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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n.

31, 2007 209

O ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE EMPREGO*

Candy Florencio Thome**

Resumo: O assédio moral nas relações de emprego é um tipo de violên-


cia psíquica no trabalho, caracterizada como um processo de repetidos
ataques psicológicos ao assediado, mediante atos diversos que afetam
a psiquê do empregado e provocam uma degradação psicológica em
suas condições de trabalho. O presente estudo trata do assédio moral
nas relações de emprego como um atentado à dignidade do trabalha-
dor, atingindo seus direitos da personalidade em suas várias facetas,
presente em todas as histórias de assédio moral, ensejando, por tal
razão, uma resposta multilateral com várias formas de coerção e de
ressarcimento.
Analisa as possíveis causas do assédio moral, seus elementos
configuradores como dano, entendido, aqui, como prejuízo às condi-
ções de trabalho, repetição, duração, sujeitos ativo e passivo da figura
estudada, atuações da OIT e OMS, o direito estrangeiro, o assédio mo-
ral como fundamento de doenças do trabalho, o assédio moral como
ato discriminatório, o cabimento de indenização por danos materiais e
morais, a responsabilidade civil e a possibilidade de rescisão indireta
do contrato de trabalho.
Palavras-chave: assédio moral; mobbing; violência no trabalho; dano
moral; discriminação; saúde do trabalhador.

Sumário: Introdução; Assédio moral e organização do trabalho; Violên-


cia no trabalho; Definição; Elementos caracterizadores; Atos mais fre-
qüentes; Discriminação e assédio moral; Sujeito ativo do assédio moral
nas relações de emprego; Sujeito passivo do assédio moral nas relações
de emprego; Tipos de assédio moral quanto ao grau hierárquico do (s)
assediante (s) e do (s) assediado (s) na estrutura da empresa empregado-
ra; União Européia; Países que têm legislação específica acerca de assé-
dio moral; Países com legislação sobre assédio moral discriminatório; O
direito à saúde e o assédio moral; Os danos à saúde causados pelo assé-
dio moral nas relações de emprego; Discriminação; Dano; Reparação;
Valoração e critérios para fixação da indenização pecuniária; Respon-
sabilidade civil. Responsabilidade civil e assédio moral no trabalho;
Rescisão indireta; Considerações finais; Bibliografia.

*Resumo de dissertação de mesmo título, elaborada por ocasião da conclusão do Curso de


Mestrado em Direito do Trabalho na Universidade de São Paulo - USP.
**Juíza do Trabalho Substituta do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Especialista em
Direito do Trabalho pela PUC-SP. Mestre em Direito do Trabalho pela USP.

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INTRODUÇÃO aumentou a violência nas relações


de emprego, sendo deixados de lado
O assédio moral no trabalho, os elementos humanos e o homem
embora não seja fenômeno novo, como centro e medida de valores3 .
causa mais prejuízos atualmente, Segundo Christophe DEJOURS,
com a globalização instaurada. O a diferença do totalitarismo e do
presente artigo analisa as prováveis neo-liberalismo situa-se nos objeti-
causas do assédio moral, seus ele- vos deste e daquele, mas o proces-
mentos configuradores, sujeitos ati- so de banalização do mal é o mes-
vo e passivo da figura estudada, o mo, efetuado por meio do medo
estudo do direito estrangeiro, o as- gerado diante de tal violência4 . No
sédio moral como aviltamento do neo-liberalismo, a violência física
princípio da não-discriminação e não é aceita de maneira geral, mas
atentado ao direito sanitário do todas as outras formas de violência
trabalho, a indenização pelos danos são consideradas normais, banais.
causados e a responsabilidade civil, Daí uma das razões do aumento do
bem como a possibilidade de resci- assédio moral no trabalho nas últi-
são indireta do contrato de trabalho. mas décadas, pois a banalização do
Assédio moral e organização do mal gerada com o neo-liberalismo,
trabalho dentre vários efeitos nefastos, cria
a falsa idéia de que a violência e o
O assédio moral é um proble- sofrimento no trabalho é um dado
ma crescente em todos os países. No sem volta, efeitos contra os quais
Brasil, Margarida BARRETO relata não se pode lutar, como se fosse
que, de 2.072 trabalhadores entrevis- uma força da natureza5 .
tados, 870 afirmam que vivenciaram
situações de humilhação1 . No caso do assédio moral, a
competitividade desumana 6 cria
O fenômeno estudado ocorre um ambiente propício para que um
já há muito tempo. Há jurisprudên- empregado, ou vários, assedie ou
cia francesa, datada de 16.03.1960, assediem um empregado que crie
condenando uma empresa a pagar algum obstáculo ou que se desta-
uma soma de 150.000 francos a que. Dessa forma, pode-se dizer
empregado cujas funções foram, que o assédio moral é um proble-
gradativamente, retiradas, bem ma estrutural, inerente às atuais
como suas prerrogativas2 . relações de trabalho, sendo utiliza-
do para a manutenção da ordem e
A globalização gerou crises
da perpetuação das relações
de desemprego que, por sua vez, assimétricas de poder, mas que

1
Violência, saúde e trabalho (uma jornada de humilhações), p. 29.
2
Cassation Sociale 16.03.1960, Bull. 1960, quatrième partie, section sociale, n. 266, p. 212.
3
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano, p. 94.
4
Souffrance en France. La banalisation de l’injustice sociale, p. 19.
5
Souffrance en France. La banalisation de l’injustice sociale, p. 15, 27.
6
Nesse sentido, também, FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de
trabalho, p. 34.

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deve ser considerado como uma da moral, definindo essa última


