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Primeira turma
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Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
Nota:
- Sempre que durante o material de estudo se encontrar uma pequena nota a dizer
“Exercícios”/ “Casos práticos” é porque no material fornecido pelas docentes se
encontram exercícios relativos à matéria em questão.
Competência: poder de atuação que cabe aos órgãos e agentes constitucionais para
realizarem as tarefas que lhes cabem, por força da Constituição ou da lei (tarefas + meios
de atuação).
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Princípio da atribuição (artigo 5, nº2 TUE): explica-nos como se faz esta correlação e
demonstra que o grupo de Estados Soberanos tem interesses comuns que, para os
alcançar, é preferível que o façam de forma conjunta. Exemplo: União Europeia em que
o Estado se tornava numa federação caso abdicasse das suas soberanias em prol dos
interesses comuns.
Mesmo ao abrigo do Tratado de Lisboa, a União não tem competência para decidir
sobre as suas próprias competências, apenas os Estados Membros têm.
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Para além disso, é importante referir que a repartição de competências entre a União
e os Estados-Membros só pode ser alterada por decisão comum dos Estados-Membros
mediante revisão do Tratado (artigo 48.º TUE).
Vale uma teoria constitucionalmente adequada das funções do Estado, pautada por
diversas notas caracterizadoras:
AS FORMAS DE GOVERNO:
A. Parlamentar;
B. Presidencial;
C. Semipresidencial.
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instituições- a partir destes é possível traçar uma linha distintiva entre as três formas de
governo mencionadas.
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Esta forma de Governo tolera tanto executivos fortes com Parlamentos fracos, como
Parlamentos fortes e executivos fracos.
- No segundo caso, em que o executivo tende a não ter maioria absoluta no Parlamento-
sendo, por conseguinte, um governo minoritário ou de coligação- a doutrina fala de um
sistema parlamentar de assembleia (por exemplo, Itália).
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(4) o Presidente tem poder de veto suspensivo sobre as leis aprovadas pelo
Congresso, veto esse superável (daí dizer-se suspensivo) por uma maioria de 2/3 (two thirds
rule) em cada uma das câmaras.
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1. Justificação da designação:
2. Origens e influências:
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Interdependência Institucional:
- Exercícios.
Nota: no âmbito desta matéria, há uma parte que poderá ser avaliada em exame
final e que não se encontra neste material de estudo- A relação entre a Constituição da
República Portuguesa e o Direito Europeu.
• Leis;
• Decretos-leis;
• Decretos legislativos regionais;
• Regulamentos administrativos;
• Regimentos das Assembleias (artigo 175.º/a);
• Resoluções da Assembleia da República (artigo 166.º, nº5);
• Convenções Internacionais;
• Deliberações de organizações internacionais de que Portugal faça parte (artigo 8.º,
nº3);
• Convenções coletivas de trabalho;
Decreto Presidencial de declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência (artigo 38.º e 161.º, alínea 1)).
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I. PRINCÍPIO DA TIPICIDADE DOS ATOS LEGISLATIVOS (artigo 112.º, n.º 1 CRP): só são
atos legislativos - isto é, só têm força ou valor de lei - os atos que a Constituição
determina, ou seja, as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais.
o Os decretos legislativos regionais são atos legislativos emanados pelas
assembleias legislativas das regiões autónomas e não pelos governos
regionais (artigos 227.º e 232.º). Estes gozam apenas de poder regulamentar*,
e não de poder legislativo.
❖ A doutrina fala em atos com força afim à força de lei, tais como o decreto
presidencial de declaração de Estado de sítio ou certas resoluções da Assembleia
da República.
a) No nosso sistema de fontes de direito, os atos com valor de lei ocupam uma posição
hierárquica imediatamente inferior à Constituição;
b) possuem força ativa, isto é, poder de inovação jurídica dentro do ordenamento
jurídico ou poder de dispor originariamente sobre todas as matérias ou situações
jurídicas;
c) força jurídica passiva, o que significa que não podem ser revogadas nem
derrogadas por normas hierarquicamente inferiores.
Não há hoje um vértice com uma norma superior, uma vez que no escalão superior
situam-se vários ordenamentos superiores:
- Ordenamento constitucional;
- Ordenamento comunitário.
Hoje, este esquema deve ser temperado pela radicação de um ius cogens
internacional (o qual consagra um conjunto de exigências essenciais no que toca à pessoa
humana e à sua dignidade) cuja observância se impõe como dever imperativo aos
Estados, adquirindo, por isso, um valor supraconstitucional e impondo-se ao próprio poder
constituinte originário (v. art. 8.º/1/2 CRP).
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2) Princípio da superioridade das leis de bases e das leis de autorização (artigo 112,
nº2, in fine): as leis de base gozam de superioridade sobre os decretos-leis de
desenvolvimento (elas apenas dão os traços gerais, e, só depois, o Governo vai
desenvolvê-los) e as leis de autorização gozam de superioridade sobre os decretos-
leis autorizados.
3) Princípio da superioridade ou preeminência dos atos legislativos relativamente aos
atos regulamentares (artigo 112.º, nº 6 e 7): proibição de regulamentos
administrativos que contrariem, alterem ou revoguem o disposto na lei. Os
regulamentos administrativos são normas jurídicas emitidas pela administração
pública no exercício da função administrativa- se a administração só pode atuar se
existir uma lei que a autorize a atuar (princípio da precedência de lei), as leis vão-
se sobrepor aos regulamentos.
a. Por exemplo, posturas municipais, portarias ministeriais, decretos
regulamentares. Os decretos regulamentares são os regulamentos
administrativos aprovados pelo Governo (artigo 112.º, nº6), assinados pelo
primeiro-ministro (artigo 201.º/3) e sujeitos a promulgação pelo Presidente da
República (artigo 134.º, b).
- Caso prático.
