SOCIOLOGIA

Assédio Moral e Assédio Sexual II

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ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL II

RELEMBRANDO
O assédio sexual tem como característica básica constranger outra pessoa, a fim da ob-
tenção de algum tipo de vantagem de natureza sexual. A pessoa que está constrangendo
se aproveita da posição de autoridade ou de superior hierárquico em que se encontra, em
relação a esse outro indivíduo.
Recentemente, houve uma novidade: até 2019, seguindo basicamente o que está posto
no Art. 216-A do Código Penal (CP), essa relação estava incutida no ambiente de trabalho.
Lembrando que, nesse caso, não há que se falar do uso de ameaça ou violência, especifi-
camente. Porém, em 2019, um julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a
aplicação desse instituto também nas relações entre professor e aluna, de modo que esse
julgado altera a percepção e a aplicação do instituto, gerando algumas consequências para
outras áreas.
Desse modo, considerando que o entendimento foi alterado, abre-se a possibilidade de
se chegar, até o judiciário, outros constrangimentos que antes não eram tratados por esse
instituto – previsto no Art. 216-A do CP – e que agora passam a ser observados/abrangi-
dos por ele.

ASSÉDIO MORAL

Observe o conceito trazido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT), a seguir:

CONCEITO

“Assédio Moral interpessoal é toda e qualquer conduta abusiva e reiterada, que atente
contra a integridade do trabalhador com intuito de humilhá-lo, constrangê-lo, abalá-lo psico-
logicamente ou degradar o ambiente de trabalho. É o assédio de pessoa para pessoa, em
que o assediador objetiva minar a autoestima, desestabilizar, prejudicar ou submeter a vítima
emocionalmente para que ceda a objetivos como pedido de demissão, atingimento de meta,
perda de promoção, por exemplo.
O assédio moral, de forma geral, é a insistência impertinente, a perseguição, a
abordagem velada, que viola a esfera moral do indivíduo” (MPT/OIT)
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O primeiro ponto a se considerar é que essa conduta precisa ser reiterada, não se tra-
tando simplesmente de uma situação isolada ou de um caso isolado, especificamente, com
a intenção de humilhar a pessoa, de constrangê-la, de abalá-la psicologicamente ou degra-
dá-la no ambiente de trabalho. O ponto central é o de que o assédio moral atenta contra a
integridade do trabalhador.
5m
Um outro ponto a se considerar é que não há necessidade de relação hierárquica entre
os envolvidos.
A questão do aspecto subjetivo da vítima é de grande relevância, visto que, nessas con-
dições, ela passa por um tipo de constrangimento que a abala psicologicamente, afetando
diretamente a sua vida, podendo ter consequências drásticas para si mesma. A vítima passa
a ter problemas de autoestima e outras questões de ordem psicológica, a depender do tipo
de humilhação a que estava sendo submetida, sendo toda essa situação demasiadamente
degradante.
Nesse sentido, os objetivos que envolvem esse tipo de ação/ato por quem realiza o cons-
trangimento são os mais variados possíveis, de modo que é necessário analisar as condi-
ções específicas para percebê-los.
Logicamente, o assédio moral vai ensejar uma série de condições no âmbito jurídico, com
a possibilidade de uma indenização e, inclusive, de indenização por danos morais em razão
do tipo de assédio a que a pessoa esteja sendo submetida e, a depender das questões envol-
vidas, inclusive pode até gerar danos mais graves.
Na questão do assédio moral, deve-se levar em consideração alguns aspectos: motiva-
ções, formas, vítimas e consequências.

MOTIVAÇÕES

O primeiro aspecto se refere às motivações, ou seja, o que motiva o assediador.

A literatura afirma, por exemplo, que o assediador pode ser motivado pelo medo.
O assediador pode desejar desestabilizar outra pessoa, porque há algum receio, surgido
no ambiente de trabalho, de que a vítima possa crescer profissionalmente, eventualmente
ocupando o seu cargo. Considera-se a hipótese de um colega de trabalho que percebe a
possibilidade de ocupar uma posição superior e, repentinamente, começa a se aproveitar de
algumas condições para assediar uma pessoa moralmente, com a finalidade de desestabili-
zá-la e levá-la à demissão. Assim, justamente por medo, o assediador age desse modo.
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Outra possibilidade muito comum é a inveja, de modo que o sujeito (agressor) assedia
outra pessoa com receio de determinadas possibilidades de crescimento ou das habilidades
que o outro indivíduo possui no ambiente de trabalho.
Sede de poder é outra questão relevante, presente no campo da leitura de natureza psi-
cológica. Uma das ferramentas que o agressor pode utilizar é o assédio contra um indivíduo
para tentar se colocar em posição de superioridade a ele.
O preconceito também é motivo de assédios, seja em razão da raça, da orientação sexual,
da religião etc. Existem várias formas que podem levar o agressor a ser motivado a cometer
assédio quando se trata de preconceitos.
É possível, ainda, dentre as várias motivações, destacar a vingança, por exemplo, em
que o agressor se aproveita de alguma situação do ambiente de trabalho para destruir emo-
cionalmente a vítima.
10m

FORMAS

Como ou de que maneira o assédio pode acontecer?

