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Princípios informadores do Direito Coletivo do

Trabalho.

Inicio essa exposição a partir da visão de Vólia Bomfim


Cassar sobre o tema, tratado no capítulo 37. 5 de sua obra Direito do Trabalho –
9.ª ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

A professora e desembargadora do TRT da 1ª Região


afirma que “os princípios de Direito Coletivo são aplicáveis a todo processo
coletivo, compreendendo desde a negociação coletiva até o sindicalismo. Uma
negociação coletiva necessita de bases para orientar os interessados, o
procedimento e facilitar a solução nos impasses procedimentais. Os princípios da
negociação coletiva destinam-se a formar toda a estrutura procedimental,
normatizar ou integrar as regras existentes. Os agentes sociais também
necessitam de princípios para orientar a reunião e associação de interesses para
fins de representação da coletividade”.

Feita essa breve introdução, Vólia Bomfim passa a


enumerar os princípios:

1. Liberdade sindical (trataremos de forma bastante


específica sobre esse princípio mais adiante nesse curso, em tópico apartado);

2. Preponderância do interesse coletivo sobre o individual


(refere-se à solidariedade social do grupo, pois as decisões são tomadas em prol
da coletividade, vale dizer, em benefício de um determinado grupo. Por esse
princípio é possível que o sindicato negocie a redução temporária dos salários e
dos benefícios dos trabalhadores em prol da coletividade, pois, de outra forma, a
empresa poderia falir e fechar todos os postos de trabalho. Seria, grosso modo,
uma espécie de “reserva do possível” nas negociações coletivas, pois de nada
adianta que os empregados tenham os melhores salários e condições e a
empresa venha a, logo em seguida, falir, por ausência de condições de
implementar tais benefícios, prejudicando a todos, sociedade, trabalhadores e os
familiares e dependentes destes);

3. Autonomia coletiva ou poder de autorregulamentação


(referem-se à responsabilidade que devem ter os atores sociais de estabelecerem
normas específicas para a categoria à qual pertencem, preenchendo as lacunas
legais e aproximando do trabalhador a regulamentação trabalhista, de modo que
sejam observadas as condições inerentes ao modo de trabalho, ao local onde são
desenvolvidas as atividades e ao tipo de tarefas a serem feitas);
4. Busca do equilíbrio social ou da paz social (a
negociação coletiva busca a pacificação social, de modo a eliminar ou ao menos
reduzir a natural animosidade existente entre as categorias profissional e
econômica, tendo em vista os objetivos antagônicos por elas buscados ao
tratarem das condições de trabalho e, principalmente, de salários);

5. Adequação ou da Adaptação (a negociação coletiva


deve ser feita de acordo com as condições vividas naquele momento por
empresas e empregados. Assim, em momentos de crise, é possível a redução de
benefícios e até mesmo de salários. Já em época de “vacas gordas”, é possível à
empresa ou à categoria econômica como um todo oferecer melhores condições de
trabalho para seus obreiros. Fala-se, também, na necessidade de a negociação
coletiva estabelecer condições mais próximas àquelas vividas pelo empregado em
determinada região ou atividade, adaptando a CLT à realidade daquele local ou
daquela atividade);

6. Limite da negociação coletiva (não há limitações para


que o empregador melhore as condições de trabalho do empregador, na forma do
art. 7º, caput, da CRFB. Entretanto, a redução dessas benesses ou, ainda que
apenas temporária, a piora das condições sociais do trabalhador, é limitada às
condições mínimas – mínimo civilizatório, constante da CRFB, da legislação
infraconstitucional e da regulamentação existente sobre o tema aplicável ao
âmbito de uma determinada empresa ou categoria profissional);

7. Boa-fé ou da lealdade entre os negociantes (por ser o


contrato de trabalho, o ACT ou a CCT espécies de contrato, ainda que bastante
especiais e repletas de peculiaridades, não se poderia tratar desse tema sem a
remissão à necessidade de se observar o princípio da boa-fé (objetiva e
subjetivamente considerado) e seus deveres anexos de lealdade, transparência e
informação);

8. Intervenção obrigatória dos sindicatos (conforme


disposto nos arts. art. 8º, III e VI, da CRFB e 611 da CLT, considerando que essa
obrigatoriedade é relativa ao sindicato profissional, salvo ausência de interesse na
representação pelos entes sindicais habilitados, pois o ACT poderá ser celebrado
diretamente com as empresas interessadas);

9. Equivalência entre os negociantes (em princípio, não há


hipossuficiência entre sindicatos ou entre o sindicato profissional e a empresa ou
grupo de empresas com quem negocia. Entende-se que há equivalência entre as
partes negociantes.);
10. Atuação de terceiros (na possibilidade de não se
chegar a um consenso, afigura-se necessário um terceiro, imparcial, para decidir a
questão. Pode ser o Poder Judiciário, imposto pela legislação, ou o árbitro,
livremente escolhido pelas partes); e, finalmente,

