Você está na página 1de 8

E S P E C I A L

ANTÔNIO M A R I Z JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA,


16 DE SETEMBRO DE 2009
A UNIÃO “Paraíba democrática, terra amada”

Um exemplo
de político
A UNIÃO
2 JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009
E S P E C I A L
ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”

OPINIÃO #

Ele não morreu: encantou-se


Carlos Pereira xou fenecer a perseverança e 12 anos depois, num
pleito memorável em que partiu praticamente do
Ele foi um político respeitado, ao longo de toda sua zero, tendo contra si adversários reconhecidamente
vida. Impôs-se a essa atenção especial, mercê da tra- fortes, arrancou das urnas a mais bela vitória da sua
jetória marcada pela transparência das suas ações e, festejada carreira política.
sobretudo, pela coerência de algumas posições que Com grandes planos e projetos mal teve tempo de
assumiu, - temerárias e até ousadas - tomadas num começar o Governo que, no pouco que durou, deixou
tempo em que poucos tiveram a coragem de enfren- gravada para sempre, na Paraíba, a marca da soli-
tar a prepotência e o arbítrio. dariedade que, por sinal, foi o dístico de sua curta
Foi um homem que praticou a política como ela administração. A cabeça, cheia de ideias e de vonta-
deve ser exercitada: com honestidade, com serieda- de de fazer o máximo pelo povo do seu Estado, não
de e principalmente com o orgulho de ser político, teve, infelizmente, a ajuda do corpo que começou a
sem tergiversar, sem se esconder, sem se acovardar, falhar desde o tempo da árdua campanha eleitoral.
numa época em que muitos preferiram conviver com Foi grande em vida, foi grande na doença e foi maior
a bajulação ao poder discricionário, que subtraiu ainda no estoicismo com que enfrentou, sem choro
vidas e corações de tantos brasileiros. Mariz era um homem de ação, não de palavras vazias ou lamentação, o destino de não poder governar o
Político decente com todos os atributos que esse seu povo - como sempre desejou. E se o seu corpo não
adjetivo simples merece, ele foi um dos melhores. E resistiu, a sua mente produziu ideias e ensinamen-
essa decência, característica ímpar de sua vida, não ungido pelos votos livres dos paraibanos, ele que tos que não morreram com ele. Continuam vivos na
a praticou somente na respeitabilidade aos padrões fora derrotado numa eleição fajuta montada pelo memória daqueles que - como eu - tiveram a graça
éticos e morais, mas o fez principalmente no trato Golpe Militar, na qual o seu grande aliado João Agri- de conviver com ele, de aprender com ele, de sorrir
com a coisa pública, incluindo-se aí o absoluto res- pino não ousou participar de corpo inteiro. com ele e de chorar por ele.
peito ao uso dos recursos do Tesouro que, sob seu Construiu sua vida política de degrau em degrau, Quando da sua morte, em setembro de 1995, Di-
comando, foram realmente usados pelo Poder pú- indo de prefeito de Sousa em cuja administração se valdo Suruagy, que foi seu companheiro de Senado,
blico em favor da maioria da população, com ênfase houve com raro destaque, a Governador do Estado, citou uma frase concebida por Guimarães Rosa em
em programas sociais para os quais mostrou per- passando por Deputado Federal e Senador - funções momento de rara inspiração - certos homens não
manente sensibilidade. Soube viver com dignidade, parlamentares em que honrou as melhores tradi- morrem: encantam-se.
gozando do relativo conforto que lhe proporciona- ções de paraibanos como Samuel Duarte, Argemiro Pois assim foi Antônio Marques da Silva Mariz,
vam os ganhos de Promotor de Justiça ou de parla- de Figueiredo e outros tantos que, à época, marca- que se encantou há 14 anos, deixando-nos, de certa
mentar atuante. ram indelevelmente suas passagens pelo Congresso forma, órfãos. Eu que perdi o grande amigo, a Paraí-
No longínquo março de 1980, quando imperava o Nacional, fazendo a Paraíba (bons tempos aqueles) ba que perdeu o seu Governador e o Brasil que per-
regime das eleições indiretas, eu escrevi neste mes- merecedora do aplauso nacional. deu um estadista.
mo jornal que ele era um predestinado a subir as Preparou-se com afinco e determinação para ser Para terminar, não posso deixar presa a exclama-
escadas do Palácio da Redenção, um dia qualquer, Governador. Derrotado uma vez, em 1982, não dei- ção: que grande falta ele nos faz!

