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“FÉLIX BOM-ANO”

ARTIGO CIENTÍFICO
O ERIGIR DA GREVE COMO PANACEIA PARA RESOLUÇÃO DOS
CONFLITOS LABORAIS À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO
ANGOLANO

felixbomano@gmail.com
AUTOR:
FÉLIX BOM-ANO

ARTIGO CIENTÍFICO
O ERIGIR DA GREVE COMO PANACEIA PARA RESOLUÇÃO DOS
CONFLITOS LABORAIS À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO
ANGOLANO

felixbomano@gmail.com
RESUMO
O presente artigo científico representa um estudo das diversas
situações de ocorrência sobre o erigir da Greve no nosso país e
procura mecanismos para resolução dos conflitos laborais à luz do
ordenamento jurídico angolano. Muita gente costuma reclamar quando
algum movimento organiza uma greve em algum sector importante da
nossa sociedade, já que normalmente, quando este tipo de movimento
ocorre, transtornos são causados para outras pessoas.
Palavras Chaves: lei, greve, trabalhadores, sindicato.

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SUMMARY
This scientific article represents a study of the various situations
of occurrence about the erecting of the Strike in our country and seeks
mechanisms for the resolution of labor conflicts in the light of the
Angolan legal system. A lot of people often complain when some
movement organizes a strike in some important sector of our society,
since usually, when this type of movement occurs, disorders are caused
to other people.
Key words: law, strike, workers, union.

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INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, verifica-se um clamar dos trabalhadores em geral
relativamente às greves que têm vindo assolar o nosso país e não só. Por esta
razão, achamos por bem para o nosso artigo científico, exprimir por palavras,
aspectos relacionados com o erigir da greve como panaceia para resolução de
confltos laborais à luz do ordenamento jurídico angolano.
É na verdade, um tema ponto assente, pois que, nos dias que correm os
trabalhadores, têm vindo a mostrar certa repugnância no que tange a defesa
legítima dos seus direitos, o que não acontecia outrora por falta da consciência
jurídico-laboral, e, também por razões político-sociais que se viveu durante
muitos anos.

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Na verdade é necessário que se reconheça o papel intelectual do
trabalhador e do funcioário público como o principal produtor e articulador de
conhecimentos, intérprete e responsável pela consolidação das regras a serem
valorizadas pela sociedade no que tange a realidade laboral.
A importância do desconhecimento da lei da greve e de qualquer outra lei
está regulada no nosso Código Civil no seu artigo 6º, cuja epígrafe trata da
“ignorância ou má interpretação da lei”. O corpo deste artigo diz-nos que a
ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento
nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecida. Dali nasce o brocabro latino
“ignoratio lege none excusati”. Isto quer dizer que ningém se escusa de cumprir
a lei, alegando que não a conhece.

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Nessa perspectiva, diríamos que o trabalhador pleno é aquele que busca
exercer seus direitos, cumprir seus deveres no meio laboral. Para que tal
condição se efective é preciso proporcionar ao maior número de trabalhadores
em geral, o acesso à educação jurídica. Ensina-los a confrontar axiologicamente
os textos normativos. Devemos incutir aos trabalhadores o conhecimento dos
seus direitos e deveres, exigindo respeito dos seus direitos, além de se
posicionarem reflexiva e criticamente frente às formas de injustiça e exclusão
por parte daqueles que detêm o poder de empregar as pessoas, sendo o
trabalhador o elo mais fraco nesta dicotomia. Esses conhecimentos,
necessáriamente precisam compor a concepção formal do trabalhador da
educação básica.

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Faremos um pequeno esboço em volta da etimologia do vocábulo “greve”,
o seu conceito doutrinário e legal e suas modalidades. Ainda no decorrer do
nosso trabalho, cingir-nos-emos sobre a legitimidade para declarar greve e
concomitantemente da titularidade do respectivo direito limitação convencional
à declaração de greve.
Levando-se em conta o que foi mencionado, na verdade é de acreditar
que o fenómeno greve tem biliscado de certa forma o modus andanttis das
actividades laborais, pelo que, seja imprescindível que as entidades
empregadoras fossem pragmáticas na execução das normas legais que regem a
actividade laboral.

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Aspectos Históricos sobre o erigir da Greve
Uma das greves mais importantes da História foi organizada por
trabalhadores de Gdansk, na Polônia, liderados por Lech Walesa, em 1980, que
conseguiram derrubar o governo ditatorial que vigorava naquele país na época.
A greve polonesa foi tão importante como instrumento para derrubar um
governo opressor que acabou por contribuir para a queda de outros governos
comunistas no Leste Europeu, numa espécie de “efeito dominó”.

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A Revolução Industrial acabou por ser o período em que se consolidou a
importância das greves como instrumentos de luta operária por melhorias
trabalhistas em todos os sentidos.
Foi durante o período que, nos Estados Unidos, mais precisamente em
Chicago, num dia 1º de maio de 1886, uma greve organizada por trabalhadores
que pediam a redução da jornada de trabalho de 13 horas para 8 horas acabou
sendo duramente reprimida pela polícia local.
O resultado foi a morte de muitos trabalhadores que entraram em
confronto contra a polícia, dando ao dia 1º de maio o caráter de símbolo da luta
dos trabalhadores, sendo reconhecido posteriormente como o Dia do Trabalho,
como é lembrado até os dias de hoje.

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Os Métodos de Coação do Tabalhador para o Empregador e Vice-Versa
Como se notou, as controvérsias colectivas de trabalho podem assumir
feição «pacífica» (isto é, desenvolver-se no âmbito dum certo quadro processual
e institucional pré-determinado à obtenção dum resultado equitativo), ou
manifestar-se por forma «bélica» ou «coactiva» (quer dizer atravéz do uso de
meios de luta destinados a forçar um resultado favorável). Quer isto significar
que existe dois métodos de coação que pesa quer por lado o trabalhador, quer por
outro o empregador.
No que toca aos litígios bélicos, os processos técnicos de actuação podem
esquematizar-se do seguinte modo:

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Os Métodos de Coação do Tabalhador para o Empregador e Vice-
Versa
Como se notou, as controvérsias colectivas de trabalho podem assumir
feição «pacífica» (isto é, desenvolver-se no âmbito dum certo quadro processual
e institucional pré-determinado à obtenção dum resultado equitativo), ou
manifestar-se por forma «bélica» ou «coactiva» (quer dizer atravéz do uso de
meios de luta destinados a forçar um resultado favorável). Quer isto significar
que existe dois métodos de coação que pesa quer por lado o trabalhador, quer por
outro o empregador.
No que toca aos litígios bélicos, os processos técnicos de actuação podem
esquematizar-se do seguinte modo:

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- pelo lado dos tabalhadores:
a) A greve (huelga, grève, sciopero, strike, Streik), abstenção colectiva de
trabalho, resultante de acordo no seio dum grupo ou categoria de trabalhadores,
com o propósito de forçar a aceitação, por parte da entidade patronal, de um
benefício exigido anterior ou simultaneamente.
b) O boicote (do alemão Boykott), que se traduz na obstrução sistemática
e colectiva ao recrutamento de pessoal para uma empresa (bloqueio de trabalho)
ou ao consumo dos seus produtos (bloqueio de consumo).

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- Pelo lado das entidades patronais:
O lock-out (cierre patronal, serrata, aussperrung), exclusão sistemática de
um certo número de trabalhadores da sua actividade, geralmente pela dissolução
conjunta das relações de trabalho, para obtenção de um fim litigioso, com o
propósito de readmissão após o termo de conflito.
Finamelnte e agora já em referência ao conjunto das relações colectivas –
pode a legislação estabelecer, por normas imperativas, as condições mínimas e
máximas de trabalho, demarcando assim, porventura, o espaço conflitual
possível.

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Recorde-se, no entanto, que o ordenamento jurídico angolano adopta
posições de principio muito diferentes em face dos métodos coativos mais
característicos: a greve, pelo lado dos trabalhadores e o «lock-out», no que
respeita aos empregadores.
É sabido que, enquanto a greve constitui objecto de um direito
constitucionamente consagrado – de resto nos termos mais amplos – (art. 51.º nº.
1 CRA), cujo exercício é regulado pela lei, o «lock-out» é alvo de sumária
proibição constitucional (nº 2 do art.º 51 CRA) e legal (art.º 18º LG).
Significa isto que o nosso ordenamento juridco não acolhe nada de
semelhante ao principio da paridade de armas (Waffen-gleichheit) no sistema
alemão-ocidental no que toca aos conflitos colectivos laborais, e de que se extrai
a licitude do «lock-out».

