Você está na página 1de 9

17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

ASSÉDIO MORAL E BULLYING NO AMBIENTE DE


TRABALHO

ASSÉDIO MORAL E BULLYING NO AMBIENTE DE TRABALHO


Revista de Direito do Trabalho | vol. 145 | p. 197 | Jan / 2012
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 3 | p. 941 | Set /
2012DTR\2012\2501
Sônia A. C. Mascaro Nascimento
Doutora e Mestre em Direito do Trabalho pela USP. Professora universitária. Coordenadora do
Curso de Pós-Graduação do Instituto dos Advogados de Sorocaba e Região. Membro do Instituto
Ítalo-Brasileiro de Direito do Trabalho. Diretora-Geral do Núcleo Mascaro de Cursos Jurídicos.
Consultora e Advogada Trabalhista.

Área do Direito: Trabalho

Resumo: Os casos de assédio moral no ambiente de trabalho têm aumentado muito nos últimos
anos. A justiça do trabalho também tem sofrido os efeitos desse fenômeno, com o aumento de
processos, numa clara demonstração de desrespeito aos direitos humanos do trabalhador. Nessa
esteira, o termo bullying passou a receber destaque nos meios de comunicação, referindo-se,
principalmente, à violência nas escolas. Percebemos que esses conceitos se aproximam, pois em
ambos os casos nota-se a atitude repetida do assediador em desestabilizar o assediado,
humilhando-o, até que sua autoimagem esteja completamente abalada a ponto de muitos
empregados pedirem demissão e muitas crianças saírem da escola. Este artigo tem a intenção de
definir esses conceitos, abarcando suas similaridades e peculiaridades, buscando medidas
preventivas e a conscientização social, principal meio de combater estes tipos de atitude.

Palavras-chave: Assédio no ambiente de trabalho - Assédio moral - Bullying - Dano moral -


Ofensa à imagem no ambiente de trabalho.
Abstract: The cases of bullying in the workplace have increased in recent years. The labor courts
have also suffered the effects of this phenomenon, with a increasing number of processes, in a
clear demonstration of disrespect for human rights of the workers. On this track, the term bullying
has catched the eye of media, particularly in reference to school violence. It is perceived that
these concepts are close, because in both of them what we see is a repeated attitude from the
stalker of destabilizing the harassed, humiliating him or her, until the self-image of this person are
damaged to the point that many employees resign their jobs and many teenagers leave school.
This article's intention is to define these concepts, including their similarities and peculiarities,
searching for prevention measures and the social awareness, which is the main way to fight
against these kinds of attitude.

Keywords: Harassment in the workplace - Mobbing - Bullying - Moral damages - Offense to the
image on the work site.
Sumário:

1.O ASSÉDIO MORAL - 2.CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DO ASSÉDIO MORAL - 3.O BULLYING -


4.CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DO BULLYING - 5.DISTINÇÃO ENTRE CONCEITOS - 6.ASSÉDIO
MORAL, BULLYING E O DIREITO - 7.A NECESSIDADE DE COMBATE A ESSAS PRÁTICAS - 8.O
TRATAMENTO DA MATÉRIA NOS TRIBUNAIS

1. O ASSÉDIO MORAL
Assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que cause constrangimento psicológico ou
físico à pessoa. Verificamos pelo menos dois tipos de assédio, distintos por conta de sua natureza,
o sexual e o moral.
O assédio sexual se caracteriza por conduta de caráter sexual, repetitiva, sempre repelida pela
vítima e que tenha por finalidade constranger a pessoa em sua intimidade e privacidade. Já o
assédio moral caracteriza-se por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta
contra a dignidade psíquica, de forma reiterada e prolongada, e que expõe o trabalhador a
situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade
ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do empregado na empresa ou
deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada e no exercício de suas funções.
Entretanto, vale frisar que nem todo o tratamento não igualitário pode ser enquadrado como
assédio moral. A diferenciação motivada por situações fáticas legítimas, como, por exemplo, o

