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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

RAIMUNDO SÁ
CURSO BACHARELADO EM DIREITO
DISCILPLINA: DIREITO AMBIENTAL

Karine Kelly da S Fonseca Lima

Alana Gréssia de Moura Damascena

Hellen Cristina Lopes Lima

ASSÉDIO SEXUAL NO ÂMBITO DO TRABALHO

PICOS-PI
INTRODUÇÃO

É tida como assédio sexual no trabalho uma conduta de natureza sexual


podendo se manifestar tanto fisicamente e quanto por gestos que assim gerem
constrangimentos a vitima e violando sua liberdade sexual. Em 15 de maio de
2001, é encontrada uma lei que foi introduzida no Código Penal, no Capítulo de
Crimes contra liberdade sexual e possui a seguinte redação: Art. 216-A
“Constranger alguém com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao emprego, cargo ou função”. (Gleibe Pretti2021,p17).

Sabe-se que o empregador tem o dever de manter as mínimas


condições de trabalho, sendo incluso sua segurança e saúde do trabalho. Ao
deixa de oferecer essas medidas estará indo contra o que é almejado pela
legislação. O assedio pode acontecer de duas formas: intimidação onde o
ambiente de trabalho é hostilizado por conteúdos que não fazem parte do que
se é esperado e atuado na empresa e por chantagem quando a tomada de
decisões envolve sua negação ou aceitação de uma “investida” do seu
superior.

Não é de hoje que o assédio está presente no meio ambiente de


trabalho, ou qualquer meio. Não se escolhendo gênero, todos correm risco
passar por situações do tipo. No entanto, o que faz com que esses números de
assedio cada dia mais cresçam? As vitimas sentem medo de denunciar, por
muitas vezes necessitarem do emprego para sobreviver e assim aceitam
condutas que vão contra sua vontade, quando o que mais queria estar fazendo
ali seria somente “o seu trabalho”.
DESENVOLVIMENTO

1. O QUE TRAZ A JURISDIÇÃO

O Brasil levou mais quinhentos anos para tipificar o assédio sexual como
crime, a tipificação só foi incluída no código penal com a Lei nº 10.224 de 15 de
maio de 2001, até então a conduta era enquadrada como crime de
constrangimento ilegal, atualmente configura-se como o ato de “constranger
alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função” (Código
Penal, art. 216-A). A pena vai de um a dois anos de prisão, podendo ser
aumentada se a vítima for menor de 18 anos. No entanto, a medida legal não
basta para evitar a violência.
De tal conduta também insurge a violação de direitos fundamentais
garantidos pela constituição Federal da República, tais como o princípio da
dignidade da pessoa humana, a honra, os valores socias do trabalho, bem
como o direito ao meio ambiente de trabalho sadio e seguro, todos previsto em
Constituição Federal., conforme entendimento de Barreto e Barreto (2018,p20):

A prática do assédio, notadamente, sob a espécie sexual, constitui uma


grave violação aos direitos fundamentais da dignidade humana e dos
valores sociais do trabalho, elevados à categoria de princípios
fundamentais que regem a República, assumida como Estado
Democrático de Direito, conforme sua apresentação no art. 1º da
Constituição Federal de 1988.

O caput do art. 225 da Constituição Federal que assegura o direito ao


meio ambiente ecologicamente equilibrado, dispõe que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Em consonância com a nossa constituição, ainda em 2019, por meio da


Convenção N°190 sobre Violência e Assédio no mundo do trabalho, a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Conferência Internacional de
Trabalho (CIT), reconheceu como um sendo direito de todos um ambiente de
trabalho sem violência e sem assedio, bem como a pratica de tal conduta como
uma forma de violação dos direitos humanos ao dispor que:

Reconhecendo o direito de todos a um mundo de trabalho livre de


violência e assédio, incluindo violência e assédio de gênero, e
reconhecendo que a violência e o assédio no mundo do trabalho
podem constituir uma violação ou abuso dos direitos humanos, e que
a violência e o assédio são uma ameaça à igualdade de
oportunidades, são inaceitáveis e incompatíveis com o trabalho
decente.

2. O QUE MOSTRA OS DADOS

Abordando o assédio sexual no âmbito do trabalho, no Brasil, um a cada


cinco profissionais declara ter sofrido assédio sexual no ambiente de trabalho;
76% das mulheres com mais de 16 anos relatam terem sido vítimas desse tipo
de violência.

Ainda segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em


pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com base em
fontes oficiais dos Órgãos Públicos responsáveis, tivemos um aumento de
2,3% nos casos de assédio sexual, totalizando um acréscimo de 4.922 em
relação ao ano passado. Uma realidade muitas vezes silenciada pelo receio de
denunciar os abusos.

