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muito zangado, comigo esta semana?


Respondi-lhe que ali estava o amigo que
se honrava com aquele, convívio, porque
o jornalista nunca; entrara em sua casa.
O chefe político do meu partido PRM
- era o saudosíssimo coronel José
Ribeiro de Oliveira e Silva, que sempre
me distinguiu com sua valiosa e sadia
amizade até morrer.
Guarará, município criado a 5 de
dezembro de 1890, nada tinha de seu.
I Nem mesmo uma sala para reunir sua
Câmara Municipal. Tudo em abandono,
Um homem nas minhas condições, motivado por forte e mal compreendido
passada a casa dos 80 anos e condenado bairrismo entre a nobre população de
a quase 20 de prisão, vivendo a Bicas e a laboriosa população de
expectativa de um novo julgamento, Guarará.
talvez não tivesse o que dizer. É que o povo de Bicas, orientado pelo
Convidado, porém, pelos repórteres do Barão de Catas Altas, Dr. Necésio
BINÔNIMO para falar ao público Tavares e outros, desejava a criação do
através deste vibrante semanário sobre município com sede em Bicas, enquanto
minha longa vida e ação política e a população de Guarará, guiada pelo
administrativa em Guarará, inclusive comendador Noronha e Silva, Dr. Antero
sobre os dolorosos e lamentáveis Dutra de Morais e outros, pugnava pela
acontecimentos que naquela comuna se mesma orientação, porém com sede em
desenrolaram a 15 de maio do ano findo, Guarará. Venceu a última corrente. Dai o
acudo ao honroso pregão, agradecendo referido bairrismo, com o objetivo de
aos. nobres; redatores do BINÔNIMO a exterminar o distrito de Guarará,
feliz oportunidade que me oferecem mudando-se a sede do município para
para, mais uma vez, prestar contas de Bicas. Não é difícil imaginar até que
minha, vida pública ao povo em geral. ponto chegavam as consequências do
Prometo fazer de memória, um relato bairrismo entre as duas cidades, coisa,
sucinto porém verdadeiro, de como vim, aliás, ainda hoje muito comum entre as
como vivi e... o que pude fazer a bem da cidades do interior.
coletividade guararense, minha terra Foi com o decorrer do tempo e
pelo coração. constante trabalho amistoso que
Cheguei a Guarará em julho de 1898, consegui arrefecer tal bairrismo, até que
pela bondosa mão do saudoso major no meu jornal “O Guarará”, de 21 de
Firmino Dias Tostes, para trabalhar no novembro de 1921, lembrei aos
jornal “Gazeta de Guarará”, do qual fui biquenses promoverem a sua
gerente por muito tempo, órgão de independência política e administrativa,
combate à política, municipal do podendo contar com o apoio de Guarará.
inesquecível Barão de Catas Altas, Este pormenor de minha atividade na
republicano histórico, de cuja amizade imprensa, que aqui surge
particular tive a honra de gozar até a acidentalmente, e ao qual poderei referir-
sua morte. Todos os dias, me mais tarde, com outros pormenores,
invariavelmente, o Barão me convocava dá bem uma idéia da minha atuação
ao seu palacete para uma partida de como jornalista, título que me honra
gamão, bisca ou xadrez, e só de uma sobremaneira e do qual não posso
feita ele me perguntou: “O jornal está abdicar nem mesmo quando dele se

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valem para ridicularizar-me. Foi como confirmar minhas palavras: antes da
jornalista, sim, que comecei minha vida tragédia de 15 de maio, nunca houve
em Guarará, ainda rapaz, e como nenhuma convulsão sangrenta
jornalista, durante todos os longos anos manchando o prestigio da nossa comuna.
em que militei na política, e que me Ao contrário, os exemplos de
orientei na vida pública. pacificação foram inúmeros, e sobre eles
O inesquecível coronel Joaquim José falarei depois.
de Souza (a cuja memória rendo o meu Não se diga que não tinha opositores
culto de gratidão e saudade), o saudoso chefiavam a política municipal contra
coronel Álvaro Fernandes Dias e o. Dr. mim os Srs. Joaquim José de Souza,
Vicente Bianco aceitaram aquela Francisco de Paula Reto Júnior, Amaro
sugestão, e Bicas se independeu. Foi Fernandes Dias, João Garcia Machado,
uma idéia feliz, porque Bicas e Guarará José Alfredo Gouvea, Juventino Lopes
evoluiriam, cresceram, tem vida folgada Soares e, ultimamente, chefe de direito,
e vivem em harmonia, como bons o Sr. Edir Cassetti, e chefe de Fato, o
vizinhos que são. juiz de Direito morto, Dr. Isoldino da
Silva Jr.
*** Pois bem: exceção dos dois últimos,
os demais mantinham comigo e eu com
Muito cedo recebi o apelo da política, eles as melhores relações amistosas. É
que veio como consequência natural da que a minha política foi sempre talhada
atitude jornalística que me levou a no trabalho honesto a bem da
Guarará. O primeiro ato puramente coletividade municipal, com absoluto
político que pratiquei em Guarará foi no respeito aos direitos dos adversários.
dia 1 de novembro de 1900. Daí para cá, Jamais fiz ou consenti se fizesse
ininterruptamente, estive sempre no vingança ou picardia aos contrários.
exercício de função pública eletiva ou de Também, por isso mesmo nunca perdi
nomeação. Passei por todos os cargos uma eleição municipal. Nunca vendi ou
municipais, desde subdelegado de comprei votos. Nunca recebi do governo
polícia até prefeito. Fui também ou de políticos algum dinheiro para
funcionário federal e estadual. Nunca me custear eleições. A política de Guarará
atritei com ninguém. Respeitava e fazia era feita à minha custa.
respeitar o principio da autoridade. Em resumo, estas são as linhas gerais
Há mais de meio século oriento a do começo de minha vida em Guarará,
política e administração municipal de onde cheguei há 63 anos e de onde só saí
Guarará sem qualquer protesto, para vir preso para Juiz de Fora. Na
reclamação ou recurso aos tribunais próxima vez direi o que tem, como vive
judiciários ou às autoridades e como está o meu querido município de
administrativas superiores, contando Guarará.
sempre com o apoio da quase
unanimidade dos municípios. II
Um déspota não teria conseguido
tanto, porque todos conhecem a tradição Conforme prometi no artigo anterior,
de altivez do povo mineiro. Começando chegou a vez de dizer que o município
tão cedo minha vida política, só de Guarará, territorialmente falando, é
com armas diferentes daquelas que um dos menores do Estado de Minas,
me acusaram de empunhar, eu e os meus porém muito grande em civismo e no
amigos mais chegados, obtive a patriotismo de seus habitantes.
confiança do povo guararense. O Aurindo ali mesmo a selva necessária
passado, que não desaparece, está aí para ao seu organismo, sua vida econômico-

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financeira e folgada, eis que não deve A contar de 1917 até 1947, data em
nada a ninguém. Antes, é credor da que foi elevado à categoria de Comarca,
União e do Estado, por serviços por Guaraná foi Termo Judiciário da
estes autorizados. Desde 1918 o Comarca, de Mar de Espanha e depois
encerramento do orçamento anual da Comarca de Bicas.
demonstra saldo. Grande ou pequeno Durante esse longo tempo, 45 anos, o
mas sempre saldo, então Termo Judiciário e a seguir
É um município perfeitamente Comarca de Guarará, foram servidos
organizado e consolidado. pelos seguintes e doutos magistrados:
Proporcionalmente ao seu tamanho, Gilson Vieira de Mendonça, João Lima
dispõe de tudo necessário ao bem estar Rodrigues, Arnoud Vieira Gribel, João
de sua gente. Tem de seu em prédios Alves de Oliveira, atual eminente
distintos: prefeitura, biblioteca e teatro desembargador Afonso Lage, José
municipal, almoxarifado; cinco prédios Maria, Ernani de Andrade, Gomes Freire
onde funcionam 5 escolas rurais e uma de Andrade, Carlos de Barros
noturna para adultos, na cidade; água Carvalhais, João Carone Filho e Rui
potável, rede de esgotos, jardins, coretos, Barroso Silva. A promotoria de justiça
ruas calçadas na sede e no distrito de foi ali exercida pelos ilustres e honrados
Maripá, linha telefônica em tráfego bacharéis: Carlos de Barros Carvalhais,
mútuo com a Companhia Telefônica Mario Pereira da Silva, Manoel do
Brasileira e praças esportivas, tudo isto Bonfim. Freire, José Carlos de Carvalho,
no distrito componente do municipio- Castelar Modesto Guimarães, René
sede e vila de Maripá. Dispõe, por Monteiro de Castro e Sebastião Ferreira
contrato com a Companhia Mineira de Maciel.
Eletricidade, de força e luz elétrica em Pois bem. Ninguém sabe, ninguém dá
todo o território municipal. O Estado a mais remota noticia de qualquer atrito,
mantém no município: o majestoso disputa ou ressentimento entre aquelas
prédio do Fórum, confortável e bem dignas autoridades e seus
mobiliado; um grupo escolar na cidade e jurisdicionados. É que o laborioso
outro na vila de Maripá; Posto de Saúde ordeiro e bom povo guararense sempre
na cidade, quartel e cadeia. A União primou no respeito e acatamento às
mantém ali correio diário, telégrafo autoridades constituídas. Era feliz e
nacional, agência de estatística e tinha orgulho de ser jurisdicionado por
coletaria federal. Povo católico, mantém juizes e representantes do ministério
na cidade 3 igrejas, uma na vila de publico do quilate dos acima
Maripá e 3 capelas rurais. mencionados, assim como cada uma das
O município tem imóveis, o referidas autoridades tinha certeza de ter
patrimônio líquido de 3 milhões de em cada um dos seus jurisdicionados
cruzeiros, pelo preço histórico. Tudo isso guararenses um amigo e admirador
foi feito ou inspirado pelos meus respeitoso.
companheiros políticos, sendo que nunca As eleições municipais em Guarará
pedi aos governos coisa alguma para foram sempre disputadas, mas, feita a
min ou para meus parentes, mas pedi apuração, a decisão das urnas era
muito para o município, para ganhar acatada, tanto que nunca se registrou ali
pouco. Para um município pequeno, de um recurso eleitoral ou um crime
renda diminuta, que vive como um político.
quisto ao lado dos caminhos de ferro, O povo da Comarca de Guarará não
sem industria fabril, se tudo que sabe como funciona o Tribunal do Júri,
conseguiu até aqui não é muito, também porque há cerca de 40 anos não se reúne
não é pouco. na comarca esse tribunal, por falta de um

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processo para julgamento. É um povo de que eu tinha de ouvi-los calado, sem
que, até então, se habituou a viver em direito a uma palavra ou a um gesto. Não
paz, ordem e harmonia, como se fosse respeitaram minha condição de réu, que
uma só família unida, afetuosa e ali estava perante o honrado tribunal do
carinhosa. júri da culta Juiz de Fora para dar contas
Para que não se diga que estou à Justiças e à sociedade de um crime que
exagerando, transcrevo a seguir o não pratiquei, e não para ser, como fui,
introito da sentença de pronuncia no impiedosamente insultado.
processo crime a que respondo. É a 61 testemunhas, pessoas de variadas
palavra da justiça na voz do MM. Juiz classes sociais, foram ouvidas no
sumariante Dr. José Pereira de Queiroz, processo. As que foram inquiridas sobre
confirmada pelo Egrégio Tribunal de a vida pregressa dos acusados,
Justiça de Minas: “O coronel Affonso elogiavam a conduta moral de cada um.
Leite é uma pessoa venerada em Nem mesmo uma sequer das 15
Guarará. Estimado como um bom pai. testemunhas da acusação, adrede
Respeitado como um grande chefe. O preparadas e que depuserem sob o
coração da quase totalidade desta gente domínio de cega paixão política
pulsa através da sensibilidade do velho partidária, teve coragem de articular um
coronel. Tudo, nesta cidade, gira em fato, remoto ou atual, desabonador da
torno de sua pessoa. Sua vontade conduta moral minha ou dos meus
impera. Suponha-se Guarará uma família amigos e companheiros de infortúnio.
unida, o coronel é o pai desta família. E Além da palavra da justiça acima
por que tudo isto? Porque, de fato, ele transcrita, além da prova testemunhal
merece este respeito e acatamento. Pode citada, existem nos autos documentos
já ter tido seus “pecadinhos”, mas, públicos abonativos da conduta pública e
agora, faz jús ao respeito e estima deste particular dos acusados. Maldosamente,
pequeno povo: Há porém, alguém que o os meus acusadores no plenário do júri,
inveja. Um que foi preterido. Outro que olvidaram essa prova irrefutável da
ambiciona a força política. Representam, verdade, para basear, alicerçar,
porém, uma minoria em Guarará. E, para fundamentos à acusação que me fizeram
esta terra, vem o Dr. Isoldino. Com ele em um boletim anônimo, visando
sua esposa. Infelizmente ele se destruir minha reputação moral, cuja
desentende com o coronel Afonso Leite. distribuição velada é atribuída ao juiz
Mais adiante, diz o honrado juiz: Fiquei vitima. Acontece que os meus
admirado da estima que lhe tributam. As impiedosos acusadores foram, também
lágrimas corriam das palavras; de neste setor, enredados pela inverdade,
testemunhas quando se referiam ao uma vez que o referido boletim, apesar
coronel. Têm-lhe boa e sã dedicação. de anônimo, já estava destruído por duas
Estimam-no. Tenho-o observado. É um certidões publicas, em forma legal. Uma
bom homem”. publicada no “Minas Gerais”, órgão
A transcrição deste trecho da sentença oficial dos poderes do Estado por ter
de pronuncia, sentença que é, ou pelo sido lida da tribuna da Assembleia
menos deve ser, a dedução uma súmula Legislativa de Minas. Outra, oferecida
da prova existente nos autos, serve em original, ambas juntas aos autos, em
também de resposta à tremenda, época diferente.
desumana acusação que me foi feita no Advertidos pela defesa da existência
plenário do júri pelo Dr. promotor de dessas certidões no bojo dos autos os
Justiça e seus auxiliares. Crivaram-me acusadores retrucaram: “Nós, os
os mais pesados e horripilantes políticos, sabemos como se arranjam
adjetivos, inclusive o de ladrão, certos certidões tais”.

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Depois desse aberrante argumento, melhor seria aguardar os
insinuando certidões públicas falsas, o acontecimentos, e que no caso de
melhor é deixar que o prezado leitor tire necessidade ele tomaria as providências
suas conclusões próprias. cabíveis. Aceitei
Da próxima vez falarei sobre a O conselho dando disso conhecimento
chegado do juiz dr. Isoldino Silva Júnior aos meus amigos de Guarará.
a Guarará. Dias depois recebi e hospedei o juiz e
sua Exma. esposa, com a atenção e
III respeito devidos aos magistrados. Levei-
os e os apresentei às autoridades, ao
Com este artigo inicio o prólogo funcionalismo local, federal, estadual e
direto sobre os antecedentes e municipal. A Câmara Municipal foi
consequentes dos lamentáveis incorporada levar-lhe as boas vindas.
acontecimentos de Guarará, pelos Com eles viajei o território municipal,
jornalistas ardorosos e precipitados apresentando-os às figuras de destaque
tachados de “Chacina de Guarará”, ou social e aos maiores proprietários
“Quadrilha de Guarará”; pelos mais radicados no município. Não ligaram a
prudentes e cautelosos, o “Drama de mínima importância às pessoas a quem
Guarará”. Por isso desejo, com verdade foram apresentados. Não tiveram a
e sinceridade, afirmar aos meus prezados delicadeza de demonstrar gratidão ou
leitores que não tenho a intenção de contentamento com o cavalheirismo com
acusar, caluniar, insultar, ofender ou que foram recibos e tratados por todos.
faltar o devido respeito, à memória de Diziam não gostar de visitas e trocas de
quem já não mais pertence ao mundo favores. Tornaram-se meus inquilinos e
dos vivos. Exerço apenas o meu sagrado frequentavam diariamente minha casa.
direito de defesa, no sentido de Nunca saíram à rua, a passeio, com os
esclarecer a opinião pública sobre como filhos. Estes ficavam em casa, aos
se desdobraram aqueles acontecimentos. cuidados de uma senhora de certa idade,
Quando o órgão oficial do Estado que D. Maria Elizabeth dizia ser sua
publicou o ato do Sr. governador irmã de criação.
removendo para a Comarca de Guarará o Cedo entraram a maldizer o lugar e
juiz de Direito da Comarca de Monte seus habitantes. Comentavam, com
Belo, Dr. Isoldino da Silva Júnior, malícia, coisas locais, inteiramente
diariamente chegavam a Guarará as mais desconhecidas dos antigos e atuais
graves acusações, à conduta privada e moradores de Guarará. Dizia o juiz não
publica do, juiz removido, notadamente poder revolver o arquivo judiciário da
sobre o espírito violento; irrequieto e Comarca, para não ver seus antecessores
político de S. Exma esposa, D. Maria na cadeia. Se não havia lido o arquivo,
Elizabeth Fernandes da Silva. como sabia estar os nobres juizes seus
Alarmado com tais acusações, liguei o antecessores sujeitos a prisão? Por ser,
telefone para Belo Horizonte e pedi ao dizia, o único homem formado, não
meu eminente amigo deputado Luiz tinha com quem conversar no município.
Maranha conseguir do Sr. governador a Disse a um seu colega de uma das
revogação do ato de remoção. Ponderou- Comarcas do Estado, que pretendia com
me o deputado Maranha que as ele permutar e cujo mesmo citarei em
informações poderiam partir de inimigos caso de necessidade, que a Comarca de
do juiz, a quem, aliás, não conhecia Guarará era o esgoto de Minas Gerais.
pessoalmente. Sabia ser ele irmão de Não sei se tinha razão, porque ele ali
dois médicos seus amigos (dele estava como juiz.
Maranha), dois homens de bem. Que o Blasonavam prestigio politico e