Exemplo para lembrar e seguir


A UNIÃO Desde o dia em que deixou o tudo reconhecido como bom
SUPERINTENDÊNCIA DE IMPRENSA E EDITORA
convívio material para ingressar no # administrador, destacou-se no cenário
plano espiritual, em 16 de setembro político nacional pela defesa
Fundado em 2 de fevereiro de 1893 no
governo de Álvaro Machado de 1995, menos de nove meses
Corajoso, sincero, intransigente dos interesses da Nação;
BR-101 - Km 3 - CEP 58.082-010 - Distrito Industrial - João Pessoa -
depois de assumir o Governo da honesto e altivo, pela coragem de enfrentar o poder
Paraíba . PABX: (0xx83) 3218-6500 - FAX: 3218-6510 - Redação: Paraíba, Antônio Marques da Silva discricionário dos governantes da
3218-6511/3218-6512
Mariz já recebeu inúmeras e Antônio Mariz deixou ditadura militar, e pela participação e
www.paraiba.pb.gov.br
merecidas homenagens. A cada ano uma marca indelével atuação de destaque nas discussões e
que passa, e neste dia 16 de encaminhamentos de matérias
Superintendente
NELSON COELHO DA SILVA setembro de 2009 se completam 14 na política brasileira importantes como a Lei de Patentes e o
Diretor de Operações
anos de sua morte, ele é lembrado impeachment do presidente Collor de
MILTON FERREIRA DA NÓBREGA pelos amigos e pelos admiradores e Melo, das quais foi relator.
Diretor Técnico seguidores de sua postura pessoal e Mesmo "brilhando" em nível
WELLINGTON H. VASCONCELOS DE AGUIAR
também como homem público. nacional e até internacional, e sendo reconhecido
Diretor Administrativo
CRISTIANO XAVIER DE LIRA MACHADO Tantas quantas homenagens se façam, elas serão como exímio jurista e excelente político, Mariz
Editor Geral
cada vez mais necessárias e oportunas, especialmente gostava mesmo era de estar perto do povo, dos mais
SÍLVIO OSIAS num país tão carente de homens sérios no comando humildes. Era um político que cultivava e praticava a
Editor de Cadernos Especiais da coisa pública. Lembrar de Antônio Mariz é trazer honestidade em tudo que dizia e fazia, e que se
WILLIAM COSTA
para o conhecimento da sociedade, especialmente orgulhava em afirmar que não queria entendimento
Editoração Eletrônica
ULISSES DEMÉTRIO das novas gerações, a vida e a atuação de um com os donos do poder, e que preferia ficar ao lado
homem que desde cedo assumiu, com coragem e do povo da Paraíba.
CONSELHO EDITORIAL determinação, a defesa dos interesses e dos direitos Mariz foi, portanto, um homem que soube honrar as
do povo brasileiro, notadamente das camadas suas raízes, o seu Estado, o seu povo. A sua luta, em
Lena Guimarães, Genésio de Sousa, Nelson Coelho, Wellington
Aguiar, Cristiano Machado, Milton Nóbrega, João Evangelista, menos favorecidas da população. vida, apesar das forças antagônicas que se levantaram
Linaldo Guedes, Marlene Alves (UEPB), João Pinto (API), Land Detentor de muitos e importantes cargos públicos, contra ele, foi sempre vitoriosa. Só perdeu para a
Seixas (Sind. Jornalistas), Juarez Farias (APL), Luiz Hugo
Guimarães (IHGP), Rômulo Polari (UFPB) e Thompsom Mariz (UFCG)
com destaque para os eletivos de prefeito de Sousa/PB, morte. E assim mesmo apenas no campo material, já
deputado federal por quatro legislaturas, senador da que o seu exemplo e os seus ensinamentos continuam
República e governador da Paraíba, Mariz, em cada vez mais vivos e essenciais à sociedade.
