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Um exemplo
de político
A UNIÃO
2 JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009
E S P E C I A L
ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”
OPINIÃO #
“
de paraibanos presentes rência, honradez, respeito com a
que iria trabalhar para cons- coisa pública e, acima de tudo, fi-
truir uma Paraíba desenvol- delidade com os amigos e com a
vida economicamente e jus-
Não pago qualquer preço para chegar ao poder. Quero
Paraíba.
ta para com o seu povo. Seu A força e a determinação de pôr
discurso teve por base a de- governar a Paraíba, mas quero governá-la em nome em prática todo um projeto que
fesa dos direitos dos cida- já vinha sendo construído então
dãos e a busca por uma vida das forças progressistas, dos ideais de nossa juventude, há 17 anos (1978 a 1995), entre-
mais digna para as camadas tanto, não foram suficientes para
mais necessitadas. Começa- em nome dos homens e mulheres de bem que lutam, superar a doença que se instalou
va ali o "Governo da Solida- em seu organismo e que o tirou
riedade", alicerçado nos como eu luto, para mudar o mundo do plano material antes mesmo
princípios e nas convicções de a sua administração comple-
de um homem público. tar nove meses.
A UNIÃO
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ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”
João Evangelista
Q
uando disputava o Governo
da Paraíba nas eleições de
1994, o então senador Antônio
Mariz se viu diante de um desafio que
para ele chegou a ser mais importan-
te até do que o andamento de sua cam-
panha rumo ao Palácio da Redenção.
O seu amigo e companheiro de parti-
do, senador Humberto Lucena, esta-
va sendo ameaçado de cassacão por
causa de acusações de uso da gráfica
do Senado. E foi ele, Mariz, a voz mais
forte na defesa de Humberto.
Mesmo sendo candidato a governa-
dor da Paraíba, Mariz não teve medo
de questionar e combater a posição do
Tribunal Superior Eleitoral, que ten-
dia pela cassação de Humberto Luce-
na. Deixando de lado a sua campanha,
"arregaçou as mangas" e partiu para
a mobilização que incluiu, além do
chamamento de toda a população pa-
raibana, civil e política, para defen-
der o mandato do homem (Humber-
to) que, a exemplo dele (Mariz), dedi-
cava toda a sua vida aos interesses da
coletividade paraibana, um forte pro-
nunciamento na Tribuna do Senado.
"Se a Paraíba fosse incapaz de rea-
gir à violência que se comete contra o
mais ilustre dos seus filhos; se faltas-
se à Paraíba a capacidade de indig-
nar-se, de revoltar-se diante de tão Em pronunciamento histórico, Mariz disse que não lhe interessava ser governador da Paraíba caso esta negasse apoio ao seu filho ilustre
torpe injustiça; então, eu seria o pri-
meiro a não querer ser o seu Gover-
nador de Estado. Preparei-me a vida # PENSAMENTOS DE MARIZ #
toda para governar a minha terra.
Dediquei-me a vida inteira a esse ob- Mesmo sendo candidato a # econômico, a característica dessa
jetivo. Talvez, contudo, o que me dis-
governador da Paraíba, Mariz "Eu vejo o governo como um cúpula nacional é a crueldade, é a
tinga, o que me diferencie da maioria
dos políticos, seja o fato marcante de instrumento de resgate da pobreza. incapacidade de agir com senso
que não adulo os poderosos, não cor- não teve medo de questionar Acho que a função primordial do de humildade, de bondade.
tejo sequer a opinião pública, tantas governo é exatamente procurar É uma classe dirigente cruel".
vezes enganada pelos interesses escu- e combater com firmeza a eliminar essas diferenças."
sos da imprensa nacional. Ajo em "Os Governos democráticos não
nome de princípios e valores, que jul- posição do Tribunal Superior "Os números do IBGE são são os que realizam apenas as
go expressarem as mais profundas escandalosos na denúncia do
Eleitoral (TSE), que tendia pela grandes obras, mas, sobretudo,
aspirações e padrões de conduta do
problema de concentração de os que melhoram as condições
nosso povo. Não pago qualquer preço
cassação do senador renda, da qual o Nordeste é de vida do povo."
para chegar ao poder", enfatizou.