3. DIFICULDADES ENCONTRADAS

Uma das maiores dificuldades encontradas pelas vítimas é reconhecer o


assédio, visto que há a ocorrência de fatos, que fogem ao tipo legal, como por
exemplo, nem sempre as condutas são praticadas por superiores hierárquicos,
há também a prática de assedio por colegas de trabalho, que por suas
similaridades, têm as mesmas consequências. Outro exemplo é o fato do
assédio sexual nem sempre acontecer dentro do ambiente de trabalho,
podendo a abordagem advir em uma reunião externa, durante o horário de
almoço, ou até mesmo por comentários em redes socias. No entanto, para que
se configure o assédio sexual no ambiente de trabalho é necessário, tão
somente, que a relação entre a vítima e o agressor seja decorrente de uma
relação de trabalho. A prática pode ser implícita, não sendo necessário o
contato físico para que se caracterize.

Quanto aos tipos, o assédio sexual no ambiente de trabalho, pode


acontecer das seguintes formas: por chantagem, quando há exigências de
uma conduta sexual em troca de benefícios, ou por intimidação, quando a
finalidade do agressor é constranger, humilhar ou hostilizar uma pessoa no
ambiente de trabalho. Conforme entendimento do Tribunal Regional do
Trabalho da 3ª Região:
ASSÉDIO SEXUAL. CONFIGURAÇÃO. Além do assédio sexual por
chantagem, figura delituosa prevista no artigo 216-A do Código Penal,
a doutrina reconhece o assédio por intimidação, conduta que, embora
não esteja enquadrada como crime, configura ilícito capaz de autorizar
o deferimento de reparação por dano moral. Esse tipo de conduta é
caracterizado "por incitações sexuais importunas, ou por outras
manifestações da mesma índole, verbais ou físicas, com o efeito de
prejudicar a atuação laboral de uma pessoa ou de criar uma situação
ofensiva, hostil, de intimidação ou abuso no trabalho. (HUSBANDES,
Robert. Análisis internacional de las leyes que sancionam el acoso
sexual. Revista Internacional Del Trabajo, Ginebra, 1993, v. 112, n. 1,
p. 133). Já o assédio sexual por chantagem traduz, em geral,
exigência formulada por superior hierárquico a um subordinado para
que se preste à atividade sexual, sob pena de perder o empregou ou
benefícios advindos da relação de emprego" (Curso de direito do
trabalho - Alice Monteiro de Barros - 9ª ed - São Paulo:LTr, 2013, p.
747). A caracterização do assédio sexual é possível, portanto, sempre
que evidenciado comportamento com conotação sexual, não desejado
pela vítima e com reflexos negativos na sua condição de trabalho. A
conduta ilícita praticada pelo assediador pode resultar de um
comportamento físico ou verbal de natureza sexual, capaz de afetar a
dignidade da vítima no local de trabalho. A empregada que ouve do
superior hierárquico seguidos comentários sobre sua aparência física e
atributos
pessoais é vítima de assédio sexual, fazendo jus à reparação pelo
dano moral sofrido. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0010043-
07.2015.5.03.0181 (RO); Disponibilização: 10/09/2015; Órgão Julgador:
Setima Turma; Relator: Convocado Cleber Lucio de Almeida) (sem grifo
no original).

Outra dificuldade encontrada pelas vítimas é a constituição de provas,


visto que tais condutas têm se tornado cada vez mais invisíveis e de mais difícil
amostra. Contudo, em ocorrências de assédio sexual, o depoimento da vítima,
bem como prova testemunhal tem um valor probante diferencial. Para tanto o
assédio pode ser provado através gravações, bilhetes, mensagens eletrônicas,
vídeos, cartas, e-mails, áudios, por comentários em redes sociais, ligações
telefônicas e testemunhas que tenham conhecimento do fato.

Ademais, diante da dificuldade de se provar o assédio sexual, a maioria


das vítimas não levam o caso adiante, não realizando a denúncia formal. Seja
por vergonha, por se sentir culpada, por medo da discriminação e até mesmo
por medo de perder o cargo.

4. DAS CONSEQUÊNCIAS
Como consequência, o assédio sexual no trabalho causa danos direto à
saúde dos profissionais, seja no agravamento de doenças já pré-existente, seja
no surgimento de novas doenças. Além disso, os danos também refletem no
ambiente de trabalho e aos demais trabalhadores, ocasionando a baixa
produtividade, diminuição da qualidade na prestação de serviço, ocorrência de
doenças do laborais, o aumento do absenteísmo, desenvolvimento de
depressão, ansiedade, estresse aumentado, em casos mais graves, chegando
ao desenvolvimento de síndrome do pânico ao adentrar o ambiente
coorporativo. Contrariando direitos previstos pela Constituição Federal que
assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança. Com fim de garantir condições mínimas de dignidade.