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Esta posição surge-nos, de resto, isolada no contexto europeu: nenhum
outro sistema comporta a ideia de «paridade de armas» com a latitude que a
jurisprudência germânica lhe reconhece. De um modo geral, e apesar do silêncio
dos textos legais, o encerramento conflitual é encarado, pelos tribunais e pela
doutrina, como um comportamento indutor de responsabilidade pelos prejuízos
causados aos trabalhadores.

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A greve
Conceito da «greve clássica»
Os nossos dicionários definem a greve como sendo um acordo entre
trabalhadores ou estudantes, recusando-se a trabalhar, enquanto as suas
pretenções não forem satisfeitas, ou chegarem a um acordo por meio de
negociações.
A greve é uma abstenção colectiva e concertada da prestação de trabalho,
através da qual um grupo de trabalhadores intenta exercer pressão no sentido de
obter a realização de certo interesse ou objectivo comum.

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Trata-se, em primeiro lugar, de uma abstenção colectiva da prestação de
trabalho. É, pois necessário o carácter colectivo do fim e do comportamento (ou
então, verificar-se um conjunto de abstenções individuais).
Pode perguntar-se, em primeiro lugar, se (considerando a dimensão
individual do direito de greve, que adiante se focará) pode ser qualificada como
tal a paralização de um só trabalhador (greve monoplace), ao menos quando seja
o único membro da categoria interessada no conflito.
A orientação dominante, colocando o acento tónico na essencialidade do
exercício colectivo da greve, tem apontado para negativa.

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O carácter colectivo do fenómeno não postula exigências especiais quanto
à importância relativa do número de trabalhadores parados: a circunstância de se
tratar de uma minoria no efectivo da Empesa atingida não rouba ao
comportamento colectivo a qualificação de greve.
O entendimento jurídico da paralização colectiva (ao menos enquanto
objecto de um direito) restringe-se aos trabalhadores subordinados, ou seja, aos
sujeitos de contratos individuais de trabalho.
Vale a pena assinalá-lo, dadas certas realidades que, no plano sociológico,
se têm manifestado a coberto do rótulo e do sentido funcional de «greve»: assim,
as paralizações de estudantes, de médicos (enquanto profissionais livres), de
camionistas autónomos, alimentares, de abastecedores de combustiveis para
automóveis.

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Modalidades atípicas da greve
A noção que se acaba de examinar não é incontroversa nem exaustiva. Há,
na verdade, fenómenos correntemente designado como «greve» que não cabem
nela, sem deixarem de funcionar como meios, colectivamente assumidos, de
coação directa ou indirecta em conflitos laborais.
Assim, existem «greves» em que não ocorre abstenção de trabalho:
A «greve de zelo», em que as tarefas ou funções são efectivamente exercídas,
embora de modo tão detalhado e minuncioso que acabam por causar a
desorganização do processo produtivo;
A «greve de rendimento», caracterizada pela diminuição das cadências de
trabalho, pela quebra do ritmo de produção.

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Podem, por outro lado, apontarem-se situações em que a abstenção é
meramente parcial, quer dizer, respeita apenas a certos actos, tarefas ou formas
de conduta, de entre os que se contêm nas funções normalmente exercídas. São
exemplos desta modalidade:
A «greve de mala» nos transportes colectivos, que se manifesta pela
abstenção de cobrança de bilhetes, muito embora os trabalhadores dela
encarregados se encontrem presentes e realizem as restantes tarefas de que estão
incumbidos.
A «greve da amabilidade», em estabelecimento comerciais, caracterizada
pela ausência de cortesia no contacto com os clientes.
a «greve de horas extraordinárias», sem prejuízo da regular prestação de trabalho
no horário normal.

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Assinalam-se, enfim, as paralizações que, embora resultantes de
concertação em grupos determinados, não abrangem simultaneamente todos os
trabalhadores envolvidos.
Constituiem modalidades dessa espécie, geralmente apontadas pela
doutrina:
A «greve rotativa» ou «articulada», em que ocorre a paragem sucessiva ou
alternada em sectores do processo produtivo ou de grupos profissionais nele
envolvidos, ao abrigo de uma concertação que a todos abrange, de modo a
inviabilizar a laboração, mantendo-se sempre aparência da disponibilidade de
uma parte importante dos trabalhadores;

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A «greve» trombose», caracterizada pela paralização de apenas uma parte
dos trabalhadores empenhados no litígio, os quais ocupam um sector vital ou
estratégico do processo produtivo, pelo que a empresa deixa de poder funcionar,
embora subsista, na aparência, a disponibilidade de todo o restante pessoal.

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O direito de greve: natureza e conteúdo
A constituição da República de Angola consagra no seu artigo 51º, nº 1 o
«direito à greve», em termos cujo laconismo não permite, todavia, ocultar um
semi-número de desafios ainda em aberto no terreno da doutrina juslaboral. E se
é certo que, sob o ponto de vista da projecção directa sobre a realidade social, o
n.º 2 desse artigo concentra hoje a maior atenção, cabe também notar que o
apuramento do sentido e da extensão dos juízos que o nosso direito (é, em
particular, a constituição) se reserva sobre o facto social da greve aconselha, pelo
menos, que se tente o enquadramento do fenómeno na dogmática jurídica.

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A greve-liberdade
Um preceito como o do número 1 do artigo 58.º da CRA – «é garantido o
direito à greve”. – sugere duas «leituras» diferentes, quer no conteúdo conceitual,
quer no alcance jurídico-prático.
E a primeira é a de que nele se não «garante», afinal um verdadeiro
direito, mas uma simples liberdade, semelhante quanto à sua natureza, à
liberdade de expressão e informção (artigo 40.º), à liberdade de consciência, de
religião e de culto (artigo 41.º, ou ainda à liberdade de associação (artigo 48.º)
todos da CRA. E a objecção liminar que poderia fazer-se-à a partir do próprio
termo usado, de pronto se responderia que coisa semelhante ocorre com o
«direito» de deslocação no território nacional (número 1 do artigo 46.º) e com o
«direito» de reunião e manifestação (artigo 47.º) todos da CRA.

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A garantia do «direito» à greve traduzir-se-ia, segundo tal entendimento,
na mera eliminação ou proscrição – nomeadamente pela via da
incostitucionalidade – de todos os obstáculos, factuais ou normativos, à
possibilidade de os trabalhadores colectivamente se absterem de prestar os
serviços permitidos através dos contratos de trabalho. E, desde logo, esta atitude
do legislador constitucional envolveria o afastamento das normas incriminadoras
da greve (com tipicamente, as da Lei nº 23/91 de 15 de Julho – Lei da Greve),
denegaria ao Estado o poder de intervir de modo impeditivo perante as
paralizações de trabalho e, inclusivelmente, excluiria a responsabilidade extra-
contratual dos trabalhadores parados pelos eventuais prejuízos sofridos pelos
empregados.

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Dir-se-á, pois, nesta ordem de pensamento, que a atitude do ordenamento
jurídico, ao reconhecer a justificação social das abstenções de trabalho em certos
contextos concretos, e, sobretudo ao acolher, neste domínio específico, os
reflexos das ideias gerais de liberdade pessoal e de inadimissibilidade do trabalho
imposto, não podia em escrita coerência, ir além de uma «garantia de liberdade»,
pelo menos nos sentidos de imunidade perante os mecanismos de
responsabilidade criminal e civil extracontratual.

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Porém, como nota Santoro-Passarelli, o (eventual) reconhecimento da
liberdade de greve não basta para descaracterizar a paragem do trabalho como
violação do contrato, por isso que, embora tal paragem se comporte nos limites
de um direito perante o Estado, de um «direito público de liberdade», nem por
isso deixa de assumir, perante o empregador, a dimensão «individual» do
incumprimento da obrigação laboral fundada no trabalho. O trabalhador é
socialmente «livre» de participar na abstenção colectiva de trabalho, não pode
ser por isso incriminado ou sancionado; mas, noutro plano, tal participação
envolve necessáriamente o inadimplemento de um débito pelo qual permanece
responsável. E a consciência normal dessa violação seria a legitimação do
despedimento pelo empregador (da ruptura do contrato), com eventual
ressarcimento de prejuízos.