Com o apoio da grande maioria da a vítima por excelência."
classe política e da população do Es- Humberto Lucena (PMDB) "O fundamental é entendermos e
tado, Antônio Mariz, que já andava "O problema nordestino deve ser vencermos a afronta de tanta fome
com a saúde abalada, viu o seu ami- visto numa perspectiva nacional. num Estado que sequer produz,
go Humberto Lucena, não somente Interessa ao país restabelecer índices em seu território, nem mesmo
ser inocentado das acusações que le- de crescimentos regionais que o alimento para a minoria que
vavam à sua cassação, como também em Deus a cura do amigo fiel. Infeliz- permitam acreditar na integração pode comprar."
ser reeleito para o Senado da Repú- mente a doença foi mais forte e o tirou
das unidades federadas que ali se
blica com 415.899 votos - 21,5% dos do convívio humano. Só não conse-
situam no plano de trabalho, "Tentarei um Governo de equipe,
votos válidos. guiu suplantar seus ensinamentos,
Retomando a sua campanha de go- seus exemplos de liderança, de preo- no mesmo plano de prosperidade voltado, antes de tudo, para a
vernador, Mariz conseguiu reforçar a cupação com o povo, de seriedade no que o país ambiciona." solidariedade que faz da dor de um
consagração de sua vida pública (que trato com a coisa pública, de fidelida- a dor de todos, e da alegria de
incluiu os cargos de prefeito de Sousa, de e de tantas outras qualidades es- "O traço característico dominante todos a alegria de cada um."
deputado federal por quatro legisla- senciais a um homem de bem, segun- dos Governos do Brasil, das elites
tura e senador) com uma votação de do enfatizaram, e ainda enfatizam dirigentes, dos dirigentes dos Seleção do senador Humberto Lucena
exatos 781.349 votos. hoje, inúmeros representantes da so- quadros que detêm o poder (in memoriam)
Naquele momento, o povo da Paraí- ciedade paraibana e nacional, sem
ba provou que confiava nele, e esperou distinção partidária.
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“Paraíba democrática, terra amada” ANTÔNIO MARIZ JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 5
N
ascido em João Pessoa no dia 5
de dezembro de 1937, Antônio
Marques da Silva Mariz mui-
to cedo foi morar no Sertão da Paraí-
ba. Com a chegada do Estado Novo,
decretado por Getúlio Vargas, seu pai,
José Marques da Silva Mariz, que era
correligionário de Argemiro de Figuei-
redo, se transferiu para Catolé do Ro-
cha para fugir da perseguição dos ad-
versários e manter-se próximo de
suas bases eleitorais. Recebendo sua
educação fundamental em Catolé do
Rocha, logo cedo Antônio Mariz come-
çou a criar vínculos com o município
de Sousa, onde passava as férias em
casa de parentes.
De volta a João Pessoa, após o fim do
Estado Novo, tendo o pai assumido o
cargo de procurador de Justiça, Mariz
continuou seus estudos cursando o gi-
násio no colégio Pio X e o científico no
Liceu Paraibano. Durante o terceiro
ano científico, transferiu-se para o Rio
de Janeiro, onde, pouco tempo depois
atuou, como estudante da tradicional
Faculdade Nacional de Direito, na per-
manente luta dos estudantes pelo
aperfeiçoamento das instituições po-
líticas brasileiras, destacando-se, so-
bretudo nas mobilizações da UNE, em
nível nacional.
Formado em Direito, Mariz fez um
curso de pós-graduação em Ciência
Política, em Nancy, na França, em
1959. Retornando ao Brasil, ingres-
sou no Ministério Público, e, ao mes- Mariz era admirado e respeitado em todos os segmentos da sociedade. Na foto, recebe em audiência ilustres representantes do clero
mo tempo, iniciou sua atuação polí-
tico-administrativa, tendo sido sub-
chefe da Casa Civil do Governo Pe-
dro Gondim (1961-1962); prefeito Quatro mulheres que marcaram a vida de Mariz
municipal de Sousa/PB (1963 a 1969);
secretário de Estado da Educação e Quatro mulheres marcaram decisiva-
Cultura (1969-1970) no Governo João mente a vida de Antônio Mariz. Sua mãe,
Agripino; deputado federal, em qua- Dona Noemi, sua esposa, Mabel Mariz, e
tro legislaturas; diretor do Desenvol- as filhas Adriana e Luciana.