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

tratamento dado às gestantes e a restrição de suas atividades mais pesadas, não são
consideradas discriminações em si, pois se justificam pela própria desigualdade de condições.
Nesse sentido, dispõe a Convenção 111 da OIT que “As distinções, exclusões ou preferências
fundadas em qualificações exigidas para determinado emprego não são consideradas como
discriminação” (art. 1.°, 2) e que “As medidas especiais de proteção ou de assistência previstas
em outras convenções ou recomendações adotadas pela Conferência Internacional do Trabalho
não são consideradas como discriminação” (art. 5.°, 1). Noutra perspectiva, poder-se-ia
classificar o assédio como uma espécie do gênero “dano moral”, entendido como o resultado de
uma conduta que viole os direitos da personalidade de um indivíduo. A propósito, já se manifestou
a jurisprudência nesse sentido conceitual, senão vejamos:
“A moral, portanto, é um atributo da personalidade. O dano moral, em consequência, é aquele que
afeta a própria personalidade humana. (…) Como se vê, o dano moral decorre da ofensa ao direito
personalíssimo da vítima” (TST, RR 577297-59.1999.5.18.5555, 1.ª T., j. 05.11.2003, rel. Juiz
conv. Aloysio Corrêa da Veiga, DJ 21.11.2003).
Partindo desses conceitos, passaremos agora a estudar especificamente o assédio moral, alvo do
presente trabalho, para que possamos compreender este conceito em sua totalidade e, a partir de
então, compararmos o assédio moral à noção de bullying.
2. CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DO ASSÉDIO MORAL
Inicialmente, retomamos o conceito de assédio moral, que é caracterizado por uma conduta
abusiva, seja do empregador que se utiliza de sua superioridade hierárquica para constranger seus
subalternos, ou dos empregados entre si com a finalidade de excluir alguém indesejado do grupo,
que pode se dá, de maneira geral, por motivos de competição ou de pura e simples discriminação.
O primeiro fenômeno é denominado assédio vertical, entendido como a utilização do poder de
chefia para fins de verdadeiro abuso de direito do poder diretivo e disciplinar, bem como para
esquivar-se de consequências trabalhistas. Tal é o exemplo do empregador que, para não ter que
arcar com as despesas de uma dispensa imotivada de um funcionário, tenta convencê-lo a
demitir-se ou cria situações constrangedoras, como retirar sua autonomia no departamento,
transferir todas suas atividades a outras pessoas, isolá-lo do ambiente, para que o empregado
sinta-se de algum modo culpado pela situação, pedindo sua demissão.
Já ao fenômeno percebido entre os próprios colegas de trabalho que, motivados pela concorrência
interna e disputa por promoções, ou ainda pela mera discriminação por raça, sexo, religião,
submetem o sujeito “incômodo” a situações de humilhação perante comentários ofensivos, boatos
sobre sua vida pessoal, acusações que podem denegrir sua imagem perante a empresa, sabotando
seus planos de trabalho, dá-se o nome de assédio horizontal.
Também são incluídas nessas categorias o assédio moral combinado, dado com a união de chefes
e colegas no objetivo de excluir um empregado, e o assédio moral ascendente, que é o praticado
por subalterno em face de seu superior hierárquico, seja apenas um empregado que se julga
merecedor do cargo do chefe, ou por um grupo deles cuja intenção é de sabotar o novo chefe,
pois não o julgam tão tolerante quanto o antigo ou suficientemente capacitado para tal cargo.

Como bem ressalta Francisco Meton Marques de Lima,1 pode-se dizer, inicialmente, que os
principais alvos do assédio moral são os empregados estáveis, como diretores de sindicato e
funcionários públicos, pois a estabilidade impede que os mesmos sejam dispensados sem justa
causa, de modo que a tática utilizada por muitas vezes pelos administradores é a de “vencer pelo
cansaço”. Acrescenta, ainda, os trabalhadores vítimas de acidentes do trabalho, ou de qualquer
doença, pois, ao invés de readaptá-los de modo paciente e compreensivo, empregador e colegas
preferem hostilizá-lo, zombando de sua situação e criando um ambiente totalmente desagradável
ao reabilitado. Um dos exemplos é a vítima de LER que era constantemente ironizada ao ouvir que
estava, na verdade, com LERdeza, mostrando a total indiferença para com o problema enfrentado
pela pessoa, que, além de possuir uma doença física, acaba por desenvolver também problemas
psicológicos.
Na formulação atual, o assédio moral é concebido como uma forma de “terror psicológico”
praticado pela empresa ou pelos colegas, que também é definido como “qualquer conduta
imprópria que se manifeste especialmente através de comportamentos, palavras, atos, gestos,
escritos capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica
de uma pessoa, de colocar seu emprego em perigo ou de degradar o clima de trabalho”,2 ou
mesmo como “prática persistente de danos, ofensas, intimidações ou insultos, abusos de poder ou
sanções disciplinares injustas que induz naquele a quem se destina sentimentos de raiva, ameaça,
humilhação, vulnerabilidade que minam a confiança em si mesmo”.3
De tais conceitos, podemos depreender que um elemento chave, além da finalidade de exclusão, é
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

a modalidade da conduta, a qual sempre se verifica agressiva e vexatória, capaz de constranger a