Uma das possibilidades trazidas pela psicologia é exatamente a questão da recusa, em
termos de comunicação direta, com o assediado. Nesse sentido, esse indivíduo passa a
ser isolado dentro do ambiente de trabalho, porque os funcionários o deixam à margem dos
grupos sociais que compõem o local, sendo, então, possível, que várias pessoas exerçam o
papel de assediador.
Outra forma de ocorrer o assédio é pela desqualificação do indivíduo assediado, em rela-
ção à sua função no ambiente de trabalho. Isso se dá através de críticas nefativas, com o
objetivo de desqualificar a vítima, de descredibilizar seu trabalho ou de desestabilizá-la emo-
cionalmente.
A questão do isolamento pode acontecer tanto por parte do grupo social do ambiente de
trabalho, como também por quem ocupa uma posição hierarquicamente superior. É impor-
tante destacar que, no caso do assédio moral – diferentemente do que acontece no assédio
sexual –, a relação não precisa ser de superior hierárquico, podendo ocorrer assédio moral
em uma relação de subordinado contra superior.
Essas ações são identificadas com mais frequência, sobretudo, em pesquisas e nas lite-
raturas da área da psicologia.
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VÍTIMAS

Quem é a vítima do assédio moral?

Há vítimas preferenciais: aquelas que, em sua maioria, fazem parte de grupos que são
socialmente discriminados na sociedade. Pertencem a grupos que são submetidos a deter-
minados constrangimentos, discriminações e preconceitos e que, também no ambiente do
trabalho, tendem a sofrer situações de assédio moral, preferencialmente.
Os acontecimentos no ambiente de trabalho não se diferem tanto dos que ocorrem no
espaço social, como a sociologia informa. Nesse sentido, nos microespaços sociais, repro-
duzem-se comportamentos que são encontrados no ambiente externo, embora o ambiente
organizacional tenha a possibilidade de um controle maior, por ser capaz de desenvolver
algumas regras próprias (uma cultura específica). Ainda assim, no ambiente de trabalho, per-
cebe-se a possibilidade de reprodução de um conjunto de condutas que são típicas desses
espaços sociais mais amplos, sendo o assédio moral uma delas.
As vítimas preferenciais informadas pela literatura são, principalmente, mulheres negras
– muito comum que sejam vítimas desse tipo de constrangimento –; pessoas idosas – sub-
metidas a determinadas situações de assédio relacionadas à fragilidade do corpo idoso; e
pessoas com deficiência, as quais continuam a sofrer assédio, mesmo com a tentativa de,
nas últimas décadas, construir uma cultura diferente, marcada por medidas da legislação e
pela significativa inserção desse grupo no ambiente de trabalho.
15m
Algumas outras vítimas que também sofrem assédio moral são pessoas acima do peso e
pessoas negras de uma forma geral – destaca-se a condição da mulher negra, mas homens
negros também são submetidos a constrangimentos e assédios. Isso não significa que
homens brancos não possam ser vítimas de assédio moral, porém, em termos socioestatísti-
cos, há vítimas preferenciais. Também, em razão da orientação sexual, homossexuais estão
mais sujeitos a sofrerem algum tipo de assédio moral do que heterossexuais.
Em uma questão discursiva, a banca pode solicitar que o(a) candidato(a) consiga fazer
esse tipo de leitura. Normalmente, as questões que envolvem essa temática costumam fazer
as correlações envolvendo tanto princípios da Psicologia quanto de Sociologia, além de con-
teúdos específicos de Direito, sendo mais provável as que se encontram no âmbito do Direito
do Trabalho ou do Direito Civil. As questões discursivas, quando envolvem essa temática,
são, normalmente, interdisciplinares.
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Em termos de questões objetivas, o(a) candidato(a) deve ficar atento(a), principalmente

com relação às motivações, às vítimas preferenciais e à forma como esse constrangimento
pode ocorrer.

CONSEQUÊNCIAS

As consequências do assédio moral são, sobretudo, de natureza psicológica.