vimento Urbano do Banco Nacional Da primeira, recebeu os traços de ca-
da Habitação (1985-1986); senador ráter e educação que conservaria pelo
eleito em 1990 e, finalmente, gover- resto da vida. Disciplinadora, amiga e
nador do Estado, cargo para o qual conselheira, Dona Noemi sempre esteve
foi eleito em 1994. ao lado do filho nos momentos de ale-
Na Assembleia Nacional Constituin- gria e nos mais cruciais de sua vida, in-
te (1987-1988), Mariz foi presidente da clusive na morte. Trazendo a fibra pró-
Sub-Comissão de Direitos e Garanti- pria dos sertanejos, para quem a firme-
as Individuais e Membro da Comis- za de caráter é ponto fundamental na
são da Soberania e dos Direitos e Ga- vida, Dona Noemi, ao lado do esposo José
rantias do Homem e da Mulher. Mariz, foi a grande responsável pela só-
Em sua vida parlamentar, desempe- lida formação que Antônio Mariz rece-
nhou importantes missões no exterior beu e que o credenciou para todos os
e publicou trabalhos que bem carac- embates da vida.
terizam a autenticidade do seu pen- Mabel Mariz foi a companheira de toda
samento político, como "Autonomia a vida. Junto a Mariz, ajudou-o a conso-
Municipal" (1971), "Aposentadoria dos lidar sua posição política. Sempre confi- Mariz no casamento da filha, com Dona Noemi (à esquerda) e Mabel Mariz (à direita)
Trabalhadores Rurais" (1971), "Uma ante e otimista, em momento algum de-
Política Brasileira de Proteção aos Di- sertou de suas funções, sacrificando os do marido. No episódio da doença, re- riz nutria um orgulho típico dos pais
reitos Humanos" (1973), "Nordeste" momentos pessoais por uma maior apro- velou-se pela sua dedicação e firmeza, amorosos. Nelas depositava todas as
(1977), "Sistema Político Brasileiro" ximação de Mariz com o povo. Sua casa, estando ao lado de Mariz em todos os suas esperanças de continuidade de
(1978) e "Constituinte - Congresso De- em Sousa ou onde residisse, estava sem- momentos graves, até a sua morte. seus ideais de vida e de seu pensamen-
mocrático" (1988). pre aberta aos amigos e correligionários Das filhas, Adriana e Luciana, Ma- to em relação ao povo.
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Longas filas se formaram em frente ao Palácio da Redenção, na Praça João Pessoa, onde estava sendo velado o corpo de Mariz. Todos queriam dar adeus ao ex-governador da Paraíba
H
á exatamente 14 anos o povo foi sepultado, com honras de Chefe de
da Paraíba viveu um dos mo- Estado, por volta das 19 horas.
mentos mais tristes da histó-
ria do Estado: a morte de Antônio Mar- LUTO NACIONAL E RECONHECIMENTO
ques da Silva Mariz, um político res- Na tarde do mesmo dia 17 de setem-
peitado até mesmo pelos adversários bro, o então presidente da República
que chegara ao Palácio da Redenção, em exercício, Marco Maciel, assinou e
em 1° de janeiro do mesmo ano, deter- fez publicar decreto de luto oficial por
minado a construir uma Paraíba me- três dias em todo o território nacional
lhor para todos os paraibanos. em razão da morte do governador An-
A notícia do falecimento, atestada tônio Mariz. No documento, o gover-
pelo médico Ricardo Maia (chefe da no federal atestou o reconhecimento de
equipe que acompanhava Mariz), che- que "no desempenho das elevadas mis-
gou ao conhecimento dos profissio- sões que lhe foram cometidas ao longo
nais de imprensa que ocupavam o de sua brilhante carreira de político e
pátio da Granja Santana, no bairro de administrador", Mariz "prestou rele-
Miramar, em João Pessoa, às 18h58 do Mariz foi sepultado no Cemitério Senhor da Boa Sentença, com honras de Chefe de Estado vantes serviços à Nação".
