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DECISÃO
DECIDO:
Com efeito, somente aquilo que resultou do processo administrativo fiscal possui
presunção de certeza e de legitimidade. Somente o resultado da atuação das partes em
contraditório na formação do título executivo confere-lhe a presunção de legitimidade própria dos
atos administrativos. A participação do devedor na formação do título executivo é uma constante
em nosso sistema processual.
O ato de lançamento não é um ato administrativo como o resultante do poder de
polícia, que é autoexecutável. O Estado precisa obter o título executivo para alcançar o
patrimônio privado. E para que esse título seja válido deve passar por rígido controle de legalidade
através de processo administrativo, chancelado finalmente pelo ato de inscrição em dívida ativa,
que se constitui na última instância do controle de legalidade da persecução tributária.
Nesse sentido, correta a jurisprudência quando entende prescindível a formação
do processo administrativo se a Administração concorda com a declaração do contribuinte ou do
responsável porque a declaração expressa sua responsabilidade e a ocorrência do fato gerador.
Porém, nessa declaração não há elementos que configurem a responsabilidade tributária de
terceiro, principalmente por ato ilícito ou contrário ao estatuto ou contrato social.
Disso deflui que a presunção da CDA só deve ser aplicada no que estiver
legitimada por declaração do contribuinte ou pelo processo administrativo de constituição da
dívida. Se o Fisco pretende estender a responsabilidade tributária ao substituto cuja
responsabilidade decorre da lei, basta comprovar na CDA a declaração do responsável
assumindo o dever de recolhimento do tributo e a própria materialização fática da hipótese
normativa; se o Fisco pretende alcançar o responsável por transferência deve comprovar o
evento fático que desencadeia a sucessão passiva; em outras palavras, a CDA deve expressar o
evento fático contido em declaração ou em processo administrativo tributário como condição para
a aplicação da presunção de certeza, liquidez e legitimidade do título executivo.
Esta a exegese que se deve atribuir ao art. 2º, § 5º, I e III, da LEF.
Documento: 6197837 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 21/09/2009 Página 3 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Na doutrina, defendendo o mesmo entendimento, colho a lição de Leandro
Paulsen:
A responsabilidade tributária depende da concorrência de dois
pressupostos de fato: o fato gerador do tributo e aquele próprio da responsabilidade. Essa
circunstância de a obrigação do terceiro de responder pelo inadimplemento do
contribuinte ter seu pressuposto de fato específico, torna imperativo que tal seja apurado
e declarado.
Do fato gerador do tributo só decorre a obrigação de contribuinte, de
modo que o lançamento que se limita a verificar a sua ocorrência, apontar o montante
devido e identificar o contribuinte notificando-o para pagar, não se presta senão para
formalizar a obrigação deste. Do mesmo modo, a declaração do contribuinte em que
reconhece seu débito tributário não vincula senão ele próprio ao Fisco.
Para que o terceiro tenha sua eventual obrigação de responder pelo
tributo formalizada, faz-se indispensável a verificação também do pressuposto específico
de tal obrigação, a indicação do seu objeto próprio (nem sempre coincidente com o da
obrigação do contribuinte) e a identificação do seu particular sujeito passivo.
Não há dúvida de que não se exige do Fisco que vá a Juízo para, em ação
de conhecimento, ver reconhecida tal obrigação do terceiro. Mas também não pode haver
dúvida quanto à necessidade de o Fisco apurar administrativamente tal responsabilidade,
assegurando ao suposto responsável o devido processo legal, o que pressupõe a
possibildiade oferecer defesa administrativa.
(...)
Não cabendo inovações por ocasião da inscrição em dívida ou de sua
certificação, a presença do nome do terceiro responsável no termo de inscrição e na
certidão, pois, também pressupõe prévias verificação e declaração administrativas de
responsabilidade. Note-se que "quem não foi notificado para o procedimento do
lançamento, não poderá juridicamente figurar no Termo de Inscrição em Dívida Ativa, que
decorre daquele procedimento, e nem na CDA, que reproduz os dados desse mesmo termo.
Assim, a Certidão de Dívida Ativa, para constituir título idôneo e
suficiente ao redirecionamento da execução contra o responsável deve apontar não
apenas o seu nome, mas também o fundamento legal da responsabilidade e o número do
processo administrativo em que apurado o seu pressuposto de fato específico e ensejada
a defesa do responsável. (in Responsabilidade tributária: seu pressuposto de fato
específico e as exigências para o redirecionamento da execução fiscal. Revista de
Estudos Tributário, v. 11, n. 68 - jul/ago 2009. São Paulo: IOB, pp. 7-20.