vítima, trazendo nela sentimentos de humilhação, inferiorização, afetando essencialmente a sua
autoestima.
A principal implicação do terrorismo psicológico é a afetação da saúde mental e física da vítima,
mais comumente acometida de doenças como depressão e estresse, chegando, por vezes, ao
suicídio.
É justamente por ser uma forma sutil de degradação psicológica que, por muitas vezes, a tarefa
mais difícil é identificar o assédio moral, pois a pessoa é envolvida em um contexto tal que é
levada a pensar que é merecedora ou mesmo culpada pelas situações constrangedoras.
Ultrapassada esta fase de reconhecimento do assédio, mais acessível é a fase de comprovação do
mesmo, pois, em grande parte, o processo é feito perante os demais colegas, com a exposição
pública e reiterada das críticas e ofensas ao trabalho da pessoa, tanto de forma oral como
escrita, por exemplo, afixação em mural de lista dos funcionários que não atingiram a meta mensal,
sem a necessidade de declarada perseguição.
Um dos elementos essenciais para a caracterização do assédio moral no ambiente de trabalho é a
reiteração da conduta ofensiva ou humilhante, uma vez que, sendo este fenômeno de natureza
psicológica, não há de ser um ato esporádico capaz de trazer lesões psíquicas à vítima. Como bem
esclarece o acórdão proferido pela 4.ª Turma do TST:4
“O assédio moral pode ser definido como um abuso emocional no local de trabalho, de forma
maliciosa, não sexual e não racial, com o fim de afastar o empregado das relações profissionais,
através de boatos, intimidações, humilhações, descrédito, isolamento. Ou ainda, qualquer conduta
abusiva, que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade
psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.
Sua configuração depende, portanto, da demonstração de prática dolosa e reiterada adotada pelo
empregador, em princípio, a cargo do trabalhador, já que se trata de fato constitutivo do direito à
indenização (art. 818 da CLT (LGL\1943\5) e art. 333, I, do CPC (LGL\1973\5))” (grifo nosso).
Assim, o arco temporal deve ser suficientemente longo para que cause um impacto real e de
verdadeira perseguição pelo assediador.
Em um de seus trabalhos, Heinz Leymann chega a quantificar um período mínimo, afirmando que
“uma dificuldade relacional se torna assédio quando é praticada com uma frequência mínima de
uma vez por semana, em um período superior a 6 meses”.5
Atualmente, não se fala em um tempo determinado em dias, ou meses, apesar de se configurar
normalmente ao longo de um ano ou mais. Entretanto, não devemos tomar como parâmetro um
período de tempo específico, vez que o assédio pode ser verificado em prazo mais exíguo,
dependendo de como o dano veio se instalar.
3. O BULLYING
Bullying é um termo inglês originalmente utilizado para descrever atos de violência física ou
psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um ou mais indivíduos (bully, o “valentão” ou
“brigão”), com o objetivo de intimidar, agredir e isolar outro indivíduo, ou um grupo.
No uso original, bullying pode ser traduzido como ameaça, amedrontamento e intimidação, por isso
pode ser considerado uma forma de assédio, ocorrendo entre uma parte com condições de exercer
poder sobre a outra, que se considera mais fraca.
O bullying se configura por de atitude cujo objetivo é de forçar alguém ao isolamento social,
obtido por meio de técnicas que combinam intimidação e humilhação. Dentre estas técnicas, o
bully age espalhando comentários, criticando as características da vítima, como etnia, religião e
deficiências, e criando meios de não socializar com a vítima, somado à intimidação de outras
pessoas para que corroborem com esta atitude.
De forma mais técnica, o bullying configura-se em três elementos: (a) comportamento agressivo e
negativo, (b) executado repetidamente, sendo que há um (c) desequilíbrio de poder entre
assediador e vítima.
Os atos de bullying configuram atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo nosso
ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem princípios constitucionais, principalmente a
dignidade da pessoa humana. Dessa forma, podem ensejam indenização por dano moral, com base
no Código Civil (LGL\2002\400) de 2002, que determina que todo ato ilícito que cause dano a
outrem gerará o dever de indenizar. A responsabilidade pela prática de atos de bullying pode
também ser enquadrada no Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40), principalmente
quando acontece na escola, já que estas instituições prestam serviço a consumidores e são
responsáveis por atos de bullying que ocorram nesse contexto.
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 3/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

4. CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DO BULLYING


Conforme mencionado anteriormente, o bullying é o ato de violência física ou psicológica que
ocorre de forma repetida, sem motivação, com intuito de intimidar, isolar e humilhar a vítima,
havendo a distinção entre sua forma direta e sua forma indireta.
O bullying direto refere-se a atitudes direcionadas imediatamente à vítima, no que se inclui desde
a agressão física, até insultos ou apelidos depreciativos da pessoa. Por conta disso, é uma forma
mais perceptível, enquanto o bullying indireto muitas vezes passa despercebido, pois o agressor
chateia a vítima de forma indireta, através de cochichos e fofocas que visam a chatear a vítima.
Situações de bullying podem ocorrer em diversos locais, como entre alunos na escola ou
faculdade, colegas no local de trabalho e vizinhos, desde que na relação se observe a existência
de uma estrutura de poder entre o agressor e a vítima, que pode ser tanto evidente, nos casos
em que a intimidação é feita pela força física, quanto tácita, quando a hierarquia entre as partes
é de cunho psicológico.
Há ainda de se falar numa das atuais formas mais perversas de bullying, que é aquele praticado
virtualmente, conhecido como ciberbullying. Nele, as ofensas à vítima são feitas por meio de
ferramentas tecnológicas, principalmente celulares e recursos da Internet, como e-mails, sites de
relacionamentos e vídeos. A gravidade deste tipo de ataque dá-se porque a propagação dessas
informações ocorre de forma instantânea, com alto alcance, extrapolando os limites de
convivência interpessoal e expondo a vítima à difamação pública, com possibilidade praticamente
mínima de reversão do quadro. Ademais, o agressor consegue preservar seu anonimato, já que se
esconde por trás da tecnologia, o que diminui as possibilidades de controle e repressão de tais
atos. Por conta disso tudo, o sofrimento da vítima acaba por ser em muitas vezes multiplicado.
Os efeitos do bullying sobre o indivíduo podem ser vários, gerados principalmente pelo desequilíbrio
emocional com o qual a vítima passa a sofrer, dentre os quais estresse, ansiedade, depressão e
isolamento, além das reações fisiológicas, como problemas gástricos, doenças de pele e ganha ou
perda súbita de peso, estas podendo ser graves a ponto de chegaram à obesidade, à bulimia ou à
anorexia. Há casos de problemas ainda mais graves, em que a falta de perspectiva do indivíduo de
sair dessa situação opressora o leva ao vício de álcool, drogas ou, até mesmo, ao suicídio (já
classificado como bullycídio).
5. DISTINÇÃO ENTRE CONCEITOS
Notoriamente é sabido que atitudes hostis de intimidação e constrangimento entre pessoas não
são novidade em nossa sociedade. Apenas a partir da década de 1980 começaram a ser
elaborados os primeiros estudos sobre o tema. Pioneiras foram as pesquisas de Heinz Leymann, na
Suécia, que relacionavam o grande número de casos de pacientes em tratamento por problemas
psicológicos com as dificuldades nas relações pessoais no local de trabalho, dando origem ao
conceito de mobbing.
Segundo o pesquisador, nesse tipo de conflito, a vítima é submetida a um sistemático processo de
estigmatização e desrespeito de seus direitos, ao qual ele mesmo se refere não apenas como
mobbing, o termo originalmente utilizado, mas como “bullying”, “psychological terror”, ou terror
psicológico, e “ganging up on someone”, ou seja, caçoar ou pegar no pé de alguém.6
Apesar de esses termos serem, muitas vezes, utilizados como sinônimos, pela necessidade de
construção teórica, neste ponto do estudo é preciso que esclareçamos que há distinção
doutrinária entre eles, com destaque para os conceitos de mobbing, bullying e assédio moral.
Dessa forma, segundo Marie-France Hirigoyen, a expressão mobbing está relacionada a
perseguições coletivas e à violência organizacional, no que podem se incluir tanto a violência
psicológica quanto a física. Já o bullying, mais abrangente que o primeiro, envolveria ofensas
individuais de forma ampla, no que se inclui desde atitudes mais leves, como chacotas e o
isolamento da vítima, até condutas extremamente abusivas de conotação sexual ou mesmo
agressões físicas. Por fim, o assédio moral diria respeito a agressões mais sutis e, portanto, mais
difíceis de caracterizar e provar, independente se provenientes de indivíduo ou grupo.7
Porém, por conta de possuírem elementos-chave comuns, principalmente em relação à modalidade
de sua conduta, que é agressiva e vexatória, capaz de constranger a vítima, causando nela
sentimentos de humilhação e inferiorização, que afetam essencialmente sua autoestima, esses
termos vêm sendo usados como sinônimos em nosso País, principalmente quando tratam de
atitudes abusivas no ambiente de trabalho.
Entretanto, como a atividade do jurista não deve ser restrita, mas refletir toda nossa sociedade,
pude notar, através da análise de fontes empíricas, principalmente matérias jornalísticas, que a
utilização dessas expressões no Brasil tem tomado outras significações, sendo utilizadas para

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 4/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

retratar contextos específicos de violência. Vejamos.