11. Exclusividade sindical (necessidade de os sindicatos


representarem exclusivamente determinada categoria econômica ou profissional.
Repele os sindicatos mistos, para garantir a independência dos sindicatos. Aplica-
se a Convenção nº 98 da OIT), Autonomia coletiva (poder normativo de o grupo
estabelecer as normas que regularão suas atividades, obviamente respeitados os
limites legais), Autodeterminação coletiva ou autotutela (poder de os sindicatos
regularem as relações de trabalho, obrigando a categoria correspondente, e de
aplicar sanções àqueles que não respeitarem as regras estabelecidas),
Democracia sindical interna (necessidade de eleições legítimas e regulares e
respeito à vontade da maioria. Direito de ser votado, de acesso à informação, de
ter voz nas reuniões), conforme classificação citada por Vólia Bomfim elaborada
por Pinho Pedreira (SILVA, Luiz de Pinho Pedreira da. “Os princípios do Direito
Coletivo do Trabalho”. Revista LTr, 63-02, fev. 1999, p. 151).

São essas as considerações que desejava fazer acerca


dos princípios informadores do Direito Coletivo do Trabalho.

Importante salientar que não se está olvidando a


referência feita por Maurício Godinho Delgado aos princípios da adequação
setorial negociada e do mínimo civilizatório, por exemplo. Essa análise será
oportunamente feita quando do estudo dos acordos coletivos do trabalho e das
convenções coletivas do trabalho, por entender que esse é o momento mais
adequado para tanto.

A intenção ao tratar de princípios que informam o Direito


Coletivo do Trabalho foi traçar um panorama geral da matéria, não se podendo
negar que os temas caros ao Ministro Maurício Godinho Delgado não deixam de
estar inseridos nas referências aos princípios arrolados pela professora Vólia
Bomfim e também por Pinho Pedreira.

Pois bem. Expostos, ainda que brevemente, os princípios


informadores do Direito Coletivo do Trabalho, cumpre estudar de forma mais
detida as chamadas dimensões do Princípio da Liberdade Sindical.

Princípio da Liberdade sindical.


Para Amauri Mascaro do Nascimento, na obra Direito
Contemporâneo do Trabalho – São Paulo: Saraiva, 2011, pág. 163 a 172, a
expressão liberdade sindical

“tem um sentido subjetivo e um objetivo, o primeiro


designando os direitos do sindicato no desempenho de
suas atribuições legais; o segundo significando um setor
do direito do trabalho que tem como objeto o estudo da
organização e da ação sindical”.

(...) a que ponto as leis devem interferir na organização e


na ação sindical [?]. Há leis repressivas e leis de respaldo
à liberdade sindical. Os dois tipos correspondem a
concepções diferentes: o primeiro, a uma organização
política autoritária; o segundo, a uma concepção de
sindicalismo democrático. A liberdade sindical é
fundamentada em normas jurídicas, internacionais,
constitucionais e infraconstitucionais. A repressão à
conduta antissindical também. a aversão ao jurídico, no
âmbito sindical, é fruto da desinformação sobre o
significado do Estado de Direito. Justificou-se como
protesto contra leis repressivas ao sindicalismo. Mas
também foram as leis que garantiram ao sindicalismo a
estabilidade do dirigente sindical no emprego, a liberdade
de organização de sindicatos, o direito de greve e o direito
a autonomia coletiva dos particulares”.

Mais adiante, o mencionado doutrinador paulista afirma


que

“tema acadêmico mas recorrente é saber se a liberdade


sindical é uma liberdade individual que se exercita
coletivamente. Parece-nos que não, desde que a liberdade
seja avaliada em sua dupla dimensão – a liberdade
individual e a liberdade coletiva, esta a do grupo
considerado uma realidade acima dos seus integrantes
vinculados por um propósito comum; aquela restrita a uma
ou algumas pessoas diante de uma situação que é
específica e individual. A liberdade sindical é individual ou
coletiva: a primeira, pertinente à pessoa singularmente
considerada; a segunda a grupos profissionais. (...). A
coletiva significa, em um dos seus aspectos, direito de
associação. É a liberdade de criar sindicatos ou de
extingui-los pela inciativa dos interessados. Para haver
liberdade sindical é garantida a existência de sindicatos.
Se as leis de um Estado permitem que nele as pessoas
com interesses profissionais e econômicos se agrupem
em organizações sindicais, haveria, no sentido de que
estamos falando, liberdade sindical caracterizada como o
reconhecimento pela ordem jurídica de que devem existir
associações sindicais. Trata-se, como se vê, do direito de
associação no âmbito trabalhista.

Interessante notar, ademais, que o citado autor assevera


que

“é restritivo da liberdade sindical um sistema legal que


proíbe a criação de mais de um sindicato da mesma
categoria na mesma base territorial, uma vez que a
autonomia sindical tem como premissa o direito da livre
criação de entidades sindicais, em qualquer grau ou de
qualquer tipo, de acordo com a iniciativa dos próprios
interessados. Um sistema legal indiferente para essa
questão não é um sistema de liberdade sindical, ainda que
o sindicato, perante o Estado, tenha plena autonomia,
sempre que a lei fizer essa proibição. Haverá, no entanto,
liberdade sindical, sob esse prisma, quando a união dos
representados é espontânea, não obrigatória por lei. O
ordenamento jurídico que não faculta às pessoas decidir
pela entidade que querem que as represente é, sem
dúvida, restritivo. Logo, só haverá, nessa perspectiva,
liberdade sindical onde e quando a lei se abstiver de
intervir na livre opção dos representados”.

