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XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019

São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro

Influência da Corrupção Percebida na Legitimidade das Ações Públicas

Autoria
HAROLDO DE SÁ MEDEIROS - haroldo_sm@hotmail.com
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO/FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE
RONDÔNIA

Sérgio Henrique Arruda Cavalcante Forte - sergioforte@unifor.br


Prog de Pós-Grad em Admin de Empresas - PPGA/UNIFOR - Universidade de Fortaleza

Resumo
Os estudos sobre a corrupção brasileira tratam majoritariamente de questões relacionadas à
modernização política posterior ao período da segunda guerra mundial, de práticas
patrimonialistas e das reformas que ocorreram a partir do ano de 1995, com a adoção de um
modelo público-administrativo que utiliza os princípios da Nova Administração Pública.
Embora essas contribuições sejam significativas, não analisam todos os aspectos que a
corrupção brasileira pode proporcionar. Dessa forma, propõe-se que uma nova abordagem
teórica seja adotada para as análises o Public Value (PV - Valor Público). Portanto, o
objetivo deste artigo é avaliar como as características corrupção percebida influenciam a
forma na qual a sociedade entende a legitimidade das ações públicas. Para atender ao
objetivo, foi realizado uma survey com 419 respondentes e foram adotados procedimentos
metodológicos quantitativos por meio de equações estruturais com o uso do software
SmartPLS 3. Os resultados indicam que a legitimidade processual sobre as ações públicas é
afetada positivamente pelo sentimento de representação, negativamente pelo clientelismo e
negativamente pela mídia. A legitimidade política é afetada positivamente pelo sentimento
de representação e negativamente pelo clientelismo.
XLIII Encontro da ANPAD - EnANPAD 2019
São Paulo/SP - 02 a 05 de outubro

Influência da Corrupção Percebida na Legitimidade das Ações Públicas

Resumo

Os estudos sobre a corrupção brasileira tratam majoritariamente de questões relacionadas à


modernização política posterior ao período da segunda guerra mundial, de práticas
patrimonialistas e das reformas que ocorreram a partir do ano de 1995, com a adoção de um
modelo público-administrativo que utiliza os princípios da Nova Administração Pública.
Embora essas contribuições sejam significativas, não analisam todos os aspectos que a
corrupção brasileira pode proporcionar. Dessa forma, propõe-se que uma nova abordagem
teórica seja adotada para as análises o Public Value (PV - Valor Público). Portanto, o objetivo
deste artigo é avaliar como as características corrupção percebida influenciam a forma na qual
a sociedade entende a legitimidade das ações públicas. Para atender ao objetivo, foi realizado
uma survey com 419 respondentes e foram adotados procedimentos metodológicos
quantitativos por meio de equações estruturais com o uso do software SmartPLS 3. Os
resultados indicam que a legitimidade processual sobre as ações públicas é afetada
positivamente pelo sentimento de representação, negativamente pelo clientelismo e
negativamente pela mídia. A legitimidade política é afetada positivamente pelo sentimento de
representação e negativamente pelo clientelismo.

Palavras-chave: Corrupção percebida. Legitimidade processual. Legitimidade política.


Valor público.

1 Introdução

Há uma desconsideração de que a sociedade pode atribuir problemas de legitimidade à


administração pública justamente por não participar suficientemente da elaboração e gestão de
políticas públicas, por mais que a legislação esteja sendo cumprida (Oquendo, 2016; Yang,
2016). A falta de atribuição de legitimidade às ações públicas governamentais seria uma
consequência dos mecanismos democráticos institucionalizados, que limitam a participação
societal e findam por não criar uma atmosfera pautada em legalidade, autonomia e solidariedade
(Fung, 2015; Oquendo, 1999).
De modo distinto da abordagem proposta por Fung (2015), Oquendo (1999), Oquendo
(2016) e Yang (2016), os estudos que abordam a corrupção brasileira não tratam da relação
entre legitimidade e participação societal, possuindo características comuns quanto à
perspectiva teórica adotada nas análises, podendo ser enquadrados majoritariamente em três
grupos. O primeiro, predominante até o início da década de 1990, envolve as questões
relacionadas à modernização política posterior ao período da segunda guerra mundial e às
práticas de patrimonialismo. O segundo grupo aborda as reformas que ocorreram a partir do
governo de Fernando Henrique Cardoso em 1995, com a adoção de um modelo público-
administrativo que utiliza os princípios da New Public Management [NPM - Nova
Administração Pública], envolvendo essencialmente o novo institucionalismo nas discussões
(Oliveira, Costa & Mendes, 2016).
Além destes dois grupos, um terceiro mais recente e por enquanto menos amadurecido
se destaca ao tratar da relação entre a corrupção e a opinião pública, abrangendo o envolvimento
político-partidário com as tecnologias da informação, os movimentos sociais e as mídias
sociais, como podem ser visto nos trabalhos de Belda e Perin (2017) e Essien (2017).