O termo assédio moral é relacionado especificamente com o local de trabalho, enquanto bullying
tornou-se uma expressão utilizada em situações de humilhação, agressões físicas ou ameaças no
ambiente escolar. Da mesma forma, no uso corrente, a diferenciação feita doutrinariam ente entre
mobbing, violência organizacional, e bullying, violência individual, não é utilizada, de forma que a
expressão mobbing é associada ao assédio moral no ambiente de trabalho.8
Tomando como base este entendimento empírico, podemos elencar algumas diferenças entre
essas duas práticas: o assédio moral ocorre no local de trabalho, sendo as partes adultas de
hierarquia superior, igual ou inferior; por sua vez, o bullying ocorre em ambiente escolar, entre
crianças e adolescentes estudantes, geralmente colegas próximos, da mesma sala ou turma.
Assim, o bullying nas escolas pode ser comparado ao assédio moral horizontal na empresa, do qual
já tratamos anteriormente, pois envolvem as relações entre colegas, em que não há hierarquia
formal.
Cabe frisar que tomar como base essa distinção é tendência mundial, principalmente por conta de
o termo bullying ter recebido tanto destaque na mídia nos últimos anos, restritivamente referindo-
se à violência escolar. Tal opção foi tomada por Leymann, que explica:
“A conotação de bullying é de agressão e ameaça tanto físicas quanto psicológicas. (…) Em
oposição está o mobbing nos locais de trabalho. O comportamento lá certamente não possui as
características notadas no bullying, mas muito frequentemente é feito de uma maneira bastante
sutil, ainda que mantenha efeitos altamente estigmatizantes. (…) Uma comparação dessas duas
áreas de pesquisa expõe, de fato, grupos muito diferentes de comportamento hostil. Minha opinião
é que essas duas áreas deveriam usar terminologias diferentes (…). Minha sugestão é que no
futuro falemos de bullying na escola e de mobbing no ambiente de trabalho.”9
Portanto, a partir de agora, adotaremos a diferenciação supramencionada, mantendo a palavra
bullying para atividades que envolvam crianças e adolescentes na escola, reservando os termos
assédio moral e mobbing para o comportamento adulto no ambiente de trabalho.
6. ASSÉDIO MORAL, BULLYING E O DIREITO
A diferenciação feita anteriormente entre assédio moral e bullying pode perfeitamente ser aplicada
ao direito, desde que seja devidamente diferenciada a competência judicial para julgar conflitos
deles decorrentes. Assim, enquanto o assédio moral, praticado por empregados e prepostos no
ambiente de trabalho, será de competência da Justiça do Trabalho, no que se inclui a
responsabilidade da empresa empregadora, o bullying, praticado por crianças e adolescentes no
ambiente educacional, será de competência da Justiça Comum, gerando responsabilidade também
à escola.
Em relação ao assédio moral, não temos no Brasil uma lei específica que verse sobre assédio moral
no ambiente de trabalho, de forma que nossa principal base nessa matéria são as
regulamentações da OIT, cuja definição de assédio moral é o que norteia os pesquisadores sobre o
tema.
Agora, as responsabilidades decorrentes do assédio moral derivam de diversos caminhos
legislativos em nosso País. Inicialmente fala-se na responsabilidade penal do agressor, que pode se
configurar em diferentes crimes: calúnia, difamação ou injúria, aplicando-se os arts. 138, 139 e
140 do CP (LGL\1940\2), respectivamente, o crime de constrangimento, aplicando-se o art. 146
do CP (LGL\1940\2), e o crime de ameaça, aplicando-se o art. 147 do CP (LGL\1940\2).
Em relação à responsabilidade trabalhista, com base no art. 932 do CC/2002 (LGL\2002\400), a
empresa é responsável por ato de assédio de seu preposto, de forma que o empregado assediado
tem o direito de demandar na Justiça do Trabalho contra seu empregador, requerendo danos
morais referentes ao ato de agressão sofrido. Vale ressaltar que a empresa tem o respaldo legal
de não apenas dispensar o empregado agressor por justa causa (art. 482, b e j, da CLT
(LGL\1943\5)), como para ingressar com ação de regresso contra este empregado (art. 934 do
CC/2002 (LGL\2002\400)).
Da mesma forma, o bullying também não possui ainda legislação expressa a seu respeito.
Atualmente, discute-se a criação de leis específicas sobre esse tipo de agressão, bem como qual
o papel social e qual a responsabilidade legal das escolas nesses casos. Tramita na Câmara dos
Deputados o PL 5.369/2009, cuja proposta é de instituição do denominado “Programa de Combate
ao bullying”, com amplitude nacional.
Enquanto isso, tomamos como base para casos de violência escolar a Constituição Federal
(LGL\1988\3), que em seu art. 205 dispõe ser a educação direito de todos e dever do Estado e da
família, assim como prevê o art. 2.° da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 5/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

1996). Ademais, aplica-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (LGL\1990\37), cujo certame é