nenhum momento de sua vida, se deixou Mariz é, sem dúvida alguma, um exemplo para
contaminar por qualquer tipo de postura arrogante. lembrar e seguir, e isso inclui as velhas, as novas
Honesto, competente, fiel e corajoso, e acima de e as futuras gerações.
A UNIÃO E S P E C I A L
“Paraíba democrática, terra amada” ANTÔNIO MARIZ JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 3

1994: a vitória do povo


„ Mariz é eleito governador da Paraíba com 781.349 votos e garante a construção de uma Paraíba desenvolvida e socialmente mais justa
João Evangelista
Governar a terra
A
ntônio Marques da
Silva Mariz tomou natal: um sonho
posse no Governo da
Paraíba no dia 1° de janei-
ro de 1995 depois de duas
concretizado
tentativas mal sucedidas de Poucos dias antes, ao despedir-
chegar ao Palácio da Re- se do Senado, Mariz afirmou:
denção, a primeira em "Preparei-me a vida toda para
1978, quando, em eleição governar a minha terra. Dediquei-
indireta, mesmo contando me a vida inteira a esse objetivo.
com o apoio popular, dos Talvez, contudo, o que me distin-
líderes políticos de esquer- ga, o que me diferencie da maio-
da e de setores do MDB, foi ria dos políticos seja o fato mar-
impedido de governar a cante, de toda minha atividade
Paraíba pelos representan- política, de que não adulo pode-
tes do regime militar que rosos, não cortejo sequer a opi-
dominava o Brasil, e a se- nião pública, tantas vezes engana-
gunda em 1982, quando da pelos interesses escusos da im-
perdeu as eleições para Wil- prensa nacional. Ajo em nome de
son Leite Braga. princípios e valores que julgo ex-
Em 1994, doze anos de- pressarem as mais profundas as-
pois da histórica eleição de pirações e padrões de conduta de
82, Mariz havia retornado à um povo. Não pago qualquer
preço para chegar ao poder. Que-
cena eleitoral paraibana for-
ro governar a Paraíba, mas quero
talecido pela sua brilhante
governá-la em nome das forças
atuação como senador da
progressistas, dos ideais de nossa
República (1991 a 1994). O
juventude, em nome dos homens
resultado da nova disputa
e mulheres de bem que lutam,
foi uma vitória, em segun-
como eu luto, para mudar o mun-
do turno, alicerçada em
do, esse mundo de injustiças em
781.349 votos - 58,2% dos
que vivemos, desejando que não
votos válidos. Sua posse foi
haja fome entre os nossos irmãos,
marcada pela simplicidade,
combatendo pela solidariedade e
começando, às 7 horas, com fraternidade sociais, que fazem a
uma missa celebrada pelo razão de ser da nossa própria exis-
então arcebispo da Paraíba, tência a busca de uma democra-
Dom José Maria Pires, e rea- cia justa e humana, que tenha por
lizada na Catedral Metropo- fundamento a justiça, a comu-
litana, e depois com uma nhão na prosperidade e na rique-
Sessão Solene realizada na za, a dignidade de todos os ho-
Assembleia Legislativa sob mens e de todas as mulheres, a
o comando do então presi- liberdade como exercício dos di-
dente deputado Gilvan da reitos da cidadania".
Silva Freire. Na Praça João Pessoa, no dia 1°
Depois de assinar o livro de janeiro de 1995, a palavra de
de posse na Assembleia, o Mariz encontrou eco e confiança
governador seguiu para o em cada um dos seus ouvintes,
palanque armado em fren- que conheciam, muitos de perto,
te ao Palácio da Redenção, outros muitos pelos noticiários
onde garantiu aos milhares políticos, a sua tragetória de coe-


