Você está na página 1de 8

Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

leonardobezerra.adv@hotmail.com

DIREITO DO TRABALHO

Assédio Moral

preparojuridico.com.br
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

1. Introdução

Alguns críticos identificam uma banalização da alegação de dano moral na

sociedade brasileira, que seria utilizada para qualquer aborrecimento sofrido pelo

indivíduo.

Sucede que, apesar da efetiva existência de algum excesso, o fato é que a verdadeira

banalização é das práticas configuradoras de danos morais, dentre as quais o

assédio moral é a principal.

Dada a complexidade da matéria, há diversos elementos a serem examinados

referentes aos danos morais e ao assédio moral, donde a necessidade de um estudo

pormenorizado dos mesmos, a seguir realizado.

2. Conceito de assédio moral

O assédio moral na relação de trabalho representa um comportamento do

empregador, dos seus prepostos ou de colegas de trabalho, que exponha o

empregado a reiteradas situações constrangedoras, humilhantes ou abusivas,


além dos limites normais do poder diretivo, causando degradação do ambiente

laboral, aviltamento da dignidade da pessoa humana ou adoecimento de


natureza ocupacional.

Identificam-se, assim, diversos elementos neste conceito.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


1
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

O primeiro deles é a natureza habitual da prática, que não pode ser singular, sob
pena de configuração de dano moral, mas não de assédio moral. Convém, aliás,

estabelecer nitidamente a distinção entre os dois conceitos: enquanto o dano


moral é o decorrente da violação à intimidade, à privacidade, à imagem, à honra ou
ao nome do indivíduo, por prática individual ou reiterada, o assédio moral é a prática
reiterada que enseja dano moral.

O segundo elemento do conceito de assédio moral é o agente ativo: não

necessariamente ele decorre de ato do empregador, pois atos dos seus prepostos,
pelos quais o empregador responde (art. 932, III do CC), ou mesmo de colegas de

trabalho, dado o dever do empregador de manter um meio ambiente do trabalho

saudável (art. 7º, XXII da CF/88 c/c art. 157 da CLT), implicam na sua
responsabilidade.

Por derradeiro, impende destacar o elemento principal do conceito de assédio

moral: o ato em si, que é o de expor (REITERADAMENTE) o empregado a

situações constrangedoras, humilhantes ou abusivas, além dos limites normais


do poder diretivo, causando degradação do ambiente laboral, aviltamento da

dignidade da pessoa humana ou adoecimento de natureza ocupacional. Dito de


outro modo, o assédio moral viola a esfera extrapatrimonial do empregado

(dignidade, intimidade, honra, imagem), por meio de abuso do poder diretivo do


empregador.

No tocante ao conceito do assédio moral organizacional, será examinado mais

adiante, no tópico específico referente às diferentes modalidades do assédio moral.

3. Denominações

O assédio moral é denominado de diversas formas pela doutrina especializada,

dentre as quais convém examinar as principais.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


2
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

Um dos termos utilizados é o mobbing, que provém do verbo inglês to mob,


tumultuar, adotar conduta agressiva.

Outro termo é o bullying, ato de violência psicológica, causando dor e angústia.

Há, igualmente, o termo bossing, que vem de boss, chefe, que dá ordens de maneira
autoritária e arrogante.

É, ainda, utilizado o termo psicoterrorismo, o terrorismo psicológico.

Por derradeiro, usa-se o termo manipulação perversa, uma forma de manipular os

empregados visando desestabilizá-los.

Há diversos outros termos utilizados, mas estes são os principais, todos sendo

sinônimos do assédio moral, esta condenável forma de se relacionar com os

empregados.

4. Modalidades

Existem duas modalidades de assédio moral.

Uma delas é o assédio moral interpessoal ou intersubjetivo ou individual, aquele

sofrido por um empregado ou um grupo de empregados perfeitamente


identificáveis, deliberadamente escolhidos para o assédio.

É a forma tradicional de assédio, pela qual o empregador visa especificamente um

ou alguns empregados.

A outra é o assédio moral coletivo ou organizacional ou estrutural ou


institucional, consistindo em práticas de violação psicológica sem vítima

determinada, destinadas a todos, de caráter geral, difuso, representadas por uma

gestão agressiva, uma conduta institucional da empresa, ligada à organização desta.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


3
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

Dito de outro modo, o assédio moral organizacional é o processo contínuo de

hostilidades, estruturado via política organizacional ou gerencial, que tem


como objetivo imediato aumentar o lucro da empresa.

São práticas empresariais ou institucionais tirânicas, com uma gestão dos recursos
humanos despótica, via violência psicológica, por métodos de gestão por estresse,

injúria ou ameaça, os quais são conhecidos sob o termo straining.

Exemplo típico do assédio moral organizacional é a cobrança excessiva por metas,


com técnicas de motivação abusivas, tais como a adoção de hinos de guerra,

prendas para os empregados que não batem as metas, palavras de baixo calão,

apelidos jocosos, a restrição do uso de sanitários.

Outro exemplo é o da imposição de um ritmo penoso e desagradável de trabalho,

degradando a saúde psicológica dos empregados.

Nas práticas do assédio moral organizacional percebe-se, portanto, uma intenção

do empregador de se impor pelo medo, criando um ambiente de terror apto (na


sua concepção, obviamente, que não condiz com a realidade dos fatos) a estimular

a produtividade dos empregados.