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✓ Leis estatutárias;
✓ Leis de enquadramento (por ex., lei-quadro do Orçamento, lei-quadro das
reprivatizações, lei-quadro das entidades administrativas independentes).
3. As leis reforçadas ou leis com valor reforçado (artigo 112.º, nº3) (foram introduzidas na
Constituição pela revisão constitucional de 1989): atos legislativos que, nos termos da
Constituição, devam ser respeitados por outras leis, assegurando o sistema de fiscalização
da legalidade essa exigência de respeito.
Têm valor reforçado, além das leis orgânicas (1), as leis que carecem de aprovação
por maioria de dois terços (2), bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam
pressuposto normativo necessário de outras leis (3) ou que por outras devam ser
respeitadas (4).
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o O único caso de lei que carece de ser aprovada por maioria de 2/3 e que
não é lei orgânica é a prevista na alínea o) do artigo 164.º (restrições dos
direitos dos militares).
Este critério não nos permite caracterizar estas leis ou individualizá-las face a outras.
• Deputados e grupos parlamentares (artigo 156.º, b) e 180.º, nº2, alín. g)); Projetos de lei
• Governo, pelo Conselho de Ministros e nunca pelos Ministros (artigo 200.º,
nº1, alin. c));
• Grupos de cidadãos eleitores 8v. Lei da Iniciativa legislativa dos cidadãos- Propostas de
lei nº 17/2003 de 4 de julho)- mínimo de 20.000 cidadãos; lei
• Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, nos assuntos respeitantes
às regiões (artigo 227.º, nº1, alín. f));
Contudo, existem áreas de iniciativa legislativa reservada, quer porque isso resulta
expressamente da Constituição, quer porque isso decorre implicitamente da natureza
especial de certas leis.
É o caso das:
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Discussão e Votação:
• Votação final global em Plenário (artigo 168.º/2): traduz-se num juízo definitivo e final
sobre o projeto ou proposta de lei submetidos a discussão e votação.
o Aprovação por maioria relativa/simples (artigo 116.º/3);
- Uma proposta/projeto de lei é aprovada, portanto, quando obtém mais votos a favor do
que contra, não se contando as abstenções. Existem diversas exceções a esta regra geral.
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→ 4.ª fase – Controlo: Depois de aprovados pela AR, os projetos ou propostas de lei
assumem a forma de “Decretos da Assembleia da República” e são enviados ao
Presidente da República para promulgação. Uma vez recebido o decreto, o
Presidente da República pode (artigo 136.º):
2. Promulgar o decreto;
① veto político, que é um veto por motivos de oportunidade e não por razões de
constitucionalidade, ou seja, é um juízo negativo por parte do Presidente relativamente ao
mérito e oportunidade política do diploma (artigo 136.º/1).
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- Caso prático.
• As leis estatutárias são leis da República e não leis das regiões autónomas, cujo
procedimento elaboração tem algumas especificidades:
o Iniciativa de lei está reservada às Assembleias Legislativas das regiões
autónomas (artigo 226.º/1), ou seja, só estas podem apresentar, na
Assembleia da República, um projeto de estatuto político-administrativo.
o Momento deliberativo é da competência da Assembleia da República, ou
seja, é esta que aprova o projeto de Estatuto político-administrativo de cada
região.
• Por ex.: o regime dos símbolos nacionais é uma matéria de competência exclusiva
da AR (artigo 164.º/s). Se o estatuto político-administrativo de uma região autónoma
dispuser sobre os símbolos nacionais nessa região, tal norma não tem valor
reforçado porque o estatuto não pode versar sobre essa matéria.
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LEIS ORGÂNICAS
• Matéria:
o nos termos do artigo 166.º, n.º 2, reserva-se para as leis orgânicas certas
matérias de reserva absoluta da AR (artigo 164.º), tais como o regime eleitoral
dos órgãos de soberania (al. a), o regime dos referendos (al. b), a
organização e funcionamento do Tribunal Constitucional (al. c), organização
da defesa nacional (al. d), a disciplina das situações de emergência
nacional – o estado de sítio e o estado de emergência (al. e), a aquisição,
perda e reaquisição da cidadania portuguesa (al. f), o regime das eleições
dos deputados às Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas (al. j), as
eleições dos titulares do poder local (al. l), o regime do sistema de
informações da República (al. q) e do segredo de Estado (al. q), o regime
das finanças das regiões autónomas (al. t), e ainda a criação das regiões
administrativas (artigo 225.º).
• Procedimento:
→ Votação na especialidade da maior parte das leis orgânicas é feita em plenário e
não em comissão. Fala-se, a propósito, de uma reserva de plenário (artigo 168.º, n.º
4);
→ Aprovação por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (artigo
168.º, n.º 5);
→ Confirmação, após eventual veto presidencial, por uma maioria de 2/3 dos
deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções (artigo 136.º, n.º 3);
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→ Uma forma especial, que é a forma de lei orgânica (artigo 166.º/2). No topo do
diploma deve ler-se “Lei Orgânica n.º X” e a falta desta formalidade gera um vício
formal e tem como consequência a inconstitucionalidade formal da lei.
- A reserva de plenário não vale para todas as leis orgânicas, mas apenas para
aquelas elencadas no artigo 168.º/4.
b) Exigência de aprovação, na votação final global, por maioria absoluta dos deputados
em efetividade de funções (artigo 168.º/5).
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c) Exigência de maioria de dois terços dos deputados presentes (desde que superior à
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções) para a superação do veto
político do Presidente da República através de confirmação (art. 136.º/3);
• Confirmação por maioria de 2/3 dos deputados presentes desde que superior à
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções.
• Trata-se de uma especificidade porque, no quadro do procedimento legislativo
comum, a superação do veto político do Presidente, através de confirmação,
basta-se com uma maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções
(artigo 136.º/2).
• Ou seja, nas leis orgânicas, a discordância política do presidente só muito
dificilmente poderá ser superada.