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relações intimas com os homens do firmeza, evitando sempre discussões ou
governo passado. Ofereciam emprego atritos pessoais, idealizou e pôs em
publico, notadamente às mulheres, prática a nulidade das eleições na zona
mediante certa remuneração em de sua jurisdição. Para isso, nomeou
dinheiro. Ameaçavam os funcionários eleitores de sua confiança do distrito de
públicos, federais e estaduais locais de Guarará para presidente das mesas
suspensão, remoção e até de demissão. eleitorais da Vila de Maripá, aos quais
Queriam mandar e ser obedecidos por recomendou o encerramento dos
todos e por tudo. Pelos poderes trabalhos eleitorais às 16 horas. O
Executivo e Legislativo municipal. Pelas Código Eleitoral fixa às 17 horas para
autoridades judiciárias leigas, pelas esse encerramento, sob pena de
autoridades policiais, enfim, pelo nulidade. Tive necessidade de ser franco.
funcionalismo local em geral. Tal ordem não seria cumprida, por
Preveniram as professoras do grupo contrariar as disposições expressas da
escolar de que os alunos filhos do juiz lei.
não podia ter notas inferiores a 10 No dia das eleições, determinou o
pontos. Cheguei a ter a impressão de fechamento dos estabelecimentos
estar diante de duas criaturas anormais, comerciais, inclusive farmácias e
ou de dois emissários espontâneos ou padarias em todo o território municipal.
escolhidos para destruir a política Mandou os oficiais de justiça intimar os
dominante em Guarará há mais de meio chefes das casas residenciais a não
século, a contento geral. receberem visitas naquele dia, para não
“Os inimigos do coronel se reúnem ao serem processado por troca de cédulas,
juiz. Formou-se assim, o grupo do juiz”. como se essa troca fosse possível com a
É o que afirma o MM. Juiz sumariante cédula única oficial. Em consequência,
na sua sentença de pronuncia. Os meus os eleitores - homens, senhoras e
inimigos políticos são alguns moços senhoritas, tiveram de ficar de pé ao
agricultores rurais, trabalhadores, porém relento, no meio da rua, à espera da sua
sem cultivo mental e sem a mais remota vez de votar. As eleições tiveram início
noção do que seja o amanho da coisa às 8 horas de 3 de outubro e terminaram
pública. Por isso mesmo se entregaram às 12 horas do dia seguinte, na zona
ao juiz, de quem se tornaram eleitoral de Guarará. Para se servir aos
instrumento passivo para fazer, falar e eleitores café ou sanduíches, foi ali
assinar tudo que ele determinasse. Deste mesmo - em pé, ao relento, no meio da
modo está provado no processo que o, rua. Os cabos eleitorais do juiz,
juiz formou um grupo politico seu. No verdadeiros cabides volantes de armas
preparo do pleito eleitoral de 3 de de fogo, passeavam impunemente no
outubro de 1958, facilitou tudo aos do meio dos eleitores, criticando uns,
seu grupo e criava todas as dificuldades debochando de outros e a todos
aos do grupo contrário, desde a insultando, enquanto o juiz, com o
qualificação de eleitores até a propósito de animar os eleitores a não
diplomação dos eleitos. Na distribuição votar, anunciava só multar em 100
dos eleitores pelas mesas receptoras de cruzeiros apenas os eleitores faltosos,
votos, carregava umas com o máximo, adiantando que por tão ínfima quantia
300 eleitores, e deixava outras com não deviam os homens e senhoras
apenas 57 eleitores. eleitores, notadamente as mães, com
Prevendo a impossibilidade vitória e crianças no colo, serem sacrificadas em
percebendo que contornávamos as sua noite de repouso. Inútil, porém, foi
dificuldades por ele criadas com essa pregação maldosa. Feita a apuração,
habilidade e paciência, porém com o grupo do juiz, graças ao voto

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proporcional, elegeu apenas, em 9, 2 atirando os munícipes uns contra os
vereadores. Nada mais. Nem um simples outros, através de ameaças, intrigas;
terceiro suplente de juiz de paz, Com calúnias e infâmias. Acabou se
tamanha derrota, o juiz desesperou. Ele e incompatibilizando com a quase
sua Exma. esposa, de cujos totalidade da população. Montou uma
extravagantes caprichos era ele executor fábrica de processos e passou a
passivo, ficaram alucinados. Marcou às processar criminal e convencionalmente
8 horas do dia 31 de de janeiro de 1959 os seus desafetos mais graduados na
para instalação da nova Câmara política e no funcionalismo local. Eu fui
Municipal eleita. Hora matinal para uma processado por ter recebido em um feito
solenidade festiva. Pensando baralhar a administrativo 22 cruzeiros de custas
eleição da mesa da Câmara, entregou a. contadas ao advogado dr. Francisco
cada vereador 27. cédulas, contendo Zagari, de quem eu era procurador. Suas
cada cédula o nome de um vereador. testemunhas de acusação eram
Anulou, de plano, a primeira eleição invariavelmente as mesmas do processo
da da mesa da Câmara, por não terem os a que estou respondendo: João Padeiro,
vereadores votado com as cédulas por Benjamin Augusto Siscouto, Edir e
ele, juiz, distribuídas, Procedeu-se o Laerte Cassette, José Carlos Bignoto,
segundo escrutino. O mesmo resultado: Umberto Bertelli, Elza Soares de Melo,
7 votos para o grupo do coronel, 2 votos etc. Para honra da nobre magistratura
para o grupo do juiz. Retirou-se, então, mineira, nem um dos referidos processos
ordenando que se lavrasse a ata e que o escapou no Egrégio Tribunal de Justiça
livro fosse a sua casa para colher sua de Minas. Todos foram fulminados, em
assinatura. consequência do péssimo material com
que eram fabricados. Ante tamanho
IV fracasso, mudou de orientação. Passou a
denunciante, juntamente com os seus
Não tendo sido possível resumir em íntimos paus-de-tôda-obra acima
um só artigo as diabruras do juiz, nominalmente citados. Achou de
desesperado por ter perdido as eleições denunciar às Secretarias de Estado -
municipais, de 3 de outubro de 1958, todas elas - e ao Palácio da Liberdade. A
continuo a contá-las hoje sua vítima predileta era o coletor
resumidamente, pois formam um grande estadual Geraldo Pereira Campos, contra
rosário de coisas inacreditáveis, mas, quem desenvolveu tremenda campanha
afirmo aos leitores, verídicas, reais. difamatória. O efeito foi
Tal qual um déspota desesperado, o contraproducente porque, instaurado
juiz usou e abusou de sua autoridade, processo administrativo na Secretaria
tanto no âmbito jurídico como no social. das Finanças, Geraldo Pereira Campos
Aos apaniguados do seu grupo, tudo: saiu vitorioso como um bom funcionário
mandado de segurança contra a Câmara e ótimo cidadão, e o denunciante como o
Municipal, habeas-corpus preventivos que realmente foi contumaz denunciante
para não atenderem intimação das falso. As demais denúncias não foram
autoridades policiais, andarem armados, tomadas em consideração, por
provocar, insultar, agredir os contrários, inacreditáveis.
como fizeram ao vereador Antonio da Novo fracasso. Nova mudança de
Cunha e Silva, Certos da impunidade, orientação. Passou a ser corajoso
acobertados que estavam pelo juiz-ehefe. invencionista. Vezes por mês telegrafou
Cheio de ódio anti-social, político e ou telefonou às altas autoridades do
autoritário, pôs em constante inquietação Estado, inclusive ao sr. Governador,
o município tradicionalmente tranquilo, pedindo urgentes e enérgicas

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providências, alegando estar sua algum tempo, retirar-se de Guarará,
autoridade sendo desacatada, a sua e a repousando em uma estação de águas.
integridade física de sua esposa Com o seu afastamento, é imprevisível o
ameaçadas, sua residência bombardeada, que possa acontecer em Guarará. Assim,
bombas de grande poder explosivo com a devida vênia, como medida de
atiradas no quintal de sua moradia, seus cautela e de preservação da ordem
filhos iam ser raptados, seu filho mais pública, venho sugerir a V. Excia. que-
velho sofreu tentativa de morte em plena se recomende ao sr. delegado especial de
praça pública no coração da cidade etc., Bicas, que mantenha uma vigilância em
etc., etc. Guarará, evitando-se, preventivamente, a
Em curto tempo, cada um por sua vez, eclosão de futureis incidentes”.
10 delegados especiais de polícia, 6 Sou, pois, o homem da paz e da
militares e 4 togados, foram mandados à ordem, e não o desclassificado
Comarca de Guarará por solicitação do arruaceiro assassino, como querem
juiz. Pois bem. Dez relatórios contra o os.meus apaixonados caluniadores.
dito juiz constam do arquivo policial de Meses antes do fatídico 15 de maio de
Minas. Da minha e da ação dos meus 1960, houve em Guarará uma revolta
amigos e companheiros políticos nada popular contra o juiz ísoldino. Sentindo
foi encontrado desafiando providências não poder conter a massa popular que se
policiais. Dos 10 relatórios acima avolumava de instante a instante em
citados, transcrevo a seguir um pequeno frente ao prédio do Fórum, com o
trecho do relatório do nobre delegado dr. propósito de destituir o juiz, invoquei o
Dario de Carvalho, apresentado ao sr. auxílio do eminente dr. Carlos de Barros
Secretário da Segurança, em 15 de julho Carvalhais, honrado juiz de direito
de 1959, pelo qual fica provado que aposentado da Comarca de Bicas, ali
minha presença em Guarará importava residente, muito querido e acatado pelo
na segurança da integridade física do nobre povo guararense, ao qual já servira
juiz Isoldino Silva Júnior, bem como na como promotor de justiça e depois como
garantia da ordem pública municipal, tal juiz de direito, e tudo terminou sem
a indisposição de ânimos contra o juiz. incidente pessoal a lamentar. Mais uma
O delegado Dario de Carvalho é figura vez demonstrei ter amor e ser defensor
muito conhecida na culta Juiz de Fora e da paz e da ordem, em um momento
em todo o território mineiro, estimado e gravíssimo para mim, para a justiça e
acatado por sua competência e para o povo de Guarará.
integridade moral. Sua palavra merece De uma feita, fui à casa do juiz e lhe
inteira fé. Diz ele: disse: “Estou aqui bem intencionado.
“Guarará é uma pequena cidade. Os Desejo merecer do sr. o seguinte favor:
menores acontecimentos, ali têm grande quando d. Elizabeth lhe trouxer
repercussão e assumem, de imediato, novidades, verifique primeiro a
coloração política. Foi o que aconteceu. procedência e a veracidade das
E não fora a intervenção pronta do sr. novidades. Não tome, como tem feito,
cel. Affonso Leite, um ancião, já prontas medidas violentas. Isto está
beirando os 80 anos, que dispõe de predispondo a população contra o sr. e
grande autoridade junto aos seus amigos me trazendo sérias dificuldades.
e correligionários, as consequências Conhecida a veracidade das novidades,
seriam, possivelmente, lamentáveis. É tome as medidas legais que julgar
meu dever trazer ao conhecimento de V. conveniente e conte com o meu apoio.”
Excia. que o cel. Affonso Leite está Nervosa, vem do interior da casa d.
seriamente enfermo. Por determinação Elizabeth e, voltando-se para mim,
de seus médicos assistentes deverá, por perguntou-me: “Por que o sr. me tem

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como mentirosa” - “Longe de mim informadas, noticiaram e comentaram de
julgá-la mentirosa, d. Elizabeth. Acho modo diferente. Reconheço ser
que a senhora está sendo ilaqueada na fastidioso, para mim e para o estimado
sua boa fé por intrigantes maldosos ou leitor, historiar ou ler pequeninos e
interessados em um pouco de açúcar, baixos feitos, palavras e gestos próprios
fubá ou toucinho”, respondi, “Porque a dos que não têm compostura. Acontece
senhora veio para aqui ontem. Eu aqui que tenho necessidade de trazer ao
vivo há 62 anos, e jamais ouvi falar em público esses horripilantes fatos, porque
coisas graves da sociedade guararense ales terão influência decisiva no
que a senhora historia e comenta. Estou desfecho final do denominado “Drama
pedindo ao dr. Isoldino mais cautela, de Guarará”.
mais reflexão e mais prudência nas
medidas que toma, baseando no dito de V
intrigantes.” Ela respondeu: “O Isoldino
pode atender ao pedido do sr., mediante O Juiz Isoldino Silva Jr., o verdadeiro
seu compromisso de ficar conosco protagonista do drama, sentindo que
contra os funcionários.” - “Não posso suas denúncias, intrigas e calúnias não
tomar esse compromisso porque, no meu produziram efeito porque os seus
entender, o direito, a justiça e a razão intrigados, denunciados e caluniados tem
estão com os funcionários”. - “Então reputação firmada na opinião pública,
nada feito”, intervém o dr. Isoldino. Pedi ele, sua esposa e os poucos repetidores
licença e me retirei. Nunca mais de suas palavras, entraram a fazer a
falamos. propaganda da necessidade do
A contar desse dia o casal redobrou desaparecimento de 3 ou 4 figuras da
sua perseguição à minha pessoa e à política e da administração local, para
minha política. Tiravam satisfações com Guarará recuperar sua velha harmonia e
o amigas que me visitavam, dirigindo- melhor prosperar. O juiz e sua esposa
lhes indiretas debochativas, tais como - tiveram o arrojo de mandar o sr. José
foram ao beija-mão do Papa? Como vai Monteiro da Silva Jr., tabelião interino
o ditador caduco? - Isto faziam até com do segundo, ofício da Comarca, por ele
amigos de outras cidades que iam à juiz nomeado, insinuar ao sr. José Alves
minha casa. Foi o que fizeram, entre da Silva, vulgo José Fortunato, a
muitos, com o sr. Manuel de Freitas necessidade de meu assassinato, meio
Teixeira, comerciante, residente em Juiz único de ele, José Fortunato, ganhar uma
de Fora. Proibiram os serventuários de demanda judiciária em curso na
justiça de me cumprimentar, sob pena de Comarca. José Monteiro da Silva Jr.,
caírem na odiosidade do casal. Dois chefe de Família, cidadão de
atuais escrivães do judiciário e notas da personalidade própria e honrada,
Comarca de Juiz de Fora, que no mesmo abandonou o tabelionato e retirou-se
ofício passaram pela Comarca de para o Estado do Paraná. Então, ele, o
Guarará, os srs. Ormindo Maia Filho e próprio juiz, não teve pejo de falar a José
Aécio Surerus Moutinho, poderão dizer Fortunato sobre a urgente necessidade
se estou ou não descrevendo a verdade. do meu assassinato, segundo José
Fortunato afirmou e afirmando continua
------ em qualquer lugar e perante qualquer
pessoa. Fortunato é um pequeno sitiante
Na próxima vez continuarei o relato no distrito de Guarará, chefe de
verdadeiro sobre os tristes episódios de numerosa família, que vive
Guarará, que a imprensa, parlamentares, miseravelmente.
pessoas conceituadas, dignas, mal D. Maria Elizabeth Fernandes da

