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A Greve
O direito a greve não é um direito absoluto ou ilimitado, tendo ele que coexistir com outros
valores e interesses constitucionalmente protegidos, cabendo ao julgador a tarefa de os
compatibilizar no caso concreto.
O artigo 2º, nº1 da Lei da Greve define a greve como “a recusa colectiva, total ou parcial,
concertada e temporaria da prestação de trabalho, continua e interpolada, por parte dos
trabalhadores”. A greve pode assim ser definida como uma abstenção concertada de
prestação de trabalho a efectuar por uma pluralidade de trabalhadores em ordem a obtenção
de objectivo comuns.
A greve implica, em primeiro lugar que se verifique uma abstenção do trabalho. Esse conceito
pode ter um conteúdo amplo e um conteúdo restrito. Em termos restritos implica a
paralisação total da actividade. Em termos amplos, pode abrangir qualquer refrear na
execução da actividade laboral, mesmo que não implique a paragem do trabalho. A posição
tradicional apenas faz integrar no âmbito da greve concepção restrita, adoptando o artigo 2º,
nº2 da L.G expressamente essa concepção ao referir que “ não são consideradas greves
quaisquer formas de redução ou alteração, colectiva, concertada e temporaria, dos ritmos e
métodos de trabalho, que nao impliquem a abstenção do trabalho, as quais são passíveis de
responsabilidade disciplinar nos termos de legislação laboral”. Assim, o trabalhador só se
encontra em greve se paralisam totalmente a sua actividade com excepção dos serviços
mínimos.
A greve tem ainda de ser realizada por uma pluralidade de trabalhadores. Finalmente, a greve
realiza-se em ordem à obtenção d eobjectivos comuns a generalidade de trabalhadores. Nos
termos do artigo 3º da L.G “ as greves só podem visar fins económicos, sociais e profissionais
relacionados com a situação laboral dos trabalhadores, a quem compete decidir, nos termos
da lei, sobre o âmbito e a natureza dos interesses que pretendem defender”.
Modalidades da Greve
A greve pode ser geral ou parcial. A greve geral pode ser entendida em senrido âmplo e em
sentido restrito. Em sentido amplo, implica a paralisação de todos os trabalhadores do país,
normalmente solicitada por uma confederação geral. Em sentido restrito, a refere-se ao
conjunto de trabalhadores de uma única empresa.
A greve pode ser parcial ou sectorial. A greve parcial implica a paralisação de um grupo de
profissionais delimitado. E a greve sectorial implica a paralisação de um núcleo da empresa.
As greves podem ser ofensivas e defensivas. São ofensivas as greves que são realizadas em
ordem a obter a satisfação de novas pretensões dos trabalhadores.São defensivas as greves
que são realizadas como oposição de uma nova pretensão do empregador, que visa alterar as
condições de trabalho que até então se vinham practicando na empresa.
As greves podem ocorrer no âmbito do contrato de trabalho ou fora do seu âmbito. As greves
ocorrem no âmbito do trabalho quando se dirigem contra o empregador e ordem a
manutenção ou melhoria das condições. As greves ocoorem fora do âmbito do contrato de
trabalho quando se dirigem contra terceiros ou contra os poderes políticos.
A greve pode ser típica ou atípica. É típica a greve que imploca apenas a abstenção da
prestação de trabalho. Nas greves atípicas ou impróprias, ou não ocorre uma verdadeira
abstenção ao trabalhomas apenas uma perturbação na sua realização, ou abstenção na
prestação do trabalho é acompnhada de outros comportamentos, que visam prejudicar o
empregador. As greves atípicas são consideradas ilícitas( artigo 7º,nº2 da L.G).
Finalmente, as greves destinguem-se entre lícitas ou ilicítas, consoante seja permitida ou não
permitida pelo direito.
Greves atípicas
Em conformidade com o artigo 51º, nº1, da Costituição da República de Angola, que considera
a greve como um direito dos trabalhadores, o artigo 10º, nº1 da LG, estabelece que a decisão
da declaração de greve cabe aos trabalhadores e aos respectivos organismos sindicais, “A
decisão de declaração de greve só poderá ser tomada em Assembleia de Trabalhadores
convocadas com a antecedência mínima de cinco dias pelo organismo sindical ou 20% dos
trabalhadores abrangidos e em que que estejam presentes pelo menos 2/3 desses
trabalhadores (art. 10º, nº2 da LG).