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Embora esses grupos apresentem contribuições significativas, eles não analisam todos
os aspectos que a situação brasileira pode proporcionar. O primeiro e segundo grupos tratam
das causas e dos efeitos político-administrativos da corrupção, enquanto o terceiro, ao tratar da
opinião pública, envolve essencialmente aspectos ideológicos e instrumentais de comunicação.
Desta forma, algumas lacunas ainda necessitam ser preenchidas para compreender o fenômeno
que relaciona a corrupção e a sua percepção. Portanto, o intuito de ter a legitimidade como uma
variável relacionada à corrupção percebida se dá pela necessidade de avançar no conhecimento
de práticas que não foram abrangidas por análises anteriores quanto ao contexto brasileiro. Os
estudos que tratam das práticas de patrimonialismo, da NPM e da opinião pública não buscam
avaliar a legitimidade das ações públicas a partir de práticas societais participativas. Por isso,
busca-se responder ao seguinte questionamento: Como as características de corrupção
percebida influenciama percepção de legitimidade sobre as ações públicas?
Como meio de apresentar as definições relacionadas à legitimação das ações públicas
foram utilizadas as definições relacionadas ao triângulo estratégico de valor público
provenientes do trabalho de Moore (2000), pois este tem a legitimidade como um de seus
principais elementos. O emprego do PV, em detrimento das teorias tradicionais, decorre do fato
de que essas teorias não são adequadas à análise proposta por desconsiderar a participação
societal na administração pública, enquanto o PV se adequa por ter sua abordagem pautada na
colaboração entre Estado e sociedade. Portanto, o objetivo deste artigo é avaliar como as
características corrupção percebida influenciama forma na qual a sociedade entende a
legitimidade das ações públicas.
Esse artigo apresenta relevâncias teórica, contextual, prática e social. A relevância
teórica é proveniente da utilização do PV como um construto de base para a análise da
legitimidade das ações públicas. Justifica-se essa contribuição em decorrência das abordagens
que foram dadas em outros trabalhos que tem como alvo a legitimidade e o valor público. A
relevância contextual se apresenta pelas análises realizadas no cenário no Brasil em 2018 de
problemas na atribuição de legitimidade às ações públicas em decorrência dos problemas
políticos. Ao objetivar uma avaliação dos efeitos da corrupção percebida pela população em
relação à legitimidade atribuída às ações públicas no Brasil, tem-se a relevância prática, de
forma que as informações geradas a partir da análise podem ser úteis para gestores públicos que
se interessem em minimizar os efeitos da baixa confiança da sociedade e os problemas de
legitimidade que suas organizações enfrentam na prestação de serviços ou quaisquer elaboração
e implementação de ações públicas. Ainda, a contribuição social se dá por meio da natureza do
PV, na qual há um sentido mais democrático do que as abordagens tradicionais, considerando
a participação societal como um elemento que deveria ser próximo da administração pública,
menos subordinada aos comandos político-partidários e mais colaborativos com o Estado.

2 Fundamentação Teórica

2.1 Corrupção percebida

A corrupção é comumente compreendida como o uso indevido de cargos públicos para


conseguir ganhos privados. No entanto, esta definição desconsidera as consequências dessa
prática e as motivações dos indivíduos que buscam conseguir ganhos privados por meio do
aparato público (Di Pietra & Melis, 2016). Uma definição mais ampla concebe a corrupção
como um conjunto de práticas antiéticas, nas quais um comportamento egoísta é mobilizado e
sustentado pelo interesse em satisfazer as necessidades individuais e para alcançar o
engrandecimento por meio do auto enriquecimento e da acumulação de riqueza, causando um
mau desempenho no serviço público (Obicci, 2016).

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No caso da percepção, pode ser definida como o processo de recepção, seleção,


