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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO

TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0101421-54.2016.5.01.0055 (RO)

RECORRENTES: MARCELO PESSOA SEIXAS, BANCO PAN S.A.

RECORRIDOS: MARCELO PESSOA SEIXAS, LIDERPRIME -


ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA., BANCO PAN S.A., BANCO BTG
PACTUAL S.A.

RELATORA: MÔNICA BATISTA VIEIRA PUGLIA

EMENTA

ENQUADRAMENTO COMO FINANCIÁRIA. Os elementos


constantes nos autos ratificam a condição da empregadora como
empresa financeira, não se podendo negar a pretensão do
reclamante de ser reconhecido como financiário, diante das
atividades que praticava e para quem trabalhou.

RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos dos RECURSOS


ORDINÁRIOS, em que são partes MARCELO PESSOA SEIXAS e BANCO PAN S.A., como
recorrentes, e LIDERPRIME - ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA, BANCO
BTG PACTUAL S.A., MARCELO PESSOA SEIXAS e BANCO PAN S.A., como recorridos.

Trata-se de recursos ordinários interpostos pelo reclamante


(fls.1299/1311) e pela segunda reclamada (fls.1275/1283) em face da respeitável sentença da
MM. 55ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, de lavra do eminente Juiz Marcel da Costa Roman
Bispo, que julgou IMPROCEDENTES os pedidos em face da 1ª e 3ª rés (Liderprime
Administradora de Cartões de Crédito Ltda e Banco BTG Pactual S/A, respectivamente), e
procedentes em parte em relação à segunda ré (Banco PAN S/A) (fls.1251/1261).

Embargos de Declaração opostos pelo reclamante às fls.1273/1274,


sendo os mesmos rejeitados às fls. 1295/1296.

Rebela-se o reclamante contra as seguintes questões: grupo


econômico e responsabilidade solidária, vínculo de emprego e enquadramento como
bancário/financiário, horas extras e repouso semanal remunerado sobre as comissões.

Por sua vez, insurge-se a segunda reclamada (Banco PAN) contra o


Julgado no tocante às horas extras e à gratuidade de justiça.
Preparo comprovado às fls.1285/1286.

Contrarrazões da segunda reclamada (Banco PAN) e do reclamante,


às fls.1315/1328 e 1340/1344, respectivamente, ambas sem preliminares.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por


não se configurar hipótese de sua intervenção.

Éo relatório.

VOTO

ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso do reclamante, por preenchidos os pressupostos


legais de admissibilidade.

Conheço do recurso da segunda reclamada, exceto quanto ao item


"gratuidade de justiça", por ausência de interesse recursal.

Insurge-se a segunda reclamada contra a gratuidade de justiça


deferida ao reclamante. Todavia, a gratuidade de justiça não acarreta ônus à empresa recorrente,
mas apenas à União. Assim, não conheço do inconformismo em relação à gratuidade de justiça
deferida ao obreiro, por ausência de sucumbência, pressuposto previsto no artigo 499 do Código
de Processo Civil de 1973, atual artigo 996 do NCPC.

Nesse sentido, a ementa a seguir transcrita, proferida pelo C. TST:

GRATUIDADE DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. ARTIGOS


267, VI, E 499 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. A sucumbência constitui
requisito indispensável à caracterização do interesse em recorrer e pressupõe que
a parte experimente gravame em consequência da decisão proferida. É o gravame
que qualifica o interesse da parte, legitimando-a a percorrer a via recursal, visando
a obter a reversão do pronunciamento judicial que lhe foi desfavorável. Não se
justifica a interposição de recurso a decisão que se revela totalmente favorável à
parte, porque dela não resulta qualquer prejuízo apto a legitimar o interesse em
recorrer. Não configurado o trinômio necessidade - utilidade - adequação,
necessário à caracterização do interesse recursal, resulta inviável o apelo.
Inteligência dos artigos 267, VI, e 499 do Código de Processo Civil. Agravo de
instrumento a que se nega provimento. (TST, 1ª Turma AIRR - 2337-
55.2010.5.12.0000. Relator: Lélio Bentes Correa. p. 19/08/2011).

Conheço parcialmente do recurso da segunda reclamada.

FUNDAMENTAÇÃO
RECURSO DO RECLAMANTE

VÍNCULO DE EMPREGO COM BANCO PAN - ENQUADRAMENTO COMO


BANCÁRIO/FINANCIÁRIO

Eis os fundamentos do Julgado quanto ao tema:

"Do Vínculo com a Segunda Reclamada.

O reclamante foi admitido pelo PANAMERICANO ADMINISTRADORA DE


CARTÕES DE CRÉDITO e depois pela PANSERV PRESTADORA DE SERVIÇOS
LTDA.

O art. 17 da L.4955/64 dispõe: (...)

O Banco Central reconhece a possibilidade da contratação de sociedades


prestadoras de serviço de análise de crédito, cadastro, cobrança e promoção de
vendas (resolução Bacen nº 003954/2011).

O reclamante alega que participava da comercialização de uma gama de produtos:


crédito consignado, financiamento de veículo, cartão de crédito e seguros.

A reclamada alega que a PANSERV tinha outros clientes além do Banco Pactual.

Nos termos de contrato entre a PANSERV com a OMNI S/A e com a PORTOCRED
faltam a data de celebração (fls. 957).

Os contratos foram confirmados pelos depoimentos de Cíntia Aparecida


Marafiotti e Kleison Lucena Silva.

A testemunha Adeci Brasil admitiu que "nunca trabalhou diretamente com o


Banco Pan."

A posterior incorporação da segunda pela terceira reclamada, após o término


do contrato da reclamante, não pode ser interpretada como confissão das
pretensões autorais. É uma operação comercial comum e válida.

De fato, não há provas da subordinação ao Banco Pan ou do exercício efetivo


de atividades típicas de bancário pelo reclamante. Trata-se de hipótese de
terceirização lícita.

Pelo mesmo fundamento, o reclamante não pode ser tido como financiário,
posto que a PANSERV não tinha registro como financeira. Trata-se de uma
malabarismo lógico: caso as atividades exercidas mediante contrato para a cliente
não possam ser classificadas como bancárias (objetivo social da cliente) que sejam
como financeiras, desta vez com base numa suposta atividade sem registro da
própria empregadora formal.