Este regime legal torna questionável qual é o verdadeiro titular do direito à greve: as
associações sindicais ou assembleias de trabalhadores, como entidades colecticas, que são
quem tem legitimidade para a declarar, ou os próprios trabalhadores, individualmente
considerados, que a ela aderem. A posição que parece preferivel é a de que a titularidade de
direito a greve se situa na esfera dos trabalhadores individuais, uma vez que o direito a greve
só é exercido no momento de adesão destes e não no momento de que a greve é declarada
pelos seus representantes, sendo o concurso das entidades colectivas acima referidas uma
condição procedimental do exercício do respectivo direito.
Parece, que apesar desta obrigação, as associações sindicais não perdem a possibilidade de
decretar a greve, invocando a excepção de não cumprimento( artigo 428º do C.C), caso a outra
parte incumpra a convenção colectiva. Da mesma forma, a alteração das circunstâncias em
que as partes fundaram a decisão do contrato( artigo 437º do C.C) pode pôr em causa a
convenção colectiva, caso em que voltará a haver legitimidade para recorrer a greve.
A Adesão à Greve
Uma vez declarada a greve, qualquer trabalhador é livre de a ela aderir individualmente (artigo
4º, nº 1 L.G), independentemente de estar ou não filiado no sindicato que a promoveu ou de
ter votado nesse sentido na assembleia de trabalhadores que a decretou. A adesão à greve
constitui uma liberdade individual dos trabalhadores, pelo que ninguém pode ser obrigado a
aderir a uma greve nem impedido de o fażer. A lei admite, no entanto, a organização de
piquetes de greve, destinados a persuadir os trabalhadores a aderirem à greve por meios
pacíficos, os quais funcionarão nos limites exteriores dos locais de trabalho a proteger (artigo
16º, n°1 L.G). Aos empregadores não é, porém, permitido adoptar comportamentos
semelhantes. No entanto, “os trabalhadores grevistas não devem impedir a prestação de
trabalho pelos trabalhadores que não tenham aderido à greve nem contra eles exercer,
intimidações ou violência, sob pena de responsabilidade penal nos termos da lei” (artigo 16º,
nº 2 L.G).
Face à liberdade de aderir ou não a greve, o artigo 4º, nº2, L.G estabelece que os
trabalhadores não podem sofrer discriminação nem, por qualquer forma, serem prejudicados,
nomeadamente nas suas relações com a entidade empregadora ou nos seus direitos sindicais
por motivo de adesão ou não adesão a uma greve lícita, considerando o artigo 4º, nº 3 L.G
como nulos e de nenhum efeito os actos de qualquer natureza que estabeleçam alguma forma
de discriminação com base nesse motivo. Por esse motivo, têm sido considerados
discriminatórios os prémios anti-greve. Já os prémios de assiduidade são admissíveis, desde-
que não correspondam igualmente a prémios anti-greve.
A adesão à greve constitui uma declaração negocial do trabalhador, a qual pode ser
tácita.Assim, por exemplo, se o trabalhador não se apresenta no local pode de trabalho no dia
de greve, presume-se que aderiu, presunção que só pode ser ilidida por declaração do mesmo,
designadamente declarando cada ou injustificadamente.
Os Efeitos da Greve
A Ilicitude da Greve
A greve não constitui um direito ilimitado dos trabalhadores, sendo por isso disciplinado na
Lei da Greve. Por esse motivo, a greve pode ser ilícita, sempre que a mesma vise um fim ilícito
(artigo 7º, nº 1 L.G), seja acompanhada de ocupação dos locais de trabalho (artigo 7°, nº 2, a)
L.G) ou na mesma se verifique a violação dos pressupostos e procedimento que a disciplinam
ou da forma como deve ocorrer o seu exercício (artigo 7º, nº 2, b) L.G). A greve poderá ser
ainda ilícita, sempre que o seu exercício ponha em causa outros direitos, caso em que se
aplicarão as disposições relativas ao abuso de direito (artigo 334° CC), bem como à colisão de
direitos (335º CC).
