontecendo na minha
clínica e não vou deixar sem punição os responsáveis. Peço apenas que não envolva
a polícia nisso. Eu mesmo vou apurar os fatos e descobrir se realmente houve outros
erros além desse. Entenda que não estou desacreditando do que me disse. Eu jamais
faria isso. Ainda que fosse outro cliente que me procurasse com uma acusação dessa
gravidade, a minha atitude seria a mesma — ele garantiu e senti sinceridade no que
disse. — Estou tão enraivecido quanto você, Blackwolf. Dediquei a minha vida
inteira ao trabalho e a Fertile Future é o reflexo desta dedicação. Não admito que
ninguém destrua o que construí com esforço, nem manche a minha reputação.
Eu sabia muito bem o que era aquilo. O meu pai também havia construído
com esforço o próprio nome e depois o viu ser jogado na lama, tendo a reputação
destruída por Colin Barton. Apesar de ele ter conseguido se reerguer décadas depois,
não foi um processo nada fácil, ainda mais no ramo das finanças. Uma boa parte dos
investidores mais tradicionais continuaram sem fazer negócios com ele. A sorte
foram os novos investidores, um pessoal mais jovem e arrojado que acreditou no que
ele ofereceu, arriscando.
O meu pai costumava dizer que só havia conseguido por minha causa, uma
vez que eu era tão jovem e arrojado quanto a nova geração de investidores que tinha
surgido no mundo financeiro. Segundo dizia, se não fosse eu, ele continuaria sendo
apenas um fraudador, mas eu não acreditava naquilo. Eu até podia ter trazido
credibilidade para os nossos negócios, mas o meu pai sempre foi dono de uma mente
brilhante.
Olhando agora para o doutor Harrison, eu tinha noção de que não podia
tirar dele o direito de defesa do próprio nome.
— Se quer salvar a Fertile Future de um escândalo sem precedentes,
investigue a fundo o que aconteceu e me informe tudo sobre a mulher que foi
inseminada com o meu sêmen.
— Farei isso, fique tranquilo.
Ele estendeu a mão e apertei-a com firmeza, selando um acordo entre nós.
Saí da diretoria deixando Ryan e um dos investigadores da minha equipe
acompanhando tudo e fui para o elevador com Miles, o meu homem de confiança.
Entramos nele e consultei o relógio para ver quanto tempo ainda teria até chegar à
reunião que me aguardava no escritório.
Faltava ainda cerca de duas horas, tempo suficiente para eu ficar sozinho e
me preparar para os contratos que ia assinar.
O elevador parou em um dos andares e recuei para o fundo, enquanto Miles
permanecia atento à abertura da porta. Quem entrou foi a mesma mulher que estava
no térreo à espera do elevador e que havia se negado a subir em nossa companhia.
Na ocasião, senti o olhar crítico dela sobre mim, o que em nada me abalou.
Pensei que ela faria o mesmo e se negaria mais uma vez a seguir no
elevador em minha companhia, mas me enganei. A mulher entrou às pressas,
esbaforida, como se estivesse com urgência de ir embora. Atrás dela veio uma
atendente da clínica, que prontamente apertou o botão que mantinha a porta aberta.
— A doutora ainda precisa falar com a senhorita. — A atendente se calou
subitamente quando me viu parado atrás da mulher.
Eu não tive dúvida de que ela me reconheceu de algum lugar e fiquei
pensando de onde seria. Exceto se fosse uma leitora assídua das páginas de
economia e de finanças dos jornais e revistas, não havia como me reconhecer em um
rápido olhar.
— Estou atrasada para uma reunião e já informei isso à doutora — a mulher
respondeu, desviando a minha atenção.
Ela usou um tom de voz bastante firme, mas notei a atitude corporal
defensiva e tensa.
— Será só por mais alguns minutos, senhorita. É importante — a atendente
insistiu com cautela, o olhar fixo na mulher e não em mim.
— Infelizmente não posso.
— Mas...
— Desde quando os clientes são forçados a alguma coisa dentro desta
clínica? — perguntei, perdendo a paciência de vez com tudo o que dizia respeito à
Fertile Future.
A insistência da atendente era abusiva, quando estava mais do que óbvio
que a cliente em questão não queria voltar.
A atendente, cujo nome no crachá era Elizabeth Malory, voltou a me olhar.
Havia respeito nos olhos dela, mas também medo.
— Apenas cumpro ordens, senhor.
— Então a ordem está dada. Retire-se!
Ela entreabriu a boca, chocada com a minha grosseria, mas obedeceu no
instante seguinte.
— Sim, senhor.
Soltou o botão que mantinha o elevador aberto e se afastou. Observei-a
enquanto as portas se fechavam. Ela apertava os lábios tensamente, sem conseguir
disfarçar a frustração ao olhar para a mulher à minha frente, que soltou um longo
suspiro de alívio quando o elevador começou a descer.
Ela se virou para trás.
— Obrigada por... — Hesitou quando finalmente identificou quem eu era
—, por me ajudar.
A mulher devia estar mesmo muito perturbada para não ter notado com
quem dividia o elevador.
— Não há de quê — respondi com seriedade, ciente de que ela antipatizava
comigo.
Eu não ia fingir agora que não havia percebido a antipatia imediata que ela
sentiu assim que me viu entrando no elevador. Sem dúvida, julgou-me pela
aparência.
A mulher voltou a se virar para a frente e aprumou o corpo com rigidez,
provavelmente se sentindo mal agora que sabia com quem compartilhava o elevador.
Observei-a friamente enquanto descíamos. Ela era excessivamente magra e
aquela magreza afinava o rosto de linhas harmoniosas, o que lhe dava uma aparência
frágil e por demais delicada. Contudo, os olhos azuis reprovadores mostravam que a
delicadeza era apenas física, evidenciando uma personalidade forte e, talvez, difícil
de lidar. Os cabelos louros estavam soltos e iam até o meio das costas rigidamente
tensas, onde alguns cachos se formavam.
Notei a bolsa de marca que ela usava e as roupas de qualidade que vestia. A
aparência geral era de uma dondoca fútil da sociedade novaiorquina, sem nenhum
objetivo na vida que não fosse orbitar nos eventos sociais.
Chegamos ao térreo em total silêncio e Miles abriu a porta, deixando que
ela saísse primeiro.
Observei-a andar apressadamente para fora da clínica, como se estivesse
fugindo de alguma coisa. Só então me dei conta de que podia ter ajudado uma
criminosa disfarçada de socialite a escapar impunemente.
Vindo dessa clínica, tudo é possível!
Capítulo 5
Tyler
N o meio daquela tarde, Ryan Fisher me ligou da Fertile Future com uma
excelente notícia.
— Já tenho as informações comigo, senhor. Chegarei em trinta minutos no
escritório.
Excelente!
Ele sabia que o assunto era confidencial e que só deveria ser tratado
pessoalmente.
— Venha direto à minha sala. Estou aguardando.
— Sim, senhor.
Agora eu poderia encontrar a mulher que estava com o meu filho.
Se havia algo que aprendi ao longo da vida, era saber aguardar o momento
certo de conquistar cada um dos objetivos a que me propus alcançar. Apesar de
aquele assunto ter tirado parte da minha concentração desde que conversei com
Gary, agora ele estava resolvido. Faltava apenas falar com a mulher e pagar para que
ela fosse apenas a barriga de aluguel do meu filho, desaparecendo depois das nossas
vidas para sempre.
Trinta minutos depois, eu já estava com a ficha dela em mãos, junto com
um relatório que continha outras informações que o próprio Ryan havia investigado
no caminho de volta para o escritório.
Incrédulo, mas principalmente enfurecido, apesar de não demonstrar o que
sentia, olhei-o sentado à minha frente. Com um rosto redondo, cabelos ruivos e pele
cheia de sardas, Ryan empurrou os óculos sobre o nariz, sustentando o meu olhar.
— É isso mesmo que está aí, senhor. Ela é filha de Colin Barton — afirmou
com resignação, mesmo eu não tendo perguntado nada.
Controlei-me para não amassar os papéis que segurava, sem acreditar que o
meu filho teria como avô o meu pior inimigo. Eu sabia que Colin Barton tinha um
casal de filhos, mas nunca me preocupei com a garota, apenas com Andrew Barton,
o filho mais velho que trabalhava com o pai.
— Tem certeza disso? Essa Michelle Smith é mesmo a filha dele?
— Ela usou o sobrenome de solteira da mãe, omitindo o do pai,
provavelmente para não ser identificada, mas é ela. Os números dos documentos que
informou na ficha são realmente os dela e confirmei se tratar de Michelle Smith
Barton.
— Obrigado pelo excelente trabalho, Ryan. Agora pode ir — dispensei-o
em um tom de voz neutro e controlado.
— O que faço com relação à Fertile Future? Avanço com o processo?
— Avance. Quero todos os responsáveis atrás das grades, custe o que
custar.
Agora que eu sabia a identidade da mulher, não deixaria mesmo ninguém
impune. Todos os meus planos meticulosamente arquitetados durante anos estavam
em risco de rutura por causa da negligência de profissionais incompetentes.
Assim que Ryan saiu e fiquei sozinho, respirei profundamente várias vezes
para me acalmar, cerrando os punhos com força no relatório a ponto de sentir os
músculos dos braços se retesarem. Amassei o relatório lentamente, querendo que
fosse o pescoço de Colin Barton que estivesse agora em minhas mãos e não aqueles
papéis.
Controlar com vontade férrea a raiva que me consumia não estava sendo
fácil, mas eu não ia perder o juízo justamente agora. Precisava manter o foco, ser
frio, racional, pensar com clareza.
Aquele filho significava muito para mim. Eu o amei antes mesmo que fosse
gerado, certo de que teria com ele o mesmo companheirismo e amizade que tive
com o meu pai. Ele compartilharia comigo o mesmo objetivo de vida, recebendo
uma educação igual a que tive e herdando depois toda a minha fortuna. No tempo
certo, outros filhos ou filhas viriam através do mesmo método de reprodução
assistida.
As mulheres eram maravilhosas como amantes, mas não como esposas ou
como mães dos meus filhos.
Saber que a tal Michelle Smith era, na verdade, Michelle Barton, estava
sendo um duro golpe do destino nos meus planos. Ainda assim, o filho que ela
carregava na barriga era meu e eu não ia abrir mão dele. Mesmo sendo Michelle
Barton a mãe do meu filho, eu jamais o rejeitaria. Ele era o filho que tanto desejei, o
meu sangue, uma parte de mim. Fosse quem fosse a mãe, seria ela a renunciar à
criança quando nascesse.
Determinado a atingir aquele objetivo, desamassei o relatório e li todas as
informações que Ryan havia investigado sobre a mulher que invadiu a minha vida
sem pedir licença. Para aniquilar um inimigo, era preciso conhecê-lo a fundo e era
exatamente aquilo o que eu ia fazer com Michelle Barton.
Concentrei-me no relatório. Não havia foto dela na ficha da clínica, mas
aquilo não seria difícil de conseguir. As características físicas da mãe do meu filho
era algo que sempre quis escolher, mas o erro da Fertile Future me roubou esse
direito. Agora, era primordial descobrir a aparência física da filha de Colin Barton.
Digitei o nome dela no computador e logo encontrei as fotos que precisava.
Loura, magra, rosto oval fino e olhos azuis. A minha perplexidade não teve tamanho
ao descobrir que ela era a mulher antipática do elevador.
— Merda! Mas que grande merdaaa! — rugi alto dentro do escritório.
A cada minuto que passava a situação só piorava, tornando-se mais
complexa e difícil de ser resolvida. Convencer aquela mulher a desistir do filho a
meu favor não ia ser fácil, mas também não era impossível. Nada era impossível
para mim!
Peguei a ficha e comecei a ler com atenção as informações que constavam
nela.
A letra que a havia preenchido era elegante e feminina, sem erros de escrita,
o que já mostrava a educação esmerada que ela teve. Além do próprio nome, do
endereço da mansão Barton, dos dados pessoais e dos documentos, Michelle havia
colocado também as características físicas do homem que queria como doador
anônimo.
Torci os lábios com desprezo ao ler que ele deveria ter um metro e setenta
de altura, corpo magro, cabelos louros e olhos azuis, provavelmente para combinar
com os dela. Além daquilo, ainda acrescentou que, se possível, queria que o doador
fosse um homem simpático, compreensivo, divertido e de sorriso fácil.
Aquelas características físicas eram completamente opostas às minhas, isso
sem falar da personalidade do pai tão desejado por ela. Eu era quase vinte
centímetros mais alto, possuía um corpo avantajado e largo, além de ter cabelos e
olhos castanhos escuros, quase pretos.
O pai perfeito para o filho dela se assemelhava com um bom vivant 7
qualquer da sociedade novaiorquina, um janotinha que vivia divertindo-se o tempo
todo com os rendimentos do pai, sem mexer um único dedo para conquistar o
próprio dinheiro, sorrindo por qualquer motivo e aproveitando os prazeres da vida.
Com um esgar desdenhoso, virei a ficha para ler o verso, onde estavam
registradas as anotações feitas pela médica que a atendeu. A letra era quase ilegível,
mas entendível para mim. A minha surpresa ficou em saber que Michelle Barton era
uma mulher de vinte e sete anos que havia decidido engravidar através de uma
inseminação artificial mesmo sendo virgem.
Eu não fazia ideia dos motivos que a motivaram a engravidar sem nunca ter
experimentado uma relação sexual, mas havia uma coisa boa naquilo. Ela não tinha
um homem metido no processo de inseminação. Se existisse um namorado ou um
marido esperando ansiosamente por aquela gravidez, eu teria de lutar contra duas
pessoas e não apenas contra uma. A inexistência de um homem reivindicando os
direitos sobre o meu filho facilitava as coisas.
Eu só precisava agora conversar com a mulher e negociar um contrato com
ela em que renunciasse à criança após o nascimento, desaparecendo completamente
do meu caminho e das nossas vidas.
Capítulo 6
Michelle
M eu Deus, que d ia horrível!
Além da situação estranha com a médica substituta e com a atendente da
Fertile Future, ainda tive a desagradável surpresa de descer de elevador com o
homem mais tenebroso com quem cruzei na vida. Ele me causava uma repulsa
instintiva e quase não acreditei que aquele bloco de gelo me ajudou.
Fiquei em choque quando me virei para agradecer e vi que era ele.
Foi com um alívio muito grande que entrei no meu apartamento e tranquei
a porta à chave, agradecendo a Deus por tudo já ter passado. Eu esperava nunca
mais ver nenhum deles outra vez na minha frente.
Tomei um banho relaxante e logo depois liguei para o consultório da minha
ginecologista, conseguindo marcar uma consulta com ela dentro de dois dias. A
doutora Jane Young sempre foi a ginecologista da minha mãe e passou a ser a minha
também. Eu a adorava. Inclusive, foi ela quem me indicou a Fertile Future para fazer
a inseminação, depois de uma conversa que tivemos sobre o assunto.
No final da tarde, quando eu já me sentia bem mais tranquila, o celular
tocou com uma ligação do meu irmão querendo saber como eu estava.
— Como andam estes dois bebês? — ele perguntou em tom de riso,
provocando-me.
— Estamos ótimos e pare de me chamar de bebê — respondi com bom
humor. — E você? Está tudo bem por aí?
— Tudo igual como sempre. Papai de cara feia, os empregados silenciosos
e a mansão mais fria sem a sua presença aqui. Sinto sua falta, baby.
Eu conseguia imaginar facilmente o cenário que ele descreveu. Um cenário
que fez parte da minha vida depois da morte da minha mãe. A luz daquela casa
havia sido ela. Depois de sua morte, senti como se estivesse morando em uma
mansão fantasma carregada de más energias.
— Você é um amor, Andrew. Também sinto muito a sua falta. Por que não
sai logo daí e vai viver a sua vida longe da mansão? Acho que John ia amar que
você o assumisse de vez e fossem morar juntos.
Ele ficou calado quando me ouviu falar do namorado. O meu irmão ainda
não havia assumido a própria homossexualidade para o nosso pai, ciente de que o
poderoso Colin Barton seria capaz de matar o próprio filho se soubesse daquilo. Da
família, apenas a nossa mãe e eu sabíamos. Sempre fomos muito unidos e nunca
houve segredos entre nós três.
A situação de Andrew era muito pior do que a minha. O meu pai surtaria se
soubesse que engravidei por inseminação com o sêmen de um doador anônimo, mas
nunca me mataria, como faria com Andrew caso ele se casasse com outro homem e
não com uma das herdeiras novaiorquinas que ele insistia para o meu irmão
namorar.
Até aquele momento, Andrew havia conseguido evitar o casamento com
uma delas, mesmo já estando com trinta e sete anos e sofrendo a pressão do nosso
pai. Ele ainda aguentou ficar noivo de uma delas durante três anos, mas depois
desfez o noivado. Nós dois havíamos lutado quase que diariamente para
continuarmos solteiros depois que a nossa mãe partiu. Agora, eu não via escapatória
para ele além de fazer o que fiz e sair de casa o mais rápido possível.
— Ainda não chegou a hora de assumir o meu relacionamento com John e
ele sabe disso. Nosso pai anda muito nervoso ultimamente por causa de uns
problemas lá no banco e este seria o pior momento para eu sair de casa. — Ele
suspirou pesadamente e eu imaginava a pressão que devia sentir. — Estou mais
preocupado com você agora. Está precisando de alguma coisa? Sabe que não vou
deixar que passe dificuldades financeiras nem que lhe falte nada.
Sorri, amando-o ainda mais.
— Tenho o suficiente e você sabe disso. Nossa mãe foi previdente ao
deixar aquele dinheiro para mim no BW Bank. É um banco forte, muito maior do
que o do nosso e onde ele nunca vai conseguir colocar a mão no meu dinheiro.
Graças a Deus que são concorrentes e que existem pessoas mais poderosas no
mundo do que o nosso pai ou estaríamos mesmo mal. Sou econômica, também. O
dinheiro vai render o suficiente para eu ter uma vida tranquila pelos próximos anos.
— Nem me fale do BW Bank. Nosso pai não pode ouvir esse nome sem ter
ataques de raiva e ficar com um humor pior do que já tem. Quanto mais esse banco
cresce e se solidifica no mercado, mais ele surta.
— Sempre achei isso estranho. Há tantos bancos no país, mas parece que só
esse incomoda ao nosso pai.
— Ele tem tantas esquisitices que nem perco mais o meu tempo analisando
— Andrew desabafou comigo. — E você não deixe de me ligar se precisar de
alguma coisa. Tenho dinheiro suficiente para nós dois ficarmos muito bem e não
quero que falte absolutamente nada para você, baby.
— Você é o melhor irmão do mundo.
— Você também é a melhor irmã do mundo. Cuide bem do meu sobrinho
ou sobrinha.
Foi com um sorriso de alegria que desliguei o celular quando nos
despedimos, sentindo-me feliz como há tempos não me sentia.
A investigação que foi feita sobre a doutora Jane Young não mostrou nada
que desabonasse a conduta médica dela durante os anos em que exercia a medicina.
Conhecê-la pessoalmente comprovou o que o relatório dizia.
Foi em tom firme que convenceu Michelle a me deixar participar da
consulta, alegando acertadamente que eu tinha aquele direito por ser o pai da
criança.
— Preciso saber se o meu filho está bem, doutora — disse-lhe assim que
nos sentamos no consultório.
— Primeiro vou examinar Michelle em particular na sala ao lado. Depois
conversaremos sobre o filho de vocês, senhor Blackwolf.
Concedi com um meneio de cabeça, vendo a lógica do que disse. Eu e
Michelle não tínhamos a proximidade de um casal normal para que eu estivesse
presente nos exames mais íntimos que ela faria.
— Aguardarei aqui.
As duas saíram da sala e peguei o celular para passar o tempo, analisando a
cotação das ações do Barton Bank na bolsa. Como esquematizei, continuavam
caindo rapidamente e não demoraria para chegar à lona, levando Colin Barton junto.
Passei os minutos seguintes fazendo análises de mercado, conferindo o
índice Dow Jones e Nasdaq, enquanto traçava mentalmente novos investimentos que
valiam a pena.
Quando a porta da sala de exames se abriu, observei logo o rosto de
Michelle. Ela era um livro aberto em matéria de emoções, sem esconder nada do que
sentia, pelo menos para mim. Foi com alívio que vi a expressão tranquila e o leve
sorriso que tinha nos lábios. Aquilo foi o suficiente para eu ter a certeza de que o
meu filho estava bem.
Ainda assim, era preciso a confirmação da médica.
— Ele está bem?
— Sim, está. — A doutora sorriu com segurança. — O saco gestacional
continua bem fixo à parede do útero, sem alteração alguma. Michelle também não
sente cólica e não há sangramento. O que ela precisa agora é de descanso total para
se recuperar do que passou hoje, sem novas atribulações ou visitas inesperadas.
Não seria no apartamento dela que Michelle encontraria aquilo, mas preferi
não comentar nada na frente da médica. Eu pretendia levá-la para minha casa, mas já
sabia que aquela não seria uma conversa fácil e era melhor que fosse em particular .
— Se é de descanso que ela precisa, é melhor irmos logo para casa.
Michelle já está liberada, doutora?
— Sim, está. — A médica se dirigiu à Michelle. — Vá para casa e
descanse, minha querida. Pelos próximos dias, evite receber visitas como a de hoje.
— Obrigada, doutora — Michelle agradeceu indo abraçar a médica.
Deixei que as duas se despedissem e fiz o mesmo com um aperto de mãos.
Do lado de fora da sala, Michelle se despediu de Bertie Moore com o mesmo abraço
e só depois me acompanhou de volta até o carro.
Antes de entrar no Escalade, dei ordens a Miles.
— Vamos passar no apartamento de Michelle para ela fazer as malas. Vou
levá-la comigo.
Ele aprovou a minha decisão com o olhar antes de se sentar na direção.
Agora só faltava convencer Michelle a morar comigo até o meu filho nascer.
Capítulo 16
Tyler
— O brigada por ter me ajudado com o meu pai.
Aquele agradecimento dito na porta do apartamento dela era uma
despedida, mas eu não ia embora sozinho. Estava decidido a levar Michelle comigo.
— Agradeça-me de uma outra maneira. — Segurei a maçaneta e entrei no
apartamento antes que ela batesse a porta na minha cara. — Faça as malas e venha
para a minha casa.
Fechei a porta e fui para a sala, obrigando-a a vir atrás de mim.
— O quê?! — Michelle reagiu de imediato como eu esperava. — Você
deve estar brincando!
Eu já estava preparado para aquela resistência e me virei calmamente para
ela.
— Você tem a mania de achar que sobra tempo na minha vida para eu fazer
brincadeiras — respondi muito sério. — Olhe para este apartamento, Michelle. Acha
que está segura aqui dentro?
— Acho! — afirmou com convicção. — Estou segura e longe de
companhias desagradáveis.
Era uma indireta para mim, mas a ignorei totalmente. Havia algo mais
importante em causa e a antipatia dela por mim pouco me importava.
— Isso até o seu pai enviar um dos seguranças dele para invadir o seu
apartamento e levá-la à força para algum lugar onde o meu filho será assassinado
antes de nascer.
Percebi que ela engoliu em seco antes de me responder.
— Ele não vai fazer isso, já desistiu de mim.
Não obstante o que disse, havia insegurança na voz dela.
— Nem você mesma acredita nisso. Igual a mim, sabe que o seu pai é
capaz de tudo, ainda mais agora que sabe de quem é o filho que você espera.
Lembra-se que eu e ele nos odiamos?
— Oh, isso não é justo! — exclamou, desolada.
— Nem sempre a vida é justa. Se você teimar em ficar no seu apartamento,
posso não conseguir evitar algo pior. Pessoas entram e saem do seu prédio a toda
hora e não tenho como impedir que alguém que queira lhe fazer mal suba até o seu
apartamento, exceto se colocar um homem aqui dentro com você, o que não farei.
Na minha casa é diferente. Só entra quem tem autorização. Você e o meu filho
estarão cem por cento em segurança.
— Não vou ser uma prisioneira na sua casa, Blackwolf.
Olhei-a com impaciência.
— E quem disse que estou aprisionando você? Pare de tirar conclusões
precipitadas. Poderá sair sempre que quiser, desde que leve um dos seguranças com
você.
— E se eu quiser receber visitas? O meu irmão sempre vem me visitar
quando pode.
Eu conhecia Andrew Barton. Apesar de ser filho de quem era, eu não
achava que fosse um homem igual ao pai.
— Ele poderá visitar você quantas vezes quiser.
Ela me olhou com irritação.
— E quem me garante que você vai cumprir a sua palavra depois que eu
estiver dentro da sua casa?
Era difícil não perder a paciência com Michelle, mas me lembrei a tempo
da gravidez e do desmaio que ela teve em nossa última conversa naquela sala.
Amenizei o tom de voz, porém, não doseei as palavras.
— Você conviveu tanto tempo com um homem execrável que já nem sabe
o que é um homem de verdade. Tenho vários defeitos, reconheço, mas nunca faltei
com a minha palavra. Se estou dizendo que você vai poder entrar e sair da minha
casa quando quiser, desde que esteja acompanhada por um segurança, é porque vai
poder fazer isso. Se afirmo que o seu irmão pode visitar você sempre que quiser, é
porque ele pode fazer isso.
— Você fala mal do meu pai, mas é tão autoritário quanto ele. Mandou me
vigiar sem me dizer nada, igual como ele faz.
— Mandei proteger você, não vigiar. Se não fosse o Ted, eu agora não teria
mais filho.
Ela empalideceu e trinquei os dentes para não falar mais nada que a
lembrasse do que passou.
— Sente-se, Michelle. Não há necessidade alguma de conversarmos de pé.
Ela se sentou pesadamente no sofá.
— Você só quer ter um filho para educar a ser um herdeiro, uma máquina
sem sentimentos igual a você. Eu quero um filho para amar.
— Lá vem você de novo com julgamentos preconcebidos. Quem lhe disse
que não vou amar o meu filho?
Recebi um olhar descrente.
— E você sabe o que é amar?
Eu podia não saber o que era amar uma mulher, porque nunca amei
nenhuma, fosse mãe ou amante, mas amei o meu pai e amaria o meu filho.
— De onde tirou a ideia de que não sei? — insisti na mesma tecla.
Michelle comprimiu os lábios com frustração e afundou o rosto nas mãos.
— Eu só quero paz para descansar e cuidar do meu filho. A minha vida de
repente virou de pernas para o ar.
— Vai ter a paz que precisa na minha casa. Ela é grande o suficiente para
você ter o seu próprio espaço e manter a sua privacidade.
Michelle baixou as mãos e olhou para mim.
— Você não é casado nem tem uma namorada que não vá gostar da minha
presença na sua casa? Não me envolva em confusões com outra mulher.
Cravei o olhar nela.
— Mulher nenhuma dá opinião na minha vida. Pode ficar tranquila que não
vai haver confusões com ninguém.
— Eu não entendo a necessidade disso. Se o segurança chamado Ted já está
fazendo a minha proteção lá embaixo, posso continuar aqui sem problema algum.
— Já lhe disse que não tenho como controlar todas as pessoas que entram
neste prédio. Ted teria que ficar de plantão na sua porta aqui em cima para eu ter a
certeza de que você está bem.
— Do jeito que você fala, até parece que vão querer me matar! Isso é um
exagero.
Não era, mas como dizer aquilo para uma grávida sem a deixar assustada
demais?
— Desconfiamos que o acidente de carro que você sofreu não foi um
acidente, mas algo premeditado.
Ela franziu a testa, muito séria.
— Como é que é?
— Ted estava acompanhando você e garantiu que o motorista que bateu no
seu carro fez de propósito.
Michelle abriu muito os olhos, por fim entendendo tudo.
— Ted é o homem que veio falar comigo depois do acidente.
— É ele mesmo. Assim que você veio para casa, ele nos informou o que
havia acontecido e falou das suspeitas que tinha.
— Meu Deus, eu não acredito! — Atônita, ela caiu contra o encosto do
sofá. — Por que alguém faria isso comigo? Nunca fiz mal a ninguém.
— Não é você, mas o meu filho. Desconfiamos que alguém da Fertile
Future esteja querendo eliminar as provas do erro que cometeram .
Michelle arregalou os olhos e vi uma súbita compreensão neles.
— Dias atrás uma mulher me empurrou com brusquidão no shopping e
quase caí. Foi logo depois de uma consulta que tive com a doutora Jane. Na hora,
apenas achei que ela estava com muita pressa, mas será que foi proposital?
Tenso, inclinei-me na direção dela.
— Se o acidente de carro não tivesse acontecido, eu até diria que não foi de
propósito, mas agora já temos dois atentados contra o meu filho. Querem eliminá-lo,
nem que para isso eliminem você junto.
Não precisei dizer mais nada para Michelle entender todo o contexto da
situação. Ela ficou imóvel, calada e pensativa, e deixei que levasse o tempo que
precisava para assimilar tudo.
Quando se ergueu e ficou de pé com a fisionomia decidida, levantei-me
também.
Trocamos um olhar. Pela primeira vez desde que a conheci, senti que
Michelle estava do meu lado e não contra mim. Estávamos juntos e não um contra o
outro.
— Vou arrumar as malas. Volto já.
Ela deu meia volta e foi para o quarto, prendendo o cabelo louro em um
coque na nuca. Observei o corpo esguio de costas, o meu olhar sendo atraído para a
curva sinuosa dos quadris que rebolavam a cada passada dela.
Merda!
Desviei o olhar para a varanda da sala, negando-me a sentir qualquer tipo
de atração pela filha do meu maior inimigo.
Tenso e fodido, caminhei impacientemente pela sala minúscula, o meu
olhar parando no porta-retrato sobre o console da lareira. Aproximei-me, analisando
a imagem da mulher que havia destruído o meu pai. Margaret Barton estava
abraçada com Michelle em frente à Torre Eiffel em Paris. Sorridentes, elas
esbanjavam felicidade para quem quisesse ver.
