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CONSTITUCIONALISMO

- Constituição material: surgimento com a aglomeração de pessoas


- Constituição formal: vem com o surgimento do Estado Moderno que limita o poder do
soberano. É da constituição formal que nasce o constitucionalismo---> ligação entre Estado e
Constituição formal como condição de surgimento do próprio Estado.

1. Origens e Variações

a) Constitucionalismo francês: formal e flexível (legitimidade conforme a formação da


constituinte)
b) Constitucionalismo inglês: material
c) Constitucionalismo norte americano: formal e rígida. Essa vertente que possibilita a
ideia de que para que o Estado exista é necessário que se tenha uma constituição. A
constituição permite dimensionar o campo de atuação do Estado, uma vez que existe
um limite imposto pela própria constituição, não podendo os poderes do Estado ir
contra a norma.
Essa forma de constituição formal e rígida se espalhou pelo ocidente, porém muitos
países têm dificuldade de lhe dar com essa questão da formalidade e rigidez, uma vez que a
sociedade evolui de forma dinâmica, ou seja, o que hoje pode ser aceito e inserido dentro da
constituição, amanhã poderá não corresponder a questão histórica vivida pelo país, fazendo
com que a constituição seja substituída por outra que atenda a atual sociedade.
Para Lassalle existe uma constituição escrita parada no tempo em que foi
promulgada/outorgada e uma constituição da vida real que ele denomina como “somatório
dos fatores reais de poder”. Não podemos tomar por base que a rigidez da Constituição é o
que a faz ficar atrasada ante a evolução dinâmica da sociedade, por exemplo, não se muda a
constituição do Brasil todas as vezes que é eleito um novo presidente, pois se assim fosse que
sentido teria ter uma constituição.
A constituição enquanto documento escrito não é o que resolve todos os problemas,
ela pode, inclusive, criar impasses.

2. Paradigmas do Constitucionalismo

2.1 Sobre o conceito de paradigma


Na ciência natural paradigma representa o modo de agir e pensar da ciência, como ela
resolve com êxito os seus problemas. Já a ciência do direito trata o conceito como modelo:
uma maneira que se estabelece contando com todas as formas. O modelo anterior não deixa
de existir, ele é incorporado ao novo modelo que surge.
Partindo desse princípio podemos entender que as constituições serão alteradas a
medida que a ideia de Estado também for.

2.2 Constitucionalismo
O constitucionalismo não é uma coisa só, ele tem dimensões. O problema que as
constituições vieram resolver foi o problema do poder absoluto dos soberanos.

a) Paradigma do constitucionalismo do Estado Liberal: havia um grupo que conquistou


um espaço de poder significativo, que já não concordava com a ideia de que o poder
se transmite hereditariamente entre a nobreza, esse grupo era a burguesia (origem do
poder econômico).
A constituição e o próprio Estado Moderno surgem para que seja possível um espaço
no poder para a burguesia, com o intuito de que as pessoas possam individualmente
prosperar. Assim a primeira constituição surge com o Estado Liberal.
Podemos descrever como características comuns nas constituições do Estado Liberal:
- Direitos individuais (liberdades individuais), também conhecido como direitos negativos pois o
Estado NÃO intervém na individualidade.
- Propriedade privada
- Soberania do povo (dada àqueles que eram homens, brancos e proprietários)
- Sufrágio (voto)
- Poder dominante era o Legislativo, pois ele que garantia que o Estado não interferiria na
liberdade do indivíduo.

Os objetivos dessa constituição era:


- Limitar o poder do Estado
- Declarar direitos fundamentais para viver em sociedade.

Esses 3 eventos é que mostram que os paradigmas do Estado Liberal já não atendem a
real necessidade da sociedade:
- Revolução Russa (1917): mostra-se uma alternativa possível ao capitalismo.
- Primeira Guerra Mundial (1974-1918): expões a fraqueza do conceito de Estado e a
possibilidade desse conceito levar a uma queda da própria ideia de Estado
- Quebra da Bolsa de New York (1929): o modelo de Estado Liberal faz explodir uma
desigualdade social entre as pessoas e cada vez mais essa diferença aumenta. Quando ocorre a
Quebra da Bolsa, o então presidente dos E.U.A. resolve intervir na economia. A partir do
momento em que o Estado começa a interferir na lógica do mercado, o modelo de Estado
Liberal se esgota absolutamente

b) Paradigma do constitucionalismo do Estado de Bem-Estar Social: paralelamente a


queda do Estado Liberal as grandes potências vêm moldado um novo paradigma de
Estado que seja uma alternativa viável entre o socialismo e o Estado Liberal. Surge
assim o Estado do Bem-Estar Social, que agrega aos direitos já existentes os Direitos
Sociais e os Direitos Econômicos. O Estado sai da posição de Estado mínimo e caminha
para a posição de um Estado muito grande, interventor do domínio econômico.