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O contrato de trabalho permanece, não obstante a interrupção da prestação
de serviço, uma vez que, a lei reconhece como apta a legitimar essa interrupção,
do lado do trabalhador, ou seja, a descaracterizá-la como violação contratual.

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A dupla dimensão do direito de greve
Só que a focagem exclusiva do fenómeno sobre o fundo da relação
individual de trabalho deixa esbatido os seus contornos e mal explicados os
mesmos efeitos que nesse domínio lhe confere o ordenamento jurídico.
A greve apresenta-se, pois perante o ordenamento jurídico, como uma realidade
biforme, e a questão está, afinal, em saber se suporta ou não o esforço de uma
costrução conceitual unitária.

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Não é esse o caso do nosso actual sistema, em que confluem a não-
incriminabilidade e uma genérica descompressão das motivações lícitas da
greve, como decorre do art.º 51.º CRA e da LGT. Aí nos surge, segundo cremos,
um verdadeiro direito à greve, em termos originariamente ilimitados – ou,
melhor, desprendido da conexão com os interesses económico-profissionais em
sentido escrito, sem que, por outro lado, e em virtude disso, seja negado o efeito
da suspensão do contrato.

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O carácter unitário da concepção que, segundo cremos, está subjacente ao
art.º 56.º da CRA, nos termos espostos, encontra apoio na especial natureza dos
interesses juridicamente tutelados e na relação dialética que se estabelece entre
eles e os que se confrontam na relação individual de trabalho.

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Os Motivos da Greve
O n.º 2 do art.º 2.º da LG tem sido considerado obstáculo insuperável a
qualquer tentativa de ilegitimação da greve em função dos motivos. O n.º 3 do
art.º 51.º da CRA veda mesmo a ingerência da legislação ordinária na
delimitação do «âmbito de interesses» susceptível de fundar a licitude da
paralisação colectiva de trabalho.
Quer isto significar que, a lei dá primasia à regulação do exercício do
direito à greve, impondo limites para realização dos serviços mínimos a fim de
manter viva a instituição em causa. Mas por sua vez, a instituição em causa não
tem legitimidade de proibir o exercício do direito à greve sob pena de violar a
constituição e a lei.

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É certo que, tomada literalmente, a expressão da CRA e da LG, comporta
uma leitura bastante menos «absoluta» a respeito da relevância dos motivos de
greve. O «âmbito» dos interesses é coisa diferente da «natureza» deles: diz
respeito à maior ou menor generalidade, às dimensões categorial e geográfica da
pretensão deduzida, não à qualidade intrínseca desta. Os trabalhadores que
participam no concerto grevista podem livremente definir aquela amplitude,
mesmo para além dos limites da sua esféra de interesses próprios. Daí,
nomeadamente, a licitiude da greve de solidariedade e a admissibilidade de
qualquer âmbito geográfico para a abstenção colectiva de trabalho. Mas os
trabalhadores não podem, em contrapartida, fazer greve (ou melhor, não a farão
sob a cobertura do correspondente direito) por motivos de qualquer natureza.

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É, por outro lado, seguro que «os constituintes rejeitaram a vinculação dos
objectivos da greve à prossecução ou à defesa de interesses estritamente
profissionais».
Mesmo que se admita a mais lata interpretação do disposto neste n.º 2, é
forçoso reconhecer que a motivação da greve não é não pode ser,
costitucionalmente irrelevante. A paralisação colectiva de trabalho não é objecto
de um dirreito absoluto e irrestrito. A jurisprudência tem entendido que, além do
mais, «há os limites que resultam de não poder prosseguir objectivos que
colidam com os interesses fundamentais da Colectividade e dos Cidadãos, aos
quais a mesma constituição garante e protege, sem excluir os interesses públicos
do próprio Estado. No mesmo sentido, sustentam-se na doutrina a ilicitude das
greves que tenham por finalidade «atacar a organização política do Estado, quer
no tocante à sua estrutura quer relativamente às instituições constitucionais,
assim como os que colidem com os direitos fundamentais dos cidadãos legítima
e legalmente atribuídos e tutelados.
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É assim, em geral reconhecida, certa relevância dos motivos da greve,
nomeadamente para o efeito de se admitir o abuso do direito corresponde. Por
esta razão é levada aos trabalhadores a iniciativa da greve de tal forma que
aderindo, seja ela em conformidade com a lei, uma vez que se assim não for
sofrerão várias sanções previstas e punidas por lei.

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Merece, a este propósito, menção especial a doutrina defendida por B.
Lobo XAVIER: para nós, o sentido do n.º 3 do art.º 51.º da CRA, traduz-se
basicamente na afirmação da incondicionável coincidência entre o âmbito do
direito de greve e o da autonomia colectiva dos trabalhadores. «No fundo, há
aqui ainda a ideia de preservação da autonomia colectiva das organizações dos
trabalhadores, de modo a que a greve, como instrumento ou arma dessas
organizações no sistema conflitual existente, possa garantir com plena eficácia a
totalidade dos interesses que lhe pertencem. “Não será assim lícito ao legislador
restringir, para efeitos de greve, a área confiada à autonomia colectiva dos
trabalhadores, nisto se cifrando o contúdo do n.º 3 do art.º 51.º da CRA».

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Ouvi-se em surdina que urge a necessidade de se rever ou mesmo elaborar
uma outra Lei da Greve, Lei Sindical bem como a Lei das Negociações
Colectivas em Angola. Se assim for devem ser elaborada obedecendo os
principios fundamentais, de tal forma que, elas venham rever-se no seio da classe
trabalhadora. Pensamos nós que não sejam aprovadas leis viradas ao interesse
das entidades empregadoras ou mesmo do Estdo, mas sim devem aprovar leis
que obedecem ao principi da equidade que é a justiça no caso concreto, isto é,
uma lei que tenha equilibrio de tal forma que não beneficie um em detrimento do
outro. Porque diga-se a bom da verdade que o poder legislativo do nosso país
ultimante têm vindo a emanar leis sem uma prévia consulta pública acabando
por aprovar leis que beneficia uma única parte e todavia deixa um autêntico
descontentamento pela outra parte e, por sua vez resulta em merchas,
manifestação, etc.

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Uma lei só será bem elaborada se for de fácil materialização, se tiver uma
aplicação prática em qualquer circunstância. Para isto, para o bom processo da
elaboração da lei da greve e das demais, é conveniente que a proposta desta
mesma lei seja da responsabilidade de toda classe trabalhadora, mormente das
organizações sindicais que os representam.

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A lógica da construção citadas desemboca na conclusão operatória de que
«o exercício do direito à greve tem de se circunscrever aos interesses a defender
pelo sindicato (isto é, os da defesa e promoção dos interesses sócio-profissionais
dos trabalhadores que representa)». E a questão que pode colocar-se é a de saber
se a consagração do direito da greve, nos termos do n.º 3 do art.º 51.º CRA, não
deverá, ao invés, induzir uma amplificação da acção lícita, sob o ponto de vista
teleológico, dada a instrumentalidade do sindicato no iter da actuação do direito
de abstenção colectiva.

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Não parece, com o efeito, possível deixar de se atribuir algum significado
ao facto de que, afetando a esta lei, o exercício da greve à «defesa e promoção
dos interesses colectivos profissionais dos trabalhadores» (itálico nosso).
Afigura-se inviável interpretar a posição do legislador constitucional como
permissiva de que, por via jurisprudencial ou doutrinal, como se produzisse o
condicionamento anteriormente constante da lei; não julgamos razoável a
suposição de que o mesmo legislador constitucional tenha excluído do círculo de
pressupostos do seu juízo normativo a regulamentação legal da greve então
vigente.

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Tudo está, naturalmente, na amplitude que se confira ao conceito de
«interesses sócioprofissionalis»; tudo está, sobretudo, em que – ao contrário do
que vinculadamente pretendeu a Lei da Greve, – se não adopte como ponto de
partida uma concepção desses interesses estritamente delimitada pelo círculo de
matérias a que se reporta a negociação colectiva de trabalho.

