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Aulas Práticas Direito Administrativo III

27, Out. 2020

Art. 4.º ETAF «Âmbito da jurisdição» dos tribunais administrativos


Quais os litígios que os Tribunais Administrativos vão resolver?
Art. 212.º/3 CRP -> os TAs são os tribunais comuns em matéria administrativa.

CP1
Litígio em que estão em causa questões relacionadas com a impugnação de uma coima,
que foi aplicada à Andreia, pela realização de obras sem licença para o efeito.
Perante que Tribunais deve ser interposta a ação da Andreia contra a coima que lhe fora
aplicada? Pelos TAFs:
Art. 4.º/1/ al. l) ETAF  «coimas no âmbito de ilícitos de mera ordenação social»,
neste caso em específico por «violação de normas tribunais»
Trata-se, in casu, de uma contraordenação urbanística, que assenta na violação de
uma norma de direito urbanístico.

CP2
Questões relacionadas com o direito de regresso do hospital dos CHUC (EPE) sobre um
trabalhador em funções públicas, por violação das boas práticas médicas.
Litigio em que o que esta a ser discutido é o direito de regresso de uma EPE sobre um
trabalhador em funções públicas por violação de boas práticas medicas  o médico tem
de pagar uma indemnização ao utente, titulo de responsabilidade civil extracontratual
 o hospital paga a indemnização ao utente e, depois, o hospital tem direito de
regresso sobre o médico, ou seja, pode o hospital vir pedir ao médico e, causa que este
lhe devolva o montante correspondente à indemnização que teve de pagar ao utente.
Este litígio está dentro do âmbito da jurisdição dos Tribunais Administrativos e Fiscais
 art.4.º/1/ g) ETAF.

CP3
Litígio que está relacionado com a invalidade própria de um contrato de concessão de
serviço público.
Art. 4.º/1/al. e) ETAF  «validade e execução de contratos administrativos…»

Se se tratasse a validade de um ato de adjudicação – ato praticado no fim de um


procedimento pré-contratual, mas antes da execução do contrato.  aplica-se
igualmente a alínea e), a sua parte inicial («validade dos atos pré-contratuais»).

CP4
Litígio que envolve questões relacionadas com a ilegalidade de uma sanção disciplinar,
de suspensão de exercício de funções aplicada a um magistrado judicial pelo conselho
superior da magistratura.
Art. 4.º/4/al. c)  «ato materialmente administrativo pelo Conselho superior de
Magistratura»  o n.º4 menciona as questões que estão fora do âmbito da jurisdição
dos Tribunais Administrativos e Fiscais.
Portanto, este litígio cai nessa al. c), estando FORA DA JURISDIÇÃO administrativa e
fiscal.

CP5
Cátia pede à CMA a atribuição de uma licença para construção de uma casa. Mais tarde
vem a saber que, no terreno ao lado do seu, há alguém que tambem quer construir e
obteve uma licença de construção. Porém entende Carla que tal licença atribuída ao seu
vizinho tem várias ilegalidades.
Art. 4.º/1/b) ETAF

CP6
Litígio em que são discutidas questões que se relacionam com a apreciação da
constitucionalidade de um DL, que impõem o uso obrigatório de máscara nos espaços
públicos.
Art. 4.º/3/a) ETAF  Estão excluídos os «atos praticados no exercício da função
política e legislativa». Está FORA DA JURISDIÇÃO dos tribunais administrativos e
fiscais, ao abrigo da al. a), do n.º3 do art. 4.º do ETAF.

CP7
Litígio que envolve questões relacionadas com o direito de regresso do Município de
Aveiro sobre um trabalhador seu, em funções publicas, por omissão ilícita, gravosa,
culposa dos deveres de limpeza das ruas do município.
Art. 4.º/1/al. g) ETAF –> este litígio está dentro do âmbito
CP8
Litígio que envolve questões relativas ao ressarcimento de danos sofridos por António,
num acidente de automóvel e fundamento para esse ressarcimento foi o incumprimento
da sinalização de transito por parte do Município de Coimbra.
Art. 4.º/1/f) ETAF  o município integra o conceito de pessoa coletiva de direito
publico, caindo no âmbito da al. F), sendo um litígio que se encontra dentro do âmbito
de apreciação e jurisdição dos tribunais administrativos e fiscais.
Al. f), in fine  embora se inclua na al. f) a responsabilidade civil extracontratual de
pessoas coletivas de direito publico, a verdade é que, por força da al. a) do n.º4, está
fora do âmbito da jurisdição administração no caso de erro judiciário cometido por
tribunais pertencentes a outras ordens de jurisdição.

03, nov. 2020

CP1
Litígio relacionado com regulamentos que foram emitidos pela Brisa rodoviária SA
sobre o pagamento de taxas de portagens e atribuição de prémios. Qual a jurisdição
competente?
Art. 4.º/1/d) ETAF
A Brisa é uma entidade concessionário – apesar de não pertencer ao Estado nem à AP, é
uma entidade privada incumbida do exercício de poderes púbicos – logo al. d).

CP2
Inês quis reconstruir uma casa (fez obras de reconstrução numa casa) não tendo pedido
licença à CMCoimbra. A CMCoimbra fez uma fiscalização a essa obra, aplicando uma
coima a Ines. Ines resolve impugnar essa coima? Qual a jurisdição competente para
analisar este litígio?
Art. 4.º/1/ l)  trata-se de uma contraordenação urbanística, pois fez uma construção
e não tinha licença para o efeito.

CP3
Maria, trabalhadora com vínculo de emprego publico, sito é, contrato de trabalho
público, vê o seu contrato (e seu vínculo) ser cessado. Maria quer impugnar a cessação
desse vínculo, alegando a sua ilegalidade.
A jurisdição competente para conhecer deste litigio é a jurisdição administrativa – art.
4.º/4, in fine  ao abrigo da exceção presente no final da al. b) do n.º4 do art. 4.º, é
possível concluir que quando se tratem de litígios emergentes do vinculo de emprego
publico, o conhecimento e resolução destes pertence aos tribunais administrativos e
fiscais.

CP4
Litigio relacionado com a fixação da justa indemnização devida por expropriações,
servidões, etc de utilidade publica. Imaginemos que Luana é proprietária de um terreno
que o Estado precisa para a construção de uma autoestrada. Neste seguimento, Luana
depara-se com uma expropriação daquele terreno. Luana quer reagir contra a
expropriação.
Código das expropriações  prevê que a entidade competente são os tribunais
judicias. Ou seja, o próprio código das expropriações é que prevê quem é a entidade
jurisdicional competente para conhecer de litigio emergentes deste tipo de situações, no
seu artigo 38.º CExpropriações.
Podemos estar a falar de 2 tipos de expropriações:
- Expropriação pública  tribunais judiciais/jurisdição administrativa
- Expropriações pelo sacrifício (são aquelas em que estão em causa atos lícitos
do Estado que mesmo assim não deixam de criar prejuízos para os particulares que são
afetados. Na medida em que acarretam prejuízos, é necessário fixar uma indemnização a
favor do particular que sofreu prejuízos pelo ato lícito do Estado = indemnização pelo
sacrifico)  aqui já cairá no âmbito da jurisdição administrativa, ao abrigo do art.
4.º/1/al. o) ETAF.  Nestes casos está em causa a responsabilidade civil
extracontratual do Estado por factos lícitos.

ORGANIZAÇÃO DA JURISDIÇÃO ADMINISTRATIVA


Desde 1989  os TAFs são verdadeiros tribunais
Os tribunais administrativos estão organizados numa “pirâmide”:
Tribunais Administrativos de Círculo
Tribunais de Apelação  Tribunais Centrais Administrativos
Órgão de cúpula (supremo tribunal)  Supremo Tribunal Administrativo

Quer o STA quer os TCAs funcionam por secções.