9
Silva, esposa do juiz, trazia dentro de determinareis as providências
sua bolsa de mão uma arma de fogo. necessárias, que vos requeiro agora,
Senhoras de Guarará de Bicas e de Juiz diretamente, faço-o com pessimismo e
de Fora viram essa arma e ouviram a apreensivo mesmo, já que o processo
dona da mesma dizer: É para matar o delas resultante - tenho certeza - não será
Afonso Leite. o último, face à nefasta atuação nesta
As famílias de Guarará viviam comarca, de um juiz apaixonado,
apavoradas, sobressaltadas. Evitavam faccioso, mau provocador, ardiloso,
sair à rua, com medo de serem vingativo, que só desserve a Justiça,
desfeiteadas, insultadas e até mesmo transformando-a em justiça política,
agredidas com palavras que não pode avacalhando seus atos (dela) e, com
publicar, pelo juiz, sua esposa e seus frequência, criando casos para satisfação
íntimos, conforme aliás acontecera com de seu caráter mórbido. A partir de agora
várias senhoras e cavalheiros. Esse - porque não me é possível mais, sem
ambiente social refletiu na vida religiosa luta - o honesto desempenho de minha
da freguesia. função - responsabilizo as autoridades
As famílias residentes, na parte alta competentes pelo que me venha a
da cidade deixaram de frequentar a acontecer na Comarca”.
igreja do Rosário, para não passarem em Santo Deus! Será preciso dizer mais,
frente a residência do juiz, caminho para que fique irrefutavelmente provado,
forçado. Nem a igreja escapou aos quem foi o juiz de direito da comarca de
efeitos da maldade mórbida do casal Guarará e das agruras sofridas pelos seus
infeliz. Quem duvidar, leia no processo o jurisdicionados, durante longo tempo!
depoimento do culto e virtuoso vigário Articula-se que se deveria procurar os
da freguesia de Guarará, revmo. padre meios legais para a solução do caso.
Adil Bretas. Todos os meios legais foram postos em
No dia 8 de setembro de 1959, dentro movimento. O Sr. Governador, os Srs.
do Fórum de Guarará, foi o então Secretários de Estado, o Egrégio
promotor de justiça da Comarca, dr. Tribunal de Justiça, a Corregedoria da
Sebastião Ferreira Maciel, por seus Justiça, a Procuradoria Geral, todos
nobres dotes morais e intelectuais sabiam da anormalidade em que vivia a
promovido, por merecimento, para a comarca de Guarará e, em consequência,
comarca de Baependi, barbaramente da indisposição de ânimo de seus
desacatado, injuriado e quase agredido habitantes contra o juiz arbitrário e
fisicamente, na presença do juiz, por político.
Jose Arcanjo, que momentos depois ia Pessoalmente por vezes, também pelo
ser julgado como infrator do art. 21 da telefone, pelo telégrafo, por cartas e
Lei das Contravenções Penais; por Edir ofícios, e ainda por intermédio do nosso,
Cassete, por Joaquim Fernandes representante junto ao Governo de então,
Meireles e por Umberto Bertolli. meu dileto e distinto amigo deputado
Invocada a autoridade do Juiz presente, a Luiz Maranha, e do meu caro e leal
resposta foi: “Dou o caso por amigo dr. Rubens Machado, punha o sr.
terminado”. Julgou e absolveu José Governador Bias Fortes e o seu digno
Arcanjo, seu instrumento passivo. secretário da Segurança, o eminente dr.:
No dia seguinte, em ofício de 9 de Ribeiro Pena, a par do tumultuamento da
setembro de 1959, dirigido ao Sr. Justiça na comarca, da ação
Secretário da Segurança, o dr. promotor facciosamente insuportável do juiz
narrou o fato e requereu providência. Isoldino e do descontentamento do povo
Desse ofício transcrevo o final: municipal contra o dito juiz.
“Conquanto esteja certo de que Prevendo a eclosão de acontecimentos

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imprevisíveis na comarca, fui ao denunciando-o por crimes, abusos, erros
extremo em desprendimento político. e omissões praticadas e, entre os quais, o
Em nomeados partidos políticos PSD e crime de haver se apoderado, contra a
UDN, coligados em Guarará, no âmbito vontade de seu dono, de um revólver do
municipal desde 1946, sob a legenda preso Aziz Abrahão, que morreu na
“União Guararense”, eu, Bertholdo prisão. Em face da referida acusação,
Machado, prefeito Marcos de Souza houve por bem a Corregedoria de Justiça
Rezende, drs. Milton e Rubens de designar o nobre magistrado, dr.
Machado, e o deputado Luiz Maranha, Erotides Diniz, digníssimo juiz de
fomos; ao Palácio da Liberdade e direito da 4ª Vara Cível da capital, para
entregamos ao Governador Bias Fortes a presidir a sindicância. Na sede da
política de Guarará, a fim de S. Exa., Comarca de Guarará, o dr. Erotides,
entregá-la a quem desejasse e livremente auxiliado pelo escrivão da Corregedoria,
nomear as autoridades estaduais e Sr. Aristóteles dos Reis e Souza, tomou e
municipais, eis que não nos reduziu a termo declarações do juiz
responsabilizaríamos pelo que acusado, dos srs. Afonso Leite, chefe
acontecesse na comarca, daquela data político, Marcos de Sousa Rezende,
em diante. S. Excia. nos fez um forte prefeito municipal, Quintino de Souza
apelo, no sentido de continuarmos a Mattos, vice-presidente da Câmara
dirigir o município política e Municipal, Jonas Ferreira, farmacêutico,
administrativamente, prometendo professora Miva Dutra, diretora do
solucionar o caso do juiz em curto prazo. grupo escolar, José Maria Cassete e João
Efetivamente, o Sr. Bias Fortes ofereceu Antônio dos Santos, tabeliães interinos
ao juiz Isoldino remoção ou permuta, do 1º e 2.° ofícios, Angelo Vigiano,
tendo mesmo desejo de promovê-lo. coletor federal, José Massucato, escrivão
Acontece que d. Elizabeth, esposa do do crime, dr. Miranda Chaves, advogado
juiz, dizia, abertamente, só sairei de e dr. Sebastião Ferreira Maciel,
Guarará depois de matar ou morrer. promotor. Ouviu, ainda, outras pessoas,
Este episódio da narrativa que venho inclusive o vigário da paróquia, mas em
fazendo, consta no processo; expresso caráter informal e particular.
no depoimento prestado pelo deputado Da próxima vez direi sobre o
Luiz Maranha. resultado desse processo, no qual foi o
Surge o célebre boletim anônimo juiz condenado.
“Quem é ele”, libelo acusatório
infamante, que reduz a zero minha VI
honorabilidade, espalhado na cidade às
caladas da noite (folhas 20 do processo). No último número deste brilhante
Não era possível esperar por mais tempo semanário, ficou interrompido o
as prometidas providências histórico sobre o processo instaurado
governamentais. As diabruras do juiz pela Corregedoria de Justiça contra o
desafiavam um paradeiro legal. Foi juiz de direito da Comarca de Guarará,
então que o prefeito, vice-prefeito, Isoldino Silva Jr., na publicação dos
presidente, vice-presidente e secretário nomes das pessoas que depuseram como
da Câmara Municipal, vereadores, juizes testemunhas no referido processo. Hoje
de paz e suplentes, chefe do Posto de transcrevemos pequenos trechos da
Saúde, Coletor Estadual e outros sentença prolatada pelo nobre
funcionários, coletivamente, bateram às Corregedor de Justiça, desembargador
portas da justiça, oferecendo à douta José Alcides Pereira: “Cidade (Guarará)
Corregedoria de Justiça representação muito pequena e população pacata e sem
escrita contra o dr. Isoldino Silva Jr., problemas, as conversas a respeito do

11
juiz chegavam logo a seu conhecimento: chicoteado na cara, foi processado e
e sendo ele expansivo e exaltado, condenado por sentença do então
incapaz de suportar, serenamente, as Corregedor de Justiça, Sr.
críticas que eram feitas à sua pessoa e à Desembargador Alencar Araripe,
sua conduta pública e funcional, ele não sentença vazada nos seguintes termos,
pôde e não soube, muitas vezes, conter- para cuja leitura peço a maior atenção do
se e ficar em sua posição superior. E as leitor: “Vistos estes autos de processo
suas atitudes, os seus atos e até suas disciplinar, em que é arguido o bacharel
palavras ainda mais exasperavam os Isoldino Silva Júnior, ex-juiz de Direito
ânimos e envenenavam o ambiente da Comarca de Monte Belo. Tendo
social. Daí a impressão recolhida pelo origem na apuração, da agressão sofrida
ilustre juiz que presidiu a sindicância; ou pelo arguido, procedeu-se a uma
seja, “de que lhe parece insustentável a sindicância, para averiguar as acusações
posição do dr. Isoldino Silva Júnior funcionais formuladas contra o
como juiz de direito da Comarca de magistrado, conforme ficou resumido no
Guarará”. despacho de fls. 118. Defendeu-se o
E conclui a sentença: “De tudo, resta arguido a fls. juntando documentos e
a acusação de ter ele se apossado de um negou formalmente a procedência das
revólver que fora apreendido, em acusações. Tudo visto e examinado,
consequência de crime, e depositado no verifica-se que a primeira, parte da
cartório criminal, e de ter feito uso do matéria arguida ficou suficientemente
mesmo. Esse fato está comprovado provada, inclusive pelo relatório
satisfatoriamente, pois o próprio juiz em apresentado à Corregedoria pelo
conversa particular que manteve com o assistente encarregado da sindicância.
dr. Erotides Diniz, na presença do Assim, o arguido procedeu como juiz de
escrivão da Corregedoria, deu a entender direito, de forma que não o recomenda,
que dita arma estava em seu poder. De praticando atos que depõem contra o
salientar, ainda, que, o juiz mesmo se critério que deve ter um magistrado e,
encarregou de tornar mais grave esse principalmente, permitindo que sua
fato, colocando, ás escondidas, dito esposa interviesse no foro, instruindo
revolver em uma gaveta do cartório e, serventuários, dos quais cobrava
deslealmente, determinado ao escrivão, remuneração mensal e dispondo de
que informava não existir outra arma nomeações interinas da competência do
além das apresentadas ao dr. Erotides, juiz. A segunda parte da acusação se
que, abrisse a gaveta e mostrasse a arma. refere ao desaparecimento de uma conta
Por esse fato, imponho ao sr. Isoldino de custas de arrematação, dos autos de
Silva Júnior, juiz de direito da Comarca uma venda judicial. Os depoimentos das
de Guarará, a pena disciplinar de testemunhas se referem à notação de um
censura, visto como já lhe foi imposta a depositário “ad-hoc”, sem declaração,
pena de advertência. Faça-se a sem prévia nomeação nem termo de
necessária notificação e remeta-se cópia posse, mas que teria recebido Cr$
desta ao juiz. B. Hte., 27-10-1959”. Essa 3.075,00, como prêmio de um depósito
sentença foi confirmada pelo Egrégio que não chegou a ser feito. O exame
Conselho Disciplinar de Justiça, em 16 pericial, deixa certo que falta nos autos,
de fevereiro de 1960, em virtude de por ter sido subtraída, a folha n. 22, em
recurso interposto pelo condenado. que devia estar a conta de custas, e tudo
O dr. Isoldino Silva Jr., foi juiz de indica que a subtração se deu no período
direito apenas em duas Comarcas, de um dia, em que o juiz pediu os autos
Monte Belo e Guarará. Na Comarca de e os levou para casa. Na defesa, em que
Monte Belo, depois de ter sido tão desordenadamente se estendeu o

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arguido, não declara quem serviu como boletim, dona Elizabeth, muito nervosa,
depositário, o que faz suspeitar, não ter tomou de uma arma de fogo e saiu à rua
existido quem, a esse título, funcionou correndo e gritando que ia matar o cel.
nos autos. Em todo caso; prova plena Affonso Leite. Seu marido, o juiz de
não há de que o arguido ou sua mulher direito, e José Arcanjo, o jardineiro de
que tamanha ingerência tinha no fôro se uma casa que nunca teve jardim, figura
houvesse apoderado do prêmio do saliente que está em todos os episódios
depósito, muito embora existam graves do drama de que tratamos, contiveram-
suspeitas desse procedimento criminoso na e a conduziram para dentro de sua
em consequência, e atendendo a que o casa, onde ela, puxando de um revólver,
arguido, logo em seguida à agressão disse para José Arcanjo: “Se você não
determinada por seu procedimento for matar o coronel, eu te mato”. À noite
infeliz, se removeu para outra Comarca; houve uma reunião na casa do juiz, e
(Guarará) e que e de esperar lhe tenha nessa reunião ficou deliberado o meu
sido proveitoso o exemplo para que: no assassinato. Disto ninguém tenha
futuro exerça sua nobre função sem dúvida. É um fato que se tornou público
admitir intervenções indébitas. Imponho e notório na Comarca e consta do
ao bacharel Isoldino Silva Júnior, atual depoimento das seguintes testemunhas:
juiz de direito da Comarca de Guarará; a Roberto Nunes, Francisco de Assis
pena de advertência. Intime-se Arruda, Valdir de Melo, Gerson Elias,
numerando-se o processo, a partir das Luís Fabris Filho e Antônio Bertelli, fls.
fls. 122. B. Hte., 10-1-1957”. 401, 421, 427, 455 e da dramática
O que é de estarrecer, leitor amigo, é acareação de fls. 450 do processo.
o fato de um juiz de direito, duas vezes Para justificar a reunião de pessoas na
condenado por apropriação indébita - casa do juiz no dia do meu assassinato,
quanto à primeira vez da quantia de foram transferidos para o dia 15 de maio
3.075 cruzeiros, nos autos de urina de 1960 os festejos de aniversário de d.
venda judicial, a segunda do. revólver de Elizabeth, transcorrido no dia anterior,
um preso, continuar a denegrir a nobre 14 de maio. Ainda mais: supondo
magistratura mineira com a agravante de legalizar o ataque ao meu lar e ao meu
ficar no exercício de tão dignificante consequente assassinato (quanta
função na mesma Comarca onde indignidade. Deus meu!) o juiz Isoldino
praticou esse feio crime. baixou a ilegalíssima portaria n.° 6-60,
Visando a demonstrar ao digno povo datada de 14 de maio de 60, fls. 13 dos
guararense que o poder público local, autos, determinando a expedição de
por seus legítimos representantes, não mandado de busca e apreensão de
descuidava de procurar meios legais no qualquer “boletim, panfletos, folhetos ou
sentido de afastar da Comarca o juiz qualquer outros papéis que estejam
perturbador da vida municipal, o criminosamente sendo distribuídos nesta
prefeito, vice-prefeito e o presidente da Comarca, que façam referência à
Câmara Municipal publicaram um conduta pública ou particular do juiz de
boletim “Sem Comentários”, que se direito”.
encontra a fls. 19 do processo. Esse No próximo domingo continuarei a
boletim, assinado pelas três autoridades narrativa deste capítulo, pedindo para ele
municipais, não contem ofensa alguma a atenção do estimado leitor, por ser um
ao juiz. Nele se transcrevem apenas, dos pontos altos do denominado Drama
“ipsis verbis”, duas certidões da douta de Guarará.
Corregedoria de Justiça condenando o
juiz Isoldino na forma acima referida. VII
Ao tomar conhecimento desse

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Expedido os mandados de busca e escreve torto por linhas certas”.
apreensão, de acordo com a portaria Na tarde do, dia 14. de maio de 1960,
número 6/60, à qual me referi no final do o sr. Valdir de Melo, adepto e
meu artigo anterior, os oficiais de justiça correligionário do juiz, foi à minha casa,
efetuaram, na Comarca, as diligências e disse: “Sr. Afonso Leite, sou seu
ordenadas, sem qualquer anormalidade - adversário político mas não me
fls. 17 e 18 do processo. Se, em virtude conformo com estas coisas. O dr.
do boletim “Sem Comentários”, o Juiz Isoldino insiste comigo para
Isoldino se julgou ofendido, vítima, comparecer a uma reunião amanhã na
parte interessada, não devia e, por força casa dele; para uma diligência
da lei, não podia tomar iniciativa importante. Não sei do que se trata, mas
processual praticando atos ilegais. o senhor deve se prevenir porque me
Devia, isso sim, oficiar ao seu substituto parece que a coisa é com o senhor”.
legal, juiz de Direito da Comarca de No dia seguinte, pela manhã, o senhor
Bicas, o brilhante dr. Antonio Cascado, José Antônio Corrêa veio a minha casa e
solicitando-lhe tomar as providências me disse ter ouvido da d. Elizabeth,
cabíveis no caso, de acordo com a lei. esposa do juiz, dizer que dispunha de 50
Por que não tomou o juiz esse caminho homens para atacar minha casa naquele
legal e honesto? Porque tinha um plano dia, às 17,30 horas. Procurei o prefeito
diabólico a cumprir. Marcos de Souza Rezende e com ele fui
Tinha necessidade de nomear 50 ao delegado de polícia, sr. Joaquim
oficiais de justiça ad-hoc. Além das Nunes Cabetti, a quem fiz ciente dos
ordens emanadas da portaria e do avisos acima ditos. Disse-me o delegado
mandado, tinha a ordenar aos oficiais de que já estava informado dessa ocorrência
justiça missões tétricas. Tanto o juiz pelo cabo comandante do destacamento.
como sua esposa diziam coisas Ficou então combinado, como medida
dolorosas. D. Elizabeth disse aos oficias preventiva, que o destacamento policial
de justiça que tinha 50 homens à fosse postado na Praça do Divino, a
disposição para fazer essa diligência, e o partir do meio-dia.
juiz lhes disse que, se alguém impedisse Às 13 horas, mais ou menos, por
a busca e apreensão, usassem de arma intermédio do sr. Gerson Elias, recebi do
que fosse necessária; iria nomear 50 sr. Antonio Bertelli, de Bicas o aviso de
oficias de justiça; que tinha de acabar que o sr. Edir Cassetti dizia que aquele
com aquele boletim na cidade, mesmo dia. seria o último de minha vida, pois
que fosse preciso correr sangue. - minha casa ia ser atacada pelo doutor
Depoimento dos oficiais de justiças, fls. Isoldino e seus correligionários.
408 e 425 dos autos. Ainda com o prefeito Marcos, voltei
O plano era a invasão de meu lar e ao delegado Cabetti, a quem sugeri ir ao
meu assassinato lavrando-se a seguir, telefone e pedir ao delegado de Bicas o
para justificar tamanha barbaridade, auto destacamento policial emprestado, para
de resistência, assinado pelo juiz e auxiliar a manutenção da ordem pública,
oficiais, possivelmente pelas gravemente ameaçada em Guarará. Com
testemunhas-mores Edir e Laerte o destacamento policial de Bicas
Cassete, João Padeiro, José Arcanjo, teríamos 10 praças, número suficiente
Benjamim Siscouto, Umberto Bertelli e para, às 17 horas, estabelecer um cordão
Elza Soares de Melo que, conforme de isolamento no centro da Praça do
confessou, no seu depoimento, ainda tem Divino, de modo a impedir o trânsito de
o juiz vítima dentro do seu coração. pedestres ao lado da casa do juiz para
Mais uma vez ficou confirmado o minha casa, e vice-versa. O delegado de
velho e sábio refrão popular: “Deus Bicas respondeu não poder emprestar o

