O dano moral pode ser decorrente, até mesmo, do chamado assédio
moral, que se caracteriza por uma conduta reiterada, de violência psicológica, desestabilizando e prejudicando o equilíbrio psíquico emocional do empregado (com atitudes de perseguição, indiferença ou discriminação, normalmente de forma velada), deteriorando o meio ambiente de trabalho, podendo resultar em enfermidades graves como a depressão.
O chamado terror psicológico no trabalho, ou “mobbing” pode
acarretar danos emocionais e doenças de ordem física e psíquica como alteração do sono, distúrbios alimentares, diminuição do libido, aumento da pressão arterial, desânimo, insegurança, pânico, depressão e, até mesmo, o suicídio.
Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) de acordo com a
Lei 13.185 de 2015 – com ênfase no assédio escolar - que institui o Programa de Combate é intimidação Sistemática (bullying) em todo território nacional, quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda: ataques físicos; insultos pessoais, comentários sistemáticos e apelidos pejorativos; ameaça por quaisquer meios; expressões preconceituosas; isolamento social consciente e premeditado.
No âmbito da Lei 13.185 de 2015, a intimidação sistemática (bullying)
pode ser classificada, conforme as ações praticadas, como:
- material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
- virtual: depreciar, enviar mensagens instrusivas da intimidade, enviar
e adulterar fotos e dados pessoais que resultem sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social.
Em razão da esfera de aplicação da Lei 13.185, é dever do
estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying). Quanto ao assédio moral no trabalho, esse dever se dirige às empresas, aos empregadores, às entidades profissionais, às organizações sindicais, aos órgãos públicos voltados às relações trabalhistas e mesmo à sociedade civil como um todo.
Como podemos notar, o assédio moral afronta os princípios da
dignidade da pessoa humana e da valorização social do trabalho (art. 1º, incisos III e IV da CF/1988), o objetivo fundamental da promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso IV, da CF/1988), o direito de ninguém ser submetido à tortura nem tratamento desumano ou degradante (art. 5º, inciso III, da CF/1988) e o direito à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra, e da imagem das pessoas (art. 5º, inciso X, da CF/1988).
No assédio moral, o agressor normalmente é o empregador, o superior
hierárquico ou o preposto (assédio vertical descendente). No entanto, embora não tão frequente, também é possível o assédio moral em que o assediador é um colega de trabalho que ocupa a mesma hierarquia na empresa (assédio horizontal) ou o grupo de empregados em posição hierárquica inferior (assédio vertical ascendente).
O assédio moral, ademais, pode ser individual (quando voltado a um
ou mais empregados individualmente considerados) ou coletivo, alcançando a coletividade de trabalhadores, também conhecido como organizacional ou institucional, por recorrer de formas abusivas de gestão empresarial. 3
O assédio moral pode ser fundamentado para a despedida indireta, de
acordo com o artigo 483, alínea d (que prevê o não cumprimento das obrigações do contrato pelo empregador) e alínea e, da CLT, prevendo a prática pelo empregador ou seus prepostos, contra o empregado ou pessoas da família, de ato lesivo da honra e boa fama.
Se o empregado pratica o assédio moral contra outro colega de
trabalho, tem-se a prática de justa causa para a resolução do contrato de trabalho, conforme o art. 482, alínea j, da CLT, o qual prevê o ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensa física, nas mesmas condições, salvo em legitima defesa, própria ou de outrem.
Assédio Sexual
Cabe fazer menção à figura do assédio sexual, o qual pode ocorrer no
âmbito das relações de emprego, podendo gerar importantes consequências para o contrato de trabalho.
O assédio sexual ainda não conta com uma regulamentação
específica pelo Direito do Trabalho no Brasil. Na esfera criminal a Lei 10.224, de 13 de maio de 2011, alterou a redação do artigo 216-A do Código Penal, assim prevendo:
“Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos”.
Como podemos observar, na esfera penal, o assédio sexual é restrito
à hipótese em que o delito é praticado por agente de condição hierárquica superior, como o chefe ou gerente, tendo como vítima pessoa que exerce cargo ou função hierarquicamente inferior, com ameaças de perda de emprego ou de direitos do trabalho. Trata-se da 4
modalidade do assédio sexual decorrente do abuso de autoridade,
também conhecida como “assédio sexual por chantagem”.
No entanto, também é possível ocorrer o assédio sexual envolvendo
colegas de trabalho, ou seja, empregados do mesmo nível hierárquico, ou mesmo aquele praticado por empregado de condição inferior na hierarquia da empresa, embora essa última hipótese seja menos frequente. Tem-se aqui a modalidade conhecida como “assédio sexual por intimidação”, ocorrido no ambiente de trabalho. Como a esfera penal não se confunde com a esfera trabalhista, embora as referidas situações de assédio sexual não constituam, crime, tendo em vista o tipo penal mais estrito, as consequências trabalhistas podem incidir em ambos os casos.