As duas eram realmente muito parecidas, o que só aumentava a minha
decisão de me manter o mais distante possível de Michelle.
Capítulo 17
Michelle
F oi com tristeza que fiz as malas para ir morar na casa de Blackwolf. Eu
havia comprado aquele apartamento com muito amor e cheia de planos de ter uma
vida feliz ali com o meu filho. Agora, os meus sonhos estavam desfeitos, destruídos
pela maldade dos outros.
Acariciei a minha barriga, inconformada.
— Eu sei que ele é o seu pai, mas é um chato insuportável.
Frustrada, voltei para a sala arrastando uma mala de rodinhas com as
minhas coisas pessoais. Assim que me viu, Blackwolf se aproximou, segurando a
alça e tirando-a das minhas mãos.
— Deixei outras duas malas no quarto, mas tem também o meu material de
pintura que gostaria de levar.
Notei o leve franzido de sobrancelhas dele quando falei da pintura.
— Me dê a chave do apartamento. Depois o meu pessoal levará para você
tudo o que precisar daqui.
Parecia algo tão definitivo que me senti mais entristecida ainda.
— Não pretendo demorar muito para voltar — avisei-o logo. — Vou
conversar com o meu irmão e encontrar uma solução para tudo isso.
Ele não comentou nada, apenas estendeu a mão com a palma aberta.
— As chaves.
Tirei o chaveiro da bolsa e o entreguei, sem tocar na mão dele. Blackwolf
fechou a mão sobre a chave e indicou a porta.
— É melhor irmos logo. Tenho uma reunião importante me aguardando.
Obviamente que sim. Ele precisava levar mais alguém à falência!
Sem contestar mais nada, fui até o console da lareira e peguei o porta-
retrato com a foto da minha mãe, que enfiei na bolsa. Assim que saímos do
apartamento, o mesmo segurança que dirigia o carro se adiantou para pegar a minha
mala de Blackwolf.
— Agora que você vai morar em minha casa, é bom que conheça os
funcionários que me atendem mais diretamente — Blackwolf disse, indicando o
segurança. — Este é Miles, o meu homem de confiança. Na minha ausência, poderá
contar com ele para o que precisar.
Eu já havia reconhecido Miles como sendo o segurança que esteve com
Blackwolf na Fertile Future e que me convidou para entrar no elevador. Só não sabia
que era o homem de confiança dele.
Pelo menos é mais simpático do que Huxley.
— Muito prazer, Miles.
Apesar de ele ser uma presença constante ao lado de Blackwolf desde que o
conheci, aquela era a primeira vez que éramos apresentados.
— O prazer é meu, senhorita — ele me cumprimentou educadamente.
— Michelle deixou duas malas no quarto e quer que o material de pintura
dela seja levado também. — Blackwolf entregou a chave do meu apartamento para o
segurança.
— Providenciarei tudo.
Sem mais nada a ser dito, Miles fechou a porta do meu apartamento e
fomos os três para o elevador, a caminho do meu novo lar pelos próximos meses.
Ainda não eram oito horas da noite quando o meu celular tocou com uma
ligação de Miles.
— Dois homens estão subindo para o andar da senhorita Michelle. Um
deles é o irmão, Andrew Barton. O outro se identificou como John Marshall.
Eu já esperava que o irmão dela viesse visitá-la, mas ter trazido outro
homem junto me deixou desconfiado. Que motivo faria Andrew Barton vir
acompanhado?
— Consegue descobrir quem é John Marshall?
— Consigo, sim. Ambos tiveram de apresentar um documento de
identidade para serem autorizados a subir.
— Assim que conseguir me informe.
— Sim, senhor.
Desliguei, olhando pensativamente as luzes noturnas de Manhattan à minha
frente.
Aquele visitante inesperado estava me incomodando. Eu não estava
gostando nada de saber que um homem que eu não conhecia estava visitando
Michelle em minha casa, mesmo que fosse acompanhado do irmão dela. Quando a
convidei para morar comigo, não pensei que houvesse um namorado na vida dela e
que ambos poderiam ficar encontrando-se debaixo das minhas barbas. Por ser
virgem, deduzi que Michelle não tinha namorado.
Merda, eu não quero isso!
Ela estava grávida do meu filho e eu não queria outro homem rondando
nenhum dos dois.
Foi contraindo a boca com irritação que coloquei o celular sobre a mesa de
trabalho e me levantei, esquecendo o gráfico do S&P 500 15 da bolsa de valores que
estava analisando no computador. Eu havia decidido trabalhar em casa naquele dia,
de onde coordenei passo a passo a queda de Colin Barton. Agora, a filha dele estava
tirando a minha concentração.
Fiquei de pé em frente à parede de vidro, analisando o que estava
acontecendo comigo. Nunca deixei ninguém interferir na minha vida e não ia ser
agora que uma mulher faria aquilo, muito menos a filha de Colin Barton.
Eu já estava decidido a descer e descobrir por mim mesmo quem era John
Marshall, quando Miles voltou a me ligar.
— John Marshall é um dos assessores de Colin Barton, com quem trabalha
há dez anos. É economista, tem quarenta e um anos, divorciado, sem filhos e com a
ficha limpa.
Eles vieram contar tudo à Michelle.
— Obrigado, Miles. É o suficiente. Me avise quando eles forem embora .
— Sim, senhor.
Depois de tudo que o pai fez com ela naquele dia, eu não precisava me
preocupar com a reação que Michelle teria ao saber da falência do banco. Ela era
forte e conhecia o pai que tinha. Apesar de ser uma notícia desagradável, não a
abalaria a ponto de prejudicar a gravidez.
Voltei a me sentar em frente ao computador, concentrando-me novamente
no trabalho. Cerca de uma hora depois, o meu celular tocou outra vez, mas não era
Miles avisando sobre a saída das visitas de Michelle. Surpreendentemente, era ela
mesma.
— Não sei se está em casa, mas o meu irmão veio me visitar e gostaria de
falar em particular com você.
Aquilo era o que eu esperaria de um homem preocupado com a irmã e
aprovei a atitude dele.
— Estou no meu escritório do andar de baixo. Peça para ele descer.
— Vou pedir, obrigada.
Não demorou muito para Andrew Barton sair do elevador e me
cumprimentar com um aperto de mãos.
— Obrigado por me receber.
— Michelle disse que gostaria de falar comigo.
Fisicamente ele lembrava um pouco o pai, enquanto Michelle era muito
mais parecida com a mãe, inclusive a cor dos olhos. Andrew tinha os olhos
castanhos de Colin Barton, mas neles não havia a mesma dureza do pai.
— Acho importante conversarmos agora que ela está morando aqui.
— Vamos nos sentar.
Levei-o para a sala e ofereci o sofá, sentando-me em frente a ele.
— Michelle já havia me contado que você é o pai do filho dela, mas só
agora fiquei sabendo que o meu pai tentou forçá-la a fazer um aborto hoje, o que é
inadmissível. Vim agradecer pessoalmente a você por ter impedido que isso
acontecesse. A minha irmã não ia aguentar mais essa perda.
Analisei-o com atenção e percebi que estava sendo sincero. Andrew Barton
realmente não concordava com o pai.
— É o meu filho. Claro que o salvaria.
Ele sustentou o meu olhar, entendendo bem o meu recado. O filho era meu
e eu faria tudo por ele.
— Sei que nenhum dos dois queria o outro na vida do filho e vocês vão ter
que resolver isso no futuro. Só queria aproveitar para dizer que estarei sempre do
lado da minha irmã para todas as lutas que ela precisar. Esse filho é muito
importante para Michelle.
— É muito importante para mim também.
— Não duvido, mas quando uma mulher engravida, ela dificilmente vai
superar a perda do filho, seja durante a gestação, seja depois de nascido.
— Há milhares de mulheres alugando o próprio útero por dinheiro, sem se
importarem com o filho que vão ter. Outras engravidam por interesse, atrás de uma
pensão vitalícia — falei friamente. — O que não falta hoje em dia são barrigas de
aluguel e golpes da barriga. Portanto, não venha me falar do sofrimento de mães que
perdem seus filhos.
Andrew Barton me encarou com seriedade.
— A minha irmã não se encaixa em nenhum dos casos que você citou. Se
pensa alegar isso em tribunal, vai cometer um erro muito pior do que o da Fertile
Future. Michelle quis fervorosamente esse filho, tanto que não se importou em fazer
uma inseminação artificial mesmo sendo virgem. Foi a perspectiva de ter esse filho
que a ajudou a sair da depressão depois da morte da nossa mãe. Se ela o perder, vai
se afundar de novo, e isso eu não vou deixar.
Ele falou em um tom de voz bastante decidido, mas não foi aquilo que me
deixou impressionado.
— Depressão? Não acho que a sua irmã seja uma mulher depressiva.
Ele sorriu com uma certa tristeza.
— Isso é porque você não a conheceu antes.
— Margaret Barton faleceu há um ano e você quer me convencer que
Michelle está com depressão esse tempo todo, por isso devo abrir mão do meu filho
para ela? Não sou um homem sentimental, Andrew Barton. Se fosse, já teria sido
massacrado na selva de Wall Street por homens como o seu pai.
Ele me olhou com estranheza diante da maneira dura como falei, mas não
me preocupei com aquilo.
— Quando Michelle me contou os motivos que a fizeram vir para cá, eu até
concordei, mas conversando com você agora, vejo que foi um erro. — Ele se
levantou do sofá. — Minha irmã não vai mais ficar aqui. Ela vai embora comigo
agora.
Uma po rra que vai!
Levantei-me também, jogando duro com ele.
— Vai levá-la embora para que matem mais facilmente o meu filho? Aqui
ele estará protegido, lá fora tem alguém querendo que morra antes de nascer. Se
você realmente ama a sua irmã e quer evitar que ela tenha uma nova crise de
depressão caso sofra um aborto, o lugar dela é aqui comigo.
— Posso cuidar de Michelle melhor do que você.
— Com qual o dinheiro, se estão falidos? Onde, se a mansão Barton e as
outras propriedades da família vão ser confiscadas para pagar os investidores e
correntistas? A partir do momento em que a falência do Barton Bank vier a público,
vocês vão ser odiados e o meu filho não vai ser mais um alvo da raiva de quem
perdeu o dinheiro nas mãos do seu pai.
Ele me ouviu com evidente assombro.
— Como é que você já está sabendo disso?
Ri com cinismo.
— O que é que acontece em Wall Street que eu não sei? — Lembrei-o com
quem estava falando. — Aconselho que não comente com a sua irmã nada do que
conversamos, para que ela não fique ansiosa e coloque a gravidez em risco. Já basta
o acidente de carro, a tentativa de aborto do seu pai e a falência do banco. Deixe-a
descansar e se recuperar de tudo isso. Poderá vir visitá-la sempre que quiser.
Andrew ficou calado e senti a frustração dele por não poder levar a irmã. A
meu favor existia o fato de aquele ser o pior momento para ele querer tirar Michelle
da minha casa.
— Você tem alguma coisa a ver com a nossa falência?
— Se o banco faliu, foi por incompetência do seu pai e não por esperteza
minha. Nem que eu quisesse conseguiria levar um banco sólido e bem administrado
à falência.
Com a fisionomia séria, ele fez um meneio de despedida com a cabeça.
— Boa noite.
Foi com a tensão se alastrando pelo meu corpo que o observei se afastar em
direção ao elevador. Andrew Barton saiu sem dizer se levaria ou não a irmã com ele.
Eu teria de contar que o amor dele por Michelle fosse maior do que a raiva que
estava sentindo de mim.
Imóvel em frente à parede de vidro, aguardei rigidamente a ligação de
Miles. Demorou vinte minutos para eu saber qual havia sido a decisão de Andrew.
— Eles foram embora, senhor.
— Sozinhos?
— Sim, apenas Andrew Barton e John Marshall.
O meu peito descomprimiu no instante seguinte à resposta dele.
Porra!
— Obrigado, Miles. Boa noite.
— Boa noite, senhor.
Ela ainda estava comigo!
Capítulo 20
Tyler
A semana passou sem que Colin Barton desse entrada no pedido de
falência. Mantive-me atento, acompanhando cada passo que ele dava, o que era
primordial para agir no momento certo.
Paralelo àquilo, pedi uma investigação sobre John Marshall. Eu queria
saber quem era o homem que tinha vindo visitar Michelle com Andrew. Só quando
vi a foto dele foi que o reconheci de ocasiões em que esteve ao lado de Colin Barton.
Ele tinha uma boa aparência, com cabelos levemente grisalhos nas têmporas e olhar
firme. Contudo, o fato de trabalhar como assessor do dono do Barton Bank o
colocava na minha lista negra.
No final daquela tarde, Miles me deu uma excelente notícia.
— O carro envolvido no acidente com a senhorita Michelle foi localizado e
o motorista identificado.
Comemorei batendo o punho fechado na madeira da mesa.
— Quem é ele?
— Donald Malory, marido de Elizabeth Malory, uma das recepcionistas da
Fertile Future que trabalha diretamente com a doutora Chelsea Anderson. Esta
ginecologista passou a ser a médica da senhorita Michelle depois que a médica
anterior foi afastada da clínica. Segundo apuramos, Lisa Brown foi afastada por
discordar das decisões do coordenador da área.
— Conseguiu encontrá-la? Pode ser uma testemunha contra a clínica. Fale
com Ryan.
O meu diretor jurídico era fundamental para agirmos dentro da lei, mas sem
deixar pedra sobre pedra na vida dos culpados.
— Pensei nisso e já estamos entrando em contato com ela.
Vão todos se foder na minh a mão agora!
Para mim, já não havia mais dúvida alguma de que eles se uniram para
eliminar a prova do erro que cometeram, e a prova era o meu filho. Se Michelle
abortasse “espontaneamente” depois de um acidente qualquer, ninguém teria como
provar que o filho era meu, exceto se os restos mortais do feto fossem analisados
para que um exame de DNA fosse feito.
Só de pensar naquilo, a minha raiva aumentava.
— Bom trabalho, Miles. Quero todos punidos, sem exceção. Ninguém vai
atentar contra a vida do meu filho e sair impune.
Apesar de já termos os culpados das duas tentativas de aborto contra
Michelle, decidi que ainda não contaria nada para ela. Se soubesse que não havia
mais perigo com relação àquilo, Michelle seria capaz de ir embora da minha casa no
minuto seguinte e eu a queria perto de mim para poder cuidar melhor do meu filho.
Eu não conseguia me esquecer que o próprio pai dela era um dos
interessados em matar o meu filho antes de ele nascer.
Ruth confirmou que Michelle aceitou o convite para jantar comigo, o que
muito me surpreendeu. Depois do banho, aguardei-a na sala, determinado a ver com
os meus próprios olhos a quantidade de comida que ela ingeria na refeição.
Quando Michelle surgiu na entrada da sala ao lado de Ruth, levantei-me e
fui recebê-la, observando-a com atenção. Ela estava há uma semana na minha casa e
não gostei de comprovar que realmente parecia mais magra do que antes.
Os cabelos louros estavam presos no alto da cabeça em um coque elegante,
destacando os brincos e o colar em volta do pescoço esguio. O conjunto de joias era
de muito bom gosto, ornamentado com pequenas safiras azuis que combinavam com
os olhos dela.
O vestido preto de saia rodada até os joelhos possuía um decote redondo
que deixava parte dos ombros à mostra, ajustando-se ao corpo magro, mas também
ressaltando a cintura fina e o volume dos seios. Pela primeira vez prestei atenção ao
tamanho deles, grandes o suficiente para encherem as minhas mãos.
Desviei o olhar com rapidez, decidido a limitar o meu interesse apenas no
fato de ela ter um corpo saudável para abrigar o meu filho.
— Boa noite, Michelle. Confesso que não esperava que aceitasse o meu
convite.
— Não resisti à tentação de descobrir como era o esconderijo do Lobo
Negro de Wall Street — comentou com bom humor e uma pitada de provocação.
Não me espantei que ela soubesse do apelido que me deram em Wall Street.
Andrew provavelmente passou a minha ficha completa para a irmã.
— Não há nada de especial aqui. O andar é igual ao seu. — Olhei para
Ruth, que aguardava discretamente atrás de Michelle. — Obrigado, Ruth. Pode ir.
Quando ela se retirou, virei-me para Michelle.
— O jantar ainda vai demorar um pouco para ser servido. Temos tempo
para você conhecer o meu esconderijo.
Pelos minutos seguintes, mostrei-lhe os cômodos da cobertura, com
exceção dos quartos. Quando Michelle viu a piscina privativa, soltou uma
exclamação de surpresa.
— Afinal, os andares são diferentes. Você tem uma piscina maravilhosa
aqui, além dos terraços mais espaçosos.
— Sim, é verdade. Me esqueci disso.
Ela riu, meneando a cabeça.
— Você se esqueceu porque nem deve usar. Duvido que tenha tempo para
usufruir dela.
— Pois está muito enganada. Uso a piscina todos os dias para me exercitar
de manhã.
Michelle me olhou literalmente de queixo caído e fiquei satisfeito ao vê-la
atônita.
— Estou sem acreditar!
— Dá para notar.
Ri da cara de espanto dela, que arregalou ainda mais os olhos.
— Você riu! Acho que é a primeira vez que o vejo rindo sem ser com
cinismo.
Deixei de rir e fiquei sério ao ouvir o que ela disse. Até para mim mesmo
aquilo era uma surpresa, uma vez que nunca me vi pelos olhos de outra pessoa.
— Não se iluda comigo, Michelle. Sou o homem cínico que conheceu.
Ela ergueu os ombros em um gesto de pouco caso.
— Eu, me iludir com você? Pode ficar tranquilo que não vou cometer esse
erro. Apenas achei a mudança interessante. — Parada à minha frente, ela me olhou
com atenção. — Você deveria rir de verdade mais vezes, pelo menos de vez em
quando. Ficou menos sinistro e tenebroso.
— É isso o que acha de mim?
— Foi o que achei a primeira vez que o vi no elevador da clínica e é o que
continuo achando até agora — admitiu com coragem, ficando séria. — Sendo muito
sincera, com essa carranca você não se parece em nada com o pai sorridente,
carinhoso e bem-humorado que desejei para o meu filho. Não me leve a mal, mas se
parece demais com o meu pai e já convivi com isso tempo suficiente da minha vida
para não querer mais.
Ficamos nos encarando muito seriamente por longos instantes no meio do
terraço. Se havia um ponto positivo no nosso relacionamento, era o fato de não
usarmos máscaras um com o outro. Cada um sabia como o outro era. Sem medir as
palavras, Michelle sempre dizia exatamente o que achava de mim. Mesmo me
achando assustador, nunca deixou de expressar o que pensava ou sentia.
Ainda que eu não quisesse admitir, aquilo era algo que admirava nela.
— Touché 16 , Michelle. Agora que já expressou o que sente por mim, acho
que podemos jantar.
Ela soltou um suspiro e assentiu, virando-se para entrar, mas cometeu a
imprudência de o fazer pelo lado errado, aproximando-se demais da borda da
piscina. Os saltos altos resvalaram no piso e fui rápido em envolvê-la pela cintura
com um braço, afastando-a para longe.
Eu já a havia tocado antes e devia estar preparado, mas a sensação que me
dominou foi a mesma da primeira vez. Estranhamente forte e intensa.
— Não ande tão perto da borda — alertei, soltando-a de imediato.
— Foi um descuido meu — ela se recriminou, evitando o meu olhar.
Sem dúvida, sentia-se mal por ter um homem que achava sinistro tocando-
a. Ciente daquilo, procurei manter distância para evitar que ela não desfrutasse do
jantar como eu gostaria.
— Pedi que preparassem a mesa aqui no terraço. O tempo está bom nesta
época do ano, mas se sentir frio, podemos entrar.
— Para mim está ótimo. Podemos jantar aqui fora.
— Vamos então.
Capítulo 21
Tyler
L evei-a para o outro lado, onde o terraço era coberto e mais protegido do
vento. Ruth nos aguardava próximo à entrada.
— Já ia chamá-los. O jantar está pronto.
— Pode servir.
Puxei a cadeira para Michelle e me sentei em frente a ela, aprovando os
pratos que Ruth começou a nos servir com a ajuda de uma das empregadas da casa,
saindo logo depois e deixando-nos sozinhos.
— Fale-me um pouco do que tem feito desde que chegou aqui. Adaptou-se
bem à casa? Miles comentou comigo que todo o seu material de pintura já foi
trazido do apartamento.
— Sim, é verdade. Eles foram muito atenciosos e me ligaram de lá para
perguntar que outras coisas eu gostaria que trouxessem.
Ela levou a primeira garfada à boca e notei que parecia comer com gosto.
— Desde quando você pinta? — perguntei com verdadeiro interesse e não
apenas para manter uma conversa educada durante o jantar.
Michelle riu com prazer.
— Desde pequena, mas me considero uma pintora mediana. Acho que o
meu talento ainda não é suficiente para ser uma profissional, apesar de amar muito a
pintura. Pretendo estudar no futuro e me aperfeiçoar. Enquanto isso, a pintura é um
hobby e uma terapia para mim. E você, tem algum hobby?
— Não, não tenho tempo — tive de admitir, arrancando uma risada
divertida dela.
— Imaginei que não tivesse mesmo. Já vi que dedicou a sua vida inteira ao
trabalho.
— É o que a maioria das pessoas no mundo fazem, por isso acho que sou
normal.
— E como pensa ter tempo para um filho?
— Da mesma maneira como consigo ter tempo para nadar todos os dias de
manhã, jantar com uma visita como estamos fazendo agora, conversar com Ruth
sempre que quero, sair de férias quando sinto vontade.
Tomei um gole de vinho, observando-a. Ruth tinha razão. Michelle se
servia de pequenas porções, que, a meu ver, parecia pouco para uma gestante.
O jantar foi avançando e ela continuava no mesmo ritmo.
— Notei que comeu muito pouco. Não gostou dos pratos? — perguntei em
um dado momento, querendo esclarecer logo tudo.
Ela se surpreendeu com o meu comentário, olhando para o próprio prato.
— Gostei muito, muito mesmo. É que normalmente como pouco.
— Mas sabe que vai precisar comer melhor estando grávida. Não sou
médico, mas entendo que agora precise se alimentar por dois.
Ela meneou a cabeça com um meio sorriso nos lábios.
— Você está parecendo o Andrew quando pega no meu pé por causa da
quantidade que como. Vou responder o mesmo que digo para ele. Sei que preciso
comer melhor e estou me esforçando para isso.
— E por que precisa se esforçar para comer mais? Ter apetite para se
alimentar é algo natural no ser humano, a menos que esteja doente. É esse o seu
caso?
Ela me jogou um olhar sério.
— Não, não é. Pelo menos não é uma doença do corpo. — Ficou pensativa,
como se analisasse se devia se abrir comigo ou não. — Tive uma depressão tempos
atrás e ainda não me recuperei totalmente. Não funciono bem com pessoas me
pressionando, seja que tipo de pressão for. Se isso acontecer enquanto eu estiver na
sua casa, aviso logo que vou embora.
Ela não precisou entrar em detalhes nem dizer mais nada. Para mim, estava
óbvio que a pressão que recebeu foi do pai.
— Desde que me garanta que vai pensar no meu filho e fazer as refeições o
melhor que puder, não vou pressionar você. Nem tenho tempo para isso.
— Sagrada falta de tempo! — ela disse em tom de provocação.
Surpreendentemente, achei graça e ri também.
— Olha que sorte a sua.
Foi naquele clima de provocações e de troca de farpas que o jantar se
tornou mais agradável do que pensei a princípio. Quando chegou a hora da
sobremesa, ela apenas beliscou a torta de maçã.
— Achei que você ia devorar pelo menos a sobremesa. A maioria das
mulheres não resiste a um doce.
Michelle me olhou meio de lado, literalmente me analisando.
— Falou a voz da experiência no quesito mulheres, mas sinto decepcioná-
lo. Sou a exceção. Aprecio mais os salgados do que os doces.
Ela estava sendo a exceção em muitas coisas, a começar pelo desejo de ser
mãe solo sendo virgem.
— E por falar em exceções, por que decidiu ser mãe solo em vez de se
casar com o príncipe encantado bilionário e ser feliz para sempre?
A risada que ela soltou foi imediata, espontânea e sem ironia alguma.
Michelle estava realmente se divertindo com o perfil que tracei e me vi segurando a
vontade de rir também.
— Você está me surpreendendo, Blackwolf. Pensei que fosse achar este
jantar um evento aborrecido, mas estou me divertindo muito.
O mesmo estava acontecendo comigo, mas achei melhor não dizer nada.
— Pode me chamar de Tyler.
Ela parou de rir, fazendo um trejeito engraçado com os lábios.
— Na minha opinião, o nome Blackwolf combina mais com quem você
realmente é. O Tyler parece ser outro homem e não você.
— Está com medo de começar a gostar de mim se me chamar de Tyler?
Cravei o meu olhar no dela, desafiando-a a negar. Michelle era sempre
corajosa na hora de me encarar, mas daquela vez baixou os olhos antes de responder.
— Não corro esse risco.
A voz estava firme, mas o olhar que se ergueu para mim tinha uma emoção
mal disfarçada que me atingiu em cheio. Senti uma tensão diferente se espalhar pelo
meu corpo e me admirei que fosse sexual.
Não é possível que eu esteja me sentindo atraído por ela e ela por mim!
A última coisa que eu queria era me envolver com a filha de Colin Barton.
— Você não respondeu. Por que ser mãe solo sendo virgem?
A pergunta direta e até grosseira foi proposital, para que ela não se
esquecesse de quem eu era e continuasse me achando sinistro o suficiente para não
se aproximar muito.
Surtiu o efeito desejado. Michelle contraiu os lábios com desgosto.
— Os seus investigadores são muito competentes, tenho de admitir — disse
com desprezo, mas senti que havia uma certa tristeza também, que procurei ignorar.
— A informação estava na sua ficha da Fertile Future.
— Pior ainda. Me disseram que tudo naquela ficha era confidencial.
— Não para mim.
Ela me encarou sem demonstrar a emotividade da vez anterior.
— Já percebi — respondeu simplesmente, tomando um gole da água com
que se serviu durante o jantar. — A resposta é muito simples, Blackwolf. Quis evitar
que o pai do meu filho fosse alguém parecido com você. Focado apenas em
acumular riquezas, emocionalmente insensível, autoritário e calculista, sem limite
algum na hora de conseguir o que quer e cujo filho seria apenas o herdeiro desse
legado horrível. Homens como você só querem filhos que sejam uma cópia fiel de si
mesmos. Se não forem, serão forçados a ser, tendo a própria personalidade
massacrada por um pai opressor.
Deixei que Michelle falasse tudo o que pensava. Muito do que disse não me
surpreendeu, uma vez que ela já havia se expressado antes sobre o que achava de
mim.
— Essa é uma descrição do seu pai e não minha.
Ela riu com ironia.
— A descrição se encaixa direitinho nos dois e daí já se vê o quanto são
parecidos. No meio social onde cresci, existem homens demais como vocês dois,
mas devo confessar que Colin Barton e Tyler Blackwolf são insuperáveis. Uma
referência mundial.
Os olhos azuis me desafiaram. Em vez de raiva, senti mais admiração ainda
por ela.
— Você tem o péssimo hábito de me comparar ao seu pai, o que só mostra
o quanto está enganada a meu respeito. Também errou feio quanto ao meu filho.
Lógico que vou querer que ele siga os meus passos no mundo dos negócios, mas se
realmente não quiser, não o vou forçar. Terei outros filhos, até que um deles aceite o
meu legado horrível.
Ela respirou fundo ao me ouvir repetir o mesmo termo que ela usou, mas
não perdeu a oportunidade de me tirar da vida do meu filho.
— Se é assim, por que não tem logo outros filhos por inseminação e se
esquece do meu?
— Porque esse que você carrega é meu também e não sou homem de
rejeitar os meus filhos, o meu sangue. Ainda que eu tenha dez filhos, cada um deles
será especial para mim e vou amar todos. — Apoiei os antebraços na mesa e firmei
o olhar nela. — Antes que diga que sou machista e só quero filhos homens, saiba
que se vier uma menina e ela tiver talento financeiro no sangue igual a mim, terei o
maior orgulho que seja ela a assumir tudo o que tenho.
Michelle me analisou sem esconder a curiosidade.
— Por que inseminação? Você poderia escolher a mulher que quisesse para
ser mãe dos seus filhos. Uma daquelas lindíssimas e fabulosas que almejam um
bilionário rico como marido. Bastava se casar com ela e ter a família perfeita.
— Você tem os seus motivos, eu tenho os meus. Não quero uma mãe para
os meus filhos.
— Toda criança precisa de uma mãe ao lado.
Foi impossível não rir com cinismo daquele comentário.
— Toda criança precisa de amor e um pai pode dar esse amor para ela.
Ela bufou, vencida.
— Você tem razão, concordo que o amor é o que importa. Talvez eu pense
assim por causa do relacionamento maravilhoso que tive com a minha mãe. Em
contrapartida, tive um relacionamento péssimo com o meu pai. Nós duas éramos
muito unidas mesmo. Quando ela morreu de repente, fiquei sem chão. Na verdade,
estou sem chão até agora.
Michelle engoliu em seco e inspirou fundo, tentando controlar a emoção ao
falar da mãe, mas não conseguiu. Cobriu o rosto com as mãos e secou as lágrimas
que inundaram os olhos azuis, enquanto eu controlava a vontade absurda que senti
de colocá-la no colo e aconchegar junto ao peito.
— Me desculpe pelo choro. Acho que estou mais sensível por causa da
gravidez.
— Não precisa pedir desculpas. Você pode achar que não, mas entendo.
Também sofri muito com a morte do meu pai — falei sem pensar nas
consequências, até me lembrar que nunca havia tocado no assunto com ninguém.