14
destacamento sem ordem, do cadáveres e providenciado socorros aos
comandante do 2° BI. O delegado e o feridos. Às 20 horas chegava a Guarará
comandante do destacamento policial de o digno delegado geral de Juiz de Fora,
Guarará, cabo Maturino Antunes, foram dr. Raul Machado, acompanhado de
ao telefone e puseram o comando do 2° forte contingente de policiais, inclusive
BI ciente dos fatos, por intermédio do oficiais da Força Pública. A essa hora
fiscal do dia, sargento Reinaldo Freisse, minha residência já não comportava as
a quem pediram reforço urgente, e de pessoas amigas de Guarará; Maripá,
quem receberam ordem de manter o Bicas, Pequeri, Mar de Espanha, São
destacamento na rua até a chegada do João Nepomuceno, Leopoldina e outros
reforço. lugares, que vieram em meu auxílio, me
Seriam 14 horas, mais ou menos. O confortar, e que se solidarizaram
movimento na casa do juiz era desusado. comigo, por terem, de pronto, constatado
Dona Elizabeth queimava foguetes em não haver eu, de qualquer modo,
frente de sua casa. Pulava no meio da comparticipado dos lamentáveis fatos
rua e batia no peito. pouco antes ocorridos, eis que estava em
Estava tranquilo na minha casa, minha casa, disposto a defender meu lar
aguardando a chegada do reforço da invasão anunciada de boca em boca
policial pedido. Comigo estavam os srs. na cidade, na ignorância das pessoas que
José Rezende, coletor aponsentado; estavam no bar, uma vez que para ali não
Rubens Aziz, chefe do serviço de mandei ninguém.
fazenda da Prefeitura; Elcenor Leite, Nó dia seguinte chegava a Guarará o
escrivão do crime aposentado; Roberto delegado geral do Estado, dr. Luiz
de Assis Pinto, funcionário público Soares da Rocha, com seus auxiliares,
estadual; José Nascentes de Azevedo, para presidir o inquérito policial,
funcionário público; José Leopoldo assistido pelo ilustre promotor de Justiça
Machado, ferroviário; Gerson Elias, de Juiz de Fora, dr. José Adolfo Pereira.
escrivão da coletoria; Sebastião Araújo, Para evitar suspeita, censura ou
operário; Abrahim Ihered, funcionário recriminação a mim ou às autoridades
público; Massaude Elias, negociante, encarregadas das investigações policiais,
meus amigos e vizinhos. Registro aqui o não tive com estas o mais ligeiro
nome e profissão de cada um, para contato, salvo no dia em que,
demonstrar que tratam-se de pessoas surpreendentemente,fui chamado a
qualificadas e não capangas vindos de prestar declarações como indiciado.
outras bandas, conforme foi Seguramente informado pelos feridos,
mentirosamente publicado. pelos que confessavam sua ação
O tempo passava e o reforço policial delituosa e pelas testemunhas que
não chegava. Às 17 horas mais ou assistiram a todo o conflito, desde o
menos, do interior de minha casa, ouvi inicio ao seu término, com a consciência
alguns tiros de arma de fogo. Quis ir ver limpa e absolutamente tranquilo, dizia a
de que se tratava. Fui impedido pelos cada um deles, invariavelmente: “Se for
meus amigos José Rezende, Geraldo chamado a depor, diga, sem receio, o
Nascentes de Azevedo, Munir Abrahão e que fez, o que viu e o que ouviu”. Pelos
Abrahim Ihered. depoimentos das testemunhas de vista;
Instantes depois a notícia de que no pelas declarações dos feridos; pelo
bar do sr. José Abrahão, estavam mortos interrogatório dos denunciados; pelas
o dr. Isoldino e José Arcanjo, e 12 confissões dos que tomaram parte ativa
pessoas feridas à bala e à faca. O no conflito, e pelo que é sabido por uma
delegado já se havia comunicado com as população inteira, só ignorado por
autoridades superiores, isolado os algumas das testemunhas da acusação,

15
aliás já fulminadas por sentença da segundo pavimento do prédio do bar e,
justiça pública, quando afirmou estar a de uma janela, indiferentemente, fica a
prova de acusação em choque com a ver o desdobrar dos fatos. José Arcanjo,
prova técnica, o conflito transcorreu do raivoso por ter perdido sua presa ou,
seguinte modo: Chamados, os homens quem sabe, para provocar o conflito e
(não havia senhoras) que se reuniam na meu assassinato ali mesmo, na
casa do juiz, diziam uns, ali estavam suposição de que eu estivesse no bar,
para festejar o aniversário de dona saca de uma faca e vai cravá-la nas
Elizabeth, transcorrido no dia anterior. costas do prefeito Marcos. Nesse
Para uma manifestação ao juiz, no momento, providencialmente, Angelo
Fórum, diziam outros. Na realidade, Barbosa da Silva chega à porta do bar e
porém, ali estavam para serem salva a vida do prefeito, dando um
nomeados oficiais de justiça “ad-hoc” e puxão no braço de José Arcanjo. Ainda
invadirem meu lar. Ao aproximar-se a assim, Marcos Rezende fica ferido nas
hora marcada 17,30, um após outro, costas e ensanguentado. Sua esposa d.
vinha da casa do juiz e se postava no Izollina de Mattos Rezende, agarra em
passeio fronteiro ao bar do sr. José seu marido ensanguentado e grita para
Abrahão, ao lado da rua Tiradentes. José Arcanjo - não mate meu marido,
Vinham; primeiro, José Arcanjo, depois, bandido. José Arcanjo vai matá-la pelas
Umberto Bertelli, depois Benjamin costas, intervém novamente Angelo
Augusto Siscouto, e assim outro. Os Barbosa e dá forte esbarro em José
demais, 30 a 40, viriam com o juiz e sua Arcanjo, que cai de costa na rua. D.
esposa, no momento oportuno. Izollina é ferida nas costas pela faca de
(Prossegue) José Arcanjo e cai de joelhos. José
VIII Arcanjo levanta-se e dá uma facada na
testa de Angelo Barbosa da Silva. Foi
Terminei o meu último artigo no nessa hora que Angelo, depois de ter
momento em que, um após outro, vindos salvo a vida do prefeito e da esposa
da casa do juiz, seus homens se deste, também salvou a sua própria vida.
postavam no passeio fronteiro ao bar do Fez o que faria em idênticas
sr. José Abrahão, do lado da rua circunstâncias qualquer pessoa não
Tiradentes. covarde: matou para não morrer. Entram
Era domingo, 15 de maio de 1960. O na luta: Umberto Bertelli, de faca em
bar referido é o único da cidade, lugar punho; Benjamin Siscouto, de revólver,
das reuniões domingueiras do povo e José Arcanjo Filho, com um pedaço de
local. Dentro e fora do bar, muita gente - cano de ferro, com o qual fere a testa do
homens, mulheres e crianças. Todos prefeito. Chega o delegado Cabetti.
cordialmente despreocupados. Toma a faca de Umberto Bertelli e
Adauto Pereira Campos, débil mental manda os soldados se armarem. Vêm
inofensivo como tal de todos conhecido, armados e correndo o dr. Isoldino e d.
queimava bombinhas na rua. Porque Elizabeth acompanhados de 30 homens,
uma das tais bombinhas explodiu perto mais ou menos. Angelo Barbosa entra no
de José Arcanjo, este agrediu Adauto, bar. Vai sair pela segunda porta, a contar
dando-lhe um tapa no rosto e com ele se da esquina do lado da rua Tiradentes, e
atracando em luta corporal. Para dá de frente com o juiz Isoldino, que lhe
apaziguar, intervieram o prefeito Marcos diz: “ponha o velho para fora”.
de Souza Rezende, Avelino José Responde Angelo, recuando e se
Machado e José Leopoldo Machado. encostando na sinuca: “O coronel
Adauto, ao se ver livre das garras de Afonso Leite não está no bar”. Retruca-
José Arcanjo, corre. Sobe para o lhe o juiz: “Ponha ele para fora, pois do

16
contrário eu lhe mato” e, de fato, feridos a bala e a faca, sendo um
disparou sua arma contra Angelo e os gravemente. Quando os soldados
demais que estavam dentro do bar. voltaram armados, tudo estava acabado.
Angelo dá dois tiros no rosto do juiz, Isolaram os mortos e auxiliaram a
que cai fulminado no passeio do bar, do socorrer os feridos. O bar do sr. J.
lado da rua Tiradentes, e toma seu Abrahão faz esquina com as ruas
automóvel, que estava junto ao passeio Tiradentes e Cap. Gervásio, as quais
do bar, do lado da rua Capitão Gervasio, desembocam na Praça do Divino,
e vai para sua, casa, cuidar dos principal da cidade. O lamentável
ferimentos recebidos. D. Elizabeth atira conflito foi em plena rua Tiradentes,
para um e outro lado. Uma bala de sua distante da casa do juiz 182,60 metros, e
arma atinge d. Maria Escapolatempore de minha residência, 50 metros. De
Machado no peito. Para evitar que d. minha casa não se vê o que se passa na
Elizabeth continuasse atirando para Rua Tiradentes.
dentro do bar, Calixto Nassif deu-lhe um Aí está a realidade inconteste dos
tiro na barriga. Ela caiu de joelhos perto dolorosos acontecimentos, tal qual eles,
do cadáver de seu marido, de frente para sucessivamente, se deram. Aí está a
o bar e costas para o lado oposto da rua verdade real dos fatos, testemunhada por
Tiradentes, Os dois tiros que atingiram mais de 60 pessoas, pública e
as costas de d. Elizabeth foram notoriamente conhecida e sabida por
desfechados por João Ferreira de Souza, mais de de 90 por cento da população da
vulgo João Padeiro. Calixto Nassif foi cidade.
ferido a bala na barriga, por um tiro que José Arcanjo era metido a valente.
foi dado por Laerte Antonio Cassetti. Desordeiro contumaz, tinha por hábito
Avelino José Machado teve uma perna provocar brigas. Sua arma predileta era a
varada a bala, pela arma de d. Elizabeth. faca. Daí, a crença geral de que se
Antonio Abrahão vai fechar as portas do Angelo Barbosa não estivesse no bar e
bar e teve o terço superior do braço não agisse como agiu, José Arcanjo
esquerdo furado por bala. José Abrahão, mataria a faça todas as pessoas que
seu irmão corre em seu socorro e fica estavam ali. A seguir, reunir-se-ia ao seu
com o pulso da mão direita varado a bando e continuaria na execução do
bala. Atiravam de fora para dentro do plano diabólico combinado. Meu lar
bar - Laerte Cassetti, Edir Cassetti, João seria invadido e, então, a mortandade
Ferreira de Souza, vulgo José Padeiro, subiria para mais de 50 pessoas. Deus
Benjamin Siscouto, José Carlos Bignoto, porém, que com a sua infinita
Joaquim Meireles e outros. Verificada a misericórdia nunca desampara seus
morte do juiz Isoldino, seus homens filhos bem intencionados, interviu com a
correram, abandonando seu cadáver e os Sua justiça infalível; escrevendo torto
feridos, d. Elizabeth e José Arcanjo por linhas certas, e o negro plano de
Filho. Dentro do bar havia uma só morte - deu resultado inesperado - a
pessoa armada - Angelo Barbosa. morte de seus idealizadores e
Ninguém mais. Junto à porta do bar, do executores. Esse resultado não agradou
lado de fora, Calixto Nassif e Abercilio aos protetores e aos protegidos do juiz e
Sabino. Ninguém mais, dos amigos de: sua esposa. Afonso Leite, a figura mais
Afonso Leite. Devido à surpresa do visada pelo casal político, não morreu
ataque, a confusão foi grande e rápida. nem foi colhido como responsável ou
Não durou mais de 5 minutos. Resultado como um dos responsáveis pelos
final da luta: correligionários do juiz, 2 acontecimentos de 15 maio de 1960?
mortos e 2 gravemente feridos. Não pode ser. É necessário dar nova
Correligionários de Affonso Leite, 9 versão aos lutuosos acontecimentos, de

17
modo a colher figuras cuja prisão e Isoldino Silva Jr. caso concretizada a
condenação importe na derrocada da violenta medida judicial, anunciada na
política dominante de Guarará, tais cidade, da casa do coronel partiria a
como o prefeito, o vice-prefeito, o reação que seria, secundada pelos que se
coletor Geraldo Pereira Campos, encontravam no bar, ficando assim o juiz
secretário do diretório do PSD, o e seus amigos entre dois fogos”.
secretário da Câmara Municipal e do Pura demagogia policial. Nenhuma
diretório municipal da UDN, José das pessoas que estavam no bar disse,
Abrahão e outros, único meio de Edir em qualquer processo, que ali estava a
Cassetti, sucessor político do juiz morto, meu convite ou ordem. Nenhum dos
dominar politicamente o município. feridos e dos acusados, nenhuma das
Assim pensaram e agiram. Daí o testemunhas de acusação, de defesa, fez
descambado do inquérito policial para a referência a esse plano inventado pela
parcialidade, invencionismo e violência. polícia. Quanto às pessoas que estavam
A parcialidade é visível em tudo, em minha casa, são minhas amigas e
notadamente no tratamento dispensado vizinhas, todas pessoas qualificadas e de
aos indiciados e às testemunhas. O responsabilidade, como mostrei no
relatório policial, quando se refere aos artigo anterior. Sou o único visado. O
homens do juiz, dá-lhes o tratamento de único que interessa aos interessados.
“amigos, simpatizantes do juiz”. Na próxima vez direi sobre as
Quando, porém, faz referência aos meus violências sofridas pelos indiciados
amigos e correligionários, qualifica-os meus amigos.
de “capangas, assassinos, sequazes,
asseclas do coronel”. O invencionismo IX
está registrado no relatório do seguinte
modo: “A notícia que corria na cidade, Com o firme propósito de arrancar de
era de que logo após as manifestações alguns interessados a confissão ou
que os amigos do juiz iriam tributar-lhe declaração de que eu os havia colocados
no Fórum, como desagravo à publicação armados eles ou alguém no bar do sr.
dos boletins contra ele espalhados, a José Abrahão para execução de uma
casa do coronel Afonso seria invadida cilada contra o dr. Isoldino Silva Júnior e
pela autoridade judicial e seus seus acompanhantes, o mesmo fazendo
seguidores, em busca dos malsinados com outros homens em minha casa, a
boletins. O coronel Afonso. Leite, polícia violentou, física e moralmente,
homem ativo, inteligente e malicioso, os seguintes cidadãos:
armou a cilada ao dr. Isoldino e seus Avelino José Machado, chefe de
simpatizantes. Convidou alguns numerosa e honrada família, grande
correligionários, de preferência os mais proprietário agrícola e industrial,
esclarecidos intelectualmente, para dar- vereador aliás, já definitivamente
lhe assistência e testemunharem o que de absolvido, com uma das pernas varada a
anormal acontecesse em sua casa, se bala, foi retirado do seu leito na manhã
fosse realizada a diligência, inclusive cedo do do dia seguinte ao do ferimento
para sustentarem qualquer “álibi” por ele e levado para a cadeia, onde ficou preso
engendrado. Outrossim, providenciou incomunicável, sem qualquer alimento,
outros elementos a ele ligados e que nem mesmo água ou café em uma só
fazem parte de sua turma de choque se perna durante todo o dia. A tardinha,
postassem, devidamente armados, no depois de humilhado e insultado com
bar de José Abrahão, situado em frente palavrões, teve suas declarações tomadas
ao Fórum, onde iriam se reunir os que por termo. Em que estado físico e moral
pretendiam fazer manifestação ao dr. esse homem do trabalho e da ordem