afronta à dignidade humana e ba- como qualquer conduta que confi-
nido o mais efetivamente possível gure calúnia, difamação ou injúria
das relações de emprego. (art. 7º, inciso V).
Violência no trabalho Definição
A OMS define a violência O assédio moral é chamado,
como o uso deliberado da força fí- em Portugal, de psico-terrorismo
sica ou o poder, como ameaça ou ou terror psicológico, nos países de
efetivo, contra a própria pessoa, um língua inglesa, de mobbing e
terceiro, um grupo ou uma comu- bullying, de mobbing, no países de
nidade, que cause ou tenha muitas línguas germânicas, na França, de
possibilidades de causar lesões, harcèlement moral. Na doutrina bra-
morte, danos psicológicos, transtor- sileira, embora outros termos como
nos de desenvolvimento ou priva- terror psicológico sejam aceitos, o
ções7 . uso da expressão ”assédio moral”
tornou-se corrente.
A violência física é espécie do
gênero violência, do qual fazem Marie-France HIRIGOYEN
parte a violência física, moral ou afirma que as agressões, no assédio
psicológica e sexual. moral, são fruto de um processo
inconsciente de destruição psicoló-
A violência sexual no traba-
gica, constituindo-se, tal processo,
lho manifesta-se, mais comumente,
de atos hostis mascarados ou im-
pelo assédio sexual. O art. 216-A do
plícitos, de um ou vários indiví-
Código Penal – inserido pela Lei n.
duos sobre um indivíduo especí-
10.224, de 15 de maio de 2001 –
fico, por meio de palavras, alusões,
define o assédio sexual. Assim como
sugestões de não-ditos8 .
a violência física, que atinge o cor-
po físico e não a psiquê da pessoa, Heinz LEYMANN concei-
a violência sexual não se confunde tuou o assédio moral como ações
com a violência psicológica, pois seu negativas, contra uma ou várias
intuito não é destruir a vítima, mas pessoas, mediante as quais se nega
obter dessa favores sexuais. a comunicação com uma pessoa9 ,
No Brasil, embora seja de durante um longo período, mar-
aplicação no âmbito das relações cando, dessa forma, as relações en-
domésticas e ou familiares, a Lei n. tre os autores e as vítimas e conti-
11.340, de 7 de agosto de 2006, nua, afirmando que algumas carac-
conceitua a violência psicológica terísticas essenciais do assédio mo-
contra a mulher no art. 7º, inciso II ral no trabalho são a confrontação
e diferencia a violência psicológica e o constrangimento10.

7
BUTCHART, Alexander; PHINNEY, Alison; CHECK Pietra; VILLAVECES, Andrés. Preventing
violence. A guide to implementing the recommendations of the World report on violence and
health, p. 1.
8
Le harcèlement moral: la violence perverse du quotidien, p. 9.
9
Mobbing. Psychoterror am Arbeitsplatz und wie man sich dagegen wehren kann, p. 21.
10
Mobbing. Psychoterror am Arbeitsplatz und wie man sich dagegen wehren kann p. 22.

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Elementos caracterizadores ração do assédio moral no trabalho.


Heinz LEYMANN12 e Marie-France
Os elementos que caracteri-
HIRIGOYEN13 , pioneiros no estudo
zam o assédio moral diferem entre
do tema, entendem que, para a
os autores, mas os principais ele-
configuração do assédio moral, é
mentos mencionados são: dano,
necessária a repetição dos atos
repetição, intencionalidade, dura-
agressores. Também, segundo
ção no tempo, premeditação, inten-
Ståle EINARSEN et ali14 , Wolfgang
sidade da violência psicológica e
DÄUBLER15 , Gwendoline AUBORG
existência de danos psíquicos.
e Hélène de MOURA, o assédio
Para que haja a configuração moral, para ser caracterizado, deve ser
do assédio moral no âmbito das re- efetuado mediante atos repetidos16 .
lações de emprego, faz-se necessá-
No Brasil, Márcia Novaes
rio que tenha havido ato agressor,
GUEDES 17 , Sônia Mascaro NAS-
um dano à dignidade do trabalha-
CIMENTO 18 , Hádassa Dolores
dor. Não se trata de necessidade de
Bonilha FERREIRA19 , Jorge Luiz de
dano físico-psíquico,
Oliveira da SILVA20 e
mas os atos devem
causar uma degra- Rodolfo PAMPLONA
dação das condições FILHO 21 entendem
de trabalho 11 , não “Para que haja a configuração que a repetição é ele-
havendo a necessi- do assédio moral no âmbito das mento intrínseco do
dade da prova dire- relações de emprego, faz-se ne- assédio moral no âm-
ta do dano, uma vez cessário que tenha havido ato bito do direito do tra-
que a mera existên- agressor, um dano à dignidade balho.
cia de assédio moral do trabalhador.” Não há, por-
já configura a con- tanto, muitas contro-
duta abusiva e o vérsias acerca da ne-
dano moral é um cessidade de repeti-
dano in re ipsa. ção dos atos caracteri-
A repetição é um dos requisi- zadores do assédio moral, pois, efeti-
tos que a grande maioria das legis- vamente, se não há a reiteração do
lações, doutrina e jurisprudência de ato, não se pode falar em assédio, em
vários países exige para a configu- cerco.
11
AUBOURG, Gwendoline; MOURA, Hélène de. Le harcèlement moral, p. 12.
12
LEYMANN, Heinz. Mobbing. Psychoterror am Arbeitsplatz und wie man sich dagegen wehren
kann. Hamburgo, passim.
13
HIRIGOYEN, Marie-France. Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du
faux, p. 24.
14
EINARSEN, Ståle et ali. The concept of bullying at work, p. 7.
15
Zurückhaltung des Rechts. Mobbing und das Arbeitsrecht – eine Bestandsaufnahme. In: Heinz
LEYMANN. Der neue Mobbing-Bericht. Erfahrungen und Initiativen, Auswege und
Hilfesangebote, p.78.
16
AUBOURG, Gwendoline; MOURA, Hélène de. Le harcèlement moral, p. 13.
17
Terror psicológico no trabalho, p. 33, 44.
18
O assédio moral no ambiente de trabalho, p. 922.
19
Assédio moral nas relações de trabalho, p. 48.
20
Assédio moral no ambiente do trabalho, p. 15, 19.
21
Noções conceituais sobre o assédio moral na relação de emprego. Disponível em: http://
www.anamatra.org.br/opiniao/artigos/ler_artigos.cfm?cod_conteudo=7987&descricao=Artigos.
Acesso em: 22.08.2006.

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Alguns autores consideram a assédio moral24 .


