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TURMA: Mestrado em Direito. 1º semestre, 2023/1


DISCENTE: Thiago Santos Andrade
Advogado com especialização em Direito Público e Administrativo
DISCIPLINA: PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO
ARTIGO: Ensino domiciliar e direitos fundamentais
(direito comparado, jurisprudência e etc)
ARTICLE: Home schooling and fundamental rights
comparative law, jurisprudence, etc.)

Resumo

O presente artigo foi desenvolvido sobre o tema: Ensino domiciliar e direitos


fundamentais (direito comparado, jurisprudência e etc) tem por objetivo tecer uma
análise pormenorizada sobre o ensino na modalidade homeschooling, na
educação básica, bem como, em estudo comparado analisar como essa
modalidade de ensino é aplicada no mundo. Com a pandemia do Covid-19, a
modalidade em ensino não presencial, em instituições de ensinos, tornou-se a regra,
trazendo novamente a discussão jurídica sobre a legalidade do ensino domiciliar.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o Recurso Extraordinário
888.815 oriundo do Rio Grande do Sul, com julgamento pelo plenário da corte em 04
junho de 2015, envolvendo a temática do HomeSchooling (Sistema Educacional
Domiciliar). Com metologia de pesquisa baseado nos métodos blibliográfico e
explicativo, resultando em uma análise consistente sobre a temática, levando em
consideração aspectos sociológios, geopolíticos, políticos e sociais.

Palavras chaves: Educação, liberdade, ensino, família, constituição.


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Abstract

This article with the theme: Homeschooling and fundamental rights (comparative law,
jurisprudence, etc.) teaching is applied in the world. With the Covid-19 pandemic, the
modality of non-face-to-face teaching, in teaching institutions, became the rule,
bringing again the legal discussion on the legality of homeschooling. Recently, the
Federal Supreme Court (STF) judged the Extraordinary Appeal 888.815 from Rio
Grande do Sul, with judgment by the plenary of the court on June 4, 2015, involving
the theme of HomeSchooling (Home Educational System).
With research methodology based on bibliographic and explanatory methods,
resulting in a consistent analysis on the subject, taking into account sociological,
geopolitical, political and social aspects.

Keywords: education, freedom, teaching, family, constitution.


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1- O Julgamento do Recurso Extraordinário

A Apelação Cível versava sobre o direito líquido e certo à educação, todavia, não
existe no ordenamento pátrio a autorização para o ensino nessa modalidade (na
educação básica) logo, não há liquidez nesse direito a ser amparado na estrita arena
do mandamus. Ainda sobre o caso em tela, consiste na impetração de um
Mandando de Segurança (M.S) contra ato da Secretaria Municipal de educação do
Município de Canela, no Estado do Rio Grande do Sul. O juízo de origem
posicionou-se em não haver direito líquido e certo sobre a possibilidade da
recorrente ser educada em regime domiciliar. Havendo fundamentação para a
decisão no Artigo 102,III,a, da Constituição Federal de 1988 (CF 88).
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em
única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.

A parte recorrente fundou-se nos artigos 205,206, 208, 210, 214 e 229 da CF88,
alegando violação aos mesmos.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da


família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar,
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso
exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos
das redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
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VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da


educação escolar pública, nos termos de lei federal.
IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo
da vida.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta
gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
própria
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito
III - atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até
5 (cinco) anos de idade
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e
da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
educação básica, por meio de programas suplementares de
material didático escolar, transporte, alimentação e assistência
à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder
Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da
autoridade competente.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos
pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum
e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e
regionais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de
duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional
de educação em regime de colaboração e definir diretrizes,
objetivos, metas e estratégias de implementação para
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assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus


diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações
integradas dos poderes públicos das diferentes esferas
federativas que conduzam a
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos
em educação como proporção do produto interno bruto.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
os pais na velhice, carência ou enfermidade.

2- A Constituição Federal de 1988 e o Direito Fundamental à Educação

A CF 88 prevê o direito à educação como elementar e fundamental,


sendo de responsabilidade do Estado a oferta, e dos pais ou responsáveis a
matrícula, frequência e a assistência para continuidade e frequência. Essa obrigação
abarca a educação básica: educação infantil, ensino fundamental I, ensino
fundamental II e ensino médio. Ressalta-se que há liberdade e discricionariedade
dos pais ou responsáveis na escolha do segmento de ensino: publico, privado,
religioso, militar, confessional e etc.

