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Jonas C L Valente
University of Oxford
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or
POLÍTICOS SOBRE A AMÉRICA LATINA
od V
aut
Jonas C. L. Valente109
R
o
Introdução
aC
As plataformas digitais vêm ganhando relevância como objeto de atenção
Editora CRV - versão para revisão do autor - Proibida a impressão
tanto no debate público quanto na Academia nos últimos anos. Essas se tor-
naram a ponta de lança de um novo paradigma da informação e das diversas
visã
acepções associadas à digitalização, com robustos processos de coleta massiva
de dados, de processamento inteligente dessas informações e da oferta de
diferentes aplicações e serviços tanto nos mundos online quanto off-line. Esses
itor
109 Mestre em políticas de comunicação e doutor em sociologia pela Universidade de Brasília, com tese sobre
plataformas digitais. É pesquisador do Laboratório de Políticas de Comunicação da UnB (LapCom-UnB),
do Laboratório de Tecnologia, Economia e Políticas da Comunicação da UFC (Telas-UFC) e do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho da UnB (GEPT-UnB). É editor-assistente da Revista Eletrônica de
Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura (Eptic Online) e autor de livros sobre tecnologias
digitais, plataformas digitais, Internet e regulação da mídia.
198
or
alta capacidade de mediadores chave dos fluxos de informação e de interações
od V
na Internet. Novas formas de desinformação (prática antiga mas que ascendeu
aut
a um novo patamar) receberam alertas, com afirmações de influência em pro-
cessos eleitorais e políticos em diversos países do mundo. A amplificação de
R
discursos de ódio, de notícias falsas e de conteúdos extremos por meio de seus
modelos de negócio e regras internas transformou tais agentes em ambientes
o
propícios aproveitados por forças políticas, especialmente de extrema-direita,
para a tentativa de disseminação de seus ideais e de combate a visões adver-
aC
sárias, indo além dos históricos ataques à esquerda e questionando aspectos
basilares da democracia liberal.
na Internet.
Assim, as plataformas vêm contribuindo para influenciar campos diversos
da sociedade por meio de suas lógicas de funcionamento. Essa majoração de
ão
or
amplo, mas usamos essa circunscrição extensa do objeto exatamente para jogar
od V
luz, nos limites do desenvolvimento do argumento aqui, sobre o caráter social,
aut
político e econômico desses sistemas tecnológicos e sobre o exercício do poder
das plataformas, elencando problemáticas que merecem atenção, inclusive para
R
o desenvolvimento em trabalhos posteriores. Partindo deste intuito, o texto
é dividido em quatro partes. Na primeira, apresentaremos as bases teóricas e
o
conceituais do texto, tratando, sobretudo, das noções de plataformas digitais,
de sistemas tecnológicos e da teoria crítica da tecnologia. Na segunda parte,
aC
posicionaremos a América Latina nos mercados mundiais relacionados às
plataformas, sejam aqueles vinculados à Internet ou a segmentos específicos,
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sas e em seu caráter interdisciplinar, bem como nos focos distintos. Entre os
vernáculos adotados, estão intermediários de Internet (MaCKINNON et al.,
Ed
110 Não será possível, nos limites desta apresentação, discutir cada uma destas contribuições, bem como as
demais apontadas ao longo do texto. O objetivo é combinar um panorama inicial da literatura com aspectos
chave para o entendimento crítico do objeto.
200
or
da coleta, processamento e circulação de dados de usuários”111. Andersson
od V
Schwarz (2017) demarca o conceito como sistemas que controlam, interagem
aut
e acumulam. Estas solidificam mercados, funcionam como redes sociais de
trocas e conformam arranjos materiais de “atividade rastreável”.
R
Parte da literatura propõe as plataformas como modelo ou paradigma
de arranjos societários mais amplos. Algumas abordagens lançam um aporte
o
mais descritivo das dinâmicas materiais desses agentes, no que vem sendo
chamado de “economia de plataforma” (KENNEY; ZYSMANN, 2016, p. 62),
aC
“um termo mais neutro que abrange um número crescente de atividades via-
bilizadas digitalmente em negócios, política e interação social”112. Em uma
111 Tradução própria: “socio-technical architectures that enable and steer interaction and communication between
users through the collection, processing, and circulation of user data”.
112 Tradução própria: “more neutral term that encompasses a growing number of digitally enabled activities in
business, politics, and social interaction”.
TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO NAS AMÉRICAS:
novas fronteiras e dilemas do capitalismo contemporâneo
Coleção Américas Compartilhadas – v. 6 201
or
arranjos. Um segundo elemento constitutivo é um papel de mediação ativa
od V
entre os diversos lados. Em que pese uma construção pelas plataformas de
aut
uma autorreferência para afirmar-se como espaços de facilitação desinteres-
sados, essas empresas estabelecem as regras do jogo, as lógicas por meio
R
das quais as interações e transações acontecem e os limites destas. Assim, as
plataformas digitais não são sistemas neutros. Ao contrário, buscam expandir
o
sua mediação ativa para cada vez mais esferas, de modo a controlar os fluxos
de informações, interações e transações operadas pelas distintas modalidades
aC
de usuários que participam do ecossistema que modelam. Em outras palavras,
as plataformas digitais são agentes que funcionam como mediadores ativos
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or
Um quinto traço é o desenvolvimento de atividades intensivas em dados.
od V
A grande base de usuários, os serviços baseados em tecnologia, a lógica
aut
crescente de personalização e a importância do uso de dados para antecipar
demandas e reduzir as incertezas de realização dos produtos e serviços fizeram
R
com que esses grupos ampliassem a coleta dessas informações, em uma espiral
de vigilância de dados (dataveillance) sobre seus usuários. Uma sexta carac-
o
terística é o controle de um ecossistema de agentes que desenvolvem serviços
e bens mediados pelas suas plataformas e atividades. Se uma plataforma tem
aC
como traço distintivo o controle da intermediação das comunicações, inte-
rações e transações, o poder dos monopólios digitais está em tornar isso não
dos sistemas tecnológicos. Para Hughes (1993), esses são estruturas de “solu-
ção de problemas” formadas por componentes físicos (como transformadores,
postes e linhas elétricas em um sistema de distribuição de energia), de orga-
nizações (como seguradoras, empresas de manutenção ou bancos de investi-
mento), de conhecimentos científicos (como teorias preestabelecidas, testes de
par
or
e, assim, objeto de reconfigurações fundamentais dadas as mudanças no poder
od V
das partes envolvidas no design e implantação”113 (NOBLE, 2011, p. ix).
aut
Para Winner (1986, p. 22), os artefatos são “maiores ou menores peda-
ços de hardware de um tipo específico”, mas também podem ser lidos como
“formas de vida”114. Ele apresenta a provocação de assumir que os artefatos
R
“possuem política em si”. Trigueiro (2009, p. 51) vê a tecnologia como prática
humana socialmente contextualizada. “Tecnologia consiste em uma ativi-
o
dade humana, socialmente condicionada, que reúne um conjunto de meios
aC
– instrumentos e procedimentos – para a obtenção de um fim almejado”. A
“condição ontológica da tecnologia” é, para o autor, um espaço de múltiplas
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fenômeno dos que chamamos aqui de monopólios digitais fez com que essa
análise de mercado venha se tornando cada vez mais complexa, pois um olhar
fragmentado sobre esses conglomerados pode ensejar uma mirada míope ou
ão
113 Tradução própria do original em inglês: ““technology is a political construct and, hence, subject to fundamental
reconfiguration given changes in the relative power of the parties involved in its design and deployment”.
114 O autor inspira-se em gramática adotada por Wittgenstein em suas Investigações Filosóficas, mas também
em Marx e Engels a partir de sua Ideologia Alemã.
115 Esta fixa os limites e, ao mesmo tempo, as potencialidades da realização dessa prática. Este processo ocorre
de maneira dinâmica, dentro do qual esta ação interage com a estrutura, reforçando-a ou modificando-a.
204
or
ção ancorado no suporte digital, que se intensifica em determinadas áreas e se
espraia para novas, contribuindo para dar respostas a demandas de reprodução
od V
do capitalismo em sua fase neoliberal e atingido por uma crise sanitária e
aut
econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. Como sistemas tec-
nológicos socialmente construídos, respondem às dinâmicas e vetores sociais
R
do capital, como apontado por Feenberg, Noble e Winner. Alinhamo-nos a
autores que caracterizam a atual etapa do capitalismo como neoliberalismo
o
(HARVEY, 2007; SPRINGER et al., 2016; SAAD FILHO, 2020) e nos afas-
tamos de visões laudatórias de uma transformação estrutural calcada nas tec-
aC
nologias digitais em termos como sociedade da informação, sociedade em
rede ou adjetivações diversas do sistema capitalista.
própria, em uma síntese daquilo que Feenberg chama de código técnico. Essa
a re
or
Com a digitalização da produção e da circulação, plataformas conseguiram
od V
suplantar concorrentes de nações do Sul Global, beneficiando-se de efeitos
aut
de rede (EVANS; SCHMALANSEE, 2016) e de fortes barreiras à entrada116.