duração dos ataques de assédio
As leis espanholas 51/2003 e
moral como um dos requisitos para
62/2003, que tratam do assédio
sua configuração. No Brasil, há ju-
moral discriminatório no trabalho,
risprudência no sentido de que deve
não fazem nenhuma referência à
haver a prolongação no tempo da
intencionalidade do sujeito ativo.
degradação psíquica para haver
assédio moral nas relações de em- A maior parte da doutrina sus-
prego22 . Diante da própria idéia de tenta que a intencionalidade é ele-
assédio, tem-se que uma certa du- mento intrínseco do assédio moral no
ração no tempo faz-se necessária trabalho, mas, diante da afirmação
para sua configuração, mas o limi- de Marie-France HIRIGOYEN25 de
te temporal será determinado con- que não há uma dicotomia nítida en-
forme o caso concreto. tre a existência ou não da inten-
cionalidade, considera-se que uma
Alguns autores citam a inten-
solução mais equânime seria consi-
cionalidade como elemento intrín-
derar a existência da
seco do assédio mo-
intencionalidade im-
ral no direito do tra-
plícita quando da
balho. O projeto de “...não há uma dicotomia níti-
ocorrência do assédio
lei francesa de 14 de da entre a existência ou não da
moral no trabalho. O
dezembro de 1999 intencionalidade, considera-se
que deve determinar
definia o assédio que uma solução mais equâni-
a existência de assé-
moral no local de tra- me seria considerar a existên-
dio moral nas relações
balho como toda de- cia da intencionalidade implíci-
de emprego é, portan-
gradação deliberada ta quando da ocorrência do
to, a existência ou não
das condições de tra- assédio moral no trabalho.”
de degradação psico-
balho, mas a lei pro-
lógica das condições
mulgada não elegeu
de trabalho e não a
a intencionalidade
intencionalidade do
como requisito intrínseco da confi-
sujeito ativo.
guração do assédio moral23 . Em que
pese a lei francesa n. 2002-73 de A premeditação também é
janeiro de 2002 não determinar a um requisito comumente citado
intencionalidade do ato como ele- para a configuração do assédio
mento caracterizador do assédio moral. Com respeito às opiniões
moral no local de trabalho, a juris- contrárias, o assédio, para ser con-
prudência francesa tem sido mais figurado, pode ser espontâneo, sem
restritiva, entendendo que o sujei- haver nenhuma premeditação para
to ativo deve ter agido com a inten- a afronta, como, normalmente,
ção de causar prejuízo ao trabalha- ocorre com os casos de assédio mo-
dor, para a consubstanciação de ral coletivo.
22
TRT 24ª Região. RO 00408-2005-041-24-00-9. Relator Ricardo G.M. Zandona. 04.10.2006. DO-
MS de 31.10.2006.
23
LAPÉROU-SCHENEIDER, Béatrice. Les mesures de lutte contre le harcèlement moral, p. 314-
315.
24
RAVISY, Philippe. Le harcèlement moral au travail, passim.
25
Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du faux, p. 51.

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Alice Monteiro de BARROS moral, mas não se confunde com


cita como um dos elementos do as- tal fenômeno, uma vez que a pes-
sédio moral a intensidade da vio- soa assediada pode ser atingida por
lência psicológica26 , mas, em ver- diversos atos que não impliquem
dade, a intensidade parece ser mais afrontamento a algum direito das
adequada para a fixação da inde- minorias, como, por exemplo, um
nização devida que para a configu- empregado que seja assediado por
ração do assédio moral em si. ter um salário considerado alto de-
A existência de danos psíqui- mais por uma empresa.
cos é dispensável, pois a Constitui- Sujeito ativo do assédio moral nas
ção Federal de 1988 protege, não relações de emprego
apenas a integridade psíquica,
como a moral. Ademais, se tal ele- Tal violência psíquica pode
mento fosse intrínseco ao assédio ser efetuada por um agressor ou
moral, a proteção jurídica depen- vários, podendo ser individual ou
deria das características da vítima coletiva.
e não do ato ofensor27 . ParaMarie-France HIRIGOYEN,
Atos mais freqüentes a violência causada por um agente
exterior não se equipara ao assédio
Heinz LEYMANN efetua uma
moral no local de trabalho, ou seja,
enumeração bastante detalhada das
os atos de assédio efetuados por um
ações mais freqüentes e as divide em
cliente não são assédio moral31 . Já
cinco grupos, a saber: 1. Ataques às
o artigo L-122-49 do Código de Tra-
possibilidades de comunicação; 2.
Ataques nas relações sociais; 3. Con- balho francês, inserido pela lei n.
seqüências para a reputação social; 2002-73, promulgada em janeiro de
4. Ataques na qualidade da ocupa- 2002, não determina quem é o su-
ção e da vida profissional e 5. Ata- jeito ativo, apenas definindo assé-
ques para a saúde da vítima28 . dio moral como atos que tenham
por objetivo ou por efeito uma de-
Discriminação e assédio moral gradação das condições de traba-
Segundo Marie-France HIRI- lho que atinja os direitos do empre-
GOYEN, o assédio moral inicia-se, gado, sua dignidade, altere sua sa-
normalmente, por uma recusa da nidade física ou mental ou compro-
alteridade de alguém e manifesta- meta seu futuro profissional. Con-
se por um comportamento de dis- forme a lei francesa, o assediador
criminação29 . Afirma, também, que tanto pode ser um gerente,
quase se pode dizer que todo assé- preposto, proprietário, outro em-
dio moral é discriminatório30 . Na pregado, como um terceiro, como
verdade, a discriminação pode ser no caso de clientes que assediem
fundamento e origem do assédio vendedores.
26
Assédio moral, p. 140.
27
Assédio moral, p. 141.
28
Mobbing. Psychoterror am Arbeitsplatz und wie man sich dagegen wehren kann, p. 33-34.
29
Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du faux, p. 30.
30
Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du faux, p. 84.
31
Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du faux, p. 26.

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Também a lei belga sobre vio- Sujeito passivo do assédio moral


lência e assédio moral no trabalho, nas relações de emprego
de 11 de junho de 2002, prevê, ex- O assédio moral pode atingir
pressamente, a possibilidade de uma pessoa, um grupo de pessoas ou,
existência de assédio moral no tra- até, todos os empregados de uma
balho por atos efetuados por tercei- empresa. Conforme definição de
ros. Efetua, inclusive, rol não exaus- Heinz LEYMANN35 , a vítima do as-
tivo das pessoas que podem ser su- sédio pode ser tanto um único indiví-
jeito ativo, conforme o art. 2º, pa- duo, como vários, mas o assédio mo-
rágrafo primeiro da lei de 4 de agos- ral efetuado contra uma única vítima
to de 199632 . é o fenômeno mais encontrado.
Pode-se vislumbrar o assédio Tipos de assédio moral quanto
moral no trabalho efetuado por ter- ao grau hierárquico do (s)
ceiros no caso de relações entre ven- assediante (s) e do (s) assediado
dedores e clientes, quando há uma (s) na estrutura da empresa em-
situação constante de compra e ven- pregadora
da, como em vendas por atacado33
O assédio moral no local de
ou no caso dos professores que,
trabalho pode ser horizontal ou ver-
muitas vezes, são assediados, moral-
tical, ou seja, pode ocorrer entre pes-
mente, por alunos, sem que a escola soas de grau hierárquico diferente
tome quaisquer providências. (vertical) ou de mesmo grau hierár-
É controversa a questão de se quico na empresa (horizontal)36 .
o empregado assediador, juntamen- O assédio moral vertical é o
te com o empregador, tem legitimi- assédio que ocorre entre pessoas de
dade passiva para responder pelos grau hierárquico diferente e o tipo
danos causados por assédio moral de assédio encontrado mais
nas relações de emprego. Respeita- comumente. Pode ser ascendente
das as opiniões em sentido contrá- ou descendente. O assédio moral
rio, entende-se, em consonância ascendente caracteriza-se por ati-
com Maria José Romero RODENAS34 , tudes agressivas constantes feitas
que a pessoa que efetuou o assédio por uma pessoa ou várias de grau
não tem vinculação própria e dire- hierárquico inferior ao da vítima. O
ta com outro trabalhador da em- assédio moral efetuado por agente
presa, sendo terceiro alheio à rela- de grau hierárquico superior ao da
ção jurídica entre empregador e vítima é chamado assédio moral
empregado assediado. vertical descendente37 . O assédio