No entanto, a licitude da contratação entre a PANSERV e o Banco Pan impedem


logicamente essa saída. A PANSERV nunca obteve registro como financeira no
BANCO CENTRAL."

Sustenta o autor recorrente que restou comprovado que


desempenhava suas atividades vendendo produtos do BANCO PAN S/A, de modo que a
prestação de serviços intermediada pela primeira reclamada é a mais pura demonstração de
fraude; que as atividades desempenhadas pelo recorrente beneficiavam diretamente o BANCO
PAN S/A; que era ônus dos reclamados comprovar as alegações da defesa, no sentido de que
não havia subordinação direta ao BANCO PAN S/A, do qual não se desincumbiram; que pelos
depoimentos nos autos é possível concluir pela existência do vínculo de emprego com o BANCO
PAN S/A. Requer, ainda, que, caso seja rejeitado o pedido de nulidade dos contratos de trabalho
e reconhecimento do vínculo de emprego com o BANCO PAN S/A, que seja declarado que o
recorrente integra a categoria profissional dos financiários, já que a primeira reclamada atua como
instituição financeira, devendo ser aplicadas as respectivas normas coletivas.

Com parcial razão.

A inicial apontou que o reclamante foi admitido em 08/12/2009,


através de contrato firmado com o primeiro reclamado (LIDERPRIME, atual denominação de
PANAMERICANO ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA) para prestar serviços
exclusivamente para o BANCO PAN, sendo certo que em 15/01/2012 teve rescindido esse
contrato. Aduziu que no dia seguinte, em 16/01/2012, foi firmado um novo contrato, agora com a
empresa PANSERV PRESTADORA DE SERVIÇOS, continuando a prestar serviços para o
BANCO PAN, exercendo sempre as mesmas funções de Gerente Comercial, tendo sido
injustamente dispensado em 02/06/2015. Pretendeu fosse declarada a nulidade do contrato de
trabalho firmado entre o autor e as empresas LIDERPRIME ADMINISTRADORA DE CARTÕES
DE CRÉDITO e PANSERV PRESTADORA DE SERVIÇOS e, via de conseqüência, o
reconhecimento do vínculo empregatício diretamente com o BANCO PAN, enquadrando-o na
categoria dos bancários. De forma sucessiva, buscou o seu enquadramento como financiário,
bem como a garantia dos direitos normativos e legais aplicados à categoria.

Em sua peça de defesa, o BANCO PAN informa, desde o início,


que é incorporadora da PANSERV PRESTADORA DE SERVIÇOS LTDA, requerendo,
inclusive, a exclusão desta última empresa. Confirma também que o reclamante foi admitido
na PANSERV em 16/01/2012 para exercer a função de GERENTE DE FILIAL, tendo passado
posteriormente ao cargo de GERENTE DE REDE, e depois, em 01/04/2015, à GERENTE
REGIONAL, sendo dispensado em 02/06/2015. Prossegue aduzindo que apesar de o reclamante
alegar em sua petição inicial que prestava serviços exclusivos ao Banco PAN, à época da
prestação de serviços do autor como empregado da Panserv, esta era empresa distinta do Banco
PAN, e o obreiro não desempenhava atividade bancária. Impugnou que o reclamante tenha
laborado exclusivamente para o Banco PAN, desenvolvendo atividades essenciais ao Banco, seja
como empregado da primeira ré (LIDERPRIME), seja à época da PANSERV; que a PANSERV
possui loja própria, que não se confunde com as agências do Banco PAN. Reitera que a
PANSERV era empresa completamente distinta do Banco PAN à época do contrato de trabalho
do autor, tendo inclusive atividades distintas, como também personalidade jurídica e capital
próprios; que também não possuíam qualquer tipo de interferência mútua de gestão empresarial e
muito menos de administração e gerência de seus trabalhadores àquela época.

De início, ressalto que, conforme Ata de Assembleia Geral


juntada às fls.719/722, constata-se que a incorporação da Panserv Prestadora de Serviços
Ltda pelo Banco PAN foi aprovada no dia 20/12/2016, ou seja, mais de um ano após a
demissão do reclamante.

Dito isto, vejamos.

A divergência se restringe à natureza da prestação de serviços: o


reclamante alega que se trata de relação de emprego, enquanto que o Banco PAN sustenta que
houve prestação de serviços por meio das empresas LIDERPRIME - ADMINISTRADORA DE
CARTÕES DE CRÉDITO LTDA e PANSERV PRESTADORA DE SERVIÇOS.

Assim, cabia à segunda ré (Banco PAN) a prova dos fatos alegados


em sua defesa como óbices ao reconhecimento do vínculo de emprego entre as partes, nos
moldes do artigo 818 da CLT e do inciso II do artigo 333 do CPC.

Vejamos a prova oral produzida.

Eis o depoimento pessoal do reclamante:

"(...); que na primeira reclamada, até janeiro de 2012, ficava na agência de Volta
Redonda e fazia o acompanhamento da comercialização dos produtos do Banco -
crédito consignado, crédito pessoal, financiamento de veículos, seguros,
refinanciamento de veículos e cartão de crédito; que era gerente de filial de Volta
Redonda; (...); que estava subordinado ao gerente regional, que nessa época ficava
na Cidade do Rio de Janeiro; (...); que a partir de janeiro de 2012, quando o vínculo
passou para a segunda ré, foi para o Rio de Janeiro; que sua base era a agência
da Barra da Tijuca; que seu cargo era gerente de rede; que acompanhava a
produtividade de todas as agências da Cidade do Rio de Janeiro -
aproximadamente cinco agências; que o reclamante não era responsável por outros
estados; (...); que o processo de captação era terceirizado; que era uma agência do
Banco Pan; (...); que o gerente regional passou a se chamar superintendente; que
esse reportava a eles; que os gerentes de filial estavam subordinados ao gerente
regional/superintendente; que o depoente recebia os relatórios do superintendente,
que repassava os relatórios para o gerente de filial; (...); que na época do autor não
havia convênios com outros empresas, como Omni, Banco Cacique e Portocred;
que não tinha alçada; que não tinha assinatura autorizada; que como gerente
regional de rede, não tinha subordinados; que nunca trabalhou para a BTG; que o
BTG é um banco de investimento que comprou 51% do Grupo Sílvio Santos e tem
51% do Banco Pan; que não sabe dizer qual é o perfil do Banco BTG."
(fls.1246/1247)