de paraibanos presentes rência, honradez, respeito com a
que iria trabalhar para cons- coisa pública e, acima de tudo, fi-
truir uma Paraíba desenvol- delidade com os amigos e com a
vida economicamente e jus-
Não pago qualquer preço para chegar ao poder. Quero
Paraíba.
ta para com o seu povo. Seu A força e a determinação de pôr
discurso teve por base a de- governar a Paraíba, mas quero governá-la em nome em prática todo um projeto que
fesa dos direitos dos cida- já vinha sendo construído então
dãos e a busca por uma vida das forças progressistas, dos ideais de nossa juventude, há 17 anos (1978 a 1995), entre-
mais digna para as camadas tanto, não foram suficientes para
mais necessitadas. Começa- em nome dos homens e mulheres de bem que lutam, superar a doença que se instalou
va ali o "Governo da Solida- em seu organismo e que o tirou
riedade", alicerçado nos como eu luto, para mudar o mundo do plano material antes mesmo
princípios e nas convicções de a sua administração comple-
de um homem público. tar nove meses.
A UNIÃO
4 JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009
E S P E C I A L
ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”

Um amigo corajoso e fiel


„ Na época em que exercia o mandato de senador, Mariz deixou a campanha de lado para defender o companheiro Humberto Lucena

João Evangelista

Q
uando disputava o Governo
da Paraíba nas eleições de
1994, o então senador Antônio
Mariz se viu diante de um desafio que
para ele chegou a ser mais importan-
te até do que o andamento de sua cam-
panha rumo ao Palácio da Redenção.
O seu amigo e companheiro de parti-
do, senador Humberto Lucena, esta-
va sendo ameaçado de cassacão por
causa de acusações de uso da gráfica
do Senado. E foi ele, Mariz, a voz mais
forte na defesa de Humberto.
Mesmo sendo candidato a governa-
dor da Paraíba, Mariz não teve medo
de questionar e combater a posição do
Tribunal Superior Eleitoral, que ten-
dia pela cassação de Humberto Luce-
na. Deixando de lado a sua campanha,
"arregaçou as mangas" e partiu para
a mobilização que incluiu, além do
chamamento de toda a população pa-
raibana, civil e política, para defen-
der o mandato do homem (Humber-
to) que, a exemplo dele (Mariz), dedi-
cava toda a sua vida aos interesses da
coletividade paraibana, um forte pro-
nunciamento na Tribuna do Senado.
"Se a Paraíba fosse incapaz de rea-
gir à violência que se comete contra o
mais ilustre dos seus filhos; se faltas-
se à Paraíba a capacidade de indig-
nar-se, de revoltar-se diante de tão Em pronunciamento histórico, Mariz disse que não lhe interessava ser governador da Paraíba caso esta negasse apoio ao seu filho ilustre
torpe injustiça; então, eu seria o pri-
meiro a não querer ser o seu Gover-
nador de Estado. Preparei-me a vida # PENSAMENTOS DE MARIZ #
toda para governar a minha terra.
Dediquei-me a vida inteira a esse ob- Mesmo sendo candidato a # econômico, a característica dessa
jetivo. Talvez, contudo, o que me dis-
governador da Paraíba, Mariz "Eu vejo o governo como um cúpula nacional é a crueldade, é a
tinga, o que me diferencie da maioria
dos políticos, seja o fato marcante de instrumento de resgate da pobreza. incapacidade de agir com senso
que não adulo os poderosos, não cor- não teve medo de questionar Acho que a função primordial do de humildade, de bondade.
tejo sequer a opinião pública, tantas governo é exatamente procurar É uma classe dirigente cruel".
vezes enganada pelos interesses escu- e combater com firmeza a eliminar essas diferenças."
sos da imprensa nacional. Ajo em "Os Governos democráticos não
nome de princípios e valores, que jul- posição do Tribunal Superior "Os números do IBGE são são os que realizam apenas as
go expressarem as mais profundas escandalosos na denúncia do
Eleitoral (TSE), que tendia pela grandes obras, mas, sobretudo,
aspirações e padrões de conduta do
problema de concentração de os que melhoram as condições
nosso povo. Não pago qualquer preço
cassação do senador renda, da qual o Nordeste é de vida do povo."
para chegar ao poder", enfatizou.
Com o apoio da grande maioria da a vítima por excelência."
classe política e da população do Es- Humberto Lucena (PMDB) "O fundamental é entendermos e
tado, Antônio Mariz, que já andava "O problema nordestino deve ser vencermos a afronta de tanta fome
com a saúde abalada, viu o seu ami- visto numa perspectiva nacional. num Estado que sequer produz,
go Humberto Lucena, não somente Interessa ao país restabelecer índices em seu território, nem mesmo
ser inocentado das acusações que le- de crescimentos regionais que o alimento para a minoria que
vavam à sua cassação, como também em Deus a cura do amigo fiel. Infeliz- permitam acreditar na integração pode comprar."
ser reeleito para o Senado da Repú- mente a doença foi mais forte e o tirou
das unidades federadas que ali se
blica com 415.899 votos - 21,5% dos do convívio humano. Só não conse-
situam no plano de trabalho, "Tentarei um Governo de equipe,
votos válidos. guiu suplantar seus ensinamentos,
Retomando a sua campanha de go- seus exemplos de liderança, de preo- no mesmo plano de prosperidade voltado, antes de tudo, para a
vernador, Mariz conseguiu reforçar a cupação com o povo, de seriedade no que o país ambiciona." solidariedade que faz da dor de um