Ela ergueu os olhos, deixando o rosto fragilizado à mostra. Havia uma dor
profunda naquele olhar com a qual me identifiquei e que me tocou de uma maneira
extremamente forte.
— A sua mãe faleceu na mesma época dele? Ruth comentou comigo que
ambos são falecidos.
Se Ruth disse aquilo foi porque Michelle perguntou. Ela era uma mulher de
confiança e jamais contaria o que sabia da minha vida pessoal.
— Não conheci a minha mãe.
Fui sincero, não vendo motivo algum para esconder aquilo dela, já que a
própria Michelle havia escolhido ter um filho por inseminação. Pela lógica, ela
entenderia a escolha do meu pai caso soubesse d e tudo.
— Oh, ela faleceu no parto? — perguntou com o rosto consternado. —
Sinto muito! Não quis tocar em um assunto delicado.
— Não é um assunto delicado, fique tranquila. Não conheci a minha mãe
porque nasci de inseminação artificial.
Ela arregalou os olhos, sem conseguir disfarçar o quanto estava abismada.
— Mas... eu pensei... Ruth deu a entender que... — Parou de falar,
literalmente sem palavras.
— Foi a Ruth quem cuidou de mim quando fui entregue ao meu pai após o
nascimento. Ele a contratou como babá e ela trabalha até hoje comigo. É casada com
um dos meus seguranças, tem três filhos e será a mulher que vai cuidar dos meus
filhos também.
Michelle reagiu assim que terminei de falar.
— Dos seus outros filhos, porque eu cuidarei do meu.
Mais uma vez voltávamos ao mesmo impasse. Cada um queria o filho para
si, sem querer a presença do outro.
— Em algum momento teremos de resolver isso.
— Eu não preciso resolver nada. Já me conformei em ter você na vida do
meu filho, mas não vou renunciar à guarda dele. É comigo que ele vai ficar, sou eu
quem vou cuidar dele e não vou deixar que ninguém o tire de mim.
— E como faremos? Porque eu também não quero viver longe dele e o ver
esporadicamente. Quero que ele more comigo, onde o poderei ver sempre que quiser
e onde também estará sempre protegido.
Ela fez um gesto impaciente com a mão.
— Você bem que podia ser desalmado, impiedoso e sinistro o suficiente
para não se importar com esse filho e nos esquecer. O que custa rejeitá-lo? Se você
se esforçar um pouquinho até consegue.
Contive um sorriso, sem me ofender com nada do que ela disse. Quanto
mais eu a conhecia, menos a achava irritantemente desafiadora, idiotamente cheia de
razão e insuportavelmente antipática, como havia acontecido no início.
— Sinto decepcioná-la, mas isso não vai acontecer. Sugiro que não se
preocupe com esse assunto agora. Cuide apenas que ele cresça forte e saudável na
sua barriga.
— Eu não vou deixar que o tire de mim quando ele nascer, Blackwolf —
ela foi taxativa na maneira de falar.
Endureci a expressão do rosto.
— E eu disse que ia fazer isso?
Ela piscou, pega de surpresa com a minha pergunta.
— Não com essas palavras, mas por tudo o que falou desde que nos
conhecemos, posso afirmar que deu a entender que era o que pretendia fazer em
tribunal.
— Isso foi antes de conhecer melhor você.
Ela arregalou os olhos, pasma.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer que somos pessoas adultas e podemos encontrar uma
solução que favoreça aos dois. Cada um cede de um lado. Você me aceita como pai
e eu aceito você como mãe. Ele deixa de ser o “meu” filho e o “seu” filho, e passa a
ser o “nosso” filho. Eu estou disposto a isso. Você está?
Notei quando ela colocou a mão sobre a barriga, olhando-me com
desconfiança.
— Você não combina no papel de cordeirinho, Blackwolf.
Meneei a cabeça, divertindo-me com ela.
— Começo a desconfiar que você prefere o lobo em vez do cordeiro.
— Já me acostumei com ele.
Analisei a mulher à minha frente, cujo olhar não fugiu do meu.
— Cuidado para não se acostumar demais a ponto de sentir falta depois.
— Não corro esse risco — ela afirmou pela segunda vez naquela noite e
sem hesitação alguma.
Michelle sustentou bem o meu olhar e havia intensidade suficiente entre
nós dois para me fazer pensar. Ambos estávamos cientes de que o jantar havia
elevado o nosso relacionamento para um nível que não existia antes. Demos um
passo à frente, mas aonde íamos chegar era uma incógnita até para mim, que
controlava com pulso firme tudo ao meu redor.
— Obrigada pelo jantar, Blackwolf — ela agradeceu em tom de despedida,
colocando o guardanapo ao lado do prato.
— Vou acompanhá-la até o seu andar.
— Não é preciso.
Levantei-me no mesmo instante.
— Faço questão.
Sem contestar, Michelle me deixou puxar a cadeira para ela se levantar e
acompanhei-a até o elevador privativo que nos levou até o andar dela.
Despedi-me no hall de entrada.
— Boa noite e obrigado pela companhia no jantar de hoje. Espero que volte
a aceitar um novo convite.
— Aceitarei. Boa noite, Blackwolf.
Capítulo 22
Tyler
O utra semana se passou sem que o processo de falência do Barton Bank
desse entrada no Tribunal de Falências de Manhattan. Colin Barton continuava em
negociações para tentar uma outra fusão, mas aquela tentativa também não ia dar em
nada. Eu me encarreguei de fechar as portas do sistema financeiro para ele. Seria
fracasso após fracasso, até que não lhe restasse outra alternativa além de aceitar a
falência. Ele só estava tentando adiar o inadiável.
O desejo de vingança que eu sentia continuava o mesmo, ainda que o meu
relacionamento com a filha dele estivesse evoluindo para um patamar que nunca
imaginei.
Propositadamente, demorei três dias para convidar Michelle para um outro
jantar. Quis testar a mim mesmo com aquele tempo, impondo um controle mais
rigoroso na súbita vontade que me dominou de estar com ela já no dia seguinte ao
primeiro jantar. Como Ruth me passava diariamente informações sobre a rotina dela,
eu sabia que Michelle estava bem, apesar de continuar tendo náuseas pela manhã e
de se alimentar de maneira frugal.
Na semana seguinte ela teria a consulta mensal com a doutora Jane Young,
ocasião em que eu pretendia colocar o assunto em pauta.
No jantar daquela noite, Michelle apareceu usando um vestido estampado
em tons de castanho, com a gola alta e a saia justa até o meio das pernas, que os
saltos altos destacavam. Os cabelos louros estavam totalmente soltos, dando-lhe uma
aparência que achei atraente e muito sensual. Ultimamente eu vinha notando mais a
beleza dela e tinha noção do risco que aquilo significava. Um risco muito grande.
Uma verda deira merda!
Igual como aconteceu na vez anterior, fui recebê-la na saída do elevador,
levando-a depois para a mesa de dois lugares do terraço.
— Como passou estes dias? — perguntei, assim que nos sentamos frente a
frente.
— Muito bem, apesar de continuar me sentindo ligeiramente indisposta
pela manhã.
— É por isso que não tem saído de casa?
Ela me lançou um olhar reprovador.
— Nem vou perguntar como é que você sabe que não tenho saído, mas
responderei mesmo assim. Não tenho saído por falta de vontade.
Não achei que aquilo fosse normal, pelo menos na minha visão das coisas.
— Você fez tanta questão de me dizer que não pretendia ser uma
prisioneira na minha casa e está há duas semanas trancada aqui dentro. Deduzi que
sairia bastante, nem que fosse para comprar o enxoval do bebê, visitar amigas, ir ao
shopping ou fazer qualquer outra coisa.
— Era importante garantir a minha liberdade, apenas isso. Tenho me
dedicado à pintura e descansado bastante, como a doutora Jane recomendou.
Ainda assim achei que duas semanas era muito tempo e pensei se a
depressão que ela teve no passado estaria começando a voltar.
— Estive pensando em montar um quarto para o nosso filho. Qual deles
você gosta mais?
Notei o brilho no olhar dela e fiquei satisfeito ao ver que tudo relacionado
ao bebê a entusiasmava.
— O que fica ao lado do meu. Tem uma porta de comunicação que poderá
ficar aberta, deixando-me mais próxima dele.
— Sei qual é e acho uma boa escolha. Se importaria de providenciar tudo
para deixá-lo pronto até a chegada dele? Ruth pode ajudar você no que precisar.
— Vou adorar fazer isso. Eu já estava montando um para ele no meu
apartamento e posso fazer o mesmo aqui. — Ela me olhou em dúvida. — Mas ainda
não definimos como faremos quando ele nascer.
— Temos tempo. Ainda é cedo para conversarmos sobre isso. — Ergui a
taça de vinho. — Ao nosso filho.
Ela sorriu e fez o mesmo com o copo d’água, tocando-o no meu.
— Ao nosso filho.
Aquele segundo jantar na companhia de Michelle foi mais agradável do que
o primeiro. A conversa fluía naturalmente e eram raros os momentos de silêncio.
Quando eles aconteciam, os olhares que trocávamos eram cheios de significado e
cumplicidade, sem necessidade de palavras, o que me deixou verdadeiramente
surpreendido com aquela súbita afinidade entre nós dois.
Quando terminamos o jantar, fomos nos sentar em um dos sofás rústicos do
terraço, de onde podíamos apreciar melhor a vista noturna de Manhattan.
— Está preparada para a consulta da próxima semana?
— Preparada e ansiosa! Já vou estar com oito semanas e poderei ouvir o
coraçãozinho dele.
Eu nem fazia ideia de que já era possível ouvir o coração do meu filho com
aquele tempo de gravidez. A única coisa que registrei na minha mente para ela fazer
com oito semanas era o teste de paternidade. Contudo, Michelle nem parecia uma
grávida, de tão lisa que a barriga dela estava.
— Ouviremos juntos, porque vou estar presente.
Ela mordeu o canto da boca, parecendo envergonhada.
— Eu tinha me esquecido disso.
— E vou estar na sala de parto também.
Horrorizada e boquiaberta, ela arregalou os olhos, fazendo-me rir.
— Peguei você.
— Oh, você é insuportável! — ela exclamou, mas riu logo depois.
Trocamos um olhar enquanto ríamos e preferi não comentar que aquela era
a mais pura verdade. Eu pretendia estar na sala de parto no dia do nascimento do
meu filho.
Fomos interrompidos pelo meu celular tocando sobre a mesa.
— Só um instante.
— Fique à vontade.
Levantei-me para o atender. Era Gabriel Cox, um dos juízes do tribunal de
falências e o assunto só poderia ser o Barton Bank.
— Boa noite, Gabriel. Boas notícias?
— Boa noite, Tyler. Sim, aconteceu o que esperávamos. Fui informado que
amanhã teremos o processo em mãos.
Olhei para Michelle sentada no sofá e me afastei para o outro lado do
terraço, evitando que ela acidentalmente escutasse alguma coisa.
— Então ele aceitou a derrota e vai mesmo dar entrada no pedido de
falência.
— Isso mesmo. Um dos advogados de Barton me ligou agora à noite para
conversar sobre os detalhes do processo. Acabei de desligar.
Porra, consegui!!!
— Conte-me mais.
Nos minutos seguintes ele me explicou o teor da conversa que teve,
acertando comigo os próximos passos que íamos dar.
— Já agendei uma reunião formal com Colin Barton e os advogados dele
para amanhã à tarde. Posso avançar com a sua proposta?
— Pode, sim, Gabriel. Vou pedir para Ryan comparecer ao tribunal no
horário marcado.
— Ótimo! Acredito que teremos sucesso.
— Também aposto nisso.
Tratamos de mais alguns pormenores e ficamos de definir o restante no
decorrer do dia seguinte. Quando desliguei, guardei o celular no bolso com um
sorriso de vitória.
Voltei para o sofá, onde encontrei Michelle semideitada e adormecida
contra as almofadas. Só então me dei conta de que havia demorado muito mais
tempo na ligação do que pensei e ela não aguentou esperar acordada .
Fiquei parado, sem conseguir fazer outra coisa que não fosse admirá-la.
Michelle parecia frágil e delicada, despertando um instinto de proteção em mim que
nunca senti antes por mulher alguma. O que ela estava fazendo para me conquistar
daquele jeito eu não sabia, mas a verdade era que a cada dia que passava eu me via
mais envolvido pela única mulher que deveria manter à distância.
Pensei em acordá-la, mas depois mudei de ideia. Decidi que a levaria para
dentro adormecida do jeito que estava. Se ela acordasse no meio do caminho,
deixaria que fosse para o andar de baixo. Se não acordasse, dormiria ali mesmo.
Com cuidado, peguei-a ao colo e fui para dentro sem que Michelle
despertasse. Parei em frente à porta do quarto de hóspedes, mas um impulso
repentino me fez seguir adiante e entrar no meu próprio quarto, onde a deitei na
cama, tirando-lhe os sapatos. Ela se aconchegou contra o travesseiro com um
suspiro, continuando a dormir.
Não me atrevi a tirar o vestido que ela usava para que ficasse mais
confortável. Da maneira como eu a conhecia e sendo ainda virgem, Michelle seria
capaz de ir embora no dia seguinte caso se acordasse nua na minha cama.
Preferi não analisar muito as minhas motivações para tê-la trazido ali.
Apenas tirei os sapatos e fui para o banheiro me preparar para dormir.
Quando me deitei ao lado dela minutos depois, foi pensando no inusitado
daquela situação. Era a primeira vez que eu tinha uma mulher adormecida na minha
cama. Sempre que fodia com uma delas, nunca era na casa onde eu morava e muito
menos na cama onde eu dormia. Agora, eu ia literalmente dormir com a filha do
meu inimigo.
Sempre achei que tinha uma cama grande, mas a impressão que fiquei
naquele momento era de que o tamanho dela havia diminuído de repente. Eu
conseguia sentir a presença de Michelle como se ela estivesse agarrada em mim e
não no lado oposto. O perfume suave e feminino parecia se espalhar pelo meu
quarto inteiro, invadindo os meus pulmões e tentando roubar a minha razão.
Foi com muita força de vontade que me deitei de costas para ela e fechei os
olhos, decidido a ignorá-la.
Michelle só está aqui por causa do meu filho. É tudo por causa d o meu
filho!
Capítulo 23
Michelle
V irei-me para o outro lado da cama e me cobri melhor com o lençol,
pensando em ficar deitada mais um pouquinho.
Por causa dos enjoos, as manhãs se tornaram a pior parte do meu dia desde
que fiquei grávida. Ultimamente eu vinha me sentindo cansada e sonolenta com uma
facilidade incrível, mostrando que a gravidez não era aquele mar de rosas que
imaginei quando decidi ser mãe solo.
Com um suspiro, encolhi-me mais debaixo dos lençóis, mas fui obrigada a
abrir os olhos quando o enjoo matinal que me acompanhava há dias começou a me
incomodar.
Ai, meu Deus, quando é que isso vai passar!
Apesar de a doutora Jane ter dito que era muito comum sentir náuseas e ter
vômitos pela manhã, eu ainda não havia me acostumado em ficar tão indisposta mal
me acordava.
Usei a técnica de respirar fundo várias vezes e pensar em coisas boas e
agradáveis como um jardim florido, mas de nada adiantou. O enjoo que senti foi tão
forte que parecia que as rosas do meu jardim imaginário tinham um odor enjoativo
demais, piorando a náusea.
Ciente de que logo depois viria a vontade de vomitar, sentei-me na cama.
Foi quanto notei que havia dormido com o vestido que usei no jantar com
Blackwolf. No chão, os scarpins pretos estavam jogados sobre o tapete.
Eu devia estar mesmo muito cansada na noite anterior para ter dormido
vestida daquele jeito. Não havia outra explicação.
Enquanto eu tentava entender como é que fui parar na cama se nem me
lembrava de ter andado até o quarto, a vontade de vomitar aumentou e me levantei
rápido em busca do banheiro. Cobrindo a boca com a mão, abri a porta às pressas e
fui direto para a pia, vomitando parte do jantar que não havia sido digerido pelo
estômago.
Depois que coloquei tudo para fora, apoiei-me com dificuldade e abri a
torneira. Molhei o rosto, respirando fundo para controlar a náusea e evitar mais
vômitos. Passei mais água no rosto, lavei a boca e me olhei no espelho no exato
instante em que Blackwolf entrou no banheiro vestido com um de seus ternos feitos
à medida.
Com a fisionomia grave e uma ruga de preocupação no meio da testa, ele se
aproximou de mim.
— Você está bem, Michelle?
Eu estava era totalmente confusa com a presença dele ali, mas um novo
espasmo de vômito subiu pela minha garganta e o esqueci por completo,
concentrada em superar a crise.
Um braço forte me envolveu pela cintura e me vi apoiada contra o corpo de
Blackwolf. Eu me sentia tão enfraquecida que nem reclamei, recostando-me nele
sem nenhuma cerimônia. Não podia negar que era reconfortante tê-lo ao meu lado
naquele momento e apenas fechei os olhos, aproveitando o apoio.
— Respire fundo. Deve ajudar.
Sim, ajudava e foi exatamente o que fiz. Deixei que ele me sustentasse,
sentindo a força do corpo alto junto ao meu. Era estranho e íntimo demais, mas
também reconfortante.
Ficamos naquela posição por um longo tempo, até eu sentir que o pior
havia passado. Voltei a lavar o rosto, aceitando a toalha que ele me deu.
— Sente-se melhor agora?
— Sim, já me sinto bem melhor.
Ele não esperou mais nada para me pegar ao colo e levar de volta para a
cama. Agiu tão rápido que nem tive tempo de protestar.
Quando eu já estava sentada na cama com ele ao meu lado, olhei-o muito
francamente.
— O que é que você está fazendo no meu quarto?
— Este quarto é o meu e não o seu.
Chocada demais, olhei ao redor, sem acreditar no que tinha ouvido. Foi
quando notei que tudo ali era mesmo diferente e paralisei.
— Como foi que vim parar no “seu” quarto?
Blackwolf parecia muito tranquilo, como se estarmos juntos no mesmo
quarto fosse a coisa mais natural do mundo.
— Você adormeceu no sofá ontem à noite e me senti culpado por tê-la
deixado esperando tanto tempo enquanto tratava de negócios. Trouxe-a para cá e
deixei que dormisse na minha cama.
Pisquei várias vezes antes de me sentir capaz de falar.
— Na sua cama? — balbuciei, estarrecida, enquanto a informação entrava
no meu cérebro. — Eu dormi... na sua cama?!
— Sim.
Ele continuava agindo com a maior naturalidade, enquanto eu me sentia a
um passo de surtar.
— E onde você dormiu? — perguntei, desconfiada e com receio de ouvir a
resposta.
— Com você.
Eu n ão acredito!
— Dormimos juntos?
Eu não conseguia me imaginar dormindo a noite inteira ao lado do homem
mais assustador que conheci até hoje. Ainda que o nosso relacionamento tivesse
melhorado bastante nos últimos dias, Blackwolf ainda era um homem que me
causava arrepios de medo quando estava sério demais.
— Sim, dormimos juntos. Dividimos a mesma cama — ele explicou com
paciência, como se estivesse falando com uma criança. — Mas não se preocupe.
Você continua tão virgem quanto antes, igualzinho como veio ao mundo.
Senti o meu rosto avermelhar de vergonha. Aquela já era a segunda vez em
menos de vinte e quatro horas que Blackwolf se referia à minha virgindade. Eu
estava começando a achar que era de propósito, só para me deixar constrangida.
Fosse proposital ou não, ergui o queixo e tentei agir tão naturalmente
quanto ele, apesar de saber que o rubor no rosto me denunciava.
— Não tenho problema algum com a minha virgindade, Blackwolf. Foi
uma opção de vida, assim como ser mãe solo também foi. — Fui firme na defesa dos
meus valores pessoais. — Mas, sendo virgem ou não, tenho o direito de escolher
com quem divido a cama onde durmo e não gostei de saber que dormimos juntos
sem que eu pudesse sequer dizer que não queria.
Ele me olhou de um jeito tão grave que até prendi a respiração, o calor que
havia nos olhos escuros minutos atrás se transformando em gelo em questão de
segundos.
— Pois saiba que nunca dividi com mulher alguma a cama onde durmo,
mas ontem não me importei que a mãe do meu filho dormisse ao meu lado. Pode
ficar tranquila que isso não vai mais se repetir.
Ele se levantou com a fisionomia fechada de sempre e foi fazer uma ligação
no telefone da residência.
— Ruth, venha ao meu quarto atender a Michelle. Ela passou mal e não
quero sair deixando-a sozinha — ele pediu, desligando logo depois e se
aproximando novamente de mim. — Ela vai ajudar você.
Blackwolf estava sendo educado e mostrando preocupação comigo, o que
me deixou com uma sensação de arrependimento por ter sido excessivamente
puritana.
— Peço desculpas por ter reagido tão mal, mas não estou acostumada a me
acordar no quarto de um homem ou de saber que dormi na cama com ele sem saber.
— Nunca precisei me aproveitar de mulher alguma. Se garanto que você
não foi tocada enquanto esteve na minha cama, é porque não foi mesmo.
Encarei fundo os olhos escuros. Apesar de profundos e quase sempre
sombrios, eram sinceros. Blackwolf era dono de uma honestidade crua e cortante,
sem necessidade de meias palavras ou subterfúgios. Ele falava a verdade, doa em
quem doesse.
— Acredito nisso.
O olhar grave não se alterou, muito menos a rigidez dos traços marcantes
do rosto barbado.
Uma batida discreta na porta anunciou a chegada de Ruth.
— Pode entrar — ele autorizou, pegando uma pasta preta sobre a poltrona.
— Preciso ir. Tenho uma reunião importante agora de manhã. Tenha um bom dia,
Michelle Barton.
Suspirei cansadamente quando fiquei sozinha com Ruth, sem entender a
minha reação exagerada ao fato de apenas ter dormido ao lado dele, afinal, nada
havia acontecido.
A única justificativa que podia dar a mim mesma era que Blackwolf me
desestabilizava até o último fio de cabelo. Ultimamente eu vivia pensando nele com
uma frequência impressionante e não entendia como aquilo podia acontecer, já que
sempre o considerei um homem detestável e, muitas vezes, até sinistro.
Talvez tudo aquilo fosse apenas a sensibilidade exagerada da gravidez.
Sim, de ve ser isso!
Capítulo 24
Michelle
— P osso visitar você hoje com o John? — Andrew perguntou quando me
ligou no meio da tarde.
— Sim, claro que pode. — Estranhei o tom de voz dele. — Está tudo bem?
— Sim, está. Conversamos quando eu chegar.
Aquela era a resposta típica dele para não me preocupar antes da hora, o
que só atiçou ainda mais a minha curiosidade.
— Tudo bem, eu aguardo.
— Até mais tarde, baby.
Quando Andrew chegou com John, já deduzi pela cara dos dois que algo
realmente sério havia acontecido. Considerando os eventos preocupantes dos
últimos dias, o que eles vinham me contar só podia ser algo relacionado com o
banco e com o meu pai.
Sentei-me no sofá da sala com Andrew de um lado e John do outro.
— A cara de vocês está terrível. Contem-me logo o que aconteceu.
— Demos entrada no pedido de falência em tribunal e tivemos uma
surpresa enorme ao nos reunirmos informalmente com o juiz que ficou com o caso.
Ele nos informou que o Fed 17 está preocupado com a instabilidade que a falência do
nosso banco poderá acarretar no mercado financeiro.
— Toda vez que um banco quebra, é sempre a mesma história — John
completou a explicação de Andrew. — Só que na hora de nos ajudar meses atrás, o
Fed tirou o corpo fora.
— Hoje descobrimos o porquê de todas as tentativas do nosso pai em salvar
o banco terem dado em nada — Andrew voltou a falar, daquela vez sem disfarçar a
raiva.
— E o que foi? — perguntei, mais do que ansiosa para saber.
— Tudo indica que as cartas já estavam todas marcadas desde o início para
que não tivéssemos outra saída que não fosse decretar a falência. Ficamos sabendo
que houve uma reunião a portas fechadas de um dirigente do Fed com alguns líderes
financeiros e políticos para evitar uma repercussão negativa da nossa falência. Desde
a crise financeira causada pela quebra do Lehman Brothers 18 , sempre que um outro
banco de investimentos de grande porte vai à falência, surgem rumores preocupantes
que causam instabilidade no mercado financeiro. O banco central quer evitar a todo
custo que o mesmo aconteça agora.
— Mas isso é compreensível. Acho que o banco central está certo.
Eu só via lógica na posição do Fed e não entendia o motivo da raiva do meu
irmão.
— Claro que eles estão certos em querer evitar uma nova crise financeira,
mas há coisas muito mal explicadas em todo o processo. Passamos meses
negociando várias fusões sem sucesso, Michelle. De repente, surge hoje uma
imposição do banco central para aceitarmos a venda do nosso banco para um
investidor de Wall Street que está interessado na aquisição dele.
— Mas isso não é bom? Pensei que fosse, já que vai evitar a falência.
— Não será uma fusão, mas uma aquisição. Se fosse uma fusão, ainda
poderíamos continuar donos do banco. Sendo uma aquisição, ele será vendido e
perderemos tudo.
— Mas não íamos perder tudo de qualquer jeito? Não estou entendendo a
reação de vocês.
Os dois trocaram um olhar.
— O BW Group comprou o nosso banco hoje por um valor irrisório,
Michelle. O Lobo Negro de Wall Street estava de tocaia este tempo todo, só
esperando o momento certo para atacar, que geralmente é quando a empresa já não
tem mais opção além da falência. Ele conseguiu manipular os fatos para nos
destruir. Não temos mais dúvida alguma disso.
Fiquei tão chocada que não reagi por um longo tempo, tamanha foi a minha
perplexidade. Eu sabia que Blackwolf odiava o meu pai, mas nunca pensei que
estivesse usando a influência dele para conseguir ficar com o nosso banco.
— Blackwolf fez isso?
Tentei esconder a desilusão na voz, sem querer que Andrew descobrisse o
quanto aquilo havia me abalado. Eu não esperava me sentir daquele jeito, mas saber
que Blackwolf agiu para destruir a minha família me deixou arrasada.
— Fez, Michelle — o meu irmão confirmou sem vacilar.
Olhei para John, esperando que ele me dissesse algo diferente.
— É verdade. Infelizmente o pai do seu filho é o responsável por todas as
portas terem sido fechadas para o Barton Bank conseguir se reerguer. Blackwolf é
um financista e investidor excepcional, mas também impiedoso quando quer
alcançar um objetivo. A maior prova está aí.
A imagem do rosto implacável de Blackwolf surgiu na minha mente. Até
que ponto ele realmente tramou contra o meu pai, um homem que nunca negou
odiar?
— E como está o nosso pai, Andrew?
— Fumaçando de raiva. Ele se trancou na sala da diretoria e mandou todo
mundo embora, inclusive nós dois.
Apesar de ele nunca ter sido um pai amoroso e interessado na minha
felicidade, preocupei-me que passasse mal estando sozinho.
— Não é arriscado demais deixá-lo sozinho depois de tanto estresse? Sei
que ele é um homem forte e saudável, mas a pressão pode ser demasiada até para
quem tem boa saúde. Nosso pai está com sessenta e cinco anos, pode ter até um
infarto.
Andrew soltou um suspiro profundo e olhou para John antes de me
responder.
— Pensamos a mesma coisa e foi por isso que ficamos lá durante a tarde
inteira. Só saímos quando ele também saiu, mas não sei para onde foi. Em casa não
está, porque já me informei sobre isso.
Apesar de nunca ter me envolvido nos negócios do meu pai, eu desconfiava
que ele tinha dinheiro guardado em algum lugar.
— Não vai sobrar nada? É que não consigo acreditar que o nosso pai não
tenha previsto que isso ia acontecer e se prevenido de alguma forma. Ele é muito
inteligente e perspicaz.
— Achamos o mesmo, mas não sabemos de absolutamente nada.
John se remexeu com inquietação no sofá, visivelmente nervoso.
— Se ele conseguiu desviar algum dinheiro antes que a bomba estourasse e
isso se tornar público, vai gerar um problema monumental no futuro. Os
investidores, acionistas e correntistas vão ficar furiosos e não vai ter lugar nesse
mundo onde o seu pai consiga se esconder sem ser caçado e preso.
Oh, meu Deus. Que horror!
— Eu estou tão chocada que nem consigo reagir.
Andrew me olhou com preocupação.
— Pense no seu filho e não deixe que os problemas do nosso pai afetem a
sua gravidez. Só vim contar pessoalmente por que seria mil vezes pior se você
ficasse sabendo através da televisão, dos jornais e das revistas de fofocas.
— Ou através de alguém que quisesse atingir você por ser filha de Colin
Barton.
Arregalei os olhos ao ser relembrada daquela possibilidade.
— Acham que isso seria possível? Eu sempre estive tão à margem dos
negócios da família.
— Muitos dos nossos amigos eram também clientes do banco, Michelle.
Como vão reagir ao saber que perderam dinheiro nas nossas mãos? É melhor não
atender ligações de nenhum deles por um bom tempo.
Ri nervosamente, passando as mãos pelos cabelos.
— Estou mesmo pasma!
Andrew me abraçou pelos ombros, beijando-me no rosto.
— Não se preocupe tanto. O Fed não tem interesse algum que a falência do
nosso banco venha a público, por isso tudo foi decidido a portas fechadas. O que
será anunciado depois é a compra do Barton Bank pelo BW Group, o que vai até
agradar aos correntistas. Basta que saibam que não vão perder um centavo e tudo
ficará bem.
Olhei-o com algum receio.
— Não tem mesmo como as pessoas ficarem sabendo da nossa falência?
Os dois trocaram um olhar que me deixou desconfiada.
— Não temos como dar essa certeza, baby. — Foi o John quem respondeu.
— Hoje em dia as informações são vendidas como banana na feira. Tudo é possível.