dia 16 de setembro - um sábado mar- No mesmo tom de reconhecimen-
cado por uma longa espera que come- República, foi responsável pela relato- damente tímido e um pouco sisudo, to, os integrantes da bancada federal
çara na noite da sexta-feira (15), quan- ria de um dos processos mais impor- transmitia essa confiança, chegando do Partido dos Trabalhadores publi-
do chegou às Redações dos veículos tantes da história político-administra- até mesmo a ser idolatrado por gran- caram nota em que afirmaram que
de comunicação a informação de que tiva da Nação - o impeachment do pre- de número de paraibanos, especial- "Antônio Mariz muito contribuiu
o quadro de saúde do governador ha- sidente Fernando Collor de Melo. mente pelos cidadãos dos municípios para o processo de democratização
via se agravado. No dia seguinte, milhares e milhares do Sertão paraibano, onde fixou suas do país, tendo desempenhado papel
Noticiado o fato, a Paraíba foi toma- de pessoas foram ao Palácio da Reden- principais bases de atuação política. significativo no processo constituin-
da por um sentimento de tristeza ab- ção para se despedir de Mariz. E o sen- Nascido em João Pessoa no dia 5 de te, que democratizou o Brasil, e no
soluta que extrapolou as divisas do Es- timento de amizade era tão grande e dezembro de 1937, Mariz morreu an- Senado Federal, onde participou ati-
tado e ganhou o cenário político nacio- tão claro no rosto das pessoas que a tes de completar 58 anos de idade no vamente da Comissão Parlamentar
nal, tão grande era o prestígio do ho- impressão que se tinha é de que vela- dia 16 de setembro de 1995. Velado no de Inquérito que culminou com o
mem que foi deputado federal por qua- vam um parente consanguíneo. E Ma- Palácio da Redenção, seu corpo foi con- afastamento do ex-presidente Fer-
tro mandatos e que, como senador da riz, mesmo sendo um homem assumi- duzido em carro de Bombeiros, às 17 nando Collor de Melo".
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OPINIÃO #
A
trajetória política de Mariz é toda ela Eleitoral sem a licença do governo. Essa indi-
pontilhada de lances de rebeldia. Tal- cação, entretanto, foi descartada pelos gene-
vez por isso lhe tenham custado muito rais Geisel e Figueiredo. Por sugestão do mi-
caras todas as posições conquistadas até hoje. nistro José Américo de Almeida, o nome apro-
O mais arriscado dos protestos talvez tenha vado foi o do professor Tarcísio Burity.
sido aquele da Central do Brasil, quando ele Ao tomar conhecimento da decisão, Mariz
engrossou a primeira fila de estudantes que reagiu:
ocupavam os trilhos da linha férrea e assim "Se admiti que meu nome fosse submetido a
impediram o fluxo dos trens, no Rio de Janei- esse Colégio Eleitoral singular, é porque per-
ro. Era a UNE, cumprindo a sua parte na ali- cebi que há uma vontade popular manifesta
ança com trabalhadores, em que Mariz já mi- para que eu governe a Paraíba". A irresigna-
litava na adolescência. ção subverteu a regra imposta pela força.
A decisão mais difícil foi a de se candidatar Confirmava-se o primeiro desafio ao siste-
a prefeito de Sousa, enfrentando um grupo ma revolucionário, com grande repercussão no
muito forte, política e economicamente, com país. Hasteava-se, na Paraíba, a bandeira da
o complicador de ser correligionário e segui- Resistência ao Medo.
dor da orientação do recém-eleito senador João Tão grave a rebeldia de Mariz que, logo em
Agripino. Todos integrantes dos quadros da seguida, ouviu-se a advertência castrense do
bem estruturada UDN, a União Democráti- Planalto, pela voz do general Golbery do Cou-
ca Nacional, também chefiada por Agripino. to e Silva, ministro chefe da Casa Civil da Pre-
O senador interveio no sentido de evitar a can- sidência da República: "Qualquer disputa no
didatura de Mariz, considerada desastrosa à Colégio Eleitoral será considerada como con-
unidade da UDN em Sousa. testação ao regime revolucionário. A isto res-
Mariz resistiu às pressões, largou a sub- pondemos com cassação de mandato e de di-
chefia da Casa Civil (Governo Pedro Gon- reitos políticos por dez anos".
dim), ingressou nos quadros do PTB e se João Agripino ouviu a ameaça por ocasião
lançou candidato por uma legenda sem expressão eleitoral. Ven- de uma conversa telefônica mantida com Golbery, de quem era
ceu a eleição por sete votos, consagrando-se prefeito da quarta maior amigo pessoal. A advertência, entretanto, partia do comando mili-
cidade em importância econômica, política e cultural do Estado, tar da revolução.
com apenas 25 anos. Agripino persuadiu Antônio Mariz a desistir do Colégio Eleitoral,
Veio o golpe militar de 64 com as ações coordenadas, na Paraíba, queimando o último cartucho na esperança de um recuo.
pelo general Candal da Fonseca. Mariz foi colocado sob suspeita, tan- A resposta de Mariz foi à queima-roupa:
to por Candal como pelo general Justino Alves Bastos, comandante "Mesmo assim, com toda essa ameaça, eu vou à convenção. Não
do IV Exército. Mariz tinha aberto espaço, no município, para orga- me interessa o que eles pensam da minha atitude. Eu não teria mais
nização dos agricultores, a exemplo do que acontecia na Várzea do condições de pedir voto aos paraibanos".