consagração de sua vida pública (que trato com a coisa pública, de fidelida- a dor de todos, e da alegria de
incluiu os cargos de prefeito de Sousa, de e de tantas outras qualidades es- "O traço característico dominante todos a alegria de cada um."
deputado federal por quatro legisla- senciais a um homem de bem, segun- dos Governos do Brasil, das elites
tura e senador) com uma votação de do enfatizaram, e ainda enfatizam dirigentes, dos dirigentes dos Seleção do senador Humberto Lucena
exatos 781.349 votos. hoje, inúmeros representantes da so- quadros que detêm o poder (in memoriam)
Naquele momento, o povo da Paraí- ciedade paraibana e nacional, sem
ba provou que confiava nele, e esperou distinção partidária.
E S P E C I A L
A UNIÃO
“Paraíba democrática, terra amada” ANTÔNIO MARIZ JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 5

Trajetória coroada de êxito


„ Mariz foi prefeito de Sousa, secretário de Estado, deputado federal (em quatro legislaturas), senador e, finalmente, governador da Paraíba
João Evangelista

N
ascido em João Pessoa no dia 5
de dezembro de 1937, Antônio
Marques da Silva Mariz mui-
to cedo foi morar no Sertão da Paraí-
ba. Com a chegada do Estado Novo,
decretado por Getúlio Vargas, seu pai,
José Marques da Silva Mariz, que era
correligionário de Argemiro de Figuei-
redo, se transferiu para Catolé do Ro-
cha para fugir da perseguição dos ad-
versários e manter-se próximo de
suas bases eleitorais. Recebendo sua
educação fundamental em Catolé do
Rocha, logo cedo Antônio Mariz come-
çou a criar vínculos com o município
de Sousa, onde passava as férias em
casa de parentes.
De volta a João Pessoa, após o fim do
Estado Novo, tendo o pai assumido o
cargo de procurador de Justiça, Mariz
continuou seus estudos cursando o gi-
násio no colégio Pio X e o científico no
Liceu Paraibano. Durante o terceiro
ano científico, transferiu-se para o Rio
de Janeiro, onde, pouco tempo depois
atuou, como estudante da tradicional
Faculdade Nacional de Direito, na per-
manente luta dos estudantes pelo
aperfeiçoamento das instituições po-
líticas brasileiras, destacando-se, so-
bretudo nas mobilizações da UNE, em
nível nacional.
Formado em Direito, Mariz fez um
curso de pós-graduação em Ciência
Política, em Nancy, na França, em
1959. Retornando ao Brasil, ingres-
sou no Ministério Público, e, ao mes- Mariz era admirado e respeitado em todos os segmentos da sociedade. Na foto, recebe em audiência ilustres representantes do clero
mo tempo, iniciou sua atuação polí-
tico-administrativa, tendo sido sub-
chefe da Casa Civil do Governo Pe-
dro Gondim (1961-1962); prefeito Quatro mulheres que marcaram a vida de Mariz
municipal de Sousa/PB (1963 a 1969);
secretário de Estado da Educação e Quatro mulheres marcaram decisiva-
Cultura (1969-1970) no Governo João mente a vida de Antônio Mariz. Sua mãe,
Agripino; deputado federal, em qua- Dona Noemi, sua esposa, Mabel Mariz, e
tro legislaturas; diretor do Desenvol- as filhas Adriana e Luciana.
vimento Urbano do Banco Nacional Da primeira, recebeu os traços de ca-
da Habitação (1985-1986); senador ráter e educação que conservaria pelo
eleito em 1990 e, finalmente, gover- resto da vida. Disciplinadora, amiga e
nador do Estado, cargo para o qual conselheira, Dona Noemi sempre esteve
foi eleito em 1994. ao lado do filho nos momentos de ale-
Na Assembleia Nacional Constituin- gria e nos mais cruciais de sua vida, in-
te (1987-1988), Mariz foi presidente da clusive na morte. Trazendo a fibra pró-
Sub-Comissão de Direitos e Garanti- pria dos sertanejos, para quem a firme-
as Individuais e Membro da Comis- za de caráter é ponto fundamental na
são da Soberania e dos Direitos e Ga- vida, Dona Noemi, ao lado do esposo José
rantias do Homem e da Mulher. Mariz, foi a grande responsável pela só-
Em sua vida parlamentar, desempe- lida formação que Antônio Mariz rece-
nhou importantes missões no exterior beu e que o credenciou para todos os
e publicou trabalhos que bem carac- embates da vida.
terizam a autenticidade do seu pen- Mabel Mariz foi a companheira de toda
samento político, como "Autonomia a vida. Junto a Mariz, ajudou-o a conso-
Municipal" (1971), "Aposentadoria dos lidar sua posição política. Sempre confi- Mariz no casamento da filha, com Dona Noemi (à esquerda) e Mabel Mariz (à direita)
Trabalhadores Rurais" (1971), "Uma ante e otimista, em momento algum de-
Política Brasileira de Proteção aos Di- sertou de suas funções, sacrificando os do marido. No episódio da doença, re- riz nutria um orgulho típico dos pais
reitos Humanos" (1973), "Nordeste" momentos pessoais por uma maior apro- velou-se pela sua dedicação e firmeza, amorosos. Nelas depositava todas as
(1977), "Sistema Político Brasileiro" ximação de Mariz com o povo. Sua casa, estando ao lado de Mariz em todos os suas esperanças de continuidade de
(1978) e "Constituinte - Congresso De- em Sousa ou onde residisse, estava sem- momentos graves, até a sua morte. seus ideais de vida e de seu pensamen-
mocrático" (1988). pre aberta aos amigos e correligionários Das filhas, Adriana e Luciana, Ma- to em relação ao povo.
A UNIÃO
6 JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009
E S P E C I A L
ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”