— Se essa informação vazar, ficaremos marcados — falei o óbvio. —
Sempre que nos encontrarem por aí, vão se lembrar que quase perderam tudo nas
nossas mãos. Será ainda pior se o nosso pai realmente tiver dinheiro guardado em
algum paraíso fiscal e eles souberem. Aí é que nunca mais vão se esquecer de nós.
O peito de Andrew se expandiu quando inspirou profundamente o ar,
deixando evidente que tinha consciência de tudo aquilo.
— Vamos viver um dia de cada vez. Apesar de Blackwolf ser um grande
filho da mãe, você está protegida aqui com ele. Tenho certeza de que não vai deixar
que nada de mal lhe aconteça, ou ao filho. De resto, é aguardar para ver o que o
amanhã nos trará.
Capítulo 25
Tyler
— M ichelle recebeu a visita do irmão e de John Marshall — Ruth me
informou assim que cheguei do trabalho. — Essa foi a única coisa que fugiu à rotina
dela hoje.
Eu já desconfiava que Andrew encontraria uma maneira de contar para a
irmã tudo o que havia acontecido com o Barton Bank e não me surpreendi quando
Miles me ligou no meio da tarde para informar sobre a visita. Ele tinha ordens de me
avisar sobre qualquer pessoa que subisse para o andar de Michelle e a visita do
irmão dela era esperada, mas não a de John Marshall.
— Como ela passou o restante do dia depois da visita?
— Michelle é naturalmente muito calada e gosta de ficar sozinha no canto
dela, concentrada na pintura. Desde que está aqui, não conversa muito comigo nem
faz confidências e hoje ficou do mesmo jeito durante o dia inteiro, Tyler.
Era melhor resolver logo o assunto do que ficar adiando.
— Convide-a para jantar comigo e me avise se ela aceitar. Vou tomar um
banho.
— Quem o procurou hoje foi Barbara, querendo saber quando poderá
voltar. Fiquei de ligar amanhã para dar uma resposta.
Parei no meio do caminho para o meu quarto, virando-me para Ruth. A
última coisa que eu queria era Michelle e Barbara se encontrando ali, mesmo
considerando que Michelle quase não saía do andar dela e que Barbara sempre
ficava no andar de baixo.
— Não a quero aqui. Diga-lhe que eu ligo se precisar.
— Farei isso. Vou falar com Michelle agora.
Fui para o meu quarto, largando a pasta e o celular sobre a mesa. Aquele
havia sido um dia cheio de reuniões, mas também cheio de vitórias. Consegui
alcançar o meu objetivo final de comprar o Barton Bank e acabar de vez com Colin
Barton. Agora ele sabia quem era o homem por trás da sua queda e a minha
vingança estava completa.
A única coisa que eu não entendia era o porquê de me sentir mais cansado
do que feliz com aquela vitória.
Deve ser por causa das poucas horas de sono que tive ao dormir c om
Michelle.
Aquela havia sido uma experiência agridoce. Ter passado parte da
madrugada acordado analisando os meus sentimentos por ela foi algo tão estranho
quanto estar dividindo a minha cama com a filha de Colin Barton.
Eu não sabia como Michelle estava conseguindo aquilo, porém, a cada dia
que passava, ela ocupava um espaço maior na minha cabeça e eu não estava
gostando nada de não ter o controle de mim mesmo.
Fui para o banheiro, convicto de que uma boa noite de sono resolveria tudo,
até mesmo a falta de vontade que sentia de foder com Barbara. Ela era uma mulher
experiente na arte de agradar a um homem, mas era a inexperiência de Michelle que
estava atraindo-me ultimamente, uma virgem puritana que me detestava.
Infelizmente para mim, aquilo era algo que eu não podia negar.
Quando terminei o banho, fui para a sala de estar, onde me encontrei com
Ruth.
— Michelle aceitou o convite, Tyler.
— Aguarde que chegue e leve-a até o terraço. Esperarei lá.
Daquela vez tudo seria diferente. Não seria eu a recebê-la.
Fui para o terraço e me sentei no sofá de frente para a beleza das luzes
noturnas de Manhattan. Apoiei a cabeça no encosto e olhei para o céu estrelado,
pensando no meu pai.
Enfim, o nome dele estava limpo e o de Colin Barton, sujo. O filho da puta
acusou o meu pai de desfalque, mas o fraudador sempre foi ele.
Olho por olho, dent e por dente!
Ruth chegou com Michelle minutos depois e me levantei para recebê-la,
forçando-me a não me deixar abalar pela beleza esguia em um macacão longo e
clássico de cor preta. As mangas compridas eram de renda e os saltos altos também
pretos a deixavam extremamente elegante. Os cabelos louros estavam novamente
soltos em ondas suaves até o meio das costas e inspirei fundo para aguentar o
impacto daquela beleza suave e tão delicada.
Os olhos azuis que me encararam tinham um brilho desafiador e logo vi
que a noite seria igualmente desafiadora.
— Como se sente? — perguntei depois de nos cumprimentarmos com
formalidade.
— Estou bem. E você, teve um bom dia de trabalho?
Notei a ironia no tom de voz dela.
— Foi um dia como outro qualquer. E o seu, foi bom? Soube que recebeu
visitas.
— Oh, claro! Sempre me esqueço que você é muito bem-informado de tudo
o que acontece aqui.
Assenti com tranquilidade.
— Isso mesmo. — Indiquei a mesa. — É melhor nos sentarmos ou o jantar
vai esfriar.
Fomos para a mesa e notei a tensão no corpo de Michelle ao puxar a
cadeira para que ela se sentasse. Sentei-me também e começamos a nos servir em
silêncio.
Permanecemos naquele mutismo durante metade do jantar, um tempo longo
demais para mim, e decidi colocar logo as coisas em pratos limpos.
— Estou me perguntando quando é que você vai me acusar de ter destruído
o seu pai — comentei calmamente.
Ela ergueu o olhar do prato.
— E por que eu deveria perguntar se sempre soube que você faria isso,
fosse algo justo ou injusto?
— Garanto que injusto não foi — afirmei com uma certa dureza. — O
banco já estava falido há muito tempo e não precisei fazer nada para que ruísse de
vez.
— Pode dizer o que quiser, mas a verdade é que quis se vingar do meu pai e
conseguiu.
— Apenas tomei de volta o que ele usurpou do meu pai. O que comprei
hoje não foi um banco, mas um monte de dívidas de Colin Barton, que roubou o
quanto pôde do dinheiro dos clientes.
Ela enrijeceu ainda mais.
— Roubou? — repetiu com os olhos chispando de raiva. — Não acuse o
meu pai sem provas, Blackwolf! Isso só mostra o quanto você é um homem perigoso
e que não merece confiança.
Perdi a paciência com a condenação arbitrária dela.
— Quanto você quer apostar comigo que o seu pai desviou dinheiro do
banco para um paraíso fiscal? Se você pedir dez milhões de dólares e ganhar a
aposta, eu dou. Se pedir o Barton Bank de volta, eu dou. Pode pedir o que quiser,
mas garanto que vou ganhar.
Ela inspirou fundo e pousou os talheres com lentidão exagerada.
— Para afirmar com tanta convicção, você só pode ter armado algum
esquema para incriminar o meu pai.
Fazia muito tempo que eu não me sentia ofendido com o que falavam de
mim, mas aquelas palavras de Michelle tiveram um efeito avassalador sobre a minha
honra.
— Não sou o crápula ganancioso e traidor do seu pai, que armou um
esquema para incriminar o próprio amigo, roubando não apenas o dinheiro dele, mas
também a mulher que amava, mesmo que ela não valesse nada.
Michelle me olhou de testa franzida.
— De qual mulher você está falando?
Estava na hora de ela saber toda a verdade.
— Da sua mãe!
Michelle se levantou abruptamente da cadeira.
— Da minha mãe? Você está dizendo que a minha mãe não valia nada?
Levantei-me também, o ódio que sempre senti por Colin Barton vindo à
tona de uma única vez.
— Estou falando a mais pura verdade. Ela abandonou o meu pai quando ele
perdeu tudo e foi logo para a cama do seu pai, casando-se com ele depois.
Michelle cobriu a boca com as duas mãos, deixando só os olhos azuis
arregalados de espanto à mostra .
— Era o seu pai? O homem que ela amou era o seu pai?
— Amou? — Soltei uma risada ácida quando ouvi aquilo. — Se a sua mãe
amasse o meu pai, não o teria abandonado quando ele mais precisou nem o
esqueceria tão rápido.
— Mas ela o amava! — afirmou com veemência. — A minha mãe repetiu
isso para mim várias vezes durante a vida inteira.
— E você acreditou? Porque eu não acredito.
Os olhos azulados soltaram farpas.
— Estranho seria se você acreditasse! Um homem amargurado pelo ódio e
com a alma endurecida desse jeito jamais vai saber o que é o amor.
Aproximei-me dela com um sorriso cínico.
— E você, sendo virgem, sabe o que é o amor? Quantos homens já amou
para falar com tanta convicção? Talvez saiba mentir e enganar tão bem quanto
Margaret Barton. Tal mãe, tal filha.
Não demorou nem um segundo para a mão de Michelle se chocar contra o
meu rosto em uma bofetada. Apesar da violência do gesto, ela não tinha força
suficiente para me machucar, mas, ainda assim, não deixou de ser uma agressão
física.
— Nunca mais volte a ofender a minha mãe! — ameaçou-me cheia de
coragem. — Pode me chamar do que quiser, mas a ela, não!!!
Não respondi nada, muito menos reagi. Com a mandíbula contraída, apenas
a olhei com seriedade por um longo tempo e foi quando Michelle caiu em si.
Engolindo em seco, ela deixou transparecer pela primeira vez um certo receio na
expressão.
— Não ouse me bater de volta.
Trinquei os dentes com mais força ainda.
— Não sou o seu pai, que bate em mulheres! — rosnei, enfurecido com o
péssimo hábito que ela tinha de me comparar com ele. — Mas aconselho que pense
bastante antes de repetir com outro homem o que acabou de fazer comigo. Apesar de
você me julgar tão mal, eu jamais revidaria, coisa que outro homem poderia fazer
sem remorso algum.
— Mesmo me arriscando a levar um tapa na cara, vou defender a minha
mãe sempre. Você não a conheceu como eu conheci. Julgou-a esses anos todos com
base no que o seu pai disse, um homem rancoroso que ensinou o filho a ser tão ou
mais rancoroso do que ele.
Aproximei-me ainda mais, ficando a um palmo de distância.
— Então me diga por que ela trocou o meu pai pelo seu depois da falsa
acusação de desvio de dinheiro do banco. Ela não hesitou em correr logo para a
cama de outro homem rico. Só amava o dinheiro e o status.
— O meu avô a obrigou a se casar com o meu pai! Ela se arrependeu muito
depois, mas já era tarde.
— Nunca é tarde para se admitir um erro quando se ama. Bastava ter se
divorciado dele e procurado o meu pai. Do jeito que ele a amava, teria perdoado e
ficado com ela.
Michelle me olhou com tristeza.
— Ah, nem me diga isso. Ela sofreu tanto por achar que o seu pai jamais a
perdoaria.
— A sua mãe não merecia o amor dele. Nem sequer lutou para ficarem
juntos.
— Ela admitiu para mim que foi fraca e você está sendo muito duro no seu
julgamento. Só agora entendo o motivo que a fez abrir uma conta para mim no seu
banco. Ela amava tanto o seu pai que confiou nele até o último minuto, colocando
todas as economias que tinha no BW Bank — Michelle me surpreendeu com aquela
informação que eu desconhecia totalmente. — Na sua opinião deturpada, o seu pai
era o homem perfeito e a minha mãe sempre foi a mulher cheia de defeitos que
nunca o mereceu. Começo a acreditar que ela fez bem em não o procurar, pois era
ele quem não valia nada.
Inspirei fundo ao ouvi-la ofender o meu pai.
— Cuidado com o que fala dele.
— Vou ter o mesmo cuidado que você teve ao falar dela.
Ficamos nos encarando e Michelle não desviou o olhar nem por um
segundo. Ela não sabia, mas havia herdado muito da força do pai.
— Você não tem mesmo noção do perigo.
Ela sorriu com melancolia evidente no olhar.
— Parabéns pela descoberta. — Desviou os olhos para a mesa de jantar,
mas antes notei o brilho de lágrimas neles. — Sinto muito, mas perdi completamente
a fome. Vou para o meu quarto.
Merda!
Michelle se virou para ir embora, mas agi rápido e me coloquei à frente
dela, impedindo-a de sair. Cerrei os punhos diante da súbita vontade que me
dominou de a arrebatar nos braços e beijar aqueles lábios rosados, devorando depois
cada pedaço da mulher que vinha mexendo comigo de uma maneira tão
inesperadamente intensa nos últimos dias. Uma mulher que eu queria odiar, mas não
conseguia.
O esforço que fiz para me controlar foi tão grande que passei a respirar
ruidosamente, cerrando com mais força os punhos para resistir à tentação.
Michelle apenas me observou com os olhos azuis que pareciam enxergar a
minha alma, uma alma que eu achava que nem tinha mais.
— Agora entendo por que você é desse jeito — ela comentou sem dar mais
explicações.
Havia compreensão no olhar que se fixou no meu e detestei a sensação de
estar exposto, sem proteção, a descoberto, à mostra.
Dominado por um impulso incontrolável até para mim mesmo, acostumado
a controlar cada emoção com pulso firme, arrebatei Michelle nos braços e saciei o
desejo de provar os seus lábios.
Magra e delicada, ela não conseguiu opor resistência alguma à minha força,
apoiando as mãos nos meus braços e soltando um arquejo de surpresa quando a
segurei pelos cabelos e a beijei, suguei, invadi com a minha língua.
Achei que Michelle fosse resistir, afastar-se, até mesmo me esbofetear de
novo, mas ela se rendeu completamente, beijando-me também e de uma maneira que
mostrava um desejo tão forte quanto o meu.
Apesar de perplexo ao ver que ela provavelmente vinha desejando aquele
beijo tanto tempo quanto eu, deixei a emoção dominar totalmente a minha razão.
Exultei quando ela me abraçou pelo pescoço com um gemido de prazer ao abrir a
boca para aprofundar o beijo.
Foi naquele instante que perdi o controle de tudo, cego pela paixão que ela
despertava em mim. Estreitei o abraço, descobrindo curvas tentadoras no corpo que
antes achava magro demais. Os seios firmes se apertaram contra o meu peito e a
cintura fina realçava a curva mais ampla das nádegas e dos quadris, onde pressionei
o meu pau que já endurecia.
— Tyler! — Michelle gemeu, chamando-me de Tyler pela primeira vez.
Aquilo me abalou como jamais imaginei e o beijo se tornou urgente,
premente, profundo. Os dedos suaves mergulharam nos meus cabelos, acariciaram a
minha barba, percorreram o meu rosto em um afago diferente de tudo o que já havia
sentido na vida. Havia mais do que desejo, paixão e luxúria ali. Era algo que eu não
sabia identificar, mas que me tocou fundo, fragilizou e também assustou.
Um alerta estourou na minha mente e parei.
Ela era a filha de Colin Barton e eu estava em vias de possuir a mulher que
deveria odiar, desprezar e manter o mais distante possível .
As coisas estavam fugindo do meu controle, acontecendo rápido demais até
para mim mesmo, um homem que não tinha freios quando queria muito alguma
coisa ou alguém. E eu a queria, porra! Queria muito.
M erda! Droga!
Segurei-a pela cintura e interrompi o beijo, afastando-me. Estávamos
ofegantes e inspirei fundo várias vezes para recuperar o controle.
Michelle ergueu os olhos para mim e trinquei os dentes ao ver o prazer que
ainda havia neles. Ela estava afogueada, arquejante, com os lábios levemente
inchados dos meus beijos e as faces ruborizadas. Estava linda, tentadora e
representando um perigo muito grande para os meus planos.
Desviei o olhar e o fixei nas luzes de Manhattan, o centro financeiro do país
e um dos mais importantes do mundo, que eu dominava. Eu era o Lobo Negro de
Wall Street e ela era a filha do homem que odiei a minha vida inteira. Eu não podia
me esquecer daquilo nem por um segundo.
Olhei-a novamente, agora no controle de mim mesmo.
— É melhor que vá para o seu quarto, Michelle — falei friamente,
afastando-me dela como se não tivesse acontecido absolutamente nada entre nós
dois.
Peguei a taça de vinho sobre a mesa e tomei um longo gole, recebendo em
cheio o olhar perplexo dela.
— Mas... mas — balbuciou tão desnorteada que nem conseguiu disfarçar.
— Como é que você consegue agir assim depois do que aconteceu?
— E o que aconteceu? — Fui novamente frio.
Ela meneou a cabeça, piscou várias vezes e franziu a testa. Por fim, a ficha
caiu.
— Você passou do calor para o frio em questão de segundos — comentou
mais para si mesma do que para mim.
Coloquei calmamente a taça vazia sobre a mesa e cruzei os braços sobre o
peito, aproveitando o comentário dela para deixar as coisas muito claras entre nós
dois.
— Esse calor que você fala nunca existiu. Nem cheguei a me excitar o
suficiente para querer foder com você.
A segunda bofetada que levei naquela noite não me pegou de surpresa,
como aconteceu com a primeira. Eu já estava preparado e não reagi de maneira
nenhuma, porque foi bem-merecida.
— Obrigada por me lembrar que você é tão crápula quanto o meu pai,
Blackwolf!
Com altivez, ela se virou e saiu do terraço, indo embora e deixando-me
com uma sensação estranha no peito. Descruzei os braços e respirei fundo,
dominado por um turbilhão de emoções contraditórias. Sentia-me tenso, rígido,
enraivecido, frustrado.
Peguei a taça de vinho e atirei-a com violência no chão do terraço, o som
do vidro estilhaçado se espalhando pela noite. Não demorou para ouvir passos
rápidos vindo na direção do terraço e logo Ruth apareceu com a fisionomia
preocupada.
— Aconteceu alguma coisa, Tyler?
— Vá ao quarto de Michelle e veja se ela está bem. Cuide dela até que
durma e me diga algo depois.
Ela olhou para a mesa, onde o jantar permanecia praticamente intacto nos
pratos. Suspirou pesadamente, a preocupação aumentando no rosto amadurecido
pelo tempo.
— Eu só queria lembrar que ela está grávida e ainda não passou dos
primeiros meses de risco de aborto.
— Obrigado, Ruth. Agora vá — disse entredentes, observando-a se afastar.
Caminhei até a piscina e me sentei em uma das cadeiras de frente para o
Central Park escurecido, onde fiquei até que ela me ligasse cerca de uma hora
depois.
— Michelle está bem. Consegui que ela comesse uma refeição leve e agora
já está dormindo.
— Fez bem, ela não comeu praticamente nada no jantar.
— E você, conseguiu comer?
Eu nem me lembrava do sabor da comida, quanto mais da quantidade que
comi.
— O suficiente, Ruth, obrigado. Não se preocupe comigo.
— Eu o criei e me preocupo.
Ela era uma boa mulher, o mais perto que cheguei a ter de uma mãe.
— Estou bem, garanto. Peça para alguém limpar o terraço e vá dormir
depois. Boa noite.
— Boa noite, Tyler.
Capítulo 26
Michelle
E u podia ser virgem, mas já havia beijado antes. Tudo bem que foi com
um namoradinho da escola e não com um homem maduro como Blackwolf, mas
pelo menos eu não era uma virgem no quesito beijo na boca. Ainda assim, nada me
preparou para o beijo de Blackwolf. Perdi a cabeça, perdi a noção de tudo quando
senti os lábios firmes dele nos meus.
Meu Deus, que loucura foi aquela?
Deitada na cama e olhando para o teto, eu estava sem acreditar no que havia
acontecido naquele jantar. Primeiro, a descoberta sobre o pai dele e a minha mãe.
Depois, o beijo quente, seguido pelo afastamento frio dele e pelas palavras
ofensivas. Por fim, as duas bofetadas que dei nele e que deixaram a minha mão
doendo.
Virei-me de lado na enorme cama de casal e abracei o outro travesseiro,
sentindo-me muito sozinha. Às vezes era difícil não me entregar à tristeza de não ter
mais a minha mãe comigo, de não poder conversar com ela sobre os meus
problemas, nem ouvir os conselhos amorosos que sempre me dava.
A minha vida havia sofrido uma reviravolta assustadora nas últimas
semanas. Todos os planos que eu tinha foram por água abaixo de uma maneira
vertiginosamente rápida, deixando-me meio perdida. Tudo por causa de Tyler
Blackwolf. Desde que ele surgiu no meu caminho, nada mais ficou como antes.
Além de mudar a minha vida, infelizmente aquele homem detestável havia
se apoderado também da minha vontade e eu me sentia cada vez mais atraída por
ele, o que era, no mínimo, chocante e surreal. Como era possível que eu estivesse
sentindo atração por um homem com quem antipatizei desde a primeira vez em que
o vi e que era tão carrancudo, insensível e frio?
Claro, tinha de ser a idiota da Michelle! E eu ainda o cham ei de Tyler!
Os diabinhos que habitavam o inferno deviam estar rindo muito de mim, e
com razão! Nem eu mesma estava acreditando que me entreguei àquele beijo como
uma paixão tão grande, sem me importar em nenhum instante com o fato de estar
beijando o abominável Lobo Negro de Wall Street.
E ainda fui rejeitada!!! Q ue vergonha.
Vergonha, não! Foi bem-merecido, para eu deixar de ser boba e
idiotamente ingênua.
Eu queria conseguir dormir rápido para me esquecer de tudo aquilo, mas a
minha mente ficava relembrando a sensação dos lábios dele nos meus, o prazer de
estar nos braços fortes, de sentir a excitação evidente do membro contra o meu
corpo. E ele ainda disse que não se excitou o suficiente para querer me foder! Eu
devia ser mesmo muito burra sexualmente, porque achei que ele estava tão fora de
controle quanto eu.
Suspirei, desgostosa comigo mesma. Ainda demorei para conseguir pegar
no sono, mas quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que me lembrei foi do
malfadado beijo e da vergonha monumental que passei.
Conformada, fiquei quietinha esperando para ver se sentiria enjoo naquela
manhã também. Foi com cuidado que me sentei minutos depois, esperando para ver
a reação do meu corpo. Quando nada aconteceu, ergui os olhos para o alto e
agradeci a Deus.
Já era tarde, perto nas nove horas, mas era um bom horário para enviar uma
mensagem ao meu irmão e pedir que me ajudasse a voltar para o meu apartamento.
Na casa de Blackwolf eu não pretendia mais ficar.
Levantei-me e peguei o celular na mesa de canto do quarto, determinada a
enviar uma mensagem para Andrew, mas me assustei com a quantidade de
notificações que havia nele, tanto de ligações não atendidas quanto de mensagens
não lidas.
Mas o que foi qu e aconteceu?
Às pressas, fui verificar de quem era aquilo tudo e não acreditei no que vi,
sentando-me novamente na cama. Não dava para ficar de pé com o horror que eu
estava vendo. Eram centenas de ligações e mensagens de amigos do meu pai, de
antigas amigas da minha mãe, de conhecidas minhas e até da doutora Jane sobre a
falência do banco .
“Michelle, querida, é verdade que o Barton Bank fechou? Estou
preocupada, pois a conta da clínica é de lá e tenho investimentos aplicados com o
seu pai.”
Eu não fazia ideia do que dizer a ela, mas nem tive tempo de pensar. Mal
terminei de ler a mensagem e já entrava uma nova ligação. Apesar de o aparelho
estar no silencioso, como eu sempre o deixava antes de dormir, levei um susto e o
soltei sobre a cama.
Era Nicholas Brooks, o homem com quem o meu pai queria que eu me
casasse, provavelmente querendo saber do paradeiro dele.
Que horror!
Fiquei olhando a chamada até ele desistir e desligar. Logo depois, uma
outra mensagem se juntou às demais que aguardavam leitura e não duvidei de que
fosse dele.
Antes que entrasse outra ligação, peguei o celular e liguei rapidamente para
Andrew.
— Saiu em todos os jornais agora de manhã — ele informou assim que me
atendeu. — O meu celular não para de tocar com clientes querendo saber do
dinheiro deles.
— O meu também, Andrew. Tenho um monte de mensagens para ler e
estou até com receio do que vou encontrar nelas.
— Não atenda nem responda a nenhuma delas.
— Como é que o nosso pai está lidando com isso? O celular dele é que não
deve estar parando de tocar mesmo.
Andrew não respondeu de imediato e um arrepio estranho percorreu o meu
corpo.
— Andrew?
— O nosso pai desapareceu, baby. Evaporou-se como fumaça.
— O quê?! — quase gritei no celular. — Mas... mas como? Você tem
certeza disso? Já procurou nos hospitais, falou com a polícia? Ele pode estar ferido
ou coisa pior.
— Eu não apostaria nisso. Algo me diz que ele fugiu e não foi sem
dinheiro.
A imagem de Blackwolf surgiu como um mau agouro na minha mente.
— Não me diga isso, Andrew. Por favor, isso não.
— Mas é a coisa mais certa de ter acontecido. Acho até que ele tinha um
esquema de fuga já montado há algum tempo e que planejou muito bem cada passo
que daria quando chegasse o momento. Ele nem em casa pisou ontem, nem para
dormir. Quando saiu do escritório no final da tarde, já foi com um destino certo, mas
desconhecido para nós. Tive a curiosidade de procurar o passaporte dele e não
encontrei, Michelle. Outros documentos importantes também desapareceram. Algo
me diz que em breve teremos más notícias do tribunal quando o banco passar por
uma auditoria.
Aquilo só aumentou a minha vontade de sair da casa de Blackwolf.
— Eu quero sair daqui, Andrew. Quero voltar para o meu apartamento.
— Eu não aconselho, ainda mais agora. Você está mais segura aí.
— Isso é porque você não sabe o que aconteceu ontem.
Contei tudo para ele sobre o pai dele e a nossa mãe, mas omiti a parte do
beijo. Andrew soltou um longo assobio de incredulidade quando terminei.
— Agora eu entendo a raiva do nosso pai toda vez que ouvia falar de
Blackwolf e do BW Group .
— E vice-versa. Blackwolf sempre destilou ódio quando falava do nosso
pai.
— Que ironia do destino você agora estar grávida do filho dele.
Dobrei as pernas e apoiei a cabeça nos joelhos, desconsolada.
— Estando grávida de um filho dele ou não, quero sair daqui.
— Eu não acho que isso seja motivo para você se expor em um momento
tão crítico como o que estamos passando agora. A menos que ele tenha maltratado
você, faltado ao respeito ou feito algo pior. Isso aconteceu?
— Não, fique tranquilo. Já lhe disse que ontem dei duas bofetadas na cara
dele e nem assim Blackwolf me agrediu. Quero sair daqui porque estou cansada de
tanto ódio, que vai ficar pior se o nosso pai realmente desviou dinheiro para um
paraíso fiscal qualquer.
— Se o nosso pai fez isso e o fato vier à tona, o melhor lugar para você é
justamente aí, Michelle. Eu até traria você para morar comigo, mas nem tenho onde
morar agora. — Riu com amargura. — A mansão será confiscada e os outros
imóveis também. Mesmo se não fossem, eu me sentiria na obrigação de vender tudo
para tentar ressarcir parte do dinheiro dos clientes. Vou ficar por um tempo na casa
de John, mas você sabe que ele passou a morar com a mãe depois do divórcio e não
há espaço lá para mais ninguém.
— Acha que o meu dinheiro também será confiscado?
— Como o seu dinheiro está em uma conta do banco de Blackwolf,
acredito que não. Na verdade, tudo depende da boa vontade dele. Agora é ele quem
manda em tudo e quem tem o poder de decisão sobre o que nós dois teremos ou
deixaremos de ter.
— Eu já ia propor que fôssemos morar juntos no meu apartamento.
— Também pensei nisso, mas primeiro precisamos esperar as decisões do
tribunal e de Blackwolf. Sair daí agora não seria a melhor decisão, mas se você fizer
mesmo questão, eu enfrento o que for ao seu lado, baby.
Emocionei-me com o amor dele e foi aquele amor que me ajudou a tomar
uma decisão.
— Obrigada por me apoiar, Andrew, mas você tem razão. Vou aguardar o
desenrolar dos fatos nos próximos dias para decidir o que fazer. Talvez seja melhor
mudar de número ou nunca mais deixarei de receber ligações e mensagens.
— Isso é fácil de resolver. Vou pedir a John para levar um cartão novo para
você. Só não vou eu mesmo, porque estou à procura do nosso pai e ainda tem muito
o que fazer aqui no escritório. Substitua o cartão no seu aparelho e está resolvido.
— O que digo para a doutora Jane? Não posso simplesmente ignorar a
mensagem dela.
— A compra do Barton Bank pelo BW Group ainda não foi divulgada e
não podemos nos adiantar nas informações. Blackwolf pode voltar atrás no
momento em que quiser e ficaremos mal. Diga a ela que vai falar comigo e que
cuidarei pessoalmente de ver tudo, mas não posso dar garantias agora, Michelle.
— Ai, meu Deus, que situação! Vou conversar com ela. Depois me dê
notícias sobre o nosso pai.
— Pode contar com isso, baby. Cuide-se e ao meu sobrinho.
Capítulo 27
Tyler
D esliguei o celular, olhando pensativamente para o aparelho.
Mas o que é que John Marshall quer c om Michelle?
Miles havia acabado de me informar que John tinha ido novamente visitá-
la, mas daquela vez estava sozinho, sem o Andrew. Imaginar que o interesse dele
fosse amoroso estava me deixando estranhamente inquieto e simplesmente detestei a
sensação.
Dei ordens para me informarem assim que ele fosse embora, mas a tarde
avançou sem nenhuma outra ligação de Miles, o que significava que John
continuava com ela.
Horas depois, percebi, atônito, que não conseguia me concentrar no
trabalho, o que era estarrecedor. Eu não me lembrava de quando foi que alguém foi
capaz de me desconcentrar do trabalho e comprovar aquilo me deixou mais
preocupado ainda.