5. Fontes normativas

O assédio moral organizacional não é objeto de uma quantidade significativa de


fontes normativas específicas.

Existem, contudo, algumas normas que servem, genericamente, para fundamentar


o combate a esta condenável prática de gestão empresarial.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


4
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

Na esfera constitucional, pode-se mencionar a dignidade da pessoa humana e o


valor social do trabalho (art. 1º, III e IV da CF/88), princípios fundamentais da nossa
República vulnerados pela mencionada conduta do empregador.

Ainda na seara constitucional, o já mencionado dever do empregador de manter


um meio ambiente do trabalho hígido (art.7º, XXII da CF/88) igualmente veda tal

prática.

Na esfera infraconstitucional, pode-se citar o dever do empregador de cumprir e

fazer cumprir as medidas de saúde e segurança do trabalho, previsto pelo artigo 157
da CLT, dentre as quais se incluem, obviamente, a manutenção de um ambiente do

trabalho saudável.

Atenção:

Cumpre salientar, todavia, que a principal referência normativa do assédio moral

organizacional é o item 5.13 do Anexo II da Norma Regulamentadora 17 do

Ministério do Trabalho, o qual veda, no setor de teleatendimento, os métodos que


causem assédio moral, medo ou constrangimento, tais como o estímulo abusivo

à competição entre trabalhadores ou equipes de trabalho, a exigência de que os

trabalhadores usem, de forma permanente ou temporária, adereços, acessórios,


fantasias e vestimentas com objetivo de promoção, punição ou propaganda, ou,

ainda, a exposição pública das avaliações de desempenho dos operadores.

Ainda que se trate de norma específica para o setor de teleatendimento, por

apresentar interessante detalhamento, esta norma pode ser utilizada, por analogia,
para os demais setores do mercado de trabalho, como forma de combate ao assédio

moral organizacional, nas suas diferentes formas citadas.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


5
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

6. Efeitos

O assédio moral organizacional gera efeitos deletérios em todos os empregados,


ainda que em diferentes graus, a saber: depressão ou outros tipos de transtornos

psicológicos, tais como a síndrome de burnout (ou síndrome do esgotamento


profissional ou sensação de estar acabado), um distúrbio psíquico, de caráter

depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, cuja causa está


intimamente ligada à vida profissional, possuindo, até mesmo, um código específico

como doença no rol de enfermidades da Organização Mundial da Saúde (CID

10.273.0).

É muito comum, assim, em empresas onde o assédio moral organizacional é adotado

como forma de gestão, haver um grande número de afastamentos de empregados


por razões psicológicas, pois os empregados não suportam a pressão exercida.

Além disso, o assédio moral organizacional causa prejuízos à qualidade geral do

meio ambiente de trabalho, todos sofrendo com esta gestão pelo medo, dada
a contaminação do ambiente de trabalho por esta conduta abusiva do empregador,

que atinge a todos os empregados, que não se sentem à vontade para produzir.

Outro efeito do assédio moral organizacional é a possibilidade de configuração da

dispensa indireta dos empregados vítimas do mesmo, por violação, pelo

empregador, de um dever básico do contrato de trabalho: o tratamento respeitoso


do seu empregado, nos termos do artigo 483, d da CLT.

Vale ressaltar, neste ponto, a boa-fé contratual que deve nortear a conduta das
partes no contrato de trabalho (art.422 do CC), a qual é violada por esta postura
abusiva do empregador.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


6
Autorizado uso para Leonardo Bezerra de Melo, e-mail -

preparojuridico.com.br
leonardobezerra.adv@hotmail.com

Outrossim, impende salientar que os empregados assediados sofrem danos morais,


passíveis de indenização, na forma dos artigos 5º, V e X da CF/88 e 186 e 927 do

CC, recordando-se que a responsabilidade do empregador, neste caso, é objetiva


pelos atos dos seus prepostos, nos termos do artigos 932, III e 933 do CC, por ser a
empresa a fiel depositária da higidez física e psicológica dos trabalhadores, com
obrigação de manter o meio ambiente de trabalho adequado.

Por derradeiro, não se poderia olvidar a legitimidade do Ministério Público do

Trabalho para ajuizar ação civil pública visando a adequação da conduta da


empresa, em tal situação.

Tal adequação poderia ocorrer por meio da sua condenação em obrigação de não

fazer, de abster-se de adotar as práticas configuradoras do assédio moral


organizacional, sob pena de pagamento de multa (astreintes) por empregado

assediado.

Poderia, igualmente, ocorrer esta adequação por meio da sua condenação na

obrigação de pagar uma indenização por danos morais coletivos, dada a natureza
coletiva do dano causado ao conjunto de empregados. Como já salientado, ainda

que em diferentes graus, todos os empregados são atingidos e vulnerados pelo


assédio moral organizacional, justificando-se, assim, a indenização por danos morais

coletivos.

De todo modo, seja pela via coletiva, da ação civil pública, seja pela via individual,

das ações individuais dos empregados atingidos, o importante é que haja o combate

efetivo a esta prática abusiva do empregador, pois o assédio moral organizacional,


desafortunadamente, ainda é bastante frequente nas relações de trabalho no nosso
país.

RESUMO – Direito do Trabalho – ASSÉDIO MORAL


7

Você também pode gostar