organização, interpretação, verificação e reação a estímulos ou dados (Dhingra & Dhingra,
2011). Esse processo envolve uma construção cognitiva e uma avaliação subjetiva que resulta
em um julgamento sobre as consequências de um evento qualquer (Rundmo & Nordfjærn,
2017). A associação da percepção com a perspectiva gerencial está presente em alguns trabalhos
clássicos, como o de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985), tratando-a como o resultado das
expectativas dos clientes ao usufruir de um serviço. Dessa forma, o processo de percepção seria
decorrente da relação entre o serviço recebido e o esperado.
Ao se fazer um cruzamento das definições de corrupção e percepção, pode-se entender
a corrupção percebida como o resultado do processo de julgamento das condutas antiéticas de
indivíduos envolvidos com a administração pública, por meio da avaliação de suas práticas
corruptas e dos efeitos causados à qualidade dos serviços e políticas públicas, comparando as
situações reais com as esperadas sem corrupção, o que denota um gap entre o percebido e o
realizado.
Embora a construção desse conceito possa ser vista como um simples “jogo de
palavras”, a utilização do conceito usual de corrupção e de um entendimento indeterminado de
percepção poderia desconsiderar a natureza das ações antiéticas ou considerar como corruptas
apenas as condutas de funcionários públicos. Dessa forma, qualquer prática corrupta, antiética
e que inclua pessoas envolvidas com a administração pública, independentemente de serem
funcionários públicos ou não, pode ser relacionada à corrupção percebida.
Ademais, outras seis características também podem ser associadas à sua definição ao
promover influências na intensidade da percepção, como: (1) sentimento de representação
(Fraiha, 2014); (2) as desigualdades sociais e econômicas (Hauk, Oviede & Ramos, 2015); (3)
a corrupção como um fenômeno cultural (Graycar, 2016); (4) as experiências individuais com
a corrupção (Zakaria, 2016); (5) a mídia (Baptista, Telles, Fraiha & Ribeiro, 2015).
O sentimento de representação deriva das similaridades entre as características
demográficas de gênero, grau de escolaridade, religião, ocupação, local de origem e região de
residência (Fraiha, 2014; Iroghama, 2011; Zakaria, 2016). Por exemplo, as pessoas com maior
grau de escolaridade são mais susceptíveis a perceber a corrupção por ter maior acesso a
informações de diferentes fontes, podendo interpretá-las de uma melhor forma (Melgar, Rossi
& Smith, 2010b); as pessoas nascidas ou residentes nos mesmos locais de representantes
políticos com características de liderança percebem menos a corrupção destes representantes
por se identificarem com suas características sociais, sentindo-se representados (Iroghama,
2011); as mulheres e os indivíduos casados percebem mais a corrupção (Melgar, Rossi & Smith,
2010b); as pessoas que mais participam de núcleos religiosos, com destaque para os
protestantes, percebem menos a corrupção (Barbosa, 2015; Gomes, 2010); as pessoas que
possuem ocupação na administração pública ou são profissionais liberais, como os empresários,
percebem mais a corrupção por conviverem cotidianamente com as práticas (Fraiha, 2014;
Zakaria, 2016;).
A percepção de injustiça também influencia a corrupção percebida, de modo que há
uma correlação positiva entre as duas. Sendo assim, quanto mais se percebem as injustiças
derivadas das desigualdades socioeconômicas, maior é a percepção da corrupção (Hauk, Oviede
& Ramos, 2015; Melgar, Rossi & Smith, 2010). Este fato decorre dos efeitos da corrupção na
promoção das desigualdades, principalmente quando causadas pela má prestação de serviços
públicos ou pela ineficiência nas políticas públicas de redistribuição (Hauk; Oveide & Ramos,
2015).
A influência do clientelismo na corrupção percebida compreende a geração de capital
social negativo derivada da falta de cooperação nas relações entre organizações públicas,
prejudicando principalmente as organizações privadas e os indivíduos que não possuem um
envolvimento direto com a administração pública. Este tipo de comportamento favorece o

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surgimento de ações de “favorecimento” que impactam diretamente na confiança interpessoal


e relacional entre funcionários públicos e sociedade, tornando-se parte do sistema de
funcionamento dos serviços públicos e das políticas públicas, impregnando na cultura
organizacional (Barbosa, 2015; Graycar, 2016; Paz, 2014).
As pressões institucionais dos governos podem causar impactos na corrupção
percebida, de modo que quando as pressões são maiores, a percepção também se eleva. Essas
pressões se caracterizam pela quantidade excessiva de determinações governamentais em
relação ao cotidiano, diminuindo a liberdade de ação dos indivíduos (Torsello, 2013). Este tipo
de fenômeno influencia a percepção de qualidade dos regimes democráticos, gerando interações
obrigatórias e coercitivas entre a administração pública e a sociedade (Moraes; Santos &
Torrecillas, 2014).
A última característica de influência na percepção da corrupção é a mídia. Esta
influência se manifesta a partir das formas como as denúncias são realizadas e na escolha de
quais veículos de comunicação as notícias aparecem (Baptista et al., 2015). Os efeitos de uma
mesma notícia na mídia podem se manifestar de formas distintas nas pessoas, tornando-as mais
ou menos perceptivas à corrupção de uma forma geral, ou ainda, mais ou menos perceptivas
em relação a um segmento político, partido ou instituição específica, sendo que o elemento
determinante para o posicionamento perceptivo em relação às notícias divulgadas é a confiança
dos indivíduos nas mídias veiculadoras de notícias (Fraiha, 2014).

2.2 Legitimidade e valor público

No intuito de promover o aumento da participação ativa e democrática dos diversos


sistemas sociais na administração pública, a criação de valor público se destaca como um meio
de dirimir as lacunas apresentadas por perspectivas que direcionam os elementos democráticos
por meio das preferências econômicas de pequenos grupos (Dahl & Soss, 2014; Page, Stone,
Bryson & Crosby, 2015).
Popularizado nas discussões sobre gestão pública, o PV tem sua origem no trabalho de
Moore (1994), sendo compreendido como os resultados do aumento de eficiência e eficácia que
são entregues para os cidadãos a partir da ação governamental (Moore, 1994; Mintrom &
Luetjens, 2015). Seu conceito está diretamente ligado às questões que envolvem a legitimidade,
o resgate da responsabilidade objetiva do Estado em face da adoção de mecanismos privados e
o envolvimento da sociedade na gestão dos serviços públicos.
A criação do PV envolve fundamentalmente três elementos: (1) definição dos resultados
sociais; (2) construção da capacidade operacional, e (3) da legitimidade (Benington & Moore,
2011; Mintrom & Luetjens, 2015; Moore, 2000). Estes elementos, inter-relacionados, formam
o que se denomina de Triângulo Estratégico, constituindo um framework prescritivo para que
a gestão de políticas públicas crie PV com efetividade (Benington & Moore, 2011; Moore,
2000).
Apesar das informações sobre o triângulo não descreverem profundamente as formas
ou mecanismos em que as prescrições devem ser desenvolvidas pela administração pública, as
definições necessárias para a criação de PV são delineadas (Hartley, Alford, Knies & Douglas,
2017). A definição dos resultados sociais constitui a especificação dos objetivos estratégicos e
resultados sociais a serem obtidos por meio do valor público aplicado a uma determinada
situação; a construção da capacidade operacional compreende a obtenção ou mobilização dos
recursos operacionais (finanças, recursos humanos, competências, tecnologia, entre outros)
para alcançar os resultados sociais; enquanto a construção da legitimidade resulta da criação de
um ambiente propício para cooperação entre os stakeholders do poder público, privado, terceiro