Art. 209.º/1/b) + art. 212.º da CRP  os tribunais administrativos como categoria


própria de tribunais
Os tribunais administrativos são tribunais de existência obrigatória.
Hoje, fruto da evolução, em virtude da reforma de 2002, passou a ser com base na
alçada de cada tribunal que se admite ou não recurso para os tribunais hierarquicamente
superiores art. 6.º ETAF + art. 142.º CPTA.
Ou seja, com a reforma de 2002, os tribunais administrativos passaram a ter alçada,
fixada em função da alçada dos tribunais judicias, da qual vai depender, em princípio, a
admissibilidade de recurso jurisdicional.
Regra: duplo grau de jurisdição. Mas, excecionalmente, admite-se um triplo grau de
jurisdição.

Em regra, os recursos dos TAC são, em regra, pela secção do contencioso


administrativo dos TCAs. EXCEÇÃO  recurso per saltum (salta-se um grau de
jurisdição: a dos TCAs) – art. 37.º/ al. a) ETAF)

RECURSO DE APELAÇÃO- quando se apela ao TCA o recurso de uma decisão de um


TAC.
RECURSO DE REVISTA – quando se interpõe para o STA um recurso de uma decisão
proferida pelo TCA competente.
 Em razão do território
DL 325/2003, de 29 de dezembro  é através dele que percebemos a área de
jurisdição de cada um dos tribunais.
Arts. 16.º e ss. CPTA  Regras de competência territorial
Art. 16.º CPTA  Regra
Art. 17.º CPTA  Exceção

Caso Prático

Processo em matéria administrativa relativo a ações ou omissões do Conselho de


Ministro. Quero impugnar o ato praticado pelo Conselho de Ministro.
Qual o Tribunal Administrativo competente para conhecer, em primeira instância, o ato
praticado pelo Conselho de Ministros?
STA é o tribunal competente para conhecer desta impugnação, nos termos do art.
24.º/1/al. a)/ iii) ETAF

Caso Prático

Quem é competente para conhecer do recurso de um acórdão que os TCA tenham


proferido em primeiro grau de jurisdição?
STA  art. 24.º/1/g) ETAF

Ação de impugnação de um ato de indeferimento de um pedido de licenciamento


intentada contra uma CMunicipal.
Tribunal Administrativo de Círculo  competência regra ou universal que estes têm por
força do art. 41.º do ETAF.
Litígio relativo a ações de regresso fundadas em responsabilidade por dano resultante do
exercício de funções de tribunais administrativos de círculo.
Tribunal Central Administrativo – por força do art. 37.º/c) ETAF
Em termos de território – tínhamos de saber qual a CMunicipal em causa + ver DL
(acima).

Processo em matéria administrativa relativa a ações ou omissões do Presidente da


República.
STA – art. 24.º/1/a), i) ETAF

10.11.2020
Ação Administrativa
Artigo 37.º CPTA
É hoje uma ação administrativa única.
Pronuncia-se, de forma definitiva, quanto ao mérito da ação – emite uma decisão de
fundo.
Cumulação de pedidos – art. 4.º CPTA.
Impugnação de ato administrativo
Objeto – controlar a invalidade do ato administrativo que é objeto de impugnação –
tendente à declaração de nulidade, anulação ou de inexistência desse ato administrativo.
Artigo 148.º CPA  Conceito Material de ato administrativo

Ato administrativo impugnável – art. 51.º/1


CPTA

Há uma divergência doutrinal: Dever de pronúncia VS. Dever de decisão


Dever de pronuncia – é sempre devido
Dever de decisão – não há dever de decisão nos casos do n.º2 do artigo 13.º CPTA.
Exceções à inimpugnabilidade do ato meramente confirmativo:
 Quando não tenha existido o ónus de impugnar o ato confirmado (por não ter
havido notificação)
Atos administrativos ineficazes – art. 54.º/1 CPTA
São impugnáveis a partir do momento em que produzem efeitos, ou seja, têm de ser atos
eficazes, que produzam efeitos na ordem jurídica.
Exceção: art. 54.º/2 CPTA

Causa de pedir – ilegalidade do ato administrativo (nota: art. 95.º CPTA)


Pedido – declaração da invalidade ou da inexistência do ato administrativo.

«Contrainteressados» (art. 57.º CPTA) – entidades que podem, expectavelmente,


lesadas e atingidas pela decisão que vier a ser proferida pelo tribunal.
Litisconsórcio necessário passivo – o autor, para além de demandar o réu, tem de
demandar também os contrainteressados.

A ação de impugnação não suspende automaticamente a eficácia do ato administrativo


impugnado.

PRAZOS
Nulidade – a todo o tempo (salvo disposição legal em contrário: por exemplo, caso do
prazo para impugnação no âmbito do direito do urbanismo que está limitado a 10 anos,
por uma questão de estabilidade).
Anulação – 1 ano para o MP; 3 meses para o particular
São contados nos termos da lei civil - Art. 279.º CC. O decorrer do prazo é contínuo,
não para de correr com as férias judiciais.

SENTENÇA
- Será uma sentença com efeitos diretos: constitutivos (anulação) ou meramente
declarativos (declaração de nulidade ou inexistência).
- Vai gerar uma obrigação para a Administração Pública de reconstituir a situação de
facto que existiria de acordo com aquilo que vier a ser julgado e tendo em conta a
retroatividade dos efeitos.
- Tem efeitos ultra constitutivos – uma vez que há uma imposição de a Administração
respeitar o que for decidido.

Condenação à prática de ato devido


OBJETO -> Art. 66.º/1 CPTA
O que é um «ato devido»? Conceito associado ao princípio da decisão – art. 13.º CPA.

Caso Prático

1. QUAL O MEIO PROCESSUAL PRINCIPAL APROPRIADO À DEFESA OS INTERESSES DE TIAGO?


Está aqui em causa um ato administrativo de indeferimento.
Meio processual adequado:
 Ação administrativa de condenação à prática de ato devido, por força do art.
67.º/1/b), 1.ª parte do CPTA,
Pois, no caso, existe um indeferimento expresso por parte da Administração (no caso,
do Conselho Distrital da Ordem dos Advogados de Coimbra) – ato negativo.  Tiago
pretende, não apenas que o ato de indeferimento seja expurgado da ordem jurídica, mas
também que a Administração aceite a sua inscrição na ordem dos advogados – pretende
que a administração pratica um ato positivo, logo tem de interpor uma ação
administrativa de condenação à prática do ato devido.
Artigo 51.º/4 CPTA  Se contra um ato de indeferimento ou de recusa de apreciação
de requerimento NÃO TIVER SIDO DEDUZIDO O ADEQUADO PEDIDO DE
CONDENAÇÃO À PRÁTICA DE ATO DEVIDO, então o tribunal vai convidar o
autor a substituir a petição (no sentido de interpor uma ação de impugnação do ato
administrativo) por esse pedido/ação de condenação à prática de ato devido, prevista
nos artigos 66.º e ss. do CPTA.
E isto porquê?
Porque há situações em que efetivamente não se queira pedir a condenação à prática do
ato, ou seja, não se tem interesse na prática do ato em causa, pois apenas se pretende
expurgar aquele ato da ordem jurídica. Assim, quando for este o caso, o proponente da
ação de impugnação do ato administrativo de indeferimento (no caso) tem de justificar
ao tribunal o porquê de estar apenas a impugnar o ato e não a condenar a administração
à prática do ato devido, evitando a mobilização do art. 51.º/4 do CPTA, isto é, de forma
a evitar que o Tribunal convide a deduzir a condenação à prática de ato devido, nos
termos dos artigos 66.º e ss. do CPTA.
Pode só se ter interesse que o ato seja expurgado da ordem jurídica (imaginemos, que o
Tiago até já nem tem interesse em ingressar na ordem dos advogados, mas queira
eliminar o ato em causa da ordem jurídica). Mas como o interesse, a pretensão do Tiago
era efetivamente ingressar na ordem dos advogados, devendo por isso, intentar ação de
condenação do ato devido.
Referência ao artigo 13.º CPA  a Administração está constituída, nos termos da lei, no
dever de decidir e praticar os atos

2. LEGITIMIDADE PASSIVA

Art. 10.º CPTA -> a ação deve ser intentada contra a Ordem dos Advogados
Apesar de termos um ato de recusa que foi praticado por parte do conselho distrital de
Coimbra da ordem dos advogados, a ação deve proposta contra a pessoa coletiva de
direito público – in casu, contra a Ordem dos Advogados.