18
prestou seu depoimento? Ainda assim, algemados, para a cadeia de Bicas. A
manteve a verdade do que fez, viu e noite foram expostos, como homens
ouviu. desprezíveis, dentro de uma viatura da
Abercilio Sabino, casado, 55 anos de Secretaria de Segurança, ao escárnio
idade, jardineiro da prefeitura, aleijado público, em frente ao Bicas Hotel, na rua
de uma mão, único homem de cor de maior trânsito de Bicas e depois
envolvido no processo, foi preso na interrogados dentro de um quarto do dito
cadeia de Guarará, depois removido para hotel.
a cadeia de Bicas, onde foi seviciado Dona Maria Rosa Gonze da Silva,
para dizer o que a polícia desejava. No diante da violência de linguagem de um
sumário de culpa, retificou suas policial, desmaiou dentro de sua própria
declarações feitas na policia sob casa. Levada ao Fórum, assinou o que
espancamento. lhe disseram ser seu depoimento, do qual
Angelo Barbosa da Silva, casado, só teve conhecimento quando foi lido e
negociante, ex-expedicionário, suplente explorado perante o Tribunal do Júri de
de juiz de paz, depois de ter com leal J. de Fora. Horrorizada e desesperada
nobreza, descrito todos os lances do por ter assinado um depoimento que não
conflito e confessado que, em estado de prestou, no seu nome e em nome de seus
legítima defesa foi a autor da morte de inocentes filhinhos, escreveu dolorosa
José Arcanjo e do dr. Isoldino, para carta ao ilustre advogado, brilhante
confessar também que estava no bar a jornalista e radialista José Carlos de
meu chamado, e que ali também estavam Lery Guimarães, a ele solicitando que,
armado, José Abrahão, José Leopoldo por intermédio da conceituada Rádio
Machado, Geraldo Pereira Campos, Industrial, no seu utilíssimo programa
Abrahim Ihered e Roberto de Assis “Flagrantes”, cujo objetivo principal é a
Pinto, foi conduzido de Herodes para indagação e o conhecimento da verdade
Pilatos e ameaçado de morte. Esteve de tudo que interessar possa ao bem
algemado durante dois dias. Passou uma coletivo, tornasse público o seu
noite sobre o piso de cimento limpo da veemente protesto, contra a indignidade
cadeia de Benfica. Foi humilhado com de que foi vítima.
palavras injuriosas, que nem se podem Não obstante esta série de, violências,
citar aqui. Só não foi espancado graças para só falar do que constam do
ao dr. Raul Machado, ao dr. promotor e processo, a autoridade investigante foi
ao inspetor Braga. Na justiça retificou as forçada a dizer no seu relatório: “A
declarações feitas na polícia, em vários prova testemunhal colhida neste
pontos. inquérito, forçoso é confessar, não é uma
José Leopoldo Machado e Roberto de prova perfeita e ninguém a poderia
Assis Pinto, ambos honrados chefes de colher num ambiente de paixões
família, aquele ferroviário federal, este doentias como o que está vivendo a
auxiliar técnico de fiscalização e pequena cidade de Guarará”. E mais
arrecadação estadual porque não adiante: “Há contradições e, evidentes
acusaram pessoas indicadas pela polícia, entre os acusadores e os defensores do
foram xingados de mentirosos, cretinos, Coronel Afonso, como as há também
salafrários, hipócritas, etc. Depois foram entre os próprios acusadores e
submetidos a cruciantes vexames dentro defensores entre si”.
do Fórum de Guarará e algemados um Se a prova colhida é imperfeita e
ao outro, levados para a cadeia local, contraditória, porque acusam fortemente
onde ficaram presos algemados, a mim, a Geraldo Pereira Campos e José
incomunicáveis, sem alimento durante o Abrahão de matadores do juiz vítima,
dia. À tardinha foram conduzidos, ainda para a seguir confessar: “Não existissem

19
esses depoimentos, contra o coronel Público, inconformado com a referida
Afonso, e, ainda assim, nós o qualificativa, dela recorreu, mas o
incluiríamos no rol dos culpados como Egrégio Tribunal de Justiça de Minas a
responsável moral e autor intelectual de manteve. Temos pois que, para todos os
crimes que sacudiram Guarará no dia 15 efeitos legais, provento criminoso foi
de maio último? E porque sabia e tinha inesperado, imprevisto, não querido e
certeza, de que as testemunhas que me desejado.
acusavam como autor material dos O que não se explica, e gostaria de
delitos eram testemunhas falsas e adrede saber, é a razão pela qual, em um
preparadas. Tinha certeza, sim porque os conflito entre dois grupos de pessoas que
numerosos ferimentos que a referidas se digladiam em praça pública em luta
testemunhas descreveram como por mim corporal, trocando tiros e facadas,
feitos nas vitimas, não foram resultando de um lado 2 mortos e 2
encontrados pelos médicos legistas não feridos, e do outro lado 9 feridos a bala e
constam dos autos de corpo de delito, e, a faca, só os de um lado sejam
além disso, todos sabiam que eu antes, criminosos, processados e condenados, e
durante e depois do evento, não estava os do outro lado, nada! Nada, não.
no lugar dos crimes, bem como que os Serviram de testemunhas para acusar os
autores dos homicídios já haviam do lado oposto!
confessado. Não se tratava, pois, de Para justificar tamanha aberração, o
desagravar a sociedade, de descobrir os relatório policial levantou, a denúncia
criminosos e entregá-los à Justiça. O que apoiou e a sentença de pronúncia aceitou
interessava, o que era necessário, é que a tese de que nem um dos
eu fosse condenado. Foi, aliás, o que acompanhantes do juiz, os mesmos que
declarou a acusação e por vezes repetiu compunham um dos grupos do conflito,
no plenário do julgamento, alertando os estava armado, e que, em consequência,
dignos srs. jurados que se eu fosse os 9 feridos a bala e a faca do grupo
absolvido, ela, a acusação, pediria a contrário o foram pelos próprios
absolvição dos demais acusados, companheiros do mesmo grupo. É
inclusive dos confessos. Seria o meio discutível a hipótese de, em um conflito,
único de a política municipal de Guarará um componente de um grupo ferir um
ser entregue a um dos comparsas do juiz companheiro do mesmo grupo. Mas
morto. Assim, pois, não visavam a admitir ou acreditar que todos os feridos
abusar e condenar os culpados, mas sim a tiros e faca, em número de 9, o foram
destruir o chefe político de Guarará. pelos seus próprios companheiros de
Deste modo, os 12 chefes de família grupo, é patota difícil de ser engolida.
indicados no inquérito policial - todos de Seria para estarrecer a afirmativa de que
um só lado dos dois grupos do conflito - nenhum dos acompanhantes do juiz estar
foram preventivamente presos, armado, se a calda não estivesse à
denunciados, pronunciados e 8 mostra ou se a emenda não fosse pior do
condenados. que o soneto. Pois não estão fazendo
A sentença de pronúncia qualificou os parte integrante do processo, assinado
crimes “homicídio simples”. Homicídio pela autoridade investigante e duas
simples afasta o motivo fútil, privado, testemunhas, os autos de apreensão da
leviano, de somenos importância, “Mauser” do juiz, da arma de sua
motivo á-toa, bem como o dolo, a esposa, do revolver de João Ferreira de
vontade deliberada e livre de matar, à Souza (João Padeiro), da faca de José
emboscada, o ajuste, a surpresa, a paga, Arcanjo, da faca de Umberto Bertelli e
a promessa, e diminui de muito a pena, do pedaço de cano de ferro de José
no caso de condenação. O Ministério Arcanjo Filho, todos acompanhantes do

20
juiz? Essas armas, juntamente com a de loucura de preparar uma cilada contra a
Angelo Barbosa e a de Abercilio Sabino, vida do juiz Isoldino, eu, com a
não estiveram em cima da mesa dos srs. experiência que tenho da vida, eis que já
jurados que compunham o conselho de vivi 81 anos, dos quais 62 no exercício
sentença, para exame dos mesmos? Não ininterrupto de função pública eletiva e
é certo que o advogado dos réus, dr. José de nomeação sem nunca ter brigado com
Bonifácio, em plenário do júri, pegou na alguém, ou alguém ter feito mal; eu, que
arma do juiz Isoldino e, com o exame tenho noções de direito penal, eis que
balístico na mão, provou que a dita arma pratiquei rebuliço por mais de 40 anos, e
foi detonada 4 vezes, tendo ficado sempre fui defensor dativo dos infelizes
engastada na quinta vez, com uma desprotegidos da sorte,
cápsula atravessada no cano? consequentemente conhecedor das
Na próxima vez continuarei a responsabilidades criminais; eu que,
historiar os fatos, como eles se segundo proclamou a própria justiça,
desenrolaram, e a descrever a ação de disponho da quase totalidade de uma
cada um dos condenados, tendo por base população cujo coração pulsa através de
única e exclusivamente a prova nos minha sensibilidade, teria praticado
autos, notadamente, a sentença de loucura maior conclamando meus
pronúncia. melhores amigos, todos chefes de
família e pessoas de posição social
X definida, os armado e colocado à porta
de um bar, lugar público, no coração da
Na ganância incontida, preconcebida cidade, em frente ao jardim da principal
ou insinuada, de me envolver no praça, na tarde radiante de um domingo,
processo-crime, a autoridade policial com, a incumbência tétrica e desumana
investigante fez constar no seu relatório de matar o juiz de direito da comarca, no
ter eu armado uma cilada ao sr. Isoldino, meio da rua, à vista de quem quisesse
colocando homens no bar e na minha testemunhar o assassinato e apontar os
casa, para, no caso do juiz (dr. Isoldino) assassinos, à Justiça? Dispondo de tantos
efetivar a violenta medida judiciária de elementos não me seria mais prudente,
invasão do meu lar, ele e seus mais seguro, mais sem perigo e até mais
acompanhantes ficaram metidos entre econômico destacar uma pessoa ou
dois fogos. Pura invencionice, sem a arranjar um pistoleiro? Praticado tão
mais remota prova ou indício constante bárbaro quão covarde crime, quem seria
dos autos ou logicamente deduzidos dos capaz de descobrir seu autor, em um
fatos, eis que nem uma das 61 pessoas meio absolutamente hostil à vítima?
ouvidas no processo fez qualquer Quem vai fazer ou compartilhar de uma
referência a esse respeito. Se verdadeira tocaia de morte leva a esposa e filhos?
a referida cilada inventada pela polícia, Pois no bar estavam a esposa e 3
eu estaria no cumprimento de um netinhos do prefeito Marcos Rezende; a
imperioso dever, qual o de defender o esposa do sr. Massaud Elias; a mãe e 3
meu lar, humilde porém honrado, da irmãos de José Abrahão e outros
violência judicial ilegal, capitaneada por senhores e crianças. Sei, e disso recebo
um juiz de direito político, arbitrário e provas diárias, que os que conhecem o
vingativo, com o objetivo, do meu meu passado, meu feitio moral, meu
assassinato. Muito ao contrário, porém, espírito pacifista, minha repugnância a
outra é a realidade. Por vezes consegui crime de qualquer natureza, não
salvar a vida do dr. Isoldino Silva Júnior, acreditam nessa imputação maldosa,
conforme é público e notório. assim como ninguém ignora que os
Se me tivesse passado pela cabeça a meus amigos que estavam no bar e na

21
minha casa - são todos cidadãos dignos, criminosos, não estava no bar, afirmaram
honrados e de profissão conhecida, seja, na justiça, no decorrer da formação de
qualquer deles, quer fosse um capanga culpa: das 3 vitimas de morte, uma, dona
ou empreiteiro de homicídio, a qualquer Elizabeth, ao ser transportada ferida para
preço. o Hospital São José, de Bicas; dos 10
Outra acusação infundada é de que: feridos, 7, os que foram perguntados a
“Não houve defesa. Só. houve agressão respeito; dos 12 denunciados, 10; das 9
pelos amigos do coronel. Pois então não testemunhas de acusação, inclusive o
está provado nos autos, com um croquis informante, filho da vitima José Arcanjo;
junto pela polícia, que o juiz saiu de sua 3; das 30 testemunhas de defesa, 11, as
residência, acompanhado de sua esposa que foram interrogadas a respeito! As
e seus homens, e que caminharam 182 demais juraram sobre minha vida
metro e 60 centímetros para atacar as privada e pública, durante os 62 anos de
pessoas que estavam no bar, na minha residência em Guarará,
suposição de que eu ali estivesse? O decantando minha ação como chefe de
primeiro ataque não partiu de José família, como político e administrador
Arcanjo contra Adauto Campos, um público. Temos que, das 61 pessoas
débil mental inofensivo? De quem foi o ouvidas no processo, 32, as que estavam
primeiro sangue que correu? Não foi do dentro e nas imediações do bar e na
prefeito Marcos Rezende, agredido a minha residência, consequentemente
faca e a cano de ferro por José Arcanjo e todas as testemunhas de vista, afirmaram
José Arcanjo Filho? Não foi de d.ª sobre juramento que eu não estava no
Izolina de Mattos Rezende, esposa do bar. Haverá prova mais completa, mais
prefeito, esfaqueada nas costas por José clara e mais convivente de que eu não
Arcanjo? Não foi de Angelo Barbosa da comparticipei de qualquer modo dos
Silva, a quem José Arcanjo esfaqueou na lamentáveis fatos criminosos?
testa, 3 amigos e companheiros políticos Pois bem. Por A ou por B, minha
meus? Qual o amigo meu que foi à casa pronuncia tinha de ser decretada, por ser
do juiz desrespeitar sua figura, desafiá-lo a figura política central do processo, e
ou ataca-lo, à ele, sua família e seus então essa prova robusta e irrespondível
homens? Como se vê meus amigos só se provinda da palavra honrada de homens
defenderam e não agrediram nunca, e senhoras, velhos e moços, radicados no
sendo de se notar que na defesa não município, respeitáveis pela passagem
excederam os limites legais. nobre de cada um, de amor a Deus, à
No sumário de culpa ninguém fez a família, à pátria e à verdade, comigo
menor referência às invencionices acima coniventes há mais de meio século
citadas as quais só ficaram constando no testemunhas de vista das dolorosas
relatório policial. O inquérito policial ocorrências de 15 de maio de 1960, foi
tanto no direito vigente como no posta de lado como coisa inútil, sem
anterior,” só serve de base para o início credibilidade e sem fé, fulminada com o
da ação penal promovida pelo Ministério seguinte raciocino do juiz da pronúncia:
Público, não tendo valia, excluída a “As testemunhas de defesa são suas
parte técnica, a prova testemunhal nele amigas (minhas). Pessoas que foram à
colhida. Acontece que, com ou sem sua casa para o defender. “São, portanto,
prova, minha pronúncia era necessária e também capazes de mentir em sua
então as ditas invencionices foram defesa. Se a base fundamental ou a
invocadas como indícios de lógica invocada para se admitir a
criminalidade e eu fui pronunciado como suposição de que as referidas
coautor responsável por 3 mortes. Que testemunhas seriam capazes de mentir a
eu, antes, durante e depois dos eventos bem da minha defesa, por que foram à

22
minha casa para me defenderem no caso No artigo do próximo domingo,
de necessidade, tal fundamento e tal provarei com as próprias palavras do
lógica não procedem porque dessas 32 juiz sumariante, que as 5 testemunhas de
testemunhas de defesa apenas 8 foram à acusação foram por ele taxadas de
minha casa no dia e hora do conflito. mentirosas, falsas.
Restam 24 que disseram a verdade, eis
que escaparam do rol dos que, por XI
suposição, seriam capazes de mentir, por
terem ido à minha casa. Aceito, para No artigo anterior afirmei que hoje, p
argumentar, a tese aventada pelo juiz com a palavra escrita do juiz sumariante,
sumariamente, isto é: as 32 testemunhas provaria que as 5 testemunhas de
de defesa seriam capazes de mentir em acusação, que tanta fé lhe mereceram
minha defesa por serem minhas amiga e para destruir o depoimento de 32
algumas delas terem ido à minha casa. testemunhas de defesa, foram, pelo
Muito bem. Contrário senso, pergunto: mesmo juiz, sumariamente, julgadas
as 5 testemunhas de acusação, que mentirosas, falsas.
fortemente me apontaram como Vou me desobrigar, desse
assassino material do juiz, que compromisso, solicitando, antes, a maior
confessaram em juízo serem minhas atenção do estimado leitor que, por sua
inimigas pessoais e políticas, que com- vez, ficará plenamente convencido de
participaram do conflito e serviram-se de que realmente se trata de testemunhas
suas armas para ferirem, como feriram, 9 falsas, de criaturas desprezíveis!
pessoas, não seriam capazes de mentir perversas, capazes de tudo, desde que
para me incriminarem? As testemunhas esse tudo venha ao encontro de sua
de vista que estavam no bar mas não ambição política, inclusive D. Elza de
entraram no barulho foram julgadas Almeida Melo, que não teve pejo de
capazes de mentir. Essas 5 referidas confessar em juízo conservar dentro do
testemunhas de acusação são as seu coração o juiz vitima, e que saiu do
verdadeiras criminosas, e que estavam plenário do júri reduzida a simples
com outras, reunidas na casa do juiz. rnentirosa odienta e odiada, sendo
Caminharam com o juiz e com os que, necessário ser socorrida com água fria
reunidos, estavam em sua casa, 182 açucarada para sair do recinto. Vejamos:
metros para chegarem ao bar, Na sentença de pronúncia, prolatada
provocarem o conflito, atirarem e pelo juiz sumariante e confirmada pelo
esfaquearem para matar. No entanto Egrégio Tribunal de Justiça, está escrito:
foram classificadas como inocentes “Os tiros que atingiram a cabeça do dr.
testemunhas de acusação e só juraram Isoldino foram propelidos pela arma de
verdades! Esse raciocínio é, indigno de Angelo. E confessa ele a autoria destes
um magistrado. Não é assim que em crimes. A sua confissão é corroborada
nome da lei se atira na prisão um pelas testemunhas de defesa (notar,
octogenário, acusado de um crime que testemunhas de defesa) e pelos outros
não praticou sequer em pensamento, indiciados. As testemunhas de acusação
contando 62 anos de vida pública limpa porém afirmam que o juiz foi morto por:
e prestando serviços ao Estado e muito Afonso Leite, José Abrahão e Geraldo
trabalhando para a comodidade, Campos. Estes lhe desfecharam os tiros.
progresso, paz e ordem de seu Assim diziam elas. A verdade deve ser
município. dita: estão em choque com a prova
técnica: e com as testemunhas de
----- defesa”. Está pois provado, por sentença
já transitada em julgado, que as