- O que é que isso significa? Significa que, quando uma matéria deva ser disciplinada
através de uma lei orgânica, esta lei deve esgotar todo o regime jurídico dessa matéria.
Daqui decorre que, ao contrário das leis de enquadramento, das leis de autorização ou
das leis de bases, as leis orgânicas não são desenvolvidas nem complementadas por
outros atos legislativos.
- Casos práticos.
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“No uso da autorização legislativa (…) pode o Governo: a) Estabelecer os termos, os meios
e as condições em que as pessoas singulares e coletivas, públicas e privadas, nacionais e
estrangeiras, podem fidelizar um endereço eletrónico, que constitui a sua morada única
digital; b) Prever que a fidelização do endereço eletrónico, para efeitos de criação da
morada única digital, bem como a adesão ao serviço público de notificações eletrónicas,
são voluntárias para todas as pessoas singulares e coletivas, públicas e privadas, nacionais
e estrangeiras (…)”.
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prorrogação ser aprovada também por lei (artigo 165.º/1 da CRP e artigo 187.º/3 do
Regimento da AR).
• Cessação da autorização:
o Decurso dos limites temporais fixados na lei de autorização;
o Utilização da autorização (princípio da irrepetibilidade) – artigo 165.º, n.º 3 -
A utilização só faz cessar a autorização porque vale o princípio da
irrepetibilidade, ou seja, o Governo só pode utilizar a lei de autorização uma
vez; mas admite-se a execução parcelar da autorização, ou seja, admite-se
que o governo faça vários decretos-leis autorizados simultâneos ou sucessivos
mas com diferente conteúdo, ao abrigo de uma mesma lei de autorização
(têm de versar sobre segmentos distintos da lei de autorização).
o Revogação da autorização (tácita ou expressa);
o Caducidade (artigo 165.º, n.º 4);
▪ Mas o Governo pode editar outro decreto-lei, observados que sejam os limites da
autorização, quando o primeiro não chegar a entrar em vigor no ordenamento
jurídico (ex: por motivo de veto político, ou porque foi considerado inconstitucional
em sede de fiscalização preventiva).
• Revogação da autorização:
o Expressa: pressupõe a emanação, pela Assembleia da República, de um ato
de conteúdo oposto à autorização – uma espécie de lei de desautorização.
o Tácita: ocorre quando, durante o período de vigência da autorização, a
Assembleia da República decide emanar uma lei a regular a matéria que
havia sido delegada ao governo.
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- Casos práticos.
LEIS DE BASES:
Pressuposto e parâmetro
Leis de autorização:
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Teses:
• Quando as leis de bases incidam sobre matéria não reservada, nada impede que
possam ser alteradas por decreto-lei, ao abrigo do artigo 198.º, nº1, al. a). De outro
modo, estar-se-ia a admitir uma restrição dos poderes legislativos do Governo pela
AR, já que bastaria a esta última ocupar os espaços de competência concorrente
com leis de bases. É esta a solução que se chega mediante recurso ao princípio da
tipicidade constitucional de competências.
• Quando a matéria não esteja reservada à AR, o Governo pode legislar livremente,
independentemente de haver, ou não, leis de bases prévias. Significa que o
Governo não está sujeito à eventual inércia da AR na fixação das bases gerais de
uma dada matéria.
• Formal porque se enfatiza a circunstância de o artigo 112.º, n.º 2 não distinguir entre
as leis de bases em matéria reservada e as leis de bases em matéria de
competência concorrente, o que parece indiciar que a parametricidade das leis
de bases não varia em função deste critério.
• Lógico porque admitindo-se uma supremacia meramente parcial das leis de bases,
gorar-se-ia o sentido útil do artigo 112.º, n.º 2 e o princípio da superioridade
paramétrica da lei de bases nele consagrado. Com efeito, no domínio das matérias
reservadas à AR, a superioridade da lei de bases sempre resultaria do princípio da
reserva de competência, revelando-se desnecessária a consagração dessa
superioridade num preceito ad hoc. Para conservar o seu sentido útil, o artigo 112.º,
n.º 2 tem de poder abarcar todas as leis de bases, seja em matéria de competência
reservada ou não.
Argumentos:
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• É que embora aquela lei de bases não esteja a coberto da reserva de competência
legislativa da Assembleia da República, se o Governo entender exercer apenas a
competência legislativa de desenvolvimento, coloca-se voluntariamente sob o
critério da parametricidade específica das leis de bases, devendo o decreto-lei lei
de desenvolvimento conformar-se com os limites impostos pelo ato legislativo do
parlamento, mesmo que não estivesse obrigado a fazê-lo.
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- Casos práticos
LEIS DE ENQUADRAMENTO:
➢ Não se limitam a fixar as bases de um regime jurídico, antes visam regular
efetivamente o sector a que se referem, estabelecendo um regime jurídico global
de regras e princípios.
➢ Ou seja, trata-se de leis que estabelecem os parâmetros jurídico-materiais
estruturantes de um determinado sector da vida económica, social ou cultural.
Exemplos:
- Em matérias não reservadas à AR, existe uma concorrência legislativa entre o Governo e
a AR, podendo os decretos-leis alterar, suspender, interpretar e revogar as leis da AR e vice-
versa. Note-se, no entanto, que como veremos infra, a AR pode fazer cessar os diplomas
legislativos do Governo através do instituto da apreciação parlamentar (artigo 169.º).
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– Os decretos-leis que o Governo emane ao abrigo desta reserva não estão sujeitos a
apreciação parlamentar, nos termos do artigo 169.º, nem podem por outro modo ser
alterados ou revogados pela AR.
1. a iniciativa, que pode partir de qualquer membro do Governo, sendo depois dirigida ao
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros;
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- Caso prático.