Amauri Mascaro do Nascimento considera que a liberdade


sindical deve ser entendida como: liberdade de organização, liberdade de
administração e liberdade de exercício das funções.

No que se refere à liberdade de organização, há que se


reconhecer o problema da pluralidade sindical em contraposição ao sindicato
único, tendo em vista o princípio da unicidade sindical previsto no art. 8º, I e II, da
CRFB. O professor Amauri Mascaro argumenta que a liberdade de organização
deve ser analisada a partir da
“escolha dos critérios para que se efetiva a representação
sindical. Existem sindicatos por setores da indústria, entre
nós os sindicatos por categorias específicas. Há também
sindicatos por profissão, uma forma, em nossa lei, de
categoria diferenciada. Finalmente, há sindicatos por
empresas, figura entre nós não prevista pela lei. A
liberdade de organização, pela amplitude de que se
reveste, compreende também essa questão, uma vez que
há países nos quais a escolha depende dos próprios
interessados e outros em que os interessados se ajustarão
aos parâmetros ordenados pela legislação e ao número de
formas que ela determinar. A liberdade de organização
dos trabalhadores põe em evidência as relações externas
do sindicato, configurando-se como o direito conferido pela
ordem jurídica de filiação do sindicato a associações
internacionais. Quer dizer, também, o direito de livre
organização interna do sindicato, com a escolha, pelos
seus componentes, mediante mecanismos democráticos,
dos estatutos que servirão de base para a estrutura
interior do sindicato, os órgãos de que se compõe e as
atribuições conferidas a cada um desses órgãos de
administração”.

É o caso do direito da categoria de se organizar em


sindicatos, federações e confederações, assim como de determinar a qual central
sindical deverá se filiar. Na segunda semana desse curso, estudaremos a questão
do registro do sindicato e de sua necessidade para fins, por exemplo, de conferir
estabilidade no emprego ao diretor eleito.

Acerca da liberdade de administração, Amauri Mascaro do


Nascimento refere-se a duas noções: “democracia interna e autarquia externa”.

“A democracia interna é condição de legitimidade da vida


do sindicato e princípio que deve inspirar a prática dos
principais atos que envolverão a sua atividade interior.
Pressupõe a redação dos próprios estatutos. Cabe,
segundo o princípio, ao sindicato escolher o tipo de
eleições que adotará, diretas ou indiretas, conforme as
peculiaridades do seu quadro.

(...)
A democracia interna da vida sindical exige, de outro lado,
o respeito às oposições e a admissão de candidaturas de
grupos que divirjam da diretoria, bem como o correlato
direito de livre propaganda das metas que a oposição
pretende atingir, quando na direção do sindicato. Nada
compromete mais a democracia interna da vida sindical do
que a perturbação do processo eleitoral sucessório,
prejudicado às vezes até mesmo com a prática de
violências físicas e patrimoniais.

A autarquia externa significa a liberdade que deve ser


conferida ao sindicato para que não sofra interferências
externas em sua administração”.

Amauri Mascaro do Nascimento menciona que a autarquia


externa “pressupõe uma dimensão de atuação compatível com as exigências da
questão”, vale dizer, a escolha dos dirigentes sindicais, controle e fiscalização dos
atos praticados em seu âmbito, proibição de afastamento arbitrário dos membros
da diretoria, fixação das contribuições sindicais, estabelecimento de meios que
impeçam interferências externas, em especial do empregador, nas questões
sindicais, estabelecimentos de meios que garantam a alternância de pessoas e
ideias na direção do sindicato.

Já em relação à liberdade do exercício das funções, pois,


conforme Amauri Mascar do Nascimento,

“de nada adiantaria atribuir funções e negar os meios para


que elas sejam cumpridas, com o que dois problemas
surgem desde logo: 1º) a escolha, pela ordem jurídica, das
funções do sindicato; 2º) a delimitação das formas pelas
quais devem ser atingidas”.

Em breve resumo, o já citado doutrinador paulista afirma


que o sindicato cumpre função de representação no campo coletivo e no campo
individual, tanto na seara administrativa, quanto na jurídica. A função negocial é
reconhecidamente a mais importante, vale dizer, a principal, pois possibilita a
construção de um direito especificamente estabelecido para regular as relações de
trabalho no âmbito de uma empresa, ou de um grupo de empresas ou de toda
uma categoria profissional, construindo uma espécie de direito “paralegal”. Há,
ainda, a função assistencial, relacionada à prestação de serviços médicos,
educacionais, de cunho social. A função tributária refere-se ao estabelecimento de
contribuições para o financiamento desses serviços e atribuições dos entes
sindicais. Há, também, a função do sindicato de colaboração com o Estado
(estabelecimento de normas para regular as relações de trabalho e prestação de
serviços educacionais, médicos e assistência judiciária aos filiados).

