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11/02/2021 · Justiça Federal da 1ª Região

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Subseção Judiciária de Santarém-PA
1ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Santarém-PA

PROCESSO: 1000475-38.2019.4.01.3902
CLASSE: AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (64)
POLO ATIVO: Ministério Público Federal (Procuradoria)
POLO PASSIVO:Leila Raquel Possimoser Brandão
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: CLIVIA BARARUA SOLANO - PA21862 e ARIOVALDO BARARUA
SOLANO - PA22326

DECISÃO

 
1 RELATÓRIO

Trata-se de ação civil pública por improbidade administrativa ajuizada


pelo Ministério Público Federal em face de LEILA RAQUEL POSSIMOSER
BRANDÃO, por deixar de prestar contas dos valores percebidos pelo município de
Placas/PA, através do Termo de Compromisso PAR 4635/2012 firmado com o
FNDE/MEC, no valor de R$ 1.088.628,15 (um milhão e oitenta e oito mil, seiscentos
e vinte e oito reais e quinze centavos)

O FNDE, instado a se manifestar, requereu (id. Num. 194047377) sua


intervenção na lide, aditou a inicial para incluir no polo passivo os ex-prefeitos do
município Maxwell Rodrigues Brandão e Leonir Hermes a fim de obter o
ressarcimento dos valores, e, em tutela de evidência, a indisponibilidade dos bens
dos requeridos.

Notificada, a requerida Leila Raquel apresentou defesa prévia (id.


Num. 378819376) informando que ajuizou ação civil pública por improbidade
administrativa em face dos ex-prefeitos Maxwell Rodrigues Brandão e Leonir
Hermes na Comarca de Uruará/PA. Juntou documentos.

É o relatório.

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2 FUNDAMENTAÇÃO

2 1 DA DEFESA PRÉVIA DE LEILA RAQUEL POSSIMOR BRANDÃO

O juízo de admissibilidade da petição inicial de ação de improbidade


administrativa (Lei 8.429/92, art. 17, §§6º e 8º) não se destina à formação de
convicção definitiva e exauriente sobre a causa, de forma que para instauração da
ação é preciso em princípio, apenas, que haja um fato descrito como tendo existido e
que esteja previsto na lei, como dentre aqueles que configuram uma improbidade.
Ou seja, diante da existência de elementos mínimos apontando a prática de suposto
ato ímprobo, impõe-se o recebimento da inicial.

Conforme disposto no art. 17, § 8º da Lei 8.429/92, a rejeição liminar


da ação de improbidade administrativa ocorrerá em caso de convencimento de
plano do Juízo acerca da “inexistência do ato de improbidade”, da “improcedência
da ação” ou da “inadequação da via eleita”.

Em defesa prévia apresentada tempestivamente, a requerida trouxe aos


autos cópia das petições iniciais das ações por improbidade administrativa
ajuizadas por si, enquanto prefeita do município de Placas/PA, em face dos ex-
prefeitos Maxwell Rodrigues Brandão e Leonir Hermes.

Pois bem. A responsabilidade civil imputada na inicial consiste em


deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, o que configura, em tese,
violação aos princípios da Administração Pública, nos termos do art. 11, inciso VI,
da Lei 8.429/92:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa


que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade,
e lealdade às instituições, e notadamente: (...)

VI – deixar de prestar contas quando esteja


obrigado a fazê-lo;

Nestas hipóteses, o pressuposto essencial para a configuração da


improbidade administrativa é a violação aos princípios da Administração Pública,
independente de eventual enriquecimento ilícito do agente de forma concomitante
ou de lesão ao erário.

Além disso, é imperioso que o agente tenha agido com dolo na violação
do princípio. Embora não se exija a comprovação de dolo específico na conduta,
exige-se ao menos que a conduta tenha sido praticada com dolo eventual ou
genérico.

Comprovar dolo genérico na prática da conduta importa em aferir se


houve atuação deliberada em desrespeitar as normas jurídicas. No caso concreto,
importa verificar se a omissão da prestação de contas se deu de forma intencional
í i á fé
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ou, no mínimo, com má-fé.

Isso porque, conforme já assentado pelo Superior Tribunal de Justiça, é


imprescindível que a má-fé do sujeito ativo esteja configurada, sendo insuficiente a
prática de mera irregularidade administrativa.