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– No primeiro caso, abre-se um procedimento legislativo específico, que se inicia com uma
proposta de alteração ao decreto-lei em apreciação;
(1) ter sido o decreto-lei em causa emanado ao abrigo de uma lei de autorização
legislativa;
- Casos práticos.
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A) Controlo político
B) Controlo judicial:
MODELO UNITÁRIO:
(2) pelo que se afigura desnecessário a criação de uma jurisdição constitucional especifica
e organizatoriamente autónoma.
(3) Assim sendo, a atividade de fiscalização é levada a cabo por todos os tribunais no
julgamento das questões que lhes sejam submetidas. Por ex., Estados-Unidos e Brasil.
MODELO DE SEPARAÇÃO:
CONTROLO POLÍTICO:
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ausência de controlo jurisdicional das leis é ainda patente no modelo inglês, por
força do princípio da soberania parlamentar.
(1) a inconstitucionalidade de uma norma só pode ser invocada no decurso de uma ação
submetida à apreciação dos tribunais,
(2) sob a forma de exceção, isto é, como questão paralela à questão principal.
Por ex., existem modelos, como o nosso, em que existe um controlo por via de
incidente e um controlo apenas parcialmente difuso; e modelos, como, por ex., o alemão,
em que existe controlo incidental, sendo certo que logo que as partes levantem ou
suscitem o incidente de inconstitucionalidade, o tribunal a quo deve, sem proferir qualquer
decisão, suspender a instância e enviar a questão para o Tribunal Constitucional.
Num controlo deste tipo, a questão da constitucionalidade das normas é suscitada, a título
principal (isto é, não como questão paralela, mas como objecto principal e autónomo de
um processo), junto de um Tribunal. O controlo por via principal é, portanto, um controlo
abstrato, em que a impugnação da constitucionalidade de uma norma é feita
independentemente de qualquer litígio em concreto, isto é, independentemente da sua
aplicação num caso concreto.
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CONTROLO PREVENTIVO:
É um controlo que incide sobre normas ou atos imperfeitos, isto é, num momento em que
ainda não está concluído o seu processo de formação. Trata-se necessariamente de um
controlo abstrato, visto que se insere no próprio processo de produção legislativa, portanto,
antes da respetiva entrada em vigor e aplicação.
CONTROLO SUCESSIVO:
É um controlo que incide sobre normas perfeitas e eficazes, cujo processo de formação
constitucionalmente previsto já se encontra concluído.
OS EFEITOS DO CONTROLO
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– Não há controlo político da constitucionalidade das normas, pelo que até o processo
dotado de maior densidade política – que vem a ser a fiscalização abstrata preventiva da
constitucionalidade – pressupõe a emanação de uma decisão judicial.
– Trata-se de um controlo difuso, já que, nos termos do artigo 204.º, todos os tribunais têm
competência para fiscalizar a constitucionalidade das normas. Todos os juízes devem
examinar a constitucionalidade das normas que aplicam (“direito de exame”) e desaplicá-
las ao caso concreto, caso concluam no sentido de uma desconformidade com a
Constituição – aproxima-se da judicial review norte-americana.
(I) Não se consagra o modelo puro de judicial review, já que entre nós também existe um
controlo concentrado, o que significa que a decisão final ou definitiva sobre a
constitucionalidade das normas não pertence aos tribunais em geral, mas a um tribunal
em particular – no nosso caso, o TC;
(I) Não se consagrar um sistema puro de mero incidente, uma vez que os tribunais têm
acesso direto à Constituição:
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FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE
A) Objeto de controlo;
B) Parâmetro de controlo:
C) Os efeitos do controlo: nulidade ipso jure e inexistência (artigos 137.º, 140.º, nº2, 172,º,
nº2 CRP)
O objeto de controlo não são apenas os chamados atos normativos primários (as leis
ou os tratados internacionais), mas também os normativos secundários e terciários
(regulamentos, despachos normativos).
Não são apenas as normas, mas todas as normas “independentemente da sua natureza,
da sua forma, da sua fonte e da sua hierarquia”.
I. Normatividade
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II. Imediação
São atos normativos para efeitos de controlo aqueles que violem diretamente a
Constituição.
São atos normativos para efeitos de controlo aqueles que estabelecem um padrão
de comportamento não dependente da vontade dos destinatários.
O controlo incide sobre normas jurídicas de direito público, o que significa que, regra
geral, as normas jurídicas de direito privado estão excluídas do objeto de controlo
(v.g., regulamentos de federações desportivas).
No entanto, são atos normativos para efeitos de controlo os atos normativos
privados com efeitos ultra vires:
– isto é, aqueles que por força da Constituição e da lei, se impõem a terceiros que não
participaram na sua formação ou constituição. Por ex., as convenções coletivas de
trabalho.
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Quando não assumem a forma de ato legislativo, muitos atos normativos das
Assembleias assumem a forma de resolução:
- Note-se que também existem resoluções que não têm caráter normativo: estas estão,
nessa medida, excluídas do controlo da constitucionalidade- por ex.: a designação de
membros de órgãos constitucionais (artigo 163.º, al. h)).
V. REGIMENTOS DAS ASSEMBLEIAS (artigo 119.º, nº1, al. f) e 175.º, al. a)):
Rege o funcionamento interno das Assembleias. Vale como ato normativo para
efeitos de controlo- Ac. nº 63/91.
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I. ATOS ADMINISTRATIVOS:
Nos termos do artigo 148.º CPA, os atos administrativos são decisões dos órgãos da
administração, emanadas ao abrigo de normas de direito público, e que visam a
produção de efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta.
- Uma vez que tais atos não violam, à partida, diretamente a Constituição – não gozam de
imediação – estão excluídos da fiscalização.
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Neste caso, ele pode ser impugnado junto dos tribunais administrativos com
fundamento na sua ilegalidade, e consequentemente anulado ou declarado nulo, mas da
decisão do tribunal que aprecie a questão não poderá haver recurso para oTribunal
Constitucional.