32
DALLEMAGNE, Marc. La protection contre la violence et le harcèlement moral ou sexuel
au travail, p. 11.
33
No mesmo sentido, v. LAPÉROU-SCHENEIDER, Béatrice. Les mesures de lutte contre le
harcèlement moral, p. 314-315.
34
Protección frente al acoso moral en el trabajo, p. 79-80.
35
Mobbing. Psychoterror am Arbeitsplatz und wie man sich dagegen wehren kann, p. 21.
36
SegundoAUBOURG, Gwendoline; MOURA, Hélène de. Le harcèlement moral, p. 21, a lei de
17.01.2002 suprimiu qualquer referência à noção de autoridade.
37
Nesse sentido: GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho, p. 37-38. HIRIGOYEN,
Marie-France. Malaise dans le travail. Harcèlement moral: démêler le vrai du faux, p. 92.

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moral misto configura-se pela exis- sociais, a colocar em prática obras


tência de relações hierárquicas ho- políticas de prevenção eficazes, a
rizontais e verticais concomitantes. fim de estabelecer um sistema de
troca de experiências e identificar
União Européia os procedimentos para que possam
De acordo com a Diretiva do prevenir e resolver o problema do
Conselho 2000/78/CE, que estabe- assédio moral, desenvolvendo a in-
lece um quadro geral de igualdade formação e a formação das pesso-
de tratamento no emprego e na ati- as envolvidas (empregados, médi-
vidade profissional, “o assédio é cos do trabalho, atores sociais, etc).
considerado discriminação sempre Em 2002, a União Européia
que ocorrer um comportamento emendou sua diretiva, de 1976, sobre
indesejado relacionando a religião a igualdade de tratamento entre ho-
ou crença, deficiência, idade ou ori- mens e mulheres no que concerne ao
entação sexual com o objectivo ou acesso ao emprego, à formação e à pro-
o efeito de violar a dignidade de moção profissional e as condições de
uma pessoa e de cri- trabalho. Essa emenda
ar um ambiente de incluiu um artigo so-
trabalho intimida- bre assédio e assédio se-
tivo, hostil, degra- xual38 .
dante, humilhante
ou desestabilizador. Países que têm le-
“A Suécia foi o país pioneiro a gislação específica
Nesse contexto, o
conceito de assédio legislar sobre a matéria, em se- acerca de assédio
pode ser definido em tembro de 1993,...” moral
conformidade com A Suécia foi o
as legislações e prá- país pioneiro a legis-
ticas nacionais dos lar sobre a matéria,
Estados-Membros”. em setembro de
A Diretiva, portanto, 1993, com uma obri-
estabelece a definição de assédio gação geral de prevenção de parte
apenas nos casos em que ocorre dis- do empregador, complementada
criminação do trabalhador, sendo com uma recomendação voltada
omissa quanto aos demais casos. para a análise dos fatores coletivos
ligados à organização do trabalho39 .
A União Européia adotou,
em 2000, uma resolução sobre as- Sua lei sobre assédio moral
sédio moral no trabalho (2339/ no trabalho/vitimização no traba-
2001), na qual recomenda que os lho define o mobbing da seguinte
Estados-membros adotem uma de- forma: ações repetidas, repreensí-
finição uniforme de assédio moral veis ou claramente negativas,
e os convida, bem como os atores dirigidas contra trabalhadores in-
38
OLSEN, Lene. Recueil de directives pratiques du BIT sur la violence au travail dans le secteur des
services et moyens de combattre le phénomène. In: Publications Education Ouvrière en ligne.
Education Ouvrière 2003/4. La violence au travail. Disponível em: www.ilo.org./public/
french/dialogue/actrav/publ/133/12.pdf, p. 69. Acesso em: 01.06.2005.
39
RENAUT, Anne. Harcèlement moral , nouveau mal lié à l’organisation du travail ? In: Publications
Education Ouvrière en ligne. Education Ouvrière 2003/4. La violence au travail. Disponível
em: www.ilo.org/public/french/dialogue/actrav/publ/133.1.pdf . Acesso em: 01.06.2005.

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dividuais, de forma ofensiva, que A lei francesa de moderniza-


possam ter por resultado o isola- ção social n. 2002-73, de 17 de ja-
mento do trabalhador da comuni- neiro de 2002, contém um capítulo
dade do local de trabalho (Institu- intitulado “luta contra o assédio
to para o Ambiente de Trabalho, moral”, que inseriu, no capítulo II
Suécia, AFS 1993:17). Essa lei de- do Título II do Livro primeiro do
termina que as condições de traba- Código de Trabalho, antes do art.
lho devam ser adaptadas às dife- L.122-46, a Sessão 8. Assédio
rentes capacidades físicas e mentais (art.180 da Lei n. 2002-73 de 17 de
das pessoas e que as tecnologias, or- janeiro de 2002).
ganização e a substância do traba-
Essa lei define o assédio mo-
lho deverão ser arranjadas de for-
ral, no art. 122-48, como atos repe-
ma a não causar estresse aos traba-
tidos de assédio moral que tenham
lhadores e causar doenças ou aci-
por objetivo ou por efeito uma de-
dentes40 .
gradação das condições de traba-
Na Noruega, o Código do Tra- lho que possam causar prejuízos
balho estipula, no art.12, item 1, so- aos direitos do trabalhador ou a sua
bre condições gerais, que a dignidade, afetar sua saúde física
tecnologia, a organização do traba- ou mental ou comprometer seu fu-
lho, a execução do trabalho, o horá- turo profissional.
rio de trabalho e os regimes salariais
Tal artigo dispõe, também,
deverão ser organizados de forma a
que nenhum assalariado pode so-
não expor os trabalhadores a efei-
frer sanção, ser despedido ou ser
tos físicos ou mentais adversos e de
objeto de uma medida discrimi-
maneira a garantir as suas possibili-
natória, direta ou indireta, nota-
dades de exercer cautela e de se as-
damente em matéria de remunera-
severar que as suas condições de se-
ção, de formação, reclassificação,
gurança não sejam prejudicadas.
afetação, qualificação, classificação,
Também, determina que os meios
promoção profissional, de mudan-
necessários para prevenir os efeitos
ça de contrato por ter passado ou
físicos adversos serão colocados à
se recusado a passar pelos atos de-
disposição dos trabalhadores e que
finidos na alínea acima ou por ter
os trabalhadores não serão subme-
testemunhado tais atos ou ter rela-
tidos ao assédio ou a qualquer ou-
tado tais atos, determinando que
tra conduta imprópria.
toda ruptura de contrato ou qual-
No item 2, sobre organização quer outro ato resultante de tais atos
do trabalho, determina que esfor- é nula de pleno direito.
ços deverão ser feitos para evitar
A referida lei institui vários
trabalho pouco diversificado,
mecanismos para coibir o assédio
repetitivo, bem como trabalho que
moral, dentre eles, a possibilidade
seja comandado por máquinas ou
de aplicação de sanção disciplinar
correia de transporte, com o intui-
ao empregado assediador (arts.
to de se proteger os trabalhadores
122-50 e 122-51), a possibilidade de
no caso de variação de ritmo de tra-
o empregado se afastar de qualquer
balho.
40
Mental health and working life, p. 4.

Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, jul./dez. 2007.


218 Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007

situação de trabalho que possa cau- abusivo do procedimento de queixa.


sar um perigo grave e iminente para
O art.32bis obriga todos os
sua vida ou sua saúde (art. 321-8),
empregadores, trabalhadores e as
obrigatoriedade de reformulação
pessoas constantes no art.2º, pará-
dos regimentos internos das empre-
grafo primeiro, bem como outras
sas para constar a proibição de atos
pessoas que entrem em contato com
que configurem o assédio moral
os trabalhadores quando da execu-
(art. 122-34), direito de expressão,
ção de seu trabalho o dever de abs-
exercido de forma direta e coletiva,
tenção de todo ato de violência ou
para informar os problemas no
assédio moral ou sexual.
ambiente de trabalho (art.461-1) e
direito de alerta, mediante uma Define no, art. 32ter, o assé-
advertência verbal ou escrita ao dio moral no trabalho como as con-
empregador (art.231-8). dutas abusivas e repetidas de qual-
A Bélgica também tem legis- quer origem, sejam externas ou in-
lação específica sobre assédio mo- ternas à empresa ou instituição, que
ral no âmbito do trabalho. A lei de se manifestem, precipuamente, por
11 de junho de 2002 visa a prote- comportamentos, palavras, intimi-
ger os trabalhadores da violência dações, atos, gestos, escritos unila-
física, psíquica ou sexual, do assé- terais, tendo por objetivo ou por
dio moral e do assédio sexual no efeito o ataque à personalidade, à
trabalho e entrou em vigor em 1º dignidade ou integridade física ou
de julho de 2002, tendo como in- psíquica de um trabalhador ou de
tuito tanto a repressão como a pre- pessoa a que se apliquem as nor-
venção dessa violência psíquica. mas do capítulo que regulamenta
o assédio e a violência, quando da
A alínea 2 do parágrafo pri- execução de seu trabalho, ou ten-
meiro do art. 4º da lei de 4 de agos- do por objetivo colocar em perigo
to de 1996 foi alterada, pela lei de seu emprego ou criar um ambiente
11 de julho de 2002, para constar, intimidante, hostil, degradante,
além de outras proteções, a prote- humilhante ou ofensivo.
ção do trabalhador contra a violên-
cia e o assédio moral ou sexual no Conforme Marc DALLEMAGNE,
trabalho (item 8º). a atual lei sobre violência e assédio
no trabalho proporciona mecanis-
Foi inserida no art. 6º, alínea mos voltados, principalmente, para
2, a obrigação do empregador de
o plano preventivo, mas, mesmo
participar, de forma positiva, na
política de prevenção efetuada para antes do advento da lei sobre assé-
a proteção dos trabalhadores con- dio moral, quanto à prevenção, era
tra a violência ou assédio moral ou possível utilizar-se da lei de 04 de
sexual, bem como a obrigação de se agosto de 1996, sobre bem-estar no
abster de todo ato de violência ou trabalho, que trata da carga psico-
de assédio moral ou sexual no tra- social no trabalho, embora tal lei
balho e a abstenção de todo uso não defina a violência41 .

41
La protection contre la violence et le harcèlement moral ou sexuel au travail, p. 5, 7.

Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, jul./dez. 2007.


Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007 219

Países com legislação sobre assé- A reforma efetuada median-


dio moral discriminatório te a Lei 62/2003 inseriu o parágra-
As leis espanholas n. 51/ fo g) na Seção 2 do art. 54 do Esta-
2003 e 62/2003 definem o assédio tuto dos Trabalhadores, consideran-
moral discriminatório, ou seja, do como causa de despedida o as-
aquele assédio moral ocorrido no sédio por razão de origem racial ou
trabalho com fundamento em ati- étnica, religião ou convicções, defi-
tudes discriminatórias. Tais leis, ciência, idade ou orientação sexual
porém, não regulamentam o cha- ao empresário ou às pessoas que
mado pela doutrina espanhola acoso trabalham na empresa. Conforme
laboral simple, qual seja, o assédio tal norma, o ordenamento jurídico
moral no trabalho que tenha fun- espanhol considera como sujeito
damento diverso da discriminação. passivo do assédio moral discrimi-
natório também o empresário e não
O art. 7º da lei 51/2003, de 2 apenas os trabalhadores. Admite,
de dezembro, sobre igualdade de também, expressamente, a existên-
oportunidades, não-discriminação cia de assédio moral discriminatório
e acessibilidade universal das pes- horizontal.
soas com deficiências, define como
assédio toda conduta relacionada Segundo Maria José Romero
com a deficiência de uma pessoa, RODENAS, a regulação do assédio
que tenha como objetivo ou conse- e as modificações introduzidas no
qüência atentar contra sua digni- Estatuto dos Trabalhadores avan-
dade ou criar um ambiente intimi- çam no sentido de completar a
datório, hostil, degradante, humi- regulação do assédio moral no tra-
lhante ou ofensivo. Esse artigo, por- balho, mas, ainda, é necessária a
tanto, só protege as pessoas com aplicação das demais normas exis-
deficiências do assédio moral nas tentes no ordenamento jurídico es-
relações de emprego42 . panhol, diante da inexistência de
legislação sobre o assédio moral no
A Lei 62/2003, de 30 de de- trabalho simples e diante do cará-
zembro, definiu o assédio como ter pluriofensivo do assédio moral,
toda conduta não desejada relacio- afetando vários direitos dos empre-
nada com a origem racial ou étni- gados43 .
ca, a religião ou convicções, a defi-
ciência, a idade ou a orientação se- O Código de Trabalho portu-
xual de uma pessoa, que tenha guês (Lei n. 99 de 27 de agosto de
como objetivo ou conseqüência 2003) prevê o direito à igualdade
atentar contra sua dignidade e criar no acesso ao emprego e no traba-
um ambiente intimidatório, humi- lho em seu art. 22 e proíbe a discri-
lhante ou ofensivo, abrangendo to- minação, direta ou indireta, com
dos os casos de assédio moral nas fundamento na ascendência, idade,
relações de emprego com causas ou sexo, orientação sexual, estado ci-
objetivos discriminatórios. vil, situação familiar, patrimônio

42
Nesse sentido, v. RODENAS, Maria José Romero. Protección frente al acoso moral en el
trabajo, p. 35.
43
Protección frente al acoso moral en el trabajo, p. 36.