Eu não era homem de fingir não perceber as coisas ou de fugir da realidade.
Sempre encarei tudo de frente, sem temor, sem dramas. O importante era resolver a
situação o mais rápido possível, sem deixar para depois. Sempre foi assim comigo e
não ia deixar de ser justamente agora com Michelle.
Peguei o celular e liguei para ela. Estranhamente, caiu na operadora. Tentei
outra vez, dando no mesmo. Após insistir várias vezes, não tive dúvidas de que o
celular de Michelle estava desligado, a menos que ela houvesse me bloqueado.
Insisti com o meu outro número, mas foi igual.
Liguei imediatamente para Ruth.
— Aconteceu alguma coisa com o celular de Michelle?
— Não estou sabendo, mas posso perguntar a ela, Tyler.
— Não, não precisa. Falarei com ela quando chegar. John Marshall ainda
está aí?
— Está. Acabei de servir um lanche para os dois.
Apertei o celular com mais força.
— Obrigado, Ruth.
Desliguei, lutando para controlar as emoções que se digladiavam no meu
peito. De um lado, havia a surpresa de me sentir incomodado com a visita de John.
No lado oposto, estava a raiva de mim mesmo por permitir que Michelle me
abalasse daquele jeito .
Voltei ao trabalho, mas foi em vão tentar me concentrar quando a mente
não parava de pensar nela. Decidi ir para casa antes do meu horário normal. Os
meus assessores entrariam em contato comigo se fosse necessário.
Depois do jantar da noite anterior, eu havia decidido não procurar Michelle
durante um bom tempo, vendo-a apenas na consulta com a médica. Tudo em vão.
Acabei parando o elevador no andar dela, em vez de ir direto para a minha
cobertura.
Não encontrei ninguém na sala e fiquei tenso ao imaginar que estivessem
no quarto. Eu me negava a analisar as motivações que me deixaram enraivecido
diante daquela possibilidade. Com passadas firmes, percorri as salas do andar
inteiro, encontrando-os sentados no sofá do terraço.
A raiva que eu estava tentando controlar cresceu quando os vi abraçados.
Michelle estava com as pernas dobradas em cima do sofá e totalmente apoiada no
peito dele, que a abraçava pelos ombros. Era uma posição de intimidade, reafirmada
pela conversa sussurrada em tom de confidência.
Cerrei os punhos, incapaz de controlar os meus batimentos cardíacos, que
aumentaram de ritmo quando a raiva se espalhou pelo meu corpo. Neguei-me a
analisar os meus sentimentos, só sabia que não a queria sendo abraçada por outro
homem.
— Boa tarde — cumprimentei de mau humor.
Ambos aprumaram o corpo e me olharam com surpresa. Michelle colocou
as pernas no chão e se levantou. Aquela era a primeira vez que nos víamos depois do
beijo do jantar da noite anterior e me forcei a não fixar os olhos nos lábios carnudos
e rosados, para não me lembrar do sabor viciante que tinham.
Que merda, eu a quero!
John se levantou também e o encarei diretamente, sem disfarçar o
desagrado de o ver ali.
— Boa tarde, Blackwolf. Este é John Marshall, um amigo de família. —
Michelle fez as apresentações. — John, este é Tyler Blackwolf.
— Já estivemos em alguns eventos, mas nunca o cumprimentei diretamente
— o homem disse, estendendo a mão para mim. — Muito prazer.
— Prazer também — cumprimentei-o com um aperto de mãos, que ele
correspondeu com firmeza, e virei-me a seguir para Michelle. — Liguei para você,
mas não me atendeu.
Ela me encarou como se estivesse surpresa por eu a ter procurado depois do
que havia acontecido na noite anterior. Na verdade, nem eu acreditava que estava
fazendo aquilo, quando prometi a mim mesmo que não faria.
— Eu troquei de número por um tempo. O outro está desativado.
Franzi a testa, estranhando aquela mudança.
— E por quê?
Ela ergueu os ombros em um gesto de pouco caso.
— Porque quis. O número é meu e faço o que quiser com ele.
Foi uma resposta para me desafiar e não a verdadeira.
— Quero saber o motivo.
— Ela diz se quiser — John interferiu, piorando o meu estado de espírito.
Cravei um olhar duro nele.
— Se eu quisesse a sua opinião teria perguntado. Aconselho a não se meter
na minha conversa com ela.
Aquilo era o mesmo que dizer que não se metesse com Michelle. Não
precisei falar e não tive dúvida alguma de que ele entendeu muito bem. O olhar com
que me encarou já dizia tudo.
— Blackwolf! Não admito que fale assim com John! — Michelle exclamou
com indignação, defendendo-o. — Você está sendo rude e descortês.
— E ele está se metendo onde não deve e com a pessoa errada — falei
calmamente, sem me importar em ser mais rude ainda. — Agora me diga por que
mudou de número.
— Acha mesmo que vou dizer?
— Ela está sendo assediada por correntistas do banco — John se adiantou
em uma resposta, pegando a mim e a Michelle de surpresa. — Alguns, inclusive,
estão sendo ameaçadores.
— John! — Michelle reclamou, chateada.
O homem a olhou com uma expressão séria.
— Blackwolf pode estar sendo rude, grosso e mal-educado, mas reconheço
que ele precisa saber do que está acontecendo para cuidar melhor de você quando
não estivermos ao seu lado.
Lancei um olhar reprovador para Michelle.
— Foi uma insensatez da sua parte querer me esconder isso.
— Nada disso estaria acontecendo se você não tivesse manipulado todo
mundo para impedir que o meu pai salvasse o banco. Não foi só a minha família que
você destruiu, mas milhares de famílias, tanto de funcionários como de correntistas,
investidores e acionistas.
Esforcei-me para não perder a paciência com ela, lembrando-me que estava
grávida do meu filho. Amenizei o tom de voz, mas não deixei de falar a verdade.
— Quantas vezes vou repetir que o seu pai afundou o banco sozinho, que
desviou dinheiro para fins pessoais e que é o único responsável pela queda do
Barton Bank?
— Mas ele podia ter conseguido salvar o banco com a fusão, só que você
não permitiu isso.
— Salvar para quê, Michelle? Para ele continuar roubando o dinheiro das
pessoas? — Tentei fazê-la entender o que realmente havia acontecido. — O seu pai
criou uma bola de neve que ia estourar mais dia, menos dia.
— Não o acuse sem provas.
— E quem lhe disse que não as tenho? — Olhei para John Marshall. — Se
você é minimamente competente no seu cargo, sabe muito bem do que estou
falando.
O homem ficou vermelho, mas não negou o óbvio.
Virei-me para Michelle, a quem eu esperava poupar de tanto estresse. Ela
havia engravidado em um momento crítico e tenso demais, tanto para mim quanto
para ela, mas eu não ia permitir que os problemas do banco prejudicassem o meu
filho.
— Os ânimos vão se acalmar assim que for anunciada a compra do Barton
Bank pelo BW Group. Infelizmente, a informação da falência vazou antes do
anúncio da compra, mas não tive culpa disso. Sempre há alguém vendendo
informações para a imprensa, por mais cuidado que tenhamos ao lidar com assuntos
delicados como esse.
Ela pareceu se acalmar ao ouvir a minha explicação.
— Quando isso vai acontecer? É que até a doutora Jane me procurou,
preocupada com o dinheiro dela. Me sinto mal com tudo isso.
— Não se sinta, porque não tem culpa. O anúncio deveria sair assim que a
análise das reais condições financeiras do banco fosse concluída, mas agora estamos
tentando que saia antes, para evitar instabilidade no mercado. Quero o seu número
antigo para saber quem está ameaçando você.
Ela olhou para John e trinquei os dentes para não reagir mal àquela troca de
olhares.
— Dê, Michelle. É melhor — ele aconselhou, mas notei que foi de má
vontade.
— Vou pegar no quarto.
Michelle saiu do terraço e me virei de frente para John. Estava na hora de
esclarecer as coisas entre nós dois.
— O que você quer com ela? — Fui objetivo e direto, sem meias palavras.
Ele sustentou o meu olhar pensativamente, como se analisasse se deveria
falar a verdade ou não. De repente, a expressão se tornou mais decidida ao me
encarar.
— O que eu quero é com o Andrew e não com a Michelle.
Levei apenas alguns segundos para entender o que ele disse e a merda da
tensão que eu sentia se evaporou no instante seguinte.
— E ele já sabe disso?
— Sabe, mas ainda não quer assumir publicamente.
Senti o drama da relação dos dois, já sabendo que não ia ser fácil o que
enfrentariam.
— Boa sorte — desejei, simpatizando mais com o homem.
— Desejo-lhe o mesmo.
Surpreendi-me com o comentário.
— E por quê?
— Você gosta dela. Ficou com ciúmes quando nos viu juntos.
Gelei ao ouvir de outra pessoa o que eu não queria admitir nem para mim
mesmo. Encobri o que sentia com uma expressão impassível.
— Você está enganado. Ela está com o meu filho e esse é o único interesse
que tenho em Michelle.
Um meio sorriso curvou seus lábios.
— Se você quiser continuar se enganando o problema é seu, mas a mim não
engana. Só tenha cuidado para não magoar a Michelle. Ela ainda não se recuperou
totalmente da depressão com a perda da mãe e está muito frágil. Merece um homem
forte ao lado, mas não alguém que termine de destruí-la.
Michelle surgiu na entrada do terraço e não respondi nada, nem sabia se
responderia caso ela não tivesse chegado.
— Está aqui com a senha. Me devolva depois.
Peguei o celular e me despedi dos dois, saindo sem olhar para trás.
Ciúmes? O que senti foi ciúmes?
Impossível! Eu nem sabia o que era aquilo. Emoções daquela natureza não
faziam parte da minha vida e não seria a filha de Colin Barton que mudaria o meu
jeito de ser.
Capítulo 28
Michelle
O bservei Blackwolf sair do terraço com o andar autoconfiante e a postura
altiva de sempre. Se hoje eu não o conhecesse um pouquinho melhor do que antes,
diria até que era um homem arrogante, mas não era de todo.
— Ele gosta de você e ficou com ciúmes.
Hã?!
Virei-me para o John, que só podia ter surtado. Se ele agora estivesse dando
cambalhotas no meio do terraço, não teria me surpreendido mais do que com aquele
comentário sem noção.
— Quem, o Blackwolf? — Explodi em uma gargalhada, meneando a
cabeça. — Você surtou, só pode.
Ele riu, mas foi um sorriso de quem tinha certeza do que dizia.
— Não surtei, garanto. Este homem está mais interessado em você do que
deixa transparecer e é compreensível que resista ao que sente. Afinal, você é a filha
do arqui-inimigo dele.
Lembrei-me da vergonha que passei com Blackwolf durante o jantar da
noite anterior. Quando ele me despachou não foi por causa do meu pai, mas porque
não se sentia excitado o suficiente comigo para continuar.
John estava vendo coisas onde não existiam.
— De onde você tirou essa ideia estapafúrdia, John? Blackwolf me detesta,
não me suporta, é sempre cínico e frio comigo. Ele só aguenta a minha presença
aqui por causa do filho que pensa que vai tirar de mim.
— Não acho isso. Inclusive, acredito que você possa virar o jogo a seu
favor na hora em que quiser.
Ou eu era muito ingênua ou muito burra.
— Não sei como, mas obrigada pelo conselho.
— Estou falando sério. — John voltou a se sentar no sofá e fiz o mesmo. —
Ele nunca tentou nada com você?
Eu confiava totalmente em John e não vi motivo para esconder a verdade.
— Ele me beijou, mas se afastou logo depois e estava tão frio quanto uma
pedra de gelo. Fui vergonhosamente dispensada. Sabe aquilo de “provei e não
gostei”? Pois foi exatamente assim.
John analisou o que eu disse com uma expressão pensativa.
— Você vai ter de quebrar o gelo dele — concluiu com um ar de sabedoria.
— E vou fazer isso para quê? — Encolhi os ombros, sem entender a
finalidade daquilo. — Para ser dispensada de novo? Deus me livre!
— Você gostou do beijo? — Ele quis saber com seriedade.
Vacilei na hora de confirmar.
— Não vou negar que gostei.
Gostar era pouco. Eu havia adorado!
— Então não custa nada tentar para ver no que vai dar. Se a minha teoria
estiver certa, Blackwolf não vai resistir. Em algum momento vai se entregar ao que
sente.
— E o que é que ele sente? Raiva, irritação? — Fui irônica.
— Atração, desejo, tesão. No tempo certo ele vai admitir.
— Enquanto isso, vou levando fora atrás de fora.
John riu, abraçando-me.
— O amor é um risco e garanto que sempre vale a pena arriscar.
— Oh, John! Você é um romântico!
— E você também é. Vá por mim, baby. Tenho um feeling que me diz que
você vai colocar uma coleira no Lobo Negro de Wall Street.
Daquela vez gargalhei alto e com gosto, divertindo-me muito.
— Nem tenho roupa para esse evento.
Tyler apareceu para me pegar na noite das bodas de pérola usando um traje
black tie de corte perfeito. O smoking elegante só o tornava mais másculo e atraente.
O cabelo preto penteado para trás e a barba bem aparada completavam o visual
arrasador daquele homem enigmático.
Da minha parte, escolhi um vestido longo da Gucci no estilo strapless 21 ,
cujo decote pronunciado favorecia os meus seios maiores da gravidez e o azul
marinho do tecido contrastava com o meu tom de pele. Decidi usar um conjunto de
colar e brincos de diamantes que ganhei de presente da minha mãe no meu
aniversário de vinte e um anos. Eu só ia sofrer um pouco com os saltos altos, mas
não havia como evitar.
Assim que Tyler chegou, senti o olhar intenso percorrer o meu corpo por
completo, detendo-se por mais tempo no meu busto que o modelo destacava.
— Não sabia se você teria alguma joia para usar hoje e acabei por escolher
estas. — Ele me surpreendeu ao tirar um estojo de dentro do smoking e me oferecer.
— Veja se gosta.
Toquei o colar que estava no meu pescoço, olhando abismada para o estojo
na mão dele.
— Já estou usando as minhas joias, mas obrigada.
— Se gostar dessas, também serão suas. Comprei para você.
Eu ia negar, mas seria o cúmulo da falta de educação se eu não
demonstrasse o mínimo de interesse. Blackwolf teve o cuidado de não me deixar
sem uma joia para usar em um evento social importante, onde todas as mulheres
estariam exibindo o que de mais caro possuíam.
— Obrigada, Blackwolf.
Peguei o estojo e abri, inspirando fundo quando vi o colar e os brincos
lindíssimos de safiras azuis e diamantes que ele estava oferecendo-me.
— Meu Deus, são lindos! — exclamei, sem conseguir esconder a
admiração.
— Deixe-me ajudar. — Ele pegou o colar da caixa. — Vire-se, Michelle.
Nem questionei, ainda em choque com o presente que ele havia me dado.
Fiquei de costas e puxei o cabelo solto para a frente, sentindo os dedos firmes
abrirem o meu colar e substituírem pelo dele.
O arrepio de prazer que percorreu o meu corpo sob o toque das mãos
masculinas foi tão intenso que fechei os olhos, dando graças a Deus por estar de
costas para ele.
— Deixe-me ver como ficou — Blackwolf pediu e achei que a voz grave
estava mais enrouquecida do que o normal.
Fiquei de frente para ele, cujo olhar deslizou pelo meu busto antes de se
fixar no colar.
— Perfeitos. — O elogio parecia ser mais para os meus seios do que para o
colar e pensei se estava vendo nele um desejo que era meu. — Use-os hoje.
Sem condições alguma de falar, tirei os meus brincos simples de diamantes
e coloquei os de safira, usando o mesmo estojo para guardá-los com o colar que
ganhei da minha mãe.
Blackwolf olhou com aprovação para o resultado final.
— Agora podemos ir.
Coloquei o estojo sobre a mesa de centro da sala e aceitei o braço que ele
educadamente me ofereceu como apoio.
A mansão de Bill e Rebecca Stamford parecia a bolsa de valores de tantos
investidores que identifiquei assim que chegamos na entrada do grande salão onde a
festa das bodas acontecia. Todos os conhecidos do meu pai pareciam estar presentes
com suas esposas e contive um suspiro conformado por ter de enfrentá-los.
De mãos dadas com Blackwolf, observei o salão lotado com as mesas
completamente ocupadas por figuras ilustres da sociedade novaiorquina.
— Vai ser uma longa noite — comentei ironicamente.
Blackwolf colocou a minha mão no braço dele, apertando-a em um gesto
significativo de apoio.
— Posso dizer que todos aqui têm dinheiro investido comigo e vão tratar
você muito bem, esteja comigo ao lado ou sozinha. Agora vamos.
E foi de braços dados que entramos na festa, chamando a atenção imediata
de todos.
— Você está roubando a cena.
Ele não se abalou em nada, agindo com a autoconfiança de sempre.
— “Estamos” — corrigiu-me. — E esta é a intenção.
Mal demos dez passos, já pude comprovar o tamanho do poder daquele
homem. À medida que passávamos pelas mesas, gradativamente todos os homens se
levantavam para o cumprimentar com um aperto de mãos e um sorriso que refletia
respeito e admiração genuínos por Blackwolf.
— Acredito que já conheça Michelle Barton — ele dizia.
— Claro que conheço! É um prazer vê-la de novo, Michelle.
Fossem os homens, suas esposas, os filhos ou namoradas, todos me
cumprimentaram. Blackwolf ia me apresentando a cada um deles depois dos
cumprimentos iniciais. A mão só soltava a minha se fosse para envolver a minha
cintura ou ficar pousada no meio das minhas costas. Um toque íntimo que me
abalava mais do que eu gostaria.
— Meu Deus! Estou impressionada ao ver como todos estão quase beijando
os meus pés.
— É bom que beijem o chão onde você pisa — rosnou ao meu lado com
uma seriedade tão grande que me impressionou ainda mais.
Apesar de o percurso até a mesa reservada para Blackwolf ser pequeno,
demoramos quase trinta minutos para chegar lá. A posição era privilegiada e ao lado
da mesa da família Stamford. Sentados nela, havia um casal que eu não conhecia.
Contudo, antes que fôssemos apresentados, Rebecca Stamford se aproximou para
nos cumprimentar.
Era uma senhora muito elegante e bem cuidada, que não aparentava os mais
de cinquenta anos que devia ter.
— Tyler, como estou feliz que tenha conseguido vir. — Ela o abraçou com
evidente carinho.
— Eu não deixaria de vir por nada, Rebecca.
Ela olhou para mim por sobre o ombro dele e sorriu.
— Você trouxe a Michelle! — A senhora Stamford veio me abraçar logo a
seguir, dispensando a necessidade de apresentação dele. — Você ficou tão linda
quanto Margaret, minha querida.
— Obrigada, senhora. E parabéns pelas bodas de pérola.
— É algo que está se tornando tão raro hoje em dia que temos de
comemorar — brincou, piscando um olho para nós dois.
Ela era encantadora e entendi perfeitamente como havia conseguido chegar
a um marco tão importante de um casamento quanto aquele.
O marido se aproximou de onde estávamos, cumprimentando Blackwolf
com um abraço e palmadinhas nas costas.
— Tyler! Então já chegou.
— Há alguns minutos e devo dizer que essas bodas de pérola vão marcar a
história. Parece que Wall Street inteiro está aqui.
Bill Stamford soltou uma risada.
— Vamos abrir o pregão daqui a pouco.
Os dois riram da brincadeira, mostrando o quanto o relacionamento que
cultivavam ia além dos negócios.
— Bill, ele trouxe a filha de Margaret. — A senhora Stamford puxou o
marido pelo braço. — Veja só como ela cresceu rápido e ficou a cara da mãe.
— Você tem razão, Becca. Está muito parecida com Margaret. — Ele me
cumprimentou com dois beijos no rosto. — Seja bem-vinda à nossa casa, minha
querida.
— É um prazer para mim. É a primeira vez que compareço a uma boda de
pérola e estou encantada com tudo.
— Um dia terá a sua também.
— Quem, eu?! — Não pude deixar de rir. — Não sei se consigo.
— Consegue, sim. Tyler só é duro por fora.
Fiquei tão chocada que nem consegui disfarçar a tempo.
— É melhor você parar com essa conversa, Bill. Daqui a pouco Michelle
vai me pedir em casamento — Blackwolf ironizou.
E ngraçadinho!
— Ele só está falando isso porque já neguei vários pedidos de casamento
dele — cochichei em tom de confidência para Bill e Rebecca.
Os dois caíram na risada e joguei um olhar de desafio para Blackwolf, que
meneou a cabeça com um sorriso de admiração nos lábios.
— Touch é , Michelle.
— Vocês são perfeitos um para o outro. — Bill Stamford voltou a dar
palmadas nas costas de Blackwolf. — Você encontrou uma mulher à altura da sua
personalidade, meu caro.
Preferi não comentar nada sobre aquela última observação. Blackwolf usou
a sua notória capacidade de conduzir as pessoas e mudou sutilmente o tema da
conversa para outros assuntos. Com mais alguns minutos, o casal se despediu para
dar continuidade à solenidade das bodas de pérola e pudemos nos dirigir para a
mesa.
Nela, um homem de rosto redondo e óculos estava sentado ao lado de uma
mulher morena muito bonita.
— Este é o meu primo Gary Mitchell e a esposa — Blackwolf apresentou.
— Gary e Melody, esta é Michelle Barton.
Os cumprimentos foram efusivos e gostei muito do casal. Melody era
enfermeira e Gary era ginecologista.
— Gary tem uma clínica de reprodução humana — Blackwolf explicou
depois que começamos a conversar. — Na verdade, foi ele quem me indicou a
Fertile Future.
O que significava que devia saber do erro e da minha gravidez.
— E me arrependi amargamente da indicação que dei.
Com aquele comentário, Gary confirmou as minhas suspeitas. Empurrando
os óculos sobre o nariz, ele olhou para mim com um sorriso que achei bondoso.
Aparentava ter a idade de Blackwolf.
— Está gostando de morar na casa do meu primo? Espero que ele não
esteja dando muito trabalho. Sei que Tyler não é um homem muito fácil de lidar.
Senti que a preocupação dele era genuína e aprovei que não tivesse receio
de falar o que pensava na frente do primo poderoso. Por sua vez, Blackwolf apenas
bebeu mais um gole de whisky, sem parecer incomodado com o que Gary viesse a
falar sobre ele.
— Estou gostando muito de morar lá. Nós dois temos nos entendido muito
bem.
Ao falar aquilo, percebi que era a mais pura verdade. Apesar das
divergências de opinião que tivemos, sempre conseguimos nos entender depois.
— Qual é a sua clínica, Gary?
Ele abriu um sorriso de orgulho.
— É a Plan Life.
— Oh, mas eu conheço! — exclamei sem esconder a surpresa. — Foi uma
das que a doutora Jane cogitou de me indicar.
Ele meneou a cabeça em um gesto que achei bastante humilde.
— Sinto-me honrado que uma profissional como a doutora Jane Young
tenha pensado em indicar a minha clínica. Ainda somos novos no mercado, se
comparados com a Fertile Future.
A conversa continuou entre nós quatro de uma maneira muito agradável,
mas era interrompida de tempos em tempos por outras figuras ilustres que se
aproximavam para falar com Blackwolf. Fossem investidores, empresários ou
políticos, todos pareciam ter algo a dizer para ele. Nem o meu pai tinha tantos
contatos importantes assim como eu estava vendo com Blackwolf, principalmente
com homens do governo e da política.
No geral, a festa em si acabou por se tornar bem melhor do que eu
esperava. Ao meu lado, a presença marcante daquele homem enigmático não me
deixava esquecer da forte atração que sentia por ele e que a cada momento parecia
crescer.
Era impressionante a mudança ocorrida no nosso relacionamento desde que
nos conhecemos.
Talvez a convivência esteja mudando a nós dois de um jeito que nem
percebemos.
Como eu nunca havia participado de uma festa de aniversário de
casamento, uma vez que os meus próprios pais nunca comemoraram nenhuma das
datas do casamento deles, achei linda a cerimônia de confirmação dos votos
matrimoniais que aconteceu cerca de uma hora depois. Em sequência, o casal
dançou uma valsa muito romântica e até suspirei de tão emocionada que fiquei. Era
visível o amor que Bill e Rebecca sentiam um pelo outro.
Só depois foi que a festa propriamente dita começou, com o salão de dança
sendo aberto para todos acompanharem o casal ao som da música tocada ao vivo por
uma banda, cujo vocalista cantava divinamente.
Bill e Rebecca fizeram um sinal para a nossa mesa, chamando-nos para
participar. Pensei que Blackwolf fosse negar, mas foi com naturalidade que ele se
levantou e me ofereceu a mão, ajudando-me a me levantar também.
Gary fez o mesmo com Melody e fomos para a pista de dança improvisada,
misturando-nos com os outros convidados que dançavam.
Tentei não me abalar ao ser envolvida pelos braços de Blackwolf quando
começamos a dançar ao ritmo da música lenta que tocava. Achei que ele não tivesse
jeito para a dança, mas o homem parecia alcançar a perfeição em tudo o que fazia.
Até dançando os passos eram confiantes e a pegada era firme.
Mesmo usando saltos altos, tive de erguer o rosto para falar com ele.
— Estou surpreendida que você dance tão bem.
— Faço outras coisas igualmente bem, Michelle — ele troçou da minha
surpresa. — Não sou bom apenas em investir dinheiro e levar empresas à falência,
como dizem por aí.
— Não há nada melhor do que saber o que falam de nós.
— Sei de tudo o que dizem de mim.
— Ah, claro. Me esqueci que você controla o mundo — alfinetei.
O que recebi foi um olhar enigmático.
— Controlo o mundo ao meu redor e de quem me interessa.
Tentei não levar aquilo para o lado pessoal, achando que ele tinha interesse
em mim. Blackwolf era obcecado pelo filho e não pela mãe dele. Eu já havia tido
provas suficientes daquilo para me iludir novamente.
Contudo, para contradizer o que eu pensava, nossos olhares se cruzaram e a
mão grande no meio das minhas costas desceu até a cintura, atraindo-me para mais
perto dele. Não foi nada explícito demais, mas pude sentir a virilidade do corpo
masculino por inteiro.
A intimidade do gesto me fez inspirar fundo de tão intensa que foi a
sensação e me vi incapaz de resistir. Fosse por carência ou por outro motivo
qualquer, fechei os olhos e apoiei levemente a cabeça no ombro dele, aproveitando o
momento enquanto ele existia. Eu sabia que depois tudo voltaria ao que era e aquele
instante se perderia no tempo, transformando-se em uma lembrança boa do passado.
— É muito cansativo para você ficar tanto tempo em pé com esses saltos
altos?
A pergunta me trouxe de volta à realidade.
— Um pouco, mas a festa está valendo a pena. Bill e Rebecca são mesmo
especiais e adorei presenciar a felicidade deles. Tudo muito diferente do casamento
dos meus pais, onde não havia amor.
Blackwolf não comentou nada, mas minutos depois sugeriu que
voltássemos à mesa para que eu descansasse um pouco.
Gary e Melody pareciam estar esperando apenas aquele sinal para voltarem
à mesa também e logo entendi o porquê.
— Preciso ir ao banheiro, Michelle. Vem comigo? — Melody pediu em um
sussurro assim que se sentou ao meu lado.
— Claro que sim. Vamos. — Virei-me para Blackwolf. — Volto já.
Ele me olhou com a testa franzida, mas entendeu do que se tratava quando
viu Melody se levantar.
— Tenha cuidado.
Eu desconfiava que Blackwolf seria um pai superprotetor. Só esperava que
não fosse também castrador. O filho ainda nem havia nascido e ele já o cercava de
cuidados excessivos.
— Não se preocupe. O seu filho está bem.
Ele segurou a minha mão sobre a mesa e me olhou com a fisionomia muito
séria.
— São os dois. É você e ele!
Arquejei com a força daquele olhar e as implicações do que disse.
Não se iluda, Michelle. Três rejeiçõ es é demais.
— Nós dois estamos bem. Volto já.
Levantei-me e fui com Melody até o banheiro. Não demoramos muito lá,
mas quando saímos havia uma surpresa para mim do lado de fora.
Um homem se aproximou assim que começamos a percorrer o corredor de
volta ao salão onde acontecia a festa e quase não acreditei quando o reconheci.
Era Nicholas Brooks, o homem com quem o meu pai queria que eu me
casasse.
Capítulo 33
Tyler
A companhei Michelle com o olhar à medida que ela se afastava pelo salão
na companhia de Melody. Ela estava linda com aquele vestido sem alças, que
valorizava na perfeição o busto sensual. Assim que entrei na sala de estar do andar
dela e a vi levantando-se do sofá, senti o abalo que a presença daquela mulher
causava em mim.
Eu prestava atenção em tudo nela, absolutamente tudo. Nada escapava à
necessidade de que passei a sentir de esmiuçar detalhadamente cada gesto que ela
fazia, cada emoção refletida nos olhos azuis, cada mudança que o corpo delicado
começava a ter devido à gestação do meu filho. Ela havia me enfeitiçado de uma
maneira tão sutil que a princípio nem notei. Quando realmente vim perceber, já era
tarde demais para arrancar de dentro de mim a obsessão que desenvolvi por ela.
Merda! Mas que g rande merda!
Eu não podia e nem ia me envolver seriamente com Michelle Barton.
Precisava vê-la apenas como a mãe do meu filho, a mulher com quem seria obrigado
a dividir a atenção e o tempo dele, mas que nunca faria realmente parte da minha
vida.
O meu olhar desceu pelas costas esguias dela e se prendeu no rebolado
naturalmente sensual dos quadris, onde as nádegas redondas chamavam a atenção. O
meu pau se contraiu diante da visão e afastei a vista rapidamente.
Dei de cara com Gary sentado à minha frente na mesa, cujo olhar me
observava com preocupação.
— Você está apaixonado por ela.