- Ou seja, o TC não pode apurar se a decisão jurisdicional proferida num dado processo
cumpre os requisitos constitucionais impostos pelo artigo 205.º.
- Casos práticos.
O PARÂMETRO DE CONTROLO
OS VÍCIOS DE INCONSTITUCIONALIDADE
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➢ Vícios orgânicos ou de competência: têm lugar quando o órgão que emanou o ato
não era constitucionalmente competente para tal- gera inconstitucionalidade
orgânica.
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• PRECEITOS PERTINENTES: artigos 278.º, 279.º CRP e artigos 51.º e 57.º a 61.º da LTC.
• NOTAS GERAIS:
5. A fiscalização preventiva pode ser usada como arma política para questionar políticas
e não tanto para sindicar inconstitucionalidades. É o principal instrumento que o PR tem à
sua disposição para condicionar a atuação de um governo suportado por uma maioria
parlamentar (por exemplo, entre 1987 e 1995, durante o período de coabitação entre
Cavaco Silva e Mário Soares, foram 37 os pedidos de fiscalização preventiva efetuados
pelo PR).
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II. Preventivo: incide sobre normas imperfeitas, isto é, sobre normas cujo
procedimento de formação constitucionalmente previsto ainda não se encontra
concluído, o que significa que o controlo tem lugar depois da aprovação do diploma pelo
órgão competente, mas antes da respetiva promulgação ou assinatura.
REQUISITOS PROCESSUAIS:
Consistem nas condições fácticas e jurídicas que devem encontrar-se reunidas para
que o TC se possa pronunciar sobre o fundo da causa respeitante a um pedido de
fiscalização da constitucionalidade:
• São apenas dois os órgãos que gozam de competência para requerer a fiscalização, à
luz do disposto no artigo 278.º, n.ºs 1 e 2:
– Presidente da República
→ Presidente da República:
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– Contudo, o PR não pode usar o veto político para controlar preventivamente normas que
considere inconstitucionais:
• Artigo 278.º, n.º 4: a par destes dois órgãos, destaca-se ainda, desde a revisão
constitucional de 1989, a competência do Primeiro-Ministro ou de 1/5 dos
deputados da Assembleia da República para requerer a fiscalização da
constitucionalidade de normas constantes de decretos que devam ser publicados
como lei orgânica (leis de carácter estruturante).
• O artigo 52.º, n.º 1 da LTC determina a não admissão do pedido quando a este
faltarem os pressupostos subjetivos,
como a legitimidade do
requerente.
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- Os requisitos objetivos têm que ver com o âmbito da fiscalização. O objeto da fiscalização
preventiva é mais restrito do que o da fiscalização sucessiva:
(I) o objeto de controlo não são todas as normas jurídicas, mas apenas as normas
constantes dos atos normativos mais importantes do ordenamento jurídico, a saber (artigo
278.º, n.ºs 1 e 2):
• Propostas de referendo a nível nacional (artigo 115.º, n.º 8) regional e local (desde a
revisão constitucional de 1989).
• Este prazo tem carácter substantivo, o que significa que se conta continuamente.
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• O artigo 278.º, n.º 7 contém aquilo que para alguma doutrina se designa
“promulgação vedada”.
• Artigo 278.º, n.º 8 - o TC deve pronunciar-se no prazo de 25 dias, o qual pode ser
encurtado pelo PR por motivo de urgência.
• Em caso de pluralidade de pedidos (por ex., requerimento apresentado pelo PR e
pelo PM relativamente a uma mesma lei orgânica), o prazo conta-se em relação
ao último.
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• Pronúncia
• não pronúncia no sentido da inconstitucionalidade.
✓ A decisão de não pronúncia não faz caso julgado material quanto à questão
suscitada:
→ A pronúncia não produz efeitos ultra vires, nem vinculam ou precludem outros
processos de fiscalização sucessiva da constitucionalidade que no futuro possam
ter por objeto a norma já formada.
→ Mas faz caso julgado formal: tal significa que a questão de inconstitucionalidade
fica definitivamente decidida no sentido constante da sentença.
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→ Devolução do diploma ao órgão que aprovou o ato (reenvio) – artigo 279.º, n.º 1:
• Governo (caso a decisão de pronúncia tenha recaído sobre decretos-leis, acordos
internacionais aprovados pelo Governo),
• Assembleia da República (caso a decisão de pronúncia tenha recaído sobre leis,
tratados internacionais, acordos internacionais aprovados pela AR)
• ou Assembleia Legislativas Regionais (caso a decisão de pronúncia tenha recaído
sobre decretos legislativos regionais).
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4. Confirmação: podem ainda, nos termos do artigo 279.º, n.º 2, confirmá-lo mediante
maioria qualificada de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos deputados em efetividade de funções.
• Não poderá haver expurgação nem reformulação porque estão em causa atos
bilaterais cuja conclusão não dependeu exclusivamente da vontade dos órgãos
nacionais;
• É possível a superação da decisão de não-ratificação dos tratados internacionais
através da confirmação da AR por maioria de 2/3 dos deputados presentes desde
que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, nos
termos do artigo 279.º/4 da CRP;
• E a superação da decisão de não-assinatura de acordos internacionais aprovados
pela AR, apesar de isso não constar expressamente do artigo 279.º, n.º 4 (neste
sentido, Carlos Blanco de Morais, Cardoso da Costa, Gomes Canotilho, Manuel
Afonso Vaz; contra: Jorge Miranda).
→ Desistência;
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→ Expurgação;
→ Reformulação;
→ Confirmação???
o A favor da confirmação de decretos legislativos regionais pelas Assembleias
legislativas regionais manifestaram-se o TC – no acórdão n.º 151/93 – a dupla
JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS E BACELAR GOUVEIA
o Já o curso defendem que não é possível a confirmação de decretos
legislativos regionais vetados por inconstitucionalidade, porque a
confirmação de decretos legislativos regionais tem subjacente um conflito
entre um órgão de soberania – o TC – e um órgão político/constitucional não
soberano – a ALR, pelo que não é admissível que, através da confirmação, a
vontade da segunda possa sobrepor-se ao juízo do primeiro.