Finalmente, Amauri Mascaro pensa que a acepção


individual do princípio da liberdade sindical refere-se ao fato de que

“ninguém pode ser obrigado a ingressar ou a não


ingressar num sindicato. Eis, de modo simples, a súmula
do princípio da liberdade de filiação sindical. (...).
Acrescente-se que o princípio funciona como um direito
para o trabalhador e como um dever para o sindicato;
portanto, tem um sentido positivo para aquele e negativo
para este. Numa dimensão maior, porém, pode ter como
destinatário não apenas o sindicato, mas o Estado,
quando faz discriminações. (...). A liberdade de filiação
sindical, segundo a doutrina, abrange a liberdade de aderir
a um sindicato. (...). Compreende também o direito de se
demitir de um sindicato. (...). Envolve, igualmente, o direito
do trabalhador de não ingressar em um sindicato, ou seja,
a liberdade de não se filiar, garantida por nossas leis”.

Amauri Mascaro do Nascimento conclui sua exposição


afirmando que

“não teria sentido declarar formalmente a liberdade


sindical sem pôr à disposição das pessoas mecanismos
jurídicos de proteção voltados para o resguardo efetivo
dos interesses em jogo, daí a disciplina, mediante leis e
cláusulas de convenções coletivas, do exercício da
liberdade sindical”.

Sobre a discussão existente acerca da pluralidade


sindical, seus benefícios para o sistema sindical e o contraponto ao princípio da
unicidade existente na Constituição de 1988, José Carlos Arouca, desembargador
aposentado do TRT da 2ª Região e membro da Academia Nacional de Direito do
Trabalho, consignou, em artigo publicado na Revista do TRT da 2ªRegião nº
12/2012, págs. 69 a 74, que:

“A produção normativa da OIT teve importância destacada


para assegurar a liberdade sindical dos dois lados: capital
e do trabalho. Em sua 31ª Conferência, no ano 1948, em
São Francisco foi aprovada a Convenção 87 sobre
liberdade sindical e proteção ao direito de sindicalização,
adotando os seguintes princípios: a) trabalhadores e
empregadores, sem distinção de qualquer espécie, têm
direito de constituir, sem autorização prévia, organizações
de sua escolha e de a elas se filiar, obrigados apenas a
aceitar sua disciplinação estatutária; b) as organizações
terão o direito de redigir seus estatutos e regulamentos
administrativos, de eleger seus representantes, de
organizar a gestão, suas atividades e o programa de ação;
c) as autoridades públicas não poderão praticar atos de
intervenção que possam limitar o direito de organização ou
entravar seu exercício legal; d) as organizações não
poderão ser dissolvidas nem suspensas pela via
administrativa; e) poderão as organizações de base o
direito de constituir federações e confederações, de filiar-
se às mesmas e de todas, sindicatos, federações e
confederações filiarem-se a organizações internacionais,
sendo aquelas regidas pelas mesmas regras; f) a
aquisição de personalidade jurídica não poderá sujeitar-se
a restrições à adoção dos princípios acima. O artigo 8º
determina que no exercício dos direitos reconhecidos pela
convenção, tanto os trabalhadores como os empregadores
e suas respectivas organizações deverão respeitar a
legislação nacional que, no entanto, não poderá prejudicar
nem ser aplicada de modo prejudicial às garantias da
convenção. De resto, no que toca às forças armadas e à
polícia, as garantias previstas na convenção deverão ser
determinadas pela legislação nacional.

(...)

O processo de ratificação em nosso país vem do Governo


Dutra com o projeto de Decreto Legislativo nº 16, de 1984,
iniciado em 31 de maio de 1949. Só em 2011 o Senador
Ricardo Ferraço (PMDB-ES), relator da Comissão de
Assuntos Sociais, votou por sua aprovação, secundando o
parecer do Senador José Eduardo Dutra, da Comissão de
Constituição e Justiça (PT-SE). Confrontando seu texto
com a legislação brasileira conclui-se que excetuada a
regra do artigo 2º que institui a liberdade de constituição
de organizações de trabalhadores e de empregadores e
assim a possibilidade do pluralismo sindical, tudo o mais
compõe nosso ordenamento legal. A PEC nº 369 de 2004
do governo Luiz Inácio Lula da Silva em tramitação revoga
o inciso II do artigo 8º da Constituição para admitir a mais
ampla pluralidade sindical, distanciando-se do que foi
consensuado no Fórum Nacional do Trabalho que permitia
a convivência do pluralismo com a unicidade batizada
como exclusividade:

Art. 8º. É assegurada a liberdade sindical, observado o


seguinte: I- Ao Estado não poderá exigir autorização para
a fundação de entidade sindical, ressalvado o registro no
órgão competente, vedadas ao Poder Público a
interferência e a intervenção nas entidades sindicais.