Aprumei o corpo, mantendo o rosto impassível.
— Não seja romântico, Gary. Garanto que não estou — afirmei, bebendo
um gole do meu whisky.
— Está, sim. Nunca o vi tratar uma mulher como trata a Michelle.
Fiquei fodido comigo mesmo por ter deixado transparecer qualquer tipo de
interesse por ela.
— Ela está grávida, lembra-se? Não se esqueça que aquela mulher está com
o meu filho na barriga. Você mesmo me acusou de estar tratando Michelle como se
ela fosse um homem de negócios e não como uma mulher grávida, que exige mais
cuidados. Agora está reclamando.
Gary apenas me analisou atentamente com a mesma expressão preocupada.
— Sei o que digo. Só peço que se lembre que ela não merece sofrer pelos
erros do pai. Não se vingue nela.
Olhei-o duramente.
— Eu jamais faria isso com Michelle e me espanta que pense tão mal assim
de mim, Gary.
— Não é nesse sentido que estou falando, Tyler! — impacientou-se,
fazendo um gesto na direção de onde ela havia acabado de desaparecer com a
esposa. — Michelle corre o risco de se apaixonar por você e depois sofrer quando o
seu ódio pelo pai dela o impedir de enxergar que também está apaixonado.
Daquela vez quem perdeu a paciência fui eu. Apesar de Gary ser meu
primo e único amigo verdadeiro, não gostei de ter alguém interferindo no meu
relacionamento com Michelle.
— Lembre-se que você está falando com um homem que não dá valor
nenhum a esse romantismo piegas de estar apaixonado. Para mim, uma mulher
precisa me satisfazer na cama e só. Não tem isso de estar apaixonado, de sofrer por
amor, de amar “até que a morte nos separe”. Para minha sorte, nem sei o que é isso!
— “Isso”, como você fala, é “estar apaixonado”, Tyler. Amamos a mulher
que acelera os nossos batimentos cardíacos, que toma conta do nosso pensamento
quando não está ao nosso lado, que nos faz rir até de bobagens, a quem queremos
proteger de tudo e que nos faz querer matar quem a magoar. Fora isso, ela tem o
poder de nos excitar com um único olhar e de nos dar orgasmos incríveis na cama
que nenhuma outra consegue. Isso é amor!
Foda-se, caralho!!! Não pode ser amor. Não vou me apaixonar pela filha
de C olin Barton!
Determinado a colocar um ponto final naquela conversa, soltei uma risada
cínica, lançando um olhar indulgente para ele.
— Você é mesmo um romântico assumido, Gary. Vê amor em todo lado.
— Bebi calmamente mais um gole do meu whisky antes de continuar. — Aprendi a
gostar dela, mas como mãe do meu filho. Você sabe que não tive escapatória além
de aceitar Michelle nessa função de mãe. Vejo-a como se fosse uma barriga de
aluguel que contrataria para gerar o meu filho e nada mais. Sinto decepcioná-lo, mas
não estou apaixonado. Não sei o que é isso e pretendo continuar sem saber.
Capítulo 34
Michelle
— B oa noite, Michelle — Nicholas me cumprimentou, parando à minha
frente com os olhos presos no meu decote.— Há dias que tento falar com você e não
consigo.
Eu não estava disposta a conversar com ele, muito menos a responder
qualquer pergunta que tivesse para me fazer, mas a boa educação me impedia de
simplesmente virar as costas e seguir em frente.
— Nicholas, esta é Melody Mitchell — apresentei-a, virando-me depois
para ela. — Nicholas Brooks é um amigo do meu pai.
Eles dois se cumprimentaram, mas Nicholas ignorou-a logo a seguir,
dirigindo-se a mim.
— Liguei várias vezes nos últimos dias, Michelle. Por que não me atendeu?
E por que deveria?
O tom exigente era desproposital, além do fato de eu não ter nenhuma
obrigação de o atender.
— Mudei de número e provavelmente nem vi suas ligações, mas poderá
falar com Andrew. Ele está resolvendo tudo dos negócios do meu pai.
Nicholas se virou para Melody.
— Pode nos deixar a sós por um momento? Preciso falar em particular com
Michelle.
Ela foi pega de surpresa tanto quanto eu, mas manteve a educação.
— Sim, claro. — Olhou para mim. — Quer que aguarde na entrada do
salão, Michelle?
— Não precisa. Apenas avise na mesa que chego daqui a pouco, por favor
— pedi com um sorriso.
— Farei isso. Com licença.
Mal ela se afastou, virei-me para Nicholas, aguardando que falasse logo o
que queria.
— O que você faz na festa com Tyler Blackwolf, o homem que destruiu o
seu pai?
O absurdo daquela pergunta me revoltou.
— E desde quando tenho que dar satisfações da minha vida para você?
— Desde o momento em que firmei um acordo com o seu pai para o nosso
casamento e ele me garantiu que estava tudo acertado com você.
— Ele fez um acordo do meu casamento com você?! — Nem consegui
disfarçar o horror e o encarei, enojada. — Não estou sabendo de nada disso.
— Pois saiba que injetei capital no Barton Bank em troca de ter você como
minha esposa. Agora imagine a minha surpresa ao saber da falência do banco e de
como Colin desapareceu, junto com a minha noiva. Quase não acreditei quando a vi
entrando na festa de braços dados com Blackwolf.
Meneei a cabeça, horrorizada com aquilo tudo. O meu pai havia
praticamente me vendido para aquele homem em troca de capital para o banco. Só
agora eu entendia por que ele sempre quis me casar à força com Nicholas e me levou
àquela clínica para abortar.
— O BW Group comprou o banco do meu pai e você não perdeu o seu
dinheiro. O investimento está assegurado. Quanto ao casamento, sinto muito, mas eu
jamais aceitaria tal imposição. Sou livre para escolher o homem com quem vou me
casar.
— E acha que esse homem é Tyler Blackwolf? Ele jamais se casaria com a
filha de Colin Barton! O que vai fazer é foder você e descartar depois.
Tive até ânsia de vômito tamanha foi a repulsa que senti daquele homem.
Olhei-o, profundamente enojada.
— Mil vezes Blackwolf do que você!
Ele ficou vermelho de raiva.
— Em que ele é melhor do que eu se também está pagando para ter você na
cama? Você se vendeu e agora quer dar uma de ofendida para cima mim?
A minha indignação não teve tamanho e meti a mão na cara dele,
esbofeteando-o com gosto. Na hora, não me importei se havia alguém nas
proximidades que testemunhasse a cena deprimente, apenas cedi à raiva. Só depois
foi que me lembrei de quando fiz o mesmo com Blackwolf e ele me preveniu de não
esbofetear outro homem, sob o risco de ser agredida de volta.
Pela expressão furiosa de Nicholas Brooks, não tive dúvida de que ele faria
exatamente aquilo, o que já mostrava que tipo de marido seria.
Recuei um passo para longe dele e protegi instintivamente a barriga, com
receio de receber algum golpe nela. Contudo, o golpe não veio. Em vez disso, um
corpo enorme se colocou à minha frente.
— Repita para mim o que disse para ela, seu porra! — A voz fria de
Blackwolf exigiu e respirei aliviada ao vê-lo entre nós dois.
Graças a Deus que ele era superprotetor com o filho e não ficou na mesa
me esperando chegar.
— O meu assunto é com a Michelle — Nicholas respondeu sem disfarçar a
raiva. — Não se meta, Blackwolf!!
No instante seguinte ele estava sendo erguido pelo colarinho do smoking e
empurrado com violência contra a parede.
— A Michelle é um assunto meu e ninguém vai chegar perto dela. Não se
meta você com a minha mulher!
M inha mulher?
Olhei chocada para as costas largas de Blackwolf, que agora estavam
rígidas de tensão. Bem mais alto e mais forte do que Nicholas, o braço musculoso
mantinha o homem contra a parede, cujos pés mal tocavam o chão.
— Sua mulher? Isso só até você pagar pelos serviços dela na cama e
descartar depois.
Quase não acreditei que ele ousou dizer aquilo para Blackwolf.
Que ho mem nojento!
Assim que Nicholas terminou de falar, o punho fechado de Blackwolf se
chocou contra o rosto dele. Apesar de estar furiosa com o homem, presenciar aquela
agressão não me fez sentir melhor. Ao contrário, aumentou o meu mal-estar quando
vi Nicholas se chocar contra a parede e escorregar para o chão.
Foi quando consegui reagir.
— Tyler, não! — Aproximei-me dos dois. — Por favor, não faça isso.
— Fique longe, Michelle! — ele ordenou sem nem se virar para mim,
fazendo-me parar no mesmo instante.
Blackwolf voltou a segurar Nicholas pelo smoking e o empurrar outra vez
com violência contra a parede. O som da cabeça do homem batendo de encontro ao
cimento me deu náuseas.
— Filho da puta! Michelle é mulher demais para se vender a um homem, e
você nem homem é para dizer isso dela — Blackwolf rosnou com uma raiva fria que
se espalhou lugubremente pelo corredor.
O rosto barbado estava com aquela expressão tenebrosa de quando o vi pela
primeira vez no elevador da Fertile Future e que tanto me assustou na ocasião.
Agora que o conhecia melhor, eu não sentia mais medo, mas ainda assim fiquei
impressionada com a agressividade que brilhava nos olhos escuros. Eu nunca o tinha
visto daquele jeito, nem quando enfrentou o meu pai na clínica de aborto.
— Tyler, vamos embora, por favor — apelei mais uma vez, esperando que
me ouvisse. — Estamos em uma festa e ele não vale a pena.
Pela maneira como Nicholas foi chacoalhado novamente contra a parede,
achei que Blackwolf não fosse me ouvir, mas a seguir ele o largou com brusquidão.
Nicholas caiu de quatro no chão em uma posição humilhante. Sentou-se
logo depois com dificuldade e pôs a mão na cabeça. Fiquei preocupada, pensando se
o homem ia perder a consciência ali na minha frente. Eu já conseguia imaginar a
festa sendo interrompida para uma ambulância entrar e levá-lo inconsciente para um
hospital. Contudo, Nicholas se levantou cambaleando e se firmou nas pernas.
— Desapareça da minha frente antes que eu mude de ideia e ache que vale
a pena acabar com você agora.
— Vou processá-lo por isso! — Nicholas ameaçou com um olhar de ódio.
— É o que espero que faça, assim os dois processos se cruzam em tribunal,
porque também vou processar você por assédio, ameaça e agressão à Michelle. As
mensagens que enviou para o celular dela já estão com os meus advogados. É só
esperar.
Aquela informação me surpreendeu. Eu já nem me lembrava mais das
centenas de mensagens que havia recebido quando a notícia da falência veio à tona.
Nunca mais usei o número antigo e as ameaças de Nicholas ficaram esquecidas para
mim, mas não para Blackwolf.
Foi com um olhar rancoroso que aquele homem nojento ajeitou o smoking,
passou a mão na mandíbula golpeada e na cabeça, afastando-se pelo corredor e
voltando para a festa.
Blackwolf observou-o desaparecer com o semblante severamente fechado,
os lábios contraídos e os punhos ainda cerrados, em uma postura que impressionava
pela violência controlada a custo. Quando olhou para mim, a expressão suavizou e
só vi preocupação nele.
Aproximou-se de mim, arrebatando-me junto ao peito.
— Porra, Michelle! Você está bem?
Agarrei-o com força pela cintura, precisando de apoio e encontrando no
corpo forte.
Meu Deus, como é bom estar nos braços dele!
De olhos fechados, inspirei fundo e deixei que a virilidade de Blackwolf me
envolvesse, o aroma masculino invadindo os meus pulmões e atuando como um
calmante.
— Estou bem.
— Vim assim que Melody disse que você estava conversando com um
homem chamado Nicholas. — Ele ergueu o meu rosto pelo queixo, olhando-me com
profundidade. — Você não devia ter ficado sozinha com ele.
Não havia reprimenda na voz dele, apenas preocupação.
— Estamos em uma festa na casa dos Stamford. Não achei que houvesse
perigo em conversar com ele aqui.
— Não haveria, se ele fosse um homem decente e não um filho da puta —
disse duramente, sem medir as palavras.
Agora que tudo havia acabado, a única coisa que eu queria era sair dali.
— Podemos ir embora? Quero ir para casa.
— Nós vamos, fique tranquila. Pedirei à Gary que se desculpe com Bill e
Rebecca em meu nome.
Senti-me culpada por estar tirando-o da festa sem falar com os anfitriões.
— Podemos nos despedir deles antes de sair.
Blackwolf me segurou pelo queixo e analisou o meu rosto com um olhar
crítico. Tentei aparentar tranquilidade, mas me sentia arrasada e ele notou.
— Não, vamos embora agora — decidiu com firmeza. — Amanhã falarei
com Bill e explicarei tudo. Ele e Rebecca vão entender.
Não retruquei, nem me achava em condições de dizer nada. Eu só queria a
paz e a segurança de estar em casa.
Com o braço dele envolvendo a minha cintura, deixamos a festa sem
chamar a atenção de ninguém. Blackwolf pegou o celular no bolso e ligou para
Miles, depois para Gary.
O Escalade já nos aguardava na entrada da mansão quando saímos e nunca
me senti tão bem ao me ver cercada pelos seguranças de Blackwolf. Suspirei de
alívio ao entrar no carro com ele ao meu lado.
O percurso foi feito em silêncio, com ele concentrado em enviar mensagens
pelo celular. Pelo semblante carregado, eu não duvidava que estivesse dando ordens
para alguém agir contra Nicholas. Enquanto isso, eu controlava o quanto podia as
emoções, quase à beira de uma crise de nervos depois do que havia descoberto na
festa.
Eu não estou acreditando que o meu pai me vendeu como se tivesse o
direito sobre a minha vida!
Aquilo era revoltante demais e eu me sentia enojada, ultrajada e
enraivecida.
Já no elevador do prédio, notei quando Blackwolf apertou o botão da
cobertura dele e não o do meu andar. Olhei-o interrogativamente.
— Durma comigo hoje. Você está precisando de apoio e eu estou
precisando cuidar de vocês dois. Não quero que fique sozinha no seu andar.
A minha primeira reação foi de negar, mas depois desisti. Eu tinha que
admitir para mim mesma que estava precisando da força dele e foi o que fiz. Apenas
assenti, ciente de que não queria ficar sozinha.
Mal descemos do elevador na cobertura, ele me pegou ao colo e levou para
o quarto dele. Só me colocou no chão dentro do banheiro.
— Pode usar a roupa que quiser do meu closet. Os pijamas podem ficar
grandes, mas vão servir para você dormir hoje aqui comigo. Vou aguardar no quarto.
Se precisar de qualquer coisa, me chame.
Assim que ele saiu, tirei as joias, as sandálias de salto alto e a roupa,
entrando no box para tomar um banho. Foi debaixo da água morna que a crise de
choro veio. Apesar de nunca ter tido um pai amoroso, era horrível saber que fui
praticamente vendida para um homem nojento que ia me tratar tão mal quanto ele
tratou a minha mãe.
Coloquei a mão sobre a barriga, jurando a mim mesma que se tivesse uma
filha ela jamais seria tratada como uma mercadoria para se ganhar vantagens
financeiras. Mesmo com todos os defeitos que Blackwolf tinha, algo me dizia que
ele jamais faria aquilo.
Terminei o banho, vesti um roupão e sequei o cabelo o melhor que pude.
Quando saí do banheiro, Blackwolf desligou o celular e se aproximou, o olhar atento
no meu rosto.
— Venha, Michelle. Vou lhe mostrar onde estão os pijamas. Escolha o que
quiser.
Ele me deixou sozinha no closet e vesti o primeiro que encontrei. Era
enorme, mas ajustei tudo para caber em mim e voltei para o quarto, ansiosa para me
deitar.
Todas as luzes estavam apagadas, exceto a luminária da cabeceira dele.
— Boa escolha — ele aprovou o pijama. — Pode se deitar. Vou tomar um
banho.
Ele foi para o banheiro e me deitei, esperando adormecer logo, mas ainda
estava acordada quando Blackwolf voltou usando um pijama azul claro que me
deixou boquiaberta. Eu estava acostumada a vê-lo sempre de terno e gravata ou
usando camisas sociais de mangas compridas. Aquela era a primeira vez que o via
de mangas curtas, que deixavam os braços musculosos à mostra.
Meu Deus, que braços são esses?!
Agradeci aos céus pela luz estar apagada e pela claridade muito difusa do
quarto não alcançar totalmente o meu lado da cama, ou ficaria envergonhada caso
ele me visse devorando-o com os olhos. O tecido leve da calça do pijama pouco
escondia do volume por baixo da cueca e das coxas grossas. Subindo o olhar,
deparei-me com um abdômen bem definido sob a blusa fina do pijama, um tórax
avantajado e aqueles bíceps desenvolvidos que deviam hipnotizar as mulheres e
causar inveja aos homens.
Completamente em choque com aquela beleza masculina tão crua, fechei os
olhos rapidamente quando ele veio para a cama e se deitou ao meu lado. Blackwolf
não percebeu que eu ainda estava acordada e abri os olhos levemente, observando-o
na penumbra.
Deitado de costas, ele olhava para o teto com a expressão endurecida. O
perfil másculo estava com uma aparência mais temível ainda devido às sombras do
quarto, mas aquilo não me assustou como antes. Hoje eu conseguia ver a beleza rude
daquele homem, onde antes só via frieza e maldade. Apesar de ser o Lobo Negro de
Wall Street, ele era um homem que tinha uma honra própria, que era respeitado pela
sua inteligência e sagacidade, que despertava a admiração de todos.
Mesmo sendo durão, implacável e impiedoso na hora de manipular o
mercado financeiro a seu favor, hoje eu sabia dos motivos pessoais que o fizeram ser
assim.
Ao meu lado, estava um homem gerado através de uma inseminação
artificial e nascido de uma barriga de aluguel, cuja mãe nunca conheceu e que foi
educado por um pai vingativo que incutiu no filho o mesmo desejo de vingança.
Blackwolf foi criado por uma governanta bondosa, mas eu notava que não havia da
parte dele um vínculo verdadeiro com Ruth. Ele gostava dela, mas não a amava
como uma mãe substituta. Também não tinha irmãos, apenas Gary, um primo com
quem não conviveu na mesma casa, mas com quem tinha alguma proximidade.
Eu me questionava se ele saberia o que era o amor.
Provave lmente, não.
Capítulo 35
Michelle
A cho que suspirei profundamente sem nem perceber, porque Blackwolf
virou imediatamente o rosto para o meu lado, pegando-me de olhos abertos.
— Você está acordada.
— Não estou conseguindo dormir.
— Não deixe que aquele covarde tire o seu sono. — A voz soou tão séria
quanto a fisionomia carregada que eu conseguia enxergar na penumbra do quarto.
— Não é ele, mas o meu pai. Eu não esperava que tivesse praticamente me
vendido para Nicholas em troca de dinheiro.
Blackwolf se virou de frente para mim na cama, em uma posição que nos
deixava mais próximos, mas que também tirava do rosto forte a pouca claridade que
o iluminava. Deixei de ver as expressões dele, mas ter o corpo enorme tão perto me
deixou afogueada.
— O que Nicholas lhe disse?
Foi difícil me concentrar na conversa. Na primeira vez em que dormimos
juntos, eu estava realmente adormecida o tempo inteiro e me acordei com a sensação
de que nem havia dividido a cama com ele. Se o próprio Blackwolf não tivesse me
dito, eu até acharia que ele ocupou outro quarto e me deixou sozinha no dele.
Contudo, agora, a consciência de que estávamos juntos no espaço restrito de uma
cama era gritante demais para mim. Mesmo sendo uma cama de casal enorme, a
intimidade era palpável.
— Ele disse que injetou capital no banco em troca de se casar comigo,
firmando um acordo com o meu pai. Como tentou falar comigo várias vezes e não
conseguiu, deduziu que fugi junto com ele e ficou surpreso quando me viu entrar na
festa com você.
— Vocês chegaram a ficar noivos ?
— Não, nunca! — neguei, horrorizada com aquela possibilidade. — O meu
pai vinha tentando há anos que eu aceitasse a aproximação de Nicholas, dizendo que
ele estava interessado em mim e que aquele seria um excelente casamento, mas
nunca permiti que sequer chegasse perto. Nicholas passou a ser presença constante
em casa, tanto nos jantares que o meu pai promovia para os amigos, quanto nos
jogos de tênis, nas festas e comemorações da família. Em tudo ele era inserido sem
que eu pudesse fazer nada. Sempre me mantive distante e a minha mãe nunca saía
do meu lado nessas ocasiões, com Andrew mantendo-se atento a tudo. Nós três
éramos contra, mas o meu pai era muito... autoritário e controlador.
Preferi não dizer que ele batia em todo mundo se não fizéssemos o que
queria. Tivemos uma vida familiar terrível, sofrendo com as imposições arbitrárias e
a violência do poderoso Colin Barton. Andrew foi o que teve mais sorte, pois foi
estudar fora e só voltou quando terminou a faculdade. Já eu, fiquei sozinha com a
minha mãe e aqueles foram os anos mais sombrios da minha vida.
Surpreendi-me quando a mão de Blackwolf acariciou o meu rosto com uma
suavidade que não se esperaria de um homem tão forte e que havia socado outro
violentamente há pouco mais de uma hora.
Fiquei sem conseguir reagir e evitei admirar abertamente o corpo de
músculos tão bem definidos, mas encontrei coragem para encarar diretamente o
olhar profundo, mesmo conseguindo ver tão pouco dele.
— Você disse para ele que eu era sua mulher.
— Disse — confirmou com a voz grave.
— Mas não sou.
O polegar roçou a minha face e o meu coração disparou.
— Não, não é.
Uma parte de mim queria que Blackwolf afirmasse o contrário e a desilusão
foi grande.
— Então, por que disse?
Ele não respondeu, mas o braço ficou rígido de tensão. Os músculos
pareceram aumentar de tamanho diante de tanta contenção e senti a turbulência
sombria que o dominava.
O peito amplo se expandiu quando ele inspirou profundamente por vezes
seguidas, como se estivesse controlando-se a custo. Aquilo era meio assustador
vindo de um homem que aparentava sempre tanta frieza e me lembrei do ódio que
Blackwolf nutriu a vida inteira pelo meu pai.
E eu sou a filha dele!
A tristeza me dominou, mas também a certeza de não querer me envolver
com um homem dividido entre o amor e a vingança.
Amor? Ele nem sabe o que é isso!
— Se o ódio que você sente pelo meu pai é maior do que qualquer
sentimento que tenha por mim, não vá em frente.
A mão grande deslizou pelos meus cabelos, segurando-os na altura da nuca
com uma pegada que achei demasiado possessiva e que me fez ofegar.
— Foda-se o seu pai! — rosnou com uma voz gutural que parecia vir de um
lugar escuro dentro dele. — Porra! O que sinto por você é mais forte!
A pressão nos meus cabelos aumentou e nem tive tempo de respirar antes
que a boca dominadora se apossasse dos meus lábios em um beijo carnal. Ele
suspendeu o corpo sobre o meu e me senti deliciosamente pressionada contra a
cama.
Nem hesitei em abraçar os ombros largos, deslizando as mãos ao longo dos
braços musculosos que tanto admirei antes, até o envolver de vez pelo pescoço. No
instante seguinte, ele pressionou a virilha no meu quadril e arquejei ao sentir o
membro volumoso tocando-me de uma maneira tão íntima. Diferentemente do que
havia acontecido no primeiro beijo durante o jantar no terraço, agora estávamos
deitados em uma cama, o que tornava o contato físico muito mais erótico. As roupas
de dormir também eram mais leves e permitiam uma aproximação genital que era
inédita para mim.
Uma mistura de excitação e receio me dominou ao ter tamanha intimidade
com ele. Totalmente seduzida, abri a boca e deixei que a língua exigente me
invadisse, sentindo-me devorada, tamanha foi a paixão com que fui beijada.
Há dias que eu sonhava com aquele beijo e gemi de prazer, afundando os
dedos nos cabelos pretos e lisos, sentindo a maciez dos fios levemente úmidos do
banho. O cheiro daquele homem, a paixão mal controlada, a masculinidade gritante,
tudo, absolutamente tudo, excitava-me, molhava-me, derretia-me.
Eu já não tinha dúvida alguma de que estava apaixonada. Aquela certeza foi
suficiente para me fazer tomar a decisão de me entregar a ele, de ter a minha
primeira vez com o homem que eu desejava, que eu queria, por quem estava
perdidamente apaixonada.
Decidida, acariciei as costas largas e separei as pernas, deixando-o se
encaixar entre elas. A nova posição arrancou um grunhido de prazer da garganta
dele e um gemido da minha.
— Oh, Tyler!
Mãos exigentes me seguraram com força pelo cabelo, imobilizando a
minha cabeça.
— Diz o meu nome de novo! — rosnou no meu ouvido, a barba roçando a
área sensível do meu pescoço e estimulando os meus sentidos.
Não precisei de esforço algum para gemer novamente o nome dele.
— Tyler!
— Porra, Michelle!
Daquele momento em diante não houve mais resistência alguma da minha
parte em chamá-lo pelo nome. Esqueci-me completamente do sobrenome
Blackwolf, que eu associava ao homem de quem deveria me manter afastada para
não sofrer. Blackwolf me rejeitaria, mas o Tyler, não.
Toda a minha resistência foi quebrada, desfazendo-se sob as mãos
experientes que me excitaram além do que jamais imaginei. Perdi a noção de tudo
quando ele envolveu um dos meus seios por baixo da blusa do pijama, estimulando
o mamilo e levando-me ao céu.
— Quis muito fazer isso — ele admitiu roucamente, erguendo a blusa e
tomando o mamilo com a boca. — E isso.
Fechei os olhos e arquejei de puro prazer. Era bom, muito bom! Eu nunca
havia tido uma experiência daquelas na minha vida e estava extasiada com a
sensação.
Arqueei o corpo a cada nova sugada que a boca sedenta imprimia no
mamilo já sensível, os pelos da barba ajudando a aumentar o meu prazer. A
excitação contraiu o meu sexo molhado, que era estimulado pelo membro
endurecido que ele pressionava contra mim.
Com um gesto decidido, Tyler abriu a gaveta da mesa de cabeceira e tirou
um preservativo, que jogou sobre o travesseiro. Ajoelhou-se depois na cama e me
ajudou a tirar a blusa do pijama. Soltei um arquejo apreensivo assim que fiquei
deitada com os seios totalmente expostos diante daquele homem enorme ajoelhado
entre as minhas pernas. Tyler era impressionante em tamanho e ficou ainda mais
quando despiu a blusa do pijama que usava, ficando de peito nu à minha frente.
Oh, Senhor!
Nunca me senti tão pequena, frágil e indefesa quanto naquele momento. O
homem era uma máquina! Parecia feito à mão de tão perfeito!
Enquanto eu estava chocada com tudo aquilo à distância de um toque, ele
se ocupava em me despir da calça do pijama e da calcinha. Nem tive tempo de sentir
vergonha com a minha nudez. Logo a seguir, Tyler tirou o restante do pijama dele,
junto com a cueca.
Paralisei e engoli em seco ao vê-lo completamente nu. Engoli tão duro
quanto o membro ereto que surgiu diante dos meus olhos surpresos.
Ofeguei nervosamente.
— Tyler eu... eu...
— Não se assuste comigo, Michelle — tranquilizou-me ao notar o meu
receio. — Não vou machucar você. Apenas relaxe.
Voltou a se deitar ao meu lado, abraçando-me. Ao primeiro contato dos
nossos corpos nus, ofeguei mais ainda, cruzando o olhar com o dele, que refletia um
desejo animal que me assustou e excitou ao mesmo tempo.
Foi com aqueles dois sentimentos misturando-se dentro de mim que fechei
os olhos ao ser novamente beijada com paixão. Nossas pernas se enroscaram umas
nas outras e fui dominada na cama pelo tamanho superior dele. Contudo, fui também
aconchegada, acarinhada, protegida.
Uma das mãos se insinuou entre as minhas pernas, estimulando-me com o
dedo, enquanto a boca se ocupava com os meus seios. Eu já estava molhada há
muito tempo, mas fiquei ainda mais com o vaivém experiente com que ele
manipulou o meu clitóris e com a paixão com que sugava o meu mamilo.
Ardi sob os dedos e a boca dele. Queimei, vi estrelas.
Eu mesma me abri mais para Tyler em busca de um prazer maior, sentindo
o dedo grosso ir invadindo aos poucos o meu interior. Ergui o quadril, sentindo um
prazer enorme com aquele atrito gostoso, mas que nem se comparou ao que veio
depois.
Sem que eu esperasse, ele já estava com a boca no meu clitóris, a língua me
levando à loucura.
— Meu Deus, Tyler! — exclamei em meio ao silêncio do quarto.
Ele era uma mistura bombástica de rudeza com gentileza. Ora me beijava,
ora me mordia. Chupava com força, depois acariciava. Nada escapou da sua boca,
língua e dentes.
Por Deus, ele está literalmente me comendo gostoso e eu est ou adorando!
Segurando com força os ombros largos, abri mais as pernas, oferecendo-me
para ele despudoradamente. Eu queria mais, muito mais. Queria tudo dele, queria ser
realmente a mulher dele.
Nunca pensei que fosse me sentir daquele jeito, mas era o efeito que aquele
homem complexo tinha sobre mim.
Quando Tyler se deitou sobre o meu corpo, soube instintivamente que ele ia
me possuir e aguardei o momento com ansiedade, pois já estava quase implorando
pela satisfação total. Achei que ele fosse me penetrar naquele mesmo instante, mas
Tyler ficou parado respirando ruidosamente, uma das mãos segurando-me
firmemente pelos cabelos com aquela pegada que me imobilizava.
Arqueei o meu corpo em busca do dele, fazendo com que o membro ereto
ficasse mesmo na minha entrada molhada. Movimentei-me contra ele, sentindo o
calor, a dureza, a rigidez deliciosa.