Em suma:
I. Aquela pronúncia gera o dever, para o Ministério Público, de recorrer quando os tribunais
apliquem a norma sobre a qual ela incidiu, ao abrigo do disposto no artigo 280.º, n.º 5.
- Casos práticos.
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• PRECEITOS PERTINENTES: artigos 281.º e 282.º CRP, e 51.º e ss. e 62.º a 66.º da LTC.
• NOTAS GERAIS:
o O controlo exercido em sede de fiscalização abstrata sucessiva é um
controlo sucessivo, por via principal, abstrato e concentrado.
o Trata-se de um controlo sucessivo porque incide sobre normas perfeitas, isto
é, normas cujo processo de formação já foi concluído, e que, portanto, já
foram objeto de publicação (mesmo que ainda não tenham entrado em
vigor).
o Não é exigível que as normas já tenham entrado em vigor (ex: estar em
período de vacatio legis).
• Todos os atos que revistam a forma de ato legislativo, mesmo que não sejam
estatuições gerais e abstratas (por ex., uma lei-medida),
• e ainda todos atos normativos em sentido material, entenda-se, que contenham
disposições gerais e abstratas, independentemente da forma que revistam (por ex.,
regulamentos administrativos, despachos normativos, posturas, etc).
• de fora ficam inequivocamente os atos administrativos.
✓ De normas que violem leis de valor reforçado (artigo 281.º, n.º 1, al. b),
✓ de diplomas regionais (decretos legislativos regionais ou decretos regulamentares
regionais) que ofendam o estatuto político-administrativo da Região Autónoma em
causa (artigo 281.º, n.º 1, al. c),
✓ de normas de diplomas emanados pelos órgãos de soberania que violem os direitos
das regiões consagrados no seu estatuto (artigo 281.º, n.º1, al. d), sejam eles atos
legislativos ou atos regulamentares.
– Quem tem competência para apreciar, por via de ação e de forma abstrata, a
inconstitucionalidade de normas jurídicas?
Não há prazo para o Tribunal Constitucional decidir, não obstante o disposto no artigo 65.º,
n.º 4, da LTC, que permite que, a pedido do requerente, o Tribunal Constitucional atribua
“prioridade” à resolução de um determinado processo.
– O Presidente da República;
– O Primeiro-Ministro;
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– O Procurador-Geral da República;
O pedido de fiscalização abstrata sucessiva não tem prazo, podendo ser requerida
a todo o tempo - as normas declaradas inconstitucionais (com força obrigatória geral) são
nulas, e o vício de nulidade não é sanável com o decurso do tempo.
CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO:
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1. Requerimento;
4. Decorridos pelo menos 15 dias desde a data de receção deste memorando pelos
demais juízes, tem lugar um debate onde é fixada a orientação do tribunal sobre a questão
(artigo 63.º, nº2 LTC).
EFEITOS DA DECISÃO:
• porque discorda da causa de pedir, isto é, não reconhece a violação das normas
e princípios constitucionais invocados,
• Ou porque considera que a norma sindicada pode ainda ser estimada como válida
através de uma interpretação conforme com a Constituição.
→ Quanto aos efeitos: uma decisão de rejeição não beneficia da força obrigatória
geral e do efeito do caso julgado material. Uma tal sentença não tem efeito
preclusivo - não impede que o mesmo ou outro requerente venha de novo solicitar
ao TC a apreciação da constitucionalidade da norma anteriormente não
declarada inconstitucional.
→ Caso julgado material: impõe que os efeitos da decisão jurisdicional proferidos sobre
o fundo da relação controvertida se tornem vinculativos dentro e fora do processo.
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✓ Vinculação do legislador:
• Uma norma declarada inconstitucional é uma norma inválida, maxime, uma norma
nula, o que significa que a declaração de inconstitucionalidade da norma anda
associada à declaração de nulidade.
• Ora, a nulidade é um tipo de invalidade que, a nível constitucional, está associada:
Inconstitucionalidade superveniente:
• Gomes Canotilho/Vital Moreira (2011) invocam que, para além das sentenças
judiciais transitadas em julgado, a declaração de inconstitucionalidade não afeta
quaisquer outras situações ou soluções juridicamente consolidadas, inclusivamente
o caso decidido administrativo, solução sufragada pelo TC nos Acs. n.º 786/96 e
187/03; os contratos já executados.
• No entanto, mesmo que se considere que a parte final do n.º 3 não abrange o caso
decidido administrativo, sempre se poderá sustentar a não afetação das decisões
administrativas irrecorríveis ao abrigo do n.º 4 do artigo 282.º.
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*Trata-se de atos administrativos que por não terem sido impugnados/contestados nos
tribunais administrativos, se tornaram definitivos e que não podem ser, por isso, revogados.
Ex: com base na lei X, a administração licenciou a construção de um hotel em Coimbra;
tal ato de licenciamento, que é um ato administrativo, não foi impugnado nos tribunais e
tornou-se, por isso, definitivo, isto é, insuscetível de ser alterado.
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Exceções:
2. se, no momento em que entrou em vigor a norma declarada inconstitucional era válida,
então também foi válido o ato de revogação das normas anteriormente vigentes;
- Casos práticos.
• Artigo 282.º, n.º 4 - a doutrina concorda que este preceito permite ao TC manipular
a amplitude dos efeitos das sentenças declarativas de inconstitucionalidade.
I. Que efeitos geralmente ligados à declaração de nulidade podem ser manipulados pela
sentença do TC?
II. Que condições ou pressupostos objetivos devem verificar-se para que o TC possa exercer
os poderes que se lhe são facultados no n.º 4?