De todo modo, para a ocorrência do assédio sexual, exige-se o
constrangimento, envolvendo a ideia de imposição, contrariando a vontade e a liberdade da vítima. Isso afasta a ocorrência de assédio sexual quando existe anuência da suposta vítima.
Não se pode confundir o assédio sexual com simples gestos de
gentileza, cordialidade e coleguismo, como aqueles relacionados a cumprimentos, os quais são admitidos conforme os critérios da lógica e da razoabilidade, levando-se em conta, ainda, os parâmetros presentes na localidade e na época de sua ocorrência.
O assédio sexual normalmente se configura pela repetição de
condutas praticadas pelo assediador, nem sempre explícitas, como gestos e falas que indiquem a manifestação da intenção sexual, sem receptividade por parte do assediado.
Podemos concluir que o assédio sexual é uma conduta de natureza
sexual, não desejada pela pessoa ofendida, em regra reiterada, violando a sua liberdade sexual.
O assédio sexual acarreta grave violação da dignidade da pessoa que
o sofre, configurando dano moral passível de indenização, bem como a despedida indireta em favor do empregado assediado (art. 483, alíneas c, d, e da CLT), ou a dispensa por justa causa do empregado assediador (art. 482, alínea b, da CLT). Uma das grandes dificuldades 5
encontra-se na prova do ilícito mencionado, tendo em vista ocorrer
normalmente longe de testemunhas oculares.
Observação: Material extraído da obra “Curso de Direito do
Trabalho”, 11ª edição/2017 - autor Gustavo Filipe Barbosa Garcia – Editora Gen/ Forense.
Dano Moral
A indenização pelo dano exclusivamente moral não possui o acanhado
aspecto de reparar unicamente o pretium doloris (o preço da dor), mas busca restaurar a dignidade do ofendido. Por isso, não há que se dizer que a indenização por dano moral é um preço que se paga pela dor sofrida. Indeniza-se pela dor da morte de alguém querido, mas indeniza-se também quando a dignidade do ser humano é aviltada com incômodos anormais na vida em sociedade.
A ilicitude não reside apenas na violação de uma norma ou
ordenamento em geral, mas principalmente na ofensa ao direito de outrem, em desacordo com a regra geral pela qual ninguém deve prejudicar o próximo. A falta de conduta é o desvio social que autorizará, dentre outros fatores, a indenização.
Se, até 1988, quando da vigente Constituição, a discussão era
indenizar ou não o dano moral, a partir de então a óptica desloca-se para os limites e formas de indenização, problemática que passou a preocupar a doutrina e a jurisprudência.
Durante muito tempo, discutiu-se se o dano exclusivamente moral, isto
é, aquele sem repercussão patrimonial, deveria ser indenizado. A doutrina majoritária, acompanhada do direito comparado, defendia a indenização do dano moral. Com inúmeros e respeitáveis seguidores, enquanto a jurisprudência, em descompasso, liderada pelo Supremo Tribunal Federal, negava essa possibilidade. De uma postura que negava peremptoriamente a possibilidade de indenização por danos morais, inicialmente adota pelo Supremo Tribunal Federal, esse Pretório passou a admitir danos morais que tivessem repercussão patrimonial até a promulgação da Constituição de 1988, que 6
finalmente estabeleceu o texto legal que os tribunais e a maioria da
doutrina reclamavam.
Dano moral consiste em lesão ao patrimônio psíquico ou ideal da
pessoa, à sua dignidade. Traduz-se nos modernos direitos da personalidade. Neste sentido, temos o entendimento que somente a pessoa natural poderia ser atingida nesse patrimônio. Contudo, avoluma-se em nossa jurisprudência a admissão do dano moral à pessoa jurídica, por extensão do conceito às pessoas naturais que dela participam. Os entes personalizados têm direito à proteção de seu nome.
Em se tratando de pessoa jurídica, o dano moral de que é vítima
atinge seu nome e tradição de mercado e terá sempre repercussão econômica, ainda que indireta. De qualquer forma, a reparabilidade do dano moral causado à pessoa jurídica ainda sofre certas restrições na doutrina e na jurisprudência, principalmente por parte dos que defendem que a personalidade é bem personalíssimo, exclusivo da pessoa natural. Para os que adotam esse entendimento, levam em consideração que dano moral denota dor e sofrimento, que são exclusivos do Homem.