Essas consequências podem provocar, na vítima, desordens emocionais, levando o pro-
blema para fora do ambiente de trabalho. A vítima chega em casa e tem dificuldade de lidar
com questões básicas, envolvendo as relações com os seus familiares, exatamente por estar
sofrendo algum tipo de assédio no ambiente de trabalho.
Outras consequências: atingir a dignidade da pessoa; alterar os seus valores; gerar danos
psíquicos graves, sendo necessário recorrer à terapia por longos períodos para conseguir se
reabilitar ao ambiente de trabalho e até às relações pessoais.
20m
Atualmente, tem-se a ideia de que as pessoas, de maneira geral, estão mais frágeis e
que, no passado, não precisavam se preocupar com certas questões que hoje são ampla-
mente debatidas e denunciadas. Deve-se destacar que faltava, às pessoas que estavam
submetidas a condições de constrangimento ou violência, ter espaços em que pudessem se
manifestar.
É importante que o Direito tenha se atentado a esse aspecto, pois observam-se ações
com a finalidade de promover mudanças sociais dentro da sociedade.
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Resumo:

TIPOS DE ASSÉDIO MORAL

VERTICAL ASCENDENTE

Praticado por um trabalhador hierarquicamente inferior contra o seu superior.

O assédio moral do tipo vertical é possível, porque não depende da posição que o asse-
diador se encontra em relação à vítima – diferentemente do assédio sexual, em que o asse-
diador se aproveita exatamente da superioridade (caso em que só ocorre na posição vertical
descendente).
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VERTICAL DESECENDENTE

Assédio praticado por um trabalhador hierarquicamente superior ao empregado assediado.

HORIZONTAL

Assédio praticado por funcionário contra outro que ocupa a mesma posição hierárquica.
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ORGANIZACIONAL

Violência psicológica promovida pela própria empresa.

Isso é comum em empresas que trabalham por meio do estabelecimento de metas, em
que se aproveita de um funcionário que consegue bater todas as metas, usando-o como refe-
rência para assediar moralmente outro, agindo de forma violenta. Não se trata de cobrança,
porque a cobrança, em um ambiente de trabalho, é uma açãoesperada e quem está em
uma posição hierarquicamente superior deve cobrar resultados. O problema manifesta-se na
maneira como isso ocorre, pois o que caracteriza o assédio moral é precisamente uma situ-
ação efetiva de constrangimento, de humilhação, afetando a dignidade da pessoa, caso isso
for empreendido diretamente pela própria organização.

Comparação entre as modalidades de assédio

Em questões objetivas, principalmente, as bancas trabalham com a inversão dos

conceitos.
Dessa forma, fique mais atento a este quadro:
DISTINÇÕES ENTRE AS MODALIDADES DE ASSÉDIO
ASSÉDIO MORAL ASSÉDIO SEXUAL
Exigem-se reiteradas condutas. Pode restar consumado com uma única conduta.
Obs.: não se trata de uma situação isolada. Obs.: não necessita reiteração.
Não exige superioridade hierárquica entre
Exige-se superioridade hierárquica entre autor e vítima.
autor e vítima.
Obs.: de acordo com recente decisão do STJ, essa supe-
30m Obs.: observam-se as várias possibilida-
rioridade hierárquica não se limita à relação de trabalho, a
des destacadas anteriormente, como uma
exemplo do julgado de uma relação em âmbito escolar (pro-
relação vertical ascendente, vertical descen-
fessor e aluna), o que abre espaço para outras interpreta-
dente, horizontal ou uma relação organizacio-
ções.
nal.
Normalmente, está associado à chantagem do agressor
Não depende de qualquer oferta à vítima.
sobre a vítima.
Obs.: verificar o quadro das motivações.
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Objetiva minimizar ou suprir a personalidade

da vítima. Objetiva o domínio sobre o corpo da vítima.
Obs.: visa a diminuir a pessoa psicologica- Obs.: trata-se de ato de natureza com intenções sexuais.
mente.
Atinge a liberdade sexual e, consequentemente, atinge a
Atinge a dignidade da pessoa.
dignidade da pessoa.

FONTE: NASCIMENTO, 2022, p. 570

Obs.: Quando essa temática é cobrada na formação humanística, será de maneira interdis-
ciplinar, envolvendo o Direito do Trabalho, o Direito Penal e eventualmente o Direito
Civil, com a Psicologia Jurídica e a Sociologia Jurídica.
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�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
ANOTAÇÕES

preparada e ministrada pelo professor Odair José Torres de Araújo.

A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.

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