2. Os efeitos repristinatórios,
– É admissível que aquele Tribunal, não deixando de destruir os efeitos passados produzidos
pela norma declarada inconstitucional, determine que tal destruição opere até certa data
ou até à ocorrência de um dado evento.
✓ Efeitos repristinatórios:
• O Tribunal pode ainda determinar a não entrada em vigor da norma revogada pela
norma agora declarada inconstitucional.
• Esta restrição pode fundar-se em vários motivos:
1. a norma a repristinar pode ser tão ou mais inconstitucional que a norma declarada
inconstitucional,
2. pode ter caducado ou esgotado o seu objeto (por ex., tratado internacional, leis-
medidas, leis de amnistia)
3. ou pode, simplesmente, não se afigurar como uma solução razoável, por impor
sacrifícios ou onerações excessivas aos destinatários.
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• Admite-se, também, uma repristinação per saltum, quando haja limitação temporal
dos efeitos de sentença de provimento.
Que condições ou pressupostos objetivos devem verificar-se para que o TC possa exercer
os poderes que se lhe são facultados no nº4?
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1. uma no sentido de que um cidadão não pode ser eleito mais de três vezes consecutivas
presidente da mesma câmara municipal;
2. outra no sentido um cidadão não pode ser eleito mais de três vezes consecutivas
presidente de qualquer câmara municipal;
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- Caso prático.
→ Controlo concreto:
o quer a decisão do juiz a quo, quer, eventualmente, a que o TC venha a
proferir em sede de recurso de constitucionalidade, que julguem a norma
inconstitucional ou não inconstitucional apenas produz efeitos no caso
concreto, levando à sua desaplicação ou aplicação no processo- base.
o Os efeitos produzidos não extravasam o processo no qual o incidente de
inconstitucionalidade foi suscitado.
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Exemplos:
1) no decurso de um processo,
REQUISITOS SUBJETIVOS:
REQUISITOS OBJETIVOS:
A questão de (in)constitucionalidade:
RECURSOS DE CONSTITUCIONALIDADE:
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– Estes são recursos que têm por base decisões positivas ou de acolhimento de
inconstitucionalidade;
- Estes são recursos que têm por base decisões negativas ou de rejeição de
inconstitucionalidade; esta é a modalidade de recurso mais comum no Tribunal
Constitucional;
Direito subsidiário aplicável: O artigo 69.º da LTC dispõe que à tramitação dos
recursos de constitucionalidade e legalidade são aplicáveis, a título subsidiário, as
normas do Código de Processo Civil.
d) Prazo do recurso
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O objeto do recurso não é a própria decisão judicial, mas apenas a parte dela em
que se considerou inconstitucional (ou não) uma determinada norma aplicável à
causa em apreciação.
O TC recusa conhecer recursos interpostos de atos não normativos, tais como atos
administrativos (Ac. n.º 65/90), sentenças (Ac. n.º 283/90), ou atos políticos ou de
governo (Ac. n.º 82/92).
d) Prazo do recurso:
Nos termos do artigo 75.º LTC - 10 dias, contados a partir da data da notificação da
decisão recorrida ao interessado.
Trata-se de um prazo também aplicável ao MP quando este recorre
obrigatoriamente.
Se for fora do prazo: artigo 76.º, n.º 2.
- Caso prático.
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PRECEITOS PERTINENTES: artigo 280.º, n.º 1, al. a, n.º 3, e artigo 70.º, n.º 1, als. A.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS:
Ex: Por ex., se Pedro está a ser julgado por um crime de lenocínio, e o tribunal a quo julga
inconstitucional a norma onde esse crime está previsto, e desaplica-a, Pedro não pode
recorrer para o Tribunal Constitucional, porque ele não tem interesse em agir, ou seja, não
foi prejudicado pela decisão positiva de inconstitucionalidade proferida pelo tribunal
ordinário.
I. Nos casos em que a norma julgada inconstitucional conste de ato legislativo (lei, decreto-
lei ou decreto legislativo regional – art. 112.º/1 CRP), convenção internacional (acordo ou
tratado internacional) ou decreto regulamentar, o recurso é obrigatório para o Ministério
Público, mesmo que este não seja parte no processo (art. 280.º/3 CRP e art. 72.º/3 LTC).
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II. Quando haja desaplicação pelo tribunal a quo de outras normas que não as integrantes
nas categorias elencadas no n.º 3 do artigo 280.º, aplicam-se as regras gerais em matéria
de legitimidade, o que significa que o recurso do MP:
→ será facultativo;
→ e que a sua legitimidade se encontra condicionada à circunstância de o mesmo
intervir no processo em representação da parte que possa recorrer, ou como
representante de parte vencida.
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Numa decisão deste tipo, o tribunal a quo aplica ao processo-base uma norma cuja
inconstitucionalidade foi suscitada durante o processo, por a reputar como não
desconforme com o parâmetro constitucional.
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benefícios, na sua esfera jurídica, sob pena de não lhe ser reconhecido interesse em
recorrer (Ac. n.º 206/92).
Não é um pressuposto de indeferimento ao abrigo do artigo 76.º, nº2 LTC, mas deduz-se do
artigo 72.º, nº1, al. b).
Não é necessário que a norma haja sido expressamente aplicada, bastando que
isso decorra implicitamente da decisão (Acs. n.ºs 318/90, 466/90, 445/99).
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Situações no âmbito das quais se considera que o recurso não deve ser
liminarmente indeferido por extemporaneidade, não obstante a questão de
constitucionalidade não ter sido suscitada antes da decisão final:
- Há lugar a uma decisão surpresa quando a aplicação de uma norma pelo tribunal “a
quo” ou a interpretação dada no processo aplicativo à mesma norma por aquele tribunal,
assuma um carácter objetivamente insólito, inesperado ou imprevisível:
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Por exemplo, não se pode recorrer da medida concreta da pena aplicada a certo
arguido; da adequação e correção do juízo de valoração das provas; da
conclusão do tribunal acerca da existência de indícios suficientes para proferir
acusação; do carácter claro e coerente da fundamentação de certa decisão
judicial, proferida sobre a matéria de facto (Ac. n.ºs 99/05 e 220/06).