Segundo dados da Organização não Governamental (ONG) Home


School Legal Defense Association (Associação em Defesa da Legalidade da
Educação em Casa), em 63 países é legalmente autorizada a educação em casa.
Segundo esse estudo, nos Estados Unidos da América, o percentual de famílias que
optaram pela modalidade de ensino em casa é da 4% dos estudantes
estadunidenses. No Brasil esses números ainda são timidos, segundo estudo da
ANED (Associação Nacional da Educação Escolar) no Brasil temos apenas 117
crianças e adolescentes sendo educados com sistema de educação domiciliar, em
11 estados brasileiros e no Distrito Federal (DF).

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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3- Educação Domiciliar no Ordenamento Jurídico Nacional

Em junho de 2022 do Projeto de Lei (PL) 3.179/12, de propositura do


deputado Federal Lincoln Portela (PL-MG) teve aprovação na Câmara dos
Deputados com placar de 264 votos favoráveis e 144 votos contrários. O PL versa
sobre o modelo de educação familiar, (homescholling), onde a educação é
promovida em ambiente doméstico, sob orientação dos pais ou responsáveis. A
CF88 preceitua a família como base da sociedade, tendo especial proteção do
Estado, bem como define a educação como direito de todos, dever do Estado e da
família, sendo promovida e incentivada, com apoio e colaboração da sociedade, na
busca do pleno desenvolvimento do indivíduo, sua capacitação para o exercício da
cidadania, seu relevante papel na sociedade e qualificação laboral.

As unidades familiares que são favoráveis à prática do homescholling, fundamenta-


se no direito de educar os próprios filhos é algo natural, inerente da própria condição
humana, tendo em vista que assim foi feito por milhares de anos, bem como, consta
de Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) “Os pais têm prioridade de
direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos” (DUDH,
Artigo 26.3)”.

Internamente, em dispositivos infraconstitucionais, O código Civil (CC), o


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes Básicas da
Educação (LDB) trazem no bojo de seus textos, entendimentos que permitem a
interpretação quanto a possibilidade do homeschooling.

LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 - Código Civil


Art. 1.634, I, Compete a ambos os pais, qualquer que seja a
sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que
consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação”
LEI N° 9.349, 20 DE DEZEMBRO DE 1996, Lei de Diretrizes
Básicas da Educação
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais.
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Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas


comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência
de:VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
processos de integração da sociedade com a escola;
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:VI - colaborar com as
atividades de articulação da escola com as famílias e a
comunidade.
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9
(nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do
cidadão, mediante: IV - o fortalecimento dos vínculos de
família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância
recíproca em que se assenta a vida social.
LEI N.º 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 - Estatuto da Criança
e do Adolescente
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados
no cuidado e na educação da criança, devendo ser
resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças
e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos
nesta Lei.

Usando a fundamentação jurídica citada como base para reconhecer o papel estatal
na educação dos menores, salientando que o papel direcionador é dos pais ou
responsáveis. A CF 88, os demais dispositivos infraconstitucionais e as convenções
sobre direitos humanos, afirmam a possibilidade de famílias educarem seus filhos no
ambiente domiciliar. Outro ponto é a falta de regulamentação para as famílias que
adotam essa modalidade de ensino. Conselhos Tutelares e do Ministério Público,
ensejam denúncias, sob a alegação da prática de abandono intelectual “Art. 246-
Código Penal- Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa”.
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4- O posicionamento do Ministério da Educação sobre o homeschooling

Em 2021 o Ministério da Educação (MEC) lançou a cartilha Educação


Domiciliar: um Direito Humano tanto dos pais quanto dos filhos, com intuito de
esclarecer dúvidas sobre o homescholling. Trazendo casos reais de estudantes do
mundo todo que obtiveram excelência com essa modalidade de ensino. Com o
infeliz advento da pandemia do Covid-19 como marco iniciador de uma discussão
mais aprofundada sobre o assunto, tendo em vista a aplicação de medidas
sanitárias, restrição da circulação e aglomeração de pessoas, a modalidade de
ensino a distância (EAD) foi amplamente utilizada por instituições de ensino públicas
e privadas, todavia, nessa à oferta de material didático por plataformas, diferente do
homeschooling, onde pais e responsáveis são em a tarefa de selecionar o conteúdo
à ser ministrado.

