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GREVE (NOTA INTRODUTÓRIA )

A greve é um direito fundamental dos trabalhadores constitucionalmente tutelado no art.


57.º da CRP, integrando-se na privilegiada categoria dos DLGs dos trabalhadores (o que
lhe confere uma especial força jurídica, nos termos do art. 18.º da CRP – aplicabilidade
direta e vincula imediatamente entidades públicas e privadas). Este direito encontra-se
ainda consagrado e regulado nos arts. 530.º e ss. do CT.
Ora, nem a Constituição nem a lei avançam com uma noção de “greve”, uma vez que
qualquer definição poderia vir a mostrar-se demasiado redutora e eventualmente
condizir a uma limitação inadmissível deste direito tão fundamental dos trabalhadores
que é o direito à greve.
Porém a doutrina tem vindo, cautelosamente, a definir greve como a suspensão coletiva
e concertada da prestação de trabalho por um grupo de trabalhadores, tendo em vista
exercer pressão no sentido de obtenção de uma finalidade ou objetivo comum, e que
diga respeito aos interesses dos trabalhadores enquanto tais.
Temos, aqui, então a greve como meio de auto-tutela, expressão e pressão dos
trabalhadores sobre as respetivas entidades empregadoras, ou até mesmo sobre o
Estado, a qual procura reequilibrar/compensar o típico desequilíbrio em que assenta a
relação laboral que, como se sabe, é fortemente assimétrica, afigurando-se o trabalhador
como o contraente débil dessa relação.
Assim, a greve traduz-se numa abstenção da prestação do trabalho, tendo esta
abstenção de ser total (e não meramente parcial), coletiva e concertada (quer quanto ao
movimento quer quanto aos seus fins), sob pena de se verificar, não uma greve, mas um
conjunto de abstenções individuais de trabalho. Ora, outra nota importante prende-se
com o facto de que o direito à greve é um direito recnhecido aos trabalhadores
subordinados/assalariados.
Este é, antes de mais, um direito subjetivo negativo, uma vez que os trabalhadores não
podem ser proibídos nem impedidos de o exercer, nem podem ser compelidos a pôr
termo a uma greve em curso (excepto, claro, se a mesma for ilícita).
Para além disso, esta abstenção total da prestação laboral por parte do trabalhador, por
motivos de adesão à greve, traduzir-se-á, em termos contratuais, na suspensão do
respetivo contrato de trabalho (art. 536.º do CT), pelo que este direito se traduz num
verdadeiro direito potestativo modificativo que se encontra na esfera do trabalhador
dependente (que labora em moldes heteroconformados), dado que o seu exercício
produz inelutavelmente efeitos jurídicos na esfera jurídica da contraparte, que se
encontra, deste modo, numa posição de mera sujeição. E é modificativo porque altera a
relação jurídica entre as partes, devido à suspensão do contrato de trabalho que se
verifica, ou seja, pelo facto de se suspenderem (temporariamente) os direitos e deveres
das partes que digam respeito à efetiva prestação laboral, mantendo-se aqueles que não
respeitem à efetiva prestação laboral – art. 536.º/2 do CT.
Note-se, que nem nem todo o tipo de conduta coletiva que como greve é apresentada,
cabe nesse direito.
Ora, o direito à greve afigura-se como um direito individual de exercício coletivo
(viabilizado pela sua dimensão coletiva), ou seja, este apresenta uma faceta individual e
coletiva:
Faceta individual- na medida em que a titularidade do direito à greve pertence,
efetivamente, aos trabalhadores singulares, individualmente considerados, é um direito
de cada trabalhador (independentemente da dua filiação sindical).
Faceta coletiva – porque este direito é viabilizado pela ação coletiva, isto é, nos termos
do art. 531.º/1 do CT, o recurso à greve é decidido por associações sindicais (embora o
nosso ordenamento jurido-laboral tenha vindo a admitir a decisão de greve à margem
das associações sindicais, podendo ser decratada por uma assembleia de trabalhadores,
porém a lei estebelece imensos requisitos, pelo que é raro isto acontecer).
1.º momento da greve é o momento da sua decisão, no qual avulta a sua dimensão
coletiva, já no 2.º momento (que é o momento decisivo), avulta a sua dimensão
individual, na medida em que se traduz no momento da adesão individual (ou não) dos
trabalhadores à greve.
Esta questão da competência das associações sindicais para decretar e decidir a greve
suscita, no entanto, algumas dúvidas quanto à sua conformidade constitucional, uma vez
que, apesar de o trabalhador poder aderir à greve, independentemente da sua filiação na
associação sindical que a decreta, a verdade é que esta exigência de efetivação do
direito à greve através das associações sindicais impede aqueles trabalhadores que não
se encontram filiados, de participar num momento importantíssimo do mesmo – o
momento da decisão do conteúdo da greve, dos motivos, dos meios, da duração, da
extensão, etc.- quando o direito à greve é um direito do trabalhador, que se encontra na
sua titularidade e não na das associações sindicais.
No entanto, não restam dúvidas de que o momento decisivo da greve é o momento da
adesão individual dos trabalhadores, porque ainda que uma dada associação sindical
decrete uma greve, se os trabalhadores não aderiram a ela, a greve simplesmente não
existirá.
Em suma: o direito à greve como direito dos trabalhadores individuais, viabilizado pela
dimensão coletiva do fenómeno (que se afigura como condição da sua efetivação).