3. O MP TAMBÉM TEM LEGITIMIDADE ATIVA PARA PROPOR ESTA AÇÃO?


Tem de estar causa a ofensa de direitos fundamentais, defesa de interesses públicos ou
de algum dos bens elencados no art. 9.º/2 CPTA.
In casu, está em causa a liberdade de escolha da profissão, o direito de acesso ao
emprego (art. 47.º da CRP)  logo o MP tem aqui legitimidade ativa nos termos do
artigo 68.º/1/b) CPTA.

4. PRAZO
3 meses  se estiver em causa vícios que conduzam à anulação do ato
Todo o tempo  se estiver em causa vícios do ato que conduzam à nulidade do ato
(que é a sanção mais grave).
5. QUAL O TRIBUNAL COMPETENTE ?

 Competência em razão matéria


o Tribunal administrativo de círculo

 Competência em razão do território


o Arts. 16.º e ss. do CPTA -> não estando aqui em causa nenhuma situação
especial que implique a aplicação de uma regra especial, temos de aplicar
a regra geral do artigo 16.º CPTA: de acordo com a regra geral é
competente o tribunal competente da residência habitual (trata-se de
uma pessoa singular, e não coletiva).
 Tribunal Fiscal e Administrativo do Porto.
DL 325/2003, de 29-12 (para ver qual a área de jurisdição que abranja o Concelho do
Porto)

 Competência em razão da hierarquia


o Tribunal Administrativo de Círculo do Porto.
Sendo que:
 Se houver recurso da decisão, é interposto para o TCA-N
 Se houver recurso “per saltum” terá de ser interposto no STA, nos termos do
artigo 151.º do CPTA.

17.11.2020
CASO PRÁTICO

1. A sociedade “Construir a Cidade, S.A.” pode efetivamente reagir judicialmente


a esta decisão.
Trata-se aqui de um ato administrativo de indeferimento expresso.
Ora, tendo interesse no efetivo licenciamento das obras em causa para poder construir o
desejado armazém, ou seja, se, após o ato de indeferimento, essa pretensão se mantiver,
então o meio processual de reação mais adequado será a ação de condenação à prática
de ato devido (Art. 37.º/1/ b) CPTA), de forma a obter a condenação da “CMBraga”,
dentro de determinado prazo, à prática do ato de licenciamento que fora ilegalmente
recusado (art. 66.º/1 do CPTA), pois é o meio que oferece aqui uma proteção mais
adequada à pretensão em causa.
O artigo 67.º/1/al. b) do CPTA prevê expressamente a condenação à prática de ato
administrativo quando tenha sido praticado ato administrativo de indeferimento.
LEGITIMIDADE PROCESSUAL PASSIVA
Pedido => A sociedade (enquanto pessoa coletiva titular de um direito ou interesse
legalmente protegido – art. 68.º CPTA) deveria requerer ao tribunal a condenar o
Munícipio de Braga (art. 10.º/2 CPTA) a deferir o pedido de licenciamento de
construção. Deve ser intentada contra o Município, porque a CMBraga é apenas um
órgão da pessoa coletiva pública “Município de Braga”.

Ainda que os atos em causa tenham sido emitidos por um órgão, em termos de
legitimidade passiva, são as pessoas coletivas públicas onde esses órgãos se integram
que podem ser demandadas, nos termos do artigo 10.º/2 CPTA.
Não podemos ainda esquecer-nos que devem ainda ser demandados os
contrainteressados (no caso concreto, não teremos, em princípio, contrainteressados).

– art. 68.º/2 CPTA  na prova devemos sempre referir esta questão quanto à
legitimidade passiva, e explicar quem são os interessados e identificá-los, caso eles
existam no caso. A necessidade de demandar conjuntamente os contrainteressados
decorre do artigo 57.º do CPTA.
Necessidade de demandar também os contrainteressados = litisconsórcio necessário
passivo
Tratando-se de um pedido de condenação à prática de ato devido  demandam-se os
contrainteressados, nos termos do artigo 68.º/2 do CPTA)
No caso de se tratar de uma ação de impugnação de ato administrativos  demandam-
se os contrainteressados, nos termos do artigo 57.º CPTA

 Pede-se, assim, que o tribunal condene a Administração, no caso concreto, o


Município de Braga, a deferir o pedido de licenciamento de construção.

► Para além disso, há aqui outro meio de reação possível: a Ação de Impugnação de
ato administrativo, através da qual poderá requerer a declaração de invalidade do ato
administrativo de indeferimento, mas desta forma apenas verá o mesmo ser
excluído/eliminado da ordem jurídica, não havendo a prática de qualquer outro ato da
administração, no âmbito desta ação de impugnação.
Assim, a ação de impugnação do ato administrativo só se afigurará aqui como adequada
caso a sociedade em causa deixe de ter interesse na obtenção licenças para a realização
daquelas obras, pois o único efeito útil desta ação é o de expurgar o ato de
indeferimento da ordem jurídica.
Nestes casos, esclarece o artigo 51.º/4 CPTA que «se contra um ato de indeferimento ou
de recusa de apreciação de requerimento não tiver sido deduzido o adequado pedido de
condenação à prática de ato devido, o tribunal convida o autor a substituir a petição,
para o efeito de deduzir o referido pedido». Ora, não se mantendo, portanto, a pretensão
de construção de tal armazém naqueles terrenos, para que não haja referido convite
pelo tribunal a proceder ao pedido de condenação à pratica de ato devido, o proponente
(no caso, a sociedade) deverá justificar, aquando da propositura da ação de
impugnação, o porquê de apenas estar interessado em expurgar aquele ato
administrativo da ordem jurídica e não em pedir a condenação da administração à
prática ou ao deferimento da licença de construção. (37min45seg).

2.
LEGITIMIDADE PASSIVA : Contra o Município de Braga (ver acima) + contrainteressados (não
existem, no caso)
PRAZOS: (art. 69.º/2 do CPTA que nos remete para o art. 58.º CPTA)

- 3 meses se estiver em causa a anulabilidade do ato de indeferimento (art.


58.º/1/al. b) CPTA).
- A todo o tempo se estiver em causa a nulidade do ato.

TRIBUNAL COMPETENTE
Relativamente à matéria: Tribunal Administrativo Círculo (art. 44.º/1 CPTA)
Relativamente à hierarquia: TAC
Recursos seriam conhecidos, em princípio, pelo Tribunal Central Administrativo, ou
pelo STA se estivessem preenchidos os requisitos para o efeito.
Relativamente ao território: art. 20.º CPTA + DL n.º 325/2003  sede da sociedade
(Braga)  Tribunal Administrativo Círculo de Braga

3. Imagine agora, que, ao invés de uma decisão de indeferimento do pedido de


licenciamento, (min. 45)
Está em causa um ato de deferimento da licença e posterior declaração de nulidade
dessa licença.
Meio adequado: Ação de impugnação de ato administrativo – artigo 37.º/1/al. a)
CPTA + disposições específicas: arts. 50.º e ss. CPTA.
Porque apenas se pretende que o ato que declarou nula a licença seja expurgado do
ordenamento jurídico, para que a licença permaneça na ordem jurídica, permaneça
eficaz e válida.

Ato impugnável – é o ato de declaração de anulabilidade do ato que declarou a


nulidade da licença que foi atribuída à sociedade em causa, que cumpre os requisitos
para ser um ato impugnável (art. 51.º/1 do CPTA).