A cartilha disponibilizada em 2021 trouxe vários apontamentos sobre a


necessidade da discussão sobre o ensino doméstico, contrapondo principalmente
um dos principais argumentos contrários que é a ausência de socialização.
“A socialização acontece o tempo todo; nos
grupos de famílias educadoras e na interação
com crianças que estudam em escolas regulares
e que são primos, vizinhos, colegas da
comunidade, do clube ou no condomínio. A
socialização acontece também de maneira
natural, nas idas ao supermercados, nas
conversas com o porteiro do prédio, com o
cobrador do ônibus ou com o idoso ao nosso
lado no banco da praça. Mas a socialização
também acontece juntamente com as
expressões do desenvolvimento acadêmico, mas
situações planejadas, inclusive em contextos
políticos, nos quais as crianças podem fazer a
diferença, contribuindo para a efetivação da
liberdade educacional desta e das futuras
gerações”
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5-A jurisprudência em outros países

5.1-A jurisprudência nos Estados Unidos

A Suprema Corte dos Estados Unidos da América (EUA) nunca debateu


profundamente sobre a temática, a manifestação versou sobre a liberdade os pais
em escolherem sobre a metodologia de ensino dos seus filhos. Um dos casos mais
emblemáticos sobre o tema : Pierce, Governor of Oregon et. al v. Society ofthe
Sisters of the Holy Names of Jesus and Mary, 286 U.S. 510 (1925) houve
posicionamento sobre a inconstitucionalidade da lei do Estado do Oregon que
obrigava que os pais ou responsáveis matriculassem as crianças com idades entre
oito e dezesseis anos de idade no ensino regular, exclusivamente em escolas
públicas.

A fundamentação da Corte foi que essa interferência do governo estadual violava a


liberdade dos pais e responsáveis em direcionar a educação das crianças, além
vedar a possibilidade de acesso a instituições privadas de ensino, violando a livre
iniciativa e o direito à propriedade. Impactando no exercício de um dos valores mais
custos para o povo estadunidense, a liberdade.

Outro caso que tomou grandes proporções foi Wisconsin v. Yoder, 406 U.S.
205 (1972) onde três famílias da comunidade Amish1, não realizaram a matrículas
de seus filhos no ensino médio (high school) por divergências religiosas. A corte
entendeu que imposição estatal da matrícula dos seus filhos no high school, iria
contra os dogmas religiosos e o estilo de vida apregoado por aquela comunidade.
Seu estilo de vida afastado das tecnologias, ausência de vaidades, demonstração de
carinho em público e o uso de vestimentas tradicionais como ternos, capuz e
chapéus pretos.

1-Os Amish são um grupo religioso cristão que vive principalmente nos Estados Unidos e no Canadá.
São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos,
inclusive telefones e automóveis. Uma das maiores comunidades amish no mundo fica exatamente
na Pensilvânia e em Ontário/Canadá. Esses grupos são compostos por descendentes de algumas
centenas de alemães e suíços que migraram para os Estados Unidos e o Canadá.
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Nas palavras do Conselho Geral de Educação da Fundação Rockefeller, em 1906,


em um documento chamado Occasional Letter Number One, lê-se:
“Em nossos sonhos… as pessoas se entregam com perfeita
docilidade às nossas mãos modeladoras. As atuais convenções
educacionais [de educação intelectual e moral] desaparecem. Em
nossas mentes, e desimpedidos pela tradição, trabalhamos nós
mesmos. Boa vontade sobre um povo grato e responsivo. Não
devemos tentar fazer destas pessoas, ou de nenhum de seus filhos,
filósofos, acadêmicos ou cientistas. Não temos de levantar dentre eles
autores, educadores, poetas ou escritores. Não devemos procurar em
embriões grandes artistas, pintores, músicos, advogados, médicos,
pregadores, políticos, estadistas – dos quais já estamos amplamente
abastecidos. A tarefa que colocamos diante de nós é muito simples…
nós iremos organizar as crianças… e ensiná-las a fazer, de modo
perfeito, as coisas que seus pais e mães estão fazendo de modo
imperfeito”.