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220 Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007

genético, capacidade de trabalho direito social, no art. 6º e o assegura,


reduzida, deficiência ou doença crô- no art. 196, como um direito de to-
nica, nacionalidade, origem étnica, dos e dever do Estado, garantido me-
religião, convicções políticas ou ide- diante políticas sociais e econômicas
ológicas e filiação sindical, no art. 23.
que visem à redução do risco de do-
ença e de outros agravos e ao acesso
Considera, em seu art. 24, o
universal e igualitário às ações e ser-
assédio a candidato a emprego e
viços para sua promoção, proteção e
trabalhador como discriminação
recuperação , inserindo a saúde na
(número 1) e define como assédio
seguridade social, juntamente com a
todo o comportamento indesejado
previdência e a assistência social, no
relacionado com um dos fatores
art.195. O art. 225 reconhece o direi-
indicados no número 1 do art. 23,
to a um meio ambiente equilibrado e
praticado quando do acesso ao
o art. 200, inciso VIII, consagra a pro-
emprego ou no próprio emprego,
teção ao meio ambiente, nele compre-
trabalho ou formação profissional,
endido o do trabalho. Conforme
com o objetivo ou o efeito de afetar
Pedro VIDAL NETO,
a dignidade da pes-
o direito à saúde é
soa ou criar um am-
um direito público
biente intimidativo,
subjetivo, de acesso
hostil, degradante,
universal e igualitário
humilhante ou de- “O assédio moral no ambiente
às ações e serviços
sestabilizador (núme- de trabalho pode gerar graves
para a promoção,
ro 2), determinando danos à saúde física e mental
proteção e recupera-
que constitui, em es- do trabalhador, podendo evoluir
ção da saúde44 .
pecial, assédio, todo para uma doença do trabalho...”
o comportamento Os danos à saúde
indesejado de caráter causados pelo assé-
sexual, sob forma ver- dio moral nas rela-
bal, não verbal ou fí- ções de emprego
sica, com o objetivo ou o efeito re-
O assédio moral no ambiente
feridos no número 2.
de trabalho pode gerar graves da-
Países como a Alemanha e a nos à saúde física e mental do tra-
Itália ainda não têm legislação es- balhador, podendo evoluir para
pecífica sobre o assédio, mas têm uma doença do trabalho como
farta doutrina e jurisprudência so- estresse, estresse pós-traumático,
bre o assunto, observando-se que a síndrome de burn-out, depressão,
região do Lázio editou uma lei so- distúrbios cardíacos, endócrinos e
bre assédio moral, mas foi conside- digestivos, alcoolismo, dependência
rada inconstitucional em razão de de drogas, tentativa de suicídio ou,
incompetência para legislar. ainda, sua consumação. A vítima
de assédio moral acaba por ter que
O direito à saúde e o assédio moral
escolher entre a saúde de seu cor-
A Constituição de 1988 con- po e mente e o direito ao emprego,
sagra o direito à saúde como um única fonte de sobrevivência45 .
44
Natureza jurídica da seguridade social, p. 169.
45
GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho, p. 31.

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007 221

As normas brasileiras refe- De fato, quando o emprega-


rentes à segurança e medicina do do é vítima de assédio moral e, mor-
trabalho compreendem a saúde do mente, quando é atingido por algu-
trabalhador num aspecto não ape- ma doença psíquica gerada pelo as-
nas físico como psíquico. A NR-17, sédio, ele necessita de um período
que trata da ergonomia no traba- de garantia de emprego para sua
lho, dispõe, no item 17.1, que as recuperação, conforme já previsto
características psicofisiológicas dos na lei, uma vez que o ofendido se
trabalhadores devem ser levadas em sente inseguro ao voltar para o tra-
conta a fim de proporcionar, no balho e, normalmente, ainda se en-
meio ambiente de trabalho, o má- contra abalado pelas afrontas psí-
ximo de segurança, conforto e de- quicas sofridas.
sempenho eficiente.
Antes da ocorrência da doen-
O artigo 19 da Lei n. 8.213, ça, diante de perigo à saúde do tra-
de 24 de julho de 1991, define aci- balhador pela existência de assédio
dente de trabalho como aquele que moral na relação de emprego, a víti-
ocorre pelo exercício ma poderá interrom-
de trabalho a servi- per seu contrato de
ço da empresa ou trabalho, com direito
pelo exercício de tra- “O assédio moral pode ser efe- a salários, conforme o
balho dos segurados tuado por pessoa ou pessoas da art. 13 da Convenção
que constam no mesma hierarquia da pessoa n. 155 da OIT, com-
inciso VII do artigo atingida, diante de discrimina- binado com o art.
11 da mesma lei, ção efetuada pela empresa ou 161, § 6o, da CLT.
provocando lesão pelos próprios colegas de tra-
Discriminação
corporal ou pertur- balho do assediado.”
bação funcional que O assédio mo-
cause a morte, a per- ral pode ser efetuado
da ou redução, per- por pessoa ou pesso-
manente ou temporária, da capa- as da mesma hierarquia da pessoa
cidade para o trabalho. O artigo 20 atingida, diante de discriminação
complementa a definição do artigo efetuada pela empresa ou pelos pró-
19, considerando como acidente de prios colegas de trabalho do asse-
trabalho, também, as hipóteses de diado. O princípio da não-discrimi-
doença profissional e de doença do nação é um desdobramento do
trabalho. princípio da igualdade, que proíbe
a discriminação negativa entre as
A lei ora analisada prevê, em pessoas, previsto nos art. 1º, inciso
seu artigo 118, a estabilidade para III, art. 3º, incisos III e IV, art. 4º,
os empregados que forem acometi- inciso VIII, art. 5º, incisos XLI, XLII
dos de doença do trabalho, pelo §§ 1º e 2º, art. 7º, incisos XXX, XXXI
prazo mínimo de doze meses, após e XXXII, art. 19, incisos I e II, art.
a cessação do auxílio-doença 60, § 4º, inciso IV, art. 215, §§ 1º e
acidentário46 . 2º, art. 216, incisos I, II, III, IV, V e

46
Proteção jurídica à saúde do trabalhador, p. 224.

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222 Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007