5. O QUE FAZER NA CONDIÇÃO DE VITIMA

Diante dos fatos, o primeiro passo para sair dessa situação é não se
calar diante do agressor, conseguir dizer não, contar e buscar ajuda de
colegas, constituir e reunir provas como gravações de áudio e vídeo, buscar
colegas que possam ser testemunhas e principalmente denunciar, a falta de
denúncia é a principal causa de propagação para a pratica de assédio.

A denúncia pode ser formalizada a principio no Setor de gestão de


Pessoas ou ouvidorias da empresa/local de trabalho. Devendo ainda ser feito o
registro da ocorrência na delegacia, nos sindicatos ou associações e no
Ministério do Trabalho.

Cabendo, ainda, à vítima procurar a justiça do trabalho para eventual


ação trabalhista.

6. GARANTIAS LEGAIS PARA A VÍTIMA

 Em casos de assédio sexual no âmbito do trabalho, a


vítima pode buscar seus direitos por meio de ação
trabalhista, cabendo a ela rescisão indireta do contrato de
trabalho por justa causa, culminada com indenização por
danos morais e matérias.
 Pode ainda requerer mudança em relação ao seu local e
horário de trabalho.
 Tendo em vista os danos causados a saúde da vítima,
poderá acarretar em configurações de doenças
ocupacionais que induziram a direitos e garantias dessa
condição, tais como recebimento de auxilio previdenciário
e etc...
 Além disso, a consolidação das leis trabalhistas (CLT)
autoriza o empregador a demitir por justa causa o
empregado que cometer falta grave, visto que a prática de
tal conduta é considerada uma das hipóteses.

7. MEDIDAS DE PREVENÇÃO E COMBATE

É de fundamental importância que o conhecimento acerca do tema


abarque toda a instituição, como um viés de construção e fortalecimento de
táticas destinada à prevenção e orientação, bem como à proteção das vítimas
de assédio sexual no trabalho. Da equipe gestora se espera uma conduta
pautada na ética e na represaria à pratica de assedio sexual ou moral.

Para a edificação de um ambiente saudável e equilibrado faz-se


necessário a tomada de algumas medidas:

 A criação de canal de comunicação, em que as regra da instituição


sejam eficazmente veiculadas, e que esteja apta para colher as
denúncias.
 A correta averiguação dos casos de denúncia de assedio,
 Acesso à informação acerca do tema,
 Adoção de medidas de prevenção
 Incentivo de relações respeitosas
 Ofertar palestras, oficinas, ou minicursos que abordem a temática.
 Capacitação cíclica por parte dos gestores, equipe administrativa, bem
como daqueles exercem cargo de liderança.

CONCLUSÃO

Em vista dos argumentos apresentados, o assédio sexual no âmbito do


trabalho tem aumentado nos últimos anos, na maioria das vezes a vítima sofre
em silencio por medo de denunciar os abusos, pois sentem vergonha, culpa,
por medo de discriminação e até mesmo de perder o cargo. As vítimas tem
dificuldade em reconhecer o assédio porque nem sempre a impertinência
ocorre com o contato físico.

O assédio sexual causa danos as vítimas (depressão, ansiedade, estresse), no


âmbito de trabalho os danos são refletidos tanto na vitima quanto em seus
colegas de trabalho pois ocasiona a baixa produtividade diminuindo a
qualidade e prestação de serviço.

Após o assédio a vítima pode buscar seus direitos por meio de ação
trabalhista, a CLT autoriza o empregador demitir por justa causa o empregado
que cometer falta grave.
REFERÊNCIAS

https://www.tst.jus.br/assedio-sexual

BARRETO, Marco Aurélio; BARRETO, Camila. Assédio Sexual: E os Limites


Impostos pela Tipificação Penal e Outras Abordagens de Apelo Sexual no
Ambiente de Trabalho. São Paulo: LTr, 2018.

16º ANUARIO DE POLITICAS PUBLICAS, disponível em:


https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/dados-e-fontes/pesquisa/16o-
anuario-brasileiro-de-seguranca-publica-fbsp-2022/ acessado em 11 dez, 2022.

Tribunal Regional da 3ª Região. RECURSO ORDINÁRIO 0010043-


07.2015.5.03.0181. Cleber Lucio de Almeida. Disponível em: <
https://as1.trt3.jus.br/juris/detalhe.htm?conversationId=4897> Acesso em: 11
dez, 2022.

Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de
1988. [Constituição (1998) ]. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. – 22ª ed. – Rio de


Janeiro: Forense, 2022, p. 686.

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