Segundo o pensamento acadêmico não se poderá ratificar


a Convenção 87 enquanto mantidas a unicidade sindical, o
limite da base territorial à área mínima de um município
impedindo a organização no âmbito da empresa e o
custeio compulsório. Mesmo aprovada a PEC restará
ainda um obstáculo, pois ficará vedada a organização com
base na profissão. De fato, o inciso I-B do artigo 8º
determina que o reconhecimento estatal, que se mantém,
deverá atender dentre outros requisitos, a agregação que
assegure a compatibilidade de representação em todos os
níveis e âmbitos da negociação coletiva, vale dizer apenas
sindicatos representativos de categorias, o que impede a
continuação das chamadas categorias diferenciadas.

(...)

Se a unicidade imposta por lei tolhe a liberdade individual,


a pluralidade não é melhor, como admite até mesmo a OIT
que a considera um grave complicador1. Luiz de Pinho
Pedreira da Silva tem a mesma opinião:

1
É ler o Verbete 319 do Comitê de Liberdade Sindical: “Apesar de os trabalhadores poderem ter interesse em
evitar que se multipliquem as organizações sindicais, a unidade do movimento sindical não deve ser imposta
mediante intervenção do Estado por via legislativa, pois dita intervenção é contrária ao princípio enunciado
nos artigos 2 e 11 do Convênio nº 87. A Comissão de Peritos na Aplicação de Convênios e Recomendações
da OIT assinalou que “existe uma diferença fundamental quanto às garantias estabelecidas para a liberdade
sindical e a proteção do direito de sindicalização entre ditas situações, por uma parte, em que o monopólio
sindical é introduzido ou mantido pela lei, por outra, as situações de fato, que existem em certos países, em
que todas as organizações sindicais se agrupam voluntariamente em uma só federação ou confederação,
(...) a pluralidade sindical enfraquece o movimento
sindical, desagregando-o e possibilitando a fragmentação
da categoria em muitos sindicatos, dos quais talvez
nenhum suficientemente representativo. Pior do que isto
facilitava a pluralidade a formação de sindicatos títeres de
patrões, denominados ‘sindicatos amarelos’, ‘sindicato de
biombo’, ou ‘sindicato de casa’

e destaca: “dúvida não poder haver de que, em princípio a


pluralidade é mais consentânea com a democracia e a
liberdade, das quais constitui verdadeiro corolário”,
ressalvando que “o interesse profissional é uno e
indivisível”, e conclui que “a pluralidade introduz um
elemento de desorganização na vida sindical.2 Mário de La
Cueva assinalou que a pluralidade sindical,
indiscutivelmente, tem inconvenientes, pois a ação sindical
somente pode alcançar sua eficácia plena quando os
trabalhadores formam um grupo compacto3. G.H.
Camerlynck e G. Lyion-Caen por sua vez observam:

“O Estado utilizará a decantada liberdade individual com o


pretexto de manter a divisão do movimento sindical,
reconhecendo existir evidente contradição entre unidade e
liberdade”.4

José Affonso da Silva, adverte:

“As correntes conservadoras são sempre pela pluralidade,


as de esquerda geralmente pela unicidade, mas o Partido
dos Trabalhadores defendeu, na Constituinte,

sem que isto resulte direta ou indiretamente de disposições legislativas aplicáveis aos sindicatos e à criação
de associações profissionais. O fato de que os trabalhadores e os empregadores obtenham, em geral,
vantagens ao evitar uma multiplicação no número de organizações competidoras não parece suficiente, com
efeito, para justificar uma intervenção direta ou indireta do Estado e sobretudo a intervenção deste por via
legislativa”. Ainda que apreciando em todo sentido o desejo de um governo de fomentar um movimento
sindical forte, evitando os efeitos de uma multiplicidade indevida de pequenos sindicatos competidores entre si
e cuja independência poderia ver-se comprometida por sua debilidade, o Comitê assinalou que é preferível
em tais casos que o governo procure estimular aos sindicatos para que se associem voluntariamente e
formem organizações fortes e unidas, e não que imponha por via legislativa uma unificação obrigatória que
prive aos trabalhadores o livre exercício de seus direitos sindicais e viole os princípios incorporados nos
convênios internacionais de trabalho relativos à liberdade sindical”.
2
Ensaios de Direito do Trabalho, SP, LTr, 1998, p. 145.

3
Derecho Mexicano del Trabajo, tomo II, Ed, Porrua, 1964, p. 406.

4
Derecho Del Trabajo, Biblioteca Jurídica Aguilar, 1974, p. 354.
ardorosamente, a pluralidade sindical, em nome da
liberdade sindical e em nome do pluralismo político,
equivocadamente. Nem a liberdade nem o pluralismo se
compadecem com a fragmentação pretendida. Pluralismo
significa liberdade de formação de correntes de opiniões
divergentes para a conquista do poder”5.

No entanto, a OIT já no seu instrumento de constituição


reconheceu que a pluralidade era um grande complicador
e inscreveu no § 5° do artigo 3°:

os membros se obrigam a designar os delegados e


conselheiros técnicos não governamentais de acordo com
as organizações profissionais mais representativas de
empregadores ou de trabalhadores, segundo o caso,
sempre que tais organizações existam no país de que se
trate.