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Limites da greve
O direito de greve é um direito fortemente tutelado, sendo
constitucionalmente inadmissível a ideia de que constitui uma lesão pontencial
dos direitos dos cidadãos, que, como tal, haverá que restringir ao máximo.
É assim que, por exemplo, a norma do nº 2 do art.º 51 da CRA (‘‘compete
aos trabalhadores definir o âmbito de interesses a defender através da greve, não
podendo a lei limitar esse âmbito’’) não deixam dúvidas sobre a ilegitimidade da
restrição desse direito às relações de trabalho propriamente ditas.

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Os interesses a defender com a greve apenas não poderão ser alheios aos
trabalhadores enquanto tais deverão, sim, tratar-se de interesses próprios dos
trabalhadores, entendidos no sentido exposto. Para que uma greve seja legítima,
do ponto de vista dos seus motivos e objectivos, basta que eles não sejam
constitucionalmente ilícitos e que não sejam irrelevantes para os trabalhadores.
Quaisquer outras exigências carecem de apoio constitucional.
A greve, em principio, tem apenas por limite os decorrentes da
necessidade de defesa desses outros direitos, devendo respeitar-se sempre o
‘‘conteúdo essencial’’ de qualquer um deles e os critérios de proporcionalidade,
impostos pelos art.º 22.º e 23.º da CRA. As restrinnções à greve deverão, pois,
‘‘limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos’’, devendo, além disso, apenas ir até onde
afectem ‘‘a extensão e o alcance do conteúdo essencial’’dos direitos em questão.
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Obrigação de prestar serviços mínimos
O critério diferenciador da regulamentação da greve nos chamados
serviços essencial reconduz-se precisamente a um conflito de direitos
fundamentais, os quais são objecto de garantia na medida – e só nela – em que o
seu exercício requeira a manutenção dos seus serviços.

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O n.º 1 do art.º 20.º da LG – diz-nos que nos serviços e empresas de
utilidade pública, os trabalhadores e os organismos sindicais ficam obrigados a
assegurar, durante a greve, através de piquetes, as actividades necessárias a
assegurar a satisfação de necessidades essenciais e inadiáveis da população –
tanto tem a sua razão de ser na necessidade de tutela do interesse geral das
comunidades e de direitos fundamentais dos cidadãos (v.g., a vida, a saúde, a
segurança, ou as condições mínimas de existência e de bem-estar) e visa
estabelecer um ponto de equilibrio entre o exercício da greve e o sacrifício de
interesses colectivos dele derivado. Assistindo a todos os trabalhadores o direito
de greve, também à comunidade cabe o direito de ver satisfeitas as necessidades
sociais cuja realização é visada pela actividade dos referidos serviços. Daí resulta
que o direito de greve pode (e deve) então ser sacrificado.

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Aquela norma sobrepõe o interesse geral da comunidade (aquelas
‘‘necessidades sociais impreteríveis’’, cuja paralização total poria em perigo no
imediato a sua satisfação) aos interesses privados de um grupo de trabalhadores.
A consideração de um serviço como essencial não pode, porém, levar à
supressão do direito de greve dos trabalhadores que o têm a seu cargo, mas
apenas à necessidade de assegurar a sua manutenção no mínimo estritamente
indispensável à cobertura dos direitos dos cidadãos que tal serviço satisfaz – e,
mesmo assim de modo a que o exercício da greve não seja absolutamente
sacrificado em função da satisfação desses outros interesses e bens (também)
constitucionamente protegidos.

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Tal como, em face de um ordenamento análogo ao português, afirma o TC
espanhol (acordão n.º 26/81, de 17-11-1981), ‘‘a limitação do direito (de greve) é
uma excepção ao seu normal exercício, como tal sujeita ao principio da restrição
menos gravosa’’.
Esse direito só deve ser sacrificado no mínimo indispensável e tem de
concluir-se ser esse o único meio de satisfazer as necessidades de interesse e
ordem pública que subjazem aos limites que lhes são assinalados. Apenas não
havendo outros meios de satisfazer essas necessidades é que se constitui a
obrigação de prestar serviços mínimos. Está-se em face de uma colisão de
direitos, a resolver, nos termos gerais da lei civíl, pela prevalência do mais
relevante, mas levando em conta a proporcionalidade dos sacrifícios a impor e a
menor restrição possível de cada um dos direitos em conflitos.

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A obrigação de prestar serviços mínimos só nasce, designadamente, se o
empregador (ele próprio também adstrito ao respeito pelos bens e valores
constitucionais em causa) não puder satisfazer tais necessidades, recorrendo, por
exemplo, a não grevistas.
Os serviços mínimos serão, no fundo, todos os que se mostrem necessários
e adequados para que seja posto à disposição dos utentes aquilo que tenha
necessidade de aproveitar no imediato, por forma a que as suas necessidades não
deixem de ser satisfeitas com prejuízo irremediável. Haverá que averiguar a
necessidade – ou não – de recorrer a trabalhadores grevistas e a medida dessas
necessidades, respeitando a ideia de proporcionalidade dos sacrifícios (e sendo
certo que, em principio, manter os serviços mínimos não poderá ser entendido
como funcionamento normal dos mesmos).

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Competência para a definição dos serviços mínimos
Retomando a solução consagrada na Lei n.º 23/91 de 15 de junho - Lei da
Greve, prevê um processo de definição dos serviços mínimos que
fundamentalmente assenta na competência do Governo. Pode dizer-se que
aderiu, assim, no essencial, à tese sufragada em alguns sectores da doutrina [v.,
entre outros, Bernardo Xavier, assim como o parecer da PGR n.º 100/89, de 5-4-
90 (in DR, II Série, de 29-11-90)], para quem, estando em causa interesses
fundamentais da colectividade, tal definição compete ao Governo.

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Entendemos nós que, tendo em conta esta ocorrência dos serviços
mínimos serem da competência do Governo, para nós nada obsta a que mesmo
se processa na medida em que, em caso de justificado interesse nacional e a
título excepcional, o Conselho de Ministros poderá, mediante resolução,
determinar a requisição civíl visando à substituição dos trabalhadores em greve e
garantir o funcinamento dos serviços e empresas mencionadas nos números
anteriores, pelo período de duração da greve. Di-lo assim o n.º 3 do art.º 20 da
LG. Com este preceito legal é mister afirmar que a competência em questão é da
responsabilidade do executivo, pelo que, não devia ser assim visto que era bom
que a competência em questão fosse dada aos orgãos sindicais e aos
trabalhadores grevistas, enquanto imediatos destinatários do n.º 1 do art.º 20.º da
lei referida: estes deveriam cumprir pontualmente a obrigação dos serviços
mínimos, ficando reservado ao executivo apenas o juízo e as competências que
lhe for conferida pelo n.º 4 desse artigo, preceito que, todavia, pressuporia para a
sua aplicabilidade o não cumprimento pelos trabalhadores daquela sua
obrigação.
Também a auto-regulação da greve tem vindo a ser desde os finais dos
anos 70, objecto de debate, sobretudo em Itália, onde os sindicatos – cada vez
mais conscientes de que a eficácia de uma greve não pode ser aferida pelo maior
ou menor prejuízo causado aos utentes e de que a impopularidade de certas
formas de luta pode vir-se contra os próprios trabalhadores – têm vindo a pôr de
lado a fórmula segundo a qual ‘‘a melhor lei da greve é a que não existe’’,
adoptando eles próprios códigos de auto-regulamentação, que se comprometem
a observar, e procurando inseri-los nas próprias convenções colectivas ou outros
acordos com os empregadores. Em Portugal, a Lei n.º 146/90 de, de 12-6-1990,
veio dar sequência a tal prática: mais do que regular directamente o exercício da
greve, aparece como mero veículo de fórmulas de negociação e auto-
regulamentação deste direito.