O Estado passa a interferir na individualidade da vida das pessoas, nesse modelo o


direito que passa a ter maior valor que a liberdade/individualidade é a igualdade (material).
Medidas que tentarão compensar as diferenças entre as pessoas, surge os direitos sociais
(previdência, trabalho educação, saúde saneamento).
O Estado do Bem-Estar Social alcança um progresso muito maior que o Estado Liberal,
mas o Estado Social não consegue se sustentar por muito tempo, é necessária uma
intervenção forte da economia. A “mão invisível” de Adam Smith já não pode ser mais
aplicada, agora é necessário tributar e fazer reservas para o momento de recessão (John
Maynard Keynes). Esse momento de recessão chega com a crise do petróleo nos anos 70,
quanto o barril do petróleo aumenta absurdamente de um dia para outro. Essa crise acaba se
tornando muito profunda e longa a ponto de as reservas econômicas existentes não serem
suficientes para a demanda do Estado, fazendo com que o mesmo se questionasse como iria
custear as despesas de cunho social que oferecia aos cidadãos.

c) Paradigma do constitucionalismo do Estado Democrático de Direito: Os Estados


percebem uma nova necessidade de mudança pois já não é mais possível se sustentar
economicamente e há a sombra de que a qualquer momento pode surgir uma nova
guerra.
Surge então o Estado Democrático de Direito que se diferencia dos anteriores que
tinham como pilar o Direito a Liberdade e o Direito a Igualdade. Na Democracia não existe um
direito superior aos demais, ela lida com o direito sobre os princípios da democracia como
reflexo dos direitos políticos.
A democracia não se implementa sozinha, é o direito que dá condições para montar a
democracia por ser dotado de coercibilidade. E a democracia dá legitimidade ao direito; o
fundamento de validade do direito precisa ser democrático.
O constitucionalismo acaba crescendo sobre o aspecto da democracia a ponto de não
ser possível entende-lo fora desse aspecto. O conceito de democracia também acaba
evoluindo, saindo daquele modelo onde o cidadão apenas cumpre o que determina a lei sem
se interessar pelas demais questões que diz respeito a pluralidade da comunidade como um
todo. Cada vez mais as pessoas querem se sentir representadas e tomadoras daquelas
decisões que influenciam no alcance de sua liberdade. O princípio da legalidade é o que limita
as escolhas das vontades públicas e privadas.
 Pluralismo: o objetivo das pessoas é ser feliz e cada um possui um ideal de felicidade,
isto está ligado ao pluralismo por causa da diversidade existente. Nenhum projeto de
vida boa é inviável a priori. Logo para que o projeto seja visto/entendido como ilícito
ele tem que se revelar ilícito.
Atualmente o Estado é incapaz de cuidar sozinho de muitas questões sociais e
algumas dessas obrigações, anteriormente exclusivas do Estado, passaram a ser
compartilhadas pela sociedade e responsáveis legais, como por exemplo a educação.
Por causa disso, atualmente, não existe nenhum direito mais importante que o
outro, podemos no máximo dizer que o que prevalece na atualidade é a diferença.
 Dignidade Humana: os direitos fundamentais vão girar em torno da dignidade da
pessoa humana. Dessa forma temos que entender os direitos com base nesse ponto.
Por exemplo, o direito à vida deve ser interpretado como um direito a vida com
dignidade. Todos merecem tratamento digno.
 Jurisdição Constitucional: a vantagem do constitucionalismo norte americano sobre as
demais correntes (francesa e inglesa) foi a rigidez, que garantiu a segurança jurídica.
Uma constituição mais difícil de ser alterada torna as relações jurídicas mais estáveis.
Todas as vezes que aplicamos alguma lei, acabamos aplicando
princípios/Direito Constitucional. A constituição forte precisa ser garantida de alguma
forma, pois ela consegue aproximar o direito a justiça, para isso é necessário que os
tribunais apliquem, preservem, protejam e garantam a Constituição.

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