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setor e sociedade para sustentar as ações relacionadas aos objetivos estratégicos (Benington &
Moore, 2011).
O ambiente cooperativo proporcionado pela construção da legitimidade, alvo deste
artigo, proporciona a manutenção da confiança dos stakeholders nos valores que fazem parte
da gestão pública, bem como das normas técnicas e leis que são criadas pelos gestores públicos.
Além disso, proporciona a valorização da democracia ao ampliar a possibilidade de participação
de toda a sociedade na criação de PV, mesmo que as normas, leis e ações públicas não sejam
preferência de um grupo específico de indivíduos ou organizações (Benington & Moore, 2011;
Talbot, 2011).
A legitimidade, a partir do PV se enquadra em duas categorias distintas, porém
complementares: política e processual (Bryson, Sancino, Benington & Sørensen, 2017). A
categoria política compreende um avanço nos estudos de Moore (1994), ampliando a
necessidade de legitimação para além dos líderes e gestores da administração pública ao
envolver parceiros de negócio, líderes de bairros, indivíduos com conhecimento técnico sobre
serviços, profissionais, usuários, auditores ou outros indivíduos e organizações que possam
estar ligados à elaboração, implementação e avaliação das políticas ou ações públicas (Mintrom
& Luetjens, 2015). A importância deste envolvimento decorre da necessidade em haver a
identificação sobre os valores que podem orientar a criação de PV, de forma que cada
stakeholder pode ter um entendimento distinto sobre como isso ocorre (Meynhardt, 2009).
A legitimidade processual baseia-se na criação e utilização de processos justos,
transparentes, racionais e que consideram as intenções de todos os stakeholders envolvidos com
a administração pública. Sua importância reside em auxiliar o compartilhamento de objetivos e
em evitar ou solucionar conflitos entre indivíduos e organizações com cultura ou estrutura
muito distintas, como no caso de cooperações intersetoriais. Para que haja legitimidade
processual significativa, os processos devem ser racionais ao envolver a coleta de informações
relevantes para as tomadas de decisões conjuntas, justos para que a transparência e veracidade
não sejam prejudicadas e controladas por mecanismos de governança e gestão, como planos,
orçamentos e cronogramas (Bryson et al., 2017; Page et al., 2015).
A complementaridade da legitimidade política e processual reside na co-produção das
políticas, ações e serviços públicos, sendo esta compreendida como a produção conjunta entre
diversos atores, desde que este seja de interesse público (Ronconi, Debetir & Mattia, 2011).
Deste modo, enquanto os elementos políticos orientam o amplo envolvimento de stakeholders,
os processuais garantem que o resultado decorrente dessa interação seja justo e transparente
(Meynhardt, 2009; Sancino, Benington & Sørensen, 2016).
Por outro lado, há um destaque para as práticas distorcidas que envolvem a legitimidade
a partir da definição de PV. Neste caso, os processos que garantem a participação pública não
devem reforçar um modelo de democracia administrada, de modo que a administração pública
não seja apenas gestora das expectativas dos stakeholdersparacriar uma falsa impressão de
poder dos cidadãos. Para que exista legitimidade efetiva, os gestores e líderes devem
desenvolver seus papéis como coparticipantes em processos políticos abertos, objetivando
formas claras para informar, representar, incluir e engajar a sociedade (Dahl et al., 2014).

3 Desenvolvimento das Hipóteses

Baseado em Graycar (2016), que faz uma afirmação generalista, é possível inferir que
todos os elementos da corrupção percebida podem ter um efeito negativo sobre os componentes
do PV, sendo assim, a legitimidade, alvo deste estudo, também seria afetada negativamente em
seus âmbitos político e processual. No entanto, para a proposta de aprofundamento teórico deste

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trabalho, foram avaliados os efeitos inerentes de cada variável da corrupção percebida sobre a
legitimidade, derivando hipóteses que explicariam melhor este fenômeno.
Ao buscar explicações específicas para as relações entre os componentes da corrupção
percebida e da legitimidade, não foram encontrados estudos que fizessem distinções entre
legitimidade política e processual. Desta forma, foram utilizadas as mesmas hipóteses para os
dois âmbitos, conforme pode ser visto na Figura 1.

Figura 1. Modelo proposto


Fonte: Elaborada pelos autores com base nos referenciais teóricos da pesquisa (2018).