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Igualmente em Espanha existem já, na prática, muitos casos de
consensualização desta matéria, intervindo o governo apenas a título subsidiário.
A solução do artigo 20.º da Lei n.º 23/91 de 15 de Junho – Lei da Greve
configura em nosso entender, uma solução criticável.
Prevê-se aí, como já se disse um processo de definição dos serviços
mínimos fundamentalmente assente na competência do Executivo. O n.º 1 deste
mesmo artigo dispõe que aqueles serviços ‘‘devem ser definidos aos
trabalhadores bem como aos organismos sindicais que são sem sombra de
dúvida os representantes dos trabalhadores; o artigo 12.º da lei acima referida,
diz-nos que decidida à greve, nos termos do artigo 10.º da LG, a assembleia de
trabalhadores, ou organismo sindical, consoante os casos, deverão comunicar a
sua decisão à entidade contra a qual foi declarada e às estruturas competentes do
Ministério de tutela, Ministério da Administração Pública Trabalho e Segurança
Social e do organismo administrativo de coordenação do sector em que se
enquadra a actividade da Empresa ou Institição em greve, com uma
antecedência mínima três dias.
Não havendo acordo anterior ao pré-aviso de greve num sector onde ela
seja declarada, os organismos sindicais bem como as entidades patronais serão
convocados pelo Ministério responsável pela área laboral, ‘‘tendo em vista a
negociação de um acordo quanto aos serviços mínimos e quanto aos meios
necessários para assegurá-los’’. Art.º 14.º n.º1 da LG.
Os representantes dos trabalhadores devem designar os trabalhadores que
ficam adstritos à prestação dos serviços (bem como dos serviços necessários à
segurança e manutenção do equipamento e das instalações), o que deverá
acontecer até 48 horas antes do início da greve, devendo na sua falta, após este
período, a entidade empregadora proceder à respectiva designação.

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A ‘‘auto-regulamentação sindical no contexto e com o apoio de uma
disciplina legislativa’’ (Palomeque López), acolhida pela lei italiana, encontra-se
perfeitamente de acordo com os valores culturais da constituição. Assenta num
elevado sentido de responsabilidade dos precitos sociais, mas também só pode
actuar se estes tiverem confiança em que os seus direitos e os daqueles que
representam não serão menosprezados.

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Obrigações dos Trabalhadores Durante a Greve
Dispõe o n.º 1 dos art.º 21.º da LG que «a greve suspende, durante o tempo
em que se mantiver a ralação jurídi-laboral, nomeadamente no que se refere à
percepção do salário e ao dever de obediência, mantendo-se, contudo, os deveres
de lealdade e respeito mútuos». Entendemos a partir dali que a greve suspende
de certa forma, no que respeita aos trabalhadores que a ela aderirem às relações
emergentes do contrato de trabalho, nomeadamente o direito à retribuição e, em
consequência desvincula-os dos deveres de subordinação e assiduidade.
A greve coloca, em suma, os trabalhadores «fora do contrato» (quanto aos
efeitos característicos deste), embora a vinculação jurídica se mantenha e, com
ela, a antiguidade (n.º 3 do 21.º da lei referida) bem como a situação de
beneficiário de providência.
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Todavia, e por outro lado, a lei investe os aderentes à paralisação em certos
deveres que podem mesmo implicar a necessidade do exercício da sua
actividade normal.
Em geral, com efeito, cumpre-lhes «prestar durante a greve, os serviços
necessários à segurança e manuntenção do equipamento e instalações» (n.º 1 do
art.º 19º LG). O cumprimento desta obrigação envolve não apenas as actividades
de vigilância, com vista, por exemplo, à prevenção de accções de sabotagem das
instalações ou dos equipamentos, ou de desvios de matérias-primas, produtos
acabados, dinheiro, mas a continuidade do funcionamento de partes do
equipamento, ou que de outro modo se deteriorariam ou poriam em causa a
segurança das instalações (fornos, caldeiras, etc.).

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Em qualquer caso, as tarefas obrigatórias devem ser desempenhadas pelos
trabalhadores que normalmente as têm a cargo, e adentro das normas e
directrizes técnicas que sejam emitidas pelas hierarquias responsáveis. Não é,
pois admissível, por exemplo, que os piquetes de greve, enquanto tais se
arroguem a função de filtrar as entradas e saídas de pessoas e veículos, mediante
a inovação – isto é, sob o pretexto de assim cuidarem da segurança das
instalações. Se a empresa dispõe de pessoal próprio para tal efeito (porteiros,
vigilantes, etc.), é esse pessoal que obviamente se direige o comando citado; se
não (isto é, estando à vigilância cometida a elementos ex/eriores, porventura
pertecentes a empresa especializada), nem mesmo se suscita o problema.

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O Exrcício do Direito à Greve
Para a nossa realidade angolana, o exercício do direito à greve, está
constitucionalmente consagrado no sistema jurídico. Com efeito, no Título II da
Constituição da República de Angola de 05 de Fevereiro de 2010, que aborda
sobre os Direitos e Deveres Fundamentais, no seu Capítulo II, concretamente no
art.º 51.º, vem plasmado o direito à greve, no âmbito dos Direitos, Liberdades e
Garantias dos Trabalhadores, bem como o art.º 9.º al. n) da Lei n.º26/22 de 22 de
Agosto – Lei Base da Fução Pública.

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Sendo que a Lei Constitucional de 1975 era omissa sobre esse direito
fundamental, pode-se seguramente afirmar que ele passou a ter dignidade
constitucional após implementar o Estado Democrático de Direito, que ocorreu
com a realização das eleições livres e democráticas no país, isto é em 1992.
Contudo, o n.º 3 do art.º 51.º, da CRA em vigor quer nos dizer que o
exercício do direito à greve é regulado por lei: ‘‘define as condições de prestação
durante a greve, dos serviços necessários à segurança e manutenção dos
equipamentos e instalações e ainda dos serviços mínimos indispensáveis para
satisfazer as necessidades sociais impreteríveis’’.

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Sendo a ‘‘greve’’, inquestionavelmente, um direito fundamental, todavia, é
a própria Costituição da República que estabelece a necessidade da sua
regulamentação em lei ordinária face à complexidade desse direito e à
necessidade de se harmonizar o direito à greve com o sistema jurídico vigente,
designadamente com outros direitos fundamentais também de valor
constitucional.
Com a implementação do Estado de Direito Democrático no país, não se
aprovou nenhum diploma legal de hierarquia inferior à constituição para
regulamentar esta matéria.

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Creio que tal desiderato apresentava-se desnecessário, pois, o direito à
greve já tinha sido devidamente regulado em Angola através da Lei n.º 23/91 de
15 de Junho, ou seja, antes da implementação da Lei constitucional de 1992.
A primeira questão jurídica que aqui suscita face aos alaridos: é a de saber se a
lei da greve choca com a constituição vigente, implantada com o Estado Direito
Democrático.

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Cremos, que, da leitura dessa ‘‘lei’’ facilmente se depreende que esse
diploma legal não choca com a nossa lei magna. Antes pelo contrário agudiza
fortifica cada vez mais o Estado de Direito. Destarte, a lei da greve acima
referida, para todos os efeitos ainda vigora no nosso país, porque nunca foi
revogada ou declarada inconstitucional. Se a sua conformidade com a
constituição for posta em causa, caberá apenas ao Tribunal Constitucional
pronunciar, ou melhor, decidir sobre a sua constitucionalidade ou não, mediante
solicitação a esse tribunal por parte dos orgãos competentes através da
fiscalização abstrata da constitucionalidade da lei regulada nos termos do art.º
228.º CRA, ou da fiscalização concreta da sua constitucionalidade, nos termos
do art.º 229.º da lei referida, isto é, quando se recorre de uma decisão judicial
para esse tribunal.

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A Lei n.º 23/91 de 15 de Junho, ou seja, a denomindada ‘‘Lei da Greve’’,
no seu art.º 6.º, prescreve que, passamos a citar: ‘‘Não é permitido o exercício do
direito à greve aos seguintes trabalhadores: forças militares e militarizadas;
forças policiais; titulares de cargos de soberania e magistrados do Ministério
Público; agentes e trabalhadores da administração prisional; trabalhadores civís
de estabelecimentos militares e aos bombeiros’’. Sendo assim, qualque greve ou
tentativa de greve vinda dessas organizações laborais será manifestamente
considerada ilegal, e será contra a ordem jurídica angolana. Ficamos com a
sensação que o problema da não aceitação da constitucionalidade da lei da greve,
em vigor no país, reside no facto de ela ter sido aprovada antes da Constituição
de 1992, ainda no regime do partido único, facto que não constitui
fundamentação jurídica para a sua constitucionalidade ser posta em causa.