5.2-Jurisprudência na Europa

O Tribunal Constitucional da Alemanha, ponderou em 2003 a relação entre a


obrigação do estado na prestação do ensino e a liberdade de escolha dos pais,
resultando na negativa de abono nas faltas da frequência colegial. O fundamento
foi que o ambiente escolar não é destinado apenas à obtenção de conhecimentos
técnicos e científicos, mas que a etapa escolar é importante para o fortalecimento do
caráter do indivíduo e preparação para o convívio em sociedade, não podendo ser
alcançados de forma eficaz com o modelo de educação doméstica. A raiz dessa
proibição surge em 1938, com publicação da lei Alemã de Ensino, tendo sido
sancionada pelo Führer Adolf Hitler, no mesmo texto legal foi criado o ministério da
educação no novo governo nazista. No seu livro Mein Kampf (Minha Luta), Adolf
Hitler demostra a necessidade de retirar da atribuição familiar a educação das
crianças . O que foi interpretado como um cuidado extremo do poder estatal em
prover educação de qualidade e excelência as crianças da nação, demostrou-se
não passar de um plano de dominação totalitária que pregava a supremacia alemã
sobre os demais povos e usava as escolar como ponto de início para difusão dessas
ideias. Mesmo após a queda da Alemanha nazista, gerações de alemães replicavam
os ensinamentos dos anos escolares em seus filhos e netos, assim perpetuando o
ideal perverso e distorcido do Partido Comunista Nazista.
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São palavras de Adolf Hitler:

“O que não tem sido feito em outros setores deve ser empreendido
pelo Estado. A raça deve ser vista como ponto central da atuação do
estado da vida geral da nação. Deve ser conservada pura. A infância
deve ser vista como a mais preciosa propriedade da pátria”[…]“A
juventude de hoje é o povo de amanhã. Por essa razão, colocamos
diante de nós a tarefa de inocular em nossa juventude o espírito
dessa comunidade do povo em tenríssima idade, numa idade em que
os seres humanos ainda não foram pervertidos e, portanto, não-
estragados. Este Reich permanece, e se constrói rumo ao futuro,
sobre a sua juventude. E este novo Reich não entregará sua
juventude a ninguém, mas levará ele mesmo a sua juventude e lhe
dará sua própria educação e sua formação”

Em Portugal a expedição da portaria 69/2019, ratificada pelo Decreto-Lei n.º


70/2021, autorizou a educação doméstica, realizando uma divisão em duas
modalidades: O ensino pelos próprios pais ou responsáveis, desde que sejam
portadores de diploma de licenciatura2 e o ensino individual, onde o aluno é educado
em casa, por um professor portador de licenciatura e habilitado e autorizado pelo
Estado. Entretanto o estudante estar matriculado em uma instituição de ensino e
requerer a autorização do diretor da unidade de ensino para a prática do
homeschoolling. O que normalmente traria restrições subjetivas, foi restrita pela
portaria que trouxe majoritariamente requisitos objetivos para a concessão do
pedido, deixando uma pequena marquem discricionária a ser utilizada na avaliação
do diretor escolar.

2- No ensino superior divido em: tecnólogos, bacharelados e licenciaturas, em Portugal a


Licenciatura corresponde aos cursos de graduação brasileiros. Tendo duração média de 6 semestres,
concedendo o grau acadêmico de Licenciado. No caso de cursos mais longos, como medicina ou
odonto, eles geralmente são oferecidos como licenciatura e mestrado integrado e tem a duração de
seis anos. Mestrado e Pós-graduação: o mestrado é considerado um curso de pós-graduação, e a
sua duração varia entre 3 e 4 semestres. O diploma de mestrado concede o grau acadêmico de
Mestre. A Pós-graduação é um curso de dois semestres que não concede grau acadêmico e que
contempla um vasto leque de áreas científicas. Doutoramento é um curso de pós-graduação e
corresponde aos cursos de doutorado brasileiros. A duração do doutoramento português geralmente é
de 8 semestres.
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6 – A prática do homeschoolling no Brasil

Partindo do ponto de vista pedagógico, o principal fundamento é a


possibilidade adaptativa do ensino conforme o avanço individualizado da criança ou
adolescente, podendo ser utilizados os mais diversos recursos de ensino como em
um passeio à praia, ensinar sobre biologia marinha, sustentabilidade, meio
ambiente, fauna, flora, descarte e tratamento de resíduos sólidos, reciclagem, moral,
ética, bons costumes, civilidade, organização política do Brasil, geografia,
bioestatística e etc. Bem como o uso de recursos multimídia como projetor, filmes,
músicas, desenhos animados, peças teatrais e até mesmo cenas do cotidiano.