A primeira causa de ilicitude da greve é o facto de esta visar a obtenção de um fim ilícito. O
artigo 3º L.G estabelece que "as greves só podem visar fins económicos, sociais e profissionais
relacionados com a situação laboral dos trabalhadores a quem compete decidir sobre o âmbito
e natureza dos interesses que pretendem defender". Daqui resulta que no Direito Angolano se
deverá considerar ilícita toda a greve motivada por questões não laborais, designadamente a
greve política (artigo 79º, n° 1 L.G).
Outra causa de ilicitude da greve será o facto de a mesma ser acompanhada de ocupação dos
locais de trabalho (artigo 7º, nº 2, a) L.G). Por esse motivo, o artigo 19º, nº 2 L.G, estabelece
que "durante a greve são vedados o acesso e a permanência dos trabalhadores grevistas no
interior dos locais de trabalho abrangidos, com excepção dos trabalhadores que não tenham
aderido à greve, delegados de greve e daqueles que estejam empenhados nas operações de
conservação e manuten- ção desses equipamentos e instalações". Efectivamente, o direito à
greve tem que ser exercido com respeito da liberdade de trabalho dos não aderentes, pelo que
a ocupação dos locais de trabalho, ao impedir os outros trabalhadores de trabalhar, deverá
considerar-se ilícita. A ocupação dos locais de trabalho ocorrerá sempre que aos outros
trabalhadores seja vedada a sua entrada nesses locais, designadamente através do seu
encerramento com cadeados.
Outra causa de ilicitude da greve é o facto de a mesma ser decretada sem estarem
preenchidos os seus pressupostos legais, quando ocorra desrespeito dos procedimentos que
disciplinam a greve (artigo 7º, nº 2, b) L.G). Será, por exemplo, ilegal a greve decretada por
quem não tem legitimidade para o efeito ou em desrespeito pelos procedimentos legalmente
obrigatórios, designadamente o aviso prévio. Esse tipo de greve ilícita costuma ser designado
por greve selvagem.
A greve será ainda ilícita, quando embora correspondendo formalmente a uma abstenção da
prestação de trabalho, seja exercida abusivamente em ordem a causar prejuízos
desproporcionados ao empregador. É o que sucede com as greves rotativas, retroactivas,
trombose, e self-service.
O Termo da Greve
A greve pode terminar por acordo das partes ou por decisão da entidade que a desencadeou,
cessando então os efeitos do artigo 21º L.G. A greve pode, porém, ainda cessar pelo decurso
do prazo em que foi decretada. No caso das greves por tempo indeterminado, esta
normalmente só cessa com a aceitação das reivindicações ou a desistência dos trabalhadores.
Cabe agora examinar a questão da natureza jurídica da greve. Esta questão tem sido objecto
de discussão doutrinária, questionando-se se a greve representa uma Liberdade genérica ou
antes um verdadeiro direito subjectivo e, sendo direito subjectivo, qual o seu titular,
atendendo a que os trabalhadores individualmente considerados podem sempre aderir à
greve mas apenas as asșociações sindicais ou as assembleias de trabalhadores a podem
recorrer.
Parece haver na greve algo mais do que uma simples liberdade, uma vez que ela constitui um
instrumento de luta colectiva, que é susceptível de ser usado como forma de pressionar a
parte contrária no sentido da obtenção dos fins desejados. Neste sentido, e, conforme resulta
do artigo 51º , nº 1, Const., a greve constitui um verdadeiro direito subjectivo dos
trabalhadores. O facto de só poder ser declarado através das associações sindicais ou das
assembleias de trabalhadores constitui uma exigência relativa à forma do seu exercício, não
deixando a sua titularidade de permanecer na esfera dos trabalhadores individualmente
considerados. A greve reveste assim a natureza de um direito subjectivo individual, mas de
exercício colectivo, fundado na tentativa de obtenção de fins especificos, normalmente
relacionados com as condições contratuais do trabalhador.
A Proibição do Lock-out
Nos termos do artigo 28º L.G, o lock-out é punido com multa, sem prejuízo da aplicação de
sanção mais grave, se por lei a ela houver lugar.
Em primeiro lugar, para haver lock-out, o encerramento tem que resultar de decisão unilateral
do empregador, não havendo consequentemente lock-out se o encerramento é concertado
com os trabalhadores ou os seus representantes.