As primeiras hipóteses (H1a e H1b) versam sobre a relação entre as características


demográficas individuais e a legitimidade pública, sendo estas estritamente relacionadas à
representatividade descrita por Iroghama (2011). Verifica-se que as pessoas que se sentem
representadas por possuírem características demográficas similares às de representantes e
líderes políticos percebem menos a corrupção, atribuindo maior legitimidade às ações
governamentais. Este tipo de comportamento denomina-se sentimento de representação e pode
ser compreendido como uma forma de identificação das pessoas com a figura de um
representante, o que possibilita uma liberdade ampliada para as suas ações, mesmo quando não
baseadas na ética (Carmo, 2017). Isso pode ser verificado no trabalho de Rothstein e Sorak
(2017).
– H1a: o sentimento de representação influencia a percepção de legitimidade política.
– H1b: o sentimento de representação influencia a percepção de legitimidade
processual.
A segunda hipótese (H2) aborda a interação entre o sentimento de injustiça e a
legitimidade. Verificou-se nos trabalhos de Pierre e Røiseland (2011) e Rothstein e Sorak
(2017) que as pessoas que mais percebem as desigualdades socioeconômicas atribuem menor
legitimidade às ações públicas. Esse fato se deve pela percepção sobre a ineficiência na
prestação de serviços públicos, principalmente aqueles que afetam as pessoas em situação de
vulnerabilidade. Este comportamento pode ser verificado no trabalho de Farias e Vaitsman
(2002), que levantaram em uma pesquisa na área da saúde, como a percepção de injustiça, na
qual as desigualdades são legitimadas por aqueles que detêm privilégios, favorecem a grupos
ou indivíduos específicos.
– H2a: a percepção de injustiça influencia a percepção de legitimidade política.
– H2b: a percepção de injustiça influencia a percepção de legitimidade processual.
A terceira hipótese (H3) trata da interação entre a corrupção como um fenômeno
cultural e a legitimidade, baseando-se no clientelismo como uma prática cultural que permeia
as ligações entre sociedade e Estado. Verifica-se este tipo de comportamento nos trabalhos de

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Rothstein (2015), Rothstein e Sorak (2017) e Viviani (2018). Assim, o clientelismo seria um
mecanismo corrupto de troca por favores que está enraizado na sociedade brasileira e tem o
meio político, seja público ou privado, para promovê-lo. Schwella (2016) e Sturm (2016)
apresentam esta relação em pesquisas realizadas na África do Sul, nas quais relatam que os
indivíduos que praticam ações corruptas não atribuem legitimidade ao Estado, pois entendem
que a corrupção faz “parte do sistema” e os interesses de classes privilegiadas economicamente
prevalecem sobre as ações e organizações públicas.
– H3a: a percepção sobre o clientelismo influencia a percepção de legitimidade
política.
– H3b: a percepção sobre o clientelismo influencia a percepção de legitimidade
processual.
A quarta hipótese aborda os efeitos das pressões institucionais sobre a legitimidade.
Essas, conforme Baccouche (2016) e Cruz-Rubio (2015), partem da sociedade e de
organizações públicas e privadas para que haja o cumprimento de normas legais e
especificações técnicas vigentes, causando um efeito positivo entre corrupção percebida e
legitimidade. Dessa forma, as pressões institucionais são verificadas por meio das políticas
públicas, que ao serem oriundas de ativismo popular, seja presencial ou online, como resposta
governamental para melhorar a opinião pública, findam por tornar sua implementação e
resultados legitimados (Bond, 2008; Dominguez, 2014; Ranney, 1969).
– H4a: o ativismo popular influencia a percepção de legitimidade política.
– H4b: o ativismo popular influencia a percepção de legitimidade processual.
A quinta hipótese aborda o papel da mídia de massa como influenciadora da
legitimidade, sendo isto relacionado à intensificação de veiculação de notícias positivas e
negativas sobre a corrupção governamental. Cho (2017), Cruz, Tavares, Marques, Jorge &
Sousa (2017), Linders (2012), Piotrwoski, Grimmelikhuijsen e Deat (2017) e Quick e Bryson
(2016) apontam que atualmente as mídias sociais são os principais meios veiculadores de
notícias, influenciando a percepção sobre as ações públicas por mostrarem conteúdos gerados
pelos próprios usuários, causando efeitos de engajamento e posicionamento político sobre a
legitimidade.
Embora possa se considerar que haja alguma distinção entre o impacto da veiculação
de notícias positivas ou negativas na legitimidade pública, os problemas éticos no
desenvolvimento dos conteúdos e o clientelismo das organizações midiáticas são características
de corrupção que tornam tendenciosa a disseminação de notícias, sempre com o intuito de
atender grupos de interesse (Braghirolli, 2008; Silva, 2007). Desta forma, assume-se que
independente dos conteúdos veiculados pelas mídias de massa serem a favor ou contra uma
política pública, organização pública ou representante político, sempre terão um efeito
prejudicial à opinião, confiança e legitimidade pública.
– H5a: a mídia de massa influencia a legitimidade política.
– H5b: a mídia de massa influencia a legitimidade processual.
Apresentadas as hipóteses elaboradas para explicar melhor a relação os elementos que
influenciam a corrupção percebida e a legitimidade política e processual, a próxima seção
descreve a metodologia e as estratégias de pesquisas adotadas neste trabalho.

3 Metodologia da Pesquisa

Buscando responder ao problema de pesquisa e atender ao objetivo proposto foi


realizada uma pesquisa explicativa mediante o emprego de métodos quantitativos para as
análises exploratórias. Os dados foram obtidos por meio da aplicação presencial de
questionários na cidade de Porto Velho-RO durante o mês de dezembro de 2018.