O preposto da primeira ré (LIDERPRIME) afirmou que "o autor


trabalhava com produtos do Banco Panamericano - empréstimo pessoal e financiamento de
veículo". (fl.1247)

A testemunha indicada pelo autor, Sr. Adecil Brasil, declarou que:

"(...) foi funcionário da Pan Americana de 1997 a 2014/2015, aproximadamente;


que foi sucedido o contrato pela Panserv; que no final estava na Panserv; que
não trabalhou diretamente com o Banco Pan, nem pela BTG; que sua base era
Goiânia; que nos últimos meses de seu contrato a base foi transferida para o Rio de
Janeiro; que em Goiânia era gerente regional do Centro Oeste e Sudeste, exceto
São Paulo; que eram quatro gerentes regionais; que depois de um tempo a
reclamada mudou a normalmente para superintendente, mas a função era a
mesma; que era responsável pela animação comercial de todas essas unidades;
que acompanhava a produção da matriz; que a matriz fornecia as metas; que
acompanhavam as produções das filiais das agências; que tinha cinco
subordinados diretos, que eram o reclamante, Tamires e outros três; que
cabia a eles fazer animação comercial dos gerentes das agências; que o
reclamante acompanhava oito agências; que a matriz dava as metas e ele
acompanhava as metas; que não cabia ao reclamante cobrar as metas, e sim ao
depoente, isso no Centro Oeste e no Sudeste, exceto São Paulo; que o
reclamante visitava as agências, acompanhava as metas, eventualmente dava
treinamento; (...); que era preciso ter um relativo conhecimento dos produtos -
crédito consignado, crédito pessoal, financiamento e refinanciamento de
veículos; que era exigido nível de escolaridade de ensino médio para cima; que os
produtos eram do Banco Pan durante todo o período; que não tinha outros clientes;
que trabalhava só para o Banco Pan; que "animação comercial" é só
acompanhar as metas; que o departamento de recursos humanos da empresa era
na sede, em São Paulo; que trabalhou no mesmo local físico do autor no seu
último período, no Rio de Janeiro; que normalmente do cargo do reclamante era
"gerente regional de rede"; que o gerente regional de rede era subordinado ao
gerente regional, que depois passou a superintendente; que o gerente regional de
rede não gerenciava ninguém; (...); que nas lojas estava escrito Pan; que eram
lojas da Panserv; que no período que o depoente trabalhou, o reclamante era
responsável pela animação comercial do Estado do Rio de Janeiro todo; (...)."
(fls.1247/1248)

Por fim, eis o depoimento da testemunha conduzida pelo Banco PAN


e pelo Banco BTG Pactual S/A:

"(...); que trabalhou para a Panserv e atualmente trabalha para o Banco Pan;
que entrou para a Panserv em maio de 2014; que passou para o Banco Pan
em outubro de 2015, salvo engano; que é gerente de filial; que sua filial é o
Centro, Rio, Rua do Rosário; que trabalhou com o reclamante; que o
reclamante era gerente regional; que o reclamante era o gestor direto do
depoente; que o reclamante administrava as filiais, os gestores das filiais; que
o depoente prestava conta de seu serviço para ele; que o reclamante, como gestor
direto, cobrava ao depoente o cumprimento das metas e o depoente, como gestor
da loja, cobrava dos funcionários; (...); que as lojas vendiam produtos que eram
da Portocred, Omni e Cacique; que a Portocred e a Cacique o produto era ep-
cheque e da Omni eram veículos; (...)." (fl.1248)

Consoante a prova oral acima parcialmente transcrita, o reclamante


laborava nas lojas da PANSERV, tendo como função acompanhar as agências desta empresa,
sua empregadora, na busca pelo alcance das metas através da venda dos produtos do Banco
PAN, tais como crédito consignado, crédito pessoal, financiamento e refinanciamento de veículos,
restando evidente que o ora recorrente jamais exerceu atividade específica de bancário, ou seja,
não procedia a liberações de alçada, abertura de contas, etc.

Constata-se, ainda, que o reclamante não trabalhava nas


dependências do Banco PAN, tendo a sua própria testemunha afirmado que "não trabalhou
diretamente com o Banco Pan", e que "trabalhou no mesmo local físico do autor no seu último
período, no Rio de Janeiro".

Ademais, sequer restou provada a subordinação jurídica ao Banco


PAN, ao contrário, os depoimentos acima revelam que o autor foi contratado e estava
subordinado aos empregados da PANSERV.

Assim, não é possível o reconhecimento do vínculo diretamente com


o Banco PAN, tampouco há que se falar em enquadramento do autor na categoria dos bancários,
já que, repita-se, não realizava atividades bancárias.
Entretanto, no que tange ao enquadramento como financiário,
merece reparo a sentença de primeiro grau.

A tese que predomina na doutrina e na jurisprudência é a de que,


salvo as exceções previstas no § 3º do art. 511 da CLT, o enquadramento sindical é definido pela
atividade preponderante da empresa, já que, como dispõe o § 2º do citado artigo:

"a similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em


situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas
similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida na
categoria profissional"

Nos termos do art. 18 da Lei 4.595/64 é considerada sociedade de


financiamento a empresa que faz a intermediação entre as partes para possibilitar o crédito,
concede crédito e desenvolve, inclusive, serviços correlatos, como concessão e emissão de
cartão de crédito e venda de seguros. E as sociedades financeiras, de acordo com o teor do art.
17 da mesma lei, são responsáveis pela intermediação de recursos financeiros próprios
(empréstimos pessoais) e de terceiros.

Assim dispõe expressamente a legislação específica citada:

"Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em


vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor
de propriedade de terceiros. (...)

Art. 18. As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante


prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder
Executivo, quando forem estrangeiras.