E logo se conformou com a unicidade na pluralidade,


proclamando não ser necessariamente incompatível com a
Convenção 87 a designação ou credenciamento do
sindicato mais representativo, na qualidade de agente
exclusivo de negociação da parte de determinada unidade,

“desde que sejam previstas certas garantias, entre elas as


seguintes: a) a concessão do citado credenciamento
estará a cargo de um organismo independente; b) a
organização representativa será aquela que conseguir a
maioria de votos dos trabalhadores da unidade de
negociação; c) a organização que não tenha conseguido
reunir o número de votos suficiente deve ter o direito de
requerer nova eleição dentro de um determinado prazo; d)
toda organização que não tenha obtido o direito de
representar a unidade de que se trata na negociação
coletiva deve ter o direito de requerer nova eleição, após
transcorrido determinado espaço de tempo, em geral de
doze meses, a partir da eleição anterior”6.

(...)
5
Curso de Direito Constitucional Positivo, Malheiros, 1993, p. 272.

6
A Liberdade Sindical, OIT/Ministério do Trabalho e LTr, 1993, pág. 44.
De fato, a pluralidade constitui forma de divisão da classe
trabalhadora e pior, divisão em facções políticas,
religiosas, ideológicas como propicia a ação patronal e do
Estado para a criação de organizações dóceis, “pelegas”
ou subordinadas, “oficialistas”. Nem por isto legitima-se a
unicidade como monopólio de casta, de grupos, inclusive
partidários, religiosos, além do que promove o
esvaziamento do sindicato por obra de supostos
dirigentes, mas na verdade títeres dos patrões ou do
governo conduzindo ao peleguismo, ao oficialismo e ao
imobilismo.

(...)

Nas palavras de Arnaldo Lopes Sussekind:

“O que o Comitê vem admitindo, para reforçar as finanças


do sindicato é a estipulação de uma quota de
solidariedade, ou canon de participação, na convenção
coletiva por ele ajustada, como decorrência da aplicação
erga omnes de vantagens estabelecidas no instrumento
negociado ou arbitrado, a ser pago exclusivamente pelos
não associados. A cobrança dessa quota ou canon vem-
se generalizando. Argentina, Colômbia, Espanha, Grécia e
Reino Unido já a adotaram, exigindo-a dos não associados
beneficiados pela negociação ou arbitragem. Na Suíça e
na Turquia as condições ajustadas ou arbitradas não se
aplicam erga omnes, só beneficiando os não associados
que pagarem essa quota ao correspondente sindicato.
Segundo revelam publicações da OIT, outro sistema foi
adotado na República Árabe da Síria, no Panamá e na
Tanzânia, onde os trabalhadores não sindicalizados estão
obrigados, independentemente da atuação do sindicato da
respectiva categoria ou empresa, a pagar-lhe uma
contribuição, se metade dos componentes do grupo
representado pertencer ao seu quadro de associados”7.

José Carlos Arouca cita, em algumas passagens de seu


valioso artigo, já referido anteriormente, verbetes adotados pela OIT acerca do
tema em análise, quais sejam:

7
Comentários à Constituição, 2º vol. RJ, Freitas Bastos, 1991, p. 48.
“Verbete 112. “Em um caso em que a lei dispunha a
cobrança de uma cotização de solidariedade, pelo sistema
de desconto da remuneração de trabalhadores não filiados
a organização sindical parte em um contrato coletivo,
porém que desejavam acolher-se de suas disposições
(cotização fixada em não mais de 2/3 das cotizações
pagas pelos trabalhadores sindicalizados da mesma
categoria), o Comitê estimou que o sistema, ainda que não
esteja coberto pelas normas internacionais do trabalho,
não parece por si mesmo incompatível com os princípios
de liberdade sindical” (Recopilação, 2ª edição. de 1976,
pp. 44/45).

“Verbete 323. “Os problemas relacionados com as


cláusulas de segurança sindical devem ser resolvidos em
âmbito nacional, de acordo com a prática e o sistema de
relações trabalhistas de cada país. Em outras palavras,
tanto as situações em que as cláusulas de segurança
sindical são autorizadas como aquelas em que são
proibidas podem ser consideradas de acordo com os
princípios e normas da OIT em matéria de liberdade
sindical” (Recopilação, edição de 1977, p. 73).

