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Introdução
O assédio moral é espécie de dano moral que materializa-se quando
o empregado é exposto a situações abusivas reiteradas causando degra-
dação do ambiente laboral e aviltamento à dignidade da pessoa humana.
Pode ser em todos os níveis na organização, de forma hierárquica vertical
ascendente e descendente, horizontal e ainda poderia se dar de forma in-
terinstitucional (caso de terceirizações) ou envolvendo relações mistas de
sócios que são empregados. Nas relações de cadeias de fornecimento e
produção pode ser encontrado um assédio moral ostensivo com relação
a empregados que devem gerir estas relações. Pensa-se que ainda numa
fase pré-contratual de busca de um emprego e pós-contratual poderia haver
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HIRIGOYEN, Marie-France. El acoso moral. El maltrato psicológico na vida cotidiana. Barcelona:
Paidós Ibérica, 1999, p. 48.
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FERNANDES, Denise Maria Schllenberger. Assédio Sexual nas Relações de Trabalho. Belo
Horizonte: D’Plácido, 2017.
3
BARROS, Alice Monteiro de. O assédio sexual no direito do trabalho comparado. Revista LTr –
Legislação do Trabalho. São Paulo, v. 62, n. 11, p. 1464-1476, nov. 1998.
4
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 946.
A jurisprudência já admite esta figura como se verifica no seguinte julgado: RO-02068-2011-131-
03-00-4.
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5
Cfe. TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. 3. ed. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008.
6
ARAUJO, Adriane Reis de. O assédio moral organizacional. São Paulo: LTr, 2012, p. 76.
7
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Assédio por competência nas relações de trabalho. Revista do Mi-
nistério Público do Trabalho na Bahia. Salvador, n. 3, 2008, pp. 27-36.
8
GOMES, Diego Jimenez. Conceito de assédio moral: concepções subjetiva e objetiva: elementos
e espécies. Jornal Trabalhista Consulex. Brasília, v. 27, n. 1309, p. 5-8, 01/02/2010.
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VON POTOBSKY, Geraldo; BARTOLOMEI DE LA CRUZ, Héctor. La Organización Internacional del
Trabajo. Buenos Aires: Astrea, 1990, p. 379.
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A definição da discriminação para a OIT, didaticamente, conta com os seguintes elementos:
1. DISTINÇÃO, EXCLUSÃO OU PREFERÊNCIA (DIRETA OU INDIRETA);
2. MOTIVO – ATÍPICO OU TÍPICO – raça, sexo, cor, religião, opinião política, ascendência nacional
ou origem social;
3. OBJETIVO OU EFEITO: destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em ma-
téria de emprego ou profissão.
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Conforme estudos em conjunto com Universidades do Porto e Houston (ARAÚJO, Manuel Salvador
et alii. Bullying no local de trabalho, clima organizacional e seu impacto na saúde dos trabalhadores.
Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/277985081>. Acesso em: 24 jun.
2018).
12
ÂMBITO JURÍDIDO. Disponível em: <http://www.lexml.gov.br/busca/search?keyword=bullying&f1-
tipoDocumento=Jurisprud%C3%AAncia>. Busca efetuada em: 24 jun. 2018.
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Embora esta lei tenha sido criada no âmbito das escolas, seus con-
ceitos são aplicáveis analogicamente, pelo art. 8º da CLT, às relações de
trabalho.
Assim, no âmbito da relação de emprego, assédio é uma conduta abu-
siva dirigida a um trabalhador e com potencial de desencadear situações de
restrição do desenvolvimento e expressão laboral, constrangimento, pres-
são, exposição, na prática sendo equiparável ao bullying.
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5 A crítica da vítima
Importante questionamento diante da crescente emergência do assé-
dio moral é se entender a figura da vítima.
O questionamento de Daniele Giglioli,13 professor da Universidade de
Bergamo, é no sentido de como seria, a vítima, impotente por definição,
transformada em fonte de poder na sociedade contemporânea. Não se trata
de hostilizar a vítima a ponto de atribuir a ela a responsabilidade pelas injú-
rias. Longe disso, entende o professor que existem vítimas falsas e vítimas
verdadeiras. Segundo ele, a crítica não atinge as pessoas que realmente
foram lesadas em seus direitos, mas a apropriação do discurso da vítima.