23
testemunhas de acusação são mentirosas, testemunhas de acusação, d. Elsa de
falsas, porque as afirmações constantes Almeida Melo, Benjamin Augusto
dos depoimentos que prestaram foram Siscouto, José Jacinto, Laerte Antonio
desmentidas pela prova técnica, e as Cassetti e Gabriel Arcanjo, este filho da
afirmativas das testemunhas de defesa vitima José Arcanjo, mutatis a mutandis,
verdadeiras, eis que confirmadas pela disseram o mesmo que o mentiroso João
prova técnica, que é irrefutável, e pelo de Souza Ferreira, vulgo João Padeiro.
que disseram os indiciados. Temos que, pelos depoimentos das
Para melhor esclarecimento e testemunhas, José Arcanjo foi
convencimento do público, vou detalhar contundido, chutado, machucado a
o porque da própria Justiça reconhecer e socos, tacadas, murros, coices e
proclamar as testemunhas de acusação espetadas de facas, sendo depois atirado
mentirosas, consequentemente falsas. à rua. Acontece que os médicos legislas,
O inescrupuloso João de Souza no exame cadavérico procedido em José
Ferreira, vulgo João Padeiro disse no Arcanjo (fls. 110 dos autos),
depoimento... que a bomba explodiu nos constataram: ausência de escoriações e
pés de José Arcanjo, no passeio; que contusões e e com as vestes sem rasgão.
José Arcanjo disse: “isto é para me Temos que a prova técnica decisiva
irritar”; que eles disseram; é; que assim existente no processo demonstra, sem
falaram José Leopoldo Machado, sombra de dúvida, que José Arcanjo não
Adauto, Avelino José Machado, Marcos lutou com ninguém, não foi arrastado,
Rezende; que falaram isto e arrastaram chutado, assim como demonstram a
José Arcanjo para o interior do bar; que paixão e a falsidade dos depoimentos
lá “massacraram ele da melhor forma das referidas testemunhas.
possível; que uns pegavam nas pernas No tocante à agressão e morte do juiz
outros nos braços, dando socos, tacadas, Isoldino, as referidas testemunhas
murros, espetadas de facas, o que tinham disseram, resumidamente; que as portas
na mão; que depois o jogaram para a do bar Guarará foram fechadas, ficando
calçada; que ali o sr. Angelo atirou uma aberta; que nessa porta aberta, de
nele;... que veio para a esquina e ficou revólver em punho, falando a uma só
“espiando”; que fecharam as portas do vez “é ele mesmo que nós queremos”,
bar e só ficou uma aberta; que ficaram ficaram Afonso Leite, José Abrahão e
três de revólver em punho esperando: Geraldo Campos; que ao chegar o dr.
que são os seguintes: José Abrahão, Isoldino nós descarregamos nele as
Afonso Leite e Geraldo Campos;... que armas na altura do peito e da cabeça; que
os três, isto é, José Abrahão, coronel Roberto Pinto, por trás de nós, deu nele
Afonso e Geraldo Campos, disseram em um tiro e que, finalmente, são matadores
uma só voz: ele mesmo que nós do juiz, Afonso Leite” José Abrahão e
queremos, deixa ele vir”; que eles Geraldo Campos. Assim sendo, o juiz
falavam isso com relação ao juiz; que o recebeu 19 tiros à queima-roupa. Mas no
juiz chegou de braços abertos dizendo: auto de exame cadavérico (fls. 112 dos
“socorro, tivessem cuidado, não autos), os médicos legistas constaram
fizessem cuidado, não fizessem aquilo”; apenas 2 ferimentos na cabeça e um no
que aí “eles descarregaram nele as braço esquerdo, estando este julgado de
armas”;... que são matadores do dr. autoria incerta. Causa mortis: perfuração
Isoldino: “Coronel Afonso, José Abrahão do crânio por projétil de arma de fogo. O
e Geraldo Campos”; que o depoente viu exame balístico (folhas 188 do processo)
também quando José Arcanjo Filho se constatou que os 2 projéteis retirados da
aproximou de seu pai já morto, dizendo: cabeça do juiz foram propelidos pela
“Papai, o sr. está morto”. As outras arma número 143.635, apreendida a

24
Angelo Barbosa e a sentença de qualquer circunstante, eis que no exame
pronúncia declara: “não resta, portanto, balístico não se encontrou bala 320, por
dúvida. Os tiros que atingiram a cabeça aquela arma propelida. Não resta a
do sr. Isoldino foram propelidos pela menor duvida. Os matadores da infeliz
arma de Angelo. Confessa ele a autoria d. Elizabeth são Calixto Nassif e João de
destes crimes. Sua confissão é Souza Ferreira, vulgo João Padeiro.
corroborada pelas testemunhas de defesa Para despertar maior compaixão
e pelos outros indiciados”. Não teve pública sobre o homicídio de d. Maria
ajuda direta ou indireta, antes ou depois Elizabeth e mais forte odiosidade contra
dos crimes de quem quer que seja. Como os autores e coautores deste crime, foi
se vê, toda a prova técnica e a confissão feita tremenda campanha noticiosa de
de Angelo deixaram positivado de modo que a mesma estava em adiantado estado
terminante não ser eu, José Abrahão e de gravidez. Essa mentira
Geraldo Campos, autores ou coautores premeditadamente maldosa, ecoou até
da morte do juiz. no Egrégio Tribunal de Justiça de Minas.
D. Maria Elizabeth Fernandes da O desmentido formal dessa desonesta
Silva recebeu 3 ferimentos penetrantes assertiva está na necrópsia de d.
no tórax e o abdome. Causa mortis; Elizabeth, na qual se lê: “o útero
hemorragia intra abdominal. Calibre das apresentava-se normal sem nenhum sinal
armas: 22 e 38. A testemunha Elza de de gravidez, o mesmo observado com os
Almeida: Melo acusa Geraldo Campos anexos”. Fica desse modo tecnicamente
de haver dado um tiro em d. Elizabeth. destruída mais uma infâmia sustentada
Mas as testemunhas de vista, que pela acusação.
estavam lá, e depuseram no processo, Encerrando este capítulo, deixo ao
afirmaram que Geraldo Campos não conceito público a consciência tranquila
estava armado e nem participou do das criaturas que amam o próximo e a
conflito. Além disso, Calixto Nassif verdade, classificar as testemunhas de
confessou em juizo ter dado um tiro em acusação acima referidas, as quais de
d. Elizabeth com sua arma calibre 22 no humano só tem o aspecto.
momento em que ela, de joelhos, dava No próximo número direi dos indícios
tiros para todos os lados, tendo atingido Invocados pela Justiça para me
Avelino José Machado e d. Mariangela pronunciar e condenar como coautor;
Machado. A confissão de Calixto moral e intelectual do doloroso “Drama
coincide com as demais circunstâncias de Guarará”.
processuais. Conforme está provados
nos autos por 18 testemunhas, os dois XII
tiros de arma calibre 38, dados nas
costas de d. Elizabeth, o foram por João No último artigo, deixei sobejamente
de Souza Ferreira, vulgo João Padeiro, provado, com as próprias palavras dos
que atirava do passeio fronteiro ao bar, representantes da lei, que a prova
de fora para dentro, passeio em que, em testemunhai de acusação estava em
relação ao bar, esta situado mais alto, em choque com a prova técnica e com a
melhor ponto estratégico. Assim, prova testemunhai de defesa. Sendo a
Geraldo Campos não foi não é autor ou prova técnica de valor científico
coautor da morte de d. Elilizabeth. irresponsável, temos que os depoimentos
Abercilio Sabino foi acusado de ser um das testemunhas de acusação foram
dos matadores de d. Elizabeth. Contra destruídos pela prova técnica, por
ele porém, nada foi provado. Confessou mentirosos e falsos, enquanto que
que era portador de uma garrucha calibre verdadeiros os das testemunhas de
320, que caiu e disparou, sem ferir defesa, por estarem em harmonia com a

25
prova técnica. Destruída pela técnica, a uma quando juiz da comarca de Monte
prova da acusação, e pela mesma Belo, outra da Comarca de Guarará. Se o
técnica, validada a prova de defesa, boletim em tela contém ofensas ao juiz,
ninguém mais é responsável pelos os responsáveis são os exmos. srs.
homicídios, quer como autor, quer como desembargadores Arnaldo de Alencar
coautor, além dos que confessaram haver Araripe e José Alcides Pereira,
matado para não serem mortos, sem prolatores das sentenças referidas e o
ajuda, concurso ou insinuação, cujas Conselho Disciplinar de Justiça, que as
confissões estão corroboradas pela prova confirmou, e não os subscritores do
técnica e pela prova de defesa. referido boletim. Ainda que assim hão
Essa conclusão verdadeira e justa dos seja, se publicar certidões de papéis
fatos, não agradou a altos políticos públicos, fornecidos pela justiça, é
protetores do juiz e de sua esposa, nem indicio de criminalidade, a lei e, pelo
aos correligionários destes, na política menos em teoria, igual para todos. Um
municipal, os quais foram transformados só não deve ser o único responsável por
de criminosos em testemunhas de um crime solidariamente praticado por
acusação. três. Ao menos para salvar a aparência
Ninguém quis saber quem matou ou de quem tem os olhos vedados, venham
quem morreu. O interesse único era o da me fazer companhia o prefeito e o
destruição da política dominante em presidente da Câmara Municipal de
Guarará ha mais de meio século, com o Guarará, meus prezados amigos e
apoio de 90% da população; para isso companheiros de lutas políticas; em prol
ser conseguido, Afonso Leite precisava do bem estar do querido povo
desaparecer do cenário político de guararense. b) Sabe que há mandados de
Guarará. busca e apreensão domiciliar do boletim
Graças a proteção Divina, ele escapou “Sem Comentários”. Procura o oficial de
da morte matada, mas não escapou da justiça e lhe diz que há um boletim em
prisão. Foi por indícios, pronunciado sua casa. Claro.
como coautor moral e intelectual de Dizendo ao oficial que tinha boletim
todos os eventos criminosos de 15 de em minha casa, desejava que ele fosse
maio de 1960 em Guarará. sozinho apreender o boletim (um
Vejamos quais os indícios exemplar). Pensei desse modo evitar que
encontrados, digamos melhor, invocados os 50 oficias “ad-hoc” que o juiz ia
para fundamentar a pronúncia: a) nomear invadissem minha residência, o
Publicou boletim ofensivo ao juiz. Não é que poderia resultar num conflito. Se
verdade. Desafio que se prove, dentro do facilitar a ação da justiça é indício de
processo ou em qualquer parte do crime, confesso ser criminoso desde que
mundo que eu tenha publicado boletim compreendi meu dever de cidadão. c)
pró ou contra o juiz Isoldino Silva Reuniu seus amigos no bar. Já
Júnior. Como vice-prefeito, assinei com demonstrei de modo terminante, em
o prefeito Marcos Resende e com o artigo anterior, que não pedi, não chamei
presidente da Câmara Municipal, e não ordenei a ninguém para estar no
Bertoldo Machado, o boletim Sem bar no dia do conflito. Meus amigos, que
Comentários, que se encontra às folhas lá se encontravam, lá foram espontânea e
19 do processo. Esse boletim não é despreocupadamente. Todos eles
criminoso, eis que só contém a condenados, absolvidos, testemunhas, aí
transcrição “ipis verbis” de duas estão com saúde, graças a Deus, para
certidões da douta Corregedoria de confirmar o que estou aqui afirmando. d)
Justiça, relativas 2 condenações Acredito na parte do inquérito em que
impostas, ao juiz Isoldino Silva Júnior, Angelo diz ter sido chamado por José

26
Abrahão por ordem do coronel. Essa d. Elizabeth no inquérito policial,
referência de Angelo foi arrancada pela dizendo que foi atirada por Afonso Leite.
polícia, com ameaças. Em juízo foi É uma prova mais segura. A testemunha
negada por Angelo, sua esposa e José Daudt Varanda Rocha, também no carro,
Abrahão. e) Só houve agressão por parte não faz idêntico depoimento.
dos amigos do coronel. Santo Deus. Não Preliminarmente registro que d.
está provado até com croquis que o juiz, Elizabeth estava há 2 dias em estado de
sua esposa e acompanhantes coma, quando prestou suas declarações à
caminharam 182, 60m de sua residência polícia no Hospital de Bicas. O juiz
ao bar, para atacarem a tiro e à faca os prolator da sentença de pronúncia
meus amigos que ali estavam, alguns laborou em evidente equívoco. D.
deles com sua família? A verdade Elizabeth não disse ter sido atirada por
material e lógica é que o juiz caminhou mim. Absolutamente não. Leia-se suas
longa distancia para morrer na porta de referidas declarações às folhas 46 do
um bar, ao qual atacou com seu bando na processo. A testemunha de acusação
suposição de que eu ali estivesse. Logo, Daudt Varanda Rocha é mentirosa por
os meus amigos foram os atacados e não vezes. A primeira, quando afirmou: “o sr.
os atacantes. f) Se o coronel tivesse dito João Carvalho encostou o carro e o
para, nada teria acontecido. Bonito. depoente pôde levar d. Elizabeth para o
Determinar aos meus amigos atacados Hospital”. No carro que conduzia d.
por meus inimigos pessoais, e políticos: Elizabeth para o Hospital foram: João
Pára. Cruzem os braços. Não se Carvalho, Geraldo Nascentes de
defendam. Deixem que o juiz, sua Azevedo, José Arcanjo Filho e Sebastião
esposa e seus homens, saciem todo o Santos. Daudt não. A segunda vez que
ódio, toda a inveja, toda a sede de mentiu foi quando jurou: que o grupo
mando político no sangue inocente de que saia do bar era composto dos
vocês. Morram covardemente. denunciados “de todos eles”. Desse
Vejam morrer sua esposa, os filhos, os grupo não faziam parte os denunciados
netos de cada um de vocês sem uma Afonso Leite, Abrahim Ihered, Roberto
palavra, sem um gesto de protesto. Que de Assis Pinto e José Leopoldo
beleza seria para o juiz, sua esposa e Machado.
acompanhantes, mas que tremendo, Desse mesmo grupo do entra e sai,
indigno e inqualificável gesto teria eu faziam parte: Massaud Elias e sua
praticado. Por outro lado, como dizer esposa e netos, Munir Abrahão, José
aos meus amigos que estavam no bar - Perenssim, Gerson Elias, Alfeu José
Pára! - se eu não estava no bar, conforme Machado e muitos outros. Logo, esse
é hoje um fato incontestado? Leia grupo não era composto só de
mentalmente o leitor o que eu não posso denunciados. É com surpresa que
escrever aqui. g) Houve ação de sua registro ter Daudt falhado à verdade em
parte desfechando tiros conforme dizem caso tão grave. Mas compreendo o
as testemunhas. As testemunhas que isso refrão: “Digo o que dizem, mas não sei o
afirmaram, foram julgadas falsas pela que digo”. Exclua-se mentalmente a
prova técnica, Se fossem acreditadas, eu figura desse chefe e os delitos não teriam
deveria ser pronunciado como autor e sido praticados. A exclusão só pode
não como coautor intelectual. h) mesmo ter sido mental, porque
Algumas testemunhas dizem ter ouvido materialmente nada fiz no tocante aos
d. Elizabeth afirmar que não vira Afonso delitos. Advirto porém, que essa tese é
Leite no bar, quando ela fora perigosa. Se vitoriosa, desaparecerão ps
transportada para Bicas. Mas estes chefes políticos dos municípios, porque
depoimentos caem ante a declaração de ninguém exercerá essa função com o