Não é somente a dor e sofrimento que dará ensejo ao dano moral,
mas de forma ampla, o desconforto extraordinário na conduta do ofendido e, sob esse aspecto, a vítima pode ser tanto a pessoa natural como a pessoa jurídica.
Danos não patrimoniais, quem nem todos admitem como sinônimo de
danos morais, são, portanto, aqueles cuja valoração não tem base de equivalência que caracteriza danos patrimoniais. Por isso mesmo, são danos de difícil avaliação pecuniária. Por sua própria natureza, os danos psíquicos, da alma, da afeição, da personalidade são heterogêneos e não podem ser generalizados. Trata-se do que foi convencionado denominar de pretium doloris:
“É inquestionável que os padecimentos de natureza moral, como, por
exemplo, a dor, a angústia, a aflição física ou espiritual, a humilhação, e de forma ampla, os padecimentos resultantes em situações análogas, constituem evento de natureza danosa, ou seja, danos extrapatrimoniais” (reis, 2000:15). 7
De qualquer modo, deve ser levada em conta a essência da questão:
dano, ainda que moral implica alguma parcela de perda e, por isso, deve ser indenizado. Ainda que essa perda não ocorra de outro nível, há uma perda que representa um aviltamento da dignidade do ofendido.
Há danos imateriais ou morais que se apresentam totalmente
desvinculados de um dano patrimonial, como a injúria, e os que decorrem e sobrevivem paralelamente ao dano patrimonial, como a morte de pessoa ou parente próximo. De acordo com o direito lesado, os danos morais podem se revestir de diversas formas e efeitos.
Se o dano material e o moral decorrerem do mesmo fato, as
indenizações serão cumuláveis, de acordo com a Súmula 37 do STJ.
DO DANO EXTRAPATRIMONIAL - trazido com a Reforma Trabalhista
Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza
extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho apenas os dispositivos deste Título.
Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou
omissão que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação.
Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a
autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer, e a integridade física são bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.
Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o
sigilo da correspondência são bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.
Art. 223 E. São responsáveis pelo dano extrapatrimonial todos os que
tenham colaborado para a ofensa do bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão. 8
Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida
cumulativamente com a indenização por danos morais decorrentes do mesmo ato lesivo.
Parágrafo 1º - Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a
decisão, discriminará os valores das indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza extrapatrimonial.
Parágrafo 2º - A composição das perdas e danos, assim
compreendidos os lucros cessantes e os danos emergentes, não interfere na avaliação dos danos extrapatrimoniais.
Art. 223 G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:
I- A natureza do bem jurídico tutelado;
II- A intensidade do sofrimento ou da humilhação; III- A possibilidade de superação física ou psicológica; IV- Os reflexos pessoais e sociais da ação ou omissão; V- A extensão ou a duração dos efeitos da ofensa; VI- As condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral; VII- O grau de dolo ou culpa; VIII- A ocorrência de retratação espontânea; IX- O esforço efetivo para minimizar a ofensa; X- O perdão, tácito ou expresso; XI- A situação social e econômica das partes envolvidas; XII- O grau de publicidade da ofensa.
Parágrafo 1º - Ao julgar procedente o pedido, o juízo fixará a
reparação a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a cumulação.
I- Para ofensa de natureza leve – até três vezes o último salário
contratual do ofendido; II- Para ofensa de natureza média – até cinco vezes o último salário contratual do ofendido; III- Para ofensa de natureza grave – até vinte vezes o último salário contratual do ofendido; IV- Para ofensa de natureza gravíssima – até cinquenta vezes último salário contratual do ofendido; 9
Parágrafo 2º - se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será
fixada com observância dos mesmos parâmetros estabelecidos no parágrafo 1º deste artigo, mas em relação ao salário contratual do ofensor.
Parágrafo 3º - Na reincidência de quaisquer das partes, o juízo poderá
elevar ao dobro o valor da indenização. 10
Em uma ação trabalhista, o reclamante pleiteou indenização por
danos morais pelo tratamento recebido de um preposto da reclamada. Na sentença de primeiro grau, a ação foi julgada procedente, conforme a classificação de assédio moral vertical descente alegada pelo autor.
1- Qual seria sua interpretação para o suposto caso (condição
hierárquica do preposto – quais os pressupostos para a caracterização do assédio moral no ambiente laboral – liame entre o dano moral e o assédio moral). 2- Qual a espécie de responsabilidade civil do empregador (quanto ao fundamento) no caso em questão? Justifique em relação aos elementos essenciais para a caracterização dessa espécie de responsabilidade? 3- Qual a modalidade de “culpa” que você atribuiria ao empregador? Justifique. 4- Como seria calculada a indenização por danos morais com a Reforma Trabalhista? 5- “Bullying” e “mobbing” possuem o mesmo significado? Explique.