a proteção integral de seus tutelados.
No que toca a responsabilidade do agressor, nosso Código Civil (LGL\2002\400) preceitua o dever
do causador de ato ilícito de indenizar pelos danos morais e materiais causados. Somado a isso, o
Código Penal (LGL\1940\2) tipifica condutas que integram os atos de bullying, como é o caso da
violação da integridade física, da honra e da liberdade do indivíduo. Ademais, com base no próprio
Código Civil (LGL\2002\400) e no Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40), a escola
também responde pela integridade física e moral de todos os seus alunos pelos danos sofridos no
ambiente escolar.
Já existem algumas tentativas legislativas de regulamentar ações de inibição e prevenção da
violência nas escolas. Santa Catarina, por exemplo, sancionou em janeiro de 2009 a Lei 14.651
que instituiu um programa de combate ao bullying nas escolas públicas e privadas do Estado. Na
mesma linha, em Pernambuco está em vigor a Lei 13.995, de dezembro de 2009, que passou a
exigir que suas escolas da educação básica incluíssem em seu projeto pedagógico medidas de
conscientização e combate ao bullying. Essa tendência pode ser observada em muitos outros
Estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro, que já possuem projetos de lei com esse
objetivo em análise no Poder Legislativo.
Precisamos destacar, no entanto, que apesar das iniciativas legislativas serem de fundamental
importância no combate e repreensão de atos de assédio, seja na esfera laboral, seja na esfera
educacional, ela de nada adianta caso não haja uma mobilização e conscientização social ao redor
do tema.
7. A NECESSIDADE DE COMBATE A ESSAS PRÁTICAS
Atualmente, é bastante evidente o fato de que vivemos num mundo cada vez mais global,
altamente informatizado e com redes de informação cada vez mais velozes. Nesse contexto, a
intensidade de tudo que nos cerca aumentou, inclusive das relações humanas, cultivando a
impaciência e aumentando a violência. Da mesma forma, apesar do assédio moral e do bullying não
serem fenômenos recentes, percebemos que houve um relevante aumento da percepção desses
casos, principalmente pelo fato de, na esteira da intensificação trazida pelas novas tecnologias,
tornaram-se mais graves as agressões realizadas no local de trabalho e na escola.
No caso da violência nas escolas, a última Pesquisa Nacional da Saúde Escolar, realizada pelo IBGE
em 2009, revela que:
“Os dados sobre violência mostram que quase um terço dos alunos (30,8%) respondeu ter sofrido
bullying alguma vez, cuja ocorrência foi verificada em maior proporção entre os alunos de escolas
privadas (35,9%) do que entre os de escolas públicas (29,5%). Nos 30 dias anteriores à pesquisa,
12,9% dos estudantes se envolveram em alguma briga com agressão física, chegando a 17,5%
entre os meninos e 8,9% entre as meninas, inclusive com o uso de armas brancas (6,1% dos
estudantes) ou arma de fogo, declarado por 4% deles.”1 0
No tocante ao assédio moral, quase não temos pesquisas no Brasil que revelem a proporção de
trabalhadores que sofrem desses tipos de agressões. Po demos citar dados divulgados no jornal
Folha de S. Paulo de 01.07.2001, que aponta que um estudo feito com 97 empresas de São Paulo
(setores químico, plástico e cosmético) revelou que dos 2.072 empregados entrevistados, 870
deles, ou seja, 42%, haviam passado por algum tipo de humilhação no trabalho.1 1 Apesar de
poucos dados, podemos afirmar que o número de trabalhadores que tem sua vida profissional
afetada por algum tipo de assédio é bastante significativo, o que pode ser visto com o número
crescente de ações na Justiça do Trabalho com este tipo de demanda.
Por conta dessa situação de maior ocorrência e de maior evidência tanto do bullying quanto do
assédio, tanto escolas quanto empresas têm buscado desencorajar esse tipo de prática,
principalmente através da implementação de programas de conscientização sobre o tema e de
incentivo da cooperação entre alunos ou trabalhadores, reforçando os laços entre os colegas e
evitando quaisquer atos agressivos.
No caso das empresas, verifica-se também a alteração das políticas internas de empresas, na
tentativa de evitar que empregados e prepostos, independente do nível hierárquico, tenham
comportamentos agressivos que possam ser caracterizados como assédio. Assim, práticas
vexatórias ou mesmo a competição entre trabalhadores vêm sendo combatidas, evitando que os
empregados se exponham ou sintam-se ofendidos na busca por suas metas. Ademais, cada vez
mais os empregadores têm adotado políticas rígidas com assediadores, não hesitando em dispensar
por justa causa trabalhadores que não respeitem seus colegas.
Tais medidas de combate a qualquer tipo de assédio são fundamentais, principalmente porque
algumas pesquisas revelaram que os efeitos da violência psicológica nos indivíduos, especialmente
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 6/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