CASO PRÁTICO
1.
► Meio adequado: Ação de impugnação de ato administrativo
Estava aqui em causa a revogação de uma autorização para o exercício da atividade
compreendida no Alvará n.º 600  Trata-se de um ato impugnável nos termos gerais
(art. 51.º/1 CPTA).
Assim, a pretensão seria aqui a de expurgar o ato de revogação emanado pelo Senhor
Diretor Nacional da PSP, tendo o respetivo procedimento administrativo, no âmbito do
qual foi emanado aquele ato de revogação, sido iniciado pelo Departamento de Armas e
Explosivos. A expurgação do ato da ordem jurídica permitiria que a autorização
relativamente às atividades que são exercidas naquele armazém de produtos explosivos,
artifícios pirotécnicos e outras matérias e substâncias perigosas
► Poder-se-ia aqui, porém, discutir se o meio processual mais adequado seria, então,
uma ação de impugnação de ato administrativo ou uma ação de pedido de condenação
da administração à prática de ato devido, pois o procedimento iniciado pela PSP teve
como ato/decisão final o indeferimento da renovação do Alvará.  Isto porque nos
diz que foi revogada a autorização correspondente ao «CADUCADO Alvará», ou seja,
estando aquele caducado, a revogação da autorização correspondente, acabou por se
traduzir num ato de indeferimento da renovação daquele mesmo alvará. Ora, ao revogar
o alvará e ao não deferir a sua renovação aquilo que aqui seria adequado seria a ação de
condenação à prática de ato devido.

2.
PRAZO:
- 3 meses em caso de vícios que conduzem à anulabilidade
- a todo o tempo nos casos de se imputarem ao ato vícios que conduzam à anulabilidade
CASO PRÁTICO

1.
Meio de reação adequado: Pedido de condenação à prática de ato devido (Art.
67.º/1/b) do CPTA).
Tendo sido indeferido o pedido de licenciamento, dever-se-ia aqui pedir ao tribunal
competente que condenasse a administração, no caso, o Município do Porto, a deferir o
pedido de licenciamento da construção de uma nova fábrica.
Hipótese subsidiária: ação de impugnação do ato administrativo, nos casos e nos termos
supra referidos (o advogado da sociedade teria de justificar o porque de estar a
impugnar o ato e não a pedir a condenação da Administração à prática de ato devido, ao
ato de deferimento da licença requerida, para evitar que este convidasse a sociedade a
interpor, ao invés, o pedido de condenação adequado, nos termos do artigo 51.º/ 4 do
CPTA).
2.
LEGITIMIDADE PASSIVA: Município do Porto
Apesar da entidade que indeferiu o pedido de licenciamento ter sido a CMPorto, a
verdade é que, nos termos do artigo 10.º/2 do CPTA, quem deve ser demandado para
efeitos de legitimidade passiva são as pessoas coletivas públicas que estiverem em
causa. Ora, a CMPorto é um órgão do Município do Porto, que é a pessoa coletiva
pública em que aquele órgão se integra.
Teriam ainda de ser demandados os contrainteressados nos termos do artigo 68.º/2
CPTA.
TRIBUNAL COMPETENTE
Tribunal Administrativo de Círculo do Porto
 DL n.º 325/2003  Vila Nova de Gaia está no âmbito de jurisdição do
TACírculo do PORTO.

3. PROVIDÊNCIA CAUTELAR
Para que serve.
Características: instrumentalidade, provisoriedade e Sumariedade
As providencias cautelares podem ser: antecipatória ou conservatória.
No caso, tratar-se-ia de uma providencia conservatória – providencia cautelar de
suspensão da eficácia do ato que concedeu o direito da fábrica construir aquelas
instalações (artigo 112.º/2/al. a) CPTA).
Momentos em que se pode intentar a providencia cautelar: artigo 114.º CPTA.
Tendo sempre de se respeitar o prazo para a ação principal.
Critérios de decisão: artigo 120.º CPTA – periculum in mora, fumus boni juris e
proporcionalidade.
O juiz faz um juízo perfunctório, na medida em que terá em conta os critérios do artigo
120.º para o decretamento ou não da providencia, mas não há uma cognição plena do
fundo/do mérito da causa, mas antes uma cognição meramente sumária das matérias de
facto e de direito que são invocados. Em suma, há um conhecimento sumário da causa,
não havendo uma decisão definitiva, de mérito.

Quando seja concedida a suspensão da eficácia do ato administrativo, aplica-se o


disposto no artigo 128.º do CPTA, o qual prevê que a entidade demandada e os
beneficiários do ato fiquem proibidos de executar o ato ou de prosseguir com a sua
execução, caso já se tivesse iniciado a sua execução.
No entanto, a entidade demandada pode

Não se pode reagir contra a resolução fundamentada, pelo que se tem de esperar pelos
efeitos práticos da

Incidente de ineficácia dos atos de execução indevida (17h09min)


24.11.2020

No âmbito das ações relativas as normas, estas são normas marcadas por uma:

Pretensão imanente de duração - na medida em que se destinam a ser aplicadas


a um número indeterminado de situações e de pessoas (não têm qualquer delimitação a
nível de aplicação). *adicionar aos apontamentos aulas teóricas.
Fala-se aqui em impugnação de “normas” e não em “impugnação de regulamento”,
enquanto conceito, pois visa-se, assim, permitir a impugnação de diplomas
regulamentares no seu todo, mas também a impugnação de apenas determinadas normas
de um concreto regulamento (e não o regulamento na sua totalidade).

Pedido de Declaração de Ilegalidade com Força Obrigatória


Geral

Tem de tratar-se de uma norma imediatamente operativa.


«Quem alegue ser diretamente prejudicado pela vigência da norma ou possa vir
previsivelmente a sê-lo»  Neste caso, não se exige uma lesão efetiva de direitos ou de
interesses legalmente protegidos, basta que haja uma ameaça de lesão daqueles
direitos ou interesses legalmente protegidos.
DEVERES DO MP (artigo 73.º/4 CPTA)
- Dever de propor ação quando tenha conhecimento da desaplicação de uma
norma em 3 situações concretas, com fundamento na sua ilegalidade.
- Dever de recorrer das decisões de primeira instância que declarem a ilegalidade
com força obrigatória geral.

Declaração de Ilegalidade com Efeitos Restritos ao Caso


Concreto
Art. 73.º/2 CPTA

Tem de tratar-se de normas imediatamente operativas.


Perante esta ação, requere-se a ilegalidade da norma, com fundamento em algum dos
fundamentos do artigo 281.º/1 CRP, pedindo que seja declarada a sua ilegalidade com
efeitos circunscritos ao caso concreto.
Dado tratar-se de normas imediatamente operativas, então impugnação é feita a título
principal.

A norma impugnada, ainda que desaplicada ao caso concreto, continua a vigorar no


ordenamento jurídico.
Efeitos ex tunc (retroativos) e repristinatórios, com eficácia inter partes.

Impugnação Indireta de Normas Administrativas


Artigo 73.º/3 CPTA
Neste caso, tratar-se-ão de normas mediatamente operativas, pelo que carece de um
ato para produzir os seus efeitos.
Efeitos:
Desaplicação da norma por via incidental ou indireta (e não desaplicação por via
principal). Ou seja, dado tratar-se aqui de uma norma mediatamente operativa,
impugna-se a torna a título incidental, na medida em que se impugna a norma no
âmbito ou através de uma ação principal de impugnação do ato administrativo que
aplica a norma mediata operativa (dado que esta precisa de um ato administrativo que
a torne operativa, que a faça produzir efeitos no caso concreto).

Condenação à Emissão de Normas


Art. 77.º CPTA
Estão em causa situações em que havia uma obrigação de emissão de uma determinada
norma, que foi omitida, pelo que há um pedido ao tribunal para que condene a
administração a emitir as normas ilegalmente omitidas pelos órgãos competentes para a
respetiva emissão.

Pode haver lugar a aplicação de sanção pecuniária compulsória no caso de o órgão


competente para a emissão da norma continuar a não cumprir com o dever de emissão
da norma, mesmo depois de ser condenado a fazê-lo no seguimento de uma ação de
condenação à emissão de normas.
CASO PRÁTICO

1. MEIO PROCESSUAL ADEQUADO


O meio processual adequado seria aqui a ação de impugnação de normas, prevista nos
artigos 72.º e ss. do CPTA.
Trata-se de um regulamento imediatamente operativo, pois o próprio regulamento já
altera, em si mesmo, o plano de estudos do curso, isto é, opera direta e imediatamente,
dado que produz efeitos jurídicos autonomamente na esfera jurídica dos seus
destinatários.
Dever-se-ia deduzir aqui um pedido de DIFOG (declaração de ilegalidade com força

obrigatória geral).
Não está aqui em causa nenhum dos fundamentos do n.º 1 do artigo 281.º da CRP – que
dariam legar a um pedido de declaração de ilegalidade com efeitos circunscritos ao caso
concreto, pelo que não seria esse o pedido aqui em causa.