§1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de


crédito, financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas
de crédito ou a seção de crédito das cooperativas que a tenham, também se
subordinam às disposições e disciplina desta lei no que for aplicável, as bolsas de
valores, companhias de seguros e de capitalização, as sociedades que efetuam
distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante sorteio de
títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as pessoas físicas ou jurídicas que
exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade relacionada com a compra e
venda de ações e outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e
de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições
financeiras"

A Lei Complementar nº 105/2001, por sua vez, considera como


financeiras as instituições elencadas no §1º do artigo 1º e relaciona dentre aquelas as sociedades
de créditos, financiamentos e investimentos e as administradoras de cartões de crédito.
Eis o objeto social da PANSERV, empregadora do autor à época (fl.
444):

"a) recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas de depósito


à vista, a prazo e de poupanças mantidas por Instituição Financeira;

b) realização de recebimentos, pagamentos e transferências eletrônicas visando à


movimentação de contas de depósito de titularidade de clientes mantidas por
Instituição Financeira;

c) execução ativa e passiva de ordens de pagamento cursadas por intermédio de


Instituição Financeira por solicitação de clientes e usuários;

d) coleta de documentação e informações cadastrais de terceiros para


Instituição Financeira;

e) controle e processamento de dados;

f) recepção e encaminhamento de propostas de operações de crédito e


arrendamento mercantil apresentadas por terceiros a Instituição Financeira;

(...)

i) recepção e encaminhamento de propostas de fornecimento de cartões de


crédito de responsabilidade de Instituição Financeira;

(...)

Parágrafo Único: É expressamente vedada à sociedade a prática de qualquer


atividade que, em virtude de lei ou regulamentação de autoridade competente,
seja restrita a instituições financeiras."

Ora, os elementos constantes nos autos ratificam a condição da


PANSERV como empresa financeira, não se podendo negar a pretensão do reclamante de ser
reconhecido como financiário, diante das atividades que praticava e para quem trabalhou.

Essa questão, aliás, já se encontra pacificada no âmbito desta Corte,


conforme a Súmula nº 27, verbis:
"ENQUADRAMENTO COMO FINANCIÁRIO DE EMPREGADO DE
ADMINISTRADORA DE CARTÃO DE CRÉDITO OU AGENTE FINANCEIRO. Os
empregados de agentes financeiros e administradoras de cartão de crédito que
exercem atribuições relacionadas à atividade-fim de referidas instituições
financeiras são financiários, beneficiando-se, portanto, das normas coletivas da
categoria e da jornada reduzida do art.224 da CLT".

Configurada a condição de empregado financiário do reclamante, não


resta dúvida de que a ele se aplicam as normas coletivas da categoria dos financiários,
colacionados com a inicial, observados seus valores e as respectivas vigências, a saber:
reajustes salariais conferidos na data base, e respectivos reflexos no aviso prévio, férias
(acrescidas do terço constitucional), 13º salários, FGTS e indenização de 40% sobre o FGTS,
anuênio, auxílio-refeição, décima terceira cesta alimentação, indenização adicional de aviso
prévio, e participação nos lucros e resultados (PLR), nos exatos parâmetros contidos nos
instrumentos normativos.

Ressalto que a condenação ora imposta recai sobre o Banco PAN,


por tratar-se da empresa incorporadora da PANSERV, conforme acima já mencionado.

Resta autorizada a compensação de parcela porventura paga a


idêntico título e que esteja documentada nos autos.

Dou parcial provimento.

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA - GRUPO ECONÔMICO

Sustenta o recorrente que os reclamados integram o mesmo grupo


econômico e que devem, por isso, responder de forma solidária pelos débitos trabalhistas.

Com razão.

Para a caracterização do grupo econômico faz-se necessário que


surjam evidências de que estão presentes os elementos de integração interempresarial de que
trata o art. 2º, §2º, da CLT.

Além de se verificar do contrato social de fls.1163/1167, é de


conhecimento geral que a primeira empregadora do autor - Panamericano Administradora de
Cartão de Crédito Ltda, cuja denominação passou a ser Liderprime Administradora de Cartão de
Crédito Ltda, figurava como parte de uma associação de empresas (Grupo Silvio Santos), na qual
também se encontrava inserido o Banco Panamericano (PAN). Para este último, a Liderprime
Administradora de Cartão de Crédito Ltda prestava serviços, como já restou estabelecido.

Na forma como se dava a execução da atividade empresarial,


evidente o grupo econômico existente, o que atrai a responsabilidade solidária, como reconhecida
pelo juízo de primeiro grau.

Registre-se que a admissão de existência de grupo econômico não


implica reconhecer a unicidade empresarial. De fato, cada empresa subsiste individualmente, com
capital, pessoal e personalidade jurídica própria, mas vinculam-se na consecução de seus
objetivos sociais mediante uma reação de subordinação e/ou coordenação, de acordo com a
estrutura organizacional estabelecida.

De modo distinto não há de se concluir relativamente ao Banco BTG


Pactual. Isso porque a instituição financeira figura como detentora de 51% das ações do Banco
PAN, após a transação de aquisição concluída em meados de 2011, restando favorecida pela
força produtiva da obreira quando este executou tarefas em prol do Banco Panamericano,
viabilizando a percepção de lucros por ambas as empresas, já que uma é participante societária
da outra.

No mesmo sentido pode-se concluir a partir de uma simples consulta


à internet, onde consta expressamente no sítio eletrônico https://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_PAN:

"Banco PAN (até 15 de maio de 2013 era chamado de Banco PanAmericano[1]) é


um banco brasileiro, com sede em São Paulo, fundado por Senor Abravanel, mais
conhecido como Silvio Santos, controlado de 1990 até 2011 pelo Grupo Silvio
Santos[2]. Atua na área de financiamento ao varejo, financiamento de veículos,
cartões de crédito, empréstimo pessoal e consignado. Também oferece serviço
imobiliário e de adquirência, por meio de aquisições de empresas com a Brazilian
Mortgages, Brazilian Securities e Stone.[3] O banco possui 63 postos de
atendimento, abrangendo todas as capitais e principais cidades brasileiras.[4]

(...)

Venda para o grupo BTG Pactual

Em 29 de janeiro de 2011, o jornal Folha de S. Paulo anunciou que o rombo que o


banco tinha era de 4,1 bilhões de reais (1,6 bilhões de reais a mais do que
anunciado anteriormente). Em tal situação, Sílvio Santos vendeu o Banco
PanAmericano S/A para o grupo BTG Pactual. O empresário não receberia nenhum
valor em troca, já que o grupo BTG Pactual assumiu toda a dívida acumulada.
Sílvio Santos disse ainda que as demais empresas do Grupo Silvio Santos não
estão mais à venda.[6] Contrariando essa afirmação, em 31 de julho de 2011, a
Magazine Luiza adquire o Baú da Felicidade."

Defere-se, portanto, a condenação solidária, pela vinculação evidente


das empresas demandadas.

