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SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros
Editores. 30ª edição. 2008, p.479.
Todavia, essa competência é repartida de modo à garantir a concretização da
autonomia atribuída aos entes federados pela Constituição Federal, assim dela
dependendo a harmonia entre os poderes legislativos. (SOARES, 1995, p.81)
Vale frisar que a repartição de competências é de esprema importância, tendo em
vista, que estabelece um relacionamento harmônico entre os entes federados, garantindo
que suas atuações serão previstas e orquestradas para que o modelo federativo possa ter
êxito em seus objetivos.
De outro modo, o poder central e os poderes periféricos estariam constantemente
em conflito, sem quaisquer parâmetros de atuação conjunta e das partes, resultando na
sobreposição de atividades e mau uso do dinheiro público. Assim comenta, Fernanda
Dias Menezes de Almeida:
“Se a grande inovação do federalismo está na previsão de dois níveis
de poder – um poder central e poderes periféricos -, que devem
funcionar autônoma e concomitantemente, é manifesta a necessidade
de tal partilha”. (ALMEIDA, 2010, p.14).
SOARES, Esther Bueno. União, Estados e Municípios. In Por uma nova federação, coord. Celso
Bastos, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p.77 a 84.
ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de. Competências na Constituição de 1988. 5ª edição, São
Paulo: Atlas, 2010, p.14.
Desse modo, ressalta-se que a Constituição brasileira tem como técnica, o ato de
enumerar competências à União e aos Municípios, deixando aos Estados a
responsabilidade pelos poderes remanescentes, prevendo também, competências
legislativas concorrentes e materiais comuns a todos os entes federados.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O Estado Federal. São Paulo: Editora Ática, 1886.
Não obstante, Sylvio Motta Filho e Gustavo Barchet interpretam que são de
natureza legislativa as competências, privativas da união, dispostas no art. 22 da CR;
concorrente entre união, e estados e o distrito federal, prevista no art. 24 da CR;
exclusiva dos municípios, contemplada no art. 30, I, da CR; e suplementar dos
municípios, prevista no art. 30, II, da CR. (MOTTA FILHO, BARCHET, 2008, p. 282)
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. p.60-70
livro
Em que pese o primeiro inciso deixe dúvidas, o segundo ratifica a ideia corroborada
pela doutrina majoritária que afirma ser suplementar a competência municipal em
matéria ambiental.
José Afonso da Silva remete aos seguintes ensinamentos:
A Constituição não situou os Municípios na área de competência
concorrente do art. 24, mas lhes outorgou competência para
suplementar a legislação federal e estadual no que couber, o que vale
possibilitar-lhes disporem especialmente sobre as matérias ali
arroladas e aquelas a respeito das quais e reconheceu à União apenas a
normatividade geral. (SILVA, 2008 p.504)
Outro ponto de destaque e divergência recai sobre o termo interesse local, o qual
não tem conceito definido na doutrina, mas grandes doutrinadores explanam com
clareza sobre o tema.
Conforme Meirelles (1999p.98) “o que define e caracteriza interesse local, inscrito
como dogma constitucional, é a predominância do interesse do Município sobre o do
Estado ou da União”, extrai-se, portanto, que para o autor não haverá que se falar em
exclusividade (competência exclusiva) do município, uma vez que todo interesse local
atinge reflexamente o Estado ou a União, mesmo que direcionado a comunidade que
vive.
Seguindo a mesma orientação, Fiorillo explica:
Ao atribuir ao Município competência para legislar sobre assuntos
locais, está-se referindo aos interesses que atendem de modo imediato
às necessidades locais, ainda que tenham repercussão sobre as
necessidades gerais do Estado ou do País. Com isso, questões como o
fornecimento domiciliar de água potável, o serviço de coleta de lixo, o
trânsito de veículos e outros temas típicos do meio ambiente natural,
artificial, cultural e do trabalho no âmbito do Município, embora de
interesse local, não deixam de afetar o Estado e mesmo o país.
(FIORILLO, 2009 p.133)
Por fim, a competência concorrente pressupõe modalidades. A mais comum pode ser
a que diferencia a competência concorrente horizontal ou vertical, que também pode ser
classificada como cumulativa ou não cumulativa. Filho (1988, p. 189)
Manuel Gonçalves Ferreira Filho explica que a competência concorrente cumulativa existe
sempre que não há limites prévios para o exercício da competência, por parte de um ente. A
não cumulativa é que propriamente estabelece a chamada repartição “vertical”. Filho (1988, p.
189)
Os parágrafos do artigo 24 da Constituição Federal identificam a regra da competência
concorrente vertical ou não cumulativa, que vem a significar que a atuação dos entes
federados orbita dentre de certos parâmetros, conforme segue: (i) § 1º - no âmbito da
legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas
gerais; (ii) § 2º - a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados; (iii) § 3º - inexistindo lei federal sobre normas
gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades; (iv) § 4º - a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
PROUDHON, Pierre Joseph. El principio federativo, Ed. Aguilar Madrid, 1971, p.64.
Fernanda Dias Menezes sobre as competências municipais descritas pela Constituição de 1988
afirma que: “afastando-se, em parte, da técnica tradicional, a Constituição de 1988 não se
limitou a demarcar a área das competências municipais circunscrevendo-as à categoria
genérica dos assuntos concernentes ao peculiar interesse do Município. Foi mantida, sim uma
área de competências privativas não enumeradas, uma vez que os Municípios legislarão sobre
os assuntos de interesse local (art. 30, I). Todavia, o constituinte optou por discriminar
também certas competências municipais exclusivas em alguns dos outros incisos do artigo 30.
Destarte, pode-se dizer das competências reservadas dos Municípios, que parte delas foi
enumerada e outra parte corresponde a competências implícitas, para cuja identificação o
vetor será sempre o interesse local”. p.97.
ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de. Competências na Constituição de 1988. 5ª edição, São
Paulo: Atlas, 2010.