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DIREITO DO TRABALHO II – material 13


(Lázaro Luiz Mendonça Borges)

13. GREVE

13.1. Fundamentação legal:

A greve é uma garantia coletiva constitucional; a oportunidade do seu exercício e os


interesses por meio dela defendidos são aqueles definidos pelos trabalhadores, que
devem fazê-lo de modo não abusivo, mantendo, nas atividades essenciais, o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Está prevista na Constituição Federal (artigo 9º, abaixo transcrito). Regulando o


preceito constitucional, a Lei nº 7.783/1989 estabelece as disposições que passaram a
garantir o direito de greve e a coibir o abuso desse direito.

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir


sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio
dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

13.2. Procedimentos prévios. Exigências para o exercício do direito:

Na greve há uma fase preparatória e uma fase de desenvolvimento. A fase preparatória,


prévia à deflagração, envolve alguns atos. Primeiro, a obrigatória tentativa de
negociação, uma vez que a lei não autoriza o início da paralisação a não ser depois de
frustrada a negociação.

ASSEMBLEIA SINDICAL. A greve é deliberada em assembleia geral convocada


pela entidade sindical (artigo 4º, da Lei nº 7.783/1989) e de acordo com as
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formalidades previstas no seu estatuto. Na falta de entidade sindical a assembleia será


entre os trabalhadores interessados (artigo 4º, § 2º), que constituirão uma comissão
para representá-los, inclusive, se for o caso, perante a Justiça do Trabalho. A greve é
um ato sindical.

Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu


estatuto, assembleia geral que definirá as reivindicações da categoria e
deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços.
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de
convocação e o quórum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da
cessação da greve.
§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembleia geral dos trabalhadores
interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão
de negociação.

AVISO PRÉVIO. Não é lícita a greve surpresa. O empregador tem o direito de saber
antecipadamente sobre a futura paralisação da empresa. Providências são necessárias,
antes da cessação do trabalho, diante dos compromissos da empresa e em face das suas
naturais condições de atividade e de produção. Daí a comunicação. É o aviso prévio de
greve.

Segue-se à deliberação da assembleia o aviso ao empregador, com antecedência mínima


de 48 horas (artigo 3º, parágrafo único), ampliada para 72 horas nas atividades
essenciais (artigo 13). Nestas, é obrigatório o anúncio da greve para conhecimento dos
usuários com a mesma antecedência (artigo 13).

Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via


arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho.
Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores
diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48
(quarenta e oito) horas, da paralisação.
Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades
sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão
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aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e


duas) horas da paralisação.

13.3. Limitações ao exercício da greve:

A greve não é um direito absoluto. Só por se tratar de um direito já existem limitações.


As limitações ao direito de greve estão previstas na Constituição, bem como na Lei n.
7.783/1989.

A greve deve ser pacífica, não pode violar o direito à vida, à liberdade, à segurança e à
propriedade (não pode danificar bens ou coisas). Portanto, os atos utilizados pelos
grevistas não poderão causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.

Os militares estão proibidos de fazer greve (artigo 142, § 3º, IV, da Constituição):

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente
da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se
lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
(...)
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 18, de 1998) (grifei)

13.4. Garantias e obrigações durante a greve:

Durante a greve, são assegurados aos grevistas (artigo 6º): a) o emprego de meios
pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve, de modo
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que o piquete é permitido quando não violento; b) a arrecadação de fundos e a livre


divulgação do movimento:

Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:


I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os
trabalhadores a aderirem à greve;
II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento.
§ 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e
empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias
fundamentais de outrem.
§ 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao
comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do
movimento.
§ 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não
poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade
ou pessoa.

Em nenhuma hipótese poderão ser violadas ou constrangidas garantidas


constitucionais. É vedado à empresa adotar meios para forçar o empregado ao
comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do
movimento.

Os grevistas não podem proibir o acesso ao trabalho daqueles que quiserem fazê-lo. É
vedada a rescisão do contrato de trabalho durante a greve não abusiva, bem como a
contratação de trabalhadores substitutos.

Os salários e demais obrigações trabalhistas dos dias de greve serão regulados por
acordo com o empregador (artigo 7º):

Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve


suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o
período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça
do Trabalho.
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Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a


greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na
ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 9º e 14.