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O instrumento de coleta possui 57 itens e foi dividido em oito blocos. O primeiro possui
oito perguntas, sendo elas o gênero, idade, renda, escolaridade, estado civil, religião, local de
nascimento, sendo este último definido por Unidades da Federação [UF]. A partir do segundo
bloco, as questões são oriundas de escalas previamente validadas em pesquisas anteriores.
O segundo bloco, contendo dez afirmações, trata da escala de sentimento de
representação, sendo utilizada a escala denominada Identification with a Psychological Group
[IDPG] elaborada por Greene (2002). O terceiro bloco, contendo oito afirmações, trata da escala
de percepção de injustiça, de forma que foi utilizada a escala de Moely, Mercer, Ilustre, Miron
& Megan (2002), denominada originalmente de Social Justice Attitudes. O quarto bloco de
questões, com onze questões, aborda o clientelismo e foi utilizado o instrumento de Gbadamosi
e Bello (2009). Originalmente, essa escala possuía vinte afirmações divididas em duas
subescalas: clientelismo e corrupção como cultura. Foram utilizadas apenas as onze afirmações
da subescala de clientelismo, pois eram as que se relacionam com os propósitos deste artigo.
O quinto bloco, que aborda o ativismo popular com quatro afirmações, utiliza a escala
denominada de Civil Engagement de Li (2016). O sexto bloco, que trata das influências da
mídia e possui duas afirmações, utilizou a escala Presumed Media Influence elaborada por
Cohen, Tsfati e Sheafer (2008).
O sétimo bloco, que trata da legitimidade política e possui sete afirmações, utilizou a
escala de Graça (2009). Originalmente, a escala se refere à legitimidade de modo geral, porém
na sua construçãoforam utilizadas apenas definições de legitimidade política, sendo esta a razão
do seu uso. De forma similar, o oitavo bloco, contendo oito afirmações, trata da legitimidade
processual por meio da escala de Thibaut e Walker (1975). Esta escala, denominada
originalmente de Procedural Justice, também trata da legitimidade de modo generalista, porém
sua construção deriva de definições que se relacionam aos procedimentos que podem ser
adotados por organizações públicas.
Todas as escalas passaram previamente por validação convergente e nomológica em
seus trabalhos originais. No entanto, as escalas de Cohen, Tsfati e Sheafer (2008), Gbadamosi
e Bello (2009), Greene (2002), Li (2016), Moelyet al. (2002) e Thibaut e Walker (1975) foram
originalmente elaboradas na língua inglesa. Dessa forma, todas foram traduzidas pelos autores
e posteriormente corrigidas por uma tradutora especializada em língua inglesa. No caso
específico da escala construída por Graça (2009), não foi feito nenhum ajuste linguístico ou
tradução, pois a versão original é em português. Ainda, foi realizado um pré-teste como
procedimento de validação de face com 12 pessoas para verificar se o conteúdo do instrumento
estava compreensível. A partir do pré-teste foram corrigidos alguns erros de digitação e de
formatação. O tempo médio para responder o questionário foi de 14 minutos durante o pré-
teste.
Para todas as escalas foi utilizado o padrão original de mensuração, o Likert de cinco
pontos em níveis de concordância, sendo a escala de ativismo popular a única exceção, na qual
utiliza uma métrica de razão que varia de 0 a 10, porém também adotando um padrão de
concordância nas afirmações.
Baseado no cálculo amostral de Santos, Guevara & Amorim (1997), que possui um
nível de confiança de 95% e um erro de 5%, ao considerar que população brasileira tem
207.660.929 indivíduos, conforme divulgação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística [IBGE] (2017), o tamanho mínimo da amostra deveria ser de 384 respondentes. Por
isso, a amostra foi composta de 427 respondentes, embora apenas 419 questionários tenham
sido considerados válidos. A exclusão de oito questionários se deu em decorrência de erros e
falta de respostas.
Para a análise foi a utilizada a Modelagem de Equações Estruturais (Structural
Equations Modeling- SEM) - por meio do método dos mínimos quadrados parciais (PLS) com
o apoio do software SmartPLS 3. Essa análise teve por objetivo testar as hipóteses apresentadas

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na seção 3. Justifica-se a escolha da SEM por este método permitir a análise de relações
simultâneas de dependência, conforme Hair, Anderson, Tatham & Black (2009). Além disso, a
SEM pode permitir o adensamento teórico das relações entre corrupção percebida e
legitimidade.
Para testar a validade do modelo foram utilizados os procedimentos descritos por
Ringle, Silva e Bido (2014) e os parâmetros de Henseler, Ringle e Sinkovics (2009), formados
pela Validade Convergente [VC], Consistência Interna [CI], Validade Discriminante [VD] e
Bootstrapping.
A fim de verificar se as relações positivas ou negativas estabelecidas nas hipóteses são
válidas foram analisados os coeficientes de caminhos, representados pelos β das regressões
lineares e que estão presentes nas setas entre as VL, conforme Ringle, Silva e Bido (2014). No
entanto, para iniciar a apresentação dos resultados, foi realizada a estatística descritiva do perfil
dos respondentes por meio do uso de frequências relativas.