Longas filas se formaram em frente ao Palácio da Redenção, na Praça João Pessoa, onde estava sendo velado o corpo de Mariz. Todos queriam dar adeus ao ex-governador da Paraíba

Luto na política paraibana


„ A morte de Antônio Mariz, no dia 16 de setembro de 1995, consternou toda a Paraíba e abriu uma lacuna no cenário político do Estado

João Evangelista horas do dia 17 (domingo), para o Ce-


mitério Senhor da Boa Sentença, onde

H
á exatamente 14 anos o povo foi sepultado, com honras de Chefe de
da Paraíba viveu um dos mo- Estado, por volta das 19 horas.
mentos mais tristes da histó-
ria do Estado: a morte de Antônio Mar- LUTO NACIONAL E RECONHECIMENTO
ques da Silva Mariz, um político res- Na tarde do mesmo dia 17 de setem-
peitado até mesmo pelos adversários bro, o então presidente da República
que chegara ao Palácio da Redenção, em exercício, Marco Maciel, assinou e
em 1° de janeiro do mesmo ano, deter- fez publicar decreto de luto oficial por
minado a construir uma Paraíba me- três dias em todo o território nacional
lhor para todos os paraibanos. em razão da morte do governador An-
A notícia do falecimento, atestada tônio Mariz. No documento, o gover-
pelo médico Ricardo Maia (chefe da no federal atestou o reconhecimento de
equipe que acompanhava Mariz), che- que "no desempenho das elevadas mis-
gou ao conhecimento dos profissio- sões que lhe foram cometidas ao longo
nais de imprensa que ocupavam o de sua brilhante carreira de político e
pátio da Granja Santana, no bairro de administrador", Mariz "prestou rele-
Miramar, em João Pessoa, às 18h58 do Mariz foi sepultado no Cemitério Senhor da Boa Sentença, com honras de Chefe de Estado vantes serviços à Nação".
dia 16 de setembro - um sábado mar- No mesmo tom de reconhecimen-
cado por uma longa espera que come- República, foi responsável pela relato- damente tímido e um pouco sisudo, to, os integrantes da bancada federal
çara na noite da sexta-feira (15), quan- ria de um dos processos mais impor- transmitia essa confiança, chegando do Partido dos Trabalhadores publi-
do chegou às Redações dos veículos tantes da história político-administra- até mesmo a ser idolatrado por gran- caram nota em que afirmaram que
de comunicação a informação de que tiva da Nação - o impeachment do pre- de número de paraibanos, especial- "Antônio Mariz muito contribuiu
o quadro de saúde do governador ha- sidente Fernando Collor de Melo. mente pelos cidadãos dos municípios para o processo de democratização
via se agravado. No dia seguinte, milhares e milhares do Sertão paraibano, onde fixou suas do país, tendo desempenhado papel
Noticiado o fato, a Paraíba foi toma- de pessoas foram ao Palácio da Reden- principais bases de atuação política. significativo no processo constituin-
da por um sentimento de tristeza ab- ção para se despedir de Mariz. E o sen- Nascido em João Pessoa no dia 5 de te, que democratizou o Brasil, e no
soluta que extrapolou as divisas do Es- timento de amizade era tão grande e dezembro de 1937, Mariz morreu an- Senado Federal, onde participou ati-
tado e ganhou o cenário político nacio- tão claro no rosto das pessoas que a tes de completar 58 anos de idade no vamente da Comissão Parlamentar
nal, tão grande era o prestígio do ho- impressão que se tinha é de que vela- dia 16 de setembro de 1995. Velado no de Inquérito que culminou com o
mem que foi deputado federal por qua- vam um parente consanguíneo. E Ma- Palácio da Redenção, seu corpo foi con- afastamento do ex-presidente Fer-
tro mandatos e que, como senador da riz, mesmo sendo um homem assumi- duzido em carro de Bombeiros, às 17 nando Collor de Melo".
E S P E C I A L
A UNIÃO
“Paraíba democrática, terra amada” ANTÔNIO MARIZ JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 7
OPINIÃO #