“Verbete 324. “Em casos em que se havia instituído a


dedução das contribuições sindicais e outras formas de
segurança sindical, não em virtude da lei, mas de uma
cláusula incluída numa convenção coletiva ou de prática
estabelecida pelas duas partes, o Comitê negou-se a
examinar as alegações, baseando-se na declaração da
Comissão de Relações de Trabalho da Conferência
Internacional de 1949, na qual se estabelecia que a
Convenção 87 não deveria ser interpretada no sentido de
autorizar ou proibir cláusula de segurança sindical e que
essas questões devem ser resolvidas de acordo com a
regulamentação e a prática nacional. Tendo em vista este
esclarecimento, os países, e com mais razão aqueles nos
quais existe o pluralismo sindical, não estariam, de modo
algum obrigados, de acordo com a Convenção, a tolerar,
seja de fato seja de direito, as cláusulas de segurança
sindical, enquanto os demais, que as admitissem, não
estariam impedidos de ratificar a Convenção”. (idem).
Verbete 480. “Quando uma legislação aceita cláusulas de
seguridade sindical como a dedução de cotas sindicais
dos não filiados que se beneficiam com a contratação
coletiva, tais cláusulas só deveriam se fazer efetivas
através de convênios coletivos” (Recopilación, 2006, p.
106)

“Verbete 949 - “A Recomendação sobre a negociação


coletiva, 1981 (nº 163) enumera diversas medidas
encaminhadas a promover a negociação coletiva, incluído
o reconhecimento das organizações representativas de
empregadores e de trabalhadores (parágrafo 3, a)”;

“Verbete 950 – “São compatíveis com os princípios da


liberdade sindical tanto os sistemas de negociação
coletiva com direitos exclusivos para o sindicato mais
representativo como com aqueles em que são possíveis
vários convênios coletivos concluídos por vários sindicatos
dentro de uma empresa“. (Recopilación de decisiones y
principios del Comité de Libertad Sindical del Consejo de
Administración de la OIT, 5ª ed., Genebra, 2006, ob. cit. p.
2030).

A fim de ilustrar a importância do respeito ao princípio da


liberdade sindical e demonstrar o quanto é comum, para não dizer corriqueira, sua
aplicação nos julgados em primeira e em segunda instância neste TRT da 3ª
Região, trago à colação o seguinte julgado:

“EMENTA: ELEIÇÕES PARA DIRIGENTE SINDICAL.


REGISTRO DE CANDIDATURA NEGADO. ENTE
SINDICAL QUE REPRESENTA APENAS OS
TRABALHADORES REGIDOS PELA CLT. CONFLITO
COM O SINDIBEL. Na forma do art. 44 do estatuto do
sindicato réu, vigente conforme TAC assinado junto ao
MPT, o ente sindical reclamado somente representa os
trabalhadores celetistas. No caso das autoras, servidoras
municipais, sua representatividade se dá por meio do
SINDIBEL, tendo em vista o princípio da unicidade
sindical, razão pela qual não há falar em nulidade das
eleições sindicais (00349-2014-111-03-00-0 RO, Segunda
Turma, Relator: Juiz Convocado Lucas Vanucci Lins, DJe
04.03.2015).
(...).

Anulação das eleições sindicais.

As recorrentes alegam que o sindicato


réu tem como filiados não apenas trabalhadores regidos
pela CLT, mas também enfermeiros que são servidores
públicos e que são trabalhadores autônomos. Aduzem que
contribuem mensalmente e que repassam a contribuição
sindical urbana ao sindicato dos enfermeiros. Ressaltam
que, na gestão passada do ente sindical, havia servidores
públicos ocupando cargos de direção, do que se infere
que houve manobra para afastar a oposição nessas
eleições. Afirmam que o sindicato réu está registrado no
MTE no grupo trabalhador, categoria profissional liberal,
razão pela qual se depreende que não há restrição à
representação somente de empregados (regime da CLT).
Asseveram que a condição de servidor público não afasta
o direito de participação no sindicato da classe, na forma
do art. 37, VI, da CRFB, uma vez que enfermeiros são
aqueles que pertencem aos quadros do COREN, frisando
que não há divisão na organização da profissão.

O Juízo de primeiro grau consignou


que não compete ao Poder Judiciário, dentro do princípio
da liberdade sindical (art. 8º, I, da CRFB), interferir nas
decisões da Assembleia Geral, questionando sua
soberania. Destaca que o termo de ajustamento de
conduta (TAC) celebrado com o MPT previa a convocação
de processo eleitoral no âmbito do ente sindical réu até o
dia 20.03.2014 e sua realização até 04.04.2014, na forma
dos arts. 36 a 118 do estatuto original do sindicato.

O Juízo registra, ainda, que, ao


examinar as chapas inscritas para as eleições sindicais,
constatou-se que os integrantes da Chapa 01 são
servidores públicos municipais e estaduais, à exceção de
um membro celetista. O registro dessa chapa, então, foi
indeferido, por violação ao disposto no art. 44 do estatuto
do sindicato réu.
O Juízo de origem destaca que, dos 12
candidatos inscritos na Chapa 01, 11 eram servidores
públicos em exercício, sendo que o art. 44 do estatuto
expressamente determina que é requisito indispensável ao
registro da candidatura a juntada à ficha de qualificação
das cópias das CTPS de seus integrantes, com
comprovação de contrato de trabalho em vigor. O
sindicato réu não representa os estatutários, mas apenas
os celetistas, sendo que os servidores estaduais são
representados pelo SINDSAÚDE e os servidores
municipais pelo SINDIBEL.