§ 5º, art, 242 § 1º, todos da Consti- Seu art. 4º prevê que, em caso
tuição Federal de 1988 e art. 68 do de despedida fundada por discri-
Ato das Disposições Transitórias. minação, o empregado tem direito
a pleitear sua reintegração, com pa-
O princípio da não-discrimi- gamento integral de todo o perío-
nação é previsto em vários tratados do de afastamento, com juros e cor-
e convenções internacionais, como reção monetária (inciso I) ou o pa-
a Declaração Universal dos Direi- gamento em dobro referente ao pe-
tos do Homem, em seu art. 2º e o ríodo em que permaneceu afasta-
Pacto Internacional dos Direitos do, com juros e correção monetá-
Econômicos, Sociais e Culturais, em ria (inciso II).
seu art. 7º.
Considera-se que o art. 4º da
A Convenção n. 111 da Or- lei em comento é aplicável a todos os
ganização Internacional do Traba- casos de discriminação mencionados
lho, em vigor desde 15.07.1960, no art. 1º e não apenas aos casos de
ratificada pelo Brasil, discriminação de gê-
determina a formu- nero, já que o caput
lação e aplicação, “O assédio moral não se con- do art. 4º dispõe so-
por parte dos países funde com o dano moral. Pode bre rompimento da
ratificantes, de uma haver dano moral sem que te- relação de trabalho
nha ocorrido o assédio. O assé- por ato discrimina-
política que promova
dio moral no trabalho, porém, tório, nos moldes des-
a igualdade de opor-
como uma conduta atentatória
tunidades e de trata- do princípio da dignidade huma- ta lei deixando claro
mento em matéria de na e das condições de trabalho, seu caráter abran-
gente de todo ato dis-
emprego e profissão, sempre ensejará danos morais
ciplinado na referida
a fim de eliminar e, eventualmente, patrimo-
norma.
toda discriminação. niais.”
Dano
Um instrumento
jurídico apto a coibir a discrimina- O assédio moral não se con-
ção de uma forma geral e, também, funde com o dano moral. Pode ha-
nos casos de assédio moral no tra- ver dano moral sem que tenha ocor-
balho é a previsão de readmissão rido o assédio. O assédio moral no
47
contida na Lei n. 9.029 . A referi- trabalho, porém, como uma condu-
da lei, em seu art. 1º, proíbe a ado- ta atentatória do princípio da dig-
ção de prática discriminatória, no nidade humana e das condições de
que concerne ao acesso ou à ma- trabalho, sempre ensejará danos
morais e, eventualmente, patri-
nutenção do emprego, em virtude
moniais.
de sexo, origem, raça, cor, estado
civil, situação familiar ou idade, Um evento que infrinja direi-
com exceção das normas protetivas to de alguém pode gerar danos tan-
da criança e do adolescente. to patrimoniais como extrapatri-

47
Embora a lei mencionada diga “readmissão”, vários doutrinadores entendem que, em verdade,
a expressão correta é “reintegração”.

Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, jul./dez. 2007.


Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007 223

moniais, conforme os arts. 402 e é a indenização com valor previa-


403 do Código Civil de 2002. Na mente estipulado, é vedada, cons-
ocorrência de assédio moral nas re- titucionalmente, uma vez que não
lações de emprego, é possível a exis- observa o princípio da reparação
tência de danos patrimoniais a se- integral 49 . Dessa forma, o assédio
rem ressarcidos, na medida em que moral causado por discriminação
esse constrangimento psíquico pode não pode ser ressarcido apenas com
gerar danos à saúde do emprega- a indenização da Lei n. 9.099/1995
do, acarretando despesas com aten- pois, assim, eventual lesão maior
dimento médico, psicológico e com aos direitos do empregado não se-
remédios, bem como gerar lesões à ria ressarcida.
vida profissional do empregado.
Conforme Paulo Eduardo
Reparação
Vieira de OLIVEIRA, as discussões
A reparação de quaisquer sobre se era possível a dupla inde-
danos causados está fundada no nização, ou seja, a cumulação de
princípio do neminem laedere, pre- reparação trabalhista e reparação
visto, constitucionalmente, no art. civil foram resolvidas, pelo E. Su-
5o da Constituição brasileira. Des- premo Tribunal Federal, de modo
sa forma, qualquer dano causado a considerar ser cabível a dupla in-
pelos atos de assédio moral ensejam denização, a teor do art. 7o, inciso
o pagamento de indenização por XXVIII, da Constituição Federal de
danos materiais e morais causados. 1988, sempre que o dano atingir
O art. 1059 do Código Civil mais de uma das facetas da
de 2002 dispõe que as perdas e da- integralidade da personalidade50 .
nos devidos ao credor abrangem, Tal possibilidade dá-se porque es-
além do que ele efetivamente per- ses danos são autônomos entre si.
deu, o que razoavelmente deixou de
lucrar, excetuando-se as hipóteses Valoração e critérios para fixação
previstas no Código. da indenização pecuniária
Considera-se que o critério Mauricio Godinho DELGA-
mais justo para fixar a indenização DO aponta cinco tipos de critérios
pecuniária é o critério do arbitra- para o estabelecimento do valor
mento, já que deve observar a clá- indenizatório: 1) quanto ao ato
usula geral da restitutio in integrum, ofensivo, sua natureza, sua gravi-
que prevê que todo dano deve ser dade e o tipo de bem jurídico tute-
restituído integralmente, e abranger lado que a ofensa atinge; 2) quanto
direitos patrimoniais e extrapatri- à relação do ato com a comunida-
moniais, conforme art. 944 do Có- de, a repercussão do ato; 3) quanto
digo Civil de 2002 e art. 5o, incisos à pessoa do ofendido, a intensida-
V e X da Constituição Federal de de de seu sofrimento, a posição fa-
198848 . A indenização tarifada, que miliar, comunitária ou política do

48
Nesse sentido, DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade civil no Direito do
Trabalho, p. 102, 146.
49
No mesmo sentido, DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, p. 616.
50
O dano pessoal no direito do trabalho, p. 180.