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO NAS COMISSÕES

Sustenta o reclamante que o MM. Juízo de origem cometeu grave


equívoco ao atribuir ao reclamante o ônus da prova e ao considerar que a ausência de juntada
dos contracheques deve ser interpretada contra o reclamante; que, de acordo com o que consta
do item "7" da notificação inicial enviada às partes, o reclamado foi intimado a juntar os referidos
documentos, na forma do art. 396, do CPC.

Sem razão.

Na inicial, o autor informou que os reclamados adotavam prática


ilegal para o pagamento das comissões e o respectivo DSR; que, na verdade, dos valores das
comissões eram subtraídos os valores dos DSR's, sendo pagos de forma desmembrada; que, em
outras palavras, não recebia o DSR sobre as comissões. Aduz que, desta forma, são devidos ao
autor os repousos sobre as comissões pagas em contracheque, sendo certo que devem tomar
por base o somatório dos valores pagos sob as rubricas "comissões" e "DSR sobre comissões",
e, a partir dessa operação, se calcular os DSR sobre as comissões.

Em sua defesa, a primeira ré - Liderprime Administradora de Cartões


de Crédito Ltda - afirmou que as comissões eram integralmente espelhadas nos comprovantes de
pagamento, sob os códigos 02086, assim como os reflexos em DSR´s, quitados sob o código
02181; que todas as importâncias recebidas pelo autor, inclusive aquelas referentes aos DSR´s,
encontram-se devidamente consignadas nos anexos recibos de pagamentos.

No mesmo sentido a peça de resistência do Banco PAN, alegando


que o autor sempre recebeu corretamente as comissões e os respectivos repousos, sem jamais
proceder a quaisquer questionamentos e/ou reclamações quanto à eventual incorreção no
pagamento.

Por sua vez, o Banco BTG Pactual S/A sustentou que cumpria ao
reclamante comprovar as comissões eventualmente recebidas e demonstrar as diferenças
pleiteadas.

Da análise da prova documental, verifica-se que a primeira ré juntou


aos autos os recibos de pagamento de fls.1127/1139, e o Banco PAN colacionou aqueles de
fls.810/830, os quais abarcam todo o período contratual do autor (dezembro/2009 a maio/2015),
sendo certo que em tais documentos encontram-se consignados, além da parcela "ORDENADO",
pagamentos sob as rubricas "COMISSÕES" e "DSR S/COMISSÕES".

Por outro lado, não há nos autos prova capaz de elidir o valor
probandi da referida documentação, nem de formar o convencimento deste Juízo no sentido de
que havia um desdobramento dos valores pagos a título de comissões nas rubricas "comissões" e
"DSR s/comissões", não incidindo aquelas sobre o repouso semanal remunerado.

Ademais, eu seu depoimento pessoal o autor limitou-se a afirmar que


"recebia as comissões que estão nos hollerites".

Nego provimento.

MATÉRIA COMUM A AMBOS OS RECURSOS

HORAS EXTRAS

O Julgador de origem assim decidiu acerca do tema em questão:

"Cargo de confiança

As funções desempenhadas pelo reclamante eram claramente diferenciadas. Ele


foi gerente de filial,gerante de rede e gerente.

(...)
O reclamante sempre ocupou cargos gerenciais e não há notícia de
gratificação. A remuneração diferenciada não depende necessariamente do
pagamento da comissão, mas também não pode ser presumida com base na
afirmação que os subordinados recebiam menos.

A PANSERV não tinha (ou não mencionou) plano de cargos e nem foram
apresentadas tabelas salariais nos autos capazes de um juízo abrangente da
realidade salarial da ex-empregadora.

A exceção ao direito constitucional à limitação da jornada exige prova robusta, não


pode ser presumida ou deduzida do fato de outras pessoas ganharem menos na ré.

(...)

O reclamante não pode ser considerado trabalhador externo. As atividades


eram executadas interna e externamente, mas em cobranças/visitas às
agências ou clientes (segundo a defesa), isto é, em espaços nos quais a
reclamada detinha a possibilidade de controle. Trabalho externo é aquele
executado "fora das vistas" do empregador, conceito anacrônico numa sociedade
em que todos, trabalhadores, eleitores, consumidores, são monitorados
praticamente todo o tempo.

Segundo o reclamante, as lojas (filiais) funcionavam das 8 as 19 horas de segunda


a sexta e sábado das 9 as 14 horas. Kleiton Lucena disse que as lojas funcionavam
das 9 as 18 horas e os sábados, no seu caso, foram laborados pontualmente, em
eventos.

Afastada a exceção do artigo 62 da CLT, a ausência dos controles implica em


confissão ficta, com a ponderação dos demais elementos de prova.

Kleiton Lucena nada soube dizer sobre a rotina do reclamante, declinou a sua.

Por outro lado, não se justifica nos autos que a jornada do reclamante fosse
superior ao de seus subordinados. Tal fato é possível, mas não encontra
justificativa na narrativa ou nos demais elementos de prova.

Daí porque o reclamante é credor de horas extras, consideradas as


excedentes da 44ª hora semanal, sobre o horário de 8 as 19 horas (segunda a
sexta) e 9 às 14 horas (sábado) com a dedução de uma hora de intervalo.

Como não foi reconhecida a condição de bancário/financiário, o reclamante


sujeita-se ao regime geral da duração da jornada.

Não há prova e nem alegação de labor aos domingos e feriados. Sábado é dia
útil. Como nem há pedido de domingos e feriados, inexplicável a referência ao
adicional de 100% nos pedidos do reclamante.

O salário é misto. Sobre a parte comissionada correspondente ao serviço


extraordinário incide o percentual de 50% (Súmula 340). Sobre a parte fixa o
reclamante é credor do período excedente com o acréscimo de 50%.

(...)

Quanto ao intervalo, prevalece o entendimento expresso na OJ 394 da SDI-I:

(...)."