— Oh, Tyler, como é gostoso!
Ele estremeceu e soltou um grunhido rouco que era de prazer puro, rude,
cru. A outra mão segurou com força uma de minhas coxas e fui beijada com uma
certa ferocidade, mas que na hora só aumentou o meu desejo. Agarrei-o com a
mesma força pelo cabelo, intensificando o beijo.
Foi daquela maneira que fui possuída logo depois, o membro endurecido
abrindo caminho aos poucos dentro de mim. No começo doeu e pensei se
conseguiria mesmo receber aquilo tudo, mas a dor foi suportável e se perdeu depois
no meio de tanto prazer.
Eu não fazia a mínima ideia se toda virgem sentia o mesmo na hora de ser
possuída, mas estar totalmente preenchida por Tyler foi a melhor experiência da
minha vida.
Ficamos fortemente abraçados um ao outro durante o instante seguinte à
penetração. Fui agarrada com mais força, com muito mais possessividade, até que
ele começou a fazer os movimentos que me incendiaram de vez. Nossos corpos se
chocaram sobre a cama com um vigor cada vez maior. O ritmo foi crescendo na
mesma velocidade que o prazer alcançava níveis absurdos dentro de mim.
Agarrei-me nele e fui igualmente agarrada. Sem que eu esperasse, o meu
orgasmo veio poderoso, intenso e profundo como o próprio Tyler era.
Eu gemi, arquejando nos braços dele. Tyler rosnou, ofegando enquanto me
possuía. Os sons que escaparam da garganta dele ao gozar me impressionou pela
intensidade. Nunca pensei que um dia fosse ver o impassível Tyler Blackwolf sem
controle algum, tão arrebatado pela paixão e aparentemente tão vulnerável nos meus
braços quando o orgasmo veio.
Mesmo depois que o desejo já havia sido saciado, ele não me largou.
Apenas saiu de cima de mim e se deitou ao lado, levando-me junto e beijando-me na
boca. Foi um beijo duro, que provavelmente me deixaria com os lábios inchados
diante de tamanha paixão, mas também foi intenso e quente, muito quente.
Colados um ao outro, permanecemos fortemente abraçados depois.
Meu Deus, onde está o homem frio, insensível e distante?
Eu tentava encontrar naquele homem apaixonado o Blackwolf que conheci,
mas não conseguia. A mudança era radical, só que para melhor.
— Você está bem, Michelle? E o nosso filho?
A voz dele estava firme como sempre, mas notei a preocupação e não
consegui conter um sorriso de felicidade.
— Estamos bem, não se preocupe.
Ele acariciou a minha barriga.
— Perdi o controle e posso ter sido muito duro com você.
Fiquei chocada que ele admitisse ter perdido o controle. Afinal, quando foi
que o Lobo Negro de Wall Street perdeu o frio controle dele antes daquela noite? Eu
suspeitava que raramente, ou nunca.
Nem quero me iludir demais achando que ele realmente g osta de mim!
Ainda assim, o meu coração traiçoeiro disparou no peito diante daquela
possibilidade.
— Estou bem — reafirmei. — Quantas mulheres fazem amor estando
grávidas e não têm nada? Se sangrar alguma coisa, não será do nosso filho, mas
posso conversar com a doutora Jane amanhã.
Tyler ficou em silêncio por tanto tempo que ergui o rosto para o olhar. As
sombras do quarto escondiam muito do semblante dele, mas deu para ver que estava
demasiado sério.
Pensei se havia falado algo de errado e cheguei à conclusão de que o termo
“fazer amor” não fazia parte do vocabulário de um homem como ele, que tinha dito
dias atrás que não estava excitado o suficiente para me foder. O que havia acabado
de acontecer entre nós dois podia ter significado para ele apenas uma boa foda. Em
momento algum Tyler se declarou apaixonado por mim, apenas se excitou o
suficiente para ir até o fim.
É triste, mas provavelmente essa é a verdade. Uma d ura verdade.
Suspirei, conformada. Fechei os olhos e encostei a cabeça do peito dele,
dizendo a mim mesma que ia aproveitar o momento enquanto durasse. Eu estava
apaixonada e a minha primeira vez havia sido exatamente como sempre sonhei. Eu
me sentia feliz e o futuro a Deus pertencia.
— Se sentir alguma coisa me avise — ele pediu com preocupação na voz.
— Aviso, sim.
Recebi um beijo na testa e fui aconchegada melhor nos braços dele. Beijei o
peito forte que me servia de travesseiro e voltei a fechar os olhos, sorrindo.
A minha primeira vez havia sido realmente maravilhosa.
Capítulo 36
Tyler
F azer amor.
Eu nem sabia o que era amar uma mulher, quanto mais fazer amor com ela.
Eu fodia, sentia prazer, gozava, mas não amava. Amei o meu pai e só, a mais
ninguém.
Apesar das minhas certezas, sentia que precisava analisar tudo o que havia
acontecido naquela noite para entender melhor o que se passava comigo.
Observei Michelle adormecida sobre o meu peito, depois de proporcionar a
experiência sexual mais profunda da minha existência. Em poucas horas e por causa
dela, quebrei todas as convicções de uma vida inteira e senti emoções
descontroladas que raramente tinha. Fui dominado pelo ciúme, pela possessividade,
pelo desejo de matar Nicholas se ousasse tocar nela, pela paixão desenfreada de
possuí-la, por um sentimento absurdo que eu me negava a chamar de amor, mas que
me fez ansiar por uma penetração sem preservativo algum.
E foi o que fiz, porra! E foi bom pra caralho!
Apesar de a doutora Jane ter confirmado que Michelle era uma mulher
saudável, achei que não chegaria àquele ponto. Nunca deixei de usar o preservativo,
não só por causa das infecções sexualmente transmissíveis, mas também pelo risco
de engravidar uma mulher. Ter um filho era algo muito importante para mim, um
assunto que eu levava muito a sério. O meu pai me ensinou desde cedo que foder só
com proteção e não vi necessidade alguma durante a minha vida de fazer o
contrário.
Isso até conhecer Michelle, uma virgem que engravidou do meu filho por
engano. Uma mulher cheia de virtudes que me detestou logo de cara, que me
enfrentou, desafiou e acabou por conquistar.
Se eu fosse acreditar em tudo o que Gary me disse na festa, estaria agora
convencido de que realmente havia me apaixonado por ela. A minha mente se
negava a aceitar que eu estava amando tão obsessivamente a filha do homem que
tanto odiava. Mesmo sabendo que Michelle era inocente, por que tinha de ser logo
ela?
Eu não era homem de viver dramas, algo para o qual não tinha paciência,
muito menos tempo a perder. Normalmente, resolvia tudo de maneira bastante
racional. Era estranho demais que agora estivesse dramatizando o que sentia por
Michelle.
Decidi não pensar demais no assunto. Talvez esse estivesse sendo o meu
erro. Por agora, importava apenas que ela era a mulher que eu queria e que tinha.
Acordei na manhã seguinte bem mais tarde do que o normal. O sol já estava
alto no céu quando abri os olhos, iluminando o quarto através da cortina aberta em
uma das paredes de vidro que davam para o Central Park.
Deitada de lado, Michelle dormia à minha frente, as costas coladas no meu
peito e as nádegas macias contra a minha virilha. A minha perna estava enroscada
nas pernas esguias dela e os cabelos louros próximos do meu rosto exalavam um
perfume suave.
Para quem nunca havia dormido a noite inteira com uma mulher depois da
foda, acordar agarrado em uma era uma experiência estranha, mas deliciosa. Sequer
a toquei na outra única vez em que dormimos juntos e agora me surpreendia com o
prazer de despertar acompanhado.
Ergui o corpo sobre o braço e observei o rosto adormecido dela. Os lábios
entreabertos e as feições completamente relaxadas mostravam o quanto ainda estava
adormecida. Desci o olhar pelo corpo nu de pele acetinada, que pouco pude ver na
noite anterior com a escassa luz do quarto. Mesmo magra, Michelle tinha as curvas
nos lugares certos e era sensual do jeito dela.
O meu olhar parou na barriga de dois meses, que praticamente nada
mostrava da gravidez. Contudo, era ali que estava o meu filho e contive a vontade de
a acariciar, com receio de acordar Michelle.
Na noite anterior, dominado pela paixão, não me lembrei que poderia
prejudicar o meu filho com o ímpeto da posse, mas Michelle estava certa quando
disse que mulheres grávidas tinham vida sexual normal.
Afastei-me com cuidado, mas na hora de tirar a perna de cima das dela,
Michelle se remexeu e abriu os olhos sonolentos. Virou-se para trás e me viu,
arregalando os olhos. O rosto adquiriu um tom rosado quando enrubesceu ao se
lembrar do que havia acontecido e acompanhei com prazer aquelas emoções se
sucederem.
— Bom dia, Michelle.
Ela segurou o lençol e se cobriu como pôde.
— Bom dia, Tyler.
Ouvi-la usando o meu nome satisfez uma necessidade de posse que ainda
me surpreendia pela intensidade.
— Como se sente agora pela manhã?
Ela se remexeu na cama, como se testasse o próprio corpo.
— Estou bem. Não sinto nada.
— Nem os enjoos?
— Melhoraram bastante ultimamente. — Olhou-me com curiosidade. —
Estava indo trabalhar?
— Perdi a hora hoje e só vou à tarde. Ia nadar na piscina. Quer vir comigo?
Ela sorriu e inspirei fundo quando os olhos azuis brilharam com a
expectativa de usar a piscina.
— Quero, sim. Só não tenho biquíni aqui.
— Use sua lingerie, ninguém vai ver. Acompanho você usando uma cueca.
Ela soltou uma risada que encheu o quarto de alegria e o meu coração
também. Eu gostava de vê-la rindo.
— Sinta-se orgulhosa por eu usar uma cueca. Normalmente, nado sempre
nu, mas desta vez resolvi ser solidário com você. — Levantei-me, oferecendo a mão
para ela. — Vamos?
Michelle ficou ainda mais vermelha ao me ver nu diante dela. O olhar
percorreu o meu corpo com rapidez e baixou, mas foi o suficiente para uma centelha
de prazer fazer o meu desejo despertar.
Ela vestiu a blusa do pijama e pegou a calcinha que estava jogada ao lado
do travesseiro, para só então segurar a minha mão e se levantar. Assim que ficou de
pé ao meu lado, vi a mancha de sangue no lençol branco onde ela esteve deitada.
Fiquei imediatamente preocupado.
— Tem certeza de que está bem?
— Sim, tenho.
Quando me viu olhando para a cama, olhou também e as faces ficaram mais
rosadas do que já estavam. Rápida, puxou o lençol e cobriu a mancha.
— Pronto, resolvido. — Olhou-me novamente. — Já disse que me sinto
bem.
Peguei-a ao colo e levei para o banheiro.
— De qualquer maneira, converse depois com a médica. — Coloquei-a no
chão. — Agora vista a calcinha e o sutiã para irmos nadar. Pegue um roupão
também e leve o tempo que precisar para ficar pronta.
Deixei-a sozinha e voltei para o quarto. Minutos depois, já vestido com
uma cueca e o roupão por cima, liguei para Ruth.
— Sirva o café da manhã no terraço, mas longe da piscina. Vou estar lá
com Michelle.
— Farei isso. — Ela não demonstrou na voz nenhuma surpresa por
Michelle estar comigo.
— Traga ao meu quarto algumas roupas para ela vestir e lingerie também.
Depois providencie que tudo dela seja trazido para cá. Michelle vai dividir a
cobertura comigo.
— Foi a melhor decisão. Ela ficava muito sozinha ali e é sempre bom para
uma grávida estar mais tempo acompanhada.
— Coloque o material de pintura no quarto ao lado. Ela depois decidirá
onde pretende pintar.
Desliguei e fui abrir as portas de vidro que davam para a varanda.
Estávamos no auge do verão e a temperatura era a ideal para usarmos a piscina
exterior.
Michelle apareceu ao meu lado usando o roupão e sorriu ao sentir o sol no
rosto.
— O dia está lindo!
— É melhor irmos logo. À tarde preciso trabalhar.
Segurei-a pela mão e saímos do quarto.
Assim que chegamos à piscina, tirei o roupão e aguardei que ela fizesse o
mesmo. Michelle tirou o dela e pude ver o corpo esbelto de frente e por inteiro pela
primeira vez, sem lençóis, sem blusas ou escuridão escondendo nada. O conjunto de
lingerie era de renda preta com detalhes prateados e o sutiã deixava à mostra parte
dos mamilos, ressaltando o arredondado sensual dos seios.
Sem roupa se notava muito mais que ela era uma falsa magra. As curvas
que eu via na minha frente eram sensuais e me atraíam muito.
Michelle lançou aquele olhar rápido e fugidio pelo meu peito, que me
atiçava mais do que eu gostaria de admitir. Só esperava que ela estivesse sentindo
pelo meu corpo a mesma forte atração que eu estava sentindo pelo dela. Eu não
chegava nem perto de ter o tipo físico do pai perfeito que ela havia colocado na ficha
da Fertile Future.
— Sabe nadar?
— Sei.
— Ainda assim tenha cuidado. — Fiz um gesto para a piscina. — As damas
primeiro.
Ela entrou na minha frente usando os degraus, deixando-me ver as nádegas
deliciosas na calcinha exígua, quase um fio dental. Mergulhou depois suavemente,
nadando com lentidão para longe da borda. Só mergulhei de cabeça quando ela já
havia alcançado uma distância segura. Nadei com vigor até o extremo da piscina,
depois voltei e repeti o percurso algumas vezes, fazendo pelo menos uma parte do
meu treino diário. Aquele era um hábito saudável que eu procurava manter a todo
custo, mesmo que estivesse sobrecarregado de reuniões de negócios. Ajudava a
relaxar, tirando a tensão do meu dia a dia.
Decidi não concluir o treino completo por ser muito longo e eu queria
aproveitar o tempo com Michelle na água. Encontrei-me com ela nas escadas, onde
estava sentada me observando.
— Eu já teria morrido se tivesse nadado tudo isso. Devo ser muito
preguiçosa — comentou com divertimento quando me aproximei.
Segurei-a pela cintura e atraí para mim. O corpo macio se grudou ao meu
por baixo da água.
— É um treino puxado que faço todos os dias. Acho que seria demais para
você. — Mirei aqueles olhos azuis que pareciam mais límpidos sob o sol, perplexo
comigo mesmo por estar tão envolvido com ela. — Continua se sentindo bem
mesmo depois de nadar?
Ela me abraçou pelo pescoço e deitou a cabeça no meu ombro, deixando-
me levá-la para o meio da piscina.
— Muito bem, não se preocupe — sussurrou próximo ao meu ouvido.
Recebi um beijo no pescoço como se fosse para me tranquilizar, sem
nenhum significado erótico, e aquele carinho espontâneo me tocou mais do que
pensei. Muitas mulheres já passaram pelos meus braços, mas os gestos que elas
faziam pareciam ser sempre calculados, feitos para me excitar, para manter aceso o
meu desejo e o interesse nelas. Não havia aquela naturalidade de Michelle em
demonstrar um carinho sem pretensão alguma que não fosse acalmar a minha
preocupação com ela e com o meu filho.
Fiz com que envolvesse a minha cintura com as pernas e segurei-a pelos
cabelos. Nossos olhares se cruzaram segundos antes que eu a beijasse, sugando os
lábios carnudos e invadindo a boca macia com a língua.
Ela soltou um gemido de prazer, correspondendo com a mesma paixão. As
mãos acariciaram os meus cabelos de um jeito tão amoroso que a emoção explodiu
no meu peito.
Porra!
Neguei-me a analisar o que era aquilo que estava sentindo por Michelle e
que crescia mais a cada dia desde que a conheci. Se ela não tivesse perdido a
virgindade na noite anterior e eu não estivesse tão decidido a dar um tempo para que
se recuperasse, foderia com ela novamente naquele exato instante, só para provar a
mim mesmo que tudo não passava de sexo, de prazer, de desejo carnal.
Não podia ser nada além daquilo. Nada mais!
Interrompi o beijo, ignorando o meu pau que já endurecia, as reações do
meu corpo e qualquer outro sentimento.
— É melhor irmos tomar o café da manhã. Pedi que servissem aqui no
terraço.
Ela sorriu, sem sequer imaginar o que acontecia dentro de mim.
— Confesso que estou com fome, o que até me surpreende. Quase todos os
dias, Ruth se esforça muito para que eu coma algo de manhã.
Voltei a beijá-la. Uma, duas, três vezes seguidas. Depois, nadei com ela até
a borda, ajudando-a a sair da piscina.
— Enxugue-se antes de vestir o roupão para não ficar muito molhada.
Michelle pegou uma das toalhas e começou a secar os cabelos. Fiz o
mesmo e só depois fomos de roupão até a mesa posta com o café da manhã.
Observei que ela realmente se alimentou bem enquanto conversávamos. Ri
várias vezes com as coisas que me dizia, algumas delas para me provocar
descaradamente.
— Deixou de me achar um homem tenebroso depois de ontem à noite?
Ela ficou calada por alguns instantes, mastigando pensativamente, mas
havia um brilho risonho nos olhos.
— Ainda acho meio assustador, mas só quando está nu.
Soltei uma risada mal ela terminou de falar, realmente admirado com a
presença de espírito daquela mulher. Sem dúvida alguma, Michelle me conquistava
mais a cada dia.
“ Amamos a mulher que acelera os nossos batimentos cardíacos, que toma
conta do nosso pensamento quando não está do nosso lado, que nos faz rir até de
bobagens, a quem queremos proteger de tudo e que nos faz querer matar quem a
magoar. Fora isso, ela tem o poder de nos excitar com um único olhar e nos dá
orgasmos incríveis na cama que nenhuma outra consegue. I sso é amor!”
Bebi mais um gole de suco, que engoli com certa dificuldade.
Não po de ser amor!
Capítulo 37
Tyler
F osse ou não fosse amor, a verdade é que trabalhei a tarde inteira pensando
em Michelle e cheguei em casa bem mais cedo do que o normal, cansado de fingir
para mim mesmo que não estava ansioso para vê-la.
Percorri a cobertura à procura dela sem a encontrar em nenhum dos
cômodos. Pensei que talvez estivesse no andar de baixo, pintando, mas todo o
material de pintura continuava no quarto ao lado do meu.
Peguei o telefone na mesa de cabeceira e liguei para Ruth.
— Onde está Michelle?
— Ela saiu no início da tarde com Melody e ainda não voltou.
— E por que não me avisaram? — perguntei, tentando controlar a súbita
irritação.
— Eu não sabia que era para avisar quando ela saísse, Tyler. As suas
ordens foram para avisar quando Michelle recebesse visitas em casa.
Trinquei os dentes e consultei o relógio. Eram seis horas da tarde.
— Sabe para onde elas foram?
— Não me disseram e também não perguntei. Ia parecer que estava
controlando os passos dela.
Nunca fui controlador com nenhuma das mulheres com quem fiquei, muito
menos pedi a alguém que as controlasse para mim. Pouco me importava para onde
iam ou com quem estavam, já que não havia nenhum compromisso da minha parte
com elas.
Perceber que estava agindo diferente com relação à Michelle serviu como
um freio para mim.
— Fez bem em não perguntar, Ruth. Vou ligar para ela.
Contudo, antes fiz uma ligação para Miles.
— Ted está com Michelle?
Eu seria capaz de socá-lo se ele dissesse que não sabia que Michelle estava
fora de casa com Melody.
— Está, sim. Ele me avisou que ia acompanhá-la em um passeio com a
senhora Mitchell.
— Da próxima vez quero ser avisado imediatamente quando ela sair de
casa. Basta me enviar uma mensagem.
— Farei isso, senhor.
Desliguei, caminhando pelo quarto com o celular na mão, irritado com a
minha reação à ausência dela em casa. Só quando já me sentia mais controlado foi
que liguei para Michelle.
— Oi, Tyler! Estou surpresa de você me ligar no meio do expediente.
— Cheguei mais cedo em casa e estranhei não encontrar você.
Ela riu, feliz.
— Melody ligou me convidando para conhecer a clínica do seu primo.
Estou na Plan Life.
Senti o peito descomprimir da tensão.
— E gostou da clínica?
— Muito! Não tem a grandiosidade da Fertile Future, mas é excelente em
tudo o que vi. Foi uma pena não ter vindo aqui antes de ir lá.
— Gary é um excelente profissional e a Plan Life ainda vai crescer muito.
— Eu não queria pressionar Michelle a voltar, mas acabei fazendo. — Você tem
ideia de que horas vem para casa?
— Ainda não, mas aviso assim que sairmos daqui. Ted está comigo. —
Tranquilizou-me, como se achasse que eu estava preocupado apenas com o meu
filho e não ansioso para tê-la novamente nos braços.
Comprimi os lábios, travando a vontade de dizer exatamente aquilo. Que a
queria de novo, que desejava entrar nela outra vez, que ansiava por aquele orgasmo
incrível do qual Gary falou e que parecia que só ela me dava.
Droga!
— Consegue chegar a tempo do jantar?
— Melody não falou nada de jantarmos juntas, por isso acho que sim.
“Acho que sim” não era a resposta que eu queria e me surpreendi com a
necessidade que senti de exigir que viesse.
Mas que merda é essa que está acontec endo comigo?
Profundamente irritado com o que estava sentindo, esfriei logo a voz.
— Me avise a tempo.
— Aviso, sim.
Desliguei, jogando o celular sobre a cama e afrouxando a gravata do
colarinho, determinado a não permitir que Michelle interferisse tanto assim na
minha vida.
Ela veio jantar em casa e chegou esbanjando felicidade. Estava linda com
uma calça jeans colada ao corpo esbelto e uma blusinha fina que destacava ainda
mais o tamanho dos seios que eu agora conhecia intimamente. Calçava sapatos
baixos confortáveis e tinha o longo cabelo louro preso em um rabo de cavalo.
Vestida daquele jeito casual e com os cabelos presos, ela parecia muito
mais uma garota de vinte anos do que uma mulher de vinte e sete. Tanta jovialidade
e alegria me fez sentir mais velho do que os meus trinta e cinco anos. Um lobo velho
e sisudo demais, que a desejava de uma maneira visceral.
— Cheguei a tempo! — comentou sorridente e esbaforida ao entrar no
quarto, onde eu havia decidido trabalhar no notebook até o horário do jantar. —
Demorei, porque Melody me convidou para conhecer a casa onde eles moram. É
simplesmente linda, com jardins maravilhosos, aconchegante e bem familiar.
Michelle largou a bolsa sobre a poltrona com os olhos brilhando ao falar
com entusiasmo da casa de Gary. Eu a conhecia e não achava que merecia tantos
elogios, apesar de reconhecer que era uma moradia bastante familiar.
— Melody me disse que a comprou pensando nos filhos que estão
programando ter daqui a uns dois anos, quando a clínica estiver mais estabelecida.
Aquela era a casa que eu teria comprado para morar com o meu filho, onde criaria
um foxhound 22 para correr com ele pelo gramado.
Quando ela percebeu que eu continuava sentado em silêncio, tendo o
notebook e vários papéis espalhados à minha frente, fez uma careta engraçada que a
deixou mais tentadora ainda.
— Desculpe, interrompi o seu trabalho com a minha tagarelice. Vou tomar
um banho e estarei pronta em poucos minutos.
Larguei a caneta sobre o papel onde fazia anotações e me levantei,
aproximando-me dela. A tensão que controlei desde que cheguei em casa e não a
encontrei voltou com força total e me vi incapaz de a controlar novamente.
Foi sem emitir uma única palavra nem esboçar nenhuma emoção no rosto,
que segurei Michelle pelo rabo de cavalo e a atraí pela cintura, devorando aqueles
lábios carnudos com uma ânsia que surpreendeu até a mim mesmo. Eu sentia fome
dela, uma fome insaciável que precisava ser satisfeita naquele exato instante.
Pressionei-a contra o meu corpo, praticamente tirando-a do chão. Eu queria
senti-la por inteiro, totalmente nua, totalmente minha outra vez.
Michelle correspondeu com o mesmo fervor, abraçando-me com força pelo
pescoço, as mãos macias afundando-se nos meus cabelos.
— Oh, Tyler — gemeu na minha boca. — Passei a tarde inteira pensando
nisso, pensando em você!
Porra!
Arranquei a blusinha pela cabeça dela e abri o sutiã, sedento por aqueles
seios, cujo primeiro mamilo abocanhei com gosto, sugando-o com a força nascida
do desejo avassalador que sentia por aquela mulher.
Ela jogou a cabeça para trás e arqueou o corpo, esfregando-se contra mim
para aliviar parte da excitação que sentia, o que endureceu ainda mais o meu pau,
que só pensava em possuir novamente o seu interior molhado e apertado.
Com mãos firmes e o olhar sério fixo nela, tirei a minha camisa e comecei a
abrir a calça. Michelle fez o mesmo com a dela e nos livramos das nossas roupas
com rapidez. Mal fiquei nu, agarrei-a novamente ainda com a calcinha branca e
transparente, que nada escondia dos meus olhos.
O contato dos seios contra o meu peito e da barriga ainda lisinha contra o
meu pau, foi o suficiente para tirar a minha razão. Eu a queria. E queria fundo,
rápido, duro.
A lembrança do meu filho foi o que me fez refrear parte da urgência que
sentia de fodê-la do jeito que eu queria. Refreei-me o quanto pude, levando-a para a
cama, onde arranquei aquela calcinha minúscula e separei suas pernas, vendo pela
primeira vez com a luz acesa o sexo da mulher que me enlouquecia de tesão.
Até estremeci com a visão erótica, rosada, molhada à minha espera. Fiquei
mais duro ainda, o meu pau ereto à frente daquela delícia tentadora. Que merda de
poder era aquele que Michelle tinha sobre mim, eu sinceramente não sabia, mas tudo
nela atingia um ponto crucial que existia bem fundo no meu peito.
Ela soltou uma exclamação de surpresa ao se ver completamente aberta
daquele jeito para mim. Nossos olhares se encontraram e observei o rosto corado de
vergonha.
Sem desviar o olhar, passei o dedo ao longo do sexo molhado dela,
sentindo-o deslizar na umidade sedosa até chegar ao clitóris, que massageei com
firmeza. Com a outra mão, segurei um dos mamilos que apontavam para cima,
prensando-o entre os dedos no mesmo ritmo dos carinhos no clitóris.
Michelle fechou os olhos, arquejou, contorceu-se, gemeu. Ficou mais
molhada do que já estava e separou ainda mais as pernas, abrindo-se totalmente para
mim. Estava linda entregue ao prazer daquele jeito e o meu pau doía de vontade de
penetrá-la de imediato, mas segurei o meu desejo, aumentando o dela. Eu queria vê-
la se desmanchar sob os meus dedos, queria ver a expressão do rosto perfeito
quando gozasse nas minhas mãos e intensifiquei os movimentos, aprofundando o
dedo no interior macio dela e voltando depois ao clitóris inchado.
— Tyler!
Ela agarrou o lençol com força e não resisti de provar aquilo tudo à minha
frente. Inclinei-me e sorvi com a boca a umidade dela, deliciando-me com o seu
sabor e cheiro. Voltei a estimular o clitóris com a língua, chupando-o levemente.
— Meu Deus! — ela exclamou, ofegante.
Segurou-me pelos cabelos e se abriu mais.
— Fala, Michelle! — exigi roucamente, roçando a barba na parte interna
das suas coxas. — Me diz o que quer.
— Quero... que me faça gozar, Tyler — ronronou sensualmente,
arqueando-se contra a minha boca. — Me chupa mais.
Agarrei-a com força pelas nádegas e fiz o que pediu, comendo com gosto
aquela mulher que me enlouquecia. O meu pau doía de vontade de foder, mas não
demorou muito para eu sentir que Michelle estava gozando.
Não interrompi. Deixei que o orgasmo dela viesse todo, que ela
aproveitasse ao máximo, até o último segundo, para só então virá-la de bruços na
cama e me deliciar com a visão do sexo molhado naquela posição obscenamente
deliciosa.
Penetrei-a no instante seguinte, lentamente, sem a pegada forte que eu
queria, mas o suficiente para enlouquecer com o interior apertado que se abria para
mim, a umidade do gozo dela facilitando a penetração.
Gemi quando entrei fundo, os meus olhos presos em cada parte do corpo
feminino que me recebia, nas nádegas redondas e gostosas, o que só aumentava o
meu tesão.
Agarrando-a com firmeza pelas coxas, iniciei a foda mais poderosa da
minha vida, o sentimento de posse crescendo à medida que via o meu pau se
apoderar do interior de Michelle e o prazer alcançar níveis alarmantes até explodir
em um orgasmo que me arrebatou.
Soltei um rosnado alto dentro do quarto, tamanha foi a força do meu gozo.
Investi tudo dentro dela, derramei até a última gota no interior da mulher que me
sugava tudo, até a razão. Aquelas fodas sem preservativo com Michelle se
transformaram na experiência sexual mais importante da minha vida.
Foi com o coração batendo forte dentro do peito que me deitei sobre ela
logo depois, sentindo-me mais vulnerável do que gostaria de admitir para mim
mesmo.
Agarrei-a com força junto ao peito, negando-me, mais uma vez, a analisar o
que sentia. Michelle se aconchegou nos meus braços com um suspiro de prazer e
beijei os lábios rosados, prendendo-a mais ainda junto a mim com as pernas.
Permanecemos abraçados em silêncio, até eu me lembrar do meu filho.
— Falou com a doutora Jane sobre ontem à noite? Está tudo bem mesmo?
— Falei. Ela disse que não há com o que se preocupar se eu estiver me
sentindo bem, sem cólicas ou sangramento depois da primeira vez. Conversei com
Melody também e ela me tranquilizou da mesma maneira.
Ou seja, Gary já estava sabendo que tirei a virgindade de Michelle logo
depois de socar Nicholas Brooks nas bodas dos Stamford.