No que se refere à manutenção dos equipamentos, durante a greve o sindicato ou a


comissão de negociação, mediante acordo com a organização sindical patronal, ou com
a empresa, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar
os serviços cuja paralisação resultar em prejuízo irreparável, pela deterioração
irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção dos serviços
essenciais à retomada das atividades da empresa, quando da cessação do movimento
(artigo 9º):

Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante


acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em
atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja
paralisação resulte em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de
bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à
retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento.
Parágrafo único. Não havendo acordo, é assegurado ao empregador,
enquanto perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços
necessários a que se refere este artigo.

Portanto, não havendo acordo, é assegurado ao empregador, enquanto perdurar a


greve, o direito de contratar diretamente os serviços necessários para esse fim (artigo
9º, parágrafo único, já transcrito acima).

SERVIÇOS ESSENCIAIS. Mesmo em serviços essenciais a greve não é proibida. É


submetida a algumas regras especiais. Estes serviços, conforme previsto no artigo 10 da
Lei n. 7.783/1989, são os seguintes: a) tratamento e abastecimento de água, produção e
distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; b) assistência médica e hospitalar; c)
distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; d) funerários; e)
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transporte coletivo; f) captação e tratamento de esgoto e lixo; g) telecomunicações; h)


guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; i)
processamento de dados ligados a serviços essenciais; j) controle de tráfego aéreo; k)
compensação bancária.

Nesses serviços, o aviso prévio ao empregador é de 72 horas; com igual antecedência


os usuários devem ser avisados também (artigo 13), e é obrigatório aos sindicatos, de
comum acordo com o empregador, garantir, durante a greve, a prestação dos serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade (artigo 11),
assim consideradas aquelas que, se não atendidas, coloquem em perigo iminente a
sobrevivência, a saúde ou a segurança da população (artigo 11, parágrafo único):

Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e


os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve,
a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade.
Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas
que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a
segurança da população.
Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder
Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.
Art. 13. Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades
sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão
aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e
duas) horas da paralisação.

13.5. Greve lícita e ilícita:

A greve é um direito, mas o abuso desse direito sujeita os responsáveis às penas da lei
(artigo 15):

Art. 15 A responsabilidade pelos atos praticados, ilícitos ou crimes cometidos,


no curso da greve, será apurada, conforme o caso, segundo a legislação
trabalhista, civil ou penal.
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Parágrafo único. Deverá o Ministério Público, de ofício, requisitar a


abertura do competente inquérito e oferecer denúncia quando houver indício da
prática de delito.

O conceito de abuso identifica-se, por força de lei, com o de ilegalidade. Abuso é o


descumprimento de exigência da lei, bem como a manutenção da greve após acordo ou
decisão judicial (artigo 14), salvo se a finalidade da paralisação é exigir o cumprimento
de norma legal convencional ou quando a superveniência de fato novo venha
modificar substancialmente a relação de trabalho.

Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas


na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de
acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.
Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença
normativa não constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação
que:
I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição;
II - seja motivada pela superveniência de fatos novos ou acontecimento
imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho.

A responsabilidade pelos atos abusivos é apurada segundo a lei trabalhista, civil e penal
(artigo 15). O Ministério Público deverá de ofício requisitar a abertura de inquérito e
processar criminalmente aqueles que praticaram ilícitos penais (conforme previsão no
parágrafo único do artigo 15). O empregador pode, no caso de abuso, despedir por
justa causa (artigos 7º e 14, já transcritos acima). O sindicato é passível de responder
por perdas e danos.

13.6. Lockout:

Lockout ou locaute é a paralisação das atividades pelo empregador para frustrar


negociação coletiva, ou dificultar o atendimento de reivindicações dos trabalhadores.
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Tal movimento é vedado (artigo 17), e os salários durante o respectivo período são
devidos:

Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador,
com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de
reivindicações dos respectivos empregados (lockout).
Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o
direito à percepção dos salários durante o período de paralisação.

O fechamento da empresa determinado por falência ou por ato de autoridade


governamental não é lockout. A paralisação do empregador que visa a protestar em
qualquer outro sentido (que não aqueles expressamente vedados na Lei de Greve) é
permitida (exemplo: paralisação contra o governo).

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