Critica a apropriação indevida do imaginário vitimatório para aquisição de
vantagens indevidas.
No nosso tempo, refere o professor, a vítima passou a ocupar um
lugar de herói, apesar de sua passividade. O problema, diz o professor, é
que a vítima não tem poder e por isso não tem deveres. Por isso a situação
de vítima por vezes pode se tornar mecanismo de empoderamento, mas
aprisiona o injustiçado à injustiça em troca de uma certa visibilidade. Este
discurso seria de resignação e não de emancipação.
Com o aumento dos casos de assédio, entende-se importante a identi-
ficação de que se a vítima está, a partir deste cenário de imaginário social,
em posição de vantagem ou desvantagem. Por isso, precisamos distinguir
o joio do trigo porque é necessário que o dano realmente ocorrido à perso-
nalidade do empregado seja ressarcido e reparado.
13
GIGLIOLI, Daniele. O papel da vítima. Entrevista sobre o livro “Crítica da Vítima” com Miguel
Conde. Folha de São Paulo, 23 de junho de 2018. Caderno Ilustrada.
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[...] só deve ser reputado como dano (assédio) moral a dor, ve-
xame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do indi-
víduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu
bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou
sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano (assé-
dio) moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade
do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos
a até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e
duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indi-
víduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o
dano (assédio) moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.
Considerações finais
Como dez anos atrás se falava na indústria do dano moral, hoje o
tempo é de indústria do assédio moral, ou bullying, espécie de dano moral
agora tipificado em lei, a Lei Federal 13.185/15. A Lei do Bullying, no art.
3º, explicita por meio exemplificativo o que viriam a ser os atos danosos
do bullying, e classifica as agressões em verbal (insultar, xingar e apelidar
pejorativamente); moral (difamar, fofocar); sexual (chantagear, abusar);
social (desprezar, segregar e excluir); psicológico (intimidar, perseguir,
manipular); físico (agredir); material (furtar, roubar, destruir pertences)
e virtual (cyberbullying, o assédio por meios virtuais, com a finalidade
depreciativa).
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Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
2000, p. 77-78.
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Referências
ÂMBITO JURÍDICO. Disponível em: <http://www.lexml.gov.br/busca/search?
keyword=bullying&f1-tipoDocumento=Jurisprud%C3%AAncia>. Acesso em: 24 jun.
2018.
ARAUJO, Adriane Reis de. O assédio moral organizacional. São Paulo: LTr, 2012.
ARAÚJO, Manuel Salvador et alii. Bullying no local de trabalho, clima organizacional e
seu impacto na saúde dos trabalhadores. Disponível em: <https://www.researchgate.
net/publication/277985081>. Acesso em: 24 jun. 2018.
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009.
BARROS, Alice Monteiro de. O assédio sexual no direito do trabalho comparado.
Revista LTr – Legislação do Trabalho. São Paulo, v. 62, n. 11, p. 1464-1476, nov.
1998.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000.
FERNANDES, Denise Maria Schllenberger. Assédio Sexual nas Relações de Trabalho.
Belo Horizonte: D’Plácido, 2017.
GIGLIOLI, Daniele. O papel da vítima. Entrevista sobre o livro “Crítica da Vítima” com
Miguel Conde. Folha de São Paulo, 23 de junho de 2018. Caderno Ilustrada.
GOMES, Diego Jimenez. Conceito de assédio moral: concepções subjetiva e objetiva:
elementos e espécies. Jornal Trabalhista Consulex. Brasília, v. 27, n. 1309, p. 5-8,
01/02/2010.
HIRIGOYEN, Marie-France. El acoso moral. El maltrato psicológico na vida cotidiana.
Barcelona: Paidós Ibérica, 1999.
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Assédio por competência nas relações de trabalho.
Revista do Ministério Público do Trabalho na Bahia. Salvador, n. 3, 2008, pp. 27-36.
TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. 3. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.
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