– A doutrina considera que não é razoável que a parte que haja suscitado a
inconstitucionalidade na primeira instância, tendo aí obtido ganho de causa, seja
obrigada a suscitar a questão nas instâncias superiores.
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EXEMPLO:
“tendo em vista um eventual recurso para o Tribunal Constitucional, a alínea c), do n.º 3,
do art. 1817º do Código Civil é inconstitucional, por violação dos princípios constitucionais
da certeza e segurança jurídicas (que decorrem do princípio constitucional do Estado de
Direito Democrático – art. 2.º da CRP) e do respeito da vida privada e familiar do
investigado e da sua família, cuja tutela não pode deixar de ser considerada (art. 26.º, n.º
1 da CRP), quando inclua no conceito de facto superveniente uma ocorrência que apenas
veio “adensar ou reforçar as suspeitas” do investigador, que desde criança “suspeitou ser
filha biológica” do investigado, e não apenas aquele(s) facto(s) que pela primeira vez
suscita(m) suspeitas fundadas sobre a paternidade, até aí totalmente desconhecida.”
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• PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
– É necessário que a mesma norma – e, quando seja caso disso, a mesma interpretação
normativa – tenha sido anteriormente “julgada inconstitucional” pelo TC, em processo de
fiscalização concreta, abstrato sucessiva ou abstrata preventiva de constitucionalidade
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(b) Quando a norma tenha sido (anteriormente) objeto de um decisão de pronúncia pelo
TC, em sede de fiscalização abstrata preventiva. Recorde-se que uma norma objeto de
uma decisão de pronúncia pode, não obstante, ter entrado em vigor, caso tenha sido
objeto de confirmação, nos termos do artigo 279.º, n.ºs 2 e 4.
(c) Quando a norma tenha sido (anteriormente) declarada inconstitucional pelo TC, em
sede de fiscalização abstrata sucessiva. Aqui, o recurso (obrigatório) de
constitucionalidade funciona como uma válvula de segurança, e está voltado para
aquelas situações em que, por lapso ou esquecimento, o tribunal ordinário aplica norma
já expulsa do ordenamento jurídico. Esta hipótese é marginal.
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1. Quando a norma cuja aplicação tiver sido recusada constar de ato legislativo,
convenção internacional e decreto regulamentar – art. 280.º/ n.º 3. Presunção de validade
daqueles atos normativos (já foram objeto de um controlo jurídico-político: promulgação,
assinatura, ratificação) - princípio do favor legis;
- Casos práticos.
-Caso prático.
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EFEITOS DIRETOS:
1. Efeito de caso julgado no processo (artigo 80.º, n.º 2 LTC) - se o Tribunal Constitucional
julgar a norma inconstitucional, ela não pode ser aplicada no processo pelo tribunal
recorrido nem por qualquer outro tribunal que venha a conhecer dele em fase de recurso.
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Nada obsta a que ela venha a ser aplicada por outros tribunais, no futuro ou em processos
pendentes.
I. Passa a estar preenchido um dos pressupostos para que haja recurso nos termos do
artigo 70.º, n.º 1, al. g) LTC, isto é, recurso de aplicação de normas anteriormente julgadas
inconstitucionais pelo TC, uma vez que a norma julgada inconstitucional passa a gozar de
uma presunção de inconstitucionalidade;
II. Havendo divergência entre juízos proferidos em sede de fiscalização concreta sobre
uma mesma norma ou interpretação normativa, cabe recurso obrigatório para o Ministério
Público para o Plenário do TC, nos termos do artigo 79.º-D, n.º 1 LTC.
III. De acordo com o instituto da repetição do julgado (artigo 281.º, n.º 3 e artigo 82.º da
LTC), se uma norma houver sido julgada inconstitucional pelo TC em três casos concretos,
podem os juízes do TC ex officio ou mediante solicitação do MP, desencadear um processo
de fiscalização abstrata sucessiva da constitucionalidade.
- Imagine que o Tribunal Constitucional julga a norma inconstitucional. Quais são os efeitos
desta decisão?
✓ Decisão em que TC julga uma norma inconstitucional: referência aos efeitos diretos
(artigo 80.º LTC) e aos efeitos indiretos ou reflexos.
Artigo 281.º, nº3- prevê processo de fiscalização abstrata de caráter oficioso, através
do qual é possível a declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória
geral com base em juízos concretos de inconstitucionalidade pelo TC.
3) Não automático: o facto de uma norma ser julgada inconstitucional em pelo menos
três casos concretos não implica a sua imediata expulsão do ordenamento jurídico. A
declaração de inconstitucionalidade depende do prévio desencadeamento de um
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– Não carece, para operar, de uma uniformidade ao nível dos fundamentos do juízo de
inconstitucionalidade.
Silêncio LEGISLATIVO
→ Não basta o simples dever geral de legislar para dar fundamento a uma omissão
inconstitucional. É necessário uma exigência constitucional de ação.
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- Ordens de legislar = imposições únicas, i.e., imposições concretas mas não permanentes
(diferente das imposições constitucionais).
Ou
– de uma incompleta apreciação das situações de facto, mas sem que haja o
propósito de arbitrária e unilateralmente se favorecerem só certos grupos ou situações.
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O TC apenas pode verificar e declarar que a omissão existe, não podendo nem
pronunciar-se sobre o modo de suprir a deficiência nem muito menos substituir-se
aos órgãos legislativos competentes. Nem pode fixar um prazo para que a omissão
seja suprida – Princípio da Separação de Poderes.
- Casos práticos.
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