Jin (2015) chama a emergência desse fenômeno o nome de “imperialismo de
R
plataforma”, composto não somente pelos avanços materiais e de poder de
mercado desses agentes como por uma dimensão simbólica, de construção de
uma hegemonia cultural sob uma roupagem construída de conquistas pessoais
o
de empreendedores do Vale do Silício. “A ideia de imperialismo de plataforma
aC
se refere a uma relação assimétrica de interdependência em tecnologias e
cultural relacionadas a plataformas entre o Oeste, principalmente os Estados
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2,051 tri), Saudi Aramco (US$ 1,92 tri), Microsoft (US$ 1,77 bi), Amazon
(US$ 1558 bi), Alphabet (US$ 1,393 bi) e Facebook (US$ 839 bi) (WAL-
Ed
mercado com US$ 59 bilhões, seguida por Vale (US$ 58 bilhões), Petrobrás
(US$ 55 bilhões) e Walmart Mexico y Centroamerica (US$ 43 bilhões). Dez
116 O mercado da publicidade digital é um dos exemplos. O Facebook e a Alphabet conseguiram constituir um
duopólio global da publicidade digital, angariando investimentos e retirando esses de empresas nacionais,
como veículos tradicionais mídia.
117 Tradução própria do original em inglês: “The idea of platform imperialism refers to an asymmetrical relationship
of interdependence in platform technologies and culture between the West, primarily the U.S., and many
developing countries”.
206
anos antes, as empresas no topo da lista eram Petrobrás (US$ 244 bilhões),
Vale (US$ 167 bilhões), Santander (US$ 100 bilhões) e Itaú (US$ 93 bilhões)
(ATLANTICO, 2020).
As desigualdades verificadas nas empresas de tecnologia e nas platafor-
mas entre nações mais ricas e o Sul Global podem ser identificada também
or
nos distintos graus de conectividade da sociedade nos diferentes continentes e
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regiões. Em 2021, 4,03 bilhões de pessoas estavam conectadas, o que corres-
aut
pondia a 51,4% da população (WE ARE SOCIAL, 2021). As desigualdades
de acesso eram evidentes. Enquanto os índices de conectividade chegavam a
R
90% na América do Norte e a 93% na Europa Ocidental, na América Latina
eles eram de 72%. Quando comparado com outras regiões do Sul Global, a
o
diferença aumentava. Na África do Leste a taxa era de 24% e no centro do
continente, 26%.
aC
Quando considerada a velocidade média de acessos móveis em um grupo
de países selecionados, os países com as maiores eram aqueles mais ricos,
Turco (3,7%) e Persa (3%) (WE ARE SOCIAL, 2021). O Google possuía em
2020 91,4% da participação de mercado.
No ranking de redes sociais mais utilizadas em 2021, quatro das cinco
s
or
a mundial, registrada em 72,5% dos usuários de Internet.
od V
A América Latina, apesar de não ter nações com populações como China,
aut
Índia e Estados Unidos, tornou-se um grande mercado para as principais
plataformas. O Brasil é o 4º mercado do Facebook, com 130 milhões de
R
usuários, e o México é o 5º, com 93 milhões de usuários. O Espanhol é o 2º
idioma mais falado na plataforma, com 340 milhões de usuários, atrás apenas
o
do inglês, com 1,1 bilhão de usuários. No Instagram, o Brasil é o 3º mercado,
aC
com 99 milhões de usuários, e o México o 8º, com 32 milhões de usuários. Já
no YouTube o Brasil é 3º mercado, com 127 milhões de usuários, e o México
o 8º, com 74,1 milhões de usuários. No Twitter, o Brasil aparece em 5º, com
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3. Impactos econômicos
or
funcionários diretos ou indiretos dessas empresas (que chamamos de traba-
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lho empregado por plataformas) como aquelas que ocorrem diretamente ou
aut
indiretamente entre seus usuários (que chamamos de trabalho mediado por
plataformas)119. Segundo Drahokoupil e Piasna (2017), as plataformas de
R
trabalho operam um agenciamento, conectando oferta e demanda de força
de trabalho. Elas desenvolvem este tipo de atividade de acordo com os prin-
cípios de mercado e reduzindo fricções, atuando sobre as falhas de mercado
o
e diminuindo os custos de transação. As plataformas conseguem operar uma
aC
coordenação da compra e venda da força de trabalho cuja flexibilidade e pre-
cisão permitem novas formas precárias, dispensando a fixação de contratos
119 Não nos aproximamos de acepções mais genéricas como “trabalho digital” (FUCHS, 2014) ou termos como
“uberização do trabalho” (ABÍLIO, 2019). Para as críticas a esses, ver Valente (2021).
TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO NAS AMÉRICAS:
novas fronteiras e dilemas do capitalismo contemporâneo
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or
Em relação à remuneração, a média global de plataformas de trabalho
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(OIT, 2021) era de US$ 4,9 quando consideradas apenas as remuneradas e
aut
de US$ 3,4 quando consideradas as não remuneradas. A pesquisa identificou
na República Dominicana pagamentos menores do que os para funções com
o mesmo nível educacional. No Chile, os trabalhadores de entrega obtêm
R
menores ganhos. Na Colômbia, a média de remuneração considerando as horas
não remuneradas ficou em 71% do salário médio dos empregados. Na capital
o
equatoriana, Quito, foi constatada uma queda das receitas de entregadores a
aC
partir de 2019, o que se intensificou em 2020 com a chegada da pandemia
(CORDERO; DAZA, 2020b).
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poucos casos. O modelo de negócio das plataformas tenta impor uma relação
de prestadores de serviço independentes como forma de evitar quaisquer
Ed
or
a OIT (2021), no mundo em média 19% dos motoristas de transporte privado
od V
e 15% dos entregadores já tiveram suas contas desativadas. No Brasil, os
aut
mecanismos sem transparência e sem justificativa de avaliação e desligamento
foram um dos pontos centrais das reivindicações das paralisações nacionais
R
de entregadores de plataformas em 2020 (VALENTE et al., 2020). Soma-se
a isso o risco associado aos trabalhos, como a acidentes e roubos. Na Cidade
do México, 40% de entregadores ouvidos relataram ter sofrido acidentes e
o
23% já haviam sido roubados (ALBA VEGA et al., 2021). Levantamento no
aC
Equador com entregadores revelou que 83,6% estavam descontentes com
as formas de funcionamento dos apps e 90,4% estavam insatisfeitos com a
or
consenso sobre algumas de suas características, há ainda uma certa polissemia
od V
e diversidade conceitual acerca do fenômeno.
aut
Em documento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), Botero (2017)
R
caracteriza as chamadas fake News como difusão de informação falsa sabi-
damente enganosa e com a intenção de enganar o público ou parte das pes-
o
soas. O conceito, assim, não abrange a sátira nem a propaganda ou outras
formas discursivas caracterizadas pela tentativa de convencimento. Cortés e
aC
Isaza (2017, p. 5) definem desinformação como “contenidos deliberadamente
falsos que se publican en sitios web cuya apariencia intenta ser formal y
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e para que esses “reajam” às publicações, razão pela qual, por exemplo, o
Facebook mudou de um botão de “like” para diferentes reações. As arquitetu-
ras e o design de plataformas como YouTube, Google, Facebook e Instagram
s
120 Especialmente na América Latina, onde veículos de imprensa sempre se utilizaram desse expediente para
promover grupos políticos aliados e combater adversários, o que foi visto durante as ditaduras do Cone Sul
quanto no ascenso do neoliberalismo
212
or
“endosso” às mensagens, fortalecendo sua visibilidade por laços de aproxi-
od V
mação e confiança. No caso das mensagerias onde a autoria original não é
aut
mantida, como no Whatsapp, torna-se ainda mais difícil distinguir entre quem
produziu e quem compartilhou o conteúdo (ALSUR, 2019). A construção de
R
redes de interação entre usuários faz, assim, com que as campanhas percam seu
tom oficialista, inclusive com materiais fabricados para parecerem “amadores”.