LEGITIMIDADE ATIVA
A Associação, nos termos do artigo 73.º/1 e do artigo 9.º/2 do CPTA tem legitimidade.

Como o regulamento é imediatamente operativo, pode impugnar-se o regulamento por


via principal, sem ter de se esperar/aguardar a prática de um ato administrativo que
aplique aquele concreto regulamento.
A impugnação é feita por via principal.
2. PRAZO

Artigo 74.º CPTA + artigo 144.º CPA


As ilegalidades substanciais de conteúdo da norma (ilegalidades mais graves) 
conduzem à nulidade da norma, pelo que podem ser pedidas a todo o tempo.
As ilegalidades puramente formais ou procedimentais  conduzem a uma mera
anulabilidade da norma, pelo que apenas pode ser pedida a declaração de ilegalidade
no prazo de 6 meses.
 Nestes casos, deve preponderar a estabilidade e a segurança das normas
jurídicas. Pelo que não devem poder ser impugnadas a todo o tempo por meros
vícios formais
TRIBUNAL COMPETENTE

Tribunal de Primeira Instância – Tribunal Administrativo de Círculo


- Teríamos de depois de ver qual dos critérios seria aqui aplicável.

LEGITIMIDADE PASSIVA

Tem de se impugnar a pessoa coletiva pública e não o órgão dela que possa aqui ter
emitido a norma, pelo que, in casu, nos termos no artigo 10.º CPTA seria demando o
Ministério da Ciência, tecnologia e ensino superior (e não o Ministro que emitiu o
despacho normativo em questão).

3. PROVIDENCIA CAUTELAR

ARTIGO 112.º/2/ AL. A)


Aplica-se o disposto no artigo 130.º do CPTA.

CASO PRÁTICO

«A ordem dos médicos emitiu um regulamento que estabelecia um novo regime de


admissão ou de inscrição nessa ordem para todos os novos licenciados, com o curso
de medicina.
Com base neste regulamento, o pedido de inscrição feito por Afonso, jovem
licenciado em medicina, seria liminarmente rejeitado. Afonso alega que o
regulamento viola a constituição, designadamente a liberdade de acesso à profissão
e ao seu exercício, que, inclusivamente, considera uma liberdade abrangida pelo
regime constitucional específico dos DLGs.
Por isso, pretende impugná-lo diretamente nos tribunais administrativos.
1. Qual o meio processual principal que, no caso, seria apropriado para a
pretensão de Afonso. Que pedidos poderiam ser formulados?»

RESPOSTA:
Se considerarmos este regulamento como um regulamento mediatamente operativo:
 Meio Processual: Impugnação Indireta do Regulamento (Artigo 73.º/3 CPTA).
1.º - Impugnar, a título principal, o ato administrativo de rejeição da inscrição.
2.º - Suscitar, a título incidental, a impugnação Indireta da norma.

OU
Se considerarmos que se trata de um regulamento imediatamente operativo:
 Meio Processual: Pedido de Declaração de Ilegalidade com Efeitos Restritos ao
Caso Concreto (artigo 73.º/2 do CPTA).
Invocando a sua ilegalidade com base num dos fundamentos do n.º 1 do artigo 281.º da
CRP.
Este pedido já seria suscitado a título principal.

CASO PRÁTICO

«Para travar a progressão da pandemia da doença covid-19, a resolução do conselho de


ministro n.º 89-A/2020, de 26 de outubro resolveu que os cidadãos não podem circular
para fora do conselho de residência habitual no período compreendido entre as 00h do dia
30 de outubro de 2020 e as 05h00 do dia 3 de novembro de 2020.
Uma empresa de transportes de passageiros e um partido político invocam a
inconstitucionalidade da referida resolução, com fundamento na violação de DLGs, e bem
assim de princípios constitucionais.
1. Qual o meio processual adequado para reagir judicialmente. Pronuncie-se ainda
da legitimidade processual ativa de ambos os autores.
2. Contra quem deve ser proposta ação? Qual o tribunal competente?
3. Poderia a empresa de transportes, enquanto lesada, requerer uma tutela
cautelar?»

1. MEIO PROCESSUAL ADEQUADO

Estando em causa uma norma regulamentar (a resolução do conselho de ministros),


visto que devemos adotar aqui uma noção de “norma regulamentar” em sentido amplo –
englobando, portanto, todas as normas de direito administrativo com caráter geral e
abstrato, que visem a produção de efeitos externos, o meio processual mais adequado
para reagir com tal resolução do concelho de ministros será a ação de impugnação de
normas administrativas, prevista no artigo 37.º/1/ d) do CPTA e nos artigos 72.º e ss. do
CPTA.
Esta resolução de conselho de ministros tem caráter normativo, até por força do artigo
138.º/3/al. b) CPA.
Ora, sabemos que pode pedir-se a declaração da ilegalidade de normas administrativas,
por vícios próprios ou derivados da invalidade de atos praticados no âmbito do respetivo
procedimento de aprovação. Para além disso pode requerer-se a declaração de
ilegalidade: com força obrigatória geral ou com efeitos circunscritos ao caso concreto.
*DISTINGUIR E DESCREVER CADA UMA, em termos das suas características
principais*.
De acordo com o artigo 73.º/1 do CPTA, para que possa ser pedida a declaração de
ilegalidade em qualquer dos casos supramencionados, é necessário que a norma seja
imediatamente operativa:
 Ou seja, têm de se tratar, aqui, de normas cujos efeitos se projetam e produzem
direta e imediatamente na esfera jurídica dos particulares (é o caso das normas
que proíbem ou impõem condutas específicas aos cidadãos).
Ora, a resolução do conselho de ministros cuja inconstitucionalidade se invoca é,
efetivamente, uma norma imediatamente operativa, pois produz direta e imediatamente
efeitos sobre a esfera jurídica dos seus destinatários, não carecendo de nenhum ato
administrativo para produzir efeitos, ela produz efeitos por si mesma.
No presente caso prático, os autores pretendem reagir com aquela norma regulamentar
com fundamento na sua inconstitucionalidade, ou seja, os autores invocam a
ilegalidade da norma com base num dos fundamentos do artigo 281.º/1 do CRP.
Assim, deverá, neste caso, deduzir-se um pedido de declaração da ilegalidade da norma
com efeitos restritos ao caso concreto, por força do artigo 72.º/2 CPTA e do artigo
73.º/2 do CPTA.

LEGITIMIDADE PROCESSUAL ATIVA


No âmbito dos pedidos de declaração de ilegalidade de norma com efeitos restritos ao
caso concreto, estabelece-se uma legitimidade ativa limitada no artigo 73.º/2 CPTA,
pois só tem legitimidade para impugnar a norma, com efeitos restritos ao caso concreto,
“quem seja diretamente prejudicado ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento
próximo.
Assim, apenas a empresa de transporte é diretamente prejudicada, pelo que apenas
esta entidade goza aqui de legitimidade ativa.
Assim, ainda que o partido político em causa viesse a invocar a questão dos DLGs,
continuaria a não gozar de legitimidade, pois não é diretamente prejudicado pela norma.
2. LEGITIMIDADE PROCESSUAL PASSIVA
Nos termos do artigo 10.º/1 do CPTA devem ser demandados na ação, isto é, a ação
deve ser intentada contra a outra parte na relação material controvertida e, quando for
caso disso, contra os contrainteressados.
Como está em causa uma resolução do conselho de ministro, então deverá demandar-se
a pessoa coletiva pública em causa, portanto: o Estado português e a presidência do
conselho de ministros, ao abrigo do artigo 10.º/2 CPTA (deveria demandar-se estas
duas entidades em litisconsórcio necessário passivo).