nas crianças, geram uma série repercussões sociais e à saúde desses indivíduos, dificilmente
reversíveis.
No caso do assédio moral no ambiente de trabalho, envolvendo adultos, os problemas causados no
trabalhador são fundamentalmente danos à sua saúde mental, predominando o estresse e seus
sintomas psicossomáticos, como pesadelos, dores no estômago e falta de apetite, a ansiedade e a
hiper-reação psíquica, a depressão, além do desgaste físico, transtornos de sono, cansaço e
debilidade.
Os reflexos nas crianças e adolescentes são ainda mais graves, pois além de distúrbios
psicológicos apresentados de imediato, consequências podem se estender até a vida adulta e em
sua formação pessoal. As vítimas, por exemplo, podem vir a se tornar adultos com sentimentos
negativos e baixa autoestima, refletindo problemas de relacionamento com o outro e de aceitação.
Segundo a cartilha sobre bullying do Conselho Nacional de Justiça, lançada em 2010, os problemas
mais comuns enfrentados pelas crianças que sofrem esse tipo de agressão são o desinteresse pela
escola, problemas psicossomáticos, distúrbios de comportamento, depressão, anorexia e bulimia,
fobia escolar e social e ansiedade generalizada. Aponta ainda casos extremos, como quadros de
esquizofrenia, homicídio e suicídio.1 2
Quanto aos jovens que são os assediadores, a tendência é que reflitam sua personalidade
autoritária na vida adulta, tendo também dificuldades de relacionamento, mas por não ter
aprendido na infância a lidar com as diferenças e a ser tolerante com o próximo. Podem se tornar
adultos autoritários, preconceituosos e violentos, além de, muito provavelmente, transferirem a
conduta assediadora da escola para o local de trabalho e seus lares.
Nesse ponto, precisamos mencionar a tendência atual em enquadrar os mais diversos
comportamentos estudantis como casos de bullying, o que gera um infundado alarmismo em torno
do crescimento da “violência escolar”, assim como a banalização do termo. Porém, nem toda
brincadeira que envolva apelidos, deboches e “zoeira” entre alunos ou atos de indisciplina podem
ser considerados bullying. Segundo Luciano Campos Silva, pesquisar da Universidade Federal de
Ouro Preto:
“Sobretudo nos anos finais do ensino fundamental, as brincadeiras maliciosas entre os estudantes
são bastante comuns, mas nem sempre costumam privilegiar um mesmo alvo. (…) Como
demonstram as pesquisas sobre o assunto, só podemos realmente falar em bullying nos casos em
que os maus-tratos se tornam persistentes e envolvem sujeitos que se encontram em posições
desiguais de poder.”1 3
Portanto, para que possamos falar em bullying é preciso que a relação entre os alunos ultrapasse
o limite da brincadeira, tornando-se ofensiva, voltada a apenas uma pessoa, tornando-se
verdadeiras perseguições das quais a vítima não consegue escapar e que podem gerar dados
físicos e psicológicos. Tal diferenciação é importante porque a brincadeira faz parte do
crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente, não merecendo a repreensão e a
punição que necessita um ato de violência, no caso, o bullying.
Feita essa ressalva, precisamos ressaltar que é fundamental que empresas e escolas adotem
medidas para conscientizar trabalhadores e alunos que práticas de assédio não são “naturais”,
nem mesmo justificáveis, devendo ser combatidas e repelidas nesses ambientes. Assim, é preciso
que tanto empregador, quanto educadores incentivem que vítimas ou terceiros apontem essas
violências, garantindo segurança e conforto emocional para os denunciadores. Ainda, é preciso
que os assediadores sejam não apenas punidos devidamente, mas que, antes disso, recebam
informação suficiente de modo a perceberem a necessidade do respeito ao próximo, na tentativa
de evitar que a conduta se perpetue.
8. O TRATAMENTO DA MATÉRIA NOS TRIBUNAIS
Os tribunais trabalhistas brasileiros têm-se utilizado dos termos bullying e assédio moral como
sinônimos, deixando sempre claro tratarem-se de situações de violência psicológica ocorridas no
local de trabalho.
Podemos citar, a título de exemplo, a descrição feita em acórdão da 2.ª Turma do TST, que aqui
transcrevemos:
“Na hipótese dos autos não está evidenciado o assédio moral, também denominado mobbing ou
bullying, que vem sendo conceituado, no âmbito do contrato de trabalho, como a manipulação
perversa e insidiosa que atenta sistematicamente contra a dignidade ou integridade psíquica ou
física do trabalhador, com vistas à sua exposição a situações incômodas e humilhantes
caracterizadas pela repetição de um comportamento hostil de um superior hierárquico ou colega,
ameaçando o emprego da vítima ou degradando o seu ambiente de trabalho” (RR 1600-

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 7/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