Nessa ordem de ideias, o Ministério


Público do Trabalho, em manifestação à fl. 1374 a 1376,
expressamente consignou que se por um lado a comissão
eleitoral não poderia criar restrições não previstas
expressamente no estatuto, por outro não se poderia
ignorar o escopo do estatuto e o âmbito da representação
sindical (fl. 1375). O representante do Ministério Público
afirmou, ainda, que determinou ao sindicato réu que
informasse aos novos filiados que não representava
servidores estatutários. Ademais, o MPT ponderou que a
simples existência do SINDIBEL, em face do princípio da
unicidade sindical e da representação geográfica deste
último, com abrangência limitada aos enfermeiros que
atuam nos hospitais públicos municipais, afasta a
representatividade do sindicato reclamado em relação aos
servidores vinculados ao SINDIBEL.

O MPT finaliza a aludida manifestação


asseverando que os vícios da antiga administração do
sindicato não autorizam que se faça letra morta do
estatuto reputado em vigor, principalmente quando a
interpretação do alcance de sua representação extensiva
a servidores estatutários – como pretendem as
reclamantes – pode vir a significar colisão com o âmbito
de representação, ao menos em parte, de sindicato já
existente, no caso, o SINDIBEL. Registra-se, por último,
que as reclamantes são servidores públicos municipais de
cargo efetivo, lotados em hospital público, representados
pelo SINDIBEL (fl. 1376). Registra que as eleições em
sindicato de representação de celetistas, dadas as
circunstâncias narradas, nenhum prejuízo trouxe às
reclamantes (fl. 1376).

Importante consignar que foi celebrado


Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, entre o
Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Minas Gerais e o
Ministério Público do Trabalho, acostado à fl. 710 a 711,
em que ficou acordado que o processo eleitoral será
inteiramente regido pelos arts. 38 a 118 do estatuto
original do sindicato (cláusula primeira, parágrafo segundo
– fl. 710).

Dos fatos narrados e considerados os


fundamentos expendidos pelo Juízo de origem e pelo
douto representante do MPT, revela-se incontroverso nos
autos que o art. 44 do estatuto original do reclamado (fl.
722) exige que o requerimento de registro de candidatura
para as eleições sindicais seja acompanhado de ficha de
qualificação e cópia da CTPS nas partes da qualificação
civil e do contrato de trabalho em vigor.

A aplicação do art. 44 do estatuto


original do reclamado, como visto, se dá por força do TAC
celebrado pelo ente sindical junto ao representando do
MPT, circunstância esta que não está sendo objeto de
contestação no recurso em exame.

Além disso, as recorrentes não


demonstraram que não há conflito de representatividade
com o SINDIBEL, limitando-se a argumentar que o registro
do sindicato no MTE não traz qualquer limitação à
exclusividade de representação de empregados, vale
dizer, de trabalhadores regidos pela CLT.

Nota-se que o reclamado, em


contestação de fl. 1075 a 1089, trouxe à colação que os
componentes da Chapa 01 eram servidores do Município
de Belo Horizonte, à exceção de Kátia Santos Dias,
Romulo Lima Barroso de Queiroz e Rodrigo Alexander
Gomes de Araújo, que são servidores estaduais, cuja
representação sindical é feita pelo SINDSAÚDE, e de
Márcia Bezerra Caula, única celetista presente na lista.

Na esteira desse raciocínio, tem-se


que o estatuto do ente sindical réu (art. 44 – fl. 722)
evidencia que sua representatividade é limitada aos
trabalhadores regidos pela CLT, devendo a candidatura ao
cargo de dirigente sindical ser instruída com provas de que
o contrato de trabalho ainda está em vigor.

Portanto, como bem salientou o


representante do MPT, não é possível ignorar o estatuto
do sindicato para autorizar que sua representação se dê
também quanto aos estatutários, sendo que o SINDIBEL,
que justamente representa os servidores municipais em
Belo Horizonte, é o ente legítimo para defender os
interesses dos servidores públicos municipais.

O fato de o sindicato réu haver


aceitado inscrições de enfermeiros servidores públicos e,
logicamente, haver recebido contribuições provenientes
desses profissionais, não autoriza o desrespeito ao
estabelecido no estatuto da entidade quanto ao registro
das candidaturas e à representatividade sindical,
considerando, ainda, que há de ser respeitado o princípio
da unicidade sindical em relação ao SINDIBEL.

Além disso, os documentos de fl. 1118


a 1133 revelam que as reclamantes tinham ciência de que
o sindicato reclamado não representa os enfermeiros que
têm vínculo estatutário, estadual e municipal, mas que
somente representa os enfermeiros celetistas.

Diante de tais considerações, nego


provimento ao recurso ordinário, tendo em vista que não
há falar em prejuízo para servidores estatutários
decorrentes das eleições válidas para o sindicato que
representa apenas os servidores celetistas, conforme
disposto no respectivo estatuto.

3. Conclusão
Conheço do recurso ordinário, e, no
mérito, nego-lhe provimento”.

Agradeço imensamente a atenção de todos!

Até a semana que vem!

Cordialmente,

Marcelo de Oliveira Dávola.

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