Um rebelde por natureza


Jório Machado* ser Antônio Mariz o escolhido. Nenhum can-
didato poderia passar pelo chamado Colégio

A
trajetória política de Mariz é toda ela Eleitoral sem a licença do governo. Essa indi-
pontilhada de lances de rebeldia. Tal- cação, entretanto, foi descartada pelos gene-
vez por isso lhe tenham custado muito rais Geisel e Figueiredo. Por sugestão do mi-
caras todas as posições conquistadas até hoje. nistro José Américo de Almeida, o nome apro-
O mais arriscado dos protestos talvez tenha vado foi o do professor Tarcísio Burity.
sido aquele da Central do Brasil, quando ele Ao tomar conhecimento da decisão, Mariz
engrossou a primeira fila de estudantes que reagiu:
ocupavam os trilhos da linha férrea e assim "Se admiti que meu nome fosse submetido a
impediram o fluxo dos trens, no Rio de Janei- esse Colégio Eleitoral singular, é porque per-
ro. Era a UNE, cumprindo a sua parte na ali- cebi que há uma vontade popular manifesta
ança com trabalhadores, em que Mariz já mi- para que eu governe a Paraíba". A irresigna-
litava na adolescência. ção subverteu a regra imposta pela força.
A decisão mais difícil foi a de se candidatar Confirmava-se o primeiro desafio ao siste-
a prefeito de Sousa, enfrentando um grupo ma revolucionário, com grande repercussão no
muito forte, política e economicamente, com país. Hasteava-se, na Paraíba, a bandeira da
o complicador de ser correligionário e segui- Resistência ao Medo.
dor da orientação do recém-eleito senador João Tão grave a rebeldia de Mariz que, logo em
Agripino. Todos integrantes dos quadros da seguida, ouviu-se a advertência castrense do
bem estruturada UDN, a União Democráti- Planalto, pela voz do general Golbery do Cou-
ca Nacional, também chefiada por Agripino. to e Silva, ministro chefe da Casa Civil da Pre-
O senador interveio no sentido de evitar a can- sidência da República: "Qualquer disputa no
didatura de Mariz, considerada desastrosa à Colégio Eleitoral será considerada como con-
unidade da UDN em Sousa. testação ao regime revolucionário. A isto res-
Mariz resistiu às pressões, largou a sub- pondemos com cassação de mandato e de di-
chefia da Casa Civil (Governo Pedro Gon- reitos políticos por dez anos".
dim), ingressou nos quadros do PTB e se João Agripino ouviu a ameaça por ocasião
lançou candidato por uma legenda sem expressão eleitoral. Ven- de uma conversa telefônica mantida com Golbery, de quem era
ceu a eleição por sete votos, consagrando-se prefeito da quarta maior amigo pessoal. A advertência, entretanto, partia do comando mili-
cidade em importância econômica, política e cultural do Estado, tar da revolução.
com apenas 25 anos. Agripino persuadiu Antônio Mariz a desistir do Colégio Eleitoral,
Veio o golpe militar de 64 com as ações coordenadas, na Paraíba, queimando o último cartucho na esperança de um recuo.
pelo general Candal da Fonseca. Mariz foi colocado sob suspeita, tan- A resposta de Mariz foi à queima-roupa:
to por Candal como pelo general Justino Alves Bastos, comandante "Mesmo assim, com toda essa ameaça, eu vou à convenção. Não
do IV Exército. Mariz tinha aberto espaço, no município, para orga- me interessa o que eles pensam da minha atitude. Eu não teria mais
nização dos agricultores, a exemplo do que acontecia na Várzea do condições de pedir voto aos paraibanos".
Paraíba com as Ligas Camponesas. Por cima, quando João Goulart João não gostou, é claro, mas teve de engolir o sapo. No começo
foi deposto, Mariz promoveu um comício de protesto contra o motim ameaçou "deixar tudo aí e retornar a São Paulo"... Só aos pouquinhos
de Minas Gerais. foi amolecendo, sensibilizado pelas manifestações e ponderações de
Seus correligionários mais graduados, temendo represália do siste- lideranças populares já engajadas no marizismo.
ma, pressionaram o prefeito a desmarcar o comício, ao que Mariz A derrota de Mariz era dada como certa. Afinal, "Colégio Eleitoral"
sentenciou: "A concentração foi anunciada e vai se realizar, no local e não era outra coisa senão um conglomerado de 320 eleitores, perten-
hora marcada. Os senhores ficam liberados do comparecimento". centes aos diretórios municipais da Arena, quase todos amarrados a
Foi o maior comício realizado em Sousa, até aquela data. Todo o par- compromissos com os governos estadual e federal. Mesmo assim, a
tido compareceu, não apenas para protestar, mas para cobrar também vitória do candidato oficial, prevista por uma maioria de 106 votos,
a resistência de todos os democratas. Mariz terminou preso no Grupa- não passou dos 28 sufrágios. Este resultado pregou um susto de arre-
mento de Engenharia e deposto pela Câmara dos Vereadores, a serviço piar cabelos nas hostes do regime militar.
do golpe. Só reassumiu depois de uma devassa na Prefeitura, em que Durante a convenção, todos os eleitores de Burity foram impiedosa-
nenhuma irregularidade foi encontrada. Voltou nos braços do povo. mente vaiados, um a um, quando se dirigiam à mesa para votar. Só
Eleito deputado federal, plantou-se no Congresso e na Câmara Fe- Burity escapou dos apupos, graças a um apelo feito por João Agripino
deral como um crítico incansável da ditadura. A censura à imprensa, às galerias da Assembleia, tomada de manifestantes. No frigir dos ovos,
os maus tratos a presos políticos, as constantes violações dos direitos Burity ganhou na convenção, mas na praça o povo queria Mariz.
humanos, a reforma do ensino universitário, com a finalidade de amor- A partir daí, nunca mais se falou em unidade da Arena. O partido
daçar estudantes e inibir vocações, o fechamento de entidades de clas- ficou dividido em duas alas: de um lado Burity e Wilson Braga, e do
se, todas essas ações discricionárias do governo militar foram critica- outro Agripino e Mariz. Pouco tempo depois Agripino e Mariz ingres-
das duramente por Mariz no parlamento nacional. saram no PMDB, levados por Humberto Lucena. Este, afinal, é o Mariz
O grupo militar vitorioso de 64 passou a acompanhar os passos do que a Paraíba inteira conhece. Construiu uma carreira política a du-
líder paraibano, que por várias vezes teve o seu nome incluído em ras penas, toda ela montada em cima de três virtudes que lhe são
listas de cassação. A medida que se desprestigiava junto aos podero- inatas e raramente encontradas nos homens públicos: coragem, inte-
sos do dia, crescia seu prestígio popular na Paraíba, ao mesmo tempo ligência e honestidade.
em que se consolidava a projeção nacional de seu nome.
Em 1978 as manifestações populares forçaram a chegada do seu * Texto publicado em suplemento de A União (Revista Ponto de
nome ao Palácio do Planalto, com apoio da esquerda e de liberais do Cem Réis) no dia 1° de janeiro de 1995, dia da posse de Antônio
MDB, que garantiam a não indicação de candidato, na hipótese de Mariz no Governo da Paraíba
A UNIÃO
8 JOÃO PESSOA, QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009
E S P E C I A L
ANTÔNIO MARIZ “Paraíba democrática, terra amada”