4 Resultados e Discussão

A análise por meio da estatística descritiva mostrou que 48% dos respondentes são
mulheres, 48,9% são homens, enquanto 3,1% se identificam em outros gêneros ou preferiram
não responder. Em relação à faixa etária, 43,9% possuem idades entre 18 e 30 anos, 27,2%
possuem idades entre 31 e 40 anos, 17,7% possuem idades entre 41 e 50 anos e 11,2% possui
mais do que 50 anos. Quanto à renda individual, 63,5% declararam ter renda de até R$3.000,00
(três mil reais) e 19,1% possuem renda superior a R$3.000,00 (três mil reais) e 17,4%
preferiram não responder. A respeito da escolaridade, 54,4% possuem o ensino médio
completo, 21,5% possuem ensino superior completo, 13,1% possuem especialização, 0,5% não
possui escolaridade e 10,5% possuem outros níveis de escolaridade. Tratando do estado civil,
55,4% estão solteiros, 36,8% estão casados, 4,8% são divorciados, enquanto 3% se enquadram
em outras situações. Na religião, 34,4% se declararam católicos, 30,5% se enquadram em
religiões protestantes/evangélicas, 12,4% se declararam cristãos sem nenhuma denominação
específica, 12,2% preferiram não responder, 3,1% declararam ser ateus e 7,4% se enquadram
em outras denominações religiosas. Quanto ao local de nascimento, houve predominância de
rondonienses com 64% dos respondentes, amazonenses com 8,6%, acreanos com 4,5%,
paraenses com 1,2% e roraimenses com 0,2%. Dentre as outras regiões, o Nordeste ficou 6,7%
dos respondentes, sudeste com 6,4%, centro-oeste com 4,3%, sul com 3,3% e 0,5% preferiu
não responder.
Inicialmente, sobre o modelo proposto, as variáveis latentes foram representadas da
seguinte forma: Legitimidade Processual (Leg_Process), Legitimidade Política (Leg_Poli),
Sentimento de Representação (Sent_Repres), Percepção de Injustiça (Perc_Injus), Clientelismo
(Client), Ativismo Popular (Ati_Pop) e Mídia (Mid).
Mediante as avaliações do modelo apresentadas por Ringle, Silva e Bido (2014) e os
parâmetros de Henseler, Ringle e Sinkovics (2009), verificaram-se que alguns ajustes eram
necessários, pois os valores do Alfa de Cronbach, da Confiabilidade composta e da AVE não
atenderam os parâmetros mínimos necessários. Portanto, com base nas cargas de cada variável,
foram excluídas 28 variáveis relacionadas ao sentimento de representação,à percepção de
injustiça,ao clientelismo,ao ativismo popular, à legitimidade política e à legitimidade
processual. Dessa forma, o modelo ficou com a estrutura conforme a Figura 2.

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Figura 2. Modelo final


Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa (2018).

Feita a análise inicial e a exclusão das variáveis observáveis e latentes que possuíam
cargas baixas, foi realiza uma segunda avaliação da VC, consistência interna e Validade
Discriminante (VD), com base nos parâmetros de Henseler, Ringle e Sinkovics (2009),
conforme pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1
Validade do modelo
Variáveis Latentes Alfa de Confiabilidade Variância Média √AVE
Cronbach composta Extraída (AVE)
Clientelismo 0,724 0,844 0,645 0,803
Legitimidade
0,780 0,848 0,530
política 0,728
Legitimidade
0,707 0,818 0,530
processual 0,728
Mídia 0,840 0,916 0,846 0,920
Percepção de
0,732 0,828 0,548
injustiça 0,740
Sentimento de
0,722 0,827 0,547
representação 0,740
Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa (2019).

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Dentre os parâmetros de VC, verifica-se que todas as VL não excluídas apresentam os


valores da AVE superiores a 0,5. Quanto à consistência interna, os valores do Alfa de Cronbach
são superiores a 0,7 e da confiabilidade composta são superiores a 0,6. A VD se deu pela
comparação entre as raízes quadradas das AVEs (na Tabela 1) e as correlações entre as VL (na
Tabela 2). Também, verifica-se que nenhum dos valores das correlações é superior às raízes
quadradas das AVEs. Portanto, pode-se afirmar que o modelo proposto com 22 variáveis
observáveis e seis VL é válido, pois atendeu aos requisitos de VC, CI e VD.

Tabela 2
Correlações entre as Variáveis Latentes [VL]
Variáveis Clientelism Legitimidad Legitimidad Mídi Percepçã Sentimento
latentes o e política e processual a o de de
injustiça representaçã
o
Clientelismo 1,000 -0,150 -0,137 0,268 -0,204 -0,137
Legitimidad -
e política -0,150 1,000 0,395 0,025 0,158 0,453
Legitimidad -
e processual -0,137 0,395 1,000 0,132 0,337 0,357
Mídia 0,268 -0,025 -0,132 1,000 -0,138 0,071
Percepção de -
injustiça -0,204 0,158 0,337 0,138 1,000 0,214
Sentimento
de
representaçã
o -0,137 0,453 0,357 0,071 0,214 1,000
Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa (2019).