A ausência de estímulo real, faz com o estudante do ensino regular, principalmente


ao ingressar no Ensino Fundamental II, à partir do 6° ano, deparar-se com uma
drástica mudança de cenário. Durante Ensino Fundamental 3 I, do 1º ao 5º ano, esse
aluno tinha contato com poucos professores, as disciplinas como Português,
Matemática, História, Geografia e Ciências, eram lecionadas por um único
profissional, graduado em Pedagogia. Juntos a ele os professores de Educação
Física e Inglês compunham o quadro de docentes e ao se deparar com essa nova
realidade onde cada professor tem uma graduação específica na área o grau de
complexidade e o volume de atividades extraclasse aumenta muito, transformando
atividade prazerosa e lúdica de ir à em escola em uma responsabilidade, onde seu
sucesso é determinados por suas notas em avaliações e seu comportamento
escolar. Sem entender a aplicação prática dos conhecimentos obtidos em sala de
aula, os alunos perdem o interesse em frequentar as aulas, visualizando essa
atividade como um simples treinamento que tem por objetivo alcançar uma média
mínima para obter um certificado/diploma.

3- Segundo o Ministério da Educação (MEC) os níveis de ensino no Brasil são: Educação básica, que
compreende a educação infantil (de 0 a 6 anos), O ensino fundamental I,1° ao 5° anos, Ensino
Fundamental II do 6º ao 9° anos (de 7 a 14 anos) e o ensino médio (de 15 a 17 anos). Os dois
últimos, antes da nova LDB chamavam-se de 1o. e 2o. Graus; II – Educação superior. Graduação
Curso técnico superior: 2 ou 3 anos. Curso superior: 4 anos ou mais. (Dr. , DM, DVM) Pós-graduação
nível mestrado (stricto sensu, lato sensu) (MSc, Mar) Mestrado profissionalizante Programa de Pós-
graduação – mestrado (stricto sensu) e doutorado (PhD,Associate Prof., Prof.)
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O ensino regular propicia o acesso à informações de forma intensa e contínua, mas


não adaptativa, onde o professor tem que optar entre seguir o cronograma de
ensino, mesmo quando a classe não está acompanhamento plenamente; nivelar por
baixo, o que deixariam as aulas monótonas para os alunos de avanço padrão; ou
nivelar por cima, tendo como base os alunos com melhor assimilação do conteúdo, o
que também refletiria no deficit de aprendizagem no restante da turma .
Outro ponto, exigido ao fim do ensino fundamental é a educação
instrumentalizada para a provação nos vestibulares e no Exame Nacional do Ensino
Médio(ENEM)4 onde sua nota é usada para o acesso à maioria das instituições de
ensino superior, bem com para a concessão de bolsas de estudo. Onde os alunos
não são treinados para absorvem conteúdo didático, mas sim, são adestrados para
acertar questões nesses exames, fazendo com que o estudante não consiga pensar
“fora da caixa”, tolhendo a sua criatividade e criticidade, tornando-se um mero
memorizador de alternativas corretas. A criatividade é um dos principais elementos
podados por esse modelo de ensino regular meritocrático e sistematizado, onde a
liberdade de pensar está limitada à assimilar e memorizar da melhor forma o
conteúdo que será cobrado na prova. Sem margem para o lúdico e a liberdade de
pensamento, reduzindo As interações entre o conteúdo e os anseios futuros do
aluno. No ensino doméstico a liberdade de pensar e criar não encontra limites,
sendo que qualquer nova experiência poder tornar-se tema para uma nova aula,
fomentando a curiosidade no aluno doméstico, sem limites. O que não seria
permitido no ensino regular, por desviar o foco dos demais alunos e fugir do tema
central da aula proposta. A adaptação de objetos, situações e brincadeiras, sendo
utilizadas como objeto de estudo e discussão com a família e os colegas; a criação e
produção de arte, música e jogos; todos esses recursos não poderiam ser utilizados
livremente em sala de aula.
4-O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi instituído em 1998, com o objetivo de avaliar o
desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. Em 2009, o exame aperfeiçoou
sua metodologia e passou a ser utilizado como mecanismo de acesso à educação superior. As notas
do Enem podem ser usadas para acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ao Programa
Universidade para Todos (ProUni). Elas também são aceitas em mais de 50 instituições de educação
superior portuguesas. Além disso, os participantes do Enem podem pleitear financiamento estudantil
em programas do governo, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados do
Enem possibilitam, ainda, o desenvolvimento de estudos e indicadores educacionais. Qualquer
pessoa que já concluiu o ensino médio ou está concluindo a etapa pode fazer o Enem para acesso à
educação superior. Os participantes que ainda não concluíram o ensino médio podem participar como
“treineiros” e seus resultados no exame servem somente para autoavaliação de conhecimentos.
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7- Argumentos contra a prática do homeschooling no Brasil