 O n.º2 do art. 57.º da CRP (o qual é igualmente postulado pelo art. 530.º/2 do
CT) estabelece a liberdade de definição dos motivos da greve por parte dos
trabalhadores, deixando inequívoco que a lei não pode limitar o âmbito dos
interesses a defender através da greve. Note-se que o direito à greve e os
interesses que através dela podem ser defendido vai muito para além da «greve
profissional», ou seja, não abrange apenas motivos de índole profissional
(podem ser greves de solidariedade, greves políticas, etc.). O nosso modelo
constitucional estabelece, portanto, o princípio da auto-regulamentação de
interesses e da liberdade de luta dos trabalhadores, rejeitando o modelo
meramente contratual-profissional de greve. Assim, quais interesses dos
trabalhadores dependentes, desde que sejam interesses dos trabalhadores
enquanto tais e lícitos, podem ser prosseguidos através da greve.

 Art. 530.º/3 do CT  irrenunciabilidade do direito à greve e a questão das


«cláusulas de paz social»/ dever de paz social relativa (art. 542.º/1, 2ª parte do
CT) e absoluta.

 Art. 534.º  exigência de aviso prévio (são proibídas as greves suspresa).

 Art. 57.º/3 da CRP + arts. 537.º e 538.º do CT questão dos serviços mínimos.

Critérios classificativos da greve:

 Critério dos fins (greves profissionais/laborais VS. Greves


extraprofissionais/não laborais), e dos objetivos (greve defensiva VS. Greve
ofensiva)
 Critério da entidade deliberativa (greves sindicais VS. Não sindicais)
 Critério do modo de paralisação (abstenção/paralisação total  greve
própria/classica VS. Não paralisação ou paralisação parcial e organizada 
greves atípicas/impróprias)