27
ônus de ficar responsável moral ou apreendi; das 5 armas de amigos do juiz?
intelectual pelos crimes praticados no Dezoito testemunhas afirmaram, no
município. j) Sem a pessoa do coronel sumário de culpa, que os tiros mortais
estes crimes não ocorreriam. Ele é o nas costas de d. Elizabeth foram
responsável por tudo. Foi ele quem desfechados por João de Souza Ferreira,
armou e muniu na casa do juiz os vulgo João Padeiro, e o que o tiro dado
acompanhantes dele, juiz. Foi ele que na em Calixto Nassif o foi por Laerte
hora combinada, carregou, um a um, e Antônio Cassetti, assim como afirmaram
os colocou no passeio fronteiro ao bar. que atiraram de fora para dentro do bar;
Foi ele quem os desarmou e mandou Edir Cassetti, Benjamim Augusto
atacar - de boca - os que estavam no bar. Siscouto, Joaquim Meirelles, José Carlos
Resultado: 2 mortos e 2 feridos, dos Bignoto e outros. As 18 testemunhas
inocentes amiguinhos do juiz. Do lado verdadeiras que os apontaram de arma
oposto nada. Para tapear a justiça, em punho atirando e esfaqueando são
mandou que os seus amigos que estavam mentirosas. As testemunhas mentirosas,
no bar, voltassem as armas contra si esses mesmos indivíduos que feriram 9
próprios e se ferissem. Resultado: 9 pessoas que estavam no bar
feridos, um gravemente. Já morreu. Foi despreocupadamente a tiros e a faca; que
assim que fui pronunciado como coautor tiveram seus depoimentos destruídos
de 3 homicídios, como único pela prova técnica e pela prova de
responsável por tudo. Dos inocentes defesa, são verdadeiras, porque
amigos do juiz, nenhum para me fazer depuseram contra mim e meus amigos.
companhia. Pombinhos de pena branca e São amigos do juiz! Até então, a justiça
consciência negra. Que sou eu o único decidia mediante prova concreta. A
bode expiatório, é público e notório. A defesa provou com 61 pessoas ouvidas
acusação disse no plenário do júri que se no processo, com autos de corpo de
fosse absolvido ela pediria a absolvição delito, exames cadavéricos, exames de
dos demais acusados, mesmo dos armas e balísticos, autos de apreensão,
confessos. Ponham na rua os demais exames “in loco”, que dos meus amigos
inocentes acusados e me conservem tinham 3 criminosos confessos, e dos
preso. Ficarei de bom grado. amigos do juiz, 7 nominalmente citados
“como criminosos”. Mas a polícia
XIII pensou que os amigos do juiz não
estavam armados. A policia pensou e o
A sentença de pronúncia assim juiz sumariante a acompanhou no
termina: “Deixo de ordenar aditamento pensamento, sem indicar uma prova ou
da denúncia: II Conta João de Souza um mero indício que autorizasse dizer
Ferreira, c) a polícia constatou que os que os acompanhantes do juiz estavam
amigos do juiz não tinham armas. Ele desarmados. Perdão. Deram prova
era amigo do juiz. Contra outros amigos provada. Atribuíram aos meus 9 amigos
do juiz, como Laerte e Edir Cassetti feridos que eles mesmos se feriram entre
porque não estavam armados. Assim si. Aliás, o pensamento da policia, suas
pensa a polícia. Assim também penso, suposições e hipóteses, constantes do
pois, do contrário, o delegado os teria seu relatório, são os mesmos da
prendido”. Valha-me Nossa Senhora da denúncia e da pronúncia. Tudo no
Mentira, já que a da Verdade perdeu os sentido de inocentar os homens do juiz e
seus devotos. Os 3 amigos culpar a mim e aos meus amigos. Como
superlativamente íntimos do juiz, acima conceber que 2 grupos de homens,
citados, não tiram a arma da cinta nem perfeitamente definidos, um grupo à
para domir. Ademais, não foram direita o grupo do juiz, o outro à

28
esquerda, o meu grupo, na praça pública, José Arcanjo que cai assentado na
frente à frente, peito a peito, ninguém calçada. D. Izolina cai de joelhos,
escondido, trocando tiros e facadas, ensanguentada, ferida nas costas pela
terminada a contenda, 4 feridos a bala do faca de José Arcanjo, auto de corpo de
grupo do juiz e 9 feridos a bala e a faca, delito, fls. 133. José Arcanjo levanta-se e
do meu grupo, sendo autores de todos os investe contra Angelo, dando-lhe uma
ferimentos os componentes do meu facada na testa. Foi nesta hora, depois de
grupo, o qual tem mais de dois terços ter salvo a vida do prefeito e de sua
dos feridos? Tenham paciência. Está esposa e de ser esfaqueado, que Angelo
provado pela apreensão da arma e pelo dá um tiro na cabeça de José Arcanjo,
exame balístico, que a Mauser do juiz que cai morto. Angelo entra no bar e vai
foi por ele detonada 4 vezes, tendo sair por outra porta, dá de frente com o
engasgado na quinta capsula. Mas a juiz Isoldino, que lhe diz: “Ponha o
polícia pensou... velho para fora”. Responde Angelo: “O
Foi assim que foram denunciados e coronel Afonso Leite não está no bar”.
pronunciados 12 homens, todos meus Retruca-lhe o juiz: “Ponha ele para fora,
amigos, sendo 4 como autores e pois do contrário eu lhe mato”. De fato,
coautores e 8 como coautores, estando o juiz disparou sua arma contra Angelo e
um morto, 3 absolvidos e 8 condenados. as demais pessoas que estavam dentro
Do grupo do juiz nenhum! do bar. Angelo dá 2 tiros no rosto do
Vou agora descrever a ação de cada juiz, que caiu morto no passeio do bar,
um, segundo o que está plenamente ao lado da rua Tiradentes, e toma seu
provado nos autos, deixando de parte os automóvel e vai para sua casa cuidar dos
depoimentos das testemunhas de ferimentos recebidos - interrogatório, fls.
acusação, por serem os verdadeiros 297. Angelo Barbosa da Silva agiu em
criminosos e por estarem seus estado de legitima defesa, própria e de
depoimentos destruídos pela prova terceiros - a vida do prefeito Marcos e da
técnica, como falsas. esposa deste. Confessou os seus delitos e
Angelo Barbosa da Silva, casado, assume exclusiva responsabilidade pelos
negociante ex-expedicionário, foi homicídios de José Arcanjo e do juiz
pronunciado como autor da morte de Isoldino Silva Júnior. Não teve ajuda de
José Arcanjo e do juiz, e como coautor ninguém, direta ou indiretamente, antes,
de ferimentos em outros. Confessou sua durante e depois dos crimes. Sua
ação no conflito detalhadamente. Aos confissão deve, ser aceita, pois coincide
domingos, como de costume, vai ao bar com todas as peças do processo,
de José Abrahão jogar sinuca. Estava no notadamente com os autos de corpo de
interior do bar quando surgiu a briga delito, com os exames das armas e
fora do bar, do lado da rua Tiradentes. balísticos e com os depoimentos de fls.
Vai à porta verificar o que se passava, no 398 a 418. Deve ser aplicado o direito
momento exato em que, José Arcanjo, de jurisprudencial que recomenda: “A
faca em punho, vai matar o prefeito confissão do réu é de ser tida quando
Marcos de Souza Rezende, pelas costas. com ela o confitente não procura se
Dá um pulo e puxa o braço de José exculpar”. Os habitantes do município
Arcanjo. O prefeito ficou ferido nas de Guarará, conhecedores do teatro dos
costas e ensanguentado - auto de corpo acontecimentos, dos antecedentes do
de delito, fls. 135. A esposa do prefeito, conflito, da índole, dos costumes, da
d. Izolina de Mattos Rezende, vem em paixão politico-partidária, da
socorro do marido. José Arcanjo vai mentalidade, do ódio, da inveja, do
matá-la pelas costas. Angelo intervém desejo de mando de tudo levar de
novamente, dando um forte esbarro em vencida a qualquer preço, das

29
perseguições, das injúrias e calúnias, das magnífico funcionário. O ódio do juiz
ingratidões, dos insultos e dos Isoldino contagiava as pessoas de suas
sofrimentos morais que a população relações, que eram as testemunhas para
inteira suportou por mais de 2 anos, dos tudo que ele desejasse e que ficavam
provocadores do conflito, estão odiando as pessoas por ele odiadas,
convencidos de que, se Angelo Barbosa inclusive d. Elsa Soares de Mello,
não estivesse no bar e não tivesse novelista de depoimento sem lógica e
tomado a defesa los primeiros que foram nexo, andando para frente e para trás
agredidos pelos acompanhantes do juiz, como os caranguejos.
único homem armado que estava no bar, Geraldo Pereira Campos, com 41 anos
José Arcanjo valentão, provocador e de idade, casado, coletor estadual em
temido, apoiado pelo juiz de direito da Guarará, foi pronunciado como autor do
comarca e acobertado pelos seus homicídio de d. Maria Elizabeth e como
companheiros de igual espécie, teria coautor de ferimentos vários em outras
matado a faca todas as pessoas que pessoas. Quando seu sogro Calixto
estavam no bar, homens, mulheres e Nassif foi baleado na barriga, foi com
crianças, E, então, antevendo a vitória do ele para o andar superior do bar e dali
plano preconcebido, qual seja. o meu para o hospital de Bicas. Não participou
assassinato, continuaria matando até a do conflito, é o que afirmaram todas as
minha casa, e, nesse caso, os homicídios pessoas que estavam no bar e a tudo
seriam superiores a 50. Deus porém, na assistiram. Uma das testemunhas de
sua infinita bondade, não consentiu no vista, José Peressim, disse em seu
triunfo do horripilante e desumano plano depoimento ter aconselhado a Geraldo a
de morte, Deus escreveu certo por linhas se retirar, pois poderia ser morto, visto
tortas, Esta é a crença geral. Angelo não ter arma para se defender. Sua vida
Barbosa é natural e residente em pregressa está abonada pela prova
Guarará, onde é negociante. Serviu à testemunhal e documental, como
nossa Pátria como expedicionário, tendo cidadão probo, excelente chefe de
magnífica fé no ofício. É casado e tem família e funcionário público cumpridor
filhos. Com 36 anos de idade e jamais de seus deveres. Das 61 pessoas ouvidas
foi processado. no processo, apenas duas disseram ser
Geraldo um dos autores da morte de d.
XIV Elizabeth. Uma é testemunha
informante, suspeita, Gabriel Arcanjo,
Continuando a descrever a ação de filho da vítima José Arcanjo. Não pode e
cada um dos envolvidos nas lamentáveis não deve ser acreditada, por visível
ocorrências de Guarará, direi hoje qual interesse na decisão da causa. A outra,
foi a intervenção de Geraldo Pereira além de ter ficado em unidade, é a
Campos, tal qual está satisfatoriamente novelista de depoimentos; é a que tem,
provado no processo. Geraldo foi uma apaixonadamente, algumas das vítimas
das criaturas mais odiadas e perseguidas no fundo de seu coração; é a mesma que
pelo juiz Isoldino e sua esposa, Foi ele para sair do: salão do júri foi necessário
processado por vezes até por ter água fria e açúcar, tal a depressão moral
queimado fogos na praça pública, lugar sentida, por ter sido proclamada
não proibido pela policia, não tendo testemunha falsa, eis que não sabia de
vingado nem um de tais processos. nada e ao mesmo tempo sabia de tudo.
Vezes muitas denunciou Geraldo à Ainda que assim não fosse, testemunha
Secretaria das Finanças. Feitos os uma, testemunha nenhuma. É d. Elsa
respectivos inquéritos administrativos, Soares de Mello. Sabendo que Calixto
Geraldo saiu de todos triunfante, como Nassif confessara ter dado um tiro com

30
sua arma calibre 22 na barriga de d. lembrava ser este dito-cujo amigo
Maria Elizabeth, e sabendo mais que os acompanhante do juiz. Geraldo Pereira
2 tiros nas costas desta senhora foram Campos era odiado e perseguido pelo
desfechados por João de Souza Ferreira, juiz e sua esposa. Tinha de ser envolvido
vulgo João Padeiro, arma calibre 38, no processo, não por ser criminoso, mas
para inocentar este verdadeiro pelo seu valor moral e político. Estimado
criminoso, disse ter vista Geraldo e considerado, cresceu no conceito
Campos atirando nas costas de d. popular porque, no desempenho de sua
Elizabeth com arma calibre 38 e função de coletor estadual, não tinha cor
gritando “matei”. Mesmo se admitindo político-partidária. Católico praticante, é
que Geraldo estivesse armado e tivesse incansável Vicentino, tudo fazendo a
atirado, nunca teria alcançado d. bem da pobreza. Político é o secretário
Elizabeth pelas costas, porque este do diretório municipal do PSD. O
estava de frente para o bar voltada para o conflito provocado pelo juiz e seus
cadáver de seu marido, e Geraldo dentro acompanhantes visava destruir a política
do bar. Nesta posição, d. Elizabeth municipal de Guarará. Geraldo não
estava de costas para o outro lado da rua podia escapar, embora inocente, no caso.
Tiradentes, onde estava João Padeiro, Os matadores do juiz, de sua esposa e de
com outros, atirando para dentro do bar. José Arcanjo confessaram sua culpa,
Não sei, não compreendo o porquê de se assumiram inteira responsabilidade,
dar tanto crédito, tanto valor a uma só agiram por conta própria, sem auxilio de
pessoa, quando 60 outras pessoas, ninguém, menos João Padeiro. Substituir
contestam o dito daquela, sobre este por Geraldo Pereira Campos, pode
determinado ponto de um acontecimento ser agradável aos demais criminosos
de que todos foram testemunhas visuais. acompanhantes do juiz e aos protetores
Duvido da imparcialidade do dedutor da deste, mas foi a maior injustiça
prova. A dúvida se robustece quando leio praticada, contra a prova testemunhal é
na sentença de pronuncia: é um dos técnica do processo.
autores da morte de d. Elizabeth
(Geraldo). a) o exame técnico constatou XV
ferimento no hemi-tórax direito, de traz
para diante, ligeiramente de cima para Neste artigo direi sobre a ação de
baixo (posição de João Padeiro, que cada um dos pronunciados como
estava em plano superior em relação ao coautores, sem me referir à ação dos 3 -
bar). O projétil foi de calibre 38; b) a definitivamente absolvidos.
arma apreendida é de Angelo. Fizeram o José Abrahão, brasileiro, solteiro,
exame e afirmaram: o projétil retirado negociante, com 31 anos de idade,
do corpo de d. Elizabeth não foi arrimo de sua mãe viúva, duas irmãs
propelido pela arma de Angelo; c) logo, solteiras e um irmão, foi pronunciado
outro grupo deveria portar esta arma de como coautor dos homicídios de José
calibre 38. Qual? É o réu?” Arcanjo, dr. Isoldino e d. Elizabeth,
Porque atribuir essa arma de calibre porque: 1 - por ser “o proprietário do
38 a Geraldo? Não está irrefutavelmente Bar”. Toda casa comercial é considerada
provado que Geraldo não estava estabelecimento público. Isto é, entra e
armado? Não seria muito mais lógico, sai quem quiser. Se o dono do bar ou
justo e verdadeiro, por estar apoiado por qualquer outro ramo de comércio, ficam
18 testemunhas e pela prova técnica responsável como coautor de crimes
atribuir a arma calibre 38 e os ferimentos praticados dentro de seu
por ela produzidos a João Padeiro, cuja estabelecimento, ninguém se
arma foi apreendida? Perdão. Não me estabeleceria, porque ficaria sob a