O primeiro argumento é a redução das interações sociais vividas pela criança,


tendo em vista que no ambiente escolar regular ela estaria com dezenas de
crianças, dividindo o mesmo espaço físico, compartilhando emoções, aprendizados
e traumas, como a prática do Bullying5, frequente no ambiente escolar,
principalmente nas instituições públicas de ensino. O que em certa medida
prepararia a criança, moldando seu caráter a suportar os dissabores advindos da
vida adulta, mas, por outro lado, poderia trazer sérias implicações psicológicas no
indivíduo, que o impactaria por toda sua vida. Defendem também que essa interação
transcende a experimentação do convívio social e que o ensino doméstico poderia
reforças atitudes de intolerância religiosa, cultura, misoginia e a redução da
percepção global da sociedade e da diversidade em todas as suas acepções. Outro
paradigma é a inclusão das crianças portadoras de necessidades especiais, ponto
crucial para a interação com as dificuldades de um mundo não acessível
plenamente, que deverá ser enfrentado na vida adulta. O estímulo a evasão escolar
também é um ponto suscitado pelos doutrinadores e profissionais da educação que
são contra a prática do homeschooling, pois teoricamente ensino regular detém
mecanismos para acompanhar e se necessário, acionar o poder público em casos
de abandono das atividades escolares, tomando as medidas necessárias para
regular esse tipo de situação. O aumento da insegurança alimentar é um fatores
que podem influenciar não somente o avanço intelectual do jovem , mais também
cognitivo e físico, visto que em regiões carentes, a única refeiçãonutritiva co
nsumida por crianças paupérrimas é a merenda escolar. O Governo Federal mantém
o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que repassa valores é escolas
públicas para suplementar o cardápio da merenda escolar. Esse repasse usa como
base os dados Coletado no Censo Escolar, sendo fiscalizados pelos Conselhos de
Educação e pelo Tribunal de Conta da União (TCU).

5-"Bullying é uma palavra que se originou na língua inglesa. “Bully” significa “valentão”. A prática do
bullying consiste em um conjunto de violências que se repetem por algum período. Geralmente são
agressões verbais, físicas e psicológicas que humilhame traumatizam a vítima. Os danos causados
pelo bullying podem ser profundos, como a depressão, distúrbios comportamentais e até suicídio."
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8- Cenário jurídico atual do homeschooling no Brasil

Uma análise global sobre o tema demonstra avanços nas discussões,


principalmente na produção legislativa, em 2021 o PL XXXX , de autoria do
deputado XXX , foi votado e aprovado com ampla margem. Os Tribunais
Superiores se posicionam pela não possibilidade da oferta desssa modalidade de
ensino por falta de regulamentação legalxxxx

9- Conclusão
Com a polularização do acesso à internet e consequentemente, maior
acesso a informação , a necessidade de consulta à livros físicos para pesquisas foi
reduzida, juntamente com o fenômeno do aumento dos nacionais portadores de
diploma de ensino superior. Com maior volume de conhecimento, pais e
responsáveis com o nível superior, teriam maior capacidade e facilidade em lecionar
as disciplinas que constam no currículo da educação básica.
Bibliografia

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm acessado em 10/06/2023

https://www.migalhas.com.br/depeso/367435/homeschooling-aspectos-juridicos-do-direito-a-
educacao-domiciliar acessado em 10/06/2023

Portaria 69/2019 Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/como-funciona-o-ensino-


domiciliar-homeschooling-em-portugal/ acessado em 14/06/2023

JORNAL DE NOTÍCIAS. Reedição Inédita em Portugal da "A minha luta" de Hitler, Dez 2015.
Disponível em: http://www.jn.pt/mundo/interior/reedicao-inedita-da-a-minha-luta-de-hitler-
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Acesso em: 12/06/2023

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