Comissão de Trabalhadores VS. Associações Sindicais


Estas são duas estruturas representativas dos trabalhadores (art. 404.º do CT) sobre as
quais se debroçaram especialmente quer a CRP, quer o Cod. Trab., pelo que se conclui
assim pela adoção de um modelo dualista, pelo ordenamento jurídico português,
relativamente às estruturas representativas dos trabalhadores.
Ora, as comissões de trabalhadores estão constitucionalmente tuteladas,
enquanto DLG dos trabalhadores, no art. 54.º da CRP, segundo o qual é um direito
reconhecido e garantido aos trabalhadores a criação de comissões de trabalhadores. Este
direito encontra-se ainda regulado nos arts. 415.º e ss. do CT. Assim, de acordo com
o art. 415.º do CT, os trabalhadores têm direito de criar, na empresa onde exercem a
sua atividade profissional, uma comissão de trabalhadores para defesa dos seus
interesses e exercício dos seus direitos, independentemente da sua categoria
profissional.
Por sua vez, a liberdade sindical (relativa ao exercício das associações sindicais)
é também um direito, liberdade e garantia dos trabalhadores expressamente tutelado no
art. 55.º e 56.º da CRP, e ainda regulado nos arts. 440.º e ss. do CT.
É, então, um direito dos trabalhadores criarem comissões para defesa dos seus interesses
e intervenção democrática na vida da empresa, e constituirem associações sindicais que
representam uma determinada classe de trabalhadores, representando os seus
interesses e direitos das mais variadas formas.
Temos, então, que o âmbito das comissões de trabalhadores se circunscreve aos
âmbito empresarial (ainda que este direito se entenda também aos serviços
administrativos do Estado e fundações), enquanto que as associações sindicais têm uma
âmbito supraempresarial, representando os trabalhadores consoante a sua categoria
profissional, atividade ou setor de atividade.
As comissões de trabalhadores têm, portanto, liberdade de auto-organização,
regulamentação e liberdade estatutária (art. 54.º/2 da CRP), e têm várias atribuições,
entre as quais estão compreendendidas, nomeadamente, o direito de exercer contro de
gestão nas respetivas empresas – art. 426.º CT - (o que não se confunde com uma
“cogestão”), implicando, no mínimo, o conhecimento prévio, por parte das CTs, sobre
as principais decisões de gestão da empressa, e o direito de se pronunciarem antes de
tais decisões serem tomadas (têm o direito de apreciar e emitir pareceres sobre o
orçamento da empresa e suas alterações, de promover, sugerir e recomendar medidas
que contribuam para a melhoria das condições de trabalho e da atividade da empresa,
etc. Outro direito importanto das CTs é o de participarem da elaboração da legislação
laboral (art. 54.º/5/al. d) da CRP).
Quanto às associações sindicais, vale quanto a estas a liberdade sindical que é
reconhecida aos trabalhadores, quer na sua dimensão positiva, quer negativa.
A liberdade sindical na sua dimensão positiva, que tem a sua expressão legal,
desde logo, no art. 444.º/1 do CT consiste na liberdade de livre inscrição/filiação num
sindicato que o possa representar, sem necessidade de um ato de admissão
discricionário desse sindicato, e ainda na liberdade que o trabalhador filiado tem de
mudar de sindicato. Encontramos, porém, uma limitação a esta liberdade no art. 444.º/5
do CT, que consagra o princípio da filiação única, que vem proibir a dupla filiação do
trabalhador. Ou seja, de acordo com este princípio um trabalhador não pode estar,
simultaneamente inscrito em dois sindicatos (permite-se, no entanto, a existência de
sindicatos concorrentes, já que o nosso ordenamente jurídico rejeita a ideia da
consagração de um princípio da unicidade, como o que vale para a comissão de
trabalhadores.
Para a comissão de trabalhadores vale, portanto, um princípio da unicidade, com
consagração legal no art. 415.º/1 do CT («têm direito a criar, em cada empresa, uma
comissão de trabalhadores»).
Já a liberdade sindical negativa abrange o direito de não inscrição/de não filiação
no sindicato, pelo que os trabalhadores não estão obrigados a estar inscritos num
sindicato que os represente; abrange, ainda, o direito de abandorem o sindicato onde se
encontram inscritos e, claro, o direito de não pagar quotas para um sindicato em que não
se encontrem inscritos.
Para qualquer destas dimensões vale o princípio da proibição geral de
tratamentos discriminatórios (art. 406.º do CT), de acordo com o qual são nulas
quaisquer cláusulas contratuais dque visem subordinar a contratação do trabalhdor à
categoria de este se filiar num determinado sindicato (cláusulas “closed shop”), ou de
este não se filiar de todo ou se retirar do sindicato em que esteja inscrito (cláusulas
“yellow dog”), sendo igualmente proibído o despedimento, transferência ou ato que
prejudique um trabalhador pelo facto de este exercer atividades sindicais.
Quanto às atribuições das associações sindicais, compete-lhes exercer alguns dos
poderes mais significativos no que diz respeito à defesa dos direitos e luta pelos
interesses dos trabalhadores: para além de, tal como sucede com as CTs, poderem
participar na elaboração da legislação do trabalho e no controlo de gestão das empresas,
ainda lhes é concedido, a título exclusivo, o exercício do direito de contratação coletiva
(art. 56.º/3 da CRP), o qual é garantido nos termos da lei, e o poder de decretar greve
nos termos do art. 531.º/1 do CT.
Para além disso, é de notar que as associações sindicais têm ainda, ao abrigo do art.
55.º/2/al. d) da CRP, o direito de exercício da atividade sindical na empresa, direito este
regulado nos termos do art. 460.º e ss. do CT, isto é, têm direito a desenvolver atividade
sindical na empresa, sendo-lhes atribuídos uma série de garantias nesse sentido.

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