TRIBUNAL COMPETENTE
Regra geral as ações são intentadas na base, em primeira instância. Há uma
competência, em termos gerais, dos Tribunais Administrativos de Círculo.
Porém, existem determinadas exceções que impõem que as ações sejam intentadas em
instâncias superiores, intervindo estes, nestes casos, como tribunais de primeira
instância.
O presente caso prático trata-se precisamente de uma dessas exceções, pois ao abrigo do
artigo 24.º/1, al. a), ponto iii) CPTA competirá à secção do contencioso administrativo
do STA os processos em matéria administrativa relativos a ações do Conselho de
Ministros – que é aqui o caso.
Assim, o tribunal competente para conhecer desta ação será o Supremo Tribunal
Administrativo.

3. PROVIDENCIA CAUTELAR
Neste caso concreto, a tutela cautelar adequada seria a suspensão da eficácia da norma
regulamentar (artigo 130.º CPTA), a qual prevê que os efeitos daquela norma fiquem
em suspenso, o que significa que com tal providencia cautelar, suspender-se-iam os
efeitos da resolução do conselho de ministro que impedia os cidadãos de circular entre
concelhos durante aquele período de tempo.
De facto, a empresa de transportes poderia requerer a concessão de tutela cautelar, no
caso concreto, requerendo a suspensão da eficácia da norma com efeitos circunscritos
ao caso concreto.

CASO PRÁTICO
1. MEIO PROCESSUAL ADEQUADO

Deveria aqui ser intentado um processo urgente, mais concretamente o contencioso


pré-contratual, regulado nos artigos 100.º e ss. do CPTA.
Sendo um processo urgente, estes dão lugar a uma verdadeira decisão definitiva sobre o
mérito da causa, há aqui uma cognição plena do fundo da causa (ao contrário do que
sucede no âmbito das providências cautelares que não consubstanciam uma decisão
definitiva do litígio, havendo, no âmbito destas, apenas uma cognição sumária da
causa). Estes processos urgentes principais, são, portanto, verdadeiros processos
principais, têm é uma tramitação mais acelerada e simplificada, quando comparados
com os processos principais não-urgentes.
►No caso, estamos perante um ato de exclusão da sociedade “Ruas Mais Limpas,
Lda.”, no âmbito do procedimento, não se tratando, portanto, ainda de um ato final do
procedimento – o ato final de um procedimento é o ato de adjudicação.
Resta-nos, portanto, saber se há possibilidade de impugnação deste ato de exclusão.
Ora, os atos de exclusão, nos termos do artigo 51.º/3 CPTA, têm obrigatoriamente
que ser impugnados para que, posteriormente, possa haver lugar a impugnação do
ato final com fundamento em ilegalidades cometidas durante o procedimento. Ou
seja, quando as ilegalidades digam respeito a ato que tenha determinado a exclusão do
interessado do procedimento há um ónus de impugnação autónoma, tendo
obrigatoriamente de impugna-se diretamente o ato lesivo.
 Ora, o ato lesivo no caso concreto, é o ato de exclusão daquela sociedade do
procedimento pré-contratual – o qual terá, portanto, de ser necessariamente
impugnado para se poder, posteriormente, impugnar o ato final de adjudicação
com base em ilegalidades cometidas durante o procedimento.
Assim, quando há um ato de exclusão do interessado, ele tem de ser obrigatoriamente
impugnado, sob pena de não se poder impugnar o ato final de adjudicação com base em
vícios do procedimento e da exclusão daquela sociedade.
Assim, não se trata aqui de poder impugnar, mas sim de um DEVER de impugnar.

2. PRAZO
Segundo o artigo 101.º do CPTA, e como, in casu, se trata de um ato de exclusão, o
processo do contencioso pré-contratual deve ser intentado no prazo de um mês,
independentemente do vício que gera a invalidade do ato.
Assim, mesmo quando esteja em causa um vício que gera a nulidade do ato, esta ação
só pode ser intentada no prazo de 1 mês por uma razão de estabilidade dos
procedimentos pré-contratuais.
*Impugnação de um ato de adjudicação – prazo de 10 dias úteis (artigo 103.º-A do
CPTA).

LEGITIMIDADE PASSIVA
Por força e ao abrigo do artigo 10.º/2 do CPTA, tem de ser impugnada a pessoa coletiva
de direito público a que pertence a entidade administrativa que praticou o ato no âmbito
do procedimento contratual, ou seja, no caso, será o Município de Moura.

3. PODERIA A SOCIEDADE IMPUGNAR O ATO DE ADJUDICAÇÃO?


Poderia impugnar o ato de adjudicação apenas se, anteriormente, a “Ruas Mais Limpas”
tivesse impugnado tivesse impugnado o ato de exclusão, nos termos do artigo 51.º/3
CPTA – alargamento do objeto.
O prazo para impugnar o ato de adjudicação continua a ser de um mês.
MAS… se aquela sociedade quiser beneficiar do efeito suspensivo automático do
artigo 103.º-A do CPTA, então deverá impugnar o ato de adjudicação no prazo de 10
dias úteis, contados da notificação da adjudicação de todos os concorrentes.
 Assim, se se impugnar o ato de adjudicação nos 10 dias úteis posteriores à
notificação da adjudicação de todos os concorrentes, então suspendem-se
automaticamente os efeitos do ato de adjudicação, não sendo celebrado contrato
com a empresa que foi escolhida, enquanto não houver pronuncia judicial.
O prazo para impugnar o ato de adjudicação (10 dias úteis) para se poder beneficiar do
efeito suspensivo automático que decorre do artigo 103.º-A do CPTA, é muito curto, é
muito exigente porque visa precisamente assegurar a estabilidade dos procedimentos
pré-contratuais.

CASO PRÁTICO

RESPOSTA:
Dado estarmos perante e abertura de um concurso público, com vista à celebração de
um contrato para a aquisição de impressoras (celebração de um contrato de aquisição de
serviços), e da não conformação de um concorrente com o ato de adjudicação tomado
no âmbito desse concurso, podemos concluir que estamos aqui perante uma ação do
contencioso pré-contratual, que é um contencioso relativo à formação dos contratos, e
traduz-se num processo principal urgente, pois é-nos dito que a sociedade “Print all”
quer impugnar a decisão/ato de adjudicação, favorável à sociedade que foi graduada em
primeiro lugar (sociedade “Mais cores, Lda.”), mas que se traduziu num ato
desfavorável e, portanto, lesivo para a “Print all”.
Como supramencionado, o ato de adjudicação insere-se no procedimento pré-contratual,
isto é, na fase relativa à formação de um contrato regulado pelo direito administrativo
(segundo as regras da contratação pública).
Ora, o contencioso pré-contratual é um processo principal urgente regulados nos
termos dos artigos 100.º e ss. do CPTA, que tendem à obtenção de uma sentença
definitiva, ou seja, em que há uma resolução definitiva do litígio, em virtude de haver,
no âmbito destes processos, uma cognição plena pelo juiz – há uma verdadeira decisão
de mérito, em que o juiz conhece e aprecia o fundo da causa.
Este processo urgente e autónomo visa assegurar duas ordens de interesses:
- conferir a adequada tutela, em tempo útil, aos interesses dos candidatos à celebração
de contratos com entidades públicas (ou privadas, que exerçam poderes de autoridade
públicos).
- e, sobretudo, obter a resolução célere das questões de legalidade que sejam suscitadas
relativamente à fase procedimental da formação dos contratos, de preferência antes da
respetiva celebração, para evitar impugnações posteriores com fundamento em
invalidades no procedimento pré-contratual.
Assim, tipicamente, o que está aqui em causa é um contencioso urgente dirigido ou à
impugnação de atos administrativos ou à condenação à prática de atos devidos relativos
à formação dos contratos tipificados no artigo 100.º/1 CPTA – no presente caso
concreto, trata-se de um contrato de aquisição de serviços.
A sociedade “print all” pretende, portanto, impugnar o ato de adjudicação, que é um
ato final do procedimento de formação do contrato. Ou seja, estamos perante uma ação
de impugnação de um ato administrativo que é praticado no âmbito de um procedimento
pré-contratual, cujo contrato em causa aparece elencado no artigo 100.º/1 CPTA.