Sustenta o reclamante-recorrente que são devidas como


extraordinárias as horas trabalhadas a partir da sexta diária e trigésima semanal, tendo em vista
que a função da recorrente não guarda qualquer semelhança com qualquer suposto cargo de
confiança bancário, conforme previsto no parágrafo 2º, do art. 224, da CLT. Alega ainda que, uma
vez integrante da categoria profissional dos bancários/financiários, o sábado deve ser
considerado dia de repouso, nos termos das normas convencionais, sendo devido, portanto, o
adicional de 100% para as extraordinárias trabalhadas nesse dia. Pleiteia, de forma sucessiva, as
horas trabalhadas a partir da oitava diária e quadragésima semanal; ou, reconhecida a incidência
do parágrafo 2º, do art.224, da CLT, o pagamento de gratificação de função de 55%, tal como
pedido formulado na inicial; ou, ainda, no mínimo, a integração aos salários do autor os valores
pagos a ele sob a rubrica PLR, observados os reflexos pretendidos, nos termos do rol da inicial.

Por seu turno, a reclamada-recorrente alega que o reclamante estava


inserido na exceção do art. 62 II da CLT, razão pela qual não faz jus ao pagamento de horas
extras. Aduz ainda que a regra do art. 62, II da CLT, não garante ao empregado o pagamento de
uma gratificação de função pela função de confiança exercida, mas apenas institui que o
empregado exercente de cargo de gestão deve perceber salário que se distinga no mínimo de
40% do salário dos empregados que lhe são subordinados, e que aquele não se submeterá às
normas de duração do trabalho. Por fim, sustenta que, ainda que mantida a condenação, em
nenhum momento restou comprovado o horário alegado, qual seja, de segunda à sexta das
08h00 às 19h00, e, aos sábados, das 09h00 às 14h00, tratando-se de jornada irreal, excessiva e
não provada.

Sem razão o reclamante.

Sem razão a reclamada.

Em sua peça de ingresso, o autor informou que desde o início da


relação contratual laborou em jornada excedente da legal, sendo certo que iniciava sua jornada,
de segunda a sexta-feira, às 08h00 para somente ter fim, em média, às 20h00, usufruindo do
intervalo de uma hora para repouso e alimentação; que era obrigado a laborar todos os sábados,
iniciando sua jornada às 09h00, e terminando, em média, às 18h00, também com intervalo de
uma hora.

O primeiro réu (Liderprime Administradora de Cartões de Crédito


Ltda), em defesa, sustenta que o autor, como Gerente da filial de Volta Redonda - Área de
Veículos, ativava-se tanto interna como externamente, na captação de novos negócios, laborando
sem qualquer controle ou fiscalização de horários pois seu cargo estava revestido de especial
fidúcia, nos termos do artigo 62, II da CLT. Reitera que pelo exercício de cargo de confiança, e
dado o alto grau deste, o autor estava dispensado do registro de ponto, não sofrendo qualquer
fiscalização dos seus horários, ao contrário do que alega, concentrando tarefas de extrema
responsabilidade e confiabilidade, além de confidencialidade. Aduz que, de qualquer forma, o
reclamante sempre cumpriu jornada de 8 horas diárias e 44 semanais, dentro do horário
comercial, qual seja, das 9:00h às 18:00h de segunda a sexta-feira, e aos sábados das 9:00h as
13:00h, sempre com uma hora de intervalo para refeição e descanso. Por fim, registra que, caso
deferido o pleito autoral, seja a condenação limitada tão somente ao adicional, uma vez que o
pagamento da hora normal trabalhada foi inteiramente satisfeito, especialmente as 7ª e 8ª horas,
pelo salário recebido.

Os réus Banco PAN e Banco BTG Pactual S/A, da mesma forma,


adotam a tese de que o reclamante, por todo o período imprescrito, exercia real cargo de
confiança, desde que passou a ocupar o cargo de GERENTE DE FILIAL, passando ao cargo de
GERENTE DE REDE e GERENTE REGIONAL, como informa a primeira ré, aplicando-se àquele
o previsto no artigo 62, II, do Texto Consolidado. Acrescenta o Banco PAN, também, que o
reclamante laborava em jornada eminentemente externa, sem qualquer controle de jornada. Por
fim, sustenta que, na hipótese de condenação em horas extras a partir da sétima, ad cautelam,
cumpre frisar que a 7ª e 8ª horas já restaram pagas à autora; portanto, deferir o pagamento
novamente de tais horas seria caracterizar o bis in idem e o enriquecimento sem causa do autor;
que, assim, apenas o adicional das 7ª e 8ª horas pode ser objeto de condenação na hipótese.

Pois bem.

As reclamadas, ao alegarem na defesa o exercício de cargo de


confiança bancária (art. 62, II, da C.L.T.), atrairam o ônus da prova, a teor do que dispõem os
arts. 818 da CLT c/c 373, II, do NCPC.

Ressalto que para a caracterização do cargo de confiança, não


bastam simples designações ou nomenclaturas, tais como "gerente", "gerente-geral", etc. São
necessários poderes de gestão e de representação em grau mais alto do que a simples execução
empregatícia, de tal forma que haja a prática de atos próprios da esfera do empregador. Estes
atos de gestão e de representação devem colocar o empregado de confiança em natural
superioridade a seus colegas de trabalho, aproximando-o da figura do empregador, de tal forma
que pratique mais atos de gestão do que meros atos de execução.

Da mesma forma, é importante que se diga que o inciso I do artigo 62


da CLT determina que para a caracterização da atividade externa devem ser conjugados dois
fatores: a incompatibilidade com a fixação de horário de trabalho e a anotação na CTPS e no
registro de empregados dessa condição, sendo tais exigências cumulativas e não excludentes, ou
seja, não basta o cumprimento de apenas uma delas para isentar o empregador do pagamento
das horas extraordinárias.

Ademais, o simples fato de a prestação de serviços ser externa não


afasta, por si só, o direito à percepção de horas extras, até porque a excludente do inciso I do
artigo 62 da CLT somente se destina aos empregados em serviços externos, exercendo suas
atividades fora da permanente fiscalização e controle do empregador, desvinculada de qualquer
controle efetivo quanto à jornada diária a ser cumprida, sendo impossível, portanto, conhecer-se o
tempo dedicado com exclusividade à empresa.

Vejamos a prova oral produzida.