95.2006.5.03.0112, j. 06.09.2011, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, DEJT 16.09.2011).
Outro exemplo, da 8.ª Turma do TST, reforça a identidade trabalhista desses conceitos:
“O assédio moral (ou – bullying – ou terror psicológico), no âmbito do contrato de emprego,
consiste na conduta abusiva do empregador ao exercer o seu poder diretivo ou disciplinar,
atentando contra a dignidade ou integridade física ou psíquica de um empregado, ameaçando o
seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho, expondo o trabalhador a situações
humilhantes e constrangedoras. (…) E aqui importa ressaltar que muitas vezes o bullying (assédio
moral) se materializa camuflado na forma de uma simples brincadeira, conforme se verifica na
hipótese vertente, sendo que, contudo, a doutrina abalizada sobre o tema chama a atenção para
o fato de que a perversão do fenômeno consiste justamente em o assediado utilizar-se de meios
ardilosos para alcançar seus objetivos, minando a autoestima da vítima” (EDcl em RR 72400-
44.2009.5.03.0145, j. 01.06.2011, rel. Min. Dora Maria da Costa, DEJT 03.06.2011).
Em contrapartida, a Justiça Comum tem utilizado o termo bullying especificamente nos casos de
violência nas escolas, seja física ou psicológica. Aliás, por conta da não regulamentação do tema
no direito civil, conforme exposto anteriormente, todas as decisões publicadas que envolvem
assédio entre alunos têm gerado alguma polêmica, principalmente no que toca a responsabilização
da institução de ensino.
Citamos, como exemplo, a famosa decisão da Justiça mineira, de maio de 2010, que obrigou os
pais de um aluno a pagarem indenização de R$ 8 mil a uma garota de 15 anos que sofria bullying
em uma escola de Belo Horizonte. A agressora não apenas isolava a vítima, como referia-se a ela
através de uma série de apelidos ofensivos que faziam referência à sua aparência física. Na
sentença, relata-se que as atitudes da agressora demonstravam falta de limites, tendo feito com
que a vítima se tornasse uma pessoa triste, estressada e emocionalmente debilitada. Apesar dos
pais da vítima alegarem que procuraram o colégio e que o mesmo se omitiu, ele não foi
responsabilizado.1 4
Diferente posicionamento tomou o TJDF, que em decisão condenou a instituição de ensino a
indenizar por dano moral criança que havia sofrido bullying por parte de alunos:
“Abalos psicológicos decorrentes de violência escolar. Bullying. Ofensa ao princípio da dignidade da
pessoa. (…) Na espécie, restou demonstrado nos autos que o recorrente sofreu agressões físicas
e verbais de alguns colegas de turma que iam muito além de pequenos atritos entre crianças
daquela idade, no interior do estabelecimento do réu, durante todo o ano letivo de 2005. É certo
que tais agressões, por si só, configuram dano moral cuja responsabilidade de indenização seria do
Colégio em razão de sua responsabilidade objetiva. Com efeito, o Colégio réu tomou algumas
medidas na tentativa de contornar a situação, contudo, tais providências foram inócuas para
solucionar o problema, tendo em vista que as agressões se perpetuaram pelo ano letivo. Talvez
porque o estabelecimento de ensino apelado não atentou para o papel da escola como
instrumento de inclusão social, sobretudo no caso de crianças tidas como “diferentes”. Nesse
ponto, vale registrar que o ingresso no mundo adulto requer a apropriação de conhecimentos
socialmente produzidos. A interiorização de tais conhecimentos e experiências vividas se processa,
primeiro, no interior da família e do grupo em que este indivíduo se insere, e, depois, em
instituições como a escola.” (ApCiv 0008331-83.2006.8.07.0003, 2.ª Turma Cível, j. 07.08.2008,
rel. Des. Waldir Leôncio Júnior)
Dessa forma, percebemos que apesar de na Justiça do Trabalho o assédio moral já ser tema
consolidado, ainda há muito que se discutir na Justiça Cível, principalmente em relação à
responsabilidade da escola nos atos de bullying cometidos pelos alunos. De toda forma, como já
dito em momento anterior, a importância dos estudos sobre esses fenômenos são importantes
principalmente no combate e na busca da extinção deste tipo de prática desumana, que fere a
dignidade do indivíduo e gera profundos, e muitas vezes irreversíveis, danos físicos e psicológicos.

1 Lima, Francisco Meton Marques de. Direitos humanos fundamentais do trabalho – Dano moral.
Jornal do 11.° Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho. São Paulo: Ed. LTr, 25 e 26.03.2003.
p. 22.

2 Hirigoyen, Marie-France. Molestie morali apud Monateri, Píer Giuseppe; Bona, Marco; Oliva,
Umberto. O mobbing como legal framework: a nova abordagem italiana ao assédio moral no
trabalho. Revista Trimestral de Direito Civil 7/130. Rio de Janeiro: Renovar, jul.-set. 2001.

3 Manual anti-Bullying do MSF Union (sindicato inglês). Trad. livre da autora.

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 8/9
17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

4 RR 234800-32.2009.5.09.0664, j. 28.09.2011, rel. Min. Maria de Assis Calsing, DEJT 07.10.2011.

5 Leymann, Heinz. The mobbing encyclopedia. File 13100e. Disponível em: [www.leymann. se/
English/frame.html].

6 Idem, file 11110e. Disponível em: [www.leymann.se/English/1111OE.HTM].

7 Hirigoyen, Marie-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. 2. ed. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 85.

8 Garbin, Andréia de Conto. Representações na mídia impressa sobre o assédio moral no


trabalho. Dissertação de Mestrado da Faculdade de Saúde Pública, São Paulo, USP, 2009. p. 88-
89.

9 Leymann, Heinz. Op. cit., file 11130e. Disponível em: [www.leymann.se/English/11130E.HTM].

10 IBGE, 2009. Disponível em: [www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza. php?


id_noticia=1525].

11 Buratto, Luciano Grudtner. Assédio moral apressa demissão. Folha de S. Paulo, São Paulo,
01.07.2001.

12 Conselho Nacional De Justiça. Bullying: cartilha 2010 – Justiça nas escolas. Brasília, 2010. p. 9.

13 Os professores e a problemática da indisciplina na sala de aula. Anais do I Seminário Nacional


Currículo em Movimento – Perspectivas atuais. Belo Horizonte, 2010. p. 7.

14 Peixoto, Paulo. Justiça condena pais de aluno por bullying. Folha de S. Paulo, Cad. Cotidiano,
20.05.2010.
Página 1

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 9/9

Você também pode gostar