Apesar da grande percepção de corrupção no Brasil, o país tem criado diversas
agências e espaços destinados ao controle da corrupção. Fernando Filgueiras
destaca em seu texto Sociedade civil e accountability societal no controle da corrupção no Brasil (2011) aponta diversas dessas formas de controle, dando destaque à accountability societal. O crescimento de espaços de participação e representação da sociedade civil se materializa em instituições como os conselhos de políticas públicas, associações, comitês e outras organizações. Além disso, na atualidade temos acesso a outras formas de combate à corrupção como as plataformas de prestação de contas, ouvidorias, as Leis de Acesso à Informação e de Responsabilidade Fiscal, o Portal da Transparência ou ONGs como a Transparência Brasil. No site da Transparência Brasil, por exemplo, existem diversos projetos de divulgação e análise das contas públicas e acompanhamento de obras públicas, como o programa “Tá de Pé?” que propõe a fiscalização por parte dos cidadãos da entrega de obras de creches. A inserção da sociedade civil no combate à corrupção permite ampliar a compreensão do que é corrupção. Filgueiras (2011) elucida que a corrupção deve ser compreendida além da subtração de recursos financeiros do Estado. O entendimento de corrupção possibilitado pela inclusão da sociedade civil abrange também o descumprimento de regras e procedimentos democráticos, o afastamento do interesse público e as práticas patrimonialistas. Em defesa da importância da transparência Pagotto (2010, apud SANTOS E SILVA, 2021) diz “a transparência inibe o efeito oculto da corrupção, suprimindo decisões com fins escusos e facilitando o acesso dos cidadãos às informações”. Os autores destacam a importância dessas iniciativas de transparência que promovem o controle social da corrupção ao analisarem o impacto positivo que tiveram no estado do Mato Grosso. Apesar do reconhecimento da accountability societal como mecanismo de combate à corrupção, é necessário entender que a criação de espaços de participação e a promoção da transparência não são suficientes para o controle da corrupção. Filgueiras (2011) aponta que apesar da importância dos conselhos nesse contexto, muitas vezes se afastam do combate à corrupção, concentrando sua atuação principalmente na formulação e controle de políticas públicas. O desvio desse objetivo organizacional se dá principalmente por dois fatores. O primeiro é a falta de capacitação dos conselheiros para identificar os possíveis casos de corrupção. Ressaltamos anteriormente a importância dos aspectos não financeiros da corrupção mas a evidência é de que a maior parte das ocorrências de corrupção acontecem nesse âmbito. Aranha (2015) traz gráficos de medição da corrupção por categorias da dimensão política e neles é possível observar 2616 do setor financeiro, 1180 ocorrências de licitação, 387 de público-alvo e apenas 17 administrativos. Isso mostra que, embora não seja a única dimensão da corrupção, o aspecto financeiro configura a maior parte de suas ocorrências. Filgueiras (2011) indica a falta de capacitação dos conselheiros para auditar essas contas, e aponta a necessidade da existência de instituições públicas de controle da corrupção. O segundo fator aponta para a mesma necessidade de aprimoramento do controle nas dimensões burocrática e judicial. É a lentidão da atuação dessas agências de controle e, especialmente, do judiciário, que causam uma descrença nessas instituições e sensação de impunidade. Tendo em vista esses fatores, a erradicação da corrupção passa por um fortalecimento da participação, da accountability societal e da transparência mas também pelo fortalecimento e reestruturação das instâncias formais de controle, para que forneçam apoio para o controle social e ajam na punição da corrupção. Prado e Cornelius (2020) propõe uma abordagem de multiplicidade institucional, com instituições de monitoramento, investigação e punição, similar ao que já existe no Brasil, mas com aumento da coordenação e integração entre elas. O texto aponta a maior probabilidade de sucesso dos mecanismos anticorrupção nos casos de cooperação e multiplicidade institucional, advogando inclusive a favor da sobreposição de atribuições.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTOS, Karina N S; SILVA, Ivana A. F. Transparency as a limitation to corruption
and stimulation of local development in the state of Mato Grosso - Interações (Campo Grande), 2021
CORNELIUS, Eduardo; PRADO, Mariana M. Multiplicidade Institucional e a Luta
Contra a Corrupção: uma agenda de pesquisa para a rede de accountability brasileira. Rev. Direito GV, 2020
ARANHA, Ana Luiza Melo. A Rede Brasileira De Instituições De Accountability: um
mapa do enfrentamento da corrupção na esfera local. Belo Horizonte – MG, 2015
FILGUEIRAS, Fernando. Sociedade Civil e Accountability Societal no Controle da
Corrupção no Brasil. XXXV ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 2022
Programa de Integridade no contexto da Lei Distrital 6.112, de 02 de fevereiro de 2018: aplicação de política pública anticorrupção para o fortalecimento da cidadania