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Sendo que qualquer greve realizada pelos trabalhadores previstos no art.º
6º da LG será considerada ilegal por desconformidade com a mesma lei, e, por
sua vez, os respectivos grevistas cometerão um acto ilícito e punível.
É na verdade muito preocupante que jurístas alegadamente credenciados,
professores por excelência, analistas, sindicalistas e fazedores de opinião têm se
mantido calados sobre o conhecimento deste grande fenómeno que ultimamente
tem assolado o nosso país. É necessário que esta informação seja prolifrada no
seio da todos os trabalhadores de Cabinda ao Cunene, do Mar ao Leste, dos
trabalhadores em geral bem como dos funcionários públicos, de tal forma que, a
classe trabalhadora não continue a ser leiga nesta importantíssima matéria.

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A decisão de greve
O Juízo de oportunidade da greve não está legalmente condicionado:
compete, em exclusivo, aos trabalhadores e às suas organizações (as associações
sindicais) escolher o momento em que a paralisação será posta em prática.
Significa isto, fundamentalmente, que do ponto de vista legal, não existe
qualquer articulação necessária entre o recurso à greve e a utilização dos
processos de resolução de conflitos (conciliação, mediação e arbitragem): estes
podem ser rejeitados, ou deixados para uma fase posterior ao exercício da
pressão directa.

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Haverá que extrair de tais preceitos a subordinação do exercício do direito
de greve ao prévio esgotamento dos aludidos processos? Também aqui se
afigura forçoso responder negativamente. É, a nosso ver, necessário articular as
disposições em causa com o princípio geral da voluntariedade do recurso aos
processos de resolução de conflitos – princípio claramente implantado na
Constituição. Perante ele, o que as partes, ou a lei, fazem ao tornar abrigatória a
adopção de certos procedimentos não é, ou não pode ser, limitar o exercício do
direito de greve constitucionalmente garantido – ao que sempre obstaria de
modo expresso a al. a) do n.º 1 do art.º 6.º, relativamente às cláusulas de
convenções colectivas, – é apenas isso mesmo, quer dizer, tornar forçoso o que,
originariamente, se apresenta como dependente de um juízo «ad hoc» das partes.

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A decisão da greve cabe, em primeira linha, à associação sindical. É um
«direito» que se insere no âmbito da autonomia colectiva e que, por aí, se
relaciona estritamente com a capacidade negocial colectiva reconhecida a tais
associações.
Será essa a regra ao menos válida para as paralisações que abranjam um
ramo de actividade ou toda uma profissão. Mas, nas paragens limitadas a uma só
empresa, existe ainda a possibilidade de a decisão do recurso à greve ser tomada
em assembleia de trabalhadores, quando a maioria deles não esteja sindicalizada
(art. 10.º nº 2 LG). Nesta hipótese, porém, há que observar diversos requisitos de
genuinidade da decisão: número mínimo de convocantes da assembleia (20%
dos trabalhadores); participação da maioria dos trabalhadores; maioria absoluta
de votos favoráveis.
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Põe-se ainda a questão de saber se assiste a uma comissão negociadora
sindical (supra legitimidade para decidir sobre o exercício da greve. A resposta
não pode ser senão negativa. A comissão negociadora não é um sujeito colectivo,
não pode ser tida como uma «associação de sindicatos»; é tão-somente, como se
assinalou, um arranjo temporário e circunstancial tornado necessário pela
negociação conjunta, e que pode mesmo não concluir representantes de todas as
associações sindicais que, a final, outorgarão o acordo. Não se confunde, pois,
com os sindicatos que a constituem; e, o que é mais, não está, manifestamente,
legitimada para substituir o específico processo decisório interno que esteja
definido nos estatutos das associações sindicais em causa – processo esse que é
vinculante para os próprios órgãos dotados de competência para o efeito, no
sentido de que esta competência se há-de ter por indelegável.

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A decisão de greve não é vinculante para cada trabalhador potencialmente
abrangido (representado pelo sindicato ou participante na assembleia). Ela traduz
uma vontade colectiva à qual os comportamentos individuais podem ajustar-se
ou não; oferece o quadro colectivo necessário ao exercício do direito de greve
como faculdade individual. Este exercício concretiza-se pela adesão à greve que
é uma manifestação de vontade traduzível pela abstenção individual de trabalhar.
É pelo acto de adesão à greve, por conseguinte, que se perfecciona a
situação típica de exercício do correspondente direito; e a lei toma em conta a
possibilidade, de resto frequentemente virificada, de a adesão individual ser um
acto posterior, não só à decisão da greve, mas ao próprio início dela. Assim, para
a nossa realidade, o art.º 16.ºLG prevê a formação de piquetes destinados a
«persuadir os trabalhadores a aderirem à greve», reservando a «liberdade de
trabalho dos não aderentes».
Torna-se, assim, pelo menos teoricamente concebível a hipótese de uma
greve decidida e declarada não ocorrer por falta de adesão dos trabalhadores
individualmente considerados – o que contribui para reforçar a ideia de que a
paralisação corresponde essencialmete a uma faculdade individual, ainda que
revestida de pressupostos colectivos.
O aviso de greve
A Lei n.º 23/91 de 15 de Junho (Lei da Greve) no seu art.º 9.º exige que a
decisão de greve seja comunicada com antecêdencia «à entidade patronal, ou à
associação patronal, e ao MAPTSS».
A decisão de greve não basta para que produzam os efeitos do exercício do
direito; é necessário que esta decisão seja exteriorizada com uma carta de
antecedência relativamente ao momento da sua concretização. O artigo acima
referido, impõe, com efeito, um pré-aviso «dirigido ao empregador ou à
associação de empregadores», e ao MAPTSS.
Em geral, o prazo mínimo de antecipação é de cinco dias úteis, salvo se o
prazo superior for concedido pelos trabalhadores.
A lei nada diz sobre o requisito de aviso prévio da greve. Entendemos que não
está universalmente consagrado, mas a doutrina tradicional detalha alguns países
que apresentam alguns pareceres tangentes aos requisitos.
Assim na Itália, por exemplo, não existe regra geral que consagre tal
exigência. Só em 1990 foi ela legalmente imposta para os «serviços públicos
essenciais» (L 146/90, de 12-6): a duração mínima é aí, tambem, de 10 dias.
Mas, quanto à generalidade das greves «preventivo» do empregador só tem sido
valorizado quando se articula com salvaguarda de direitos fundamentais
constitucionalmente tutelados.

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No nosso ordenamento, a exigência de pré-aviso relaciona-se
primacialmente com a necessidade de habilitar a instituição em causa, com
conhecimento antecipado da paralisação, a fim de poderem ser adoptadas (em
particular naqueles que têm a seu cargo a satisfação de necessidades sociais
impreteríveis – daí o prazo alongado previsto no n.º 3.º do art.º 9 LG.
Providências destinadas a evitar danos nos equipamentos e a minorar as
pertubações nos abastecimentos, permitindo aos utentes ou consumidores que se
preparem para as suportar. Acessoriamente, poderá apontar-se ao pré-aviso a
função de possibilitar a intervenção conciliatória do MAPTSS, visto que a
comunicação deve ser também enviada a este departamento de Estado.

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O pré-aviso há-de, outro lado, conter o enunciado (embora sucinto) dos
objectivos em vista. A circunstância do art.º 1.º LG reconhecer aos trabalhadores
a «competência extensiva» para a fixação do «âmbito de interesses a defender»
parece-nos irrelevante quanto ao ponto; a existência da indicação expressa da
finalidade da paralisação não põe em causa, de algum modo, tal prerrogativa – e
a verdade é que, não obstante a mencionada posição da lei (derivada, como se
viu, da CRA), não pode excluir-se de todo a ilicitude da greve em função dos
motivos. A indicação destes é, ao menos, indispensável para que se torne viável a
correcta identificação do conflito através do seu objecto.
O pré-aviso deve, naturalmente, conter no mínimo a data e hora do início
da greve, nada obrigando a que nele se aponte o momento em que terminará. A
greve pode, pois, ser de duração indeterminada.