EFEITOS DA PROPOSITURA DA AÇÃO


Apesar do prazo geral de um mês para a impugnação destas ações (artigo 101.º do
CPTA), a verdade é que, nos termos do artigo 103.º-A do CPTA, quando a ação do
contencioso pré-contratual que tenha por objeto a impugnação de atos de adjudicação –
que é aqui o caso – pode fazer-se suspender automaticamente os efeitos do ato
impugnado ou a execução do contrato, se este já tiver sido celebrado, se a ação for
proposta junto do tribunal no prazo de 10 dias úteis contados desde a notificação da
adjudicação a todos os concorrentes. Assim, se a sociedade intentar a ação dentro desse
curto prazo de 10 dias úteis, poderá beneficiar do efeito suspensivo automático.
Caso, porém, a sociedade “Print all” não interpusesse a ação dentro desses 10 dias úteis,
apesar de já não poder beneficiar do efeito suspensivo automático, desde que ainda
esteja dentro do prazo geral de um mês, poderá sempre intentar a ação nos termos do
artigo 101.º do CC (no prazo de um mês). Note-se, todavia, que este prazo de um mês
vale independentemente do tipo de invalidade de que padeça o ato (nulidade ou
anulabilidade).
Já nos casos em que não se aplique que tenha sido levantado o efeito suspensivo
automático, nos termos do artigo 103.º-A, n.º 4, o autor pode requerer ao juiz, ao abrigo
do artigo 103.º-B do CPTA, a adoção de uma medida provisória, destinada a prevenir o
risco de, no momento em que a sentença venha a ser proferida, se ter constituído uma
situação de facto consumado ou já não ser possível retomar o procedimento pré-
contratual para se determinar quem nele deveria ser escolhido como adjudicatário. A
medida provisória poderá consistir, neste caso concreto, na manutenção da proposta da
“Print all” no procedimento até haver uma decisão final.
Deve cumular-se aqui a impugnação do ato de adjudicação com uma ação de
condenação à prática de ato de adjudicação a favor da proposta da sociedade “Print all”.
Trata-se, agora, de um caso em que o que se pretende impugnar é um ato de exclusão.
Ora, quanto ao objeto, o artigo 100.º/2 do CPTA procede a um acolhimento da
doutrina do “alcance máximo”, na medida em que se adota um conceito amplo de ato
administrativo e se considera, neste domínio, como atos administrativos “os atos
praticados por quaisquer entidades adjudicantes ao abrigo de regras de contratação
pública”. Assim, o ato de exclusão integra-se no conceito de “ato administrativo
impugnável” para efeitos de contencioso pré-contratual.
Posto isto, nos termos do artigo 51.º/3, 3.ª parte CPTA, quando estamos perante atos
exclusão de interessados no procedimento pré-contratual, há um ónus de impugnação
autónoma, ou seja, o interessado está obrigado a impugnar o ato de exclusão, visto que
este é um ato lesivo, sob pena de ficar precludido o direito de impugnação do ato final
com base nos vícios que decorrem do procedimento pré-contratual.

CASO PRÁTICO

RESPOSTA:
Está aqui em causa um contencioso de procedimentos de massa, previsto no artigo
99.º do CPTA. Este é um processo urgente principal, em que a decisão que o tribunal
irá proferir será uma decisão de fundo, de mérito da causa.
Ações relacionadas com a prática ou omissão de atos administrativos em procedimentos
em que participem mais de 50 concorrentes, sendo que apenas relevam os
procedimentos nos domínios especificamente elencados no artigo 99.º/1 do CPTA.
No caso concreto, trata-se de um concurso lançado pela CGD e trata-se de um
procedimento de recrutamento (artigo 99.º/1/al. c) CPTA), que tinha 51 candidatos
admitidos, pelo que, efetivamente, seria aqui de concluir que o meio processual mais
adequado é o contencioso dos procedimentos de massa.
PRAZO – artigo 99.º/2 do CPTA: um mês.
RESPOSTA:
Como no caso está em causa a impugnação de um ato emanado no dia 10 de Setembro
de 2020, o advogado de António teria, nos termos do artigo 99.º/2 do CPTA apenas do
prazo de um mês para intentar a ação junto do tribunal da sede da entidade demandada.
Ora, a tempestividade – que é um dos pressupostos processuais relativos ao processo –
depende do hiato temporal fixado na lei para a propositura das ações respetivas. No
caso, o prazo fixado é de um mês.
Ou seja, António dispunha apenas até ao dia 10 de Outubro de 2020 para intentar a ação
no âmbito do contencioso de massa, logo, no mês de novembro tal prazo já teria
passado, pelo que o direito de ação de António já caducou nessa altura – temos aqui
uma exceção de caducidade do direito de ação (não se respeitou a norma que prevê o
prazo especial do n.º 2 do artigo 99.º).
Uma vez caducado aquele direito, o ato administrativo de adjudicação aqui em causa
consolida-se na ordem jurídica e deixa de poder ser impugnado.

Quanto à questão de ainda estar ou não em tempo de, no mês de novembro, requerer
uma tutela cautelar, é necessário ter-se em conta, desde logo, a instrumentalidade das
providências cautelares, que são formas de tutelas que vivem na dependência de uma
ação principal, ou seja há uma dependência (estrutural e funcional) das providencias
cautelares relativamente à ação principal cuja utilidade aquelas visam acautelar – artigo
113.º/1, 1.ª parte CPTA.

Assim, a tutela cautelar, neste caso, estará sempre “ao serviço” e na dependência
relativamente à ação principal de impugnação do ato de adjudicação, nomeadamente
no que respeita aos prazos para se requererem. Portanto, o prazo das providencias é
o prazo das ações principais de que aquelas depende, pelo que o prazo que António teria
para requerer uma providencia cautelar seria igualmente de um mês.
Tendo caducado o direito para propor a ação principal, então necessariamente caducou
também o prazo de que dispunha para requerer uma providencia cautelar ao tribunal.
Isto, não obstante, a providência cautelar poder ser requerida antes da propositura da
ação principal (processo cautelar preliminar) ou na pendencia do processo principal
(processo cautelar incidental) – artigo 113.º/1 CPTA. O que não se pode fazer é
requerer a providencia cautelar depois de findo o prazo de um mês para a propositura da
ação principal.

RESPOSTA:
Tratando-se de um ato de exclusão, visto que nos é dito que António não transitou da 2.ª
para a 3.ª fase do processo (o que é o mesmo que dizer que foi excluído), então, como
esse ato é um ato lesivo para ele, nos termos do artigo 51.º/3, 3.ª parte do CPTA,
António tem aqui um ónus de impugnação, ou seja, ele tinha obrigatoriamente de
impugnar aquele ato de exclusão, sob pena de precludir o seu direito a impugnar a
decisão final com fundamento em vícios que decorressem da ilegalidade daquele ato
lesivo de exclusão.
Ora, não tendo António impugnado o ato de exclusão, então ele não pode agora vir
impugnar o ato final/decisão final com base em vícios ou ilegalidades que tenham
existido no procedimento pré-contratual.
Assim, António deveria ter impugnado a sua exclusão (o ato que o excluiu do
procedimento) e, quando houvesse uma decisão final, faria uma ampliação da
instância, isto é alargaria objeto também à impugnação do ato final, tendo respeitado
já o ónus de impugnação do artigo 51.º/3 do CPTA.