OPINIÃO #

Justo, honrado e digno


Mariz tinha noção da necessidade do homem
Nelson Coelho* ter acesso à terra para produzir. Os direitos
SUPERINTENDENTE DE A UNIÃO
do operário, salário mínimo, férias, décimo
terceiro salário, FGTS ou tempo de serviço,

A face transitada da sociedade espelha


uma dor. As lágrimas derramadas
pela população refletem um senti-
mento de saudade, atestam um irreparável
eram dogmas do ideário político e ideológico
de Antônio Mariz. A lei foi feita para pretos e
brancos, ricos e pobres, aspectos sociais que
Mariz nunca transigiu.
golpe do destino e molham lenços acumpli- O direito à escolha, a livre manifestação de
ciados às mãos de milhares de homens e pensamento, a organização de entidades fo-
mulheres que, contritos na piedade e na fé, ram deveres inalienáveis na vida pública de
oram votivamente ao Pai Supremo, pedin- Antônio Mariz. Falar a verdade, ser coerente,
do pelo irmão que deixou mais cedo a sua honrar os compromissos, ser amigo e solidá-
existência terrena para entrar na eternida- rio aos seus amigos, atributos que em Mariz
de. A morte de um ser humano gera sauda- nasceram e se conservaram até o fim. Justiça
de, enche de pranto familiares e amigos, social, melhor distribuição da renda, oportu-
plasma ao rosto dos semelhantes a dura más- nidades equânimes, vertentes que povoavam
cara do sofrimento. A hora da partida, o ins- o discurso de Antônio Mariz. Assim, o depu-
tante da despedida e o último aceno se so- tado respondeu a indagação do trabalhador,
mam às reminiscências, testemunhando uma do operário.
convivência fraturada, definitivamente. Mariz, disse certa vez um deputado seu ad-
Descrever as emoções do povo é tarefa in- versário, se você ganhar a eleição, eu, mesmo
grata ao jornalista, principalmente quando contra, estarei na Assembleia para lhe ajudar.
elas exprimem sentimentos guardados nos Agradeço, companheiro. Se eu ganhar, e vou
corações da gente humilde, da massa desas- ganhar, você fica na oposição para me fiscali-
sistida. Alguém vai embora, deixando um zar, ajudando-me a fazer o governo de serie-
rastro de admiração, legando um exemplo dade e compustura que a Paraíba merece.
de probidade e projetando, pela senda da história, como um cidadão Fulminou um resoluto Mariz. Não quero entendimento com os do-
que soube exercitar o bem e abominar o mal. Vale o testemunho de nos do poder, falou Mariz em discurso épico nas escadarias do Poder
uma geração, fica a imagem de um líder. Legislativo do Estado. Vou disputar a convenção partidária, mesmo
Mamãe, Mariz morreu? Pergunta uma criança. Deus o levou, res- sabendo que poderei tombar vítima do arbítrio e do autoritarismo do
ponde a mãe. Por quê? Torna a indagar a inocente criaturinha. Desig- governo, do contrário não terei mais condições de fazer política na
nios da natureza, diz a madrecita. Ele não devia morrer. É, minha Paraíba. Era o Mariz exercitndo a democracia, não temendo os arre-
filha, não devia. Mamãe, eu fui no Palácio e sentei na cadeira dele. ganhos de um regime que estertorava. Não temo a reação, pois, es-
Recebi uma bandeira e a letra do Hino da Paraíba. Minha filha, Ma- tando do lado do povo, compreendo que presto um serviço à causa da
riz era o governador, olhava pelas crianças, tinha amor pelo seu povo, democracia, à sociedade que sabe aonde quer chegar. Não acredito
pregava a igualdade. Ah, mãe, o que é igualdade? Filhinha, igualda- em primeiras informações, tenho a consciência para discernir depois
de é uma palavra que fazia parte da vida de Mariz. Como? Muito de exaurida a paciência para ouvir. Conceitos impostergáveis nos al-
fácil, ele sonhava com a igualdade entre os homens, entre as mulhe- forges da liderança de Antônio Mariz.
res. Ele queria que todas as crianças tivessem direito a um brinquedo. E ele, depois de governador, se vai. Sai da vida para entrar na histó-
Ele trabalhou para que todos os homens tivessem direito a um empre- ria. Os grandes o recebem como um deles, percebem o valor do seu
go. Ele foi à luta para que não houvesse oprimidos. Ele se fez político trabalho, adotam o seu exemplo e o elegem companheiro na tradição
para brigar na trincheira da vida pública para que o Estado pudesse e na história, dividindo as honras no altar dos ídolos da terra de André
oferecer educação e saúde à população. Ele lutava por liberdade. Ele Vidal de Negreiros. Este libertador incendiou os canaviais da Várzea
queria que cada trabalhador tivesse direito à casa própria... para expulsar o invasor alienígena. Antônio Mariz, o libertador de
Mãe, ele pegou a minha mão e me fez sentar na cadeira de gover- hoje, teve a coragem cívica de navegar com coerência, entre uma ge-
nador. Vês, filha, ele demonstrou a você a igualdade com a sua pes- ração de tantos pecadores oprimidos, pregando a transparência nos
soa. Mãe, ele fez isso também com os coleguinhas. Outra prova de atos da vida pública de qualquer cidadão, como se ensinasse aos seus
igualdade, meu amor. Mamãe, por que será que ele não ralhou com conterrâneos a fórmula de banimento dos políticos desidiosos e indíg-
a guria que virou o tinteiro? Amorzinho, isso é coisa pequena. Ma- nos. Chegou Mariz ao Governo da Paraíba pela porta larga do voto
mãe, ele disse para a gente estudar. Sim, querida, ele estudou e che- secreto e universal, em campanha memorável escrita com suor, amor
gou a governador, se mostrou como exemplo. Mãe, ele falou sobre a e seriedade.
Paraíba, disse do seu desejo de construir escola, de dar saúde e em- Crianças, estudantes, operários, profissionais liberais, donas de casa
prego à população necessitada. Meu amor, ele estava fazendo isso e o povo em geral, constata-se uma dura realidade. Mariz se foi, mor-
no governo. Mamãe, por que ele disse para a gente cantar o Hino da reu. Acabou o sofrimento, começa a história. Saibam todos, os parai-
Paraíba. Ora, filha, é porque ele queria que vocês aprendam a amar banos e os patrícios, que um homem decente e puro, correto e leal,
e respeitar a sua terra. Mãe, Mariz tem filhos? Tem, querida, duas probo e humilde, altivo diante dos poderosos e cordato na interação
moças muito prendadas, a Luciana e a Adriana. Mas, tem todos os com os pobres, morreu em pleno comando de uma nau, a Paraíba,
filhos desta imensa Paraíba que acreditaram no seu trabalho e acre- que conduzia com coragem e dignidade para levá-la ao seu destino
ditam no seu exemplo. Mãe, eu vou chorar por Mariz e sentir sauda- de grandeza na constelação dos Estados federados.
de. Eu também, filha.
Deputado, Mariz sempre saudava os trabalhadores e os estudantes, *Texto escrito pelo jornalista Nelson Coelho, então diretor téc-
por quê? Perguntou um do povo. Mariz tinha respeito pelo operário, nico de A União, e publicado em suplemento especial veiculado
pois sabia que ele é a mola mestra na construção da riqueza nacional. em setembro de 1995

Você também pode gostar