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Mas se assim não for – quer dizer, se o pré-aviso indicar os momentos de
início e fim de paragem, deve entender-se tal comunicação como vinculante para
quem a emitir e, em consequência para os trabalhadores aderentes.
Se o pré-aviso se destina a transmitir o conhecimento antecipado de uma
conduta é, obviamente, necessário que esta se contenha nos termos do declarado.
O prolongamento da paragem além do momento anunciado carece, pois, a
nosso ver, de novo pré-aviso. Nem se diga que tal solução conduz, ou pode em
certos casos conduzir (nomeadamente se o período de greve anunciado é de
duração inferior ao do prazo de pré-aviso aplicável), a situações gravosas ou
aberrantes para quem declare a greve: não pode esquecer-se que não é
obrigatória a fixação antecipada do termo, e que essa fixação, quando ocorre,
corresponde por certo, também, a interesses da entidade declarante.
Contudo, quanto a este ponto, devemos ter em conta o plasmado no Capítulo II
do art.º 9.º LG que na sua epígrafe trata sobre ‘‘Declaração e Protecção da greve.
Os piquetes de greve
O art.º 16.º LG admite a constituição dos chamados piquetes de greve,
grupos organizados de trabalhadores cuja função consiste em, no decurso da
paralisação, «devolver actividades tendentes a persuadir os trabalhadores a
aderirem à greve, por meios pacíficos, sem prejuízo do reconhecimento da
liberdade de trabalho dos não aderentes».
Várias questões, de ordem teórica e prática, se têm nascido em torno da
expressa admissibilidade da existência e actuação de piquetes (picketing). Não
falta mesmo, quem aponte, embora em termos de mera aparência, a relativa
desconformidade entre essa atitude do ordenamento jurídico e a simultânea
informação do primado da liberdade de trabalho.

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Em França, por exemplo, o picketing é aceite pela jurisprudência em
termos muito próximos do art.º 16.º LG. Mas a doutrina não deixa de vacilar a
lógica de tal orientação. «Esse reconhecimento jurisprudêncial da legitimidade
do piquete de greve, a uma primeira abordagem, surpreendente porque a
instituição mesma do piquete de greve tem por finalidade assegurar o êxito da
greve, iniciando o máximo de trabalhadores a não trabalharem. «Isso parece, em
si, um atentado à liberdade de trabalho, que seria seguramente mais bem
protegida se as imediações de estabelecimento estivessem inteiramente livres de
modo a permitir que os trabalhadores desejosos de trabalhar se apresentem com
plena indepedência».

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Todavia, a admissibilidade dos piquetes encontra justificação noutra
ordem de ideias. Em simultâneo com a decisão de greve – que nem todos os
trabalhadores terão inicialmente subscrito, mesmo quando ela seja tomada em
assembleia plenária – age sobre a vontade individual dos trabalhadores a
consequência da subordinação, dos seus deveres contratuais e dos riscos que se
assumem com adesão à greve. A liberdade individual de trabalho está assim
condicionada a priori pelo estatuto contratual de cada um dos trabalhadores a que
se dirige a decisão de greve; a acção persuasiva dos piquetes pode, pois, ser
encarada como uma forma de compensar tal condicionalismo, convertendo a
não adesão num acto de vontade responsável, isto é, numa opção entre os dois
vectores que incidem sobre a liberdade individual do trabalhador e que
justamente se contrapõe quando uma paralisação é empreendida: a subordinação
e a disciplina da empresa, por um lado, e a solidariedade profissional, por outro.

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Ocorre frequentemente que os piquetes desenvolvam actividades de
fiscalização de entradas e saídas e de comunicações com o exterior ou mesmo
tendentes a impedir fisicamente o acesso às instalações da empresa. Tais
procedimentos estão obviamente fora da cobertura oferecida pelo art.º 16.º LG à
intervenção de piquetes de greve. Neste sentido se tem pronunciado, de resto, a
Procuradoria Geral da República, «aliás, semelhante actuação, na medida em
que se traduz em actos atentatórios da liberdade individual, do direito de trabalho
e da livre circulação de pessoas e bens, nunca podia deixar de ter-se como ilícita.
(...). Importa, por outro lado, salientar que o exercício do direito à greve não
dirime a responsabilidade criminal decorrente da ofensa de interesses
plenamente tutelados, através de actos ou comportamentos praticados ou
assumidos por ocasião da greve, muitos dos quais se encontram tipificado na lei
penal portuguesa (cfr., Artigos 328.º; 329.º; 359.º 472.º e seguintes e 481.º do
Código Penal Portugês).».
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É certo que a «persuasão» a que alude para nós o art.º 16.º LG pode
assumir diversas cambiantes. A jurisprudência francesa tem procurado construir,
a este respeito, critérios de graduação das acções persuasivas, de modo a fixar a
divisória a partir da qual existe coação moral ou física e, portanto,
comportamento ilícito. Mas é forçoso reconhecer que a fluidez desses critérios
(com relevo para a maior ou menor «firmeza» das intervenções dos piquetes
junto dos trabalhadores) aponta para um casuísmo sem grande homogeneidade.
De todo modo, as actividades de fiscalização de entradas e saídas de
pessoas e veículos, bem como a abstrução a tais movimentos, ainda que se trate
de elementos estranhos à empresa, fogem também à função própria dos piquetes,
embora possam, noutros termos, constituir comportamentos lícitos e até
obrigatórios dos grevistas, como vimos anteriormente.

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O termo da greve
A greve termina como diz a lei, «por acordo entre as partes ou por
deliberação das entidades que a tiverem declarado» (art.º 14.º LG).
Na verdade o art.º 14.º LG pretende outra coisa: operar a determinação do termo
dos efeitos jurídicos da paralisação colectiva, maxime a suspensão dos contratos
de trabalho prevista no art.º 21.º LG. Na prática, a projecção do art.º 14.º da lei
referida, traduz-se em duas fundamentais proposições aplicativas: antes de
ocorrido o termo «formal» da greve, e não obstante (por exemplo) a totalidade
dos trabalhadores se apresente ao trabalho, o empregador não pode exigir-lhes o
cumprimento pontual das suas prestações; e, depois de verificadas algumas das
condições previstas no art.º 14.º LG, os trabalhadores que persistam na recusa
(mesmo concretada) da prestação de trabalho estarão fora da prestação do
trabalho de greve e, nomeadamente, cairão no regime das ausências
injustificadas, com possível relevância disciplinar.
Interpretado nestes termos – e não se vê outra leitura que rasoavelmente se
lhe ajuste –, o art.º 14.º apresenta-se como expressão vincada do difuso propósito
ordenador deste regime legal: ao criar, em nome da certeza jurídica uma
dimensão «formal» do exercício da greve, o legislador escolheu o risco inerente
à possibilidade de a dinâmica social do conflito arrastar para ilegalidade
comportamentos colectivos que, singelamente reconhecido.

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Os efeitos jurídicos da greve
A consequência jurídica mais saliente do exercício da greve é apontada
pelo art.º 21.º LG: o contrato individual de trabalho de cada um dos aderentes
suspende-se, isto é, deixa provisoriamente de produzir os seus efeitos
característicos. Sem que a vinculação das partes resulte destruída, cessam o
dever de disponibilidade do trabalhador e o correspondente débito salarial do
empregador. O contratro entra num estado identico ao que o art.º 53.º LGT
descreve para os casos de impossibilidade superveniente temporária da prestação
de trabalho por facto ligado (mas não imputável) ao trabalhador.
Muito embora o tempo de paralisação seja, de facto, um período de
voluntária indisponibilidade do trabalhador, a antiguidade não deixa de correr: «a
continuidade jurídica» subsiste, apesar da interrupção da prestação de trabalho
(art.º 7.º LG).

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O corolário mais importante da suspensão da greve consiste na
inadmissibilidade do depoimento, por parte da entidade patronal, durante ou
após a greve e com fundamento nela. Abundam, na história do direito de greve,
exemplos de represálias desse tipo: afastamento de todos aderentes e, por
ventura, subsequente readmissão de alguns deles, os menos activos ou os
considerados recuperáveis.
Assim, qualquer despedimento se presume abusivo se for pronunciado
durante a greve ou até seis meses depois dela, ainda que precedido de
procedimento disciplinar e aparentemente fundado noutro comportamento do
trabalhador.