CASO PRÁTICO

a)
Dado estarmos perante e abertura de um concurso público, com vista à celebração de
um contrato de concessão de obras públicas, previsto no artigo 100.º/1 CPTA, e como B
pretende reagir contra uma decisão administrativa tomada no âmbito do procedimento
da formação do contrato, isto é, no procedimento pré-contratual, que prejudicou B
enquanto candidato que fora preterido em virtude dessa decisão. Ou seja, a decisão
contra a qual B pretende reagir consubstancia um ato de exclusão.
Assim, conclui-se que B deveria aqui lançar mão do contencioso pré-contratual, que é
um processo principal urgente previsto no artigo 36.º/1/ c) do CPTA, e regulado nos
artigos 100.º e ss. do CPTA.
Os processos urgentes visam dar resposta a litígios que exijam e pressuponham uma
resolução judicial definitiva do litígio, isto é, são processos principais através dos
quais se obtém uma sentença definitiva (e não uma resposta meramente provisória,
como sucede no caso das providências cautelares), em que há uma cognição
tendencialmente plena pelo juiz, há lugar a um verdadeiro conhecimento e decisão de
mérito/conhecimento do fundo da causa.
Estes caracterizam-se pela celeridade ou maior simplicidade processual, pelo facto de
terem prioridade relativamente aos restantes processos não urgentes e têm lugar
quando se verifique a inadequação ou insuficiência (no caso concreto) da tutela
cautelar para assegurar a utilidade de decisão judicial definitiva.
Outra característica destes processos urgentes é que os seus prazos, para além de serem
mais curtos, correm em férias judiciais ou seja, os seus prazos não se suspendem em
férias judiciais, sendo os atos de secretaria a eles relativos praticados (em princípio)
no próprio dia, com precedência de quaisquer outros (artigo 36.º/2 CPTA e artigo
147.º/1 CPTA).

No caso, vimos já, trata-se de uma ação inserida no âmbito do contencioso pré-
contratual urgente, relativo à formação de contratos, e com a qual se visa obter a
resolução célere das questões suscitadas relativamente à fase procedimental da
formação dos contratos, de preferência antes da respetiva celebração, para evitar
impugnações posteriores com fundamento na invalidade dos procedimentos pré-
contratuais.
Ora, este contencioso é dirigido à impugnação de atos administrativos ou à condenação
à prática de atos devidos, os quais digam respeito ao procedimento pré-contratual.
Note-se que, no que respeita ao objeto deste contencioso, o artigo 100.º/2 do CPTA
procede a um acolhimento da doutrina do alcance máximo, na medida em que se adota
um conceito amplo de ato administrativo, no âmbito do qual se inclui o ato
administrativo de exclusão de um concorrente num concurso público, como foi, aqui, o
caso.
Ora, os atos de exclusão, nos termos do artigo 51.º/3 CPTA, têm obrigatoriamente
que ser impugnados para que, posteriormente, possa haver lugar a impugnação do
ato final com fundamento em ilegalidades cometidas durante o procedimento. Ou
seja, quando as ilegalidades digam respeito a ato que tenha determinado a exclusão do
interessado do procedimento há um ónus de impugnação autónoma, tendo
obrigatoriamente de impugna-se diretamente o ato lesivo.
 Ora, o ato lesivo no caso concreto, é o ato de exclusão de B do procedimento
pré-contratual – o qual terá, portanto, de ser necessariamente impugnado para se
poder, posteriormente, impugnar o ato final de adjudicação com base em
ilegalidades cometidas durante o procedimento, sob pena de não se poder
impugnar o ato final de adjudicação com base em vícios do procedimento e da
exclusão daquela sociedade.

Regime jurídico dos recursos


Artigos 140.º a 156.º do CPTA.
Princípio geral de duplo grau de jurisdição – em princípio (17h26)
Regra geral, só é admitido recurso de decisões cujo valor da causa seja superior à alçada
do tribunal de que se recorre – é isso que decorre do artigo 142.º/1 CPTA.
São excecionais as situações em que se pode sempre recorrer independentemente do
valor da causa – só nas situações previstas no artigo 142.º/3 do CPTA e nos casos em
que estejam em causa os recursos per saltum e os recursos de revista para o STA.

EFEITOS DO RECURSO
Efeito suspensivo da decisão recorrida
Se se recorrer de uma sentença de um tribunal de primeira instância (TAC) para um
TCA, esse recurso irá suspender a eficácia da decisão recorrida. Isto significa que os
efeitos decorrentes da decisão de um tribunal que seja objeto de recurso, não se vão
produzir (ficam suspensos).
Efeito meramente devolutivo
Significa que a decisão pode ser de imediato executada, mesmo que se interponha
recurso da mesma.

ESPÉCIES DE RECURSOS
Artigo 140.º CPTA
RECURSOS ORDINÁRIOS

 Recursos de apelação
Aplica-se a situações de recurso de uma decisão de um tribunal de primeira instância
para o TCA (o TCA pronuncia-se quer em matéria de facto, quer sobre matéria de
direito).

 Recursos de revista

Situações em que há recuso de uma decisão do TCA para o STA.


Neste caso, o STA apenas se irá pronunciar sobre questões de direito, e não sobre
questões de facto – artigo 150.º do CPTA.

 Recurso de revista per saltum

Aplica-se a situações me que estão preenchidos os requisitos legais previstos e exigidos


no artigo 151.º do CPTA e se recorre de uma decisão de um TAC diretamente para o
STA.

RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS
 Recurso de revisão

Artigo 154.º do CPTA


Remete para o regime contemplado no código do processo civil.
Pede-se a revisão da sentença que foi proferida

 Recurso para uniformização de jurisprudência

Dá-se nas situações em que há dois acórdãos que se opem em termos decisórios,
relativos a uma mesma situação – artigo 152.º CPTA.
Recurso do STA + recurso do STA
Ou
Recurso do TCA + recurso do STA

CASO PRÁTICO
RESPOSTA:
No caso em apreço, está em causa um processo urgente, em que há uma pronúncia
definitiva sobe o mérito da causa.
No caso, está em causa uma intimação para a proteção de direitos, liberdades e
garantias prevista nos artigos 109.º
A decisão administrativa em causa consubstancia uma limitação de um direito
fundamental: Artigo 45.º da CRP – direito de manifestação.
Legitimidade ativa– aos titulares daqueles DLGs. A associação em causa, como
representante dos interesses daqueles concretos titulares, terá legitimidade ativa.
Legitimidade passiva – a decisão de recusa foi tomada pelo Ministério da
Administração interna. Podia demandar-se simultaneamente a PSP.

RESPOSTA:
É uma decisão recorrível nos termos do artigo 142.º/3/al. a) CPTA.
Neste caso, o recurso terá efeitos meramente devolutivos, por força do artigo 143.º/2/ al.
a) do CPTA, visto que a decisão proferida em primeira instância que foi recorrida
continuará a produzir os seus efeitos, ou seja, a sentença proferida em primeira instância
é suscetível de execução imediata.
Logo, se o pedido de intimação para a proteção de DLGs fosse julgada improcedente,
mesmo havendo recurso, não seria possível ocorrer a manifestação.

CASO PRÁTICO
RESPOSTA:
Trata-se de um dos contratos que integra o “Big five”, ou seja, um dos contratos
previstos no artigo 100.º/1 do CPTA.
Logo, o meio processual adequado para reagir contra a sua exclusão daquele concurso
publico, no âmbito do procedimento pré-contratual, seria uma ação administrativa
urgente, no âmbito do contencioso pré-contratual (regulado nos artigos 100.º e ss. do
CPTA).
O artigo 100.º/2 do CPTA e o acolhimento da doutrina do alcance máximo.
Como se trata de um ato de exclusão, Juan terá necessariamente de impugnar aquele ato,
sob pena de, mais tardem não poder impugnar o ato final de adjudicação com base nas
invalidades do procedimento pré-contratual.

2. PRAZO
Não há aqui concessão de efeito suspensivo automático, mas Juan pode requerer ao
tribunal a adoção de medidas provisória, ao abrigo do artigo 103.º-B do CPTA (no caso,
que o readmita provisoriamente no procedimento).
Neste caso, teria o prazo de um mês.

Nos termos do artigo 51.º/3 do CPTA há uma previsão de que tem de ser impugnados
diretamente os atos de exclusão. No caso, não o tendo sido, o Juan não poderá vir a
seguir a impugnar o contrato em base em argumentos relativos à sua exclusão.
Ficou precludido o seu direito de vir a impugnar a validade do contrato, com
fundamentos no facto de ter sido ilegalmente excluído do procedimento, com base no
artigo 77.º-A, al. b) do CPTA.

carlamachado@fd.uc.pt

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