Paraíba com as Ligas Camponesas. Por cima, quando João Goulart João não gostou, é claro, mas teve de engolir o sapo. No começo
foi deposto, Mariz promoveu um comício de protesto contra o motim ameaçou "deixar tudo aí e retornar a São Paulo"... Só aos pouquinhos
de Minas Gerais. foi amolecendo, sensibilizado pelas manifestações e ponderações de
Seus correligionários mais graduados, temendo represália do siste- lideranças populares já engajadas no marizismo.
ma, pressionaram o prefeito a desmarcar o comício, ao que Mariz A derrota de Mariz era dada como certa. Afinal, "Colégio Eleitoral"
sentenciou: "A concentração foi anunciada e vai se realizar, no local e não era outra coisa senão um conglomerado de 320 eleitores, perten-
hora marcada. Os senhores ficam liberados do comparecimento". centes aos diretórios municipais da Arena, quase todos amarrados a
Foi o maior comício realizado em Sousa, até aquela data. Todo o par- compromissos com os governos estadual e federal. Mesmo assim, a
tido compareceu, não apenas para protestar, mas para cobrar também vitória do candidato oficial, prevista por uma maioria de 106 votos,
a resistência de todos os democratas. Mariz terminou preso no Grupa- não passou dos 28 sufrágios. Este resultado pregou um susto de arre-
mento de Engenharia e deposto pela Câmara dos Vereadores, a serviço piar cabelos nas hostes do regime militar.
do golpe. Só reassumiu depois de uma devassa na Prefeitura, em que Durante a convenção, todos os eleitores de Burity foram impiedosa-
nenhuma irregularidade foi encontrada. Voltou nos braços do povo. mente vaiados, um a um, quando se dirigiam à mesa para votar. Só
Eleito deputado federal, plantou-se no Congresso e na Câmara Fe- Burity escapou dos apupos, graças a um apelo feito por João Agripino
deral como um crítico incansável da ditadura. A censura à imprensa, às galerias da Assembleia, tomada de manifestantes. No frigir dos ovos,
os maus tratos a presos políticos, as constantes violações dos direitos Burity ganhou na convenção, mas na praça o povo queria Mariz.
humanos, a reforma do ensino universitário, com a finalidade de amor- A partir daí, nunca mais se falou em unidade da Arena. O partido
daçar estudantes e inibir vocações, o fechamento de entidades de clas- ficou dividido em duas alas: de um lado Burity e Wilson Braga, e do
se, todas essas ações discricionárias do governo militar foram critica- outro Agripino e Mariz. Pouco tempo depois Agripino e Mariz ingres-
das duramente por Mariz no parlamento nacional. saram no PMDB, levados por Humberto Lucena. Este, afinal, é o Mariz
O grupo militar vitorioso de 64 passou a acompanhar os passos do que a Paraíba inteira conhece. Construiu uma carreira política a du-
líder paraibano, que por várias vezes teve o seu nome incluído em ras penas, toda ela montada em cima de três virtudes que lhe são
listas de cassação. A medida que se desprestigiava junto aos podero- inatas e raramente encontradas nos homens públicos: coragem, inte-
sos do dia, crescia seu prestígio popular na Paraíba, ao mesmo tempo ligência e honestidade.
em que se consolidava a projeção nacional de seu nome.
Em 1978 as manifestações populares forçaram a chegada do seu * Texto publicado em suplemento de A União (Revista Ponto de
nome ao Palácio do Planalto, com apoio da esquerda e de liberais do Cem Réis) no dia 1° de janeiro de 1995, dia da posse de Antônio
MDB, que garantiam a não indicação de candidato, na hipótese de Mariz no Governo da Paraíba
A UNIÃO
8 JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009
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ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”
OPINIÃO #