Merda! Agora ele nunca mais vai me deixar em paz com aquela histó ria de
amor!
Capítulo 38
Michelle
A s bodas de pérola de Bill e Rebecca aconteceram no sábado e na
segunda-feira as revistas de celebridades já noticiavam a fofoca do ano. A grande
maioria com um teor maldoso.
Michelle
“V ocê é a minha mulher e o seu lugar é a o meu lado.”
Fechei os olhos ao ouvir aquela afirmação de posse depois de fazermos
amor tão intensamente, sentindo-me feliz como nunca antes. Apesar de Tyler jamais
ter dito que me amava, não resisti em dizer o que sentia.
— Eu te amo, Tyler — sussurrei no ouvido dele, jogando alto com a sorte.
Ele estremeceu, depois ficou imóvel, os músculos tensos. Cheguei a achar
que se afastaria, mas ele me abraçou com mais força ainda. Apesar daquela
demonstração de apego, não me disse o mesmo, não se declarou também, não falou
absolutamente nada.
Pelo menos não se afastou.
Aquilo já era alguma coisa. Quem sabe um dia, com o tempo, ele também
me amasse.
Dormimos fortemente abraçados um ao outro. Na manhã seguinte, ele saiu
para o trabalho depois do habitual mergulho na piscina para se exercitar e de tomar o
café da manhã comigo. Aquela tensão palpável que senti nele quando chegou quase
à meia-noite já não existia mais. Tyler estava mais carinhoso do que nunca comigo,
cheio de cuidados e feliz por ter um menino.
— Agora já podemos providenciar o que quisermos na cor azul para
decorar o quarto dele — Tyler comentou despreocupadamente enquanto bebia um
gole de café.
Ele estava muito atraente naquele dia, já vestido com o terno para ir
trabalhar. Só faltava colocar o paletó, que estava jogado sobre o sofá. Admirei-o em
silêncio, notando o quanto os cabelos negros penteados para trás e a barba bem-feita
só o tornavam mais viril.
— Vou aproveitar para completar o enxoval dele.
Recebi um olhar de preocupação.
— Só tenha cuidado para não se cansar demais. Vamos ter tempo para tudo.
— Não vou exagerar.
O café da manhã se prolongou por um tempo a mais do que o normal,
enquanto conversávamos. Naquele dia, Tyler sem dúvida chegaria atrasado ao
escritório.
— Você chegou a ver as reportagens sobre as bodas de Bill e Rebecca? —
ele perguntou de repente, olhando-me com atenção.
Torci o nariz em uma careta ao me lembrar do que havia lido.
— Vi algumas revistas e jornais, mas nada do que li me surpreendeu. Eu já
esperava por aquilo.
— Fico satisfeito ao ver que não se deixou abalar por nada do que
publicaram. Foi a nossa primeira aparição juntos e é normal que causasse muita
especulação. Com o passar do tempo vai deixar de ser novidade.
— Na hora me chateei um pouco, mas depois passou.
Tyler se inclinou para o meu lado e me deu um beijo na boca.
— Esqueça tudo o que leu. — Acariciou a minha barriga. — Eles nem
imaginam o que vem por aí.
Coloquei a minha mão sobre a dele, sentindo-me feliz demais.
— Joshua vai chegar abalando as estruturas de Wall Street.
Tyler soltou uma risada e nunca o vi tão descontraído. Até perdi o fôlego,
admirando-o.
Ele voltou a me beijar na boca.
— Preciso ir agora, mas hoje chego cedo.
Saber que ele estava saindo tarde para o trabalho e que chegaria cedo,
aumentou a minha felicidade, mas tentei não demonstrar demais. Tyler era um
homem arredio e desconfiado, igual ao lobo que trazia no nome. Ora se aproximava,
ora se afastava, mantendo um distanciamento seguro. A noite anterior foi uma das
poucas vezes em que o vi perdendo o controle sobre si mesmo. A primeira vez foi ao
socar Nicholas na festa, ontem foi por causa do nome do filho.
Observei-o afastando-se, alto, seguro, imponente. Ele até podia continuar
tendo uma aparência que impressionava pela seriedade e frieza, mas era, sem
dúvida, também muito atraente.
Assim que ele saiu, comecei a pesquisar as lojas onde encomendaria o
material que faltava para a decoração do quarto de Joshua. A design de interiores
que contratei só estava aguardando que eu soubesse o sexo do meu bebê para
finalizar os detalhes.
Tyler
P ara minha surpresa, Michelle adormeceu nos meus braços durante o
percurso do apartamento até minha casa. Só então me dei conta do quanto ela
parecia exausta, um cansaço visível nas olheiras que lhe marcavam o rosto.
O sentimento de culpa tomou conta de mim, pois me sentia responsável
pelo estado em que ela se encontrava. Eu sabia que Michelle havia tido uma
depressão há pouco tempo e sem dúvida a nossa separação pesou muito nela. Além
disso, a gravidez já a deixava mais sensível do que o normal, o que deve ter ajudado
a deixá-la emocionalmente abalada. Se eu, que sempre me considerei imune à dor do
amor, sofri com a separação, quanto mais Michelle, que era bem mais emotiva.
Só agora eu entendia a dimensão da raiva de Andrew quando entrei no
apartamento. Ver a irmã novamente deprimida por minha causa, e ainda mais
estando grávida, aumentou o antagonismo que sempre sentiu por mim.
Aconcheguei-a mais junto ao peito, determinado a cuidar dela até que
voltasse a ser como antes. A primeira providência seria fazer com que dormisse e
descansasse assim que chegássemos em casa.
Quando o Escalade parou no estacionamento, tive de acordá-la para que
descesse do carro.
— Desculpa! Acabei adormecendo. — Ela passou a mão no rosto para
espantar o sono e nunca a achei tão frágil.
— Você está cansada, é normal que adormeça. É melhor subirmos logo
para você descansar.
Michelle não comentou nada nem opôs resistência ao que eu disse. Aceitou
a minha ajuda para descer do carro e ir para o elevador. Mantive o braço envolvendo
firmemente a cintura dela, que se encostou em mim em busca de apoio.
Assim que entramos na sala da cobertura, Ruth apareceu.
— Senhorita Michelle! — exclamou com um sorriso emocionado ao vê-la
entrar comigo. — Que bom que voltou. Sentimos a sua falta.
Michelle sorriu, abraçando-a.
— Também senti falta de vocês, Ruth.
Quando as duas se afastaram, Ruth analisou o corpo de Michelle com um
olhar crítico.
— Tem se cuidado?
— Estou bem, não se preocupe.
Ruth trocou um olhar comigo e senti a preocupação dela.
— Nós dois vamos descansar agora, mas capriche no jantar. Faça um dos
pratos que Michelle gosta.
— Farei com o maior prazer — Ruth garantiu com um sorriso satisfeito.
Levei Michelle para o quarto, decidido a vê-la descansar.
— Agora você vai se deitar e dormir. Ficarei com você.
— Só estou assim porque não dormi muito bem ontem à noite. — Ela
tentou justificar o cansaço.
— Sinal de que precisa mesmo descansar. Deite-se, Michelle.
Fechei as cortinas para diminuir a luminosidade do sol que entrava pelas
paredes de vidro e me preparei para me deitar com ela. Assim que a abracei,
Michelle soltou um suspiro de satisfação, apoiando o rosto no meu peito e fechando
os olhos.
Foi com surpresa que a vi pegar no sono segundos depois.
A minha vida nunca foi tão vibrante, intensa e feliz como passou a ser
desde que assumi o meu amor por Michelle. Sem barreiras emocionais, eu agora
podia extravasar totalmente tudo o que sentia, sem receio algum. Às vezes, até me
policiava para não ser excessivamente apaixonado, possessivo ou controlador. Eu
não queria que ela se sentisse sufocada ou oprimida, mas depois que liberei
totalmente o meu amor, havia momentos em que o controle fugia das minhas mãos e
me excedia.
Eu estava tendo alguma dificuldade em gerir aquilo tudo dentro de mim,
mas até agora Michelle não havia dado sinais de se sentir incomodada. Ao contrário,
ela aparentava estar cada dia mais feliz.
Com quatro meses de gravidez, a barriga já era visível com qualquer roupa
que ela usasse. Aos meus olhos, a minha mulher estava mais linda do que nunca, e
não era apenas por ter ganhado peso e estar com um corpo mais curvilíneo ou com
os seios maiores e tentadores. Era, principalmente, pela expressão de plenitude no
rosto, pela alegria que os olhos azuis irradiavam, pela maturidade com que abraçava
o papel de mãe de um filho que desejou ardentemente, pela personalidade que me
seduzia cada vez mais.
Foi tudo aquilo que me fez tomar uma decisão inédita na minha vida.
— Hoje vamos fazer um passeio — informei despreocupadamente durante
o café da manhã de um domingo.
Com a mudança de estação, o tempo havia esfriado consideravelmente e
passamos a fazer as refeições dentro de casa. Só íamos ao terraço quando o sol
estava a pino no céu. Entretanto, a parede de vidro na sala de jantar permitia uma
visão esplendorosa do Central Park.
— Um passeio? — Os olhos dela brilharam diante da perspectiva. — Para
onde vamos?
— É surpresa.
A risada alegre dela aqueceu o meu coração ainda despreparado para tanta
emoção em tão poucos meses.
— Oh, Tyler. Não se deve deixar uma mulher grávida ansiosa. Quero saber
que surpresa é essa.
— Vai deixar de ser surpresa se eu contar.
Ela me olhou com cara de inocente.
— Só uma dicazinha.
Aquele jeito de pedir mexeu comigo, mas mantive firme a decisão de não
estragar a surpresa que havia planejado para ela.
— Fique quietinha e não me tente. Surpresa é surpresa e você só vai saber
na hora.
Michelle olhou para a barriga.
— Ouviu isso, Joshua? Surpresa é surpresa. Não adianta pedir antes da
hora.
Soltei uma risada com a provocação que ela estava fazendo para dobrar a
minha resistência. Beijei-a, completamente apaixonado, saboreando os lábios
macios sob os meus.
— Agasalhe-se bem. A dica é que pode estar frio no lugar aonde vamos.
— Isso não é dica, Tyler! Está frio em toda Nova York.
Fiz-me de desentendido.
— Nem percebi.
Michelle meneou a cabeça com um sorriso e se levantou.
— Vou me arrumar agora mesmo. Só quero ver que surpresa é essa.
Eu esperava que ela gostasse. Pela primeira vez na minha vida, sentia-me
em dúvida se havia feito a escolha certa.
Cerca de uma hora depois, tive a resposta que queria.
Ainda pensei em dirigir eu mesmo o Porsche que estava na garagem e
seguir sozinho com Michelle para aproveitar melhor o domingo. Contudo, à medida
que a gravidez dela avançava, eu vinha escolhendo sempre a opção mais segura.
Irmos os dois no banco de trás do Escalade com os seguranças à frente era a melhor
escolha.
Quando entramos em West Village, Michelle se virou para mim.
— Gosto muito daqui — comentou com um sorriso nos lábios. — É onde
Melody e Gary moram e estou começando a desconfiar que a surpresa é um almoço
de domingo na casa deles.
— Já dei dicas de mais, por isso vou ficar calado.
— Ora, você não me deu dica nenhuma! — Beliscou-me na cintura. — Mas
se a surpresa é essa, eu adorei.
A surpresa não era aquela, mas só quando paramos em frente à townhouse
26
de quatro andares que eu estava comprando em West Village para nós dois, foi que
Michelle percebeu que não íamos para a casa de Gary.
— Chegamos. Já podemos descer — informei, analisando as expressões do
rosto dela.
Michelle admirava pela janela do Escalade a estrutura da mansão. Na
verdade, mansões, porque eu havia comprado três delas, para termos mais
privacidade e espaço.
— Quem mora aqui? — ela perguntou com curiosidade, ainda achando que
íamos almoçar na casa de alguém.
— Seremos os moradores dela se você gostar e quiser morar em uma casa
parecida com a de Gary e Melody.
Michelle se virou rápido para mim, boquiaberta.
— Nós dois morarmos aqui?!
— Com o nosso filho — confirmei.
Ela fechou os olhos e cobriu o rosto com as mãos.
— Aah, eu não acredito! — A voz saiu abafada, mas notei o quanto estava
emocionada.
Abracei-a, beijando os cabelos louros.
— Gostou da surpresa?
Michelle apenas meneou a cabeça afirmativamente, mas depois tirou as
mãos do rosto e me abraçou apertado.
— Nunca pensei que um dia você faria isso, Tyler. Sei que gosta de morar
na penthouse.
— Isso era antes de ter você e Joshua na minha vida. Pensei bem e
concordo que uma criança precisa de uma casa com quintal para poder correr com
um cachorro, que depois vai sujar tudo dentro de casa.
Ela riu, secando as lágrimas que escorriam dos olhos azuis.
— Eu e essa minha sensibilidade exagerada de grávida — tentou justificar
o choro.
Segurei-a pelo queixo e fiz com que olhasse para mim.
— Chore o quanto quiser. Preciso apenas saber se gostou da surpresa.
— Gostei muito mesmo. Na verdade, amei.
Soltei o ar que prendia no peito com a afirmativa dela.
— Vamos descer para você conhecer tudo por dentro. Ainda vou fazer
algumas reformas, mas estará tudo pronto quando Joshua nascer. Assim que as três
casas estiverem interligadas, teremos todas as comodidades da penthouse e um
pouco mais. Aqui a piscina será olímpica, bem maior do que a de lá.
— Três casas?
— Sim, estou comprando estas três aqui. — Apontei para elas, que
Michelle olhou abismada.
— Meu Deus, é um exagero, Tyler!
Resolvi expor parte do que havia me motivado a comprar as três casas
geminadas.
— Não será um exagero quando Margaret chegar.
Michelle ergueu o olhar embasbacado para mim com a referência que fiz à
filha que ela disse que ainda queria ter e batizar com o nome da falecida mãe.
— Margaret? — balbuciou com os olhos mais brilhantes ainda de lágrimas.
— Sim, a nossa filha.
Aquilo era o máximo que eu conseguia expor do meu íntimo para ela. O
amor ainda era algo que me assustava e o mais prudente era ir com calma. Contudo,
ficou mais do que explícito que eu queria Michelle para sempre em minha vida, que
queria outros filhos e construir uma família com ela.
— Margaret pode demorar a chegar. — Ela sondou sutilmente aquilo que
eu ainda não estava preparado para falar tão abertamente. — Antes pode vir outro
menino.
Eu entendi o que ela queria saber e não a deixei sem resposta.
— Teremos espaço para todos eles.
Soltando um arquejo emocionado, Michelle me abraçou novamente com
força.
— Oh, Tyler! Você tirou o dia de hoje para me fazer chorar de alegria.
Aquilo era tudo o que eu precisava ouvir.
— O meu amor por você não tem tamanho nem medida, Michelle — grunhi
roucamente no ouvido dela. — Não sei onde tudo isso vai dar, mas sei que quero
você ao meu lado.
A vontade que eu sentia era de beijar vorazmente aquela boca carnuda que
tanto me enlouquecia na cama, mas me contive a tempo. Os seguranças no banco da
frente tiravam a nossa privacidade, apesar da divisória de vidro fechada impedir que
ouvissem o que falávamos.
— Vamos descer. Quero que veja se realmente gosta das casas.
Mal entramos na primeira delas, Michelle já se encantou com tudo e tive a
certeza de ter feito um excelente negócio.
Capítulo 52
Tyler
D emorou, mas todos os envolvidos no erro cometido pela Fertile Future
foram punidos em um processo que correu em segredo de justiça.
A clínica e cinco médicos responsáveis foram processados por erro e
negligência profissional, descumprimento de contrato e publicidade enganosa. A
parte criminal pelas tentativas de fazerem Michelle abortar recaiu sobre a doutora
Chelsea Anderson, a verdadeira responsável pela troca do sêmen, além da
recepcionista Elizabeth Malory e do marido dela, que se encarregaram de cumprir o
plano do aborto fora das dependências da clínica.
Apesar de ter ficado provado que o doutor Harrison Davis era inocente, não
deixei de mover um processo milionário contra a clínica dele. A investigação
comprovou que o nosso caso não foi o único ocorrido lá dentro, fato que não podia
ser ignorado ou esquecido por mim ou pela justiça. Quantas mães, pais e crianças
poderiam continuar sendo prejudicados se nada fosse feito?
A única consideração que tive pelo homem foi evitar um escândalo
monumental que destruísse totalmente a reputação dele. O diretor presidente da
Fertile Future se viu falido com a indenização que teria de me pagar. A clínica ainda
funcionava, mas lucro algum se comparava ao valor que me deviam.
No final das contas, acabei ficando com uma clínica falida nas mãos, mas
que decidi reerguer em vez de fechar.
— Ela é sua.
Coloquei os papéis de compra da Fertile Future na frente de um Gary
abismado.
— Minha? — sussurrou, embasbacado. — Você está me dando a Fertile
Future?
— Comprei para você. Incorpore as duas clínicas em uma só e dê um
serviço de qualidade para os clientes de ambas. Ninguém merece passar pelo que
passei ao imaginar o meu filho na barriga de uma mulher que não escolhi, apesar de
hoje estar apaixonado por ela.
— Porra, Tyler! Como é que você compra a Fertile Future sem falar
comigo?
Como sempre, Gary tinha de fazer um drama com tudo.
— Não quer? — Fui objetivo.
— Claro que quero! Mas fui pego de surpresa com essa aquisição. Você
podia ter me avisado.
— Se eu tiver de falar com você toda vez que precisar fazer um
investimento, é melhor eu me aposentar. — Ri só de imaginar a situação. — É um
presente que eu e Michelle estamos dando para você e Melody. Graças a Deus, a
Fertile Future vai deixar de existir e passar a ser Plan Life.
Gary se levantou da cadeira em frente à minha mesa no escritório do BW
Group e veio me abraçar, emocionado.
— Obrigado, Tyler!
Abracei-o também. Gary era uma das melhores pessoas que já conheci na
minha vida. Para minha sorte, era meu primo.
— Não vá chorar, porra.
— Claro que não vou!
Rimos, solidificando ainda mais a nossa amizade e os laços familiares.
Sempre que pensei como seria o dia do meu casamento, jamais imaginei
que me casaria grávida de seis meses. Vendo agora o vestido de noiva colado na
minha barriga distendida, eu só conseguia rir. Não só pelo inusitado da situação, mas
também de pura felicidade.
Seríamos três no altar e não apenas dois.
Cheguei a pedir a Tyler que nos casássemos depois do nascimento de
Joshua, mas ele não aceitou, justificando que queria que o filho nascesse com os pais
já casados.
Segundo Andrew, o motivo não era só esse, mas a necessidade de me
prender logo. O meu irmão afirmou categoricamente que Tyler era ciumento,
possessivo, territorial e tinha medo de me perder.
Na ocasião, gargalhei muito, mas a cara séria de John me fez cair na real.
— Vocês acham isso mesmo?
— Claro que sim! — eles responderam em uníssono.
Meneei a cabeça em dúvida.
— Ou eu sou cega demais ou vocês estavam vendo coisas que não existem.
Tyler nunca demonstrou ciúmes de outro homem na minha frente.
— Não se chateie com o que vou dizer, baby, mas você é cega — John
afirmou com um sorriso divertido.
— Você nunca conversou com ele como nós dois já conversamos —
Andrew completou com seriedade. — Blackwolf não mostra o lado predador dele
para você, apenas para os homens com quem você se relaciona.
Dizer que fiquei chocada com o que eles disseram era pouco.
— Isso é muito mal?
— Claro que é! — Andrew afirmou.
— Não é — John discordou do meu irmão. — Se for apenas o instinto
protetor de um macho alfa que ame você, não é mal, baby.
— Seja o que for, pelo menos agora você já sabe que o seu príncipe
encantado é mesmo um lobo negro sorrateiro, capaz de atacar quem se aproximar do
território dele.
Lembrei-me da maneira violenta como Tyler agrediu Nicholas nas bodas de
pérola e tive de concordar com eles dois. Contudo, aquele foi um caso excepcional.
Ainda assim, não resisti de tocar no assunto com Tyler quando ele chegou à
noite em casa.
— Você seria capaz de ameaçar um homem que se aproximasse de mim?
Não estou falando de casos como o de Nicholas, mas de um homem comum mesmo.
Tyler parou de tirar a gravata e se virou lentamente para mim.
Incrivelmente, achei o gesto muito parecido com o de um lobo prestes a atacar.
Notei de imediato o brilho frio no olhar escuro, algo que eu raramente via desde que
ficamos juntos.
— Tem alguém incomodando você?
— Não, não tem ninguém.
Ele parou à minha frente e o olhei muito diretamente.
— Sim ou não? — insisti na pergunta.
— Sim, ameaçaria — afirmou com gravidade e sem hesitação alguma. —
Por que a pergunta?
— Porque eu ia ficar muito triste se você fizesse isso com quem amo, como
Andrew ou John.
Ele entendeu bem a situação.
— Desde que eles não magoem você, nada vai acontecer. Vou defender a
minha mulher seja de quem for.
A voz soou firme e determinada, assim como o beijo de tirar o fôlego que
recebi depois. Naquela noite, fui amada até quase a exaustão, esquecendo-me
completamente do assunto.
Agora, vestida de noiva, eu tinha consciência de que estava prestes a me
casar com um homem realmente ciumento, possessivo, territorial e que não queria
me perder. Que aquele homem fosse Tyler Blackwolf, era mesmo uma ironia do
destino.
A semelhança entre Tyler e Joshua era tão grande que se tornou o fato mais
comentado por todos que nos visitaram ainda na maternidade.
— Ele tinha de ser tão parecido assim com o pai? — Andrew comentou ao
ver o sobrinho no berço hospitalar, mas era uma provocação para Tyler. — Devia se
parecer mais com você, Michelle.
Deitada na cama, tentei não revirar os olhos ao comentário do meu irmão,
mas o mesmo não aconteceu com John, que cutucou Andrew com o cotovelo em um
aviso para ser menos provocador.
Atualmente, Andrew e John trabalhavam no antigo Barton Bank, que havia
se transformado em mais uma agência do BW Bank depois da aquisição. Ambos
eram os responsáveis por tudo lá, reportando-se diretamente a Tyler. Incrivelmente,
Andrew passou a gostar mais de trabalhar no banco depois da saída do meu pai, mas
agora também reservava parte do seu tempo para a pintura.
Sempre que podia, Andrew não perdia a oportunidade de provocar o
cunhado, que continuava chamando de Blackwolf.
De braços cruzados ao lado dos dois, Tyler apenas riu do comentário do
meu irmão.
— Ele tem algo de Michelle, sim. Os olhos são mais claros do que os meus.
Eu nem havia notado aquilo e me surpreendi com o que Tyler disse.
— Como é que você viu isso? — Andrew perguntou, inclinando-se mais
sobre o berço e observando o sobrinho mais de perto, que havia acabado de se
acordar com a movimentação no quarto. — Porra, você tem razão!
Joshua choramingou quase no mesmo instante.
— Não o assuste com palavrões, Andrew — pedi, mesmo sabendo que não
foi aquilo que fez o meu filho chorar.
Pelas minhas contas, estava quase na hora da mamada e Tyler deduziu o
mesmo. Com a firmeza de quem fazia tudo com confiança, ele pegou o filho no
berço e o trouxe para mim.
— Vamos conversar um pouco lá fora enquanto Michelle amamenta. —
Deu-me um beijo na testa antes de sair. — Vou chamar Ruth para ficar com você.
A fiel governanta estava acomodada no quarto ao lado e vinha me ajudar
com Joshua sempre que eu precisava.
Os três saíram e provavelmente conversariam sobre negócios, como sempre
acontecia quando Andrew e John iam à nossa casa.
Nossa casa!
Ri com o inusitado daquela situação. Nunca na minha vida pensei que um
dia chamaria a mansão do temido e tenebroso Tyler Blackwolf de “nossa casa”.
— De sinistro o papai só tem a fachada, não é, meu amor? — falei para o
meu filho, que começou imediatamente a mamar.
Tyler e eu estávamos mais do que ansiosos para levar Joshua para casa e
iniciarmos a nossa nova vida com ele. Mesmo quando ainda não nos conhecíamos,
nós dois já sonhávamos com o dia em que seríamos pai e mãe. Agora, apesar de
todas as ameaças que o nosso filho sofreu, o sonho estava realizado.
Nos meus braços eu tinha o nosso maior tesouro e nunca me senti mais feliz
na vida.
Passei dois dias na maternidade e só então pude ir para casa.
Quando o nosso filho estava quase completando um mês de vida,
quebramos o resguardo, mesmo sem autorização da médica, que aconselhou
esperarmos quarenta e cinco dias por ser mais seguro. Não houve penetração, mas
abusamos dos toques íntimos com as mãos e a boca.
Eu já vinha notando os olhares de desejo de Tyler para o meu corpo sempre
que eu terminava de amamentar, que trocava de roupa ou me deitava de camisola ao
lado dele para dormir. Mesmo que eu estivesse usando o sutiã nada sensual da
amamentação, ele me devorava com os olhos, mas não me tocava de jeito nenhum.
Eu sabia que Tyler estava se controlando e aquilo começou a me excitar com o
avançar dos dias.
No início, eu vivia tão cansada com a nova rotina de mãe que mal tinha
tempo para descansar, quanto mais para sentir desejo. Eu caía na cama e dormia
como uma pedra, só acordando de madrugada para dar de mamar com a ajuda de
Tyler e voltar a dormir logo a seguir.
Ele tirou duas semanas de folga para ficar mais tempo em casa, voltando a
trabalhar depois por meio período. Contudo, à medida que Joshua crescia e a nossa
rotina ficava mais organizada, o meu corpo também voltava ao normal e passei a
querer mais de Tyler do que apenas beijos castos nos lábios, na testa ou nos cabelos,
que era o máximo que ele me dava durante o resguardo prescrito pela doutora Jane.
Perto dos trinta dias de parto, eu já olhava Tyler de cueca com desejo
suficiente para querer ser possuída por completo. Os braços poderosos, o peito
amplo, as pernas fortes e o membro volumoso sob a boxer começaram a mexer
comigo, mesmo com ele evitando os contatos íntimos.
Certa noite, não resisti. Vesti uma camisola curta e o abracei assim que se
deitou ao meu lado na escuridão do quarto. Rocei as minhas pernas nas dele e enfiei
a mão por baixo da blusa do pijama que usava. O corpo grande se retesou com os
músculos endurecendo, o que só me excitou ainda mais. Levantei a blusa dele e
beijei o abdômen reto e bem definido, deixando a minha língua percorrer a pele
quente até morder levemente os músculos da cintura.
Tyler sugou o ar com força, o som espalhando-se sensualmente pelo quarto.
— Porra, Michelle! — grunhiu roucamente, enroscando a mão nos meus
cabelos. — É melhor parar.
Apesar do que disse, ele segurou os meus cabelos com mais força, como
fazia quando estava excitado. E excitação não falta em Tyler ou o membro grosso
não teria endurecido tão rapidamente.
Ousada e decidida a ir até o fim, enfiei a mão sob a calça do pijama,
afastando a cueca e tocando nele. Estava duro, muito duro!
Fiquei molhada só de sentir aquela potência toda nas mãos e fui até o
ouvido dele.
— Faz amor comigo do jeito que der, Tyler — sussurrei, beijando-o no
pescoço. — Não precisamos de penetração para gozar.
Com um rosnado de desejo, ele firmou a mão na minha nuca e devorou a
minha boca com um beijo duro e urgente, mudando nossas posições na cama e
ficando por cima de mim.
Pronto! Foi o suficiente.
Eu havia conseguido quebrar o controle dele. Daquele momento em diante,
foi Tyler quem dominou tudo. Fui devorada não apenas com um beijo na boca, mas
com a boca dele no meu corpo inteiro. Só os seios inchados de leite não foram
sugados com força, mas ainda assim foram beijados, lambidos e acariciados.
— Eles estão lindos desse jeito — elogiou, referindo-se ao tamanho bem
maior do que antes.
Eu já nem raciocinava direito, completamente perdida de desejo. Quando a
língua exigente tocou o meu clitóris sensível, eu era uma massa disforme de prazer
puro nas mãos dele. Com as mãos firmes separando as minhas pernas, deixei que
Tyler me levasse à loucura com habilidade, deixei que o orgasmo viesse poderoso e
explodisse com força dentro de mim.
Os espasmos do prazer ainda percorriam o meu corpo quando Tyler se
ajoelhou entre as minhas pernas e segurou o membro endurecido que apontava para
cima. Ele se masturbou de uma maneira excitante na minha frente, olhando com um
prazer obsceno para o meu sexo aberto.
— Porra, Michelle, como você é gostosa! — rugiu ofegante, gozando logo
depois sobre a minha barriga.
Vê-lo dominado pelo prazer daquele jeito me deixou mais apaixonada
ainda. Era impressionante ver um homem tão másculo e controlado quanto Tyler
gozando entre as minhas pernas. Ele parecia vulnerável e poderoso ao mesmo
tempo.
Quando a última gota de sêmen foi expelida e os olhos turbulentos se
fixaram nos meus, perdi o fôlego diante do que vi neles. Havia amor, paixão,
devoção. Com os cabelos negros despenteados, a barba cerrada e os olhos escuros
com aquele brilho animal, Tyler nunca se pareceu tanto com o sobrenome que tinha.
Um lobo negro.
Ele abriu a mão sobre a minha barriga e espalhou o sêmen por ela como se
fosse um creme corporal. Era a pegada possessiva e territorial de um macho sobre a
sua fêmea.
— Foi por causa dele que nos conhecemos — comentou roucamente,
referindo-se ao próprio sêmen. — Foi ele que nos uniu e ninguém vai nos separar.
O h, meu Deus!
Fiquei até sem palavras, mas também não tive como falar nada. Fui beijada
logo depois e nunca me senti tão unida a Tyler quanto naquele momento.
Epílogo
FIM
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