o
Outro mecanismo amplificado pelas redes sociais é a possibilidade de
uso de sistemas automatizados. Esses podem ser empregados para diversas
aC
finalidades. A mais conhecida são os bots, contas automatizadas que simu-
lam usuários humanos. Estas são instrumentos para artificialização do debate
vêm sendo adotados sobretudo por grupos de extrema-direita, como pode ser
Ed
or
elas identificaram a demanda por formas de coleta e processamento de dados,
od V
sobretudo para publicidade e serviços personalizados, e incrementaram tais
aut
dinâmicas a patamares globais de bases de bilhões de usuários. Essas ferra-
mentas e serviços não ficaram restritos às finalidades comerciais. A capacidade
R
de segmentação e direcionamento de mensagens foi logo aproveitada por
grupos políticos com recursos para financiar campanhas baseadas em perfis
o
psicológicos com alto potencial de sucesso, como o escândalo da Cambridge
Analytica, as eleições dos Estados Unidos em 2016, o Brexit no mesmo ano
aC
e o uso em outros pleitos eleitorais evidenciam, inclusive na América Latina.
Nas eleições presidenciais do México em 2018, circularam pesquisas
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os principais candidatos, Ivan Duque e Gustavo Petro. Uma delas dizia que a
a re
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(AVAAZ, 2018) concluiu que mais de 98% dos eleitores do candidato de
od V
extrema-direita que se sagrou vencedor, Jair Bolsonaro, foram expostos a
aut
uma ou mais notícias falsas durante a campanha – e que mais de 89% deles
acreditaram nas mentiras divulgadas. Outra pesquisa do Instituto Atlas Polí-
R
tico apontou que 36% do eleitorado entrevistado acreditara que o candidato
do PT, Fernando Haddad, havia distribuído um “kit gay” para crianças nas
o
escolas quando ocupou o Ministério da Educação durante a gestão de Luís
Inácio Lula da Silva (MENDONÇA, 2018). Após a eleição, a gestão de Jair
aC
Bolsonaro elevou a desinformação a estratégia de comunicação de governo.
Base de dados da agência de checagem Aos Fatos identificou até julho de
nas redes sociais, e mais uma vez surgiu como discurso oficial. O presidente
Ed
or
contramedidas de combate ao coronavírus.
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Ugarte (2020) analisa o papel da desinformação durante a pandemia do
aut
novo coronavírus, com foco na América Latina. O autor sugere uma relação
entre a desinformação e crises epistêmicas relacionadas à ciência e crises polí-
R
ticas relacionadas à democracia. O modelo de democracia do autor está nos
marcos do modelo liberal burguês, assim como em diversos documentos de
o
países do Norte Global, como no texto da Comissão Europeia (LEWANDO-
WSKY; SMILLIE, 2020) e em recomendações de relatorias para a liberdade
aC
de expressão da Organização das Nações Unidas. Não por acaso em geral
surgem recomendações como o fortalecimento do jornalismo e de mais infor-
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uma prática histórica. O novo modelo dessa estratégia de luta política, com a
a re
como nos protestos do Chile em 2019, das revoltas na Bolívia após o golpe
Ed
Considerações conclusivas
ão
Optamos por fugir de uma abordagem temática específica tentando jogar luz
sobre o fenômeno da ascensão das plataformas como novas estruturas de
mediação social que espraiam suas capacidades de regulação das experiên-
cias sociais, sobretudo no ambiente online mas não somente. Partimos das
leituras da teoria crítica da tecnologia, que afirma o desenvolvimento dos
sistemas tecnológicos como atravessados por interesses e disputas sociais,
econômicos, políticos e culturais. Abordamos nosso modelo da Regulação
216
or
blematizada a divisão internacional do trabalho no setor da informação e das
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Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) que tem recentemente as
aut
plataformas como seus principais agentes econômicos e políticos. Nessa nova
divisão, a América Latina assume novas formas de dependência, não apenas
R
pela fragilidade de seus capitais nas disputas internacionais, mas sobretudo
pela sua condição de mercado consumidor e de parcela de fornecedores de
o
dados para as práticas de vigilância comercializada das plataformas digitais
para o processamento e oferta de aplicações e serviços personalizados, naquilo
aC
que Jin chamou de “imperialismo de plataforma”.
Nosso enquadramento metodológico primou por uma visão integrada, mas
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