31
pressão constante de ser criminalmente primeiros recursos, eis que estava em
processado. José Abrahão é estabelecido perigo de vida. Não socorrer uma vida
há muitos anos e no seu bar jamais se humana em perigo de morte é ser
verificou crime, de qualquer natureza. desumano. Socorrê-la é indício de
Além disso no seu bar não se praticou criminalidade. Em circunstâncias tais,
crime algum. O Conflito do qual José Abrahão preferiu ser criminoso a
resultaram os homicídios pelos quais foi ser desumano. 5.º - “É o homem que
responsabilizado como coautor foi em chamou Ângelo”. Realmente, Ângelo ao
frente ao bar no meio da rua Tiradentes, prestar declarações na polícia, disse estar
fora de sua ação de domínio. Será que os no bar a chamado de José Abrahão, mas
negociantes respondem pelos crimes que ao ser interrogado em juízo retificou,
se praticam na rua em que está alegando ter feito aquela declaração sob
localizado seu estabelecimento? 2.°- É coação policial. Porque acreditar na
“homem de confiança do coronel”. Se declaração feita sob pressão no inquérito
merecer minha confiança é ser policial e não acreditar na afirmativa
criminoso, quantos milheiros estariam feita perante o juiz da formação da
fazendo companhia a mim e a José culpa, sendo que a lei da valor a esta e
Abrahão! Pelo sim, pelo não, vou retirar não àquela? 6.° - “Na hora da briga com
a confiança que deposito nos meus José Arcanjo grita: Mata. Em seguida
prezados amigos. 3.º “É o aliciador. Em desfecha tiros contra José Arcanjo. Este
seu bar se reúnem os criminosos. José recebe alguns ferimentos. Isolei um
Abrahão é inteligente, previdente e destes como sendo de autoria de José
muito afetivo a seus parentes amigos e Abrahão. Uma testemunha diz que o viu
fregueses. Se ele estivesse aliado e atirar em José Arcanjo, matando-o. As
reunido em seu bar homens para brigar e testemunhas de acusação dizem que ele
matar, não teria consentido que ali atirou no dr. Isoldino e em sua esposa”.
ficasse sua velha mãe, suas irmãs, seu Acreditar em tudo isso: reservar,
irmão, seus amigos e fregueses, com sua digamos, escolher um dos ferimentos de
respectiva família. Saberia ele que o juiz José Arcanjo para atribuí-lo a José
e seus homens vinham atacar seu bar Abrahão; voltar a dar crédito aos
para reunir brigões em sua defesa? Por depoimentos das testemunhas de
outro lado os homens que estavam no acusação anteriormente julgadas falsas
bar na hora do conflito não são por estarem em choque com a prova
bandidos, pistoleiros empreiteiros de técnica e com a prova de defesa, a
assassinatos. São todos homens conclusão única seria ser José Abrahão
conhecidos, de profissão definida, chefes pronunciado como autor material direto
de família, de responsabilidades sociais, dos homicídios, e não coautor, como o
tais como o prefeito, vereadores, foi. Acontece que os autores materiais
delegado de polícia, coletor fiscal de diretos dos homicídios, confessaram a
rendas funcionários públicos, autoria sem auxílio de ninguém, já
negociantes, industriais todos radicados estavam identificados e pronunciados. E
no município e antigos frequentadores então, que importa tantas e tantas
do bar. Estavam ali por hábito, contradições. coautoria mesmo serve: 7.º
despreocupadamente, e não a chamados — “Um seu companheiro a fls. 79 diz
para brigar e matar. 4.° - “Em seu bar se que ele estava armado”. Quem o disse
refugiaram após a prática do crime”. foi Abercilio Sabino, no inquérito
Não é verdade. No processo não existe a policial, obrigado pela polícia, segundo
menor referencia a respeito. Calixto alegou na retificação feita em juízo.
Nassif foi único ferido que subiu para o Ademais, só estar armado ou andar
andar superior do bar, para receber os armado não é crime. No máximo poderá

32
ser contravenção. As testemunhas de participantes; que não receberam
acusação os tais considerados falsas, qualquer auxílio de terceiros. Não
também disseram estar José Abrahão compreendo, pois, como se falar em
armado, mas não o viram atirar. A coautoria para esses crimes. A própria
testemunha de maior coragem para sentença de pronuncia, no que diz
mentir, Elsa Soares de Melo, disse que: respeito a Roberto de Assis Pinto e
«uns estavam de revólver de cano mais Abrahim Ihered, assim deixou julgado:
curto e outros de revólver de canos mais “Reuni-os porque sua participação é
longos; que os revólveres maiores, idêntica. Ambos estão em casa do
conforme percebeu a depoente, eram de coronel. São seus amigos. Foram
Calixto e José Abrahão; que viu José convidados. O primeiro lhe deve
Abrahão de revólver em punho, mas favores. É-lhe dedicado. O segundo diz
percebeu que a arma estava que ali fora defender sua mãe. Ela é
descarregada”. Essa mulher é tremenda. casada com o coronel. Todavia,
Vê até através dos corpos opacos! Laerte reconheço os responsáveis pelos
Antonio Cassetti disse: “que a arma de homicídios, tão somente porque foram
José Abrahão era uma arma comprida vistos de arma em punho. Há
mas não era espingarda, carabina ou testemunhas que os viram atirando. São
Flaubert; que não conhece; e parece que integrantes do grupo”. Se a sentença de
tinha um ferrolho”. Como é difícil pronúncia reconhece e proclama que
mentir! Assim são as testemunhas de Roberto estava na minha casa, distante
acusação. Apesar de instruída, uma do bar 52 metros, como acreditar no dito
desdiz o que a outra disse. O que de testemunhas apaixonadas, dizendo tê-
realmente José Abrahão tinha na mão era lo visto de arma em punho, atirando e
um taco de bilhar, com o qual tocava a integrando um dos grupos do conflito, se
taramela de cima das portas do bar, as na minha casa não houve conflito, tiros
quais pretendia fechar. José Abrahão ou formação de grupo? Na minha casa
teve o pulso direito furado por uma bala, não houve nada. Se as pessoas que no
atirada de fora para dentro do bar. Foi interior dela estavam formavam um
transformado de vítima em réu. José grupo, era grupo pacífico, que não teve a
Abrahão era uma das figuras perseguidas menor com-participação no conflito. O
pelo dr. Isoldino e sua mulher, por seu grupo que foi obrigado a se defender da
valor pessoal e político. O seu único agressão do grupo do juiz, que caminhou
crime é ser vereador, secretário da 182, 60 metros para atacá-lo, era
Câmara Municipal e secretário do formado pelas pessoas que estavam
diretório municipal da UDN, em despreocupadamente no bar, onde
Guarará. O plano idealizado do conflito Roberto não estava, eis que estava em
e posto em execução pelo juiz e seus minha casa na hora do conflito o que é
correligionários era destruir a política realidade aliás confirmada pela sentença
dominante em Guarará ha mais de 50 de pronúncia. O ponto mais
anos. José Abrahão não podia escapar. alto, mais importante e mais
Eis tudo. impressionante é ter a justiça reunido
Roberto de Assis Pinto, com 41 anos Roberto de Assis Pinto e Abrahim Ihered
de idade, casado, funcionário público do seguinte modo: “Reúno-os porque
estadual, foi pronunciado como coautor sua participação é idêntica, Ambos
dos homicídios de José Arcanjo, dr. estavam em casa do coronel. São seus
Isoldino e d. Elizabeth. Os responsáveis amigos.”o Porque o segundo foi
por esses homicídios confessaram e na absolvido e o primeiro condenado? É
confissão declararam que agiram bom não esquecer que Roberto foi o
livremente, que não tiveram com- mais humilhado, e insultado pela polícia,

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no decorrer do inquérito policial. Vendo muita gente rio bar, entendeu que
Roberto nada me deve. Eu devo-lhe o eu ali estava e, então, investe contra
prazer de sua amizade. Há 8 anos Adauto esbofeteia-lhe o rosto e com ele
passados, quando foi para Guarará, já se atraca em luta corporal. Para separar a
era funcionário público efetivo. Por seus briga intervieram Marcos Rezende,
dotes morais e intelectuais, inteligente, Avelino Machado e José Leopoldo.
cordial e expansivo, foi bem recebido Adauto livre das garras de seu agressor,
pela sociedade guararense. Ali, corre e sobe para o segundo pavimento
constituiu família, sendo extremoso pai do bar, e ninguém mais o vivi. José
de 4 filhos e devotado esposo. Teve por Arcanjo, furioso por ter perdido sua
inimigo o juiz Isoldino que o perseguiu e presa, saca de uma faca e com esta fere
processou sem resultado, o que, aliás, Marcos, d. Izolina e Angelo Barbosa,
não é de se estranhar, uma vez que o juiz desencadeando o conflito. Esta a
vítima se tornou inimigo, figadal dos realidade dos fatos. Adauto é um inferno
funcionários locais e se incompatibilizou mental inofensivo. Não passa de um
com a quase unanimidade de seus criança velha. No sumário de culpa
jurisdicionados da comarca de Guarará. desapareceu, salvo uma ou outra
O único crime do Roberto, no caso, foi referência. Ele próprio, no seu
estar na minha casa na hora do conflito, interrogatório, disse: “Que o declarante é
como muito bem claro deixou o juiz perturbado e nem sabe o que está
pronunciante. falando: que é nervoso, estando com o
corpo tremendo”. Nos autos tem
XVI atestado médico afirmando sua
enfermidade mental. O seu único crime é
Prossigo na descrição da ação de cada ter sido espancado por José Arcanjo,
um dos pronunciados como coautores corrido e ficado indiferente a tudo.
dos tristes acontecimentos de Guarará. Adauto é irmão de Geraldo Campos, o
Adauto Pereira Campos, brasileiro, homem mais odiado e perseguido pelo
com 42 anos de idade, solteiro, foi juiz. O plano de fazer das vítimas réus, e
pronunciado como coautor dos dos réus vítimas, não podia sofrer
homicídios, por ter sido o provocador. solução de continuidade. Barbaridade!
Quando uma bomba explodiu junto aos Dos pronunciados como coautores, só
pés de José Arcanjo, Adauto disse a ele falta eu. Fui pronunciado como “chefe
“Achou ruim? vem cá”. Adauto estava moral da tragédia”, por ser o chefe
na esquina da rua Cap. Gervásio e José político local. Já historiei o meu passado
Arcanjo na esquina da rua Tiradentes, de homem particular e público “a contar
ambas fronteiras ao bar. Por que e como de 1898 até agora, ou seja, 63 anos de
deduzir provocante a frase acima, dita residência em Guarará. Peço licença
por Adauto? Quem sabe se a intenção de para repetir a publicação de um trecho
Adauto foi um convite ao invés de da sentença de pronunciamento, do
provocação? Por exemplo: está ruim aí, tocante ao que apurou a Justiça pública
venha para cá. Aqui ficará melhor ou sobre a minha conduta pública e privada;
mais seguro. Por que não dizer a verdade segundo a palavra do juiz formador da
provadíssima nos autos? Todo mundo culpa: “O coronel Afonso Leite é uma
sabe, ninguém ignora. O provocador do pessoa venerada em Guarará. Estimado
conflito no bar foi José Arcanjo. Foi ele corno um bom pai. Respeitado como um
quem deixou seus companheiros grande chefe.
reunidos na casa do juiz, aguardando O coração da quase totalidade desta
hora para atacar minha casa, e veio gente pulsa através da sensibilidade do
postar-se na esquina da rua Tiradentes. velho coronel. Tudo, nesta cidade, gira

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em torno de sua pessoa. Sua vontade indispensáveis, poderosos e
impera. Suponha Guarará como uma inquestionáveis, mantém essa minha
família unida, o coronel é o pai desta admirável resistência. O primeiro é a
família. E porque tudo isto? Porque de tranquilidade de consciência. Durmo
fato, ele merece este respeito e sossegado e certo de estar bem com
acatamento. Pode já ter tido seus Deus, pois nem em pensamento,
"pecadinhos", mas agora faz jus ao comparticipei dos lamentáveis
respeito e estima deste pequeno povo. acontecimentos. O segundo é o conforto,
Há, porém, alguém que o inveja, em que o apoio moral da parte de minha filha,
foi preterido. Outro que ambiciona a dos meus parentes e de meus amigos,
força política. Representam, porém, uma dos meus companheiros políticos, do
minoria em Guarará. E para esta terra meu laborioso povo guararense e até de
vem o dr. Isoldino. Com ele, sua família. estranhos. Nada falhou. É que todos
Infelizmente, ele se desentende com o sabem que, pelo meu feitio moral, pelo
coronel Afonso Leite. Os inimigos meu passado, pela minha idade, eu
(políticos) do coronel se reúnem ao juiz. continuo sendo incapaz de friamente,
Forma-se assim o “grupo do juiz”. calculadandear premeditadamente, matar
Temos que foi o juiz quem se ou mandar matar seja quem for.
desentendeu consigo e formou o seu Digo com a viva fé que alimenta e
grupo político. É pois, fora de dúvida robustece o meu espírito. Não tenho
que se trata de questão meramente receio de comparecer diante da Justiça
política. Convencido de que a destruição Divina, para prestar contas do crime que
da política dominante em Guarará só me atribuem os meus acusadores.
seria possível com o desaparecimento Suplico diariamente à Divina
físico meu e de outras figuras da política Providência a graça de não me deixar
local, o juiz, sua esposa e seus morrer antes da Justiça dos homens,
correligionários idealizaram e puseram reconhecer e proclamar que não sou
em execução o plano do qual resultou o comparticipante material ou moral da
conflito de 15 de maio de 1960. A justiça morte matada de ninguém. Não é por
interveio e o feitiço virou contra o temor à morte esse meu desejo. Já vivi
feiticeiro. Sou o único responsável pelo de tudo e nada mais posso produzir. Mas
sofrimento moral pelo que estou desejo ardentemente que a minha
passando. Por mais um de uma vez, humilde memória, perante a sociedade,
conforme é público e notório, salvei a não fique manchada de sangue humano
vida do juiz Isoldino. Não me arrependo. que não derramei e não fiz derramar.
Sabendo que ele ia ser assassinado, Procurei descrever com verdade e
salvei-lhe a vida. Se não o tivesse feito, lealdade todos os fatos antecedentes e
estaria agora sofrendo terrível drama de consequentes, provados, e de fácil prova,
consciência. Inesperadamente sobre as lamentáveis ocorrências de 15
assassinado, quando eu de nada sabia, maio de 1960, em Guarará, deixando de
estou passando pelo triste sofrimento de me referir ao sofrimento de uma
ter perdido o que o homem tem de mais população inteira durante mais de 2 anos
sublime na vida - a liberdade. Prefiro diariamente em sobressalto, insultada,
este àquele sofrimento. injuriada e caluniada. Data vênia, estou
Via de regra as almas caridosas que no meu dever de me referir ao epílogo
me trazem o conforto moral de sua desse drama desumano e tenebroso, qual
visita, ficam admiradas de minha seja o julgamento pelo honrado tribunal
resistência física e moral, de minha popular da culta Juiz de Fora. Falo agora
resignação e paciência. no meu e em nome dos meus
A todos respondo: dois elementos companheiros de desdita. Longe de nós a

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intenção de recriminar, criticar ou faltar se ele, pela sua movimentação, o o maior
com o respeito e acatamento à decisão do país, batendo o recorde pela sua
do júri. Desejamos apenas orientar a duração. Tal era o tumultuamento que,
opinião pública sobre o tumultuamento no 3º dia, ninguém mais tinha
do julgamento. consciência exata do que fazia. Todos os
Ninguém ignora que o Tribunal do componentes do tribunal estavam
Júri é um tribunal de consciência. vencidos pelo cansaço físico e mental.
Devemos, pois, respeitar a consciência Nessa situação, impossível foi esclarecer
um do outro, formada através do aos nobres componentes do conselho de
conhecimento do assunto a que fomos sentença, vários pontos capitais do
chamados a resolver. Fomos condenados processo, pontos que ficaram
por 4 votos a 3, dos 7 srs. jurados que hermeticamente fechados, sem que neles
compuseram o conselho de sentença. É pudesse entrar a luz da verdade.
que a maioria dos dignos 21 jurados Separado o processo, julgados os
sorteados para a reunião do júri, estava acusados em grupos, os debates seriam
influenciada com a tremenda campanha mais claros e o julgamento se faria com
jornalística contra os acusados, os quais, mais serenidade, sem fadiga e sem o
isolados em Guarará, em consequência calor de qualquer paixão. Foi isso
das constantes chuvas torrenciais que exatamente que a acusação procurou
interrompiam o trânsito, não tiveram evitar. O interesse único da acusação era
conhecimento da referida campanha a minha condenação. Ela própria
jornalística, razão pela qual não deram a declarou por vezes, perante o plenário do
devida resposta em tempo próprio. júri, que se eu fosse absolvido, ela, a
Quando se opina ou se decide sobre acusação, pediria a absolvição dos
qualquer assunto, ouvindo uma só das demais acusados, mesmo dos confessos,
partes interessadas, o erro da decisão é pouco importando saber quem eram as
fatal. Parece que estava no plano da vítimas e os criminosos, desde que o
acusação tumultuar, baralhar o sacrificado fosse eu.
julgamento, por falta de elementos Em consequência da prova completa,
capazes de convencer os honrados srs. insofismável e irrespondível existente no
juizes de fato da culpabilidade dos processo, acusação sabe, tem certeza,
acusados, em uma discussão limpa, consciência absoluta de que, no dia 15
serena e justa. de maio de 1960, às 17 horas, na cidade
de Guarará, na esquina das ruas Capitão
XVII Gervásio e Tiradentes, não provoquei
tumulto, conflito, discussão, luta
O tumultuamento do julgamento pelo corporal e não fiz uso de arma de
Tribunal do Júri foi causado pela qualquer espécie; que, naquele dia, por
pironisse da acusação, não concordando, ocasião da tragédia de Guarará.
de modo algum, com o desdobramento
do processo. Obrigou, deste modo, o
ilustre conselho de sentença a julgar um
volumoso processo de mais de mil
páginas com 11 acusados, autores e
coautores, dezenas de testemunhas, 3
séries de quesitos para cada acusado. 5
acusados e 4 defensores. O julgamento
em conjunto tornou o processo
tumultuoso, prolongado, cansativo, com
mais de 60 horas de trabalhos, tornando-

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