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Ação de improbidade administrativa. Ausência de


má-fé do administrador público. 1. A Lei 8.429/92
da Ação de Improbidade Administrativa, que
explicitou o cânone do art. 37, § 4.º da Constituição
Federal, teve como escopo impor sanções aos
agentes públicos incursos em atos de improbidade
nos casos em que: a) importem em enriquecimento
ilícito (art. 9.º); b) que causem prejuízo ao erário
público (art. 10); c) que atentem contra os
princípios da Administração Pública (art. 11), aqui
também compreendida a lesão à moralidade
administrativa. 2. Destarte, para que ocorra o ato
de improbidade disciplinado pela referida norma, é
mister o alcance de um dos bens jurídicos acima
referidos e tutelados pela norma especial. 3 . No
caso específico do art. 11, é necessária cautela na
exegese das regras nele insertas, porquanto sua
amplitude constitui risco para o intérprete
induzindo-o a acoimar de ímprobas condutas
meramente irregulares, suscetíveis de correção
administrativa, posto ausente a má-fé do
administrador público e preservada a moralidade
administrativa. (...) 6 . É cediço que a má-fé é
premissa do ato ilegal e ímprobo.
Consectariamente, a ilegalidade só adquire o status
de improbidade quando a conduta antijurídica fere
os princípios constitucionais da Administração
Pública coadjuvados pela má-fé do administrador.
A improbidade administrativa, mais que um ato
ilegal, deve traduzir, necessariamente, a falta de
boa-fé, a desonestidade, o que não restou
comprovado nos autos pelas informações
disponíveis no acórdão recorrido, calcadas,
inclusive, nas conclusões da Comissão de
Inquérito. (...) 11. Recursos especiais providos. (STJ,
REsp 480.387/SP, Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j.
16.03.2004,DJ 24.05.2004, p. 163).

Firmadas estas premissas, não é possível identificar dolo, ainda que


genérico na conduta da requerida.

E b ã h d d id j ifi i j FNDE
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Embora não tenha apresentado as devidas justificativas junto ao FNDE
acerca dos motivos que ensejaram a omissão na prestação de contas, é certo que o
ajuizamento de ações de improbidade em face dos ex-prefeitos com o objetivo de
reparar o dano causado, entendo, é suficiente para afastar a presença do dolo na
conduta do agente político.

A cautela na análise da má-fé da requerida passa pela orientação


firmada na súmula do Tribunal de Contas da União no enunciado nº 230 que assim
dispõem:

Compete ao prefeito sucessor apresentar a


prestação de contas referente aos recursos federais
recebidos por seu antecessor, quando este não o
tiver feito e o prazo para adimplemento dessa
obrigação vencer ou estiver vencido durante a
gestão do novo mandatário, ou, na impossibilidade
de fazê-lo, adotar medidas visando ao resguardo do
patrimônio público.

Ora, lançando mão do quanto afirmado na referida súmula, que é


amplamente aplicada e efetivamente direciona a atuação dos gestores públicos, não
há que se falar em dolo ou má-fé da requerida que, repita-se, embora não tenha
apresentado as justificativas da omissão da prestação de contas junto ao FNDE,
adotou medidas efetivas buscando a reparação do patrimônio publico e a
responsabilização coletiva dos ex-gestores.

Diante disso, o indeferimento da petição inicial é medida que se


impõem.

2.2 DA INCLUSÃO NO POLO PASSIVO

Conforme relatado alhures, o FNDE requereu sua intervenção na lide e,


ainda, a inclusão de Maxwell Rodrigues Brandão e Leonir Hermes no polo passivo
da demanda.

Verifico que embora a obrigação de prestar contas do Termo de


Compromisso PAR 4635/2012 tenha recaído na gestão de Leila Raquel Possimor
Brandão, em razão da disponibilização do sistema SIGPC - Sistema de Gestão de
Prestação de Contas, a autarquia trouxe aos autos a comprovação de que aqueles
gestores também foram intimados para apresentarem os documentos relativos a
aplicação dos recursos públicos disponibilizados, mormente por terem sido
responsáveis pela gestão do recurso e não só pela apresentação das contas.

O FNDE informa que Maxweel Rodrigues Brandão foi responsável pela


assinatura do Termo de Compromisso e que Leonir Hermes foi o responsável pela
execução dos recursos, sobrevindo daí a responsabilidade solidária pela prestação
de contas.

N id d éi d i ê i d i dí i d
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Nesse sentido, sem adentrar ao mérito da existência de indícios da
prática de ato ímprobo, entendo pelo deferimento da inclusão de Maxwell
Rodrigues Brandão e Leonir Hermes no polo passivo para que lhes seja
oportunizada defesa para posterior apreciação quanto ao recebimento da inicial.

3 DISPOSITIVO

Diante do exposto, INDEFIRO a inicial da ação civil pública em favor


de Leila Raquel Possimor Brandão, por não entender presentes indícios mínimos da
prática de ato ímprobo referente ao Termo de Compromisso 4635/2012. Promova-se
a devida alteração no polo passivo.

DEFIRO a intervenção do FNDE na lide. DEFIRO a inclusão de


Maxwell Rodrigues Brandão e Leonir Hermes no polo passivo. Notifiquem-se para
apresentar defesa preliminar nos termos do art. 17, §7º, da Lei 8.429/92.

Quanto ao pedido de indisponibilidade, INTIME-SE o FNDE para, no


prazo de 15 (quinze) dias, determinar o valor que pretende seja objeto da medida.

Cumpra-se.

Santarém/PA.

CLÉCIO ALVES DE ARAÚJO

Juiz Federal

Assinado eletronicamente por: CLECIO ALVES DE ARAUJO


09/02/2021 13:47:08
http://pje1g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento:

210209134707601000004
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