Em depoimento pessoal, afirmou o autor:

"que na primeira reclamada, até janeiro de 2012, ficava na agência de Volta


Redonda e fazia o acompanhamento da comercialização dos produtos do Banco -
crédito consignado, crédito pessoal, financiamento de veículos, seguros,
refinanciamento de veículos e cartão de crédito; que era gerente de filial de Volta
Redonda; que era autoridade máxima para acompanhar a produtividade na
filial; que eram aproximadamente 10 pessoas na filial; que havia coordenador
de crédito pessoal, assistente de negócios e operador de veículos; que era o único
gerente; que batia ponto (folha de ponto), mesmo como gerente; que estava
subordinado ao gerente regional, que nessa época ficava na Cidade do Rio de
Janeiro; que quem contratava e demitia na filial era o departamento de recursos
humanos; que havia uma empresa de departamento de recursos humanos que
fazia seleção de pessoal; que podia encaminhar para o departamento de recursos
humanos, mas não tinha a palavra final; (...); que a filial funcionava de segunda à
sexta-feira, de 8 às 19 horas, e sábado, de 9 às 14 horas; (...); que a partir de
janeiro de 2012, quando o vínculo passou para a segunda ré, foi para o Rio de
Janeiro; que sua base era a agência da Barra da Tijuca; que seu cargo era gerente
de rede; que acompanhava a produtividade de todas as agências da Cidade do Rio
de Janeiro - aproximadamente cinco agências; que o reclamante não era
responsável por outros estados; que havia um gerente regional além do
reclamante; que não era igual ao gerente regional; que havia um gerente
regional na época, que era Adecil Brasil; (...); que participava indiretamente do
processo de seleção; que fazia movimentação de pessoal; que também ia para o
gerente regional; que depois ia para o departamento de recursos humanos, que
dava a decisão final; que o processo de captação era terceirizado; que era uma
agência do Banco Pan; que nunca demitiu ninguém; que o gerente regional passou
a se chamar superintendente; que esse reportava a eles; que os gerentes de filial
estavam subordinados ao gerente regional/superintendente; (...)." (fls.
1246/1247)

O preposto da segunda ré alegou que:

"o autor, como gerente de rede, fazia supervisão e fiscalização das lojas
vinculadas, nos estados do Rio de Janeiro,MG e ES; que eram 16 lojas; que acima
dele ficava o superintendente Adecil Brasil". (fl.1247)

A testemunha indicada pelo reclamante, Sr. Adecil Brasil, declarou:

"(...); que era responsável pela animação comercial de todas essas unidades;
que acompanhava a produção da matriz; que a matriz fornecia as metas; que
acompanhavam as produções das filiais das agências; que tinha cinco
subordinados diretos, que eram o reclamante, Tamires e outros três; que
cabia a eles fazer animação comercial dos gerentes das agências; que o
reclamante acompanhava oito agências; que a matriz dava as metas e ele
acompanhava as metas; que não cabia ao reclamante cobrar as metas, e sim
ao depoente, isso no Centro Oeste e no Sudeste, exceto São Paulo; que o
reclamante visitava as agências, acompanhava as metas, eventualmente dava
treinamento; que ele não participava do processo de admissão e demissão;
que o gerente da filial fazia a indicação e entrevistava; (...); que na hierarquia da
empresa, o cargo do reclamante estava acima do gerente de loja, mas sem
subordinação; (...); que o reclamante não tinha poder para dispensar ninguém;
que quem indicava a dispensa era o gerente das lojas; que quem dispensava era o
depoente, que os encaminhava ao departamento de recursos humanos; (...)."
(fls.1247/1248)

Já a testemunha conduzida pelo Banco PAN e pelo Banco BTG


Pactual S/A, Sr. Kleison Lucena, assim depôs:

"(...); que trabalhou com o reclamante; que o reclamante era gerente regional;
que o reclamante era o gestor direto do depoente; que o reclamante
administrava as filiais, os gestores das filiais; que o depoente prestava conta
de seu serviço para ele; que o reclamante, como gestor direto, cobrava ao
depoente o cumprimento das metas e o depoente, como gestor da loja, cobrava
dos funcionários; que sabe que o reclamante gerenciava mais de um estado, mas
não sabe dizer exatamente; que eram 12 ou 13 lojas; que o reclamante também
subordinava promotoras e correspondentes que não estavam vinculados à loja; que
na loja do depoente havia umas 10, 11 pessoas, talvez chegando a 15; (...); que
dividia decisões com o reclamante; que na empresa a rotina de admissão mudou,
não foi sempre a mesma; que atualmente depende do departamento de recursos
humanos, tem provas; que não se lembra da época do reclamante; que na
época que trabalhou com o reclamante, dividia essa tarefa com ele, no que diz
respeito à admissão, mas não tem como afirmar se o reclamante tinha a
palavra final, se dividia isso com alguém; que o mesmo se pode dizer da
demissão; que encaminhava para o reclamante, que isso era dividido com ele, mas
não sabe dizer o que se dava daí para a frente; que não sabe dizer se o
reclamante já admitiu ou demitiu alguém sem precisar dividir isso com
alguém; que o reclamante, como regional, estava acima do depoente, mas
acima do reclamante havia o superintendente; que não tem menor condição
de dizer o horário de trabalho do reclamante; que o depoente trabalhava de
segunda à sexta-feira, de 9 às 18 horas; que nunca trabalhou sábados; que aos
sábados chegou a trabalhar pontualmente em eventos, mas nunca como rotina;
(...)." (fl.1248)

Ora, o preposto da segunda reclamada foi claro ao afirmar que o


autor estava subordinado ao Superintendente, Sr. Adecil, o qual, por sua vez, confirmou que não
cabia ao demandante cobrar metas, tampouco demitir funcionários.

Não fosse o bastante, a testemunha indicada pelas rés, embora


tenha afirmado que prestava contas do seu trabalho para o reclamante, e que este, enquanto
gestor direto, cobrava ao depoente o cumprimento das metas, certo é que também admitiu que
"não sabe dizer se o reclamante já admitiu ou demitiu alguém sem precisar dividir isso com
alguém; que o reclamante, como regional, estava acima do depoente, mas acima do reclamante
havia o superintendente". Dessa forma, tem-se que suas declarações não se revelam capazes de
ratificar a tese defensiva.

Portanto, o conjunto probatório afasta por completo a excludente do


inciso II do artigo 62 da CLT.

Da mesma forma, nada comprovou a reclamada sobre a alegada


impossibilidade de controle de jornada em razão do exercício de atividades externas.