Em uma análise mais detalhada do modelo validado, sendo esta feita em convergência
das teorias e das hipóteses apresentadas nas seções anteriores, afirma-se que apenas na relação
entre o ativismo popular e as legitimidades política e processual não há causalidade, ou seja, o
ativismo popular não afeta a legitimidade. Por outro lado, o clientelismo, a mídia, a percepção
de injustiça e o sentimento de representação possuem uma relação com as legitimidades. No
entanto, como parte significativa das variáveis observáveis precisaram ser excluídas do modelo
inicial, cabem algumas considerações sobre as relações averiguadas para avaliar as hipóteses.
Como forma de verificar as hipóteses e confirmar a significância estatística das
correlações apontadas na Tabela 3, foi realizado o procedimento de bootstrapping, Verifica-se
que as relações com p<0,05 são aquelas que ocorrem positivamente entre legitimidade política
e sentimento de representação; negativamente entre legitimidade processual e mídia;
positivamente entre legitimidade processual e percepção de injustiça; e positivamente entre
legitimidade processual e sentimento de representação. Dessa forma, a partir do bootstrapping
(na Tabela 3), entende-se que apenas as hipóteses H1a, H1b, H2b e H5b foram válidas por ter
correlação relevante e significância estatística.As relações sem significância estatística não
foram consideradas como relevantes para validação das hipóteses, sendo elas H2a, H3a, H3b e
H5a,apesar de estarem ajustadas ao modelo.

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Tabela 3
Bootstrapping
Hipótes Relações Amostra Média Estatística Valores de Resultad
es original (O) da T P o
amostr
a (M)
Legitimidade política ->
H3a
Clientelismo -0,114 -0,119 1,555 0,121 Rejeitada
Legitimidade política ->
H5a
Mídia 0,028 0,021 0,374 0,709 Rejeitada
Legitimidade política ->
H2a
Percepção de injustiça 0,029 0,027 0,523 0,601 Rejeitada
Legitimidade política ->
H1a Sentimento de
representação 0,370 0,373 7,805 0,000 Aceita
Legitimidade processual
H3b
-> Clientelismo -0,093 -0,102 1,134 0,257 Rejeitada
Legitimidade processual
H5a
-> Mídia -0,144 -0,141 2,023 0,044 Aceita
Legitimidade processual
H2b -> Percepção de
injustiça 0,326 0,337 6,746 0,000 Aceita
Legitimidade processual
H1b -> Sentimento de
representação 0,210 0,212 4,180 0,000 Aceita
Fonte: Dados da pesquisa (2019).

As variáveis relacionadas à representação abordam o sentimento de identificação no


qual os indivíduos possuem com o governo. Dessa forma, ao se sentirem representados, de fato,
legitimam positivamente as ações governamentais políticas e processual. De forma semelhante
ao que é abordado por Iroghama (2011), as variáveis do modelo válido se referem ao sentimento
atrelado às críticas, às características demográficas, demonstradas na escala pelo uso de
expressões como “eu” e pela relação de semelhança entre governo e indivíduos.
A percepção de injustiça afeta positivamente a legitimidade processual. Essa afirmação
não corrobora com Pierre e Røiseland (2011) e Rothstein e Sorak (2017), de modo que, nesta
pesquisa, as pessoas que mais percebem as desigualdades atribuem maior legitimidade
processual às ações públicas.
A mídia afeta negativamente a legitimidade processual. As duas variáveis observáveis
de mídia tratam da influência eleitoral sem distinguir o caráter de notícias veiculadas. Logo,
pode-se afirmar que, independente do conteúdo veiculado pelas mídias, as mensagens sempre
terão um efeito prejudicial à opinião, confiança e legitimidade dos processos governamentais,
corroborando com Silva (2007).
Analisando o conjunto de variáveis observáveis válidas para o modelo final, verificam-
se um padrão no comportamento dos respondentes. Esse padrão se dá pelo individualismo
presente nas escalas de sentimento de representação, de percepção de injustiça e mídia. Nota-
se que afirmações do tipo “eu ajo como uma pessoa que se identifica com o governo atual” e
“as pessoas são pobres porque escolhem ser pobres” indicam um nível de responsabilização
individual da percepção, de modo que as ações governamentais não seriam um meio expressivo
de influência para a percepção. Logo, os indivíduos, apenas por si mesmos, deveriam criar uma

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noção própria, pouco influenciada pelo poder público, mas direcionada pelos meios midiáticos,
para legitimar politicamente e processualmente a Administração Pública.

5 Conclusão

Com base nos resultados e nas análises pode-se afirmar que a legitimidade processual
sobre as ações públicas é influenciadapositivamente pelo sentimento de representação,
negativamente pelo clientelismo e negativamente pela mídia. A legitimidade política é
influenciadapositivamente pelo sentimento de representação e negativamente pelo clientelismo.
Dessa forma, quatro hipóteses foram válidas, sendo elas H1a, H1b, H2b e H5b.
Acredita-se que o emprego do valor público como teoria de base para a análise
legitimidade foi relevante ao permitir que classificações pouco usuais pudessem ser avaliadas
em relação a escalas de mensuração com naturezas distintas. Além disso, os usos de técnicas
quantitativas de análise poderão contribuir com inferências estatísticas e generalizações em
outros contextos de pesquisa, que não sejam o de organizações privadas ou de comunidades
específicas, como no trabalho de Yang (2016).
Sugerem-se três diretrizes para pesquisas futuras. a primeira abordaria o valor público
e a legitimidade da forma mais gerencial possível, para que gestores públicos e privados possam
adotar seus princípios na criação, planejamento, execução e avaliação de políticas públicas. A
segunda abordaria o ativismo popular sendo investigado qualitativamente para que as razões de
suas deficiências em legitimar as ações públicas sejam avaliadas, enquanto a terceira sugestão
trata-se de realizar uma análise fatorial confirmatória para o modelo com as hipóteses validadas.

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