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Note-se, porém, que o exercício ilegal da greve, nos termos do art.º 7.º LG,
«faz incorrer os trabalhadores grevistas no regime de faltas injustificadas»; e a al.
a) do art.º 206.º LGT possibilita o preenchimento de justa causa de despedimento
com faltas injustificada ao trabalho, pelo que, a al. c) do art.º 75.º e 123.º da
LBFP, relata sobre este quisito a responsabilização disciplinar.
Poderia colocar-se a questão de saber se a entidade patronal dispõe,
durante a greve, da faculdade (admitida, em geral, pelo art.º 190.º LG, para os
casos de suspensão do contrato por impedimento ligado ao trabalhador) de
recrutar, ainda que a termo ou sub condição (isto é, a título manifestamente
precário), substitutos para os aderentes à paralisação.

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Mas a lei fornece pronta resposta negativa: o empregador não pode
recrutar substituto nem sequer admitir novos trabalhadores desde a data do pré-
aviso de greve até ao termo desta. Mas: a própria movimentação interna dos
trabalhadores, com vista ao preenchimento dos postos de trabalho
temporariamente desguarnecidos, lhe é expressamente vedada pela lei (art. 9.º
LG). Assim, a única possibilidade que resta à entidade patronal, para manter em
funcionamento os serviços afectados, consiste em aplicar do modo mais
conveniente o trabalho dos não-aderentes que já pertencessem aos mesmos
serviços.
A lei pretende assim obviar ao «esvaziamento» do direito de greve por
expedientes destinados a manter a laboração sem significativo acréscimo de
cargos (a substituição, por qualquer das formas apontadas, cifrar-se-ia numa
transferência de salários dos grevistas para os substitutos).
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Por outro lado, a suspensão do contrato faz cessar temporáriamente, o
direito à retribuição (n.º 1 do art.º 21.º LG). Trata-se de uma solução geralmente
consagrada nos sistemas jurídicos que reconhecem o direito de greve; em virtude
do qual a obrigação salarial fica privada de causa durante a interrupção do
trabalho.
Trata-se de retribuição certa mensal. Cabe proceder ao desconto da
importância correspondente ao período de greve. Esse desconto há-de operar-se
segundo as regras de cálculo que vigorem para a determinação do salário-hora
ou do slário diário – regras que, normalmente, as convenções colectivas de
trabalho estabelecem tendo especialmete em vista a remuneração do trabalho
extraordinário e o desconto dos dias de falta não pagáveis.
Mas é evidente que esta solução só se justifica no caso de a articulação de
abstenções de trabalho tornar efectivamente impossível (e não apenas mais
difícil ou menos produtiva) a prestação de actividade dos trabalhadores que,
sucessivamente, se coloquem em posição de aparente disponibilidade para a
Conclusão
Ora, quando os conflitos laborais entre as partes chegam até a exastão e
não há mais outro mescanismo possível para ultrpassar tal desiderato, então
surge a greve como última racio, com a finalidade de forçar as partes a sentarem-
se à mesa de negociações, por isso diz-se que a greve é um acto de coragem do
trabalhador.
No nosso país exitste dois tipos de greve:
Por acção – aquela que resulta de um anúncio por parte dos órgãos sinciais, que
começa com um caderno reivindicativo onde espelha todos os motivos da greve
e, consequentemente a paralisação total ou parcial dos trabalhos;
Por omissão – aquela que resulta da fraca produtividade no local de
trabalho por conta do descontentamento interno em que os trabalhadores vivem.
Esta é a tipologia mais comum em Angola, ou seja a entidade pública,
aproveitando-se da inocência dos trabalhadores sobre o direito à greve, humilha,
desdenha e ostracisa o trabalhador, dando poucas condições de trabalho. Como
consequência notamos a letargia na procecussão dos serviços da Administração
Pública e o insucesso escolar que se verifica actualmente. Trata-se de uma total
desmotivação do trabalhador, que por sua vez, tem deveres supras e, em
contrapartida poucos direitos a exigir.
Depois de decretada uma determinada greve em Angola, a acção dos
trabalhadores fica repartida em três teses:

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A primeira é a tese dos luso-ceticistas, isto é, aqueles que negam a
possibilidade de alcançar a certeza num dado domínio do conhecimento ou em
relação a verdade em geral. Esta corrente defende a impossibilidade para o
espírito humano de alcançar a verdade e que preconizava a suspensão do juízo
em todos os domínios, fundamentado na ideia de que, sobre qualquer assunto é
possível defender, de modo igualmente válido e verdadeiro, duas teses opostas.
Os defensores desta tese, duvidam embora de forma provisória ou metódica, que
num primeiro momento, visa a busca da objectividade, recusam em aceitar algo
sem um exame crítico. Quer dizer têm tendência de duvidar quase tudo, baseam-
se no pensamento da incredulidade e da descrença.

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A segunda é a tese luso-revolucionalista, isto é, individuos que participam
em revoluções políticas. Estamos a falar dos grandes renovadores, pessoas com
ideias inovadoras, com iniciativa para descrever mudanças rápidas e profundas
nos campos científico-tecnológico, económico e do comporto humano. Na
verdade esta tese é a mais ideial para materialização da Reforma do Estado nos
dizeres do prof. Carlos Feijó, mas infelizmente, muitos trabalhadores temem
seguir esta corrente por medo de represária.
A terceira e última é a tese luso-absentista ou eclética que consiste em
ausentar-se sistemáticamente num determinado grupo, relativo à frequência de
faltas num determinado período, entregando a gestão das suas responsabilidades
a um intermediário. Atitude de certos trabalhadores que não tencionam inclinar
nem na primeira, nem na segunda tese, pois, muitas das vezes misturam várias
ideias para criar uma outra com características próprias.

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Se tivermos que escolher de entre as três teses, sem medo de errar para a
nossa realidade os trablhadores optam pela terceira tese, ou seja, têm o hábito ou
liberdade de tirar proveito do que se considera mais útil em qualquer cultura ou
corrente política, sem aderir exclusivamente a um sistema.
Todavia, para que a Reforma do Estado torne-se eficiente e céler no nosso país,
precisamos parar todos os serviços, quer do sector público, quer do sector
privado no sentido pensar Angola para um novo rumo, ultrpassando todas as
desigualdades e desrespeitos que os insignes trabalhadores têm vindo a passar
nos seus variedíssimos locais de trabalho.
Precisamos pautar pelo princípio da solidariedade da greve, que visa
proteger um grupo de trabalhadores grevistas dando todo apoio possível para a
manutenção da greve. Ou seja, é necessário que se crie um fundo de geve
nacional, senão mesmo internacional de todas as organizções sindicais.
felixbomano@gmail.com
Bibliografia

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COMBOIO, Valentim. O Direito do Trabalho em Angola (Esboço de uma perspectiva Histórica). Lisboa: Diss. Mestrado FDL, 1997.
FERNANDES,António Monteiro. "Greves atípicas": identificação, caracteres, efeitos jurídicos. Coimbra:Almedina, 2012.
—. "Reflexões sobre a natureza do Direito à Greve" em Jorge Miranda (org.) Estudo sobre a Constituição. Lisboa: Petrony, 1978.
FERNANDES, Francisco L. O Direito à Greve nos ordenamentos francês, alemão, italiano. Coimbra:Almedina, 2006.
FERNANDES, Francisco Xavier Liberal. A obrigação de serviços mínimos como técnica de regulação da greve nos serviços essenciais
Coimbra:Almedina, 2008.
LEITÃO, Luís ManuelTeles de Menezes. Direito do Trabalho de Angola. Coimbra:Almedina, 2011.
RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Lei da Greve: Anotada. Coimbra:Almedina, 2013.
LAKATOS, Marina deAndrade Marconi Eva Maria: Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª edição, São Paulo:Atlas, 2003.
CERVO,Amado Luís-PedroAlcino Bervian: Metodologia Científica, 6ª Edição, São Paulo.
PORTUGUESA, Dicionário de Língua: Prestígio. Porto Editora, Plural Editores, 2007
Legislação
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ANGOLA, LEI DA GREVE, 1991.
ANGOLA, LEI SINDICAL, 1992.
ANGOLA, LEI GERAL DO TRABALHO, 2015.
ANGOLA, Código Civil, República de, Escolar Editora, 1966

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