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224 Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007

ofendido e seu nível de escolarida- conforme Sergio CAVALIERI FI-


de; 4) quanto à pessoa do ofensor, LHO, se o Código Civil de 1916 era
sua posição socioeconômica, a ocor- subjetivista, o Código atual prestigia
rência, ou não, de práticas reitera- a responsabilidade civil objetiva53 .
das de ofensas da mesma natureza O Código Civil de 2002, em
e gravidade, a intensidade do dolo seu art. 927, prevê que “haverá obri-
ou culpa do praticante do ato; 5) a gação de reparar o dano, indepen-
existência, ou não, de retratação es- dentemente de culpa, nos casos es-
pontânea do ofensor e a extensão pecificados em lei, ou quando a ati-
da reparação alcançada51 . vidade normalmente desenvolvida
José Affonso DALLEGRAVE pelo autor do dano implicar, por
NETO frisa o caráter reparatório- sua natureza, risco para os direitos
sancionatório da indenização por de outrem”.
danos extrapatrimoniais, mormen- Segundo José Affonso
te no caso de assédio moral, já que DALLEGRAVE NETO, os contra-
intrinsecamente ligado à dignida- tos devem se pautar pelo solida-
de do homem52 . rismo contratual, ou seja, devem
Diante da análise da doutri- levar em conta os princípios e valo-
na e jurisprudência, conclui-se que, res constitucionais que reconhecem
para a reparação pecuniária, de- o outro em sua plenitude54 . O au-
vem ser utilizados todos os critérios tor afirma, também, que a respon-
colocados à disposição do juízo, a sabilidade civil objetiva está previs-
fim de se estabelecer uma quantia ta no contrato de emprego, art. 2o
que proporcione um ressarcimento da Consolidação das Leis do Tra-
integral do dano, bem como sanci- balho e na responsabilidade por ato
one o ato ensejador de tal lesão, de terceiro, prevista no art. 1521 do
para que haja uma efetiva repres- Código Civil de 1916 e no Código
são ao assédio moral. Civil de 2002, art. 93355 . Ressalta
que o fundamento principal da res-
Responsabilidade civil
ponsabilidade civil objetiva nas re-
Com o decorrer do tempo, a lações de emprego não é o art. 2o
responsabilidade civil subjetiva foi da Consolidação das Leis do Tra-
considerada insuficiente, na medida balho ou a teoria do risco proveito,
em que imputava à vítima a prova mas o solidarismo constitucional,
da culpa, muitas vezes de difícil rea- não devendo o empregado concor-
lização, desenvolvendo-se, portanto, rer com qualquer risco a seus patri-
a teoria da responsabilidade civil ob- mônios físico, moral ou econômi-
jetiva, que prescinde de culpa. Hoje, co 56 .

51
Curso de Direito do Trabalho, p. 623.
52
Responsabilidade civil no Direito do Trabalho, p. 241.
53
Programa de responsabilidade civil, p. 46.
54
Responsabilidade civil no Direito do Trabalho, p. 28.
55
Responsabilidade civil no Direito do Trabalho, p. 104-105.
56
Responsabilidade civil no Direito do Trabalho, p. 112, 124.

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, 2007 225

Responsabilidade civil e assédio de dolo ou culpa.


moral no trabalho
Além disso, o principal moti-
A empresa é responsável pelo vo da existência da teoria da res-
assédio moral efetuado, tanto em ponsabilidade civil objetiva é evitar
virtude de ação sua – em caso de que as vítimas de um dano mais
assédio moral estratégico, por complexo, como o assédio, por
exemplo – como no caso de omis- exemplo fiquem sem a indenização
são – hipótese em que a empresa que seria cabível, diante da notória
não impede que o assédio moral dificuldade de obtenção de prova
ocorra no trabalho. da culpa. Apesar do posiciona-
Há doutrinadores que enten- mento adotado, deve-se ressaltar
dem que, como a doutrina majori- que o entendimento predominante
tária considera a intencionalidade da doutrina e da jurisprudência
como requisito intrínseco para a brasileiras é de que a responsabili-
configuração do assédio moral, não dade civil no caso de assédio moral
se pode dizer que um nas relações de em-
ambiente de traba- prego é subjetiva.
lho, ainda que “Não se pode olvidar que o as- Rescisão indireta
estressante, possa ser sédio moral é um atentado ao
considerado, por si meio ambiente do trabalho, A afronta es-
só, como um local ensejando, portanto, a aplicação tudada pode dar
nascimento à pre-
com grave probabili- do art. 225, § 3o, da Constitui-
dade de gerar assé- ção Federal, que determina a tensão de rescisão do
dio moral. obrigação de reparar os danos
contrato do empre-
gado por rigor exces-
Respeitadas as ao meio ambiente, inclusive o sivo ou exigência de
opiniões em sentido do trabalho, independentemen- serviços além das
contrário, entende-se te de dolo ou culpa.” forças do trabalha-
que a intenciona- dor (art. 483, a e b,
lidade do ato não é elemento intrín- da CLT), por perigo manifesto de
seco do assédio moral. Dessa for- mal considerável (art.483, c, da
ma, não há que se falar em necessi- CLT), por descumprimento de de-
dade de existência de dolo para a veres legais e contratuais (art. 483,
caracterização da responsabilidade d, da CLT), ou por ato do empre-
civil. gador ou de seus prepostos que
Não se pode olvidar que o as- lesione a honra e a boa fama do em-
sédio moral é um atentado ao meio pregado ou de pessoas de sua fa-
ambiente do trabalho, ensejando, mília (alínea e do art. 483 da nor-
portanto, a aplicação do art. 225, § ma consolidada). Segundo Wagner
3o, da Constituição Federal, que de- GIGLIO, as atitudes que configu-
termina a obrigação de reparar os ram o assédio moral estão na pró-
danos ao meio ambiente, inclusive pria gênese da expressão “rescisão
o do trabalho, independentemente indireta”57 .

58
Justa causa, p. 405.

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Ao empregado assediado não lhantes que afetam a psiquê do em-


deve, contudo, ser imputada a obri- pregado e provocam uma degrada-
gação de considerar rescindido seu ção psicológica em suas condições
contrato de trabalho, já que não há de trabalho.
a configuração do perdão tácito, no
caso de manutenção do contrato de O assédio moral nas relações
trabalho, mas, meramente, a força de emprego é uma afronta múlti-
da necessidade da subsistência, já pla aos direitos fundamentais dos
que, nas palavras de Wagner trabalhadores, principalmente ao
GIGLIO, “o trabalhador é o único direito sanitário do trabalho e ao
juiz da conveniência de rescindir o princípio da não-discriminação.
contrato: fica a seu inteiro critério
suportar o descumprimento das
obrigações, pelo empregador, mover BIBLIOGRAFIA
ação para constrangê-lo a cumpri-
las ou denunciar o contrato”58 . AUBOURG, Gwendoline; MOURA,
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cia um ambiente em que o assédio BARRETO, Margarida. Violência,
moral pode ocorrer mais facilmen- saúde e trabalho (uma jornada de
te, pois o sofrimento no trabalho é humilhações). São Paulo: EDUC/
utilizado para perpetuar as relações FAPESP, 2003.
de poder. Não se pode considerar, BARROS, Alice Monteiro de. Assé-
contudo, tal afronta como uma si- dio moral. Síntese Trabalhista,
tuação inexorável, como um dado Porto Alegre, ano XVI, n.184, p.
sem volta, pois a sociedade deve es- 136-151, out. 2004.
tar consciente de que tais atos ferem
o princípio da dignidade humana e, BUTCHART, Alexander; PHINNEY,
dessa forma, devem e podem ser Alison; CHECK Pietra; VILLAVECES,
combatidos, mediante um sistema Andrés. Preventing violence. A
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