Quanto às razões recursais formuladas pelo autor, ressalto que a


Súmula nº 55, do C. TST, equipara as financeiras aos estabelecimentos bancários única e
exclusivamente para efeitos da jornada de trabalho reduzida, tal como prevista no art. 224, da
CLT. Todavia, na presente hipótese, não há que se falar em pagamento das horas trabalhadas a
partir da sexta diária como extras, uma vez que restou evidente que o autor, atuando como
"gerente de filial" e "gerente de rede", desempenhava função com determinada relevância dentro
da estrutura da sua empregadora e das atividades normalmente desenvolvidas, caracterizando a
fidúcia exigida no parágrafo segundo do aludido dispositivo.

Note-se que o próprio autor, em seu depoimento pessoal, afirmou


que até janeiro de 2012 "era autoridade máxima para acompanhar a produtividade na filial", e, em
relação ao período posterior, a prova testemunhal não deixa dúvidas de que o obreiro possuía
subordinados.

Assim, uma vez afastada a excludente do inciso II do artigo 62 da CL,


bem como a possibilidade de labor externo sem possibilidade de controle, devem ser
consideradas como extras apenas as horas de labor que ultrapassarem as 44 (quarenta e quatro)
semanais, como já determinado pelo Julgador de origem.
Em relação aos horários cumpridos, não havendo os cartões de
horário, impõe-se a inversão do ônus da prova, na forma do item I da Súmula nº 338 do C. TST,
presumindo-se verídica a jornada indicada na exordial, limitada pelo depoimento pessoal do
autor, mormente porque a testemunha apontada pelas rés declarou expressamente que "não tem
menor condição de dizer o horário de trabalho do reclamante", razão pela qual nada há a reparar
na sentença a quo quanto à jornada fixada.

Em relação ao requerimento constante nas razões recursais autorais,


no sentido de que deve ser observado o adicional de 100% para as horas do sábado, verifica-se
que a Súmula nº 113 do C.TST é clara ao dispor que o sábado é dia útil não trabalhado, in verbis:

"BANCÁRIO. SÁBADO. DIA ÚTIL (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e


21.11.2003

O sábado do bancário é dia útil não trabalhado, não dia de repouso remunerado.
Não cabe a repercussão do pagamento de horas extras habituais em sua
remuneração."

Por outro lado, o parágrafo primeiro da Cláusula 4.7.3 das


Convenções Coletivas da categoria dos financiários estabelece que os sábados e feriados devem
ser incluídos no repouso semanal remunerado, quando as horas extras forem prestadas durante
toda a semana anterior (fl.264).

Portanto, a CCT fixa apenas que as horas extras refletem nos dias de
sábado, preservando o teor do Enunciado acima transcrito, ou seja, não implica em admitir o dia
de sábado como repouso semanal remunerado, razão pela qual não há que se falar em adicional
de 100% aos sábados.

Improcede o pedido sucessivo de pagamento de gratificação de


função de 55%, tendo em vista que o autor afirmou que "ganhava sete mil e poucos reais de
salário fixo mais comissões", e a testemunha por ele indicada confirmou a média salarial do cargo
exercido pelo demandante, qual seja, "entre R$ 5.000,00 e R$ 8.000,00". Ademais, os recibos de
pagamento juntados aos autos revelam pagamento ao autor, em alguns meses, de salário bruto
no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), presumindo-se, portanto, que tal montante já
remunerava a fidúcia especial atribuída ao seu cargo.

Por fim, destaco que quanto à PLR, a referida parcela é desvinculada


do salário, nos termos do artigo 3º da Lei 10.101/2000.

Nego provimento a ambos os recursos.

Conclusão do recurso

PELO EXPOSTO, conheço do recurso do reclamante, conheço


parcialmente do recurso da segunda reclamada e, no mérito, dou parcial provimento àquele
interposto pelo autor para reconhecer a sua condição de empregado financiário, e condenar as
rés, de forma solidária, ao pagamento dos benefícios previstos nas respectivas normas coletivas,
observados seus valores e as respectivas vigências, a saber: reajustes salariais conferidos na
data base, e respectivos reflexos no aviso prévio, férias (acrescidas do terço constitucional), 13º
salários, FGTS e indenização de 40% sobre o FGTS, anuênio, auxílio-refeição, décima terceira
cesta alimentação, indenização adicional de aviso prévio, e participação nos lucros e resultados
(PLR), nos exatos parâmetros contidos nos instrumentos normativos, restando autorizada a
compensação de parcela porventura paga a idêntico título e que esteja documentada nos autos; e
nego provimento ao recurso do Banco PAN S.A.; tudo conforme fundamentação supra. Diante do
aumento da condenação, ajusto o seu valor para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e custas de
R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos das Instruções Normativas nº 3/93 e 09/96 do C. TST.

ACORDAM os Desembargadores que compõem a Terceira Turma do


Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, na sessão de julgamento do dia 04 de
fevereiro de 2019, sob a Presidência do Exmo. Desembargador do Trabalho Jorge Fernando
Gonçalves da Fonte, com a presença do Ministério Público do Trabalho, na pessoa do Ilustre
Procurador Adriano de Alencar Saboya, dos Exmos. Desembargadores do Trabalho Mônica
Batista Vieira Puglia, Relatora, e Antonio Cesar Coutinho Daiha, em proferir a seguinte decisão:
por unanimidade, conhecer do recurso do reclamante, conhecer parcialmente do recurso da
segunda reclamada e, no mérito, dar parcial provimento àquele interposto pelo autor para
reconhecer a sua condição de empregado financiário, e condenar as rés, de forma solidária, ao
pagamento dos benefícios previstos nas respectivas normas coletivas, observados seus valores e
as respectivas vigências, a saber: reajustes salariais conferidos na data base, e respectivos
reflexos no aviso prévio, férias (acrescidas do terço constitucional), 13º salários, FGTS e
indenização de 40% sobre o FGTS, anuênio, auxílio-refeição, décima terceira cesta alimentação,
indenização adicional de aviso prévio, e participação nos lucros e resultados (PLR), nos exatos
parâmetros contidos nos instrumentos normativos, restando autorizada a compensação de
parcela porventura paga a idêntico título e que esteja documentada nos autos; e negar
provimento ao recurso do Banco PAN S.A.; tudo nos termos do voto da Desembargadora
Relatora. Diante do aumento da condenação, ajustar o seu valor para R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais) e custas de R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos das Instruções Normativas nº 3/93 e
09/96 do C. TST.

DESEMBARGADORA MÔNICA BATISTA VIEIRA PUGLIA


Relatora

alvp

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